experimentos científicos com animais

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE SEMINÁRIO “HISTÓRIA DA NEUROCIÊNCIA” Rita de Cássia Almeida

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

SEMINÁRIO “HISTÓRIA DA NEUROCIÊNCIA”

Rita de Cássia Almeida

EXPERIMENTOS

COM

ANIMAIS

BENEFÍCIOSDISCUSSÕES

HISTÓRICO

ÉTICAQUEM?

QUANDO?

ANTES

HOJE

PESQUISA HUMANOS

ENSINO

APLICAÇÕES

ALTERNATIVAS

REALIDADE

COMO?

DESVENDARCAMINHAR

ENTENDERDISCUTIR REFLETIR

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Rita de Cássia Almeida

A ILHA DE DR MOREAU/1996

Livro "The Island of Dr. Moreau", escrito por H.G.

Wells,1962

1:32:25/1:33:44

Em um futuro próximo um homem em missão militar

sofre um acidente no seu avião e, depois de vários

dias, é resgatado por um cientista que o leva a uma

remota ilha, onde um famoso geneticista, vencedor do

prêmio Nobel faz experiências com o DNA e tenta criar

uma raça perfeita, transformando animais selvagens

em seres humanos.

Há, nesta obra, discussões

sobre religião, ética científica, behaviorismo e evolução

.

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Rita de Cássia Almeida

Delineia o uso de animais

em experimentações

científicas, as implicações na

transferência de

conhecimento para anatomia

e fisiologia humana, além de

fenômenos neurológicos.

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Rita de Cássia Almeida

[...] Os pesquisadores qualitativos

ressaltam a natureza socialmente

construída da realidade, a íntima

relação entre o pesquisador e o que é

estudado, e as limitações situacionais

que influenciam a investigação. [...]

enfatizam a natureza repleta de valores

da investigação. Buscam soluções para

as questões que realçam o modo como a

experiência social é criada e adquire

significado.

(DENZIN;LINCOLN,2006,p.23)

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Rita de Cássia Almeida

Demonstrar a intrincada trajetória do

uso dos animais em experimentos

científicos;

Estabelecer relações entre o avanço do

conhecimento da anatomia e fisiologia

humana, o estudo da Neurologia e as

experimentações animais;

Refletir sobre os contextos históricos

imbricados na perspectiva da

experimentação animal.

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Rita de Cássia Almeida

Desde o princípio das civilizações, os

homens procuraram de forma empírica

curar as suas doenças e de seus animais

de estimação, que começaram a ser

domesticados dez mil anos a.C.

O homem pré-histórico já observava a

existência de seres diferentes de si, os

animais, gravando nas paredes das

cavernas as formas que via, detalhes, que

hoje permitem identificar as espécies

animais descritas.

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Rita de Cássia Almeida

Os egípcios, mesopotâmios e, notadamente,

os gregos realizaram estudos avançados de

Anatomia, constituindo escola.

Como não havia um curso de Medicina ou

de Anatomia, os discípulos acompanhavam

os grandes cirurgiões - anatomistas.

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Rita de Cássia Almeida

Os anatomistas estudaram sempre às

escondidas, pois era proibido o uso da

dissecação.

Com o passar dos anos, a necessidade da

criação de cursos de Medicina Veterinária e,

consequentemente, a instituição de

laboratórios.

A primeira escola de Anatomia a se destacar

na Europa foi a Escola de Salerno, Itália,

criada no século XI d.C., em que era feita a

dissecação de forma efetiva em animais,

acompanhando os livros de GALENO.

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Rita de Cássia Almeida

Considerava-se abuso a violação de

um cadáver, de forma especial, o

humano. As dissecações eram feitas

geralmente em porões de residências,

na madrugada.

Por muito tempo, os estudos

dependiam da autorização expressa do

rei ou da Igreja, com o risco de

condenação, prisão e morte.

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ALCMEON DE CROTONA (500 a.C - ?)

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Forneceu os mais antigos registros de observações

anatômicas reais, fazendo dissecação em animais

e seu tratado sobre a natureza tornou-se um texto

médico fundamental.

Segundo escritos de sua época, Alcmeon foi

primeiro a relacionar o cérebro com as funções

psíquicas, a psyqué, ao descobrir, por dissecação

que certas vias sensoriais terminavam no encéfalo

e elaborou a Teoria da desarmonia como causa de

enfermidades.

Pode ter sido o verdadeiro descobridor

das trompas de Eustáquio, além de um pioneiro

da embriologia.

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Rita de Cássia Almeida

CLAÚDIO GALENO OU GALENO DE

PÉRGAMO (200 ?-130 a.C ?)

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Rita de Cássia Almeida

Demonstrou e escreveu sobre Anatomia sem ter

dissecado um só cadáver humano e teve

reconhecimento na Roma Imperial, em relação à

prática médica, apontando a ação do cérebro sobre

todas as manifestações físicas dos doentes

romanos.

Considerando que os animais sentiriam menos dor,

avançou e ampliou protocolos experimentais

estudando um elefante de circo, momento em que a

anatomia era uma forma de entretenimento público,

com dissecção mostrada nas ruas movimentadas do

mercado da Roma Antiga.

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Acreditava que experimentos com animais poderiam

ser utilizados de forma eficaz para o avanço do

conhecimento sobre a doença humana e terapia,

acima de tudo em neurologia, fascinado pelo sistema

nervoso.

Por exemplo, observou de perto os efeitos da ligadura

ou corte de nervos individuais.

Todos os seus animais foram cuidadosamente

observados, fisiologicamente estudados e

inspecionados post mortem, considerando a

Anatomia e Fisiologia como as únicas abordagens

legítimas para obter conhecimento médico básico

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Galeno, juntamente com Hipócrates (460-

377 a.C.), foram médicos muito influentes

na Antiguidade e suas ideias dominaram o

pensamento médico ocidental até a

Renascença.

Seu alvo era a terminação nervosa

relacionada com a voz , e sua experiência

claramente tinha interesse

neurofisiológico, como poderia ser visto na

explicação para a perda da voz após lesão

do nervo laríngeo.

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Quando Galeno confirmou sua experiência

em cães e cabras, convenceu-se que tinha

encontrado os "nervos da voz” (chamados

até hoje de nervos de Galeno).

Efetuou estudos fisiológicos em cães,

porcos, cavalos, aves, macacos e, aludindo

ao ser humano, cometeu grandes erros,

descobertos posteriormente por outros

anatomistas.

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ARISTOTELES (384-322 a.C.)

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Aristóteles, foi o criador da Anatomia

Comparativa e considerado o mais ilustre dos

discípulos de Platão.

Também não utilizou cadáveres humanos,

realizando grande número de observações

comparativas em moluscos, ovos de cobras e de

galinhas.

Em De partibus animalium e Historia animalium,

fundamentou a organização anatômica do corpo

e suas ações fisiológicas, descrevendo o sistema

nervoso central em diferentes fases do

desenvolvimento morfológico.

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Aristóteles adotava o coração como

centro das emoções e encarava o

cérebro como um órgão importante

para as funções mais elevadas,

embora não fosse o lugar da alma,

sustentando que a percepção, a

imaginação e a capacidade de se

mover tinham que ser

características essenciais da vida

animal e da humana.

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Rita de Cássia Almeida

Na cultura médica grega, os conceitos

unificadores de forma e função em animais

vivos se fundiram com ideias mais amplas

sobre os nervos como a sede da forma

corporal ou, na visão específica de

Aristóteles, o "hilomorfismo ", isto é, o

funcionamento coordenado e a integração

essencial do corpo físico através da estrutura

dinâmica da alma.

Tal como Galeno, considerava que os

animais tinham consciência limitada.

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APSIRTOS (300- ? d.C.)

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Considerado o pai da Medicina Veterinária,

escreveu 121 cartas, reunidas no livro

Hippiatrika, sobre doenças de cavalos.

A cavalaria armada representava um

importante segmento dos exércitos e o vasto

conhecimento de Apsirtos levou o imperador

Constantino a indicá-lo como veterinário-chefe

de seu exército, na condição equivalente de

general.

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IBN SINA AVICENNE (AVICENNA)

(980-1037)

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Rita de Cássia Almeida

Ao longo do Medievo, as extensas e valiosas

observações sobre o comportamento,

anatomia e fisiologia animal, foram

preservados nos escritos médicos orientais.

A compilação de Avicenna foi redescoberta

apenas durante o período final da Idade

Média e, posteriormente, fundida com

visões cristãs sobre a gênese das coisas

vivas.

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LEONARDO DA VINCI (1452-1519)

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Rita de Cássia Almeida

Estudando com finalidade de

buscar a perfeição em suas

formas artísticas, o genial Da

Vinci contribuiu com a descrição

de partes do corpo, sendo o

primeiro a se dedicar de maneira

sistemática a analisar, através de

dissecação, a anatomia e as

proporções do corpo humano e

dos animais.

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RAIMONDO (MONDINO) DE LIUZZI

(1270-1326)

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Rita de Cássia Almeida

Escreveu o primeiro livro de Anatomia, Anathomia

Mundini (1316) ou Anatomia de todas as partes

corporais internas do ser humano, para fins de

ensino universitário.

Foi na Itália o início das primeiras dissecações no

ensino médico ocidental e, em alguns outros países

como Espanha e Portugal, o ensino médico não

evoluiu, proibido pela Igreja.

Até a aparição do De humani Corporis Fabrica

(1543), de Andreas Vesalius, seu livro foi um dos

mais utilizados e influentes no ensino da anatomia

nas Universidades, reconhecido como a primeira

obra moderna da matéria.

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Rita de Cássia Almeida

ANDREAS VESALIUS (1514-1564)

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Devido à escassez de corpos humanos e sua

putrefação em dissecções anatômicas demoradas,

muitos anatomistas (inclusive Vesalius) praticava a

dissecação e vivissecção de animais para pesquisa

e ensino.

Desde muito jovem, Vesalius dissecava gatos e

outros animais.

Apesar das críticas a Galeno sobre a utilização de

animais como objetos de estudo, não desacreditava

totalmente da correspondência entre a anatomia

humana e animal, principalmente os escritos de

Galeno sobre o sistema nervoso.

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Vesalius analisou profundamente as

características fisiológicas sobre a função do

cérebro, inferindo a partir de dissecações de

animais vivos, particularmente a percepção de

redes sensoriais de tubos nervosos de Galeno,

como este órgão controlava a locomoção central,

uma propriedade que deixaria de existir quando

os nervos que descem do cérebro fossem

cortados.

As ilustrações naturalistas de " De Humani

Corporis Fabrica” (1543) apresentavam o corpo

humano como qualquer outro animal de estudo.

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WILLIAM HARVEY (1578 - 1657)

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Rita de Cássia Almeida

Através dos escritos de Vesalius, o

anatomista e fisiologista britânico Harvey

continuou a investigação anatômica e a

abordagem da vivissecção.

Fez uso amplo e altamente criativo de

muitos animais, que ele julgava

convenientes para o estudo de aspectos

particulares da influência neurológica em

função dos vasos sanguíneos e os

governantes dos batimentos cardíacos, em

De motu cordis et Sanguinis (1628).

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Rita de Cássia Almeida

Em sua segunda grande obra, Exercícios

Anatômicos na Geração dos Animais (1651),

Harvey realizou vários experimentos sobre o

ligamentos nervosos e vasos sanguíneos de

cães, porcos, sapos, cobras e peixes.

Sua abordagem estabelecia profunda

convicção de que todos os animais exibem

princípios fisiológicos semelhantes, apesar

das diferenças marcantes no tamanho,

configuração e atividade física.

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MARCELO MALPIGHI (1628-1694)

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Causando grande impacto sobre o

desenvolvimento de Neuromorfologia e Fisiologia,

Malpighi foi um dos primeiros cientistas a estudar

vários órgãos de animais e estruturas histológicas

com lentes de aumento, depois de ter injetado

água colorida nos vasos sanguíneos

individualmente.

Ele também realizou estudos sobre os nervos

periféricos e do sistema nervoso autônomo em

ovinos, em busca de sua microestrutura e suas

conexões com respectivos órgãos, publicado em

Exercitationes de Structura Viscerum (1678 ).

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Malpighi conduziu experimentos de vivissecção

individual, ao cortar os nervos em animais vivos,

como ratos, gatos , sapos e pássaros, para avaliar

as suas funções, observando atentamente a ação

respiratória dos pulmões por meio do controle do

nervo vago.

E em relação a anatomia comparada, também

contrastou suas observações experimentais

utilizando substâncias coloridas para determinar

a estrutura dos nervos corporais em suas

investigações sobre a estrutura esponjosa do

córtex cerebral do homem, por exemplo.

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CARLO MONDINI (1729-1803)

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Durante o Renascimento, as experiências de

vivissecção foram reintroduzidos no campo da

medicina, por exemplo, quando os alunos

anatomistas de Mondini, professor da

Universidade de Bologna, aprendiam técnicas

melhoradas de anatomia geral e conhecimento

aplicado em intervenções cirúrgicas.

Estes homens ansiavam demonstrar que o

corpo humano e até mesmo o cérebro eram

completamente investigáveis, com relação à

forma e função.

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No entanto, embora os alunos de Mondini

tivessem conhecimento anatômico avançado

através de dissecações sistemáticas

comparativas, os corpos humanos ainda

estavam em falta devido a moral cristã e do

poder da Igreja.

Os poucos cadáveres disponíveis para fins

de dissecação eram de criminosos, e, mesmo

assim, entregues com relutância pelas

autoridades públicas

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RENÉ DESCARTES (1596-1650)

GIOVANNI ALFONSO BORELLI (1608-1679)

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A percepção de que as experiências com

animais eram extremamente

importantes para o avanço do

conhecimento médico e biológico, no

entanto, não se limitou apenas aos

médicos e os naturalistas da Europa,

inspirando muitos intelectuais também,

convidados a participar de experiências

e discussões sobre a filosofia natural em

agremiações científicas.

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Descartes tinha testemunhado alguns

experimentos e observações de Giovanni

Alfonso Borelli em Pisa e confirmara suas

opiniões anteriores sobre a estrutura e função

dos organismos vivos.

Suas investigações sobre a topografia

anatômica dos nervos e suas suposições sobre a

função primária dos canais que passava o

líquido espiritual dos nervos, inflando

mecanicamente os músculos em atividade foi

frustrada e inconclusiva.

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Borelli decidiu testar a teoria hidromecânica da

atividade do nervo, mergulhando o membro de

uma ovelha em uma banheira de água e cortou

seus músculos. Para seu espanto, nenhum

espírito espumante entrou nas tubulações

nervosas.

Dentro da tradição cartesiana (Só se pode dizer

que existe aquilo que pode ser provado) animais

e corpos humanos eram vistos como máquinas

mecânicas e as atividades dos nervos era

entendida em termos hidráulicos de

transmissão de água - como as máquinas

automáticas de bombeamento.

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Descartes, que testemunhou esse

desenvolvimento cultural de fiscalização

minuciosa da vida, pensava que os

corpos naturais eram habitadas por

mecanismos semelhantes a relógios,

mediadas através da propulsão do

movimento de pressões físicas e

sensações.

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FRANCIS GLISSON (1597-1677)

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Uma abordagem alternativa para a tendência

mecanicista predominante no cartesianismo foi a

posição vitalista (sustenta que a vida só pode ser

explicada por leis intrínsecas aos organismos vivos)

em " irritabilidade ".

Formulada pelo fisiologista e professor de física da

Universidade de Cambridge, Francis Glisson,

pretendia refutar os conceitos da propulsão de

partículas, fluidos ou vibrações nos tubos nervosos,

que ele descrevia como intrinsecamente incapaz de

explicar os fenômenos de vida.

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Entre as 1677 experiências de

estimulação em sapos, Glisson observou

uma capacidade ubíqua para o que ele

chamou de irritabilidade - a propriedade

específica de tecidos vivos ou transferir

um estímulo para peças estendidas do

corpo ou a contrair em resposta à

estimulação mecânica e elétrica.

No conjunto, Glisson viu a visão

cartesiana como incapaz de explicar as

reações fisiológicas que gerariam a

contração muscular e excreção glandular

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Defendendo a ideia da fibra como o principal

elemento constitutivo das partes do corpo

sólido - incluindo o sistema nervoso, Glisson

defendeu em primeiro lugar que a fibra era a

unidade morfológica na maioria das partes

do corpo e a irritabilidade era sua

propriedade fisiológica.

Sem a influência dessas qualidades, as

fibras do corpo seriam constantes (no sono)

ou em movimento imutável (como nas

convulsões ou cãibras ).

REFLEXÕES

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Rita de Cássia Almeida

Edificada a partir de questões notáveis e

abrangentes, que transcendem o campo

profissional específico, a ética profissional

compele todos os profissionais à reflexão,

em qualquer área da atividade profissional.

A Ética é subjetiva e, entre seus preceitos,

tenta estabelecer a relação dicotômica entre

o Certo e o Errado, portanto... jamais pode

ser considerada científica.

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Rita de Cássia Almeida

O progresso científico está longe de

substituir os experimentos em

animais por métodos alternativos.

Por outro lado, não se devem

ignorar os "direitos dos animais",

que certamente não têm como se

defender do Homem, mas não

devem ser tratados com crueldade.

A História sugere

que estas

discussões estão

intimamente

ligadas aos

contextos sociais e

culturais

específicos, têm

efeitos profundos

sobre o avanço da

ciência e suas

ramificações como

a neurociência.

REFERÊNCIAS

CHAGAS, Flávia Bernardo; D’AGOSTINI, Fernanda Maurer. Considerações sobre a experimentação animal:

conhecendo as implicações éticas do uso de animais em pesquisas Revista Redbioética/UNESCO, ano 3, 2(6),

35 - 46, jul-dez. 2012. Disponível em:

<http://www.unesco.org.uy/shs/redbioetica/fileadmin/shs/redbioetica/Revista_6/RevistaBioetica6b-35a46.pdf>

Acesso: 30 abr.2014.

DENZIN, Norman K.; LINCOLN, Ivonna S. O planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e abordagens. 2. ed.

Porto Alegre: Artmed, 2006. 432p.

FELIPE, Sônia Terezinha. Ética e Experimentação Animal - Fundamentos Abolicionistas. Florianópolis: UFSC,

2007. 351p.

PRESSMAN, Edward R.; FRANKENHEIMER, John. A Ilha do Dr. Moreau. [Filme-vídeo]. Produção de Edward R.

Pressman, direção de John Frankenheimer. EUA, 1996. 1 cassete VHS/NTSC,100 min, color.son.

QUEIROZ, Carla de Alcântara Ferreira. O uso de cadáveres humanos como instrumento na construção de

conhecimento a partir de uma visão bioética. 2005. 129f. Dissertação (Mestrado em Ciências ambientais e Saúde)

- Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais e Saúde, Universidade Católica de Goiás, Goiânia. 2005.

RIVERA, Ekaterina Akimovna. Ética na experimentação animal. In:_ Animais de Laboratório: criação e

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FIOCRUZ, 2002. 388 p. Disponível em: <http://books.scielo.org/id/sfwtj/pdf/andrade-978857541386905.pdf>

Acesso em: 28 abr.2014.

STAHNISCH, Frank W. On the use of animal experimentation in the history of neurology. In: AMINOFF, Michael J.;

BOLLER, François; SWAAB, Dick F. (Orgs.). Handbook Of Clinical Neurology. Amsterdam: Elsevier B.V.,2010.

952p. Disponível em: < https://www.sigaa.ufrn.br/sigaa/ava/index.jsf>

Acesso em: 07 fev.2014.