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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Curso de Pós-Graduação em Direito do Consumidor Aula 19 PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA

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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Curso de Pós-Graduação em Direito do Consumidor

Aula 19

PROF. JOSEVAL MARTINS VIANA

Artigo 22 do Código de Defesa do Consumidor

Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias,permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados afornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais,contínuos.

Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigaçõesreferidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e areparar os danos causados, na forma prevista neste código.

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• O art. 3º do CDC inclui como fornecedor a pessoa jurídica pública e, via deconsequência, todos aqueles que em nome dela – direta ou indiretamente –prestam serviços públicos.

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Serviços essenciais

• Água e esgoto

• Telefonia

• Saúde

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• Interrupção do fornecimento de energia elétrica

• Eletrodomésticos danificados em razão de sobrecarga elétrica

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Empresa X Companhia de Energia Elétrica

• Inaplicável ao presente caso as regras do Código de Defesa do Consumidor, pois oautor não figura como destinatário final dos produtos e serviços fornecidos pelaré, mas os utiliza como meio para sua atividade empresarial. (Nesse caso, dar-se-á a análise à luz do Código Civil). O professor discorda desse entendimento,porque entende que a empresa é destinatária final do produto, tendo em vistaque a energia elétrica serve para funcionário uma máquina, como para funcionaruma geladeira.

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• A 31ª Câmara da Sessão de Direito Privado julgou Recurso de Apelação n.1000673-53.205.8.26.0356 no qual figuram como apelante ELEKTROELETRICIDADE E SERVIÇOS S/A e apelado ROCATH PÃES & MASSAS LTDA EPP, cujadecisão condenou a concessionária de energia elétrica a pagar à empresa lucroscessantes, além dos danos materiais e morais.

• Teoria finalista: é possível reconhecer a relação de consumo entre duas pessoas jurídicas quando a parte consumidora do produto ou serviço encontrar-se em posição de vulnerabilidade. REsp 476.428/SC - Rel. Minª NANCY ANDRIGHI - 3ª T -J. em 19/04/2005 - DJ 09/05/2005 p. 390.

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• É importante salientar que o prestador de serviço público de direitoprivado (concessionária de serviços públicos) responde pelos danoscausados aos seus usuários, nos termos do artigo 37, § 6º, daConstituição Federal, artigo 43 e artigo 14 do Código de Defesa doConsumidor.

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Artigo 37, § 6º, da Constituição Federal

• As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras deserviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável noscasos de dolo ou culpa.

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Artigo 43 do Código Civil

• As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmenteresponsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causemdanos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra os causadoresdo dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.

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• Princípio da Eficiência

• O serviço público tem de ser realmente eficiente e cumprir suafinalidade na realidade concreta.

• A Administração Pública, em todos os seus setores, deve concretizaratividade administrativa predisposta à extração do maior númeropossível de efeitos positivos ao administrado.

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• Apelação cível. Responsabilidade Civil. Prestação de serviço – fornecimento deenergia elétrica. Ação indenizatória por danos materiais e morais. Relação deconsumo – incidência da Lei n. 8.078/90. Responsabilidade objetiva daconcessionária. Curto-circuito, seguido de incêndio, decorrente da má fixação decabos elétricos na entrada do aparelho medidor. Interrupção no fornecimento deenergia elétrica. Resultado, na origem, de parcial procedência. Responsabilidadeobjetiva da concessionária de serviço público. Nexo de causalidade e prejuízosmateriais oriundos do evento demonstrados. Ausência de excludentes deresponsabilidade. Reparatória devida – danos emergentes e lucros cessantes.Desfecho preservado. Recurso improvido, com majoração dos honoráriosadvocatícios, nos termos do parágrafo 11º, do artigo 85, do Código de ProcessoCivil. (TJSP; Apelação 0177737-69.2009.8.26.0100; Relator (a): Tercio Pires;Órgão Julgador: 33ª Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível - 16ª Vara Cível;Data do Julgamento: 26/03/2018; Data de Registro: 28/03/2018)

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• ATENÇÃO

Na contestação, o fornecedor deverá provar que (art. 14, § 3º, incisos de I a III, do CDC)

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• PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS - FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA - MORTE DECORRENTE DEDESCARGA ELÉTRICA - Ação de indenização por danos materiais e morais - Falecimento do pai emarido das autoras em decorrência de choque elétrico ao tocar a rede elétrica enquanto tentavaajudar colega que manuseava vergalhão de aço - Relação de consumo configurada - Inversão doônus da prova - Requisitos presentes - Concessionária que se desincumbiu de seu ônus probatóriode provar a ocorrência de culpa da vítima - Artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor e art.37, § 6º, da CF - Indenização por prejuízo moral descabida - A morte do pai e marido das autorasfoi causada pelo contato com a fiação de rede de energia elétrica, que se encontrava muitopróxima ao imóvel, em decorrência de construção irregular de terraço, que avançou sobre a ruaaté menos de 1 metro de distância da fiação - Poste instalado regularmente pela companhia ré,respeitando a distância mínima de 1 metro do imóvel - Posterior construção de laje que avança nadireção da rua, caracterizando obra totalmente irregular - Ausência de nexo de causalidade entrea distância do poste de eletricidade e a morte do marido e genitor das demandantes - Ademais,houve culpa exclusiva da vítima ao não tomar cautela ao tocar em outrem que manuseava barrade aço na laje, próximo à fiação elétrica - Responsabilidade da concessionária de energia elétricaafastada - Danos morais arbitrados em R$ 150.000,00 em primeira instância - Necessidade deafastamento da indenização - Sentença reformada - Recurso principal provido, para julgar a açãoimprocedente – Recurso adesivo desprovido. (TJSP; Apelação 0014136-49.2007.8.26.0198;Relator (a): Carlos Nunes; Órgão Julgador: 31ª Câmara de Direito Privado; Foro de Franco daRocha - 1ª. Vara Cível; Data do Julgamento: 03/04/2018; Data de Registro: 03/04/2018)

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Atenção:

O corte programado não gera danos morais nem materiais

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• NULIDADE PROCESSUAL – CERCEAMENTO DE DEFESA – Inocorrência – Estandopresentes nos autos elementos de prova suficientes para formar o convencimento dojulgador, e uma vez que eventual dilação probatória não teria o condão de alterar averdade dos fatos, despicienda é a produção de outras provas – Preliminar desacolhida.PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS – ENERGIA ELÉTRICA – INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS –Corte programado do fornecimento de energia elétrica – Interrupção do fornecimentomediante aviso prévio para efetuar reparos na linha de transmissão – Procedimentoadotado pela empresa concessionária autorizado pela legislação específica, com prova daprévia comunicação do corte ao consumidor – Ausência de ato ilícito da concessionária –Cortes programados no fornecimento de energia elétrica que foram motivados porrazões de ordem técnica, necessários à manutenção da rede de distribuição em prol dointeresse público e adequada prestação de serviços à população local – Autora que nãoprovidenciou os meios necessários para manutenção de seu negócio, a fim de evitar aperda das aves, não sendo cabível indenização em favor do usuário – Sentença mantida –Recurso improvido. (TJSP; Apelação 9000002-16.2013.8.26.0629; Relator (a): CarlosNunes; Órgão Julgador: 31ª Câmara de Direito Privado; Foro de Tietê - 1ª. Vara Judicial;Data do Julgamento: 10/04/2018; Data de Registro: 10/04/2018)

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Corte de Energia Elétrica por Falta de Pagamento

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• O artigo 22 do CDC dispõe que os órgãos públicos são obrigados a fornecerprestação de serviço “quanto aos essenciais, contínuos.”

• Em caso de inadimplemento, o que devemos avaliar para ajuizamento da ação?

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• A gratuidade do fornecimento de energia elétrica não se presume, e as concessionárias de serviço público não podem ser compelidas a prestar serviços ininterruptos se o usuário deixa de satisfazer suas obrigações relativas ao pagamento.

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CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. CORTE DE FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICAPOR ATRASO DE PAGAMENTO. ESTABELECIMENTO COMERCIAL. FALTA DE AVISO PRÉVIO.DECRETO N. 774, DE 18.03.93, LEIS NS. 8.631/93, 8.987/95 E 8.078/90. DANO MORAL. I. Pode aempresa concessionária suspender o fornecimento de energia elétrica em face de atraso nopagamento de conta pelo usuário, porém deve fazê-lo mediante prévia comunicação do corte,nos termos do art. 6º, parágrafo 3º, da Lei n. 8.987/93, sujeitando-se, outrossim, pela irregulardescontinuidade de serviço público essencial, a ressarcir o prejudicado pelos danos materiais emorais daí advindos. II. De outro lado, o valor do dano moral deve ser fixado de modo razoável, afim de evitar enriquecimento sem causa da parte autora, notadamente porqueincontroversamente inadimplente no cumprimento de sua obrigação de pagar, atempadamente,a conta decorrente dos serviços prestados. III. Redução substancial do quantum indenizatório. IV.Inaplicabilidade da regra do art. 21 do CPC, porquanto entende-se, segundo a orientação firmadano REsp n. 265.350/RJ (2ª Seção, rel. Min. Ari Pargendler, DJU de 27.08.2001), que o montantedeclinado na inicial é meramente estimativo, não servindo de base para a aferição do êxito, se ovalor definitivamente fixado resultar inferior àquele. V. Juros moratórios a partir da citação, por secuidar de infração contratual. VI. Recurso especial conhecido em parte e parcialmente provido.

(REsp 285.262/MG, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em22/10/2002, DJ 17/02/2003, p. 282)

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DECISÃO EM SENTIDO CONTRÁRIO

ADMINISTRATIVO. DIREITO DO CONSUMIDOR. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO.AUSÊNCIA DE PAGAMENTO DE TARIFA DE ENERGIA ELÉTRICA. INTERRUPÇÃO DOFORNECIMENTO. CORTE. IMPOSSIBILIDADE. ARTS. 22 E 42, DA LEI Nº 8.078/90(CÓDIGO DE PROTEÇÃO E DEFESA DO CONSUMIDOR). 1. Recurso Especialinterposto contra Acórdão que entendeu não ser cabível indenização em perdas edanos por corte de energia elétrica quando a concessionária se utiliza de seudireito de interromper o fornecimento a consumidor em débito. O corte deenergia, como forma de compelir o usuário ao pagamento de tarifa ou multa,extrapola os limites da legalidade. 2. Não resulta em se reconhecer como legítimoo ato administrativo praticado pela empresa concessionária fornecedora deenergia e consistente na interrupção do fornecimento da mesma, em face deausência de pagamento de fatura vencida. 3. A energia é, na atualidade, um bemessencial à população, constituindo-se serviço público indispensável, subordinadoao princípio da continuidade de sua prestação, pelo que se torna impossível a suainterrupção.

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4. O art. 22, do Código de Proteção e Defesa do Consumidor, assevera que "osórgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sobqualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviçosadequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos". O seuparágrafo único expõe que "nos casos de descumprimento, total ou parcial, dasobrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados na forma prevista neste código". Já o art. 42, domesmo diploma legal, não permite, na cobrança de débitos, que o devedor sejaexposto ao ridículo, nem que seja submetido a qualquer tipo de constrangimentoou ameaça. Os referidos dispositivos legais aplicam-se às empresasconcessionárias de serviço público. 5. Não há de se prestigiar atuação da Justiçaprivada no Brasil, especialmente, quando exercida por credor econômica efinanceiramente mais forte, em largas proporções, do que o devedor. Afronta, seassim fosse admitido, os princípios constitucionais da inocência presumida e daampla defesa.

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6. O direito do cidadão de se utilizar dos serviços públicos essenciais para a suavida em sociedade deve ser interpretado com vistas a beneficiar a quem deles seutiliza. 7. É devida indenização pelos constrangimentos sofridos com a suspensãono fornecimento de energia elétrica. 8. Recurso Especial provido para determinaro retorno dos autos ao Juízo de origem a fim de que, e nada mais, o MM. Juizaprecie a questão do quantum a ser indenizado. (REsp 430.812/MG, Rel. MinistroJOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 06/08/2002, DJ 23/09/2002, p.277)

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OBSERVAÇÃO

• A 1ª Turma do STJ deixou assentado o seguinte: “O corte de energia autorizadopelo CDC e legislação pertinente é previsto uti singuli, vale dizer: daconcessionária versus consumidor isolado e inadimplente; previsão inextensível àAdministração Pública por força do princípio da continuidade, derivado docânone maior da supremacia do interesse público.” (Cf. AGRMC n. 3.982; AgravoRegimental na Medida Cautelar n. 2001/00921137-I, rel. Min. Luiz Fux).

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