acp efetivo polícia militar

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Ação civil pública movida contra o Estado de Santa Catarina para aumentar o efetivo de policiais militares em Ponte Serrada

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Page 1: ACP efetivo polícia militar

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

EXCELENTÍSSIMA SENHORA JUÍZA DE DIREITO

DA COMARCA DE PONTE SERRADA

O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL vem à presença de Vossa

Excelência, no exercício de suas funções constitucionais e legais, com fundamento

nos arts. 127 e 129, III da Constituição da República, no art. 5º da Lei nº

7.347/85, propõe AÇÃO CIVIL PÚBLICA face do

ESTADO DE SANTA CATARINA, pessoa jurídica de Direito Público

interno, com domicílio na Capital do Estado, representada, nos termos do artigo

12, inciso I, do Código de Processo Civil e artigo 103, da Constituição Estadual,

pelo Procurador Geral do Estado, Dr. João dos Passos Martins, Av. Osmar Cunha,

220, Florianópolis - SC, CEP 88015-100.

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

1. Objeto da ação

A presente ação civil pública pretende obter o aumento do número

de policiais militares no Pelotão da Polícia Militar no Município de Ponte Serrada, de

forma a assegurar o direito difuso à segurança pública e o respeito aos princípios

da proibição do retrocesso social e da proporcionalidade como vedação da

proteção insuficiente.

Pretende-se que esse aumento de efetivo de Policiais Militares no

Pelotão da Polícia Militar no Município de Ponte Serrada ocorra com a lotação de

novos policiais das próximas turmas em formação, bem como a lotação provisória

de policiais atualmente lotados em outras unidades da Polícia Militar, pelo menos

durante o período eleitoral.

2. Da legitimidade do Ministério Público estadual

A legitimidade do Ministério Público Estadual para ingressar com ação

civil pública é patente e tem como primeiro fundamento o art. 129, III, da

Constituição da República, afirmando ser uma das funções institucionais do

Ministério Público “promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção

do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e

coletivos”.

A legislação infraconstitucional reafirma a legitimidade do órgão

ministerial para tutelar interesses difusos/coletivos no art. 82, inciso XII, da Lei

Complementar nº 197/2000, bem como, na Lei nº 7.347/85, e na Lei nº 8.078/90.

Portanto, está o Ministério Público legitimado para ingressar com

ação civil pública para a proteção, primordial, do direito coletivo/difuso à

segurança pública expressamente previsto como direito de todos e dever do

Estado no art. 144, caput, da Constituição da República.

De outro lado, o órgão envolvido – Secretaria de Segurança Pública

do Estado de Santa Catarina, integrante da administração pública estadual direta

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

do governo central, sem personalidade jurídica própria – evidencia a legitimidade

passiva do Estado de Santa Catarina, a ser defendido através da Procuradoria

Geral do Estado.

3. Dos fatos e do direito

O Ministério Público vem acompanhando a atividade da Polícia Militar

de Ponte Serrada, até porque incumbe ao Ministério Público o controle externo da

atividade policial (art. 129, inciso VII da CF). Nesta atividade, percebeu-se

gravíssima insuficiência de efetivo na unidade.

Consoante informações encaminhadas à Promotoria de Justiça (fls. 2-

3 do inquérito civil), atualmente existem apenas sete policiais militares lotados na

unidade de Ponte Serrada, o que leva a apenas dois policiais militares por dia de

serviço na cidade, sendo que obrigatoriamente um deles deve responder pelo

expediente administrativo, quando o mínimo desejável para o devido

enfrentamento da criminalidade no município seria o efetivo de 18 policiais.

Atualmente, com o ínfimo efetivo existente, no caso de ocorrências

ou mesmo simples rondas, o Pelotão permanece fechado sem nenhum policial para

atender nem ao menos às chamadas telefônicas (via telefone 190).

De acordo com declarações de um dos policiais lotados no município

de Ponte Serrada, é comum estar apenas um policial de serviço que deve, ao ser

acionado para uma ocorrência, esperar outro policial de Passos Maia, Abelardo Luz

ou Xanxerê, para só então prestar atendimento (fl. 41-42 do Inquérito Civil).

Veja-se que estamos tratando de segurança pública, ou seja, de

casos que devem ser tratados com urgência absoluta, tais como roubos,

homicídios, lesões corporais, acidentes de trânsito, e violências em geral. Não é

minimamente razoável que se admita tamanha inoperância de um órgão tão

importante quanto a Polícia Militar.

Informa-se ainda que, além das ocorrências e das rondas, as

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guarnições precisam realizar a segurança do próprio Batalhão, já que este não é

cercado por muros ou cercas, o que permite a qualquer pessoa entrar no local sem

dificuldade. Vale lembrar que as armas e equipamentos de segurança estão

armazenados em um armário de madeira, em uma sala que dista 30 metros da

rua, e a janela de referida sala não dispõe de grades ou qualquer mecanismo de

segurança, tudo por absoluta falta de investimentos pelo Estado de Santa Catarina.

Observe, Excelência, as fotografias de fls. 43 e seguintes para chocar-se com a

absurda realidade de Ponte Serrada.

Destaca-se-se, por oportuno, que o município de Ponte Serrada tem

11.031 habitantes, 564 km² de área, com aproximadamente 28 comunidades

localizadas no interior, chegando, algumas, a distar 66 km do centro do município.

Basta imaginar, portanto, que o atendimento de uma ocorrência no interior pode

exigir deslocamento total de 120km, o que manteria a cidade inteira de Ponte

Serrada desguarnecida por pelo menos 3 horas!!!

Não é por outra razão que Ponte Serrada teve em 2011 21% a mais

de furtos por habitante do que a média do Estado de Santa Catarina1.

Xanxerê, por exemplo, cidade muito maior e com mais problemas como droga, por

exemplo, no mesmo período teve apenas 4,2% a mais de furtos por habitante do

que a média do Estado.

As estatísticas são mais um retrato da estrutura da Polícia Militar em

Ponte Serrada: precária e insuficiente. Não se tem o número de agentes

adequados para combater a criminalidade, não se tem armamento em quantidade

suficiente, não se tem viaturas adequadas, nem sequer segurança no

estabelecimento em que está situado o Batalhão de Polícia Militar se tem.

A conseqüência dessa grave situação é um evidente crescimento da

criminalidade, o desânimo dos policiais ante a dificuldade para o cumprimento de

1 Em 2011, Ponte Serrada (11.031 hab) teve um furto para cada 43,25 habitantes. A média do Estado de Santa Catarina (6.248.436 hab) foi de 1 furto para cada 54,8 habitantes. Xanxerê (44.102 hab) teve 840 furtos em 2012. Fonte de dados: www.ssp.sc.gov.br.

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diligências, o empobrecimento das atividades, e a disseminação do sentimento de

insegurança. Até mesmo as sessões do Tribunal do Júri em Ponte Serrada acabam

prejudicadas, já que têm o Comando que decidir se mantém o efetivo no Fórum ou

nas ruas, em atendimento às ocorrências.

Não se está falando de Estado pobre e sem recursos disponíveis. Está-

se falando da Polícia Militar de Santa Catarina, Estado da federação que só em

2012 já gastou mais de R$ 5,4 milhões patrocinando festas de carnaval (fls. 49

e seguintes). Com a Volvo Ocean Race, por sua vez, o Estado gastou mais de R$

570 mil, sendo R$ 93.500,00 em diárias militares! Em outras palavras, enquanto o

Oeste fica privado de efetivo, dezenas de policiais militares são convocados para

acompanhar uma regata patrocinada por uma das maiores empresas

automobilísticas do mundo!

E diante desta discrepância absurda, diante da evidente falta de

critérios nos investimentos públicos em Santa Catarina, não há outra solução em

favor da segurança pública dos habitantes de Ponte Serrada que não a propositura

da presente ação civil pública, já que todas as outras medidas extrajudiciais se

mostraram inócuas até o momento.

No inquérito civil público anexo pode-se observar que foi expedido

ofício ao Secretário de Segurança Pública do Estado de Santa Catarina, dando

ciência da situação vivenciada pelo Pelotão de Ponte Serrada e solicitando

informações acerca das providências porventura adotadas para a solução do

problema - sem resposta até o momento.

Foi também expedido ofício ao Comandante-Geral da Polícia Militar

de Santa Catarina, dando ciência da situação vivenciada pelo Pelotão de Ponte

Serrada e solicitando informações acerca das providências porventura adotadas

para a solução do problema. Sua Excelência, todavia, não apresentou resposta

concreta sobre o objeto da requisição, informando que "estão sendo envidados

esforços para, em 3 (três) anos, aumentar o quadro de pessoal de Instituição" (fls.

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

7-8).

Foram também expedidas recomendações ao Secretário de

Segurança Pública do Estado de Santa Catarina, para a adoção de medidas

concretas para dotar o Pelotão de Ponte Serrada de maior número de policiais

militares. Informou apenas que "tão logo sejam concluídas as etapas necessárias e

obrigatórias de formação técnica-profissional a estes novos policiais (turma em

formação), procederemos distribuição adequada às organizações policiais de todas

as regiões do Estado, nos termos da previsão dos editais e de conformidade com

os levantamentos técnicos de necessidades elaborados pelas corporações, onde,

certamente, a Comarca de Ponte Serrada também deverá ser atendida" (fls. 27-30

do Inquérito Civil). Registre-se que já houve formação de novos policiais que

até o momento em nada mudou o efetivo da cidade.

A recomendação expedida ao Comandante-Geral da Polícia Militar de

Santa Catarina, para a adoção de medidas concretas para dotar o Pelotão de Ponte

Serrada de maior número de policiais militares foi respondida sem qualquer

informação concreta do que pretende fazer para amenizar a gravíssima situação

verificada na segurança pública de Ponte Serrada, esclarecendo que "não há

previsão para ingresso de novos policiais militares para atuarem de forma

específica na cidade de Ponte Serrada, diante de outras necessidades urgentes

[...] nas diversas regiões do estado" (fls. 19-20 do Inquérito Civil).

Cumpre notar que o Comando-Geral prestou informação falsa,

alegando que "tão logo concluído o necessário processo licitatório, o

aquartelamento estará recebendo melhorias nos muros e grades", o que é falso, já

que o imóvel atualmente é de propriedade do Município e, portanto, as licitações

são realizadas pelo Município (fl. 46).

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

4. Do direito à segurança

A segurança é um direito social fundamental previsto tanto no caput

do artigo 5º quanto no caput do artigo 6º, ambos da Constituição Federal2, do que

se infere a destacada importância conferida a esse preceito por parte do

Constituinte Originário.

Tamanha a importância do direito à segurança que a Constituição

dedica um capítulo exclusivo à disciplina da matéria:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e

responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da

ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio,

através dos seguintes órgãos:

I - polícia federal;

II - polícia rodoviária federal;

III - polícia ferroviária federal;

IV - polícias civis;

V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.

No mesmo passo, a Constituição Estadual, no art. 105, determina

que “a segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é

exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do

patrimônio (...)”.

Ainda, no art. 107, dispõe que:

“À Polícia Militar, órgão permanente, força auxiliar, reserva do

2 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...);Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

Exército, organizada com base na hierarquia e na disciplina,

subordinada ao Governador do Estado, cabe, nos limites de sua

competência, além de outras atribuições estabelecidas em Lei:

I - exercer a polícia ostensiva relacionada com: a) a preservação da

ordem e da segurança pública; b) o radiopatrulhamento

terrestre, aéreo, lacustre e fluvial; c) o patrulhamento rodoviário; d)

a guarda e a fiscalização das florestas e dos mananciais; e) a guarda

e a fiscalização do trânsito urbano; f) a polícia judiciária militar, nos

termos de lei federal; g) a proteção do meio ambiente; e h) a

garantia do exercício do poder de polícia dos órgãos e entidades

públicas, especialmente da área fazendária, sanitária, de proteção

ambiental, de uso e ocupação do solo e de patrimônio cultural;

II - cooperar com órgãos de defesa civil; e

III - atuar preventivamente como força de dissuasão e

repressivamente como de restauração da ordem pública”.

Denota-se, portanto, que a segurança pública, estabelecida

constitucionalmente como “direito e responsabilidade de todos”, apresenta-se,

essencialmente, como um direito difuso, nos termos em que define o artigo 81,

parágrafo único, inciso I, da Lei nº 8.078/90, razão pela qual é legítimo e

juridicamente possível o manejo da presente ação civil pública tendente a

resguardar esse direito, conforme preceitua o artigo 129, incisos II e III, da

Constituição Federal3, bem como o artigo 82, XII, da Lei Complementar nº

197/2000

3Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: (...)II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia;III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

4.

A lesão ao direito difuso à segurança, decorrente da falta de efetivo

de Policiais Militares no Pelotão de Ponte Serrada resta evidenciada ante a ampla

gama de atribuições reservadas àquele órgão: proteger a ordem social e os bens

jurídicos mais importantes para o indivíduo, vida, saúde, incolumidade física,

patrimônio. Em outras palavras, com o atual efetivo simplesmente não há

preservação da ordem e da segurança pública, não há fiscalização de trânsito, não

há ações preventivas.

Embora não haja norma expressa definindo o número mínimo de

policiais para uma cidade como Ponte Serrada, o certo é que o atual efetivo é

inócuo e incapaz de realizar o mínimo determinado pela Constituição da República

e pela Constituição do Estado.

Todavia, Luiz Antônio Conforto5, estudioso de segurança pública,

propõe que se utilize o critério numérico baseado no sistema norte-americano,

critério que vem sendo utilizado para fixar o efetivo policial na Polícia Militar de

Minas Gerais e do Rio Grande do Sul6.

Utilizando a forma de cálculo sugerida pelo autor, chega-se, para o

caso do município de Ponte Serrada, com 11.031 habitantes, e que tem como

principal fator criminológico a baixa renda per capita7, seriam necessários pelo

menos 15 policiais. E a este total deve-se acrescentar 20% de efetivo

administrativo, e as licenças ordinárias, como férias, dentre outras, resultando um

total efetivo de 18 policiais.

4 Art. 82 São funções institucionais do Ministério Público, nos termos da legislação aplicável: (…)XII – promover, além da ação civil pública, outras ações necessárias ao exercício de suas funções institucionais, em defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, interesses individuais homogêneos, especialmente quanto à ordem econômica, à ordem social, ao patrimônio cultural, à probidade administrativa e ao meio ambiente.5 CONFORTO, Luiz Antonio. Administração de Polícia Ostensiva, 1998.6 http://www.escoladegoverno.pr.gov.br/arquivos/File/formulacao_e_gestao_de_politicas_publicas_no_parana/volume_II/capitulo_4_seguranca_publica/4_10.pdf7 De acordo com Mapa de Pobreza e Desigualdade, de 2003, em Ponte serrada a Incidência de pobreza é de 37,5%. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

Por esta lógica, observa-se que o número de efetivos existente,

atualmente, no município de Ponte Serrada - sete - está muito abaixo do real

número que se faz necessário - dezoito.

5. Inexistência de discricionariedade

São recorrentes em ações desta natureza argumentos de que ao

Poder Judiciário seria descabido determinar ao Executivo a implementação de

prestações positivas, sob o fundamento de que o princípio da separação dos

poderes não permitiria a extensão do controle judicial até esse ponto. Com a

devida vênia, a tese não se sustenta.

À vista de omissão estatal que na prática represente violação de

direitos fundamentais, é decorrência natural do próprio sistema de “freios e

contrapesos” permitir que o Judiciário determine ao Executivo que supra a falha e

cumpra a Carta Magna de 1988.

Ora, a constante omissão Estatal em relação à Polícia Militar de Ponte

Serrada representa ofensa direta ao direito basilar à segurança, caracterizando

evidente retrocesso social, desprovido de um mínimo de razoabilidade,

demandando a necessária intervenção do Poder Judiciário, em respeito ao que

determina o artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição8.

Na decisão do Agravo Regimental nº 385.274-5/9-01, o egrégio

Tribunal de Justiça Paulista deixou assentado que:

“É inegável que a Constituição de 1988 manteve o princípio da

harmonia e independência dos Poderes. Entretanto, como leciona

Rodolfo de Camargo Mancuso vem se estendendo o objeto da ação

civil pública para o controle das chamadas políticas públicas,

considerando-se que somente ficam excluídos do controle

jurisdicional os atos puramente discricionários ou os exclusivamente

8Art. 5º (…)XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

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políticos. Com base em conclusão de Luiz Cristina Fonseca

Frischeisen reforça que as políticas públicas podem ser

questionadas judicialmente para a implantação efetiva de

política pública visando a efetividade da ordem social

prevista na Constituição Federal de 1988. E finaliza: ‘Não se

trata de admitir, à outrance, venha o Judiciário impor à Administração

diretrizes de oportunidade e conveniência na gestão da coisa pública;

o de que se cuida, como bem sintetiza Hugo Nigro Mazzilli, é

reconhecer que ‘o Judiciário pode rever: a) o ato administrativo

vinculado, ou discricionário, sob os aspectos de competência e

legalidade; b) o ato administrativo vinculado, no seu mérito; c) o ato

discricionário, no mérito, quando a administração o tenha motivado,

embora não fosse obrigada a fazê-lo, e assim fica vinculada a seus

motivos determinantes. Assim, não se pode afastar do exame do

Judiciário o pedido em ação civil pública que vise a compelir

o administrador a dar vagas a menores nas escolas ou a

investir no ensino, a propiciar atendimento adequado nos

postos públicos de saúde, a assegurar condições de

saneamento no município, etc. ...’ (‘Ação Civil Pública’, págs.

41/42, RT, 6ª edição). A questão tem sido examinada de forma

cuidadosa e prudente pela Jurisprudência. Com efeito, já se decidiu

que ‘só a Justiça poderá dizer da legalidade da invocada

discricionariedade e dos limites de opção do agente

administrativo (Agravo de Instrumento nº 221.677-1-Praia Grande

– Relator: VASCONCELLO PEREIRA – CCIV 21 – V.U. – 07.03.95).

Tem-se afirmado que ‘o controle dos atos administrativos pelo Poder

Judiciário está vinculado a perseguir a atuação do agente público em

campo de obediência aos princípios da legalidade, da moralidade, da

eficiência, da impessoalidade, da finalidade e, em algumas situações,

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

o controle do mérito. .... (Resp. 16.987/SP, Primeira Turma, Rel. Min.

José Delgado, j. 16.6.98)”. (…) “Constituição Federal, que

retiram do administrador a discricionariedade para omitir-se

em determinadas obras ou serviços. Se isto for legitimado,

negar-se-ia, por via transversa, a escala de prioridade e

urgência definida pela Lei Maior” (Lúcia Valle Figueiredo, Revista

Trimestral de Direito Público, nº 16, 1996, pág. 27).

O Supremo Tribunal Federal já decidiu em igual sentido:

DIREITO CONSTITUCIONAL. SEGURANÇA PÚBLICA. AGRAVO

REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. IMPLEMENTAÇÃO DE

POLÍTICAS PÚBLICAS. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PROSSEGUIMENTO DE

JULGAMENTO. AUSÊNCIA DE INGERÊNCIA NO PODER

DISCRICIONÁRIO DO PODER EXECUTIVO. ARTIGOS 2º, 6º E 144 DA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL.

1. O direito a segurança é prerrogativa constitucional indisponível,

garantido mediante a implementação de políticas públicas, impondo

ao Estado a obrigação de criar condições objetivas que

possibilitem o efetivo acesso a tal serviço.

2. É possível ao Poder Judiciário determinar a implementação pelo

Estado, quando inadimplente, de políticas públicas

constitucionalmente previstas, sem que haja ingerência em questão

que envolve o poder discricionário do Poder Executivo. Precedentes.

3. Agravo regimental improvido. (RE 559646 PR; Min. ELLEN GRACIE;

Julgamento: 07/06/2011; Órgão Julgador: Segunda Turma).

Portanto, inclusive como já decidiu o Supremo Tribunal Federal, é

lícito ao Judiciário determinar que o Poder Executivo cumpra seu mister de garantir

a segurança pública, mediante a lotação (definitiva ou provisória) de um efetivo

mínimo suficiente para garantir o direito à segurança pública.

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA

6. Da antecipação da tutela

Não há dúvida alguma da verossimilhança das alegações. Basta

observar o ínfimo número de policiais militares na cidade, o número crescente de

ocorrências, a falta de efetivo para uma simples ronda policial para se ter certeza

de que em Ponte Serrada o Estado de Santa Catarina vem sendo omisso na

prestação da segurança pública.

O fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação resta

evidente da escalada da criminalidade, situação que gera iminente, concreto e

grave risco de lesão a relevantes interesses da sociedade civil.

No caso concreto, o periculum in mora é mais grave ainda, pois não

há previsão de aumento do número de policiais para atuar em Ponte

Serrada, situação esta comprovada com as respostas apresentadas pela

própria Polícia Militar e pela Secretaria de Segurança Pública.

Enfim, o que se tem aqui é a própria evidência do direito pleiteado, e

não um mero juízo de plausabilidade. Daí a necessidade de se assegurar à

sociedade, com a maior brevidade possível, o que a Constituição da República de

1988 impõe ao Poder Público sem restrições: o dever de o Estado em garantir

a segurança pública, direito fundamental, cláusula pétrea.

7. Dos pedidos

Ante o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE

SANTA CATARINA requer:

a) o recebimento e autuação da inicial;

b) a concessão de liminar determinando-se ao Estado de Santa

Catarina o aumento de efetivo de policiais militares no Município de Ponte Serrada,

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com a lotação de no mínimo mais oito policiais militares no Pelotão, ou pelo menos

a lotação provisória de mais cinco policiais durante o período eleitoral, cominando

multa para o caso de descumprimento da liminar;

c) a citação do requerido para apresentar a defesa que entender

pertinente;

d) embora já tenha apresentado o Ministério Público Estadual prova

do alegado, protesta pela produção de prova documental, testemunhal e, até

mesmo, inspeção judicial, que se fizerem necessárias ao pleno conhecimento dos

fatos.

e) a confirmação da liminar concedida na antecipação da tutela e a

procedência dos pedidos para condenar o Estado de Santa Catarina a lotar no

mínimo mais oito policiais militares a mais na unidade da Polícia Militar de Ponte

Serrada, mantendo sempre pelo menos quinze policiais no efetivo local

(esclarecimento necessário para que a lotação não seja esvaziada com as

promoções e remoções).

f) a cominação de multa diária no valor de R$ 10.000,00 (dez mil

reais), destinadas ao Fundo de Reconstituição de Bens Lesados (Conta corrente:

63.000-4, Agência 3582-3, Banco do Brasil, CNPJ 76.276.849/0001-54);

g) a condenação do requerido em custas, despesas processuais e

honorários advocatícios (estes conforme art. 4º do Decreto Estadual nº 2.666/04,

em favor do Fundo de Recuperação de Bens Lesados do Estado de Santa

Catarina).

Dá-se à causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

Ponte Serrada, 30 de agosto de 2012

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Eduardo Sens dos SantosPromotor de Justiça

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