abscesso hepÁtico piogÊnico: relato de caso e revisÃo …

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Hospital do Servidor Público Municipal ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO DA LITERATURA ANAMÁRCIA DO NASCIMENTO ARAGÃO São Paulo 2013

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Page 1: ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO …

Hospital do Servidor Público Municipal

ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO

DA LITERATURA

ANAMÁRCIA DO NASCIMENTO ARAGÃO

São Paulo

2013

Page 2: ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO …

ANAMÁRCIA DO NASCIMENTO ARAGÃO

ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO

DA LITERATURA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Comissão de Residência Médica do Hospital do

Servidor Público Municipal, para obter o título de

Residência Médica

Área: Clínica Médica

Orientadora: Dra. Rafaela Cristina Goebel

Winter Gasparoto

São Paulo

2013

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FICHA CATALOGRÁFICA

ARAGÃO, Anamárcia do Nascimento Aragão Abscesso Hepático Piogênico: Relato de Caso e Revisão da Literatura. Anamárcia Aragão / São Paulo 2013. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Comissão de Residência Médica do HSPM-SP, para obter o título de Residência Médica, na área de Clínica Médica. Descritores: 1. Hepatopatias 2. Abscesso hepático piogênico3. Drenagem 4. Streptococcus

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ANAMÁRCIA DO NASCIMENTO ARAGÃO

ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO

DA LITERATURA

Banca examinadora:

Dr. João Baptista dos Santos Júnior

Dra. Lucila Maria Barbosa Bezerra

Dr. Eduardo Khede

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AUTORIZO A DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE

TRABALHO , POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU

ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA,

DESDE QUE CITADA A FONTE.

SÃO PAULO,____/____/_____

Assinatura do Autor:

_________________________________________________

Page 6: ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO …

Agradecimentos

À Dra. Rafaela Winter, pelos valiosos ensinamentos, pela paciência na

orientação e incentivo, tornando possível a conclusão deste trabalho.

À Deus.

Aos meus pais, Aragão e Nasaré, e ao meu irmão, Márcio, pelo apoio e

compreensão.

Page 7: ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO …

Resumo:

Introdução: Um abscesso hepático piogênico constitui-se em um acúmulo

focal de secreção inflamatória e purulenta, causado por um ou vários patógenos

bacterianos. São causados pela disseminação de uma infecção através das vias

biliares, veia porta, artéria hepática, por extensão direta de um processo infeccioso

ou trauma. Quando não há causa identificável, é denominado abscesso criptogênico.

Febre, dor abdominal e calafrios são os sintomas mais comuns. Porém, os sintomas

de um abscesso hepático piogênico podem ser inespecíficos. Exames laboratoriais

podem apresentar alterações, que, associados ao quadro clínico, conduzem à

realização de exames de imagem. Objetivo: Este trabalho relata o caso de uma

paciente de 57 anos, com quadro clínico pouco específico, cujos exames

evidenciaram abscesso hepático, que foi tratado conforme as orientações

bibliográficas atuais (antibioticoterapia e drenagem percutânea), com sucesso. A

cultura do material aspirado do abscesso revelou crescimento de Streptococcus

viridans. Conclusão: O abscesso hepático deve ser conhecido por clínicos e

cirurgiões, especialmente em serviços de emergência, pois devem incluir esta

possibilidade no diagnóstico diferencial de quadros abdominais. Em casos de

retardo no diagnóstico e consequente demora no tratamento efetivo em tempo

oportuno, a morte em decorrência de sepse é um desfecho provável.

Descritores: hepatopatias; abscesso hepático piogênico; drenagem;

Streptococcus.

Page 8: ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO …

Absctract:

Introduction: A pyogenic liver abscess is an accumulation in focal inflammatory

and purulent secretion, caused by one or more bacterial pathogens. Are caused by

the spread of infection through the bile duct, portal vein, hepatic artery, by direct

extension from an infection or trauma. When there is no identifiable cause, is called

cryptogenic abscess. Fever, chills, and abdominal pain are the most common

symptoms. Nevertheless, symptoms of a pyogenic liver abscess can be nonspecific.

Laboratory tests may show abnormalities that, in association with the clinical picture,

lead to completion of imaging exams. Objective: This paper reports the case of a 57-

year-old with an unspecific clinical presentation, whose tests showed a liver abscess

and was successfully treated as current guidelines (antibiotics and percutaneous

drainage). The culture of the aspirate of the abscess showed growth of

Streptococcus viridans. Conclusion: The liver abscess should be known by clinicians

and surgeons, especially in emergency services, who should include this possibility

in the differential diagnosis of abdominal frames. In cases of delayed diagnosis and

consequent postponement in effective treatment in a timely manner, the death from

sepsis is a likely outcome.

Keywords: liver diseases; liver abscess, pyogenic; drainage; Streptococcus.

Page 9: ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO …

Sumário

1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................1

2. OBJETIVO.............................................................................................................13

3. RELATO DE CASO...............................................................................................14

4. DISCUSSÃO..........................................................................................................24

5. CONCLUSÃO........................................................................................................30

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................31

Page 10: ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO …

1

1. Introdução

O abscesso hepático piogênico é uma coleção inflamatória contendo debris

celulares, causada por uma infecção bacteriana. É uma condição relativamente rara

nos dias atuais, associado a elevado índice de gravidade.1

O fígado é um órgão intra-abdominal, considerado um tecido estéril, visto que

não possui mucosa ou lúmen que seja naturalmente colonizado por bactérias.

Porém, bactérias podem inadvertidamente alcançar o fígado e causar abscesso

hepático. O tecido hepático é provido de células de defesa, chamadas células de

Kupffer, que são capazes de eliminar a maioria das bactérias invasoras. Porém

quando a carga bacteriana excede sua capacidade de eliminação, ocorre invasão

tecidual com início da formação do abscesso hepático piogênico. ¹,3

São quatro vias principais de infecção hepática: vias biliares; via

hematogênica, através da veia porta ou artéria hepática; por contiguidade de um

processo infeccioso intra-abdominal; trauma penetrante. 1,4

A colangite supurativa ascendente é uma infecção que ocorre em

consequência de obstrução biliar culminando em estase da bile, colonização e

infecção bacteriana. Pode ser secundária a cálculos, tumores malignos, estenoses

biliares, colangite esclerosante e anomalias biliares congênitas (especialmente a

doença de Caroli), ou pode até mesmo ser secundária a iatrogenia, como em casos

de estenose de anastomoses biliodigestivas, após instrumentação biliar e

colangiopancreatografia endoscópica retrógrada. A anastomose bilioentérica tem

sido uma causa de abscesso piogênico devido a contaminação bacteriana

Page 11: ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO …

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retrógrada, da via entérica para a vida biliar. Tratamento de tumores hepáticos por

quimioembolização representa um fator de risco, pois leva à agressão dos ductos

biliares (isquemia e inflamação), podendo haver contaminação e infecção. 2

A veia porta é a segunda fonte mais frequente de infecção. A veia porta é

responsável pela drenagem venosa de todo trato gastrintestinal. Portanto, qualquer

infecção do trato gastrintestinal ou pélvica pode resultar em infecção ascendente da

veia porta, a qual é denominada pileflebite. São causas de pileflebite: apendicite,

diverticulite, pancreatite, doenças inflamatórias como Doença de Crohn e retocolite

ulcerativa, doença inflamatória pélvica, úlcera perfurada, neoplasia colorretal,

empiema de vesícula biliar, abscesso perianal. Antes do advento dos antibióticos, a

grande causa dos abscessos hepáticos piogênicos era secundária à pileflebite;

sendo a partir, principalmente, das apendicites agudas. Portanto, havia elevada

incidência da doença em pacientes jovens, em torno de 20 a 30 anos. A evolução do

tratamento da apendicite, com uso rotineiro de antibióticos e realização de

apendicectomia, levou a mudanças significativas na faixa etária e na apresentação

clínica dos pacientes com abscesso hepático. Ademais, o envelhecimento da

população propiciou o aumento da incidência do abscesso hepático piogênico em

indivíduos com mais de 50 anos. Fatores como imunossupressão e Diabetes

Mellitus vêm sendo descritos como predisponentes à doença. 2

A artéria hepática pode, de forma semelhante, permitir o acesso de bactérias

ao fígado, embora em menores proporções. Assim, qualquer infecção sistêmica

pode resultar em bacteremia e infecção do fígado. Por essa via, chegam bactérias

provenientes, por exemplo, de pneumonia, infecção das vias urinárias, infecções

odontológicas, endocardite. Abscesso após transplante hepático não é comum,

porém pode ocorrer em associação com trombose da artéria hepática.2

Page 12: ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO …

3

O abscesso hepático pode ser resultado da extensão direta de um processo

infeccioso contíguo ao órgão, podendo ser consequência de abscessos subfrênicos,

colecistites supurativas e abscessos perinefréticos.2

Deve ser lembrada ainda contaminação direta do fígado através de biópsia

percutânea, ou após traumatismo penetrante. Trauma contuso também pode originar

abscesso, devido hematoma hepático ou área de necrose hepática. 2

Entretanto, em grande parte dos casos, a causa primária do abscesso

hepático piogênico não é encontrada, sendo denominados criptogênicos. Acredita-se

que ocorram em consequência de doenças intra-abdominais não diagnosticadas ou

devido ao fato de o processo infeccioso primário já ter sido debelado à época da

apresentação. Nessa situação, ainda há muita controvérsia sobre a real necessidade

de realização de exames apurados em busca do possível foco primário de infecção.2

Na Tab. 1 podemos observar as principais etiologias do abscesso hepático

piogênico, com sua frequência de ocorrência.

Page 13: ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO …

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Tabela 1: Etiologia dos abscessos hepáticos piogênicos.

Etiologia %

Doença biliar extra-hepática Benignas ou malignas

47

Infecção abdominal Apendicite, perfuração intestinal, sepse

12

Contiguidade Lesão gastroduodenal (úlcera perfurada), cólon e vesícula biliar

5

Tumores hepáticos primários e metastáticos 16

Infecção hepática primária Trauma e cisto infectado

9

Desconhecida (criptogênica) 5

Trauma hepático extenso 3

Hematogênica Endocardite, pneumonia, abscesso perinéfrico, infecção urinária, tuberculose miliar

3

Adaptado de: Torres OJM, Ver Bras Med,1997.

Não há diferença significativa de localização geográfica ou etnia com relação

à frequência da doença. O abscesso hepático piogênico predomina em homens,

sendo a proporção homem-mulher de aproximadamente 2,5:1. 2,7

Os abscessos piogênicos do fígado podem sem monomicrobianos ou

polimicrobianos. A maioria é monomicrobiana, ocorrendo em torno de 60%.

Geralmente, o perfil bacteriano depende da via de infecção. Abscessos decorrentes

do trato biliar ou da veia porta costumam ser polimicrobianos. Enquanto abscessos

decorrentes da artéria hepática comumente são monomicrobianos.2

Os microorganismos mais comuns são os gram-negativos. Escherichia coli

ainda é o principal microorganismo, sendo encontrado em dois terços dos casos,

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principalmente naqueles secundários à infecção do trato biliar e à infecção através

da veia porta. Outra bactéria encontrada é a Klebsiella pneumoniae, que tem sido a

principal causa de abscesso hepático em países como a Tailândia, principalmente

em diabéticos, e sem doença biliar. Outros microorganismos comuns são

Streptococcus viridans, Staphylococcus aureus, espécie Enterococcus e espécie

Bacteroides. Os estafilococos existem geralmente em abscessos monomicrobianos

secundários à infecção sistêmica. O uso indiscriminado de antibióticos causou

aumento da frequência de bactérias gram-negativas aeróbias resistentes como

Proteus vulgaris, Streptococcus faecalis, Citrobacter freundii. 2

Na Tab. 2, observamos os microorganismos que podem causar o abscesso

hepático piogênico, com sua incidência.

Tabela 2: Microorganismos observados nos abscessos hepáticos piogênicos.

Bactérias %

Escherichia coli 20

Streptococcus sp. 11,2

Klebsiella enterobacter 6,4

Staphylococcus aureus 9,4

Bacteróides 8,0

Pseudomonas aeruginosa 3,2

Flora mista 20,0

Bactéria não identificada 16,8

Proteus vulgaris 2,5

Clostridium 2,5

Adaptado de: Torres OJM, Ver Bras Med, 1997.

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A maioria dos abscessos estéreis ocorre devido ao meio de transporte

inadequado ou ao uso prévio de antibióticos. No entanto, um abscesso estéril pode

ser secundário à necrose de uma neoplasia hepática de crescimento rápido.

Abscessos hepáticos fúngicos ou micobacterianos são raros, e associados à

imunossupressão, devendo, nesses casos, serem solicitadas culturas do aspirado

para micobactérias e fungos.2

Nas últimas décadas, os avanços nos meios diagnósticos e o aparecimento

de novas alternativas de tratamento possibilitaram maiores percentuais de cura. No

entanto, apesar de tais progressos, o abscesso hepático continua representando um

grande desafio diagnóstico e terapêutico.2

A dificuldade na suspeita diagnóstica e a inespecificidade dos sintomas são

fatores que levam ao diagnóstico tardio e, consequentemente, ao elevado número

de óbitos nestes casos.2,23

O quadro clínico do abscesso hepático piogênico depende das manifestações

do próprio abscesso, da causa básica (quando identificável) e do desenvolvimento

de complicações. A apresentação é variável, desde uma doença aguda, rica em

sinais e sintomas, até uma doença crônica, menos agressiva e que dura meses. Foi

observado que o quadro agudo, geralmente, está associado a uma doença

abdominal identificável, enquanto a doença crônica está associada ao abscesso

criptogênico. Existe uma variedade de sintomas não específicos que podem ser

encontrados. A febre é o sinal clínico mais frequente, sendo observado em 70 a 90%

dos casos. Dor abdominal e calafrios são os sintomas mais comuns. A dor

abdominal pode estar ausente em cerca de 50% dos casos, o que torna o

diagnóstico ainda mais difícil. Geralmente, existe um intervalo silencioso de seis dias

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a cinco semanas para evolução de dor causada por distensão da cápsula hepática

até dor causada por irritação direta do peritônio pelo processo inflamatório. O quadro

clínico também depende do tamanho, do número e do tempo de evolução do

abscesso. Nos abscessos únicos a sintomatologia é subaguda ou crônica, e nos

abscessos múltiplos, há tendência em haver um quadro mais agudo, com maior

frequência de episódios de choque séptico. Podem fazer parte do quadro, ainda,

hiporexia, astenia, náuseas, perda ponderal, dor referida no ombro direito. Icterícia

pode estar presente, sendo considerada por alguns como sinal de prognóstico

desfavorável; é encontrada em cerca de 25 % dos casos. Muitas vezes, está

associada a doença biliar subjacente (colangite). Frequentemente há aumento do

volume do fígado ao exame físico. Pode haver tosse, dor torácica ou dispneia devido

acometimento do diafragma ou doença intratorácica primária. Uma complicação rara,

própria do abscesso por Klebsiella pneumoniae é a endoftalmite endógena,

ocorrendo em 3% dos casos e mais comum em pacientes diabéticos, sendo

necessários diagnóstico e tratamento precoces para preservação da função

visual. 2,12

São comuns alterações inespecíficas nos exames bioquímicos. Leucocitose é

comum, sendo a leucometria média entre 14.000 e 20.000/mm³, exibindo formas

jovens no sangue periférico. Anemia é frequente. A fosfatase alcalina sérica está

elevada em mais de 90% dos casos, sendo mais alta em caso de abscesso

relacionado a infecção do trato biliar. É comum também a elevação do nível sérico

de gama glutamiltransferase. A bilirrubina total eleva-se em 20 a 50% dos casos. As

transaminases permanecem pouco elevadas. Grandes alterações dos testes de

função hepática estão, geralmente, associadas a doença biliar subjacente. Pode

estar presente hipoalbuminemia e aumento no tempo de protrombina. Alterações

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nesses exames sugerem anormalidade no fígado que conduzem a exames de

imagem. Exame sorológico para amebíase deve ser sempre solicitado, para excluir

etiologia amebiana. As hemoculturas repetidas são muito importantes, apesar de

menos sensíveis que as culturas do abscesso, sendo positivas em

aproximadamente metade dos casos. O correto manuseio do material e transporte

imediato ao laboratório são imprescindíveis, devendo ser semeado em meio de

cultura para aeróbios e anaeróbios. 2

O diagnóstico de abscesso piogênico do fígado é difícil de ser estabelecido

baseado unicamente no quadro clínico e exames laboratoriais, devido à variedade

de alterações inespecíficas. Portanto, são necessários exames de imagem para sua

confirmação e localização precisa. 2

As radiografias de tórax são anormais em metade dos casos, havendo

achados como elevação do hemidiafragma direito, derrame pleural à direita ou

atelectasia, podendo ser à esquerda se o abscesso estiver no lobo esquerdo.

Radiografia de abdome pode mostrar nível hidroaéreo ou gás na veia porta.3

A ultrassonografia (USG) abdominal é o exame de rotina mais últil e tem uma

série de vantagens: é seguro, não invasivo, preciso, relativamente barato e não

imprega radiações ionizantes. É capaz de distinguir com segurança lesões sólidas

de lesões císticas, e tem uma sensibilidade de 80 a 95% para o diagnóstico de

abscesso hepático. Em geral mostra uma lesão menos ecogênica que o fígado.3

A tomografia computadorizada (TC) é mais sensível que a USG, sendo sua

sensibilidade de 95 a 100%. Permite melhor definição das lesões, detectando com

precisão abscessos hepáticos únicos ou múltiplos. TC de alta resolução pode

identificar abscessos muito pequenos, de até 0,5 cm. As lesões possuem atenuação

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menor que o fígado ao exame e a parede realça o meio de contraste. Porém, devido

ao custo elevado e uso de radiação ionizante, a USG ainda é o primeiro exame a ser

solicitado.3

Tanto a TC quanto a USG são úteis no diagnóstico de outras doenças intra-

abdominais, como a colecistite, apendicite, diverticulite, dentre outros.3

A ressonância magnética não parece ser melhor que a TC no diagnóstico dos

abscessos hepáticos. Dessa forma, deve ser utilizada somente em casos

selecionados, especialmente em casos em que há dúvida diagnóstica entre

abscessos e outras massas hepáticas. A colangiorressonância e a

colangiopancreatografia endoscópica retrógrada podem ser utilizadas na pesquisa

da causa do abscesso hepático, na suspeita de etilogia biliopancreática.3

Se não tratado, a mortalidade causada por abscesso piogênico do fígado é de

100%. Antes do uso de antibióticos e procedimentos de drenagem havia alto índice

de mortalidade. Até os anos de 1980, a drenagem cirúrgica aberta era o único

tratamento. A partir de então, técnicas menos invasivas como drenagem percutânea

passaram a ser empregadas, juntamente com uso de antibiótico endovenoso.3

Uma vez suspeitado o diagnóstico de abscesso hepático piogênico, deve ser

prontamente iniciada antibioticoterapia adequada, para conter a bacteremia e suas

consequências. Devem ser utilizados antibióticos intravenosos de amplo espectro. A

escolha do antibiótico deve ser baseada em culturas e antibiogramas das bactérias

isoladas da corrente sanguínea ou do próprio abscesso; porém, se os resultados

não estiverem disponíveis, a seleção dos antibióticos deve ser feita com base na

etiologia presuntiva, cobrindo bactérias gram-negativas, gram-positivas e

anaeróbias. São recomendados: Cefalosporina de 3° geração com Metronidazol ou

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associação de Ampicilina, Aminoglicosídeos e Metronidazol. A duração do

tratamento depende do sucesso do procedimento de drenagem, devendo-se

continuar antibioticoterapia enquanto houver evidência de infecção como febre ou

leucocitose, sendo o recomendado duas semanas de tratamento ou mais. Os

antibióticos administrados isoladamente, sem drenagem, raramente são efetivos.3,10

É necessário diferenciar abscesso piogênico do abscesso amebiano ou cisto

equinococótico devido às diferenças no tratamento. O tratamento do abscesso

piogênico requer antibiótico e drenagem; o amebiano requer antibiótico e o

equinoccocótico é tratado com cirurgia. O abscesso equinococótico possui achados

em exames de imagem característicos. O quadro clínico de abscesso piogênico e

amebiano é semelhante, porém o amebiano ocorre mais em jovens, e no piogênico

são comuns sintomas de uma bacteremia, como calafrios. No abscesso piogênico

pode haver baixos títulos de anticorpos séricos amebianos, ao contrário do abscesso

amebiano. Aspiração é capaz de diagnosticar o abscesso amebiano em apenas 10 a

20% dos casos. Portanto, às vezes, pode ser necessário teste terapêutico com

antibiótico antiamebiano. 3

As complicações causadas pelo abscesso hepático piogênico ocorrem,

principalmente, em consequência da disseminação da sepse. Perfuração do

abscesso pode levar à fístula, abdome agudo, formação de abscesso subfrênico,

empiema pleural e peritonite generalizada. Inflamação do diafragma pode levar à

derrame ou empiema pleural e pneumonia. A bacteremia é uma complicação grave.

Pode haver disseminação hematogênica para pulmões, rins ou cérebro. Ascite é

outra complicação que está presente em até 30% dos casos. Complicações pós-

tratamento incluem reativação de cavidades de abscessos residuais e recorrência.3

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Assim, em todos os casos de abscesso hepático piogênico, a drenagem deve

ser realizada o mais breve possível, exceto em casos de múltiplos abscessos

pequenos que impossibilitem a drenagem. A drenagem pode ser via percutânea ou

cirúrgica.3,6

A drenagem percutânea guiada por USG ou TC consiste na inserção de um

cateter de demora no abscesso via transparieto-hepática, sendo o método de

primeira escolha, inclusive para abscessos múltiplos, apesar de neste caso ter uma

taxa de insucesso maior. As vantagens são a simplicidade do tratamento e o fato de

não necessitar de anestesia geral e laparotomia. São contra-indicações a presença

de ascite e coagulopatias. São possíveis complicações da drenagem percutânea:

perfuração de outras vísceras, hemorragia e deslocamento do cateter. 3

A aspiração percutânea, sem a colocação de um dreno, tem índices de

sucesso semelhante à aspiração percutânea. Porém, apresenta alta incidência de

recorrência, com necessidade de novas aspirações.3

A drenagem cirúrgica aberta deve ser reservada para os pacientes com

doença abdominal primária que necessite de tratamento cirúrgico, como, por

exemplo, apendicite e obstrução biliar. É recomendada em casos em que não houve

sucesso com a drenagem percutânea, quando há abscessos piogênicos de difícil

acesso às medidas de punção e drenagem percutânea, em caso de tratamento das

complicações das drenagens percutâneas e quando há necessidade de excluir

neoplasia.3,14

A ressecção hepática ou lobectomia raramente são necessárias. No entanto,

pode ser necessário em caso de destruição hepática grave em decorrência de

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infecção, abscesso piogênico pós-trauma com grande laceração de fígado,

neoplasia hepática infectada, hepatolitíase ou estenose biliar intra-hepática.3

Com o diagnóstico precoce com auxilio de técnicas de imagem, uso de

antibióticos intravenosos e uso de técnicas drenagem do abscesso houve redução

substancial da mortalidade. Porém a taxa de mortalidade alcança 100% em casos

de abscessos não- diagnosticados ou mal drenados.3

São fatores de pior prognóstico: hipoalbuminemia, presença de malignidade,

complicações e doenças associadas, como síndrome da imunodeficiência adquirida.

São associados a pior resultado os casos que evoluem com sinais de infecção grave

com elevada leucocitose, ruptura do abscesso, bacteremia e choque. 3

A prevenção dos abscessos piogênicos deve ser adotada rotineiramente nas

seguintes situações: prevenção e tratamento de infecções agudas intra-abdominais;

descompressão de via biliar obstruída; tratamento adequado das lesões hepáticas

traumáticas com excisão de tecidos desvitalizados e necróticos. Antibioticoprofilaxia

deve ser feita antes de instrumentação da via biliar. Nos procedimentos para

tratamento local de tumores hepáticos também está indicada antibioticoprofilaxia

antes do procedimento e continuada por 7 dias.2

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2. Objetivo

Relatar um caso de abscesso hepático piogênico, com diagnóstico precoce e

evolução favorável com antibioticoterapia endovenosa e drenagem percutânea

concomitante.

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3. Relato de Caso

Paciente T.J.T., sexo feminino, 57 anos, natural e procedente de São Paulo,

professora de educação infantil, divorciada, católica.

A paciente deu entrada no Pronto-Socorro do Hospital do Servidor Público

Municipal (HSPM) com queixa principal de dor abdominal há 5 dias.

Relatava que há 5 dias teve início súbito de dor em andar superior do

abdome, contínua, de forte intensidade, com piora progressiva, sem fatores de

melhora, sem relação com a alimentação, sem irradiação, associada a febre (39oC),

diária, intermitente, acompanhada de calafrios, além de tosse com expectoração

amarelada, astenia, colúria e hiporexia. Negava acolia fecal, vômitos, dor torácica e

dispnéia.

Havia procurado previamente outras unidades de emergência, sendo

prescritos analgésico e antibiótico Levofloxacino devido hipótese diagnóstica de

Pneumonia. Fez uso do antibiótico mencionado por dois dias, porém evoluiu com

evidente piora clínica e queda do estado geral, tendo então procurado atendimento

no HSPM.

Como antecedentes patológicos referia apenas osteoartrose, em uso de

sulfato de Glicosamina 1,5 g ao dia e acompanhamento com a Reumatologia.

Negava Diabetes Mellitus, Hipertensão Arterial Sistêmica ou cardiopatias. Negava

história de colecistite ou pancreatite prévias, assim como procedimento prévio com

manipulação de vias biliares. Relatava como cirurgia prévia perineoplastia há 30

anos. Negava doença periodontal ou uso de prótese dentária. Negava uso de

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corticosteróide. Tabagista com carga tabágica de 20 maços/ ano. Não etilista. Negou

uso de drogas ilícitas.

Como antecedente familiar relatou apenas Hipertensão Arterial Sistêmica.

Negou antecedente familiar de qualquer neoplasia ou outras patologias.

À admissão, apresentava os sinais vitais: Temperatura axilar = 39,2 °C,

Pressão arterial = 120 x 80 mmHg, Frequência cardíaca = 105 bpm, Frequênica

respiratória = 26 irpm.

À ectoscopia, paciente com regular estado geral, acianótica, desidratada

(2+/4+), ictérica (1+/4+), febril ao toque, hipocorada (1+/4+), taquipnéica, orientada.

Ausência de linfonodomegalias palpáveis. Cavidade oral sem sinais de infecção

local.

Aparelho pulmonar com expansibilidade normal, som claro pulmonar à

percussão, com murmúrio vesicular presente em ambos hemitórax, porém reduzido

em base pulmonar direita, sem ruídos adventícios.

Aparelho cardiovascular com ritmo cardíaco regular em dois tempos, bulhas

normofonéticas, sem sopros.

Abdome globoso, sem cicatrizes, com ruídos hidroaéreos presentes,

timpânico, flácido, doloroso à palpação superficial e difusa em hipocôndrio direito e

em epigástrio, sem dor à descompressão brusca, fígado aumentado (3 cm do

rebordo costal direito, superfície lisa, bordo rombo, doloroso à palpação), com sinal

de Torres-Homem presente.

Extremidades sem edema, com pulsos periféricos palpáveis e simétricos,

sem empastamento de panturrilhas.

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16

Foram solicitados inicialmente exames bioquímicos (demonstrados na

Tab.3) e radiografias de tórax e abdome.

Tabela 3: Exames laboratoriais colhidos na admissão hospitalar da paciente.

Exames Resultados Valores de referência

Hemoglobina (g/dL) 11,0 12,0 - 14,0

Leucócitos (mm3) 17.500 4.500 - 13.500

Bastões/segmentados (%) 27/ 76 0-3%/40 - 60%

Plaquetas (mm3) 337.000 150.000 – 400.000

Bilirrubina total (mg/dL) 3,9 0,3 – 1,3

Bilirrubina direta (mg/dL) 2,9 0,1- 0,4

TGO (U/L) 119 10 – 40

TGP (U/L) 48 7 - 30

FA (U/L) 305 45 - 115

GGT (U/L) 350 12 - 73

Albumina (g/dL) 2,6 3,5- 5,5

TAP(segundos)/INR 15,8 / 1,26 Até 15/ 0,9- 1,2

Creatinina (mg/ dl) 0,8 0,6 – 1,4

VHS (mm/h) 112 20

Amilase (U/L) 52 28-100

Abreviações: TGO = transaminase glutâmico oxaloacética; TGP = transaminase glutâmico pirúvica; FA = fosfatase alcalina; GGT = gama glutamiltranspeptidase; TAP = tempo de protrombina; INR: InternationalNormalizedRatio; VHS = velocidade de hemossedimentação

Page 26: ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO …

17

As sorologias para hepatites virais foram negativas, assim como VDRL e a

sorologia para HIV.

A radiografia de tórax evidenciou elevação da hemicúpula diafragmática

direita, sem opacidade intersticial ou alveolar, sem obliteração de seios costofrênicos

ou sinais de pneumoperitôneo (Fig. 1 e Fig.2).

Figuras 1 e 2: Radiografia de tórax em incidências póstero-anterior e perfil esquerdo evidenciando elevação de hemicúpula diafragmática direita, ausência de pneumoperitôneo e

ausência de aerobilia.

(Fonte: Fotos feitas pelo autor(a) na enfermaria do HSPM, durante a internação)

Page 27: ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO …

18

A radiografia de abdome visibilizou distensão de alças intestinais. (Fig.3).

Figura 3: Radiografia abdominal em posição ortostática mostrando distensão de alças intestinais.

(Fonte: Foto feita pelo autor(a) na enfermaria do HSPM, durante a internação)

Solicitada USG abdominal total, que demonstrou hepatomegalia heterogênea,

às custas de formação expansiva predominantemente cística (com conteúdo líquido

espesso) e multiloculado, no lobo hepático direito, medindo 7,0 cm x 6,4 cm x 6,2 cm

nos maiores eixos (Fig. 4). Restante do parênquima hepático sem alterações (Fig.5).

Ausência de cálculos na vesícula biliar. Ausência de dilatação de vias biliares intra e

extra hepáticas. Ausência de sinais de apendicite, coleções ou líquido livre na

cavidade abdominal.

Page 28: ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO …

19

Figura 4: Ultrassonografia demonstrando imagem cística multiloculada

em lobo hepático direito.

(Fonte: Foto feita pelo autor(a) na enfermaria do HSPM, durante a internação)

Figura 5: Lobo esquerdo hepático morfologicamente preservado à ultrassonografia.

(Fonte: Foto feita pelo autor(a) na enfermaria do HSPM, durante a internação)

Frente ao quadro clínico e imagenológico compatível com abscesso hepático,

foram solicitadas duas amostras de hemocultura, além de iniciado tratamento clínico

com hidratação venosa, analgesia e antitérmicos, além de antibioticoterapia empírica

endovenosa de amplo espectro (Ceftriaxone 2 g/dia e Metronidazol 1500 mg/dia).

Solicitado também exame protoparasitológico de fezes (3 amostras).

Solicitada ainda avaliação da equipe de Cirurgia Geral quanto à

possibilidade de drenagem percutânea do abscesso, guiada por USG. A equipe

cirúrgica optou por não realização imediata da drenagem do abscesso, sugerindo

Page 29: ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO …

20

realização de TC de abdome com contraste para confirmação diagnóstica e melhor

caracterização da lesão, assim como a localização e delimitação da mesma.

A TC mostrou fígado com contornos regulares, dimensões aumentadas, e

parênquima heterogêneo às custas de imagem ovóide, hipoatenuante, com realce

assimétrico após a injeção do meio de contraste, aparentemente multiloculada,

medindo cerca de 9,1 x 6,5 x 5,2 cm, na topografia dos segmentos VI/ VIII,

compatível com abscesso (Fig. 6 e Fig. 7). Veia porta de calibre e valores de

atenuação normais. Pâncreas normal. Espessamento da linha pleural direita. Sem

sinais de líquido livre na cavidade abdominal ou processo inflamatório apendicular

ou colônico.

Figuras 6 e 7: Tomografia Computadorizada de abdome revelando imagem ovóide, hipoatenuante, multiloculada, medindo cerca de 9,1 x 6,5 x 5,2 cm, na topografia dos segmentos VI/ VIII, compatível com abscesso. (Fonte: Fotos feitas pelo autor(a) na enfermaria do HSPM, durante a

internação)

Page 30: ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO …

21

A paciente havia evoluído desde a admissão com picos febris elevados (em

torno de 39°C), aumento da leucocitose e do número de formas jovens no sangue

periférico, chegando a 18.500 leucócitos/mm3 e 27% de bastonetes, apesar da

antibioticoterapia endovenosa. A paciente submeteu-se à drenagem percutânea

guiada por USG pela equipe de cirurgia geral 4 dias após a admissão hospitalar. Foi

realizada punção no décimo espaço intercostal, introdução de cerca de 10 cm da

agulha, com saída de secreção purulenta fétida. Optado por passagem de fio guia,

dilatação e introdução de cateter de Shilley, que permitiu drenagem local (Fig. 8).

Houve saída inicial de 300 mL de conteúdo purulento. Amostra do material foi

enviada para análise bioquímica e cultura.

Figura 8: Cateter de Shilley utilizado para drenagem percutânea,com saída de líquido amarelo-citrino, no terceiro dia após a drenagem. (Fonte: Foto feita pelo autor(a) na

enfermaria do HSPM, durante a internação)

A análise bioquímica do material evidenciou líquido turvo, com predomínio de

polimorfonucleares (acima de 90%), em sua maioria degenerados; citologia oncótica

negativa.

Page 31: ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO …

22

Cerca de 72 horas após a drenagem, a paciente apresentava melhora clínica,

evoluindo afebril, em bom estado geral, com normalização da leucometria. O débito

do dreno foi quantificado diariamente, e mostrou drenagem progressivamente menor

a cada dia.

Cinco dias após a admissão hospitalar, o resultado final da hemocultura não

mostrou crescimento bacteriano. Três dias após a drenagem, a cultura do material

drenado do abscesso evidenciou crescimento da bactéria aeróbia Streptococcus

viridans, sem crescimento de bactérias anaeróbias. Antibiograma evidenciou

sensibilidade a Ceftriaxone, antibiótico que havia sido iniciado empiricamente.

Os exames protoparasitológico de fezes não mostraram sinais de infecções

parasitárias, como amebíase.

Foi realizado ecocardiograma transtorácico para avaliação quanto à

possibilidade de endocardite como foco primário inicial de disseminação

hematogênica, que não mostrou vegetações valvares, além de demonstrar fração de

ejeção (Teicholz) de 67%.

Dezesseis dias após a drenagem percutânea, foi retirado o cateter de Shilley.

20 dias após a admissão hospitalar, a paciente recebeu alta assintomática, estável

clinicamente, anictérica e sem dor à palpação abdominal, além de notável melhora

laboratorial (Tab. 4). Completou esquema antibiótico em ambiente domiciliar, por

mais 14 dias.

Page 32: ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO …

23

Tabela 4: Exames laboratoriais apresentados no dia da alta hospitalar.

Exames Resultado Valores de referência

Hemoglobina (g/dL) 11,5 12,0 - 14,0

Leucócitos (mm3) 4800 4.500 - 13.500

Bastões/segmentados (%) 0 / 55,3 0-3%/40 - 60%

Plaquetas (mm3) 571.000 150.000 – 400.000

Bilirrubina total (mg/dL) 0,7 0,3 – 1,3

Bilirrubina direta (mg/dL) 0,5 0,1- 0,4

TGO (U/L) 14 10 – 40

TGP (U/L) 10 7 - 30

FA (U/L) 189 45 - 115

GGT (U/L) 221 12 - 73

Albumina (g/dL) 2,7 3,5- 5,5

TAP(segundos)/ INR 15,2 / 1,17 Até 15 s/ 0,9- 1,2

Creatinina (mg/ dl) 0,6 0,6 – 1,4

Abreviações: TGO = transaminase glutâmico oxaloacética; TGP = transaminase glutâmico pirúvica; FA = fosfatase alcalina; GGT = gama glutamiltranspeptidase; TAP = tempo de protrombina; INR =InternationalNormalizedRatio.

Retornou ao ambulatório de Gastroclínica para acompanhamento, mantendo-

se assintomática e com exame físico normal. Até a presente data, a paciente evolui

bem, sem sinais de recorrência da patologia tratada.

Page 33: ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO …

24

4. Discussão

A coleção purulenta que se instala sobre o parênquima hepático recebe a

denominação de abscesso piogênico do fígado.3

A idade de maior incidência dos abscessos hepáticos parece ter mudado nos

últimos 50 anos. No passado, a maior incidência se dava na terceira década de vida,

com altos índices de mortalidade devido à falta de recursos diagnósticos e

terapêuticos eficazes. Nos últimos 50 anos, os relatos mostram maior incidência em

pacientes com idades entre 50 e 60 anos, como a paciente do caso clínico relatado.

Esse fato parece estar relacionado às significativas mudanças que ocorreram na

etiologia dos abscessos hepáticos. As doenças inflamatórias agudas, como a

apendicite, deixaram de ser a principal causa devido ao advento dos antibióticos e

tratamento mais precoce e adequado. Associado a isso, com o envelhecimento da

população, o abscesso piogênico do fígado tornou-se mais relacionado com a

doença do trato biliar, além do aumento do número de casos em que o abscesso é

considerado criptogênico.2,4

Estudos recentes evidenciam pequeno aumento na incidência, o que pode ser

explicado, na verdade, pela disponibilidade de exames de imagem de alta qualidade,

permitindo diagnóstico mais apropriado da doença. A USG abdominal, que

diagnostica adequadamenteos abscessos hepáticos (tem sensilibidade superior a

85%), tem baixo custo, é um método pouco invasivo, não possui contra-indicações

formais e é amplamente disponível, mesmo em áreas afastadas dos grandes

centros.¹

Page 34: ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO …

25

A via biliar constitui a principal via de infecção do fígado1,2,3. No caso relatado,

não havia sinais de dilatação de vias biliares intra e extra-hepáticos, tampouco

cálculos na vesícula biliar ou antecedente de manipulação prévia de vias biliares,

clínica ou cirúrgica.

Em cerca de 20 a 50% dos casos, apesar dos avanços dos conhecimentos a

respeito da etiopatogenia dos abscessos hepáticos, não é possível identificar o fator

desencadeante, sendo chamados de abscessos criptogênicos. As explicações são:

na época da apresentação o processo infeccioso primário já foi resolvido, existência

de doença abdominal não diagnosticada ou a doença ocorre devido maior

suscetibilidade do hospedeiro à bacteremia devido fatores como Diabetes Mellitus

ou malignidade. Ainda existem controvérsias sobre a real necessidade de busca

ativa por possíveis causas, mesmo que subclínicas. Sugere-se que uma história

clínica detalhada, um exame físico detalhado e exames laboratoriais minuciosos

devem fazer parte da avaliação do paciente, em busca de anormalidades no trato

gastrointestinal e biliar. Exames invasivos devem ser solicitados individualmente, de

acordo com alterações identificadas nos exames iniciais. Exames invasivos como

colonoscopia e colangiopancreatografia retrógrada endoscópica têm maior

probabilidade de evidenciarem resultados positivos somente quando há alguma

alteração objetiva no exame clínico ou exames laboratoriais e imagenológicos que

sugiram alguma anormalidade subclínica.1

O abscesso piogênico do caso clínico em questão foi considerado

criptogênico. Conforme descrito, não havia sinais de doença biliar ou doenças

inflamatórias abdominais. O ecocardiograma também não demostrou alterações que

justificassem embolizações sépticas, como endocardite infecciosa. Colonoscopia

não foi realizada visto que não havia alterações clínicas e os exames realizados não

Page 35: ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO …

26

sugeriram anormalidade subclínica a ser identificada, como densificação da gordura

mesentérica ou espessamento segmentar de alça intestinal. A paciente apresentava,

na admissão hospitalar, constipação como alteração transitória do hábito intestinal,

devido, provavelmente, ao íleo metabólico secundário à infecção, com resolução de

acordo com a melhora clínica evolutiva.

Os abscessos piogênicos do fígado podem ser únicos ou múltiplos, ocorrendo

em igual frequência. Abscessos múltiplos podem ocorrer se a infecção se disseminar

através da via biliar. A maioria ocorre no lobo direito, provavelmente devido a

existência de fluxo sanguíneo preferencial para este lobo1. Podem ser multiloculados

ou em uma cavidade única. O tamanho varia de menos de um milímetro a vários

centímetros de diâmetro.1,2 No presente caso, a paciente apresentou abscesso

piogênico do fígado multiloculado e maior que 5 cm. Apesar disso, apresentou boa

resposta terapêutica à drenagem percutânea, evitando a realização de procedimento

invasivo como a laparotomia, e a realização de anestesia geral.

A paciente apresentou febre alta diária intermitente, dor abdominal, icterícia,

tosse, sendo sintomas que sugerem o diagnóstico, porém são sintomas

inespecíficos, devendo, portanto, o abscesso piogênico do fígado ser diagnóstico

diferencial a partir de uma variedade de sintomas e sinais clínicos, principalmente à

admissão do paciente na emergência, visto que é uma patologia que requer

diagnósitco precoce para evitar complicações potencialmente fatais.1,2 A

inespecificidade dos sintomas, especialmente antes de aparecer a icterícia, fez com

que ela procurasse outro serviço e não tivesse o diagnóstico estabelecido.

No caso clínico descrito, a hemocultura foi negativa. Este resultado vai de

acordo com o esperado, já que dados bibliográficos sugerem positividade deste

Page 36: ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO …

27

exame em apenas 50% dos casos. Na cultura do material obtido na drenagem do

abscesso, houve isolamento de um dos germes mais comuns, causadores de

abscesso piogênico do fígado, o Streptococcus viridans, inclusive com boa

sensibilidade a um dos antibióticos empiricamente empregado (Ceftriaxone).

O diagnóstico de abscesso piogênico do fígado é difícil de ser estabelecido

com base apenas no quadro clínico e exames laboratoriais devido a variedade de

alterações inespecíficas; portanto, são necessários exames de imagem para sua

confirmação e localização precisa.1,2

As radiografias de tórax são anormais em metade dos casos. No caso

descrito, foi encontrada elevação do hemidiafragma direito, e ausência de sinais de

pneumonia. A paciente havia recebido, previamente, antibiótico para infecção

pulmonar. Porém acreditamos que a tosse apresentada pode ter ocorrido como

consequência de irritação subdiafragmática.

Frente ao diagnóstico de abscesso hepático piogênico, é recomendado o

tratamento com antibioticoterapia endovenosa, que deve ser prontamente iniciada,

mesmo se ainda não estiverem disponíveis resultado das culturas. Além disso, deve-

ser realizar imediata drenagem do abscesso, preferencialmente por via percutânea,

guiada por exame de imagem. No nosso caso clínico relatado, foram prontamente

iniciados, conforme recomendado em literatura, Ceftriaxone e Metronidazol, além de

realizada drenagem percutânea guiada por USG. Esta modalidade terapêutica é

considerada ideal atualmente. Porém, a demora na realização da drenagem deve

ser evitada, pois pode levar a piora clínica e disseminação da infecção, com

evolução para sepse e aumento da morbidade.3

Page 37: ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO …

28

A USG possui sensibilidade de 85% a 95%, devendo ser o primeiro exame a

ser solicitado, pois, integrado ao contexto clínico apropriado, possibilita fazer um

diagnóstico definitivo num espectro alargado de lesões hepáticas focais, como o

abscesso hepático 2. A TC com contraste pode ser útil porque identifica com melhor

precisão a lesão, e, também, a existência de possível infecção intra-abdominal como

apendicite e diverticulite, que consista em foco primário de infecção e que tenha

culminado em pileflibite.3 No entanto, pode atrasar ainda mais a realização da

drenagem do abscesso, o que pode causar complicações sérias e irreversíveis ao

paciente. No presente caso, a TC foi importante para a delimitação da lesão e para

exclusão de infecção intra-abdominal como causa do abscesso, porém a exigência

da TC fez com que a realização do procedimento fosse preterida, com retardo na

melhora clínica da paciente. O resultado da USG, associado ao critério clínico,

poderia ter propiciado drenagem percutânea mais precoce, em vista dos riscos

evidentes durante a evolução, frente à postergação do procedimento.

Não foi realizada sorologia para amebíase. Infelizmente, a sorologia para

Entamoeba histolytica não é um exame de fácil acesso, pois apresenta alto custo. A

avaliação microscópica das fezes, com pesquisa de ovos e protozoários, foi

solicitada, apesar de não apresentar sensibilidade adequada para o diagnóstico de

abscesso hepático amebiano. As 3 amostras do exame protoparasitológico de fezes

foram negativas. Além disso, o quadro clínico, com febre, calafrios, leucocitose e

desvio para esquerda é altamente sugestivo de abscesso piogênico. Foi iniciado

tratamento empírico para bactérias gram-negativas, gram-positivas, assim como

para bactérias anaeróbias (neste último caso, o metronidazol foi usado, além de

apresentar cobertura adequada para E. histolytica).

Page 38: ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO …

29

Apesar da leucocitose importante e bacteremia iniciais, além de

hipoalbuminemia, a paciente evoluiu bem após a instituição dos antibióticos

endovenosos e, principalmente, com a drenagem urgente do abscesso, não

desenvolvendo complicações graves como choque séptico.

Uma das complicações após o desfecho do tratamento e a resolução do caso

é a recorrência posterior 3. No caso clínico observado, felizmente, a paciente não

apresentou esta complicação, mesmo tardiamente durante o acompanhamento

ambulatorial.

O abscesso hepático piogênico é uma doença grave, potencialmente fatal,

que tem sintomas iniciais inespecíficos. Se não for tratada adequadamente, tem

mortalidade alta 1,27. Por isso, acreditamos que esta entidade deve ser conhecida por

clínicos e cirurgiões, especialmente aqueles que trabalham em serviços em

unidades de emergência. Há a necessidade de avaliação multidisciplinar, como

demonstrado no caso descrito, sendo necessário o acompanhamento clínico e

realização da drenagem do abscesso pela equipe cirúrgica, para evoluir para

desfecho favorável.

Page 39: ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO …

30

5. Conclusão

O abscesso hepático piogênico é uma doença infrequente, com sintomas

muitas vezes inespecíficos. Porém deve ser lembrada, especialmente nas unidades

de emergência, pois apresenta elevado índice de morbimortalidade se não

diagnosticada precocemente. Sempre que houver suspeita clínica, é necessário o

auxílio de exames de imagem para confirmação. O tratamento deve ser instituído

prontamente, com antibioticoterapia de amplo espectro e drenagem do abscesso.

Page 40: ABSCESSO HEPÁTICO PIOGÊNICO: RELATO DE CASO E REVISÃO …

31

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