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ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO I O que significa Administração da Produção? O tema administração da produção compreende uma vasta gama de assuntos, que não devem ser vistos de forma isolada sob pena de perderem seu significado conjunto. As atividades de administração da produção acontecem a todo o instante, em número e frequência muito maiores do que possam parecer. O cotidiano atual nos mantém imersos, de tal forma, nas atividades de produção que julgamos ser necessário emergir deste contexto para visualizar e compreender o funcionamento destas atividades, a fim de poder administrá-las com maior propriedade. Julgamos fundamental iniciar com uma visão geral e compreensiva do tema e sua abrangência. Na verdade, a administração da produção envolve três importantes conceitos: o conceito de organizações, de administração e de atividades de produção. Estes três conceitos são discutidos a seguir. O que são as Organizações? O mundo moderno é feito de organizações. A vida das pessoas de qualquer sociedade gira em torno e mantém profunda dependência das organizações. Os livros sobre administração trazem várias definições para organização, todas elas muito similares entre si. A seguir são citadas, como exemplo, três definições obtidas de autores renomados. Segundo Robbins (2002), uma organização é um arranjo sistemático de duas ou mais pessoas que cumprem papéis formais e compartilham um propósito comum. Silva (2001) considera que uma organização é definida como duas ou mais pessoas trabalhando juntas, cooperativamente dentro de limites identificáveis, para alcançar um objetivo ou meta comum. Stoner & Freeman (1985), por sua vez, definem organização como sendo duas ou mais pessoas trabalhando juntas e de modo estruturado para alcançar um objetivo específico ou um conjunto de objetivos. Não é possível imaginar uma sociedade sem as organizações. Como confirmação, basta imaginar o despertar da manhã de hoje como ponto de partida. Desde o despertar, as pessoas têm intenso contato com os produtos e serviços que as organizações lhes oferecem, senão vejamos: as pessoas dormem sobre um colchão, que é um produto material, Alexandre Alvim – Consultor Administrativo e Industrial – (022) 9222-2921 – Cabo Frio, RJ 1

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ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO I

O que significa Administração da Produção?

O tema administração da produção compreende uma vasta gama de assuntos, que não devem ser vistos de forma isolada sob pena de perderem seu significado conjunto. As atividades de administração da produção acontecem a todo o instante, em número e frequência muito maiores do que possam parecer. O cotidiano atual nos mantém imersos, de tal forma, nas atividades de produção que julgamos ser necessário emergir deste contexto para visualizar e compreender o funcionamento destas atividades, a fim de poder administrá-las com maior propriedade.

Julgamos fundamental iniciar com uma visão geral e compreensiva do tema e sua abrangência. Na verdade, a administração da produção envolve três importantes conceitos: o conceito de organizações, de administração e de atividades de produção. Estes três conceitos são discutidos a seguir.

O que são as Organizações?

O mundo moderno é feito de organizações. A vida das pessoas de qualquer sociedade gira em torno e mantém profunda dependência das organizações. Os livros sobre administração trazem várias definições para organização, todas elas muito similares entre si. A seguir são citadas, como exemplo, três definições obtidas de autores renomados.

Segundo Robbins (2002), uma organização é um arranjo sistemático de duas ou mais pessoas que cumprem papéis formais e compartilham um propósito comum.

Silva (2001) considera que uma organização é definida como duas ou mais pessoas trabalhando juntas, cooperativamente dentro de limites identificáveis, para alcançar um objetivo ou meta comum.

Stoner & Freeman (1985), por sua vez, definem organização como sendo duas ou mais pessoas trabalhando juntas e de modo estruturado para alcançar um objetivo específico ou um conjunto de objetivos.

Não é possível imaginar uma sociedade sem as organizações. Como confirmação, basta imaginar o despertar da manhã de hoje como ponto de partida. Desde o despertar, as pessoas têm intenso contato com os produtos e serviços que as organizações lhes oferecem, senão vejamos: as pessoas dormem sobre um colchão, que é um produto material, produzido em uma fábrica que é um tipo de organização. Se a noite foi fria, provavelmente foram utilizados cobertores que também foram produzidos em uma fábrica que, como já visto, trata-se de uma organização. Talvez o despertar aconteça por meio de um rádio relógio, um outro produto fabricado em uma organização do tipo fabril. O rádio relógio permite ouvir uma estação de rádio que é uma organização, que oferece um tipo de serviço. Ao levantar as pessoas se dirigem ao banheiro para lavar as mãos e o rosto. A água que sai da torneira está à disposição porque uma outra organização providenciou este serviço. Ao utilizar o chuveiro elétrico ou acender a luz utiliza-se energia elétrica, que está sendo produzida e fornecida ao usuário por uma organização, a concessionária de energia elétrica. O gás, que é utilizado no preparo do café da manhã, é disponibilizado por uma outra organização. O ônibus utilizado para ir ao trabalho está à disposição graças a uma outra organização. Também são organizações as lojas e os supermercados, os hospitais, a polícia, as indústrias, as escolas, a prefeitura, os bancos, a empresa que faz coleta de lixo etc.

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ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO I

Como se pode perceber, o dia-a-dia das pessoas envolve uma infinidade de interações com organizações.

Tipos de Organizações

Embora exista uma infinidade de exemplos de organizações, é possível classificá-las de acordo com sua atividade econômica. Uma das formas de fazer isto é adotando a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), elaborada sob a coordenação do IBGE, no Brasil, que segue as diretrizes fornecidas pelo Departamento de Estatísticas da ONU. Esta classificação distingue três setores fundamentais. São eles:

Setor primário: organizações da área extrativista, agropecuária e pesca.

Setor secundário: organizações da área manufatureira.

Setor terciário: organizações da área de serviços.

Organizações do Setor Primário

As organizações do setor primário são as mais antigas formas de organização e estão relacionadas à exploração dos recursos naturais: terra (agropecuária, silvicultura e extrativismo vegetal); água (pesca) e recursos minerais (extrativismo mineral).

Organizações manufatureiras (setor secundário)

Este tipo de organização produz (fabrica ou monta), ou seja, industrializa algum produto. Como será visto mais adiante, um produto é uma combinação de bens e serviços. Em uma indústria de manufatura acontece uma atividade de transformação de um produto com alta intensidade de material, seja matéria-prima transformada em produto em uma fábrica, ou componentes montados em produtos numa montadora. São inúmeros os exemplos de organizações de manufatura, dentre os quais se destacam:

Indústrias da área metalúrgica: montadoras de automóveis, montadoras de eletrodomésticos de linha branca, fundições e demais organizações, em que a maior parte da matéria-prima é composta por metais.

Indústrias da área alimentícia: fabricantes de massas, biscoitos, doces, sorvetes, indústrias de beneficiamento, empacotadoras de cereais, indústrias do laticínio, frigoríficas etc.

Indústrias do vestuário: representadas pelas tecelagens, que produzem tecidos e confecções, que produzem as roupas a partir dos tecidos.

Indústrias da área cerâmica: empresas que têm a cerâmica como matéria-prima principal.

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Organizações de serviços (setor terciário)

As organizações de serviços podem prestar serviços para empresas manufatureiras, para empresas do setor primário ou diretamente para o consumidor. Atualmente, é cada vez mais comum que atividades de contabilidade, transporte, vigilância, refeição e marketing, dentre outras, sejam terceirizadas pelas empresas manufatureiras ou do setor primário, deixando de ser executadas por departamentos dentro daquelas organizações e sendo atribuídas a empresas de serviços especializadas. As organizações de serviços podem ser classificadas em cinco subgrupos:

Serviços empresariais: consultorias, finanças, bancos, escritórios de contabilidade, vigilância, limpeza etc.;

Serviços comerciais: lojas de atacado e varejo, serviços de manutenção e reparos;

Serviços de infra-estrutura: comunicações, transporte, eletricidade, telefonia, água, esgoto etc.;

Serviços sociais e pessoais: restaurantes, cinema, teatro, saúde, hospitais etc.;

Serviços de administração pública: educação, policiamento, saúde, etc..

O que é Administração?

Administração é palavra de ordem no mundo das organizações. Na verdade não existem empresas ou organizações intrinsecamente boas ou más, vencedoras ou perdedoras. O sucesso ou fracasso de qualquer entidade está ligado à forma como é administrada.

De maneira simplificada pode-se dizer que administrar é cuidar das atividades de uma organização, qualquer que seja o seu tipo: setor primário, manufatura ou serviços.

A quantidade de definições para a administração é praticamente tão extensa quanto o número de livros escritos sobre o assunto, como é possível observar em uma breve pesquisa.

Chiavenato (2000) afirma que a tarefa básica da administração é a de fazer as coisas por meio das pessoas, de maneira eficiente e eficaz. Também define a administração como o processo de planejar, organizar, dirigir e controlar o uso de recursos a fim de alcançar objetivos estabelecidos.

O ciclo da Atividade Administrativa

O amadurecimento das teorias de administração incluiu, em sua definição, o processo de planejar, organizar, liderar e controlar. Na verdade trata-se de um ciclo, como ilustrado na Figura a seguir.

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Um processo é uma forma sistemática de fazer as coisas. Todos os processos de administração ocorrem na forma destes ciclos, que podem ser utilizados em maior ou menor escala.

Planejar

Qualquer processo de administração, independente do nível de importância e grau de abrangência, deve ser iniciado com uma etapa de planejamento. É preciso pensar e estabelecer os objetivos e ações que devem ser executados com a maior antecedência possível. Por meio de planos, os gerentes identificam com mais exatidão o que a organização precisa fazer para ser bem sucedida. Os objetivos devem ser estabelecidos com base em alguma metodologia, plano ou lógica, de forma a evitar que as ações não sejam associadas a meros palpites e suposições. Albert Einstein costumava dizer que a formulação de um problema é muito mais importante que a sua solução, que pode ser simplesmente uma questão de capacidade matemática ou experimental. Levantar novas questões, novas possibilidades e ver velhos problemas a partir de um novo ângulo exige imaginação criativa e representam um avanço real na ciência.

Pode-se enfatizar a necessidade de planejamento dizendo que: “antes de começarmos a caminhar é necessário saber para onde queremos ir”. Em uma organização é preciso saber o que se deseja fazer, antes de se tomar qualquer atitude. Qualquer coisa nova que se deseje fazer precisa ser planejada antes.

O planejamento exige que as decisões sejam tomadas com suporte de informações baseadas em fatos e dados, uma vez que o risco de insucesso pode ser alto, ao se basear apenas em palpites ou suposições.

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Metas daEmpresa

Planejar

Controlar

Organizar

Liderar

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Organizar

Com o planejamento definido, inicia-se a segunda fase do ciclo de administração. Organizar é o processo de designar o trabalho, a autoridade e os recursos aos membros da organização, criando um mecanismo para que o que foi planejado seja posto em andamento.

Em outras palavras: “após definir onde queremos chegar, é preciso organizar as coisas de modo a conseguir chegar lá”.

Liderar

Quem administra a organização deve influenciar e motivar os seus membros para que possam dar o melhor de si. O líder deve ser motivador, criativo, amigo e justo, dentre tantas exigências do cargo. A tarefa do líder não é fácil.

Em inúmeras situações não é possível agradar a todos. O interesse geral deve prevalecer, exigindo que o líder assuma, em muitos casos, uma postura de mediador.

Controlar

Qualquer pessoa que administra uma organização deve verificar sempre se as coisas estão saindo de acordo os objetivos inicialmente planejados. Caso haja desvio do planejado, o administrador deve tomar ações para que o trabalho volte à normalidade. Enfim, o líder deve ter o controle do que está acontecendo.

As Atividades das Organizações

As organizações são sistemas dinâmicos que estão em funcionamento constante para produzir os bens ou serviços a que se destinam. Trata-se de sistemas integrados de atividades.

Todas as organizações, sem exceção, possuem pelo menos cinco atividades básicas: atividades mercadológicas, contábeis, de gestão de pessoas, logísticas, e atividades de produção. É possível fazer uma analogia entre uma organização e um animal. Existe uma infinidade de espécies de animais, porém as funções de respiração, digestão, circulação e movimentação acontecem em todos eles. Da mesma forma, existem inúmeros tipos de organizações, mas as seis atividades descritas anteriormente acontecem, em maior ou menor escala, em todas elas.

Atividades mercadológicas

São atividades ligadas à busca de demanda e incluem ações de marketing e vendas. Kotler (1998) define marketing como sendo um processo social e gerencial pelo qual indivíduos e grupos obtêm aquilo que necessitam e desejam por meio da criação, oferta e troca de produtos de valor com outros.

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As atividades mercadológicas são praticadas com maior ou menor intensidade por qualquer tipo de organização, mesmo que não tenha fins lucrativos. Uma associação de moradores de bairro tenta “vender” sua imagem, na busca por associados. Um partido político “vende” a imagem do candidato, na busca de votos para sua eleição. Uma faculdade "vende" sua imagem de responsabilidade e qualidade de ensino, buscando angariar alunos em época de vestibular e assim por diante.

Atividades relacionadas à venda do produto ou à imagem da organização são atividades ligadas ao mercado, portanto, atividades mercadológicas.

Atividades contábeis

A função básica do contador é produzir informações úteis aos usuários da contabilidade para a tomada de decisões. As atividades de contabilidade abrangem três importantes áreas de uma organização:

Contabilidade financeira - também chamada de contabilidade geral, é exigida por lei para fins de fiscalização e apuração de impostos, além de ser um importante recurso para a avaliação de um empreendimento e da sua atratividade.

Contabilidade de custos - trata de informações voltadas ao cálculo dos custos dos bens ou serviços produzidos pela organização. A contabilidade de custos evoluiu, nas últimas décadas, de mera auxiliar na avaliação de estoques e lucros para uma importante arma de controle e auxílio às decisões dos gerentes.

Contabilidade gerencial - o profissional que atua na área da contabilidade gerencial é atualmente conhecido como controller. Na verdade a função de controller na organização substitui a antiga função dos gerentes administrativos. O controller procura suprir a organização, e os demais gerentes que fazem parte dela, de um elenco de informações financeiras importantes para a tomada de decisões.

As atividades contábeis são praticadas com maior ou menor intensidade pelos diversos tipos de organização. A associação de moradores de bairro, já citada como exemplo, precisa contabilizar suas receitas e gastos. O partido político também contabiliza as entradas e saídas de caixa de uma campanha política. Uma faculdade precisa acompanhar o recebimento de mensalidades dos alunos, que representam a entrada de caixa, e às diversas despesas necessárias ao seu funcionamento e assim por diante.

As atividades relacionadas ao controle das contas e informações financeiras da organização são classificadas como atividades administrativas financeiras ou atividades de contabilidade.

Atividades de gestão de pessoas

As atividades de gestão de pessoas surgiram em consequência do aumento do tamanho e grau de complexidade das organizações ao longo do tempo, o que passou a exigir um controle e gerenciamento dos recursos humanos disponíveis.

Esta área tem como principal incumbência conciliar necessidades e desejos pessoais dos indivíduos que fazem parte das organizações com as necessidades das próprias organizações, às vezes, contraditórios.

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As atribuições básicas dos gestores de pessoas são a seleção, contratação, treinamento e demissão de funcionários.Atividades logísticas

São atividades normalmente ligadas aos materiais físicos necessários ao funcionamento de uma organização. Dentre elas destacam-se a previsão e compra de materiais, o recebimento, a conferência, o armazenamento em almoxarifados e depósitos, o controle de estoques, a movimentação de materiais, materiais sendo processados e produtos acabados dentro da empresa e a distribuição dos produtos acabados para os clientes.

A utilização de materiais é mais ou menos intensa, dependendo do tipo de organização. De maneira geral, pode-se atribuir três diferentes graus de intensidade de material para as organizações: alta, média e baixa.

Organizações de alta intensidade de materiais

Quando os materiais físicos têm alta representatividade nas atividades executadas pela organização, estas são ditas organizações de alta intensidade de material. De certa forma, este tipo de organização existe e vive em função dos materiais físicos. Nesses casos, os estoques (de matérias-primas, componentes, materiais em processo e produtos acabados) podem ser bastante representativos na composição dos ativos da organização.

As organizações de alta intensidade de material são do tipo industrial ou comercial, representadas por fábricas, montadoras, lojas de varejo, supermercados, distribuidoras etc. As empresas desta categoria precisam desempenhar forte gerenciamento das atividades logísticas, com estrutura formalmente definida para este fim.

Organizações de média intensidade de materiais

São organizações em que os materiais físicos e as atividades de serviço têm, mais ou menos, a mesma representatividade. Os estoques são menos representativos na composição dos ativos da organização e, normalmente, se referem a matérias-primas.

As empresas desta categoria possuem atividades de gerenciamento das atividades logísticas, porém a estrutura para tal é, geralmente, menos complexa do que a existente para as organizações com alta intensidade de material, Um restaurante representa bem este tipo de organização. Neste caso, a importância dos materiais que compõem a refeição equivale à importância do serviço necessário para a sua preparação e ao trabalho de atendimento ao cliente.

Organizações de baixa intensidade de materiais

Organizações deste tipo praticamente não utilizam matéria-prima física. O produto oferecido por estas organizações é intangível no aspecto físico. É o caso, p. ex., de uma organização de serviços de consultoria ou um escritório de advocacia.

Mesmo as organizações de baixa intensidade de material possuem algumas atividades logísticas, limitadas à compra de material de expediente, manutenção e limpeza. Porém, é fácil

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perceber que estas atividades têm um grau de relevância pequeno para este tipo de organização. A Figura 2, ou alguma variação desta, é frequentemente utilizada na literatura para demonstrar, em forma de escala, o maior ou menor grau da representatividade do material no produto final de diversos exemplos de organizações.Atividades de produção (ou da operação)

São atividades diretamente ligadas ao processo produtivo, independentemente da intensidade de material físico que compõe o produto. Tratam dos processos utilizados pelas organizações para produzir bens e serviços. O termo produção, geralmente, traz à mente das pessoas imagens de linhas de produção, fábricas, operários próximos às máquinas e demais atividades diretamente ligadas à transformação de bens tangíveis (alta intensidade de materiais). Porém, o escopo das atividades de produção se expandiu consideravelmente. O termo atividades da operação passou a ser utilizado, ao invés de atividades de produção, para ressaltar esta ampliação no escopo da atividade, que deixa de fazer parte, exclusivamente, do contexto das indústrias e passa a abranger todo e qualquer tipo de organização.

Administração da produção

Considerando a definição de administração como sendo o processo de planejar, organizar, liderar e controlar o trabalho das pessoas da organização e de usar da melhor forma possível os recursos disponíveis para conseguir realizar os objetivos estabelecidos. é possível dizer que administrar a produção consiste em utilizar, da melhor forma, os recursos destinados à produção de bens ou serviços. São várias as definições de administração da produção ou de administração de operações apresentados na literatura. A seguir são transcritas algumas.

Davis et al. (2001) defendem que, a partir de uma estratégia corporativa, a administração da produção pode ser definida como o gerenciamento dos recursos diretos que são necessários para a obtenção dos produtos e serviços de uma organização.

Stevenson (2001) considera que a função de operações engloba todas as atividades diretamente ligadas à produção de bens ou ao fornecimento de serviços e ressalta a ampliação do escopo da função para outros tipos de organização além de fábricas.

Gerentes de produção ou de operação

Gerentes de produção ou de operação são as pessoas que ocupam cargos ligados à gestão da produção, independentemente de se tratar da produção de bens tangíveis ou intangíveis.

As Atividades de Produção nas Organizações

Apesar de não ser a única, nem, necessariamente, a mais importante, a função produção é central a todas as organizações. A gestão da produção é responsável pela produção dos bens e serviços disponibilizados pelas organizações aos seus clientes, que são a razão essencial da sua existência. Todas as demais funções são interligadas à função produção.

O Modelo de Transformação

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O processo de produção, sob o ponto de vista operacional, envolve recursos a serem transformados e recursos transformadores que, submetidos ao processo produtivo, dão origem ao produto final, ou seja, aos bens e serviços criados pela organização.

A função produção está focada na transformação de certos insumos em algum resultado desejado. O modelo apresentado abaixo ficou consagrado em praticamente toda a literatura referente ao tema.

Entradas

R ecursos a serem transformados : São aqueles que serão convertidos por meio de um processo de produção. Geralmente são um composto de:

Matérias-primas e componentes; Informações; Consumidores.

Recursos transformadores: São aqueles que agem sobre os recursos a serem transformados. Eles atuam de forma “catalisadora”, ou seja, fazem parte do processo de produção, mas não sofrem transformações diretamente, apenas permitem que a transformação aconteça. Os recursos transformadores, geralmente incluem:

Instalações, ou seja, os prédios, máquinas, equipamentos, terreno etc.;

Conhecimento, representado pela tecnologia do processo de produção e a necessidade do domínio da técnica (know-how);

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Funcionários para operar, manter, planejar e administrar a produção.

Transformação

Processamento de Materiais: Pode transformar suas propriedades físicas (composição, forma ou características), sua localização (p. ex., entrega de encomendas), sua posse ou propriedade (p. ex., vendas no varejo) ou proporcionar acomodação ou estocagem (p. ex., armazém). O processamento de materiais ocorre em organizações do tipo manufatura, empresas de mineração e extração, operações de varejo, armazéns, serviços postais, transportadores de cargas etc.

Processamento de informações: Pode transformar suas propriedades informativas (forma da informação), sua posse (p. ex., venda dos resultados de uma pesquisa de mercado), sua localização (p. ex., telecomunicações) ou possibilitar a sua estocagem (p. ex., em arquivos e biblioteca). São exemplos de processamento de informações o trabalho de contadores, advogados, bancos, empresas de pesquisa de marketing, analistas financeiros, empresas de telecomunicações, bureaus de armazenamento de dados etc.

Processamento de consumidores: Pode transformar suas propriedades físicas (p. ex., um spa ou clínica de emagrecimento, um cabeleireiro), acomodá-los (p. ex., hotéis e pensões), mudar a sua localização (p. ex., serviços de transportes de passageiros) ou seu estado fisiológico (p. ex., hospitais ou restaurantes) e seu estado psicológico (p. ex., serviços de entretenimento, rádios, teatros, cinema, parques).

Saídas

As saídas do processo produtivo são o produto final desejado e, eventualmente, outros sub-produtos, desejados ou não.

A Globalização e o seu impacto nas decisões de localização de empreendimentos produtivos

Em um passado não muito distante (décadas de 1960 e 1970), quando as multinacionais procuravam se instalar em mercados menos sofisticados, como os oferecidos pelos países em desenvolvimento, o faziam transferindo dos seus países de origem operações que já não eram capazes de responder às demandas dos consumidores locais. Plantas industriais completas eram desmontadas e trazidas para países como o Brasil, onde os custos do desenvolvimento doproduto e do processo produtivo podiam continuar a ser amortizados, atendendo a uma clientela menos exigente (MARTINS e LAUGENI, 2001).

O principal motivo que levava à escolha de um determinado local para uma operação era a existência de mercado local para o produto. Este modelo de decisão de localização, que, na prática, empurrava para os países em desenvolvimento a “sucata” industrial dos países desenvolvidos, foi bastante criticado no Brasil, pois as vantagens que trazia para a economia local eram em muito superadas pelos problemas que dele advinham.

Ainda assim, é impossível negar que a vinda das multinacionais para o Brasil foi importante para o estabelecimento das bases da indústria nacional, embora a sua estratégia imperialista tenha

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permitido o desenvolvimento de sentimentos fortes contrários a elas. Os setores nacionalistas de esquerda até hoje apresentam ressalvas à atividade de empresas estrangeiras no país, em função do histórico da sua atuação, com forte ligação ao país de origem e pouca identificação com a população local, seus anseios e dificuldades.

Com o tempo, o enfoque das multinacionais foi se alterando, contudo. A globalização da economia foi causa e conseqüência desta transformação. Passou a ser possível que investidores das mais diversas nacionalidades comprassem ações ou, de alguma outra forma, participassem de forma mais direta desses empreendimentos. As multinacionais foram se transformando em transnacionais em que, embora a maioria dos acionistas possa ter a mesma nacionalidade, o seu país de origem tem pouca relevância na determinação de onde os recursos vão ser investidos. Importante passou a ser investir onde houver a melhor possibilidade de retorno, considerados os riscos envolvidos.

O modelo adotado pelas empresas transnacionais faz com que elas se instalem em vários locais diferentes, de acordo com suas estratégias de atuação no mercado globalizado, complementando o que produzem em determinado lugar com partes produzidas por outra operação sua ou de um parceiro comercial em algum outro ponto do planeta, de acordo com estudos detalhados para maior eficiência e eficácia da operação global. Em muitos casos, essas partes são destinadas a pontos centralizados para serem montadas e distribuídas para os mercados do mundo todo. Essa nova lógica da localização industrial se baseia na formação de cadeias de suprimentos bem articuladas e com fluxos de informação integrados, o que tem provocado a descontinuidade geográfica e a descentralização industrial.

Martins e Laugeni (2001) também ressaltam o fim dos mercados cativos, que garantiram no passado monopólios para empresas locais, ou multinacionais instaladas localmente, em decorrência de reserva de mercados. No Brasil, o governo começou a sinalizar com a queda das barreiras alfandegárias em 1992, com a redução de alíquotas e eliminação de outras restrições às importações. Isto expôs os produtos nacionais à concorrência estrangeira e obrigou as empresas a, rapidamente, se tornarem mais competitivas para não serem engolidas pelo mercado. Apesar de ter colocado em dificuldade muitas empresas e setores nacionais, fragilizados por um longo período de atuação monopolística, esta atitude do governo também permitiu que as empresas mais ágeis em se adaptar ao novo cenário começassem a criar a “musculatura” necessária para procurar expandir sua área de abrangência para outros mercados, além de sobreviver aos concorrentes externos no mercado brasileiro.

A globalização da economia está fazendo com que as empresas mudem suas estratégias para poder competir de forma mais favorável em escala mundial.

Perspectivas para empresas locais em um mercado globalizado.

Acima, tratamos da mudança que a globalização está exigindo das grandes empresas com operações espalhadas pelos cinco continentes. Mas seria um erro pensar que só elas sofrem o impacto da globalização. Talvez as empresas mais duramente afetadas sejam, justamente, as pequenas empresas com atuação local, se não perceberem que precisam mudar para continuarem competitivas.

É verdade que empresas localizadas do outro lado do mundo ainda têm alguma dificuldade de colocar seu produto em outros mercados a um preço competitivo e no prazo requisitado pelo cliente. Aliás, em tempos de compras pela Internet, em que a transação ocorre em função de um clique do mouse, o grande desafio é conseguir entregar o produto, que precisará continuar

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sendo transportado do fornecedor até o cliente. Isto atribui uma certa vantagem de tempo (velocidade de entrega) e custo às empresas que atuam localmente, apesar de o fluxo cada vez mais intenso de bens ao redor do mundo apontar para redução significativa dessas vantagens, em função do extraordinário aumento de escala das operações de entrega.

Algumas empresas podem optar por continuar tendo uma atuação local. Ainda assim, precisam estar alerta para o que ocorre no mercado global, dispondo de preço, qualidade, confiabilidade no prazo de entrega e flexibilidade para atender a necessidades específicas de cada cliente, compatíveis com os oferecidos no mercado global. Caso contrário, é possível que o cliente local passe a adotar um fornecedor externo ou, pelo menos, comece a utilizar a informação disponível sobre um concorrente distante para negociar melhores condições com seu fornecedor habitual.

A Internet e as telecomunicações, em geral, proporcionaram às empresas o acesso fácil a informações que permitem que elas comparem seus fornecedores com outros lhes aumentando o poder de barganha na compra. Assim, mesmo no caso em que existam dificuldades logísticas a serem superadas pelos concorrentes distantes, fornecedores locais serão cada vez mais pressionados, mesmo pelos seus clientes tradicionais e até então fiéis, a manterem-se competitivos.

Assim, a regra básica para aqueles que pretendem continuar com operações limitadas a uma região geográfica definida é “pensar globalmente e agir localmente”. Do contrário, sua operação não terá chances de competir, à medida que avança o processo de globalização.

Bibliografia

1. Peinado, Jurandir e Graeml, Alexandre Reis, – Administração da Produção – Operações Industriais e de Serviços, Curitiba, UnicenP, 2007.

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2. MOREIRA, Daniel Augusto. Administração da Produção e Operações. São Paulo: Editora Pioneira, 1993.

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