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Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça Processo: 02B1625 Nº Convencional: JSTJ000 Relator: OLIVEIRA BARROS Nº do Documento: SJ20020627016257 Data do Acordão: 27-06-2002 Votação: UNANIMIDADE Tribunal Recurso: T REL COIMBRA Processo no Tribunal Recurso: 1565/00 Data: 02-12-2001 Texto Integral: S Privacidade: 1 Sumário : Decisão Texto Integral: Acordam no Supremo Tribunal de Justiça : A) - Relatório : 1. Invocando os pertinentes factos e o disposto no artigo 5º, nº1, do contrato de sociedade (1) e nos arts.240º, nº2º, 334º, e 573º C.Civ. (2), e 58º, nºs 1º, als.a), b) e c), 214, nºs 1º e 2º, parte final, 248º, nºs 1º e 3º, 289º, nºs 1º, al.c), e 3º, e 290º, nº3º, CSC, a "A", intentou, em 3/6/96 (3) no Tribunal de Círculo da Anadia, contra a "B", de que é sócia minoritária, acção declarativa com processo comum na forma ordinária de anulação de deliberação social tomada em assembleia geral (AG) da demandada realizada em 9/5/96, que aprovou a proposta do outro sócio, maioritário e gerente único da mesma, C, de trespasse do estabelecimento comercial sito na Quinta de S. Sebastião, freguesia e concelho de Oliveira do Bairro, a favor da sociedade "D", pelo preço de 100000000 escudos a pagar no acto da respectiva escritura. Com esse pedido, cumulou o de condenação do sócio referido a pagar : a) - à sociedade Ré, a quantia de 30000000 escudos, a título de indemnização pelos prejuízos directamente causados a essa sociedade pela deliberação impugnada, só aprovada por ele ; b) à A., uma indemnização correspondente aos prejuízos directamente resultantes para esta da deliberação aludida, a calcular em execução de sentença, mas não inferior a 247000 escudos por dia, desde a data em que a insígnia " ...." foi retirada do supermercado da Ré até à data em que for executada a sentença anulatória ; e c) - outra, não inferior a 50000000 escudos, pelos danos morais e prejuízos na imagem comercial causados directamente à A. pela deliberação a anular. Cumulou, ainda, por último, o pedido de instauração, nos termos do art.216º CSC, de inquérito to judicial à sociedade Ré, a fim de apurar as causas que justificaram a proposta objecto da deliberação impugnada e as relações e

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Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de JustiçaProcesso: 02B1625

Nº Convencional: JSTJ000

Relator: OLIVEIRA BARROS

Nº do Documento: SJ20020627016257

Data do Acordão: 27-06-2002

Votação: UNANIMIDADE

Tribunal Recurso: T REL COIMBRA

Processo no Tribunal

Recurso:

1565/00

Data: 02-12-2001

Texto Integral: S

Privacidade: 1

Sumário :

Decisão Texto Integral: Acordam no Supremo Tribunal de Justiça :

A) - Relatório :

1. Invocando os pertinentes factos e o disposto no artigo 5º, nº1, do contrato de

sociedade (1) e nos arts.240º, nº2º, 334º, e 573º C.Civ. (2), e 58º, nºs 1º,

als.a), b) e c), 214, nºs 1º e 2º, parte final, 248º, nºs 1º e 3º, 289º, nºs 1º, al.c),e 3º, e 290º, nº3º, CSC, a "A", intentou, em 3/6/96 (3) no Tribunal de Círculo

da Anadia, contra a "B", de que é sócia minoritária, acção declarativa com

processo comum na forma ordinária de anulação de deliberação social tomada

em assembleia geral (AG) da demandada realizada em 9/5/96, que aprovou a

proposta do outro sócio, maioritário e gerente único da mesma, C, de trespassedo estabelecimento comercial sito na Quinta de S. Sebastião, freguesia e

concelho de Oliveira do Bairro, a favor da sociedade "D", pelo preço de

100000000 escudos a pagar no acto da respectiva escritura.

Com esse pedido, cumulou o de condenação do sócio referido a pagar :

a) - à sociedade Ré, a quantia de 30000000 escudos, a título de indemnização

pelos prejuízos directamente causados a essa sociedade pela deliberaçãoimpugnada, só aprovada por ele ;

b) à A., uma indemnização correspondente aos prejuízos directamente

resultantes para esta da deliberação aludida, a calcular em execução de

sentença, mas não inferior a 247000 escudos por dia, desde a data em que a

insígnia "...." foi retirada do supermercado da Ré até à data em que for

executada a sentença anulatória ; e

c) - outra, não inferior a 50000000 escudos, pelos danos morais e prejuízos na

imagem comercial causados directamente à A. pela deliberação a anular.

Cumulou, ainda, por último, o pedido de instauração, nos termos do art.216º

CSC, de inquérito to judicial à sociedade Ré, a fim de apurar as causas que

justificaram a proposta objecto da deliberação impugnada e as relações e

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interesses particulares entre o seu referido sócio e as sociedades D, E, e F, asduas últimas reais beneficiárias dessa deliberação.

2. Contestada a acção, a Ré excepcionou, antes de mais, a sua ilegitimidade

passiva relativa mente aos pedidos de indemnização mencionados.

O processado subsequente, constituído por saneador, de que a Ré agravou, e

especificação e questionário, foi anulado por falta de notificação da contestação

à contraparte, que esta reclamou.

A A. deduziu então, com referência ao art.58º, nº3º, CSC, incidente de

intervenção principal provocada do falado sócio maioritário da Ré.

Admitida essa intervenção apesar da oposição da Ré, fundada nos arts.75º e

77º CSC, esta a gravou desse despacho. Esse recurso foi admitido com subida

diferida.

O interveniente apresentou também contestação.

3. Houve réplica a ambas as contestações, limitada à excepção de ilegitimidade

passiva nelas respectivamente deduzida.

Essa excepção dilatória foi, no saneador a seguir proferido, julgadaimprocedente, tendo dele sido interposto e admitido agravo com subida diferida.

Então igualmente organizados especificação e questionário, foi deferida a

reclamação que ambas as partes contra tal deduziram.

Após julgamento, foi, em 4/1/99, proferida sentença que absolveu os RR do

pedido de instauração de inquérito judicial à sociedade Ré (4); declarou, emvista dos arts.58º, nºs 1º, al.c), e 4º, e 377º, nº8º, CSC, anulada a deliberação

social aludida; e condenou o interveniente a pagar: - em vista dos arts. 58º, nºs1º, al. b ), e 3º, CSC, àquela sociedade, indemnização, a liquidar em execução

de sentença, relativa aos prejuízos causados directamente à mesma após aaprovação da deliberação em causa ; - à A., indemnização correspondente aos

prejuízos directamente resultantes para esta, a calcular em execução desentença, mas não inferior a 63000 escudos por dia, desde a data em que a

insígnia "...." foi retirada do supermercado da Ré até à data em que forexecutada a sentença anulatória ; - e à A., ainda, indemnização a liquidar emexecução de sentença pelos danos morais e prejuízos na imagem comercial

causados directamente à mesma pela deliberação anulada.

4. A Ré e o interveniente apelaram dessa sentença.

A A. requereu então, ao abrigo do art.693º, nº2º, CPC, e por apenso, aprestação de caução por parte deste, de valor não inferior a 150000000

escudos ; ao que o mesmo deduziu oposição.

Instruído o incidente, com inquirição de testemunhas, foi fixado em 80000000

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escudos o valor da caução a prestar pelo requerido, que agravou dessa decisão.

5. A Relação de Coimbra negou provimento aos agravos, e julgouimprocedente a apelação da Ré ; mas julgou a apelação do interveniente

procedente, em parte, absolvendo-o dos pedidos das als. a) e b) ( comoreferidas neste acórdão: de indemnização à sociedade Ré e de indemnização

diária à A.; subsistindo, por conseguinte, apenas a condenação na indemnizaçãopor danos não patrimoniais e prejuízos na imagem comercial ).

Os apelantes pedem, agora, revista dessa decisão.

Praticamente idêntica a alegação respectiva, formulam, em desrespeito flagranteda síntese exigida pelo nº1º do art.690º CPC, cerca de 50 conclusões.

Decorre das mesmas serem, essencialmente, 4 as questões que nelas se

colocam.

A 1ª é a da ilegitimidade passiva respectiva.

A 2ª reporta-se à decisão da Relação que negou provimento ao agravointerposto do despacho de admissão da intervenção principal provocadarequerida pela ora recorrida.

Em sede, já, do mérito ou demérito da decisão de fundo, a 3ª centra-se na

regularidade ( ou não ) da convocatória para a AG em que foi tomada adeliberação em crise, face ao disposto nos arts. 58º, nºs 1º, al.c) e 4º, 248º,

nº1º, e 377º, nº8º, CSC.

A 4ª e última, relativa à previsão do art.58º, nºs 1º, al.b), e 3º, CSC, é a dedeterminar se se está, ou não, perante deliberação abusiva.

Houve contra-alegações, e, corridos os vistos legais, cumpre decidir.

B) - Os factos :

Convenientemente ordenada (5), a matéria de facto fixada pelas instâncias é a

seguinte :

( 1 ) - No pressuposto da constituição futura da sociedade Ré e com a intenção

de vir a vincular essa sociedade, a A. e C assinaram, em 12/5/93, o contrato de

franquia, designado como " Contrato de uso de insígnia ", a fls.40 a 95 dosautos, no qual foi posteriormente aposta a data de 6/7/94 e manuscrita a

identificação da sociedade Ré, que não constava aquando da assinatura ( desse

contrato ), em 12/5/93, uma vez que a Ré ainda não se encontrava constituída (1º, 2º, 20º, 21º, 22º, e 23º).

( 2 ) - A Ré constituiu-se para explorar um supermercado que ia funcionar sob a

insígnia " ...... ", nos termos desse contrato ( 7º e 8º, com a correcção efectuadapela Relação a fls. 818 ).

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pela Relação a fls. 818 ).

( 3 ) - Em 1/2/94, por escritura pública outorgada pela A. e pelo referido C,

que dela são os únicos sócios, foi celebrado o contrato de sociedade da Ré B,

com o capital social de 12500000 escudos, pertencendo à A. uma quota de20000 escudos e àquele sócio outra, no valor remanescente (A ; certidão do

registo da Ré na Conservatória do Registo Comercial de Oliveira do Bairro, a

fls.26 a 28 destes autos).

( 4 ) - A sociedade Ré apresentou prejuízos desde o início da sua actividade (

26º).

( 5 ) - No ano de 1995, o supermercado da Ré teve um volume de vendas nomontante de 814766000 escudos, que foi insuficiente para cobrir todos os

custos de exploração e financeiros, tendo o exercício desse ano apresentado um

saldo negativo de 15361588 escudos ( N e 33º ).

( 6 ) - Existindo já outros estabelecimentos, como o G e H, na área de influência

cia do supermercado da Ré, a própria A. veio a adquirir, em Março de 1996,

um imóvel em Águeda, a 7 km do estabelecimento da Ré, para nele instalar umsupermercado da cadeia "....." ( 28º e 29º).

( 7 ) - O consócio referido enviou à A. as cartas ( com data de 19/3/96 ) a

fls.279, em que solicitada ta o envio do ( sobredito ) contrato de uso de insígnia,e (com data de 22/3/96) a fls.278, em que solicita o envio de todos os contratos

assinados com ela ( H e I ).

( 8 ) - A A. só forneceu cópia desses contratos ao outorgante C em 26/3/96 (

24º).

( 9 ) - A A. foi convocada para uma Assembleia Geral da Ré, a realizar na suasede social em 9/5/96, com a seguinte ordem de trabalhos :

" Ponto único : Discutir e deliberar sobre a reestruturação da actividade da

Sociedade e respectiva transmissão de activos " ( B ).

( 10 ) - Essa convocatória foi inicialmente expedida em 12/4/96 para a morada

que consta da escritura constitutiva da sociedade Ré como sendo a da sede daA., e foi devolvida à Ré com a menção " Mudou-se " (J e L ).

( 11 ) - Em 24/4/96, a Ré reexpediu a convocatória para 3 locais diferentes ( M

).

( 12 ) - A A. foi ( efectivamente ) convocada para a AG referida por carta

registada expedida em 24/4/96, e recebida em 29 desse mês ( B ).

( 13 ) - Em resposta a essa convocatória, a A. enviou à Ré a carta datada de

30/4/96 a fls.97, na qual " solicitava o fornecimento detalhado de todos os

elementos de informação a que tinha direito, tanto mais que o ponto único emdiscussão estava profundamente ligado à vida futura da sociedade e isso nos

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discussão estava profundamente ligado à vida futura da sociedade e isso nos

termos dos arts.21º, 248º, nº1º, 289º e 290º do CSC " ( C ).

( 14 ) - Em resposta a essa carta, a Ré enviou à A. a carta datada de 2/5/96 a

fls.98, em que informa que a mera invocação em termos gerais dos preceitos

legais não impunha à gerência da sociedade a obrigação do envio ou daprestação de quaisquer informações, que, aliás, não foram concretizadas, tudo

sem prejuízo de serem dados todos os esclarecimentos necessários no decurso

da Assembleia Geral ( D ).

( 15 ) - Os elementos solicitados pela A. na carta de 30/4/96 acima referida não

lhe foram fornecidos nem antes ( da ), nem durante a Assembleia ( 6º).

( 16 ) - O consócio C ocultou à A. a sua intenção, subjacente à proposta que

veio a apresentar na Assembleia Geral, de trespassar o estabelecimento a favor

de um terceiro, para evitar que a A. exercesse o direito de preferência conferido

nos artigos 10º e 13º do contrato de franquia já referido ( 4º).

( 17 ) - Esse propósito foi deliberadamente escamoteado à A., sabendo que

isso lhe ia causar prejuízos ( 5º).

( 18 ) - Iniciados os trabalhos da Assembleia Geral, a A. apresentou a moção

constante do doc. a fls.20, em que declara não ter a mínima informação sobre o

ponto único da ordem de trabalhos lhos, protestando que iria utilizar todos osmeios judiciais ao seu alcance se viesse a ser votado, e sublinhando que a "

transmissão de activos " era um tema de decisiva importância para a sociedade

e para os seus legítimos direitos (E).

( 19 ) - Rejeitada essa moção, o sócio maioritário e gerente da Ré apresentou a

proposta que se encontra junta à acta, relativa ao trespasse do estabelecimento

de supermercado a favor da sociedade D, pelo preço de 100.000.000 escudosa pagar no acto da respectiva escritura, com designação do gerente para nela

outorgar, e que apresentava como considerando que a Ré vinha a operar como

unidade independente num mercado em que a concorrência era crescente e que

assim se tornava difícil assegurar a sua viabilidade, mas, não obstante, dispunhade activos que interessa(va)m a outras entidades que se propõem actuar no

campo da distribuição ( F )

( 20 ) - A A. votou contra essa proposta, oferecendo 110000000 escudos pelotrespasse, oferta essa que foi rejeitada ( acta a fls.20 ) ( G ).

( 21 ) - A proposta referida foi aprovada após discussão, sabendo-se queprejudicava a A. ( F 1 e 7º e 9º, com a correcção efectuada pela Relação a fls.

818 ).

( 22 ) - Ao valor do trespasse aprovado acresceu a compra do stock daempresa pelo preço de 25041086 escudos e a assunção pelo trespassário da

dívida da Ré perante a "I", no montante de 150882969 escudos, acrescido de

IVA ( 30º e 31º).

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( 23 ) - A A. fez investimentos para abastecer um supermercado que secomprometeu com ela através de contratos de uso de insígnia e de

aprovisionamento, e dimensionou-se confiante no cumprimento desses contratos

( 9º-A e 10º).

( 24 ) - Por essa razão, e como única forma de garantir a segurança

indispensável à sua sobrevivência empresarial, assegurou igualmente um direito

de preferência estatutário e contratual na cessão de quotas e na venda de

activos ( 11º).

( 25 ) - O sócio C tem perfeito e cabal conhecimento dessa realidade (12º).

( 26 ) - O supermercado da Ré tirou a insígnia " ..... " e passou a ostentar a

insígnia "Expresso", facto de que resultaram prejuízos para a A. porque viu a suaimagem abalada na região ( 13º e 14º).

( 27 ) - A insígnia "...." é propriedade da Sociedade E, que cessara a sua

actividade há vários anos, e cujo capital social, de 100000 escudos, é detido

pela sociedade F, concorrente da A. ( 15º).

( 28 ) - A deliberação aprovada esvaziou o património da Ré, paralisou a suaactividade comercial, e causou directa e imediatamente à sócia A. um prejuízo

comercial de 63000 escudos por dia, e prejuízos na imagem comercial da

mesma ( 16º, 17º, 18º, e 19º).

C) - Do direito :

1ª questão : Da legitimidade passiva :

Há, nestes autos, uma cumulação real de pedidos ( art.470º, nº1º, CPC ), que

mais, afinal, não é que uma cumulação ( no mesmo processo ) de (várias)

acções, cujo objecto é, por sua vez, definido pelos seus distintos e respectivos

pedidos e causas de pedir.

O primeiro dos pedidos deduzidos era o de anulação de deliberação social; e,como a Relação fez notar, em vista do nº1º do art.60º CSC, a legitimidade

passiva da sociedade demandada para uma tal acção não sofre dúvida séria.

Como incontornavelmente assim, afirmar que a Ré recorrente " não é sujeito da

relação material controvertida, tal como foi delineada pela Recorrida " releva do

proverbial querer tapar o sol com uma peneira : que, neste caso, é a dos

pedidos de indemnização cumulados, dirigidos contra o comparte da excipiente.

Também, aliás, relativamente ao último pedido formulado, de inquérito judicial,

não sofre dúvida a legitimidade passiva da ora recorrente, tendo sido dado por

sem efeito, por distinta razão (6).

E irrecusável é, por sua vez, ainda, em vista igualmente do art.26º CPC, a

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E irrecusável é, por sua vez, ainda, em vista igualmente do art.26º CPC, a

legitimidade do sócio demandado para contrariar os pedidos de indemnização

contra ele dirigidos com fundamento no art.58º, nº3º, CSC.

Dado por sem efeito o pedido de inquérito, sujeito a outra forma de processo(7), já nem, por fim, os próprios recorrentes contrariam a legalidade da

conjunção de réus empreendida, face ao disposto no art.30º CPC (8). Chega-

se, assim, à

2ª questão : Da intervenção principal provocada :

É inegável que a conjunção passiva ( coligação de réus ) excede o âmbito legalda intervenção principal provocada, ao tempo regulada nos arts.351º ( v. sua

al.b) ) e 356º CPC (9).

Outra, pois, se bem se crê, deverá ser a abordagem desta questão. Assim :

Formulados pedidos expressamente dirigidos contra o sócio maioritário da ora

recorrida, só esta, no entanto, é identificada no intróito ou cabeçalho da petiçãoinicial.

Em causa, nesse âmbito, a previsão do art.58º, nº3º, CSC, e inaplicável a dos

art.351º e 356º CPC, na sua redacção anterior à reforma de 1995/96, aplicável

nestes autos ex vi do art.16º do DL 329-A/95, de 12/12, a decisão da Relação

a este respeito fundou-se, em última análise, em que se está perante descuido

flagrante, da parte da A., infelizmente não mandado corrigir ao abrigo dodisposto no art.477º,nº1º, CPC.

Caso se estivesse perante acto do juiz, o art.667º ( nº1º) CPC consentiria, sem

dúvida alguma, a correcção competente.

Esse preceito constitui particularização da previsão do art.249º C.Civ., por sua

vez relativo a especial modalidade de erro na declaração, e desde sempre

julgado aplicável aos actos das partes.

Em vista, quanto mais não seja, do art.10º C.Civ, não se vê, assim, como deixar

de aplicar neste caso o princípio, que os preditos arts.249º C.Civ. e 667º CPC

revelam, de autorização da correcção dos erros materiais manifestos; em tal,

bem vistas as coisas, neste caso se tendo incorrido, por omissão, no preâmbulo

do articulado inicial.

Crê-se, em boa razão, justificada, por este modo, a admissão do ora recorrente

na causa e, assim, de manter o sentido útil da decisão das instâncias a este

respeito, mesmo quando não de acolher no mais a fundamentação que

adiantaram para tanto.

Pertencem, a partir daqui, ao CSC todas as disposições citadas sem outraindicação.

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3ª questão : Da (ir)regularidade da convocatória (vício de procedimento):

1. Genericamente reconhecido no art.21º, al.c), o direito dos sócios à

informação encontra-se regulado, quanto às sociedades por quotas, no art.214º.

Relativo à prestação de informações em assembleia geral, o nº7º deste último

remete para o art.290º (10), cujo nº3º especifica que " a recusa injustificada deinformações é causa de anulabilidade da deliberação" (11).

O que, no entanto, vinha, antes de mais, arguido nesta acção era o vício de

procedimento constituído pela inobservância, na convocatória, do prescrito no

nº8º do art.377º, no caso aplicável por força do disposto no nº1º do art.248º,

que determina que "o aviso convocatório deve mencionar claramente o assunto

sobre o qual a deliberação será tomada".

A al.c) do nº1º do art.58º declara, por sua vez, anuláveis as deliberações que

não tenham sido precedidas do fornecimento aos sócios dos elementos mínimos

de informação que o seu nº4º indica ; e a al.a) deste último considera, para esse

efeito, como tal as menções exigidas pelo pre dito art.377º, nº8º (12).

2. No direito anterior, era aplicável no caso, ex vi do art.38º LSQ, o art.181º

C.Com., em vista do qual se entendia já que a menção dos assuntos a tratar nareunião devia ser clara, nítida, e precisa, e "não de um modo genérico e

incompleto" (13), "feita com tal cuidado que se conheça suficientemente o fim da

reunião, e para ela o sócio possa ir com pleno conhecimento do seu objecto"

(14).

No BMJ 197/23 ss, encontra-se publicado estudo de Vaz Serra sobre a

Assembleia Geral destinado à elaboração de um anteprojecto sobre associedades anónimas ou por acções.

Pode aí ver-se o art.6º, nº2º, que rezava assim (15):

" Os assuntos inscritos na ordem do dia devem ser indicados de modo a o seu

conteúdo e alcance se depreenderem claramente do aviso sem necessidade de

recurso a outros elementos ; ressalvam-se os assuntos de reduzida importância."

Ora, é tal que, em vista de B), ( 9 ) e (13) a ( 19 ), supra, precisamente se

manifesta não suceder no caso dos autos.

No " Anteprojecto da lei das sociedades por quotas de responsabilidade

limitada " de Ferrer Correia, Lobo Xavier, Maria Ângela Coelho e António

Caeiro (16), dito Anteprojecto de Coimbra, o art.105º, nº3º (17), dispunha que

" não podem ser tomadas deliberações sobre assuntos que não sejammencionados com clareza na ordem do dia, a não ser que todos os sócios ou

seus representantes estejam presentes na reunião e nenhum deles se oponha a

que sobre isso se delibere " ; e no art.106º, nº2º, prescrevia-se que " a

convocatória deve mencionar com clareza os assuntos sobre os quais deve

recair a deliberação ". Não a incluindo o art.115º entre as causa da nulidade das

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recair a deliberação ". Não a incluindo o art.115º entre as causa da nulidade das

deliberações, a sanção para a violação daquela proibição era a anulabilidade

(18).

O art.78º do Projecto, na al.c) do seu nº1º (19), considerava anuláveis asdeliberações que não tenham sido precedidas do fornecimento ao sócio de

elementos mínimos de informação, dispondo o nº4º desse artigo que entre estes

se encontra a menção clara no aviso convocatório do assunto sobre o qual a

deliberação será tomada.

São estas, afinal, as determinações que se encontram no art.58º, nºs 1º, al.c), e

4º, al.a), CSC, cujo nº8º do art.377º, aqui aplicável por força do nº1º doart.248º, prescreve, como já notado, que o aviso convocatório deve mencionar

claramente o assunto sobre o qual a deliberação irá ser tomada.

3. A conformação, que vem do Projecto, dos chamados elementos mínimos de

informação não se reveste de novidade em relação ao direito anterior,

relativamente ao qual o Ac. STJ de 29/7/ 80, BMJ 299/378, doutrinava que,

embora sucinta, a convocatória tem de ser clara, por forma a, só por si,

elucidar, sem margem para dúvidas, os interessados sobre os assuntos que vãoser debatidos.

Citando legislação estrangeira e doutrina nacional e estrangeira, já também no

Ac. STJ de 20/10/77, BMJ 270/234-III e RLJ 111º/121 ss, se esclarecia que a

menção da ordem do dia na convocatória tem de fazer-se com clareza e

especificadamente, pois só desse modo os sócios convocados se podem

preparar para discutir os temas que vão ser versados e tomar as respectivasdeliberações.

Pretende-se, desta maneira, evitar que os sócios sejam colocados em

dificuldade ou inferioridade perante a discussão e votação de propostas que

tratem de assuntos não precisamente determinados na convocatória, por deles

não terem prévio conhecimento, como se impunha, na defesa dos seus legítimos

interesses.

Aos termos concretos, específicos, precisos da convocatória, sem a devida

concretização da qual se não pode preparar a discussão e votação das

propostas, se vinham de há muito referindo

vários outros arestos deste Tribunal (20) e, como já notado, a doutrina (21).

Só assim podendo os sócios preparar as posições a tomar em defesa dos seus

legítimos interesses e dos das próprias sociedades, a tradição ia, de facto, nosentido da exigência de uma menção cuidadosa dos assuntos a discutir, tal que

permitisse conhecer suficientemente o fim da reunião, para o sócio a ela poder ir

com pleno conhecimento do seu objecto, afastando a possibilidade de uma

menção feita de modo genérico ou incompleto (22).

Roque Laia, no seu clássico " Guia da Assembleia Geral ", 4ª ed., 170-171,

referia-se à "iniciação precisa e concreta dos assuntos que vão ser tratados nareunião, indispensável para que o sócio os possa estudar com tempo,

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reunião, indispensável para que o sócio os possa estudar com tempo,

habilitando-se, assim, a discutilos, mas também para evitar que seja tratado desurpresa qualquer assunto ( ... )"; escrevendo igualmente Moitinho de Almeida a

este propósito, em " Anulação e Suspensão de Deliberações Sociais " ( 1983 ),

61, não poder a AG ser uma " boîte à surprise ".

4. Trata-se, na verdade, de prescrição indispensável, uma vez que, como alerta

Vaz Serra (BMJ197/23), " a Assembleia Geral, que tradicionalmente é

considerada como órgão supremo da sociedade, não o é de facto, pois, narealidade, o poder não emana dela, mas de quem a domina ou dirige ".

Isto adiantado em termos gerais, vale, em concreto, a observação da Relação

de que a reestruturação de uma empresa pode envolver um sem número de

medidas e opções, de tal modo que - outrossim vaga a referência, na

convocatória, à "transmissão de activos" (23) - a ora recorrida não ficou em

condições de tomar posição sobre qualquer proposta concreta a apresentarpelo outro sócio na assembleia, como este, de facto, veio a apresentar:

devendo, em tais circunstâncias dar-se por incumprido o dever de prestar

informação adequada e em tempo útil à ora recorrida do que iria ser submetido

a discussão na assembleia geral convocada.

Devendo o objecto da deliberação a tomar ser preciso e constar claramente da

convocação (24), e sem dúvida alguma pouco clara a ordem do dia indicada na

convocatória, a anulabilidade, legitimamente arguida (nº1º do art.59º), dadeliberação em crise não sofre dúvida séria; nomeadamente desmerecendo

consideração, porque sem base razoável, a tese de que a deficiência da

convocação arguida se encontraria sanada pela oferta referida em B), (20),

supra, e de que, não aceite essa oferta, a invocação daquela irregularidade

constituiria abuso de direito, na modalidade do venire contra factum proprium.

Deliberadamente ocultada à A. a intenção do trespasse tido em vista e asrespectivas condições ( v. B), ( 17 ), supra ), e mais salientado, nesse contexto,

que, consoante arts.248º, nº1º, 263º, nº1º, e 289º, nº 1º, al.c), o direito à

informação preparatória das assembleias gerais inclui o da consulta, na sede

social, das propostas de deliberação a apresentar pelo órgão de administração,

bem como os relatórios ou justificação que as devam acompanhar (25), não se

vê como deixar de acompanhar, nesta parte também, a decisão das instâncias

(26), dando por irrecusável a insuficiência da especificação da ordem do diaconstante da convocatória face à fundamental finalidade de clara e completa

informação que a lei visa assegurar. Como assim :

4ª questão : Das deliberações abusivas ( vício de conteúdo ) :

1. É já, de facto, em relação à pretensão indemnizatória endereçada, ao abrigo

do nº3º do art. 58º, ao ora recorrente que vem a colocar-se, a título principal, a

questão - residual, em regra, nas acções de anulação de deliberação social (27)- de saber se se está, efectivamente, ou não, perante deliberação abusiva, na

definição que, tornando desnecessário o recurso à cláusula geral do abuso de

direito (28), de tal dá a al.b) do nº1º desse mesmo artigo.

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Como a disjuntiva "ou" revela, perfilam-se nessa alínea duas hipóteses distintas.

A 1ª é a de - mesmo quando isenta de dúvida a sua regularidade formal - a

deliberação ser apropriada para satisfazer o propósito de um dos sócios de

conseguir, através do exercício do direito de voto :

( a ) - vantagens especiais (29) para si ou para terceiros,

( b ) - em prejuízo da sociedade ou de outros sócios (30).

A 2ª, referida na parte final da mesma al.b), é a de tratar-se de deliberação

apropriada para satisfazer o propósito de um dos sócios de, simplesmente,prejudicar a sociedade ou outros sócios.

Prevenido deste jeito exercício abusivo do direito de voto em termos de

configurar acto (pura e simplesmente ) emulativo, a parte final dessa alínea,

relativa às deliberações emulativas, exceptua, naturalmente, o caso de um tal

abuso do direito de voto se revelar inócuo, isto é, de provar-se que a

deliberação em causa teria sido tomada mesmo sem os votos abusivos.

2. É claro não ser a mera desproporção das quotas que determina, sem mais,

anulabilidade fundada em abuso do direito de voto (31).

Em qualquer das hipóteses referidas, a anulabilidade não resulta de específica

infracção de alguma(s) disposição(ões) legal(is) ou estatutária(s), mas dadesconformidade ou discrepância entre a deliberação e "as exigências de

equilíbrio no uso de poderes jurídicos e de respeito pela materialidade daregulamentação normativa que o sistema jurídico, enquanto tal, corporiza".

Prevenido por este modo o desrespeito da intencionalidade material subjacenteàs normas legais e estatutárias, obvia-se, por esta forma, em último termo, à

assim revelada disfuncionalidade da deliberação abusiva, em vista,nomeadamente, do fundamental princípio da boa fé, que " implica a fidelidade

de cada um dos sócios aos interesses da sociedade e aos interesses sociais dosoutros sócios, e assim prescreve a abstenção dos comportamentos lesivos

desses interesses".

Entendido o interesse social como aquele para cuja satisfação os sóciosfundaram a sociedade e que, por isso, se vincularam, desde então, a prosseguir,a feição essencialmente objectiva deste - fundamental - princípio da boa fé

permite atalhar a situações de iniquidade deixadas a descoberto quando nãoexistir, ou não se conseguir provar, o pressuposto subjectivo do dolo que a al.b)

do nº1º do art.58º exige, ao requerer o propósito de conseguir vantagensespeciais ou de prejudicar (32).

3. É, a esta luz, manifesto não poder, contra o que os recorrentes pretendem(33), cindir-se o quadro negocial apurado - a dupla ligação contratual e

societária denotada em B), (1) a (3), supra, voltando costas ao primordial "Contrato de uso de insígnia ", a fls.40 a 95 dos autos, re ferido em B.,( 1 ).

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Contrato de uso de insígnia ", a fls.40 a 95 dos autos, re ferido em B.,( 1 ).

Trata-se, na verdade, de contrato atípico ( isto é, sem regulamentação legal

específica (34)) de cooperação ( colaboração ) comercial, com almejado - mas,pelos vistos, não alcançado (v.B)., ( 4 ), supra ) - " mutual financial benefit ",

que não há, de facto, que hesitar em classificar como contrato de franquia dedistribuição (35).

Limitando-se, nessa modalidade, o franquiado ( franchisee ), neste caso, asociedade licencia da, a vender certos produtos em estabelecimento em que é

usada a insígnia do franquiador (franchisor), cabe, inclusivamente, fazer notarque o contrato de franquia é um contrato informal ( v. art.219º C.Civ.).

Desenvolvimento do contrato de concessão comercial (36), de difícil definiçãopor incluir situações bastante diferentes, pode como tal dizer-se o contrato pelo

qual o franquiador - por norma uma empresa com sucesso comprovado -concede, mediante a retribuição (royalties) ou contrapartidas financeiras

estipuladas, ao franquiado o direito de explorar, dentro de certa área, algum (ou alguns ) sinal(is) distintivos de comércio (licença de marca, concessão do uso

do nome ou de insígnia comercial ), e de utilizar os seus métodos de gestão,processos de fabrico, e técnicas empresariais ( transmissão de know how ),propiciando assim, de par com o benefício do reconhecimento no mercado que

a sua imagem assegura (37), o da sua experiência e organização empresarial

Inicialmente traduzido, essencialmente, na licença de utilização de uma marca eno fornecimento de meios para a sua comercialização (38), o franchising

desenvolveu-se depois como "uma forma de fazer negócio em parceria",integrando o estabelecimento do franquiado - todavia comerciante autónomo(39) - a rede do franquiador (40).

Essa, enfim, a forma de comércio - com uma duração inicial prevista de 10 anos

- que o aludido contrato organiza entre licenciadora e licenciada, o nomen queos outorgantes lhe atribuíram dá a parte, que é a concessão da utilização da

insígnia do franquiador, pelo todo que transparece das suas disposições (41).

4. Como Menezes Cordeiro faz notar (42), na denominada sociedade de

consumo, a franquia permite constituir redes internacionais destinadas a oferecerbens e serviços, devidamente promovidos e publicitados, com garantia de

segurança e qualidade, na base de pequenas unidades independentes.

É, a esta luz, inarredável estar-se perante caso em que a sociedade franquiadoradetém participação ( quota ) no capital da sociedade franquiada, conjugando-se

uma franquia de distribuição com participação da sociedade franquiadora nocapital da sociedade franquiada.

Celebrados, na hipótese ocorrente, dois contratos, a instrumentalidade dosegundo, de sociedade, relativamente ao primeiro, de franquia, é manifesta.

É neste quadro ou contexto que vem a lume o dever de boa fé que, no âmbito

da tutela da confiança, o nº2º do art.762º C.Civ. comete às partes em qualquer

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da tutela da confiança, o nº2º do art.762º C.Civ. comete às partes em qualquer

contrato, obrigando-as, na perspectiva da primazia da materialidade subjacente

(43), a cumprir todos os deveres de lealdade e informação que no caso caibam,em ordem à devida prossecução, em termos efectivos, dos objectivos do pactoou convénio outorgado (44).

A al.b) do nº1º do art.58º constitui, precisamente, manifestação da proibição,

conatural ao dever de lealdade dos sócios ( Treuepflicht ) (45), de que qualquerdeles actue de modo incompatível com o interesse social, isto é, com o interesse

comum a todos, enquanto tais, ou com os interesses dos outros sóciosrelacionados com a sociedade; dever esse que se concretiza inclusivamente node promoção do interesse social, mais intenso, até, para os sócios maioritários

(46).

Vista a sociedade como uma organização ordenada à prossecução de finscomuns, o interesse social é o que corresponde aos interesses efectivamente

comuns a todos os sócios no momento da aquisição dessa qualidade - o que, deóbvio modo, remete para o constante de B), (2 ), supra - e que perduraenquanto não for modificado o vínculo em que se baseia (47).

Destarte vedado o sacrifício dos interesses dos sócios minoritários quando tal

contrarie a boa fé, é, designadamente, dever do sócio maioritário, de controloou dominante não transmitir a sua participação social a terceiro que pretenda

adquirir o controlo da sociedade para a liquidar ou substituir por sociedade porsi controlada (48). Ora:

Manifesta-se, neste caso, não apenas desrespeito grosseiro de contrato intuitupersonae, como é o contrato de franquia (49), a que o trespasse em questão, ao

fim e ao cabo, põe termo por forma anómala (50), mas o correlativomenosprezo do interesse da sociedade constituída em vista desse contrato, com

participação da sociedade franquiadora no capital da sociedade franquiada.

O ora recorrente sobrepôs, de óbvio modo, o seu interesse pessoal ao interesse

social comum, causando, com o trespasse aprovado, a perda para a sóciafranquiadora de unidade da ré de respectiva, que assegurava o contacto com os

clientes na área correspondente, deixando, assim, de ter assegurado o seuacesso a esse mercado.

É, enfim, manifesta a desarmonia entre o objectivo da deliberação anulanda e ofim social da ora recorrente, e que essa deliberação não foi orientada pelo

interesse social mas sim ditada pelo interesse próprio do sócio maioritário,contrário ao interesse comum e ao que a ora recorrida se propôs alcançar

através da actividade da sociedade que constituiu com ele (51). Como notafinal:

5. Comum a inserção nos contratos de franquia de um cláusula que proíbe o

trespasse do estabelecimento do franquiado, convencionou-se, no caso dosautos, um direito de preferência na cessão de quotas e na venda de activos -v.B), ( 24 ), supra.

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Considerou-se já, mesmo, que, aplicável o disposto no art.424º C.Civ. à

posição do franquia do no contrato de franquia, e sem ela intransmissível oestabelecimento, nem a transmissão deste será normal e naturalmente possível

sem o consentimento do franquiador (52).

Óbvio, de todo o modo, é que o ora recorrente, sócio maioritário, visandolivrar-se de estabelecimento e de sociedade de franquia que, contrariando asexpectativas das partes, dava, afinal, prejuízo, - mas tal assim com, ao menos

aparentemente, largo retorno do investimento inicial al no breve prazo de 2 ou 3anos -, pretendeu, afinal, alcançar um proveito próprio significativo em

detrimento do interesse social - comum aos sócios, enquanto tais - da sociedadeconstituída com a ora recorrida, baseada naquela mesma franquia que ora

persiste em tentar, por assim dizer, " relegar para as trevas exteriores ".

Sobrepondo o seu interesse pessoal ao próprio - comum - dessa sociedade,

com o comprometimento do objecto social desta última notado no acórdãorecorrido, o ora recorrente abusou do seu direito de voto e da sua posição

maioritária.

Adiantado, deste jeito, o desenvolvimento possível da análise efectuada nodouto acórdão sob revista, resulta claro que também neste ponto não assisteaos recorrentes razão alguma.

Ali, na verdade, se fez notar, com inteira clareza, que a boa fé impunha que se

honrassem os compromissos assumidos para com a ora recorrida antes e depoisda constituição da ora recorrente - cujo escopo era, irrecusavelmente,

consoante B), ( 2 ), supra, a execução da franquia - e que justificaram aaquisição pela licenciadora do estatuto de sócia ; que tal não sucedeu, vindoesta a ver-se confrontada, afinal, não apenas com a privação de posto de venda

integrante da sua rede de distribuição, mas, até, - o que em pior redunda - coma perda do estabelecimento franquiado para rede concorrente ; assim se

causando prejuízo notório à posição da sociedade franquiadora na sociedadefranquiada, não mensurável pelo valor da quota respectiva (fls.34 do acórdão

sob recurso; fls.840 dos autos).

É a tal que não pode, realmente, conceder-se beneplácito, desde que deixou de

constituir mistério.

Chega-se, por este modo, à seguinte

D) - Decisão :

Nega-se a revista.

Custas pelos recorrentes.

Lisboa, 27 de Junho de 2002

Oliveira Barros

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Oliveira Barros

Diogo FernandesMiranda Gusmão-------------------------------------

(1) V. fls.36. Essa estipulação do pacto social constante do documentocomplementar, elaborado nos termos do nº2º do art.78º C.Not., anexo à

escritura de constituição da sociedade, de que faz parte integrante, obriga àconvocação das assembleias gerais com um pré-aviso mínimo de 15 dias, que a

1ª instância aproximou da antecedência mínima exigida pelo nº3º do art.248ºCSC ; antecedência essa que, com referência a ARP de 25/1/96, CJ, XXI, 1º,

208 ( ss; não 108 ), julgou respeitada, uma vez que, tratando-se de prazocontínuo, que se conta desde a expedição da carta, mas com exclusão do dia daexpedição, apesar de ela só ter sido recebida no dia 29, foi expedida em 24/4/

96, tendo a AG em questão tido lugar em 9/5/96. Como faz notar PupoCorreia, " Direito Comercial " ( 1999 ), 551, são os sócios que correm o risco

de eventual atraso dos correios. Essa decisão transitou em julgado. Vale, porisso, por obiter dictum apenas notar ter-se salientado no aresto mencionado (

Col., ano, e vol. cits., 212, 2ª col., 4.) , com apoio na lição de Raúl Ventura, "Sociedades por Quotas ", II, 197, que o prazo aludido se conta por dias inteiros; pelo que, em contrário do decidido, não foi observada a antecedência devida.

Sobra, é certo, o disposto no art.224º, nº2º, C.Civ. - cfr.B), (10) a (12), infra,para eventual justificação bastante do trânsito da decisão referida, tida ainda em

conta a doutrina de ARL de 22/11/90, CJ, XV, 5º, 211- I e II. (2) Norma geral relativa à obrigação de informação.

(3) Cfr. arts.16º e 25º do DL 329-A/95, de 12/12.(4) Dado ocorrer cumulação ilegal desse pedido, em vista dos arts.31º, 460º,nº2º, 470º, e 1479º ss CPC ( v. também arts.216º e 292º CSC ). Uma vez que

se trata de excepção dilatória ( v. Reis, " Comentário ", 2º, 390 e 394, eAnselmo de Castro," Direito Processual Civil Declaratório ", II, nº 50, 235 e

236 ), devia ter sido absolvição da instância. (5) V. Antunes Varela, RLJ 129º/51. Indicam-se entre parênteses as

correspondentes alíneas da especificação e artigos do questionário.(6) V. nota 2.(7) Cfr., v.g., ARP de 13/10/76, BMJ 262/190-II, e ARC de 24/5/88, BMJ

377/562-1º-II.(8) Como esclarecido no douto acórdão recorrido, entendido no domínio do

direito anterior ser possível a cumulação dos pedidos de anulação dedeliberação social e de ressarcimento dos danos patrimoniais e não patrimoniais

por ela causados, dirigido, este último, contra os sócios que a votaram ( Ac.STJ de 27/2/62, BMJ 119/399, Moitinho de Almeida, " Anulação e Suspensãodas Deliberações Sociais ", 1ª ed., 51 ), é a tal que o art. 58º, nº3º, CSC

actualmente conduz quando em causa deliberações abusivas ( Moitinho deAlmeida, ob.cit., 2ª ed., 67, 3ª ed. ( 1996 ), 76, e Pinto Furtado, " Deliberações

dos Sócios", 515 ). (9) V. Lopes Cardoso, " Manual dos Incidentes da Instância ", 2ª ed.( 1965 ),

nº94., 192 ss. (10) Integrado na Secção III do Capítulo II do Título IV, subordinada à rubrica" Direito à Informação ".

(11) A sentença proferida nestes autos cita, a este propósito, Carlos MariaPinheiro Torres, " O Direito à Informação nas Sociedades Comerciais " (1998),

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Pinheiro Torres, " O Direito à Informação nas Sociedades Comerciais " (1998),

284. (12) V. Brito Correia, " Direito Comercial ", 3º ( 1995 ), 303 e nota 51, com a

aí mencionada doutrina e jurisprudência.(13) Cunha Gonçalves, " Comentário ao Código Comercial ", 1º, 451. Retirado

este discurso ( então provavelmente extraído de jurisprudência publicada ) desentença de 29/5/87 proferida no Proc.nº5164/A/87 (suspensão dedeliberações sociais ) da 3ª Secção do 3º Juízo Cível do Porto, encontra-se

coincidentemente desenvolvido na citada monografia de Carlos Maria PinheiroTorres, 259 e 260.

(14) Santos Lourenço, " Das Sociedades por Quotas ", 2º, 86.(15) V. BMJ 197/45 e 135.

(16) Revista de Direito e Economia ( RDE ), ano II (1976 ), 443 ss(17) Transcrito no BMJ 354/578, anotação 2.

(18) Vaz Serra, RLJ, 111º/126.(19) BMJ 327/99. V. sobre esse art.78º, nº1º, Lobo Xavier, RLJ 118º/201 e202.

(20) V., v.g., Ac.STJ de 17/2/70, BMJ 194/247, e de 4/2/72, BMJ 214/275 ;e os mais mencionados na monografia de Carlos Maria Pinheiro Torres, já

referida, 258, nota 18.(21) Ver, nomeadamente, a citada por Abílio Neto, " Sociedades por Quotas -

Notas e Comentários " ( 1977 ), 316-317.(22) V. estudo copiografado do CEJ, " I - O Direito do Sócio à Informação ; II- A falta de informação do sócio como fundamento da anulabilidade das

deliberações sociais ", 38. (23) Quando em geral bem conhecida, afinal, a comum noção de trespasse,

enquanto, por antonomásia, venda do estabelecimento - v. ARP de 19/1/93,CJ, XVIII, 1º, 203-2.-203.

(24) Ac.STJ de 20/12/74, BMJ 242/328. (25) V. ARE de 4/6/92, BMJ 418/892-1º. (26) Cabe fazer notar que o que ora está em recurso é o acórdão da Relação,

outrossim sujeito, quanto à antecedência da convocatória, ao disposto noart.684º, nº4º, CPC, e não já a sentença da 1ª instância, com que os

recorrentes - pois tal lhe chamam - aparente mas repetidamente o confundem naalegação respectiva. Cfr., nomeadamente, nºs 68. a 70., 77., 84., 106., e 118, e

conclusões correspondentes, mormente B.4. 14., da alegação da recorrente, eart.156º, nºs 2º e 3º, CPC. (27) Como notado na RT, 90º/357-II.

(28) Como salienta Lobo Xavier, " Invalidade e ineficácia das deliberações noProjecto de Código das Sociedades ", RLJ 118º/203. Em breve

desenvolvimento : contestável, como, antes do CSC, considerava Manuel deAndrade, em " Sobre a validade da cláusula de liquida liquidação de quotas

sociais pelo último balanço ", RLJ, 87º/305 a 308, que " a doutrina geral doabuso de direito ( só ) seria aplicável às deliberações sociais se fosse necessáriorecorrer a ela " e " que não há necessidade disso porque há um texto legal que "

expressamente " considera e resolve o problema das deliberações sociaisabusivas " - tese de Rivero Martins de Carvalho, em "Deliberações sociais

abusivas" (1952), separata dos Anais do ISCEF ( Instituto Superior de CiênciasEconómicas e Financeiras; 20 anos depois, ISE - Instituto Superior de

Economia ), XX, 1º, 36 ss, reportada ao art.39º LSPQ ( Lei das Sociedades

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Economia ), XX, 1º, 36 ss, reportada ao art.39º LSPQ ( Lei das Sociedades

des por Quotas - Lei de 11 de Abril de 1901) -, a questão do abuso do direito

de voto, mormente do abuso de maioria, era, precisamente, solucionada entrenós com recurso à doutrina geral do abuso de direito, como, nomeadamente,notado por Vaz Serra, BMJ 85/327, nota 151, e RLJ, 106º/116 -3. ( e nota ) a

119, 107º/6 (2.) e 7, 108º/245 e 246, e 113º/7-14. Referidas por este mestreas soluções do direito alemão, italiano e francês a este respeito, e porventura

baseada já também na primeira a lição de Ferrer Correia, " Lições de DireitoComercial ", ed. Lex ( reprint ), 406, o art.58º, nº1º, al.b) CSC, foi inspirado

pelo § 243-II ( al.2 ), da AktG 1965 (Aktiengesetz, Lei alemã das sociedadespor acções, de 1965), afigurando-se difícil negar actualmente a pertinência dasobservações acima grifadas, transcritas entre aspas. Com tal, por outro lado, se

não coadunando a notação subjectivista expressa na al.b) do nº1º do art.58ºCSC, salientada em Ac.STJ de 7/1/93, BMJ 423/539-VI, bem, de todo o

modo, se não vê que efectivo prejuízo sofra, - na sua consabida natureza deextrema ratio ( desnecessária, como se verá, neste caso ) -, a cláusula geral

estabelecida no art. 334º C.Civ. para que, neste âmbito apelam ainda PintoFurtado, em " Deliberações dos Sócios ", 395 ss, e, na sua esteira, ARP de

17/6/97, CJ, XXII, 3º, 220-III e 223, 2ª col., e de 13/4/99, CJSTJ, XXIV, 2º,196 ss, com discurso paralelo ao de ARE de 5/6/95, CJ, XX, 3º, 286 ( de quesempre, em todo o caso, cabe aceitar o ponto II do sumário ). Esta é, na

realidade, a nosso ver, questão, em bom rigor, melhor situada actualmente naestrita - específica - perspectiva do interesse social, já notada por Coutinho de

Abreu, "Do Abuso de Direito" ( 1983 ), 136, e desenvolvida no estudomonográfico de Maria Regina Gomes Redinha subordinado ao título "

Deliberações sociais abusivas ", publicado na Revista de Direito e Economia(RDE), anos X-XI (1984/85), 200 ss ( v. 208 ss ) ( citada, este última, porCarneiro da Frada, em nota, no estudo (conferência ) mencionado na nota 32 ).

Referem-se expressamente a esse interesse os arts.64º, 328º, nº2º, al.c), e460º, nº2º, CSC.

(29) Isto é, proveito ou benefício próprio, ou de terceiro, não partilhado portodos os sócios em igualdade de condições ( v. Maria Regina Gomes Redinha,

estudo, rev. e ano cits, 217 ). (30) Sobre os assim coenvolvidos pressupostos subjectivo e objectivo, v.Coutinho de Abreu, ob.cit., 124. Bastando, como nota, o dolo eventual, o

requisito subjectivo consiste na intenção de alcançar vantagem que causeprejuízo à sociedade ou aos outros sócios ( enquanto tais ) - v. Maria Regina

Gomes Redinha, estudo, rev. e ano cits, 212. Como assim, não será exigívelpara a anulação da deliberação abusiva prova directa desse elemento subjectivo

( intencional ), bastando a prova da adequação da mesma à obtenção duma talvantagem de sócio(s) com correlativo prejuízo doutro(s) - v. Brito Correia, "Direito Comercial ", 3º (1995 ), 339 ss, maxime, 342, e Pereira de Almeida, "

Sociedades Comerciais ", 2ª ed., 98 e 99.(31) ARC de 2/12/92, CJ, XVII, 5º, 69-IV.

(32) Seguiu-se, nesta parte, a exposição de Carneiro da Frada, " Deliberaçõessociais inválidas ", na obra colectiva

" Novas Perspectivas do Direito Comercial ", 322 e 323 ; notando, ainda, comVaz Serra ( BMJ 85/226 ) que " onde de for aplicável o dever de boa fé ateoria do abuso de direito não adianta nada ".

(33) Et pour cause, como se verá, já desde a contestação : v. artigos 14º a 23º

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(33) Et pour cause, como se verá, já desde a contestação : v. artigos 14º a 23º

da ora recorrente.

(34) Considerando-o, com referência ao Regulamento ( CEE ), da Comissãodas Comunidades Europeias, nº4087/ 88, de 30/11, que transcreve a pp. 141

ss, não apenas socialmente, mas também juridicamente típico, v. Ana PaulaRibeiro, " O Contrato de Franquia (Franchising ) no Direito Interno e

Internacional ", Tempus Editores, s/ data, 65.(35) V. Menezes Cordeiro, " Do contrato de franquia ", ROA, ano 48 ( Abrilde 1988 ), 63 ss (maxime, 67, quanto à definição, ao diante no texto, desse

contrato ; 69, quanto à de franquia de distribuição ; e 76 e 77, no que respeitaaos direitos e deveres das partes ) ; Carlos Olavo, " O Contrato de Franchising

", na obra colectiva " Novas Perspectivas do Direito Comercial " ( 1988 ), 159ss, Maria Helena Brito, " O Contrato de Concessão Comercial " ( 1990 ), 16

ss, e Pedro Romano Martinez, " Contratos em Especial " ( 1995 ), 148 e 149,citados, todos, no acórdão sob revista. V.,bem assim Sebastião Pizarro eMargarida Calisto," Contratos Financeiros " ( 1995 ), 111 ss. Em melhor

desenvolvimento, v. as monografias de Ana Paula Ribeiro, referida na notaanterior, e de Pestana de Vasconcelos, "O Contrato de Franquia (Franchising)"

(2000) (nomeadamente, 22 quanto à franquia de distribuição, e 23, quanto aoselementos deste contrato).

(36) Pinto Monteiro, " Contratos de agência, de concessão e de franquia(franchising ) ", em Estudos em Homenagem ao Prof.Dr.Eduardo Correia, III (

1984 ), 320-9. V. sobre a noção, vantagens e modalidades da franquia,idem,322-10,, ss. (37) Como faz notar Pinto Monteiro, texto cit, 321, citado por Pestana de

Vasconcelos, ob.cit., 13, o franquiado actua com a " imagem empresarial " dofranquiador.

(38) Assim concebido no início do século, o franchising , na sua formatradicional, dita de marca ou de produto, desenvolveu-se, como método de

distribuição de produtos , nos anos 30, na indústria automóvel, nos EUA, ealcançou, nesse país, larga expansão a partir do final da 2ª Grande Guerra. É osistema adoptado até hoje pelas empresas petrolíferas, construtoras de

automóveis, e engarrafadoras de bebidas. Nas décadas de 50 e 60, divulgou-senovo modelo, conhecido como business format franchise, adoptado pelas

cadeias de fast food ( Mc Donald's, Pizza Hut, Kentucky's Fried Chicken ), eque é o responsável pela notoriedade desta forma de negócio, que permite uma

expansão mais rápida do negócio com uso menos intensivo de capital. NosEUA, abrange actualmente 41% das vendas a retalho, em, aproximadamente,500000 estabelecimentos, empregando 8000000 de trabalhadores: números

extraídos, como o mais nesta nota, do caderno da série " Dossiers Promocionais" relativo a esse tema que fez parte da edição do semanário " Expresso ",

nº1304, de 25/10/97, p.8. Nesta segunda modalidade, o franquiador obriga-sea apoiar o franquiado desde o arranque do negócio, em todas as suas fases, e

durante toda a existência do estabelecimento, cobrindo essa assistência " osmais variados aspectos da actividade : marketing, comercialização, recursoshumanos, gestão operacional, gestão financeira, etc." ( caderno cit., 9 ). Há, em

suma, uma " transferência global do know how acumulado pelo franchisador e ocontrolo da sua aplicação ". Introduzido este sistema na Europa nos anos 70, foi

após a entrada, em 1986, na CEE, que, no final da década de 80, se deu a 1ªfase de instalação em Portugal de empresas franquiadoras, quase todas

Page 19: Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça ... · Texto Integral: S Privacidade: 1 ... registo da Ré na Conservatória do Registo Comercial de Oliveira do Bairro, a

fase de instalação em Portugal de empresas franquiadoras, quase todas

estrangeiras. O franchising alcançou expansão entre nós no início da década de90, com a entrada de alguns dos mais tradicionais franquiadores internacionais,

com especial ênfase no sector da fast food. O boom do franchising no nossopaís só, no entanto, ocorreu em meados dessa década. Nomeadamente, " em1996 iniciaram a sua actividade 55 novos franchisadores. Actualmente existem

em Portugal cerca de 200 empresas franchisadoras com mais de 2000 unidades( estabelecimentos ) a operar. Das marcas instaladas, 78% são de origem

estrangeira. "- dados reportados a Outubro de 1997. Sobre a recíprocavantagem tida em vista, v. Ana Paula Ribeiro, ob.cit., 22 ss.

(39) V. Pestana de Vasconcelos, ob.cit., 116. (40) O resultado da prova traduzido em B), ( 1 ), supra, dispensa,inclusivamente a desconsideração da personalidade de jurídica (autónoma) da

sociedade demandada aventada nos autos. V., v.g., a este respeito, PedroCordeiro, " Desconsideração da personalidade jurídica das sociedades

comerciais ", em " Novas Perspectivas do Direito Comercial ", 289 ss, BritoCorreia, " Direito Comercial ", 2º vol. ( 1989 ), 237 a 245, Oliveira Ascensão, "

Direito Comercial ", IV (1997), 57 ss, Pupo Correia, " Direito Comercial ",475. (41) Contractus non ex nomine sed ex re legem accipiunt. Com valor de lei, v. o

Regulamento referido na nota 35.(42) Loc.cit., 74.

(43) Cabe ainda a referência ao Direito como, na expressão de Heck, " serviçoda vida " adiantada por Pinto Monteiro a abrir a conferência citada na nota 37.

Manifesta-se, com efeito, ser este, a todas as luzes, caso exemplar no que tangeao imperativo da prevalência duma jurisprudência dos interesses

(Interessenjurisprudenz) sobre eventualmente desprevenida consideração formaldos dois distintos, bem que sucessivos, contratos aludidos, precedendo ocontrato de franquia o não apenas subsequente, mas, de óbvio modo,

consequente, de sociedade. Isto notado com o risco assumido de arrombarporta aberta, com a desnecessária expressão de uma evidência.

(44) V. Menezes Cordeiro, loc.cit., 82-III-83.(45) À letra, dever de fidelidade. Como, sem mais, traduzem os espanhóis :

deber de fidelidad. Obligo di fedeltà - ou, elucidativamente - di corretezza (dever de correcção ou de correcto comportamento) dizem os italianos. Segue-se aqui a lição de Coutinho de Abreu, " Curso de Direito Comercial ", II " Das

Sociedades ", ( 2002 ), 303 a 305. (46) Idem, 308 e 309.

(47) Brito Correia, " Direito Comercial ", 2º vol., 51 ss ( v. 53), e Pereira deAlmeida, " Sociedades Comerciais ", 2ª ed., 44 a 46 e 81.

(48) Coutinho de Abreu, ob. e vol.cits., 307.(49) V. Sebastião Pizarro e Margarida Calisto, ob.cit., 117.(50) Sobre as formas de cessação do contrato de franquia, v. Pestana de

Vasconcelos, ob.cit., 73 ss. Está-se, ao fim e ao cabo, aqui, perante resoluçãotácita e por isso mesmo não motivada do contrato de franquia.

(51) V., clássico, Ac.STJ de 21/11/72, BMJ 221/253-II.(52) Pestana de Vasconcelos, ob.cit., 117 ss.