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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADE CEARENSE
CURSO DE BACHAREL EM SERVIÇO SOCIAL
A INSERÇÃO DE IDOSOS EM UMA INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA:
REFLEXÕES SOBRE O TEMA.
AURICELIA CORREIA DA SILVA
FORTALEZA
2014
AURICELIA CORREIA DA SILVA
A INSERÇÃO DE IDOSOS EM UMA INSTITUIÇAO DE LONGA PERMANÊNCIA:
REFLEXÕES SOBRE O TEMA.
Monografia submetida à aprovação do Curso
de Serviço Social do Centro de Ensino
Superior do Ceará Faculdade Cearense - FaC,
como requisito parcial para obtenção do grau
de Graduação.
Orientadora: Prof.ª Esp. Talitta Cavalcante
Albuquerque Vasconcelos
FORTALEZA
2014
AURICELIA CORREIA DA SILVA
A INSERÇÃO DE IDOSOS EM UMA INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA:
REFLEXÕES SOBRE O TEMA.
Monografia apresentada como pré-requisito
para obtenção do título de Bacharelado em
Serviço Social, outorgado pela Faculdade
Cearense – FaC, tendo sido aprovada pela
banca examinadora composta pelos
professores.
Data de aprovação: ____/ ____/____
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________________
Profª. Esp. Talitta Cavalcante Albuquerque Vasconcelos
(Orientadora) – Faculdade Cearense
___________________________________________________________
Profº. MS. Daniel Rogers de Souza Ferreira
(1ª examinador) - Faculdade Cearense
____________________________________________________________
Profª. MS. Ivna de Oliveira Nunes
(2ª examinadora) - Faculdade Cearense
Dedico este trabalho aos meus queridos filhos
Letícia Almeida e Célio Patrício, dádivas
concedidas por Deus, que são e sempre serão a
razão do meu viver, o impulso para que eu
sempre busque o melhor para as nossas vidas.
A minha queridíssima sobrinha Maria Clara
Correia Carneiro que é por demais especial em
minha vida. E a todos os idosos do Brasil, em
especial os que sentem na pele o processo de
institucionalização.
AGRADECIMENTOS
Obrigada a Deus primeiramente, por guiar meus caminhos, iluminar e abençoar a
minha vida. Agradeço imensamente por essa conquista e por ter me dado forças e coragem
para enfrentar essa nova etapa da minha vida.
A minha família.
Ao meu querido e amado pai Alcides Soares Castro e Silva (in memorian), por ter
sido um apoio tão maravilhoso em minha vida. Pai, eu sei que não estás mais aqui comigo,
mas é incrível como sinto sua presença, até escuto o som do seu assobio, sua marca registrada
ao anunciar a chegada em casa e o brilho do seu olhar que refletia juntamente com a sua
felicidade sempre que eu alcançava uma conquista. Pai você se foi, mas me deixou grandes
marcas e uma saudade interminável. Faço questão de lembrar todos os momentos que
estivemos juntos e só não consigo me perdoar pelo fato de eu ter sido sempre tão presente em
sua vida e exatamente no dia em que o senhor se foi, eu não estava ao seu lado. Ah como eu
queria poder voltar no tempo e me fazer presente naquele momento! Essa vitória é dedicada a
você. Só tenho a agradecer pelo senhor ter sido Meu Querido Pai. Obrigada por tudo!
A minha querida mãezinha, por ser uma pessoa tão maravilhosa e que apesar de
ter tido uma vida marcada por grandes desafios e dificuldades, soube transmitir o melhor para
nossas vidas. Mãezinha, você é um exemplo de mulher batalhadora e que não desiste de
alcançar seus objetivos. Agradeço também pelo amor incondicional dedicado aos meus filhos
que representam muito para senhora. Por todas as vezes que precisei e a senhora esteve
disposta a me ajudar, demonstrando amor e dedicação. Mãezinha eu agradeço a Deus por sua
existência e saiba que te amo muito!
A minha querida irmã Alcione Correia da Silva, muito especial em minha vida e
por sempre ter demonstrado amor e carinho em nossa relação. Saiba que você sempre ocupará
um lugar especial na minha vida e no meu coração. Mana, sou muito grata por tudo e
principalmente por ter me dado uma sobrinha tão maravilhosa como a Maria Clara.
À minha queridíssima sobrinha Maria Clara Correia Carneiro, presente lindo de
Deus, uma criança sábia e encantadora que a cada dia me surpreende com a sua capacidade e
dedicação nos estudos. Maria Clara saiba que sempre poderá contar comigo e sempre estarei
de braços abertos para te receber. Peço que sempre coloque os estudos em primeiro lugar, pois
o conhecimento que adquirimos ao longo dos anos nunca poderá ser tirado por ninguém, ele
só irá acrescentar benefícios em sua vida. Amo você, minha sobrinha querida.
Ao meu querido sobrinho Ian Vítor Maciel Silva, por quem tenho muito carinho e
desejo toda felicidade do mundo!
A minha querida filha Letícia Karen Correia de Almeida, dádiva que o Senhor
colocou em minha vida dando a oportunidade de vivenciar comigo essa conquista. Agradeço
pelos momentos de dedicação e saiba que o mais importante da vida não é a situação em que
estamos e sim a direção pela qual nos movemos. Somos do tamanho da nossa conquista. Filha
te amo!
Ao meu querido filho Célio Patrício Correia de Almeida, presente lindo de Deus,
que sempre me enche de amor, carinho e se fazendo tão presente em minha vida. Saiba que as
mudanças podem ser assustadoras, mas faz parte do crescimento. É assim que descobrimos
como somos e o que vamos ser! Acreditar é essencial para termos uma vida feliz, mas ter
atitude é o que fará a diferença. Filho te amo!
Ao meu querido marido Claudio Patrício de Almeida, que durante esses vinte
anos que compartilhamos juntos, sempre se mostrou um ser humano prestativo e
compreensível, um pai maravilhoso e dedicado. Agradeço por estar sempre ao meu lado
durante o período da faculdade e o processo de construção da monografia. Peço a Deus que
ilumine seus caminhos e que possamos ainda compartilhar muitas felicidades juntos.
Obrigada por tudo!
A querida orientadora Talitta Albuquerque, professora determinada que serve de
exemplo para muitos, por sua humildade e competência, por quem tenho grande admiração!
Por ter me acolhido como orientanda e por comprometer-se a vivenciar comigo esse desafio,
fazendo com que os momentos mais difíceis fossem superados através do seu
profissionalismo e cumplicidade. Obrigada por tudo!
A banca examinadora composta pela Prof. Ms. Daniel Rogers e Profª. Ms. Ivna
Nunes, os meus sinceros agradecimentos pela disponibilidade e dedicação em contribuírem
para o processo de concretização de um sonho.
Aos queridíssimos e competentes professores com os quais tenho o imenso
orgulho de ter construído juntamente essa conquista. Em especial: Daniel Rogers, Cristiane
Porfírio, Denise Furtado, Eliane Nunes, Hamilton Teixeira, Herbert Pimentel, Ivna Nunes,
Priscila Notthinghan, Márcia Mourão, Talitta Albuquerque, Silvana Cavalcanti, Verbena
Sandy e Vivian Matias.
Em especial a minha querida supervisora de campo e assistente social do HMJBO
(Frotinha da Parangaba) – Aila Maria Morais dos Santos, exemplo ímpar de assistente social a
quem tenho muito carinho e admiração, obrigada pelo acolhimento e ensinamentos, você
sempre será uma inspiração para minha vida profissional. Obrigada por tudo!
A todos da turma CSS 082, a nós que partilhamos quatro anos de vida, seguindo
uma trajetória de risos, alegrias, tristezas, angústias e também de muito carinho e
companheirismo e que com certeza ficarão guardados para sempre. Em especial, agradeço aos
queridos (as) e inesquecíveis: Alinda Oliveira, Ana Cristina Rosa, Ana Lúcia de Jesus, Ana
Paula Fahd, Ana Paula Sousa, Claúdia Mendes, Ellen Cristina, Erivaldo Diniz, Giovanna
Carvalho, Herlene Silva, Juaniza Abreu, Kamylla Lima, Luciana Kelly, Maria Danielle
Figueiredo, Nádia Maria, Raquel Abreu, Rotseana Bezerra, Tácyla Sousa e Tânia Rocha.
A todas da comissão de formatura, foi um prazer estar com vocês, ter feito parte
dessa equipe.
Aos idosos, sujeitos da pesquisa, pela contribuição na concretização deste
trabalho. E a todos os profissionais da Unidade de Abrigo Olavo Bilac pela disponibilidade e
contribuição dada para que a pesquisa fosse realizada.
E por fim, aos demais familiares, amigos e a todas as pessoas que contribuíram,
direta ou indiretamente, na realização desta conquista!
Ser idoso
Ser idoso
é ter a coragem de olhar para frente
E dizer que traz consigo
um mundo de conhecimento.
Ser idoso é ser gente.
Ser idoso
É poder dizer que tem a dádiva da vida
E o poder da mente
Que possui uma vasta experiência
E carrega em sua guarida
A realização e a gratidão da existência.
Ser idoso,
É ser alguém consciente
Pedindo a Deus sempre mais anos de vida
Para viver com os seus
e ser uma pessoa querida.
Ser idoso,
é guardar o que sente
Do lado bom e ruim das coisas
Dos momentos que viveu
E, um dia, tristemente
Sofreu.
E num outro dia, alegremente
Viveu...
E foi feliz
Como um sábio aprendiz.
Ser idoso
É aprender, do ontem, a lição
Hoje, guardada nas eternas lembranças
Bem no fundo do coração.
Ser idoso
é ter no rosto
A marca da sabedoria
A experiência de muitos momentos
Vividos com alegria.
O que mais lhe entristece
É a falta de respeito, carinho e atenção
Dê ao nosso idoso o que ele merece
E o que queres para ti.
Não o maltrate, abrace-o de coração
Porque o que estás hoje a pedir
Num futuro tão próximo podes conseguir.
Por isso, tratar bem o idoso
É meu, é teu, é nosso dever
Não esqueça que o idoso de hoje
Amanhã pode ser você,
Basta ter vida em abundância
E nem tão cedo morrer.
(Maria Dionésia Santos da Silva)
RESUMO
A presente pesquisa intitulada “A inserção de idosos em uma Instituição de Longa
Permanência: Reflexões sobre o tema” objetivou desvelar e compreender os fatores que
culminam com a fragilização e/ou rompimento dos vínculos familiares da pessoa idosa e
consequentemente sua institucionalização, através da Unidade de Abrigo do Idoso do Estado
do Ceará, tendo ainda como objetivos específicos observar a dinâmica da Instituição,
conhecer a percepção dos idosos entrevistados sobre a velhice e identificar os principais
motivos que os levaram para uma Instituição de Longa Permanência. Desta forma, esta
pesquisa teve abordagem qualitativa, realizando pesquisas bibliográficas, documental e de
campo, utilizou-se como técnica de coleta de dados visitas institucionais, observação simples,
entrevista semiestruturada, realizadas no mês de setembro de 2014. Os sujeitos da pesquisa
foram seis idosos usuários da Unidade de Abrigo da STDS Ceará. A estrutura desta
investigação está disposta em três capítulos. O primeiro aborda os aspectos metodológicos da
pesquisa. No segundo capítulo é apontado os idosos na sociedade contemporânea e no terceiro
e último capítulo é discutido sobre a institucionalização dos idosos. Como considerações
finais, foi observada a importância de se ampliar o diálogo sobre a institucionalização de
idosos, realizado na Unidade de Abrigo do Idoso do Estado do Ceará, ao perceber esse
processo na vida das pessoas como uma busca pela possibilidade de novas socializações,
contribuindo para que a unidade possa criar oportunidades para que os idosos
institucionalizados vençam barreiras impostas pela sociedade do capital, como o
fortalecimento de seus vínculos comunitários.
Palavras-chave: Idoso, Institucionalização e Família.
ABSTRACT
This study, entitled "The integration of the elderly in a Long Term Care Institutions:
Reflections on" aimed to unveil and understand the factors that culminate with the weakening
and / or breaking of family ties of the elderly and consequently its institutionalization through
unit of the State of Ceará Senior Haven, also taking specific objectives observe the dynamics
of the institution know the perception of the elderly respondents about old age and identify
the main reasons that led them to an institution of long-stay. Thus, this research was
qualitative approach, performing literature searches, documentary and field was used as a
technique for data collection institutional visits, simple observation, semi-structured
interview, conducted in September 2014. The research subjects were six seniors who are
members of the STDS Ceará Shelter Unit. The structure of this research is arranged in three
chapters. The first addresses the methodological aspects of research. In the second chapter, we
point the elderly in contemporary society and in the third, and finally the last chapter, we
discussed the institutionalization of the elderly. Lastly, we noted the importance of broaden a
dialogue on the institutionalization of the elderly, held in the Unit of the State of Ceará Senior
Haven, to realize this process in people's lives as a search for the possibility of further
socialization, contributing to the unit can create opportunities for institutionalized elderly
overcome barriers imposed by capitalist society, such as strengthening their community ties.
Keywords: elderly, Institutionalization and Family.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACEPI – Associação Cearense de Proteção ao Idoso
ABG – Associação Brasileira de Gerontologia
AD – Atividade Diária
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária
BPC – Benefício de Prestação Continuada
CAGES – Coordenadoria de Assistência á Grupos Especiais
CAPS – Caixa de Aposentadoria e Pensões
CEJA – Centro de Educação de Jovens e Adultos
CEME – Central de Medicamentos
COBAP - Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas
CRAS – Centro de Referência e Assistência Social
CREAS – Centro de Referência e Assistência Social
CNAS – Conselho Nacional de Assistência Social
CPSE - Coordenadoria da Proteção Social Especial
DATAPREV – Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social
EI – Estatuto do Estado
EJA – Ensino de Jovens e Adultos
FAC – Faculdade Cearense
IAPAS – Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social
IAPS – Instituto de Aposentadoria e Pensões
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ILPI – Instituições de Longa Permanência
INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social
INPS – Instituto Nacional de Previdência Social
INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
LBA – Legião Brasileira de Assistência
LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social
OMS – Organização Mundial de Saúde
MDS – Ministério de Desenvolvimento Social
MPE – Ministério Público Estadual
MPAS – Ministério da Previdência e Assistência Social
PNAS – Política Nacional de Assistência Social
PNAD – Pesquisa Nacional por Amostras em Domicílio
PNI – Política Nacional do Idoso
PNSI – Política Nacional de Saúde do Idoso
PSB – Proteção Social Básica
PSE – Proteção Social Especial
SEDUC – Secretária de Educação
SINPAS – Sistema Nacional de Assistência Social
SBGG – Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia
SCFV – Sistema de Convivência e Fortalecimento de Vínculos
STDS – Secretária de Trabalho e Desenvolvimento Social
SUAS – Sistema Único de Assistência Social
RDC – Resolução Diretoria Colegiada
RMV – Renda Mensal Vitalícia
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 14
2 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA ........................................................ 19
2.1 Aproximações com o objeto investigado e delimitação do campo de pesquisa ................. 19
2.2 Especificidades da pesquisa................................................................................................ 23
2.3. Breve perfil dos sujeitos da pesquisa ................................................................................. 27
3 OS IDOSOS NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA ................................................... 32
3.1 Breve reflexões sobre os estereótipos atribuídos a velhice ................................................ 32
3.2 Os idosos no Brasil: marcos legais de defesa de sua cidadania.......................................... 35
3.3 Os idosos nas políticas públicas brasileiras: breve retrospectiva histórica ........................ 40
4 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DE IDOSOS .................................................................... 48
4.1 Pensando na relação família – Idoso na atualidade ............................................................ 48
4.2 A institucionalização de pessoa idosa ................................................................................ 51
4.3 A pesquisa de campo: o olhar do idoso institucionalizado na unidade de abrigo .............. 55
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 66
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 70
APÊNDICES ........................................................................................................................... 76
14
1 INTRODUÇÃO
A presente pesquisa, intitulada “A inserção de idosos em uma instituição de
longa permanência” busca conhecer os principais motivos que contribuem para o rompimento
de vínculos familiares e a institucionalização do idoso.
Diversas pesquisas apontam que o crescimento populacional do idoso, tornou-se
um fenômeno mundial, registrando mudanças em diversos âmbitos: sociais, culturais,
econômicos, institucionais, no sistema de valores e principalmente na configuração dos
arranjos familiares, segundo Camarano e Kanso (2010).
Conforme demonstra os dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio
(PNAD), realizada no ano de 2011, a população cearense foi estimada em 8,671 milhões de
pessoas, tendo tido aumento de 1,91% em relação à mesma pesquisa realizada em 2009, que
estimou a mesma população em 8,503 milhões de habitantes. Diante desse crescimento, a
pesquisa aponta que o maior destaque ficou por conta da população de idosos representada
por 1,089 milhão de pessoas, ou seja, 12,6% da população do Estado, que coloca o Ceará na
5ª unidade da federação com maior percentual de pessoas com 60 anos ou mais.
De acordo com Ministério Público Estadual (MPE), a partir do Censo de 2010 a
população de idosos com 60 anos ou mais nos últimos dez anos aumentou 61% no Ceará.
Para o MPE o número de entidades de longa permanência existentes no Estado não é
compatível com a demanda da população, o que resulta em fragilização desse serviço e
superlotação. (IBGE, 2010).
Segundo o Seminário “Um olhar positivo para o envelhecimento” realizado no
Complexo das Comissões Técnicas da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará no dia
27/02/11, juntamente com a pesquisa diagnóstica sobre a situação do idoso no Estado do
Ceará que buscou traçar o perfil do idoso no estado, foi constatado que apesar do crescimento
dessa população seguir a tendência nacional o último estudo do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA) que avalia as “Condições de funcionamento e estrutura das
Instituições de Longa Permanência para idosos (ILPIs) no Brasil”, elaborado nos anos de
2007 e 2008, constatou que no Ceará só havia 30 instituições de longa permanência para
idosos. Ressaltamos que nessa época havia 929 idosos institucionalizados, quando a
capacidade total dessas instituições era de no máximo 816 pessoas institucionalizadas.
(DIÁRIO DO NORDESTE, 27.05.2011).
15
Ainda conforme o IBGE (2010), essas 929 pessoas institucionalizadas
representavam 0,5% da população idosa estimada em 2007, que equivalia a 733mil pessoas.
Quatro anos depois, essa camada da população cresceu 45%, passando para 1,063 milhão de
pessoas institucionalizadas e a quantidade de instituições de longa permanência continua a
mesma. (DIÁRIO DO NORDESTE, 27.05.2011).
Como é possível perceber nas primeiras linhas dessa produção, a velhice é o tema
que se procura compreender. Busca-se entender como se dá tal processo na vida das pessoas e
de que forma estas lidam com essa etapa do ciclo vital. O interesse em conhecer as relações
existentes entre a velhice e os vínculos familiares que são travados no decorrer da existência
de cada um, foi o motivo para tomar a decisão em produzir esse trabalho acadêmico.
Pode-se dizer que a aproximação com o objeto da pesquisa se deu no sexto
semestre do Curso de Serviço Social da Faculdade Cearense, a partir do momento de início da
disciplina de Gerontologia, que é uma disciplina que se debruça sobre este assunto. A
gerontologia “é a ciência que estuda de maneira multi e interdisciplinar o processo de
envelhecimento em suas dimensões biológica, psicológica e social”. (site: abgeronto, 2014).
Também se pode destacar que o contato maior com o objeto da pesquisa foi
através de uma visita proposta pela professora da disciplina supracitada (Mariana Aderaldo1)
a uma instituição de longa permanência localizada na cidade de Fortaleza-Ceará, na qual a
equipe deveria construir um artigo voltado para realidade vivida por esses idosos na
instituição. Esse primeiro contato se deu de forma encantadora, uma sensação maravilhosa ao
entrevistá-los, principalmente por ter a oportunidade de conhecer a trajetória de vida desses
sujeitos, mesmo que a narrativa não fosse marcada somente por alegrias, mas também pelo
abandono, violência doméstica, dentre outras amarguras.
Os idosos entrevistados durante essa visita foram os que fizeram questão de nos
receber e de partilhar conosco suas experiências de vida, alegrias e tristezas. Na fala de cada
um foi possível perceber um contraste de emoções, alguns calejados pela vida, sentiam prazer
em passar o resto de suas vidas ali, e ao serem perguntados por seus familiares ou entes
queridos, sempre achavam uma desculpa para justificar a ausência dos mesmos e a
1 Possui graduação em Assistente Social pela Universidade Estadual do Ceará (1980), especialização em Terapia
Familiar pela Universidade Federal do Ceará (1988) e mestrado em Saúde Pública pela Universidade Federal do
Ceará (2003). Atualmente é Assistente Social da Secretária de Saúde do Estado do Ceará. Tem experiência na
área de Serviço Social, com ênfase em Serviço Social Aplicado. Pesquisado em http://www.cnpq.br/web/lattes.
acessado em 30 de novembro de 2014.
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permanência deles na instituição, enquanto outros sofriam com o abandono por parte de seus
familiares. Então, foi a partir desses relatos que foi despertado o interesse para a investigação.
As instituições de longa permanência são locais que acolhem pessoas idosas de
forma integral, podendo ser governamentais ou não governamentais. São determinadas pelo
caráter residencial, sendo destinadas as pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, tendo
ou não amparo por parte de familiares. Essas instituições surgiram historicamente ligadas aos
abrigos, com propósito de atender pessoas em situação de pobreza, vulnerabilidade social,
problemas de saúde e os que vivem sem nenhum apoio por parte da família e da sociedade.
(Camarano e Kanso, 2004).
Percebe-se que o crescimento da população idosa é um fenômeno mundial e no
Brasil as modificações ocorrem de forma radical e bastante acelerada. Estima-se que em 2020
o Brasil se torne o sexto país do mundo em número de idosos com um quantitativo superior a
30 milhões de pessoas. (VERAS, 2007), fato que gera novos desafios a serem enfrentados, a
exemplo da construção de políticas públicas que atendam a suas necessidades. Entre os novos
desafios acarretados pelo envelhecimento, pode-se perceber a dificuldade em garantir a
convivência dos idosos junto a seus familiares e a de manter sua integração junto à
comunidade. Segundo Carvalho (2003 apud Barbosa, 2012), o aspecto da individualidade
encontra-se no cerne da família moderna. Para a autora:
O problema da nossa época é, então, o de compatibilizar a individualidade e a
reciprocidade familiares. As pessoas querem ao mesmo tempo, a serem sós e a
“serem juntas”. Para isso tem que enfrentar a questão de que ao abrir espaço para a
individualidade, necessariamente se insinua uma ou outra concepção das relações
familiares (CARVALHO, 2003, p.43).
Assim, Simões (2009 apud Barbosa, 2012) reflete que essas mudanças podem
acarretar a fragilidade dos vínculos familiares e a consequente vulnerabilidade da família no
contexto social, gerando conflitos das mais diversas ordens.
As complicações que surgem em virtude da velhice, como as limitações físicas e
dependência para realizar algumas tarefas, culminam muitas vezes com a impossibilidade da
tomada de decisões provocando a dependência do idoso com seus familiares; esta
dependência muitas vezes não é compreendida nem aceita e que pode se transformar em
rejeição do idoso por parte de sua família, fragilização e/ou rompimento de seus vínculos
familiares e a consequente institucionalização. Seguindo o pensamento de Oliveira (2006)
Barbosa (2012), o autor aponta que “os principais motivos de admissão de idosos em asilos
17
são a falta de respaldo familiar relacionado a dificuldades financeiras, distúrbios de
comportamento e precariedade nas condições de saúde”.
Ainda, de acordo com Caldas (2002) “A família e os amigos são a primeira fonte
de cuidados. O maior indicador para o asilamento e outras formas de institucionalização de
longa duração entre os idosos é a falta de suporte familiar”. (CALDAS, 2002, p.51).
Esses motivos favorecem a institucionalização da pessoa idosa, contribuindo para
o afastamento do convívio com os seus e das relações historicamente construídas e acaba
forçado pela circunstância imposta a ter que construir novos vínculos, aprender a conviver em
outro espaço que não lhe pertence, ou seja, quando institucionalizado o idoso passa a ter que
reconstruir o seu cotidiano e essa construção nem sempre é fácil de ser realizada.
Para Bazo (1996) a velhice é uma construção social e sendo assim é invertida de
valores que muitas vezes a associam aos aspectos negativos como a incapacidade, a perda da
capacidade produtiva, da dificuldade da convivência familiar e comunitária; aspectos
utilizados como “justificativa” para que esses sujeitos sejam institucionalizados.
Dessa maneira a pesquisa teve como objetivo geral conhecer os fatores que
culminam na fragilização e/ou rompimento dos vínculos familiares da pessoa idosa e
consequentemente sua institucionalização, tendo como objetivos específicos observar a
dinâmica de uma instituição de longa permanência para idosos; conhecer a percepção dos
idosos entrevistados sobre a velhice e identificar os principais motivos que os levaram para
uma instituição de longa permanência.
A investigação foi realizada na Unidade de Abrigo do Idoso, localizada na rua
Olavo Bilac, n° 1280, no bairro São Gerardo, em Fortaleza-Ceará, que se constitui do único
abrigo público do referido Estado. Os sujeitos da pesquisa foram seis idosos, do sexo
masculino e feminino, residentes na instituição.
Inicialmente o propósito era entrevistar dez idosos, mas a partir de visita realizada
na instituição com o intuito de observar a rotina da instituição e de seus usuários e a partir da
conversa com duas assistentes sociais que trabalham no abrigo, fui informada que a
quantidade pretendida de usuários para conceder a entrevista (10 idosos) não seria viável, pelo
fato de muitos idosos que lá residem se encontrarem em condições de agravamento da saúde.
Assim, a assistente social sugeriu que fossem entrevistados seis usuários, sendo ela quem
escolheria os entrevistados, considerando o fato de conhecer o cotidiano dos idosos, o que
facilitaria a seleção daqueles com capacidade física e psicológica para participar da pesquisa.
18
A metodologia utilizada para a realização do trabalho foi de abordagem
qualitativa, através desta foi possível obter dados que permitiram uma compreensão maior
acerca do processo de institucionalização vivido por cada idoso, com isso houve a
oportunidade de conhecer as experiências de vida e os motivos que levaram estes idosos a
residirem em uma instituição de longa permanência. Também foi realizada a pesquisa
bibliográfica, documental e de campo. Como instrumentos para obtenção de dados foram
utilizados visitas institucionais, observação simples, técnica de gravação, roteiro de entrevista
previamente elaborado e entrevista semiestruturada.
Para tanto, esta produção acadêmica está estruturada em três capítulos, tratando o
primeiro dos aspectos metodológicos da pesquisa, no qual é apresentada a aproximação inicial
com o objeto de estudo, o campo estratégico da pesquisa, demonstrando brevemente o
histórico da Unidade de Abrigo do Idoso do Estado do Ceará. Ainda nesse capítulo, são
abordadas as especificidades desta pesquisa e apresentado um breve perfil dos sujeitos da
pesquisa.
No segundo capítulo é feito o diálogo com autores que abordam sobre o tema
proposto, onde são apontados os idosos na sociedade contemporânea, são discutidas algumas
reflexões sobre os estereótipos atribuídos à velhice, em seguida é pontuada uma breve
retrospectiva histórica das políticas brasileiras relacionadas aos idosos ao longo dos anos, uma
exposição breve sobre os marcos legais de defesa de cidadania dos idosos no Brasil.
No terceiro capítulo, discute-se sobre a institucionalização de idosos, as principais
transformações que ocorreram na relação idoso x família na atualidade, é apontado de forma
sucinta, dados sobre inserção de idosos em uma instituição de longa permanência e, por fim,
apresentadas as percepções dos sujeitos da pesquisa, mediante o olhar dos mesmos na
Unidade de Abrigo do Estado do Ceará.
Espera-se que a presente investigação propicie reflexões sobre a
institucionalização de idosos, podendo trazer significativas contribuições como fonte de
informações para profissionais das mais diversas áreas, como também para os próprios idosos,
que possam se reconhecer como sujeitos de direitos a partir das leituras dessa produção
monográfica.
19
2 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA
Este capítulo fará uma aproximação do leitor com a trajetória metodológica
percorrida para concretização desta pesquisa. São apresentados os fatores que levaram a
delimitar o objeto dessa pesquisa, as especificidades que a envolvem e por fim é traçado um
breve perfil dos sujeitos dessa investigação acadêmica.
2.1 Aproximações com o objeto investigado e delimitação do campo de pesquisa
Estudos envolvendo o idoso sempre me despertaram atenção pelo fato de eu ter
um olhar sensível sobre a questão do envelhecimento, entendendo que esse não é um processo
novo para o indivíduo, mas sim um processo iniciado desde quando nascemos e que têm sua
“culminância” na velhice, fase ainda estigmatizada desse processo próprio aos seres humanos
e que muitas vezes esbarra-se no rompimento dos vínculos familiares desses sujeitos – que os
leva a serem institucionalizados.
A partir desta reflexão comecei a delimitar meu objeto de investigação,
pretendendo compreender os motivos que levaram alguns idosos a estarem em uma instituição
de longa permanência. Para tanto, formulei alguns questionamentos sobre a questão, que
foram: Será que idosos se encontram em uma instituição de longa permanência por escolha
própria ou será escolha de seus familiares? Os idosos institucionalizados se encontram
abandonados por seus familiares? Que fatores levam a institucionalização dos idosos em
instituições de longa permanência? Por querer entender como se dá esse processo na vida
desses sujeitos, é que me interessei em aprofundar meus conhecimentos em relação ao
universo da pessoa idosa institucionalizada.
Durante as visitas realizadas, por meio dos relatos dos idosos entrevistados pude
caminhar (mesmo que em pensamento) pelos degraus do envelhecimento que percorreram e
percebi trajetórias marcadas por conquistas, mas também por perdas, muitas ainda não
superadas por alguns. Dessa forma, escolhi a Unidade de Abrigo do Idoso, do Estado do
Ceará, para ser o meu campo de pesquisa, por também ter sido esse o campo que tive o
primeiro contato com a temática da investigação.
A entrada no campo da pesquisa ocorreu por meio de um ofício destinado a
Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), por se tratar de uma instituição
20
pública do governo do estado do Ceará, vinculada diretamente a Coordenadoria da Proteção
Social Especial (CPSE). O ofício foi entregue diretamente em mãos, ao coordenador do
Laboratório de Inclusão, Sr João Monteiro que foi informado a respeito do tema pretendido na
pesquisa, o objeto que seria estudado e também sobre o objetivo geral e os objetivos
específicos deste trabalho, sendo assim concedida a autorização para iniciar a pesquisa na
Unidade de Abrigo do Idoso. Logo em seguida entrei em contato por telefone com uma das
assistentes sociais da unidade, confirmando a autorização para iniciar a investigação.
Na primeira visita realizada como pesquisadora, fui bem recebida na instituição
pela Assistente Social e por outros funcionários da unidade, realizei uma breve apresentação
do tema proposto e dos objetivos que pretendia alcançar. A assistente social fez um relato
sobre a instituição, a rotina dos institucionalizados e os profissionais.
Meu primeiro contato com os idosos da instituição foi bem marcante, se deu com
os idosos que estavam em um espaço ao ar livre destinado as atividades educativas, local em
que ficam sob a responsabilidade de uma pedagoga e instrutores, realizando atividades como
desenhos e pinturas, há também visitas voluntárias de alguns estagiários da área da saúde que
interagem realizando pintura de unhas, corte e tintura de cabelo. Todas as atividades
desenvolvidas ao som de músicas, momento em que alguns interagem cantando e dançando.
Os idosos se mostraram bem receptivos a pesquisa. Alguns se dirigiam a mim
com abraços e elogios. Uma das idosas me abraçou forte e não queria mais me soltar, foi
exatamente nesse momento que pude perceber que mesmo cercada de várias pessoas que
fazem parte do seu cotidiano, a carência afetiva vivenciada por ela pedindo para que eu não
fosse embora logo e que ficasse ali com ela conversando. Fiquei bastante comovida com esse
gesto e senti um contraste de emoções, por anteriormente ter tido realizado visitas voluntárias
em outra instituição e por ter conhecido uma realidade diferente dessa que passei a conhecer
por meio de minha monografia.
Em uma conversa com uma Assistente social da Unidade de Abrigo, perguntei os
motivos que contribuem para que os idosos cheguem à instituição e como se dá o processo
para a sua integração na unidade. Nesse momento pude desconstruir a ideia que tinha em
relação à outra instituição e aos outros idosos que conheço, fiquei comovida com os relatos da
assistente social ao informar que muitos dos idosos institucionalizados chegaram ali por
motivos graves: abandono familiar, violência doméstica, idosos sem vínculo familiar, idosos
em situação de vulnerabilidade social, em situação de risco pessoal ou social e que a entrada
21
dos idosos na unidade é determinada por ordem judicial depois de denúncias feitas geralmente
por vizinhos, pessoas desconhecidas e/ou anônimas e ao Conselho do Idoso, um dos órgãos
responsáveis pela notificação da violência e pelo envio da denúncia ao Ministério Público.
Depois de todo o processo, a determinação da vaga para o idoso que sofreu algum
tipo de violência chega à instituição e mesmo com a determinação enviada pelo Ministério
Público, o Serviço Social inicia o processo de averiguação do caso, ou seja, realiza a
confirmação do histórico do idoso através de visitas, tentando identificar a possibilidade de o
idoso possuir algum familiar ou alguém conhecido que conheça a sua trajetória de vida com a
finalidade de que seja possível manter um entendimento melhor com a família ou responsável
e ser iniciado o processo de institucionalização e/ou reintegração desse idoso ao seio familiar.
Sobre a pesquisa de campo como já citado, foi realizada na Unidade de Abrigo do
Idoso localizada na Rua Olavo Bilac, nº 1280, no Bairro São Gerardo, Fortaleza - Ceará, é
uma unidade mantida pelo Governo do Estado e coordenada pela Secretaria de Trabalho e
Desenvolvimento Social (STDS).
A instituição foi criada em 10 de janeiro de 1936, atualmente a unidade de abrigo
do idoso do Estado do Ceará, oferece proteção integral em regime de abrigo provisório e/ou
permanente, desenvolvendo trabalho em consonância com a Resolução da Diretoria Colegiada
(RDC), emitida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e em conformidade
com o que preconiza o Estatuto do Idoso. A instituição funciona 24 horas e é vinculada
diretamente a Coordenadoria da Proteção Social Especial (CPSE), da STDS. (Unidade de
Abrigo do Idoso do Estado do Ceará, 2014).
A Unidade de Abrigo tem em sua estrutura física duas alas destinadas aos idosos,
sendo uma das alas ocupada pelos idosos “dependentes”, que possuem capacidade física e
psicológica comprometida e a outra composta por idosos “independentes”, que possuem
algumas limitações, mas que são capazes de exercer suas atividades diárias (AD), como:
tomar banho, se alimentarem sozinhos, participar de atividades, dentre outras.
Atualmente a Unidade de Abrigo, acolhe exclusivamente pessoas idosas
abandonadas, sem vínculo familiar, em situação de risco ou vítimas de violência, prestando-
lhes atendimento integral sistemático, multiprofissional, com vistas ao seu desenvolvimento
biopsicossocial. A Unidade de Abrigo oferece proteção integral e cuidados para a preservação
da saúde física e emocional e seus direitos e garantias em locais adequados, visando garantir
vida e saúde a pessoas idosas em situação de vulnerabilidade social, de ambos os sexos,
22
permitindo um envelhecimento saudável e em condições de dignidade considerando os
dispositivos constitucionais, a Lei 8.742, de 07 de Dezembro de 1993, a Lei Orgânica de
Assistência Social (LOAS) e o Estatuto do Idoso, regulamentado pela Lei nº 10.741 de 01 de
Outubro de 2003. (Unidade de Abrigo do Idoso do Estado do Ceará, 2014).
Enquanto sua política geral parte do princípio de que é dever da família, da
sociedade e do Estado amparar idosos, assegurar sua participação na sociedade, defender a
dignidade e o bem-estar e garantir o direito à vida (conforme art. 230 da Constituição Federal,
88), cabendo à família do idoso prestar todo o cuidado necessário por ele demandado, como
previsto no Art. 299 da Constituição Brasileira “de que os filhos têm o dever de ajudar e
amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade” e ao Estado cabe como previsto no
Estatuto do Idoso “garantir a pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação
de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável em condições de
dignidade”. (Art. 9º EI). (Unidade de Abrigo do Idoso do Estado do Ceará, 2014).
Além dos serviços prestados na instituição, é desenvolvido o Grupo de
Convivência São Judas Tadeu, integrante do projeto social voltado para idosos de baixa renda,
coordenado e executado pelo governo do estado, denominado “Projeto Convive”. A
instituição ainda mantém convênios com a Secretaria de Educação do Estado do Ceará
(SEDUC) através da Educação de Jovens e Adultos (EJA), uma modalidade da educação
básica destinada aos jovens e adultos que não tiveram acesso ou não concluíram os estudos no
tempo previsto. Dois idosos frequentam as aulas no período noturno, no Centro de Educação
de Jovens e Adultos (CEJA) – PAULO FREIRE, que fica ao lado da unidade de abrigo
(Unidade de Abrigo do Idoso do Estado do Ceará, 2014).
O acolhimento de idosos na instituição é mantido de acordo a Tipificação
Nacional de Serviços Socioassistenciais, ou seja, é previsto para idosos que não dispõem de
condições para permanecer com a família, com vivência de situações de violência e
negligência, em situação de rua e de abandono familiar, com vínculos fragilizados ou
rompidos. (Unidade de Abrigo do Idoso do Estado do Ceará, 2014).
Durante visita na instituição e ao buscar dados sobre a estrutura física da mesma,
foi informado pela assistente social que a parte administrativa está acomodada em três salas
(administração, serviço social e apoio administrativo), de forma improvisada, ocupando
espaço dos cômodos reservados aos idosos institucionalizados. O local reservado aos idosos é
divido em duas alas, a dos idosos “dependentes” (idosos com capacidade física e psicológica
23
comprometida) e a dos idosos “independentes” (possuem limitações, mas exercem suas
atividades diárias) somando ao total 24 quartos, dois desses destinados à fisioterapia e
enfermagem. Possuem ainda duas cozinhas, uma lavanderia, um roupeiro e um espaço ao ar
livre para realização de festas. No tocante aos recursos humanos a unidade é composta por
137 profissionais: 89 terceirizados e 48 funcionários públicos. Os idosos são atendidos por
uma equipe multidisciplinar composta por seis assistentes sociais, seis fisioterapeutas, três
médicos, um dentista, oito enfermeiros, três pedagogas e 23 instrutores educacionais.
De acordo com a coordenação da instituição, o Serviço Social é responsável pela
admissão do idoso na instituição, realizando atendimento individual aos usuários e aos seus
familiares e amigos. Na unidade de Abrigo encontram-se atualmente 110 idosos, 48 mulheres
e 52 homens, porém sua capacidade de atendimento é de 99 idosos.
Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG):
As ILPIs são estabelecimentos para atendimento integral institucional, cujo público
alvo são as pessoas de 60anos ou mais, dependentes ou independentes, que não
dispõem de condições para permanecer com a família ou em seu domicílio. Essas
instituições, conhecidas por denominações diversas – abrigo, asilo, lar, casa de
repouso, clínica geriátrica e ancionato – devem proporcionar serviços na área social,
médica, de psicologia, de enfermagem, fisioterapia, terapia ocupacional, odontologia
e em outras áreas conforme necessidade desse segmento etário.
As Instituições de Longa Permanência são situadas de acordo com a Tipificação
Nacional de Serviços Socioassistências na alta complexidade. As políticas de cuidados de
longa duração para idosos no Brasil são situadas na Proteção Social Especial (PSE),
determinando o atendimento aos idosos e as famílias que se estão em situação de risco social,
desabrigados ou com seus direitos básicos ameaçados, inclusive vida e moradia. (MDS, 2009)
No Brasil, segundo Camarano e Leitão (2010, p.71) “As políticas de cuidados de
longa duração são de responsabilidade do órgão da Assistência Social, cabendo à vigilância
sanitária, através da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), o papel de
fiscalizar as entidades que cuidam de idosos”, ou seja, mesmo ofertando um serviço da
política de assistência social situado na alta complexidade, as instituições de longa
permanência precisam seguir as orientações da Vigilância Sanitária a quem também compete
a sua fiscalização.
24
2.2 Especificidades da pesquisa
Para concretização desta pesquisa foi utilizada a abordagem qualitativa, com a
pretensão de partir da subjetividade dos sujeitos entrevistados, realizar uma reflexão sobre o
cotidiano dos idosos que se encontram institucionalizados na Unidade de Abrigo da STDS
Ceará, campo dessa investigação.
A escolha por essa abordagem surgiu pelo fato de facilitar a compreensão do
processo pelo qual as pessoas constroem e descrevem significados para suas vidas. Para
Minayo (2010, p.22) “a abordagem qualitativa se aprofunda no mundo dos significados. Esse
nível de realidade não é visível, precisa ser exposta e interpretada, em primeira instância,
pelos próprios pesquisados”. Segundo a autora, a pesquisa qualitativa propicia ao pesquisador
a interpretação da realidade social, pelo fato de:
A pesquisa qualitativa responde á questões muito particulares. Ela se ocupa, nas
ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser
quantificado. Ou, seja, ela trabalha com o universo dos significados, dos motivos,
das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos
humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se
distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações
dentro e a partir da realidade vivida e partilhada com seus semelhantes. (Minayo,
2010, p.24)
Seguindo a abordagem qualitativa, foram utilizadas as pesquisas: bibliográfica,
documental e de campo. Para obtenção de dados: visitas institucionais, observação simples,
roteiro de entrevista previamente elaborado, entrevista semiestruturada e técnica de gravação;
autorizadas pelos sujeitos da pesquisa por meio do termo de consentimento livre e
esclarecido.
Como passo inicial para construção e desenvolvimento da investigação, foi
utilizada a pesquisa bibliográfica, compreendida não como mera repetição do que já foi dito
ou escrito sobre certo assunto, mas como pesquisa que proporciona exame de um tema sob
novo enfoque, chegando a conclusões inovadoras (MARCONI & LAKATOS, 1993).
Segundo Gil (2007, p.44), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de
material já elaborado, principalmente de livros e artigos científicos. Por meio dessa pesquisa
tenta-se explicar um problema a partir de referências teóricas, possibilitando a análise através
de comparações de várias posições acerca do problema. A pesquisa bibliográfica possibilitou
o acerco a bibliografias relacionadas à discussão da velhice e institucionalização de idosos no
25
Brasil, que subsidiaram teoricamente as discussões contidas nessa produção. Vale ressaltar
que o material da disciplina de Gerontologia cursada no 6º semestre foi importante fonte para
referências, por isso é importante registrar a relevância dessa disciplina para a formação do
aluno do Curso de Serviço Social.
De acordo com Gil (2008), a pesquisa documental guarda estreitas semelhanças
com a pesquisa bibliográfica. A principal diferença é a natureza das fontes: na pesquisa
bibliográfica os assuntos abordados recebem contribuições de diversos autores; na pesquisa
documental, os materiais utilizados geralmente não receberam ainda um tratamento analítico
(por exemplo, documentos conservados em arquivos de órgãos públicos e privados: cartas
pessoais, fotografias, filmes, gravações, diários, memorandos, ofícios, atas de reunião,
boletins, etc). Assim, as principais fontes documentais utilizadas nesse trabalho foram: o
Histórico da Unidade de Abrigo, um guia de análise institucional elaborado por uma ex-
estagiária, dentre outros.
Além da pesquisa bibliográfica e documental, utilizou-se a pesquisa de campo,
realizada na Unidade de Abrigo da STDS, situada no bairro São Gerardo, em Fortaleza-Ceará,
conforme anteriormente mencionado. Na pesquisa de campo, buscou-se uma aproximação
gradual com pessoas que contribuíram com a problemática estudada, com isso foi possível
que a proposta de estudo fosse efetivada partindo da realidade existente no campo, não
conseguindo apenas uma aproximação com o objeto estudado, mas construindo um
conhecimento específico do objeto estudado, tendo sempre consciência que nem tudo o que
foi encontrado serviu para confirmar um conhecimento predefinido, pelo contrário, o campo
de pesquisa foi utilizado como espaço de possibilidade para novas revelações. Para Minayo
(2010) o trabalho de campo é fruto de um momento relacional e prático: as inquietações que
levam ao desenvolvimento de uma pesquisa nascem no universo do cotidiano.
Para realização da pesquisa de campo inicialmente foi realizado o envio do ofício
da Faculdade Cearense à STDS Ceará, para autorização da pesquisa, as visitas institucionais
foram iniciadas após autorização. As visitas tiveram o intuito de manter um contato melhor
não só com os entrevistados, mas também com os profissionais. Objetivando conhecer a
rotina geral da instituição foi criado um ambiente favorável com os institucionalizados e
assim obter um melhor desenvolvimento nas entrevistas. Ao todo foram realizadas dez visitas,
entre os meses de setembro a novembro de 2014.
26
Durante as visitas foi aplicada a técnica da observação simples, tendo a
possibilidade de procurar apreender a individualidade dos idosos, obtendo elementos que
colaboraram para retratar a visão que eles tinham de si mesmos, contribuindo também para a
definição dos problemas da pesquisa que facilitam na obtenção de dados do cotidiano dos
sujeitos envolvidos e através deste tipo de observação foi possível obter informações sobre o
dia-a-dia dos idosos, como eles se relacionam e qual a sua rotina na instituição. A utilização
da técnica pode ser justificada pelo fato do pesquisador “identificar e obter provas a respeito
de objetivos sobre os quais os indivíduos não têm consciência, mas que orientam seu
comportamento” (MARCONI; LAKATOS, 1996, p.79). A observação proporcionou a
vivência que somente o pesquisador poderá ter, tornando o momento da pesquisa único.
Além da observação simples ocorrida durante as visitas institucionais aplicou-se a
entrevista semiestruturada, utilizando um roteiro composto por questões abertas e fechadas,
possibilitando maior flexibilidade na operacionalização da técnica. Segundo Minayo (2010), a
entrevista “é uma conversa a dois, feita por iniciativa do entrevistador, destinada a fornecer
informações pertinentes a um objeto de pesquisa”. Por meio da entrevista semiestruturada
surgiu a oportunidade de conhecer melhor a realidade vivida por cada entrevistado, criando
possibilidades de uma interação maior com os mesmos e assim ter um resultado melhor do
tema proposto. Ainda segundo a autora, a entrevista semiestruturada é o procedimento mais
usual no trabalho de campo, pois com sua aplicação o pesquisador procura obter informações
pertinentes aos atores sociais e estes fatos que reforçam a escolha por tal abordagem.
As entrevistas foram aplicadas com seis idosos da Unidade de Abrigo no período
de 22 a 29 de setembro de 2014.
As falas dos entrevistados foram gravadas, as gravações foram autorizadas pelos
mesmos. Como critério de seleção para a entrevista foram escolhidos idosos com faixa etária
menor e maior, com condições físicas e psicológicas para participar e idosos que tivessem
menor e maior tempo de institucionalização. Foi utilizado o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido para autorização das entrevistas, conforme já informado. No tópico seguinte, será
apresentado um breve perfil dos sujeitos envolvidos na pesquisa, com destaque para análise
realizada a partir das entrevistas.
27
2.3 Breve perfil dos sujeitos da pesquisa
Para que as entrevistas fossem iniciadas foi realizada uma breve apresentação
sobre o tema proposto aos possíveis entrevistados dando ênfase aos objetivos pretendidos.
Após a explanação alguns aceitaram participar e outros demonstraram desconfiança por
acharem que a entrevista iria comprometê-los de alguma forma. Por esta razão foi explicado
mais uma vez, detalhadamente, que se tratava de uma pesquisa acadêmica e haveria total
sigilo sobre as informações, suas identidades seriam preservadas, os relatos obtidos seriam
utilizados para fins científicos e a qualquer momento em que não se sentissem confortáveis
poderiam deixar de participar.
Depois dos devidos esclarecimentos, foi percebida a confiança dos participantes
em relação à pesquisa, podendo notar o quanto isso faz diferença ao tentar realizar uma
entrevista. Foi lido aos sujeitos da pesquisa o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(em anexo) e perguntado aos mesmos sobre a possibilidade das entrevistas serem gravadas.
Cientes dos procedimentos científicos, todos concordaram com as condições expostas, alguns
assinaram o termo e outros concederam verbalmente por não serem alfabetizados. Como
instrumento para coleta de informações foi utilizada uma entrevista semiestruturada
possibilitando uma melhor abordagem do tema proposto, foi utilizado também um roteiro de
entrevista previamente elaborado com perguntas abertas e fechadas.
As entrevistas foram realizadas em dois momentos, nos dias 22 e 29 de setembro
de 2014, sendo selecionados três mulheres e três homens, com idade entre 60 e 85 anos. As
informações foram todas coletadas no período da tarde por perceber que nesse turno havia
uma maior disponibilidade de comunicação por parte dos idosos. As visitas na instituição
foram realizadas pela manhã para ampliar a visão sobre a rotina dos usuários. Foi observado
que neste período é realizada a limpeza e a arrumação do quarto dos idosos pelos funcionários
da instituição, momento esse em que os idosos realizam suas atividades diárias: banho, café
da manhã, uso das medicações, fisioterapia e atividades educativas como desenho e pinturas.
As idas ao campo foram realizadas com uma maior intensidade, depois da
construção inicial do primeiro capitulo, entre duas e três vezes por semana. À medida que os
dados eram obtidos, através das observações e entrevistas, sobrava um tempo maior para que
fossem realizadas as transcrições das entrevistas e suas análises.
28
Através das entrevistas e do roteiro de perguntas foi possível construir o perfil dos
sujeitos da pesquisa. Este momento foi muito gratificante, estar ao lado dos idosos mesmo que
por alguns minutos poder adentrar seu universo e vivenciar através de seus relatos um pouco
das histórias vivenciadas por cada um dos entrevistados foi compensador.
Em cada relato dado pelos idosos, a sensação era a de voltar no tempo juntamente
com eles, pois eram feitos com tanto sentimento e tanta emoção, que apesar de estarem
dividindo momentos bons e ruins vividos ao longo da vida, era um privilégio poder fazer
parte destas histórias, mesmo que por alguns minutos. As histórias contadas por cada um
oscilavam entre risos e choros, transbordavam emoções: alegria, medo, raiva, solidão,
impotência em relação à condição atual e o sentimento de abandono e saudades foram os mais
evidenciados nas entrevistas.
A cada entrevistado recebeu um nome, porém não foi uma escolha aleatória, pois
não era a intenção identificá-los com algo que não os representasse ou não tivesse algum
significado. Através do perfil traçado de cada um em relação à sua história de vida, a decisão
foi identificá-los por nomes de pedras preciosas, dada a sua importância, raridade, riqueza e
valor, podendo a pessoa idosa ser identificada também através destas qualidades, através do
conhecimento construído por eles em toda a sua vida, a riqueza de sabedoria que é passada a
cada geração, através da cultura e costumes, a raridade por viver um momento único em suas
vidas e, por último, o sentimento captado durante as entrevistas e o que deixaram
transparecer, o devido valor que essas pessoas deveriam ter na sociedade e que não tem.
Diante do exposto, a escolha por investigar o universo do idoso institucionalizado
foi delicadamente pensada, de forma que pudesse contribuir para o processo de valorização
das mesmas por se tratar de pessoas que viveram tanto, construíram vínculos e que atualmente
encontram-se institucionalizadas, vivendo alegrias e angústias do passado.
Os codinomes de acordo com os entrevistados, três homens e três mulheres, são
os seguintes: Ônix, Diamante, Rubi, Esmeralda, Pérola e Safira.
O primeiro dos entrevistados foi Ônix, de 65 anos, sexo masculino, solteiro,
ensino fundamental em conclusão (ele é um dos idosos que frequenta o CEJA), natural do
interior do Estado, mas já morava em Fortaleza antes de ir para o abrigo, têm dois filhos,
trabalhava como vendedor ambulante, mas atualmente recebe o Benefício de Prestação
Continuada (BPC) e foi encaminhado ao abrigo por meio do Ministério Público. Segundo ele:
“eu trabalhava por conta própria era vendedor ambulante, adoeci num tive condição de
29
trabalhar, então eu fui no Ministério Público consegui uma vaga aqui pra mim vim ficar aqui,
eu mesmo fui no Ministério Público”. Ao ser perguntado se recebia visitas, Ônix comenta:
“nunca recebi até hoje, nem quando eu morei oito anos no Lar Torres de Melo nunca recebi
visita de ninguém da minha família”.
O segundo entrevistado foi Diamante, de 60 anos, sexo masculino, solteiro, não
alfabetizado, natural do interior do Estado, porém mora em Fortaleza desde sua infância, não
possui filhos e nunca exerceu atividade remunerada, recebe o Benefício de Prestação
Continuada (BPC). O senhor Diamante, afirma que:
Me trouxeram pra cá, porque perdi meu pai, perdi minha mãe, [...] Desde 08 de abril
de 1970, todo mundo se admira, eu sou o mais velho aqui (refere-se ao tempo de
institucionalização) eu tava no outro setor, é porque aqui tá em reforma. Recebi
visita dos irmãos que moram em Sobral.
Rubi foi o terceiro entrevistado, 74 anos, também natural do interior do Estado,
sexo masculino, viúvo, não concluiu o ensino fundamental, têm quatro filhos, sempre
trabalhou como caminhoneiro, está na Instituição há quatro anos e também recebe o Benefício
de Prestação Continuada (BPC). Conforme sua narrativa afirma da seguinte maneira o motivo
que o trouxe a instituição: “É porque eu fiquei acidentado e não trabalhava mais, vivia só na
rua só no que não prestava, jogando carteado e fumando”. Ao ser indagado se recebia visitas,
ele fez a seguinte afirmação: “Rapaz, receber num recebo não! As visita é vocês!”.
Esmeralda, quarta entrevistada, 85 anos, dois filhos já falecidos, viúva, sempre
trabalhou como auxiliar de produção, aposentada por tempo de serviço, não alfabetizada,
quatro meses de instituição. Ao relatar o motivo que a trouxe à instituição, ela comenta:
Doença, eu adoeci porque meu filho morreu [...] morava sozinha mais Deus”. “As
vizinha mim ajudaram, foi que um dia eu fiquei sem nada, ai eu contei pra elas, ai
foi eu mais tudim lá! Troxeram pra cá. Mais eu num queria ficar aqui não, queria
ficar na minha casa”.
Sobre as visitas recebidas, deu a seguinte afirmação: “Recebo das minha sobrinha,
das minha cumadre, pouco porque minha família já morreram quase tudo”. (As sobrinhas e
comadres referidas são vizinhas que a ajudavam quando ela morava sozinha - grifo do autor)
A quinta entrevistada foi a senhora Pérola, 60 anos, natural de Fortaleza, sem
filhos, ensino fundamental incompleto, não exerceu atividade remunerada, atualmente recebe
o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Relatando sobre sua vinda a instituição
demonstrou certa desmotivação: “Vim pra cá porque era o jeito, não tinha ninguém, não tinha
30
outro canto pra eu ir”. Perguntada por visitas, demonstrou tristeza e falou: “Às vezes eu tenho
visitas, tenho companhia da Dona A, S e M” (moradoras da unidade de abrigo).
A última entrevistada foi a senhora Safira, tem 78 anos, natural do interior do
Estado, veio com a família morar em Fortaleza desde a infância, viúva, têm dois filhos, não
alfabetizada, nunca teve vínculos empregatícios, recebe o Benefício de Prestação Continuada
(BPC). Ela relata sua vinda à instituição:
Ele queria que eu fosse tirar dinheiro pra ele (refere-se a um dos netos) se eu não
fosse ele mim mataria [...] Ai eu tomei o conselho da mulher, quando a polícia
chegou, ela disse olha: essa senhora tá perdida num sabe onde ir, num sabe a casa
dela, ai eu disse que queria vi pra cá, ai me troxeram.
Em relação às visitas ela diz: “Recebo dos meu neto, dos meus fí e dos meus
familiares, né! Eles vem me visitar por quinzena”.
Diante de todas as informações pode-se concluir que os idosos participantes da
pesquisa possuem entre 60 e 85 anos, sendo três mulheres e três homens, somando o total de
seis idosos, todos viviam em situação de vulnerabilidade social, com baixo nível de
escolaridade, dos seis entrevistados, apenas metade recebe visitas, cinco recebem o BPC e
apenas um teve vínculo empregatício e recebe aposentadoria.
31
3 OS IDOSOS NA SOCIEDADE CONTEMPORANEA
Este capítulo tem como propósito apresentar algumas discussões sobre os idosos
na atualidade, ou seja, refletir sobre o conceito de velhice e como ocorre a garantia dos
direitos da pessoa idosa na atualidade.
3.1 Breve reflexão sobre os estereótipos atribuídos a velhice
Ao pensar em velhice, logo vem à mente aquela etapa repleta de limitações
físicas, sociais e econômicas, ou seja, a fase final na vida de uma pessoa. No entanto, faz-se
de suma importância fazermos uma reflexão a respeito do processo de envelhecimento e suas
consequências, principalmente pelo aumento considerável da população idosa no Brasil e no
mundo, conforme dados apontados no capítulo anterior.
Segundo Ramos (2002) a velhice é um direito do ser humano. Para o autor:
A longevidade foi uma conquista e uma vitória do ser humano. Mas o surpreendente
é que depois de alcançar a possibilidade de uma vida longa (os homens viverão
100,120 anos) a sociedade não sabe o que fazer com os velhos. A velhice parece que
pode ser considerada uma vitória com sabor de fracasso. Todos querem viver muito,
ninguém quer ser velho. [...] Por que rejeitamos essa etapa da vida? Uma das
explicações, entre tantas outras que podem ser dadas, é que a velhice é excludente, e
portanto, sem significado, sem lugar. [...] Os velhos são sábios ou são um peso? São
eles um peso ou é a sociedade que torna pesada a vida dos que envelhecem? A
velhice tornou-se um problema social (RAMOS, 2002, p.7)
A velhice por vezes é percebida apenas pelo ponto de vista biológico e sob essa
ótica está associada ao desgaste natural do organismo, a exemplo das limitações físicas
(Caldas, 2002). Porém é importante mencionar que não podemos compreender a velhice
apenas relacionada ao aspecto biológico, mas também estando associada à aspectos
cronológicos, psicológicos e sociais.
Para Uchôa (2002) o envelhecimento é vivido de modo diferente de um indivíduo
para o outro e de uma sociedade para outra. Não se pode homogeneizar o envelhecimento,
pois cada pessoa o vivenciará de forma diferenciada, a depender da relação entre os aspectos
mencionados acima, embora historicamente não seja a visão da velhice que fora construída ao
longo dos tempos.
Pensando assim e analisando como a velhice vem sendo percebida ao longo dos
períodos históricos, pode-se reportar ao pensamento de Debert (1999 apud Schneider e
32
Irigaray, 2008) quando este afirma que a velhice foi tratada a partir da segunda metade do
século XIX como uma etapa da vida caracterizada pela dependência e pela ausência de papéis
sociais. É fato que o século XIX foi o período da história marcado pela ascensão do
capitalismo, regime caracterizado pela exploração do trabalho, que por sua vez demanda
indivíduos capazes de gerar lucro para o capital e assim a velhice passa a ser relacionada à
condição de incapacidade para produzir e gerar lucro. Essa ascensão do capital, seguindo a
visão liberal, prega indivíduos que por si devem garantir sua própria sobrevivência sendo
amparados pelo Estado, via políticas sociais, apenas nos casos de incapacidade, ou seja,
apenas para aqueles excluídos socialmente – os velhos, as crianças e as pessoas com
deficiência (Behring e Boschetti, 2011).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu o termo idoso para países em
desenvolvimento, a exemplo do Brasil, como o indivíduo com 60 anos ou mais; nos países
desenvolvidos como o indivíduo com 65 anos ou mais. Este ser idoso resulta do processo de
desenvolvimento individual durante o percurso de sua vida, passando a ser considerado um
ser de espaço e tempo, o que leva a refletir que nessa idade cronológica são levadas em
consideração as condições socioeconômicas e ambientais que os sujeitos estão inseridos e por
isso não há idade padrão estabelecido a nível mundial, cada país adota/estabelece seu
parâmetro; fatos que levam a sociedade contemporânea a ter diferenciadas formas de perceber
o conceito de velho.
Para Zimerman (2000, p.19), “Velho é aquele que tem diversas idades: a idade do
seu corpo, da sua história genética, da sua parte psicológica e da sua ligação com a
sociedade”. Analisando a sociedade brasileira, Oliveira (1999 apud Scortegagna e Oliveira,
2012) reflete que grande parte da população idosa sofre com estereótipos da velhice
associados aos problemas sociais, pois é considerável a parcela da população brasileira que é
vitimada pelo desemprego, pela ausência ou precariedade das condições de saúde, sendo tais
fatos associados a estereótipos da velhice que agravam ainda mais a visão dos idosos na
sociedade, mais ainda se esses forem oriundos das camadas mais vulnerabilizadas da
sociedade uma vez que o “estatuto da velhice é imposto ao ser humano pela sociedade à qual
pertence, sendo influenciado pelos valores culturais, sociais, econômicos e psicológicos de
uma sociedade que determina o papel e o status ‟ que o velho terá” (SILVA, 2003, p. 96).
Se a sociedade capitalista atual for observada, antes de sermos considerados
sujeitos, somos tidos como consumidores. E consumir trás consigo sempre a busca pelo novo,
33
pelo atual, pelo que está na moda. Essa visão de que o novo é aquilo que faz na sociedade
capitalista também se aplica a relações humanas, incluindo as relações intergeracionais.
Segundo Mascaro (2004), as representações sociais da velhice surgem na ordem
do capital associadas à dependência, doença, improdutividade e solidão, características que
contribuem para resistências e rejeições da velhice por parte dos idosos, muitos passam a não
querer ser tratados ou chamados de velhos por ser um conceito associado à exclusão, uma vez
que essas estão recheadas de preconceito.
Isso representa que em uma sociedade capitalista, que busca sempre a produção e
o lucro, a pessoa idosa passa a ser excluída por não produzir mais com a mesma eficácia de
antes, esta diminui ou perde sua capacidade de gerar lucro para o capital, e como afirma
Negreiros [...] A marginalidade e o desprezo estão vinculados à não produtividade de um
regime capitalista cruel, que vê os aposentados como inúteis e um fardo para a sociedade.
(NEGREIROS, 2003, p. 215).
No caso dos idosos pertencentes aos extratos mais vulnerabilizados da sociedade
o fato agrava-se se observado que grande parcela destes não é beneficiária da Previdência
Social (aposentados), requerendo auxílio financeiro da política de assistência social para
garantir a sua sobrevivência, como é o caso do Benefício de Prestação Continuada – BPC.
Com isso a aposentadoria ou o BPC, no caso dos segmentos mais vulnerabilizados
da sociedade, passa a ser a única fonte renda para grande parcela de idosos, sendo eles, em
algumas das vezes, os principais provedores de seus lares dados à situação conjuntural de
desemprego, ou seja, os idosos passam, em muitos casos a serem aqueles que sustentam suas
famílias, o que não significa dizer que isso resulta em esses terem seu lugar garantido nas
decisões familiares, pois muitas vezes suas decisões e opiniões não são levadas em
consideração, embora sejam esses os mantenedores financeiros de muitos lares.
Para Ramos (2002):
Ao se identificar a velhice como fenômeno social associou-se imediatamente a ela a
noção de decadência. Em razão disso, o Estado, a sociedade e a família não foram
capazes de tratá-la como questão social relevante [...] fundada na ideia somente de
filantropia e piedade. Tal percepção decorreu, dentre outros fatores, da visão
consoante a qual os velhos tinham pouco ou nenhuma utilidade na produção e
reprodução de riqueza. [...] pode-se afirmar que nenhuma sociedade tem a
capacidade de pensar além das gerações que a compõem. [...] a velhice como etapa
última da existência tem dificuldade de ser vista de forma positiva. [...] Superada a
fase da utilidade, o homem ficava à mercê da própria sorte. Essa condição só poderia
atrair para si signos negativos, portanto desvalor. (RAMOS, 2002, p.17-19)
34
Na sociedade capitalista os papéis sociais vivenciados pelos idosos são apagados
ou desconsiderados. Pode-se dizer que na maioria das vezes, já não importa o lugar que
ocuparam no mercado de trabalho (se foram operários da construção civil, comerciários,
médicos ou engenheiros), os papéis que desempenharam nas relações familiares (sejam esses
considerados padrões para a sociedade ou não) são por vezes colocados de lado (Scortegagna
e Oliveira, 2012), fatores esses que acabam contribuindo para a fragilização e/ou rompimento
dos vínculos familiares.
Ao idoso já não cabem às decisões familiares e pessoais, passando alguém a
desempenhar esse papel. Todos esses fatores e outros tantos mais que aqui não serão
elencados, validam e fortalecem a visão excludente do idoso, recheada de discriminações,
motivadas principalmente por fatores econômicos pelo fato dessas pessoas não serem
considerados capazes de garantir o seu próprio sustento ou mesmo gestar suas rendas.
Tentar entender e delimitar a velhice através de conceitos é algo complicado de
descrever, ao abordar esse conceito é legítimo deparar com uma diversidade de definições
relacionadas ao termo. Assim pode-se concluir que o envelhecimento é um conceito com
várias dimensões, podendo ser determinado dentro de diversos aspectos, sejam eles:
biológicos, cronológicos, econômicos ou sociais - uma vez que esse processo inicia a partir do
momento do nascimento, ou seja, a cada dia, a cada minuto somos mais velhos. Entretanto, a
visão da sociedade capitalista sobre a velhice como parte desse processo de envelhecimento
carrega consigo estereótipos e preconceitos por estarem associadas à perda ou diminuição da
capacidade laboral, que por sua vez não gera mais lucro para o capital e essa é visão
reproduzida nas relações de trabalho e nas relações humanas, o que é velho deve dar espaço
para o novo considerado o oxigênio motivador da sociedade do capital.
No próximo tópico, um breve histórico dos marcos de defesa de cidadania do
idoso no Brasil.
3.2 Os idosos no Brasil: Marcos legais de defesa de sua cidadania.
A Constituição de 1988, como Carta Magna do país, inaugura uma série de
direitos de cidadania e abre caminho para que marcos legais específicos, a partir de então,
serem elaborados, levando em consideração a diversidade e especificidade dos segmentos
35
sociais e com a população idosa não foi diferente, sendo considerada um divisor de águas,
conforme reflete Camarano e Pasinato (2004)
Anterior a atual Carta Magna (1988) do Brasil, entre as décadas de 1960 e 1980,
percebe-se a presença de movimentos dos idosos na luta pela cidadania e efetivação de
direitos que começaram a se multiplicar em todo o Brasil, sendo destaque a presença de
representações da sociedade civil organizada, dentre elas a Associação Nacional de
Gerontologia, a Sociedade Brasileira de Gerontologia e Geriatria (SBGG) e a Associação
Cearense de Proteção ao Idoso (ACEPI). Para Camarano (2004), a incorporação das questões
relacionadas ao envelhecimento da população nas políticas do Brasil não foi dada
gratuitamente para a população, sendo fruto de pressões dessa sociedade civil organizada, a
exemplo das instituições citadas.
Saindo de um período de repressões e desconstrução dos direitos representados
pela Ditadura Militar (1964-1985), o Brasil passa a construir uma agenda de direitos,
consolidados pela Constituição Federal de 1988, porém entra contraditoriamente a partir da
década de 1990, um cenário marcado por nova desconstrução, a partir da adoção das medidas
neoliberais defendidas pelos Governos Collor (1990-1992) e de Fernando Henrique Cardoso
(1995-2002). (Behring e Boschetti, 2011).
Mesmo envolto ao cenário neoliberal, na década de 1990, existem importantes
marcos legais de garantia dos direitos, onde destaca-se inicialmente a Lei Orgânica da
Assistência (LOAS) - lei nº 8.742/1993, que regulamentou os artigos 203 e 204 da
Constituição Federal, estabelecendo normas e critérios para a organização da política de
Assistência Social, passando a ser direito do cidadão e dever do Estado. Conforme a LOAS:
assistência é direito do cidadão e dever do Estado, é política de Seguridade Social
não contributiva, que prevê mínimos sociais, realizada por meio de um conjunto
integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento
às necessidades básicas (BRASIL, 2003).
O direito a assistência social é garantido pelo conjunto integral de ações de
iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, que também são destinadas a assistência social
segurar outros direitos, como a saúde e a previdência social com a criação de instituições
responsáveis pelo atendimento à população (PNAS, 2004), prevendo a lei 8.742/93 “a
garantia de um salário mínimo de benefício mensal, à pessoa portadora de deficiência e ao
idoso que comprove não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida
36
para sua família”, que é conhecido como Benefício de Prestação Continuada - BPC.
(BRASIL, 2001)
O Benefício de Prestação Continuada (BPC) foi regulamentado pela Lei Orgânica
da Assistência Social (LOAS), sendo um benefício individual, não vitalício e intransferível,
integrando a Proteção Social Básica no âmbito do Sistema Único de Assistência Social
(SUAS), sendo um direito de cidadania assegurado pela proteção social não contributiva da
Seguridade Social, garantindo a transferência mensal de um salário mínimo ao idoso que para
ter acesso ao benefício não é necessário que o mesmo já tenha contribuído para a Previdência
Social (MDS, 2009). Ainda de acordo com Ministério de Desenvolvimento Social, o
benefício é destinado aos cidadãos que se enquadrarem nos seguintes critérios: possuir 65
anos ou mais e as pessoas com deficiência incapacitadas de realizar atividades laborais. Sendo
de competência do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e ao Instituto Nacional do
Seguro Social (INSS), a sua operacionalização.
Sobre o BPC, Gomes (2011), reflete que esse benefício iniciou a adoção do
padrão de acesso a assistência social como direito previsto pela Constituição Federal,
rompendo com a perspectiva que essa trazia quando o acesso a benefícios não possuía regras
claras sobre seu acesso. Mas é preciso pensar que se por um lado o BPC se alicerça em
critérios para sua concessão e que foram pontuados acima, por outro esses critérios são
restritos a variáveis como incapacidade, idade e miséria, não possuindo assim caráter
universal, alcançando apenas aqueles que vivem abaixo da linha de indigência, ou seja,
apenas quem os acessam são os mais pobres dentre os pobres e que precisam provar para o
Estado que necessitam desse como fonte de sobrevivência. Por tudo isso, concorda-se com a
autora quando ela pontua que o BPC “é um direito que, na sua materialização, apresenta-se
aprisionado, contido, encerrado pelos imperativos do comando da ideologia neoliberal”.
(Gomes, 2001, p. 216)
Contemplando essa reflexão, Silva (2006) apud Rocha (2008) diz que o grau de
seletividade existente na LOAS faz com que muitos idosos não sejam incluídos nesse
benefício, seja por estarem fora do patamar da pobreza ou da faixa etária estipulados pelos
critérios da lei (65 anos), influenciados por fatores, como: falta de acesso aos documentos
exigidos ou por não se encontrarem na condição de “incapazes para o trabalho.”
Em tempos neoliberais de políticas seletivas e focalizadas uma questão importante
a ser mencionada é que o BPC acaba sendo a única fonte de renda de muitas famílias
37
brasileiras, que vitimadas pelo desemprego, pelas condições de miséria, acabam tendo o idoso
como o chefe da família e sendo esse benefício muitas vezes à única fonte de renda fixa da
família, motivos esses que também corroboram com o perfil dos idosos entrevistados,
distorcendo assim seu objetivo que é garantir as condições de sobrevivência do idoso e da
pessoa com deficiência; distorção essa pensada por Pereira (1998, p. 65).
[...] o rigoroso critério de elegibilidade associado à inexistência de articulação com
outros programas e serviços, acaba por privilegiar o seu caráter emergencial,
constituindo-se numa “armadilha da pobreza” e, perversamente, reforço das
desigualdades sociais, haja vista que ser beneficiário do BPC parece implicar a
reafirmação da condição de “dependente”, pois romper com os critérios exigidos
para a concessão do mesmo, referentes à renda e a incapacidade poderia significar a
exclusão do beneficiário e, portanto, a perda de sua principal fonte de sobrevivência.
(PEREIRA, 1998,p.65).
Feitas algumas colocações sobre a LOAS e o BPC e dando continuidade a
apresentação dos marcos legais de defesa da pessoa idosa no Brasil, cita-se ainda como
importante a regulamentação voltada especificamente para a população idosa a Política
Nacional do Idoso (PNI), pela Lei nº 8.842/1994, considerada a primeira política voltada
especificamente aos idosos no Brasil, que traz a responsabilidade da família, da sociedade e
do Estado, percebendo o idoso como um sujeito de direitos e deveres. A PNI busca “assegurar
aos idosos em relação aos seus direitos sociais e contribuir para a sua inclusão na sociedade,
ao mesmo tempo cria condições que promovem sua autonomia, integração e participação
efetiva na sociedade”. (Ministério da Saúde, 2014) A partir dessa, temos como
desdobramentos outras legislações que irão assegurar os direitos e deveres desse segmento, a
exemplo do Estatuto do Idoso.
Apenas em 2003 que foi aprovado no Brasil o principal marco legal de defesa dos
direitos da pessoa idosa que foi a lei de nº 10.741/2003. O Estatuto do Idoso é considerado
uma das maiores conquistas sociais da população idosa em nosso país ampliando assim, a
resposta do Estado e da sociedade às necessidades da população idosa. (BRASIL, 2003).
Sobre o histórico do surgimento do Estatuto do Idoso Camarano e Pasinato (2004)
apud Ottoni (2012) explicitam que antes de ser sancionado o Estatuto do Idoso no ano de
2003, a legislação referente aos idosos era fragmentada e assim sua aprovação representou a
incorporação de ações relacionadas às mais diversas políticas públicas, como saúde,
assistência social, dentre outras, percebendo o sujeito idoso como cidadão de direito. Como
38
instrumento legal a Lei 10.741/2003 estrutura-se em 118 artigos dispostos em sete títulos, que
são:
Título I – Disposições preliminares;
Título II - Dos Direitos Fundamentais: Do Direito à Vida, Do Direito à Liberdade, ao
Respeito e à Dignidade, Dos Alimentos, Do Direito à Saúde, Da Educação, Cultura, Esporte e
Lazer, Da Profissionalização e do Trabalho, Da Previdência Social, Da Assistência Social, Da
Habitação e Do Transporte;
TÍTULO III - Das Medidas de Proteção: Das Disposições Gerais e Das Medidas
Específicas de Proteção;
TÍTULO IV - Da Política de Atendimento ao Idoso: Disposições Gerais, Das Entidades
de Atendimento ao Idoso, Da Fiscalização das Entidades de Atendimento, Das Infrações
Administrativas, Da Apuração Administrativa de Infração às
Normas de Proteção ao Idoso e da Apuração Judicial de Irregularidades em Entidade de
Atendimento;
TÍTULO V - Do Acesso à Justiça: Disposições Gerais, Do Ministério Público, Da
Proteção Judicial dos Interesses Difusos, Coletivos e Individuais Indisponíveis ou
Homogêneos;
TÍTULO VI - Dos Crimes: Disposições Gerais e Dos Crimes em Espécie;
TÍTULO VII - Disposições Finais e Transitórias
O objetivo não é discutir todos os títulos e capítulos da lei, apenas registrar como
esta se estrutura de forma que o leitor desse trabalho monográfico perceba como esse marco
legal engloba a articulação entre as diversas políticas públicas para que sejam assegurados os
direitos dos idosos no país, embora se saiba que o documento por si só não os garante sendo
necessário haver uma sensibilização da sociedade da efetivação de seus artigos, bem como a
incorporação de sua responsabilidade, em conjunto como a família e o Estado para a defesa da
população idosa, conforme prevê o Estatuto, considerando que no Brasil, é notável a grande
diferença que existe entre a lei e a realidade vivida pelos idosos, isso é possível a partir do
grande número de discursos que tentam dar prioridade a esse fato, mas que na realidade não o
efetivam.
No entanto, embora seja necessária e indispensável a efetivação dos artigos do
Estatuto do Idoso, vivemos tempos neoliberais de desarticulação dos direitos, privatização
serviços públicos e desresponsabilização do Estado com as políticas públicas, fatos que
39
mascaram e boicotam os direitos constitucionais da população, dificultando sua efetivação.
Cada vez mais cresce o abismo entre ricos e pobres, aqueles que podem e os que não podem
“pagar por seus direitos”, embora sejam iguais perante a Carta Magna brasileira.
Outro importante marco de defesa da pessoa idosa foi alcançado em relação à area
da saúde, trata-se da portaria nº 2.528 do Ministério da Saúde, assinada em 19 de outubro de
2006 aprovando a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, tendo “como finalidade
primordial a recuperação, manutenção e promoção da autonomia e da independência da
pessoa idosa, ao direcionar medidas coletivas e individuais de saúde para esse fim, estando
em consonância com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde, tendo como
principais alvos dessa política todos os cidadãos brasileiros a partir de 60 anos”. Através dessa
Portaria foi possível trazer novos paradigmas para a discussão da situação de saúde dos
idosos. Além disso, faz parte das diretrizes dessa política a promoção do Envelhecimento
Ativo e Saudável, de acordo com as recomendações da Organização das Nações Unidas, em
2002. (MS, 2010)
É importante mencionar outros marcos que não são específicos da população
idosa, mas que preveem direitos desse segmento. Destacamos nessa fala a Política Nacional
de Assistência Social (PNAS, 2004), que contribuiu para o fortalecimento dos direitos
voltados para os idosos no âmbito da promoção da Assistência Social e também a Tipificação
Nacional dos Serviços Socioassistenciais (2009) que estabeleceu os parâmetros de definição
dos serviços, da proteção social básica e especial, essa última onde estão inseridas as
instituições de longa permanência para idosos.
O próximo tópico abordará os idosos nas políticas públicas brasileiras, onde será
discutido melhor sobre este tema.
3.3 Os idosos nas políticas públicas brasileiras: breve retrospectiva histórica
De acordo com Silva (2003, p.110):
A condição de velho na atualidade tem revelado grandes alterações do tempo,
remota [...] a urbanização e a industrialização acentuam a desigualdade, que,
associados aos preconceitos e estigmas, vêm demonstrando que as experiências
acumuladas durante a vida não estão sendo aceitos pelos mais jovens. (SILVA,
2003, p.110)
40
O que significa dizer esses significativos avanços na esfera da ciência e tecnologia
não necessariamente significaram rompimento dos estigmas e preconceitos atrelados à velhice
na ordem do capital; fatos que refletem a constituição das políticas públicas voltadas aos
idosos;
2 Destinadas para algumas categorias de estratégicas de trabalhadores, a exemplo de ferroviários e marítimos,
dentre outros. (Behring e Boschetti, 2008, p.80).
3 Período marcado pela queda da República Oligárquica com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder,
inaugurando a chamada Era Vargas, dividida em Governo Provisório (1930-1934), Governo Constituinte (1934-
1937) e Estado Novo (1937-1945).
Para se entender melhor como esse processo aconteceu, relata-se um pouco da
história do surgimento das políticas públicas. Conforme afirma Camarano (2004):
A incorporação das questões referentes ao envelhecimento populacional nas
políticas públicas brasileiras foi fruto de pressões e influência da sociedade civil,
com destaque para SBGG, que tinha como um dos principais objetivos “estimular
iniciativas e obras sociais de amparo á velhice e cooperar com outras organizações
interessadas em atividades educacionais, assistenciais e de pesquisa relacionadas
com a Geriatria e Gerontologia” (CAMARANO, 2004, p.264).
As primeiras políticas previdenciárias no país datam do século XX, sendo
destinados aos trabalhadores do setor privado, onde pode-se destacar a criação do seguro de
acidentes do trabalho em 1919 e a promulgação da Lei Eloy Chaves (1923). Era então
instituída a Caixa de Aposentadoria e Pensões (CAPs)2 do qual o decreto tinha por alvo os
trabalhadores operários urbanos como os ferroviários.
Que segundo Sposati (2008), afirma que:
[...] em 1923, a Lei Elói Chaves (Lei nº. 4682 de 24-1-1923) criava a Caixa de
Aposentadoria e Pensões para os funcionários. Antes de 1930, duas outras
categorias já recebiam o beneficio do seguro social: portuários e marítimos, pela
Lei nº. 5.109(20-12-1926) e telegráficos e radiotelegráficos, pela Lei nº. 5.485 (30-
6-1928)“ (Sposati, 2008 p.42).
Ainda de acordo com a mesma autora, esses funcionários pagavam uma
pequena contribuição mensal e tinham o direito de se aposentar caso não tivesse em
condições de saúde por motivos de idade avançada, doenças incapacitantes, dentre outras.
A partir da chamada Revolução de 19303, são iniciadas no Brasil as
regulamentações trabalhistas que tanto “definem” o Governo de Vargas e que por isso o
41
mesmo recebeu o pseudônimo de “pai dos pobres”, embora se saiba que essas
regulamentações mais favoreciam o capital, que à época buscava se alicerçar no país, do que
o próprio trabalhador. As ações propostas por Vargas destinadas aos trabalhadores estavam
relacionadas à previdência, a educação, a saúde e a habitação, sendo no mesmo período
criado o Ministério do Trabalho, e em 1932, a Carteira de Trabalho, que segundo Behring e
Boschetti (2008):
[...] passa a ser o documento de cidadania no Brasil: eram portadores de alguns
direitos aqueles que dispunham de emprego registrado em carteira. Essa é uma
característica do desenvolvimento do Estado social brasileiro: seu caráter
corporativo e fragmentado, distante da perspectiva da universalização de inspiração
beveridgiana. (BEHRING & BOSCHETTI, 2008, P. 106).
Pode-se afirmar que foi nesse mesmo período que o cenário político e de
desenvolvimento do Estado social favoreceu o surgimento do sistema público de previdência,
com a criação dos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), que tinham entre seus
propósitos a cobertura de riscos ligados à perda da capacidade laborativa entre elas: velhice,
morte, invalidez e doenças. (BEHRING & BOSCHETTI, 2008).
No ano de 1966 foi criado o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), que
agregou todos os outros institutos, com a unificação, uniformização e centralização da
previdência social, momento esse em que os trabalhadores foram retirados da gestão da
previdência social, passando essa questão ser tratada como técnica e atuarial. (Behring e
Boschetti, 2008). As autoras comentam que houve uma ampliação na Previdência em relação
aos trabalhadores rurais e, assim a política assume caráter mais redistributivo, alcançando
também outros segmentos da sociedade, ou seja, foi a partir da criação do INPS que o
sistema previdenciário se originou no Brasil para os trabalhadores que estivessem inseridos
no mercado de trabalho.
Nesse mesmo ano o Governo Federal implanta as aposentadorias rurais e o
Benefício de Renda Mensal Vitalícia (RMV), instituído pela Lei nº 6.119/74, criando
benefícios não contributivos para os idosos carentes e trabalhadores rurais ou urbanos.
(Camarano e Pasinato, 2004).
No contexto de Ditadura Militar foi aprovada a Lei n° 6.036 de 1° de maio de
1974, que criou o Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), sendo
desmembrado do Ministério do Trabalho e Previdência Social. Pode-se ressaltar também que
42
de acordo com as reflexões de Camarano e Pasinato (2004) foi:
A primeira iniciativa do governo federal na prestação de assistência ao idoso
ocorreu em 1974 e consistiu em ações preventivas realizadas em centros sociais do
Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) e da sociedade civil, bem como de
internação custodial dos aposentados e pensionistas do INPS a partir de 60 anos. A
admissão em instituições era feita considerando o desgaste físico e mental dos
idosos, a insuficiência de recursos próprios e familiares e a inexistência de família
ou abandono por ela. (CAMARANO & PASINATO, 2004. P.264).
Segundo Behring e Boschetti (2008), no ano de 1977 foi criado o Sistema
Nacional de Previdência e Assistência Social (SINPAS), abrangendo os seguintes órgãos:
INPS, IAPAS, INAMPS, FUNABEM, LBA, CEME e DATAPREV, que visavam
reestruturar “a Previdência Social e as formas de manutenção e concessão dos benefícios e
serviços, além de reorganizar a gestão administrativa e patrimonial”. (site: Prefeitura de Porto
Alegre, 2014).
No tocante às instituições da sociedade civil que historicamente vem lutando para
a garantia e o reconhecimento dos direitos dos idosos no Brasil, é mencionado que nesse
período:
A sociedade brasileira já vinha se organizando para se estabelecer como um ator
social de expressão das reivindicações da população idosa. Em 1977, uma primeira
organização social já havia sido criada: a Associação Cearense Pró-idosos (Acepi).
Esta tem por objetivo reivindicar os direitos dos idosos, estabelecer trabalhos
conjuntos com o governo federal, assim como organizar entidades de atenção a
eles. Uma outra manifestação da sociedade civil foi a criação da Confederação
Brasileira de Aposentados e Pensionistas (Cobap) em 1984. Na verdade, esse não
foi um movimento novo. Teve sua origem na década de 1960 com a criação da
União dos Aposentados e Pensionistas do Brasil. (CAMARANO & PASINATO,
2004, p. 266).
Outra importante instituição da sociedade civil que também contribuiu para a
garantia e o reconhecimento de direitos da pessoa idosa, criada em 1985 foi:
Associação Nacional de Geriatria (ANG), entidade de natureza técnico-científica de
âmbito nacional, voltada para investigação e prática científica em ações de atenção
ao idoso. O seu primeiro objetivo é o de “desenvolver constante ação política e
técnica junto aos órgãos públicos, as entidades privadas e à comunidade em geral,
reivindicando sua atenção e audiência para que os idosos possam expressar com
dignidade suas reais necessidades e reivindicando, ainda, a adoção de medidas
minimizadoras de seus problemas”, (CAMARANO & PASINATO, 2004, p. 266).
Todas essas questões contribuíram para que o idoso tivesse uma visibilidade
maior perante os demais membros da sociedade e assim colaborando para que o papel antes
construído de uma pessoa marginalizada fosse aos poucos se desconstruindo. (Santos, 2003),
43
mas é preciso dizer que embora alguns avanços tenham sido alcançados, ainda há muito que
debater e cobrar do Estado, da família e da sociedade a atenção integral ao idoso, que é
cidadão e sujeito de direito.
No Brasil, a Constituição de 1988, rompe com a perspectiva da caridade e do
clientelismo que marcaram as ações do Estado junto aos segmentos mais vulnerabilizados da
sociedade, introduzindo a perspectiva de direito e estabelecendo uma rede de proteção social
para a população, alicerçada no tripé da Seguridade Social composta pelas políticas de Saúde,
Previdência e Assistência Social.
No âmbito da Assistência Social, que neste trabalho é demarcado para
aprofundamento, pode-se dizer que sua regulamentação pela LOAS, que já brevemente foi
apresentada, tendo outros avanços sido construídos no ano de 2004 com a instituição da
Política Nacional de Assistência Social que se efetiva ao integrar-se às políticas setoriais,
visando seu enfrentamento à garantia dos mínimos sociais, ao provimento de condições para
atender contingências sociais e à universalização dos direitos sociais, sob essa perspectiva,
tendo como principais objetivos:
Prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica e,
ou especial para famílias, indivíduos e grupos que desses necessitarem;
Contribuir com a inclusão e a equidade de usuários e grupos específicos,
ampliando o acesso aos bens e serviços socioassistenciais básico e especial, em
áreas urbana e rural;
Assegurar que as ações no âmbito da assistência social tenham centralidade
na família e, que garantam a convivência familiar e comunitária. (PNAS, 2004, p.
33)
Avançando legalmente para a consolidação da política de assistencial social, a
elaboração da Tipificação de Serviços Socioassistenciais a Assistência Social de 2009, é
outro marco importante da assistência social brasileiros, onde os serviços estão estruturados e
organizados em dois níveis de proteção, que são a Proteção Social Básica (PSB) e Proteção
Social Especial (PSE) - dividia em Proteção de Média e de Alta Complexidade. Seguindo a
inspiração do Sistema Único de Saúde (SUS) a Proteção Social da Assistência Social está
organizada de forma hierarquizada de acordo com a complexidade apresentada por cada
serviço e público atendido. (MDS, 2009)
A Proteção Básica busca o desenvolver ações voltadas ao fortalecimento dos
vínculos familiares e comunitários, sendo sua porta de entrada os Centros de Referência da
Assistência Social (CRAS), onde são desenvolvidos diversos serviços, dentre eles, o Serviço
44
de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para Idosos. Já a Proteção Social Especial que
se volta a indivíduos que tiverem seus direitos violados e cujos vínculos familiares e
comunitários estão fragilizados e/ ou rompidos, sendo os equipamentos de referencia de
atendimento os Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS),
equipamentos de caráter público. A média complexidade da PSE destina-se ao atendimento
aos indivíduos cujos vínculos não foram rompidos e a alta complexidade, quando há
rompimento deste e onde estão situadas as Instituições de Longa Permanência para Idosos.
(PNAS, 2004)
Ainda a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais (Resolução CNAS
nº 109/2009) delimita o Serviço de Fortalecimento de Vínculos para Idosos executados nos
CRAS, que busca o “desenvolvimento de atividades que contribuam no processo de
envelhecimento saudável, no desenvolvimento da autonomia e de sociabilidades, no
fortalecimento de vínculos familiares e do convívio comunitário e na prevenção de situações
de risco social.” (MDS, 2009, p. 11).
São usuários desses serviços, os idosos com idade igual ou superior a 60 anos,
que estejam em situação de vulnerabilidade social, em especial (MDS, 2009):
- Os Idosos beneficiários do Benefício de Prestação Continuada;
- Idosos de famílias beneficiárias de programas de transferência de renda;
- Idosos com vivências de isolamento por ausência de acesso a serviços e
oportunidades de convívio familiar e comunitário e cujas necessidades, interesses e
disponibilidade indiquem a inclusão do serviço. (MDS, 2009, p.12)
Ainda de acordo com a Tipificação, é definido como objetivos específicos do
SCFV para idosos:
- Contribuir para um processo de envelhecimento ativo, saudável e autônomo;
- Assegurar a sua convivência familiar e comunitária;
- Detectar necessidades e motivações e desenvolver potencialidades e capacidades
para novos projetos de vida;
- Propiciar vivências que valorizam as experiências e que estimulem e
potencializem a condição de escolher e decidir. Isso contribuirá para o
desenvolvimento da autonomia social dos usuários. (MDS, 2009, p. 13)
Além do serviço acima citado, a Tipificação Nacional dos Serviços
Socioassistenciais também prevê o Serviço de Proteção Social Básica no Domicílio para
Pessoas com Deficiência e Idosas, que tem como finalidade a “prevenção de agravos que
possam provocar o rompimento de vínculos familiares e sociais dos usuários; visando a
45
garantia de direitos, o desenvolvimento de mecanismos para a inclusão social, a igualdade de
oportunidades e a participação e o desenvolvimento da autonomia das pessoas com
deficiência e idosas, a partir de suas necessidades, prevenindo situações de risco, exclusão e
isolamento”. (MDS, 2009, p.16)
Este serviço deve contribuir com a promoção do acesso de serviços de outras
políticas públicas, entre elas a educação, trabalho, saúde, transporte especial e programas de
desenvolvimento de acessibilidades, serviços setoriais e de defesa de direitos e programas
especializados de habitação e reabilitação (MDS, 2009). É importante destacar que observa-
se que esse serviço da PSB não existe no Estado do Ceará, pelo menos até a concretizar dessa
pesquisa (final ano 2014).
Com relação a serviços da Proteção Social Especial da Média Complexidade para
pessoas com deficiência, idosos e suas famílias esses ofertam:
Um conjunto variado de atividades, organizadas a partir de um Plano Individual ou
Familiar de Atendimento, com o objetivo de ampliar aquisições para o
enfrentamento das situações de risco por violação de direitos em decorrência da
dependência e de outros agravos, como a convivência com a extrema pobreza, o
isolamento social, a precariedade dos cuidados familiares, exploração da imagem,
atitudes discriminatórias e preconceituosas no seio da família, alto grau de estresse
do cuidador, dentre outras, que agravam a dependência e comprometem o
desenvolvimento da autonomia. (MDS, 2014)
Na Proteção Social Especial de Alta Complexidade encontramos serviços que
estão voltados para as famílias e indivíduos que se encontram em situação de abandono,
ameaça ou violação de direitos, os que necessitam de acolhimento provisório, fora do seu
núcleo familiar de origem. (MDS, 2014). Conforme a Tipificação Nacional dos Serviços
Socioassistenciais, os serviços que são: Serviço de Acolhimento Institucional (podendo ser
desenvolvido nas modalidades de abrigo institucional, casa-lar, casa de passagem ou
residência inclusiva); Serviço de Acolhimento em Republica; Serviço de Acolhimento em
Família Acolhedora; e Serviço de Proteção em situações de Calamidade Pública e de
Emergência.
A Tipificação de Serviços Socioassistenciais prevê serviços de acolhimento para
a população idosa, no caso as Instituições de Longa Permanência que são parte integrante da
Proteção Social Especial de Alta Complexidade, destinando-se para idosos com 60 anos ou
mais de ambos os sexos, independente e/ou com diversos graus de dependência, sendo esse
Acolhimento Institucional desenvolvido nas seguintes modalidades:
46
- Atendimento em unidades residenciais onde o grupo de até 10 idosos é acolhido,
devendo contar com pessoal habilitado, treinado e supervisionado por equipe
técnica capacitada para auxiliar nas atividades da vida diária. (MDS, 2009, P.46)
- Atendimento em unidade institucional com caráter domiciliar quando acolher
idosos com diferentes necessidades e graus de dependência. Deve assegurar a
convivência com familiares, amigos e pessoas de referencia de forma contínua, bem
como o acesso as atividades culturais, educativas, lúdicas e de lazer na comunidade.
A capacidade de atendimento das unidades deve seguir normas da Vigilância
Sanitária, devendo ser assegurado o atendimento de qualidade, personalizado, com
até 04 idosos por quarto. (MDS, 2009, P.46)
Ainda de acordo com o MDS (2009)
A natureza do acolhimento deverá ser provisória e, excepcionalmente, de longa
permanência quando esgotadas as possibilidades de auto sustento e convívio com
familiares. Sendo destinado aos idosos que não dispõem de condições para
permanecer com a família, com vivência de situações de violência e negligência,
em situação de rua e de abandono, com vínculos fragilizados ou rompidos. (MDS,
2009, P.45)
Mas, sabe-se que no cotidiano dos idosos institucionalizados não é isso que
acontece, ou seja, o acolhimento acaba não possuindo caráter provisório, pois muitos são tem
seus vínculos familiares totalmente rompidos e são abandonados por seus familiares, cabendo
ao Estado assumir a responsabilidade de ser seu cuidador, o que por sua vez não esgota a
responsabilidade da família e da sociedade em zelar pelo cumprimento dos direitos dos
idosos.
No capítulo a seguir é apresentada a questão da institucionalização sofrida pelos
idosos na sociedade do capital, a relação existente entre o idoso, família e o cenário das
relações intergeracionais.
47
4 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DE IDOSOS
Nesse capítulo pretende-se refletir sobre os aspectos que permeiam a
institucionalização dos idosos, refletindo sobre a relação família-idoso na atualidade e
discutindo sobre os principais aspectos da institucionalização desses sujeitos, onde será
trazida a pesquisa de campo realizada na Unidade de Abrigo da STDS Ceará.
4.1 Pensando na relação família – idoso na atualidade
Conforme o discutido nos capítulos anteriores, é fato que o desenvolvimento da
ciência e da tecnologia trouxeram a sociedade avanços significativos que abriram espaço para
a melhoria da qualidade de vida e possibilidade de crescimento da expectativa de vida da
população; no entanto, é importante ser mencionado que esse desenvolvimento não significou
necessariamente que essa qualidade e expectativa aconteçam, sobretudo, quando se fala dos
segmentos sociais e economicamente mais vulnerabilizados da sociedade e que no caso
específico do Brasil, ainda possuem dificuldades de acesso a serviços básicos como
alimentação, saúde, habitação, educação, dentre outros.
Diante disso pode-se dizer que o envelhecimento surge nesse contexto como
problema social, como aponta Teixeira (2008):
O envelhecimento constitui-se um problema social, principalmente, para as classes
destituídas de propriedade (exceto de sua força de trabalho) e de controle do seu
tempo de vida, em função das contradições e determinações da sociedade capitalista
que engendram desigualdades, vulnerabilidade social em massa, degradações,
desvalorizações, para essa classe social, especialmente com o avanço da idade
cronológica, com o desgaste da força de trabalho (TEIXEIRA, 2008, p. 2).
Para completar esse pensamento, as reflexões de Zimerman, (2000) contribuem
para um melhor entendimento desta problemática, ao afirma que:
Em uma sociedade consumista como a nossa, o velho tornou-se um ser descartável.
A Revolução Industrial no século XIX, pode se considerada um marco na situação
do velho. Foi nessa época que a mulher, historicamente a responsável pelo cuidado
doméstico e com os velhos, passou a produzir tudo em escala cada vez maior. O
humano e artesanal foi substituído pelo mecânico e descartável. (ZIMERMAN, 2000
p. 41).
48
Coelho (2002) ressalta que no início dos anos 1990 a mulher conquistou uma
redefinição de papéis e identidades masculina e feminina e que essas mudanças e conquistas
ocorreram devido ao trabalho e a modernização do mundo.
Nesse panorama a sociedade moderna carrega mudanças na estrutura familiar
brasileira, cheia de “novos valores, atitudes, condutas ligadas à industrialização, à cidade e ao
prestígio de estranhos” (Nogueira, 2004, p.134 apud Carvalho, 2011). É fato que a família
tradicional nuclear burguesa – composta de pai, mãe e filhos não é mais o padrão único
existente e aceito. Hoje, tem-se uma diversidade de arranjos familiares que incluem famílias
homoafetivas, famílias monoparentais (cujo chefe é o pai ou a mãe), famílias cujos avós criam
os netos, dentre outras. Em meio a essas reconfigurações, o desafio é pensar estratégias de
fortalecimento dos laços entre as gerações, de forma que o idoso possa ser percebido como
sujeito e, portanto, membro da família que também deve desempenhar um papel dentro dessa
instituição.
Sobre isso, Zimerman (2000) ressalta que, “se a casa tem muita importância para
a maioria das pessoas, para o velho assume um papel ainda mais relevante, pois é dentro dela
que ele vai passar a maior parte do seu tempo, morando sozinho ou com outras pessoas”.
(p.36)
Segundo Osterne (2004) família pode ser pensada como:
Algum lugar, seja o lar, a casa, o domicílio, o ponto focal onde se pode desfrutar do
sentido de pertencer, onde se possa experimentar a sensação de segurança afetiva e
emocional, onde se possa ser alguém para o outro, apesar das condições adversas mesmo
independente das relações de parentesco e consanguinidade. Algo que pode ser pensado
como o local de retorno, o destino mais certo. Local para refazer-se das humilhações
sofridas no mundo externo, expandir a agressividade reprimida, exercitar o autocontrole,
repreender, vencer o outro, enfim, sentir-se parte integrante. (OSTERNE, 2004, p. 65).
Entretanto, o que se percebe é que muitos idosos parecem não encontrar lugar em
sua família, mantendo por vezes seu papel de provedor financeiro, mas não mais participando
das decisões como chefe ou membro da família, gerando assim processo de repressão e
exclusão desses sujeitos. Zimerman (2000) destaca que :
À medida que vão envelhecendo, vemos a família se alterando e, em especial, a
posição de cada membro dentro dela. Os papéis vão se modificando e a relação de
dependência torna-se diferente. [...] A família deve ajudar o velho a viver não só
mais com o melhor, de forma a não se tornar um peso para si e para os que o
cercam, e sim uma pessoa integrada no sistema familiar (ZIMERMAN, 2000, p. 51).
Ainda para a autora:
49
[...] o velho não tem um espaço psicológico, moral e existencial na família atual e,
consequentemente, na sociedade. Em um mundo no qual o avanço tecnológico é
cada vez mais rápido, torna-se difícil os mais jovens aceitarem que o velho tem um
ritmo diferente, que deve ser respeitado [...]. As mudanças são muito rápidas e
demoram para ser internalizadas e realizadas. Além de ser naturalmente mais lento,
ele é alguém do lápis vivendo no mundo do computador. O velho acaba sempre
sobrando e não conseguindo acompanhar a realidade que o cerca, até porque, como
as pessoas não têm paciência para ouvi-lo e familiarizá-lo com as novidades e não
há quem o estimule, ele se torna, então, alguém sem objetivo, sem o que fazer.
(ZIMERMAN, 2000, p. 33)
Essas mudanças no mundo do trabalho e nas relações sociais impactam o
desempenho dos papéis dos membros da família, incluindo os idosos. Segundo Camarano e
Melo (2010):
[...] a legislação brasileira estabelece que os idosos sejam cuidados
preferencialmente nos seus lares. Isto se deve aos altos custos do cuidado formal,
especialmente o institucional, e à crença de que o idoso é mais bem cuidado na sua
família sugere que tal justificativa está baseada na percepção de que os cuidadores,
em especial as mulheres, não incorrem em custos financeiros e/ou emocionais ao
prover cuidado aos idosos nas famílias. (Camarano e Melo, 2010 p.16).
Essas mudanças requisitam do Estado brasileiro a construção de estratégias para
refletir sobre esses papéis, bem como demandam condições para que esses possam ser
desempenhados, inclusive quando se pensa nas relações entre idosos e os demais membros de
suas famílias, para que dessa forma os vínculos entre eles não sejam fragilizados e na pior das
hipóteses cheguem a ser rompidos, devendo o Estado promover ações que fomentem as
relações intergeracionais.
É indispensável que o Estado e a sociedade estimulem o contato e as atividades
entre as gerações, pois se para Both (2000):
A criança é estimulada através do processo de ensino a organizar seus interesses,
pensamentos, conceitos de acordo com a linguagem socializada no seu universo
circundante. Esse processo de transformação de conceitos é mais estimulado com as
crianças do que com o velho. O velho ao contrário, é forçado a perder o interesse
porque se lhe retiram os objetos, a ações e a palavra, empobrecendo-lhe as
mediações sociais pela retirada das instituições e porque essas já não oferecem
estimulantes objetivos em torno dos quais se formam o pensamento, a linguagem e
os sentimentos. (BOTH, 2000, p. 38)
Na sociedade do capital o velho é algo ultrapassado, é algo que não serve mais e
que deve ser substituído pelo novo. Ao pensar na relação de consumo pode-se ver que essa é a
lógica. É preciso consumir, é preciso ter o produto da moda, a tecnologia mais avançada e
essa lógica se refletem nas relações sociais (Alonso, 2005), desde o mercado de trabalho ao
50
seio da família – instituição que ainda desempenha papel central na sociedade. Teixeira
(2008) aponta que:
As relações de produção, o trabalho abstrato e as condições de degradação social,
que sofrem a classe trabalhadora durante toda a trajetória de sua vida, reproduzida
na velhice pobre, desprotegida, desprovida dos meios de sobrevivência e
desvalorizada socialmente, tudo isso é ocultado para ressaltar um problema de
ordem cultural e genericamente atribuído ao grupo etário como um todo...”
(TEIXEIRA, 2008, p.224).
Sendo o idoso um dos mais afetados nesse contexto, por encontrar-se inserido
junto a limitações que surgem cercados de desafios, entre eles podemos destacar:
O maior desafio na atenção à pessoa idosa é conseguir contribuir para que, apesar
das progressivas limitações que possam ocorrer, elas possam redescobrir
possibilidades de viver sua própria vida com a máxima qualidade possível. Essa
possibilidade aumenta na medida em que a sociedade considera o contexto familiar e
social e consegue reconhecer as potencialidades e o valor das pessoas idosas.
Portanto, parte das dificuldades das pessoas idosas está mais relacionada a uma
cultura que as desvaloriza e limita. (MS, 2007)
No entanto esse desafio vem seguido de limitações, barreiras, rompimentos de
vínculos, abandono e pela falta de implementação de programas que auxiliem os cuidados da
vida diária da pessoa idosa, todos esses fatores contribuem para que as famílias busquem
apoio formal, como as Instituições de Longa Permanência para as pessoas idosas, sendo essas
formas de moradia para a pessoa idosa que acabam por causar diferentes expectativas na vida
do idoso, através do processo de institucionalização que será o tema abordado no tópico
subsequente.
4.2 A institucionalização da pessoa idosa
Conforme preconiza a Constituição Federal de 1988, que em seu capítulo VII,
artigo 230: “A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas,
assegurando a participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e
garantindo-lhes a vida”.
Responsabilidades que demarcam a necessária construção de políticas públicas
que possibilitem que essas sejam cumpridas sejam por parte da família, da sociedade ou
mesmo do Estado.
51
Por sua vez, as famílias nem sempre tem condições de manter essa
responsabilidade, pois diversos fatores externos (como o desemprego, as precárias condições
de habitalidades) e internos (conflitos intergeracionais), impactam em sua rotina, contribuindo
para que haja uma diminuição nas condições econômicas, físicas e emocionais para o cuidado
com o idoso, agravadas ainda mais pela escassez ou ações de políticas públicas que lhe
proporcionem condições para exercer essa responsabilidade.
Ressalta-se que diante da ausência de políticas de proteção social a população em
geral sofre com a desresponsabilização do Estado, sendo a família “chamada a responder por
esta consequência sem receber condições para tanto. Com isso o Estado reduz suas
intervenções na área social e deposita na família uma sobrecarrega que ela não consegue
suportar tendo em vista sua situação de vulnerabilidade socioeconômica” (Gomes e Pereira,
2006, p. 361). Compartilhando ainda do pensamento das citadas autoras, pode-se perceber que
a questão que norteia esse processo se debruça na necessidade de efetivar ações de promoção
e apoio às famílias vulneráveis através de políticas sociais mais abrangentes e com foco maior
nesse segmento.
Goldman, (2004) reflete que as transformações tecnológicas e no mundo do
trabalho trouxeram impactos para toda a sociedade, incluindo, sobretudo para os idosos.
Outras questões presentes no cotidiano que afetam a população idosa podem ser expressas
pelo:
[...] declínio da fecundidade, as mudanças nos padrões de nupcialidade, os
movimentos migratórios, entre outros fatores, estão aumentando a demanda por
modelos alternativos de cuidado dos idosos em situação de dependência.
(CAMARANO; MELLO, 2010, p. 20).
Nesses cenários as Instituições de Longa Permanência surgem como alternativa
para inserção de idosos, com a justificativa de que a família não pode ser a principal
cuidadora. É importante refletir que a atualidade carece da ampliação dos debates e políticas
públicas que tratem das relações intergeracionais, de forma que os vínculos familiares e os
que os papeis de seus membros sejam fortalecidos, sugerindo estratégias para que não haja
isolamento do idoso ou mesmo sua institucionalização.
Sobre essa fragilização dos vínculos familiares e institucionalização do idoso
Araújo (2007) reflete seu aspecto negativo:
52
Considerando que a transferência do idoso de sua casa para uma instituição tem um
grande potencial para produzir quadros depressivos, confusão, perda de contato com
a realidade despersonalização e um senso de isolamento e separação da sociedade
faz-se fundamental um acompanhamento a este idoso (ARAÚJO. 2007).
A afirmação corrobora o pensamento de que é imprescindível serem pensadas
estratégias para que não haja o rompimento dos vínculos familiares da pessoa idosa, pois mais
do que a perda de contato com a família, este rompimento pode provocar quadros por vezes
irreparáveis para os sujeitos. “Por serem praticamente formadas só por velhos, com a exceção
das pessoas que lá trabalham, criam uma situação muito diferente da que existe no mundo
real. Com o tempo, o velho perde o contato com crianças e com pessoas do sexo oposto”.
(Zimerman, 2000, p.97)
Deste modo, a ANVISA define Instituição de longa permanência como sendo:
“Instituições governamentais ou não governamentais, de caráter residencial, destinadas a
domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem suporte
familiar, em condição de liberdade, dignidade e cidadania”. (BRASIL, 2005).
De acordo com o Estatuto do Idoso essas instituições devem ser fiscalizadas pelo
Conselho do Idoso, Ministério Público, Vigilância Sanitária, entre outros. Ainda de acordo
com Christophe (2009)
Atualmente, o órgão responsável pela execução da Política Nacional do Idoso é o
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). A fiscalização e o
controle de sua execução são atribuídos à Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA) e a suas congêneres locais. A fiscalização do respeito aos direitos dos
idosos é atribuída conjuntamente aos Conselhos Nacional, Estaduais e Municipais
do Idoso e ao Ministério Público Federal (CHRISTOPHE, 2009, p. 40).
De acordo com a RDC 283/2005 da ANVISA, as ILPIs devem contar com um
Responsável Técnico (RT) pelo serviço, que responderá pela instituição junto à autoridade
sanitária local; devendo possuir formação em nível superior, com carga horária mínima de 20
horas por semana. (ANVISA, 2005). Além do responsável técnica a resolução também
menciona a necessidade de outros profissionais com vínculo formal de trabalho, que são:
4.6.1.2 Para os cuidados aos residentes:
a) Grau de Dependência I: um cuidador para cada 20 idosos, ou fração, com carga
horária de 8 horas/dia;
b) Grau de Dependência II: um cuidador para cada 10 idosos, ou fração, por turno;
c) Grau de Dependência III: um cuidador para cada 6 idosos, ou fração, por turno.
4.6.1.3 - Para as atividades de lazer: um profissional com formação de nível superior
para cada 40 idosos, com carga horária de 12 horas por semana.
53
4.6.1.4 - Para serviços de limpeza: um profissional para cada 100m2 de área interna
ou fração por turno diariamente.
4.6.1.5 - Para o serviço de alimentação: um profissional para cada 20 idosos,
garantindo a cobertura de dois turnos de 8 horas.
4.6.1.6 - Para o serviço de lavanderia: um profissional para cada 30 idosos, ou
fração, diariamente.
4.6.2 - A instituição que possuir profissional de saúde vinculado à sua equipe de
trabalho, deve exigir registro desse profissional no seu respectivo Conselho de Classe.
(RDC ANVISA 283/2005)
4.6.3 - A Instituição deve realizar atividades de educação permanente na área de
gerontologia, com objetivo de aprimorar tecnicamente os recursos humanos
envolvidos na prestação de serviços aos idosos. (RDC ANVISA 283/2005)
No tocante a sua estrutura física, ainda nos diz a Resolução as necessidades da
Instituição de Longa Permanência dispor dos seguintes espaços:
4.7.7.1 - Dormitórios separados por sexos, para no máximo 4 pessoas, dotados de
banheiro.
a) Os dormitórios de 01 pessoa devem possuir área mínima de 7,50 m2, incluindo
área para guarda de roupas e pertences do residente.
b) Os dormitórios de 02 a 04 pessoas devem possuir área mínima de 5,50m2 por
cama, incluindo área para guarda de roupas e pertences dos residentes.
c) Devem ser dotados de luz de vigília e campainha de alarme.
d) Deve ser prevista uma distância mínima de 0,80 m entre duas camas e 0,50m
entre a lateral da cama e a parede paralela.
e) O banheiro deve possuir área mínima de 3,60 m2, com 1 bacia, 1 lavatório e 1
chuveiro, não sendo permitido qualquer desnível em forma de degrau para conter a
água, nem o uso de revestimentos que produzam brilhos e reflexos.
4.7.7.2 Áreas para o desenvolvimento das atividades voltadas aos residentes com
graus de dependência I, II e que atendam ao seguinte padrão:
a) Sala para atividades coletivas para no máximo 15 residentes, com área mínima de
1,0 m2 por pessoa
b) Sala de convivência com área mínima de 1,3 m2 por pessoa
4.7.7.3 Sala para atividades de apoio individual e sócio-familiar com área mínima de
9,0 m2
4.7.7.4 - Banheiros Coletivos, separados por sexo, com no mínimo, um box para
vaso sanitário que permita a transferência frontal e lateral de uma pessoa em cadeira
de rodas, conforme especificações da NBR9050/ABNT.
a) As portas dos compartimentos internos dos sanitários coletivos devem ter vãos
livres de 0,20m na parte inferior.
4.7.7.5 - Espaço ecumênico e/ou para meditação
4.7.7.6 - Sala administrativa/reunião
4.7.7.7 - Refeitório com área mínima de 1m2 por usuário, acrescido de local para
guarda de lanches, de lavatório para higienização das mãos e luz de vigília.
4.7.7.8 - Cozinha e despensa
4.7.7.9 - Lavanderia
4.7.7.10 - Local para guarda de roupas de uso coletivo
4.7.7.11 - Local para guarda de material de limpeza
4.7.7.12 - Almoxarifado indiferenciado com área mínima de 10,0 m2.
4.7.7.13 - Vestiário e banheiro para funcionários, separados por sexo.
a) Banheiro com área mínima de 3,6 m2, contendo 1 bacia, 1 lavatório e 1 chuveiro
para cada 10 funcionários ou fração.
b) Área de vestiário com área mínima de 0,5 m2 por funcionário/turno.
4.7.7.14 -Lixeira ou abrigo externo à edificação para armazenamento de resíduos até
o momento da coleta.
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4.7.7.15 - Área externa descoberta para convivência e desenvolvimento de
atividades ao ar livre (solarium com bancos, vegetação e outros)
4.7.7.16 - A exigência de um ambiente, depende da execução da atividade
correspondente. (RDC 283/2005 ANVISA).
Ao citar sobre a quantidade de idosos que se deve esta acomodada nos quartos, foi
possível perceber que através da realização das visitas na instituição, essa realidade torna-se
contraditória pelo fato de ter presenciado ate cinco camas em alguns quartos, sendo que todas
estavam ocupadas, comprovando assim o desrespeito quanto às determinações. (Diário de
Campo da Pesquisadora, 2014).
A seguir, os olhares dos idosos institucionalizados na Unidade de Abrigo da
STDS Ceará - sujeitos desta pesquisa.
4.3 A pesquisa de campo: o olhar do idoso institucionalizado na unidade de abrigo
A pesquisa de campo, como já relatado no tópico 2.3 foi realizada com a
participação de seis idosos entrevistados, lembrando que foram três do sexo feminino e três do
sexo masculino e foram usados codinomes: Ônix, Diamante, Rubi, Esmeralda, Pérola e
Safira.
Ressalta-se que a entrada no campo foi de grande valor para se entender o
universo do idoso institucionalizado, juntamente com os relatos acerca de como eles
chegaram à instituição e os motivos que contribuíram para a institucionalização, com isso foi
possível perceber o real sentimento que eles deixaram transparecer que foi de abandono,
causado pela perda de vínculos familiares.
Ainda, a partir dos relatos vivenciados pelos idosos foi possível resgatar relatos de
suas vidas, contribuindo para que eles pudessem relembrar as trajetórias vividas ao longo de
sua caminhada até o momento atual, passando por diversos momentos marcados por alegrias,
dificuldades e tristezas. Com isso foi possível construir o olhar do idoso institucionalizado na
Unidade de Abrigo. Esses idosos apresentarem diferentes percepções em relação à família e a
velhice ao se depararem com a institucionalização.
A institucionalização e o processo da velhice contribuíram para que eles criassem
sentimentos diversificados nada mais compreensível visto que a velhice é um processo que
surge seguido de diversas maneiras de ser sentida e tem a figura do idoso como um ser único,
dotado de particularidades.
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Diante dos relatos apontados pelos idosos e que é pertinente ao processo de
institucionalização, incorporamos na pesquisa o significado que os idosos demonstraram em
relação à família.
De acordo com Zimerman (2000)
À medida que vamos envelhecendo, vemos a família se alterando e, em especial, a
posição de cada membro dentro dela. Os papéis vão se modificando e a relação de
dependência torna-se diferente. [...] A família deve ajudar o velho a viver não só
mais como melhor, de forma a não se tornar um peso para si e para os que o cercam,
e sim uma pessoa integrada no sistema familiar (ZIMERMAN, 2000, p. 51).
Enquanto o senhor Diamante e a senhora Esmeralda incorporam na família
significados positivos, mesmo tendo consciência que foi o abandono por parte de seus
familiares que os trouxeram a instituição expressam em suas falas que:
Pra mim família é bom! Bom demais! Tenho minha saúde, num devo nada a
ninguém, sou aposentado, pronto! (Diamante).
É uma alegria pra mim [...] família grande num é bom, pra num deixar minino por
ai. (Esmeralda).
Foi observado que Senhor Diamante é dos poucos que recebe visita de um dos
seus familiares, no caso um irmão que não reside no interior do Estado, mas que algumas
vezes ao ano vem lhe visitar. Ele coloca muita expectativa nas visitas e nas palavras do irmão
que lhe prometeu o levar embora do abrigo, é isso que lhe motiva. No entanto ao ser
perguntado sobre quando isso iria acontecer, respondeu que o irmão lhe prometeu mais não
tem data certa para acontecer.
Já a Esmeralda fala também com alegria, pois é a outra idosa que tem o privilegio
de receber visitas, mas no decorrer da entrevista, foi sabido que a família que ela considera
são suas antigas vizinhas que a ajudavam quando ela morara sozinha. E quando ela faz
referência ao falar que família grande não é boa, está fazendo referência a si própria por já ter
tido uma família grande e agora na velhice se encontra sozinha.
Já para outros idosos, o significado de família era desconhecido, não tinha
importância ou demonstraram até certa indiferença.
Na entrevista com o Senhor Ônix, observa-se um pouco de frieza em seu relato,
por não receber visitas e por ser mais um dos idosos na instituição que chegou por conta do
abandono familiar e conflitos causados pelo rompimento de vínculos familiares, pois a
referência que ele tinha de família era apenas de pai e mãe na narrativa ele falou que a última
56
vez que tinha visto seus pais foi no ano de 1975, depois desse ano não os procurou mais, teve
noticias que a mãe havia falecido, mas o pai até os dias de hoje não sabe se ainda está vivo.
A seguir, um relato que expressa esta questão: “Rapaz família não tem significado
pra mim! O significado mermo da minha família mermo eu posso dizer, afirmar que eu não
tenho família, porque [...] Eu entro nessas casas como abandono de família, tem na minha
ficha”. (Ônix)
O Senhor ônix ao relatar que entra nessas casas entra como abandono familiar é
porque esse é a segunda vez em que ele encontra-se institucionalizado, pois já viveu em outra
unidade aqui na cidade de Fortaleza.
Ao perguntar ao Senhor Rubi sobre a sua percepção de família os sentimentos
demonstrados foram de saudades e tristeza. Por ter relatado que já tinha tido uma família e
que não soube valorizar, pois por ter sido caminhoneiro não parava em casa e nem sentia falta
da família. Apesar de ter quatro filhos nenhum desses filhos o visita, ele também chegou ao
abrigo por causa de conflitos que acabaram por contribuir para o rompimento e/ou
fragilização dos vínculos familiares, motivos esses que acabaram por culminar no abandono
familiar e na sua ida a instituição, já que diante de tudo isso ele vivia abandonado pelas ruas.
Ele relatou que com o passar dos anos foi que ele começou a sentir falta de seus familiares:
“Ah se eu tivesse pelo menos um, eu tinha uma alegria muito grande! Rapaz pra minha mente
significa que eu penso que já morreu”. (Rubi)
A Senhora Pérola, mesmo não tendo conhecido sua família e não recebendo
visitas de nenhum conhecido na instituição, chegou à instituição por encontrar-se jogada nas
ruas da cidade. Apesar de tudo ela relata que o sentimento que ela teria se tivesse uma família.
Em seu relato ela percebe a família como necessidade e cooperação: “O significado de família
é que a pessoa tem carinho, que a pessoa tá precisando de alguma coisa a pessoa pergunta,
você quer isto?” (Pérola)
Já a Senhora Safira que apesar de ter dois filhos, vivia abandonada pelos dois e
sofrendo maus tratos por parte de um neto, motivo esse que contribuiu para sua vinda a
instituição, não demonstrou nenhuma emoção ao falar de família percebe mesmo nem
sabendo que a definição que ela tem é a da família nuclear: “Entendo que é filho, mãe, pai aí
se torna uma família”. (Safira)
Para Mascaro (2004, p. 09) “o processo de envelhecimento e a fase da velhice
fazem parte de nossas experiências de ser vivo”, então a velhice não é menos importante do
57
que qualquer outra fase da vida, devendo, portanto, ser alvo da atenção da família, da
sociedade e do Estado.
Em relação à percepção que eles têm sobre a velhice, é pontuado:
Nesse momento aí eu sinto falta da minha família, nesse momento deu tá
envelhecendo, porque eu não tenho família. (Ônix)
A velhice pra mim é um sofrimento, eu vivo cheia de dor nas perna”. (Esmeralda)
A pessoa já tá velhinha sem puder fazer mais nada e outros pode. (Pérola)
É observado que os entrevistados acima percebem a velhice como algo negativo,
como a fase da vida relacionada ao abandono, a solidão e as limitações físicas. Outro
entrevistado que não consegue percebê-la ou que pela situação acabam incorporando o
processo de negação da velhice, afirmando que: “Bem chegar a velhice aqui dentro eu num
quero não [...] não pretendo passar o resto da velhice aqui”. (Diamante)
O Senhor Diamante ao falar sobre a velhice não se percebe como velho ao fazer as
narrativas foi sentido em sua fala que para ele a velhice ainda não chegou, pois faz planos
para quando ela chegar não pretende mais estar na instituição como ele mesmo relatou acima.
Rubi percebe a velhice de forma totalmente positiva, pois de acordo com suas
narrativas ele já viveu tanto e já teve tantas experiências na vida boas e ruins que se admira
em ainda está vivo. “Foi à felicidade maior que eu já encontrei na minha vida. Eu fico
admirado eu já tá numa idade dessa e ainda tá vivo, vida de veio é assim mesmo o resultado é
essas casas”. (Rubi).
A senhora Safira além de relacionar o processo da velhice com uma fase marcada
por doenças, traz com ela também estereótipos atribuídos anteriormente à pessoa idosa e que
hoje devido transformações sofridas pelo processo de globalização e industrialização
passaram a ser desconstruídos, pois de acordo com seu pensamento: “Num tem mais velho,
num tem mais velhinho hoje! Tudo é de bermuda, é pintado, toda maquiada, num tem mais
velhinho hoje!”(Safira)
Ainda completa dizendo que: “Eu num tava sentindo nada, mais agora eu to,
devido essa doença que eu já peguei”. (Safira)
A senhora Safira ao narrar que antes não sentia nada estava falando na sua fase da
vida antes da velhice chegar e assimila a velhice como uma fase constituída de limitações
físicas e de doenças.
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Sobre as principais mudanças sentidas pelos idosos o olhar dos
institucionalizados, aponta:
Para o Senhor Ônix as principais mudanças encontram-se que ligadas às relações
familiares. “Quando eu era mais novo pra mim eu num sentia falta de família, quando eu vim
ficar mais velho, foi que eu vim sentir mais falta da minha família, aí aquilo mudou”. (ônix)
Corroborando com as falas dos entrevistados em relação à velhice, alguns a
assimilam como um período marcado por limitações e doenças. Este processo pode limitar,
com fragilidade ou invalidez, o bem estar biológico e psicológico dos indivíduos, com a
diminuição da velocidade dos processos mentais, e comportamental, com isolamento social
(MOREIRA, 1996).
O Senhor Diamante relata que a principal mudança foi sentida com a
aposentadoria (BPC): “Na minha vida! Que muito mudou, custou muito, mas chegou era a
minha aposentadoria”. (Diamante)
Esmeralda relata que a principal mudança foi sentida em relação à velhice do
corpo, foi muito emocionante ouvir suas narrativas, pois a cada pergunta feita a idosa antes de
responder ela expressava sempre que queria voltar para casa e que não queria ficar no abrigo,
mas de acordo com sua entrevista e com dados colhidos com uma das Assistentes Sociais da
unidade, não havia a menor possibilidade de ela voltar para casa, pois a mesma morava
sozinha e não tinha mais condições de prover o autocuidado e sustento. “Sinto muita dor, eu
queria mermo era ir pra minha casinha”. (Esmeralda)
A Senhora Safira aponta como principal mudança às limitações causadas pelo
envelhecimento do corpo: “Eu num sentia nada, mais agora eu to, devido essa doença que eu
peguei”. (Safira)
Pérola em relação a principal mudança diz: “A mudança é que depois que em vim
pra cá, eu to melhor, mais eu me sinto aperriada”. (Pérola).
Na narrativa de Pérola foi possível perceber angústias sofridas e sentidas por ela
na unidade e o quanto é difícil para ela aceitar a institucionalização, mesmo já estando há
mais de vinte anos na instituição. A unidade de abrigo surgiu na sua vida como única opção,
pois como não tem família e não tem outro local para ir o jeito foi ir para a unidade de abrigo,
a mesma ao falar da sua ida para o abrigo passou certa desmotivação, tristeza e sentimento de
impotência por situações hostis vividas no abrigo e que ao buscar soluções para o que estava
acontecendo com ela não pode contar com o apoio de ninguém.
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Segundo seu relato sente-se preocupada, por achar que a instituição não oferece
segurança: “Tenho vontade de ir simbora daqui, aqui é tão pirigoso, tem um matagal medonho
aqui, tenho medo”. (Perola).
Pérola foi bem verdadeira ao narrar que nunca conviveu em um ambiente familiar
e a própria disse que sempre sofreu as amarguras da vida, vivia jogada pelas ruas da cidade e
às vezes por motivos de saúde em alguns hospitais, ressalta ao falar que já sofreu vários tipos
de violência, inclusive na unidade, fato este que a deixa “aperriada” como a mesmo falou.
Para ela a unidade oferece alguns perigos sentidos por ela nas ruas. Percebi a vontade imensa
que ela sente em deixar a instituição o problema é que ela não tem outra escolha a fazer, então
é isso que o incomoda.
Para o Senhor Rubi o que a velhice lhe trouxe de bom foi poder estar na
instituição: “Foi à felicidade maior que eu já encontrei na minha vida. Eu fico admirado eu já
tá numa idade dessa e ainda tá vivo, vida de veio é assim mesmo o resultado é essas casas”.
(Rubi).
Sua afirmação se deve ao fato de ter vivido uma trajetória marcada por uma vida
inconstante, pois como o mesmo relatou que sempre preferiu viver de boêmia, mesmo quando
era casado nunca deu valor à esposa e nem aos filhos, por ter sido caminhoneiro não tinha
parada certa, conheceu muitas cidades e muitas mulheres. Passava de anos sem vir em casa e,
quando ficou viúvo a situação torno-se mais frequente, chegando à velhice ele se encontrou
abandonado por todos e para ele a unidade de abrigo foi tida como salvação por tudo que fez e
ainda ter um local para ficar na velhice.
Já ao perceber a velhice ele a ver como um sentimento de finitude: “O que eu
espero da minha velhice é daqui lá pra quele lugarzinho dos pés juntos”. (Rubi)
Diante do que já foi relatado e da forma com que ele conduzia sua vida, é como se
ele não tivesse mais direito a nada, como ele mesmo narrou, disse que já tinha vivido de tudo
na vida e não esperava mais nada do mundo. Senti em suas narrativas que para ele é como ele
se sentisse culpado por ter tido a vida que teve e que agora na velhice não tinha mais direito
de viver nada, a única coisa que ele espera agora é a morte.
Em relação aos vínculos de amizade com outros idosos da instituição e sobre os
profissionais e a instituição, eles apontam:
Sobre os vínculos com os outros usuários:
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O Senhor ônix ao falar sobre os vínculos, demonstrou que a vida na instituição
também é constituída por conflitos existentes entre eles próprios. Acaba por entender e aceitar
a individualidade exposta por cada um.
Eu se fosse por mim eu tinha amizade com tudim, mas tem alguns que não querem
conversa com a gente, como tem o ditado: “que nem os dedos da mão são iguais”, se
na família da gente mesmo tem gente que não gosta da gente. Todo mundo é
diferente dos outros né? Mais é assim mesmo, se fosse por mim eu gostaria de todos.
(Ônix)
Como foi possível perceber através da palavra e da narrativa do Senhor Diamante
é que ele se dar bem com todos, respeitando assim as individualidades de cada um.
Converso com tudim aqui, não tenho inimigo graças a Deus. Tudo são meus amigos
e minhas amiga, quando eu num quero ir pra lá (espaço de lazer que existe na
instituição) elas vem tudo pra cá, ai a gente vai brincar de dama, se divertir.
(Diamante)
O Senhor Rubi ao falar sobre os vínculos com os outros usuários, não demonstrou
nenhuma emoção, pude perceber até certo distanciamento em relação aos outros usuários e
quando ele disse que aqui todo mundo é amigo ai foi que ficou evidenciado a sua falta de
sentimento em relação aos outros, pois como é possível refletir através de suas palavras e
como ele mesmo relata ele pactua da política da boa vizinhança.
Tenho! Aqui todo mundo é amigo, tem uns que diz umas besteiras, uns fuxico, umas
coisa, mais aqui agente faz de conta que não tá vendo, nem liga tem de viver numa
casa dessa é como uma irmandade, quem vivi numa casa dessa, todo mundo que é
desconhecido lá fora e que não tem quase aderente, tem que viver como uma
irmandade, como um bucado de irmão, ser tudo amigo dos outros. (Rubi)
A Senhora Esmeralda ao referir-se aos vínculos de amizades com os outros
usuários diferencia os tipos de amizade percebidos por ela na instituição, como ela mesma
relata umas são boazinhas e outras não. Através de sua narrativa podemos confirmar ainda
mais o quanto a velhice e, consequentemente as relações construídas nessa fase de vida
chegam de formas diferenciadas para cada pessoa. “Tem umas que é bem boazinha e têm
outras que passam tanto carão em mim, eu acho que é bom ficar lá na minha cozinha”.
(Esmeralda).
Para a Senhora Pérola os vínculos de amizade construídos na instituição e a
relação mantida por ela com os outros usuários tem haver com suas condições de saúde e
humor, conforme relatos da entrevista os dias que ela não acorda bem de saúde ela prefere se
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isolar e não quer conversar com ninguém. “É de dá bom dia! Perguntar como é que tá, mas
tem dia que to com dor [...]”. (Pérola).
A senhora Safira no momento da entrevista demonstrou ser uma pessoa bem
fechada de poucos amigos, relatou que não gostava muito de ficar conversando com os outros
usuários, mas que falava com todos e gostava de ficar no seu cantinho (Refere-se ao quarto,
onde passa a maior parte do tempo). “Tem! Amizade assim, né! Com todo mundo, num tenho
queixa de ninguém, me dou bem com todos”. (Safira).
Sobre os profissionais diz:
O Senhor Ônix ao falar dos profissionais demonstrou certa satisfação, mas ao
mesmo tempo percebemos que ao elogiá-los, ele também consegue perceber a indiferença
existente na forma de tratá-los e ainda evidencia que o motivo deles algumas vezes serem
tratados assim, tem como base o número de idosos que dão trabalho (dependentes) como ele
mesmo relatou e podemos conferir no seguinte trecho relacionado à sua fala.
Eu num tenho o que dizer de nenhum, pra mim tudo são umas ótimas pessoas, que
realmente ás vezes tem uns que num tão muito bem comportado, aqui eles lutam
com 110 idosos, aí eles ficam diferente com a gente, mas é por causa do trabalho dos
outros. (Ônix)
Já a opinião do Senhor Diamante em relação aos profissionais foi demonstrada
através do sentimento de indiferença e expressa com poucas palavras: “São bons!”.
(Diamante).
O Senhor Rubi ao relatar que não tem nada a dizer está referindo-se que não tem
nenhuma queixa e que para ele os profissionais são os melhores “Eu num tenho nada a dizer
não, pra mim é boa ! São as melhores”. (Rubi).
O sentimento percebido através da entrevista com o Senhor Rubi foi de
reconhecimento por ser bem tratado por eles e pelos serviços prestados: “ Eu acho bom, esses
home aí são muito trabalhador, trata os velho bem, porque eu num vó dizer que eles tratam
mal”. (Esmeralda).
A Senhora Pérola demonstrou em seu relato que o sentimento que a guia e que
colabora para que ela tenha uma boa relação com os profissionais é o de amizade, como a
própria relata: “É eu gosto! Por amizade, né! Tudo é amizade”. (Pérola).
O Senhor vê que a instituição exerce papel importante e positivo em sua vida,
pelo fato de ter sido abandonado pela família e ter encontrado apoio na instituição. “A
instituição é muito boa, eles cuidam bem da gente, isso é muito importante para mim! pra
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mim que não tenho família, não tenho contato com ninguém da família isso é muito
importante!”. (Ònix).
Por ser um dos institucionalizados que se encontra na instituição há mais tempo, o
Senhor Diamante demonstrou uma relação de intimidade e autonomia, onde ele tem suas
necessidades atendidas de imediato. Como ele mesmo relata: “È bom! Bem organizada, não
falta nada aqui, na hora que quer tomar banho, toma! Tem nosso banheiro, tem nosso
sabonete”. (Diamante).
Para o Senhor Rubi, a instituição foi o que melhor aconteceu nessa sua fase de
vida (velhice), pois como ele vivia abandonado por seus familiares e doente perambulando
pelas ruas, a instituição foi sua tabula de salvação e a percebe como o local que o abrigou e
tratou suas doenças. “Foi à felicidade maior que eu encontrei na minha vida, se num fosse
essas casas de abrigo eu já tinha murrido, mas num era de outra coisa não! Era de doença!”.
(Rubi).
Já a senhora Esmeralda no momento da entrevista não expressou que para ela
existisse diferença entre os profissionais e a instituição, sua preocupação maior era em querer
ir para casa, e por mais que soubesse que não havia a menor possibilidade de voltar para casa
(morava sozinha e abandonada por familiares) ela expressava insistentemente que não queria
ficar na instituição. Percebemos que a idosa não aceita bem o processo de institucionalização.
“A casa é a mesma coisa é boa, mas eu queria mesmo era ir pra minha casinha!”.
(Esmeralda).
Através de suas narrativas descritas anteriormente sobre a instituição ao relatar
que se sente “aperriada” por a instituição não ofertar segurança, a senhora Pérola apesar de ter
expressado esse sentimento ela procura vivenciar normalmente o processo de
institucionalização, no seu relato ela até demonstrou está habituada a cumprir as regras e
normas impostas pela institucionalização, mesmo não aceitando esse processo normalmente.
“Gosto da instituição, gosto! Eu gosto de tudim, o que é pra fazer eu faço! Se for pra dançar
agente dança, participo da pintura, escrever eu escrevo”. (Pérola).
Para senhora Safira tanto os profissionais como a instituição tem a mesma
representação para ela, como aponta: “São boas pessoas tratam a gente bem! São ótimas! A
instituição é a mesma coisa”. (Safira).
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Ao serem perguntados se costumam frequentar espaços fora da instituição, todos
foram bem enfáticos em responder que não podem sair sozinhos, só acompanhados com os
responsáveis pelos passeios e que o dia do passeio é aguardado por muitos.
O Senhor Rubi completa dizendo que: “Se eu tivesse saindo só, como em outras
unidades de abrigo que eu morei, talvez eu tivesse bebendo e fumando por ai como eu fazia”.
(Rubi).
Em relação aos passeios:
Algumas das entrevistas foram realizadas no mesmo dia em que houve um
passeio, pude perceber claramente o sentimento de felicidade exposto ao falarem do passeio.
Ao entrevistar o Senhor Ônix ficou bem evidenciado em sua narrativa o quanto os
passeios são importantes para os usuários, ele deixou transbordar a felicidade sentida por ele
ao ir para o passeio. Falou o quanto senti-se bem em ir para outros ambientes diferentes do
ambiente da instituição e falou que aproveita ao máximo cada dia que participa dos passeios
(Os passeios são realizados geralmente entre duas vezes ao mês). “A gente vai pra praia, pro
North Shopping pra asssitir filme, pra esses canto assim, pra todos esses passei que a gente
vai é acompanhado pra qualquer passei pros restaurante, pra hospital. Tudo é acompanhado”.
(Rubi).
O Senhor Diamante demonstra muita satisfação em participar dos passeios e
relatou que é um momento bem prazeroso para ele poder ver outras pessoas diferentes das do
abrigo. E que só não vai quando está indisposto, como o mesmo relata: “Só saio daqui pros
passeio que é muito bom! Hoje teve um passeio perguntaram se eu queria ir, eu num vou hoje
não! Eu queria ir mais eu tava indisposto, num vou não, vou ficar aqui mermo! (Diamante)
Como relato dos outros usuários o Senhor Rubi ressalta também que a saída da
instituição só e permitida com a presença de profissionais da instituição. Ao falar sobre os
passeios respondeu com satisfação em está na instituição e ainda poder sair para passear,
conversar e ver outras pessoas. “eles num dão liberdade de sair sozinho naquele portão não!
Só saímos para os passeio e, é acompanhado pelas mininas (profissionais responsáveis pelo
passeio). È muito bom sair pra passear e poder ter contato com outras pessoas”. (Rubi).
A senhora Esmeralda relatou com felicidade e emoção que tinha ido passear para
um almoço na praia e que tinha gostado muito e o seu dia tinha sido maravilhoso por causa do
passeio. “Hoje eu fui pro passeio! Foi muito bom me carregaram pra um negócio de almoço
fora, um almoço tão bom! Eu dancei com outras pessoas me diverti!”. (Esmeralda).
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Ao falar sobre os passeios a Senhora Pérola demonstrou grande satisfação em
participar e em poder sair mesmo que por poucas horas da instituição. “Eu gosto muito de sair
(refere-se aos passeios - Grifo nosso) é muito bom quando agente sai daqui! Às vezes eu fico
cansada de tá todo dia aqui. Eu acho muito bom sair. Só que hoje eu fui e peguei muito sol, tô
morrendo de dor de cabeça!”. (Pérola).
A senhora Safira faz questão de ir para todos os passeios promovidos pela
instituição. Percebemos que os passeios lhe trazem felicidade e ao relatar que quando não
pode ir demonstrou expressão de tristeza, mas logo em seguida ao falar novamente sobre os
passeios transmitiu sensação de liberdade ao sair do abrigo e satisfação em poder ver as coisas
como ela falou (lojas, casas, prédios, entre outros). “Eu vou pra todos os passeios, só não vou
quando estou indisposta! Apesar de ainda ir fazer dois anos que eu to aqui, só perdi um! É
bom demais!”. (Safira).
De acordo com todos os relatos, percebe-se que a situação atual do idoso
institucionalizado ainda deve trilhar um longo processo de ações e políticas públicas que
visem à garantia da efetivação de direitos e Beauvoir (1990) nos alerta sobre a condição atual
do idoso onde a sociedade por vezes não quer enxergar os abusos, dramas e escândalos que
ocorrem com essa população. Surge, portanto, a necessidade de se repensar tal postura.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa foi bastante significativa, pois através da investigação foi possível
conhecermos um pouco melhor sobre o universo da pessoa idosa institucionalizada, momento
esse que trouxe grandes contribuições para produção acadêmica, através do acréscimo de
conhecimentos sobre o tema proposto e também para a construção dos possíveis resultados,
que foram alcançados em parte e, ainda contribuindo para gerar novos questionamentos sobre
essa realidade vivenciada por muitos idosos no país e especificamente no Ceará.
O primeiro impacto desta pesquisa foi saber que no Ceará só existe um único
abrigo de idosos público no Estado, ou seja, a Unidade de Abrigo da STDS para atender a 184
municípios, fato que nos leva a refletir a necessidade de se repensar as políticas de defesa e
garantia dos direitos do idoso, pois como vimos, a população brasileira envelhece a cada dia,
e o Brasil já não é um país de jovens; portanto, as políticas públicas precisam seguir essa
lógica.
Investigar o universo do idoso foi bastante desafiador, principalmente por se tratar
de uma realidade complexa movida por angústias, limitações e relatos de vida nem sempre
marcadas por sentimentos agradáveis. Com as visitas e através de observações realizadas na
Unidade de Abrigo do Idoso do Estado do Ceará foi possível conhecer um pouco da dinâmica
da instituição, percebendo-se que apesar do empenho desenvolvido pelos profissionais,
existem limitações que dificultam a efetivação na garantia de direitos dessas pessoas, mesmo
sabendo que a legislação visa garantir a integridade moral e pessoal desses idosos, a exemplo
do espaço físico que carece de melhorias.
Entretanto, de acordo com os relatos dos entrevistados, mesmo sabendo que a
unidade de abrigo realiza acolhimento destinado a essas pessoas ela não representa o local
ideal para esses idosos, analisamos que ainda existem desafios de forma geral a serem
superados, a exemplo de idosos que se encontram em situação de vulnerabilidade social,
abandono, violência doméstica, violação de direitos, entre outras. Para alguns idosos que
conseguem ser inseridos na unidade, ela aparece não só como opção, mas também como única
saída para que essas pessoas possam usufruir de uma velhice com dignidade.
A partir das entrevistas, passamos a conhecer essas pessoas mesmo que por alguns
minutos intimamente, foi um grande aprendizado. Apesar de relatos de vida complexos, eles
conseguiram definir com simples palavras as experiências vividas e com isso refletiram os
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significados de suas vidas. Com base nos depoimentos coletados o sentimento de abandono,
causado pela perda de vínculos familiares foi um dos mais evidenciados nas entrevistas, não
deixando também de demonstrarem sentimento de saudades em relação à vida que tinham
anteriormente ao lado de seus familiares, amigos e parentes que constituíam antes seus
vínculos familiares. São na maioria das vezes as lembranças positivas que colaboram para que
esses idosos sintam ainda certa sensação de conforto, mesmo que estejam vivenciando a
institucionalização, contribuindo para que esses idosos se prendam as lembranças vividas no
passado e apresentem dificuldades em enfrentar as relações sociais do presente.
Entre as percepções sentidas na unidade, a mais impactante entre as experiências
vivenciadas ao lado dos idosos, foi ter conhecido os reais motivos que contribuíram para que
esses idosos fossem institucionalizados. O que nos levou a refletir em relação aos idosos que
se encontram abandonados nas ruas da nossa cidade e, que nem se quer nos questionamos em
querer saber os motivos que levam esses idosos chegarem nessa fase da vida e encontrarem-se
na condição de abandono e exclusão social, pois na maioria das vezes nem são percebidos,
tornando-se pessoas invisíveis para a sociedade.
No entanto, a institucionalização passa a ser uma consequência de situações
impostas pela sociedade, pela vida ou até mesmo por algumas situações criadas pela própria
pessoa institucionalizada.
Como exemplo sobre as consequências de situações imposta pela sociedade
podemos citar o caso de um dos idosos que durante toda a sua vida viveu sem conhecer a
família e por esse motivo sofreu muito, não podendo ter encontrado apoio em mais ninguém e
passando a viver abandonada pelas ruas da cidade, pois diante a situação vivida não tinha
local de referência e nem como arranjar emprego para prover o seu próprio sustento, acabando
por entrar no processo de institucionalização.
Outro exemplo que podemos citar quando o processo de institucionalização passa
a ser vivenciado por situações causadas pela própria pessoa institucionalizada, tivemos a
história de vida relatada por outro idoso que durante toda a sua vida viveu desprezando a
esposa e filhos (04), pois como ele mesmo relatou que quando era mais novo não os
valorizava e nem sentia falta da família e, que por trabalhar como caminhoneiro passava anos
sem voltar para casa e que foi somente com o passar dos anos que percebeu os danos que
havia causado na família começou a sentir o desprezo e abandono causado por ele mesmo
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através do rompimento e/ou fragilização de vínculos familiares que culminaram em abandono
familiar e que até a data dessa entrevista ele relatou que não recebi visitas de ninguém.
Com isso, destacamos que cada idoso possui sua particularidade e que o
envelhecimento é sentido de formas variadas e que muitos idosos ao entrarem em uma
instituição de longa permanência se deparam com a necessidade de se adaptarem as regras
institucionais, a conviver com outros idosos institucionalizados e sabemos que essas novas
adaptações nem sempre são tranquilas e facilmente aceitadas por parte dos usuários, ou seja, a
partir de sua institucionalização terão que construir novos vínculos de amizade, que muitas
vezes se “transformam”, ou melhor, dizendo são confundidos e/ou percebidos como
familiares.
Outra questão destaque são as estratégias adotadas pelo abrigo para fortalecimento
dos vínculos comunitários, expressos nos passeios sistematicamente realizados. Urge a
necessidade de para além desses passeios, ser articular outras ações na unidade de abrigo que
possam garantir a efetivação de direitos, podendo citar como exemplos: a interação com
outros abrigos e as ações desenvolvidas pelo CRAS, através do Serviço de Convivência e
Fortalecimento de Vínculos para idosos, que por sua vez, poderiam fortalecer essas estratégias
atualmente adotadas. Analisamos que os passeios devem ser repensados como um
instrumento potencial que proporcionem uma interação maior com a sociedade, pois ao
analisarmos o relato dos idosos sobre a saída da unidade para outros lugares, todos foram
enfáticos em responder que o passeio por muitas vezes torna-se um dos momentos mais
esperados por eles. Sendo percebido claramente que a questão não estava centrada no passeio
pelo passeio, mas sim deles de alguma forma se sentirem mais vivos tendo contato com o
mundo exterior, mesmo que por algumas horas deixarem de lado um pouco do cotidiano
vivenciado na unidade, com suas angústias e rotinas recorrentes, tendo a possibilidade de
conhecer, manter conversa e interagir com outras pessoas que não fazem parte do universo da
instituição.
Percebemos o quanto é relevante para esses idosos o contato com o mundo
exterior, é preciso que a possibilidade de saída dos idosos da unidade possa proporcionar aos
idosos a socialização e interação com outras instituições e com outros centros de convivência,
pois seria uma experiência de grande valor a interação com outros idosos que vivenciam
também o processo de institucionalização.
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Esperamos que essa pesquisa contribua para a melhoria das ações desenvolvidas
pela Unidade de Abrigo, tendo a certeza de que os resultados aqui obtidos não se encerram
com a conclusão desse trabalho, desejando que novas investigações acadêmicas brotem sobre
esse tema.
69
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APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos o Sr (a) a participar da pesquisa “A INSERÇÃO DE IDOSOS EM UMA
INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA: REFLEXÕES SOBRE O TEMA”, sob a
responsabilidade da pesquisadora AURICELIA CORREIA DA SILVA, que tem por objetivo
geral, compreender os motivos que culminam com a fragilização e/ou rompimentos dos
vínculos familiares da pessoa idosa e consequentemente sua institucionalização.
Sua participação é voluntária e se dará por meio de entrevista, com roteiro de perguntas pré-
definidas e será gravada se assim você permitir e que tem duração aproximada de quinze a
vinte minutos.
Os resultados desta pesquisa serão publicados nos meios científicos e em nenhum momento o
Sr (a) será identificado (a). O Sr (a) não terá nenhum gasto ou ganho financeiro por participar
desta pesquisa.
Se depois de consentir em sua participação o Sr (a) pode desistir de continuar participando,
tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa, seja
antes ou depois da coleta dos dados, independente do motivo e sem nenhum prejuízo a sua
pessoa.
Para qualquer outra informação, o Sr (a) poderá entrar em contato com a pesquisadora no
endereço Avenida João Pessoa, 3884, Bairro Damas e telefone de contato (85) 3201-7000.
Eu,_____________________________________________________________________ , fui
devidamente informada sobre o teor da pesquisa e a importância desta. Sendo assim concordo
com minha participação, assinando as duas vias de igual teor.
_____________________________________ Data: ___/ ____/ _____
Assinatura do participante
_____________________________________
Assinatura do Pesquisador Responsável
76
APÊNDICE B - ROTEIRO DE ENTREVISTA
Nome:
Sexo: ( ) F ( ) M Idade: Naturalidade:
Estado Civil:
Escolaridade:
Profissão:
Você tem renda mensal? ( ) Sim ( ) Não .
De onde vem essa renda?
Possui filhos? ( ) Sim ( ) Não Quantos?
1. Há quanto tempo o Sr (a) reside na Instituição e o que lhe trouxe aqui?
2. O Sr (a) recebe visitas? De quem? Qual a periodicidade dessas visitas?
3. O que é família para o Sr (a) e qual o significado dela para você?
4. O Sr (a) já sofreu algum tipo de violência? Qual? Quem a praticou? Caso afirmativo,
como procedeu quando sofreu violência (ficou calado, denunciou?)
5. Qual a sua percepção sobre a velhice e de que forma você a percebe, vivendo em uma
instituição de longa permanência?
6. Você possui vínculos de amizade com outros idosos da instituição? Como?
7. Você costuma frequentar espaços fora da instituição – exemplo ir ao centro da cidade,
passear pelos parques? Se a sua resposta for sim, com quem vai?
8. Qual a principal mudança sentida por você na velhice?
9. Qual a sua opinião sobre os profissionais e a instituição?
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