administração de infra-estruturas de aguas e saneamento · 2015-10-20 · administração de...

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ADMINISTRAçãO DE INFRA-ESTRUTURAS DE AGUAS E SANEAMENTO

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AdministrAção de infrA-estruturAs de AguAs e sAneAmento

As trÊs PrioridAdes do nAmWAsH

ProgrAmA de ÁguA, sAneAmento e Higiene nAs ViLAs dA ProVÍnCiA de nAmPuLAo programa de Água, saneamento e Higiene (WAsH) em vilas da província de Nampula, ou NAMWASH, foi lançado em 2012 com o propósito de fazer face aos resultados fracos de saúde, através de intervenções em água e saneamento em cinco vilas ao longo do Corredor de Nacala, incluindo as vilas de Rapale e Ribáuè.

O desenvolvimento esperado ao longo do Corredor de Nacala é susceptível de criar desigualdades significativas nos serviços de abastecimento de água e saneamento devido ao crescimento populacional, resultado da exploração e transporte de recursos mineirais através do corredor, provenientes das minas de carvão de Tete para o porto de Nacala, no litoral. As cinco vilas do programa foram portanto, seleccionadas com base no alto potencial económico e crescimento populacional. O objectivo do programa é de aumentar o acesso à água potável, saneamento eficaz e promover práticas de higiene adequadas através da reabilitação e expansão dos sistemas de abastecimento de água e mobilização de comunidades.

O programa NAMWASH foi implementado entre 2012 e 2014, numa parceria entre o Governo de Moçambique através da Administração de Infra-estruturas de Água e Saneamento (AIAS), UNICEF e o Governo da Austrália.

nAmPuLA

sAneAmento

Higiene

ÁguA

enVoLVer A ComunidAde

Ana Paula manuel vive sozinha com os seus sete netos em Rapale, uma pequena vila da província de Nampula, em Moçambique. Com um sistema de abastecimento de água que remonta à década de 1960 e em grande parte inoperacional, os 25 mil habitantes de Rapale são lamentavelmente carentes. O acesso a água é na sua maioria através de furos com bombas manuais e em alguns casos poços escavados desprotegidos.

Tal como a maioria dos habitantes de Rapale, Ana Paula tinha uma latrina tradicional feita com materiais locais tais como o caniço ou capim seco, mas como a maioria dos seus vizinho, não tinha um local para a lavagem das mãos. Isto acontecia antes do campeonato de saneamento.

Ana Paula diz que uma ONG local, a Organização para o Desenvolvimento Sustentável (OLIPA), visitou várias vezes o seu bairro para explicar os benefícios das latrinas melhoradas e também a importância de lavar as mãos com sabão ou cinzas, porém, as famílias ainda não tinham construído as novas latrinas melhoradas com laje de cimento, que é o padrão mínimo para o saneamento em vilas urbanas, de acordo com as normas do Governo de Moçambique.

Muitas crianças morrem anualmente devido às más condições de saneamento, higiene e água contaminada. A construção de uma latrina melhorada não só significa maior dignidade e privacidade, mas também cria um ambiente mais limpo e quebra o ciclo de transmissão de doenças relacionadas com o saneamento. Ana Paula também ouviu a mesma mensagem na estação de rádio local. A ONG a que se referiu, desde 2012, alcançou milhares de pessoas como Ana Paula, com mensagens de higiene e saneamento. Mas ao fim de cerca de um ano e apesar da promoção valiosa sobre as latrinas melhoradas, os números ainda se mantinham a um nível muito baixo, com apenas 360 famílias com latrinas melhoradas nas cinco vilas.

◀ A ong referida alcançou desde 2012, milhares de pessoas como Ana Paula com mensagens de higiene e saneamento

Para Ana Paula e muitas outras famílias na vila, as mensagens transmitidas pela ONG e através da rádio eram claras e convincentes. Para se manter saudável é importante melhorar as latrinas tradicionais e instalar sistemas de lavagem das mãos.

“Os programas das rádios locais também deixaram claro que, uma latrina melhorada deve ter uma laje de cimento, um tecto, uma tampa e uma porta”, diz a avó de sete crianças. “Mas mais importante ainda é que, com tantas crianças em casa, precisamos de um lugar para lavar as mãos”. No entanto, com sete netos menores para alimentar e educar, ela nunca pôde priorizar uma latrina melhorada.

Esta é a realidade de muitas outras famílias em Rapale. Foram identificados obstáculos ao investimento dos consumidores para um saneamento melhorado, que incluem: prioridades baixas ou concorrentes, a falta de conhecimento sobre os produtos de saneamento disponíveis, fornecedores e preferências das famílias, assim como os constrangimentos financeiros.

Mesmo tendo identificado e considerado os rendimentos e os custos como principais barreiras na decisão de uma família para ter uma latrina, estes factores não eram os únicos. O mercado nas pequenas vilas em Nampula é caracterizado por uma falta geral de demanda por produtos e serviços de saneamento. O mercado de saneamento foi dominado pela fraca diversidade de produtos e com poucas opções de baixo custo.

Os artesãos locais reportaram enfrentar uma série de desafios no desenvolvimento dos seus negócios, como a falta de capital, formação inadequada em melhores práticas de saneamento, falta de acesso aos materiais e ferramentas apropriadas. Os artesãos também pareciam ter uma abordagem passiva em relação às vendas, com poucos ou nenhuns recursos alocados na identificação e desenvolvimento de potenciais clientes. A tabela ao lado apresenta a avaliação da demanda e oferta realizada em Ribáuè e Rapale, incluindo as acções propostas.

BArreirAs PArA o sAneAmento meLHorAdo

Barreiras Acções propostas

Baixa priorização do saneamento melhorado ou prioridades baixas

Estimular a demanda por alternativas de saneamento básico durável através da comunicação interpessoal e técnicas de mídia (Participação Educação Comunitária – PEC)

A falta de conhecimento sobre os produtos disponíveis, fornecedores e as preferências dos consumidores

Formação de artesãos locais na introdução, anúncio e venda de produtos, incluindo a gestão básica de negócios Campanha para publicitar os produtos fabricados pelos artesãos.

rendimentos financeiros baixos

O apoio inicial providenciado pelo NAMWASH através de um campeonato de saneamento baseado no governo local, organizações locais e contribuição e participação activa das famílias

tABeLA 1: BArreirAs do inVestimento do Consumidor no sAneAmento meLHorAdo

Fonte: UNICEF, 2013

estrAtÉgiA de sAneAmento fAmiLiAr nAs ViLAsCom base nas principais conclusões, foi desenvolvido e implementado em 2013, um plano de acção de saneamento, focalizado na demanda, oferta e na criação de um ambiente favorável (veja a figura abaixo). O plano de acção tinha como objectivo aumentar a demanda por produtos de saneamento e sistemas de lavagem das mãos, usando uma combinação de comunicação interpessoal e uma mistura de técnicas de mídia.

Ao mesmo tempo, aumentou a oferta de produtos de saneamento com opções seguras, atraentes e acessíveis para as famílias de baixa renda. A abordagem é baseada em práticas empregues no sector privado e incluiu os tradicionais Ps do marketing: produto, preço, local (place) e promoção. Além disso, foi criado um ambiente favorável através da capacitação das autoridades e líderes locais que assumiram a liderança do processo de implementação.

PLAno de ACção em sAneAmento

2. ofertA (infrA-estruturA)

▶ mobilização Comunitária

▶ mistura de técnicas de mídia

▶ Campeonatos de saneamento

▶ formação de artesãos locais ▶ Produtos alternativos de baixo custo ▶ infra-estrutura de saneamento ▶ Provisão de ferramentas através dos governos locais

1. demAndA (Promoção) ▶ Capacitação dos governos locais na promoção de parcerias com organizações locais de saneamento e o sector privado

3. AmBiente fAVorÁVeL

foram organizados em Agosto de 2013, campeonatos de saneamento num esforço para estimular a demanda familiar por latrinas higiénicas e duráveis, e apoiar os artesãos locais existentes na diversificação e comercialização dos seus produtos. O objectivo era também o de apoiar a criação de um vínculo entre os fornecedores locais e as famílias que pretendiam melhorar as suas instalações de saneamento.

O campeonato estendeu-se até finais de Março de 2014 e participaram dez bairros das vilas de Ribáuè e Rapale. Estes bairros foram seleccionados com base nas suas características urbanas. Os concursos tiveram uma abordagem participativa. Às famílias que já tinham aberto o buraco da latrina, paredes, recolhido areia, pedra e água, foi-lhes providenciado cimento, ferro e assistência técnica de um artesão local para a construção das lajes para as latrinas. Esperava-se que, depois da instalação das lajes, as famílias colocassem um telhado, porta e um ponto de lavagem de mãos.

Uma das participantes foi Antonieta Araújo, de 22 anos, que vive sozinha com oito crianças, das quais quatro delas são seus filhos. Antioneta agora tem uma latrina melhorada nova e higiénica, que construiu com o apoio dos artesãos locais.

Continua >>

CAmPeonAto de sAneAmento

rafael é o líder comunitário no seu bairro em Ribáuè. “Durante o campeonato fui todos os dias à comunidade para explicar por que é importante ter uma latrina melhorada. Algumas famílias foram relutantes e ainda são, mas muitas consideraram uma grande oportunidade para melhorar a condição das suas latrinas” diz Rafael.

“As famílias de outros bairros que não estavam no campeonato vieram visitar-me porque queriam participar. O campeonato na minha vila pode ter acabado mas para mim o trabalho não acabou. Eu ainda tenho vizinhos que usam latrinas tradicionais e que não têm um ponto de lavagem de mãos. Essa situação não é má só para eles, mas para o resto do bairro, incluindo as minhas crianças”. Líderes comunitários como Rafael tiveram um papel crucial durante o campeonato, mobilizando famílias, vizinhos e amigos. O envolvimento deles foi essencial para angariar um entusiasmo genuíno e apoio à iniciativa.

Durante o campeonato foi dada atenção especial às pessoas com deficiências, incluindo o acesso às infraestruturas de saneamento. Para identificar soluções e ferramentas para melhorar o acesso a infraestruturas de saneamento adequados, foram feitas consultas com pessoas com deficiência nos 10 bairros.

Uma das pessoas consultadas foi Bernando Hermano, cuja deficiência física lhe impedia de ter acesso normal às in-fraestruturas de saneamento. Ele estava portanto depend-ente da ajuda de Favorito, seu filho de cinco anos de idade.

“Se a porta e o espaço da latrina fossem mais largos, eu seria capaz de entrar sozinho com a cadeira de rodas”, disse Bernando durante o seminário que foi organizado para abordar infra-estruturas de saneamento inclusivo. Com a ajuda de artesãos locais e das autoridades da vila, foram construídas infraestruturas acessíveis e apropriadas a pessoas com deficiência, que não puderam participar no campeonato, como foi o caso de Bernardo.

sAneAmento PArA todos – sem eXCePçÕes

“O líder da nossa comunidade veio me visitar um dia e con-tou-me sobre o campeonato e a importância de têr um local para a lavagem das mãos perto da latrina”, disse ela. “Então eu recolhi areia, água e pedra e cavei um buraco tal como o líder comunitário me aconselhou. Perto sitio de lavar as mãos tem um suporte para o sabão. Eu não sabia que era tão importante usar sabão ou cinzas para se lavar as mãos”, admitiu Antonieta.

Para complementar o concurso, foram realizadas nas duas vilas, acções de promoção do saneamento e higiene, através de uma combinação de comunicação interpessoal e recursos de mídia.

Enquanto a ONG local envolvia-se com as famílias na pro-moção de mensagens de saneamento e higiene, o Instituto da Comunicação Social (ICS) reforçava as mensagens-chave através dos seus programas diários de rádio e sessões com a unidade móvel. O uso de mistura de técnicas de mídia também foi reforçando a credibilidade do programa nos líderes de opinião locais e forneceu a igualdade do acesso à informação para todos os potenciais beneficiários.

usAndo VÁrios CAnAis de ComuniCAção Para catalisar as comunidades e criar demanda para melhorar as instalações de saneamento, foram realizadas uma série de actividades participativas e demonstrações. As mensagens-chave sobre o saneamento e higiene foram reforçadas através de transmissões diárias de rádio e das unidades móveis.

Líderes comunitários como rafael desempenharam um papel crucial durante o campeonato, mobilizando

famílias, vizinhos e amigos.

AmBiente fAVorÁVeL

Ganhar o apoio para o campeonato de saneamento e trabalhar com artesãos locais não poderia ter sido bem-sucedido sem a influência da liderança do governo local e distrital, que priorizou o acesso ao saneamento melhorado aos seus constituintes e que estava aberto a abordagens alternativas. As autoridades locais foram responsáveis pela gestão, implementação e monitoria do campeonato e trabalharam em estreita colaboração com os líderes comunitários, ONGs locais e com as estações de rádio que mobilizaram a comunidade.

Bruno Ambrique de 27 anos, é o técnico da vila responsável por questões de água e saneamento em Ribáuè. “Sempre que uma ONG implementa

CriAndo um merCAdo de sAneAmento

Quatro artesãos locais estão sentados nos seus estaleiros, discutindo a melhor estratégia de comercializar os seus produtos de saneamento. Manuel, Francisco, Matias e Agostinho, quatro dos dez artesãos formados pelo NAMWASH, têm uma cooperativa onde constroem e vendem os seus produtos.

Enquanto a demanda foi incentivada pelo campeonato de saneamento, a oferta de produtos foi suportada através do apoio aos artesãos locais para responder à crescente demanda. Como um primeiro passo, foram identificados dez artesãos locais em Ribáuè e Rapale, entre os quais Manuel, Francisco, Matias e Agostinho, e foi-lhes oferecida uma formação de duas semanas sobre tecnologias de saneamento, ajudando-os a padronizar e a melhorar a qualidade dos seus produtos assim como, construir lajes mais baratas. Matias disse

que, antes da formação, muitos dos artesãos nunca tinha construído quaisquer produtos de saneamento.

Durante as entrevistas com os artesãos, todos manifestaram ideias semelhantes sobre a demanda de produtos de saneamento, tendo concordado que era baixa. A formação sobre a construção de produtos de saneamento foi na sua maioria feita com trabalho prático e o processo de marketing empregue foi o método de passar a palavra. Os serviços destes artesãos foram então introduzidos nos bairros que participaram no campeonato.

Os artesãos ofereceram diferentes opções de latrinas directamente às famílias, comunicando preços, características principais e instruções sobre a instalação e operação. A sua formação em marketing, vendas e habilidades administrativas foi oportuna. Foi desenvolvido com o apoio do NAMWASH um plano de negócios para os artesãos. Os artesãos certificados continuarão a receber apoio e formação, e os mais bem-sucedidos terão ligações às actividades de saneamento e higiene do governo local, ajudando-os a manter os seus negócios a longo prazo.

programas relacionados com água e saneamento, tem que passar por mim”, afirma Bruno. “Eu aprovo e faço a monitoria todas as actividades. Fiz o acompanhamen-to semanal do concurso e era responsável por todos os pagamentos. Organizei também reuniões com as partes interessadas envolvidas, tais como líderes co-munitários, para identificar desafios e potencialidades. Foram realizadas reuniões de advocacia e workshops a nível da comunidade para os líderes da vila, antes e durante o campeonato. Uma vez envolvidos os principais líderes, estes trabalharam em coordenação com a ONG local, mobilizando as comunidades“, explica Bruno.

LiçÕes APrendidAs

O campeonato de saneamento provou ser uma ferramenta eficaz na mobilização dos bairros e famílias em áreas peri-urbanas e no envolvimento dos líderes comunitários.

Uma combinação de comunicação interpessoal e recurso a técnicas de mídia mostrou ser uma ferramenta eficiente para estimular o interesse das famílias em ambientes peri-urbanos.

Os governos locais estão dispostos a desempenhar um papel importante na provisão de saneamento a famílias. O governo apoia a promoção do saneamento nas suas comunidades e envolve-se em actividades-chave de implementação, tais como monitoria, certificação e até mesmo contratação de artesãos locais.

A formação de artesãos na introdução, anúncio e venda dos seus produtos, incluindo a gestão básica de negócios irá ajudá-los a diversificar os seus produtos e mercados. A chave do sucesso está também na ligação entre os fornecedores locais e as famílias que pretendam melhorar as suas isnstalações de saneamento.

Depois de 8 meses de implementação, a avaliação final do campeonato de saneamento foi realizada em finais de Março de 2014 pela Administração de Infra-estruturas de Água e Saneamento (AIAS), Direcção Provincial de Obras Públicas e Habitação (DPOPH) de Nampula e Governos locais em conjunto com o UNICEF. Durante o período da avaliação foi visitado um número representativo de famílias selecionadas nos dez bairros concorrentes e as suas novas infraestruturas de saneamento foram avaliadas. Em Ribáuè, foram produzidas pelos artesãos treinados 1.169 lajes das quais 1.002 foram instaladas, sendo que 841 (84%) resultaram em latrinas melhoradas. Em Rapale, foram produzidas pelos artesãos locais treinados, 846 lajes das quais 720 lajes foram instaladas, que resultaram em 633 (88%) latrinas melhoradas. No total, o campeonato de saneamento resultou em 1.474 latrinas melhoradas, proporcionando saneamento melhorado a 7.370 pessoas, nos dez bairros de Rapale e Ribáuè. As famílias ficaram muito motivadas e ainda se construíam latrinas quando a equipe de avaliação realizou a avaliação. Até o final de Maio de 2014, as autoridades e ONGs locais informaram que, mais de 11.000 pessoas já tinham latrinas melhoradas como resultado desta iniciativa, a um custo de 18 USD por unidade para a infra-estrutura e 24 USD para a mobilização e formação. O custo total por beneficiário foi de 8,5 USD.

resuLtAdos do ConCurso

o ConCurso de sAneAmento resuLtou num(A):

▶ Aumento do número de famílias com latrinas melhoradas. Quase todas as famílias que tinham instalado lajes por meio do campeonato, tinham paredes, colocaram tecto e portas/privacidade.

▶ Ambiente mais limpo, sem sinais de fecalismo a céu aberto e o bairro estava mais limpo que anteriormente.

▶ melhoria das práticas de higiene. mais famílias instalaram sistemas de lavagem das mãos quer providenciados pela ong local ou adquiridos a título próprio.

uniCef moçAmBiQueAve do Zimbabwe, 1440,Caixa Postal 4713Maputo, Moçambique

Telefone: +258.21.481.100Email: [email protected]/unicef.mozambique