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AGRONEGÓCIO

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AGRONEGÓCIO

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GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL Governador: Eduardo Leite Vice-Governador: Ranolfo Vieira Júnior SECRETARIA DE PLANEJAMENTO, GOVERNANÇA E GESTÃO Secretário: Claudio Gastal Secretária Adjunta: Izabel Matte Subsecretário de Planejamento: Antonio Paulo Cargnin DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA Diretor: Pedro Tonon Zuanazzi Divisão de Estudos de Atividades Produtivas: Rodrigo Daniel Feix

Como referenciar este trabalho: FEIX, R. D.; LEUSIN JÚNIOR, S.; BORGES, B. K. Painel do agronegócio do Rio Grande do Sul — 2021. Porto Alegre: SPGG, 2021.

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Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão

Subsecretaria de Planejamento

Departamento de Economia e Estatística

Painel do Agronegócio do Rio Grande do Sul — 2021

Pesquisadores: Rodrigo Daniel Feix Sérgio Leusin Júnior Bruna Kasprzak Borges

Porto Alegre, setembro de 2021

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2 Painel do Agronegócio do RS — 2021

Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citada a fonte. As incorreções e as opiniões emitidas no documento são de responsabilidade exclu-siva dos autores, não refletindo, necessariamente, o posicionamento institucional do DEE-SPGG. https://dee.rs.gov.br/painel-agro Departamento de Economia e Estatística (DEE-SPGG) R. Duque de Caxias, 1691 Porto Alegre - RS - 90010-281 Fone: (51) 3216-9000 E-mail: [email protected] Homepage: https://dee.rs.gov.br/inicial Diretor: Pedro Tonon Zuanazzi Chefe da Divisão de Estudos de Atividades Produtivas: Rodrigo Daniel Feix Equipe Técnica: Rodrigo Daniel Feix, Sergio Leusin Jr. e Bruna Kasprzak Borges Revisão Técnica: Elvin Maria Fauth e Tulio Antonio de Amorim Carvalho Revisão de Língua Portuguesa: Susana Kerschner Normalização Bibliográfica: João Vítor Ditter Wallauer Capa: Priscila Barbosa Ely (Ascom-SPGG) Foto da capa: Pedro Revillion (Palácio Piratini)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Bibliotecário responsável: João Vítor Ditter Wallauer – CRB 10/2016

Publicação anual que apresenta um amplo conjunto de informações sobre o agrone-gócio, em suas diferentes dimensões. O objetivo do estudo é contribuir para a análise conjuntural e estrutural do agronegócio e ampliar o entendimento da sociedade so-bre a sua participação no processo de desenvolvimento econômico gaúcho e brasi-leiro.

F311p Feix, Rodrigo Daniel. Painel do Agronegócio do Rio Grande do Sul — 2021 / Rodrigo

Daniel Feix, Sérgio Leusin Júnior, Bruna Kasprzak Borges. - Porto Alegre : Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão, 2021.

61 p. : il. 1. Agronegócio – Rio Grande do Sul. 2. Desenvolvimento agro-

pecuário – Rio Grande do Sul. I. Leusin Júnior, Sérgio. II. Borges, Bruna Kasprzak. III. Título. IV. Rio Grande do Sul. Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão. Departamento de Economia e Estatística.

CDU 338.43(816.5)

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3 Painel do Agronegócio do RS — 2021

Sumário

Introdução ................................................................................................................................. 4 1 O que é o agronegócio? ...................................................................................................... 5 2 A agropecuária, o agronegócio e a economia gaúcha ................................................ 7 Ocupação do solo e estrutura fundiária ....................................................................................... 7 Valor Adicionado e Produto Interno Bruto ................................................................................... 8 Exportações .......................................................................................................................................... 13 População rural, pessoal ocupado e emprego com carteira assinada ................................. 17 3 Características da agricultura gaúcha ............................................................................ 23 Exportações agrícolas e de produtos derivados ........................................................................ 30 Emprego formal celetista na agricultura e nos setores agroindustriais vinculados......... 31 4 Características da pecuária gaúcha ................................................................................ 33 Exportações da pecuária e de produtos de origem animal ..................................................... 38 Emprego formal celetista na pecuária e nos setores agroindustriais vinculados ............. 40 5 Agricultura familiar e cooperativismo agropecuário no Rio Grande do Sul ......... 43 Agricultura familiar ............................................................................................................................. 43 Financiamento da agricultura familiar .......................................................................................... 47 Cooperativismo .................................................................................................................................... 49 6 Máquinas e implementos agrícolas ................................................................................ 51 Startups do agronegócio ................................................................................................................... 55 Considerações finais .............................................................................................................. 56 Referências ............................................................................................................................... 57

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4 Painel do Agronegócio do RS — 2021

Introdução

Entre os dias 4 e 12 de setembro de 2021, acontece a 44.a edição da Exposição Interna-cional de Animais, Máquinas, Implementos e Produtos Agropecuários (Expointer), uma das maiores e mais tradicionais feiras do agronegócio brasileiro. Em 2019, último ano em que foi realizada presencialmente, a feira atraiu 416.416 visitantes e movimentou aproximadamente R$ 2,7 bilhões em negócios.

Desde 2015, aproveitando a ocasião da Expointer, a Secretaria de Planejamento, Go-vernança e Gestão (SPGG) vem divulgando o Painel do Agronegócio do Rio Grande do Sul, que disponibiliza um amplo conjunto de informações sobre o agronegócio, em suas diferentes di-mensões. O objetivo do estudo é contribuir para a análise conjuntural e estrutural do setor e ampliar o entendimento da sociedade sobre o seu papel no processo de desenvolvimento econômico gaúcho e brasileiro. A presente atualização consiste na 5.a edição da publicação, que foi iniciada pela Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser e, a partir de 2019, foi continuada pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE-SPGG).

Mantendo o formato das versões anteriores, que foram amplamente acessadas e re-percutidas, esta edição apresenta e analisa brevemente informações sobre:

• a importância da agropecuária e do agronegócio para a economia gaúcha; • os principais segmentos da agropecuária do Rio Grande do Sul; • a agricultura familiar e o cooperativismo agropecuário; e • a indústria de máquinas agrícolas e as startups do agronegócio (Agtechs).

A publicação busca oferecer ao público especializado e não especializado informações e análises com o máximo de atualização e, para tanto, vale-se de dados e informações das mais diversas fontes primárias e secundárias.

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5 Painel do Agronegócio do RS — 2021

1 O que é o agronegócio?

Para o adequado dimensionamento da atividade agropecuária e do agronegócio, antes de iniciar a análise dos dados disponíveis para o RS, são apresentados alguns conceitos ele-mentares. A agropecuária pode ser entendida como a junção das atividades agricultura, pe-cuária, silvicultura e exploração vegetal e pesca. Essas atividades abrangem:

• agricultura - cultivo de cereais, cana-de-açúcar, soja, frutas, café e outros produtos das lavouras temporárias e permanentes;

• pecuária - criação de bovinos, suínos, aves e outros animais e produção dos pro-dutos derivados na propriedade rural;

• silvicultura e exploração florestal - produção de lenha, madeira em tora, madeira para celulose e outros produtos da exploração florestal;

• pesca - produção de pescado fresco.

Juntamente com a indústria extrativa, a agropecuária constitui o Setor Primário da economia, que é responsável pelo fornecimento de um amplo conjunto de matérias-primas para outros setores de atividade econômica e de produtos finais.

Existe uma substancial diferença entre agropecuária e agronegócio. O conceito de agronegócio deriva da expressão “agribusiness”, atribuída a Davis e Goldberg (1957), e refere-se ao conjunto das operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas; das ope-rações de produção na fazenda; do armazenamento, do processamento, da industrialização e da distribuição dos produtos agrícolas.

Portanto, além das atividades agropecuárias — de base empresarial ou familiar —, o agronegócio engloba a produção de insumos e de bens de capital (fertilizantes, defensivos, máquinas agrícolas); a indústria de transformação de matéria-prima agropecuária (alimentos, biocombustíveis, fumo); e as atividades especializadas em oferta de serviços agropecuários e em armazenagem, distribuição e comercialização dos produtos do agronegócio.

Para fins de levantamento estatístico e análise econômica, comumente as atividades do agronegócio são classificadas em segmentos segundo sua posição em relação à atividade agropecuária. As atividades desenvolvidas no âmbito da unidade de produção agropecuária constituem o segmento “dentro da porteira”, e as situadas a montante e a jusante da agrope-cuária formam, respectivamente, os segmentos “antes da porteira” e “depois da porteira”.

Para a caracterização econômica do RS, o conceito de agronegócio constitui-se em instrumento útil de análise, pois permite a compreensão dos rebatimentos das atividades agropecuárias no conjunto da economia regional e sua articulação com o restante do Brasil. Porém a definição e a delimitação metodológica das atividades que constituem o agronegócio não são consensuais. No Brasil, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Uni-versidade de São Paulo (Cepea-USP) é a principal referência na produção de estatísticas para o agronegócio brasileiro e suas principais cadeias produtivas.

Segundo as estimativas mais recentes do Cepea, referentes ao ano de 2020, o produto do agronegócio brasileiro aproximou-se de R$ 2 trilhões, o que equivale a 26,6% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional (CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA, 2021). Ao longo das últimas décadas, em um contexto de acelerado crescimento da demanda externa e intensas transformações tecnológicas e institucionais na agricultura brasileira, o setor cons-tituiu-se em importante fonte de dinamismo para a economia nacional.

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6 Painel do Agronegócio do RS — 2021

Figura 1

O que é o agronegócio?

Gráfico 1

Evolução da participação do agronegócio, total e por segmentos, no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil — 2016-20

Fonte: Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-USP) (2021).

A análise que segue, específica para o Rio Grande do Sul, apresenta informações refe-

rentes às principais atividades agropecuárias (segmento “dentro da porteira”), agroindustriais (segmento "depois da porteira”) e da indústria de máquinas e implementos agrícolas e startups da agropecuária (segmento “antes da porteira”) presentes no território gaúcho. Por sua relevância socioeconômica e produtiva, algumas informações a respeito da agricultura familiar e do cooperativismo agropecuário também são apresentadas.

1% 1% 1% 1% 1%

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2016 2017 2018 2019 2020

(A) Insumos (B) Agropecuária (C) Indústria

(D) Serviços Agronegócio total (A+B+C+D)

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2 A agropecuária, o agronegócio e a economia gaúcha

Ocupação do solo e estrutura fundiária Segundo resultados do Censo Agropecuário 2017 (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRA-

FIA E ESTATÍSTICA, 2020), existem, no RS, 365.094 estabelecimentos agropecuários, perfazendo uma área de 21,7 milhões de hectares. Em torno de 42% da área dos estabelecimentos agro-pecuários do RS são ocupados por pastagens e 36% por lavouras permanentes e temporárias. A comparação dos dados dos últimos censos (2006 e 2017) revela um crescimento da partici-pação das lavouras (mais 2,0 pontos percentuais) e uma queda das pastagens (-3,3 pontos percentuais) na utilização da terra dos estabelecimentos agropecuários gaúchos. No mesmo período, também cresceu a parcela da área dos estabelecimentos agropecuários ocupada com matas e florestas.

Figura 2

Uso do solo nos estabelecimentos agropecuários do Rio Grande do Sul — 2017

Fonte: Censo Agropecuário 2017 (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2020).

42,3%

36,1%

15,9%

5,7%

Total

Pastagens Lavouras Matas e florestas Outros

2,5%

97,5%

Lavouras

Permanentes

Temporárias

Área para cultivo de flores

82,2%

16,8%

1,0%

Pastagens

Naturais

Plantadas em boas condições

Pastagens plantadas em máscondições

64,2%

27,0%

8,8%

Matas e florestas

Preservação permanente ou reservalegalFlorestas plantadas

Naturais

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8 Painel do Agronegócio do RS — 2021

No RS, a estrutura fundiária, entendida como o modo de distribuição e organização das propriedades agrárias, varia significativamente em termos regionais. Dentre os estabele-cimentos agropecuários do Estado mapeados pelo Censo Agropecuário 2017, mais de 60% pos-suíam menos de 20 hectares. Em conjunto, esses estabelecimentos ocupavam apenas 8,6% da área agropecuária. O último censo identificou um movimento de concentração fundiária e de aumento da área média dos estabelecimentos agropecuários no RS. Houve uma redução de 19,4% no número de estabelecimentos com menos de 50 hectares, ao passo que a frequência dos estabelecimentos de porte superior cresceu 5,1% (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2020).

Tabela 1

Número de estabelecimentos e área dos estabelecimentos agropecuários, por grupos de área total, no Rio Grande do Sul — 2017

GRUPOS DE ÁREA TOTAL ESTABELECIMENTOS ÁREA

Número de Esta-belecimentos % Hectares (ha) %

Menos de 10ha ........................................................... 132.782 36,5 622.812 2,9 De 10ha a menos de 20ha ………………………………... 89.850 24,7 1.248.381 5,8 De 20ha a menos de 50ha ………………………..………. 82.863 22,8 2.458.100 11,3 De 50ha a menos de 100ha ……………………………. 26.671 7,3 1.798.380 8,3 De 100ha a menos de 200ha ………………………....... 13.180 3,6 1.788.182 8,2 De 200ha a menos de 500ha ……………………..……. 10.492 2,9 3.235.549 14,9 De 500ha a menos de 1.000ha ……………………..… 4.811 1,3 3.310.744 15,3 De 1.000ha a menos de 2.500ha ……………………… 2.837 0,8 4.180.397 19,3 De 2.500ha e mais ..................................................... 707 0,2 3.042.013 14,0

Fonte dos dados brutos: Censo Agropecuário 2017 (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2020).

Os condicionantes históricos e econômicos da ocupação do território gaúcho e as di-

ferenças edafoclimáticas determinaram que uma parcela expressiva dos estabelecimentos de menor porte se concentrasse na mesorregião Noroeste. Nas regiões que abrangem os Conse-lhos Regionais de Desenvolvimento (Coredes) Campanha, Sul e Fronteira Oeste, há maior fre-quência de estabelecimentos de médio e grande porte, especializados na pecuária de corte, no cultivo de arroz e, cada vez mais, na sojicultura. Atualmente, as propriedades com mais de 1.000 hectares representam 1,0% do total de estabelecimentos agropecuários e ocupam um terço da área. No Brasil, essa participação é ainda maior, de 47,5% do total, segundo o Censo Agropecuário 2017 (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2020). Valor Adicionado e Produto Interno Bruto

Em 2018, o RS contribuiu com 11,5% do total do Valor Adicionado Bruto (VAB1) da agro-

pecuária brasileira, ocupando a segunda posição no ranking nacional, que é liderado pelo Paraná (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2020b). Esse é o último ano com estatísticas disponíveis na série do Sistema de Contas Regionais do Instituto Brasileiro de Ge-ografia e Estatística (IBGE), que, no Rio Grande do Sul, é atualizada em parceria com o DEE-SPGG.

Segundo os cálculos do DEE-SPGG, a participação da agropecuária no VAB total do RS foi de 9,0% em 2018 (RIO GRANDE DO SUL, 2020a). Desde 2002, essa participação oscilou entre 6,6% e 13,7%, sendo influenciada, sobretudo, pelo rendimento físico por hectare, medida

1 VAB é o valor que a atividade agrega a bens e serviços no seu processo produtivo. É a contribuição ao Produto

Interno Bruto das diversas atividades econômicas, obtida pela diferença entre o valor de produção e o consumo intermediário absorvido por essas atividades.

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sensível às condições climáticas, às mudanças no uso do solo e às inovações tecnológicas e organizacionais no campo. Na última década, em média, 70% do VAB da agropecuária gaúcha deriva da agricultura, 24% da pecuária e 6% da produção florestal, pesca e aquicultura.

Gráfico 2

Valor Adicionado Bruto (VAB) da agropecuária nas unidades da Federação — 2018

Fonte: Sistema de Contas Regionais (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2020b).

No Brasil, a agropecuária responde por cerca de 5% do VAB total, o que indica uma

maior dependência da economia do RS em relação a esse setor, quando comparado à média do restante do País.

Figura 3

Estrutura do Valor Adicionado Bruto, por setores de atividade, no Rio Grande do Sul e no Brasil — 2018

Fonte: Sistema de Contas Regionais (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2020b). Produto Interno Bruto Anual do Rio Grande do Sul (RIO GRANDE DO SUL, 2020a)

Nota: os valores correspondem à participação percentual dos setores de atividade no Valor Adicionado Bruto.

Em termos regionais, a importância da agropecuária para a geração de renda no Es-

tado é ressaltada. Segundo as estatísticas do PIB Municipal, em 2018, a agropecuária foi res-ponsável por mais de 30% da atividade econômica em 268 municípios gaúchos, sendo superior a 50% em 73 deles (RIO GRANDE DO SUL, 2020b). Essa característica é mais frequente entre os

0

5.000

10.000

15.000

20.000

25.000

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35.000

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(R$ milhões)

5,2

21,8

55,6

17,4 Agropecuária

Indústria

Serviços

Administração e ServiçosPúblicos

9,0

22,4

54,1

14,5

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municípios interioranos com menos de 5.000 habitantes, como Jari, Muitos Capões, André da Rocha e Jacuizinho, que se destacam por apresentarem a maior dependência econômica da agropecuária entre todos os municípios gaúchos.

Gráfico 3

Municípios com maior dependência econômica da agropecuária no Rio Grande do Sul — 2018

Fonte: PIB Municipal (RIO GRANDE DO SUL, 2020b). Nota: Pesquisa desenvolvida em convênio com o IBGE.

Em geral, esses municípios integram-se às economias regionais por meio da oferta de

produtos finais e de matéria-prima para a agroindústria e demandam um variado conjunto de bens e serviços agropecuários e não agropecuários. Por essa e outras razões, em uma pers-pectiva sistêmica, a influência da agropecuária no conjunto das economias municipais e do Estado é superior à sugerida pelos números agregados segundo os setores de atividade eco-nômica. Diretamente, a atividade primária do agronegócio interliga-se com setores a mon-tante (antes da porteira) — que fornecem insumos, máquinas e implementos, assistência téc-nica e financiamento — e com setores a jusante (depois da porteira) — responsáveis pelo pro-cessamento e pela distribuição da produção agropecuária.2 Indiretamente, há ainda os impac-tos derivados do gasto do excedente econômico gerado na agropecuária, que se traduz em fonte de dinamismo para a indústria e para o setor de serviços local e regional.

2 Os estudos mais recentes dedicados ao dimensionamento do agronegócio estimam que o seu produto equivalha a

mais de um terço do VAB gerado no Rio Grande do Sul (PEIXOTO; FOCHEZATTO; PORSSE, 2013; SESSO FILHO et al., 2011). Porém não há estimativas atualizadas a esse respeito que sejam plenamente compatíveis com a metodologia das Contas Regionais do RS.

60%

60%

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62%

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0% 20% 40% 60% 80%

Capão Bonito do Sul

Boa Vista das Missões

Quevedos

Santo Antônio do Planalto

Rolador

Maçambará

Chiapetta

Dois Irmãos das Missões

Jóia

Dilermando de Aguiar

São Martinho da Serra

Quatro Irmãos

Santa Cecília do Sul

Boa Vista do Cadeado

Coxilha

Pedras Altas

Capão do Cipó

Boa Vista do Incra

Jacuizinho

André da Rocha

Muitos Capões

Jari

(% do VAB total)

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11 Painel do Agronegócio do RS — 2021

A análise do valor das saídas da indústria de transformação do RS, variável indicativa do Valor Bruto da Produção (VBP3), aponta que os grupos de atividades características do agronegócio contribuem com um terço do total (Tabela 2). Essa magnitude é reveladora dos encadeamentos diretos entre a agropecuária e os demais setores produtivos da economia gaúcha. No segmento antes da porteira, o destaque é a fabricação de tratores, máquinas e equipamentos agropecuários, que respondeu por 4,2% do valor das saídas fiscais da indústria de transformação gaúcha. No segmento depois da porteira, destacam-se os setores de abate e fabricação de produtos de carne (6,9%) e de moagem, fabricação de produtos amiláceos e de alimentos para animais (5,6%).

Tabela 2

Estrutura do valor das saídas fiscais da indústria de transformação, por grupos de atividades, do Rio Grande do Sul — 2018

INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO PARTICIPAÇÃO %

Atividades industriais do agronegócio ......................................................................................... 32,8 Abate e fabricação de produtos de carne .................................................................................... 6,9 Moagem, fabricação de produtos amiláceos e de alimentos para animais ........................ 5,6 Fabricação de tratores e de máquinas e equipamentos para a agricultura e pecuária 4,2 Fabricação de óleos e gorduras vegetais e animais .................................................................. 3,7 Laticínios .............................................................................................................................................. 3,3 Fabricação de bebidas alcoólicas .................................................................................................... 2,3 Fabricação de outros produtos alimentícios ............................................................................... 1,8 Processamento industrial do fumo ................................................................................................ 1,3 Fabricação de produtos do fumo .................................................................................................... 1,1 Curtimento e outras preparações de couro ................................................................................. 0,9 Fabricação de biocombustíveis ...................................................................................................... 0,8 Fabricação de conservas de frutas, legumes e outros vegetais ............................................ 0,5 Fabricação de defensivos agrícolas ................................................................................................ 0,2 Desdobramento de madeira ........................................................................................................... 0,1 Preservação do pescado e fabricação de produtos do pescado .......................................... 0,1 Outras atividades industriais .......................................................................................................... 67,2

Fonte dos dados brutos: Secretaria da Fazenda (Sefaz-RS), Valor das Saídas Fiscais do RS (RIO GRANDE DO SUL, 2020). Nota: O cálculo da participação das atividades do agronegócio no valor das saídas fiscais da indústria de transformação é uma aproximação. Duas razões principais levam a uma subestimação do resultado: (a) alguns setores, como o de fabricação de celulose, estão protegidos por sigilo fiscal para impedir a identificação das empresas e não foram utilizados; (b) os dados foram disponibilizados ao nível de grupos da CNAE 2.0, e optou-se por selecionar apenas aqueles plenamente caracterizados por atividades do agronegócio.

A evolução recente das taxas de crescimento do VAB por setores de atividade também

contribui para o entendimento dessa relação entre o setor agropecuário, a economia gaúcha e a economia brasileira. Analisando-se os últimos 10 anos da série das Contas Regionais do IBGE, observa-se que, em oito, vigorou a seguinte máxima: quando o Valor Adicionado da agro-pecuária gaúcha cresce acima (ou abaixo) do PIB gaúcho, o PIB do Estado cresce acima (ou abaixo) do PIB brasileiro.

Conforme observado por Lazzari (2012), autor que, pela primeira vez, analisou essa relação, o desempenho da agropecuária torna-se decisivo na explicação da evolução da eco-nomia do Estado, ao impactar, direta e indiretamente, parcela tão significativa do PIB. O ano de 2012 foi especialmente marcante em razão do impacto da estiagem sobre a produção e, consequentemente, sobre o VAB da agropecuária. Afetado pela menor oferta agropecuária e por suas repercussões na indústria e nos serviços, o PIB do Estado sofreu uma retração de 2,1% naquele ano (FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA SIEGFRIED EMANUEL HEUSER, 2017). Em 2020, mais uma vez, a agricultura foi impactada pelo stress hídrico. Isso determinou que,

3 O Valor Bruto de Produção é uma expressão monetária da soma dos bens e serviços produzidos em determinado

território econômico, em dado período de tempo. Essa variável não é a mais indicada para o acompanhamento da atividade econômica e a determinação da renda, pois não deduz os custos dos insumos utilizados na produção.

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12 Painel do Agronegócio do RS — 2021

no primeiro ano da pandemia de Covid-19, a queda no PIB gaúcho (7,0%) tenha sido substan-cialmente superior à registrada no Brasil (4,1%), segundo cálculos do DEE-SPGG (RIO GRANDE DO SUL, 2021b).

Tabela 3

Taxas de crescimento do Valor Adicionado Bruto (VAB) da agropecuária, do Produto Interno Bruto (PIB) e participação do Rio Grande do Sul na economia do Brasil — 2011-20

ANOS VAB DA AGROPECUÁRIA DO RS PIB DO RS PIB DO BRASIL PARTICIPAÇÃO DO PIB DO RS

NO PIB DO BRASIL

2011 13,8 4,6 4,0 6,2 2012 -32,4 -2,1 1,9 6,1 2013 56,9 8,5 3,0 6,0 2014 -3,8 -0,3 0,5 6,2 2015 9,5 -4,6 -3,5 6,4 2016 -0,2 -2,4 -3,3 6,5 2017 11,4 1,8 1,3 6,4 2018 -7,1 2,0 1,8 6,5

2019 (1) 6,0 2,0 1,4 6,4 2020 (1) -29,6 -7,0 -4,1 6,4

Fonte dos dados brutos: PIB Trimestral (RIO GRANDE DO SUL, 2021b). Fonte dos dados brutos: Sistema de Contas Nacionais Trimestrais (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2021b). (1) Estimativas preliminares.

Algumas evidências sinalizam uma maior sensibilidade da indústria, comparativa-

mente ao setor de serviços, às flutuações na produção agropecuária do RS. Porém, ainda que isso se verifique, o setor de serviços também é afetado pelo desempenho da agropecuária, dada a importância desta última como demandante para as atividades de transporte e arma-zenamento, e para o comércio em geral, notadamente nas regiões especializadas na produção de alimentos do interior do Estado.

A análise comparativa da variação acumulada do VAB dos setores de atividade tam-bém é ilustrativa do desempenho singular da agropecuária gaúcha nos últimos anos. É evi-dente o novo dinamismo adquirido pelo setor a partir de meados da primeira década do sé-culo XXI, quando os preços internacionais dos alimentos iniciaram sua trajetória de alta, in-centivando a produção agropecuária, sobretudo de grãos e oleaginosas. O Valor Adicionado da agropecuária expandiu-se aceleradamente no Estado desde 2006, e isso ocorreu apesar das limitações impostas pela relativa inelasticidade da fronteira agrícola gaúcha. São aponta-dos como os principais vetores desse crescimento os ganhos de produtividade, a elevação dos preços e a mudança na composição da pauta de produção agropecuária (substituição de área entre atividades). Entre 2002 e 2018, a expansão acumulada do VAB total foi de 30,9%, ao passo que o VAB da agropecuária cresceu 74,5%. No mesmo período, o setor de serviços cresceu 38,8%, e a indústria, apenas 0,4% (RIO GRANDE DO SUL, 2020a). Isso corresponde a uma taxa de crescimento anual média do VAB total de 1,7% a.a., da agropecuária de 3,5% a.a., dos servi-ços de 2,1% a.a. e da indústria de 0,0% a.a.

De acordo com as estimativas preliminares, o VAB da agropecuária gaúcha avançou 6,0% em 2019, mas apresentou um recuo de 29,6% em 2020, em decorrência dos impactos da estiagem (RIO GRANDE DO SUL, 2021b). Para 2021, a expectativa é de reestabelecimento do nível de produto da agropecuária gaúcha. Segundo estimativas do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola do IBGE, a produção de cereais, oleaginosas e leguminosas no Rio Grande do Sul crescerá acima de 40% em 2021 (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTA-TÍSTICA, 2021).

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13 Painel do Agronegócio do RS — 2021

Gráfico 4

Variação acumulada do Produto Interno Bruto (PIB), do Valor Adicionado Bruto (VAB) da agropecuária, da indústria e dos serviços no Rio Grande do Sul — 2002-18

Fonte: PIB Anual (RIO GRANDE DO SUL, 2020a). Nota: Os índices têm como base 2002 = 100.

Exportações Para além do suprimento doméstico de um amplo e diversificado conjunto de merca-

dorias (soja, carnes, leite, arroz, fumo, vinho, maçã, trigo etc.), uma parcela expressiva da pro-dução do agronegócio gaúcho é exportada. A conhecida vocação exportadora do Estado está diretamente associada ao agronegócio, que, em 2020, respondeu por 71,7% do total das vendas externas do RS (RIO GRANDE DO SUL, 2021a). Entre 2010 e 2020, as exportações do agronegócio gaúcho cresceram a uma taxa média de 1,7% ao ano. O dinamismo da demanda externa cons-tituiu o principal estímulo ao crescimento diferenciado da agropecuária, que foi menos im-pactada pela crise na economia brasileira e, mais recentemente, pela pandemia de Covid-19.

Gráfico 5

Exportações do agronegócio e dos demais setores do Rio Grande do Sul — 2010-20

Fonte: Exportações do agronegócio (RIO GRANDE DO SUL, 2021a) Nota: Cálculos realizados pelo DEE-SPGG a partir da base de dados do Ministério da Economia (Sistema Comex Stat).

130,9

174,5

100,4

138,8

60

80

100

120

140

160

180

20020

02

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

VAB total Agropecuária Indústria Serviços

Índices de volume

61,3%64,0% 63,5%

66,3% 66,8% 68,4% 68,3% 66,1% 67,4% 69,5% 71,7%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

0

5

10

15

20

25

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020

Agronegócio (em US$ bilhões) Demais setores (em US$ bilhões)Participação do agronegócio (%)

(US$ bilhões) Participação no total

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14 Painel do Agronegócio do RS — 2021

Os principais setores exportadores do agronegócio gaúcho são os da soja, das carnes, do fumo e dos produtos florestais. Nos últimos anos, o complexo soja (grão, farelo e óleo) ampliou sua participação nas vendas externas e já responde por mais da metade do total. Devido à estiagem, esse percentual caiu para 38% em 2020.

Gráfico 6

Principiais setores exportadores do agronegócio do Rio Grande do Sul — 2020

Fonte: Exportações do agronegócio (RIO GRANDE DO SUL, 2021a). Nota: 1. Em % do total. Nota: 2. Cálculos realizados pelo DEE-SPGG a partir da base de dados do Ministério da Economia (Sistema Comex Stat).

O desempenho exportador do agronegócio do RS é explicado por um conjunto bas-

tante restrito de produtos, havendo, portanto, baixa diversidade na pauta. Em 2020, os sete principais setores exportadores responderam por mais de 90% das vendas do agronegócio. Em geral, pode-se afirmar que a vantagem competitiva do setor se assenta na liderança em custos de produção e de transação de produtos relativamente homogêneos (commodities), que têm seu preço estabelecido no mercado internacional. Assim, a estratégia concorrencial das firmas agropecuárias e agroindustriais é orientada, predominantemente, mais para a re-dução dos custos médios e menos para a diferenciação de produto ou a produção em nicho. Nessa lógica concorrencial, o aumento da produção e o rebaixamento dos custos médios fo-ram viabilizados pela consolidação de um novo paradigma produtivo, que combina inovações

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15 Painel do Agronegócio do RS — 2021

agronômicas, da biotecnologia e das indústrias química e de máquinas e equipamentos para a produção de grãos e carnes.

A consolidação desse modelo, que contou com forte estímulo da demanda externa para se desenvolver, reflete-se na complexidade dos produtos exportados pelo Rio Grande do Sul. A complexidade do produto é uma medida desenvolvida pelo Atlas da Complexidade Eco-nômica com o objetivo de captar a sofisticação ou know-how requerido para a fabricação de um produto (HAUSMANN et al., 2014).4 Essa medida é importante porque uma série de estudos revelou que o potencial de crescimento econômico futuro de um país ou de uma região cresce de acordo com o número de produtos complexos que é capaz de produzir com vantagem com-parativa. Entre os estados da Região Sul, o Rio Grande do Sul ocupa a última posição em ter-mos da complexidade dos produtos que exporta, apresentando uma média inferior à brasi-leira. O destaque é Santa Catarina, cuja pauta de exportações também é pouco diversificada, mas está centrada na oferta de proteína animal e produtos processados, que, em geral, são mais complexos. Vale referir que a queda na complexidade dos produtos do agronegócio é um fenômeno global, não exclusivamente brasileiro. Algumas explicações possíveis para essa ten-dência são o crescimento da importância dos fluxos Sul-Sul no comércio internacional, a mu-dança nos padrões de consumo alimentar em curso no Sudeste Asiático — especialmente na China — e a onda protecionista pós-crise financeira de 2008.

Gráfico 7

Evolução da complexidade média dos produtos exportados pelo agronegócio do Brasil e dos estados da Região Sul — 1997-2019

Fonte: Projeto Complexidade do Agronegócio Gaúcho, resultados preliminares (RIO GRANDE DO SUL, 2021c).

Em 2020, as exportações gaúchas do agronegócio tiveram como destino 176 países

mais a União Europeia. A China foi o principal comprador, tendo absorvido quase a metade das exportações. As compras desse país são constituídas principalmente de produtos do com-plexo soja (68,4% do total em 2020).5 Depois da China, aparecem como principais compradores de produtos do agronegócio gaúcho a União Europeia, os Estados Unidos, a Arábia Saudita, a Coreia do Sul e o Vietnã.

4 O Atlas da Complexidade Econômica é um projeto desenvolvido em parceria entre a Harvard Kennedy School e o

Massachusetts Institute of Technology Media Lab. A complexidade de um produto é calculada com base na quanti-dade de países capazes de produzi-lo e na sua complexidade econômica.

5 Em 2020, a China foi o destino de 95,8% da soja em grão exportada pelo RS.

-1,2

-1,0

-0,8

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

Brasil Paraná Rio Grande do Sul Santa CatarinaÍndice

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16 Painel do Agronegócio do RS — 2021

Figura 4

Principais destinos das exportações de produtos do agronegócio do Rio Grande do Sul — 2020

Fonte: Exportações do agronegócio (RIO GRANDE DO SUL, 2021a). Nota: Cálculos realizados pelo DEE-SPGG a partir da base de dados do Ministério da Economia (Sistema Comex Stat).

No primeiro semestre de 2021, as exportações do agronegócio gaúcho totalizaram

US$ 6,6 bilhões, o que corresponde a 72,5% das exportações totais Estado no período. Compa-rativamente ao mesmo período do ano anterior, ocorreram crescimentos no valor (30,5%), nos preços médios (22,0%) e no volume embarcado (6,9%). Em termos nominais, o valor exportado no acumulado de janeiro a junho é o maior de toda a série histórica iniciada em 1997, assim como o volume embarcado. O crescimento do valor exportado foi de US$ 1,5 bilhão em relação ao primeiro semestre de 2020. Os cinco principais setores exportadores do agronegócio no primeiro semestre de 2021 foram: complexo soja (US$ 3,1 bilhões), carnes (US$ 1,1 bilhão), fumo e seus produtos (US$ 600,3 milhões), produtos florestais (US$ 583,4 milhões) e cereais farinhas e preparações (US$ 345,4 milhões). O resultado positivo do semestre foi determinado pelo crescimento nas exportações de soja (mais US$ 952,9 milhões; 44,2%), de carnes (mais US$ 181,5 milhões; 19,2%%) e de produtos florestais (mais US$ 145,5; 33,2%). Contrariando a ten-dência de crescimento, o setor de cereais apresentou a maior queda absoluta no acumulado do ano (menos US$ 45,1 milhões; -11,6%), em razão da redução das vendas externas de arroz.

No caso do complexo soja, o desempenho no acumulado do ano deve-se ao cresci-mento nas exportações do grão (mais US$ 644,1 milhões; 36,3%), do farelo (mais US$ 227,5 milhões; 69,2%) e do óleo (mais US$ 81,3 milhões; 147,6%). Apesar dos atrasos no plantio devi-dos ao clima seco, a produtividade da safra colhida em 2021 retornou à média acima das três toneladas por hectare, verificada desde 2017, mas abalada em 2020 devido à estiagem. Com uma produção de 20,3 milhões de toneladas de soja, a maior da história, e apenas o equiva-lente a 40% desse volume comercializado no primeiro semestre, o desempenho exportador do setor promete atingir patamares bastante elevados na segunda metade do ano. Além da safra recorde e dos preços em dólar com forte aceleração desde o segundo semestre de 2020, o câmbio desvalorizado tem garantido uma ótima rentabilidade em reais para o produtor nesta safra.

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17 Painel do Agronegócio do RS — 2021

Tabela 4

Exportações dos principais setores do agronegócio do Rio Grande do Sul — 1.° sem./2021

SETORES E GRUPOS DE PRODUTOS VALOR (US$ FOB)

PARTICIPA-ÇÃO %

VARIAÇÃO

(US$ FOB) Valor (%)

Volume (%)

Preço (%)

Soja ................................................................... 3.110.856.850 47,0 952.872.005 44,2 1,3 42,3 Soja em grão .................................................... 2.418.423.455 36,6 644.055.536 36,3 -3,5 41,2 Farelo de soja ................................................. 556.063.665 8,4 227.516.790 69,2 23,5 37,0 Óleo de soja .................................................... 136.369.730 2,1 81.299.679 147,6 27,0 95,0 Carnes ............................................................... 1.129.304.978 17,1 181.539.906 19,2 10,5 7,8 Carne de frango ............................................. 559.816.381 8,5 95.580.487 20,6 5,8 14,0 Carne suína ..................................................... 382.160.045 5,8 84.757.750 28,5 29,5 -0,7 Carne bovina ................................................... 132.834.066 2,0 503.153 0,4 -7,0 8,0 Fumo e seus produtos .................................. 600.333.481 9,1 72.163.855 13,7 25,9 -9,7 Fumo não manufaturado ............................. 537.241.757 8,1 63.077.769 13,3 22,0 -7,1 Produtos florestais ....................................... 583.388.718 8,8 145.485.723 33,2 45,5 -8,5 Celulose ............................................................ 365.628.349 5,5 70.607.967 23,9 3,0 20,4 Madeiras em bruto e manufaturas ............ 203.754.436 3,1 71.782.347 54,4 81,3 -14,8 Cereais, farinhas e preparações ................ 345.363.526 5,2 -45.136.587 -11,6 -20,4 11,1 Arroz .................................................................. 140.428.764 2,1 -100.531.334 -41,7 -52,8 23,5 Trigo .................................................................. 121.094.030 1,8 59.994.021 98,2 83,5 8,0 Milho ................................................................ 62.354.810 0,9 -20.626.903 -24,9 -42,1 29,8 Couros e peleteria ........................................ 223.759.434 3,4 85.191.821 61,5 35,7 19,0 Couros e peles ................................................ 201.011.723 3,0 76.054.569 60,9 34,8 19,3 Máquinas e implementos agrícolas ......... 170.448.455 2,6 65.920.347 63,1 66,7 -2,2 Tratores agrícolas .......................................... 90.017.656 1,4 43.369.248 93,0 87,7 2,8 TOTAL ................................................................ 6.613.193.467 100,0 1.544.935.702 30,5 6,9 22,0

Fonte: Exportações do agronegócio (RIO GRANDE DO SUL, 2021a). Nota: Cálculos realizados pelo DEE-SPGG a partir da base de dados do Ministério da Economia (Sistema Comex Stat).

A performance do setor das carnes foi determinada pelo crescimento nas exportações

da carne de frango (mais US$ 95,6 milhões; 20,6%) e da carne suína (mais US$ 84,8 milhões; 28,5%). Na origem do crescimento do setor, está a demanda chinesa por proteínas, mais uma vez impulsionada devido a novos surtos de Peste Suína Africana (PSA) identificados no país.

População rural, pessoal ocupado e emprego com carteira assinada

Segundo o Censo Demográfico 2010, a população rural do RS era de aproximadamente 1,6 milhão de pessoas, o que equivalia a, aproximadamente, 15% do total do Estado (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2011). Com o Censo Agropecuário 2017, o IBGE atua-lizou as estatísticas sobre o pessoal efetivamente ocupado na agropecuária. No Rio Grande do Sul, o total é de 992.413 pessoas, o que representa uma queda de 19,4% em relação ao censo agropecuário anterior (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2020).

É sabido que apenas uma parcela reduzida do pessoal ocupado na agropecuária é constituída de trabalhadores formais celetistas (com carteira assinada). De acordo com os dados da Secretaria do Trabalho do Ministério da Economia, o estoque de empregos com car-teira assinada na agropecuária gaúcha era superior a 80.000 em dezembro de 2020 (BRASIL, 2021a).

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18 Painel do Agronegócio do RS — 2021

Gráfico 8

Número de pessoas ocupadas na agropecuária do Rio Grande do Sul — 1970-2017

Fonte: Censos Agropecuários (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2020, 2021c).

Se adicionadas à análise as atividades diretamente ligadas à agropecuária, situadas a montante e a jusante desse setor, segundo metodologia desenvolvida pelo DEE-SPGG, ob-serva-se que, em dezembro de 2020, havia 336.788 postos de trabalho com carteira assinada no agronegócio gaúcho, o que representa cerca de 13% desse tipo de vínculo de trabalho no RS (RIO GRANDE DO SUL, 2021). Desse total, 24% pertenciam ao segmento “dentro da porteira”, 14,2% ao segmento “antes da porteira” e 61,8% ao segmento “depois da porteira”. Em dezem-bro de 2020, a atividade do agronegócio com maior número de trabalhadores celetistas era a de abate e fabricação de produtos de carne (66.942), seguida do comércio atacadista de pro-dutos agropecuários e agroindustriais (43.434) e da produção de lavouras temporárias (31.247).

Gráfico 9

Estoque de empregos formais celetistas no agronegócio do Rio Grande do Sul — 2007-21

Fonte: Emprego formal celetista do agronegócio (RIO GRANDE DO SUL, 2021). Nota: 1. As informações de 2021 referem-se ao estoque de junho. Para os demais anos, o estoque corresponde a dezem-

bro. Nota: 2. Os dados até 2019 são do Caged, e, a partir de 2020, utiliza-se o Novo Caged. A rigor, essas séries não são dire-

tamente comparáveis. Nota: 3. O estoque é estimado através da combinação das informações do Novo Caged (BRASIL, 2021a) e da Relação

Anual de Informações Sociais (BRASIL, 2020).

1.446.813

1.893.9351.747.230 1.747.932

1.377.0221.231.825

992.413

0

200.000

400.000

600.000

800.000

1.000.000

1.200.000

1.400.000

1.600.000

1.800.000

2.000.000

1970 1975 1980 1985 1995 2006 2017

273.

267

280.

527

286.

600

297.

810

309.

425

312.

213

322.

755

325.

105

321.

023

322.

732

321.

106

325.

074

325.

405

336.

788

356.

861

0

50.000

100.000

150.000

200.000

250.000

300.000

350.000

400.000

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

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19 Painel do Agronegócio do RS — 2021

Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) indicam que, no período 2007-19, foram criados mais de 65.000 postos de trabalho com carteira assinada nas atividades do agronegócio gaúcho. É provável que esse saldo positivo tenha contribuído para a absorção de parte da população que deixou de estar ocupada na agropecuária na úl-tima década (movimento identificado nos últimos censos agropecuários). A crise econômica brasileira, iniciada em 2014, prejudicou a criação de empregos formais no agronegócio gaúcho, sobretudo em atividades predominantemente voltadas ao abastecimento do mercado nacio-nal. O arrefecimento do ritmo de criação de postos de trabalho no setor, entre 2014 e 2019 contrasta, com o elevado nível da produção agropecuária do período. Gráfico 10

Evolução do saldo do emprego formal celetista no agronegócio do Rio Grande do Sul — 2007-20

Fonte: Emprego formal celetista do agronegócio (RIO GRANDE DO SUL, 2021). Nota: Os dados até 2019 são do Caged, e os de 2020, do Novo Caged. A rigor, essas séries não são diretamente comparáveis.

Em 2020, foram criados 11.383 postos de trabalho com carteira assinada no agronegó-

cio gaúcho. É importante ressalvar que, a partir de janeiro de 2020, a captação de dados do Caged passou a ocorrer por meio do Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial), dando origem ao que se convencionou chamar de “estatísticas do Novo Caged”. As diferenças metodológicas entre as estatísticas do Caged e as do eSocial podem afetar a comparabilidade das séries históricas, mas constituem as únicas informações disponíveis para o acompanhamento mensal e desagregado da dinâmica setorial do mercado de trabalho formal no Rio Grande do Sul.

Em termos gerais, pode-se afirmar que a cadeia produtiva da pecuária foi a principal responsável pela geração de empregos no agronegócio gaúcho em 2020. Os resultados positi-vos abrangem a produção primária e avançam para os elos agroindustriais, sobretudo nos frigoríficos. Desde o início de 2020, o setor de abate e fabricação de produtos de carne man-teve um alto nível de criação de postos de trabalho, tendo acumulado, em 12 meses, um saldo recorde de 6.624 empregos. A geração de empregos nesse setor é explicada, principalmente, pela dinâmica produtiva das cadeias de aves e suínos. A criação e a engorda desses animais ocorrem em sistemas controlados, cada vez mais assemelhados à organização da produção industrial, estando, portanto, menos expostos aos efeitos diretos da variabilidade do clima. Embora a estiagem na safra 2019/2020 tenha restringido a oferta local dos principais insumos que compõem a ração animal (soja e milho), foi possível atender à demanda da pecuária a

13.725

7.2606.073

11.210 11.615

2.788

10.542

2.350

-4.082

1.709

-1.626

3.968

331

11.383

-6.000

-4.000

-2.000

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

14.000

16.000

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

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20 Painel do Agronegócio do RS — 2021

partir do aumento das compras de outras regiões do País. Em 2020, o setor de carnes brasileiro beneficiou-se do impulso externo. Nos últimos anos, foram realizados importantes investi-mentos na abertura e na modernização de plantas industriais no Rio Grande do Sul, e também cresceu o número de frigoríficos habilitados à exportação.

O setor com o segundo melhor desempenho na geração de empregos, em 2020, foi o de fabricação de tratores, máquinas e equipamentos agropecuários (mais 1.729 postos). Im-pactada por restrições às atividades em meio à pandemia, a indústria de máquinas agrícolas passou por um momento crítico no segundo trimestre e interrompeu, temporariamente, a ge-ração de postos de trabalho. A partir do segundo semestre, a demanda nacional por bens de capital na agricultura voltou a crescer de forma sustentada, estimulada pela alta nos preços agropecuários e pelas ótimas margens para a comercialização antecipada de grãos. Com isso, a produção nacional de máquinas e equipamentos agrícolas acelerou-se, mais do que com-pensando a queda do primeiro semestre (alta de 6,2% no ano, segundo a Pesquisa Industrial Mensal do IBGE). Isso se refletiu em maiores contratações no Rio Grande do Sul, que lidera a produção nacional nesse setor. Assim, embora a produção local de grãos tenha sido frustrada pela estiagem, a indústria gaúcha de máquinas agrícolas beneficiou-se da expansão da safra brasileira e das expectativas favoráveis para a rentabilidade da produção agrícola em 2021.

Entre os 13 principais setores empregadores do agronegócio gaúcho, apenas o de moagem e fabricação de produtos amiláceos registrou saldo negativo de empregos em 2020. Gráfico 11

Estoque de empregos formais celetistas nos principais setores empregadores do agronegócio do Rio Grande do Sul — 2019 e 2020

Fonte: Emprego formal celetista do agronegócio (RIO GRANDE DO SUL, Fonte: 2021). Nota: O estoque é estimado através da combinação das informações do Novo Caged (BRASIL, 2021a) e da Relação Anual de Informações Sociais (BRASIL, 2020).

7.196

7.661

9.032

8.076

9.942

9.790

13.633

16.597

23.648

25.199

31.268

42.840

60.318

7.271

7.863

8.744

8.807

9.833

10.369

13.267

16.495

24.009

26.928

31.247

43.434

66.942

0 20.000 40.000 60.000 80.000

Fabricação de outros produtos alimentícios

Produção de lavouras permanentes

Curtimento e preparações de couro

Fabricação de produtos intermediários demadeira

Apoio a agropecuária e a produção florestal

Laticínios

Fabricação de produtos de panificação

Moagem e fabricação de produtos amiláceos

Pecuária

Fabricação de tratores, máquinas eequipamentos agropecuários

Produção de lavouras temporárias

Comércio atacadista de produtos agropecuáriose agroindustriais

Abate e fabricação de produtos de carne

Dez./2020 Dez./2019

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21 Painel do Agronegócio do RS — 2021

No primeiro semestre de 2021, foram criados 20.073 postos de trabalho com carteira assinada no agronegócio gaúcho. Em igual período do ano anterior, o saldo foi menor, de 8.897 empregos. No conjunto da economia gaúcha, o saldo também é positivo, tendo sido criados 93.139 postos de trabalho no primeiro semestre. Portanto, cerca de 22% do total de empregos formais no Rio Grande do Sul, em 2021, foram gerados em atividades do agronegócio. Os se-tores que lideraram a criação de empregos foram os de fabricação de produtos do fumo, de fabricação de máquinas agrícolas e de comércio atacadista de produtos agropecuários e agroindustriais. Tabela 5

Setores do agronegócio com maior criação e perda de empregos formais celetistas no Rio Grande do Sul — 1.° sem./2020 e 1.° sem./2021

SETORES SALDO

DIFERENÇA 1.° Sem./2020 1.° Sem./2021

Menores saldos Fabricação de conservas ................................................................................... -1.391 -1.196 195 Maiores saldos Fabricação de produtos de fumo .................................................................. 9.879 9.824 -55 Fabricação de tratores, máquinas e equipamentos agropecuários ...... 76 3.466 3.390 Comércio atacadista de produtos agropecuários e agroindustriais ..... -631 2.406 3.037 Fabricação de produtos intermediários de madeira ................................. 33 1.073 1.040 Produção de lavouras permanentes .............................................................. 666 901 235 Fabricação de adubos e fertilizantes ............................................................ 590 551 -39 Curtimento e preparações de couro ........................................................... -1.371 457 1.828 TOTAL DO AGRONEGÓCIO ................................................................................. 8.897 20.073 11.176

Fonte: Emprego formal celetista do Agronegócio (RIO GRANDE DO SUL, 2021). Nota: Cálculos realizados pelo DEE-SPGG a partir da base de dados brutos do Ministério da Economia (Novo Caged).

Porém, espera-se que esse saldo se deteriore nos próximos meses, em razão da redu-ção das admissões no terceiro trimestre e da desmobilização de parte da mão de obra ocu-pada em setores que processam a matéria-prima agropecuária colhida na safra de verão, prin-cipalmente na indústria do fumo. Esse é um movimento sazonal característico do agronegócio gaúcho. No setor de carnes, a retomada da geração de postos de trabalho está condicionada aos fluxos de exportação e à recuperação da demanda doméstica. Nas lavouras temporárias, mantidas as atuais condições mercadológicas, persistirá um forte estímulo para a ampliação da área das principais culturas no próximo ano-safra. Esse cenário vale para o Rio Grande do Sul e para o Brasil, o que também contribui para o aumento das contratações nos setores fabricantes de máquinas e de insumos.

Em termos regionais, a distribuição do emprego com carteira assinada no agronegócio gaúcho é desigual e reflete a especialização produtiva e as características fundiárias do terri-tório. A mesorregião Noroeste é a que concentra a maior parte dos empregos do setor (29,3%), seguida da Metropolitana de Porto Alegre (23,3%). Enquanto, na mesorregião Noroeste, pre-domina o emprego formal industrial, nos setores da carne e de fabricação de máquinas agrí-colas, na mesorregião Metropolitana de Porto Alegre os destaques são o comércio atacadista e a fabricação de produtos alimentícios para o pronto atendimento da população urbana. Na mesorregião Nordeste, a concentração de empregos está nos setores de carnes (especial-mente nos frigoríficos de abate de aves) e na produção de lavouras permanentes (notada-mente da maçã e da uva). Nas mesorregiões Sudoeste, Centro Ocidental e Sudeste, a maior parte dos empregos formais vincula-se diretamente às cadeias produtivas do arroz e da pe-cuária bovina, em seus elos agropecuários e industriais. Por fim, na mesorregião Centro Ori-ental o emprego é mais diversificado, embora as indústrias da carne e do fumo tenham im-portância ressaltada. A Figura 5 disponibiliza informações regionalizadas sobre o estoque de

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22 Painel do Agronegócio do RS — 2021

empregos celetistas no agronegócio gaúcho em 31 de dezembro de 2019 e sua participação no total. Figura 5

Distribuição do emprego formal celetista do agronegócio e sua participação no total, nas mesorregiões do Rio Grande do Sul — estoque em dezembro de 2019

FONTE: Emprego formal celetista do agronegócio (RIO GRANDE DO SUL, 2021c

Fonte: Emprego formal celetista do agronegócio (RIO GRANDE DO SUL, 2021). Nota: Cálculos realizados pelo DEE-SPGG a partir da base de dados brutos da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), divulgada pelo Ministério da Economia (BRASIL, 2020).

Sudoeste 28.628

8,8%

Centro Oriental 39.301 12,1%

Centro Ocidental

13.492 4,1%

Sudeste 26.220 8,1%

Metropolitana 75.937 23,3%

TOTAL 325.405

100%

Noroeste 95.219 29,3%

Nordeste 46.608 14,3%

Estoque de empregos em dez./2019 Participação no total (%)

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23 Painel do Agronegócio do RS — 2021

3 Características da agricultura gaúcha A importância do RS para a oferta nacional de alimentos é historicamente reconhe-

cida. Por muito tempo, o Estado foi qualificado como “Celeiro do Brasil”, em razão da sua expressiva contribuição para a produção agropecuária nacional, destinada ao mercado in-terno e à exportação. Na década de 40 do século passado, os agricultores gaúchos foram pio-neiros na viabilização da produção comercial daquela que se tornaria a principal matéria-prima agrícola exportada pelo Brasil: a soja.

Mais recentemente, em função da consolidação da sua fronteira agrícola e do cresci-mento da agricultura em outras regiões do País (principalmente em áreas do Cerrado), o RS passou a dividir o papel de protagonista na produção nacional de alimentos com outros esta-dos. Conforme referido anteriormente, o RS é a segunda unidade da Federação que mais con-tribui para o VAB da agropecuária nacional e ainda ocupa posição estratégica para a oferta nacional de diversos produtos agrícolas, como a soja, o fumo, o arroz, a uva e o trigo.

A agricultura está presente em todas as regiões do território gaúcho, porém é possível identificar algumas concentrações regionais, determinadas a partir da participação das prin-cipais atividades no VAB da agricultura do Estado. Os destaques são a soja, o milho e o trigo no Planalto Médio, nas Missões e no Alto Uruguai; o arroz na Campanha e no Sul; o fumo no Vale do Rio Pardo; a maçã nos Campos de Cima da Serra; e a uva na Serra (FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA, 2016).

Atualmente, as agriculturas temporária e permanente ocupam 9,7 milhões de hectares no RS. Cerca de 95% dessa área são voltados à produção de grãos (cereais e oleaginosas), que se configura na principal atividade agrícola do Estado. Segundo as estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) (2021), a participação do Estado na produção nacional de grãos passou de, aproximadamente, 25% no final da década de 70 para 15% na safra 2020/2021. Nesse período, a despeito da redução da participação no conjunto da oferta nacional, a pro-dução gaúcha de grãos avançou significativamente, tendo sido multiplicada em mais de três vezes e meia.

Gráfico 12

Avanço da área plantada e da produção de grãos no Rio Grande do Sul — 1976-2021

Fonte: Séries Históricas das Safras (COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO, 2021). Nota: 1. Área medida em milhares de hectares e produção medida em milhares de toneladas. Nota: 2. Os dados da safra 2020/2021 foram estimados em agosto de 2021.

9,4

38,3

5

10

15

20

25

30

35

40

1976

/77

1978

/79

1980

/81

1982

/83

1984

/85

1986

/87

1988

/89

1990

/91

1992

/93

1994

/95

1996

/97

1998

/99

2000

/01

2002

/03

2004

/05

2006

/07

2008

/09

2010

/11

2012

/13

2014

/15

2016

/17

2018

/19

2020

/21

(milhões)

Área (hectares) Produção (toneladas)

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24 Painel do Agronegócio do RS — 2021

A produtividade foi o principal vetor desse crescimento. Os agricultores gaúchos ab-sorveram inovações tecnológicas da indústria de máquinas e de insumos, alteraram o uso do solo e valeram-se de novas técnicas de cultivo (manejo de solo, plantio direto, agricultura de precisão etc.), além de modificarem seus modelos de gestão e organização da produção. Nos últimos 20 anos, com o avanço da agricultura temporária em tradicionais regiões de pecuária, a área destinada à produção de grãos cresceu com maior velocidade, sobretudo na região do bioma Pampa.

Atualmente, a soja, o arroz, o milho e o trigo constituem as principais culturas agrícolas praticadas no RS, em termos de área plantada e quantidade produzida. Em se tratando de valor da produção, a esse conjunto de produtos somam-se, em importância, o fumo, a uva e a maçã. Tabela 6

Área plantada, produção física e valor da produção das principais culturas agrícolas do RS — 2020 e 2021

PRODUTOS AGRÍCOLAS

ÁREA PLANTADA (1.000ha)

PRODUÇÃO (1.000t)

VALOR DA PRODUÇÃO (R$ milhões)

2020 2021 Variação % 2020 2021 Variação % 2020 2021 Variação %

Soja ......................... 5.980,7 6.107,3 2,1 11.295,2 20.401,3 80,6 27.228,2 56.338,0 106,9 Arroz ....................... 951,4 948,6 -0,3 7.768,1 8.254,2 6,3 14.941,1 15.574,1 4,2 Milho ....................... 751,7 780,3 3,8 4.208,7 4.391,8 4,3 4.814,7 6.406,3 33,1 Fumo ....................... 166,7 162,5 -2,6 288,5 344,7 19,5 - - - Trigo ........................ 953,8 1.127,5 18,2 2.104,2 3.411,7 62,1 3.082,9 5.291,9 71,7 Batata-inglesa ..... 17,7 17,7 -0,1 364,3 510,6 40,2 720,8 618,8 -14,1 Uva .......................... 46,8 46,8 0,1 735,4 951,5 29,4 1.358,8 1.517,2 11,7 Mandioca ............... 57,2 57,0 -0,4 792,0 842,6 6,4 481,7 523,5 8,7 Feijão ...................... 60,3 61,3 1,6 81,1 90,1 11,1 363,1 424,6 16,9 Laranja .................. 23,2 23,3 0,3 320,0 338,6 5,8 352,8 370,5 5,0 Cana-de-açúcar.. 15,9 15,6 -1,6 537,9 590,1 9,7 65,1 76,6 17,8

Fonte: Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2021). Fonte: Valor Bruto da Produção Agropecuária (BRASIL, 2021). Nota: 1. Área e produção física estimadas em agosto de 2021 (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2021). Nota: 2. Valor da produção estimado em agosto de 2021 (BRASIL, 2021). Nota: 3. A partir de janeiro de 2018, o IBGE retirou a maçã da divulgação do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola. Nota: 4. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) não atualiza os dados do VBP do fumo e da maçã.

O fumo destaca-se dentre as lavouras temporárias não destinadas à produção de

grãos, tendo ocupado 162,5 mil hectares na última safra. No Rio Grande do Sul, maior produtor nacional, a cultura do fumo é desenvolvida principalmente em pequenas propriedades e está concentrada nas regiões do Vale do Rio Pardo, Centro-Sul e Sul. Nessas regiões, historica-mente, a indústria fumageira fomentou a produção local, beneficiando-se da disponibilidade de mão de obra rural, organizada em bases familiares.

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25 Painel do Agronegócio do RS — 2021

Figura 6

Quantidade produzida de fumo em folha nos municípios do Rio Grande do Sul — média 2016-18

Fonte: Atlas Socioeconômico do RS (RIO GRANDE DO SUL, 2020c). Nota: Em toneladas.

No RS, as lavouras permanentes são cultivadas em cerca de 160 mil hectares, e os

principais destaques são a uva, a maçã e a erva-mate. Para esses produtos, o RS é o líder nacional em produção. Segundo o Atlas Socioeconômico do Rio Grande do Sul, o desenvolvi-mento da produção da uva recebeu a influência da colonização italiana, estando concentrada principalmente no nordeste do Estado, com destaque para a região da Serra. Mais recente-mente, outras regiões do Estado, como a Fronteira Oeste, a Campanha e o Médio Alto Uruguai, também passaram a se destacar na produção de uva destinada ao consumo in natura e à produção de vinhos e sucos. A erva-mate é um produto voltado principalmente ao mercado regional. O consumo do chimarrão, infusão preparada com a erva-mate, é um hábito legado pelas populações originárias do território que hoje compõe o chamado Cone Sul. Em termos geográficos, a produção da erva-mate está concentrada no norte do Estado, tendo como maiores produtores os Municípios de Ilópolis, Arvorezinha, Palmeira das Missões e Anta Gorda. No caso da maçã, sua implantação ocorreu mais tardiamente, a partir da década de 70 do século XX. Atualmente, a produção gaúcha está concentrada nos Municípios de Vacaria, Caxias do Sul e Bom Jesus, nas regiões da Serra e dos Campos de Cima da Serra (RIO GRANDE DO SUL, 2020c).

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26 Painel do Agronegócio do RS — 2021

Figura 7

Quantidade produzida de uva, maçã e erva-mate nos municípios do Rio Grande do Sul — média 2016-18

Fonte: Atlas Socioeconômico do RS (RIO GRANDE DO SUL, 2020c). Nota: Em toneladas.

Entre os principais cultivos de grãos do Estado, o da soja foi o que mais avançou nas

últimas duas décadas. O crescimento da sojicultura ocorreu em diversas regiões do País, in-centivado tanto pela demanda externa quanto pela alta nos preços recebidos pelos agricul-tores. No RS, a produção de soja aumentou principalmente no período de boom das commo-dities (2004-11), quando, superando anos seguidos de estiagem, mais do que dobrou. No pe-ríodo seguinte, o crescimento seguiu expressivo, a uma taxa média de 5,7% ao ano. Como re-sultado desse avanço, a participação da soja no valor da produção das culturas agrícolas tem-porárias do RS passou de cerca de um terço no final da década de 70 para mais da metade a partir de 2015 (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2020a).

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Gráfico 13 Evolução da produção dos principais grãos cultivados no Rio Grande do Sul — 1974-2021

Fonte: Levantamento Sistemático da Produção Agrícola e Produção Agrícola Municipal (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA Fonte: E ESTATÍSTICA, 2020a, 2021). Nota: 1. Produção medida em milhões de toneladas. Nota: 2. Os dados da safra 2020/2021 foram estimados em julho de 2021.

No caso da sojicultura, além do crescimento da produtividade, houve um rápido es-

praiamento da atividade, que ocupou espaço de outros grãos (sobretudo do milho e do arroz) e da pecuária. A Figura 8 ilustra esse movimento nas principais áreas de produção do Brasil, com destaque para o avanço da soja no bioma Cerrado, mas também no bioma Pampa.

8,3

4,4

20,4

3,4

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

2219

74

1976

1978

1980

1982

1984

1986

1988

1990

1992

1994

1996

1998

2000

2002

2004

2006

2008

2010

2012

2014

2016

2018

2020

Arroz Milho Soja Trigo

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28 Painel do Agronegócio do RS — 2021

Figura 8

Evolução da área plantada de soja nos municípios brasileiros

Fonte: Pereira Leite (2020). Nota: Elaborado por Valdemar Wesz Jr. a partir dos dados brutos da Produção Agrícola Municipal (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRA-FIA E ESTATÍSTICA, 2020a).

Até a virada do século, a mesorregião Noroeste respondia por mais de dois terços da

área plantada de soja no RS. Estima-se que essa participação tenha alcançado 53% na safra 2018/2019. Os avanços mais expressivos da cultura ocorreram em direção ao sudoeste e ao sudeste do Estado, em substituição de áreas de pastagem e de outras lavouras temporárias.

Tabela 7

Evolução da área plantada de soja nas mesorregiões do Rio Grande do Sul — 2010 e 2021

ESTADO E MESORREGIÕES GEOGRÁFICAS 2009/2010 2020/2021 Δ 2010-21 (ha) Δ% 2010-21

Noroeste Rio-Grandense .................................. 2.747.879 3.090.665 342.786 12,5 Nordeste Rio-Grandense ................................... 212.210 323.275 111.065 52,3 Centro Ocidental Rio-Grandense .................... 511.890 852.932 341.042 66,6 Centro Oriental Rio-Grandense ....................... 139.103 306.175 167.072 120,1 Metropolitana de Porto Alegre ......................... 18.756 155.585 136.829 729,5 Sudoeste Rio-Grandense ................................... 280.200 845.192 564.992 201,6 Sudeste Rio-Grandense .................................... 111.740 533.446 421.706 377,4 Rio Grande do Sul ................................................ 4.021.778 6.107.270 2.085.492 51,9

Fonte: Reunião Estadual de Estatísticas Agropecuárias do Rio Grande do Sul (Reagro-RS) (REUNIÃO..., 2021). Nota: 1. Produção medida em milhões de toneladas. Nota: 2. Os dados da safra 2020/2021 são preliminares e foram estimados em julho de 2021.

Sobretudo na região Noroeste, uma das consequências diretas da expansão da soja

foi a redução da área plantada de milho. Entre 2010 e 2021, o acréscimo de área para o cultivo da oleaginosa na região foi de mais de 340.000 hectares, enquanto a área de milho foi reduzida em, aproximadamente, 200.000 hectares. No Estado, nesse mesmo período, a área plantada

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29 Painel do Agronegócio do RS — 2021

de soja cresceu 51,9%, enquanto a de milho recuou 32,2%. O encolhimento da área plantada é um dos fatores que explicam o aumento da dependência do RS em relação ao milho produzido em outras regiões do Brasil, notadamente no Paraná e na Região Centro-Oeste. Em 2021, ana-logamente ao ocorrido em 2016, em razão da frustração da segunda safra do milho no Brasil, o RS deverá importar uma quantidade substancial de milho dos países do Mercado Comum do Sul (Mercosul) para atender a demanda dos setores de aves e suínos.

O recuo da área destinada ao cultivo do arroz no RS também está associado à atrati-vidade econômica da soja. O RS responde por cerca de 70% da produção nacional de arroz. Cultivado em terras baixas do bioma Pampa, fazendo uso de sistemas de irrigação por inun-dação, o arroz gaúcho é direcionado predominantemente ao abastecimento do mercado bra-sileiro, cuja demanda manteve-se estável (e até declinante) na última década. No mesmo pe-ríodo, a produtividade cresceu, e a oferta também foi inflada pela entrada de produto prove-niente de países do Mercosul. Isso favoreceu o avanço da soja em tradicionais regiões produ-toras de arroz, mesmo em áreas de várzea. Estimativas do Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA) apontam que, em mais de 300.000 hectares, esteja ocorrendo a rotação entre as cultu-ras do arroz e da soja. O IRGA foi pioneiro no desenvolvimento de cultivares de soja tolerantes ao excesso hídrico e, portanto, adaptados às áreas de várzea. A instituição apoia a diversifica-ção da produção entre os orizicultores, com o objetivo de melhorar o resultado econômico das suas unidades de produção no RS. Desde a safra 2018/2019, a área plantada de arroz é declinante e inferior a um milhão de hectares (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTA-TÍSTICA, 2020a; 2021).

Figura 9

Distribuição da produção e da indústria de beneficiamento do arroz no Rio Grande do Sul — 2017

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30 Painel do Agronegócio do RS — 2021

O recente avanço da soja em áreas do bioma Pampa tem sido atribuído às vantagens econômicas dessa atividade em relação a outras lavouras temporárias e à pecuária extensiva. Nos principais municípios das mesorregiões Sudoeste e Sudeste Rio-Grandense, é perceptível a expansão da oferta de serviços especializados voltados à agricultura temporária, tais como o comércio de insumos e máquinas e equipamentos. Porém ainda é difícil determinar os im-pactos sociais, econômicos e ambientais decorrentes do crescimento da área de soja. Faz-se necessário, portanto, o acompanhamento técnico-científico dessa mudança, observando-se a integração das três dimensões do desenvolvimento sustentável.

Exportações agrícolas e de produtos derivados

Em 2020, as exportações gaúchas de produtos de origem vegetal somaram US$ 7,2 bi-

lhões, o que equivaleu a 71,6% das exportações do agronegócio (RIO GRANDE DO SUL, 2021a).

O complexo soja liderou as exportações do agronegócio gaúcho, respondendo por 37,9% do total em 2020 (US$ 3,8 bilhões). Há quase duas décadas a atividade tem como prin-cipal fonte de dinamismo a demanda chinesa por proteína vegetal para a produção de carnes. Em 2000, a quantidade exportada pelo complexo soja do RS equivalia a 58% da safra, e o principal destino era a União Europeia (42% do total). Em 2020, a situação alterou-se signifi-cativamente: o Estado exportou o equivalente a 98% da sua produção de soja, e a China res-pondeu por 75% do total das compras de grão, farelo e óleo. Existe uma diferença importante no perfil dos compradores no tocante aos produtos do complexo soja. Enquanto, para a China, 99% das exportações do complexo soja se referem ao grão, para a União Europeia e a Coreia do Sul, o produto predominante na pauta deste complexo é o farelo. China, Bangladesh e Índia lideraram as compras de óleo de soja do RS em 2020. Vale referir que, em 2020, o valor das exportações foi excepcionalmente baixo, em razão da queda de 38,9% na quantidade produ-zida em razão da estiagem.

Tabela 8

Principais destinos das exportações do complexo soja do Rio Grande do Sul — 2020

DESTINOS

GRÃO FARELO ÓLEO TOTAL

Valor (US$ mi-

lhões)

Participação %

Valor (US$ mi-

lhões)

Participação %

Valor (US$ mi-

lhões)

Participação %

Valor (US$ mi-lhões)

Participação %

China .................... 2.818,7 95,8 0,0 0,0 34,0 44,3 2.852,7 74,8 Taiwan .................. 45,3 1,5 0,0 0,0 0,0 0,0 45,3 1,2 Tailândia ............ 29,3 1,0 14,0 1,8 0,0 0,0 43,3 1,1 União Europeia 4,0 0,1 413,5 52,0 0,3 0,0 417,5 10,9 Coreia do Sul ..... 0,0 0,0 193,7 24,4 0,0 0,0 193,7 5,1 Irã ......................... 0,4 0,0 61,4 7,7 0,0 0,0 61,8 1,6 Indonésia ........... 0,0 0,0 38,9 4,9 0,0 0,0 38,9 1,0 Bangladesh ........ 14,8 0,5 0,0 0,0 23,0 30,0 37,9 1,0 Índia ..................... 0,0 0,0 0,0 0,0 17,2 22,5 17,2 0,5 Demais destinos 31,0 1,1 73,3 9,2 2,5 3,2 106,7 2,8 TOTAL ................... 2.943,5 100,0 794,8 100,0 76,8 100,0 3.815,0 100,0

Fonte: Exportações do agronegócio (RIO GRANDE DO SUL, 2021a).

Além do complexo soja, outros produtos vegetais derivados da produção agrícola que

detêm relevância na pauta exportadora gaúcha são os dos setores de fumo e seus derivados (US$ 1,3 bilhão em 2020), de produtos florestais (US$ 957,4 milhões em 2020) e de cereais, farinhas e preparações (US$ 662,6 milhões em 2020). O principal produto fumageiro exportado pelo RS é o fumo não manufaturado (89% do total do setor em 2020). Já no setor de cereais, farinhas e preparações, os principais produtos são o arroz (68%), o trigo (16%) e o milho (13%).

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31 Painel do Agronegócio do RS — 2021

No primeiro semestre de 2021, o valor das exportações gaúchas de produtos de origem vegetal cresceu 32,4% em relação a igual período de 2020. Nesse período, o complexo soja foi o principal responsável pelo crescimento nas exportações (mais US$ 952,9 milhões; 44,2%). O resultado positivo do setor foi determinado pela expressiva elevação nos preços médios (42,3%), visto que o volume embarcado se manteve praticamente constante (1,3%). Conforme referido anteriormente, dado o crescimento da produção e a quantidade exportada até o mês de julho, há um grande espaço para a continuidade do crescimento nas exportações até o encerramento do ano.

Contrariando a tendência geral de crescimento, o setor de cereais, farinhas e prepa-rações apresentou redução nas exportações no primeiro semestre. A queda no setor concen-trou-se no arroz (menos US$ 100,5 milhões; -41,7%). Após um ótimo desempenho exportador verificado no ano passado, a demanda internacional desacelerou-se, o que tende a se refletir em queda no total comercializado, mesmo com uma safra maior (6,3% segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2021)). Os temores iniciais gerados pela chegada da pan-demia impulsionaram as políticas de segurança alimentar nos países, resultando em mudan-ças na oferta e na demanda mundial do cereal. Pelo lado da oferta, importantes fornecedores mundiais, como Tailândia e Vietnã, restringiram os embarques em 2020. No que se refere à demanda, além da formação de estoques preventivos, é esperado um consumo mundial re-corde neste ano, assim como foi em 2020. Em um contexto de pandemia, no qual uma parcela maior da população mundial está preparando suas refeições em casa, observaram-se mudan-ças nos hábitos alimentares que ampliaram a presença do arroz na cesta tradicional de con-sumo. Esse movimento, somado à desvalorização cambial, proporcionou uma abertura de mercados para o arroz gaúcho que não deve se repetir na mesma intensidade em 2021. No primeiro semestre do ano passado, 59 países compraram o arroz gaúcho. No mesmo período em 2021, esse número caiu para 47. Segundo dados do Departamento de Agricultura dos Esta-dos Unidos (USDA) (UNITED STATES, 2021), em 2021, a parcela adicional do consumo mundial de arroz deverá ser atendida, principalmente, pelas exportações da Índia, maior fornecedor mundial.

Emprego formal celetista na agricultura e nos setores agroindustriais vinculados

As atividades agrícolas empregavam 50.029 trabalhadores com carteira assinada em

dezembro de 2020 (RIO GRANDE DO SUL, 2021). A maior parte desse contingente de trabalha-dores concentrava-se na produção de lavouras temporárias (31,2 mil), destacando-se os culti-vos de cereais (17,9 mil) e de soja (11,2 mil). O emprego celetista na agricultura teve um cresci-mento de 19,4% entre 2007 e 2020. Nesse período, as atividades com maior acréscimo no em-prego foram as de cultivo da soja (mais 2.548 postos; 29,6%) e de cultivo de cereais (mais 2.486 postos; 16,1%). Em 2020, apesar da estiagem que afetou o nível de produtividade das principais culturas, o estoque de empregos celetistas na agricultura manteve-se relativamente estável (alta de 1,1%). Os melhores desempenhos foram registrados nos setores de cultivo de frutas de lavoura permanente (maçã) e na horticultura.

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32 Painel do Agronegócio do RS — 2021

Gráfico 14

Evolução do estoque de empregos formais celetistas nas principais atividades agrícolas do Rio Grande do Sul — 2010-21

Fonte: Emprego formal celetista do agronegócio (RIO GRANDE DO SUL, 2021). Nota: 1. O estoque é estimado através da combinação dos saldos do Caged e do Novo Caged com o estoque da RAIS

(trabalhadores celetistas em 31 de dezembro de 2019). Nota: 2. O estoque de empregos de 2021 refere-se ao encerramento do primeiro semestre.

Na indústria que se abastece de matéria-prima agrícola, produzida no RS e em outras

regiões do País e do exterior, destaca-se o emprego dos setores de moagem e fabricação de produtos amiláceos (derivados do arroz, trigo etc.) e de fabricação de produtos de panificação. Nesses dois setores, havia quase 30.000 postos de trabalho no RS, em dezembro de 2020.

Gráfico 15

Evolução do estoque de empregos formais celetistas nas principais atividades industriais processadoras de matéria-prima agrícola do Rio Grande do Sul — 2010-20

Fonte: Emprego formal celetista do agronegócio (RIO GRANDE DO Fonte: SUL, 2021). Nota: O estoque é estimado através da combinação dos saldos do Caged e do Novo Caged com o estoque da RAIS (trabalhadores celetistas em 31 de dezembro de 2019).

0

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

OutrosAtividades de apoio à agriculturaCultivo de frutas de lavoura permanente, exceto laranja e uvaCultivo de sojaCultivo de cereais

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

14.000

16.000

18.000

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

Moagem e fabricação de produtosamiláceosFabricação de produtos de panificação

Fabricação de bebidas alcoólicas

Fabricação de rações

Fabricação de produtos do fumo

Fabricação de chocolates e produtos deconfeitariaFabricação de óleos vegetais

Fabricação de conservas

Fabricação de massas alimentícias

Fabricação de biscoitos e bolachas

Fabricação de sucos

Fabricação de biocombustíveis

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33 Painel do Agronegócio do RS — 2021

4 Características da pecuária gaúcha A produção pecuária está entre as primeiras e mais tradicionais atividades produtivas

do RS. Aproveitando-se das vantagens naturais da bovinocultura de corte, o charque foi intro-duzido no último quartel do século XVIII e teve rápido desenvolvimento, tornando-se a maior fonte de riqueza da Província durante o Império. Do final do século XIX ao início do século XX, os pequenos e médios agricultores do sul do Brasil beneficiaram-se da expansão do mercado urbano regional e brasileiro e ampliaram suas atividades em bases diversificadas. A partir desse período, a economia pecuário-charqueadora da Metade Sul do Estado, especializada e predominantemente latifundiária, passou a conviver com uma economia cada vez mais dinâ-mica e empreendedora na Metade Norte (FONSECA, 2009).

Desde então, mudanças significativas ocorreram na atividade pecuária gaúcha. Se-gundo os dados do último Censo Agropecuário (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTA-TÍSTICA, 2020), dos 21,7 milhões de hectares de área ocupados pelos 365.094 estabelecimentos agropecuários do RS, aproximadamente 42% são constituídos de pastagens. As pastagens na-turais, concentradas no bioma Pampa, ocupam aproximadamente 7,5 milhões de hectares (82,2% do total) e representam o principal ativo a partir do qual a bovinocultura de corte gaúcha se desenvolveu. O restante são pastagens plantadas, em boas condições (16,8%) ou degradadas (1,0%).

Nas últimas décadas, o RS perdeu espaço na produção nacional de carne bovina para os estados das Regiões Centro-Oeste e Norte. Segundo os dados da Pesquisa da Pecuária Mu-nicipal do IBGE para o ano de 2019, o RS é detentor do sétimo maior rebanho de bovinos e de bubalinos e do segundo maior rebanho de equinos e de ovinos do território nacional (INSTI-TUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2020c).

Entre 1990 e 2015, o rebanho bovino manteve-se praticamente estável no RS e declinou nos anos seguintes. Os bovinos no RS, na sua maioria, caracterizam-se por serem voltados à produção de carne (corte) com ciclo completo, tendo todas as fases da produção na proprie-dade (SILVA et al., 2014). Os números da Pesquisa da Pecuária Municipal (INSTITUTO BRASI-LEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2020c) indicam que apenas cerca de 10% dos bovinos criados no RS são destinados à produção de leite. Conforme referido anteriormente, a queda recente no número de animais dedicados à pecuária de corte está relacionada ao avanço da área de soja em direção ao bioma Pampa. Porém esse movimento também foi acentuado pela evolução dos custos de produção e dos preços pagos pelo boi, que desfavoreceu a atividade entre 2015 e 2019. Mais recentemente, a partir do último trimestre de 2019, as cotações volta-ram a subir, em um quadro de desvalorização cambial e franco crescimento da demanda ex-terna, sobretudo da China, que aqueceu a procura e conferiu maior competitividade à pecuária de corte do RS. O VBP da bovinocultura cresceu 18,3% em 2020, e a expectativa é de avanço de 9,9% em 2021, segundo estimativas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 2021).

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34 Painel do Agronegócio do RS — 2021

Gráfico 16

Rebanho bovino do Rio Grande do Sul — 1990-2019

Fonte: Pesquisa da Pecuária Municipal (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2020c).

Por outro lado, o número de vacas ordenhadas cresceu aceleradamente no período

1996-2013 (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2020c). Porém não se trata de simples substituição produtiva, uma vez que as principais regiões de produção da pecuária de corte e da leiteira não são coincidentes. Enquanto a pecuária de corte ocorre principalmente nas regiões do bioma Pampa e dos Campos de Cima da Cerra, a atividade leiteira está cada vez mais concentrada na mesorregião Noroeste. Figura 10

Distribuição espacial das atividades da pecuária de corte e leiteira no Rio Grande do Sul — média 2016-18

Fonte: Atlas Socioeconômico do RS (RIO GRANDE DO SUL, 2020c). Nota: Efetivo do rebanho bovino medido em cabeças e produção de leite medida em litros.

O desenvolvimento da atividade leiteira em direção ao noroeste foi incentivado por

investimentos de algumas das principais empresas e cooperativas do setor. Nessa região, a produção leiteira apresenta uma série de atrativos, tais como: clima temperado, disponibili-dade de água, estrutura fundiária dominada por pequenas propriedades, mão de obra

13,7

14,6 14,714,5

12,0

0%

1%

2%

3%

4%

5%

6%

7%

8%

9%

10%

11%

12%

10

11

11

12

12

13

13

14

14

15

1519

90

1991

1992

1993

1994

1995

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1997

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2000

2001

2002

2003

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2005

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2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

Participação dasvacas ordenhadas

(milhões debovinos)

Rebanho bovino (milhões de cabeças) Participação das vacas ordenhadas (%)

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35 Painel do Agronegócio do RS — 2021

familiar, acesso dos produtores a crédito subsidiado — Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Outro fator favorável à atividade, apontado por Paiva, Rocha e Thomas (2014), é a falta de alternativas mais rentáveis para o pequeno produtor rural. Em 2019, a mesorregião Noroeste respondia por mais de dois terços da produção do Estado, tendo quadriplicado sua produção e ganhado participação sobre todas as demais regiões desde o início da década de 90.

Gráfico 17

Produção de leite nas mesorregiões geográficas do Rio Grand do Sul — 1990-2019

Fonte: Pesquisa da Pecuária Municipal (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2020c).

Nos últimos cinco anos, em uma conjuntura de baixo crescimento da demanda nacio-nal, aumento da concorrência com os países do Mercosul e alta volatilidade dos preços pagos ao produtor, a pecuária leiteira gaúcha passou por um processo de seleção natural, marcado pela redução do número de animais ordenhados e de produtores dedicados à atividade. O recorde de produção leiteira no Rio Grande do Sul ocorreu em 2014, quando foram produzidos 4,7 bilhões de litros. Comparativamente àquele ano, a produção gaúcha de 2019 foi 8,9% menor (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2020c).

Como resultado dos movimentos da produção física e dos preços, o Valor Bruto da Produção da atividade leiteira também recuou. Entre as principais atividades pecuárias do Rio Grande do Sul, o valor da leiteira foi o que menos cresceu entre 2012 e 2020 (-4,5%), o que impactou a sua atratividade relativa (BRASIL, 2021). Segundo estudo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande Do Sul (Emater-RS) (2019), desde 2015 houve uma re-dução de 33,5 mil no número de produtores que comercializam leite cru para as indústrias e/ou que processam leite em agroindústria própria legalizada. Os principais problemas iden-tificados junto aos produtores, que restringem o desenvolvimento da atividade, são, pela or-dem, a falta ou deficiência de mão de obra, o descontentamento em relação ao preço do leite, a falta de descendentes ou o seu desinteresse na atividade, a deficiência na qualidade do leite e as dificuldades em atender as exigências das indústrias (EMPRESA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL DO RIO GRANDE DO SUL, 2019). Levantamento da Conab (OLIVEIRA NETO, 2018) para o período 2014-17 conclui que, apenas no ano de 2016, os produtores de leite do Rio Grande do Sul operaram com receita bruta acima dos desembolsos com o custeio da ati-vidade. A baixa rentabilidade da atividade leiteira, sobretudo da que emprega baixa tecnolo-gia, também foi apresentada em relatório recente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agrope-cuária (Embrapa) (LIMA FILHO; PILA, 2019), que se valeu de informações de diversas fontes. Em

0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

3.500

4.000

4.500

5.000

1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018

(milhões de litros)

Noroeste Nordeste Centro OrientalSudoeste Sudeste Metropolitana de Porto AlegreCentro Ocidental

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36 Painel do Agronegócio do RS — 2021

2017 e 2018, a rentabilidade da produção leiteira foi inferior à das principais culturas anuais (soja e milho), o que cria um desincentivo à permanência na atividade.

Além da bovinocultura, a avicultura e a suinocultura destacam-se entre as atividades da pecuária que mais cresceram nos últimos anos no RS. O VBP da suinocultura cresceu 48,8% entre 2012 e 2020, ao passo que os valores da produção de frangos e de ovos se expandiram 14,5% e 6,5%, respectivamente, no mesmo período (BRASIL, 2021). Gráfico 18

Evolução do Valor Bruto da Produção dos principais setores da pecuária no Rio Grande do Sul — 2012-21

Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Valor Bruto da Produção Agropecuária (BRASIL, 2021). Nota: 1. Valores de jul./2021, deflacionados pelo IGP-DI da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Nota: 2. Os dados de 2021 são projetados.

Em 2020, o VBP da pecuária gaúcha foi recorde, totalizando R$ 32,2 bilhões (BRASIL,

2021). Aproximadamente 34% desse valor referem-se à produção de frangos. A segunda prin-cipal atividade é a produção de bovinos (24,5%), seguida pela produção leiteira (20,3%) e pela suinocultura (17,0%).

Gráfico 19

Composição do Valor Bruto da Produção da pecuária do Rio Grande do Sul — 2020

Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Valor Bruto da Produção Agropecuária (BRASIL, 2021).

11.817

8.678

6.787

5.154

1.1910

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

14.000

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020

2021

Frango Bovinos Leite Suínos Ovos

(R$ milhões)

Frango34,2%

Bovinos24,5%

Leite20,3%

Suínos17,0%

Ovos4,0%

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37 Painel do Agronegócio do RS — 2021

O RS ocupa a terceira posição no ranking nacional de produção de frangos. A criação de aves está concentrada nas regiões da Serra e do Vale do Taquari, mas a atividade das re-giões do Alto Uruguai e do Planalto Médio também é relevante, havendo maior integração com as plantas de abate situadas em Santa Catarina. Os Municípios de Nova Bassano, Nova Brescia, Tupandi, Westfália, Marau e Aratiba destacam-se como os líderes em efetivo de galináceos no Rio Grande do Sul (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2021a). Figura 11

Distribuição do efetivo de aves e suínos no Rio Grande do Sul — média 2016-18

Fonte: Atlas Socioeconômico do RS (RIO GRANDE DO SUL, 2020c).

Na criação de suínos, o RS também ocupa a terceira posição no ranking nacional. No Estado, é possível identificar duas aglomerações produtivas principais. A primeira é formada pelas regiões do Vale do Taquari, da Serra e do Vale do Caí; a segunda, pelas regiões do Alto Uruguai, Fronteira Noroeste, Noroeste Colonial e Celeiro. Santo Cristo, Três Passos, Santa Rosa, Estrela, Capitão e Rodeio Bonito lideram o ranking de municípios com maior rebanho suíno no Rio Grande do Sul (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2020c).

É importante observar que parte da criação animal do Rio Grande do Sul é abatida em outras Unidades da Federação, assim como a indústria de abates gaúcha também se abastece de animais criados fora de seus limites estaduais. O saldo de abates é o resultado desse fluxo interestadual de animais vivos com essa finalidade e representa uma variável importante para a avaliação das condições competitivas da indústria gaúcha de abates em relação aos demais estados, sobretudo os vizinhos. Os dados do Departamento de Defesa Agropecuária da Secre-taria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul (RIO GRANDE DO SUL, 2020d) apontam para a ocorrência de saldos cada vez mais negativos para os suínos e galináceos no período 2013- 2018. Isso significa que, em termos relativos, diminuiu o recebimento de animais de outros estados para abate no Rio Grande do Sul, comparativa-mente ao envio de animais vivos para abate em outros estados. Em 2019, o saldo negativo foi equivalente a 1,1% da oferta de galináceos e 8,7% da oferta de suínos do Rio Grande do Sul. O fluxo interestadual de bovinos guiados para abate é inexpressivo, embora tenha aumentado a saída de animais vivos destinados à exportação e à recria em outras regiões do Brasil.

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38 Painel do Agronegócio do RS — 2021

Gráfico 20

Fluxo interestadual de suínos e galináceos (em milhões de cabeças) guiados para abate, em relação a outras unidades da Federação, no Rio Grande do Sul — 2013-19

Fonte: Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (RIO GRANDE DO SUL, 2020d).

Os frigoríficos de Santa Catarina são os principais beneficiários desse fluxo interesta-dual de aves e suínos. A partir do seu relacionamento com produtores gaúchos, conseguem ampliar o volume de matéria-prima disponível para as suas indústrias. Por outro lado, para que esse fluxo se concretize, é provável que os produtores gaúchos percebam vantagens nesse tipo de transação, que podem envolver desde preços recebidos, condições de assistência téc-nica e integração, até melhor governança, fomento e histórico de relacionamento com as em-presas de Santa Catarina. Dada a proximidade com a principal aglomeração produtiva de abate de suínos e aves do estado vizinho, diferenciais tributários e de infraestrutura também podem impactar a competitividade dos frigoríficos gaúchos situados na região.

Exportações da pecuária e de produtos de origem animal

As exportações de produtos de origem animal totalizaram US$ 2,5 bilhões em 2020, o

que equivaleu a 24,7% do total das vendas externas do agronegócio gaúcho (RIO GRANDE DO SUL, 2021a).

Uma parcela expressiva da produção gaúcha de carnes é destinada ao mercado inter-nacional. Em 2020, a carne de frango produzida em território gaúcho foi vendida para 114 países, mais a União Europeia; a carne de gado, para 86 países, mais a União Europeia; a carne suína, para 71 países, mais a União Europeia (BRASIL, 2021b). No mesmo ano, as exportações gaúchas do complexo carnes totalizaram US$ 2,0 bilhões, o que representou 19,7% das expor-tações do agronegócio do Estado (RIO GRANDE DO SUL, 2021a). Esse complexo engloba as car-nes bovina, de frango, de porco e de outros animais, na forma industrializada, in natura e miúdos.

As exportações de carne de frango foram responsáveis por 46,4% das exportações to-tais do complexo carne do RS em 2020. Apesar de a bovinocultura de corte ser uma atividade tradicional do Estado, sua participação nas exportações de carnes representa apenas 16,5%

-1,5

-1,0

-0,5

0,0

0,5

1,0

1,5

2013

2015

2017

2019

2013

2015

2017

2019

2013

2015

2017

2019

a) suínos

Animais recebidos

de outras UFs

Animais do RS enviados para

outras UFsSaldo

-15

-10

-5

0

5

10

15

2013

2015

2017

2019

2013

2015

2017

2019

2013

2015

2017

2019

b) galináceos

Animais recebidos

de outras UFs

Animais do RS enviados para

outras UFsSaldo

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39 Painel do Agronegócio do RS — 2021

do total. As carnes são exportadas majoritariamente in natura, e somente a carne de gado apresenta vendas relevantes na forma industrializada.

Gráfico 21

Composição das exportações do complexo carnes do Rio Grande do Sul — 2020

Fonte: Exportações do agronegócio (RIO GRANDE DO SUL, 2021a). Nota: Em percentual do valor total das exportações de carnes.

Além das carnes, outros setores relevantes na pauta exportadora gaúcha que se abas-

tecem de matéria-prima da pecuária são os de couros e peleteria (US$ 308,7 milhões em 2020) e de animais vivos (US$ 63,9 milhões em 2020). Ao passo que, aproximadamente, 30% do fatu-ramento da indústria gaúcha de carnes corresponde a vendas no mercado exterior, pratica-mente toda a produção do setor lácteo local é comercializada no mercado brasileiro (CRUZ; FEIX; LEUSIN JÚNIOR, 2020).

No setor de carnes, existe uma diferença importante no perfil dos compradores dos produtos fabricados no RS. A Arábia Saudita foi o principal destino da carne de frango expor-tada pelo Estado em 2020, mas praticamente não compra outros produtos do setor. Já a China é a segunda maior compradora da carne de frango do RS e também adquiriu 77,6% da carne suína e 48,7% da carne bovina embarcada ao exterior. Hong Kong é o segundo maior compra-dor de carne suína, e a União Europeia é a segunda maior compradora de carne bovina do RS. Cada vez mais as exportações de carnes do RS estão voltando-se ao mercado chinês, que, em 2020, adquiriu 36,9% do total. Nos últimos três anos, as exportações de proteína animal para a China ganharam impulso em razão da Peste Suína Africana, que dizimou uma parcela ex-pressiva do rebanho asiático.

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40 Painel do Agronegócio do RS — 2021

Tabela 9

Principais destinos das exportações do setor das carnes do Rio Grande do Sul — 2020

DESTINOS

CARNE DE FRANGO CARNE SUÍNA CARNE BOVINA TOTAL

Valor (US$ mi-lhões)

Participa-ção %

Valor (US$ mi-

lhões)

Participa-ção %

Valor (US$ mi-

lhões)

Participa-ção %

Valor (US$ mi-

lhões)

Participa-ção %

China .................................... 86,3 9,4 487,2 77,6 159,9 48,7 733,5 36,9 Arábia Saudita ................. 274,0 29,8 0,0 0,0 0,6 0,2 275,2 13,9 União Europeia .................. 38,2 4,1 0,5 0,1 70,6 21,5 142,2 7,2 Hong Kong .......................... 24,9 2,7 53,3 8,5 25,4 7,7 111,5 5,6 Cingapura ........................... 58,8 6,4 25,1 4,0 1,3 0,4 86,8 4,4 Emirados Árabes Unidos 68,9 7,5 1,9 0,3 4,2 1,3 75,5 3,8 Japão .................................. 60,9 6,6 0,0 0,0 0,0 0,0 61,8 3,1 Uruguai ................................ 0,9 0,1 3,7 0,6 17,3 5,3 21,9 1,1 Demais destinos .............. 307,9 33,4 55,8 8,9 48,9 14,9 478,1 24,1 TOTAL .................................. 920,8 100,0 627,5 100,0 328,3 100,0 1.986,6 100,0

Fonte: Exportações do agronegócio (RIO GRANDE DO SUL, 2021a).

No primeiro semestre de 2021, as exportações de produtos de origem animal totaliza-

ram US$ 1,4 bilhão, o que representa um crescimento de 21,8% em relação a 2020 (RIO GRANDE DO SUL, 2021a). O crescimento nas exportações decorreu principalmente do setor das carnes (mais US$ 181,5 milhões; 19,2%), resultado da elevação do volume embarcado (10,5%) e do preço médio (7,8%). A performance do setor das carnes foi determinada pelo crescimento nas exportações da carne de frango (mais US$ 95,6 milhões; 20,6%) e da carne suína (mais US$ 84,8 milhões; 28,5%). Na origem desse crescimento no setor, está a demanda chinesa por proteínas, mais uma vez impulsionada devido a novos surtos de Peste Suína Africana identificados no país.

Emprego formal celetista na pecuária e nos setores agroindustriais vinculados

A pecuária empregou, aproximadamente, 24.363 trabalhadores com carteira assinada

em 2020 (RIO GRANDE DO SUL, 2021). Desses, quase 60% atuavam na criação de bovinos. A principal atividade responsável pela queda de 1,3% no estoque de empregos formais na pe-cuária gaúcha em 2018 foi a de criação de bovinos (-2,1%). Vale ressaltar, novamente, que a menor representatividade das atividades de criação de suínos e de aves para a composição do estoque de empregos com carteira assinada na pecuária gaúcha (33,6%) reflete a organi-zação produtiva predominante nessas atividades, desempenhadas por agricultores familiares. A análise do pessoal ocupado revela um quadro distinto, mais bem alinhado com a importân-cia econômica da criação de aves e suínos.

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41 Painel do Agronegócio do RS — 2021

Gráfico 22

Composição do emprego formal celetista na pecuária do Rio Grande do Sul — 2020

Fonte: Emprego formal celetista do agronegócio (RIO GRANDE DO SUL, 2021). Nota: Em percentual do estoque de empregos celetistas na pecuária.

A agroindústria gaúcha diretamente ligada à pecuária era responsável por 86.055 pos-

tos formais de trabalho em dezembro 2020. O principal setor é o de abate e fabricação de produtos de carne, com 66,9 mil empregos. Esse setor é o que mais emprega no agronegócio gaúcho e é constituído pelas atividades de abate de suínos, aves e outros pequenos animais (73,8%), abate de reses (14,7%) e de fabricação de produtos de carne (11,5%). Outros setores de destaque são os de laticínios (10,4 mil empregos) e de curtimento e preparações de couro (8,7 mil empregos).

Gráfico 23

Evolução do estoque de empregos formais nas principais atividades da agroindústria de produtos de origem animal no Rio Grande do Sul — 2016-21

Fonte: Emprego formal celetista do agronegócio (RIO GRANDE DO SUL, 2021). Nota: A estimativa de estoque de empregos para o ano de 2021 refere-se ao mês de junho.

Desde o primeiro trimestre de 2020, o setor de carnes registrou recordes seguidos de empregos no Estado, porém, nos últimos meses, os frigoríficos dedicados exclusivamente ao atendimento do mercado doméstico passaram a enfrentar um ambiente cada vez mais desa-fiador, criado pela queda no consumo per capita das carnes bovina e suína no Brasil e pelo aumento dos custos de produção. A alta das cotações dos principais insumos para a produção de carnes (milho e soja) foi especialmente crítica para as empresas de médio e pequeno

54,2%

24,2%

12,5%5,2% 3,9%

Criação de bovinos

Criação de aves

Criação de suínos

Atividades de apoio à pecuária

Outros

0

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

Abate desuínos, aves e

outrospequenosanimais

Abate dereses, exceto

suínos

Curtimento eoutras

preparaçõesde couro

Fabricação deprodutos de

carne

Fabricação delaticínios

Preparação doleite

Fabricação desorvetes e

outros geladoscomestíveis

2016 2017 2018 2019 2020 2021

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42 Painel do Agronegócio do RS — 2021

portes, que operam com custos médios mais elevados. Ainda assim, no encerramento do pri-meiro semestre de 2021, o nível de emprego no setor de abate e fabricação de produtos de carnes permaneceu estável, comparativamente a dezembro de 2020 (RIO GRANDE DO SUL, 2021).

Gráfico 24

Evolução do estoque de empregos no setor de abate e fabricação de produtos de carne do Rio Grande do Sul — 1.° trim./2020-2.° trim./2021

Fonte: Emprego formal celetista do agronegócio (RIO GRANDE DO SUL, 2021). Nota: A estimativa de estoque de empregos para o ano de 2021 refere-se ao mês de junho.

9.187 9.011 9.605 9.832 9.747 9.520

44.916 47.273 48.271 49.428 50.132 49.704

7.528 7.636 7.706 7.682 7.793 7.746

61.631 63.920 65.582 66.942 67.672 66.970

0

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

70.000

80.000

1.° trim./2020 2.° trim./2020 3.° trim./2020 4.° trim./2020 1.° trim./2021 2.° trim./2021

Abate de reses, exceto suínosAbate de suínos, aves e outros pequenos animaisFabricação de produtos de carneTotal - Abate e fabricação de produtos de carne

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43 Painel do Agronegócio do RS — 2021

5 Agricultura familiar e cooperativismo agropecuário no Rio Grande do Sul

Agricultura familiar

Em 2006, com a realização do Censo Agropecuário, foi viabilizada, pela primeira vez, a

obtenção de um retrato abrangente da agricultura familiar brasileira com base em estatísticas oficiais. Na edição de 2017, o IBGE atualizou os indicadores disponíveis, incorporando dimen-sões que adquiriram relevância nos últimos anos. No que se refere à agricultura familiar, o IBGE utiliza-se da definição legal que orienta as políticas públicas federais para elaborar es-tatísticas que retratam as características desse tipo de organização produtiva.

De acordo com o Decreto n.° 9.064/2017, que regulamentou a Lei Federal n.° 11.326, de julho de 2006, a agricultura familiar é observada nas unidades produtivas que reúnem as se-guintes características:

• a área do estabelecimento ou empreendimento rural não excede quatro módulos fiscais;

• a mão de obra utilizada nas atividades econômicas desenvolvidas é predominan-temente familiar;

• metade da renda familiar, no mínimo, é auferida das atividades vinculadas ao pró-prio estabelecimento; e

• o estabelecimento ou empreendimento é dirigido estritamente pela família.

Ressalvando as limitações inerentes à definição adotada, o que continua a ser objeto de debates no âmbito acadêmico, a divulgação dessas informações permite avaliar com maior riqueza de detalhes o papel desempenhado pela agricultura familiar na produção alimentar e no processo de desenvolvimento socioeconômico brasileiro. Até o momento, essas são as úni-cas estatísticas censitárias disponíveis para analisar a agricultura familiar do RS.

A maior parte dos estabelecimentos agropecuários do RS enquadra-se nos critérios definidores da agricultura familiar. O Censo Agropecuário 2017 identificou 293.892 estabeleci-mentos familiares, que abrangiam 5,476 milhões de hectares. Em relação à edição anterior do Censo Agropecuário, correspondente ao ano de 2006, houve redução no número e na área dos estabelecimentos agropecuários familiares do RS (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ES-TATÍSTICA, 2009, 2020). O aumento da busca de trabalho no meio urbano e a dificuldade de sucessão geracional nos estabelecimentos agropecuários estão entre os principais fatores ex-plicativos desse movimento. Além disso, a mudança tecnológica tem favorecido o aumento da escala de produção de diversas atividades, com ganhos operacionais e na gestão.

A agricultura familiar é característica de 80,5% do total de estabelecimentos e res-ponde por 72,2% do pessoal ocupado na agropecuária do RS. Porém os estabelecimentos fa-miliares ocupam apenas um quarto da área total destinada à agropecuária gaúcha. Isso evi-dencia uma estrutura agrária concentrada, embora menos intensamente que a do Brasil. Se-gundo o Censo Agropecuário 2017, no RS, a área média dos estabelecimentos agropecuários familiares era de 18 hectares, e a dos não familiares era de 227 hectares. Em 2017, a agricultura familiar foi responsável por 37,4% do valor da produção agropecuária gaúcha (INSTITUTO BRA-SILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2020).

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44 Painel do Agronegócio do RS — 2021

Gráfico 25

Distribuição do número de estabelecimentos, da área, do pessoal ocupado e do valor da produção da agropecuária da agricultura familiar e não familiar no Rio Grande do Sul — 2017

Fonte: Censo Agropecuário 2017 (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2019).

Em termos do uso do solo, as lavouras e as pastagens seguem ocupando a maior par-

cela da área dos estabelecimentos da agricultura familiar no RS (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2020).

Gráfico 26

Utilização das terras nos estabelecimentos da agricultura familiar do Rio Grande do Sul — 2017

Fonte: Censo Agropecuário 2017 (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2020).

O RS é o quarto estado brasileiro com maior número de pessoas ocupadas na agricul-

tura familiar. Em 2017, eram 716.695 pessoas, o que representava 72,2% dos ocupados na agro-pecuária gaúcha, 6,4% da população total do RS e 12,9% do total da população estadual ocu-pada naquele ano. Refletindo o processo histórico de ocupação do território gaúcho e a atual estrutura fundiária, os agricultores familiares gaúchos estão concentrados nas mesorregiões Noroeste e Centro Oriental. As microrregiões com maior número de estabelecimentos fami-liares são as de Santa Cruz do Sul (7%), Frederico Westphalen (6%), Lajeado-Estrela (5%), Pe-lotas (5%) e Erechim (5%) (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2020).

80,5

25,3

72,2

37,4

19,5

74,7

27,8

62,6

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Estabelecimentos Área (hectare) Pessoal ocupado Valor da produção

Agricultura familiar (Decreto n.° 9.064) Não familiar

(%)

41,0%

32,3%

19,9%

1,8% 4,9%

Lavouras

Pastagens

Matas

Sistemas agroflorestais

Terras inaproveitáveis paraagricultura ou pecuária

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45 Painel do Agronegócio do RS — 2021

Figura 12

Número de estabelecimentos agropecuários de agricultura familiar no Rio Grande do Sul — 2017

Fonte: Atlas Socioeconômico do RS (RIO GRANDE DO SUL, 2020c).

No Censo Agropecuário 2017 também foram incorporadas informações sobre culturas

com uma elevada participação da agricultura familiar no RS, tais como fumicultura, horticul-tura e fruticultura. De fato, o fumo aparece com a expressiva parcela de 95% da produção total gaúcha derivada da agricultura familiar. Produtos como mandioca, produção leiteira, criação de suínos e aves, horticultura e fruticultura também provêm, em sua maioria, dos estabeleci-mentos familiares. Além disso, mesmo entre as atividades em que tradicionalmente predo-mina a agricultura empresarial — tais como a bovinocultura, a sojicultura e a triticultura —, a produção dos estabelecimentos familiares é relevante. Com isso, percebe-se a importância da agricultura familiar no fornecimento dos produtos básicos da alimentação da população bra-sileira e mundial.

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46 Painel do Agronegócio do RS — 2021

Gráfico 27

Participação percentual da agricultura familiar na produção agropecuária, por produtos selecionados, do Rio Grande do Sul — 2017

Fonte: Censo Agropecuário 2017 (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2020). Nota: Os dados que originaram a participação na produção das culturas agrícolas são medidos em tone-ladas; a produção de leite é medida em litros; e os dados referentes à criação de suínos, aves e bovinos são medidos em número de cabeças.

Com frequência, os agricultores familiares agregam valor à sua produção em agroin-dústrias familiares. Segundo a base de dados do Programa Estadual de Agroindústria Familiar (PEAF), coordenado e operacionalizado pela Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvi-mento Rural, em agosto de 2021, estavam cadastradas 1.573 agroindústrias familiares no RS (RIO GRANDE DO SUL, 2021d).

Essas agroindústrias, produtoras de uma ampla e diversificada gama de produtos, tais como panificados, embutidos, mel, derivados lácteos, vinhos e compotas, podem ser localiza-das em qualquer região do Estado, mas estão mais presentes nas regiões com maior número de pessoas ocupadas na agricultura familiar. As regiões dos Coredes Serra, Norte, Vale do Ta-quari, Vale do Rio Pardo, Fronteira Noroeste, Nordeste, Missões, Noroeste Colonial, Sul, Central e Médio Alto Uruguai concentram 67% das agroindústrias e 62% do pessoal ocupado na agri-cultura familiar no RS (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2020; RIO GRANDE DO SUL, 2021d).

95

91

83

79

69

65

62

46

43

33

27

23

6

5

9

17

21

31

35

38

54

57

67

73

77

94

0 20 40 60 80 100

Fumo de folha

Mandioca

Leite de vaca

Aves

Suínos

Horticultura

Fruticultura

Milho em grão

Feijão

Bovinhos

Trigo

Soja

Arroz em casca

Agricultura familiar (Decreto n.° 9.064) Não familiar

(%)

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47 Painel do Agronegócio do RS — 2021

Tabela 10

Distribuição das agroindústrias familiares nos Conselhos Regionais de Desenvolvimento (Coredes) do Rio Grande do Sul — 2017

COREDES NÚMERO DE AGROIN-DÚSTRIAS FAMILIARES

PESSOAL OCUPADO NA AGRICULTURA FAMILIAR

Serra ............................................ 181 51.260 Norte ........................................... 144 35.319 Vale do Taquari ........................ 120 42.854 Vale do Rio Pardo .................... 111 73.832 Fronteira Noroeste ................... 100 38.442 Nordeste .................................... 79 26.978 Missões ....................................... 74 38.436 Noroeste Colonial ................... 66 18.292 Sul ................................................ 61 61.297 Central ........................................ 58 27.625 Médio Alto Uruguai .................. 53 33.045 Rio da Várzea ............................ 53 26.314 Hortênsias ................................. 50 5.861 Produção .................................... 46 21.579 Alto Jacuí .................................... 41 13.417 Metropolitano Delta do Jacuí 38 10.765 Alto da Serra do Botucaraí .... 36 23.647 Celeiro ......................................... 36 26.540 Vale do Caí ................................ 33 16.148 Litoral ......................................... 32 12.022 Fronteira Oeste ......................... 28 17.751 Vale do Jaguari ......................... 28 15.053 Vale do Rio dos Sinos .............. 25 3.352 Jacuí-Centro ............................... 22 15.243 Paranhana-Encosta da Serra 21 7.975 Centro-Sul ................................. 17 32.208 Campanha ................................. 11 11.367 Campos de Cima da Serra ..... 9 10.073 TOTAL .......................................... 1.573 716.695

Fonte: Programa Estadual de Agroindústria Familiar (RIO GRANDE DO SUL, 2021d).

Financiamento da agricultura familiar

Para estimular a geração de renda na agropecuária, há diversas políticas voltadas ao

atendimento desse público no Brasil. A principal delas, criada em 1995, é o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). O Pronaf é dirigido ao financiamento de atividades e serviços rurais agropecuários e não agropecuários desenvolvidos em estabeleci-mentos rurais ou em áreas comunitárias próximas. Seus recursos destinam-se tanto ao finan-ciamento dos gastos de custeio e de investimento em máquinas, equipamentos e infraestru-tura, até a capitalização de cooperativas de produção agropecuárias formadas por potenciais beneficiários. As principais vantagens do Pronaf estão nas taxas de juros e nos prazos de de-sembolso diferenciados.

O Pronaf dispõe de um expressivo volume de recursos e também se destaca pelo nú-mero de beneficiários e pela capilaridade nacional, tendo, em 2020, destinado recursos supe-riores a R$ 31 bilhões, distribuídos em 1.437.713 contratos. De acordo com a matriz de dados do crédito rural, disponibilizada pelo Banco Central do Brasil, o RS é o estado brasileiro com a maior participação no volume de crédito do Pronaf. Em 2020, os agricultores familiares gaúchos obtiveram R$ 8,3 bilhões (26,5% do total). Aproximadamente, três quartos desse valor são absorvidos pelas atividades agrícolas, e o restante é destinado à pecuária. O número de contratos firmados no último ano foi de 193.699, tendo como principal finalidade o custeio das

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48 Painel do Agronegócio do RS — 2021

atividades (61,6%). Os recursos captados com esse fim financiam as despesas variáveis ine-rentes à produção agrícola e à criação animal. O restante dos contratos tem como finalidade o investimento, o que contempla a implantação, a ampliação ou a modernização das estrutu-ras de produção, beneficiamento, industrialização e de serviços.

Em 2020, os subprogramas mais buscados pelos agricultores gaúchos foram os de cus-teio (R$ 5,1 bilhões); mais Alimentos (R$ 1,9 bilhão); agroindústria-custeio (R$ 712,3 milhões) e a contratação de Financiamento para Garantia de Preços ao Produtor (FGPP), disponível, in-clusive, para os agricultores familiares impactados pela pandemia de Covid-19 (R$ 410,4 mi-lhões).

Tabela 11

Quantidade e valor dos contratos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar no Rio Grande do Sul — 2020

SUBPROGRAMAS TOTAL PARTICIPAÇÃO DO RS

NO CRÉDITO CONCEDIDO (%) Quantidade Valor (R$)

Custeio .............................................................................. 159.345 5.098.919.130 34,4 Mais alimentos ................................................................ 33.147 1.942.870.352 18,1 Agroindústria (custeio) ................................................ 178 712.344.981 51,5 Garantia de Preços ao Produtor (1) ......................... 39 410.369.545 47,3 Agroindústria (investimento) ...................................... 127 52.183.586 54,2 Eco (energia renovável e sustentável ambiental) 694 46.372.075 26,2 Mulher ............................................................................... 67 4.163.803 7,3 Agroecologia .................................................................... 50 2.510.904 44,4 Cotas partes ..................................................................... 3 2.200.000 7,3 Reforma agrária .............................................................. 37 518.672 0,3 Microcrédito .................................................................... 11 49.106 0,0 Floresta ............................................................................. 1 12.216 0,0 TOTAL ............................................................................... 193.699 8.272.514.370 26,5 Fonte: Matriz de Dados do Crédito Rural (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2021). (1) Inclui os recursos decorrentes da Resolução n.° 4.801/2020 do Banco Central do Brasil.

A participação do RS na distribuição total dos recursos foi maior no subprograma

agroindústria-investimento (54,2% dos recursos nacionais). Os recursos nessa linha têm como objetivo o financiamento de investimentos, inclusive em infraestrutura, que visem ao benefi-ciamento, à armazenagem, ao processamento e à comercialização da produção agropecuária e à exploração de turismo rural, incluindo a implantação de pequenas e médias agroindús-trias, a implantação de unidades centrais de apoio gerencial, a ampliação, recuperação ou modernização de unidades agroindustriais de agricultores familiares e o uso de tecnologias de energia renovável. O RS também se destaca pela participação no subprograma agroindús-tria-custeio (51,5% dos recursos nacionais). Os financiamentos nessa linha têm como objetivo principal a formação de estoque de insumos agropecuários (fertilizantes, defensivos, semen-tes, rações ou seus ingredientes), matéria-prima e produto final, além de serviços de apoio à comercialização, armazenagem e conservação de produtos para venda futura. Em 2020, o Mi-nistério da Economia disponibilizou linhas de créditos emergenciais aos produtores da agri-cultura familiar vinculada ao Pronaf para o acesso à contratação do Financiamento para Ga-rantia de Preços ao Produtor (FGPP) como forma de mitigar os efeitos adversos da crise, tendo essa modalidade ocupado o quarto lugar no RS. Outros subprogramas com destacado volume de recursos e contratos firmados foram o Pronaf Eco e Pronaf Agroecologia.

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49 Painel do Agronegócio do RS — 2021

Cooperativismo Outro traço característico da atividade agropecuária no RS, principalmente entre os

pequenos agricultores, é a cooperação. Uma parcela expressiva dos agricultores gaúchos está organizada em cooperativas. Segundo o Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul (OCERGS), em 2021 havia 134 cooperativas agropecuárias no Estado, que contavam com mais de 334,2 mil associados e empregavam diretamente 38,5 mil pessoas (SIS-TEMA OCERGS-SESCOOP/RS, 2021).

Ainda de acordo com a OCERGS, as cooperativas agropecuárias formam o segmento economicamente mais forte do cooperativismo gaúcho. São compostas por produtores rurais, familiares e não familiares, cujos meios de produção pertencem aos próprios associados, os quais se unem para auferir ganhos na operação em conjunto de suas atividades. Essas coope-rativas operam em diversas áreas de negócios e prestam serviços variados aos produtores associados, como assistência técnica, social e educacional, fornecimento de insumos, recebi-mento, armazenamento, industrialização e comercialização da produção. Como atividade complementar, podem contar com operações de varejo, como supermercados, postos de com-bustíveis, lojas de materiais de construção e lojas agropecuárias (máquinas, equipamentos, insumos agrícolas e pecuários).

As cooperativas agropecuárias podem ser especializadas ou diversificadas, atuando em mais de um segmento de negócio. Segundo a OCERGS, as principais cadeias produtivas do agronegócio com atuação de cooperativas no RS são as de grãos (soja, trigo, milho e arroz), laticínios (leite e seus derivados), proteína animal (suínos, aves e bovinos), hortifrutigranjeiros (maçã, cítricos, morango, hortaliças e cebola), vitivinicultura (uva e seus derivados), lanifício (lãs e seus derivados), supermercados e lojas agropecuárias (insumos agrícolas e pecuários) (SISTEMA OCERGS-SESCOOP/RS, 2021).

Gráfico 28

Número de cooperativas agropecuárias, segundo principais segmentos de atuação, no Rio Grande do Sul — 2020

Fonte: Expressão do cooperativismo gaúcho 2021 (SISTEMA OCERGS-SESCOOP/RS, 2021). Nota: Algumas cooperativas realizam mais de uma atividade.

Dentre as 134 cooperativas identificadas no mapeamento da OCERGS, 63 dispunham de planta agroindustrial para processamento da matéria-prima e agregação de valor. Pelo menos 131 produtos diferentes eram fabricados nessas plantas industriais. As cooperativas

1

1

2

10

10

12

23

36

41

46

63

0 10 20 30 40 50 60 70

Etanol

Escolas técnicas de produção rural

Representação

Vitivinicultura

Proteína animal

Varejo

Hortifruticultura

Insumos

Leite

Grãos

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50 Painel do Agronegócio do RS — 2021

agropecuárias do RS mantiveram sua participação de, pelo menos, 50% na produção total da safra de soja no Estado. No setor vitivinícola, as cooperativas representam 28% da produção de uvas e 35% da comercialização de envasados. Além disso, na oferta de serviços tecnológi-cos, a plataforma do SmartCoop beneficiará cerca de 173.000 produtores associados das 30 cooperativas participantes da iniciativa. O produtor terá acesso a funcionalidades como acom-panhamento da lavoura, monitoramento por satélite, previsão do tempo, indicadores da ca-deia leiteira, gerenciamento de rebanho, saldo de produtos na cooperativa, títulos a pagar, cotações e mecanismos de venda da produção (SISTEMA OCERGS-SESCOOP/RS, 2021).

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51 Painel do Agronegócio do RS — 2021

6 Máquinas e implementos agrícolas O RS é o maior produtor nacional de máquinas e implementos agrícolas e beneficiou-

se da ampliação do mercado brasileiro nas últimas décadas. Essa posição de liderança foi gestada ainda nas décadas de 50 e 60 do século XX, quando as primeiras empresas gaúchas foram fundadas. Naquela época, o RS detinha a liderança na produção nacional de grãos e acentuava-se o processo de mecanização da agricultura. A necessidade de manutenção das máquinas e implementos importados e as políticas voltadas à substituição de importações incentivaram os empresários locais a investir no desenvolvimento de produtos próprios, adap-tados à agricultura praticada na Região Sul do Brasil.

Mais recentemente, após as empresas locais terem consolidado suas vantagens com-petitivas no mercado brasileiro, o setor de máquinas e implementos passou por uma nova configuração. Na década de 90, intensificou-se o movimento de concentração na indústria, liderado por poucas empresas, quase todas internacionais. Parcerias, fusões e aquisições ocorreram principalmente nos segmentos de maior valor agregado (tratores e colheitadeiras), o que contribuiu para o alcance da vanguarda tecnológica dos produtos fabricados no Estado.

Atualmente, as empresas multinacionais dividem espaço com um amplo conjunto de empresas de capital nacional, de diversos portes, que atuam desde a fabricação de implemen-tos até a produção de tratores e pulverizadores autopropelidos.

Segundo o IBGE, a indústria de máquinas e equipamentos contribui com aproximada-mente 12% do valor da transformação da indústria gaúcha. Os produtos dos segmentos de fabricação de bens de capital para a agropecuária participam com mais da metade desse valor. Os principais destaques são os tratores agrícolas, as colheitadeiras e as plantadeiras (INSTI-TUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2014). No segmento de equipamentos para se-cagem, armazenagem e estocagem de grãos, a participação gaúcha na produção nacional tam-bém é expressiva.

Gráfico 29

Peso dos produtos na estrutura geral da indústria de máquinas e equipamentos do Rio Grande do Sul — 2010

Fonte: Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2014).

Outras máquinas e

equipamentos; 49,5%

16,4%

15,1%

9,4%

2,8%

2,5%1,9%

1,8%0,6%

Máquinas e equipamentos de uso agropecuário;

50,5%

Tratores agrícolas e suas peças e acessóriosMáquinas para colheita e suas partes e peçasSemeadores, plantadeiras ou adubadores e suas partes e peçasReboques e semirreboques autocarregáveis para uso agrícolaSilos metálicos para cereais e secadores para produtos agrícolasPulverizadores para uso agrícolaOutras partes e peças para máquinas e aparelhos para agricultura e pecuáriaMáquinas ou aparelhos para avicultura

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Outra mudança importante em curso, com reflexos na indústria local, é a desconcen-tração geográfica das compras de máquinas e implementos no Brasil. Ainda que os estados das Regiões Sul e Sudeste continuem respondendo pela maior fatia do mercado nacional, ou-tras regiões ganharam importância. Segundo os dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) (2021), 43,2% das colheitadeiras de grãos e 29,1% dos tra-tores de rodas comercializados no varejo brasileiro, em 2020, tiveram como destino as Regiões Centro-Oeste e Nordeste. O avanço mais intenso da produção de grãos nessas regiões contri-buiu para a desconcentração das vendas. Portanto, se é difícil compreender o desempenho da economia do RS sem considerar a agropecuária local, conforme descrito na seção 2, se forta-lece a percepção de que o avanço da indústria gaúcha de máquinas e equipamentos está cada vez mais atrelado ao desempenho da agricultura nacional.

Até o momento, o aumento da distância em relação aos consumidores finais não im-plicou redução da importância do Estado na produção nacional de máquinas agrícolas. Pelo contrário, pois, enquanto, em 1990, o Rio Grande do Sul respondia por 38,8% da produção nacional de máquinas agrícolas e rodoviárias, em 2020 essa participação foi de 43,6%. As van-tagens econômicas derivadas da concentração dessa indústria no território gaúcho parecem ter induzido o seu enraizamento local. Trata-se de um setor que se favoreceu da sinergia entre empresas, fornecedores, consumidores, trabalhadores, instituições de suporte, poder público e população local, o que contribuiu para a elevação da sua performance produtiva e inovativa.

Figura 13

Distribuição percentual da produção de máquinas agrícolas e rodoviárias no Brasil — 1990 e 2019

Fonte: Anuário da Indústria Automobilística Brasileira — 2021 (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS FABRICANTES DE VEÍCULOS AUTO- Fonte: MOTORES, 2020). Nota: Informações contemplam as empresas associadas à Anfavea.

Em termos espaciais, é possível identificar três aglomerações produtivas de máquinas e implementos agrícolas no RS. A primeira, conhecida como aglomeração Pré-Colheita, está situada nos Coredes Alto Jacuí e Produção e é especializada na fabricação de produtos para as atividades de nutrição e preparação do solo e plantio e cultivo agrícola (semeadeiras, pul-verizadores e implementos). A segunda, nucleada nos Municípios de Horizontina e Santa Rosa (Corede Fronteira Noroeste), é especializada na produção de colheitadeiras (aglomeração Co-lheita). A terceira, especializada na fabricação de equipamentos para recebimento, beneficia-mento e armazenagem de grãos, é conhecida como aglomeração Pós-Colheita e está

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localizada no Corede Noroeste Colonial. Ao longo do tempo, as empresas que optaram por se instalar nessas regiões contribuíram e se beneficiaram do surgimento de um importante apa-rato de apoio e suporte, composto de prestadores de serviços especializados e de instituições de ensino e pesquisa, o que reforçou as vantagens de localização dessa indústria no noroeste gaúcho.

Conforme relatado anteriormente, o valor da produção agrícola brasileira cresceu ace-leradamente nas duas últimas décadas, em um cenário marcado pela alta dos preços interna-cionais dos alimentos, pelo avanço da área plantada e por substanciais ganhos de produtivi-dade. A resultante capitalização do produtor rural, aliada à melhoria das condições de crédito para a compra de máquinas e equipamentos, gerou transbordamentos para a indústria gaú-cha. O auge desse ciclo expansionista ocorreu em 2013, quando as vendas de tratores, colhei-tadeiras e cultivadores no mercado brasileiro superaram as 76.000 unidades. Como resultado, contrastando com o baixo dinamismo do restante da indústria de transformação, a produção física de máquinas e equipamentos cresceu aceleradamente no RS entre 2002 e 2013 (82,9%). No mesmo período, a indústria gaúcha cresceu apenas 11,5%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2021a).

Gráfico 30

Evolução da produção física da indústria e do setor de máquinas e equipamentos no Rio Grande do Sul e no Brasil — 2002-20

Fonte: Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2021a, 2021d). Nota: Os índices têm como base 2002 = 100.

Após ter alcançado o maior nível histórico em 2013, o investimento dos agricultores

brasileiros em bens de capital foi gravemente reduzido. Entre 2013 e 2020, o valor da produção das lavouras brasileiras cresceu 20% em termos reais segundo o MAPA (BRASIL, 2021), mas as vendas de máquinas agrícolas (tratores de rodas, colheitadeiras e pulverizadores autoprope-lidos) no território nacional recuaram 45,5% de acordo com a Associação Nacional dos Fabri-cantes de Veículos Automotores (2021). A deterioração das condições de crédito, a elevação dos custos de produção e a maior incerteza quanto à receita futura da atividade (oscilações no câmbio e nos preços externos) contribuíram para criar um ambiente menos favorável à expansão da frota agrícola. O endividamento dos produtores, principalmente daqueles que investiram nos anos imediatamente anteriores, e o conturbado quadro econômico e político no País são outros motivos comumente referidos para explicar a queda nas compras de má-quinas e implementos no período recente. Depois de quatro anos de queda, em 2018 as vendas ensaiaram uma recuperação, mas voltaram a cair no ano seguinte. No primeiro semestre de

182,9

124,3

143,7

101,1111,5

93,8

70

90

110

130

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2002

2003

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2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020

Fabricação de máquinas e equipamentos - RSFabricação de tratores e máquinas e equipamentos para a agricultura e pecuária - BrasilIndústria geral - RS

Índice

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2020, o setor foi gravemente atingido pela pandemia, que interrompeu temporariamente as atividades industriais e desorganizou a cadeia de suprimentos. Desde então, a produção vol-tou a crescer, favorecida pela elevação nos preços agrícolas, pelas ótimas margens de renta-bilidade e pela demanda reprimida dos meses anteriores. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2021d), a produção nacional de tratores, máquinas e equipamentos de uso agropecuário cresceu 37,5% no acumulado dos últimos 12 meses, encerrados em junho de 2021.

No RS, os ciclos de expansão e contração dos investimentos pelos agricultores brasi-leiros refletiram-se na atividade e na geração de empregos da indústria gaúcha de máquinas agrícolas. De agosto de 2014 a julho de 2016, foram perdidos 8.158 empregos com carteira as-sinada, o que equivale a uma queda de 25,3% no contingente de trabalhadores formalmente empregados nessa indústria do RS (RIO GRANDE DO SUL, 2021). A recuperação que se seguiu foi insuficiente para recompor o nível de empregos no setor. Porém, desde o segundo semes-tre de 2020, a produção industrial e a geração de empregos aceleraram-se, em um contexto de expectativas muito favoráveis para as vendas no restante de 2021 e em 2022.

Gráfico 31

Variação da produção no Brasil e saldo de empregos no setor de tratores, máquinas e equipamentos agropecuários do Brasil — dez./2007-jun./2021

Fonte: Pesquisa Industrial Mensal de Produção Física - Brasil (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2021d). Fonte: Emprego formal celetista do Agronegócio (RIO GRANDE DO SUL, 2021). Nota: 1. Variação percentual da produção física acumulada em 12 meses. Nota: 2. Saldo de empregos acumulado em 12 meses.

Cada vez mais a indústria gaúcha de máquinas e implementos agrícolas é dependente

da dinâmica do mercado brasileiro. Historicamente, a Argentina foi o principal destino inter-nacional das exportações gaúchas de máquinas agrícolas. Porém as políticas de substituição de importações e a sucessão de crises econômicas no país vizinho restringiram as vendas dos produtos mais sofisticados, como tratores e colheitadeiras. Em 2020, as exportações do setor de máquinas agrícolas totalizaram US$ 229,9 milhões, o que equivale a, aproximadamente, um terço das vendas do início da década (RIO GRANDE DO SUL, 2021a).

-40

-30

-20

-10

0

10

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-6.000

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0

2.000

4.000

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v./1

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Mar

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Jan.

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7Ju

l./17

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Mar

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/19

Jan.

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/20

Nov

./20

Abr.

/21

Variação %Saldo de

empregos

Saldo de empregos - RS Variação da produção física - Brasil

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Gráfico 32

Evolução das exportações de máquinas agrícolas do Rio Grande do Sul — 2010-21

Fonte: Exportações do agronegócio (RIO GRANDE DO SUL, 2021a). Nota: Em 2021, o valor corresponde ao acumulado do primeiro semestre.

Startups do agronegócio

Uma característica marcante das transformações na oferta de tecnologias para o agro-

negócio brasileiro e mundial é a proliferação de pequenas empresas desenvolvedoras de tec-nologias aplicadas ao setor. Essas empresas, conhecidas como Agtechs, são responsáveis por um número crescente de inovações, que podem ser complementares ou concorrentes aos pro-dutos e serviços tradicionalmente ofertados pelos grandes players do setor.

Em 2021, a Embrapa realizou um mapeamento das Agtechs no Brasil (FIGUEIREDO; JAR-DIM; SAKUDA, 2021). A pesquisa identificou um total de 1.574 empresas, sendo que cinco esta-dos respondem por 82,4% do total de Agtechs mapeadas: São Paulo (757, 48,1%), Paraná (151, 9,6%), Minas Gerais (143, 9,1%), Rio Grande do Sul (124, 7,9%) e Santa Catarina (122, 6,2%). Os Municípios de Porto Alegre (42 empresas), Santa Maria (11 empresas) e Pelotas (10 empresas) concentram a maior parte das Agtechs do território gaúcho. Para além da proximidade com o mercado consumidor, as potenciais interações com os sistemas locais de inovação parecem ser definidoras do surgimento e do posicionamento geográfico dessas empresas. Essa também é uma característica marcante dos principais clusters de Agtechs no restante do Brasil, espe-cialmente nas regiões de São Paulo (SP), Piracicaba (SP), Curitiba (PR), Rio de Janeiro (RJ) e Campinas (SP).

A maioria das Agtechs que atua no segmento “antes da porteira” está na categoria de fertilizantes, inoculantes e nutrição vegetal. No segmento “dentro da porteira”, os destaques são os sistemas de gestão de propriedade rural, as plataformas integradas de sistemas, as soluções e dados e os drones, máquinas e equipamentos. No segmento “depois da porteira”, a categoria de alimentos inovadores e novas tendências alimentares é o principal destaque (FIGUEIREDO; JARDIM; SAKUDA, 2021).

O surgimento e a difusão exponencial de tecnologias smart farming e da Agricultura 4.0 prometem revolucionar a operação e a gestão das unidades de produção agropecuária nos próximos anos. Há um amplo, porém disputado, espaço para a oferta de novas soluções tec-nológicas para o setor. Para o RS, que historicamente se destaca como principal fabricante nacional de máquinas e equipamentos de uso agropecuário e plataforma regional de expor-tação desses produtos, torna-se estratégico analisar, apoiar e desenvolver os ecossistemas de inovação passíveis de oferecer suporte para as atividades dessas startups do agronegócio em seu território.

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100

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2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

(US$ milhões)

Tratores agrícolas Pulverizadores Colheitadeiras Implementos e semeadeiras

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Considerações finais Este documento foi preparado com o objetivo de oferecer informações para a socie-

dade gaúcha sobre a estrutura e a situação conjuntural do agronegócio do RS. No momento em que se realiza mais uma edição da Expointer, cresce a demanda por informações sobre a agropecuária e os segmentos a ela, direta e indiretamente, vinculados. O trabalho permite ao leitor obter uma visão geral do agronegócio gaúcho e suas relações com as esferas regional, nacional e internacional.

Além do Painel do Agronegócio do RS, por meio do seu Departamento de Economia e Estatística, a Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão divulga trimestralmente os In-dicadores do Agronegócio do RS, voltados ao acompanhamento conjuntural do setor. Com a atualização das estatísticas das exportações de mercadorias e do emprego formal celetista do agronegócio, são disponibilizadas informações importantes para a análise da dinâmica de curto prazo da agropecuária e de seus principais complexos produtivos.

Aos interessados, as estatísticas e as análises conjunturais sobre o agronegócio gaú-cho estão disponíveis no site do DEE-SPGG: https://dee.rs.gov.br/agronegocio.

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57 Painel do Agronegócio do RS — 2021

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