alternativas ao uso de animais vivos em experimentos científicos e

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1 INTRODUÇÃO Os conhecimentos biológicos empíricos datam da época pré-histórica, quando o homem primitivo, na sua condição de caçador e coletor, conheceu diferentes tipos de plantas e animais. A representação de animais em pinturas rupestres já demonstrava esse interesse biológico. No século VI a.C, produziu-se um salto qualitativo nos campos do saber, com o florescimento da cultura na Grécia. Por meio de pesquisa e dedução, os gregos teorizavam sobre o conhecimento do mundo e das leis que os regiam (GOLDIM & RAYMUNDO, 1997). Surgiram nesse período grandes cientistas, tais como Aristóteles, Galeno e Hipócrates, que realizaram importantes estudos anatômicos e fisiológicos, utilizando várias espécies animais. Mais tarde, as contribuições de Vesalius (1543) na moderna anatomia, permitiram um grande passo para a ciência. Concomitantemente, Bacon e Descartes contribuíram para que a metodologia de especulação fosse substituída pela experimentação (ANDRADE et al., 2002). Em 1628, Harvey descobriu através da utilização de cobaias animais, o sistema circulatório, lançando os fundamentos da Fisiologia Experimental. Além do esclarecimento dessa função, introduziu a vivissecção na prática científica (MENDES, 2003). No século XVIII, com os estudos da bacteriologia, os trabalhos científicos de Koch e Pasteur já contavam amplamente com a utilização de cobaias, que se tornaram verdadeiras “ferramentas de trabalho” dos pesquisadores (ANDRADE et al., 2002). Foi com Claude Bernard (1813-1878), considerado o maior fisiologista de todos os tempos, que a vivissecção tornou-se institucionalizada no século XIX. Segundo ele: “A experimentação animal é um direito integral e absoluto. O fisiologista não é um homem do mundo, é um sábio, é um homem que está empenhado e absorto por uma idéia científica que prossegue, não ouve o grito dos animais, nem vê o sangue que escorre. Só vê a sua vida e só repara nos organismos que lhes escondem problemas que ele quer descobrir” (BERNARD apud PAIXÃO, 1994). Desde então, muitos e importantes segmentos das Ciências, como a Farmacologia e Toxicologia, Bacteriologia, Virologia, Parasitologia, Genética, Histologia entre outros, incluem experimentos realizados com cobaias vivas em suas linhas de pesquisas (TREZ & GREIF, 2000). Com a evolução da pesquisa houve também a crescente preocupação com a ética e com os métodos que poderiam substituir o uso de cobaias animais nos experimentos científicos. Tal conscientização acerca do tema manifestou-se já no início do século XIX, na Inglaterra, com

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Page 1: Alternativas ao Uso de Animais Vivos em Experimentos Científicos e

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INTRODUÇÃO

Os conhecimentos biológicos empíricos datam da época pré-histórica, quando o homem

primitivo, na sua condição de caçador e coletor, conheceu diferentes tipos de plantas e

animais. A representação de animais em pinturas rupestres já demonstrava esse interesse

biológico. No século VI a.C, produziu-se um salto qualitativo nos campos do saber, com o

florescimento da cultura na Grécia. Por meio de pesquisa e dedução, os gregos teorizavam

sobre o conhecimento do mundo e das leis que os regiam (GOLDIM & RAYMUNDO, 1997).

Surgiram nesse período grandes cientistas, tais como Aristóteles, Galeno e Hipócrates, que

realizaram importantes estudos anatômicos e fisiológicos, utilizando várias espécies animais.

Mais tarde, as contribuições de Vesalius (1543) na moderna anatomia, permitiram um grande

passo para a ciência. Concomitantemente, Bacon e Descartes contribuíram para que a

metodologia de especulação fosse substituída pela experimentação (ANDRADE et al., 2002).

Em 1628, Harvey descobriu através da utilização de cobaias animais, o sistema circulatório,

lançando os fundamentos da Fisiologia Experimental. Além do esclarecimento dessa função,

introduziu a vivissecção na prática científica (MENDES, 2003).

No século XVIII, com os estudos da bacteriologia, os trabalhos científicos de Koch e Pasteur

já contavam amplamente com a utilização de cobaias, que se tornaram verdadeiras

“ferramentas de trabalho” dos pesquisadores (ANDRADE et al., 2002).

Foi com Claude Bernard (1813-1878), considerado o maior fisiologista de todos os tempos,

que a vivissecção tornou-se institucionalizada no século XIX. Segundo ele: “A

experimentação animal é um direito integral e absoluto. O fisiologista não é um homem do

mundo, é um sábio, é um homem que está empenhado e absorto por uma idéia científica que

prossegue, não ouve o grito dos animais, nem vê o sangue que escorre. Só vê a sua vida e só

repara nos organismos que lhes escondem problemas que ele quer descobrir” (BERNARD

apud PAIXÃO, 1994).

Desde então, muitos e importantes segmentos das Ciências, como a Farmacologia e

Toxicologia, Bacteriologia, Virologia, Parasitologia, Genética, Histologia entre outros,

incluem experimentos realizados com cobaias vivas em suas linhas de pesquisas (TREZ &

GREIF, 2000).

Com a evolução da pesquisa houve também a crescente preocupação com a ética e com os

métodos que poderiam substituir o uso de cobaias animais nos experimentos científicos. Tal

conscientização acerca do tema manifestou-se já no início do século XIX, na Inglaterra, com

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o surgimento de movimentos que se dedicavam a mudar as atitudes do homem em relação aos

animais (PAIXÃO, 2001).

Desde então, o número de Organizações Não-Governamentais que protegem o direito dos

animais e visam incentivar a substituição de cobaias vivas por alternativas viáveis é cada vez

maior. Entretanto, os ativistas sempre esbarram em inúmeras barreiras, sejam elas de interesse

financeiro, à falta de iniciativa, visões conservadoras e até mesmo o desprezo por parte dos

grandes centros de pesquisas (SINGER, 1975).

A implementação de métodos alternativos apresenta-se como uma solução moralmente

justificada e plenamente viável, possibilitando o exercício de uma postura de respeito em

relação à vida e dor de outrem (ALVES, 2004).

Com a crescente procura de métodos que substituam os animais vivos em experimentos,

torna-se importante o conhecimento e a divulgação de novas técnicas alternativas, que visam

à substituição integral do uso de animais na experimentação científica e educacional.

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OBJETIVO Este trabalho tem como objetivos apontar algumas das alternativas existentes atualmente no

mercado mundial, de substituição ao uso de animais vivos em experimentos científicos e

educacionais, além de fomentar a reflexão acerca de valores éticos sobre a preservação da

vida animal.

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MATERIAIS E MÉTODOS

Foram levantados dados bibliográficos sobre os principais métodos alternativos existentes

atualmente que substituem o uso de animais vivos na pesquisa científica e nas instituições de

ensino, nas bibliotecas da USP – Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade Guarulhos,

UNIFESP/ Escola Paulista de Medicina e sites.

A literatura consultada foi restringida aos últimos vinte anos e a publicações em língua

portuguesa e inglesa

Alguns pontos de vista de cientistas a respeito da experimentação animal foram coletados

através de entrevista realizadas via correio eletrônico e extraídas de páginas da internet, no

período de setembro a novembro de 2004.

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1. Experimentação animal

Antes de falar sobre as alternativas ao uso de animais em experimentos, vale a pena recordar

alguns conceitos sobre experimentação animal, que podem auxiliar, de certo modo, a

compreensão e estruturação de uma metodologia alternativa, contrapondo-se à utilização dos

métodos convencionais empregados atualmente (RIVERA, 2002).

Tendo em vista que o campo da experimentação animal é bastante abrangente, e para se ter

uma idéia do que representa hoje esse campo, em termos de realidade científica, faz se

necessário mapear os experimentos em animais (PAIXÃO, 2001).

1.1 O que é experimentação animal?

A experimentação animal se baseia nas observações dos efeitos de substâncias sobre

organismos vivos, ou na observação de mudanças comportamentais em organismos privados

de nutrir-se, de maneira geral, com regiões nervosas extirpadas, e fora de seu habitat natural.

O experimentador se vale então de técnicas fisiológicas ou bioquímicas, para obtenção de

dados qualitativos ou quantitativos sobre a ação de medicamentos e substâncias. (RIVERA,

2002).

De uma forma geral, qualquer animal pode ser utilizado em experimentos; porém, o modelo

animal é escolhido de acordo com a especificidade da ação estudada (ANDRADE et al.,

2002).

Alguns grupos de proteção animal e opositores à experimentação animal, no entanto,

preferem utilizar o termo “vivisseção”, que tem sua origem no latim, com a junção de “vivus”

(vivo) e “sectio” (corte secção). Logo, vivisseção quer dizer “cortar um corpo vivo”, enquanto

o termo “dissecação” refere-se a “cortar um corpo morto” (PAIXÂO, 2001).

De acordo com FADALI (1996), médico cirurgião que critica o método da experimentação

animal, o termo “vivisseção” foi cunhado por Claude Bernard, considerado o fundador da

fisiologia experimental e príncipe dos vivissectores.

Para FADALI (1996), o termo se aplica a todos os tipos de experimentos que envolvem

animais, independente do fato de ocorrerem cortes ou não.

Ainda segundo o posicionamento de alguns, os cientistas utilizam o termo “experimentação”

para não revelar o que realmente ocorre nos laboratórios (SCHÄR-MANZOLI, 1996). Uma

outra explicação para a preferência pelo termo vivisseção é que a disseminação da sua

utilização data de um tempo em que os procedimentos eram invasivos, em sua maior parte

(MONAMY, 1996 apud PAIXÃO, 2001).

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A experimentação animal pode se referir ao estudo em animais, com o objetivo de obter maior

conhecimento deles próprios, e possíveis aplicações na própria saúde e bem estar dos

mesmos, tal como ocorre no campo da Medicina Veterinária. Porém, de forma mais freqüente,

os animais são utilizados como “modelos”, a fim de que se obtenham conhecimentos e

possíveis benefícios inerentes à saúde humana (PAIXÃO, 2001).

As diferentes formas de utilização de animais que se enquadram no campo da

“experimentação animal”, atualmente podem ser divididas em sete categorias principais

(ROLLIN, 1998 apud PAIXÃO, 2001):

a) Pesquisa básica – biológica, comportamental e psicológica. Refere-se à formulação e

testes de hipóteses sobre questões teóricas fundamentais, tais como, a natureza da

duplicação do DNA, a atividade mitocondrial, as funções cerebrais, o mecanismo de

aprendizagem, enfim, com pouca consideração para o efeito prático dessa pesquisa.

b) Pesquisa aplicada – biomédica e psicológica. Formulações e testes de hipóteses sobre

doenças, disfunções, defeitos genéticos, etc., as quais não há necessariamente

conseqüências. Incluem-se nesta categoria os testes de novas terapias: cirúrgicas, terapia

gênica, tratamento a base de radiação, tratamento de queimaduras, etc.

c) O desenvolvimento de substâncias químicas e drogas terapêuticas. A diferença entre essa

categoria e as anteriores é que aqui se refere ao objetivo de encontrar uma substância

específica para um determinado propósito, mais do que o conhecimento por si próprio.

d) Pesquisas voltadas para um aumento da produtividade e eficiência dos animais na prática

agropecuária. Isso inclui ensaios alimentares, estudos de metabolismo, estudos na área de

reprodução, desenvolvimento de agentes que visam ao aumento da produção leiteira, entre

outros.

e) Testes de várias substâncias quanto à sua segurança, potencial de irritação e grau de

toxicidade. Dentre essas substâncias, incluem-se cosméticos, aditivos alimentares,

herbicidas, pesticidas, químicos, industriais e drogas. As drogas, que podem ser de uso

veterinário ou humano, são testadas quanto à sua toxicidade, carcinogênese (produção de

câncer), mutagênese (produção de mutação nos organismos vivos), e teratogênese

(ocorrência de anormalidades no desenvolvimento embrionário e produção de monstros).

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f) Uso de animais em instituições educacionais para demonstrações, vivisseções,

treinamento cirúrgico, indução de distúrbios com finalidades demonstrativas, projetos

científicos relacionados ao ensino.

g) Uso de animais para extração de drogas e produtos biológicos, tais como vacinas, sangue,

soro, anticorpos monoclonais, proteínas de animais geneticamente modificados para

produzi-las, dentre outros.

Além destes sete tipos de experimentos realizados em animais, existe o campo de estudos com

animais silvestres e/ou selvagens, cuja parte significativa da pesquisa envolve um trabalho de

campo, no qual os animais permanecem em seu habitat. Tais pesquisas têm como propósito

obter conhecimentos sobre ecossistemas, organização social, transmissão de doenças, entre

outros (DONELLY & NOLAN, 1990 apud PAIXÃO, 2001).

Um outro tipo de experimentação que envolve animais é a chamada “pesquisa militar”, que

inclui o desenvolvimento de armas e seus testes. Os animais podem ser submetidos a armas

químicas, radiações ionizantes, laser, microondas e alta potência e armas biológicas

(BUDKIE, 2001).

As pesquisas espaciais também utilizam animais. Muitos desses estudos envolvem o envio de

animais, especialmente primatas, para o espaço em satélites, a fim de investigar vários

parâmetros, tais como: efeitos na estrutura e função dos ossos, músculos e nervos, ritmo

circadiano, equilíbrio hidroeletrolítico, entre outros. Nessas situações os animais são

submetidos a implante de eletrodos, isolamento e pouca mobilidade, durante longo tempo,

para treinamento e durante a viagem (WALKER, 1996 apud PAIXÃO, 2001).

Na área de ensino, os animais são amplamente utilizados com propósitos educativos em toda

área biomédica e biológica, em todos os níveis. Os objetivos da utilização de animais estão

vinculados ao processo de aprendizagem de diversas formas (PAIXÃO, 2001).

Na área da educação, vem ocorrendo uma diminuição cada vez maior da utilização de

animais, devido às novas técnicas alternativas, mobilização de alunos contra tais

experimentos, legislações restritivas que definem o uso de animais no ensino e questões

éticas, nas quais o educador se vê diante de um paradoxo moral (TRÉZ & GREIF, 2000).

Novas possibilidades se desenvolveram no campo da experimentação animal nos últimos

anos, a partir do advento da tecnologia, da engenharia genética, especialmente com a

produção de animais transgênicos, e, mais recentemente, com a técnica da clonagem. Estas

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novas tecnologias, por sua vez, expõem os animais a fatores de risco adicionais que terão

implicações em seu bem-estar (BALLS, 1998).

De acordo com ROLLIN (ROLLIN, 1998 apud PAIXÃO, 2001), as questões advindas desta

biotecnologia, estão sendo pouco discutidas, e pouca atenção tem sido dada ao aspecto do

possível sofrimento animal. Com a possibilidade de criar “modelos” animais para doenças,

uma nova e significativa fonte de sofrimento animal está se desenvolvendo.

A idéia dos xenotransplantes, isto é, a utilização de animais como fonte de órgãos para

transplantes em humanos, embora não seja propriamente nova, voltou a ser considerada a

partir do desenvolvimento biotecnológico; porém um dos aspectos que se destaca no debate

ético é o risco da transmissão de doenças infecciosas para a população e a questão dos danos

impostos aos animais, em prol dos benefícios humanos (HUGHES, 1998).

A necessidade de se manter tais animais “livres” de agentes patogênicos pode requerer um

isolamento e uma alteração genética que venham a comprometer, de forma adicional, o bem

estar animal (PAIXÃO, 2001).

É importante salientar que qualquer tipo de experimentação prejudica o bem-estar do animal

envolvido, não importando o método utilizado.

A experimentação animal não pode ser considerada a única via metodológica para se obter o

conhecimento científico, pois o metabolismo animal jamais será parecido com o humano,

acarretando atraso e erros para o progresso da ciência (TRÉZ & GREIF, 2000).

2) O modelo animal

Primeiramente, “modelo” define-se como algo passível de ser reproduzido, imitado. Diante

deste primeiro conceito, estabeleceremos a associação entre modelo e animal (SANTOS,

2002).

Como visto anteriormente, para desvendar os mistérios do ambiente que o cercava, o homem

passou a utilizar os animais como “instrumento” de teste, já que os consideravam seres

inferiores, além de ter uma infinidade de espécies disponíveis ao seu alcance para efetuar tal

prática, indiscriminadamente.

Com a evolução dos conhecimentos científicos, diversas instituições de ensino começaram a

surgir, convergindo para seus domínios estudantes de todo o mundo. Estes aplicados alunos

estudavam e realizavam pesquisas e experimentos em suas escolas e estavam aptos a

reproduzir o aprendizado em seus países de origem (SANTOS, 2002).

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Tal fato proporcionou a disseminação da experimentação animal através do mundo e

fortaleceu o conceito do modelo animal. O estudante, que outrora aprendera a desenvolver

suas experiências em determinado animal, sentia-se plenamente à vontade em prosseguir a

realização de testes em animais da mesma espécie, como forma de garantir a reprodução

fidedigna do que havia constatado em seus estudos. (ANDRADE et al., 2002).

Eis então que o conceito de modelo animal surgiu da necessidade da utilização de

determinada espécie animal, que melhor respondia a determinado experimento, assegurando a

continuidade reprodutiva da espécie, para que gerações inteiras de cientistas pudessem atingir

resultados convergentes, já que o modelo era o mesmo através dos tempos (ANDRADE et al.,

2002).

As pesquisas cresceram, desenvolveram-se e atingiram alto grau de refinamento, e,

concomitantemente, os modelos animais também. Esse número cada vez maior de

experimentos demandou a necessidade do conhecimento biológico de cada espécie envolvida

no processo, fazendo com que determinadas espécies fossem mais utilizadas que outras

(ANDRADE et al., 2002).

A escolha dos animais para realização de testes passou a obedecer a critérios como o tamanho

reduzido do animal, ciclo reprodutivo curto, prole numerosa, precocidade, nutrição variada,

adaptação ao cativeiro e baixo custo. (TRÉZ & GREIF, 2000).

3) Os principais animais utilizados em experimentos

De uma maneira mais ampla, qualquer animal pode ser utilizado em experimentação,

entretanto, procura-se um modelo específico para cada ação estudada. Como exemplo,

podemos citar o uso do gato para estudo do sistema circulatório, a utilização do cão como

modelo para estudo geniturinário e os pequenos roedores para avaliações do sistema

respiratório, entre outros (ANDRADE et al., 2002).

Os animais mais constantemente utilizados em experimentos são os roedores (camundongos,

hamsters, ratos, porquinhos da índia). Aproximadamente 90% dos animais utilizados em

pesquisas são da espécie dos roedores, compreendendo num total estimado entre 17 e 25

milhões de animais usados anualmente (AAVS, 2003).

Figura 1: Porquinhos-da-índia, camundongo e rato

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As justificativas para tal massificação na utilização dos roedores são o custo baixo, o porte

reduzido, o fato de ser uma espécie mansa, fácil de manter, exigir pouca alimentação, ocupar

pouco espaço e produzir prole numerosa (TRÉZ & GREIF, 2000).

Embora sejam as mais empregadas, muitas outras espécies de animais são utilizadas, como os

coelhos, cães, gatos, porco-anões, aves, rãs, ovelhas e alguns primatas (TRÉZ & GREIF,

2000).

Segundo dados do biotério da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da

Universidade de São Paulo (USP), fornecido pela médica veterinária responsável, doutora

Cláudia Mori, 9.030 animais foram utilizados no ano de 2002 em pesquisas, sendo 9.004

roedores e 26 coelhos (ANEXO1).

Se compararmos os dados de 2002 com os de 1993, notaremos uma grande redução no

número de animais utilizados em experimentos na Universidade. Num período de dez anos, o

número de roedores utilizados diminuiu em 35%. A partir de 1998 foi abolido o uso de cães e

galinhas no biotério (MORI, 2004).

A quantidade de animais utilizados é também uma questão relevante no debate sobre

experimentação animal. A esse respeito, estima-se que o número de animais torturados e

mortos anualmente nos laboratórios dos EUA divirja largamente entre 17 e 70 milhões de

animais (TRÉZ & GREIF, 2000).

O Animal Welfare Act, lei que regulamenta a experimentação animal nos EUA, requer dos

laboratórios o registro do número de animais utilizados em experimentos. Porém, a lei não faz

referência a camundongos, aves e ratos, animais utilizados em 80 a 90% dos experimentos,

dificultando a contabilidade precisa, limitando-se a dados especulativos e aproximados.

Infelizmente, devido à inoperância dos órgãos fiscalizadores brasileiros, não há estatísticas

oficiais sobre a quantidade de animais utilizados em experimentos. (TRÉZ & GREIF, 2000).

Figura 2: Coelhos, cães, gatos, primatas e aves, principalmente pombos, são alguns dos principais animais utilizados em experimentos.

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Atualmente, conforme descrito por PAIXÃO (2001), observa-se a diminuição gradual do

número de animais utilizados, e, algumas hipóteses têm sido sugeridas para tal acontecimento,

tais como:

a) A substituição dos métodos tradicionais por culturas in vitro.

b) A suposta melhora da qualidade dos animais de laboratório, conseqüentemente reduzindo

o número utilizado dos mesmos.

c) Os experimentos em animais tornaram-se onerosos, de tal forma que passaram a ser

evitados.

d) Os protestos contra experimentação animal cresceram, especialmente a partir da década de

70, obrigando cientistas a planejarem melhor seus experimentos, levando em consideração

os chamados métodos alternativos.

Porém, a expectativa futura para o número total de animais utilizados é incerta, especialmente

devido à tecnologia da engenharia genética. De um lado, os animais geneticamente

modificados podem permitir uma redução e um refinamento do uso de animais, já que pode

haver mais precisão no “alvo” a ser atingido. Por outro lado, as possibilidades de vários

procedimentos a partir dos transgênicos e de outras técnicas podem promover uma maior

utilização de animais, uma maior variedade de aplicações, com conseqüente aumento do

número de animais utilizados (FORSMAN, 1993; HUBRECHT, 1995; ECVAM, 1998 apud

PAIXÃO, 2001).

As estatísticas recentes no Reino Unido demonstram que os procedimentos realizados em

animais transgênicos aumentaram cerca de dez vezes a partir da década de 90, atingindo cerca

de 450.000 procedimentos (STOKSTAD, 1999 apud PAIXÃO, 2001).

4) Os biotérios

Um biotério é uma instalação concebida para permitir a criação de animais que serão

destinados a experimentos científicos e/ou educacionais, onde os animais supostamente

encontram um ambiente “agradável”, e que os proporcionam saúde e condições apropriadas

para o desenvolvimento e reprodução da espécie. Assim, os animais podem responder

satisfatoriamente aos testes neles realizados. (ANDRADE et al., 2002).

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Os biotérios nasceram da necessidade de se ter os animais em número, idade e sexo adequado

ao estudo em andamento, além de facilitarem o alojamento, a manutenção e o transporte dos

mesmos (ANDRADE et al., 2002).

Os pesquisadores exigem que estes animais reúnam condições ideais, isto é, que atendam aos

parâmetros de qualidade genética e sanitária, uma vez que nada mais são que “reagentes

biológicos”, e os resultados dos experimentos são afetados em razão da qualidade de cada

espécie utilizada. Para manter a infra-estrutura de um biotério, demanda-se um alto custo

operacional, seja na aquisição dos animais, como na manutenção dos mesmos (ANDRADE et

al., 2002).

Segundo dados fornecidos pelo professor LUNA (2004), da Faculdade de Medicina

Veterinária e Zootecnia da UNESP Botucatu, no ano de 2001 foram gastos R$ 129.344,00

para manter aproximadamente 65.000 animais. Neste valor, não estão contabilizados os gastos

com manutenção, custo dos funcionários, limpeza e demais custos externos.

5) Principais tipos de testes realizados em animais na pesquisa científica

De acordo com LUNA (2004), 90% dos trabalhos científicos realizados não são publicados,

demandando tempo, recursos e a utilização de animais sadios para a experimentação.

Segundo descrito por TRÉZ & GREIF (2000), os principais tipos de testes envolvendo a

utilização de animais em pesquisas científicas estão assim divididos:

5.1) Indústria Química e Farmacêutica

Anualmente, milhares de produtos químicos são manufaturados para uso em geral (comercial,

agrícola, militar, industrial, doméstico, etc). Muitos deles são altamente tóxicos, e necessitam

de cuidados especiais de manuseio, pois apresentam alta periculosidade.

Os produtos e seus insumos químicos são largamente testados em animais, sob o título “teste

de toxicidade”, tais como Lethal Dose (Dose Letal - DL) 50, 40, 30...Lethal Concentration

(Concentração Letal - CL) 50, 40, 30...Lethal Dose Low (Baixa Dose Letal - BDLo), Total

Concentration Low (Baixa Concentração Total - BCTo), Maximum Torelable Dose (Dose

Máxima Tolerada - DMT), etc.

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Outras pesquisas incluem testes de carcinogenicidade (câncer) e mutagenicidade (mutações

genéticas), estudos de teratogenicidade (defeitos de nascimento) e toxicidade reprodutiva,

estudos de hepatotoxicidade (fígado), etc.

Os testes de toxicidade realizados em animais, além de envolverem um grande número de

animais, ocasionam diretamente sérios efeitos nos mesmos. Além disso, uma outra questão

relevante nesse caso, é que se trata de um dos poucos procedimentos em que há uma

obrigatoriedade legal de se realizar os testes (TRÉZ & GREIF, 2000).

5.2) Indústria Cosmética

Para determinar a segurança de cosméticos e produtos de limpeza e higiene doméstica,

diversas substâncias são testadas em animais:

Teste de irritação ocular (Draize Eye Test)

Realizado desde 1994, visa avaliar alterações oculares e perioculares provocadas por produtos

químicos diversos. Para execução do teste, são colocados 100 mg de solução concentrada de

determinada substância nos olhos de um grupo de 6 a 9 coelhos albinos, que não receberam

anestesia.

Figura 3: Animais submetidos a testes nas indústrias químicas e farmacêuticas, os segmentos industriais que mais utilizam a experimentação animal em seus laboratórios de teste

Figura 4: Coelhos submetidos a teste de irritação ocular (Draize Eye Test)

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Os coelhos permanecem em caixas de contenção, imobilizados pelo pescoço. Não são

utilizados analgésicos, pois os cientistas alegam que seu emprego causa alteração nos

resultados.

As pálpebras dos animais são presas por grampos, que mantêm os olhos constantemente

abertos. Embora 72 horas sejam geralmente suficientes, a prova pode durar 18 dias, quando,

então, o olho do animal se transforma em uma massa irritada e dolorida.

As reações observadas incluem processos inflamatórios das pálpebras e íris, úlceras,

hemorragias ou mesmo cegueira.

Teste de sensibilidade cutânea (Draize Skin Test)

O procedimento consiste na depilação de áreas do corpo do animal, onde se raspa a pele

(muitas vezes até provocar sangramento) e aplica-se a substância a ser analisada. Observam-

se sinais de enrijecimento cutâneo, úlceras, edemas, etc.

Lethal Dose (Dose Letal – DL) 50

A prova compreende em forçar o animal a ingerir determinada quantidade da substância,

através de sonda gástrica. Por muitas vezes, ocorre morte do animal por perfuração.

Os efeitos observados incluem convulsões, dispnéia, diarréia, úlceras, emagrecimento, postura

anormal, epistaxe, hemorragias da mucosa ocular e oral, lesões pulmonares, renais e

hepáticas, coma e morte. Continua-se a administrar o produto até que 50% do grupo

experimental morram.

A substância também pode ser administrada por via subcutânea, intravenosa, intraperitonial,

misturada à comida, por inalação, via retal ou vaginal. As cobaias utilizadas incluem ratos,

coelhos, gatos, cachorros, cabras e macacos.

5.3) Indústria Armamentista

Experimentos de guerra

Testes de irradiação, nos quais as cobaias são expostas a diferentes tipos de radiação,

apresentando sintomas como vômitos, salivação intensa e letargia, provas químicas com gases

letais, provas biológicas – exposição a insetos hematófagos, testes balísticos (em que os

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animais servem de alvo), bem como provas de explosão, com cobaias expostas aos efeitos de

bombas.

As Forças Armadas Americanas realizam testes de inalação de fumaça, prova de

descompressão, testes de consumo de drogas e álcool, testes sobre a força da gravidade, testes

com gases tóxicos, entre outros.

É estimado que cerca de 1/3 dos animais utilizados em pesquisa se destinam à indústria bélica

(Miranda, 2004).

Nos países desenvolvidos, uma grande variedade de animais é utilizada nos testes militares,

incluindo ovelhas, porcos, cães, roedores e macacos. No reino Unido, apesar do largo

emprego de animais em testes militares, também são conduzidos, paralelamente, testes com

voluntários humanos, evidenciando a baixa confiabilidade dos resultados obtidos com as

provas envolvendo animais, dada a grande diferença existente entre o homem e as demais

espécies animais.

5.4) Animais no programa espacial

Vários animais são utilizados nas pesquisas aeroespaciais, principalmente macacos e cães.

Experimentos com animais incluem testes com balões, foguetes, cápsulas espaciais, mísseis e

pára-quedas. São avaliados parâmetros fisiológicos das cobaias, testes comportamentais e

experimentos sobre a força gravitacional.

5.5) Outras Experiências

Comportamento e aprendizado

São conduzidos estudos sobre agressividade, aprendizado e comportamento sexual, como por

exemplo, alguns animais que têm parte do cérebro retirada e são colocados em labirintos, para

que possam achar a saída; gatos operados e reduzidos ao estado meramente vegetativo são

deixados durante dias inteiros em equilíbrio sobre plataformas cercadas de água, para evitar

que durmam, com o objetivo de registrar suas reações durante a vigília.

Cabe ressaltar que o comportamento agressivo dos animais é espontâneo e está ligado

diretamente à condição da garantia da sobrevivência, diferentemente do homem, que se torna

Page 16: Alternativas ao Uso de Animais Vivos em Experimentos Científicos e

16

agressivo por outros fatores, como a vingança, por exemplo. É evidente que o homem difere

dos animais sob o ponto de vista psicológico.

Doenças mentais

São realizados estudos sobre amnésia, dependência, hipotensão, delírios, depressão e suicídio.

Os animais são artificialmente induzidos a tais comportamentos, como, por exemplo, nos

tratamentos à base de eletro choque.

Cirurgias experimentais

Animais de várias espécies são usados como modelos experimentais para o desenvolvimento

de novas técnicas cirúrgicas, aperfeiçoamento das já existentes e técnicas de transplantes de

órgãos.

Muitas técnicas cirúrgicas, quando executadas pela primeira vez em humanos, apresentam

efeitos diferentes daqueles observados nos procedimentos experimentais envolvendo animais.

Experimentos com tabaco

Apesar de vários anos de observação terem evidenciado os riscos que o fumo causa à saúde,

ainda hoje animais são utilizados para investigação dos efeitos do tabagismo.

Um exemplo de testes com tabaco é a medição de alterações ultra-estruturais de macrófagos

alveolares de ratos, induzidas pela fumaça do tabaco. Uma comparação entre cigarros com

altos e baixos teores de alcatrão.

Figura 5 – Animais vítimas de cirurgias experimentais

Figura 6 – Coelho(à esquerda) e galinha (à direita) utilizados como cobaias em teste para a indústria do tabaco

Page 17: Alternativas ao Uso de Animais Vivos em Experimentos Científicos e

17

Outros testes mais comumente utilizados são os de patologia pulmonar comparada em ratos,

após a exposição à fumaça de cigarro e charuto, hipersecreção traqueal induzida pela fumaça

do tabaco em ratos e efeitos da nicotina sobre o consumo de alimentos e água em ratos.

Experimentos com álcool

Já se sabe que o etilismo afeta a saúde dos fetos humanos; apesar disso, experimentos com

fetos de camundongos ainda são praticados. Destacam-se os principais:

Passagem para o feto e líquido amniótico de etanol, administrado por via oral a

camundongos fêmeas prenhes;

Efeitos do etanol no comportamento de camundongos agressivos, pertencentes a duas

linhagens diferentes.

Acúmulo hepático de triglicerídeos, induzido pelo etanol, em camundongos e diferenças

genéticas na síndrome de abstinência física do etanol.

Efeitos agudos do álcool sobre a atividade da creatino-quinase (CK) plasmática do rato.

6) Efeitos de drogas em animais x efeitos de drogas em humanos

A diferença biológica e fisiológica entre organismos é evidente e cada indivíduo apresenta

respostas diferentes a estímulos externos.

O metabolismo, as reações a agentes patogênicos, as respostas a cada tipo de droga são

influenciadas pelas diferenças, que fazem com que cada organismo vivente se torne único. Por

conta desta diferença, grande quantidade de produtos e fármacos testados em animais acaba

causando efeitos desastrosos em humanos.

Conforme descrito por TRÉZ & GREIF (2000), os efeitos indesejáveis freqüentes, como

tonturas, mal-estar, confusão mental, dor-de-cabeça, formigamento e outros, não podem ser

expressos em animais de laboratório.

Outro ponto é a preocupação de que agentes potencialmente úteis à saúde humana sejam

recusados, por apresentarem resultados adversos quando testados em animais, não chegando

ao mercado.

O alto custo que gera a indústria farmacêutica a produção de novas drogas também é um fator

relevante. Um medicamento leva, em média 12 anos para ser lançado e consome 800 milhões

de dólares em pesquisa (CARELLI, 2004).

Page 18: Alternativas ao Uso de Animais Vivos em Experimentos Científicos e

18

Num universo de 5.000 drogas testadas, apenas três chegam à fase final e apenas uma chega

às farmácias (MIRANDA, 2004).

O que ocorre é que muitas vezes, na última etapa dos estudos clínicos, o remédio revela-se

inseguro ou com uma eficácia aquém das expectativas. O prejuízo é fenomenal.

Para evitar a perda de tempo, a nova estratégia da indústria farmacêutica é conduzir testes

rápidos, com poucas pessoas, antes de submeter o medicamento a estudos com grandes

populações. A idéia é descartar logo as substâncias com maior potencial de fracasso.

Antes, estes testes de pré-seleção eram realizados exclusivamente em animais; agora, a cobaia

também é humana (CARELLI, 2004).

Tal afirmação nos leva a crer que os modelos animais não são tão confiáveis. Conforme

quadro a seguir, descrito por FADALI (1996), são relacionados alguns dos efeitos de drogas

em animais e seres humanos.

Tabela 1: Efeitos de drogas em animais versus efeitos de drogas em seres humanos

Droga Efeito em cobaias Efeito em seres humanos Ácido Fenclózico Seguro em ratos,

camundongos e macacos. Toxicidade hepática

Acutano Seguro Defeitos de nascimento Acetilcolina Dilata as artérias coronárias

de cães Contrai as mesmas

Amanita phalloides (Espécie de cogumelo)

Alimento de coelhos Tóxico, podendo levar à morte.

Aminoglutetimida Anticonvulsivante Inibidor de cortisol Amidopirina Nenhum efeito importante Doenças sanguíneas Amil Nitrato Glaucoma Reduz a pressão interna dos

olhos Antimonia Engorda suínos Fatal Arsênico Seguro em grandes doses

administradas em ovelhas Fatal

Aspirina Mata gatos, causa defeitos congênitos em cães, macacos, ratos e gatos.

Analgésico e retarda a coagulação sanguínea

Atropina Inofensivo para coelhos e cabras

Fatal em altas doses

Beladona Inofensivo para coelhos e cabras

Fatal

Bradiquinina Contrai os vasos sanguíneos cerebrais em cães

Relaxa

Butazolidina Não afeta a medula óssea Afeta a medula óssea, geralmente fatal.

Canamicina Sem efeitos colaterais preocupantes

Danos renais e surdez

Cetoconazole Seguro Danos hepáticos, morte. continua

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Droga Efeito em cobaias Efeito em seres humanos Cloranfenicol Seguro Danos irreversíveis à

medula óssea Clorofórmio Asfixia Infarto cardíaco como causa

mais comum Clorpromazina Doença motora Tranqüilizante, pode causar

danos ao fígado. Clindamina Seguro em ratos e cães Diarréia, às vezes fatal. Clioquinol Sem registro Cegueira, paralisia e morte. Clonidina Descongestionante nasal Antidepressivo Cortisona Defeitos congênitos em

camundongos e coelhos Problemas endócrinos, pressão alta, psicose, etc. Sem defeitos congênitos

Cianido Seguros em corujas Fatal Depo-provera Câncer; Infecções uterinas e

de mamas em cães. Seguro

DES Seguro Câncer em filhas de mães que receberam DES e defeitos congênitos em suas filhas

Dinitrofenol Não provoca cataratas Provoca cataratas Dipitrex Nenhum dano nervoso Danos nervosos Disulfiram Anti-helmíntico Reações tóxicas após

ingestão de álcool Donperidona Nenhuma mudança no ritmo

cardíaco Arritmias sérias

Encainida Seguro Ataques cardíacos e morte. Junto com a Flecaidine, foi causa de morte de cerca de 3.000 pessoas.

Eraldin Altamente seguro Danos à córnea, incluindo cegueira, danos ao aparelho digestivo e morte.

Estricnina Não mata porcos-da-índia, macacos e galinhas.

Fatal

Fenacetina Sem efeitos importantes Danos renais e às células vermelhas do sangue

Fenformina Diferente Mortes Fluorido Nenhum Inibe as cáries dentárias Furmetina Seguro, mesmo em contato

com olhos de coelhos por longo tempo.

Obstrução permanente do canal lacrimal em pacientes que usaram a substância por três meses

Furosemida Danos hepáticos em camundongos e outros

Nenhum

Glutetimida Anticonvulsivante Sedativo e hipnótico Halotano Sem danos hepáticos Danos hepáticos e morte Holofenato Hipolipêmico Hipouricêmico

continua

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Droga Efeito em cobaias Efeito em seres humanos Hemlock Inofensivo para cabras,

cavalos, camundongos e ovelhas.

Fatal em humanos

Ibufenac Sem danos hepáticos, apenas em ratos, quando expostos a doses letais.

Danos hepáticos e morte

Imipramina Depressivo Anti-depressivo Isoniasida Sem danos hepáticos Pode causar danos hepáticos Isopretenerol Sem efeitos importantes Pode causar danos hepáticos Metildopa Não reduz a pressão

sanguínea É eficiente em reduzir a pressão sanguínea

Metilsergida Sem efeitos sérios Fibrose retroperitonial, que pode ser fatal por obstruir os vasos sanguíneos e ureteres. Danos cardíacos foram registrados.

Mianserina Sem desordens sanguíneas Desordens sanguíneas fatais Opren (Oraflex) Seguro em altas doses em

primatas não-humanos Danos hepáticos e morte

PCP (ou “Angel dust”) Sedativo para cavalos Altamente estimulante Penicilina Fatal para porquinhos-da-

índia Antibiótico

Pentazocina Antagonista narcótico Analgésico Perexilina Sem danos hepáticos Danos hepáticos e morte Prenilamina Reduz o ritmo cardíaco em

muitos animais Taquicardia ventricular

Psicofuranina Sem danos cardíacos em camundongos, ratos, cães e macacos.

Tóxico ao coração

Quimiotripsina Perfuração córnea e danos severos aos olhos de coelhos

Nenhuma complicação séria

Selacrin Seguro Danos hepáticos e fatalidades

Sorbitol férreo Câncer no local da injeção Nenhum Suprofen Seguro Danos renais sérios Tegretol Seguro Doenças sanguíneas fatais.

Descobertas epidemiológicas sugerem um aumento na incidência de defeitos congênitos

Talidomida Seguro Defeitos congênitos e morte do feto

Zimelidina Seguro Febre, danos hepáticos, dores nas articulações, danos nervosos e paralisia.

Zipeprol Considerado seguro Sintomas neurológicos sérios, ataques e mortes.

FONTE: FADALI, 1996

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7) Principais tipos de testes realizados em animais na Educação

São variados os tipos de experimentos e suas finalidades nas instituições de ensino brasileiras,

sobretudo em universidades: observação de fenômenos fisiológicos e comportamentais a

partir da administração de drogas; estudos comportamentais de animais em cativeiro;

conhecimento da anatomia interna e desenvolvimento de habilidades em técnicas cirúrgicas

(PAIXÃO, 2001).

Conforme descrito por TRÉZ & GREIF (2000) abaixo estão algumas breves descrições dos

experimentos mais realizados nas universidades:

Miografia: um músculo esquelético, geralmente da perna é retirado da rã, no qual se

estuda a resposta fisiológica a estímulos elétricos. As respostas são registradas em

gráficos. O procedimento é realizado com a rã ainda viva, anestesiada com éter.

Sistema nervoso: uma rã é decapitada e um instrumento pontiagudo é introduzido

repetidamente na sua espinha dorsal, observando-se o movimento dos músculos

esqueléticos do restante do corpo.

Sistema cardiorespiratório: um cão é anestesiado, tem seu tórax aberto e então se observa

os movimentos pulmonares e cardíacos. Em seguida aplicam-se drogas como a adrenalina

e acetilcolina, para análise da resposta dos movimentos cardíacos. Outras intervenções

podem ser realizadas. O experimento termina com a injeção de uma dose elevada de

anestésico ou acetilcolina que causa a parada cardíaca (eutanásia).

Anatomia interna: diversos animais podem ser utilizados para tal finalidade. Geralmente

estão mortos ou são sacrificados como parte do exercício, com éter ou anestesia

intravenosa.

Estudos psicológicos: ratos, porquinhos-da-índia ou pequenos macacos podem ser

utilizados como instrumentos de estudo. Alguns experimentos realizados são: privação de

alimentos ou água (caixa de Skinner); experimentos com o cuidado materno, nos quais a

prole é separada dos genitores; indução ao estresse, utilizando-se choques elétricos;

comportamento social em indivíduos artificialmente debilitados ou caracterizados.

Alguns animais são mantidos durante toda a vida em condições de experimentos, outros

são mortos pelas condições intensas de estresse ou quando não podem mais ser

reutilizados.

Habilidades cirúrgicas: muitos animais podem ser utilizados para estas práticas,

geralmente vivos ou anestesiados. Os exercícios de técnicas operatórias são comuns em

Page 22: Alternativas ao Uso de Animais Vivos em Experimentos Científicos e

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faculdades de Medicina Veterinária e Humana, e exigem grande quantidade de animais,

muitos dos quais recolhidos nas ruas ou através de parcerias firmadas entre Universidades

e prefeituras municipais, para coleta de animais nos Centros de Controle de Zoonoses.

Farmacologia: geralmente utilizam-se pequenos mamíferos, como ratos e camundongos.

Drogas são injetadas intravenosas, intramuscular ou diretamente no estômago (via trato

digestivo, por cateter ou injeção). Os efeitos são visualizados e registrados.

Estas práticas vêm sendo criticadas severamente por educadores e profissionais. Seus

argumentos são de ordem ética, e, alguns casos, técnica, levantados em favor da educação

mais inteligente e responsável Uma consideração relevante se faz necessária a respeito das

inovadoras alternativas tecnológicas que podem substituir os experimentos com animais.

(TRÉZ, 2004).

Um crescente número de artigos científicos publicados comprova que estudantes que

aprenderam através de técnicas alternativas assimilam igualmente, e, alguns casos, até melhor

que aqueles que utilizaram o método tradicional da vivisseção (TRÉZ, 2004).

8) Alguns pontos de vista sobre experimentação animal

A experimentação animal é um tema controverso no meio científico. Muitos cientistas

afirmam as vantagens do uso de animais para experimentação, tendo como argumentos que

todas as descobertas para prevenção de doenças e sua conseqüente cura se devem a

experimentação animal, além de novas técnicas cirúrgicas e controle de produtos

farmacêuticos, provenientes da mesma fonte de experimentação (ZANETTI, 2004). Por outro

lado, estes mesmos pesquisadores que não abrem mão do uso de animais em suas pesquisas,

já admitem que o uso de animais deva ser racionalizado (PRESGRAVE, 2002).

Entretanto, todos são unânimes ao reconhecerem as alternativas como meios eficazes,

dependendo da pesquisa a ser realizada.

Figura 7 – Cadáveres de cães, submetidos a treinamentos cirúrgicos, gato ingerindo substância farmacológica e rã decapitada em experimento.

Page 23: Alternativas ao Uso de Animais Vivos em Experimentos Científicos e

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Cientistas que utilizam métodos alternativos garantem a sua eficácia, e citam tristes exemplos

relacionados ao uso de animais, como o caso das drogas retiradas do mercado: Talidomida,

Manoplax,, Phenacetin, E-feral, Zomax, Vioxx, entre outros , que resultaram em efeitos

totalmente desastrosos aos seres humanos (TRÉZ & GREIF, 2000).

A discussão é muito mais ampla, e envolve, não somente a utilização de animais em si, mas

também a forma de tratamento dispensada a estes animais, seja anteriormente ou

posteriormente ao experimento. Os princípios éticos acerca dos acontecimentos ocorridos nos

interiores de laboratórios de pesquisa vêm sendo amplamente estudados e divulgados

(PAIXÃO, 2001).

Relatos de alguns cientistas

- Manuel de Jesus Simões, professor doutor da Universidade Federal de São Paulo

(UNIFESP), Chefe do Departamento de Histologia e Biologia Estrutural.

- Sérgio Greif, biólogo graduado pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP),

Mestre em Ciências da Nutrição.

- Rosana Soibelmann Glock, mestre em Bioética e Ética em Pesquisa, assessora especial do

Comitê de Ética em Pesquisa da PUC-RS e professora de Ética Profissional e Bioética.

- Peter Singer, nascido na Austrália, fundador do Centro de Bioética Humana da Monash

University, em Melbourne e catedrático de Bioética no Centro de Valores Humanos da

Universidade de Princeton.

Os princípios éticos na utilização de animais em experimentos científicos e educacionais são

os principais pontos de discórdia entre profissionais que participam da realização dos

experimentos e defensores da adoção de técnicas alternativas de substituição.

Para Sérgio Greif, os Comitês de Ética no Uso de Animais em Experiências pressupõe um

tratamento mais digno aos animais, porém o maior objetivo dos mesmos é validar

experimentos que de outra forma não poderiam ter seus resultados publicados em jornais

internacionais.

Segundo o biólogo, os Comitês de Ética fundamentam-se no Princípio dos "3R's", que

defende que deve haver uma redução no número de animais utilizados em experimentos, um

refinamento na técnica de utilização, visando minimizar o estresse e sofrimento, e por fim,

"quando possível" a substituição (replacement, em inglês) dos animais por técnicas

Page 24: Alternativas ao Uso de Animais Vivos em Experimentos Científicos e

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alternativas. Porém, grandes partes dos pesquisadores ainda acreditam que a substituição dos

animais por técnicas alternativas seja um “sonho futuro e distante”, talvez utópico.

O professor Manuel de Jesus Fernandes, que coordena uma equipe de pesquisadores na

UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), compartilha de opinião semelhante. As

pesquisas realizadas por sua equipe utilizam principalmente ratos e camundongos, resultando

num consumo médio mensal de 60 roedores. Apesar de reconhecer que a substituição de

cobaias por modelos experimentais, como cultura de células, é uma tendência mundial, até o

momento a instituição em que trabalha não adotou tal iniciativa, em função da escassez de

recursos financeiros.

Para o pesquisador, é plenamente possível a substituição de métodos tradicionais por

alternativos, dependendo do tipo de estudo a ser realizado. Porém, tece uma reflexão um tanto

pessimista, considerando que os experimentos com animais ainda serão utilizados durante

vários anos.

Alguns fatores podem ser relacionados com este distanciamento entre a realidade e um

modelo idealizado para acabar com o sofrimento e morte causados aos animais utilizados em

experiências. A polêmica envolve desde questões éticas até econômicas.

“Os princípios éticos que são repassados aos alunos por parte do corpo acadêmico deveriam

ser feitos de forma agradável, inserindo na prática do futuro profissional exemplos de

situações reais e discussão de casos”, conclui a professora Rosana Soibelmann Glock,

professora de Bioética na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).

De uma maneira mais abrangente, o comportamento ético é o elemento que norteia todo e

qualquer estudo envolvendo o uso de animais. Assim, como exigir um tratamento mais ético e

humano por parte dos pesquisadores para com os animais, se muitas vezes tais conceitos ainda

não soam convincentes para os profissionais, que pouco se interessaram pela disciplina

durante sua formação acadêmica?

Segundo Rosana, a grande maioria dos alunos os estudantes consideram as aulas de ética

pouco importante e as vêem apenas como mais uma das disciplinas obrigatórias. Ainda,

conclui a professora, é fundamental lembrar que não adianta apenas um professor estar

empenhado no estudo da ética com seus alunos, mas que todo o corpo docente deve agir com

correção e adequação de conduta.

Sobre o ponto de vista econômico, o professor Peter Singer, considerado o pioneiro do

movimento moderno dos direitos animais, tem um veredicto: os animais são utilizados como

meros objetos, mercadorias. “É uma questão de encomendar 200 ratos ou porquinhos-da-índia

para a próxima segunda-feira e testar determinado produto neles”, conclui Singer.

Page 25: Alternativas ao Uso de Animais Vivos em Experimentos Científicos e

25

Uma reflexão semelhante é feita por Sérgio Greif, que acrescenta ainda a grande dimensão do

mercado voltado ao suprimento de animais, alimentação e serviços aos laboratórios de

pesquisas, que obviamente movimentam alguns milhões de dólares anualmente. Apesar disso,

o setor notabiliza-se pela baixa qualificação de mão-de-obra e pelos métodos tradicionais de

produção, conclui Sérgio.

Este “abismo tecnológico” impede a transição para as atividades de produção de métodos

alternativos, como simuladores e softwares. Porém, a iniciativa de substituição deve partir dos

laboratórios, que não o fazem por motivos meramente econômicos.

9) Movimentos de Proteção Animal: Um Breve Histórico

A preocupação com o sofrimento animal partiu inicialmente de cientistas como Robert Boyle

(1627-1691) e Robert Hook (1635-1703), que utilizavam animais em seus experimentos e,

declararam perceber intenso sofrimento e não desejar repetir os mesmos experimentos. Em

1665, Edmund O’Meara (1614-1681) já dizia que a agonia a qual os animais eram submetidos

originaria resultados distorcidos (RYDER, 1989 apud PAIXÃO, 2001).

Nessa época, também surge o cientista considerado o pioneiro em buscar alternativas à

utilização de animais em experimentos: James Ferguson (1710-1776), que criticava o

sofrimento do animal utilizado em experimentos sobre o sistema respiratório, e, em suas

demonstrações públicas, utilizou um balão para simular os pulmões (RYDER, 1989 apud

PAIXÃO, 2001).

Assim, com idéias que começavam a divergir sobre a questão da utilização de animais, o

século XIX iniciou. A experimentação animal se tornava crescente e institucionalizada com

Claude Bernard (cientista considerado o pai da Fisiologia e vivisseccionista), e,

surpreendentemente, neste mesmo momento aparece, no âmbito científico, a preocupação

com o bem-estar animal (PATON, 1993).

Em 1831, o neurologista Marshall Hall escreveu os princípios nos quais os experimentos

fisiológicos deveriam se basear para que a ciência fisiológica pudesse minimizar incertezas e

crueldades, e pudesse ser então vista como um importante segmento do conhecimento e da

pesquisa científica. Entre seus princípios constava a idéia de somente realizar experimentos

quando a simples observação não fosse capaz de fornecer as respostas, assim como a de evitar

a repetição desnecessária de experimentos, e de que todos os experimentos deveriam ser

conduzidos com o mínimo de sofrimento animal. Embora não tenha usado o termo

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26

“alternativas”, pode ser considerado um dos primeiros cientistas a se preocupar com esta

questão (ROWAN & ANDRUTIS, 1990).

Data também desta época (1824) o surgimento da primeira Sociedade Protetora de Animais

(Society for the Prevention of Cruelty to Animals – SPCA, atualmente RSPCA), visando atuar

em diversos âmbitos da questão animal, que, embora fizesse objeção à vivisseção, reconhecia

que alguns experimentos eram justificáveis, devendo ser conduzidos de forma “humanitária”

(RYDER, 1989 apud PAIXÃO, 2001).

Em 1876, surgiu na Inglaterra a primeira lei que tinha por objetivo regulamentar a

experimentação animal: The Cruelty to Animal Act (1876). A partir de então, várias outras

sociedades protecionistas foram criadas em vários países (TRÉZ & GREIF, 2000).

Gradativamente, os movimentos de proteção animal, ou anti-vivisseccionistas, como também

são chamados, cresceram. Em 1926, Charles Hume fundou a UFAW (Universities Federation

for Animal Wellfare), numa tentativa de fazer com que os cientistas pensassem racionalmente

sobre suas atitudes para com os animais. Com a colaboração de outros cientistas, Hume

publicou, em 1947, a primeira edição do UFAW Handbook on the Care and Massagement of

Laboratory Animals, mostrando assim a preocupação cientificamente embasada com o bem-

estar animal (TRÉZ & GREIF, 2000).

Atualmente os movimentos de proteção animal contam com ajuda de organizações não-

governamentais para aumentar seu espaço na mídia e também para seu fortalecimento,

angariando fundos e simpatizantes para a defesa da causa animal (SINGER, 2004).

Além deste crescimento, houve também a criação de duas vertentes: os movimentos de

proteção animal abolicionistas, que seguem os princípios de total abolição da experimentação

animal, preconizados pelo escritor suíço Hans Ruesch, e os movimentos reducionistas, que

pregam a redução dos experimentos envolvendo o uso de animais (TRÉZ & GREIF, 2000).

Alguns grupos de proteção animal, rotulados por grande parte da mídia como “ecoterroristas”,

são a vertente mais radical destes movimentos, substituindo manifestações pacíficas por

táticas muitas vezes consideradas violentas. Seus militantes aterrorizam funcionários de

Figura 8 – Manifestações pacíficas de grupos de proteção animal pelo Brasil e pelo mundo

Page 27: Alternativas ao Uso de Animais Vivos em Experimentos Científicos e

27

laboratórios científicos para defenderem o fim dos experimentos animais. Os principais

grupos ecológicos radicais atuam principalmente na Inglaterra e Estados Unidos (POLONI,

2004).

10) O princípio dos “3R’s”

O princípio dos “3R’s” surgiu como um dos reflexos do debate envolvendo a questão do

sofrimento animal. Os três “R’s” são a abreviação das iniciais das palavras replacement,

reduction e refinament, que, em português significam substituição, redução e refinamento,

respectivamente. Tais termos aplicam-se à utilização de animais em experimentos.

A expressão foi criada pelo zoólogo W.M.S. Russel e pelo microbiologista R.L.Burch em seu

livro “The Principles of Human Experimental Technique”, publicado pela primeira vez em

1959 (RUSSEL & BURCH, 1992 apud PAIXÃO, 2001).

A origem deste conceito encontra suas raízes em Charle Hume, fundador da U.F.A.W.

(Universities Federation for Animal Welfare), que propôs à entidade, no ano de 1954, que

desenvolvesse estudos sobre técnicas “humanitárias” em experimentos realizados em animais

de laboratório (PAIXÃO, 2001).

Os cientistas indicados para desenvolver este estudo foram justamente Russel e Burch, que

logo em seguida escreveram o livro que preconizava que tais técnicas humanitárias deveriam

seguir os princípios propostos pelos “3R’s” (PAIXÃO, 2001).

A alusão do primeiro “R”, replacement (substituição) indica que se deve procurar substituir a

utilização de vertebrados por outros métodos que utilizem matérias que não possuem

sensibilidade, como plantas e microrganismos (RUSSEL & BURCH, 1992 apud PAIXÃO,

2001).

O segundo “R” ou reduction (redução) indica que se deve procurar reduzir o número de

animais utilizados no experimento, sempre que possível, incentivando uma “escolha correta

das estratégias” (RUSSEL & BURCH, 1992 apud PAIXÃO, 2001).

Neste sentido, a ciência também pode se beneficiar, com a melhora dos delineamentos

experimentais, e mesmo na área da estatística, o diálogo com os cientistas vem inovando as

estratégias e contribuindo para o aprimoramento dos campos de biomédicas e da estatística

(Geller, 1983 apud PAIXÃO, 2001).

O terceiro dos “R” (refinement – ou refinamento, em português), indica que se deve procurar

minimizar ao máximo o desconforto e/ou sofrimento animal (RUSSEL & BURCH, 1992

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28

apud PAIXÃO, 2001). Neste sentido, a utilização de drogas anestésicas ou analgésicas é

relevante (PATON, 1993).

A idealização dos “3R’s” representou um impulso inicial à comunidade científica acerca dos

conceitos de alternativas; porém, para os anti-vivisseccionistas do movimento abolicionista, o

princípio dos “3R’s” só exalta a vivisseção, já que o primeiro “R” (substituição), segundo a

visão destes grupos, nunca será capaz de se sobrepor aos outros dois “R”.

Para estes grupos, o conceito inicial dos “3R’s” talvez tenha sido uma proposta bem

intencionada, porém, acabou por beneficiar a prática da vivisseção, não cumprindo o seu

objetivo inicial, que era impedir a materialização desta técnica (TREZ & GREIF, 2000).

Cabe ressaltar que, no âmbito científico, os “3R’s” atualmente são referências para a ciência

contemporânea, que utiliza animais em experiências de laboratório, norteando os trabalhos

dos cientistas.

Porém, sabe-se que não funciona como instrumento de regulação e fiscalização dos

procedimentos de pesquisa, pois, em sua grande maioria, estes procedimentos são realizados

em laboratórios com acesso restrito, e pode-se afirmar que o uso ético de animais ainda

depende muito da integridade e consciência de cada cientista (ANDRADE et al, 2002).

11) Aspectos Legais Sobre a Experimentação Animal no Brasil

A primeira lei a formalizar a vivisseção no território brasileiro foi a lei nº. 6638, de 8 de maio

de 1979, que estabelecia as normas para a prática didático-científica à vivisseção de animais.

Após esta lei, a legislação seguinte a abranger a vivisseção foi a Lei dos Crimes Ambientais,

de nº. 9605, aprovada em 12 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre as sanções penais e

administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. Esta lei também

abrange a fauna doméstica e de laboratório. Abaixo, segue trecho do artigo 32, que faz

referência ao tema:

Art.32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou

domesticados, nativos ou exóticos:

Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.

§ 1º. Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo,

ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.

§ 2º. A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.

As instituições em que a vivisseção é praticada também seriam responsabilizadas e sujeitas às

penalidades estabelecidas, conforme descrito nos seguintes artigos:

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29

Art.2º. Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta lei,

incide nas penas a este cominados, na medida a sua culpabilidade, bem como o diretor, o

administrador, o membro de conselho e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou

mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de

impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la.

Art.3º. As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente

conforme o disposto nesta lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu

representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua

entidade.

A lei também dispõe das penalidades:

Art.79. Aplicam-se subsidiariamente a esta lei as disposições do Código Penal e do Código

de Processo Penal.

Um projeto de lei, apresentado pelas principais instituições científicas do país (projeto de Lei

nº3964/1997 – FESBE, SBPC, FIOCRUZ e Academia Brasileira de Ciências) através do

deputado federal Sérgio Miranda de Matos Brito (MG), encontra-se em fase de tramitação no

Congresso Nacional.

Os principais aspectos deste projeto apresentam adesão ao princípio dos “3R’s” (refinamento,

diminuição e substituição). Prevê ainda que as Comissões de Ética passem a tornarem-se

obrigatórias nas instituições que utilizarem animais em experimentos.

12) Comissões de Ética no Uso de Animais

Um dos instrumentos de controle à experimentação animal que mais tem crescido em diversos

países são as Comissões de Ética no Uso de Animais, geralmente estabelecidas no âmbito das

instituições científicas (PAIXÃO, 2004).

O papel destes comitês pode ser resumido das seguintes formas:

“Assegurar que os animais sob a sua supervisão estejam sendo mantidos e utilizados de uma

forma humanitária” (PODOLSKY, 1999).

No Brasil, os comitês de ética surgiram na década de 90, e são mantidos principalmente para

assegurar o respaldo legal, as razões humanitárias, padronização, qualidade e publicação da

pesquisa, conforme descrito por LUNA (2004).

Dentre as funções de um comitê, três aspectos podem ser destacados (STEWART, 2007 apud

PAIXÃO, 2001):

Page 30: Alternativas ao Uso de Animais Vivos em Experimentos Científicos e

30

Revisão de projetos: avaliação de projetos de pesquisa a fim de verificar se há a

necessidade da realização da mesma, se o modelo animal proposto é o melhor modelo

biológico e assegurar que os animais não sofrerão dor ou estresse desnecessário.

Inspeções: locais onde os animais são mantidos e locais dos experimentos.

Proporcionar atendimento veterinário aos animais, sempre que possível.

Em todo o país, apenas 14 instituições possuem Comissões de Ética no Uso de Animais,

embora não exista um cadastro nacional e nenhuma forma de regulamentação vigente no

momento (CHAVES, 2000 apud PAIXÃO, 2001).

13) Métodos Alternativos: Um Breve Histórico

Segundo definição de PRESGRAVE (2002), métodos alternativos são procedimentos que

podem substituir o uso de animais em experimentos, reduzirem o número de animais

necessários, ou refinar a metodologia, de forma a diminuir a dor ou desconforto sofrido pelos

animais.

Para JUKES & CHIUIA (2003), a definição das alternativas, no âmbito educacional, pode ser

mais ampla e abrangente que apenas o conceito de alternativas de substituição, podendo

estender-se até caminhos que envolvam a neutralização ou mesmo um uso benéfico dos

animais.

O conceito de “alternativas” para substituição de animais em experimentos é antigo e teve

como precursor o cientista James Ferguson (1710 – 1776), que já utilizava métodos

alternativos em seus experimentos.

No entanto, foi apenas na década de 60 que ocorreu a disseminação do conceito de métodos

alternativos, quando três organizações anti-vivisseccionistas britânicas resolveram fundar a

Lawson Tait Trust, para estimular e financiar os pesquisadores que não utilizassem animais

em suas pesquisas (ROWAN & ANDRUTIS, 1990).

Logo após, duas outras entidades teriam um relevante papel no estímulo ao uso de

alternativas: a United Action for Animals (U.A.A), criada em 1967, nos EUA, e, em 1969 a

F.R.A.M.E. (Fundation for Replacement of Animals in Medical Experiments), na Inglaterra,

criadas para promover o conceito de alternativas no âmbito das instituições de pesquisa

científica (FRAME, 2001 apud PAIXÃO, 2001).

Na década de 70 foi possível observar um interesse crescente nas alternativas e recursos

passaram a ser alocados para o desenvolvimento das mesmas. No entanto, foi nos anos 80 que

Page 31: Alternativas ao Uso de Animais Vivos em Experimentos Científicos e

31

esse interesse se consolidou as legislações passaram a aderir ao conceito dos “3R’s”, e, as

pesquisas acerca de métodos alternativos aumentaram (ROWAN & ANDRUTIS, 1990).

As campanhas dos grupos de proteção nesta década representaram um impulso fundamental

para que as alternativas invadissem o campo dos testes toxicológicos e retirassem das

indústrias mais financiamento para testes de toxicologia in vitro (SINGER, 2004).

O papel das instâncias reguladoras entraria em destaque nos anos 90, com uma maior

evidência no debate para a questão da “validação dos métodos alternativos” (HILL &

STOKES, 1999 apud PAIXÃO, 2001).

Atualmente, tais métodos encontram-se em estágios distintos de desenvolvimento e validação.

Esse processo é bastante árduo, podendo atingir dez anos ou mais, pois, para a validação são

necessários estudos de avaliações inter e intra laboratoriais (HENRIQUES & SAMPAIO,

2002).

É importante ressaltar que os métodos alternativos estão cada vez mais avançados e sua

implantação nas instituições de ensino e pesquisa é uma questão de tempo, sobretudos pela

pressão exercida por boa parte da sociedade, que passou a cobrar métodos alternativos, como

forma de evitar o sofrimento animal (JUKES & CHIUIA, 2003).

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32

RESULTADOS

De acordo com a literatura consultada, existem vários métodos alternativos ao uso de animais

vivos em experimentos, grande parte desses métodos pode substituir efetivamente a

experimentação em animais. Entretanto a implantação dessas alternativas depende da ruptura

com os padrões tradicionais, tanto na docência quanto na pesquisa.

A seguir, alguns métodos alternativos encontrados em substituição aos animais vivos em

experimentos científicos, retirados de TRÉZ & GREIF (2000):

01) Alternativas ao Uso de Animais em Pesquisas

Atualmente, os métodos alternativos em substituição aos animais na pesquisa estão cada vez

mais viáveis e eficientes e cada vez mais caminhos alternativos estão sendo percorridos. A

seguir, serão mostrados alguns destes caminhos (TREZ & GREIF, 2000):

a)Ttecnologia in vitro

A cultura de células, tecidos e órgãos são algumas das várias aplicações deste modelo

tecnológico, que permite realizar pesquisas de câncer, imunologia, testes toxicológicos,

produção de vacinas, desenvolvimento de drogas, estudo de doenças infecciosas, diagnose e

estudo de doenças ou distúrbios genéticos. A tecnologia envolvida na cultura de células in

vitro vem sendo aperfeiçoada a cada dia.

Uma importante área de aplicação das metodologias de cultura in vitro é a produção de

anticorpos, inclusive monoclonais, que podem substituir o método tradicional de obtenção,

através da injeção de substâncias em cobaias animais.

Outra aplicação importante é na produção de vacinas. Produzidas a partir da cultura de tecidos

humanos, são mais seguras que as produzidas a partir de animais, pois evitam que vírus

desconhecidos cruzem as barreiras das espécies e infectem o ser humano com outras doenças

e disfunções.

Figura 9 – A tecnologia in vitro vem se destacando como uma das principais alternativas de substituição ao uso de animais em experimentos.

Page 33: Alternativas ao Uso de Animais Vivos em Experimentos Científicos e

33

A placenta humana também pode ser utilizada, pois, além de constituir fonte de células para

cultura pode ser utilizada como material para testes de toxicidade e carcinogenicidade, e até

mesmo como instrumento para treinamento de técnica micro cirúrgica.

Abaixo, descreveremos algumas das principais tecnologias in vitro para utilização em

substituição ao uso de animais:

Eytex – procedimento in vitro que mede a irritação ocular, através de sistema de alteração

protéica. Uma proteína vegetal obtida da semente de feijão mimetiza a reação da córnea

humana a exposição de substâncias estranhas.

Skintex – método in vitro para avaliar irritação cutânea, usando a casca da semente de

abóbora para mimetizar a reação de substâncias estranhas sobre a pele humana (tanto o

EYTEX quanto o SKINTEX podem testar mais de 5.000 materiais diferentes).

Neutral red bioassay – consiste em células humanas em cultura, usadas para computar a

absorção de um pigmento hidrossolúvel, que mede a toxicidade relativa.

Testskin – utiliza pele humana cultivada em saco plástico estéril, podendo ser utilizada

para medir o grau de irritação cutânea.

Pele Reconstituída – utilização de fragmentos de pele humana (a partir de circuncisão ou

sobras de cirurgias plásticas), para observação de alterações histológicas e/ou liberação de

mediadores inflamatórios.

RBC (Red Blood Cell Assay) – baseia-se na avaliação da hemólise e na desmaturação

causadas por produtos (cosméticos) e/ou substâncias tensoativos) perante um controle

conhecido, geralmente Lauril sulfato de cobre.

WBC (Whole Blood Assay) – possível substituto para o ensaio de detecção de pirogênio

em coelhos, por meio da liberação de medidores inflamatórios quando um produto

injetável é colocado em contato com sangue total humano.

Agarose diffusion method – teste de citotoxicidade, que utiliza os parâmetros de morte ou

alterações fisiológicas de diferentes linhagens celulares.

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LAL (Limulus Amoebocyte Lysate) – substitui o ensaio de pirogênio em coelhos. Baseia-

se na reação entre a endotoxina e substrato LAL. Dependendo do método, a presença da

endotoxina pode ser constatada por meio de coagulação (método gel-clot) ou da liberação

de cor (método cromogênico).

b)Eestudos epidemiológicos

Os estudos epidemiológicos são considerados os verdadeiros responsáveis pelos principais

avanços na saúde humana. Com estes estudos, conseguiu-se eliminar ou reduzir drasticamente

a incidência de doenças infecto contagiosa, ao relacioná-las com as condições de higiene e

saneamento.

A epidemiologia é baseada em comparações, nas quais pesquisadores obtêm indícios

comparando os níveis de exposição ao fator investigado.

Estudos epidemiológicos também estabeleceram relações entre o colesterol e as doenças do

coração, o câncer com o tabagismo, dietas ricas em gorduras e sua associação com os tipos de

câncer mais comuns e defeitos de nascimento com a exposição a químicas, entre outros. Os

mecanismos de transmissão do vírus da AIDS também resultaram de análises

epidemiológicas.

c)Estudos Clínicos e Autópsias

As descobertas provenientes a partir de estudos de casos clínicos em seres humanos e do seu

acompanhamento forma e são responsáveis por uma gama de descobertas cruciais para a

saúde humana.

Alguns exemplos de avanços relacionados ao trabalho clínico: anestesia, respiração artificial,

cateterização cardíaca, uso de iodina como anti-séptico, etc. Abaixo, citamos alguns estudos

clínicos:

CAT – utiliza computadores na reconstrução de imagens tridimensionais do corpo

humano, através de raios X.

MRI (Magnetic Ressonance Imaging) – permite a elaboração de mapas funcionais do

cérebro humano, assim como diagnóstico de pacientes com epilepsia. Pode monitorar as

mudanças de fluxo sanguíneo e revelar novas introvisões do mecanismo dos ataques. A

Page 35: Alternativas ao Uso de Animais Vivos em Experimentos Científicos e

35

técnica também permite revelar anomalias no cérebro, causadas por falhas no

desenvolvimento psicológico de pacientes autistas.

PET (Position Emission Tomograph) e SPECT (Single Photon Emission

Computadorized Tomography) – usados em estudos de Mal de Parkinson, Doenças de

Alzheimer e Huntington, assim como outras doenças cerebrovasculares e distúrbios

psiquiátricos. A autópsia é um recurso fundamental para a descoberta de detalhes acerca

de determinadas doenças. Foi muito utilizada para compreender os mecanismos de ação

de doenças que assolaram a humanidade ao passar dos anos.

d)Simulações computadorizadas e modelos matemáticos

Os computadores podem predizer reações biológicas causadas por drogas novas, baseados no

conhecimento de sua estrutura tridimensional, eletrônica e química. Uma dessas técnicas é a

farmacologia quântica – explica o comportamento de drogas através de cálculos matemáticos,

envolvendo o nível de energia das substâncias químicas.

As simulações computadorizadas têm sido utilizadas para avaliar a toxicidade de substâncias,

eliminando os testes LD50 em animais.

Várias empresas como a Agouron Pharmaceuticals Affymax Research Institute, Vertex e

Neurogen Corp. já produzem drogas a partir de simulações computadorizadas, obtendo bons

resultados, e, o mais importante, sem a utilização de animais.

Figura 10 – Exemplos de técnicas alternativas computadorizadas: simulador da fisiologia, neurologia e musculatura humana (à esquerda) e simulador de corrente sanguínea (à direita)

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36

Alguns exemplos destas alternativas:

QSAR (Quantitative Structure Activity Relationship) – prediz os efeitos tóxicos, com

base na comparação estrutura-atividade das substâncias.

PBPK (Phisiologically Based Pharmaco-Kinetic) – prediz as ações farmacocinéticas

(absorções, metabolismo, eliminação, etc.).

TOPKAT (Toxicity Prediction by Computer Assisted Technology) – é um programa de

computador (software) que avalia a toxicidade, mutagenicidade, carcinogenicidade e

teratogenicidade, irritação de pele, olhos e LD50.

e) Culturas de Bactérias e Protozoários

As bactérias e protozoários são organismos sensíveis a mutagênicos, permitindo que

identifiquem agentes cancerígenos. Podem ser utilizados também para estimar os níveis de

vitaminas em estudos farmacológicos e toxicológicos e identificar antibióticos, como no

exemplo:

AMES TEST – teste para avaliação de carcinogenicidade, através de uma linhagem de

Salmonella, chamada de Salmonella typhimurium e através de enzimas. Pode detectar 156

carcinógenos animais (90% de um total de 174 substâncias testadas).

f) Tecnologia DNA Recombinante

A tecnologia envolve a síntese de compostos protéicos, através da manipulação genética em

bactérias, como a Escherichia coli. Um gene responsável pela produção de determinada

substância é isolado e inserido á bagagem gênica destas bactérias, que passarão a produzir a

substância. Esta tecnologia também é utilizada para a produção de insulina.

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g) Cromatografia

O método repara e identifica componentes de drogas e amostras de sangue ou urina, por

exemplo. Pode ainda permitir a identificação de substâncias químicas desconhecidas ou

estranhas.

O HPLC (High Performance Liquid Chromatography) é uma destas tecnologias. Mais

recentemente, o aprimoramento da técnica vem permitindo mensurar insulina por métodos

que não envolvam o uso de animais, substituindo o teste LD50 na mensuração de antibióticos

anti-tumorais, como a dactinomicina (TREZ & GREIF, 2000 apud SHARPE 1988).

h) Espectrometria de Massas

Estas alternativas consistem em técnicas utilizadas para identificar e localizar substâncias

químicas, medir atividade enzimática, determinar constantes de cinética enzimática e medir

reações, sem a necessidade de invasão do organismo.

i) Medicina Preventiva

As práticas que estimulam cuidados com a saúde podem reduzir crucialmente a incidência de

enfermidades no ser humano. Hábitos maléficos como o tabagismo, alimentação rica em

gorduras e estresse são os maiores responsáveis pela maioria das doenças que assolam a

humanidade, principalmente as doenças cardíacas, derrames e câncer. Muitas destas doenças

podem ser evitadas como a adoção de hábitos de vida mais saudáveis.

Infelizmente, os gastos com a medicina preventiva são muito menores que os gastos

destinados às pesquisas.

j) Opção à Produção do Soro Antiofídico

O soro antiofídico, antídoto para veneno de cobras obtido através de um processo caro e

complicado, envolvendo o sofrimento e martírio de cavalos, criados especificamente para esta

finalidade, já pode ser considerado um método ultrapassado, através da confirmação dos

efeitos de testes realizados com algumas plantas apresentarem efeitos semelhantes ao do soro

de origem animal.

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Os estudos realizados em laboratórios, por cientistas da Universidade Federal do Rio de

Janeiro (UFRJ) comprovaram os efeitos neutralizantes de seis plantas encontradas no Brasil,

mas, até agora nenhuma indústria farmacêutica manifestou interesse em produzir um

medicamento antiofídico de origem 100% vegetal.

02) Alternativas ao Uso de Animais na Educação

Segundo JUKES & CHIUIA (2003), as alternativas são um apoio à educação humana, e uma

forma de ensino que pode substituir o uso nocivo de animais, além de fornecer recursos para o

complemento educacional.

Abaixo, são descritas algumas das principais alternativas disponíveis para utilização em

experimentos educacionais:

a) Filmes e Vídeos

Os filmes e vídeos podem ser importantes recursos realísticos e alternativos à dissecação e

experimentação animal, principalmente quando associados a outros meios de baixo custo para

a apresentação dos métodos de ensino. Embora passivo, o vídeo pode oferecer bom retorno

para o aprendizado da aula.

Os vídeos profissionais de dissecação geralmente divulgam muito mais informações

adicionais aos estudantes e são alternativas eficientes aos estudantes que não realizarão testes

e manejo de animais em suas carreiras.

Para aqueles profissionais que trabalharão necessariamente com dissecações, como os

veterinários, os vídeos podem ser utilizados como treinamento antes da prática real.

Alguns dos filmes e vídeos mais difundidos entre os profissionais que utilizam estes recursos

alternativos:

Cat dissection – vídeo de uma dissecação de gato, com narração e detalhes para melhor

visualização, além de legendas explicativas.

Drug metabolism – vídeo que aborda a absorção, distribuição, biotransformação e

excreção de drogas no organismo. Também aborda a transferência de drogas pela placenta

e como as diferenças individuais afetam o metabolismo.

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Anatomy of the Earthworm – Vídeo que aborda a anatomia e estruturas internas desses

anelídeos.

Cell Division – Vídeo que aborda as divisões celulares com animações em 3D. As fases

da mitose são discutidas com detalhes.

Cytology e Histology – as organelas celulares e suas funções são realçadas através de

fotomicrografias histológicos para descobrir as várias estruturas, em diferentes tecidos.

Visualisando os processos celulares – série com cinco vídeos que demonstra os

processos celulares (células e moléculas, movimento e transporte celular, fotossíntese e

respiração celular, replicação de DNA, mitose e reprodução celular e o código genético e

tradição).

Ressucitação cardio-pulmonar em cães – este vídeo apresenta os fundamentos da parada

cardiorespiratória em cães e técnicas de ressuscitação (massagem cardíaca e administração

de drogas).

Monitoração geral da anestesia em cães e gatos – este vídeo aborda o monitoramento

de anestesia geral em cães e gatos e também demonstra a intubação e emergências, no

momento das principais cirurgias.

Castração canina – vídeo que demonstra o processo de castração de cães.

Castração felina - vídeo que demonstra o processo de castração de cães.

Sutura e sua prática – mostra com detalhes a sutura e suas aplicações, através de efeitos

de computação gráfica e in vivo de um cachorro.

O milagre da vida – vídeo que mostra a trajetória do ser humano, da célula-ovo ao

nascimento.

Técnicas básicas de histologia – mostra os principais passos para a confecção de lâminas

histológicas.

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Fisiologia cardiovascular: demonstra vários experimentos realizados no sistema

cardiovascular de ratos e cães, demonstrando os efeitos da massagem cardíaca e

desfibrilação elétrica.

b) Vídeos digitais

A recente tecnologia digital oferece novas oportunidades para desenvolver de modo criativo e

maximizar o potencial dos vídeos baseados em recursos didáticos, associados aos programas

para computadores (softwares).

A digitalização permite que videoclipes sejam acessados rapidamente e utilizados com

facilidade durante as aulas práticas de laboratório, permitindo inclusive que muitos destes

vídeos possam ser capturados da internet.

c) Modelos, Manequins e Simuladores.

Estas alternativas incluem a execução de treinamentos em objetos sintéticos, desenvolvidos

para simular órgãos, membros ou mesmo partes inteiras de animais e aparatos para

treinamento e simulação de funções fisiológicas ou perícia clínica.

Em linhas gerais, os modelos referem-se a objetos designados por estrutura anatômica de fácil

compreensão. Já os manequins são representações de animais ou seres humanos, desenhados

para treinamento de práticas clínicas, enquanto que os simuladores são ferramentas para o

treinamento clinico cirúrgico e prática de cuidados críticos, incluindo manequins

computadorizados, dispositivos para treinamento de cirurgias e suturas.

Simuladores dinâmicos

São simuladores guiados por instruções que ilustram processos dinâmicos, tais como a

fisiologia da circulação, os processos neurofisiológicos, etc.

As cirurgias realísticas podem de fato ser praticadas, e, o potencial técnico aplicado em ambas

as fontes: cadáveres humanos ou animais, de forma ética, sem agressão ou sofrimento.

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Treinamentos Manuais

Manequins de pacientes humanos são utilizados para treinamentos de estudantes e

profissionais em perícias clínicas e procedimentos, assim como em cuidados críticos.

Os manequins mais avançados possuem pele artificial, ossos e órgãos, às vezes incluindo

corações que batem, até fluídos artificiais, simulando sangue e bílis.

Alguns são computadorizados para apresentar “tempo real” das emergências e sua

monitoração. Através de simuladores de situações clínicas os estudantes ganham perícia,

prática mental e emocional, requeridas em situações da vida real.

Os manequins animais também favorecem o aprendizado de diferentes técnicas médico-

veterinárias, facilitam o treinamento no manejo, coleta de sangue, intubação, toracocentese e

técnicas de PCR (parada cardio-respiratória).

As experiências adquiridas nos manequins podem depois ser direcionadas para cadáveres

eticamente obtidos e somente depois, chegar ao trabalho clínico com pacientes animais.

Os manequins e simuladores oferecem um ganho efetivo nos treinamentos manuais. Eles

fornecem mais liberdade aos estudantes para praticar no seu próprio ritmo, podendo errar e

repetir os procedimentos, sem alto custo para os animais.

Jerry critical carry – manequim de cão, realístico, em tamanho natural, que simula a

inspiração do ar e da cavidade torácica, para simular traumas, assim como acesso vascular

jugular. Oferece respiração real, representações da traquéia, esôfago e epiglote. Simula o

trabalho dos pulmões e a pulsação artificial.

Figura 11 – “Jerry Critical Care”,um dos mais modernos manequins de simulação, têm sido usado inclusive pelas Forças Armadas da Grã-Bretanha..

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Fluffy – simulador de cuidados críticos com gatos, em paradas cardiorespiratórias. É um

manequim de gato, em tamanho natural, que permite o treinamento de uma parada

cardiorespiratória, procedimentos de anestesia, intubação traqueal, punção venosa,

ventilação manual, verificação de pulso artificial e curativos.

Simulador de paciente humano – modelo dirigido por computador, em tamanho natural

de um ser humano, que permite o treinamento de sinais vitais, ventilação, cateterismo

vesical e programas de simulação do sistema neurológico, pulmonar, cardíaco, vascular,

metabólico e geniturinário.

Substituto do Abdômen Canino para Instrução Cirúrgica – modelo desenvolvido para

simular a prática cirúrgica abdominal em geral e especificamente procedimentos

cirúrgicos gastrintestinais e urogenitais.

Neurosimulador – sistema que simula as funções elétricas e sinapses do sistema

neurológico, mostrando todos os neurônios e suas características de neurotransmissão.

Rato de PVC – modelo/ simulador desenvolvido para práticas cirúrgicas e aprendizado de

técnicas micro cirúrgicas, possibilitando a prática de até 25 tipos diferentes de técnicas de

micro cirurgia.

Figura 12 – “Fluffy”, a versão felina do simulador “Jerry”

Figura 13 – Manequim simulador do corpo humano

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O rato de PVC tem 30 cm de altura por 20 cm de largura, pesa 1 kg, tem estruturas

internas, como veia jugular, artéria carótida, traquéia, rim, bexiga, veias cava, porta e

renal, aorta abdominal com artéria renal e lombar, semelhante ao do animal vivo. Com o

auxílio de um CD-ROM, ele simula a temperatura corpórea, o sistema vascular e ainda a

administração de anestesias, que podem ser monitoradas.

d) Simuladores Multimídia

O aparecimento e a aplicação das tecnologias da computação revolucionaram a ciência e a

sociedade como um todo. Na educação a internet, os softwares disponíveis em CD ROM e

DVD desempenham um poderoso papel.

Para dissecações virtuais e experiências em bem equipados laboratórios, os estudantes podem

executar performances na tela ou acessar simuladores de realidade virtual de técnicas clínicas

com facilidades táteis. Com os avanços tecnológicos, os programas de interação multimídia

podem integrar um laboratório virtual, imagens fotográficas e gráficos em 3D, videoclipes e

informações textuais que aumentam a qualidade e a oportunidade de aprendizado.

Os softwares foram criados e aprovados por professores e profissionais para facilitar a

visualização de estruturas e processos, e aumentar a capacidade de compreensão dos

estudantes.

Aumentando o ensino de anatomia

Numa dissecação virtual ou programa anatômico, os estudantes podem realizar tarefas passo-

a-passo, repetindo se necessário. A gama de facilidades varia de acordo com o programa.

Certos programas permitem comparar a morfologia entre as espécies ao clicar do mouse, com

comentários fornecendo informações aos estudantes. Oferecem a facilidade de realçar ou

melhorar a resolução de específico órgão ou sistemas de órgãos, pelo controle da opacidade

Figura 14 – O rato de PVC já vem sendo utilizado como método alternativo de ensino em diversas Universidades

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da imagem composta, apresentar processos fisiológicos como a digestão ou a ativação dos

músculos através da técnica “mórfica”. Geram órgãos e sistemas de esqueleto e apresentar

animações e sobrevôos por qualquer parte do corpo.

Estas oportunidades ausentes em laboratórios reais, mas accessível rapidamente em

simuladores de alta velocidade, podem fornecer uma experiência muito rica e sensorial, que

permite uma apreciação muito mais completa da estrutura e do relacionamento estrutural.

O laboratório virtual

Um software que abrange um laboratório virtual é capaz de apresentar uma série de

equipamentos na tela e ainda oferecer um alto grau de interatividade. Os laboratórios virtuais

apresentam com detalhes a preparação, os equipamentos essenciais e métodos práticos

relevantes, e os estudantes podem praticar ativamente os experimentos entre si, com

simuladores de tecidos e de resposta a estímulos ou agentes farmacológicos, como em praticas

envolvendo animais, em cenário clínico, monitorando e gravando informações em

osciloscópios na tela, gráficos e outros aparatos. Isso proporciona uma oportunidade de

trabalhar mias rápido e num custo mais baixo que em convencionais animais de laboratório.

As respostas dos programas podem derivar de experimentos animais prévios ou através de

algoritmos. Algumas simulações permitem a ilustração de conceitos ou desenvolver tarefas

que poderiam ser antiéticas, difíceis ou impossíveis em situações reais.

Aplicações na web

O uso de softwares com acesso à web entre estudantes é uma forte tendência que está em

crescente exploração no desenvolvimento do ensino apoiado na computação.

Alguns programas podem oferecer experimentação on line, os estudantes podem trabalhar

onde e quando escolherem e voltar a acessar seus laboratórios individuais on line para revisar

ou continuar com os experimentos específicos. Os professores podem monitorar e analisar os

resultados individuais com facilidade.

Mcpee – Programa que analisa a interação entre a circulação, função renal, líquido

corpóreo e equilíbrio eletrolítico. Registra níveis de sódio, potássio, uréia, creatinina,

albumina, hemoglobina, volume celular, peso corpóreo, entre outros. O programa

simula condições como diabetes, por exemplo.

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Figura 15 – Software simulador da circulação humana. Permite simular inclusive diabetes.

Dissection works – Programa interativo em CD ROM que mostra a dissecação de

minhocas, peixes, lagostas, sapos, fetos suínos.

Anatomia de Rãs – CD ROM que aborda os órgãos e sistemas da rã. Cada órgão e

sistema podem ser discutidos separadamente.

Anestesia de ratos – Programa interativo, em CD ROM, que reproduz técnicas de

anestesia em ratos, simula as dosagens e concentrações do anestésico e informações

básicas dos parâmetros fisiológicos (coração, respiração, pressão sanguínea, etc.).

Rã digital – Proporciona uma maneira divertida de aprender a dissecação, anatomia e a

ecologia da rã, sem o cheiro do formaldeído. Este CD ROM interativo pode ser usado para

substituir uma dissecação em rã, possui narração e animações tridimensionais detalhadas

Figura 17 – Rã digital, software que pode ser utilizado em substituição à dissecação da rã.

Figura 16 – Programa simulador de anestesia para ratos

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Guia de dissecção de vertebrados: POMBO – Este CD ROM examina o pombo vivo, as

características externas e técnicas iniciais de dissecação e fornece uma investigação

detalhada das características internas, como sistemas digestivo, circulatório, urogenital de

machos e fêmeas, o cérebro e o esqueleto.

Processos celulares – Exercícios interativos sobre osmose, difusão, processos celulares

(respiração, fotossíntese, transporte ativo e passivo, mitose), passo a passo com narração,

ilustrações e animações.

Embriologia – CD ROM apresentando o desenvolvimento de um sapo e um pintinho,

com imagens que podem ser manipuladas e medidas como num microscópio tradicional.

Testes selecionados em animais dentro da farmacologia e toxicologia – Este CD ROM

contém uma seleção de sete filmes que caracterizam experimentos executados em animais

dentro da Farmacologia e Toxicologia: envenenamento por muncarina e sua reversão com

atropina em gatos; efeito da morfina em cães; métodos de validação sistêmica de

medicamentos em animais de pequeno porte; efeito de anti-epiléticos; interação do álcool

com drogas depressoras do sistema nervoso central.

e) Fornecimento Ético de Cadáveres Animais

Para os estudantes de Zoologia e Medicina Veterinária, os estudos da anatomia não estão

completos sem algum grau de experiência de toques manuais dos tecidos animais e dos

próprios animais em si.

Similarmente para os procedimentos cirúrgicos, o treino não é suficiente se a experiência com

tecidos reais e a prática das habilidades for ausente.

A alternativa ética à matança de animais é a obtenção de animais “fornecidos eticamente” e

seus tecidos. Este termo, neste contexto significa cadáveres animais e tecidos obtidos a partir

Figura 18 – Software simulador das características vitais de um pombo.

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de animais que morreram naturalmente ou em acidentes, que sofreram eutanásia, proveniente

de doença terminal ou ferimentos graves sem chances de cura.

A prática de utilização de cadáveres “fornecidos eticamente” é comum na Medicina humana,

o desafio é fazer com que a utilização ética de cadáveres animal siga padrões semelhantes,

tendo em vista a maior facilidade de obtenção.

Substituição

As dissecações de cadáveres “fornecidos eticamente” podem substituir as dissecações de

animais mortos em práticas de anatomia. Tais dissecações podem ser complementadas por

alternativas multimídia, permitindo que os estudantes treinem primeiramente utilizando

modelos e depois passem para cadáveres eticamente fornecidos, que são valiosos e não devem

ser usados para as habilidades básicas e sim para um estágio mais avançado de treinamento.

Programas de doação de corpos

Os programas de doação de corpos são um excelente exemplo das soluções de multi-benefício

que o processo de executar alternativas pode oferecer. Com a disposição dos cadáveres de

animais, estes programas substituem a negligência de recursos, o gasto de energia e a matança

de animais. Com o histórico médico dos animais em mãos, há uma garantia de cadáveres

livres de doenças e permite a observação de patologias, bem como a anatomia normal.

Os estudantes ficarão felizes de saber que nenhuma matança foi requerida e o ambiente de

aprendizagem é melhorado, consequentemente.

É um desafio às universidades, que podem estabelecer parcerias entre departamentos e

clínicas independentes e construir uma infra-estrutura sustentável a fim de utilizar de forma

eficaz os recursos do cadáver.

Bancos de tecido animal

Os bancos de tecido animal podem centralizar os materiais fornecidos eticamente. A coleta e

o uso quase imediato do tecido fresco também seriam possíveis se os processos de aquisição e

distribuição obedecessem a um padrão suficientemente elevado.

O sangue de animais coletados também pode substituir o sangue dos animais de laboratório.

Os investimentos em publicidade seriam necessários para ajudar no fornecimento de sangue

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48

suficiente para uso clínico e educacional. Os bancos de sangue podem estar ligados aos

bancos de tecido animal.

Outras fontes de suprimento

A cooperação entre os departamentos de Patologia, Anatomia e Cirurgia pode proporcionar a

utilização mais intensa de cadáveres de animais doentes, para fins educacionais.

Por exemplo, as partes e membros de animais que não são utilizados no ensino da Patologia

poderiam ser usados no ensino da Anatomia, na prática cirúrgica ou para o treinamento de

habilidades clínicas.

f) Trabalho clínico com pacientes animais e voluntários

O trabalho clínico envolvendo pacientes reais promove um melhor aprendizado para os

alunos. No ambiente real, eles podem vivenciar e ter a oportunidade de aprender Anatomia,

Fisiologia e quadros de emergência, o que ficaria difícil de ser compreendido se os trabalhos

fossem limitados ao interior dos laboratórios.

Treinamento realístico

Os estudantes de Veterinária podem adquirir habilidades clínicas e experiência cirúrgica,

através do trabalho realizado com pacientes e “voluntários” animais. Para alguns estudantes

ao redor do mundo tal fato já é realidade, uma tradição de benefício clínico melhor que a

prática da vivisseção.

Além de substituir o uso de animais mortos e o uso estressante e invasivo ou até mesmo

terminal do animal vivo, este tipo de alternativa incentiva o respeito e a consideração para

com o animal, envolvendo os estudantes no processo interno de cuidado animal, do

diagnóstico à recuperação pós-operatória.

Aquisição de habilidades

Os animais voluntários pertencem aos próprios estudantes, que são incentivados a participar

de treinamentos clínicos não-invasivos e não prejudiciais. Exames, diagnósticos, amostras de

Page 49: Alternativas ao Uso de Animais Vivos em Experimentos Científicos e

49

sangue e técnicas de curativo são os principais exemplos da utilização clínica de animais

voluntários.

A prática de habilidades clínicas utilizando técnicas invasivas pode ser justificada apenas no

caso de comprovado benefício clínico aos pacientes animais.

A participação dos estudantes nos trabalhos clínicos requer um nível avançado de habilidades.

Alternativas não-animais, como manequins e simuladores podem ajudar os estudantes a

atingirem este grau de conhecimento avançado dentro do ambiente clínico.

O gerenciamento, a intubação e as cirurgias podem ser melhores e mais eticamente

assimilados com pacientes reais.

Esterilização de animais em abrigos

É uma outra forma alternativa dos estudantes, supervisionados pelos seus professores,

aplicarem a técnica da castração, através de parcerias entre as Universidades e as ONG’s que

abrigam animais de rua.

Isso colaboraria para um aumento das doações dos animais, além de contribuir para o controle

de natalidade das espécies, além do cuidado veterinário pelo qual passarão os animais

abandonados.

g) Auto-experimentação entre estudantes

Para os estudantes de Ciências Biológicas, a importância do trabalho com o corpo vivo é

essencial. A compreensão eficaz dos processos e fisiologias e a prática de habilidades clínicas

dependem diretamente do experimento com corpos vivos.

A auto-experimentação é um recurso eficaz de alternativa humana não-invasiva. O intenso

envolvimento e a auto-referência de todas as práticas de aulas experimentais podem fazê-los

memorizar de forma mais agradável as qualidades, que são significativas no processo de

aprendizagem.

Biologia e medicina humana

A auto-experimentação e os treinamentos de técnicas clínicas em estudantes são usados nas

instituições como parte da prática normal. A amostragem de sangue, a medição da pressão

sanguínea e a punção venosa são alguns dos exemplos.

Page 50: Alternativas ao Uso de Animais Vivos em Experimentos Científicos e

50

Práticas como exercícios de análise de urina e sangue (antes e depois da ingestão de

determinadas substâncias), associação de softwares para testes de verificação de temperatura

da pele em descanso, em exercício, em situações mentalmente ativas e testes de função

pulmonar são alguns exemplos de métodos alternativos já adotados no meio acadêmico.

g) Cultura in vitro

O desenvolvimento de culturas in vitro para pesquisas é baseado nas vantagens científicas e

éticas da opção pela cultura de tecidos. O custo mais baixo e a taxa mais rápida de seleção

para avaliação de toxicidade, somados à confiabilidade são fatores que justificam o emprego

deste modelo de alternativa.

A utilização do tecido animal nos trabalhos in vitro supera as questões éticas do uso de fetos

de bovídeos em experimentos. Além disso, em diversos procedimentos da prática biológica, o

tecido animal pode ser substituído diretamente por materiais extraídos de plantas.

h) Estudos de Campo

Os estudos de campo oferecem oportunidades para o estudo dos animais em seu próprio

habitat, onde expressam seu comportamento natural, ao contrário dos laboratórios, onde os

animais apresentam um comportamento limitado ou estereotipado, sejam de forma individual

ou nos grupos isolados dentre de laboratórios.

O método do estudo de campo pode fornecer uma experiência de aprendizagem extremamente

rica para o estudante, permitindo analisar fatores sociais, culturais e ecológicos, ausentes nos

laboratórios.

Situações e impactos

O trabalho de campo ideal deve contribuir à proteção animal e ao seu bem estar, direta ou

indiretamente, e não causando danos. Os estágios de planejamento e projeto do estudo de

campo devem avaliar a possibilidade de alguma das atividades terem caráter invasivo, e

adotar medidas para diminuir seu impacto.

As cidades também oferecem ricas possibilidades para o estudo de populações de animais

selvagens ou semi-selvagens, como pombos, ratos, vaca, etc. Os insetos e os cães e gatos

domesticados também podem integrar os estudos de campo realizados pelos estudantes.

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51

Os jardins zoológicos e cativeiros raramente proporcionam um ambiente suficientemente

natural ou livre de danos que justifiquem seu uso para os estudos de campo, embora possam

ser utilizados em estudos que ensejam ilustrar o sofrimento causado aos animais e o exemplo

de como estes animais não devem ser mantidos.

Interação homem-animal

A interação entre humanos e animais também pode ser estudada; investigações sobre as

populações animais, durante e depois da interação que beneficiou os animais – como, por

exemplo, a expansão da população de pombos ou de gatos abandonados, que são abrigados e

alimentados – pode fornecer materiais interessantes para análise, assim como para o benefício

direto dos animais.

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DISCUSSÃO

O debate ético acerca do tratamento dispensado aos animais nos laboratórios e instituições de

ensino é complexo e repleto de contradições. Métodos antigos e cruéis impostos aos animais

apresentados como sendo a única forma de “evolução” da ciência estão fomentando grandes

discussões entre a sociedade e os cientistas, confirmando as afirmativas de PAIXÃO (2001).

Diante desse impasse moral e também cultural, as alternativas produzidas para abolir a

utilização de animais em experimentos estão se tornando mais divulgadas e acessíveis às

empresas e instituições de ensino.

Os diversos autores consultados não divergem quanto à praticidade e eficácia que envolve as

alternativas; entretanto, a implantação de tais métodos envolve uma atitude mais ativa dos

profissionais que estão envolvidos com a experimentação animal, ou seja, pressupõe uma

ruptura definitiva com os métodos tradicionais.

Opor-se aos métodos tradicionais significa também romper com conceitos, idéias, hábitos e

regras que foram embasados a partir de experiências antigas e conservadoras. Essa afirmação

é similar ao pensamento de SINGER (2004) que se refere ao hábito como sendo a principal

barreira a ser enfrentada: “hábitos de pensamentos e linguagens devem ser contestados e

alterados”.

Não se pode deixar de mencionar as vantagens que tanto a pesquisa científica quanto as

instituições de ensino ganharão ao adotarem métodos alternativos, que, além de opções

viáveis são eticamente corretos.

A indústria paralela, formada com as práticas de experimentação animal, também aparece

como forte opositora à implantação da metodologia alternativa, pois seu lucro provém

justamente da venda de materiais, aparatos e animais, além da mão de obra empregada nessa

área (especializada e não especializada). Pode-se confirmar tal afirmativa quando se observa

que as alternativas são muito mais viáveis que o alto custo gerado pela manutenção e gastos

com animais de laboratórios.

As diferenças fisiológicas e anatômicas existentes entre as espécies também demonstra que a

experimentação animal não é um caminho eficaz para a comprovação dos resultados de

pesquisas científicas e educacionais, devido às diferença existentes, muitos resultados

experimentais obtidos podem não ser prejudiciais aos animais, mas podem ser para seres

humanos, ou vice-versa. Essas afirmações são concordantes com o pensamento de TRÉZ &

GREIF (2000).

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O sofrimento imposto aos animais é outro aspecto relevante observado. A crueldade aplicada

aos animais fere o senso moral e ético humano. A prática de tais testes só comprova o fato da

espécie humana ser “especista” (preconceito ou atitude tendenciosa de alguém a favor dos

interesses de membros de sua própria espécie e contra os de outras), afirmação de SINGER

(2004).

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CONCLUSÃO

Com base na literatura consultada e na pesquisa realizada, conclui-se que:

1 – Segundo TRÉZ & GREIF (2000), os métodos alternativos representam importantes meios

de substituição ao uso de animais, tanto nos centros de pesquisa científica quanto em

instituições de ensino.

2 - De acordo com PAIXÃO (2001), “o medo do novo” atrasa o processo de desenvolvimento

de novos métodos alternativos, enquanto evidências cientifícas e econômicas indicam que,

com maiores investimentos na área, a abrangência de tais métodos seria maior.

3 – Conforme descreve PAIXÃO (2001) é interessante observar que não são relatadas

conseqüências negativas para a pesquisa científica, e, de fato, os representantes das

sociedades científicas preconizam também o uso de alternativas quando essas existirem.

4 – LUNA (2004) complementa que entre os pesquisadores há um consenso na busca pelas

alternativas, mas, quando não há outra escolha, a solução é manter a utilização de animais.

5 – Segundo TRÉZ & GREIF (2000), “os métodos alternativos existentes são perfeitamente

viáveis, eficazes e duradouros, além de permitirem aos estudantes aprenderem no seu próprio

ritmo, sem o estresse das aulas envolvendo animais”.

6 – Para PAIXÃO (2001) a experimentação animal se tornou definitivamente um "problema

moral". Esse "problema moral" ganha visibilidade quando se fala em ética na pesquisa ou em

ética aplicada, seja na bioética, na ética ambiental ou, mais especificamente, na ética animal.

7 – De acordo com JUKES & CHIUIA (2003), resta aos educadores experimentar as

alternativas em suas aulas, algo que envolve superar o antropocentrismo, que coloca a vida

humana como mais importante do que todas as outras. As opções para isso já são conhecidas e

cada vez mais eficientes.

8 – Segundo TRÉZ (2004), independente de qualquer tradição humanitária na educação, a

maioria do uso de animais na educação é prejudicial, isto é, causa algum tipo de prejuízo

físico ou psicológico ao animal envolvido, e pode envolver de forma negativa o estudante em

situações de conflito ético.

9 – As alternativas apresentadas nesse trabalho e várias outras que aqui não estão descritas são

meios eficazes e viáveis de substituição ao uso de animais vivos, e elevam o grau de

humanização nas situações em que são implantadas. Sem dúvida os métodos alternativos

representam o fim do sofrimento de milhares de animais e o início de um processo mais ético

na educação e na pesquisa.

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ANEXOS

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ANEXO - 1

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PELO BIOTÉRIO DA FACULDADE DE MEDICINA

VETERINÁRIA E ZOOTECNIA

Espécie 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002CÃES (a) 273 151 72 25 30 0 0 0 0 0CAMUNDONGOS 20.300 18.000 20.500 5.000 5.900 5.365 3.974 3.730 4.000 4.500COBAIAS (a) 130 80 36 20 16 4 4 10 9 6COELHOS (a) 52 55 32 20 24 33 26 96 156 24GALINHAS 1.600 1.200 1.500 800 2.200 0 0 0 0 0HAMSTERS 5.200 4.300 3.100 1.600 1.000 809 468 1.000 1.000 500RATOS 10.800 8.000 9.700 8.000 8.200 6.852 5.816 6.547 6.600 4.000

Obs.: As quantidades informadas referem-se à produção e consumo, sendo que os excedentes

não ultrapassam 1%.

(a) Animais para manutenção.

Fonte: FMVZ (Dados fornecidos pela professora responsável pelo setor, Cláudia Mori)

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GLOSSÁRIO

Biotecnologia: Aplicação de processos biológicos à produção de materiais e substâncias para

uso industrial, medicinal, farmacêutico, etc

Biotério: Viveiro de cobaias e outros animais empregados em experiências de laboratório,

produção de soros, vacinas, etc.

Circuncisão: Rito de iniciação, que consiste em cortar o prepúcio (pele que cobre a glande do

pênis).

Dispnéia: Dificuldade na respiração.

Dissecação (ou dissecção): Individualização, mediante o uso de instrumental adequado, de

parte(s) ou de órgão(s), seja de um ser vivo (em caso de intervenção cirúrgica), seja de um

cadáver (para estudo anatômico).

Epistaxe: Hemorragia nasal; hemorrinia, coanorragia.

Espectrometria: Técnica de análise qualitativa e quantitativa baseada na obtenção e estudo do

espectro de emissão de substâncias.

Eutanásia: Morte serena, sem sofrimento. Prática, sem amparo legal, pela qual se busca

abreviar, sem dor ou sofrimento, a vida de um doente reconhecidamente incurável.

Experimentação: Método científico que consiste em observar um fenômeno natural sob

condições determinadas que permitem aumentar o conhecimento que se tenha das

manifestações ou leis que regem esse fenômeno; experiência, método experimental.

Geniturinário: Relativo ou pertencente aos órgãos genitais e urinários.

Hemólise: Destruição de glóbulos vermelhos do sangue, com libertação de hemoglobina;

hemotexia.

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Hepatotoxicidade: caráter da substância que é tóxica para o fígado.

Hipolipêmico: aquele que tem pouco teor de gordura no sangue.

Hipouricêmico: aquele que tem pouca presença de ácido úrico no sangue.

In vitro: Que ocorre, ou que se pode observar, dentro de um tubo de ensaio; em meio

artificial.

Intraperitonial: Relativo ao interior do peritônio - Membrana serosa que reveste,

internamente, as cavidades abdominal e pélvica (peritônio parietal) e, externamente, as

vísceras contidas nessas cavidades (peritônio visceral).

Intravenosa: Relativo ao interior de veia, ou ali situado

Macrófago: Célula de tecido conjuntivo, com grande capacidade de pinocitose e de

fagocitose; pode ser fixo, denominado histiócito, ou móvel.

Miografia: Descrição dos músculos. Estudo do registro gráfico de contrações musculares,

mediante o uso do miógrafo.

Monoclonal: Próprio de, ou produzido por clones de uma única célula.

Motocondrial: De, ou relativo a mitocôndria (organela membranosa presente em célula

eucariótica, e que gera energia química na forma de ATP).

Mutagênese: Processo que dá origem às mutações. Produção de mutações em uma população

de células.

Pirogênio: Substância originada em células vivas, que produz elevação de temperatura

corporal.

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Radiação ionizante: Energia emitida por uma fonte sob a forma de partículas subatômicas

(elétrons, alfas, nêutrons, etc.).

Retroperitonial: que se localiza atrás do peritônio - Membrana serosa que reveste,

internamente, as cavidades abdominal e pélvica (peritônio parietal) e, externamente, as

vísceras contidas nessas cavidades (peritônio visceral).

Subcutâneo: Situado por baixo da cútis ou da pele; intercutâneo: tecido subcutâneo; Que se

dá ou aplica sob a pele: infecção subcutânea, vacina subcutânea.

Toxicidade: Caráter do que é tóxico. O quociente, expresso em quilogramas, da quantidade

duma substância necessária para matar um animal.

Transgênico: Diz-se de, ou organismo que possui em seu genoma um ou mais genes

provenientes de outra espécie, inseridos por processo natural ou, mais destacadamente,

empregando métodos da engenharia genética

Triglicerídeo (ou triacilglicerídeo): Qualquer éster da glicerina no qual as três hidroxilas

desta sofreram condensação com ácidos, especialmente ácidos graxos; triglicídeo, triglicéride,

triglicerídeo.

Úlcera: Solução de continuidade, aguda ou crônica, de uma superfície dérmica ou mucosa, e

que é acompanhada de processo inflamatório; ulceração.

Vivissecção (ou vivisseção): [Do latim vivus, 'vivo', + -i- + latim sectione, 'seção'.]

Operação feita em animais vivos para estudo de fenômenos fisiológicos.

Zoonose: Doença que incide sobretudo em animais. Doença transmissível de outros animais

vertebrados ao homem, e vice-versa, sob condições naturais.