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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA 8ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CRICIÚMA EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE E ANEXOS DA COMARCA DE CRICIÚMA “É preciso pensar; Mais que pensar; É preciso sentir; Mais do que sentir; É preciso agir; Com a Sabedoria quase que divina, Quando se milita na Justiça da Infância e da Juventude” (Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado, p. 107) O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA, por seu Promotor de Justiça, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, vem, com fundamento nos artigos 127 e 129, incisos II e III, da Constituição da República Federativa do Brasil, no artigo 5º da Lei Federal n° 7.347/95 e no artigo 201, inciso V, da Lei nº 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM OBRIGAÇÃO DE FAZER E NÃO FAZER CUMULADA COM PEDIDO LIMINAR contra o ESTADO DE SANTA CATARINA, pessoa jurídica de direito público interno, na pessoa do senhor Procurador-Geral do Estado com endereço na rua Saldanha Marinho, 189, Florianópolis/SC, pelas razões de fato e de direito que passa a expor:

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA8ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CRICIÚMA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE E ANEXOS DA COMARCA DE CRICIÚMA

“É preciso pensar;Mais que pensar;É preciso sentir; Mais do que sentir;É preciso agir; Com a Sabedoria quase que divina,Quando se milita na Justiça da Infância e da Juventude”(Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado, p. 107)

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA, por seu Promotor de Justiça, no uso de suas atribuições

constitucionais e legais, vem, com fundamento nos artigos 127 e 129,

incisos II e III, da Constituição da República Federativa do Brasil, no artigo

5º da Lei Federal n° 7.347/95 e no artigo 201, inciso V, da Lei nº 8.069/90

(Estatuto da Criança e do Adolescente), propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM OBRIGAÇÃO DE FAZER E NÃO FAZER CUMULADA COM PEDIDO LIMINAR

contra o ESTADO DE SANTA CATARINA, pessoa jurídica

de direito público interno, na pessoa do senhor Procurador-Geral do Estado

com endereço na rua Saldanha Marinho, 189, Florianópolis/SC, pelas

razões de fato e de direito que passa a expor:

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA8ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CRICIÚMA

1. DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO

A teor do artigo 127 da Constituição da República

Federativa do Brasil, é o Ministério Público "instituição permanente,

essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da

ordem jurídica, do regime democrático, e dos interesses sociais e

individuais indisponíveis", sendo uma de suas atribuições, conforme o

artigo 129, inciso III, da Lei Maior, "promover a ação civil pública para a

proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros

interesses difusos e coletivos" – grifos não existentes no original.

Também o artigo 93, da Constituição do Estado de Santa

Catarina reserva ao Ministério Público "a defesa da ordem jurídica, do

regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis" –

grifos não existentes no original.

Neste contexto, a Lei Orgânica Nacional do Ministério

Público (Lei n° 8.625/93) dispõe em seu artigo 25, ser função do Ministério

Público, além de outras previstas nas Constituições Federal e Estadual e em

outras leis, a promoção do inquérito civil e da ação civil pública para a

defesa de direitos de relevância social.

No mesmo diapasão, a Lei Orgânica Estadual do Ministério

Público (Lei Complementar Estadual n° 197/2000), na alínea “c” do inciso

VI de seu artigo 82, proclama ser função institucional do Ministério Público,

entre outras, promover a ação civil pública, na forma da lei, para "a

proteção dos interesses individuais indisponíveis, individuais homogêneos, difusos e coletivos relativos à família, à criança e ao adolescente, ao

idoso e às minorias étnicas" – grifos não existentes no original.

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Especificamente à seara da infância e juventude, o

Estatuto da Criança e do Adolescente é suficientemente claro a entregar ao

Ministério Público legitimidade para promover ação civil pública para

proteção dos interesses individuais, difusos ou coletivos, conforme seu

artigo 201, V.

Não bastasse, o mesmo dispositivo atribui ao Parquet a

mais ampla função de “zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias

legais assegurados às crianças e adolescentes, promovendo as medidas

judiciais e extrajudiciais cabíveis” (inciso VIII), além de deter atribuição para

“inspecionar as entidades públicas e particulares de atendimento e os

programas de que trata esta Lei, adotando de pronto as medidas

administrativas ou judiciais necessárias à remoção de irregularidades

porventura verificadas” (inciso XI).

Mais do que patente, pois, a legitimidade do Ministério

Público para propositura da presente demanda.

2. DA COMPETÊNCIA

A Lei n° 7.347/85 estabeleceu como critério para fixação da

competência, em sede de ação civil pública, o foro do local onde ocorrer o

dano (artigo 2º).

É de se ter em conta, ainda, que o artigo 1º, inciso IV, do

mencionado diploma legal, determina que é a presente ação legítima para a

defesa dos direitos e interesses difusos e coletivos.

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Destarte, ressalvada a competência da Justiça Federal, na

hipótese de existir interesse da União, entidade autárquica ou empresa

pública federal, tratando-se de dano de âmbito local, será competente o foro

onde ele ocorreu ou deveria ter ocorrido, reservando-se o foro da Capital do

Estado ou do Distrito Federal apenas para os danos de âmbito nacional ou

regional.

Paralelamente, o Código de Processo Civil dispõe que "é

competente o foro do lugar onde a obrigação deve ser satisfeita para a ação

em que se lhe exigir o cumprimento" (CPC, art. 100, IV, ‘d’).

Ainda quanto a competência, o art. 209, do Estatuto da

Criança e do Adolescente estabelece o seguinte:

Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta para processar a causa, ressalvadas a competência da Justiça Federal e a competência originária dos Tribunais Superiores.

Neste contexto, cuidando-se de dano ao direito à

segurança, bem como, o dever estatal de integral proteção e inclusão dos

adolescentes infratores na sociedade, sendo que um dos alicerces que faz

interagir esses direitos neste município de Criciúma, é o Centro de

Atendimento Socioeducativo Provisório é que a competência para o processo

e julgamento da presente ação civil pública é mesmo do Juízo da Infância e

Juventude da Comarca de Criciúma.

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3. DOS FATOS

O Estado de Santa Catarina, por sua, então, Secretaria de

Estado de Segurança Pública e Defesa do Cidadão e a Organização Não-

Governamental “Multiplicando Talentos”, celebraram Termo de Convênio nº

18900/2009-6, datado de 17 de dezembro de 2009, (cópia anexa), “visando

o atendimento a adolescentes autores de atos infracionais em

internamento provisório na Região de Criciúma e adjacências da a 5ª

Circunscrição Judiciária”.

Já no corpo do citado termo de convênio, a cláusula

primeira indica como OBJETO do pacto “prestar atendimento a

adolescentes aos quais se atribua a autoria de ato infracional, em regime de Internamento Provisório e Definitivo, provenientes das Comarcas da

Região de Criciúma, compreendida a 5ª Circunscrição Judiciária e

municípios adjacentes”.

Mais adiante, na Cláusula Quinta, “das obrigações da

Entidade”, fica definido que esta está obrigada a disponibilizar 20 (vinte)

vagas, para atendimento a adolescentes aos quais se atribua a autoria de

ato infracional, em regime de Internamento Provisório e Definitivo,

provenientes das Comarcas da Região de Criciúma, compreendida a 5ª

Circunscrição Judiciária e municípios adjacentes.

A preocupação do Estado acerca do número de vagas a

serem disponibilizadas e o seu compromisso em não exceder sua

capacidade, bem como a região de abrangência do Centro de Atendimento

Socioeducativo Provisório – CASEP, fica evidenciada no §§1º e 2º, da

cláusula primeira, que prevê expressamente:

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Excepcionalmente, comprovada a ausência de vagas no respectivo Centro de Internamento, será o adolescente encaminhado para outra unidade, observado, quando possível, o critério territorial disposto no artigo 124, IV, do Estatuto da Criança e do Adolescente;

Será autorizada a transferência de adolescente de um Centro para outro, quando comprovada a imperiosa necessidade, mediante justificativa da Equipe Técnica da respectiva unidade, para garantia e segurança da integridade física do adolescente, desde que previamente autorizado pelo Departamento de Justiça e Cidadania e cientificado o juízo competente.

Isso porque se parte da premissa que o Estado, neste

ponto, pretenda respeitar os princípios e diretrizes do Sistema Nacional

Socioeducativo – SINASE e do próprio Estatuto da Criança e do Adolescente,

garantindo que os adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa

restritiva de liberdade possa estar próximo à sua família e seu domicílio (art.

124, VI, do ECA).

Durante todo este ano de 2012, foram feitas,

bimestralmente, pelo Ministério Público, através da 8ª Promotoria de

Justiça da Comarca de Criciúma, observando a Resolução 71, do Conselho

Nacional do Ministério Público, inspeções no Centro de Atendimento

Socioeducativo Provisório de Criciúma, onde ficou constatado, em todas as

oportunidades, um desvio de função.

Durante as inspeções, foi averiguado que o número de

adolescente internados definitivamente, ou seja, com sentença que aplicou

medida socioeducativa de internação em procedimento de apuração de ato

infracional transitada em julgado sempre, repita-se, sempre superou o

número de adolescentes privados da liberdade provisoriamente, conforme

documentos anexos.

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É bom ressaltar que, embora o termo de convênio entre

Estado de Santa Catarina e a entidade Multiplicando Talentos delibere

acerca de “regime de Internamento Provisório e Definitivo”, o Centro de

Atendimento Socioeducativo Provisório – CASEP – dentro de sua capacidade

e estrutura, é destinado à internação provisória.

No mesmo norte, e apenas para reforçar a argumentação

(posto que não é o mérito da presente ação) ainda que fosse destinado

apenas à internação provisória de adolescentes, sua estrutura é deficitária,

conforme pode se ver do quadro de “aspectos físicos a serem considerados”

estabelecido pelo SINASE (documento anexo), onde o CASEP de Criciúma

não consta, infelizmente, com condições adequadas de higiene, circulação,

iluminação e segurança; área para atendimento de saúde/ambulatórios;

espaço para prática de esportes e atividade de lazer e cultura, devidamente

equipados e em quantidade suficiente para o atendimento de todos os

adolescentes, por exemplo.

A situação já preocupante, veio a se agravar nos últimos

dias em razão da intensa transferência de adolescentes autorizados pelo

Departamento de Atendimento Socioeducativo – DEASE – da Secretaria de

Justiça e Cidadania do Estado de Santa Catarina, fazendo ingressar no

CASEP de Criciúma adolescentes em cumprimento de medida

socioeducativa oriundos de outras regiões do Estado que não a prevista em

seu objeto, qual seja, “Comarcas da Região de Criciúma, compreendida a 5ª

Circunscrição Judiciária e municípios adjacentes”.

Tal fato, conforme planilha anexa, indica a superação das

vagas previstas para capacidade total do Centro de Atendimento

Socioeducativo Provisório – CASEP – de Criciúma, excedendo em UM

adolescente.

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Analisando-se a citada planilha, vê-se que dos 21 (vinte e

um) adolescentes internados atualmente no CASEP, apenas 5 (cinco)

cumprem internação provisória, ou seja, de acordo com a finalidade a que

se propõe. Os demais estão internados por força de sentença que impôs

medida socioeducativa de internação.

Destes 21 (vinte e um) adolescentes, 11 (onze) são oriundos

da Comarcas da Região de Criciúma, compreendida a 5ª Circunscrição

Judiciária e municípios adjacentes; os outros são provenientes das demais

regiões do Estado de Santa Catarina ou outros municípios que não podem

ser considerados “adjacentes”.

E é bom reforçar que, todos os adolescentes que

ingressaram no CASEP local oriundos de outras regiões do Estado, em razão

de transferências promovidas pelo DEASE, vieram para o cumprimento de

medida socioeducativa devidamente imposta por sentença transitada em

julgado, ou seja, definitiva, em evidente desrespeito à finalidade provisória a

que se destina a instituição.

Se é que tal situação ainda poderia piorar, piorou!

No dia de ontem, 11 de dezembro de 2012, a Polícia Civil

cumpriu mandado de busca e apreensão em face de adolescente, expedido

por esse Juízo da Vara da Infância e Juventude e Anexos da Comarca de

Criciúma, o qual se encontra recolhido na Delegacia de Polícia

especializada.

Sabe-se que o Estatuto da Criança e do Adolescente

permite a permanência de adolescente apreendido na repartição policial,

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quando “impossível a pronta transferência”, por no máximo 5 (cinco) dias,

desde que em “instalações apropriadas”.

Conforme ofício nº 1605/12 (anexo), assinado pelo

Delegado de Polícia titular daquele departamento policial, a “unidade não é apropriada para manter internado (ou preso) um adolescente (ou adulto) por um dia sequer”.

Urge, portanto, resgatar a ordem do precário sistema

socioeducativo no âmbito desta Comarca, fazendo-se cumprir os mais

básicos princípios e garantias dos adolescentes que se encontram privados

de liberdade, observando-se a finalidade da unidade de internação e,

sobretudo, as condições de seu cumprimento.

Não se pode admitir que por descaso, ou talvez

comodidade, do Estado em construir Centros Educacionais Regionalizados

para adolescentes que necessitam cumprir a medida socioeducativa de

internação, seus mais básicos direitos sejam violados e a segurança de toda

uma cidade fique abalada.

Abalo esse tido tanto pela falta de estrutura do CASEP local

em receber adolescentes em conflito com a lei com medida socioeducativa

definitiva de internamento, quanto pelo fato de ver-se necessário tirar-se o

efetivo da Polícia Militar das ruas para resguardar a segurança dos

funcionários do CASEP de Criciúma.

Cumpre destacar, inclusive, que a intensa transferência de

adolescentes no sistema socioeducativo catarinense, fez proliferar por todas

as unidades do Estado de Santa Catarina, e em Criciúma não foi diferente,

de facções criminosas que atuam no sistema carcerário, trazendo-os para

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dentro do sistema socioeducativo, dada as peculiaridades do crime em cada

região do estado.

Diante dessas considerações, não são necessárias maiores

reflexões sobre a gravidade do mal que atualmente assola o Centro de

Atendimento Socioeducativo Provisório – CASEP - de Criciúma, face aos

internamentos irregulares que estão ocorrendo.

O que se deve expor é que o acesso ao direito a proteção

integral do adolescente e a segurança pública devem ser assegurados a toda

a população (princípio da universalidade), independentemente de qualquer

situação condicionante (princípio da igualdade).

E neste contexto é que o Ministério Público, por meio da

presente ação civil pública, busca tutela jurisdicional para fazer valer os

preceitos constitucionais e infraconstitucionais que amparam a sociedade

no que concerne à segurança pública e defesa dos direitos e garantias das

crianças, adolescentes e todos os cidadãos da Comarca de Criciúma.

4. DO DIREITO

A Constituição da República Federativa do Brasil, após

alçar a segurança e a proteção a infância à condição de direito social (artigo

6º), estabelece ser ela "direito de todos e dever do Estado" (art. 144 e art.

227) – grifos não existentes no original.

Em igual sentir, a Constituição do Estado de Santa

Catarina, em seu artigo 105, confere à segurança, a um só tempo, o status

de direito coletivo e de obrigação estatal, ao afirmar que:

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Art. 105. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio [...].

Da mesma forma estabelece quanto a proteção da criança e

adolescente: “Art. 187. O Estado assegurará os direitos da criança e do

adolescente previsto na Constituição Federal” (grifos não existentes no

original).

Acrescente-se, ainda, que o artigo 227 da Constituição da

República Federativa do Brasil, prescreve:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Note-se, que da analise de referido artigo, fica evidente a

adoção, pelo nosso ordenamento jurídico pátrio, da Doutrina da Proteção Integral, a qual, em resumo, estabelece que “crianças e adolescentes são

sujeitos de direitos universalmente conhecidos, não apenas de direitos

comuns aos adultos, mas além desses, de direitos especiais, provenientes de

sua condição peculiar de pessoas em desenvolvimento, que devem ser

assegurados pela família, Estado e sociedade”. (Felício Pontes Jr. Conselhos

de Direitos da Criança e do Adolescente).

É em face dessa doutrina que se reconhece os direitos

especiais e específicos que todas as crianças e adolescentes detém em razão

de suas condições peculiares de pessoas em desenvolvimento (CRFB, art.

227, V e ECA, art.6°).

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Tanto é assim que, atendendo aos preceitos dessa Doutrina

da Proteção Integral, o Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece

regras e princípios específicos para o atendimento de adolescentes autores

de atos infracionais, criando todo um delineamento jurídico que visa seus

direitos à liberdade, à convivência familiar e comunitária, ao respeito e à

dignidade, conforme disposição do art. 227, da Constituição da República

Federativa do Brasil e arts. 3º, 4º, 5º, 15, 16, 17, 18 e 19, todos da Lei n°

8.069/90.

Acolá da proteção integral, é de se consignar o

reconhecimento legislativo do Princípio da Prioridade Absoluta às crianças

e adolescentes, a qual se funda na obrigação legal da família, da

comunidade, da sociedade e do Poder Público em garantir, de modo

preferencial, a estes menores de idade, todos os meios necessários à

efetivação de seus direitos fundamentais.

Referido princípio, está disposto tanto no já mencionado

art. 227, da Constituição da República Federativa do Brasil, como no art.

4°, do Estatuto da Criança e do Adolescente, que reza:

Art. 4° É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Quanto ao conceito de prioridade absoluta, colhe-se dos

ensinamentos de Wilson Donizeti Liberati:

Por absoluta prioridade devemos entender que a criança e o adolescente deverão estar em primeiro lugar na escala de preocupação dos governantes; devemos entender que, primeiro, devem ser atendidas todas as necessidades das crianças e adolescentes, pois “o maior patrimônio de uma nação é o seu povo, e

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o maior patrimônio de um povo são suas crianças e jovens” (Gomes da Costa, A.C.).1

Portando, pode-se afirmar que é dever do Estado

providenciar, com absoluta prioridade, os meios adequados para que

adolescentes em conflito com a lei que aguardam a conclusão de um

procedimento de apuração de ato infracional e, àqueles que já possuem a

medida socioeducativa definitiva de internação, recebem o tratamento

adequado às peculiaridades de seu caso.

E nesse sentido, assentou a jurisprudência:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA - ECA - Obrigação de o estado-membro criar, instalar e manter programas destinados ao cumprimento de medidas socioeducativas de internação e semiliberdade destinados a adolescentes infratores. Inclusão necessária no orçamento. Tem o estado o dever de adotar as providências necessárias à implantação. A discricionariedade, bem como o juízo de conveniência e oportunidade submetem-se à regra da prioridade absoluta insculpida no art. 4º do eca e no art. 227 da CFB. Recurso desprovido, por maioria.2

O artigo 94, do Estatuto da Criança e do Adolescente prevê

as obrigações e os deveres que as entidades que desenvolvem programas de

internação devem observar, dentre as quais se inclui: observar os direitos e

garantias de que são titulares os adolescentes; oferecer instalações físicas

em condições adequadas de habitabilidade, higiene, salubridade e

segurança e os objetos necessários à higiene pessoal; oferecer vestuário e

alimentação suficientes e adequados à faixa etária dos adolescentes

atendidos; oferecer cuidados médicos, psicológicos, odontológicos e

farmacêuticos.

1 LIBERATI, Wilson Donizeti. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. 4 ed., São Paulo: Malheiros, 1999, p. 16 2 Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul – Apelação Civil n° 597097906 - RS - 7ª Câmara Cível. Relator: Desembargador Sérgio Fernando de Vasconcelos Chaves. Data do julgado 22.04.1998

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Já o artigo 188, da Constituição do Estado de Santa

Catarina, determina que é dever do Estado criar e manter locais adequados

para recepcionar adolescentes que necessitem de cuidados assistenciais

específicos:

O mesmo artigo estabelece em seu parágrafo 5º que os

adolescentes em conflito com a lei serão recolhidos em centros de

internamento, de acordo com sua situação processual, ou seja, o

internamento, se provisório, será cumprido em CASEPs e o internamento

em face de sentença que decreta a internação como medida socioeducativa,

será cumprida em entidades destinadas a este fim, ambas devendo atender

aos preceitos do artigo 123, do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Quanto a entidade em que deverá ser adolescente

internado, dispõe o art. 123, do Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entidade exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele destinado ao abrigo, obedecida rigorosa separação por critérios de idade, compleição física e gravidade da infração.

O que se tem é que a proposta pedagógica desenvolvida por

um Centro de Atendimento Socioeducativo Provisório é completamente

diversa da que é executada em uma unidade oficial de internação para

cumprimento de medida socioeducativa definitiva.

Registre-se que o fato de inexistirem estabelecimentos

oficiais para o cumprimento da medida socioeducativa de internação, não

justifica, ou melhor, não autoriza, que o adolescente passe a cumprir a

medida que lhe fora irrogada em entidade inadequada, na qual deixará de

receber o tratamento socioeducativo a que faz jus.

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Ademais, é cediço que a estada de adolescentes já

sentenciados no Centro de Atendimento Socioeducativo Provisório – CASEP

de Criciúma, causa prejuízos tanto àqueles, como também aos que ainda

estão respondendo ao procedimento de apuração de ato infracional, em

razão do contato entre esses adolescentes, pela carência de meios para

fomentar o atendimento individualizado, bem como, pela própria

superlotação do Centro. Note-se, que basta uma análise perfunctória da legislação

pertinente ao assunto para concluir-se a impossibilidade do CASEP de

Criciúma recepcionar e manter internados adolescentes infratores que

necessitam de atendimento especializado a sua atual situação, qual seja, a

de cumprir a medida socioeducativa que lhe fora irrogada por sentença

transitada em julgado.

Não se pode conceber a mantença de adolescentes que

necessitam cumprir a medida de internamento, juntamente com

adolescentes internados provisoriamente, porquanto, a abordagem e a

interatividade que as equipes de atendimento devem ter para com uns e

para com outros é distinta e não pode se confundir.

Assim, com fulcro de resguardar as determinações da

Constituição da República Federativa do Brasil e da Constituição do Estado

de Santa Catarina, que elevaram a segurança pública e o dever de proteção

à infância à condição de direito social, é que se observa a necessidade de

compelir, por meio judicial, o Estado de Santa Catarina a deixar de fazer, ou

seja, não mais internar adolescentes em conflito com a lei que possuem

medida socioeducativa de internação aplicada por sentença transitada em

julgado desta e de outras Comarcas, no Centro de Atendimento

Socioeducativo Provisório de Criciúma.

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Ciente de que pode haver conflito no próprio interesse do

adolescente em cumprimento de medida socioeducativa, de estar internado

próximo a sua família e seu domicílio (art. 124, VI, do ECA) e seu direito de

cumprir a medida em estabelecimento adequado, poder-se-ia admitir, num

primeiro momento enquanto não resolvida a escassez de vagas no sistema

socioeducativo catarinense, que os adolescentes dos municípios que compõe

a comarca e circunscrição de Criciúma ali permaneçam.

Por outro lado, o Estado de Santa Catarina tem a obrigação

de resolver um problema de superlotação por ele provocado, transferindo

IMEDIATAMENTE os adolescentes que não possuem domicílio ou não

tenham sido processados e julgados na Comarca de Criciúma e municípios

adjacentes para suas respectivas regiões eis que, hoje, HÁ ADOLESCENTE

EM SITUAÇÃO IRREGULAR NA DELEGACIA DE POLÍCIA DA COMARCA,

AGUARDANDO VAGA NO CASEP LOCAL.

Cumpre observar, ainda, que não se vislumbra óbice

quanto ao internamento de adolescentes provenientes de outras Comarcas,

quando se tratar de internação provisória e, desde que hajam vagas

suficientes no CASEP de Criciúma para que o internamento não ocorra em

desacordo com as normas de proteção e comodidade previstas no Estatuto

da Criança e do Adolescente.

5. DA NECESSIDADE DA CONCESSÃO DE LIMINAR

Conforme o artigo 12 da lei n° 7.347/85, "poderá o juiz

conceder mandado liminar com ou sem justificação prévia, em decisão sujeita

a agravo". – grifos não existentes no original.

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Inicialmente, diante do que dispõe a Lei n° 8.437, de 30 de

junho de 1992, vedando a concessão de medidas cautelares contra atos do

Poder Público sem prévia audiência do representante judicial da pessoa

jurídica de direito público ré (artigo 2º), necessário ressaltar que, na espécie,

mostra-se perfeitamente cabível esse tipo de provimento.

Veja-se o que se decidiu em nosso Tribunal de Justiça:

Justifica-se a concessão da medida liminar sem audiência da parte contrária sempre que, a par de prova inequívoca, aliada à plausibilidade jurídica do alegado na inicial, houver perigo de dano irreversível para o requerente caso a medida não seja deferida de imediato.As restrições legais ao poder cautelar do Juiz, dentre as quais sobreleva a vedação de liminares contra atos do Poder Público (art. 1º da Lei n. 8.437/92), consoante orientação do STF (RTJ — 132/571), devem ser interpretadas mediante um controle de razoabilidade da proibição imposta, a ser efetuado em cada caso concreto, evitando-se o abuso das limitações e a conseqüente afronta à plenitude da jurisdição do Poder Judiciário. (Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Agravo de Instrumento n. 97.002945-4, relator Desembargador Eder Graf).

Na hipótese dos autos, os pressupostos jurídicos para a

concessão da medida liminar initio litis, isto é, o fumus boni juris e o

periculum in mora, encontram-se plenamente demonstrados.

Quanto á plausibilidade do direito invocado, o que se

pretende resguardar é a prerrogativa constitucional da segurança pública e

da proteção integral à infância e adolescência, cuja responsabilidade do

Estado de Santa Catarina, no sentido de promover sua efetividade, é

inegável.

É de se ter em conta, nesse passo, que a medida

socioeducativa de internação deve ser cumprida em estabelecimento oficial

adequado e distinto do local destinado ao internamento provisório, devendo

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estar apto a atender as peculiaridades do adolescente infrator, conforme

disposição do art. 188, § 3° e § 5°, da Constituição do Estado de Santa

Catarina :

Art. 188. O Estado criará e manterá organismos estruturados para dar cumprimento às ações de atendimento à criança e ao adolescente. (...) § 3° A criança e o adolescente internados em estabelecimento de recuperação oficial receberão proteção, cuidados e assistência social, educacional, profissional, psicológica, médica e jurídica. § 5° Em toda e qualquer situação infracional ou de desvio de conduta, se necessário, a criança ou o adolescente serão encaminhados para centros exclusivos de recolhimento provisório [...].

Já no que se refere ao perigo na demora, a necessidade

extrema de se evitar o internamento não provisório de adolescentes no

CASEP de Criciúma, caracteriza a "urgência/urgentíssima" da concessão

da medida liminar inaudita altera parte, sob pena de resultar inócuo e

absolutamente estéril o provimento a ser proferido ao final da presente ação

civil pública, pelo evidente prejuízo a estes adolescentes que não receberam

aqui o tratamento a eles determinado por lei.

Outrossim, o Centro de Atendimento Socioeducativo

Provisório de Criciúma não possui estrutura física, aparelhamento e pessoal

apto à manutenção desses adolescentes internados em face da aplicação de

medida socioeducativa definitiva.

Neste contexto, inegável a possibilidade e a necessidade de

se conceder a medida liminar, sem prévia audiência do Estado de Santa

Catarina, para que se mantenha a incolumidade física e psíquica dos

adolescentes internados provisoriamente, garantir o fiel cumprimento do

que prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente sobre a internação

definitiva, bem como dos funcionários que ainda laboram no Centro de

Atendimento Socioeducativo Provisório de Criciúma.

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Da mesma forma e pelas mesmas razões já expostas é que

se vislumbra a necessidade de que o Estado seja obrigado a se eximir de

colocar adolescentes infratores para o cumprimento da medida

socioeducativa definitiva de internamento no CASEP (Centro de

Atendimento Socioeducativo Provisório) de Criciúma/SC, bem como de se

transferir, IMEDIATAMENTE, os adolescentes que estão no Centro de

Atendimento Socioeducativo Provisório (CASEP) de Criciúma e que possuem

medida socioeducativa de internação aplicada por sentença já transitada em

julgado, para os Centros Educacionais Regionais, local onde lhes será

dispensado o devido atendimento, especialmente aqueles que não possuem qualquer vínculo com as Comarcas da Região de Criciúma, compreendida a 5ª Circunscrição Judiciária e municípios adjacentes

Cumpre ressaltar, ainda, que o artigo 11 da Lei n° 7.347,

de 24 de julho de 1985 (Lei da Ação Civil Pública) determina que, "na ação

que tenha por objeto obrigação de fazer ou não fazer, o juiz determinará o

cumprimento da prestação da atividade devida ou a cessação da atividade

nociva, sob pena de execução específica ou de cominação de multa diária, se esta for suficiente ou compatível, independentemente de requerimento

do autor" – grifos não existentes no original.

Já o artigo 213, da Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990

(Estatuto da Criança e do Adolescente), estabelece:

Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao adimplemento.§ 1° Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citando o réu.

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§ 2° O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do preceito.

Assim, como forma de evitar o descumprimento da liminar

eventualmente concedida, bem como para dar efetividade ao provimento

jurisdicional, requer o Ministério Público que seja cominada multa diária,

para o caso do Estado de Santa Catarina não promover a imediata

transferência dos adolescentes e de continuar o Estado colocando

adolescentes para cumprirem a medida socioeducativa definitiva de

internação no CASEP (Centro de Atendimento Socioeducativo Provisório) de

Criciúma/SC.

6. DOS PEDIDOS

6.1. O recebimento da inicial;

6.2. A concessão da medida liminar propugnada inaudita

altera parte, determinando que o Estado de Santa Catarina, por intermédio

da Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania, na pessoa de seus

representantes, providencie a imediata transferência dos adolescentes

internados no CASEP de Criciúma, que cumprem medida socioeducativa de

internamento definitivo, que não possuam qualquer vínculo com as Comarcas da Região de Criciúma, compreendida a 5ª Circunscrição Judiciária e municípios adjacentes, para os Centros Educacionais Regionais existentes no Estado;

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6.3. Na mesma decisão liminar, seja determinado que o

Estado de Santa Catarina se exima de colocar adolescentes em conflito com

a lei para o cumprimento da medida socioeducativa definitiva de

internamento no CASEP (Centro de Atendimento Socioeducativo Provisório)

de Criciúma/SC;

6.4. Seja cominada, para o caso de descumprimento da

liminar, multa diária em valor suficiente a se garantir a efetividade do

provimento;

6.5. A citação do requerido, na pessoa do senhor

Procurador-Geral do Estado, para, querendo, contestar a presente ação civil

pública;

6.6. A produção de todas as provas em direito admitidas;

6.7. A procedência integral da presente ação civil pública, para determinar que o demandado se abstenha de encaminhar

adolescentes em conflito com a lei para o cumprimento da medida

socioeducativa definitiva de internação no CASEP (Centro de Atendimento

Socioeducativo Provisório) de Criciúma/SC, especialmente aqueles que não

detenham qualquer vínculo com as Comarcas da Região de Criciúma, compreendida a 5ª Circunscrição Judiciária e municípios adjacentes;

6.8. A dispensa do pagamento de custas, emolumentos e

outros encargos, desde logo, a teor do artigo 18 da Lei n° 7.347/85 (Lei da

Ação Civil Pública).

7. DO VALOR DA CAUSA

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Dá-se à causa, por se tratar de direitos afetos à segurança

pública e a integral proteção ao adolescente, valor inestimável, nos termos

do artigo 20, §4º, do CPC.

Criciúma, 12 de Dezembro de 2012.

MAURO CANTO DA SILVAPromotor de Justiça

Curador da Infância e Juventude

ROL DE TESTEMUNHAS

1. Vera Lúcia Coro Bedino, Promotora de Justiça, titular da 6ª

Promotoria de Justiça da Comarca de Criciúma;

2. Eduardo Milioli, Presidente da ONG Multiplicando Talentos;

3. Júlia Durant, Coordenadora do Centro de Atendimento

Socioeducativo Provisório de Ciciúma;

4. Antônio Márcio Campos Neves, Delegado de Polícia titular da

Delegacia de Polícia da Criança, Adolescente e Proteção à Mulher da

Comarca de Criciúma.