mercado do agronegócio

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2017 MERCADO DO AGRONEGÓCIO Prof. Pablo Rodrigo Bes Oliveira

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Page 1: Mercado do agronegócio

2017

Mercado doagronegócio

Prof. Pablo Rodrigo Bes Oliveira

Page 2: Mercado do agronegócio

Copyright © UNIASSELVI 2017

Elaboração:

Prof. Pablo Rodrigo Bes Oliveira

Revisão, Diagramação e Produção:

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri

UNIASSELVI – Indaial.

332.04 O48m Oliveira, Pablo Rodrigo Bes

Mercado do agronegócio / Pablo Rodrigo Bes Oliveira: UNIASSELVI, 2017.160 p. : il.

ISBN 978-85-515-0075-0

1. Mercado Financeiro.I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

Impresso por:

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III

apresentação

Queridos acadêmicos, este Livro de Estudos foi construído na intenção de inseri-los nos estudos relativos ao Mercado do Agronegócio, um mercado hoje em expansão e com destaque no cenário nacional e internacional. Para conseguirmos cumprir com esta finalidade teremos que estudar conceitos de áreas diversas que convergem e tangenciam o tema. Áreas como a Economia, Finanças, Contabilidade, Marketing e específicas relacionadas ao segmento como Agricultura, Pecuária e o Agronegócio se farão presentes nas discussões.

Na primeira unidade de estudos iremos retomar alguns tópicos importantes da área da Economia, procurando estabelecer conexões entre os diversos mercados que fazem parte de um sistema econômico. Iremos destacar princípios básicos como o da escassez, que correlaciona os aspectos das necessidades ilimitadas versus recursos que se mostram escassos tanto na vida pessoal quanto no interior das organizações. Da mesma forma, estaremos verificando a lei da oferta e da demanda que versa sobre os autores envolvidos nas transações no interior destes mercados. Também iremos focar nesta unidade inicial o Fordismo e o Toyotismo, entendendo que suas ideias são potentes e acabam reconfigurando as formas como as organizações em todos os segmentos se estruturam após estes eventos. Finalizando a unidade veremos um panorama inicial sobre o agronegócio no Brasil e problematizaremos a abertura de mercados e suas consequências.

Na segunda unidade de estudos iremos abordar primeiramente a globalização, seus antecedentes históricos que preparam e planificam o mundo, parafraseando a ideia de um dos autores estudados. Iremos abordar como este fenômeno acaba sendo refletido sobre a economia, sobre a cultura e sobre a sociedade em geral, principalmente focando a pobreza. Logo após, iremos falar sobre o comércio eletrônico e a democracia digital que se encontram muito relacionadas ao advento da globalização e se apresentam como as lógicas dominantes hoje no mercado. Finalizando a unidade iremos realizar uma reflexão sobre como o mundo torna-se centrado na lógica matemática, o que chamamos de matematização do mundo da vida, procurando realizar um resgate histórico de como este discurso se constitui e se estabelece como uma verdade a ser seguida.

Já na Unidade 3 iremos focar com maior ênfase os aspectos relacionados na gestão da empresa agrícola, focando as áreas da contabilidade agrícola e do marketing voltado para o setor. Iremos visualizar alguns conceitos e ferramentas que servirão de base para o gestor conduzir com sucesso seu empreendimento no agronegócio.

O Livro de Estudos foi construído com muito empenho e carinho, buscando uma imersão e pesquisa nos referencias teóricos destas áreas que possam agregar na sua formação acadêmica.

Desejamos ótimos estudos a todos!

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IV

UNI

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfi m, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.

Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE.

Bons estudos!

Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!

UNI

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suMário

UNIDADE 1 - UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO .. 1

TÓPICO 1 - RELEMBRANDO CONCEITOS DA ECONOMIA .................................................... 31 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 32 ALGUNS CONCEITOS DA ECONOMIA ....................................................................................... 3

2.1 A ESCASSEZ ..................................................................................................................................... 32.2 OS PROBLEMAS ECONÔMICOS FUNDAMENTAIS .............................................................. 52.3 OS MERCADOS ............................................................................................................................... 6

2.3.1 O mercado consumidor ......................................................................................................... 72.3.2 O mercado concorrente .......................................................................................................... 72.3.3 O mercado fornecedor ........................................................................................................... 72.3.4 O mercado de trabalho........................................................................................................... 82.3.5 O mercado financeiro ............................................................................................................. 8

2.3.5.1 O mercado de capitais ............................................................................................... 82.3.5.1.1 O mercado de futuros ................................................................................ 92.3.5.1.2 O mercado de opções ................................................................................. 10

2.4 AS TEORIAS ELEMENTARES DE MERCADO .......................................................................... 112.4.1 A teoria da demanda .............................................................................................................. 112.4.2 Teoria da oferta ....................................................................................................................... 122.4.3 O equilíbrio do mercado ........................................................................................................ 13

2.5 RELAÇÕES ENTRE O ESTADO E OS MERCADOS .................................................................. 14LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 17RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 19AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 20

TÓPICO 2 - AS NOVAS ORGANIZAÇÕES ...................................................................................... 211 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 212 O FORDISMO ....................................................................................................................................... 22

2.1 UMA VISÃO CULTURAL SOBRE O FORDISMO ..................................................................... 263 O TOYOTISMO .................................................................................................................................... 27

3.1 A ELIMINAÇÃO DO DESPERDÍCIO .......................................................................................... 293.2 O JUST-IN-TIME .............................................................................................................................. 29

3.2.1 Ninben no tsuita jidoka ............................................................................................................. 30LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 30RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 33AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 34

TÓPICO 3 - A ABERTURA DOS MERCADOS NO BRASIL ......................................................... 351 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 352 UM RESGATE DA HISTÓRIA DA AGRICULTURA AO AGRONEGÓCIO NO BRASIL .. 353 ABERTURA DE MERCADO E A ECONOMIA .............................................................................. 39

3.1 ABERTURA DE MERCADO E A POBREZA ............................................................................... 413.2 ABERTURA DE MERCADO E A CULTURA .............................................................................. 433.3 ABERTURA DE MERCADO E A EMPRESA AGRÍCOLA ........................................................ 44

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VIII

LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 48RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 50AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 51

UNIDADE 2 - O MUNDO AGORA É PLANO .................................................................................. 53

TÓPICO 1 - AS FORÇAS QUE TORNARAM O MUNDO PLANO.............................................. 551 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 552 AS DEZ FORÇAS QUE ACHATARAM O MUNDO ..................................................................... 553 OS BLOCOS ECONÔMICOS ............................................................................................................ 59

3.1 O MERCADO COMUM DO SUL ................................................................................................. 614 GLOBALIZAÇÃO E POBREZA ......................................................................................................... 65

4.1 GLOBALIZAÇÃO, PODER, CULTURA E MEIO AMBIENTE ................................................. 674.2 REFLEXÕES CRÍTICAS SOBRE A GLOBALIZAÇÃO ............................................................... 684.3 AS EMPRESAS TRANSNACIONAIS ........................................................................................... 70

LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 71RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 74AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 75

TÓPICO 2 - A DEMOCRACIA E O COMÉRCIO ELETRÔNICO ................................................. 771 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 772 O COMÉRCIO ELETRÔNICO E A ORGANIZAÇÃO DOS MERCADOS .............................. 77

2.1 PARTICULARIDADES DO COMÉRCIO ELETRÔNICO .......................................................... 803 DEMOCRACIA DIGITAL E CIDADANIA ..................................................................................... 82

3.1 ÉTICA E CIBERCRIME ................................................................................................................... 84LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 86RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 89AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 90

TÓPICO 3 - A MATEMATIZAÇÃO DO MUNDO DA VIDA ........................................................ 911 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 912 ENUNCIADOS CONSTRUINDO REALIDADES......................................................................... 913 O MUNDO CARTESIANO ................................................................................................................ 934 A METROLOGIA.................................................................................................................................. 975 OS ÁTOMOS, OS BITS E A INTERNET .......................................................................................... 100LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 102RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 104AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 105

UNIDADE 3 - A GESTÃO DA EMPRESA AGRÍCOLA .................................................................. 107

TÓPICO 1 - EM BUSCA DE UMA GESTÃO EFICAZ ..................................................................... 1091 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 1092 ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO ........................................................................................................ 1093 A CONSTRUÇÃO DA PROPRIEDADE MODERNA ................................................................... 1124 ORGANIZAR A PRODUÇÃO OU PRODUZIR A ORGANIZAÇÃO? ..................................... 114

4.1 PLANEJAMENTO ........................................................................................................................... 1154.2 ORGANIZAÇÃO ............................................................................................................................. 1174.3 DIREÇÃO .......................................................................................................................................... 1174.4 CONTROLE ...................................................................................................................................... 118

LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 119RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 121AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 122

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IX

TÓPICO 2 - A CONTABILIDADE E A EMPRESA AGRÍCOLA .................................................... 1231 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 1232 CULTURAS TEMPORÁRIAS ............................................................................................................ 124

2.1 FLUXO CONTÁBIL DA CULTURA TEMPORÁRIA ................................................................. 1252.2 CULTURAS PERMANENTES ....................................................................................................... 126

2.2.1 Fluxo contábil da cultura permanente ................................................................................. 1272.2.2 Informações gerenciais contábeis ......................................................................................... 128

2.3 A CÉDULA DO PRODUTO RURAL ............................................................................................ 133LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 135RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 137AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 138

TÓPICO 3 - MARKETING E AGRONEGÓCIO ................................................................................. 1391 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 1392 O PLANEJAMENTO DE MARKETING ........................................................................................... 1413 OS PS DO MARKETING ..................................................................................................................... 147LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 150RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 153AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 154REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 155

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UNIDADE 1

UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

Esta unidade tem por objetivos:

• compreender os principais conceitos econômicos que se fazem necessários para entender o mercado do agronegócio brasileiro nos dias atuais;

• identificar as teorias de mercado e sua aproximação com o setor analisado;

• conhecer o Fordismo e o Toyotismo;

• compreender o processo de abertura de mercado no Brasil e suas implica-ções nas áreas da economia e na cultura;

• perceber como o processo de abertura do mercado nacional reflete no se-tor do agronegócio.

Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles você encontrará atividades que o auxiliarão no seu aprendizado.

TÓPICO 1 – RELEMBRANDO CONCEITOS DA ECONOMIA

TÓPICO 2 – AS NOVAS ORGANIZAÇÕES

TÓPICO 3 – A ABERTURA DO MERCADO NO BRASIL

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TÓPICO 1UNIDADE 1

RELEMBRANDO CONCEITOS DA ECONOMIA

1 INTRODUÇÃO

Queridos acadêmicos, com a intenção de prepará-los para um melhor aprendizado dos objetivos que nos propomos neste tópico inicial do nosso livro de estudos, iremos rever alguns conceitos básicos da área da Economia. Este caminho se faz necessário para que possamos nos situar bem no interior das diversas análises que serão propostas na disciplina, no decorrer de suas unidades e respectivos tópicos.

2 ALGUNS CONCEITOS DA ECONOMIA

Para todos aqueles que adentram nas áreas da gestão, sejam nos setores primários, secundários ou terciários, seja no terceiro setor ou mesmo nos estabelecimentos públicos diversos, se faz necessário um conhecimento prévio da área da Economia. Isso nos possibilita analisar e perceber como, atualmente, o Estado se vale de uma série de medidas de regulação do mercado que refletem sobre os negócios que, muitas vezes, estamos gerindo. Desta forma, iniciamos pontuando algumas questões básicas da economia e, posteriormente, como o Estado se relaciona com o mercado.

2.1 A ESCASSEZ

O agronegócio no Brasil, hoje, representa riqueza e prosperidade, uma vez que o segmento tem participação efetiva no PIB nacional e se destaca pelo grande volume de exportações, tanto nas áreas agrícolas quanto pecuárias, de produtos finais e insumos.

Para começarmos nosso entendimento sobre estas questões, temos que realizar uma incursão sobre alguns dos principais conceitos econômicos que nos ajudarão a entender este setor e perceber como, historicamente, chegamos ao patamar em que nos encontramos hoje. E é nesta direção que partimos agora, procurando esse resgate de noções básicas da economia.

Começaremos por recordar a definição do problema básico da economia, que é a ESCASSEZ, lembra? O que isso quer dizer?

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UNIDADE 1 | UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO

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A escassez representa que todos os recursos são escassos, ou seja, sempre possuiremos, em todas as áreas que analisarmos, uma gama muito maior de necessidades do que podemos atender através de nossos recursos. O conceito fica simples de entendimento quando levamos para nossa vida pessoal: imagine que você recebe um salário mensal com o qual deve viver (ou ao menos deveria), com base neste salário você realiza seu orçamento e decide sobre o que irá pagar, comprar ou investir. Porém, algumas vezes você pode ter a sensação de não conseguir comprar tudo aquilo que queria, não é mesmo? Já se sentiu assim? Se a resposta for positiva, calma, isso traduz essa máxima da economia: os recursos são escassos, por isso temos que fazer escolhas, por isso planejamos nossas compras e pautamos nossas vidas em decisões dentro daquilo que poderíamos comprar.

Nas empresas, de modo geral, este princípio também se evidencia, uma vez que os recursos envolvem os insumos, matérias-primas, custos e despesas e evidenciam se os produtos ou serviços serão viáveis economicamente de serem produzidos. Por essa razão se investe em bons projetos, através dos quais as empresas poderão decidir em qual deles investir seus recursos. Mesmo que se tenha inúmeros bons projetos possíveis de serem alocados recursos, fatalmente se terá que optar por alguns, dada a escassez de recursos.

FIGURA 1 - OS RECURSOS SÃO ESCASSOS

FONTE: Disponível em: <http://bp2.blogger.com/_Ysd6Bm18a1o/SC1fq_Aw7cI/AAAAAAAAAA4/dECUXsYhjI0/s320/imagem1.JPG>. Acesso em: 20 mar. 2017.

Na realidade, ocorre que a escassez dos recursos disponíveis acaba por gerar a escassez dos bens - chamados "bens econômicos" -, por exemplo: as jazidas de minério de ferro são abundantes, porém, o minério pré-usinável, as

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TÓPICO 1 | RELEMBRANDO CONCEITOS DA ECONOMIA

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chapas de aço e finalmente o automóvel são bens econômicos escassos. Logo, o conceito de escassez econômica deve ser entendido como a situação gerada pela razão de se produzir bens com recursos limitados, a fim de satisfazer as ilimitadas necessidades humanas. Todavia, somente existirá escassez se houver uma procura para a aquisição do bem. Por exemplo: o hino nacional escrito na cabeça de um alfinete é um bem raro, mas não é escasso porque não existe uma procura para sua aquisição (VASCONCELLOS; PINHO, 2006).

Lembramos com o exemplo acima que os bens são procurados quando são

úteis, originando-se daí a definição de bem econômico. Bem é tudo aquilo que é capaz de atender uma necessidade do homem, tendo sido comprado através da entrega de trabalho ou moeda, diferente dos bens livres que estão ao acesso das pessoas sem esta necessidade.

QUADRO 1 - BENS LIVRES E BENS ECONÔMICOS

BENS ECONÔMICOS BENS LIVRESSão os bens pelos quais o

homem necessita despender um valor monetário ou seu trabalho para poder utilizá-los. Considera-se como bens escassos, pois percebemos um desajuste entre a quantidade necessária e a existente desse tipo de bem.

Ex.: casa, carro, viagens, alimentos, vestuários etc.

São os bens que cada pessoa pode usufruir sem ter que entregar moeda ou trabalho em troca. Estes bens existem na natureza e, normalmente, se apresentam em quantidade superior para a satisfação das necessidades dos indivíduos.

Ex.: ar, água dos mares, gelo das regiões polares.

FONTE: O autor

2.2 OS PROBLEMAS ECONÔMICOS FUNDAMENTAIS

Ao prosseguirmos em nossos estudos, temos que recordar que, ao trabalharmos com os conceitos econômicos e sua inserção numa comunidade, três são as perguntas que caracterizam o que é visto como representativo dos principais problemas econômicos. São elas:

• O que produzir?• Como produzir?• Para quem produzir?

Quando falamos sobre O QUE produzir, consideramos quais produtos deverão ser produzidos, e em quais quantidades serão disponibilizados aos consumidores.

Ao definirmos COMO iremos produzir, estamos nos referindo às pessoas que ficarão encarregadas desta tarefa, e quais os recursos e as técnicas ou tecnologias serão empregados.

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UNIDADE 1 | UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO

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Por fim, ao definirmos PARA QUEM iremos produzir, nos referimos aos compradores em potencial, aqueles que possuem renda para adquirir nossos produtos.

Como podemos perceber, devido à escassez e ao atendimento das perguntas relativas aos problemas econômicos fundamentais, temos evidenciado a importância e necessidade de fazer escolhas!

Ao decidir "o que" deverá ser produzido e "como", o sistema econômico terá realmente decidido como alocar ou distribuir os recursos disponíveis entre as milhares de diferentes possíveis linhas de produção. Quanta terra destinar-se-á ao cultivo do café? Quanta pastagem? Quantas fábricas para a produção de camisas? Quantos automóveis? Analisar todos esses problemas simultaneamente é por demais complicado. Para simplificá-lo, suponhamos que somente dois bens econômicos deverão ser produzidos: camisas e carros. Haverá sempre uma quantidade máxima de carros (camisas) produzida anualmente, quando todos os recursos forem destinados à sua produção e nada à produção de camisas (carros). A quantidade exata depende da quantidade e da qualidade dos recursos produtivos existentes na economia e do nível tecnológico com que sejam combinados. Evidentemente, fora das quantidades máximas existem infinitas possibilidades de combinações intermediárias entre carros e camisas a serem produzidos (VASCONCELLOS; PINHO, 2006).

2.3 OS MERCADOS A palavra mercado, na economia, serve para definir relações entre os vários

aspectos observados.

Podemos definir o mercado como o ambiente propício e com condições para a compra e venda de bens e serviços. O conceito de mercado muda na economia a partir da existência das redes digitais, que possibilitam que possam existir relações de compra virtuais, sem a presença física de um local previamente estabelecido. Hoje, sabemos que a grande maioria das organizações possui uma página na internet para efeito de divulgação de seus produtos ou mesmo a comercialização deles. Os consumidores, de certa forma, estão se habituando a realizar suas pesquisas de compra via internet e a compra efetiva nas lojas, ou pela própria rede.

O importante é que se entenda o mercado como a organização na qual os ofertantes (vendedores) e os demandantes (compradores) estabelecem suas relações comerciais. Nesta lógica, podemos elencar três tipos de mercados básicos. Seriam eles: o mercado consumidor, o mercado concorrente e o mercado fornecedor.

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TÓPICO 1 | RELEMBRANDO CONCEITOS DA ECONOMIA

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2.3.1 O mercado consumidor

Quando pensamos em produzir algo para a venda, ou prestamos algum tipo de serviço, temos que dimensionar a quem estamos destinando ou projetando nossos produtos ou serviços, quem serão as pessoas que comprarão nossos produtos ou utilizarão nossos serviços ofertados.

Esse universo abrange o chamado mercado consumidor, conforme estudamos anteriormente com a lei da demanda, lembram? São os demandantes, compradores em potencial dos bens econômicos para quem produzimos enquanto empresas.

Aqui reside a importância das pesquisas realizadas pelas empresas, procurando mapear necessidades e realizar pré-testes antes do lançamento de um novo produto, visando verificar se este será bem aceito ou não pelos clientes.

2.3.2 O mercado concorrente

Chamamos de mercado concorrente a junção daquelas empresas que estão atuando no mercado e que ofertam um produto ou serviço igual ou similar ao seu, ou seja, vamos supor que você definiu como foco do seu negócio o cultivo de produtos orgânicos para a venda aos consumidores em feiras do gênero. Para medir e monitorar o seu mercado concorrente, você deve perceber quantos agricultores têm feito a mesma escolha e produzido também de forma orgânica, e mais, quais os produtos eles têm cultivado, como têm vendido estes produtos, no varejo ou em formato de cestas. Enfim, quanto mais informações você possuir sobre a sua concorrência, melhores condições terá para atuar neste mercado.

2.3.3 O mercado fornecedor

O mercado fornecedor é aquele que reúne as organizações que irão oferecer os equipamentos, insumos, matérias-primas, embalagens e toda a gama de materiais que você possa vir a necessitar no seu processo de produção ou na sua prestação de serviços. Aqui destacamos a importância de se possuir mais de um fornecedor para os itens necessários.

Devemos observar os aspectos de qualidade, preço, prazo, garantias e assistência técnica ao selecionarmos nossos fornecedores e estabelecermos esta parceria nos negócios.

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UNIDADE 1 | UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO

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2.3.4 O mercado de trabalho

Representa a relação entre os trabalhadores e as organizações (empregadores). Representa o local onde as ofertas e demandas de emprego se confrontam e as quantidades oferecidas e demandadas se ajustam em função do preço (que seria o salário no mercado de trabalho) (OLIVEIRA; PICCININI, 2011).

O mercado de trabalho abrange o espaço onde estas relações entre empregados e empregadores ocorrem, sendo de suma importância para o funcionamento da economia. Segundo a interpretação clássica da economia, o trabalho é um produto no qual os trabalhadores são vendedores, os empregadores atuam como compradores, os salários são considerados o preço e o mercado de trabalho representa o espaço onde ocorrem as transações.

As diferenças de preços entre companhias serão reduzidas com o livre deslocamento dos trabalhadores entre organizações, o que permite que, eventualmente, se alcance o equilíbrio dos salários em todo o mercado. Segundo Horn (2006), este arranjo está inserido no sistema mais amplo da economia capitalista, cumprindo duas funções: aloca os trabalhadores de uma sociedade em diferentes espaços produtivos e assegura renda àqueles que participam desta relação.

2.3.5 O mercado financeiro

Segundo o site de finanças Portal Action (s.d.), o mercado financeiro é o mercado onde os recursos excedentes da economia (poupança) são direcionados para o financiamento de empresas e de novos projetos (investimentos). No mercado financeiro tradicional, o dinheiro que é depositado pelos poupadores nos bancos é utilizado pelas instituições financeiras com o intuito de financiar alguns setores da economia que precisem de recursos. Para realizar essa intermediação, os bancos cobram do tomador do empréstimo o spread, uma taxa, a título de remuneração para cobrir os seus custos operacionais e o risco da mesma. Quanto maior for o risco de não recebimento do dinheiro de volta pela instituição financeira, maior será o spread.

Um dos componentes do mercado financeiro é o mercado de capitais, que mais nos interessa conhecer nesta disciplina.

2.3.5.1 O mercado de capitais

É no mercado de capitais que as empresas que precisam de recursos conseguem financiamento, por meio da emissão de títulos, vendidos diretamente

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TÓPICO 1 | RELEMBRANDO CONCEITOS DA ECONOMIA

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aos poupadores/investidores, sem a intermediação bancária. Dessa forma, os investidores acabam emprestando o dinheiro de suas poupanças a empresas, também sem a intermediação bancária (PORTAL ACTION, s.d.).

O mercado de capitais é composto por cinco ramificações. São elas: o Mercado de Renda Variável, Mercado de Renda Fixa, Mercado de Câmbio, Mercado de Fundos de Investimento e o Mercado de Derivativos.

Como boa parte das transações que envolvem o agronegócio ocorre hoje no mercado de derivativos, mais especificamente nas operações do mercado de futuros e de opções, é sobre estes que estaremos nos aprofundando um pouco mais neste momento.

2.3.5.1.1 O mercado de futuros

Os participantes aqui se comprometem a comprar ou vender certa quantidade de um ativo por um preço estipulado para a liquidação em data futura. Estes contratos futuros são negociados somente em bolsas e têm seus compromissos ajustados diariamente, mapeando as possíveis perdas e os ganhos dos investidores.

FONTE: Adaptado de Schouchana (2004)

Neste mercado, muito utilizado nas operações que envolvem transações agrícolas, é possível a realização de diversas operações (dependendo do nível de risco do investidor), que variam da proteção do lucro (hedge), de renda fixa (baixo risco) e especulativas (alto risco). Desta forma, o mercado futuro serve como uma ferramenta para controlar o risco futuro ao qual o investidor se encontra exposto.

Embora se associe o mercado futuro com estratégias de investimentos de alto risco, sua origem é de proteção, o que ocorre com o hedge, que visa a eliminação do risco de preço. Por hedge entendemos uma garantia de preço no futuro e seu

FIGURA 2 - CARACTERÍSTICAS DO MERCADO FUTURO

Nos negócios efetuados a futuro, compradores e vendedores de determinados ativos ou produtos fixam preço com vencimento para data futura.

O comprador futuro fixa preço de compra de seu produto antecipadamente, visando assegurar custo compatível com a margem de rentabilidade para proteger-se do risco de alta no preço desse insumo.

O vendedor a futuro fixa o preço de venda de sua mercadoria antecipadamente, para se proteger do risco de queda no preço e garantir a margem de rentabilidade.

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UNIDADE 1 | UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO

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funcionamento está muito associado ao produtor agrícola. Exemplo: vamos imaginar um produtor de soja. Este realiza a plantação de sua lavoura meses antes da colheita e, consequentemente, da venda da produção, não é mesmo? Durante o plantio o produtor pode incorrer em inúmeros gastos, como o financiamento de máquinas e sua manutenção, salário dos trabalhadores, arrendamentos de terras, entre outros. Todos estes gastos ocorrem ainda antes do agricultor ter uma noção exata do preço que receberá pela saca de sua soja plantada. Neste caso, o produtor pode realizar uma operação de hedge com uma empresa que utilize a sua soja como insumo e que comprará a mesma daqui a quatro meses a um preço predefinido. O produtor, ao fazer o hedge da sua produção, se protege contra a queda do preço da soja, enquanto o comprador, por sua vez, se protege contra a subida do preço.

2.3.5.1.2 O mercado de opções

As opções são uma das modalidades operacionais que compõem o mercado de derivativos. São instrumentos financeiros que permitem a transferência do risco de oscilação dos preços entre os participantes do mercado.

Neste caso, quem adquire o direito deve pagar um prêmio ao vendedor. Este prêmio não é o valor do bem, mas apenas um valor pago para ter a opção (possibilidade) de comprar ou vender o bem em uma data futura por um preço previamente acordado.

O Portal do Investidor (s.d.) indica que o objeto dessa negociação pode ser um ativo financeiro ou uma mercadoria, sendo negociado em pregão com ampla transparência. O comprador da opção, também chamado titular, sempre terá o direito do exercício, mas não a obrigação de exercê-lo. O vendedor da opção, por sua vez, chamado de lançador, terá a obrigação de atender ao exercício caso o titular opte por exercer o seu direito.

• Preço de exercício – é o preço que o titular paga (ou recebe) pelo bem em caso de exercício da opção.

• Prêmio – é o valor pago pelo titular (e recebido pelo lançador) para adquirir o direito de comprar ou vender o ativo pelo preço de exercício em data futura.

É importante destacar que no mercado de opções o titular pode perder, no máximo, o prêmio pago, enquanto para o lançador os riscos são ilimitados.

Exemplificando: Vamos simular um exemplo de hedge no mercado de opções. Um produtor de café tem sua safra para colheita estimada em 1.000 sacas e teme que, ao vendê-la, em 60 dias, os preços tenham caído muito e deseja se proteger desse risco. Para assegurar um preço de venda capaz de garantir sua margem de lucro, decide comprar opções de venda do café ao preço do exercício de 500 reais por saca, negociados na bolsa a um vencimento compatível (em torno de 60 dias), a um prêmio de 25 reais por saca, desembolsando de imediato 25.000 reais para adquirir tal direito de venda (1.000 sacas ao prêmio de 25 reais cada).

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TÓPICO 1 | RELEMBRANDO CONCEITOS DA ECONOMIA

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• Vamos supor que, no vencimento da opção, o preço à vista esteja em 450 reais. O produtor exercerá seu direito de vender a 500 reais a saca, auferindo o resultado de 475.000 reais, correspondente aos 500.000 reais deduzido o prêmio pago de 25.000 reais.

• Outra hipótese possível seria que, no vencimento da opção, o preço à vista estivesse em 550 reais, o titular da opção irá perder o seu interesse em vendê-la a 500 reais a saca, preferindo perder os 25.000 reais pagos como prêmio, porém mantendo a possibilidade de vender sua produção pelos 550 reais por saca que estão sendo pagos no mercado à vista, obtendo assim um resultado líquido de 525.000 reais.

Obs.: para este exemplo didático não consideramos os custos de transação envolvidos.

2.4 AS TEORIAS ELEMENTARES DE MERCADO

Antes de adentrarmos em análises mais rigorosas sobre as teorias de mercado que refletem sobre o setor do agronegócio, no Brasil e no mundo, sobretudo com ênfase nas ideias liberais, nos cabe entender bem questões elementares sobre o mercado. Faremos isso analisando, num primeiro momento, a teoria da demanda e, logo após, a teoria da oferta.

2.4.1 A teoria da demanda

A forma mais usual de definirmos a demanda ou procura seria com o número máximo de quantidades de um bem ou serviço que o consumidor deseja comprar durante um certo período de tempo. Perceba que estamos falando de um desejo e não necessariamente a realização da compra, mas sim de uma aspiração a ela. Da mesma forma, precisamos destacar que se estabelece esta relação num determinado período de tempo.

Poderíamos nos perguntar: do que depende este desejo de consumir? Que fatores podem influenciar nesta procura?

Como tínhamos falado no início desta unidade, os recursos escassos obrigam o consumidor a realizar escolhas entre diferentes bens e serviços que gostaria de adquirir contemplando a sua renda, constituindo este um dos principais aspectos que determinam a demanda. Para entendermos um pouco melhor, vamos acompanhar o exemplo:

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UNIDADE 1 | UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO

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GRÁFICO 1 - DEMANDA

Preço

P1

P2

Q1 Q2

Demanda

Quantidade DemandadaFONTE: Ferguson (1987 apud VASCONCELLOS; PINHO, 2006)

Supondo que um indivíduo vá almoçar num restaurante, vamos verificar o que influencia sua escolha. Recebendo o cardápio, a primeira coisa que ele olha são os preços. Assim, a escolha de um determinado prato, digamos um filé, depende não só do preço do filé, mas também do preço das outras carnes, do preço das massas etc. Pode-se facilmente ver que, quanto maior for o preço do filé, menos propenso estará o indivíduo a pedir um. Da mesma forma, quanto menor o preço dos outros pratos principais: massas, carnes etc., menor desejo ele terá de comer um filé. Isto se dá porque o filé, as outras carnes e as massas são substitutos. Ele escolhe ou um ou outro. Dificilmente o consumidor pedirá um frango acompanhado de um peixe. De outra parte, existem os acompanhamentos ou complementos. É um filé com fritas, ou com arroz, ou mesmo com arroz e fritas. Caso o preço dos acompanhamentos seja alto, ele reduzirá sua vontade de pedir um filé. Além dos preços, uma outra variável afeta esta escolha: a renda. Se o indivíduo não tiver dinheiro para pagar a conta, não irá pedir o filé com fritas. Também o gosto do consumidor determina a escolha. Mesmo que o preço do bife de fígado e seus acompanhamentos sejam baixos, o indivíduo não pedirá caso não suporte fígado (VASCONCELLOS; PINHO, 2006).

Dessa forma, podemos dizer que a lei da demanda estabelece uma relação inversa entre a quantidade e o preço dos bens ou serviços, ou seja, quanto maior for o preço do produto, menor o desejo de compra por parte do consumidor.

É importante conhecermos essa lei da demanda, pois através dela também podemos analisar como o comportamento do consumidor ocorre ao ter que optar, da mesma forma, entre produtos diversos ao realizar suas escolhas de compra.

2.4.2 Teoria da oferta

Podemos definir a oferta como a quantidade de um bem ou serviço que os produtores desejam vender a um determinado preço num determinado período.

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TÓPICO 1 | RELEMBRANDO CONCEITOS DA ECONOMIA

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Desta forma, quanto maior for o preço de um bem, maior a intenção ou o desejo daqueles que o produzem em vender tal bem. Podemos dizer haver uma relação direta entre o preço e a quantidade, ao contrário da lei da procura.

GRÁFICO 2 - OFERTA

FONTE: Ferguson (1987 apud VASCONCELLOS; PINHO, 2006)

Além do preço, a oferta de um bem também depende do preço dos fatores de produção empregados e da tecnologia utilizada. Estes dois elementos compõem o que chamamos de custo de produção.

Vamos dar um exemplo: aumentando o preço da terra, teremos um grande aumento nos custos de produção do setor agrícola, enquanto em outros segmentos, que utilizam em menor intensidade o fator terra, verificaremos um aumento menor dos custos.

2.4.3 O equilíbrio do mercado

O preço é muito importante para que atinjamos o equilíbrio do mercado, sendo determinado tanto pela oferta quanto pela procura de bens e serviços.

GRÁFICO 3 - EQUILÍBRIO DO MERCADO

FONTE: Ferguson (1987 apud VASCONCELLOS; PINHO, 2006)

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Olhando para o gráfico apresentado, podemos imaginar algumas situações:

• Quando existe um excesso de procura, surgem pressões para o aumento dos preços, pois, como os compradores são incapazes de comprar tudo o que desejam ao preço existente, se dispõem e passam a pagar mais. Já os vendedores, por sua vez, ao perceberem a escassez como oportunidade de elevar os preços sem ocasionar queda nas suas vendas.

• Quando existe um excesso de oferta, surgem pressões para os preços caírem, pois os vendedores percebem que não podem vender tudo o que desejam, aumentando seus estoques (o que também é custo) e, assim, passam a oferecer a preços menores. Já os compradores notam a fartura e passam a negociar/pechinchar o preço destes bens.

2.5 RELAÇÕES ENTRE O ESTADO E OS MERCADOS

Agora que já fizemos uma breve introdução a alguns elementos iniciais e elementares da economia, nos cabe analisarmos como o Estado exerce sua participação na regulação das atividades do mercado, seja este mercado de fatores de produção ou mercado de produtos propriamente ditos.

Essa análise é interessante, pois sabemos ser conhecidas historicamente dentro do setor agrícola nacional as políticas de incentivos e subsídios relacionados ao incremento da produção. Estas ações, entre outros fatores, explicam a ascensão do agronegócio aos patamares que encontramos hoje no Brasil.

A intervenção ativa e continuada do Estado na economia tornou-se um aspecto essencial das economias capitalistas modernas, pelo menos desde o final da Segunda Grande Guerra (CARVALHO, 1999). No Brasil não é diferente, basta constatarmos que o Estado demanda bens e serviços em volume muito superior ao que é exportado e, até mesmo, superior aos investimentos externos.

Recorrendo aos antecedentes históricos que nos levam a entender o papel do Estado na regulação da economia e consequentemente do mercado, temos que nos reportar ao século XVII, com o início da teoria econômica, na figura de Adam Smith, conhecido como o Pai da Economia. Adam Smith, em sua obra A Riqueza das Nações (1776), realiza sua famosa afirmação de que uma “mão invisível” seria capaz de regular as ações do mercado (oferta e procura, lembram?), defendia a ideia de um sistema econômico fechado, onde não existia intervenção estatal alguma. Acreditava que a própria relação entre produtores e consumidores seria suficiente para que os preços se ajustassem e o equilíbrio entre oferta e demanda fosse estabelecido.

Ao término do século XVIII, os economistas clássicos liberais conseguem grande aceitação de suas teorias. Essa reação para o liberalismo culmina com a ocorrência da Revolução Francesa. As ideias liberais decorrem do direito natural: a ordem natural é a ordem mais perfeita. Os bens naturais, sociais e econômicos

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TÓPICO 1 | RELEMBRANDO CONCEITOS DA ECONOMIA

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são os bens que possuem caráter eterno. Os direitos econômicos humanos são inalienáveis e existe uma harmonia preestabelecida em toda a coletividade de indivíduos. Segundo o liberalismo, a vida econômica deve afastar-se da influência estatal, uma vez que o trabalho segue os princípios econômicos e a mão de obra está sujeita às mesmas leis da economia que regem o mercado de matérias-primas ou o comércio internacional. Os operários, contudo, estão à mercê dos patrões, porque estes são os donos dos meios de produção. A livre concorrência é o postulado principal do liberalismo econômico (CHIAVENATO, 1993).

Estas ideias, que constituem resumidamente o pensamento dos economistas liberais da época, irão perdurar pelos próximos 200 anos, compondo as teorias econômicas de outros pensadores liberais pós-smithianos, como James Mill, David Ricardo e John Stuart Mill.

Cabe esclarecer que o desenvolvimento industrial era visto também como atrelado ao desenvolvimento da agricultura, como nos escritos de David Ricardo, que pensava a economia constituída por dois setores: o manufatureiro e o agrícola. O primeiro estaria sujeito ao desenvolvimento tecnológico e o segundo apresentaria uma tecnologia quase estacionária. Para simplificar a argumentação, admitiremos uma tecnologia completamente estacionária para a agricultura. Ora, dado um país que, embora em franca industrialização, ainda fosse basicamente agrícola, como a Inglaterra à época de Ricardo, é fácil entender porque este concebia a economia em seu conjunto como sujeito aos rendimentos marginais decrescentes. Isto seria simplesmente uma decorrência da grande importância relativa da agricultura. Mesmo que houvesse uma tendência para um aumento na produtividade no setor manufatureiro decorrente do desenvolvimento tecnológico, este ganho de produtividade desapareceria em face das fortes tendências aos rendimentos marginais decrescentes na agricultura – o setor básico da economia (ALBUQUERQUE, 1987).

NOTA

Os rendimentos marginais decrescentes na agricultura apresentados por David Ricardo relacionavam-se ao entendimento de que, à medida que a população crescesse, a produção agrícola deveria aumentar para alimentar esse número maior de indivíduos. Para isto seria necessária a utilização de uma quantidade maior de terras. Ricardo acreditava que a tendência era de que, a princípio, seriam utilizadas as terras mais produtivas, e à medida que se fizesse necessário, as terras de produtividade decrescente. Isto implicava que, à medida que a população aumentasse, a produção agrícola cresceria com um aumento na extensão das áreas sob cultivo, porém esses aumentos adicionais à produção seriam cada vez menores.

Podemos afirmar que o liberalismo econômico corresponde ao período de máximo desenvolvimento da economia capitalista, que era baseada no individualismo e se regia pelo jogo das leis naturais do mercado, pregando a

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UNIDADE 1 | UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO

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livre concorrência. Claro que esta livre concorrência acaba dando início a alguns dos conflitos sociais que perduram até os dias de hoje, principalmente devido à acumulação crescente de capital por algumas corporações.

Com base no estudo destes conflitos e ainda se valendo da teorização de Adam Smith e David Ricardo, Karl Marx e Friedrich Engels publicam o Manifesto Comunista, onde analisam diversos sistemas econômicos e sociais, principalmente o capitalista, e lançam as ideias da luta de classes posicionando o Estado como um órgão sempre a serviço da classe dominante.

As condições mudam drasticamente ao final da Segunda Guerra Mundial. Por um lado, pela primeira vez, a teoria se desenvolve no sentido de abrir espaços para a intervenção do governo na economia, com a teoria keynesiana. Por outro, desenvolvimentos políticos seguindo uma lógica própria levaram a uma ampliação do peso do Estado no produto nacional (CARVALHO, 1999).

John Maynard Keynes (1883-1946) apontava para a necessidade de se criar uma política econômica por parte do Estado para corrigir falhas do mercado e realizar seu acompanhamento constante. Da mesma forma, quando necessário, poderiam ser feitas intervenções e regulações em busca do equilíbrio de mercado.

Hoje podemos dizer que estamos vivendo no mundo, mais especificamente no Brasil, um retorno às ideias liberais, encontradas no neoliberalismo, onde a concepção neoliberal de sociedade e de Estado se inscreve na – e retoma à – tradição do liberalismo clássico, dos séculos XVIII e XIX. Enquanto a obra A riqueza das nações: Investigação sobre sua natureza e suas causas, de Adam Smith (publicada em 1776), é identificada como o marco fundamental do liberalismo econômico, O caminho da servidão, de Friedrich Hayek (publicado em 1944), é identificado como o marco do neoliberalismo.

As teorias políticas liberais concebem as funções do Estado essencialmente voltadas para a garantia dos direitos individuais, sem interferência nas esferas da vida pública e, especificamente, na esfera econômica da sociedade. Entre os direitos individuais, destacam-se a “propriedade privada como direito natural” (Locke, 1632-1704), assim como o direito à vida, à liberdade e aos bens necessários para conservar ambas. Na medida em que o Estado, no capitalismo, não institui, não concede a propriedade privada, não tem poder para interferir nela. Tem sim a função de arbitrar – e não de regular – conflitos que possam surgir na sociedade civil, onde proprietários e trabalhadores estabelecem relações de classe, realizam contratos, disputam interesses etc. (HÖFLING, 2001).

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Sociedade e Economia do Agronegócio no Brasil

Beatriz HerediaMoacir Palmeira

Sérgio Pereira LeiteIntrodução

A associação entre “modernidade” e “agricultura” no Brasil tem uma longa história. Desde, pelo menos, a segunda metade do século XIX, que pensadores e homens de ação opõem propostas de uma “agricultura” ou mesmo de uma “indústria rural” moderna ao que seria uma agricultura “tradicional” ou “práticas tradicionais” das empresas agrícolas. Assim foi com a introdução dos engenhos a vapor e com as usinas de açúcar no Nordeste canavieiro; ou com o uso sistemático de máquinas no arroz e no trigo no sul do país nos anos 50 do século XX. Mas foi, sobretudo, a partir dos anos 70 do século que findou - com a política de “modernização da agricultura” promovida pelo regime militar - que se começou a falar mais explicitamente da existência de uma “agricultura moderna” ou de uma “agricultura capitalista” no Brasil, de “empresas rurais” (figura contraposta no Estatuto da Terra ao “latifúndio”) e de “empresários rurais”.

Com a importância assumida pelas exportações de produtos agropecuários e agroindustriais e com o envolvimento nesses empreendimentos de capitais das mais diferentes origens, e não só do chamado “capital agrário” (PALMEIRA; LEITE, 1998), a própria resistência dos grandes proprietários de terras às tentativas de mudança do sistema fundiário deslocou-se da defesa da “propriedade” e das “tradições” para a defesa do que seria a “atividade empresarial” no campo e “as (grandes) propriedades produtivas”, “responsáveis pelo desenvolvimento do país”.

Nos anos 1980 e início dos 1990, autores com diferentes formações profissionais e com referenciais teóricos e ideológicos os mais variados começam a substituir a expressão “agricultura (ou agropecuária) moderna” por “agroindústria” e a figura dos CAI (complexos agroindustriais) passa a ser moeda corrente (GRAZIANO DA SILVA, 1991; KAGEYAMA et al., 1990; MULLER, 1981, 1983 e 1991, entre outros). A preocupação era assinalar a integração agricultura-indústria pelas “duas pontas”: insumos e produtos, expressão que teria assumido a “industrialização da agricultura” (GRAZIANO DA SILVA, 1995) formulada por Kautsky ([1899] 1986) no final do século XIX. A ideia do agronegócio vai ser uma espécie de radicalização dessa visão, em que o lado “agrícola” perde importância e o lado “industrial” é abordado tendo como referência não a unidade industrial local, mas o conjunto de atividades do grupo que a controla e suas formas de gerenciamento. O boom das exportações de produtos agrícolas e agroindustriais nos anos mais recentes levou à adoção da expressão agronegócio ou da sua matriz agribusiness por associações de produtores e até pelos próprios empresários.

LEITURA COMPLEMENTAR

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Da perspectiva da análise dos economistas rurais é interessante notar, adicionalmente, que a resistência do mainstream ao uso de uma abordagem “intersetorial” agricultura-indústria até meados dos anos 1980 (por considerarem que tal perspectiva feria a propriedade do setor agrícola em atestar os atributos de concorrência pura ou perfeita na análise das funções econômicas e produtivas) é completamente revertida no início dos 1990, quando verifica-se uma adesão, política é certo, aos novos termos (agribusiness primeiramente e, na sequência, o agronegócio) e sua capacidade “explicativa”, em termos da análise econômica, do novo estatuto do setor agropecuário, agora funcionando de forma “integrada”.

Da “agricultura moderna” à “sociedade do agronegócio”

As fronteiras entre “agricultura moderna”, “complexos agroindustriais” e “agronegócio” não são exatamente coincidentes. Mesmo que esses rótulos apontem alguns elementos recorrentes e, com frequência, sejam utilizados como sinônimos, as combinações feitas e as ênfases atribuídas são distintas.

O uso de “máquinas e insumos modernos” está presente nas três expressões, mas o direcionamento para exportação não tem nas duas primeiras o mesmo peso que na última. A integração agricultura-indústria não era o maior destaque que se dava à “agricultura moderna” tal como formulada nos anos 1970 (MENDONÇA, 2005). O gerenciamento de um negócio que envolve muito mais que uma planta industrial ou um conjunto de unidades agrícolas é uma das tônicas da ideia de “agronegócio”. Mesmo que a grande propriedade territorial esteja associada às três formas, na segunda ela é vinculada às práticas de “integração” que envolvem também pequenos produtores; e na terceira, mesmo que as grandes propriedades sejam uma marca das atividades rurais do “agronegócio”, a referência à propriedade territorial desaparece das formulações de seus técnicos e há até quem tente, no plano ideal dos projetos, associá-la com perspectivas favoráveis aos pequenos produtores.

FONTE: Disponível em: <www.anpocs.com/index.php/encontros/papers/33...da-anpocs/gt...sociedade/file>. Acesso em: 5 maio 2017.

DICAS

Querido acadêmico, queira se aprofundar com a leitura do artigo completo, acesse os anais do evento: 33° Encontro Anual da ANPOCS Caxambu, 26 a 30 de outubro de 2009.

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Neste tópico, você aprendeu que:

• Alguns conceitos da economia são importantes para que possamos compreender o mercado que envolve agronegócio e suas particularidades.

• A escassez, traduzida na impossibilidade de recursos para satisfazer as necessidades humanas e organizacionais, o que leva à realização de escolhas por parte das pessoas e das empresas.

• A teoria da oferta: mantém uma relação inversa entre o preço e a quantidade vendida.

• A teoria da demanda: relaciona diretamente o desejo de compra do consumidor com o preço do bem.

• O equilíbrio de mercado, perseguido através do equilíbrio entre a oferta e a procura.

• A existência de inúmeros mercados: consumidor, fornecedor, concorrentes, de trabalho e financeiro.

• O mercado financeiro e suas divisões, focando no mercado de capitais e, dentro deste, nas operações de mercados futuros e no mercado de opções, amplamente utilizadas para comercialização dos ativos agrícolas (comoditties).

• No mercado de futuros os participantes se comprometem a comprar ou vender certa quantidade de um ativo por um preço estipulado para a liquidação em data futura.

• Vimos ainda que o mercado de opções se caracteriza pelos instrumentos financeiros que permitem a transferência do risco de oscilação dos preços entre os participantes do mercado, e que é um valor pago para ter a opção (possibilidade) de comprar ou vender o bem em uma data futura por um preço previamente acordado.

• A influência das teorias econômicas para o equilíbrio e condução dos mercados, mais particularmente nas ideias liberais onde o mercado deve regular-se sem a intervenção do fator econômico.

RESUMO DO TÓPICO 1

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Caro acadêmico! Para fixar melhor o conteúdo estudado, vamos exercitar um pouco. Leia as questões a seguir e responda-as em seu livro de estudos. Bom trabalho!

1 O mercado de derivativos possui algumas modalidades, entre elas encontramos os Mercados Futuros e o Mercado de Opções. Analise as afirmativas sobre estes e responda:

I – Ambos, os mercados futuros e o mercado de opções, fazem parte do mercado financeiro.II – Os mercados futuros caracterizam-se pela existência do comprometimento da compra do ativo na data futura estipulada.III – O mercado de opções possibilita a disponibilidade do investidor em optar pela compra ou não do ativo negociado, na data futura estipulada.IV – O prêmio é o valor pago pelo lançador para adquirir o direito de comprar ou vender o ativo pelo preço de exercício em data futura.V – O preço de exercício é o preço que o titular paga (ou recebe) pelo bem em caso de exercício da opção.

É correto o que afirma em:

a) ( ) As assertivas I e III, apenas. b) ( ) As assertivas I, II, III e V, apenas. c) ( ) As assertivas I, II e III, apenas. d) ( ) As assertivas I e V, apenas.e) ( ) A assertiva I, apenas.

2 A escassez é sempre destacada como um problema essencial a ser estudado na economia. Desenvolva uma análise sobre como a escassez pode ser percebida na nossa vida pessoal e dentro de uma empresa que atua no agronegócio.

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 2

AS NOVAS ORGANIZAÇÕES

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

O início do século XX marca a história do desenvolvimento industrial no mundo de forma muito clara, uma vez que, fomentado pela Revolução Industrial, começam-se os estudos em busca de uma administração científica que fosse capaz de conduzir as empresas existentes rumo ao sucesso no mundo capitalista emergente.

A Revolução Industrial propiciou que houvesse um crescimento acelerado e desorganizado das empresas, exigindo mais complexidade na sua administração, o que era feito ainda de forma empírica. Além disso, sabemos que o aumento do tamanho das empresas também desafia a busca de novas formas de gerenciamento, necessitando planejar para reduzir instabilidades e improvisações.

Da mesma forma, surge aí a necessidade de aumentar a competitividade e a eficiência das organizações, pois, como vimos, a concorrência, que era a lógica da economia liberal, ainda ressoa nessa época e, inclusive, em nossos dias atuais.

É neste cenário que irão surgir estudos nos Estados Unidos propostos pela Escola da Administração Científica. Escola esta formada por Frederick Winslow Taylor, Henry Lawrence Gantt, Frank Bunker Gilbreth, Harrington Emerson e, por associação, pela aplicação de seus princípios em seus negócios, Henry Ford. A preocupação básica dessa escola era o aumento da produtividade das empresas por meio do aumento da eficiência do setor operacional, dos operários em si. Enfatizando as tarefas, em seus estudos acabam por desenvolver a chamada Organização Racional do Trabalho (ORT).

Paralelamente a este movimento ocorrido nos Estados Unidos, surge na França outra corrente de pensamento e estudos, que se denominava de Anatomistas e Fisiologistas das organizações, pois mesmo tendo a mesma preocupação com o aumento da produtividade, procuravam enxergar a empresa por meio da disposição dos seus órgãos internos (departamentos) e suas relações. Entre os autores dessa escola se incluem Henri Fayol, James D. Mooney, Lyndall F. Urwick, Luther Gulick, entre outros.

Já no Japão, mudanças significativas nas áreas da indústria somente irão surgir posteriormente, na década de 30, como reação ao Fordismo, associadas ao surgimento da Toyota.

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UNIDADE 1 | UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO

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Desses movimentos todos que citamos, irão surgir novas organizações, dentre as quais iremos nos aprofundar no estudo de duas delas: o Fordismo e o Toyotismo.

2 O FORDISMO

Henry Ford sempre é lembrado como um visionário da administração por suas ideias de vanguarda e inovações na área industrial. O engenheiro americano Henry Ford (1863-1947) era filho de fazendeiros irlandeses e iniciou sua vida como mecânico, chegando posteriormente a engenheiro-chefe de uma fábrica. Ford funda em 1899, com alguns colaboradores, sua primeira fábrica de automóveis, que logo após é fechada. Porém, continua seus projetos e, após conseguir financiamento, funda a Ford Motor Co.

Ford utiliza-se das ideias de Taylor com a ênfase nas tarefas, no operacional, e nas ideias de Fayol, ao olhar para a estrutura da sua empresa, aliado ao uso das tecnologias advindas com a segunda fase da Revolução Industrial, para criar um verdadeiro império. Seu projeto pioneiro e muito conhecido foi o Ford Modelo T, onde inaugura um processo de produção que dá início à linha de montagem e destacando-se pelo aproveitamento minucioso e calculado de matéria-prima na sua construção (daí o modelo em T para o aproveitamento otimizado das chapas de aço). Daí podemos afirmar que o Fordismo é o taylorismo aperfeiçoado e ampliado.

Vamos conhecer algumas das características do Fordismo:

QUADRO 2 - CARACTERÍSTICAS DO FORDISMO

Realização de uma única tarefa pelo trabalhadorPagamento pro rata (baseado em critérios da definição do empregoAlto grau de especialização das tarefasPouco ou nenhum treinamento no trabalho (disciplinamento da força de trabalho)Nenhuma ou pouca preocupação com a segurança no trabalhoAutocraciaLayout compartimentado (ambiente de trabalho fechado)

FONTE: Tachizawa e Saico (1997, p. 44)

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TÓPICO 2 | AS NOVAS ORGANIZAÇÕES

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FIGURA 3 - TRABALHADORES DA FORD MONTANDO O FORD MODELO T

FONTE: Disponível em: <http://noticias.r7.com/carros/ha-um-seculo-fabrica-da-ford-mudou-a-sociedade-13102013>. Acesso em: 5 maio 2017.

Em 1913, já fabricava 800 carros por dia. Em 1914, reparte com seus funcionários o controle acionário. Estabeleceu nessa época o salário-mínimo de cinco dólares por dia e a jornada diária de oito horas de trabalho, quando na época, na maioria dos países da Europa, a jornada variava entre dez e doze horas. Em 1926, já tinha 88 usinas e já empregava 150 mil pessoas, fabricando então 2.000.000 de carros por ano (CHIAVENATO, 1993). Com o incentivo monetário oferecido aos trabalhadores, pagando um salário acima da média da época, Ford atraiu uma quantidade enorme de operários.

FIGURA 4 - LINHA DE MONTAGEM

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwjKyOvq3OLTAhVFlpAKHY67BfwQjRwIBw&url=http%3A%2F%2Fhistorialuiz.blogspot.com%2F2015%2F11%2Fa-revolucao-industrialhtml&psig=AFQjCNE9a58dSrcH1q_rSPTQ2YSGAMPXZw&ust=1494416340737559>. Acesso em: 9 maio 2017.

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UNIDADE 1 | UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO

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Esse aumento dos salários favoreceu não apenas o padrão de vida dos funcionários da Ford, mas também impulsionou de maneira significativa o progresso dos Estados Unidos nas áreas social e econômica.

Além de ter sido pioneiro na fabricação de um automóvel popular em larga escala, Ford destaca-se por ter se concentrado em abarcar toda a cadeia produtiva, produzindo desde a matéria-prima inicial ao produto final acabado, além da distribuição comercial por meio de suas próprias agências.

Podemos dizer que o período de nascimento e consolidação do que chamamos Fordismo se confunde com o próprio estilo de vida, enfatizando o consumo que vinha se desenvolvendo durante todo o século XX no mundo ocidental.

As ideias de Ford ressoam até hoje em nossos tempos, sendo observadas em quase todos os produtos e serviços do nosso cotidiano. Alguns autores chegam a afirmar que a própria sociedade moderna e capitalista que conhecemos é fruto da universalização do pensamento e da prática de Ford.

Vamos conhecer algumas das ideias de Ford, que o elevam à condição de visionário e pensador de vanguarda na área empresarial:

Quem trabalha seriamente não necessita de título honorífico. Sua obra o honra.Não nos interessa conhecer o que tinha sido o indivíduo. (...) é preciso que comece de baixo e dê provas da sua capacidade. Cada homem é forjador do seu próprio futuro.Ausência de timidez quanto ao futuro e de veneração quanto ao passado. Quem teme o futuro, quem receia falhar, limita sua atividade. O insucesso é uma oportunidade para recomeçar de novo mais inteligentemente. Não há mal em insucesso honesto; o mal reside no medo de falhar. O que passou serve apenas como sugestão de novas sendas e novos meios de ir avante.Despreocupar-se com a competição. Quem pode fazer melhor uma coisa, esse deve ser o único a fazê-la. É criminoso tentar arrancar um negócio das mãos de outrem – criminoso porque é, com fito de lucro, rebaixar a condição de um semelhante e querer dominar pela força, não pela inteligência.Antepor o fito do serviço social ao lucro. Sem lucro, impossível a indústria. O lucro é justo. Empresas bem conduzidas não podem deixar de dar lucros, mas esses lucros devem vir como recompensas ao bom serviço social. Não podem ser o ponto de partida, devem ser o resultado do serviço.Manufaturar não é produzir barato e vender caro. É comprar matéria-prima em boas condições e, com o menor acréscimo de despesas possível, transformá-la em artigos de consumo, fazendo-os chegar ao consumidor. Jogo, especulações, espertezas não podem senão entravar a marcha das operações.

FONTE: Ford (1960 apud GOUNET, 1992)

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TÓPICO 2 | AS NOVAS ORGANIZAÇÕES

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Segundo Thomas Gounet (1992), o processo de produção e trabalho fordista apoiou-se em cinco pontos:

1. Produção em massa com extrema racionalização do trabalho operário, sem desperdício do tempo. Prevalecia o princípio dos ganhos de escala, isto é, quanto maior o número de operações, melhor o resultado para a empresa.

2. Parcelamento das tarefas. Em vez de montar um veículo inteiro, cada trabalhador cuidava de uma parte da montagem. Essa segmentação levava à economia de tempo e reduzia as operações físicas e mentais.

3. Ritmo e habilidades do trabalho controlado por um sistema encadeado e sequencial de tarefas parciais e repetitivas.

4. Padronização de peças, processos e produtos e integração vertical, com controle de todas as etapas diretas e indiretas do processo de produção.

5. Possibilidade de automação do trabalho.

Dessa maneira, por meio de uma redução radical no custo do processo produtivo e dos automóveis, e significativa diminuição do tempo de produção com a linha de montagem, propiciando ainda um aumento maior de salários aos operários, a indústria automobilística fordista segue no topo das vendas para o mundo todo nas décadas de 20 e 30, inclusive para o Japão.

Somente na década de 30 é que a indústria fordista experimenta mostras de seu esgotamento, com a retração do mercado, o início do movimento sindical, ao qual Ford era oposto, e as primeiras greves de operários. Também a concorrência interna com a General Motors e seus variados modelos de automóveis ao contrapor o Modelo T e a Chrysler.

No Japão, da mesma forma que nos Estados Unidos, algumas indústrias nacionais tentam aplicar o Fordismo em suas organizações, como a Datsun, atual Nissan. Porém, com a instalação das três maiores empresas americanas do ramo, Ford, General Motors e Chrysler no Japão, na década de 1920, a indústria japonesa se mantém estagnada e seu mercado interno é invadido pelos mais diversos modelos de automóveis norte-americanos. Como medida protecionista ao mercado, o governo fascista de Tóquio edita, em 1936, a lei da indústria automobilística japonesa, que, entre outras coisas, proíbe a produção de automóveis de indústrias de fora em seu território. Assim, em 1939 as três empresas se retiram do país.

No Brasil, Monteiro Lobato encarrega-se da tradução das duas primeiras obras de Ford, “Minha Vida e Minha Obra” e “Hoje e amanhã”. Entusiasta das ideias de Henry Ford, comenta no prefácio da obra “Hoje e amanhã” que Ford foi um gênio porque “enriqueceu enriquecendo a humanidade, enriquecendo e tornando feliz o operário, enriquecendo e facilitando a vida do consumidor”, e defendeu a aplicação do Fordismo no Brasil.

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2.1 UMA VISÃO CULTURAL SOBRE O FORDISMO

Não podemos perceber o Fordismo somente como um movimento industrial que modifica as relações de trabalho e cria novos layouts e maneiras de produzir e gerenciar as organizações empresariais. Pesquisadores deste período e dos seus possíveis desdobramentos na cultura norte-americana e, por extensão, de seus conceitos quase que na totalidade do nosso mundo, afirmam que os efeitos vão muito além destes analisados em nível empresarial.

O antropólogo David Harvey, em sua obra “Condição Pós-Moderna” (1992), mapeia vários eventos ocorridos na Modernidade que refletem no que denomina como Pós-Modernidade, dedicando um de seus capítulos a uma interessante análise sobre o Fordismo.

Em muitos aspectos, as inovações tecnológicas e organizacionais de Ford eram mera extensão de tendências bem estabelecidas. A forma cooperativa de organização de negócios, por exemplo, tinha sido aperfeiçoada pelas estradas de ferro ao longo do século XIX e já tinha chegado, em particular depois da onda de fusões e de formações de trustes e de cartéis no final do século, a muitos setores industriais (um terço dos ativos manufatureiros americanos passou por fusões somente entre os anos de 1888 e 1902). Ford também fez pouco mais do que racionalizar velhas tecnologias e uma detalhada visão do trabalho preexistente, embora, ao fazer o trabalho chegar ao trabalhador numa posição fixa, ele tenha conseguido dramáticos ganhos de produtividade. Os Princípios da Administração Científica, de F. W. Taylor – um influente tratado que descrevia como a produtividade do trabalhador podia ser radicalmente aumentada através da decomposição de cada processo de trabalho em movimentos componentes e da organização de tarefas de trabalho fragmentadas segundo padrões rigorosos de tempo e estudo do movimento – tinham sido publicados, afinal, em 1911. E o pensamento de Taylor tinha uma longa ancestralidade, remontando, através dos experimentos de Gilbreth, na década de 1890, às obras dos escritores da metade do século XIX, como Ure e Babbage, que Marx considerara reveladoras. A separação entre gerência, concepção, controle e execução (e tudo o que isso significava em termos de relações sociais hierárquicas e de desabilitação dentro do processo de trabalho) também já estava bem avançada em muitas indústrias. O que havia de especial em Ford (e que, em última análise, distingue o Fordismo do Taylorismo) era a sua visão, seu reconhecimento explícito de que produção de massa significava consumo de massa, um novo sistema de reprodução da força de trabalho, uma nova política de controle e gerência do trabalho, uma nova estética e uma nova psicologia, em suma, um novo tipo de sociedade democrática, racionalizada, modernista e populista (HARVEY, 1992).

Desta constatação podemos dizer que o Fordismo cria um novo tipo de trabalhador e um novo tipo de homem na esteira de suas transformações no mundo industrial. Segundo Gramsci (1985 apud HARVEY, 1992, p. 124), os novos métodos de trabalho utilizados por Ford “são inseparáveis de um modo específico de viver e de pensar e sentir a vida”.

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Ford, como já dissemos, era um visionário e acreditava que um novo tipo de sociedade poderia ser construído simplesmente com a aplicação adequada ao poder corporativo. Ao propor a jornada de trabalho de oito horas e o salário de cinco dólares a hora, pensava muito além da disciplina e da produtividade da linha de montagem. Queria proporcionar aos operários renda e tempo de lazer suficientes para que consumissem os produtos produzidos em massa que as corporações fabricavam em quantidades cada vez maiores.

3 O TOYOTISMO

A história do Sistema Toyota de Produção remonta à Toyoda Spinning and Weaving Company, fundada por Sakichi Toyoda, em 1918. Posteriormente, esta empresa veio a chamar-se Toyota Automatic Loom Works. Em 1936 a empresa entra para o ramo automobilístico com o lançamento do Modelo AA, sendo que em 1937 constitui-se a Toyota Motor Company.

Após a derrota na Segunda Guerra, retorna a intervenção norte-americana no conjunto do aparelho econômico, político e militar, o Japão se vê imerso em discussões na busca por uma indústria automobilística autônoma que fosse capaz de concorrer em competitividade com os Estados Unidos. Acontece que o mercado japonês na época possuía inúmeras restrições, entre elas:

RESTRIÇÕES NO MERCADO JAPONÊS PRÉ-TOYOTA• É demasiadamente restrito. O nível de vida dos japoneses não é o mesmo dos norte-americanos. A possibilidade de consumo de massa é limitadíssima nessa época. Desde o início os fabricantes devem produzir com custos equivalentes aos da produção em massa.• A demanda não é apenas débil. Ela dirige-se preferencialmente para veículos menores, que correspondem melhor ao bolso dos japoneses e à configuração acidentada e pouco espaçosa do país.• A demanda é também mais diversificada. O que obriga a produzir mais modelos, cada um deles em pequena quantidade. Um desafio a mais.• Acrescente-se a falta de espaço, o que eleva muito os custos imobiliários. Afinal, o Fordismo exigia espaço para os estoques da produção em massa.

FONTE: Adaptado de Gounet (1992)

No cenário descrito no quadro acima, já na década de 1950, os japoneses Kiichiro Toyoda, filho de Sakichi, engenheiro e empreendedor, e Taiichi Ohno, engenheiro especialista em produção, visitaram por três meses as instalações da Ford em Detroit. Depois dessas análises na indústria fordista, eles concluem que a produção em massa não seria aplicável ao Japão, podendo favorecer o fracasso caso utilizada.

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É assim que surge o ohnismo, que propõe uma reformulação do sistema fordista de produção em massa a ser aplicado na indústria japonesa, tendo início na empresa Toyota. São estes os princípios do ohnismo, resumidos:

OHNISMO1. Reduzir o custo por meio da eliminação dos desperdícios técnicos e sociais, com especial atenção ao uso inadequado da força de trabalho na produção.2. Produzir com o menor número possível de trabalhadores pelo trabalho cooperativo ou em grupo.3. Racionalizar o trabalho com estudos de tempo e métodos no processo de produção.4. Produzir sem defeitos e nos prazos corretos.5. Criar o trabalhador polivalente, para estar pronto para desempenhar qualquer função no grupo de trabalho.6. Flexibilizar a alocação dos trabalhadores nos grupos de trabalho.

FONTE: Adaptado de Hirata (1996, p. 11-14)

Analisando os princípios acima, podemos perceber que também o Toyotismo acaba influenciando o mundo empresarial, com suas ideias aliadas à industrialização automobilística que ressoam até os dias atuais.

Acreditava-se, na Toyota, que a ênfase ao trabalho do grupo desenvolvia o espírito de colaboração e o estimulava psicologicamente para a motivação.

Assim, o trabalhador desenvolve maior responsabilidade no processo de trabalho, facilitando bastante a atuação da gerência, voltada sempre para o aperfeiçoamento contínuo dos processos. Por outro lado, a empresa oferece padrões salariais bem elevados e garantias no emprego. O modelo japonês, manifesto principalmente nas grandes empresas, teve a capacidade de articular em um processo único os traços dos demais paradigmas – técnico, humanista, organizacional, sistêmico, participativo e da qualidade – em torno da estratégia global da empresa (NOGUEIRA, 2007). O Toyotismo tem por características:

Múltiplas tarefas.Pagamento pessoal em função e resultado por equipe.Eliminação da delimitação de tarefas.Longo treinamento no trabalho “educação continuada” do trabalhador.Grande estabilidade no emprego para trabalhadores centrais (emprego vitalício).Liderança participativa.Layout flexível e aberto (ambiente de trabalho panorâmico) (TACHIZAWA; SAICO, 1997, p. 44).

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3.1 A ELIMINAÇÃO DO DESPERDÍCIO

Uma parte importante da filosofia do Sistema Toyota de Produção baseia-se na busca pela redução de custos através da Muda, que significa a eliminação de operações de desperdício. Ohno dividiu este desperdício em sete categorias:

1. Superprodução2. Transporte3. Existência de estoque desnecessário4. Produção de mercadorias defeituosas5. Espera (tempo ocioso/não produtivo)6. Processamento7. Movimento desnecessário

Acreditavam que o segredo para a eliminação do desperdício era localizar onde ele ocorria e assegurar que fosse reconhecido por todos da fábrica como tal para que fosse evitado.

3.2 O JUST-IN-TIME

Conhecido por JIT, o Just-in-time foi criado por Kiichiro Toyoda e implementado por Ohno, e significa fornecer a cada processo o que necessita, na hora em que necessita e na quantidade específica necessária.

As ideias de Ohno sobre a implementação do Just-in-time também surgiram de sua experiência no supermercado. Os clientes vão ao supermercado para comprar o que precisam, na quantidade e no momento em que precisam. Quando chegou à Toyota, verificou que, como acontecia na maioria dos sistemas de produção e montagem da época, as linhas que produziam um artigo em geral empurravam sua produção para a etapa seguinte, quer essa próxima etapa a necessitasse ou não. Ohno propôs fazer uma inversão, de modo que o processo que necessita das peças vai buscar o que é necessário, quando necessário e na quantidade necessária (GOLEMAN, 2007).

Dessa forma, a produção de um processo qualquer poderia ser reposta quando fosse transportada e consumida pelo processo seguinte. O estoque passa a ser de responsabilidade do produtor e não do consumidor. Dessa maneira, os supervisores e os operários podiam perceber claramente se estavam trabalhando muito rápido ou muito devagar e agir para eliminar os desperdícios.

Para garantir e organizar a movimentação de materiais durante o JIT, eram utilizados os kanbans, uma forma de comunicação simples e direta, colocada nos pontos onde fosse necessária. Estes podiam ser de várias formas, no início geralmente eram feitos num pedaço de papel onde estava registrado que número de determinada peça pegar e que peças seriam fabricadas.

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3.2.1 Ninben no tsuita jidoka

Também conhecido como “autonomação”, oninben no tsuita jidoka traz a ideia de automação com um toque humano. Resulta da invenção anterior de Sakichi Toyoda, do tear autoativado, que tinha como característica parar automaticamente quando ocorria um problema, prevenindo desta forma a produção de produtos defeituosos. Na Toyota o mesmo sistema foi adotado de modo que todas as máquinas eram equipadas com vários dispositivos de segurança e sistemas à prova de erros para eliminar os defeitos nos produtos.

O conceito é estendido também, além das máquinas, a toda a linha de produção e aos trabalhadores, e permitia que os trabalhadores parassem a linha de produção se constatassem um problema. Isso possibilitava que os problemas fossem analisados e totalmente examinados por meio da técnica dos “cinco por quês” de Ohno, que consistia em fazer a pergunta “por quê” cinco vezes para chegar ao âmago do problema e, dessa forma, garantir que todos entendessem a razão do surgimento do mesmo. Em longo prazo, essa técnica viria a criar uma linha de produção mais eficaz.

O Jidoka, que significa sempre agregar maior qualidade ao processo, deriva deste elemento, uma vez que Ohno acreditava que a qualidade devia ser decorrente do processo de produção e não da inspeção.

LEITURA COMPLEMENTAR

Decodificando o DNA do Sistema Toyota de Produção

Steven Spear e H. Kent BowenHarvard

Há muito tempo que o Sistema Toyota de Produção vem sendo aclamado como a origem do espetacular desempenho da Toyota como fabricante. As práticas diferenciadas do sistema – seus kanbans e círculos da qualidade, por exemplo – foram amplamente introduzidas em toda parte.

De fato, depois de seus esforços internos para atingir esse nível de desempenho, as melhores empresas fabricantes do mundo introduziram iniciativas importantes para desenvolver sistemas de produção semelhantes ao da Toyota. As empresas que tentaram adotar o sistema atuam em campos tão diferentes, como aeroespaço, bens de consumo, metalurgia e produtos industriais.

O curioso é que poucos fabricantes têm conseguido imitar a Toyota com sucesso – embora a empresa seja extraordinariamente aberta sobre suas práticas. Centenas de milhares de executivos de milhares de empresas visitam as fábricas da Toyota no Japão e nos Estados Unidos. Frustrados pela sua incapacidade de reproduzir o desempenho da Toyota, muitos visitantes assumem que o segredo

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do sucesso da Toyota deve estar em suas raízes culturais. Mas isso não é verdade. Outras empresas japonesas, como a Nissan e a Honda, têm ficado muito aquém dos padrões da Toyota, e esta introduziu com sucesso seu sistema de produção em todo o mundo, inclusive na América do Norte, onde a empresa está fabricando este ano mais de um milhão de carros, minivans e caminhões leves.

Então, por que é tão difícil decodificar o Sistema Toyota de Produção? A resposta, acreditamos nós, é que os observadores confundem as ferramentas e práticas que veem em suas visitas com o sistema propriamente dito. Isso faz com que seja impossível para eles resolverem um paradoxo evidente do sistema – a saber, que as atividades, as conexões e os fluxos de produção em uma fábrica da Toyota são rigidamente roteirizados ao mesmo tempo em que suas operações são tremendamente flexíveis e adaptáveis. Suas atividades e seus processos são constantemente desafiados e pressionados a atingir um nível mais alto de desempenho, para garantir que a empresa continue a inovar e a melhorar.

Para compreender o sucesso da Toyota precisamos desvendar o paradoxo – e entender que a especificação rígida é a atividade fundamental que possibilita a flexibilidade e a criatividade. Foi essa a conclusão a que chegamos depois de um amplo estudo de quatro anos do Sistema Toyota de Produção, que se concentrou no funcionamento de mais de 40 fábricas nos Estados Unidos, na Europa e no Japão, algumas operando segundo o sistema, algumas não. Estudamos o processo de fabricantes discretos cuja faixa de produtos ia desde casas pré-fabricadas, autopeças e impressoras, até plásticos moldados por injeção e produtos extrudados de alumínio. Além do trabalho rotineiro de produção, estudamos também as funções de serviço, como manutenção de equipamentos, treinamento e supervisão de funcionários, logística e manuseio de materiais, e projeto e reprojeto de processos.

Descobrimos que, para os leigos, a chave é compreender que o Sistema Toyota de Produção cria uma comunidade de cientistas. Sempre que define uma especificação, a Toyota está criando conjuntos de hipóteses que podem ser testadas. Em outras palavras, ela segue o método científico. Para fazer qualquer mudança, a Toyota aplica um rigoroso processo de resolução de problemas que exige uma avaliação meticulosa do estado atual das coisas e um plano para melhoria que é, na verdade, um teste experimental da mudança proposta. Com qualquer coisa aquém desse rigor científico, a mudança na Toyota seria pouco mais do que um simples método de ensaio e erro – uma caminhada de olhos vendados pela vida.

O método científico está tão enraizado na Toyota que mesmo esse alto grau de especificação e estruturação não fomenta o ambiente de comando e de controle que se poderia esperar. Na verdade, quando observamos as pessoas executar suas tarefas e ajudar a projetar os processos de produção, aprendemos que o sistema realmente estimula os gerentes e seus colaboradores a se engajarem no tipo de experimentação que é amplamente reconhecido como o marco de uma organização que aprende. É isso que distingue a Toyota de todas as outras empresas que estudamos.

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O Sistema Toyota de Produção e o método científico que lhe dá fundamente não foram impostos à empresa – e sequer resultaram de uma escolha consciente. O sistema emergiu naturalmente do funcionamento da empresa durante um período de mais de cinco décadas. Em consequência, o sistema nunca foi passado para o papel e, muitas vezes, os funcionários da Toyota sequer conseguem explicá-lo de forma articulada. É por isso que as pessoas de fora acham tão difícil compreendê-lo. Neste artigo, procuramos explicar como funciona o sistema Toyota.

Tentamos explicitar o que está implícito. Descrevemos quatro princípios – quatro regras para projetos, que mostram como a Toyota estabelece todas as suas operações como experimentos, e uma regra para melhoria, que descreve como a Toyota ensina o método científico para os funcionários de todos os níveis da organização. São essas regras – e não as práticas e ferramentas específicas que as pessoas observam quando visitam as fábricas – que, em nossa opinião, formam a essência do Sistema Toyota. E é por esse motivo que consideramos essas regras como o DNA do Sistema Toyota de Produção. Vamos analisar essas regras mais detalhadamente (veja um resumo no box “As Quatro Regras”).

[...]

Regra nº 1: Todos os trabalhos devem ser minuciosamente especificados em termos de conteúdo, sequência, tempo e resultado.Regra nº 2: Todas as conexões cliente-fornecedor devem ser diretas, e deve existir um caminho inequívoco de “sim ou não” para enviar solicitações e receber respostas.Regra nº 3: Todos os fluxos dos produtos e serviços devem ser simples e diretos.Regra nº 4: Todas as melhorias precisam ser feitas em conformidade com o método científico, sob a orientação de um professor e no nível hierárquico mais baixo possível da organização.

FONTE: Disponível em: <http://www.webartigos.com/artigos/decodificando-o-dna-do-sistema-toyota-de-producao/112995/>. Acesso em: 5 maio 2017.

DICAS

Querido acadêmico, para realizar a leitura do artigo completo, acesse a Harvard Business Review, setembro/outubro 1999, no link: <http://www.webartigos.com/artigos/decodificando-o-dna-do-sistema-toyota-de-producao/112995/>. Acesso em: 5 maio 2017.

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• As novas organizações que surgem no mundo são fruto da expansão da era industrial e pós-industrial.

• A Revolução Industrial propiciou que houvesse um crescimento acelerado e desorganizado das empresas, exigindo mais complexidade na sua administração, o que era feito ainda de forma empírica. Exigiu-se que as organizações empresariais investissem no caráter científico de suas gerências e processos.

• Ford aprimora as ideias de Taylor e Fayol e inova ao utilizar tecnologias e criar a linha de montagem para a produção de seu Ford Modelo T, que aproveitava ao máximo as matérias-primas em sua fabricação.

• Ford institui a jornada de trabalho de oito horas e o salário de cinco dólares por hora, inovações para a época.

• Ford inova ao deter o controle de toda a cadeia de produção dos materiais necessários para construir os seus automóveis.

• A Toyota surge no Japão, na indústria automobilística, em 1936, com o lançamento do modelo AA e, após visitas à empresa Ford, decide ser inviável aplicar as ideias desta na sua fábrica no Japão, criando seu próprio sistema de produção.

• A Toyota acredita que a ênfase no trabalho do grupo desenvolve o espírito de colaboração e o estimula psicologicamente para a motivação.

• Entre as diversas criações do Sistema Toyota de Produção estão a eliminação de desperdícios, o Just-in-time e o Ninben no tsuita jidoka (automação com toque humano).

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Caro acadêmico! Para fixar melhor o conteúdo estudado, vamos exercitar um pouco. Leia as questões a seguir e responda-as em seu livro de estudos. Bom trabalho!

1 O Fordismo e o Toyotismo são muito estudados por terem inovado em suas indústrias automobilísticas. Sobre estes, analise as afirmativas e responda:

I – Henry Ford é considerado um visionário e cria na Ford a jornada de trabalho de oito horas e o salário de cinco dólares por dia de trabalho.II – Ford nunca se preocupou em abarcar toda a cadeia produtiva, concentrando-se somente na fábrica.III - A indústria automobilística fordista esteve no topo das vendas para o mundo todo nas décadas de 20 e 30, inclusive para o Japão. IV - Em 1936, a empresa Toyota Automatics Loom Works entra para o ramo automobilístico com o lançamento do Modelo AA, sendo que em 1937 constitui-se a Toyota Motor Company.V – O kanban é um dos elementos básicos do Sistema Toyota de Produção e significa acrescentar a qualidade ao processo.

É correto o que afirma em: a) ( ) As assertivas I e III, apenas. b) ( ) As assertivas I, III e IV, apenas.c) ( ) As assertivas I, II e III, apenas.d) ( ) As assertivas I e V, apenas.e) ( ) A assertiva I, apenas.

2 Elabore um quadro comparativo entre as principais características do Fordismo e do Toyotismo.

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 3

A ABERTURA DOS MERCADOS NO BRASIL

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

Neste tópico, iremos compreender como ocorre o processo de abertura de mercado do Brasil frente ao mundo, o que acaba tendo implicações nas mais variadas áreas sociais, econômicas e políticas, e incide, da mesma forma, também no setor agrícola.

Podemos considerar, inclusive, que as mudanças nas análises e na forma como este setor tem sido denominado são fruto deste período de transformações.

Porém, para que possamos entender com mais precisão estas reconfigurações que vieram com a abertura dos mercados, faz-se necessário conhecer um pouco sobre a história da agricultura no Brasil que antecede este período.

2 UM RESGATE DA HISTÓRIA DA AGRICULTURA AO AGRONEGÓCIO NO BRASIL

Ao olharmos para a história da agricultura no Brasil, percebemos que esta, enquanto atividade econômica especializada, intensiva e permanente, é uma prática relativamente recente. Afirmação um tanto estranha, uma vez que nosso país já foi pensado e tachado de “país essencialmente agrícola” antes do advento da sociedade urbana e industrial em nosso território.

Na verdade, a agricultura brasileira só começou a existir concretamente como um setor econômico diferenciado a partir da independência política do país e, principalmente, da formação em seu interior de uma economia de mercado. Suas origens podem remontar – como de fato remontam – aos primórdios do período colonial, mas o seu desenvolvimento endógeno e autossustentado só teve início depois da materialização de duas precondições que acabam de ser mencionadas. Enquanto o Brasil foi colônia de Portugal e apêndice do seu mercado interno, as atividades agrícolas aqui existentes nunca chegaram a constituir-se num setor econômico claramente definido. Suas práticas eram intermitentes e se confundiam com as do extrativismo; os seus agentes as exerciam em conjunto, ou alternadamente, com atividades de outra natureza (SZMRECSÁNYI, 1990).

Essa questão sobre a agricultura no Brasil colônia se deve ao fato dos colonizadores enxergarem no nosso país não um lugar para refazerem suas vidas

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UNIDADE 1 | UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO

nos mesmos moldes que tinham em Portugal, mas sim no interesse de fazer fortuna, o que implica em extrair da terra e dos trabalhadores que aqui existiam o máximo no menor tempo necessário.

Segundo Szmrecsányi (1990), o período colonial se caracterizou pela existência da grande propriedade fundiária, monocultura de exportação e a existência do trabalho escravo. Este sistema, formado pelos três componentes citados, acaba sendo a métrica de todas as atividades econômicas da sociedade colonial, das lavouras à mineração, passando pelas raras atividades urbanas e mercantis. Este modelo permanece praticamente inalterado durante todos os três primeiros séculos do povoamento do Brasil. A agricultura de caráter “extrativista” concentrou-se, num primeiro momento, no plantio da cana-de-açúcar e algodão, e posteriormente o café. Ainda no século XVIII, as técnicas de cultivo permaneciam tão primitivas quanto no início da colonização, sendo que novas terras eram incorporadas ao cultivo à medida que a fertilidade do solo se esgotava. E como a pecuária se desenvolvia em áreas distantes das lavouras, nada existia em termos de adubação dessas terras.

As práticas agrícolas mais complexas, como a irrigação, nunca chegavam a ser cogitadas. Inexistia a seleção de variedades cultivadas, e o beneficiamento dos produtos agrícolas era dos mais precários e primitivos. Em muitos engenhos de açúcar, a moagem da cana ainda era movida por animais, não obstante a grande disponibilidade de recursos hídricos. O descaroçamento do algodão continuava sendo manual, numa época em que já fora mecanizado nas colônias recém-libertas, mas ainda escravistas, da América do Norte (SZMRECSÁNYI, 1990).

As culturas de subsistência que existiam no período tratavam da produção de uma pequena variedade de produtos visando a alimentação, basicamente, como a mandioca, o milho e o arroz (que era também exportado). Tais culturas desenvolviam-se no lastro das lavouras de exportação, sendo, na maioria das vezes, cuidadas aos domingos pelos escravos que produziam para si e seus senhores. Existiam também alguns casos de atividades desta ordem praticadas por homens livres, pequenos produtores sem escravos e que, com a ajuda de familiares, trabalhavam e cultivavam a terra para seu próprio sustento e abastecimento dos pequenos mercados locais, o que era considerado como “atividades mesquinhas”.

Na década de 1820, o café ocupava no Brasil o terceiro lugar na pauta das exportações, atrás do açúcar e do algodão, representando 18% do seu valor total. Nas duas décadas seguintes ele passaria para o primeiro lugar, englobando 40%, ou mais, do valor das exportações brasileiras. Essa forte expansão deu início a um novo ciclo da economia primário-exportadora do país, o qual iria revestir-se de características inteiramente distintas das dos ciclos anteriores, todos ocorridos durante o período colonial. Isto se deu, de um lado, porque provocou o definitivo deslocamento do eixo da economia brasileira do Nordeste para o Sudeste; de outro, pelo fato de promover a vinculação do Brasil a novos parceiros comerciais e financeiros, em especial os Estados Unidos; e, finalmente, por ter criado as bases para a industrialização, um processo que acabaria levando a profundas mudanças (SZMRECSÁNYI, 1990).

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TÓPICO 3 | A ABERTURA DO MERCADO NO BRASIL

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Podemos dizer que a fazenda cafeeira propicia o surgimento de um novo tipo de empresário do setor agrícola, uma vez que, embora ainda mantivesse o trabalho escravo, não se diferenciando muito dos engenhos açucareiros, tinha um caráter de cultura permanente e não temporária de seu cultivo. Apresentava ainda menores necessidades de capital, o que o colocou ao alcance de um número maior de interessados em empreender.

Na segunda metade do século XIX temos o incremento do cultivo do cacau, que passa a ser plantado ao invés de simplesmente coletado na floresta amazônica.

As maiores mudanças, entretanto, só iriam ocorrer na segunda metade do século XIX, incluindo-se entre as mesmas a criação, em 1860, da Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, mais tarde transformada no Ministério com o mesmo nome. Na verdade, a atuação direta desse órgão foi sempre bastante modesta, limitando-se à distribuição de sementes e mudas, à importação de máquinas e equipamentos, à introdução de novas variedades de plantas e animais, bem como à divulgação de conhecimentos técnicos ao estímulo da implementação de novos procedimentos nas lavouras e no beneficiamento de produtos agrícolas. Isso era muito quando comparado ao nada que antes existia, valendo lembrar, por outro lado, que a sua capacidade de intervenção no setor agropecuário era limitada por uma crônica escassez de recursos financeiros, pela ideologia então dominante do laissez-faire, e por uma certa descrença – parcialmente justificada – na criatividade e no espírito empresarial de nossos fazendeiros escravocratas (SZMRECSÁNYI, 1990).

De 1930 a 1970 se estabelece e se consolida no Brasil um novo padrão de desenvolvimento econômico, baseado nos setores urbanos e industriais e procurando atender às demandas do mercado interno que se encontra em franca expansão. Resta lembrarmos que até a década de 1920 a economia brasileira era predominantemente rural, seguindo o modelo primário-exportador, onde o setor agropecuário era dominante.

A evolução tardia para uma economia urbanizada e industrializada faz com que os setores industriais e de serviços também assumam seu espaço econômico no país, embora o setor agropecuário ainda se mantivesse na geração de renda, empregos e de divisas.

Essa evolução, como se sabe, baseou-se numa industrialização voltada para a substituição de importações, e numa urbanização em boa parte ensejada e acelerada pela intensificação do êxodo rural. É claro que tanto a industrialização como a urbanização do Brasil não tiveram início na década de 1930, mas ambas, inegavelmente, se acentuaram a partir daí. Em ambos os casos, trata-se de processos inicialmente induzidos pela intensidade do crescimento das atividades agroexportadoras desde meados do século passado (SZMRECSÁNYI, 1990).

Com a nova reconfiguração, o setor agropecuário começa a mudar sua lógica. Enfim, “a "agricultura" de antes, ou setor primário, passa a depender de muitos serviços, máquinas e insumos que vêm de fora. Depende também do que

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UNIDADE 1 | UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO

ocorre depois da produção, como armazéns, infraestruturas diversas (estradas, portos e outras), agroindústrias, mercados atacadista e varejista, exportação” (ARAÚJO, 2007, p. 98).

Todas essas estruturas envolvidas e suas complexidades fazem com que já não se possa mais chamar a atividade somente de rural ou de agricultura, nem mesmo o setor somente como primário, uma vez que a proliferação de agroindústrias começa a acontecer. Podemos dizer que houve uma transição do conceito de agricultura para o conceito de agroindústria, onde poderia abranger outras atividades no processo de produção de inúmeros produtos de origem agrícola.

Podemos dizer que começa a existir uma integração entre a agropecuária e a indústria, onde percebemos a adaptação de processos produtivos da indústria de transformação para os processos do setor agropecuário. Transformações técnicas, incremento no uso de tecnologias, mecanização, troca de insumos, diversificação da produção, aumento da produtividade, entre outros, marcam este período de expansão da fronteira agrícola no país.

John Davis e Ray Goldberg, professores de Harvard, estudiosos dessa reconfiguração em torno da nova configuração dos negócios agrícolas, criam em 1957 o conceito de agribusiness, o definindo como: “[...] o conjunto de todas as operações e transações envolvidas desde a fabricação dos insumos agropecuários, das operações de produção nas unidades agropecuárias, até o processamento e distribuição e consumo dos produtos agropecuários 'in natura' ou industrializados” (apud RUFINO, 1999, p. 13).

A partir dos anos 80, percebemos que a agroindústria começa a seguir as lógicas do mercado, diminuindo ou reconfigurando algumas políticas de incentivo e subsídios do Estado, o que irá se consolidar com a abertura de mercados na década de 90, que estudaremos a seguir.

O termo agribusiness atravessou praticamente toda a década de 1980 sem tradução para o português e foi adotado de forma generalizada, inclusive por alguns jornais, que mais tarde trocaram o nome de cadernos agropecuários para agribusiness. Não eram raras as discussões sobre a utilização do termo em inglês ou a tradução literalmente para o português para agronegócios, ou ainda os termos complexo agroindustrial, cadeias agroeconômicas e sistema agroindustrial. Todos com a intenção de um mesmo significado. Somente a partir da segunda metade da década de 1990, o termo agronegócios começa a ser aceito e adotado nos livros-textos e nos jornais, culminando com a criação dos cursos superiores de Agronegócios, em nível de graduação universitária (ARAÚJO, 2007).

É importante perceber que com a agroindústria tivemos já muitas diferenças na forma como a empresa agrícola começa a ser percebida e gerenciada pelos seus empresários (não mais agricultores, somente). Com a abertura de mercados e o aumento ainda maior das exportações, bem como com a busca por competitividade em relação aos concorrentes externos que também circulam com maior facilidade

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TÓPICO 3 | A ABERTURA DO MERCADO NO BRASIL

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no Brasil, temos o surgimento do conceito de agribusiness, que traz para o negócio agrícola outras possibilidades de atuar neste mercado competitivo internacional. E daí que deriva, então, o termo agronegócios que utilizamos atualmente. Desta forma, vamos apresentar um esquema que retrata estas fases citadas:

FIGURA 5 - CONCEITOS EM DESLOCAMENTO

FONTE: O autor

3 ABERTURA DE MERCADO E A ECONOMIA

No início da década de 1990, o Brasil vivenciou um período inédito de grande liberalização comercial, fruto da lógica da globalização, que iremos estudar na próxima unidade. Esse período de mudanças nas lógicas comerciais até então adotadas acaba afetando inúmeros setores e, por que não dizer, a vida dos brasileiros como um todo.

Com a eliminação das barreiras tarifárias e não tarifárias, houve um aumento considerável das exportações e importações nacionais, refletindo diretamente no Produto Interno Bruto. Aliás, você se lembra o que é o PIB?

NOTA

O PIB corresponde à soma de tudo o que é produzido dentro do espaço geográfico, em determinado período de tempo, independente de quem o produziu, seja agente econômico nacional ou estrangeiro.

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UNIDADE 1 | UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO

Estas mudanças nas relações econômicas entre o Brasil e o resto do mundo afetam também as relações estabelecidas internamente entre os brasileiros, sendo que uma delas, sobre a qual se tem despendido inúmeros estudos, é a questão do desemprego.

Hoje, existe consenso de que houve aumento da taxa de desemprego, informalidade e produtividade do trabalho, e que as mudanças nas séries temporais dessas variáveis se deram logo após o início da abertura, sugerindo, pois, que a liberalização comercial teve efeitos não negligenciáveis sobre o mercado de trabalho (SOARES; SERVO; ARBACHE, 2001).

Vale a pena ressaltar que outras mudanças vinham ocorrendo no Brasil neste período de abertura de mercado, entre elas:

QUADRO 3 - MUDANÇAS NO BRASIL DURANTE A ABERTURA COMERCIAL

FONTE: Soares, Servo e Arbache (2001)

Um dos fenômenos que ocorre, logo após o período onde o Brasil abre seus mercados e se insere na lógica da liberalização comercial, é o reflexo do aumento de emprego para as pessoas mais qualificadas ou com nível superior. Este fato ocorre devido ao incremento das novas tecnologias no interior das empresas de modo geral, porém, mais efetivamente na indústria, e também gera expectativa de concorrência em termos de emprego com profissionais de outras nações que poderiam ofertar sua mão de obra em nosso país. Sobre o aumento da produtividade ocasionado pelo incremento tecnológico, verificam-se diferenças relativas ao nível de qualificação dos trabalhadores.

A grande diferença está na perda de empregos decorrente das mudanças na produtividade. Enquanto o aumento na produtividade do trabalho direto reduziu o emprego de trabalhadores menos qualificados em 7%, o mesmo aumentou o

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TÓPICO 3 | A ABERTURA DO MERCADO NO BRASIL

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emprego dos trabalhadores qualificados em 16%, o que sugere mudanças na tecnologia de produção. Sabendo-se que os salários dos trabalhadores qualificados subiram no período, a hipótese mais razoável para explicar o fenômeno seria a de mudanças tecnológicas com forte viés em favor dos trabalhadores mais qualificados (SOARES; SERVO; ARBACHE, 2001).

Aqui, como estamos falando na diminuição dos empregos dos trabalhadores menos qualificados, nos é conveniente entender qual era o quadro nacional relativo à pobreza nesta época.

O período que vai do início do governo Collor, em 1990, até o final do primeiro governo Fernando Henrique Cardoso, em 1998, é marcado por tímidas ações ativas de combate à pobreza. A política de manutenção da estabilização inflacionária e as reformas do Estado, comercial, privatização e desregulamentação dos mercados dominaram as políticas econômicas do período. A introdução de políticas neoliberais era vista como condição para a redução da pobreza e promoção do crescimento. A premissa era que a pobreza seria combatida por medidas econômicas de caráter horizontal, geral, que dariam maior eficiência aos mercados, barateando os preços, elevando a qualidade dos produtos e, supostamente, favorecendo os mais pobres através da criação de novos postos de trabalho. Por conta desse entendimento, as políticas sociais do primeiro governo FHC foram tímidas, embora já se discutisse dentro do governo que a erradicação da pobreza deveria ser feita de forma diferente daquela das décadas anteriores (ARBACHE, 2003).

Estas análises sobre os reflexos da abertura de mercado brasileiro e seus efeitos sobre o emprego são complexas e exigem aprofundamento de pesquisa e a possibilidade de novas agendas. Segundo Soares, Servo e Arbache (2001), as relações entre a abertura comercial, a tecnologia e a remuneração dos fatores talvez sejam o ponto crucial desse debate. O avanço técnico dos países desenvolvidos chegou ao Brasil em muito pouco tempo e provocou novas formas de organização do trabalho na fábrica, que vieram a substituir o Fordismo. Além disso, a nova economia da informação e a possível redução dos custos de transação que ela acarreta, o aumento na automação na indústria de transformação, além de outras mudanças que se transferiram muito rapidamente após vários anos de isolamento entre a economia brasileira e a economia mundial, contribuíram, muito provavelmente, para as transformações observadas na economia brasileira.

3.1 ABERTURA DE MERCADO E A POBREZA

Falamos anteriormente do impacto da abertura comercial brasileira sobre a economia, mais especificamente focando o desemprego, em que se percebeu a diminuição dos empregos dos trabalhadores menos qualificados. Porém, é interessante analisarmos sobre como se encontra a pobreza no país dessa época. É o que iremos fazer agora.

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UNIDADE 1 | UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO

Em 1989 ocorre na capital norte-americana um encontro entre lideranças das nações latino-americanas em desenvolvimento, que fica conhecido como o Consenso de Washington. De acordo com Silva (2015), os países foram convocados pelo Institute for International Economics e participaram da reunião diversos economistas latino-americanos liberais, funcionários do Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do governo norte-americano. Nesta reunião ficaram estabelecidas dez regras que deveriam ser perseguidas pelos participantes em prol do desenvolvimento econômico de seus países. São elas:

1. Disciplina fiscal – o Estado deve limitar os gastos à arrecadação, eliminando o déficit público.

2. Redução dos gastos públicos.3. Reforma fiscal e tributária, na qual o governo deveria reformular seus sistemas

de arrecadação de impostos e ampliar a base sobre a qual incide a carga tributária, com maior peso nos impostos indiretos.

4. Abertura comercial e econômica dos países, a fim de reduzir o protecionismo e proporcionar um maior investimento estrangeiro.

5. Taxa de câmbio de mercado competitivo.6. Liberalização do comércio exterior.7. Investimento estrangeiro direto, eliminando as restrições.8. Privatização, com a venda das estatais.9. Desregulamentação, com o afrouxamento das leis de controle do processo

econômico e das relações trabalhistas.10. Direito à propriedade intelectual (SILVA, 2015).

É interessante destacar que mesmo não concordando, num primeiro momento, com tais ideias neoliberais, o Brasil logo começa a aplica-las no início dos anos 90. O que se encontra implícito na ideia deste consenso era de que as nações latino-americanas deveriam desenvolver-se podendo ter participação mais efetiva no mercado, que estava em fase de transição para a globalização.

Um dos principais argumentos para se justificar a introdução de políticas econômicas neoliberais nos anos 80 e 90 no Brasil e em outros países em desenvolvimento, notadamente os da América Latina, era que tais reformas corrigiriam distorções dos mercados provocadas por políticas protecionistas e regulamentações que beneficiavam, essencialmente, os industriais e as classes média e alta. O argumento era que a introdução de políticas, como a abertura dos mercados, traria maior eficiência econômica, com consequente criação de comércio e elevação do emprego dos indivíduos ligados às atividades agrícolas, extrativismo e recursos minerais, que são atividades normalmente arroladas como aquelas em que os países em desenvolvimento têm maior vantagem comparativa. Como consequência, haveria criação de emprego e redução da desigualdade e da pobreza nos países em desenvolvimento que promovessem tais políticas (ARBACHE, 2003).

Efetivamente, percebemos que esta redução da desigualdade e da pobreza não se efetiva nesta época (e se formos analisar, até nos dias atuais ainda se perpetua,

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não é mesmo?). O período que vai do início do governo Collor, em 1990, até o final do primeiro governo FHC, em 1998, é marcado por tímidas ações ativas de combate à pobreza. A política de manutenção da estabilização inflacionária e as reformas do Estado, comercial, privatização e desregulamentação dos mercados dominaram as políticas econômicas do período. A introdução de políticas neoliberais era vista como condição para a redução da pobreza e promoção do crescimento. A premissa era que a pobreza seria combatida por medidas econômicas de caráter horizontal, geral, que dariam maior eficiência aos mercados, barateando os preços, elevando a qualidade dos produtos e, supostamente, favorecendo os mais pobres através da criação de novos postos de trabalho. Por conta desse entendimento, as políticas sociais do primeiro governo FHC foram tímidas, embora já se discutisse dentro do governo que a erradicação da pobreza deveria ser feita de forma diferente daquela das décadas anteriores (ARBACHE, 2003).

O que percebemos é que com a abertura comercial brasileira houve uma implicação direta na seleção daqueles que ocupariam os postos de trabalho para os profissionais melhor qualificados, o que seguia a tendência mundial em torno da busca de capital intelectual para as organizações. Dessa forma, aqueles que viviam em situação de pobreza estrutural e vulnerabilidade acabam se colocando ainda mais às margens das condições de uma vida com mais igualdade e renda.

Green e Arbache (2001) afirmam em suas análises que a demanda relativa por trabalhadores mais qualificados aumentou como resultado da abertura econômica, e que os salários relativos destes aumentaram em relação aos salários dos trabalhadores de menor escolaridade.

Da mesma forma, observou-se no Brasil nesta época um profundo aumento do trabalho informal, para onde se conduziam estes trabalhadores menos escolarizados.

NOTA

Por trabalho informal entende-se aquele que é exercido sem registros oficiais, como a contratação em carteira de trabalho, logo se apresenta sem os benefícios da remuneração fixa e férias pagas. Visando coibir a informalidade e trazer esses trabalhadores para o controle de ações do Estado, em 2008 tivemos o lançamento da campanha em torno do MEI – microempreendedor individual.

3.2 ABERTURA DE MERCADO E A CULTURA

Com a abertura de mercados que ocorre no período de redemocratização do Brasil, mais especificamente na gestão do então presidente Fernando Collor de Mello, houve impactos também no que se refere à área cultural.

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UNIDADE 1 | UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO

Uma das primeiras atitudes de Collor foi a extinção do recentemente criado Ministério da Cultura. No entanto, seu governo dá continuidade à política de incentivo fiscal para a cultura iniciada no governo Sarney com a lei de 1986. Em termos básicos, este formato propõe uma relação entre poder público e setor privado, onde o primeiro abdica de parte dos impostos devidos pelo segundo. Este, como contrapartida, investe recursos próprios na promoção de determinado produto cultural. A ideia não é apenas a de estabelecer incentivos à cultura, mas, principalmente, de introduzi-la na esfera da produção e do mercado da sociedade industrial; de criar um mercado nacional de artes (BARBALHO, 2005).

Essa ideia é interessante, pois segue a tendência do que vinha ocorrendo no mundo já há algumas décadas, ou seja, a utilização da cultura como um recurso passível de ser explorado e gerenciado como mecanismo de incentivo ao consumo.

Segundo as próprias palavras de Sarney (2000, p. 38), mantendo-se ausente, o Estado estaria propiciando “um espírito imensamente descentralizador, que transferia para a sociedade a iniciativa dos projetos, a mobilização dos recursos e o controle de sua aplicação”. Porém, sabemos que este distanciamento acabou configurando-se em cenário propício à sonegação de impostos e evasão fiscal.

Foi no governo Collor que o ensaísta Sérgio Paulo Rouanet, na Secretaria de Cultura, criou a Lei 8.313 de Incentivo à Cultura, também conhecida como Lei Rouanet, e o Fundo de Investimento Cultural e Artístico (FICART), que funcionava como carteira de crédito disciplinada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O FICART traz consigo a ideia de enxergar a cultura como uma possibilidade de investimento, o que poderia suscitar o interesse de novos investidores na área.

Esta forma de atuar, com a existência do Estado mínimo, também se mantém durante os dois governos de FHC, que, embora tenha recriado o Ministério da Cultura, mantém a lógica da cultura atrelada à lógica do mercado.

3.3 ABERTURA DE MERCADO E A EMPRESA AGRÍCOLA

As mudanças ocorridas no Brasil, fruto da abertura de mercados na década de 90, provocaram reflexos no setor agroindustrial, uma vez que ocorre uma restrição às políticas setoriais. Sabemos que a agricultura brasileira historicamente sempre contou com inúmeras políticas de suporte e de crédito subsidiado, e ainda voltadas para a busca de desenvolvimento tecnológico, assistência técnica, de seguro rural, entre outras.

Podemos dizer que nos anos 90 as mudanças que iniciaram na década anterior atingiram seu ápice, sendo o financiamento da agricultura realizado pelas regras de mercado. Embora o Brasil tenha enfrentado um forte período recessivo no início dos anos 90, a agricultura (neste caso a agroindústria), enfim, as empresas do setor primário da economia tiveram um crescimento, o que garantiu

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TÓPICO 3 | A ABERTURA DO MERCADO NO BRASIL

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a permanência do PIB nacional em patamares positivos no período.

Vamos perceber, no quadro a seguir, como a participação do setor primário do período supera os setores da indústria e dos serviços.

QUADRO 4 – PARTICIPAÇÃO RELATIVA E TAXA DE CRESCIMENTO, EM PERCENTUAL, DO PIB SETORIAL NO BRASIL — 1991-99

ANOSAGROPECUÁRIA INDÚSTRIA SERVIÇOS Δ% DO

PIBParticipação relativa

Δ% Participação relativa

Δ% Participação relativa

Δ%

1991 7,79 1,4 36,16 0,3 56,05 2,0 1,01992 7,72 4,9 38,70 - 4,2 53,58 1,5 - 0,51993 7,56 0,1 41,61 7,0 50,83 3,2 4,91994 9,85 5,5 40,00 6,7 50,15 4,7 5,91995 9,01 4,1 36,67 1,9 54, 32 4,5 4,21996 8,32 3,1 34,70 3,3 56,98 2,3 2,71997 7,87 0,2 34,84 5,8 57,29 2,7 3,61998 8,42 0,0 33,96 - 1,3 57,62 0,8 - 0,11999 8,26 9,0 35,47 - 1,7 56,27 1,1 0,8

FONTE: Banco de dados do IBGE (1999 apud CAMPOS; PAULA, 2002)

Segundo Campos e Paula (2002), o período 1993-97 apresentou taxas de crescimento satisfatórias, beneficiadas pelo bom desempenho da agropecuária (nos anos de 1994 a 1996), da indústria (em 1993-94 e em 1997) e, por fim, do setor de serviços (de 1993 a 1996). Destaca-se ainda que em 1999 o PIB cresceu apenas 0,8%, o que só foi possível devido ao ótimo desempenho relativo do setor agropecuário, que cresceu 9%, conforme o quadro acima. Porém, se, por um lado, a variação observada nesse ano em particular compensa a performance negativa dos demais setores, em especial da indústria, por outro reflete a instabilidade típica da agricultura. Após alguns anos de um desempenho nulo ou mesmo negativo, considerando-se as condições desfavoráveis já apontadas acima, o setor agropecuário foi capaz de reagir a condições mais atrativas de mercado e cresceu 9% em 1999.

Outro fato interessante a ser destacado neste período é que, de acordo com o Censo de 1995, houve uma retração no uso da terra na atividade agrícola, nas lavouras temporárias e permanentes, sendo notado um aumento somente no plantio de pastagens para a pecuária extensiva. Porém, os índices de produtividade do setor agropecuário aumentaram, o que significa dizer que isto se deu pelo impacto e aumento da eficiência das empresas do setor, acompanhados do uso mais intenso da tecnologia.

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UNIDADE 1 | UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO

A década de 90 é marcada também pelo aumento na produção agrícola de grãos (algodão, arroz, feijão, milho, soja, trigo e outros), que no período cresce 46,8% em média, com destaque para o arroz, dedicado ao mercado interno, e a soja (exportação). A Lei Kandir favorece e estimula as exportações no período. O que dizia a Lei Kandir?

Segundo o Senado Federal (2017), a Lei Kandir regulamentou a aplicação do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Prestações de Serviços de Transporte Interestadual, Intermunicipal e de Comunicação (ICMS). Feita pelo então ministro do Planejamento Antônio Kandir, transformou-se na Lei Complementar 87/96, que já foi alterada por várias outras leis complementares.

Uma das normas da Lei Kandir é a isenção do pagamento de ICMS sobre as exportações de produtos primários e semielaborados ou serviços. Por esse motivo, a lei sempre provocou polêmica entre os governadores de estados exportadores, que alegam perda de arrecadação devido à isenção do imposto nesses produtos.

Até 2003, a Lei Kandir garantiu aos estados o repasse de valores a título de compensação pelas perdas decorrentes da isenção de ICMS, mas, a partir de 2004, a Lei Complementar 115 – uma das que alterou essa legislação –, embora mantendo o direito de repasse, deixou de fixar o valor. Com isso, os governadores precisam negociar a cada ano com o Executivo o montante a ser repassado, mediante recursos alocados no orçamento geral da União.

Outro aspecto a ser analisado – e que reforça como as empresas do setor primário, após a abertura de mercados, tiveram que se ajustar de forma a conduzir seus negócios com maior eficiência, seguindo as determinações do mercado e, por outro lado, saindo da dependência das políticas do Estado que deixavam de beneficiar a área desde 1985 – diz respeito à diminuição do uso do crédito rural, ou seja, ao longo dos anos 90 houve uma redução do crédito em todas as suas modalidades, conforme quadro a seguir. Mas, ainda assim, a produtividade do setor primário cresceu.

QUADRO 5 - CRÉDITO RURAL SEGUNDO SUA FINALIDADE NO BRASIL — 1985-99

ANOS CUSTEIO INVESTIMENTO COMERCIALIZAÇÃO TOTAL (R$ milhões)

1985 27 203 4 958 6 096 38 257 1986 31 915 18 282 6 853 57 0511987 31 553 7 691 5 732 44 9751988 21 586 5 083 5 065 31 7341989 23 181 3 045 2 755 28 9811990 12 393 1 815 2 347 16 5541991 14 043 1 452 1 587 17 0831992 11 933 2 264 4 743 18 940

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TÓPICO 3 | A ABERTURA DO MERCADO NO BRASIL

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1993 9 041 3 343 3 879 16 2621994 12 319 4 302 6 876 23 4971995 6316 2 210 1 667 10 1921996 6 223 2 136 549 8 9081997 12 071 8 344 4 857 25 2721998 11 785 10 420 5 117 27 3221999 9 881 10 652 2 632 23 165

FONTE: Boletim do Banco Central do Brasil (1999 apud CAMPOS; PAULA, 2002)

Como vimos percebendo, no período entre 1985 e 1995 tivemos uma diminuição ou retração do uso de terras para a produção, acompanhado de uma diminuição significativa do uso do crédito disponibilizado pelo Estado para o setor primário. Além disso, o setor, embora tenha leis que o favoreçam, como a Lei Kandir, enfrenta a concorrência agora internacional e um período de economia recessiva no país, porém, ainda assim, as taxas refletem crescimento da atividade do setor primário. Uma das questões que também contribuem para essa melhoria diz respeito ao melhor uso e aproveitamento das terras existentes, através do uso de sistemas agroindustriais e do investimento em novas tecnologias a serem aplicadas no setor. Percebemos isso através da análise do quadro a seguir:

QUADRO 6 - PADRÃO TECNOLÓGICO DA AGRICULTURA BRASILEIRA — 1985 E 1995

VARIÁVEIS 1985 1995 % EVOLUÇÃOTratores (1) 665 280 803 742 20,8Máquinas (1) 342 066 361 698 5,7Arados mecânicos (2) 585 596 618 445 5,6Assistência técnica (2) 620 442 948 985 53,0Fertilizantes (2) 1 832 658 1 832 658 1,5Defensivos (2) 3 186 276 3 207 749 0,7Conservação do solo (1) 736 590 1 438 520 95,3Irrigação (2) 239 067 286 139 19,7Energia elétrica (2) 980 871 1 895 096 93,2

(1) Unidades(2) EstabelecimentosFONTE: Censo Agropecuário, 1985 apud CAMPOS; PAULA, 2002).

Campos e Paula (2002) apontam dados interessantes quanto ao crescimento da pecuária neste período, principalmente focando na carne bovina, suína e de frango. Sendo que no período de 1990-92 houve um crescimento médio anual de 3,1% ao ano, enquanto que no período de 1993 a 1996 este crescimento atinge a média anual de 8,8% ao ano, sendo considerado o melhor período da pecuária

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UNIDADE 1 | UM PANORAMA DO BRASIL FRENTE ÀS MUDANÇAS DO MERCADO

brasileira. Ao longo do período a pecuária cresceu 61,3%, principalmente pelo crescimento da produção de frangos (116,4%), seguido do de suínos (68,3%) e de bovinos (33,5%).

Acontece, porém, neste mesmo período, que os preços da carne bovina, suína e de frango caem consideravelmente ao mesmo tempo em que se elevam as taxas de produtividade, que se refletem no crescimento da pecuária que acabamos de comentar.

O fato de os preços estarem caindo e a produção aumentando sugere certa incompatibilidade. Entretanto, ao se considerar que a lógica da rentabilidade dos produtores está baseada na margem bruta como determinante de produção, os produtores acabam por orientar suas decisões de acordo com os ganhos de escala e sobrevivência no negócio. Isso só se torna possível quando há expansão do mercado consumidor, capaz de absorver aumento da oferta com preços decrescentes (CAMPOS; PAULA, 2002).

Este fenômeno vem ao encontro do que estudamos no Tópico 1, quando nos referimos às teorias elementares de mercado e vimos rapidamente a lei da oferta e da demanda.

LEITURA COMPLEMENTAR

ABERTURA COMERCIAL E GOVERNO COLLOR

Manoel Giffoni

1. Que fatores estimularam o início da discussão sobre abertura comercial na américa latina? Em que época isso ocorreu?

Nos anos 1980, acreditava-se que a abertura era inevitável, devido ao esgotamento do processo de substituição de importações (e seu questionamento). Acreditava-se, então, que o livre comércio poderia proporcionar desenvolvimento com a melhoria da qualidade de vida da população e gerar crescimento econômico advindo da melhor eficiência locativa dos fatores de produção.

2. Quais foram as peculiaridades da abertura econômica brasileira? Em que diferiu da de outros países em desenvolvimento?

Em 1988, o Brasil iniciava sua reforma comercial com a eliminação dos controles quantitativos e administrativos sobre suas importações e uma proposta de redução tarifária. Essa abertura se intensificou a partir de 1990 com redução tarifária de importação e exportação, além da eliminação de várias barreiras não tarifárias (dentre as quais, a Lei do Similar Nacional e os Programas Especiais de Importação).

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TÓPICO 3 | A ABERTURA DO MERCADO NO BRASIL

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Em função do quadro de instabilidade da década de 1980, grande parte dos setores da economia brasileira se encontrava em atraso tecnológico em comparação com os padrões internacionais (manifestado em obsolescência das máquinas e equipamentos ou em processos administrativos).

Nossa abertura comercial se diferenciou das demais em países subdesenvolvidos (Chile e Argentina na década de 1970, por exemplo), pois não foi realizada em um ambiente de economia estável e tampouco foi realizada primeiro a liberalização do mercado de bens e serviços para apenas depois liberalizar o mercado de capitais.

3. Quais foram os efeitos positivos e negativos da abertura comercial brasileira?

A abertura trouxe benefícios aos consumidores pela maior disponibilidade de bens e serviços, com melhores preços e tecnologia. Entretanto, teve impactos negativos sobre o nível de emprego. A abertura também provocou um desafio exemplar para os produtores locais, tendo se dado sem que os fatores de competitividade sistêmica fossem adaptados. Estes, ao contrário dos concorrentes internacionais, foram prejudicados com tributação e juros elevados, carência de infraestrutura e excessiva burocracia.

4. Aponte as principais características dos planos de estabilização Collor I e II?

Ambos os planos implicaram na retração do nível de atividade econômica.

O primeiro, em março de 1990, combinava confisco dos depósitos à vista e aplicações financeiras com prefixação da correção dos preços e salários, câmbio flutuante, tributação ampliada sobre as aplicações financeiras e “reforma administrativa” (fechamento de órgãos públicos e demissão de grande número de funcionários). O objetivo era reduzir drasticamente a dívida interna, com resultados inicialmente positivos, mas de efeitos passageiros.

O Plano Collor II foi adotado em 1991, em situação de desespero devido à reaceleração da inflação. Lançou-se mão de congelamento de preços e salário, além de novas medidas de contração monetária e fiscal. Os efeitos foram uma forte recessão, aumento do desemprego, queda dos salários reais e da massa salarial.

FONTE: Disponível em: <https://fichasmarra.wordpress.com/2011/03/04/faq-abertura-comercial-e-governo-collor/>. Acesso em: 20 mar. 2017.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• A partir dos anos 80, a agroindústria começa a seguir as lógicas do mercado, com a alteração de algumas políticas de incentivo e subsídios do Estado.

• Com o surgimento da agroindústria, tivemos diferenças na forma como a empresa agrícola começa a ser percebida e gerenciada pelos seus empresários (não mais agricultores, somente). • Com a abertura de mercados nos anos 90, em meio ao aumento das exportações e a busca por competitividade, surge a incorporação do conceito norte-americano, conceito de agribusiness que traz para o negócio agrícola outras possibilidades de atuar neste mercado competitivo internacional.

• O conceito de agribusiness se origina o termo agronegócios que utilizamos atualmente.

• A abertura de mercados no Brasil afeta a economia sobremaneira no aumento das taxas de desemprego, que se verificam mais nas pessoas menos qualificadas para o trabalho.

• A abertura de mercados ainda provoca mudanças na área do gerenciamento da cultura, que passa a ser vista como possibilidade de investimento e negócio.

• Já no setor primário percebemos que houve um aumento relativo nas atividades agropecuárias durante o período.

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Caro acadêmico! Para fixar melhor o conteúdo estudado, vamos exercitar um pouco. Leia as questões a seguir e responda-as em seu livro de estudos. Bom trabalho!

1 Quais os fatores que colaboram para a passagem da agricultura (agropecuária) para a agroindústria no Brasil?

2 A abertura de mercados no Brasil repercute nas mais diversas áreas. Sobre esta, analise as afirmativas e responda:

I – A abertura de mercados no Brasil tem seu início na década de 90 e é considerada como um período de grande liberalização comercial.II – A eliminação das barreiras tarifárias e não tarifárias neste período não reflete no PIB.III – Ao entrar na lógica da liberalização comercial, percebemos no Brasil uma diminuição no emprego para as pessoas mais qualificadas ou com nível superior.IV – Durante este período a cultura também começa a ser vista como um mercado de possibilidades de investimento.V – Ao longo dos anos 90 houve uma redução do crédito rural em todas as suas modalidades, porém o setor primário continuou crescendo.

É correto o que se afirma em: a) ( ) As assertivas II e III, apenas. b) ( ) As assertivas I, IV e V, apenas.c) ( ) As assertivas I, II e III, apenas.d) ( ) As assertivas I e V, apenas.e) ( ) A assertiva I, apenas.

AUTOATIVIDADE

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UNIDADE 2

O MUNDO AGORA É PLANO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

Esta unidade tem por objetivos:

• compreender o conceito de globalização e suas características;

• desenvolver o senso crítico em relação à globalização e seus efeitos nas áreas da economia, cultura e sociedade;

• conhecer o que são empresas transnacionais e seu papel no mercado;

• compreender as implicações do comércio eletrônico na esfera democrática;

• perceber as modificações sociais oriundas da matematização do mundo da vida e da compressão espaço-tempo, típicos da contemporaneidade.

Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles você encontrará atividades que auxiliarão no seu aprendizado.

TÓPICO 1 – AS FORÇAS QUE TORNARAM O MUNDO PLANO

TÓPICO 2 – DEMOCRACIA E O COMÉRCIO ELETRÔNICO

TÓPICO 3 – A MATEMATIZAÇÃO DO MUNDO DA VIDA

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TÓPICO 1

AS FORÇAS QUE TORNARAM O

MUNDO PLANO

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Escrever sobre o fenômeno da globalização atualmente constitui-se num grande desafio, uma vez que este tema tem sido alvo de inúmeras críticas quanto ao possível fracasso das intenções iniciais deste processo que surge como o ápice do sistema econômico capitalista e se espalha pelo mundo.

Cabe, porém, didaticamente, antes de tecermos qualquer tipo de crítica, conhecermos do que se trata, como ocorreu, quem é afetado por ela, quais as reconfigurações sociais e econômicas que vêm a ocorrer com a mesma. Enfim, somente após este conhecimento inicial das propostas e promessas que vieram junto com a globalização é que poderemos tecer uma crítica, se julgarmos necessário.

2 AS DEZ FORÇAS QUE ACHATARAM O MUNDO

Um bom começo para estudarmos a globalização é sugerido por Thomas L. Friedman, em seu livro O Mundo é Plano (2009), onde o autor procura explicar suas análises que fizeram com que essa planificação do mundo ocorresse. Logo no início da obra, no capítulo dois, o autor comenta sobre as dez forças que achataram o mundo. E é por aqui que começaremos nossa análise sobre o tema.

Força n° 1 - Quando os muros ruíram e as janelas se abriram

A queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, liberou forças que iriam libertar o Império Soviético. Como a Guerra Fria era, até então, um embate entre o capitalismo e o comunismo, com a queda do muro, inclina-se a balança do poder mundial para o lado dos defensores da governança democrática, consensual, voltada para o livre mercado. Dois anos depois já não havia mais Império Soviético.

Seis meses depois da queda do Muro, chega ao mundo o PC (computador pessoal), com Windows 3,0. Friedman (2009) ressalta que se a queda do Muro eliminou uma barreira física e geopolítica – uma que retinha informação, obstruía o caminho para compartilhar padrões e nos impedia de ver o mundo como uma comunidade singular e unificada –, o surgimento do PC com Windows, que realmente popularizou o computador pessoal, eliminou outra barreira importantíssima: o limite da quantidade de informação que um único indivíduo podia acumular, criar, manipular e difundir.

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Força n° 2 - A nova era da conectividade: quando a Web se estendeu e o Netscape abriu capital

A segunda força que serviria, segundo Friedman (2009), para tornar o mundo plano e global, tem a ver com a possibilidade de conectividade entre os indivíduos, através do surgimento da world wide web. Porém, a data que fica marcada mundialmente é a de 9 de agosto de 1995, quando a empresa Netscape (responsável pela criação do primeiro browser que permitia a conexão entre PCs via web) abre seu capital na bolsa de valores e dá início à grande explosão das empresas ponto com.

Força n° 3 - Softwares de fluxo de trabalho

O surgimento e a integração do software de fluxo de trabalho foram uma revolução silenciosa, e as pessoas não tinham a menor pista do que estava acontecendo. Ela se cristalizou do meio para o fim da década de 90 e, quando isso aconteceu, teve um impacto tão profundo no mundo quanto os dois primeiros achatadores. Permitiu que mais pessoas em mais lugares projetassem, apresentassem, administrassem e colaborassem na elaboração de dados de negócios tratados antes manualmente. Como resultado, o trabalho começou a fluir mais rapidamente do que nunca dentro e entre empresas e continentes.

Para chegar a esse ponto, Friedman (2009) comenta que foram necessárias muitas inovações de softwares e que, quando os muros caíram e o PC, o Windows e a Netscape permitiram que seus usuários se interligassem como nunca antes, não demorou muito para que todo esse pessoal interconectado já não se contentasse apenas em navegar e trocar e-mails, mensagens instantâneas, foto e música por meio da internet. Queriam também desenhar, projetar, criar, vender e comprar coisas, monitorar estoques, cuidar dos impostos de alguém e analisar a radiografia de um paciente do outro lado do mundo. E mais: “queriam fazer tudo isso de e para qualquer lugar, de e para qualquer computador, sem qualquer empecilho” (FRIEDMAN, 2009, p. 98).

Força n° 4 - UPLOADING – Explorando o poder das comunidades

Aqui, temos que a possibilidade de realizar uploads, ou seja, abastecer a internet com arquivos, acaba fazendo com que haja uma inversão na visão desta rede, uma vez que se acreditava, num primeiro momento, que mais pessoas seriam consumidoras destas informações, o que de fato ocorre nos primeiros anos, porém, se reconfigura.

São três os principais movimentos de uploading detectados pelo autor que acabam ajudando nesse achatamento global do mundo: o movimento de software desenvolvido em comunidade, a Wikipedia e o blogging/podcasting.

Força n° 5 - Terceirização – o ano 2000

Friedman (2009) faz uma importante análise sobre a Índia e sua inserção no mundo das tecnologias, apontando o ano 2000 como decisivo para a indústria indiana, encarregada de examinar linha por linha os códigos dos computadores

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mundiais diante da preocupação com o bug do milênio. Aponta que, após este trabalho, transferiu-se para o continente indiano boa parte das operações de comércio eletrônico das empresas ponto com.

Essa terceirização de processos de negócios com a Índia fez com que os custos dos departamentos de TI americanos se reduzissem quase pela metade, o que era essencial após o grande declínio das ponto com., conhecido como a bolha digital.

Força n° 6 - Offshoring – Correndo com os antílopes e comendo com os leões

O offshoring diferencia-se da globalização no seguinte sentido: uma empresa terceiriza determinada função, até então realizada por seus próprios funcionários (pesquisa, por exemplo, ou call centers, ou cobrança), quando contrata uma outra empresa para realizar em seu lugar exatamente a mesma função, que é em seguida reintegrada ao conjunto das suas operações como um todo.

Já o offshoring se dá quando uma empresa pega uma das fábricas de Canton, Ohio, e transfere-a inteira para o exterior – para Cantão, na China, por exemplo –, onde produzirá exatamente o mesmo produto, exatamente da mesma maneira, só que com mão de obra mais barata, uma carga tributária menor, energia subsidiada e menos gastos com os planos de saúde dos funcionários (FRIEDMAN, 2009, p. 164).

Assim como o bug do milênio teve o poder de alçar a Índia e o resto do mundo a um novo patamar de terceirização, o ingresso da China na Organização Mundial do Comércio (OMC) levou Pequim e o resto do mundo a um nível sem precedentes de offshoring.

Força n° 7 - Cadeia de fornecimento Outra das forças que serve para produzir um mundo global é a criação de

um sofisticado processo de distribuição pelo mundo, o que envolve fornecedores, distribuidores, administradores de portos, intermediários de alfândegas, forwarders e transportadores numa cadeia bem afinada e que opere harmonicamente, sendo o desafio das cadeias de fornecimento global.

Quando o mundo é plano, sua empresa tanto pode quanto precisa tirar vantagem dos melhores produtores, com os menores preços, em qualquer lugar onde eles puderem ser encontrados. Se você não fizer isso, seus concorrentes o farão. Portanto, as cadeias de fornecimento globais – que atraem peças e produtos vindos de qualquer canto do mundo – tornaram-se essenciais tanto para varejistas quanto para fabricantes (FRIEDMAN, 2009, p. 182).

Força n° 8 - Internalização

Esta força refere-se ao chamado insourcing, definido como uma forma de colaboração e criação horizontal de valor que é possibilitada pelo achatamento do mundo e, ao mesmo tempo, contribui ainda mais para o seu nivelamento.

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Assim nasceu a internalização: com o achatamento do mundo, os pequenos começaram a poder pensar grande, isto é, as pequenas empresas adquiriram uma visão global – e passaram a enxergar muitos lugares para onde vender seus produtos, ou fabricá-los, ou comprar suas matérias-primas com maior eficiência.

Muitas, porém, não sabiam como executar tais ideias ou não tinham meios de gerenciar, por conta própria, uma cadeia de fornecimento complexa e global. Muitas empresas de grande porte, por sua vez, não queriam administrar tamanha complexidade, por não fazer parte das suas competências essenciais. A Nike, por exemplo, preferia investir seu dinheiro e sua energia no desenho de tênis melhores, não em cadeias de fornecimento (FRIEDMAN, 2009, p. 201).

Neste contexto surgem as empresas que trabalham com as soluções de comércio sincronizado e assumem para si a responsabilidade por estas cadeias de suprimento, como a UPS.

Força n° 9 - Informação – Google, Yahoo, MSN Web Search Outra das grandes forças que agem no interior da globalização e

reconfiguram as formas de acesso à informação é o surgimento dos sites de busca, que organizam a procura e disponibilizam aos usuários mais rapidamente onde localizar aquilo que procuram.

“Sem dúvida, este é o objetivo do Google: facilitar o acesso a todo o conhecimento do mundo, em todos os idiomas. A expectativa da empresa é que no futuro, com um Palmtop ou telefone celular na mão, qualquer um, em qualquer lugar, tenha acesso a todo o conhecimento do mundo no bolso” (FRIEDMAN, 2009, p. 211).

Força n° 10 - Esteroides – digital, móvel, pessoal e virtual

Finalizando a análise sobre as forças que concorrem, dentro do cenário da nova onda da globalização, Friedman (2009) irá discorrer sobre as conexões sem fio (wireless), mas não somente a isso, e sim de novas tecnologias que amplificam e potencializam todas as formas de conexão e suas trocas.

Por digital podemos entender que tudo – desde a fotografia, o entretenimento e a comunicação, ao processamento de textos, à elaboração de projetos arquitetônicos e ao controle de irrigação no jardim de sua casa – está sendo digitalizado, o que permitirá que sejam moldados, manipulados e transmitidos por computador, pela internet, via satélite ou por cabos de fibra óptica. Virtual, significa que esse processo de moldar, manipular e transmitir o conteúdo assim digitalizado pode se dar a altíssima velocidade e muito facilmente, de modo que não será preciso sequer parar para pensar a respeito – graças a todas as autoestradas, os protocolos e padrões digitais subjacentes já instalados. Móvel refere-se ao fato de que, graças à tecnologia sem fio, tudo isso pode ser feito de qualquer lugar, com qualquer um, por meio de qualquer dispositivo, e pode ser levado para toda parte. Por fim, é pessoal porque pode ser feito por você, só para você, no seu próprio aparelho (FRIEDMAN, 2009, p. 221).

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Com o estudo dessas dez forças podemos perceber como o projeto de globalização se alinha com as questões envolvidas com o meio digital e revoluciona as formas como a comunicação se desenvolve no mundo, interconectando pessoas de todas as nações. Claro que esta é a visão romântica da globalização, pois sabemos que ainda hoje existem milhares de pessoas à margem de conexões com a internet e seus benefícios globais.

3 OS BLOCOS ECONÔMICOS

A primeira ideia que surge nos primórdios das discussões e da implementação do projeto de globalização diz respeito à criação de blocos econômicos que favoreceriam as condições comerciais entre as nações, com a liberação de barreiras alfandegárias, redução de impostos e favorecimento das ações de compra e venda entre as nações parceiras.

Claro que nesta nossa análise estamos considerando a globalização a partir do que alguns autores consideram como a nova onda da globalização, esta tendência que ocorre ao final do século XX, desconsiderando outras discussões que sugerem seu início ainda em épocas anteriores.

Somente para conhecimento geral, os estudos sobre a globalização costumam dividi-la em ondas.

FIGURA 06 - AS ONDAS DA GLOBALIZAÇÃO

FONTE: Adaptado de Banco Mundial (2003)

Essa ideia de formação de blocos econômicos é muito potente e coloca os países em xeque no seu engajamento, principalmente nações subdesenvolvidas à época, como era o caso do Brasil. Afinal, segundo Lopes (2008, p. 128), “O mundo, como entendemos hoje, tem nos blocos econômicos uma das causas mais relevantes. O pós-guerra é o ponto de partida para analisarmos o assunto na origem. Passando pelas diversas tentativas de aperfeiçoamento da estrutura até os blocos atuais”.

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O que são blocos econômicos? Vamos começar a responder esta pergunta analisando o que nos diz Schulz (1999), quando explica a finalidade da criação deles. Segundo o autor, “Os blocos econômicos foram criados com a finalidade de desenvolver o comércio de determinada região. Para alcançar esse objetivo são eliminadas as barreiras alfandegárias, o que reduz o custo dos produtos comercializados entre os países membros” (SCHULZ, 1999, p. 135).

Esta é a primeira grande ideia que nasce com a globalização e irá repercutir posteriormente nos discursos em busca de uma comunidade ou aldeia global. Nota-se que a ideia de desenvolvimento econômico está fortemente atrelada ao pensamento da criação dos blocos.

Os blocos econômicos podem ser classificados em quatro categorias:

FIGURA 7 - CATEGORIAS DOS BLOCOS ECONÔMICOS

FONTE: O autor

Resta-nos, neste primeiro momento, entender o que caracteriza cada uma delas.

Zona de Livre-Comércio – é a fase inicial, normalmente, e tem como objetivo principal a isenção de tarifas de importação de produtos entre os países membros. Deste modo, desde que respeite as normas sanitárias e outras legislações restritivas que possam aparecer, um produto fabricado em um destes países do bloco poderá ser vendido em outro sem qualquer tipo de impedimento fiscal.

União Aduaneira – nesta os objetivos se ampliam, abrangendo a criação de regras, normativas comuns de comércio com os países não membros do bloco.

Mercado Comum – se traduz numa integração econômica mais profunda, que busca a adoção das mesmas normas de comércio interno e externo, unificando as economias e, num estágio mais avançado, as moedas, união monetária e

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instituições. Segundo Lopes (2008), essa classificação remete às diversas etapas do desenvolvimento dos blocos econômicos que, em sua origem, podem ser associadas ao estabelecimento da Comunidade Econômica do Carvão e do Aço, CECA, pela Alemanha Ocidental, Bélgica, França, Holanda, Itália e Luxemburgo em 1956. Essa organização seria a base do que, futuramente, constituiu a União Europeia.

União Monetária – nesta fase, além de todas as demais regulações que estudamos nas categorias anteriores, os países membros do bloco utilizam-se da mesma moeda em suas nações.

É interessante destacarmos que esse interesse por se unir em blocos tem seu início fomentado após a Segunda Guerra Mundial por inúmeros organismos internacionais, buscando a ampliação dos mercados e o desenvolvimento de laços de cooperação entre as nações. Aliás, você deve lembrar que vimos na unidade anterior que em 1989 havia ocorrido o Consenso de Washington, que tinha como uma de suas metas a abertura econômica e comercial dos países, não é mesmo?

Os principais blocos econômicos da atualidade são: União Europeia (UE), Tratado Norte-Americano de Livre-Comércio (NAFTA), Mercado Comum do Sul (Mercosul), Pacto Andino e Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC).

Destes, optaremos por aprofundar nossos estudos relativos ao Mercosul, do qual o Brasil é membro.

3.1 O MERCADO COMUM DO SUL

As origens do Mercosul remontam à assinatura do Tratado de Assunção, em 26 de março de 1991, visando constituir um mercado comum. Assinam o tratado a República Federativa do Brasil, a República Argentina, a República do Paraguai e a República Oriental do Uruguai.

Os princípios básicos desse acordo diziam respeito à ampliação das atuais dimensões de seus mercados nacionais, à aceleração de seus processos de estabilização econômica com justiça social, ao aproveitamento mais eficaz dos recursos disponíveis, ao desenvolvimento científico e tecnológico, à preservação do meio ambiente e à adequada inserção internacional. “Na sua essência, o Tratado de Assunção cuidava do compromisso dos quatro países para a formação de uma zona de livre comércio fixando, de forma genérica e superficial, os parâmetros básicos para o objetivo final, ocorrido em 31 de dezembro de 1994: o Mercosul” (LOPES, 2008, p. 141).

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FIGURA 8 - LOGOMARCA DO MERCOSUL

FONTE: Disponível em: <http://www.mercosul.gov.br/images/mercosul.png>. Acesso em: 20 mar. 2017.

Acompanhe os trechos iniciais do Tratado de Assunção:

TRATADO DE ASSUNÇÃO - TRATADO PARA A CONSTITUIÇÃO DE UM MERCADO COMUM ENTRE A REPÚBLICA ARGENTINA,

A REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, A REPÚBLICA DO PARAGUAI E A REPÚBLICA DO URUGUAI

A República Argentina, a República Federativa do Brasil, a República do Paraguai e a República Oriental do Uruguai, doravante denominados "Estados Partes".

Considerando que a ampliação das atuais dimensões de seus mercados nacionais, através da integração, constitui condição fundamental para acelerar seus processos de desenvolvimento econômico com justiça social.

Entendendo que esse objetivo deve ser alcançado mediante o aproveitamento mais eficaz dos recursos disponíveis, a preservação do meio ambiente, o melhoramento das interconexões físicas, a coordenação de políticas macroeconômicas da complementação dos diferentes setores da economia, com base nos princípios de gradualidade, flexibilidade e equilíbrio.

Tendo em conta a evolução dos acontecimentos internacionais, em especial a consolidação de grandes espaços econômicos, e a importância de lograr uma adequada inserção internacional para seus países.

Expressando que este processo de integração constitui uma resposta adequada a tais acontecimentos.

Conscientes de que o presente Tratado deve ser considerado como um novo avanço no esforço tendente ao desenvolvimento progressivo da

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integração da América Latina, conforme o objetivo do Tratado de Montevidéu de 1980.

Convencidos da necessidade de promover o desenvolvimento científico e tecnológico dos Estados Partes e de modernizar suas economias para ampliar a oferta e a qualidade dos bens de serviço disponíveis, a fim de melhorar as condições de vida de seus habitantes.

Reafirmando sua vontade política de deixar estabelecidas as bases para uma união cada vez mais estreita entre seus povos, com a finalidade de alcançar os objetivos supramencionados.

[...]

FONTE: Disponível em: <http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/processoAudienciaPublicaAdpf101/anexo/Tratado_de_Assuncao..pdf>. Acesso em: 20 mar. 2017.

DICAS

Caso queira realizar a leitura do tratado na íntegra, acesse o link: <http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/processoAudienciaPublicaAdpf101/anexo/Tratado_de_Assuncao..pdf>. Acesso em: 20 mar. 2017.

Nos últimos anos acompanhamos as inúmeras transformações que os blocos econômicos vieram a sofrer, com a saída de membros de alguns e inserção de novos membros em outros, como o caso do Brasil. Com a desintegração do Grupo Andino (Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela), a Venezuela e a Bolívia decidem integrar-se ao Mercosul.

Hoje, todos os países da América do Sul estão integrados no Mercosul, seja como Estado Parte ou Estado Associado. Compreendem os Estados Partes: Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai (desde 26 de março de 1991) e Venezuela (desde 12 de agosto de 2012). E como Estado Parte em Processo de Adesão: Bolívia (desde 7 de dezembro de 2012). Já os Estados Associados são: Chile (desde 1996), Peru (desde 2003), Colômbia, Equador (desde 2004), Guiana e Suriname (ambos desde 2013).

Segundo o site oficial do Mercosul, página do Brasil, este tem por objetivo: consolidar a integração política, econômica e social entre os países que o integram, fortalecer os vínculos entre os cidadãos do bloco e contribuir para melhorar sua qualidade de vida.

E como princípios, o Mercosul visa à formação de mercado comum entre

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seus Estados Partes. De acordo com o art. 1º do Tratado de Assunção, a criação de um mercado comum implica:

• livre circulação de bens, serviços e fatores de produção entre os países do bloco;

• estabelecimento de uma tarifa externa comum e a adoção de uma política comercial conjunta em relação a terceiros Estados ou agrupamentos de Estados e a coordenação de posições em foros econômico-comerciais regionais e internacionais;

• coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais entre os Estados Partes;

• compromisso dos Estados Parte em harmonizar a legislação nas áreas pertinentes, a fim de fortalecer o processo de integração (MERCOSUL, 2017).

Para exemplificarmos como a ideia de união em blocos econômicos ajuda a fortalecer as nações que constituem o mesmo, podemos analisar os dados relativos ao Mercosul. Primeiramente, a extensão territorial dos Estados Partes corresponde a 71,8% da América do Sul.

QUADRO 7 - PAÍSES DO MERCOSUL E SUAS POPULAÇÕES

ESTADOS PARTES POPULAÇÃO (em milhões)

ARGENTINA 40,57

BRASIL 194,93

PARAGUAI 6,53

URUGUAI 3,37

VENEZUELA 29,77

TOTAL 275,17

FONTE: Site oficial do Mercosul (s.d.)

O comércio dentro do Mercosul multiplicou-se por mais de 12 vezes em duas décadas, saltando de US$ 4,5 bilhões (1991) para US$ 59,4 bilhões (2013). Oitenta e sete por cento (87%) das exportações brasileiras para o bloco são compostos de produtos industrializados.

O Mercosul é uma potência agrícola. Ressalta sua capacidade de produção das cinco principais culturas alimentares globais (trigo, milho, soja, açúcar e arroz). O Mercosul é o maior exportador líquido mundial de açúcar, o maior produtor e exportador mundial de soja, 1º produtor e 2º maior exportador mundial de carne bovina, o 4º produtor mundial de vinho, o 9º produtor mundial de arroz, além de ser grande produtor e importador de trigo e milho (MERCOSUL, 2017).

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Como podemos perceber, a criação do Mercosul faz parte de um projeto maior e do processo evolutivo dos países da América, procurando uma desvinculação das políticas protecionistas para adaptarem-se ao comércio internacional baseado na produtividade, eficiência e competitividade.

4 GLOBALIZAÇÃO E POBREZA

Uma das maneiras de olharmos para a globalização é a colocarmos como indispensável para o desenvolvimento econômico das nações mundiais. Vem daí o forte interesse em propiciar às nações ditas emergentes que se filiem aos blocos econômicos e possam assim melhorar suas condições de comércio em nível nacional e internacional.

Essa é uma ideia compreendida dentro de uma teoria econômica que considera que o desenvolvimento da economia da nação resolveria de forma automática as questões relacionadas à pobreza, porém não é o que acontece.

De maneira geral, a globalização reduz a pobreza porque economias mais integradas tendem a crescer mais rapidamente, e esse crescimento é, na maioria das vezes, bastante difundido. À medida que países de baixa renda entram no mercado global com seus produtos manufaturados e sua prestação de serviços, os indivíduos mais pobres têm a possibilidade de deixar de ser vulneráveis em consequência da opressiva situação de pobreza rural e conseguir empregos melhores, geralmente em cidades grandes ou médias (BANCO MUNDIAL, 2002).

Além disso, a integração em blocos acaba aumentando a produtividade nas mais variadas áreas de atuação. Outro fato interessante é que, historicamente, as nações mais ricas acabam inibindo/restringindo as compras de países mais pobres e inibindo esta lógica da integração, prejudicando assim a busca pelo desenvolvimento agora global.

Segundo dados do Banco Mundial (2003), vários países vinham se tornando marginais em relação à economia mundial, frequentemente com uma diminuição de renda e aumento da pobreza. Aponta ainda que para esse grupo a globalização não estaria funcionando e destaca alguns indicadores deste fracasso:

• Geografia desfavorável (falta de acesso ao mar e propensão à disseminação de doenças).

• Políticas, instituições e governos frágeis.

• Guerras civis.

Aqui vemos explícito o interesse do Banco Mundial em intervir, apontando caminhos para a realização de reformas políticas e econômicas nas nações onde o projeto de globalização dessa nova onda não foi eficaz. A ideia é criar um ambiente

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melhor de desenvolvimento. Afinal, a pobreza é a grande mazela de uma sociedade de consumo capitalista, não é mesmo?

Não estamos querendo defender a ideia de que a globalização não trouxe benefícios ao mundo, muito menos que ela não tenha ajudado vários países a crescer através da abertura ao comércio internacional. O Brasil mesmo é um exemplo de nação que cresce e se desenvolve muito rapidamente dentro deste novo cenário. Porém, o que não podemos desconsiderar é o que já alertava Stiglitz (2003), sobre os problemas de associar a globalização com o conceito de progresso a que os países em desenvolvimento deveriam aceitar para crescer e combater a miséria. Esses países abraçaram a globalização com todas as suas forças, porém a miséria continuou...

A distância cada vez maior entre os que têm e os que não têm vem deixando um número bastante elevado de pessoas no Terceiro Mundo num estado lamentável de miséria, sobrevivendo com menos de um dólar por dia. Apesar das repetidas promessas de redução dos índices de pobreza feitas durante a última década do século XX, o número dos que vivem na miséria efetivamente aumentou, e muito. Isso ocorreu ao mesmo tempo em que a renda total do mundo elevou-se, em média, 2,5 por cento ao ano (STIGLITZ, 2003, p. 31).

O Brasil vivenciou uma experiência bem particular em relação ao combate à extrema pobreza que assolava o país, com a implementação de programas políticos específicos para esta área, como o Fome Zero. Embora estes programas tenham suas críticas em relação ao seu caráter mais assistencial do que sustentável, possuem o mérito de tirar uma boa parcela da população deste estado de miséria.

Sobre esta questão, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, 2013) mostra que o Brasil conseguiu reduzir a pobreza extrema - classificada com o número de pessoas que vivem com menos de US$ 1 ao dia - em 75% entre 2001 e 2012. No mesmo período, o índice da pobreza foi reduzido em 65%. Apresentado como um dos casos mundiais de sucesso na redução da fome, o Brasil, no entanto, ainda tem mais de 16 milhões vivendo na pobreza: 8,4% da população brasileira vive com menos de US$ 2 por dia.

O relatório da FAO (2013) mostra que o Brasil segue sendo um dos países com maior progresso no combate à fome e cita a criação do programa Fome Zero, em 2003, como uma das razões para o progresso do país nessa área.

Já o último relatório da FAO (2013) ressalta a importância da perseguição dos objetivos de desenvolvimento sustentável em relação à erradicação da fome e da pobreza no mundo, apontando a América Latina e o Caribe como exemplos nestas áreas.

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4.1 GLOBALIZAÇÃO, PODER, CULTURA E MEIO AMBIENTE

O que então está tão poderosamente deslocando as identidades culturais nacionais agora no final do século XX? A resposta é: um complexo de processos e forças de mudança, que, por conveniência, pode ser sintetizado sob o termo "globalização". “A "globalização" se refere àqueles processos, atuantes numa escala global, que atravessam fronteiras nacionais, integrando e conectando comunidades e organizações em novas combinações de espaçotempo, tornando o mundo, em realidade e em experiência, mais interconectado” (ANTHONY MCGREW, 1992 apud HALL, 2002, p. 67).

É com este questionamento que iniciaremos a percepção de que falar em globalização também implica falar em modificações na forma como as pessoas se identificam (no sentido de construir suas identidades), como se relacionam no interior de suas práticas cotidianas, como se expressam e realizam seus julgamentos e suas leituras sobre o mundo que as cerca. Claro que a velocidade com que as mudanças ocorreram e as inúmeras tendências que carregaram consigo modificaram muito a forma como a sociedade passa a perceber o mundo do trabalho, por exemplo, a própria ideia do desenvolvimento econômico é traduzida também para o desenvolvimento pessoal, implicando em desacomodar e buscar qualificação para competir globalmente.

Podemos perceber que a busca por maior qualificação passa a ser o pensamento de grande parte dos brasileiros neste período inicial. O discurso era muito forte, qualifiquem-se, estudem idiomas, enfim, a educação segue a busca do “long life learning”, ou seja, passamos a estudar agora pela vida inteira, para garantir nossa empregabilidade. Aliás, o termo empregabilidade justamente reforça a responsabilidade do indivíduo em manter-se em condições de ser empregado, trazendo a ideia de desemprego para o plano do indivíduo e não do mercado em si.

Já a lógica dentro do ambiente empresarial é a de busca de capital intelectual, formado pela soma de todos os conhecimentos de seus membros, o que acirra ainda mais essa busca e, por que não dizer, competitividade por titulações e experiências que possam diferenciar os profissionais. Aqui presenciamos um aumento significativo de valor para as instituições de ensino mais antigas e posicionadas na mente do mundo corporativo como “as melhores”, ao mesmo tempo em que o mundo e, mais especificamente o Brasil, aderem a uma nova modalidade de ensino, o ensino a distância, que pretende levar o Ensino Superior a uma parcela da população antes excluída pela falta de recursos (e aqui vamos entender que tempo também possa ser um destes recursos). O EAD permite que mais pessoas possam qualificar-se e competir em maior igualdade neste mercado global, que, aliás, é caracterizado por esta lógica da rede e das comunicações digitais.

Como ficam as questões da cultura local e regional dos países globais? “A globalização pode tanto aumentar como reduzir a diversidade cultural. Aumenta a diversidade ao introduzir culturas estrangeiras via o poder de comunicação e de marketing e também pela imigração. Reduz a diversidade se a cultura estrangeira suprime a cultura local. Os dois efeitos são problemáticos” (BANCO MUNDIAL, 2003, p. 176).

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Essa forma de entender a mecânica do mundo que comentamos acima, que coloca o indivíduo como responsável, empreendedor de sua própria carreira e sucesso, modifica sobremaneira sua forma de agir e lidar no seu dia a dia, logo, afeta suas práticas culturais diretamente. O mais interessante é que estas reflexões a respeito das mudanças na ordem da vida são pouco discutidas por uma grande parcela da população. Muitos, na verdade, nem as observam, pois ainda enxergam, parafraseando Milton Santos (2002), a globalização como uma fábula e não como perversidade.

De fato, para a grande maior parte da humanidade a globalização está se impondo como uma fábrica de perversidades. O desemprego crescente torna-se crônico. A pobreza aumenta e as classes médias perdem em qualidade de vida. O salário médio tende a baixar. A fome e o desabrigo se generalizam em todos os continentes. Novas enfermidades, como a SIDA (Síndrome da Imuno Deficiência Adquirida), se instalam e velhas doenças, supostamente extirpadas, fazem seu retorno triunfal. A mortalidade infantil permanece, a despeito dos progressos médicos e da informação. A educação de qualidade é cada vez mais inacessível. Alastram-se e aprofundam-se males espirituais e morais, como os egoísmos, os cinismos, a corrupção. A perversidade sistêmica que está na raiz dessa evolução negativa da humanidade tem relação com a adesão desenfreada aos comportamentos competitivos que atualmente caracterizam as ações hegemônicas. Todas essas mazelas são direta ou indiretamente imputáveis ao presente processo de globalização (SANTOS, 2002, p. 19).

4.2 REFLEXÕES CRÍTICAS SOBRE A GLOBALIZAÇÃO

Ao nos referirmos especialmente a esta nova onda da globalização, que tem seu início aproximado na década de 90, temos que constatar que, além de impactos nas esferas econômicas propiciados pelas medidas adotadas pelos países que embarcam em seus preceitos, tivemos também reconfigurações nos modos de ser e viver das populações envolvidas.

Podemos dizer que com a globalização se instauram novos regimes de verdade que nos determinam regras e condições de existência atreladas fortemente às leis de mercado e a uma matriz de pensamento com fortes tendências capitalistas e relacionadas ao consumo.

Vivemos, em tempos globais, na iminência de sermos melhores a cada dia, e para podermos competir no mercado de trabalho e garantir nossa empregabilidade, buscamos a excelência constantemente. Este é somente um pequeno exemplo do discurso que compõe a matriz global. Uma matriz que nos ensina sobre excelência, empreendedorismo, empregabilidade, sucesso relacionado ao aspecto financeiro (possuir bens), entre tantas outras coisas.

Nesta análise, para efeito de fechamento do que vimos estudando até aqui sobre a globalização, iremos utilizar a obra Globalização, de George Soros (2003), que traz uma excelente apreciação crítica sobre este fenômeno.

Soros (2003, p. 46) fala sobre aquilo que define como fundamentalismo de mercado, onde a “sua tese é a de que a alocação de recursos é mais eficaz quando

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deixada por conta dos mecanismos de mercado e que qualquer interferência nessas forças reduz a eficiência da economia. Com base nos critérios de fundamentalismo econômico, a globalização tem sido um projeto de grande sucesso”.

A globalização é, com efeito, um processo desejável sob vários aspectos. As empresas privadas são mais eficazes na criação de riquezas do que o Estado. Além disso, estes apresentam a tendência de abusar do seu poder; nenhum país é capaz de garantir o grau de liberdade individual proporcionado pela globalização. A livre competição, em escala global, liberou incentivos e talento empreendedor, além de acelerar inovações tecnológicas (SOROS, 2003, p. 46).

Cabe refletirmos um pouco sobre esta liberdade individual que o autor coloca. Será que somos realmente livres? Ou somos livres dentro desta matriz de pensamento global que nos impõe jeitos de ser e de viver?

A globalização também tem seu lado negativo. Primeiro, muitas pessoas, sobretudo nos países menos desenvolvidos, foram atropeladas pela globalização, sem o amparo de redes de segurança social; muitas outras foram marginalizadas pelos mercados globais. Segundo, a globalização provocou má distribuição dos recursos entre bens privados e bens públicos. Os mercados são eficazes na criação de riqueza, mas não servem para cuidar de outras necessidades sociais.

A busca desenfreada de lucros pode danificar o meio ambiente e conflitar com outros valores sociais. Terceiro, os mercados financeiros globais são propensos a crises. Os habitantes dos países desenvolvidos talvez não estejam plenamente conscientes das devastações infligidas pelas crises financeiras, porque [...] elas tendem a atingir com muito mais intensidade as economias em desenvolvimento. Todos estes três fatores atuam em conjunto para criar um campo de jogo muito desnivelado (SOROS, 2003, p. 46).

NOTA

A análise econômica sobre os impactos da globalização apresenta resultados confusos. Dollar e Kraay, do Banco Mundial, acham que os países em desenvolvimento, com expansão mais acentuada das atividades comerciais, como porcentagem do PIB, depois de 1980, experimentaram taxas de crescimento mais altas em comparação com seu desempenho “pré-globalização” e em cotejo com os resultados dos países em desenvolvimento “não globalizados”. Esses países reduziram o hiato de renda em relação ao mundo industrializado. O estudo também constatou inexistência de correlação entre mudanças na participação do comércio no PIB e os níveis de desigualdade interna. Contudo, a pobreza absoluta declinou nos países globalizados. No outro lado do debate, Rodrik, economista de Harvard, argumenta que a inovação interna, voltada para os investidores internos, é fator muito mais importante para a melhoria do desempenho econômico do que a abertura comercial. David Dollar e Aart Kraay, “Trade, Growth and Poverty”, Development Research Group, Banco Mundial, junho de 2001. Dani Rodrik, “The Global Governance of Trade as IF Development Really Mattered”, apresentado no Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (Harvard University, julho de 2001).

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Para que possamos entender melhor as possíveis vantagens e desvantagens da globalização, acompanhe o quadro a seguir.

QUADRO 8 - BENEFÍCIOS E MALEFÍCIOS DA GLOBALIZAÇÃO

FONTE: Adaptado de Soros (2003)

Seguindo em suas análises, George Soros (2003), que se declara um defensor da globalização, daquilo que define como sociedade aberta global, reconhece que a mesma possui deficiências e que, para corrigi-las, seriam necessárias algumas reformas institucionais nas seguintes áreas:

1. Conter a instabilidade dos mercados financeiros.2. Corrigir o viés intrínseco de nossas instituições financeiras e comerciais internacionais em favor dos países desenvolvidos que as controlam.3. Complementar a Organização Mundial do Comércio (OMC), que facilita a criação de riqueza, com instituições internacionais igualmente poderosas, dedicadas a outras metas sociais, como a redução da pobreza e o fornecimento de bens públicos em escala global.4. Melhorar a qualidade de vida pública em países que sofrem com governos corruptos, repressivos ou incompetentes (SOROS, 2003, p. 49).

4.3 AS EMPRESAS TRANSNACIONAIS

Com o advento da globalização, se intensificam ainda mais sobre o mundo as grandes corporações, que haviam surgido com força após a Segunda Guerra Mundial e que se caracterizavam pela instalação e fabricação de seus produtos em países diversos, o que caracteriza as empresas transnacionais. Esses investimentos diretos estrangeiros ocorrem com maior intensidade, principalmente devido à abertura dos mercados e à valorização cambial.

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Segundo Hiratuka (2000), até a década de 70 a estratégia de internacionalização das empresas transnacionais (ETs) se resumia na montagem e operação de filiais relativamente autônomas e que tentavam reproduzir em menor escala a estrutura reprodutiva das matrizes.

Porém, esta era uma época onde não se falava em abertura de mercados e onde a produção seguia quase que uma tendência de atendimento do mercado interno dos países onde esta filial se encontrava. Não existia ainda uma competitividade global como a que estamos acostumados a observar atualmente.

Recentemente, a interação existente entre o acirramento da concorrência em nível mundial, a desregulamentação/liberalização dos mercados e a difusão de tecnologias de informação têm levado as ETs (empresas transnacionais) a atuarem de uma maneira que vai além das formas tradicionais de IDE (investimento direto estrangeiro), para explorar recursos mais abundantes e/ou para contornar barreiras tarifárias e não tarifárias e atingir novos mercados, fato que configurava uma rede de filiais relativamente autônomas e independentes (HIRUTAKA, 2000, p. 116).

Já entendendo a questão do impacto das grandes corporações transnacionais na economia de mercado mundial, principalmente em relação à desigualdade de riqueza das nações desenvolvidas e em desenvolvimento, alguns autores apresentam algumas críticas.

As empresas transnacionais, instrumentos de concentração e acumulação, respondem a um duplo objetivo: utilizar a mão de obra barata dos países subdesenvolvidos para produzir a baixo custo produtos de exportação, e elevar as taxas de lucros, que desceram a um nível bastante baixo nos países que integram o centro do sistema. Esses dois objetivos não poderiam ser atingidos sem uma mundialização da produção e do consumo, das trocas e do mercado, do capital sob todas as suas formas e do trabalho (SANTOS, 2002, p. 16).

LEITURA COMPLEMENTAR

Investimento estrangeiro e comércio exterior brasileiro: breve retrospecto

A importância das empresas estrangeiras na economia brasileira não é um fenômeno novo. Os fluxos de investimento direto estrangeiro (IDE) na economia brasileira podem ser documentados pelo menos a partir do final do século XIX, sendo nesse período principalmente de origem inglesa e direcionados para os setores vinculados diretamente ou indiretamente aos negócios do café que demandavam serviços de transporte ferroviários e marítimos, seguros e atividades de apoio ao comércio exterior (CASTRO, 1979).

Desde a virada do século até o início da década de 1930, o investimento estrangeiro se diversifica. Aumenta a importância de empresas norte-americanas e surgem novos setores de atuação impulsionados pela maior urbanização e industrialização. Destacam-se os serviços de produção e distribuição de eletricidade.

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Já os investimentos estrangeiros direcionados para a indústria começam a ganhar relevância a partir da década de 30.

No entanto, somente no pós-guerra as empresas transnacionais (ETs) na indústria brasileira passarão a ter decisiva dimensão. Embora no período anterior a presença do capital estrangeiro tenha sido importante, é a partir de meados da década de 50, quando a indústria brasileira desenvolve os encadeamentos setoriais típicos de uma economia industrial mais avançada, que as ETs passam a ser parte constitutiva da estrutura industrial, assumindo a liderança em diversos setores e determinando em grande medida a dinâmica industrial.

No contexto externo, esse período foi marcado pela internacionalização produtiva das grandes empresas americanas, seguidas pelas corporações europeias. No âmbito interno, o IDE e as atividades das ETs passaram a ser estimulados explicitamente para conformar o tripé (juntamente com o capital privado nacional e as empresas estatais) sobre o qual se baseou a industrialização brasileira. A combinação de política liberal para o capital estrangeiro com proteção ao mercado interno através de elevadas barreiras tarifárias e não tarifárias sobre as importações estimulou o fluxo de IDE para a indústria, principalmente naqueles setores onde eram mais explícitas as vantagens derivadas da posse de ativos específicos à propriedade das ETs para explorar o potencial de crescimento do mercado interno.

De acordo com os dados de Doellinger e Cavalcanti (1976), para uma amostra de 318 grandes empresas industriais para o ano de 1973, as estrangeiras representavam 41,8% do número de empresas, 40,4% do patrimônio líquido, 55,2% do faturamento e 51,1% do emprego. Predominavam nos setores mais intensivos em capital e tecnologia.

No comércio exterior, o papel das ETs aumentaria a partir do final da década de 60. Até esse período, as atividades das filiais estiveram fundamentalmente voltadas para atender ao mercado interno, como de resto, em geral, toda a atividade industrial brasileira. Embora o ritmo de crescimento do comércio mundial tenha sido bastante intenso desde o pós-guerra, as exportações brasileiras ficaram praticamente estagnadas até meados da década de 60, em torno de US$ 1,4 bilhão.

Apesar das transformações internas do setor industrial, o café ainda respondia por cerca de 45% do total exportado. Os produtos industrializados representavam apenas 15% das vendas externas (BAUMANN, 1985).

A partir do final da década, quando se tornou explícito o objetivo de aumentar as exportações de manufaturados e foram executadas políticas de promoção, registrou-se um notável crescimento e diversificação da pauta exportadora brasileira, com participação crescente de produtos manufaturados (BAUMANN, 1985). Entre o início da década de 70 e o início da década de 80, as exportações de manufaturados cresceram quase 30% ao ano e a participação

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brasileira no comércio mundial aumentou de 0,26% entre 1970-72 para 0,86% no triênio 1981/83 (GONÇALVES, 1987).

Para o ano de 1980, o autor encontrou índices mais elevados de vantagem comparativa revelada para a economia brasileira em setores tradicionais, como Calçados, Madeira, Couros e Peles, Têxteis e Papel. Considerando as empresas estrangeiras, os índices foram maiores nos setores de Material Elétrico, Material de Transporte, Borracha, Farmacêutica e Mecânica. A conclusão é que um padrão de vantagem comparativa vigorava para as multinacionais instaladas no Brasil, bastante distinto do padrão relativo à indústria brasileira. A atuação das ETs contribuiu para uma maior modernização e sofisticação da indústria, principalmente ao longo da década de 70.

FONTE: Disponível em: <https://livrozilla.com/doc/708018/o-investimento-estrangeiro-na-economia-brasileira-e-o>. Acesso em: 20 mar. 2017.

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RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• A queda do Muro de Berlim e o surgimento do Windows configuram forças que contribuem para que o mundo venha a se tornar planificado, como conhecemos hoje.

• A conectividade proporcionada através da internet e de várias outras ferramentas da tecnologia digital faz com que o mundo se reconfigure em termos de velocidade e acesso às informações.

• A globalização pode ser estudada em ondas, sendo que a mais comentada é a relativa à nova onda, que tem seu início na década de 90.

• O Consenso de Washington procurou preparar os discursos e sugerir medidas que iriam ter impacto direto na abertura de mercados do mundo globalizado.

• Os blocos econômicos foram criados com a finalidade de desenvolver o comércio, sendo eliminadas as barreiras alfandegárias dos países membros.

• O Brasil é integrante do bloco conhecido como Mercosul.

• A globalização pode ser compreendida como um fenômeno que trouxe vantagens e desvantagens para as nações. Entre as desvantagens, podemos considerar a marginalização de uma parcela da população e a não resolução das questões relacionadas à pobreza.

• A globalização afeta o jeito de ser e viver das populações.

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AUTOATIVIDADE

Caro acadêmico! Para fixar melhor o conteúdo estudado, vamos exercitar um pouco. Leia as questões a seguir e responda-as em seu livro de estudos. Bom trabalho!

1 Thomas Friedman (2009) expõe que houve dez forças que foram responsáveis por tornar o mundo plano. Analise as afirmativas sobre estas forças e responda:

I – A queda do Muro de Berlim serviu para impulsionar as ideias que iriam repercutir no fim do regime socialista soviético no futuro.II – O surgimento do Windows propicia um grande avanço na forma como as pessoas passam a lidar com o uso dos computadores pessoais.III – Com o início da world wide web o mundo realmente se planifica, permitindo aos seus usuários que se comuniquem ao redor do mundo em tempo real.IV – Uploading, Offshoring e Terceirização não são consideradas entre essas dez forças.V - Google, Yahoo, MSN Web Search também são considerados dentro destas dez forças destacadas pelo autor.

É correto o que afirma em:

a) ( ) As assertivas I e III, apenas. b) ( ) As assertivas I, II e III, apenas. c) ( ) As assertivas I, II, III e V, apenas. d) ( ) As assertivas I e V, apenas.e) ( ) A assertiva I, apenas.

2 A globalização altera o funcionamento do mundo em várias áreas. Comente como isso ocorre em relação à cultura das populações.

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TÓPICO 2

A DEMOCRACIA E O COMÉRCIO

ELETRÔNICO

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Estudamos, no tópico anterior, que a globalização ocorre envolvida por grandes transformações nas formas como as pessoas e organizações se comunicam e interagem, normalmente mediadas pelo advento da world wide web e sua expansão através da internet e inúmeros mecanismos de conectividade, o que compõe as chamadas tecnologias da informação e comunicação (TICs).

Seguindo nesta lógica, essas mudanças também repercutem diretamente nos mercados, propiciando que cada vez mais clientes possam interagir, pesquisar e realizar suas compras via internet, o que caracteriza o que chamamos de comércio eletrônico.

2 O COMÉRCIO ELETRÔNICO E A ORGANIZAÇÃO DOS MERCADOS

Você já teve a experiência de comprar algo pela internet? Ou já fez pesquisa de preços pelo site de alguma empresa para depois efetuar a sua compra?

FIGURA 9 - COMÉRCIO ELETRÔNICO

FONTE: Disponível em: <https://pixabay.com/pt/ecommerce-venda-on-line-2140603/>. Acesso em: 20 mar. 2017.

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Pois bem, estas são ações comuns e cada vez mais têm se tornado banais na realização de compras em quase todos os segmentos do mercado. Aliás, o próprio conceito de mercado da economia se reconfigurou para abranger a ideia de mercado eletrônico. Antes entendido como um local físico onde se realizavam as relações de compra e venda pelos produtores e consumidores, agora, com o comércio eletrônico, já se admite ir além desta configuração física, uma vez que a característica principal deste mercado eletrônico é possibilitar que estas transações se realizem (ou se encaminhem) de forma virtual, através da rede.

Segundo Malone, Yates e Benjamin (1998 apud ALBERTIN, 1998), o mercado eletrônico não é irreal ou teórico, ele é de fato inevitável. Sua contínua proliferação e evolução irá alterar toda a nossa economia. Ele irá afetar negativamente todos os negócios que decidirem não participar dele. Os executivos têm que analisar suas tendências, porque esse novo mercado está cheio de ameaças para os não preparados e cheio de oportunidades para os preparados.

QUADRO 9 - CARACTERÍSTICAS DOS MERCADOS ELETRÔNICOS

FONTE: Adaptado de Albertin (1998)

É importante que percebamos que ao nos referirmos ao comércio eletrônico, temos que considerar que ele vai muito além das transações realizadas on-line pelos compradores e vendedores, pois abrange também todas as demais tecnologias envolvidas e que dão suporte a estas operações. Dessa forma, podemos defini-lo como público (relações externas com o cliente) e privado (processos internos da empresa).

O CE público é tido como construído na fundação da World Wide Web (WWW) e outras tecnologias sobre as quais empresas, fornecedores e consumidores se ligam nas transações on-line. Uma visão superficial tende a assumir que o CE é restrito exclusivamente a atividades externas da organização, o CE público. O CE privado é definido como sendo a utilização de comércio eletrônico nos processos e aplicações. Especificamente, define-se comércio interno como utilizando métodos e tecnologias pertinentes para suportar processos de negócios internos entre indivíduos, departamentos e organizações colaboradoras (ALBERTIN, 1998, p. 58).

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Convém percebermos que na atual conjuntura de mercado as empresas necessitam cada vez mais do desenvolvimento de diferenciais e vantagens competitivas perante os seus concorrentes, o que pode também ser conseguido através das operações envolvidas com o comércio eletrônico em toda a sua extensão nos processos sobre os quais atua, sejam os internos ou externos.

O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) alerta sobre as vantagens e desvantagens do comércio eletrônico, conforme o quadro a seguir.

QUADRO 10 - COMÉRCIO ELETRÔNICO

VANTAGENS DESVANTAGENSMaior comodidade na compra do produto ou serviço.

Vulnerabilidade de hackers para dados de cartões e senhas bancárias.

Disponibilidade da loja estar aberta 24 horas por dia.

Compras incorretas em razão da despadronização do tamanho de roupas, de calçados e outros itens do vestuário.

Acesso a qualquer momento por meio de smartphones ou outros aparelhos com conexão à internet.

Possíveis atrasos ou danificação do produto durante a entrega.

Facilidade nas pesquisas comparativas.

FONTE: Disponível em: <https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/vantagens-e-desvantagens-do-comercio-eletronico,3e8a438af1c92410VgnVCM100000b272010aRCRD>. Acesso em: 10 abr. 2017.

Reforçando ainda mais a ideia da importância do comércio eletrônico como novo modelo de negócio para as empresas na atualidade, Nakamura (2011, p. 10) diz que:

Atualmente, as características predominantes no novo mundo empresarial são a globalização, integração interna e externa das empresas, a grande concorrência, necessidades de operações em tempo real, orientação a clientes, excesso de informação, responsabilidade social, regulamentação governamental, entre outras. Com essa nova tendência de mercado, o comércio eletrônico surgiu como novo modelo de negócio. Esse novo modelo proporciona mecanismos para automatizar as vendas eletrônicas, gerenciar suprimentos e estoques, a logística e cobrança que são acompanhadas através da internet.

Baseado nestas informações iniciais sobre o comércio eletrônico, poderíamos nos questionar: como este se relaciona com o setor do agronegócio? As empresas fazem uso do mesmo?

Existem hoje inúmeras plataformas que procuram favorecer as transações comerciais entre as empresas que compõem o agronegócio brasileiro e mundial. Uma delas é a Agroplace, que possui como meta principal atingir o mercado da

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União Europeia, Américas e Brasil. Segundo Anderson Luis, CEO da empresa, com sede na Espanha:

FIGURA 10 - EXEMPLO DE PLATAFORMA DIGITAL DE AGRONEGÓCIO

FONTE: Disponível em: <https://www.agroplace.net/>. Acesso em: 13 abr. 2017.

Nossa plataforma irá baratear o custo dos alimentos e bebidas, incluir no mercado global pequenos produtores e pequenos comerciantes, além dos médios e grandes, evidentemente, e contribuir para o fortalecimento do agronegócio brasileiro, justifica Anderson. A plataforma está dividida em 16 categorias principais para facilitar a oferta e a busca de produtos: apicultura, bebidas, cereais e grãos, charcutaria, condimentos, lácteos, ovos, fibras, peixes e mariscos, frutas, legumes, carnes, frutos secos, azeites, estimulantes e verduras – e também subcategorias, tudo com descrições e especificações detalhadas. Funciona 24 horas por dia, 365 dias ao ano (LUIS, 2016, s.p.).

2.1 PARTICULARIDADES DO COMÉRCIO ELETRÔNICO

O comércio eletrônico tem sido objeto de inúmeras pesquisas nas últimas décadas, visando o aumento de sua importância para os mercados e movimentação da economia global. Desta forma, algumas particularidades podem ser definidas como sendo percebidas na maioria dos segmentos que se utilizam do CE.

Segundo Albertin (1998), estas particularidades podem ser resumidas em cinco características:

1 Adoção em massa pelo mercado

O autor salienta que a chave para o sucesso das aplicações de CE, certamente, é uma grande adoção desses tipos de tecnologias por parte dos clientes, da mesma forma que as transações no ambiente de CE somente podem ter sucesso se as trocas financeiras entre compradores e vendedores poderem acontecer em um ambiente simples, universalmente aceito, seguro e barato.

2 Sistemas eletrônicos de pagamentos

Com o CE, formas inteiramente novas de instrumentos financeiros estão sendo desenvolvidas. Alguns desses novos instrumentos financeiros são relativos aos sinais eletrônicos, na forma de dinheiro ou cheques eletrônicos.

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Os sinais eletrônicos são projetados como analogias eletrônicas das várias formas de pagamento que têm por trás um banco ou instituição financeira. Os sinais eletrônicos são de três tipos. Dinheiro ou tempo real: As transações são estabelecidas com a troca de moeda eletrônica, por exemplo, o dinheiro eletrônico (e-cash). Débito ou pré-pagamento: Os usuários pagam adiantado pelo privilégio de obter informação, por exemplo, os cartões inteligentes que armazenam dinheiro eletrônico. Crédito ou pós-pagamento: O servidor autentica os clientes e verifica com o banco se os fundos são adequados antes da compra, por exemplo, os cartões de crédito/débito e cheques eletrônicos (e-check) (ALBERTIN, 1998, p. 61, grifos nosso).

3 Privacidade e segurança

“Uma outra fonte potencial de problemas é a preocupação dos clientes com privacidade e segurança, que poderia levar a uma postura contrária aos fornecedores que utilizam tais sistemas, ou simplesmente a não utilização desses sistemas por parte dos clientes” (ALBERTIN, 1998, p. 61).

Quanto a este aspecto relacionado à segurança e confiança/privacidade, percebemos que pode haver um choque com as ideias democráticas que estabelecem direitos de se expressar e transitar pelos caminhos que o cidadão escolher. No caso da rede isto se complica, uma vez que a privacidade pode ser invadida através do uso de programas e aplicativos criados para essas finalidades. Muitas são as questões que têm sido levantadas sobre este tema, lembramos recentemente o caso que foi denunciado sobre as informações levantadas pelo FBI norte-americano sobre a vida de pessoas no mundo inteiro via web, lembra?

Você provavelmente já deve ter vivido a experiência de começar a receber em inúmeros sites diferentes links que o direcionam para algo que gostaria de fazer ou comprar. Isso demonstra como existe cruzamento de informação entre sites de busca, e-mails, redes sociais, entre outros.

Para Castells (2008), a dimensão tecnológica possibilitou a transformação política e os processos democráticos na sociedade em rede, criando um espaço privilegiado para debates públicos e estratégias de exercício do poder. Segundo o autor, as TIC influenciam essas mudanças e são denominadas por ele como política informacional. Neste âmbito, as TIC são o ponto de partida para as principais análises sobre a complexidade do atual estágio econômico, social, político e cultural da chamada Sociedade da Informação. Elas são o imperativo que viabilizou o surgimento de novos paradigmas; de novas discussões acerca do papel do Estado, dos cidadãos, das instituições no gerenciamento das informações e das empresas na administração dos fluxos financeiros. “Essas transformações dos processos geopolíticos, científicos e tecnológicos que dinamizaram os meios de interação são a base material que caracteriza e dá forma ao desempenho de atividades exercidas nessa nova conjuntura” (ALMEIDA, 2014, p. 25).

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4 Relações com os clientes

Neste item, em especial, Albertin (1998) expressava suas ideias a partir da experiência pioneira dos bancos em relação ao home banking, que apontava para a necessidade de criar ferramentas que tornassem a participação dos clientes mais próxima da agência, o que atualmente sabemos que já foi superado pela integração de vários sistemas e aplicativos que criam esse ambiente de relacionamento esperado.

Essa situação leva a projetar aplicações de CE que incorporem oportunidades para compreender os clientes e para a venda proativa de novos produtos. Por um lado, as informações relativas aos clientes devem, através das aplicações de CE, ser mais completas, estar disponíveis e ser mais facilmente tratadas. Por outro lado, o papel do pessoal da agência do banco muda nesse novo ambiente. Argumentos e experiências similares podem ser encontrados nos outros setores econômicos. O CE tende a mudar significativamente a relação com os clientes, o que pode ter um efeito positivo ou negativo, dependendo da forma como esse aspecto é tratado (ALBERTIN, 1998, p. 62).

5 Aspectos de implementação

Ao implementar o comércio eletrônico na empresa, devemos ter clara a ideia de que este, sozinho, não irá funcionar, uma vez que deve ser considerado como um processo complexo que unirá vários departamentos da empresa, senão todos, e estes deverão estar alinhados.

O alinhamento dos componentes de uma organização é considerado como o principal aspecto para estabelecer uma sólida vantagem competitiva. Os aspectos de alinhamento ou equilíbrio relevantes para CE são aqueles estabelecidos entre: estratégia e tecnologia; tecnologia e os processos organizacionais; e tecnologia e pessoas (ALBERTIN, 1998, p. 62).

Aqui notamos a importância de investir, não somente na tecnologia, mas também na capacitação das pessoas envolvidas nos processos, uma vez que poderá haver resistências e conflitos ao proporem essas mudanças no funcionamento comercial da empresa. Da mesma forma, as estratégias da empresa deverão ser revistas e reajustadas para contemplar o novo cenário e novas modalidades de transações realizadas via internet com clientes e fornecedores.

3 DEMOCRACIA DIGITAL E CIDADANIA

Não podemos deixar de analisar que o advento das novas tecnologias da informação e da comunicação (TIC), que surgem através da world wide web, alteram também a maneira como o cidadão se relaciona na esfera política com os governos (Estado) a que se faz sujeito e vice-versa. As TIC fazem com que a participação popular se realize também através de sites e o governo eletrônico passa a existir possibilitando o acesso do cidadão a inúmeros serviços e suportes

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on-line em vários órgãos nas esferas federais, estaduais e municipais. Podemos dizer que a própria empresa pública se insere neste movimento acompanhando as tendências mundiais. Podemos considerar também que vivemos um novo período da democracia, definido como democracia digital. Castells (2008) estuda estas transformações sofridas pela democracia através de três tendências:

QUADRO 11 - TENDÊNCIAS DA NOVA POLÍTICA DEMOCRÁTICA

Tendências Características Finalidade

Primeira tendência

Recriação do Estado local. Integração dos governos regionais e locais, buscando a descentralização nas co-munidades, a participação dos cidadãos e atuação em conjunto.

Segunda tendência

Aproveitamento das opor-tunidades oferecidas pela comunicação eletrônica e acesso on-line às informa-ções.

Aprimorar as formas de participação política e co-municação horizontal entre os cidadãos, facilitar a difusão e a recuperação da informação, promovendo a interação e a realização de debates em fóruns eletrônicos.

Terceira tendência

Desenvolvimento de umapolítica simbólica e mobi-lização em torno de causas ‘não políticas’ via eletrônica ou por outros meios.

Influenciar a gestão da so-ciedade pelos represen-tantes dessa sociedade mobilizando a atuação no processo político, fazendo apelo direto aos cidadãos, pedindo às pessoas que exerçam pressão sobre as instituições do governo e empresas privadas que possam ter um papel importante no tratamento da questão defendida.

FONTE: Adaptado de Castells (2008, p. 411-412)

Uma pergunta fica latente ao falarmos nessa nova democracia digital, que surge através do processo de globalização que estudamos na unidade anterior, associado com as transformações tecnológicas que propiciam o comércio eletrônico e reconfiguram a vida em sociedade: como ficam aquelas pessoas que hoje vivem à margem das conexões via internet e não conseguem se inserir neste meio? Como irão participar da democracia digital aqueles que nem sequer têm acesso à internet devido a sua situação de pobreza ou vulnerabilidade social?

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Assim, deve estar no universo do e-gov a preocupação com a dimensão da democracia eletrônica capaz de permitir que todo cidadão, ao interagir com o governo via web, possa exercer a sua capacidade participativa das mais diversas formas, seja acompanhando a gestão dos recursos do órgão, demandando serviços eletrônicos ao tempo que o gestor público concebe o ato democrático da expressão popular [...] (ARAÚJO et al., 2012, p. 74).

NOTA

À medida que o e-commerce amadurece e suas ferramentas e aplicações se aperfeiçoam, mais as instituições públicas e governamentais (países, estados, distritos e municípios etc.) lançam mão deles a fim de melhorar seus negócios. Diversas conferências internacionais foram realizadas em 2000 e 2001, com a finalidade de explorar o potencial daquilo que se chama de governo eletrônico (e-government). Governo eletrônico (e-government) é a utilização da tecnologia da informação em geral, e do e-commerce em particular, para oferecer aos cidadãos e organizações acesso mais conveniente a informações e serviços governamentais e providenciar a prestação de serviços públicos a cidadãos, parceiros de negócios, e aos que trabalham no setor público. Também é um meio eficiente e efetivo de realizar transações de negócio tanto externas, com cidadãos e outras instituições, quanto internas, dentro dos próprios órgãos públicos. Em resumo, o governo eletrônico é a aplicação da tecnologia da informação e do CE ao processo de governar (TURBAN; KING, 2004, p. 243).

3.1 ÉTICA E CIBERCRIME

Dentro das inúmeras operações possíveis de se realizar através do comércio eletrônico, conforme abordamos nas particularidades do mesmo, ao falarmos sobre a privacidade e a segurança, temos algumas questões éticas envolvidas, algumas delas já regulamentadas por lei e outras ainda em fase de discussões.

A ética tem sido estudada e definida pelos filósofos desde a Filosofia Antiga e refere-se ao discernimento entre práticas ou condutas morais do ser humano, estabelecendo se elas se definiriam como certas ou erradas dentro da sociedade.

Nas atividades relacionadas ao e-commerce, porém, as noções do que seria certo ou errado parecem ter seus limites pouco definidos, pois percebemos inúmeras práticas de transferência de informações dos usuários, por exemplo, entre sites de diversos negócios, que poderiam ser enquadradas como antiéticas, no entanto ocorrem naturalmente.

Turban e King (2004) sugerem alguns exemplos de ações julgadas antiéticas relacionadas ao comércio eletrônico:

• Um site coleta informações sobre clientes potenciais e vende a seus anunciantes. Como alguns desses perfis são inexatos, as “vítimas” acabam recebendo um grande número de e-mails impróprios e intrusivos. Este tipo de lixo eletrônico deve ser permitido? Ou, talvez, deveria portar uma etiqueta de identificação?

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• Uma empresa permite a seus empregados a utilização limitada da Web para assuntos pessoais. Sem que os empregados saibam, o pessoal de TI não somente monitora suas mensagens, como também examina seu conteúdo. Se achar que esse conteúdo é inconveniente, a empresa deve ter o direito de demitir os empregados culpados?

Considerar estas ações como antiéticas (ou até ilegais) depende, em grande parte, do sistema de valores vigentes no país onde elas ocorrem. O que é antiético em uma cultura pode ser perfeitamente aceitável em outra. Muitos países ocidentais, por exemplo, preocupam-se muito mais com os indivíduos e seu direito à privacidade que alguns países asiáticos. Na Ásia é dada uma ênfase maior aos benefícios à sociedade do que aos direitos individuais. Alguns países, como Suécia e Canadá, têm leis de privacidade muito rígidas, enquanto outros não têm nenhuma. Essa situação pode obstruir o fluxo de informações entre as nações. De fato, em 1998, a European Community Comission (Comissão da Comunidade Europeia) emitiu, para todos os seus países membros, diretrizes relativas aos direitos que os indivíduos têm de acessar informações sobre si próprios e corrigir erros (TURBAIN; KING, 2004, p. 308).

Vale ressaltar que no Brasil temos a Lei nº 12.737, de 30 de novembro de 2012, que dispõe sobre os crimes da internet, ou cibercrimes, que comenta:

Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. § 1o Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de computador com o intuito de permitir a prática da conduta definida no caput. § 2o Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão resulta prejuízo econômico. § 3o Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle remoto não autorizado do dispositivo invadido: Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não constitui crime mais grave. § 4o Na hipótese do § 3o, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou informações obtidos. § 5o Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime for praticado contra: I - Presidente da República, governadores e prefeitos; II - Presidente do Supremo Tribunal Federal; III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara Municipal; ou IV - dirigente máximo da administração direta e indireta federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal (BRASIL, 2012, s.p.)

A mesma lei ainda irá versar sobre os crimes de interrupção dos serviços de natureza eletrônica e da falsificação de documentos e cartões feitos via internet.

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UNIDADE 2 | O MUNDO AGORA É PLANO

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Como podemos perceber, junto com toda uma série de benesses que surgem para as empresas e seus clientes/usuários que aderem ao comércio eletrônico surgem também questões que abalam as normas morais e fazem com que sobre elas tenha que se desenvolver novas normas jurídicas para o seu controle.

LEITURA COMPLEMENTAR

Crimes pela internet - novas leis reforçam a luta contra essas ações

Luiz Fernando Pereira

No último dia 3 de dezembro foram publicadas no Diário Oficial da União as leis nº 12.735/12 e 12.737/12, que alteram o Código Penal para tratar de crimes cibernéticos. A primeira (Lei nº 12.735) tipifica condutas realizadas mediante uso de sistema eletrônico, digitais ou similares, que sejam praticadas contra sistemas informatizados. O projeto original dessa lei tramitou no Congresso desde 1999 (PL 84/99, na Câmara).

O texto original era bastante abrangente e criou polêmica, por exemplo, no que se refere à responsabilidade dos provedores de internet. Durante a longa tramitação, no entanto, o texto foi reduzido a quatro artigos e, na sanção, a presidente Dilma Rousseff vetou dois. Um dos que ficaram para entrar em vigor determina a instalação das delegacias especializadas. O outro altera a Lei nº 7.716/89, sobre racismo, para que juízes possam determinar suspensão de transmissões radiofônicas, televisivas e eletrônicas de símbolos nazistas. Para esse crime, a pena vai de dois a cinco anos de prisão e multa.

A segunda Lei, nº 12.737/12, criminaliza as condutas cometidas através da internet, tais como: invasão de computadores, roubo e/ou furto de senhas e de conteúdos de e-mails e a derrubada intencional de sites, inclusive oficiais, o que tem ocorrido com frequência em todo o mundo. Esta lei ganhou o apelido de Lei Carolina Dieckmann, porque o projeto (PL 35/12) foi elaborado na época em que fotos da atriz global foram espalhadas pela internet.

Muitas são as opiniões formadas em relação a esta Lei nº 12.737/12. Uma das críticas é em relação às punições previstas, que são muito brandas, pois no Brasil penas de até quatro anos de reclusão para crime sem violência se transformam em restrição de direitos, ou seja, na prática ninguém sofrerá perda de liberdade, porque a nova lei prevê no máximo um ano de detenção.

Uma regulamentação mais completa da internet brasileira é esperada com o Marco Civil, que vem sendo discutido na Câmara. O Marco Civil da Internet pretende definir responsabilidades e deveres de provedores e usuários.

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TÓPICO 2 | DEMOCRACIA E O COMÉRCIO ELETRÔNICO

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Como agir em caso de crimes virtuais

1. Colete e preserve as evidênciasImprima e salve: arquivos, e-mails, telas, páginas de internet e tudo que

possa comprovar o crime. “No mundo virtual as evidências podem desaparecer de uma hora para outra”. Preserve as provas em algum tipo de mídia protegida contra alteração, como um CD-R ou DVD-R. Todas as provas ajudam como fonte de informação para a investigação da polícia.

2. Atribua validade jurídica nas provas obtidasProcure um cartório para registrar uma Ata Notarial das evidências. Este

documento pode ser usado como prova na justiça.

3. Faça um Boletim de OcorrênciaProcure a delegacia de polícia do seu bairro para registrar a ocorrência. Em

alguns estados existem delegacias especializadas em crimes virtuais. Veja se o seu estado já possui este serviço.

O que é uma Ata Notarial?

Ata Notarial é um instrumento público por meio do qual o tabelião ou preposto, a pedido da pessoa interessada, constata fielmente os fatos, as coisas, comprova o seu estado, a sua existência e a de pessoas ou situações que lhe constem, com seus próprios sentidos, portando por fé que tudo aquilo presenciado e relatado representa a verdade plena.

Este ato é redigido e lavrado por um tabelião de notas em livro próprio – podendo evidentemente ser obtida em qualquer Tabelionato de Notas ou Registro Civil cumulado com Notas.

Para que serve?

A Ata Notarial serve para pré-constituir prova dos fatos. Muitas vezes não temos como provar uma situação potencialmente perigosa ou danosa. O tabelião é, portanto, uma testemunha oficial em cujo ato vai desencadear a fé pública e fazer prova plena perante qualquer juiz ou tribunal.

Como utilizar nos casos de internet?

A Ata Notarial comprova inúmeros fatos na internet, dentre eles:

• Prova o conteúdo divulgado em páginas da internet.• Prova o conteúdo da mensagem e o IP emissor.• Textos que contenham calúnia, injúria e/ou difamação.• Uso indevido de imagens, textos [livros], filmes, logotipos, marcas, nomes

empresariais, músicas e infrações ao direito autoral e intelectual.• Concorrência desleal.• Consulta em páginas de busca.

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UNIDADE 2 | O MUNDO AGORA É PLANO

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• Comunidades on-line que conectam pessoas através de uma rede de amigos.• Consulta do CPF no sítio da Receita Federal etc.

Nas verificações, tanto no meio físico quanto no eletrônico, o tabelião constata os fatos, relatando fielmente tudo aquilo que presenciou. A Ata Notarial tem força certificante para comprovar a integridade e veracidade destes documentos, atribuir autenticidade, fixar a data, hora e existência do arquivo eletrônico.

Essas atas notariais, utilizadas em juntadas em atos processuais ou extrajudiciais, se revelam meio seguro e adequado para se constatar um sítio eletrônico na internet. Isso porque esse meio é suficiente para autenticar o conteúdo de um endereço eletrônico (www) em determinado momento, e preservá-lo para o futuro com plena segurança (sob manto da fé pública).

Preciso de advogado?

Não, você pode solicitar diretamente ao tabelião. Se você tiver um advogado, consulte-o e decida com ele sobre a conveniência de fazer uma Ata Notarial.

FONTE: Disponível em: <https://drluizfernandopereira.jusbrasil.com.br/artigos/111858284/crimes-pela-internet-novas-leis-reforcam-a-luta-contra-essas-acoes>. Acesso em: 13 abr. 2017.

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• O comércio eletrônico (e-commerce) é uma realidade forte na atualidade e a empresa que optar por não fazer parte dele significa se colocar em prejuízo frente à concorrência global.

• Algumas das características do comércio eletrônico são: a onipresença, facilidade de acesso à informação e o baixo custo de transação.

• O CE abrange as atividades externas da organização, que compõe o CE público, já o CE privado é definido como sendo a utilização de comércio eletrônico nos processos e aplicações internos das empresas.

• Uma das particularidades do comércio eletrônico diz respeito à adesão em massa pelo mercado, condição essencial para que as transações possam ser realizadas em nível global.

• Ao implementar o e-commerce, deve-se ter o cuidado com as questões tecnológicas e de gestão de pessoas, uma vez que pode haver resistências às mudanças introduzidas com esse novo sistema.

• Com a ascensão das tecnologias da informação e comunicação na vida das pessoas, também a democracia se adapta e passamos a viver o período conhecido como democracia digital, onde o cidadão pode participar da vida política do Estado através da rede.

• O e-commerce também traz consigo questões relacionadas à ética e à legalidade, possuindo leis que disciplinam e punem os chamados cibercrimes, ou crimes praticados via web.

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AUTOATIVIDADE

Caro acadêmico! Para fixar melhor o conteúdo estudado, vamos exercitar um pouco. Leia as questões a seguir e responda-as em seu livro de estudos. Bom trabalho!

1 Reflita sobre o que estudamos referente ao comércio eletrônico e sua expansão dentro dos mercados nacionais e internacionais e responda: Você já realizou alguma compra pela internet? O que comprou? Como foi a entrega? Houve algum problema?

2 Analise as afirmativas sobre as particularidades do comércio eletrônico e responda:

I - A chave para o sucesso das aplicações de CE, certamente, é uma grande adoção desses tipos de tecnologias por parte dos clientes.II – Com o comércio eletrônico também surgem novos instrumentos financeiros relativos aos sinais eletrônicos, na forma de dinheiro ou cheques eletrônicos.III - Outra fonte potencial de problemas relacionados ao comércio eletrônico é a preocupação dos clientes com a sua privacidade e segurança.IV - O CE não necessita que sejam pensados aplicativos que incorporem oportunidades para compreender os clientes e para a venda proativa de novos produtos.V - Ao implementar o comércio eletrônico na empresa, devemos ter clara a ideia de que este irá funcionar sozinho, independente dos demais setores e departamentos.

É correto o que afirma em: a) ( ) As assertivas I e III, apenas. b) ( ) As assertivas I, II e III, apenas. c) ( ) As assertivas I, II, III e V, apenas. d) ( ) As assertivas I e V, apenas.e) ( ) A assertiva I, apenas.

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TÓPICO 3

A MATEMATIZAÇÃO DO MUNDO DA VIDA

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Nossa vida segue um modelo onde tudo deve estar em ordem, esquadrinhado, fragmentado e acomodado em seus locais ideais e correspondentes. Boa parte do nosso tempo atual é despendida em classificações, seleções e julgamentos que remetem a uma certa lógica onde se distingue o que é certo do que é errado, o normal do anormal, o bom do ruim e tantos outros binarismos típicos de nossos tempos contemporâneos.

Ao mesmo tempo, vivemos um período nunca antes vivenciado, com o advento de um mundo global e das comunicações em rede, onde nossas noções de espaço e tempo têm se alterado significativamente, ao que alguns autores comentam haver uma compressão do espaço-tempo, típica desses atuais tempos pós-modernos.

Os aspectos quantitativos (que dizem respeito aos números) soam normalmente com maior importância para a Ciência face aos aspectos qualitativos (que dizem respeito aos demais sentidos).

É nossa pretensão, neste tópico, explorar como chegamos a entender o mundo seguindo esta lógica de pensamento. Afinal, como nossas análises sobre a vida seguiram nesta tendência?

2 ENUNCIADOS CONSTRUINDO REALIDADES

O primeiro conceito que temos que discutir é a existência de uma matriz de inteligibilidade, ou de ideias e pensamentos, que existe em nossa rede neural e que acaba por nos oportunizar condições de ler o mundo, decidir e agir. Alguns autores irão chamar esta matriz de paradigma, outros de modelo mental, ou ainda, modelo de análise da vida, rede neural, enfim, os nomes variam de acordo com o campo discursivo da ciência que esteja sendo utilizada, mas o fato é que possuímos em nossas mentes algumas “verdades” que elegemos e nos definem como seres humanos, constituindo nossas identidades através delas.

O importante, neste primeiro momento, é perceber que inúmeros discursos estão entre nós, desde a nossa infância, e que competem entre si buscando posicionamento nesse modelo. Estes discursos acabaram por constituir as

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UNIDADE 2 | O MUNDO AGORA É PLANO

realidades em que nos encontramos inseridos, ou seja, quando muitas pessoas aderem a tais discursos, criam-se, então, regimes de verdade que acabam fazendo com que a vida ocorra através deles, de suas regras e ditames. Para Michel Foucault (1998, p. 12):

A verdade é deste mundo; ela é produzida nele graças a múltiplas coerções e nele produz efeitos regulamentados de poder. Cada sociedade tem o seu regime de verdade, sua “política geral” de verdade: isto é, os tipos de discurso que ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros; os mecanismos e as instâncias que permitem distinguir os enunciados verdadeiros dos falsos, a maneira como se sanciona uns e outros; as técnicas e os procedimentos que são valorizados para a obtenção da verdade; o estatuto daqueles que têm o encargo de dizer o que funciona como verdadeiro.

Foucault (1998, p. 17) ainda afirma que “as palavras têm uma história, pertencem a uma época, obedecem a regras, estão inseridas em uma determinada ordem discursiva”.

O filósofo Michel Foucault dedicou boa parte de sua vida procurando mapear e identificar genealogicamente como alguns discursos acabaram produzindo tais regimes de verdade, que são adotados com força na Modernidade e acabam por constituir a forma como vivemos atualmente. Esses objetos discursivos, porém, não surgem simplesmente e sim fazem parte de uma complexa rede de relações.

Essas relações são estabelecidas entre instituições, processos econômicos e sociais, formas de comportamentos, sistemas de normas, técnicas, tipos de classificação, modos de caracterização; e essas relações não estão presentes no objeto, não são elas que são desenvolvidas quando se faz sua análise; elas não desenham a trama, a racionalidade imanente, essa nervura ideal que reaparece totalmente, ou em parte, quando o imaginamos na verdade de seu conceito. “Elas não definem a constituição interna do objeto, mas o que lhe permite aparecer, situar-se em relação a ele, definir sua diferença, sua irredutibilidade e, eventualmente, sua heterogeneidade; enfim, ser colocado em um campo de exterioridade” (FOUCAULT, 1998, p. 51).

O que vem a ser o discurso? Foucault (1998, p. 124) define-o como “um conjunto de enunciados que se apoia num mesmo sistema de formação”. Os discursos, conforme nos ensina Doherty (2007, p. 202), a partir de uma referência foucaultiana, podem ser concebidos como “um corpo de ideias, conceitos e crenças” que nos possibilitam pensar o mundo, não só atribuir-lhe sentidos, como agir sobre ele.

O desafio é este, vamos nos enveredar numa análise dos principais discursos que se projetam na sociedade e acabam por arquitetar a vida nos moldes que aprendemos a viver nos dias atuais.

Fischer (2001, p. 3) chama ainda mais a atenção para os “enunciados e relações, que o próprio discurso põe em funcionamento. Analisar o discurso seria

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TÓPICO 3 | A MATEMATIZAÇÃO DO MUNDO DA VIDA

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dar conta exatamente disso: de relações históricas, de práticas muito concretas, que estão "vivas" nos discursos”.

3 O MUNDO CARTESIANO “Para pensar o mundo, para conhecê-lo, é imperativo pensar

matematicamente, que é o sonho filosófico, a exigência cartesiana, o sonho da razão ou da ‘matematização do mundo’” (SOUZA DA FONSECA, 2005, p. 1).

Como se forma o paradigma que irá conduzir e constituir a Modernidade? Temos que lembrar que existiram alguns fenômenos que ocorreram no mundo entre os anos 1500 e 1700 que acabam por alterar a forma como as pessoas descreviam o mundo e seu modo de pensar.

Antes de 1500, a visão do mundo dominante na Europa, assim como na maioria das outras civilizações, era orgânica. As pessoas viviam em comunidades pequenas e coesas, e vivenciavam a natureza em termos de relações orgânicas, caracterizadas pela interdependência dos fenômenos espirituais e materiais e pela subordinação das necessidades individuais às da comunidade. A estrutura científica dessa visão de mundo orgânica assentava em duas autoridades: Aristóteles e a Igreja. No século XIII, Tomás de Aquino combinou o abrangente sistema da natureza de Aristóteles com a teologia e a ética cristã e, assim fazendo, estabeleceu a estrutura conceitual que permaneceu inconteste durante toda a Idade Média. A natureza da ciência medieval era muito diferente daquela da ciência contemporânea. Baseava-se na razão e na fé, e sua principal finalidade era compreender o significado das coisas e não exercer a predição ou o controle. Os cientistas medievais, investigando os desígnios subjacentes nos vários fenômenos naturais, consideravam do mais alto significado as questões referentes a Deus, à alma humana e à ética. A perspectiva medieval mudou radicalmente nos séculos XVI e XVII. A noção de um universo orgânico, vivo e espiritual foi substituída pela noção de mundo como se ele fosse uma máquina, e a máquina do mundo converteu-se na metáfora dominante da era moderna. Esse desenvolvimento foi ocasionado por mudanças revolucionárias na física e na astronomia, culminando nas realizações de Copérnico, Galileu e Newton.

A ciência do século XVII baseou-se num novo método de investigação, definido vigorosamente por Francis Bacon, o qual envolvia a descrição matemática da natureza e o método analítico de raciocínio concebido pelo gênio de Descartes. Reconhecendo o papel crucial da ciência na concretização dessas importantes descobertas, os historiadores chamaram os séculos XVI e XVII de a Idade da Revolução Científica (CAPRA, 1982, p. 49).

Aqui nos cabe discriminar um pouco mais do que se tratava tal mudança e como a Ciência agora passa a ser vista como legítima para operar e promover as mudanças e ajustes necessários ao mundo. A ciência, através do seu método científico desenvolvido, acaba estabelecendo as verdades que irão reger o mundo

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UNIDADE 2 | O MUNDO AGORA É PLANO

e irão compor as formas de pensar desde então, as certezas sobre os fenômenos e suas explicações.

Cabe ressaltar que Francis Bacon dedicou-se, na Inglaterra, a descrever o método empírico da ciência que consistia basicamente na realização de experimentos dos quais se extraiam conclusões gerais, que viriam a ser testadas novamente através de outros experimentos. Segundo Capra (1982), a partir de Bacon, o objetivo da ciência passou a ser aquele conhecimento que pode ser usado para dominar e controlar a natureza e, hoje, ciência e tecnologia buscam, sobretudo, fins profundamente antiecológicos.

René Descartes é conhecido como aquele que funda a filosofia moderna, é dele o mérito de ter levado a certeza do conhecimento para a ciência, a estabelecendo como premissa de que toda a ciência era conhecimento certo e evidente.

A certeza cartesiana é matemática em sua natureza essencial. Descartes acreditava que a chave para a compreensão do universo era a sua estrutura matemática; para ele, ciência era sinônimo de matemática. Assim, ele escreveu, a respeito das propriedades dos objetos físicos:

Não admito como verdadeiro o que não possa ser deduzido, com a clareza de uma demonstração matemática, de noções comuns de cuja verdade não podemos duvidar. Como todos os fenômenos da natureza podem ser explicados desse modo, penso que não há necessidade de admitir outros princípios da física, nem que sejam desejáveis (DESCARTES, 1978 apud CAPRA, 1982, p. 54).

Através de sua forte inspiração matemática, Descartes dava os passos iniciais e decisivos para as cisões e fragmentações do pensamento humano, claro que, obviamente, com maior valor evidenciado para o trabalho mental. Uma vez que se utilizou de um método analítico que consistia em decompor os pensamentos e problemas em suas partes menores e, então, dispor as mesmas numa ordem lógica, acabou constituindo uma das características essenciais do pensamento científico moderno. Através dessa lógica, pode-se especializar os estudos em frações pequenas e cada vez mais compreender fenômenos antes complexos e distantes do entendimento humano.

Por outro lado, a excessiva ênfase dada ao método cartesiano levou à fragmentação característica do nosso pensamento em geral e das nossas disciplinas acadêmicas, e levou à atitude generalizada de reducionismo da ciência - a crença de que todos os aspectos dos fenômenos complexos podem ser compreendidos se reduzidas as suas partes constituintes (CAPRA, 1982, p. 55).

É curioso que, atualmente, vivendo em tempos pós-modernos, onde já se estuda e analisa os erros ocasionados com o método científico cartesiano, principalmente no tocante à pretensão de ser possuidor da Verdade através do seu método, em detrimento de toda e qualquer outra maneira de analisar o problema, ainda vivemos uma época onde a ciência possui grande legitimidade e, de certa maneira, ainda percebemos uma primazia das ciências exatas em detrimento das humanas.

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TÓPICO 3 | A MATEMATIZAÇÃO DO MUNDO DA VIDA

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Da mesma forma, muito se tem falado sobre a importância do pensamento sistêmico ou interdisciplinar, multidisciplinar e transdisciplinar, mas ainda aprendemos na nossa escolarização, salvo exceção na educação infantil, de forma fragmentada, dividida e separada por tipos, categorias e classificações, não é mesmo? Percebam como estes discursos do método cartesiano e baconiano ainda ressoam em nossas realidades atuais.

Outro expoente que se uniu às ideias de Descartes e ficou encarregado de dar realidade ao seu projeto foi Isaac Newton.

O homem que deu realidade ao sonho cartesiano e completou a revolução científica foi Isaac Newton, nascido na Inglaterra em 1642, ano da morte de Galileu. Newton desenvolveu uma completa formulação matemática da concepção mecanicista da natureza e, portanto, realizou uma grande síntese das obras de Copérnico e Kepler, Bacon, Galileu e Descartes. A física newtoniana, a realização culminante da ciência seiscentista, forneceu uma consistente teoria matemática do mundo, que permaneceu como sólido alicerce do pensamento científico até boa parte do século XX.

A apreensão matemática de Newton era bem mais poderosa do que a de seus contemporâneos. Ele criou um método completamente novo – hoje conhecido como cálculo diferencial – para descrever o movimento de corpos sólidos, um método que foi muito além das técnicas matemáticas de Galileu e Descartes. Este enorme feito intelectual foi considerado por Einstein “talvez o maior avanço no pensamento que um único indivíduo teve alguma vez o privilégio de realizar”. Kepler extraía leis empíricas do movimento planetário estudando tábuas astronômicas, e Galileu realizou engenhosos experimentos para descobrir as leis da queda dos corpos. Newton combinou essas duas descobertas formulando as leis gerais do movimento que governam todos os objetos no sistema solar, das pedras aos planetas (CAPRA, 1982, p. 58).

Durante o século XIX, os cientistas continuaram a elaborar o modelo mecanicista do universo na física, química, biologia, psicologia e ciências sociais. Por conseguinte, a máquina do mundo newtoniana tornou-se uma estrutura muito mais complexa e sutil. Ao mesmo tempo, novas descobertas e novas formas de pensamento evidenciaram as limitações do modelo newtoniano e prepararam o caminho para as revoluções científicas do século XX (CAPRA, 1982, p. 65).

Uma das ideias que revoluciona a forma como a ciência enxergava o mundo e, por consequência, debruçava-se sobre seus processos investigativos, é a ideia de evolução. Segundo Capra (1982), esta ideia envolvia: mudança, crescimento e desenvolvimento. A noção da evolução surgira na Geologia, com os estudos dos fósseis. A teoria do sistema solar proposta por Immanuel Kant e Pierre La Place, filosofia política de Hegel e Engels, enfim, todos preocuparam-se com o problema do devir durante o século XIX. Até culminar com a teoria da evolução das espécies da biologia, com o pioneirismo de Jean-Baptiste Lamarck, que seria seguido décadas depois por Charles Darwin, com a sua obra monumental “A Origem das Espécies”.

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UNIDADE 2 | O MUNDO AGORA É PLANO

Para concluir esse nosso pequeno apanhado das ideias que regeram o mundo em torno dos pensamentos científicos e seus reflexos até os dias atuais, sobretudo o pensamento cartesiano, temos que nos remeter a uma das grandes proezas intelectuais do início do século XX, que foi Albert Einstein.

O início da física moderna foi marcado pela extraordinária proeza intelectual de um homem: Albert Einstein. Em dois artigos, ambos publicados em 1905, Einstein introduziu duas tendências revolucionárias no pensamento científico. Uma foi a teoria especial da relatividade; a outra, um novo modo de considerar a radiação eletromagnética, que se tornaria característica da teoria quântica, a teoria dos fenômenos atômicos. A teoria quântica completa foi elaborada 20 anos mais tarde por uma equipe de físicos. A teoria da relatividade, porém, foi construída em sua forma completa quase inteiramente pelo próprio Einstein.

Os ensaios científicos de Einstein são monumentos intelectuais que marcam o começo do pensamento do século XX. Einstein acreditava profundamente na harmonia inerente à natureza e, ao longo da sua vida científica, sua maior preocupação foi descobrir um fundamento unificado para a física. Começou a perseguir esse objetivo ao construir uma estrutura comum para a eletrodinâmica e a mecânica, duas teorias isoladas dentro da física clássica. Essa estrutura é conhecida como a teoria especial da relatividade. Ela unificou e completou a estrutura da física clássica, mas, ao mesmo tempo, provocou mudanças radicais nos conceitos tradicionais de espaço e tempo, e, por conseguinte, abalou um dos alicerces da visão de mundo newtoniana. Dez anos depois, Einstein propôs a sua teoria geral da relatividade, na qual a estrutura da teoria especial foi ampliada, passando a incluir também a gravidade. Isso foi realizado mediante novas e drásticas modificações nos conceitos de espaço e tempo (CAPRA, 1982, p. 70, grifo nosso).

Este resgate histórico sobre a Ciência e como os seus discursos acabam posicionando e promovendo formas de ver e pensar o mundo, que irão desencadear movimentos como o Iluminismo, na Modernidade, onde a razão (de racional, logo de uso do método científico) irá ser preponderante a todas as demais coisas, é interessante para nos fazer pensar como estes ideais (claro que com outra roupagem) irão adentrar nossas vidas novamente com a globalização, as redes digitais e novas formas de medir e enquadrar o mundo.

Ainda sobre os discursos que acabam por constituir essa realidade em que vivemos, Costa (2007, p. 143) procura elucidar algumas das convicções que se instauram na Modernidade:

• Crença absoluta na exclusividade da razão para conhecer a verdade, suspeitando-se de todo o conhecimento que provém da fé, da tradição, da mera intuição.• Aspiração de que os conhecimentos sejam traduzíveis em fórmulas físico-matemáticas facilmente compreensíveis, dotadas do máximo de objetividade. O mundo subjetivo é descartado por ser distante do “real” que, este sim, seria comum a todos os homens.• Concepção de que o real não só é matematizável, como também é comprovável experimentalmente segundo métodos rigorosos. É de todos conhecido o projeto de Augusto Comte de transformar a própria

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Sociologia numa física do social.• Crença na liberdade incondicional do ser humano para reger seu destino. Fortalecimento da noção de sujeito e formulação do conceito de autonomia.• Convicção de que a infelicidade humana derivaria do turvamento da razão pelas superstições, entre elas as crenças religiosas.• Crença na superioridade absoluta do homem sobre todos os outros seres da criação.• Afirmação da democracia como melhor fórmula para a organização da sociedade.

Ainda que possamos declarar que os tempos mudaram, as sociedades se reconfiguraram em vários aspectos, percebemos ainda que a matemática, no sentido de colocar o mundo em ordem e classificar suas experiências como racionais, logo aceitas, ou não, continua a operar. Uma prova disto é a forma como ela tem sido ensinada nas escolas.

Então, mais do que formar, o papel da matemática na escola, de seu currículo, tem sido de informar, pois seu saber não é elaborado, construído por quem se relaciona com ela, é uma relação de experimento, não de experiência, não é uma relação de formação. O papel da matemática na escola é demonstrar o seu dito, a sua verdade, de reconhecer no que já está dito, o real. A matemática, já escrita, é dever da escola, portanto deve ser sempre consultada, a fim de se saber o que fazer e dizer, e quais representações devemos dar a nós próprios e aos outros, para mostrar que ela é realmente semelhante ao texto de onde saiu (SOUZA DA FONSECA, 2005, p. 6).

4 A METROLOGIA

Uma das ciências que surge na intenção de dar suporte a esta corrente teórica em busca da matematização do mundo é a Metrologia. Suas origens remontam a William Thomson, matemático e físico britânico, nascido em 1824, que desde criança assistira seu pai, também matemático, em suas conferências. Recebera o título de Lord Kelvin devido à sua proeza em cruzar o Oceano Atlântico com um cabo telegráfico unindo a Europa e a América do Norte. Seus estudos sobre a temperatura deram origem à escala Kelvin, que conhecemos.

Lord Kelvin afirmou, em 1883, que “o conhecimento amplo e satisfatório sobre um processo ou fenômeno somente existirá quando for possível medi-lo e expressá-lo por meio de números”. A partir dessa afirmação, fica claro que palavras e impressões não são suficientes para descrever de forma clara um fenômeno ou um processo. “É necessário expressá-lo de modo quantitativo; é necessário medi-lo. Medir é uma forma clara e objetiva de descrever o mundo” (ALBERTAZZI, 2008, p. 3).

Então, para que fique bem claro, poderíamos nos perguntar, mas o que é medir? “Medir é o procedimento experimental pelo qual o valor momentâneo de uma grandeza física (mensurando) é determinado como um múltiplo e/

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UNIDADE 2 | O MUNDO AGORA É PLANO

ou uma fração de uma unidade, estabelecida por um padrão e reconhecida internacionalmente” (ALBERTAZZI, 2008, p. 3).

O mensurando é o objeto da medição. É o que está sendo submetido à medição. Para realizar essa medição são utilizados instrumentos de medição ou sistemas de medição. Alguns deles são bem conhecidos:

FIGURA 11 – INSTRUMENTOS DE MEDIÇÃO

FONTE: Disponível em: <http://rbelloni.com.br/instrumentos-de-medi%C3%A7%C3%A3o.php>. Acesso em: 17 abr. 2017.

Medir para quê?

Segundo Albertazzi (2008), do ponto de vista técnico, a medição pode ser empregada para monitorar, controlar e/ou investigar processos ou fenômenos físicos.

FIGURA 12 - O EMPREGO DA METROLOGIA

FONTE: Adaptado de Albertazzi (2008)

Monitorar

Monitorar consiste em observar e registrar passivamente o valor de uma grandeza. O interesse pode estar no seu valor momentâneo, no

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TÓPICO 3 | A MATEMATIZAÇÃO DO MUNDO DA VIDA

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seu valor acumulado ou na sua evolução histórica. A monitoração é muito utilizada no comércio para atribuir valor comercial a produtos e para o controle de estoques. É também muito utilizada para revelar informações úteis sobre atividades cotidianas, fenômenos naturais ou artificiais (ALBERTAZZI, 2008, p. 6).

Controlar

A operação de controle é sempre de natureza ativa.

Segundo Albertazzi (2008), os sistemas de controle têm por objetivo manter uma ou mais grandezas ou um processo dentro de limites predefinidos. A essência do mecanismo de controle está esquematizada na figura a seguir.

FIGURA 13 - ESQUEMA DO MECANISMO DE CONTROLE

FONTE: Adaptado de Albertazzi (2008)

O mecanismo inicia com a medição de uma ou mais grandezas ligadas ao processo que se pretende controlar. O valor medido é comparado com o valor de referência, e, em função do resultado da comparação, o sistema de controle atua sobre a(s) grandeza(s) ou sobre o processo, para mantê-lo(s) dentro dos níveis desejados (ALBERTAZZI, 2008, p. 7).

Investigar

A investigação requer postura proativa.

Experimentos têm sido e sempre serão os meios mais valiosos para obter conhecimentos em todas as áreas da ciência e da atividade industrial. São inúmeras as descobertas científicas que foram materializadas por meio de experimentos bem planejados e bem conduzidos e graças à astúcia de mentes brilhantes que analisaram os resultados. Para que as conclusões certas possam ser tiradas, é necessário medir as grandezas envolvidas de forma confiável. É na investigação que mais se exige dos sistemas de medição. Pequenas diferenças nas grandezas observadas podem revelar a existência de fenômenos até então desconhecidos.

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UNIDADE 2 | O MUNDO AGORA É PLANO

Dispor de sistemas de medição capazes de indicar com grande segurança essas pequenas diferenças e de pessoas capacitadas para distinguir essas diferenças das margens de incertezas é um dos maiores desafios da metrologia (ALBERTAZZI, 2008, p. 9, grifo nosso).

No texto acima, fizemos questão de destacar trechos em que o discurso matemático da ciência ainda perdura como que estabelecendo um juízo de valor entre o que é obtido quantitativamente em relação aos demais métodos de pesquisa qualitativa, por exemplo. É interessante perceber que “mentes brilhantes” se relacionam ao domínio das ciências exatas, não é mesmo? Será que ainda hoje é assim? Temos que nos lembrar de que, embora os avanços da ciência na área da matemática e física tenham revolucionado a maneira como o mundo funciona, ainda assim sabemos que existem inúmeras “verdades” que se encontram além desta, com explicações diversas de outras áreas.

5 OS ÁTOMOS, OS BITS E A INTERNET

A rede digital é um grande exemplo de como uma combinação matemática que envolve algarismos pode transformar-se em linguagem de programação e permitir que se criem e inventem os mais diversos aplicativos e programas que existem hoje pelo mundo.

Hoje, já ouvimos falar em grandes novidades que têm sido descobertas aliando novas tecnologias com a utilização dos bits para acondicionar matérias antes presentes na forma de átomos, por exemplo. Essa transição tem ocorrido, uma vez que percebemos que CDs, DVDs, rádio, televisão, revistas, jornais, livros, músicas, entre tantas outras coisas, têm migrado para a internet e assumido a roupagem dos bits.

A internet abriu uma frente desafiadora em todas as áreas, incluída a economia. Ao passar do material para o incorpóreo, dos átomos para os bits, surgem formas de ignorar a “escassez” e criar a “abundância”, tanto na informação como na economia. Essa migração não é, entretanto, indolor. Gera grandes tensões entre os modelos tradicionais, que medem e se baseiam na substância concreta, finita e cara, e as transações imateriais, que usam bits sem peso e com fácil e quase infinita replicabilidade (GETSCHKO, 2016). O trecho coloca em evidência algumas questões a serem consideradas sobre como a utilização dessa transição dos átomos para os bits revoluciona o nosso mundo atual, porém deixa algumas preocupações para reflexão: quem são os controladores de toda esta tecnologia digital? Como ficam aqueles que vivem na marginalização deste universo digital?

Sabemos que a internet possui a sua própria linguagem, que reúne sons, imagens e outros efeitos diferentes de outros formatos de comunicação, logo, pode atingir as pessoas de formas diferentes e propicia que as informações sejam “puxadas” pelos usuários, ao invés de “empurradas” como em outros artefatos tradicionais, por exemplo, uma revista. O fato é que algumas corporações têm se

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TÓPICO 3 | A MATEMATIZAÇÃO DO MUNDO DA VIDA

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encarregado de “rechear”, definir assuntos, como os feeds de notícias que virão a ser buscados pelos usuários em suas pesquisas, não é mesmo?

Palma (2010) comenta ainda que hoje nós sofremos mudanças inclusive no formato como as pessoas se agrupam pela adesão aos “bits”, logo, entendemos as novas formas de comunicação digital via rede. O consultor comenta que antes do advento das tecnologias de informação e comunicação digitais, as pessoas se reuniam em torno de seus interesses comuns através de cinco canais principais: escolar, profissional, geográfico, social e casual. E alerta ainda que o fluxo com que as informações eram trocadas seguia outra lógica, realizando uma analogia com as águas de um rio.

Hoje sabemos que as noções de espaço e tempo são outras. As pessoas se agrupam via internet por interesses comuns, priorizando aquilo que julgam mais relevante para si mesmas. Essas questões abalam, muitas vezes, a ordem e o controle antes tão mais seguros e definidos sobre todos os processos. Percebemos que uma legião de pessoas pauta suas vidas cotidianas pela lógica da rede e de suas conexões, muitas vezes confundindo, mesclando ou, até mesmo, priorizando os relacionamentos virtuais, suscitados pelas redes sociais em detrimento das relações que outrora eram vistas como “normais’, baseadas na materialidade, nos átomos.

Não é de estranhar que já existam no mundo comunidades de pessoas que acreditam na transcendência da vida para o interior da rede, o que tem sido tematizado em vários filmes no cinema. Temos que procurar ter uma visão crítica sobre os prós e os contras deste regime de vida em que nos encontramos e muitos cuidados em relação ao que temos visto na internet. Lembramos que existe hoje a Dark Internet, em que inúmeros movimentos de várias ordens relacionadas ao que existe de mais imoral, ilegal e antiético estão ocorrendo. Além disso, nossas crianças e adolescentes têm sido desafiados cotidianamente a entrarem em jogos bizarros propostos nas redes, onde o espetáculo se mistura a um quadro de dor, sofrimento e morte. Não seria essa uma maneira de ascensão dos bits também sobre os átomos?

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UNIDADE 2 | O MUNDO AGORA É PLANO

LEITURA COMPLEMENTAR

Pesquisadores da IBM conseguem feito inédito ao armazenar umbit em um átomo

Stephen Lawson, IDG News Service

Pesquisadores do laboratório Almaden da IBM em San José, Califórnia, conseguiram escrever e ler um bit de dado sobre um único átomo usando magnetismo, um feito que a companhia diz ser inédito no mundo.

A pesquisa poderia levar a um armazenamento centenas de vezes mais

denso que qualquer coisa disponível até então. Para colocar em perspectiva, com isso seria possível armazenar toda a biblioteca iTunes da Apple de 35 milhões de músicas em um dispositivo do tamanho de um cartão de crédito, diz a IBM.

Um armazenamento muito mais denso pode significar telefones, PCs e até

data centers menores no futuro. Os discos rígidos atuais usam cerca de 100 mil átomos para armazenar

um bit. Outros cientistas usaram átomos individuais para armazenamento antes, inclusive dispositivos experimentais que usaram a localização dos átomos para armazenar dados. No entanto, o armazenamento magnético, a técnica já usada em fitas, unidades de disco e flash, tem a vantagem de ser um estado sólido, portanto não requer átomos em movimento, explicou Christopher Lutz, o pesquisador de nanociências que liderou o projeto da IBM.

Depois de fazer um átomo armazenar um bit, a equipe de Lutz colocou

dois dos átomos ao lado um do outro para descobrir o quão perto eles poderiam chegar e ainda serem lidos de forma independente. Isso funcionou com apenas

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TÓPICO 3 | A MATEMATIZAÇÃO DO MUNDO DA VIDA

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um nanômetro entre os átomos. A essa taxa, seria possível armazenar cerca de 600 terabits por polegada quadrada.

Não espere ver um telefone do tamanho de seu dedo mindinho a

qualquer momento em breve. Este projeto é pura investigação, destinada a ajudar pesquisadores a desenvolverem as ferramentas e conhecimentos que irão levá-los para a próxima rodada de descobertas.

De fato, a equipe da IBM não espera que o armazenamento comercial

ou dispositivos de memória armazenem um bit em cada átomo, disse Lutz. Por um lado, seu experimento exigiu condições que não são práticas para a maioria dos dispositivos. Precisava de um vácuo ultra alto, baixa vibração e hélio líquido para uma temperatura superbaixa. "Qualquer coisa que você possa carregar terá de relaxar essas condições - a menos que seja um supercomputador de propósito especial", disse Lutz.

A equipe só queria alcançar a máxima densidade possível. Até agora,

ninguém sabia quantos átomos levaria para construir um bit de memória magnética confiável. Acontece que a resposta é apenas uma.

Agora os pesquisadores podem usar o que a IBM aprendeu para desenvolver

um novo armazenamento de alta densidade que funciona fora de um laboratório, provavelmente usando um pequeno número de átomos que pode ajudar uns aos outros a permanecerem estáveis à temperatura ambiente, disse Lutz.

A pesquisa aproveitou o fato de que todos os ímãs têm dois polos e os

polos podem ser invertidos para representar um "0" ou um "1" (Na física quântica, alguns átomos podem ser magnetizados de duas maneiras ao mesmo tempo, uma condição que os pesquisadores da IBM tiveram de evitar deliberadamente).

A equipe da IBM aplicou uma corrente elétrica ao elemento metálico

Hólmio, comumente usado em ímãs fortes, e magnetizou-o em uma direção. Em seguida, eles aplicaram outra corrente para torná-lo "girável" e representar um valor diferente. Eles aplicaram a corrente usando uma agulha de metal em um microscópio de tunelamento de varredura.

Para ler esses valores, a IBM usou então um único átomo de ferro para

medir a corrente magnética que passa pelo átomo. Essa técnica também é nova, explicou a companhia.

Embora o armazenamento comercialmente disponível nunca chegue a um

bit por átomo, é importante estudar a densidade e pequenos recursos no hardware, já que a fabricação de chips flerta com seus limites, disse Lutz. "Estamos pulando para o fim da Lei de Moore e trabalhando nosso caminho em sentido contrário".

FONTE: Disponível em: <http://idgnow.com.br/internet/2017/03/09/pesquisadores-da-ibm-conseguem-feito-inedito-ao-armazenar-um-bit-em-um-atomo/>. Acesso em: 17 abr. 2017.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• Existe ainda na sociedade, muito enraizada, o que os autores chamam de Matematização do mundo da vida, que insiste em termos vários aspectos de nossa vida cotidiana convertidos/regulados por números.

• Podemos perceber o efeito da matematização nas várias ciências que privilegiam os métodos cartesianos (Descartes) e valorizam mais os aspectos quantitativos em detrimento dos qualitativos.

• A ciência vai se transformando à medida que novos cientistas vão incorporando suas ideias e pesquisas e formulando suas teorias, num processo que, algumas vezes, acaba rompendo com ideias antigas.

• Constatamos que os enunciados/discursos da ciência acabam modificando e constituindo nossas formas de pensar e agir sobre o mundo.

• Acompanhamos que alguns pensadores enxergavam o universo como orgânico, integrado ao ser humano, num primeiro momento, logo depois passando a vê-lo como máquina, o que modifica as explicações sobre o seu funcionamento.

• A Metrologia é a ciência das medições e foca seus estudos nas tarefas de monitorar/controlar e investigar as medidas, instrumentos de medição e relações entre as grandezas.

• Sobre a passagem dos átomos (componentes da matéria) para os bits (componentes imateriais dos sistemas de informação digitais) e a fase em que estamos vivendo dessa migração de átomos para bits e suas possíveis consequências no mundo em que vivemos.

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1 Descreva qual a influência de Francis Bacon e Renée Descartes sobre a ciência e sua repercussão nos dias de hoje.

2 A Metrologia é uma ciência que se preocupa com as medições que buscam uma forma clara e objetiva de descrever o mundo. Analise as afirmativas que tratam desta ciência e responda:

I - A medição pode ser empregada para monitorar, controlar e/ou investigar processos ou fenômenos físicos.II - Monitorar consiste em observar, porém sem registrar o valor de uma grandeza.III - Os sistemas de controle têm por objetivo manter uma ou mais grandezas ou um processo dentro de limites predefinidos.IV - A investigação requer postura proativa.

É INCORRETO o que se afirma em: a) ( ) As assertivas I e III, apenas. b) ( ) As assertivas I, II e III, apenas. c) ( ) As assertivas I, II, III e V, apenas. d) ( ) As assertivas I e V, apenas.e) ( ) A assertiva II, apenas.

AUTOATIVIDADE

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UNIDADE 3

A GESTÃO DA EMPRESA AGRÍCOLA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

Esta unidade tem por objetivos:

• compreender os objetivos e principais aspectos que envolvem a adminis-tração/gestão das organizações empresariais, focando no agronegócio;

• conhecer a organização e produção da empresa agrícola;

• ter conhecimento da cédula de produtor rural e sua importância para as finanças da empresa agrícola;

• adquirir conhecimentos sobre a contabilidade e os principais mecanismos de apropriação dos resultados aplicados ao agronegócio;

• entender o marketing e suas dimensões pertinentes ao agronegócio.

Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles você encontrará atividades que auxiliarão no seu aprendizado.

TÓPICO 1 – EM BUSCA DE UMA GESTÃO EFICAZ

TÓPICO 2 – A CONTABILIDADE E A EMPRESA AGRÍCOLA

TÓPICO 3 – MARKETING E AGRONEGÓCIO

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TÓPICO 1

EM BUSCA DE UMA GESTÃO

EFICAZ

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Querido acadêmico, a Administração é uma ciência que tem como finalidade estudar todos os tipos de organizações, sejam elas públicas ou privadas, com ou sem fins lucrativos, de pequeno, médio ou grande porte, independentemente do setor da economia a que se encontrem vinculadas. Claro que cada organização possui suas particularidades, e conhece-las é decisivo para a possibilidade de sucesso na gestão destas empresas.

Dessa forma, estaremos empreendendo esforços na busca de uma análise referente à gestão específica relacionada à empresa agrícola, essencial ao sucesso do agronegócio.

2 ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO

Os primeiros trabalhos em torno de uma ciência que se encarregasse do estudo das organizações e seus diversos processos, bem como do profissional que se encarregava de conduzir as empresas, costumam utilizar o termo administração como mais comum. Provavelmente isto se deva ao caráter mais técnico envolvido nas análises que constituíram as primeiras teorias das quais temos conhecimento e que compõem todo o aparato que constituem as teorias gerais da administração.

Ocorre que nas últimas décadas temos visto e ouvido muito a utilização do termo gestão, normalmente utilizado para nomear aquele que dirige a organização (gestor) e, logo, responsável por todos os inúmeros processos que sua empresa desenvolve, seja na prestação de serviços, na indústria ou no terceiro setor.

O professor Arnaldo Mazzei Nogueira, em seu livro “Teoria Geral da Administração para o Século XXI”, lançado em 2007, traz uma explicação sobre esta questão do termo Administração ou Gestão:

Gestão, do latim gestio, é o ato de conduzir, dirigir ou governar. Administração, do latim administratio, tem aplicação específica: administrar um bem, um negócio ou uma área. Logo, administração seria, a rigor, uma aplicação de gestão.

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UNIDADE 3 | A GESTÃO DA EMPRESA AGRÍCOLA

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O uso atual do termo inglês management aproxima-se mais da ideia de gestão empresarial, ao passo que administration (administração) refere-se principalmente à administração pública. Em francês há também essa diferença: gestion está mais associada à gestão de empresas, administration diz mais respeito à administração pública.No caso brasileiro, a gestão pressupõe algo mais abrangente. Gestão empresarial compreende pensar no conjunto de gestão da empresa. “Administração” tem um sentido mais específico, de atenção a determinado aspecto da produção ou do trabalho. A palavra gestor, assim, relaciona-se com o cargo máximo de uma organização (às vezes é usada para identificar o proprietário). Já o administrador é o profissional, técnico, analista ou gerente assalariado da empresa (NOGUEIRA, 2007, p. 30).

Nesta unidade não procuraremos entrar na polêmica do conceito entre gestão e administração, uma vez que entendemos que o mais importante é que se reconheça a necessidade da existência da racionalidade na condução dos negócios para ambos. Desta forma, entendemos que ambas, a gestão e a administração, possuem uma relação de reciprocidade e interdependência.

O professor Idalberto Chiavenato, profundo conhecedor da Teoria Geral da Administração, contribui com a seguinte definição:

A palavra administração vem do latim ad (direção, tendência para) e minister (subordinação ou obediência), e significa aquele que realiza uma função abaixo do comando de outrem, isto é, aquele que presta um serviço a outro. No entanto, a palavra administração sofreu uma radical transformação no seu significado original. A tarefa atual da Administração é a de interpretar os objetivos propostos pela organização e transformá-los em ação organizacional por meio do planejamento, organização, direção e controle de todos os esforços realizados em todas as áreas e em todos os níveis da organização, a fim de alcançar tais objetivos de maneira mais adequada à situação (CHIAVENATO, 1997, p. 9).

Desta citação do autor, gostaríamos de nos fixar no que compõe as chamadas funções do administrador e, por associação, do gestor, que se traduzem numa evolução da Teoria Clássica de Henri Fayol e formam o conhecido PODC (Planejar, Organizar, Dirigir e Controlar).

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TÓPICO 1 | EM BUSCA DE UMA GESTÃO EFICAZ

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FIGURA 14 - FUNÇÕES DO ADMINISTRADOR

FONTE: Adaptado de Chiavenato (1997)

O interessante do esquema proposto por Chiavenato é que a função liderança ainda não tinha sido incorporada ao esquema na época, sendo que atualmente percebemos a substituição do termo dirigir pelo termo liderar. Aliás, costuma-se fazer, da mesma forma, uma associação do termo liderança como característica necessária ao gestor na condução/gestão das pessoas.

Para entendermos um pouco mais como essas funções se aplicam no interior de quaisquer organizações, basta o simples exercício de pensar sobre a empresa e suas ações que envolvem as quatro áreas propostas dentro de algumas variáveis básicas sobre as quais foi construída a grande maioria das teorias administrativas. São elas:

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UNIDADE 3 | A GESTÃO DA EMPRESA AGRÍCOLA

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FIGURA 15 - VARIÁVEIS DE ANÁLISE DAS TEORIAS ADMINISTRATIVAS

FONTE: Adaptado de Chiavenato (1997)

É importante que conheçamos estas cinco variáveis básicas sobre as quais os estudos da Administração realizam suas análises, entendendo sobretudo que:

O comportamento desses componentes é sistêmico e complexo: cada qual influencia e é influenciado pelos outros componentes. Modificações em um provocam modificações em maior ou menor grau nos demais. O comportamento do conjunto desses componentes é diferente da soma dos componentes de cada componente considerado isoladamente (CHIAVENATO, 1997, p. 13).

3 A CONSTRUÇÃO DA PROPRIEDADE MODERNA

As propriedades modernas que desenvolvem o agronegócio na atualidade possuem algumas características peculiares, sendo que uma delas também diz respeito à visão sistêmica implantada no setor.

Segundo Araújo (2017), é fundamental compreender o agronegócio dentro de uma visão de sistemas que engloba os setores denominados "antes da

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TÓPICO 1 | EM BUSCA DE UMA GESTÃO EFICAZ

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porteira", "durante a porteira" e "após a porteira", ou ainda, significando a mesma "a montante da produção agropecuária", "produção agropecuária propriamente dita" e "a jusante da produção agropecuária".

Os setores "antes da porteira" ou "a montante da produção agropecuária” são compostos basicamente pelos fornecedores de insumos e serviços, máquinas, implementos, defensivos, fertilizantes, corretivos, sementes, tecnologias e financiamento."Dentro da porteira" ou "produção agropecuária" é o conjunto de atividades desenvolvidas dentro das unidades produtivas agropecuárias (ou produção agropecuária propriamente dita), que envolve preparo e manuseio dos solos, tratos culturais, irrigação, colheita, criações e outras."Após a porteira" ou "a jusante da produção agropecuária" refere-se às atividades de armazenamento, beneficiamento, industrialização, embalagens, distribuição, consumo de produtos alimentares, fibras e produtos energéticos provenientes da biomassa (ARAÚJO, 2007, p. 20).

QUADRO 12 - SISTEMAS DO AGRONEGÓCIO

Antes da porteira Dentro da porteira Após a porteiraFornecedores: Insumos ou serviços Máquinas ImplementosDefensivosFertilizantesCorretivosSementes

Produção agropecuária ArmazenamentoPreparo do solo BeneficiamentoManuseio do solo IndustrializaçãoTratos culturais EmbalagensIrrigação DistribuiçãoColheita Consumo de produtos

alimentares, fibras e produtos energéticos

Criações diversasTecnologias Tratamentos veterináriosFinanciamentos

FONTE: Adaptado de Araújo (2007)

Entender o agronegócio como um sistema é uma evolução nas formas como se entende os negócios relacionados à agricultura, pecuária e todos os seus inúmeros desdobramentos industriais e serviços relacionados. Esses sistemas, segundo Araújo (2007), podem ser ainda divididos em:

• Sistema Agroalimentar: é o conjunto das atividades que concorrem à formação e à distribuição dos produtos alimentares e, em consequência, o cumprimento da função de alimentação.

• Sistema Agroindustrial Não Alimentar: é o conjunto das atividades que concorrem à obtenção de produtos oriundos da agropecuária, florestas e pesca, não destinadas à alimentação, mas aos sistemas energético, madeireiro, couro e calçados, papel, papelão e têxtil.

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UNIDADE 3 | A GESTÃO DA EMPRESA AGRÍCOLA

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FIGURA 16 - EXEMPLO DE SISTEMA AGROINDUSTRIAL ALIMENTAR (SAG)

FONTE: Souza (2010)

NOTA

A figura anterior ilustra o sistema agroindustrial (SAG) da carne ovina brasileira, com os seus principais agentes, a montante ou "antes da porteira", responsáveis pela produção de insumos e fatores de produção (máquinas e implementos, tratores, fertilizantes, concentrados, suplementos, vacinas e medicamentos etc.), no centro ou "dentro da porteira", responsáveis pela produção (animais para abate) e a jusante ou "depois da porteira", incumbidos do processamento, industrialização, distribuição, comercialização e consumo dos produtos (SOUZA, 2010).

4 ORGANIZAR A PRODUÇÃO OU PRODUZIR A ORGANIZAÇÃO?

A pergunta que inicia este subtópico é interessante, pois demonstra o que pode acontecer na prática com os gestores que se encontram incumbidos dos processos da empresa agrícola. Para buscar uma resposta satisfatória para o questionamento, iremos optar pela resposta "produzir a organização", entendendo, neste caso, a organização tanto quanto a empresa em si quanto a função administrativa "organizar", lembra?

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Para evitar este tipo de confusão conceitual, iremos nos debruçar um pouco mais no estudo das funções administrativas anteriormente citadas, que são: planejamento, organização, direção e controle.

4.1 PLANEJAMENTO

O planejamento possui algumas características essenciais, porém, de todas elas, duas são as mais importantes a serem consideradas: primeiro, a questão da tomada de decisões de forma antecipada; e segundo, a sua necessária e indispensável condição sistêmica, ou seja, de envolver o todo da organização e seus stakeholders.

FIGURA 17 - EXEMPLO DE STAKEHOLDERS

FONTE: O autor

NOTA

Por stakeholders consideramos todos aqueles que podem ser de alguma maneira afetados ou afetam o negócio da empresa. São aqueles que se interessam pela atividade-fim da organização e podem influenciar/ser influenciados pela mesma. Podemos dizer ser uma combinação de agentes ambientais internos e externos.

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UNIDADE 3 | A GESTÃO DA EMPRESA AGRÍCOLA

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Ainda sobre o planejamento, Ackoff (1983, p. 1) comenta:

Planejamento é a definição de um estado futuro desejado e de meios eficazes de alcançá-lo. É um instrumento usado pelo sábio, mas não só por ele. Quando utilizado por homens de capacidade inferior, este instrumento se transforma num ritual irrelevante que produz paz de espírito a curto prazo, mas não o futuro que se deseje.

Kwasnicka (1979) contribui para a definição de planejamento considerando o mesmo como o processo de pensar o trabalho a ser feito, considerando as tarefas em termos de equipamento, pessoas, facilidades e outros recursos, e apresentar os planos necessários para delinear melhor qual a forma de executar as tarefas.

FIGURA 18 - ESTÁGIOS BÁSICOS DO PLANEJAMENTO

FONTE: Adaptado de Kwasnicka (1979)

O planejamento pode ser classificado como curto prazo e longo prazo, sendo que:

O planejamento a longo prazo é aquele definido para períodos superiores a um ano; envolve todas as áreas funcionais da organização e é afetado pelos fatores sociais, econômicos e tecnológicos do ambiente. Planejamento a curto prazo, por outro lado, normalmente envolve períodos menores que um ano, objetivando resultados imediatos (KWASNICKA, 1979, p. 125).

Segundo Kwasnicka (1979), as principais fases necessárias para a geração de um planejamento são:

a) Obtenção de informaçõesb) Análise dos dados e informações obtidosc) Previsão de acontecimentos futurosd) Decisões sobre:

Fins - especificação dos objetivos e metas.Meios - seleção das políticas, programas, procedimentos e práticas através

dos quais os objetivos e metas são alcançados.Recursos - determinação dos tipos e quantidades de recursos necessários,

como deverão ser gerados ou adquiridos e como serão alocados às atividades.Implementação - projeto dos procedimentos de tomada de decisão e uma

forma de organizá-los de tal modo que o plano possa ser executado.

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TÓPICO 1 | EM BUSCA DE UMA GESTÃO EFICAZ

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Controle - projeto de um procedimento para antecipar ou detectar erros ou falhas do plano e para prevenir ou corrigi-los em uma base contínua.

4.2 ORGANIZAÇÃO

Organizar pode significar muitas coisas para diferentes pessoas. Pode-se definir como o processo de arrumar os fluxos de homem, materiais e trabalho para obter resultados como o consumo mínimo de cada recurso utilizado. Em resumo, organizar envolve quatro tarefas específicas:

1) definir as atividades da empresa; 2) agrupar essas atividades para que os recursos sejam usados eficientemente; 3) designar essas atividades a grupos responsáveis e delegar autoridade a esses grupos; 4) ligar esses grupos tanto horizontal como verticalmente, através das relações de autoridade e sistemas de informações (KWASNICKA, 1979, p. 126).

Segundo Chiavenato (1993), a organização é considerada uma das funções universais da administração que proporciona todas as coisas úteis ao funcionamento da empresa e pode ser dividida em organização material e organização social.

4.3 DIREÇÃO

Embora a escrita de bons planos e a busca pela organização da empresa sejam essenciais, não significa que as tarefas ali citadas serão executadas, muito menos os objetivos atendidos, não é mesmo?

O objetivo da direção é ter as pessoas executando suas tarefas de forma eficiente, evitando conflitos e dispersão dos recursos disponíveis. Direção está estreitamente relacionada à liderança face a face entre superior e subordinados, seguidores e associados. Algumas vezes chamado de motivação, a direção pode ser vista como encorajar, interpretar políticas, delinear instituições, aconselhar, e como atividades relacionadas com o quadro organizacional em funcionamento, fazendo com que ele continue em direção aos objetivos (KWASNICKA, 1979, p. 127, grifo nosso).

Aqui nos cabe definir que a liderança, normalmente relacionada à figura do diretor ou como, no mínimo, um aspecto a ser perseguido pelos diretores, possui alguns modelos:

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QUADRO 13 - ESTILOS DE LIDERANÇA

Aspectos Liderança autocrática

Liderança democrática

Liderança liberal

Tomada de decisões

Líder decide sozinho, sem participação do grupo.

As diretrizes são debatidas e decididas pelo grupo, sob orientação do líder.

O grupo tem total liberdade para decidir, com participação mínima do líder.

Programação dos trabalhos

O líder dá as ordens e determina a execução das tarefas.

O líder aconselha e orienta para que o grupo esboce objetivos e ações.

Pouca participação do líder, somente se for solicitado.

Divisão do trabalho

O líder determina a tarefa e o companheiro de trabalho.

O grupo decide sobre as divisões de tarefas e a escolha dos companheiros.

A divisão das tarefas e escolha dos colegas é do grupo. Nenhuma participação do líder.

Comporta-mento do líder

Líder dominador. Elogia e critica pessoalmente.

Líder objetivo. Limita-se aos fatos de elogios e críticas. É orientador do grupo.

O líder assume o papel de membro do grupo, atuando somente quando solicitado.

FONTE: Adaptado de Chiavenato (1997, p. 213)

4.4 CONTROLE

Como saber se a organização está caminhando rumo ao atingimento dos seus objetivos? Para essa avaliação existe o controle e seus processos.

O processo de controlar envolve muito mais atividades do que simplesmente fazer correções dos desvios apresentados entre o planejado e o realizado. Logicamente não poderemos corrigir se não tomarmos conhecimento dos desvios. Não tomaremos conhecimento dos desvios se não tivermos avaliação progressiva. E não teremos avaliação progressiva se não tivermos padrões de comparação (KWASNICKA, 1979, p. 127).

Podemos dizer que o processo de controlar envolve três passos:

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TÓPICO 1 | EM BUSCA DE UMA GESTÃO EFICAZ

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FIGURA 19 - O PROCESSO DE CONTROLE

FONTE: Adaptado de Kwasnicka (1979)

É interessante percebermos que o controle é uma tarefa contínua, que observa o desempenho de cada ação e, se necessário, executa as devidas correções na hora oportuna.

Holden, Fish e Smith (1995 apud SIMEONE GOMES; AMAT SALAS, 1997) consideram o controle como um processo que envolve três elementos fundamentais:

1) Objetivos – determinar o que é desejado.2) Procedimentos – planejar como e quando uma tarefa é para ser realizada, e

padrões para determinar o que constitui um bom desempenho.3) Avaliação – para determinar se a tarefa foi realizada de acordo com os objetivos

traçados.

Para atender estas três fases, é fundamental a existência de mecanismos de controle e que esse controle possa fornecer informações que agreguem valor para que o gestor possa tomar decisões, e para isso é necessário o planejamento.

LEITURA COMPLEMENTAR

Gestão ou Administração: qual é a diferença?

Stephen Kanitz

Administradores, invariavelmente, usam o termo Administração, e não Gestão. Afinal, ninguém estuda quatro anos ou mais, segue os princípios éticos e o juramento da profissão, para jogar fora o termo tão duramente conquistado.

Gestão normalmente é usado por aqueles que não são formados, e pior, que não acreditam que Administração acrescente muito valor à sociedade. Acreditam

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UNIDADE 3 | A GESTÃO DA EMPRESA AGRÍCOLA

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na autogestão, como o Prof. Paul Singer, em documento oficial do governo brasileiro. Muito triste.

Gestão não vem de Gerar ou Gestação.

Administrar não é levar a termo nove meses um projeto, como muitos acreditam.

Gestão vem de Gesto, Gesticulação. Gestores eram aqueles que gesticulavam, que apontavam com o dedo indicador onde o carregamento de alimentos deveria ser deixado ou estocado. "Coloque este fardo aqui". "Coloque este outro ali".

Lembre-se que administrar, controlar e cuidar dos estoques estratégicos de comida era uma das primeiras funções administrativas da humanidade. Os "Gestores" indicavam onde os escravos deveriam colocar os fardos que estavam entregando.

Gestores ainda usam termos como "indicadores" de produção, "apontar" uma solução, "apontamentos" de uma reunião, remanescentes da época em que administrar era basicamente apontar com o indicador a direção a seguir.

"Contratos de Gestão", técnica que gestores adoram, são apontamentos escritos em contrato, onde "indicadores" de desempenho são previamente acordados pelo "dirigente". Apontam com o indicador o que querem que seja cumprido.

Isto não é Administração do século XXI, isto é gestão do século XVI que ainda usamos nas empresas estatais e empresas de gestão familiar. 500 anos de atraso administrativo.

Se você usa ainda o termo Gestão, cuidado. Você está mostrando para todo mundo que acredita que administrar é dar ordens para subordinados onde colocar isto e onde colocar aquilo. Administração moderna é muito mais do que isto, nem preciso relembrar. Portanto, preste atenção quem são aqueles que ainda usam o termo Gestão. E reze.

FONTE: Disponível em: <http://www.administradores.com.br/artigos/negocios/gestao-ou-administracao-qual-e-a-diferenca/52944/>. Acesso em: 17 abr. 2017.

Page 131: Mercado do agronegócio

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Neste tópico, você aprendeu que:

• Os termos Administração e Gestão referem-se à condução dos processos inerentes aos negócios de modo geral, sendo que o Administrador normalmente refere-se ao profissional que tem formação em Administração e é contratado para ocupar uma função gerencial, enquanto que o gestor pode ser o proprietário da empresa, seu dirigente ou líder.

• As funções do gestor/administrador são compreendidas dentro da sigla PODC, que significa planejamento, organização, direção e controle.

• O planejamento é a definição de um estado futuro desejado e dos meios eficazes de alcançá-lo. Também pode ser realizado a longo prazo (mais de um ano) ou curto prazo (menos de um ano).

• A organização é essencial para a empresa, uma vez que proporciona todo o arranjo necessário e útil ao seu funcionamento.

• A direção refere-se à condução das pessoas na empresa e seu objetivo é ter as pessoas executando suas tarefas de forma eficiente, evitando conflitos e dispersão dos recursos disponíveis.

• A direção, por sua vez, vale-se dos estilos de liderança para sua atividade.

• Conhecemos três estilos de liderança: autocrática, democrática e liberal.

• O controle é uma tarefa contínua, que observa o desempenho de cada ação e, se necessário, executa as devidas correções na hora oportuna.

RESUMO DO TÓPICO 1

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Caro acadêmico! Para fixar melhor o conteúdo estudado, vamos exercitar um pouco. Leia as questões a seguir e responda-as em seu livro de estudos. Bom trabalho!

1 As propriedades modernas do agronegócio possuem uma gestão pautada pelos princípios da administração, que resumem-se em planejar, organizar, dirigir e controlar. Sobre estes princípios, analise as afirmações e responda.

I – O planejamento consiste em pensar o que se deseja como objetivos para o futuro e traçar os meios (planos) que serão utilizados para alcançar estes.II - O planejamento sempre será de longo prazo, pois planejar com período menor de um ano é desnecessário.III – Organização, neste caso, é visto como sinônimo de empresa ou instituição.IV - A direção relaciona-se diretamente com a liderança, uma vez que se traduz na condução dos processos e, logicamente, das pessoas.V – O controle é necessário para avaliar se os rumos que a empresa segue atendem ao que foi planejado.

É correto o que se afirma em: a) ( ) As assertivas I e III, apenas.b) ( ) As assertivas I, IV e V, apenas.c) ( ) As assertivas I, II, III e V, apenas.d) ( ) As assertivas I e V, apenas.e) ( ) A assertiva I, apenas.

2 Comente o que são os stakeholders e cite exemplos.

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 2

A CONTABILIDADE E A EMPRESA AGRÍCOLA

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

A Contabilidade é uma ciência que se dedica a analisar, interpretar e registrar os diversos fenômenos que ocorrem no patrimônio das pessoas físicas e jurídicas. Através dos registros destes fenômenos pode manter seus usuários informados através dos seus relatórios contábeis. Tais informações podem ser utilizadas como ferramenta de gestão e apoio na tomada de decisões.

O processo de contabilização aparentemente é simples, ou seja: a contabilidade obtém os dados por meio de documentos e os sintetiza e apresenta aos usuários na forma de relatórios; entretanto, deve-se observar quem são os usuários da informação, tendo-se em vista a complexidade do processo de geração da informação contábil, decorrente da imensa gama de usuários internos e externos (OLIVEIRA, 2012, p. 26).

FIGURA 20 - VANTAGENS DO USO DA CONTABILIDADE

FONTE: Adaptado de Oliveira (2012)

A Contabilidade do Agronegócio reveste-se de algumas particularidades, procurando atender especificamente às características que se encontram na atividade do setor. É sobre estas particularidades que estaremos desenvolvendo nossos estudos a partir de agora.

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UNIDADE 3 | A GESTÃO DA EMPRESA AGRÍCOLA

A primeira diferenciação a ser feita diz respeito ao exercício social da empresa rural em relação ao ano fiscal. Enquanto o ano fiscal abrange o período de 12 meses, sendo finalizado em 31 de dezembro de cada ano, coincidindo com o ano civil, na empresa rural é diferente, pois a produção agropecuária, essencialmente sazonal, concentra-se em determinado período do ano, que pode ser alguns dias ou meses logo após a colheita (na agricultura), ou após o nascimento dos bezerros (pecuária). Porém, as empresas rurais devem adequar seu ano agrícola para o ano civil visando atender ao que preconiza a lei do Imposto de Renda.

2 CULTURAS TEMPORÁRIAS

Devemos considerar o tipo de culturas existentes. Lembramos que as culturas são classificadas, segundo Marion (1999, p. 36), como “cultura temporária ou cultura permanente”.

Segundo Oliveira (2012), as culturas temporárias são aquelas sujeitas ao replantio após a colheita, com ciclo de vida curto (menor que um ano). Após a colheita, são arrancadas do solo para que seja realizado o novo plantio. É o caso da soja, do milho, arroz, feijão, batata etc.

Em razão dessas características, a cultura temporária também é conhecida como cultura anual. A cultura temporária em formação é registrada no Ativo Circulante, no subgrupo estoque. A cultura temporária em formação é considerada um produto em processo ou em andamento. Desse modo, todos os custos necessários para formar a cultura, desde a preparação do solo até a colheita do produto agrícola, são acumulados na conta cultura temporária em formação (OLIVEIRA, 2012, p. 27).

Vamos imaginar que a propriedade cultive milho e soja, o Balanço Patrimonial, neste caso, ficaria da seguinte forma:

Ativo CirculanteEstoque Cultura temporária em formação Milho Soja

Os componentes dessa conta geralmente são as sementes, os fertilizantes, as mudas, as demarcações, a mão de obra, os encargos sociais, energia elétrica, o combustível, os serviços profissionais, os inseticidas, as depreciações dos maquinários e outros imobilizados, utilizados na cultura em apreço (OLIVEIRA, 2012, p. 28).

Neste momento cabe recordarmos o conceito de custos, salientando que estes podem ser diretos ou indiretos. No caso de plantio de uma única cultura, todos os custos são considerados diretos.

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TÓPICO 2 | A CONTABILIDADE E A EMPRESA AGRÍCOLA

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Segundo Crepaldi (1998, p. 89), “custos são os gastos relativos a bem ou serviço utilizado na produção rural; são todos os gastos relativos à atividade de produção”.

Como despesa, entende-se todo o gasto não identificável com a cultura, portanto, não acumulado no estoque (culturas temporárias em formação), mas apropriado como despesa do período (OLIVEIRA, 2012, p. 28).

São exemplos de despesas:

• Gastos com vendas dos produtos (propaganda, comissão dos vendedores).• Administrativas: honorários dos produtores e do pessoal do escritório.• Financeiras: juros.

Claro que cabe lembrar que o gasto com o armazenamento também deverá ser contabilizado no custo do produto agrícola.

2.1 FLUXO CONTÁBIL DA CULTURA TEMPORÁRIA

Segundo Oliveira (2012), para fazer a contabilização dos fatos contábeis em uma propriedade cuja atividade seja o plantio da cultura temporária: milho, seguem-se os seguintes passos:

1. Aquisição de sementes a prazo para o plantio da cultura

Débito – sementes (AC – estoques)Crédito – fornecedores (PC – fornecedores)

2. Plantio das sementes

Débito – cultura temporária em formação – milho (AC)Crédito – sementes (AC – estoque)

3. Uso de mão de obra para o plantio, a prazo

Débito – mão de obra (resultado)Crédito – mão de obra a pagar (PC)Débito – cultura temporária em formação – milho (AC – estoques)Crédito – mão de obra (resultado)

4. A cultura está pronta para ser colhida

Débito – produto agrícola – milho (AC – estoques)Crédito – cultura temporária em formação – milho (AC – estoques)

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UNIDADE 3 | A GESTÃO DA EMPRESA AGRÍCOLA

5. Na venda do produto agrícola milho a prazo

Débito – duplicatas a receber (AC)Crédito – venda produto agrícola – milho (resultado)

6. Baixa do estoque

Débito – custo do produto agrícola (resultado)Crédito – produto agrícola milho (AC – estoques)

FONTE: Adaptado de Oliveira (2012)

2.2 CULTURAS PERMANENTES

Segundo Marion (1999), a principal característica das culturas permanentes é que permanecem vinculadas ao solo e proporcionam mais de uma colheita ou produção. “Normalmente, atribui-se às culturas permanentes uma duração mínima de quatro anos, por exemplo, a cultura da cana-de-açúcar, a citricultura, a cafeicultura, a silvicultura, a oleicultura, ou seja, praticamente todas as frutas arbóreas” (OLIVEIRA, 2012, p. 30).

Ainda segundo Oliveira (2012), na cultura permanente todos os custos necessários para a formação desta, desde a preparação do solo até a cultura formada em condições de produção, são alocados em uma conta do ativo permanente imobilizado. Observa-se que no caso das culturas permanentes, é como se estivesse sendo fabricada uma máquina e, depois de pronta, ela começasse a produzir. Desse modo, compõem o custo da cultura permanente todos os custos com adubação, os formicidas, os fungicidas, os herbicidas, a mão de obra, os encargos sociais, a manutenção, o arrendamento de equipamentos e terras, o preparo do solo, os serviços de terceiros, as sementes, as mudas, a irrigação, os produtos químicos e a depreciação dos equipamentos utilizados na cultura.

IMPORTANTE

Como o ciclo de floração, formação e maturação do produto normalmente é longo, cria-se uma conta de colheita em andamento, identificando o produto que irá ser colhido. Nesta conta serão registrados os custos necessários para a realização da colheita, como a mão de obra e os encargos sociais, a poda, a capina, a aplicação de herbicida, a desbrota e raleadura, pulverização de produtos químicos (para manutenção da árvore, das flores e dos frutos), o custo com irrigação (energia elétrica, transporte de água e depreciação dos motores), o custo do combate a formigas e outros insetos, a secagem da colheita e ainda serviços de terceiros.

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TÓPICO 2 | A CONTABILIDADE E A EMPRESA AGRÍCOLA

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1. Preparo do solo para plantio das mudas, serviços de terceiros, gasto à vista.

Débito – Gasto com mão de obra (resultado)Crédito – Banco (AC)Débito – Cultura permanente em formação laranjal (AP)Crédito – Gasto com mão de obra (resultado)

2. Compra de mudas à vista para o plantio

Débito – Cultura permanente em formação (laranjal)Crédito – Fornecedores (PC)

3. Manutenção do laranjal a prazo

Débito – Cultura permanente em formação laranjal (AP)Crédito – Contas a pagar (PC)

4. Depreciação dos pés de laranja

Débito – Depreciação (resultado)Crédito – Depreciação acumulada (AC - conta redutora)Débito – Colheita em andamento (AC)Crédito – Depreciação (resultado)

5. Gastos com mão de obra a prazo para colher os frutos

Débito – mão de obra (resultado)Crédito – mão de obra a pagar (PC)Débito – Colheita em andamento (AC – estoques)Crédito – Mão de obra – (resultado)

6. Término da colheita dos frutos

Débito – Produto agrícola (AC – estoques)Crédito – Colheita em andamento (AC – estoques)

7. Venda do produto agrícola laranja

Débito – Caixa (AC)Crédito – Vendas de produtos agrícolas (resultado)

2.2.1 Fluxo contábil da cultura permanente

Da mesma forma que a cultura temporária, a permanente também possui critérios para contabilizar os fatos gerados desde o preparo até a comercialização dos produtos.

Vamos utilizar como exemplo a cultura da laranja para estabelecer o fluxo contábil dos lançamentos a serem realizados em cada etapa:

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UNIDADE 3 | A GESTÃO DA EMPRESA AGRÍCOLA

8. Baixa do estoque

Débito – Custo do produto agrícola (resultado)Crédito – Produto agrícola (AC - estoques)

FONTE: Adaptado de Oliveira (2012)

Caros acadêmicos, procuramos, através da seleção destes exemplos propostos sobre a contabilidade do agronegócio, sensibilizar para a importância desta nos registros, principalmente focando a importância da gestão de custos do negócio e que servirá de base para a tomada de decisões.

Esclarecemos, portanto, que o agronegócio possui uma contabilização muito particular que se ajusta ao tipo de produção realizada, seja ela agrícola, como vimos nos exemplos anteriores, ou na pecuária. “Sabemos que, segundo Marion (1996), a pecuária de corte no Brasil ostenta um dos maiores rebanhos do mundo, sendo vista como a “a arte de criar e tratar gado” (MARION, 1996, p. 17).

No caso da pecuária, muitos são os fatores levados em conta na sua contabilização, como os sistemas de produção utilizados, pastagens, tipos de pastoreio, alimentação suplementar (silagem e fenação), reprodução, entre outros.

2.2.2 Informações gerenciais contábeis

Sabemos estar vivendo na contemporaneidade na Era da Informação, onde os avanços nas tecnologias de comunicação e informação advindas, sobretudo, através das redes digitais, aceleraram as trocas e incrementaram a importância da atualização e busca de dados essenciais aos negócios. Estes dados também dizem respeito aos processos internos da empresa e seus processos.

Estar bem informado é essencial para a gestão de qualquer negócio, e para o agronegócio não é diferente. Lembramos que a globalização propiciou que pudéssemos concorrer com nossos produtos globalmente e, para tal, temos mais ainda a necessidade de nos manter informados sobre os mercados que nos interessam, bem como sobre nossos concorrentes.

“A informação é o caminho das pessoas de negócios para expressarem, representarem, comunicarem e compartilharem seus conhecimentos com outros, para acompanharem suas atividades e conseguirem êxito em seus objetivos de negócios” (MARCHAND, 2000, p. 3). Para as empresas do agronegócio evidencia-se a importância da classificação e organização dos dados que irão fornecer as informações necessárias ao seu gerenciamento eficaz. Aliás, você lembra a diferença entre dado, informação e conhecimento?

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TÓPICO 2 | A CONTABILIDADE E A EMPRESA AGRÍCOLA

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FIGURA 21 - O FLUXO DO CONHECIMENTO

FONTE: O autor

Os dados podem ser considerados como algo bruto, um levantamento numeral sobre algo, porém sem nenhuma conexão com algum significado. Quando são tratados, processados, interpretados, convertem-se em informações, que então possuem significados. Já o conhecimento é muito mais amplo, pois significa a aplicação das informações em prol dos objetivos. Logo, para que se tenha conhecimento a ser aplicado e, consequentemente, vantagem competitiva no agronegócio, precisamos de um sistema que nos forneça informações precisas, de qualidade e na hora necessária. Crepaldi (1998, p. 61) alerta que o administrador, e aqui podemos considerar o gestor do agronegócio, precisa saber:

[...] qual a rentabilidade de sua atividade produtiva; quais os resultados obtidos e como eles podem ser otimizados por meio da avaliação desses resultados, as fontes de receitas e os tipos de despesas. No entanto, isso será possível a partir do momento em que se conhece onde estão sendo alocados os recursos e onde estão sendo geradas as receitas.

Neste caso, cabe ao gestor ter informações que lhe possibilitem conhecer a situação econômica e financeira de seu empreendimento, e para conhecer os fatos que ocorrem no dia a dia são necessários controles que possam auxiliá-lo na obtenção dos dados e, posteriormente, transformação destes dados em informações úteis e necessárias para as tomadas de decisão (OLIVEIRA, 2012). Vamos verificar agora um modelo de controle utilizado para culturas.

QUADRO 14 - MODELO DE CONTROLE PARA CULTURAS

Detalhamento Horas/dias R$ Preço unitário R$ Valor por atividade

I – OPERAÇÕESSubsolagemGradagem pesadaGradagem niveladoraAplicação herbicidaIncorporação herbicidaPlantio/ adubaçãoTransporte internoAplicação inseticida

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UNIDADE 3 | A GESTÃO DA EMPRESA AGRÍCOLA

ColheitaTransporte – freteSUBTOTALII – MÃO DE OBRAM. O – plantio M. O – capinaM. O – colheitaSUBTOTALIII - INSUMOS Kg/ L Preço unitário R$ Total R$SementesFertilizantesInseticidasHerbicidasFungicidasCalcárioAduboSUBTOTALTOTAL

FONTE: Adaptado de Oliveira (2012)

Com a organização dos dados apresentados no quadro acima, o produtor poderá valer-se dos dados, convertê-los em informação e utilizá-los para o cálculo de índices, como a Produtividade Kg/ha, o Preço de venda/kg, a Receita total em R$/ha e a Margem ou Lucro em R$/ha.

ATENCAO

QUADRO 15 - MODELO DE CONTROLE DO IMOBILIZADO

Descrição Ano de aquisição Valor do bem R$ Vida útilEstábulo 50 m² Mangueira 20 m²Trator 70 CvGrade niveladoraSemeadeiraPulverizadorColheitadeiraMatrizesTourosTotal

FONTE: Oliveira (2012)

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TÓPICO 2 | A CONTABILIDADE E A EMPRESA AGRÍCOLA

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Utilizando-se de informações simples como a descrita acima, o empresário do agronegócio pode perceber o quanto ele possui de capital imobilizado no seu negócio. “Este levantamento possibilita ao produtor conhecer a capacidade operacional da propriedade e também suas limitações, adequação ou inadequação, uso efetivo no ano e as possíveis ociosidades” (OLIVEIRA, 2012, p. 103).

QUADRO 16 - MODELO DE CONTROLE DE DIAS TRABALHADOS

Exploração Dias trabalhados por exploração Ano: Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.

Pasto/leiteCaféSojaMilhoAdministraçãoTotal de diasDias disponíveisSaldo de dias disponíveis

FONTE: Oliveira (2012)

Com a utilização do quadro acima, o produtor pode fazer uma análise do número de dias trabalhados mensalmente por exploração.

Além do total de dias trabalhados, ele poderá conhecer os dias disponíveis e o saldo de dias que pode ser utilizado para outras atividades, após descontar o período de férias. Por meio deste controle o produtor pode fazer uma análise e constatar, por exemplo, que o número de pessoas envolvidas na atividade é superior à necessidade e, dessa forma, adotar medidas que diminuam os dias ociosos por período ou safra agrícola (OLIVEIRA, 2012, p. 104).

QUADRO 17 - MODELO DE CONTROLE PARA RECEITAS E DESPESAS DAS ATIVIDADES

Receita Discriminação e receitas (valores em R$) Ano: Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.

LeiteCaféSojaMilhoOutras receitasTotal de diasTotal das receitasDespesas

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UNIDADE 3 | A GESTÃO DA EMPRESA AGRÍCOLA

Gado de corteCafeeiroSojaMilhoAdministraçãoOutras despesasTotal das despesasDéficit ou superávit

FONTE: Oliveira (2012)

O modelo de controle do quadro acima fornece também dados que permitem elaborar o fluxo de caixa e assim administrar as entradas e saídas, já que na atividade rural a maior dificuldade dos produtores está em manter a parte operacional em funcionamento em virtude de as receitas das atividades serem sazonais. Daí decorre, mais uma vez, a importância de ter controles que possibilitem este acompanhamento financeiro das entradas (OLIVEIRA, 2012, p. 105).

Reiteramos que as informações são essenciais para o administrador/gestor do agronegócio, uma vez que, de acordo com Atkinson et al. (2000), a contabilidade é o processo de identificar, mensurar, reportar e analisar informações sobre os eventos econômicos das empresas. Um exemplo de informação contábil é o relatório de despesas de uma safra agrícola. Outros exemplos são os cálculos de custos por hectare plantado ou o custo dos bezerros nascidos no período. Assim, a informação gerencial contábil é uma das fontes informacionais primárias para a tomada de decisão e controle das empresas.

Conclui-se que o sistema de informações da propriedade rural é um instrumento de controle indispensável ao bom administrador, pois subsidiará o processo de tomada de decisão, produzindo informações que ajudam funcionários, administradores nas propriedades rurais e produtores a tomarem as melhores decisões e aperfeiçoando os processos e desempenhos de suas propriedades (OLIVEIRA, 2012, p. 102).

Outra parte da contabilidade que se reveste de importância para a boa gestão dos negócios rurais de modo geral é a contabilidade de custos, que servirá de suporte, junto com a contabilidade geral, para a formação do sistema de informações gerenciais da empresa.

De acordo com Leone (2004), a contabilidade de custos é o ramo aplicado da ciência contábil que fornece aos administradores as informações quantitativas (físicas e monetárias) de que eles precisam para se desincumbirem de suas funções de determinação de rentabilidade operacional, da avaliação dos elementos patrimoniais, do controle das operações, do planejamento e da tomada de decisões tanto a curto como a longo prazo, tanto decisões operacionais, táticas, como

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TÓPICO 2 | A CONTABILIDADE E A EMPRESA AGRÍCOLA

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estratégicas. Sobre a contabilidade de custos aplicada à empresa rural, Callado (2011, p. 87) afirma:

Um sistema de contabilidade de custos adotado por uma empresa precisa ser compatível com sua estrutura organizacional, com os procedimentos de manufatura e com o tipo de informações sobre custos que a administração deseja. Pode-se visualizar que a contabilidade de custos tem a função de suprir a administração de uma organização com dados que representem o montante de recursos utilizados para executar as várias fases de seu processo operacional. Seu papel adquire maior importância quando esta organização se encontra inserida em um mercado dinâmico e competitivo.

Um modelo de sistemas de custos vai além dos registros e finalidades da contabilidade geral e de custos para ingressar em um sistema de informações gerenciais. Santos, Marion e Segatti (2002) apontam quatro objetivos, a saber:

a) Auxiliar a administração na organização e controle da unidade de produção, revelando ao administrador as atividades de menor custo e as vantagens de substituir por outras.

b) Permitir uma correta valorização dos estoques para apuração dos resultados obtidos em cada cultivo ou criação.

c) Oferecer bases consistentes e confiáveis para projeção dos resultados e auxiliar o processo de planejamento rural, principalmente quando o administrador precisa decidir o que plantar, quando plantar e como plantar.

d) Orientar os órgãos públicos na fixação de medidas, como garantia de preços mínimos, incentivos à produção de determinado produto em escala desejada, estabelecimento de limites de crédito.

2.3 A CÉDULA DO PRODUTO RURAL

Tivemos a oportunidade de estudar na unidade anterior sobre o mercado de capitais, de opções e futuros, porém não abordamos diretamente a Cédula do Produto Rural, que se reveste de grande importância para o agronegócio. Tendo em vista que para sua utilização os gestores que se dedicam neste segmento de negócios devem estar providos de informações consistentes para sua emissão, iremos falar sobre ela neste momento.

Segundo a Bolsa de Mercados Futuros – BOVESPA, a Cédula de Produto Rural é um título de crédito lastreado em garantia real, representada por penhor rural ou mercantil. Trata-se de uma venda a termo, na qual produtor, associação ou cooperativa de crédito emite um título para comercializar seus produtos, recebendo o valor antecipadamente com a obrigação de pagamento em produto (CPR Física) ou de resgate financeiro (CPR Financeira). A CPR pode ser negociada no mercado primário, quando o emitente deseja adiantar

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UNIDADE 3 | A GESTÃO DA EMPRESA AGRÍCOLA

recursos para utilizar na produção de determinada mercadoria agropecuária, ou no mercado secundário, quando o adquirente da CPR deseja negociá-la por meio de sua venda a outro agente interessado.

A principal função da CPR é propiciar o acesso do produtor rural aos recursos de mercado a menores custos. Trata-se de título cambial que permite a transferência para outro comprador, por endosso; permite ao emitente alavancar recursos para atender suas necessidades no processo produtivo e pode ser emitido em qualquer fase do empreendimento, desde a época de planejamento até o produto colhido e armazenado, dentre outras (LUCHESI, 2017).

Pesquisadores que estudam a evolução dos sistemas de financiamento da atividade agrícola costumam citar a Cédula de Produto Rural em suas análises.

Os atuais sistemas de financiamento e de gerenciamento de risco do setor agrícola são os seguintes: os oficiais - PRONAF (Programa Nacional de Apoio à Agricultura Familiar), PEP (Prêmio de Escoamento da Produção), AGF (Aquisição do Governo Federal), EGF (Empréstimo do Governo Federal), Contrato de Opções de Venda e o Crédito de Custeio; os do setor privado (contratos a termo e futuros, troca de insumo por produto etc.), sendo o mais conhecido a CPR (Cédula do Produto Rural) (ALVES; STADUTO, 1999, p. 138).

Segundo Barros e Guimarães (1998), este é um instrumento de grande potencial tanto para assegurar preços antecipados como, também, para adiantar recursos para custeio e comercialização do produtor.

A Cédula do Produto Rural foi idealizada pelo Banco do Brasil, o qual procurou desenvolver um instrumento que pudesse atrair os agentes financeiros para o seu aval. Foi denominada inicialmente como BB-CPR, sendo, dessa maneira, tal cédula avalizada pelo Banco do Brasil, garantindo a entrega do produto ao comprador. Segundo esse banco, os objetivos da CPR foram o de minimizar as dificuldades no mercado e simplificar o agribusiness. Regulamentada pela Lei nº 8.929, de 22.08.1994, por meio da qual o emitente - produtor rural e suas associações, inclusive cooperativas - vende a termo sua produção agropecuária, recebe o valor da venda no ato da formalização do negócio e se compromete a entregar o produto vendido na quantidade, qualidade e em local e data estipulados no título. O Banco do Brasil foi a primeira instituição a implementar o título utilizando a denominação BB-CPR. Gonzalez (1999), ao analisar os estoques de CPRs registradas na CETIP, constatou que há outras instituições financeiras dando aval a CPRs além do Banco do Brasil (ALVES; STADUTO, 1999, p. 143).

Segundo Alves e Staduto (1999), são características dos contratos BB-CPR:

a) venda de produtos rurais, com pagamento à vista;

b) título líquido e certo, transferível por endosso e exigível pela quantidade e qualidade de produto nele previstos;

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TÓPICO 2 | A CONTABILIDADE E A EMPRESA AGRÍCOLA

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c) negociável em bolsa de mercadorias (sem comprador do produto definido) ou mercado de balcão (com comprador definido);

d) registro na CETIP - Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos Privados, garantindo a forma e a autenticidade do papel;

e) eficácia contra terceiros - inscrição no cartório de registro de imóveis - CRI do domicílio do emitente; e

f) facultativa a emissão do título em qualquer fase do empreendimento: (planejamento, desenvolvimento, pré-colheita ou, até mesmo, do produto colhido).

LEITURA COMPLEMENTAR

A Importância da Contabilidade Rural

No Brasil, empresário e agricultor são dois estereótipos completamente diferentes, mas essa distinção deveria se ater somente ao imaginário, pois, na prática, administrar uma fazenda não é tão diferente de conduzir uma empresa. Apesar disso, nem todos os produtores rurais dão a devida importância às práticas modernas de gestão e à contabilidade rural.

Isso é um erro grave, porque no campo um bom planejamento contábil pode até ser mais determinante. Afinal, por trabalhar com safras, o agricultor precisa esperar longos meses do plantio até a colheita e a venda de seus produtos. Assim, um pequeno erro de cálculo pode ser catastrófico, e não há chances de se recuperar no mês posterior, apenas na safra seguinte.

Por que buscar assessoria para a contabilidade rural?

Segundo Paulo Oberto, diretor do escritório Oberto, especializado em contabilidade rural, a carga tributária sobre o agronegócio é elevada e complexa. “Tendo isso em vista, o produtor rural tem que entender que ele precisa ter um acompanhamento mensal do seu negócio. Não dá mais para esperar o ano findar, juntar a documentação e levar para o contador elaborar sua declaração de renda”, afirma.

Apesar disso, no geral, os agricultores não são organizados financeiramente, segundo Oberto. “Entendemos que isto é uma cultura, mas que está mudando. Para se fazer um planejamento tributário que faz parte da organização da atividade é necessário ter um controle financeiro partindo de um projeto simples”, pondera. O projeto simples de planejamento rural a que Oberto se refere começa com um levantamento patrimonial, que apura o ativo – bens e direitos – e passivo – obrigações – que compõem as atividades exploradas.

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UNIDADE 3 | A GESTÃO DA EMPRESA AGRÍCOLA

A partir daí, tem-se o patrimônio líquido e é possível elaborar o fluxo de caixa, que mensura as entradas e saídas de recursos que a atividade proporciona. “Isso é feito mensalmente e geralmente abrange um período de 10 anos”, explica Oberto.

Aí está uma das diferenças fundamentais da gestão financeira de uma empresa na comparação com o agronegócio. Em outros setores, o fluxo de caixa raramente ultrapassa 12 meses. Segundo Oberto, planejá-lo em um prazo mais longo tem a finalidade de dar suporte a tomadas de decisões envolvendo investimentos, frustrações de safra, variações nos preços praticados no mercado, baixa produtividade e outras.

Gestão informatizada

Além da assessoria contábil competente, há casos em que vale a pena informatizar a gestão da fazenda. Quando o negócio começa a crescer e o controle financeiro passa a tomar muito tempo, implantar um sistema de gestão é importante. “Além de benefícios para a atual gestão, também servirá como um facilitador para a futura inclusão de sucessores e agregados, tendo em vista a perpetuidade do negócio”, sugere Paulo Oberto.

Se atualizar quanto ao uso de tecnologias no campo não ajuda apenas na administração financeira, mas também na produtividade da plantação – há uma série de start-ups do agronegócio com soluções inovadoras para esse fim – e nos rendimentos –, como as lojas virtuais, que possibilitam explorar novos modelos de negócios, chegando direto ao consumidor final.

FONTE: Disponível em: <https://www.jornalcontabil.com.br/importancia-da-contabilidade-rural/>. Acesso em: 17 abr. 2017.

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Neste tópico, você aprendeu que:

• A Contabilidade é uma ciência que se dedica a analisar, interpretar e registrar os diversos fenômenos que ocorrem no patrimônio das pessoas físicas e jurídicas.

• A Contabilidade associada ao agronegócio tem suas particularidades, que são ajustadas de acordo com o tipo de empresa/negócio, seja ele agrícola, pecuário ou agroindustrial, entre outros.

• As vantagens do uso da Contabilidade no agronegócio são: o acesso às informações patrimoniais, controle dos custos, avalição dos resultados e estabelecimento de planos e estratégias para a empresa.

• Estar bem informado é essencial para a gestão de qualquer negócio, e para o agronegócio não é diferente, por isso faz-se necessária a utilização de um sistema de informações.

• Dados traduzidos/interpretados transformam-se em informação que, se aplicada convenientemente na empresa, converte-se em conhecimento.

• O sistema de informações da propriedade rural é um instrumento de controle indispensável ao bom administrador, pois irá subsidiá-lo para o processo de tomada de decisão.

RESUMO DO TÓPICO 2

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AUTOATIVIDADE

Caro acadêmico! Para fixar melhor o conteúdo estudado, vamos exercitar um pouco. Leia as questões a seguir e responda-as em seu livro de estudos. Bom trabalho!

1 Quais são as principais vantagens da contabilidade no agronegócio?

2 Analise as afirmativas sobre a contabilidade agrícola e responda.

I - Devemos considerar o tipo de culturas existentes para sua contabilização, se são temporárias ou permanentes.II - A cultura temporária em formação é registrada no Ativo Circulante, no subgrupo estoque.III - Na cultura permanente todos os custos necessários para a formação desta, desde a preparação do solo até a cultura formada em condições de produção, são alocados em uma conta do ativo permanente imobilizado.IV – Não irão compor o custo da cultura permanente os gastos com adubação, os formicidas, os fungicidas e os herbicidas.V – Na contabilidade pecuária devem ser considerados os sistemas de produção utilizados, pastagens, tipos de pastoreio, alimentação suplementar (silagem e fenação), reprodução.

É correto o que se afirma em: a) ( ) As assertivas I e III, apenas. b) ( ) As assertivas I, II e III, apenas. c) ( ) As assertivas I, II, III e V, apenas. d) ( ) As assertivas I e V, apenas.e) ( ) A assertiva I, apenas.

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TÓPICO 3

MARKETING E AGRONEGÓCIO

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

O conceito de marketing se estende a todas as organizações, sendo responsável na maioria delas pelo sucesso nas decisões de compra por parte dos consumidores em potencial, uma vez que procura criar uma necessidade de compra, ao mesmo tempo em que procura tanto pesquisar para customizar um produto quanto manter uma rede de relacionamentos pós-venda com estes mesmos clientes.

“Marketing é a atividade humana dirigida para a satisfação das necessidades e desejos, através dos processos de troca” (KOTLER, 1996, p. 20). Embora saibamos que as ações de marketing se diferem da própria comercialização de produtos ou serviços, o seu impacto nas vendas é inevitável e, por esta razão, cada vez mais ações têm sido projetadas pelas empresas através deste. Como fica o marketing do agronegócio? O que é necessário para fazer a gestão do marketing neste setor com sucesso?

FIGURA 22 - O FOCO AMPLIADO

FONTE: Disponível em: <https://cdn.pixabay.com/photo/2016/03/02/07/37/window-1231894_960_720.jpg>. Acesso em: 17 abr. 2017.

Segundo Tejon (2009), para fazer marketing em agronegócios é preciso ter o foco ampliado. É preciso abrir o pensamento estratégico e as análises de todo o perfil da cadeia produtiva na qual se está inserido para, então, aumentar a criatividade e a inovação no planejamento realizado – bem como sua substância para o longo prazo e sua força tático-operacional no presente.

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UNIDADE 3 | A GESTÃO DA EMPRESA AGRÍCOLA

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Por exemplo, como fazer marketing estratégico em uma agroindústria de carne de frango sem conversar com o geneticista, que é quem está desenhando hoje o perfil do produto que estará nas gôndolas dos supermercados daqui a cinco ou dez anos? Ou seja, esse geneticista também participa, em alguma medida, de uma parcela do lucro e da competitividade agroindustrial do setor, no médio e no longo prazos. Outro exemplo: como planejar negócios em uma integração de carne suína e de aves sem conversar com a indústria da nutrição animal (e também genética) sobre melhorias em conversão alimentar? Afinal, 70 ou 80 por cento do custo de criação desses animais está no alimento, e estamos vivendo uma fase de alimentação animal mais cara, uma fase que veio para ficar, patrocinada pela expansão mundial da demanda de grãos – em razão do crescimento mais acelerado das economias de média e baixa renda – e pela nova equação do alimento versus energia, que marca o agronegócio mundial deste início de século (TEJON, 2009, p. 3).

Como podemos perceber, para atuar com a gestão do marketing no agronegócio é necessária, além da visão ampliada, uma boa quantidade de informações atualizadas sobre o setor e todas as etapas da cadeia produtiva das empresas em questão. Estas informações, por sua vez, devem ser de qualidade para que sejam utilizadas com sucesso, pois:

Ao elaborarmos um plano de marketing, devemos atentar tanto para o amplo conjunto de variáveis relacionadas ao mercado em que atuamos e aos concorrentes diretos, quanto para a multiplicidade de enfoques e dados que vêm com a visão estratégica da cadeia produtiva. Tudo isso multiplica bastante os eixos de informação e de análise ideais para um planejamento bem estruturado e com excelência em sua base informativa (TEJON, 2009, p. 4).

A administração de marketing pode ser aplicada em qualquer mercado, desde que se tenha noção dos principais atores e forças que incidem sobre este sistema.

FIGURA 23 - PRINCIPAIS ATORES E FORÇAS DE UM SISTEMA DE MARKETING MODERNO

FONTE: Adaptado de Kotler (2011)

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TÓPICO 3 | MARKETING E AGRONEGÓCIO

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Kotler (2011) utiliza-se de um exemplo de empresa do agronegócio em seu livro clássico “Administração de Marketing”, quando cita:

Consideremos uma empresa de alimentos. O vice-presidente de recursos humanos lida com o mercado de trabalho; o vice-presidente de compras, com o mercado de matérias-primas. Devem estabelecer objetivos e desenvolver estratégias para atingir resultados satisfatórios nesses mercados. Entretanto, tradicionalmente, esses executivos não são chamados de praticantes de marketing e não são treinados em marketing. Na melhor das hipóteses, são praticantes de marketing em tempo parcial. Em vez disto, a administração de marketing tem sido, historicamente, identificada com tarefas e pessoas que lidam com o mercado consumidor (KOTLER, 2011, p. 33).

“O marketing está se tornando mais uma batalha baseada em informações do que uma batalha baseada no poder de vendas” (KOTLER, 2000, p. 121).

Outro aspecto importante na gestão do marketing no agronegócio diz respeito à criatividade nas ações estratégicas.

A Agroceres Ross lançou no Brasil uma genética de frango voltada para o consumo da ave em partes (peito, coxa e sobrecoxa) quando o país consumia o frango inteiro. Esse lançamento foi um sucesso de grande impacto e, como estava previsto no planejamento da empresa, em 10 anos ela dominou 45 por cento do mercado (TEJON, 2009, p. 5).

2 O PLANEJAMENTO DE MARKETING

Uma das etapas mais importantes para que a organização possa desenvolver suas ações de marketing é a construção do seu planejamento.

Um plano de marketing deve ser sintético, objetivo e, principalmente, um documento de estratégia aplicada ao negócio. Deve ter extensões para planos de produto, vendas e comunicação – além de diferentes pressupostos de cenário, para oferecer melhores parâmetros de adaptação ao longo do período. Não existem modelos absolutos para o planejamento de marketing. O ideal é que se tenha um plano sintonizado com as técnicas consagradas de marketing, voltado à busca de insights inovadores e adaptado à cultura da empresa, seja ela qual for (TEJON, 2009, p. 25).

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FIGURA 24 - PLANEJAMENTO DE MARKETING

FONTE: Adaptado de Tejon (2009)

Vamos agora realizar uma pequena descrição dos itens que compõem esta estrutura de conteúdos propostos na imagem acima, seguindo a síntese realizada por Tejon (2009), em sua obra “Marketing e Agronegócio”.

Sumário

Deverá conter a relação dos principais blocos de informação, enfoque de análise, conjunto de estratégias e programas de ação.

Sumário executivo

É uma síntese das conclusões de análise, objetivo, metas e ações propostas no plano. Pode-se dividi-lo em blocos distintos para curto, médio e longo prazos, mas sempre deixando claro o elo entre as estratégias e metas de curto e longo prazos.

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Objetivos corporativos

São os grandes alvos da organização: cobertura/presença no mercado, corebusiness, crescimento, retorno sobre investimentos, lucratividade etc.

Situação do mercado

Esta etapa do plano de marketing deve conter a análise do ambiente econômico, político, legal, comportamental e das tendências do agronegócio, assim como do ambiente competitivo da empresa.

Deve conter o levantamento de dados sobre o mercado do produto/serviço/empresa, reunindo informações sobre seu tamanho, taxas históricas e projeções de crescimento, ciclo de vida, competidores, macrotendências econômicas, demográficas e tecnológicas.

Evolução e tendências de macroambientes

Nesta etapa, deve-se identificar as ameaças e oportunidades advindas de variáveis incontroláveis, como mudanças no ambiente político, econômico, legal, sociocultural e tecnológico.

Analisar ainda o comportamento dos consumidores e dos agentes de distribuição (distribuidores, revendas, cooperativas, tradings, lojas de autosserviço), de acordo com o produto/serviço/empresa.

Análise interna de marketing

Nesta etapa levantam-se os pontos fortes e fracos da empresa – produtos e linha (comparando com a qualidade/imagem da oferta concorrente e sempre pelo filtro das segmentações).

• Avaliar todos os serviços que estão sendo oferecidos aos clientes (sempre comparando com a concorrência).

• Verificar participações de mercado e detalhar aspectos de qualidade percebida de produto/oferta, imagem percebida de marcas, índices de satisfação comparada de clientes versus concorrentes.

• Consolidar os dados sobre produtos comercializados, geografias de vendas, perfil de giro, sazonalidades, pricing comparado (concorrência e segmento).

• Analisar a situação dos produtos/serviços na receita e na contribuição para o lucro da empresa (lucro econômico), de uma perspectiva dos últimos três a cinco anos.

• Fazer uma análise estratégica de portfólio de produtos, identificando suas principais forças, gargalos e potenciais.

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UNIDADE 3 | A GESTÃO DA EMPRESA AGRÍCOLA

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• Utilizar, sempre que possível, pesquisas de mercado para obter maior qualidade/profundidade nos dados e análises de marketing. Analisar a equipe de vendas e os canais de distribuição do produto/serviço/linha/empresa, bem como levantar oportunidade de lançamento de produtos.

• Identificar ações e sinergias que possam ser exploradas (em parceria) para promover o crescimento do produto (linhas complementares) ou a expansão do mercado.

Diagnóstico da concorrência

Nesta etapa, deve-se descrever/avaliar os principais concorrentes nacionais e internacionais, diretos e indiretos. Identificar os pontos fortes e fracos destes concorrentes. Relacionar os fatos importantes e recentes da concorrência – como participação de mercado, share of voice no setor, lançamento de produtos e serviços.

Relacionar também ações de marketing, de estrutura de canais, de equipe de vendas e estratégias comerciais da concorrência.

Insight sobre linha de produtos concorrentes, seu market share – geral e individualizado por produtos, ciclo de vida, imagem percebida. Selecionar entre os concorrentes aqueles com as melhores avaliações em áreas importantes do atendimento ao mercado para utilizar como benchmark.

Síntese da competitividade por segmentação

Neste ponto, deve-se apresentar um resumo estratégico das forças e fraquezas de marketing da empresa, pelo filtro das segmentações – geográfica, de mercados, de tipificações ou de valor para os clientes etc. Essa síntese será extraída das análises feitas nas duas etapas anteriores.

Síntese de ameaças e oportunidades

Nesta etapa são sintetizados os principais problemas e oportunidades encontrados nas análises feitas nas etapas anteriores – e que, portanto, serão privilegiados no planejamento. Da mesma forma, sinalizar como as dificuldades serão enfrentadas e as ações que podem ser tomadas para tirar proveito das oportunidades, formando um painel estratégico com as perspectivas positivas do planejamento.

Objetivos gerais de marketing

Esta é a parte de quantificação do plano, em que os principais objetivos devem ser definidos e quantificados. Deve-se apontar, por exemplo:

• Metas de venda por produto/serviço, segmento de consumo, regiões e territórios comerciais, segmento de canais ou cada canal.

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• Participação de mercado projetada por produto/serviço, segmento de consumo, região/território e canal.

• Alvos de cobertura comercial (geográfica e em número de canais) e entrada em novos mercados.

• Participação nos investimentos em serviços de marketing do setor, como propaganda, promoção, merchandising etc.

• Índices de participação na mente dos consumidores, como recall e share of mind, imagem percebida de marcas, goodwill corporativo etc.

É desejável que se estabeleçam os alvos mencionados anteriormente com um bom nível de detalhamento para que possam ser acompanhados com mais facilidade ao longo do período e também constatados na avaliação final do planejamento.

Resultados esperados

Esta também é uma etapa de quantificação de alvos, uma espécie de desdobramento da etapa anterior, porém elaborada pelo ângulo e na sintonia fina das finanças. Estamos falando, por exemplo, de índices como giro dos inventários, giro de contas a receber, fluxo de caixa, margem bruta, Raji e Roae, entre outras ferramentas de mensuração de resultado financeiro. Essas mensurações podem ser feitas por produto/serviço ou linha/empresa. As metas relativas a esses índices podem ser acompanhadas em todo o período, como um termômetro contínuo e preventivo do sucesso do planejamento.

NOTA

Existem alguns indicadores ou ferramentas que ajudam nas análises contábeis e na mensuração dos resultados financeiros. Por RAJI, entendemos os resultados antes de juros e impostos (RAJI). ROAE, vem do inglês Return On Average Equity, significando Retorno sobre o Patrimônio Líquido Médio.

Estratégias de marketing

Nesta etapa, deve-se:

• Apresentar as principais estratégias definidas para atingir os objetivos de marketing, sob o enfoque da segmentação de mercados, da seleção de mercados-alvo, da diferenciação e do posicionamento de linha/produto.

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• Além da segmentação de mercado, construir as estratégias já estabelecendo o mix de marketing para cada segmento, ou seja, o portfólio de oferta (produto/serviço), os posicionamentos, a política de preços, a força de vendas, a estrutura de canais e a comunicação mercadológica.

• Sinalizar o que será feito para alcançar os objetivos de marketing, buscando sempre uma otimização/upgrade de eficácia nos padrões da empresa em diferenciação de oferta (produto/serviço); distribuição; competitividade em pricing (preço e condições comerciais); propaganda e promoção; sistema de avaliação do plano; e auditoria anual de marketing.

• Contemplar aspectos de recursos humanos, treinamento, tecnologia, produção, finanças, entre outros, sempre respondendo de maneira sintética à questão: O que será feito?

• Apresentar um panorama dos planos de ação que darão corpo às estratégias.

Planos de ação

Para usar uma síntese e facilitar a percepção do todo, podemos dizer que os programas de implementação mostram como será realizada a estratégia, ou seja: o que será feito exatamente, em detalhes, quando, onde e quem fará.

Sob esse guarda-chuva, temos, então, uma boa diversidade de campos de ação para serem planejados e gerenciados:

• Produto, tecnologia, produção, gestão do produto e ações para o seu desenvolvimento no mercado.

• Vendas, canais, distribuição, programas de incentivo a canais pós-venda (incluída a assistência técnica).

• Programas de melhoria de custos e qualidade.

• Comunicação mercadológica – propaganda, promoção, programas de incentivos ao cliente/consumidor, relações institucionais e web marketing.

• Recursos humanos, motivação e treinamento.

• Sistemas de informação de marketing, organização e tecnologia de informação.

• Avaliação e controle – controladoria de marketing, administração de vendas, pesquisa de mercado etc.

Todos esses campos de ação – desenvolvidos, integrados e orçados – darão origem a planos específicos de produto, vendas, distribuição e comunicação.

Sintonia fina

O orçamento de todas as variáveis e ações previstas é pressuposto de qualidade total em qualquer plano de marketing. Sem isso o resultado fica difuso e

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a eficácia do planejamento sem transparência integral. Análises de fluxo de caixa, retorno sobre vendas e lucro (só para citar alguns filtros de avaliação financeira) fazem parte do jogo e são tão fundamentais quanto a criatividade mercadológica.

Desde o início da execução do planejamento precisam estar definidas as ferramentas e os parâmetros para o seu controle e avaliação, seja com respeito à auditoria de marketing, seja com respeito à performance (quantitativa e qualitativa) de vendas.

Outro ponto decisivo para a eficácia das ações de marketing: o planejamento estratégico da empresa deve ser um horizonte constante. É preciso sincronizar, estabelecer cronogramas, controlar e avaliar a eficácia da ligação entre o planejamento estratégico e o plano de marketing o tempo todo. Este processo não para e está sempre sujeito a refinamento, aprimoramento, ajustes de rota e contínuas mudanças.

3 OS PS DO MARKETING

Existem algumas questões clássicas nos estudos do marketing que se aplicam a todas as organizações. Uma delas diz respeito ao chamado mix de marketing, também conhecido como 4 Ps, que podem ser vistos sobre a lógica tática e estratégica. “É muito importante que se tenha a visualização e compreensão dos 4 Ps do marketing para que se tenha um raciocínio sistêmico e integrado” (TEJON, 2009, p. 30).

FIGURA 25 - OS 4 PS TÁTICOS

FONTE: O autor

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Os 4 Ps táticos dividem-se, conforme a figura acima, em: produto, preço, place (ponto de venda ou praça) e promoção. Neste último estão as ações de venda, a comunicação interpessoal de todas as formas, a propaganda, a publicidade, a promoção, o merchandising, o marketing direto, o Web marketing etc.

Esses campos devem tomar a mesma porção do tempo e atenção dos executivos da empresa, pois uma vantagem competitiva no P de produto pode, por exemplo, ser eliminada pelo concorrente nos outros demais Ps. Uma vantagem em Preço pode ser desperdiçada, não percebida pelo cliente, pela falta de trabalho nos canais. Uma ação promocional competente pode ser destruída por produtos que não cumprem o que prometem (o que é muito usual no chamado marketing político). Dessa forma, não podemos dizer que fazemos marketing quando deixamos de aplicar todos os 4 Ps de forma integrada, pois eles são grandes ferramentas operacionais do marketing (TEJON, 2009, p. 31).

Temos ainda os 4 Ps estratégicos do marketing, que são: Pesquisa, Partioning (segmentação), Priorização (targeting) e Posicionamento.

FIGURA 26 - OS 4 PS ESTRATÉGICOS

FONTE: O autor

A Pesquisa é uma ferramenta básica e inicial para os projetos de marketing. O Partioning é a segmentação, característica inalienável de qualquer projeto de marketing. A Priorização é a definição de clientes-chave e públicos-alvo prioritários, por ordem de importância absoluta e relativa para o negócio. O Posicionamento é o lugar que a marca e/ou produto ocupam na mente do consumidor, na comparação com os seus concorrentes diretos e indiretos (TEJON, 2009, p. 31).

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Uma das questões importantes a serem consideradas quando falamos em Marketing no Agronegócio é que o mercado está cada vez mais competitivo, o que exige cada vez mais esforços no sentido de manter-se competitivo neste setor.

Segundo Kotler (1999), em mercados altamente competitivos todos os departamentos têm de se concentrar na conquista da preferência do cliente. Jack Welch, o célebre presidente da General Eletric, diz a seus funcionários: “As empresas não podem garantir a vocês estabilidade no trabalho. Isso é algo que só os clientes podem fazer!”. Ele desperta nos profissionais de sua empresa uma forte consciência do impacto que exercem, não importando a que departamento pertençam, sobre a satisfação dos clientes e a retenção dos mesmos. O que isso implica? Se você não estiver pensando no cliente, você não está pensando. Kotler (1999) ainda definiu três níveis de desempenho em marketing:

FIGURA 27 - ALGUNS TIPOS DE MARKETING

FONTE: Adaptado de Kotler (1999)

• Marketing de resposta – O marketing tem sido definido como a tarefa de descobrir e satisfazer necessidades. Essa é uma forma louvável de marketing. É quando existe uma necessidade, de fato, e uma empresa a identifica e prepara uma solução cabível.• Marketing de previsão – Mais difícil é reconhecer uma necessidade latente ou emergente. [...] o Marketing de previsão é mais arriscado que o de resposta, as empresas podem chegar ao mercado muito cedo ou tarde demais ou podem até estar totalmente erradas quanto ao crescimento deste mercado.• Marketing de criação de necessidades – O nível mais agressivo de marketing ocorre quando uma empresa lança o produto ou serviço jamais solicitado e, muitas vezes, que ninguém poderia nem sequer imaginar. Ninguém na década de 50 solicitou à Sony um Walkman ou, mais tarde, um Betamax ou um disquete de 31/2 polegadas. Entretanto, a Sony, sob a direção de Akio Morita, seu brilhante fundador e presidente, lançou esses e muitos outros produtos que, desde então se tornaram necessidades cotidianas. Morita resumiu sua filosofia de marketing nestas palavras: “Não atendo a mercados. Eu os crio” (KOTLER, 1999, p. 38).

Como vimos até aqui, cabe ao gestor do agronegócio capacitar-se também em relação ao marketing, que pode ser utilizado como ferramenta de apoio na satisfação, previsão e criação de necessidades de seus clientes em potencial.

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LEITURA COMPLEMENTAR

A IMPORTÂNCIA DO MARKETING PARA O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

Rafael Telch Flores

As empresas dependem de planos estratégicos para seu desenvolvimento, consolidação e sobrevivência, em um mercado implacável, competitivo e globalizado. Cenários econômicos instáveis e mudanças de conceitos no consumo exigem dos gestores novas abordagens, com o enfoque no capital humano qualificado e estratégias direcionadas, que lhes permitam vencer estes desafios e crescer de forma sólida e sustentável. Neste contexto, e na contramão do cenário macroeconômico, o agronegócio brasileiro necessita diretamente do marketing para maximizar seu potencial, como segmento forte e imprescindível para recuperação e crescimento da economia brasileira e mundial. O marketing no agronegócio brasileiro tem uma importante missão institucional e social, além de agregar valor a marcas e produtos amplamente diversificados e segmentados.

Tendo em vista a importância do marketing, no intuito de analisar as variáveis que influenciam o mercado corporativo, quais ferramentas de marketing podem ser adotadas e como estes conceitos estão influenciando o segmento?

Assim, o objetivo geral do estudo propõe uma avaliação geral dos desafios que o setor enfrenta e como a utilização do marketing estratégico poderia influenciar positivamente o segmento. O artigo está estruturado em sete sessões, incluindo introdução e conclusão. A primeira aborda o tema: a nova era do marketing, seguidos, marketing digital e o agronegócio no Brasil, desafios do marketing no agronegócio brasileiro finalizam o estudo.

A NOVA ERA DO MARKETING

O marketing contemporâneo vai além do processo da criação de estratégias de comunicação, planejamento e desenvolvimento de produtos e serviços que satisfaçam as necessidades dos consumidores; o novo conceito de marketing integrou-se, também, ao processo criativo, cultural, impactado pelas mídias sociais, que busca, além de novas demandas mercadológicas, identificar consumidores como seres humanos, com mente, sentimento e espírito, alinhados à evolução dos conceitos de gestão estratégica empresarial.

Corroborando, Kaufman (2009) diz que o marketing é a arte e a ciência de encontrar “clientes potenciais” - pessoas ativamente interessadas no que você tem a oferecer. As melhores empresas do mundo encontram maneiras de chamar a atenção de clientes potenciais qualificados com rapidez e economia. Quanto mais clientes potenciais você atrair, em melhor posição estará a sua empresa.

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Diante do atual cenário de crise econômica, promover a gestão estratégica de marketing torna-se fator de diferencial competitivo, permitindo às organizações ampliar sua visão mercadológica, proporcionando o aumento da participação de mercado. Alinhar a estratégia empresarial central com a de marketing torna-se um conditio sine qua non de mútua dependência, benefícios e responsabilidades para ambas as partes, objetivando o atingimento de resultados estratégicos.

Segundo Kotler, Kartajaya e Setiawan (2010), para dar conta de todas as mudanças, profissionais de marketing ao redor do mundo expandiram o conceito e passaram a focar também as emoções humanas. Introduziram novos conceitos, como marketing emocional, marketing experimental e valor de marca.

[...]

O AGRONEGÓCIO NO BRASIL

Agronegócio é uma cadeia produtiva composta por fornecedores de insumos, propriedades rurais e agropecuárias, empresas de processamento, atacadistas, varejistas e o consumidor final, podemos incluir também os prestadores de serviços terceirizados, ex.: consultorias de marketing.

Na visão de Mendes e Junior (2007), a sociedade brasileira descobriu, há poucos anos, a importância do agronegócio. Antes, agropecuária e as indústrias de transformação de suas matérias-primas eram relegadas a um plano inferior. O produtor rural, inclusive, era incompreendido e muitas vezes execrado como um pária do sistema econômico. Foi preciso uma crise internacional, que praticamente quebrou o Brasil no final do século passado, para demonstrar a relevância do setor como o principal formador de divisas e o grande motor da sociedade do interior do país, onde a renda que gera é fundamental para o sustento de todas as outras atividades econômicas.

Além da importância interna, o Brasil passou a figurar como potência mundial no segmento, o país possui 22% de terras agricultáveis do planeta, chuvas regulares, clima tropical, excelente para o cultivo, água doce em abundância, conta com tecnologia de ponta no campo, cenário ideal para o desenvolvimento sustentável, e que fazem do agronegócio brasileiro um setor moderno, atrativo e competitivo. Possui a maior extensão territorial da América Latina, com 8,5 milhões de quilômetros, e o quinto maior do mundo, é o segundo maior exportador mundial de soja e o primeiro de café, açúcar, laranja, cana-de-açúcar, açúcar, etanol, carne bovina e aves. Contudo, internamente, o setor encontra alguns entraves a serem superados, como a legislação tributária complexa, além de infraestrutura e logística inadequadas, escassez de mão de obra especializada, tem como grande desafio para continuar crescendo o estresse hídrico, já que 70% da água do planeta é destinada à irrigação agrícola, o desperdício de alimento, com a necessidade de diversificar ações sustentáveis, que permitam amenizar estes gargalos produtivos, e, no longo prazo, a questão energética, que possibilita ao segmento grandes oportunidades, desde a produção de biocombustíveis até a obtenção de energias limpas, como a biomassa.

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Germano e Germano (2013) corroboram. A Food and Agriculture Organization (FAO) estima que a produção anual de alimentos deve ser ampliada em 70% até o ano de 2050, em função do crescimento da população. O número de pessoas a serem alimentadas, no ano em questão, em relação ao número atual, deverá ser superior a 2,3 bilhões de pessoas.

A organização prevê que ainda, segundo estimativas, a produção anual de cereais terá que crescer 1 bilhão de toneladas, dos atuais 2,1 bilhões de toneladas; e a oferta de carne terá de ser elevada em 200 milhões de toneladas, atingindo 470 milhões de toneladas em 2050.

Portanto, é indiscutível a possibilidade de crescimento do setor, e a sua grande importância para a economia brasileira. Apesar de vantagens encontradas e das perspectivas futuras, é essencial maximizar as variáveis do potencial brasileiro produtivo, e minimizar os problemas e desafios, que dependem, essencialmente, de investimentos públicos e privados, e mudanças nas políticas econômicas internas.

DESAFIOS DO MARKETING NO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

O Brasil, apesar de possuir uma vasta quantidade de área produtiva, nunca assumiu o status de líder do mercado global no segmento, que cresceu principalmente com o aumento da produção agrícola, mas nem sempre foi capaz de agregar valor aos seus produtos. O setor tem como desafio desenvolver estratégias capazes de alinhar o marketing ao market share, ampliando sua participação no cenário internacional, seguindo a estratégia de países como Estados Unidos, Inglaterra e China, que optam por agregar valor aos produtos, além da quantidade produzida.

De acordo com Tejon e Xavier (2009), para fazer marketing em agronegócio é preciso ter o foco ampliado. É preciso abrir o pensamento estratégico e as análises de todo o perfil da cadeia produtiva na qual está inserido para, então, aumentar a criatividade e a inovação no planejamento realizado – bem como sua substância para o longo prazo e sua força tático-operacional no presente.

É fundamental a quebra de paradigmas no setor. O marketing nasce na essência da pesquisa para o desenvolvimento de produtos, até a sua concepção e divulgação. Compreender a importância de agregar valor a toda cadeia produtiva torna-se importante requisito para conquista de diferencial competitivo, não importando o ponto na cadeia produtiva que seja o enfoque, é necessária uma visão ampla e sistêmica, completa e detalhada, ou seja, analisar estrategicamente o agronegócio é analisar a cadeia produtiva de vários ambientes competitivos e colaborativos.

FONTE: Disponível em: <http://www.portaldoagronegocio.com.br/artigo/a-importancia-do-marketing-para-o-agronegocio-brasileiro-3649>. Acesso em: 17 abr. 2017.

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Neste tópico, você aprendeu que:

• O marketing é a atividade humana dirigida para a satisfação das necessidades e desejos, através dos processos de troca, e se estende a todos os tipos de negócios.

• Para fazer marketing em agronegócios é preciso ter o foco ampliado. É preciso abrir o pensamento estratégico e as análises de todo o perfil da cadeia produtiva na qual se está inserido.

• Os 4Ps táticos do marketing são: produto, preço, place (ponto de venda ou praça) e promoção.

• Os 4Ps estratégicos do marketing são: Pesquisa, Partioning (segmentação), Priorização (targeting) e Posicionamento.

• Uma das etapas mais importantes para que a organização possa desenvolver suas ações de marketing é a construção do seu planejamento.

• Um plano de marketing deve ser sintético, objetivo e, principalmente, um documento de estratégia aplicada ao negócio.

• Um plano de marketing deve ter extensões para planos de produto, vendas e comunicação – além de diferentes pressupostos de cenário, para oferecer melhores parâmetros de adaptação ao longo do período.

• O ideal é que o plano de marketing seja construído voltado à busca de insights inovadores e adaptado à cultura da empresa.

RESUMO DO TÓPICO 3

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AUTOATIVIDADE

1 Quais os requisitos necessários para o gestor de Marketing do Agronegócio?

2 O plano de marketing se reveste de grande importância para realizar a gestão do marketing da empresa. Sobre este, analise as alternativas e responda:

I – O Sumário Executivo e o Sumário são a mesma coisa, podendo optar-se por um deles na escrita do plano.II – O Sumário Executivo apresenta uma síntese das conclusões de análise, objetivo, metas e ações propostas no plano.III – Os objetivos corporativos representam os grandes alvos da organização: cobertura/presença no mercado, corebusiness, crescimento, retorno sobre investimentos, lucratividade etc.IV – Na análise interna de marketing são levantadas as ameaças e oportunidades para a empresa.V – No diagnóstico da concorrência deve-se descrever/avaliar os principais concorrentes nacionais e internacionais, diretos e indiretos.

É incorreto o que afirma em: a) ( ) As assertivas I e III, apenas. b) ( ) As assertivas I, II e III, apenas.c) ( ) As assertivas I, II, III e V.d) ( ) As assertivas I e IV, apenas.e) ( ) A assertiva II, apenas.

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