ah - agronotícias | 28 de maio de 2016

16
Especial do jornal A Hora Circulação mensal MAIO | 2016 GIOVANE WEBER Grão valorizado A soja garante empregos no campo e na cidade. É um combustível fundamental da engrenagem que movimenta a economia dos municípios. Nesta safra, serão colhidas 16,3 milhões de toneladas, volume 4,1% maior que o registrado no ciclo anterior. Apesar do preço elevado, produtores estão cautelosos quanto a novos investimentos ou ampliação da área cultivada em virtude da incerteza política e econômica. Páginas 9 a 14

Upload: jornal-a-hora

Post on 31-Jul-2016

212 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Page 1: AH - Agronotícias | 28 de maio de 2016

Especial do jornal A Hora Circulação mensalMAIO | 2016

GIO

VAN

E W

EB

ER

Grão valorizadoA soja garante empregos no campo e na cidade. É um combustível fundamental da

engrenagem que movimenta a economia dos municípios. Nesta safra, serão colhidas 16,3 milhões de toneladas, volume 4,1% maior que o registrado no ciclo anterior.

Apesar do preço elevado, produtores estão cautelosos quanto a novos investimentos ou ampliação da área cultivada em virtude da incerteza política e econômica.

Páginas 9 a 14

Page 2: AH - Agronotícias | 28 de maio de 2016

02

A soja surgiu como alimento há mais de cinco mil anos, cultivada no Oriente, principalmente na China. Chegou ao Brasil pela Bahia, em 1882. Com a migra-ção japonesa, o grão se difunde pelas terras brasilei-ras e chega oficialmente ao RS em 1904, na região de Santa Rosa.

Tornou-se o principal produto do agronegócio no estado e seu grão, farelo e óleo mantêm a liderança das exportações gaúchas desde 2007. Em 2015, mais uma vez, a oleaginosa ajudou a consolidar a expan-são da agropecuária. Se não fosse o resultado do setor, que registrou alta de 13,6% em 2015, o PIB do RS – cuja retração foi de 3,4% – poderia ter sido mais negativo.

Soja, tecnologia e produção o RS tem de sobra. Não foi por acaso que o volume do grão no estado, o terceiro maior produtor do país, dobrou nas últimas duas décadas e deverá alcançar neste ano colheita superior a 16 milhões de toneladas.

A supersafra é fruto do trabalho de agricultores e

investimentos em adubação do solo, melhora na gené-tica das sementes e mecanização. O bom preço faz a atividade substituir culturas como arroz e milho.

A monocultura não é saudável para o sistema. O produtor precisa pensar sempre em rotação e em estabelecer uma boa cobertura para o solo.

É preciso buscar a agregação de valor da soja co-mercializada pelo Brasil. Isso melhora a produtividade da indústria e ajuda a incrementar as vendas de farelo, óleo e proteínas animais. É necessário ampliar acordos comerciais com nossos clientes para reduzir barreiras técnicas, sanitárias e tarifárias.

A melhoria das condições logísticas é outro desafio. No RS, segundo estatísticas da Câmara Brasileira de Logística e Infraestrutura, 88% da safra é transportada por rodovias, 9% por ferrovias e 3% por hidrovias. Nos Estados Unidos, só 25% da safra é escoada por estra-das. O restante, por meio de ferrovias (40%) e hidro-vias (35%). Enquanto no Brasil o custo com transporte chega a 8%, nos EUA não passa de 3%.

Enquanto os problemas persistem, o produtor começa a planejar o próximo ciclo. Apesar da incer-teza política e econômica preocupar, os bons preços contribuem para estabilizar as finanças e dar garantia para investir em tecnologia, genética e cuidado com o solo para elevar ainda mais a produtividade.

Boa leitura

Editorial

Fundado em 1º de julho de 2002Vale do Taquari - Lajeado - RS

Diretor Geral: Adair WeissDiretor de Conteúdo: Fernando WeissDiretor de Operações: Fabricio Almeida

Tiragem desta edição: 10.000 exemplares. Disponível para verificação junto ao impressor (ZH Editora Jornalística)ARTE

Gianini Oliveira e Fábio Costa

COORDENAÇÃOGiovane Weber

DIREÇÃO EDITORIALFernando Weiss

PRODUÇÃOGiovane Weber

Grão sustenta

economia

É necessário ampliar acordos comerciais com nossos clientes para reduzir barreiras

técnicas, sanitárias e tarifárias.

Tenho ditoA seguir, a opinião sintetizada sobre este caderno dos integrantes do grupo de discussão, que

participam a cada mês da elaboração das principais pautas e temas abordados.

Como nos últimos três anos os lucros para a maioria dos produtores foi satisfatório, recomendo que parte dos custos da próxima safra

seja bancada com dinheiro próprio. Neste clima de incerteza econômica e política, deve-se evitar contrair dívidas. Precisamos

melhorar o cuidado com o solo, observar a qualidade das sementes e insumos adquiridos, fundamental para se obter bons índices de

produtividade.

Alencar Rugeri, assistente técnico

estadual de Soja da Emater

4 Simulador permite visualizar perdas

8 Entrevista com Carlos Simm, presidente da Federacite

6 Agroindústrias – Produtos valorizados pela origem e qualidade

9Apesar da supersafra de soja, é preciso cautela

Índ

ice

MAIO/2016

As chuvas excessivas na Argentina, que podem resultar perda de cinco milhões de sacas, terão influência positiva na oferta global do grão e seus derivados, visto que o país é o maior produtor e exportador de farelo de soja. A força da demanda é visível, tanto nas vendas como nas exportações. A projeção é de preços mais altos. O produtor precisa tomar a decisão certa e ter acesso à informação com

credibilidade, analisar a tendência de mercado, o comportamento do clima e de safras em países como EUA, maior produtor mundial, para

planejar sua lavoura. O recomendado é fixar preços de venda da próxima safra em dólar, a menos que as propostas em reais sejam muitos boas. É uma

forma de fugir da volatilidade cambial do mercado.

Carlos Cogo, da Consultoria Agroeconômica

Existe uma oferta de crédito de R$ 1,8 bilhão pelo Moderfrota até o final do atual Plano Safra (R$ 900 mil via BNDES e R$ 900 mil via Banco do Brasil).

A agricultura está bem. Foi o cenário político que contaminou o setor e abalou a confiança do produtor, que investe menos. Existe demanda e

mercado para ter reposição de máquinas maior do que temos, no entanto, o agricultor está deixando de repor. É um momento favorável para fazer

isso, porque temos os recursos nas linhas de financiamento e essas condições terminam dia 17 de junho, última data para protocolo no BNDS. Não sabemos

quais as propostas do novo Plano Safra. A taxa de juros, de 7,.5% ao ano, ainda é atrativa, uma vez que está abaixo da taxa Selic, que hoje é de 14,25%. Se alguém quiser investir, faça agora, pois as condições

do segundo semestre são incertas.

Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara

Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA)

As

clplan

er ções bemos

do ). ). do ).

e.

co

Emater

ores fra a a

es a

a

Page 3: AH - Agronotícias | 28 de maio de 2016
Page 4: AH - Agronotícias | 28 de maio de 2016

04O manejo do solo, indispensável à agricultura, é um conjunto de técnicas que proporcionam alta produtividade a baixos custos. Fundamentais, elas evitam a degradação e possibilitam que as culturas aproveitem melhor o solo, a adubação e a água.

[...] assegurar a águano solo, evitando a erosão, diminuindoas perdas de insumos, aumentando a produção das culturas e a lucratividade da propriedade.�

Vagner Moro, extensionista

MAIO/2016

Simulador permite visualizar perdas

Um equipamento demonstrativo desen-volvido pela Embrapa de Passo Fundo, o

simulador de chuvas, permitiu aos agricultores visualizarem melhor as perdas que ocorrem nas lavouras e passam desper-cebidas.

O equipamento simula uma chuva intensa em dois sistemas de plantio em caixas coletoras de água instaladas no solo. Um representa um plantio em nível, e o outro no mesmo sentido da inclinação (“morro abaixo, morro acima”, como dizem os agricultores).

Ambos são cobertos com a mesma quantidade de palha, mesmo tipo de solo e declivida-de. Extensionista da Emater/RS--Ascar, Vagner Moro, explica que a ideia é demonstrar que, em am-bas as áreas, a água vai escorrer por debaixo da palha. A diferen-ça é que, naquela que simula um plantio em nível, a velocidade de escorrimento da água será menor que a da área plantada no mes-mo sentido da declividade.

Com essa percepção das perdas ocasionadas no solo demonstradas pelos tratamentos, “pretende-se orientar os produ-tores a utilizarem outras técnicas em conjunto para diminuírem as perdas nas lavouras”, diz.

Uma alternativa para ameni-zar o escoamento superficial da água da chuva, diz o técnico, é a utilização da palhada ou cobertu-ra vegetal simultaneamente com outras técnicas, como o plantio em nível, o sistema de plantio direto com rotação de culturas, tudo isso associado a um terraço.

Com o emprego de todas essas técnicas de manejo do solo, pretende-se aumentar o tempo que a água permanece

na lavoura, tornando-a disponível por mais tempo para as plantas. “Pelo simulador, demonstramos a importância de assegurar a água no solo, evitando a erosão, diminuindo as perdas de insu-mos, aumentando a produção das culturas e a lucratividade da propriedade.”

Na demonstração, fica compro-vado que toda água que escorre para o rio tem fertilizantes, fun-gicidas, inseticidas e demais

contaminantes, que poluem os mananciais, além de encarecer o tratamento da água para o consumo, e que pode causar ainda enchentes e estragos em estradas, pontes e em toda pro-priedade.

PalhadaMuitos agricultores consideram

que a palha oriunda de restos culturais ou de plantas de cober-tura na lavoura é suficiente para a conservação do solo. Segundo Moro, a palha é de grande im-portância, mas deve ser utilizada com outras práticas conservacio-nistas de solo.

Ela ajuda a quebrar o impacto da gota da chuva, no entanto, essa não é a solução para o au-mento da infiltração de água no solo. “Se a água não infiltrar no solo, ela vai escorrer por debaixo da palha e isso muitas vezes não é percebido. Tudo o que estiver entre a palha e a superfície do solo pode ser perdido com a água e, dessa forma, ela está roubando muitos agricultores", disse Moro.

Outro aspecto importante, de acordo com o técnico, é que a maioria das culturas é plantada em linha reta por causa do maior rendimento operacional oferecido por máquinas cada vez maiores, com o dimensionamento muitas vezes inadequado para a realida-de de muitas propriedades.

Mas o plantio em linha reta nem sempre é a melhor opção, por-que toda vez que não se planta em nível os sulcos formados pela semeadura acabam se tornan-do canais preferenciais para o escoamento da água da chuva e à disposição da enxurrada. “É nos sulcos que está a maioria dos insumos e que podem estar sendo carregados para fora da lavoura camuflados por debaixo da palha”, ressalta o técnico.

O produtor Aldoir Roversi, 51, de Júlio de Castilhos, cultiva 96 hectares com soja. Para elevar a produ-tividade, tem um cuida-do especial com o solo. “Quanto mais coberto, mais água se acumula na lavou-ra e ameniza o estresse hídrico da planta em épo-cas de seca. Além disso reduz as perdas de adubo e fertilizantes.”

O pastejo do plantel de vacas leiteiras é evitado em dias de chuva. Se fizesse, aumentaria a degradação e seria necessário uma maior quantidade de adubos e fertilizantes para retomar seu potencial produtivo.

Solo protegido

DIVULGAÇÃO

Manter o solo protegido favorece a infiltração de água da chuva e diminui a erosão

Page 5: AH - Agronotícias | 28 de maio de 2016

05MAIO/2016Nas feiras e exposições, um dos endereços mais movimentados é o das agroindústrias. Produtos coloniais remetem a hábitos do interior e proporcionam degustação de queijos, salames, vinhos, sucos e schmiers e também comercialização de roupas feitas à mão.

Valorizados pelaorigem e qualidade

Com qualidade e proce-dência, os itens ga-rantem o sustento de milhares de famílias e

a sucessão dos negócios em pe-quenas propriedades. De acordo com a Federação dos Traba-lhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag), o estado tem 1,7 mil agroindústrias cadas-tradas no Programa Estadual de Agroindústria Familiar Selo Sabor Gaúcho. São gerados 3,4 mil empregos.

Segundo Jocimar Rabaioli, assessor de Política Agrícola e Agroindústrias da Fetag, pelo censo do IBGE de 2006, nove mil famílias gaúchas trans-formam o que produzem nas

propriedades e,assim, agregam valor à produção primária.

Embora não seja possível men-surar o faturamento anual desse segmento no mercado local e em políticas públicas, Rabaioli destaca que apenas o resultado obtido pelas agroindústrias na participação em feiras chega a R$ 10 milhões por ano.

Produtos como embutidos de suínos, artesanato, derivados do leite, entre muitos outros, garantem lucro aos agricultores. “A diversidade da agricultura familiar faz o sucesso dos em-preendimentos. Um agrega valor ao outro e é graças a isso que os consumidores encontram um mix tão grande de produtos nas

feiras”, diz Rabaioli.De acordo com ele, cada vez

mais o agricultor familiar perce-be a importância de produzir, transformar e comercializar. “Es-timamos em crescimento anual de 25% no número de empreen-dimentos que saem da informali-dade”, aponta.

Para Rabaioli, as feiras trazem oportunidades ilimitadas aos agricultores por garantir a venda direta ao consumidor, abertura de novos canais de comercia-lização, contatos comerciais e troca de experiências. “Os pro-dutores podem falar, por exem-plo, de onde e de que forma os produtos são produzidos, quais suas particularidades e o que os

torna mais saborosos, propician-do, desta forma, negociar dire-tamente com o consumidor final, sem intermediários.”

Para Dionatan Tavares, diretor de Agricultura Familiar e Agroin-dústria da SDR, a agroindústria é fundamental para a sobrevivência da pequena propriedade, princi-palmente se a família for grande.

O secretário de Desenvolvi-mento Rural e Cooperativismo, Tarcísio Minetto, destaca que es-ses empreendimentos são uma oportunidade para a geração de valor, que está ligada diretamen-te à formação de mão de obra e, consequentemente, à oferta de produtos de qualidade.

Page 6: AH - Agronotícias | 28 de maio de 2016

Transformamos uma tradição em um

negócio rentável.

Claudio Posselt, produtor

06 MAIO/2016

Basta uma volta no pavilhão das agroindústrias em feiras para ver que uma nova geração de produtores assume o co-mando. Jovens na faixa de 30 anos tomam a frente da gestão e aliam a tradição herdada dos pais com a vontade de inovar. “O bom de ser dono do próprio negócio é ser livre para ir e vir. Trabalhamos bastante, mas por algo que é nosso. Se estivesse em uma empresa batendo cartão neste momento, não poderia vir até a Expoagro Afubra conferir as novidades e aprimorar o trabalho na propriedade”, comenta Marce-lo Rabaiolli, 26, de Imigrante, proprietário de uma agroindústria de suco de laranja e uva.

Com ajuda do irmão Marciano, 32, legalizou o empreendimen-to há dois anos. Por ciclo, são industrializados 44 mil litros de suco de uva integral. “Vender o produto in natura dava prejuízo. Nesta safra perdemos 90% das frutas. Sem a agroindústria, a saída seria buscar emprego na cidade e abandonar a proprieda-de, pois estaríamos sem renda”, conta Marcelo.

Na exposição pela primeira vez, aproveitaram para lançar o suco de laranja integral, feito apenas com o néctar da fru-ta. Para cada litro produzido, são necessários dois quilos de frutas, trazidas de São Paulo. A garrafa de um litro é vendida a R$ 8, mesmo preço cobrado pelo suco de uva. Para a feira, foram fabricados dois mil litros. Com a boa aceitação, a meta é ampliar a oferta. Entre as difi-culdades, cita a concorrência com empresas maiores. “Con-seguem abastecer o mercado com grandes volumes e valores inferiores.”

Segundo Marciano, a conquis-ta de clientes é justificada pela qualidade, a forma artesanal de produzir e a procedência. “Usa-mos frutas sadias e não mistura-mos nada de corantes ou água. É o suco puro.”

Reconhecido pelos benefícios à saúde, o quiabo virou uma

Os irmãos Moisés, 43, e Lauro Ludwig, 50, de Poço das Antas, investiram R$ 130 mil na construção de uma agroindústria especia-lizada em beneficiar deri-vados de carne suína, em 2013. “Por mês vendíamos uma média de 20 quilos de linguiça e torresmo. A procura aumentou e decidi-mos legalizar para ampliar a oferta”, conta Moisés.

Por mês, são indus-trializados 180 quilos de carne. A matéria-prima é obtida na propriedade. São criados 50 animais em ciclo completo. Por semana, são abatidos dois

destinados à produção de linguiça, carro-chefe de vendas, além de torresmo, morcilha, charque, salame e salsichão caseiro. Os preços variam entre R$ 18 e R$ 28 o quilo.

O elevado preço do milho reduz os lucros. No ano passado, a saca de 60 quilos era comprada por R$ 25, hoje chega a R$ 45. Entre as metas, espera conseguir a ade-são ao Susaf, que garante a venda para todo estado. “O consumo aqui é limita-do. A maioria dos clientes é de outras cidades e vem comprar aqui.”

boa fonte de ren-da para o casal Jair e Doralina Bertuol, de Encantado. No sítio de cinco hecta-res, há dois anos come-çaram a apro-veitar a oferta de frutas e hortaliças para produzir schmiers, compotas e conservas. O mix de produtos chega a 23 itens.

Antes do beneficiamento, os produtos eram vendidos em feiras ou nas casas. “Além do baixo preço, muito era desper-diçado. Hoje tudo se aproveita”, destaca Jair, que trabalhou du-rante 32 anos como pintor. Entre as novidades apresentadas na exposição, estava a conserva de quiabo e a schmier de laranja com cenoura.

Cada unidade é vendida a R$ 8. “O quiabo em conserva é um sucesso entre o público”, alegra--se Doralina. A hortaliça é produ-zida apenas nos meses quentes. São em torno de mil pés. Por safra, são envazados três mil vi-dros. “É a insulina natural contra o diabetes. Divulgar os benefí-cios à saúde ajuda a incrementar a demanda.”

A amora é outra fruta com des-taque entre os consumidores. Por ciclo, são colhidos quatro mil quilos, tudo transformado em schmier e geleias. Com cem pés cultivados, o casal lança nos próximos meses a schmier de banana. “Tudo é cultivado sem uso de agrotóxicos. Nos preocu-pamos com a nossa saúde e a do consumidor.”

Claudio Posselt, de Venâncio

Aires, trabalha no beneficia-mento de cana-de-açúcar faz 14 anos. Em função da crescente demanda, em 2014 investiu R$ 80 mil na construção de um novo prédio de 220 metros quadrados. Por ano, as vendas superam nove mil toneladas de melado, açúcar mascavo e sch-mier colonial. O preço médio do quilo é de R$ 6. “Transformamos uma tradição em um negócio rentável.”

Com ajuda da família, ainda são produzidos 180 litros de leite por dia e cultivados 30 mil pés de tabaco. A diversificação aju-da a manter estável a economia e estimula o filho Rodrigo, 18, a continuar na propriedade. “Em-bora o rendimento por hectare seja menor quando comparado com o fumo, é um alimento e sempre terá mercado.”

A Embrapa Clima Temperado apresentou nove novas varieda-des de cana-de-açúcar de ma-turação precoce e tardia durante a feira. Elas podem ser usadas tanto para a produção de etanol quanto para outros produtos como o açúcar mascavo, mela-do, cachaça e outros derivados.

De acordo com a analista da Embrapa Clima Temperado, Cândida Raquel Scherrer Monte-ro, combinados e bem maneja-dos, os cultivares permitem um longo período de utilização pela indústria. “Para isso, é interes-

Jovens einovadores

Quiabo vira conserva

ANDERSON LOPES

Derivados de suínos

Do tacho ao mercado

Page 7: AH - Agronotícias | 28 de maio de 2016

07MAIO/2016

sante que os produtores tenham diferentes variedades, pois, assim, conseguem ter produtivi-dade de maio a novembro.”

Os avós, pais, tios e o agri-cultor Patrick Castoldi, de São

José do Herval, formam o maior patrimônio da Agroindús-tria Castoldi. São os proprietários e a mão de obra da fábrica de doces, geleias, polpa de frutas, conservas e picles.

Os Castoldi produzem até três toneladas de doces e conservas por mês, e chegaram na Expo-agro Afubra com mais de meia tonelada em produtos. A fábrica tem uma boa comercialização porque integra um projeto de for-necimento de merenda escolar diretamente das agroindústrias. “Hoje atendemos escolas em cinco municípios na região de Soledade”, orgulha-se. A pre-sença em feiras é para ampliar o mercado, a produção e a ren-da. “Afinal, esse é o objetivo da agroindústria: começar pequena, trazer melhor qualidade de vida, empregos e renda à família, e seguir crescendo.”

Sucesso entre os clientes são

as geleias e polpa de frutas exóticas como pitanga, guabiju, cereja, jabuticaba e physalis, todas cultivadas na proprieda-de. Embalagens de 400 gramas congeladas rendem dois litros de suco.

Entre as dificuldades, destaca a falta de matéria-prima. “Existe pouca oferta e em poucos dias o estoque termina.” O preço médio é de R$ 8. Além disso, outras frutas como manga, goiaba, la-ranja, bergamota, pêssego, figo, uva, amora, mamão e abacaxi são processadas. “Nada se per-

de. Compramos qualquer quanti-dade, desde que tenha qualida-de. Isso tem incentivado muitas

Três geraçõese muito sabor

famílias a apostar na fruticultura.”Além de programas sociais,

o produto é vendido em um paradouro às margens da BR-386, mercados e restaurantes de todo país.

Ademir Radaelli, 47, de Dou-

tor Ricardo, plantou fumo por 20 anos. O contato direto com os agrotóxicos, a falta de mão de obra e a oscilação do pre-ço fizeram o produtor trocar de atividade. As hortaliças culti-vadas na horta passaram a ter mais importância. De alimento para subsistência, tornaram-se a matéria-prima para Radaelli montar seu próprio negócio, uma agroindústria de conservas.

Com R$ 70 mil, construiu um prédio e comprou máquinas. Participou de cursos e se espe-cializou. Em setembro de 2015, lançou os primeiros potes com pepino, beterraba, couve-flor, brócolis e cebola. Por ano, a meta é envazar cinco mil uni-dades. “A renda é menor, mas trabalhar com alimento, cultivado de forma orgânica, me deixa mais feliz e sei que nunca faltará cliente na porta de casa.”

Tabaco ésubstituído

Variedade, qualidade, matéria-prima cultiva-da sem agrotóxicos e preço acessível garante a conquista de novos clientes

ANDERSON LOPES

Page 8: AH - Agronotícias | 28 de maio de 2016

08

Engenheiro agrônomo, 61, administra a Fazenda Clarice,

em Campestre da Serra, é presidente do Sindicato Rural

de Ipê, Antônio Prado e Campestre da Serra, da Associa-

ção dos Produtores Rurais dos Campos de Cima da Serra

(Aproccima) e da Federacite.

Carlos Roberto Simm

MAIO/2016A Federação dos Clubes de Integração e Troca de Experiências (Federacite) reforça a proposta de investir no conhecimento como ferramenta para enfrentar momentos de crise no agronegócio. Debates reafirmam a importância da gestão, diálogo, adesão de novas tecnologias e organização das cadeias produtivas para fidelizar clientes.

ENTREVISTA

A rentabilidade passa pela redução dos custos e do desperdício. Orçamento, fluxo de caixa, controle de receitas e despesas são ferramentas indispensáveis numa empresa moderna.

A crise comooportunidade para crescer A

o completar 30 anos,

a Federacite, coman-

dada pelo engenhei-

ro agrônomo Carlos

Simm, realiza uma série de de-

bates pelo estado com foco em

temas como gestão de pesso-

as, da propriedade, sucessão e

meio ambiente. “Nosso objetivo

é sensibilizar produtores a pen-

sar na crise como oportunidade

de crescimento.”

Esse conceito surgiu na

França da década de 40, após

a Segunda Guerra, como forma

de encontrar soluções para a

reorganização do setor produ-

tivo. Iniciou no RS

na década de 70.

Hoje, o RS conta

com 127 Cites,

que reúnem 1,4

mil produtores.

A Hora � Como é possível enxer-gar uma oportunidade em meio à crise?

Carlos Simm � A falta de organi-

zação das cadeias produtivas e

a gestão deficiente das proprie-

dades são pontos a serem mais

compreendidos e debatidos. En-

tendemos que muitos produtores

podem ter, sem saber, passivos

nas áreas ambiental, pessoal,

fundiária e administrativa. Em

cada um desses temas, existem

muitos aspectos que precisam

ser colocados para se evitar pre-

juízos futuros. Especialistas colo-

carão suas experiências para

serem compartilhadas com os

produtores. Evitar desperdícios

e reduzir despesas estão ao

alcance de todos. Testemu-

nhos locais, de experiências

bem-sucedidas enriquecem o

debate.

Como envolver mais os jovens no agronegócio?

Simm � O envolvi-

mento aumentará,

se a ele for dado

espaço. Estimular a

participação dos fi-

lhos nas reuniões dos

Cites é um bom começo. Buscar

atividades complementares, que

tenham sinergia, mas não confli-

tem (ou compitam) com as exer-

cidas pelos pais. Agroindústria,

agroturismo e produções inten-

sivas de alto valor agregado são

alguns exemplos. Estimular as

especializações fora da proprie-

dade e dar-lhes oportunidade de

praticar seus conhecimentos são

práticas altamente recomendá-

veis. As escolas familiares agrí-

colas devem servir de modelo e

exemplo da integração e fixação

do jovem à propriedade.

O conhecimento é que movimen-tará o mundo agro daqui por diante e não mais a informação?

Simm � O conhecimento tec-

nológico, a sustentabilidade e a

gestão eficiente são os fatores

que farão a diferença no futuro.

A informação continuará funda-

mental para a organização de

cadeias produtivas e para o Ben-

chmarking. Entender o mercado

e se antecipar às mudanças

conquista e fideliza os clientes.

Considero as viagens como a

mais importante ferramenta para

se ampliar os conhecimentos.

O país se acomodou em ser um fornecedor de matéria-prima para o mundo? Como podemos agregar valor aos produtos que exportamos hoje com pouco ou nenhum benefi-ciamento?

Simm � De fato exportar maté-

ria-prima não é a melhor estra-

tégia, mas, mesmo nas commo-

dities, é possível agregar valor.

As carnes são um bom exemplo,

antes de exportar milho e farelo

de soja, exportamos frangos e

suínos. Na carne bovina, o obje-

tivo é atingir nichos de mercado

para alta qualidade e valor. Acor-

dos comerciais entre nações,

ou blocos econômicos, devem

sempre pautar esse tema. Os

países desenvolvidos, e que

competem conosco no agrone-

gócio, possuem cadeias produ-

tivas organizadas, onde cada

elo procura se fortalecer sem

comprometer o sistema. Certifi-

cações de sistemas produtivos,

como as indicações geográfi-

cas, e a produção sustentável

ambientalmente, também são al-

ternativas muito valorizadas por

consumidores exigentes. Creio

que podemos colocar na pauta

de exportação o agroturismo,

a indústria que mais cresce no

mundo. A evolução tecnológica

e a profissionalização do agro-

negócio também melhorarão

nossa balança comercial.

Considerações finaisSimm - Nossa sede fica no

Parque de Exposições Assis

Brasil em Esteio. O movimento

foi criado para congregar os

clubes que integram o movi-

mento citeano em atividade a 40

anos. A entidade já registrou a

127 clubes no RS e completou

30 anos em 25 de abril. Um Cite

é composto normalmente por 12

produtores, que se reúnem uma

vez por mês em uma das pro-

priedades. A busca de soluções

compartilhadas é a essência

do movimento. Também é um

grande formador de líderes no

meio rural. Os próximos deba-

tes ocorrem dia 14 de julho, em

Camaquã e 30 de agosto, em

Esteio, durante a Expointer.

Entrevista feita por e-mail

tivo. Iniciou no RS

na década de 70.

Hoje, o RS conta

com 127 Cites,

que reúnem 1,4

carão suas

serem comp

produtores

e reduzir de

alcance

nhos loc

bem-suce

debate.

Page 9: AH - Agronotícias | 28 de maio de 2016

09MAIO/2016 A colheita de soja deste ano baterá novo recorde de produção, 16,3 milhões de toneladas, 4,1% superior ao do ano passado. Os custos altos, crise política e econômica e clima instável minimizam o entusiamo na lavoura. Mesmo com boa rentabilidade, produtores estão cautelosos quanto a novos investimentos, principalmente a compra de máquinas.

CAPA

Apesar da supersafra, é preciso cautela 

Os bons preços rece-bidos pelos produto-res nos últimos anos contribuíram para a

expansão da área plantada e da produtividade da soja nas regiões tradicionais e nas novas fronteiras da agricultura.

Apesar do excesso de chuva, que provocou prejuízos pontu-ais, o RS, terceiro maior produtor do país, colherá uma nova safra recorde de soja. Levantamento final da Emater em 328 municípios, entre 17 e 23 de abril, mostra que a colheita será de 16,3 milhões de toneladas – 4,1% maior do que a registrada no ciclo anterior. No total de grãos, será a segunda maior safra gaúcha da história, com 28,93 milhões de toneladas, ficando atrás só de 2015.

As regiões de Erechim e Passo Fundo registraram as maiores produtividades, com 3,47 mil quilos e 3,42 mil quilos por hectare, respectivamente. A supersafra representa um fatura-mento de R$ 19,3 bilhões para a economia gaúcha.

Alencar Rugeri, assistente téc-nico estadual de Soja da Ema-ter, atribui o bom resultado das lavouras ao aumento de 3,9% na área plantada, cuidado com o solo e investimentos em tecnolo-gia de precisão.

Mesmo com a cotação em alta, R$ 77 a saca de 60 quilos, reco-menda a venda escalonada. “Nun-ca vamos acertar o momento em que a cotação alcança maior valor. A conjuntura internacional, dólar, oferta, demanda, clima são situa-ções muito distantes da lavoura e fora do domínio do produtor.”

Mesmo com a maior parte da fro-ta de máquinas acima de 20 anos de uso, Rugeri sugere cautela na hora da troca. “É preciso analisar a

real necessidade e qual a vanta-gem disso.” Como as margens dos últimos três anos foram altas para a maioria dos produtores, a opção deles bancarem parte da safra é uma saída para evitar a

Rio Grande do Sul (Aprosoja), Décio Teixeira, o setor deve retomar os investimentos após a crise política ser solucionada.

Há investimentos, no entanto, que precisam ser feitos para a engrenagem agrícola continuar rodando – de equipamentos a sementes, fertilizantes e defen-sivos. Mas a decisão de investir em máquinas e equipamentos, alerta o analista, não depende apenas de bom resultado da safra, mas de disponibilidade de crédito no mercado. “O produtor vai investir naquilo que é neces-sário, disso não tem como fugir, até porque ele precisa manter os mesmos níveis de produtividade para compensar os altos custos de produção”, aponta.

contratação de dívidas. “Ter um capital reserva é o ideal para en-frentar eventuais dificuldades.”

Segundo Rugeri, antes de am-pliar a área, é preferível dar mais atenção ao solo, qualidade dos insumos, sementes e pulverização, fundamental para fazer o controle de pragas e doenças. “Muitas ve-zes este maquinário e a tecnologia de aplicação é mais importante do que um trator ou colheitadeira.”

A estimativa é de que a pro-dutividade das lavouras fique em 2.938 quilos por hectare (49 sacas). Conforme levantamento da entidade, a safra total de verão chegará a 28,8 milhões de tonela-das – a segunda maior da história. O valor bruto da produção atingirá R$ 28,9 bilhões.

Para o presidente da Associa-ção dos Produtores de Soja do

Aumento na área plantada foi de 3,92%, alcançando 5,470 milhões de hectares. A produtividade média é de 2.988 kg/ha

GIOVANE WEBER

O produtor continua na busca de novas tecnologias, para elevar a produtividade, só que em ritmo menor em função da crise

Décio Teixeira,

presidente da Aprosoja

Page 10: AH - Agronotícias | 28 de maio de 2016

10 MAIO/2016

CAPA

Apesar dos bons resultados de produti-vidade no ciclo atual, a crise no cenário político e econômi-co traz incertezas ao produtor de soja. As mais de seis mil sacas do grão colhi-das em cem hectares cultivados neste ciclo pelo agricultor Ruben Müller, de Teutônia, foram estocadas.

A esperança é de uma melhor valori-zação nos próximos meses. “A oscilação do dólar fez o valor da saca cair R$ 8 nas últimas semanas. Pelas projeções de analistas, a cotação aumenta, por isso, prefiro não vender.”

O rendimento obtido por hectare é consi-derado bom, apesar da instabilidade mete-orológica provocada pelo El Niño. Para o próximo ciclo, projeta

Segundo o presidente da Associação dos Pro-dutores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil), Almir Dalpasquale, a indefini-ção política e econômica contamina o entusiasmo e reflete em menor dispo-sição na hora de investir. Um dos setores mais afe-tados será o de máquinas agrícolas. No primeiro trimestre, as indústrias operaram com 73% de ociosidade e produziram 7.349 unidades.

A produção de trato-res, cultivadores e co-lheitadeiras caiu 52,2% na comparação com o mesmo período de 2015. Com o baixo uso da capacidade instalada, as fabricantes têm adotado, desde 2015, medidas como redução de jornada e folgas para tentar evitar demissões, a exemplo do que fazem as montadoras de veículos. Há empresas

cujos funcionários têm férias coletivas compro-metidas até 2018.

Apesar das medidas, nos últimos 12 meses, o segmento eliminou 2.592 vagas e emprega hoje 15.242 funcionários, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

Atrelados à lavoura, estão setores fornecedo-res, como as indústrias e revendas de insumos, sementes e máquinas agrícolas. Das 32,2 milhões de toneladas de fertilizantes comercializa-das no Brasil em 2014, 13 milhões foram destinadas à lavoura de soja, núme-ro bem acima da cultura seguinte, o milho, com 5,3 milhões de toneladas, informa o levantamento da Associação Nacional para a Difusão de Adu-bos (Anda).

Menos disposição para investir

Grão estocado

Müller vai antecipar a compra de insumos para o próximo ciclo

mais dificuldades e margens de lucro apertadas. Na safra atual, o custo de produção aumentou em torno de 20%. “Além da previsão do clima ser menos favorável, a gente não sabe em quanto ficará o preço dos insumos, a cotação do dólar e a situa-ção do país. Tudo influencia e reflete diretamente nos ren-

dimentos da nossa lavoura.”

O irmão Edo Erno faz a mesma análise. Diante do cenário, nenhum financia-mento será feito. Comprará somente com recursos pró-prios. “Alguns estão empolgados, com-pram máquinas e terras. Não é hora de fazer dívidas. Nunca se sabe o que vem pela frente.”

Page 11: AH - Agronotícias | 28 de maio de 2016

11MAIO/2016

Às 5h, Senésio Selgen e Marco Rambo, de Alto Conventos, seguem para a lavoura de soja. No terreno íngrime, o uso de qualquer maqui-nário é inviável. Todo trabalho, do plantio à colheita, é manual.

As plantas são cortadas com uma foice e coloca-das em pequenos feixes. “Por dia uma pessoa consegue cortar até 20 sacas”, calcula Selgen. Após, são recolhidos com uma carroça e levados até a trilhadeira, instalada em um local plano.

Neste ciclo, foram cultivados em torno de três hectares e a produ-ção chegou a quase 50 sacas. “É difícil, dá muita dor na coluna, mas já es-tamos acostumados. Co-lhemos assim há mais de 50 anos”, conta Selgen.

Ele recorda da época em que a cultura era a

Para manter a renda estável mesmo em épocas de crise, o produtor Otávio Reinal-do Hinrichsen (foto de capa), de Cruzeiro

do Sul, aposta na diversificação. Além dos cinco hectares de soja, planta três hec-tares de aipim (duas mil caixas) e outros dez de milho-verde (40 mil espigas), ambos vendidos para a Ceasa de Porto Alegre.

Neste ciclo, colheu 300 sacas de soja, vendidas a R$ 65 cada. No entanto, o resultado financeiro, mesmo com

o valor maior devido à valorização do dólar, ficará igual ao do ano passado em virtude do aumento nos custos.

A área será manti-da na próxima safra. Hinrichsen descarta qualquer tipo de investi-mento em máquinas ou financiamentos. “Não vou abrir mão da qua-lidade das sementes ou usar doses menores de adubos e agroquí-micos. Até pretendo investir em esterco de galinha para melhorar a fertilidade do solo, pois disso depende parte do sucesso da lavoura.”

Conforme o engenheiro agrônomo Nilo Cortez, antigamente todo serviço de plan-tio, controle de inço e colheita era feito à mão. As famílias mais numerosas garan-tiam a oferta de mão de obra para todas as etapas produtivas.

As sementes eram de origem crioula. Em cada safra, os melhores exemplares eram selecionados e cultivados na época considerada a ideal, de acordo com a fase da lua. “Tinha gente para plantar no dia específico. Hoje, plantar assim é inviável.”

Cortez destaca que havia um contro-le natural das lagartas e demais pragas nas lavouras de milho e soja, plantadas em consórcio nas mesmas áreas. “Existia pouco espaço para as mariposas voarem, o chão estava coberto e a presença de folhas e pendões atrapalhava. Ocorriam problemas apenas nas beiradas.”

Com a expansão da área urbana, ins-talação de fábricas e abertura de vagas de emprego, os jovens deixaram o inte-rior. As áreas planas foram arrendadas e todo serviço é executado com o auxílio de máquinas. A maioria das propriedades com áreas íngremes foi reflorestada ou se transformou em pastagem.

Por dia uma pessoa consegue cortar até

20 sacas

Senésio Selgen, agricultor

Colheita só com a foice

principal fonte de lucro nas mais de cem proprie-dades rurais da locali-dade, a única agrícola de Lajeado. “Algumas famílias colhiam até 600 sacas por safra, tudo à mão. O trabalho sofrido

fez os jovens buscarem emprego na cidade e, sem mão de obra sufi-ciente, os pais abandona-ram a atividade. Apenas eu continuo no plantio, isso até me aposentar.”

O vizinho, com o qual troca serviço, trabalhou por 20 anos em indús-trias e há dois voltou a se dedicar à lavoura após se aposentar. “Se tivésse-mos uma área adequada para o uso de máquinas, com certeza poderíamos aumentar a nossa pro-dutividade e reduzir o trabalho braçal.”

Por ciclo, Rambo plan-ta quatro hectares de milho, em duas etapas – silagem e produção de grãos. Tudo é destinado para a engorda de ani-mais. Ele conta que a maioria das propriedades foi comprada por mora-dores da cidade e trans-formada em chácaras.

Diante da instabilidade, produtor diversifica

Viável pela mão de obra 

GIOVANE WEBER

Page 12: AH - Agronotícias | 28 de maio de 2016

12 MAIO/2016

Page 13: AH - Agronotícias | 28 de maio de 2016

13MAIO/2016

A diferença na oferta e demanda tornará o mercado de soja do ciclo 2015/16 escorregadio

Fernando Muraro,

Engenheiro agrônomo

CAPA

De acordo com o engenheiro agrônomo e analista financeiro, Fernando Muraro, a China deve consumir uma média de 4,7 mi-lhões de toneladas de soja em cinco anos. No mesmo período, a estimativa é que a América do Sul produza 7,5 milhões de toneladas do grão. “A diferença na oferta e demanda tornará o mercado de soja do ciclo 2015/16 escorregadio.”

Para Muraro, o El Ñino contri-buirá para a produtividade da soja e do milho no país, mas ganha vantagem o produtor que entender a relação oferta e demanda do ciclo e que saiba negociar o grão. “Diferente do que observamos em tempora-das anteriores, estocar grãos não significa valorizar o produto. Alto estoque quer dizer menos chance de negócio e baixa vo-latilidade”, comenta.

Ivan Wedekin, diretor da Wedekin Consultores, com uma das menores taxas de subsídio público do mundo, de apenas 4,4% de investimento governa-mental, quem atua no campo precisa encontrar alternativas para continuar produzindo com

O cenário de incertezas confunde até especialistas. Analistas projetam o câm-bio entre R$ 2,50 e R$ 5 ao longo do ano. Segundo o consultor em Agronegócio, Carlos Cogo, esse é o item que define a competitividade no mercado externo.

Apesar de cotado próximo a US$ 11, preço bem mais baixo do recorde próximo a US$ 17 registrados em 2012, o valor da saca de soja na Bolsa de Chicago não deve sofrer novas quedas. Aler-ta para a ocorrência do La Niña, que historicamente oferece risco à produção de milho, soja, trigo, açúcar, algodão e café. “O inverno deste ano deve ser mais frio e menos chuvoso.”

A área de cultivo de grãos deve crescer 1,3% em 2015/16, para 58,611 milhões de hectares, uma expansão de 760 mil hecta-res em relação aos 57,851 milhões de hectares de 2014/15. “Entre 2009 e 2016, houve uma expansão de 24,5% na área ou 11,5 mi-lhões de hectares.

A produção de soja, proje-tada pela USDA, está esti-mada em cem milhões de toneladas.

A projeção de exportação, entretanto, foi elevada para 59,5 milhões de toneladas. A China consumirá 95,2 milhões de toneladas e as importações tendem a au-mentar em 5,9% neste ciclo.

Segundo Cogo, o avan-ço da colheita e da oferta interna, com o aumento da esmagamento, pressiona as cotações para baixo. No médio e longo prazo, os prin-cipais fatores que influencia-rão os preços futuros são o clima durante o desenvolvi-mento da safra 2016/17 nos Estados Unidos, a demanda importadora por parte da China, as oscilações do dó-lar nos Estados Unidos e do real no Brasi.

Apetite chinês aumenta

qualidade e menos recursos. “A saída é o crédito rural, que saltou de R$ 42 bilhões em 2005 para R$ 154 bilhões em 2015”. A estratégia parece estar funcionando. Não à toa, a pro-dutividade nas lavouras mantém crescimento de 3,53% ao ano desde 1975 e o Brasil já é con-siderado referência em pesqui-sa e tecnologia no campo.

A boa notícia é que o interesse da China por soja e milho deve crescer mais, já que os asiáticos apostam na expansão da pro-dução de suínos e os farelos de milho e soja terão mais procura.

Outra notícia boa para o produtor brasileiro, segundo o analista de mercado da Agrin-vest, Marcos Araújo, é o ex-cesso de chuvas na Argentina, cuja perda está estimada em até cinco milhões de toneladas. O clima adverso afeta a quali-dade do grão no país, que é o maior exportador mundial de farelo e óleo de soja. Com esse cenário, os preços em Chicago podem ultrapassar os US$ 10 por bushel em curto prazo. O momento é positivo para fechar negócios.

DIVULGAÇÃO

Cenárioturbulento

Page 14: AH - Agronotícias | 28 de maio de 2016

14 MAIO/2016

CAPA

Quando a safra é boa, todo

mundo ganha. A soja gera um

lucro que o agricultor vai gastar

no comércio direto, comprando

o que precisa para continuar

no negócio, como máquinas

agrícolas e fertilizantes.

Sempre que pode, o produtor

investe em novas tecnologias e

maquinários. A última compra

dele ajudou a manter os 40

empregos diretos gerados na

Trator Peças Mário de Lajea-

do. “Dependemos de todos os

investimentos feitos por eles,

tanto como maquinários, pe-

ças, serviços. A retração dos

negócios ocorreu pela oferta

de crédito mais restrito e baixa

confiança dos agricultores”,

diz o diretor-comercial Fábio

Nietiett.

Apesar do cenário, o empre-

sário está otimista e projeta

aumento nas vendas a partir do

segundo semestre. Argumento

justificado pela safra recorde,

preços estáveis e o fato de o

agricultor precisar investir cada

vez mais em tecnologia para

amenizar a falta de mão de

obra e garantir maior produti-

vidade. “Os tratores e demais

implementos avançam muito

rápido. Ninguém mais fica com

a máquina por 30 anos. Essa

troca é feita a cada seis, tendo

em vista a possibilidade de ob-

ter mais economia, rendimento

e menos perdas.”

A queda nas vendas era es-

perada, segundo Nietiett, tendo

em vista o desempenho da

economia, dificuldades de con-

seguir linhas de financiamento,

juros mais elevados e a compra

antecipada, já que em 2013

e 2014 a oferta de crédito era

melhor com juros mais aces-

síveis e o produtor aproveitou

para renovar a frota.

Reflexo positivo no comércio

2011/12 � 6,522012/13 � 12,532013/14 � 12,862014/15 � 14,882015/16* � 15,60

2011/12 � 1,552012/13 � 2,712013/14 � 2,602014/15 � 2,832015/16* � 2,80

2011/12 � 4,202012/13 � 4,622013 /14 � 4,942014/15 � 5,252015/16* � 5,45

2014/15 � R$ 2.355,06

2015/16 � R$ 2.788,47

Produção em milhões de toneladas no RS

Produtividade em mil quilos

Área plantadaCusto por hectare

Processamento

40,7 milhões de toneladas

Exportação

55,3 milhões de toneladas

Produção de farelo de soja

30,9 milhões de toneladas

– 15,2 milhões de toneladas

serão exportadas

Produção de óleo de soja

8,07 milhões de toneladas –

1,5 milhão serão exportadas

Fonte – Conab,

Emater e Abiove

* Projeção

Page 15: AH - Agronotícias | 28 de maio de 2016

15MAIO/2016

Economia como brilho do sol

Propriedades diminuem custo e melhoram a assepsia das vacas com água aquecida por coletores solares. Modelos custam entre R$ 150 e R$ 30 mil. Além de ambientalmente corretos, ajudam a reduzir a conta de luz no fim do mês. 

Propriedades leiteiras investem em aquece-dores solares para ter água quente nas salas

de ordenha. Ainda são pou-cas, mas revelam uma tendên-cia, uma vez que tecnologia reduz os gastos com luz.

Além disso, ela é ecologica-mente correta. “Instalamos os painéis solares há uns quatro anos. Economizamos R$ 150 por mês. É uma energia limpa e gratuita, basta captar”, co-menta Lucas Alves, de Arroio

do Meio.A família foi uma das pio-

neiras a aquecer a água com a luz do sol e usá-la nos equipamentos de higieniza-ção. Instalado em cima da sala de ordenha, o reserva-tório térmico – com capaci-dade para 200 litros de água – e os painéis solares com-põem um cenário cada vez mais comum tanto na cidade como no interior.

Hoje, apenas 500 imóveis no Brasil utilizam o sistema de captação solar. Mesmo com o pequeno número de adeptos, a Agência Nacional de Ener-gia Elétrica (Aneel) estima que o país terá 700 mil resi-dências produzindo a energia que consomem até 2024.

Com o aumento de 70% na conta de energia, outro conjunto de painéis foi ins-talado no telhado da casa. “Usamos no chuveiro, na co-zinha. O fogão a gás quase não é usado.”

Antes do sistema, a água para higienizar os equipa-mentos da ordenha, duas vezes por semana, era aque-cida com energia elétrica ou gás de cozinha.

Conforme Alves, a capaci-dade de aquecimento é de até 80ºC. “O equipamento tem um termostato que des-liga quando a água atinge a temperatura desejada. Não pode subir mais, pois preju-dica a vaca.”

Detalhe: na ausência do sol, a energia elétrica é ligada automaticamente para que a água aquecida alcan-ce a temperatura ideal.

 

O empresário Roberto Ammes, de Arroio do Meio, destaca que o potencial brasileiro da energia do sol não tem limites. Entre as vantagens de instalar sistema de energia térmica (água quente), cita a economia de energia elé-trica entre 35% e 45% ao mês, conforto e pouca manutenção em comparação com aquecedo-res a gás.

A instalação é feita em resi-dências, salas de ordenha para limpeza dos equipamentos, refeitórios, vestiários e também piscinas. “O desconforto da água gelada é eliminado, mes-mo após a época ideal para se tomar banho. Podemos aprovei-tar ela inclusive à noite, depois do serviço.”

Entre os modelos, cita o sistema solar elétrico fotovoltaico, ten-dência mundial, integrado à rede onde cliente pode reduzir a conta pagando somente a taxa básica, gerando créditos para uso nos meses de maior consumo. O in-vestimento é maior, mas o retorno financeiro é um dos destaques.

A Epagri de Santa Catarina monta aquecedores utilizando canos de PVC, garrafas PET transparentes de refrigerantes de dois litros e caixas de leite. Conforme o extensionista Vilmar Henkemaier, do município de Rio Rufino, as garrafas PETs envol-vem canos PVC e caixas de leite pintadas de preto para absorver o calor solar e aquecer a água que passa pelo sistema, sai da caixa em temperatura ambiente que lentamente se eleva, re-tornando para a caixa para ser distribuída para chuveiro, pia ou sala de ordenha. “Além de redu-zir custos com energia elétrica,

ajuda a natureza com o destino correto das embalagens.”

Para cada aquecedor solar, foram utilizados 300 litros de garrafas PET e 300 caixas de leite. A temperatura chega aos 42ºC. O custo médio de insta-lação é de R$ 150 por aque-cedor. O sistema permite uma economia mensal de até 25% na conta de luz.

• A área onde serão instalados os painéis precisa receber sol mais que quatro horas por dia.

• Contate um engenheiro para analisar a viabilidade.

• O valor investido demora oito anos para ser ressarcido.

• Não há seguro para o equi-pamento – caso algum item estrague, a empresa que for-nece a energia elétrica não se responsabiliza pelo conserto.

Potencial sem limites

Aquecedor de garrafa PET

Mais informações

Como funciona

Alves instalou dois aquecedores. Economia na conta de luz chega a R$ 150 por mês

GIOVANE WEBER

• A radiação solar “bate” nos painéis solares colo-cados no telhado de casas ou condomínios. Eles são compostos por células fotovoltaicas, que absorvem a energia do sol e fazem a corrente elétrica circular entre duas camadas com cargas opostas.

• Os painéis “sugam” partículas de energia solar e as transformam em elétrons com a ajuda do equipamento inversor. Ele transforma a energia em eletricidade para ser utilizada em diversos fins, como acender uma lâmpada, ligar a televisão ou o ar-con-dicionado.

• Com o uso de dois apa-relhos, é possível medir o consumo da residência e a geração de energia.

• O que sobra de energia gerada pode ser colocado na rede elétrica de abasteci-mento.

Page 16: AH - Agronotícias | 28 de maio de 2016