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1 Acesso e Evasão na Educação Básica: as perspectivas população de baixa renda no Brasil Armando Simões

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Acesso e Evasão na Educação Básica: as perspectivas população de baixa

renda no Brasil

Armando Simões

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SumárioAcesso à Educação

• O conceito de acesso à educação.

• Até onde alcança o jovem de baixa renda?

• Desigualdades no acesso.

• Perspectivas de longo prazo (metas do PNE).

Evasão Escolar

• Identificando a evasão com base na PNAD.

• Em que fase do ciclo escolar ela ocorre?

• Tendências da evasão na última década.

• Fatores determinantes.

• Políticas de combate à evasão.

3

O conceito de acesso à educação.

• Acesso como “porta de entrada”– Juscelino Kubitschek (1956)

– As poli=cas de acesso → indicador: taxa de escolarização da população em idade escolar obrigatória.

• De 7 a 10 anos de 1934 até 1971

• De 7 a 14 entre 1971 e 2009 (Emenda nº 59/2009)

• De 4 a 17 a partir de 2009 (até 2016 para efetivar).

– Expansão rápida a partir dos anos 60:50% (1960) → 80% (1973)

• 13 anos: 30 p.p.

– Segue-se um período de estagnação até 1984 (81%)

– A partir de meados dos anos 80 volta a crescer:81% (1984) → 97% (2002 )

• 18 anos: 16 p.p.

– 2012: 98,5%

4

• Para Lewin (2007) acesso à escola tem pouco significado senão resultar em:

i) Matrícula e frequência regular

ii) Progressão nos anos escolares nas idades apropriadas

iii) Aprendizagem significativa e que tenha utilidade

iv) Chances reais de transição para o nível médio

v) Mais, ao invés de menos, oportunidades educacionais para as crianças e jovens de baixa renda, com menos variação de qualidade entre as escolas.

• Acesso, portanto, implica em que todas as crianças e jovens tenham não só o direito assegurado à matrícula na idade própria, mas também o direito de

concluírem a escola básica na idade própria, com níveis de aprendizagem adequados.

• É preciso avaliar o acesso pela “porta de saída”.

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Variáveis usando a PNAD

• Foi construída uma variável de acesso (dummy) usando variáveis da PNAD que incluem informações:

- Se o indivíduo frequenta ou não a escola;

- Se frequenta, em que nível, etapa e série da educação formal está matriculado;

- Se não frequenta, qual o último nível, etapa e série em que se matriculou.

• Ex.: a variável EM3=1 se o indivíduo teve acesso ao último ano do Ensino Médio independente de estar na escola ou não.

• Usando-se o complementar da taxa de acesso entre os que não estudam obtém-se a proporção de jovens que está fora da escola sem ter concluído

a escola básica.– Ex.: Taxa de acesso ao EM3 para os jovens de 19 anos que estão fora da escola for de

55% então 45% deles evadiram antes de atingir o fim da escola básica.

• A taxa de evasão é obtida multiplicando [Prop.EM3=0]x[Prop.Não_Estuda]– Proporção dos que deixaram a escola antes de alcançar o final da escola básica.

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Até onde alcança o jovem de baixa renda?“Curvas de Acesso”

7

Os que não atingiram, ainda estão na escola? Em que nível?

No 1º quintil de renda 66% deles não chegou ao final do EM e 65% já estava fora da escola, então a porcentagem dos que evadiram é de 43%.

Na média nacional a taxa dos que evadiram é de 29%.

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Há diferença entre BF e Não BF?

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Qual o % que evadiu?

39%

42%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

Não BF BF

Proporção de jovens de 19 anos (1ºQ) que evadiram da escola sem concluir o EM segundo a participação estimada no BF

(PNAD 2012).

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%

15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29Ano

BF Não BF

Fonte:PNAD 2012

por participação estimada no BF (1oQ de Renda)/ Brasil 2012

Proporção de crianças e jovens de 15 a 29 anos que haviam evadido da escola antes de concluir a Escola Básica

12

99% 99%95%

90%

82%

70%

62%

53%

38%

30%

25%

99% 98% 97%93%

87%

81%

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68%

56%

50%

44%

100% 99% 98%96%

90%

84%

79%

73%

59%

46%

34%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

EF1 EF2 EF3 EF4 EF5 EF6 EF7 EF8 EM1 EM2 EM3

Proporção de Jovens (24 anos) que alcançaram os anos escolares da educação básica -1o quintil de renda familiar per capita segundo a condição de beneficiário do BF

(PNAD 2012) - BRASIL

1oQ - BF

1oQ - Não BF

19 anos-1oQ - BF

Notas:1) Somente casos válidos.2) Signif. diferentes em vermelho

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30

35

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50

55

%

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012Ano

1ºQ. 5ºQ

Fonte:PNAD

1o e 5o Quintiis de Renda / Brasil 2001-2012

Proporção dos jovens de 19 anos que haviam evadido da escola antes de concluir o Ensino Médio

Tendências da evasão na última década.

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Em que fase do ciclo escolar ocorre a evasão?

Como se distribui a evasão no ciclo escolar:7% durante o 1º ciclo do EF9% na transição para o 2º ciclo do EF37% durante o 2º ciclo do EF25% na transição para o EM22% durante o EM100%

15

Evolução do acesso aos anos escolares na última década.

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Meta 3: universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 (quinze) a

17 (dezessete) anos e elevar, até o final do período de vigência deste PNE, a taxa líquida de

matrículas no ensino médio para 85% (oitenta e cinco por cento).

Perspectivas de longo prazo (metas do PNE).

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37%40%

43%45% 46%

48% 49%51% 52% 52%

55%

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32%

37%40%

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94% 94%96% 96%

94%96%

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0%

10%

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100%

TAXA LÍQUIDA DE MATRÍCULA NO ENSINO MÉDIO (15-17 ANOS)1o e 5o quintis de renda familiar per capita (2001-2022) - BRASIL

15-17 anos

15-17 anos 1oQ

15-17 anos 5oQ

Meta 2022

Linear (15-17 anos)

Linear (15-17 anos 1oQ)

Linear (15-17 anos 5oQ)

Fonte: PNAD/IBGENotas: Somente casos válidos.Sem área rural da região Norte.

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41%43% 45%

48%49%

53% 53%57% 58%

60% 59%

13% 12%15% 17% 18%

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29%

41%

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84% 85% 86%89%

87% 87% 88% 87%89%

90%

0%

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20%

30%

40%

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90%

100%

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Proporção de Jovens (19 anos) que alcançaram o 3o ANO do ENSINO MÉDIO 1o e 5o quintis de renda familiar per capita (2001-2022) - BRASIL

19 anos19 anos 1oQ19 anos 5oQMeta 2022Linear (19 anos)Linear (19 anos 1oQ)

Fonte: PNAD/IBGENotas: Somente casos válidos.Sem área rural da região Norte.

(Meta do Todos pela Educação)

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• Rumberger (1983):

a evasão escolar é meramente a última fase de um processo dinâmico, cumulativo e multidimensional de desengajamento (in K. de Witte et al 2013)

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(K. De Witte et al./Educational Research Review 10 (2013) 13-28)

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Determinantes da Evasão Escolar

• O fator de maior influência isolada (e de consenso) sobre a evasão escolar com registro na literatura é a reprovação/repetência.– A reprovação/repetência gera distorção série-idade aumentando

significativamente o risco de evasão escolar (Rumberger, 2004).

– A distorção série-idade ofusca o efeito dos demais fatores explicativos da evasão e é ofuscada pela reprovação/repetência (Plank et al, 2005).

• Com o aumento da idade outros fatores de risco começam a operar: gravidez na adolescência, emprego juvenil, percepção da “falta de sentido da escola/curso/currículo”.

– A reprovação/repetência aumenta significativamente as chances de evasão permanente. O que se explicaria pelo estigma de ter fracassado, ter ficado pra trás, ser visto como não inteligente etc. (Steffel-Olson, 2005).

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Políticas (K. De Witte et al., 2013)

Medidas focadas nos alunos

• Dada a forte determinação da reprovação/repetência sobre a evasão escolar, éfundamental que se restrinja o seu uso (Dorn, 1996; Entwisle et al.,2005; Vizcain,2005).

• Identificar o quanto antes possível os alunos em alto risco de reprovação paraprover-lhes apoio na escola e fora da escola (Orthner and Cook, 2002).

• Programas de jornada escolar estendida que compreenda atividadescomplementares e crie oportunidades para superação das dificuldades deaprendizagem (Orthner and Cook, 2002).

• Estratégias de suporte à aprendizagem dos alunos em sua própria comunidade, emespecial para alunos em desvantagem social, com apoio de professores, tutores,mentores, familiares, e membros da comunidade (Herbert & Reis, 1999).

• Programas dirigidos à percepção e atitude dos estudantes sobre a importância daeducação (Ekstrom et al., 1986; Vizcain, 2005)

• Dissuadir os jovens a buscarem trabalho antes dos 16 anos (Entwisle et al.,2005).

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Medidas focadas nas famílias

• Estratégias de engajamento dos pais na vida escolar dos filhos (Reich &Young, 1975).

• Fomentar expectativas positivas de pais, professores, diretores em relaçãoao potencial acadêmico dos alunos (Cooper et al., 2005).

• Criação de grupos de pais pelos conselhos escolares para fomentar arelevância do apoio às atividades e autoestima acadêmica dos filhos(Herbert & Reis, 1999).

• Suporte às condições de vida das famílias para que se crie um ambientefamiliar com condições emocionais e relação pais-filhos propícias àeducação dos filhos (Duchesne et al.,2005) e suporte de renda porprogramas de assistência social nos casos de pobreza extrema (Suet-Ling,2000).

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Medidas focadas nas escolas

• Organização escolar: ambiente escolar, estratégias de ensino, relação escola-comunidade.

– O ambiente escolar deve ser adaptado às necessidades dos alunos e não o contrário (ex. horário de uso da biblioteca e demais instalações e recursos da escola) (Swadener, 1995; Riele, 2006).

– O clima escolar deve propiciar a percepção do valor do desempenho acadêmico e do progresso na vida escolar (Balfanz e Legters, 2005; Bridglandet al.,2006), bem como valorizar o universo cultural e identidade do aluno (Blue e Cook, 2004).

– Abordagens de ensino:

• Relacionar a escola e os conteúdos escolares com a vida dos alunos e de suas famílias (Bridglandet al.,2006; Cooper et al.,2005);

• Uso de novas tecnologias para a personalização do ensino (Pittman, 1993);

• Desenvolvimento da literatura e linguagem e do pensamento complexo (criatividade, pensamento crítico e lógico) em diversas disciplinas (Cooper et al.,2005);

• Oferecer programas escolares intensivos e desafiadores aos alunos e professores (Lee & Burkam, 2003).

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• Pouco se explora na literatura:

– A organização do sistema de ensino (regramentos, cultura institucional, incentivos dos professores);

– Interações entre fatores determinantes e entre políticas (ex. pobreza e reprovação / PBF e PAR)

– As políticas são em geral para evitar a evasão ( e os já evadidos?)

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Mas o que fazer com os evadidos?

• Trazê-los de volta à escola regular?– Após 18/19 anos é muito difícil.

• Oferecer rotas alternativas para obtenção de qualificações EQUIVALENTES ao ensino médio e reconhecidas socialmente.– ENCEJA?

– PRONATEC (FIC)?

• São de fato EQUIVALENTES em posicionar os evadidos no mercado de trabalho e ampliar opções?

• Riscos: – Incentivo ao “credencialismo fast track”?

– Mais um (pré)destino para os jovens de baixa renda?

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Conclusões

• O discurso da “universalização do acesso” não se sustenta sob a perspectiva da equidade.

• Uma grande proporção de jovens (maioria pobres) ainda deixam o sistema de ensino sem concluir a escola básica.

• A maior parte da evasão ocorre no 2º ciclo do Ensino Fundamental.

• Os mais pobres de 16 e 19 anos parecem perseverar mais na escola (mas a dif. não existe p/ 19-24).

• Na trajetória atual alcançaremos as metas do PNE para os mais pobres: Pré-escola(4-5), EF aos 16, Matr.4-17, Analf.Funcional, Analf.>15.

• As projeções não indicam que alcançaremos as metas do PNE para os mais pobres para a Creche (0-3), EM aos 19, Matr.15-17, Tx.Liq.EM, Tx.Liq. Ens.Sup.(18-24)

• As evidências sobre os efeitos do BF na redução do abandono não permite concluir que entre os beneficiários haja menor evasão precoce: pode haver maior reprovação para o grupo de beneficiários que não abandona durante o ano ocasionando evasão no médio prazo. É preciso avaliar melhor!

• Os PTCR são necessários, mas não são suficientes para lidar com a evasão no médio prazo devido as fatores de exclusão que operam nos sistemas de ensino.

• A pobreza aumenta as chances de evasão mas pode não ter um efeito independente.

• É preciso enfrentar o problema da evasão nas suas causas intra-escolares.

• A forte determinação da reprovação/repetência sobre a evasão sugere medidas que restrinjam a prática da reprovação escolar no sistemas de ensino.

• Há um leque de políticas que podem ser consideradas.

30

• “(...) nas escolas das classes menos favorecidas

de nossa população existe uma determinação

política (ainda que não explícita) de reprovar

sistematicamente todos os alunos novos. Esta

prática mostra claramente a tragédia e

perversidade de nosso sistema

educacional.”(Ribeiro, 1991, p.10)

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OBRIGADO!

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Taxa de Alfabetização da Pop. 15 anos ou maisTotal e 1o quintil de renda familiar per capita (2001-2022) - BRASIL

15 anos ou mais

15 anos ou mais - 1oQ

Meta 2015

Meta 2022

Linear (15 anos ou mais)

Linear (15 anos ou mais - 1oQ)

Fonte: PNAD/IBGENotas: 1) Somente casos válidos.2) Sem área rural da região Norte.

Fonte: PNAD/IBGENotas: 1) Somente casos válidos.2) Sem área rural da região Norte.

93,5%

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Taxa de cobertura em Ed.Inf. de crianças de 4 e 5 anos1o e 5o quintis de renda familiar per capita (2001-2022) - BRASIL

4 e 5 anos

4 e 5 anos 1oQ

4 e 5 anos 5oQ

Meta 2016

Linear (4 e 5 anos)

Linear (4 e 5 anos 1oQ)

Linear (4 e 5 anos 5oQ)

Fonte: PNAD/IBGENotas: 1) Somente casos válidos.2) Sem área rural da região Norte.3) Considerou-se também o 1o ano do EF

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