a emergência dos saberes linguísticos
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8/6/2019 A Emergência dos Saberes Linguísticos
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A E:MERGENCIA DOS SABERES LINGUiSTIC OS·
Faculdade de linguagem; capacidade idiomatica e eompetencia discursiva. \,
. .**Carlos Piovezani
1. Os saberes
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Falar ja e urn saber.;
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2. A linguagem como objeto de saber
Por que a linguagem se toma urn objeto de saber?
Quando. onde, como e por que surgem os saberes sobre 0saber Iingtiistico?
A linguagem e urn objeto que desperta particular interesse no homem (as instituicoes
cientificas contemporiineas comprovam-no).
Parece haver saberes linguistico e epilingulstico em todos os humanos, mas uma
reflexao epilingiiistica mais intensa e sistematica e u rn . conhecimento metalingiiistico
mais rigoroso e profundo nao ocorrem em qualquer tempo e lugar.
3.· Finalidades da lingua gem e hipotese sobre 0 advento dos saberes
lingiiisticos
l• Conhecer 0mundo: cognicao.
2a; Comunicar seus conhecimentos aos outros: comunicacao.
A linguagem se toma objeto de saber quando surge algum problema em uma dessas
suas finalidades, ou seja, quando hi urn problema comunicativo ou u r n . problema
cognitivo.
4. Problemas comunicativos
Os problemas comunicativos parecem surgir inicialmente e despertar maior interesse.
Mites, explicacoes lexicais, descricoes gramaticais, escrita e ret6rica.
Esses problemas produzem meios didaticos que desempenham urn papel fundamental
na g~ao de saberes epilingilisticos.
5. Problemas cognitiv-os
• Sintese baseada em Jilrgen Trahant (2004), "Constitution du langage en objet du savoir et traditions
linguistiques" .
•• Professor Adjunto do Departamento de Letras da UFSCar.
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, J a a dimensao cognitiva da linguagem e menos evidente e se toma urn problema em
uma fase ulterior de reflexao,
Os problemas cognitivos derivam da relacao, intermediada pela linguagern, entre 0
locutor e 0mundo sobre 0 qual ele pensa. 0hornem se d 3 . conta de que a fala implica
uma fun9ao cognitiva: a linguagem pode ser um empecilho para a producao do
pensamento.
Platao e Aristoteles: advento e obliteracao dos problemas cognitivos
Inicialmente, 0 aspecto cognitivo da linguagem nan gem efetivamente saberes
metalingiiisticos; eles . emergirao somente quando houver uma experiencia da
indissociabilidade entre a linguagem e 0pensamento.
6. Problemas comunicativos e desenvolvimento d08 saberes epilingiiisticos~
o problema comunicativo principia a reflexao linguistica sobre a lingua nacional.
Sobretudo, a partir do seeulo XVI, 0 Ocidente assiste a pululacao de gramaticas e
dicionarios das linguas vernaculas europeias, em principio, e < l a s linguas dos povos
"descobertos", em seguida: pretende-se resolver problemas de comunicacao e de
comunidade.
Como ~s lingiiisticos praticos, gramaticas, retorica e artes da corrversaeao serviam,respeetivaaiente, para melhorar e padronizar a prodm;ao lingilistica, para forjar textos
mais bern escritos e para eliminar obstaculos ao dialogo, proporcionando 0prazer da
comunicacao com outrem." c ', \, 'l " " " '~ . , ; > . l ' ~ _ ~ : . ' . "r <,.d' <
Trivium e qUadrivium: dos saberes pciticos aos cientificos.
7. Diferen~as entre 0saber lingiiistieo pritieo e 0cientHieo
j'aime amo
tuaimes amasit aime amat
nous aimons amamus
vousaimez amatisils aiment amant
"E assim que se deve falar e escrever em frances" X "As razoes para a mudanca sao as
seguintes: por evolucoes foneticas todas as formas latinas do singular tornaram-se
identicas 'em', sendo necessario acrescentar 0pronome pessoal; nas formas em que as
desinencias ainda estao presentes, se deveria dizer •amo'. •arne'. mas. em fum;iio da
analogia, elas se tomam 'ems' e 'eme',produzindo 0'em: aim',frances".
8. Problemas cognitivos e desenvolvimento dos saberes metalingiiisticos
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· .Apesar de sua reduzida utili dade pratica, os saberes cientifico-especulativos parecem
ocupar uma posiyao superior na hierarquia dos saberes do hornem: a consciencia
humana do mundo e uma cognitio clara, distincta et adaequata, porque busca as razoes
pelas quais as coisas s a o tal como elas se nos apresentam, e talvez seja uma das
finalidades ultimas do homem,
E no momento em que a linguagem se torna problematica, no ambito de sua funcao
cognitiva, que parece nascer efetivamente uma "ciencia" da linguagem.
A experiencia da diversidade, em dois acontecimentos vividos pela Europa - a
derrocada do catolicismo latino e a descoberta das linguas do Novo Mundo -, gerou
saberes linguisticos cientificos: teorias lingiiisticas, reconstituicoes hist6ricas e
descricoes sincr8nicas.
9. AEuropa seiscentista
Formacdo dos. estados nacionais, ascensao da burguesia e embates entre 0latim e as
llnguas vulgares: a questione della lingua.
Aqui, a diseussao envolve 0problema comunicativo, mas ele acaba por se subordinar asquestOes em torno do estatuto cultural da lingua e de sua fum;ao cognitiva: as linguas
vernaculas sao tao dignas, nobres e belas quanto olatim? Sao elascapazes de engendrar
os mesmos pensamentos?
Surge entao a ideia de que em diferentes linguas encontra-se urn pensamento particular;
desperta-se no homem europeu a intuicao, segundo a qual hA uma carga cognitiva .nas
linguas, uma partlclpacao especifica de carla lingua na fo~ao do pensamento.
As linguas n8.o s a o mais somente sons diferentes, mas tambem, e mais profundamente,consistem em diferentes sentidos. '
10..0 mal-estar diante da diversidade
A fragmentacao linguistica do mundo atinge proporcoes jamais vistas no Ocidente e
abala duas conviccoes medievais europeias: 0latim e a lingua cat6lica universal e 0pensamento humano e Unico.
Em sintese, surgem quatro reacces contrarias a essa fragmenta'Yoo:
1. Recusa do relativismo lingtiistico e tentativa de provar a profunda unidade das
Ilnguas, demonstrando a profunda identidade dos sons, vindos de uma Unica lingua .
original: trata-se do comeeo da pesquisa historica das linguas;
2. Recusa do relativismo lingilistico e tentativa de provar a profunda unidade estrutural
das linguas, tendo em vista que se cria que as principais diferencas eram lexicais: e 0inicio da gramitiea geral;
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3. Recusa do relativismo lingCilstico e tentativa de prevsr a existencia de uma linguagem
e de urn pensamento universais junto ao homem, apesar das diferencas lexicais egramaticais de superficie entre as Iinguas;
4. Reconhecimento do relativisrno linguistico e tentativa de construir uma nova lingua
ou de aperfeicoar as ja existentes, de modo que, sendo logicas e universals, elas sejam
capazes de produzir e expressar 0pensamento puro.
Essas reacfies sao predominantemente especulativas e n a o se confundem com as
gramaticas, dicionarios e retoricas, de entso.
11. 0 Novo Mundo e 0elogio da dfferenea
o problema cognitivo se intensifica com a radical expenencia da diversidadelingtlistica, quando da descoberta das linguas faladas no Novo Mundo e em outros
continentes. 0 encontro com a alteridade certamente provoca problemas comunicativos,
mas tambem e, talvez, ate de modo mais decisivo, problemas cognitivos, promovendo,
por extensao, seus corolarios, sob a forma de saber.
Os missionaries escreveram gramaticas e dicionarios das linguas dos "natives"; ja os
"viajantes-filosofos", em seguida, tentaram pensar essa alteridade lingOfstica e cognitiva
e foram seguidos, nos seculos posteriores, por varies "cientistas",
12. Tradi'roes europeia e americana e seus saberes lingiiisticos
A experiencia europeia - a perda da hegemonia do catolicismo latino e a ascensao das
lfnguas nacionais - produz predominantemente uma busca pela unidade, uma busca
pelo "paraiso perdido". J a a experiencia americana gem, antes, uma busca pela
diversidade, ou seja, enceta uma resposta positiva ao contato com a diferenca, Trata-se
de uma ~ao pentecostal ou, talvez, neopaga,
• Europa: unidade, paraiso, tempo, Conrad Gesner, John Wilkins, Port-
Royal, Lingilistica hist6rica, Gramatica gerativa .
• America:
Whorf.
diversidade, pentecostes, espaco, Leibniz, Hmnboldt, Sapir,
13. Coloniza~io e descoloniza~io do pensamento
A emergencia dos saberes lingfristicos dependeu do encontro com a diferenea, da
experiencia da alteridade,
o colonialismo foi uma condicao para 0encontro dos europeus com seus "outros"; sem
colooialismo n a o haveria lingiiistica. Mas a lingUistica n a o e intrinsecamente
. colonialista, Boa parte dos saberes lingOisticos representa, ao contrario, um passo
decisivo rumo a descolonizacao, a medida que respeita e celebra as difereneas entre os
seres humanos.
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Bibliografia
AUROUX, S. (Dir.) Histoire des idees linguistiques. Tome I. La naissance des
metalangages en Orient et en Occident. Liege/Bruxelles, Pierre Mardaga, 1989.
("Introduction", Capitulos I, "Mythe, conscience et savoir linguistique", e III. "La
naissance de la reflexion linguistique occidentale"; p. 13-228).
PLEBE, A. Breve storia della retorica antica. Bari, Laterza, 1968.
TRABANT, J. Constitution du langage en objet du savoir et traditios linguistiques.
Conferencia de abertura da "Ecole europeenne d'ete d'histoire des theories
linguistiques", Lyon, 2004.
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