algumas doenças em aves anrnamentais

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ALGUMAS DOENAS DE AVES ORNAMENTAIS

Zalmir Silvino Cubas Departamento de Meio Ambiente Foz do Iguau, Paran [email protected]

Silvia Neri Godoy Comisso Nacional de Biodiversidade Ministrio do Meio Ambiente, Braslia, DF [email protected]

DOENAS BACTERIANAS

Inmeras so as doenas bacterianas que afetam as aves ornamentais, sejam como agentes primrios ou secundrios. Nas aves as bactrias Gram negativas so consideradas as mais patognicas. As bactrias Gram positivas tambm possuem importncia na clnica aviria, mas normalmente tm menos importncia como agentes primrios, sendo consideradas agentes oportunistas em animais imunodeprimidos. Dentre as bactrias Gram negativas que acometem as aves destacam-se Escherichia coli, Salmonella sp, Klebsiella sp, Proteus sp, Bordetella sp, Citrobacter freundii e Pseudomonas sp e Yersinia sp. J as bactrias Gram positivas mais comuns so Staphylococcus sp, Streptococcus sp, Enterococcus sp, Bacillus cereus e Clostridium sp.

Bactrias Gram Negativas

ESCHERICHIA COLI (COLIBACILOSE)

A Escherichia. coli faz parte da flora bacteriana normal do homem e dos animais, sendo o representante mais comum das Enterobactrias. Pode causar doena clnica em aves imunossuprimidas, algumas vezes associada a outras Enterobactrias ou leveduras oportunistas como a Candida sp. Algumas cepas de E. coli apresentam um grau maior de patogenicidade e so consideradas agentes primrios nas infeces. Os sinais clnicos dependem do local da infeco e so geralmente inespecficos, incluindo letargia, penas arrepiadas, anorexia, diarria, poliria, conjuntivite, rinite, dispnia, inchao articular, sinais nervosos, edema subcutneo, perda de peso e vmito. Em filhotes comum ocorrer morte sbita, retardo no crescimento, diarria, onfalite, abdmen distendido e desidratao.

Algumas cepas de E. coli so capazes de destruir e colonizar o epitlio intestinal induzindo enterite pseudomembranosa ou ulcerativa, e as aves afetadas morrem de forma aguda ou desenvolvem sintomas associados ao trato digestivo. As leses nos sacos areos podem ser severas e determinar poliserosite fibrinosa por continuidade. Ocasionalmente h leses oculares, nervosas e artrite serofibrinosa como seqela. A inflamao do crebro e meninges pode ser decorrente de uma infeco nos seios, cavidade nasal, cavidade ocular ou resultado direto de uma bacteremia ou septicemia. Pode ocorrer pneumonia em filhotes que receberam grande carga do agente infectante, sendo alguns dos sinais clnicos dispnia e cianose. A Escherichia coli pode ser isolada do sangue cardaco, fgado, bao, pulmo e saco areo, geralmente em animais imunossuprimidos. A exposio ao agente pode ser favorecida pela higiene precria, contaminao fecal da gua, do alimento e do ambiente onde o animal vive. A colibacilose freqente em animais vtimas do trfico, que so mantidos em condies inadequadas de higiene, mal alimentados e aglomerados em local com grande nmero de indivduos, favorecendo a disperso e colonizao bacteriana nos vrios rgos. Os principais achados necroscpicos em animais com colisepticemia so severa atrofia da musculatura peitoral, penas descoloridas e sujas de fezes, hepatomegalia com pontos amarelados no parnquima, opacificao dos sacos areos, hiperemia da mucosa intestinal, esplenomegalia e palidez do bao e poliserosite fibrinosa dependendo da cronicidade da doena. Ao exame histopatolgico pode-se ver necrose heptica periportal, depleo linfide severa associada a exsudato fibrinoso no bao e aerosaculite fibrinosa, pneumonia fibrinosa, vasculite, pericardite, artrite, rinite, salpingite fibrinosa, ooforite, enterite catarral, pseudomembranosa ou ulcerativa e microgranulomas no fgado, rim, bao e subserosa do intestino. Tambm bastante comum o quadro de ingluvite fngica associada, decorrente de um quadro de imunossupresso. O tratamento das aves adultas e dos filhotes consiste de antibiticos de amplo espectro de ao, suplementos vitamnicos, dietas balanceadas e manejo sanitrio adequado. As aves em estado grave devem ser mantidas aquecidas e devem receber alimentao forada e reposio eletroltica.

SALMONELLA SP (SALMONELOSE)

A Salmonella sp patognicas para mamferos, aves, rpteis e insetos. Existem mais de 1800 sorotipos que produzem diferentes sndromes nas diversas espcies acometidas. considerado um patgeno primrio e alguns sorotipos podem penetrar at mesmo na mucosa ntegra. Os sorotipos no invasivos podem resultar em animais carreadores. A contaminao geralmente ocorre pela ingesto de gua ou alimentos contaminados, mas tambm pode haver inalao de aerossis das fezes. Animais com infeces crnicas so fontes de contaminao e aves de vida livre podem ser carreadoras e servirem como reservatrios para animais mantidos em cativeiro. Roedores, moscas e outros vermes servem como vetores. A salmonelose contagiosa e os psitacdeos so bastante sensveis s infeces e ocorre mortalidade nestas aves. As espcies patognicas mais freqentes so Salmonella typhimurium e S. enteritidis. Em um mesmo hospedeiro pode haver cepas virulentas e no virulentas simultaneamente. A progresso da doena nas aves depende do sorotipo e nmero de bactrias infectantes, bem como da idade, espcie e condio geral do hospedeiro. As aves que apresentam ceco involudo ou ausncia de ceco parecem ser mais suscetveis infeco do que as que possuem o rgo funcional. Isso pode ser explicado pela presena de determinados tipos de bactrias no ceco que poderiam funcionar como competidoras da Salmonella sp, alterando o pH do ceco, ocupando stios de aderncia especficos e produzindo cidos graxos volteis. As infeces agudas so caracterizadas por sinais inespecficos, tais como letargia, anorexia, polidipsia, diarria, poliria, alteraes respiratrias, oculares e nervosas, depresso, perda de peso, convulso, desidratao, paralisia do inglvio e morte sbita. As infeces crnicas podem causar pericardite e epicardite fibrinosa, formao de granulomas no fgado, bao e rim, e degenerao ou inflamao dos testculos e ovrio. Dermatite granulomatosa descrita em diversas espcies e a infeco pode ser induzida por picadas de mosquitos e outros insetos. Os achados anatomopatolgicos so compatveis com septicemia e as leses observadas so hepatomegalia, esplenomegalia, pneumonia, enterite catarral hemorrgica, poliserosite, degenerao ou necrose muscular, aerosaculite e nefropatia. Pode tambm ocorrer meningite e osteoartrite. As alteraes histopatolgicas no so especficas, sendo algumas vezes possvel visualizar bactrias nos cortes histolgicos associadas massa compacta de granulcitos e

macrfagos. As leses mais freqentes so inflamaes agudas associadas a mltiplos focos de necrose no fgado, pulmo, bao e mucosa intestinal. As cepas de Salmonella sp. isoladas de animais de companhia no so consideradas agentes patognicos importantes para o homem, mas podem ocasionar doena em crianas, idosos e indivduos imunossuprimidos, causando principalmente gastrenterites. O tratamento preconizado a utilizao de antibiticos nas quais as cepas sejam sensveis, associado a imunoestimulantes e vitaminas. O manejo sanitrio fundamental.

BORDETELLA SP

A Bordetella avium pode estar na flora bacteriana normal do trato respiratrio das aves. Tem tropismo por clulas epiteliais ciliadas do trato respiratrio superior, podendo causar infeces neste sistema. No h muitas informaes sobre a patogenia da Bordetella sp, mas pode estar associada a infeces virais, fngicas ou por outras bactrias Gram negativas. Bordetella avium e B. bronchiseptica infectam uma grande variedade de aves, sendo os psitacdeos particularmente susceptveis. As infeces no trato respiratrio provocam rinite, sinusite, pneumonia e aerosaculite. As leses necroscpicas incluem traquete, broncopneumonia e aerosaculite subcrnicas ou crnicas. A confirmao do agente feita pelo isolamento microbiolgico. O tratamento preconizado consiste de antibiticos que alcancem boas concentraes no sistema respiratrio como a enroflocaxina e norfloxacina, imunoestimulantes e vitaminas.

CHLAMYDOPHILA PSITTACI (CLAMIDIOSE)

A Chlamydophila psittaci est atualmente classificada como bactria gram negativa, sendo um parasita intracelular obrigatrio que acomete aves, mamferos e rpteis. Representa uma das principais zoonoses de origem aviria, apesar da incidncia em humanos ser muito baixa quando comparada ao nmero estimado de aves portadoras. Aproximadamente 160 espcies de aves so reconhecidas como portadoras desse agente e os psitacdeos representam cerca de 25% desta estatstica. A virulncia e patogenicidade variam conforme a cepa infectante, grau de exposio e fatores relativos ao hospedeiro e ao ambiente.

A transmisso do agente ocorre principalmente por via aergena. As aves portadoras, mas sem doena clnica, podem eliminar o microrganismo ativamente, contaminando assim o ambiente, outros animais e o prprio homem. Pesquisas recentes desenvolvidas em criatrios e zoolgicos brasileiros tm mostrado alta prevalncia de animais portadores.23 Embora a grande maioria das infeces por C. psittaci em aves seja inaparente, a doena clnica induzida por fatores estressantes associados ao manejo inadequado, como m nutrio e excesso populacional. Os sinais clnicos podem ser agudos, subagudos ou crnicos e variam em funo do estado imunitrio do animal, da espcie hospedeira, da patogenicidade do microorganismo, grau de exposio ao agente, porta de entrada e presena concomitante de outras doenas. Os sinais clnicos que podem ser observados so depresso, anorexia, desidratao, blefarite, ceratoconjuntivite, asas pendentes, tremores, alm de transtornos respiratrios, digestivos, urinrios e neurolgicos. Indivduos dos gneros Amazona (papagaios) e Ara (araras), bem como aves jovens, so considerados mais susceptveis infeco aguda fatal. As leses variam de acordo com a evoluo da doena, observando-se com freqncia esplenomegalia, hepatomegalia com focos necrticos, sinusite, enterite catarral e aerosaculite. Os achados histopatolgicos observados so hepatite necrtica granulomatosa associada a severo infiltrado inflamatrio predominantemente mononuclear e presena de clulas gigantes, moderada depleo linfide, associada a infiltrado granuloctico e enterite sub crnica. Ingluvite fngica est constantemente associada clamidiose devido baixa imunidade dos animais. O diagnstico definitivo s obtido aps o isolamento ou deteco do agente etiolgico. Porm, no exame citolgico de fgado e bao corados com Gimenez modificado possvel em algumas situaes visualizar incluses de corpos elementares e reticulares corados em vermelho, sugestivas de corpsculos de Chlamydophila psittaci. Em clnicas veterinrias tm sido usados kits para diagnstico de clamidiose humana ou veterinria, que do resultados rpidos, mas no confiveis. Os testes sorolgicos mais empregados so aglutinao de corpos elementares e imunofluorescncia indireta. O isolamento da Chlamydophila por cultura requer laboratrios especializados, sendo de pouca utilidade prtica na rotina da clnica veterinria. O diagnstico definitivo feito pela deteco do agente etiolgico por DNA-PCR (Reao em Cadeia pela Polimerase) em amostras (swab) de cloaca ou coana ou dos rgos mais acometidos: fgado, bao e sacos areos.

No tratamento emprega-se a doxiciclina, que pode ser na forma injetvel nas primeiras semanas, utilizando-se produto prprios para uso em aves e por esta via (produzido na Austrlia e outros pases) e posteriormente doxiciclina por via oral por pelo menos 45 dias. A oxitetraciclina por via injetvel pode ser uma opo para as primeiras semanas de tratamento, mas pode causar leses musculares nos locais de injeo. A clortetraciclina na gua ou comida foi utilizada por muitos anos no tratamento preventivo e curativo da clamidiose. Apesar de no sendo a droga de eleio para o tratamento curativo, pode ser utilizada com sucesso. Em um estudo, o uso de hiclato de doxiciclina na gua de bebida na concentrao de 200 a 600 ppm apresentou bom resultado em psitacdeos domsticos, porm, deve-se estar sempre atento para o risco de intoxicao. Por ser uma zoonose, so necessrias medidas rgidas de controle dessa doena nas instituies ou no ambiente domstico. Alguns procedimentos que devem ser adotados so restringir o contato de aves positivas com pessoas e pblico visitante; notificar a ocorrncia da doena s autoridades sanitrias; testar aves suspeitas e aves que tiveram contato com aves positivas por PCR e acompanhar a evoluo da doena no plantel; e isolar e tratar aves positivas ou suspeitas.

MYCOBACTERIUM SP. (TUBERCULOSE AVIRIA)

O Mycobacterium sp uma bactria Gram negativa que merece destaque pelo seu potencial zoontico. As aves so hospedeiras primrias do complexo Mycobacterium aviumintracellulare (M. avium e M. intracellulare de difcil diferenciao, mas sorologicamente distintas), mas podem se infectar com o complexo Mycobacterium tuberculosis (M. tuberculosis, M. bovis e outros). O Mycobacterium genavense comum em aves mantidas em zoolgicos no hemisfrio norte. Todas as aves so suscetveis mycobacteriose, mas as mais acometidas so os anatdeos, galinceos, psitacdeos, pssaros, pombos e aves de rapina. A infeco d-se pela ingesto do agente infeccioso, inalao de aerossis de fezes contaminadas, por artrpodes que podem servir como vetores e pelo meio ambiente (gua de lagos, gua de bebida, solo e material de ninho e cama contaminados). A mycobacteriose ou tuberculose aviria afeta principalmente o trato intestinal, mas tambm o fgado, medula ssea, pulmes, sacos areos, bao, pele, gnadas e raramente o pncreas. Leses nos pulmes so ocasionalmente vistas, e ocorrem provavelmente pela inalao do agente infeccioso.

Os sintomas variam conforme as leses e rgos afetados. A forma aguda pode determinar morte sbita. A doena crnica debilitante e os sinais clnicos incluem perda de peso, depresso, diarria, poliria e no resposta clnica aos antibiticos convencionais. Outros sinais so plumagem descolorida, distenso abdominal, claudicao e presena de massas nos tecidos subcutneos e conjuntival. Pode ocorrer dispnia em aves com envolvimento pulmonar. Os adultos geralmente desenvolvem a forma crnica debilitante e os indivduos imaturos a forma subclnica. A patogenia varia conforme a espcie infectada e sorovar da bactria envolvida. A presena de granulomas na parede intestinal, fgado, bao, medula ssea e pulmo caracterstica da infeco por M. avium. Tubrculos na pele so raros, mas podem estar presentes como ndulos de diversos tamanhos, repletos de material fibrinoso amarelado. Na necropsia pode ocorrer hepatomegalia, esplenomegalia e espessamento de parede de trato digestivo, e tambm acmulo de gordura intracavitria. Histologicamente, os ndulos so caracterizados por um grande nmero de clulas epiteliides, clulas gigantes e heterfilos, com necrose central e calcificao em casos crnicos. O diagnstico feito pela visualizao do bacilo nas fezes das aves suspeitas ou nos tecidos (bipsia ou necropsia) por exames histolgicos. Corando-se esfregaos de fezes ou cortes histopatolgicos com a colorao especfica de Ziehl-Neelsen podem ser visualizados bacilos lcool-cido resistentes. Entretanto, o diagnstico definitivo e a determinao da espcie de Mycobacterium so feitos pela cultura, extrao do DNA ou por PCR (reao em cadeia pela polimerase) em tecidos frescos ou fixados em formol, meios de cultura e fezes. O tratamento longo e desaconselhvel por se tratar de uma zoonose. Se for institudo tratamento, pode-se utilizar uma combinao de azitromicina, etambutol e rifabutina ou claritromicina, etambutol e rifabutina ou qualquer uma dessas drogas com uma fluoroquinolona (enrofloxacina) ou aminoglicosdeo (amicacina ou gentamicina). A quarentena e exame das novas aves que chegam ao plantel so as medida mais eficazes para prevenir a introduo do agente numa coleo. As aves que tiveram contato com aves positivas devem ser mantidas em quarentena por dois anos e ser submetidas a exames peridicos de sorologia e anlise de amostras fecais com colorao cido-resistente. A higiene das instalaes de quarentena fundamental para evitar a disseminao da doena. Bactrias Gram Positivas

STAPHYLOCOCCUS SP.

O Staphylococcus sp encontrado na flora bacteriana da pele e do trato respiratrio de animais sadios. A patogenicidade destes organismos pouco compreendida, pois uma mesma cepa que causa doena em uma determinada ave pode no ser patognica em outra da mesma espcie. Para a doena ocorrer, necessrio um desequilbrio nas defesas naturais do organismo e que haja condies propcias, tais como leses na pele ou mucosa e depleo do sistema imunolgico. O Staphylococcus aureus o agente mais comum nos quadros mrbidos e pode ser considerado agente primrio em algumas afeces. O Staphylococcus sp a bactria mais comum nas foliculites e nas pododermatites em rapinantes e tambm em outras aves, como canrios, podendo causar varicose, dermatite, edema at necrose dos dedos em decorrncia da formao de microtrombos. Outras leses possveis so artrite, osteomielite, hepatite, miocardite, tendinite, vasculite, conjuntivite, esplenite, nefrite, meningite, encefalite e mielite. As infeces respiratrias e cutneas podem evoluir para septicemia, que se manifesta por sinais clnicos inespecficos, tais como letargia, anorexia, penas arrepiadas e morte sbita. Quando o sistema nervoso central afetado, pode haver sintomatologia nervosa: tremores, opisttomo e torcicolo. O diagnstico baseado nas leses microscpicas e o isolamento do agente nos tecidos acometidos. As alteraes histopatolgicas variam conforme o curso da doena, mas geralmente consistem em uma resposta heteroflica granulomatosa.15 As pododermatites, comuns em aves de rapina, so difceis de serem curadas. O prognstico ruim quando a ave apresenta leses extensas e profundas. O tratamento consiste na assepsia e curativos nas reas lesionadas, utilizando-se bandagens elsticas leves (Vetrap) e material almofadado que reduza a presso sobre a regio plantar. Faz-se a remoo de tecidos desvitalizados, limpeza com anti-spticos, e aplicao de pomadas com antibiticos, antiinflamatrios e enzimas proteolticas. Nos casos de osteomielite faz-se a antibioticoterapia sistmica. A cefalexina e a lincomicina so alguns dos antibiticos que podem ser utilizados antes do antibiograma. BACILLUS SP.

As bactrias do gnero Bacillus so bastonetes Gram positivos aerbicos ou anaerbicos facultativos, que possuem a capacidade de esporulao. A espcie mais conhecida o Bacillus anthracis, seguido do B. cereus, comum em contaminaes

alimentares. Os Bacillus sp fazem parte da microbiota normal do trato respiratrio e digestivo das aves. O B. anthracis no est associado doena clnica nas aves, provavelmente pela alta temperatura corprea destas, que inibe a produo de toxinas patognicas pelo agente. O Bacillus cereus encontrada naturalmente no solo, ar, gua e alimentos diversos. Fora do trato gastrintestinal, pode desenvolver infeces localizadas, infeces no sistema nervoso central, sistema respiratrio, sistema cardiovascular, bacteremia e septicemia. Num estudo, isolou-se Bacillus cereus do pulmo, fgado, bao, corao, intestino e sangue cardaco de 12 psitacdeos de um mesmo zoolgico, tendo sido considerado o agente primrio das mortes. As leses encontradas foram extensas reas de hemorragia pulmonar, congesto heptica, enterite hemorrgica e congesto cardaca. Ao exame microscpico foi possvel visualizar mltiplos focos de bacilos gram positivos associados a infiltrados inflamatrios mononucleares.15 O tratamento com cloranfenicol mostrou-se eficiente.

CLOSTRIDIUM SP (BOTULISMO E CLOSTRIDIOSE)

O Clostridium botulinum uma bactria Gram positiva saprfita que se multiplica em carcaas animais e vegetais, sob condies adequadas de temperatura (vero e comeo do outono). Durante a multiplicao a bactria produz toxinas, sendo a mais importante a toxina do tipo-C, por seu alto grau de toxicidade, ocorrncia predominante nos surtos, e pela grande mortalidade e morbidade que provoca, principalmente em aves aquticas, tanto em vida livre como em cativeiro. O Clostridium botulinum tem a capacidade de esporulao, sobrevive muitos anos nesta forma no ambiente e germina quando encontra condies ambientais favorveis. A clostridiose no considerada uma infeco bacteriana propriamente dita, pois as leses no so decorrentes propriamente da bactria, mas sim da ingesto da toxina produzida por ela. Diversas larvas de moscas que se desenvolvem em carcaas so resistentes a essa potente toxina, mas acabam concentrando a toxina em seu organismo e, ao serem ingeridas pelas aves, causam a intoxicao botulnica. Os alimentos contaminados no apresentam mudana de sabor e odor e, por isso, no so rejeitados pelas aves. As toxinas absorvidas no intestino atingem nervos eferentes automticos e somticos e ento ascendem medula espinhal, onde seletivamente e irreversivelmente ligam-se s junes neuromusculares e bloqueiam a produo de acetilcolina. A morte do animal causada por paralisia respiratria, porm as toxinas tambm

danificam o endotlio vascular, causando edemas e petquias na musculatura e paralisia flcida na musculatura esqueltica. As aves com sintomatologia geralmente morrem. Na necropsia pode-se ver hemorragia no cerebelo e lobo central do crebro, associado a necrose focal, enterite severa, dilao de clon, reao inflamatria linfoplasmtica, e extensas reas de hemorragia na musculatura esqueltica. Na microscopia encontram-se leses hemorrgicas focais ou difusas e numerosos esporos da bactria na mucosa e no lmen intestinal. Nos casos agudos de enterotoxemia, nem sempre se consegue ver leses. As aves aquticas (cisnes, marrecos e outras) so muito sensveis toxina botulnica. Os urubus (Coragypis atratus) so resistentes e algumas aves de rapina so pouco suscetveis s toxinas, sendo ainda desconhecido esse mecanismo de defesa. O diagnstico feito pela demonstrao da toxina no soro, fgado, rim e tambm em alimentos ingeridos. O tratamento pode ser tentado com antitoxinas. As medidas profilticas para aves aquticas em cativeiro consistem no manejo ambiental, ou seja controle da circulao, oxigenao, temperatura e nvel da gua nos tanques, reduo da carga orgnica nos lagos, reduo da populao de aves no ambiente aqutico e remoo de carcaas de quaisquer animais. Uma vacina de C. botulinum tipo C para mink tem sido usada nos pases do hemisfrio norte. As aves podem apresentar enterotoxemias por Clostridium perfringes principalmente do tipo A e C. Tambm podem causar mortalidade nas aves o C. difficile, C. colinum e C. piliforme. Aves nectarvoras, como os lris, podem apresentar proliferao de clostrdios no intestino devido ao ambiente propcio para fermentao. Os clostrdios fazem parte da flora normal das aves, mas sob condies propcias, quando o microambiente digestivo alterado, ocorre a proliferao dessas bactrias, produo de toxinas e invaso. Fatores predisponentes podem ser dietas de fcil fermentao ou que reduzem o peristaltismo, estresse e drogas que alteram a flora intestinal. As exotoxinas do C. perfringens causam leses gastrintestinais e podem entrar na circulao sangnea, causando leses no fgado e em outros rgos. O exame necroscpico indica enterite necrtica e hemorrgica com bacilos Gram positivos grandes, gastrite e disteno gstrica, ictercia, hemoglobinria, nefrose e necrose heptica. O C. difficile, C. colinum e C. piliformis causam quadro de colite pseudomembranosa e ulcerativa, que pode ser decorrente do uso indevido de antibiticos com conseqente alterao da microflora digestiva. C. colinum causa enterite ulcerativa e hepatite necrtica em galinceos e ratitas jovens. Aves que sobrevivem podem se tornar portadores.

Os sinais clnicos das clostridioses so diarria, quadro hemoltico, penas arrepiadas e emagrecimento. O diagnstico feito pelos sinais clnicos, leses, cultura e identificao da toxina nas fezes ou contedo gastrintestinal por ELISA, aglutinao em ltex ou por PCR. O tratamento feito com antibiticos de amplo espectro por via parenteral ou oral, tais como estreptomicina, bacitracina, clortetraciclina e metronidazol. O tratamento de casos crnicos normalmente prolongado. Medidas de controle e preveno incluem o fornecimento de dietas mais fibrosas, probiticos como Lactobacillus e Saccharomyces, antibiticos orais (metronidazol) e antitoxinas, reduo dos fatores de estresse e higiene no ambiente.

DOENAS FNGICAS

As leveduras e fungos fazem parte da flora natural das aves, sendo consideradas comensais no trato gastrintestinal e na pele. Estima-se que menos de 1% destes fungos causem doena. Fatores que podem determinar um aumento na populao de leveduras no trato gastrintestinal com decorrente manifestao clnica so antibioticoterapia prolongada, higiene inadequada no criatrio, deficincias nutricionais, dietas com alta concentrao de carboidratos, doenas concomitantes, senilidade e estresse. A antibioticoterapia prolongada e a alta concentrao de carboidratos na dieta acarretam a destruio ou inibio da flora bacteriana competitiva, permitindo assim o desenvolvimento acentuado de fungos e leveduras.

Aspergillus sp. (Aspergilose)

O agente mais comum na aspergilose e encontrado com freqncia em psitacdeos o Aspergillus fumigatus, tambm merecendo destaque o A. flavus e A. niger. Estes fungos podem permanecer como saprfitas no organismo das aves saudveis e sob condies propcias determinar doenas respiratrias graves. A aspergilose freqente em aves de vida livre que so levadas para o cativeiro. A infeco ocasionada pela inalao de esporos e hifas ou ainda, ingesto de alimento e gua contaminados. O grau de exposio ao agente, idade, e imunidade do hospedeiro so fatores importantes para o incio e gravidade da doena. So fatores que

contribuem para aumentar a susceptibilidade infeco: doenas crnicas, leses traumticas, desnutrio, deficincia vitamnica (principalmente hipovitaminose A), freqente inalao de fumaa de cigarro e o uso prolongado de antibiticos. Facilitam o crescimento do agente, ambientes com temperatura elevada, ventilao insuficiente e umidade elevada. Duas formas da doena so reconhecidas, a aguda e a crnica. A forma aguda freqente em aves de vida livre, mas tambm ocorre em psitacdeos cativos e outras aves. decorrente da inalao de grande quantidade de esporos em ambientes pouco higinicos. A forma crnica a mais comum em psitacdeos e ocorre geralmente aps situaes de estresse ou imunossupresso. O animal debilitado, mesmo inalando pequenas quantidades de esporos, no est com seu sistema imunolgico competente para combater a infeco, iniciando a doena. O agente penetra na mucosa do trato respiratrio superior e forma miclios a partir das hifas e esporos inalados, determinando intensa descamao e necrose epitelial, associada a um infiltrado inflamatrio de heterfilos, linfcitos e macrfagos na lmina prpria. comum o fungo atingir o trato respiratrio inferior, principalmente pulmes e sacos areos, penetrando na parede dos brnquios e parnquima, onde se multiplica e se dissemina. A grande exsudao tecidual juntamente com hifas radiantes pode bloquear a passagem de ar e preencher os sacos areos e formar granulomas, focos necrticos e placas esbranquiadas. As extensas placas podem determinar pleurisia, hepatizao pulmonar, microabscessos, espessamento dos sacos areos, necrose superficial das vsceras e formao de abscessos principalmente no fgado, pulmes, rins, intestinos e gnadas. Pode ocorrer disseminao hematgena para outros rgos, como SNC (sistema nervoso central), ossos pneumticos, glndula adrenal e coluna vertebral. As primeiras leses so geralmente localizadas em locais com alta tenso de oxignio e baixo suporte sangneo, preferencialmente sacos areos e grandes vias areas e siringe. As leses e sinais clnicos dependem do curso da infeco, rgos afetados e nmero de esporos inalados. Na forma aguda h rpida e massiva colonizao dos pulmes e estes se tornam totalmente infiltrados por pequenos granulomas difusos. A sintomatologia pode ser inespecfica, incluindo perda de peso, dispnia, prostrao, anorexia e diarria; se o SNC for afetado ocorre sintomatologia nervosa e advm a morte. A sintomatologia mais comum uma dispnia intensa com rpida piora e morte. Pode ocorrer retardo no crescimento das aves jovens e, se expostas a grande quantidade de esporos, podem morrer sem qualquer sintomatologia.

Na forma crnica, os sinais variam conforme a localizao e extenso da leso, sendo comum dispnia, taquipnia, intolerncia a exerccios, inapetncia, perda de peso, diarria, poliria, depresso e sinais nervosos. Os sinais clnicos podem ser imperceptveis nos casos em que a doena tem progresso lenta. Podem ocorrer leses localizadas na traquia, brnquios e seios nasais. Na traquia e brnquios os miclios penetram na parede e juntamente com as clulas inflamatrias formam cseos e ndulos granulomatosos. A siringe um desses focos de infeco primria, podendo ocorrer ocluso parcial ou total do lmen respiratrio e conseqente mudana ou perda da voz, dispnia e morte. Na necropsia os ndulos asperglicos so visveis e s vezes possvel ver extensas placas aveludadas esbranquiadas sobre o pulmo, sacos areos e outros rgos. Histologicamente so observados mltiplos focos contendo hifas, circundados por hemorragia, infiltrado inflamatrio heteroflico, mononuclear e clulas gigantes. O diagnstico definitivo feito atravs da cultura, citologia, bipsia ou exame histopatolgico. O exame radiogrfico e endoscpico permite visualizar os ndulos asperglicos nos casos crnicos. Deve-se fazer o diagnstico diferencial da tuberculose, poxvirose e tricomonase por causa da semelhana entre as leses. O tratamento pode ser tpico pela irrigao nasal, aplicao de antifngicos diretamente nos sacos areos ou nebulizao e parenteral, pela administrao oral ou injetvel de medicamentos. Em casos graves, a anfoterecina-B recomendada por causa do seu efeito fungicida. Apresenta como desvantagem a estreita margem de segurana e necessidade de aplicao endovenosa. Pode ser associada a esta a fluorocitosina. O itraconazol, fluconazol e flucitosina so fungistticos usados por via oral e precisam ser administrados durante semanas a meses para surtirem efeito. Destes, o itraconazol tem sido o fungisttico mais utilizado no tratamento da aspergilose. No tratamento tpico pode-se utilizar a anfoterecina-B, miconazol, clotrimazol e enilconazol.

Candida sp. (Candidase)

O principal agente envolvido na candidase a Candida albicans, que faz parte da flora entrica normal das aves, porm em pequenas quantidades. O desequilbrio populacional dessas leveduras leva ao aparecimento da doena no sistema digestivo. A Cndida sp pode infectar tambm o sistema reprodutivo, olhos e tornar-se sistmica.

A infeco ocorre pela ingesto de gua e alimentos contaminados, acarretando problemas no trato digestivo. Outra forma menos comum pela inalao do agente, que causa desordens respiratrias. A Cndida sp. pode ser agente primrio em filhotes ou pode ser oportunista em animais imunossuprimidos. A flora normal do trato gastrintestinal das aves tem efeito inibitrio sobre o crescimento Candida sp. Assim, qualquer desequilbrio da flora digestiva pelo uso incorreto de antibiticos ou por mudanas no pH gastrintestinal pode resultar na proliferao de fungos. A infeco por vrus ou bactrias ou leses acarretadas pela hipovitaminose A podem facilitar a invaso do trato gastrintestinal por leveduras. Os filhotes no ninho podem ser contaminados ao ingerir alimentos fornecidos pelos pais ou pela alimentao artificial e instrumentos contaminados. Como o sistema imune dos filhotes normalmente imaturo e a microflora gastrintestinal est em formao, a candidase comum nessa fase da vida. Em adultos, aps situaes que determinam a queda na imunidade e reduo da flora intestinal normal, ocorre a colonizao e brotamento acentuado das leveduras, ocorrendo a infeco. Nos filhotes pode-se ver acmulo de gs no inglvio decorrente de fermentao, aumento do tempo de esvaziamento do inglvio, impactao, anorexia, depresso e pode ocorrer a morte. Alimentos muito quentes causam microleses na mucosa que facilitam o crescimento das leveduras. A candidase caracterizada nos adultos pela formao de placas pseudomembranosas necrticas na cavidade oral e trato digestivo, muitas vezes cobertas de material caseoso que dificultam a deglutio e respirao. A sintomatologia compreende dispnia, anorexia, prostrao, regurgitao, vmito, diarria, perda de peso, inglvio dilatado, esofagite e espessamento da parede do esfago. Casos raros e graves podem provocar deformidades no bico. A forma cutnea em psitacdeos pode ocorrer na comissura do bico, epiderme nasal, na regio da cloaca e em folculos por todo o corpo, podendo provocar hiperqueratose. menos comum a candidase no trato respiratrio, mas quando ocorre, seguida de hiperqueratose, descamao superficial e necrose associada a infiltrao na lmina prpria na laringe, cavidade nasal, traquia e pulmes. O diagnstico presuntivo feito por meio de esfregaos de swabs da cavidade oral ou fezes corados pelo mtodo de Gram. possvel visualizar estruturas arredondadas eosinoflicas compatveis com leveduras (em brotamento ou no), hifas e bactrias. O diagnstico definitivo feito pela cultura micolgica e exame histopatolgico. Na necropsia

so vistas placas necrticas esbranquiadas, espessadas, associadas a exsudato catarral mucide no sistema digestivo. No exame histopatolgico possvel visualizar estruturas arredondadas e ovaladas compatveis com leveduras, associadas a infiltrado inflamatrio predominantemente granuloctico. Deve-se fazer o diagnstico diferencial da tricomonase, poxvirose e hipovitaminose A. Ao examinar as fezes, diferenciar leveduras patognicas de leveduras presentes em alimentos recm ingeridos. O tratamento feito com nistatina, itraconazol, fluconazol ou cetoconazol. A nistatina no absorvida no sistema gastrintestinal e precisa agir por contato nas leses orais. Normalmente utiliza-se a nistatina como primeira medicao e em candidase refratria recomendam-se antifngicos sistmicos.

Megabactria

A megabacteriose causada por um organismo morfologicamente semelhante a um bacilo gram positivo de grandes propores, mas que possu tambm algumas caractersticas de fungos. Portanto, sua classificao permanece incerta. A megabactria encontrada em psitacdeos, ratitas, passeriformes e outras aves. Alguns autores sugerem que a Megabactria seja natural da flora intestinal das aves, porm isso questionvel. Os sinais clnicos so diarria, fezes com alimentos no digeridos, desidratao, emagrecimento, depresso e nos avestruzes, o animal bica o alimento sem conseguir ingeri-lo. Nas demais espcies, o animal alimenta-se continuamente, porm perde peso drasticamente. A megabactria ocorre nas pores inferiores de proventrculo e glndulas superficiais, causando uma hipersecreo das glndulas mucosas e espessamento da parede do ventrculo associada a pequenas hemorragias. O diagnstico feito por esfregao das fezes ou do proventrculo corado com Gram ou PAS. O microorganismo anaerbico facultativo e cresce bem em Agar sangue. Na maioria dos casos, trata-se de uma infeco oportunista que acomete principalmente animais imunossuprimidos. O tratamento e preveno consistem da acidificao da gua de beber, fornecimento de alimentos com alta digestibilidade e suporte nutricional com vitaminas. Em alguns casos, a administrao de anfoterecina B ou um fungisttico impede a infeco.

DOENAS PARASITRIAS

As aves podem ser acometidas por uma variedade de endoparasitas, hemoparasitas e ectoparasitas. Nem sempre os parasitas encontrados na necropsia so os causadores do bito. O dano causado ao hospedeiro e sintomatologia dependem da patogenicidade e intensidade da infeco ou infestao e do estado geral do animal (competncia imunolgica). Microorganismos de baixa patogenicidade podem eventualmente causar doena clnica grave em aves imunossuprimidas, estressadas ou com doenas concomitantes. Aves sujeitas a estresse contnuo tambm podem apresentar desequilbrio na relao parasita - hospedeiro. Dentre os hemoparasitas, os mais freqentes nas aves so os protozorios, parasitas intracelulares de clulas sanguneas e tecidos. Os gneros mais descritos em aves so Plasmodium sp (malria), Haemoproteus sp e Leucocytozoon sp - microorganismos cosmopolitas que em alguns estudos foram encontrados em 68% das aves silvestres examinadas. Os hemoparasitas podem causar anemia severa, perda de peso e morte. O diagnstico feito pelo exame microscpico de amostras de sangue perifrico. O tratamento da malria feito com cloroquina e primaquina e a preveno requer o controle dos mosquitos nas criaes de aves. A pirimetamina usada no tratamento do Leucocytozoon. Aves com sinais clnicos infectadas pelo Haemoproteus so tratadas com quinacrina e medicamentos imunoestimulantes. Os ectoparasitas, piolhos, pulgas, caros, moscas e outros insetos picadores podem causar anemia, retardo no crescimento, perda de peso e predisposio a outras doenas. Podem agir como vetores de doenas. A piretrina e piretrides (por exemplo, fipronil) so usados na eliminao de piolhos nas aves parasitadas e no meio ambiente. A sarna de perna e face dos periquitos australianos (Knemidokoptes sp.) pode ser tratada com ivermectina por vias tpica, oral ou injetvel. So endoparasitas avirios os nematides, cestides, trematides, acantocfalos, e protozorios. Grande parte dos helmintos parasita o trato digestivo inferior, determinando processos inflamatrios de diferentes graus, dependendo da espcie envolvida, nmero de parasitas e grau de imunidade das aves. Aves imunodeprimidas podem apresentar enterite hemorrgica severa e morte. So nematides comuns nas aves mantidas em zoolgicos, criadouros e residncias no Brasil a Capillaria e Ascardeos.

Capillaria sp (Capilariose)

Muitas espcies de Capillaria que infectam o trato gastrintestinal das aves apresentam ciclo direto, outras apresentam poliquetas como hospedeiro intermedirio. Os vermes adultos podem penetrar na mucosa do trato digestivo, determinando hemorragia de mucosa e leses diftricas em infeces macias. Alguns capilardeos parasitam o trato digestivo superior (galinceos) causando leses diftricas na boca, faringe, esfago e inglvio de algumas espcies. Os sinais clnicos podem ser diarria, perda de peso, anorexia, penas arrepiadas, depresso, vmito e anemia. Os achados necroscpicos mais freqentes so enterite hemorrgica, atrofia da musculatura peitoral e plumagem descolorida decorrente da m absoro dos nutrientes promovida pelas leses nas mucosa intestinais. O curso da doena pode ser breve com morte sbita, mas o mais comum a forma crnica e debilitante. O diagnstico feito pela visualizao de ovos bipolares caractersticos no exame de fezes; pela necropsia, quando se v vermes filiformes aderidos na mucosa do trato digestivo; e no exame histolgicos, que demonstra uma enterite hemorrgica e estruturas compatveis com ovos e formas adultas de Capillaria sp, e resposta inflamatria predominantemente mononuclear, caracterstica de um processo crnico. Como medida preventiva, o ambiente deve ser desinfetado e o substrato do piso deve ser removido, pois os ovos ficam viveis no ambiente por muitos meses. A capilariose um problema comum em zoolgicos e criadouros, sendo condies propcias parasitose a superpopulao de aves em viveiros, ms condies higinicas ambientais, viveiros mal planejados e persistncia dos ovos no meio. A capilariose uma das causas mais freqentes de morte de ranfastdeos (tucanos e araaris) em zoolgicos brasileiros. Causa tambm elevada mortalidade de psitacdeos. A capilariose menos freqente em psitacdeos de estimao e mais comum em galinceos, que esto em contato direto com o piso. Muitas drogas tm sido utilizadas para o controle destas infestaes, tais como o mebendazol, fenbendazol, albendazol, levamisol, ivermectina, pamoato de pirantel e praziquantel, contudo, o efeito nem sempre o esperado, talvez porque algumas espcies de Capillaria estejam resistentes aos anti-helmnticos usuais ou porque a forma de administrao no esteja possibilitando nveis teraputicos. O fenbendazol e o levamisol tm sido utilizados

com mais sucesso. Quando a necrose da mucosa intestinal extensa, o tratamento normalmente pouco eficiente. A experincia clnica indica que os anti-helmnticos devam ser administrados em doses maiores e por maior perodo para surtir efeito nos ranfastdeos. A desverminao mais bem conduzida em sistema de isolamento das aves parasitadas para evitar a reinfeco. A administrao de vermfugo s deve ser suspensa aps sucessivos exames de fezes negativos, indicando sucesso teraputico.

Ascaridia sp (Ascaridase)

A infeco por Ascaridia relativamente comum nas aves, inclusive nas oriundas da natureza. Acomete preferencialmente proventrculo e intestino delgado de diversas espcies. O ciclo do parasita direto e a larva torna-se infectante no ovo aps duas a trs semanas. Quando os ovos so ingeridos pelo hospedeiro, as larvas eclodem e migram pela mucosa, retornando ao lmen nas formas maduras. Os parasitas competem com o hospedeiro por nutrientes, prejudicando o estado geral da ave (caquexia). Os sinais clnicos associados ascaridase incluem perda de peso, anorexia, m absoro de nutrientes, anormalidades no crescimento dos filhotes, diarria e morte. Os animais jovens so mais sensveis. O grande nmero de scaris pode causar obstruo intestinal. Por isso, recomenda-se inicialmente o uso de anti-helmintcos suaves, como a piperazina, para reduzir a populao parasita gradativamente. As formas adultas de A. galli podem perfurar a mucosa intestinal e carem na cavidade celomtica provocando peritonite. As larvas de A. columbae podem invadir a mucosa intestinal e chegar ao fgado e pulmes pela corrente circulatria. Pode haver migrao larval para o parnquima heptico e ducto pancretico causando hepatite necrtica severa. Pode acontecer de vermes adultos migrarem pelos dutos biliares, ulcerandoos e obstruindo-os, alcanando o parnquima heptico e causando infeces ascendentes. Os vermes podem alterar a flora intestinal, favorecendo a colonizao do trato digestivo por bactrias patognicas. Na necropsia pode-se ver enterite hemorrgica e vermes adultos, hepatomegalia, esplenomegalia, e dilatao das alas intestinais quando ocorre obstruo. Histologicamente v-se enterite leve hemorrgica associada a um infiltrado inflamatrio eosinoflico. Quando ocorre migrao larval so visualizados mltiplos focos de necrose no parnquima heptico,

clulas linfides, eosinfilos e clulas gigantes associadas s larvas. Pode existir proliferao dos ductos biliares, fibrose portal e metaplasia ssea. O exame de flutuao do contedo intestinal, nem sempre indica a presena de ovos de ascardeos em animais infectados, pois os ascardeos podem permanecer imaturos, no eliminando ovos. O tratamento feito com anti-helmnticos usuais: piperazina, mebendazol, fenbendazol, albendazol e pamoato de pirantel. A desverminao de aves com infestaes macias deve ser feita gradualmente com vermfugos suaves.

Sarcocystis sp (Sarcosporidiose)

O Sarcocystis sp um protozorio do filo Apicomplexa que acomete mamferos, aves e rpteis, necessitando de dois hospedeiros para completar seu ciclo de vida. Os hospedeiros definitivos podem ser carnvoros, onvoros domsticos e selvagens, marsupiais neotropicais e o homem, que geralmente no apresentam infeco clnica. No hospedeiro intermedirio, a infeco pode ser subclnica, ocorrendo a forma encistada na musculatura. Porm, conforme o grau de infestao, a suscetibilidade espcie acometida pode ocorrer uma infeco altamente patognica. O Sarcocystis falcatula a espcie prevalente que acomete aves ornamentais e tem o gamb (Didelphis sp) como o nico hospedeiro definitivo conhecido. O ciclo consiste no seguinte: o gamb ingere aves com cistos do protozorio na musculatura, que liberam bradizotos no intestino delgado do hospedeiro definitivo e penetram na lmina prpria onde ocorre a reproduo sexuada e formao de oocistos. Os esporocistos infectantes so liberados nas fezes do gamb, em pequenas quantidades e por um extenso perodo. Os esporocistos podem ser ingeridos pelas aves, que passam a ser hospedeiras intermedirias. Os esporocistos liberam esporozotos no intestino delgado, que entram na corrente sangnea e invadem vrios tecidos, incluindo pulmes, fgado, bao, rins, intestinos, musculatura esqueltica e at mesmo crebro. Nos pulmes ocorre a replicao nas clulas endoteliais. A sarcosporidiose, quando no culmina na morte por doena pulmonar, determina a liberao de merontes e conseqente formao de cistos na musculatura. A presena do parasita na musculatura relativamente freqente nas aves do Novo Mundo, que so menos sensveis forma pulmonar da doena. A presena de cistos na musculatura geralmente no determina leses nem resposta inflamatria associada. Os cistos geralmente so vistos na musculatura esqueltica e

ocasionalmente na musculatura cardaca, sem que haja manifestao clnica. Contudo, infeces massivas podem causar miodegenerao e conseqente claudicao. A taxa de mortalidade pela sarcosporidiose varia nas diferentes espcies de aves. A doena nos psitacdeos do Velho Mundo geralmente hiperaguda e causa alta mortalidade por causa das graves leses pulmonares. A forma aguda pode ocorrer em espcies do Novo Mundo, principalmente em animais debilitados. Muitos animais no apresentam sinais clnicos antes do bito e morrem subitamente. Os sinais so fraqueza, dispnia, anormalidades neurolgicas e anorexia parcial ou total. No exame necroscpico observa-se principalmente edema, congesto e hemorragia pulmonar, esplenomegalia e hepatomegalia. Em alguns casos, constata-se perda de peso. Microscopicamente, so vistos esquizontes no endotlio dos capilares pulmonares, associados a hemorragia e em alguns casos, pneumonia. Pode ocorrer hepatite crnica ativa, miocardite, miosite, esplenite, nefrite e encefalite decorrentes da merogonia. O tratamento feito com pirimetamida e trimetoprima-sulfadiazina e terapia de suporte. Para a preveno fundamental evitar o acesso de gambs e baratas ao criadouro. O solo contaminado com oocistos deve ser substitudo dentro dos viveiros. Gaiolas suspensas reduzem as chances de ingesto de oocistos contaminantes no solo.

Histomonas sp. (Histomonase)

O protozorio flagelado Histomonas meleagridis acomete mais os galinceos, determinando leses no ceco e fgado. A infeco pode ocorrer aps a ingesto de ovos de Heterakis gallinarium contaminados que liberam o protozorio quando se transformam em larvas. A Histomonas invade a parede do ceco causando enterite fibronecrtica severa e cai na corrente sangunea para infectar o fgado, causando hepatite necrtica severa. Na necropsia possvel observar o espessamento da mucosa, nodulaes, exsudato caseoso e ulceraes no ceco, e mltiplas leses circulares esverdeadas no fgado, caractersticas da histomonase.

Giardia sp. (Giardase)

A giardase comum nos periquitos domsticos (periquito-australiano, calopsitas e agaprnis). As aves adultas podem permanecer assintomticas e nos filhotes pode haver alta

mortalidade. Os sinais clnicos so depresso, anorexia e diarria. O auto-arrancamento de penas pode estar relacionado nestas aves giardase, descrito principalmente em calopsitas. O diagnstico feito pela identificao de trofozotos mveis ou cistos em amostras frescas e mornas de fezes em uma montagem mida com soluo fisiolgica ou ringer lactato. Os trofozotos que se movem podem ser vistos num aumento maior (100 vezes). O tratamento feito com metronidazol, secnidazol ou outros giardicdas.

Trichomonas sp (Tricomonase)

A tricomonase, causada por protozorios flagelados Trichomonas sp, mais comum em pombos e em aves-de-rapina, mas tambm ocorre em pssaros, periquitos australianos e outros psitacdeos. Nos pombos a transmisso ocorre pelos pais, quando fornecem alimento aos filhotes. As aves de rapina podem ser contaminar ingerindo pombos contaminados. A tricomonase provoca placas difterias branco-amareladas caseosas na orofaringe, esfago, inglvio e traquia. As formas sistmicas no fgado e pulmo so menos comuns. Os sinais clnicos so disfagia, dispnia, vmito, diarria, polidipsia e emagrecimento. O diagnstico feito pela identificao de trofozotos mveis caractersticos nos esfregaos das leses orofarngeas em uma lmina com soluo salina tpida. O tratamento feito com metronidazol ou outros parasiticidas.

caros

Diversos caros causam infestao nas aves em cativeiro e em vida livre. A sarna do bico e pata, causada pelo caro Knemidokoptes sp. comum em periquitos australianos, mas tambm ocorre em canrios e outras aves pequenas. A sarna causa leses caractersticas no bico, patas e dedos, que so proliferao de tecidos, hiperqueratose e perda de penas. Pode ocorrer deformao irreversvel do bico. Microscopicamente possvel observar a formao de tneis no tecido epidrmico. Acredita-se que a ocorrncia da sarna cnemidocptica possa estar relacionada imunossupresso e consanginidade. O diagnstico feito pelas leses tpicas e microscopicamente, visualizando-se caros em raspado de tecidos proliferativos. O tratamento feito com ivermectina por via tpica, oral ou injetvel ou outro acaricida. O caro de sacos areos e traquia Sternostoma tracheacolum pode infectar canrios, diamantes-de-gould, mandarim, calafate, pssaros e calopsitas. pouco diagnosticado em

aves de gaiola e em zoolgicos no Brasil. Os sinais clnicos so emagrecimento, dispnia, tosse, corrimento nasal, respirao ruidosa e com o bico aberto, perda do canto e movimentos de cabea. Em infestaes graves o hospedeiro pode morrer por asfixia ou debilidade. Como um caro escuro e pequeno, pode ser observado por iluminao da traquia translcida de pequenos pssaros. Os ovos de caros podem ser vistos no exame de fezes ou, na necropsia, os prprios caros so vistos nos sacos areos, pulmes e traquia. O tratamento feito com ivermectina por via tpica, oral ou injetvel. Os caros vermelhos sugadores Dermanyssus spp. Ornithonyssus spp. e outras espcies causam anemia, prurido e morte de adultos e filhotes de canrios e outros pssaros. Normalmente fazem o repasto noite e durante o dia escondem-se em frestas na gaiola ou nas instalaes prximas gaiola. Os caros causam alta mortalidade em criatrios altamente infestados. O tratamento feito com a aplicao de piretrina ou piretrides (fipronil). Os diversos caros de penas normalmente no causam problema clnico e so de difcil erradicao nos viveiros coletivos com grandes populaes. O tratamento feito com acaricidas em p ou piretrides lquidos aspergidos sobre as penas.

INFECES VIRAIS Muitos so os vrus que acometem as aves, determinando ou no manifestaes clnicas. Alguns so espcie-especfica, acometendo apenas um gnero ou espcie, enquanto outros podem contaminar uma grande variedade de espcies avirias. O diagnstico definitivo das viroses deve ser feito pelo isolamento ou deteco do vrus nos rgos afetados, mas as manifestaes clnicas, testes sorolgicos, citologia e principalmente os achados histolgicos ajudam no diagnstico e conduta teraputica. No existe tratamento efetivo para as infeces virais, porm a utilizao de imunoestimulantes, vitaminas, fludos eletrolticos e antibiticos para prevenir infeces oportunistas auxiliam na recuperao do paciente. Algumas das viroses das aves so causadas por herpesvirus, polyomavirus, adenovirus, papilomavirus, paramixovirus, poxvirus, retrovirus, circovirus e arbovirus. O leitor encontrar informaes aprofundadas em outras publicaes.24

Herpesvirus

Centenas de herpesvirus tm sido diagnosticadas em anfbios, rpteis, aves e mamferos. Muitos so espcie-especfica, entretanto alguns podem infectar diferentes espcies. Eles possuem perodos de latncias variveis, quando o animal pode eliminar o vrus sem apresentar sintomatologia clnica. Muitos tm a capacidade de formar corpsculos de incluso intracelulares, geralmente associados a reas de necrose. As doenas mais conhecidas causadas pelas diferentes cepas de herpesvirus nas vrias ordens so: Doena de Pacheco e Traquete Infecciosa dos psitacdeos; Doena de Marek em galinceos e anatdeos; Laringotraquete Infecciosa nos galinceos; Enterite Viral dos Patos; Citomegalovirose em pssaros; e Hepatite Necrtica nos pombos e aves de rapina.

DOENA DE PACHECO

A Doena de Pacheco causada por um herpesvirus que acomete psitacdeos, tendo sido descrita pela primeira vez no Brasil por Pacheco e Bier em 1929. O vrus altamente espcie-especfica, existindo cepas virulentas e no-virulentas. Pode infectar psitacdeos de qualquer idade, entretanto a susceptibilidade varia entre os gneros e espcies, sendo as aves do Velho Mundo, aparentemente, mais resistentes doena do que as do Novo Mundo. A doena pode ser aguda, com ausncia de sinais clnicos, mas quando presentes, ocorre depresso, anorexia, diarria, regurgitao, eliminao de uratos de colorao amarelada e tremores. As cepas mais virulentas esto associadas a ataxia, diarria

hemorrgica e regurgitao muco-sanguinolenta. Antes do bito as aves podem apresentar sinais nervosos como tremores, opisttomo e sncope. Os psitacdeos que apresentam sintomatologia clnica tm grandes concentraes do vrus nas fezes e em secrees na faringe, e raramente sobrevivem. As aves que sobrevivem infeco tornam-se portadoras latentes e na presena de fatores estressantes, tais como infeces concomitantes, desnutrio, reproduo, variaes de temperatura ambiente e mudana de ambiente, passam a eliminar vrus nas fezes sem sintomatologia. As leses macroscpicas podem estar no fgado, bao, rim e intestino. O fgado pode estar aumentado de volume e com mltiplos focos de colorao amarelada e hemorrgicos. Os rins podem estar aumentados e a mucosa intestinal pode estar hipermica ou hemorrgica. As leses histolgicas so geralmente necrticas e hemorrgicas associadas discreta resposta inflamatria principalmente no fgado causada pela lise dos hepatcitos pelos agentes virais.

Ainda, pode-se observar necrose das clulas bronquiais, pneumonia, aerosaculite e enterite hemorrgica. A resposta inflamatria geralmente escassa a moderada, dependendo do curso da doena, e muitas vezes possvel observar clulas gigantes em mltiplos rgos. A presena de corpsculos de incluso intranucleares sugestivos de herpesvirus podem estar presentes em fgado, rim, bao, intestino, paratireide, ovrio e medula ssea. Em animais que morrem rapidamente, estes achados so mais difceis de serem observados.

TRAQUETE INFECCIOSA DOS PAPAGAIOS

A Traquete Infecciosa dos papagaios causada por um herpesvirus que acomete principalmente aves do gnero Amazona e pode ocorrer de forma superaguda, aguda ou crnica. As aves infectadas podem manifestar dispnia, conjuntivite, sinusite e leses fibronecrticas no trato respiratrio superior e ocasionalmente nos sacos areos. Estas leses fibrinosas podem favorecer infeces secundrias e, ainda, asfixia pelo desprendimento das placas na traquia. Os achados microscpicos so hemorragia e necrose de epitlio traqueal, faringite, ingluvite e aerosaculite, com raras incluses intranucleares. Deve-se proceder ao diagnstico diferencial de traquete e rinite bacteriana, poxvirose (Bouba Aviria), Doena de Newcastle, clamidiose, influenza, aspergilose, tricomonase, infeco por Syngamus sp e hipovitaminose A.

HERPESVIRUS EM COLUMBIFORMES E AVES-DE-RAPINA

O herpesvirus determinam doena principalmente em pombos jovens, causando rinite, conjuntivite e leses ulcerativas no trato digestivo. So freqentes as esofagites e hepatites necrticas. Os adultos geralmente so assintomticos e podem servir como fontes de infeces para as aves-de-rapina. Trs herpesvirus distintos foram isolados de corujas, guias e falces. A doena nestas aves geralmente caracterizada por necrose multifocal no fgado e bao. Os sinais clnicos no so especficos e pode haver morte sbita ou ainda severa depresso, anorexia, regurgitao, e fraqueza seguida de morte. O urato torna-se esverdeado nas fezes devido s leses hepticas e, em geral, o fgado e bao revelam no exame histolgico focos necrticos sem nenhuma resposta inflamatria, associados ou no presena de incluses intranucleares.

Poxvirus

O poxvirus pode acometer aves de todas as idades e espcies e a suscetibilidade varivel. Ocorre em galinceos, pssaros, pombos, psitacdeos, anatdeos, rapinantes e ratitas. A transmisso ocorre pela picada de insetos sugadores ou pelo contato com alimentos, gua, secrees e fmites contaminados. O poxvirus no passa pela pele intacta e requer cortes ou abrases na pele ou mucosa para infectar. Abrases causadas por bicadas, canibalismo e arrancamento de penas so formas de romper a integridade da pele. Muitas espcies de artrpodes podem ser vetores mecnicos do agente, inoculando-os pela picada. A doena pode manifestar-se de trs formas: cutnea, septicmica e diftrica, conforme a virulncia da cepa vrica, distribuio das leses e a susceptibilidade da ave. O ambiente em que o animal vive e o estresse contnuo pode contribuir para a ativao do vrus latente e tambm para o aumento da patogenicidade da doena, que parece ser autolimitante nas aves de vida livre. A forma cutnea da doena, tambm conhecida como Bouba Aviria, a mais observada, sendo os pssaros altamente sensveis. A manifestao clnica da doena determinada pelo aparecimento de leses nodulares proliferativas em regies sem pena, principalmente localizadas em membros inferiores, ao redor dos olhos, comissura do bico e narinas. Algumas vezes estes ndulos coalescem e formam grandes massas impedindo a viso da ave ou ainda que ela possa abrir o bico adequadamente. Em formas brandas, pequenas leses cutneas podem passar despercebidas. As leses podem se tornar inflamadas e ulceradas, sendo contaminadas por agentes oportunistas, principalmente Staphylococcus aureus, Escherichia coli e Corynebacterium sp. Microscopicamente possvel visualizar hiperplasia de clulas epiteliais com presena de corpsculos intracitoplasmticos eosinoflicos grandes, denominados Corpsculos de Bollinger. Na forma diftrica, surgem leses necrticas proliferativas pseudomembranosas na mucosa do trato digestivo e respiratrio superior, que podem chegar a obstruir a passagem de alimento e do ar. Estas leses dificultam a alimentao e a respirao, provocando anorexia, dispnia e at mesmo bito por asfixia. Pode ocorrer edema, degenerao hidrpica e metaplasia escamosa do epitlio de trato superior, hiperplasia da glndula mucosa e presena de incluses em clulas epiteliais no exame microscpico. O diagnstico diferencial inclui a Laringotraquete Infecciosa, herpesviroses, deficincia de vitamina A e leses causadas por Trichomonas sp e Doena de Newcastle.

A forma septicmica acomete principalmente canrios. Pode causar alta mortalidade pela pneumonia bronquiolar necrosante aguda que provoca. As aves mostram-se prostradas, dispnicas e arrepiadas, vindo a bito em 3 a 4 dias. As incluses nem sempre so observadas devido ao rpido curso da doena, mas quando presentes esto no pulmo e epitlio de traquia, sendo o achado mais freqente a inflamao aguda nos brnquios. O diagnstico mais simples e comum a demonstrao das grandes incluses intracitoplasmticas nas clulas epiteliais, patognomnicas de poxvirus. No existe tratamento especfico, o tratamento sintomtico. O uso de antibiticos e fungistticos pode ser necessrio para conter infeces secundrias nas leses respiratrias, gastrintestinais e tpicas. A administrao de vitamina A na dose de 30.000 a 80.000 UI/kg de peso vivo por via intramuscular e vitamina C podem ajudar na cicatrizao dos epitlios. As feridas tpicas so tratadas com pomadas antimicrobianas. A vacinao o meio mais eficiente de preveno, utilizando-se vacinas para as espcies que foram produzidas. A poxvirose apresenta similaridades e diferenas sorolgicas nos diferentes grupos de aves, que podem tornar incuas as vacinas de aves domsticas em espcies ornamentais. As aves recuperadas de infeces naturais geralmente apresentam imunidade duradoura, mas podem se tornar carreadoras e espalhar o vrus.

Vrus do Nilo Ocidental (VNO)

O Vrus do Nilo Ocidental (VNO) um flavivirus originrio da frica e Oeste da sia que causa encefalite nas aves. O vrus existe atualmente na Europa, frica e sia, e recentemente foi encontrado nos Estados Unidos, no vero de 1999. O VNO (WNV West Nile Virus) j foi relatado em mais de 110 espcies de aves hospedeiras, sendo transmitido de uma ave a outra e das aves a seres humanos por picada de mosquitos infectados. No homem o VNO pode causar febre, dor de cabea e no corpo, muitas vezes acompanhadas de erupes cutneas e inchao dos gnglios linfticos. Nas infeces mais graves h letargia, desorientao, coma, tremores, convulso, paralisia e, s vezes, morte. Como se trata de uma doena emergente que pode acometer pessoas, muitos estudos tm sido feitos para deteco do vrus, principalmente em aves migratrias, que so consideradas as responsveis pela disperso da doena pelo mundo. DOENAS NO-INFECCIOSAS

Doenas Metablicas

LIPIDOSE HEPTICA

A lipidose heptica, tambm conhecida como esteatose heptica, fgado gorduroso ou degenerao gordurosa comum em psitacdeos cativos, especialmente papagaios do gnero Amazona. A lipidose heptica tem sido descrita em vrias aves ornamentais, sendo a etiologia multifatorial: desnutrio, doenas debilitantes, anemia crnica, doenas metablicas, obesidade, toxinas qumicas e bacterianas. Em psitacdeos, a doena est geralmente relacionada a obesidade e conseqentemente a fatores nutricionais e metablicos. A obesidade ocorre quando a energia consumida excede a energia despendida por um longo perodo, sendo um problema nutricional muito comum nas aves cativas. Na maioria dos casos, resulta do excesso de alimentos calricos (como sementes oleosas) e pela pouca atividade fsica. Alm da infiltrao gordurosa no fgado, pode ocorrer secundariamente infertilidade, doena no sistema reprodutivo, anormalidades no sistema msculo-esqueltico (artrite e pododermatite plantar), ruptura do ligamento cruzado, hipertenso e disfuno cardiovascular, aterosclerose, pancreatite necrtica aguda, diabetes mellitus, lipomas, disfuno da tireide, m absoro gastrintestinal e deficincias nutricionais, especialmente de vitaminas lipossolveis e clcio. Os sinais clnicos so anorexia, regurgitao, depresso e diarria, mas freqentemente permanecem subclnicos at o bito. Na necropsia o fgado apresenta-se aumentado, plido, branco-amarelado, leve, frivel ou gorduroso. O abdmen est geralmente distendido por massas gordurosas, assim como o tecido subcutneo. As alteraes histolgicas so caracterizadas por vacolos intracitoplasmticos de gordura nos hepatcitos sem distribuio zonal ou lobular. Os vacolos so geralmente circulares e do mesmo tamanho, causando distenso dos hepatcitos e deslocamento do ncleo do centro da clula. Algumas vezes h reticulose e fibrose, bem como infiltrao gordurosa no rim. Pode haver tambm infeces intercorrentes, colangiohepatite, cardiomiopatia hipertrfica, e aterosclerose em numerosos vasos e vlvulas cardacas.

A preveno feita corrigindo-se a dieta, fornecendo-se uma dieta balanceada e permitindo o exerccio fsico das aves cativas.

GOTA RICA

A gota rica uma doena metablica caracterizada pela deposio de cristais de urato e cido rico nos diferentes tecidos do corpo. comum em aves de vrias espcies, podendo ser encontrada tanto da forma visceral como articular. decorrente, em muitos casos, de patologias renais. As causas so numerosas e podem ser multifatoriais. Qualquer doena que resulte em hiperuremia pode levar ao desenvolvimento da gota. As causas renais incluem doena obstrutiva dos ureteres, desidratao, doena renal tubular e infeces renais por bactrias e vrus. Entre as causas no-renais podem ser citados fatores relacionados hereditariedade e dietas no-balanceadas, como excesso de protena, excesso de clcio, deficincia de vitaminas, desequilbrio entre sdio e potssio, hipervitaminose D3 e B, deficincia de magnsio e fsforo, doenas infecciosas, micotoxinas, intoxicaes, desidratao, inatividade e outros fatores estressantes que diminuam a excreo do cido rico. No o nvel da protena que causa a doena, mas um desequilbrio de aminocidos que aumenta a produo de cido rico e conseqente deposio de sais de urato. A deficincia de vitamina A pode levar forma obstrutiva da doena e causar excesso de clcio tambm. A deposio de uratos sempre ocorre nos espaos extracelulares e geralmente a forma visceral aguda e a articular crnica, e raramente as duas formas aparecem simultaneamente. Na forma visceral, cristais de urato podem se depositar na membrana sinovial de algumas articulaes e tendes, mas no h reao tecidual como na gota articular. Os sinais clnicos so variveis, incluindo apatia e anorexia. Na forma articular ocorre inicialmente claudicao, inchao das articulaes, relutncia em andar, reduo da atividade fsica e dor. A gota visceral raramente diagnosticada antes do bito, e o mais comum a morte sbita. J a forma articular pode ser diagnosticada em vida atravs de um bom exame fsico.

A necropsia dos animais afetados revela leses tpicas de acmulo de urato nas serosas dos rgos internos. Em alguns casos, o depsito de sais de urato pode ocorrer apenas no rim, pericrdio ou fgado. No exame histopatolgico possvel observar nos rgos afetados grandes concentraes de cristais de urato associadas a infiltrado inflamatrio predominantemente heteroflico. No h tratamento efetivo contra a gota rica, entretanto casos onde h um diagnstico em vida ou problemas articulares, preconiza-se a correo da dieta e a utilizao de halopurinol.

HEMOCROMATOSE

O termo hemocromatose utilizado para descrever o depsito de ferro em diversos rgos, principalmente no fgado, em nveis que provocam alteraes patolgicas nos tecidos, comprometendo o funcionamento dos rgos. O ferro absorvido no trato gastrintestinal, transportado na corrente circulatria por protenas denominadas transferrinas e armazenado em associao s protenas ferritina e hemossiderina. A hemossiderina vista nos cortes histolgicos corada em marrom pela colorao hematoxilina-eosina e em tom azulado pelo corante Azul da Prssia. A causa etiolgica predominante da hemocromatose a ingesto de nveis excessivos e maior reteno de ferro em espcies suscetveis. Parece que determinadas espcies desenvolveram mecanismos que possibilitam maior eficincia na absoro intestinal do ferro. o caso dos ranfastdeos (tucanos e araaris), lris e mains. A ave acometida pela hemocromatose pode morrer subitamente sem qualquer sinal clnico. Se houver sintomatologia, pode ocorrer apatia, anorexia, emagrecimento, plumagem danificada, dispnia e aumento do volume abdominal. Na necropsia pode-se ver alteraes hepticas, desde uma simples congesto at alteraes severas, como hepatomegalia, descolorao do fgado (acinzentado ou esverdeado), manchas claras no parnquima, depsito de fibrina sobre o fgado e ascite. No exame histolgico pode-se notar marcante deposio de ferro e hemossiderina corados nos hepatcitos, clulas de Kupfer e macrfagos, reaes inflamatrias, fibrose e cirrose. O diagnstico definitivo feito pela bipsia heptica. O exame endoscpico apenas auxilia na avaliao macroscpica do fgado. Os exames bioqumicos so de utilidade

limitada. Recomenda-se a dosagem de LDH (Lacato desidrogenase), AST (Aspartato transaminase), cidos biliares, ferro srico, ferritina, capacidade total de ligao do ferro, e ndice de saturao da transferrina. O tratamento prolongado e de resultado duvidoso. A retirada do ferro depositado no fgado deve ser feita por flebotomias semanais ou agentes quelantes, como a deferoxamina na dose de 100 mg/kg SC q24h por vrias semanas at surtir efeito. Foi relatado o uso de deferiprona na dose de 50 mg/kg PO q12h durante 30 dias. A preveno a melhor medida de controle da doena nas criaes e consiste na alimentao de aves sensveis hemocromatose com dietas de baixos nveis de ferro. Recomenda-se raes com no mximo 80 ppm (partes por milho) de ferro, embora concentraes menores sejam desejveis.

DOENA SSEO-METABLICA (DOM)

Os ossos so formados por uma matriz de colgeno e cristais de minerais que so depositados nessa matriz estrutural. A remodelao ssea feita pelos osteoblastos e osteoclastos. O clcio e fsforo so os principais minerais sseos. Os termos doena sseo metablica e hiperparatireoidismo nutricional secundrio se popularizaram na clnica de animais selvagens e refere-se a diversas patologias, tais como raquitismo, osteomalcia, osteopenia, osteoporose e osteodistrofia fibrosa. O raquitismo ocorre principalmente em aves jovens e refere-se mineralizao insuficiente da matriz ssea, decorrente da deficincia de clcio e/ou vitamina D na dieta ou pela exposio insuficiente luz ultravioleta B (UVB). O metabolismo do clcio, fsforo e vitamina D explicado detalhadamente em outras publicaes.11,12 De maneira resumida, o clcio e fsforo so absorvidos no intestino conforme a concentrao e biodisponibilidade desses minerais na dieta e tambm, dependem da capacidade do intestino em absorv-los. A absoro se d de forma passiva e ativa. A forma ativa depende da 1,25-diidroxi-vitamina D, que regula o movimento do clcio atravs da parede intestinal. Portanto, a deficincia de vitamina D, seja pela ingesto insuficiente dessa vitamina ou pela produo insuficiente na pele pela ausncia de raios solares ou luz UVB, causa uma m absoro de clcio no intestino e conseqente DOM. A vitamina D3 apresenta atividade biolgica muito superior vitamina D2. O paratormnio, produzido na paratireide, responsvel pela mobilizao do clcio

sseo para a corrente circulatria e aumenta a ativao da vitamina D no rim. O excesso tanto de clcio como de fsforo nutricional leva formao de fosfato de clcio insolvel no sistema digestivo e conseqente indisponibilidade do mineral que estiver em menor concentrao. Portanto, necessrio que esses dois minerais estejam em equilbrio na dieta. A proporo de clcio e fsforo recomendada para as dietas das aves varia respectivamente de 1:1, 2:1 ou 3:2 (relao clcio para fsforo) e a concentrao de clcio no precisa ser superior a 1% na dieta para aves em fase de manuteno. Aves em postura e filhotes em crescimento necessitam de nveis mais elevados de clcio. O papagaio-do-congo (Psittacus erithacus) parece ser mais predisposto hipocalcemia tetnica. Nestes pacientes, a dosagem do clcio srico indicar nveis abaixo dos normais para a espcie. A aplicao de clcio (gluconato de clcio ou outros) por via endovenosa, intramuscular ou intra-ssea o tratamento emergencial nas aves hipocalcmicas. Aves carnvoras que se alimentam de msculos so candidatas a apresentar a DOM. Msculos e vsceras apresentam baixa concentrao de clcio e a relao de clcio e fsforo pode alcanar ndices de at 1:20. Recomenda-se que as aves de rapina sejam alimentadas com presas inteiras abatidas (cobaias, ratos, camundongos, coelhos e aves). Se receberem carne (msculo), necessria a adio de clcio em doses corretas. Psitacdeos mantidos com dietas base de sementes tambm esto predispostos DOM, pois esses alimentos so pobres em clcio e ainda apresentam altos nveis de gordura, que interferem na absoro de clcio no intestino. Os nveis de clcio e fsforo so aproximadamente: 1:7 na semente de girassol, 1:26 no milho e 1:6 no amendoim. Aves com DOM podem apresentar anorexia, apatia, deformidades sseas, microfraturas, fraturas e entortamento sseo, estreitamento da bacia, deformidade de bico, paralisia, fraturas na coluna vertebral e relutncia a ficar de p e movimentar-se por causa da dor. As fmeas em postura podem apresentar ovos com casca fina ou mole, atonia de tero, distocia, reteno de ovos no oviduto e ossatura enfraquecida. No exame radiolgico percebese uma reduo na densidade ssea, principalmente na camada cortical dos ossos longos, fraturas em dobra, deformidades sseas e outras alteraes esquelticas. As ratitas podem apresentar deformidades dos ossos das pernas por causa do excesso de peso e descalcificao ssea. Dietas excessivamente proticas ou calricas podem favorecer as deformidades sseas nas ratitas.

O tratamento consiste no balanceamento nutricional da dieta, principalmente do clcio, fsforo, vitamina D3 e mangans. Suplementao de clcio e vitamina D3 por via oral ou parenteral, exposio diria do paciente luz solar ou ultravioleta B (UVB) e correo das deformidades sseas e fraturas com imobilizaes externas ou mesmo cirurgia. As deformidades sseas graves podem ser irreversveis.

EMPACHAMENTO DE TRATO DIGESTIVO SUPERIOR

O empachamento de alimento no inglvio decorrente da atonia ou reduo do peristaltismo do rgo e pode ter vrias etiologias. Em filhotes de psitacdeos alimentados artificialmente geralmente est relacionada ao manejo alimentar incorreto, hipotermia, infeces bacterianas ou fngicas, tricomonase, desequilbrio metablico, ingesto de corpo estranho, debilidade fsica, herpesvirose, polyomavirose, intoxicao por chumbo, atonia por distenso exagerada do inglvio, queimadura do inglvio, alimento fibroso ou espessos resultando na formao de massa compacta no inglvio, obstruo intestinal, vlvulo e sndrome-da-dilatao-do-proventrculo. A causa mais freqente do aumento do tempo de esvaziamento do inglvio a administrao de dietas imprprias como alimentos frios, gordurosos, espessos e fibrosos. Se o inglvio permanecer repleto por muito tempo, pode ocorrer a fermentao do alimento e infeces bacterianas e fngicas, principalmente as bactrias Gram negativas e leveduras que causam acidez, agravando ainda mais o quadro clnico. As infeces podem causar anorexia, desidratao e evoluir para septicemia. So freqentes os empachamentos de proventrculo e ventrculo nas ratitas, decorrentes de mudanas na dieta, mudana de ambiente e situaes estressantes, tanto em animais jovens como em adultos. Na necropsia v-se o inglvio geralmente distendido, repleto de alimento pastoso ou endurecido, acmulo de fludo ou muco, podendo estar associados a infeces fngicas ou bacterianas, confirmadas durante o estudo microscpico. O tratamento imediato dos filhotes com empachamento de inglvio consiste na administrao de soro fisiolgico tpido no inglvio e retirada do contedo retido com uma

sonda rgida ou flexvel. Nos casos mais complicados pode ser necessria a ingluviotomia. Nos casos de impactao do ventrculo e proventrculo, preconiza-se a utilizao de leo mineral via oral associado a massagem local para a dissoluo do bolo alimentar. A causa primria da impactao deve ser tratada imediatamente.

AUTOBICAMENTO DE PENAS

O autobicamento ou arrancamento de penas um problema comum na clnica aviria, sendo os psitacdeos os mais acometidos. Caracteriza-se pelo arrancamento ou destruio das prprias penas ou das penas de outras aves que estejam no mesmo ambiente. Quando se trata de autoarrancamento, as reas afetadas so o peito, dorso e asas regies do corpo onde a ave alcana com o bico. Permanecem intactas as penas da cabea e pescoo, locais inacessveis para a ave se automutilar. Esse comportamento obsessivo pode evoluir para a autoflagelao com leses graves na pele e msculos. Aves com esse distrbio crnico podem causar leses irreversveis nos folculos das penas, criando reas de alopecia definitiva. Embora no seja difcil reconhecer uma ave autobicadora, descobrir a etiologia desse distrbio nem sempre possvel. A resposta ao tratamento , muitas vezes, a nica forma de diagnstico. imprescindvel uma boa anamnese que indique as condies ambientais em que o paciente se encontra, o seu relacionamento com o dono, o manejo reprodutivo, a alimentao, tratamentos e doenas anteriores. O exame clnico deve ser minucioso, observando-se primeiramente o comportamento da ave na gaiola e seus excrementos. No exame fsico so examinadas cuidadosamente as penas (aspecto geral, folculos, colorao, presena de ectoparasitos), pele, boca e condio fsica geral. Exames de microscopia das penas e suas polpas so necessrios para identificao de ectoparasitas, fungos e bactrias e clulas inflamatrias. Exame coprolgico e microscopia de esfregaos de fezes corados por Gram indicam a presena de endoparasitas e alteraes na flora intestinal. Exames de hematologia e bioqumica do sangue, microbiologia, radiologia, bipsia de pele, funo da tireide e outros exames podem ser solicitados pelo veterinrio como forma de eliminar suspeitas clnicas. O autoarrancamento de penas tem diversas origens, podendo classific-las em causas de fsicas e comportamentais. As causas fsicas mais comuns so ectoparasitos (caro vermelho Dermanyssus spp, caros de penas e sarna cnemidocptica), endoparasitas (Giardia, outros protozorios e helmintos), infeces respiratrias, clamidiose, organopatias

(hepatopatias), dermatite, foliculite, viroses (circovirus causador da Doena-do-bico-e-pena e polyomavirus, raras no Brasil), alergia (a alimentos e aerossis), fumaa de cigarro, desnutrio, baixa umidade ambiente (que requer cuidados excessivos da ave com as penas), hipotireoidismo, intoxicao por chumbo ou zinco, perodos excessivos de luz, falta de luz solar, corte incorreto das penas das asas, e neoplasias. As causas comportamentais so normalmente de diagnstico presuntivo e incluem: tdio (espao pequeno e ambientes sem objetos de distrao), medo, ansiedade, solido, insnia, psicose, cimes, frustrao reprodutiva (pode apresentar sinais de corte, tais como oferta de alimento, monta e masturbao), medo de pessoas ou animais estranhos, superpopulao na gaiola, estresse e mudana repentina de ambiente. Se no for encontrada nenhuma causa fsica para a automutilao, passa-se ento, a considerar as causas comportamentais. O tratamento depende do diagnstico da causa predisponente. Pode-se utilizar um colar-elizabetano apenas como medida paliativa. O tratamento especfico poder incluir antibiticos, antifngicos, anti-helmnticos, antiparasitrios, antiinflamatrios (ibuprofeno, dexametasona e outros), analgsicos (butorfanol), anti-histamnicos, cidos graxos mega 3, suplementao nutricional, hormnio tireoidiano (levotiroxina sdica ou T4), antidepressivos (clomipramina), ansiolticos (diazepan) e antipsicticos (haloperidol). Produtos fitoterpicos, homeopticos e acupuntura tm sido empregados por veterinrios especializados nessas reas. Em muitos casos, o resultado frustrante, no se alcanando a cura definitiva. fundamental oferecer melhor qualidade de vida ave cativa, providenciando mais espao, aves para companhia e reproduo, ambientes limpos, iluminados e arejados, fazer o enriquecimento ambiental e reduzir fatores estressantes. Intoxicaes

As intoxicaes em aves mantidas em cativeiro so relativamente freqentes e podem ocorrer por ingesto, inalao ou absoro percutnea de substncias txicas e tambm pela administrao inadequada de medicamentos ou sobredose. As aves so mais propensas a intoxicaes que os mamferos e rpteis. Por serem curiosas e ativas, acabam ingerindo materiais estranhos e txicos. Alm disso, as aves apresentam caractersticas antomofisiolgicas que favorecem as intoxicaes. O sistema respiratrio altamente eficiente dispersa mais rapidamente as partculas e gases txicos inalados. A alta taxa metablica tambm contribu para a rpida distribuio do agente txico e a baixa concentrao de gordura

corporal no favorece o acmulo da toxina no tecido adiposo e conseqentemente o agente txico se dispersa mais rapidamente. Outra desvantagem, principalmente das aves pequenas, que mesmo a ingesto ou inalao de baixas concentraes de agentes txicos altamente danosa ao pequeno organismo. As intoxicaes mais comuns so por metais pesados, inseticidas, herbicidas, plantas txicas, agentes farmacolgicos, vitaminas e micotoxinas. O melhor mtodo de diagnosticar as intoxicaes em aves silvestres obter um histrico detalhado, pois os sinais clnicos normalmente sugerem uma variedade de agentes causais. Radiografias podem ajudar, demonstrando a presena de objetos metlicos no trato gastrintestinal, entretanto, a confirmao ocorre pela quantificao dos metais no sangue ou tecidos ou pela atividade de enzimas.

CHUMBO E ZINCO

As intoxicaes por metais pesados mais freqentemente relatadas em aves esto associadas ao chumbo. Entretanto, outros metais que intoxicam as aves so o zinco, cobre, arsnio, mercrio, selnio, nitratos, cdmio e ferro. A intoxicao por chumbo ou saturnismo a mais comum nas aves e uma fonte de contaminao so as telas galvanizadas de gaiolas e viveiros, que possuem altas concentraes de chumbo e zinco. O chumbo, uma vez ingerido, degradado por cidos no estmago e absorvido para a corrente sangunea, podendo causar sinais agudos ou crnicos. Uma vez na circulao sangnea, os danos pelo chumbo ocorrem principalmente nos sistemas gastrintestinal, nervoso, renal e hematopoitico. O chumbo causa necrose nas clulas do epitlio gastrintestinal. No sistema hematopoitico lesiona os eritrcitos e deprime a medula ssea. No sistema nervoso ocorre a diminuio da irrigao sangunea em conseqncia das leses em capilares e edema cerebral. Os sinais clnicos da intoxicao por chumbo dependem da quantidade ingerida e absorvida e incluem letargia, depresso, anorexia, fraqueza, regurgitao, asas cadas, impactao, poliria, polidipsia, vmito, diarria, emagrecimento progressivo, ataxia,

torcicolo, tremores de cabea, andar em crculos, paresia, paralisia, cegueira, convulso e morte. Algumas aves apresentam mudanas na colorao dos uratos que se tornam rosados, amarelados, avermelhados, esverdeados ou de cor bege, decorrente de hemlise ou necrose nos diversos sistemas. Nas intoxicaes crnicas pode haver mudana na colorao das penas, unhas e bico opacos, quebradios e com descamaes, imunossupresso e perda de peso. As leses macroscpicas incluem atrofia de musculatura, fgado de colorao esverdeada e edemaciao e impactao de proventrculo. Histologicamente pode ser visualizada necrose heptica, necrose vascular fibrinide, enterite hemorrgica necrtica, nefrose e degenerao de miocrdio e nervos perifricos. Os hepatcitos e clulas dos tbulos renais podem apresentar mltiplos ncleos picnticos e estruturas semelhantes a incluses intranucleares, semelhantes as que ocorrem no saturnismo em mamferos. Deve-se pesquisar a presena de partculas de chumbo no trato intestinal. O diagnstico aps a morte baseia-se nas leses e presena de chumbo no estmago. O diagnstico antes da morte feito pela dosagem de chumbo em sangue colhido em citrato de sdio ou EDTA. A intoxicao por zinco tem efeitos similares aos do chumbo, sendo os rgos-alvo o pncreas e rins. As fontes de intoxicao pelo zinco so normalmente as gaiolas galvanizadas, e os sinais clnicos so poliria, polidipsia, distrbios gastrintestinais, perda de peso, fraqueza, anemia, hiperglicemia, cianose e morte sbita. O zinco causa uma hipoproteinemia severa que induz o aparecimento de leses em rins, pncreas e trato gastrintestinal.

POLITERAFLUORETILENO (PTFE)

O PTFE um polmero sinttico utilizado como antiaderente na fabricao de panelas e eletrodomsticos, comercialmente conhecido como Teflon. Ele relativamente estvel a temperaturas inferiores a 260o C, entretanto acima de 280o C sofre pirlise e libera diversos gases txicos s aves.

Os pulmes so o alvo dos produtos de degradao do PTFE e geralmente morte sbita, mas dependendo do grau de exposio, pode haver sinais clnicos, tais como sonolncia, dispnia, incoordenao, fraqueza e convulso. As aves normalmente morrem aps 20 a 30 minutos da inalao dos gases txicos apresentando severa hemorragia pulmonar. Na necropsia possvel visualizar congesto, edema e hemorragia pulmonar e presena de material eosinoflico proteinceo no lmen parabronquial. Microscopicamente possvel observar pneumonite caracterizada por congesto e hemorragia difusa e capilares areos obliterados por exsudato hemorrgico. Pode ainda ser visto necrose da superfcie epitelial em alguns brnquios e capilares areos. O achado de material cristalino no parnquima pulmonar pode indicar a presena de partculas txicas. Ocasionalmente as partculas de PTFE podem ser visualizadas atravs de exame histopatolgico. Pode haver, ainda, hemorragia no crebro, congesto, degenerao e necrose heptica, degenerao e necrose no miocrdio. O diagnstico baseado em um histrico preciso e achados anatomopatolgicos, pois a maioria dos casos de intoxicao so agudos e o proprietrio desconhece a causa.

MICOTOXINAS

Micotoxinas so metablicos qumicos produzidos por uma srie de fungos que crescem em gros e alimentos. Alguns fungos crescem na prpria cultura dos gros, como o Fusarium sp, outros, durante sua estocagem, como o Aspergillus sp. As condies ideais para os fungos produzirem toxinas podem ser diferentes das condies ambientais necessrias para se multiplicarem. Portanto, muitas vezes os fungos podem crescer sem produzir toxinas e estas podem estar presentes no alimento mesmo depois dos fungos no mais se reproduzirem. Micotoxicose o termo utilizado para descrever uma srie de condies txicas causada pela ingesto de alimentos contaminados com as micotoxinas. As micotoxinas so normalmente produzidas em gros estocados por muito tempo em temperatura e umidade inadequadas. As toxinas mais comuns associadas a doenas em aves so as aflatoxinas

produzidas pelo Aspergillus flavus e A. parasiticus. Existe uma srie de aflatoxinas, mas a mais comum a aflatoxina B1, que mesmo em concentraes muito baixas, causam toxicose. A aflatoxicose pode afetar muitas espcies de animais e o homem, acometendo principalmente indivduos que se alimentam continuamente de gros. A susceptibilidade patologia varia conforme a espcie, idade e dieta, e em geral, as aves so mais susceptveis que os mamferos e os animais jovens so mais suscetveis que os adultos. As aflatoxinas esto geralmente associadas ao consumo de amendoim, semente de girassol e milho, mas tambm podem estar presentes em cereais e sementes. Isso faz com que os psitacdeos recebem dieta base de gros e sementes sejam as aves mais afetadas. O Aspergillus sp prolifera-se nos gros em condies ambientais em que a umidade relativa maior que 70% e a temperatura est acima de 21 C. As alteraes clnicas podem mimetizar outras doenas e so inespecficas, sendo dependentes do grau e tempo de exposio s toxinas. Nas aves expostas a altos nveis por curto perodo, os sinais clnicos mais comuns so: depresso, letargia, cegueira, perda do sentido de direo, incapacidade para voar, tremores, asas cadas, e finalmente, morte. Aves expostas a baixos nveis por longo perodo no morrem repentinamente, mas apresentam processos patolgicos de evoluo crnica, podendo apresentar perda de apetite, perda de peso e perda da condio fsica. As leses observadas na necropsia tambm variam conforme a quantidade ingerida e tempo de exposio toxina. Aves expostas a altos nveis por curtos perodos apresentam o fgado plido, aumentado, com hemorragias difusas ou multifocais em quase todo o tecido heptico. Hemorragias tambm podem ser vistas em muitos rgos abdominais, associadas ou no a processos inflamatrios. Os efeitos crnicos so geralmente vistos no fgado e na necropsia pode ser observada palidez heptica compatvel com infiltrao gordurosa, fgado enrugado e nodulaes compatveis com tumores. Alm disso, o bao e pncreas podem estar aumentados e a bursa cloacal atrofiada. Microscopicamente, pode haver degenerao e fibrose heptica com ndulos de regenerao, hiperplasia de ductos e tumores. Pode haver hemorragia no trato gastrintestinal por causa da atividade anticoagulante e aumento no tempo de protrombina produzida pela toxina. freqente ocorrer imunossupresso decorrente da queda de alfa e beta-globulinas. Sabe-se que a aflatoxina B1 pode causar mutaes genticas, neoplasias

hepticas e possivelmente defeitos fetais. Tambm pode haver imunossupresso, que pode predispor os animais a doenas infecciosas. O diagnstico baseado nos sinais clnicos, achados histopatolgicos e deteco de altas concentraes de toxinas no trato gastrintestinal e alimentos. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA:

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