acórdão stj - icms

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Superior Tribunal de Justiça AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.440.056 - RS (2012/0237150-6) RELATOR : MINISTRO HUMBERTO MARTINS AGRAVANTE : BRASIL TELECOM S/A ADVOGADO : PAULO CÉZAR PINHEIRO CARNEIRO E OUTRO(S) AGRAVADO : ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PROCURADOR : MARCOS ANTÔNIO MIOLA E OUTRO(S) RELATÓRIO O EXMO. SR. MINISTRO HUMBERTO MARTINS (Relator): Cuida-se de agravo regimental interposto pela BRASIL TELECOM S.A. contra decisão monocrática assim ementada (fl. 1115, e-STJ): "PROCESSO CIVIL E DIREITO TRIBUTÁRIO. ENERGIA ELÉTRICA. APROVEITAMENTO DE CRÉDITOS DE ICMS. LEI ESTADUAL QUE LIMITA OS CRÉDITOS EM 50%. MATÉRIA CONSTITUCIONAL. DECADÊNCIA DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. AUSÊNCIA DE PAGAMENTO. ART. 173, I, DO CTN. SÚMULA 83/STJ. RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO". Para melhor compreensão da demanda, reproduzo o acórdão proferido (fl. 610, e-STJ): "APELAÇÃO. DIREITO TRIBUTÁRIO. ENERGIA ELÉTRICA. APROVEITAMENTO DE CRÉDITOS DE ICMS. MEDIDA CAUTELAR DE CAUÇÃO. CABIMENTO. DECADÊNCIA AFASTADA. 1 - E possível, ao contribuinte, após o vencimento'da sua obrigação, e antes da execução, garantir o juizo de forma antecipada, para o fim de obter certidão positiva com efeito negativo. 2 - O creditamento de ICMS, relativo à aquisição de energia elétrica, por empresa de telecomunicação, está previsto na legislação gaúcha, de 50%, com base na regra do art. 32, XLVI, letra "b", do Decreto Estadual n. 37.699/97 (RICMS), ratificado pelo Decreto Estadual n. 45.359/2007. Ou seja, há previsão legal de creditamento, ao menos parcial, com, base na regra inserta na legislação gaúcha, isto porque não dúvida de que a autora se enquadra como sociedade comercial. 3 - Não tendo ocorrido a extinção pela homologação do pagamento antecipado, incide a regra do art 173, 1, do CTN. Documento: 46464634 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 1 de 7

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Acórdão STJ - ICMS

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  • Superior Tribunal de Justia

    AgRg no RECURSO ESPECIAL N 1.440.056 - RS (2012/0237150-6) RELATOR : MINISTRO HUMBERTO MARTINSAGRAVANTE : BRASIL TELECOM S/A ADVOGADO : PAULO CZAR PINHEIRO CARNEIRO E OUTRO(S)AGRAVADO : ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PROCURADOR : MARCOS ANTNIO MIOLA E OUTRO(S)

    RELATRIO

    O EXMO. SR. MINISTRO HUMBERTO MARTINS (Relator):

    Cuida-se de agravo regimental interposto pela BRASIL TELECOM S.A. contra deciso monocrtica assim ementada (fl. 1115, e-STJ):

    "PROCESSO CIVIL E DIREITO TRIBUTRIO. ENERGIA ELTRICA. APROVEITAMENTO DE CRDITOS DE ICMS. LEI ESTADUAL QUE LIMITA OS CRDITOS EM 50%. MATRIA CONSTITUCIONAL. DECADNCIA DO CRDITO TRIBUTRIO. AUSNCIA DE PAGAMENTO. ART. 173, I, DO CTN. SMULA 83/STJ. RECURSO ESPECIAL NO CONHECIDO".

    Para melhor compreenso da demanda, reproduzo o acrdo proferido (fl. 610, e-STJ):

    "APELAO. DIREITO TRIBUTRIO. ENERGIA ELTRICA. APROVEITAMENTO DE CRDITOS DE ICMS. MEDIDA CAUTELAR DE CAUO. CABIMENTO. DECADNCIA AFASTADA.

    1 - E possvel, ao contribuinte, aps o vencimento'da sua obrigao, e antes da execuo, garantir o juizo de forma antecipada, para o fim de obter certido positiva com efeito negativo.

    2 - O creditamento de ICMS, relativo aquisio de energia eltrica, por empresa de telecomunicao, est previsto na legislao gacha, de 50%, com base na regra do art. 32, XLVI, letra "b", do Decreto Estadual n. 37.699/97 (RICMS), ratificado pelo Decreto Estadual n. 45.359/2007. Ou seja, h previso legal de creditamento, ao menos parcial, com, base na regra inserta na legislao gacha, isto porque no h dvida de que a autora se enquadra como sociedade comercial.

    3 - No tendo ocorrido a extino pela homologao do pagamento antecipado, incide a regra do art 173, 1, do CTN.

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  • Superior Tribunal de JustiaRECURSOS DESPROVIDOS" .

    O agravo regimental pode ser assim resumido:

    a) a deciso agravada contraditria. O fundamento adotado para no conhecer do REsp do Estado impe o provimento do REsp da ora Agravante, devendo ser aplicado o entendimento consolidado no REsp repetitivo 1.201.635/MG;

    c) O acrdo recorrido, em interpretao errnea dos arts. 19, 20, 33, II, da LC n. 87/96 e do Decreto 640/62, negou o direito ao crdito pleiteado com base nesses fundamentos por entender que a BRASIL TELECOM, empresa prestadora de servios de telecomunicao, no poderia ser qualificada como empresa industrial por equiparao;

    b) a Smula 280 do STF no aplicvel hiptese. O simples cotejo entre os fatos descritos no acrdo recorrido e a pretenso manifestada no REsp j demonstra violao da LC 87/96 e do Decreto 640/62, sendo prescindvel a interpretao da legislao local.

    Pugna, caso no seja reconsiderada a deciso agravada, pela submisso do presente agravo apreciao da Turma.

    , no essencial, o relatrio.

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  • Superior Tribunal de Justia

    AgRg no RECURSO ESPECIAL N 1.440.056 - RS (2012/0237150-6)

    EMENTA

    PROCESSO CIVIL E DIREITO TRIBUTRIO. ENERGIA ELTRICA. APROVEITAMENTO DE CRDITOS DE ICMS. LEI ESTADUAL QUE LIMITA OS CRDITOS EM 50%. MATRIA CONSTITUCIONAL. DECADNCIA DO CRDITO TRIBUTRIO.

    1. Recurso especial em que se discute a possibilidade de lei estadual limitar em 50% o creditamento do ICMS referente energia eltrica empregada na prestao de servios de telecomunicaes.

    2. No h contradio em no admitir o recurso da Fazenda Pblica que pretende afastar o direito de crdito (reconhecido pela 1 Seo no REsp 842.270/RS) e no admitir o recurso do contribuinte que pretende creditamento integral do crdito que fora limitado em 50% por lei estadual. As pretenses recursais so distintas e independentes.

    3. No pode a pretenso recursal ser acolhida em razo de dois motivos: 1) anlise de lei estadual incabvel em sede recurso especial; 2) afastar a lei estadual em confronto com lei federal no competncia do Superior Tribunal de Justia, mas do Supremo Tribunal Federal (conflito federativo de competncias legislativas, alnea "d" do inciso III do art. 102 da Constituio Federal).

    Agravo Regimental improvido.

    VOTO

    O EXMO. SR. MINISTRO HUMBERTO MARTINS (Relator):

    No merece retratao a deciso ora impugnada.

    No mrito, a controvrsia gira, em sntese, em torno da possibilidade do aproveitamento de crditos do ICMS por ocasio da aquisio de energia eltrica destinada prestao de servios de telecomunicaes.

    Cito, para fins de esclarecimento, trecho do acrdo impugnado (fl. 615, e-STJ):

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  • Superior Tribunal de Justia"Trata-se de apelos do ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

    e de BRASIL TELECOM S/A, pretendendo a reforma da sentena das fls. 439/56, que julgou procedente a ao cautelar, aceitando a cauo oferecida, determinando que o demandado fornea certido de regularidade fiscal, e parcialmente procedente a ao anulatria, para anular o lanamento de n. 0012973211, declarada a legalidade do aproveitamento de crditos do ICMS, por ocasio da aquisio de energia eltrica, destinada prestao de servios de telecomunicaes, e determinar nova verificao fiscal para, se forem apurados aproveitamento de crditos superiores a 50%, que se proceda a novo lanamento. Devidas, ainda, as custas e honorrios de R$ 2.500,00 para a ao cautelar e, havendo sucumbncia recproca, as custas da ao anulatria so pr-rata, fixados os honorrios em 15% sobre o valor da causa, cada parte arcando com o pagamento para a parte adversa" .

    O Tribunal de origem, mantendo o entendimento da sentena, negou provimento aos recursos de apelao.

    No h contradio na deciso monocrtica por mim proferida. Os dois recursos especiais possuem pretenses independentes.

    O recurso da Fazenda Pblica do Rio Grande do Sul pretendia afastar a totalidade do creditamento. No havia como conhecer de tal recurso especial, porquanto a Primeira Seo do STJ, no julgamento do REsp 842.270/RS, firmou compreenso no sentido de que o ICMS incidente sobre a energia eltrica consumida pelas empresas de telefonia, que promovem processo industrial por equiparao, pode ser creditado para abatimento do imposto devido quando da prestao de servios.

    A pretenso da parte recorrente, no entanto, consiste em afastar lei estadual gacha que limita em 50% os referidos crditos de Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Servios.

    No podia o recurso especial ser acolhido em razo de dois motivos: 1) anlise de lei estadual incabvel em sede recurso especial; 2) afastar a lei estadual em confronto com lei federal no competncia do Superior Tribunal de Justia, mas do Supremo Tribunal Federal (conflito federativo de competncias legislativas, alnea "d" do inciso III do art. 102 da Constituio Federal).

    Reitero, portanto, os fundamentos da deciso por mim proferida.

    Defende, por sua vez, a outra parte recorrente que possui direito ao Documento: 46464634 - RELATRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Pgina 4 de 7

  • Superior Tribunal de Justiacreditamento integral, explicando o seu interesse recursal da seguinte forma:

    "O acrdo recorrido, integrado pela deciso em embargos de declarao, entendeu que a ora Recorrente, em tese, no teria direito ao creditamento integral do ICMS referente energia eltrica empregada na prestao de servios de telecomunicaes, mesmo tendo a parte produzido prova tcnica de que a energia eltrica constitui insumo na gerao do produto final da telefonia. Com isto, autorizou o crdito apenas na proporo de 50%, tratando-se de crdito presumido fixado pela legislao estadual" .

    Ocorre que crdito parcial determinao da lei estadual gacha, conforme o que se depreende da anlise do acrdo impugnado. No tarefa desta Corte Superior analisar a constitucionalidade art. 32, XLVI, letra "b", do Decreto Estadual n. 237.699/97. Cito precedente:

    "TRIBUTRIO. PROCESSUAL CIVIL. AUSNCIA DE VIOLAO DO ART. 535 DO CPC. OMISSO INEXISTENTE. CDA. REQUISITOS DE VALIDADE. REVISO. SMULA 7/STJ. ICMS. CREDITAMENTO. ENERGIA ELTRICA. ESTABELECIMENTO COMERCIAL. OPERAES ANTERIORES LC 87/96. APLICAO DO CONVNIO 66/88. ATIVIDADE COMERCIAL. INAPLICABILIDADE. PREVALNCIA DE ATIVIDADE INDUSTRIAL. INCIDNCIA DA SMULA 7/STJ. CONSTITUCIONALIDADE DO ART. 34 DA LEI ESTADUAL N.7.547/89. COMPETNCIA DO STF.

    1. No h a alegada violao do art. 535 do CPC, pois a prestao jurisdicional foi dada na medida da pretenso deduzida, como se depreende da leitura do acrdo recorrido, que enfrentou, motivadamente, os temas abordados no recurso de apelao, ora tidos por omitidos.

    2. Nos termos da jurisprudncia deste Superior Tribunal, a "aferio da certeza e liquidez da CDA, bem como da presena ou no dos requisitos essenciais sua validade implica reexame do conjunto ftico-probatrio dos autos, o que vedado, nesta instncia especial, em face do bice constante da Smula 7/STJ" (AgRg no AREsp 326.868/RJ, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHES, SEGUNDA TURMA, julgado em 2/9/2014, DJe 11/9/2014).

    3. Entende esta Corte que, "na poca em que vigorava o Convnio 66/88, era vedado o creditamento de valores relativos a bens destinados ao ativo fixo e ao uso e consumo de estabelecimento comercial. Assim, o ICMS incidente sobre as contas de energia eltrica e servios de telecomunicaes no podia ser creditado como espcie de insumo, quando utilizados em

    Documento: 46464634 - RELATRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Pgina 5 de 7

  • Superior Tribunal de Justiaempresa com atividade de mero comrcio" (AgRg no Ag 1.156.362/RJ, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 03/08/2010, DJe 24/08/2010).

    4. Tendo o Tribunal de origem entendido que "as atividades realizadas por estabelecimento comercial no se caracterizam como processo de industrializao, inexiste direito ao creditamento do ICMS recolhido em relao energia eltrica consumida na realizao de tais atividades, no assistindo razo embargante no pleito de creditamento (princpio da no-cumulatividade do imposto em destaque". Entendimento contrrio demandaria a incurso no contexto ftico dos autos, impossvel nesta Corte, ante o bice da Smula 7/STJ.

    5. Avaliar, como quer o ora recorrente, a constitucionalidade do art. 34, pargrafo nico, II, da Lei Estadual n. 7.547/89, refoge competncia desta Corte.

    Agravo regimental improvido" .(AgRg no REsp 1.497.917/SC, Rel. Ministro HUMBERTO

    MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 12/2/2015, DJe 20/2/2015.)

    No h falar, outrossim, em violao dos arts. 334, I, e 458, II, do CPC, uma vez que tal alegao tambm se baseia na suposta inconstitucionalidade da norma estadual.

    No prospera, igualmente, a alegao de decadncia do crdito tributrio. Decidiu corretamente o tribunal. No constatado o pagamento antecipado, aplica-se o art. 173, I, do Cdigo Tributrio Nacional. Nesse sentido:

    "PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTRIO. IMPOSTO DE RENDA. VALORES RECEBIDOS DE FORMA ACUMULADA EM DECORRNCIA DE RECLAMATRIA TRABALHISTA. FALECIMENTO DO CONTRIBUINTE. DECADNCIA. PODER JUDICIRIO. RETIFICAO DO LANAMENTO NA LIQUIDAO DE SENTENA. APLICAO.

    ANALOGIA. SMULA 283/STF.1. O Tribunal a quo consignou: "Se a autoridade

    administrativa constatar que o sujeito passivo apresentou declarao contendo omisso ou inexatido quanto ao montante tributvel, cabvel o lanamento de ofcio, segundo o art. 149 do CTN. Nesse caso, o fato de o contribuinte haver apresentado declarao e recolhido o tributo com base no valor declarado mostra-se irrelevante, porque o objeto do lanamento justamente o que no foi declarado e, por conseguinte, no foi recolhido. Ento, a nica forma de se computar o prazo para a constituio do crdito tributrio a prevista no art. 173, inciso I, do CTN, que

    Documento: 46464634 - RELATRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Pgina 6 de 7

  • Superior Tribunal de Justiatrata do lanamento de ofcio" (fl. 640,e-STJ).

    2. O STJ possui jurisprudncia no sentido de que o prazo decadencial quinquenal para o Fisco constituir o crdito tributrio (lanamento de ofcio) conta-se do primeiro dia do exerccio seguinte quele em que o lanamento poderia ter sido efetuado, nos casos em que a lei no prev o pagamento antecipado da exao ou quando, a despeito da previso legal, o mesmo no ocorre, sem a constatao de dolo, fraude ou simulao do contribuinte, inexistindo declarao prvia do dbito.

    3. Em relao alegao de no cabe ao Poder Judcirio proceder retificao do lanamento em fase de liquidao de sentena, os recorrentes no atacaram especificamente os argumentos constantes do acrdo recorrido neste tpico. Incide, por analogia, a Smula 283/STF.

    4. Agravo Regimental no provido" .(AgRg no REsp 1.486.511/PR, Rel. Ministro HERMAN

    BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/12/2014, DJe 3/2/2015.)

    Portanto, em que pese o esforo contido nas razes de agravo regimental, no prospera a pretenso recursal de reforma da deciso prolatada.

    Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.

    como penso. como voto.

    MINISTRO HUMBERTO MARTINSRelator

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