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EXCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DE DIREITOS DIFUSOS, COLETIVOS E INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS DA COMARCA DE CAMPO GRANDE/MS. O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, por seus representantes de Defesa dos Direitos do Consumidor, que esta subscreve, no uso de suas atribuições legais previstas no artigo 129, incisos II e III, da Constituição Federal de 1988, e com fulcro nos elementos fáticos, técnicos e jurídicos colhidos nos autos do Procedimento de Investigação Preliminar nº 003/2006, que foi instaurado pela Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor da Comarca de Dourados/MS, doravante referendado como PIP 003/06, 1

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Page 1: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

EXCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DE DIREITOS

DIFUSOS, COLETIVOS E INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS DA COMARCA DE CAMPO

GRANDE/MS.

O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, por seus representantes de

Defesa dos Direitos do Consumidor, que esta subscreve, no uso de suas atribuições

legais previstas no artigo 129, incisos II e III, da Constituição Federal de 1988, e com

fulcro nos elementos fáticos, técnicos e jurídicos colhidos nos autos do Procedimento

de Investigação Preliminar nº 003/2006, que foi instaurado pela Promotoria de Justiça

de Defesa do Consumidor da Comarca de Dourados/MS, doravante referendado como

PIP 003/06, vem respeitosamente, à presença de Vossa Excelência propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM OBRIGAÇÃO DE FAZER E NÃO

FAZER, COM PEDIDO LIMINAR em desfavor de:

DETRAN, Departamento Estadual de Trânsito, autarquia, criada pela

Lei nº 537, de 6 de maio de 1985, com personalidade jurídica de direito público, e com

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sede na Rodovia MS 80, KM 10, Campo Grande/MS, CEP: 79114-901, fone 3368-0100,

representado pelo Sr. Diretor-Presidente, Gilberto Tadeu Vicente, razão pela qual

expende as subseqüentes considerações de fato e de direito:

I- DOS FATOS

O Departamento Estadual de Trânsito, Detran, é o órgão executivo do

Sistema Estadual de Trânsito, que tem por finalidade implementar as medidas da

Política Nacional de Trânsito e do Programa Nacional de Trânsito no território do

Estado de Mato Grosso do Sul. É de sua responsabilidade a realização das provas

teóricas e práticas que se destinam à obtenção da CNH - Carteira Nacional de

Habilitação.

1.1. COBRANÇA INDEVIDA

A partir da publicação da Portaria Normativa n° 29 de 15 de julho de

2005, o Detran passou a cobrar a denominada “taxa de reexame” dos alunos

reprovados ou ausentes nas avaliações teóricas e práticas.

O valor da taxa é de 2 UFERMS (Unidade Fiscal Estadual de

Referência de Mato Grosso do Sul), o que eqüivale, atualmente, a R$ 22, 60 (vinte e

dois reais e sessenta centavos).

O termo “taxa de reexame”, significa, em poucas palavras, o pagamento

de uma taxa para que o candidato seja examinado novamente, seja porque não

compareceu à data previamente agendada, seja porque reprovou.

Referida taxa deveria ser cobrada somente nos casos acima

mencionados, quais sejam, em se tratando de ausência de candidato ou de reprovação.

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No entanto, não é isso que ocorre. O requerido está cobrando a “taxa de reexame”

daqueles candidatos que nunca realizaram prova alguma, que ainda irão se submeter

pela primeira vez à prova teórica, já que a taxa da prova prática foi suspensa mediante

a concessão de medida liminar.

Alega o requerido, à fl. 048 do PIP 003/06 que efetua a cobrança da

taxa de reexame na primeira avaliação somente em caso de agendamento do exame

teórico.

Tal argumento por si só enseja a confissão do requerido de que cobra a

“taxa de reexame” de candidatos que ainda não foram examinados, caracterizando

evidente cobrança indevida e enriquecimento ilícito do órgão.

E mais, tendo em vista o grande número de pessoas que fazem

exames teóricos para obter a 1ª (primeira) habilitação no Estado de Mato Grosso do

Sul, não há possibilidade de prestar referido exame sem agendamento prévio, até

porque se o nome do candidato não constar na lista dos examinadores, o mesmo não

pode realizar a prova.

Ademais, o número de cadeiras disponíveis na sala para a realização

das provas é limitado, não havendo, portanto, sob qualquer hipótese, a possibilidade de

um ou vários candidatos comparecerem no local de provas e realizá-la sem ter sido

agendado previamente.

Desse modo, está o requerido coagindo os consumidores do Estado de

Mato Grosso do Sul a efetuarem o pagamento da taxa, vez que não o fazendo, não

podem realizar a prova teórica, e conseqüentemente as demais etapas do processo de

habilitação.

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A título de exemplo, apenas em uma Auto-Escola da região de

Dourados/MS, 106 (cento e seis) alunos foram compelidos a pagar a taxa de reexame

na primeira prova teórica do Detran (fls. 042/044 do PIP 003/06). O que se dirá de todos

os candidatos do Estado que pagaram a “taxa de reexame” indevidamente.

Ressalte-se que os documentos encartados às fls. 137/802 dos autos

de PIP correspondem às Guias de Serviços de Habilitação, nas quais verifica-se que o

motivo ensejador da cobrança é a primeira habilitação.

Resta evidente que o Detran cobrou de candidatos de primeira

habilitação e que nem sequer fizeram prova teórica o valor de R$ 22,60 referente a

“taxa de reexame”

O Detran, ao ser questionado, aduziu que a cobrança da taxa se

justifica como forma de compelir os Centros de Formação de Condutores (CFC) a

encaminharem para a realização das provas teóricas, somente candidatos que estejam

preparados para tal.

Ocorre que, atualmente, os Centros de Formação de Condutores

devem cumprir uma meta de aprovação de 80% (oitenta por cento) no período de três

meses consecutivos, sendo que em caso de não cumprimento da meta, o mesmo

receberá uma punição do órgão estadual.

Por tal motivo, os Centros de Formação de Condutores realizam

simulados antes da realização do exame teórico, e apenas são encaminhados para a

prova aplicada pelo Detran os candidatos que obtiverem nota igual ou superior a 7

(sete) no simulado, sendo que em caso de nota inferior, o candidato passa por novo

simulado, e assim sucessivamente, até atingir a média mencionada, só então é

encaminhado ao exame.

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Dessa forma, os candidatos são muito bem preparados antes de serem

encaminhados ao exame teórico, não se justificando tal argumento defendido pelo

requerido.

Portanto, não se justifica a cobrança pelo Detran de “taxa de reexame”

dos candidatos que comparecerem no local de prova pela primeira vez, caracterizando

evidente lesão aos milhares de consumidores sul matogrossenses que precisam obter

sua CNH – Carteira Nacional de Habilitação, ensejando inclusive a devolução dos

valores cobrados indevidamente.

Às fls. 875/876 do PIP, alega o Detran de Mato Grosso do Sul que a

taxa de reexame teórico-técnico é aplicada invariavelmente, tratando de primeiro exame

ou em situação de novo exame.

1.2. LESÃO A DIREITO ADQUIRIDO

Outra questão que merece destaque na presente exordial é atinente a

outra medida tomada pelo Detran/MS, a saber: o requerido pretende cancelar todos os

processos de habilitação de CNH protocolados e pagos a mais de 1 (um) ano, a contar

de 20/06/2005, com espeque na Resolução n.º 168 de 14 de dezembro de 2004, art. 2º,

§3º do CONTRAN e art. 1º da Portaria 15 de 31 de maio de 2005.

Com esta medida, os candidatos deverão dar início a um novo

processo, pagando novamente todas as taxas, independente do motivo da não

obtenção da CNH no prazo inferior a doze meses.

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Só em Mato Grosso do Sul, 34.850 (trinta e quatro mil, oitocentos e

cinqüenta) candidatos terão seus processos de habilitação cancelados, conforme se

extrai do edital de notificação publicado no Diário Oficial n° 6722 de 08 de maio de 2006

(fls. 61/136 do PIP 003/06).

A ilegalidade da conduta praticada cinge-se ao fato de que, dentre as

38.850 habilitações sujeitas ao cancelamento, várias foram protocoladas antes da

entrada em vigor da Resolução 168/2004 e antes da Portaria 15/2005 (relação fls.

61/136 que consta a data de protocolo das habilitações), num flagrante desrespeito ao

disposto no art. 5º, inciso XXXVI da CF (direito adquirido).

Tal fato é inadmissível e fere frontalmente a segurança jurídica e os

direitos dos consumidores.

Desse modo, no intuito de resolver a questão de maneira amigável,

este Órgão Ministerial convidou o requerido para uma reunião na sede da Procuradoria-

Geral de Justiça, sendo a mesma realizada aos 05 de junho de 2006, na qual ficou

estabelecido que o mesmo teria o prazo de 10 (dez) dias para prestar esclarecimentos

a cerca da taxa de reexame para candidatos que não estão ausentes ou que não foram

reprovados (fls. 860/862). Ademais, o requerido afirmou que não iria cancelar os

procedimentos instaurados entre o período de 21 de junho de 2000 a 20 de junho de

2005.

Todavia, o prazo já expirou e nenhuma providência foi comunicada ao

Ministério Público e nem tampouco na página web do Detran, evidenciando o desejo de

ganhar tempo e não cumprir o que fora entabulado com o parquet.

Assim, é necessária a propositura da presente, vez que somente o

provimento jurisdicional poderá compelir o requerido a abster-se de tal cobrança, bem

como para compelir o mesmo, por meio de obrigação de fazer a publicar nova portaria,

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normatizando a aplicação do prazo de vencimento dos processos de habilitação

estipulados pela Resolução nº 168 do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN).

II- DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO

A defesa do consumidor adquiriu status constitucional a partir do

advento da Constituição Federal de 1988, que em seu artigo 5º, inciso XXXII,

estabeleceu tal dever ao Estado.

Desse modo, desde o avento da vigente Carta Magna, o Ministério

Público detém entre as suas funções institucionais a defesa dos direitos

metaindividuais, difusos e coletivos – inclusive os de índole consumerista – através

de instrumentos como o inquérito civil e a ação civil pública (art. 129, inciso III), bem

como a legitimidade para “exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que

compatíveis com sua finalidade (...)”.

Imbuído desse espírito e atendendo, portanto, a um mandamento

constitucional, incluiu-se no ordenamento jurídico-positivo brasileiro a Lei n.º 8.078/90,

que instituiu o Código de Defesa do Consumidor, responsável pela introdução de novos

conceitos jurídicos nos planos material e processual e pela ampliação das atribuições

do Ministério Público, corroborando a legitimidade do Parquet para a defesa dos direitos

difusos e coletivos e incluindo nesse rol de atribuições a defesa dos direitos

individuais homogêneos1.

Dessa forma, estando o Ministério Público incluído entre os legitimados

de que trata o art. 82 do CDC, forçoso concluir pela inexistência de qualquer óbice para

a dedução em juízo desta pretensão Ministerial, qual seja, a de obter sentença

condenatória genérica que imponha ao Detran/MS que se abstenha de efetuar 1 A esse respeito, lê-se dos artigos 81 e 82 do Código de Defesa do Consumidor.

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cobrança irregular da “taxa de reexame”, bem como para que publique Portaria

retificando o prazo de vencimento dos processos de habilitação estipulados pela

Resolução do Contran n.º 168/2004.

Esta, inclusive, é a pacífica inteligência sedimentada pelos Tribunais

Brasileiros, valendo ressaltar, em especial, o entendimento do Egrégio Superior

Tribunal de Justiça, bem representado pela ementa a seguir transcrita:

“PROCESSUAL CIVIL – AÇÃO COLETIVA – DIREITOS COLETIVOS,

INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS E DIFUSOS – MINISTÉRIO PÚBLICO –

LEGITIMIDADE – JURISPRUDÊNCIA – AGRAVO DESPROVIDO – O

Ministério Público é parte legítima para ajuizar ação coletiva de proteção

ao consumidor, inclusive para tutela de interesses e direitos coletivos e

individuais homogêneos”. (STJ. AGA 253686. (199900665600). SP. 4ª

T. Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira. DJU 05.06.2000. p. 00176).

Segundo Mauro Cappelletti e Bryant Garth2: “A concepção tradicional do

processo civil não deixava espaço para a proteção dos direitos difusos. O processo era

visto apenas como um assunto entre duas partes, que se destinava à solução de uma

controvérsia entre essas mesmas partes a respeito de seus próprios interesses

individuais. Direitos que pertencessem a um grupo, ao público em geral ou a um

segmento do público não se enquadravam bem nesse esquema. (...) a proteção de tais

interesses tornou necessária uma transformação do papel do juiz e dos conceitos

básicos como a ‘citação’ e o ‘direito de ser ouvido’. Uma vez que nem todos os titulares

de um direito difuso podem comparecer a juízo – por exemplo, todos os interessados na

manutenção da qualidade do ar, numa determinada região – é preciso que haja um

‘representante adequado’ para agir em benefício da coletividade, mesmo que os

membros dela não sejam ‘citados’ individualmente”.

2 CAPPELLETTI, Mauro et all. Acesso à Justiça. Tradução de Ellen Gracie Northfleet. Sérgio Antônio Fabris Editor. 1988. p. 49-50.8

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Ademais, assevera o art. 25, IV, alíneas a e b e inciso VIII da Lei

Federal n.º 8.625 de 12/02/93 (Lei Orgânica Nacional do MP) que incumbe, ainda, ao

Ministério Público a promoção do inquérito civil e da ação civil pública, na forma da lei

para a proteção, prevenção e reparação dos danos causados ao meio ambiente, ao

consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e

paisagístico, e outros interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis e

homogêneos.”(sem grifo no original).

No caso em tela, o Ministério Público é um dos “representantes

adequados” para o ajuizamento da ação, encontrando-se legitimado pelo Direito vigente

para interpô-la, em defesa dos direitos coletivos e individuais homogêneos de todos os

consumidores que estão utilizando os serviços prestados pelo requerido para o fim de

obter a Carteira Nacional de Habilitação, imprescindível na sociedade moderna.

Vislumbra-se no caso, ainda, o direito individual homogêneo dos

candidatos à primeira habilitação, que são compelidos a pagar individualmente para

realizar a prova teórica, em virtude de procedimento de cobrança aplicado

generalizadamente pelo requerido em desfavor de todos os consumidores (origem

comum). Também é individual homogêneo o direito à restituição dos valores pagos,

nos termos do art. 42, parágrafo único da Lei n.º 8.078/90, vez que tal conduta é tida

como indevida.

No que se refere aos aspectos individuais homogêneos da lide, o

interesse social relevante da medida é patente, posto que a defesa coletiva se afigura

imprescindível à solução rápida e homogênea da lide, através de um único processo,

como ferramenta de economia e celeridade processual, bem como de distribuição

eqüitativa e equilibrada da Justiça, especialmente diante do imenso número de

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consumidores, dispersos por todo o Estado de Mato Grosso do Sul, que se valem dos

serviços prestados pela parte passiva da presente demanda.

Além disso, considerando-se a dimensão pessoal dos danos causados,

dificilmente poder-se-ia empreender uma defesa eficiente pela via individual,

especialmente por que o custo e o tempo exigidos para o patrocínio de uma demanda

judicial desestimulam as reações particulares dos cidadãos, afigurando-se

indispensável a atuação do Ministério Público para que reste garantido o respeito ao

Direito vigente.

Está demonstrado, portanto, que o Ministério Público é juridicamente

legitimado para o ajuizamento da presente ação, em defesa dos direitos coletivos e

individuais homogêneos de todos os consumidores de serviços prestados pelo Detran,

mormente, os de habilitação para direção veicular.

III- DO DIREITO

A) Regime Jurídico das Relações de Consumo

Não se pode olvidar que toda interpretação sistemática,

necessariamente, deve ser realizada a luz da Constituição.

Neste sentido, a Constituição Federal, ao estabelecer os princípios

gerais que informam as atividades econômicas, primou, dentre outros princípios, pela

defesa do consumidor, ao discipliná-la entre os princípios norteadores da atividade

econômica (art. 170, V).

O Poder Constituinte Originário referiu-se ainda à proteção do direito

dos consumidores ao consignar no inciso XXXII do artigo 5º que “o Estado promoverá,

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na forma da lei, a defesa do consumidor”, conferindo-lhe a condição de direito

fundamental (sem grifo no original).

A interpretação sistemática do direito obriga o intérprete do Código de

Defesa do Consumidor a recorrer sempre aos três princípios pilares do sistema

consumerista: a) o princípio da repressão eficiente a todos os abusos; b) da

harmonização das relações de consumo e o c) princípio da vulnerabilidade (art. 4º, I e

III do CDC), para que se consiga aplicar quaisquer das regras de conduta ou de

organização espalhadas pelo CDC ou em outros diplomas que integram o

microssistema das relações de consumo.

Na aplicação do direito consumerista, o intérprete não deve se

esquecer também dos demais princípios e subprincípios que informam a defesa do

consumidor, como o da boa-fé objetiva, da informação, do não-enriquecimento sem

causa, da proibição da fixação de obrigações iníquas e abusivas, da eqüidade, da

interpretação das cláusulas de forma mais benéfica ao consumidor, da ordem pública,

da livre concorrência, da moralidade, da proporcionalidade, da facilitação da defesa do

consumidor, da transparência, da veracidade das informações e da relatividade do

“pacta sunt servanda”.3

Sobre o princípio da vulnerabilidade, é oportuno trazer aos autos o

pensamento de Antônio Herman Vasconcelos Benjamin, um dos autores do anteprojeto

do CDC, in verbis:

“Todo sistema move-se em torno de alguns princípios essenciais. No

Código o mais importante princípio é o da vulnerabilidade do

consumidor (art. 4º, inciso I). Independentemente de sua condição

social, de sua sofisticação, de seu grau de educação, de sua raça, de

3 Só vigora para o consumidor quando o pactuado não viola ou não contraria a lei, o que demonstra que o princípio da força obrigatória do contrato e o da autonomia da vontade perderam muito de sua força.

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sua origem ou profissão, o consumidor é considerado pelo Código

como um ser vulnerável no mercado de consumo. É esse princípio

maior – basilar mesmo – que deve orientar a atividade de interpretação

do Código.”4

Diante disso, há se aplicar a Lei 8.078/90, nascida da necessidade de

reconhecer legalmente a vulnerabilidade do consumidor.

Outrossim, o CDC (Código de Defesa do Consumidor) veio a lume para

dar eficácia plena às normas que visam proteger os consumidores, previstas na

Constituição Federal de 1988, já mencionadas (artigos 5º, inciso XXXII e 170, inciso V).

Insta salientar, que se deve entender como sistema de proteção ao

consumidor não apenas o Código de Defesa do Consumidor, mas, também, aqueles

diplomas legais, que, indiretamente, visem à proteção do consumidor, entre os quais

destaca-se a Lei da Ação Civil Pública (Lei n. 7.347/85), que reputou ao Ministério

Público a legitimidade para a defesa dos direitos dos consumidores (art. 1º, II c/c art. 5º,

caput).

Imperioso trazer à baila, ainda, que entre os direitos básicos do

consumidor encontram-se a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva,

métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas abusivas ou

impostas no fornecimento de produtos e serviços, bem como a efetiva proteção e

reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos (CDC, art. 6°,

IV e VI).

4 Código de Defesa do Consumidor anotado e exemplificado pelo IDEC, São Paulo, Marilena Lazzarini, Josué de Oliveira Rios, Vidal Serrano Nunes Jr, ASV Editora, 1991, p. 9.

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Por fim, a legislação consumerista, traz conceitos de grande valia sobre

consumidor, fornecedor, produto, serviço, fulcrados nos artigos 2º e 3º do CDC.

Pelo exposto, prescindíveis maiores argumentações para se constatar

haver uma relação de consumo entre os candidatos à primeira habilitação e a parte

requerida.

Com base nesses princípios e ensinamentos é que foram analisadas as

condutas do requerido, afigurando-se violações a vários princípios constitucionais, cujas

correções estão sendo agora solicitadas ao Poder Judiciário, com o escopo de serem

reprimidos esses abusos.

B) Da Cobrança Indevida

Muitas vezes, a cobrança indevida não decorre de erro de cálculo

stricto sensu, mas da adoção, pelo credor, de critérios de cálculo e cláusulas

contratuais financeiras em desconformidade com o sistema legal de proteção do

consumidor.

É o que ocorre no caso em testilha, vez que o Detran/MS, com

fundamento na Portaria Normativa n° 29 de 15 de julho de 2005, vêm reiteradamente

cobrando a chamada “taxa de reexame” dos exames teóricos dos candidatos à primeira

habilitação.

Ocorre Excelência, que segundo dispõe a Portaria, referida taxa apenas

será cobrada nos casos em que o candidato estiver ausente no dia do exame ou se o

mesmo for considerado inapto, ou seja, reprovado.

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Page 14: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

Vejamos, o que aduz os artigos 30 e 31 da mencionada Portaria

Normativa:

“Art. 30. No processo de ensino os dirigentes dos Centros de Formação

de Condutores deverão proceder conforme as seguintes orientações:

I- (...);

II- Exigir do candidato que for considerado inapto no relatório do

instrutor e que, mesmo assim, desejar realizar os exames junto ao

DETRAN-MS, declaração escrita responsabilizando-se pelas

conseqüências, ciente de que, em caso de reprovação, somente poderá

realizar novo exame, a partir do 15° (décimo quinto) dia a contar da

data da divulgação do resultado, devendo recolher, previamente, a

taxa de reexame;

§ 1° Em todos os casos de reexames, por reprovação, os candidatos

deverão recolher previamente ao novo agendamento, taxa de

reexame prevista em tabela de serviços do DETRAN-MS.

Art. 31. A ausência do candidato a exame de habilitação implicará em

prévio pagamento de taxa de exame para agendamento de nova

data, sujeitando-o ainda, à disponibilidade de vaga para o novo

exame.” (sem grifos no original)

Observa-se a Portaria não menciona que a cobrança de taxa de

reexame deverá ser feita aos candidatos que o solicitarem no momento do pedido de

habilitação. Diante disso, a lacuna da norma não pode ser interpretada em prejuízo ao

consumidor. De forma clara que a taxa de reexame refere-se tão somente para os

candidatos ausentes e/ou reprovados no exame.

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Page 15: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

Ao agente público não lhe é facultado fazer o que a norma não proíba,

mas somente o que ela expressamente permita. Não é possível interpretação extensiva

dos dispositivos acima elencados, já que a norma explicitamente prevê a cobrança em

suas situações: candidatos reprovados e ausentes. Não há outra hipótese, motivo pelo

qual a sua cobrança é indevida.

Assim, verifica-se a irregularidade da taxa para os casos em que os

candidatos se submetem pela primeira vez ao exame teórico, haja vista que o mesmo

não havia sido agendado anteriormente, não existindo, portanto, justificativa alguma

para tal cobrança.

Além de configurar prática abusiva, a toda evidência demonstra ser um

ato ilegal, pois em se tratando de concessão de serviço público, a cobrança de uma

remuneração sem permissão legal e justa causa conduz ao ilícito civil, ocorrendo,

inclusive um enriquecimento injusto, e ilícito, o que é vedado pela legislação pátria.

O Código Civil Brasileiro prevê o enriquecimento ilícito em seu art. 884,

caput, in verbis:

“Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem,

será obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos

valores monetários”.

E complementa em seu parágrafo único que:

“Se o enriquecimento tiver por objeto coisa determinada, quem a

recebeu é obrigado a restituí-la, e, se a coisa não mais subsistir, a

restituição se fará pelo valor do bem na época em que foi exigido”.

Outrossim, o Código de Defesa do Consumidor determina em seu art.

39, inciso V a vedação ao fornecedor de produtos ou serviços (...) exigir do consumidor

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vantagem manifestamente excessiva”, viabilizando, inclusive a devolução em dobro dos

valores recebidos, como preconiza o art. 42 do mesmo instituto.

Quando se apropria integralmente dos valores pagos pelo candidato

que fará pela primeira vez o exame teórico, o Detran de Mato Grosso do Sul,

experimenta uma vantagem indevida e sem causa, da qual decorre flagrante prejuízo

para os consumidores.

Embora o valor da taxa seja de apenas 2 (dois) UFERMS, o

correspondente a R$ 22, 60 (vinte e dois reais e sessenta centavos), a quantia torna-se

expressiva se considerar-se o valor cobrado de todos os candidatos em todo o Estado

desde o dia 15 de julho de 2005.

Vale lembrar que, em apenas em um Centro de Formação de

Condutores em Dourados/MS, denominado “Auto-Escola Liderança”, 106 (cento e seis)

candidatos foram obrigados a pagar a taxa de reexame na primeira prova teórica do

Detran, sob pena de que se não o fizessem não poderiam dar continuidade no processo

de habilitação à obtenção da CNH (fls. 042/044 do PIP 003/06), num total de R$

2.395,60 (dois mil trezentos e noventa e cinco reais e sessenta centavos) que foram

repassados ao Detran, no período compreendido entre julho de 2005 a março de 2006.

Isso sem mencionar as reprovações e ausências.

Não se olvide que somente em Dourados existem mais de 10 Centro de

Formação de Condutores. Imagine, Excelência, quanto o requerido não lucrou com

essa cobrança ilegal em todo o Estado de Mato Grosso do Sul?

De igual modo auferirá vantagem indevida, e em conseqüência,

enriquecimento ilícito, se a tutela jurisdicional ora pleiteada não compelir o requerido a 16

Page 17: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

abster-se de cancelar os processos de habilitação dos candidatos protocolados antes

de 14 de março de 2005 (data da entrada em vigor da Resolução 168/2004),

publicando, para tanto, uma Portaria no Diário Oficial para que todos os candidatos

tomem conhecimento de que poderão dar andamento em seus procedimentos.

Agindo de tal forma, os 34.850 procedimentos de habilitação serão

cancelados e o Detran subtrairá para si uma quantia elevadíssima, já todos os

candidatos terão que iniciar novo processo e, portanto, pagar novamente pela taxa de

reexame, somando-se um total de R$ 787.610,00 somente destes, sem contar que a

cada dia vários pedidos são protocolados.

Adotando essas práticas, o requerido promove enriquecimento próprio

sem causa, em flagrante contrariedade com os dispositivos já citados do Código de

Defesa do Consumidor e do Código Civil, notadamente, os princípios da

vulnerabilidade do consumidor e da boa-fé, este último positivado no art. 51, inciso

IV do CDC.

A Política Nacional das Relações de Consumo tem, como um dos seus

objetivos, assegurar a proteção dos interesses econômicos dos consumidores e o

respeito à sua dignidade, com base na transparência, harmonia e vulnerabilidade do

consumidor, exigindo sempre a boa-fé para preservar os interesses das partes,

conforme expressamente consignado no artigo 4º do Código de Defesa do Consumidor.

De acordo com o caput e inciso III, do artigo 4º, do Código de Defesa

do Consumidor, as relações de consumo devem ser norteadas por princípios, dentre os

quais se destaca, nesta hipótese, o da boa-fé objetiva que se realiza através da

garantia de harmonização dos interesses das partes.traduzindo-se no interesse social

de segurança nas relações de consumo e na imposição de que as partes ajam com

lealdade e honestidade.

17

Page 18: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

É interessante salientar o pensamento de Orlando Gomes, in verbis:

"Ao princípio da boa-fé empresta-se ainda outro significado. Para

traduzir o interesse social de segurança das relações jurídicas, diz-se,

como está expresso no Código Civil alemão, que as partes devem agir

com lealdade e confiança recíprocas. Numa palavra, devem proceder

com boa-fé.” 5

Ademais, é oportuno trazer à colação que o art. 51, IV, XV e seu §1º do

Código de Defesa do Consumidor, prescreve que “são nulas de pleno direito, entre

outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que

estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o

consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a

eqüidade; que estejam em desacordo com o sistema de proteção do consumidor. E

mais, presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que ofende os princípios

fundamentais do sistema jurídico a que pertence; restringe direitos ou obrigações

fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou o

equilíbrio contratual e se mostra excessivamente onerosa para o consumidor,

considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras

circunstâncias peculiares ao caso."

Por todo o exposto, resta evidenciada a abusividade e ilegalidade da

cobrança da taxa de reexame efetuada pelo Detran no Estado de Mato Grosso do Sul

dos candidatos que comparecem para a prova teórica pela primeira vez.

5 GOMES, Orlando. Contratos, editora Forense, atualizador: Humberto Theodoro Júnior, 18ª edição, 1999, p. 42.

18

Page 19: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

De fato, a Lei n° 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa

do Consumidor), que teve sua gestação iniciada com o mandamento contido no artigo

5°, XXXII, da Constituição Federal, consoante dispõe seu art. 1º, traduz norma de

ordem pública e interesse social. O direito do consumidor é sucedâneo do direito de

cidadania, pois é inadmissível que o cidadão consumidor, em situação de inferioridade

econômica ou técnica perante grupos que dominam o mercado de consumo se

submeta a práticas atentatórias contra sua dignidade, sua saúde e seu patrimônio.

Foi dentro desse espírito que o art. 4°, do CDC, ao estabelecer a

política nacional de atendimento às necessidades dos consumidores elegeu como

metas o respeito à dignidade, à saúde, a segurança e a proteção a seus interesses

econômicos.

C) Da Lesão ao Direito Adquirido dos Consumidores e do Ato

Jurídico Perfeito

Conforme já salientado, foi publicada no Diário Oficial do Estado nº

6722, de 08 de maio de 2006, uma relação de candidatos à primeira habilitação, na

qual o Detran relaciona e informa o cancelamento dos processos que encontram-se

com mais de 12 (doze) meses de protocolo, a partir de 20/06/2005.

São exatamente 34.850 (trinta e quatro mil, oitocentos e cinqüenta)

candidatos em todo o Estado de Mato Grosso do Sul (fls. 61/136 do PIP 003/06) que

protocolaram seus pedidos antes de 14 de março de 2005. Portanto, somente os

procedimentos iniciados a partir de 14/03/05 poderão ser cancelados, sob pena de ferir

frontalmente a segurança jurídica e o direito adquirido.

19

Page 20: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

Tal fato é inadmissível, já que o art. 5º, XXXVI da Constituição Federal

de 1988, dispõe que “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a

coisa julgada.”

No mesmo sentido, o art. 6º da LICC (Lei de Introdução ao Código Civil)

aduz:

“Art. 6º. A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato

jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.

§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei

vigente ao tempo em que se efetuou.

§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou

alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício

tenha termo pré-fixo, ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio

de outrem.

§ 3º (...).

Da lição de Maria Helena Diniz em sua obra Lei de Introdução ao

Código Civil Brasileiro Interpretada extrai-se que6:

“O ato jurídico perfeito é o já consumado, segundo a norma vigente, ao

tempo em que se efetuou, produzindo seus efeitos jurídicos, uma vez

que o direito gerado foi exercido. È o que já se tornou apto para

produzir os seus efeitos. A segurança do ato jurídico perfeito é um

modo de garantir o direito adquirido pela proteção que se concede ao

seu elemento gerador, pois se a nova norma considerasse como

inexistente, ou inadequado, ato já consumado sob o amparo da norma

precedente, o direito adquirido dele decorrente desapareceria por falta

de fundamento”.6 DINIZ, Maria Helena. Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro Interpretada, 10ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

20

Page 21: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

Agostinho Alvim define o direito adquirido como a “conseqüência de um

ato idôneo a produzi-lo, em virtude da lei do tempo em que esse fato foi realizado,

embora a ocasião de o fazer valer não se tivesse apresentado antes da existência de

uma lei nova sobre o mesmo, e que, nos termos da lei sob o império da qual se deu o

fato de que se originou, tenha entrado imediatamente para o patrimônio de quem o

adquiriu”.7

Portanto, o direito adquirido consistiria na possibilidade de se extraírem

efeitos de um ato contrário aos previstos pela lei atualmente vigente, ou seja, é aquele

que continuaria a gozar os efeitos de uma norma pretérita mesmo depois de já ter sido

ela revogada. Implicaria o direito subjetivo de fazer valer um direito, cujo conteúdo

encontra-se revogado pela lei nova. 8

Quando a Constituição menciona que a lei não prejudicará ato jurídico

perfeito e o direito adquirido quer dizer lei em sentido amplo, atingindo também as

normas administrativas, resoluções, portarias, haja vista se a lei que maior não pode,

com mais razão as demais normas também não podem.

A Resolução do Contran (Conselho Nacional de Trânsito) n° 168 de 14

de dezembro de 2004 prescreve no § 3° do Art. 2° que:

“Art. 2° (...)

§ 3° O processo do candidato à habilitação ficará ativado no órgão ou

entidade executivo de trânsito do Estado ou do distrito Federal, pelo

prazo de 12 (doze) meses, contados da data do requerimento do

candidato.”

7 Apud Vittorio Cassone, Direito Tributário, São Paulo: Atlas, 1985, p. 69.8 BASTOS, Celso. Comentários à Constituição do Brasil, São Paulo: Saraiva, 1989, v.2.

21

Page 22: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

A Resolução entrou em vigor em março de 2005, já que o art. 45 da

Resolução determina a sua entrada em vigor 90 (noventa) dias após a sua publicação,

portanto, 14/03/05. Não há menção expressa de que a norma retroagiria para atingir

procedimentos instaurados antes desta data. E ainda que mencionasse, estaria ferindo

igualmente o ato jurídico perfeito e o direito adquirido.

Portanto, não pode o requerido, a seu livre arbítrio, cancelar os

processos de habilitação dos consumidores hipossuficientes do Estado iniciados antes

da entrada em vigor da norma, com prejuízo aos mesmos dos valores já pagos, vez que

dessa forma estará privando os mesmos do direito adquirido de concluir o procedimento

à Carteira Nacional de Habilitação.

Observa-se, assim, que o ato jurídico perfeito e o direito adquirido estão

intimamente ligados no caso em testilha e dessa forma, está o requerido infringindo a

diversos dispositivos constitucionais.

Ademais, a garantia do ato jurídico perfeito é o modo de assegurar o

direito adquirido e não poderá ser alcançado por lei posterior, sendo inclusive

imunizado contra quaisquer requisitos formais exigidos pela nova norma.

As alterações legislativas não podem simplesmente prejudicar os

direitos dos cidadãos, sob pena de agredir a estabilidade e segurança jurídica das

relações, culminando na incerteza, caos jurídico e onipotência do Estado.

A Corte Maior Brasileira já se manifestou sobre a irretroatividade e o

direito adquirido, por muitas vezes, e em decisão de grande alcance, pontificou que "o

disposto no artigo 5º, XXXVI, da Constituição Federal, se aplica a toda e qualquer lei

22

Page 23: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

infraconstitucional, sem qualquer distinção entre direito público e direito privado, ou

entre lei de ordem pública e lei dispositiva". 9

Pelo exposto, conclui-se que o requerido não deve de forma alguma

cancelar os processos de habilitação dos candidatos cujo protocolo data de antes de 14

de março de 2005, sendo que, embora já tenha informado que não o fará, é de extrema

importância que o mesmo retifique a Portaria 15/2005 do Contran (Conselho Nacional

de Trânsito) a fim de que os consumidores sulmatogrossenses não tenham ferido seu

direito adquirido, nem o ato jurídico perfeito.

D) Do Dano Moral Difuso e da Necessidade de sua Reparação

Uma vez demonstradas as práticas lesivas desenvolvidas pelo Detran e

a absoluta ilegalidade delas, importa trazer à tona que esses fatos ensejam danos a

direito do consumidor, no plano difuso.

Ora, consoante já se asseverou, o condenável procedimento do

requerido, revestido de ousadia e ardilosidade, contrariou a todos os princípios e

valores que o legislador visou prestigiar no Código de Defesa do Consumidor e em

outros diplomas legais que protegem as relações de consumo.

9 Cf. Ação Direta de Inconstitucionalidade 493 – DF, Pleno, Relator Ministro Moreira Alves, in Revista Trimestral de Jurisprudência volume 143, p. 724 e segs. Por maioria de votos, o Tribunal conheceu ação, integralmente, vencido em parte o Ministro Carlos Mário Velloso, que dela conhecia apenas no ponto que impugna os artigos 23 e parágrafos, 24 e parágrafos, da Lei 8177, de 1º de março de 1991, não assim quanto aos artigos 18, caput, §§ 1º e 4º, 20, 21 e parágrafo único. No mérito, por maioria de votos, o Pretório Excelso julgou a ação procedente, in totum, declarando a inconstitucionalidade dos artigos 18, caput, 21 e parágrafo único, 23 e §§. 24 e §§, da Lei 8177, vencidos em parte os Ministros Ilmar Galvão e Marco Aurélio, que a julgavam procedente também, em parte, para declarar a inconstitucionalidade, apenas, do § 3º do artigo 24; e, ainda, o Ministro Carlos Mário Velloso que a julgava parcialmente procedente para julgar inconstitucional somente os artigos 23 e seus §§, 24 e seus §§. Presidiu a sessão o Ministro Sydney Sanches.

23

Page 24: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

Nada pior para o cidadão, enquanto consumidor, que se sentir

enganado; que se aperceber de que fora tratado de forma indigna; que constatar que

contribuiu ou poderá, ainda contribuir caso os processo de habilitação com mais de

doze meses sejam cancelados, para o enriquecimento de uma autarquia estatal. Na

verdade, pior, ainda, seria aquilatar que a prática aviltante contra as relações de

consumo não gerara qualquer conseqüência gravosa para o Detran.

Assim, a agressão difusa a direitos básicos do consumidor causou

intenso dano moral à coletividade. Dano moral, no dizer de Minozzi, citado por José de

Aguiar Dia em sua célebre obra sobre responsabilidade civil “...não é o dinheiro nem

coisa comercialmente reduzida a dinheiro, mas a dor, o espanto, a emoção, a

vergonha, a injúria física ou moral, em geral uma dolorosa sensação experimentada

pela pessoa, atribuída à palavra dor o mais largo significado.” 10

A reparação do dano moral, consagrada definitivamente no direito

brasileiro pelo disposto no art. 5º, X, da Constituição Federal é expressamente admitida

pelo Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 6°, VI que cuida dos direitos

básicos do consumidor.

Nelson Nery Júnior, um dos autores do anteprojeto do Código de

Defesa do Consumidor, abordou o tema: “o Código admite expressamente a cumulação

de danos patrimoniais e morais, pondo termo à antiga discussão que se formou,

principalmente em face da jurisprudência do STF, sobre a não cumulatividade do dano

moral com o patrimonial. Agora a lei permite expressamente.”11

10 DIA, José de Aguiar. Da Responsabilidade Civil. Vol. 2. 10ª Ed. Editora Forense. pág. 73O.11 NERY JÚNIOR, Nelson. Aspectos Relevantes do Código de Defesa do Consumidor, in JUS TITIA

155/91.

24

Page 25: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

O dano moral perpetrado pelo requerido atingiu e ainda atinge esfera

difusa, pois toda a coletividade foi, e está sendo, exposta a pagar a taxa de reexame,

em razão de ter iniciado um processo de habilitação de CNH.

Os interesses difusos foram definidos pelo legislador consumerista no

art. 81, I, do CDC, como os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam

titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato.

Ao comentar e exemplificar os interesses difusos, Kazuo Watanabe

assevera:

“Nos interesses ou direitos difusos, a sua natureza indivisível e a

inexistência de relação jurídica-base não possibilitam, como já ficou

visto, a determinação dos titulares. É claro que, num plano mais geral

do fenômeno jurídico ou análise, é sempre possível encontrar-se um

vínculo que une as pessoas, como a nacionalidade. Mas, a relação

jurídica-base que nos interessa, na fixação dos conceitos em estudo, é

aquela da qual é derivado o interesse tutelando, portanto interesse que

guarda relação mais imediata e próxima com a lesão ou ameaça de

lesão (...) o bem jurídico tutelado é indivisível, pois uma única ofensa é

suficiente para a lesão de todos os consumidores, e igualmente a

satisfação de um deles, pela retirada do produto no mercado, beneficia

ao mesmo tempo a todos eles” 12

O dano moral difuso se assenta, exatamente, na agressão a bens e

valores jurídicos que são inerentes a toda a coletividade, de forma indivisível. Fatos,

como os que foram praticados pelo requerido, abalam o patrimônio moral da

coletividade, pois todos acabam se sentindo ofendidos e desprestigiados como

12 WATANABE, Kazuo.Código Brasileiro de Defesa do Consumidor Comentado Pelos Autores do Anteprojeto. 8ª ed. Forense Universitária, 1997. pág. 625/627.

25

Page 26: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

cidadãos com a prática lesiva a que se expuseram, ou mesmo, para muitos, que vieram

diretamente a experimentar.

A sensação que a todos atingiu no caso vertente foi a de que o sistema

é injusto, pois não se poderia conceber o mais forte submetendo o mais fraco a

tamanha situação de indignidade, expondo-o a utilização de seu patrimônio para

aquisição de vantagem indevida por lei.

Daí a inquestionável ofensa coletiva, passível de reparação.

Ao dissertar sobre o dano moral coletivo, o professor André de Carvalho

Ramos verberou, com muita propriedade:

“Devemos considerar que tratamento aos chamados interesses difusos

e coletivos origina-se justamente da importância destes interesses e da

necessidade de uma efetiva tutela jurídica. Ora, tal importância somente

reforça a necessidade de aceitação do dano moral coletivo, já que a dor

psíquica que alicerçou a teoria do dano moral individual acaba cedendo

lugar, no caso de dano moral coletivo, a um sentimento de desapreço e

de perda de valores essenciais que afetam negativamente toda uma

coletividade. Imagine-se o dano moral gerado pela propaganda

enganosa ou abusiva, O consumidor potencial sente-se lesionado e vê

aumentar seu sentimento de desconfiança na proteção legal do

consumidor, bem como seu sentimento de cidadania.” 13

Não se pode conceber que numa sociedade democrática, onde se

espera e se luta pelo aperfeiçoamento dos mecanismos que venham garantir ao

cidadão o pleno exercício dos atributos da cidadania, inclusive com a efetiva

13 Revista de Direito do Consumidor nº 25 – Editora RT – pág. 82.26

Page 27: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

implementação da legislação consumeirista – onde estão insculpidas garantias básicas

do consumidor, como o respeito à vida, à saúde, à dignidade – tenham lugar condutas

desprovidas de legalidade e que submetam o consumidor a práticas inaceitáveis, como

as que foram narradas nesta inicial. É dentro desse mesmo contexto que não se pode

esconder a grande extensão do dano causado, pois além de agredir a interesses

garantidos por lei ao consumidor, os procedimentos denunciados geraram sentimento

de descrença e desprestígio da sociedade com relação aos poderes constituídos e ao

sistema de um modo geral, mormente num momento de crise que enfrenta o país e o

Estado.

O valor a ser arbitrado a título de danos morais deve situar-se em

patamar que represente inibição à prática de outros atos antijurídicos e imorais por

parte do requerido.

É imperioso que a justiça dê ao infrator resposta eficaz ao ilícito

praticado, sob pena de se chancelar e se estimular o comportamento infringente. A

respeito desse tópico, vale colacionar os apontamentos de Carlos Alberto Bittar:

“Com efeito, a reparação de danos morais exerce função diversa

daquela dos danos materiais. Enquanto estes se voltam para

recomposição do patrimônio ofendido, através da aplicação da fórmula

danos emergentes e lucros cessantes, aqueles procuram oferecer

compensação ao lesado, para atenuação do sofrimento havido. De

outra parte, quanto ao lesante, objetiva a reparação impingir-lhe

sanção, a fim de que não volte a praticar atos lesivos à personalidade

de outrem. É que interessa ao direito e à sociedade que o

relacionamento entre os entes que contracenam no orbe jurídico se

mantenha dentro dos padrões normais de equilíbrio e respeito mútuo.

Assim, em hipóteses de lesionamento, cabe ao agente suportar as

27

Page 28: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

conseqüências de sua atuação, desestimulando-se, com a atribuição de

pesadas indenizações, atos ilícitos tendentes a afetar os referidos

aspectos da personalidade humana [...].Nesse sentido é que a

tendência manifestada, a propósito pela jurisprudência pátria, fixação

de valor de desestímulo como fator de inibição a novas práticas lesivas.

Trata-se, portanto, de valor que, sentido no patrimônio do lesante, o

possa conscientizar-se de que não deve persistir na conduta reprimida,

ou então, deve afastar-se da vereda indevida por ele assumida, o outra

parte, deixa-se para a coletividade, exemplo expressivo da reação que

a ordem jurídica reserva para infratores nesse campo, e em elemento

que, em nosso tempo, se tem mostrado muito sensível para as

pessoas, ou seja, o respectivo acervo patrimonial”.14

Nesse caso, a indenização há de ser revertida para o de que trata o

artigo 13, da Lei n° 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública): "Fundo Estadual de Defesa

dos Direitos do Consumidor – FEDDC".

Por força do dispositivo inscrito no parágrafo único do artigo 42 do

CDC, vale dizer, os valores cobrados indevidamente hão de ser repetidos por valor

igual ao dobro do que se pagou em excesso. Portanto, caso não trate o requerido de

suspender a cobrança da taxa de reexame no primeiro exame teórico, bem como, caso

cancele os processos de habilitação iniciados antes de 14/03/05, resultarão indevidos

os valores cobrados, de modo que a restituição deverá ser realizada em dobro.

Nesse sentido já se manifestou o STJ, pela voz do Ministro Aldir

Passarinho Junior, a saber:

14 BITTAR, Carlos Alberto. Reparação Civil por Danos Morais: Tendências Atuai. Revista de Direito Civil no 74. RT.pag.15.

28

Page 29: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

“Admite-se a repetição do indébito de valores pagos em virtude de

cláusulas ilegais, em razão do princípio que veda o enriquecimento

injustificado do credor” (STJ, 4ª Turma, Resp 453.782/RS- rel. min. Aldir

Passarinho Junior- j. 15.10.2002- v.u) .

E) Da Inversão do Ônus da Prova

Tendo sido tecidas as considerações acerca do direito material do

consumidor, é pertinente tratar também de seu equivalente no plano processual, qual

seja, a possibilidade de inversão do ônus da prova em favor do consumidor, cujos

pressupostos, como veremos, se encontram presentes no caso em tela.

Neste ponto, é oportuno citar o disposto no art. 6º, inciso VIII do CDC:

“Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:

VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a

inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,

quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando

for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de

experiência;”

Sendo assim, em Direito do Consumidor admite-se a inversão do

princípio consagrado no art. 333 do CPC, segundo o qual cabe ao autor a prova dos

fatos constitutivos de seu direito, contanto que estejam presentes os pressupostos de

verossimilhança da alegação ou de hipossuficiência do consumidor, cuja

cumulação se dispensa para a concessão do direito, uma vez que ambos os requisitos

encontram-se unidos no texto legal por uma conjunção alternativa (ou) e não aditiva (e).

Embora o Ministério Público tenha produzido vasto contexto probatório,

revela-se possível a aplicação da inversão do ônus da prova em favor dos

29

Page 30: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

consumidores, motivo pelo qual, diante dos princípios protetivos do Direito do

Consumidor, é conveniente pugnar pela sua aplicação ao caso.

Ressalta-se que sobre o primeiro pressuposto legal – a verossimilhança

da alegação – observa Eduardo Cambi15:

“Alegação verossímil é aquela que, mesmo não sendo apoiada em

elementos probatórios, tem a aparência de ser verdadeira. Opera-se,

pois, com indícios ou sérias suspeitas de que o fato tenha realmente

ocorrido, embora, para se chegar a essa convicção, não se exija nem

mesmo um início de prova. Com efeito, o juiz, para proceder à inversão

do ônus da prova, contará muito mais com sua intuição e bom senso,

do que com a lógica inerente à aplicação do art. 333 do CPC. Com

isso, o CDC aposta que da mera aparência é possível obter uma

cognição mais consistente, para a tutela dos direitos transidividuais,

que aquela que poderia redundar de um automático prejulgamento,

preconceito ou precompreensão sobre a inexistência da situação fática

juridicamente relevante”.

Na presente ação, conforme exaustivamente demonstrado, a conduta

do requerido está descrita de modo coerente e objetivo. A verossimilhança desses fatos

é inegável, pois se trata de situação cotidianamente enfrentada por todos os usuários

de serviços do requerido. Essa verossimilhança, a coincidência entre os fatos descritos

e a realidade conhecida pelo juízo, autoriza seja invertido o ônus da prova.

Afigura-se igualmente presente neste feito o segundo pressuposto legal

da inversão do ônus da prova – a hipossuficiência do consumidor – conforme pode este

juízo concluir segundo as regras ordinárias de sua experiência.15 “Inversão do Ônus da Prova e Tutela dos Direitos Transidividuais”; in “Revista Jurídica Consulex”, Ano VI, nº 128, 15 de maio de 2002, p.30.

30

Page 31: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

Nesse sentido, manifesta-se Antônio Herman Vasconcelos Benjamin de

que “independentemente de sua condição social, de sua sofisticação, de seu grau de

educação, de sua raça, de sua origem ou profissão, o consumidor é considerado pelo

Código como um ser vulnerável no mercado de consumo. E esse princípio maior basilar

mesmo que deve orientar a atividade de interpretação do Código”16.

Coerente com essa orientação, Paulo Valério Moraes afirma que há

seis tipos de vulnerabilidades: a técnica, a jurídica, a psicofisiológica, a ecológica, a

política ou legislativa e a econômica ou social17, sendo certo que uma não exclui a

outra, de modo que aquele que não é vulnerável econômica ou socialmente não o deixa

de ser técnica, jurídica, psicofisiologica ou politicamente.

Por tudo isso, a supremacia do Detran é indiscutível, pois ele detém o

exclusivo controle sobre os candidatos à Carteira Nacional de Habilitação, cobrando

taxas, as quais são submetidos os consumidores que não tem outra alternativa senão

pagá-las se quiserem ter habilitação para dirigir reconhecida pelo ordenamento jurídico.

Não obstante, caso não publique nova Portaria, para segurança dos consumidores,

poderá cancelar todos os processos num absoluto prejuízo àqueles que por situações

diversas não conseguiram se habilitar em 12 (doze) meses.

Oportuno, também, os ensinamentos trazidos por Eduardo Cambi18:

“Por outro lado, das circunstâncias do caso concreto, é possível aferir a

hipossuficiência daquele que busca a tutela dos direitos

transindividuais. Aqui, o legislador pretende promover a igualdade 16 ln Código de Defesa do Consumidor anotado e exemplificado pelo IDEC, São Paulo, Marilena Laizarini. Josué de Oliveira Rios. Vidal Serrano Nunes ir. ASV Editora. 1991. p. 9.17 MORAES, Paulo Valério. Código de Defesa do Consumidor – Princípio da Vulnerabilidade no contraio, na publicidade e nas

demais práticas comerciais – interpretação sistemática do direito, Ed. Síntese, 1999, 1ª edição. p.399.

18 CAMBI, idem, ibidem.31

Page 32: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

processual, discriminando a situação jurídica das partes, em favor do

hipossuficiente, com o intuito de facilitar a defesa dos seus direitos em

juízo. Com esse escopo, acaba por reconhecer que, se a parte

contrária tem melhores condições técnicas ou econômicas para

produzir a prova, os fatos constitutivos dos direitos transidividuais

podem ser presumidos até que o contrário seja demonstrado. A

hipossuficiência, em tese, pode atingir quaisquer dos legitimados nas

ações coletivas, inclusive o próprio Estado (...)”

Ainda, o artigo 6º, inciso VIII, do Código De Defesa Do Consumidor não

exige que quem alega a hipossuficiência a demonstre, já que isto decorre das próprias

circunstâncias do caso concreto, a partir da mera utilização das regras ordinárias da

experiência.

Uma vez observados ambos os pressupostos autorizadores da inversão

do ônus da prova, afigura-se oportuno seja deferido tal benefício processual nestes

autos.

Importante mencionar que o fato de a presente ação ter sido ajuizada

pelo órgão Ministerial em nada obsta a aplicação do princípio acima exposto, uma vez

que o vocábulo “consumidor” tem aplicação extensiva.

Nesse sentido preleciona Celso Antonio Pacheco Filho19 que:

“Deve-se ter em vista que o Código, ao aludir ao vocábulo consumidor,

não o faz somente enquanto individualmente concebido, que vai a juízo

pleitear em seu próprio nome a tutela jurisdicional, mas também como

diretamente afetado pela coisa julgada, erga omnes ou ultra partes,

19 in “Curso de Direito Ambiental Brasileiro”, 2ª ed., São Paulo, Saraiva, 2001, p. 243.32

Page 33: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

titular do direito material, mas não titular do direito da ação, esta

reservada para o legitimado autônomo condutor do processo (...)”.

Assim, evidente que a presente ação, inobstante ajuizada pelo Parquet,

continua a dizer respeito a todos os consumidores enquanto diretamente

afetados pela coisa julgada, de forma que, presentes os pressupostos legais, impõe-

se a decretação pelo juízo da inversão do ônus da prova.

F) Do Dano Regional e dos Efeitos da Coisa Julgada

Quando o produto ou serviço puder acarretar prejuízos de dimensões

mais amplas, atingindo pessoas espalhadas por uma inteira região ou por todo território

nacional, a determinação da competência territorial faz-se pelo foro da capital do

Estado ou do Distrito Federal nos moldes do art. 93, II do CDC.

Agindo de tal forma o Detran/MS afeta a todos os consumidores

hipossuficientes do Estado de Mato Grosso do Sul, configurando dano regional, razão

pela qual aplica-se ao caso o dispositivo ora mencionado.

Da leitura do art. 103, III do Código de Defesa do Consumidor observa-

se que:

“Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este Código, a sentença fará

coisa julgada:

III- erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para

beneficiar as vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso III do

parágrafo único do art. 81”.

33

Page 34: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

Já o inciso III do parágrafo único do art. 81 prescreve que a defesa

coletiva será exercida quando se tratar de interesses ou direitos individuais

homogêneos, assim entendidos os de origem comum.

Da mesma forma, o art. 16 da Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.347/85)

aduz em seu art. 16 que:

“Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da

competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado

improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer

legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento,

valendo-se de nova prova”.

Portanto, determina o Código de Defesa do Consumidor, assim como a

Lei da Ação Civil Pública que a coisa julgada na hipótese de ações que versem

interesses de “origem comum”, operará efeitos erga omnes.

O aspecto erga omnes, como observa Américo Bedê Freire Júnior20

“refere-se a uma alteração dos limites subjetivos da coisa julgada, uma vez que a

sentença no processo coletivo permite a pessoas que não foram formalmente partes no

processo de conhecimento serem alcançadas pelo efeito da decisão.”

Insta salientar, ainda, que conforme os ensinamentos de Ana Cândida

Menezes Marcato21:

“... a coisa julgada baseia-se na necessidade de estabilidade das

relações jurídicas, consistindo em importante para a garantia da

20 MAZZEI, Rodrigo Reis & NOLASCO, Rita dias. Processo Civil Coletivo- São Paulo: Quartier Latin, 2005. 21 Idem cit. 18

34

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segurança jurídica, que seria inexistente se a cada momento fosse

possível repetir as mesmas ações visando à modificação dos efeitos da

sentença já proferida. Em virtude disso, o instituto é considerado como

garantia fundamental pela Constituição Federal, em seu artigo 5°, inciso

XXXVI”.

Assim, sendo a presente ação julgada procedente, deve a mesma ter

efeitos erga omnes, haja vista tratar-se de demanda em que se configura o dano

regional e que tem como meta a defesa em juízo dos direitos individuais homogêneos

de origem comum dos diversos consumidores candidatos efetivos e potenciais.

G) Da Obrigação de Fazer e de Não Fazer

Pothier define obrigação como o “vínculo de direito que nos obriga para

com outrem a dar-lhe, fazer-lhe ou não fazer-lhe alguma coisa”, no que concordam

Lacerda de Almeida e Coelho Rocha 22.

Nas obrigações há evidente existência de ao menos um sujeito passivo

da obrigação, adstrito ao cumprimento de uma prestação positiva ou negativa em favor

de ao menos um sujeito ativo, que está autorizado a exigir daquele o adimplemento da

obrigação.

Assim sendo, é da essência das obrigações o poder de exigir de

outrem a satisfação de um interesse passível de aferição econômica, mesmo que para

isto se deva recorrer ao Poder Judiciário, a fim de buscar no patrimônio do

inadimplente a quantia necessária à satisfação da obrigação descumprida.

22 Maria Helena Diniz, Curso de Direito Civil - Teoria Geral das Obrigações, 2º vol., São Paulo, Saraiva, 1993, p. 29.

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Page 36: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

A obrigação de fazer pode ser definida como o vínculo jurídico que

obriga o devedor a prestar um ato positivo, material ou imaterial, seu ou de terceiro, em

benefício do credor ou terceira pessoa.

Já a obrigação de não fazer consiste em uma obrigação na qual o

devedor assume, em benefício do credor ou terceiro, o compromisso de não praticar

determinado ato, o qual poderia praticar sem embaraço caso não se houvesse obrigado

a dele se abster.

No caso em testilha, é a presente para compelir o requerido as

seguintes obrigações de fazer e não fazer, respectivamente: abster-se da cobrança de

dois UFERMS para os exames teóricos dos candidatos à primeira habilitação, bem

como para que o requerido não cancele os processos protocolados antes de 14/03/05,

publicando imediatamente uma Portaria que normatize a aplicação do prazo de

vencimento dos processos de habilitação estipulados pela Resolução nº 168 do

Conselho Nacional de Trânsito.

Segundo prescreve o art. 3° da Lei 7347/85 a “ação civil poderá ter por

objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não

fazer”.

No mesmo sentido o art. 11 da mencionada Lei dispõe que na “ação

que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz

determinará o cumprimento da prestação da atividade nociva, sob pena de execução

específica, ou de cominação de multa diária, se esta for suficiente ou compatível,

independentemente de requerimento do autor”.

Do mesmo modo, o art. 84 do Código de Defesa do Consumidor aduz

que:

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Page 37: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

“Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de

fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou

determinará providências que assegurem o resultado prático

equivalente ao do inadimplemento”.

Assim, impõe-se no presente caso a imposição de multa diária no valor

de 1 (um) UFERMS por consumidor atingido, no caso de descumprimento de quaisquer

das obrigações impostas.

IV- DA MEDIDA LIMINAR

O título III do Código De Defesa Do Consumidor, que trata da defesa

processual do consumidor em juízo, acolheu expressamente a possibilidade da tutela

antecipatória nas ações que regula, ao contemplá-la no art. 84 e seus parágrafos.

Vale notar, ademais, que a tutela antecipada afigurar-se-ia admissível

mesmo que o Código De Defesa Do Consumidor silenciasse a respeito, graças ao

disposto em seu art. 90 que prevê aplicação subsidiária do Código de Processo Civil e

da Lei n.º 7.347/85.

E a Lei n.º 7.347/85, cujas disposições processuais se aplicam à ação

coletiva de consumo, nos termos do artigo supracitado, acolheu expressamente a

possibilidade de tutela antecipatória em sede de ação civil pública, no seu artigo 12,

caput prevendo que o juiz poderá conceder “mandado liminar, com ou sem justificação

prévia, em decisão sujeita a agravo”.

Diga-se, finalmente, que, como observa Rodolfo De Camargo

Mancuso23:

23 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Ação Civil Pública em Defesa do Meio Ambiente, do Patrimônio Cultural e dos Consumidores. 9 ed, RT, São Paulo, 2004, p. 257.

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Page 38: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

“A aplicação subsidiária do Código de Processo Civil é expressamente

prevista no art. 19 da Lei 7.347/85, de sorte que essa antecipação de

tutela será perfeitamente utilizável no campo da ação civil pública,

suprindo o que se faz, de maneira pouco satisfatória, pelas cautelares

inominadas. No ponto Hugo Nigro Mazzilli: ‘Se for relevante o

fundamento da demanda e justificado o receio de ineficácia do

provimento final, a pedido da parte, o juiz poderá antecipar os efeitos da

tutela de mérito initio litis, mediante expedição de mandado liminar, ou

após justificação prévia, citado o réu. Em ambos os casos, até de ofício,

pode o juiz impor multa diária, desde que suficiente e compatível com a

obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito’.

Para Nery & Nery, trata-se de ‘tutela satisfativa no plano dos fatos, já

que realiza o direito, dando ao requerente o bem da vida por ele

pretendido com a ação de conhecimento’”.

Irrefragável, pois, o cabimento jurídico deste pedido de liminar, ainda

mais porque se trata de instrumento destinado à proteção da cidadania e à garantia da

efetividade do Direito e, uma vez que a presente causa é ajuizada em defesa do

interesse de pessoas hipossuficientes (técnica, jurídica, psicofisiológica, ecológica,

política, legislativa, econômica ou socialmente), não é demais mencionar que a tutela

antecipatória acaba por ter justamente uma função de proteção à parte mais fraca.

Em casos de concessão de medida liminar necessário que estejam

presentes os elementos básicos, ou seja, o fumus boni iuris e o periculum in mora.

Oportuno transcrever o pensamento de Luiz Rodrigues Wambier, in

verbis:

"A expressão 'fumus boni iuris' significa aparência de bom direito, e é

correlata às expressões cognição sumária, não exauriente, incompleta,

38

Page 39: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

superficial ou perfunctória." ("Curso Avançado de Processo Civil", Vol.

3, 3ª edição. editora RT,2000, p.28)

No caso em testilha, a fumaça do bom direito está amplamente

presente, vez que a Portaria Normativa n° 29 de 15 de julho de 2005 que dispõe sobre

a taxa de reexame, prescreve que referida taxa apenas será cobrada somente nos

casos em que o candidato estiver ausente no dia do exame ou se o mesmo for

considerado inapto, ou seja, reprovado. Sendo, portanto, indevida a cobrança no exame

teórico de candidato que não esteja nestas situações.

Outrossim, a Resolução do Contran n° 168 de 14 de dezembro de 2004

que entrou em vigor em 14 de março de 2005 deve atingir somente os procedimentos

instaurados após a sua vigência, não afetando aqueles iniciados anteriormente a esta

data.

Portanto, os processos protocolados antes de 14 de março de 2005

constituem ato jurídico perfeito e caso sejam cancelados acarretarão enriquecimento

ilícito por parte do requerido que receberá novamente pelo serviço a ser prestado ao

consumidor. Da mesma forma, os consumidores já gozam do direito adquirido, sendo

incontestável que não podem ser impedidos de concluir o processo iniciado.

Ademais, a documentação acostada aos autos faz prova inequívoca

da verossimilhança do alegado, corrobora a narrativa da exordial e distingue a

relevância jurídica dos fundamentos aduzidos perante este juízo. Os fatos descritos

podem ser extraídos, pois, da prova documental acostada, enquanto os argumentos

jurídicos, tecidos sistematicamente ao longo desta petição inicial, acentuam a clareza

do direito ora submetido à tutela jurisdicional.

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Page 40: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

Os argumentos ventilados pelo Ministério Público esgotam a matéria

sob discussão e as provas documentais reunidas são inequívocas, pois demonstram

cada detalhe trazido à seara da Justiça. Ademais, essa verossimilhança já foi

sustentada suficientemente quando do requerimento de inversão do ônus da prova.

Por sua vez, o receio de dano irreparável, consiste no fato de que se

os processos de habilitação forem cancelados, os consumidores terão de custear todo

o procedimento novamente e o ressarcimento será retardado pelo requerido.

Lembra o professor Humberto Theodoro Júnior, in verbis:

"Por outro lado, deve-se ter como 'grave' todo dano que, uma vez

ocorrido, irá importar supressão total, ou inutilização, senão total, pelo

menos de grande monta do interesse que se espera venha a

prevalecer na solução da lide pendente de julgamento ou composição

no processo principal." (g.n.) (in "Curso de Direito Processual Civil", Vol.

II, 19ª edição, editora Forense, 1997, p.373)

No caso em análise, deve-se salientar que a ação tem por objetivo

interromper conduta ilícita praticada pelo requerido, em prejuízo dos consumidores. A

demora na prestação da tutela jurisdicional resultaria na continuidade da cobrança da

taxa de reexame quando o candidato realizar pela primeira vez a prova teórica, além de

infringir o direito adquirido dos consumidores, que caso a tutela não seja concedida,

terão seus processos de habilitação à CNH cancelados.

Sendo inconteste, nos termos expostos, a relevância dos fundamentos

do pedido, constata-se que a demora da tutela jurisdicional permitiria que se

prolongasse a prática abusiva, aumentando o montante dos danos sofridos pelo

40

Page 41: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

consumidor hipossuficiente, bem como tornando menos efetiva a tutela jurisdicional, já

que a violação ilegal perdurará até o provimento final.

Cabe ressaltar que a característica do periculum in mora "é significativa

da circunstância de que ou a medida é concedida quando se a pleiteia ou, depois, de

nada mais adiantará a sua concessão. O risco da demora é o risco da ineficácia"24.

Caso não seja deferida a medida liminar, os consumidores continuarão

a ser prejudicados, haja vista o comportamento do requerido de total violação ao

princípio da boa-fé e ao direito adquirido dos consumidores que pagaram o processo de

habilitação e correm o risco de não usufruírem dos serviços prestados pelo Detran,

sendo, assim, obrigados a pagar novamente pelos serviços. Tal fato atingirá os atuais

consumidores e os potenciais se não for cessada in continenti tais práticas.

Mister frisar, que já foi concedida em sede de liminar, nos autos de

Mandado de Segurança Coletivo, n° 001.06.102732-5, impetrado pelo Sindicato dos

Centros de Formação de Condutores de Mato Grosso do Sul em face do Detran, que

tramita nessa Comarca, decisão que impõe ao ora requerido que “abstenha-se de

cobrar taxa de exame prático de todos os candidatos cujos processos foram

cadastrados no Sistema RENACH, com efeitos a partir de 1° de janeiro do fluente ano,

mesmo daqueles candidatos reprovados ou que não compareceram para prestar o

exame no horário designado”.

Assim, também se faz necessária a medida para que a taxa de

reexame seja cobrada somente em caso de ausência ou reprovação do candidato,

cessando a cobrança nas hipóteses de primeira avaliação teórica, do mesmo modo,

para que impeça que o requerido cancele os processos de habilitação iniciados antes

24 "Curso Avançado de Processo Civil", Vol. 3, 3ª edição, editora RT, 2000, p.28.41

Page 42: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

de 14/03/05, devendo o mesmo proceder a publicação de uma Portaria retificando a

resolução nº 168 do Contran.

Nesse passo, presentes os requisitos legais, REQUER-SE a concessão

antecipada da tutela pleiteada.

IV – DOS PEDIDOS

Ex positis, o Ministério Público Estadual requer à Vossa Excelência:

a) a concessão de Medida Liminar, independente da oitiva da parte

contrária, com fundamento no artigo 12 da Lei n.° 7.347/85, a fim de se determinar que

o Detran – Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul se abstenha de

cobrar dos candidatos à habilitação a taxa de reexame para primeira avaliação teórica,

bem como para que publique Portaria no Diário Oficial, normatizando a aplicação do

prazo de vencimento dos processos de habilitação para condução de veículos

automotores estipulados pela Resolução nº 168 do Conselho Nacional de Trânsito-

Contran;

b) seja determinada a citação do requerido, na pessoa de seu

representante legal, a fim de que, apresente, querendo, resposta ao pedido ora

deduzido, no prazo de 15 (quinze) dias, sob a advertência de não o fazendo, ser-lhe

decretada a de revelia e confissão quanto à matéria de fato;

c) seja a presente ação julgada procedente, tornando-se definitiva a

medida liminar, bem como ainda condenando-se o requerido:

c.1. ao cumprimento da obrigação de não fazer consistente em abster-

se da cobrança de 2 UFERMS nos exames teóricos dos candidatos a habilitação para

condução de veículo automotor;.

42

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c.2. ao cumprimento de obrigação de fazer consistente em cancelar os

processos de habilitação para condução de veículo automotor protocolados após a

publicação da Portaria n.º 15/2005;

d) seja declarada a inversão do ônus da prova, nos termos do artigo 6º,

VIII, do Código de Defesa do Consumidor;

e) seja o requerido condenado ao pagamento de dano moral coletivo,

no valor de 1 UFERMS por consumidor lesado;

f) seja o requerido condenado a restituir em dobro o valor cobrado

indevidamente aos consumidores que pagaram a taxa de reexame ilegalmente, nos

moldes do art. 42, parágrafo único da Lei n.º 8.078/90.

V – DOS REQUERIMENTOS:

Outrossim, o Ministério Público requer:

a) a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros

encargos, desde logo, a teor do artigo 18 da Lei n° 7.347/85 e do artigo 87 da Lei

n°8.078/90;

b) a juntada do Procedimento de Investigação Preliminar n.º 003/2006,

concluído pela Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor de Dourados, como

prova documental em desfavor do requerido;

c) sem prejuízo da responsabilidade penal por possível prática de crime

de desobediência, requer, ainda, que seja fixada, em sentença, nos termos do artigo

84, § 4º da Lei n.º 8078/90, a multa diária no valor correspondente a 1 (um) UFERMS

por consumidor para cada descumprimento judicial que o requerido venha a praticar,

sendo que os valores daí advindos devem ser recolhidos ao Fundo Estadual de Defesa 43

Page 44: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

dos Direitos do Consumidor – FEDDC, criado pelo artigo 8º da Lei Estadual n.º 1.627,

de 24 de novembro de 1995;

d) a publicação de edital no órgão oficial, a fim de que os interessados,

querendo, possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla

divulgação por meios de comunicação social por parte deste órgão de defesa do

consumidor, tudo com previsão no artigo 94, da Lei 8.078/90;

e) o julgamento procedente de todos os pedidos.

Requer ainda, provar o alegado por todos os meios de prova admitidos

em direito, especialmente pela juntada de documentos, depoimentos das testemunhas

abaixo arroladas, e por tudo o mais que se fizer necessário à cabal demonstração dos

fatos articulados na presente inicial.

Dá-se à causa o valor de R$ 34.850,00 (trinta e quatro mil, oitocentos e

cinqüenta reais).

Termos em que pede deferimento.

Dourados, 06 de julho de 2006.

Marigô Regina Bittar Bezerra

Procuradora de Justiça

Coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor

Helen Neves Dutra Silva

Promotora de Justiça de Defesa do Consumidor de Campo Grande

Cristiane Amaral Cavalcante

Promotora de Justiça de Defesa do Consumidor de Dourados

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Page 45: Acp - Detran Taxa de Reexame - Dra Helen

Paulo César Zeni

Promotor de Justiça de Defesa do Consumidor de Ponta Porã

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