ah - agronotícias | 23 de junho de 2016

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Especial do jornal A Hora Circulação mensal JUNHO | 2016 GIOVANE WEBER Vitamine-se Condições meteorológicas favoráveis, boa produtividade e preço estável trazem otimismo aos citricultores. Projeção é de colher 433 mil toneladas em 27 mil hectares. Páginas 9 a 14

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Especial do jornal A Hora Circulação mensalJUNHO | 2016

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Vitamine-se Condições meteorológicas favoráveis, boa produtividade e

preço estável trazem otimismo aos citricultores. Projeção é de colher 433 mil toneladas em 27 mil hectares.

Páginas 9 a 14

02

Em todo estado, a citricultura ocupa em torno de 27 mil hectares. Para este ciclo, a projeção é de colher 433 mil toneladas de laranjas, bergamotas e limões. No entanto, a maior parte das frutas é oriunda da agricultura familiar, de pequenas áreas, onde a produção de citros virou uma alternativa para diversi-ficar a renda.

Com um fruto de sabor diferenciado, conquista clientes em todo mundo. Entre os desafios para tor-nar o negócio cada vez mais sustentável e lucrativo e atender a demanda desejada pela indústria, tanto em escala como qualidade, é preciso unir os produtores. Ao contrário das cadeias de suínos e aves, a citricul-tura não é integrada.

Existem vários exemplos pelo estado, como em Liberato Salzano, Arvorezinha e Montenegro onde foram criadas associações para beneficiar e comercializar a fruta.

Nessas sociedades, tudo é feito em conjunto, des-de a compra de insumos, orientação técnica, defini-

ção de preços e busca por novos mercados. Todos ganham com o sistema.

Com um rígido controle de gestão em todas as etapas produtivas, chega ao consumidor um fruto de alta qualidade e saudável.

É preciso se modernizar para crescer, diversificar as variedades cultivadas e, assim, conseguir atender o consumidor com oferta em escala e qualidade, durante os 12 meses do ano. Oferecer ao produtor garantia de preço mínimo e um seguro são ações fundamentais para manter o pomar em momentos de baixa rentabilidade. A venda direta, sem atraves-sadores, é uma forma de fidelizar antigos clientes e conquistar novos.

Ao mesmo tempo em que o processo produtivo en-careceu nos últimos anos, o consumo caiu. De 2001 a 2008, a queda foi de 17% diante do interesse maior dos europeus, norte-americanos e japoneses por águas aromatizadas, energéticos, isotônicos, sucos de outras frutas, além, é claro, dos refrigerantes.

É preciso falar dos benefícios da bebida, provocar o interesse e renovar o impulso dos consumidores de todo mundo pelo mais nutritivo e saudável de todos os sucos, o de laranja.

Boa leitura!

Editorial

Fundado em 1º de julho de 2002Vale do Taquari - Lajeado - RS

Diretor Geral: Adair WeissDiretor de Conteúdo: Fernando WeissDiretor de Operações: Fabricio Almeida

Tiragem desta edição: 10.000 exemplares. Disponível para verificação junto ao impressor (ZH Editora Jornalística)ARTE

Gianini Oliveira e Fábio Costa

COORDENAÇÃOGiovane Weber

DIREÇÃO EDITORIALFernando Weiss

PRODUÇÃOGiovane Weber

União é saída para pequenos produtores

Os produtores que conseguirem se

organizar, trabalhar com tecnologia

e alta produtividade poderão ganhar

muito dinheiro

Tenho ditoA seguir, a opinião sintetizada sobre este caderno dos integrantes do grupo de discussão, que

participam a cada mês da elaboração das principais pautas e temas abordados.

4 Noz pecã – Oferta menor aumenta disputa por fruta

8 Entrevista com Jane L. W. Berwanger, presidente do IBDP

6 Cinzas ajudam a recuperar solo

9Citros – Safra farta no pomar

Índ

ice

JUNHO/2016

Comercialmente, a atividade é pouco expressiva na região, e para

torná-la competitiva é preciso buscar conhecimento e produzir em

grande escala. Sem projeção financeira estável, pomares inteiros

foram eliminados no Vale do Taquari. Uma das alternativas seria

o beneficiamento da produção em agroindústrias, no entanto, o

elevado investimento e a necessidade de ter produção contínua

são limitadores. Assim, permanece apenas o cultivo para o

abastecimento familiar.

Lauro Baum – Diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lajeado

Sugiro aos produtores investir em variedades mais precoces e de meia estação para

atender a demanda da indústria, que hoje opera com 50% da capacidade e importa cem

mil toneladas de frutas por ano. Garantir preço mínimo e se unir em

cooperativas é outra necessidade para se manter no mercado. Ainda

estamos atuando de forma muito independente. Manter um padrão

de tamanho e qualidade e se aproximar do consumidor são pontos

cruciais para consolidar novas frentes.

Paulo Lipp João – Coordenador da

Câmara Setorial de Citricultura

Co

ab

O desafio da citricultura é ao mesmo tempo uma grande oportunidade: aumentar a

exportação de frutas e de suco de frutas cítricas para outros estados. Graças

ao clima propício e conhecimento técnico dos citricultores do Vale do

Caí, são produzidas frutas de excelente qualidade. Falta às associações

e cooperativas assumirem esse protagonismo, a exemplo de algumas

que já o fazem, como a Ecocitrus e a Associação Montenegrina de

Fruticultores. No Vale do Caí, são produzidas laranjas e bergamotas que

abastecem o mercado gaúcho desde março até outubro. Entretanto, o

comércio e o consumidor ainda não conhecem as características de cada

uma. Esse também é um trabalho a ser feito pelo setor.

Derli Paulo Bonine – Assistente técnico regional em

Fruticultura da Emater Regional Lajeado

do

r.

mi

04O cultivo de nozes cresce 700 hectares ao ano, segundo dados da Emater. Neste ciclo, a produção foi prejudicada pelo excesso de chuva. As perdas alcançam 40% por planta. RS é responsável por 49% do volume produzido no país.

JUNHO/2016

Oferta menor aumenta disputa por fruta

O fenômeno El Niño é responsável pela queda de até 40% na produtividade por

planta. Com a média de dois mil quilos por hectare, são colhidos apenas 1,2 mil quilos neste ciclo. Excesso de chuva na primavera prejudicou a polinização das árvores, realizada pelo vento. A perspectiva é de uma melhora significativa na próxima safra, com a possibilidade de ocorrer o La Niña, com períodos maiores de seca.

A situação não se restringe à atual safra. Nos últimos dois anos, houve perdas significati-vas em função da umidade. Isso favoreceu o aparecimento de

pragas e doenças nos pomares, como a caducifólia, quando as folhas caducam e caem. A sarna também causou perdas. O fungo aparece durante a floração prejudica o desenvolvimento do fruto e, quando esse se forma, fica fora do padrão.

Com produção abaixo da demanda exigida pelas empre-sas, a noz pecã tornou-se um fruto disputado. Projetos para diversificar a oferta de produtos a partir da matéria-prima (óleo, farinha, rapaduras e chás) estão engavetados.

O preço disparou. De R$ 8 o quilo saltou para R$ 18 neste ano. Para garantir a oferta da fruta, indústrias firmam parcerias

com produtores, oferecendo desde a venda de mudas até a orientação técnica.

Por ano, cerca de 700 novos hectares são cultivados no esta-do. Conforme levantamento da Emater, a área plantada passou de 1,77 mil hectares em 2011 para 3,4 mil hectares em 2014. De acordo com dados do IBGE, o RS responde por 49% da pro-dução brasileira.

A escassez da fruta fez algu-mas indústrias interromperem o processamento por até seis meses. Conforme o diretor da

Divinut, sede em Cachoeira do

Sul, Edson Ortiz, esta foi a pior safra em termos de quantidade. “Um fornecedor do Alto Uruguai vai nos entregar apenas 200 qui-los. Em ciclos anteriores, esse nú-mero chegava a cinco mil quilos. A fruta é leiloada. De R$ 8 o quilo passou a R$ 15 em um ano.”

Por dia, a capacidade produtiva da empresa é de seis mil qui-los, reduzida hoje a apenas mil quilos, tendo em vista a pouca oferta do fruto. Por dois anos, os trabalhos da indústria ficaram pa-ralisados durante quatro meses. Segundo Ortiz, a rede de parcei-ros fornecedores alcança dois mil produtores, espalhados por 500 municípios da Região Sul,

DIVULGAÇÃO

Cerca de 700 novos hectares são cultivados por ano no estado. Área plantada passou de 1,77 mil hectares em 2011 para 3,4 mil hectares em 2014. O país importa 99% da matéria-prima consumida

Industrialização afetada

05JUNHO/2016

com média de até cinco hectares cultivados por família.

Para manter o faturamento e o emprego de 30 funcionários, in-veste na produção de mudas. No viveiro, são 400 mil exemplares, de variedades híbridas america-nas, plantas livres do ataque de doenças e fungos. O excesso de chuvas reflete em uma produção menor, mas o fruto mantém a qualidade, diz.

Por ano, são comercializadas até 50 mil unidades. A frutificação inicia no terceiro ano. Com 11 anos, atingem até 50 quilos por árvore. Para implantar um hecta-re, o produtor desembolsa entre R$ 8 mil e R$ 12 mil, dependendo do preparo do terreno e da tecno-logia empregada.

Outra alternativa para garantir a matéria-prima é ministrar cursos gratuitos sobre o cultivo, rendi-mento e manejo do pomar. Os próximos ocorrem nos dias 23 de julho e 27 de agosto. “Atuamos em todo ciclo, desde a venda de mudas, orientação técnica, com-pra e beneficiamento.”

Projetos como o de pesquisa iniciado há dez anos para fabri-car óleo de noz, petiscos e chá da casca estão parados. “Não tem como produzir com a falta da fruta.” Para cada litro de óleo, são necessários cinco quilos do fruto.

O comércio informal preocupa

Ortiz, pois muitos produtores beneficiam a noz pecã em casa e revendem para padarias e mercados. Sem procedência e cuidados sanitários, a saúde do consumidor é colocada em risco, observa.

Com 26 anos de experiência no ramo, Ortiz destaca a parce-ria com outras empresas com o objetivo de fabricar ferramentas para facilitar o trabalho dos pro-dutores. O globonut, coletor de nozes, é um exemplo.

Desenvolvido pela Ortiz, o equipamento consegue realizar o trabalho de dez pessoas na co-lheita sem demandar esforço excessivo ou postura inadequada. Outro invento é uma barreira física contra formiga, constituída de es-puma e fita plástica, a qual evita o ataque dos animais. “Ajuda a reduzir perdas, se necessita de menos mão de obra por área e facilita o trabalho.”

Fator saúde estimula vendas

Joelcio e Leticia Chiamulera,

proprietários da empresa Pecã-nobre, em Ilópolis, atuam faz dez anos no mercado e projetam beneficiar até cem toneladas até dezembro. A capacidade da agroindústria é três vezes maior após a importação de máquinas americanas que descascam as nozes por raio laser. “Existe de-manda, mas falta matéria-prima”, destaca Joelcio.

Com a escassez, foi preciso desembolsar mais na compra do produto. O quilo está cotado entre R$ 15 e R$ 18, dependen-

do da quantidade, umidade e qualidade das frutas. Beneficia-da, a noz é vendida para con-feitarias e distribuidores do RS, Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro.

São oferecidas nozes salga-das, carameladas, com cober-tura de chocolate e doce de leite, in natura, torrada, farinha e picada, em embalagens entre 100 gramas e um quilo. O preço do quilo chega a R$ 70. “Vamos reduzir a carga horária dos sete funcionários, pois não teremos produto suficiente neste ano.”

Chiamulera destaca o aumento do consumo e da área cultivada pela questão saúde.

Dependendo da variedade

escolhida, necessita entre 300 a 500 horas de frio por ano com temperaturas abaixo de 8ºC e 7,2ºC para garantir um bom de-senvolvimento. Isso explica em parte o cultivo concentrado em apenas alguns estados e países.

Outro cuidado necessário é o espaçamento, entre sete e 10 metros é o ideal. A noz é origi-nária dos Estados Unidos, onde está concentrada 70% da oferta mundial. Outros 20% provém do México, onde a maioria das árvo-res são nativas.

A fruta é leiloada. De R$ 8 o quilo passou a R$ 15 em um ano.�

Edson Ortiz, empresário

Trabalho facilitado

Frio é essencial

Importante é o agricultor ter sempre análise do produto e certificado de garantia da empresa atestando a qualidade, evitar que tenha tóxicos que possam prejudicar a planta depois.

Edemar Valdir Streck,

assistente técnico

06 JUNHO/2016Cinzas de madeira foram os primeiros defensivos agrícolas. A técnica é retomada em algumas propriedades para auxiliar no manejo do solo, evitar a proliferação de pragas e doenças, além de reduzir os custos com agrotóxicos.

Cinzas ajudam a recuperar o solo 

Para garantir crescentes índices de produtivida-de, a terra precisa de cuidados. A cada ano,

são perdidos para a desertifi-cação 12 milhões de hectares produtivos – 23 hectares por minuto, 500 milhões de tonela-das no país. Dessas, oito são de nitrogênio, fósforo e potássio, nutrientes fornecidos às lavouras para aumento de produção.

A aplicação de cinzas, resul-tantes da combustão de madei-ra, e gesso é adotada por vários produtores e ajuda a recuperar o solo. Conforme Edemar Val-dir Streck, assistente técnico estadual em Recursos Naturais da Emater/RS-Ascar, as cinzas funcionam como reparadoras de acidez, auxiliando a corrigir o PH da terra.

Antes de aplicar, é recomenda-do fazer uma análise da área e do produto para saber a quanti-dade necessária e a qualidade. “A cinza é calcítica, não contém magnésio e pode estabelecer um desequilíbrio na relação cálcio e magnésio no local onde é aplicada.”

O solo compactado e pobre de nutrientes pode gerar prejuí-zo ao produtor. Chama atenção para o uso do plantio direto. “Quando mal manejado, com-pacta a terra e isso impede a entrada das raízes e da água em profundidades maiores.”

Quando a água deixa de ser infiltrada, provoca erosão, asso-reamento de rios e contamina mananciais com os resíduos de agrotóxicos. Conservar o solo é usá-lo de tal forma que as taxas de erosão não sejam superiores às de formação, ensina Streck, ou seja, a taxa de erosão deve fi-car inferior a cem quilos de terra

por hectare/ano (solo/ha/ano). A terra se forma a partir da

decomposição das rochas, sendo variável de acordo com as condições meteorológicas locais e a presença de micro--organismos, auxiliados pela vegetação. “Para ser formado um milímetro de solo, leva 250 anos, correspondendo a um valor aproximado de 80 quilos de solo por hectare ano.”

Conforme Leandro Zancanaro, pesquisador da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso, é preciso res-peitar a aptidão de cada am-biente da propriedade. Segundo ele, há ambientes mais sensíveis e outros menos. “Eu tenho que caracterizar o ambiente, respei-

tar a aptidão de cada um, esta-belecer um manejo específico. É fundamental permitir o cresci-mento da raiz em profundidade.”

      De acordo com o pesquisador

da Embrapa Cerrados, Djalma Martinhão Gomes de Souza, dadas as vantagens propor-cionadas pelo gesso agrícola, é preciso ficar atento às doses aplicadas, ou seja, não aplicá-lo

Aplicação criteriosa

Kipper utiliza 80 toneladas

de cinzas, por ciclo, nas

lavouras de milho. Mate-

rial ajuda a inibir o ataque

de pragas como a lagarta

GIOVANE WEBER

07

A cobertura verde precisa ser misturada ao solo antes do plantio. Permite melhor absorção dos nutrientes e água, além de melhorar a fixação das raízes. Quanto mais profunda, melhor o desenvolvimento.

João Kipper, produtor

JUNHO/2016

onde não existe necessidade.O material é um subproduto

da indústria de fosfatados, e por isso, tem baixo custo – em média R$ 50 a tonelada. Dependendo da localização da propriedade, o maior gasto é com o frete. A aplicação indicada é de duas toneladas por hectare. “Antes de se tornar um insumo importante para a lavoura, o gesso não tinha destinação correta.”

Uma aplicação desnecessária dificilmente trará problemas para o solo, porque é preciso uma quantidade exorbitante, muito acima do recomendado, para provocar uma contaminação do lençol freático. “O prejuízo será no bolso do produtor.”

A quantidade correta a ser aplicada em determinada área é feita com base na análise quí-mica (macronutrientes, acidez e teor de matéria orgânica e micronutrientes) e física (areia, silte e argila). Essa deve ser feita em um laboratório espe-cializado e analisado por um profissional qualificado. A coleta de amostras do solo deve ser feita na profundidade de 20 a 60 centímetros em culturas anuais. Nas lavouras perenes, a camada deve ter entre 60 e 80 centímetros.

A relação custo-benefício do

insumo é alta. Nas culturas de soja e milho, após oito anos de uso, é de R$ 15 a R$ 25 para R$ 1 aplicado.

A prática começou a ser incentivada em 1995, após 20 anos de pesquisas. Na época, o consumo médio totalizava cerca de 200 mil toneladas por ano.

Em 2010, as vendas do insumo saltaram para 3,5 milhões de toneladas.

O produtor João Milton Kipper, 65, de Estrela, adotou o uso de cinzas para recuperar o PH do solo há dois anos. Por safra, cul-tiva dez hectares de milho, em dois ciclos. O primeiro é destina-do à confecção de silagem e o segundo, à colheita de grãos.

Segundo ele, a queima de celulose gera minerais (potássio e fósforo puro) que ajudam na recuperação e fortalecimento da terra. “Eliminei os nematoides e reduzi a aplicação de fungici-das.” Por ano, são aplicadas 80 toneladas. O produto é com-prado de empresas da região ao preço de R$ 10 a tonelada, depositada na lavoura.

A produtividade aumentou em até 20% após a nova técnica. “A planta cresce sadia, sem ataque de lagartas ou demais pragas.” O calcário deixou de ser aplica-do na lavoura. No próximo ciclo, voltará a lavrar a terra antes de plantar, técnica comum em Mato Grosso. “O solo precisa ser mexido. Melhora a absorção de nutrientes e água. Facilita

O Mapa normatizou a pro-dução, o registro e comércio dos remineralizadores, conhe-cidos como “pó de rocha”. Trata-se de uma rocha moída e peneirada que tem a fun-ção de melhorar a qualidade física e química do solo. A diferença para os fertilizantes comuns está na solubilidade e concentração, mas ambos têm atuação complementar.

Uma das maiores vantagens do pó de rocha é a disponi-bilidade em abundância e o baixo custo. Uma tonelada de fertilizante mineral tem custo médio de R$ 1,5 mil, enquan-to a mesma quantidade de remineralizador custa R$ 200 a 300 (levando-se em conta despesas com taxa de aplica-ção e frete).

Pó de rocha

a penetração das raízes e sua fixação, fortalecendo a planta.” Destaca a importância do pro-dutor fazer uma cobertura para evitar a erosão.

Melhor

enraizamento

08

Advogada, professora, doutora em Direito Previdenciário e presidente do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário.

Jane Lucia Wilhelm Berwanger

JUNHO/2016A presidente do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP), Jane Berwanger, fala sobre os impactos de uma possível reforma na Previdência Rural, as saídas para manter o regime atual e a importância do benefício para quem vive no campo.

ENTREVISTA

“O agricultor é o culpado da vez”

Trabalhadores rurais e entidades ligadas ao setor estão preocupa-dos com a possibilidade

de o governo federal modificar as regras de aposentadoria para a classe. De acordo com o Ministério do Trabalho, 1/3 das aposentadorias do Brasil é de agricultores, que têm regime diferenciado de contribuição.

Em 2015, os gastos da Previ-dência Rural somaram R$ 102 bilhões, enquanto a arrecada-ção chegou a R$ 7,3 bilhões. Um déficit de R$ 94,5 bilhões. O trabalhador rural que não é assalariado, por exemplo, contribui de acordo com a pro-dução e não mensalmente. As taxas são menores – entre 2,1% e 2,5%.

Entre as medidas em ava-liação na Reforma da Previdência para os agricultores, estão o aumento da idade para obtenção da aposentadoria, hoje

em 55 anos para mulheres e 60 aos homens.

Outra alteração seria a impos-sibilidade de acumular bene-fícios – aposentadoria e pen-são – e o segurado especial da Previdência Rural também não poderia mais fazer a de-claração de comprovação da atividade por tempo de serviço no Sindicato dos Trabalhadores Rurais.

A Hora – Aumentar a idade mínima para a clas-se rural se aposentar é a solução para o rombo na Previdência Social?

Jane Berwanger – Primei-ro, inúmeras entidades têm questionado o déficit da Previ-dência. Isso porque a Constitui-ção determina que se faça um

orçamento da seguridade social, que ao longo dos anos tem sido superavi-tária. Segundo, porque, se faltam recursos na Previdência, é porque o próprio governo retira recursos, por meio da Desvinculação das

Receitas da União, aprovada nova-

mente, e tam-bém da deso-neração da folha de pa-

gamento. O governo desvia recursos e

depois diz que faltam. Antes de mais nada, é necessário que ele deixe de sangrar recursos da entidade. Especificamente na área rural, podem ser ado-tadas medidas como melhorar o sistema de arrecadação (hoje se arrecada apenas 1/3 do que seria possível, tendo em vista a ausência de um sistema de fiscalização adequado). Outra ação é criar o bloco de produ-tor em todos os estados. Hoje isso depende da lei de cada estado.

Quais as mudanças que podem ocorrer, como a idade mínima de 65 anos para homens e mulheres se aposentarem?

Jane – Essa é uma das ideias. É um absurdo, porque a pessoas no meio rural come-çam a trabalhar muito cedo. 80% começam a trabalhar antes dos 14 anos. Se a idade para homens e mulheres for de 65 anos, eles terão trabalhado 51 anos para se aposentar. Essa proposta desconhece a realidade do meio rural, do trabalho penoso e sofrido do agricultor.

É correto acumular be-nefícios – pensão e apo-sentadoria?

Jane – Hoje a legislação per-mite, até porque a Constituição estabelece as situações (riscos sociais) que geram benefícios. E é assim que deve ser, porque a renda gerada por quem mor-re faz falta na família. Por isso, deve ser mantida a concessão dos dois benefícios. Outra coi-sa importante é que 2/3 dos be-nefícios são de salário mínimo. Não há mais como mexer nisso. Já se reduziu demais.

Quem tem direito à apo-sentadoria?

Jane – Na cidade, existe a aposentadoria por idade aos 65 anos para o homem e 60 anos para a mulher. No meio rural, a idade é 60 anos para o homem e 55 para a mulher. A aposen-tadoria por tempo de contribui-ção não tem idade mínima. É necessário provar 30 anos de contribuição se for mulher e 35 se for homem.

Diaristas e mulheres enfrentam problemas para conseguir a aprovação. Por quê?

Jane – Sim, os diaristas di-ficilmente conseguem o bene-fício no INSS. Geralmente, têm que buscar na Justiça. Com re-lação às mulheres, o INSS nega muito mais benefícios por duas razões: porque elas têm menos documentos em nome próprio e porque muitos servidores (e até juízes) acham que elas não trabalham no meio rural.

Qual sua opinião sobre a expressão “o agricultor está quebrando a Previ-dência”?

Jane – Toda vez que o go-verno quer fazer reforma pre-cisa achar “o culpado da vez”. E agora elegeu o agricultor. Primeiro, o agricultor contribui, mesmo que muitas vezes as empresas não repassam a con-tribuição. Segundo, não há um bom sistema de fiscalização de contribuição. Terceiro, em qualquer país do mundo onde existe previdência no meio rural, é subsidiada.

No ano passado, 816,4 mil agricultores se aposentaram, cujo valor do salário por mês é de R$ 788,86. Enquanto 2,6 mi-lhões de pessoas encaminha-ram a aposentadoria no meio urbano, cujo salário chega a R$ 1.244,08.

Considerações finaisEsse é o momento de resistir

à reforma e apresentar dados para contrapor as propostas do governo.

Entrevista feita por e-mail

09JUNHO/2016Segundo estimativas da Emater, 433 mil toneladas de bergamotas, laranjas e limões chegarão aos supermercados, às indústrias de sucos e à mesa do consumidor neste ciclo. O número é maior em comparação à safra anterior, quando foram colhidas 430 mil toneladas. A área cultivada supera os 27 mil hectares.

CAPA

Suculentas, vitaminadas e apetitosas, as frutas cítricas ocupam lugar de destaque no cardápio

dos gaúchos nos meses de outo-no e inverno. Nos maiores polos de produção, localizados nos vales do Caí e Taquari e no Alto Uruguai, a safra iniciou e citricul-tores projetam bons resultados.

De acordo com o assistente técnico regional em Sistema de Produção Vegetal da Emater/RS-Ascar de Lajeado, enge-nheiro agrônomo Derli Bonine, “se anuncia uma safra muito boa, pelas excelentes condi-ções climáticas no período de primavera e verão, com chuvas regulares e bem distribuídas”, ao destacar que este período de desenvolvimento, com noites frias e dias com temperaturas amenas, é favorável à qualidade das frutas, “que estão alaranja-das e com um suco inigualável”, complementa.

O Vale do Caí é o maior produ-tor do estado. A estimativa é de colher 162 mil toneladas de ci-tros, sendo 107 mil de bergamo-tas, em área total de dez mil hec-tares. “De cada dez bergamotas comercializadas no estado, sete são colhidas na região.”

A produção de laranja avança no Alto Uruguai, com área supe-

Nos últimos anos, o mapa da produção de laranja mudou de localização no estado. Em Taquari, já considerada a terra da laranja, a cultura se limita à produção familiar. As áreas co-merciais quase desaparecem e deram lugar ao plantio de euca-lipto e acácia negra, destinadas à indústria moveleira.

Segunda a engenheira agrôno-ma da Fepagro, Elisabeth Lis-boa de Saldanha Souza, lotada no Centro de Pesquisas Emílio

Schemck, de Taquari, as planta-ções foram quase extintas pela falta de sucessores. “Quem não migrou para a cidade ou vendeu as terras, passou a investir no reflorestamento.”

Ao contrário disso, em Liberato

Salzano, existe grande empenho dos produtores e a busca contínua por qualificação das etapas produ-tivas. O presidente da Associação dos Citricultores do município, Leandro Rubini, confirma a expan-são da área cultivada de laranja,

com destaque para a variedade valência, com mercado garantido na indústria de suco ou direto ao consumidor.

A área cultivada na cidade chega a 1,1 mil hectares de ber-gamota e laranja, 20 variedades, sendo a maioria de laranjas. As primeiras frutas começaram a ser produzidas em 1987. No entanto, a expansão maior foi registrada entre 2004 e 2009, quando foram cultivados 800 hectares. “Hoje a citricultura é rentável e segura.”

Para este ciclo, a entidade pro-jeta a colheita de 20 mil toneladas de frutas. A maior parte é destina-da à fabricação de suco em uma indústria local, instalada há cinco anos, com capacidade de proces-sar até 28 mil toneladas por ano.

Outro parcela é exportada para a Suíça, em torno de 500 toneladas de suco por ano. No ciclo passado, cada tonelada era vendida a US$ 2,3 mil dólares.

Safra farta no pomar

Mapa da produção muda

rior a 2,9 mil hectares, distribuí-das em duas mil propriedades. Para Bonine, a atividade se mostra uma excelente alternativa de negócio e cresceu nos últi-mos cinco anos, em especial a produção de bergamotas ou tan-gerinas. “O nosso fruto tem um sabor mais agradável ao paladar se comparado a áreas localiza-

das no restante do país.”As primeiras variedades co-

lhidas são a satsuma e okitsu. Depois, vêm as comuns caí, pareci e montenegrina, no fim de agosto. O RS é o terceiro maior produtor de bergamotas, perden-do apenas para os estados de São Paulo e Paraná. Montene-

gro, Pareci Novo, São José

do Sul, Harmonia e São

Sebastião do Caí concentram 60% da produção gaúcha.

Produtores investem em novas variedades para aten-der a demanda do mercado consumidor durante os 12 meses do ano e reduzir as importações

ANDERSON LOPES

10 JUNHO/2016

CAPA

A diversificação de cultivares de citros é um dos fatores que viabiliza a atividade

na pequena propriedade

Jocemar Marta, produtor

Para reduzir as barreiras entre produtor e consumi-dor, foi criada há cinco a associação de citricultores. São cem famílias integra-das com 400 hectares, cuja oferta de matéria--prima neste ciclo chega a seis milhões de quilos.

Segundo Rubini, essa é a forma encontrada para manter um bom padrão de qualidade da fruta, ter quantidade e atender novos mercados, cruciais para consolidar e expandir a atividade.

Ele ainda destaca outras opções, como a produção de frutos para indústria de suco na entressafra — com preço maior e que soma cerca de 30% dos pomares. Até 2021, devem ocupar até 50% da área em produção. “Muitos produtores investem nas variedades sem sementes, de ciclo precoce, cuja sa-fra inicia em abril, quando a oferta no mercado é

menor e se obtém uma melhor remuneração. O quilo chega a custar R$ 1,20.”

Outra meta é elevar a produtividade média por hectare a 45 toneladas. Hoje, esse percentual chega a 25 toneladas. O produtor Jocemar Marta, no Distrito Pinhalzinho, em Liberato Salzano, mantém 24,5 hectares, onde cultiva 18 variedades de citros, entre laranja e bergamota.

Para Marta, a diversi-ficação de cultivares de citros é um dos fatores que viabiliza a atividade na pequena proprieda-de. Com isso é possível ampliar o calendário de colheita, ter maior regula-ridade de oferta do produ-to, melhor aproveitamento da mão de obra familiar, oferta maior de varieda-de de frutos e atender aos mais diversos tipos de mercado, in natura e indústria, destaca.

Qualidade e quantidade

Com a possibilidade de vender as frutas para abastecer re-feitórios escolares, Petter retomou os cuidados no pomar

11JUNHO/2016

A maioria aqui é pequeno produtor,

independente e sem regularidade de

estoque, [...]

Paulo Lipp João,

coordenador

Há 30 anos, o sogro de Romano Petter, de Bom Retiro do Sul, começou a investir na produção de laranjas, das variedades umbigo, natal e comum. As frutas eram vendidas na feira da cidade. Como a maioria das famílias manti-nha uma produção familiar, o pomar foi abando-nado por anos.

A possibilidade de destinar laranjas e berga-motas para programas do governo federal e abastecer refeitórios de escolas municipais fez Romano e a mulher Regina retomarem a ativida-de. Em 1,5 hectare, são colhidas 20 mil tonela-das por ciclo. Além dos colégios, para onde são levados 200 quilos por semana, parte é destina-da a fábricas de suco na Serra Gaúcha.

No entanto, o preço é desanimador. “Pelo go-verno, ganhamos até R$ 2,50 o quilo. Para suco, são apenas R$ 0,23”, conta Petter.

O casal entende que a construção de uma agroindústria para produzir sucos, schmiers e geleias seria uma forma de agregar valor à matéria-prima, no entanto, esbarra no alto inves-timento, escassez de mão e da oferta de frutas.

Petter, fala da necessidade de os produto-res se unirem em associações para atender a demanda do mercado em escala, qualidade e durante todos os meses do ano. No Vale do Caí, deu certo e a fruticultura é uma ótima alternativa para os jovens ficarem na lavoura, exemplifica.

Para atender a de-manda da indústria, que hoje opera com 50% de ociosidade e importa cem mil toneladas de frutas por ano, o coordenador da Câmara Setorial de Citricultura, Paulo Lipp João, sugere aos produ-tores investir em varieda-des precoces e de meia estação a serem colhidas entre abril e julho. “Nos-sa oferta se concentra entre os meses de julho a novembro, quando outros estados abastecem o mercado.”

A garantia de preço mí-nimo para a laranja, obti-da pela primeira vez em 2014, é vital para crescer. “A indústria pagava ape-nas R$ 0,20, enquanto o governo, via Conab, pagou R$ 0,28. Foi uma ajuda muito boa.”

A Montesucos, ins-talada em Montenegro há dez anos, projeta industrializar neste ciclo 40 milhões de quilos de laranja. Desse montante, 20% é comprado de São Paulo. Conforme o geren-te industrial, Pedro Stein, apesar do preço da caixa ter cotação parecida, R$ 16, o custo do frete, R$ 4 por caixa, encarece a industrialização e reduz os lucros.

Outra característica fica por conta da qualidade, cor e acidez da fruta. A laranja paulista tem acidez baixa e a cor do suco é mais fraca, a pre-ferência da maioria dos clientes, enquanto a fruta colhida no estado apre-senta alto grau de acidez e cor mais forte. “São detalhes importantes na hora da venda.”

A concorrência com refrigerantes é vista como um empecilho para elevar o consumo. “É um produto barato. O suco é mais caro e com a crise econômica o poder aqui-sitivo reduz e as vendas devem cair.”

Stein projeta um ano com margens apertadas e destaca a concorrên-cia desleal com grandes empresas de São Paulo, onde a oferta é grande e reduz o preço do produ-to final. “Elas manipulam o valor e prejudicam as indústrias menores.” Além da laranja, serão industrializados dez milhões de quilos de bergamota, adquiridos de produtores locais.

Além do mercado inter-no, o suco é exportado para países da Europa e América do Sul. Programas

fortalecem setor

Fábricas importam matéria-prima

Ociosidade chega a 50% Sugere uma maior inte-

gração entre produtores e indústrias. A maioria aqui é pequeno produ-tor, independente e sem

regularidade de estoque, apesar de a fruta ter sabor melhor e ser mais colorida do que a de São Paulo, maior produtor do país, diz Lipp.

Conforme ele, nas prin-cipais regiões produtoras, foram criadas associa-ções, o que dá seguran-ça para aumentar a área cultivada, garantia de compra e preço justo.” O setor movimenta por ano R$ 1 bilhão, envolvendo 12 mil produtores, cente-nas de viveiristas e além de dezenas de indústrias de suco. Devido ao frio, a fruta produzida no estado atinge boa coloração e excelente sabor, ponto importante para aumentar as exportações a outros estados e até países.

GIOVANE WEBER

12 JUNHO/2016

CAPA

O óleo extraído das bergamotas verdes é um produto único no mundo e produzido apenas no Vale do Caí. Além de ser comercializado para a indústria alimentícia brasileira, parte da essência é destinada para a Fran-ça, onde é utilizada para outro fim – a fabricação de cosméticos.

Essa parceria foi firmada entre os citricultores e os franceses devido ao cultivo sem agrotóxicos e certifi-cados internacionais que atestam a qualidade da matéria-prima. Prática de manejo obrigatória nos pomares de bergamota, o raleio registra um fenômeno atípico neste ano. Alguns produtores do Vale do Caí decidiram colher todas as bergamotas verdes para aproveitar o alto preço do quilo pago pela indústria. O valor da caixa de 25 quilos chegou a R$ 42.

Segundo estimativas da agrônoma do escritório da Emater de Montene-gro, Luísa Leopoldt Campos, devem

ser colhidas 300 toneladas de berga-motas verdes em 2016.

Para esse fim, são destinadas as variedades caí, montenegrina e pare-ci. “O raleio é uma prática fundamen-tal para obter frutas com qualidade e para evitar a alternância de produ-ção, que é a produção excessiva em uma safra e uma produção pequena ou nula na safra seguinte.”

Devido à concorrência pela maté-ria-prima, o preço registra aumento. Em fevereiro, a tonelada era comer-cializada a R$ 360, cotação que chegou a R$ 420 em abril. Cinco empresas localizadas no Vale do Caí beneficiam a bergamotinha.

A cada tonelada processada, são extraídos de quatro a seis litros de óleo essencial. Por ciclo, são produ-zidos mais de cem mil litros. O pro-duto convencional sai por 40 dólares o quilo. Já o valor pago ao produto orgânico chega a ser 40% superior.

Depois de pesadas, as frutas são colocadas na esteira, vão para o silo e passam pela lavagem. Quando limpas, ingressam no processo de ralagem (que faz o furo em todas as bergamotas para retirar o óleo essencial), seguem para a decantação (separação da água e do óleo) e por fim para a centrifugação.

Casca da bergamota: contém uma substância chamada limoneno, que reduz o estresse e trabalha a autocon-fiança. Deixa a pessoa com a sensação de "ser capaz de fazer as coisas aconte-cerem". Também é antidepressivo.

Área – 550 hectares Produtores – 600

Além de ajudar a emagrecer, o suco de laranja faz bem à saúde. É capaz de baixar o colesterol sanguí-neo em torno de 10% a 15%. Melhora a insulina, pro-tegendo os indivíduos do diabetes. É um alimento rico em vitaminas, como a C. É fonte de ácido fólico, que é importante porque temos poucas fontes na alimenta-ção. Também é fonte de potássio, que alguns estudos demonstram ser capaz de baixar um pouco a pressão arterial, então, ele é recomendado para indivíduos com hipertensão arterial.

Produção de em 2016

Laranja � 274 mil toneladas

Área – 16,3 mil Produtores – 8,8 mil

Destino – 65% indústria e 35% consumo in natura Maior produtor – Liberato Salzano – 25 mil toneladas – 1,2 mil hectares

Custo de implantação de um hectare – 500 mudas – R$ 10 mil

Ciclo produtivo completo – 8 anos – produtividade de até 80 toneladas por hectare

O RS importa 100 mil toneladas por ano para atender a demanda do mercado (98% de São Paulo, 1% do Paraná e 1% de Santa Catarina).

O país responde por 34% da produção mundial de laranja e 79% das exportações de suco do planeta

O Brasil permanece como maior produtor mundial de laranjas, com 18,4 milhões de toneladas colhidas em 715 mil ha.

Bergamota � 150 mil toneladas

Área – 10,5 mil hectares Produtores – 5,3 mil

Principal região produtora – Vale do Caí – Montene-gro – 38,5 mil toneladas – 2,4 mil hectares

Destino – 10% indústria 90% – Consumo in natura

Limão – 9 mil toneladas de limão taiti

Fonte - Dados da Emater e Câmara Setorial da Fruticultura

Para você ler

A cada tonelada processada, são extraídos de quatro a seis litros de óleo essencial

Essência para perfumes

O raleio é uma prática fundamental para obter frutas com qualidade e para evitar a alternância de produção[...]

Luísa Campos,

Agrônoma da Emater

Como funciona a extração

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13JUNHO/2016

Ito Horácio Agostini, 74, de Roca

Sales, trocou o pomar de pêssego e de laranja pelo cultivo de bergamotas da variedade montenegrina faz 12 anos. Por safra, colhe 4,8 mil caixas de 25 quilos cada, comercializadas ao preço médio de R$ 18.

A colheita inicia em agosto com pro-jeção de obter uma boa produtividade e frutas com alto teor de suco. Dias de sol e frio melhoram o sabor, co-menta. Por enquanto, o trabalho está concentrado na aplicação de adubo e controle de pragas.

Solteiro e sem sucessores, Agos-

tini lamenta a falta de interesse dos jovens em apostar na atividade. Na comunidade onde mora, distrito de Campinhos, o agricultor mais jovem tem 54 anos. “É rentável, mas dá tra-balho. A juventude prefere a cidade, tem mais atrativos e a carga horária é menor”, comenta.

O alto custo da mão de obra, média de R$ 100 por dia, fez Agostini deixar de vender 97 mil bergamotas verdes, retiradas durante o raleio. O valor da despesa era maior do que o lucro com a comercialização, lamenta.

A família Anchau, de Teutônia, cultiva dez mil árvores frutíferas, entre laranja, lima, berga-mota e limão. Conforme Célio, o segredo para obter lucro na produção de citros está na oferta estável, os 12 meses do ano.

O cliente quer matéria-prima todos os dias, de janeiro a dezembro. Para atender a demanda, cultiva variedades, com ciclos distintos de matu-ração, conta.

As frutas são vendidas para consumo in natura e produção de suco em escolas, padarias, fru-teiras, restaurantes, indústrias e redes de super-mercados como o Imec, onde são abastecidas 23 lojas em todo estado. O preço do quilo varia entre R$ 0,35 e R$ 20, dependendo da finalida-de e qualidade.

Entre as dificuldades, cita a falta de mão de obra qualificada para auxiliar na colheita e o congelamento do preço nos últimos três ciclos, enquanto o custo com insumos aumen-tou em média 50%. “São realizados tratamen-tos para mofo, cancro cítrico, pinta preta e floração. Sem esse cuidado, existe o risco de o pé nem produzir.”

Com ajuda do pai Antônio, do irmão Leonor e dois diaristas, colhe, por ano, 40 mil caixas de frutas, com destaque para laranjas e bergamo-tas. O pomar está em constante renovação. Ao lado dos pés mais velhos, uma nova planta é cultivada. Um dos segredos que ajuda a renovar o vigor é fazer a poda dos galhos, o que permite novos brotes. “Em três anos frutificam de novo.”

Oferta o ano inteiro

Agostini procura um sucessor para continuar a produção de bergamotas iniciada faz 12 anos

Rentável, mas sem sucessores GIO

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14 JUNHO/2016Com redução de 40% na oferta da semente, a safra terminou dois meses antes do prazo normal. Chuva em excesso durante a primavera e poucas horas de frio no inverno são motivos apontados para justificar a queda. Emater estima colheita de 800 toneladas.

Pinhão está escasso e caro

Assim como ocorreu nos três últimos anos, a safra de pinhão

apresenta queda de até 40% na produção. Ini-ciada em 15 de abril, a colheita terminou dois meses antes do previsto. A pouca ocorrência de frio durante o inverno e o excesso de chuvas na primavera no ano pas-sado foram os principais motivos para queda.

Se no ciclo anterior fo-ram extraídas em torno de mil toneladas de sementes das araucárias espalha-das pelo estado, a Emater estima que neste sejam comercializadas entre 600 e 800 toneladas.

Com o rendimento menor no campo, o preço foi às alturas. Enquanto o agricultor recebe R$ 5 pelo quilo, no mercado, o valor subiu para R$ 15. No ano passado, o valor era de R$ 3 e o consu-midor pagou R$ 6 nos pontos de venda.

Segundo a engenheira florestal da Emater/RS--Ascar, Adelaide Ramos, o declínio na produção faz parte do ciclo natural da planta. “A cada quatro ou cinco anos, o pinheiro tem uma produção vasta, depois a produção vai diminuindo, pois a planta fica exaurida, ou seja, alterna boa produtividade com produções menos intensas”, destaca.

Embora a safra atual apresente boa qualidade, as pinhas e o tamanho das sementes são me-nores, provocando uma redução entre 30 e 40%, se comparada ao ciclo an-terior. Chuva na florada e invernos atípicos afetaram a fecundação e poliniza-ção, afirma Adelaide.

A venda é toda informal, feita pelos extrativistas em diferentes mercados locais: à beira da estrada, supermercados, restau-rantes e de casa em casa,

entre outros. No entanto, a maior parte da produção ainda é comercializada por meio de atravessadores, enfatiza.

Faz sete anos, o agricul-tor Leonir Watte, morador

de Paredão Pires, Venân-cio Aires, complementa a renda familiar com a ven-da de pinhões ao preço médio de R$ 3,50 o quilo. São 15 árvores adultas na propriedade de onde reti-ra as sementes de forma manual (com uma taquara e bate na pinha até cair).

Neste ciclo, a produ-

ção despencou. De 300 quilos caiu para apenas 20. “Nunca registramos perdas tão elevadas”, destaca. Atribui a queda ao excesso de umidade, pouco frio no inverno e ao ciclo natural das arau-cárias.

Watte também acumula prejuízos na produção de

hortaliças devido ao frio. “As alfaces não crescem, estão miúdas e por isso existe pouca procura.”

Colheita antecipada Uma portaria do Ibama,

publicada em 1976, deter-mina a colheita, transporte e venda da semente a partir da segunda quin-zena de abril. O objetivo é possibilitar a matura-ção total e deixar que os primeiros pinhões sirvam de alimento aos animais silvestres.

Com a mudança do ciclo natural, produtores e órgãos ambientais bus-cam antecipar a época de colheita. Em Santa Catarina e Paraná, a safra iniciou em 1º de abril.

Cerveja sustentável A Fundação Grupo

Boticário de Proteção à Natureza com a Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (Certi), de Santa Catarina, produzirá pelo segundo ano consecutivo a cerve-ja a partir de pinhão, no estado do Paraná.

Guilherme Karam, coor-denador de estratégias de conservação da Fun-dação Grupo Boticário, explica que os produtores que se comprometem a seguir os padrões susten-táveis, como não realizar queimadas nem extrair as pinhas verdes, recebem cerca de 30% a mais pelo quilo do pinhão, além de contribuir para a redução do impacto gerado nas florestas nativas.

Para 2016 serão enva-sadas 45 mil garrafas, que têm como destino principa os mercados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e RS. Cerca de 800 quilos de pinhão provenientes do planalto serrano de Santa Cata-rina serão utilizados na cerveja.

Neste ciclo, colheita foi de apenas 20 quilos na propriedade de Leonir Watte, em Venâncio Aires

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De 300 quilospara apenas 20

15JUNHO/2016