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Page 1: Helen pinho

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS INSTITUTO DE ARTES E DESIGN

DESIGN GRÁFICO

Trabalho de Conclusão de Curso

Desenvolvimento Sustentável

Uma abordagem social do design gráfico no Programa Vizinhança

HELEN PINHO DE SOUZA

PELOTAS / 2010

Page 2: Helen pinho

HELEN PINHO DE SOUZA

Desenvolvimento Sustentável Uma abordagem social do design gráfico no Programa Vizinhança

Monografia apresentada ao Instituto de Artes e

Design ao Curso de Artes Visuais Bacharelado em

Design Gráfico da Universidade Federal de

Pelotas, como requisito parcial à obtenção do

título de Bacharel em Design Gráfico.

Orientadora: Mônica Lima de Faria

PELOTAS / 2010

Page 3: Helen pinho

3

Banca examinadora

_____________________________________

Profª. Drª. Lúcia Bergamaschi Costa Weymar

_____________________________________

Profª. Drª. Maria de Lourdes Valente Reyes

_____________________________________

Profª. Me. Mônica de Lima Faria

_____________________________________

Profª. Me. Roberta Barros

Page 4: Helen pinho

4

Para todos que pensam

seis coisas impossíveis antes do café da manhã

(adaptado de alice in wonderland)

Page 5: Helen pinho

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Agradecimentos

Mãe, me orgulho te ser tua filha, tua força é uma inspiração

constante. Te ofereço a minha graduação como uma pequena retribuição por

toda a dedicação que tens por mim. Amo-te com todo meu coração.

Mana, tu és a estrela da minha vida, tua luz me ilumina e me guia, o

caminho que trilho é marcado pelos teus passos. Amo-te eternamente,

obrigada por me amar da mesma forma e saber tão bem o demonstrar.

Pai, a tua simplicidade é invejável, tu consegues encontrar a

felicidade no mais trivial acontecimento. Obrigada, amo-te.

Marcel, agradeço pelos bons momentos que tu me concedeu, pelas

risadas e pelos sorrisos e por compartilhar comigo o Wesley e a Joana,

tornaste os meus dias mais fáceis e leves.

À roda de chimarrão da Administração – Édila, Talita, Cátia, André,

Aline, Renan, Max – minhas saudações por compartilharem momentos

agradáveis, tornar as aulas mais atrativas e aumentarem minha capacidade

de fazer um bom mate.

Aos colegas que foram amigos – Copiador, Henrique, Anta, Rafita,

Pi, Carol, Dani, Ana, Cintia, Barbi – todos vocês foram fundamentais para a

minha formação, sou grata pelos os momentos que compartilhamos.

Sucesso.

À Ana, tu és a minha mala querida, obrigada pela amizade leve e

sincera, pela tua risada (ela me faz rir) e por cantar comigo “Não dá para

controlar Não dá! Não dá prá planejar Eu ligo o rádio E blá, blá Blá, blá, blá, blá

Eu te amo!” (Lobão).

À Dani, por compartilhar os ideais, por colaborar com o meu trabalho

e me incentivar. Por entrar na maior fria – literalmente – do ano comigo,

incomodar bastante, me lembrar das aulas e ser tão perdida quanto eu.

Page 6: Helen pinho

6

À Universidade Federal de Pelotas e seus funcionários, que

proporcionaram a mim mais do que apenas uma graduação.

Aos professores que se dedicaram ao ensino com seriedade, que

dividiram seus conhecimentos, e fizeram a diferença.

Ao professor Fernando Igansi, por crer na capacidade de seus

alunos, nos oferecer oportunidades maravilhosas e pensar mil coisas ao

mesmo tempo. A minha homenagem a ti.

À professora Lucia Weymar, obrigada por crer na minha capacidade,

por me orientar em diversas situações e se mostrar sempre carinhosa.

Ao professor Marcio Rodrigues, sou grata por nos dizer “o mundo é

um moinho / vai triturar teus sonhos tão mesquinhos / vai reduzir as ilusões a

pó” (Cartola), meu querido a minha graduação foi transformada pela tua

chegada, obrigada. Desejo que os nossos sonhos possam ser sempre

renovados.

Á banca, por me tratar com tanto carinho, colaborar para o

engrandecimento da minha pesquisa, foi gratificante a experiência. Obrigada.

Ao Estúdio Sul Design e ao Programa Vizinhança pelo estágio e a

oportunidade de exercer o meu trabalho de acordo com as minhas convicções,

por auxiliar no meu amadurecimento sou grata.

À querida orientadora Mônica Faria, minha gratidão por ti é imensa, é

surpreendente tua dedicação, preocupação e apoio constante. Tu fizeste

toda a diferença, muito obrigada.

Page 7: Helen pinho

7

“Têm coisas que tem seu valor Avaliado em quilates, em cifras e fins

E outras não têm o apreço Nem pagam o preço que valem pra mim”.

Guto Teixeira

“Todos têm ideias diferentes sobre o que seja design. Alguns pensam que é a gravata do pai,

outros pensam que é a camisola da mãe”. Paul Rand

Page 8: Helen pinho

8

Resumo

Vivemos em uma sociedade capitalista, centrada no mercado,

extremamente desigual que acaba por marginalizar parte de seu

população. Assim esta pesquisa propõe uma reflexão sobre o design e o

papel dos designers para a formação da estrutura social, investigamos a

capacidade do design se configurar em uma ferramenta de

desenvolvimento social, tendo como base os cinco princípios

sustentáveis de Sachs – social, ambiental, econômico, territorial e

político –. Metodologicamente operacionamos a pesquisa através da

abordagem qualitativa e do método hermenêutica de profundidade

(THOMPSON, 1995), assim na fase de análise sócio-histórica

apresentamos uma pesquisa bibliográfica sobre design gráfico,

sustentabilidade e as relações entre os temas, na fase da análise formal

avaliamos a Campanha do Agasalho do Governo do Rio Grande do Sul

sob a ótica do desenvolvimento sustentável e na terceira e última fase

do método, interpretação/re-interpretação, apresentaremos a prática

desenvolvida no Programa Vizinhança – projeto de extensão de cunho

social da Universidade Federal de Pelotas –. Desde modo concluímos

que o design pode ser uma ferramenta em prol do desenvolvimento

social e que o designer, a partir de um posicionamento crítico, possui a

capacidade de colaborar a transformação da estrutura social atual.

Palavras-Chaves: design gráfico, sustentabilidade, desenvolvimento

social, Programa Vizinhança.

Page 9: Helen pinho

9

Resumen

Vivimos en una sociedad capitalista, orientada al mercado, muy al contrario que en última instancia, marginar a parte de su población. Por lo tanto, propone una reflexión sobre el papel del diseño y los diseñadores para la formación de la estructura social, se determinó la capacidad del diseño se encuentra en una herramienta de desarrollo social, basado en los cinco principios del desarrollo sostenible Sachs (2204) - sociales, ambientales, económicos, territorial y política -. Metodologías operacionales para buscar a través del enfoque cualitativo y el método de la hermenéutica de profundidad (Thompson, 1995) sólo en la fase de análisis socio-histórico se presenta una búsqueda en la literatura sobre diseño gráfico, la sostenibilidad y las relaciones entre los temas en la etapa de análisis formal de evaluación Campaña de Invierno del Gobierno de Rio Grande do Sul, desde la perspectiva del desarrollo sostenible y la tercera y última etapa del método, interpretación y reinterpretación-, se presenta la práctica de sarrollada en el Programa Vizinhança - Proyecto de Extensión social de la Universidad Federal de Pelotas -. De esta manera llegamos a la conclusión de que el diseño puede ser una herramienta para el desarrollo social y diseñador que, desde una posición crítica, tiene la capacidad de colaborar para transformar la estructura social actual.

Palabras clave: diseño gráfico, la sostenibilidad, el desarrollo social, Programa

Vizinhança.

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Lista de Figuras

Figura 1: Áreas do design ............................................................................................ 21

Figura 2: Evento Nazista ............................................................................................. 23

Figura 3: Redesign do semáforo ................................................................................... 25

Figura 4: Cartaz Campanha do Agasalho (2010) .............................................................. 35

Figura 5: Reportagem do Diário Popular, dezembro de 1913 ............................................... 41

Figura 6: Panorama da região ...................................................................................... 42

Figura 7: Logotipo em construção .................................................................................. 46

Figura 8: Prédios do campus Anglo ................................................................................ 48

Page 11: Helen pinho

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Lista de Quadros

Quadro 1: Análise sustentável Campanha do Agasalho (2010) ............................................ 37

Quadro 2: Quadro semântico ........................................................................................ 45

Quadro 3: Análise sustentável do Programa Vizinhança ..................................................... 54

Page 12: Helen pinho

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SUMÁRIO

1 Introdução ............................................................................................................ 13

2 Design e Design Gráfico ...................................................................................... 18

2.1 Função Social do Design ................................................................................. 22

3 Noções sobre sustentabilidade ......................................................................... 27

3. 1 Design e sustentabilidade .............................................................................. 28

4 Análise .................................................................................................................. 33

4.1 Análise sustentável .......................................................................................... 35

5 Prática .................................................................................................................. 40

5.1 Briefing .............................................................................................................. 44

5.2 Identidade Visual .............................................................................................. 45

5.3 Aplicativos ........................................................................................................ 49

5.4 Avaliação sustentável ...................................................................................... 54

6 Finalizações ......................................................................................................... 56

6.1 Considerações .................................................................................................. 56

6.2 Limitações ......................................................................................................... 57

6.3 Sequência ......................................................................................................... 58

Referências ............................................................................................................. 59

Anexos .................................................................................................................... 61

Page 13: Helen pinho

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Page 14: Helen pinho

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1. Introdução

A evolução do sistema econômico mundial marcou a história da

humanidade de diversas maneiras e uma das mais impressionantes foi a

retirada do poder das mãos do Estado para as mãos das empresas. Podemos

citar a Revolução Industrial como um marco definitivo desta transição, porém é

necessário entender que apenas com o desenvolvimento da sociedade

moderna e de sua ideologia racionalista foi possível a criação e o

desenvolvimento do sistema econômico vigente e, consequentemente, da

estrutura social ocidental. Para tanto, citamos alguns fatos históricos como

momentos ímpares para a disseminação e desenvolvimento dos princípios

capitalistas, são eles: reforma protestante e movimento iluminista, a já citada

revolução industrial e a revolução francesa (RODRIGUES, 2009a).

A reestruturação do sistema produtivo e da estrutura social foi

fundamental para o desenvolvimento do mundo capitalista e para a mudança

na forma de dominação dos indivíduos, que deixa de ser pela força e passa a

ser estabelecida pela ideologia1, divulgada na forma de discurso. Como

exposto por Rodrigues (2009b), a mídia estabelece uma relação restrita com o

discurso, pois é um meio de propagação com abrangência mundial:

Com efeito, para que a ideologia possa ganhar generalidade suficiente para homogeneizar a sociedade no seu todo é preciso que a mídia cumpra seu papel de veicular a informação não de um pólo particular a outro pólo particular, mas de um foco central circunscrito que se dirige ao todo indeterminado da sociedade (RODRIGUES, 2009b, p. 04)

O discurso é efetivo, pois é realizado de forma pacífica (em oposição,

por exemplo, às guerras), gradual e contínua, assim não distinguimos nossos

desejos da política vigente de comportamento e encaramos a estrutura social

atual como um fato social (Durkheim, 2001).

1 Definição do Aurélio: s.f. Ciência que trata da formação das idéias. / Conjunto de idéias

próprias de um grupo, de uma época, e que traduzem uma situação histórica: a ideologia burguesa dicionário.

Page 15: Helen pinho

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Porém, o sistema capitalista não faz parte da natureza, tampouco as

estruturas empresariais. Estes conceitos foram criados, desenvolvidos e

sustentados por homens e podem ser modificados pelos homens e para os

homens, Kazazian (2005) explicita este pensamento:

[...] a empresa poderia estar na origem de uma profunda mutação e passagem de uma sociedade de consumo baseada no produto para uma sociedade de utilização cuja principal modalidade seria o serviço, e que teria por finalidade uma economia leve (KAZAZIAN, 2005, p. 27).

Assim sendo, acreditamos que é possível o estabelecimento de uma

nova ordem e, principalmente, que a academia tem possibilidades de alavancá-

la, através da formação de profissionais qualificados e socialmente críticos.

Para tanto, é importante o fomento da pesquisa com caráter transdisciplinar e

no desenvolvimento de uma postura profissional responsável.

Pensando em um futuro desenvolvido a partir da estrutura vigente, os

designers ocupam uma posição de fundamental importância nesta transição.

Como afirma Victor Papanek “a única importância, no design, é sua relação

com as pessoas” (PAPANEK, 1971 apud KAZAZIAN, 2005, p. 21). Assim suas

bases necessariamente têm de estar na ecologia, no homem e na ética:

O desenvolvimento sustentável obedece ao duplo imperativo ético da solidariedade com as gerações presentes e futuras, e exige a explicitação de critérios de sustentabilidades social e ambiental e de viabilidade econômica. Estritamente falando, apenas as soluções que considerem estes três elementos, isto é, que promovam o crescimento econômico com impactos positivos em termos sociais e ambientais, merecem a dominação de desenvolvimento [...] (SACHS, 2004, p. 36).

Insere-se aqui um conceito base para o trabalho que se segue, a

sustentabilidade possui um escopo maior que a questão ambiental,

teoricamente difundida. Para Sachs (2004), há cinco pilares fundadores: o

econômico, o social, o ambiental, o territorial e o político.

Assim, apesar da questão da sustentabilidade não ser novidade, ainda

vemos de modo simplista sua problemática e nossas ações são igualmente

parciais. Prova disso é o aumento dos problemas ambientais, o fortalecimento

da desigualdade social e o fato de o desenvolvimento ocorrer apenas nos

Page 16: Helen pinho

16

países já denominados desenvolvidos. Deixando claro que, neste trajeto,

discurso e ação, existem desconexões, falhas, inverdades:

[...] fundamentalistas de mercado, eles implicitamente consideram o desenvolvimento como um conceito redundante. O desenvolvimento virá como resultado natural do crescimento econômico, graças ao “efeito cascata” (trickle down effect). [...] A teoria do “efeito cascata” seria totalmente inaceitável em termos éticos, mesmo se funcionasse, o que não é o caso. Num mundo de desigualdades abismais, é um absurdo pretender que os ricos devam ficar mais ricos ainda, para que os destituídos possam ser um pouco menos destituídos (SACHS, 2004, p. 26).

A presente investigação pretende que, a partir da perspectiva

sustentável, seja possível instituir o desenvolvimento social em busca de uma

estrutura social digna e justa – no presente e no futuro – bem como,

demonstrar que o design pode se configurar em uma ferramenta para o

alcance deste objetivo.

Assim sendo, a questão problema geradora desta pesquisa é: “Como o

design pode configurar-se em instrumento promovedor do desenvolvimento

social a partir da perspectiva sustentável?”.

Para responder esta questão, temos como objetivo geral analisar o

design como instrumento promovedor do desenvolvimento social a partir da

perspectiva sustentável. Para alcançar o objetivo geral nos utilizamos dos

seguintes objetivos específicos: compreender as noções sustentáveis,

apresentar o campo do design e do design gráfico, salientar a relevância social

do design gráfico, realizar a análise da campanha do agasalho do Rio Grande

do Sul através da perspectiva sustentável, aplicar na prática do Programa

Vizinhança o design social a partir da perspectiva sustentável.

Metodologicamente, pretendemos alcançar o objetivo geral e os

específicos fazendo uso da abordagem qualitativa:

Quando se fala de pesquisa quantitativa ou qualitativa, e mesmo quando se fala de metodologia quantitativa e qualitativa, apesar da liberdade de linguagem consagrada pelo uso acadêmico, não se está referindo a uma modalidade de metodologia particular. Daí ser preferível falar-se de abordagem quantitativa, de abordagem qualitativa, pois como essas designações, cabe referir-se a conjuntos de metodologias, envolvendo, eventualmente, diversas referências epistemológicas. São várias metodologias de pesquisa que podem adotar uma abordagem qualitativa, modo de dizer que faz referência

Page 17: Helen pinho

17

mais a seus fundamentos epistemológicos do que propriamente a especificidades metodológicas (SEVERINO, p. 119, 2007).

Especificamente, usamos o método proposto por John B. Thompson

(1995) denominado hermenêutica de profundidade (HP). Este método possui

um caráter cíclico de reflexão teórica e prática, sendo especialmente indicado

para estudos na área das ciências sociais e em estudos em que se pretende

avaliar de maneira prática a teoria pesquisada e desenvolvida.

A HP apresenta-se dividida em três fases: análise sócio-histórica,

análise formal ou discursiva e interpretação/re-interpretação:

Como eu entendo, a HP é um referencial metodológico amplo que compreende três fases ou procedimentos principais. Essas fases devem ser vistas não tanto como estágios separados de um método seqüencial, mas antes como dimensões analiticamente distintas de um processo interpretativo complexo (THOMPSON, 1995, p. 365).

Para a execução da pesquisa, usamos ferramentas que possibilitam a

caminhada por todas as fases da hermenêutica e o entrelaçamento entre as

mesmas.

Na análise sócio-histórica, trabalhamos com a pesquisa bibliográfica, a

fim de construir uma base teórica sobre o design, sustentabilidade e

desenvolvimento. Na análise formal nos utilizaremos do estudo de caso e da

interpretação semiótica. Para a interpretação/re-interpretação, analisamos a

prática desenvolvida e sua relação com as etapas anteriores.

Explicitamos ainda, sucintamente, como se dá o encaminhamento do

leitor por este trabalho.

No primeiro capítulo, apresentamos nossa questão problema, objetivos

e motivações para a realização da investigação, assim como o processo

metodológico utilizado.

No capítulo dois, “Design e Design Gráfico”, tratamos das questões

formais e conceituais da área, demonstrando a capacidade de aplicação dos

conhecimentos teóricos a fim de promover empresas, marcas, ações e

especificamente o desenvolvimento social.

No capítulo terceiro, “Noções sobre Sustentabilidade”, explanamos

sobre o complexo campo do sustentável, seus objetivos, conceitos em

Page 18: Helen pinho

18

construção e abrangência de sua atuação. Trataremos, também, da relação

com o design e, consequentemente, com o profissional da área.

No capítulo quarto, realizamos a análise sustentável de uma campanha

social que objetiva promover o desenvolvimento igualitário. Escolhemos uma

ação com abrangência regional, com o intuito de identificar e inferir a relação

do design com as mesmas e os resultados identificados.

No capítulo quinto, apresentamos a prática realizada no Programa

Vizinhança – projeto de extensão da Universidade Federal de Pelotas – local

em que a graduanda realiza estágio. O programa visa o estreitamento das

relações entre a instituição e a comunidade situada no entorno do campus

porto. Desenvolvemos aplicativos gráficos para a criação de uma identidade

visual do grupo e analisamos essa prática de acordo com a análise sustentável,

utilizada no estudo de caso.

Finalizamos com a apresentação das considerações finais e

discussões sugeridas ao longo da realização da pesquisa, a fim de fomentar a

continuação de estudos na área e do desenvolvimento de práticas que

colaborem para o desenvolvimento social e para a criação de uma sociedade

justa e includente.

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19

2. Design e Design Gráfico

O marco histórico do advento do design no mundo é motivo de

discussões. Enquanto alguns autores defendem expressões de elementos de

design já nas sociedades primitivas, outros só aceitam o surgimento da área

após a Revolução Industrial, mas “toda versão histórica é uma construção e,

portanto, nenhuma delas é definitiva” (CARDOSO, 2008, p. 17).

Contudo, acreditamos que apenas com a transformação da estrutura

social, dos meios de produção e do sistema econômico houve a necessidade

do design. Cardoso afirma que “o design é fruto de três grandes processos

históricos que ocorreram de modo interligado e concomitantemente, em escala

mundial, entre os séculos 19 e 20” (CARDOSO, 2008, p. 22), que são: a

industrialização, a urbanização moderna e a globalização.

Até então, o modo de produção artesanal e de manufatura era

suficiente para atender a demanda da sociedade e, segundo Villas-Boas

(2003), este tipo de produção não caracteriza um produto de design. Este

necessariamente deve ser produzido em escala e especialmente desenvolvido

para a sociedade de massas. Outro ponto importante para caracterizar o

design é a separação entre o processo produtivo e o projeto (CARDOSO,

2008).

Villas-Boas (2003) ainda ressalta a importância do fenômeno da

fetichização de Marx para o processo:

No mundo da sociedade de massas, uma música não é uma música; um tapete não é um tapete; uma camisa não é uma camisa: são produtos de trabalhos individuais que, pelo trabalho alienado, se configuram em produtos do trabalho social que se relacionam entre si através de um jogo de valores que lhes dá vida própria e que acaba por reger as relações sociais destes mesmos produtos de trabalho individual (ou seja, os homens) (VILLAS-BOAS, 2003, p. 28).

Page 20: Helen pinho

20

Com a mudança no quadro social os objetos que interagem com essa

sociedade ganharam valores subjetivos e, nesse contexto, o design tornou-se

fundamental. Contudo, vemos que o surgimento da área só foi possível pelo

percurso histórico da humanidade durante os séculos anteriores, conceitos

aplicados em diversas áreas (arte, arquitetura, literatura, artesanato) foram se

desenvolvendo e permitiram o advento do design.

No Brasil, a abertura da Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI)

inaugurada em 1963 no Rio de Janeiro é o marco institucional da consolidação

da área no país, mas “na verdade, na época da fundação da ESDI pouco

tempo depois, já se buscava implantar o ensino sistemático do design no Brasil

há mais de uma década” (CARDOSO, 2008, p. 190).

As tentativas precedentes mais lembradas foram as realizadas em

1951 no Instituto de Arte Contemporânea do MASP, que funcionou por três

anos; a da Escola Técnica de Criação do MAM, nunca consolidada realmente e

a realizada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP em 1962, que

criou uma linha de formação de Desenho Industrial no curso de Arquitetura.

Porém, Cardoso enfatiza:

Enquanto alguns ainda disputam diferenças de meses entre a inauguração dos cursos de graduação da ESDI e da FAU/USP, a grande maioria ignora ou silencia a atuação pioneira de instituições, como o Serviço Nacional da Aprendizagem Industrial (...); a Escola Técnica Nacional (...); o Curso de Desenho a Artes Gráficas da Fundação Getúlio Vargas, (...); a Escola IDOPP, (...); ou até mesmo o velho Liceu de Artes e Ofícios (...). A importância de tais indivíduos e instituições na abertura das atividades ligadas ao design no Brasil é demasiada para ser relegada aos porões do esquecimento (CARDOSO, 2008, p. 196).

Assim, compreendemos que a história é mais complexa do que

normalmente nos é transmitida. A ESDI é fruto de todas essas tentativas, dos

erros e acertos, e ressaltamos que este é apenas o lado institucional: a história

do design como prática é ainda mais controverso:

Perdura na consciência nacional o mito de que o design brasileiro teve sua gênese por volta de 1960. Como todo mito, trata-se de uma falsidade histórica patente. Como todo bom mito de origem, trata-se de uma verdade profunda (...) Surgiu nessa época não o design propriamente dito – ou seja, as atividades projetuais relacionadas à produção e ao consumo em escala industrial – , mas antes a consciência do design como conceito, profissão e ideologia (CARDOSO, 2005, p. 07).

Page 21: Helen pinho

21

Deste modo, o design já estava sendo praticado anteriormente à

década de 1960 no país, principalmente por profissionais estrangeiros e por

brasileiros formados no exterior, especialmente nas áreas de embalagem e

editorial.

Contudo, a profissão é relativamente jovem quando comparada à

história da humanidade e de outras profissões. No Brasil, o quadro é mais

recente ainda. Por questões culturais, políticas e sociais não temos a

formulação conceitual e prática da área claramente resolvida e uma das

peculiaridades nacionais já começa na própria nomenclatura:

Design é uma palavra inglesa originária de designo (as-are-avi-atum), que em latim significa designar, indicar, representar, marcar, ordenar. O sentido de design lembra o mesmo que, em português, tem desígnio: projeto, plano, propósito (Ferreira, 1975) – com a diferença de que desígnio denota uma intenção, enquanto design faz uma aproximação maior com a noção de uma configuração palpável (ou seja projeto). Há assim uma clara diferença entre design e o também inglês drawing – este, sim, o correspondente ao sentido que tem o mesmo termo desenho (VILLAS-BOAS, 2003, p. 48-49).

Desde a instituição da ESDI já se discutia esta terminologia. Procurou-

se expressões nacionais mais adequadas e até mesmo a criação de uma nova

palavra, mas o estrangeiro termo design foi o mais aceito e difundido. Apesar

de questões como o significado inadequado (incompleto) e a soberba natural

de termos ingleses no Brasil é improvável que haja uma movimentação capaz

de modificar o vocábulo.

A importância central dessa discussão - para o presente trabalho - está

na subdivisão da área, pois seguindo a tendência mundial do ensino superior

os cursos de Desenho Industrial foram progressivamente se desmembrando

em cursos específicos e a profusão de áreas dificulta a localização do

estudante e profissional dentro do todo.

Tendo como base a posição defendida por Villas-Boas, apresentamos

na Fig. 1 um esquema da área e principais sub-áreas do design brasileiro. O

referido autor se utilizou da terminologia utilizada pelo Ministério da Educação e

as resoluções do V Endi (VILLAS-BOAS, 2003):

Page 22: Helen pinho

22

Figura 1: Áreas do design Fonte: adaptado de VILLAS-BOAS, 2003

O Design Gráfico faz parte da sub-área de Programação Visual assim

como o Design Informacional e o Design Institucional, e se distingue dos

mesmos por questões projetuais e por metodologia de trabalho:

É justamente pela busca de uma definição o mais precisa possível (e portanto restrita) que a delimitação do design gráfico envolve quatro aspectos básicos: formais, funcionais-objetivos (ou simplesmente, funcionais) metodológicos e finalmente, funcionais-subjetivos (ou simbólicos). Um objeto só pode ser considerado fruto de design gráfico se responder a estas quatro delimitações (VILLAS-BOAS, 2003, p. 08).

Como ressaltado pelo citado autor, o conceito é restritivo, pois em uma

realidade um tanto caótica é necessário conceituar para localizar e a partir de

uma realidade organizada atender às necessidades heterogêneas das

produções. Assim, em um primeiro momento se delimita concretamente o

espaço/área, mas o intuito não é a setorização definitiva dos objetos e sim a

localização dos indivíduos para um entendimento particular e global:

(...) um projeto gráfico é um conjunto de elementos visuais – textuais e/ou não textuais – reunidos numa determinada área preponderantemente bidimensional e que resulta exatamente da relação entre estes elementos (VILLAS-BOAS, 2003, p. 12).

Tendo em vista as explanações acima ressaltamos que no presente

trabalho analisamos projetos de design gráfico assim como desenvolvemos

peças gráficas. Desta maneira a conceituação formal da área e da

configuração de seus produtos é valorizada.

Page 23: Helen pinho

23

2.1 Função social do Design

A soberania do sistema capitalista e da sua forma de gestão

horizontalizou a busca por aspectos, antes ligados apenas a empresas, como:

a busca por resultados, eficiência, eficácia e lucro. Esse processo já era

apontado por Weber (WEBER, 1982 apud RODRIGUES, 2009) como uma

tendência, uma vez que a racionalidade voltada para fins torna-se o centro da

administração moderna.

Essa racionalidade objetiva faz com que argumentos não

mercadológicos não sejam aceitos como legítimos, pois foge da lógica

capitalista e, portanto, não é entendida. A dimensão social do design está

diretamente ligada a esse fato, pois em um mundo centrado no mercado, não

se entende – amplamente – o motivo para uma profissão ter a sociedade como

“cliente final” e não o mercado.

Contudo, a disseminação da utilização da expressão “design social”

potencializa a discussão no meio acadêmico e até mesmo no mercado de

trabalho. Enquanto uns crêem que o social está intrinsecamente ligado a área

e, portanto, é indissociável da mesma, independente da postura crítica do

profissional. Outros vêem que para se ter o lado social contemplado no projeto

é necessário uma atuação conscientemente voltada para esta direção.

Acreditamos que a consciência2 - característica que nos difere dos

demais animais - é um aspecto essencial para o nosso posicionamento no

mundo, seja no âmbito profissional ou particular. Independente do lado

defendido e os argumentos utilizados, todos, a princípio, são válidos.

Um dos momentos ímpares desta polêmica discussão foi a

publicação do manifesto First Things First (ANEXO 1) revisado, no ano de 2000

(FTF2000). O documento foi originalmente publicado em 1964, sob autoria do

2 Homo sapiens sapiens – sapiens do latim designa “o sábio” ao repetir o adjetivo, caracteriza

a raça hominídea como aquela que possui consciência de sua existência e à racionaliza

Page 24: Helen pinho

24

designer britânico Ken Garland, porém sua repercussão foi tímida. Assim, em

1999 um grupo formado por: Kalle Lasn, Chris Dixon, Tibor Kalman, Ken

Garland, Rick Poynor, Max Bruinsma e Rudy VanderLans têm a ideia de

reeditar o documento e publicá-lo nas principais revistas de design do mundo

(REYS, 2005).

O manifesto FTF2000 configura-se de maneira tão importante, pois

trava uma discussão direta entre a função social e a mercadológica do design.

Acreditamos que seu conteúdo é extremamente relevante para a presente

pesquisa, desta forma, a seguir iremos pontuar alguns aspectos considerados

fundamentais para uma análise crítica sobre o assunto e disponibilizamos o

mesmo na íntegra no Anexo 1 do presente trabalho.

No trecho “Existem ocupações mais corretas para nossas habilidades

em solucionar problemas. Uma crise sem precedentes do ambiente social e

cultural demanda nossa atenção” (ANEXO 1), o designer é colocado como um

agente comunicador responsável por sua produção e pelo seu impacto, indo

assim diretamente contra a lógica do mercado. Pois, de maneira geral, somos

“projetados” (por nossas escolas e mercado de trabalho) para atender os clientes

sem questionar, ou no máximo questionar apenas aspectos estéticos.

Um exemplo clássico do impacto que uma identidade visual pode

provocar é o movimento nazista alemão (1933), é fato que a ideologia de

Adolfo Hitler foi difundida utilizando-se de conceitos de marketing, propaganda e

design (Figura 2).

Figura 2: Evento nazista Fonte: GOOGLE. Palavra de busca: nazismo.

Page 25: Helen pinho

25

E o resultado nos é conhecido, um país inteiro acredita na soberania da

raça ariana e promoveram o genocídio de pessoas que eram até então seus

vizinhos, amigos, semelhantes:

A propaganda Nazista foi baseada, entre outras coisas, na panfletagem, nos desenhos profissionais e na criação de uma identidade visual (...) Tudo foi pensado para causar impacto visual. Identidade Visual sim! E não preciso nem falar se a mensagem foi passada com sucesso! Basta relembrar o movimento de um homem que levou um país inteiro a acreditar em valores estapafúrdios, iconoclastas e bestiais. Foi a primeira vez que um governo, um regime, se utilizou de estratégias de Marketing sólidas, massificadas, para mudar a forma de pensar de uma nação. Alterou valores culturais, sociais, educacionais e psicológicos (NETO, 2008).

Obviamente, não estamos afirmando que iremos criar uma barbárie

dessa magnitude trabalhando em um escritório de design – ou empresas do

gênero – mas ao defender uma postura de obediência cega ao cliente,

podemos colaborar para a disseminação de artefatos, ideias e posturas que

são prejudiciais, compreender e aceitar essa responsabilidade é uma

necessidade.

Outra questão importante é levantada quando se cita – de forma irônica

– alguns trabalhos que realizamos: “os designers então usaram suas

habilidades e imaginação para vender biscoitos de cachorro, designer coffee,

diamantes, detergentes, gel para cabelo, cigarros, cartões de crédito, tênis,

tonificadores para glúteos, cerveja light e veículos de carga para passeio” (ANEXO

1). Entendemos que o intuito é chocar o leitor, mostrar que trabalhamos – às

vezes mais do que seria saudável – para solucionar problemas que não são

relevantes.

Ou seja, produtos e serviços que foram criados apenas com o intuito de

fomentar cada vez mais um mercado já saturado por inutilidades, preencher as

gôndolas dos mercados, supermercados, hipermercados, espaços cada vez

maiores para preencher os espaços (infinitos) vazios de nossas vidas.

Enquanto questões, em que os designers poderiam realmente fazer a

diferença, são relegados a segundo plano.

Page 26: Helen pinho

26

Será que poderíamos, por exemplo, colaborar para a diminuição dos

acidentes de trânsito? É uma problemática realmente grande, em 2008 tivemos

36.6663 vítimas fatais no território brasileiro. Acreditamos que poderíamos

colaborar para a diminuição de acidentes e mortes, através do

desenvolvimento de uma sinalização mais eficiente em nossas ruas ou

contribuir para a criação de uma ideia diferente de diversão, em que bebida

alcoólica junto com carro, não seja um modo de tornar os meninos e meninas

mais atraentes.

Na figura 3, mostramos o projeto da designer Thanva Tivawong,

constituído de uma nova proposta para os semáforos. A funcionalidade é

aguçada pela forma do artefato, pela maneira que se utiliza as cores

tradicionais deste tipo de sinalização, assim como a relação forma versus

tempo, que permite ao motorista uma identificação imediata da situação. Tem,

ainda, um apelo estético alto e promove a economia de energia, uma vez que é

produzida em LED4.

Figura 3: Redesign do semáfaro Fonte: http://www.hypeness.com.br/2010/12/semaforo-ampulheta-led/. Acesso em 10 dez. 2010, 21:00.

3 CESVI BRASIL: Centro de Estudos Automotivos. Disponível em:

<http://www.cesvibrasil.com.br/seguranca/biblioteca_dados.shtm#brasil >. Acesso em: 10 nov. 2010, 21:23. 4 Do inglês Light Emitting Diode, traduzido como: Diodo Emissor de Luz

Page 27: Helen pinho

27

No final da leitura do FTF2000 tem-se um pedido: reflitam e gerem

ações. Posicionem-se a favor ou contra, mas que algo nos toque. Tire-nos da

inércia, do “conforto” da tela de nossos computadores. Entendemos que o

objetivo é fomentar o pensamento crítico, e que a partir deste ponto possamos

agir de modo a realizar mudanças que beneficiem a sociedade, uma vez que a

estrutura em que vivemos – econômica, política, cultural – foi criada por nós,

nós a mantemos. Acreditemos, mudá-la é possível.

Uma das críticas mais proclamadas contra o FTF2000 refere-se aos

seus assinantes, profissionais dedicados a atender clientes institucionais que

se diferem em muito dos empresários e clientes do mercado em geral. Assim,

segundo Michael Bierut, os designers que pedem uma posição crítica diante do

mercado não possuem problemas para agir deste modo, pois trabalham para

instituições culturais que já possuem uma visão e um objetivo social diferente

das indústrias (REYS, 2005).

A crítica realmente é fundamentada, realmente algumas instituições

possuem objetivos que proporcionam um trabalho muito mais institucional e de

comunicação do que mercadológico e de persuasão. Porém, é importante

lembrar que muitos destes ambientes estão tornando-se extremamente

comerciais. Bierut coloca este fato como sendo a prova de que as estratégias

de mercado são eficientes e por tanto adequadas. Mas será que não

poderíamos encontrar soluções melhores? Vivemos em um mundo

extremamente capitalizado, tornar todas as organizações empresas é ter a

certeza de que o sistema capitalista é o melhor modo de vida para todos.

Acreditamos que podemos criar com critério, informar de formas

diferentes, procurar soluções para os problemas da nossa sociedade. Fazer

tudo isso com consciência e, mesmo assim, oferecer um serviço de qualidade

para nossos clientes e participar do mercado. O design é intrinsecamente

social, mas ao não refletir sobre a sociedade retiramos a sua essência e

ficamos apenas com o invólucro, de algo que parece design.

Page 28: Helen pinho

28

3. Noções sobre sustentabilidade

Sustentabilidade é uma palavra que ouvimos em diversas situações, e

referindo-se a uma enorme quantidade de coisas: produtos, empresas, ações.

Porém, seu conceito nem sempre é claro e, na maioria das vezes, seu

significado não é compreendido. Em uma busca ao dicionário percebemos a

dificuldade de definição: sustentabilidade “a qualidade de sustentável”,

sustentável “o que pode ser sustentado”5.

O que é então sustentabilidade?

Acreditamos que mais que uma palavra, é uma noção, um modo de

vida, de produção, de ação. Ser sustentável é agir de modo responsável com a

sociedade e as gerações futuras, de forma inclusiva. Assim cria-se um modo

de vida que é sustentável, ou seja, que não entrará em colapso com o passar

do tempo. Para tanto, a questão não é mais focada em apenas um setor

específico de nossas vidas. Compartilhamos dos ideais de Sachs que define os

cinco pilares do desenvolvimento sustentável:

a – Social, fundamental por motivos tanto intrínsecos quanto instrumentais, por causa da perspectiva de disrupção social que paira de forma ameaçadora sobre muitos lugares problemáticos do nosso planeta; b – Ambiental, com as suas duas dimensões (os sistemas de sustentação da vida como provedores de recursos e como „recipientes‟ para a disposição de resíduos); c – Territorial, relacionado à distribuição espacial dos recursos, das populações e das atividades; d – Econômico, sendo a viabilidade econômica a conditio sine qua non

6 para que as coisas aconteçam;

e – Político, a governança democrática é um valor fundador e um instrumento necessário para fazer as coisas acontecerem; a liberdade faz toda a diferença ( SACHS, 2004, p. 15).

5 Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/> Acesso em: 26 de setembro de 2010 às 16:18.

6 Tradução Google: A condição necessária. Disponível em: <http://translate.google.com.br/#>.

Acesso em: 26 de setembro de 2010 às 22:12.

Page 29: Helen pinho

29

A partir do entendimento da abrangência do conceito sustentável,

compreendemos que é impossível agir de modo completo em um e de modo

indiferente nos demais. Eles estão intrinsecamente relacionados e são

intimamente dependentes. Acreditamos que os ideais sustentáveis deveriam

estar no centro dos debates em prol da construção de um novo modo de

estrutura social. Por esta razão, devem ser incluídos na prática do designer.

Sendo nós designers, agentes comunicadores, podemos em nossas práticas

tanto aplicar os conceitos como promover a sua inclusão nas demais áreas

sociais:

Portanto, o design gráfico não é apenas programar ou projetar produtos com mensagens aleatórias, mas interpretar restrições para um projeto com função social, já que a sociedade diretamente ligada a ele deve beneficiar-se a partir dessa produção, como o homem primitivo beneficiava-se do fogo para as suas necessidades básicas (RANGEL, 2007, p. 08).

Rangel mostra que o design gráfico é mais do que apenas a

organização eficiente e agradável de informações em um determinado suporte.

Precisamos resolver problemas. Compreender o conteúdo que estamos

trabalhando para dar uma forma coerente ao material, trabalhar em cima das

restrições: de espaço, de recursos (financeiros, materiais, sociais), de

necessidades e desejos. Enfim, é um trabalho objetivo – projetar – que envolve

variáveis objetivas e subjetivas, a comunicação passa por inúmeros filtros

sociais e individuais e precisamos dar conta desse complexo todo.

Por fim, afirmamos que podemos em cada projeto alcançar o

desenvolvimento social, a inclusão e exercitar nossa responsabilidade

profissional e de cidadãos diante da comunidade que é, em última instância, os

verdadeiros clientes/consumidores de nosso trabalho.

3.1 Design e sustentabilidade

O design como prática profissional e a sustentabilidade como norte

ideológico se entrelaçam neste capítulo. Relembramos os cinco pilares

sustentáveis: social, ambiental, territorial, econômico e político. Cada um

Page 30: Helen pinho

30

desses fundamentos possui áreas de sobreposição específicas com o design.

Mostraremos as principais relações por nós identificadas.

No artigo 4º, capítulo 1, do Código de Ética Profissional do Designer

Gráfico7 regulamenta-se que o profissional da área “terá sempre em vista a

honestidade, a perfeição e o respeito à legislação vigente e resguardará os

interesses dos clientes e empregados, sem prejuízo de sua dignidade

profissional e dos interesses maiores da sociedade”. Pensamos que, para se

atender os “interesses maiores da sociedade”, necessariamente, o designer

deverá abranger as noções de sustentabilidade em seu projeto, para assim

realmente cumprir o objetivo do artigo.

Infelizmente, o Código de Ética da nossa profissão é muito superficial e

praticamente todo seu conteúdo refere-se a questões básicas de,

simplesmente, ter uma boa educação. Acreditamos que essa postura é reflexo

da não regulamentação da profissão, situação que apresenta como principal

problema - em nossa opinião - a insegurança do cliente e da sociedade frente à

qualidade do trabalho do designer.

Sabemos que a questão da regulamentação é bastante polêmica e

gera pretensões irreais em alguns indivíduos como, por exemplo, a criação de

base legal para reserva de mercado, que permitiria apenas aos designers o

direito de praticar o design profissionalmente:

(...) enquanto alguns designers insistirem em um discurso de exclusão e de privilégio com base não em critérios de capacidade profissional, mas em títulos e genealogias, permanecerá a tendência de desagregação e facciosismo que tem afetado de modo tão negativo a consolidação do campo entre nós (CARDOSO, 2008, p. 196).

Não é nosso intuito legitimar a atuação de profissionais sem formação

superior, contudo nosso principal anseio é garantir os direitos dos clientes e da

sociedade visto que, apenas com a regulamentação, o designer responderá

legalmente por seus projetos de maneira efetiva. Pensamos que ao buscar

maiores deveres iremos encontrar também maiores direitos e, ao se exigir

7 Disponível em: <http://www.adg.org.br/downloads/ADGBrasil_CodigoEtica.pdf>. Acesso em:

27 set. 2010, 15:41.

Page 31: Helen pinho

31

trabalhos de qualidade, ocorrerá uma seleção natural que beneficiará os

indivíduos com formação profissional.

Abordando outro aspecto da relação, sabemos ser recorrente quando o

assunto relaciona-se ao consumismo, ouvir comentários sobre o design como

um dos elementos fomentadores e causadores da prática. Tendo em vista que

popularmente a atuação do designer se restringe à finalização do produto, ou

seja, à maquiagem, ao embelezamento.

Porém, é sabido que o papel do designer assim não se restringe.

Devemos interferir e desenvolver o projeto da peça ou produto desde a sua

concepção. Adequando a ergonomia à funcionalidade, a vida útil à matéria-

prima, como afirma Raymond Loewy “o desenhista industrial astucioso é aquele

que, com lucidez, sente a zona de choque em cada problema específico”

(LOEWY, 1951 apud KAZAZIAN, 2005, p.16).

Podemos dizer que para Hollis essas “zonas de choque” configuram-se

nas três funções básicas do design, elementos que permeiam a profissão

desde sua gênese:

A principal função do designer gráfico é identificar: dizer o que é

determinada coisa, ou de onde ela veio (...) Sua segunda função, conhecida no âmbito profissional como Design de Informação, é informar e instruir, indicando a relação de uma coisa com outra

quanto à direção, posição e escalas (....) A terceira função, muito diferente das outras duas, é apresentar e promover (...) aqui, o

objetivo do design é prender a atenção e tornar sua mensagem inesquecível (HOLLIS, 2000, p. 4 [grifo do autor]).

Assim, para identificar, informar e apresentar o profissional precisa,

necessariamente, dominar o tema que está trabalhando. Não trata-se portanto

de uma função de acabamento e sim de projeto holístico, ou seja, que

considera a totalidade, entendendo que o todo está na parte e a parte está no

todo igualmente.

Deste modo, devemos procurar o desenvolvimento constante, tendo

em vista que “podemos dizer que o ecodesign – ou a ecoconcepção – é uma

abordagem de melhora contínua, já que nenhum estado é definitivo ou

encerrado” (KAZAZIAN, 2005, p. 55). Existe, por exemplo, uma infinidade de

produtos que encobrem a necessidade social real “(...) não precisamos de um

Page 32: Helen pinho

32

jornal, mas de informação” (RANGEL, 2007, p. 13), mas a rotina e a

comodidade acabam por encobrir a avaliação crítica das coisas:

Você já pensou de onde vem todas as coisas que compramos e para aonde vão quando jogamos tudo fora? [...] o que o livro falou é que as coisas passam por um sistema: de extração à produção, distribuição e disposição. [...] essa não é a estória [sic] completa. Tem muita coisa faltando nessa explicação. De fato, o sistema parece estar bem. Sem problemas. Mas a verdade é que o sistema está em crise. E a razão pela qual está em crise é porque é um sistema linear e vivemos num planeta finito e você não pode operar um sistema linear num planeta finito indefinidamente (LEONARD, The history of stuff

8, 2007).

Entendemos que nosso modo de vida está destruindo o planeta,

precisamos rever nossos conceitos, nossos meios de produção, de distribuição,

de uso e de descarte. Nesse sentido, o design entrelaça-se com três pontos

sustentáveis em especial: o social, o ambiental e o econômico. Vemos que

para buscar alternativas e articular mudanças subjetivas e objetivas é preciso

primeiramente legitimar socialmente essa postura. O indivíduo, independente

de sua profissão, precisa se relacionar com os ideais sustentáveis para assim

colocá-los em prática e, como mostrado para o designer, essa postura é

imprescindível.

Entretanto, entendemos que ao se identificar com as noções

sustentáveis e desejar que estas façam parte de sua vida, a prática passa a ser

uma grande problemática. Um exemplo bastante banal na área gráfica é o do

papel reciclado. Inúmeras marcas no mercado intitulam-se “eco”, mas não

usam em sua composição nem 1% de papel pós-uso. Claro que a reutilização

das aparas e sobras de produção é importante, mas alertamos para a busca de

informação para conhecermos o que estamos realmente produzindo e

consumindo.

Ainda utilizando o exemplo do papel, abordamos a viabilidade de talvez

aumentar o custo de uma peça em 10% sem avaliar realmente o “lucro”

ambiental dessa ação. Ratificamos, assim, que a prática sustentável exige mais

que boa vontade, é fundamental um envolvimento profundo com dedicação ao

estudo e a pesquisa.

8 LEONARD, Annie. The history of stuff. Disponível em:

<http://www.youtube.com/watch?v=3c88_Z0FF4k>. Acesso em: 15 abr. 2010, 16:24.

Page 33: Helen pinho

33

O designer brasileiro Dalcacio, em entrevista recente a revista

ABCDesign, foi questionado sobre a questão do custo dos projetos

sustentáveis:

Custo sempre foi um empecilho, para produto sustentável ou não. Com certeza, e você tem toda razão, precisamos mudar e rever muitos valores e conceitos, mas para que os produtos sustentáveis “decolem” não podemos nos basear “apenas” numa mudança de valores, precisamos também da ajuda do governo para incentivar, facilitar e legislar em favor de empreendedores com esta visão. Nós designers também podemos e devemos fazer muito, primeiro precisamos nos informar mais sobre o tema, incentivar o desenvolvimento de projetos sustentáveis dentro das universidades e formar novos designers com estes valores (REIS, 2010

9).

Entendemos que a questão econômica é um fator importante. A

sociedade capitalista é voltada para fins e não para meios, a racionalidade do

nosso sistema econômico é amoral. Assim sendo, podemos identificar nessa

postura um grande problema sustentável, pois argumentos subjetivos não são

aceitos. Contudo, por outra ótica é uma oportunidade, pois qualquer projeto

que seja eficiente para o capital será aceito. Ser sustentável ou não, será uma

escolha dos profissionais responsáveis pelo seu desenvolvimento.

Apesar do modo de exposição simplista sabemos que existem muitas

barreiras a serem transpostas. A luta sustentável ganhou corpo a partir de 1960

quando os movimentos ecológicos começam a alertar a sociedade sobre a

problemática “o principal mérito dos movimentos ecológicos terá sido plantar a

dúvida nas consciências dos governantes e da população” (KAZAZIAN, 2005,

p. 23). Existe muito a ser realizado, modificado e até mesmo destruído a fim de

alcançar o que certamente seria o nosso ideal:

[...] num futuro que espero estar bem próximo, não precisaremos falar em „design para a sustentabilidade‟ ou mesmo ecodesign, falaremos simplesmente „design‟, no qual já estará embutido todo um pensamento mais saudável e sustentável (REIS, 2010).

Acreditamos que o design deveria ser símbolo de sustentabilidade,

responsabilidade, desenvolvimento e inclusão. Porém, a realidade não condiz

com nosso anseio. Sendo assim utilizamos expressões que desejamos que se

tornem, o mais breve possível, uma redundância.

9 Disponível em: <http://abcdesign.com.br/design-de-produto/entrevista-dalcacio-reis/> Acesso

em: 06 out 2010, 22:23.

Page 34: Helen pinho

34

4. Análise

Com o intuito de entrelaçar a teoria apresentada à prática do design

gráfico iremos realizar uma análise sustentável de uma campanha de ação

social, tendo como base os cinco pilares da sustentabilidade de Sachs (2004).

Primeiramente, explanaremos sobre cada um dos pontos para na sequência

apresentar o objeto e sua análise.

O pilar social refere-se à problemática da desigualdade e o desrespeito

aos direitos universais humanos:

Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle (DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

10, Artigo XXV - Parágrafo 1, 1948).

A questão social é fundamental para a sustentabilidade, pois apenas

uma comunidade com acesso aos seus direitos vitais básicos tem a

possibilidade de se gerir ao longo do tempo.

O quesito ambiental é o mais divulgado pelos meios de comunicação,

já que as alterações climáticas que o globo terrestre vem sofrendo não são

possíveis de serem ignoradas. Ainda é importante ressaltar que a temática é

duplamente alarmante, tendo em vista que exaurimos o planeta para abastecer

o sistema produtivo, e após inúmeros processos físicos e químicos devolvemos

os resíduos em formas complexas e tóxicas. A falta de soluções efetivas

mostra que o discurso está em alta, mas a prática é com certeza insuficiente.

O pilar territorial abrange a distribuição geográfica dos recursos e

meios de subsistência das populações. Sabemos que globalmente existem

regiões de pobreza generalizada como a África e o Oriente Médio, porém

10

Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm>. Acesso em: 13 nov. 2010, 17:14.

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35

diminuindo o panorama sempre é possível identificar novas regiões

marginalizadas. No Brasil, especificamente, poderíamos citar o Nordeste.

Diminuindo ainda mais a área, para uma abordagem estadual, a região sul do

Rio Grande do Sul seria a área flagelada. Neste sentido, a valorização territorial

busca a igualdade de oportunidades entre as áreas e suas comunidades.

O ponto econômico é fundamental para a instauração das noções

sustentáveis, pois estamos imersos em um sistema capitalista e apenas

práticas que favoreçam – ou pelo menos considerem - a economia, possuem

possibilidade de tornarem-se fortes e universais.

O último pilar é o político, colocando a democracia como base para a

sustentabilidade, tendo em vista a valorização da liberdade dos indivíduos. É

necessário a apreciação do posicionamento político nas comunidades, para

assim estas terem capacidade e possibilidade de buscar a melhoria da

qualidade de vida contínua.

O objeto de análise escolhido é a Campanha do Agasalho do Governo

do Rio Grande do Sul11

, que arrecada em todo o estado: roupas, cobertores e

alimentos não perecíveis. A escolha da ação se deu pelo seu reconhecimento

popular e, por a partir de 2009 ser realizada por uma agência especializada,

diferentemente dos anos anteriores quando era desenvolvida pelo comitê da

primeira-dama.

Escolhemos para a análise o cartaz de divulgação da campanha de

2010 (Figura 4), acreditamos ser esta a peça principal - de design gráfico - para

a promoção da ação, além de representar a temática geral da ação.

11

Disponível em <http://www.clicrbs.com.br/especial/rs/portal-social/19,0,2916442,Campanha-do-Agasalho-2010-e-lancada-no-Rio-Grande-do-Sul.html>. Acesso 14 nov. 2010, 18:53.

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36

Figura 4: Cartaz Campanha do Agasalho (2010)

Fonte: GOOGLE. Palavra de busca: campanha do agasalho, 2010.

4.1 Análise sustentável

Social

O pilar social está no próprio objetivo da campanha - promover a

distribuição de roupas, cobertores e alimentos para a população carente -

proporcionando condições de sobrevivência durante o rigoroso inverno gaúcho.

Acreditamos ainda que ao receber doações de todos e qualquer cidadão a

relação social é fortalecida, pois não há distinção entre os doadores.

Page 37: Helen pinho

37

Ambiental

A iniciativa trabalha nos dois pontos ambientais: extração de matéria-

prima e descarte de resíduos. Promove o aumento da vida útil das peças de

roupas e cobertores - que ao invés de serem descartadas e acumularem-se em

algum lixão são realocadas e utilizadas novamente – e assim,

consequentemente, promove a diminuição do consumo de matéria-prima.

Quanto à peça propriamente dita (cartaz) não há indícios de uma

preocupação ambiental no projeto, o formato utilizado é o tradicional A3, a

impressão é em quatro cores e o suporte é um papel branco de gramatura alta.

Porém ressaltamos que a peça é eficiente para se chegar ao objetivo da

campanha, apresenta qualidade estética e de comunicação, assim por este

ângulo pode ser considerada sustentável.

Territorial

A campanha objetiva arrecadar roupas, cobertores e alimentos não

perecíveis em todo o estado e distribuir nas regiões que apresentam condições

precárias de subsistência. Quanto à distribuição as informações são bastante

precárias, não sendo do nosso conhecimento especificidades sobre o

processo, sabemos apenas que é destinada uma porcentagem da arrecadação

para instituições assistenciais e outra para distribuição por parte das

prefeituras.

Ainda relacionado ao território, os canais de coleta abrangem tanto o

setor privado quanto o setor público, colocando pontos nas prefeituras

municipais e em empresas parceiras; pensamos que nesse sentido ocorre uma

distinção, pois não são todas as empresas privadas que possuem o direito de

terem um posto de coleta. Obviamente existem questões econômicas e de

logística para o fato, porém é uma forma de exclusão.

Econômico

Em relação ao cartaz, como visto no pilar ambiental, a peça é bastante

tradicional, sua configuração não aparenta primar pela economia, porém em

termos de meios de comunicação, o cartaz é um modo econômico e eficaz de

divulgação.

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38

Analisando pela ótica dos produtos doados vemos que a economia é

alcançada de maneira indireta – através das doações – tendo em vista que se

instiga a doação de roupas, cobertores e alimentos que não são essenciais

para uma parte da população, para repassar para a população que necessita

destes para sobreviver.

Político

O pilar político é o menos palpável, tendo em vista que para Sachs

(2004) sua base está na difusão da democracia e da liberdade. Mas de

maneira indireta, vemos que ações que promovem a igualdade social

alavancam também a liberdade, pois com a sobrevivência garantida o ser

humano tem o direito a escolha.

Resultado

A partir da análise sustentável realizada, elaboramos uma tabela de

classificação dos pilares em relação a sua presença na peça, usaremos a

mesma estrutura na análise da produção prática do projeto.

Quadro 1: Análise Sustentável Campanha do Agasalho (2010) Fonte: pesquisa direta, 2010.

Considerações

A Campanha do Agasalho 2010 trabalha o universo lúdico através da

imagem simbólica das múmias. Historicamente, referem-se aos cadáveres

egípcios que passavam por vários processos químicos antes de serem

Page 39: Helen pinho

39

sepultados, permitindo assim a conservação dos corpos por séculos. As

múmias popularmente tornaram-se personagens clássicos de filmes de terror e

até mesmo de desenhos animados como Scooby-Doo12

.

O terror transforma-se em diversão, através da composição de uma

imagem colorida, alegre e com grande simbologia social. As crianças

transmitem jovialidade e a fantasia utilizada por elas configura-se através da

composição de vários pedaços de roupas, simbolizando a união da

comunidade em prol do combate ao frio, demonstrando a importância da

participação de cada indivíduo no processo.

O slogan da campanha “Não deixe o frio assustar nesse inverno”

reforça o objetivo de doação e dialoga com a simbologia de terror trabalhada

na ação. Além das mensagens verbais e não verbais de imagem, usa-se a

fonte como elemento gráfico, com um tipo fantasia e classicamente utilizado

para peças e produtos de terror, a agressividade da fonte é neutralizada

através de sua cor que remete mais ao lúdico e a diversão.

A visualidade geral da peça é bastante limpa, apesar do uso de cores

vibrantes e contrastantes. O resultado é obtido através da redução de informações

e elementos, do uso de espaços livres e de uma organização eficiente. A

mensagem é clara e direta, de fácil entendimento e grande apelo visual.

De acordo com Niemeyer (2003) classificamos o processo de

comunicação como manipulação, tendo em vista que “o objetivo do gerador é

que o interpretador proceda algum tipo de ação. Há, portanto, um componente

persuasivo prévio na mensagem” (2003, p. 25) e usa-se a tática da sedução

“em que há a tentativa e evocação de envolvimento afetivo” (2003, p. 26).

Acreditamos que a peça gráfica é adequada para a ação e consegue

fugir do comum, através de uma visualidade inovadora. O uso da tipografia

fantasia para o título, ano e slogan exige um cuidado bastante expressivo por

seu caráter agressivo. Contudo, através do uso da cor - como mencionado

anteriormente - se consegue um resultado positivo, reafirmamos assim a

qualidade da peça e de sua contribuição para o fortalecimento da campanha.

12

Scooby-Doo é um desenho animado americano produzido pela Hanna-Barbera, criado no ano de 1969 por Iwao Takamoto (WIKIPÉDIA). Os personagens Fred, Velma, Daphne e Salsicha, e o cão Scooby-Doo, investigam casos misteriosos em lugares inóspitos, misturando: terror, comédia e fantasia.

Page 40: Helen pinho

40

O design é uma ferramenta claramente utilizada para seu

fortalecimento junto à sociedade, com um trabalho bastante coeso e uma

identidade adequada, a ação apresenta um volume crescente de participação

popular e dos setores públicos e privados.

Page 41: Helen pinho

41

5. Prática

Como objeto de análise utilizamos o estágio realizado pela graduanda,

no Programa Vizinhança da Pró Reitoria de Extensão e Cultura da

Universidade Federal de Pelotas. Salientamos que, com o intuito de amparar o

trabalho realizado, a mesma está lotada no SulDesign Estúdio13

– projeto de

extensão do Instituto de Artes e Design - sob a supervisão da coordenadora

Lúcia Weymar e da direção de arte do técnico Guilherme Tavares.

O vínculo com a PREC deu-se a partir do mês de agosto do ano de

2010. O objetivo principal do grupo está no desenvolvimento da identidade

visual do Programa Vizinhança. Assim como atender as demandas geradas

nos diversos projetos que o integram – sendo principalmente peças referentes

à comunicação e a propaganda –.

O Programa Vizinhança14

começou suas atividades em maio de 2009,

tendo como objetivo geral promover intervenções comunitárias

interdisciplinares na área vizinha ao Campus Porto da UFPel, disponibilizando

o acúmulo de conhecimento da universidade, com vistas a melhorar a

qualidade de vida daqueles que ali residem.

A região referida é composta pelas comunidades da Balsa, Ambrósio

Perret, parte da Várzea, fronteira com os bairros Fátima e Navegantes

(especificamente as moradias à margem do Canal São Gonzalo e do Canal do

Pepino, popularmente denominados “sem-terra”), ainda soma-se algumas

moradias na área de pescadores (Estrada do Engenho) e da área portuária. A

difícil delimitação da área de atuação do programa se dá pela constituição precária

da região, contudo acredita-se que a população atendida é de 30.000 cidadãos.

A população da região sofreu um duro golpe econômico e social

quando em 1991 o frigorífico Anglo encerrou suas atividades no local, levando

consigo diversas empresas menores instaladas nas proximidades. Com a

13

Denominado Escritório Experimental de Design Gráfico até o segundo semestre de 2010. 14

Informações retiradas do catálogo do Programa Vizinhança, que será publicado em 2011.

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42

quebra das empresas e o enfraquecimento do porto de Pelotas ocorreu o

desemprego massivo da comunidade. Uma vez que o desenvolvimento da

região se deu no entorno deste núcleo produtivo (Figura 5), e por causa dele, a

partir da ocupação ilegal (posse), em condições precárias de infra-estrutura

como: esgoto, água potável, eletricidade e transporte coletivo, situação que se

mantém ainda hoje.

Figura 5: Reportagem do Diário Popular, dezembro de 1943. Fonte: arquivo Programa Vizinhança

Através da recuperação da história da localidade entende-se a

importância simbólica atual das instalações do Frigorífico Anglo. Prédio em que

a reitoria da universidade se instalou em 2008. Este local promoveu a

subsistência da comunidade durante quase meio século, ao se instalar no

prédio a UFPel acredita ter como dever moral e ético, restituir a dignidade e

promover através da educação a reintegração social e econômica da

sociedade.

Page 43: Helen pinho

43

Ressaltamos que ao se instalar no prédio a universidade foi

recepcionada com a banda de um dos colégios locais, o Ferreira Viana, por

dirigentes locais e parte da comunidade, mostrando a receptividade para a

instituição. Porém, há também, situações de conflito entre os pólos, a UFPel

realizou um contrato com um grupo comercial privado para a exploração do

local, assim se realizou mudanças estruturais no entorno do antigo prédio que

prejudicaram a comunidade da região.

Na frente do prédio do antigo frigorífico há um grande terreno baldio

que apresenta em seu entorno arborização. Este espaço era utilizado para o

lazer da comunidade, porém com as reformas, os entulhos oriundos do

processo, foram depositados neste local. Apesar do terreno ser de propriedade

privada, essa atitude é prejudicial em vários sentidos, retira a possibilidade de

lazer da comunidade, promove uma paisagem de descaso, auxilia na

degradação ambiental e maximiza a possibilidade de proliferação de animais

peçonhentos e prejudiciais a saúde humana.

Outro fato de grande relevância é a separação da comunidade da área

da universidade por um muro de concreto, que segrega o bairro da instituição,

cortando a região a partir da margem do arroio pelotas em direção ao bairro.

Na rótula que dá entrada a UFPel tem-se uma abertura que permite o tráfego,

mas sua largura é tão restritiva que não permite a circulação de dois veículos

ao mesmo tempo.

Figura 6 Panorama da região Fotos: Ana Maria Dacol, 2010.

Page 44: Helen pinho

44

Ambas as situações relatadas são apontadas como ações da empresa

privada associada à universidade15

, contudo acreditamos que a UFPel deve se

posicionar em relação a situação e tomar atitudes que mostre para a

comunidade seu real comprometimento com a melhoria da sua qualidade de

vida e com o desenvolvimento includente da população.

Internamente, o Programa Vizinhança também tem uma importância

significativa, pois pretende instituir a prática da extensão na universidade de

maneira efetiva, como exposto no propósito geral do setor16

: “A extensão é o

processo educativo, cultural e científico que articula o ensino e a pesquisa de

forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre a Universidade e

a sociedade”.

Assim, o programa é constituído de diversos projetos oriundos das

unidades acadêmicas da UFPel, o objetivo é que cada unidade esteja presente

no programa. Atualmente, possuímos por volta de dez projetos, oriundos de

diversas áreas como: odontologia, arquitetura, administração, letras e design.

Cada unidade ou curso desenvolve um projeto que promove a integração social

da instituição e da comunidade, assim como o desenvolvimento social da

comunidade pelotense.

Nosso papel nesse sentido é desenvolver uma identidade que integre

esse universo fragmentado, fortalecendo sua ação, tanto para a comunidade

universitária quanto para a sociedade em geral.

15

Não há informação sobre a manutenção dessa parceria ou de sua dissolvição. Mas por observação não se tem indícios da presença da referida empresa.

16 Disponível em: <http://prec.ufpel.edu.br/>. Acesso em: 18 out. 2010, 23:02h.

Page 45: Helen pinho

45

5.1 Briefing

Cliente: Programa Vizinhança

Serviço: Projeto de extensão

DADOS DO CLIENTE

A. Perfil do cliente

Atividade: programa social

Percurso histórico da organização: início das atividades em maio de 2009;

financiamento do MEC através do PROEXT para 2010.

Objetivos da organização a curto, médio e longo prazo: em curto prazo

fortalecer a identidade interna do grupo, médio prazo ser reconhecida pela

comunidade como um programa de integração com a universidade e a longo

prazo tornar-se referência de extensão universitária e trazer desenvolvimento

econômico e social para a região do porto.

B. Público-alvo

Perfil do público: comunidade em situação de risco, com renda per capita de

até um salário mínimo, em condições precárias de moradia e de subsistência.

Qual a imagem que a organização tem do seu público? Cidadões

marginalizados e pouco favorecidos pelas ações sociais governamentais.

PROJETO

A. Requisitos

Objetivo\Problema a ser resolvido: Identificar o programa internamente e

externamente.

Principal diferencial a ser explorado: relação entre a comunidade e

universidade.

Conteúdo conceitual que obrigatoriamente deve estar na proposta:

relacionamento\vizinhança.

Page 46: Helen pinho

46

RESTRIÇÕES

Valores negativos a serem evitados: diferença social, hierarquia.

Preferências a fotografias ou ilustrações? Recomendado uso de ilustração.

Quadro semântico referente a valores desejáveis da organização:

Quadro 2: Quadro semântico Fonte: pesquisa direta, 2010.

5.2 Identidade Visual

O principal objetivo do estágio no Programa Vizinhança configura-se no

desenvolvimento da identidade visual do programa definido como “o conjunto

de imagens composta pela marca e os elementos visuais adicionais que

combinados transmitem o padrão estético que identifica uma instituição ou um

produto” (MUNHOZ, 2009, p. 11).

Logotipo

A primeira peça produzida foi o logotipo da organização. Com o objetivo

principal de transmitir o conceito de relação de vizinhança, trabalhamos com a

Page 47: Helen pinho

47

fonte Alice de autoria de Carolina Moraes Marchese17

. A tipografia possui a

característica de união entre os caracteres pela junção18

da fonte, essa estrutura

permite a transmissão do conceito de vizinhança, elementos lado a lado que se

unem e criam algo maior.

Ressaltamos que a fonte Alice foi utilizada como ponto de partida, sua

estrutura foi trabalhada (Figura 7) para aumentar sua legibilidade, maximizar o

conceito defendido e tornar o logotipo um elemento mais coeso.

Figura 7: Logotipo em construção. Fonte, pesquisa direta, 2010

Para a palavra “Programa” optou-se por uma fonte bastão, de alta

legibilidade e menor peso estético: Century Gothic com bold. Sendo uma

tipografia com alto grau de legibilidade, podemos utilizá-la com o corpo bem

menor que a palavra “vizinhança” e mesmo assim alcançar uma redução

máxima adequada. E por ser uma fonte bastão, com uma estrutura vertical

aguçada e bastante neutra, não ocorre a interferência negativa de uma palavra

com a outra.

Optamos por um alinhamento à direita e pelo preenchimento padrão da

cor preta. Quanto a questão cromática não há a proibição do uso de qualquer

cor, desde que seja chapada e apenas uma (é vetado o uso de degradês ou

cores diferentes nas duas palavras componentes do logotipo).

17

Graduanda de Design Gráfico da Universidade Federal de Pelotas. Disponível em: <http://www.diariopopular.com.br/site/content/noticias/detalhe.php?id=6&noticia=17408>. Acesso em: 10 ago. 2010, 02:05. 18

Elemento da base da fonte, a junção é uma parte da serifa.

Page 48: Helen pinho

48

Logotipo principal:

Redução máxima:

Logotipo secundário, com indicação da ação específica:

Ilustração

Como exposto no logotipo optamos por uma abordagem conceitual da

temática, porém, havia a necessidade de se criar um elemento com

características representativas. Assim, desenvolvemos uma ilustração

independente do logotipo, mas que deve ser utilizado nas peças do programa

sempre que possível.

A intenção da ilustração é representar a região do Porto, contendo e

ressaltando os elementos: prédio da universidade, arroio pelotas e as casas

(configurando assim a vizinhança). Tendo em vista, a complexidade e o volume

de elementos que poderiam ser representados, optou-se por uma ilustração

linear, que cria apenas o contorno dessa região.

Page 49: Helen pinho

49

Mas, durante o processo de criação, foi solicitado o acréscimo de mais

detalhes, como pessoas e animais, para tentar satisfazer os anseios do grupo.

Uma questão importante foi a troca da estrutura do prédio, que representa a

UFPel (Figura 8), a princípio se utilizou como referência o prédio que a

comunidade estudantil utiliza para entrar no complexo, porém trocamos a

referência para o lado do prédio orientado para a comunidade, pois apesar do

muro tapar sua visão global o telhado desta parte é bastante característico.

Figura 8: Prédios do Campus Anglo Fotos: Ana Maria Dacol, 2010.

Outro aspecto trabalhado inúmeras vezes foi a representação do

arroio, tendo em vista que geograficamente é o aspecto mais marcante e por

ser para a comunidade uma fonte de renda, alimentação e lazer. Na ilustração,

não há divisões, os elementos estão lado a lado, configuração que esperamos

ser alcançada tanto fisicamente quanto culturalmente.

Estudos da ilustração:

Page 50: Helen pinho

50

Resultado final da ilustração:

5.3 Aplicativos

Durante o estágio desenvolvemos aplicativos para o fortalecimento da

identidade visual do programa e seu reconhecimento, primando neste primeiro

momento pela comunidade universitária.

Pôsteres

Para a apresentação de trabalhos acadêmicos em eventos normatizou-

se o leiaute dos pôsteres, composto por uma orla que apresenta na base a

ilustração do programa, preenchida com a cor referente à unidade acadêmica

oriunda e o cabeçalho, que apresenta o logotipo do programa, a identificação

da PREC e o brasão da universidade.

O primeiro evento em que utilizou-se o padrão foi para o 28º Seminário

de Extensão Universitária da Região Sul (SEURS), em que o modelo sofreu

algumas adpatações para adequar-se as exigências do evento.

Ressaltamos que nesse pôster utilizamos a versão anterior da

ilustração final, tendo em vista que precisamos produzir peças durante o

processo de criação da identidade visual.

Page 51: Helen pinho

51

Dimensão original: 1,2 x 1 m

A iniciativa repercutiu de maneira positiva no grupo, uma vez que os

avaliadores do seminário observaram a aplicação do padrão e elogiaram a

iniciativa. Para este evento, foram produzidos três banners, apesar de não ser

de nosso conhecimento o número total de trabalhos apresentados, sabemos

que é maior do que o número de peças projetadas. Acreditamos que a não

adesão à identidade é devido ao fato do custo da produção (R$) ser de

responsabilidade do grupo ou estudante apresentador, além da resistência de

se passar o conteúdo do trabalho para outra pessoa (estagiária) realizar a

criação.

O evento seguinte em que produzimos banners foi para o XIX

Congresso de Iniciação Científica (CIC) da UFPel. Neste caso, tivemos de

Page 52: Helen pinho

52

adaptar o modelo do Vizinhança ao modelo do evento (disponibilizado o site do

congresso), este possuía duas barras uma no cabeçalho e outra no rodapé na

cor da identidade visual. No cabeçalho, além da barra, havia o logotipo do

evento. Desta maneira, utilizamos a orla do modelo anterior, já com a ilustração

definitiva e com a cor padrão do CIC, desta forma, não fizemos a referência

cromática ao curso.

Dimensão original: 1 x 0,9 m

Camisetas

Para a conclusão do ano foi solicitado o desenvolvimento de uma

proposta de camiseta para o programa. As camisetas serão produzidas para os

membros do grupo, porém o desejo é fortalecer as ações na comunidade,

identificando os estudantes como integrantes do Programa Vizinhança.

A proposta inicial foi desenvolvida a partir da meta de criação de uma

aplicação diferenciada dos dois elementos institucionais – logotipo e ilustração

Page 53: Helen pinho

53

– para uma estampa para camisetas. Nós entendemos que o Vizinhança é um

projeto sustentável, que trabalha para estruturar socialmente uma região, ou

seja, deseja criar um mundo novo para a área do Porto, assim desenvolvemos

uma ilustração onde a base linear transforma-se em um globo, que possui em

seu centro o logotipo do programa.

Esta proposta não foi aceita, os dirigentes entenderam que a ilustração

diferenciava-se demasiadamente da identidade visual do programa. E que o

objetivo da peça é marcar a presença do programa, sendo assim não exercia a

principal função.

Na segunda proposta, trabalhamos com a ilustração em seu formato

original. O principal receio referiu-se a sua posição na peça, de modo a não

trazer desconforto para os usuários (marcar a barriga ou o colo). Salientamos

Page 54: Helen pinho

54

como principal ganho da segunda proposta a redução de duas cores para uma,

assim como um resultado mais simples.

Page 55: Helen pinho

55

5.4 Avaliação sustentável

Analisaremos por fim, nossa produção, de acordo com os princípios

sustentáveis, classificando-a a partir do quadro desenvolvido para a análise da

Campanha do Agasalho do Governo do Rio Grande do Sul.

Quadro 3: Análise sustentável da prática do Programa Vizinhança Fonte: pesquisa direta, 2010.

O Programa Vizinhança é um projeto que prevê o desenvolvimento

social através da revitalização da comunidade do Porto. Nas peças

desenvolvidas reafirmamos o compromisso, tendo o aspecto das relações de

vizinhança permeando a identidade institucional e seus aplicativos.

Quanto ao quesito ambiental acreditamos que o logotipo e a ilustração

contemplam a questão, pois configuram-se de maneira bastante simples,

utilizam poucas cores e podem ser utilizados de forma monocromática sem

prejuízos estéticos.

No caso das aplicações, ressaltamos que, quanto aos pôsteres não

decidimos o formato e nem o acabamento, tendo em vista que atendia as

exigências dos eventos e a questões pessoais dos apresentadores, uma vez

que a produção era de sua responsabilidade. Para as camisetas projetamos

dois modelos, um com o uso de duas cores e outro com uma cor, em

camisetas brancas de algodão, pensamos que nesse aplicativo alcançamos o

quesito ambiental de maneira mais efetiva.

Page 56: Helen pinho

56

Acreditamos que o princípio territorial é fortemente trabalhado, pois é

contemplado na própria estruturação do programa, que visa o trabalho em uma

determinada área de risco social, com o intuito de promover sua inclusão social

e econômica na cidade. A ilustração institucional prevê o reforço do

compromisso ao representar geograficamente a região, objetivando a

identificação das pessoas com o projeto.

O aspecto econômico novamente é parte do objetivo do Programa

Vizinhança, a atuação da universidade procura capacitar os moradores para o

mercado de trabalho e oferece serviços – ginástica, esporte, entretenimento –

que geralmente são cobrados de forma gratuita. Nas aplicações reafirmamos

que os aspectos de cor – indicados quanto à questão ambiental – trazem

benefícios econômicos. Nos aplicativos, a situação também se repete, nos

pôsteres por não ser de nossa responsabilidade, nosso poder de decisão foi

comprometido, e nas camisetas trabalhamos pensando neste aspecto. A

camiseta branca é a de menor custo, reduzimos o número de cor no modelo

aceito e trabalhamos com duas impressões.

Para finalizar, avaliamos o pilar político que apresenta-se de maneira

menos direta. Sua identificação nas peças é possível através do entendimento

de que ao promover uma comunidade socialmente, estamos possibilitando a

difusão da democracia e assim da inclusão política dessas pessoas.

Page 57: Helen pinho

57

6. Finalizações

Nosso objetivo neste capítulo é alinhavar ideias, sintetizar nossos

principais anseios e mostrar ao leitor as reflexões latentes sobre a temática.

Iremos apresentar um panorama geral da pesquisa, indicando as zonas mais

relevantes da discussão proposta. Relataremos também as dificuldades e

limitações enfrentadas, assim como nossas pretensões para o futuro.

6.1 Considerações

O objetivo desta pesquisa foi investigar se é possível o design

configurar-se em instrumento promovedor do desenvolvimento social a partir da

perspectiva sustentável e como dá-se este processo. Acreditamos que, ao

longo do trabalho, reafirmamos que o design pode ser utilizado como uma

ferramenta para a promoção de causas sociais – através da teoria

apresentada, da análise realizada e da nossa própria produção –. Afirmamos

também que ao longo dos capítulos fomos contemplando nossos objetivos

específicos, comprovaremos a afirmação a seguir.

Começamos por uma introdução ao campo do design até chegarmos a

nossa especialidade: o design gráfico. Decidimos por essa conceituação por

anseios pessoais de delimitação e localização, assim como para realizar um

pequeno levantamento histórico da nossa profissão. Dentro do mesmo capítulo

procuramos salientar o aspecto social do design, sua relevância profissional e

de postura ética para com a sociedade.

No capítulo seguinte, trabalhamos com as noções sustentáveis,

apresentando pontos importantes sobre esta área em construção, sendo

importante (re)afirmar que para nós o desenvolvimento sustentável perpassa

os cinco pilares conceituados por Sachs (2004) – social, ambiental, econômico,

territorial e político –. Na seção sequente entrelaçamos a temática sustentável

com o campo do design, ressaltando os aspectos positivos da aproximação

Page 58: Helen pinho

58

entre as áreas e sua importância para a construção de um ambiente mais

saudável para vivermos.

Realizamos, para uma apresentação mais prática, a análise da

Campanha do Agasalho do Rio Grande do Sul, a fim de comprovar a

importância do design em ações filantrópicas e sociais. Confrontamos também,

a peça representante da campanha, com as bases sustentáveis, identificando

uma postura de acordo com os princípios de Sachs (2004).

Para atingir o último objetivo específico apresentamos a prática

desenvolvida dentro do Programa Vizinhança e o analisamos à luz da

perspectiva sustentável. Evidenciamos que procuramos desenvolver uma

identidade visual em concordância com as exigências e necessidades

relatadas, com o intuito de fortalecer o programa dentro do meio estudantil e

para a comunidade em geral.

Nosso principal anseio – que fica – é o de ajudar a promover a

consciência crítica do profissional do design. Entendemos nossa importância

na construção social, e acreditamos que podemos utilizá-la de diferentes

modos e assim provocar diferentes reações, pensamos que o desenvolvimento

sustentável é um caminho para se obter um ambiente mais agradável e por

isso o recomendamos.

6.2 Limitações

As limitações colaboraram para a configuração final desta pesquisa,

sendo um elemento limitador, porém formador, relataremos os pontos

identificados como os mais significativos:

• Tempo – a duração de um semestre para a investigação limita

sua abrangência e os métodos para sua realização, exigindo uma redução do

campo de análise, dos objetivos e dos resultados.

• Análise – procuramos a agência responsável pelo

desenvolvimento da Campanha do Agasalho do Governo do Rio Grande do

Sul. A princípio, obtivemos resposta, porém o contato foi interrompido, assim

realizamos com informações levantadas na internet.

Page 59: Helen pinho

59

• Prática – a realização da prática da pesquisa se deu no local de

estágio da graduanda, assim esteve suscetível às limitações impostas pela

organização. O principal problema refere-se à informação (objetivos,

necessidades, operacionalização), agravado pelos fatores: liderança

compartilhada, tamanho do grupo e o desconhecimento sobre a área do

design.

6.3 Sequência

Acreditamos na relevância da problemática discutida neste trabalho e

pensamos ser interessante a sua exploração tanto na graduação como na pós-

graduação. É um campo com produção reduzida, ainda, e que é composto por

inúmeros aspectos centrais da vida contemporânea. Sugerimos o

aprofundamento no campo teórico da sustentabilidade, a exploração da análise

da prática sustentável em diversos setores, assim como a aplicação dos

preceitos sustentáveis em outras especialidades do design e tipos de

organizações.

Page 60: Helen pinho

60

Referências

ABC DESIGN. Entrevista: Dalcacio Reis. Disponível em: <http://abcdesign.com.br/design-de-produto/entrevista-dalcacio-reis/>. Acesso em: 06 out. 2010, 22:23h. ASSOCIAÇÃO DE DESIGN GRÁFICO. Código de Ética Profissional.

Disponível em: <http://www.adg.org.br/downloads/ADGBrasil_CodigoEtica.pdf>. Acesso em: 27 set. 2010, 15:41. CARDOSO, Rafael. Uma introdução à história do design. São Paulo: Blucher, 2008. _______________ (org.). O design brasileiro antes do design: aspectos da história gráfica, 1870-1960. São Paulo: Cosac Naify, 2005. DICIONÁRIO MICHAELIS. Palavra de busca: sustentabilidade e sustentável. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/>. Acesso em: 26 set. 2010, 16:18. DURKHEIN, Émile. Pragmatisme et sociologie. Paris: Vrin, 2001. HOLLANDA, Aurélio. Dicionário Aurélio. Palavra de busca: ideologia. Disponível em: <http://www.dicionariodoaurelio.com/>. Acesso em: 15 jun. 2010, 23:15. HOLLIS, Richard. Design Gráfico: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2000. KAZAZIAN, Thierry. Haverá a idade das coisas leves. São Paulo: Senac, 2005. LEONARD, Annie. The history of stuff. 2007. Vídeo disponível em:

<http://www.youtube.com/watch?v=3c88_Z0FF4k>. Acesso em: 15 abr. 2010, 16:24. MUNHOZ, Daniella. Manual de identidade visual: guia para construção. Rio de Janeiro: 2AB, 1ª ed. 2009. NETO, Wladimir. O Design do Nazismo. 2008. Disponível em: <http://wladimirneto.blogspot.com/2008/08/o-design-do-nazismo.html>. Acesso em: 10 nov. 2010, 04:18.

Page 61: Helen pinho

61

NIEMEYER, Lucy. Elementos de semiótica aplicados ao design. Rio de Janeiro: 2AB, 2003. PRÓ REITORIA DE EXTENSÃO E CULTURA. Disponível em: <http://prec.ufpel.edu.br/>. Acesso em: 18 out. 2010, 23:02. RANGEL, Ângela. Sentidos e direções do design, um roteiro necessário. 2007. 75f. Monografia (Artes Visuais Habilitação Design Gráfico) – Universidade Federal de Pelotas, Pelotas. REYES, Maria de Lourdes Valente. Design e Comunicação: os objetos como formas de religação social. 2005. 335f. Tese (Doutorado em Comunicação Social) - FAMECOS, PUCRS, Porto Alegre, 2005. RODRIGUES, Márcio. A emergência da sociedade moderna e a consolidação de uma nova visão de mundo. 2009a. 06f. Artigo (Mestrado em Administração) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis __________________. O Ministério da Verdade é uma abstração: Reflexões e relatos acerca da cumplicidade da mídia com o processo de empresarização do mundo. 2009b. 16f. Artigo (Mestrado em Administração) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. SACHS, Ignacy. Desenvolvimento: includente, sustentável, sustentado. Rio de Janeiro: Garamond, 2004. SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23 ed. São Paulo: Cortez, 2007. THOMPSON, John. Ideologia e Cultura Moderna. Petrópolis: Vozes, 1995. VILLAS-BOAS, André. O que é [e o que nunca foi] design gráfico. 5ª ed. Rio de Janeiro: 2AB, 2003. WIKIPÉDIA. Palavra de busca: scooby-doo. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Scooby-Doo>. Acesso em: 13 nov. 2010, 16:43.

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62

ANEXO 1

FIRST THINGS FIRST MANIFESTO 2000

Nós, abaixo assinados19

, somos designers gráficos, diretores de arte e

comunicadores visuais que crescemos num mundo no qual as técnicas e os

aparatos de publicidade têm sido persistentemente apresentados como o uso

mais lucrativo, eficaz e desejável de nossos talentos. Muitos professores de

design e intelectuais promovem esta crença; o mercado os recompensa; uma

avalanche de livros e publicações reforça essa visão.

Encorajados nesta direção, os designers então usaram suas

habilidades e imaginação para vender biscoitos de cachorro, designer coffee,

diamantes, detergentes, gel para cabelo, cigarros, cartões de crédito, tênis,

tonificadores para glúteos, cerveja light e veículos de carga para passeio. O

trabalho comercial sempre pagou as contas, mas muitos designers gráficos têm

se tornado, em grande medida, o que os designers gráficos fazem. Por sua

vez, é assim como o mundo percebe o design. O tempo e a energia dos

profissionais são usados para atender a uma demanda de coisas

manufaturadas que são, a princípio, não essenciais.

Muitos de nós estão, cada vez mais, se sentindo desconfortáveis com

esta visão do design. Os designers que dedicam seus esforços principalmente

para a publicidade, o marketing e o desenvolvimento de marcas estão dando

apoio e implicitamente endossando um ambiente mental tão saturado com

mensagens comerciais que estão mudando as muitas formas como os

cidadãos-consumidores falam, pensam, sentem, respondem e interagem. Até

certo ponto, estamos ajudando a desenhar um código redutivo e imensamente

prejudicial de discurso público.

19

Jonathan Barnbrook, Nick Bell, Andrew Blauvelt, Hans Bockting, Irma Boom, Sheila Levrant de Bretteville, Max Bruisma, Siân Cook, Linda van Deursen, Chris Dixon, William Drenttel, Gert Dumbar, Simon Esterson, Vince Frost, Ken Garland, Milton Glaser, Jessica Helfand, Steven Heller, Andrew Howard, Tibor Kalman, Jeffery Keedy, Zuzana Licko, Ellen Lupton, Katherine McCoy, Armand Mevis, J. Abbott Miller, Rick Poynor, Lucienne Roberts, Erik Spiekermann, Jan van Toorn, Teal Triggs, Rudy VanderLans, Bob Wilkinson.

Page 63: Helen pinho

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Existem ocupações mais corretas para nossas habilidades em

solucionar problemas. Uma crise sem precedentes do ambiente social e

cultural demanda nossa atenção. Muitas intervenções culturais, campanhas de

marketing social, livros, revistas, exposições, ferramentas educacionais,

programas de televisão, filmes, causas beneficentes e outros projetos de

design de informação requerem nossa especialidade e ajuda.

Nós propomos uma inversão de prioridades em favor de formas de

comunicação mais úteis, permanentes e democráticas – uma substituição

mental que se distancia do marketing de produto e se dirige para a exploração

e a produção de um novo tipo de significado. O espaço do debate está se

reduzindo; ele precisa se expandir. O consumismo está se tornando

incontestável; deve ser desafiado por outras perspectivas expressas, em parte,

pelas linguagens visuais e os recursos do design.

Em 1964, vinte e dois comunicadores visuais assinaram o manifesto

original para que nossos talentos fossem utilizados da melhor forma. Com o

desenvolvimento explosivo da cultura comercial global, aquela mensagem tem

se tornado mais urgente. Hoje, nós renovamos seu manifesto na expectativa de

que não se passem décadas antes de que no abracemos esta causa (FIRST

THINGS FIRST 2000 in BIERUT et al., 2002, p. 5- 6.).

Fonte: REYES, Maria de Lourdes Valente. Design e Comunicação: os objetos como formas de religação social. 2005. 335f. Tese (Doutorado em Comunicação Social) - FAMECOS, PUCRS, Porto Alegre, 2005.