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Suplemento Semana Verde 2015 Ambiente Revista da Direção-Geral do Ambiente Ambiente para os Europeus Ambiente para os Europeus - Suplemento Semana Verde 2015 NATUREZA A n o ss a s a ú d e , a n oss a riq u e z a

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Suplemento Semana Verde 2015

Ambiente

Revista da Direção-Geral do Ambiente

Ambientepara os Europeus

Ambiente para os Europeus - Suplemento Semana Verde 2015

NATUREZA

A nossa saúde, a nossa riqueza

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Editorial

Nesta edição especial da revista Ambiente para os Europeus, apresentamos alguns destaques da Semana Verde 2015, uma importante conferência europeia sobre o ambiente e a política ambiental. «Natureza — A nossa saúde, a nossa riqueza» foi o tema do evento deste ano, que atraiu cerca de 2 000 participantes a Bruxelas de 3 a 5 de junho.

Dependemos da natureza pelos alimentos, energia, ar e água que tornam a vida possível. Por conseguinte, a sua proteção é mais do que um imperativo ambiental... é fundamental para a nossa qualidade de vida e estabilidade económica.

«A natureza tem vindo a ser considerada desde há décadas como um obstáculo ao progresso económico, sendo incompreendida, subestimada e muitas vezes tida como certa», disse Karmenu Vella, comissário da UE responsável pelo Ambiente, pelos Assuntos Marítimos e pelas Pescas, na sessão de abertura da Semana Verde. «Começamos agora a perceber a dimensão do nosso erro de cálculo».

O evento também coincidiu com uma importante revisão, em curso, da principal legislação da UE em matéria de proteção da natureza (as diretivas Aves e Habitats da UE), no âmbito dos esforços envidados para assegurar que a legislação europeia se adequa à sua finalidade.

A Semana Verde abordou uma série de questões políticas importantes, desde o impacto do comércio na biodiversidade à importância que os ecossistemas saudá-veis têm para a «economia azul» da Europa. As sessões analisaram o que já foi rea-lizado (por exemplo, a revisão intercalar da estratégia de biodiversidade) e o que ainda está por fazer (por exemplo, «o futuro da natureza», e «investir na natureza»).

E não é tudo. Todas as sessões foram transmitidas via web, pelo que, se perdeu a oportunidade de assistir à conferência, pode ainda ver na Internet o vídeo com a sua transmissão na íntegra, disponível em três línguas. Clique no marcador «pro-gramme» em http://ec.europa.eu/environment/greenweek/ para visualizar a sessão pretendida.

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Índice

O reforço da agenda para a natureza «vai ajudar-nos» 3

Restabelecer a ligação à natureza 4

Proteger a natureza na economia azul 5

A biodiversidade é indispensável para um crescimento sustentável 6

Vozes da Semana Verde 2015 8

Uma coligação de empresas em prol da proteção da biodiversidade 10

Comércio e biodiversidade 11

Olhar para o futuro 12

Natureza: o centro de saúde do futuro 13

Balanço dos progressos 14

Tornar as nossas cidades mais ecológicas 15

Ambiente para os Europeusec.europa.eu/environment/news/efe/index_pt.htm

INFORMAÇÃO EDITORIALAmbiente para os Europeus é uma revista trimestral publicada pela Direção-Geral do Ambiente da Comissão Europeia. Está disponível em alemão, búlgaro, checo, espanhol, estónio, francês, grego, inglês, italiano, lituano, polaco, português e romeno. Assinatura grátis. Pode assinar a revista em linha através do seguinte endereço: http://ec.europa.eu/environment/news/efe/subscribe/subscribe_pt.htmChefe de redação: Bettina DoeserCoordenador: Jonathan MurphyPara mais informações, contacte a Unidade de Comunicação:http://ec.europa.eu/environment/contact/form_en.htmInformação e documentos: http://ec.europa.eu/environment/contact/form_en.htmPágina Internet da revista Ambiente para os Europeus: http://ec.europa.eu/environment/news/efe/index_pt.htm

AMBIENTE EM LINHAQuer saber o que é que a União Europeia está a fazer para proteger o meio ambiente, o que são políticas integradas de produtos ou como obter o «rótulo ecológico»? Descubra isto e muito mais na página Internet da DG Ambiente:http://ec.europa.eu/environment/index_pt.htm

ADVERTÊNCIAA Comissão Europeia, ou qualquer pessoa agindo em seu nome, não pode ser responsabilizada pela utilização das informações contidas nesta publicação ou por quaisquer erros que, não obstante os cuidados na sua preparação e a sua constante verificação, possam ter ocorrido.

Impresso em papel reciclado certificado com o «rótulo ecológico» para papel gráfico. (http://ec.europa.eu/environment/ecolabel)

Luxemburgo: Serviço das Publicações da União Europeia, 2015ISSN 1831-5798 (versão impressa)ISSN 2363-1260 (versão ePUB)ISSN 2363-1260 (versão PDF)© União Europeia, 2015© Capa: Comissão Europeia. Todas as fotografias: Comissão Europeia, exceto as paginas 6-7: iStock/marcemooij; p. 10: iStock/diverroy; p. 11: iStock/robLopshire, iStock/jethic; p. 12: iStock/ Nikada; p. 14: iStock /mtreasure; p. 15: iStock/Patti Calfy; p. 16: iStock/AlexSid

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» SEMANA VERDE

O reforço da agenda para a natureza «vai ajudar-nos»A Semana Verde 2015 abriu com um debate animado sobre a urgência e os desafios da proteção da natureza na Europa.

Frans Timmermans, primeiro vice-presidente da Comissão Europeia, abriu a conferência da Semana Verde 2015 com uma explicação da razão pela qual a Comissão Europeia está a rever a sua principal legislação relativa à proteção da natureza — as diretivas Aves e Habitats da União Europeia.

Poderá haver necessidade de modernizar a legislação, afirmou, convidando os grupos de interesse a apoiar os esforços da Comissão. «Há um consenso quase cabal na Europa de que a proteção da natureza deve ocupar um lugar de topo na nossa agenda», referiu. «Legislar melhor não significa um desagrava-mento das normas».

Uma das realidades que a Comissão deve abordar, de acordo com Karmenu Vella, comissário da UE responsável pelo Ambiente, pelos Assuntos Marítimos e pelas Pescas, é a de que as políticas atuais não estão a ser suficientemente expeditas na concretização dos objetivos fixados pela UE de travar a perda da biodiversidade e de melhorar o estado de conserva-ção das espécies, habitats e ecossistemas da Europa até 2020.

Os relatórios «Estado do Ambiente na UE» e «Estado da Natu-reza na Europa», publicados recentemente, sublinham este facto, demostrando também que as políticas da União podem funcionar se forem devidamente direcionadas. As espécies ameaçadas de extinção, como a lontra, podem prosperar se forem tomadas as medidas adequadas.

«A natureza tem vindo a ser considerada, desde há décadas, como um obstáculo ao progresso económico — incompreen-dida, subestimada e muitas vezes tida como certa», disse Karmenu Vella. «Começamos agora a perceber a dimensão do nosso erro de cálculo».

Transição para a economia circularNa sessão de abertura, foi também referido que a Europa deve impulsionar a mudança em muitos outros domínios com vista à proteção dos recursos naturais. Temos de «repensar a nossa forma de trabalhar, de produzir e de consumir», afirmou o vice-presidente Frans Timmermans. Uma mudança impor-tante seria pensar em termos do serviço de que precisamos, e não no produto, como, por exemplo, a necessidade de utilizar um automóvel, em vez de ter veículo apropriado. Referiu que

a Comissão prevê publicar dentro em breve, no final de 2015, novos objetivos em matéria de reciclagem e resíduos, com uma proposta abrangente relativa à economia circular.

Representantes da empresa italiana de produtos alimentares Barilla ilustraram igualmente os progressos realizados rumo a uma economia mais circular. A empresa estabeleceu objetivos para 2020 destinados a promover estilos de vida saudáveis, uma alimentação sustentável e a inclusão social, bem como a ecologização da sua cadeia de abastecimento e das atividades da

fábrica. O seu projeto «Trigo duro sustentável» permitiu reduzir a pegada de CO2 da cultura em 36 %, aumentar a produção em 20 % e reduzir os custos diretos de produção em 10 %.

«O verde é a nova inovação», disse Paolo Barilla, vice-presi-dente da empresa, sublinhando que a responsabilidade pela proteção da natureza deve ser partilhada entre os decisores políticos, os consumidores e a indústria alimentar. Afirmou que a educação é fundamental e que as crianças têm de ser ensi-nadas a fazer escolhas informadas na idade adulta, tendo em consideração uma consciência ambiental e a necessidade de uma alimentação sustentável e saudável. As empresas podem oferecer escolhas saudáveis e facultar informações completas, referiu, mas, em última análise, têm de responder à procura dos consumidores.

Mais informações » http://ec.europa.eu/environment/nature/legislation/fitness_

check/index_en.htm

» http://www.eea.europa.eu/soer-2015/synthesis/report

» http://www.eea.europa.eu/highlights/state-of-nature-in-the

» http://europa.eu/rapid/press-release_IP-15-4965_en.htm

REVISTA DA DIREÇÃO-GERAL DO AMBIENTE | SUPLEMENTO 3

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» NATUREZA E BIODIVERSIDADE

Restabelecer a ligação à naturezaNuma sessão que marcou a abertura dos eventos da semana, o público da Semana Verde ouviu muitas sugestões construtivas no sentido de ultrapassar o atual conflito entre o homem e o ambiente. Poderá uma «nova visão do mundo» ajudar a restabelecer o equilíbrio?

O longo período dedicado à análise dos impactos da expansão humana na biosfera não desviou o professor Jean-Marie Pelt do trilho do otimismo. Na sua intervenção na Semana Verde 2015, o eminente biólogo, botânico e farmacêutico fez um apelo ao desenvolvimento de uma nova ética, o alargamento à biodiver-sidade do princípio humanitário secular de «não causar danos».

A ciência moderna equivoca-se, disse, quando considera que a natureza é meramente competitiva. «Não tivemos em conta que a cooperação coexiste com a competição. No entanto, exis-tem inúmeros processos de cooperação e de dependência recí-proca na natureza».

Deveríamos inspirar-nos no sentido de obter um entendimento mais exato, disse. «Estamos num ponto de viragem. Muitos jovens, e uma consciência que se está a desenvolver muito depressa, defendem que "não podemos continuar como antes". As mudanças terão origem na democratização local e na socie-dade civil».

Este espírito de cooperação foi referido por Almir Narayamoga Surui, representante do povo indígena Paiter Suruí da Amazó-nia, que partilhou a experiência da sua comunidade no âmbito da proteção da floresta tropical brasileira. Os Paiter desen-volveram uma estratégia, ao longo de 50 anos, para proteger

a floresta contra a atividade das empresas florestais e minei-ras através da plantação de árvores e da venda de créditos de carbono. Uma parceria de sucesso com o Google Earth per-mitiu-lhes proceder à monitorização de casos de suspeita de atividades ilegais nas suas terras e à denúncia dos infratores às autoridades.«Estamos num ponto

de viragem. Muitos jovens, e uma consciência que se está a desenvolver muito depressa, defendem que “não podemos

continuar como antes’’.»Professor Jean-Marie Pelt

«Não estamos a dizer que a floresta é intocável, mas sim que [deve ser utilizada] de forma responsável; caso contrá-rio, haverá destruição e crise económica. Sem a floresta não poderá haver produção sustentável», afirmou.

Cooperação ― uma nova visão do mundo?Dirk Holemans, diretor do grupo de reflexão belga Oikos, propôs o que designou como uma «nova visão do mundo». Se ultra-passarmos a clivagem existente entre a natureza e a cultura, poderemos aprender a apreciar a interação entre o Homem e o ambiente, aceitando os limites da natureza e respeitando a «liberdade da autolimitação».

Recomendou a transição para uma economia baseada na sufi-ciência, com três elementos de base: a economia circular, a eco-nomia de partilha e a prosperidade sem crescimento. «Uma nova narrativa para restabelecer a Europa», disse, «com uma integração dinâmica da natureza e da cultura.»

Mais informações » http://www.paiter.org/

» http://www.coderedd.org/redd-project/metareila-association-surui-forest/#.VaPcdvmqpBc

» http://www.jeanmariepelt.fr/

» http://www.oikos.be/

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» ÁGUA, MEIO MARINHO E ZONAS COSTEIRAS

Proteger a natureza na economia azulA água cobre 70 % da superfície terrestre e muitas das riquezas naturais da Europa encontram-se nos mares que banham as suas costas. Numa das sessões da Semana Verde foram referidos os esforços empreendidos para criar medidas de salvaguarda ambiental no âmbito da expansão da economia azul.

«A economia azul proporciona muitas oportunidades, como o turismo nas regiões costeiras, as energias renováveis e a pesca», disse Karmenu Vella, comissário responsável pelo Ambiente, pelos Assuntos Marítimos e pelas Pescas. Ao enume-rar as suas vantagens, referiu a aquicultura sustentável, que pode permitir a recuperação das unidades populacionais natu-rais, as fontes de energia renováveis, que trazem segurança energética e permitem a redução dos gases com efeito de estufa, bem como a energia eólica offshore, que é responsável por 75 000 postos de trabalho na União Europeia.

Expressando uma nota de prudência, lembrou aos participan-tes que uma economia marinha produtiva depende de ecos-sistemas marinhos saudáveis. Porém, a Europa permite que seis milhões de toneladas de plástico sejam depositados anual-mente nos oceanos, afirmou. «O lixo marinho constitui um dos efeitos mais marcantes de uma economia sem eficiência de recursos», observou, acrescentando que a nova proposta sobre economia circular, a publicar pela Comissão no final deste ano, deve contribuir para resolver este problema.

Abordando a questão da pesca, sublinhou a necessidade de serem estabelecidos controlos mais abrangentes. Recordou o público de que a captura de pescado da União representa apenas 5 % do total mundial, ao passo que a pesca ilegal a nível mundial representa 15 %. Isto é um exemplo da razão pela qual «a gover-nação global dos oceanos é uma prioridade absoluta», disse.

Estratégia de sucessoDe acordo com Richard Lochhead, deputado ao Parlamento escocês e ministro escocês dos Assuntos Rurais, da Alimenta-ção e do Ambiente, «a Escócia ganhou na lotaria natural da Europa». Os seus imensos recursos marinhos representam dois terços das águas nacionais do Reino Unido, pelo que constituem a quarta maior massa de águas territoriais da UE.

A legislação da UE teve um papel crucial na proteção da biodiversidade dos mares da Escócia e o país já elaborou o seu próprio plano de ordenamento do espaço marinho, bem como uma estratégia relativa ao lixo marinho. As ações empreendidas em prol do acesso aos dados pelos cidadãos e partes interessadas já estão igualmente a fazer a diferença,

e as iniciativas ascendentes da parte dos cidadãos estão a contribuir para criar novas zonas marinhas protegidas (ZMP). O Canal Faroé-Shetland, a nordeste, é umas das maiores ZMP da Europa.

Tony Long, diretor do Serviço de Política Europeia da WWF, subli-nhou o estado de extrema degradação dos oceanos, responsabi-lizando pelo facto a interação sistémica de diferentes pressões. Manifestou-se a favor do reforço da proteção, defendendo:

• uma maior coerência na política ambiental, marítima e das pescas da UE;

• que a proteção do ambiente passe a ser o 11.º dos atuais 10 grandes objetivos da Comissão ou a estar no centro da revisão da estratégia Europa 2020;

• o reforço das diretivas Aves e Habitats, para que a Europa possa cumprir o objetivo fixado na Diretiva-Quadro Estra-tégia Marinha com vista à consecução de um «bom estado ambiental»;

• um sistema de certificados digitais de captura para substituir os atuais certificados em suporte de papel, com o reforço da colaboração com os EUA e o Japão.

«A biodiversidade deve ser um fator primordial em todas as polí-ticas da UE», disse, e não apenas no âmbito da Semana Verde.

A Comissão está atualmente a recolher contributos sobre a forma como a UE pode contribuir para a consecução de uma melhor governação internacional dos oceanos e dos mares.

Mais informações » http://www.greenweek2015.eu/programme-20150603-2-1.

html

» http://ec.europa.eu/dgs/maritimeaffairs_fisheries/consultations/ocean-governance/index_en.htm

REVISTA DA DIREÇÃO-GERAL DO AMBIENTE | SUPLEMENTO 5

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» ECONOMIA, ESTRATÉGIA E INFORMAÇÃO

A biodiversidade é indispensável para um crescimento sustentávelA proteção e a recuperação de ecossistemas são fundamentais para a nossa prosperidade a longo prazo e o capital natural é um domínio com elevado potencial para investimentos de caráter inovador. A Semana Verde 2015 apresentou algumas combinações eficazes de objetivos de biodiversidade e económicos, procurando simultaneamente formas de afetar mais fundos à preservação do capital natural.

Os fruticultores e os vinicultores do vale do Ródano reconhe-ceram há muito que os ecossistemas e a biodiversidade são a espinha dorsal da sua economia, e a necessidade de água pura contribuiu para que se tornassem fortes defensores da prote-ção da natureza. Alain Chabrolle, vice-presidente do Conselho Regional de Ródano-Alpes, explicou que a sua região encomen-dou um estudo para avaliar os serviços ecossistémicos e está a investir em projetos que beneficiam tanto o ambiente como a economia.

«É necessário haver confiança para superar o fosso

existente entre as empresas e os grupos de pressão no

domínio da conservação, e incluir os cidadãos.» Milos Labovic, província de Zelândia

A ajuda prestada às comunidades com vista a diminuir o fluxo de águas para o Mediterrâneo invertendo a impermeabilização dos solos, a proteção dos polinizadores e a integração dos cor-redores ecológicos nas leis de ordenamento local foram passos dados na direção certa: «Estes projetos exigem estruturas de debate, investimento, engenharia, gestão e governação. Além disso, criam postos de trabalho», disse.

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A Europa possui um potencial considerável de criação de uma «economia de recuperação», com benefícios para os ecossiste-mas e para a economia, assim como vários benefícios conexos em domínios como as alterações climáticas. A UE tem potencial de liderança neste domínio.

A província de Zelândia, nos Países Baixos, por exemplo, utiliza técnicas de aquicultura que fornecem soluções sustentáveis, que vão desde o processo recolha magnética de larvas de mexi-lhão ao cultivo de linguado em circuito fechado. «É necessário haver confiança para superar o fosso existente as empresas e os grupos de pressão no domínio da conservação, e incluir os cidadãos», disse Milos Labovic, representante do governo pro-vincial. «Não basta fornecer informações; é preciso estabelecer um verdadeiro diálogo».

O desafio consiste em saber como intensificar estas aborda-gens. Justin Adams da Nature Conservancy, uma organização de conservação norte-americana que protegeu 50 milhões de hectares em todo o mundo nos últimos 60 anos, defendeu a adoção de uma abordagem a nível paisagístico relativamente à gestão das terras, por exemplo, aquando da tomada de deci-sões sobre a localização de infraestruturas e de terrenos agrí-colas. «A natureza descobriu, há centenas de milhões de anos, uma maneira brilhante de capturar e armazenar carbono: as árvores e os solos, que armazenam quantidades muito superio-res às nossas emissões anuais. A reflorestação traria múltiplos benefícios para a sociedade, assegurando o armazenamento e a fixação de carbono, bem como a criação de milhões de postos de trabalho», afirmou.

Incentivar o investimento em capital naturalAs possibilidades de investimento em capital natural por parte do setor privado também foram alvo de atenção. «Investir na natureza pode ser compensador», disse Leonardo Mazza do Gabinete Europeu do Ambiente, «contudo, existem obstácu-los». «As taxas de rendibilidade relativamente baixas, a falta de conhecimentos especializados sobre capital natural no setor bancário e a incerteza quanto aos resultados têm muitas vezes efeitos dissuasivos sobre os investidores privados», afirmou.

Os instrumentos de financiamento de caráter inovador ofere-cem uma solução através de uma melhor utilização dos escas-sos fundos públicos para fomentar o investimento privado. Em fevereiro, o BEI e a Comissão Europeia lançaram o Mecanismo de Financiamento do Capital Natural para demonstrar que o investimento em capital natural pode gerar receitas ou econo-mizar custos, contribuindo simultaneamente para a realização dos objetivos de diversidade biológica e de adaptação às alte-rações climáticas.

Ritva Toivonen, CEO do Grupo Tapio, apresentou um exemplo concreto de pagamento por serviços ecossistémicos. Na Fin-lândia, onde mais de 70 % da área terrestre está coberta de florestas, o Grupo Tapio lançou em 2008 o programa «METSO», o seu programa para a biodiversidade florestal baseado no mercado. Isto implica que os proprietários mantêm o controlo da sua propriedade e são pagos pelos serviços ecossistémicos que prestam.

Mais informações » http://ec.europa.eu/environment/biodiversity/business/

index_en.htm

» http://ec.europa.eu/environment/life/funding/financial_instruments/ncff.htm

» http://www.nature.org/

» http://www.entreprises-biodiversite.fr/

» http://ec.europa.eu/environment/news/efe/articles/2015/07/article_20150703_01_pt.htm

REVISTA DA DIREÇÃO-GERAL DO AMBIENTE | SUPLEMENTO 7

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«Permitam-me que seja bem claro a este respeito: atualizar a legislação não implica

um desagravamento das normas. É preciso definir normas mais rigorosas. Mas também são

necessárias formas mais modernas de assegurar o cumprimento destas normas.»

Frans Timmermans, primeiro-vice-presidente, a propósito do balanço da qua-lidade da legislação relativa à natureza«O nosso desafio é saber como

avançar para a abordagem integrada. A fim de criar uma economia assente na força da natureza e um ambiente

natural que seja uma fonte de riqueza sustentável... precisamos urgentemente

de mudar a perspetiva “do equilíbrio para a integração,, “da consciência para

o cuidado ativo,,, “da correção para a prevenção,, e “da conservação para

o enriquecimento,,.»Karmenu Vella, comissário europeu responsável pelo Ambiente, pelos Assuntos Marítimos e pelas Pescas

«As leis da UE relativas à natureza são uma via para um futuro sustentável num mundo em que os jovens se desenvolvem conjuntamente com a natureza.»Leanne Tough, 17 anos, membro da secção da juventude da Royal Society for the Protection of Birds (Sociedade Real para a Proteção das Aves) do Reino Unido

Vozes da Semana Verde 2015

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«A observação da natureza não é um luxo, mas sim uma necessidade. As

pessoas não precisam apenas dos produtos das florestas; precisam de todos os

elementos inesperados do mundo natural. Precisam de sonhos, aventuras e surpresas. As florestas alimentarão os nossos sonhos e pensamentos, os nossos mitos e lendas, as nossas histórias, as nossas esperanças

e desejos...» Jacques Perrin, cineasta francês

«O Luxemburgo irá utilizar o seu mandato enquanto país detentor da

Presidência da UE no segundo semestre de 2015 para “acelerar a transição para uma

sociedade mais sustentável, mais justa e mais respeitadora do clima... Trabalharemos com base nas diretivas... Estas são a garantia

para as gerações futuras.»Carole Dieschbourg, ministra do Ambiente do Luxemburgo

«É necessário capacitar e envolver os jovens de hoje com vista a vencer este desa-fio multidimensional. É preciso tornar a biodi-versidade atrativa — um espaço criativo que

possa ser desfrutado pelas crianças; e tudo começa com a educação. Os jovens têm de

fazer parte da solução... participando a todos os níveis.»

Christian Schwarzer, embaixador da Juventude para a Década das Nações Unidas para a Biodiversidade

REVISTA DA DIREÇÃO-GERAL DO AMBIENTE | SUPLEMENTO 9

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» ECONOMIA, ESTRATÉGIA E INFORMAÇÃO

Uma coligação de empresas em prol da proteção da biodiversidadeAs empresas privadas têm um papel fundamen-tal a desempenhar na proteção do nosso capital natural. A Semana Verde apresentou uma série de tecnologias inovadoras e boas práticas que estão a contribuir para a concretização dos ob-jetivos da União Europeia no âmbito da Estraté-gia de Biodiversidade para 2020.

A biodiversidade afeta todos os setores da economia, incluindo alguns domínios imprevistos. O grupo de marcas de luxo LVMH, por exemplo, depende de matérias-primas naturais de alta qua-lidade para a confeção de quase todos os seus produtos. Sylvie Bénard, diretora do Grupo para o Ambiente da LVMH, explicou ao público da Semana Verde o modo como a empresa desenvolveu indicadores de capital natural em quatro domínios. A empresa tem em consideração o acesso seguro e estratégico, a rastrea-bilidade das matérias-primas, a responsabilidade ambiental dos fornecedores, bem como a preservação dos conhecimentos téc-nicos essenciais, e garante que os resultados são aplicados no planeamento a curto e longo prazo. O grupo LVMH financia ati-vidades de investigação científica para apoiar as suas políticas em matéria de biodiversidade, nomeadamente a avaliação dos produtos cosméticos à luz do Protocolo de Nagoia.

A Desso BV, empresa fabricante de alcatifas e de revestimentos para pavimentos, utiliza matérias-primas provenientes da extra-ção de petróleo e de calcário. Rudi Daelmans, diretor do depar-tamento de sustentabilidade da empresa, revelou de que forma a empresa promove a inovação, centrando-se no design e numa abordagem «do berço ao berço».

A Desso desenvolveu um roteiro para eliminar a toxicidade dos seus produtos, evitar entradas de materiais virgens, utilizar ener-gias renováveis, garantir água e ar limpos e proteger a biodiversi-dade. Os progressos são aferidos por referência à estratégia da UE para 2020, bem como à sua visão para 2050.

«Os produtos de luxo dependem de matérias-primas

naturais alta qualidade.»Jesús Ortiz, Heidelberg Cement Group

Plataforma para o progressoA luta contra a perda de biodiversidade também conta com alia-dos nos setores mineiro e extrativo. Na sua intervenção na con-ferência, Jesús Ortiz, diretor do Centro de Competências para os Materiais do grupo Heidelberg Cement, explicou de que forma as pedreiras, os areais e as saibreiras podem constituir habitats de elevado valor em termos de biodiversidade, com um excelente potencial para proteger a flora e a fauna locais, bem como para acolher percursos naturais educativos.

Os esforços empreendidos em prol da conservação das pedrei-ras, por exemplo, resultaram no reaparecimento do sapo de ven-tre amarelo na Alemanha. O grupo Heidelberg Cement emprega 14 biólogos, trabalhou em parceria com a BirdLife International e outras ONG, e foi a primeira empresa do setor a apresentar orientações internas em matéria de biodiversidade, afirmou.

Artur Wójcikowski, CEO da Procom System SA, uma empresa do setor das TI e da automatização centrada na geração de energia e nos edifícios sustentáveis, apresentou a solução da sua empresa para um problema que ameaça a biodiversidade. As bombas de água e os filtros utilizados na produção de ener-gia hidroelétrica são frequentemente nocivos para os peixes e, para além dos efeitos negativos que têm sobre a biodiver-sidade, os custos decorrentes da sua reparação acrescem às despesas associadas às energias renováveis.

A Procom desenvolveu um sistema de elétrodos na água que geram um campo elétrico que impede os peixes de nadarem junto das entradas das bombas e dos filtros. Ao modificar o comporta-mento dos peixes, o sistema pode igualmente controlar a incidên-cia de espécies exóticas invasoras e predadores na aquicultura. A tecnologia é facilmente replicável e já está a ser aplicada na América Latina, na Europa e nos Estados Unidos da América.

Mais informações » http://www.greenweek2015.eu/programme-20150604-3-1.html

» http://ec.europa.eu/environment/biodiversity/business/index_en.htm

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» QUESTÕES INTERNACIONAIS

Comércio e biodiversidadeA União Europeia é o maior bloco comercial do mundo. Num dos painéis da Semana Verde fo-ram debatidos os efeitos que a comercialização e o consumo de bens e recursos naturais da Eu-ropa têm na biodiversidade em todo o planeta.

O comércio traz muitas vantagens, mas o efeito da distância implica que nem sempre os consumidores estão cientes dos seus impactos negativos. Gerben-Jan Gerbrandy, deputado ao Parlamento Europeu e membro da Comissão do Ambiente, da Saúde Pública e da Segurança Alimentar, disse ao público da Semana Verde que as trocas comerciais deve ser efetuadas «de forma adequada», com freios e contrapesos por parte do governo e da regulamentação.

«Ao estabelecer normas para a UE (e, possivelmente, para os EUA, através da Parceria Transatlântica de Comércio e Inves-timento), estaremos a definir normas para o mundo, afirmou, defendendo a biodiversidade e a proteção da natureza em todos os acordos comerciais, com tarifas mais baixas para os produtos ecológicos e a produção sustentável. Recomendou que as empresas fossem desafiadas a utilizar normas ambien-tais internas nas suas operações no estrangeiro e a melhorar a aplicação dos regulamentos da União.

Os países mais pobres do mundo são os mais atingidos pela perda de biodiversidade. Gerbrandy assinalou que os consu-midores se preocupam com estas questões e que reagiriam positivamente ao reforço da rotulagem e da obrigação de comunicar informações. É necessário assegurar uma maior prioridade política para a proteção da natureza, disse.

PuzzleJohn Bazill, principal responsável pela Unidade de Comércio e Desenvolvimento da Direção-Geral do Comércio da Comissão Europeia, salientou a importância dos acordos internacionais multilaterais neste domínio. O acordo da OMC menciona explici-tamente o desenvolvimento sustentável como um objetivo, e o Acordo Geral sobre Pautas Aduaneiras e Comércio permite aos sig-natários proteger o respetivo ambiente desde que não imponham condições mais rigorosas a terceiros do que a si próprios. Alguns acordos comerciais bilaterais fazem referência à Convenção sobre a Diversidade Biológica e à Convenção sobre o Comércio Inter-nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção com o objetivo de promover a biodiversidade e preservar o direito de regular.

O comércio pode apoiar a biodiversidade, disse. A castanha-do--brasil, por exemplo, devido ao seu complexo sistema de poli-nização, só tem condições favoráveis ao seu crescimento em florestas tropicais com uma biodiversidade rica, o que confere aos produtores um incentivo natural para proteger as zonas naturais onde se encontram. A conservação é complexa, sen-do-o também a resposta política. «A política comercial é apenas uma parte do puzzle», afirmou.

Desenvolvimento sustentávelAs empresas também podem intervir ativamente. Mario Abreu, vice-presidente da Tetra Pak International, assinalou que o adágio da empresa, «O valor agregado de uma embalagem deve superar os seus custos», também se pode aplicar aos recursos naturais.

A empresa fabrica embalagens em fibra de madeira, pelo que contribui para a preservação das florestas enquanto membro da Rede de Recursos de Alto Valor de Conservação e do Con-selho de Gestão Florestal. Trabalhou também em parceria com a BirdLife International, analisando a observação de aves como um indicador indireto da biodiversidade.

Um resultado promissor foi o lançamento, em outubro de 2014, de uma embalagem de base biológica totalmente renovável, que não utiliza componentes fósseis.

Mario Abreu defendeu igualmente a criação de condições equitativas a nível internacional no âmbito da biodiversidade e do comércio, bem como a adoção de medidas regulamen-tares para este efeito. Existem motivos económicos de peso para fixar normas elevadas. Afirmou ainda que a preservação do capital natural implica a preservação dos bens económicos.

Mais informações » http://ec.europa.eu/environment/integration/trade_en.htm

» http://www.greenweek2015.eu/programme-20150605-7-1.html

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» LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

Olhar para o futuroOs habitats naturais e a biodiversidade da União Europeia enfrentam múltiplas pressões. Numa sessão da Semana Verde dedicada ao tema «O futuro da natureza», foram abordadas as tendências recentes, verificando-se amplo acordo quanto ao facto de que, embora se tenham conseguido alguns progressos, será necessário assegurar um maior empenhamento.

Ao apresentar o recente relatório da sua agência sobre o estado da natureza na União, Ronan Uhel, da Agência Euro-peia do Ambiente, apresentou um quadro contrastado. Embora se tenham verificado alguns progressos significativos, muitas espécies e habitats ainda estão em declínio. Esta situação resulta de múltiplas pressões sistémicas, como a agricultura e a silvicultura intensivas, a urbanização e as infraestruturas cinzentas.

«Estamos a gerir mal o nosso capital natural», advertiu, embora ainda seja possível inverter a situação: «Quando são plena-mente aplicadas, a leis relativas à natureza trazem resultados positivos para o ambiente, a economia e o bem-estar das pes-soas», disse.

Acrescentou que a Europa precisa de mobilizar o capital finan-ceiro de forma mais eficaz, especialmente no contexto do plano de infraestruturas e de investimento da UE, bem como de melhorar a comunicação sobre os benefícios e os serviços da natureza. A consecução dos objetivos da Estratégia de Bio-diversidade exigirá uma melhor aplicação da legislação exis-tente a nível dos Estados-Membros, assim como o aumento das infraestruturas verdes e do financiamento específico.

Políticas e progressoPaul Leadley, professor na Universidade Paris-Sud, França, na sua apresentação do relatório sobre as 4.as Perspetivas Mun-diais sobre a Biodiversidade no âmbito da Convenção sobre a Diversidade Biológica, salientou a estreita ligação que existe entre a biodiversidade e as alterações climáticas.

A Europa está a progredir no sentido da consecução de grande parte das Metas de Aichi para a proteção da biodiversidade, afir-mou, «mas, se não trabalharmos com mais afinco, dificilmente poderemos concretizá-las». A maioria dos indicadores no âmbito da biodiversidade continua a registar um declínio, embora muitas regiões e países já apliquem políticas adequadas.

No que diz respeito às espécies exóticas invasoras, constatou que, embora a legislação da UE seja bem concebida, «o verdadeiro desafio consiste na sua aplicação». E as alterações climáticas tornarão este desafio mais difícil no futuro.«Quando são plenamen-

te aplicadas, as políticas trazem resultados positivos para o am-biente, a economia e o bem-es-

tar das pessoas.» Ronan Uhel, Agência Europeia do Ambiente

Dinheiro inteligenteGerben-Jan Gerbrandy, deputado holandês ao PE e membro da Comissão do Ambiente, da Saúde Pública e da Segurança Ali-mentar, afirmou que, embora os políticos pareçam preocupar--se com a natureza, frequentemente o apoio esmorece quando é necessário fazer escolhas difíceis.

Salientou a necessidade de se utilizar o dinheiro de forma mais inteligente, fazendo notar que os instrumentos financeiros inovadores e uma melhor integração da natureza em políticas mais ecológicas para as infraestruturas e a agricultura podem ter um impacto significativo.

«Devemos dar provas de mais autoconfiança em relação ao valor do trabalho que realizamos em prol da proteção da natu-reza», disse. «O nosso sistema socioeconómico depende disso. A natureza e a biodiversidade servem de base a tudo o que fazemos, mesmo que muitas vezes ignoremos esse facto. É necessário um empenho político muito mais forte», concluiu.

Mais informações » http://www.eib.org/products/blending/ncff/index.htm

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» SEMANA VERDE

Natureza: o centro de saúde do futuroA ideia de que a natureza e a saúde humana estão estreitamente ligadas parece óbvia; mas converter esta ideia em política é um desafio. Na Semana Verde 2015 foram apresentadas novas evidências quanto à necessidade de os departamentos de ambiente e de saúde trabalharem em conjunto para encontrar soluções.

Um relatório inovador do Secretariado da Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB) e da Organização Mundial da Saúde lança uma nova luz sobre as ligações existentes entre a biodiversidade e a saúde.«Constatamos que se

trata de uma máquina comple-xa, mas estamos a retirar-lhe

peças a um ritmo alarmante. Se fizéssemos o mesmo a um equi-

pamento de hemodiálise, não esperaríamos que continuasse

a funcionar bem.»

Dr. Diarmid Campbell-Lendrum, Organização Mundial da Saúde

Apresentado na Semana Verde, o relatório aborda pormenoriza-damente as ligações complexas existentes entre os ecossiste-mas e a saúde no tocante à propagação de doenças infecciosas como a SARS, o vírus da febre do vale do Nilo e o ébola, que causam milhões de mortes por ano. Adverte, além disso, para os riscos que o uso excessivo de antibióticos comporta para a diversidade microbiana no tratamento de doenças não trans-missíveis, a ameaça para a saúde que regista um crescimento mais rápido. A diversidade microbiana é fundamental não só para assegurar ecossistemas saudáveis, mas também para ajudar a regular os nossos sistemas imunitários.

Relevante para os decisores políticos, o relatório sublinha tam-bém que o contacto com a natureza traz benefícios para a saúde física e mental. Além destas vantagens, os parques e os espaços verdes asseguram igualmente a absorção e dispersão

de poluentes atmosféricos, a descida das temperaturas e a pre-venção da hipertermia nas cidades, a redução da tensão social e o amortecimento da poluição sonora.

Da teoria à práticaBraulio Dias, secretário executivo do Secretariado da CDB, ins-tou os profissionais a utilizarem as conclusões do relatório para «promover políticas mais integradas, que reúnam os setores ambiental, da agricultura e da saúde, esperançosamente com um maior reconhecimento do papel que a biodiversidade desem-penha em prol da segurança alimentar e da saúde humana».

O autor do relatório, Diarmid Campbell-Lendrum, da OMS, alertou os participantes para as consequências imprevistas da perda de biodiversidade. «A primeira regra para uma reparação inteligente é a manutenção de todas as peças», disse. «Não é isso que esta-mos a fazer. Constatamos que se trata de uma máquina com-plexa, mas estamos a retirar-lhe peças a um ritmo alarmante. Se fizéssemos o mesmo a um equipamento de hemodiálise, não esperaríamos que continuasse a funcionar bem.»

Patrick ten Brink, do Instituto para uma Política Europeia do Ambiente, falou do trabalho que o seu instituto está a desenvol-ver no plano dos benefícios sociais e para a saúde decorrentes da proteção da natureza e da biodiversidade. Referiu que o passo seguinte consistirá em determinar o que pode ser feito no sentido de ajudar e quem pode fazê-lo, com vista a contribuir para um capítulo europeu do roteiro da CDB para a saúde e a natureza.

Serviço de saúde natural«As zonas protegidas são os centros de saúde do futuro», disse Ignace Schops, da Federação Europarc. Esta ideia já está a ser apli-cada na Escócia, onde está a ser posto em prática um «serviço de saúde natural» destinado a melhorar os espaços verdes em torno dos centros de saúde e hospitais para apoiar o tratamento e a recu-peração, bem como promover, junto dos profissionais de saúde, os benefícios da atividade física ao ar livre e do contacto com a natu-reza. No âmbito dos programas de tratamento, foram já criadas várias centenas de grupos que promovem caminhadas pela saúde.

Mais informações » http://ec.europa.eu/environment/nature/index_en.htm

» https://www.cbd.int/en/health/stateofknowledge

» http://www.ieep.eu/work-areas/biodiversity/valuing-

biodiversity-and-ecosystem-services/

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» -NATUREZA E BIODIVERSIDADE

Balanço dos progressosEm 2011, a UE adotou uma estratégia ambi-ciosa com seis objetivos para travar a perda de biodiversidade e de serviços ecossistémicos até 2020. Cinco anos antes do prazo fixado, e com uma revisão intercalar prevista para os próximos meses, os membros dos painéis da Semana Verde apelaram a um reconhecimen-to comum dos desafios futuros e à definição de objetivos políticos coerentes para proteger a biodiversidade da Europa.

Para Ariel Brunner, responsável pela política da UE na ONG Bir-dLife Europa, os progressos no sentido de travar a perda de biodiversidade têm sido lentos e díspares: «Não estamos a avan-çar... e se não intensificarmos esforços, tudo indica que ficare-mos aquém do cumprimento dos objetivos». No entanto, teve o cuidado de reconhecer a importância dos esforços em curso: «As zonas onde as diretivas Aves e Habitats foram aplicadas corretamente registaram melhorias», disse, assinalando o «sur-preendente reaparecimento de algumas espécies». Contudo, em muitas outras zonas, os progressos feitos no papel ainda não se refletiram numa melhor aplicação e execução no terreno.

Agricultura e biodiversidadeUm debate animado sobre a política agrícola comum ilustrou a diversidade de pontos de vista. Aquilo que Ariel Brunner con-siderou como «uma situação de perda para a natureza e os agricultores relativamente à qual é necessário um debate fun-damental», foi reconhecido por Liisa Pietola, representante da associação de agricultores europeus COPA-COGECA como «um

espaço de progresso que precisa de tempo, apoio financeiro e regras simplificadas para mostrar resultados». «Os agricultores são os principais gestores do espaço rural e têm de proteger a biodiversidade, respondendo simultaneamente ao aumento da procura de produtos alimentares», afirmou. «O reconhecimento dos seus esforços é um importante fator de motivação», disse.

Falando em nome da Comissão, François Wakenhut, diretor da Unidade de Biodiversidade da DG Ambiente, recordou aos dele-gados que muito irá depender da forma como as oportunidades para sinergias entre a agricultura e o ambiente forem aproveita-das pelas autoridades nacionais e regionais. «A política agrícola da UE reformulada oferece uma "ementa de iguarias" com vista à concretização dos objetivos da UE em matéria de biodiversidade, mas será que estas iguarias vão ser consumidas?», questionou.

Wakenhut congratulou-se com a transição do debate sobre o «conflito entre a biodiversidade e o desenvolvimento eco-nómico» para o que considera ser uma procura de soluções comuns. Dirk Finke, secretário-geral da Associação Europeia de Agregados, mostrou o trabalho desenvolvido pelo seu setor no âmbito da legislação com vista a reforçar a proteção da biodiversidade. «O setor dos agregados investe uma enorme quantidade de recursos na recuperação de ecossistemas, empregando cientistas para preencher as lacunas em matéria de conhecimento especializado e trabalhando em parceria com ONG contra as práticas ilegais associadas à extração», afirmou.

Governação a vários níveis e coconstruçãoDe acordo com Annabelle Jaeger, membro do Conselho Regional de Provence-Alpes-Côte d'Azur, a estratégia de biodiversidade gerou uma «dinâmica favorável» que permitiu reforçar a cooperação e a participação entre agricultores, empresas e cidadãos. Defendeu a «coconstrução» da política com o contributo das regiões, com vista a uma melhor integração da biodiversidade e da infraestrutura verde. Esta medida asseguraria também uma abordagem mais harmonizada das políticas públicas em matéria de biodiversidade e agricultura. Relativamente aos casos em que se verificassem lacunas, talvez fosse uma questão de calendarização: «As ques-tões relacionadas com a biodiversidade são frequentemente abordadas demasiado tarde no processo de planeamento e, por conseguinte, são consideradas como entraves ou obstáculos».

Embora as opiniões divergissem quanto ao grau de progresso na prossecução dos objetivos, os membros do painel reconhe-ceram a necessidade de encontrar uma base comum, de criar confiança e de trabalhar em parceria para encontrar soluções.

Mais informações » http://ec.europa.eu/environment/nature/biodiversity/

comm2006/2020.htm

» http://bit.ly/1Ihjupd

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» RUÍDO E SAÚDE NOS MEIOS URBANOS

Tornar as nossas cidades mais ecológicasAs cidades verdes e saudáveis atraem inves-timentos para a inovação e podem funcionar como centros de criatividade e de criação de riqueza. Um dos painéis da Semana Verde examinou algumas das soluções baseadas na natureza elaboradas pelas cidades líderes com vista à resolução de problemas como as inunda-ções e a qualidade do ar, do solo e da água.

Os vencedores do prémio Capital Verde da Europa comprome-tem-se a partilhar as suas melhores práticas, tanto a nível das tecnologias ambientais como de outras soluções. A Semana Verde apresentou uma série de exemplos, com destaque para Bristol, cidade que detém atualmente o título, e para Copenhaga, cidade vencedora da edição de 2014.«As cidades que

beneficiaram de medidas de recuperação ou de reintrodução

da natureza são mais saudáveis, mais seguras e lugares melhores

para se viver.» António Vicente, chefe de gabinete de Carlos Moedas,

comissário europeu para a Investigação, a Ciência e a Inovação

«Um terço da cidade de Bristol é constituído por espaços verdes ou água», disse George Ferguson, presidente da Câmara da cidade. A natureza é um dos cinco temas do ano de Bristol como Capital Verde da Europa 2015, tendo sido lançados vários projetos ambien-tais, que vão desde o Bristol Natural History Consortium (que conta com a parceria da BBC) à iniciativa de plantar «uma árvore por cada criança». George Ferguson assinalou que as despesas em infraes-truturas verdes proporcionam uma forma de «terapia ecológica» que contribui para reduzir os custos com a saúde, beneficiando o bem-estar dos cidadãos e as finanças públicas.

Relativamente a Copenhaga, Lykke Leonardsen, responsável pela Unidade Climática da cidade, explicou de que forma um agua-ceiro ocorrido em julho de 2011 demonstrou aos urbanistas que a cidade era vulnerável a inundações. Quando mais de 15 centíme-tros cúbicos de chuva caíram em menos de três horas, tornou-se evidente a necessidade de olhar para a cidade como um sistema integrado. Os urbanistas estão agora a utilizar proveitosamente uma infraestrutura verde e multifuncional baseada na natureza.

Para além de deixar fluir as águas pelos leitos de ribeiros anti-gos, a cidade utilizará os lagos como bacias de retenção para armazenar água durante as inundações e também como par-ques públicos quando o nível de água estiver mais baixo. «Quem diz que uma estrada tem de ser apenas uma estrada?», questio-nou. Um planeamento cuidadoso implica que a água possa fluir de forma controlada pelas «cloudburst boulevards» (avenidas utilizadas para escoar águas diluvianas) durante os períodos de inundações, evitando que estas causem prejuízos noutros locais.

Reação quantificadaMartin Powell, responsável pelo Desenvolvimento Urbano no Centro de Competências para as Cidades da Siemens, salientou as novas oportunidades proporcionadas pela facilitação do acesso dos consu-midores a informações digitais. «Se quantificarmos o que consumi-mos, poderemos reduzir consideravelmente esse consumo», disse.

Cidades naturaisAntónio Vicente, chefe de gabinete de Carlos Moedas, comissário europeu para a Investigação, a Ciência e a Inovação, interrogou-se sobre como seriam as cidades se tivessem sido planeadas pela natureza. Uma pergunta que pode ser respondida no quadro do programa Horizonte 2020, o extenso programa de financiamento da investigação e da inovação da UE, que consagra grande prio-ridade à investigação no domínio das cidades sustentáveis como «laboratórios urbanos vivos». Salientou que é necessária a adoção de uma abordagem integradora por parte das cidades para ques-tões como o consumo e a utilização da energia. «Não podemos ter uma maior eficiência energética apenas para utilizar mais energia; não podemos reciclar mais apenas para consumir mais», afirmou. «É necessário reunir recursos, e não esgotá-los».

Mais informações » http://www.greenweek2015.eu/programme-20150604-5-2.

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Natura 2000: uma rede de pessoasA rede Natura 2000 é mais do que uma rede destinada a proteger zonas com elevado valor em termos de biodiversidade: é também uma estrutura que permite às comunidades beneficiar dos serviços dos ecossistemas que abrigam. A Semana Verde apresentou exemplos de atividades económicas sustentáveis realizadas em harmonia com a natureza.

«A rede Natura 2000 é uma rede de sítios, mas também de pessoas e organizações que atuam a nível local e regional», disse Neil McIntosh, do Centro Europeu para a Conservação da Natureza.

A rede destina-se a funcionar no âmbito de um processo inclusivo que envolve autoridades regionais, ONG e empresas privadas locais. Se for bem gerida, a rede poderá trazer benefícios substanciais às comunidades locais, afirmou.

Bons exemplos não faltam. Em Bristol, a Capital Verde da Europa de 2015, a autarquia está a explorar abordagens urbanas em prol da interligação das pessoas e da fauna selvagem. Introduziu cabras sel-vagens no desfiladeiro de Avon com o objetivo de inibir o crescimento de plantas invasoras e evitar a necessidade de eliminação manual destas plantas. A cabra selvagem constitui um importante elemento atrativo para os visitantes.

O sucesso, disse o autarca responsável pelo desfiladeiro de Avon, Richard Ennion, depende da promoção da compreensão do valor da natureza. «É necessário definir com mais clareza os serviços ecossistémicos», afirmou, e «traduzi-los em investimento sustentável». O estabelecimento de ligações entre os beneficiários e as partes responsáveis pela manutenção e fornecimento de tais recursos é uma solução óbvia, referiu.

A necessidade de assegurar uma ligação com as partes interessadas a nível local foi referida por Thierry Mougey, da Federação Francesa de Parques Regionais. Em França, cada parque natural regional tem um projeto Natura 2000 que visa a refletir a cultura local, como a manu-tenção de canaviais e a gestão da colheita de canas destinadas à cons-trução local de telhados de colmo em Brière, bem como a organização da colheita e venda de plantas de arnica a empresas farmacêuticas em Ballons des Vosges. É fundamental ter em conta a dimensão cultural local, disse.

Planeamento eficaz e consulta precoceNo que diz respeito a atividades económicas potencialmente preju-diciais, um planeamento eficaz e precoce a nível estratégico pode contribuir para a identificação de potenciais conflitos com zonas de conservação da natureza, permitindo otimizar as opções a nível dos projetos. É necessário identificar e estabelecer parcerias entre as par-tes interessadas numa fase precoce.

Esta abordagem ajudou a Renewables Grid Initiative (RGI), que asso-ciou operadores de redes de transporte europeias e ONG, a elaborar princípios para a construção de infraestruturas de rede sem preju-dicar a natureza. Antonella Battaglini, fundadora da RGI, salientou a necessidade de uma boa comunicação: «Necessitamos de uma estrutura ou plataforma que congregue os grupos, e é preciso que estes grupos ouçam e respeitem opiniões diferentes».

É necessário assegurar uma partilha mais ampla das boas práticas das indústrias extrativas, disse Michelle Wyart-Remy, secretária-geral da Associação Europeia das Indústrias Mineiras. Medidas de atenua-ção bem definidas (e uma recuperação eficaz na sequência de ativi-dades de exploração mineira) podem evitar efeitos negativos, e até contribuir para a biodiversidade, disse.

Mais informações » http://parcs-naturels-regionaux.fr » http://www.naturemwelt.lu » http://www.avongorge.org.uk » http://www.ecnc.org » http://www.greenweek2015.eu/programme-20150604-5-3.html

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