alberto caeiro ficha

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 TESTE DE AVALIAÇÃO Alberto Caeiro I Depois de leres atentamente o texto que se segue, responde de forma correcta e precisa às questões apresentadas. XXXIX O mistério das coisas, onde está ele? Onde está ele que não aparece Pelo menos a mostrar-nos que é mistério? Que sabe o rio e que sabe a árvore? E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso? Sempre que olho para as coisas e penso no que os homens pensam delas, Rio como um regato que soa fresco numa pedra. Porque o único sentido oculto das coisas É elas não terem sentido oculto nenhum, E mais estranho do que todas as estranhezas E do que os sonhos de todos os poetas E os pensamentos de todos os filósofos, Que as coisas sejam realmente o que parecem ser E não haja nada que compreender. Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: – As coisas não têm significação: têm existência. As coisas são o único sentido oculto das coisas. Alberto Caeiro, in Poemas, Ed. Ática 1. Refere de que modo a estrutura estrófica do poema indicia o desenvolvimento do tema. 2. Explica a intencionalidade das interrogações retóricas presentes no poema. 3. Interpreta as referências aos poetas (v. 11) e aos filósofos (v. 12). 4. Explicita o modo como o sujeito poético constrói a sua aprendizagem. 5. Comenta o efeito conclusivo do último verso do poema. II Atenta no texto seguinte: Há pessoas que se conhecem desde sempre, sem nunca nos termos cruzado com elas. Uma qualquer coisa de semelhante a nós, uma qualquer coisa de diferente que gostaríamos de ter ou uma qualquer coisa que nos põe em consonância. O que essa qualquer coisa seja, não sei. Sei que isso me aconteceu com o Helder Macedo.  Joaquim Romero Magalhães (historiador da Universidade de Coimbra) 1. No texto que acabaste de ler, substitui a expressão “qualquer coisa” por outros vocábulos cujo significado se adeqúe ao contexto. 2. Reescreve o texto, introduzindo as necessárias alterações estruturais. III Partindo deste verso de Caeiro, redige um texto expositivo-argumentativo de cem a duzentas palavras, em que abordes a importância das sensações na poética deste heterónimo pessoano. “Eu não tenho filosofia, tenho sentidos.” Alberto Caeiro

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TESTE DE AVALIAÇÃOAlberto Caeiro

IDepois de leres atentamente o texto que se segue, responde de formacorrecta e precisa às questões apresentadas.

XXXIXO mistério das coisas, onde está ele?Onde está ele que não aparecePelo menos a mostrar-nos que é mistério?Que sabe o rio e que sabe a árvore?E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso?Sempre que olho para as coisas e penso no que os homens pensam delas,Rio como um regato que soa fresco numa pedra.Porque o único sentido oculto das coisasÉ elas não terem sentido oculto nenhum,E mais estranho do que todas as estranhezasE do que os sonhos de todos os poetas

E os pensamentos de todos os filósofos,Que as coisas sejam realmente o que parecem serE não haja nada que compreender.Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: –As coisas não têm significação: têm existência.As coisas são o único sentido oculto das coisas.

Alberto Caeiro, in Poemas, Ed. Ática

1. Refere de que modo a estrutura estrófica do poema indicia odesenvolvimento do tema.2. Explica a intencionalidade das interrogações retóricas presentes nopoema.3. Interpreta as referências aos poetas (v. 11) e aos filósofos (v. 12).4. Explicita o modo como o sujeito poético constrói a sua aprendizagem.5. Comenta o efeito conclusivo do último verso do poema.

IIAtenta no texto seguinte:Há pessoas que se conhecem desde sempre, sem nunca nos termoscruzado com elas. Uma qualquer coisa de semelhante a nós, uma qualquercoisa de diferente que gostaríamos de ter ou uma qualquer coisa que nospõe em consonância. O que essa qualquer coisa seja, não sei. Sei que issome aconteceu com o Helder Macedo.

 Joaquim Romero Magalhães (historiador da Universidade de Coimbra)

1. No texto que acabaste de ler, substitui a expressão “qualquer coisa” poroutros vocábulos cujo significado se adeqúe ao contexto.2. Reescreve o texto, introduzindo as necessárias alterações estruturais.

IIIPartindo deste verso de Caeiro, redige um texto expositivo-argumentativode cem a duzentas palavras, em que abordes a importância das sensaçõesna poética deste heterónimo pessoano.“Eu não tenho filosofia, tenho sentidos.”

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SUGESTÕES D

E CORRECÇÃI1. O poema apresenta uma estrutura estrófica tripartida, correspondendo cadauma das estrofes a momentos diferentes do desenvolvimento do tema.Assim, a primeira estrofe corresponde ao momento em que o sujeito poético seinterroga sobre a existência ou não de um mistério subjacente às coisas, àNatureza e aos seus elementos.Na segunda estrofe, o sujeito poético parece já não ter dúvidas acerca do factode as coisasnão terem nenhum mistério oculto e manifesta a sua estranheza relativamente

aalguns poetas e filósofos que se interrogam sobre o hipotético mistério dascoisas.A última estrofe, intencionalmente mais curta, encerra a conclusão da“aprendizagem”do eu poético: “As coisas são o único sentido oculto das coisas.” 2. As interrogações retóricas da primeira estrofe exprimem uma certaindiferença do sujeitopoético perante o mistério das coisas. Assim, a série de interrogações sublinhaa permanênciada dúvida relativa à existência ou não do “mistério das coisas” , da qual nãodecorre qualquer tipo de inquietação.3. As referências aos “sonhos de todos os poetas” e aos “pensamentos detodos os filósofos” aparecem inseridas no momento em que o sujeito poético já desfez as suasdúvidasquanto ao facto de as coisas não terem sentido oculto nenhum.Os sonhos dos poetas e os pensamentos dos filósofos são algo de estranho paraosujeito poético, são “estranhezas”, porque são produto da imaginação e darazão, e parao sujeito poético apenas aquilo que é apreendido pelos sentidos (“o que osmeus sentidosaprenderam sozinhos”) tem valor e é verdadeiro. Daí que “não haja nada quecompreender” nas coisas e os sonhos dos poetas e os pensamentos dos filósofos não sejammais do que “estranhezas” .4. A aprendizagem do “eu”, tal como já se referiu na resposta anterior, faz-seúnica e exclusivamenteatravés dos sentidos, uma vez que nada há para compreender: “E não hajanada que compreender. (...) os meus sentidos aprenderam sozinhos” . Tal comoem toda apoética de Caeiro, há uma clara recusa do conhecimento intelectual e umavalorizaçãodos sentidos: “Eu não tenho filosofia, tenho sentidos” , “Pensar é estar doentedos olhos” .5. O último verso é o culminar de um processo mental que se vai construindoao longo do

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texto e que tem por base a ideia de que as coisas apenas têm existência.Assim, as coisassão o que são, e reflectir sobre o seu sentido oculto, o seu “interior”, não fazsentidoe faz de todos aqueles que especulam homens “doentes”.21 SUGESTÕES DE CORRECÇÃO

 TESTE DE AVALIAÇÃO 2 – Alberto CaeiroII1. (1) – personalidade;(2) – temperamento;(3) – atitude, empatia;(4) – identidade, sintonia.Nota: Aceitam-se outras hipóteses, desde que não adulterem o sentido dotexto.2. Há pessoas que se conhecem desde sempre, sem nunca nos termos cruzadocom elas.Uma personalidade semelhante à nossa, um temperamento diferente quegostaríamos

de ter ou uma atitude que nos põe em consonância. O que essa sintonia seja,não sei.Sei que isso me aconteceu com o Helder Macedo. – exercício sobre um texto de

 JoaquimRomero MagalhãesIIIAlberto Caeiro, o Mestre de todos os sujeitos poéticos pessoanos, é alguém quevive emharmonia consigo e com os outros, é alguém que aceita o mundo e a vida talcomo eles são, éalguém que é feliz e que encontrou o meio para atingir essa paz e essaestabilidade, recusando

o pensamento e privilegiando os sentidos.Para ele, o pensamento é fonte de sofrimento e de enganos, é algo que nãopermiteconhecer o real e o mundo (“Pensar é estar doente dos olhos”, “Penso com osolhos e com osouvidos…”), e, por isso, Caeiro privilegia os sentidos, o conhecimento sensoriale directo darealidade.No entanto, a recusa da filosofia, a apologia da sensação pura é produto deuma outra filosofia,porque recusar a filosofia também é filosofar, e dizer que não se pensa também

 já épensar. Por isso, podemos considerar Caeiro um falso ingénuo e afirmar que asua aparentesimplicidade é resultante de uma elaborada operação mental.Apesar desta desconcertante dualidade – ingenuidade autêntica ou trabalhada –Caeiro é,sem dúvida, o poeta da visão ingénua e instintiva.(183 palavras)