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Adriano Drummond Cançado Trindade
Faculdade de Direito - Universidade de Brasília
2018
Regulação do Petróleo
Por que estudar petróleo?
• Conteúdo econômico
• Matriz energética
• Conteúdo político
• Conteúdo estratégico
• Rigidez locacional
• Recurso não renovável
• Doença holandesa e maldição dos recursos naturais
Breve Histórico do Petróleo
➢ 1858 Pensilvânia – Seneca Oil Company – Coronel Drake
➢ Barril de whisky utilizado para armazenar petróleo – daí a medida até
hoje utilizada, o barril de petróleo (158,76 litros)
➢ Primeira Guerra Mundial – o petróleo passa a ser estratégico
➢ Anos 1920 – rumo ao oriente
➢ Segunda Guerra Mundial – ocupação de territórios
➢ Anos 1930, 1940, 1950 – insatisfação dos países produtores
➢ No Brasil: instituição do monopólio e criação da Petrobras (1953)
➢ 1960 – criação da OPEP e a busca em novas fronteiras exploratórias
➢ No Brasil: início da exploração (pesquisa) na plataforma continental
➢ Crise nos anos 70 – os dois choques do petróleo (1973; 1979/1980)
➢ No Brasil: início da produção nas Bacias de Campos e Santos
História Legislativa Recente do Petróleo
• Com a Lei 2.004/53, foi instituído o “monopólio” da exploração e produção
de petróleo exercido pelo Petrobras
• A partir de 1967, o monopólio foi elevado ao patamar constitucional
• Entre 1976 e 1988: prática dos contratos de risco pela Petrobras
• Em 1988, monopólio constitucional é reafirmado e enfatizado: proibição de
contratar, de compartilhar riscos e de atribuir participação
• Com a Emenda 9/95, há a “flexibilização” do monopólio – fim do monopólio
de fato?
• Lei 9.478/97: abertura do mercado + adoção de modelo regulatório +
incorporação das boas práticas internacionais
Constituição 1988
Art. 177. Constituem monopólio da União:
I - a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo e gás natural e outros
hidrocarbonetos fluidos;
II - a refinação do petróleo nacional ou estrangeiro;
III - a importação e exportação dos produtos e derivados básicos
resultantes das atividades previstas nos incisos anteriores;
IV - o transporte marítimo do petróleo bruto de origem nacional ou de
derivados básicos de petróleo produzidos no País, bem assim o
transporte, por meio de conduto, de petróleo bruto, seus derivados e
gás natural de qualquer origem;
V - (...)
Constituição 1988 – Reformas de 1995
Redação original:
Art. 177. Constituem monopólio da União:
§ 1º O monopólio previsto neste artigo inclui os riscos e resultados
decorrentes das atividades nele mencionadas, sendo vedado à
União ceder ou conceder qualquer tipo de participação, em espécie
ou em valor, na exploração de jazidas de petróleo ou gás natural,
ressalvado o disposto no art. 20, § 1º.
Redação após a EC 9/95:
Art. 177. Constituem monopólio da União:
§ 1º A União poderá contratar com empresas estatais ou privadas a
realização das atividades previstas nos incisos I a IV deste artigo
observadas as condições estabelecidas em lei.
Regime de Concessão – Traços Gerais
Fim da
atuação
exclusiva da
Petrobras e
abertura ao
capital privado
nacional e
estrangeiro
Competição
pelo direito de
E&P –
isonomia total
depois da
“Rodada Zero”
Novo modelo
jurídico de
E&P
CONCESSÃO
Risco e propriedade
privados
Tax and Royalties para o
Estado
As premissas empíricas desse
arranjo:
• risco exploratório
• média/baixa produtividade
• ambiente hostil/desconhecido
• modelo institucional sem tradição
local
Art.
26
Manutenção da
reserva da
atividade
(art. 177 CF;
arts. 4º, 5º, 21,
Lei 9.478/97)
Lei 9.478/97Art. 26. A concessão implica, para o concessionário, a obrigação de
explorar, por sua conta e risco e, em caso de êxito, produzir petróleo ou
gás natural em determinado bloco, conferindo-lhe a propriedade desses
bens, após extraídos, com os encargos relativos ao pagamento dos tributos
incidentes e das participações legais ou contratuais correspondentes.
• Oil for money: A caracterização geral feita pela literatura internacional
apresenta-o como o arranjo que garante:
• Controle máximo para a empresa de petróleo
• Direito de explorar e produzir – privado
• Propriedade da produção – privado
Inconstitucionalidade? O STF entendeu que não – ADI 3273
22
Fase de Produção
Declaração de
Comercialidade
Conclusão do
Desenvolvimento
27 anos + eventual prorrogação
Celebração do
Contrato de
Concessão
Produção strictu sensu
2 a 9 anos
Etapa de Desenvolvimento
O Contrato de Concessão para a Exploração e
Produção de Petróleo e Gás Natural no Brasil
Início da Produção
Início do Desenvolvimento
Desativação da
Instalações e
Recuperação
Ambiental
Avaliação de
Descoberta
Fase de Exploração
Etapa de Pesquisa
Pré-Sal e a Mudança de Paradigma
• Resolução CNPE 6/2007Considerando que o Conselho Nacional de Política Energética – CNPE foi
informado dos resultados dos testes de produção obtidos pela Petróleo
Brasileiro S.A. – PETROBRAS, em áreas exploratórias sob sua
responsabilidade, que apontam para a existência de uma nova e significativa
província petrolífera no Brasil, com grandes volumes recuperáveis estimados
de óleo e gás. Esses volumes, se confirmados, mudarão o patamar das
reservas do País, colocando-as entre as maiores do mundo;
Art. 1º Determinar à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis – ANP que exclua da 9ª Rodada de Licitações os blocos
situados nas bacias do Espírito Santo, de Campos e de Santos, relacionadas
às possíveis acumulações em reservatórios do Pré-sal, conforme abaixo
relacionado: (...)
Art. 4º Determinar ao Ministério de Minas e Energia que avalie, no prazo mais
curto possível, as mudanças necessárias no marco legal que contemplem um
novo paradigma de exploração e produção de petróleo e gás natural, aberto
pela descoberta da nova província petrolífera, respeitando os contratos em
vigor.
Marcos Normativos – Pré-Sal
• Lei 12.351/2010 – Institui o regime de partilha e cria o fundo social do pré-sal
• Lei 12.304/2010 – Autoriza a criação da PPSA
• Lei 12.276/2010 – Cessão Onerosa (“capitalização da Petrobras”)
• Lei 12.734/2012 – Royalties
• Lei 12.858/2013 – Destinação dos Royalties
• Lei 13.365/2016 – Revisão do Papel da Petrobras
Regime de Partilha
Royalties
Custo em Óleo
Excedente em Óleo
Excedente em Óleo: parcela da produção
de petróleo, de gás natural e de outros
hidrocarbonetos fluidos a ser repartida entre
a União e o contratado, segundo critérios
definidos em contrato, resultante da
diferença entre o volume total da produção
e as parcelas relativas ao custo em óleo,
aos royalties devidos e, quando exigível, à
participação de que trata o art. 43; (art. 2º,
III, Lei 12.351/2010)
Custo em Óleo: parcela da produção de
petróleo, de gás natural e de outros
hidrocarbonetos fluidos, exigível
unicamente em caso de descoberta
comercial, correspondente aos custos e aos
investimentos realizados pelo contratado na
execução das atividades de exploração,
avaliação, desenvolvimento, produção e
desativação das instalações, sujeita a
limites, prazos e condições estabelecidos
em contrato (art. 2º, II , Lei 12.351/2010)
Regime de Partilha• Consórcio com Petrobras e PPSA
• PPSA não participa de investimentos nem do risco
• Comitê operacional
• Definir planos de exploração e de avaliação de descoberta
• Declarar comercialidade e definir plano de desenvolvimento
• Definir programas de trabalho e de produção
• Aprovar orçamentos
• Supervisionar operações
• PPSA indica metade dos membros + Presidente (poder de veto + voto de qualidade)
• Mas: quórum qualificado para várias matérias
• Petrobras: atualmente tem direito de preferência para ser operadora em cada um dos
blocos leiloados
• Antes de 2016, era operadora obrigatória (inclusive quando não queria...)
• Após leilão de Libra, Lei 13.365/2016 reviu o papel da Petrobras
• Regime menos “estável” do que concessão - Participação da PPSA em decisões
comerciais
Leilão de Libra
• Onze empresas habilitadas, mas apenas um consórcio participou
• Bônus de assinatura de R$ 15 bi
• Lance mínimo vencedor:
Excedente em Óleo de
41,65%
• Sucesso?
• Modelo adequado?
“Government’s enthusiastic response to the auction that was not an auction”
“In spite of the pre-
salt’s promise, there
has long been
scepticism over how
much private sector
interest Libra would
attract due to an
onerous new policy
regime. Under this
framework,
introduced as part of
wave of resource
nationalism when
the discoveries were
announced in 2007,
Petrobras has to be
the sole operator of
any pre-salt field. In
Libra, there was
also a formidable
“signing bonus” of
R$15bn to be paid
by the winning
bidder upfront.”
FT, 24 Oct 2013
4ª Rodada de Partilha – 7/6/2018
Bacia Setor BlocoEmpresa / consórcio
vencedorBônus de assinatura
(R$)Excedente em óleo
oferecido (%)
Santos
SS-AUP1 Três MariasPetrobras/Chevron/
Shell100.000.000,00 49,95
SS-AUP2 UirapuruPetrobras/Petrogal/
Statoil/ExxonMobil2.650.000.000,00 75,49
Campos SC-AP5 Dois IrmãosPetrobras/Statoil/
BP Energy400.000.000,00 16,43
5ª Rodada de Partilha – 28/9/2018
Bacia Setor BlocoEmpresa / consórcio
vencedorBônus de
assinatura (R$)
Percentual mínimode excedente em
óleo (%)
Excedente em
óleo oferecido (%)
Santos
SS-
AUP1Saturno Shell/Chevron 3.125.000.000 17,54 70,2
SS-
AUP1Titã ExxonMobil/Shell 3.125.000.000 9,53 23,49
SS-
AUP2Pau-Brasil
BP/Ecopetrol/
CNOOC500.000.000 24,82 63,79
Campos SC-AP5Sudoeste de
Tartaruga VerdePetrobras 70.000.000 10,01 10,01
Modelo Regulatório Brasileiro:
Coexistência Concessão + Partilha
Papel das Estatais de Petróleo