afonso - a sociologia da educação em portugal. elementos para a configuração do “estado da...

Upload: nuno-neto-ferreira

Post on 29-Oct-2015

141 views

Category:

Documents


5 download

DESCRIPTION

Afonso - A sociologia da educação em Portugal. Elementos para a configuração do “estado da arte”

TRANSCRIPT

  • In A. Teodoro & C. A. Torres (orgs.) (2005, no prelo).Educao Crtica e Utopia. Perspectivas para o Sculo XXI.Porto: Afrontamento

    A SOCIOLOGIA DA EDUCAO EM PORTUGAL:

    ELEMENTOS PARA A CONFIGURAO DO "ESTADO DA ARTE"

    Almerindo Janela Afonso

    No pretendendo apresentar uma sntese ampla e exaustiva do campo cientfico

    onde este texto se inscreve, procuro, mais modestamente, fazer uma breve incurso s

    fronteiras temticas abertas pela sociologia da educao em Portugal, tomando como

    referncia simultnea trabalhos publicados (ou, excepcionalmente, que tenham sido

    apresentados em contexto acadmico para provas de mestrado ou doutoramento) e que

    tenham sido referenciados ou que se auto-referenciem ao campo sociolgico, tendo

    sempre como objecto de anlise e investigao a Educao (escolar e no-escolar).

    Revisitando snteses publicadas anteriormente (Stoer, 1992; Stoer & Afonso, 1999;

    Afonso, 2001a), trata-se, essencialmente, de apresentar um outro ensaio sobre o "estado

    da arte" em sociologia da educao onde, naturalmente, se procuram convocar e

    considerar novas aproximaes, informaes e dados recentes, dando assim continuidade

    a um trabalho (sempre provisrio) voltado para a configurao de um campo cientfico

    cada vez mais aberto a contributos terico-conceptuais e metodolgicos plurais e

    diversificados.

    Na ausncia de critrios de escolha objectivos e estabilizveis relativamente aos

    trabalhos existentes, e na presena de um campo muito heterogneo que atravessado

    por descontinuidades de diferentes matizes, subsiste a minha responsabilidade nas

    "escolhas" (que, afinal, se traduzem objectivamente em incluses e excluses), mais ou

    menos justificveis consoante os receptores, mas, em qualquer dos casos, sempre

    decorrentes da impossibilidade de tudo incorporar, sabendo, por exemplo, que mesmo a

    qualidade de alguns autores impe restries, eventualmente arbitrrias, mas

    necessrias, devidas at, por vezes, amplitude da pesquisa e reflexo publicadas.

    Certamente que algumas ausncias foram tambm derivadas do desconhecimento no

    voluntrio de trabalhos realizados, ainda que publicados, mas, por motivos vrios, pouco

    conhecidos; e, por ltimo, outras escolhas e ausncias, no necessariamente mais

    justificveis do que as anteriores, foram condicionadas pelas caractersticas do contexto

    de recepo imediato a que se destinava este trabalho de sntese, ou seja, o Seminrio

    Internacional organizado em Portugal, com a colaborao da Universidade Lusfona, pela

    seco de Sociologia da Educao da Associao Internacional de Sociologia (Midterm

  • Conference Europe 2003 Internacional Sociological Association (ISA), Research

    Committee on Sociology of Education. Lisboa, 20 de Setembro de 2003). Neste contexto,

    como se compreender, no fazia muito sentido deixar de lado, por exemplo, a referncia

    a algumas linhas relativas gnese e evoluo do campo disciplinar em anlise (as

    quais, por si s, justificam, por comparao com snteses anlogas anteriores, algumas

    repeties de obras e autores), embora, tambm neste aspecto, se tenha procurado

    trazer novas informaes. Em qualquer dos casos, as opes tomadas foram tambm

    justificadas pela preocupao conjuntural de atender a expectativas de colegas e

    investigadores, sobretudo estrangeiros, que no possuam qualquer informao prvia

    sobre o teor desta interveno, mas que, ao se inscreverem no Seminrio, estavam

    certamente interessados em conhecer alguns indicadores do campo da sociologia da

    educao em Portugal.

    A sociologia da educao em Portugal: tempos e (des)continuidades

    A sociologia da educao em Portugal tem ainda uma escassa tradio como

    disciplina acadmica. Tal como aconteceu, em sentido mais amplo, com a sociologia 1, o

    seu desenvolvimento deu-se sobretudo a partir de meados dos anos setenta, na fase

    posterior revoluo democrtica de Abril de 1974. Isso no significa, no entanto, que

    no faa sentido falar de um percurso j anteriormente iniciado percurso esse, alis,

    muito bem caracterizado e documentado na primeira anlise publicada sobre a evoluo

    deste campo por Stephen Stoer (1992). Nesta mesma linha, outros contributos

    posteriores, como o de Guilherme R. Silva, mostram igualmente que, recuando s

    primeiras dcadas do sculo XX, possvel, entre outros aspectos, encontrar marcas

    consistentes das influncias dos trabalhos de Auguste Comte e de mile Durkheim em

    importantes autores portugueses. Neste sentido, por exemplo, Adolfo Lima, um dos mais

    eminentes pedagogos portugueses deste perodo, chegou mesmo a publicar, em 1924,

    um nmero temtico da revista Educao Social, de que era tambm director,

    subordinado precisamente ao tema A Sociologia na Educao. Neste nmero especial da

    revista, Adolfo Lima apresenta a obra de Durkheim e reitera a importncia da sociologia

    na formao dos educadores e professores. At ao momento da priso deste pedagogo,

    j em contexto de represso poltica e anti-democrtica do Estado Novo, pode mesmo

    considerar-se que a revista Educao Social estava a liderar um processo de construo

    de uma sociologia da educao e que esse processo foi interrompido para ser retomado

    somente dcadas mais tarde num outro contexto scio-poltico (cf. R. G. Silva, 2000)2.

    1 Para um excelente trabalho de anlise sobre a gnese e evoluo da sociologia em Portugal, ver JosMadureira Pinto (1997).

    2 A este mesmo propsito, Antnio Joaquim Esteves, num ensaio que procura igualmente sistematizar alguns

    2

  • A longa travessia do Estado Novo portugus como regime autoritrio (1926-

    1974) a qual foi extremamente desfavorvel generalidade das cincias sociais e

    humanas, sobretudo as que assumiam um carcter mais problematizador e crtico

    impediu, pelas mesmas razes, o desenvolvimento da sociologia (e, portanto, tambm

    da sociologia da educao e de outras sociologias especializadas) at, pelo menos, ao

    momento em que comearam a notar-se os primeiros e frgeis sinais de abertura

    poltica, j em finais da dcada de sessenta, incio da dcada de setenta. H, no entanto,

    um relativo consenso entre os autores, sobretudo os que tm procurado dar algum

    contributo para a histria da sociologia da educao em Portugal, relativamente ao facto

    de ser a dcada de sessenta o momento em que se nota uma viragem significativa em

    termos da produo sociolgica. Neste perodo, d-se nfase aos estudos sobre a

    universidade e desenvolve-se uma significativa discusso em torno da contribuio desta

    instituio para o processo de modernizao da sociedade portuguesa (cf. Stoer, 1992).

    Paralelamente reflexo sobre o papel da universidade, que ir ser um dos principais

    objectos de estudo do ento Gabinete de Investigaes Sociais sob a liderana de Sedas

    Nunes (um dos mais conhecidos impulsionadores da sociologia portuguesa), comeam

    tambm a surgir outros interesses de pesquisa por parte de diferentes autores, incidindo

    nomeadamente sobre o ensino secundrio e o insucesso escolar interesses esses que,

    ao longo dos anos setenta, iro contribuir para dar alguma visibilidade, por exemplo, aos

    efeitos de alguns percursos duais e socialmente discriminatrios de escolarizao da

    juventude portuguesa.

    A este propsito, no mbito das actividades do Centro de Investigao

    Pedaggica da Fundao Calouste Gulbenkian (1965) que inclua j, nos seus

    objectivos e na sua orgnica, um "Servio de Sociologia da Educao e de Estatstica

    Aplicada Educao" , so promovidos uma srie de estudos e conferncias, no

    deixando de ser significativa a vinda a Portugal, em meados da dcada de sessenta, da

    sociloga da educao Viviane Isambert-Jamati, com o objectivo de orientar um

    seminrio sugestivamente intitulado "Educao dos jovens e mudana social" 3. Trata-se,

    alis, de uma autora que, alguns anos mais tarde, teria um dos seus textos includos

    traos do pensamento de um outro precursor do pensamento sociolgico e educacional portugus, mostracomo interessante "Ler alguns textos de Antnio Srgio (1883-1969) com o intuito de extrair algumas notasde sociologia da educao" (cf. Esteves, 1998, p. 53).

    3 Para alm de algumas escassas indicaes contidas na apresentao do dossier que organizei em 1991, sobresociologia da educao em Portugal para a Revista O Professor (n 22, pp. 21-62), considero aqui outrasinformaes sobre o Centro de Investigao Pedaggica, da Fundao Calouste Gulbenkian, que foram muitooportunamente lembradas pela professora e historiadora urea Ado, a qual, amavelmente, me disponibilizou,posteriormente, outro material importante sobre a actividade do CIP e, especificamente, algumas referncias arelatrios onde se alude a conferncias de especialistas estrangeiros convidados e, entre outros, a trabalhos de"investigao sociolgica" realizados. Num desses relatrios refere-se, por exemplo, que "Entre 10 e 14 deMaio de 1965 realizaram-se no auditrio da Fundao e no CIP, uma srie de conferncias e um seminrio acargo de Viviane Isambert-Jamati, do C. N. R. S. (de Paris) a propsito do tema ducation des jeunes etchangement social. O Seminrio obedeceu ao seguinte programa: L' ducation des jeune enfants,anthropologie e sociologie; enseignement du second degr et classe social; enseignement et emploi; lesuniversits, les tudiants". Nessa ocasio, so particularmente interessantes os registos dos debates dasconferncias e, em especial, o dilogo entre Sedas Nunes e Isambert-Jamati (cf. Centro de InvestigaoPedaggica, 1965).

    3

  • numa das raras colectneas de sociologia da educao publicadas at hoje em Portugal

    (cf. Grcio, Miranda & Stoer, orgs., 1982; Grcio & Stoer, orgs., 1982) colectneas

    que, embora contendo apenas contribuies de autores estrangeiros, passaram a servir

    de referncia (como, alis, outra colectnea organizada por Filomena Mnica, 1981),

    para todos aqueles que, a partir da, se aproximaram deste campo disciplinar, quer em

    termos de docncia, quer em termos de investigao. A propsito daquela primeira

    iniciativa editorial colectiva, pode ler-se na introduo ao primeiro volume: "Os pontos

    de vista dos autores que seleccionmos fornecem um conjunto de quadros tericos que

    possibilitam a ruptura com o senso comum em matria de escola e educao: se

    puderem contribuir para uma investigao sobre a realidade nacional que ponha em

    primeiro plano os interesses populares em matria de educao e cultura, consideramos

    que se ter conseguido o objectivo que presidiu organizao da presente antologia"

    (Grcio, Miranda & Stoer, 1982, pp. 10-11). No momento em que surgem estas

    colectneas, e estando ns j a alguns anos de distncia do perodo revolucionrio ps-

    25 de Abril (ocorrido entre 1974 e 1976) e, portanto, caminhando aceleradamente

    para a normalizao poltica, social e econmica da vida portuguesa, ou seja, para uma

    aproximao aos padres europeus de uma sociedade capitalista demo-liberal, que

    haveria de consolidar-se a partir de 1986 com a adeso do pas ento Comunidade

    Econmica Europeia , no deixar de surpreender a observao dos autores atrs

    citados quando afirmam, em plena dcada de oitenta, que ainda predominavam em

    Portugal os "estudos de carcter histrico" e que, por esse facto, se tornava urgente

    "contribuir para fomentar a necessria investigao sociolgica sobre a realidade

    portuguesa em matria de educao e cultura" (Grcio, Miranda & Stoer, 1982, p. 9). A

    surpresa resultar, talvez, de se poder pensar que a sociologia, tendo sido preterida e

    cerceada na poca do regime autoritrio do Estado Novo (1926-1974), teria acabado por

    despontar em fora logo aps a instaurao da democracia com a Revoluo dos Cravos

    porm, pelo menos no caso da sociologia da educao, isto s veio a acontecer de

    forma lenta e gradual, alguns anos depois de Abril de 1974. Compreende-se, por isso,

    que houvesse a necessidade de comear por dar prioridade a um olhar mais diacrnico

    (por ser, sem dvida, urgente e necessrio conhecer melhor a nossa histria educacional

    recente), e evitando, tambm, desta forma, os dilemas do investigador que se confronta

    com importantes problemas metodolgicos quando pretende fazer uma sociologia a

    quente (ou seja, sem o necessrio recuo em relao aos acontecimentos) dilemas que

    so mais acentuados sobretudo em conjunturas de profundas e rpidas mutaes

    sociais, e num clima politicamente instvel e atravessado por importantes tenses

    ideolgicas, como o que se viveu a seguir revoluo democrtica. No entanto, mesmo

    tendo em conta que alguns trabalhos importantes deste perodo se situaram justamente

    na fronteira entre a histria e a sociologia como o caso da obra Educao e

    Sociedade no Portugal de Salazar (Mnica, 1978), considerada, alis, uma referncia

    4

  • precursora nos estudos de sociologia da educao , mesmo assim faz sentido afirmar

    que foi a necessidade de um olhar sociolgico mais sincrnico e voltado para a

    descoberta das realidades portuguesas que veio impulsionar, ao longo da dcada

    seguinte, uma parte importante daquilo que foi escrito no mbito deste campo disciplinar

    em anlise.

    A sociologia da educao na dcada de oitenta: a descoberta tardia das

    realidades portuguesas

    Estando quase tudo por investigar no incio da dcada de oitenta, a sociologia da

    educao vai constituir-se, a partir da, tendo sobretudo como base os contributos de

    docentes e investigadores universitrios que, em funo de interesses mais individuais do

    que resultantes de compromissos com projectos colectivos, vo elegendo no interior

    deste campo uma crescente pluralidade de objectos de pesquisa e de reflexo. Alguns

    destes trabalhos tm um carcter predominantemente terico, valorizando sobretudo a

    reviso e recontextualizao crticas da literatura estrangeira disponvel; outros, pelo

    contrrio, j comeam a alicerar-se em resultados concretos de alguma investigao

    emprica e metodologicamente orientada. Uns circunscrevem-se predominantemente ao

    espao pedaggico da escola e da sala de aula, outros, ao contrrio, so de natureza

    mais macro-sociolgica procurando, neste caso, compreender o papel do Estado na

    configurao das prticas e polticas de educao.

    Todavia, no se observa ainda, com suficiente frequncia e consistncia, um

    esforo de explicitao de quadros paradigmticos ou terico-conceptuais, ainda que no

    seja difcil perceber algumas influncias de perspectivas neo-marxistas, weberianas,

    durkheimianas e interaccionistas. Nesta dcada de oitenta, como observou Stephen

    Stoer, a relevncia da Escola de Frankfurt e de autores como Jrgen Habermas e Claus

    Offe era ainda muito tnue, acontecendo algo semelhante relativamente ao estruturo-

    funcionalismo e sociologia fenomenolgia e, sobretudo, designada nova sociologia da

    educao (cf. Stoer, 1992, pp. 38-39).

    Paralelamente ao desenvolvimentos de trabalhos de natureza mais terico-

    conceptual e emprica, deve ser relembrada, como uma das boas iniciativas do final dos

    anos oitenta, o I Congresso Portugus de Sociologia onde a sociologia da educao

    marcou j alguma presena atravs de comunicaes de autores como Jorge Arroteia

    ("sistema de ensino e mobilidade social"), Ana Benavente ("contributos para uma

    sociologia do sucesso escolar"), Telmo Caria ("classes populares perante o fim da

    escolaridade obrigatria"), Srgio Grcio ("crise juvenil e inveno da juventude" e Maria

    Manuel Vieira ("prticas de educao feminina das classes superiores") (cf. AAVV., 1990,

    5

  • vol.1, pp. 67-126). Pouco tempo depois, ocorreu tambm a realizao da I Conferncia

    Internacional de Sociologia da Educao a qual procurou criar um espao de dilogo entre

    autores portugueses e estrangeiros a trabalhar neste campo. Realizada na Escola

    Superior de Educao de Faro, entre 5 e 9 de Abril de 1988, a conferncia teve como

    tema principal "A Sociologia da Educao na Formao de Professores", tendo estado

    presentes autores estrangeiros como Henry Giroux, Peter McLaren, Len Barton, Geoff

    Whitty, Christer Fritzell e Suzanne Mollo-Bouvier, bem como autores portugueses como

    Ana Benavente, Ana Maria Morais, Rui Canrio, Conceio Alves Pinto, Jos Manuel

    Resende, Cristina Rocha, entre muitos outros 4.

    Ainda durante a dcada de oitenta, com a assuno e expanso da formao de

    professores como eixo de desenvolvimento estratgico das universidades novas e das

    escolas superiores de educao, as cincias da educao, em geral, e a sociologia da

    educao, em particular, vo continuar a revelar um interesse crescente por uma ampla

    pluralidade de objectos e temas de investigao. Uns, constituem-se em torno da anlise

    da relao da escola com a sociedade, outros privilegiam as polticas educativas e o papel

    do Estado; alguns incidem no insucesso escolar como fenmeno recorrente em vrios

    nveis do sistema de ensino, outros do visibilidade problemtica do profissionalismo e

    do sindicalismo docentes; alguns outros incidem no papel da sociologia na formao de

    professores ou tentam chamar a ateno para questes mais microssociolgicas como a

    interaco selectiva, outros discutem ainda a gnese escolar de comportamentos

    divergentes e algumas formas de controlo social na sala de aula.

    Para alm de um plo constitudo por alguns investigadores e docentes da

    Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao da Universidade do Porto, ou outros

    investigadores dispersos, a rea de Anlise Social da Educao (inicialmente rea de

    Macro-Educao) da ento Unidade Cientfico-Pedaggica de Cincias da Educao, da

    Universidade do Minho, era j nessa altura, com alguma antecedncia no contexto

    4 Como principal impulsionador desta conferncia, e na qualidade de representante da comisso organizadora,Joo Viegas Fernandes assinala na altura:" []esta iniciativa um acontecimento histrico num ciclo deafirmao pblica da sociologia em Portugal. Aps a realizao do 1 Congresso Portugus de Sociologia, nopassado ms de Janeiro, agora a vez de os(as) estudiosos(as) de Sociologia da Educao se encontrarem anvel nacional com colegas da comunidade cientfica internacional, para uma troca de ideias, de resultados deinvestigao e de processos de interveno no sistema escolar" (V. Fernandes, 1988). Quem cotejar as Actasda I e da II Conferncia Internacional de Sociologia da Educao (esta realizada em 1993), perceber que,para alm de novas e significativas presenas de autores estrangeiros (alguns dos quais brasileiros), htambm um crescimento muito significativo de comunicaes de autores portugueses referentes a temticasagrupadas em torno do Estado e polticas educativas; educao, movimentos sociais e universos culturais;escola e desenvolvimento; organizao e gesto escolares; currculo, saberes, prticas e interaces;professores e mudanas sociais, entre outras (cf., AAVV., 1996).Tambm no que diz respeito ao II CongressoPortugus de Sociologia, realizado entre 5 e 7 de Fevereiro de 1992, a presena de objectos referenciados sociologia da educao e formao e s polticas educativas, crescente e bastante significativa (cf. AAVV.,1993). Nos congressos de sociologia subsequentes, a educao e as polticas educativas estaro semprepresentes, bem como em outros congressos e seminrios organizados por diversas entidades e instituies. Noentanto, no mais recente V Congresso Portugus de Sociologia, realizado em Braga em Maio de 2004, apesarde haver um nmero elevado de comunicaes da rea de educao submetidas quer ao atelier educao eaprendizagens, quer a outros ateliers, a afirmao da sociologia da educao portuguesa, do meu ponto devista, no saiu reforada. Salvo uma ou outra boa excepo, alicerada na convocao de quadros terico-conceptuais consolidados ou sustentada em investigao emprica consistente e recente, muitas dascomunicaes em educao traduziram-se em abordagens pouco inovadoras face evoluo terica emetodolgica da sociologia da educao contempornea.

    6

  • universitrio portugus, um dos ncleos importantes de desenvolvimento da sociologia

    da educao (cf. Pires, Formosinho & Fernandes, 1991; Pires, 2000)l5.

    Enquanto muitos dos trabalhos at agora referenciados constituem contribuies

    pontuais ou que apenas tiveram uma escassa continuidade, h outros que, ao contrrio,

    deram origem a linhas de investigao coerentes e duradouras, algumas das quais se

    mantm at hoje. Para alm do mrito de introduzir no contexto educacional portugus

    os contributos especficos de Basil Bernstein (Domingos et al., 1986), a equipa

    coordenada por Ana Maria Morais da Faculdade de Cincias da Universidade de Lisboa

    um exemplo raro de continuidade produtiva numa linha de investigao que tem dado

    importantes contribuies tericas e empricas para a consolidao do campo da

    sociologia da educao em Portugal (Morais et al., 2000). No interior deste mesmo

    campo da sociologia da educao, e pelo menos desde o incio dos anos oitenta, outras

    linhas de investigao tm tido entre ns uma continuidade crescente, quer a partir de

    iniciativas de carcter mais individual, quer a partir de projectos colectivos localizados

    em diferentes departamentos universitrios. Refiro-me, por exemplo investigao feita

    relativamente s polticas pblicas de educao em Portugal, e que se pode

    genericamente traduzir como constitutiva (ou com contributos constituveis) de uma

    sociologia das polticas educativas.

    A sociologia a educao enquanto sociologia das polticas educativas

    Os trabalhos de Stephen R. Stoer, da Faculdade de Psicologia e de Cincias da

    Educao da Universidade do Porto, quer a nvel individual, quer, sobretudo, resultantes

    da realizao de projectos com parcerias vrias, constituem tambm um contributo

    assinalvel e de longa durao, frequentemente em torno da pesquisa e reflexo sobre

    problemas novos (ou menos discutidos entre ns) situados no campo da sociologia das

    polticas educativas inicialmente, sobre o papel do Estado nacional em contexto de

    mudana social (cf. Stoer, 1982, 1986); mais tarde, sobre o papel da educao bsica e

    das suas relaes com o trabalho em contexto semiperifrico (cf. Stoer & Arajo, 1992);

    logo depois, dando continuidade reflexo sobre a construo da escola democrtica (cf.

    Stoer, 1994a, 1994b); mais recentemente, fazendo a crtica a diferentes concepes de

    poltica educativa e inter/multiculturalismo (cf. Stoer & Corteso, 1999; Stoer, 2001) ou,

    ainda, analisando os movimentos de transnacionalizao e europeizao da educao (cf.

    Magalhes & Stoer, 2003).

    A este propsito, e tendo apenas como referncia teses de doutoramento, no

    5 Uma parte da herana de leccionao e de investigao destas reas disciplinares teve continuidade no actualDepartamento de Sociologia da Educao e Administrao Educacional, do Instituto de Educao e Psicologia,da Universidade do Minho, sob a direco de Licnio C. Lima.

    7

  • pode deixar de ser referida, deste mesmo autor, a obra precursora Educao e Mudana

    Social em Portugal (Stoer, 1986) e, posteriormente, de outros autores, entre outras, as

    obras Ensinos Tcnicos e Poltica em Portugal, 1910-1990 (S. Grcio, 1998); Polticas

    Educativas e Avaliao Educacional (Afonso, 1998); Legitimao e Contingncia na Escola

    Secundria Portuguesa (R. Gomes, 2000); A Construo Poltica da Educao (Teodoro,

    2001); Polticas Educativas e Ensino Superior em Portugal (Seixas, 2003); Escola-

    Famlia, uma Relao Armadilhada (P. Silva, 2003); Polticas Educativas Nacionais e

    Globalizao (Antunes, 2003); A Identidade do Ensino Superior: Poltica, Conhecimento e

    Educao numa poca de Transio (Magalhes, 2004)6. Sendo verdade que estas e

    outras teses beneficiaram (e ainda bem) de muitas outras sinergias disciplinares,

    gostaria de referir, como exemplo de interfaces: i) entre a sociologia da educao, a

    antropologia e a formao de professores, a tese Educao Intercultural, Utopia ou

    Realidade? (Peres, 1999); ii) entre a antropologia social, a histria e sociologia da

    educao, a tese Histrias de Vida e Identidades. Professores e Interculturalidade (R.

    Vieira, 1999); iii) entre a histria da educao e a sociologia da educao, a tese

    Pioneiras na Educao. As professoras primrias na viragem do sculo (1870-1933)

    (Arajo, 2000); iv) entre a sociologia das organizaes educativas e a sociologia das

    polticas educativas, a tese Redescobrir a Escola Privada Portuguesa como Organizao

    (Estvo, 1998) e, mais recentemente, as teses Decentralisation, School Autonomy and

    the State in England and Portugal, 1986-1996 (Marques Cardoso, 2001) e A Participao

    dos Pais na Escola Pblica Portuguesa (S, 2003), ou, ainda, a partir de olhares

    disciplinares cruzados, sobretudo entre as polticas educativas e as dinmicas locais e

    comunitrias, a tese o Estudo do 'Local' em Educao (F. I. Ferreira, 2003).

    O interesse pela anlise das polticas educativas por parte dos socilogos da

    educao portugueses, verificado sobretudo a partir de finais da dcada de oitenta,

    mostra uma certa coincidncia temporal com o momento em que o interesse por esta

    mesma rea se comea a notar em outros pases. Por exemplo, na Inglaterra e em outros

    pases anglo-saxnicos, os investigadores em educao (com uma ou outra excepo

    como a que se refere aos trabalhos de Roger Dale), apenas redescobriram a importncia

    dos estudos das polticas (policy studies) j pelo final dos anos oitenta7. Como refere S.

    Ball, nas duas dcadas precedentes (anos 60 e 70), a ateno da investigao

    educacional ou foi direccionada para a escola e a sala de aula, privilegiando as

    perspectivas interaccionistas, ou focalizou a economia, predominando neste caso as

    6 Tambm no que diz respeito a dissertaes de mestrado publicadas, podem ser referenciadas sociologiadas polticas educativas, entre outras, as seguintes obras: Poltica Educativa como Tecnologia Social (Grcio,1986);Poltica Educativa em Portugal (Teodoro, 1994); Polticas Educativas para Portugal, anos 80/90 (Antunes,1998); Polticas de Educao Pr-Escolar em Portugal, 1977-1997 (Vilarinho, 2000a).

    7 Para outra realidade, mas em consonncia com esta mesma concluso, escreve tambm XavierBonal: "[] la sociologa de la poltica educativa se confirma en los aos noventa como un campo especficode anlisis de la sociologa de la educacin" (Bonal, 1998, p. 187).

    8

  • perspectivas estruturalistas e neo-marxistas (cf. Ball, 1994). Tendo como principal

    motivao a anlise das reformas educativas, nomeadamente as reformas realizadas na

    Inglaterra pelos Conservadores que estiveram no poder na dcada de oitenta, muitos

    socilogos da educao reactualizaram a partir desta ltima data os seus objectos

    tradicionais de investigao 8, ao mesmo tempo em que contornaram ou redefiniram

    estrategicamente o seu estatuto acadmico numa conjuntura poltica que, embora sendo

    desafiadora para a "imaginao sociolgica face adversidade" (Barton & Whitty, 1988),

    no deixar de revelar-se muito desfavorvel expanso da prpria sociologia da

    educao nos departamentos universitrios e escolas de formao de professores

    situao esta, alis, que, com algumas especificidades, comeamos hoje (nos primeiros

    anos do novo milnio) a sentir fortemente em Portugal.

    No sendo de modo algum despiciendo o impacto (ainda ambguo mas

    persistente) das orientaes europeias em termos de polticas educativas, sobretudo para

    o ensino superior, trata-se, no fundo, de constatar que, tambm entre ns, certos

    padres de produo cientfica e pedaggica e de interveno social e poltica mais

    problematizadores e crticos, que sejam referenciados ou se referenciem a certas reas

    de conhecimento (como a Educao, em geral, ou a prpria sociologia da educao, em

    particular), no apenas tm vindo a ser neutralizados, na sua visibilidade social, por

    interposio das ideologias neoconservadora e neoliberal dominantes como, de algum

    modo, tm tambm perdido algum vigor endgeno, atribuvel, entre outras razes, s

    prprias estratgias adoptadas e incapacidade de legitimao colectiva contrastando

    esta situao com o que aconteceu de meados dos anos oitenta a meados dos anos

    noventa onde alguns autores ou grupos de trabalho e de investigao em Educao

    tiveram, genericamente, um papel (talvez at demasiado) central no prprio

    condicionamento da agenda relativa chamada reforma educativa 9.

    Ainda no que respeita comparao da nossa realidade educacional com a

    realidade mais abrangente, penso ser importante sinalizar, como hiptese a verificar

    melhor, que o interesse crescente dos socilogos da educao portugueses pela anlise

    das polticas educativas pode tambm justificar-se pela recepo e impacto que alguns

    trabalhos estrangeiros, predominantemente anglo-saxnicos, mas tambm francfonos,

    tiveram na reflexo sociolgica sobre as polticas educativas em Portugal, sobretudo em

    8 Como refere Stewart Ranson, "Researchers could investigate theoretical perspectives and explore avariety of methodological approaches to empirical work and data analysis. This opportunity has been seizedand now, in the mid 1990s a vast literature exists on the impact of the Education Reform Act agenda oneducation " (Ranson, 1995, p. 427).

    9 Numa outra perspectiva (complementar que eu acabei de enunciar acima) Antnio Magalhes e StephenStoer escrevem: "[] com verdadeiro espanto que assistimos nos diferentes meios de comunicao social presena de 'especialistas' em educao como jornalistas, economistas, gestores, corretores, empresrios, etc.A aproveitam para expender as suas vises e opinies acerca dos desafios, dos significados, das prioridadesque se colocam educao. O nosso espanto no relativo ao facto de eles/elas terem opinies e vises, oque nos espanta a total ausncia daqueles que mais tempo, esforo e massa cinzenta investem na tentativade compreender os fenmenos educativos e escolares" (Magalhes & Stoer, 2004, p. 7).

    9

  • alguma daquela reflexo (mais expressiva) publicada a partir do incio dos anos noventa.

    Numa poca de crescente internacionalizao da sociedade portuguesa e de maior

    disponibilidade de recursos para a investigao universitria e para o acesso s fontes

    bibliogrficas, abriu-se a possibilidade de um maior nmero de investigadores aproveitar

    da contribuio de autores e trabalhos estrangeiros, anteriormente acessveis somente a

    alguns (poucos) investigadores que, ou estudaram fora do Pas, ou, muitas vezes na

    sequncia dessa experincia, passaram a manter contactos e intercmbios para alm do

    contexto acadmico nacional. Embora, em alguns casos, e como efeito perverso, a

    tendncia para a importao ou reproduo mimticas de outras agendas e objectos de

    investigao tenha aumentado, a verdade que, mesmo assim, os trabalhos mais

    significativos de sociologia das polticas educativas em Portugal so justamente aqueles

    que cedo assumiram (e esse tem sido um dos seus contributos decisivos) que seria

    necessrio no perder de vista a investigao das especificidades e "realidades

    portuguesas" (Stoer, 1986, p. 15).

    Por estas e outras razes, mais recentemente, muitos trabalhos tm procurado

    desenvolver uma anlise das polticas educativas indo buscar ou construir, em dilogo

    com outras contribuies sociolgicas disponveis, os quadros terico-conceptuais com

    maior capacidade hermenutica para avanar na compreenso das referidas realidades.

    Neste sentido, tem sido particularmente evidente o efeito positivo da incorporao

    gradual de contributos vindos de outras sociologias especializadas e da prpria teoria

    sociolgica, bem como de outras cincias sociais, nos trabalhos dos socilogos da

    educao que, entre ns, tm privilegiado a anlise das polticas educativas. A este

    propsito, posso referir, como exemplo, a incorporao crtica e criativa de contributos da

    sociologia portuguesa (como os trabalhos de Jos Madureira Pinto ou de Boaventura de

    Sousa Santos, entre vrios outros) que tm sido frequentemente convocados para o

    estudo da educao e das polticas educativas, a par de trabalhos de autores estrangeiros

    (sobretudo os trabalhos de Geoff Whitty, Roger Dale, Stephen Ball e Carlos Alberto Torres

    e, mais recentemente, de autores francfonos como Michel Foucault, Franois Dubet, Lise

    Demailly, Jean-Louis Derouet, Agns Van Zanten, Luc Boltansky, entre outros)10. Os

    autores francfonos, alis, h algum tempo atrs menos influentes entre ns, tm agora,

    uma presena mais marcante 11.

    10 Neste aspecto, os socilogos da educao portugueses que elegeram como objecto as polticaseducativas no podero ser acusados de fechamento relativamente aos contributos de outras cincias sociaise humanas, ao contrrio, por exemplo, do que parece ter acontecido no contexto ingls em que, comoescreveu Barry Troyna, "education policy sociology, as it is presently constituted, is limited and limiting in itstheoretical disciplinary and strategic concerns. This is because it continues to turn a blind eye to issuesarising from cognate theoretical and disciplinary sources which have the potential to illuminate the policyprocess" (Troyna, 1994, p. 70).

    11 A este propsito, e em contraste com a parcimnia relativa a autores portugueses, paradigmtica areferenciao bibliogrfica efectuada por Rui Canrio (2003) no seu Relatrio da Disciplina de Sociologia daEducao I apresentado no mbito de Provas de Agregao na Faculdade de Psicologia e Cincias da Educaoda Universidade de Lisboa.

    10

  • Apesar da maioritria representao de trabalhos de sociologia das polticas

    educativas no conjunto dos trabalhos referenciveis ao campo mais amplo da sociologia

    da educao, deve reconhecer-se, todavia, que eles no so ainda suficientes para

    podermos ter uma compreenso ampla das realidades portuguesas, razo pela qual

    necessrio que os (ainda escassos) cursos de ps-graduao que leccionam a disciplina

    de sociologia das polticas educativas (ou disciplinas semelhantes) se constituam

    tambm como lugares privilegiados de produo e induo de novas investigaes neste

    campo. Isto, certamente, no dispensa o desenvolvimento de projectos que envolvam

    (tambm) investigadores de diferentes departamentos universitrios e centros de

    investigao (nacionais e estrangeiros), e de diferentes disciplinas do campo da

    educao e das cincias sociais e humanas, com o objectivo de produzir trabalhos de

    anlise comparada, terica e empiricamente sustentados, e mais consistentes e

    aprofundados atravs da prtica de um maior dilogo e confronto interdisciplinares. A

    este propsito comearam, mais recentemente, a ser publicados os resultados de

    projectos mais abrangentes (cf., por exemplo, Stoer; Corteso & Correia, orgs., 2001) e

    tambm importantes trabalhos parcelares de projectos de pesquisa, j prximos da sua

    concluso (cf., por exemplo, Barroso, org., 2003)12.

    Em sntese, se a dcada de oitenta e noventa foi, tambm entre ns, fortemente

    propiciadora de sugestivos trabalhos sociolgicos tendo como objecto as polticas

    educativas grande parte dos quais motivados pela anlise das propostas e

    regulamentaes no mbito da ltima 'grande' reforma educativa portuguesa (cf., por

    exemplo, Benavente & Grcio, 1989; Stoer, Stoleroff & Correia, 1990; Correia, Stoleroff

    & Stoer, 1993; A. Santos Silva, 1994; Afonso, 1997; Lima, 1994; Lima & Afonso, 1995,

    2002; Antunes, 1998; Teodoro, 1995; Grcio, 1998) , espera-se agora que, superada

    a normal desfasagem entre produo da pesquisa e a sua publicao, possam continuar

    a surgir novas anlises sobre as polticas educativas mais recentes, elaboradas e

    implementadas pelos governos socialistas (1995-2001), como, alis, j est a acontecer

    (cf., a este propsito, por exemplo, Teodoro, org., 1996); Barroso, 1998, 1999; Stoer,

    Corteso & Magalhes, 1998; Afonso, 2000; Lima, 2000; Canrio, Alves & Rolo, 2000;

    Stoer & Rodrigues, 2000; Benavente, 2001; Stoer & Magalhes, 2002; A Santos Silva,

    2003; Barbieri, 2003; Alves & Canrio, 2004)13.

    Embora tenham surgido entre ns, h j alguns anos, algumas anlises de

    poltica educativa relativas emergncia de um mercado em educao (ver, entre

    12 Refiro-me, ainda, de forma mais abrangente, ao Projecto coordenado por Joo Barroso intituladoReguleducnetwork Changes in regulation modes and social production of inequalities in education systems:a European comparison (http://www.fpce.ul.pt/investigacao/projectos/).

    13 A expectativa de virem a ser publicados mais trabalhos relativos s polticas educativas recentes nosignifica que a anlise sociolgica no possa ou no deva continuar a incidir em outros objectos e conjunturashistricas e sociais. A este propsito, ver, entre muitos outros, Correia (1999); R. Gomes (1999); Lima(1999). Do mesmo modo, h tambm trabalhos (com colaborao de alguns socilogos) que apresentam umcarcter mais prospectivo em relao evoluo da educao em Portugal e que, embora menos divulgados eestudados, no podem deixar de ser referenciados (cf. Carneiro, Caraa & So Pedro, coords., 2000).

    11

  • outros, Afonso, 1994, 1997), mais recentemente tm sido objecto de pesquisa emprica

    e de anlise comparada (e comeam a ser publicadas) outras perspectivas sobre

    estratgias e polticas de escolha das escolas que mostram que esta questo continua (e

    continuar durante mais tempo) a ser muito relevante, nomeadamente, no campo da

    sociologia da educao em Portugal (cf. por exemplo, C. G. Silva, 1999; M. Vieira,

    2003b; Barroso & Viseu, 2003; Barroso, 2003b; Marques Cardoso, 2003).

    A partir desta heterogeneidade de trabalhos referenciveis a uma sociologia da

    polticas educativas, gostaria de concluir este ponto deixando um breve apontamento

    referente a questes de natureza metodolgica. So diversas as metodologias e tcnicas

    de recolha de dados privilegiadas nos trabalhos de natureza sociolgica que incidem nas

    polticas educativas, no sendo difcil encontrar exemplos que vo da etnografia aos

    inquritos por questionrio, passando pelas entrevistas e pela anlise de contedo de

    documentos e discursos polticos. Subsiste, todavia, um desequilbrio importante no que

    se refere predominncia de trabalhos que tendem a dar centralidade aos discursos

    polticos, s regulamentaes legislativas e mesmo aco governativa, os quais, em

    consequncia disso, deixam por vezes a descoberto quer os processos de recepo das

    polticas quer as respectivas prticas de recontextualizao pedaggica, em que devem

    ter evidente centralidade os actores e os contextos de aco. No mnimo, uma sociologia

    das polticas educativas, no devendo prescindir de tentar estabelecer os eventuais nexos

    entre o contexto global e as especificidades nacionais, tambm no dever deixar de

    considerar os discursos educativos oficiais e as prticas dos actores, problematizando

    ainda, sempre que isso seja pertinente, as mediaes (frequentemente complexas e

    contraditrias) entre esses nveis. Os desafios mais recentes implicam que a sociologia da

    educao em Portugal, que continue a tomar como objecto as polticas educativas, no

    pode deixar de considerar as novas formas hbridas de regulao social (cf., por exemplo,

    Barroso, 2003a) e o papel de agncia que, cada vez mais, os actores colectivos

    assumem, nos diversos contextos marcados pela globalizao. Certamente que haver,

    cada vez mais, trabalhos a procurar essas articulaes de forma intencional, ajudando,

    tambm neste aspecto, a abrir as cincias da educao, em geral, e a sociologia da

    educao, em particular.

    Perante esta diversidade de temticas, autores e metodologias, parecem

    inevitveis as ambiguidades que atravessam a anlise sociolgica das polticas

    educativas (Teodoro, 1997). A prpria existncia de nuances diversas na justificao e

    configurao deste subcampo que, por sua vez, se reflectem, directa ou

    indirectamente, na pluralidade de denominaes em uso na literatura especializada

    contribui tambm para manter algumas indecises conceptuais. O confronto crtico com

    estas ambiguidades no tem impedido, todavia, como acabou de se exemplificar, que

    uma parte muito significativa dos trabalhos includos nesta sntese tenham como objecto

    12

  • central as polticas educativas.

    Outros objectos de investigao na sociologia da educao

    Para alm das polticas educativas, h muitas outras problemticas que tm vindo

    a ser consideradas em termos de pesquisa e de reflexo terico-conceptual, inscrevendo-

    se (ou podendo ser inscritas) no campo mais amplo da sociologia da educao em

    Portugal. Como quero relembrar, no pretendo seno reter algumas referncias a

    trabalhos mais recentes ou actualizar algumas j feitas em snteses anteriores, mesmo

    porque acabmos recentemente de completar e de comemorar trs dcadas de

    democracia ps revoluo de Abril de 1974, que no podem, nem devem, fazer esquecer

    que, ao longo desse tempo, se abriram horizontes largos cincias sociais e que

    tambm, no que diz respeito sociologia da educao, esto por estudar e conhecer

    muitos outros percursos e objectos de pesquisa.

    No entanto, sobretudo desde finais dos anos noventa, surgiram, com maior

    frequncia, trabalhos com caractersticas prprias de uma sociologia da educao

    multicultural e inter/multicultural (Seabra, 1999; Peres, 1999; Stoer & Corteso, 1999;

    Resende & Vieira, 2002), bem como contributos relacionveis, mas distintos, que

    procuram articulaes entre etnicidade e gnero (Casa-Nova, 2002a, 2000b) e entre

    desigualdades de gnero e educao (Arajo, Fonseca, Magalhes & Leite, 2002; A. M.

    Ferreira, 2002). Para alm disso, outras perspectivas analticas tm considerado a

    questo da "incomensurabilidade da diferena" (Stoer & Magalhes, 2001) e outras,

    ainda, tm procurado articular as diferenas com as questes da justia educativa (cf.,

    por exemplo, Resende, 2003b). Alis, a problemtica da justia e da educao, tal como

    muitas outras problemticas que tm sido fortemente influenciadas por autores

    estrangeiros, aparece crescentemente abordada por autores portugueses (cf., por

    exemplo, Correia, 2000, 2003; Estvo, 2001; 2002). H tambm novos acrscimos a

    uma sociologia dos professores (e dos pais) e das suas prticas educativas (C. A. Gomes,

    1998; Arajo, 2000; Corteso, 2000; Caria, 2000, 2002; Correia & Matos, 2001a; J. A.

    Lima, 2002a, 2002b; Lima & S, 2002), bem como novas aproximaes (ainda

    fragmentrias) a problemticas j anteriormente sinalizados, directa ou indirectamente

    relacionadas com a configurao da educao no-escolar, e que tm vindo a ganhar

    outros impulsos atravs da anlise crtica, mais ampla, das evolues da educao

    escolar, em alguns casos implicando intencionalmente a reactualizao do objecto

    (tradicional) da sociologia da educao e/ou aprofundando os recentes factores de crise

    da escola e a revalorizao social (nas organizaes de servio e produtivas e nos

    discursos e orientaes polticos) dos contextos e processos de aprendizagem informal e

    no-formal (cf., por exemplo, Afonso, 2001b; 2003; Canrio, 2002; Cabral, 2002; Nvoa,

    13

  • 2002). Neste mesmo sentido, hoje inevitvel considerar os sentidos e significados da

    formao e aprendizagem ao longo da vida tendo, entre outros aspectos, que considerar

    as suas relaes e consequncias no contexto das chamadas sociedade da aprendizagem

    e da informao (cf. Matos, 2002; Lima, 2003; Stoer & Magalhes, 2003), bem como

    constituir como objecto de anlise sociolgica as polticas mais hbridas que procuram

    naturalizar e descomplexificar as relaes tensas e contraditrias entre, por exemplo,

    educao, competitividade e cidadania (cf. Afonso & Antunes, 2001). Apesar das polticas

    oficiais de educao de adultos que, entre ns, continuam a atravessar velhos e novos

    dilemas (cf. Benavente, Rosa, Costa & vila, 1996; Lima, Melo & Almeida, 2002),

    reconhecem-se (embora no necessariamente por referncia a elas) alguns contributos

    que nos propem outras formas de pensar as questes da educao e do

    desenvolvimento local e, em alguns casos, que enunciam, quer o papel de mediao do

    local, quer as conexes do local com questes mais amplas de ordem cultural, econmica

    e poltica (cf. Melo, 2000; Canrio, 2000; Amiguinho, 2003; Correia & Caramelo, 2003).

    Outros contributos retomam ainda, com alguma sistematicidade, o papel das

    organizaes locais, como as universidades e as suas relaes com a comunidade (cf.,

    por exemplo, Loureiro, 2001; Loureiro & Cristvo, 2001). Aparecem tambm

    contribuies para uma sociologia do ensino secundrio (Resende & Vieira, 1998;

    Azevedo, 2000) ou do ensino superior (Amaral & Magalhes, 2000; Seixas, 2003;

    Cabrito, 2000, 2002; Arroteia & Martins, 1998; Arroteia, 2000; Martins, Arroteia &

    Gonalves, 2002; M. Vieira, 2001; Caria, 2001). Podem igualmente considerar-se

    estudos e reflexes que contribuem para uma sociologia das polticas e prticas de

    formao (Barroso & Canrio, 1999; Estvo, 1999; M. A. Silva, 2001, 2003; Torres,

    2001), bem como esto a ganhar uma crescente visibilidade social e acadmica, por um

    lado, novas problemticas congruentes com uma sociologia da educao da infncia (cf.

    Vilarinho & Seabra, 1999; Seabra, 2000; M. Sarmento, 2002a, 2002b; M. Ferreira,

    2002), algumas das quais elegem como prioridade as polticas educativas para a infncia

    (cf. Formosinho & Vasconcelos, 1996; Vilarinho, 2000a, 2000b, 2000c, 2002a, 2002b,

    2004; Formosinho & T. Sarmento (2000); M. Sarmento, 2001; Vasconcelos, 2000, 2001;

    Vasconcelos, coord., 2003), ao mesmo tempo em que, por outro lado, emerge entre ns

    uma sociologia da infncia mais claramente interdisciplinar e que pode ser

    conceptualizada como "um espao de trabalho onde se cruzam socilogos e outros

    cientistas sociais de diferente provenincia disciplinar (como a economia, a demografia, a

    sociologia da sade, a sociologia da famlia, a sociologia da educao, os estudos

    femininos, entre outros)" (M. Sarmento, 2000b, p. 147). Com este enfoque, mais aberto

    a uma maior diversidade de contributos disciplinares, comeam a adquirir alguma

    importncia no panorama portugus vrios trabalhos (cf. Almeida, 2000; M. Sarmento,

    2000a, 2000b; M. Sarmento & Cerisara, orgs., 2004); Ferreira, Rocha & Vilarinho, 2000;

    Rocha, Ferreira & Vilarinho, 2002a, 2002b). Ainda em relao s reactualizaes do(s)

    14

  • objecto(s) da sociologia da educao em Portugal, parece tambm estar a surgir um

    interesse renovado pelos estudantes de diferentes nveis de ensino, pelas suas prticas

    associativas e formas de mobilizao (cf. Estvo & Afonso, 1998; Gomes & Lima, 1998;

    Palhares, 1998; Drago, 2004), pelas suas prticas culturais e relacionais dentro e fora do

    contexto escolar (cf. Lopes, 1997, 2003), pelas suas culturas, identidades juvenis,

    dinmicas de escolaridade e projectos relativos ao trabalho (cf. Pais, 1998, 1999; Alves,

    1998; Fonseca, 2003; Abrantes, 2003), pela "alunizao da juventude" (cf. Correia &

    Matos, 2001b; Canrio & Alves, 2000) e pelas violncias do e no contexto escolar (cf.

    Correia & Matos, orgs., 2003). Relativamente aos estudos sobre as questes de gnero,

    parece evidente uma maior cumulatividade da investigao nesta rea, para cuja

    visibilidade social e acadmica muito tem contribudo (principalmente, mas no

    exclusivamente) o trabalho de algumas socilogas da educao portuguesas (cf., por

    exemplo, Arajo, 2001; Arajo & Magalhes, 1999; Arajo & Henriques, 2000), trabalho

    esse publicado em livros (nacionais e estrangeiros) e em peridicos, alguns mais

    recentes, como a revista ex aequo, da Associao Portuguesa de Estudos sobre as

    Mulheres. Finalmente, e em simultneo com uma internacionalizao crescente da

    produo sociolgica no campo da educao (cf., por exemplo, Nvoa, 1998, 2000b;

    Arajo, 1999; Ferreira, Rocha & Vilarinho, 2000; Magalhes & Stoer, 2003), observa-se

    uma evidente preocupao por parte dos investigadores portugueses em ter em

    considerao o contexto europeu e mundial, dando relevo no apenas s instncias

    nacionais como tambm s instncias supranacionais na configurao das polticas

    educativas (Antunes, 1999, 2000, 2001, 2003; Teodoro, 2003a; Afonso, 2001c, 2001d;

    Barroso 2003c). So ainda de sinalizar trabalhos que retomam questes mais

    abrangentes e dilemas recorrentes no nosso sistema educativo (Sebastio, 1998;

    Esteves, 2000; R. Gomes, 2001; Teodoro, 2003b, 2003c) ou que convocam e

    reactualizam quadros terico-conceptuais especficos e autores centrais na configurao

    do campo da sociologia da educao (cf., por exemplo, Grcio, 2002; Mendes & Seixas,

    2003;

    Adoptando uma atitude de maior estabilidade e durabilidade, podemos hoje

    certamente reconstituir percursos, confrontar leituras crticas e desenvolver novos

    objectos em torno de diferentes contextos sociais e educacionais e isso comea j a

    ser visvel pela produo de trabalhos de pesquisa sociolgica mais demorados e

    metodologicamente mais consistentes. Os olhares problematizadores da sociologia da

    educao devero continuar a abrir-se a outros objectos, aprofundando analiticamente

    os novos desafios postos sociedade portuguesa, num contexto de integrao europeia

    e de globalizao.

    Sendo tradicionalmente sociologia da Escola, mas procurando ir cada vez mais

    alm na compreenso dos espaos emergentes de educao no-formal e informal, a

    15

  • sociologia da educao em Portugal tem que se reinventar permanentemente, desejando

    o confronto mais frequente e sistemtico com investigadores estrangeiros e com uma

    nova gerao de socilogos portugueses.

    A sociologia da educao e os novos contextos e processos educativos

    no-escolares

    Numa atitude mais prospectiva, gostaria, antes de terminar esta minha

    interveno, de chamar a ateno para a oportunidade que temos nossa frente para

    "abrir" e renovar a sociologia da educao atravs da reflexo e investigao em torno

    daquilo que poderia designar como a crescente visibilidade e valorizao da educao

    informal e no-formal, que tem vindo a verificar-se, a partir da ltima dcada e meia, em

    decorrncia das mudanas sociais, polticas, culturais e econmicas em curso.

    Retomando aproximaes anteriores, seria muito importante assumir que sociologia

    da educao no apenas deve continuar a estudar a Escola, mas tambm deve estar

    atenta emergncia e ao desenvolvimento de outros contextos e processos de educao

    e aprendizagem (no-formal e informal) que esto ganhando crescente importncia e

    visibilidade no mundo contemporneo.

    A sociologia da educao, enquanto disciplina acadmica e campo de investigao,

    tem sido, em boa medida e em diferentes pases, uma sociologia da Escola e dos

    processos educativos formais. Com algumas nuances importantes, os paradigmas de

    maior tradio na anlise sociolgica da educao como o funcionalismo (nas suas

    diferentes verses), ou as teorias mais longamente referenciadas, como as teorias da

    correspondncia e as teorias da reproduo social e cultural , sempre reconheceram,

    por razes muito diferentes, uma importncia decisiva Escola, num caso, justificando

    os processos de educao e socializao escolar em funo das relaes com o sistema

    econmico e outros sistemas sociais, noutro caso, procurando explicar e denunciar a

    subordinao da escola s exigncias e estratgias de classe, ou s ideologias

    socialmente dominantes. ainda essa escola o principal espao e lugar onde a sociologia

    da educao, num eventual cruzamento com as pedagogias crticas, se confronta com as

    teorias da resistncia e as teorias do inter/multiculturalismo, assumindo, tambm ela,

    uma linguagem da possibilidade, inconformada com a denncia e empenhada em

    construir alternativas concretas e inovadoras.

    Embora de forma muito desigual e descontnua consoante os contextos nacionais,

    a longa tradio da sociologia da educao como sociologia da Escola vai certamente

    manter-se porque, por um lado, no previsvel (nem desejvel) que a Escola possa ser

    facilmente substituda na sua funo histrica e cultural e, por outro, porque

    continuamos a assistir incorporao de novas investigaes, reflexes e quadros

    16

  • terico-conceptuais que so sociologicamente relevantes por causa da Escola e,

    sobretudo, mais pertinentes quando desenvolvidos nas e atravs das escolas. Porm,

    sendo a sociologia da educao um campo cientfico construdo em grande medida por

    causa da Escola, ele no pode reactualizar-se verdadeiramente se continuar confinado

    aos contextos e processos educativos formais. isso que se pretende induzir em termos

    de pesquisa e de reflexo terico-conceptual quando se prope a designao de

    sociologia da educao no-escolar. Isto , a sociologia da educao deve ser sensvel,

    cada vez mais, emergncia e centralidade social de novos contextos e processos

    educativos (informais e no-formais), de modo a dar conta de outras formas de

    educao, formao e aprendizagem, no subordinadas e no subordinveis ao

    paradigma escolar14. isso precisamente que eu quero salientar ao retomar aqui a

    designao de sociologia da educao no-escolar que , antes de tudo, uma

    designao estratgica no sentido em que tem como principal objectivo promover a

    necessria visibilidade social e acadmica de novos objectos e temticas de investigao

    no interior da Sociologia da Educao15. No se trata, portanto, de inventar uma nova

    fragmentao (ou especializao) do saber sociolgico para a qual posteriormente se

    deseja, ou se espera, a afirmao de uma nova "soberania" disciplinar. Nada disso.

    Trata-se apenas de contribuir para abrir e alargar as fronteiras da sociologia da educao

    para alm dos limites a que esta disciplina tem sido muitas vezes enclausurada. Como

    sinalizei num texto anterior a este propsito, e lembrando a observao de uma

    sociloga j em meados da dcada de 1970, necessrio introduzir algumas rupturas

    em relao "prtica ortodoxa da sociologia da educao" porque esta se traduz por

    vezes na excessiva identificao entre o que se faz nos departamentos universitrios e

    aquilo que se julga ser o campo da disciplina (cf. Mnica, 1977). De qualquer modo, a

    sociologia da educao no-escolar (uma vez que , antes de mais, sociologia da

    educao), deve ser capaz de continuar a mobilizar (agora tambm em relao

    educao informal e no-formal) os contributos da teoria sociolgica e outros adquiridos

    da pesquisa emprica que se mostrem particularmente pertinentes e adequados s

    realidades educacionais contemporneas.

    Ao referir-me ao facto de os processos e contextos educativos no-formais serem

    14 Convm lembrar que as formas de aprendizagem e educao no subordinveis ao paradigma escolarpodem ocorrer tanto no interior da escola como, sobretudo, fora dela. esse precisamente o sentido quequero transmitir quando falo de no-escolar. O no-escolar (tanto pode ocorrer na escola como fora da escola)basta que estejamos perante formas de educao e aprendizagem que sejam diferentes daquelas em tornodas quais se estrutura a escola tradicional. Dito de outra maneira, mesmo numa escola tradicional pode haveralguns momentos e espaos de educao e aprendizagem (informal e no-formal) que no estejamcondicionados pela sequencialidade curricular, pela rigidez da programao, pela avaliao em funo dacertificao e da classificao, ou pelas assimetrias nas relaes entre professores e alunos, apenas para falarem algumas caractersticas do paradigma escolar. Certamente que estaro ainda mais distantes do paradigmaescolar muitas das formas de educao popular de adultos ou de educao no contexto dos movimentossociais, para referir apenas alguns exemplos (cf., por exemplo, Gohn, 1992, 1999; Caldart, 2000).

    15 Algumas destas reflexes foram inicialmente produzidas em alguns textos que publiquei em finais dos anosoitenta e incio dos anos noventa. Ver por todos, Afonso (2003).

    17

  • particularmente adequados para se constiturem como objecto da sociologia da educao

    no-escolar, tenho em mente o facto de a imensa diversidade de aprendizagens e

    possibilidades educativas espontneas, fluidas, diversificadas, instveis e no

    organizadas, para as quais remete a designao de educao informal, no ser,

    metodologicamente e por comparao com as formas de educao no-formal, to

    facilmente constituvel como objecto de estudo sociolgico autnomo, sabendo, todavia,

    que so cada vez mais frequentes os trabalhos de investigao que tomam como objecto

    as aprendizagens e processos educativos informais, no apenas continuando a dar

    ateno a contextos como o(s) da(s) famlia(s) ou aqueles que se constituem na

    interaco com as diversas culturas juvenis, mas tambm, mais recentemente,

    privilegiando os estudos etnogrficos e autobiogrficos em contextos organizacionais

    hospitalares, empresariais, escolares e associativos. Se nestes contextos organizacionais

    e de trabalho ocorrem (e tm sido estudados) processos de educao informal (cf. por

    exemplo, Guimares, 2002), tambm ocorrem (e, certamente, de uma forma mais

    acessvel ao prprio investigador), processos de educao e aprendizagem no-formal.

    precisamente em funo da acessibilidade e da maior probabilidade de

    constituio e manuteno de condies de observao sistemtica (para alm da

    compreenso dos aspectos epistemolgicos em causa) que eu tenho proposto que uma

    sociologia da educao (no-escolar) dever caracterizar-se por atender

    preferencialmente, mas no exclusivamente, aos contextos e processos relevantes de

    educao e aprendizagem no-formal. Neste sentido, por exemplo, o estudo das

    associaes pode ser particularmente interessante para o socilogo da educao,

    sobretudo se ele tiver em considerao aquelas que procuram as (re)articulaes locais,

    nacionais e globais, preocupando-se com questes cada vez mais centrais no mundo

    contemporneo, como a defesa (e educao) dos direitos dos consumidores, a

    preservao do meio ambiente e a educao ecolgica, ou a educao e o

    envelhecimento humano, para nomear apenas algumas. Do mesmo modo, nos ltimos

    anos tm emergido outros factores que se podero constituir tambm como

    oportunidade para reactualizar e expandir o campo de anlise e investigao da

    sociologia da educao no-escolar. Refiro-me s orientaes e polticas que so

    produzidas a partir de organizaes internacionais e supranacionais (como a Unio

    Europeia) e que dizem respeito chamada sociedade da aprendizagem ou sociedade

    cognitiva, as quais parecem estar directa ou indirectamente relacionadas com a chamada

    crise da escola.

    Neste sentido, a crescente visibilidade social do campo da educao no-formal (e

    certamente do campo da educao informal) no separvel das representaes e dos

    discursos em torno da chamada crise da educao escolar. Muito embora os discursos

    sobre a crise da educao escolar sejam to antigos como a prpria Escola, os factores

    supostamente geradores da actual crise so hoje mais amplos e heterogneos. No

    18

  • contexto actual, as referncias crise da educao escolar remetem (implcita e

    explicitamente) para condicionantes econmicas, sociais e politico-ideolgicas muito

    diversificadas e, consequentemente, as explicaes produzidas e divulgadas so hoje

    mais heterogneas e contraditrias do que em outras pocas e conjunturas histricas.

    Na impossibilidade de aqui recensear, de forma mais cuidada e aprofundada,

    todas as variveis em jogo, gostaria de lembrar apenas que a crise da educao escolar

    no pode ser compreendida sem levar em considerao os seguintes factos: i) as

    condies actuais de expanso e internacionalizao da economia capitalista num

    contexto de dominncia ideolgica neoliberal; ii) a emergncia do capitalismo

    informacional (Castells, 1998), as mutaes aceleradas nas formas de organizao do

    trabalho e a inevitabilidade (tambm, em grande medida, ideologicamente construda)

    do desemprego estrutural, a afectar sobretudo as novas geraes; iii) a permeabilidade e

    vulnerabilidade da Escola s presses sociais presses que permitem que esta aceite,

    quase sempre passivamente, ser o bode expiatrio para as crises econmicas cada vez

    mais frequentes; iv) os discursos vulgares que induzem os cidados a pensar que a falta

    de emprego devida no qualificao dos indivduos, sendo esta no qualificao, por

    sua vez, acriticamente atribuda incapacidade estrutural da Escola para preparar os

    estudantes em funo das (supostas) necessidades da economia; v) a perda de

    confiana no valor social dos diplomas, induzida pela distores nas relaes entre a

    educao e o mercado de trabalho (veja-se, por exemplo, o crescente desemprego dos

    licenciados, a proliferao de empregos precrios disputados por portadores de

    qualificaes superiores s exigidas para o exerccio das funes que lhe so propostas,

    a existncia de contextos de trabalho indutores de regresses culturais); vi) a

    centralidade dos meios de comunicao de massa que se constituem como fortes

    agentes de socializao secundria, substituindo ou neutralizando a aco dos agentes e

    contextos de socializao primria; vii) a constatao, sinalizada em trabalhos recentes,

    de que a Escola, j no sendo capaz de cumprir cabalmente os mandatos que h muito

    lhe foram atribudos, continua (paradoxalmente) a ser pressionada para assumir novos

    mandatos, na medida em que os problemas sociais aumentam, se diversificam e se

    complexificam; viii) a emergncia de um sentimento anti-escola que se expressa, em

    alguns pases, pela existncia de um movimento de defesa do ensino em contexto

    familiar (home schooling), movimento este que estimulado por discursos anti-

    estatistas que reclamam do fracasso da escola pblica e que so promovidos por uma

    mescla de sectores religiosos fundamentalistas e segmentos neoliberais e

    neoconservadores desejosos de restaurar valores sociais e educacionais tradicionais

    (sobre este ltimo facto, ver Apple, 2000).

    Estes e outros factos, reais ou ideologicamente construdos, que podem ser

    convocados para explicar a actual crise da educao escolar so, como acima comecei

    por referir, relativamente sincrnicos com a expanso e recente revalorizao dos

    19

  • campos da educao no-formal e informal. No entanto, importante observar que,

    apesar deste relativo sincronismo, a revalorizao da educao no-formal e informal s

    em parte pode ser atribuda crise da Escola. Na verdade, nem todos os indicadores da

    crescente (e aparentemente paradoxal) pedagogizao da vida social so imediatamente

    explicveis pela crise da Escola. Veja-se a este propsito a emergncia dos novos lugares

    imateriais e virtuais de educao no-formal e informal que configuram o ciberespao

    (cf. Alava, 2002), ou os contextos e processos, no menos fluidos e de fronteiras

    tambm instveis, que comeamos a relacionar com a chamada sociedade cognitiva (cf.

    Comisso Europeia, 1995).

    O que importa considerar por agora que se verdade que estes novos lugares

    da educao (no-formal e informal) se originaram em fenmenos que pouco ou nada

    tm a ver com a crise da Escola, tambm verdade que eles podero vir a acentuar e

    aprofundar a crise dessa mesma Escola, sobretudo se forem ocupados e controlados por

    interesses econmicos dominantes a nvel nacional e global. Por estas e outras razes,

    precisamos de uma sociologia da educao (no-escolar) que afirme a importncia dos

    contextos e processos de educao e aprendizagem para alm da escola no no

    sentido de deslegitimar a funo da Escola, mas sim no sentido de alargar o campo da

    Educao e, atravs disso, contribuir tambm para renovar a Escola. Tal como tem

    acontecido em relao educao formal, tambm a educao informal e no-formal

    podem inscrever-se predominantemente quer em lgicas de reproduo e de regulao,

    quer em lgicas de mudana e de emancipao social. Por isso, e ao contrrio do que

    pretendem alguns poderes polticos e econmicos dominantes, necessrio que a

    crescente valorizao dos novos lugares e tempos da educao informal e no-formal

    no ocorra contra a Escola, ou custa da crise actual dessa mesma Escola. Os caminhos

    e olhares mais crticos da sociologia da educao devero abrir-se tambm a estes novos

    desafios postos s sociedades contemporneas. Espaos como os deste Seminrio so

    cruciais para pensar esses desafios e reinventar o futuro.

    BIBLIOGRAFIA

    AAVV. (1988) Actas da I Conferncia Internacional de Sociologia da Educao. Faro:Escola Superior de Educao.

    AAVV. (1990) A Sociologia e a Sociedade Portuguesa na Viragem do Sculo. Lisboa:Fragmentos, 2 vols.

    AAVV. (1993) Estruturas Sociais e Desenvolvimento. Lisboa: Fragmentos, 2 vols.

    20

  • AAVV. (1996) Actas da II Conferncia Internacional de Sociologia da Educao. Faro:Escola Superior de Educao.

    ABRANTES, Pedro (2003) Os Sentidos da Escola. Identidades juvenis e dinmicas deescolaridade. Oeiras: Celta.

    AFONSO, Almerindo J (1994) "A centralidade emergente dos novos processos deavaliao no sistema educativo portugus. Frum Sociolgico, n 4, pp. 7-18.

    AFONSO, Almerindo J (1997) "O neoliberalismo educacional mitigado numa dcada degovernao social-democrata. Revista Portuguesa de Educao, vol. 10, n 2, pp.103-137.

    AFONSO, Almerindo J. (1998) Polticas Educativas e Avaliao Educacional para umaanlise sociolgica da reforma educativa em Portugal (1985-1995). Braga,Universidade do Minho.

    AFONSO, Almerindo J (2000) "Polticas educativas em Portugal, 1985-2000: a reformaglobal, o pacto educativo e os reajustamentos neo-reformistas", in A. CATANI, &R. OLIVEIRA (orgs.) Reformas Educacionais em Portugal e no Brasil. BeloHorizonte: Autntica, pp. 17-40.

    AFONSO, Almerindo J. (2001a) "Tiempos e itinerarios portugueses de la sociologa de laeducacin: (dis)continuidades en la construccin de un campo". Revista deEducacin, n 324, pp. 9-22.

    AFONSO, Almerindo J. (2001b) "Os lugares da educao", in Olga von Simson et al.(orgs.) Educao No-Formal: Cenrios da Criao. Campinas. Editora daUnicamp, pp. 29-38.

    AFONSO, Almerindo J. (2001c) "A redefinio do papel do Estado e as polticaseducativas: elementos para pensar a transio". Sociologia, Problemas ePrticas, n 37, pp.33-48.

    AFONSO, Almerindo J. (2001d) "Reforma do Estado e polticas educacionais: entre a crisedo Estado-nao e a emergncia da regulao supranacional". Educao &Sociedade, n 75, pp. 15-32.

    AFONSO, Almerindo J. (2003) "A Sociologia da Educao e os contextos e processoseducativos no-escolares". Educao & Linguagem, ano 6, n 8, pp. 35-44.

    AFONSO, Almerindo J. & ANTUNES, Ftima (2001) "Educao, cidadania ecompetitividade: algumas questes em torno de uma nova agenda terica epoltica". Cadernos de Cincias Sociais, ns 21-22, pp. 5-31.

    ALAVA, Sraphin (2002) Ciberespao e Formaes Abertas. Rumo a novas prticaseducacionais? Porto Alegre: Artmed.

    ALMEIDA, A. Nunes (2000) "A sociologia descoberta da infncia: contextos e saberes".Frum Sociolgico, ns 3/4 (2 srie), pp. 11-31.

    ALVES, Natlia (1998) "Escola e trabalho: atitudes, projectos e trajectrias", in M.Villaverde Cabral & J. M. Pais (orgs.) Jovens Portugueses de Hoje. Oeiras: Celta,pp. 53-133.

    ALVES, Natlia & CANRIO, Rui (2004) "Escola e excluso social: das promessas sincertezas". Anlise Social, vol. XXXVIII, n 169, pp. 981-1010.

    21

  • AMARAL, Alberto; MAGALHES, Antnio M. (2000) O conceito de stakeholder e o novoparadigma do ensino superior. Revista Portuguesa de Educao, vol. 13, n 2,pp. 7-28.

    AMIGUINHO, Ablio (2003) "Educao e mundo rural: percursos biogrficos, interveno epesquisa". Educao, Sociedade & Culturas, n 20, pp. 9-42.

    ANTUNES, Ftima (1998) Polticas Educativas para Portugal, anos 80-90. O debateacerca do ensino profissional na escola pblica. Lisboa: IIE.

    ANTUNES, Ftima (1999) "A Comunidade/Unio Europeia e a transnacionalizao daeducao: elementos para debate", in A. Estrela & J. Ferreira (orgs.) Educao ePoltica [Actas do congresso]. Lisboa, Faculdade de Psicologia e de Cincias daEducao, pp. 855-868.

    ANTUNES, Ftima (2000) "Novas diferenciaes e formas de governao em educao: oprocesso de criao das escolas profissionais em Portugal". Revista Brasileira dePoltica e Administrao da Educao, vol. 16, n 1, pp. 31-45.

    ANTUNES, Ftima (2001) "Os locais das escolas profissionais: novos papis para o Estadoe para a europeizao das polticas educativas", in Stephen Stoer et al. (orgs.)Transnacionalizao da Educao. Da crise da educao 'educao' da crise.Porto: Afrontamento, pp. 163-208.

    ANTUNES, Ftima (2003) Polticas educativas Nacionais e Globalizao. NovasInstituies e Processos Educativos. O Subsistema de Escolas Profissionais emPortugal (1987-1998). Braga: Universidade do Minho [Dissertao deDoutoramento].

    APPLE, Michael (2000) Away with all teachers: the cultural politics of home schooling.International Studies in Sociology of Education, vol. 10, n 1, pp. 61-80.

    ARAJO, Helena C. (1999) "Pathways and subjectivities of portuguese women Teachersthrough their life histories, 1919-1933, in K. Weiler & S. Middleton (orgs.)Telling Women Teachers Lives. Buckingham/Philadelphia: Open University, pp.113-129

    ARAJO, Helena C. (2000) Pioneiras na Educao. As professoras primrias na viragemdo sculo, 1870-1933. Lisboa: Instituto de Inovao Educacional.

    ARAJO, Helena C. (2001) "Gnero, diferena e cidadania na escola: caminhos abertospara a mudana social?", in D. Rodrigues (org.) Educao e Diferena. Valores eprticas para uma educao inclusiva. Porto: Porto Editora, pp. 143-154.

    ARAJO, Helena C. & MAGALHES, Maria Jos (1999) Des-fiar as Vidas. Perspectivasbiogrficas, mulheres e cidadania. Lisboa: CIDM.

    ARAJO, Helena C. & HENRIQUES, Fernanda (2000) Poltica para a igualdade entre ossexos em educao em Portugal: uma experincia de realidade. ex aequo, ns2-3, pp. 141-151.

    ARAJO, Helena C.; FONSECA, Laura; MAGALHES, Maria Jos & LEITE, Carlinda (2002)"Em busca da interculturalidade entre mulheres ciganas e padjas na educao".ex aequo, n 7, pp. 149-161.

    ARROTEIA, J. Carvalho (2000) Aspectos da avaliao do ensino superior. RevistaPortuguesa de Educao, vol. 13, n 2, pp. 111-123.

    22

  • ARROTEIA, J. Carvalho & MARTINS, Antnio (1998) Insero Profissional dos Diplomadospela Universidade de Aveiro. Aveiro: Universidade de Aveiro.

    AZEVEDO, Joaquim (2000) O Ensino Secundrio na Europa. O neoprofissionalismo e osistema educativo mundial. Porto: Asa.

    BALL, Stephen (1994) "At the cross-roads: education policy studies". British Journal ofEducational Studies, vol. 42, n 1, pp. 1-5.

    BARBIERI, Helena (2003) "Os TEIP, o projecto educativo e a emergncia de 'perfis deterritrio' ". Educao, Sociedade & Culturas, n 20, pp. 43-75.

    BARROSO, Joo (1998) "Descentralizao e autonomia: devolver o sentido cvico ecomunitrio escola pblica". Colquio/Educao e Sociedade, n 4, pp. 32-58.

    BARROSO, Joo (1999) "Regulao e autonomia da escola pblica: o papel do Estado,dos professores e dos pais". Inovao, vol. 12, n 3, pp. 9-33.

    BARROSO, Joo (2001) "O sculo da escola: do mito da reforma reforma de um mito",in AAVV., O Sculo da Escola. Entre a Utopia e a Burocracia. Porto: Asa, pp. 63-94.

    BARROSO, Joo (2003a) "Regulao e desregulao nas polticas educativas: tendnciasemergentes em estudos de educao comparada", in J. Barroso (org.) A EscolaPblica Regulao, desregulao, privatizao. Porto: Asa, pp. 19-48.

    BARROSO, Joo (2003b) "A 'escolha da escola' como processo de regulao: integraoou seleco social?", in J. Barroso (org.) A Escola Pblica Regulao,desregulao, privatizao. Porto: Asa, pp. 79-109.

    BARROSO, Joo (2003c) "Organizao e regulao dos ensinos bsico e secundrio, emPortugal: sentidos de uma evoluo". Educao & Sociedade, vol. 24, n. 82, pp. 63-92.

    BARROSO, Joo & CANRIO, Rui (1999) Centros de Formao das Associaes de Escolas das expectativas s realidades. Lisboa: IIE.

    BARROSO, Joo & VISEU, Sofia (2003) "A emergncia de um mercado educativo noplaneamento da rede escolar: de uma regulao pela oferta a uma regulaopela procura". Educao & Sociedade, vol. 24, n. especial, pp. 897-921.

    BARROSO, Joo (org.) (2003) A Escola Pblica Regulao, desregulao, privatizao.Porto: Asa.

    BARTON, Len & WHITTY, Geoff (1988) "Exercising the sociological imagination inadversity: sociologists and teacher education under Thatcherism". In AAVV.,Actas da 1 Conferncia Internacional de Sociologia da Educao. Faro: ESE deFaro, pp. 43-62.

    BENAVENTE, Ana; GRCIO, Srgio (1989) "A reforma do ensino um processo social".Sociologia Problemas e Prticas, n 6, pp. 157-167.

    BENAVENTE, Ana (2001) "Portugal, 1995-2001: reflexes sobre democratizao equalidade na educao bsica". Revista Iberoamericana de Educacin, n 27, pp.99-123.

    BENAVENTE, Ana (coord.); ROSA, Alexandre; COSTA, A. Firmino & VILA, Patrcia (1996)A Literacia em Portugal resultados de uma pesquisa extensiva e monogrfica.Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian/ Conselho Nacional de Educao.

    23

  • BONAL, Xavier (1998) Sociologa de la Educacin. Uma aproximacin crtica a lascorrientes contemporneas. Barcelona: Paids.

    CABRAL, M. Villaverde (2002) "Espaos e temporalidades sociais da educao emPortugal", in AAVV., Espaos de Educao, Tempos de Formao. Lisboa:Fundao Calouste Gulbenkian, pp. 47-67.

    CABRITO, Belmiro (2000) Os estudantes universitrios e o papel do Estado na produode ensino superior. Revista Portuguesa de Educao, vol. 13, n 2, pp. 199-221.

    CABRITO, Belmiro (2002) O Financiamento do Ensino Superior. Condio Social eDespesas de Educao dos Estudantes Universitrios em Portugal. Lisboa: Educa.

    CALDART, Rosali Sales (2000) "O MST e a formao dos sem terra: o movimento socialcomo princpio educativo", in P. Gentili & G. Frigotto (orgs.) A Cidadania Negada.Polticas de Excluso na Educao e no Trabalho. Buenos Aires: CLACSO, pp.125-144.

    CANRIO, Rui (2000) "A escola no mundo rural: contributos para a construo de umobjecto de estudo". Educao, Sociedade & Culturas, n 14, pp. 121-139.

    CANRIO, Rui (2002) "Escola crise ou mutao?", in AAVV. Espaos de Educao,Tempos de Formao. Lisboa: F. C. Gulbenkian, pp. 141-151.

    CANRIO, Rui (2003) Sociologia da Educao I Relatrio da disciplina. Lisboa:Universidade de Lisboa/FPCE [Provas de Agregao em Cincias da Educao].

    CANRIO, Rui; ALVES, Natlia (2000) "Os trabalhos de casa vistos pelos alunos", in A.Estrela & J. Ferreira (orgs.) Diversidade e Diferenciao em Pedagogia [Actas doColquio], Lisboa: Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao /AFIRSCEpp. 591-600.

    CANRIO, Rui; ALVES, Natlia & ROLO, Clara (2000) "Territrios educativos deinterveno prioritria: entre a 'igualdade de oportunidades' e a 'luta contra aexcluso'", in AAVV., Territrios Educativos de Interveno Prioritria. Lisboa:Instituto de Inovao Educacional, pp. 139-170.

    CARIA, Telmo H. (2000) A Cultura Profissional dos Professores. Lisboa: FundaoCalouste Gulbenkian/Fundao de Cincia e Tecnologia.

    CARIA, Telmo H. (2001) "A universidade e a recontextualizao profissional doconhecimento abstracto: hiptese de investigao e aco poltica". Cadernos deCincias Sociais, n 21/22, pp. 71-85.

    CARIA, Telmo H. (2002) "O uso do conhecimento: os professores e os outros". AnliseSocial, n 164, pp. 805-831.

    CARNEIRO, Roberto (2000) "2020: 20 anos para vencer 20 dcadas de atraso educativo",in R. Carneiro; J. Caraa & Emlia So Pedro (coords) O Futuro da Educao emPortugal Tendncias e Oportunidades. Um estudo de reflexo prospectiva.Lisboa: Ministrio da Educao.

    CASA-NOVA, Maria Jos (2002b) "Etnicidade e classes sociais em torno do valorheurstico da conceptualizao da etnia como categoria social", in Educao,Sociedade & Culturas, n.16, pp. 63-82.

    CASA-NOVA, Maria Jos (2002a) Etnicidade, Gnero e Escolaridade. Lisboa: IIE.

    24

  • CASTELLS, Manuel (1998) La Era de la Informacin. Economa, Sociedad y Cultura. Vol. 3 Fin de Milenio. Madrid: Alianza.

    COMISSO EUROPEIA (1995) Ensinar e Aprender. Rumo Sociedade Cognitiva. [LivroBranco sobre educao e formao]. Luxemburgo: Servio de PublicaesOficiais das Comunidades Europeias.

    CORREIA, J. Alberto (1999) "As ideologias educativas em Portugal nos ltimos 25 anos".Revista Portuguesa de Educao, vol.12, n 1, pp. 81-110.

    CORREIA, J. Alberto (2000) "A construo cientfica do poltico em educao". Educao,Sociedade & Culturas, n. 15, pp. 19-43.

    CORREIA, J. Alberto (2003) "A construo poltico-cognitiva da excluso social no campoeducativo", in David Rodrigues (org). Persepctivas sobre a Incluso. DaEducao Sociedade. Porto. Porto editora, pp. 37-55.

    CORREIA, J. Alberto & MATOS, Manuel (2001a) Solides e Solidariedades no Quotidianodos Professores. Porto: Asa.

    CORREIA, J. Alberto & MATOS, Manuel (2001b) "Da crise da escola ao escolocentrismo",in Stephen Stoer et al. (orgs.) Transnacionalizao da Educao. Da crise daeducao 'educao' da crise. Porto: Afrontamento, pp. 91-117.

    CORREIA, J. Alberto & CARAMELO, Joo (2003) "Da mediao local ao local da mediao:figuras e polticas". Educao, Sociedade & Culturas, n 20, pp. 167-191.

    CORREIA, J. Alberto & MATOS, Manuel (orgs.) (2003) Violncia e Violncias da e naEscola. Porto:Afrontamento.

    CORREIA, J. Alberto; STOLEROFF, Alan; STOER, Stephen (1993) "A ideologia damodernizao no sistema educativo em Portugal". Cadernos de Cincias Sociais,ns 12-13, pp. 25-51.

    CORTESO, Luiza (1982) Escola, Sociedade. Que relao? Porto, Afrontamento, 1982.

    CORTESO, Luiza (2000) Ser Professor: Um ofcio em risco de extino? Porto:Afrontamento.

    DOMINGOS, Ana M. ; BARRADAS, Helena ; RAINHA, Helena & NEVES, Isabel (1986) ATeoria de Bernstein em Sociologia da Educao. Lisboa, Fundao CalousteGulbenkian.

    DRAGO, Ana (2004) Agitar Antes de Ousar O Movimento Estudantil 'antipropinas'.Porto: Afrontamento.

    ESTEVO, Carlos V. (1999) Cidadania organizacional e polticas de formao. Revistade Educao, vol. VIII, n 1 pp. 49-56.

    ESTEVO, Carlos V. (1998) Redescobrir a Escola Privada Portuguesa como Organizao.Braga: Universidade do Minho.

    ESTEVO, Carlos V. (2001) Justia e Educao. S: Paulo: Cortez.

    ESTEVO, Carlos V. (2002) "Justia complexa e educao". Revista Crtica de CinciasSociais, n 64, pp. 107-134.

    25

  • ESTEVO, Carlos V.; AFONSO, Almerindo J. (1998) "Associaes de estudantes emcontexto escolar: a construo sociolgica de uma singularidade organizacional",in Licnio C. Lima. (org.): Por Favor, Elejam a B. O associativismo estudantil naescola secundria. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, pp. 75-112.

    ESTEVES, A. Joaquim (1998) "Antnio Srgio: Notas de releitura sociolgica para aeducao". Saber Educar, n 3, pp. 53-66.

    ESTEVES, A. Joaquim (2000) "Mitos, ritos e smbolos: a escola, o trabalho e a culturanacional". Cadernos de Cincias Sociais, ns 19-20, pp. 39-60.

    ESTEVES, A. Joaquim; STOER, Stephen R. (orgs.) (1992) A Sociologia na Escola.Professores, educao e desenvolvimento. Porto, Afrontamento.

    FERNANDES, J. Viegas (1988) "A sociologia da educao na formao de professores(as):contributos para o sucesso escolar/educativo", in Actas da I ConfernciaInternacional de Sociologia da Educao. Faro: Escola Superior de Educao, pp.298-310.

    FERREIRA, Ana Maria (2002) Desigualdades de Gnero no Actual Sistema Educativo.Coimbra: Quarteto.

    FERREIRA, Fernando Ildio (2003) O Estudo do Local em Educao. Dinmicassocioeducativas em Paredes de Coura. Braga: Universiadde do Minho [Tese dedoutoramento].

    FERREIRA, Manuela (2002) As Crianas como Actores Sociais e a (Re)organizao Socialdo Grupo de Pares no Quotidiano de um Jardim de Infncia. Porto: Universidadedo Porto [Tese de doutoramento].

    FERREIRA, Manuela; ROCHA, Cristina & VILARINHO, Emlia (2000) Changingprofessional pratice: a sociology of childhood for the right of children toparticipate, in Developing Identities in Europe: Citizenship education and highereducation. Proceedings of the second Conference of the childrens. Identity andcitizenship in Europe thematic network London: CICE publication.

    FONSECA, Laura (2003) "Revisitando culturas juvenis: investimentos de raparigas naescola". ex aequo, n 7, pp. 85-98.

    FORMOSINHO, Joo (1997) "O contexto organizacional da expanso da educao pr-escolar". Inovao, vol. 10, n 1, pp. 21-36.

    FORMOSINHO, Joo & VASCONCELOS, Teresa (1996) Relatrio Estratgico para aExpanso e Desenvolvimento da educao Pr-escolar. Lisboa: Ministrio daEducao.

    FORMOSINHO, Joo & SARMENTO, Teresa (2000) "A escola infantil pblica como serviosocial: a problemtica do prolongamento de horrio". Infncia & Educao:Investigao e Prticas, n 1, pp. 7-27.

    FUNDAO CALOUSTE GULBENKIAN (1965) Centro de Investigao Pedaggica Objectivos e Orgnica. Lisboa: FCG.

    CENTRO DE INVESTIGAO PEDAGGICA (1965) Boletim Bibliogrfico e Informativo.Lisboa: FCG.

    GOHN, Maria da Glria (1992) Movimentos Sociais e Educao. So Paulo: Cortez.GOHN,Maria da Glria (1999) Educao No-Formal e Cultura Poltica. So Paulo:

    26

  • Cortez.

    GOMES, Carlos A. (1998) Conflito e Cooperao na Escola Secundria Portuguesa Umaanlise sociolgica da interaco na sala de aula. Braga: Universidade do Minho[Tese de doutoramento].

    GOMES, Carlos A. & LIMA, Licnio C. (1998) "Associativismo estudantil no ensinosecundrio e reproduo poltica das organizaes partidrias de juventude", inLicnio C. Lima (org.): Por Favor, Elejam a B. O associativismo estudantil naescola secundria. Lisboa, Fundao Calouste Gulbenkian, pp. 27-73.

    GOMES, Rui (1999) "25 anos depois: expanso e crise da escola de massas em Portugal".Educao, Sociedade & Culturas, n 11, pp. 133-164.

    GOMES, Rui (2000) Legitimao e Contingncia na Escola Secundria Portuguesa, 1974-1991. Arqueologia, genealogia e simblica da escola. Lisboa: UniversidadeTcnica de Lisboa [Tese de doutoramento].

    GOMES, Rui (2001) "A globalizao da escola de massas: Perspectivas institucionalistas egenealgicas". Revista Crtica de Cincias Sociais, n. 61, pp. 135-167.

    GRCIO, Srgio (1986) Poltica Educativa como Tecnologia Social as reformas doensino tcnico de 1948 e 1983. Lisboa: Livros Horizonte.

    GRCIO, Srgio (1998) Ensinos Tcnicos e Poltica em Portugal (1910-1990). Lisboa:Instituto Piaget.

    GRCIO, Srgio (2002) "Verso forte ou verso matizada das teorias da reproduocultural? Uma discusso". Educao, Sociedade & Culturas, n. 18, pp. 41-66.

    GRCIO, Srgio & STOER, Stephen (orgs.) (1982) Sociologia da Educao II Antologia.A Construo Social das Prticas Educativas. Lisboa: Livros Horizonte.

    GRCIO, Srgio; MIRANDA, Sucuntala; STOER, Stephen (orgs.) (1982) Sociologia daEducao I Antologia. Funes da Escola e Reproduo Social. Lisboa: LivrosHorizonte.

    GUIMARES, Paula (2002) "Espao, tempo e processos de educao informal numaenfermaria". Revista Portuguesa de Educao, vol. 15, n 1, pp. 85-109.

    LIMA, Jorge vila (2002a) "A dimenso relacional das culturas de escola: umaperspectiva estrutural", in AAVV., O Particular e o Global no virar do Milnio.Cruzar Sabes em Educao. Lisboa: Colibri/SPCE, pp. 613-629.

    LIMA, Jorge vila (2002b) "A presena dos pais na escola: aprofundamento democrticoou perverso pedaggica?", in J. A. Lima (org.) Pais e Professores: um desafio cooperao. Porto: Asa, pp. 133-174.

    LIMA, Licnio C. (1994) "Modernizao, racionalizao e optimizao: perspectivasneotaylorianas na organizao e administrao da educao". Cadernos deCincias Sociais, n 14, pp. 119-139.

    LIMA, Licnio C. (1999) "E depois de 25 de Abril de 1974. Centro(s) e periferia(s) dasdecises no governo das escolas", en Revista Portuguesa de Educao, vol. 12,n 1, pp. 57-80.

    LIMA, Licnio C. (2000) "Administrao escolar em Portugal: da revoluo, da reforma e

    27

  • das decises ps-reformistas", in A. Catani & R. Oliveira. (orgs.) ReformasEducacionais em Portugal e no Brasil. Belo Horizonte: Autntica, pp. 41-76.

    LIMA, Licnio C. (2003) "Formao e aprendizagem ao longo da vida: entre a mo direitae a mo esquerda de Mir", in AAVV., Cruzamento de Saberes, AprendizagensSustentveis. Lisboa: Fundao C. Gulbenkian, pp. 129-148.

    LIMA, Licnio C. & AFONSO, A. J. (1995) "The Promised Land: school autonomy,assessment and curriculum decision-making in Portugal". Educational Review,vol. 47, n 2, pp. 165-172.

    LIMA, Licnio C. & AFONSO, Almerindo J. (2002) Reformas da Educao Pblica.De