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AGENDA DO SETOR FINANCEIRO 2013

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AgendA do SetorFinanceiro

2013

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Dar condições ao setor financeiro paradesempenhar o papel que lhe reserva a

Constituição e que dele espera a sociedade.

www.cnf.org.br2013

AgendA do SetorFinanceiro

atenção: vegetal

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ABBCASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS

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aPreSenTaÇÃo

Há quem diga que, no Brasil, existem “sistemas financeiros”, ao invés de um único Sistema Financeiro Nacional. Essa percepção nasce do contato diário dos usuários com instituições financeiras modernas e eficientes, que oferecem am-pla gama de produtos e serviços para satisfazer diferentes necessidades dos vários segmentos da população. São tantas as faces do Sistema Financeiro Nacional que, de fato, pode-se pensar em muitos sistemas. O setor financeiro brasileiro oferece facilidades, tais como caixas eletrônicas (ATMs) e operações pela Internet, que, muitas vezes, não são encontráveis em países mais desen-volvidos. Um setor financeiro flexível e ágil, pronto a se adaptar às mudanças na economia e na sociedade, é também um setor financeiro complexo. Muitas vezes, por falta de informação, é apontado como responsável por distorções na economia e na sociedade.

No mundo todo, os setores financeiros têm peculiaridades que os distin-guem dos demais setores da economia. Numa cadeia produtiva, diferentes setores se entrelaçam, numa sequência que agrega valor às sucessivas eta-pas que transformam insumos em bens e serviços. O setor financeiro não se entrelaça com essas etapas: ele as permeia todas. Não há fase da produção de bens ou serviços, industriais ou agrícolas, que não dependa, em algum momento, de uma instituição ou de um produto ou serviço financeiro. Uma crise num setor da economia pode trazer consequências muito graves para produtores, empregados e consumidores de dado bem ou serviço; uma crise no setor financeiro pode trazer consequências ainda mais graves para todos os produtores, empregados e consumidores. Um setor financeiro saudável, sólido e transparente é benéfico para toda a economia e para todas as ca-madas da sociedade. Uma economia dinâmica, competitiva e sustentável é benéfica para o setor financeiro.

Essa estreita relação entre o setor financeiro e os demais setores da econo-mia pauta a visão de longo prazo da CNF. Em sua atuação institucional, a Confe-deração não se limita a defender interesses de segmentos do setor financeiro. A CNF promove debates e participa das grandes discussões que contribuem para o desenvolvimento econômico e social do país. Na sua atuação, a Confedera-ção se preocupa, permanentemente, em promover a ética e a transparência nas relações entre as instituições financeiras, bem como entre estas, a socieda-de e o Estado.

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a “agenda do SeTor Financeiro”

No Governo, Congresso Nacional e no Judiciário, as matérias que envolvem o setor financeiro são, invariavelmente, questões técnicas. São também ques-tões que afetam não apenas o setor, mas toda a economia e toda a socieda-de. Seus aspectos econômicos, contábeis, financeiros, matemáticos, jurídicos, tributários, tecnológicos, regulatórios e de segurança são sempre complexos. Para a CNF, o correto encaminhamento dessas questões requer minucioso e aprofundado estudo de todos os aspectos envolvidos, por atores despidos de preconceitos e isentos de posições preestabelecidas.

Esse é o duplo papel da “Agenda do Setor Financeiro”. Por um lado, a ASF serve de catalisadora do consenso entre as instituições financeiras sobre as questões que afetam todas elas. O que segue neste documento é produto de discussões entre as instituições financeiras e representa o denominador co-mum do setor para amplo espectro de temas. Por outro lado, a ASF constitui subsídio para autoridades, consultores e assessores dos três Poderes, entre ou-tros, que se debruçam sobre temas ou diretamente ligados ao setor financeiro, ou vinculados a questões que afetam o ambiente de negócios em que opera o setor – tais como as trabalhistas, tributárias, previdenciárias, sociais, ambientais, de segurança, de direitos do consumidor e de eficiência econômica.

A “Agenda do Setor Financeiro” trata de 23 temas e 188 subtemas. Para cada um deles, são alinhadas informações jurídicas, econômicas, financeiras e histó-ricas que justificam as posições do setor – enunciadas com destaque. Do con-junto dessas posições emerge a clara percepção de que a ASF é balizada por uma orientação fundamental: dar condições ao setor financeiro para desem-penhar o papel que lhe reserva a Constituição e que dele espera a sociedade.

Visite nosso portal www.cnf.org.br para melhor conhecer as contribuições que esse setor tão importante faz à economia e à sociedade brasileiras. Ao lon-go do ano, o portal publicará atualizações na “Agenda do Setor Financeiro”. A CNF está à sua disposição para oferecer informações adicionais.

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A Confederação Nacional das Instituições Financeiras, também designada pela sigla CNF, é uma associação civil sem fins lucrativos que congrega as en-tidades representativas das instituições financeiras e assemelhadas, de âmbito nacional ou regional.

No Congresso Nacional, a CNF exerce prerrogativas exclusivas de entidades de classe de grau superior. A CNF está credenciada pelas Mesas do Senado Fe-deral e da Câmara dos Deputados para o fornecimento de subsídios de caráter técnico, documental, informativo e instrutivo aos Relatores de proposições, aos membros das Comissões, às Lideranças e aos demais parlamentares interessa-dos e ao órgão de assessoramento legislativo. É que o dispõem o Art. 259 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados (Resolução n.° 10/ 2009) e o art. 30, §1°, do Ato da Comissão Diretora do Senado Federal n.° 17, de 1987.

Também junto ao Poder Executivo a CNF está credenciada para participar de Conselhos, Comitês, Comissões e Grupos de Trabalho, como, por exemplo, o Conselho de Recursos Administrativos Fiscais (CARF) e o Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS).

VisãoUm Sistema Financeiro Nacional sólido, moderno e eficiente que promova

a ética e a transparência nas relações entre instituições financeiras, bem como entre estas e a sociedade e o Estado, com vistas ao desenvolvimento econômi-co e social do Brasil, harmônico em todas as regiões do país.

MissãoOrientar, coordenar, promover, defender e representar os interesses das

instituições financeiras no plano nacional, com vistas ao fortalecimento e ao desenvolvimento das suas atividades, cooperando para o desenvolvimento econômico e social do país, observados os princípios da livre iniciativa e da economia de mercado, voltadas para os interesses da coletividade.

objetivos1. orientar, coordenar, defender e representar os interesses das instituições

financeiras no nível nacional;

2. colaborar para o fortalecimento e desenvolvimento harmônico das insti-tuições financeiras em todas as regiões do país;

3. cooperar para o desenvolvimento econômico e social do país, observados os princípios da livre iniciativa e da economia de mercado;

o que é que Faz o cnF

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4. patrocinar a solidariedade entre as categorias econômicas do sistema fi-nanceiro, compondo e harmonizando seus interesses;

5. promover, perante os diversos setores de atividade econômica do País, órgãos de comunicação, usuários dos serviços das entidades filiadas e pú-blico em geral, a divulgação das atividades do Sistema Financeiro Nacional no contexto social e no atendimento aos interesses da coletividade;

6. manter relação com organizações internacionais de interesses comuns, podendo a elas se filiar;

7. desenvolver conjuntamente com suas Associadas programas de formação, qualificação e certificação para dirigentes e funcionários das entidades As-sociadas e de suas afiliadas, bem como para terceiros que tenham interes-se nas atividades e funcionamento do sistema financeiro;

8. promover e realizar eventos tais como exposições, cursos, congressos, se-minários, colóquios, conferências, palestras e outras iniciativas, com vistas ao aprimoramento técnico e profissional dos recursos humanos que inte-gram os quadros das instituições financeiras e do público em geral.

Prerrogativas previstas nos estatutos Sociais1. representar perante os órgãos, entidades e autoridades competentes, os

interesses gerais das Associadas;

2. tornar públicas posições do setor financeiro sobre questões relevantes para os objetivos sociais da CNF, sempre que solicitada por suas Asso-ciadas;

3. indicar para eleição ou designar representantes junto a órgãos públicos de jurisdição nacional, no interesse geral das Associadas, ressalvadas as indi-cações específicas da competência de cada Associada;

4. colaborar com o Estado, como órgão técnico e consultivo, no estudo e solução dos problemas que se relacionem com as atividades e categorias econômicas coordenadas;

5. representar as Associadas, judicial ou extrajudicialmente, independente-mente de mandato, bem como requerer mandado de segurança coletivo, nos termos da legislação vigente, do artigo 5°, incisos XXI e LXX, alínea “b”, da Constituição da República Federativa do Brasil, ou outra medida judicial cabível, com vistas a defender os direitos e interesses das Associadas;

6. acompanhar, junto ao Congresso Nacional e demais órgãos legislativos ou normativos, os projetos e propostas que versarem sobre as atividades e operações dos agentes econômicos e do sistema financeiro, bem como apresentar proposições e sugestões de aprimoramento.

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Índice

1 – educação financeira ............................................................................14

2 – direitos do consumidor ......................................................................152.1 Atualização do Código de Defesa do Consumidor ...........................................152.1.1 Superendividamento .........................................................................................................162.1.2 Comércio Eletrônico ...........................................................................................................172.1.3 Ações Coletivas ......................................................................................................................182.2 Proteção dos dados pessoais .........................................................................................192.3 Marco Civil da Internet .......................................................................................................202.4 Cadastro Positivo ..................................................................................................................202.5 Banco de Dados de Inadimplentes ............................................................................222.6 Boletos de pagamento ......................................................................................................222.7 Decisões dos Procons – Título Executivo .................................................................242.8 Contratos ...................................................................................................................................252.9 Direito de arrependimento .............................................................................................262.10 Venda casada ..........................................................................................................................262.11 Tempo de espera em filas .................................................................................................272.12 Solução de reclamações: Livro de Reclamações, ranking de reclamados e taxas.......................................................................................282.13 Devolução de Valores .........................................................................................................29

3 – questões Sociais..................................................................................313.1 Inclusão Financeira ..............................................................................................................313.2 Agenda Nacional do Trabalho Decente ...................................................................323.3 Igualdade no mundo do trabalho ...............................................................................333.4 Acessibilidade .........................................................................................................................343.5 Cláusula de observância de direitos humanos em contratos .....................36

4 – questões ambientais ...........................................................................384.1 IV Conferência do Meio Ambiente ..............................................................................394.2 Calamidades públicas ........................................................................................................404.3 Licenciamento ambiental...............................................................................................424.4 Mercado de créditos de carbono ................................................................................42

5 – reformas estruturais ..........................................................................435.1 Novo Modelo Previdenciário para Novos Trabalhadores ..............................445.2 Reforma trabalhista/sindical ..........................................................................................465.3 Reforma Fiscal .........................................................................................................................495.3.1 Controle dos gastos públicos – Lei de Responsabilidade Fiscal .................51

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6 – eficiência econômica e competitividade .........................................516.1 Concentração bancária .....................................................................................................526.2 Lucro e rentabilidade bancária .....................................................................................526.3 Correspondentes não bancários .................................................................................536.4 Digitalização / Arquivamento de documentos ...................................................556.5 Desoneração da folha de pagamentos ....................................................................566.6 Desburocratização - Simplificação do Registro e Legalização de Empresas e Negócios ...................................................................................................586.7 Duplo registro .........................................................................................................................596.8 Territorialidade .......................................................................................................................606.9 Novo Marco Regulatório da Mineração ...................................................................606.10 Agências Reguladoras .......................................................................................................626.11 Obrigatoriedade da publicação de balanços .......................................................626.12 Microempresas e empresas de pequeno porte ..................................................636.13 Recuperação de empresas ..............................................................................................646.14 Privatização ..............................................................................................................................656.15 Parcerias Público-Privadas (PPP) ..................................................................................666.16 Desindexação da economia ...........................................................................................68

7 – eficiência Judiciária e Segurança Jurídica .....................................687.1 Reformas de Códigos Legais ..........................................................................................697.1.1 Código Comercial .................................................................................................................707.1.2 Código Penal ...........................................................................................................................717.1.3 Código de Processo Civil...................................................................................................727.1.4 Código de Processo Penal ................................................................................................737.1.5 Código do Trabalho .............................................................................................................737.2 Justiça do Trabalho...............................................................................................................747.2.1 Competência penal da Justiça do Trabalho ...........................................................757.2.2 Execução no processo trabalhista ...............................................................................767.2.3 Recursos trabalhistas ..........................................................................................................777.2.4 Depósito recursal ..................................................................................................................787.2.5 Honorários advocatícios de sucumbência ............................................................787.3 Pacto Republicano ...............................................................................................................817.4 Ação Civil Pública (ACP) .....................................................................................................817.5 Desconsideração da personalidade jurídica .........................................................837.6 Interdito Proibitório .............................................................................................................83

8 – regulamentação do artigo 192 da constituição Federal .............84

9 - Banco central ........................................................................................869.1 Autonomia do Banco Central ........................................................................................879.2 Defesa da Concorrência: competência do Bacen ..............................................879.3 Funções de supervisão bancária ..................................................................................89

10 – crédito .................................................................................................9010.1 Alienação fiduciária .............................................................................................................9110.2 Crédito consignado .............................................................................................................91

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10.3 Crédito Direto ao Consumidor (CDC) ........................................................................9310.4 Microcrédito ............................................................................................................................9410.5 Crédito rural .............................................................................................................................9410.6 Cooperativas de crédito ....................................................................................................9610.7 Fundo Garantidor de Créditos (FGC) .........................................................................96

11 – crédito imobiliário ............................................................................9811.1 Portabilidade do Crédito Imobiliário .........................................................................9811.2 Depósitos de Caderneta de Poupança .....................................................................9911.3 Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) ............................................. 10011.4 Patrimônio de Afetação e Regra do Incontroverso ......................................... 10111.5 Concentração de atos registrais na matrícula ................................................... 10211.6 Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS) ................................ 10211.7 Consórcio imobiliário ...................................................................................................... 10311.8 Garantia Hipotecária ........................................................................................................ 10411.9 Impenhorabilidade do bem de família ................................................................. 105

12 – Taxa de juros e margens bancárias (spread) ........................... 10612.1 Capitalização de juros para prazos inferiores a um ano ................................ 10712.2 Tabela Price ............................................................................................................................ 10812.3 Tabelamento de juros ..................................................................................................... 11012.4 Tabelamento de margem bancária (spread) ...................................................... 11012.5 Limitação dos juros cobrados sobre cheque especial .................................. 11212.6 Depósito compulsório.................................................................................................... 113

13 – Financiamento de longo prazo ..................................................... 11513.1 Letras Financeiras .............................................................................................................. 11613.2 Letras Financeiras Imobiliárias e Covered Bonds ............................................ 11713.3 Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) .............................................. 118

14 – PLano direTor do Mercado de caPiTaiS .............................. 11914.1 Ampliação do acesso dos investidores ao mercado de capitais com adequada proteção ...................................................................... 12014.2 Ampliação do acesso das empresas ao mercado de capitais ................... 12014.3 Derivativos e mercados futuros ................................................................................. 12114.4 Varas da Justiça especializadas em matérias ligadas ao mercado de capitais ......................................................................................................... 12114.5 Aceitação de garantias de investidores estrangeiros .................................... 12214.6 Registro no CADE de participação acionária por Fundos de Private Equity e Venture Capital .......................................................................... 12214.7 Utilização de recursos do FGTS para aquisição de ações ............................ 122

15 – questões Tributárias ...................................................................... 12415.1 Código de Defesa dos Contribuintes ..................................................................... 12415.2 Transparência de dados fiscais ................................................................................... 12515.3 Créditos tributários ........................................................................................................... 12615.4 Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) ................................... 127

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15.5 Execução Fiscal ................................................................................................................... 12715.6 Participação nos Lucros ou Resultados (PLR) ..................................................... 12815.7 Tributação de Incentivos à Contratação e à Produtividade ....................... 13015.8 Compensação de Ágio Interno em Reorganizações Societárias ........... 13015.9 Tributação sobre ganhos de capital não realizados ....................................... 13115.10 Comércio Exterior de Serviços ................................................................................... 13215.11 Incidência de IR sobre lucros e dividendos ......................................................... 13415.12 Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários (IOF) ............................................. 13515.13 Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) e arrendamento mercantil (Leasing) ...................................................................... 13615.14 Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) .......................................... 13615.15 Contribuições sobre Movimentação Financeira ............................................. 13715.16 Tributação sobre Grandes Fortunas ........................................................................ 13815.17 Encargo financeiro para exportação ...................................................................... 13915.18 Ganhos de capital de pessoas físicas na negociação de ações ................ 13915.19 Tributação dos títulos de renda fixa ......................................................................... 14015.20 Tributação das operações de trocas de contratos com fluxos de caixa (swap) ...................................................................................................... 14015.21 Tributação do hedge agropecuário de pessoas físicas ................................ 14115.22 Tributação dos títulos do agronegócio ................................................................. 14115.23 Diferenciação entre fundos de curto prazo e de longo prazo .................. 14115.24 Tratamento tributário do investidor estrangeiro em fundos mútuos de investimentos ............................................................................ 14215.25 Tributação do investimento de longo prazo ...................................................... 14215.26 Tributação de fundos de pensão .............................................................................. 14315.27 Instituição do “Come-Cotas” Anual .......................................................................... 14315.28 Programa de Recuperação Fiscal (REFIS) .............................................................. 144

16 – questões trabalhistas e sindicais ............................................... 14516.1 Contribuição Social sobre o FGTS ............................................................................. 14616.2 Adicional de periculosidade ........................................................................................ 14716.3 Adicional de penosidade .............................................................................................. 14916.4 Capacitação e qualificação do trabalhador ........................................................ 14916.4.1 Desoneração de Bolsas de Estudos ......................................................................... 15016.5 Acordo Coletivo Especial ............................................................................................... 15016.6 Equiparação de correspondentes a bancários ................................................. 15116.7 Terceirização ......................................................................................................................... 15316.8 Jornada de trabalho ......................................................................................................... 15416.9 Fixação de piso salarial .................................................................................................... 15516.10 Estabilidade da relação empregatícia .................................................................... 15516.11 Estabilidade provisória da relação empregatícia ............................................. 15716.12 Sociedades Cooperativas e estabilidade provisória ...................................... 15816.13 Acidente de trabalho ....................................................................................................... 15916.14 Seguro Acidente de Trabalho (SAT) ......................................................................... 16016.15 Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) ............................................................... 16116.16 Suspensão de contrato de trabalho em caso de crise econômico-financeira ......................................................................................... 162

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16.17 Licença Maternidade ...................................................................................................... 16216.18 Outras licenças trabalhistas ......................................................................................... 16316.19 Assédio moral ...................................................................................................................... 16416.20 Ponto eletrônico ................................................................................................................. 16516.21 Concessão de benefícios em dinheiro - vale-transporte ............................ 16616.22 Unicidade sindical ............................................................................................................. 16616.23 Acesso das entidades sindicais às informações das empresas ................ 16716.24 Participação dos trabalhadores na gestão das empresas ........................... 16816.25 Contribuição assistencial .............................................................................................. 16916.26 Contribuição negocial .................................................................................................... 16916.27 Ultratividade das convenções, acordos e contratos coletivos de trabalho ....................................................................................................... 17016.28 Migração de trabalhadores qualificados .............................................................. 171

17 – questões previdenciárias.............................................................. 17317.1 Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS) ..................................... 17317.2 I Conferência Nacional da Previdência Social .................................................... 17417.3 Fator Previdenciário .......................................................................................................... 17517.4 Ressarcimento ao Sistema Único de Saúde (SUS) ........................................... 17617.5 Previdência complementar dos servidores públicos ................................... 17717.6 Pensões e Benefícios ........................................................................................................ 17717.7 Reajuste dos benefícios observando o salário mínimo ............................... 178

18 – questões de segurança ................................................................. 17918.1 Uniformização da legislação sobre segurança bancária ............................. 18018.2 Crimes eletrônicos ............................................................................................................ 18018.3 Combate à lavagem de dinheiro............................................................................... 18218.4 Vigilância privada ............................................................................................................... 18318.5 Caixas eletrônicos .............................................................................................................. 18418.6 Agências bancárias ........................................................................................................... 18518.7 Segurança do transporte de valores ....................................................................... 18518.8 Tecnologia de segurança .............................................................................................. 186

19 – questões Bancárias ....................................................................... 18719.1 Atividades bancárias como “serviços essenciais” ............................................. 18719.2 Transações por meio de dispositivos móveis (Mobile Payment) ............ 18819.3 Sigilo bancário ..................................................................................................................... 19019.4 Tarifas bancárias ................................................................................................................. 19219.5 Horário de funcionamento de agências bancárias ........................................ 19319.6 Cheques .................................................................................................................................. 19319.6.1 Pagamento de cheques pré-datados, promissivos ou sem fundos ..... 19419.6.2 Sustação de cheques ....................................................................................................... 19519.7 Transações eletrônicas ................................................................................................... 195

20 – arrendamento mercantil (Leasing) ............................................. 19720.1 Valor Residual Garantido (VRG) .................................................................................. 19720.2 Contabilização do leasing como ativo intangível ........................................... 198

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21 – cartões de crédito ......................................................................... 20021.1 Fiscalização pelo Banco Central ................................................................................ 20121.2 Diferenciação dos preços em função do meio de pagamento utilizado ....................................................................................................... 20121.3 Limitação dos juros sobre o crédito rotativo ...................................................... 202

22 – Padrões contábeis ......................................................................... 20422.1 Acordo de Basileia III ......................................................................................................... 20422.2 Harmonização de regras contábeis com padrões internacionais ......... 205

23 – queSTÕeS inTernacionaiS ......................................................... 20623.1 Brasil Investimentos e Negócios - Projeto BRAiN ............................................. 20623.2 Ponto de Contato Nacional (PCN) ............................................................................ 20723.3 Acordo para intercâmbio de informações tributárias entre o Brasil e os Estados Unidos .......................................................................................... 20823.4 Prevenção à evasão fiscal: Foreign Account Tax Compliance Act (FATCA) ............................................................................................................................ 20923.5 Acordo contra bitributação entre o Brasil e os Estados Unidos ............... 21123.6 Parlamento do Mercosul (Parlasul) .......................................................................... 212

SiTuaÇÃo daS ProPoSiÇÕeS na aBerTura da SeSSÃo LegiSLaTiVa de 2013 ............................................................... 214

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2013

educaÇÃo FINANCEIRA

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caPÍTuLo

1

educaÇÃo FINANCEIRA

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19Capítulo 1 | EDUCAÇÃO FINANCEIRA

1. educação financeiraA Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia as iniciativas multidisciplinares que per-meiem toda a formação do futuro consumidor. Ao mesmo tempo, apoia medidas pontuais que ofere-çam educação financeira ou para segmentos espe-cíficos da população, ou sobre aspectos específicos das atividades do setor financeiro, desde que tais ações não substituam o tratamento transversal contemplado, por exemplo, pela Estratégia Nacio-nal de Educação Financeira (ENEF).

Uma educação financeira de qualidade propicia be-nefícios tanto para os consumidores quanto para as

instituições com que estes se relacionam. É por essa razão que a educação financeira está no topo da agenda das ins-tituições do setor.

Para os consumidores, conhecimento de produtos e serviços, do funcionamento do sistema financeiro nacio-nal e de princípios de matemática financeira, entre outros, facilitam a identificação das melhores alternativas de com-pra a prazo, de tomada de crédito e de investimento de sua poupança. Educação financeira previne contra riscos desnecessários e contribui para o equilíbrio das contas fa-miliares, com foco no planejamento, no controle dos gas-tos e na importância de se poupar. Aliar o perfil empreen-dedor do brasileiro a uma educação financeira de qualida-de contribui para o crescimento econômico sustentado e mitiga o superendividamento.

Para as instituições, por sua vez, a educação financeira contribui para cimentar relacionamentos sólidos e duradou-ros com seus clientes, o que fomenta a bancarização e o cré-dito, com redução gradual da inadimplência e das margens bancárias (spread). Também contribui para o lançamento de gama mais variada de produtos financeiros, à medida que os brasileiros se voltem para o planejamento de longo prazo e recorram cada vez mais à previdência privada, ao crédito imobiliário, ao financiamento educacional de suas famílias, à formação de carteiras diversificadas de ativos, para mencio-nar algumas das possibilidades.

Educação financeira pode ser oferecida em diferentes níveis de complexidade, para os mais variados públicos. Assemelha-se, em grande medida, ao aprendizado de matemática, que permeia as mais diversas matérias aca-dêmicas. Assim, a educação financeira ideal não se limita a um aprendizado simples, que possa ser adquirido numa disciplina específica no currículo escolar. Ao contrário, ela deveria entremear diferentes matérias ao longo da for-mação do brasileiro. Essa é a orientação fundamental da Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF).

O Decreto nº 7.397/2010, que institui a ENEF, além de dispor sobre a gestão, estabelece que a execução da Estratégia dar-se-á em conformidade com diretrizes como: (i) a gratuidade das ações de educação financei-ra; (ii) a formação de parcerias com órgãos e entidades públicas e instituições privadas; (iii) a prevalência do in-teresse público; e (iv) a atuação permanente e em âm-bito nacional.

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direiToS do CONSUMIDOR

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caPÍTuLo

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direiToS do CONSUMIDOR

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23Capítulo 2 | Direitos Do consumiDor

O respeito das instituições financeiras aos direitos do consumidor está solidamente vinculado a uma

relação mútua de confiança. Ao fazer um depósito, os clientes acreditam que seus recursos estarão disponí-veis na forma e no prazo pactuados. Ao conceder um empréstimo, as instituições acreditam que os recursos serão repagados nas condições contratadas. Confiança é a matéria prima fundamental das instituições finan-ceiras. A eventual violação dos direitos do consumidor enfraquece esse vínculo e afeta o bom funcionamento do setor financeiro.

A observação desses direitos não se confunde com eventuais erros operacionais, inevitáveis num sistema que gerencia 145,6 milhões de contas bancárias. Resulta-dos do balanço de instituições mais reclamadas divulga-do pelo Banco Central em dezembro de 2012 evidenciam que, ao considerar-se o número de clientes e volume de serviços prestados, os bancos estão entre as empresas brasileiras com o menor índice de queixas relativas. No ranking das dez instituições (com mais de um milhão de clientes) com maior número de reclamações, para cada 100 mil clientes o banco mais reclamado tinha 1,05 re-clamações. Em um sistema que lida com um assunto tão sensível quanto o dinheiro e que mantém uma relação quase diária com seus clientes, processando anualmente mais de 18 bilhões de transações entre depósitos, em-préstimos, pagamentos e recebimentos de todos os tipos de contas, transferências e aplicações financeiras, o nú-mero de reclamações no Banco Central pode ser consi-derado efetivamente baixo.

A CNF participará da 1ª Conferência Nacional de De-fesa do Consumidor (I CONDEC), comandada pela Secre-taria Nacional do Consumidor (Senacon) do Ministério da Justiça, para o debate democrático de aperfeiçoa-mento das normas referentes às relações de consumo. Esse evento poderá ocorrer entre 2013 e 2015 e discu-tirá, entre outros temas: crédito e superendividamento; relacionamento do setor financeiro com seus clientes;

2. direitos do consumidorAs instituições financeiras acompanham com in-teresse propostas que acrescentem transparência e correção às relações de consumo, ao mesmo tempo em que observem tanto os benefícios que propiciam ao conjunto mais amplo dos consumi-dores quanto as implicações de custos para as em-presas. Para a Confederação Nacional das Institui-ções Financeiras, tais propostas devem assegurar o equilíbrio entre, por um lado, os direitos dos consu-midores e, por outro, a viabilidade econômica dos provedores de bens e serviços.

inovações tecnológicas e seus reflexos nas relações de consumo; consumo sustentável; prestação de serviços pela internet e comércio eletrônico.

2.1. atualização do código de defesa do consumidor

Em 2010, o então Presidente do Senado, Senador José Sarney (PMDB/AP), instalou uma comissão de especialistas para estudar medidas que promovam a modernização do Código de Defesa do Consumidor com o intuito de adequá

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras considera oportuna a revisão do Código de Defesa do Consumidor, para tratar, entre outros, de questões como mercado de crédito, prevenção do superendividamento e comércio eletrônico. Para a reforma do CDC, a CNF pondera que dispositi-vos legais que introduzam incerteza em relações contratuais aumentam o risco dessas relações e, por consequência, têm reflexo no preço (tarifas ou taxas de juros, por exemplo). Por essa razão, even-tuais novos dispositivos, ou alterações em regras já existentes, deveriam privilegiar a livre negociação em ambiente concorrencial, no âmbito de marcos legais claramente definidos, resguardados os direi-tos dos consumidores.

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24 AgendA do SetorFinanceiro2013

-lo à dinâmica atual das relações de consumo. O Ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Herman Benjamin, um dos idealizadores do CDC, presidiu os trabalhos dessa comissão de especialistas. O grupo elaborou três anteprojetos, cuja tramitação legislativa iniciou-se em 2012, que tratam de: su-perendividamento, comércio eletrônico e ações coletivas.

Aos anteprojetos dessa comissão somam-se outras ini-ciativas em estudo no Ministério da Justiça, além de proje-tos já em tramitação no Congresso Nacional que promo-vem alterações substanciais na norma.

2.1.1. Superendividamento

O termo “endividamento” significa, na linguagem po-pular, contração de obrigações além da capacidade de pagamento. Tecnicamente, porém, o termo refere-se a evento corriqueiro na vida em sociedade: significa ter uma dívida frente a um fornecedor, seja um banco, seja um su-permercado, um açougue, um locador do imóvel, ou seja, dívidas essenciais para que o cidadão tenha uma vida dig-na. Dessa forma, o endividamento não deve ser encarado como algo deletério, mas uma forma de alcançar metas e realizar sonhos.

Já o superendividamento é a patologia do crédito. A CNF recebeu com grande interesse o “Manual de Preven-

ção e Tratamento do Superendividado” preparado pela professora Cláudia Lima Marques (uma das pioneiras em estudos acadêmicos sobre superendividamento no país), juntamente com o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) do Ministério da Justiça. Lançado em janeiro de 2011, o Manual inicia uma série de inves-tigações científicas sobre temas pertinentes à defesa do consumidor. Segundo o Manual do Ministério da Justiça, o superendividamento pode ser definido como:

Impossibilidade global de o devedor pessoa física, consumidor, leigo e de boa-fé, pagar todas as suas dívidas atuais e futuras de consumo (excluídas as dívidas com o Fisco, oriundas de delitos e de alimentos) em um tempo ra-zoável com a sua capacidade atual de rendas e patrimônio.

O uso indevido de produtos e serviços financeiros pode decorrer de diferentes causas, dentre as quais se destaca carência de educação financeira. Para que pos-sam comparar as possibilidades que estão ao seu alcance, os clientes necessitam compreender as características dos diversos produtos e serviços financeiros, saber calcular e comparar os custos de cada produto, bem como determi-nar sua capacidade de endividamento.

Do lado dos consumidores, o conhecimento de suas necessidades e dos instrumentos financeiros que aten-dem a essas necessidades é propulsor de prosperidade e de realização de projetos. Do lado das instituições finan-ceiras, o conhecimento de seus clientes e de suas limita-ções é crítico para evitar que sejam ofertados produtos e serviços inadequados. Os clientes, porém, usualmente se endividam em mais de uma instituição financeira. Assim, uma das principais causas do superendividamento é a fal-ta de informações sobre o conjunto dos compromissos financeiros assumidos por determinado cliente em dife-rentes estabelecimentos, em diversas praças.

A contenção do superendividamento é um esforço no qual ganham todas as partes envolvidas: ganha a popu-lação, que passa a ter no crédito uma ferramenta para a realização de seus projetos; ganha a sociedade como um todo, porque o uso consciente do crédito gera um consu-mo perene; e ganham os bancos com uma menor carga de inadimplência.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que fortaleçam a legislação para evitar o superendividamento com o propósito tanto de proteger consumidores contra o excesso de dívidas quanto de auxiliá-los a retornarem ao mercado de crédito. Para a CNF, parte importante da solução desse problema passa pelo acordo de conciliação entre credores e devedores, no qual a conciliação deve sempre ser obtida por meio de mecanismos de mercado, a fim de se evitar o risco moral, isto é, que consumidores se superendividem por contarem – desde o início – com um acordo posterior que reduzirá seus encargos.

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25Capítulo 2 | Direitos Do consumiDor

Se por um lado, ganha o fornecedor ao exercer o prin-cípio da livre iniciativa de contratar e ofertar produtos, por outro, ganha o consumidor, que pode ter acesso a melho-res condições de pagamento, por exemplo, em compras a vista ou a prazo pelo mesmo preço. Deve-se sempre coibir os abusos, que quando constatados devem ser punidos de acordo com os preceitos e normas já vigentes, inclusi-ve aqueles previstos no atual Código de Defesa do Consu-midor. Nesse sentido, as reformas devem ocorrer de forma a evitar um aumento de custo e, consequentemente, um aumento do preço de produtos e serviços, afetando indi-retamente o consumidor.

A Confederação apoia uma atualização do Código de Defesa do Consumidor para amparar, ainda mais, o hipos-suficiente em defesa dos seus direitos, entendendo ainda que “a norma não é escudo para a perpetuação de dívi-das”, conforme defendido pelo ex-Ministro do STF, Carlos Alberto Menezes Direito.

2.1.2. comércio eletrônico

A criação e a difusão do comércio eletrônico foram um avanço nas relações entre os fornecedores e consumi-dores. A disponibilidade de canais de compra à distância foi um grande passo para o aumento da competitividade e do acesso do consumidor aos mais diversos tipos de produtos e serviços.

Considerando a expansão dessa modalidade no país, em razão dos avanços tecnológicos, da globalização, dos novos canais de distribuição eletrônica e da integração dos mer-cados, o Ministério da Justiça estabeleceu, no ano de 2010, adequações a tais veículos de transações comerciais por meio das diretrizes para as relações de consumo estabelecidas no comércio eletrônico, quais sejam: proteção paritária, trans-parente e eficaz; informações exatas, claras e de fácil acesso; processo de confirmação sobre a transação; garantia de me-canismos de pagamentos seguros e de fácil utilização; pro-cedimentos eficientes para resolução de conflitos; e critérios objetivos de responsabilização do fornecedor.

A Confederação concorda com iniciativas que fortale-çam as diretrizes propostas, considerando que as relações de consumo realizadas por meio do comércio eletrônico devam ser assim norteadas para suscitar a confiança dos consumidores e estabelecer uma relação de consumo mais equilibrada nas transações comerciais eletrônicas. Contudo, a CNF entende que a ausência de definição ob-jetiva de determinadas expressões inseridas nos projetos em discussão – tais como: “assédio de consumo”, “endivi-damento exagerado”, “meios adequados e seguros” – deve ser evitada, pois a falta de conceituação clara, além de ge-rar insegurança, tem potencial de ampliar indevidamente demandas judiciais.

As propostas que buscam permitir ao consumidor es-colher o foro de sua residência, ou qualquer outro, inde-pendentemente de onde as partes pactuantes realizaram o negócio, constitui um privilégio injustificado. O dispo-sitivo representa cerceamento do direito de defesa dos fornecedores ao conceder um rol tão amplo de escolhas de foro competente para propositura de ações. Muitos for-necedores enfrentariam grandes dificuldades para exercer seu direito de defesa devido à distância, comprometendo a produção de provas.

A contratação e/ou cancelamento de serviços e pro-dutos à distância é um grande avanço nas relações de consumo, conferindo agilidade tanto para o consumidor quanto para o fornecedor. Destaca-se, nesses casos, que o exercício de tal direito deve ocorrer dentro de prazos onde a operacionalidade pressupõe avaliação de vários proce-

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia o aperfeiçoamento da legislação referen-te ao comércio eletrônico e medidas que visem a fortalecer a sua aplicabilidade no ambiente virtual. A CNF reforça a necessidade de que esses aperfei-çoamentos levem em consideração o equilíbrio das relações de consumo e os custos envolvidos nos processos virtuais, de modo a não inviabilizar essa forma de transação, a não excluir dessa moda-lidade de comércio parcela de consumidores (em função de localidades e rendas diferenciadas) e a garantir segurança ao consumidor.

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dimentos, de forma que não seria viável, por exemplo, o envio imediato de confirmações eletrônicas no caso da quitação, cancelamento ou contratação de um produto ou serviço. Isso porque o meio eletrônico traz mais agi-lidade, porém ainda depende de outros fatores técnicos que visam, inclusive, a garantir a segurança do cliente.

No que diz respeito a produtos e serviços financeiros, a CNF entende que não podem ser devolvidos a não ser que o consumidor arque com eventuais despesas oriun-das da sua utilização durante certo período de tempo. Enquanto o objeto do financiamento (dinheiro) ficou em poder do cliente, este o utilizou e se beneficiou de seu rendimento, não sendo correto o consumidor dele se utili-zar sem remunerar o credor. Na visão da CNF, o ato de um tomador de recursos que detenha os valores por algum tempo, aufira ganhos da aplicação desses recursos e em seguida devolva o capital por arrependimento caracteri-zaria enriquecimento ilícito do devedor. Dessa forma, só caberia o exercício do direito de arrependimento para os casos em que os recursos ainda não foram disponibiliza-dos ao consumidor.

2.1.3. ações coletivas

O Código de Defesa do Consumidor (CDC) alterou a Lei nº 7.347/1985, que disciplina a ação civil pública, e am-pliou o escopo de emprego dessa norma. A Lei n° 7.347 voltou-se à proteção de interesses difusos e coletivos; com o CDC passou a também tratar de interesses ou direito in-dividuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes

de origem comum. É uma das razões pelas quais a norma do Direito do Consumidor representa uma das principais evoluções legislativas ocorridas recentemente.

Na prática, a ação civil pública tem sido garantia de economia processual, pois evita a distribuição de várias ações sobre a mesma questão jurídica, prevenindo que sejam proferidas decisões diferentes e possivelmente conflitantes em casos idênticos. Tal ação tem proporcio-nado resultado amplo, com menor esforço de movimen-tação da máquina judiciária, pois por meio de uma única sentença são satisfeitas várias pretensões. A CNF enten-de que a atualização da norma deve preservar a econo-mia processual, impedindo a tramitação concomitante de ações coletivas que versem sobre o mesmo objeto. Dessa forma, é importante que se preserve as regras ge-rais de prevenção do Código de Processo Civil, inclusive como forma de resguardar a segurança jurídica.

É importante que a reforma empreendida, ao inserir novos conceitos, traga consigo a especificação técnico-processual, evitando o surgimento de dúvidas semânticas que deem margem a interpretações equivocadas, que gerariam insegurança jurídica. Ademais, inserir no Código de Defesa do Consumidor normas de rito processual poderia gerar antinomia entre duas leis, como pode ser o caso do CDC e do Código de Processo Civil.

2.2. Proteção dos dados pessoais

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que aprimorem a legislação que trata de ações coletivas com vistas a preservar as regras gerais de prevenção do Código de Pro-cesso Civil; a fortalecer os direitos dos entes legiti-mados; a garantir a segurança jurídica dos atos; a resguardar o equilíbrio entre as partes; e a sustentar os princípios do contraditório e da ampla defesa.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia projetos voltados para a proteção de dados pessoais que confiram efetivo controle dos cidadãos sobre o uso e a divulgação de suas in-formações, ao mesmo tempo em que impliquem custos realistas não só para os consulentes de infor-mações – as instituições financeiras, por exemplo – mas também para os coletores e gestores dessas informações. Com isso, busca-se criar um sistema sustentável e confiável de fornecimento de dados expressamente autorizados por seus titulares.

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27Capítulo 2 | Direitos Do consumiDor

O Ministério da Justiça (MJ), em 2010, propôs um de-bate público sobre minuta de anteprojeto de lei que versa sobre a proteção da privacidade e de dados pessoais dos cidadãos, especialmente no ambiente da Internet. Nos termos da minuta, qualquer informação pessoal só po-derá ser tratada mediante o consentimento do titular ou por expressa previsão legal. O consentimento também é necessário para usos posteriores dos dados por bancos e empresas ou repasses a terceiros. Os dados ditos sensíveis, como os fiscais e bancários, estarão sujeitos a proteção es-pecial, com sanções ainda mais rígidas contra os infratores.

O anteprojeto preparado pelo Ministério da Justiça apre-senta pontos em comum com o Marco Civil da Internet (MCI), o qual reúne regras para determinar direitos, deveres e respon-sabilidades de internautas, provedores de acesso e atuação do Estado no ambiente virtual. Entre os destaques do texto está a garantia do sigilo do conteúdo das comunicações e da preser-vação da intimidade, vida privada, honra e imagem do usuário.

A proteção de dados pessoais não recebe tratamento específico no ordenamento jurídico brasileiro e as normas existentes são esparsas e setoriais, embora a privacidade seja uma das garantias fundamentais previstas na Cons-tituição Federal (CF). Nesse sentido, a CNF concorda inte-gralmente com o Ministério da Justiça sobre a urgência de se “conferir aos brasileiros uma efetiva cidadania digital, evitando que suas prerrogativas e direitos em relação a seus dados pessoais e sua privacidade sejam menores do que aquelas de nacionais de vários outros países”.

2.3. Marco civil da internet

A elaboração de um Marco Civil da Internet foi inicia-tiva do Ministério da Justiça (MJ) que, no ano de 2009, colocou em duas rodadas de audiência pública um ante-projeto cujo objetivo central é definir os direitos, deveres e responsabilidades de cidadãos, empresas e Governo em relação às suas ações na internet. A criação de uma legisla-ção civil para a internet segue experiências internacionais. Argentina, Estados Unidos, França e diversos outros países da Europa, por exemplo, já adotaram seus marcos.

A proposta não trata de temas polêmicos como: cri-mes cibernéticos, comércio eletrônico e direitos autorais. Conforme entendimento do MJ, tais assuntos deverão ser tratados por legislações específicas, já que inseri-los na proposta de Marco Civil atrasaria sua elaboração e a construção de consenso em torno de seus dispositivos.

Apesar do acerto da proposta em superar lacunas na ordem jurídica nacional no que concerne à regulamen-tação do uso da internet, ela carece de aprimoramentos, especialmente no que diz respeito à guarda de registros de conexão.

A CNF defende a previsão de guarda dos registros de conexão por prazo superior a um ano com a finalidade principal de manter informações relevantes sobre o aces-so que possam vir a ser usadas em processos investiga-tivos ou na defesa de particulares. Trata-se aqui do mero registro de conexão e não de seu conteúdo. Dessa forma, quando da ocorrência de fraudes ou crimes eletrônicos, as informações armazenadas e decorrentes de prévia relação de consumo poderiam ser utilizadas para facilitar a iden-tificação do real autor da conduta ilícita, uma vez que, do contrário seria apenas possível localizar o número do IP, isto é, a identidade do computador de origem da conduta fraudulenta (mas não os dados pessoais do autor). Ressal-te-se que a guarda desses registros deve ser feita de forma confidencial e restrita, de modo a garantir que pessoas não autorizadas não os acessem.

Além de contribuir com a investigação de condutas ilícitas cometidas no ambiente virtual, a guarda dos regis-tros de acesso tem potencial inibidor de crimes, dissuadin-do potenciais autores de atos dolosos.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia a proposta de criação de um Marco Ci-vil que supra a ausência de regulamentação para o uso da internet e sirva como um norteador da ação das empresas nesse ambiente, propiciando maior segurança jurídica aos atores envolvidos nas relações virtuais e respondendo aos conflitos que decorrem dessas novas relações. Para a CNF, essa regulamentação deveria prever a guarda dos re-gistros apenas de conexão (não de conteúdo) por prazo superior a um ano.

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2.4. cadastro Positivo

Em junho de 2011, o Poder Executivo sancionou a Lei nº 12.414/2011, que disciplina a formação e consulta a bancos de dados com informações de adimplemento, de pessoas naturais ou de pessoas jurídicas, para formação de histórico de crédito (Cadastro Positivo). A norma teve origem na edição da Medida Provisória nº 518/2010.

A mais evidente das vantagens do cadastro positivo é a de que bons pagadores passam a se beneficiar de taxas de juros diferenciadas, com consequente redução gradual do spread bancário (ver Seção 12 – Taxa de juros e margens bancárias (spread)). Discute-se também seu impacto es-perado sobre a ampliação dos serviços bancários, com be-nefício para a população de faixas de renda mais baixa, bem como sua contribuição para evitar o superendividamento.

O Decreto nº 7.829/2012, que entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 2013, regulamentou a Lei nº 12.414/2011, definindo as condições para funcionamento dos bancos de dados; as informações a serem incluídas no histórico de cré-dito do consumidor; os critérios para consulta ao banco de dados; a autorização para abertura do cadastro pelo cliente e posterior compartilhamento dessas informações.

O Conselho Monetário Nacional editou a Resolução n° 4.172/2012, que regulamentou o repasse das informações

dos clientes pelas instituições financeiras aos bancos de dados que deverão operar o histórico de adimplemento. Conforme a Resolução, devem ser repassadas aos ban-cos de dados todas as operações com características de concessão de crédito, de arrendamento mercantil, de autofinanciamento realizadas por meio dos grupos de consórcio e de adiantamentos. O histórico será composto pela data da concessão do empréstimo ou financiamento, o valor original total do empréstimo, valores e datas de vencimentos das prestações, bem como valores pagos. Somente os bancos de dados cujo gestor detenha patri-mônio líquido mínimo de R$ 70 milhões poderão gerir e receber tais informações.

A regulamentação da Lei n° 12.414/2011 por Decreto e por Resolução do CMN não superou o principal obstáculo à rápida implementação de bancos de dados, a saber, a in-clusão de consulentes no rol dos responsáveis objetiva e so-lidariamente por eventuais danos causados a cadastrados.

A responsabilidade objetiva prescinde da compro-vação de culpa, estabelecendo a obrigação de indenizar mesmo sem que se comprove vínculo entre o dano e o agente. A base legal está no parágrafo único do art. 927 do Código Civil (Lei nº 10.406/2002). A responsabilidade solidária, por sua vez, se configura pela inexistência do benefício de ordem das pessoas que podem ser respon-sabilizadas pelo ato danoso e o credor poderá acionar qualquer uma delas.

Para a Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras, não é adequado colocar no mesmo patamar de responsabilidade os que coletam, geram, processam e transmitem informações sobre cadastrados e aqueles que meramente consultam essas informações para subsidiar decisões de crédito, sem poder verificar sua precisão ou efetuar correções. Na relação contratual que se estabelece entre, de um lado, fontes e gestores de bancos de dados e, de outro, consulentes, estes são consumidores e aqueles fornecedores de serviço. Essa polarização na relação con-tratual deveria refletir-se também nas responsabilidades atribuídas a cada uma das três partes envolvidas. Não ca-beria aos consulentes a responsabilidade objetiva e soli-dária por danos causados aos cadastrados.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras entende que a Lei nº 12.414/2011 que instituiu o Cadastro Positivo contribuirá para estender a bancarização e o crédito às camadas da população de menor poder aquisitivo, com efeitos positivos sobre o crescimento econômico sustentável e a distribuição de renda. Para a CNF, a legislação não equacionou a contento a questão da responsabi-lidade objetiva e solidária dos consulentes. A Con-federação apoia propostas que atribuam responsa-bilidade objetiva e solidária apenas às fontes e aos gestores de bancos de dados pelos danos que pos-sam eventualmente causar a cadastrados.

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29Capítulo 2 | Direitos Do consumiDor

A exclusão dos consulentes do rol dos agentes a quem pode ser imputada responsabilidade solidária e objetiva não excluiria sua eventual responsabilidade direta pelo descumprimento das obrigações que lhe são cominadas pela Lei do Cadastro Positivo (Lei nº 12.414/2011) para a realização da consulta, como a obrigação de apenas con-sultar dados de pessoas com as quais mantém ou preten-dam manter relação creditícia ou comercial.

2.5. Banco de dados de inadimplentes

A utilização do banco de dados de inadimplentes, do qual constam essencialmente as dívidas vencidas, os pagamentos não realizados e os débitos em aberto, foi certamente um avanço, possibilitando a tomada de decisões de crédito mais informadas. Combinado com o cadastro positivo, pode fornecer informações mais deta-lhadas sobre o perfil dos clientes bancários, permitindo a diminuição gradual do spread em decorrência do menor risco de crédito.

As discussões em torno do “cadastro negativo” focam em quatro questões centrais. A primeira é a inclusão in-devida de tomadores de crédito nesse banco de dados, seja por erro operacional, seja por pressão indevida do credor para obter o pagamento em atraso. A segunda questão está associada à dificuldade de o cadastrado

retirar seu nome do registro, uma vez regularizados ou não os débitos. A terceira está ligada ao uso indevido das informações contidas no banco de dados de inadim-plentes, por exemplo, em disputas trabalhistas, uma vez que tais informações devem destinar-se exclusivamente à avaliação do perfil do tomador para fins de concessão de crédito. A quarta questão diz respeito à confidenciali-dade dos dados e à proteção de dados pessoais.

2.6. Boletos de pagamento

Em termos operacionais, o sistema bancário avançou muito na criação de alternativas aos clientes para paga-mentos de boletos (também chamados de “bloquetos”), oferecendo possibilidades que são encontradas em pou-cos países do mundo. Canais alternativos de pagamento, como telefone, internet e caixa eletrônico, operam em ho-rários mais flexíveis que os das próprias agências bancárias e permitem o pagamento dos boletos nas datas indicadas, mesmo em casos fortuitos ou de força maior. Quando não há acesso a esses canais, também é possível efetuar o pa-gamento em estabelecimentos não financeiros (lotéricas, supermercados, farmácias, entre outros). A compensação bancária, mesmo em períodos de paralisação do funcio-

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia proposições voltadas para a correta inclusão de informações sobre tomadores de cré-dito inadimplentes em bancos de dados (o “cadas-tro negativo”), bem como para a limitação do uso dessas informações à finalidade precípua desse tipo de banco de dados, que é a avaliação do per-fil do tomador para fins de concessão de crédito. A CNF também apoia proposições que reforcem a confidencialidade dos dados e a proteção de dados pessoais dos cadastrados, que sejam realistas e que impliquem custos compatíveis com as atividades das empresas operadoras desses bancos de dados.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas de aprimoramento da le-gislação que regula os pagamentos de boletos de forma a conferir a máxima comodidade e conveni-ência aos consumidores, no entendimento de que tais propostas devam considerar: (i) a neutralidade das instituições financeiras, no papel de interme-diárias da relação de consumo, por alterações nos termos contratados entre credor e devedor; (ii) os acréscimos de custos gerados pela emissão de vias adicionais; (iii) limitações operacionais na definição de locais para o pagamento de faturas por contrato entre as partes; (iv) a liberdade de escolha do clien-te quanto à data de vencimento da fatura; e (v) a manutenção, ao longo do período da operação, das datas de vencimento escolhidas.

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namento de agências, é realizada normalmente, uma vez que se trata de atividade essencial e de manutenção obri-gatória (conforme dispõem os artigos 9 e 10, inciso XI, da Lei nº 7.783/1989). Mesmo assim, ocorrem casos em que instituições financeiras são equivocadamente responsa-bilizadas por não alterarem as condições de pagamento contratadas entre devedor e credor; por repassarem cus-tos vinculados à emissão de novas vias de boletos; por não alterarem o local de pagamento da fatura; por não rece-berem pagamentos após a data de vencimento; e por não permitirem a mudança constante da data de vencimento da obrigação contratada entre as partes.

A emissão de documentos de cobrança atende a uma série de dispositivos legais e está condicionada por limitações operacionais. A introdução de alterações na sistemática de cobranças sem considerar os normativos que as regem e as possibilidades operacionais pode se revelar prejudicial ao consumidor. Nas relações do ven-dedor ou prestador do serviço com o sacado e com a instituição financeira cobradora, os direitos e obrigações relacionados ao boleto bancário são regidos por contra-to entre as partes.

As instituições financeiras, ao receberem o pagamento dos boletos, atuam na maior parte das vezes como presta-doras de serviços, intermediando o pagamento e o recebi-mento de valores nos termos contratados entre as partes. Nessa posição, os bancos não possuem poder para acor-dar isenções, abonos ou quaisquer benefícios relativos à cobrança. Não cabe aos bancos conceder descontos, dei-xar de exigir encargos moratórios de cobranças ou adiar o pagamento de boletos, pois os valores recebidos não lhes são devidos, mas sim ao cliente que contratou seus serviços. Somente os credores das dívidas é que possuem competência para permitir a alteração do pagamento.

Em qualquer atividade econômica, custos adicionais causados por qualquer acréscimo de obrigação transfe-rem-se, via de regra, ao consumidor final. Não é diferente no caso dos serviços prestados por instituições financei-ras. Normalmente, o processamento desses serviços, com todos os custos operacionais que tal processamento im-plica, resulta, entre outros, na documentação da operação

realizada. A emissão de segunda via dessa documentação não se constitui em mera cópia do boleto original, mas sim na verificação de todos os passos envolvidos na ope-ração original para emissão de nova via, com consequente acréscimo de custos.

A Circular Bacen nº 3.255/2004, que dispõe sobre a emissão e a liquidação de boletos de cobrança, trata do local para pagamento de fatura. O normativo também cria o VLB-Cobrança, define esse valor e estabelece medidas complementares, disciplinando especificamente, em seu artigo 3º e incisos, a possibilidade de que o recebimento do boleto bancário seja regulado por intermédio de contrato firmado entre bancos e prestadores de serviços e convenção entre instituição financeira recebedora e cobradora. Não cabe a uma instituição financeira que atua como mera intermediária nessa relação alterar os termos do contrato firmado entre credor e devedor e determinar local de pagamento diferente do contratado e do regulado pelo normativo do Bacen.

Alterações no local de pagamento de boletos es-barram, ademais, nas limitações operacionais para que qualquer banco, após a data de vencimento, receba pagamento destinado a outro banco. Ocorre que os sis-temas das instituições financeiras não são interligados para processamento e acesso de bases de modo on-li-ne, o que impossibilita consultas nos casos em que o pagamento do sacado é protestado no mesmo dia. Da mesma forma, o cálculo dos valores devidos para paga-mentos após o vencimento do boleto exige que sejam validadas a regra de recebimento e as condições da co-brança anteriormente contratadas; na maioria dos pa-gamentos, tal validação não é realizada manualmente e requer consulta às bases de dados da cobrança quando os pagamentos ocorrem no próprio banco cedente.

Com exceção do crédito consignado, em vários tipos de operações, como as de crédito imobiliário, o setor fi-nanceiro já oferece aos clientes o direito de escolher a data de vencimento que melhor lhe convier. Contudo, a constante alteração da data de vencimento afeta negati-vamente a precificação das operações e, com isso, termina por prejudicar os consumidores. Ao lado da confiança, o

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31Capítulo 2 | Direitos Do consumiDor

tempo é outra matéria-prima fundamental dos produtos e serviços financeiros. Todas as operações financeiras são construídas ao longo de um vetor de tempo e a regulari-dade de desembolsos e de recebimentos permite calcular variáveis financeiras chaves, tais como o valor presente de um empréstimo, o montante dos pagamentos periódi-cos e a taxa de juros efetiva embutida na operação. Nes-se contexto, produtos e serviços financeiros são de difícil precificação se a data de pagamento de faturas se altera constantemente ao longo do período da operação. Na au-sência de elementos para precificação adequada, o com-portamento de todos os agentes econômicos – inclusive os financeiros – torna-se conservador, com tendência a se aumentarem defensivamente os preços. Um dos muitos complicadores de um contrato com datas de pagamento variáveis seria, por exemplo, a impossibilidade de se deter-minar a data de vencimento que seria utilizada para apu-ração da dívida no caso de prestações em atraso.

2.7. decisões dos Procons – Título executivo

Para o bom funcionamento do Sistema de Defesa do Consumidor (SDC), é fundamental que as decisões dos Procons – inclusive multas – sejam acatadas. Contudo, a transformação das multas dos Procons em títulos executi-vos extrajudiciais fragiliza o SDC, na medida em que intro-duz um elemento de arbitrariedade incompatível com o Estado Democrático de Direito.

Os títulos a que o Código de Processo Civil (CPC) atri-bui força executiva extrajudicial possuem os atributos da certeza, liquidez e exigibilidade (art. 686) para que possam ser objeto de execução definitiva (art. 587). Assim, trans-

formar as multas aplicadas pelos órgãos de defesa do con-sumidor em títulos executivos extrajudiciais significa dizer que estes só poderão ser questionados no Poder Judiciá-rio quanto à sua exigibilidade, certeza e liquidez. Nesse caso, não caberia questionamento a respeito da legalida-de, da razoabilidade, do valor aplicado, da competência da autoridade, da efetiva ocorrência do fato ensejador da multa, entre outras circunstâncias de fato e de direito que podem gerar legítimos questionamentos por parte das empresas multadas.

Tal limitação da possibilidade de questionamento judicial de todos os aspectos dessa multa viola a garan-tia constitucional do direito de defesa das empresas, de acesso à justiça, além de violar o princípio da razoabilida-de, eis que nem as multas administrativas impostas pelo Poder Público são consideradas título executivo extraju-dicial, uma vez que estas dependem de inscrição na dívi-da ativa para a sua execução, podendo ser questionadas pelos particulares.

Dispositivo dessa natureza existia no artigo 82 do Código de Defesa do Consumidor, que foi vetado pelo Presidente Fernando Collor quando lhe foi submetido à sanção. O veto deu-se pela impropriedade de se equipa-rar compromisso executivo a título executivo extrajudicial, visto que o objeto do compromisso é a cessação ou a prática de determinada conduta e não a entrega de coisa certa ou pagamento de quantia fixada.

2.8. contratos

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas que busquem conferir efetivida-de às decisões e multas aplicadas pelos órgãos de defesa do consumidor, ao mesmo tempo em que são asseguradas as garantias do direito de defesa, do acesso ao judiciário, do devido processo legal e da razoabilidade, previstas na Constituição Federal.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia projetos que tornem cada vez mais cla-ra e compreensível a relação entre as instituições financeiras e seus clientes, celebrada por meio de contratos, cujo original seja sempre fornecido ao consumidor. Para a CNF, a padronização de contra-tos não se deve constituir em barreira à inovação e à adequação de produtos e serviços ao perfil espe-cífico e único de cada consumidor.

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É necessário que os dispositivos contratuais sejam perfeitamente compreendidos pelos contratantes, com o consequente entendimento do seu significado e das obrigações pactuadas deles derivadas. Para tanto, é fundamental que o contrato seja redigido numa lin-guagem clara e facilmente perceptível quanto ao seu objeto, de modo que o cliente seja devidamente infor-mado. Também o tamanho das letras, claramente legí-veis, contribui para a eficácia dos contratos. Quanto ao conteúdo, é crítico que não incluam cláusulas abusivas que contaminem toda a relação contratual e viciem o compromisso entre as partes. Uma escolha livre e escla-recida implica necessariamente a prestação de informa-ções completas, claras e compreensíveis, para que os destinatários possam prever e avaliar as consequências jurídicas dos seus atos.

A entrega de minuta de contrato, antes do fechamen-to de negócios, e de cópia do contrato final, após esse fechamento, tornou-se prática corriqueira, amplamente disseminada no setor financeiro. O Código de Autorre-gulação Bancária lançado pela Febraban, por exemplo, destina um capítulo à parte aos procedimentos da con-tratação e dispõe que:

Quando o consumidor decidir contratar produ-tos ou serviços, a Signatária explicará os seus direitos e responsabilidades, tais como definidos nos Termos e Condições do contrato. Tais Termos e Condições serão elaborados em linguagem que facilite o entendimento do consumidor, com destaque nas cláusulas mais rele-vantes para a tomada de decisão consciente. Lingua-gem técnica ou jurídica será utilizada apenas quando necessário, para dar a devida exatidão e segurança ao teor do contrato. A Signatária disponibilizará ao con-sumidor uma minuta de contrato para conhecimento prévio e avaliação.

As cláusulas, bem como as práticas abusivas, a vedação à veiculação de publicidade enganosa, a obrigatoriedade de que a informação seja clara e precisa, as proibições de critérios discriminatórios ou preconceituosos, além de ou-tras preocupações com os consumidores em relação aos contratos, também estão devidamente contidas no Códi-go de Defesa do Consumidor.

2.9. direito de arrependimento

Atualmente, o direito de arrependimento visa a pro-teger o consumidor no tipo de negócio em que ele não teve a chance de examinar o produto ou serviço de perto, para perceber se correspondia ou não às suas expectativas. O Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 49, assegura ao comprador a possibilidade de devolver o que adquiriu, sem ter de dar nenhuma expli-cação. No entanto, o dispositivo vale apenas para aqui-sições realizadas fora do estabelecimento comercial, ou seja, por catálogo, de “porta em porta” ou via Internet, por exemplo. Além do local em que o negócio é feito, há outro requisito para o direito de arrependimento: só pode ser exercido dentro do período de sete dias do re-cebimento do produto ou serviço. Nesses casos, o forne-cedor é obrigado a aceitar a devolução e restituir o valor pago, corrigido.

A CNF defende que, caso o direito de arrependimen-to se aplique também aos negócios que forem realizados dentro de estabelecimentos comerciais, sejam desconta-das do valor total a ser reembolsado pelo fornecedor as eventuais despesas incorridas por este com fretes, taxas, encargos e impostos incidentes sobre o contrato. A inten-ção da medida é resgatar o equilíbrio das relações comer-ciais entre consumidores e fornecedores.

Em 2009, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Jus-tiça entendeu que o artigo 49 também é aplicável às insti-

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas que assegurem e ampliem o direito de arrependimento, ao mesmo tempo em que prevejam o reembolso dos custos de forneci-mento de produtos e serviços. No caso de serviços financeiros, tal reembolso deveria ser realizado com o devido acréscimo de juros, taxas, tributos e de-mais encargos contratuais, incidentes desde a data da efetiva contratação até a data do vencimento, da liquidação antecipada ou da rescisão do contrato.

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tuições financeiras que atuam junto aos estabelecimentos comerciais para promover o financiamento das compras, como é o caso de financeiras que atuam em revendedoras de veículos.

No que diz respeito a produtos e serviços financeiros, a CNF entende que não podem ser devolvidos a não ser que o consumidor arque com eventuais despesas oriun-das da sua utilização durante certo período de tempo. Enquanto o objeto do financiamento (dinheiro) ficou em poder do cliente, este o utilizou e se beneficiou de seu rendimento, não sendo correto o consumidor dele se utilizar sem remunerar o credor. Na visão da CNF, o ato de um tomador de recursos que detenha os valores por algum tempo, aufira ganhos da aplicação desses recur-sos e em seguida devolva o capital por arrependimento caracterizaria enriquecimento ilícito do devedor em de-trimento do credor.

2.10. Venda casada

Entende-se por venda casada a prática comercial em que o fornecedor condiciona a venda de um produto ou serviço à aquisição de outro produto ou serviço. Em muitos casos, trata-se de uma estratégia de marketing corriqueira, bastante utilizada em diferentes países. Em outros casos, caracteriza abuso de poder econômico ao constranger o cliente a ad-quirir bens e serviços não demandados originalmente.

Entretanto, em muitos casos a venda de produto atre-lada a serviço é característica do próprio negócio e não

representa a prática “casada” nos termos vedados pelo Código de Defesa do Consumidor. É preciso ter cuidado para não confundir a prática de venda casada prejudicial ao consumidor com estratégias de oferecimento de conjunto de produtos e serviços por preço diferenciado em benefício do próprio consumidor, a quem deve ser sempre assegurada a liberdade de escolha.

No caso particular de seguros, quando este é exigi-do pela legislação brasileira, a combinação de cobertura contra riscos e determinado produto ou serviço financei-ro tende a minimizar o custo total, para o consumidor, da operação.

2.11. Tempo de espera em filas

O atendimento nos bancos costuma ser mais intenso em períodos específicos. Filas para atendimento nos caixas e nos terminais eletrônicos são mais comuns no início dos meses, por exemplo, em decorrência da grande quantida-de de pessoas que recebem seus salários nesse período. São épocas em que também se verificam maiores filas nos estabelecimentos comerciais e nas repartições públicas.

Em anos recentes, é sensível a diminuição do tem-po de espera para atendimento em agências bancárias, apesar da inclusão de milhões de novos correntistas. Essa diminuição é resultado de avanços tecnológicos e de medidas administrativas orientadas para um mercado al-tamente concorrencial, que valoriza a satisfação dos clien-

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia dispositivos que proíbam operações de venda casada. Essa prática nociva não se confun-de com a oferta de produtos e serviços financeiros apresentados ao consumidor como alternativas de combinações desses produtos e serviços, sem limi-tar as opções do consumidor àquelas apresentadas pela instituição financeira.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas voltadas para a redução do tem-po de espera em filas para atendimento em agên-cias bancárias assentadas no estímulo à inovação tecnológica e administrativa voluntária. A ação coor-denada com outras partes envolvidas na prestação de serviços bancários, tais como estabelecimentos comerciais e órgãos da Administração Pública, con-tribui para reduzir o tempo de fila por meio do esca-lonamento de pagamentos e recebimentos.

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tes. A multiplicação dos terminais eletrônicos reflete essa preocupação, bem como a proliferação de transações ele-trônicas seguras e de cartões de débito e de crédito com chips de segurança.

A possibilidade de escolha do vencimento das faturas mostrou-se uma ótima medida para a diminuição do tem-po de espera nas filas. Medidas que contemplam diversi-dade de datas de vencimento, bem sucedidas, poderiam ser estendidas ao pagamento de obrigações junto à Ad-ministração Pública, bem como ao recebimento de bene-fícios em dias alternativos. Também o fortalecimento da segurança nas transações eletrônicas, pela rede de com-putadores, com combate aos crimes eletrônicos, contribui para a diminuição do tempo de espera nas filas. Por fim, a expansão da rede de correspondentes não bancários (tais como agências de correio, farmácias, casas lotéricas e su-permercados) contribui para agilizar o atendimento.

2.12. Solução de reclamações: Livro de reclamações, ranking de reclamados e taxas

Existem proposições que buscam criar novos ins-trumentos para o consumidor expressar sua insatisfação. Entre elas destacam-se: o Livro de Reclamações, a divulga-ção do ranking de empresas mais reclamadas e a imposi-ção de taxas por reclamação fundamentada.

O Livro de Reclamações seria um registro colocado à dis-posição dos clientes no qual críticas e insatisfações seriam anotadas em três vias, uma das quais encaminhada ao Pro-

con. Esse Livro não pode ser caracterizado como instrumento objetivo de apuração de críticas ao fornecedor de bens e serviços porque seu caráter qualitativo, subjetivo, pode não atender ao crivo técnico dos órgãos públicos responsáveis pela avaliação de queixas. O teor das insatisfações registra-das no Livro de Reclamações não é determinado pelo Pro-con, tampouco é disciplinado pela “Lei do SAC” (Decreto nº 6.523/2008). Essa ampla margem de subjetividade permite que alguém exacerbe sua reclamação, eventualmente com ânimo de prejudicar o fornecedor. As reclamações feitas com viés exagerado, bem como as notificações de boa-fé feitas com intuito de contribuir para o aperfeiçoamento da ativi-dade, estariam expostas ao público de forma indiscriminada. Por um lado, os registros do Livro de Reclamações contri-buem para compor a imagem do estabelecimento ofertante do bem ou serviço. Por outro, esses mesmos registros não se prestam à construção de indicadores quantitativos verificá-veis que permitam comparar estabelecimentos.

Existem proposições que preveem a obrigatoriedade de afixação de cartaz no estabelecimento com a posição da empresa no ranking das mais reclamadas. Medidas dessa natureza dão margem a distorções que podem in-devidamente prejudicar a imagem das empresas, porque consideram apenas o número absoluto de reclamações existentes e não o número relativo (que indicaria com maior precisão a qualidade do fornecedor). Empresas como bancos, companhias de serviço telefônico e outros fornecedores que atendem a milhões de clientes por dia em todo o Brasil inevitavelmente ostentariam cartazes de piores fornecedores do mercado, pois devido ao imenso número de atendimentos que realizam, teriam registra-das contra si um número maior de reclamações do que empresas que atuam apenas localmente. Contudo, o em-prego de um indicador que considere o número de recla-mações dividido pelo número total de atendimentos, isto é, um indicador relativo que não considera o tamanho das empresas envolvidas, permite comparar a qualidade dos fornecedores com maior precisão.

Por fim, a proposta de estipulação de taxa associada à re-clamação fundamentada sobre conduta que, em princípio, teria ocasionado lesão ao consumidor (o que configura um ato ilícito) contraria dispositivos constitucionais, uma vez que

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia iniciativas que fortaleçam as ações dos Procons por meio do oferecimento de informações claras e objetivas sobre a atuação de empresas e do aprimoramento dos métodos de quantificação dos descumprimentos da legislação com base não apenas no volume de reclamações, mas também na proporcionalidade destas em relação ao núme-ro total de atendimentos.

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35Capítulo 2 | Direitos Do consumiDor

tributos não podem servir a esse fim. A prática lesiva em re-lação consumerista é disciplinada pelo artigo 56 da Lei nº 8.078/1990, cujo texto prevê aplicação de multa, apreensão ou inutilização do produto, cassação de licença de funcionamen-to, suspensão temporária da atividade comercial, interdição e proibição de fabricação do produto que deu causa ao prejuízo. Essas sanções consistem em punição estabelecida pelo Poder Público a sujeito que pratica ato ilícito (verificado unicamente por meio de atividade jurisdicional), ao passo em que tributos não podem ser empregados para sanção a práticas ilícitas.

Para manter viável seu negócio, o fornecedor busca informar-se sobre seus serviços e a forma como estes são avaliados por seus clientes, com o fim de aprimorá-los e atualizá-los. Redes sociais e endereços eletrônicos de cor-respondências propiciam uma aproximação com o públi-co e facilitam o atendimento personalizado.

2.13. devolução de Valores

A restituição parcial do Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos ou Valo-res Mobiliários (IOF) quando da liquidação antecipada de operações financeiras procura corrigir uma injustiça co-metida contra o contribuinte.

O amparo legal da cobrança do IOF se dá pelo Decre-to nº 7.458/2011 que estipula a alíquota em 0,0082% ao

dia para as situações em que o contratante ou mutuário é pessoa física. O valor é cobrado pro rata die, em função do prazo da operação de empréstimo ou financiamento, observada a limitação de 365 dias estabelecida pelo § 1º, do artigo 7º, do Decreto nº 6.306/2007. Ao contratar a operação financeira o cliente recolhe o IOF na sua to-talidade. Ocorre que, por vezes, o cliente decide liquidar operação financeira antecipadamente o que gera direito a uma restituição proporcional ao período remanescente da operação liquidada.

O Código Tributário Nacional dispõe que:

Art. 165. O sujeito passivo tem direito, independentemen-te de prévio protesto, à restituição total ou parcial do tributo, seja qual for a modalidade do seu pagamento, ressalvado o disposto no § 4º do artigo 162, nos seguintes casos:

I - cobrança ou pagamento espontâneo de tributo in-devido ou maior que o devido em face da legislação tribu-tária aplicável, ou da natureza ou circunstâncias materiais do fato gerador efetivamente ocorrido;

A devolução do IOF incidente sobre operações liquida-das antecipadamente vincula somente a Receita Federal e os contribuintes. As pessoas jurídicas, entre elas as institui-ções financeiras, são responsáveis tributários pela cobran-ça e recolhimento do IOF, nos termos do art. 5º Decreto nº 6.306/2007. Porém, as instituições financeiras não são parte legítima para pleitear a restituição. Nessa relação não cabe cobrança de tarifas por parte de instituições financeiras para a efetivação da restituição ao contribuinte, uma vez que elas não são parte dessa relação jurídica tributária.

A restituição do IOF incidente sobre operações liquidadas antecipadamente poderia ser pela Receita Federal nos mol-des da sistemática de devolução parcial de impostos seme-lhante à empregada pelas Fazendas Estaduais, Municipais e Distrital (“Nota Paulista”, “Nota Legal”, “Nota Carioca”, etc.).

A devolução de impostos relativos à quitação anteci-pada de dívidas e outras operações financeiras não se ca-racteriza como uma relação consumerista, mas sim como uma relação jurídica tributária, isto é, exclusivamente en-tre o Fisco e o contribuinte.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que permitam a restituição do Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliá-rios (IOF) cobrado nas operações liquidadas anteci-padamente, de forma proporcional ao período de tempo da antecipação. Uma vez que as instituições financeiras não são parte dessa relação jurídica tri-butária, a CNF sugere a implementação pela Recei-ta Federal de sistemática de devolução parcial de impostos semelhante à empregada pelas Fazendas Estaduais, Municipais e Distrital.

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queSTÕeS SOCIAIS

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39Capítulo 3 | Questões sociais

As pessoas estão presentes em todas as fases das opera-ções de instituições financeiras, como agentes e como

pacientes. Ora são funcionários, ora são clientes, ora são par-ticipantes de programas de capacitação e de inclusão, ora são parte de uma comunidade melhorada por iniciativas e projetos privados, ora são membros de uma sociedade que se beneficia de uma economia em crescimento, sustentada por um sistema financeiro saudável e sólido.

Apenas em 2012, 1,5 milhões de pessoas abriram contas correntes simplificadas, conforme dados do Banco Central. A própria bancarização é uma questão social: a possibilidade de contar com uma conta bancária e ter acesso a produtos e serviços, públicos e privados, veiculados por essa conta é um potente fator de inclusão e de promoção de cidadania. As questões sociais não se articulam ao largo das instituições financeiras; ao contrário, tais questões as entranham, balizam seus negócios e as moldam.

3.1. inclusão Financeira

Segundo relatório do Banco Central, inclusão financeira é: “processo de efetivo acesso e uso pela população de serviços fi-nanceiros adequados às suas necessidades, contribuindo para sua qualidade de vida”. A bancarização é uma das dimensões da cidadania, na medida em que permite ao cliente de uma instituição financeira exercer seus direitos (tais como receber benefícios) e honrar suas obrigações (tais como pagar tributos).

O usuário recorre a vários canais de acesso ao sistema financeiro, seja redes de pontos físicos de atendimento

3. questões SociaisA Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras acompanha com grande interesse todas as proposições voltadas para o aprimoramento das relações entre as pessoas, entre as pessoas e os en-tes privados, bem como entre as pessoas e o poder público, que visem ao desenvolvimento das poten-cialidades individuais.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia medidas voltadas para a ampliação do acesso ao sistema financeiro e a intensificação do uso de seus produtos e serviços por consumidores orientados por crescente educação financeira.

– agências, correspondentes, entre outros –, seja atendi-mento telefônico e Internet Banking. A capilaridade de tais canais de acesso ao sistema financeiro constitui importan-te indicação do potencial de inclusão financeira no país.

A Resolução nº 3.211/2004 simplificou o processo de abertura de contas e flexibilizou algumas exigências de iden-tificação, facilitando assim o acesso ao setor financeiro por parte da população de baixa renda. Em 2012, o número de contas correntes simplificadas chegou a mais de 12,8 milhões.

A capilaridade do acesso ao setor financeiro e a simplifi-cação da abertura de contas ampliaram o papel do crédito como eficaz instrumento de desenvolvimento econômico.

É o caso do microcrédito. A Lei nº 10.735/2003 determinou que uma parcela dos depósitos a vista dos bancos múltiplos com carteira comercial, dos bancos comerciais e da Caixa Econômica Federal deve, obrigatoriamente, ser aplicada em operações para o público de baixa renda. Os valores não aplicados na atividade devem ser depositados no Bacen, sem remuneração. O direcionamento para microcrédito está voltado para dois públicos, o de baixa renda, também conhecido como microcrédito-consumo, e o microcrédito para microempreendedores.

3.2. agenda nacional do Trabalho decente

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia iniciativas voltadas para a construção de um ambiente que assegure o bem-estar do tra-

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40 AgendA do SetorFinanceiro2013

De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), “o trabalho decente é considerado como aquele adequa-damente remunerado, exercido em condições de liber-dade, equidade e segurança, capaz de garantir uma vida digna”. Em outras ocasiões, contudo, o escritório da OIT no Brasil acrescentou que trabalho decente é um traba-lho produtivo, sem quaisquer formas de discriminação.

Esse é um ponto fundamental para a construção de uma visão de trabalho decente sustentável, a partir da qual seja possível estabelecer diretrizes concretas e efica-zes para garantir um ambiente de competitividade econô-mica e bem-estar do trabalhador.

O Trabalho Decente é o ponto de convergência dos quatro objetivos estratégicos da OIT, que tem como pano de fundo o respeito aos direitos no trabalho, em especial aqueles definidos como fundamentais pela Declaração Relativa aos Direitos e Princípios Fundamentais no Tra-balho e seu seguimento adotada em 1998: (a) liberdade sindical e reconhecimento efetivo do direito de negocia-ção coletiva; (b) eliminação de todas as formas de traba-lho forçado; (c) abolição efetiva do trabalho infantil; e (d) eliminação de todas as formas de discriminação em ma-téria de emprego e ocupação, a promoção do emprego produtivo e de qualidade, a extensão da proteção social e o fortalecimento do diálogo social.

Os entendimentos sobre emprego e trabalho decen-te estão sujeitos a um elevado grau de subjetividade, não existindo definição universalmente aceita. Por isso mes-mo, é preciso tornar as discussões mais objetivas, à luz

das realidades dos diferentes setores e regiões do país. O Governo brasileiro e a OIT firmaram em 2003 memo-rando de entendimento que previa o estabelecimento de programa de cooperação técnica para a promoção de uma Agenda Nacional de Trabalho Decente, por meio de consultas às organizações de empregadores e de traba-lhadores. Essa Agenda foi lançada em maio de 2006 e deu origem, em 2009, ao Plano Nacional de Emprego e Trabalho Decente (PNETD).

Em 2012 foi realizada a Primeira Conferência Nacional de Emprego e Trabalho Decente (I CNETD). O objetivo ge-ral dessa Conferência foi contribuir para a construção, o fortalecimento e a promoção de uma Política Nacional de Emprego e Trabalho Decente a partir das prioridades esta-belecidas no PNETD.

Vários representantes do Poder Executivo Federal, membros da bancada dos trabalhadores, a OIT, bem com a bancada patronal, apresentaram manifestações de que a Conferência teve um resultado positivo diante de todas as dificuldades técnicas e políticas enfrentadas. No total foram apreciadas 633 propostas resultantes das conferên-cias estaduais e municipais: 125 (22%) oriundas da banca-da dos empregadores, 297 (52%) da dos trabalhadores e 145 (25%) da bancada do Governo, tendo sido o restante (1%) proposto pela sociedade civil.

Para o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) o desta-que maior foi a quantidade expressiva de propostas apro-vadas por consenso, as quais poderão balizar as políticas públicas de emprego e trabalho para os próximos anos.

Na opinião de algumas das Centrais Sindicais, o resul-tado da Conferência foi positivo, por causa da experiên-cia diferenciada que valorizou o diálogo e a negociação entre as partes. Para elas, o sucesso do evento deveu-se à homogeneidade, bem como ao compromisso dos parti-cipantes de construir coletivamente os posicionamentos. Outro ponto destacado foi a valorização da participação democrática da sociedade em todas as fases do evento.

De acordo com a OIT, em muitos países existem políticas de trabalho decente, porém o Brasil tem sido

balhador e a competitividade econômica do em-pregador. Para a CNF, o trabalho decente tem que ser produtivo e deve estar aliado à sustentabilidade da empresa. Para tanto, é fundamental o aprofun-damento das discussões no âmbito de um fórum tripartite que contemple os interesses e as preocu-pações de todos os atores envolvidos, em decisões tomadas por consenso.

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pioneiro nas consultas e debates tripartites para a sólida construção de políticas públicas, vencendo os grandes desafios de orquestrar discussões desse porte envolven-do todas as esferas da Federação (Municípios, Estados e União) diante da heterogeneidade e da extensão do país.

A bancada patronal destacou o empenho de todos na realização da conferência, que conseguiu aprovar diversas propostas de forma consensual.

Após a publicação dos documentos oficiais da I CNE-TD, prevista para 2013, o MTE designará novo grupo tri-partite para acompanhamento dos trabalhos de imple-mentação da agenda pós-conferência. A expectativa é realizar pelo menos cinco reuniões com esse novo grupo já em 2013, sendo uma reunião em cada região do país. Essa agenda estará ancorada nas prioridades previstas no Plano Nacional de Emprego e Trabalho Decente.

3.3. igualdade no mundo do trabalho

Não basta a lei declarar que todos são iguais, deve pro-piciar mecanismos eficazes para a consecução da igualdade. Assim, o princípio constitucional da igualdade não se limita à igualdade perante a lei, mas se estende a garantir iguais opor-tunidades para a realização dos objetivos de cada cidadão.

A isonomia salarial é uma das aplicações possíveis do princípio constitucional da igualdade, dando tratamento

igual para os iguais. A Constituição Federal de 1988 consa-grou o princípio da isonomia salarial no seu artigo 7o, inci-sos XXX e XXXI, que determinam a “proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critérios de ad-missão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil” e a “proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de defi-ciência”. Também o artigo 5º, inciso I, da CF, estabelece que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações. A Lei nº 9.029/1995 coíbe a adoção de qualquer prática discriminatória e limitativa para efeito de acesso à relação de emprego. O artigo 373-A da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) proíbe práticas que afetem o acesso da mulher ao mercado de trabalho. Ressalte-se que o princí-pio da igualdade também inspira o artigo 461 da CLT, que delimita o direito à equiparação salarial somente àqueles que atendam a vários critérios – todos presentes – como ter por paradigma empregado que também trabalhe para o mesmo empregador; incumbido das mesmas funções; com trabalho de igual valor (leia-se, com igual produtivi-dade e mesma perfeição técnica); e na mesma localidade.

3.4. acessibilidade

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas realistas e exequíveis voltadas para a am-pliação da acessibilidade a instalações físicas e ao merca-do de trabalho, que contribuam para a expansão do nú-mero de vagas ocupadas por pessoas com deficiência e

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia a consolidação do princípio da igualdade nas relações trabalhistas, ao mesmo tempo em que celebra o amparo constitucional e a legislação que asseguram maior diversidade no ambiente de tra-balho. A CNF sublinha que, no exame de casos con-cretos, a legislação considera as funções e a produ-tividade do empregado, bem como sua localidade, o que afasta comparações simplistas baseadas ex-clusivamente em um único critério, seja ele sexo, idade, cor, nacionalidade ou estado civil.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia iniciativas voltadas para a construção de um ambiente que assegure o bem-estar do tra-balhador e a competitividade econômica do em-pregador. Para a CNF, o trabalho decente tem que ser produtivo e deve estar aliado à sustentabilidade da empresa. Para tanto, é fundamental o aprofun-damento das discussões no âmbito de um fórum tripartite que contemple os interesses e as preocu-pações de todos os atores envolvidos, em decisões tomadas por consenso.

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que contemplem as dificuldades dessas pessoas não só no seu relacionamento com instituições financeiras, mas com instituições de todos os setores da economia.

Acessibilidade diz respeito ao acesso, ao ingresso e à permanência da pessoa com deficiência em todos os esta-belecimentos e serviços públicos e privados, incluindo os das instituições financeiras, bem como o acesso ao mer-cado de trabalho.

A questão da acessibilidade passou a ser tratada com mais ênfase no Congresso Nacional a partir de meados da década de 90. Nesse primeiro período, a preocupação dos projetos esteve voltada para a adaptação de mobiliário e de edificações que proporcionasse melhor acessibilidade e atendimento aos usuários. A partir de 2000, o enfoque passou para o acesso ao mercado de trabalho e a flexibi-lização da jornada, com vários projetos que ora obrigam as empresas a contratarem pessoas com deficiência, ora oferecem incentivos fiscais para esse tipo de contratação, e ainda projetos que buscam garantir jornada flexível para pais de filhos com deficiência.

O sistema financeiro envolveu-se nessa questão desde o início e foi um dos setores pioneiros na implementação de medidas inovadoras para o atendimento de pessoas com deficiência. Os caixas eletrônicos adaptados já representam 67% do parque de ATMs do Brasil, composto por 182 mil máquinas. De 2006 a 2011, o número de caixas eletrônicos (ATMs) adaptados para atender pessoas com deficiência existente no país aumentou mais de 1.400%, chegando a um total de 122 mil novos equipamentos instalados.

A Lei nº 8.213/1991 (Lei de Cotas) movimentou o mer-cado para profissionais com deficiência e abriu mais de um milhão de vagas; no entanto, esbarrou em problemas como a falta de qualificação dos candidatos. O sistema financeiro, sob a gestão da Federação Brasileira de Bancos, mais uma vez inovou e lançou no segundo semestre de 2008 o Programa FEBRABAN de Capacitação Profissional e Inclusão de Pessoas com Deficiência no Setor Bancário, uma parceria público-pri-vada cujo objetivo é permitir o aprimoramento educacional e a capacitação técnica das pessoas com deficiência para incluí-las no mercado de trabalho bancário. Tal programa en-

cerrou sua 2ª edição totalizando 913 pessoas com deficiên-cia treinadas e integradas aos quadros de funcionários dos bancos. O sucesso do programa e o alto índice de retenção dos profissionais capacitados motivaram a FEBRABAN a es-truturar a Edição 2012 no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte.

Além disso, o Programa Febraban de Capacitação Profis-sional e Inclusão de Pessoas com Deficiência no Setor Ban-cário recebeu o Prêmio BeyondBanking 2011, uma iniciativa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) que re-conhece as melhores práticas em responsabilidade social e sustentabilidade no Caribe e na América Latina. O Programa foi selecionado pelo comitê composto por especialistas em sustentabilidade, entre as melhores iniciativas na categoria equalBanking (estímulo à igualdade de gênero e à diversi-dade). Esta foi a primeira vez que uma iniciativa brasileira foi prestigiada nessa categoria da premiação.

Hoje, o Congresso Nacional analisa dezenas de propo-sições sobre a matéria. As diversas proposições que tratam da acessibilidade e outros direitos da pessoa com defi-ciência incluem a construção de rampas de acesso, ade-quação dos guichês de atendimento eletrônico e jornada de trabalho especial.

As propostas, em alguns casos, restringem-se aos ban-cos, desconsiderando que demais setores da economia também atendem o mesmo público. Existem ainda inú-meros diplomas legais nos níveis estadual e municipal que tratam do mesmo tema - em sua maioria, dirigidos exclu-sivamente à atividade bancária. Com a popularização das transações financeiras pela internet, é falacioso o argumen-to de que as pessoas interagem – fisicamente – com insti-tuições financeiras com frequência maior do que recorrem a outros serviços. Também é falacioso o argumento de que os resultados das instituições financeiras são exagerados e justificam investimentos em acessibilidade que não são demandados de outros setores, como se vê na seção 6.2 – Lucro e rentabilidade bancária.

Diversos diplomas legais regulamentam a questão da acessibilidade. A Lei n° 10.098/2000 trata especificamente de acessibilidade de pessoas com deficiência a instalações. Já a Lei nº 10.048/2000 determina tratamento diferencia-

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do e atendimento prioritário às pessoas deficientes. Além dessas normas, a Resolução do CMN nº 2.878/2001 prevê que as instituições financeiras devam estabelecer em suas dependências alternativas técnicas, físicas ou especiais que garantam a acessibilidade e atendimento prioritário às pessoas com deficiência.

Nesse sentido, entende-se que a maioria das proposi-ções em tramitação no Congresso poderiam ser atualizadas diante da legislação já existente, a qual protege os direitos das pessoas com deficiência. Esse foi o entendimento pre-dominante na III Conferência Nacional dos Direitos das Pes-soas com Deficiência, realizada em 2012.

A Conferência organizada pelo Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CONADE), o qual fun-ciona na Secretaria de Direitos Humanos (SDH), defendeu o cumprimento da legislação e a efetivação das políticas públicas lastreadas na Convenção da ONU, que se tornou referência de política nacional para esse público desde a promulgação do Decreto nº 6.949/2009.

Com o tema central “Um olhar através da Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência: Novas perspectivas e desafios”, a Conferência aprovou ao todo 404 propostas que essencialmente defendem a im-plementação da legislação em vigor: 49 sobre questões relacionadas a educação; 64 sobre acessibilidade; 41 tra-tam de questões trabalhistas; 18 sobre esporte, cultura e lazer; 23 versam sobre comunicação; 54 sobre transporte e moradia; 91 sobre saúde; 28 na área de segurança e acesso à justiça; e 36 sobre proteção social.

3.5. cláusula de observância de direitos humanos em contratos

Discute-se no Congresso Nacional a obrigação de in-serção de cláusulas de proteção aos direitos humanos nos contratos de financiamento. As propostas têm o intuito meritório de impedir a concessão de crédito, subsídio, in-centivo ou qualquer benefício de natureza tributária ou financeira a pessoa jurídica de direito privado que venha a violar direitos fundamentais da pessoa humana, por ação ou omissão do mutuário. Nesse caso, as propostas estipu-lam que ficará automaticamente suspenso o contrato até que se apurem as responsabilidades.

As instituições ou empresas públicas e privadas que tenham como objetivo o fomento econômico e o estí-mulo à atividade agrícola, comercial e industrial deveriam, para conceder financiamento, crédito, isenção, renegocia-ção de dívida ou quaisquer outros benefícios financeiros, avaliar se os solicitantes cumprem toda a legislação ati-nente aos direitos humanos.

O tema é de grande relevância, refletindo a preocu-pação com a proteção de direitos fundamentais (à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade) e com a função social dos contratos. Contudo, a legislação brasileira sobre a matéria é esparsa e subsiste a possibi-lidade de cláusulas contratuais vagas. Ações fiscalizató-rias, que devem ser realizadas por órgãos públicos, para impor a devida responsabilização civil e criminal ao em-preendedor que ferir direitos fundamentais, requerem dispositivos contratuais precisos e inequívocos.

A introdução de cláusula obrigatória de observância de direitos humanos em contratos viria acompanhada da obrigação dos mutuários de atenderem determinados

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que promovam os direitos humanos, no entendimento de que contratos que contenham cláusula obrigatória ligada a essa ma-téria definam de maneira clara e inequívoca o que sejam violações desses direitos de modo a garantir

segurança jurídica e transparência nas transações. A suspensão de contratos diante de mera suspeita, antes do trânsito em julgado de sentença conde-natória, impacta a oferta e o custo do crédito. Para a CNF, as instituições financeiras não podem ser res-ponsabilizadas por atos de terceiros beneficiados por financiamentos concedidos mediante o cum-primento de todos os requisitos exigidos por lei.

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requisitos legais. Uma vez demonstrado o cumprimento dessa obrigação, condição essencial para a concessão do financiamento, ficariam as instituições financeiras isentas de responsabilidade por eventual violação posterior da-queles requisitos legais, para a qual elas não concorrem.

Além disso, existe a questão do momento em que o contrato de financiamento seria suspenso. Permitir que o contrato seja suspenso diante de mera suspeita (já que a suspensão seria determinada antes de sentença definiti-va) poderia gerar prejuízos irreparáveis ao mutuário, am-pliando também o risco das operações de financiamento.

A suspensão do financiamento por prazo indefinido e sem qualquer possibilidade de compensação financeira, tal como preveem as propostas legislativas, geraria au-mento do custo do crédito. Isso porque as penalidades previstas no contrato somente poderiam ser aplicadas após a sentença condenatória definitiva, quando então poderia ocorrer algum ressarcimento. Nessa hipótese, a aprovação do crédito, ao passar por refinado sistema de contabilização, poderá estar vinculada ao provisionamen-

to de valores em determinadas situações, o que afetaria diretamente a disponibilidade desse crédito no mercado.

Se confirmada, ao final, a violação aos direitos fun-damentais, as perdas associadas aos recursos empresta-dos por meio de um contrato suspenso seriam repassa-das aos demais tomadores de crédito, via encarecimen-to das operações envolvendo pessoas físicas e jurídicas. Projetos de grande porte, por exemplo, poderiam ter custos aumentados, o que reduziria investimentos em obras de infraestrutura.

A eficácia de propostas dessa natureza requer estrita observância da Constituição Federal e meticulosa avalia-ção do impacto sobre a disponibilidade e o custo do cré-dito. Ambas as condições seriam atendidas se a suspensão do financiamento, bem como as demais penalidades (tais como multas e juros), somente fossem aplicados após o trânsito em julgado de decisão judicial que condenasse o empreendedor. Nesse caso, este seria responsável tam-bém pelo ressarcimento dos custos gerados pela suspen-são de seu financiamento.

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queSTÕeS AMBIENTAIS

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caPÍTuLo

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queSTÕeS AMBIENTAIS

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49Capítulo 4 | Questões ambientais

A ideia de sustentabilidade aplicada aos negócios ga-nhou posição de destaque na pauta tanto de consu-

midores quanto de empresas. No entanto, a simplificação do conceito de sustentabilidade, associado comumente como a simples preservação da natureza, não atende aos anseios da sociedade atual.

Em 1987, a chamada “Comissão Brundtland” (Comissão Mundial sobre Meio-ambiente e Desenvolvimento), sob os auspícios das Nações Unidas, ofereceu definição de desen-volvimento sustentável. O relatório Nosso Futuro Comum pedia “desenvolvimento que satisfaça as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazerem suas próprias necessidades”. Em 1992, na Conferência do Rio, emergiu novo conceito de desenvolvimento, com três dimensões (econômica, social e ambiental). O “desenvolvimento sustentável” relacionava o desenvolvimento econômico com os limites e oportu-nidades que os recursos naturais criam para a atividade econômica. Nesse cenário, valores como liderança, ética e confiança são aspectos a serem incluídos de forma per-manente nas decisões de negócios e essas práticas foram inseridas no dia-a-dia das instituições financeiras, não ape-nas como política compensatória.

Para as instituições financeiras, sustentabilidade não é um modismo, muito menos uma tendência passagei-ra, mas sim um elemento muito concreto nas decisões de concessão de crédito e de busca de financiamento. O tempo é a matéria-prima das operações financeiras. Para um dado fluxo financeiro e uma certa taxa de juros, quan-to mais extenso o horizonte temporal, maior será o valor presente líquido. Por exemplo, na comparação de duas empresas que solicitam crédito nas mesmas condições, a empresa sustentável tem um horizonte temporal de ope-rações muito mais longo do que o da outra empresa que em algum momento cessará suas atividades pelo esgo-tamento de recursos; não é surpresa que a empresa sus-tentável apresente maior valor presente líquido e se torne melhor candidata ao recebimento do crédito.

4. questões ambientaisA Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que fortaleçam práticas empresariais voltadas para a sustentabilidade das operações no tempo e o uso racional de recursos naturais, integrando aspectos econômicos com as dimensões sociais e ambientais em todas as deci-sões. Entende, ainda, que a questão ambiental é compatível com o crescimento das operações de crédito e com o desenvolvimento econômico.

Em abril de 2010, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e o Ministério do Meio Ambiente assinaram o Protocolo de Intenções com vistas ao desenvolvimento sustentável que pressuponha a preservação ambiental e uma contínua melhoria no bem estar da sociedade. Co-nhecido como Protocolo Verde, declara que os bancos envidarão os melhores esforços para levar à prática os seguintes princípios:

1. Oferecer linhas de financiamento e programas que fomentem a qualidade de vida da população e o uso sustentável do meio ambiente;

2. Considerar os impactos e custos socioambientais na gestão de seus ativos e nas análises de risco de projetos;

3. Promover o consumo consciente de recursos naturais e de materiais deles derivados nos respectivos proces-sos internos;

4. Informar, sensibilizar e engajar continuamente as par-tes interessadas nas políticas e práticas de sustentabili-dade das instituições, e,

5. Promover a cooperação e integração de esforços entre as instituições aderentes ao Protocolo.

As instituições financeiras já contam com departamen-tos e profissionais especializados para analisar os pedidos de financiamento a projetos que envolvam sustentabilida-de e impliquem impactos sobre o meio-ambiente. Muitas

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delas são aderentes aos Princípios do Equador, ao Comba-te ao Trabalho Escravo e fazem parte do Índice de Susten-tabilidade Empresarial (ISE) da BM&FBovespa.

4.1. iV conferência do Meio ambiente

O Ministério do Meio Ambiente (MMA) está organizan-do a IV Conferência Nacional do Meio Ambiente (CNMA), cuja realização está prevista para ocorrer nos dias 24 a 27 de outubro de 2013, em Brasília.

A quarta edição tem o desafio de contribuir para a implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, com foco em: a) produção e consumo sustentável - re-dução da atual geração per capita de resíduos sólidos ur-banos para o patamar de 2008 (equivalente a uma taxa média nacional de 1,1 kg/habitante/dia), buscando sua contínua redução; b) redução dos impactos ambientais - eliminação total dos lixões até 2014 e recuperação de biogás de aterros sanitários; e c) geração de emprego e renda - inclusão dos catadores de materiais recicláveis na economia dos resíduos sólidos recicláveis.

Com o lema “Vamos cuidar do Brasil”, o Poder Executi-vo faz um convite para que a sociedade brasileira - gover-nos, empresários e sociedade civil - se engaje no processo. De acordo com o MMA, essa conferência é também um importante instrumento de educação ambiental, uma chance de os cidadãos se apropriarem localmente dos compromissos planetários, assumindo responsabilidades para construção de sociedades sustentáveis.

A CNF integra a Comissão Organizadora Nacional da IV CNMA. Para o setor financeiro, as discussões sobre desen-volvimento sustentável são uma oportunidade estratégica para o Brasil continuar avançando em sua política ambiental, sempre considerando as repercussões econômicas e sociais.

Em 2012, a CNF também participou da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, evento que tratou da economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobre-za, bem como da estrutura institucional para o desenvolvi-mento sustentável. A Confederação acompanhou audiên-cias públicas no Congresso Nacional e manteve audiências com os Ministérios do Meio Ambiente (MMA), das Relações Exteriores (MRE), da Fazenda (MF), do Desenvolvimento So-cial (MDS), entre outros órgãos, para reunir subsídios técni-cos que fundamentaram a participação do setor.

No ano de 2009, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) assinou com o MMA o Protocolo Verde. Esse protocolo prevê a concessão de financiamento a em-preendimentos comprometidos com a sustentabilidade ambiental e esforços para minorar os impactos e custos socioambientais na gestão de seus ativos e na análise de risco de cada projeto. A rede bancária também reforçou as medidas de consumo sustentável em suas atividades ro-tineiras, como maior observância no gasto de papel, bem como no uso energia e outros insumos.

4.2. calamidades públicas

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia iniciativas voltadas para o fortalecimen-to dos pilares ambiental, social e econômico que balizam o desenvolvimento sustentável, presentes na IV Conferência Nacional de Meio Ambiente (IV CNMA), que será um importante forum de debates para mapeamento das dificuldades, união de esfor-ços e apresentação de sugestões para o aprimora-mento da política ambiental do País.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para prevenção e mitigação de calamidades públicas associadas a desastres naturais, bem como para rigorosa apli-cação de políticas públicas formuladas para tratar das causas e consequências desses desastres. Para a CNF, poderiam ser criados fundos ou seguradoras oficiais, financiados com recursos públicos, para dar cobertura a sinistros provocados por manifestações violentas da natureza. Esse tipo de seguro pode ser associado a incentivos para a oferta de serviços e de produtos financeiros diferenciados em condições excepcionais em bases voluntárias e concorrenciais.

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51Capítulo 4 | Questões ambientais

No Brasil, a maioria dos casos de decretação de estado de calamidade pública pelos Municípios está ligada a desastres naturais. Em muitos dos eventos recentes, que causaram gran-de comoção na população brasileira, as instituições financeiras assumiram papel protagônico na solução dos problemas, seja ao suspender cobranças e tarifas, seja ao conceder créditos ex-traordinários para reconstrução de áreas e instalações afetadas, seja ainda ao atuarem como agentes captadores de doações, na forma de depósitos ou de mantimentos e outros materiais.

Desastres naturais inspiraram diversos parlamentares a apresentarem meritórios projetos voltados para a preven-ção e mitigação de calamidades públicas. Nesses projetos, destaca-se a adequada preocupação com a capacidade de as vítimas arcarem com pagamentos de suas contas e demais compromissos financeiros, inclusive tarifas por serviços bancários e prestações de financiamentos das mais variadas espécies, pelo menos até que se restabeleça a normalidade. Considera-se acertadamente, nesses casos, que muitas das vítimas são obrigadas a abandonar seus lares, ficando impossibilitadas temporariamente de traba-lhar e, consequentemente, de honrar seus compromissos.

Em que pese ao acerto dessas preocupações, elas não consideram três elementos importantes. Em primeiro lugar, a maioria das vítimas de desastres naturais é atingida menos por manifestações violentas da natureza e mais pela ausência de medidas de política pública, ou pela não aplicação de me-didas existentes. O caso mais evidente é o da ocupação irre-gular do solo, que pode se tornar fatal quando acontecem no Brasil enchentes de verão, que em outros países causam nú-mero menor de vítimas mesmo quando sobrevêm com igual intensidade. Em segundo lugar, no mundo inteiro, as compa-nhias seguradoras ou não oferecem cobertura, ou a proveem de forma muito limitada aos chamados “atos de Deus”, isto é, a sinistros causados pela ação violenta da natureza. Por fim, as instituições financeiras não tem mandato de seus clientes para suspender cobranças feitas em favor destes, nos casos em que atuam como meras intermediárias (diferentemente da suspensão de tarifas, taxas e juros vinculados a produtos das próprias instituições financeiras).

A Constituição Federal estabelece em seu artigo 182 que compete ao Poder Público ordenar o pleno desen-

volvimento das funções sociais das cidades e garantir o bem-estar de seus habitantes. Nesse quadro, a inexistên-cia de políticas públicas, a não aplicação de políticas exis-tentes e sinistros causados pela natureza não podem se converter em obrigatoriedades para setores específicos da economia. A solução correta passa pela formulação de políticas públicas voltadas para prevenção e mitigação de desastres naturais, pela rigorosa aplicação daquelas já existentes (tais como ocupação do solo) e pela criação de seguros oficiais que preencham a lacuna deixada por seguradoras privadas que não têm capacidade financeira para cobrir os “atos de Deus”.

É razoável exigir que as instituições financeiras cum-pram o papel que lhes reserva o artigo 192 da Consti-tuição Federal, de “promover o desenvolvimento equili-brado do país e a servir aos interesses da coletividade”. Para tanto, é necessário conciliar a oferta de serviços e de produtos financeiros diferenciados em condições ex-cepcionais de calamidades públicas com a viabilidade econômica das empresas que atuam no setor financeiro. A melhor maneira de fazê-lo é pela criação de incentivos e pela livre concorrência.

4.3. Licenciamento ambiental

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas voltadas para o aprimoramen-to da legislação que trata da concessão de licenças ambientais formuladas de maneira objetiva, com base em indicadores verificáveis, de modo a ga-rantir maior segurança jurídica e transparência nas transações que requeiram tais licenças. Para a CNF, a tramitação da concessão de licenças deve ocor-rer em um intervalo de tempo compatível com o financiamento e com a realização dos projetos. A Confederação sustenta que as instituições financei-ras não podem ser responsabilizadas pelos impac-tos ambientais de projetos cujo financiamento foi concedido mediante a apresentação de licenças e demais autorizações exigidas pelo Poder Público.

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O setor financeiro contribui para a busca da sustentabili-dade com suas práticas de negócio. As instituições financei-ras balizam a concessão de crédito pela Lei nº 6.938/1981, que estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente, e pelo compromisso assumido no Protocolo Verde. Os ban-cos signatários passaram a incluir entre os critérios de ava-liação dos riscos do financiamento, como condição para sua concessão, a verificação do cumprimento da legislação ambiental pelos potenciais tomadores. Para comprovar a regularidade dos projetos a serem financiados, os bancos passaram a exigir, entre os documentos para acesso ao crédito, a licença ambiental expedida pelo Poder Público. A medida propicia menores riscos de crédito e, consequen-temente, taxas, prazos e outras condições mais favoráveis a tomadores com responsabilidade socioambiental. Empre-sas que não atendem à legislação ambiental ou cujos pro-jetos apresentam potencial risco ao meio-ambiente passa-ram a ter dificuldades no acesso a crédito.

Em que pese à determinação da sociedade e das insti-tuições financeiras em promover a sustentabilidade e pre-servar o meio-ambiente, o rigor na avaliação de projetos com impacto ambiental deve ser conciliado com a neces-sidade de agilidade no processamento das informações, uma vez que processos excessivamente longos oneram as empresas e afetam sua competitividade.

O atrelamento da concessão de crédito à apresentação de licença ambiental impulsiona boas práticas e contribui para que projetos não sustentáveis ou agressivos ao meio ambiente sejam inviabilizados. Nesse contexto, as institui-ções financeiras não podem ser objetiva e solidariamente responsáveis por eventuais degradações causadas por ati-vidades que financiaram nos casos em que foram obtidas pelo solicitante do crédito todas as licenças ambientais e demais autorizações ordenadas pelo Poder Público.

4.4. Mercado de créditos de carbono

O Protocolo de Quioto (1997) estabeleceu uma cota máxima para cada país signatário emitir gases causa-dores de efeito estufa. No plano nacional, a redução de emissões pode ser alcançada por diferentes instrumen-tos, entre os quais se destacam a tributação de emissões acima de determinado patamar e a troca de reduções obtidas por uma empresa pelo excesso de emissões por outras. Diversos estudos demonstram que o custo social das trocas de emissões (cap-and-trade) é menor do que o da tributação dos excessos. Como o dióxido de carbo-no é o principal e mais disseminado dos gases que cau-sam efeito estufa, ganhou ímpeto a troca de reduções de sua emissão, por aqueles que ficam aquém de suas cotas, por moeda dos que emitem além de suas cotas, de tal forma que as emissões totais continuem dentro dos limites estabelecidos pelo Protocolo. A fim de atin-gir os objetivos de redução de forma mais eficiente, sem prejudicar o objetivo ambiental, foram adotados três me-canismos de mercado, também chamados “mecanismos de flexibilização”, a saber: Comércio de Emissões (CE), Implementação Conjunta (IC) e Mecanismo de Desen-volvimento Limpo (MDL), sendo este o único aplicável a países em desenvolvimento.

No mercado de carbono, criou-se um valor transacio-nável para a redução de emissões de gases (pelo princípio, cada tonelada de gás carbônico que deixar de ser emitida ou que for removida da atmosfera por um país poderá ser negociada no mercado mundial). Adicionalmente, para além do contexto do Protocolo, existem os chamados mercados voluntários - uma alternativa para projetos de menor escala, ou para países não signatários do Protocolo, ou para os que não precisem diminuir suas emissões. No entanto, a falta de padrões uniformes e de reconhecimen-to governamental formal são alguns desafios que preci-sam ser superados.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas de fortalecimento do mercado de transações com créditos de carbono que incen-tivem a transparência e a segurança jurídica dessas

transações. Essas propostas, voltadas, sobretudo, para a comercialização desses créditos, devem também contemplar questões de homologação de certificadores e de certificação de projetos, além de conferir papel acessório a medidas tributárias.

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53Capítulo 4 | Questões ambientais

Nesse contexto, diversos setores da economia bra-sileira têm discutido formas de impulsionar o mercado de créditos de carbono. Os debates enfatizam as incer-tezas jurídicas, a necessidade de alguma regulação e de uma padronização do mercado, bem como a falta de clareza nas definições dos projetos elegíveis. Também ressaltam a importância do papel das instituições fi-nanceiras como fomentadoras dos projetos de redução de emissões e intermediadoras do mercado domés-tico com o mercado internacional. Ao mesmo tempo em que foram projetadas tendências de crescimento

do mercado no futuro, mesmo pós-2012, registrou-se a necessidade de uma regulamentação mais clara que proporcione condições para esse crescimento, princi-palmente na América Latina.

Em dezembro de 2012, durante a Conferência de Doha, o Protocolo de Quioto, único plano juridicamente vinculante de redução de emissões, foi prolongado até 2020. Mais de 200 países concordaram em estender o Pro-tocolo até que um amplo tratado global seja negociado em termos mais concretos.

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reForMaS ESTRUTURAIS

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caPÍTuLo

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reForMaS ESTRUTURAIS

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57Capítulo 5 | RefoRmas estRutuRais

Não existe economia forte com setor financeiro fraco, tampouco há setor financeiro forte em economia frágil.

Para as instituições financeiras bem cumprirem seu papel de promotoras do crescimento econômico e do desenvol-vimento socioambiental, é importante que operem em um ambiente aberto e competitivo, que incentive a eficiência.

O Brasil passou por profundas mudanças estruturais desde a promulgação da Constituição de 1988, com im-pacto sobre a estrutura e o funcionamento do setor fi-nanceiro. Também o cenário internacional experimentou alterações radicais. Como pano de fundo, a globalização, que parecia um modismo há pouco mais de vinte anos, hoje é uma realidade concreta que afeta as vidas de mi-lhões de brasileiros, suas rendas, seus empregos e a ma-neira como consomem bens e serviços. No curto e médio prazos, a crise financeira internacional, que se instalou a partir do segundo semestre de 2007, reclama ajustes pro-fundos para que não seja comprometida a perspectiva do crescimento econômico do Brasil. Muito da legislação pre-videnciária, fiscal, trabalhista e sindical não acompanhou essas mudanças, o que pode vir a se tornar barreira para um ambiente de negócios eficiente e competitivo.

5.1. novo Modelo Previdenciário para novos Trabalhadores

5. reformas estruturaisA Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras acompanha com interesse propostas de re-formas estruturais nas legislações previdenciária, fiscal, trabalhista e sindical, voltadas para maior transparência nas relações contratuais, para maior segurança jurídica e para simplificação de procedi-mentos com vistas a conferir à economia brasileira mais eficiência e competitividade.

O Novo Modelo Previdenciário para Novos Trabalhado-res não constitui uma reforma da Previdência Social, uma vez que os direitos dos trabalhadores em atividade seriam preservados. Trata-se de uma proposta voltada apenas para os novos e futuros participantes da Previdência Social, do setor público ou privado, portanto ainda não incluídos no mercado de trabalho.

O modelo previdenciário brasileiro está consumindo a saúde financeira e, com ela, a própria capacidade de gera-ção de recursos do setor público. A despesa previdenciária caminha para a alarmante porcentagem de 16% do PIB, dos quais 12% no INSS e outros 4% nos regimes dos servi-dores públicos. Isso tem importantes consequências sobre a dívida pública, a taxa de juros, o nível de investimentos e as demais despesas do Estado, inibindo, por consequên-cia, o crescimento econômico e estabelecendo um círculo vicioso de estagnação que precisa ser rompido. As contas da previdência são agravadas pela rápida mudança demo-gráfica em curso e pelas baixas idades de aposentadoria.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia um novo modelo previdenciário para novos trabalhadores com: segregação entre Previ-dência e Assistência; segregação entre benefícios de risco e benefícios programáveis, sendo o finan-ciamento dos benefícios de risco em regime soli-dário e mutual; classificação dos benefícios progra-máveis, ou aposentadoria propriamente dita, base-ados em dois pilares: (a) de repartição e (b) de capi-talização; montagem de um planejamento atuarial rigoroso e realista; estabelecimento de um modelo

único e universal para todos os beneficiários da Pre-vidência Social; correção dos benefícios previdenci-ários e assistenciais por um índice de preços; e re-conhecimento dos direitos femininos. Para a CNF, a participação do setor privado na gestão de fundos previdenciários é essencial não só para conferir efi-ciência administrativa, mas também para introduzir referencial de preços (benchmark).

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58 AgendA do SetorFinanceiro2013

Quanto à previdência pública, em uma rápida compa-ração quantitativa internacional, observa-se que o Brasil, uma nação ainda jovem com menos de 7,5% de sua po-pulação acima de 65 anos, gasta quase 5% do PIB e pou-co menos de 15% da receita tributária com a Previdência dos servidores públicos. Nos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), as mesmas despesas variam de 0,8% a 3,5% do PIB e de 2,4% a 7,6% da arrecadação. Tomando-se um grupo de 26 paí-ses em desenvolvimento (excluindo o Brasil), os números variam de pouco menos de 0,5% do PIB a 2,4% e de 2,5% a 13% da arrecadação.

Seria um equívoco circunscrever a crise previdenciária ao mero combate ao déficit operacional. A solução pas-sa por um novo modelo previdenciário que possa não só contemplar os direitos de todos os que são assistidos pelo sistema atual como também abrir um horizonte mais am-plo para os trabalhadores que, no futuro, vierem a ingres-sar na Previdência Social.

Um grupo de especialistas escolhidos por diversas entidades representativas de segmentos econômicos e profissionais, após um exame mais profundo do quadro previdenciário brasileiro, ofereceu para debate uma série de itens que poderiam figurar na construção de um novo modelo previdenciário no Brasil. São eles:

» Segregação entre Previdência e Assistência;

» Segregação entre benefícios de risco e benefícios programáveis, sendo o financiamento dos benefí-cios de risco em regime solidário e mutual;

» Classificação dos benefícios programáveis, ou aposentadoria propriamente dita, baseados em dois pilares:

» (a) de repartição;

» (b) de capitalização.

» Montagem de um planejamento atuarial rigoroso e realista;

» Estabelecimento de um modelo único e universal para todos os beneficiários da Previdência Social;

» Correção dos benefícios previdenciários e assisten-ciais por um índice de preços; e

» Reconhecimento dos direitos femininos.

A segregação entre previdência e assistência visa a pre-servar as finalidades e características do sistema previdenciá-rio (horizonte de longo prazo e fontes de custeio contribu-tivas), em contraste com as políticas assistenciais do Estado (horizonte de governo e fontes de custeio não contributivas). Também a separação entre eventos de risco e eventos pro-gramáveis tem por objetivo distinguir as características e fon-tes de custeio próprias desses benefícios e lhes dar tratamen-to específico. A segregação deve ser completa, abrangendo a execução orçamentária e o registro contábil.

Esquematicamente, os benefícios assistenciais não con-tributivos assentam sobre um modelo de assistência social universal que independe de contribuições dos beneficiá-rios e, por isso mesmo, cabe ao Estado provê-los. Já os be-nefícios previdenciários são contributivos e assentam sobre dois modelos: os de risco e os programáveis. Os primeiros, que incluem doença, invalidez, maternidade, reclusão e pensão, continuariam a ser tratados em regime mutualista pelo INSS. Isso não significa que não haja necessidade de re-vê-los na busca de um melhor equilíbrio do ponto de vista de sua estrutura e gestão. Essa revisão, no entanto, não foi objeto da proposta do Novo Modelo Previdenciário, pois já vem sendo alvo de medidas no âmbito do Governo. Os ou-tros benefícios referem-se essencialmente à aposentadoria, cujo modelo repousa sobre a equivalência entre o valor do benefício e as contribuições do beneficiário.

A proposta de Novo Modelo Previdenciário prevê, quanto aos benefícios programáveis, três regimes:

» repartição (benefício definido)

» capitalização (contribuição definida)

» capitalização facultativa

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59Capítulo 5 | RefoRmas estRutuRais

No regime de capitalização facultativa, o beneficiário utilizará a Previdência Complementar, seja aberta ou fe-chada, conforme modelo já existente.

Os benefícios programáveis serão sustentados em duas bases. A primeira corresponde ao atual Regime Geral de Previdência Social e assentará, por sua vez, em outros dois pilares: um, com característica de be-nefício definido e em sistema de repartição (solidário e mutual); e outro, de contribuição definida durante o período trabalhado e em sistema de capitalização (contas individualizadas). A segunda base correspon-de à atual Previdência Complementar, aberta ou fe-chada, de caráter facultativo e que, por estar operan-do adequadamente, não é objeto do Novo Modelo da Previdência Social.

O projeto apresenta várias vantagens para o Brasil, en-tre as quais:

» a retomada de investimentos pelo Governo. Isso não se daria pela redução imediata das despesas previdenciárias, que só serão obtidas no longo pra-zo, mas pela possibilidade, no curto prazo, de uma queda mais significativa da taxa de juros no País, graças à percepção pelos agentes econômicos da redução do risco Brasil, e pelas perspectivas de atração de maior volume de investimentos estran-geiros para projetos de infraestrutura;

» menor resistência política. Como não se trata de uma reforma previdenciária, mas sim da criação de um novo modelo para os novos trabalhadores, a propos-ta não questiona nem suprime direitos adquiridos;

» inclusão social. Os trabalhadores poderiam ser incluídos nos benefícios do crescimento do País por meio da aplicação de parte de sua poupança previdenciária nas empresas geradoras da rique-za nacional;

» aumento da renda. Possibilidade de os trabalhadores obterem uma melhor remuneração na aposentadoria com a redução das obrigações do Estado brasileiro.

5.2. reforma trabalhista/sindical

Trabalhadores de todos os setores tanto mais se beneficiam quanto maior a taxa de crescimento da economia brasileira e mais acelerada a redução das desigualdades de renda. Em um cenário ideal, crescimento econômico e distribuição de renda caminham juntamente com proteção dos direitos trabalhistas, entre eles o de representação sindical. No cenário inverso, a exacerbação desmesurada de direitos trabalhistas aumentaria exageradamente os custos de contratação e reduziria tanto a oferta de emprego quanto o próprio crescimento econômico. Uma reforma trabalhista e sindical bem sucedida conseguiria lograr o equilíbrio entre, de um lado, crescimento econômico, geração de empregos e distribuição de renda e, de outro, cus-tos de contratação e proteção aos direitos trabalhistas.

No que diz respeito à reforma sindical, a CNF acom-panha com preocupação a proliferação de sindicatos sem representatividade, com consequente ampliação do nú-mero de dirigentes sindicais.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística registrou que “os resultados completos da Pesquisa Sindical 2001 revelam que, de 1991 a 2001, o número de sindicatos de

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras acompanha com grande interesse propostas de reforma trabalhista e sindical que assegurem a pro-teção dos direitos dos trabalhadores, entre eles o de representação sindical, sem implicar custos de con-tratação irrealistas e exorbitantes que prejudiquem a geração de empregos e o crescimento econômico. A CNF apoia propostas que não criem insegurança jurídica, presente sempre que dispositivos são redigi-dos de maneira genérica e vaga, sem limitação dos direitos e obrigações de empregados e empregado-res e sem previsão de sanção para o descumprimento por ambas as partes. Para a Confederação, propostas de reforma sindical devem estar sempre vinculadas a propostas de reforma trabalhista, de forma a tratar simultaneamente dos interesses de empregados e empregadores e de suas respectivas representações.

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trabalhadores no país cresceu 49%, enquanto o número de associados apresentou um aumento de 22%, o que levou à redução do tamanho médio dos sindicatos (de 2.104 para 1.720 associados)”. De fato, somente no período entre 1990 e 1996, foram criadas no Brasil 5.034 novas entidades sin-dicais de empregados e empregadores nos mais diversos setores da atividade econômica, o que levou à queda na taxa de sindicalização e à fragmentação dos sindicatos.

De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego, o país tem, hoje, quase 15 mil sindicatos, tanto patronais quanto de trabalhadores. Os sindicatos de trabalhadores representam 67,7% desse total (passaram de 8.256 em 2008 para 10.108 em fevereiro de 2013 – um crescimento de 22,4% no período). Já os sindicatos de empregadores representam 32,3% do total de sindicatos com registro ativo, tendo aumentado de 3.924 em 2008 para 4.822 em 2013 – um crescimento de 22,8%.

O quadro foi agravado pelo advento da Portaria nº 186/2008 do Ministério do Trabalho (MTE), que possibilitou a criação de mais de um sindicato na mesma base territorial, introduzindo a tendência de que mais sindicatos de peque-no porte sejam criados. As confederações patronais não re-conhecem a legalidade dessa Portaria Ministerial.

A fragmentação dos sindicatos está na origem de pro-postas de ampliação da representação sindical. A legislação atual assegura a estabilidade para até sete e, no mínimo, três membros da diretoria e um Conselho Fiscal, composto de três membros. Na visão da CNF, esse número de mem-bros é suficiente para a administração do sindicato que conta, inclusive, com um bom quadro funcional de técni-cos e assessorias para prestar assistência e defender os di-reitos dos seus sindicalizados. Assim, eventuais alterações na representação sindical deveriam ser tratadas no âmbito das negociações coletivas de trabalho, como já ocorre em diversas categorias que discutem e aceitam cláusulas que aumentam o número de dirigentes sindicais. A própria Con-venção 87 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que dispõe sobre a liberdade sindical e proteção do direito sindical, não alterou o número de dirigentes para a admi-nistração dos sindicatos, o que indica que a negociação co-letiva é a forma mais apropriada para solucionar a questão.

No que diz respeito à reforma trabalhista, a CNF identifica uma série de questões que poderiam ser objeto ou de regula-mentação por diploma legal, ou de negociação coletiva, com vistas ao estabelecimento de relações trabalhistas flexíveis, compatíveis com uma economia dinâmica e competitiva. En-tre essas questões estariam (numa relação não exaustiva):

» despedida arbitrária ou sem justa causa;

» participação nos lucros ou resultados;

» duração da jornada de trabalho;

» fracionamento de férias;

» proteção do mercado de trabalho da mulher;

» adicional de remuneração para as atividades peno-sas, insalubres ou perigosas;

» igualdade de direitos entre o trabalhador com vín-culo empregatício permanente e o trabalhador terceirizado; e

» multa sobre o fundo de garantia do tempo de serviço.

5.3. reforma Fiscal

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas para maior eficácia e transpa-rência do sistema tributário nacional, bem como para o equilíbrio das contas públicas. As instituições finan-ceiras acompanham propostas de reforma tributária, preocupadas com o aprimoramento de temas que vão muito além dos assuntos tópicos diretamente re-lacionados com suas operações. Para a CNF, projetos voltados para a modernização da legislação tributária deveriam, em princípio, evitar ser definitivos, o que lhes confere boa dose de realismo. A criação de novos tri-butos, bem como alterações no fato gerador, na base de cálculo e na alíquota daqueles já existentes, devem respeitar o princípio constitucional da isonomia; para tanto devem considerar resultados (ou receitas, ou lu-cros) e não a natureza da atividade econômica.

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61Capítulo 5 | RefoRmas estRutuRais

Há hoje várias distorções no sistema tributário brasilei-ro: a carga tributária de 35% do Produto Interno Bruto (PIB) não é compatível com a economia de um país em desen-volvimento; os mais de 85 tributos não são administráveis por pequenas e médias empresas; as alíquotas elevadas não são proporcionais às bases tributárias reduzidas; e a superposição de impostos sobre a cadeia produtiva não afeta aqueles que podem contribuir mais.

Para agravar esse quadro, propostas de reforma tribu-tária examinadas no passado incorporaram uma percep-ção equivocada que introduz insegurança jurídica. Essa percepção é a de que o sistema financeiro extrai lucros exagerados dos demais setores da economia mediante a imposição de taxas de juros excessivas. Como corolário, o setor deveria estar sujeito à tributação adicional, mes-mo que esta seja inconstitucional e gere incertezas sobre uma futura extensão da diferenciação a outros segmen-tos, não por sua lucratividade ou resultado – base do tri-buto – mas sobre sua atividade.

A noção de que as instituições financeiras obtêm resultados exagerados vem da publicação do valor ab-soluto de lucros das empresas do setor. Essa divulgação raramente é acompanhada de informações sobre lucra-tividade, que permitiria comparar o setor financeiro com outros segmentos da economia brasileira e com os de outros países. Contudo, as instituições financeiras brasi-leiras não apresentam lucratividade excepcional quando cotejadas com as de outros setores e de outros países.

Essa percepção equivocada de lucratividade exagera-da deriva, em boa medida, do fato de os bancos brasileiros atuarem em um ambiente de elevadas taxas de juros. Po-rém, os bancos não fazem os juros, talvez fosse mais certo dizer que os juros fazem os bancos. O juro é o preço que paga o tomador pela escassez do crédito, pela cunha fiscal e pelo desajuste nas contas fiscais do setor público. O se-tor financeiro não obtém lucros por meio de altas taxas de juros. Na verdade, os lucros são obtidos a partir da diferen-ça entre taxa de captação e taxa de repasse de recursos. Quanto maiores as taxas de juros, maior o risco de inadim-plência, maiores as provisões necessárias para cobrir esse risco e menores os resultados.

Lucro alto não significa grande lucratividade – a medi-da de desempenho de qualquer empresa ou setor. Porém, a percepção equivocada dos resultados de instituições fi-nanceiras, em que o lucro absoluto é confundido com a lucratividade relativa, conduz às propostas de tributação diferenciada do setor. A rentabilidade do setor financeiro depende menos do patamar das taxas de juros e mais da estabilidade econômica com justiça fiscal. Para as institui-ções financeiras, o País fará grande avanço se vier a adotar sistema compatível com padrões internacionais de tribu-tação, com redistribuição da carga tributária e adoção do princípio da progressividade, preservados a renda, o patri-mônio e o consumo como base referencial de tributação. A simplificação, desburocratização e estabilidade da legis-lação tributária, com a redução da tributação em cascata, aumentariam a competitividade.

A discriminação tributária de um setor contraria os princípios da capacidade contributiva e da isonomia, ambas limitações constitucionais ao poder de tribu-tar. A Constituição vincula a “capacidade econômica” ao patrimônio, rendimentos e atividades econômicas do contribuinte (Constituição Federal, art. 145, §1º), não ao setor em que este opera. Tal contribuinte está sujei-to apenas a impostos, não aos demais tributos (taxas, contribuições de melhoria, contribuições e empréstimos compulsórios). Ademais, está sujeito apenas a impostos pessoais, isto é, àqueles que incidem sobre bens, receitas e operações. O princípio da isonomia tributária (CF, art. 150, II), por sua vez, busca a igualdade na lei e a igual-dade perante a lei, ao dar tratamento desigual aos que são juridicamente desiguais. A Constituição cria exce-ções ao princípio da isonomia, tais como os incentivos fiscais para desenvolver determinadas regiões, regime tributário favorecido para microempresas e empresas de pequeno porte, além da possibilidade de discriminar en-tre ramos de atividade econômica por motivo extrafiscal, desde que a distinção seja razoável (como é o caso da isenção de IPI para taxistas e deficientes físicos). Porém, não menciona exceções para setores específicos.

A cobrança diferenciada poderia se justificar somente pela adoção de alíquotas maiores em função do lucro ou da lucratividade, para todos os setores da economia. O lucro já

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62 AgendA do SetorFinanceiro2013

é um critério adequado e justo para diferenciar contribuin-tes com capacidade contributiva mais elevada, para fins de incidência do IRPJ. No caso do setor financeiro, ademais do desestímulo à produtividade, a tributação diferenciada não corresponde a uma lucratividade maior do que a de outros setores, mas pode introduzir insegurança jurídica, uma das raízes das elevadas taxas de juros no Brasil.

A CNF propõe o aperfeiçoamento do dispositivo que estabelece obrigatoriedade de lei complementar para criação de novos tributos, para que determine que a carga tributária dos impostos contemplados seja, ao final do pe-ríodo de transição, no máximo igual à do ano anterior às al-terações promovidas pela proposta. Para a Confederação, qualquer aumento de arrecadação deveria ser esterilizado, de modo a não financiar novas despesas, pela redução das alíquotas. A CNF também defende a preservação dos prin-cípios da anterioridade e da noventena, que são indispen-sáveis para assegurar a proteção do contribuinte, ademais da vedação ao uso de medidas provisórias em questões de natureza tributária. Propõe a redução do número de tributos e da burocracia para seu recolhimento. Numa re-lação não exaustiva, a CNF advoga: constitucionalização das regras do ISS, de forma que sejam estabelecidas, por lei complementar, regras uniformes para todos os muni-cípios (notadamente no que se refere à base de cálculo, alíquota, lista de serviços, titularidade ativa, responsabili-dade tributária, local do pagamento e obrigações acessó-rias); unificação da legislação do ICMS; desoneração dos investimentos; estímulo às exportações ao determinar o recolhimento do ICMS para o Estado de destino; elimina-ção do regime cumulativo do PIS e da Cofins; e a extinção da Cide-combustíveis e do Salário-Educação.

5.3.1. controle dos gastos públicos – Lei de responsabilidade Fiscal

O controle dos gastos públicos é compromisso funda-mental do Estado com os contribuintes, não só para evitar desperdício de recursos escassos, mas também para asse-gurar a qualidade desses gastos e sua destinação corre-ta. É um dos instrumentos de atuação contra a inflação e um dos alicerces da cidadania. Esse controle ganhou rigor com a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que representou um dos maiores avanços institucionais do Estado brasileiro e foi fundamental para a estabilidade econômica que permite ao Brasil trilhar a rota do cresci-mento sustentado.

A Lei Complementar nº 101/2000 regulamenta o artigo 163 da Constituição. Desde sua aprovação, a LRF coexiste com forças antagônicas. De um lado, os con-tribuintes brasileiros percebem os benefícios de uma gestão fiscal pautada pelo respeito a limites financeiros e orçamentários que impede entes do setor público de recorrer ou à União ou a fontes inflacionárias para cus-tear desequilíbrios. De outro, entes públicos pressionam para reduzir esses limites financeiros e orçamentários e retomar velhas práticas que contribuíram para o período inflacionário, recorrendo muitas vezes ao eufemismo da “flexibilização” da LRF. No Congresso Nacional, há propo-sições nesses dois sentidos.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia projetos voltados para a consolidação da Lei de Responsabilidade Fiscal e para o estabeleci-mento de limites financeiros e orçamentários claros

e verificáveis para os três níveis de Governo – União, Estados e Municípios – além de empresas estatais, como instrumento de controle dos gastos públi-cos. A CNF repudia eufemismos como “flexibiliza-ção da LRF”, que representam retrocesso no grande avanço institucional que logrou a cidadania com a aprovação da Lei Complementar nº 101/2000.

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63Capítulo 5 | RefoRmas estRutuRais

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eFiciÊncia econÔMica

E COMPETITIVIDADE

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67Capítulo 6 | EFICIÊNCIA ECONÔMICA E COMPETITIVIDADE

A eficiência econômica é um dos princípios que nor-teiam a operação das empresas, em geral, e das ins-

tituições financeiras, em particular. Trata-se de otimizar o emprego de recursos escassos para obter os mesmos – ou melhores – resultados. O recurso escasso mais evidente, para os setores público e privado, é a poupança, sem a qual não se materializa o correspondente investimento. Para o setor financeiro, porém, outro importante recurso escasso é o tempo – muitas vezes desbaratado em procedimentos burocráticos. Também o espaço ocupado por instalações e arquivos tem impacto sobre eficiência econômica.

A eficiência econômica está estreitamente vinculada à competitividade. Empresas - entre elas instituições finan-ceiras – que desperdiçam recursos escassos em operações que não buscam alcançar objetivos estratégicos tendem a ser menos competitivas e a desaparecer.

6.1. concentração bancária

Para o setor financeiro bem desempenhar seu papel e melhor atender aos consumidores, é fundamental a ma-nutenção de um ambiente de negócios competitivo, em que a concorrência estimule o contínuo aprimoramento de produtos, serviços e procedimentos. Frequentemente o setor financeiro, em geral, e o bancário, em particular, são

6. eficiência econômica e competividade A Confederação Nacional das Instituições Financei-

ras apoia propostas voltadas para a otimização do emprego de recursos escassos, tais como poupan-ça (que financia investimentos), tempo e espaço físico, para a simplificação de procedimentos e para o fortalecimento da supervisão do uso desses re-cursos sempre que envolverem bens públicos.

descritos como mercados oligopolizados avessos a essa concorrência. Essa avaliação não se sustenta em fatos.

Aumentou, no passado recente, a percepção equivo-cada de que o mercado financeiro brasileiro tornou-se menos competitivo por causa da maior concentração bancária. De fato, na esteira da crise financeira interna-cional, verificou-se um conjunto de acontecimentos que dão margem a essa avaliação apressada. Ocorreram im-portantes operações de fusão entre grandes instituições, tais como entre ABN Real e Santander, Itaú e Unibanco, além de Banco do Brasil e Nossa Caixa. Os bancos públicos adotaram política de concessão de crédito mais agressiva como parte de uma política anticíclica voltada para a mi-tigação dos efeitos da crise. Ademais, bancos com menor número de agências, de pequeno e médio portes, vende-ram carteiras de crédito ou para bancos maiores, ou para o Fundo Garantidor de Créditos, para se capitalizar e fazer frente a desafios de liquidez. Contudo, os mais diferentes indicadores de mercado não apontam, no Brasil, que a concentração bancária seja superior à de outros países ou traga ineficiência ao sistema.

Trabalhos acadêmicos não estabelecem qualquer rela-ção entre medidas de concentração bancária e taxas de empréstimo ou spread bancário. São estudos como os de Eduardo K. Tonooka Sérgio M. Koyama (“Taxa de juros e concentração bancária no Brasil”, 2003) e os de Simone Miyuki Hirakawa e Rodrigo De Losso da Silveira Bueno (“Does Location Matter to Explain Loan Interest Rates? Evi-dence from Brazilian Local Banking Markets”, de 2009). No portal do Banco Central, está disponível estudo de Márcio

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas voltadas para aumentar a com-petitividade no setor financeiro, desde que não coloquem em risco a higidez do sistema e sejam lastreadas em sólidos fundamentos técnicos e em extensa pesquisa sobre estruturas de mercado.

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68 AgendA do SetorFinanceiro2013

I. Nakane que elenca e sumariza os trabalhos relevantes nessa área (“Concorrência e Spread Bancário: uma Revisão da Evidência para o Brasil”, no endereço eletrônico: http://www.bcb.gov.br/).

Nesses estudos sobre o setor bancário brasileiro, a evi-dência disponível aponta para um setor em que o grau de concorrência é bastante elevado. Os testes rejeitam as estru-turas extremas de cartel e de concorrência perfeita, concluin-do, desta forma, que estruturas imperfeitas de mercado são as que melhor caracterizam este setor. Estimativas pontuais indicam uma situação mais próxima à competitiva que à cartelizada. Também não há evidências de que os níveis de concentração no segmento bancário brasileiro resultem em uma rentabilidade fora dos padrões internacionais.

6.2. Lucro e rentabilidade bancária

Do início da década até a crise financeira internacional, o mundo passou por um período de grande crescimento e ampliação dos lucros por parte das empresas. O Brasil também foi beneficiado por esse cenário.

A percepção equivocada de que os bancos obtêm resultados exagerados vem da publicação do valor abso-luto de lucros das empresas do setor. Não há sentido em se comparar lucros nominais de diferentes setores da eco-nomia, até porque as empresas desses setores apresentam portes muito variados. Uma vez que se encontram no setor financeiro algumas das maiores empresas do país, é natural que seus lucros nominais estejam também entre os maio-

res. Em outros setores, como os de mineração e de energia, também há empresas de grande porte, que apresentam os maiores lucros do Brasil, sem que se qualifiquem tais lucros como exorbitantes. Para bem comparar o desempenho de diferentes setores da economia, há que se recorrer a um critério homogêneo, aplicável a todos indistintamente. Esse critério é o da rentabilidade, isto é, o da razão entre lucro e patrimônio líquido. As instituições financeiras brasileiras não apresentam lucratividade excepcional quando coteja-das com as de outros setores e de outros países.

Comparados com outros setores da economia, os ban-cos, ao contrário do que se acredita, não são os mais rentá-veis. Uma boa fonte para essa comparação é o ranking tri-mestral de rentabilidade setorial da Austin, agência classifi-cadora de risco. Segundo este levantamento, no 3º trimestre de 2012, com rentabilidade anualizada de 13,5%, os bancos foram o 10º setor mais rentável. Outra fonte de dados que corrobora este dado é a publicação Valor 1000. No último levantamento do Valor Econômico, feito em 2010, os ban-cos ocuparam a 12ª posição, com rentabilidade de 16,1% (o primeiro colocado, bebidas e fumo, apresentou rentabilida-de de 32,9%). Acredita-se que no próximo levantamento os resultados não serão diferentes. Diferentemente de outros setores, as instituições financeiras não podem determinar sua estrutura de capital e, com isto, alterar a rentabilidade sobre o patrimônio líquido, uma vez que estão sujeitas a li-mites de capital em função do Acordo de Basileia. Ademais, a rentabilidade entre os bancos varia conforme o segmento e é bastante dispersa entre as instituições.

Também ao contrário do que se propaga, os bancos brasileiros não são os mais rentáveis do mundo. Percebe-se isso intuitivamente pelo fato de que não há notícia de corrida de grandes bancos internacionais para o mercado brasileiro. Ao contrário, inúmeros grandes conglomerados, multinacionais ou regionais, mantêm suas operações em outros mercados tão ou mais rentáveis do que o brasileiro. Em 2010, a rentabilidade média dos maiores bancos brasi-leiros (de 16,1%) ficou abaixo da rentabilidade média dos bancos de países como o Chile (17,9%), México (19,9%), Espanha (21,5%), Turquia (22,4%), Austrália (22,7%), China (25,1%), África do Sul (30,2%), Indonésia (30,7%), Colômbia (31,4%) e Peru (52,5%).

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia projetos que, ao tratar da tributação de setores diversos, recorram a um critério homogêneo, aplicá-vel a todos indistintamente e não se fundamentem na percepção equivocada de que as empresas do setor financeiro auferem lucros excessivos e, por essa razão, devam ser desproporcionalmente oneradas, inclusive pela imposição de tributos excepcionais de constitucionalidade questionável.

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69Capítulo 6 | EFICIÊNCIA ECONÔMICA E COMPETITIVIDADE

6.3. correspondentes não bancários

Correspondentes não bancários (chamados impro-priamente de “correspondentes bancários”) são estabele-cimentos contratados por instituição financeira, segundo previsto pelas Resoluções do Conselho Monetário Nacio-nal (CMN) nº 3.954 e 3.959, ambas de 2011, para a presta-ção de determinados serviços básicos tais como saques, pagamentos, cobranças, depósitos, etc. São correspon-dentes não bancários as casas lotéricas, agências dos cor-reios, farmácias, supermercados, entre outros.

Surgiram no país no início na década passada como alternativa aos tradicionais espaços bancários e já de-sempenham um importante papel no desenvolvimento socioeconômico. Entre os benefícios propiciados pela sua atuação, destaca-se o maior acesso da população aos serviços financeiros, especialmente das regiões mais afastadas, desempenhando função transformadora nessas economias. Os correspondentes destacam-se pela quanti-dade absoluta de pontos de atendimento, pelos indicado-res demográfico e geográfico e por sua capilaridade. Dos mais de 255 mil pontos de atendimento no país, 161 mil são de correspondentes. Depois de um crescimento acen-tuado por 10 anos, o número de correspondestes come-çou a se estabilizar a partir de 2011. A queda neste ano (de 165 mil correspondentes em 2010 para 161 mil em 2011: -2,5%) se deve, entre outros aspectos, à Resolução CMN nº 3.954/2011, que alterou e consolidou as normas que dis-põem sobre a contratação de correspondentes. Todavia, em termos de capilaridade, pode-se considerar que não há, no país, município algum sem ponto de atendimento de correspondente.

Aposentados e pensionistas da Previdência Social, sobre-tudo em localidades mais distantes, são especialmente be-neficiados pela existência de uma rede de correspondentes.

As resoluções do CMN tratam da contratação de corres-pondente por bancos e não da atividade de correspondente em si, que é regulada por normas de direito privado. Apesar de serem contratados pelos bancos, os correspondentes não bancários não se equiparam às instituições bancárias, tam-pouco seus funcionários pertencem à categoria laboral dos bancários. Primeiro, porque o correspondente não se inclui entre as instituições autorizadas a operar pelo Banco Central e, por essa razão, não está sob a competência regulatória e supervisora dessa autarquia. O artigo 18 da Lei nº 4.595/1964 reza que: “as instituições financeiras somente poderão funcio-nar no país mediante prévia autorização do Banco Central da República do Brasil ou decreto do Poder Executivo, quando forem estrangeiras”. Em segundo lugar, porque o Conselho Monetário Nacional, em seu poder regulamentar, não auto-rizou banco a contratar correspondente para prestar serviço que se confunda com sua atividade privativa, qual seja inter-mediação financeira. Correspondentes não bancários não captam recursos tampouco concedem empréstimos, que são atividades privativas de bancos. As relações contratuais - abertura de conta, depósito e mútuo - são entre banco e usuário. Ao contratar o correspondente, o banco não o sub-contrata para realizar intermediação financeira, não havendo terceirização de atividade-fim.

Cuida-se aqui de uma atividade acessória, visto que a atividade principal acha-se ligada ao objeto social do estabelecimento comercial que abriga as funções de cor-respondente. O correspondente não faz intermediação financeira. Já no caso dos bancos, a atividade principal – privativa de instituição financeira – é a do artigo 17 da Lei nº 4.595/1964, que define instituição financeira como “pessoas jurídicas públicas ou privadas, que tenham como atividade principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros”.

Os serviços dos denominados correspondentes limi-tam-se a receber e repassar, pois a análise das operações,

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a expansão e o fortalecimento da rede de correspondentes não bancários como importante instrumento de ban-carização, que não os equiparem aos bancos para fins legais e que não lhes atribuam as funções e obrigações típicas de bancos, inclusive no que toca aos dispositivos de segurança.

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assim como a efetiva abertura e movimentação de contas, continua sendo formalizada pelas instituições financei-ras. A Resolução n° 3.954/2011 é taxativa ao prever que empresa contratada como correspondente está sujeita à penalidade prevista na Lei nº 4.595/1964, caso venha a praticar operação privativa de banco.

Persistem equívocos no tratamento de corresponden-tes não bancários como se bancos fossem, sobretudo nas questões que envolvem segurança. O fato de receberem e de repassarem valores implica riscos de segurança me-nores do que os incorridos pelos bancos – que mantém depósitos em dinheiro vivo e em valores, bem como a gestão de sistemas computadorizados que gerenciam e transferem valores. A exigência de que farmácias, super-mercados, agências de correio e casas lotéricas passem a contar com dispositivos de segurança exclusivos de ban-cos por força da Lei nº 7.102/1983, tais como vigilantes armados e portas giratórias, representa pesado ônus nas operações e a inviabilização da expansão da rede de aten-dimento. No limite, tais ônus podem significar o retorno da população por eles atendida à marginalidade no aces-so a pagamentos e recebimentos de valores. Ademais, a Lei nº 7.102 obriga a instalação em estabelecimentos fi-nanceiros e não em locais onde haja movimentação de numerário. Se assim o fosse, supermercados deveriam ter porta giratória. Determinante à aplicação desta lei é ser estabelecimento classificado como financeiro; para tanto, deve prestar intermediação financeira.

6.4. digitalização / arquivamento de documentos

“Digitalização” é o processo de conversão de dados de um suporte analógico para o suporte digital, que permite maior fidelidade de reprodução e maior flexibilidade para buscas, além de rapidez na atualização dos dados arma-zenados e possibilidade de compartilhamento de infor-mações a um número maior de interessados. Trata-se aqui de documentos digitalizados a partir de um documento original em outro suporte, o que não incluiria documen-tos gerados já em meio digital. A atividade econômica res-sente-se da ausência de regulamentação da digitalização de documentos, seu armazenamento em meio eletrônico (ótico ou digital) e a reprodução daqueles que foram ar-quivados (públicos e privados).

A microfilmagem, com armazenagem em fotogramas da forma e do conteúdo de documentos, aproxima-se da digitalização em seus propósitos. Seu uso já tem mais de quarenta anos: a Lei nº 5.433/1968 permitiu aos Cartórios de Registro de Títulos e Documentos efetuar seus registros por esse meio, o que trouxe maior segurança e agilidade aos processos.

Uma das questões-chave de processos de digitaliza-ção é o emprego de certificado digital emitido no âmbito da Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil) para documentos originalmente elaborados em meio eletrônico, de maneira a terem eficácia perante terceiros, inclusive o Judiciário.

A regulamentação da digitalização de documentos não alteraria nenhuma das legislações específicas vi-gentes. Por exemplo, em nada afetaria as atividades e as competências tanto dos tabeliães de notas e de protesto quanto dos cartórios de registro civis, de pessoas naturais ou jurídicas, de títulos e documentos e de imóveis, na me-dida em que o meio ótico ou digital simplesmente subs-tituiria o suporte em papel dos atos e negócios jurídicos, que continuariam regulados pelas mesmas normas.

O PLC n° 11/2007 deu origem à Lei n° 12.682/2012, que dispõe sobre a elaboração e o arquivamento de documen-tos em meios eletromagnéticos, teve seus artigos 2º, 5º e 7º vetados pela Presidência da República. Esses artigos, no geral, garantiam a equivalência jurídica, para todos os fins,

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas que confiram segurança jurídi-ca aos atos e negócios que envolvam documentos digitalizados ao dar a estes o mesmo valor jurídico dado aos documentos originais. Para a CNF, esse propósito seria atingido pela adequação da atual legislação que trata de microfilmagem a novas tec-nologias de reprodução de imagem, dispensado o registro notarial.

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71Capítulo 6 | EFICIÊNCIA ECONÔMICA E COMPETITIVIDADE

da cópia em meio eletrônico de um documento em rela-ção ao original firmado em papel, de forma a ser possível destruí-lo, antes de transcorridos os prazos prescricionais, sem perda de valor probatório.

Motivou os vetos o argumento de que tais dispositi-vos ensejariam insegurança jurídica. Ademais, sustentou-se que as autorizações para destruição dos documentos originais logo após a digitalização e para eliminação dos documentos armazenados em meio eletrônico, óptico ou equivalente não observam o procedimento previsto na legislação arquivística.

Com os vetos a tais dispositivos do PLC nº 11/2007, afastou-se o principal objetivo do projeto aprovado pelos congressistas, qual seja: redução da utilização do papel em favor das novas tecnologias e redução da burocracia, que representariam um avanço para as empresas brasileiras e para o meio ambiente.

6.5. desoneração da folha de pagamentos

Proposta de desoneração dos tributos que incidem so-bre a folha de pagamentos das empresas levam em conta o impacto positivo que esta poderia ter na ampliação da competitividade das empresas brasileiras frente ao resto

do mundo, na eliminação dos gargalos ao processo de de-senvolvimento e na geração de empregos formais.

Todas as contribuições que incidem sobre a folha de sa-lários financiam importantes políticas públicas. É o caso dos 20% para a Previdência Social; 8% para o FGTS; 3,1% para o Sistema “S”; 2,5% para a educação; 2% para o seguro aciden-tes; entre outros.

Uma das principais propostas em debate sugere a re-dução da contribuição descontada hoje para a Previdên-cia, de forma gradativa, em 2% ao ano até que se atinja uma queda de cerca de 6%. Assim, a carga sobre a folha de pagamentos passaria dos atuais 20% para 14%.

A medida traz, porém, algumas resistências visto que pode prejudicar a arrecadação da Previdência e desestru-turar sua sustentação. Nas avaliações apresentadas esti-ma-se que cada ponto percentual de desoneração signifi-ca um impacto de R$ 4 bilhões nas contas da Previdência. Para evitar reduções sensíveis no seu recolhimento e a perda de sua sustentabilidade no longo prazo, estudam-se outras fontes para compensar a desoneração da folha de pagamentos.

Como fontes alternativas há basicamente três suges-tões: (a) cobrar contribuição sobre o lucro ou faturamento; (b) retornar com a CPMF; ou (c) simplesmente não cobrar compensação, esperando um aumento de receitas por meio da expansão do crescimento econômico com maior formalização do emprego.

Quanto à transferência da base de incidência das con-tribuições previdenciárias para o faturamento, alguns se-tores (têxtil, de móveis, calçadista e de Tecnologia de In-formação) já vêm sendo beneficiados pela medida desde dezembro de 2011, em razão do Plano Brasil Maior. Essas empresas deixaram de recolher a contribuição patronal ao INSS (alíquota de 20%) em troca de uma tributação que incidirá sobre o faturamento. Os setores calçadista, de móveis e têxteis passaram a recolher à alíquota de 1% e o de TI, 2%. Os primeiros resultados sugerem que a carga tributária sobre as empresas não seria de fato reduzida e determinados setores seriam beneficiados em detrimento

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que desonerem a folha de pagamentos e efetivamente estimulem a compe-titividade das empresas e a geração de empregos formais. Para a CNF, as perdas de arrecadação pre-videnciária decorrentes da desoneração poderiam ser compensadas pelo Tesouro Nacional e pelo cor-te, por parte do Governo, de outras despesas em valor igual ao transferido para a Previdência; pela contabilização da aposentadoria rural como bene-fício social ou outra forma de transferência de ren-da, de natureza orçamentária; pela manutenção do fator previdenciário; e pela introdução da previdên-cia complementar para servidores públicos.

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de outros. Os setores industriais e de serviços, que utilizam intensamente mão-de-obra, seriam mais desonerados.

Penalizar proporcionalmente mais as empresas inten-sivas em tecnologia e beneficiar as intensivas em mão-de-obra pode criar sérios desequilíbrios econômicos e retirar a competitividade precisamente dos segmentos que ado-tam tecnologia mais avançada, além de ferir o princípio da isonomia tributária (artigo 150, inciso II da CF). Ademais o faturamento das empresas já é onerado, de modo direto ou indireto, pelo ICMS, IPI, ISS, PIS, Cofins, IRPJ e CSLL.

Quanto à recriação da CPMF, esta sofre intensa oposi-ção de consumidores, da maior parte do empresariado e de segmentos do próprio Governo.

Já a última sugestão fundamenta-se em pesquisas que apontam que a redução da carga tributária total sem compensação seria a de melhor resultado no longo prazo, causando variação positiva de 5,3% no emprego formal. A desoneração com compensação, por sua vez, não altera o total de encargos que recaem sobre o empregador e apre-senta resultados de longo prazo mais modestos - causando o aumento, no melhor cenário, de 1,9% no emprego formal.

No âmbito do Ministério da Fazenda foi instituída pelo De-creto nº 7.711/2013 a Comissão Tripartite de Acompanhamen-to e Avaliação da Desoneração da Folha de Pagamentos, for-mada por representantes do Governo Federal, dos trabalhado-res e empresários. A Comissão desenvolverá as atividades de acompanhamento e avaliação da efetividade da desoneração tributária da folha de pagamentos nos setores beneficiados, com base nos seus impactos econômicos, podendo conside-rar a geração de emprego e renda, a formalização do trabalha-dor, a competitividade, a arrecadação tributária, o desenvolvi-mento setorial, a capacitação e a inovação tecnológica.

6.6. desburocratização -Simplificação do registro e Legalização de empresas e negócios

O desafio de uma administração pública moderna é adotar procedimentos simples, rápidos e baratos, sem afe-tar negativamente a segurança jurídica. A burocracia ine-ficiente tem impacto sobre a atividade econômica na me-dida em que subtrai recursos escassos, tais como disponi-bilidades financeiras e tempo, desvia recursos produtivos para áreas não produtivas e incentiva a informalidade.

O Brasil aparece em posição desconfortável no relatório “Fazendo Negócios 2013” (Doing Business 2013) do Banco Mundial. Em um total de 185 países pesquisados, o Brasil apa-rece na 130ª posição no quesito “facilidade para fazer negócios” (em 2012, ocupava a 126ª posição). Para iniciar um novo negó-cio, o Brasil exige em média treze procedimentos distintos e consome 119 dias (a quinta pior posição da lista, atrás apenas da Guiné Equatorial, Venezuela, Congo e Suriname). No que-sito “alvará para construções”, o Brasil é o 131º país da lista. Já no quesito “facilidade para pagar tributos”, o Brasil ocupa a pior posição do ranking, por demandar 2.600 horas por ano.

Entre as exigências burocráticas que oneram a vida empresarial e individual, destaca-se o processo desgas-tante de obtenção de certidões negativas, que envolve desde comparecimento a diversas repartições públicas à inobservância de prazos pelas autoridades. Tal processo dificulta o livre exercício da atividade empresarial e acar-reta perdas substanciais à economia, na medida em que a certidão negativa se tornou pré-requisito para a maioria dos atos importantes da atividade empresarial.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a introdução de procedimentos simples, rápidos e baratos que

poupem recursos da sociedade e que os direcio-nem para atividades produtivas, sem transferir para entes privados os ônus próprios do setor público. Entre os procedimentos burocráticos, a CNF des-taca a exigência de variadas e excessivas certidões negativas, dispositivos cartoriais incluídos em diver-sas propostas e obrigatoriedade de manutenção e publicação de documentos em meios físicos. Tais processos constrangem o livre exercício da ativida-de empresarial e, embora tenham a pretensão de criar maior segurança e transparência, não trazem qualquer desses benefícios.

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73Capítulo 6 | EFICIÊNCIA ECONÔMICA E COMPETITIVIDADE

O Comitê para Gestão da Rede Nacional para a Sim-plificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios (CGSIM/MDIC) é um órgão colegiado, presidido pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), que tem a finalidade de atuar na desburo-cratização de registro e legalização de empresas. De gran-de relevância estratégica, o Comitê participa dos debates relacionados à modernização dos processos de registro mercantil, como uma forma de estimular o empreende-dorismo e a competitividade das empresas brasileiras, re-duzindo os custos decorrentes do excesso de burocracia. O CGSIM trata, por conseguinte, de questões que repercu-tem nas instituições financeiras.

A CNF acredita que é importante a participação das Confederações nos trabalhos desenvolvidos pelo CGSIM. Estas poderão fomentar de maneira significativa os deba-tes que visem à compatibilização, integração e harmoniza-ção das regras e procedimentos do registro mercantil, de modo a evitar duplicidade de exigências, garantir a lineari-dade do processo e aperfeiçoar a eficiência dos trabalhos, para estimular o empreendedorismo e a competitividade das empresas brasileiras, reduzindo os custos decorrentes do excesso de burocracia.

6.7. duplo registro

Tramitam no Congresso Nacional projetos de lei que podem afetar as operações de financiamento de compra de veículos ao tornar obrigatório o registro dos contratos de alienação fiduciária junto aos cartórios de títulos e do-cumentos e ao regulamentar baixa de gravame. Para tan-

to, propugnam, entre outras, alteração no novo Código Civil, em que é clara a distinção, no artigo 1.361, entre uma norma geral para constituição da propriedade fiduciária (que obriga o depósito do contrato no Registro de Títulos e Documentos do domicílio do devedor) e outra especial (que constitui a propriedade fiduciária de veículo pelo seu registro na repartição de licenciamento). Para o compra-dor, não haveria mais a norma especial: a constituição da propriedade fiduciária de veículos dependeria do registro do contrato no cartório e também na repartição compe-tente para o licenciamento. O chamado “duplo registro”.

A Deliberação nº 77/2009 e a Resolução nº 320/2009, do CONTRAN, e as Leis nº 11.795/2008 e n° 11.882/2008 dispensam nas operações realizadas com veículos auto-motores da obrigatoriedade do registro dos contratos nos Cartórios de Títulos e Documentos. Contudo, existem re-gulações de órgãos estaduais que são divergentes entre si, razão pela qual se deve buscar a harmonização das regras de registro de veículos em todo o território nacional.

O principal argumento para a reintrodução do duplo registro é o da segurança jurídica: o registro notarial assegu-raria tanto o arquivamento do ato quanto a disponibiliza-ção para o consumidor de cópia do contrato de alienação fiduciária. O registro em repartição competente (DETRAN) atende plenamente aos requisitos de arquivamento, como indica a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:

O registro no órgão de licenciamento faz as vezes do arquivo no Cartório de Títulos e Documentos (RTD), por isso que, mercê de a exigência de duplo registro revelar odiosa imposição, afronta o princípio da razoabilidade, posto impor desnecessário bis in idem, máxime à luz da interpretação autêntica levada a efeito pelo novel artigo 1.361 do Código Civil (Ministro Luiz Fux).

A entrega de cópia do contrato, por sua vez, é regra obriga-tória sedimentada no setor financeiro (ver 2.8 – Contratos).

Para as instituições financeiras, o duplo registro afe-ta não só medidas de redução do custo do dinheiro, mas também a melhoria da qualidade do crédito e do atendimento prestado aos clientes e consumidores.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas voltadas para a efetividade jurí-dica exclusiva do registro de alienação fiduciária de veículo em repartição competente de licenciamen-to para evitar o duplo registro dessa alienação tam-bém em repartição notarial, que aumenta o ônus para os consumidores sem acrescentar segurança jurídica à relação contratual.

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6.8. Territorialidade

Discute-se no Congresso Nacional a obrigatoriedade da observância do princípio da territorialidade nas notifi-cações e demais comunicações realizadas pelos serviços de registro de títulos e documentos. O argumento fun-damental é o de que a territorialização dos atos notariais asseguraria a publicidade destes. Se tal princípio vier a ser adotado, os cidadãos passarão a registrar documentos e a realizar outros serviços notariais em mais de um cartório, em diferentes Municípios, em todo o território nacional.

O cerceamento do direito de defesa não ocorre no atual procedimento notificatório. Atos simples, como notificação extrajudicial, podem ser realizados em qualquer localidade do país, pois as partes envolvidas são conhecidas e direta-mente ligadas ao objeto do negócio jurídico, o que garante ampla defesa e publicidade - sem a necessidade de um se-gundo registro. Ademais, o artigo 12 da Lei nº. 8.935/1994, que dispõe sobre Serviços Notariais e de Registro, não im-pôs limite geográfico algum quanto à atuação dos oficiais do registro civil de pessoas jurídicas e de títulos e documen-tos. Tanto a Jurisprudência quanto a Doutrina entendem que a notificação extrajudicial é válida quando realizada por Cartório distinto da Comarca do devedor.

A territorialidade dos atos notariais implica sérios in-convenientes para os usuários dos serviços, tais como: (a) incentivo à burocracia, pois obriga o consumidor a regis-trar atos notariais (procurações, notificações extrajudiciais, escrituras públicas, autenticações, registros, etc.) em cada um dos Municípios em que precisar usar os documen-tos produzidos fora do cartório de origem; assim, poderá ocorrer a cobrança de dois, três, ou mais emolumentos pelo mesmo serviço prestado; (b) elevaria ainda mais os

emolumentos e demais custos cartorários; e (c) as taxas que os cartórios cobram não são unificadas, de maneira que ocorrem excessos em vários Estados.

O princípio da territorialidade é adequado apenas ao registro imobiliário. Ocorrendo qualquer negócio jurídico envolvendo o imóvel, o registro do ato notarial é realizado no Ofício de Imóveis de localização dessa propriedade, até pela necessidade de sua verificação física.

6.9. novo Marco regulatório da Mineração

A demanda crescente por riquezas naturais impõe a necessidade de alteração no Código de Mineração, de for-ma a estabelecer regras claras para o processo de explora-ção e de controle das reservas minerais e evitar a extração ilegal de minérios no país.

O Poder Executivo está discutindo o texto de antepro-jeto de lei sobre o Novo Marco Regulatório da Mineração. De acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME), o novo texto trará normas específicas para concessões que constam como monopólio da União, tais como minerais, água mineral, mineração em terras indígenas e em faixa de fronteira, entre outras cláusulas importantes.

Entre as propostas incluídas no novo Marco Regula-tório estão: a) a criação do Conselho Nacional de Política Mineral e uma Agência Reguladora de Mineração; b) mu-danças na outorga de título para exploração mineral com a finalidade de garantir melhor acompanhamento, fiscali-zação e gestão pelos órgãos responsáveis; c) participação federativa na fiscalização e gestão dos recursos minerais;

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas voltadas para o fortalecimento da publicidade dos atos e negócios jurídicos que busquem simplificar os procedimentos notariais, com redução de burocracia desnecessária e de cus-tos para os usuários dos serviços cartoriais.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas voltadas para o melhor aprovei-tamento dos recursos minerais do país. Para a CNF, a atualização da legislação que trata de mineração deve ter entre seus objetivos a atração de investi-mentos e promoção da negociação de títulos mo-biliários em bolsa de valores no Brasil.

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75Capítulo 6 | EFICIÊNCIA ECONÔMICA E COMPETITIVIDADE

e d) criação de mecanismos de competição entre as em-presas mineradoras por intermédio de leilões, pois atual-mente a concessão de lavra é concedida à empresa que a solicitar primeiro e sem prazo de exploração.

O Governo Federal também está discutindo a refor-mulação do atual modelo de Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM). De acordo com o MME, o modelo vigente tem muitas fragilidades, o que justifica a apresentação de uma nova proposta que fortaleça o instituto da compensação, corrigindo devida-mente as falhas. A CFEM foi estabelecida com base na Constituição Federal (artigo 20, § 1º): “É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Mu-nicípios, bem como a órgãos da administração direta da União, participação no resultado da exploração de pe-tróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar ter-ritorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração”.

Hoje, os direitos de exploração são convertidos em títulos mobiliários negociados em bolsas de valores. A escolha pela praça em que títulos dessa natureza são negociados depende não só das condições do mercado financeiro local (liquidez, marco legal, atuação da autori-dade regulatória, supervisão, política cambial, entre ou-tros), mas também do ambiente de negócios que cerca a atividade de exploração mineral. Ao Brasil interessa que os títulos relacionados a direitos de lavras brasileiras se-jam negociados em praça local, e não no exterior, como acontece atualmente. O Novo Marco Regulatório da Mi-neração oferece oportunidade importante para se intro-duzir alterações no mercado financeiro e no ambiente de negócios que criem condições para a negociação local desses títulos mobiliários.

Para a CNF, as discussões sobre a atualização da le-gislação do setor mineral devem compreender também a análise de medidas que reforcem a atração de investi-mentos e a promoção da negociação de títulos mobiliá-rios representativos do setor mineral em bolsa de valores no Brasil. A nova legislação deve criar e desenvolver um

ambiente favorável e sustentável para transformar o Bra-sil em um polo internacional de investimentos e negó-cios no setor de mineração.

6.10. agências reguladoras

As agências reguladoras são parte do arcabouço ins-titucional que dá segurança aos investidores. Um dos papéis fundamentais dessas agências é justamente o de assegurar estabilidade e aplicação uniforme de regras.

No que toca especificamente ao setor financeiro, a re-gulação e a supervisão são pilares da confiabilidade das instituições e da redução do risco sistêmico. As entidades que atuam como agências reguladoras por excelência são o Banco Central do Brasil (Bacen), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Superintendência de Seguros Priva-dos (SUSEP) e a Superintendência Nacional de Previdên-cia Complementar (PREVIC). Cada uma dessas entidades conta com corpo técnico qualificado e se concentra em segmentos específicos do mercado, exercendo uma ativi-

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia projetos voltados para o fortalecimento das agências reguladoras, que assegurem indicação de pessoal qualificado, com formação acadêmica e experiência profissional relevantes na área de atua-ção da entidade, à qual se garanta independência, tendo como contrapartida prestações de contas que privilegiem não a criação de metas regulatórias, mas sim a estabilidade de regras e correspondente au-mento dos investimentos no setor de competência da agência. No caso específico do setor financeiro, a CNF acredita que as funções de regulação e de su-pervisão vêm sendo desempenhadas com eficiên-cia pelo Banco Central do Brasil (Bacen), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) e a Superintendência Na-cional de Previdência Complementar (PREVIC), que funcionam como agências reguladoras, o que dis-pensaria a criação de nova agência específica.

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dade na qual a especialização é crítica para a eficiência e a confiabilidade da regulação e da supervisão.

Tramitam no Congresso Nacional propostas que sub-traem competência dessas quatro autarquias em matéria de regulação e supervisão e as transferem para uma única agência específica, autarquia vinculada ao Ministério da Fa-zenda que se ocuparia das questões de finanças e de investi-mentos. Essa nova agência, além de regular e fiscalizar o sis-tema financeiro, teria outras funções, tais como acompanhar o spread bancário e prevenir movimentos especulativos. A concentração numa única agência das funções de regulação e supervisão de todo o sistema financeiro poderia engendrar uma estrutura burocrática ineficiente, com recursos huma-nos e tecnológicos insuficientes para acompanhar as rápidas transformações que atravessa o mercado financeiro do Brasil e do mundo. Ademais, as incertezas que acompanhariam a transição do atual modelo – que se tem mostrado eficiente – constituiriam risco político que passaria a ser incluído nos cálculos de precificação de produtos e serviços financeiros.

6.11. obrigatoriedade da publicação de balanços

O artigo 289 da Lei nº 6.404/1976 (a Lei das S/A) prevê a obrigatoriedade de publicação de balanços “no órgão oficial da União ou do Estado ou do Distrito Federal, conforme o lugar em que esteja situada a sede da companhia, e em outro jornal de grande circulação editado na localidade em que está situada a sede da companhia”. O intuito do dispositivo legal é a publicida-de das demonstrações financeiras de companhias abertas, no interesse de seus acionistas, de investidores e da Receita Federal.

Ocorre que o Sistema Público de Escrituração Digital (Sped) mantém a Central de Balanços, um projeto cujo objetivo é

reunir demonstrativos contábeis e informações econômico-financeiras públicas das empresas de capital aberto. A Central tem como objetivo a captação de dados contábeis e financei-ros, a agregação desses dados e a disponibilização à sociedade, em meio magnético, dos dados originais e agregados.

Os registros de demonstrações financeiras na Central de Balanços atende cumulativamente às duas característi-cas presentes no Diário Oficial: a) livre acesso à informação pública, garantindo transparência das atividades e resul-tados da companhias; e b) registro público, indelével, das informações presentes no Balanço Social das companhias.

Mantidas em um repositório e publicadas em diversos níveis de agregação, a Central de Balanços possibilitará que esses dados sejam utilizados para geração de esta-tísticas, análises nacionais e internacionais (por setor eco-nômico, forma jurídica e porte das empresas), análises de risco, estudos de empresas, avaliações contábeis, etc.

A publicação de demonstrações financeiras na Central de Balanços traz vários benefícios, entre os quais: rapidez no acesso às informações; redução de custos administrativos e do “Custo Brasil”; aumento da produtividade do auditor por meio da eliminação dos passos para coleta dos arquivos; pos-sibilidade de troca de informações entre os próprios contri-buintes a partir de um formato padrão; melhoria da qualidade da informação; possibilidade de cruzamento entre os dados contábeis e os fiscais; disponibilidade de cópias autênticas e válidas da escrituração para usos distintos e concomitantes; aperfeiçoamento do combate à sonegação; e redução do uso de papel-jornal, com consequente preservação do meio ambiente pela redução do consumo de celulose.

6.12. Microempresas e empresas de pequeno porte

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia proposições voltadas para a substituição da obrigatoriedade da publicação de demonstra-ções financeiras em Diários Oficiais pela inclusão dos dados de balanço na Central de Balanços do Sistema Público de Escrituração Digital (Sped).

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas voltadas para o fortalecimento das microempresas e empresas de pequeno porte e para a explicitação dos preceitos da Constituição Federal de tratamento preferencial a esse segmen-

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A Constituição Federal assegura tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração no país (art. 170, IX). Também estabelece que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão às microem-presas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico diferenciado, visando a incentivá-las pela simplificação de suas obrigações administrativas, tri-butárias, previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou redução destas por meio de lei (artigo 179).

A conceituação de micro, pequena e média empresa considera critérios quantitativos, como número de empre-gados ou faturamento anual bruto. No Brasil, a principal norma que classifica firmas segundo o porte empresarial, a Lei Complementar nº 123/2006, adota o critério de fa-turamento. Hoje, 99% das empresas são micro e peque-nas, mas só faturam 25% do PIB, ou seja, 1% são médias e grandes que faturam 75% do Produto Interno Bruto.

O Estatuto das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte é a referência para a elaboração de políticas que respei-tem o tratamento jurídico diferenciado e simplificado. Trata: (a) da apuração e recolhimento dos impostos e contribuições da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, mediante regime único de arrecadação, inclusive obrigações acessórias; (b) do cumprimento de obrigações trabalhistas e previdenciárias, inclusive obrigações acessórias; e (c) do aces-so a crédito e ao mercado (inclusive quanto à preferência nas aquisições de bens e serviços pelos Poderes Públicos), à tec-nologia, ao associativismo e às regras de inclusão.

As discussões em torno de microempresas e empresas de pequeno porte estão centradas em várias questões, das quais se destacam três. Uma é a inscrição em cadastros de

restrição ao crédito bem como protestos por dívidas públicas (que, por exemplo, somente poderiam ser realizados após o trânsito em julgado dos processos de execução e cobrança). Outra questão é a intermediação obrigatória do sindicato na contratação do trabalhador avulso. A terceira questão é a alteração na ordem de preferência estabelecida na Lei nº 11.101/2005 (recuperação de empresas), para priorizar os créditos das microempresas e empresas de pequeno porte.

As microempresas e empresas de pequeno porte são a fronteira da inovação e da geração de emprego. É comum que o microempresário e o empresário de pequeno porte não contem com experiência profissional ou qualificação acadêmica para iniciar e manter um negócio. Ademais, enfrentam problemas de concorrência, de logística e de histórico de crédito. Nesse quadro, justifica-se o preceito constitucional do favorecimento a esse tipo de empresas. Contudo, tal favorecimento está voltado preferencialmente para as relações das microempresas e empresas de peque-no porte com o Poder Público. Nas relações com o setor privado e o restante da sociedade, o interesse coletivo so-brepõe-se ao individual (como, por exemplo, o interesse individual dos credores). A solidez da atividade empresarial deve ser buscada para benefício de todos. Essa solidez se constrói com as práticas de mercado, sobretudo a livre con-corrência e a livre negociação.

É parte dessa prática de mercado a inscrição em cadastros de restrição ao crédito de devedores inadimplentes, a livre contratação de empregados sem intermediação obrigató-ria do sindicato e o risco de transacionar com outras empre-sas que podem eventualmente ir à falência, quando então os créditos prioritários atendem a imperativos sociais.

6.13. recuperação de empresas

to, assentadas nos princípios constitucionais da livre concorrência e do livre exercício da atividade econômica, incompatíveis com a imposição a en-tes privados de obrigações compulsórias no seu re-lacionamento com qualquer segmento específico do setor empresarial.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas voltadas para o aprimoramento da Lei nº 11.101/2005, de Recuperação de Empre-sas e Falências, com vistas a fornecer maiores ga-rantias aos credores, sem comprometer o interesse público. Para a CNF, a ordem de classificação dos

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Entre as melhorias introduzidas pela Lei de Recupera-ção de Empresas e Falências (Lei nº 11.101/2005), desta-cam-se duas: a maior proteção aos credores e a manuten-ção de empregos.

As discussões em torno da Lei de Recuperação de Em-presas e Falências estão centradas na ordem de prioridade de recebimentos. Para a CNF, a definição dessa ordem de prioridade deve buscar um equilíbrio que, por um lado, não sobreponha o interesse individual dos credores ao in-teresse público (como é o caso dos créditos trabalhistas e previdenciários, por exemplo) e, por outro, assegure aos credores garantias suficientemente sólidas não só para in-centivar a concessão do crédito, mas também para atrair investidores para participarem da recuperação da empre-sa. Para a CNF, a atual ordem de prioridades é adequada e não deveria ser alterada.

Não se confundem, por exemplo, a prioridade na or-dem de classificação de créditos contra empresa falida e o tratamento especial que a Lei dispensa a microempresas e empresas de pequeno porte. O artigo 83 estabelece a ordem de classificação dos créditos na falência. Já o §1o do artigo 70 permite que as microempresas e as empre-sas de pequeno porte apresentem plano especial de re-cuperação judicial. As prioridades ordenadas na Lei são estabelecidas em função da natureza dos créditos, e não do credor. Não há impedimento para que microempresas e empresas de pequeno porte se habilitem para receber, por exemplo, créditos com garantia real ou créditos com privilégio especial ou geral.

Também se discute a possível ampliação do esco-po da Lei para aplicá-la a instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de

plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, so-ciedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores (excluídas pelo art. 2o, inciso II). Cuida-se aqui de empresas reguladas e supervisiona-das por órgãos técnicos especializados da Administração Pública – o Banco Central do Brasil (Bacen), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) e a Superintendência Nacional de Pre-vidência Complementar (PREVIC). Tais empresas recebem tratamento diferenciado por representarem risco sistêmi-co, cuja prevenção e mitigação requerem procedimentos especiais para não afetar toda a economia. Nesse quadro, não teria cabimento sujeitá-las aos dispositivos de uma le-gislação comercial.

A Lei prevê também a obrigatoriedade de a empresa estar adimplente com a Receita mediante a apresentação de Certidões Negativas de Débito (CND) para poder ser admitida em um processo de recuperação. Tal exigência, que privilegia o Fisco, tem-se mostrado um importante impedimento na ampliação da aplicação da Lei e um obs-táculo ao interesse de investidores por empresas em recu-peração, os quais poderiam reconduzi-las ao caminho da solvência e da eficiência econômica.

6.14. Privatização

Apesar das frequentes críticas ao processo de priva-tização ocorrido no Brasil, é verificável a eficiência que

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a privatização de companhias estatais e de serviços públicos que, conduzidas em processos transparentes, estabe-leçam preços de venda a partir de critérios verifi-cáveis rigorosamente técnicos. Do mesmo modo, devem contribuir para valorização patrimonial das empresas e serviços públicos privatizados, para a geração de empregos, para oferta de mais e me-lhores produtos e serviços, para ganhos de produti-vidade e para maior arrecadação de tributos.

créditos na falência prevista na Lei é adequada. A CNF sublinha que a dispensa de apresentação de Certidões Negativas de Débito (CND) para admis-são em processo de recuperação muito contribui-ria para atrair investidores.

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79Capítulo 6 | EFICIÊNCIA ECONÔMICA E COMPETITIVIDADE

introduziram em diversas atividades econômicas, seja em termos de produtividade, seja em termos de maior geração de empregos, seja em termos de maior retor-no aos acionistas, seja pela oferta de mais e melhores produtos e serviços, seja ainda em termos de aumento de arrecadação de tributos. Na maioria dos casos, todas as partes envolvidas ganharam com os processos de privatização – trabalhadores, acionistas, consumidores e o Fisco. Contribuíram para ganho de competitivida-de do país e para o desenvolvimento de outros setores diretamente ou não ligados àqueles que passaram pelo processo de privatização.

É falsa a percepção de que as privatizações consistiram em meras vendas de ativos públicos para gerar recursos destinados ao custeio de gastos correntes – a troca de patrimônio pelo simples pagamento de faturas vincendas. Também é falsa a percepção de que consistiram na troca de benefícios que eram gerados para toda a sociedade por lucros canalizados exclusivamente para grupos priva-dos. Na verdade, muitas das companhias privatizadas, por serem deficitárias, absorviam recursos públicos que hoje têm melhor destinação e oferecem maior retorno social na forma de saúde, educação e segurança pública, por exemplo. Privatizadas, tais companhias não só deixaram de drenar esses recursos, como também passaram a con-tribuir com tributos – diretamente – e a estimular outras atividades que também passaram a arrecadar mais tribu-tos – indiretamente. O preço de venda das companhias foi estabelecido de maneira rigorosamente técnica para re-fletir o valor presente dos fluxos de caixa projetados para elas, associado a ativos intangíveis tais como fundos de comércio e valor das marcas.

O Governo Lula privatizou, por exemplo, cerca de 2,6 mil quilômetros de rodovias federais, que foram a leilão em 9 de outubro de 2007, e realizou a concessão por trinta anos de 720 quilômetros da Ferrovia Norte-Sul para a Vale do Rio Doce pelo valor de R$ 1,4 bilhão. Na mesma época foram também privatizados o Banco do Estado do Ceará, o Banco do Estado do Maranhão, o Banco do Estado do Piauí, o Banco do Estado de Santa Catarina, a Hidrelétrica Santo Antônio, a Hidrelétrica Jirau e a Linha de transmis-são Porto Velho (RO) – Araraquara (SP).

Em agosto de 2012, a Presidência da República anun-ciou pacote de concessões no total de R$ 370 bilhões envolvendo aeroportos (R$ 34,9 bilhões), ferrovias (R$ 91 bilhões), rodovias (R$ 42 bilhões), portos (R$ 54,2 bilhões), além de geração e transmissão de energia elétrica (R$ 148,1 bilhões).

6.15. Parcerias Público-Privadas (PPP)

O instituto das Parcerias Público-Privadas, ou PPPs, foi introduzido no Brasil pela Lei nº 11.079/2004, que esta-beleceu normas gerais para licitação e contratação no âmbito da administração pública. Trata-se de contrato administrativo de concessão, com duas modalidades: a concessão patrocinada, na qual se acrescenta à tarifa cobrada dos usuários uma contraprestação pecuniária do parceiro público ao parceiro privado; e a concessão administrativa, na qual o parceiro privado presta serviços de que a Administração Pública seja usuária direta ou in-direta, ainda que envolva execução de obra ou forneci-mento e instalação de bens.

A regulamentação das PPPs passa por temas con-troversos, tais como os procedimentos licitatórios; a origem dos recursos públicos destinados ao Fundo Garantidor das Parcerias Público-Privadas (artigo 16 da Lei 11.079/2004); a precedência de liquidação das obri-gações financeiras decorrentes das PPPs; o papel das Sociedades de Propósito Específico (SPE) no empreen-dimento; as limitações impostas pela Lei de Responsa-bilidade Fiscal; e a possibilidade de se adotar a arbitra-gem como mecanismo de solução de controvérsias das parcerias público-privadas.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas que busquem dar efetividade à legislação que trata das parcerias público-privadas de maneira a incentivar a adesão voluntária de entes privados ao compartilhamento de riscos com o po-der público, por meio do financiamento e da gestão de projetos e de serviços de interesse da população.

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Poucos projetos de PPP se concretizaram entre a apro-vação da Lei, em dezembro de 2004, e a crise financeira internacional de 2008, um período em que tanto a eco-nomia brasileira quanto a internacional passaram por pe-ríodo de quase quatro anos de prosperidade e liquidez. Recentemente retomou-se o ímpeto dessa modalidade.

Três razões justificam o fortalecimento de PPPs no Brasil: (i) a necessidade de aumentar o montante de in-vestimentos; (ii) o fato de o Estado contar com restrições fiscais para elevar sua participação em investimentos; (iii) acréscimo de eficiência por meio da participação de agen-tes privados em serviços essenciais ao desenvolvimento nacional, para melhoria da prestação dos serviços, inova-ção tecnológica e de gestão, bem como transparência na execução de projetos.

Os membros da Frente Parlamentar da Infraestrutura no Congresso Nacional concluíram que uma das maiores barreiras para acelerar o processo de PPPs em Estados e Municípios, neste momento, seria a falta de garantias con-sideradas adequadas pelos investidores. Com o intuito de solucionar os problemas identificados, construíram um projeto que permite ao Fundo Garantidor de Parcerias Público-Privadas (FGP) oferecer garantia ao parceiro priva-do contratado em uma PPP municipal ou estadual. Nesse modelo, a União daria uma contra-garantia ao FGP que, por sua vez, contaria com uma contra-garantia de Estados e Municípios, pela via de recursos vinculados dos Fundos de Participação de Estados (FPE) e Municípios (FPM). A proposta objetiva a alavancagem do modelo de PPPs no Brasil, com impactos positivos sobre o investimento e o crescimento da economia.

A Lei nº 12.766/2012 introduziu importantes altera-ções: (a) ampliou definitivamente o limite percentual de comprometimento da receita corrente líquida dos Estados, Distrito Federal e Municípios com despesas em contratos de PPP (para efeito de concessão de garantias e realização de transferências voluntárias pela União); (b) permitiu aportes do ente público contratante para o par-ceiro privado ainda que durante a fase de investimentos, diminuindo riscos e tornando o contrato de PPP mais seguro e atrativo, prevendo a possibilidade de aplicação

de um regime tributário diferenciado para essa situação; (c) reduziu o prazo mínimo em que o parceiro privado poderá acionar o fundo garantidor da PPP, de modo a ampliar a liquidez da garantia; (d) tratou do nível de deta-lhamento dos estudos de engenharia para PPP; (e) apri-morou as disposições relativas ao Fundo Garantidor das PPPs (FGP); e (f ) permitiu o recolhimento diferido de PIS, COFINS, IR e CSLL incidentes sobre os aportes de recur-sos do parceiro público relativos à construção ou aquisi-ção de bens reversíveis.

Existem iniciativas de aperfeiçoamento institucional que visam a facilitação de Propostas de Manifestação de Interesse (PMI), mecanismo por meio do qual podem ser viabilizados estudos ou levantamentos que sirvam para modelagem de projetos de PPPs por agentes privados.

6.16. desindexação da economia

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas para a eliminação do uso de in-dexadores de contratos e obrigações, no entendimento de que a complexidade e diversidade da economia bra-sileira e os altos níveis de concorrência em praticamente todos os setores recomendam a livre negociação como ferramenta adequada para reajustes de preços.

Hoje, o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) da Fundação Getúlio Vargas ainda corrige anualmente as tarifas de eletricidade e, a cada quatro anos, a tarifa de cada empresa passa por avaliação detalhada, de forma a repassar para o consumidor os ganhos de produtividade. O IGP-M também reajusta a maior parte dos contratos de

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas que busquem dar efetividade à legislação que trata das parcerias público-privadas de maneira a incentivar a adesão voluntária de entes privados ao compartilhamento de riscos com o po-der público, por meio do financiamento e da gestão de projetos e de serviços de interesse da população.

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81Capítulo 6 | EFICIÊNCIA ECONÔMICA E COMPETITIVIDADE

aluguel. Outros contratos e obrigações de prazo superior a noventa dias são indexados à variação da Taxa Referen-cial (TR), que acompanha a remuneração dos Certificados de Depósitos Bancários (CDBs), com posterior aplicação de um redutor. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) são utilizados no cálculo do Índice de Serviços de Telecomunicações (IST), que corrige anualmente as tari-fas de telefones fixos, calculada diferentemente para cada empresa, com desconto de ganhos de produtividade. Para o próprio salário mínimo, a correção anual é pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do ano ante-rior acrescido do aumento do Produto Interno Bruto (PIB) dos dois anos anteriores, mas as centrais sindicais defen-

dem nova regra que permita ganhos acima da inflação. O mesmo INPC baliza os reajustes de mensalidades escola-res (ainda que as escolas tenham liberdade de determinar seus critérios de correção) e os reajustes de aposentado-rias de valor superior ao do salário mínimo. Os Municípios e, no caso das regiões metropolitanas, os Estados estabe-lecem as regras de reajuste das tarifas de água.

O emprego de indexadores em um cenário de baixa inflação passa despercebido por não introduzir distorções agudas nos preços relativos e não representar acelerador perceptível do índice geral de preços. Contudo, represen-ta resquícios de uma cultura inflacionária e ameaça po-tencial à estabilidade econômica no caso de turbulências.

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caPÍTuLo

7

eFiciÊncia Judiciária e SEgURANçA

JURíDICA

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85Capítulo 7 | Eficiência Judiciária E SEgurança Jurídica

7. eficiência Judiciária e Segurança Jurídica A Confederação Nacional das Instituições Financei-

ras apoia propostas que contribuam para o a celeri-dade dos processos do Poder Judiciário, para a cla-reza e a precisão de sentenças judiciais lastreadas em conhecimento técnico das questões afetas ao setor financeiro e para maior segurança jurídica nas relações contratuais de todas as espécies.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas voltadas para o aprimoramento e a atualização da legislação codificada brasileira, o aperfeiçoamento de dispositivos que geram dúvi-das e a simplificação do entendimento e da aplica-ção da norma, para maior segurança jurídica. A CNF entende que esses objetivos podem ser alcançados também por reformas gerais dos Códigos, mas não exclusivamente por estas.

A grande maioria das operações financeiras é de natu-reza contratual. Ademais, as instituições financeiras

enfrentam acirrada concorrência entre si, mantêm rela-cionamento com o Fisco, abrigam centenas de milhares de funcionários e estão a serviço dos cidadãos e do Poder Público – como no caso do recolhimento de tributos e de depósitos judiciais. São sinais de um rico tecido social e de estreitos relacionamentos, durante os quais se desen-volvem posições discordantes. Essa teia de relacionamen-tos dá origem a lides judiciais das mais variadas, opondo instituições a clientes, a suas congêneres, ao Fisco, a seus empregados e a Governos federal, estadual e municipal. Por essa razão, o Poder Judiciário tem papel especialmente relevante para as atividades das instituições financeiras. A celeridade dos processos e a segurança jurídica têm im-pacto direto sobre as operações financeiras, inclusive so-bre a precificação destas, e contribuem para a ampliação da bancarização, a expansão do crédito e a oferta de am-pla gama de produtos e serviços.

Por vezes, as decisões judiciais que envolvem instituições financeiras padecem de falta de informação especializada e de abundância de preconceitos injustificados. As ações judi-ciais nas quais são partes as instituições financeiras têm, via de regra, objeto extremamente técnico. São questões que envolvem familiaridade, entre outros, com ramos especia-lizados do Direito, com economia, com contabilidade (in-clusive contabilidade bancária), com matemática financeira e com tecnologia da informação. Tal familiaridade não se distribui uniformemente entre os agentes do Direito, inclu-sive juízes. Por isso, ocorrem decisões judiciais não lastrea-das em argumentos técnicos. Também alguns preconceitos contaminam decisões judiciais, entre eles a percepção, sem qualquer amparo nos fatos, de que instituições financeiras cobram tarifas, juros e encargos abusivos e, por essa razão, auferem lucros exorbitantes. Essa questão é examinada na seção 6.2 – Lucro e rentabilidade bancária.

7.1. reformas de códigos Legais

Estão na pauta de discussão do Congresso Nacional di-versas reformas de Códigos que têm como objetivo princi-pal dar mais celeridade à justiça no Brasil. A última grande reforma de Código realizada pelo Legislativo se deu com a promulgação em janeiro de 2002 do novo Código Civil (Lei nº 10.406/2002). A alteração ocorreu após mais de 25 anos da apresentação da proposta original, o PL nº 634/1975.

Hoje, entre outras, discutem-se reformas dos seguin-tes Códigos: de Processo Civil (Lei nº 5.869/1973), Penal (Decreto-Lei nº 2.848/1940), de Processo Penal (Decre-to-Lei nº 3.689/1941), de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/1990), de Mineração (Decreto-Lei nº 227/1967), Eleitoral (Lei nº 4.737/1965), Comercial (Lei nº 556/1850), bem como a codificação da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT (Decreto-Lei nº 5.452/1943). As propostas, em diversos casos oriundas de grupos de trabalho consti-tuídos para apresentação de sugestão única de alteração

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de código específico, têm tramitação diferenciada nas Casas do Congresso Nacional.

O movimento iniciou-se com a aprovação no Senado Federal do PLS nº 156/2009 (Código de Processo Penal), de autoria do Senador José Sarney. Tanto Câmara como Se-nado vêm dispendendo tempo e recursos para ampliar as discussões sobre essas reformas mais profundas por meio da criação de Comissões Especiais e ritos de urgência. Contudo, ao lado dessas propostas de reforma, também tramitam no Congresso inúmeros projetos de escopo mais limitado ao aperfeiçoamento de dispositivos especí-ficos de cada um dos Códigos existentes.

A correção de questões pontuais percebidas pela prá-tica da aplicação da legislação em vigor é eficaz para dar efetividade maior à regra. Entretanto, em razão da evolu-ção da sociedade, muitas das normas codificadas passam a ser empecilho para a efetivação do direito. Nesses casos, amplas reformas podem ser efetuadas para permitir uma justiça mais célere e eficiente.

Embora muitas propostas de reformas de códigos tra-mitem pelo tempo adequado para ampla discussão das alterações necessárias ao seu aperfeiçoamento, a CNF vê com preocupação iniciativas que visem, de maneira aço-dada, a impor ao Congresso e à sociedade alterações radi-cais, com entendimento de grupo específico, que possam gerar mais transtornos que aprimoramentos reais para a legislação brasileira.

7.1.1. código comercial

Em junho de 2011, iniciou sua tramitação na Câmara dos Deputados o projeto que institui um novo Código Co-mercial para o Brasil. O texto apresentado originou-se de minuta proposta pelo Professor Fábio Ulhoa Coelho.

A iniciativa, conforme seu idealizador, visa basicamen-te a reunir em um único diploma legal as regras comer-ciais esparsas, fortalecer os princípios e regras próprios do Direito Comercial, aplicáveis às relações entre empresas, bem como modernizar a legislação ante os avanços mais recentes. A ideia que orientou a construção do texto é a de que o atual Código (Lei n° 556/1850) não é mais com-patível com a realidade dos negócios e a inclusão de ma-térias de Direito Comercial no âmbito do Código Civil não é adequada, pois esse, ao unificar o direito privado, tratou não só das relações entre as empresas, mas também das relações de consumo e de trabalho.

A iniciativa divide opiniões. Muitos apoiam a necessi-dade de codificação de modo a garantir sistematicidade ao Direito Comercial. Outros, no entanto, defendem me-lhorias na legislação vigente sem rupturas nos institutos já bem regulados e utilizados, que trazem previsibilidade aos negócios (como a das Sociedades Anônimas - Lei n° 6.404/76 -, a de Falência - Lei n° 11.101/05 - e a de Títulos de Crédito Comercial - Lei nº 6.840/80-, por exemplo) e não podem ser sobrepostos pelo Código. O fato é que a interpretação de cada uma dessas leis específicas, pelos tribunais, já é conhecida dos investidores e empresários e alterações nesse entendimento sedimentado poderiam significar insegurança jurídica e, como efeito, empecilhos à atração de investimentos.

A proposta supera algumas lacunas na ordem jurídica nacional no que concerne, por exemplo, à eficácia e exe-cutividade da documentação digitalizada e ao comércio eletrônico. Contudo, pode ser aprimorada por: (i) trata-mento adequado da desconsideração da personalidade jurídica, de modo que o instituto seja utilizado apenas nos casos de comprovado mau uso da pessoa jurídica e que proteja os sócios nos casos em que não se verifiquem atos dolosos e criminosos, praticados ao abrigo da separação patrimonial; (ii) retirada das matérias sobre sociedades anônimas e direito falimentar, pois seus valores já estão

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras, ao apoiar a revisão da legislação comercial nos assuntos em que esta não se encontre alinhada com a realidade atual dos negócios, sublinha que a modernização de matéria dessa complexidade e al-cance não requer necessariamente reforma integral, mas pode ser obtida por meio da aprovação de dis-positivos pontuais, de forma a preservar o bom fun-cionamento dos mercados e a segurança jurídica.

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87Capítulo 7 | Eficiência Judiciária E SEgurança Jurídica

assentados na doutrina, jurisprudência e prática dos ne-gócios; e (iii) tratamento apropriado dos contratos bancá-rios, de modo a subtrair imprecisões.

Destaque-se que a codificação dos princípios e re-gras empresariais pode trazer imobilidade para esse ramo do Direito, necessariamente dinâmico e que preci-sa adaptar-se constantemente às inovações tecnológicas e econômicas.

7.1.2. código Penal

O Congresso Nacional analisa a proposta de um novo Código Penal para o país. A opção por reformar repousa sobre a percepção de que o atual Código não comtem-pla todas as condutas ilícitas que se verificam na realidade contemporânea.

O texto em tramitação foi construído por uma comis-são composta por juristas e presidida pelo Ministro do Su-perior Tribunal de Justiça (STJ), Gilson Dipp. Os objetivos do grupo, além de modernizar o Código, resumiram-se em unificar a legislação penal esparsa (cerca de 120 leis), descriminalizar condutas incompatíveis com outros tipos penais existentes e com a Constituição de 1988 e, se ne-cessário, prever novas figuras típicas.

No geral, a minuta proposta é bastante liberalizante e incorpora alterações e acréscimos polêmicos, encon-trando-se muitos deles longe de opinião pacífica como: a descriminalização do plantio e do porte de maconha

para consumo próprio; a ampliação das possibilidades do aborto legal; o abrandamento das penas para a prática da eutanásia; e a criminalização de todo ato de discriminação em razão da opção sexual. As controvérsias existentes, não só entre os parlamentares, mas também entre setores da sociedade, em torno desses temas pode tornar morosa a tramitação do projeto.

Entre as inovações pertinentes ao setor financeiro, en-contram-se, por exemplo: (i) a responsabilidade penal das pessoas jurídicas; (ii) o emprego de explosivos como nova qualificadora ao crime de furto; (iii) a tipificação dos delitos eletrônicos; (iv) a responsabilização de pessoas jurídicas por atos de corrupção praticados contra a administração pública; (v) a tipificação do financiamento ao terrorismo; (vi) as alterações no tipo “gestão fraudulenta”, na parte de Crimes contra o Sistema Financeiro; (vii) a tipificação do uso indevido da Informação Privilegiada, como forma de coibir o comportamento dos “inside traders”; e (viii) a incor-poração do crime de lavagem de dinheiro com elimina-ção do rol de crimes antecedentes.

De modo geral, o projeto avança ao incorporar os cri-mes da modernidade ao escopo do Código. No entanto, retroage, por exemplo, ao não prever a cominação da multa a não ser em situações bastante excepcionais, ao estabelecer, em muitos casos, penas desproporcionais e ao esvaziar as normas processuais.

7.1.3. código de Processo civil

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras, ao apoiar a revisão da legislação penal nos as-suntos em que essa não se encontre adequada para coibir as práticas ilícitas da atualidade, sublinha que a modernização de matéria dessa complexidade e alcance não requer necessariamente reforma inte-gral, mas pode ser obtida por meio de incrementos pontuais, de forma a preservar o equilíbrio da tutela dos bens jurídicos.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras, ao apoiar a modernização do Código de Processo Civil, sublinha que a atualização de ma-téria dessa complexidade e alcance não requer necessariamente reforma integral, mas pode ser obtida por meio da aprovação de dispositivos pontuais com vistas a um sistema jurídico mais acessível, ágil e efetivo, de forma a preservar os princípios básicos do devido processo legal, como o do contraditório.

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Em junho de 2010, comissão de renomados juristas entregou anteprojeto de reforma do Código de Proces-so Civil (CPC) para exame do Congresso Nacional. O tex-to tem o intuito de viabilizar um sistema de justiça mais acessível, ágil e efetivo, ao tentar eliminar três obstáculos que causam morosidade: o excesso de formalismo do processo; a alta litigiosidade; e o excesso de recursos nos tribunais. Nesse sentido, mudanças foram operadas, por exemplo, no julgamento de processos repetitivos, na des-consideração da personalidade jurídica e no procedimen-to da penhora.

A proposta de reforma do CPC contém importantes avanços. Contudo, algumas questões ainda precisam ser melhor examinadas para garantir uma prestação jurisdi-cional mais célere capaz de resguardar a segurança das relações jurídicas e dos investimentos. Entre essas ques-tões, destacam-se:

» aumento exacerbado dos poderes dos juízes ao conferir-lhes, por exemplo, competência para con-verter em coletiva a ação individual, para intervir judicialmente na empresa com intuito de assegu-rar o cumprimento da sentença e para conceder medidas de urgência sem requerimento da parte;

» criação do incidente de demandas repetitivas que será admissível sempre que identificada controvér-sia com potencial de gerar relevante multiplicação de processos fundados em idêntica questão. O jul-gamento desse incidente produzirá coisa julgada em relação aos processos pendentes;

» criação do incidente de desconsideração da per-sonalidade jurídica que: (i) poderá ser suscitado nos casos de abuso de direito por parte do sócio; (ii) será cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e também na execução fundada em título executivo extrajudicial;

» permissão de penhora de parte dos salários para quitar dívidas e a inscrição dos devedores em ca-dastros de proteção ao crédito;

» possibilidade de que a apelação seja feita diretamente no segundo grau de jurisdição e, em regra, não suspenda a aplicação da decisão, como ocorre atualmente;

» determinação de que os honorários advocatícios serão devidos também na reconvenção, no cumpri-mento de sentença, na execução resistida ou não, e nos recursos interpostos, de forma cumulativa. A ins-tância recursal, por sua vez, também fixará nova verba advocatícia, seja a requerimento da parte ou de ofício;

» ampliação dos casos de tutela antecipada de evi-dência, com hipótese de antecipação com reserva de cognição de exceção substancial;

» consagração da intervenção do amicus curiae, que poderá participar a seu requerimento, e não ape-nas a requerimento das partes ou por determina-ção do órgão jurisdicional; e

» ampliação das hipóteses de cabimento da Ação Monitória para qualquer tipo de obrigação e per-missão de que a prova escrita que lhe serve de es-teio seja prova oral previamente constituída.

Algumas dessas inovações poderiam vulnerar a im-parcialidade do juiz, a ampla defesa, o acesso à justiça e a isonomia das partes. Para a CNF, a correção dos eventuais anacronismos do Código em vigor não deve afrontar as garantias constitucionais do processo.

7.1.4. código de Processo Penal

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras, ao apoiar a modernização do Código de Processo Penal, sublinha que a atualização de matéria dessa complexidade e alcance não requer necessariamen-te reforma integral, mas pode ser obtida por meio da aprovação de dispositivos pontuais com vistas a um sistema jurídico mais acessível, ágil e efetivo, de forma a preservar os princípios básicos do devido processo legal, bem como o do contraditório. A CNF ressalta que deve ser dado tratamento processual também aos casos de crimes praticados por meio da internet.

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89Capítulo 7 | Eficiência Judiciária E SEgurança Jurídica

Os trabalhos de reforma do Código de Processo Penal (CPP) iniciaram-se no âmbito de uma Comissão Temporá-ria de Estudo da Reforma do Código, formada por juristas, criada no Senado Federal em 2008.

Entre as principais propostas de mudanças sugeridas para o CPP, merecem especial atenção as seguintes: a) a faculdade do juiz de suspender, total ou parcialmente, as atividades de pessoa jurídica sistematicamente utilizada por seus sócios ou administradores para a prática de cri-mes contra o meio ambiente, a ordem econômica, as rela-ções de consumo ou que atinjam um número expressivo de vítimas (quando o juiz levará em conta, igualmente, em sua decisão, o interesse dos empregados e de even-tuais credores e o princípio da função social da empresa, bem como a manifestação do órgão público regulador, se houver); b) a comunicação imediata às instituições finan-ceiras, pelo juiz, caso necessário, que deverão bloquear qualquer tentativa de retirada ou transferência de valores das contas, bem como a movimentação de aplicações fi-nanceiras porventura existentes; e c) a possibilidade de o juiz atribuir à instituição financeira, caso decretado o se-questro, a custódia legal dos valores depositados em suas contas, fundos e outros investimentos.

7.1.5. código do Trabalho

Tramita desde 2011, na Câmara dos Deputados, proposta que cria o Código do Trabalho. Seu objetivo é atualizar a le-

gislação trabalhista em vigor, bem como enfeixar as normas esparsas, garantindo direitos básicos, de modo a compatibi-lizá-la com a tendência mundial de favorecer a composição entre as partes como reguladora das relações trabalhistas.

A principal inovação do projeto é a garantia de que o negociado prevaleça sobre o legislado, respeitados os direitos irrenunciáveis dos trabalhadores previstos na Constituição Federal. Outras importantes novidades di-zem respeito ao parcelamento das férias em até três pe-ríodos; à extinção da contribuição sindical; à previsão de que, independentemente de filiação, todos os representa-dos pelo sindicato participem das assembleias que tratem de convenções e acordos coletivos e nelas votem; à ex-tensão da licença paternidade, em caso de morte da mãe ou quando esta opte por renunciar a parte da sua licen-ça e transferi-la ao pai; à possibilidade de que o contrato de terceirização aplique-se às atividades meio e fim da contratante, bem como à determinação de que a empresa contratante seja subsidiariamente responsável pelas obrigações trabalhistas; à possibilidade do pagamento do vale-transporte em dinheiro, sem natureza salarial; à aplicação da legislação brasileira, quando mais favorável, ao trabalhador expatriado; a não incidência de encargos trabalhistas sobre a PLR; entre outros.

Para as empresas, a proposta, ao reduzir os custos de contratação e permitir modalidades de contratos mais adaptáveis às necessidades produtivas e do mercado, per-mite ganhos de competividade e equilíbrio nas relações. Para os empregados, a inciativa representa abertura de novos postos de emprego formais e oportunidades para negociações mais vantajosas.

7.2. Justiça do Trabalho

Para a Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras, vários aprimoramentos podem ser pro-movidos na legislação trabalhista, seja por meio de uma proposta de Código, seja por projetos pontu-ais. Tais aprimoramentos devem preservar os di-reitos dos trabalhadores e se pautar por contratos flexíveis, privilegiando as convenções e os acordos coletivos de trabalho, que estimulem as empresas a aumentar sua produtividade e a tornarem-se mais competitivas, contribuindo, assim, para a expansão dos empregos formais.

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas que confiram à Justiça do Trabalho maior autonomia e celeridade no processamento e julgamento de ações que versem sobre relações de trabalho ou delas decorrentes sem, todavia, afrontar

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90 AgendA do SetorFinanceiro2013

A Justiça Trabalhista surgiu nos primórdios da Repú-blica, com o crescente processo de urbanização em de-corrência dos avanços na indústria e no comércio e do aumento progressivo de mão-de-obra livre e assalariada.

Integrada ao Poder Judiciário na Constituição de 1946, essa justiça especializada recebeu modificações estrutu-rais ao longo do tempo. Recentemente, sob o amparo da Magna Carta de 1988, a justiça laboral teve outra grande modificação, conferida pela redação da Emenda Consti-tucional n° 45/2004 ao art. 114 que ampliou a sua com-petência para processar e julgar ações que versem sobre relações de trabalho ou que delas decorram.

Certamente, uma das consequências principais foi o aumento do número de processos, reforçando a neces-sidade de novas alterações legislativas que permitissem maior celeridade no trâmite processual sem, contudo, dei-xar de resguardar direitos e garantias às partes e o respeito aos princípios constitucionais do devido processo legal, contraditório, duplo grau de jurisdição, entre outros.

Para a concretização dessa celeridade, a CNF apoia pro-postas que impeçam o uso de recursos meramente prote-latórios, desde que os critérios sejam objetivos para essa qualificação e que, se houver necessidade de aplicação de multa, não obstem a interposição de outro recurso e seu valor seja razoável, considerando-se a natureza e o valor da ação, as partes envolvidas e o depósito prévio recursal obrigatório (exigido somente pelas pessoas jurídica, consi-derando que essa exigibilidade também deve ser revista).

Ademais, a Confederação apoia igualmente propo-sições que confiram segurança jurídica às decisões pro-

feridas pelos julgadores trabalhistas que privilegiam as convenções e os acordos coletivos de trabalho, sem que impliquem inovações no ordenamento jurídico, nem mes-mo por meio de súmulas e orientações jurisprudenciais.

Embora a Constituição Federal não tenha trazido uma definição jurídica sobre súmulas, deixou expresso, ao tra-tar da súmula vinculante, que ela “terá por objetivo a va-lidade, a interpretação e a eficácia de normas determina-das, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplica-ção de processos sobre questão idêntica” (CF art. 103-A, §1º). Assim, a edição de súmula é uma das mais relevantes técnicas de uniformização jurisprudencial que tem o pro-pósito especifico de obviar conflitos de interpretação.

Todavia, a Justiça Trabalhista, ao editar enunciados de súmula com base em interpretação controversa ou mes-mo na ausência de precedentes, compromete as negocia-ções coletivas e as realizadas entre empregados e empre-sas, bem como colide com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) que trata da repartição dos Poderes e da impossibilidade do Poder Judiciário em legislar (ADI 2.075-MC e Súmula 339).

Por fim, a Confederação acompanha com interesse pro-jetos que permitam a divisão do pagamento dos honorá-rios de sucumbência entre as partes ou o abatimento do valor total julgado devido à demandada. Atualmente, esse ônus, regra geral, é exclusivo da parte reclamada, porquan-to o autor da ação costuma gozar de gratuidade na justiça.

7.2.1. competência penal da Justiça do Trabalho

direitos e garantias das partes de acesso ao Judiciá-rio, bem como outros princípios constitucionais tais como o devido processo legal, contraditório, ampla defesa e duplo grau de jurisdição. Ademais, a Confe-deração apoia proposituras que permitam aos julga-dores laborais primarem o disposto em convenções e acordos coletivos e que revisem os critérios para esta-belecimento de honorários advocatícios.

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas para aprimorar o funciona-mento e a estrutura processual da Justiça do Traba-lho, que mantenham o entendimento do Congresso Nacional que preservou a competência da Justiça Federal para processar e julgar as infrações penais de-correntes das relações de trabalho.

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91Capítulo 7 | Eficiência Judiciária E SEgurança Jurídica

A competência para processar e julgar infrações pe-nais decorrentes das relações de trabalho hoje é da Jus-tiça Federal. Sua eventual transferência para a esfera de competências da Justiça Trabalhista agravaria ainda mais o quadro de acúmulo de processos e tornaria mais lentas as suas decisões.

Na revisão constitucional da estrutura do Judiciário por meio da PEC nº 29/2000 (que originou a Emenda Constitu-cional nº 45), a questão da competência criminal da Justiça do Trabalho em relação a crimes praticados contra a admi-nistração da justiça e contra a organização do trabalho foi amplamente discutida e rejeitada pelo Congresso Nacional.

Diante da redação da Emenda Constitucional nº 45, pode-se afirmar que as proposições que versem em sen-tido contrário são de constitucionalidade duvidosa, pois interpretar extensivamente os incisos I, IV e IX do artigo 114 da CF para atribuir competência genérica criminal à Justiça do Trabalho fere os princípios da legalidade e do juiz natural.

7.2.2. execução no processo trabalhista

A execução no processo trabalhista deve levar em conta a especificidade da tutela, ou seja, o direito que está em discussão, a duração razoável do processo, o valor constitucional fundamental e o interesse do credor, mas sem perder de vista a forma menos onerosa para o exe-cutado. Não se trata aqui de execução penal, pois não se busca punir um criminoso, mas sim satisfazer um credor. Havendo duas maneiras de satisfazê-lo, dever-se-ia adotar aquela que menos onera o devedor.

O instituto da execução provisória é o que melhor atende aos preceitos constitucionais citados, pois não permite a liberação do total do crédito ao reclamante nos casos em que a decisão proferida ainda possa vir a ser reformada por um tribunal superior. Caso o réu tenha seus bens expropriados antes que se esgotem as instâncias recursais, fica caracterizado o desrespeito ao princípio da ampla defesa e do contraditório, pois se admite a possibilidade de levantamento dos valores apreendidos no processo por parte do autor, mesmo havendo recurso pendente de análise. Assim, é impor-tante assegurar-se em toda e qualquer reforma que não haja dano irreparável ao réu (via de regra, empresa), tampouco geração de riqueza sem causa ao autor (via de regra, empregado).

A inclusão de determinados documentos no rol de títulos executivos extrajudiciais pode ser temerária. Por exemplo, a transformação do Termo de Rescisão de Contrato de Trabalho (TRCT) em um título executivo extrajudicial suprimiria o direito de defesa do réu, per-mitindo sua execução de imediato com a consequente expropriação de seus bens, sem a regular apuração de fatos e provas. Tal procedimento não permite a even-tual correção de equívocos. Esse documento está pre-sente em todas as rescisões de contrato de trabalho celetista e considerando-se que o processo se inicia na fase de execução, quando da discussão das verbas, as empresas sofreriam enorme prejuízo econômico ao terem bens expropriados sem a oportunidade de pro-dução de provas.

No processo do trabalho é responsabilidade do juiz a homologação dos cálculos apresentados pelas partes. Cabe ao magistrado homologar o que melhor refletir as verbas deferidas. Publicado o cálculo escolhido pelo juiz, fica aberto prazo para as partes apresentarem sua impug-nação à decisão judicial. Caso as empresas devam recolher os valores em discussão, antecipadamente à análise do magistrado do valor devido, é inevitável o prejuízo finan-ceiro. O devido processo legal, bem como a publicidade dos fatos para conhecimento das partes e a contestação dos valores impostos são fundamentais para evitar essa expropriação precipitada.

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas que tragam celeridade à Justiça do Trabalho, balizadas pelas garantias constitucionais do acesso à Justiça; do devido processo legal; e da sua razoável duração. É fundamental, no entanto, que tais alterações ocorram preservando-se os princípios constitucionais da ampla defesa, do contraditório, do duplo grau de jurisdição e da segurança jurídica.

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92 AgendA do SetorFinanceiro2013

7.2.3. recursos trabalhistas

Tramita no Congresso Nacional iniciativa do Tribunal Superior do Trabalho (TST) que altera o processamento de recursos no âmbito da Justiça do Trabalho, disciplinados na Consolidação das Leis do Trabalho, além de regular o procedimento para a uniformização da jurisprudência dos Tribunais trabalhistas.

Com o intuito de conter os recursos meramente prote-latórios e, assim, assegurar a razoável duração dos processos judiciais e os meios que garantam a celeridade de sua trami-tação, o projeto condiciona a interposição de novos recursos a elevadas multas, de 10 a 15% sobre o valor da causa ou, de-pendendo da espécie recursal, previamente fixada em 10%.

Ao prever essas multas, onera ainda mais as empresas, pois desconsidera a obrigatoriedade de se efetuar o alto valor do depósito prévio, sob pena de o recurso não ser apreciado pelo Tribunal, o que desrespeita a razoabilidade e a proporcionalidade em cada processo, na contramão do previsto no Código de Processo Civil (utilizado de for-ma subsidiária na esfera trabalhista). Haja vista, configurar uma barreira ao acesso à justiça, constitucionalmente ga-rantido a todos.

Assim, a CNF entende que impor o pagamento das mencionadas multas confronta a Constituição Federal, que veda à lei excluir da apreciação do Poder Judiciário le-são ou ameaça a direito. O direito aqui previsto é a garan-tia ao contraditório e à ampla defesa por meio de acesso ao segundo grau de jurisdição.

Além disso, prevê o efeito apenas devolutivo aos Re-cursos de Revista interpostos, ou seja, descarta qualquer

possibilidade de se suspender a execução da decisão judi-cial que ainda padece de questionamentos. Apesar de os recursos trabalhistas, regra geral, terem efeito meramente devolutivo, se aprovado, o projeto tornará inócuo o depó-sito recursal e, ao final do processo trabalhista, se verifica-do que o valor pago não era aquele ou sequer era devido, irá compelir a parte prejudicada a apresentar nova ação judicial, contribuindo para a sobrecarga do Judiciário, bem como, para o enriquecimento sem causa do autor caso haja posterior reforma da decisão pelo Tribunal superior.

Uma alternativa viável para assegurar a execução do crédito trabalhista seria a hipótese de contratação de se-guro garantia pela empresa para cobertura dos direitos reivindicados.

A pretensa intenção de diminuir os recursos no âmbito do TST também motivou, na proposta, a obrigatoriedade de uniformização de jurisprudência pelos Tribunais Regio-nais do Trabalho, prevendo-se, quando cabível, o incidente de resolução de demandas repetitivas disposto no Código de Processo Civil. Para a CNF, as questões relacionadas ao direito do trabalho devem passar pela ampla dilação pro-batória, inviável na forma do incidente que deve balizar apenas a avaliação de questões de direito. Ademais, tal uniformização não deve ser determinante para impedir o acesso ao Judiciário, eis que as súmulas vinculantes têm o objetivo de tornar mais eficazes as normas existentes, sem, no entanto, impedir a análise do caso individual e a interposição de recurso.

7.2.4. depósito recursal

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas que visem a garantir maior celerida-de e segurança na prestação jurisdicional ao mesmo tempo em que preservem os direitos das partes e ob-servem os princípios constitucionais do duplo grau de jurisdição, do contraditório e da ampla defesa.

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas para a agilização de pro-cessos judiciais, que inibam o emprego de recursos com finalidades exclusivamente protelatórias. A CNF apoia propostas voltadas para a mitigação dos efeitos punitivos do depósito recursal, sempre que instância inferior adotar decisão que divirja da jurisprudência uniforme do Tribunal Superior do Trabalho (TST), de forma a assegurar o princípio do contraditório.

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93Capítulo 7 | Eficiência Judiciária E SEgurança Jurídica

A legislação exige depósito prévio para a interposição de recursos trabalhistas. Mais recentemente, tal exigência foi estendida aos Agravos de Instrumento. Esse depósito tem o intuito principal de inibir o uso do Agravo de Instrumento como meio de protelar os processos que tramitam na Justiça do Trabalho, adquirindo, portanto, um caráter punitivo.

Para muitos, a exigência de depósito recursal acaba im-pedindo o legítimo exercício do direito de recorrer por par-te do empregador que não possui capacidade econômica para tal finalidade, em detrimento dos princípios constitu-cionais do devido processo legal e da ampla defesa.

Há situações em que o Agravo de Instrumento é o único remédio processual cabível para que o recurso de revista seja apreciado pela Corte Superior. Por vezes, a “disciplina ju-diciária” dos Magistrados das instâncias inferiores (TRTs) não é seguida, na medida em que a jurisprudência pacificada pelo Tribunal Superior do Trabalho por meio de suas Súmu-las ou Orientações Jurisprudenciais (OJs) não é observada.

Mesmo tendo a instância inferior decidido contrariamen-te à reiterada jurisprudência do TST, muitas vezes é negado seguimento ao recurso de revista ajuizado, o que obriga a in-terposição do Agravo de Instrumento para que a matéria seja apreciada pela Corte Maior. Nesses casos, o Agravo de Ins-trumento pode ser interposto sem intuitos procrastinatórios.

O setor empresarial posiciona-se favoravelmente a propostas voltadas à agilização de processos judiciais. No entanto, salienta que em certos casos o depósito recursal, medida para desestimular o mau uso do Agravo, assume caráter que torna ineficiente o trâmite de processos, resul-tando em prejuízos às partes litigantes.

7.2.5. Honorários advocatícios de sucumbência

Os enunciados 219 e 329 do Tribunal Superior do Tra-balho (TST) esclarecem que a parte vencida em litígio tra-balhista somente é condenada a pagar honorários advoca-tícios de sucumbência quando o vencedor for beneficiado pelo instituto da justiça gratuita e assessorado por sindicato, já que não existe atuação da Defensoria Pública na Justi-ça do Trabalho. Nesse caso, quando o vencedor não tem despesas com advogado, condena-se o vencido em verbas honorárias, as quais serão revertidas em favor do sindicato.

Nos processos trabalhistas, a gratuidade na justiça deve seguir o disposto na Lei nº 1.060/1950, que coloca critérios objetivos para sua concessão, não sendo mais possível a mera declaração da parte, sem qualquer prova documental para usufruir desse direito.

Embora a advocacia seja função essencial à adminis-tração da justiça, não é absoluta a assistência do profissio-nal da advocacia em juízo, podendo a lei prever situações em que é prescindível a indicação de advogado, dados os princípios da oralidade e da informalidade adotados pela norma para tornar mais célere e menos oneroso o aces-so à Justiça. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal já entendeu ser razoável, no caso dos Juizados Especiais, por exemplo, não se exigir a assistência de advogado em causas com valor inferior a 20 salários mínimos (ADI 1539).

Na Justiça do Trabalho, em vários processos, o valor postulado é efetivamente baixo, o que significaria que os honorários devidos aos advogados também seriam de va-lor baixo, muitas vezes não compensando financeiramen-te o trabalho do profissional, ao mesmo tempo em que onerariam o autor da ação.

Existem no Congresso Nacional propostas que preten-dem modificar o artigo 791 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) para vedar a sucumbência recíproca e pro-porcional, ficando os honorários advocatícios sucumben-ciais arbitrados entre 10% a 20% do valor da condenação a serem pagos pela reclamada, inclusive a Fazenda Pública, não podendo recair sobre o beneficiário da justiça gratuita.

A vedação da reciprocidade e da proporcionalidade da condenação dos honorários advocatícios sucumbenciais

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a preservação do instituto da gratuidade na Justiça do Trabalho, que fortaleçam a representação sindical ao mesmo tempo em que assegurem o compartilhamento proporcional entre as partes dos honorários advo-catícios de sucumbência.

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arbitrada nas porcentagens mencionadas não obedece ao princípio constitucional da isonomia por conferir ônus exacerbado à reclamada.

Essa desproporcionalidade pode ser ilustrada a partir de dados apresentados pelo Programa de Disseminação de Estatísticas do Trabalho (PDET/RAIS e CAGED). De acor-do com tais dados, a média salarial mensal dos demitidos sem justa causa em 2010, em todos os setores, foi de R$ 945,05. Naquele ano, se todas as reclamadas tivessem in-terposto recursos, tendo desembolsado previamente o depósito recursal, e admitindo-se que o piso do valor das causas na Justiça do Trabalho fosse aquela média salarial de R$ 945,05, chegar-se-ia ao montante total de R$ 2 bi-lhões de recursos movimentados. Nessa ilustração, se os honorários advocatícios sucumbenciais tivessem sido ar-bitrados em 10% sobre a condenação (o mínimo sugerido por algumas propostas) ter-se-ia um total estimado em R$ 200 milhões. Ao considerar-se o máximo de 20%, o gasto subiria para R$ 400 milhões, fora os demais encargos atri-buídos aos empregadores.

À luz dos expressivos montantes envolvidos, sobressai a necessidade de justa repartição do ônus, proporcional ao valor das condenações recíprocas. A legislação poderia permitir a divisão desses encargos de honorários sempre que houver condenação recíproca, mesmo que uma das partes seja beneficiária da justiça gratuita. Nesse caso, po-deria existir previsão de abatimento no valor da conde-nação a ser pago pela reclamada, inclusive se esta for a Fazenda Pública.

7.3. Pacto republicano

O movimento por um Judiciário mais rápido e republi-cano iniciou-se em dezembro de 2004, com a promulga-ção da Emenda Constitucional nº 45. O Executivo passou a envolver-se mais nessa questão, por meio da Secretaria de Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça. Desde então, os três Poderes têm procurado sistematizar propos-tas de aperfeiçoamento normativo e de acesso à Justiça, com reformas processuais e atualização de normas legais.

O Pacto Republicano não se limita a melhorias adje-tivas na forma de funcionamento da Justiça, mas tem alcance mais amplo, para fortalecer a proteção aos direi-tos humanos, à efetividade da prestação jurisdicional, ao acesso universal à Justiça e também ao aperfeiçoamento do Estado Democrático de Direito e das instituições do Sistema de Justiça.

Ao reduzir a morosidade da Justiça, os Pactos já firma-dos geraram outros problemas, quais sejam: concentração do poder decisório nos Tribunais Superiores, por meio da súmula vinculante, repercussão geral, recursos repetitivos, transcendência jurídica e orientações jurisprudenciais; normas processuais que privilegiam o Poder Público nas demandas judiciais; em muitos casos o encarecimento do processo; insegurança jurídica principalmente ao flexibili-zar garantias de contraditório e ampla defesa asseguradas no processo judicial; entre outros.

No mesmo sentido, sustentam alguns juristas que há um excesso de novas leis que pretendem ajustar o ordena-mento jurídico brasileiro, e os Pactos Republicanos com as reformas que pretendem realizar apenas contribuem com essa “inflação normativa”. Para eles, mais adequado seria exi-gir o efetivo e fiel cumprimento das legislações vigentes.

7.4. ação civil Pública (acP)A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras está alinhada com os princípios que norteiam os Pactos Republicanos e acompanha com grande interesse as propostas que deles emanam, no en-tendimento de que tais propostas se circunscre-vem à ampliação e facilitação do acesso à Justiça, bem como ao seu aprimoramento processual.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia projetos voltados à facilitação do ajuizamento de Ações Civis Públicas que ampliem o acesso à Justiça, favoreçam a isonomia entre

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95Capítulo 7 | Eficiência Judiciária E SEgurança Jurídica

No âmbito do II Pacto Republicano, foram formula-das propostas de readequação e modernização da tutela coletiva para responder às profundas transformações so-ciais ocorridas desde a edição da Lei da Ação Civil Pública (ACP), de 1985.

A intenção dessas propostas é que a ACP seja ajuizada para garantir a proteção: do meio ambiente, da saúde; da educação; do trabalho; do desporto; da segurança públi-ca; dos transportes coletivos; da assistência jurídica inte-gral e da prestação de serviços públicos; do consumidor, do idoso, da infância e juventude, das pessoas portadoras de necessidades especiais; da ordem social, econômica, urbanística e financeira, da economia popular, da livre concorrência, do patrimônio público e do erário; dos bens e direitos de valor artístico, cultural, estético, histórico, turístico e paisagístico e de outros interesses ou direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos. As propos-tas hoje em tramitação no Congresso divergem quanto à possibilidade de ajuizamento de ACP sobre questões tri-butárias e previdenciárias.

As ACPs propiciam diversas vantagens a seus autores e à sociedade em geral. Favorecem a isonomia entre as partes, na medida em que um número extenso de consu-midores, por exemplo, representados em juízo por entida-de de classe terá mais condições de sucesso numa ação judicial contra uma grande corporação do que cada um deles isoladamente. Também amplia o acesso à Justiça, já que a defesa da coletividade inclui pessoas que, de outra maneira, não teriam iniciativa ou condições de estar em juízo. Promove a economia processual, porque o julga-mento de várias demandas em um único processo evita a

análise de uma mesma questão inúmeras vezes. Também melhora a qualidade das decisões judiciais, uma vez que o julgamento conjunto de múltiplas demandas permite um exame mais aprofundado da controvérsia jurídica.

Hoje, ACPs podem ser ajuizadas pelo Ministério Pú-blico, Defensoria Pública, União, Estados, Distrito Federal, Municípios e respectivas autarquias, empresas públicas, fundações e sociedades de economia mista, e também por associações constituídas há mais de um ano.

Uma das principais novidades da discussão de novas propostas é a ampliação do leque de propositores, com possibilidade de a ACP ser ajuizada também pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), por partidos políticos e por associações civis e fundações de direito privado le-galmente constituídas. Não obstante a relevância social dessas importantes entidades, a ampliação do leque de partes legitimadas não exige expressamente requisitos que assegurem responsabilidade e confiabilidade das as-sociações propositantes.

Em alguns momentos, propostas de modificação da processualística das ACPs exorbitam e conferem excessi-va competência ao juiz, que poderia, por exemplo, alterar atos e fases do processo “para garantir a efetiva tutela do interesse coletivo”. O juiz também poderia impor multa pessoal ao agente público ou representante da pessoa jurídica de direito privado responsável pelo cumprimento da decisão que impôs a obrigação, o que viola o direito à ampla defesa e o contraditório, uma vez que a pessoa física não foi parte do processo, mas, sim, a pessoa jurídica.

Também se discute a execução coletiva do compromis-so de ajustamento de conduta mediante intervenção na pessoa jurídica de direito privado. Trata-se de uma inovação preocupante, pois não estão previstos critérios para orientar a intervenção. Não há qualquer referência específica a ga-rantias constitucionais e/ou legais, nem regramento quanto ao cabimento, circunstância, forma ou prazo da “interven-ção na empresa”. A intervenção é uma medida drástica, que viola o direito de propriedade, o livre exercício da atividade econômica e os demais direitos econômicos previstos no artigo 170 da Constituição Federal.

as partes, promovam a economia processual e melhorem a qualidade das decisões judiciais, na medida em que tais projetos não tragam impac-tos negativos sobre a segurança jurídica para o ambiente de negócios, não politizem o Judiciário, não rompam o equilíbrio entre as partes litigantes e não confiram poderes exorbitantes ao juiz e ao Ministério Público.

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Exorbitâncias dessa natureza representam retrocesso nas garantias processuais, em especial ao devido processo legal, ao contraditório, à imparcialidade do juiz, ao juiz na-tural – e coloca, principalmente, o réu da ação coletiva em uma posição muito desfavorável.

7.5. desconsideração da personalidade jurídica

Ao longo da História, a constituição de entidades co-merciais desenvolveu-se a partir da distinção entre a per-sonalidade jurídica da empresa e a dos seus sócios. A se-paração de direitos e obrigações da entidade comercial, com personalidade própria, daqueles que a constituíram deu grande autonomia às empresas, que passam assim a ser sujeitos de Direito. Contudo, essa separação também se prestou a fraudes, razão pela qual a personalidade jurí-dica não é intangível. Não prevalece a separação patrimo-nial entre a pessoa jurídica da empresa e a dos seus mem-bros nos casos em que essa separação é desvirtuada para a prática de atos ilegais. Para tanto, a desconsideração da personalidade jurídica não implica suprimir, extinguir ou tornar nula a sociedade, mas sim afastá-la momentanea-mente para atingir seus sócios por atos fraudulentos prati-cados pela empresa.

Por um lado, a desconsideração da personalidade jurí-dica limita e coíbe o uso indevido do privilégio da separa-ção patrimonial. Por outro, a exacerbação do instituto in-troduz grande insegurança jurídica quando atinge sócios nos casos em que não se verificam atos ilegais, praticados ao abrigo da separação patrimonial.

7.6. interdito Proibitório

O interdito proibitório é a medida judicial disponí-vel na legislação processual, passível de adoção quan-do houver ou ameaça de perturbação, ou ofensa efe-tiva que impeça o exercício da posse (esbulho) contra o possuidor. O artigo 932 do Código de Processo Civil estabelece que:

O possuidor direto ou indireto, que tenha justo receio de ser molestado na posse, poderá impetrar ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente, mediante mandado proi-bitório, em que se comine ao réu determinada pena pecuniá-ria, caso transgrida o preceito.

Em 2007, uma entidade de representação de trabalha-dores ajuizou a Ação de Descumprimento de Preceito no Supremo Tribunal Federal (ADPF) nº 123 para que a Corte impeça magistrados da justiça comum, federal e do traba-lho de aplicar o instituto do interdito proibitório, alegan-do violação aos artigos constitucionais 1º, IV (dignidade da pessoa humana); 9º (direito de greve); 8º (liberdade e autonomia sindical); 5º, IV (liberdade de manifestação de pensamento); e 5º, II (princípio da legalidade, liberdade e autonomia de vontade). A entidade pediu ainda a conces-são de liminar para suspender todas as decisões judiciais que aplicam o interdito possessório contra grevistas e to-dos os processos em curso na justiça que pedem a utiliza-ção do dispositivo.

Entretanto, contrariamente ao que foi argumentado pela arguente, o instrumento processual do interdito proibitório não é utilizado com a finalidade de impedir

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia proposições voltadas para a explicitação da desconsideração da personalidade jurídica que não introduzam insegurança jurídica nas relações contratuais, de modo que o instituto seja utilizado apenas nos casos de comprovado mau uso da pes-soa jurídica e que proteja os sócios nos casos em que não se verifiquem atos ilegais, praticados ao abrigo da separação patrimonial.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que salvaguardem a função social da propriedade. A CNF, ao mesmo tempo em que defende o direito constitucional dos trabalha-dores à greve, sublinha que esse direito deve ser exercido dentro dos limites da lei, sem abusos que ameacem o direito de posse mansa e pacífica, bem como o livre exercício das atividades empresariais.

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97Capítulo 7 | Eficiência Judiciária E SEgurança Jurídica

o direito inalienável ao exercício de greve, mas tão so-mente salvaguardar a função social da propriedade de eventuais impedimentos de acesso durante manifesta-ção grevista.

Nesse sentido, os estabelecimentos bancários não se restringem à oferta de bens e serviços para o mer-cado, recolhimento de tributos ao Estado e geração de emprego para trabalhadores: as instituições bancárias devem observar as regras de tutela do consumidor, do meio ambiente, de segurança, bem como do direito do trabalho. Todas essas se incluem no âmbito do ônus do direito de posse. Um dos meios para a garantia da ma-

nutenção da posse, baseada em tais regras, é o interdito proibitório.

Embora a greve seja um direito constitucional do tra-balhador que constitui um legítimo meio de pressão social e econômica, não há, em um regime democrático, direitos absolutos. Desse modo, esse instrumento não deve ser visto como forma de limitação da manifestação de movi-mentos de trabalhadores organizados, mas de coibição de eventuais abusos que podem decorrer da utilização desse direito. O interdito proibitório é, antes de tudo, uma forma de proteção da função social da propriedade dos estabe-lecimentos patronais.

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reguLaMenTaÇÃo do arTigo 192 da

CONSTITUIçãO FEDERAl

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101Capítulo 8 | Regulamentação do aRtigo 192 da Constituição FedeRal

A higidez do Sistema Financeiro Nacional (SFN) é funda-mental para o desenvolvimento sustentável do Brasil.

A estabilidade econômica é produto também da eficiên-cia do sistema financeiro. A estrutura do SFN, suas regras de funcionamento, o raio de atuação da autoridade mo-netária, o papel das instituições públicas e privadas, entre outros, estão entre as questões mais relevantes da agenda nacional de desenvolvimento.

O texto estabelecido pela Constituição de 1988 dava margem a alguma insegurança jurídica, ao tratar do Siste-ma Financeiro Nacional em oito incisos, duas alíneas e três parágrafos. A redação dada originalmente ao artigo 192 determinava que o Sistema Financeiro Nacional seria regu-lado por uma única lei complementar. Esses dispositivos foram revogados pela Emenda Constitucional nº 40/2003 e hoje, a Carta Magna, no seu Título VII (da Ordem Econô-mica e Financeira), Capítulo IV (do Sistema Financeiro Na-cional), artigo 192, tem uma redação concisa e objetiva:

Art. 192. O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, em todas as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis complementares que disporão, inclu-sive, sobre a participação do capital estrangeiro nas institui-ções que o integram.

O Supremo Tribunal Federal entendeu que a Lei nº 4.595/1964, que “dispõe sobre a Política e as Instituições Monetárias, Bancárias e Creditícias, cria o Conselho Mone-tário Nacional e dá outras providências”, foi recepcionada pela Constituição de 1988 com o status de Lei Comple-mentar. A legislação atual, com quase cinquenta anos, permitiu ao país a criação e o desenvolvimento de um sistema financeiro moderno, sólido, regulamentado e efi-

8. regulamentação do artigo 192 da constituição Federal

O art. 192 da Constituição Federal define o papel do Sistema Financeiro Nacional e determina sua regulamentação por leis complementares. Para a Confederação Nacional das Instituições Financei-ras, a questão fundamental que permeia a regula-mentação do artigo 192 é a da estabilidade jurídi-ca para o ambiente de negócios. Para tanto, a CNF apoia projetos de regulamentação desse artigo que preservem o equilíbrio dos contratos e que não acarretem riscos derivados de insegurança ju-rídica, que se refletiriam nos preços (por exemplo, tarifas e taxas de juros). Isso pode ser alcançado pela adoção de dispositivos legais abrangentes, claros e inequívocos que, sempre que possível, remetam questões técnicas para legislação ordi-nária ou para decisões do Conselho Monetário Nacional. Diante do notável dinamismo dos sis-temas financeiros nacional e internacional, a CNF apoia projetos de regulamentação do artigo 192 da Constituição Federal que evitem o possível en-rijecimento de dispositivos – que podem se reve-lar críticos em situações emergenciais.

ciente, respeitado no mundo inteiro. Contudo, o desenvol-vimento da economia brasileira e as mudanças verificadas no mercado financeiro mundial requerem, cada vez mais, o aprimoramento desse marco regulatório.

A CNF acredita que uma discussão profunda, técnica e responsável fortalecerá ainda mais o SFN e dará impul-so adicional ao crescimento econômico e à modernização das relações econômicas no Brasil.

No exame da regulamentação do artigo 192 da CF, a Confederação assinala pontos para reflexão, que tra-tam, entre outros, de: abrangência da expressão “Sis-tema Financeiro Nacional”; necessidade de edição de Leis Complementares; conteúdo e alcance da expressão “desenvolvimento equilibrado”; conteúdo e alcance da expressão “atendimento aos interesses da coletividade”;

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102 AgendA do SetorFinanceiro2013

estrutura e papel do Conselho Monetário Nacional; com-petência normativa do Conselho Monetário Nacional; es-trutura, papel e autonomia do Banco Central; definição e papel das Instituições financeiras; cooperativas de cré-dito; tratamento do capital estrangeiro; mercado de ca-pitais; seguros; capitalização; previdência privada; regras de funcionamento de agências e de atendimento de clientes; padrões e normas de segurança; direito adquiri-do em relação ao regime legal monetário ou por índices de correção monetária; neutralidade do setor financeiro e responsabilidade pelos efeitos decorrentes da execu-

ção de políticas e normas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional; correspondentes não bancários; digitalização; igualdade de condições de concorrência entre instituições financeiras públicas e privadas; depó-sitos dos estados, do Distrito Federal, dos municípios e dos órgãos e entidades do Poder Público; Nota de Crédi-to Bancário e outros títulos de crédito; tarifas bancárias; tabelamento de juros; tabelamento de spread; comissão de permanência; capitalização de juros para prazos infe-riores a um ano; e tributação adicional da intermediação financeira.

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Banco CENTRAl

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107Capítulo 9 | Banco central

Bancos centrais acumularam experiência de séculos que permite identificar quais funções bem-sucedi-

das se coadunaram com seu papel de agente do Estado e quais, fracassadas, representaram retrocesso. Desde a primeira instituição que atuou como banco central (o Banco da Inglaterra, em 1694), passando pelo Banco da República Oriental do Uruguai (o primeiro Banco Central latino-americano, de 1896) e pelo Banco do Brasil (que, en-tre 1808 e 1964, executou várias das atividades de banco central), foram muitas as instituições que desempenharam a grande função desse tipo de autarquia estatal: a busca da estabilidade, seja macroeconômica (pelo exercício das políticas monetária e cambial), seja microeconômica (pela regulação e supervisão do sistema financeiro).

O Banco Central do Brasil, criado pela Lei nº 4.595/1964, é hoje responsável pela formulação, exe-cução e acompanhamento da política monetária; pelo controle das operações de crédito em todas as suas for-mas, no âmbito do sistema financeiro; pela formulação, execução e acompanhamento da política cambial e de relações financeiras com o exterior; pela organização, disciplinamento e fiscalização do Sistema Financeiro Nacional, do Sistema de Pagamentos Brasileiro e do Sis-tema Nacional de Habitação, e ordenamento do mer-cado financeiro; bem como emissão de papel-moeda e de moeda metálica, além da execução dos serviços do meio circulante. Também desempenha outras fun-ções de normatização, autorização e fiscalização que envolvem sociedades administradoras de consórcios, sociedades de arrendamento mercantil, sociedades de crédito imobiliário, as associações de poupança e em-préstimo, o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), as cooperativas de crédito e fomento mercantil (factoring). Ademais, tem importante papel de assessor econômico do Governo e de fonte de informações para o público, tanto de caráter técnico quanto de orientação.

Hoje, as discussões sobre o Banco Central tratam, entre outras, das questões da missão e da estrutura da autarquia.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para o fortaleci-mento das funções atuais do Banco Central do Brasil, de autoridade monetária, de supervisor e regulador do Sistema Financeiro Nacional, ao abri-go de uma única autarquia, ao mesmo tempo em que recomenda cautela no exame de novas mis-sões tais como a de fomentador do crescimento econômico e da geração de empregos, que extra-polem o mandato hoje exercido pelo Bacen.

9. Banco central

Quanto à missão, a experiência internacional e, sobre-tudo, a experiência inflacionária brasileira recomendam cautela na discussão de outros mandatos para o Banco Central que excedam a busca da estabilidade da moeda e a regulação do Sistema Financeiro Nacional. No caso do Brasil, o papel de “banqueiro do Governo” ficou muito além do que seria adequado para uma sociedade que procura preservar o valor da moeda. Também ficaria além o papel de fomentador do crescimento econômico, uma vez que função dessa natureza daria à autarquia a missão de buscar três objetivos – controle da inflação, indução da atividade econômica e geração de empregos – que nem sempre são compatíveis no curto prazo. O papel de depositário exclu-sivo das reservas internacionais, por sua vez, fica aquém do que se espera em matéria de gestão prudente de recursos públicos, ao induzir a concentração, numa única institui-ção, de recursos que obteriam mais segurança e melhor rentabilidade se aplicados em várias outras instituições se-melhantes. Igualmente aquém está hoje o papel de “banco dos bancos”, ou emprestador de última instância, uma vez que é o Fundo Garantidor de Créditos, uma entidade pri-vada, que, em boa medida, passou a exercer essa função (ver seção 10.7 – Fundo Garantidor de Créditos (FGC)).

Quanto à estrutura do Bacen, as funções de autorida-de monetária e de órgão regulador foram abrigadas numa única instituição, que deu resposta adequada à crise e minimizou seus efeitos. A experiência internacional que isolou essas funções em duas instituições distintas (os cha-

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108 AgendA do SetorFinanceiro2013

mados twin peaks) não se mostrou especialmente robusta para prevenir e mitigar a crise financeira internacional.

9.1. autonomia do Banco central

A autonomia operacional do Banco Central distingue as funções de Governo das de Estado: a preservação do valor da moeda é claramente uma missão estatal, que independe da conjuntura política. Pode ser adotada para afastar a política monetária de pressões políticas e da influência de grupos de interesse. Com isso, a condução da política monetária não conflitaria com interesses do Governo de turno ou de partidos políticos. A autonomia poderia deslocar os mandatos fixos de diretores do Banco Central do calendário político. Também afastaria a estabili-dade monetária do falso dilema entre crescimento econô-mico e tolerância com a inflação.

A autonomia do Banco Central constitui-se numa delegação de poder para uma entidade colegiada buro-crática. Tal delegação não poderia ocorrer sem a devida contrapartida, na forma de supervisão dos Poderes Execu-tivo e Legislativo, com avaliação periódica de critérios de desempenho próprios ao mandato da autoridade mone-tária. Por parte do Executivo, essa avaliação periódica está ligada ao regime de política monetária e sua operacionali-zação, com definição das metas para a inflação. Já no Con-gresso Nacional, a legislação poderia definir a frequência de sessões às quais compareceriam diretores do Banco Central para debater a política monetária, o que não im-pediria que a Câmara ou o Senado convocassem Diretores e representantes da autoridade monetária sempre que a situação o recomendasse.

9.2. defesa da concorrência: competência do Bacen

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras recebeu com satisfação o Parecer da Advocacia-Geral da União (AGU) sobre o conflito de competência entre o Banco Central e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), exarado em abril de 2001. O parecer permanece atual.

Esse parecer conclui pela competência privativa do Banco Central do Brasil para analisar e aprovar os atos de concentração de instituições integrantes do Sistema Fi-nanceiro Nacional, bem como para regular as condições

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia a autonomia operacional do Banco Central e acompanha com interesse as discussões sobre autonomia legal da autarquia, desde que essa auto-nomia seja acompanhada de ampla e transparente prestação de contas sobre o desempenho da au-toridade monetária. Para a CNF, qualquer discussão sobre autonomia legal do Banco Central deve con-siderar que a missão fundamental da autarquia será sempre a de preservar o valor da moeda. Para tanto, tal discussão deve considerar, entre outros, a defini-ção de responsabilidade pela fixação da meta de in-flação; manejo dos instrumentos de política mone-tária e de política cambial para o atingimento dessa meta; estrutura operacional do Banco Central e re-gras de governança; mandato fixo para o Presidente e a Diretoria; regras de indicação do Presidente e da Diretoria; independência orçamentária da autarquia, com clara identificação das fontes de receita e rubri-cas de despesa; e as relações do Banco Central com o Tesouro Nacional, com vedação da atuação da au-tarquia como emprestador de última instância para o Governo e como agência de fomento.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a regulamen-tação das questões de defesa da concorrência atinentes ao setor financeiro, uma vez que na au-sência de regulamentação do artigo 192 da Cons-tituição Federal, que trata do Sistema Financeiro Nacional, essa matéria vem sendo regulada pela Lei nº 4.595/64, que foi recepcionada pela CF como Lei Complementar. Eventual alteração nessa situação não se pode dar por lei ordinária, menos ainda por decisão administrativa.

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109Capítulo 9 | Banco central

de concorrência entre instituições financeiras e aplicar-lhes as penalidades cabíveis. Para a AGU, não procedem os argumentos favoráveis à competência do CADE para apreciar os atos da concentração de instituições finan-ceiras, que se baseiam no fato de a Lei nº 8.884/94, que disciplina a defesa da concorrência, não prever nenhu-ma exceção à competência do CADE e de essa Lei ser posterior à Lei nº 4.595/64 (com o que derrogaria as dis-posições desta sobre competência para defesa da con-corrência). A Lei nº 4.595/64 foi recepcionada pela Cons-tituição de 1988 como Lei Complementar e não poderia ser derrogada por lei hierarquicamente inferior, como é o caso da Lei ordinária nº 8.884/94.

A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) examinou processo em que se discutiu o conflito de com-petência entre o CADE e o Bacen, evidenciado quando o primeiro manifestou-se sobre a compra, devidamente aprovada pelo segundo, do Banco de Crédito Nacional S/A (BCN) pelo Bradesco S/A. Foi a primeira vez em que o STJ apreciou a aquisição de um banco por outro.

Em setembro de 2009, a relatora do recurso, Minis-tra Eliana Calmon, votou pela competência exclusiva do Banco Central do Brasil para apreciar atos de con-centração (aquisições, fusões, etc) envolvendo institui-ções integrantes do Sistema Financeiro Nacional. Para a Ministra Eliana Calmon, a partir da Lei Complementar n° 73/1993, que dispõe sobre a organização e o fun-cionamento da AGU, o parecer da Advocacia-Geral da União deveria ser suficiente para solucionar a ques-tão, sem necessidade de interferência do Judiciário, pois, considerando-se que tanto o CADE quanto o Ba-cen são autarquias, ambos são entidades integrantes da Administração Pública Federal submetidas aos efeitos vinculantes dos pareceres publicados da AGU, conforme o art. 40, §1º da referida LC. Além disso, a relatora reiterou que a Lei do Sistema Financeiro, Lei n° 4.595/1964 prevalece “em relação aos dispositivos da Lei Antitruste, pois, a [seu] ver, ela é lei especial em re-lação à Lei n° 8.884/1994”. Em 25 de agosto de 2010, o STJ finalizou o julgamento, decidindo que o CADE não tem competência para analisar fusão de bancos, ante a inexistência de previsão legal para que o Conselho atue

de maneira decisória sobre operações envolvendo as instituições financeiras. Entretanto, o CADE interpôs re-curso extraordinário, pendente de apreciação pelo STF.

Não menos importante, a Ministra Calmon rechaçou ainda uma terceira via de interpretação, orientada pelo princípio da complementariedade: “o modelo de compe-tências concorrentes, em que as autoridades de defesa da concorrência e as regulatórias teriam poderes sobre-postos para a apreciação das questões concorrenciais”. Segundo ela, “a sistemática, cujo exemplo maior está na legislação americana, além de não encontrar no Brasil respaldo legal, desenvolve-se dentro de uma realidade fática inteiramente diversa”.

Além disso, com a entrada em vigor da Lei nº 12.529/2011, e nova estrutura, por ela arquitetada, do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência, a polêmi-ca do tema ganhou novos contornos. Reestruturado de modo a abranger algumas competências antes dedica-das ao Ministério da Fazenda e ao Ministério da Justiça, o Cade – ou Supercade, como passou a ser chamado – é agora o único órgão responsável por analisar e julgar pro-cessos de atos de concentração e conduta. Mais ainda, a nova lei exige que as partes envolvidas não concluam as transações sujeitas à notificação obrigatória sem prévia aprovação pelo Cade. O Cade vem sedimentando o en-tendimento de que não há setor da economia alheio ao seu controle concorrencial.

Por outro lado, embora não tenha solucionado o conflito de competência positivo, o Banco Central edi-tou Circular em 2012, nº 3590, que dispõe sobre a análise de atos de concentração no Sistema Financeiro Nacional pelo Bacen. Como não restou estabelecido critério para determinar a necessidade de uma avaliação concorren-cial do negócio pelo Banco Central, presume-se que tal ausência de critérios implica que todos os negócios en-volvendo instituições por ele reguladas estariam sujeitos à sua análise antitruste. Ainda conforme o normativo, foi previsto um Guia para Análise de Atos de Concentração no Sistema Financeiro Nacional, elaborado pelo Departa-mento de Organização do Sistema Financeiro (Deorf ) e divulgado em abril daquele ano.

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9.3. Funções de supervisão bancária A higidez do Sistema Financeiro Nacional é resultado direto de uma supervisão bancária eficiente, balizada por regras claras e inequívocas, às quais é dada a devida publi-cidade. A crise financeira internacional de 2008 demons-trou a importância de uma supervisão bancária eficaz por parte de agência estatal competente. No Brasil, o Banco Central tem desempenhado com eficácia essa função, sem prejuízo de sua missão maior, que é a de preservar o valor da moeda.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras acredita que a função de supervisão bancá-ria deva ser deixada a cargo do Banco Central do Brasil, autarquia que conta com pessoal qualificado e instrumental adequado para coletar e analisar as informações relevantes que indicam a solvência de instituições financeiras específicas e o nível de risco sistêmico no setor financeiro.

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115Capítulo 10 | Crédito

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia projetos voltados para a ampliação do acesso de pessoas físicas e jurídicas às diver-sas modalidades de crédito. Para tanto, é essencial a expansão da bancarização, acompanhada de educação financeira que contribua para o crédito consciente, a implementação do cadastro positi-vo e a redução dos fatores que condicionam as margens bancárias (tais como tributação sobre in-termediação financeira e depósito compulsório). Para a CNF, a expansão do crédito deve se dar em um ambiente concorrencial de livre negociação em condições de igualdade para todas as institui-ções autorizadas a operar pelo Banco Central.

10. crédito

O crédito no Brasil passa por transformações estruturais profundas, que resultam em aumento do volume

ofertado, ampliação do prazo médio e redução da mar-gem bancária (spread).

Em relação ao PIB, o volume total de crédito passou de 25,8% em 2001 (ou R$ 336 milhões) para 53,5%, em 2012 (ou R$ 2,360 bilhões). No ano passado, recursos li-vres representaram 33,7% do PIB (ou R$ 1,485 bilhões) e direcionados atingiram 19,8% do PIB (ou R$ 873,7 mi-lhões). Dos recursos livres em 2012, R$ 724,3 milhões foram destinados a pessoas físicas e R$ 761,5 milhões a pessoas jurídicas.

Recursos direcionados mais que dobraram nos últimos dez anos, passando de 8,5% em 2001 para 19,8% do PIB em 2012. Hoje, para cada dois reais concedidos pelos bancos em modalidades de crédito livres, um é obrigatoriamen-te concedido em modalidades direcionadas. A concessão de financiamentos a taxas subsidiadas para determinados segmentos implica custos para o setor financeiro, uma vez que tais taxas são inferiores aos custos de captação e não cobrem despesas operacionais e de pessoal. Esses custos são diluídos na carteira total de operações de financia-mento, com o que são elevadas as taxas que incidem so-bre as demais modalidades de financiamento.

Do lado das operações ativas dos bancos, houve um aumento progressivo dos prazos, em grande medida como resposta à disponibilização de novas modalidades de operações (como, por exemplo, a do crédito consigna-do) e, ainda, como resultado do próprio processo de esta-bilidade econômica. Entre dezembro de 2003 e dezembro de 2012, além do crescimento das operações de crédito, o prazo médio dessas operações se elevou de 296 para 632 dias, para as pessoas físicas, e de 170 para 432 dias, no caso das pessoas jurídicas. Em especial, no segmento de pes-soas físicas, os empréstimos consignados e as operações de financiamento de veículos foram os principais respon-sáveis por esse movimento.

As margens bancárias (spreads) vinham oscilando desde 2003, até declinar para 31,32% em dezembro de 2011. Essa tendência é ainda mais acentuada no comportamento dos spreads em operações de pessoas físicas: de 50% em janeiro de 2004 para 33,68% em dezembro de 2011. Para pessoas jurídicas, os spreads também oscilaram desde 2003, retor-nando ao mesmo patamar do início da série (de 26,57% em janeiro de 2004 para 26,74% em dezembro de 2011). Ade-mais, o patamar dessas operações é bem mais baixo, pra-ticamente em linha com padrões internacionais, passando de 19,9% em fevereiro de 2009 para 17,1% em março 2010.

10.1. alienação fiduciária

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a expansão do instituto da alienação fiduciária, de maneira a ampliar o leque de modalidades de crédito que poderiam se beneficiar de redução das taxas de juros, bem como para o aprimoramento do mar-co regulatório desse instituto, sem trazer ônus adicionais aos tomadores (tais como a criação de

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116 AgendA do SetorFinanceiro2013

O instituto da alienação fiduciária constitui-se na transferência da propriedade de um bem móvel ou imóvel do devedor, ou fiduciante, para o credor, ou fi-duciário, a fim de garantir a liquidação de uma dívida ou obrigação. Ocorre quando da aquisição de bens a crédito, sendo o bem a própria garantia. O arcabouço da alienação fiduciária reduziu a inadimplência e com isso promoveu aumento na concessão de crédito, prin-cipalmente o imobiliário.

Com o advento da Lei n° 9.514/1997, a alienação fidu-ciária deixou de ser exclusividade de bens móveis e pas-sou a incluir os bens imóveis no âmbito do Sistema Finan-ceiro da Habitação. Desde então, o regime fiduciário tem estado presente na legislação voltada ao setor imobiliário, como é o caso da Lei n° 10.931/2004, que instituiu o Patri-mônio de Afetação.

Uma discussão importante que envolve esse insti-tuto trata da extinção do contrato de alienação fidu-ciária quando houver o desaparecimento ou pereci-mento da coisa objeto do acordo, por motivo de força maior ou caso fortuito (como roubo ou furto). Com isso, o contrato de alienação fiduciária seria equipara-do ao contrato de depósito. Ocorre que o perecimen-to da coisa alienada já foi devidamente regulado no Código Civil em seu artigo 1.436, no qual se estabe-lece os casos de cessação da propriedade fiduciária. Também o Superior Tribunal de Justiça (STJ) firmou posicionamento no sentido de que o perecimento da coisa depositada exclui a obrigação do depositário de restituir o objeto do depósito, eximindo-o da condu-ta infiel, sem, contudo, excluir sua responsabilidade pelo débito.

10.2. crédito consignado

O crédito consignado compromete parcela da renda dos tomadores para pagamento direto das prestações, o que contribui para dar mais garantia à intermediação financeira e reduzir o custo do crédito. Essa modalidade, além de ampliar o acesso dos trabalhadores ao crédito com condições mais favoráveis, contribui para o cresci-mento do mercado de consumo. Por ser uma modalidade recente, ainda carece de aprimoramentos.

Esse instrumento de crédito, principalmente depois da inclusão dos trabalhadores sob regime da CLT em 2003 e dos aposentados e pensionistas em 2004, tornou-se uma das modalidades de empréstimo que mais cresce no mer-cado brasileiro. Dados do Banco Central do Brasil mostram que a participação relativa desses empréstimos no total do crédito pessoal concedido pelo mercado é de 59,7%, sendo que o volume das operações de crédito consigna-do cresceu 18,1% de dezembro de 2011 a dezembro de 2012. Por se tratar de uma alternativa de dívida mais ba-rata, houve uma forte migração dos contratos de crédito pessoal a favor dos empréstimos em consignação.

As discussões sobre o consignado estão centradas, so-bretudo, nas seguintes questões: as taxas de juros cobra-

novos trâmites para registro de bens móveis e/ou imóveis e de entraves burocráticos desneces-sários). A CNF reafirma o entendimento de que o desaparecimento ou perecimento da coisa ob-jeto do acordo não extingue a responsabilidade pelo débito.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas voltadas para a ampliação do acesso a todas as modalidades de crédito, inclusive o consignado, que contemplem: livre fixação das taxas de juros; medidas de incentivo para redução das taxas de juros assentadas sobre livre concorrên-cia, que impliquem igualdade de tratamento e de condições para instituições financeiras (indepen-dentemente de seu porte e da natureza do con-trole de seu capital); liberdade de contratação por todos os segmentos da população; e exame cuida-doso dos impactos de outras consignações. A CNF também apoia propostas de educação financeira direcionadas para os segmentos da população que fazem maior uso do crédito consignado.

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117Capítulo 10 | Crédito

das, apesar de serem as mais atrativas; a margem de con-signação; a exclusividade de alguns bancos para conces-são dessa modalidade de crédito a segmentos específicos (tais como servidores públicos); requisitos para obtenção do crédito (como a presença física do cliente para contra-tação); e extensão da consignação para outras obrigações contratuais, (por exemplo, aluguel e plano de saúde).

A limitação das taxas de juros é inócua, porque a redu-ção dessas taxas passa pela construção de condições que propiciem o aumento da oferta de crédito. Para tanto, a concorrência é fator fundamental tanto para redução dos custos quanto para ampliação da base de clientes.

Um caso específico de limitação de taxas de juros diz respeito a aposentados e pensionistas. Dispositivos le-gais dificultam a equiparação das taxas de juros cobradas desses tomadores de crédito consignado às cobradas de trabalhadores da ativa. Norma do INSS induz todas as ins-tituições financeiras a sempre aplicarem, para dada uni-dade da Federação, as taxas de juros mais elevadas (§ 11 do artigo 1º da Instrução Normativa INSS/DC n° 121/2005). Por força da norma, os custos mais altos de originação constituem o parâmetro para toda e qualquer operação de crédito no mesmo Estado para beneficiários do INSS; cria-se a situação curiosa em que o teto se converte em um piso de taxa de juros a ser aplicada a operações com aposentados e pensionistas - a taxa de juros para esse seg-mento, em um mesmo Estado, passa a ser a taxa mínima que é oferecida a todos os beneficiários do INSS.

Sobre a margem de consignação, a legislação pre-vê um teto de 30% da remuneração e dos benefícios do consignante, seja para trabalhadores do setor privado (Lei n° 10.820/2003), seja para servidores públicos (De-creto n° 6.386/2008 que regulamenta o art. 45 da Lei n° 8.112/1990). Esse teto está alinhado com a prática inter-nacional e constitui-se em freio para o superendividamen-to, no caso de consignantes menos familiarizados com operações financeiras ou mais propensos ao descontrole orçamentário. Nesse sentido, proliferam proposições tan-to para elevar o teto, quanto para reduzi-lo. Tais proposi-ções refletem a conjuntura econômica do momento em que são apresentadas, sempre cambiante. A alteração do

teto por lei ordinária introduz rigidez que não é compatí-vel com um cenário econômico em constante mutação. Também o Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem exarado decisões no sentido da manutenção do teto de 30% da remuneração ou dos benefícios para assegurar o míni-mo existencial, noção resultante dos princípios constitu-cionais da isonomia e da dignidade da pessoa humana, consubstanciado nas normas dos artigos 1°, inciso III, e 3°, inciso III, da Constituição Federal.

Quanto à concentração dessa modalidade de cré-dito em alguns bancos, sejam instituições oficiais, se-jam instituições com capital superior a determinado patamar, esse tipo de reserva de mercado foi vedada a partir de 1° de janeiro de 2012 pela Resolução CMN n° 3.424/2006. No âmbito judicial, o Supremo Tribunal Federal (STF) tem decidido pelo fim da exclusividade na concessão do crédito consignado ao funcionalismo pú-blico dos Estados. Em 2012, dois Decretos Estaduais, um da Bahia e outro do Mato Grosso do Sul, foram objetos de decisões monocráticas da Presidência da Corte que, ao negarem procedência à suspenção de segurança so-licitada pelos Governos desses dois Estados, liberou a concessão de empréstimo consignado aos servidores públicos desses Estados a todas as instituições financei-ras. Na fundamentação dessas decisões, afirmou-se que a vedação à exclusividade está em consonância com os princípios constitucionais da ordem econômica, entre eles o da livre iniciativa (art. 1º, IV, e 170, caput) e da livre concorrência (art. 170, IV).

No que toca aos requisitos para obtenção de crédito, os projetos que tramitam no Congresso Nacional cobrem situações diversas como presença física do cliente para contratação com vedação para consignação por meio de caixas automáticos, necessidade de registro notarial de operações, exigência da presença de familiares quando da contratação de empréstimo por idosos, para mencionar alguns casos. O traço comum desses projetos é a preocu-pação com a prevenção de fraudes e a coação de toma-dores hipossuficientes, ambas previstas no Código Penal. Proposições nesse sentido requerem cautela na medida em que podem afetar a capilaridade na distribuição dos recursos e o volume de crédito ofertado.

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Por fim, a extensão da consignação a, por exemplo, aluguel e plano de saúde se, por um lado, simplifica procedimentos operacionais e poupa tempo aos consumidores, por outro lado, introduz outras obrigações contratuais que concorrerão com o consignado de crédito pela mesma garantia, lastreada na renda do tomador. Como resultado, pode ocorrer o enca-recimento dessa modalidade, o que requer exame cuidadoso.

10.3. crédito direto ao consumidor (cdc)

Em 2012, o avanço da massa real de rendimentos e o elevado grau de confiança dos consumidores deram gran-de estímulo ao crédito direto ao consumidor (CDC). O au-mento do número de operações e do volume de financia-mentos concedidos reduziu as margens bancárias (spreads) dessa modalidade de 61,0% em março de 2004 para 38,1% em dezembro de 2011. Uma vez que o CDC não conta com garantias reais, trata-se de uma modalidade que será par-ticularmente beneficiada pelo histórico de adimplemento dos tomadores (o cadastro positivo) acessível a todos os for-necedores de crédito, de maneira a incrementar as vendas de bens de consumo duráveis, com consequente estímulo para a atividade econômica e a geração de empregos.

10.4. Microcrédito

O microcrédito é uma modalidade de financiamento de baixos montantes a micro e pequenos negócios. Pro-porciona acesso ao crédito a pequenos empreendedores que, por comumente não contarem com garantias reais para empréstimos, têm dificuldade para obter financia-mento nas modalidades tradicionais. O capital obtido com o empréstimo é geralmente usado para modernizar ou ampliar os instrumentos de trabalho. De maneira geral, os repagamentos de empréstimos são canalizados para outras operações de microcrédito, para tomadores da mesma comunidade. Com isso, a solidariedade e a coesão social desempenham papel crítico no funcionamento das carteiras de microcrédito, que normalmente apresentam taxas de inadimplência muito baixas.

Dados do Banco Central estimam que a demanda por microcrédito no Brasil seja de aproximadamente R$ 12 bi-lhões, para um potencial de sete milhões de clientes.

Em 2005, foi promulgada a Lei n° 11.110, que institui o Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orienta-do (PNMPO), com os objetivos de: incentivar a geração de trabalho e renda entre os microempreendedores po-pulares; disponibilizar recursos para o microcrédito pro-dutivo orientado; e oferecer apoio técnico às instituições de microcrédito produtivo orientado, com vistas ao for-talecimento institucional destas para a prestação de ser-viços aos empreendedores populares. O Banco Central, também em 2005, publicou a Resolução n° 3.310, que estabelece que os bancos múltiplos com carteira comer-

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas voltadas para a ampliação do acesso ao crédito direto ao consumidor e o aumen-to do volume de recursos ofertados nessa modali-dade que se assentem nos princípios constitucionais da livre concorrência e da liberdade para atividade econômica, com livre renegociação de dívidas e livre pactuação de taxas de juros. Para a CNF, o segmento de tomadores de CDC constitui público prioritário para programas de educação financeira.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas voltadas para a ampliação do acesso ao microcrédito e o aumento do volume de recursos disponíveis para essa modalidade, assen-tadas no princípio constitucional da liberdade eco-nômica, que assegurem igualdade de condições a todas as instituições dispostas a operar esse tipo de financiamento e liberdade para fixação de taxas de juros e de limites financeiros para os tomadores.

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119Capítulo 10 | Crédito

cial, os bancos comerciais e a Caixa Econômica Federal devem manter aplicados em operações de microcrédi-to destinadas à população de baixa renda e a microem-preendedores, valor correspondente a, no mínimo, 2% (dois por cento) dos saldos dos depósitos à vista capta-dos pela instituição. Caso a instituição não aplique esses recursos em operações de microcrédito, será obrigada a recolher esses recursos compulsoriamente sem remune-ração junto ao Banco Central.

O Governo também criou o Fundo Garantidor de Ope-rações (FGO), com o objetivo de garantir parte dos em-préstimos concedidos pelos bancos cotistas do fundo, o que proporcionará a flexibilização das garantias e a redu-ção das taxas de juros das operações.

São necessários aprimoramentos no microcrédito para ampliar tanto o acesso de tomadores quanto o volume de recursos colocados à disposição destes. Para as insti-tuições financeiras, os custos operacionais e financeiros muitas vezes superam largamente a receita oriunda do fi-nanciamento de pequeno valor, a taxas de juros reduzidas, vinculadas gratuitamente a assessoria técnica ao cliente.

10.5. crédito rural

No Congresso Nacional, existem mais de setenta projetos que tratam de crédito rural. A maioria deles propõe o alonga-mento e a renegociação de dívidas, enquanto outros tratam da impenhorabilidade do maquinário agrícola, da liberação de garantias hipotecárias e da inexigibilidade de seguros. No entanto, faltam propostas que ofereçam soluções perenes para o problema do ciclo de endividamento agrícola.

As discussões sobre crédito rural estão centradas em duas questões principais, a saber: as condições financeiras dessa modalidade de crédito (com propostas de subsídios os mais variados) e a suspensão de obrigações financeiras na ocorrên-cia de fatores externos adversos que prejudiquem a produção. Essas questões aparecem, por exemplo, nas discussões acerca de um Estatuto dos Mutuários do Crédito Rural.

As margens bancárias (spreads) são afetadas em boa medida pelos créditos direcionados. Recursos direciona-dos mais que dobraram nos últimos dez anos, passando de 8,5% (julho de 2001) para 19,8% do PIB (dezembro de 2012). Hoje, para cada dois reais concedidos pelos bancos em modalidades de crédito livres, um é obrigatoriamente concedido para modalidades direcionadas. A concessão de financiamentos a taxas subsidiadas para determinados segmentos implica custos para o setor financeiro, uma vez que tais taxas subsidiadas são inferiores aos custos de cap-tação e não cobrem despesas operacionais e de pessoal. Esses custos são diluídos na carteira total de operações de financiamento, com o que são elevadas as taxas que inci-dem sobre outras modalidades de financiamento. Assim, a concessão aos produtores rurais e suas cooperativas de crédito rural a taxas de juros controladas, desvinculado da capacidade de pagamento da atividade rural, em perío-dos que obedeçam ao calendário agrícola editado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, tem impacto sobre o volume de crédito ofertado para outras modalidades, bem como sobre as taxas de juros que re-caem sobre essas outras modalidades.

Já sobre a suspensão ou prorrogação de obrigações financeiras na ocorrência de condições climáticas adver-sas, doenças ou ataques de pragas tecnicamente incon-troláveis, bem como flutuações dos preços dos produtos agropecuários, discute-se na verdade uma apólice de

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas voltadas para a ampliação do acesso de produtores rurais ao crédito e o aumento do volume ofertado para essa modalidade de finan-ciamento que se assentem nos princípios consti-tucionais da livre concorrência e da liberdade para atividade econômica. A CNF sublinha que subsídios concedidos a operações de crédito direcionadas encarecem os recursos ofertados nas modalidades livres; da mesma forma, a inclusão de dispositivos contratuais que se assemelhem a apólices de seguro encarece o crédito como um todo. Para a Confede-ração, os tomadores de crédito rural se beneficiariam grandemente da inclusão de disciplinas de educa-ção financeira no sistema de educação rural.

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seguro. Operações de financiamento não se confundem com apólices de seguro, que preveem a cobrança de um prêmio ao qual corresponde indenização na hipótese de ocorrer o sinistro coberto pelo contrato. Os riscos envolvi-dos numa operação financeira não são os de ocorrência de sinistros, mas sim os ligados a descasamentos de taxas, de prazos e de moedas, bem como os vinculados à capa-cidade de adimplemento do tomador. A inclusão de um seguro implícito nas operações de financiamento, sem o correspondente prêmio oneraria ainda mais a operação, com reflexos sobre o volume de crédito ofertado e as mar-gens bancárias de outras modalidades de financiamento.

10.6. cooperativas de crédito

Recentes alterações na legislação introduziram pro-fundas mudanças no sistema de crédito cooperativo para flexibilizar a prestação de serviços de natureza bancária aos associados. A Lei Complementar nº 130/2009, e a Resolução nº 3.859 do Conselho Monetário Nacional, de maio de 2010, introduziram inovações que aproximam cada vez mais os regulamentos legais das cooperativas de crédito às normas bancárias. Essas inovações vão desde a criação de novas hipóteses de captação de recursos até a autorização para que as cooperativas possam fazer distri-buição de cotas de fundos de investimento.

Dados de 2012 do Banco Central demonstram que as cooperativas de crédito estão em acelerado crescimento

em relação às instituições financeiras. Embora ainda ocu-pem um espaço pequeno no Sistema Financeiro Nacional, o segmento vem apresentando expressivo crescimento, não apenas em volume, mas também em percentual de participação na área bancária.

A estrutura do cooperativismo de crédito também vem sendo organizada no âmbito sindical. Em 2010, o sistema confederativo de representação sindical das coo-perativas reunia mais de quarenta entidades com registro no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Em 2010, o MTE reconheceu a criação da Confederação Nacional das Cooperativas (CNCOOP), que agrega, entre outras coope-rativas, as de Crédito.

No Congresso Nacional, tramitam diversos projetos de lei no sentido de incentivar ainda mais o desenvolvimento do setor cooperativista. As proposições apresentadas preten-dem, em grande parte, a isenção de tributos, a autorização de utilização dos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e o recebimento de repasses de recursos dos Fundos Constitucionais. Outros projetos pretendem autorizar a pres-tação de serviços pelas cooperativas, que hoje somente são realizados pelos bancos ou correspondentes bancários.

As cooperativas de crédito passaram a ter papel mais relevante na ampliação da bancarização, sobretudo pela identificação de novos nichos de mercado. A ampliação do escopo de atividades das cooperativas de crédito terá im-plicações positivas para diluição da concentração bancária, diversificação do leque de instituições, aumento da concor-rência e lançamento de novos produtos, entre outros.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas voltadas para a expansão e o fortalecimento da rede de cooperativas de crédito, importante instrumento de bancarização e de am-pliação do acesso a financiamentos, que preservem o caráter solidário de operações passivas e ativas li-mitadas aos cooperados, no entendimento de que a equiparação das cooperativas de crédito a institui-ções bancárias, sem a correspondente regulação e supervisão, introduz grave risco sistêmico que afeta a economia como um todo.

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121Capítulo 10 | Crédito

10.7. Fundo garantidor de créditos (Fgc)

O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) é uma entidade privada, sem fins lucrativos, com o objetivo de administrar recursos destinados à proteção dos titulares de créditos contra a insolvência bancária. Sua missão é contribuir para a proteção do pequeno poupador, promover a estabilida-de do Sistema Financeiro Nacional e prevenir contra uma possível crise bancária sistêmica.

O Fundo foi criado em 1995 pela Resolução n° 2.197 do Conselho Monetário Nacional (CMN). Hoje, o valor máxi-mo da garantia proporcionada pelo FGC está estabelecido em R$ 70.000,00.

No ano de 2008, o FGC teve papel importante no sen-tido de amenizar a crise, quando passou a comprar car-teiras de crédito em um cenário de redução de liquidez. Ao longo de seus anos de existência, o Fundo foi-se adap-tando às mudanças da economia nacional, tornando-se um instrumento de apoio ao crédito, com capacidade de mitigar cenários de estresse.

O patrimônio do FGC, de mais de 28 bilhões de reais, alimentado por contribuições mensais privadas das instituições financeiras, já atingiu um patamar ade-quado para proporcionar a diminuição ou a suspensão das contribuições, nos termos do art. 3º do Anexo II à Resolução n° 4.087/2012 – Regulamento do Fundo Ga-rantidor de Créditos.

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas para a ampliação da cober-tura do Fundo Garantidor de Créditos que mante-nham o seu caráter privado e seus objetivos estatu-tários atuais, bem como confiram à gestão do Fundo total autonomia para fixar a natureza e os limites das garantias, cujo financiamento por meio de recolhi-mento de fração do saldo das modalidades cobertas possa ser suspenso sempre que o patrimônio do FGC atingir patamar compatível com seus propósitos.

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125Capítulo 11 | Crédito imobiliário

O crédito imobiliário passou por uma grande expansão na última década. A partir da definição de um modelo

que trouxe sustentação e garantias ao crédito imobiliário, aliado ao crescimento do investimento governamental e da implementação de políticas públicas de habitação mais modernas, essa modalidade não parou de crescer. As leis que instituíram a alienação fiduciária, a securitização de re-cebíveis imobiliários, o Patrimônio de Afetação e a regra do incontroverso ofereceram o arcabouço institucional neces-sário para alavancar o setor. Antes desse marco, não havia estímulos às instituições financeiras, já que o risco era exces-sivamente elevado para o retorno das operações.

O Brasil vive um momento de estabilidade política e econômica que muito contribui para a expansão do crédito imobiliário. Existe uma confiança maior no mercado e um crescente acesso ao crédito por parte da população, espe-cialmente a de baixa renda. O mercado também tem atraí-do investidores estrangeiros.

A expansão do setor não impede que certas preocupa-ções sejam revisitadas. O provimento de recursos de longo prazo (funding), incapaz de ser sustentado pelos depósitos da poupança, cria a necessidade de se desenvolver um mercado secundário de recebíveis imobiliários, o qual responderá pelo volume de recursos necessários à continuidade do crescimento.

A Letra Financeira Imobiliária (LFI), como título de longo prazo, é uma das alternativas de funding que poderá substi-tuir a poupança e os recursos do FGTS no crédito imobiliário. Para a Associação Brasileiras das Entidades de Crédito Imo-biliário e Poupança (ABECIP), a LFI é a versão dos Covered Bonds, títulos emitidos por bancos com a garantia de cartei-ras de crédito imobiliário, no mercado de capitais brasileiro, que se pretende criar por meio de legislação.

Além disso, ainda é preciso expandir o instituto da alienação fiduciária, aprimorar o patrimônio de afetação, desburocratizar as transações e promover a dedutibilidade de juros do financia-mento imobiliário do imposto de renda.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas tanto para a ino-vação e diversificação de fontes de financiamento para o crédito imobiliário quanto para o aprimo-ramento dos instrumentos para concessão desse tipo de crédito, bem como para a assunção de obrigações, pelos tomadores, por meio de contra-tos claros e transparentes que ofereçam seguran-ça jurídica a todas as partes envolvidas.

11. crédito imobiliário

11.1. Portabilidade do crédito imobiliário

Em agosto de 2012 foi sancionada sem vetos a Lei n° 12.703/2012, decorrente da Medida Provisória nº 567/2012, que trata da caderneta de poupança e da alienação fidu-ciária de coisa imóvel. A lei introduziu a questão da porta-bilidade do crédito imobiliário, deixando sua regulamenta-ção para o Conselho Monetário Nacional (CMN).

O setor de crédito imobiliário, apesar de entender que a referida lei simplifica o processo de portabilidade dessa modalidade, acredita que a ausência de regulamentação traz incertezas aos agentes financeiros.

Entre as dúvidas quanto aos efeitos da portabilidade está o impacto nas operações de securitização, que têm importância crescente para o funding do crédito imobi-liário. Se a portabilidade provocar o pré-pagamento em

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a simplifi-cação do processo de portabilidade do crédito imobiliário e vê como positivas as iniciativas que buscam regulamentá-lo. Para a CNF, propostas de regulamentação dessa portabilidade devem levar em consideração as particularidades de um con-trato de financiamento imobiliário, sobretudo a garantia e os custos de originação.

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massa dos contratos em vigor, os instrumentos securitiza-dos perderão lastro, com impacto sobre os preços, o que imporá um aumento do prêmio de risco cobrado dos to-madores. Outra dúvida diz respeito à necessidade de atua-lização constante dos títulos dados em garantia, o que também poderia afetar o sistema e encarecer a operação.

Também o custo da originação do crédito imobiliário é afetado pela portabilidade. Esse custo envolve a identi-ficação do cliente, a sua avaliação de crédito, a avaliação do valor de mercado do imóvel, despesas cartorárias e de assistência jurídica, entre outros. Hoje, ele é recuperado ao longo do contrato, mas, na hipótese de transferência pre-matura da operação de um agente financeiro para outro, o retorno desse custo não acontece.

11.2. depósitos de caderneta de Poupança

As discussões sobre depósitos em caderneta de pou-pança e financiamento imobiliário estão centradas em duas questões, a saber: a perspectiva de os recursos de poupança serem insuficientes para gerar fundos destina-dos ao financiamento imobiliário e a possibilidade de a re-muneração da caderneta de poupança situar-se acima de outras aplicações financeiras, à medida que caem as taxas de juros, o que encareceria o crédito imobiliário.

Sobre a disponibilidade de recursos da poupança, a Asso-ciação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupan-ça (ABECIP) estima que as contratações de operações de finan-

ciamento imobiliário crescerão 15% em 2013 a 2014. Ocorre que os depósitos em caderneta de poupança, por sua vez, deverão crescer em ritmo menor em 2013/2014. Com isso, fal-tariam recursos dessa fonte para o crédito imobiliário. O total de crédito imobiliário no âmbito do Sistema Brasileiro de Poupan-ça e Empréstimo atingiu R$ 277 bilhões em 2012, contra o saldo de cadernetas de poupança no SBPE de R$ 389 bilhões; isto é, o financiamento imobiliário comprometeu aproximadamente 71% da poupança. Em 2014, o crédito imobiliário deverá repre-sentar 78% do saldo de poupança, passando a 84% em 2015.

Sobre a remuneração dos depósitos de poupança, por sua vez, as regras atuais estabelecem que sempre que a taxa básica de juros, estiver em 8,5% ao ano ou abaixo desse pata-mar, o rendimento da poupança é 70% da SELIC mais a Taxa Referencial (TR). Quando a SELIC for superior a 8,5%, vale a regra antiga de reajuste pela TR mais 0,5%. Por ser isenta de Imposto de Renda, a remuneração da poupança se aproxi-ma da remuneração de outras alternativas de aplicação que rendam taxa SELIC próxima de 8,5% ao ano. Apesar de a taxa de juros básica ter caído abaixo de 8,5% ao ano, a poupan-ça manteve-se uma das opções mais atrativas do mercado, graças à sanção da Lei n° 12.703/2012 que vinculou a renta-bilidade da poupança à SELIC; a alteração evitou que grandes volumes de recursos, oriundos, por exemplo, de fundos de investimento tivessem migrado para a poupança.

Entre as aplicações concorrentes com a caderneta de poupança, estão os fundos de investimento vinculados ao Certificado de Depósito Interbancário (Fundos DI), por se-rem uma opção conservadora de investimento. Esses fun-dos aplicam seu patrimônio em títulos públicos. Redução no patrimônio desses fundos implica menor disponibili-dade de recursos para financiamento de títulos da dívida pública, o que pode introduzir um piso para a queda dos juros, já que o governo só continuaria a captar se emitisse títulos com rendimento maior que o da poupança.

Por um lado, a migração de montantes dos fundos DI para a poupança aumentaria os recursos à disposição do crédito imobiliário. Por outro, o custo de captação do fi-nanciamento imobiliário passaria a estar entre os mais al-tos do mercado, o que encareceria as operações na ponta do tomador de empréstimo.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para o equilíbrio econômico e financeiro entre mutuários de crédito imobiliário e poupadores. Para a CNF, tais propostas poderiam visar à expansão do saldo de depósitos em caderneta de poupança por meio da livre nego-ciação de taxas de juros, acompanhada da criação de instrumentos de captação de longo prazo des-tinados ao financiamento do crédito imobiliário, compatíveis com os custos desse financiamento.

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127Capítulo 11 | Crédito imobiliário

11.3. Fundo de garantia do Tempo de Serviço (FgTS)

O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e a caderneta de poupança são hoje as duas principais fontes de recursos para a habitação no país. Em 2012, somados os recursos da poupança (R$ 82,8 bilhões) e do FGTS (R$ 49,8 bilhões), foi liberada a quantia recorde de R$ 132,6 bi-lhões. Com a expectativa de insuficiência dos recursos da poupança para funding do crédito imobiliário em rápida expansão, aumenta a importância do Fundo na provisão de recursos para a construção.

No Congresso Nacional, existem diversas discussões a respeito de mudanças no FGTS. Um importante ponto objeto de alteração é a ampliação das hipóteses de saque nas contas vinculadas.

Outra questão bastante debatida é a remuneração do fundo. Atualmente, os depósitos nas contas vinculadas são remunerados, na quase totalidade dos casos, à Taxa Referencial (TR) mais 3% ao ano, conforme estabelece a Lei nº 8.036/1990. Diversos projetos de lei sugerem a substituição da TR pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Os autores das propostas le-gislativas afirmam que a rentabilidade obtida com a TR sequer repõe a inflação e, sendo assim, defendem o rea-juste do saldo do fundo por um índice oficial de inflação e uma taxa de juros. No entanto, especialistas defendem que uma mudança na correção pode desequilibrar o sis-tema e iniciar uma avalanche de ações judiciais daqueles que se sentirem lesados e quiserem uma eventual revi-são de contratos.

Outra discussão trata de tornar o FGTS vantajoso e atraente ao trabalhador cotista. Para tanto, propõe-se que a rentabilidade do Fundo seja baseada nos moldes do que foi feito com a poupança , ou seja, quando a SE-LIC estiver acima de 8,5 % a rentabilidade seria de 4,5% + TR, ficando abaixo de 8,5% o Fundo renderia TR + 50% da SELIC. Mudança dessa natureza também teria impacto sobre contratos.

Uma quarta questão é a da distribuição dos resulta-dos obtidos pelo Fundo com a aplicação de seus recursos. Metade do lucro anual seria distribuída aos trabalhadores com a possibilidade de ser sacado. Desse modo, os traba-lhadores seriam verdadeiramente considerados “cotistas”, sem desequilibrar as contas do Fundo.

Propostas no Congresso Nacional sugerem ainda que os trabalhadores possam realizar depósitos voluntários à sua conta do FGTS e que 10% de todas as aplicações do FGTS sejam disponilizados como linha de crédito ao traba-lhador, sem destinação específica, sendo que cada cotista só poderia pegar emprestado até 10 vezes o valor do sal-do em conta, com juros.

11.4. Patrimônio de afetação e regra do incontroverso

O patrimônio de afetação baseia-se na concepção de que determinados bens passam a vincular-se a um fim específico. No caso da incorporação imobiliária, o objetivo é evitar que o incorporador utilize recursos de um empreendimento em outras iniciativas, de forma a resguardar os recursos aplicados pelos adquirentes das unidades imobiliárias e o regular andamento do em-preendimento afetado. Dentro desse regime, em caso

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras, ao mesmo tempo em que apoia propostas para o aprimoramento do uso de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço para financiamento imobiliário, acompanha com interesse iniciativas de mudança no FGTS que podem afetar a segurança jurídica dos contratos, na medida em que somen-te um setor imobiliário sólido propiciará a garantia que está na raiz da função social do FGTS.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas de aprimoramento dos instru-mentos que visam a dar mais segurança aos contra-tos imobiliários, sobretudo daqueles instrumentos que minimizem conflitos judiciais e incrementem a atividade produtiva.

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de falência da empresa incorporadora, a Comissão de Representantes dos adquirentes assumirá a administra-ção da incorporação e prosseguirá a obra independen-temente dos efeitos da falência. Cabe, no entanto, ao incorporador optar pelo regime da afetação, por inter-médio do “termo de afetação”, que deverá ser averbado no Registro de Imóveis.

Outro instrumento criado juntamente com o Patri-mônio de Afetação foi a Regra do Incontroverso, que estabelece que nas ações judiciais que tenham por objeto obrigação decorrente de empréstimo, financia-mento ou alienação imobiliária, o autor deverá discrimi-nar na petição inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende controverter, quantificando o va-lor incontroverso, sob pena de inépcia. Assim, o valor incontroverso deverá continuar sendo pago no tempo e modo contratados. O objetivo dessa norma é fazer com que a parte se comporte, durante a tramitação do processo, com fidelidade ao contrato, cumprindo a obrigação incontroversa.

Além de dinamizar o crédito no país, tais instrumen-tos contribuem para viabilizar um fluxo constante de recursos para novas operações. Contudo, ainda podem ser aperfeiçoados, para benefício dos tomadores de crédito imobiliário.

11.5. concentração de atos registrais na matrícula

Aliada à implantação do registro eletrônico, a con-centração dos ônus na matrícula permitirá visualizar em um único documento (a certidão da matrícula) todas as informações que conduzam à segurança jurídica de uma transação imobiliária, dispensando a obtenção de certi-dões judiciais em nome dos vendedores e dos que lhes antecederam na propriedade do imóvel.

A concentração dos atos registrais na matrícula não só facilita os trâmites, como também proporciona re-dução do tempo de espera nos processos de financia-mento e nos custos incorridos pelo tomador, já que bancos e instituições financeiras não precisarão exigir tantas certidões antes de conceder o crédito. A con-centração da matrícula também contribui para a mo-dernização tecnológica da sociedade brasileira, que caminha para a informatização de processos e proce-dimentos. Confere maior agilidade à consulta e preser-vação mais segura da informação, além da unificação de dados, o que permite uma gestão da informação mais eficiente.

Não faz sentido falar-se em concentração da ma-trícula se o processo de registro notarial da transação imobiliária desdobrar-se em várias providências carto-riais, com ônus para o tomador tanto financeiro quanto no uso do seu tempo.

A concentração dos ônus da matrícula também contribui para aumentar a transparência da transação imobiliária, inclusive por facilitar a compreensão da redação contratual. A legislação de registros públicos constitui um emaranhado de disposições, muitas das quais com emprego de termos e expressões que difi-cultam a compreensão por parte do cidadão, que fica sem saber ao certo quais as atribuições de cada serviço extrajudicial. Tais dificuldades geram insegurança jurídi-ca. Nesse quadro, há necessidade de se facilitar a tran-sação imobiliária e proporcionar maior transparência e clareza nas informações, de modo que a Administração Pública e o cidadão saibam, com certeza, em qual notá-rio efetuar o registro e, também, onde procurar os atos de seu interesse.

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia propostas voltadas para a sim-plificação dos procedimentos e registros nota-riais, na medida em que tais propostas repre-sentem economia de tempo e recursos para as partes envolvidas, reforcem a segurança jurídi-ca das relações contratuais e facilitem, também pelos termos e expressões empregados, a clara compreensão pelos mutuários de seus direitos e obrigações.

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129Capítulo 11 | Crédito imobiliário

11.6. Fundo de compensação de Variações Salariais (FcVS)

O Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS) foi criado pela Resolução nº 25/1967 para, entre outras atribuições, absorver eventuais saldos devedores residuais, provocados pelo descompasso entre, por um lado, a periodicidade de aplicação dos índices de correção monetária aos saldos devedores e às prestações e, por ou-tro, dos índices de reajuste dos salários, após decorrido o prazo contratual do financiamento.

A assunção desses compromissos pelo Poder Público ocorreu ao longo do tempo sem a imprescindível cober-tura de recursos orçamentários. Com isso, o FCVS passou a assumir, desde sua criação, responsabilidades crescentes, incompatíveis com o seu patrimônio e seu fluxo de caixa, acarretando o acúmulo de dívida ao longo do tempo. As sucessivas postergações do pagamento das obrigações do Fundo foram também decisivas para o alcance do nível de desequilíbrio ora existente entre o ativo e o passivo do FCVS.

Diante da absoluta incapacidade financeira do FCVS de honrar as obrigações que assumiu junto às instituições financeiras, a Medida Provisória nº 1.520/1996 estabeleceu a assunção pela União, mediante novação, das dívidas de responsabilidade do Fundo.

O pagamento de saldos devedores com títulos da dí-vida pública resultou da novação da dívida do FCVS pro-posta pela União que a assumiu, aceita pelas instituições financeiras, que exerceram a faculdade de receber a dívida novada. Essa opção pela novação remonta à Medida Pro-

visória nº 1.520/1996 e foi exercida pela grande maioria das instituições financeiras credoras do FCVS.

Hoje, os financiamentos imobiliários não mais se uti-lizam da cobertura do FCVS, e sim da alienação fiduciária como forma de garantia do contrato. No entanto, muitos contratos firmados no passado estão sendo encerrados nos dias atuais, fazendo com que os conflitos sobre a co-bertura do FCVS sejam revisitados.

Um dos problemas que ainda pede solução é a ques-tão da cobertura do Fundo para mais de um financiamen-to. Muitas instituições financeiras que financiaram com cobertura do Fundo, ao pedir a quitação da dívida, depa-ram-se com a existência de um segundo financiamento em nome do mutuário, o qual não havia sido comunicado e que não conta com cobertura por força de dispositivo legal (art. 3º da Lei nº 8.100/1990). O Superior Tribunal de Justiça por meio de recurso repetitivo firmou a orientação de que tal cobertura é inaplicável aos contratos firmados até 05/12/1990, que constituem a grande massa de con-tratos com direito ao Fundo. Resta ao Governo adotar ad-ministrativamente o entendimento do Judiciário.

O Governo tem mostrado interesse em dar solução às questões que envolvem o FCVS. Em dezembro de 2010, foi editada Medida Provisória n° 513/2012, transformada na Lei n° 12.409/2011, que autoriza o Fundo a assumir, na forma disciplinada em ato do Conselho Curador do Fundo de Com-pensação de Variações Salariais (CCFCVS), direitos e obriga-ções do Seguro Habitacional do Sistema Financeiro da Habi-tação (SH/SFH), e a oferecer cobertura direta a contratos de fi-nanciamento habitacional averbados na Apólice do SH/SFH.

11.7. consórcio imobiliário

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas para a resolução do proble-ma do Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS) que não onerem indevidamente os financia-dores e os mutuários adquirentes de boa-fé. Para a CNF, a resolução extrajudicial de conflitos ligados a operações de crédito imobiliário passa pela concilia-ção como forma de garantir aos mutuários e às insti-tuições financeiras a realização de seus direitos.

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia proposições voltadas para a equiparação das regras de consórcio imobiliário às de financiamento imobiliário, não só para imóveis adquiridos, reforma-dos ou construídos no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação, mas também para os imóveis enquadra-dos no Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo.

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O consórcio imobiliário constitui mais uma alter-nativa de financiamento para compra, construção ou reforma da casa própria a custo financeiro reduzido. A exemplo do financiamento imobiliário, o consórcio tam-bém inclui cláusula de alienação fiduciária que permite a redução da taxa de juros embutida na operação. Ade-mais, permite o uso do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço para amortizar saldo, quitar o total da dívida ou abater até 80% das prestações.

11.8. garantia Hipotecária

Discute-se no Supremo Tribunal Federal (STF) a cons-titucionalidade do Decreto-Lei nº 70/1966 que dispõe sobre a execução extrajudicial de hipotecas e permite o leilão do imóvel por meio de um agente fiduciário creden-ciado pelo Banco Central.

A dispensa da via judicial e a consequente possibilidade de um imóvel ir a leilão sem passar pelo crivo do Poder Judi-ciário têm, desde a publicação do Decreto-Lei, gerado inter-pretações jurisprudenciais e doutrinárias distintas sobre sua constitucionalidade. Há divergências sobre a recepção ou não da norma pela Constituição Federal de 1988, haja vista a alegação de que a execução extrajudicial violaria, entre outros princípios, o do devido processo legal.

No início da década de 70 os inúmeros questiona-mentos judiciais que alegavam a inconstitucionalidade

desse Decreto-Lei levaram o legislador a elaborar a Lei nº 5.741/1971, que estabeleceu um rito especial, suposta-mente mais célere, para a execução de dívidas de financia-mento no Sistema Financeiro de Habitação (SFH), ficando assim à opção do credor o procedimento para execução da dívida. Na prática, o procedimento judicial revelou-se moroso, dificultando, senão inviabilizando, a efetiva recu-peração do crédito.

A alegação de inconstitucionalidade baseou-se na au-sência de intervenção do Poder Judiciário no processo de execução extrajudicial. Porém, em reiterados julgamentos, o STF entendeu que em qualquer momento do procedi-mento está assegurado ao mutuário ingressar no Judiciá-rio, seja para questionar os aspectos formais do procedi-mento em si, seja para discutir outras questões resultantes do financiamento. Embora tradicionalmente considerasse o Decreto-Lei recepcionado pela Carta Magna, o STF ini-ciou o julgamento de dois Recursos Extraordinários em que aponta para possível mudança de posicionamento.

A importância da recepção do Decreto-Lei pela Cons-tituição de 1988, além da sua clara aplicação ao SFH, é que existem outros procedimentos análogos de execução extrajudicial que podem ser decretados inconstitucionais caso o Decreto o seja.

Sendo assim, é preocupante a possibilidade de decla-ração de inconstitucionalidade do Decreto-Lei n° 70/1966 uma vez que tal fato poderia repercutir em outros procedi-mentos como a Comissão de Representantes no Patrimô-nio de Afetação (Lei n° 10.931/2004), a usucapião adminis-trativa (Lei n° 11.977/2009) e, principalmente, na realização da garantia de alienação fiduciária (Lei n° 9.514/1997).

Dos procedimentos citados, para o setor imobiliário, o principal é o da alienação fiduciária. A sua execução na forma extrajudicial se dá de modo semelhante ao previsto no Decreto-Lei nº 70/1966, havendo prévia audiência das partes para apresentação de defesa, com a presença do binômio cientificação e possibilidade de argumentação, em respeito ao princípio constitucional do contraditório. Em qualquer das modalidades extrajudiciais de cobrança, o Judiciário tem garantido a defesa do devedor e a obser-

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas que contribuam para um am-biente de negócios saudável ao assegurar a celerida-de dos processos, a clareza e a precisão de sentenças judiciais e uma maior segurança jurídica nas relações contratuais de todas as espécies. A CNF entende que as modalidades de cobrança extrajudicial estão devidamente regulamentadas e recepcionadas pelo direito brasileiro. Em casos que envolvem garantias, o Judiciário tem assegurado a defesa do devedor e a observância do devido processo legal.

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131Capítulo 11 | Crédito imobiliário

vância do devido processo legal, tendo, por diversas vezes, anulado leilões e vendas realizadas em discordância com a legislação vigente.

11.9. impenhorabilidade do bem de família

A Constituição Federal, no caput do seu art. 6º, garante a todo cidadão o direito social à moradia. Com o intuito de fornecer um dos instrumentos legislativos que possi-bilitem a consecução do referido direito, foi editada a Lei nº 8.009/1990, que dispõe sobre a impenhorabilidade do bem de família. A lei, no entanto, traz sete exceções a essa impenhorabilidade, como é o caso da execução de hipo-teca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo ca-sal ou pela entidade familiar.

O oferecimento de imóvel como garantia hipotecária tem a faculdade de descaracterizá-lo como bem de família, sujeitando-o à penhora para satisfação da dívida afiançada. Isso também se refere ao instituto da alienação fiduciária, que desde o advento da Lei n° 9.514/1997 passou a ser a principal forma de garantia nos contratos de financiamento do Sistema Financeiro da Habitação. Por meio desse instru-mento, a pessoa só terá direito à propriedade quando ter-minar de pagar as prestações do financiamento. Até lá, o imóvel fica em nome da instituição financiadora, o morador só tem direito à posse e, em caso de atraso no pagamento das prestações, o Direito permite o penhor do imóvel.

Mas, apesar de consolidadas no ordenamento jurídico brasileiro, as exceções à impenhorabilidade do bem de fa-mília têm sido alvo de diversas propostas legislativas que visam a extingui-las, o que reduziria o leque de garantias. O mercado financeiro equilibra-se pela garantia associada ao cumprimento das obrigações avençadas, em nada contri-buindo para o incremento da atividade produtiva uma pos-sível desoneração das obrigações assumidas pelo devedor.

Além disso, a redução das exceções à impenhorabilidade dos bens dados em garantia inviabiliza as modalidades mais usadas nas operações de crédito imobiliário, o que elevaria o risco dessas operações, encarecendo os empréstimos em con-sequência da inevitável elevação das taxas de juros, diretamen-te atreladas aos riscos de crédito que as operações envolvem.

A CNF apoia propostas lastreadas em princípios constitucionais que garantam o equilíbrio das relações entre, por um lado, os direitos dos con-sumidores e, por outro, a viabilidade econômica dos provedores de bens e serviços. Interpretações equivocadas acerca desses princípios podem ele-var o risco das operações de financiamento e gerar o encarecimento do crédito em consequência da inevitável elevação das taxas de juros.

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caPÍTuLo

12

Taxa de JuroS E MARgENS BANCáRIAS (spread)

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135Capítulo 12 | Taxa de juros e margens bancárias (spread)

Os bancos não fazem os juros, talvez fosse mais certo di-zer que os juros fazem os bancos. O juro é o preço que

paga o tomador pela escassez do crédito, pela cunha fiscal e pelo deficit nas contas fiscais do setor público, entre outros.

No Brasil, a taxa básica de juros é a SELIC (que deriva do Sis-tema Especial de Liquidação e Custódia, mecanismo de com-pensação manual criado pelo Banco Central em 1979 que dava suporte às operações de mercado aberto com títulos públicos). A taxa SELIC é fixada oito vezes por ano pelo Comitê de Política Monetária (COPOM), o órgão decisório da política monetária do Banco Central responsável por estabelecer a meta para a taxa básica de juros e as diretrizes da política monetária.

Em qualquer economia, a taxa básica de juros é composta por uma taxa de juros real ajustada por expectativas inflacio-nárias e por preferências de liquidez. A taxa de juros real flutua conforme a oferta e demanda por fundos (por exemplo, um superavit comercial aumenta a oferta de fundos e reduz a taxa de juros real). Para fixar a taxa básica de juros, os membros do COPOM consideram algumas variáveis, entre elas as projeções de inflação, o volume de moeda em circulação, a evolução do crédito e a velocidade de crescimento da economia. O setor financeiro não tem controle sobre nenhuma das variáveis con-sideradas pelo Comitê para fixação da taxa básica de juros.

Independentemente da taxa básica de juros, as insti-tuições financeiras podem aplicar taxas de juros diferen-tes a pessoas jurídicas, a pessoas físicas ou ao Governo em função de diferentes custos e riscos – ainda que, para o fornecedor de crédito, a rentabilidade dessas operações, eliminados os custos e riscos, seja praticamente a mesma.

Um fator determinante da taxa de juros aplicada pelas instituições financeiras é a escassez de recursos. Um banco só pode emprestar livremente cerca de 20% dos depósitos à vista. O restante é destinado a aplicações cujo rendimento

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas para a ampliação do acesso ao crédito e a expansão do volume ofertado, em todas suas modalidades, que tratem das causas fundamen-tais que respondem pelas elevadas taxas de juros no Brasil, tais como a necessidade de financiamento do setor público, as expectativas de inflação, o saldo de transações com o exterior e o depósito compulsório.

12. Taxa de juros e margens bancárias (spread)

é inferior à taxa de captação do sistema, tais como depósi-to compulsório em espécie no Banco Central, depósito em títulos, microcrédito e crédito rural. Não é incomum os de-pósitos compulsórios no Banco Central superarem o total de empréstimos à indústria. Crédito escasso é crédito caro.

Outro limitador importante do volume de crédito oferta-do por uma instituição financeira, com impacto sobre a taxa de juros, é o seu capital, uma vez que acordos internacionais (como as regras de Basileia) e regulamentos brasileiros limi-tam a alavancagem, isto é, a relação entre o total de créditos concedidos e o capital. Ao realizar operações rentáveis, as ins-tituições financeiras auferem lucros que permitem que elas se capitalizem e assim possam aumentar o volume de crédito, investir em tecnologia e aumentar seu poder de competição no mundo globalizado.

12.1. capitalização de Juros para Prazos inferiores a um ano

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas voltadas para a regulamentação da capitalização de juros para prazos inferiores a um ano, no entendimento de que capitalização de juros não é sinônimo de anatocismo, ou seja, do duplo en-cargo de juros sobre uma mesma base, mas sim uma prática internacionalmente aceita de atualização de valores financeiros que acrescenta ou encargos, ou remunerações em diferentes períodos com base no saldo do período imediatamente anterior.

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Muitas vezes, toma-se equivocadamente como co-brança de juros sobre juros o que na verdade é a incidên-cia de juros ou sobre saldo devedor ao qual é somada parcela não paga, ou sobre capital aplicado ao qual foi acrescentado rendimento auferido em período anterior.

A capitalização de juros se aplica a cadernetas de pou-pança, fundos de investimentos em renda fixa, fundos de previdência, fundos de pensão, Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), títulos de capitalização, títulos de renda fixa privados e todos os títulos da dívida pública federal, estadual e municipal, sejam eles com taxas pré ou pós-fixadas, crédito pessoal parcelado, financiamento de veículos, todas as formas de crediário de lojas, emprésti-mos para aposentados, financiamentos e repasses de re-cursos feitos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), todas as modalidades de financiamentos habitacionais realizados dentro e fora do Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e muitos outros.

As práticas internacionais no mercado financeiro e de capitais, a quase totalidade das operações financeiras rea-lizadas no mundo, bem como todos os estudos de viabi-lidade econômico-financeira são efetivados com base no critério de juros compostos, ou capitalização composta. No Brasil, existe questionamento legal para uma modali-dade de capitalização de juros, comumente referida como anatocismo. O Supremo Tribunal Federal adotou a Súmula nº 121/1963, cuja redação é a seguinte: “É vedada a capi-talização de juros, ainda que expressamente convencio-nada”. É possível que a Súmula nº 121 tenha se inspirado na expressão “é proibido contar juros dos juros”, contida no artigo 4º da Lei de Usura, cujo texto reproduz o já revo-gado artigo 253 do Código Comercial Brasileiro de 1850. Este, por sua vez, foi diretamente influenciado pelo artigo 1.154 do Código Civil Francês, de 1804, e pelo artigo 286 do Código Comercial Português, de 1833, os quais não ve-dam a utilização do critério de juros compostos.

Em outubro de 2009, a publicação de um Manifesto assinado por 32 professores especialistas em matemática financeira reacendeu os debates. O Manifesto, intitulado “Declaração de Defesa das Ciências Econômicas, Financei-ra e Jurídica” expressa preocupação com a Súmula n° 121.

A Lei de Usura (Decreto nº 22.626/1933) singulariza a situação dos bancos e remete para legislação específica - que seria a Lei nº 4.595/1964, a qual é omissa quanto à questão da capitalização. Solução foi dada pela Medida Provisória nº 1.963-22/2000, que tratou, em seu artigo 5°, da capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano nas operações ativas e passivas realizadas pelas ins-tituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional. A partir da edição da MP e daquela que a sucedeu, a Medi-da Provisória nº 2.170/2001, o Superior Tribunal de Justiça muitas vezes recorreu ao dispositivo para negar provimen-to a ações que questionassem a prática da capitalização de juros. Em junho de 2012, o STJ pacificou por meio de recursos repetitivos, ao julgar o REsp 973.827-RS, o enten-dimento de que “é permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior a um ano em contratos celebrados após 31 de março de 2000” (quando foi editada a MP nº 1.963-22/2000).

Ocorre que foi ajuizada Ação Direta de Inconstitucio-nalidade (ADI) junto ao Supremo Tribunal Federal que questiona a legalidade do dispositivo da Medida Provi-sória n° 2.170-36/2001 (antiga MP nº 1963-22/2000). As decisões de Tribunais Superiores a favor da capitalização para prazos inferiores a um ano se escoram assim em uma Medida Provisória que pode ser revogada pelo Supremo Tribunal Federal. Decisão que suspenda os efeitos da MP, com efeito retroativo, terá o condão de revolver milhões de contratos, com imprevisível impacto no sistema finan-ceiro e também nas contas públicas.

Também há no Congresso projetos de lei contrários à capitalização por prazo inferior a um ano que, se aprova-dos, introduziriam grande insegurança jurídica nas rela-ções das instituições financeiras com seus clientes.

Não se sustenta o argumento de que a extinção da ca-pitalização contribuiria para a redução das taxas de juros. Na eventualidade da extinção da capitalização de juros, uma taxa mensal de, por exemplo, 2,00% ao mês — que corresponde a uma taxa anual efetiva de 26,82% — se-ria convertida em taxa nominal de 2,23% ao mês (a qual, multiplicada linearmente por 12, resultaria na mesma taxa anual de 26,8%).

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137Capítulo 12 | Taxa de juros e margens bancárias (spread)

12.2. Tabela Price

A intermediação realizada pelas instituições financei-ras entre o conjunto de depositantes e investidores, de um lado, e o de tomadores de recursos, de outro, tem por objetivo promover a alocação e a distribuição ótima de recursos. Essa atividade requer mecanismos que se mos-trem tecnicamente aptos a proporcionar a manutenção – tão exata quanto possível – do necessário casamento entre os ativos e passivos envolvidos.

Nessa perspectiva, é da natureza das operações ban-cárias a adoção de mecanismos reguladores desse equilí-brio, entre os quais se inclui, com destaque pela natureza técnica de que se reveste, a Tabela Price. Trata-se de um dos principais métodos para cálculo de prestações de dí-vidas de longo prazo, caracterizado por buscar: (i) o equi-líbrio entre ativos e passivos do agente financeiro e (ii) a uniformidade nas prestações, garantindo ao tomador do empréstimo a previsibilidade necessária à assunção das suas obrigações de pagamento.

A Tabela Price é um sistema de amortização que resulta em um número de prestações de igual valor, compostas de parcelas variáveis de amortização do capital e de juros que remuneram a dívida. Nesse sistema o valor das prestações só se altera se ocorrer repactuação ou de saldo devedor, ou de taxas de juros, ou de tempo de maturação do contrato.

A discussão judicial sobre a legalidade da Tabela Price diz respeito, na essência, ao suposto anatocismo nela embutida,

que não se confunde com a capitalização de juros adotada internacionalmente em várias aplicações periódicas de recur-sos, como cadernetas de poupança, fundos de investimen-tos em renda fixa, fundos de previdência e outros.

No caso da Tabela Price, em cada prestação a parcela de amortização é abatida do saldo devedor e os juros são calculados sobre o valor remanescente da dívida. No pe-ríodo subsequente, nova parcela de amortização reduz o saldo devedor, sobre o qual voltam a incidir os juros. Ao final do prazo, a dívida estará integralmente resgatada e os juros terão sido sistematicamente calculados sobre o saldo remanescente – jamais sobre juros de períodos an-teriores. Isto é, os juros são mensal e diretamente pagos ao credor, não sendo nunca acrescidos ao saldo devedor. Este, por sua vez, é amortizado a cada pagamento. Pres-tação e saldo são atualizados pelo mesmo índice. Não há débito de juros no saldo devedor, o que caracterizaria acu-mulação e, consequentemente, anatocismo.

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) firmou, em 2009, o entendimento, baseado na Lei dos Recursos Repetitivos (Lei n°11.672/2008), de que nos contratos celebrados no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) é veda-da a capitalização de juros em qualquer periodicidade e que a lei regente do SFH não estabelece limitação de juros remuneratórios. De acordo com o entendimento daquela Corte, “a capitalização mensal dos juros é possível quando pactuada nos contratos celebrados a partir de 31/3/2000, data de publicação da MP 1.963-17, reeditada sob o n. 2.170-36/011 (Agravo Regimental no Recurso Especial nº 1052336/MS)”. Portanto, nos contratos posteriores à vigên-cia da MP nº 1.963-17 já não se poderá arguir a ilegalidade da capitalização de juros nos financiamentos contratados com instituições financeiras nacionais.

Ademais, a Lei nº 11.977/2009, introduziu na Lei nº 4.340/1964, a lei básica do SFH, os seguintes arts. 15-A e 15-B:

“Art. 15-A. É permitida a pactuação de capitalização de juros com periodicidade mensal nas operações realizadas pelas entidades integrantes do Sistema Financeiro da Ha-bitação – SFH”.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para manutenção do uso da Tabela Price, no entendimento de que esse sistema de amortização de empréstimos não caracteriza anatocismo, ou seja, duplo encargo de juros sobre uma mesma base, mas sim uma prática internacionalmente aceita de atualização de valo-res financeiros que acrescenta ora encargos, ora re-munerações em diferentes períodos com base no saldo do período imediatamente anterior.

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138 AgendA do SetorFinanceiro2013

“Art. 15-B. Nas operações de empréstimo ou financia-mento realizadas por instituições integrantes do Sistema Fi-nanceiro da Habitação que prevejam pagamentos por meio de prestações periódicas, os sistemas de amortização do sal-do devedor poderão ser livremente pactuados entre as partes.

...

§ 3° Nas operações de empréstimo ou financiamento de que dispõe o caput é obrigatório o oferecimento ao mutuário do Sistema de Amortização Constante - SAC e de, no mínimo, outro sistema de amortização que atenda o disposto nos §§ 1° e 2°, entre eles o Sistema de Amortização Crescente - SACRE e o Sistema Francês de Amortização (Tabela Price).”

Nesse sentido, se a legislação vigente admite a capita-lização de juros e se a Justiça já decidiu que ela é permitida desde 31 de março de 2000, não faz sentido banir a Tabela Price sob o argumento de que a capitalização de juros é imprópria no mundo jurídico brasileiro.

12.3. Tabelamento de juros

A percepção equivocada de que as instituições finan-ceiras auferem maiores lucros quanto mais altas as taxas de juros deriva da experiência de indivíduos e de empre-sas como aplicadores de recursos. Uma pessoa física ou jurídica que aplica seus recursos em renda fixa terá maior retorno quanto mais altas as taxas de juros. A esse retorno para o aplicador corresponde um custo para o tomador de poupança – que no caso da renda fixa pode ser o Poder

Público, emitente de títulos que lastreiam fundos de in-vestimento. Ocorre que as instituições financeiras não são apenas aplicadoras de recursos, tampouco apenas toma-doras da poupança de terceiros, mas sim as intermediárias entre esses dois agentes. Para o intermediário, a taxa de juros é, em princípio, neutra.

Na realidade, essa neutralidade é relativa. Os bancos não têm interesse na manutenção de elevados custos para o tomador final. Ao contrário. Taxas elevadas para o tomador de crédito não só aumentam o risco de inadim-plência, mas também desestimulam a atividade econômi-ca, com reflexos negativos sobre os resultados da interme-diação financeira. Os resultados dos bancos derivam tanto do repagamento de empréstimos quanto de uma econo-mia sólida, em crescimento sustentado. Juros altos benefi-ciam o capital dos bancos e remuneram aplicações que as instituições fazem por conta própria. Esses rendimentos, porém, não são a principal fonte de seus resultados (ver 6.2 – Lucro e rentabilidade bancária).

A despeito do que se pensa, a queda dos juros tende a aumentar o lucro dos bancos, porque atraem mais to-madores de crédito; reduzem a inadimplência e, com ela, as provisões para devedores duvidosos; aumentam a es-cala das operações (com diluição dos custos fixos por um número maior de clientes); e aceleram o giro dos negó-cios, com recebimento mais rápido da parcela da margem (spread) que corresponde à receita.

12.4. Tabelamento de margem bancária (spread)

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a redução das taxas de juros, assentadas nos princípios constitu-cionais da liberdade da atividade econômica e da isonomia, que tratem das causas fundamentais que respondem pelas elevadas taxas de juros no Brasil, tais como a necessidade de financiamento do se-tor público, as expectativas de inflação, o saldo de transações com o exterior e o depósito compulsó-rio. Para a CNF, a aplicação de tetos artificiais para taxas de juros introduzem distorções na economia, sem sanar essas causas fundamentais.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a redução das margens bancárias (spread) assentadas nos princí-pios constitucionais da liberdade da atividade eco-nômica e da isonomia, com os quais conflitam os ta-belamentos de taxas e a incidência de contribuições adicionais. Para a CNF, a agenda para maior redução do spread passa por: (a) desoneração fiscal; (b) re-dução da inadimplência e custos associados a ela; (c) redução do compulsório; e (d) queda dos custos administrativos, inclusive os associados à regulação.

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139Capítulo 12 | Taxa de juros e margens bancárias (spread)

A questão da margem bancária (ou spread) não é sim-ples. O spread tem sido apresentado como a simples dife-rença entre a taxa de captação e a taxa de empréstimo dos bancos. É apontado como abusivo porque os bancos capta-riam à taxa SELIC, que em dezembro de 2012 passou a 7,25%, e emprestariam a taxas médias ao redor de 40% ao ano, para ganhar cerca de 30%. Equivocadamente, essa diferença de 30% é apontada como lucro dos bancos. Nesse raciocínio, há equívocos tanto conceituais quanto metodológicos.

Há, antes de tudo, alguma confusão entre patamar da taxa básica de juros e spread. Nos dois casos, os bancos são apontados como responsáveis pelas taxas de juros elevadas e pelas margens amplas. Porém, o setor financei-ro não tem controle sobre nenhuma das variáveis consi-deradas pelo Comitê de Política Monetária (COPOM), do Banco Central, para fixação da taxa básica de juros.

Já no que toca ao spread, há três equívocos funda-mentais que contaminam a discussão e impedem que as partes interessadas busquem soluções inovadoras e efica-zes. O primeiro equívoco é o de que os bancos auferem lucros excessivos, obtidos a partir de spreads amplos. O se-gundo é o de que os spreads praticados no Brasil são ab-surdamente mais amplos do que os verificados em outros países. O terceiro equívoco é o de que os bancos contro-lam todas as variáveis que determinam o spread e assim procuram manter as margens deliberadamente amplas.

Comparados com outros setores da economia, os ban-cos, ao contrário do que se acredita, não são os mais ren-táveis. Diferentemente de outros setores, as instituições financeiras não podem determinar sua estrutura de capi-tal e, com isso, alterar a rentabilidade sobre o patrimônio líquido, uma vez que estão sujeitas a limites mínimos de capital em função do Acordo de Basileia. Também ao con-trário do que se propaga, os bancos brasileiros não são os mais rentáveis do mundo. Percebe-se isso intuitivamen-te pelo fato de que não há notícia de corrida de grandes bancos internacionais para o mercado brasileiro. (ver a se-ção 6.2 – Lucro e rentabilidade bancária)

O segundo equívoco, o de que os spreads praticados no Brasil são muito mais amplos do que os de outros países, nas-

ce da comparação simplista de dados do Banco Central com dados internacionais. Não é correto tomar-se a amostragem do Banco Central como medida do spread brasileiro para compará-lo com o de outros países, uma vez que o Bacen considera em seus cálculos menos da metade das operações de crédito realizadas no Brasil, em volume. Isso é válido tanto para pessoas físicas quanto para pessoas jurídicas.

Para pessoas físicas, as operações de crédito utilizadas pelo Banco Central para a mensuração do spread represen-tam 53,1% do total das operações de crédito do segmento. Os cálculos da autoridade monetária consideram apenas cheque especial, crédito pessoal, aquisição de veículos e aquisição de outros bens. O Bacen não considera segmentos importantes, em alguns dos quais o spread é muito inferior: financiamento habitacional, cartão de crédito não-financia-do, leasing, cartão de crédito, crédito a cooperativas e outras operações. Incluídas as demais operações, o spread de pes-soas físicas cai de 34,6% para 27,4%. Para pessoas jurídicas, por sua vez, as operações registradas pelo Bacen correspon-dem a 39,3% do total das operações de crédito. O Banco Cen-tral considera apenas desconto de duplicatas, desconto de notas promissórias, capital de giro, conta garantida, aquisição de bens, “vendor”, adiantamentos sobre contratos de câmbio e repasses externos. O Banco Central, na sua estimativa de spread para pessoas jurídicas, não considera empréstimos do BNDES, repasses do BNDES, crédito rural, leasing cartão de crédito não-financiado e outras operações. Se forem acres-centados à amostragem do Bacen, o spread médio para pes-soas jurídicas se reduz de 19,2% para 13,6%. De forma conso-lidada, o spread calculado a partir de uma amostragem mais ampla de operações se reduz de 28,2% para 19,9%.

Por fim, o terceiro equívoco, o de que os bancos con-trolam todas as variáveis que determinam o spread, está na raiz da falsa percepção de que o lucro das instituições será tanto maior quanto mais largas forem as margens. Qualquer que seja a margem bancária, os bancos têm algum controle sobre apenas um dos fatores que determinam o spread: os custos administrativos. Os bancos não têm controle algum sobre as demais variáveis que compõem o spread bancário. Entre os outros fatores, a inadimplência é o de maior impac-to. Também tem grande peso a tributação sobre a interme-diação financeira, quesito em que o Brasil é uma exceção

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no cenário internacional. Impostos sobre intermediação financeira, diretos e indiretos (IOF, COFINS, PIS, CSLL e IR), respondem por larga parcela do spread. Depósito compul-sório junto ao Bacen e créditos de destinação obrigatória representam outro fator que determina o spread. O Brasil recolhe os maiores depósitos compulsórios do mundo: 43% sobre depósitos à vista (contra 19% na Argentina, o se-gundo colocado nesse quesito, e 10% nos Estados Unidos). Como anomalia, recolhe-se no Brasil depósito compulsório também sobre depósitos a prazo, de 20%. Por fim, o Fundo Garantidor de Crédito também influencia o spread.

Se os bancos não obtivessem nenhum lucro, se a taxa básica da economia (SELIC) fosse zero, se os depositantes abdicassem de seus rendimentos e se o crédito fosse perfei-to, ainda assim o tomador de empréstimos arcaria com uma taxa de quase 30% ao ano por conta de impostos, contribui-ções, FGC, compulsório e destinação obrigatória de recursos.

O “Relatório de Estabilidade Financeira” publicado pelo Banco Central do Brasil (disponível no endereço eletrônico: http://www.bcb.gov.br/htms/estabilidade/2012_03/refP.pdf) informa que, em dezembro de 2011, o spread médio considerado todo o universo de produtos financeiros era de 10,6% (página 29). O material de apoio que serviu para a prepa-ração do relatório (disponível no endereço eletrônico: http://www.bcb.gov.br/?RELESTAB201203, no link “Base de Dados”, gráfico 2.4.3) informa que em dezembro de 2011 a rentabili-dade das operações de crédito era de 18,69%a.a. e o custo de captação era de 8,63%a.a. – daí o spread de 10,06%a.a.

12.5. Limitação dos juros cobrados sobre cheque especial

A oferta de cestas de produtos variados, que atendam a diferentes necessidades dos clientes, é um dos elemen-tos essenciais para que o mercado satisfaça com eficiência toda a sorte de demandas, evite a queda do consumo e contribua para o crescimento econômico. O cheque espe-cial é parte dessa cesta.

O cheque especial é uma operação de crédito emer-gencial que não conta com qualquer tipo de garantia. As taxas de juros que incidem sobre essa modalidade são mais elevadas porque se caracteriza uma situação típica de assimetria de informação, na qual o devedor conhe-ce sua situação financeira, mas dela não dá a conhecer ao credor. Ademais, os bancos devem manter recursos ocio-sos disponíveis para saque, o que encarece a operação.

A inadimplência responde por cerca de 30% da mar-gem bancária (spread). No cheque especial, a inadimplên-cia é ainda maior, o que alarga mais a margem. Em carteiras de crédito com alta inadimplência, os custos operacionais e as perdas são distribuídos pelos clientes adimplentes, que, por essa razão, arcam com taxas mais elevadas.

Não faz sentido para o tomador utilizar o limite de cheque especial para, por exemplo, comprar bens de consumo duráveis. Para esse tipo de operação ele pode recorrer ao crédito direto ao consumidor ou ao arrenda-mento mercantil (leasing) a taxas mais reduzidas. Assim, o uso correto do cheque especial também depende do conhecimento dos produtos e serviços financeiros, isto é, de educação financeira.

12.6. depósito compulsórioA Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a redução das taxas de juros de todas as modalidades de financia-mento, inclusive do cheque especial, centradas na redução da assimetria de informação que prevale-ce em operações de crédito que não contam com garantia. Para a CNF a imposição de limites, em vio-lação ao princípio constitucional da liberdade da atividade econômica, induz à contração do volume de crédito disponível em dada modalidade.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a redução dos níveis de recolhimento de depósitos com-pulsórios, bem como para a flexibilização do emprego e da liberação desses depósitos na ocorrência de oscilações acentuadas de liquidez que possam representar risco sistêmico para os fornecedores de crédito.

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141Capítulo 12 | Taxa de juros e margens bancárias (spread)

A crise financeira internacional de 2008 ilustrou a im-portância do recolhimento de depósitos compulsórios no Banco Central. Na pior fase da crise, a liberação de parcelas do compulsório para compra, pelos bancos de maior por-te, de carteiras de empréstimos foi essencial para injetar liquidez na economia e resguardar a saúde financeira das instituições de menor porte, evitando-se assim uma crise sistêmica. Contudo, esse não é o papel primordial do reco-lhimento de depósitos compulsórios.

Como instrumento de política econômica, o recolhi-mento de depósito compulsório presta-se, sobretudo, à execução da política monetária. O depósito compulsório destina-se a reduzir o multiplicador bancário, com o mes-mo efeito que teria uma elevação das taxas de juros.

A manutenção de níveis elevados de depósitos com-pulsórios representa uma restrição à expansão das cartei-ras creditícias, uma vez que as instituições financeiras, em virtude dos riscos intrínsecos à sua atividade, necessitam manter uma reserva de liquidez sob a forma de títulos li-

vres. Quanto menor essa reserva, maior o risco de liquidez e menor a possibilidade de alocação de recursos às ope-rações de crédito. A liberação dos depósitos compulsórios propicia a expansão do crédito.

O recolhimento de compulsório assemelha-se à impo-sição de um tributo porque a remuneração dos depósitos pelo Banco Central é feita a taxas inferiores às praticadas no mercado, o que transfere para a autoridade monetária a diferença entre essa remuneração e a taxa de aplicação dos bancos.

A manutenção de elevados níveis de compulsório aumenta as margens bancárias (spread), diminui a oferta de crédito e pressiona a taxa de juros básica real, com im-pacto negativo sobre o crescimento econômico. O Brasil recolhe os maiores depósitos compulsórios do mundo: 43% sobre depósitos à vista (contra 19% na Argentina, o segundo colocado nesse quesito, e 10% nos Estados Uni-dos). Como anomalia, recolhe-se no Brasil depósito com-pulsório também sobre depósitos a prazo, de 20%.

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caPÍTuLo

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FinanciaMenTo DE lONgO PRAzO

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145Capítulo 13 | Financiamento de longo prazo

A consolidação da estabilidade econômica no Brasil lançou luz sobre a importância crescente de recursos

e de instrumentos de financiamento de longo prazo. Para a economia brasileira sustentar crescimento econômico de 5% ao ano, serão necessários recursos de poupança que elevem investimentos (formação bruta de capital fixo) a um patamar superior a 22% do PIB. Tais investimentos deverão ser dirigidos, sobretudo, a obras de infraestrutu-ra que solucionem os gargalos que impedem ganhos de produtividade de todos os setores da economia. São obras de longa duração, às quais correspondem financiamentos de longa maturação.

Hoje, financiamentos de longo prazo estão pratica-mente restritos às linhas de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que con-ta com empréstimos do Tesouro Nacional, com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e com o repa-gamento de operações de longo prazo vincendas, entre outros. Nenhuma outra instituição financeira tem acesso a fundos dessa natureza.

Nos últimos cinco anos, o prazo médio de emissão dos Certificados de Depósito Bancário (CDB) - principal fonte de captação dos bancos no mercado local - praticamente dobrou, alcançando atualmente algo próximo a três anos. Contudo, isso não é garantia de funding de longo prazo para os bancos.

Há ainda outros instrumentos hoje disponíveis para captação pelas instituições financeiras no mercado interno, como, por exemplo, os CDBs subordinados (Resolução nº 3.444/2007, do CMN), as operações compromissadas (Reso-lução nº 3.339/2006, do CMN), as Letras de Crédito do Agro-negócio (Lei nº 11.076/2004) e as Cédulas de Debêntures (Lei nº 6.404/1976, art. 72), com limitações semelhantes às dos CDBs, inclusive por um mercado secundário restrito.

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas de criação de instrumentos de capta-ção de recursos de longo prazo, ao mesmo tempo em que sublinha a importância da criação concomitante de mercado secundário líquido para esses instrumen-tos, no entendimento de que as operações dar-se-ão por livre negociação, no âmbito de um arcabouço le-gal que ofereça segurança jurídica.

13. Financiamento de longo prazo

O mercado financeiro internacional dispõe de diversos instrumentos de captação já utilizados atualmente pelos bancos brasileiros. As instituições nacionais têm facilidade em emitir esses ativos no exterior (bonds). Em geral, este é um mercado com bom nível de liquidez e com preços formados em diversos ambientes de informação e nego-ciação.

Hoje, cerca de 40% da dívida pública federal ainda é remunerada pela Taxa SELIC, bem como mais de 90% da dívida privada está representada por ativos atrelados ao Depósito Interfinanceiro (DI), ambos indexadores de cur-tíssimo prazo. A cultura de curto prazo dos agentes econô-micos domésticos funciona como um desincentivo à am-pliação da maturidade dos títulos emitidos. Essa questão de vital importância - e que precisa ser debatida de forma ordenada entre emissores, intermediários, investidores e gestores de portfólio – está ligada à existência de diversos ativos e operações que combinam liquidez e relação ris-co/retorno em condições extremamente desfavoráveis ao alongamento dos prazos.

Outro aspecto a ser considerado nessa discussão diz respeito às regras de tributação aplicáveis aos títulos e va-lores mobiliários de renda fixa, que tampouco contribuem para o incentivo ao mercado secundário de títulos.

A oferta de financiamento de longo prazo no Brasil passa pela criação de instrumentos de captação de longa maturação, de um mercado secundário com ampla liqui-dez e pela construção de um arcabouço que confira ga-rantia jurídica às operações. Nesse cenário, os investidores

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institucionais – fundos de pensão, seguradoras e fundos de investimento, por exemplo – adquirem especial im-portância como agentes e o mercado de capitais torna-se crítico como o local em que as operações vão se realizar.

13.1. Letras Financeiras

Em fevereiro de 2010, o Conselho Monetário Nacional regulamentou, por meio da Resolução nº 3.836, a Letra Fi-nanceira, título de crédito que consiste em promessa de pagamento em dinheiro, nominativo, transferível e de livre negociação.

A Letra Financeira é fruto de um projeto desenvolvido pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Fi-nanceiro e de Capitais (ANBIMA) e apoiado por diversas entidades representativas do sistema financeiro. Seu obje-tivo é oferecer às instituições financeiras uma alternativa de captação de longo prazo, por meio de um instrumento ágil, simples e padronizado, com retornos mais atraentes para emissões de maturidade mais longa - capazes de gerar um forte mercado secundário por sua natureza corporativa.

Quanto à remuneração, a LF poderá ser prefixada, com-binada ou não com taxas flutuantes, ou atrelada a índice de preços. A norma, no entanto, traz algumas restrições, como a impossibilidade de existência de uma cláusula de resgate antecipado e a vedação quanto à emissão com cláusula de variação cambial, bem como a necessidade de que a LF com cláusula de subordinação seja emitida ape-nas por meio de oferta privada.

Posteriormente, os aspectos contábeis e a incidência do recolhimento compulsório foram regulamentados pelo Banco Central, por meio da edição da Carta-Circular nº 3.432 e da Circular nº 3.487, ambas de março de 2010. A primeira criou, no COSIF, os títulos contábeis para regis-tro das obrigações por emissão das Letras Financeiras, en-quanto que a Circular incluiu essa rubrica contábil entre aquelas cujo somatório do saldo constitui valor sujeito a recolhimento compulsório e encaixe obrigatório sobre re-cursos a prazo.

A incidência de recolhimento compulsório à alíquo-ta de 15%, no entanto, pode reduzir sua atratividade, na medida em que aproxima o seu custo de emissão ao de ativos similares, diminuindo o espaço para que os bancos possam oferecer retornos mais atraentes para emissões de maturidade mais longa e, assim, induzir os investidores a abrirem mão da liquidez de curto prazo proporcionada por ativos concorrentes.

Embora a regulamentação da LF ainda possa ser aperfei-çoada com base na experiência que se vier a adquirir com o novo título, o instrumento traz boas perspectivas para o mercado, ampliando as alternativas de captação de recur-sos pelas instituições financeiras. Além de contribuir para a redução do descasamento de operações ativas e passivas de longo prazo, o novo papel também poderá estimular o desenvolvimento do mercado secundário de renda fixa, na medida em que o emissor poderá adquirir até 5% do valor total da emissão exclusivamente por meio de Bolsa de Valo-res ou de mercados organizados de balcão.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia o aprimoramento da legislação que regu-lamenta a Letra Financeira (LF) com vistas à criação de um mercado secundário líquido para o título, em um arcabouço legal que confira segurança jurí-dica às operações. Esse aprimoramento passa pela revisão de entraves ao crescimento do número das operações e dos montantes envolvidos, tais como: a adoção de uma cláusula de resgate antecipado; a autorização para emissão com cláusula de varia-ção cambial; a autorização para oferta pública de LF com cláusula de subordinação; a extinção do recolhimento compulsório à alíquota de 15%; e a revisão das regras de tributação aplicáveis aos títu-los e valores mobiliários de renda fixa.

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147Capítulo 13 | Financiamento de longo prazo

13.2. Letras Financeiras imobiliárias e Covered Bonds

Sugeridas pelo setor de crédito imobiliário como novo instrumento de captação de recursos para o financiamen-to da habitação, as Letras Financeiras Imobiliárias (LFIs) po-dem ser consideradas parte da solução para o esgotamen-to dos recursos da poupança como fonte exclusiva de fi-nanciamento. A LFI seria uma versão brasileira dos covered bonds, bastante usados na Europa. Trata-se de um título de crédito de longo prazo com dupla garantia, assegurado tanto pelo banco emissor quanto pelos créditos que os las-treiam. Além da dupla segurança, a Letra teria isenção de imposto de renda para os investidores que comprarem pa-péis de prazo mais longo. Hoje, esse benefício já vale para alguns instrumentos que financiam o setor, como os Cer-tificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) comprados por pessoas físicas. Nas LFIs o lastro é constituído por créditos imobiliários submetidos ao regime fiduciário, constituindo patrimônio separado em relação ao patrimônio geral da instituição emitente, imunes a procedimentos executórios ou falimentares que venham a envolvê-la.

Os covered bonds são instrumentos de dívida garanti-dos por financiamentos imobiliários residenciais ou comer-ciais (com garantia real dos imóveis), empréstimos ao setor público ou financiamentos garantidos por navios. Esse conjunto de ativos utilizados como garantia dos títulos é denominado cover pool, ou pool de ativos. Os investidores dos covered bonds possuem preferência em relação aos ativos do cover pool, em caso de insolvência da institui-

ção emissora. Na perspectiva do emissor, o covered bond é qualificado como dívida e é considerado em grande parte instrumento financeiro de captação de longo prazo.

Os covered bonds apresentam-se como alternativa ao mercado brasileiro como forma de funding para as institui-ções financeiras, pois os bancos não precisariam transferir suas carteiras de crédito imobiliário como ocorre na emis-são de CRI. A criação de título de crédito que contemple as principais características dos covered bonds pode dinami-zar o mercado imobiliário brasileiro, mesmo porque o mer-cado brasileiro é caracterizado pela existência de grandes bancos de varejo, ampliando as fontes de captação para novos financiamentos.

13.3. Programa de aceleração do crescimento (Pac)

O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é um conjunto de projetos de investimento e uma sistemática de gestão desses projetos que procura superar gargalos que limitam a expansão da atividade econômica e a ge-ração de empregos no Brasil. Os investimentos necessá-rios para sustentar expansão continuada do PIB acima de 5% ao ano excedem a capacidade de poupança do setor público brasileiro e esbarram em restrições fiscais cuja fle-xibilização teria impacto negativo sobre o nível geral de preços e as taxas de juros.

O PAC é coordenado pelo Comitê Gestor do PAC (CG-PAC), composto pelos ministros da Casa Civil, da Fazenda

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas voltadas para a criação de ins-trumentos financeiros inovadores que permitam aos agentes do crédito imobiliário captar recursos de longo prazo a taxas reduzidas para financiar o acesso de número cada vez maior de brasileiros ao mercado de imóveis. A criação das Letras Financeiras Imobili-árias ampliaria o leque de instrumentos financeiros inovadores.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas voltadas para a superação dos gargalos que limitam o crescimento da economia brasileira na medida em que estas preveem compar-tilhamento de riscos e de financiamento com o setor privado e passam pela consolidação de instrumen-tos de financiamento de longo prazo que contem com robusto mercado secundário líquido. A CNF su-blinha o caráter voluntário desse compartilhamento de riscos.

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148 AgendA do SetorFinanceiro2013

e do Planejamento. Há também o Grupo Executivo do PAC (GEPAC), integrado pela Subchefia de Articulação e Moni-toramento (Casa Civil), Secretaria de Orçamento Federal e Secretaria de Planejamento e Investimentos Estratégicos (Planejamento), além da Secretaria do Tesouro Nacional (Fazenda). O GEPAC busca estabelecer metas e acompa-nhar a implementação do PAC.

A consolidação do PAC enseja compartilhamento de riscos e de financiamento com o setor privado, cria opor-tunidade para a consolidação de instrumentos de financia-mento de longo prazo e fortalece um mercado secundário líquido.

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149Capítulo 13 | Financiamento de longo prazo

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caPÍTuLo

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PLano direTor DO MERCADO DE

CAPITAIS

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153Capítulo 14 | PLANO DIRETOR DO MERCADO DE CAPITAIS

Em 2002, por iniciativa de um conjunto representativo de entidades do setor privado, foi lançada a primeira

versão do Plano Diretor do Mercado de Capitais (PDMC), resultado da formação de consenso sobre a necessidade de se criar e manter as condições para o mercado de capi-tais brasileiro cumprir com eficiência sua missão. O PDMC busca: (a) oferecer as condições financeiras necessárias para a sustentação do crescimento econômico, a geração de empregos e a democratização de oportunidades e do capital; (b) mobilizar recursos de poupança oferecendo al-ternativas de investimento seguras e rentáveis, para servir também de base para planos de previdência pública e pri-vada complementar; e (c) direcionar esses recursos para financiar os investimentos mais produtivos e socialmente desejáveis, inclusive infraestrutura, habitação e empresas emergentes, em condições competitivas com o mercado internacional.

Em 2003, foi criado no Ministério da Fazenda o Grupo de Trabalho do Mercado de Capitais e da Poupança de Longo Prazo, que promoveu a institucionalização de um processo de cooperação e diálogo entre os setores públi-co e privado, numa experiência bem sucedida. Balanço realizado em 2008, quando da atualização do PDMC 2002, revelou que 44 das 50 ações específicas propostas haviam sido total ou parcialmente implementadas, criando as con-dições institucionais para o desenvolvimento do mercado nesse período.

Em 24 de fevereiro de 2011, o Ministério da Fazenda editou a Portaria Interministerial nº 68, que subordinou à Secretaria Executiva o Grupo de Trabalho sobre Mercado de Capitais e Poupança de Longo Prazo.

Várias das nove Diretrizes do Plano Diretor do Mercado de Capitais constam de outras partes desta Agenda do Se-tor Financeiro. São estas as nove Diretrizes:

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia proposições voltadas para a criação de condições para que o mercado de capitais cumpra com eficiência sua missão de mobilizar recursos de longo prazo e financiar o crescimento econômico sustentável.

14. PLano direTor do Mercado de caPiTaiS

1 papel prioritário do mercado de capitais no financia-mento da economia;

2 ações concertadas para redução do custo de capital (ver 2.4 – Cadastro Positivo, 13 – Financiamento de Longo Prazo, 10 – Crédito e 12 – Taxa de juros e mar-gens bancárias (spread));

3 isonomia competitiva na tributação da atividade eco-nômica e do mercado de capitais (ver 5.2 – Reforma Fiscal , 15 – Questões Tributárias , 15.14 – Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) , 15.12 – Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou rela-tivas a Títulos ou Valores Mobiliários (IOF) , 15.15 – Con-tribuições sobre Movimentação Financeira , e 15.16 – Tributação sobre Grandes Fortunas;

4 novo regime previdenciário com equilíbrio entre re-gimes de repartição e capitalização (ver 5.1 – Novo Modelo Previdenciário para Novos Trabalhadores e 17 – Questões Previdenciárias);

5 ampliação do acesso dos investidores ao mercado de capitais com adequada proteção;

6 ampliação do acesso das empresas ao mercado de ca-pitais;

7 fortalecimento e atuação harmonizada de reguladores e autorreguladores (ver 6.10 – Agências Reguladoras, e 22.2 – Harmonização de regras contábeis com padrões internacionais );

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154 AgendA do SetorFinanceiro2013

8 esforço conjunto das entidades privadas em favor da educação financeira e previdenciária, na promoção da cultura de mercado de capitais (ver 1 – Educação Fi-nanceira); e

9 contínuo aperfeiçoamento do PDMC assentado no ca-ráter permanente da parceria das entidades subscrito-ras do Plano Diretor em favor do mercado de capitais brasileiro por meio do Comitê para o Desenvolvimento do Mercado de Capitais (CODEMEC) e do Comitê Exe-cutivo do Plano Diretor.

Como reação à crise financeira, ampliou-se nos últimos anos o volume de recursos públicos em reforço à capa-cidade de financiamento do BNDES. Entretanto, como tem sido reconhecido pelo Governo, é chegada a hora de o sistema financeiro privado aumentar sua participação e ocupar papel central na mobilização e oferta de recursos de longo prazo para o financiamento dos investimentos. Um novo ciclo de desenvolvimento do mercado de capi-tais abrirá também maiores oportunidades para reforçar a atuação do BNDES sem ônus adicionais para as contas publicas.

14.1. ampliação do acesso dos investidores ao mercado de capitais com adequada proteção

O crescimento e o fortalecimento do mercado de ca-pitais também dependem da ampliação do acesso de am-plas camadas da população, com adequada proteção aos investidores, por meio da adoção das melhores práticas de governança corporativa pelas empresas do mercado, da gestão de riscos, da geração de produtos financeiros e de comunicação ajustados às características e às neces-

sidades de cada segmento de investidores (suitability). Deve-se assegurar a todos os investidores igual acesso a todas as informações, coibindo-se de modo eficaz a nego-ciação com informações privilegiadas (o insider trading) e assegurando-se a efetiva aplicação das leis, regulamentos e contratos, inclusive mediante aplicação e divulgação de medidas punitivas que venham a ser aplicadas.

14.2. ampliação do acesso das empresas ao mercado de capitais

Outro importante fator de crescimento e de fortaleci-mento do mercado de capitais é a ampliação do acesso do maior número possível de empresas do setor produtivo. Isso se daria mediante a adoção, entre outras, de medidas que reduzam os custos e facilitem o acesso das empresas, inclu-sive as de capital fechado, ao mercado de capitais. Esse ob-jetivo poderia ser alcançado diretamente por intermédio de fundos focados no direcionamento de recursos a empresas emergentes. Ademais, contribuem para o fortalecimento do mercado de capitais a difusão do uso da securitização, bem como a utilização de derivativos como instrumento de ges-tão de riscos nas atividades operacionais e financeiras.

14.3. derivativos e mercados futuros

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia proposições voltadas para a ampliação do acesso de investidores ao mercado de capitais, com isonomia de acesso a todas as informações e prevenção ou punição de negociação com infor-mações privilegiadas.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia proposições voltadas para a ampliação do acesso de empresas do setor produtivo ao merca-do de capitais, mediante a redução dos custos, a securitização de ativos e a utilização de derivativos.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia proposições voltadas para o fortalecimen-to da regulação e da supervisão de derivativos e de mercados futuros que limitem o impacto destes so-bre o risco sistêmico, ao mesmo tempo em que não inviabilizem o emprego desses importantes instru-mentos de proteção contra flutuações de mercado.

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155Capítulo 14 | PLANO DIRETOR DO MERCADO DE CAPITAIS

A crise financeira internacional de 2008 alterou a per-cepção do papel e da importância das operações com de-rivativos e dos negócios em mercados futuros. Derivativos e mercados futuros passaram a ser associados a operações fraudulentas e a operações de alto risco (alta alavancagem) que fragilizam o setor financeiro. De fato, derivativos e mer-cados futuros operados de maneira irresponsável podem ter profundas implicações negativas para todo o sistema fi-nanceiro. Contudo, seu papel, se adequadamente regulado e supervisionado, continuará a ter grande importância.

Derivativos são direitos negociáveis lastreados em ativos reais, tais como commodities, ações ou quotas de imóveis. Por terem prazo de vencimento, são negociados em mercados futuros, nos quais a conclusão das opera-ções que envolvem esses direitos é fixada em data futura e os preços dos direitos variam em função da convergência entre as cotações desses direitos e o preço nos mercados à vista dos ativos reais que os lastreiam. O propósito fun-damental dos derivativos e dos mercados futuros é o de oferecer proteção contra flutuações de preços de ativos (hedge) e de criar alternativa de aplicação de poupança. Assim, um comprador de commodity que pretende liqui-dar a compra em data futura tem a alternativa de também comprar um derivativo (no caso, adquirir uma opção de compra) que fixe o preço que pagará à vista quando do vencimento da operação. Já um investidor poderá vender um direito sobre ativo real que possua ou que possa com-prar (no caso, lançar uma opção de compra), fixando a co-tação desse direito de tal maneira que sua materialização (o exercício da opção de compra) propicie retorno a taxa compatível com o de outras alternativas de investimento.

14.4. Varas da Justiça especializadas em matérias ligadas ao mercado de capitais

As operações do mercado de capitais se beneficiariam grandemente de maior celeridade das decisões judiciais que envolvem matérias ligadas a investimentos de longo prazo e a questões societárias. Para tanto, seria adequada a criação de Varas da Justiça especializadas em matérias es-pecíficas do mercado de capitais, cobrindo as questões da área financeira, societária e de títulos e valores mobiliários, com o objetivo de agilizar e aumentar a eficácia do Poder Judiciário no julgamento das ações e execução da lei nes-sas áreas, como forma de tornar mais efetiva a aplicação da legislação, minimizar riscos, reduzir spreads e o custo de capital. Com o mesmo objetivo, recomenda-se estimular a utilização de Câmaras de Arbitragem.

14.5. aceitação de garantias de investidores estrangeiros

Garantias desempenham papel fundamental em mui-tas operações financeiras. De maneira geral, a avaliação de garantias considera essencialmente sua liquidez e os procedimentos – administrativos ou judiciais – para exe-cutá-las. Nesse quadro, é indiferente para o agente finan-ceiro se a garantia é prestada por investidores nacionais ou estrangeiros, se mantidas no Brasil ou no exterior. O afluxo de recursos internacionais para o mercado de capitais bra-sileiro seria grandemente aumentado por meio de ajustes na regulação, de forma a permitir que investidores estran-geiros possam constituir garantias para suas operações no Brasil utilizando ativos financeiros de alta liquidez por eles mantidos no exterior.

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia proposições voltadas para a criação de Varas da Justiça especializadas em matérias específicas do mercado de capitais, que propiciem o exame técnico em profundidade dos aspectos complexos de opera-ções financeiras que são objeto de lides judiciais.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia proposições voltadas para a constituição de garantias para operações no mercado de capitais brasileiro utilizando ativos financeiros de alta liquidez mantidos por investidores no exterior.

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14.6. registro no cade de participação acionária por Fundos de Private Equity e Venture Capital

Os fundos de participação acionária (Private Equity) e de capital de risco (Venture Capital) representam impor-tante fonte de recursos de longo prazo aos quais não estão associadas taxas de juros, mas sim expectativa de retorno para seus investidores. Ao ampliarem o capital das empre-sas em que investem, esses fundos permitem reestrutura-ção financeira das companhias e seu fortalecimento para investir em inovação e se tornarem mais competitivas. Tais investimentos, contudo, esbarram na ausência de uma in-terpretação clara das normas de registro no Conselho Ad-ministrativo de Defesa Econômica (CADE) para aquisições de participação acionária por Fundos de Private Equity e Venture Capital.

14.7. utilização de recursos do FgTS para aquisição de ações

Na Constituição Federal, o Fundo de Garantia do Tem-po de Serviço constitui reserva sobre a qual se aplicam multas rescisórias e à qual o trabalhador pode recorrer seja para custear suas despesas enquanto busca recoloca-ção profissional, seja para formação de patrimônio (como compra de imóvel para uso próprio).

Como reserva, o FGTS poderia ter também outras destinações que atendessem aos mesmos objetivos de indenização e de formação de patrimônio. Entre essas destinações, destaca-se a aquisição de participação acio-nária em companhia abertas. No Brasil, a transparência das demonstrações financeiras – que atendem aos mais sofisticados padrões internacionais –, a publicidade dessas demonstrações e a eficácia das autoridades reguladoras na supervisão das companhias de capital aberto limitam o risco de investimentos em ações dessas empresas. Numa perspectiva de longo prazo, como é a do FGTS, esse risco diminui ainda mais, chegando a equiparar-se, por exem-plo, ao risco de desvalorização de imóvel adquirido com recursos do Fundo. Ademais, a rentabilidade de longo prazo do mercado acionário excede historicamente a re-muneração do FGTS, hoje calculada à Taxa Referencial (TR) mais 3% ao ano, conforme estabelece a Lei nº 8.036/1990.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia proposições voltadas para a explicitação das normas de registro no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) para aquisições de participação acionária por Fundos de Private Equity e Venture Capital.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia proposições voltadas para a autorização do uso do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para aquisição de participação acionária em companhias abertas, a qualquer tempo e a crité-rio do trabalhador, como medida para estimular o crescimento do mercado de capitais e aumentar o retorno dos recursos depositados no FGTS.

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queSTÕeS TRIBUTáRIAS

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161Capítulo 15 | Questões tributárias

No Brasil, há que se aperfeiçoar a tributação de modo a estimular a racionalidade e a competitividade, com

respeito à isonomia.

Quanto à racionalidade, o sistema tributário brasileiro dá margem a insegurança jurídica, por causa da variedade de tributos, da imposição das muitas obrigações acessó-rias sobre os contribuintes e das mudanças frequentes de regras e normas. Um sistema tributário complexo deman-da a criação de onerosas estruturas burocráticas nas em-presas, que se refletem no custo dos bens e serviços.

Quanto à competitividade, por sua vez, o sistema tri-butário brasileiro onera excessivamente os investimentos, as exportações e a intermediação financeira. O Brasil é dos poucos países que tributam bens de capital e ativos fixos, o que desestimula investidores. Também as exportações brasileiras, na contramão da prática internacional, incor-poram tributos que prejudicam sua competitividade no exterior. Um sistema tributário complexo, com marcadas diferenças em relação aos de outros países, dificulta ainda mais as operações internacionais das empresas brasileiras.

A esses problemas acrescenta-se a tributação em cas-cata, que muitas vezes implica dupla tributação inciden-te sobre um mesmo bem ou serviço. Um exemplo dessa distorção é a tributação sobre a intermediação financeira. Não se encontra exemplo internacional de país que arre-cade Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), Contribui-ção Social sobre Lucro Líquido (CSLL) - maior do que a que incide sobre outros setores da economia -, Programa de Integração Social (PIS), Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS), Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos ou Va-lores Mobiliários (IOF) e, em alguns casos, Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) sobre operações fi-nanceiras. Essa cascata de impostos reflete-se numa maior margem bancária (spread), à qual corresponde maior custo para o tomador de crédito. Com um custo maior, o

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas voltadas para a simplificação da tributação, o respeito à isonomia e a desoneração fiscal que contribuam para a racionalidade do siste-ma tributário, para o aumento da competitividade das empresas e para a eliminação de tributação em cascata, sobretudo a que incide sobre a intermedia-ção financeira.

15. questões Tributárias

tomador apura resultados menores e, em consequência, recolhe menos tributos sobre esses resultados. Além da complexidade operacional do recolhimento dessa profu-são de tributos, sobressai-se o encarecimento de crédito em um país que, cada vez mais, precisa de recursos para financiamento de projetos que gerem empregos e produ-zam riquezas.

A CNF entende que o tratamento jurídico tributário de pessoas físicas e jurídicas que se encontrem na mesma situação deve observar a isonomia em todas as relações.

15.1. código de defesa dos contribuintes

O contribuinte brasileiro está sujeito a mais de uma centena de diferentes tipos de tributos. A legislação que rege esses tributos estabelece parâmetros básicos de ta-xação (como fato gerador, alíquota e base de cálculo), mas também destaca direitos dos contribuintes. Nesse cenário, há mérito em propostas que busquem enfeixar, numa úni-

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia a criação de um código com regras específicas para a defesa dos contribuintes, que as-segure tributação livre de qualquer arbitrariedade e garanta a todos o princípio da segurança jurídica, ao dar aos contribuintes condições de conhecer seus direitos tributários, que devem decorrer da Lei igual para todos.

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162 AgendA do SetorFinanceiro2013

ca lei, todos esses direitos que hoje se encontram disper-sos por vários dispositivos legais. Essa única lei, ao atender dois aspectos fundamentais – os direitos do contribuinte e a busca da justiça fiscal – trataria de normas gerais sobre direitos e garantias aplicáveis na relação tributária dos con-tribuintes com a administração fazendária da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

A experiência internacional caminha nessa direção. Há hoje tratados internacionais sobre os direitos básicos dos contribuintes, bem como leis nacionais (como a “Taxpayer Bill of Rights II” dos Estados Unidos, de 1996, e a “Ley de Derechos y Garantias de los Contribuyentes” da Espanha, de 1998).

Um Código dessa natureza consolidaria direitos dos contribuintes, tais como: formular alegações e apresentar documentos antes do julgamento administrativo; fazer-se assistir por advogado; receber comprovantes de material entregue ou apreendido pela fiscalização fazendária; ser informado de prazos para pagamento de prestações, in-clusive multas e acessórios; receber resposta fundamen-tada a pleito administrativo que haja formulado, em pra-zo certo; ter ciência formal da tramitação dos processos administrativo-tributários cuja decisão possa, de qualquer forma, atingi-lo pessoal ou patrimonialmente por efeito di-reto ou indireto, assegurando-se vista dos autos, obtenção das memórias de cálculo e cópias que requeira; conhecer formalmente as decisões nelas proferidas; ter unificados os prazos recursais no âmbito do processo administrativo fiscal; e ter acesso a todas as fases de julgamento adminis-trativo, especialmente em primeira instância.

15.2. Transparência de dados fiscais

Discute-se no Congresso Nacional a ampla divulgação dos dados fiscais do contribuinte. A previsão é de que seja criado um banco de dados com informações relativas, no caso de pessoas jurídicas, ao valor do patrimônio líquido, total da receita anual passível de tributação e tributos pa-gos. Tal base de dados ficaria acessível, a qualquer tempo, a qualquer interessado.

A administração tributária no tratamento das informa-ções do contribuinte deve guiar-se pelo disposto no art. 198 do Código Tributário Nacional (CTN), respeitando o sigilo dos dados, salvo nos casos de requisição por auto-ridade judiciária e de solicitação por autoridade adminis-trativa, comprovada a instauração regular de processo ad-ministrativo. Mesmo quando a troca de informações fiscais dos contribuintes é permitida entre a Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (art. 199 do CTN), esta deve pautar-se pela garantia de si-gilo. Assim, não parece razoável permitir que terceiros não integrantes da relação jurídica tributária acessem as infor-mações constantes do mencionado banco de dados, ex-ceto nas situações excepcionais já estabelecidas. Inclusive, a divulgação dos dados sigilosos constitui crime previsto no art. 325 do Código Penal.

O que se pretende coibir (omissão sobre rendas, bens ou fatos, e a prestação de informações falsas à autorida-de fazendária) já está tipificado na legislação penal e tri-butária, que pune condutas criminosas, entre elas as que atentem contra a Ordem Tributária, disciplinadas na Lei nº 8.137/1990.

Ademais, medidas dessa natureza não demonstram o efetivo benefício social proveniente da divulgação de tais dados à população em geral. Quando a Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011), por exemplo, obriga a divulgação do salário dos servidores públicos e a dispo-nibilização do banco de dados a qualquer pessoa há um interesse coletivo e geral no acompanhamento dessas informações, visto que a população contribui com o pa-gamento dos servidores por meio de tributos. No entanto, quando se objetiva obrigar a divulgação de dados priva-dos que somente importam às partes envolvidas na rela-ção jurídica tributária, o interesse que se pretende tutelar é

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas que ampliem a transparência das in-formações sobre as quais há interesse geral em sua obtenção e que permitam maior controle social das contas públicas. A liberação de informações privadas a terceiros, no entanto, deve ser protegida pelo sigilo fiscal, salvo nas hipóteses já previstas em lei.

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163Capítulo 15 | Questões tributárias

privado e não público, não fazendo sentido, portanto, ferir o direito ao sigilo.

15.3. créditos tributários

Após a edição da Lei nº 11.051/2004, o Fisco considera “não declarada a compensação” nos casos em que os cré-ditos sejam de terceiros, crédito-prêmio IPI, títulos públi-cos, que sejam decorrentes de decisões judiciais que não estejam transitadas em julgado ou que não sejam tributos e contribuições administrados pela própria Receita Federal.

Esses créditos eram utilizados na declaração eletrônica de compensação, com recurso ao processo administrati-vo nos casos em que não fossem aceitos pela Receita, o que implicava postergação do pagamento dos impostos até que houvesse uma decisão final desse processo ad-ministrativo. Ademais, a multa pelo não pagamento de impostos, no caso de utilização de créditos tributários, era de 20% do valor do débito por tratar-se de pagamento espontâneo e discutível. Após a Lei nº 11.051, a compen-sação passou a ser considerada como não declarada e a multa pode chegar a até 150% do débito.

Por um lado, a vedação do uso de créditos tributários extinguiu práticas incompatíveis com a boa gestão pelas empresas de suas obrigações tributárias. Por outro, não ofereceu solução para contribuintes que devem honrar es-sas obrigações tributárias no curto prazo, ao mesmo tem-po em que são detentores de direitos tributários – contra o Fisco – de restituição, no longo prazo.

15.4. conselho administrativo de recursos Fiscais (carF)

O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) é um órgão colegiado paritário, integrante da estrutura do Ministério da Fazenda, que tem por finalidade julgar os re-cursos de ofício, voluntários e especiais que versem sobre a aplicação da legislação referente a tributos administra-dos pela Secretaria de Receita Federal do Brasil (SRF). De-cisões do CARF favoráveis aos contribuintes são definitivas (à Receita fica vedado recurso), ao passo em que decisões favoráveis ao Fisco podem ser objeto de processo judicial movido por contribuintes. As decisões do CARF são parti-cularmente importantes porque criam jurisprudência, seja no próprio Conselho (onde podem ter efeito vinculante e balizar todas as decisões sobre processos assemelhados), seja no Judiciário.

O CARF propicia acórdãos marcados por riqueza doutri-nária e jurisprudencial que solucionam divergências sobre a interpretação das leis tributárias. Durante quase noventa anos desde a instituição do Conselho, a estrutura e a com-petência do colegiado sofreu modificações, com impacto sobre a quantidade de processos para julgamento e a ne-cessidade de maior especialização de seus Conselheiros. O CARF busca a promoção da imparcialidade e da justiça fiscal, além de oferecer maior celeridade à solução das lides.

Tramitam no Congresso Nacional propostas que bus-cam agilizar e simplificar os procedimentos administrati-

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas que regulamentem a utilização de créditos tributários, de maneira a permitir que direitos e obrigações tributários se realizem den-tro do mesmo horizonte temporal, como forma de promoção de justiça fiscal.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras, que tem a prerrogativa de indicar Conselheiros para o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), apoia propostas que visem ao aperfeiçoa-mento do controle de legalidade dos lançamentos tributários para assegurar imparcialidade e justiça fiscal. A CNF apoia o aperfeiçoamento dos proce-dimentos administrativos daquele órgão colegiado para dar maior transparência aos julgamentos, bem como o fortalecimento das prerrogativas dos Con-selheiros e da autonomia do órgão.

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vos fiscais. Também tramitam projetos que vulneram os contribuintes, em contraste com a proteção que oferece o CARF. Para a CNF, o cerne de novos projetos com foco no CARF deveria consistir no fortalecimento das prerrogativas dos Conselheiros e da autonomia do órgão.

15.5. execução Fiscal

O Congresso Nacional discute a criação de um arca-bouço legal que trate da Execução Administrativa da Dí-vida Ativa da União e da Penhora Administrativa, permi-tindo-se a constrição dos bens na instância administrativa, cabendo ao Judiciário o mero controle de legalidade des-sa constrição.

Essa forma não é apropriada para a cobrança dos cré-ditos tributários. A inovação seria inconstitucional por conferir tratamento diferenciado ao permitir a execução administrativa apenas quando o Fisco for o credor. Violaria, ainda, o inciso LIV do artigo 5º da CF, o qual assegura que ninguém será privado de seus bens sem o devido proces-so legal. Em um Estado Democrático de Direito, o Judiciá-rio deve ser o único caminho para a busca da constrição dos bens dos cidadãos, pois nessa via o contraditório é plenamente garantido, já que no processo administrativo não se pode questionar constitucionalidade de lei ou ato administrativo. Retirada a mencionada atribuição do Judi-ciário, estaria configurada a usurpação de competência, em clara afronta à tripartição de poderes.

Propostas em tramitação pretendem autorizar a Fazen-da Pública a requisitar informações sobre quaisquer bens e direitos dos devedores na fase administrativa do procedi-mento. A ausência de autorização judicial pode configurar

violação do sigilo bancário e fiscal prevista na Constituição quando houver fundadas suspeitas de delito.

Tais propostas contêm aspectos meritórios. A oferta de garantias extrajudiciais na esfera administrativa para se obter certidão positiva com efeitos de negativa; e o pagamento de créditos públicos por meio de leilão ad-ministrativo de bens e dação em pagamento constituem um avanço. Também o recurso à transação para encerrar litígios tributários é positivo, sobretudo se puder envolver multas e juros da dívida ao lado do crédito tributário e se puder simplificar as exigências para a recuperação tributá-ria da empresa.

15.6. Participação nos Lucros ou resultados (PLr)

Não existe Convenção da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre participação nos lucros ou resul-tados (PLR). Em vários países, a participação nos lucros ou resultados é concedida ou por negociação coletiva, ou por decisão da empresa. Os critérios de concessão são díspa-res e seu impacto sobre a volatilidade do nível de emprego é incerto.

Proposta do Executivo foi no sentido de que 2% do lu-cro líquido fossem distribuídos de forma igualitária entre os trabalhadores da empresa e 3% conforme metas, méri-tos, gerências e resultados.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas voltadas para a transparência das execuções fiscais que assegurem igualdade de tratamento ao Fisco e ao contribuinte, bem como o contraditório, garantido plenamente somente no âmbito do Judiciário.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas de aprimoramento da regula-mentação de participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados das empresas que contemplem pelo menos quatro elementos fundamentais, a sa-ber: a PLR (a) deve ser um instrumento de integração entre capital e trabalho; (b) deve servir como incenti-vo à produtividade; (c) não deve constituir base para qualquer encargo trabalhista ou previdenciário; e (d) pode ser fracionada em mais de duas vezes no ano civil, de modo a evitar que o pagamento do benefí-cio gere controvérsias judiciais.

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165Capítulo 15 | Questões tributárias

Os problemas associados à PLR estão ligados, sobretu-do, à incidência ou não da contribuição social previden-ciária e encargos trabalhistas. Até a Constituição de 1988, a participação nos lucros paga ao empregado integrava o salário e consequentemente implicava incidência de en-cargos (Consolidação das Leis do Trabalho, art. 457, §1º). A Constituição de 1988 estabeleceu em seu art. 7º, XI: “par-ticipação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remu-neração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei”. O dispositivo consti-tucional, apesar de desvincular expressamente a PLR do salário, ainda necessitou de regulamentação pela Medida Provisória nº 794, de 1994. A Lei n° 9.711/1998 incorporou alguns dos dispositivos daquela MP, tais como a desvincu-lação da PLR da remuneração.

Está hoje em vigor a Lei n° 10.101/2000, que dispõe em seu artigo 2º que a PLR seja negociada entre a empresa e seus empregados. Reitera que a PLR não substitui ou com-plementa a remuneração devida, nem constitui base de incidência de qualquer encargo trabalhista. Também esta-belece “mediação” e “arbitragem de ofertas” como meca-nismos de solução de controvérsias.

Entrou em vigor em 1º de janeiro de 2013 a Medida Provisória n° 597 que estabelece nova regulamentação so-bre a Participação nos Lucros e Resultados, determinando a isenção do IRRF aos trabalhadores que recebem PLR até R$ 6.000,00 anuais. Acima desse teto não haverá isenção, sendo a PLR calculada de forma escalonada. Estipula ainda, que a PLR será tributada pelo imposto sobre a renda exclu-sivamente na fonte, em separado dos demais rendimentos recebidos, no ano do recebimento ou crédito, com base em tabela progressiva e não integrará a base de cálculo do imposto devido pelo beneficiário na Declaração de Ajuste Anual. As novas regras estabelecidas pelo Governo, apesar de diminuírem a carga tributária do trabalhador, não trou-xeram qualquer incentivo ao empregador no sentido de estimular a distribuição de lucros ou resultados.

Para CNF, a participação nos lucros deve ser decidida à luz dos princípios constitucionais da autonomia coletiva e da valorização da negociação coletiva, insculpidos nos artigos 7º, XXVI, e 8º da Constituição.

No âmbito administrativo, o Conselho Administrati-vo de Recursos Fiscais (CARF) vem interpretando a Lei nº 10.101/2000 para julgar a clareza de regras e critérios para aferição do desempenho; os pagamentos com periodicida-de inferior a um semestre, ou mais de duas vezes no mesmo ano; a PLR diferenciada para cargos de direção; e as conven-ções coletivas de trabalho com termos genéricos.

15.7. Tributação de incentivos à contratação e à Produtividade

O dinamismo da economia brasileira acirra a concor-rência entre as empresas. Nesse cenário, a fim de atrair tra-balhadores qualificados, as empresas têm buscado imple-mentar novos mecanismos para atender às suas deman-das por mão-de-obra especializada, bem como por maior produtividade. Entre esses mecanismos, o hiring bonus e o stock options plan figuram como os dois maiores exem-plos para a captação de novos talentos e manutenção de trabalhadores.

Hiring bonus, ou bônus de contratação, são valores ofertados pelas empresas aos futuros funcionários, pre-viamente à efetivação do contrato de trabalho. O objetivo desse instrumento é compensar os riscos da mudança de emprego: deixar a estabilidade de um antigo posto de tra-balho e enfrentar as incertezas de um novo cargo. Já stock options plan constitui-se no contrato a ser firmado entre a empresa e seus funcionários com o objetivo de permi-tir que estes tenham direito a exercer o poder de compra de ações da empresa a um preço pré-fixado. Ao converter funcionários em acionistas da empresa, o principal obje-tivo desse mecanismo é estimulá-los a se comprometer

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas voltadas para a regulamentação da incidência de tributos sobre mecanismos utiliza-dos pelas empresas para atrair novos talentos e in-centivar a produtividade de seus funcionários, como Hiring Bonus e Stock Options Plan. Para a CNF esses incentivos não devem resultar em mais encargos tra-balhistas e previdenciários.

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cada vez mais com o negócio em que estão inseridos, seja alinhando-os com as metas e a missão da empresa, seja auxiliando na fidelização das relações trabalhistas.

Na esfera tributária, esses métodos de atração de novos talentos e incentivo à produtividade de funcionários vêm gerando controvérsias acerca da sujeição à incidência das contribuições previdenciárias. Por um lado, o Fisco enten-de haver incidência, visto que tais mecanismos se reves-tiriam de caráter remuneratório. Por outro, argumenta-se que, embora representem uma forma de ganho financeiro ao trabalhador, esses mecanismos têm natureza indeniza-tória e, portanto, desvinculada do salário, o que afastaria a incidência de contribuições previdenciárias. Os primeiros entendimentos proferidos, por exemplo, pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) são pela não in-cidência previdenciária sobre esses mecanismos.

Mais do que uma questão tributária, diante do atual cenário mundial de crise econômica e do aumento da demanda por talentosos funcionários, o tema se reveste de tom econômico. Tributar essas compensações e esses incentivos financeiros erige obstáculos ao dinamismo ne-cessário ao crescimento da economia.

15.8. compensação de ágio interno em reorganizações Societárias

A compensação do ágio gerado em operações intra-grupo, o chamado “ágio interno”, no cálculo do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) é um dos temas mais relevantes nos processos de reorganização societária. As Câmaras baixas do Conselho

Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), por exemplo, começaram a analisar processos relativos à legitimidade desse tipo de compensação de ágio.

Em alguns casos, o CARF decidiu majoritariamente pela legalidade do aproveitamento do ágio interno, ge-rado em operações de compra e venda de empresas do mesmo grupo. Embora os contribuintes tenham obtido ganhos de causa, a jurisprudência necessita ser pacificada na Câmara Superior daquele Conselho. As decisões profe-ridas pelo CARF ainda não são definitivas, podendo a Fa-zenda Nacional vir a interpor recurso à Câmara Superior de Recursos Fiscais.

A amortização do ágio baseado em expectativa de ren-tabilidade futura, decorrente de incorporação (inclusive in-corporação reversa), é contabilizada como despesa à razão de 1/60, não sendo obrigatório qualquer ajuste no Livro de Apuração de Lucro Real (LALUR), uma vez que compõe o demonstrativo de resultados na apuração do Lucro Lí-quido societário. Essa amortização é dedutível para fins de apuração do lucro fiscal. Esse tipo de operação deve acompanhar todas as proposições normativas contidas no âmbito do direito civil, societário, contábil e fiscal, para se-rem gerados todos os efeitos tributários dela decorrente.

O fato de não haver qualquer transferência de nume-rários entre as empresas do mesmo grupo não invalida a operação, uma vez que o custo de aquisição é o valor das novas ações emitidas em aumento de capital, tudo em contraprestação pelas ações incorporadas. O referido negócio jurídico equipara-se à própria venda, por força de disposição legal contida no artigo 10 da Lei nº 6404/1976, que dispõe: “Art.10. A responsabilidade civil dos subscrito-res ou acionistas que contribuírem com bens para a forma-ção do capital social será idêntica à do vendedor”. Assim, na incorporação de ações, entrega-se as ações da incor-porada e tem-se como contraprestação o recebimento de ações da incorporadora.

Nesse tipo de operação societária, a clara definição do propósito negocial é fundamental. Em uma economia de livre mercado, não se concebe a livre concorrência sem a realização de reorganizações societárias voltadas para oti-

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que explicitem a possibi-lidade de compensação do ágio intragrupo (ágio interno), dedutível para fins de apuração do lucro fiscal, nos casos de reorganização societária com claro propósito negocial de otimização das ativi-dades empresariais.

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167Capítulo 15 | Questões tributárias

mização das atividades empresariais, da qual um dos efei-tos é a economia tributária.

15.9. Tributação sobre ganhos de capital não realizados

A tributação sobre ganhos de capital só se concretiza uma vez verificada sua realização, com casos em que se verifica acréscimo patrimonial. Contudo, operações so-cietárias complexas podem dar margem a dúvidas quan-to à legalidade da cobrança de tributos. Discute-se, por exemplo, a exigência de pagamento de Imposto de Ren-da sobre ganhos de capital, supostamente obtidos pelas instituições detentoras de títulos patrimoniais da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) no contexto do chamado processo de “desmutualização” das bolsas, ocorrido no ano de 2007.

Na visão dos contribuintes, trata-se de tema de grande apreensão, seja pela ilegalidade da pretensão do Fisco de tributar ganhos de capital não realizados, seja pela fragili-dade jurídica da premissa que fundamenta a interpretação da Administração Fiscal para essa pretensão.

Até 2007, a Bovespa e a BM&F eram associações sem fim lucrativo, regidas por seus respectivos estatutos e pe-los artigos 53 e seguintes do Código Civil, com seus patri-mônios representados por títulos de propriedade detidos pelos associados. Durante aquele ano, a Bovespa e a BM&F foram objeto de processos de (i) “desmutualização”, assim designada a “transformação” de associações integradas ex-clusivamente pelos membros registrados em sociedades anônimas; seguida da (ii) abertura do capital das compa-

nhias resultantes da referida “transformação” para a nego-ciação das respectivas ações em bolsa de valores.

A “desmutualização” da Bovespa ocorreu em 28 de agos-to de 2007 e envolveu as seguintes etapas, todas realizadas na mesma data: (i) cisão parcial da Bovespa, com a versão das parcelas de seu patrimônio em duas sociedades: Boves-pa Holding e Bovespa Serviços S.A. (“Bovespa Serviços”); e (ii) incorporação das ações da Bovespa Serviços ao capital da Bovespa Holding (nos termos do artigo 252 da Lei nº 6.404/1976). A “desmutualização” da BM&F seguiu idêntico modelo jurídico, em 20 de setembro de 2007.

Em decorrência das operações em questão, os antigos detentores de títulos patrimoniais da Bovespa e BM&F pas-saram a ser titulares de ações representativas do capital da Bovespa Holding e da BM&F Holding, as quais, por sua vez, passaram a ter como subsidiárias integrais, respectivamen-te, a Bovespa Serviços e a BM&F Serviços.

A Receita Federal do Brasil (RFB) exige IRPJ e CSLL sobre a atualização dos títulos patrimoniais detidos pelas Corre-toras, sob a alegação de que, quando da transformação desses títulos em ações, teria ocorrido a “devolução do patrimônio investido”, o que justificaria a incidência dos referidos tributos sobre o ganho de capital, nos termos do artigo 17 da Lei nº 9.532/1997.

As associações Bovespa e BM&F não foram extintas, motivo pelo qual não teria havido qualquer “devolução de patrimônio” passível de tributação, mas mera transforma-ção dos títulos em ações das sociedades anônimas que incorporaram parcelas cindidas das associações.

O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) negou provimento aos recursos voluntários nos três ca-sos que foram julgados, firmando posição contrária aos contribuintes. O principal fundamento utilizado nos votos vencedores foi o artigo 61 do Código Civil, que, de acordo com a interpretação de alguns Conselheiros, não apenas vedaria a cisão e incorporação de entidades sem fins lu-crativos, mas também estabeleceria a ocorrência de disso-lução das associações no caso concreto, bem como, con-sequentemente, a devolução do patrimônio investido. Os

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que afastem a incidência de tributos sobre ganhos de capital que não se realizaram, tal como se discute, por exemplo, nas operações de “desmutualização” da Bolsa de Valo-res de São Paulo (Bovespa) e da Bolsa de Mercado-rias e Futuros (BM&F), ocorrida em 2007.

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168 AgendA do SetorFinanceiro2013

Conselheiros vencidos consignaram que as operações de cisão e incorporação das associações são expressamente autorizadas pelo artigo 2.033 do Código Civil e, além disso, o citado artigo 61 não seria aplicável ao caso. As decisões não são definitivas, cabendo recurso especial à Câmara Su-perior do CARF.

15.10. comércio exterior de Serviços

Com o intuito de monitorar os resultados da balança comercial de serviços, o Poder Executivo desenvolveu o Sistema Integrado de Comércio Exterior de Serviços, In-tangíveis e Outras Operações que Produzam Variações no Patrimônio (Siscoserv), seguindo orientações constantes do Acordo Geral sobre Comércio de Serviços (GATS) da Or-ganização Mundial do Comércio (OMC). De acordo com o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Ex-terior (MDIC), esse sistema possibilitará a produção de re-latórios gerenciais de apoio à formulação e orientação de políticas públicas na área de comércio exterior de serviços, intangíveis e demais operações.

A Lei nº 12.546/2011 instituiu a obrigação de prestar ao MDIC informações relativas às transações entre residentes ou domiciliados no País e residentes ou domiciliados no exterior que compreendam serviços, intangíveis e outras operações que produzam variações no patrimônio das pessoas físicas, das pessoas jurídicas ou dos entes desper-sonalizados. Essa prestação de informação não compreen-

de as operações de compra e venda efetuadas exclusiva-mente com mercadorias.

A Secretaria da Receita Federal do Brasil (SRF) regulou o uso do Siscoserv e estabeleceu, por meio da Instrução Normativa (IN) nº 1.277/2012, uma série de obrigações para as empresas, passíveis de aplicação de multas: a) de R$ 5.000,00 por mês ou fração de atraso, relativamente às pessoas jurídicas; b) de 5%, não inferior a R$ 100,00, do valor das transações com residentes ou domiciliados no exterior, próprios da pessoa jurídica ou de terceiros em relação aos quais seja responsável tributário, no caso de informação omitida, inexata ou incompleta.

Devido ao grande número de operações, as empresas de médio e grande porte operam sistemas de registros de dados para acompanhar o alinhamento estratégico e re-duzir os custos operacionais dos negócios. As informações solicitadas pelo Fisco são, em regra, fornecidas por meio de interfaces entre esses sistemas mantidos pelas empresas e os sistemas dos respectivos órgãos demandantes da infor-mação. Esse procedimento permite a entrega dos dados em tempo hábil e garante a fidelidade e a qualidade desses.

No caso do Siscoserv, instituído em agosto de 2012, várias questões tecnológicas ainda estão sendo estudadas para viabilizar a comunicação deste com os demais siste-mas já em uso pelas empresas. Atualmente, a inclusão das informações no Siscoserv ocorre de forma manual, acarre-tando consideráveis aumentos de custo com recursos hu-manos, espaço físico e treinamento. Além das adaptações em diversos sistemas, a aplicação da norma demanda o envolvimento de áreas distintas das empresas: contábil, tributária, tecnológica, entre outras. A complexidade desse sistema poderá gerar mudanças nas estruturas organiza-cionais e nos processos de negócios.

Tendo em vista a relevância do Siscoserv para o fo-mento de políticas públicas que melhorem os resultados da balança comercial do setor de serviços é necessário o constante aperfeiçoamento do sistema. Por exemplo, dada a complexidade da implantação do Siscoserv, bem como a abrangência do registro de grande quantidade e dados, é necessária a constante revisão das Instruções Nor-

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia iniciativas que visem à formação de ban-cos de dados para enriquecer estudos que balizem as políticas públicas na área de comércio exterior de serviços. Para a CNF, a implementação de sistemas que possibilitem a produção de relatórios geren-ciais para apoiar a formulação e orientação dessas políticas deve considerar os custos de observância das empresas e sua necessidade de comunicação tecnológica com sistemas já em uso, minimizando os impactos de sua implantação.

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169Capítulo 15 | Questões tributárias

mativas sobre a matéria, sobretudo no que se refere aos prazos de implementação do sistema. Ademais, a norma deve considerar que um mero equívoco no preenchimen-to de formulários, que hoje ainda é manual, pode resultar em severas multas à empresa.

15.11. incidência de ir sobre lucros e dividendos

Tramitam no Congresso Nacional projetos que objeti-vam alterar o artigo 10 da Lei nº 9.249/1995 para permitir a cobrança do Imposto de Renda (IR) das pessoas físicas ou das pessoas jurídicas, domiciliadas no Brasil ou no exte-rior, sobre o recebimento de lucros e dividendos que lhes são distribuídos pelas empresas em razão da condição de sócios e/ou acionistas. A medida garantiria, segundo seus defensores, um aumento de arrecadação superior a R$ 23,5 bilhões por ano.

As propostas invocam a necessidade de alteração do dispositivo com a justificativa de que este estabeleceu tratamento tributário privilegiado a alguns sem o devido fundamento constitucional. Além de violar os princípios da capacidade contributiva e da isonomia, o artigo teria incentivado a remessa de lucros e dividendos ao exterior, o que estaria prejudicando os números do Balanço de Pa-gamentos do país.

O fato, no entanto, é que permitir a incidência de Im-posto de Renda sobre a distribuição de lucros ou dividen-dos provocaria, no mínimo, dois problemas.

O primeiro seria a cobrança repetida sobre o mesmo fato gerador (bis in idem), pois as corporações são tribu-tadas após a apuração contábil, sendo sua distribuição ao

sócio resultado do capital próprio da pessoa jurídica, isto é, de seu patrimônio líquido. A lógica que orienta a Lei nº 9.249/1995 é de que a distribuição de lucros ou dividen-dos ao sócio pressupõe, necessariamente, que o paga-mento do imposto de renda sobre os rendimentos brutos da empresa já teria sido efetuado. Se aprovada a alteração proposta, os dividendos pagos aos acionistas seriam no-vamente tributados. A doutrina e a jurisprudência confir-mam esse entendimento.

A tributação realizada antes da distribuição ou integra-lização do lucro não se dá unicamente por intermédio do imposto de renda (à alíquota de 15%), mas também por meio de adicional de 10%, na hipótese de lucro real, pre-sumido ou arbitrado, que exceder a R$ 240.000,00 anuais e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSSL), cuja taxa é de ao menos 9%.

O segundo problema provocado pela incidência de IR sobre a distribuição de lucros ou dividendos seria a inibi-ção ou a diminuição dos investimentos, tanto nacionais quanto estrangeiros, tendo em vista a ampliação da carga tributária. A medida teria efeitos econômicos deletérios, impactando negativamente a arrecadação, cujo aumento está vinculado a um ciclo virtuoso de crescimento.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas que evitem tratamento privile-giado a determinados setores e distorções arreca-datórias como cobranças repetidas sobre o mesmo fato gerador (bis in idem), ao mesmo tempo em que estimulem o investimento.

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170 AgendA do SetorFinanceiro2013

15.12. imposto sobre operações de crédito, câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliários (ioF)

O Decreto nº 6.306/2007, que regulamenta o Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relati-vas a Títulos ou Valores Mobiliários (IOF), viola o princípio constitucional da isonomia tributária e a função extrafiscal desse tributo, destinado não à arrecadação, mas sim à re-gulação da atividade econômica.

Em janeiro de 2008, o Poder Executivo Federal elevou de modo geral as alíquotas do IOF incidentes sobre as operações de crédito, bem como instituiu um adicional de 0,38% nessas operações (Decretos nºs 6.339/2008 e 6.345/2008). Tais alterações, segundo o Governo, tiveram o objetivo de compensar as perdas da União decorrentes do fim da Contribuição Provisória sobre Movimentação Fi-nanceira (CPMF).

A discriminação indevida entre tomadores viola o ar-tigo 150 inciso II da Constituição. Na sua versão original, o Decreto nº 6.306/2007 determinava que, em operações de idênticos valores e condições, o crédito tomado por pessoa física é mais oneroso do que o tomado por pes-soa jurídica. Essa disparidade foi corrigida pelo Decreto nº 6.691/2008, mas segue em aberto a possibilidade de o

Governo vir a alterar as alíquotas e reintroduzir quebra de isonomia entre contribuintes.

Ademais, um imposto destinado a ser regulador, com alíquota a ser alterada em função da conjuntura econômi-ca, não deveria ser usado para aumentar arrecadação.

A tributação representa cerca de um quarto das mar-gens bancárias (spread). A consequência direta no setor bancário brasileiro de um aumento na alíquota do IOF é um aumento na taxa de juros e/ou uma redução na oferta de crédito; ao onerar os tomadores de crédito, aumenta as despesas incorridas por estes, diminui os lucros e, em conse-quência, reduz a arrecadação de impostos sobre resultados.

A incerteza das instituições financeiras acerca da pos-sibilidade de mudanças repentinas da alíquota do IOF e os esforços necessários para a sua adaptação contínua às novas regras incrementam o custo operacional, o que também impacta o spread bancário.

15.13. imposto sobre Serviços de qualquer natureza (iSS) e arrendamento mercantil (Leasing)

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pela incidên-cia do ISS sobre as operações de leasing dos bancos, que

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras entende que a criação ou a majoração de tribu-tos deva ser vinculada a uma ampla proposta de reforma tributária. Questões dessa natureza devem ser tratadas em conjunto com outras matérias, cuja solução possa proporcionar racionalidade da tribu-tação no Brasil e redução da carga tributária. A tribu-tação da intermediação financeira contribui para o aumento da margem bancária (spread) e resulta no encarecimento do crédito. Para a CNF, tributos de-vem incidir sobre os resultados obtidos pelas empre-sas, independentemente do setor da economia em que operam, e não sobre percepções equivocadas de lucratividade de qualquer setor específico.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas voltadas para a ampliação do acesso a operações de arrendamento mercantil, as-sentadas na livre negociação de taxas, que reduzam custos que limitam esse acesso. Entre esses custos figura o de tributação da intermediação financeira, que inclui o recolhimento do Imposto sobre Ser-viços de Qualquer Natureza (ISS) no Município da sede das empresas de leasing. Para a CNF, eventual mudança no recolhimento do ISS para os 5.570 Mu-nicípios em que podem ser realizadas operações implicaria elevado custo operacional que oneraria de sobremaneira o tomador final.

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171Capítulo 15 | Questões tributárias

ocorrem, na maior parte dos casos, nos financiamentos de veículos. O STF entendeu que o leasing constitui um ser-viço de financiamento, que inclui obrigações de dar e de fazer. Para o Supremo, disponibilizar crédito constitui um ato de prestação de serviço.

A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu no final de novembro de 2012 que o Município sede do estabelecimento prestador do serviço é o sujeito competente para cobrar ISS sobre operações de leasing. O Colegiado firmou entendimento de que também é vá-lido para o caso de tributos lançados por homologação. A decisão do STJ passou a orientar os processos que tratam do mesmo tema nas instâncias inferiores, sendo admitido pelo STJ apenas os recursos que contrários àquela.

A Lei Complementar nº 116/2003 estabelece, em seu artigo 3º, que o serviço considera-se prestado e o imposto devido no local do estabelecimento prestador, conside-rando-se esse, pelo artigo 4º, o local onde o contribuinte desenvolva a atividade de prestar serviços, de modo per-manente ou temporário. O próprio artigo 3º excetua, nas hipóteses previstas nos incisos I a XXII, quando o imposto será devido no próprio local da prestação de serviços.

Uma vez que o arrendamento mercantil não foi enqua-drado pelo legislador nas hipóteses excetuadas pelo artigo 3º da Lei Complementar nº 116/2003, as atividades das so-ciedades arrendadoras são desenvolvidas nas suas sedes. Do elenco de hipóteses excetuadas pelo artigo 3º da Lei Complementar nº 116/2003 fica evidenciado que a incidên-cia no local da prestação é estabelecida na norma, diante da impossibilidade e da inadmissibilidade de tais serviços não serem executados diretamente no próprio local.

Também no Congresso Nacional, as discussões estão centradas na incidência do ISS sobre a atividade de leasing e o local de sua arrecadação.

Essas questões são críticas para a adequada configu-ração do marco legal das operações de leasing, de forma a propiciar o necessário ambiente de segurança jurídica para o setor, de grande importância para a economia do país. O recolhimento do ISS sobre leasing afeta negativa-

mente uma opção importante para a viabilização de inves-timentos produtivos de médio e longo prazos, que con-corre com as tradicionais fonte de financiamento sobre os quais incide o IOF.

15.14. contribuição Social sobre o Lucro Líquido (cSLL)

A Lei nº 11.727/2008 aumentou de 9% para 15% a alí-quota da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) que incide sobre as instituições financeiras, as empresas de seguros privados e as de capitalização, como uma das pro-vidências para compensar o fim da arrecadação da CPMF.

O aumento da CSLL deu-se pela percepção equivocada de que as instituições financeiras auferem lucros exorbitan-tes, muito superiores aos dos demais setores da economia. Comparar lucros absolutos de empresas e de setores é um equívoco, uma vez que tais comparações só são precisas quando utilizam medidas relativas. Nesse caso, a medida relativa adequada é a lucratividade das empresas, isto é, a razão entre os lucros e o patrimônio líquido. Em diferentes comparações que utilizam lucratividade das empresas, o setor financeiro não aparece como o mais lucrativo da eco-nomia brasileira. Essa questão foi discutida na seção 6.2 - Lucro e rentabilidade bancária desta Agenda Legislativa.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras entende que a criação ou a majoração de tributos deva ser vinculada a uma ampla proposta de reforma tributária. Questões dessa natureza de-vem ser tratadas em conjunto com outras matérias, cuja solução possa proporcionar racionalidade da tributação no Brasil e redução da carga tributária. A tributação da intermediação financeira contri-bui para o aumento da margem bancária (spread) e resulta no encarecimento do crédito. Para a CNF, tributos devem incidir sobre os resultados obtidos pelas empresas, independentemente do setor da economia em que operam, e não sobre percep-ções equivocadas de lucratividade de qualquer se-tor específico.

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A tributação representa cerca de um quarto das mar-gens bancárias (spread). A consequência direta no setor bancário brasileiro de uma ampliação na alíquota da Con-tribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) é um aumen-to na taxa de juros e/ou uma redução na oferta de crédito; ao onerar os tomadores de crédito, aumenta as despesas incorridas por estes, diminui os lucros e, em consequência, reduz a arrecadação de impostos sobre resultados.

A majoração da CSLL das instituições financeiras afron-ta preceitos constitucionais já consagrados pela doutrina e jurisprudência, não podendo a alíquota da contribuição ser aumentada por Medida Provisória, ainda que poste-riormente convertida em lei, por padecer de vício formal (não haveria urgência para a utilização de MP) e material (o aumento da alíquota não poderia ser vinculado por MP). Além disso, ao instituir a diferenciação de alíquotas em ra-zão da atividade da empresa, há violação ao princípio da isonomia, que deve reger as relações jurídicas tributárias.

15.15. contribuições sobre Movimentação Financeira

A criação de tributos sobre movimentação financeira tem implicações fiscais e jurídicas. Do ponto de vista fiscal, existem no Brasil centenas de tributos e o brasileiro tra-balha em média mais de um terço do ano para pagar im-postos. A cobrança de tributos sobre movimentação finan-ceira aumentaria ainda mais a carga tributária e oneraria o custo dos negócios, indo na contramão do crescimento econômico e da geração de empregos. Do ponto de vista

jurídico, tributos dessa natureza deveriam ser introduzidos por emenda constitucional e não por lei complementar. A Contribuição Provisória sobre Movimentação Financei-ra (CPMF), por exemplo, fora criada em 1996 pela Emenda Constitucional nº 12, com a finalidade de levantar recursos adicionais para a saúde, em substituição ao Imposto Provi-sório sobre a Movimentação Financeira (IPMF).

Ficou demonstrado que tributos como a CPMF, desti-nada a financiar a saúde, foram aplicados para outros fins. Esse poderia ter sido o destino de outros tributos seme-lhantes, como a frustrada proposta de criação de uma Contribuição Social para a Saúde (CSS). A saúde não é a única área crítica da administração pública que merece atenção especial. Também a educação e a segurança, para mencionar apenas outras duas, são áreas que justificariam tributos específicos para financiá-las, o que tornaria ainda mais complexo o já emaranhado sistema tributário e au-mentaria ainda mais a carga tributária.

15.16 – Tributação sobre grandes Fortunas

A Constituição de 1988 prevê a criação de um imposto sobre grandes fortunas, em artigo que carece de regula-mentação (art. 153, VII). Essa regulamentação forçosamen-te definirá o patamar patrimonial acima do qual se carac-terizam grandes fortunas, a alíquota a ser aplicada sobre essa base de cálculo e a natureza dos contribuintes sujei-tos ao imposto (pessoas físicas e jurídicas, domiciliadas no Brasil ou no exterior, e o espólio, por exemplo). Ressalte-se

Para a Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras, os desafios de áreas específicas da ad-ministração pública devem ser tratados por meio de melhoria na qualidade dos gastos públicos e na gestão, com recurso ao orçamento federal, sem imposição de novos tributos. A tributação da inter-mediação financeira contribui para o aumento da margem bancária (spread) e resulta no encareci-mento do crédito.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras entende que a criação de novos tributos deva ser vinculada a uma ampla proposta de reforma tri-butária que trate a questão em conjunto com ou-tras matérias, cuja solução possa proporcionar efe-tiva melhoria na qualidade da tributação no Brasil e redução da carga tributária, evitando-se cobranças repetidas sobre o mesmo fato gerador (bis in idem) e assegurando-se o respeito ao princípio constitu-cional da isonomia.

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que a regulamentação do imposto previsto na CF não se confunde com a criação de novos tributos, tais como con-tribuições e taxas, que requerem a aprovação de emenda constitucional.

Há dificuldade na definição do conceito de grandes fortunas, isto é, do conjunto de bens e direitos com valor superior a determinado patamar. Esse conceito incorre em vários equívocos, de natureza jurídica e econômica.

Do ponto de vista jurídico, muitas propostas de tributa-ção sobre grandes fortunas confundem-na com o imposto sobre ganho de capital, que é matéria afeta ao Imposto de Renda. Trata-se da tributação de estoques, como ativos financeiros e patrimônio, e não de fluxos de renda, que ocorrem quando o patrimônio gera riqueza. Impostos des-sa natureza também implicam bitributação, pois incidem sobre patrimônios que já foram tributados por ocasião de sua formação. Um dos grandes equívocos desse imposto é o fato de ele incidir sobre valores que já sofreram tributa-ção direta, como o Imposto de Renda sobre rendimentos do trabalho e do capital, e dos impostos sobre o patrimô-nio, causando um reprovável bis in idem. Ao tratar as pes-soas físicas e jurídicas da mesma forma, pode ser decla-rado um imposto inconstitucional, por ferir o princípio da isonomia, tratando igualmente os desiguais.

Do ponto de vista econômico, o imposto introduz dis-paridade entre empresas brasileiras, sujeitas a essa tribu-tação, e estrangeiras, cujos titulares não são contribuintes no Brasil, com evidente vantagem para os domiciliados no exterior. Com isso, o resultado final com a criação do novo imposto seria o inverso daquele pretendido, ou seja, o tributo acabaria por provocar a fuga de investidores para outros países, com diminuição da poupança interna. O Go-verno seria induzido a aumentar os juros para manter os investimentos no país, a fim de compensar o tributo que sobre estes incidirá. Incentivaria a informalidade, a busca por “planejamentos tributários criativos” e a constituição de holdings por valores históricos.

15.17 – encargo financeiro para exportação

A Lei nº 7.738/1989 definiu normas complementa-res à Lei nº 7.730/1989, que instituiu o Cruzado Novo, determinou o congelamento de preços e estabeleceu regras de desindexação da economia, além de outras providências. Entre essas normas complementares, foi estabelecida a cobrança de encargo financeiro, calcula-do com base no rendimento acumulado da Letra Finan-ceira do Tesouro (LFT) sobre o valor em moeda nacional correspondente à parcela de contratos de câmbio can-celados ou baixados, relativos a transferências financei-ras do exterior e a contratos de câmbio de exportação de mercadorias e serviços.

O encargo financeiro criado pelo do artigo 12 da Lei nº 7.738/1989, assim como da Lei nº 9.813/1999, consti-tui um ônus para os exportadores de bens ou serviços que, por qualquer razão, não conseguem concluir o ne-gócio mediante ou o embarque das mercadorias, ou a prestação dos serviços contratados, ou ainda a transfe-rência financeira. A arrecadação desse encargo aumenta os custos e riscos das operações envolvidas, o que torna o produto nacional menos competitivo, com redução de exportações e consequente diminuição na arrecadação de tributos sobre exportação.

Hoje, em um cenário muito diverso daquele ambien-te inflacionário que levou à criação do Cruzado Novo, a aplicação do encargo financeiro constitui fator inibidor do acesso ao financiamento e, por conseguinte, da própria atividade exportadora. Na atual conjuntura econômica, não mais ocorre a manobra especulativa de cancelamento ou baixa de contratos de câmbio para que detentores de promessas de disponibilidade futura de moeda estrangei-ra pudessem vendê-las antecipadamente e aplicar o mon-

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas que visem à extinção dos encar-gos financeiros sobre contratos de câmbio previstos na Lei nº 7.738/1989 para incentivar investimentos estrangeiros e exportação de bens e serviços.

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tante correspondente em moeda nacional no overnight, com elevados juros diários. Assim, não mais se justifica o ônus dos encargos financeiros.

15.18. ganhos de capital de pessoas físicas na negociação de ações

A compra de ações por pessoas físicas é dificultada pela complexidade dos procedimentos tributários. Reco-menda-se simplificar a tributação sobre ganhos de capital de pessoas físicas na negociação de ações e criar mecanis-mos que estimulem o reinvestimento dos ganhos de capi-tal, aproximando o modelo de tributação de ações do mo-delo de tributação de ganhos de capital na alienação de imóveis, inclusive pela elevação do limite de isenção para alienações de ações dos atuais R$ 20 mil para R$ 35 mil.

15.19. Tributação dos títulos de renda fixa

O mercado de capitais também negocia títulos de ren-da fixa de longo prazo, que, ao lado das ações, constituem opção de diversificação de carteira, com aumento da ex-pectativa de retorno e redução do risco dessa carteira. Para

o emissor desses títulos, representam fontes de recursos de longo prazo obtidos a taxas de juros inferiores às apli-cadas aos instrumentos de prazo mais curto, com a vanta-gem adicional de cobrirem o hiato temporal entre fontes de financiamento, ciclo operacional e respectiva geração de receitas. Porém, a rentabilidade desses títulos é afeta-da pela tributação de sua aquisição e de pagamento do rendimento (cupom) periódico, o que limita a expansão desse mercado.

Apesar dos avanços na tributação dos títulos de renda fixa introduzidos pela Lei nº 12.431/2011, ainda há distor-ções a serem resolvidas. Nesse contexto, propõe-se alterar o regime de tributação de títulos de renda fixa de forma a que: a) a tributação dos títulos na hipótese de negociação não seja superior à tributação na hipótese de aquisição e manutenção do título até o vencimento; e b) o pagamen-to de cupom periódico seja tributado à alíquota de 15%, complementando o imposto devido com base nas alíquo-tas previstas no artigo 1º da Lei nº 8.033/2004, caso o título seja alienado em prazo inferior a 720 dias.

15.20. Tributação das operações de trocas de contratos com fluxos de caixa (swap)

Swaps são operações privadas entre duas empresas para troca de contratos com fluxos de caixa derivados de diferentes instrumentos financeiros, para redução de risco. Assim, duas empresas podem trocar, por exemplo, contratos de taxas de juros fixas e flutuantes ou contratos em diferentes moedas estrangeiras para obter fluxos de caixas mais adequados à sua gestão de caixa e de ativos financeiros.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia proposições voltadas para a simplificação da tributação sobre ganhos de capital de pessoas físicas na negociação de ações e a criação de me-canismos que estimulem o reinvestimento dos ga-nhos de capital.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia proposições voltadas para a tributação dos títulos de renda fixa na negociação a alíquotas equivalentes às da tributação na hipótese de aqui-sição e manutenção do título até o vencimento, bem como para a tributação do pagamento de cupom periódico à alíquota de 15%.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia proposições voltadas para tributação das operações de trocas entre contratos com fluxos de caixa (swap) somente no evento da cessão ou liqui-dação definitiva desses contratos, com a tributação incidindo em função do efetivo prazo de perma-nência na operação.

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Hoje, ocorre tributação durante o período de vigência dos contratos e considera-se o período total desses con-tratos, ao invés do período da operação, o que distorce os seus resultados e fragiliza a proteção que se busca ao tro-car esses contratos. A tributação das operações de troca entre contratos com fluxos de caixa (swap) deveria ocorrer somente no evento da cessão ou liquidação definitiva do contrato, com a tributação incidindo em função do efetivo prazo de permanência na operação.

15.21. Tributação do hedge agropecuário de pessoas físicas

Pessoas físicas também podem comprar e vender ins-trumentos financeiros nos mercados futuros para obter proteção contra flutuações de preços nos mercados à vis-ta (hedge). Tais operações são particularmente importan-tes para produtores rurais, na medida em que funcionam como um seguro que cobre os resultados da atividade ru-ral, sujeitos a variáveis climáticas, de mercado e financeiras – sobre as quais o produtor não tem controle – que afetam produtos agropecuários e insumos. Contudo, os ganhos e perdas decorrentes dessas operações não são conside-rados nos resultados da atividade rural de pessoas físicas para fins de incidência do Imposto de Renda.

15.22. Tributação dos títulos do agronegócio

Os títulos ligados à atividade agropecuária estão sub-metidos a condições tributárias que os colocam em des-vantagem em relação a outros instrumentos do mercado de capitais e restringem a obtenção de recursos para fi-nanciamento do agronegócio. Para equalizar esses títulos com outros instrumentos financeiros negociados no mer-cado de capitais, recomenda-se promover ajustes no regi-me de tributação dos títulos do agronegócio, estabelecen-do: para os títulos vinculados ao valor do produto, isenção de Imposto de Renda (IR) para investidores estrangeiros e tributação dos demais investidores segundo as normas aplicáveis à renda variável; para os títulos remunerados por taxa de juros, tratamento semelhante aos títulos de renda fixa; e para todos os títulos, isenção de IR sobre os rendi-mentos e ganhos de capital auferidos por pessoa física; contabilização como atividade rural do resultado da pri-meira negociação de titulo liquidável por meio da entrega de produto.

15.23. diferenciação entre fundos de curto prazo e de longo prazo

As diferentes alíquotas que incidem sobre fundos de curto e de longo prazo introduzem distorções no mercado e dão origem a operações de arbitragem entre essas duas modalidades. Uma vez que ambos os tipos de fundos de investimento são lastreados em ativos semelhantes, com diferentes participações relativas em função da probabili-dade de resgate de cotas, não existe diferença fundamen-tal entre eles, com exceção do tempo de permanência dos cotistas. Por essa razão, recomenda-se o fim da diferencia-ção dos fundos de curto e de longo prazo, de forma que passaria a haver apenas Fundos de Renda Fixa (para fins tributários), preservada apenas a tributação em função do

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia proposições voltadas para a inclusão de ganhos e perdas decorrentes de operações de hedge nos resultados da atividade rural de pessoas físicas para fins de incidência do Imposto de Renda.

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia proposições voltadas para alterações no regime de tributação dos títulos do agronegócio de forma a equalizar esses títulos com outros instrumentos finan-ceiros negociados no mercado de capitais.

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia proposições voltadas para o fim da diferencia-ção dos fundos de curto e longo prazo, de forma que passaria a haver apenas Fundos de Renda Fixa (para fins tributários), preservada apenas a tributação em função do prazo de permanência do cotista.

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prazo de permanência do cotista, com intervalos semes-trais decrescentes, indo de 22,5% a 15% (como nas alíquo-tas aplicáveis aos atuais Fundos de Longo Prazo).

15.24. Tratamento tributário do investidor estrangeiro em fundos mútuos de investimentos

Investidores estrangeiros representam importante fonte de recursos para o crescimento e fortalecimento do mercado de capitais brasileiro. Ao investir em ativos brasileiros, inves-tidores estrangeiros gozam de isenção de ganho de capital na aquisição direta de títulos e valores mobiliários. Contudo, esses mesmos investidores estrangeiros são tributados quan-do investem em fundos mútuos, registrados na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), lastreados em idênticos títulos e valores mobiliários. A equiparação de tratamento muito con-tribuiria para incentivar a indústria de fundos de investimento, importantes veículos para oferta de capitais de longo prazo.

15.25. Tributação do investimento de longo prazo

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia proposições voltadas para a equiparação do tra-tamento tributário do investidor estrangeiro que aplica diretamente em títulos e valores mobiliários isentos do ganho de capital ao do investidor estrangeiro que apli-car em fundos mútuos de investimentos lastreados nos mesmos títulos e valores mobiliários que já são isentos de ganhos de capital para o investidor estrangeiro.

A Instrução Normativa nº 1.022/2010 da Receita Fede-ral do Brasil consolidou as normas que disciplinam a co-brança e o recolhimento do Imposto de Renda incidente sobre os rendimentos e ganhos auferidos nos mercados financeiros e de capitais, por investidores residentes ou domiciliados no país e no exterior. A norma, que revogou a IN nº 25/2001, entre outros normativos que tratavam da matéria, foi organizada em três capítulos dispondo sobre a tributação das aplicações: em fundos de investimento, por residentes ou domiciliados no país; em títulos ou valores mobiliários de renda fixa ou de renda variável, por residen-tes ou domiciliados no país; e em fundos de investimen-to e em títulos ou valores mobiliários de renda fixa ou de renda variável, por residentes ou domiciliados no exterior.

A IN nº 1.022 não previu a tributação com alíquotas re-gressivas em função do prazo para Fundos de Investimen-to em Participações (FIP e FIC-FIP), Fundos de Investimen-to em Empresas Emergentes (FIEE e FIC-FMIEE) e Fundos de Investimento em Empresas Emergentes Inovadoras (FMIEE- Inovadora e FIC-FMIEE Inovadora). Tributação des-sa natureza seria condizente com o propósito de se obter recursos de longo prazo para os tipos de operação que las-treiam esses fundos específicos.

Recomenda-se a edição de normativo estabelecendo alíquotas regressivas em função de prazo, na seguinte pro-porção:

Prazo entre o investimento e o resgate (ganho de capital)

Até 36 meses

36 a 60 meses

60 a 84 meses

+ de 84 meses

FIP e FIC-FIP 15% 10% 5% Isento

FIEE e FIC-FMIEE 10% 5% Isento Isento

FMIEE – Inovadora (e

FIC-FMIEEinovadora)

5% Isento Isento Isento

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia proposições voltadas para a tributação com alíquotas regressivas em função do prazo para Fundos de Investimento em Participações (FIP e FIC--FIP), Fundos de Investimento em Empresas Emer-gentes (FIEE e FIC-FMIEE) e Fundos de Investimento em Empresas Emergentes Inovadoras (FMIEE- Inova-dora e FIC-FMIEE Inovadora).

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15.26. Tributação de fundos de pensão

O aumento dos recursos angariados pelos fundos de pensão é hoje limitado, entre outros, pela forma de tribu-tação no final do ciclo contributivo, quando o participante passa a usufruir o principal e os rendimentos do patrimônio que acumulou. O crescimento dos fundos seria beneficia-do pela possibilidade de se conceder aos participantes de fundos de pensão a liberdade de escolher entre as tabelas regressiva e progressiva do Imposto de Renda apenas ao fi-nal do ciclo contributivo, no momento em que se prepara para começar a receber os benefícios previdenciários a que tem direito. O exercício dessa opção ao final da vida laboral funciona como um novo incentivo para a escolha de planos de benefícios, evitando a necessidade de uma decisão com antecedência de muitos anos. Além disso, a maior mobilida-de nas carreiras impõe fortes mudanças na vida das pessoas ao longo de sua trajetória profissional, ou seja, uma flexibi-lidade de trajetória que não condiz com escolha rígida de regime tributário, feita com tanta antecipação.

15.27. instituição do “come-cotas” anual

Os fundos mútuos de investimento são tributados pela Receita Federal em dois momentos: quando há o resgate

da aplicação e a cada seis meses sobre os valores que per-manecem aplicados, no último dia útil dos meses de maio e novembro. A alíquota do IR semestral é de 20% sobre os rendimentos para os fundos de curto prazo e de 15% para os de longo prazo. O imposto é pago na forma de dimi-nuição da quantidade de cotas que o investidor possui no fundo. O valor da cota não se altera, mas sim o número de cotas do investidor. É por essa razão que o recolhimento semestral de IR é conhecido como “come-cotas”.

Para efeitos de recolhimento de IR, os fundos são clas-sificados em três categorias: fundos de ações, fundos de curto prazo e fundos de longo prazo. Enquanto nos fundos de ação o IR é pago apenas no resgate e calculado com base em uma alíquota fixa de 15%, nas duas outras cate-gorias o recolhimento é feito na fonte e as alíquotas variam de acordo com o prazo em que os recursos forem aplica-dos. Contudo, o recolhimento é calculado tomando como base a menor alíquota de cada tipo de fundo – 20% para os fundos de curto prazo e 15% para os de longo prazo.

O “come-cotas” gera um custo operacional para a in-dústria de fundos de investimento (registro e cobrança) e reduz a rentabilidade do cotista. A cobrança anual do IR permitiria que o investidor mantivesse maior quantidade de recursos rendendo por seis meses a mais. Essa alteração na cobrança equalizaria a tributação dos fundos de inves-timento com os investimentos em CDBs e títulos públicos, que só recolhem IR no momento do resgate.

A adoção do “come-cotas” anual para os fundos de in-vestimento e a mudança da tributação dos investidores estrangeiros que aplicam em fundos de ações seria uma forma de equipará-la à tributação dos investimentos em ações. Com isso, seriam evitadas distorções e preservada a isonomia entre as várias modalidades de investimentos.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia proposições que concedam aos partici-pantes de fundos de pensão a liberdade de escolha entre as tabelas regressiva e progressiva do Imposto de Renda apenas ao final do ciclo contributivo.

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia proposições voltadas para a incidência de Impos-to de Renda sobre fundos mútuos de investimento em bases anuais (“come-cotas”), mantida a alíquota de 15% (atualmente aplicável apenas aos Fundos de Longo Prazo), com recolhimento sempre em novembro, para assegurar o efeito caixa ainda dentro do exercício fiscal.

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15.28. Programa de recuperação Fiscal (reFiS)

O Programa de Recuperação Fiscal (REFIS) é um me-canismo destinado a promover a regularização dos crédi-tos da União decorrentes de débitos de pessoas jurídicas, por meio da renegociação e parcelamento das dívidas ativas. A primeira versão do Refis foi instituída pela Lei nº 9.964/2000. Desde então, já entraram em vigor novas ver-sões, todas trazendo alterações relevantes. A versão mais recente ficou conhecida como “Novo Refis” ou “Refis da Cri-se”, instituído pela Lei nº 11.941/2009.

Em 2009, a Receita Federal encerrou o ano com um total de R$ 633 bilhões em cobranças, dos quais R$ 26,7

bilhões administrativas e R$ 606,2 bilhões judiciais. A cria-ção de mecanismos como o Refis (e seus similares Parcela-mento Especial - PAES e Parcelamento Excepcional - PAEX) foi um importante avanço, pois facilitou o pagamento de débitos com a União, permitindo que pessoas jurídicas em dificuldades financeiras pudessem honrar suas dívidas, o que teria sido impossível nas modalidades normais de pa-gamento. Como resultado, afastou empresas do risco de insolvência e estimulou a atividade econômica, com gera-ção de empregos.

Em 2009, foram abertas adesões ao Novo Refis, opor-tunidade em que os contribuintes adesistas indicariam qual a modalidade de parcelamento escolhida. Já em 2011, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional baixou a Portaria nº 2/2011, que abriu prazo até 31 de março da-quele ano para a alteração facultativa da modalidade de parcelamento.

A remissão dos créditos de pequeno valor, até R$ 10.000, foi, em boa medida, inócua porque perdoou dívi-das que já tinham sua exigibilidade suspensa, ou seja, que não seriam pagas de qualquer modo.

A renúncia fiscal envolvida no Refis não está clara. Na época da aprovação da Lei n° 11.941/2009, a Receita Fede-ral publicou artigo sustentando que o novo Refis significa-ria perda em torno de R$ 5 bilhões em arrecadação. Con-tudo, outras estimativas aproximavam a cifra em torno de R$ 1,8 bilhão. Houve também controvérsia quanto à taxa de juros a ser aplicada. O artigo 5º da Lei n° 11.941/2009 determinava o uso ou da taxa de juros de longo prazo (TJLP), ou de 60% da SELIC. No entanto, esse dispositivo foi vetado pelo Presidente da República e hoje se utiliza a taxa SELIC plena.

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas voltadas para o aprimoramento de programas de recuperação fiscal que assegurem que os recursos liberados pela remissão ou parcelamento dos débitos sejam destinados a melhorias na estrutu-ração do passivo das empresas devedoras. Para a CNF, programas dessa natureza devem proporcionar remis-são de débitos de pequeno valor que beneficie o maior número de empresas possível, sobretudo microempre-sas e empresas de pequeno porte. Também a migração de devedores entre diferentes programas, tais como Refis, PAES e PAEX, deve ser regulamentada com vistas a evitar operações de má-fé. Para a Confederação, pro-gramas de recuperação fiscal devem demonstrar de maneira verificável o montante de renúncia fiscal en-volvido e devem adotar taxas de juros reduzidas, com-patíveis com o propósito de incentivar a manutenção da atividade econômica dos devedores.

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caPÍTuLo

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queSTÕeS TRABAlhISTAS E

SINDICAIS

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183Capítulo 16 | Questões trabalhistas e sindicais

A modernização da legislação trabalhista brasileira é fundamental e o debate sobre sua extensão, sua rigi-

dez e os seus reflexos sobre produtividade e ampliação do número de vagas formais de emprego é continuamente alimentado por agentes das mais diversas perspectivas. A adequação do sistema regulatório dos contratos; a garan-tia de maior liberdade para o estabelecimento de normas coletivas de trabalho; a introdução de mecanismos de so-lução de conflitos; e o empenho do Legislativo em prol da elaboração de normas que garantam maior segurança ju-rídica às empresas e aos trabalhadores são pontos comuns nas discussões quando o objetivo é tanto a ampliação da oferta de produtos e serviços quanto o estímulo à oferta de empregos formais.

O Brasil aparece em posição desconfortável no relatório “Fazendo Negócios 2013” (Doing Business 2013) do Banco Mundial. Em um total de 185 países pesquisados, o Brasil aparece na 130ª posição no quesito “facilidade para fazer ne-gócios” (em 2012, ocupava a 126ª posição). Para iniciar um novo negócio, o Brasil exige em média treze procedimentos distintos e consome 119 dias (a quinta pior posição da lista, atrás apenas da Guiné Equatorial, Venezuela, Congo e Suri-name). No quesito “alvará para construções”, o Brasil é o 131º país da lista. Já no quesito “facilidade para pagar tributos”, o Brasil ocupa a pior posição do ranking, por demandar 2.600 horas por ano. O relatório permite estabelecer estreita cor-relação entre a flexibilidade das normas trabalhistas e a ge-ração de empregos formais. Os dados coletados apontam que, nos países em que há uma acentuada flexibilização das leis trabalhistas, tem-se uma redução dos níveis de desem-prego, enquanto que naqueles com maior rigidez percebe-se uma maior taxa de desemprego.

A rigidez do mercado de trabalho subtrai importantes elementos para a competitividade das empresas, em um momento em que o setor privado se expõe como nunca à concorrência internacional. Propostas são muitas vezes

Para a Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras, podem ser introduzidas profundas melhorias na legislação que rege as relações de trabalho, ou por meio de uma proposta de reforma trabalhista, ou por intermédio de projetos pontuais. Tais melhorias, sem reduzir os direitos dos trabalhadores, devem es-tar voltadas para relações de trabalho transparentes, lastreadas em segurança jurídica para todas as par-tes e flexíveis, que estimulem as empresas a inovar, a aumentar sua produtividade, a se tornarem mais competitivas e a crescer. Com isso gera-se maior número de empregos formais e promove-se o tra-balho decente e produtivo, a extensão da proteção social, bem como o fortalecimento do diálogo social. Os instrumentos mais adequados para atingir esses objetivos são as convenções e os acordos coletivos de trabalho, ao lado de dispositivos legais que incen-tivem a concessão voluntária de direitos trabalhistas por parte dos empregadores.

16. questões trabalhistas e sindicais

míopes ao ignorar os ônus que acarretam para as empre-sas e negligenciar o efeito deletério desse ônus para a ge-ração de mais e melhores empregos ao longo do tempo. Propostas voltadas para o curto prazo não ajudam a man-ter os trabalhadores em seus postos, mas, pelo contrário, estimulam a informalidade e desestimulam a geração de novos empregos.

O conjunto de novas leis trabalhistas que entrou em vi-gor a partir de 2002 não caracteriza uma reforma das rela-ções de trabalho, na medida em que essas leis têm alcance limitado. Esse conjunto comportava quinze normas legais, entre as quais está a Lei nº 11.770/2008, que criou o Pro-grama Empresa Cidadã; a Lei nº 11.648/2008, que dispõe sobre o reconhecimento das Centrais Sindicais; e a Lei nº 11.644/2008, que proíbe a exigência de comprovação de experiência prévia por tempo superior a seis meses para fins de contratação.

Em 2009, a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Pre-sidência da República elaborou seis Projetos de Lei que tra-

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tam de temas como a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados das empresas (PLR), a regulamenta-ção da terceirização e a proteção contra atos antissindicais. Na Legislatura 2007-2010, contudo, a discussão desses projetos no âmbito do Poder Legislativo não foi prioritária.

Para 2013, também está previsto o envio ao Congresso de proposições em estudo no governo com previsão de mudanças nas relações de trabalho. Os temas em estudo são os seguintes: (i) a criação da figura do emprego intermi-tente, em que o trabalhador fica à disposição do contratan-te por poucas horas no dia ou poucos dias por semana; (ii) a regulamentação do direito de greve e da Convenção 151 da OIT sobre negociação no serviço público; e (iii) a instituição do acordo por propósito específico no âmbito da empresa.

Ressalte-se que a ausência de uma proposta consoli-dada e coesa de reforma trabalhista preparada pelo Poder Executivo estimula o intenso afluxo de proposições pon-tuais de cunho trabalhista.

16.1. contribuição Social sobre o FgTS

A contribuição social devida pelo empregador em caso de despedida sem justa causa foi criada em 2001 pela Lei Complementar n° 110 com a finalidade de pagar parte das despesas do Governo com o ressarcimento aos trabalha-

dores das perdas nas contas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) causadas por planos econômi-cos. Estima-se que a implementação dos Planos Verão e Collor I, em 1989 e 1990, respectivamente, criou um passi-vo do FGTS da ordem de R$ 42 bilhões, o que provocou a necessidade de geração de patrimônio do Fundo em igual montante. A contribuição tem alíquota de 10% sobre o va-lor dos depósitos do FGTS devidos durante a vigência do contrato de trabalho, acrescida das remunerações aplicá-veis aos saldos das contas.

A LC n° 110/2001, também com o intuito de recompor os recursos do Fundo, criou uma contribuição mensal de 0,5% sobre a remuneração dos empregados. Essa contri-buição foi extinta no final de 2006. Já para a contribuição adicional de 10%, a ser paga na demissão sem justa causa, a LC não deixou explícito o seu caráter provisório, pois não definiu prazo para sua vigência.

Há no Congresso Nacional diversos projetos que pre-tendem sanar tal omissão. Tais propostas extinguem a contribuição, tendo em vista o reconhecimento do caráter temporário da necessidade de se recompor os recursos do FGTS e o elevado ônus para os empregadores. A discussão dessas propostas encontra-se no estágio mais avançado de tramitação: se aprovadas pelo Plenário da Câmara dos Deputados, seguem à sanção da Presidência da República.

De fato, não se justifica a perpetuação do acréscimo de 10% sobre a multa rescisória. Há indicações de que os recursos do Fundo já foram recuperados. A Caixa Econô-mica Federal (CEF), seu agente operador, tem divulgado os ótimos resultados das contas do FGTS, a ponto de o Poder Executivo ter promovido o pagamento antecipa-do dos complementos de atualização por meio da Lei n° 10.555/2002, que autorizou a CEF, às expensas do próprio Fundo, a efetivar o crédito de valores iguais ou superiores a R$ 100 nas contas vinculadas. Em julho de 2012, o res-sarcimento do FGTS montava a R$ 55 bilhões, superando largamente o passivo oriundo dos Planos Econômicos.

A subsistência da contribuição adicional onera a carga tributária das empresas, refletindo negativamente sobre a competitividade e inibindo a formalização do emprego.

A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas que explicitem o caráter provisório da contribuição de 10% sobre a multa rescisória do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), bem como estabeleçam prazo limite para a sua cobrança. A CNF sublinha que os recursos acumulados pela ar-recadação dessa contribuição devem ser destinados exclusivamente aos propósitos originais previstos em lei. A Confederação entende que a extinção da contribuição reduzirá a carga tributária das empre-sas, contribuindo para a geração e formalização do emprego, e, consequentemente, para a competitivi-dade da economia brasileira.

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Ademais, existe a possibilidade de esses recursos virem a ser direcionados para outra finalidade que não a determi-nada pela LC n° 110/2001, perpetuando assim uma contri-buição que se supunha provisória.

16.2. adicional de periculosidade

Nesse quadro, não cabem adicionais de periculosida-de que transfiram ao empregador o ônus de medidas que mitiguem os riscos enfrentados cotidianamente pela po-pulação brasileira. Na sua maioria, tais riscos estão associa-dos à segurança pública. Questões de segurança pública não decorrem da ineficiência de normas de segurança e saúde no trabalho, editadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), tampouco de sua inobservância pelos empregadores - que são autuados pelo MTE se o fizerem. Também não decorrem da omissão dos empregadores em implementar medidas que estejam ao seu alcance, tendentes a prevenir ou a diminuir os riscos inerentes a certas atividades.

Cabe ao Estado garantir a preservação da ordem pú-blica e a incolumidade das pessoas e do patrimônio. É o que dispõe o artigo 144 da Constituição Federal, pelo qual a segurança pública é dever do Estado e direito de todos,

inclusive dos empregadores que, tal qual os trabalhadores, são alvos das ações criminosas.

O MTE edita normas regulamentadoras de segurança voltadas para mitigação de riscos associados ao local de tra-balho. Hoje, existe a possibilidade de um profissional rece-ber adicional de periculosidade, enquanto outro que exer-ça exatamente a mesma atividade pode não receber esse adicional por não trabalhar em local de risco. Além disso, o adicional deixa de ser devido se o empregador eliminar o risco potencial presente no local de trabalho, o que não aconteceria ao se definir uma determinada função como beneficiária desse adicional. Faz sentido, por exemplo, que sejam dados a um eletricitário botas, luvas e equipamentos de isolamento sempre que esteja exposto a possível descar-ga elétrica. Outro eletricitário que atue como projetista não receberá o mesmo equipamento de proteção individual. Nesse exemplo, tocará ao primeiro profissional um adicio-nal de periculosidade que não será percebido pelo segun-do. Isso porque não se concede tal adicional em função da categoria laboral, mas sim da exposição a riscos localizados.

Ademais, a concessão de adicional de periculosidade tem implicações para custos trabalhistas e previdenciários. O adicional se reflete sobre outras verbas de caráter traba-lhista, tais como 13º salário, férias e FGTS, bem como sobre contribuição previdenciária, inclusive o SAT (INSS). Diferen-temente da insalubridade, a periculosidade é calculada so-bre o total da remuneração do empregado. Também está associado à possibilidade de o trabalhador pleitear aposen-tadoria especial, caso em que reduziria seu tempo de con-tribuição em dez anos, ao mesmo tempo em que a Previ-dência Social iniciaria o desembolso de benefícios dez anos antes do esperado. O efeito sobre as contas previdenciárias desse duplo impacto não pode ser negligenciado.

Historicamente, condições de trabalho mais favoráveis foram obtidas por via da negociação coletiva, mediante a qual os sindicatos patronal e laboral, valendo-se do prin-cípio da autonomia da vontade coletiva, podem negociar as condições, os valores e os requisitos para percepção de direitos. A imposição de adicionais e outros ônus por força de lei tem invariavelmente a tendência de reduzir vagas de emprego formais, a competitividade e a produtividade.

A legislação trabalhista, ao tratar do tema “adicional de periculosidade”, sempre vinculou a percepção desse adicional à exposição a situações que envol-vam risco efetivo de ocorrência de incidentes graves e potencialmente letais no local de trabalho, como explosão, incêndio ou eletrocussão. Trata-se de ris-cos que, conforme a natureza da atividade, não podem ser eliminados, o que associa o conceito de periculosidade ao risco à saúde, ou à incolumidade, em razão das instalações ou do meio ambiente de trabalho. Assim, não estão incluídos nesse conceito qualquer ação externa provocada por terceiro e con-tra a qual o empregador não possua nenhum con-trole, tampouco adicionais associados à categoria laboral e não ao local físico de trabalho.

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16.3. adicional de penosidade

Adicionais constituem acréscimos de remuneração aos trabalhadores que exercem funções que lhes causem um dano efetivo ou potencial. O adicional de penosidade é um direito constitucional garantido aos trabalhadores o qual carece de regulamentação. Na Constituição Federal, encontra-se ao lado dos adicionais de insalubridade e de periculosidade (art. 7º, XXIII).

O adicional de penosidade não se confunde com o de insalubridade e o de periculosidade. Condições penosas não expõem o trabalhador a riscos de saúde ou a riscos para sua incolumidade, mas causam desconforto físico ou psicológico mais intenso do que o provocado por ativida-des ou ambientes de trabalho normais.

A caracterização de trabalho penoso está sujeita a boa margem de imprecisão. Tal imprecisão é acentuada ao se tratar da base de cálculo do adicional de penosidade. Em julho de 2009, o STF entendeu que o adicional de insalu-bridade deve ser calculado sobre o salário mínimo. O en-tendimento do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, porém, é de que a base de cálculo do adicional de penosi-dade seja o salário contratual.

16.4. capacitação e qualificação do trabalhador

O aperfeiçoamento profissional é exigência do merca-do de trabalho que constantemente busca a excelência na produção e na prestação de serviços. A concorrência acir-rada requer profissionais capacitados para o desempenho das atividades e funções para as quais foram contratados. Assim, o benefício alcançado pela capacitação do empre-gado é mútuo.

Entende-se por serviço efetivo o período em que o empregado fica à disposição do empregador aguardando ou executando ordens, salvo disposição especial expres-sa. Trata-se de definição trazida pelo artigo 4º da Conso-lidação das Leis do Trabalho (CLT), que é essencial para a análise do direito à percepção de horas extras quando a jornada de trabalho contratada é extrapolada.

O fato de haver interesse das empresas no aperfeiçoa-mento profissional de seus funcionários, contudo, não transforma o tempo dispensado pelo empregado em curso ou evento em tempo à disposição do empregador. Também há interesse por parte do empregado, que apri-morará seus conhecimentos, adquirindo maior capacida-de para competir no mercado de trabalho.

A participação voluntária do empregado em cursos de formação, aperfeiçoamento, desenvolvimento e qua-lificação profissional, mesmo que custeados integral ou parcialmente pelo empregador, não deve gerar o direito

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas que remetam à livre negociação entre os empregadores e as entidades de represen-tação de categorias expostas a desconforto físico ou psicológico intenso relativas a questões de adicional de penosidade. Essas propostas devem buscar pre-cisão na caracterização das condições de penosida-de, circunscritas às normas de segurança e saúde no trabalho editadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, bem como à prevenção de desconfortos inerentes a certas atividades, excluídas questões de segurança pública.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas voltadas para o aperfeiçoamen-to pessoal e profissional dos trabalhadores, na medi-da em que essas propostas não considerem como período de serviço efetivo o tempo dispendido pelo empregado em programas de capacitação e qualifi-cação, ainda que estes sejam requisito para promo-ção, ou representem vantagem remuneratória. O tra-tamento normativo do benefício recomenda cautela para não desestimular os empregadores a capacitar e qualificar trabalhadores.

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ao recebimento de horas extras sob pena de desestimular o empregador a fazer o investimento.

A vinculação legal de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) a programas de capacitação e qualifica-ção profissional poderia representar importante estímulo à formação dos empregados.

16.4.1. desoneração de Bolsas de estudos

A questão da incidência de tributos sobre bolsas de estudo ganhou relevo a partir da sanção da Lei nº 12.513/2011, que instituiu o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Esse programa tem como objetivo principal expandir, interiorizar e de-mocratizar a oferta de cursos de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) para a população brasileira.

Apesar dos efeitos positivos para o ensino técnico, a norma trouxe inovações tributárias com externalidades negativas. A imposição do limite de 5% do salário bruto do empregado para concessão de bolsas de estudo com isenção implica significativa redução no número de bolsas de estudo ofertadas por empregadores, sobretudo para ensino superior e para cursos técnicos especializados de curta duração.

A educação é responsabilidade do Estado e direito constitucional de cada cidadão. Para os trabalhadores, a concessão de bolsas de estudo facilita o acesso à educa-ção, chave para seu aperfeiçoamento profissional e reali-

zação pessoal. Para as empresas, essa concessão contribui para ampliar a oferta de mão de obra qualificada que con-corre para aumentar a competitividade e a produtividade.

16.5 - acordo coletivo especial

No período compreendido entre 1998 e 2008, o total de instrumentos coletivos registrados no Ministério do Trabalho e Emprego aumentou 112%, passando de 15.358 para 32.662, o que reforça a ideia de que a negociação tem servido para solucionar os conflitos coletivos de trabalho.

Discute-se no Poder Executivo minuta de anteprojeto de lei que traz algumas inovações para estabelecer o Acor-do Coletivo Especial como instrumento normativo. Por meio desse instrumento, o sindicato profissional e uma empresa do correspondente setor econômico poderiam estipular condições específicas de trabalho, aplicáveis ape-nas no âmbito da empresa, considerando suas peculiarida-des, a vontade expressa de seus empregados e a possibili-dade de adequação à legislação trabalhista.

Outra inovação do anteprojeto seria a necessidade de prévia habilitação de sindicatos de trabalhadores pelo MTE, o qual, com base em critérios objetivos, credenciaria o exer-cício regular de práticas sindicais qualitativamente diferen-ciadas como condição indispensável para que as entidades celebrem Acordo Coletivo de Trabalho com Propósito Es-pecífico. Conforme o anteprojeto, deve ser valorizado nas negociações de cláusulas o princípio da boa-fé. Outro ponto destacado na proposta é a criação do Comitê Sindical de

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas que incentivem a concessão, pelo setor privado, de bolsas de estudo para traba-lhadores que facilitem o acesso a todos os graus de escolaridade, inclusive para ensino superior e para cursos técnicos de curta duração. Eventuais incenti-vos fiscais para a promoção de educação nas empre-sas não devem estar restritos a determinadas moda-lidades de educação profissional e regular.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia iniciativas voltadas para a flexibilização da legislação trabalhista. Para a CNF, o fortalecimento da livre negociação de convenções, acordos e con-tratos coletivos de trabalho reforça a competitivi-dade das empresas e contribui para a geração de empregos formais, buscando assim equilíbrio das posições negociais, com benefícios para emprega-dos e empregadores.

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Empresa, obrigatoriamente reconhecido pelo empregador como base de representação sindical no local de trabalho, cuja organização e funcionamento devem ser disciplinados exclusivamente pelo estatuto do sindicato profissional.

A fiscalização da aplicação do Acordo Coletivo Especial seria realizada pelo Ministério do Trabalho. As regras para lavratura dos autos de infração também seriam alteradas para assegurar a plena defesa por parte das empresas na instância administrativa. O anteprojeto também prevê que as partes poderão fixar no Acordo Coletivo de Trabalho com Propósito Específico multas recíprocas para o caso de descumprimento de suas cláusulas.

Para alguns sindicatos de empregados, o projeto valo-riza a negociação coletiva como um melhor mecanismo para a resolução de conflitos que são naturais da relação capital-trabalho. Para essas entidades, o acordo fortalece o movimento sindical e moderniza as negociações dos tra-balhadores com as empresas.

Entidades de representação dos empregadores acredi-tam que essa iniciativa pode representar um avanço para as relações de trabalhistas por buscar maior segurança jurídica nas relações que envolvem as empresas e a garantia das con-dições de trabalho, saúde e proteção para os empregados.

Para a CNF, o anteprojeto de lei deve conter em seu texto regras claras e inequívocas que fortaleçam a negociação co-letiva e possibilite, também, a negociação de cláusulas com benefícios contidos no artigo 7º da Constituição Federal.

16.6. equiparação de correspondentes a bancários

Segundo dados do Banco Central, há no Brasil algo em torno de 161.000 pontos de correspondentes, enquanto as agências bancárias, que constituem a segunda maior rede fornecedora de serviços financeiros, somam cerca de vinte mil estabelecimentos. Em 247 municípios brasileiros, localizados principalmente nas regiões Norte e Nordeste, não há nenhuma dependência bancária, enquanto em so-mente trinta não há correspondentes. Em 2012, 68,5% dos valores distribuídos pelo programa Bolsa Família, do Go-verno Federal, foram pagos por meio de correspondentes.

Em que pese à importância dos correspondentes para a distribuição de serviços e produtos financeiros, existe al-guma confusão sobre a situação trabalhista desses profis-sionais, que são por vezes equivocadamente equiparados à categoria dos bancários.

A Resolução 3.954, 24 de fevereiro de 2011, do Conselho Monetário Nacional (CMN), altera e consolida as normas que dispõem sobre a contratação de correspondentes no país. Algumas proposições argumentam que esse normativo amplia o rol de atribuições dos correspondentes, colocando em risco o futuro da categoria bancária e precarizando seu trabalho. Valem-se de dois argumentos: o de que o Conse-lho Monetário Nacional não pode editar normas para o sis-tema financeiro (sobretudo as que veem como de natureza trabalhista) e o de que correspondentes são empregados de instituições financeiras. Ambos os argumentos não en-contram amparo nem na Lei nem nos fatos.

O primeiro argumento equivocado é o de que a Reso-lução CMN nº 3.954/2011 violaria o princípio constitucio-nal da legalidade estrita (art. 5º, inciso II da CF): o processo legislativo estabelecido na Constituição Federal seria o único meio legítimo de estabelecer regras coercitivas ge-rais e abstratas (isto é, leis), não havendo norma no orde-namento jurídico que autorize o CMN ou o Banco Central do Brasil a dispor sobre a matéria com a generalidade e abstração verificadas na espécie. Porém, a competência do CMN está claramente disposta na Lei nº 4.595/1964, que foi recepcionada pela Constituição Federal com status de Lei Complementar. Essa capacidade normativa está defi-nida no art. 4º, inciso VIII, da Lei nº 4.595/1964, que assim estabelece: “compete ao Conselho Monetário Nacional,

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a explicitação da relação contratual puramente comercial que se estabelece entre bancos e correspondentes, entre os quais não há qualquer vínculo trabalhista, bem como para a reiteração da competência normativa do Conselho Monetário Nacional, tal como disposta na Lei nº 4.595/1964.

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segundo diretrizes estabelecidas pelo Presidente da Repú-blica, regular a constituição, funcionamento e fiscalização dos que exerceram atividades subordinadas a esta lei, bem como a aplicação das penalidades previstas”.

O segundo argumento equivocado é o de que a Reso-lução CMN nº 3.954/2011 representaria violação à reserva legal da União para legislar sobre Direito do Trabalho (art. 22, inciso I da CF), na medida em que institucionalizaria a criação de “bancários informais”, realizando as mesmas atividades, mas sem contar com as proteções legais e os direitos da categoria. Ocorre que a Resolução do CMN não fere a reserva legal da União porque ela não trata de ma-téria trabalhista, mas sim de contrato comercial entre uma instituição financeira e um correspondente. O correspon-dente não é, de forma alguma, uma instituição financeira, mas apenas o elo entre o cidadão comum e a instituição; a atividade de correspondente não se confunde com os serviços bancários que ele distribui. As relações contratuais – abertura de conta, depósito e mútuo – são sempre entre banco e usuário. Ao contratar o correspondente, o banco não o subcontrata para realizar sua atividade privativa de intermediação financeira, não havendo, assim, terceiriza-ção de atividade-fim. O correspondente não tem como foco a intermediação financeira, mas sim a prestação de serviços por conta e ordem da instituição financeira. É por essa razão que a Resolução CMN nº 3.954/2011 é muito clara em seu artigo 1º ao tratar o correspondente como prestador de serviços contratado para “atividades de aten-dimento a clientes e usuários da instituição contratante”, sem jamais vincular o contratado à atividade financeira nem estabelecer qualquer vínculo trabalhista entre as duas partes.

16.7. Terceirização

Terceirização consiste em transferir a pessoas jurídicas distintas da organização contratante a realização de tarefas para as quais a relação custo/benefício da execução inter-na não é vantajosa, seja do ponto de vista financeiro, seja de qualidade, ou mesmo de especialidade. Faz parte da divisão e especialização do trabalho, constituindo fator es-sencial no processo de produção e prestação de serviços. Sua prática gera maior produtividade e competitividade, estimula investimentos e cria empregos formais.

A terceirização não se confunde com mera intermedia-ção de mão-de-obra. Trata-se de uma parceria comercial entre prestador e tomador de serviços com vistas à pro-dução de bens e serviços para o mercado. Nessa parceria, as partes são sujeitos capazes, idôneos, e não existem ele-mentos que caracterizem a relação de emprego.

No Brasil, a inexistência de uma lei específica sobre ter-ceirização dificulta a compreensão dos benefícios dessa prática e cria insegurança jurídica tanto para as empresas quanto para os trabalhadores. Hoje, a terceirização é regi-da pela Súmula 331/1993 do Tribunal Superior do Trabalho (TST), cuja interpretação vem variando ao longo das últi-mas décadas, com prejuízos para as relações de trabalho.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas voltadas para regulamentação da terceirização que definam regras claras e contri-buam para a melhoria das relações do trabalho e do ambiente de negócios no país. Tais regras devem: conceder às empresas ampla margem para decidir quais atividades terceirizar; atribuir responsabilidade subsidiária aos contratantes pelas obrigações traba-lhistas de serviços contratados; garantir os direitos trabalhistas e previdenciários desses trabalhadores terceirizados; admitir a hipótese de empresas contra-tadas prestarem serviços especializados não limita-dos a um único objeto social; e prever o recolhimen-to de contribuições sindicais vinculadas a categorias econômicas e profissionais nos termos do art. 511 da Consolidação das Leis do Trabalho.

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Nessa matéria, as discussões se dão principalmente em torno: da determinação das atividades que se podem delegar para serem executadas por contratadas; da res-ponsabilidade das empresas contratantes com os direitos trabalhistas e previdenciários, em relação aos funcionários da empresa contratada; obrigatoriedade de objeto social único mesmo para empresas que, ao desempenhar uma atividade principal, também se dedicam a atividades aces-sórias de interesse do público; e da possibilidade de reco-lhimento de contribuição sindical por parte dos trabalha-dores contratados para sindicato da categoria da empresa contratante.

Quanto ao que delegar, a Súmula 331 estabelece que a terceirização só pode ser aplicada nas áreas da organiza-ção definidas como atividade meio, ou seja, aquelas em que não há participação direta dos empregados terceiriza-dos na formação do produto ou do serviço final da empre-sa contratante. A determinação, no entanto, dá margem a diferentes interpretações em razão da dificuldade de definir o que são as atividades meio e fim nos complexos processos produtivos atuais. A terceirização está presen-te em todas as áreas de atuação, tanto a meio quanto a fim. Ademais, as empresas estão mais bem posicionadas para decidir que atividades terceirizar, à luz de sua cultura institucional, de seu plano estratégico e da confiança que depositam no fornecedor de serviços contratados. A ter-ceirização não se deve restringir à atividade-meio da em-presa, sob pena de ser ferido o princípio da livre iniciativa disposto no artigo 170 da Constituição Federal.

Quanto à responsabilidade do contratante, por sua vez, poderá ser subsidiária sempre que a empresa fiscalize pe-riodicamente o fiel cumprimento das obrigações trabalhis-tas e previdenciárias por parte da contratada. Na ausência dessa fiscalização, poder-se-ia admitir a responsabilidade objetiva solidária.

No que diz respeito à exigência objeto social único, propostas em tramitação no Congresso Nacional podem resultar na extinção da prestação de serviços essenciais a significativa parcela da população brasileira, tal como a ati-vidade de correspondente não-bancário. Por um lado, a ex-plicitação do objeto no contrato social contribui para evitar

a precarização da mão-de-obra. Por outro, a limitação da gama de serviços oferecidos em função de um único ob-jeto social não impede necessariamente tal precarização, mas penaliza o consumidor. No caso do setor financeiro, a regulamentação que rege a atividade de corresponden-te não-bancário (Resolução CMN nº 3.954/2009) veda que essa atividade se constitua em objeto social único.

Com relação às contribuições sindicais dos emprega-dos da empresa contratada, deve prevalecer o princípio da associação a sindicatos considerando a categoria pro-fissional e econômica do prestador. O fato de o trabalha-dor prestar serviços em diferentes empresas não altera sua categoria em função da atividade das empresas às quais serve. Nesse quadro, não faria sentido o trabalhador con-tratado contribuir para sindicatos que não representem sua categoria, mas sim a de empregados da empresa contratante. Para a CNF, deve imperar o disposto no arti-go 511 da Consolidação das Leis do Trabalho, que vincula associação sindical a categoria profissional ou econômica em virtude de identidade, semelhança ou conexidade de interesses econômicos, de condições de vida oriundas da profissão ou do trabalho em comum, de profissões ou fun-ções diferenciadas, em uma homogeneidade que torna a associação natural.

16.8. Jornada de trabalho

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia projetos voltados para o fortalecimento de negociações coletivas transparentes que determi-nem a redução da jornada de trabalho de forma a beneficiar empregados ao mesmo tempo em que não vulnerem empregadores. Para a CNF, eventual redução da jornada de trabalho deve ser objeto de negociações setoriais, com vistas a manter a compe-titividade e a produtividade que asseguram a gera-ção de novas vagas de emprego formal. O adicional pago a título de horas extras também deve ser man-tido, uma vez que a legislação trabalhista já determi-na corretamente esses valores.

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191Capítulo 16 | Questões trabalhistas e sindicais

É marcante a tendência de redução da jornada de tra-balho por meio de negociação coletiva. Para os setores em que essa redução é possível, tem sido negociada uma carga horária adequada que satisfaz às demandas dos tra-balhadores sem comprometer a eficiência e a competitivi-dade das empresas. Essa tendência já resultou em jornadas diferenciadas em vários setores. Como regra geral, empre-gados de instituições financeiras já cumprem jornada de trabalho igual ou inferior a 40 horas.

Os impactos da redução da jornada de trabalho não podem ser avaliados por cálculos matemáticos simplistas, pelos quais, por exemplo, uma redução de jornada de 44 horas semanais para 40 horas (ou 9,1%) alavancaria auto-maticamente crescimento de 10% no número de vagas formais. Esse raciocínio equivocado supõe que empresas que contratam dez empregados passariam a necessitar de um décimo primeiro funcionário para cumprir as 44 horas que requer o seu ciclo produtivo. Tais cálculos negligen-ciam vários outros fatores da equação de produção de uma empresa, que inclui, por exemplo, aumento de preço do produto final causado por redução da oferta, compra de equipamentos e ampliação do treinamento da mão-de-obra para aumentar a produtividade, ou mesmo desin-vestimento para relocação em mercado onde as normas trabalhistas sejam mais flexíveis. A negociação coletiva é a maneira de empregados e empregadores ponderarem todos esses fatores na equação da produção.

Além do mais, atrelar a redução da jornada de trabalho ao aumento do adicional pago pelas horas extras trabalha-das, de 50% do valor normal para 75%, conforme consta de propostas legislativas em tramitação, aumentaria o cus-to com a mão-de-obra e, consequentemente, desestimu-laria a criação de empregos formais.

16.9. Fixação de piso salarial

O chamado piso salarial ou salário profissional é aquele estabelecido para os profissionais que exercem uma de-terminada atividade em razão da sua natureza e desempe-nho laboral, das qualidades exigidas para a sua execução e, também, das possibilidades econômicas das empresas da respectiva categoria econômica.

A reivindicação para a fixação de piso salarial para as categorias profissionais tem sido objeto de diversas propo-sições em tramitação no Congresso Nacional. Entretanto, a matéria deve ser objeto de estudos mais aprofundados, pois o Brasil apresenta enormes diferenças regionais.

Estabelecer uma remuneração mínima pode funcionar como elemento contrário à pretensão dos projetos de lei, pois determinadas categorias, em Estados de menor ativi-dade econômica, deixariam de conseguir reajustes maio-res aos do piso salarial em suas negociações coletivas.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia proposições voltadas para o estabeleci-mento de pisos salariais que considerem de maneira realista as discrepâncias entre regiões geográficas do Brasil e entre diferentes setores da economia, bali-zadas não por exames superficiais de rentabilidade desses setores econômicos, mas sim pela necessida-de de se assegurar remuneração adequada àquelas categorias laborais cuja natureza exija qualificações específicas e desempenho singular.

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16.10. estabilidade da relação empregatícia

Uma das discussões mais importantes para a econo-mia brasileira trata do engessamento do mercado de tra-balho pela proibição das demissões imotivadas. O instituto da estabilidade foi derrogado pela legislação que implan-tou o sistema do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), um sistema de proteção ao trabalhador baseado em quatro pilares: aviso prévio, indenização de 40% sobre o saldo do FGTS, o próprio Fundo e o seguro-desemprego. Há também uma série de outros mecanismos, tais como verbas rescisórias e restrições em casos especiais, ao lado daqueles estabelecidos por convenção ou acordos coleti-vos (como proteção para os que estão próximos da apo-sentadoria, os que são arrimo de família, os que têm mui-tos dependentes, as gestantes e os acidentados).

A discussão sobre proibição de demissões imotivadas avança no Supremo Tribunal Federal e no Congresso Na-cional, com implicações muito graves. No coração dessa discussão, está a prerrogativa de o Governo denunciar uma convenção internacional trabalhista sem passar pelo crivo do Congresso Nacional: ou o Brasil continuará a de-nunciar tratados por ato do Executivo, como vem fazendo há décadas e como se faz em muitos países, ou o Governo passará a submeter ao Congresso a denúncia de tratados internacionais.

Em junho de 1982, a Organização Internacional do Trabalho aprovou a Convenção n° 158, que limita a dis-pensa de empregados por “justa causa” e proíbe a demis-são imotivada.

Há conflito entre a Convenção OIT n° 158 e a Consti-tuição Federal, cujo artigo 7°, inciso I prevê o direito a uma “relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos”. O Congresso Nacional aprovou o texto da Convenção da OIT em setembro de 1992, pelo Decreto Legislativo n° 68. Em 20 de novembro de 1996, o Poder Executivo expediu o Decreto n° 1.855, que deu entrada à Convenção no direito positivo interno do Estado brasileiro. Os Decretos do Legis-lativo e do Executivo haviam introduzido o próprio texto da Convenção, em conflito com o dispositivo constitucional que determina a promulgação de Lei Complementar para regular a matéria. Essa anomalia deu origem à ADI n° 1.480, proposta pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) e pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ao julgá-la, o Supremo Tribunal Federal decidiu que, além de o texto da Convenção não poder substituir a lei complementar previs-ta na CF, tal lei complementar não poderia alterar a siste-mática da garantia de indenização compensatória. Foi essa decisão que levou o Poder Executivo a denunciar a Conven-ção n° 158 em dezembro de 1996, nos termos previstos na própria Convenção, pelo Decreto n° 2.100, “visto haver sido denunciada por Nota do Governo brasileiro à Organização Internacional do Trabalho”.

A partir desse ponto, a discussão tomou dois rumos, um no Supremo Tribunal Federal e outro no Congresso Na-cional. Enquanto o STF examina a constitucionalidade do Decreto do então presidente Fernando Henrique Cardoso, a Câmara dos Deputados é chamada a se pronunciar sobre a Mensagem n° 59/2008, do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que propõe nova ratificação da referida Convenção. Forma-se o quadro preocupante em que a Convenção n° 158 pode vir a ser restaurada em sua eficácia seja por deci-são do STF, seja por aprovação do Congresso.

Caso o STF decida que a Convenção jamais foi denun-ciada, ou caso o Congresso Nacional decida ratificar nova-mente a matéria, sobrevirá um custo enorme para todos os setores da economia brasileira e para o próprio Governo (União, Estados e Municípios), que é grande empregador. Impedidos de demitir, os empregadores terão seus custos com a manutenção dos postos de trabalho aumentados

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas voltadas para a flexibilização das relações de trabalho, seja pela consolidação do sistema indenizatório para demissões imotivadas disposto no artigo 7° da Constituição, seja pelo forta-lecimento das convenções e acordos coletivos que tratam da questão, para estímulo da competitivida-de e da inovação de empresas, bem como para au-mentar a geração de empregos formais.

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significativamente e serão inibidas novas contratações, com reflexos sobre o desemprego. Esses impactos serão particularmente negativos sobre micro e pequenas em-presas, que constituem os maiores empregadores do país, e sobre os jovens, que registram taxas de desemprego muito mais altas do que aquelas da população acima de 24 anos. O setor financeiro terá dificuldade para conceder crédito a empresas que, para justificar demissões imotiva-das, aleguem problemas financeiros, o que agrava ainda mais o impacto negativo da Convenção sobre a atividade econômica.

No que diz respeito às consequências do julgamen-to no STF e da tramitação da Mensagem n° 59/2008 no Congresso, os impactos negativos projetam-se para o passado e para o futuro: cria-se insegurança jurídica acerca das demissões imotivadas desde 1996 e reduz-se a criação de novos empregos pelo engessamento do mercado de trabalho. A economia brasileira seria forte-mente atingida pelos próximos três anos, uma vez que o artigo 17 item 1 da Convenção OIT n° 158 dispõe que esta só pode ser denunciada a cada dez anos da data inicial de sua vigência, em 1985. Significa que a próxima denúncia só poderá ocorrer em 2015. No que tange à al-teração das relações entre Poderes, tanto o resultado do julgamento do STF quanto o trâmite da Mensagem n° 59/2008 no Congresso têm o poder de deslocar o Brasil do grupo dos países cuja Constituição é omissa sobre o papel do Legislativo na ratificação de denúncias de tratados para o grupo dos países em que o Parlamento tem papel crítico nessas denúncias.

16.11. estabilidade provisória da relação empregatícia

No período de estabilidade provisória o empregado não pode ser dispensado por vontade do empregador, salvo por justa causa ou força maior. Há duas categorias de estabilidade: (a) aquelas previstas em lei; e (b) aquelas previstas em convenções e acordos coletivos, nos quais os sindicatos, com a intenção de assegurar aos empregados garantia de emprego e salário, determinam alguns casos de estabilidade, tal como para o empregado em vias de aposentadoria.

No ordenamento pátrio, vislumbram-se algumas hipó-teses de estabilidades provisórias, entre as quais as mais comuns nas relações empregatícias são: (a) da gestante (artigo 10, II, b, do ADCT – CF/88); (b) do acidentado (Lei n° 8.213/91, art. 118); (c) a do dirigente sindical (art. 8º, VIII, CF/88 e artigo 543, §3º. CLT); e (d) dos membros eleitos da CIPA (arts. 163 a 165 da CLT).

A produção legislativa deve considerar a sustentabili-dade das empresas e o estímulo à geração de empregos, especialmente no momento de crise atual. No Congresso Nacional, contudo, são discutidas proposições que tratam de estabilidade que, recorrentemente, pretendem inovar

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas voltadas para o fortalecimento da garantia de emprego aos trabalhadores, não ape-nas pela ampliação do leque de alternativas para a concessão de estabilidade provisória. Essas alternati-vas devem ser assentadas em rigorosos estudos que mensurem seu impacto econômico, em contraste com o ônus da estabilidade provisória e a rigidez que esta introduz numa economia competitiva. Consi-derando que a legislação atual contempla garantias provisórias de emprego que abrangem diversas situ-ações, a Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras entende que compete às partes, por meio de Convenções Coletivas de Emprego, estabelecer outras de conformidade com as peculiaridades de cada categoria.

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o ordenamento sem conceder incentivos fiscais ou de qualquer natureza. Contrariamente, trazem mais um ônus trabalhista, devendo o empregador, caso queira manter suas atividades, adequar-se por meio da redução da lucra-tividade, quando possível, ou, ainda, da majoração do valor final dos produtos ou serviços comercializados. Ademais, o artigo 7º da Constituição Federal, ao tratar da proteção da relação de emprego contra a despedida arbitrária ou sem justa causa, afirma que esta será instituída por meio de Lei Complementar. Por essa razão, determinados projetos de lei que tramitam no Congresso Nacional possuem vícios de constitucionalidade.

Dentre essas proposições, figuram a estabilidade para o alcoolista, trabalhador com esposa gestante, membros de Conselho Fiscal de sindicatos, trabalhador que retorna de férias ou de afastamento involuntário, trabalhador às vésperas de se aposentar, bem como a vedação da demis-são coletiva.

Propostas com o intuito de inibir a demissão coletiva não consideram a potencial desaceleração da atividade econômica e o desestímulo ao surgimento de novas vagas de emprego, como já ocorre, sobretudo, em alguns países europeus. A demissão coletiva é uma medida extrema a que recorrem as empresas em casos de grave crise con-juntural. A inviabilização da atividade econômica pela im-posição de ônus trabalhista exagerado levaria, no limite, à extinção da empresa e com ela de todos os empregos, além de afetar todos os parceiros com quem a empresa mantinha relações comerciais e creditícias.

16.12. Sociedades cooperativas e estabilidade provisória

A Lei das Sociedades Cooperativas (Lei nº 5.764/1971, que “define a Política Nacional de Cooperativismo, institui o regime jurídico das sociedades cooperativas, e dá ou-tras providências”) define essas entidades como um con-trato de sociedade de natureza civil, com forma e natu-reza jurídica próprias, de pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exer-cício de uma atividade econômica de proveito comum, sem objetivo de lucro, não sujeitas a falência. As socie-dades cooperativas poderão adotar por objeto qualquer gênero de serviço, operação ou atividade em benefício de seus associados, assegurando-se-lhes o direito exclu-sivo e exigindo-se-lhes a obrigação do uso da expressão “cooperativa” em sua denominação.

Na economia brasileira, cooperativas têm desempe-nhado papel cada vez mais relevante na promoção do desenvolvimento, inclusive para o aumento da oferta de crédito a taxas de juros competitivas (ver XX. Cooperati-vas de crédito). Em que pese esse papel importante, há registro de criação de cooperativas com o único intuito de obter para seus Diretores estabilidade equiparada à do dirigente sindical.

Essa desvirtuação do papel das entidades decorre de dispositivo da Lei nº 5.764/1971, que vem gerando contro-vérsia sobre a estabilidade de empregados de empresas que sejam eleitos Diretores de sociedades cooperativas pelos mesmos criadas, já que estes, nos termos do artigo 55, gozariam das garantias asseguradas aos dirigentes sin-dicais pela Consolidação das Leis do Trabalho (previstas no artigo 543 do Decreto-Lei n. 5.452/1943). Entre essas garantias figura a vedação de dispensa do empregado, até um ano após o final do seu mandato, salvo se cometer fal-ta grave devidamente apurada.

Não se justifica a existência de tal estabilidade equipa-rada à do dirigente sindical, uma vez que a proteção contra despedida imotivada dada a esse tipo de dirigente, assim como a de integrante de Comissão Interna de Prevenção de Acidentes(CIPA), tem como fundamento permitir que ele exerça sua função em sua plenitude, sem estar sujeito a, em tese, eventuais represálias por empregador arbitrá-rio, diante do escopo de atuação do dirigente na relação

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a explicitação da situação jurídica de empregados que sejam eleitos Diretores de sociedades cooperativas pelos mesmos criadas no sentido de negar a esses em-pregados estabilidade provisória equiparada à de dirigentes sindicais.

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empregado e empregador. Não se vislumbra tal prerroga-tiva para o Diretor de cooperativa, já que não há por parte dele qualquer atuação contra interesses do empregador que justifique tal garantia legal.

Além disso, depois da promulgação da Constituição de 1988, a estabilidade de Diretor de cooperativa equiparada à de dirigente sindical perdeu amparo legal.

Recentes acórdãos de alguns tribunais do trabalho de-fendem que diante da supremacia do artigo 8º, inciso VIII, da Constituição Federal, o direito à estabilidade provisória de que trata o artigo 543, da CLT restou assegurado exclu-sivamente aos dirigentes sindicais, pois o artigo 8º, inciso VIII, da Constituição da República e o artigo 10, inciso II, do ADCT fazem alusão expressa ao dirigente sindical, à gestante e ao membro eleito a cargo de direção da CIPA, mas não mencionam o Diretor da sociedade cooperativa, o que permite concluir que a nova Ordem Constitucional não recepcionou diversos dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho e da legislação infraconstitucional que disciplinavam a estabilidade. Com isso, o artigo 543 da CLT destina-se exclusivamente a dirigentes sindicais, não mais subsistindo a proteção contra a dispensa imotivada do Diretor de associação profissional, nem qualquer outra estabelecida na legislação periférica.

16.13. acidente de trabalho

Já há previsão legal para a proteção do trabalhador nos casos em que ocorre afastamento por motivo de acidente de trabalho (como o inciso XXVIII do artigo 7º,

o artigo 194 e o inciso I do artigo 201 da Constituição Federal).

A Justiça do Trabalho é competente para julgar as ações sobre reparação decorrentes de acidente de traba-lho ou doença ocupacional, cabendo à Justiça Especiali-zada somente a adoção supletiva de normas do processo civil em caso de omissão da Consolidação das Leis do Tra-balho (CLT). Não havendo omissão na CLT, não cabe dis-cussão sobre compatibilidade entre a norma trabalhista e o processo civil.

O artigo 118 da Lei nº 8.213/91 assegura garantia de emprego de doze meses após a cessação do auxílio-doen-ça acidentário e veda a dispensa do empregado a partir do 16° dia do afastamento, quando o contrato de trabalho fica suspenso. O auxílio-doença será devido ao acidenta-do que ficar incapacitado para o seu trabalho por mais de quinze dias consecutivos.

Ocorre que o empregador arca com os custos da licen-ça mesmo nos casos em que o afastamento do trabalha-dor se dá por conta de qualquer outra doença que não guarde nexo causal com o trabalho realizado. O emprega-do não pode ser dispensado por usufruir garantia do em-prego sempre que esse afastamento ocorrer por um pe-ríodo superior a quinze dias. Nesses casos, o empregador incorre no ônus da não prestação do serviço, por força do afastamento previdenciário, para em seguida arcar com o custo adicional da estabilidade ou garantia do emprego.

Nesse quadro, não merecem prosperar as proposições legislativas que pretendem aumentar o prazo de estabili-dade no emprego, bem como transferir para os emprega-dores ônus maior com a manutenção do Seguro de Aci-dente do Trabalho.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas voltadas para a ampliação dos direitos trabalhistas, tais como o direito a indeniza-ção pública nos casos de acidente de trabalho e de estabilidade de emprego temporária para trabalha-dores acidentados, que resguardem os emprega-dores de demandas de má-fé cujo ônus pode afetar negativamente a capacidade de competição e de inovação das empresas.

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16.14. Seguro acidente de Trabalho (SaT)

A Constituição garante ao empregado o Seguro Aci-dente de Trabalho (SAT), custeado pelas empresas median-te o pagamento de um adicional sobre folha de salários.

A Lei nº 8.212/91, que definiu as alíquotas do SAT de acordo com uma graduação de riscos, bem como delegou a regulamentação a ato normativo infralegal (regulamen-to), estabeleceu os dados necessários à configuração da hipótese de incidência da Contribuição Social. A alíquota foi estabelecida em 1%, para as empresas em cuja ativida-de preponderante esse risco seja considerado leve, de 2% para risco médio e de 3% para as de risco grave. Com o Decreto nº 2.173/1997 a atividade preponderante passou a ser considerada aquela que, na empresa, ocupa o maior número de trabalhadores.

O Decreto nº 6.957/2009 alterou o Regulamento da Previdência Social (Decreto nº 3.048/1999) quanto à apli-cação, ao acompanhamento e à avaliação do Fator Aciden-tário de Prevenção (FAP). Consiste em um multiplicador variável calculado de acordo com o grau acidentário no ambiente de trabalho. O FAP é aplicado à respectiva alí-quota de 1%, 2% ou 3% de contribuição para o SAT, o que deverá aumentar ou reduzir o percentual, de acordo com o grau de incidência de acidentes de trabalho.

O multiplicador variável introduzido pela nova legislação acarretou alteração drástica na classificação de diversos setores da economia, que passaram da contribuição mínima à máxima, mesmo não havendo equivalência na gravidade dos acidentes com os setores que já contribuíam com a alíquota de 3%.

A mudança introduzida pela nova legislação pode ser inconstitucional por se basear em um critério de presun-ção, já que não é mais necessário verificar se o funcionário de fato exerceu atividades que causaram a doença, bas-tando que esta esteja classificada como de alta incidência naquele ramo empresarial.

16.15. Fundo de amparo ao Trabalhador (FaT)

O Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) consiste em um fundo especial vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego, instituído em 1990 para o custeio do Programa do Seguro-Desemprego, do Abono Salarial, o financia-mento de Programas de Desenvolvimento Econômico e qualificação profissional.

Os recursos do fundo originam-se principalmente das contribuições para o Programa de Integração Social (PIS) e para o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PASEP). A partir da vigência da Constituição de 1988 e da instituição do FAT, o BNDES passou a gerir perma-nentemente recurso que corresponde a, pelo menos, 40% do que é arrecadado com as contribuições ao PIS-PASEP.

Atualmente, os repasses do FAT ao BNDES, integrados pelo FAT Constitucional e o FAT Depósitos Especiais, consti-

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia proposições voltadas para o aperfeiçoa-mento do sistema de proteção à saúde do traba-lhador no local de trabalho, pela introdução de me-didas de prevenção de sinistros e de indenização proporcionais ao risco, ao grau de exposição dos trabalhadores e à gravidade das lesões decorrentes de acidentes.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia iniciativas que revejam a destinação e ve-rifiquem a eficiência da aplicação dos recursos do FAT, sem, contudo, reduzir a alocação dos recursos ao amparo do trabalhador desempregado. Entre es-sas iniciativas, a CNF endossa aquelas voltadas para o preparo de mão-de-obra para um mercado de trabalho que demanda profissionais qualificados. Sobre o Conselho Deliberativo do FAT (CODEFAT), a Confederação defende a constituição de um órgão colegiado de efetiva representatividade, que reúna entidades patronais de âmbito nacional constituí-das na forma da lei, sobre as quais não pese qual-quer dúvida quanto à sua legalidade.

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197Capítulo 16 | Questões trabalhistas e sindicais

tuem uma de suas mais importantes fontes. Em janeiro de 2013, o saldo total de recursos repassados atingiu a marca de R$ 159,91 bilhões, ampla parcela do funding do banco.

Para a implementação de uma sólida política de forta-lecimento da economia e do mercado de trabalho nacio-nal, é de grande importância o acompanhamento da apli-cação desses recursos para que sejam definidos métodos de alocação e estabelecidas prioridades que se coadunem com os objetivos essenciais do FAT e do BNDES. Essa é a responsabilidade do Conselho Deliberativo do FAT (CO-DEFAT), criado pelo mesmo marco legal que deu origem ao FAT. Trata-se de órgão colegiado de caráter tripartite que possui como suas principais funções a elaboração de diretrizes para programas e para alocação de recursos; o acompanhamento e a avaliação do impacto da aplicação de tais recursos, bem como a função de propor o aperfei-çoamento da legislação referente às políticas públicas de emprego e renda, e a fiscalização da administração do FAT. Em fevereiro de 2013, a composição do CODEFAT não con-tava com ampla participação patronal de âmbito nacional representativa.

No âmbito do Congresso Nacional, várias proposições objetivam alterar critérios e definir novos parâmetros que balizem a alocação de recursos do FAT pelo seu Conselho Deliberativo. Também tramitam projetos que pretendem condicionar a concessão de benefícios (como o seguro desemprego e ações como a qualificação profissional de trabalhadores desempregados) à frequência de emprega-dos nos cursos oferecidos.

A vinculação legal de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) a programas de capacitação e qualifica-ção profissional poderia representar importante estímulo à formação dos empregados.

16.16. Suspensão de contrato de trabalho em caso de crise econômico-financeira

Na suspensão do contrato de trabalho, o pacto laboral deixa de produzir efeitos tão logo ocorra a causa suspensi-va e desaparece temporariamente. No período negociado, o empregado não tem obrigação de trabalhar, ao mesmo tempo em que o empregador não arca com salário e en-cargos sociais.

O artigo 476-A da Consolidação das Leis do Trabalho prevê suspensão do contrato de trabalho para participa-ção do empregado em curso ou programa de qualifica-ção profissional oferecido pelo empregador, com duração equivalente à suspensão contratual.

Discute-se no Congresso Nacional a introdução na CLT de dispositivo semelhante ao artigo 476-A, para criar mais uma hipótese de suspensão do contrato de traba-lho, mediante previsão em convenção ou acordo coletivo e aquiescência formal do empregado, quando a empresa não puder manter o nível da produção e o fornecimento de serviços em razão de crise econômico-financeira.

Essa suspensão constitui-se em alternativa à dispensa de mão-de-obra e às demissões coletivas durante crises. Para os empregados, haveria a vantagem da manutenção da relação trabalhista. Para os empregadores, haveria o be-nefício da redução temporária de custos para recuperação da atividade empresarial e evitaria custos de formação e de reposição de mão-de-obra qualificada.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas voltadas para a introdução na Consolidação das Leis do Trabalho de dispositivo que permita a suspensão do contrato de trabalho, mediante previsão em convenção ou acordo cole-tivo e aquiescência formal do empregado, sempre que a empresa não puder manter o nível da produ-ção e o fornecimento de serviços em razão de crise econômico-financeira.

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16.17. Licença Maternidade

A Constituição Federal de 1988 admitiu as disposições da Convenção nº 103 da Organização Internacional do Trabalho e passou a assegurar à gestante, sem prejuízo de emprego e salário, 120 dias de licença, além de vedar sua dispensa arbitrária ou sem justa causa a partir do momen-to da confirmação da gravidez e até cinco meses após o parto (art. 7º, XVIII e art. 10, II, b - ADCT). O benefício é es-tendido aos casos de adoção também concedendo à mãe adotante estabilidade temporária.

É pertinente e oportuna a discussão sobre a ampliação do direito por mais sessenta dias, o que atende às recomen-dações da Organização Mundial de Saúde (OMS) de as mães proverem aleitamento durante os seis primeiros meses de vida de seus filhos. No Brasil, a legislação concede à mãe lactante o direito a dois descansos especiais, de meia hora cada um, durante a jornada de trabalho, para aleitamento, até que seu filho complete seis meses de idade (ou mais, se houver necessidade médica - art. 396, da CLT).

Para a CNF, o direito à licença maternidade e as dis-cussões em torno de sua eventual dilatação aproximam-se do espírito da Lei n° 11.770/08, que criou o Programa Empresa Cidadã. De acordo com a norma, as empresas que voluntariamente aderem ao programa e concedem o benefício às funcionárias são beneficiadas com incenti-vos fiscais. Nele, os primeiros 120 dias de licença materni-dade continuam a ser custeados pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e a empresa arca com os dois me-ses seguintes. A beneficiária recebe seu salário integral ou, no caso de valores variáveis, a média dos ganhos nos últimos seis meses. O total da remuneração integral pago

nos sessenta dias de prorrogação da licença-maternida-de pode ser isentado de tributação.

16.18. outras licenças trabalhistas

A Consolidação das Leis do Trabalho, em seu artigo 473, estabelece rol de hipóteses em que o empregado po-derá deixar de comparecer ao serviço sem que haja prejuí-zo do salário ou do gozo das férias. São casos que ensejam ausência justificada: (a) falecimento de cônjuge, ascen-dente ou descendente, irmão ou pessoa que viva sob sua dependência econômica; (b) doação voluntária de sangue devidamente comprovada; (c) alistamento eleitoral; (d) cumprimento de exigência do Serviço Militar; (e) partici-pação em processo seletivo para ingresso em estabeleci-mento de ensino superior; (f ) para comparecimento em juízo; (g) exercício de mandato de representante sindical; e (h) nascimento de filho. A CLT ainda estabelece prazos es-pecíficos para cada um dos casos de ausência justificada, de modo a assegurar ao trabalhador tempo hábil para o cumprimento de obrigações junto ao Estado, além de pro-ver oportunidade ao empregado para resolver questões atinentes ao seu círculo familiar.

Discussões relacionadas ao rol supracitado e à amplia-ção dos prazos de ausência justificada têm sido desenvol-vidas nos âmbitos dos três Poderes. No Congresso Nacio-nal, elevado número de proposições visam à modificação do art. 473 da CLT. No Executivo a Conferência Nacional do Trabalho Decente, (ver 3.2 – Agenda Nacional do Trabalho Decente) organizada por comissão tripartite, é um dos fo-runs de discussão dessa temática e de outras relacionadas ao cotidiano de trabalhadores e de empregadores. O Ju-diciário, por sua vez, tem sido provocado a se manifestar sobre as hipóteses de ausência e licença do trabalhador,

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas voltadas para a prorrogação da licença maternidade que não imponham ônus exa-gerados aos empregadores, mas sim que os incen-tivem a conceder essa prorrogação de forma volun-tária, inclusive por meio de isenções tributárias, ou que remetam a questão para acordos coletivos.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas que favoreçam a ampliação de hipóteses de ausência justificada desde que esta-belecidas por meio de negociação coletiva e que não se convertam em incentivo ao absenteísmo.

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199Capítulo 16 | Questões trabalhistas e sindicais

tal como no caso do Mandado de Injunção nº 4.408, im-petrado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS), por meio do qual a entidade requer a regulamentação do inciso XIX do artigo 7º da Constituição Federal, que trata da hipótese de ausência do trabalhador em caso de nascimento de filho.

No que concerne à licença em caso de nascimento de filho, há propostas que, por exemplo, visam à regulamen-tação da licença paternidade e que sugerem a ampliação da abrangência do Programa Empresa Cidadã, estenden-do sua cobertura à licença paternidade. Atualmente, tal licença é concedida ao pai pelo período de cinco dias ime-diatamente após o nascimento da criança, conforme pre-visto na Constituição Federal, Ato das Disposições Consti-tucionais Transitórias, art. 10, § 1º.

O prazo do art. 473 da CLT destinado à recuperação do trabalhador em caso de falecimento de parentes, conheci-do como licença nojo, é comumente questionado. A legis-lação vigente prevê a possibilidade de ausência justificada por dois dias de trabalho.

Outras proposições legislativas objetivam assegurar ao trabalhador a possibilidade de afastamento de suas ativida-des para fins de qualificação. Não obstante o apoio a iniciati-vas que visem ao fomento de políticas de incentivo ao estu-do, a Confederação Nacional das Instituições Financeiras pri-ma pela autonomia coletiva dos agentes econômicos e pelos instrumentos coletivos de trabalho quando da discussão de políticas referentes à educação profissional continuada.

16.19. assédio moral

Entende-se como assédio moral a prática, manutenção ou exposição de empregados (as) a situações vexatórias, por várias vezes, no exercício das atividades e funções, que

tenham origem não só de chefias, mas também de pes-soas com posição hierárquica igual ou inferior.

O assédio moral deve ser combatido de todas as ma-neiras possíveis. Em que pese à gravidade do problema e a necessidade de duras medidas de prevenção e punição de atos dessa natureza, o conceito de assédio moral não pode ser genérico: sua indefinição gera insegurança jurídica, na medida em que o empregador desconhece qual compor-tamento seu poderá vir a ser interpretado como assédio pela Justiça do Trabalho.

Ademais, não basta a comprovação de culpa (em sen-tido amplo) do empregador para que o empregado tenha direito à indenização. Incumbe à vítima a prova de nexo causal e efetivo dano, o que é dificultado pela ausência de clara definição do que seja assédio moral.

O artigo 483 da Consolidação das Leis do Trabalho elenca as hipóteses de rescisão indireta, dentre as quais não figura o assédio moral. Contudo, eventos comprova-dos de assédio moral habilitam os empregados a pleitear indenização por danos morais, à qual não se soma indeni-zação rescisória. Eventual acumulação de indenização res-cisória com indenização genérica por danos morais carac-terizaria bis in idem, ou dupla indenização, pois a origem da reparação seria a mesma: eventuais danos originados pela assédio moral.

É preciso cautela para evitar que ações judiciais sirvam para fomentar a chamada “indústria da indenização”, já que as empresas acabam arcando com pesados valores advin-dos de condenações a título de dano moral, possivelmen-te sem fundamento.

A cláusula preventiva de assédio moral que consta de convenções coletivas firmadas pela categoria dos bancá-rios tem-se mostrado eficaz e contribui para enriquecer a discussão sobre o tema.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas que visem a estabelecer crité-rios objetivos para fixação de indenização em caso de ocorrência de assédio moral.

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200 AgendA do SetorFinanceiro2013

16.20. Ponto eletrônico

O Sistema de Registro Eletrônico de Ponto (SREP) consiste em um conjunto de equipamentos e programas informatizados destinados à anotação por meio eletrôni-co da entrada e saída dos trabalhadores das empresas, previsto no artigo 74 da Consolidação das Leis do Traba-lho (CLT). A Portaria do Ministério do Trabalho (MTE) nº 1.510/2009, que regulamenta o SREP, procura prevenir fraudes no registro da jornada de trabalho nas empresas, disciplinar a utilização do sistema e regulamentar o uso do equipamento.

A norma obrigou as empresas a substituírem os atuais coletores de ponto pelo registrador eletrônico até a sua entrada em vigor, em 1º de abril de 2012, conforme dis-posto na Portaria nº 2.686/2011.

A nova regra do MTE é excessivamente burocrática e não leva em consideração os sistemas atualmente exis-tentes no país. Um dos principais problemas criados é a obrigatoriedade de impressão de um comprovante do registro para o trabalhador. Os empregados ficam obriga-dos a manter, por longo período de tempo, uma grande quantidade de registros em papel, sem a garantia de que as fraudes de registro serão reduzidas, dado que, em sua maior parte, tais fraudes não costumam ocorrer na forma de simples e pura alteração do registro.

A Portaria ainda estabelece um vasto e detalhado con-junto de exigências que, em vez de proteger, impõe difi-

culdades também aos empregadores, já que a aquisição de um registrador eletrônico de ponto (REP) é onerosa.

Na visão da CNF, o Ministério do Trabalho extrapolou seu poder de regulamentar ao editar portaria que criou obrigações não previstas em lei. Isso porque a CLT obri-ga apenas as empresas com mais de dez empregados por estabelecimento a registrarem respectivos horários de trabalho, seja de forma manual, mecânica ou eletrônica. A Portaria estabelece ainda que o registro eletrônico de ponto somente é válido se efetuado por meio do denomi-nado REP – Registrador Eletrônico de Ponto, que vem a ser o aparelho cujas especificações estão detalhadas na Por-taria. Ora, a determinação de utilização de um único tipo de dispositivo já caracteriza um excesso de regulamenta-ção, posto que o texto da CLT unicamente autoriza o MTE a efetuar a regulamentação da marcação da jornada, suas condições e limites de sua utilização. No plano judicial, já existem decisões que desobrigam o uso do REP.

16.21. concessão de benefícios em dinheiro - vale-transporte

As discussões no Congresso Nacional sobre propostas que tratam do vale-transporte estão centradas na con-veniência de seu pagamento em dinheiro, com o temor, entre outros, de que o benefício venha a ser incorpora-do ao salário. Nas discussões, argumenta-se ainda que o trabalhador utilizaria o dinheiro para outros fins, des-virtuando o propósito do benefício, e que se perderia o

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas com vistas a revogar ou a alterar a Portaria do Ministério do Trabalho nº 1.510/2009, considerando-se que certificação di-gital de sistemas alternativos atende os mesmos requisitos de autenticidade e integridade de regis-tros de jornada de trabalho. Empresas de vários se-tores já adotam sistema de ponto eletrônico com requisitos de segurança e inviolabilidade reconhe-cidos em várias decisões da Justiça do Trabalho.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a ampliação do poder discricionário dos trabalhadores no uso de benefícios trabalhistas, tais como o pagamento de vale-transporte em dinheiro, no entendimento de que a concessão desses benefícios em pecúnia mantém seu caráter indenizatório e, portanto, não os incorpora a salários e demais remunerações, inclusive para fins de incidência de contribuição previdenciária e de Imposto de Renda.

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201Capítulo 16 | Questões trabalhistas e sindicais

reajuste automático nas tarifas de transporte subsidiadas pelo empregador.

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em março de 2010, que não incide contribuição previdenciária sobre va-le-transporte pago em dinheiro aos trabalhadores. O plená-rio do STF, por maioria de votos, firmou o posicionamento de que o auxílio transporte pago não integra o salário do empregado constituindo, assim, uma verba de natureza in-denizatória e não remuneratória. Para o STF, o fato de o vale-transporte ser pago mediante dinheiro não é suficiente para descaracterizar a natureza do benefício e entender de forma diversa acarretaria a cobrança de tributo sem previsão legal. Na decisão, o STF estabeleceu que o vale-transporte, por sua natureza indenizatória, não se incorpora à aposentado-ria, nem mesmo à pensão, bem como não incide Imposto de Renda sobre seu pagamento em dinheiro.

No plano administrativo, a Súmula 89/2012 do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais pacificou entendimento de que não incide a contribuição previdenciária sobre os va-lores pagos a título de vale-transporte em pecúnia.

No passado, a concessão de vale-transporte físico deu margem à comercialização ilegal do benefício, ao nasci-mento de uma indústria de falsificações e a roubos e assal-tos nas empresas de transportes e nas empresas autoriza-das a comercializar o benefício.

Além do exposto, a Lei nº 7.418/1985 não traz efetivamen-te a vedação do pagamento em dinheiro e, no que tange às instituições financeiras, a sistemática é regrada também por instrumento coletivo da categoria, no qual há previsão espe-cífica para concessão em dinheiro do vale-transporte.

16.22. unicidade sindical

A Constituição Federal, em seu artigo 8º inciso II, veda a criação de mais de uma organização sindical representa-tiva de categoria profissional ou econômica, em qualquer grau - ou seja, também no grau superior das federações e confederações. Essencialmente, o dispositivo assegura o princípio da unicidade sindical, o sistema confederativo da representação sindical e a não interferência e não inter-venção na organização sindical.

A Portaria nº 186/2008 do Ministério do Trabalho pos-sibilitou a criação de mais de um sindicato na mesma base territorial, introduzindo a tendência de que mais sindicatos de pequeno porte sejam criados. As confederações patro-nais não reconhecem a legalidade dessa Portaria Ministe-rial. O artigo 13 do normativo fere o princípio constitucio-nal da unicidade sindical ao apontar para o pluralismo da representação de sindicatos.

No plano judicial, há quatro Ações Diretas de Incons-titucionalidade ajuizadas no Supremo Tribunal Federal contra a Portaria n° 186 (as ADIs 4.120/2008; 4.126/2008; 4.128/2008; e 4.139/2008). A ADI n° 4.120 foi impetrada por onze confederações de trabalhadores, ao passo em que as demais foram impetradas por confederações patronais. Em janeiro de 2009, parecer do Procurador-Geral da Repú-blica acatou parcialmente os argumentos das ADIs. No pla-no legislativo, o Projeto de Decreto Legislativo n° 857/2008 busca sustar a Portaria n° 186.

16.23. acesso das entidades sindicais às informações das empresas

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para o fortaleci-mento do princípio constitucional da unicidade sindical e repudia normativos de hierarquia legal inferior que ferem esse princípio.

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras acompanha com interesse as pro-postas que assegurem aos trabalhadores o pre-ceito constitucional do direito à informação, ao mesmo tempo em que considera dispensável o fornecimento de dados das empresas dire-tamente aos sindicatos seja por serem essas informações de domínio público, seja por tal prestação estar prevista em dispositivos legais já existentes.

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202 AgendA do SetorFinanceiro2013

Propostas em tramitação no Congresso Nacional suge-rem alteração da Consolidação das Leis do Trabalho para obrigar empresas a prestar informações ao sindicato labo-ral, para fins de negociação coletiva, acerca de sua situação econômica e financeira – mediante compromisso de sigilo por parte dos sindicatos.

A Confederação não considera adequado que empre-sas submetam aos sindicatos laborais informações confi-denciais sobre sua condição econômica e financeira, na medida em que dispositivos legais obrigam a publicidade dessas mesmas informações para benefício de acionista, investidores e fornecedores. Entidades constituídas sob a forma de Sociedades por Ações devem elaborar e publicar duas demonstrações financeiras anualmente, conforme determina a Lei nº 6.404/76 – Capítulo XV - Exercício Social e Demonstrações Financeiras. Para as instituições finan-ceiras, o dever de elaborar e publicar suas demonstrações financeiras é semestral (Lei nº 4.595/1964, art. 31).

Entre outras informações pretendidas pelos sindicatos, consta a relação de salários (Relação Anual de Informações Sociais – RAIS), cadastros dos empregados, comunicações de dispensa e requerimentos de seguro desemprego. To-das essas informações são transmitidas pelas empresas ao Ministério do Trabalho. Ocorre que os próprios emprega-dos já possuem acesso aos dados pretendidos pelos sindi-catos. No caso das empresas, por exemplo, é imposta pelo artigo 22 da Lei n° 8.213/1991 a comunicação de acidente de trabalho também aos sindicatos. A Constituição Fede-ral assevera que “todos têm o direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado” (art. 5º, XXXIII). A outorga de tal prerrogativa a sindicatos é portanto dispensável.

16.24. Participação dos trabalhadores na gestão das empresas

A participação de empregados em Conselhos de Ad-ministração é tema amplamente debatido e objeto recor-rente de proposições legislativas. No âmbito do Congresso Nacional, há atores que vislumbram benefícios tanto para trabalhadores quanto para empregadores, ao passo em que outros expressam não acreditar nos resultados espe-rados pelos primeiros.

O artigo 142 da Lei nº 6.404/1976 fixa as atribuições do Conselho de Administração. Segundo o dispositivo, com-pete ao colegiado fixar a orientação geral dos negócios da companhia; eleger e destituir diretores das companhias e fixar-lhes atribuições; fiscalizar a gestão dos diretores; exa-minar, a qualquer tempo, os livros e papéis da companhia; solicitar informações sobre contratos celebrados ou em via de celebração; e quaisquer outros atos. Conforme prevê a Lei nº 6.404/1976, em seu artigo 140, o Conselho de Ad-ministração será composto por, no mínimo, três membros eleitos pela Assembléia Geral e por ela destituíveis a qual-quer tempo. No entanto, no Direito brasileiro, o Conselho apenas é obrigatório para companhias de capital aberto e as de capital autorizado, sendo a sua adoção facultativa para companhias fechadas, de capital não autorizado.

A possibilidade de participação dos trabalhadores na gestão das empresas para contextos “excepcionais” traduz o entendimento dos constituintes quanto ao papel dos trabalhadores na adoção de medidas de orientação e de-senvolvimento das companhias. Infere-se do inciso XI, do

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia proposições voltadas para o esta-belecimento de boas regras de governança das corporações que não confundam colegiados dedicados à fiscalização de atividades e à formu-lação estratégica com colegiados voltados para negociações trabalhistas. Para a CNF, deve-se aplicar idêntico tratamento jurídico a todos os conselheiros de administração.

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203Capítulo 16 | Questões trabalhistas e sindicais

artigo 7º da CF, assim como de outras previsões constitu-cionais vinculadas, que a participação dos trabalhadores prevista não se confunde com o estabelecimento de me-canismos de co-gestão, que concederiam aos trabalhado-res abertura à co-decisão.

A reforma legal realizada por meio da Lei nº 10.303/2001 inovou de modo significativo as Leis nº 6.404/1976 e nº 6.835/1976, admitindo a participação de representantes de empregados no Conselho de Administração das companhias.

Como estabelece a Lei nº 10.303/2001, a participação de representantes dos empregados nos Conselhos de Ad-ministração estaria condicionada a previsões estatutárias adequadamente aprovadas em Assembleia Geral de acio-nistas. Ao órgão deliberativo também cabe a destituição de conselheiros a qualquer tempo.

Já no caso das companhias públicas e sociedades de economia mista, com vistas à adequação das regras que balizam a gestão dessas entidades aos efeitos da Lei nº 10.303/2001, o Poder Executivo capitaneou no âmbito do Legislativo a aprovação do Projeto de Lei nº 3.407/2008, que regulamentou a eleição e a participação de represen-tantes de trabalhadores nos Conselhos de Administração de tais companhias.

A CNF observa que Conselhos de Administração, por serem essencialmente fiscalizadores e formuladores de políticas gerais, não constituem fóruns de negociação en-tre as partes das relações de trabalho. Para a Confederação, deve prevalecer igual tratamento entre os conselheiros de administração, inclusive no que toca à responsabilização dos autores de ações culposas ou dolosas que violem a lei ou o estatuto da empresa, de modo a não discriminar conselheiros representantes dos trabalhadores daqueles eleitos pelos acionistas.

16.25. contribuição assistencial

A contribuição assistencial, também conhecida como taxa assistencial, é amparada pelo art. 513 da Consolidação das Leis do Trabalho, que dispõe entre as prerrogativas dos sindicatos a capacidade de impor contribuições a todos aqueles que participam das categorias econômicas ou profissionais ou das profissões liberais representadas.

Comumente disposta em convenções, acordos ou sen-tenças normativas de dissídios coletivos, a contribuição as-sistencial somente será devida por aqueles que participam na condição de sócios ou associados de entidade sindical, conforme entendimento dominante dos tribunais.

A Constituição Federal, em seus artigos 5º, XX, e 8º, V, assegura o direito de livre associação, além de proibir a fi-liação obrigatória dos profissionais que não formalizarem consentimento. Tais dispositivos constitucionais sinalizam o caráter ofensivo de cláusulas contratuais constantes de acordo, convenção coletiva ou sentença normativa que imponham pagamento de contribuição assistencial pelos trabalhadores não sindicalizados.

Decisões judiciais proferidas têm sublinhado a incom-patibilidade de um pagamento compulsório com o direi-to de livre associação, situado no topo do ordenamento jurídico brasileiro. Ademais, a contribuição assistencial, ao contrário da contribuição sindical e federativa, tem natu-reza contratual, de modo que o seu pagamento somente se torna devido se a empresa for filiada à entidade sindical que pleiteia esse pagamento, prevalecendo o princípio da liberdade de filiação sindical. Os tribunais têm manifestado entendimento de que esse princípio deve ser permanen-temente considerado, consistindo a liberdade de contri-

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para o fortaleci-mento da representatividade sindical, assentadas nos dispositivos constitucionais que asseguram liberdade de filiação sindical, incompatíveis com a compulsoriedade da contribuição assistencial incidentes sobre não filiados.

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204 AgendA do SetorFinanceiro2013

buição decorrência imediata do direito de associar-se ou não, como prevê o artigo 8º da Carta Magna.

16.26. contribuição negocial

Na proposta de reforma sindical do Governo Lula foi sugerida a fixação de apenas duas contribuições sindicais: a associativa, devida apenas pelos sócios do sindicato, e a negocial, que é decorrente da negociação coletiva, ainda que por meio de sentença proferida pela Justiça do Tra-balho. A contribuição negocial teria natureza privada, pois nenhuma parte da exação iria para o ente público, como ocorre com a contribuição sindical. Além disso, por ser obrigatória, impediria o não sindicalizado de se opor a ela.

A Convenção nº 87 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) não prevê contribuição obrigatória. A OIT admite apenas que haja a estipulação de uma contribui-ção de solidariedade, por meio de convenção coletiva que a preveja, em razão da aplicação erga omnes de suas vantagens a toda a categoria, sendo paga exclusivamente pelos não associados. Seu desconto não pode, porém, ser superior a dois terços do valor devido pelos associados.

O tema é objeto de intensos debates entre entidades de representação de empregadores, centrais sindicais, Gover-no e Congresso Nacional. A dificuldade na aprovação dessa matéria decorre da modificação das receitas sindicais.

16.27. ultratividade das convenções, acordos e contratos coletivos de trabalho

O artigo 613 da Consolidação das Leis do Trabalho dis-põe que: “As Convenções e os Acordos deverão conter obri-gatoriamente: ... II - prazo de vigência (...); IV - condições ajustadas para reger as relações individuais de trabalho durante sua vigência”. Também o Decreto nº 908/1993, que fixa as diretrizes para as negociações coletivas de trabalho das empresas públicas, sociedades de economia mista e demais empresas sob controle direto ou indireto da União, reafirma a temporalidade e relatividade do conteúdo das convenções ou acordos coletivos de trabalho no parágra-fo único do artigo 2º, que reza que todas as cláusulas do acordo coletivo vigente deverão ser objeto de negociação a cada nova data-base.

O Tribunal Superior do Trabalho determinava na Sú-mula nº 277 que: “as condições de trabalho alcançadas por força de sentença normativa, vigoram no prazo assinado, não integrando, de forma definitiva, os contratos”. Em se-tembro de 2011, o TST revisou essa súmula para decidir em sentido contrário. Por ocasião da 2° Semana do TST a CNF se opôs a esse entendimento e, desde então, vem se ma-nifestando pela não ultratividade.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para o estabele-cimento de contribuições livremente determina-das por associados de sindicatos, que assegurem o ato voluntário da associação sindical e cujo re-colhimento se restrinja ao universo de trabalha-dores sindicalizados.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para o fortaleci-mento da livre negociação de convenções, acor-dos e contratos coletivos de trabalho, no enten-dimento de que a aprovação de leis trabalhistas reduz o espaço para esses acordos e introduz rigi-dez nas relações de trabalho que afeta a competi-tividade das empresas e a geração de empregos. Convenções, acordos ou contratos coletivos de trabalho não se incorporam definitivamente aos contratos individuais de trabalho por constituí-rem pactos de vigência limitada, cujas cláusulas vigoram por um tempo determinado.

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205Capítulo 16 | Questões trabalhistas e sindicais

Argumenta-se por vezes que o artigo 468 da CLT prevê que as disposições da norma coletiva são inalteráveis, ao estabelecer que “nos contratos individuais de trabalho só é lícita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, di-reta ou indiretamente, prejuízos ao empregado, sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia”. Porém, esse artigo encontra-se no capítulo da CLT que versa sobre Direito Individual do Trabalho e não no que trata do Direito Coletivo do Trabalho.

As convenções, acordos ou contratos coletivos de tra-balho são regulados pela Lei nº 10.192/2001, cujo parágra-fo 2º, do artigo 13, lê:

Art. 13. No acordo ou convenção e no dissídio, coletivos, é vedada a estipulação ou fixação de cláusula de reajuste ou correção salarial automática vinculada a índice de preços.

.....

§ 2o Qualquer concessão de aumento salarial a título de produtividade deverá estar amparada em indicadores objetivos.

Discutem-se no Congresso Nacional propostas que alteram esse parágrafo da norma trabalhista para estabe-lecer a chamada “ultratividade dos acordos, convenções e contratos coletivos de trabalho”, pelas quais as cláusu-las ajustadas nesses instrumentos passarão a integrar os contratos individuais de trabalho e somente poderão ser reduzidas ou suprimidas por posterior acordo, convenção ou contrato coletivo de trabalho.

A aprovação de uma lei trabalhista retira uma das mais importantes funções dos sindicatos: a negociação. Cada vez que se engessa a legislação, diminui-se o espaço para se fortalecer os sindicatos, sejam eles de trabalhadores, se-jam de empregadores. Também se aumenta ainda mais a complexa estrutura legal trabalhista já existente.

Propostas dessa natureza dificultam as negociações coletivas, pois as eventuais vantagens obtidas, tanto pe-los trabalhadores quanto pelas empresas, decorrentes do bom momento econômico, passam a ter enorme dificul-

dade de serem negociadas, dado o risco de serem pereni-zadas nos contratos individuais – o que introduz grande rigidez nas relações de trabalho.

16.28. Migração de trabalhadores qualificados

O Brasil atravessa um período de carência de mão-de-obra qualificada no mercado especializado de trabalho, devido ao rápido crescimento econômico e social, com entraves profissionalizantes em diversas áreas. A imple-mentação de um ambiente de negócios favorável à inova-ção pode ser realizada por intermédio da simplificação dos mecanismos de contratação de profissionais estrangeiros qualificados para os postos de trabalho carentes de mão-de-obra capacitada.

Diante da situação internacional e da alta oferta de mão-de-obra estrangeira disposta a vir para o mercado de trabalho brasileiro, a legislação nacional vai contra a fa-cilidade da vinda desses profissionais, sendo necessária a diminuição da burocracia e a modernização do processo de concessão de vistos.

A maioria dos setores tem tido dificuldades para con-tratação de mão-de-obra qualificada no país, inclusive o setor financeiro. Em uma análise mais detalhada, hoje, no Brasil, há, por exemplo, aumento da demanda do grupo de “técnicos de seguro, câmbio e serviços financeiros”. Apesar desse cenário de procura por profissionais, um estrangeiro capacitado demoraria em torno de seis meses para con-seguir estar apto a trabalhar legalmente no país, já que o mero agendamento para pleitear o visto de trabalho de-mora cerca de três meses.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que facilitem a contrata-ção de mão-de-obra estrangeira qualificada para o mercado brasileiro com o propósito de suprir a demanda interna, bem como apoia a simplifica-ção dos procedimentos de regularização de tra-balhadores estrangeiros no Brasil.

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206 AgendA do SetorFinanceiro2013

Atualmente, algumas normas dificultam a vinda de es-trangeiros. Por exemplo, um estrangeiro não pode imigrar para o Brasil para prospectar empregos aqui, por ser ne-cessário um contrato de trabalho fechado. Outro caso é o empregado estrangeiro que trabalha numa filial e precisa mudar-se para outra; hoje, é necessário refazer todo o pro-cesso no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

A vinda desses profissionais estrangeiros não ameaça-ria ou comprometeria o oferecimento de vagas disponíveis para os trabalhadores brasileiros; pelo contrário, essa ofer-ta estimula o crescimento econômico e a competitividade dos setores produtivos nos mercados interno e externo.

Nesse sentido, a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República estuda propostas para ampliar a entrada de mão-de-obra estrangeira qualificada no Brasil e aumentar a competitividade do país, suprindo a escassez de profissionais em áreas estratégicas e criando ambientes de intercâmbio de tecnologias e conhecimentos.

A Brasil Investimentos & Negócios (BRAiN Brasil) tem articulado com o governo a facilitação da vinda de pes-soas capacitadas para suprir a demanda de mão-de-obra interna, comparando o sistema atual com os de outros sete países relevantes e analisando a oferta nacional. en-tre as medidas propostas, estão: a) o aprimoramento do processo de concessão de vistos de trabalho tipo v; b) a criação de uma regulamentação da concessão de vistos temporários a estudantes de cursos superiores no exterior em busca de experiências profissionais durante as férias (situação conhecida como summer job); e c) a criação de cadastro de profissões carentes de especialistas no mer-cado de trabalho brasileiro a fim de incentivar a vinda de estrangeiros com essas formações.

A CNF é membro do Conselho Nacional de Imigração (CNIG) desde o ano de 2000 e participa intensamente des-sas discussões no âmbito governamental.

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queSTÕeS PREVIDENCIáRIAS

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211Capítulo 17 | Questões previdenciárias

Não há como assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social de maneira susten-

tada sem o equilíbrio financeiro e atuarial da Previdência Social. Esse truísmo econômico é também um imperativo constitucional. O artigo 201 da Constituição Federal dis-põe que a Previdência Social será organizada observan-do-se critérios que preservem seu equilíbrio financeiro e atuarial, de sorte que os gastos a serem suportados presu-mam a correspondente constituição de reservas. Também o artigo 195, § 5º, da Constituição estipula que “nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser cria-do, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total”. Esse equilíbrio financeiro não significa ape-nas que receitas deverão ser iguais ou superiores às despe-sas, mas sim que deverão ser constituídas reservas para o desembolso de todos os benefícios.

O Brasil precisa aumentar seus gastos sociais nas áreas de saúde, educação e segurança, bem como aumentar seus investimentos, mas, ao contrário mantém uma polí-tica previdenciária socialmente injusta que privilegia uma população de aposentados jovens e de mais alta renda em prejuízo de mais investimentos, geradores de postos de trabalho, para os jovens desempregados.

A análise das alterações demográficas da população brasileira, em que a taxa de fecundidade (1,9 filhos por mu-lher) caiu para níveis abaixo dos de reposição, permite pro-jetar que a população brasileira atingirá seu máximo em 2030, com um contingente aproximado de 204 milhões de habitantes. Associando-se a isso as mudanças na distribui-ção etária da população, em que o percentual dos idosos aumentará significativamente, projeta-se um crescimento gradual das despesas previdenciárias do INSS de 7,11% do PIB, em 2008, para 16,35% do PIB em 2050.

Em termos relativos, o Brasil é hoje o país que apresen-ta mais despesas com benefícios previdenciários (inclusive do setor público) no mundo, em função do envelhecimen-to de sua população. Um país ainda jovem tem apenas

7,4% de sua população com mais de 65 anos e gasta 10,9% do PIB com benefícios previdenciários, ao passo em que o Japão, por exemplo, com 20% da população com mais de 65 anos, gasta apenas 7,8% do PIB. Os gastos públicos do Governo federal com benefícios previdenciários são 150% maiores do que as despesas com saúde, educação, segurança e investimentos. Comparados esses gastos em termos per capita, os números tornam-se mais alarmantes. A isso acrescentam-se os benefícios assistenciais ou subsi-diados que pagam um salário mínimo, os quais não consti-tuem propriamente aposentadoria, mas sim transferência de renda e, por essa razão, deveriam ser contabilizados no Orçamento Geral da União.

17.1. conselho de recursos da Previdência Social (crPS)

O Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS) é um colegiado integrante da estrutura do Ministério da

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia projetos que busquem alcançar e manter o equilíbrio financeiro e atuarial da Seguri-dade Social para que possa prover ao trabalhador brasileiro os benefícios de saúde, previdência e as-sistência social previstos na Constituição.

17. questões previdenciárias

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras, que tem a prerrogativa de indicar Conselheiros para o Conselho de Recursos da Previdência Social (CRPS), apoia propostas que visem ao aperfeiço-amento do controle jurisdicional das decisões do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) nos pro-cessos referentes a benefícios, a fim de assegurar imparcialidade. A CNF apoia o aprimoramento dos procedimentos administrativos do CRPS para dar maior transparência aos julgamentos, bem como o fortalecimento das prerrogativas dos Conselhei-ros e da autonomia do órgão.

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Previdência Social (MPS), formado por órgão de compo-sição tripartite, com quatro Câmaras de Julgamento (CAJ) localizadas em Brasília e com jurisdição em todo o terri-tório nacional, que julgam em segunda e última instância matéria de benefício, e por 29 Juntas de Recursos (JR) nos diversos Estados que julgam em primeira instância. O CRPS encontra-se em fase de reestruturação e trata de questões que afetam diretamente não só as instituições financeiras, mas também o ambiente de negócios.

A Lei nº 8.213/1991, no art. 126, previu que, das deci-sões do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) nos pro-cessos de interesse dos beneficiários e dos contribuintes da Seguridade Social, cabe recurso para o Conselho de Re-cursos da Previdência Social (CRPS). O órgão tem, entre ou-tras, a finalidade de evitar aumento de demandas judiciais desnecessárias contra o Instituto, bem como privilegiar o poder de reforma da própria Administração Pública.

Cada vez mais o CRPS trata de questões previdenciá-rias de grande importância. Por exemplo, recentemente, o INSS passou a intensificar o uso de ações judiciais para responsabilizar empresas públicas e privadas pelo ressarci-mento ao SUS (Sistema Único de Saúde) por despesas de-correntes de acidente de trabalho ou doença ocupacional, o que torna essencial a discussão técnica no CRPS sobre a caracterização dos acidentes do trabalho.

É positiva a aproximação de entidades de representa-ção para participar das discussões técnicas do Conselho, por ser uma oportunidade de refletir as demandas da so-ciedade e reforçar o embasamento técnico e jurídico das decisões do colegiado, o que poderá evitar que as maté-rias desaguem no Judiciário, fortalecendo o papel desse tribunal administrativo.

17.2. i conferência nacional da Previdência Social

O Ministério da Previdência Social (MPS) coordena a realização da I Conferência Nacional de Previdência Social, com o objetivo de promover o intercâmbio de experiên-cias entre profissionais que atuam na gestão da segurida-de social, bem como elaborar propostas para a melhoria da Previdência Social.

Antes do debate nacional dos temas serão realizadas conferências regionais, ocasião em que poderão ser apro-vadas propostas de alterações na legislação previdenciária.

A CNF é membro da Comissão Organizadora Nacional, grupo responsável pela coordenação geral do evento. A Confederação possui representantes também nas demais comissões que apoiarão a realização dessa Conferência: (a) Comissão Executiva - de perfil operacional, que terá a função de apoiar os trabalhos de todos os demais grupos do evento; (b) Comissão da Articulação e Mobilização - responsável por mobilizar a participação da sociedade em todos os eventos regionais, para a eleição dos delegados para a etapa nacional; (c) Comissão de Comunicação - com o papel de produzir a comunicação oficial do evento; (d) Comissão de Relatoria – responsável pelo documento final com os resultados da Conferência; e (e) Comissão Cientí-fica: de perfil mais técnico, responsável pelo documento base da Conferência e pelo regimento interno.

Os debates acontecerão ao longo de quatro eixos te-máticos: (1) Políticas de Previdência Social; (2) Outros Re-

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia iniciativas voltadas para o fortaleci-mento da Previdência Social. Para a CNF, a I Con-ferência Nacional de Previdência Social será um importante forum de debates para a formulação de propostas que busquem alcançar e manter o equilíbrio financeiro e atuarial da Seguridade So-cial para que possa prover ao trabalhador brasilei-ro os benefícios de saúde, previdência e assistên-cia social previstos na Constituição.

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gimes da Previdência Social Brasileira; (3) Diálogo Social, com destaque para o papel deliberativo dos Conselho de Recursos da Previdência Social; e (4) Gestão Previdenciá-ria, com destaque para a questão da responsabilidade dos trabalhadores e empregadores na redução dos acidentes de trabalho.

A CNF acompanha as discussões dos temas com in-teresse, notadamente no que diz respeito aos regimes próprios de previdência social e as regras de previdência complementar, de maneira a evitar que propostas de al-teração legal possam prejudicar a operacionalização dos benefícios previdenciários.

17.3. Fator Previdenciário

A eventual extinção do Fator Previdenciário, com altera-ções no cálculo do benefício da aposentadoria pela média de alguns meses anteriores, não só é um retrocesso na bus-ca da redução das despesas com benefícios previdenciários no país, mas também tem impacto negativo sobre a função social do sistema previdenciário brasileiro. À luz das altera-ções demográficas por que passa a população brasileira, a eliminação do Fator Previdenciário, com alteração na forma do cálculo do benefício da aposentadoria, ampliaria ainda mais o déficit das contas previdenciárias, com drenagem de recursos orçamentários que teria forte impacto negativo na capacidade de atendimento da crescente demanda das despesas com saúde, educação e segurança. Além disso, a alteração na forma de indexação dos benefícios previden-ciários seria danosa às contas públicas.

O público afetado pelo Fator Previdenciário concentra-se nas faixas superiores da distribuição de renda per capita: 81,6% estão entre os 50% de maior renda. Ou seja, a elimi-nação do Fator Previdenciário é altamente elitista, bene-ficiando os trabalhadores de renda mais alta do país, que são aqueles que mais cedo se aposentam: nessa faixa de renda, as mulheres se aposentam em média aos 51,4 anos e os homens aos 54,4 anos. Enquanto isso os trabalhado-res mais pobres só conseguem se aposentar por idade aos 65 anos. O Fator Previdenciário, que buscou corrigir uma parte dessa injustiça social para com todos os trabalhado-res, produziu nos seus primeiros dez anos de vigência uma economia de R$ 10,1 bilhões e estimulou uma parcela dos trabalhadores a adiar o seu processo de aposentadoria.

17.4. ressarcimento ao Sistema Único de Saúde (SuS)

A Constituição Federal assevera que o Sistema Único de Saúde (SUS) será financiado por toda a sociedade, de forma direta e indireta. Contudo, a obrigação de as em-presas ressarcirem ao SUS as despesas decorrentes da as-sistência prestada aos seus empregados vítimas tanto de acidente do trabalho quanto de doença profissional ou do trabalho deve ser analisada em conjunto com as normas existentes que tratam do tema.

As empresas já participam do financiamento do SUS, mediante o recolhimento de contribuições sociais inci-dentes sobre a folha de salários, sobre o faturamento e sobre o lucro. Há ainda contribuição adicional, conforme o grau de risco da atividade desenvolvida pela empresa, para o custeio de aposentadorias especiais e demais be-nefícios concedidos em razão de incapacidade laboral dos

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para o fortaleci-mento da Previdência Social ou pela manutenção do Fator Previdenciário, ou pela adoção de meca-nismo que desempenhe idêntico papel de demo-cratizar a distribuição dos benefícios por todas as faixas de renda da população e de liberar recursos públicos para gastos sociais com saúde, educação e segurança.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para o fortaleci-mento do Sistema Único de Saúde que conside-rem as contribuições diretas que já são feitas por empresas ao financiamento do SUS, de forma a evitar cobranças repetidas sobre o mesmo fato gerador (bis in idem).

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trabalhadores. Eventual ressarcimento pelas empresas ao SUS de assistência prestada a trabalhadores onera ainda mais a folha de pagamentos.

A Lei n° 8.212/1991, em seu art. 22, fixa a contribuição da empresa para o custeio da Seguridade - 20% sobre o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas a qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e traba-lhadores avulsos; e 15% sobre o valor bruto da nota fiscal ou fatura de prestação de serviços, relativamente a serviços que lhe são prestados por cooperados por intermédio de cooperativas de trabalho. Outras contribuições a cargo da empresa destinadas ao financiamento da Seguridade Social são as incidentes sobre o faturamento (2% sobre sua receita bruta) e sobre o lucro (10% sobre o lucro líquido do período-base, antes da provisão para o Imposto de Renda).

À luz desse ônus excessivo sobre a folha de pagamen-to, alterações nas regras e no custeio do Sistema Único de Saúde, no que se refere às contribuições para Seguridade Social, devem evitar cobranças repetidas sobre o mesmo fato gerador (bis in idem).

17.5. Previdência complementar dos servidores públicos

O sistema previdenciário brasileiro privilegia regimes de repartição simples, em que as contribuições dos traba-lhadores ativos financiam as aposentadorias da geração precedente, em detrimento dos regimes de capitalização,

nos quais as contribuições dos participantes financiam parcial ou integralmente suas próprias aposentadorias. No regime de repartição simples, onde boa parcela dos apo-sentados e pensionistas recebe aposentadoria integral, o número de aposentados cresceu desproporcionalmente em relação ao número de contribuintes, com consequen-te déficit exponencial nas rubricas das despesas com apo-sentados e pensionistas dos orçamentos públicos.

Convivem no país dois regimes previdenciários. No Re-gime Geral, as aposentadorias estão limitadas a um teto, o cálculo do valor unitário dos benefícios leva em conta “salários de contribuição” do passado e verifica-se elevado número de contribuintes por beneficiário. Nesse Regime Geral, aposentados não recebem pensão equivalente ao último salário, mas sim uma combinação linear de valores observados no passado. Já no outro regime, o da União, verifica-se quase um contribuinte (servidor ativo) para cada aposentado e o valor médio pago aos aposentados e pensionistas é praticamente igual ao valor médio pago aos ativos. Apesar dessa relação de um servidor ativo para cada servidor aposentado, os ativos contribuem com ape-nas 11% de seus salários, o que deixa para o Tesouro e os demais contribuintes os restantes 89% dos pagamentos.

A Lei nº 12.618/2012, que instituiu o regime de pre-vidência complementar dos servidores públicos federais, representou importante passo em direção a um sistema previdenciário sustentável. Ao prever entidades fechadas a fim de administrar e executar planos de benefícios pre-videnciários daqueles servidores, a nova lei aproximou o regime da União do Regime Geral. A lei produzirá mais efeitos positivos se os fundos de previdência privada fe-chada por ela previstos puderem contar com gestão de empresas privadas, não só para injetar mais eficiência ge-rencial nas carteiras, mas também para prover referencial de preços (benchmark) sem o qual não se consegue ava-liar os resultados dessas carteiras.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que visem à democratiza-ção da Previdência Social no Brasil, com extensão dos mesmos benefícios a todos os brasileiros, ba-seada num regime de capitalização que assegure a sustentabilidade desses benefícios. A participa-ção do setor privado na estruturação e gestão de Fundos de Previdência para servidores públicos é crítica não só para conferir eficiência à gestão, mas também para prover referencial de preços (benchmark).

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17.6. Pensões e Benefícios

A Previdência Social tem por finalidade e princípio básico assegurar aos seus beneficiários, mediante contri-buição, meios indispensáveis de manutenção em caso de incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares e prisão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente. Nesse quadro, a Previdência oferece dez modalidades de bene-fícios, além da aposentadoria.

O déficit na previdência, em 2012, fechou no patamar de R$ 40,5 bilhões. Hoje, 12% de todas as riquezas produ-zidas no Brasil vão para o pagamento de aposentadorias e pensões. Isso se deve em grande parte ao formato do sistema previdenciário brasileiro, em que as contribui-ções dos trabalhadores ativos financiam as aposentado-rias da geração precedente, em detrimento dos regimes de capitalização.

A Lei nº 8.123/1991 prevê que o Regime Geral de Previ-dência Social (RGPS) também compreende a prestação de benefícios e serviços a dependentes, por meio de pensão por morte, devidas aos dependentes de servidores titula-res de cargo efetivo e dos aposentados, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios incluídas suas autarquias e fundações. Essa

modalidade de pensão é paga a 6,7 milhões de dependen-tes brasileiros e representa 27% da conta previdenciária do Brasil. A pensão por morte gera um grande custo também por ser um benefício vitalício, com um valor total anual de R$ 56 bilhões.

Quando da criação de tal benefício (início do século XIX), as mulheres não possuíam um papel tão ativo na composição da renda familiar. Hoje mais de 50% das mu-lheres trabalham fora.

Nos Estados Unidos, por exemplo, cônjuges com menos de 60 anos não ganham pensão por morte. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), na maioria dos países a concessão só vem após um tempo mínimo de casamento e, muitas vezes, é temporária. Em outras partes do mundo, a faixa etária e a dependência econômica tam-bém entram como fatores limitadores desse direito.

17.7. reajuste dos benefícios observando o salário mínimo

O reajuste de benefícios da Previdência Social, previsto na Constituição, tem a preocupação fundamental de pre-servar o poder de compra dos beneficiários. Já o salário mínimo é fixado em função de políticas trabalhistas, com regras previstas na legislação, sem se ater exclusivamen-te ao poder de compra da moeda (na medida em que os reajustes consideram também a produtividade e o cresci-mento da economia). Assim, não existe razão econômica

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que revejam os critérios de elegibilidade e as condições de concessão de pensões e benefícios pagos pela Previdência So-cial. Para a CNF, a limitação dos critérios de con-cessão corrigiria distorções e reduziria o déficit previdenciário. Tal limitação poderia passar por: evitar a acumulação de pensões com aposenta-dorias e outros benefícios; abreviar o tempo de recebimento do benefício, com critérios de pro-porcionalidade; restringir hipóteses de percep-ção do valor integral do benefício; e determinar tempo mínimo de contribuição para o recebi-mento da pensão, com período de carência.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que preservem o poder aquisitivo de aposentados e pensionistas da Pre-vidência Social, na medida em que os reajustes atendam às restrições orçamentárias da União, de Estados e de Municípios. A vinculação de reajus-tes de benefícios previdenciários ao salário míni-mo pode implicar ganhos reais para aposentados e pensionistas que não se justificam porque não refletem ganhos de produtividade da economia.

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que justifique a vinculação dos benefícios previdenciários aos reajustes do salário mínimo.

A União, os Estados e os Municípios são grandes em-pregadores e contam com número expressivo de aposen-tados e pensionistas. A vinculação da correção dos bene-fícios ao salário mínimo acarreta ônus excessivo nos orça-mentos públicos federal, estaduais e municipais, com re-dução da capacidade de investimento em rubricas como educação, saúde e segurança.

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221Capítulo 18 | Questões de segurança

A imagem das instituições financeiras está fortemente ligada a questões de segurança. Por transacionarem

a mais fungível de todas as commodities – o dinheiro – e operarem com bens e valores, instituições financeiras, no mundo inteiro, adotam as mais avançadas medidas de se-gurança física e de proteção de dados e de informações. Esse sofisticado aparato de segurança está na raiz da per-cepção de que a proteção é voltada para as próprias insti-tuições. Nada mais equivocado.

O corolário dessa percepção equivocada é o de que as instituições financeiras se preocupam com segurança para evitar perdas, na medida em que os custos de medi-das preventivas de proteção seriam inferiores aos prejuízos potenciais de atos de violência e outros delitos cometidos contra as empresas. Ocorre que tais perdas, mesmo quan-do expressivas, são mitigadas por diversas modalidades de provisões, de reservas e de apólices de seguro. A verdade é que medidas de segurança adotadas por instituições fi-nanceiras cobrem três objetos: os empregados, os clientes e a confiança entre estes e as empresas.

Os funcionários de instituições financeiras são objeto das medidas de segurança não só pela proteção de sua in-columidade física, no caso de atos de violência, mas tam-bém pela responsabilidade que compartilham no manuseio de valores. No caso de atos criminosos contra instituições financeiras, com ou sem emprego de violência, sobressai a preocupação com a proteção das pessoas que executam as mais variadas tarefas nas instalações das empresas do setor.

Quanto aos clientes, essa preocupação começa pela in-columidade física das pessoas que frequentam instalações de instituições financeiras, tais como agências bancárias e caixas automáticos. Porém, estende-se também às transa-ções. Na verdade, os produtos e serviços ofertados pelo setor incorporam, no sentido mais amplo, um elemento de segurança: a certeza de que a transação será finalizada e liquidada nos termos contratados, sem prejuízo para os clientes. É nesse quadro que ganha importância a prote-ção de dados e de informações confidenciais.

Por fim, a matéria-prima básica das instituições financei-ras é a confiança. As empresas do setor compram e vendem promessas de pagamentos e de recebimentos que só se materializam nos prazos acordados, nos termos acertados, porque prevalece a confiança mútua entre pessoas – físicas e jurídicas – e instituições. Problemas de segurança podem afetar essa confiança e, com ela, a solidez das empresas.

18.1. uniformização da legislação sobre segurança bancária

A legislação em matéria de segurança bancária afeta vários aspectos da atividade, entre eles a arquitetura das agências, seu horário de funcionamento, o trânsito e es-tacionamento de veículos de transporte de valores, bem como o número e a disposição de vigilantes, para men-cionar alguns.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para o aumento da proteção das instalações físicas, dos procedi-mentos e das informações das empresas do setor financeiro que ampliem a segurança de funcio-nários e de clientes, bem como fortaleçam a con-fiança que alicerça as operações financeiras. Para a CNF, propostas realistas e exequíveis implicam custo ao qual deve corresponder efetivo aumento da segurança.

18. questões de segurança

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que uniformizem medidas, equipamentos e instalações de segurança em to-dos os estabelecimentos bancários do território nacional, lastreadas em avaliações técnicas minu-ciosas que evidenciem efetivo ganho de proteção para funcionários, clientes, informações e valores. Tal uniformização deve preservar graus de liber-dade na escolha de especificações de forma a não inibir o uso de tecnologias inovadoras.

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As questões de segurança relativas a bancos não va-riam de localidade a localidade, tampouco são específicas de determinadas regiões ou Estados. Trata-se de oferecer a funcionários e a clientes de bancos medidas de proteção eficazes, de dissuasão da atividade criminosa – com ou sem emprego de violência – e de minimização de possíveis consequências desses crimes para a incolumidade física e para a integridade patrimonial das pessoas. Tais medidas de proteção são onerosas, porque envolvem sofisticada tecnologia, treinamento de pessoal, construção de insta-lações especiais e emprego de vigilantes, entre outros. A introdução de inovações deve, por isso, atender a critérios técnicos que evidenciem efetivo ganho de proteção.

A uniformização da segurança bancária propiciaria grande ganho de escala que permitiria estender medidas mais eficazes a um número maior de estabelecimentos, para benefício de funcionários e de clientes. Ao mesmo tempo, a uniformização não pode se converter em barreira ao desenvolvimento de tecnologias inovadoras.

18.2. crimes eletrônicos

Crimes eletrônicos, tais como acesso não autorizado a portais para movimentar contas correntes e clonagem de cartões, não são cometidos contra instituições finan-ceiras: suas vítimas são os usuários dos serviços, isto é, a sociedade. O número de operações e o volume financeiro associados a crimes eletrônicos vêm crescendo exponen-cialmente. Há indicações de que o Brasil já é o primeiro país do mundo nessa modalidade criminosa. Os crimes eletrônicos constituem-se, cada vez mais, em importante fonte de financiamento do crime organizado.

Numa estimativa preliminar, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) avalia que em 2009 foram clonados mais de treze mil cartões de pagamento (de crédito e de débito) e 158 máquinas foram apreendidas por estarem adulteradas pelo equipamento de captura ilegal de dados (“chupa cabra”). Em 2010, as fraudes eletrônicas somaram pouco menos de R$ 1 bilhão, ao passo em que fraudes do-cumentais excederam R$ 650 milhões. No mesmo perío-do, roubos de agências bancárias totalizaram cerca de R$ 60 milhões – isto é, quinze vezes menos.

Apenas no primeiro semestre de 2011, as perdas com fraudes bancárias realizadas por meio eletrônico somaram R$ 685 milhões. Os incidentes com a criminalidade ele-trônica e com clonagem de cartões podem ser ainda mais numerosos, uma vez que nem todos os casos de clona-gem e outros golpes são relatados à polícia.

Em dezembro de 2012, foi publicada a Lei n° 12.737, que trata da tipificação de crimes eletrônicos e altera o Có-digo Penal (Decreto-Lei nº 2.848/1940). Na mesma ocasião, também foi publicada a Lei nº 12.735/2012, que tipifica condutas praticadas mediante uso de dispositivos ele-trônicos ou similares que sejam praticadas contra sistemas informatizados. A legislação preencheu a lacuna da inexis-tência de uma norma específica para os crimes na inter-net, oferecendo à sociedade uma alternativa equilibrada de repressão a condutas socialmente indesejáveis, sem, no entanto, operar a criminalização excessiva.

A Lei n° 12.737 criminalizou a invasão de “dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de compu-tadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir da-dos ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita”. Também incorre em crime “quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de computador” com o intuito de permitir tal invasão (com pena agravada se houver divulgação, comer-cialização ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou informações obtidos). Introduziu tipo penal para “quem interrompe serviço telemático ou de informação de utilidade pública, ou impede ou dificulta-lhe o restabele-

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para o aprimo-ramento da legislação que introduziu a tipifica-ção penal de crimes eletrônicos, seja para evitar a prejudicialidade de tipos penais já existentes, seja para ampliação de seu escopo para incor-porar serviços de utilidade pública prestados por entidades privadas.

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223Capítulo 18 | Questões de segurança

cimento” e equiparou os cartões de crédito e de débito a documentos particulares na tipificação do crime de falsi-ficação. A Lei nº 12.735, por sua vez, criminalizou a cessa-ção de transmissões radiofônicas, televisivas e eletrônicas, além de determinar que “os órgãos da polícia judiciária estruturarão, nos termos de regulamento, setores e equi-pes especializadas no combate à ação delituosa em rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado”.

Ao mesmo tempo em que celebra a publicação de normas penais para coibir os crimes eletrônicos, a Confe-deração Nacional das Instituições Financeiras indica que o texto legal pode ser ainda mais eficaz por meio de aprimo-ramentos em dois pontos.

O primeiro ponto encontra-se no artigo 2º da Lei n° 12.737/2012, o qual inclui a expressão “para obter vanta-gem ilícita”. Essa expressão concorre para a prejudiciali-dade de tipos penais existentes, a saber: estelionato (art. 171 do Código Penal) e furto (art. 155), na medida em que repete as previsões desses dispositivos, porém atribui a ambos penas menores (além de tornar desproporcional o estelionato eletrônico diante do estelionato comum). Com essa expressão, o estelionato eletrônico se torna um crime de menor potencial ofensivo, de competência do Juizado Especial Criminal, que ficará sobrecarregado e no qual não se admite produção de prova pericial da invasão e da ob-tenção de vantagem ilícita.

O segundo ponto encontra-se no artigo 3º da Lei n° 12.737/2012, que altera o parágrafo 1º do artigo 266 do Código Penal, que passa a ter a seguinte redação: “incorre na mesma pena quem interrompe serviço telemático ou de informação de utilidade pública, ou impede ou dificul-ta-lhe o restabelecimento”. A alteração introduzida pela nova Lei limita o ato criminoso à interrupção de serviços, excluindo do tipo penal a perturbação desses mesmos serviços – que muitas vezes tem consequência tão dano-sa quanto a interrupção. Ademais, pode limitar seu esco-po aos serviços públicos, ignorando que outros serviços também podem ser considerados de utilidade pública e essenciais para consumidores/cidadãos.

18.3. combate à lavagem de dinheiro

Para o Conselho de Controle de Atividades Financei-ras (COAF), o crime de lavagem de dinheiro caracteriza-se por um conjunto de operações comerciais ou financeiras que buscam a incorporação na economia de cada país, de modo transitório ou permanente, de recursos, bens e valo-res de origem ilícita.

Em julho de 2012, foi sancionada a Lei nº 12.683, que torna mais eficiente a punição aos crimes de lavagem de dinheiro. A legislação inova quanto à caracterização ante-rior do crime, que se configurava em circunstâncias em que o dinheiro tivesse origem em atividades ilícitas, tais como o terrorismo, o tráfico de drogas, o sequestro e o contrabando de armas, além de condutas culpáveis contra a administração pública e o Sistema Financeiro Nacional. A nova legislação passou a conceituar lavagem de dinheiro como qualquer recurso com origem ilícita ou oculta, enri-jecendo as punições à conduta culpável. Foi estabelecido no texto da nova lei que o Poder Judiciário pode acolher denúncias do crime mesmo em circunstâncias de prescri-ção e insuficiências de provas, bem como realizar o con-fisco prévio dos bens dos denunciados. Outra inovação é a inserção de apreensões de bens em nome de terceiros, contrapondo-se à legislação anterior, que previa a apreen-são de valores e bens tão somente em nome do acusado de crime de lavagem de dinheiro.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que tornem cada vez mais transparentes as operações financeiras, de ma-neira a identificar casos de instrumentalização de empresas do setor por agentes criminosos envolvidos em lavagem de dinheiro, no enten-dimento de que os sigilos bancário, fiscal e de informações de clientes e de funcionários serão sempre resguardados nos limites de Lei Com-plementar. Nesse sentido, a CNF acredita que a nova legislação sobre lavagem de dinheiro (Lei nº 12.683/2012) pode ser aprimorada.

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224 AgendA do SetorFinanceiro2013

As instituições financeiras receberam com satisfação a sanção da Lei nº 12.683/2012. Para a Confederação Nacio-nal das Instituições Financeiras, a eliminação do rol de cri-mes antecedentes, previstos na legislação anterior, amplia o escopo da norma e aumenta sua eficácia.

A legislação reserva papel protagônico às instituições financeiras no combate à lavagem de dinheiro. O setor fi-nanceiro constitui um elo crítico da cadeia de atos ilícitos que caracterizam crimes de lavagem de dinheiro. Mesmo que os autores desse crime realizem operações financeiras lícitas, a legislação envolve o setor financeiro na detecção da lavagem dinheiro e no seu combate. As instituições de-vem dispensar especial atenção às operações que possam apresentar sérios indícios de lavagem de dinheiro e comu-nicá-las às autoridades competentes, sem dar ciência desse ato a seus clientes, tais como transações que ultrapassarem limite fixado por essas autoridades, bem como proposta ou realização de transações com fortes indícios de lavagem de dinheiro. As instituições financeiras sujeitam-se a penalida-des administrativas pelo descumprimento dessas obriga-ções. Já o Banco Central deve manter registro centralizado formando o cadastro geral de correntistas e clientes de ins-tituições financeiras, bem como de seus procuradores. Há indicações de que o setor vem desempenhando esse papel a contento: só no ano de 2012, o COAF recebeu 1.587.450 comunicações sobre lavagem de dinheiro.

Ao introduzir novas rotinas e procedimentos, a nova le-gislação também criou implicações que nem sempre são evidentes. A redação anterior, a da Lei nº 9.613/1998, arti-go 1º, parágrafo 2º inciso I, rezava que: “Incorre, ainda, na mesma pena quem: I - utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, direitos ou valores que sabe serem pro-venientes de qualquer dos crimes antecedentes referidos neste artigo”. Já o artigo 1º, parágrafo 2º inciso I da nova Lei nº 12.683/2012 passou a dispor que: “Incorre, ainda, na mesma pena quem: I - utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, direitos ou valores provenientes de infra-ção penal”. A retirada da expressão “que sabe serem” pode ter sérias consequências.

Ao assumir que as instituições financeiras conhecem sempre, de maneira integral e exaustiva, a origem dos

recursos que recebem, a nova Lei as torna objetivamen-te responsáveis. Os termos “deveria saber” ou “deve saber” constam dos artigos 130, 140 e 180 do Código Penal, sen-do longa a discussão no meio jurídico a respeito de o “deve saber” ser uma forma de dolo eventual ou de uma conduta culposa. A exata compreensão jurídica é importante, pois o “deve saber” não se aproxima de dolo eventual, mas de culpa stricto sensu, já que no dolo eventual o agente sabe e, praticando determinada conduta reprovável, assume in-teiramente o risco de produzir o resultado. Para o crime de lavagem de dinheiro o “deveria saber” somente é pre-visto na forma dolosa, considerando, concretamente, que a pessoa busca exatamente dar aparência de licitude a um bem, direito ou valor oriundo de infração penal. Ou seja, um crime doloso só é punido nos casos em que o agente tem conhecimento da origem criminosa e pratica um ato inerente a esse processo.

Em princípio, a retirada da expressão “que sabe serem” sujeitaria à pena de três a dez anos um profissional idô-neo que, atuando dentro das normas do Banco Central, recebesse para fins lícitos depósito ou aplicação de recur-sos oriundos de infração penal que esse profissional não tem como verificar. O artigo 9º estende o rol de sujeitos também às pessoas físicas. Um gerente de banco ou um administrador de fundo de investimento, por exemplo, não conta com meios de verificar a origem de recursos oriundos de evasão fiscal ou de jogos de azar, a não ser mediante violação ilegal da privacidade do depositante ou aplicador. No caso da sonegação fiscal, em especial, as ati-vidades são complexas e às vezes de difícil percepção por aqueles que trabalham diretamente em setores nos quais há operações intrincadas. Um advogado, um agente de seguros, um corretor de imóveis, um funcionário de uma instituição financeira, por exemplo, teriam que analisar to-dos os aspectos da vida do cliente, com o risco de ofender sua privacidade e sua intimidade. A Lei Complementar nº 105/2001, que ampliou o acesso do COAF a informações bancárias, não derrogou o sigilo fiscal e bancário de que gozam depositantes e aplicadores.

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225Capítulo 18 | Questões de segurança

18.4. Vigilância privada

No Brasil, o efetivo de vigilantes privados supera o das Forças Armadas. A categoria presta relevantes serviços aos funcionários e clientes de instituições financeiras, ao con-tribuir para a incolumidade física e a integridade patrimo-nial dessas pessoas. Por essa razão, deve ser incluída no rol de atividades essenciais previstas na Lei nº 7.783/1989.

Para ser mais eficaz, a vigilância privada bancária deve ter equipamentos e soluções eletrônicas como instrumen-tos principais. A utilização de armas letais deve ser evitada. O simples aumento da quantidade de vigilantes armados não torna mais eficiente a vigilância bancária. Essa eficiên-cia pode ser aprimorada na medida em que vigilantes se-jam submetidos a constante treinamento para aperfeiçoar sua qualificação.

18.5. caixas eletrônicos

O Brasil é um dos países pioneiros no uso de terminais automáticos, com tecnologia sofisticada de operação e medidas de segurança que são o estado da arte. Há no país quase duzentos mil terminais automáticos, que repre-sentam poderosa ferramenta não apenas para facilitar o re-lacionamento de clientes com instituições bancárias, mas também para estender a própria bancarização.

Os caixas eletrônicos, terminais automáticos, ou ATMs (do inglês Automatic Telling Machine), apresentam impli-cações de segurança, tanto no seu funcionamento quanto no ambiente que os cerca.

Quanto ao funcionamento, a evolução tecnológica, que, por exemplo, incorporou chips nos cartões de débi-to e de crédito, torna cada vez mais difícil a atividade cri-minosa de subtrair informações de contas correntes e de clonagem de cartões. Apesar desse avanço, as instituições financeiras mantêm pesados investimentos em tecnologia para continuar reduzindo esse tipo de fraude. Contudo, a destruição do produto de roubos a terminais automáticos (isto é, das cédulas) ainda é objeto de controvérsias, o que impõe um limite às soluções tecnológicas para dissuadir a violação desses equipamentos.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas realistas que aumentem a eficácia da vigilância privada pelo uso de so-luções tecnológicas que minimizem o porte de armas letais em agências bancárias e o número de profissionais de vigilância expostos à violên-cia, pelo constante treinamento dos profissio-nais de vigilância e pela inclusão da categoria no rol de atividades essenciais previstas na Lei nº 7.783/1989.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para o fortaleci-mento de medidas de segurança das operações e do uso de caixas eletrônicos, no entendimen-to de que tais propostas não imputam a agen-tes privados os ônus que a Constituição Federal destina ao Poder Público para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio. Para a CNF, o rastreamento de explosivos utilizados contra esses equipamentos e a inclusão dessa modalidade criminosa no rol de crimes contra o Sistema Financeiro Nacional contribuiriam para dissuadir práticas delituosas.

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226 AgendA do SetorFinanceiro2013

Já as questões de segurança do ambiente que cerca os equipamentos são mais complexas. Os aparelhos são bastante uniformes em seu modo de operação – e, por-tanto, uma solução tecnológica serve a milhares deles – ao passo em que sua localização se dá nos ambientes mais diversos: dentro de agências bancárias, nos shopping cen-ters, nos corredores de aeroportos, em estabelecimentos comerciais, por exemplo. São ambientes sobre os quais as instituições financeiras não têm controle algum, estando na jurisdição do Poder Público já que, nos termos do artigo 144 da Constituição Federal, a segurança pública “é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio”.

Uma medida que poderia acrescentar segurança ao funcionamento de caixas eletrônicos e ao ambiente que os cerca seria a identificação da origem dos explosivos em-pregados em ataques contra esse tipo de equipamento, bem como de todas as transações comerciais que envol-veram esses explosivos. Outra medida seria a inclusão des-sa modalidade criminosa no rol dos crimes contra o Sis-tema Financeiro Nacional, previstos na Lei nº 7.492/1986.

18.6. agências bancárias

Agências bancárias são instalações meticulosamen-te desenhadas para propiciar a funcionários e a clientes as melhores condições possíveis de conforto e de segu-rança. Contudo, as instituições bancárias têm dificulda-de em otimizar os recursos destinados à segurança de suas agências por conta da ampla diversidade de regras

de construção e de funcionamento. Tais regras estão sob competência dos 5.570 Municípios brasileiros, o que tor-na o simples acompanhamento desses dispositivos bas-tante complexo e oneroso.

18.7. Segurança do transporte de valores

Veículos de transporte deslocam não apenas dinheiro em espécie, mas também objetos de valor, tais como me-tais e pedras preciosas, bem como documentos, inclusive cheques. Os riscos de segurança inerentes ao transporte de valores podem ser imediatamente mitigados pela ex-clusão dos cheques da carga desses veículos de transpor-te. Para tanto, a digitalização de documentos, examinada na seção 6.4 – Digitalização / Arquivamento de documen-tos, representaria importante avanço também em termos de segurança.

As implicações de segurança para os vigilantes priva-dos que acompanham o transporte de valores estão es-treitamente vinculadas à formação e qualificação desses profissionais, examinada na seção 18.4 – Vigilância privada.

Já no que diz respeito à segurança da população, os veículos de transporte de valores circulam e estacionam em vias e áreas públicas sobre as quais as instituições fi-nanceiras não têm qualquer controle, já que se aplica aqui o artigo 144 da Constituição Federal, que reza: “a seguran-ça pública é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que uniformizem os re-quisitos básicos para o desenho arquitetônico e construção de todos os estabelecimentos bancá-rios no território nacional, lastreadas em avalia-ções técnicas minuciosas que evidenciem efetivo ganho de proteção para funcionários, clientes, informações e valores.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para o fortaleci-mento das medidas de segurança do transporte de valores, inclusive pela digitalização de docu-mentos usualmente transportados. Para a CNF, o ônus da segurança pública não deve recair sobre entes privados. Ademais, a uniformização das regras de trânsito e estacionamento de car-ros-fortes contribuiria para maior segurança no transporte de valores.

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227Capítulo 18 | Questões de segurança

da incolumidade das pessoas e do patrimônio”. Nesse caso, a competência é predominantemente dos Municípios, o que dificulta às instituições bancárias a uniformização de procedimentos, com ganhos de escala que poderiam ser revertidos em maiores investimentos em segurança.

18.8. Tecnologia de segurança

Os equipamentos de segurança empregados por instituições financeiras são estreitamente vinculados à tecnologia da informação. Por isso, sofrem atualizações permanentes, tanto de base física (hardware) quanto de programas (software), ao mesmo tempo em que são lan-çadas inovações.

Equipamentos de segurança podem ser divididos em quatro categorias principais: alarmes internos, proteção perimetral, circuito fechado de televisão e controles de acesso. No Brasil, o mercado de segurança atravessa fase de grande crescimento. Para a Associação Brasileira de Empresas e Sistemas Eletrônicos (ABESE), as vendas desses equipamentos apresentaram crescimento médio de 13% por ano na última década. Em alguns anos, como em 2006 e 2007, o setor chegou a movimentar cerca de R$ 2,4 bi-lhões. Já para a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (ABINEE), o segmento de equipamentos de segurança eletrônica deve crescer 70% entre 2010 e 2012, para atingir R$ 900 milhões em vendas. Em abril de 2012, durante a 6ª Feira Internacional de Segurança Urbana (In-tersecurity 2012), mais de cem marcas nacionais e interna-cionais apresentaram seus produtos e serviços.

A imposição de regras para balizar o uso, por institui-ções financeiras, de equipamentos de segurança vai de encontro a esse vibrante mercado e amputa possibilida-des de inovação e de atualização tecnológica. A livre es-colha dos equipamentos e da tecnologia que melhor se adequam às necessidades de segurança das instituições fi-nanceiras é a melhor maneira de assegurar, num mercado altamente competitivo, que estas empregarão o estado da arte na proteção de seus funcionários, seus clientes, suas informações e instalações.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas de incentivo à adoção e à modernização de tecnologias de segurança por instituições financeiras, no entendimento de que tais propostas não interferem na liberdade de escolha dos produtos e serviços de segurança que melhor se adequam às necessidades de cada instituição e não impõem os ônus da segurança pública a entes privados.

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2013

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caPÍTuLo

19

queSTÕeS de SEgURANçA

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231Capítulo 19 | Questões Bancárias

A intermediação financeira viabiliza e concretiza a con-junção de interesses e necessidades dos agentes

econômicos, fazendo confluir (no tempo, no volume e nos preços) os fluxos de recursos daqueles que acumu-lam poupança (agentes superavitários) para os que deles necessitam para a realização das suas atividades (agentes deficitários).

No mundo todo, operações bancárias se revestem de grande complexidade. As implicações das questões ban-cárias são muito próprias do setor, que é possivelmente o mais regulado, supervisionado e fiscalizado da economia. Isso se explica pelo impacto potencial sobre toda a eco-nomia de eventuais problemas nos bancos, sejam tópicos, sejam sistêmicos.

O tratamento de questões afetas a bancos demanda, na maioria das vezes, profundo e minucioso conhecimen-to de todas as suas dimensões – legais, regulatórias, contá-beis, fiscais e operacionais. Não é incomum questões ban-cárias serem tratadas de maneira superficial, negligencian-do-se o impacto de propostas sobre o acesso ao crédito, o custo dos financiamentos, a oferta de serviços, a geração de empregos e a confiança no sistema bancário.

19.1. atividades bancárias como “serviços essenciais”

Atividades essenciais são aquelas consideradas impres-cindíveis para o efetivo funcionamento de uma sociedade. A definição de serviços e atividades essenciais é expressa na Lei nº 7.783/1989 e inclui: assistência médica e hospita-lar; tratamento e abastecimento de água; produção e distri-buição de energia elétrica, gás e combustíveis; distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos; serviços funerários; transporte coletivo; captação e tratamento de esgoto e lixo; telecomunicações; guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nuclea-res; processamento de dados ligados a serviços essenciais; controle de tráfego aéreo; e compensação bancária.

O atual momento de estabilidade econômica vivido pelo Brasil, com redução do desemprego, aumento da renda, queda de juros e maior acesso ao crédito, estimula a bancarização no país. Cada vez mais pessoas e empresas contam com os serviços bancários para agilizar o seu dia a dia e promover seus negócios. Em 2002, o número de pes-soas bancarizadas não passava de 28 milhões, já em 2012 esse número ultrapassou os 54 milhões.

Há obrigações que devem ser cumpridas de modo inadiável pelos cidadãos e usuários dos bancos, nos res-pectivos vencimentos, sob pena de graves prejuízos que podem resultar do desrespeito a prazos legais ou contra-tuais. A paralisação de agências bancárias, por exemplo, gera prejuízos a toda sociedade, notadamente à expres-siva parcela da população que ainda não tem acesso aos canais alternativos de atendimento de serviços bancários,

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a consolida-ção da higidez e da solidez do sistema bancário baseadas em exame profundo e minucioso de to-das as suas implicações legais, regulatórias, contá-beis, fiscais e operacionais, bem como do impacto dessas propostas, entre outros, sobre o acesso ao crédito, o custo dos financiamentos, a oferta de serviços, a geração de empregos e a confiança no sistema bancário.

19. questões Bancárias

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a ampliação da lista de atividades consideradas essenciais pre-vistas no art. 10 da Lei nº 7.783/1989. Para a CNF, o rol de atividades essenciais não deveria ser exaus-tivo, mas sim acompanhar a evolução econômica e social. A inclusão das atividades bancárias nesse rol recomenda-se pela sua interdependência com atividades já consideradas essenciais na legislação e pelo intenso processo de bancarização.

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232 AgendA do SetorFinanceiro2013

honrando seus compromissos e recebendo seu salário ou benefícios diretamente nos caixas das instituições.

Considerando que as transações bancárias fazem parte da vida de um número crescente de cidadãos brasileiros, afetando inclusive o bom funcionamento de outras ativi-dades essenciais (como telecomunicações, transporte e energia elétrica), o serviço essencial - que pode ser enten-dido como aquele cuja prestação é indispensável à digni-dade, à saúde e à segurança dos consumidores - deveria incluir todo serviço bancário, salvaguardando-se assim o interesse maior da coletividade de acesso a esses serviços.

A CNF entende que é necessária ampla discussão so-bre o tema de caracterização da atividade bancária como serviço essencial, da mesma forma que é necessária avalia-ção cuidadosa sobre outras atividades que também mere-ceriam sua inclusão no rol de serviços essenciais: serviços postais, lavanderias hospitalares, serviços de previdência e assistência social, educação, segurança pública e privada.

19.2. Transações por meio de dispositivos móveis (Mobile Payment)

Instâncias do Governo e o Congresso Nacional estu-dam adotar, a exemplo de outros países, modelo de pa-gamento por meio do telefone celular e outros dispositi-vos móveis, sistema conhecido internacionalmente como mobile payment (m-payment). A medida tem o intuito de facilitar a inclusão de usuários no sistema bancário.

O Banco Central e o Ministério das Comunicações es-tão em fase de elaboração de uma proposta que assegu-ra pagamentos e aquisições de bens e serviços por meio da troca de mensagens – o comércio solicita o débito de uma compra e o cliente o autoriza por meio do aparelho. O mecanismo deverá funcionar similarmente a um cartão de débito e poderá estar disponível a usuários que pos-suam ou não conta em banco. A tarifa para uso do sistema deverá ser baixa e a tecnologia exigida não muito sofisti-cada (porém, com requisitos básicos de segurança) para estimular o seu uso. As transações não seriam debitadas diretamente da conta corrente, mas de um saldo separa-do, pré-contratado pelo usuário, para despesas com o ser-viço. Ademais, o sistema deverá integrar todos os bancos, indistintamente, a todas as operadoras de telefonia.

Também o Congresso Nacional analisa proposta que permite pagamentos e transferências de valores monetá-rios por meio de dispositivo móvel. Os serviços, conforme a proposta, apenas poderiam ser efetuados por empresas (subsidiárias de uma empresa de telecomunicações ou de uma instituição financeira) constituídas unicamente com o objetivo de prestá-los. Essas empresas participariam de uma câmara de compensação que seria responsável pela compensação e liquidação das operações em tempo real, como também pelo credenciamento dos estabelecimen-tos em que poderão ser feitos saques em dinheiro pelos usuários do sistema. Tais instituições também poderiam intermediar a oferta de serviços financeiros como crédi-to, aplicações financeiras e seguros. Os usuários criariam contas nessas empresas e fariam depósitos que poderiam ser usados para: adquirir créditos para o uso do telefone móvel; pagamentos; transferências para outras contas ele-trônicas; transferências para contas bancárias em nome do titular da conta eletrônica de origem; e saques em estabe-lecimentos conveniados.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a inclusão financeira e a expansão da bancarização, ao mes-mo tempo em que preservem as competências próprias das instituições financeiras para coletar, intermediar ou aplicar recursos de terceiros, de modo a evitar que os riscos envolvidos na ativi-dade financeira sejam assumidos por instituições não fiscalizadas pelo Banco Central. Para a CNF, o uso de dispositivos móveis deve preservar a se-gurança dos usuários e de suas operações, bem como considerar deficiências de ordem estrutural que podem impactar a qualidade dos serviços. Para garantir a eficiência das transações por meio de dispositivos móveis, bem como a segurança destas, a CNF defende a implementação gradativa desse modelo de pagamento, com realização de testes em segmentos específicos da sociedade.

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233Capítulo 19 | Questões Bancárias

Apesar das vantagens associadas às medidas, existem algumas fragilidades no sistema que não recomendam sua implementação sem análise adequada:

- segurança: o serviço de telefonia móvel vem sendo largamente utilizado para fins ilícitos, em razão da fragilida-de dos cadastros das operadoras de telefonia. Diante des-se problema, associar uma conta eletrônica a um simples número de telefone móvel implicaria grande insegurança, contrariando, ainda, normas de prevenção à lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo, impostas aos inte-grantes do Sistema Financeiro Nacional;

- qualidade dos serviços de telefonia no Brasil: a in-fraestrutura de telefonia móvel no Brasil ainda precisa ser aperfeiçoada. Infelizmente, a cobertura dos sinais de voz e de dados é instável e lenta, quando comparada com a de outros países. Tais características podem impactar as ope-rações bancárias que venham a ser realizadas por meio de dispositivos móveis, ampliando incertezas e reclamações que poderão recair sobre os bancos;

- conflitos: indefinições quanto às competências e di-visão das receitas entre os principais envolvidos na pres-tação do serviço (bancos e operadoras de telefonia) são outro obstáculo a ser superado;

- risco de desintermediação financeira: a criação de contas de depósito a vista junto a operadoras de telefonia para serem debitadas por meio de dispositivos móveis as-semelha-se a atividade privativa de instituições financeiras autorizadas a operar pelo Banco Central, sem estarem su-jeitas à regulamentação, à supervisão e à fiscalização da autoridade monetária; e

- risco para gestão da política monetária: contas de depósito a vista mantidas por usuários junto a operadoras de telefonia constituem meio de pagamento e recursos lí-quidos não contabilizados nos agregados monetários mo-nitorados pelo Banco Central para fins de gestão da moe-da, com velocidade de circulação e multiplicador bancário desconhecidos.

A esses desafios somam-se ainda a necessidade de interoperabilidade, adaptação do sistema a todos dispo-sitivos móveis e simplicidade de manuseio. As complexi-dades envolvidas na introdução de transações por meio de dispositivos móveis recomendam a realização de testes piloto junto a segmentos da população antes de o modelo ser amplamente disseminado.

19.3. Sigilo bancário

O sigilo bancário constitui-se em obrigação para os ban-cos e em direito para os correntistas. É a obrigação que têm os bancos de não revelar, salvo nas formas previstas em lei, informações que venham a obter em virtude de suas ope-rações. Sua violação é uma afronta ao direito à privacidade por revelar preferências pessoais e atos particulares que integram a personalidade dos detentores de depósitos. A patologia do direito à privacidade é o uso de má-fé para ocultar por trás do sigilo bancário movimentações ilegais, ou com uso de recursos obtidos de forma ilícita.

As discussões em torno do sigilo bancário são centra-das no uso indevido desse direito à privacidade para fins ilícitos e estão balizadas pela busca do equilíbrio entre, por um lado, maior fiscalização, controle e registro das opera-ções financeiras e, por outro, respeito à privacidade indi-vidual. A quebra do sigilo bancário sempre será possível quando houver fortes indícios materiais de condutas ilíci-tas. É assegurado o contraditório, sem prejuízo da indeni-zação por danos à parte lesada. Nessa discussão, emerge a questão da capacidade interventiva do Poder Público por

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a explicitação do artigo 6º da Lei Complementar n° 105/2001, que trata do sigilo bancário, para pacificar o en-tendimento de que apenas decisão judicial pode-rá determinar o acesso às informações de movi-mentação bancária de pessoa física ou jurídica e assim justificar a restrição do direito fundamental à privacidade em prol do interesse público.

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234 AgendA do SetorFinanceiro2013

meio de decisões administrativas de iniciativa da Receita Federal, do Ministério Público e de Tribunais de Contas.

A Constituição Federal prevê no artigo 5º, incisos X, XII e XIX, a tutela e proteção à violação de correspondências e informações. A doutrina e a jurisprudência compartilham o entendimento de que a inviolabilidade do sigilo bancá-rio deva estar assegurada com base nesses dispositivos constitucionais. O Supremo Tribunal Federal mais de uma vez afirmou que o sigilo de dados de operações financei-ras é o desdobramento do direito à privacidade assegu-rado no dispositivo constitucional, cuja violação requer ordem judicial.

A regulamentação do dispositivo constitucional foi fei-ta por meio da Lei Complementar nº 105/2001, que dispõe sobre o sigilo das operações de instituições financeiras, e pela Lei nº 9.613/1998, que dispõe sobre os crimes de “la-vagem” ou ocultação de bens, direitos e valores.

A Receita Federal argumenta que deve prevalecer o in-teresse público sobre o privado para justificar a quebra do sigilo bancário do contribuinte. Para tanto, a Receita, com base na Lei Complementar nº 105/2001 e no Decreto nº 3.724/2001, expede as “Requisições de Informações sobre Movimentações Financeiras” (RMF) e solicita, no âmbito administrativo, extratos de contas bancárias e de aplica-ções financeiras, relativos ao período fiscalizado de contri-buinte pessoa física ou jurídica, sob pena de agravamento de multas onerosas.

Ainda que seja justificável que tenha o Fisco acesso às informações relativas a movimentações bancárias, para fins de tributação, esse acesso deve ser assegurado sem prejuízo dos direitos individuais do contribuinte, como su-blinha o artigo 145, §1º da Constituição, que reza:

Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, espe-cialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identi-ficar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.

O conflito entre o interesse do Fisco e o direito à pri-vacidade do contribuinte requer uma terceira pessoa, im-parcial, na figura do juiz, para determinar se documentos bancários sigilosos são ou não indispensáveis.

Apesar de carregarem implicações constitucionais, tem crescido o número de iniciativas que ampliam a capa-cidade interventiva da Receita Federal e de órgãos como o Ministério Público e os Tribunais de Contas, por exemplo. Entre essas iniciativas, destacam-se recentes decisões no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ), bem como propostas legislativas que permitem o acesso a dados bancários sigilosos por determinados órgãos.

Em 24 de novembro de 2010, por seis votos a quatro, o STF decidiu que a Receita Federal pode ter acesso di-reto, sem autorização prévia do Poder Judiciário, a dados financeiros sigilosos do contribuinte investigado em pro-cesso administrativo ou procedimento fiscal. No mesmo sentido, o STJ já sinalizou a possibilidade de estender essa prerrogativa também aos membros do Ministério Público. No Congresso Nacional, o assunto vem sendo tratado em alguns projetos de lei que, além de permitir ao Fisco e ao Ministério Público o acesso a dados sigilosos, ampliam o rol de órgãos habilitados a fazê-lo.

Os Ministros do STF entenderam que a Constituição não impede que órgãos fiscalizadores tenham acesso a dados financeiros sigilosos sem autorização prévia do Po-der Judiciário. O STF advertiu, no entanto, que essas infor-mações não podem vazar durante a comunicação de um órgão a outro. Ressaltaram que não há quebra de sigilo quando um banco envia dados para a Receita, mas sim a transferência para o Fisco do dever de manter esses dados protegidos do público. Entendeu a maioria do colegiado que é válido o artigo 6º da Lei Complementar n° 105/2001, que permite que autoridades e agentes fiscais tributários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios acessem “documentos, livros e registros de instituições fi-nanceiras, inclusive os referentes a contas de depósitos e aplicações financeiras” de contribuintes que respondam a processo administrativo ou a procedimento fiscal.

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235Capítulo 19 | Questões Bancárias

Menos de um mês dessa decisão, em 15 de dezem-bro de 2010, o STF exarou acórdão com repercussão ge-ral que restringe o acesso pela Receita Federal a dados bancários de contribuintes ao não mencionar processo administrativo ou procedimento fiscal, mas apenas pro-cesso judicial penal:

Conforme disposto no inciso XII do artigo 5º da Cons-tituição Federal, a regra é a privacidade quanto à corres-pondência, às comunicações telegráficas, aos dados e às comunicações, ficando a exceção – a quebra do sigilo – submetida ao crivo de órgão equidistante – o Judiciário – e, mesmo assim, para efeito de investigação criminal ou instrução processual penal. SIGILO DE DADOS BANCÁRIOS – RECEITA FEDERAL. Conflita com a Carta da República norma legal atribuindo à Receita Federal – parte na relação jurídi-co-tributária – o afastamento do sigilo de dados relativos ao contribuinte.

Diferentes matizes em decisões desse alcance e gra-vidade sugerem que seria oportuna a edição de norma geral abstrata que pacificasse o entendimento sobre a im-prescindibilidade de autorização judicial para a quebra de sigilo bancário.

Em 17 de novembro de 2010, a 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) sinalizou entendimento no sentido de estender a atribuição dada ao Fisco para os promotores.

19.4. Tarifas bancárias

Tarifa é a contrapartida da prestação de um serviço e, por essa razão, equivale a um preço. Reflete a remunera-

ção dos custos envolvidos na prestação do serviço e sofre variações em razão de mudanças nos níveis de oferta e de-manda associados ao serviço oferecido.

O Conselho Monetário Nacional (CMN) emitiu norma-tivos com vistas a regular a cobrança de tarifas pelas insti-tuições financeiras. Entre eles, a Resolução n° 3.518/2007 padronizou as tarifas bancárias e estabeleceu a gratuidade para diversos serviços, como: fornecimento de cartão de débito; até dois extratos por mês no terminal de autoa-tendimento; emissão de cheques independente de valor; compensação de cheques; e duas transferências. As tarifas também não poderão ser cobradas de clientes com insu-ficiência de saldo. Além dessas medidas, a norma estabe-leceu que a criação de uma nova tarifa será submetida à análise prévia do Banco Central e os reajustes nos preços dos serviços bancários só poderão ocorrer a cada 180 dias.

O setor bancário iniciou um amplo programa de au-torregulação, com o intuito de dar mais transparência à cobrança de tarifas, padronizá-las, satisfazer seus clientes e diminuir as reclamações. Evidentemente, os bancos são os maiores interessados em proporcionar a seus clientes um atendimento que não só atenda às suas expectativas como seja, também, fator de fidelização desses clientes e, portanto, de sustentabilidade de seus negócios.

Para tanto, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) desenvolveu um sistema de registro e divulgação das ta-rifas bancárias: o STAR - Sistema de Divulgação de Tarifas de Produtos e Serviços Financeiros, disponível no portal eletrônico da entidade no endereço: http://www.Febra-ban-star.org.br. O programa permite aos clientes consultar, por exemplo, as tarifas vigentes no dia, sua evolução com base no último dia do mês anterior e a comparação entre as tarifas praticadas pelas instituições financeiras.

Desde a criação do STAR e a publicação da Resolução n° 3.518, o setor bancário se tornou ainda mais competiti-vo, a padronização das tarifas facilitou a vida dos clientes e as tarifas estão mais baixas.

O debate em torno da questão está centrado na atua-ção do Banco Central e na limitação tanto de cobrança

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para maior trans-parência na cobrança de tarifas bancárias e na fixação de seus valores, assentadas nos princípios constitucionais da livre concorrência e da liberda-de de exercer atividade econômica, que incenti-vem a autorregulação e a ampliação do acesso de clientes a informações sobre serviços bancários e as correspondentes tarifas que os remuneram.

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de tarifas quanto do próprio valor dessas tarifas. Algumas propostas, meritórias pelo intuito de favorecer os clientes bancários, caminham no sentido contrário, na medida em que podem reduzir, entre outras coisas, a capacidade do setor bancário de oferecer maior diversidade de serviços que viabilizem as transações, aumentem a segurança des-tas e tragam mais comodidade aos clientes.

19.5. Horário de funcionamento de agências bancárias

A Constituição Federal prevê no caput do seu artigo 48 que cabe ao Congresso Nacional, com sanção do Pre-sidente da República, dispor sobre todas as matérias de competência da União, especialmente: “Art. 48... XIII - ma-téria financeira, cambial e monetária, instituições financei-ras e suas operações”. Muitas das exigências estabelecidas em leis municipais sobre o funcionamento das agências bancárias ferem a Carta Magna.

A norma fundamental que rege a atividade dos ban-cos é a Lei nº 4.595/1964, recepcionada como Lei Com-plementar pela Constituição de 1988. Entre as demais normas de Direito que regem os Bancos, destacam-se a Lei nº 4.728/1965, que disciplina o mercado de capitais e estabelece medidas para o seu desenvolvimento; e as Leis n°s 7.102/1983 e 9.017/1995, que tratam de seguran-ça bancária. Nenhuma dessas normas outorga a Estados e Municípios competência para legislarem em matéria de horário de funcionamento de agências bancárias.

Relativamente à fixação do horário de funcionamen-to de instituições financeiras, o artigo 4°, inciso VIII, da Lei n° 4.595/1964, atribui competência privativa ao Conselho Monetário Nacional para dispor a respeito, encontrando-se o assunto regulamentado pela Resolução n° 2.301/1996.

Muitos Municípios tentam regular matéria bancária. Porém, os Tribunais Regionais, assim como os Tribunais Superiores, são unânimes em reconhecer que compete exclusivamente à Lei Federal estabelecer as regras sobre o horário de funcionamento dos bancos.

19.6. cheques

A emissão, regulamentação e restrição ao uso do che-que tem sido objeto de debates. O cheque é um título re-vestido de formalidade legal e uma ordem de pagamento à vista, ou seja, ordem de pagamento em dinheiro, emiti-do a débito de uma conta corrente mantida em banco ou instituição financeira que lhe seja equiparada e necessita serem observados os requisitos legais.

Em 2011, o Banco Central publicou a Resolução n° 3.972 que dispõe sobre cheques, devolução e oposição ao seu pagamento. Estabelece controles de segurança na uti-lização desse instrumento de pagamento, de forma a re-duzir os custos dos bancos e do comércio com problemas, tais como: emissão fraudulenta de cheques roubados, sus-pensão indevida de pagamento ou o extravio de folhas de cheques, emissão de cheques sem fundos, etc.

A função do cheque em todo o mundo é regulada por instrumentos internacionais, dos quais o Brasil é signatário, sobretudo a “Convenção para adoção de uma Lei Uniforme sobre cheques” assinada em Genebra, em 1931. Com isso, alterações na legislação que trata do assunto (por exem-plo, para criar instrumento que legalize o cheque pré-data-do) podem violar esses instrumentos internacionais e ferir regras consolidadas, praticadas ao redor do mundo.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a explicita-ção da competência exclusiva da União na defi-nição do horário de funcionamento das agências bancárias.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que fortaleçam a seguran-ça jurídica no uso de cheques e que estejam em harmonia com instrumentos internacionais dos quais o Brasil é signatário.

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237Capítulo 19 | Questões Bancárias

19.6.1. Pagamento de cheques pré-datados, promissivos ou sem fundos

O artigo 4º da Lei do Cheque (Lei nº 7.357/1985) de-termina que “o emitente deve ter fundos disponíveis em poder do sacado e estar autorizado a sobre eles emitir cheque, em virtude de contrato expresso ou tácito”. A provisão de fundos deve, pois, existir antes da emissão do cheque e deve resultar de um contrato preliminar que au-torize o emitente a dispor desses fundos por meio desse instrumento. Mesmo assim, difundiu-se no Brasil o uso do cheque pré-datado, que se assemelha mais a um título de crédito do que a uma ordem de pagamento.

O uso difundido desse instrumento pode introduzir incertezas quanto ao caráter de ordem de pagamento à vista dos cheques. Por exemplo, o Superior Tribunal Justiça aprovou a Súmula nº 370/2009, que reza: “caracteriza dano moral a apresentação antecipada do cheque pré-datado”.

Esse tipo de incerteza tem inspirado no Congresso Na-cional a criação de ordens de pagamento que, apesar de serem títulos para liquidação à vista, conteriam promessa de liquidação futura. O “cheque promissivo” seria a regula-mentação dos cheques pré-datados.

A popularização do uso de ordem de pagamento à vis-ta para liquidar compromissos futuros viola não só a Lei do Cheque, mas também o art. 28 da “Convenção para adoção de uma Lei Uniforme sobre cheques”, de 1931, assinada em Genebra, que tem o Brasil como signatário.

Proposta de alteração legislativa pode obrigar o Governo Brasileiro a denunciar a referida Convenção.

O sistema financeiro oferece uma gama de produtos e serviços que se prestam à liquidação futura de compromis-sos sem violar legislação vigente. Entre eles, cartões de cré-dito e DOCs pré-agendados cumprem esse papel. Ademais, o volume de cheques emitidos vem caindo, substituído por cartões de débito e, em breve, por aplicativos instalados em dispositivos móveis, o chamado mobile payment.

19.6.2. Sustação de cheques

A sustação de cheques é um ato previsto na Lei nº 7.357/1895 e pode ocorrer de duas formas: ou a revoga-ção (também chamada de contra-ordem), ou a oposição (suspensão) – que se excluem mutuamente. A primeira (contra-ordem) é ato exclusivo do emitente do cheque e somente tem vigência depois de expirado o prazo de apresentação. Já a oposição pode ser efetuada tanto pelo emitente quanto pelo beneficiário ou portador e tem vi-gência imediata.

O artigo 36 da Lei nº 7.357 prevê a sustação do cheque “fundada em relevante razão de direito”, sendo que “não cabe ao sacado julgar da relevância da razão invocada pelo oponente” (§ 2º). A sustação de cheques, sem razões de fato ou de direito que a autorizem, constitui ilícito penal, tipificado como estelionato, e pode resultar em processo criminal e na condenação do emitente.

Ocorrem casos em que emitentes e beneficiários de cheques se valem de má-fé na sustação para se evadirem

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas que mantenham o caráter de ordem de pagamento à vista dos cheques, ao explicitar a exigência de disponibilidade de fun-dos mesmo para os cheques pré-datados e ao vedar o pagamento de cheques pela instituição financeira do sacado sempre que não houver ou fundos imediatamente disponíveis, ou um con-trato anterior que preveja o pagamento nos ca-sos de carência de fundos.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para evitar frau-des e dar maior segurança jurídica ao uso de che-ques, inclusive pela manutenção na legislação vigente de dispositivo que requer a apresentação de Boletim de Ocorrência nos casos de sustação de cheques.

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de compromissos liquidados por esse meio de pagamen-to. A princípio, a sustação de cheques deveria ser ordena-da – por emitentes ou por beneficiários – como medida preventiva nos casos de subtração ilícita do documento (furtos, assaltos, extorsões) e de extravios decorrentes de atos involuntários (como acidentes). A Resolução CMN n° 3.972/2011 considerou esses eventos, que podem ser objeto de diligência policial, para determinar a apre-sentação de Boletim de Ocorrência no ato da sustação de forma a desincentivar eventuais fraudes, já sujeitas a muitas penalidades, e para reforçar a segurança jurídica desse meio de pagamento.

19.7. Transações eletrônicas

O aumento do número de transações financeiras implica redução dos custos operacionais ligados à geração, transpor-te e armazenamento de informações registradas em papel. Além dos benefícios ambientais que oferecem, transações eletrônicas também barateiam tarifas ligadas a produtos e serviços. Contudo, o crescimento dessas operações é, muitas vezes, limitado pela exigência de registros em papel.

Em 2009, o número de operações bancárias de au-to-atendimento pela Internet ultrapassou o das rea-

lizadas em terminais bancários. Naquele ano, foram realizadas 8,365 milhões de transações por acesso remoto contra 8,133 milhões de transações em caixas eletrônicos. Em 2010, operações bancárias pela inter-net já haviam totalizado 12,812 milhões de transa-ções. Já a emissão de cheques reduziu-se em 7,1% em 2010, comparativamente a 2009, acumulando redução de 34% nos últimos 5 anos. Já participação dos che-ques na composição total dos pagamentos reduziu-se a 5% em 2011, acumulando redução de 40% nos últimos 5 anos.

No Brasil, há grande potencial para crescimento de transações bancárias eletrônicas. Pesquisa da empresa de segurança digital Gemalto consultou 1.500 executi-vos do Brasil, Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e França para concluir que 60% dos brasileiros entrevista-dos usam o serviço de internet banking ao menos uma vez por semana, contra 69% dos franceses, 72% dos ale-mães, 73% dos britânicos e 75% dos norte-americanos. Segundo a pesquisa, o Brasil lidera a utilização de dispo-sitivos de segurança (como tokens) no acesso a bancos pela internet: 96%, contra 91% nos Estados Unidos, 89% no Reino Unido, 73% na Alemanha e 70% na França.

As transações financeiras por meio eletrônico propi-ciam facilidade aos consumidores de produtos e serviços bancários, com segurança e agilidade. Contudo, em alguns casos requerem dos usuários conhecimento sobre esses produtos e serviços, que é suprido ou por informações nos próprios portais eletrônicos, ou por contatos com gerentes de conta e demais profissionais do setor. Por um lado, cabe ao usuário avaliar sua familiaridade com produtos e servi-ços financeiros disponíveis em meio eletrônico. Por outro, cabe ao setor financeiro promover educação financeira e oferecer informações sobre o uso adequado desses pro-dutos e serviços.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a equipa-ração das transações eletrônicas às transações físicas em tudo o que diz respeito aos efeitos jurídicos dessas operações, bem como as volta-das para o incremento da oferta de informações claras, em linguagem simples, sobre produtos e serviços disponíveis em meio eletrônico.

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arrendaMenTo MERCANTIl (Leasing)

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243Capítulo 20 | ArrendAmento mercAntil (Leasing)

No contrato de arrendamento mercantil (leasing), ins-tituído pela Lei n° 6.099/1974, o proprietário de um

bem, também chamado de arrendador, cede seu direito de posse e usufruto a um arrendatário por meio do recebi-mento de contraprestações periódicas. O contrato poderá prever a opção de compra do bem pelo arrendatário, a re-novação do contrato ou a devolução do bem ao final do período de pagamento das parcelas.

A operação de leasing é fundamentada na concep-ção econômica de que o fato propulsor de rendimentos para uma empresa é a utilização e não a propriedade de um bem. Nesse sentido, esse instrumento de crédito tem contribuído para fomentar o crescimento econômico pela ampliação e renovação do parque produtivo e tecnoló-gico brasileiro. É uma alternativa não só para a aquisição, mas também para a modernização de máquinas e equipa-mentos, tais como computadores, veículos, imóveis e ae-ronaves, entre outros bens. Apresenta a vantagem de não imobilizar todo o capital que seria demandado no caso da compra, melhorando, dessa forma, o fluxo de caixa da empresa. Pelo mecanismo de valor residual, que pode ser negociado em cada contrato, a empresa tem a opção da troca de modelo antigo por outro mais recente, manten-do-se atualizada tecnologicamente.

A Resolução Bacen nº 2.309/1996 é o instrumento que “disciplina e consolida as normas relativas às operações de arrendamento mercantil”.

O número de contratos multiplicou-se por três nos últi-mos anos, passando de 871.587 em 2005 para 2.320.938 em 2012. O valor presente desses contratos dobrou, passando de R$ 21,9 bilhões em 2005 para R$ 41,275 bilhões em 2012.

Tem outra vantagem se comparado a outras linhas de crédito destinadas a pessoa jurídica: propicia benefício fis-cal às empresas tributadas pelo critério de lucro real, pois

permite que as prestações sejam contabilizadas como des-pesas operacionais, o que reduz a base para a tributação do Imposto de Renda (IR). O cálculo do benefício fiscal depen-de da depreciação do bem e do prazo de financiamento. Não há incidência do Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos ou Valores Mobiliá-rios (IOF), mas incide o Imposto Sobre Serviços (ISS).

20.1. Valor residual garantido (Vrg)

Nos termos da Portaria nº 564/1978 do Ministério da Fazenda, Valor Residual Garantido é o: “preço contratual-mente estipulado para exercício da opção de compra, ou valor contratualmente garantido pela arrendatária como mínimo que será recebido pela arrendadora na venda a terceiros do bem arrendado, na hipótese de não ser exer-cida a opção de compra”. Em que pese à clareza da defini-

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a ampliação do acesso a operações de arrendamento mercantil (leasing) e para o aumento do volume de crédito ofertado por essa modalidade, assentadas nos princípios constitucionais da livre concorrência e da liberdade de exercício da atividade econômica, que contribuam para a capitalização e a moderni-zação tecnológica das empresas brasileiras, sobre-tudo as de menor porte.

20. arrendamento mercantil (Leasing)

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para explicitar a destinação do Valor Residual Garantido em operações de arrendamento mercantil (leasing) que estabeleçam que o pagamento do VRG não caracteriza exercício de opção de compra e tam-bém não configura restituição devida ao arren-datário nos casos em que esse pagamento foi parcelado.

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ção da Portaria, ainda ocorrem equívocos que envolvem o valor residual garantido, cujo pagamento antecipado ora é visto como exercício de opção de compra, ora é visto como restituição devida ao arrendatário nos casos em que esse pagamento foi parcelado.

O pagamento antecipado do VRG não caracteriza exercício de opção de compra. Sobre a relação entre VRG e opção de compra, a Resolução Bacen nº 2.309/1996, que “disciplina e consolida as normas relativas às opera-ções de arrendamento mercantil”, estabelece no seu arti-go 7º inciso VII alínea “a” que: “a previsão de a arrendatária pagar valor residual garantido em qualquer momento durante a vigência do contrato, não caracterizando o pa-gamento do valor residual garantido o exercício da op-ção de compra”. Acrescenta que “o preço para o exercício da opção de compra seja livremente pactuado, podendo ser, inclusive, o valor de mercado do bem arrendado” (Art. 5º inciso III).

Também a Súmula nº 293/2004 do Superior Tribunal de Justiça decidiu que “a cobrança antecipada do valor re-sidual garantido (VRG) não descaracteriza o contrato de ar-rendamento mercantil”. Tal entendimento é consentâneo com as operações de leasing, uma vez que o pagamento parcelado do VRG não configura o exercício da opção de compra, já que essa só pode ser exercida ao final do con-trato de arrendamento.

O pagamento antecipado do VRG também não confi-gura restituição devida ao arrendatário nos casos em que esse pagamento foi parcelado. Ocorrendo a devolução do bem objeto de arrendamento ao arrendador, este será vendido no mercado pela melhor oferta e o valor obtido será utilizado para amortizar ou liquidar as parcelas venci-das e não pagas, além das eventuais despesas (adminis-trativas e/ou judiciais). Restando saldo positivo, a diferença será devolvida ao arrendatário. Assim, pela condição acima estabelecida, os valores residuais pagos parceladamente no curso do contrato de arrendamento não comportam qualquer restituição ao arrendatário, exceto na hipótese de saldo positivo remanescente. Ocorrendo a renovação do arrendamento ou o exercício de compra, o valor pago a título de VRG poderá ser utilizado para tais efeitos.

20.2. contabilização do leasing como ativo intangível

Em sua maioria, as arrendadoras são instituições fi-nanceiras e submetem-se ao poder regulamentar do Banco Central (Bacen). Segundo a Resolução Bacen n.º 2.309/1996, o leasing financeiro é a operação de arrenda-mento mercantil em que as contraprestações e demais pagamentos previstos no contrato devidos pela arrenda-tária sejam normalmente suficientes para que a arrenda-dora recupere o custo do bem arrendado durante o prazo contratual da operação (e obtenha um retorno sobre os recursos investidos). O leasing operacional, por sua vez, é a modalidade em que as contraprestações a serem pagas pela arrendatária contemplem o custo de arrendamento do bem e os serviços inerentes à sua colocação à dispo-sição da arrendatária, não podendo o valor presente dos pagamentos ultrapassar 90% do “custo do bem”.

Já as arrendatárias são majoritariamente sujeitas à re-gulamentação da Comissão de Valores Mobliários (CVM), que usa a definição de leasing proferida pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Para o CPC 06, arren-damento mercantil financeiro é aquele em que há trans-ferência substancial dos riscos e benefícios inerentes à propriedade de um ativo. O arrendamento mercantil ope-racional é conceituado por exclusão.

A Confederação Nacional das Instituições Financei-ras apoia propostas que exijam a contabilização, por parte do arrendatário, das operações de arren-damento mercantil (leasing) como “direito de uso” ativo nas demonstrações contábeis, vinculado a um passivo correspondente e relacionado ao valor presente dos pagamentos a serem realizados, de maneira a eliminar a atual distinção no tratamento contábil entre leasing financeiro e operacional. A Confederação Nacional das Instituições Financeiras apoia propostas que viabilizem o arrendamento mercantil no contexto da convergência internacio-nal das demonstrações financeiras, considerando-o como ativo intangível (direito de uso de um bem), vinculado ao reconhecimento de um passivo.

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245Capítulo 20 | ArrendAmento mercAntil (Leasing)

Em âmbito nacional, o aprimoramento das regras contábeis vem acontecendo, em parte, devido à adoção do International Financial Reporting Standards (IFRS) ou normas internacionais de contabilidade – editadas pelo Internacional Accounting Standarts Board (IASB) –, e das disposições advindas com a edição da Lei nº 11.638/2007, que alterou a elaboração e divulgação de demonstrações financeiras, incluiu novos grupos de imo-bilizado intangível, notadamente no que diz respeito aos custos para a aquisição de bens, taxas de depreciação de ativos e amortização.

As discussões sobre as mudanças no modelo de con-tabilização das operações de leasing afetarão as ope-rações já contratadas. Hoje, o arrendador deve manter em suas demonstrações contábeis o objeto do leasing por um valor residual e também de um valor recebível registrado em função do contrato firmado. As princi-pais propostas sugerem dois modelos distintos para as arrendadoras, performance obligation approach e dere-cognition approach, sendo o critério para utilização de cada modelo a exposição ou não aos riscos e benefícios da operação. No primeiro deles, o arrendador continuará reconhecendo o bem arrendado junto com o ativo cor-

respondente ao valor presente das parcelas a receber do contrato. Este método pode sugerir uma dupla contabili-zação, visto que mantém tanto o bem arrendado como o “direito a receber” reconhecido no ativo. Já no outro mo-delo, o bem arrendado é “des-reconhecido” na proporção do contrato em relação à vida útil do bem, além de um reconhecimento no ativo do valor presente das parcelas a receber do contrato.

Recentemente entidades do setor – como instituições financeiras, empresas de auditoria, acadêmicos, e normati-zadores – do mundo inteiro foram consultadas pelo IASB acerca das possíveis mudanças de contabilização do lea-sing. Estudo recente (MATOS, 2013) identificou que apenas 20% de todas as entidades consultadas concordaram com o performance obligation approach, enquanto mais 62% são favoráveis ao derecognition approach.

A CNF entende que o leasing é um importante ins-trumento financeiro para o desenvolvimento econômico do país e quaisquer alterações nas regras procedimentais contábeis para tratar dessas operações devem buscar a simplificação das demonstrações contábeis, e evitar dupla contabilização para o mesmo bem.

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carTÕeS DE CRéDITO

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249Capítulo 21 | Cartões de Crédito

O cenário econômico positivo, com ampliação da ren-da dos trabalhadores e redução dos níveis de pobre-

za, criou condições para as instituições financeiras e ou-tras empresas oferecerem crédito com menor risco e mais benefícios para o tomador. Entre as modalidades mais acessíveis, dinâmicas e seguras, está o cartão de crédito, um importante instrumento de democratização do acesso ao crédito e de bancarização das camadas de renda mais baixa. Os números evidenciam um aumento da população bancarizada, que usa cada vez mais esse meio de paga-mento em substituição ao cheque e ao dinheiro.

Trata-se de um segmento que vem apresentando cres-cimento robusto, tanto no volume financeiro como no número de transações. No Brasil, dois terços de todas as compras com cartão de crédito são feitas na modalidade “parcelado sem juros”. O volume de crédito disponível tem crescido a taxas em torno de 45% ao ano e hoje gira em torno de R$ 450 bilhões anuais. Mesmo durante a crise fi-nanceira de 2008, a oferta de crédito por meio de cartões não sofreu qualquer redução. Paralelamente ao crescimen-to desse mercado, aumentaram as preocupações relacio-nadas à defesa do consumidor e à defesa da concorrência nesse segmento.

O uso de cartões de crédito é incentivado pelo prazo de até 35 dias dado ao portador para pagar a fatura sem cobrança de encargos. Esse benefício reduz o custo finan-ceiro dos consumidores, pois permite aquisição de bens e serviços nesse período sem incidência de taxa de juros.

O lojista, por sua vez, recebe os recursos geralmente trin-ta dias após a venda e não corre o risco da inadimplência, que é integralmente assumido pelo emissor do plástico.

O segmento de cartões também colabora para o au-mento da formalidade na economia, pois desestimula a ilegalidade pelo simples fato de que os dados de todas as transações nos estabelecimentos comerciais ficam à dis-posição dos órgãos de fiscalização.

Está em vigor o Código de Ética e Autorregulação da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Cré-dito e Serviços (ABECS), que, entre outros tópicos, zela pelas boas práticas comerciais. O selo de boas práticas criado pelo próprio setor estimula o respeito ao cliente e o bom funcionamento das relações comerciais e de negócios.

As discussões em torno de cartões de crédito estão centradas na diferenciação de preços nas formas de pa-gamento e na redução dos juros para o consumidor que utiliza crédito rotativo. Outras questões debatidas são a entrada de novas empresas no mercado, bem como a pro-moção da educação financeira.

A diversidade de componentes na estrutura da in-dústria de cartões, constituída por emissores, creden-ciadores, bandeiras e processadores, precisa ser levada em conta para a produção legislativa. Muitas iniciativas legislativas poderiam ser enriquecidas pela observância de princípios técnicos importantes para a saúde desse mercado. Ademais, muitas propostas, por desconheci-mento da estrutura dessa indústria, associam cartões aos bancos e tratam da matéria ao lado de questões tipicamente bancárias, como tarifas e spread. No Con-gresso Nacional, prosperam iniciativas que definem todos os componentes da indústria de cartões como instituições financeiras, submetendo-os à supervisão do Banco Central.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a ampliação do acesso a cartões de créditos, importante ins-trumento de bancarização, e para o aumento do volume de crédito ofertado por essa modalidade, assentadas em sólidos fundamentos técnicos e que considerem a estrutura da indústria de car-tões. A CNF sublinha que o Código de Autorregu-lação dessa indústria é uma poderosa ferramenta de defesa do consumidor e de defesa da concor-rência no setor.

21. cartões de crédito

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250 AgendA do SetorFinanceiro2013

21.1. Fiscalização pelo Banco central

Não está totalmente clara a competência legal do Con-selho Monetário Nacional (CMN) e do Banco Central para regular a indústria de cartões de crédito. A questão que gera debate no Bacen é se as administradoras de cartão podem ou não ser consideradas instituições financeiras. Existe um parecer da Autarquia, emitido em 2008 em res-posta à ação ajuizada pelo Ministério Público Federal, que sustenta a tese de que as administradoras de cartões de crédito não podem ser enquadradas como instituições fi-nanceiras, e por isso não estariam sujeitas à fiscalização do Bacen e à regulação do CMN.

A CNF entende que a legislação atual já sujeita o se-tor de cartões de débito e crédito às determinações do Conselho Monetário Nacional e à fiscalização do Banco Central do Brasil. No caso dos emissores (cujas atividades principais se resumem na análise e concessão de crédito aos portadores, na emissão e administração dos cartões, mediante entrega do plástico, ativação, controle de uso e emissão de fatura, empréstimo e financiamento), a fiscali-zação se dá por já serem instituições financeiras. No Brasil, os bancos são os emissores de cartões. Quanto às creden-ciadoras, observa-se que possuem as atividades de com-pensação e de liquidação das transações com os cartões de crédito e débito sujeitas à fiscalização do Banco Central do Brasil, em virtude da Lei nº 10.214/2001.

21.2. diferenciação dos preços em função do meio de pagamento utilizado

A prática comercial de cobrança de preço diferenciado em razão da forma de pagamento, ao favorecer as com-pras com dinheiro, desestimula a utilização de cartões pe-los consumidores que os possuem. Na direção contrária, observa-se um movimento de substituição paulatina do dinheiro vivo e do cheque pelo cartão. A maior penetração dos cartões de crédito junto à população de baixa renda contribui para esse movimento. Estudo divulgado pela Itaucard mostra que a participação da baixa renda (até R$ 1.499 / mês) no faturamento da indústria de cartões de crédito cresceu 142% entre 2003 e 2007. Nesse período, foram emitidos 31 milhões de novos cartões para usuários com renda até R$ 1.499, enquanto para as demais faixas de renda foram emitidos 15 milhões de plásticos. Em 2010, clientes de baixa renda realizaram 1,86 bilhões de transa-ções, no montante de R$ 155 bilhões, o que representou, respectivamente, 66% e 55% do total de operações de pessoas físicas.

Reduzir a utilização do cartão de crédito é negar to-dos os benefícios que este proporciona a comerciantes e a consumidores. Por um lado, os fornecedores arcam com o custo de 5% para contratarem o serviço de cartão de crédito; por outro, têm ganhos de segurança, seja porque deixam de manter dinheiro vivo em seu estabelecimento, seja porque o risco de inadimplência é transferido para o banco emissor do cartão. Já os consumidores possuem, entre outras vantagens, a segurança de carregar somente

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a extensão da competência legal do Conselho Monetário Nacional e do Banco Central à indústria de car-tões de crédito para fins de regulação, supervisão e fiscalização.

A Confederação Nacional das Instituições finan-ceiras apoia propostas voltadas para a manuten-ção da igualdade de preços entre compras à vis-ta, com dinheiro ou cheque, e compras por meio de cartões de crédito, como forma de fortalecer a segurança das relações comerciais, formalizar transações de compra e venda com correspon-dente recolhimento de tributos e ampliar o uso de cartões, com os correspondentes benefícios da bancarização.

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251Capítulo 21 | Cartões de Crédito

o cartão, sendo desnecessário portar consigo dinheiro em espécie para os pagamentos à vista.

Ademais, a opção de pagar com desconto quando a compra for feita com dinheiro pode estimular a informali-dade e, em alguns casos, a sonegação de impostos. Todas as operações com cartões são registradas e reportadas ao Governo pelos adquirentes. Outros meios de pagamento podem ter controle menor.

21.3. Limitação dos juros sobre o crédito rotativo

É frequente a crítica de que, no Brasil, as taxas de juros que incidem sobre o crédito rotativo são mais elevadas do que as cobradas em outros países. Ocorre que a indústria de cartões de crédito brasileira tem duas características que a diferenciam do resto do mundo. A primeira, é dado ao portador um prazo de até 35 dias para pagar a fatura sem cobrança de encargos. Cerca de apenas 5% dos por-tadores de cartões recorrem ao crédito rotativo; a maciça maioria, ao honrar a fatura integralmente na data do ven-cimento, não incorre em encargo algum. A segunda carac-terística é que dois terços de todas as compras com cartão de crédito são feitas na modalidade “parcelado sem juros”. Não há notícia de país em que compras parceladas no car-tão de crédito sejam isentas de quaisquer encargos.

O uso de cartões de crédito, seja durante o período de carência de 35 dias, seja para compras parceladas sem ju-ros, implica custos operacionais para o segmento, que in-corre em despesas de processamento da operação do mo-mento da compra até a liquidação da fatura pelo cliente. A esses custos não corresponde nenhuma receita gerada pelo pagamento da fatura integral na data do vencimento, após o período de carência, tampouco pelo pagamento das parcelas de compras a prazo, uma vez que esses re-cursos são transferidos às empresas credenciadas e aos comerciantes. Com isso, a totalidade dos custos operacio-nais e financeiros do segmento é arcada pela minoria de portadores que recorre ao crédito rotativo. A distribuição desses encargos reduziria dramaticamente a taxa de juros cobrada pelos cartões de crédito. Simulações indicam que a simples cobrança de uma taxa de juros de 1% ao mês sobre todas as operações feitas com cartões de crédito – durante o prazo de carência e sobre compras parceladas – reduziriam a taxa que incide sobre o crédito rotativo de, em média, 16% ao mês para, em média, 6,5% ao mês.

A experiência brasileira e a internacional indicam que juros percebidos como altos não são reduzidos por me-didas destinadas a limitá-los diretamente, mas sim pelo estímulo a maior concorrência no setor, inclusive com a entrada de novos atores.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a redução da taxa de juros que incide sobre o crédito rota-tivo dos cartões, pela incidência de taxa de juros reduzida sobre todas as operações realizadas com esse meio de pagamento, inclusive durante o período de carência entre a despesa e o paga-mento da fatura e inclusive para compras parce-ladas. Para a CNF, o estímulo à concorrência no setor, assentada nos princípios da igualdade e da liberdade da atividade econômica, e a adoção do cadastro positivo muito contribuem para a redu-ção das taxas de juros sobre operações com car-tões de crédito.

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PadrÕeS CONTáBEIS

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255Capítulo 22 | Padrões Contábeis

Consolida-se a tendência de definição de padrões con-tábeis internacionais associados tanto à formulação

de políticas macroprudenciais orientadas para a estabilida-de do sistema financeiro quanto à comparação de balan-ços contábeis de empresas de todo o mundo para balizar decisões de investimento. Para o Brasil, após ter alcançado o grau de investimento, essa tendência é crítica para per-mitir a inserção dinâmica da economia nos fluxos interna-cionais de bens, serviços e capitais.

22.1. acordo de Basileia iii

O Comitê de Supervisão Bancária de Basileia reúne au-toridades para estabelecer padrões de conduta, melhorar a qualidade da supervisão bancária e fortalecer a solidez e segurança do sistema bancário internacional. Reúne-se no Banco de Compensações Internacionais, em Basileia, Suíça.

O primeiro conjunto de recomendações do Comitê, ou “Acordo de Basileia” (International Convergence of Capital Measurement and Capital Standards), de 1988, foi ratifica-do por mais de cem países e procurou reforçar a solidez do sistema bancário mundial e restabelecer a competitividade

entre as principais instituições financeiras. Em 2004, para li-dar com a crescente complexidade dos produtos financei-ros e a capacidade inovadora das instituições financeiras, o “Acordo de Basileia II” definiu três pilares – capital; supervisão e transparência; e disciplina de mercado – e 25 princípios básicos sobre contabilidade e supervisão bancária.

Em julho de 2010, o Comitê de Basileia de Supervisão Bancária anunciou algumas diretrizes do que será o “Acor-do de Basileia III”. No comunicado, foi sublinhada a neces-sidade de efetiva melhora da qualidade, da quantidade e da consistência do capital das instituições financeiras; da redução do viés pró-cíclico da regulação; e da limitação da alavancagem, com fortalecimento da liquidez. O novo Acordo tratará do capital das instituições financeiras, de li-mites mínimos para reservas e para liquidez, de limites de alavancagem e do risco moral que representam as grandes instituições. Porque as medidas terão impacto contracio-nista sobre o crédito e o crescimento econômico, deverão ser implementadas de forma gradual até 2018.

Espera-se que o Comitê proponha medidas para tratar dos bancos sistemicamente importantes (too big to fail), que se beneficiam de desigualdade competitiva por se-rem candidatos a recursos oficiais subsidiados em caso de turbulências graves.

Os bancos brasileiros enquadram-se nos parâmetros que se discute para o “Acordo de Basileia III”, em especial nos limites de capital e de alavancagem. Contudo, as insti-tuições financeiras brasileiras apresentam especificidades tais como índice de alavancagem, liquidez e participação

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a regulamen-tação de medidas macroprudenciais que conside-rem especificidades do Sistema Financeiro Nacio-nal e para a internalização no Direito brasileiro de padrões contábeis internacionais que facilitem o acesso de empresas brasileiras ao mercado finan-ceiro internacional em condições mais vantajosas.

22. Padrões contábeis

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a regula-mentação dos novos parâmetros definidos pelo “Acordo de Basileia III” assentadas em critérios ri-gorosamente técnicos que considerem a solidez e higidez do sistema financeiro, as peculiaridades do setor financeiro brasileiro (em particular a contabilização de créditos tributários) e o fato de os bancos brasileiros já se enquadrarem em mui-tos dos limites determinados pelo Acordo. A CNF sublinha a importância da competência legislati-va residual do Conselho Monetário Nacional na formulação dessas propostas.

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256 AgendA do SetorFinanceiro2013

de créditos tributários no total de ativos que as distinguem de suas congêneres internacionais. A conclusão do Acordo ensejará novas normas do Banco Central e possivelmente inspirará propostas de iniciativa parlamentar.

22.2. Harmonização de regras contábeis com padrões internacionais

A adoção dos padrões internacionais de contabilidade pelo Brasil foi condição fundamental para o país obter o tão almejado status de grau de investimento.

A Lei nº 11.638/2007, que entrou em vigor em 1º de janeiro de 2008, teve como principal consequência a atua-lização das regras contábeis brasileiras e a harmonização dessas regras com os pronunciamentos internacionais, es-pecialmente os emitidos pelo Comitê de Normas Interna-cionais de Contabilidade (International Accounting Stan-dards Board - IASB), por meio dos Padrões Internacionais de Demonstrações Financeiras (International Financial Reporting Standards - IFRS).

A convergência das normas contábeis nacionais para o padrão internacional de demonstrações financeiras possibilita aos investidores estrangeiros, sobretudo os in-vestidores institucionais, avaliar corretamente e comparar os balanços das empresas de qualquer parte do mundo.

Assim, ao viabilizar essa convergência internacional, a Lei nº 11.638/2007 possibilita o benefício do acesso das em-presas brasileiras a capitais externos a uma taxa de risco menor e, logo, a um custo também menor.

Além disso, a nova legislação contábil produz maior transparência das demonstrações financeiras em geral, in-clusive em relação às chamadas sociedades de grande por-te não constituídas sob a forma de sociedade por ações.

Mesmo com os benefícios advindos da nova legislação, melhorias podem ser buscadas. Tramitam no Congresso Nacional propostas que alteram a Lei nº 11.638/2007 no sentido de conferir maior segurança jurídica, estabelecen-do, de modo explícito, a compulsoriedade da publicação das demonstrações contábeis pelas sociedades limitadas de grande porte, bem como propiciar que essas publica-ções sejam feitas sem burocracia pela rede mundial de computadores. (ver seção 6.11 – Obrigatoriedade da publicação de balanços)

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para o aprimora-mento da Lei nº 11.638/2007, de forma a prever a publicação de demonstrações contábeis tam-bém pelas sociedades limitadas de grande porte, ou na mídia impressa, ou na internet, em sítios in-dicados pelos órgãos públicos competentes (tais como as Juntas Comerciais e a Comissão de Valo-res Mobiliários), assentadas na clara definição de parâmetros do que sejam “sociedades limitadas de grande porte”, calcados em critérios objetivos tais como faturamento anual ou número de em-pregados.

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PadrÕeS CONTáBEIS

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261Capítulo 23 | QUESTÕES INTERNACIONAIS

A solidez e a sofisticação do setor financeiro brasileiro contribuem para a inserção dinâmica e competitiva

da economia do Brasil nos fluxos internacionais de bens, serviços e capitais. Essa inserção promove oportunida-des, como a criação de uma rede de negócios regional na América Latina, e esbarra em alguns obstáculos, como a ausência de um acordo contra bitributação com os Esta-dos Unidos – praticamente o único grande país desenvol-vido que não mantém acordo dessa natureza com o Brasil.

23.1. Brasil investimentos e negócios - Projeto Brain

O fortalecimento da rede de negócios da América Lati-na e do papel do Brasil na mesma levou à criação da Brasil Investimentos e Negócios (BRAiN) como o veículo para ca-talisar sua implementação.

A América Latina tem a oportunidade de transformar e aperfeiçoar sua ainda incipiente arquitetura de rede de negócios. A região possui tamanho e potencial de cresci-mento que vêm chamando a atenção de todo o mundo, porém os vínculos entre seus polos de negócios locais são muitas vezes intermediados por polos como os de Nova Iorque e Londres. Este é o momento para a América Latina alavancar seu grande potencial e suas importantes vanta-gens estratégicas, como seu peso no comércio internacio-nal e suas multilatinas, para criar uma rede mais conectada entre países, minimizando intermédios ao acesso aos ca-

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para facilitar a in-serção dinâmica e competitiva da economia bra-sileira nos fluxos internacionais de bens, serviços e capitais, seja ao fornecerem amparo legal para iniciativas com esse objetivo, seja por removerem obstáculos a ele.

23. queSTÕeS inTernacionaiS

pitais e gerando novas oportunidades de negócios, renda e emprego por meio de vínculos diretos fortalecidos com outras redes regionais.

O Brasil reúne as qualidades necessárias para se tornar também um dos polos desta nova arquitetura regional. O país tem um papel importante no continente e deve crescer com vigor nesta década, fortalecendo seus vínculos com os países vizinhos e com o mundo. A visão do Projeto BRAiN é consolidar o Brasil como um dos polos regionais de inves-timentos e negócios com conectividade global que, junto com outros países da região, atue na criação de uma rede regional fortalecida e mais conectada com o mundo.

Um setor financeiro desenvolvido é vital para catalisar a formação dessa rede, atraindo investidores externos, tra-zendo liquidez de capitais e financiando o crescimento de toda a região. A força e a solidez do sistema bancário e do mercado de capitais de alguns dos países latino-america-nos servem de ponto de partida nessa caminhada.

A visão de uma rede de negócios com o Brasil como um de seus polos não requer movimentos artificiais de libera-lização e exposição imprudentes. Não é preciso ser incon-sistente com o perfil dos países da região, com economias sólidas, diversificadas e com crescente projeção internacio-nal. Por exemplo, não se trata de um projeto que requeira total conversibilidade cambial ou vantagens fiscais. A visão é de uma economia com rápida capacidade de recuperação, adaptável e diversificada, com um setor de serviços interna-cionalizado que suporte a projeção das multilatinas e gere benefícios para os diversos setores da economia e da socie-dade da América Latina como um todo.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a criação de marco legal que balize a formação de uma rede regional de negócios na América Latina, tendo o Brasil como um dos polos regionais, conforme a visão do Projeto BRAiN.

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262 AgendA do SetorFinanceiro2013

A BRAiN busca preencher a atual lacuna de coordena-ção entre os representantes dos setores público e privado, tarefa que já é cumprida por entidades equivalentes em outros países.

23.2. Ponto de contato nacional (Pcn)

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimen-to Econômico (OCDE) estabelece diretrizes para empresas multinacionais que consistem em recomendações, apoia-das pelos Governos, para a conduta responsável em suas atividades no mundo inteiro. Entre as recomendações fi-guram: direitos humanos, emprego, meio ambiente, trans-parência, combate à corrupção, à solicitação de suborno e à extorsão, interesses do consumidor, ciência e tecnologia, concorrência e tributação.

As Diretrizes da OCDE para as Empresas Multinacionais visam a assegurar que as operações dessas empresas es-tejam em harmonia com as políticas governamentais; for-talecer a base da confiança mútua entre as empresas e as sociedades onde operam; ajudar a melhorar o clima do in-vestimento estrangeiro; e aumentar a contribuição das em-presas multinacionais para o desenvolvimento sustentável. As Diretrizes são parte integrante da Declaração da OCDE sobre Investimento Internacional e Empresas Multinacio-nais, cujos outros elementos são relacionados a tratamen-to nacional, obrigações conflitantes impostas às empresas e incentivos e desincentivos ao investimento internacional.

Essas Diretrizes fornecem princípios e padrões voluntá-rios para uma conduta empresarial consistente com as leis

adotadas e os padrões reconhecidos internacionalmente. Os países aderentes às Diretrizes assumem um compro-misso vinculante de implementá-las em conformidade com a decisão do Conselho da OCDE.

Em 27 de junho de 2000, o Brasil se comprometeu a implementar e a divulgar as Diretrizes da OCDE, com o in-tuito fornecer princípios e padrões voluntários para uma conduta empresarial responsável. O PCN é o forum per-manente responsável por disseminar no Brasil essas Dire-trizes. No PCN, a CNF tem acompanhado as “Alegações de Inobservância das Diretrizes da OCDE” em relação ao setor financeiro.

O PCN foi instituído no Brasil pela Portaria do Ministro da Fazenda nº 92/2003. O PCN foi concebido para contar com a participação de representantes de vários Ministé-rios: da Fazenda; das Relações Exteriores; do Planejamento, Orçamento e Gestão; do Trabalho e Emprego; da Justiça; do Meio Ambiente; de Ciência e Tecnologia; do Desen-volvimento, Indústria e Comércio Exterior; da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; além do Banco Central. A Coor-denação do PCN fica a cargo da Secretaria de Assuntos In-ternacionais do Ministério da Fazenda (SAIN/MF).

A importância do PCN reside em sua capacidade de articular diferentes atores púbicos e privados para imple-mentação e divulgação de diretrizes internacionais que podem se traduzir em políticas públicas com potencial de afetar, direta e indiretamente, o setor financeiro. A imple-mentação das Diretrizes da OCDE contribui para a constru-ção da imagem do Brasil no exterior.

A Confederação Nacional das Instituições Fi-nanceiras apoia iniciativas institucionais como o Ponto de Contato Nacional (PCN) que contri-buam para a implementação e a divulgação de diretrizes internacionais voltadas para a conduta responsável das empresas multinacionais, com implicações sociais, ambientais, de direitos hu-manos e consumeristas, entre outros.

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263Capítulo 23 | QUESTÕES INTERNACIONAIS

23.3. acordo para intercâmbio de informações tributárias entre o Brasil e os estados unidos

Em 17 de março de 2007, o Secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, e o Embaixador dos EUA, Clifford Sobel, assina-ram, em Brasília, acordo sobre troca de informações tributá-rias que poderá ter implicações importantes para os sigilos fiscal e bancário. A ratificação do acordo está sendo discu-tida pelo Congresso Nacional. Há expectativa de que esse acordo, de iniciativa brasileira, facilite a assinatura de um ins-trumento contra bitributação com os Estados Unidos.

O Código Tributário Nacional já dispõe que “a Fazen-da Pública da União, na forma estabelecida em tratados, acordos ou convênios, poderá permutar informações com Estados estrangeiros no interesse da arrecadação e da fis-calização de tributos” (art. 199 do CTN).

Entre outros aspectos, o acordo negociado com os EUA: permite intercâmbio de informações fiscais sobre pessoas fí-sicas que não precisam necessariamente ser nacionais brasi-leiras ou americanas, sequer residentes no Brasil ou nos EUA (art. II); prevê solicitação de informações pelo Ministro da Fa-zenda ou pelo Secretário da Receita Federal (art. IV. 1); define “informação” como “qualquer fato, declaração, documento ou registro” (art. IV. 1) e inclui procedimentos administrativos nas “medidas para coletar informação” (art. IV. 1); prevê que informações sejam solicitadas e fornecidas independente-mente de as partes necessitarem delas para fins tributários ou penais (art. V.1); permite que autoridade da parte reque-rente esteja presente nas dependências da administração tributária durante fiscalizações (art. V.3) e que funcionários

da parte requerente possam entrevistar pessoas físicas e examinar registros no território da parte requerida (art. VI); e impede que pedidos de informação sejam recusados sob a alegação de que a responsabilidade tributária está sendo questionada pelo contribuinte (art. VII.3). Ademais, a legisla-ção brasileira desconhece a figura do “juramento” (art. V.3.b do acordo), apenas o “compromisso de dizer a verdade”.

Na realidade, não se trata de um acordo (sobre matérias de menor relevância), mas sim um tratado (entre dois Esta-dos para constituir, regular, modificar, alterar ou extinguir vínculo de direito). A Constituição determina que “compe-te privativamente ao Presidente da República celebrar tra-tados” (art. 84, VIII); o Presidente da República pode delegar competência para assinar tratados a Ministros de Estado, ao Procurador-Geral da República e ao Advogado-Geral da União (art. 84 parágrafo único), bem como ao Ministro das Relações Exteriores e chefes de Missão Diplomática. Nesse quadro, o Secretário da Receita Federal não teria compe-tência para assinar tratados.

23.4. Prevenção à evasão fiscal: Foreign Account Tax Compliance Act (FATCA)

Em 18 de marco de 2010, os Estados Unidos editaram o Foreign Accounts Tax Compliance Act (FATCA), uma lei de caráter extraterritorial que pretende gerar efeitos em todos os países do mundo. Em vigor desde 1º de janeiro de 2013, seu objetivo é “detectar, deter e desencorajar a evasão fis-cal” por norte-americanos por meio de instituições finan-ceiras e não financeiras fora dos EUA, incluindo aquelas em funcionamento no Brasil.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a viabiliza-ção da assinatura de um acordo para intercâm-bio de informações tributárias entre o Brasil e os Estados Unidos, balizado pelo rigoroso respeito ao ordenamento jurídico brasileiro, em particular no que diz respeito ao resguardo dos sigilos fiscal e bancário, que preveja negociações conduzidas pela prática internacional.

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a prevenção da evasão fiscal, da lavagem de dinheiro e do fi-nanciamento ao terrorismo e ao crime organizado assentadas em acordos internacionais, no enten-dimento de que tais acordos não violem legislação brasileira, observem os sigilos fiscal e bancário e sejam firmados com base em reciprocidade.

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264 AgendA do SetorFinanceiro2013

A definição do que é instituição financeira é ampla, engloba: entidades que se dediquem ao investimento no mercado de títulos e valores mobiliários, a atividades bancárias em geral, ou à custódia, intermediação, corre-tagem e detenção de investimentos em favor de outros, incluindo fundos de investimento, seguradoras, empresas de previdência, de capitalização e cooperativas bancárias. O FATCA se aplica também às chamadas US persons, isto é, pessoas com nacionalidade norte-americana, nascidos nos EUA ou com pais norte-americanos, pessoas com visto de permanência nos EUA (green card), ou residentes nos EUA, independentemente de serem residentes fiscais ou de terem também nacionalidade em outro país. Quando tais pessoas detiverem mais de 10% de participação direta ou indireta no capital ou lucro de empresas brasileiras, tais empresas serão consideradas US persons independente-mente de serem constituídas ou residentes fiscais no Brasil.

Em sua primeira versão, essa lei requeria que todas as instituições financeiras que operam no Brasil identificassem cidadãos e residentes permanentes dos Estados Unidos em sua base de clientes e solicitassem a estes autorização para enviar informações referentes às suas contas bancárias e aplicações financeiras diretamente às autoridades tributá-rias dos EUA. Seriam consideradas “não cooperantes” (“re-calcitrantes”) as pessoas físicas e jurídicas que, identificadas como US person, não autorizassem o envio de informação à autoridade fiscal americana, ou ainda aquelas com indício de US Person que não fornecessem à instituição financeira documentação hábil que desabonasse tal indício. Ao de-parar-se com pessoas recalcitrantes, a instituição financeira deveria encerrar as contas de depósito, investimento, cus-tódia ou o saldo investido em títulos e valores mobiliários emitidos pela instituição financeira, ou deveria se recusar a abri-las. Enquanto a instituição financeira não tomasse tais providências de encerramento de contas de pessoas recal-citrantes, deveria computar e reter tributo na fonte, à alíquo-ta de 30%, a favor dos EUA sobre os investimentos efetuados por tais pessoas. Além das enormes dificuldades operacio-nais para consultar 130 milhões de clientes, a aderência ao FATCA por parte dos bancos brasileiros poderia caracterizar apropriação indébita, na medida em que não existe lei bra-sileira que ampare a retenção de imposto de renda na fonte prevista na legislação americana.

O banco brasileiro que se recusasse a adotar essas medidas sofreria severas restrições. A instituição financei-ra ficaria sujeita à retenção na fonte de imposto de ren-da nos EUA à razão de 30% sobre quaisquer rendimentos, ganhos ou proventos brutos da venda ou liquidação de ativos capazes de gerar juros e dividendos de fontes nor-te-americanas. Também teria grande dificuldade para par-ticipar do mercado financeiro nacional e internacional, já que muitas instituições financeiras norte-americanas ou estrangeiras podem deixar de negociar contratos ou ainda podem aumentar custos e taxas de contratação, dadas as obrigações inerentes ao FATCA. Ademais, uma instituição financeira brasileira não poderia ter, em seu grupo econô-mico, empresas que sejam instituição financeira partici-pante do FATCA como controladoras, coligadas, afiliadas, controladas, subsidiárias, etc. Significa que uma instituição financeira brasileira que não é participante do FATCA será não participante em qualquer lugar do mundo. Assim, os custos financeiros e a perda de competitividade de uma instituição financeira não participante afetariam todo o grupo econômico financeiro. Como os Estados Unidos são o maior mercado financeiro do mundo, a legislação signifi-caria na prática que todos os bancos brasileiros teriam sido obrigados a aderir ao FATCA.

Após a edição da legislação, países como Japão, Suíça, Alemanha, Franca, Reino Unido, Itália, Espanha, Israel, Irlan-da e Rússia passaram a negociar acordos bilaterais com os Estados Unidos que mitigaram as dificuldades operacio-nais e atenuaram o caráter extraterritorial da lei. De ma-neira geral, esses acordos previram aditivos a tratados para troca de informações tributárias (Tax Information Exchan-ge Agreements, ou TIEAs) que evitariam o encaminhamen-to de informações de instituições financeiras diretamente às autoridades tributárias norte-americanas.

Em 8 de fevereiro de 2012, Estados Unidos, França, Alemanha, Itália, Espanha e Reino Unido publicaram uma declaração conjunta sobre uma “abordagem intergover-namental para melhorar a conformidade fiscal e a imple-mentação do FATCA”, pela qual seriam tratados os impedi-mentos legais para o seu cumprimento pelas instituições financeiras estrangeiras instaladas nesses países, simplifi-cada a sua implementação prática e reduzidos os custos

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dessas instituições. Em 21 de junho de 2012, os Estados Unidos publicaram novas declarações conjuntas, agora com o Japão e com a Suíça, das quais se destaca a indi-cação de que os EUA aceitam dois modelos de acordos bilaterais para fins de FATCA e que poderá vir a firmá-los com todos os países interessados.

Atualmente, não existe amparo legal na legislação brasileira para adoção pelas instituições financeiras que operam no Brasil de várias das práticas requeridas pelo FATCA. Entre as dificuldades legais figuram: tratar-se de norma unilateral de caráter extraterritorial que prescinde da anuência de outros Estados; violar a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, que admite a produção de efeitos no Brasil por lei estrangeira desde que esta não ofenda os princípios da soberania, ordem pública e bons costumes; impor obrigações e sanções aos brasileiros ou estrangeiros que aqui residem, usurpando competência exclusiva do Estado brasileiro; impor discriminação aos norte-americanos residentes no Brasil e aos brasileiros com green card, ao exigir que as instituições financeiras brasileiras solicitem a dispensa de direito fundamental de privacidade, do qual deriva o sigilo bancário, sob pena de fechamento de conta, impedimento para sua abertura ou cobrança de custos, o que pode ter efeitos no âmbito do direito do consumidor; e violar o imperativo legal de só se recolher imposto de renda no Brasil em benefício da União, nos termos do CTN e da legislação pátria.

Além da ausência de amparo legal para adoção do FA-TCA no Brasil, sua implementação pode ser dificultada por propostas legislativas que dispõem sobre a nulidade de normas legais e regulamentares, decisões judiciais e atos administrativos estrangeiros que afrontem garantias consti-tucionais ou se fundamentem em legislação discriminatória.

À luz dos impeditivos legais para que instituições finan-ceiras brasileiras adiram imediatamente ao FATCA, a solu-ção para a questão passa pela assinatura de um novo Acor-do de Troca de Informações Fiscais entre Brasil e EUA que contemple troca automática de informações, ao mesmo tempo em que isente as instituições financeiras brasileiras das obrigações e penalidades do FATCA. O Brasil assinou em 2007 um acordo de troca de informações fiscais com os

EUA, que se encontra pendente de aprovação no Senado Federal (ver 23.3 – Acordo para intercâmbio de infor-mações tributárias entre o Brasil e os Estados Unidos). Tal acordo, entretanto, não atende às disposições do FATCA, pois lhe é anterior e não contém qualquer dispositivo que dê conforto às instituições brasileiras quanto à futura isen-ção do FATCA. Um novo acordo do Brasil com os EUA, além das cláusulas usuais de tais acordos nos termos do mode-lo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) - ao qual o Brasil aderiu em novembro de 2011 -, deveria conter também dispositivos específicos referentes ao FATCA. Na linha do que vem sendo negociado com alguns países da Europa e o Japão, tal acordo poderia prever que as informações relativas ao FATCA sejam envia-das à Receita Federal do Brasil, que as transmitiria, em regi-me de reciprocidade, à autoridade fiscal americana. Com isso, seria dispensada a assinatura de acordos entre as ins-tituições financeiras brasileiras e o Internal Revenue Service (IRS), com a remessa direta de informações daquelas para este, o que ofenderia o sigilo fiscal e bancário.

23.5. acordo contra bitributação entre o Brasil e os estados unidos

No passado, cooperação tributária e bitributação eram parte de um único pacote negocial. O Congresso Nacional aprecia acordo que inova ao escalonar esses dois elemen-tos, a começar pela ratificação da troca de informações tributárias. Tentativas anteriores de assinatura de acordo contra bitributação com os EUA não prosperaram em vir-

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para a viabilização da assinatura de um acordo contra bitributação entre o Brasil e os Estados Unidos, balizado pelo rigoroso respeito ao ordenamento jurídico brasi-leiro, em particular no que diz respeito ao resguar-do dos sigilos fiscal e bancário, e que considere, antes de qualquer coisa, a conciliação de posições divergentes sobre cláusula de crédito tributário (tax sparing).

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tude de divergências inconciliáveis quanto à cláusula de crédito tributário (tax sparing).

O acordo contra bitributação mais antigo firmado pelo Brasil foi com o Japão, em 1967. Na década de 70, foram ra-tificados oito acordos (1972 – Bélgica e França, 1975 – Di-namarca, 1976 – Alemanha, Áustria, Espanha e Suécia, 1980 – Luxemburgo), contra quatro na década de 80 (1981 – No-ruega, 1982 – Argentina, 1985 – Canadá e 1988 – Equador) e nove na década de 90 (1991 – Coréia, Filipinas, Holanda, Hungria, República Checa e Eslováquia, 1992 – Índia, 1993 – China, 1994 – Itália e 1998 – Finlândia). Na década passada, foram ratificados seis acordos (2001 – Portugal, 2003 – Chile, 2006 – África do Sul, Israel, México e Ucrânia).

Desde 1967, nas negociações com o Brasil, os EUA têm manifestado interesse por evitar bitributação sobre pessoas físicas e jurídicas; conciliar conceitos de renda tributável e despesa dedutível (price transferring); e trocar informações contra evasão fiscal. A legislação fiscal americana, mesmo na ausência de um acordo contra bitributação, permite o crédito fiscal de impostos pagos na fonte no exterior. O Bra-sil, por sua vez, tem interesse na atração de investimentos, razão pela qual seus acordos contra bitributação preveem redução do Imposto de Renda Retido na Fonte. Para asse-gurar que o benefício fiscal seja repassado ao investidor, os acordos contêm: (a) cláusula de isenção, que obriga o país do investidor a não tributar receitas de lucros e dividendos; e (b) cláusula de crédito tributário (tax sparing), que permite dedução de IRRF brasileiro – com a alíquota anterior à do acordo, mais alta – da tributação sobre juros, royalties, as-sistência técnica e licenças. Pelo menos 28 acordos contra bitributação assinados pelo Brasil contêm cláusula de tax sparing, que não aparece em nenhum dos sessenta acordos assinados pelos Estados Unidos.

Se o Brasil assinar acordo com os EUA sem essa pro-visão, países que firmaram com o Governo brasileiro podem denunciar seus acordos. Tal possibilidade de re-núncia consta, por exemplo, de acordos firmados com alguns dos maiores investidores no Brasil, tais como Ho-landa (art. 11, 12 e 23 do Decreto nº 355/1991), Espanha (art. 11 e 12 do Decreto nº 76.976/1976), França (art. XI, XII e XXII do Decreto nº 70.506/1972), Alemanha (art. 11,

12 e 24 do Decreto nº 76.988/1976), Portugal (art. 11, 12 e 23 – Decreto nº 4.012/2001), Canadá (art. XI, XII e XXII do Decreto nº 92.318/1986), Japão (art. 10, 11 e 22 – De-creto nº 61.899/1967), Itália (art. 11, 12 e 23 do Decreto nº 85.985/1981) e Luxemburgo (art. 11, 12 e 24 do Decreto nº 85.051/1980).

A cláusula de tax sparing também consta do acordo do Brasil com a China (artigos 11, 12 e 23 - Decreto nº 762/1993). Já no caso do acordo dos EUA com a China, assinado em 1996, há provisão que denuncia o tratado automaticamente no caso de a diferença entre alíquotas superar 5% (ou no caso de os EUA assinarem acordo com cláusula de tax sparing com terceiro país).

23.6. Parlamento do Mercosul (Parlasul)

O Parlamento do Mercosul foi constituído em dezem-bro de 2006 como órgão representativo dos interesses dos cidadãos dos Estados-parte. Suas principais funções são acelerar os procedimentos internos para adoção da legis-lação mercosulina pelos membros e buscar harmonizar as legislações internas. O órgão não possui poder decisório, mas pode emitir alguns instrumentos normativos, como opiniões, projetos de lei a serem apresentados ao Conselho do Mercado Comum, recomendações, relatórios, medidas administrativas internas, e declarações sobre algum assunto de interesse público. Na área financeira os debates tem-se concentrado na discussão sobre mecanismos que possam ajudar o bloco a enfrentar as eventuais crises econômicas.

Durante a crise financeira de 2008, em sessões ordiná-rias realizadas pelo Parlamento, foram levantadas ques-tões a respeito de uma melhor regulação financeira na

A Confederação Nacional das Instituições Finan-ceiras apoia propostas voltadas para o fortaleci-mento do Parlamento do Mercosul por meio da eleição direta de representantes dos Estados-par-te, da ampliação do escopo de decisões daquele colegiado e da efetiva aplicação dessas decisões.

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região, além de uma maior integração. Projeto de integra-ção de mercados financeiros, redução de burocracia para trânsito internacional de capitais e enquadramento mais flexível às aplicações dos fundos de pensão são questões que podem vir a ser discutidas no âmbito do Parlasul.

Somente o Paraguai elegeu diretamente seus parla-mentares para o Parlasul. Em todos os demais países - Brasil, Argentina e Uruguai – os parlamentares são indicados pe-los respectivos parlamentos nacionais. Dessa forma, esses parlamentares desempenharão uma dupla representação: uma como parlamentar nacional (deputados ou senadores) e outra como parlamentar supranacional do Parlasul.

Tramitam no Congresso Nacional projetos de lei que tratam dos modelos para as eleições direitas bra-sileiras, que deverão ocorrer em 2014, juntamente com a escolha de deputados estaduais e distritais, deputa-dos federais, senadores, governadores e Presidente da República. Segundo as propostas, serão escolhidos 74 representantes brasileiros - o dobro dos atuais 37 repre-

sentantes, dos quais 10 são senadores e 27 são depu-tados no exercício de seus mandatos. A expectativa é de que as propostas sejam apreciadas em 2013. Nesse caso, coube às lideranças partidárias indicar os parla-mentares da representação.

De acordo com os modelos propostos, os parlamen-tares do Mercosul serão eleitos pelo sistema proporcional por meio de listas pré-ordenadas pelos partidos ou coli-gações, observados os procedimentos de distribuição de lugares vigentes para as eleições de deputados federais. A circunscrição será o país. O voto seria dado em candidatos nacionais e as campanhas teriam financiamento público. Os eleitores votariam diretamente nos partidos, sabendo exatamente a ordem dos candidatos que podem ser elei-tos para o Parlamento do Mercosul e os escolhidos aten-deriam a critérios atinentes à representatividade regional e de gênero. Além disso, fica definido que o cargo de parla-mentar do Mercosul é incompatível com a candidatura ao desempenho de mandato eletivo no Poder Legislativo ou no Poder Executivo do Estado-parte.

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SiTuaÇÃo daS ProPoSiÇÕeS na aBerTura da SeSSÃo LegiSLaTiVa de 2013

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FicHa TéCNICA

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conselho de representantesPresidenteLuiz Carlos Trabuco Cappi

Vice-PresidenteMarcelo Fidêncio Giufrida

Membros Natos: (em ordem alfabética por Associada)

Presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC)Renato Martins Oliva

Presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (ABECIP)Octavio de Lazari Junior

Presidente da Associação Brasileira das Empresas de Leasing (ABEL)Osmar Roncolato Pinho

Presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (ACREFI)Érico Sodré Quirino Ferreira

Presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA)Denise Pauli Pavarina

Presidente da Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos de Valores, Câmbio e Mer-cadorias (ANCORD)Manoel Felix Cintra Neto

Presidente da Federação Brasileira de Bancos (FE-BRABAN)Murilo Portugal Filho

Membros Eleitos:Luiz Carlos Trabuco CappiNey Castro Alves

diretoria executivaDiretor PresidenteLuiz Carlos Trabuco Cappi

Vice-PresidenteOswaldo de Assis Filho

Vice-Presidente ExecutivoJosé Ricardo da Costa Aguiar Alves

Diretores Executivos (em ordem alfabética)Antonio Augusto de Almeida Leite (ACREFI)Filipe Ferrez Pontual Machado (ABECIP)Hélio Ribeiro Duarte (FEBRABAN)José Carlos Halpern Doherty (ANBIMA)Murilo Portugal Filho (FEBRABAN)

conselho FiscalTitulares (em ordem alfabética)Allan Rivail da Silva Guimarães (ANBIMA)Carlos Tafla (ABEL)Luiz Sérgio Barbosa (FEBRABAN)Suplentes (em ordem alfabética)Carlos Eduardo Sampaio Lofrano (ABBC)José Ataliba Ferraz Sampaio (ANCORD)Luciana Junqueira de Azevedo Vieira (ABECIP)

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assessoriaGerentes de Relações institucionaisDamião Cordeiro de MoraisMarcos Borges de Castro

AssessoresAdryelle Pedrosa Fontes Ana Cecília Lustosa da CruzAngra Máxima Barbosa Anna Carolina de Andrade NogueiraÁryna Martins Dias RangelEliel Miranda da SilvaHenrique Souza BorgesKelly Dantas da SilvaMarconi Edson Borges MachadoPedro Henrique Pessanha RochaRicardo Magaldi MessettiRoberta Jacarandá Moreira

apoio administrativoGerente AdministrativoSenhorinha Leite Bécio

Apoio AdministrativoAndré Luiz Santana SilvaBruno Souza dos ReisSara Maciel Bezerra Diniz

organização e ediçãoAdryelle Pedrosa Fontes

revisãoAssessoria

Projeto gráfico

Duo Design

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