diferenÇas salariais por gÊnero intra-ocupacÕes no...
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DIFERENÇAS SALARIAIS POR GÊNERO INTRA-OCUPACÕES NO
PARANÁ
RESUMO: A desigualdade de rendimentos entre profissionais que exercem a mesma função é
marcante no Brasil. Acredita-se que os indivíduos que estão alocados nos mesmo grupos
ocupacionais possuem produtividade similar, dessa forma, não deviria haver grande disperção
entre os salários quando se faz o recorte de gênero. Nesse sentido, o objetivo dessa pesquisa é
verificar quanto dessa diferença se deve a aspectos produtivos e quanto a aspectos não
produtivos, que geralmente é interpretado como discriminação. Para isto, a metodologia
utilizada foi a de Oaxaca, além disso apresenta-se algumas estatísticas descritivas. O banco de
dados utilizado foi o da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD de 2014. Os
principais resultados mostraram que o componente atribuído a discriminação na maioria das
ocupações explica em sua totalidade o diferencial de rendimento entre os gêneros. A
desvalorização da mão de obra feminina entre ocupações, infelizmente, ainda persiste no
mercado de trabalho brasileiro. Apesar de vir perdendo força nos últimos anos, ainda há muito
o que ser feito neste sentido.
Palavras-chave: Desigualdade; Discriminação Ocupacional; Mercado de Trabalho.
ABSTRACT: The difference of incomes between workers with the same occupations is
remarkable in Brazil. Following this statement, the objective of this research is to verify how
much of the difference is due productive aspects and how much is explained by non-productive
aspects, which are normally understood by discrimination. To achieve that the methodology
applied was the Oaxaca and some descriptive statistics are presented. The database is composed
by PNAD 2014. The main results showed the components linked to discrimination in most of
occupations explain in full the differential of incomes between genders. The devaluation of
women’s work unfortunately remains in Brazilian labor market. Although diminish in the last
few years, there is a lot to be done in this matter.
Key-words: Inequality; occupational discrimination; labor market.
1. INTRODUÇÃO
A desigualdade de renda recebida no mercado de trabalho possui duas explicações: a)
diferenças de produtividade e b) discriminação ou segmentação na remuneração de
trabalhadores com produtividades iguais. No primeiro caso é natural que os trabalhadores com
maior nível de escolaridade e experiência sejam mais produtivos e recebam maiores
remunerações. Nesse caso, o mercado de trabalho age como revelador das desigualdades
educacionais preexistentes na sociedade. No segundo caso, a desigualdade de remuneração é
fruto do processo de discriminação e/ou segmentação. O mercado de trabalho discrimina
quando remunera de forma diferenciada homens e mulheres ou brancos e negros com a mesma
produtividade. O mercado de trabalho é segmentado quando remunera de forma diferenciada
trabalhadores que são perfeitamente substituíveis no processo de produção. Neste caso, o
mercado de trabalho age como gerador das desigualdades de rendimentos (KASSOUF, 2000;
LOUREIRO, 2003; BARROS et al, 2007).
Apesar das mulheres possuírem em média mais anos de estudos que os homens, elas
continuam recebendo salários inferiores, sendo a maior parte dessa diferença é explicada pela
discriminação. Até mesmo quando as mulheres realizam o mesmo trabalho recebem remuneção
inferior à deles (MATOS e MACHADO, 2007). Na investigação das causas da desigualdade
salarial, tornou-se frequente o diagnóstico de que a desvalorização do trabalho feminino seria,
principalmente, devido a inserção ocupacional que os homens e as mulheres estão sujeitos. As
mulheres teriam remunerações menores por usualmente se dedicarem a atividades ligadas aos
cuidados e à reprodução da força de trabalho (serviços, domésticos, saúde e educação) e a
funções de apoio e execução. A população masculina se ocupa, com maior frequência, na
produção, construção, no ramo terciário especializados no suporto à geração de riqueza (crédito,
logística etc.) e desempenham funções de direção e planejamento. Assim as ocupações
masculinas seriam mais pretigisdas e valorizadas. Nesse sentido, esta pesquisa tem como
objetivo principal investigar as diferenças salariais encontrada em grupos ocupacionais
selecionados no mercado de trabalho paranaense (PED, 2014).
A elaboração de políticas públicas que combata eficientemente as desigualdades
salariais por gênero deve distinguir o que é discriminação salarial do que é segregação
ocupacional e qual dos dois está prejudicando mais as mulheres no mercado de trabalho. No
primeiro caso, as mulheres estão ganhando salários menores para os mesmos tipos de trabalhos
realizados por homens. Assim, a mulher será remunerada abaixo de sua produtividade. Já a
explicação de como ocorre a segregação ocupacional é mais complexa e envolve outros fatores.
Nesse caso, ocorre a internalização de estereótipos culturais de gênero pelas próprias mulheres
que afetam as escolhas individuais delas (FRESNEDA, 2007).
Para atingir o objetivo proposto, optamos por trabalhar o tema em quatro seções, além
da presente introdução. Na seção 2, apresentamos uma revisão da literatura sobre a situação da
mulher no mercado de trabalho. A seção 3, por sua vez, foi destinada à apresentação da
metodologia utilizada. A seção 4 foi destinada para a apresentação dos resultados e discussões
e por fim, na seção 5 apresentam-se as considerações finais.
2. A SITUAÇÃO DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO
A participação das mulheres no mercado de trabalho apresentou expressivo crescimento
a partir dos anos 1970, devido ao processo industrialização e urbanização, e continuou
apresentando taxas crescentes de participação até os dias atuais (IKEDA, 2000; QUEIROZ e
MOREIRA, 2009; QUIRINO, 2012). De acordo com dados apresentados por Alves (2013), a
taxa de atividade feminina era de 18,5% em 1970, aumentando para 48,9% em 2010, já a taxa
de atividade masculina era de 71,8% em 1970 caindo para 67,1% em 2010.
No Brasil, a entrada das mulheres no mercado de trabalho ocorreu principalmente no
setor de serviços, em atividades de escritório (funções burocráticas) e em outros serviços, onde
se destaca o serviço doméstico. As características do desenvolvimento econômico brasileiro
foram elementos importantes na determinação dos espaços a serem ocupados pelas mulheres
no mercado de trabalho. Assim, a expansão dos serviços públicos no processo de
industrialização brasileiro foi importante para o crescimento do emprego feminino nas áreas de
saúde, educação e na administração púbica, e indiretamente nas atividades de comércio e dos
serviços pessoais. De acordo com Melo (1998) o aumento da taxa de atividade das mulheres
levou a uma maior diversificação do mercado de trabalho, infelizmente esta diversificação não
significou uma desconcentração do trabalho feminino das atividades tradicionalmente exercidas
por elas, geralmente no setor de serviços e em ocupações que seriam extensões das atividades
domésticas.
No Brasil, uma das características mais marcantes do mercado de trabalho é a
persistência da diferença salarial de gênero, apesar de reduções do hiato salarial nos últimos
anos (LEME e WAJNMAN, 2000; SOARES, 2000; LAVINAS e NICOLL, 2005;
BRUSCHINI, 2007; MACHADO et al. 2007; BANDEIRA et al. 2009; QUEIROS e
MOREIRA, 2009; QUIRINO, 2012;). Nesse sentido, Hoffmann e Leone (2004, p. 37)
argumentam que:
A consolidação da participação da mulher no mercado de trabalho não se
reflete somente na aproximação por sexo das taxas de participação, mas
também na diminuição do hiato salarial entre homens e mulheres. Em 1981, o
rendimento médio do trabalho da mulher equivalia a 55,7% do rendimento
médio do trabalho do homem e essa relação passou a ser de 70,6% em 2002.
A discriminação no mercado de trabalho ocorre quando trabalhadores com
características produtivas similares, tais como: formação educacional, experiência e habilidade,
recebem salários ou tratamento diferenciado, por pertencerem a grupos que possuem certas
características pessoais, como sexo, raça, condição econômica, sem que estas tenham efeito
sobre a produtividade do trabalhador (BECKER, 1957).
Segundo Loureiro (2003, p.127), a discriminação no mercado de trabalho pode ser
classificada em quatro tipos: I) discriminação salarial “[...] significa que trabalhadores do sexo
feminino (negros) recebem salários menores do que do sexo masculino (brancos), fazendo o
mesmo trabalho”. II) discriminação de emprego “[...] ocorre quando mulheres e negros ficam
predominantemente em desvantagem no que se refere à baixa oferta de empregos, sendo,
portanto, os mais atingidos pelo desemprego”. III) discriminação de trabalho ou ocupacional
“[...] significa que mulheres (negros) têm sido arbitrariamente restringidas ou proibidas de
ocupar certas ocupações, mesmo que sejam tão capazes quanto os homens (brancos) de executar
esses trabalhos”. IV) discriminação do capital humano “[...] ocorre quando mulheres (negros)
têm menores oportunidades de aumentar sua produtividade, tais como educação formal ou
treinamento no trabalho”.
Ainda segundo o autor citado anteriormente, os três primeiros tipos de discriminação
são denominados de “postmarket discrimination” ou “discriminação direta”, porque elas são
encontradas no mercado de trabalho depois que os indivíduos foram inseridos. Já o último tipo
de discriminação é denominado de “premarket discrimination” ou “discriminação indireta”,
porque ocorre antes do indivíduo entrar no mercado de trabalho.
Segundo BARROS et al (1997) 80% das mulheres encontram-se em ocupações com
salários abaixo da média, enquanto que apenas 40% dos homens encontram-se nesta situação.
Além disso os autores mostraram que se o diferencial de salário por gênero intra-ocupacional
não existisse, o hiato salarial por gênero poderia ser reduzido em um terço. Cambota e Pontes
(2006) afirmam que o mercado de trabalho pode estar impedindo a entrada de mulheres em
cargos de melhor remuneração, o que contribui para o grau de feminização da pobreza.
Os trabalhos sobre diferenças salariais em geral analisam a diferença salarial devida a
tributos produtivos e também a diferença salarial devido a segregação dos postos de trabalho.
Esta pesquisa se diferencia das demais porque pretende analisar as diferenças salariais dentro
de grupos ocupacionais, dessa forma o aspecto da segregação ocupacional é deixado de lado e
busca-se evidenciar as diferenças salariais dentro de cada grupo ocupacional, assim será
possível identificar as ocupações que apresentam maior discriminação salarial de gênero.
Portanto, o foco principal desta pesquisa é verificar a existência ou não de discriminação de
gênero em grupos ocupacionais homogêneos.
3. METODOLOGIA
O propósito deste estudo é analisar o primeiro tipo de discriminação citada por Loureiro
(2003), ou seja, as diferenças salariais entre os trabalhadores que fazem o mesmo trabalho para
um período mais recente no qual irá privilegiar a análise intra-ocupacinal. Para isto, foram
utilizados dados da PNAD de 2014. Inicialmente, foram calculadas estatísticas descritivas das
variáveis. Em seguida, estimou-se equações mincerianas de salários. Posteriormente, foi
aplicado o método Oaxaca com o objetivo de verificar o nível de discriminação nas ocupações
selecionadas.
Nesta pesquisa foram estimadas duas equações mincerianas pelo método dos mínimos
quadrados ordinários. Uma para determinação de salários por gênero, e a segunda para
determinação de salário por gênero em cada ocupação. O modelo funcional da primeira equação
é a seguinte:
Ln w = β0 + β1Edu+ β2Exp + β3Exp² + β5H + β6B + β7Públi + β8Dire + β9Gerent+ β10Cienci
+ β11Servi + β12Agríco + β13Milita + B14Urb (1)
As variáveis Edu (anos de estudo), Exp e Exp² (experiência e experiência ao quadrado)
são as variáveis de capital humano. As variáveis H e B são binárias para o grupo de vantagem
de homem e branco, respectivamente. Foram excluídos da amostra os amarelos, indígenas e
sem declaração devido á baixa representatividade destes na amostra. Foram utilizadas a
seguintes categorias de ocupações: Públi (poder público), Dire (diretores), Gerent (gerentes e
supervisores), Cienci (Profissionais das ciências e artes), Servi (serviços administrativos),
Agríco (trabalhadores de atividade agrícolas), Milita (militares). A ocupação “técnicos” foi
excluída do modelo para evitar colinearidade. Por fim, foi inserida a variável binária Urb para
o meio geográfico urbano, esta variável mede os ganhos salariais dos trabalhadores residentes
no meio urbano sobre os trabalhadores que residem no meio rural.
A segunda equação para determinação de salário por gênero em cada ocupação é
apresentada a seguir:
Ln w = β0 + β1Edu+ β2Exp + β3Exp² + β4B + β5Urb (2)
Na equação (2) foram suprimidas da equação (1) as categorias de ocupações e grupo em
vantagem homem. Assim, aplicou-se a equação (2) para cada ocupação com o intuito de
verificar as diferenças entre coeficientes de cada ocupação por gênero.
Para fazer a seleção do banco de dados e análise estatística dos mesmos foi utilizada o
software Stata 13. Foi selecionada a população ocupada, residente no Estado do Paraná, com
idade entre de 18 a 75 anos. A escolha do Paraná justifica-se, uma vez que o estado se encontra
entre as últimas posições na classificação do Índice Nacional de Desigualdade de Gênero –
INDG.
Em estimação de equações de salário existe a possibilidade de viés de seleção amostral
devido a não observação de oferta de mão de obra de indivíduos cujo salário reserva se encontra
acima do salário oferecido pelo mercado. O procedimento para corrigir esse viés foi
desenvolvido por James Heckman e leva o sobrenome de seu criador, este procedimento
consiste em calcular uma equação de participação no mercado de trabalho (do tipo probit), esta
equação gera a razão entre a função de densidade amostral e a função de distribuição amostral
subtraída de uma unidade. Tal razão é conhecida como razão inversa de Mills e deve ser
adicionada como regressora da equação de determinação de salário (FIUZA-MOURA, 2015).
Esta pesquisa aplicou o procedimento de Heckman nas equações de determinação de salário,
contudo, estas não foram significativa. Desta forma, optou-se por descartar o procedimento.
Como o período analisado foi 2014, um dos motivos para o procedimento não ter sido
significativo pode ser os reflexos iniciais da crise brasileira, dessa forma os indivíduos poderiam
estar dispostos a entrar no mercado de trabalho a qualquer nível de salário, assim o salário
reserva não foi importante na decisão de entrar no mercado de trabalho.
A decomposição de Oaxaca (1973) é utilizada para avaliar quanto da diferença de
rendimentos pode ser explicada por diferenças de produtividades entres os sexos e quanto se
deve ao fato das mulheres receberem menos apenas por serem mulheres. Esta decomposição
consiste em segundo Leme e Wajnman (2000) em:
a) Estimar equações de salários tipo minercianas de homens e mulheres:
Ln wm = αm + βm i Xmi + µmi (3)
Ln wf = αf + βfi Xfi + µfi (4)
Em que ln w é o logaritmo do salário; α é o intercepto da regressão; X é o vetor das
variáveis de capital humano (que determina o rendimento do trabalho individual conforme a
produtividade do); β é o vetor dos coeficientes; e μ é o erro ou termo estocástico. Os subescritos
m e f representam as variáveis masculina e feminina. E o subscrito i representa o número de
indivíduos participantes da amostra.
A diferença entre as equações (3) e (4) é a diferença de rendimento entre os gêneros. A
barra sobre X indica o valor médio.
__ ___ ___ __ __
Δw = Lnwm – Lnwf = (αm – αf) + βmX m – βfXf (5)
Para aplicação da decompaosição de Oaxaca (1973) deve-se realizar uma subtração e
uma soma de uma média na equação (5), que é obtida pelo produto dos coefientes da regressão
das mulheres, o grupo em desvantagem, e a média dos atributos dos homens, o grupo em
vantagem1.
____ ____ __ __ __ __
Lnwm – Lnwf = (αm – αf) + βmX m – βfXf + βfXm – βfXm (6)
Após alguns ajustes na equação (6), obtem-se a seguinte equação para o modelo:
____ ____ __ __ __
Lnwm – Lnwf = (αm – αf) + Xm (βm –βf) + βf (Xm – Xf) (7)
Os termos (αm – αf) + Xm (βm –βf), indicam a diferenças de rendimentos devido a
discriminação salrial contra as mulheres, já o termo βf (Xm – Xf) mede as diferenças de
rendimentos devido as difernças de atributos produtivos entre os trabahadores, tais como
educação e experiência.
Em resumo, a metodologia adotada nesta pesquisa consiste em estimar as equações de
salário tipo minercianas e decompor o diferencial de salários através da decomposição de
Oaxaca para o modelo apresentado, com o objetivo de verificar a extência ou não de
discriminação dentro de cada ocupação selecionada.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Durante décadas o mercado de trabalho foi predominantemente masculino, uma vez que
eles eram considerados os provedores da familia e a mulher cabia o papel de cuidar da casa e
dos filhos, contudo, nos últimos anos a taxa de atividade feminina vem crescendo, o que reflete
uma mudança no papel social da mulher. Apesar de que a grande maioria das mulheres ainda
enfrenta uma dupla jornada de trabalho (trabalho formal e o dosméstico), aos poucos esse tabu
1 Para mais informações ver: Silva e Kassouf (2000).
vem sendo quebrado, claro que ainda se está muito longe de uma igualdade de gênero de fato,
o importante é que esse caminho já começou a ser trilhado.
O estado do Paraná em 2014 possuía uma população de 11.105.410 habitantes, dos quais
5.461.803 correspondiam a população ocupada com idade entre 18 e 75 anos. Desse total,
3.065.897 eram homens ou 56,13% e 2.395.906 ou 43,87% eram mulheres. A Tabela 1 mostra
que a desigualdade de taxas de atividade entre os gêneros ainda persiste atualmente, com uma
diferença de aproximadamente 12 p.p.
Tabela 1 – Distribuição da população ocupada por gênero em 2014.
População Ocupada (PO) %
Mulheres 2.395.906 43,87
Homens 3.065.897 56,13
Total 5.461.803 100
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da PNAD/IBGE – 2014.
Na Tabela 2 é possível verificar a distribuição da população ocupada por ocupações
selecionadas. Observa-se que a grande maioria da população paranaense está trabalhando nos
Serviços com 63,96%, a segunda ocupação com maior percentual é a atividade Agrícola com
11,81%, já a terceira ocupação mais frequente é a das Ciências e Letras com 10,36%.
Tabela 2 – Distribuição da população ocupada segundo ocupações selecionadas em 2014.
Gerentes
Poder
Público Diretores Técnicos Militares Ciências Serviços Agrícolas Total
4,91% 0,19% 1,58% 6,60% 0,58% 10,36% 63,96% 11,81% 100,00%
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da PNAD/IBGE – 2014.
Como o objetivo desta pesquisa é verificar o grau de discriminação por gênero dentro
de cada ocupação, na Tabela 3 é possível verificar a taxa de atividade por gênero em cada
ocupação selecionada. Percebe-se que os homens são maioria em quase todas as ocupações,
exceto nas Ciências e Letras, onde as mulheres representam 65,13%. Esta é uma ocupação
tipicamente feminina. Uma ocupação masculina que apresenta um percentual muito elevado é
a de Militares com 90,30% de homens. As ocupações Agrícolas, Gerentes e Diretores também
apresentam uma taxa de atividade masculina muito acima da PO masculina com 65,15%, 64,17
e 62,29%, respectivamente. Já nas ocupações dos Serviços, Poder Público e Técnicos, as taxas
de atividade masculinas e femininas são bem mais próximas das taxas da PO de cada gênero.
Pode-se concluir que os homens apresentam taxas de atividades acima da média em ocupações
de maior prestígio e remuneração que as mulheres.
Tabela 3 – Distribuição da população ocupada segundo o gênero nas ocupações selecionadas
em 2014.
Gênero Gerentes
Poder
Público Diretores Técnicos Militares Ciências Serviços Agrícolas
Homens 64,17 54,19 62,29 53,58 90,30 34,87 57,10 65,15
Mulheres 35,83 45,81 37,71 46,42 9,70 65,13 42,90 34,85
Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da PNAD/IBGE – 2014.
Uma das abordagens mais usadas para avaliar a magnitude das diferenças salariais no
mercado de trabalho consiste em comparar os rendimentos médios por hora trabalhada entre os
gêneros. A Tabela 4 mostra que os rendimentos médios por hora trabalhada das mulheres são
inferiores em todas a ocupações, principalmente na Agrícola, Poder Público e Diretores, nessas
ocupações o rendimento feminino corresponde a apenas 40%, 53% 55%, do rendimento
masculino, respectivamente (medido pela “Taxa” última linha da tabela). Assim, exceto na
ocupação Agrícola, as ocupações do Poder Público e Diretores são as que apresentaram os
maiores rendimentos por hora trabalhada, indicando que as mulheres ganham muito menos,
justamente nas ocupações que apresentam maiores remunerações. As ocupações que
apresentaram as menores diferenças salarias foram as dos Militares e Gerentes, na qual o
rendimento hora das mulheres correspondia a 95% dos homens militares e 87% dos homens
gerentes.
Tabela 4 – Rendimento médio em Reais por hora trabalhada das pessoas ocupadas segundo o
gênero em 2014.
Gênero Gerentes Diretores
Poder
Público Técnicos Militares Ciências Serviços Agrícolas
Homens 23,42 33,89 44,00 19,71 19,23 28,88 11,21 7,6
Mulheres 20,41 18,62 23,35 13,6 18,34 21,79 8,29 3,06
Taxa 0,87 0,55 0,53 0,69 0,95 0,75 0,74 0,40
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da PNAD/IBGE – 2014.
A Tabela 5 apresenta as estimativas das funções de salário da mão de obra feminina e
masculina em 2014. Os resultados mostraram sinal positivo para a educação e experiência,
dessa forma, quando ocorre aumento nessas variáveis, tanto para homens como para mulheres,
os salários aumentam. Estes resultados condizem com os postulados da teoria do capital
humano.
Nota-se que o teste “t” foi altamente significativo, com os níveis de significância de 1%
e 5%, o que indica que as variáveis escolhidas explicam perfeitamente a variação do logaritmo
do salário hora. O valor do coeficiente de determinação R² indica que as variáveis explicativas
escolhidas para a análise explicam em 31,06% das mudanças da variável dependente (logaritmo
do salário hora) para o ano 2014.
Tabela 5 – Estimativas das funções de salário no mercado de trabalho paranaense por gênero
em 2014.
Variáveis Mulher Teste t Homem Teste t
Educação 0,048264 14,59** 0,046916 17,32**
Experiência 0,028403 9,93** 0,036099 16,06**
Experiência² -0,00047 -7,61** -0,00048 -11,08**
Branco 0,137836 6,77** 0,144068 8,06**
Urbano 0,159769 4,21** 0,13176 4,15**
Poder Público 0,512421 2,37** 0,817075 2,95**
Diretores 0,242134 2,34* 0,402256 2,49**
Gerentes 0,2798 3,87* 0,180826 3,38**
Ciências 0,302268 6,1** 0,301961 5,53**
Serviços -0,24901 -6,15** -0,29636 -7,57**
Militar 0,556426 5,7** 0,171048 2,24*
Agrícola -0,32265 -3,88** -0,52306 -9,94**
Constante 1,181543 16,53** 1,36214 21,38**
R2 0,3106 0,3198
Teste F 123,14 165,03
N° de
Observações 3853 5155
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da PNAD/IBGE – 2014. Nota: * nível de significância de 5%. ** nível de significância de 1%
A Tabela 6 apresenta a decomposição de Oaxaca, usada para medir a diferença salarial
na ocupação de Gerentes. Observa-se que toda a diferença no salário hora foi devido a
discriminação, uma vez que 130,23% da diferença salarial não é explicada por características
produtivas e a diferença explicada foi de -30,23%, o sinal negativo desse coeficiente indica que
as mulheres possuem mais atributos produtivos que os homens nesta ocupação.
Tabela 6 – Decomposição de Oaxaca para diferença de rendimentos salariais entre homens e
mulheres na ocupação de Gerentes em 2014.
Grupo Coeficiente Participação Relativa
Homens 2,896249 -
Mulheres 2,702511 -
Diferença Total 0,1937373 -
Explica Total -0,0585687 -30,23%
Discriminação 0,252306 130,23%
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da PNAD/IBGE – 2014.
A ocupação de Dirigentes foi uma das que apresentou maior diferença em termos de
salário hora como pode ser revisto na Tabela 4, em termos de discriminação foi a que apresentou
menor percentual, apesar de ainda ser elevado. A diferença salarial explicada por aspectos
produtivos foi 11,93%, isto significa que os homens possuem mais características produtivas
que as mulheres e assim parte da diferença salarial tem explicação com base na produtividade,
contudo o restante da diferença salarial não é explicado pelas características produtivas ocorre
simplesmente porque o trabalhador é do sexo feminino. Este percentual equivale a 88,07% e
pode ser verificado na Tabela 7.
Tabela 7 – Decomposição de Oaxaca para diferença de rendimentos salariais entre homens e
mulheres na ocupação de Diretores em 2014.
Grupo Coeficiente Participação Relativa
Homens 3,199969 -
Muheres 2,635411 -
Diferença Total 0,564558 -
Explica Total 0,067309 11,93%
Discriminação 0,497249 88,07
Com relação a ocupação do Poder Públicos não esperava-se encontrar discriminação,
uma vez que os salários são determinados por cargos, no entanto, pode ser verificado na Tabela
8 que foi justamente nesta ocupação que o componente atribuído a discriminação apresentou
maio valor, equivalendo a 160,17%. A diferença salarial devido aos atributos produtivos
correspondeu a -60,17%. Conclui-se a existência de discriminação hierárquica, ou seja, os
homens desta ocupação estão cargos que remuneram melhor e como o sinal da diferença
explicada foi negativo isto significa que eles tem menos atributos produtivos que elas, dessa
forma, se o trabalho fosse remunerado por produtividade as mulheres deveriam receber
remunerações maiores que os homens.
Tabela 8 – Decomposição de Oaxaca para diferença de rendimentos salariais entre homens e
mulheres na ocupação de Poder Público em 2014.
Grupo Coeficiente Participação Relativa
Homens 3,467644 -
Mulheres 2,950878 -
Diferença Total 0,516766 -
Explica Total -0,31097 -60,17%
Discriminação 0,827734 160,17%
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da PNAD/IBGE – 2014.
Na Tabela 9 apresenta-se os resultados para a ocupação de Técnicos, o componente
atribuído aos aspectos produtivos é responsável por 7,30% da diferença salarial. O restante da
diferença é atribuído ao componente de discriminação que totalizou 92,70%. Portanto, a maior
parte da diferença salarial dentro dessa ocupação não se deve a aspectos produtivos dos
trabalhadores, mas sim à características pessoais destes.
Tabela 9 – Decomposição de Oaxaca para diferença de rendimentos salariais entre homens e
mulheres na ocupação de Técnicos em 2014.
Grupo Coeficiente Participação Relativa
Homens 2,634411 -
Mulheres 2,337694 -
Diferença Total 0,296717 -
Explica Total 0,0216342 7,30%
Discriminação 0,2750828 92,70%
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da PNAD/IBGE – 2014.
A ocupação de Ciências e Letras é a uma ocupação predominantemente feminina,
contudo, mesmo nesta ocupação o componente atribuído a discriminação é expressivo,
totalizando 100,78% como pode ser visto na Tabela 10. Isto significa que toda a diferença
salarial não é explicada por características produtivas, mas sim pela discriminação. O
componente que explica a diferença salarial apresentou coeficiente negativo, indicando que os
atributos produtivos das mulheres são maiores que dos homens.
Tabela 10– Decomposição de Oaxaca para diferença de rendimentos salariais entre homens e
mulheres na ocupação de Ciências e Letras em 2014.
Grupo Coeficiente Participação Relativa
Homens 3,048184 -
Mulheres 2,747492 -
Diferença Total 0,300692 -
Explica Total -0,00237 -0,78
Discriminação 0,303058 100,78
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da PNAD/IBGE – 2014.
Foi na ocupação agrícola que o salário médio por hora era extremamente baixo (ver
Tabela 5), assim, além do baixo salário das mulheres nessa ocupação, ainda se verificou um
elevado grau de discriminação. A Tabela 11 apresenta os resultados referente a ocupação
Agrícola, verificou-se que 4,91% da diferença salarial nesta ocupação é causada pela diferença
de atributos produtivos entre os gêneros. O componente não explicado pelas diferenças
produtivas foi de 95,09%.
Tabela 11 – Decomposição de Oaxaca para diferença de rendimentos salariais entre homens e
mulheres na ocupação Agrícola em 2014.
Grupo Coeficiente Participação Relativa
Homens 1,845188 -
Mulheres 1,643591 -
Diferença Total 0,201597 -
Explica Total 0,009906 4,91
Discriminação 0,191691 95,09
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da PNAD/IBGE – 2014.
Na Tabela 12 apresenta-se os resultados referente a ocupação de Serviços, as taxas de
atividade nesta ocupação é similar a taxa de ocupação geral. Novamente, percebe-se que o
componente atribuído a discriminação explica 105,92% da diferença salarial, ou seja, isto
significa que toda a diferença salarial é devido a discriminação, e além disso o componente
atribuído aos aspectos produtivos apresentou sinal negativo -5,92, indicando que as mulheres
nesta ocupação possuem mais características produtivas que os homens.
Tabela 12 – Decomposição de Oaxaca para diferença de rendimentos salariais entre homens e
mulheres na ocupação de Serviços em 2014.
Grupo Coeficiente Participação Relativa
Homens 2,195615 -
Mulheres 1,942688 -
Diferença Total 0,2529271 -
Explica Total -0,0149764 -5,92
Discriminação 0,2679035 105,92
Fonte: Elaboração própria a partir dos microdados da PNAD/IBGE – 2014.
Os principais resultados encontrados por esta pesquisa foram que: Apesar da maior
inserção feminina no mercado de trabalho os homens continuam sendo a maioria da População
Ocupada (PO). A única ocupação onde as mulheres representam a maioria foi na ocupação da
ciências e letras, uma ocupação considerada tipicamente feminina. O rendimento por hora
feminino é inferior ao rendimento por hora masculino em todas as ocupações, principalmente,
nas ocupações que pagavam mais por hora trabalhada. Portanto, a desigualdade é maior
justamente nas ocupações que apresentam remunerações mais altas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A desigualdade de renda é uma característica marcante do mercado de trabalho
brasileiro, tornando-se um problema, à medida que trabalhadores com características produtivas
similares recebem remunerações diferenciadas com base em atributos pessoais tais como a cor
ou a raça. Esse artigo traz de novo o recorte ocupacional para a análise, possibilitando verificar
se a diferença salarial dentro de cada ocupação se deve à atributos produtivos ou não.
Ao longo dos últimos anos com o aumento da taxa de atividade feminina, o perfil da
mulher no mercado de trabalho modificou-se, agora a maioria delas são casadas e com filhos.
Isto reflete uma importante mudança na estrutura dessa sociedade ainda muito patriarcal. A
maior inserção e valorização da mão-de-obra feminina no mercado de trabalho, refletem-se nas
Quadro 1 – Resumo dos resultados da decomposição de Oaxaca por ocupações
Ocupação Parte explicada Parte não Explicada
Gerentes -30,23% 130,23%
Diretores 11,97% 88,07%
Poder Público -60,17% 160,17%
Técnicos 7,30% 92,70%
Ciências e Letras -0,78% 100,78%
Agrícola 4,91% 95,09%
Serviços -5,92% 105,92%
reduções do hiato salarial entre os gêneros. No entanto, ainda há um grande caminho a ser
percorrido para sociedade mais igualitária.
Os principais resultados foram que independente da ocupação o componente atribuído
a discriminação é maior que 85%. Na maioria das ocupações não foi encontrado atributos
produtivos a favor do sexo masculino, ou seja, as mulheres possuíam mais atributos produtivos
que os homens. A ocupação do Poder Público apresentou o maior grau de discriminação, esta
discriminação é chamada de discriminação hierárquica. Os homens estão alocados nas
ocupações que apresentam maior prestígio e remuneração e até mesmo na ocupação que as
mulheres predominam (Ciências e Letras) o grau de discriminação encontrado foi
extremamente elevado.
Diante do resultado exposto por esta pesquisa, fica evidente a existência de
discriminação ocupacional no mercado de trabalho paranaense. Assim, apesar do Brasil ter
avançado em direção de uma maior igualdade entre os gêneros, ainda são necessárias ações
sérias e comprometidas do poder público que visem proporcionar melhores condições no acesso
à educação e igualdade no mercado de trabalho entre mulheres e homens, bem como políticas
que visem à redução da pobreza. Além disso, é necessário que a população como um todo se
conscientize de que a desvalorização da mão-de-obra feminina é algo que deve ser
urgentemente banido da sociedade.
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