almeida, w.s. carac individuais e fatores locais - qual a importância para explicar os diferenciais...

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1 CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS E FATORES LOCAIS: QUAL A IMPORTÂNCIA PARA EXPLICAR OS DIFERENCIAIS SALARIAIS ENTRE OS TRABALHADORES DAS PRINCIPAIS CIDADES BRASILEIRAS? Wallace da Silva de Almeida (PPGECON/UFPE) RESUMO: O principal objetivo deste trabalho é investigar se os trabalhadores da cidade de São Paulo/SP obtêm um prêmio salarial em relação aos demais trabalhadores das capitais consideradas na análise, controlando pelas características observáveis e não observáveis dos trabalhadores e por um conjunto de atributos locais variantes no tempo. Isso será feito a partir da estimação de um modelo de regressão com dados em painel ao nível dos trabalhadores. Os dados utilizados no presente estudo são oriundos do IBGE e do Relatório Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego e referem-se ao período 2000-2008. De acordo com as evidências empíricas obtidas, a maior parte dos diferenciais salariais entre a cidade de São Paulo e as demais cidades consideradas deve-se, principalmente, as características individuais de seus respectivos dos trabalhadores residentes e ao potencial de atração de indivíduos qualificados. Constatou-se ainda, que o prêmio salarial obtido pelos trabalhadores paulistas foi elevado quando realiza-se controle pelas características observáveis e, além destas, também pelas características não-observáveis dos indivíduos. Com relação aos fatores locacionais, observou-se que no caso específico da cidade de São Paulo, os resultados sugerem que o efeito positivo gerado pelo acumulo de indivíduos qualificados supera o impacto negativo gerado pelo adensamento populacional excessivo e das desamenidades urbanas criadas a partir do crescimento urbano desordenado nesta cidade. Palavras-chave: Diferenciais Salariais; Mercado de trabalho formal; São Paulo.

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CARACTERÍSTICAS INDIVIDUAIS E FATORES LOCAIS: QUAL A IMPORTÂNCIA PARA EXPLICAR OS DIFERENCIAIS SALARIAIS ENTRE OS TRABALHADORES DAS PRINCIPAIS CIDADES BRASILEIRAS?

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  • 1

    CARACTERSTICAS INDIVIDUAIS E FATORES LOCAIS: QUAL A IMPORTNCIA PARA EXPLICAR OS DIFERENCIAIS SALARIAIS ENTRE OS TRABALHADORES DAS

    PRINCIPAIS CIDADES BRASILEIRAS?

    Wallace da Silva de Almeida (PPGECON/UFPE) RESUMO: O principal objetivo deste trabalho investigar se os trabalhadores da cidade de So Paulo/SP obtm um prmio salarial em relao aos demais trabalhadores das capitais consideradas na anlise, controlando pelas caractersticas observveis e no observveis dos trabalhadores e por um conjunto de atributos locais variantes no tempo. Isso ser feito a partir da estimao de um modelo de regresso com dados em painel ao nvel dos trabalhadores. Os dados utilizados no presente estudo so oriundos do IBGE e do Relatrio Anual de Informaes Sociais (RAIS) do Ministrio do Trabalho e Emprego e referem-se ao perodo 2000-2008. De acordo com as evidncias empricas obtidas, a maior parte dos diferenciais salariais entre a cidade de So Paulo e as demais cidades consideradas deve-se, principalmente, as caractersticas individuais de seus respectivos dos trabalhadores residentes e ao potencial de atrao de indivduos qualificados. Constatou-se ainda, que o prmio salarial obtido pelos trabalhadores paulistas foi elevado quando realiza-se controle pelas caractersticas observveis e, alm destas, tambm pelas caractersticas no-observveis dos indivduos. Com relao aos fatores locacionais, observou-se que no caso especfico da cidade de So Paulo, os resultados sugerem que o efeito positivo gerado pelo acumulo de indivduos qualificados supera o impacto negativo gerado pelo adensamento populacional excessivo e das desamenidades urbanas criadas a partir do crescimento urbano desordenado nesta cidade. Palavras-chave: Diferenciais Salariais; Mercado de trabalho formal; So Paulo.

  • 2

    INTRODUO

    Nas ltimas dcadas a literatura econmica tem dedicado parte significativa de seus

    esforos a busca por uma maior compreenso acerca das diversas formas pelas quais a

    desigualdade entre indivduos, regies e pases se manifesta ao longo do tempo. Nessa

    perspectiva, os estudos sobre as disparidades salariais tm recebido grande destaque.

    A literatura indica diversas motivaes tericas para a existncia de hiatos salariais

    entre os trabalhadores. Do lado da oferta, nveis salariais mais elevados em dada

    localidade podem ser motivados pelas caractersticas produtivas dos indivduos que nela

    residem, como por exemplo, um maior nvel de escolaridade mdia. J pelo lado da

    demanda por trabalho, a desigualdade de rendimentos entre os indivduos das diversas

    reas de um pas pode ser motivada por diferenas na estrutura produtiva, nas

    instituies e no acesso tecnologia. De outro modo, pode-se argumentar, ainda, que tais

    disparidades surgem como forma de compensar diferenas associadas ao custo de vida,

    a produtividade e amenidades locais existentes.

    Cabe salientar que, os diferenciais de produtividade podem estar relacionados s

    caractersticas inerentes a cada localidade. Nesse sentido, alguns estudos a partir de

    uma abordagem que uni elementos da Economia Regional e Urbana Economia do

    Trabalho tm associado o prmio salarial e os ganhos relativos de produtividade s

    economias de aglomerao urbana, a fim de avaliar seus efeitos sobre os diferenciais de

    rendimento entre trabalhadores. Podem-se citar como exemplos os trabalhos seminais de

    Glaeser & Mar (1994 e 2001), que atravs da utilizao dessa abordagem encontraram

    uma relao positiva entre o rendimento dos trabalhadores e o tamanho das cidades. De

    acordo com os autores, o prmio salarial urbano associa-se, dentre outros fatores, a

    acumulao de capital humano por parte dos trabalhadores nos grandes centros urbanos.

    De semelhante modo, a partir dos trabalhos pioneiros de Glaeser & Mar (1994 e 2001),

    Yankow (2006), Freguglia et al. (2007), Combes et al. (2007), Glaeser & Resseger (2010),

    Rocha et al. (2011 e 2013), entre outros estudiosos da temtica, desenvolveram trabalhos

    que buscaram mensurar os efeitos da interao entre habilidades, aglomerao e capital

    humano sobre os salrios e produtividade.

    A partir da literatura econmica citada acima, apreende-se que os ganhos de

    aglomerao no mercado de trabalho podem advir da elevao do nvel de produtividade

    dos trabalhadores na presena de externalidades positivas geradas por melhores

    conexes de mercado (sharing), maior interao com indivduos qualificados em reas

  • 3

    com elevado nvel de concentrao de capital humano (learning ou spillovers

    tecnolgicos) e melhor matching nos mercados de trabalho dos grandes centros urbanos,

    o que pode contribuir, tambm, para ampliao do nvel de produtividade das firmas.

    De forma geral, os estudos sobre a temtica utilizam definies geogrficas e

    administrativas oficiais de regies metropolitanas ou cidades para delimitar o alcance das

    economias de aglomerao no espao [Glaeser & Mar (2001); Halfdanarson et al.

    (2008)]. De acordo com a literatura que versa sobre as economias de aglomerao,

    existem evidncias que apontam na direo de nveis de produtividade e salrios mais

    elevados nas reas classificadas como densas quando comparadas s no-densas,

    mesmo aps o controle do vis de seleo associado heterogeneidade espacial ou

    individual no observada [Halfdanarson et al. (2008); Abel et al. (2012)].

    Identificam-se diversas explicaes na literatura econmica para existncia de

    diferenciais positivos de produtividade e salrios, favorveis aos grandes centros urbanos.

    Uma das interpretaes frequentemente encontradas nos estudos recentes defende que

    a existncia de um prmio nas cidades representa o vis de habilidades omitidas, na

    medida em que os indivduos mais habilidosos tendem a concentrar-se em reas urbanas

    e apresentam maior nvel de produtividade. Nesse aspecto, torna-se mais complicada a

    identificao/mensurao do prmio salarial associado aglomerao uma vez que os

    centros urbanos apresentam-se como polos de atrao de indivduos habilidosos.

    Portanto, neste caso, os diferenciais positivos de rendimento poderiam ser explicados

    tanto pelas caractersticas produtivas individuais dos trabalhadores como por fatores

    locacionais (Rocha et al., 2011). Outra explicao possvel que o prmio pode

    representar um efeito de nvel, caso a elevao da produtividade do trabalhador nas

    cidades aumentar os salrios imediatamente em virtude de externalidades urbanas,

    geralmente associadas a um melhor matching de mercado. Por outro lado, tambm, h o

    argumento de que o prmio pode representar um efeito de crescimento, caso os salrios

    sejam elevados ao longo do tempo [Yankow (2006); Halfdanarson et al. (2008); Silva et al.

    (2013)].

    No perodo recente, novas abordagens tm sugerido que as externalidades de capital

    humano apresentam-se como o principal fator de explicao para a existncia de maiores

    nveis de produtividade e salrios nos grandes centros urbanos. Esta vertente literria

    destaca que a maior concentrao de capital humano em determinadas localidades

    aumenta a produtividade mdia dos trabalhadores que nelas residem, atravs de

    spillovers de conhecimento. Desta forma, tal abordagem indica que o efeito positivo da

  • 4

    densidade populacional sobre a produtividade individual dos trabalhadores tende a ser

    amplificado pelo estoque de capital humano que estas reas detm [Abel et al. (2012)1;

    Rocha et al. (2013)].

    A literatura que se destina a investigar a relao entre o prmio salarial urbano e as

    externalidades de capital humano tem indicado, entre outros fatores, que os trabalhadores

    tendem a obter um ganho salarial urbano nas localidades intensivas em capital humano.

    Alm disso, deve-se destacar, que a medida deste prmio varia de acordo com as

    dotaes produtivas do indivduo. Ademais, um importante aspecto das pesquisas que

    adotam essa abordagem que, em geral, h o reconhecimento de que existem outras

    fontes capazes de explicar parcela significativa dos diferenciais positivos de rendimento

    obtidos nos centros urbanos de grande porte, apesar de atribuir as externalidades de

    capital humano papel de extrema relevncia para a compreenso do fenmeno. Portanto,

    de forma resumida, o que a teoria sugere que os ganhos salariais so maiores em

    localidades intensivas em capital humano e o prmio salarial urbano tende a ser mais

    elevado para os indivduos que apresentam alto nvel de qualificao/produtividade

    [Glaeser & Mar (2001); Halfdanarson et al. (2008); Rocha et al. (2011 e 2013)].

    Alm dos fatores j mencionados, existe pelo menos mais um relevante aspecto a ser

    considerado na literatura econmica direcionada ao estudo das economias de

    aglomerao urbanas. Assim, como observam Roback (1982), Glaeser & Mar (2001) e

    Rocha et al. (2013), entre outros, a concentrao de indivduos habilidosos nos grandes

    centros urbanos atua como um fator de aglomerao das firmas, o que, por sua vez,

    eleva a demanda por trabalho, fazendo com que os salrios nominais dessas localidades,

    assim como seus respectivos custos de vida, sejam mais elevados. De acordo com a

    Teoria dos Diferenciais Compensatrios, a existncia dessas disparidades salariais

    nominais esto relacionados necessidade de equiparao das vantagens monetrias e

    no-monetrias entre as diversas ocupaes, trabalhadores e regies. Deste modo, as

    desigualdades nominais de rendimento seriam um mero reflexo dos diferenciais regionais

    de nveis de preos e/ou amenidades/desamenidades urbanas [Roback (1982); Rosen

    (1986); Savedoff (1990); Glaeser & Mar (2001)].

    O pressuposto bsico da Teoria dos Diferenciais Compensatrios que o salrio

    representa apenas um dos fatores que influenciam a deciso dos trabalhadores e firmas

    durante o processo de contratao e no a nica varivel a impactar em tal deciso.

    1 Abel et al. (2012) denominaram de densidade de capital humano a interao entre habilidade e densidade

    populacional.

  • 5

    Desta forma, torna-se justificvel, segundo esta teoria, a presena de diferenciais de

    rendimentos entre trabalhadores igualmente capacitados.

    Conforme demonstra o Grfico 1, a relao entre salrios e custo de vida dada pela

    curva W(R$), com inclinao positiva e resultante dos pontos de equilbrio das curvas de

    indiferena dos trabalhadores e firmas com diferente sensibilidade em relao ao custo

    de vida. Como todas as demais condies permanecem fixas, o indivduo que optar por

    trabalhar em uma regio cujo custo de vida seja mais elevado dever obter um salrio

    nominal maior em relao queles que decidirem alocar sua fora de trabalho em regies

    cujo nvel de preos relativos apresenta-se inferior.

    De acordo com Glaeser & Mar (2001), a demanda por trabalho das firmas nas

    grandes cidades cujos salrios nominais apresentam-se mais elevados depender da

    disposio dos consumidores com relao ao pagamento de preos maiores por seus

    produtos, ou da oferta de condies mais favorveis a minimizao de custos quando

    comparadas aquelas de menor porte. Portanto, mesmo que os salrios dos trabalhadores

    sejam maiores nos grandes centros urbanos, se estas reas detiverem atributos

    locacionais capazes de possibilitar a prtica de preos mais elevados ou que

    incrementem a produtividade dos fatores, como, por exemplo, a existncia de spillovers

    do conhecimento gerados pela posse de maior contingente populacional, elas podero

    atrair novas firmas.

    De modo geral, a metodologia proposta por Rosen (1974) tem sido a mais utilizada

    para estimar a influncia do custo de vida e das amenidades urbanas na determinao

    dos salrios. O trabalho de Rosen (1974) props uma metodologia que adota o valor dos

    aluguis residenciais como uma proxy para captar os diferenciais regionais de custo de

    vida e amenidades urbanas, sendo esta a varivel dependente do modelo de regresso.

    Quanto s variveis exgenas do modelo tm-se as caractersticas do domiclio (nmero

    de cmodos, tipo de material utilizado na construo, forma como realizada de coleta de

    lixo, tipo de iluminao e abastecimento de gua, entre outras) e variveis que buscam

    captar as amenidades urbanas, tais como: clima, proximidade do litoral, taxa de

    criminalidade, qualidade do sistema de sade, ensino e transportes, etc.

    Cabe salientar que esta metodologia, proposta por Rosen (1974), possui algumas

    limitaes. Dentre essas limitaes pode-se citar hiptese de equilbrio em todo o

    mercado e a pressuposio de que os preos das variveis exgenas no esto

    correlacionados. Desta forma, o preo implcito de um atributo adicional considerado o

  • 6

    mesmo independentemente da localizao espacial e do tipo de imvel. Palmquist (1984)

    props uma verso alterada do modelo de Rosen (1974) que utiliza dados advindos de

    diversas reas a fim de evitar problemas de endogeneidade e dificuldades de

    identificao.

    A partir das consideraes e anlises realizadas at aqui, fica evidente que as teorias

    apresentadas no so excludentes, podendo, portanto, serem utilizadas de forma

    complementar no estudo emprico a ser empreendido.

    2. ECONOMIAS DE AGLOMERAO, CAPITAL HUMANO E PRMIO SALARIAL URBANO

    Os grandes centros urbanos, como fora mencionado no tpico anterior, tendem a

    apresentar diferenciais salariais positivos em relao s reas urbanas de menor porte.

    Estas disparidades podem estar associadas tanto ao maior retorno as habilidades

    observveis e no observveis dos indivduos quanto s diferenas de nveis de preos e

    atributos locais. A aglomerao nas maiores cidades geram ganhos no mercado de

    trabalho, tais como: melhores conexes de mercado (sharing), maior interao com

    indivduos qualificados em reas com elevado nvel de concentrao de capital humano

    (learning ou spillovers tecnolgicos) e condies mais favorveis especializao e

    identificao de ocupaes mais adequadas (matching) nos mercados de trabalho dos

    grandes centros urbanos, o que tende a contribuir, tambm, para ampliao do nvel de

    produtividade das firmas. [Savedoff (1990); Glaeser & Mar (2001); Menezes & Azzoni

    (2006); Rocha et al., (2011)]. Nesse sentido, o modelo terico adotado neste estudo para

    mensurar a importncia dos fatores acima mencionados na determinao dos salrios o

    modelo de equilbrio espacial de trabalhadores e firmas proposto por Glaeser & Mar

    (2001), cuja descrio ser realizada a seguir.

    De acordo com esse modelo, do lado da oferta tem-se que cada indivduo, k, dotado

    de unidades de eficincia para vender no mercado de trabalho. Dado que o salrio

    ofertado por unidade de eficincia, i , distinto em cada localidade i e que os nveis de

    preos, i , tambm podem diferir entre as diversas regies, exige-se que o salrio real

    (

    ) por unidade eficincia seja constante no espao, conforme explicitado a

    seguir:

    i k / i = j k / j

  • 7

    onde representa o nvel de salrios nominais e o nvel de preos. Desta forma, como

    demonstra a equao , o salrio real (

    ) por unidade eficincia ofertado na

    localidade i ser igual ao oferecido em qualquer outra localidade j, tornando

    injustificada, do ponto de vista estritamente econmico, a migrao de trabalhadores entre

    estas localidades.

    A partir da condio de arbitragem exposta na equao , tem-se que os

    diferenciais salariais entre duas localidades i e j quaisquer pode ser obtido da seguinte

    forma:

    j j (

    )

    onde representa logaritmo da mdia geomtrica dos salrios locais e um indicador

    do nvel mdio de eficincia2 dos indivduos que trabalham nas respectivas localidades.

    Logo, a partir da relao expressa na equao fica evidente que a possibilidade da

    existncia de um prmio salarial, em termos reais, entre localidades distintas est

    diretamente relacionada aos diferenciais na dotao de unidades de eficincia produtiva

    entre os trabalhadores residentes nas respectivas reas, ou seja, se a localidade i detiver

    uma maior dotao de trabalhadores qualificados em relao localidade j, ento seus

    trabalhadores recebero um prmio salarial.

    Com relao demanda por trabalho, a permanncia das firmas em locais cujos

    salrios nominais so mais elevados pode ser justificada pela existncia de um mercado

    consumidor disposto a pagar preos mais altos por seus produtos nestas reas e tambm

    porque nestas localidades, em geral, as firmas conseguem ter acesso a melhores

    condies para minimizar seus custos de produo. Entre os atributos locais que podem

    facilitar a imposio de preos maiores pelas firmas nos grandes centros urbanos esto: o

    menor custo de transporte, spill-overs tecnolgicos e outros tipos de ganhos associados

    ao progresso tcnico que elevam o nvel de produtividade.

    Assumindo que i represente os atributos locais mencionados acima para as

    empresas situadas na localidade i; K o capital prprio disponibilizado em qualquer rea

    do espao ao custo de R; e L o trabalho medido em unidades de eficincia, combinados

    a condio de livre entrada de empresas no mercado, tem-se que a maximizao dos

    lucros da firma, i 1 i , e a condio de equilbrio para a totalidade das

    2 Neste caso, a eficincia medida em termo de qualificao dos trabalhadores.

  • 8

    empresas possibilitam que, atravs das caractersticas individuais dos trabalhadores e

    dos atributos locais, seja estabelecida uma relao capaz de identificar os efeitos

    causados nos diferenciais salariais de duas localidades distintas, conforme explicitado

    abaixo:

    j j

    (

    )

    A relao expressa na equao mostra que a localidade i apresentar um

    diferencial salarial positivo em relao localidade j se seus trabalhadores forem mais

    produtivos/habilidosos ou se seus atributos locionais i) forem superiores aos atributos

    j) da localidade j. Estas vantagens locacionais abrangem tanto as caractersticas

    geofsicas das regies, como o clima, a dotao de recursos naturais e localizao

    geogrfica, quanto s diferenas relativas s estruturas institucionais, a dotao de

    tecnologia, a oferta de servios pblicos, a dimenso do mercado consumidor e

    infraestrutura porturia, aeroporturia e rodoviria etc.

    Assim, a partir da relao expressa nas equaes e obtm-se que as firmas

    admitiro pagar salrios nominais mais elevados aos trabalhadores em determinada

    localidade i se seus preos forem comparativamente superiores em relao outra

    localidade j ou se a localidade i apresentar diferenciais positivos de produtividade, por

    questes no relacionadas ao trabalhador em si, quando comparada a uma localidade j

    qualquer. Logo, apreende-se que os diferenciais de produtividades dos atributos

    locacionais devem compensar a exigncia de salrios mais elevados devido ao custo de

    vida, conforme mencionado no tpico anterior. Deste modo, chega-se a seguinte

    formulao terica:

    j j

    (

    ) (

    j )

    Ou, reescrevendo a equao

    j

    j

    (

    )

  • 9

    3. DIMENSO DAS PRINCIPAIS CIDADES BRASILEIRAS: EVIDNCIAS EXPLORATRIAS

    A presena de diferenciais salariais persistentes no mercado de trabalho tem

    despertado grande interesse de diversos pesquisadores por todo o mundo ao longo dos

    anos. O estudo sobre a persistncia destes diferenciais recai essencialmente na

    investigao de sua origem que, em geral, ocorre a partir da anlise das caractersticas

    individuais dos trabalhadores, do emprego e atributos locacionais.

    Nesse sentido, as informaes apresentadas na Tabela 1 permitem observar que

    existe uma significativa diferenciao salarial mdia entre os trabalhadores por grau de

    instruo e gnero no espao de anlise a ser considerado. Ademais, pode-se perceber

    tambm que os trabalhadores paulistas recebem salrio mdio superior queles

    empregados nas outras dez principais cidades brasileiras e que possuem grau de

    instruo equivalente. Contudo, chama a ateno, em relao fora de trabalho

    paulistana, a variao percentual negativa para os indivduos que possuem grau de

    instruo equivalente Fundamental incompleto independentemente do gnero.

    Tabela 1 Mdia salarial em termos reais, a preos de 2008, por grau de instruo (2000-2008)

    GRAU DE INSTRUO

    CIDADE DE SO PAULO CONJUNTO DAS

    OUTRAS3 CIDADES

    TODOS

    HOMEM MULHER HOMEM MULHER

    TOTAL % TOTAL % TOTAL % TOTAL % TOTAL %

    Analfabeto (*)

    1.376,10 1.176,75 922,21 761,26 1.011,93

    Fund. incompleto 1.289,10 -6,32 931,08 -20,88 1.063,21 15,29 713,28 93,70 1.045,44 3,31

    Fund. completo 1.401,43 1,84 1.025,49 -12,85 1.186,03 28,61 938,15 123,24 1.160,60 14,69

    Mdio incompleto 1.625,76 18,14 1.215,20 3,27 1.308,07 41,84 957,29 125,75 1.294,44 27,92

    Mdio completo 2.092,92 52,09 1.571,20 33,52 1.938,15 110,16 1.363,97 179,17 1.724,53 70,42

    Superior incompleto 3.488,32 153,49 2.381,95 102,42 3.174,38 244,21 2.122,53 278,82 2.755,65 172,32

    Superior completo 6.401,13 365,16 3.503,70 197,74 5.986,32 549,13 3.518,93 462,25 4.589,28 353,52

    Fonte: Elaborao do autor a partir de dados da RAIS (2000-2008) MTE. Nota: (*) Classe utilizada como referncia para o incio do clculo da variao salarial percentual

    ( %).

    A partir da anlise do Grfico 1 observa-se que o percentual de trabalhadores

    analfabetos seguiu uma tendncia de queda entre 2000 e 2008. Por outro lado, o

    percentual de indivduos graduados apresentou um pequeno crescimento no mesmo

    perodo. Esta uma constatao importante, pois de acordo com o modelo terico a ser

    3 Belm/PA, Fortaleza/CE, Recife/PE, Salvador/BA, Braslia/DF, Goinia/GO, Belo Horizonte/MG, Rio de

    Janeiro/RJ, Curitiba/PR e Porto Alegre/RS.

  • 10

    adotado neste trabalho considera-se a hiptese de uma relao positiva entre

    produtividade (medida atravs do nvel de qualificao) e salrios.

    Grfico 1 Percentual de trabalhadores por grau de instruo (2000-2008) Fonte: Elaborao do autor a partir de dados da RAIS (2000-2008) MTE.

    Quanto diferenciao salarial por gnero Cavalieri & Fernandes (1998)

    encontraram, a partir da utilizao de dados da PNAD para o ano de 1989, um diferencial

    positivo de rendimento favorvel aos homens em todas as regies metropolitanas

    brasileiras. A seguir, o Grfico 2 demonstra que entre os anos de 2000 e 2008 tais

    diferenciais tambm podem ser observados ao longo de toda a distribuio de salrios

    para o conjunto dos trabalhadores ocupados nas onze principais cidades brasileiras que

    sero consideradas na anlise a ser empreendida neste trabalho.

    Grfico 2 Mdia salarial em termos reais (a preos de 2008) dos trabalhadores empregados nas cidades consideradas na pesquisa, por decil da distribuio (2000-2008) Fonte: Elaborao do autor a partir de dados da RAIS (2000-2008) MTE.

    As informaes apresentadas nesta seo sugerem a existncia de diferenciais

    salariais entre os trabalhadores empregados na cidade de So Paulo/SP e o conjunto dos

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

    ANALFABETO FUNDAMENTAL COMPLETO MDIO COMPLETO SUPERIOR COMPLETO

    0

    1.000

    2.000

    3.000

    4.000

    5.000

    6.000

    10 20 30 40 50 60 70 80 90

    MULHERES HOMENS

  • 11

    demais trabalhadores empregados nas outras dez cidades consideradas, favorvel, de

    modo geral, aos primeiros. Deste modo, torna-se fundamental a realizao de uma

    investigao acerca da natureza dos potenciais fatores geradores deste prmio salarial

    obtido pelos trabalhadores paulistanos e como esses fatores podem estar influenciando o

    comportamento dos salrios nas cidades cuja anlise do estudo se destina.

    4. MODELO EMPRICO E DADOS

    O objetivo precpuo deste estudo, como fora explicitado em sees anteriores,

    investigar se os trabalhadores da cidade de So Paulo/SP obtm um prmio salarial em

    relao aos indivduos empregados nas demais reas consideradas4 cujo nvel de preos

    relativos5 seja disponibilizado pelo IBGE para todo o perodo de estudo, controlando pelas

    caractersticas observveis e no observveis dos trabalhadores e por um conjunto de

    atributos locais variantes no tempo.

    A anlise empreendida nesta pesquisa est fundamentada na estimao de equaes

    mincerianas de salrios. Tais equaes sero estimadas atravs da utilizao de um

    extenso painel de dados oriundos do Relatrio Anual de Informaes Sociais (RAIS)

    disponibilizados pelo Ministrio do Trabalho e Emprego (MTE) para o perodo

    compreendido entre os anos de 2000 a 2008, permitindo, assim, a realizao de um

    acompanhamento longitudinal dos trabalhadores empregados no mercado de trabalho

    formal ao longo do tempo. Logo, a unidade de anlise a ser considerada no presente

    trabalho o indivduo.

    O grande obstculo emprico a ser transposto est associado heterogeneidade no

    observada, que frequentemente gera problemas na estimao de modelos que utilizam

    dados em painel. Nesse sentido, caso as caractersticas no observveis associadas

    produtividade do indivduo e presentes no termo i , estejam correlacionadas com

    qualquer outra varivel considerada no modelo de regresso a fim de explicar o

    comportamento do salrio (varivel dependente), as estimativas obtidas por MQO sero

    viesadas e inconsistentes. Do mesmo modo, caso o pressuposto bsico da ausncia de

    correlao entre as variveis exgenas e o termo de erro aleatrio, Cov ( i , i ) 0, seja

    desobedecido as mesmas consequncias sero geradas.

    A fim de evitar qualquer tipo de influncia indesejada das caractersticas no

    observveis relacionadas produtividade dos indivduos, conforme fora mencionado

    4 Belm, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre.

    5 O ndice de nvel de preos adotado por este estudo ser o INPC (ndice Nacional de Preos ao Consumidor).

  • 12

    anteriormente, os modelos que sero estimados neste trabalho utilizaro dados em

    painel, possibilitando, assim, que tais caractersticas sejam fixadas no tempo.

    De acordo com o modelo terico, as firmas s admitiro pagar salrios nominais mais

    elevados aos trabalhadores em determinada localidade i se seus preos forem

    comparativamente superiores em relao outra localidade j ou se a localidade i

    apresentar diferenciais positivos de produtividade, por questes no relacionadas ao

    trabalhador em si, quando comparada a uma localidade j qualquer. Deste modo, o modelo

    emprico abaixo especificado ser estimado a fim de mensurar os diferenciais salarias

    entre os trabalhadores das localidades consideradas, controlando pelas caractersticas

    observveis e no observveis dos trabalhadores e por um conjunto de atributos locais

    variantes no tempo, como segue:

    (

    )

    Onde, (

    )

    representa o salrio real horrio do trabalhador na cidade no tempo ;

    uma varivel dummy de localizao que assume o valor 1 se o indivduo trabalha

    em So Paulo e 0 no caso contrrio; representa o vetor de caractersticas individuais

    observveis de controle dos trabalhadores e de sua ocupao, entre as quais encontram-

    se: experincia, experincia ao quadrado6, idade, idade ao quadrado e variveis dummies

    de gnero, nvel de escolaridade, tamanho da empresa e setor de atividade;

    representa um conjunto de caractersticas observveis da cidade variantes no tempo ,

    incluindo indicadores locais da estrutura produtiva e concentrao de capital humano;

    mensura o efeito fixo dos trabalhadores, possibilitando, desta maneira, que sejam

    captadas as caractersticas no observveis dos indivduos que geram impactos

    significativos nos seus respectivos salrios e que no variam ao longo do tempo; , e

    so os parmetros a serem estimados; e, por fim, o vetor de erros aleatrios.

    4.1. Base de Dados

    Os dados utilizados no presente estudo so oriundos do Relatrio Anual de

    Informaes Sociais (RAIS) do Ministrio do Trabalho e Emprego. Estes dados referem-

    6A experincia ao quadrado foi introduzida a fim de captar o efeito convexo na relao destas variveis com o

    salrio/hora real. Caso este efeito seja verificado os maiores nveis salariais tendero a ocorre no incio da vida de

    trabalho e com o passar do tempo iro a decrescer.

  • 13

    se ao perodo 2000-2008 e foram estruturados em forma de painel totalizando

    aproximadamente 58.946.724 registros. Por motivos de limitao computacional para

    operar com uma base de tamanha magnitude, optou-se por selecionar uma amostra

    aleatria correspondente a 5% do total de registros. Assim, a partir do cdigo de

    identificao7 tornar-se possvel realizar um acompanhamento longitudinal dos indivduos

    empregados no mercado de trabalho formal das onze cidades consideradas na pesquisa,

    a saber: Belm/PA, Fortaleza/CE, Recife/PE, Salvador/BA, Braslia/DF, Goinia/GO, Belo

    Horizonte/MG, Rio de Janeiro/RJ, So Paulo/SP, Curitiba/PR e Porto Alegre/RS.

    Devido grandiosidade de sua abrangncia e a possibilidade de utilizao de uma

    estrutura de dados em painel, que possibilitam o acompanhamento longitudinal do

    mercado de trabalho formal em todos os anos do perodo de estudo fornecendo

    informaes geogrficas, sociais e econmicas, alm de caractersticas pessoais, a base

    disponibilizada pela RAIS torna-se ideal para analisar o efeito fixo dos trabalhadores ao

    longo do tempo, conforme pretende-se fazer nesta pesquisa na estimao das equaes

    salariais.

    Para que o objetivo proposto por este trabalho seja alcanado, gerando resultados

    confiveis e que possam contribuir com a literatura econmica, necessrio que algumas

    adequaes sejam efetuadas na base de dados. Inicialmente, foram excludos aqueles

    trabalhadores cuja identificao no foi possvel de ser feita, como nos casos em que o

    PIS for igual a zero, por exemplo. Dado que a principal varivel de interesse o salrio

    ( ), torna-se necessrio considerar apenas os trabalhadores que registrem salrio no-

    nulo, alm de tempo no emprego e horas contratuais maiores que zero. Da mesma

    maneira, foram excludas da base de dados todas as observaes no declaradas

    relativas s caractersticas individuais observveis dos trabalhadores essenciais a anlise

    empreendida neste estudo. Vale salientar que, foram considerados na amostra apenas os

    indivduos economicamente ativos que possuam entre 18 e 65 anos de idade por

    considerar que as pessoas com idade inferior a 18 anos ainda estejam estudando e

    pessoas com idade superior a 65 estejam deixando o mercado de trabalho. Aps

    implementao dos ajustes mencionados a amostra totalizou, para todo o perodo de

    anlise, 2.946.367 observaes. O painel de dados construdo a fim de alcanar os

    objetivos propostos neste trabalho classifica-se como no balanceado, pois o nmero de

    indivduos varia a cada ano.

    7 O cdigo de identificao do trabalhador o PIS, varivel encontrada na base de dados da RAIS para todos os anos

    analisados.

  • 14

    A varivel dependente dos modelos empricos a serem estimados foi construda a

    partir do logaritmo do salrio ( ) remunerao em dezembro do indivduo no ano por

    hora trabalhada deflacionado pelo ndice Nacional de Preos ao Consumidor (INPC)

    disponibilizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) para todas as

    localidades cuja anlise da pesquisa se destina.. Optou-se por levar todos os valores

    correspondentes ao rendimento dos trabalhadores do perodo analisado (2000 a 2008)

    para o ano de 2008, dividindo-os, logo aps, pelo total de horas trabalhadas mensais. Por

    fim, o resultado obtido foi logaritmizado.

    Seguindo estratgia adotada por Rocha et al. (2013), o vetor de variveis controles

    para as caractersticas/atributos das cidades incluir as seguintes variveis: a

    participao dos trabalhadores empregados em hotis (proxy das amenidades locais), a

    fim de controlar o efeito das amenidades sobre o rendimento dos trabalhadores; a

    proporo de trabalhadores qualificados (proxy para o estoque de trabalhadores

    qualificados/capital humano do municpio); o percentual da populao ocupada, que

    busca mensurar as condies locais do mercado de trabalho em todo o perodo; e,

    finalmente, a densidade demogrfica que busca controlar os impactos gerados pelos

    fatores locais que atuam como economia de aglomerao.

    Cabe destacar que alm dos filtros j efetuados no exclusse a possibilidade da

    realizao de outros de acordo com o andamento da pesquisa. Os trabalhadores da

    cidade de So Paulo correspondem a 33,13% do total de indivduos empregados no

    mercado de trabalho formal das reas analisadas durante o perodo 2000-2008.

    As variveis explicativas que se pretende utilizar nos modelos empricos de anlise

    deste trabalho, assim como, suas respectivas fontes de coleta de dados podem ser

    observadas a partir do resumo descritivo demonstrado no Quadro 1 a seguir:

  • 15

    Quadro 1 Descrio das Variveis

    Varivel Dependente Descrio Fontes

    Salrio/hora real em 2008 Remunerao estabelecida como pagamento dividida pelo nmero de horas contratadas

    RAIS/MTE

    Variveis Individuais Descrio Fontes

    Idade Idade do indivduo em anos

    RAIS/MTE

    Idade2 Termo quadrtico da idade

    Experincia Tempo de emprego no mesmo vnculo (nmero de meses) Experincia

    2 O termo quadrtico da experincia

    Gnero

    Masculino (1,0) se homem Feminino

    (*) (1,0) se mulher

    Grau de instruo Analfabeto

    (*) (1,0) se analfabeto

    Fundamental incompleto (1,0) se possui nvel fundamental incompleto Fundamental completo (1,0) se possui nvel fundamental completo Mdio incompleto (1,0) se possui nvel mdio incompleto Mdio completo (1,0) se possui nvel mdio completo Superior incompleto (1,0) se possui nvel superior incompleto Superior completo (1,0) se possui nvel superior completo

    Localizao geogrfica (1,0) se o indivduo trabalha na cidade de So Paulo

    Variveis do Emprego Descrio Fontes

    Tamanho da empresa

    RAIS/MTE

    Pequena (1,0) se at 99 empregados

    Mdia (1,0) se de 100 a 499 empregados

    Grande (*)

    (1,0) se 500 ou mais empregados

    Setor de atividade Adm. pblica

    (*) (1,0) se Adm. pblica

    Agropecuria (1,0) se Agropecuria Comrcio (1,0) se Comrcio Construo civil (1,0) se Construo civil Ind. extrativa mineral (1,0) se Extrao mineral Ind. de transformao (1,0) se Indstria de transformao Servios (1,0) se Servios SIUP (1,0) se Servios de utilidade pblica

    Varivel Locacionais Descrio Fontes

    Proporo de qualificados Percentual de trabalhadores qualificados

    Densidade demogrfica Quantidade de pessoas por Km2 IBGE

    Fonte: Elaborao do autor com base em Silva (2009). Nota: (*) varivel dummy que ser omitida nas estimaes. (1,0): 1 se sim; 0 no caso contrrio.

    5. PRMIO SALARIAL URBANO E DIMENSO DAS PRINCIPAIS CIDADES BRASILEIRAS: ANLISE DOS RESULTADOS ESTIMADOS8

    Os resultados obtidos atravs da estimao da equao minceriana de salrios pelo

    mtodo de MQO convencional e exibidos no Apndice deste estudo, demonstram, de

    acordo com o esperado, que a escolaridade e a experincia (mensurada pelo tempo no

    emprego em meses) impactam positivamente nos salrios. Alm disso, constata-se que

    pertencer ao sexo masculino e residir na cidade So Paulo tambm influenciam

    8 Os resultados obtidos a partir da estimao das equaes mincerianas de salrios encontram-se no Apndice deste

    estudo.

  • 16

    positivamente nos rendimentos dos trabalhadores. Com relao aos setores de atividade,

    observa-se que apenas o setor da agropecuria e o setor de comrcio forneceram

    rendimentos mdios inferiores aos ofertados aos trabalhadores da administrao pblica

    durante o perodo analisado.

    Por fim, os indivduos que exercem sua atividade profissional em pequenas e mdias

    empresas recebem, em mdia, 25,93% e 1,44%, respectivamente, menos do que aqueles

    vinculados grandes empresas. Apesar dos indivduos residentes em So Paulo, cidade

    mais densamente povoada do pas, auferirem maiores rendimentos mdios, ao contrrio

    do que afirma grande parte literatura, para o caso das onze principais cidades brasileiras

    consideradas no presente estudo, a densidade demogrfica gerou impactos negativos nos

    rendimentos nos salrios dos trabalhadores das localidade analisadas durante o perodo

    considerado.

    Atravs da estimao do modelo emprico de anlise via efeitos fixos, no qual as

    caractersticas dos trabalhadores so fixadas ao longo do tempo, observou-se uma

    elevao percentual ainda maior do diferencial salarial entre os indivduos residentes em

    So Paulo e os demais trabalhadores residentes nos outros municpios considerados,

    aproximadamente 28,85%.

    Os resultados gerados pelo do modelo de efeitos fixos e apresentados no Apndice

    deste estudo mostram que o sinal da varivel proxy experincia corresponde ao apontado

    pela teoria do capital humano, apresentando-se positivo e significante 1%, indicando

    sua influncia positiva na determinao dos salrios. Da mesma forma, o sinal negativo

    do coeficiente do termo quadrtico da proxy experincia estimado via efeitos fixos vai ao

    encontro da teria do capital humano. Esta teoria argumenta que o sinal negativo desta

    varivel comprova que os rendimentos salariais so decrescentes.

    A dummy de gnero (categoria base homem) significativa a 1% e indica um

    diferencial salarial negativo em cerca de 1,45% desfavorvel aos homens. As dummies

    referentes aos setores de atividade dos trabalhadores (categoria base Administrao

    Pblica) demonstraram-se estatisticamente significativas a 1% , com exceo dos

    setores de agropecuria e comrcio, e apresentaram, em sua maioria, coeficientes

    positivos indicando que os indivduos alocados na administrao pblica recebem, em

    mdia, salrios inferiores aos trabalhadores vinculados aos demais setores. A nica

    exceo refere-se ao setor de extrao mineral, cujo rendimento mdio foi

    aproximadamente 8,62% menor que o recebido pelo servidor pblico mdio.

  • 17

    Com relao aos fatores locacionais, o sinal da varivel que busca captar o efeito

    gerado pela aglomerao de indivduos qualificados em dada localidade indica que, quo

    maior for o nvel desta aglomerao maior ser prmio salarial ofertado pelo municpio.

    No caso especfico da cidade de So Paulo, os resultados sugerem que o efeito positivo

    gerado pelo acumulo de indivduos qualificados supera o impacto negativo gerado pelo

    adensamento populacional excessivo e todos problemas sociais criados a partir do

    crescimento urbano desordenado nesta cidade.

    Assim como na estimao pelo modelo de MQO convencional, os resultados gerados

    por efeitos fixos indicam que a escolaridade gera efeitos positivos no salrio do

    trabalhador. Contudo, ao fixar as caractersticas dos trabalhadores ao longo tempo, o

    prmio salarial obtido a partir do nvel de qualificao dos indivduos reduz-se

    significativamente.

    CONSIDERAES FINAIS

    A partir da considerao tanto da influncia de caractersticas observveis como no-

    observveis (fixas no tempo) do trabalhador, este trabalho investigou se, no Brasil, existe

    de fato um prmio salarial para os trabalhadores residentes na cidade de So Paulo. Ou

    seja, buscou-se determinar, para as onze principais cidades brasileiras, se os maiores

    salrios dos maiores centros urbanos refletem apenas habilidades intrnsecas (adquiridas

    ou no) dos trabalhadores destes reas ou se tais maiores renumeraes tambm

    refletem ganhos de produtividade associados dimenso destes centros urbanos (ganhos

    de aglomerao). Neste sentido, a necessidade do controle para influncias de

    caractersticas observveis e no-observveis dos trabalhadores imps a utilizao de um

    modelo de dados de painel dinmico, considerando um perodo de 2000 a 2008, tendo o

    indivduo como unidade de anlise.

    Os resultados dos modelos estimados sugerem que, de fato, a maior parte dos

    diferenciais salariais entre a cidade de So Paulo e as demais cidades consideradas

    deve-se, principalmente, as caractersticas individuais de seus respectivos dos

    trabalhadores residentes e ao potencial de atrao de indivduos qualificados. Constatou-

    se ainda, que o prmio salarial obtido pelos trabalhadores paulistas foi elevado quando

    realiza-se controle pelas caractersticas observveis e, alm destas, tambm pelas

    caractersticas no-observveis dos indivduos.

  • 18

    Com relao aos fatores locacionais, observou-se que quanto maior for a proporo

    de trabalhadores qualificados maior ser prmio salarial ofertado pelo municpio.

    interessante notar que a maior concentrao de trabalhadores habilidosos em So Paulo

    possibilita que sejam geradas externalidades positivas de capital humano. No caso

    especfico da cidade de So Paulo, os resultados sugerem que o efeito positivo gerado

    pelo acumulo de indivduos qualificados supera o impacto negativo gerado pelo

    adensamento populacional excessivo e das desamenidades urbanas criadas a partir do

    crescimento urbano desordenado nesta cidade.

    REFERNCIAS ALMEIDA, W. S. ; Bessarria, C.N. Diferenciais de rendimento por gnero e raa no mercado de trabalho nordestino: uma anlise via regresses quantlicas e decomposio de Oaxaca-Blinder (1973). In: X ENCONTRO DE ECONOMIA BAIANA, 2014, Salvador/BA. X Encontro de Economia Baiana, 2014. ______. Desigualdades salariais: Uma anlise sobre o segmento formal e informal do mercado de trabalho baiano (2012). In: XIX encontro regional de economia (ANPEC/NE), 2014, fortaleza/CE. XIX encontro regional de economia, 2014. AZZONI, C. R.; CARMO, H. E.; MENEZES, T. Comparao da paridade do poder de compra entre cidades: aspectos metodolgicos e aplicao ao caso brasileiro. Pesquisa e Planejamento Econmico, Rio de Janeiro, v. 33, n.1 p. 91-126, abr/jun. 2003. BECKER, G.S. Investment in human capital: A theoretical analysis. Journal of Political Economy, vol. 70, n. 5, part 2, 9-49, Chicago,1962 COMBES, P.-P.; DURANTON, G.; GOBILLON, L. Spatial wage disparities: sorting matters! (Verso revisada do CEPR Discussion paper, n.4240), 2007. FREGUGLIA, R. S.; MENEZES-FILHO, N.A.; SOUZA, D. B. Diferenciais salariais inter-regionais, interindustriais e efeitos fixos individuais: uma anlise a partir de Minas Gerais. Estud. Econ., Mar 2007, vol.37, no.1, p.129-150. ISSN 0101-4161. GLAESER, E. L.; MAR, D. C. C t es and sk lls. National Bureau of Economic Research, n.4728, 1994. _______. C t es and Sk lls. Journal of Labor Economics, V. 19, n. 2, p. 316-342, 2001. GLAESER, E L.; RESSEGER, M. G. The complementarity between cities and skills. Journal of regional science, vol. 50, no. 1, pp. 221244, 2010. GREENE, W. H. Econometric analysis. 7.ed. New Jersey: Prentice Hall, 2008.

  • 19

    HALFDANARSON, B.; HEUERMANN, D.F.; SUDEKUM, J. Human Capital Externalities and the Urban Wage Premium: Two Literatures and their Interrelations. IZA Discussion Pappers, n.3493. Bonn. 2008. LIMA, R. Mercado de trabalho: o capital humano e a teoria da segmentao. Pesquisa e Planejamento Econmico, Rio de Janeiro, n. 10, p. 217-272, abr. 1980. MARSHALL, A. Princpios de economia: tratado introdutrio. So Paulo: Nova Cultural, 1985 [1890]. MINCER, J. Schooling, experience and earnings. New York: National Bureau for Economic Research, 1974. RAUCH, J. E. Productivity gains from geographic concentration of human capital: evidence from the cities. Journal of Urban Economics, v.34, p.380-400, 1993. ROCHA, R. M; SILVEIRA NETO, R. M; GOMES, S. M. F. P.O; Maiores Cidades, Maiores Habilidades Produtivas: Ganhos de Aglomerao ou Atrao de Habilidosos? Uma Anlise para as Cidades Brasileiras. In: Forum BNB de Desenvolvimento / ANPEC Nordeste. Fortaleza, 2011. ROCHA, R. M. ; SILVEIRA NETO, R. M; GOMES, S. M. F. P.O; COELHO JUNIOR, A. F. Externalidades do Capital Humano: uma Anlise Emprica para as Cidades Brasileiras. In: ANPEC REGIONAL, 2013, Fortaleza. Anais do XVIII Encontro Regional de Economia do Nordeste, 2013. ROSEN, S. The theory of equalizing diferences. IN: ASHENFELTER, O. & LAYARD, R. Handbook of Labour Economics, 1986. ROBACK, J. Wages, rents, and the qual ty of l fe. Journal of Pol t cal Economy, Chicago, n.90, p.1257-1278, 1982. SAVEDOFF, W. Os diferenciais de salrios no Brasil: segmentao versus dinamismo da demanda. IN: Pesquisa e Planejamento Econmico. Rio de Janeiro, v20, no. 3, 1990. SOUZA, C. C. O mercado de trabalho: abordagens duais. Revista de Administrao de Empresas, So Paulo, v. 18, n.1, p. 59-69, jan./mar. 1978.

  • 20

    APNDICE A RESULTADOS DAS EQUAES ESTIMADAS

    TABELA 1A Resultados das estimaes das Equaes dos Diferenciais Salariais

    Variveis explicativas Varivel endgena: ln Salrio/hora em 2008

    OLS Efeitos Fixos

    Localizao geogrfica (SP) 0.1212161*** (0.0022816)

    0.288521*** (0.0191385)

    Idade 0.0498494***

    (0.0002987)

    0.0815251***

    (0.0010517)

    Idade2 -0.0005757***

    (3.82e-06) -0.0005671*** (0.0000125)

    Experincia 0.0036422***

    (0.000018)

    0.0012229***

    (0.000035)

    Experincia2 -3.87e-06***

    (5.85e-08)

    -1.52e-06***

    (1.15e-07)

    Gnero 0.3350546*** (0.0009036)

    -0.014547** (0.0072244)

    Fundamental incompleto 0.0368384***

    (0.0052615)

    0.0209111**

    (0.0136591)

    Fundamental completo 0.1712625*** (0.0052935)

    0.0325884** (0.0137759)

    Ensino mdio incompleto 0.2787933***

    (0.0054141)

    0.0339728

    (0.0141178)

    Ensino mdio completo 0.5261601***

    (0.0052988)

    0.0213679

    (0.0137611)

    Superior incompleto 0.9937093***

    (0.0056582)

    0.0146141

    (0.0144763)

    Superior completo 1.367665***

    (0.005414)

    0.0952643***

    (0.0141578)

    Pequena -0.2593067*** (0.0012498)

    -0.1404655*** (0.003785)

    Mdia -0.0143609***

    (0.0014395)

    -0.0522042***

    (0.0034285)

    Agropecuria -0.1548686*** (0.0076858)

    -0.0109362 (0.0205434)

    Comrcio -0.0095452***

    (0.0018135)

    0.0077984

    (0.0063571)

    Construo civil 0.0655811***

    (0.002357)

    0.0170246***

    (0.0082653)

    Ind. extrativa mineral 0.5561791*** (0.0276586)

    -0.0861674*** (0.0243422)

    Ind. de transformao 0.1496437***

    (0.001807)

    0.0751856***

    (0.0068755)

    Servios 0.0714141*** (0.0014192)

    0.0327332*** (0.004911)

    SIUP 0.2706034***

    (0.0034403)

    0.0457354***

    (0.015668)

    Proporo de qualificados 0.5262649***

    (0.0101421)

    0.5557385***

    (0.0281088)

    Densidade demogrfica 6.96e-06***

    (3.05e-07)

    -0.0000382***

    (2.53e-06)

    Constante 1.309494*** (0.0076002)

    1.422749*** (0.0255513)

    R2 ajustado/R-sq: overal 0.4598 0.1336

    Fonte: Elaborao prpria. Notas: () erros-padro; ***significante a 1%; **significante a 5%; *significante a 10%.