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AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL N.º 5027-95.2010.6.04.0000
CLASSE 03
AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL
RÉU: LIBERMAN BICHARA MORENO
Advogados: Dr. Marcus di Fabianni Ferreira Lopes, OAB/AM A-358
Advogada: Karla Lima Moreno, OAB/AM n. 3.600
RÉU: JOSÉ APARECIDO DOS SANTOS
Advogada: Dra. Etelvina de Lima Mateus, OAB/AM n. 1.121
RÉU: AMAZONINO ARMANDO MENDES
Advogado: Dr. Marco Aurélio de Lima Choy, OAB/AM n. 4.271
RÉU: CARLOS ALBERTO CAVALCANTE DE SOUZA
Advogado: Dr. Ney Bastos Soares Júnior, OAB/AM n. 4.336
RÉU: OMAR JOSÉ ABDEL AZIZ
Advogado: Dr. Daniel Fábio Jacob Nogueira, OAB/AM n. 3.136
RÉU: JOSÉ MELO DE OLIVEIRA
Advogado: Dr. Daniel Fábio Jacob Nogueira, OAB/AM n. 3.136
Relator: Desdor. Flávio Humberto Pascarelli Lopes
Protocolo n. 38.718/2010
DECISÃO
O autor interpôs, às fls. 391/397, agravo regimental cumulado com pedido de
reconsideração contra a decisão de fls. 385/386, da lavra do ilustre Des.
Aristóteles Lima Thury, na qualidade de Corregedor Regional Eleitoral
Substituto, que indeferiu o pedido de devolução de prazo para oferecimento de
prazo para alegações finais.
Aduziu, em síntese, que “o decisório impugnado foi baseado em premissa fática
divorciada da realidade, uma vez que o Procurador Regional Eleitoral estava no
pleno exercício de suas funções. Apenas não poderia atuar especificamente
nestes autos em virtude de suspeição”.
Discorreu sobre a particularidade do caso em comento, haja vista a natureza
específica da investidura da função de Procurador Regional Eleitoral.
Argumentou que o deferimento ou não de férias dos Procuradores da República
está submetido ao crivo do Procurador-Chefe da PGR do Amazonas, e não do
Procurador Regional Eleitoral.
Ao fim, aduziu que não poderia prever que os autos em que o Procurador
Regional titular averbou sua suspeição seria encaminhado justamente no
período em que os procuradores substitutos estava usufruindo férias.
Concluiu que o pedido de novo prazo formulado tem justificativa adequada para
o caso.
Às fls. 402/405, contrarrazões do recorrido Amazonino Armando Mendes, às fls.
407/409, contrarrazões do recorrido Liberman Bichara Moreno e, às fls.
411/413, contrarrazões dos recorridos Omar José Abdel Aziz e José Melo de
Oliveira.
É o relatório.
Decido.
Embora por fundamentos distintos, acolho o pedido de reconsideração
formulado pelo autor.
Com efeito, a razão que me leva a decidir pelo acolhimento do pedido autoral
remete a interpretação do princípio constitucional da isonomia aplicado ao
direito processual eleitoral, que, a meu ver, não se mostrou adequada na
decisão antecedente.
A meu juízo, ainda quando parte, o Ministério Público Eleitoral, em regra, não
se sujeita ao mesmo tratamento franqueado aos cidadãos comuns enquanto
participantes de determinada relação processual eleitoral. Explico.
O exercício da função de Procurador Regional Eleitoral demanda um
procedimento oficial de investidura próprio, diferentemente do que se verifica
quanto à atuação em juízo de qualquer cidadão, a qual se sujeita única e
exclusivamente ao arbítrio deste quando da escolha do advogado que
patrocinará a defesa de seus interesses.
Nesse sentido, dispõe o art. 76 da Lei Complementar n.º 75/1993:
“Art. 76. O Procurador Regional Eleitoral, juntamente com o seu substituto, será
designado pelo Procurador-Geral Eleitoral, dentre os Procuradores Regionais da
República no Estado e no Distrito Federal, ou, onde não houver, dentre os
Procuradores da República vitalícios, para um mandato de dois anos.”
Portanto, se a atuação do Ministério Público na seara eleitoral demanda a
observância de procedimento de investidura especial distinto daquele ao qual
se submete o cidadão comum para defesa de seus interesses em juízo, não em
parece justo e nem tampouco razoável pretender conferir-lhes o mesmo
tratamento.
Assim sendo, a partir do momento que o legislador pátrio houve por bem
conferir legitimação processual ativa ao órgão ministerial para propor a ação
eleitoral disciplinada no art. 22 da Lei Complementar n.º 64/90 definiu-se que o
Parquet passaria a ter tratamento diferenciado em razão das suas
peculiaridades revelando, com isso, perfeita aplicação do postulado
constitucional em comento.
Nesse sentido, Nelson Nery Júnior leciona que “dar tratamento isonômico às
partes significa tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na
exata medida de suas desigualdades.”
No mesmo sentido, oportuna a lição de Alexandre Freitas Câmara:
“A isonomia (ou igualdade) está intimamente ligada à idéia de processo justo –
isto é, de devido processo legal –, eis que este exige necessariamente um
tratamento equilibrado entre os seus sujeitos. Por essa razão, aliás, dispõe o
artigo 125, I, do CPC, que é dever do juiz assegurar às partes um tratamento
isonômico. Não se pode ver, porém, neste princípio da igualdade uma garantia
meramente formal. A falsa idéia de que todos são iguais e, por isso, merecem o
mesmo tratamento é contrária à adequada aplicação do princípio da isonomia.
As diversidades existentes entre todas as pessoas devem ser respeitadas para
que a garantia da igualdade, mais do que meramente formal, seja uma garantia
substancial. Assim é que, mais do que nunca, deve-se obedecer aqui à regra
que determina tratamento igual às pessoas iguais, e tratamento desigual às
pessoas desiguais.”
Dessa forma, considerando que os Procuradores da República investidos da
função de Procurador Regional Eleitoral Substituto e eventual, Dr. Sílvio
Pettengil Neto e Dr. Thales Messias Pires Cardoso, encontravam-se no gozo de
suas férias regulamentares quando do recebimento da intimação (fls. 350/351),
o que, a meu juízo, não pode ser tratado como inadequado, uma vez que o
rodízio é próprio do sistema de substituição, sendo inconcebível, sim, pretender
que o titular e os substitutos gozem de suas férias ao mesmo tempo,
demonstrado está o justo impedimento para prática do ato no prazo assinado
pela legislação eleitoral.
Por todo o exposto, com a vênia do eminente colega que me antecedeu na
condução do feito, entendo que o evento noticiado pelo autor reputa-se sim
justa causa capaz de autorizar a devolução do prazo para que ele pratique o
ato, cuja realização oportuna restou impedida por evento alheio à sua vontade,
nos moldes do art. 183, §2.º, do CPC.
Posto isso, no exercício de retratação que me confere o art. 130 do Regimento
Interno desta Corte, defiro o pedido de devolução de prazo formulado às fls.
346/347, reputando prejudicado, por conseguinte, o agravo regimental
manejado cumulativamente.
Após, a fim de evitar eventuais alegações de nulidade processual, intimem-se
novamente os réus para, querendo, manifestem-se sobre as razões oferecidas
pelo demandante.
CUMPRA-SE.
À SJD para providências.
Manaus (AM), 05 de dezembro de 2011.
Des. RAFAEL DE ARAÚJO ROMANO
Corregedor Regional Eleitoral Substituto