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HENRIQUE NUNES DE SOUZA A VIOLÊNCIA NOS ESTÁDIOS DE FUTEBOL: Os resultados obtidos no Mineirão após a proibição do consumo de bebidas alcoólicas Belo Horizonte 2008

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HENRIQUE NUNES DE SOUZA

A VIOLÊNCIA NOS ESTÁDIOS DE FUTEBOL: Os resultados obtidos no Mineirão após a proibição do

consumo de bebidas alcoólicas

Belo Horizonte 2008

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HENRIQUE NUNES DE SOUZA

A VIOLÊNCIA NOS ESTÁDIOS DE FUTEBOL: Os resultados obtidos no Mineirão após a proibição do

consumo de bebidas alcoólicas Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública/CRISP da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais e à Secretaria Nacional de Segurança Pública/SENASP.

Orientador: Prof. Rodrigo Alisson Fernandes.

Belo Horizonte 2008

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, à minha esposa, meus familiares, colegas

de turma e ao meu Orientador Professor Rodrigo. Agradeço em especial ao Coronel Samuel que lutou para transformar o

Mineirão em um local mais seguro para o entretenimento dos torcedores mineiros.

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SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS........................................................................................................................................... 5 1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................................ 9

1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA............................................................................................................ 9 1.2 DETALHAMENTO DA MONOGRAFIA......................................................................................... 11 1.3 METODOLOGIA .............................................................................................................................. 12

2 REVISÃO DA LITERATURA................................................................................................................. 14 2.1 A VIOLÊNCIA NO CONTEXTO SOCIAL....................................................................................... 14 2.2 O ESPETÁCULO FUTEBOLÍSTICO E A VIOLÊNCIA.................................................................. 17 2.2.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS .................................................................................................................... 17 2.2.2 AS TORCIDAS ORGANIZADAS............................................................................................................... 20 2.2.3 HOOLIGANS: UMA REALIDADE DIFERENTE NO BRASIL ........................................................................ 23 2.3 APRESENTAÇÃO DA DESCRIÇÃO DO MINEIRÃO ................................................................... 25 2.3.1 HISTÓRIA DE SUA CONSTRUÇÃO.......................................................................................................... 25

3 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ............................................................................................... 29 3.1 O PROBLEMA DA BEBIDA ALCOÓLICA..................................................................................... 29 3.2 ATENDIMENTOS MÉDICOS EM DECORRENCIA DA BEBIDA ALCOÓLICA NO ESTÁDIO DO MINEIRÃO................................................................................................................................................ 31 3.2.1 PRIMEIRO PERÍODO – FEVEREIRO DE 1998 A 2000............................................................................... 31 3.2.2 SEGUNDO PERÍODO: MAIO A JULHO DE 2000....................................................................................... 33 3.2.3 TERCEIRO PERÍODO – SETEMBRO A DEZEMBRO DE 2006...................................................................... 34 3.2.4 QUARTO PERÍODO: MOMENTO ATUAL (2007) ...................................................................................... 35 3.3 ANÁLISE DA CRIMINALIDADE DENTRO DO ESTÁDIO DO MINEIRÃO EM DIAS JOGOS DE FUTEBOL - 2006 E 2007................................................................................................................................. 37 3.3.1 PRIMEIRO PERÍODO – 1º TRIMESTRE DE 2006 E 2007........................................................................... 37 3.3.2 PERÍODO – 2º TRIMESTRE DE 2006 E 2007 ................................................................................................ 38 3.3.3 PERÍODO – 3º TRIMESTRE DE 2006 E 2007 ................................................................................................ 40 3.3.4 PERÍODO – 4º TRIMESTRE DE 2006 E 2007 ................................................................................................ 41 3.3.5 TOTAL DE OCORRÊNCIAS ATENDIDAS NOS ANOS DE 2006 E 2007 ............................................................. 43 3.3 ANÁLISE DA CRIMINALIDADE NO ENTORNO DO ESTÁDIO DO MINEIRÃO EM DIAS JOGOS DE FUTEBOL - 2006 E 2007 .......................................................................................................................... 46

4 CONCLUSÃO............................................................................................................................................ 49 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................................................. 57

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Dados técnicos do (Mineirão) - Belo Horizonte – 2006............. 26

Tabela 2 Atendimentos médicos no Mineirão – mar. 1998 a abr. 2000 .. 30

Tabela 3 Atendimentos médicos no Mineirão – maio a julho de 2000 .... 31

Tabela 4 Atendimentos médicos no Mineirão – set. a dez. 2006 ............ 32

Tabela 5 Atendimentos médicos no Mineirão – jan. a mai. de 2007 ....... 34

Tabela 6 Ocorrências Policiais Registradas no interior do Mineirão. 1º Tri de 2006 e 2007

35

Tabela 7 Ocorrências Policiais Registradas no interior do Mineirão. 2º Tri de 2006 e 2007

Tabela 8 Ocorrências Policiais Registradas no interior do Mineirão. 3º Tri de 2006 e 2007

Tabela 9 Ocorrências Policiais Registradas no interior do Mineirão. 4º Tri de 2006 e 2007

Tabela 10 Ocorrências Policiais Registradas no interior do Mineirão. Ano 2006 e 2007

Tabela 11 Ocorrências Policiais Registradas no entorno do Mineirão em dias de jogos de futebol. Ano 2006 e 2007

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ADEMG Administração de Estádios de Minas Gerais CBF Confederação Brasileira de Futebol CF Constituição Federal GV Governador Valadares MPMG Ministério Público de Minas Gerais PMMG Polícia Militar de Minas Gerais SISNAD Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas UFMG Universidade Federal de Minas Gerais

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RESUMO

A presente monografia teve como objetivo geral apresentar os resultados obtidos, expressos no número de ocorrências policiais após a proibição do consumo de bebidas alcoólicas nos Estádios de Futebol de Belo Horizonte, a partir de 1 de janeiro de 2007. A monografia foi realizada com base na técnica da pesquisa exploratória, utilizando o banco de dados e o sistema de informações da Polícia Militar de Belo Horizonte visando a sistematizar os dados referentes ao número de ocorrências policiais geradas no Mineirão em dias de jogos de futebol. O período de pesquisa compreendeu os cinco últimos anos, (Janeiro de 2002 a Dezembro de 2006) e ainda os seis primeiros meses de 2007, época em que a proibição do consumo de bebidas alcoólicas no Mineirão começou a entrar em vigor. Após a realização do trabalho pode-se concluir que a proibição do consumo e venda de bebidas alcoólicas dentro do Mineirão foi uma importante resolução que contribuiu significativamente para a diminuição da violência nos jogos e a instauração da paz e tranqüilidade daqueles que vão aos estádios para se divertir e entreter-se com um espetáculo que é uma paixão nacional. A titulo de conclusão, deixa-se claro que apenas a proibição do consumo e vendas de bebidas alcoólicas por si só não resolve o problema da violência nos estádios de futebol, pois a questão cultural e o comportamento agressivo, principalmente dos participantes de torcida organizada são problemas muito complexos e requerem estudos mais aprofundados.

Palavras-chave: Violência, Estádios de Futebol, Ocorrências Policiais, Álcool, proibição do consumo

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ABSTRACT

To present monograph had as general objective to present the obtained results, expressed in the number of occurrences policemen after the prohibition of the consumption of alcoholic drinks in the Stadiums of Soccer of Belo Horizonte, starting from January 1, 2007. The monograph was accomplished with base in the technique of the exploratory research, using the database and the system of information of the Military police of Belo Horizonte seeking to systematize the data regarding the number of occurrences policemen generated in Mineirão in days of soccer games. The research period understood in the last five years, (January of 2002 to December of 2006) and still the first six months of 2007, time in that the prohibition of the consumption of alcoholic drinks in Mineirão began to enter in energy. After the accomplishment of the work it can be ended that the prohibition of the consumption and sale of alcoholic drinks inside of Mineirão an important resolution that contributed significantly to the decrease of the violence in the games and the instauration of the peace and peacefulness of those was that space to the stadiums to amuse and to entertain with a show that is a national passion. I title her/it of conclusion, of course is just left the prohibition of the consumption and sales of alcoholic drinks by itself it doesn't solve the problem of the violence in the soccer stadiums, because as already mentioned the cultural subject and the aggressive behavior, mainly of the participants of organized supporter they are very complex problems and they request studies more deepened. Key-Words: Violence, Stadiums of Soccer, Cops incidents, Alcohol, prohibition of the consumption

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1 INTRODUÇÃO

1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA

O Brasil é conhecido mundialmente como sendo “O país do futebol” e essa

paixão pelo esporte data de longos anos. Hoje em dia, segundo a Confederação

Brasileira de Futebol – CBF (2007), há cerca de 200 times de futebol oficialmente

inscritos no Brasil.

Esses times estão divididos por categorias e divisões, sendo 1ª, 2ª e 3ª

divisão. A “elite” do futebol brasileiro é a primeira divisão e nessa categoria estão

times tradicionais como o São Paulo, Flamengo, Atlético Mineiro, Botafogo, Grêmio,

Cruzeiro. Os jogos da 1ª divisão são os responsáveis pelo maior número de público

nos estádios e marcados por grande rivalidade entre alguns times, os chamados

“clássicos” do futebol brasileiro.

Os campeonatos no Brasil são subdivididos por estados e por categorias,

sendo que os principais são; o Campeonato Brasileiro, que acontece anualmente e

confronta todos os times da primeira divisão. A Copa do Brasil, que acontece

anualmente e confronta os 13 melhores colocados no campeonato brasileiro e os

campeonatos estaduais que confrontam os times da primeira divisão de cada Estado

isoladamente (CBF, 2007).

O cronograma dos campeonatos e copa é feito de forma que haja jogos o ano

inteiro, o que criou o hábito na população brasileira de estar sempre presente nos

estádios torcendo e apoiando seus times.

Os maiores times brasileiros possuem torcidas organizadas que são formadas

por um grande número de torcedores de um determinado time que vão juntos aos

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estádios uniformizados, munidos de foguetes, instrumentos musicais e outros para

torcer por seu time. (PIMENTA, 2000)

No entanto, muitas vezes estas torcidas expandem a rivalidade entre seus

times para fora dos gramados. Os torcedores se enfrentam dentro e fora dos

estádios, brigando, ofendendo-se e levando a violência a atos extremos.

É fato que a violência pode ser ainda mais estimulada quando os torcedores

consomem álcool. Pesquisas fazem uma importante relação entre a violência e o

consumo de bebidas alcoólicas:

O álcool levaria ao crime principalmente por suas propriedades psicofarmacológicas. Do ponto de vista biológico, alguns efeitos da intoxicação alcoólica - incluindo distorção cognitiva e de percepção, déficit de atenção, julgamento errado de uma situação e mudanças neuroquímicas - poderiam originar ou estimular comportamentos violentos. A intoxicação crônica pode contribuir com agressões por fatores como privação de sono, abstinência, prejuízo de funcionamento neuropsicológico ou associação com transtornos de personalidade. (LARANJEIRA e DUALIBI, 2005, p. 01)

Essa relação pode certamente ser estendida aos estádios de futebol, pois o

álcool consumido em excesso possibilita rompantes de violência com maior

facilidade.

A função da Polícia Militar dentro deste contexto é fazer um intenso

monitoramento para tentar manter a ordem e a segurança dentro e fora dos

estádios. A ação da polícia e as intervenções feitas em dias de jogos apontam para

um maior número de ocorrências em que se pode correlacionar um comportamento

violento e desordeiro ao uso excessivo de bebida alcoólica.

Diante dessa evidência e tentando minimizar o problema da violência nos

Estádios de Futebol, a Secretaria dos Esportes Turismo e Lazer de Belo Horizonte,

promulgou uma resolução que entrou em vigor a partir de 01 de janeiro de 2007,

proibindo a venda e o consumo de bebidas alcoólicas em dias de jogo nos principais

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estádios de futebol (Mineirão e Estádio Independência) durante o campeonato

mineiro.

Tal resolução foi proposta a título de teste e não se sabe se a proibição

prevalecerá nos jogos do campeonato brasileiro deste ano. Levando em conta este

contexto, o desenvolvimento da presente pesquisa procura desenvolver a correlação

entre violência nos estádios de futebol e consumo de bebida alcoólica em dias de

jogos e responder ao seguinte problema de pesquisa:

Quais os resultados obtidos, expressos no número de ocorrências policiais

após a proibição do consumo de bebidas alcoólicas nos Estádios de Futebol de Belo

Horizonte?

A análise dos resultados obtidos reforçará ou não a proibição do uso de

bebidas alcoólicas nos estádios, abrindo espaço para levar adiante a discussão que

permita tornar a resolução da Secretaria de Esportes Lazer e Turismo uma Lei

Estadual e mais tarde um exemplo a ser seguido em todo o Brasil. Possibilitará

também, um direcionamento mais objetivo e eficiente das ações do governo e da

Polícia Militar na busca por minimizar os problemas relacionados à violência nos

Estádios de futebol.

1.2 DETALHAMENTO DA MONOGRAFIA

Essa monografia aborda na teoria e na prática o tema e o problema proposto.

Foi organizada a partir de uma introdução em que apresento uma breve

contextualização do tema demonstrando a relação que o consumo de bebidas

alcoólicas tem com o aumento da violência em estádios de futebol.

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Segue a apresentação da metodologia (método) de pesquisa escolhida para o

desenvolvimento prático. Nessa parte, conceituo os métodos escolhidos,

determinando o período e a amostra que se pretendeu investigar, os métodos para a

coleta de dados, as variáveis escolhidas para o desenvolvimento da pesquisa e as

técnicas de análise.

Na segunda parte foi realizada uma revisão de literatura com o intuituo de

explanar com clareza os diversos temas relacionados com a problemática levantada.

Sendo assim, utilizo estudos teóricos que demonstram o crescimento da violência no

Brasil e especificamente o problema da violência nos Estádios de Futebol. Além

disso, apresento dados estatísticos para discutir a premissa inicial (violência versus

consumo de bebida alcoólica).

Na terceira parte apresento os resultados da pesquisa, por meio de tabelas

para ilustrar e especificar objetivamente os resultados obtidos.

O tema foi tratado de forma a discorrer quanto à comprovação ou não de que

as ocorrências no referido estádio diminuiriam em decorrência da proibição do uso

de bebida alcoólica no interior do mesmo.

Finalmente na quarta parte apresento a conclusão e a percepção pessoal

sobre o desenvolvimento do trabalho.

1.3 METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada no âmbito da cidade de Belo Horizonte,

especificamente no Estádio Governador Magalhães Pinto - o Mineirão. Toda a

pesquisa foi baseada em dados registrados em dias de jogos. Os dados utilizados

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foram então: registros de atendimentos médicos feitos dentro do Estádio do Mineirão

no período compreendido entre os anos de 1998 à 2007 e registros das ocorrências

policias feitas no interior e entorno do referido estádio no período compreendido

entre os anos de 2006 e 2007.

Quanto ao modelo conceitual operativo, a monografia classifica-se em

bibliográfica e documental. Nesta pesquisa foi abordado o método dedutivo, pois a

partir de algumas teorias existentes selecionadas para o estudo, procurou-se

explicar os motivos que levam à prática de condutas anti-sociais que ocorrem em

dias de jogos de futebol.

No presente trabalho foi realizada uma análise quantitativa que contemplasse

variáveis relacionadas à quantidade de atendimentos médicos com suspeitas de

indivíduos alcoolizados e ao número de ocorrências policiais registradas dentro e

fora do Estádio do Mineirão em dias de jogos de futebol.

Para de fato analisar se houve diminuição do número de ocorrências policiais

após a proibição da bebida alcoólica no Estádio do Mineirão foi tomado como base

os anos de 2006 e 2007, verificando o número de ocorrências tipicamente policiais

geradas, segmentadas em tipos (assaltos / furtos, brigas / tentativa de homicídio,

uso ou porte de drogas, lesão corporal, atrito verbal etc.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 A VIOLÊNCIA NO CONTEXTO SOCIAL

A palavra violência, origina-se do latim violentia que significa a força

empregada contra o direito e a lei. Já a palavra, violento, vem do latim violentus,

definida como qualquer indivíduo que age com força impetuosa excessiva,

exagerada. Na língua latina, a palavra representa ainda o significado de poder e/ou

dominação, e o seu uso é atribuído à pessoa que exerce autoridade na

impossibilidade de resistência, violando a integridade do outro. (HERMANN, 2004)

No Brasil, durante a década de 90, foram acumulados elevados índices de

violência, de roubos, de seqüestros, de assaltos e infelizmente até de imperícia no

combate a estas questões. A sociedade brasileira já faz parte das sociedades mais

violentas do mundo. (DUTRA, 2005)

O país apresenta atualmente, altíssimos índices de violência urbana,

doméstica, familiar, dentre outras. Quanto à caracterização de situações onde ocorre

violência pode-se citar:

há violência quando, numa situação de interação um ou vários atores agem de maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos a uma ou mais pessoas em graus variáveis, seja em sua integridade física, seja em sua integridade moral, em suas posses, ou em suas participações simbólicas e culturais. (MICHAUD, 1989, p.11)

Todos os indivíduos estão em presença de um social heterogêneo, no qual

nem pessoas nem grupos parecem reconhecer valores coletivos. Este contexto dá

origem a múltiplos arranjos societários, a múltiplas lógicas de condutas. (MACHADO,

1997)

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Predominando tal situação, é possível falar-se em sociedade fragmentada,

plural, diferenciada, heterogênea, tanto no âmbito material - das organizações e dos

movimentos sociais - quanto no simbólico, no qual diferentes sistemas de valores

vivem e convivem de forma mais ou menos autônoma, numa espécie de

contigüidade. (PORTO, 2002)

As sociedades nas quais prevalecem essas situações heterogêneas são

passíveis de múltiplas lógicas de ação, organização e reorganização do espaço

social e de múltiplos recursos de atuação, entre os quais figura, ou pode figurar, o da

violência. (PORTO, 2002)

Sendo assim, pode-se dizer que o processo de socialização depende de

vários fatores e pode se estruturar tendo a violência como resposta a falhas e

rupturas da sociedade contemporânea. Em relação a este processo de

transformação e formação social ligada à violência, Porto diz que:

É assim que se pode falar em novas sociabilidades decorrentes dos processos de transformação em curso; sociabilidades que se estruturam em razão da existência de solidariedades, mas também a partir e em função de sua ausência. É o caso de sociabilidades estruturadas na e pela violência, quase que como resposta a carências, ausências, falhas, rupturas, aspectos que são, todos eles, frutos da explosão de múltiplas lógicas de ação, recurso disponível no rol de muitos outros possíveis. Estes aspectos são vivenciados como características e condições da sociedade contemporânea, que envolve risco e insegurança, implícita ou explicitamente presentes nas representações sociais. (PORTO, 2002, p.04)

A violência na condição de recurso está inserida num cenário de estratégias,

sua utilização passa a ser questão de eficácia, oportunidade, afirmação de

identidades socialmente negadas, explosão de raivas, frustrações, dentre tantas

outras possibilidades, com implicações diretas nas formas de representação social

do fenômeno. Não apenas as novas sociabilidades se estruturam na violência, como

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pode a própria violência ser o conteúdo e o substrato das representações sociais.

(PORTO, 2002)

Na tentativa de combater e suprimir a violência em nossa sociedade, o

governo tem se utilizado de ferramentas e conceitos que levam a entender de forma

errônea o que é causa e o que é conseqüência nesse processo. O governo deveria

entender a violência que mata e que destrói muito mais como um sintoma social do

que como uma doença social. (DUTRA, 2005)

Vejamos o que o mesmo autor afirma quanto à visão da violência como uma

reação:

Já é tempo de a sociedade brasileira se conscientizar de que, violência não é ação. Violência é, na verdade, reação. O ser humano não comete violência sem motivo. É verdade que algumas vezes as violências recaem sob pessoas erradas, (pessoas inocentes que não cometeram as ações que estimularam a violência). No entanto, as ações erradas existiram e alguém as cometeu, caso contrário não haveria violência. Em todo o mundo as principais causas da violência são: o desrespeito – a prepotência – crises de raiva causadas por fracassos e frustrações – crises mentais (loucura conseqüente de anomalias patológicas que, em geral, são casos mais raros). (DUTRA, 2005, p.102)

A grande veiculação de assuntos relacionados à violência tem dois lados, um

positivo e outro negativo. O lado positivo é que com o grande número de

informações, a sociedade tem contato com o que acontece em todos os lugares e

fica mais “atenta” às questões relacionadas à violência. O lado negativo é que há

uma tendência ao “costume”, já que o aumento da violência passa a ser parte do

cotidiano das pessoas e há uma tendência a não se preocupar com o que acontece.

(PORTO, 2002)

Ainda sobre o fenômeno da violência, vale a pena verificar o que diz Porto:

a violência é um fenômeno plural. Não cabe, portanto, pensar suas causas no singular, atribuindo-as apenas à mídia. São múltiplas as causas das

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violências presentes na contemporaneidade brasileira, não podendo ser explicadas de modo unilateral por nenhuma das dimensões da vida social. (...) Há uma conjugação de fatores atuando como causas da violência. (...) Nesse sentido, é na natureza da organização social e de suas configurações, transformações, continuidades e rupturas que se devem pesquisar as causas da violência. Essas transformações potencializam a fragmentação de valores, configurando um processo de dissolução de normas e de pontos fixos de referência que unificariam o olhar sobre a sociedade. A violência deve, assim, ser identificada de forma múltipla, diferenciada, e não pode ser analisada independentemente do campo social no qual se insere. (PORTO, 2002, p.06)

Nesse sentido, a violência é explicada, em tese como um fenômeno

decorrente da diversidade cultural dos indivíduos que possuem ideologias diferentes,

necessidades diferentes e vivem em contextos diferentes. A possibilidade de junção

desses indivíduos pode desencadear a violência, sendo que um Estádio de Futebol

é um ambiente propício a esta situação, já que, levados pela crença e pela paixão

por seus times os indivíduos (de times diferentes) podem vir a se confrontar,

desejando fazer prevalecer a sua força e sua crença.

Após as considerações sobre a violência no contexto social, no próximo

tópico será realizada a relação que a violência possui com os jogos e eventos

esportivos e ainda sua relação com o uso de álcool.

2.2 O ESPETÁCULO FUTEBOLÍSTICO E A VIOLÊNCIA

2.2.1 Considerações Gerais

Assistir aos jogos de futebol profissional nos estádios tornou-se uma prática

no final do século XX. O futebol é tido como uma paixão nacional, sendo um dos

esportes mais difundidos no Brasil. Como uma das principais atividades de lazer

leva milhares de pessoas aos estádios, sendo também algo que traz grande

reconhecimento externo ao país.

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Por conseqüência, tornou-se um bom negócio e meio para divulgação de

produtos e serviços, visto a repercussão social que atinge. Quanto ao grande

interesse de empresários nacionais e internacionais no futebol, visto como um

negócio rentável considera-se:

o sucesso do futebol como uma das principais atividades de lazer esportivo no século XX, devendo-se em grande medida aos investimentos dos meios de comunicação para convertê-lo no eixo de informação esportiva, captando clientes por meio do uso deste como um importante agregado de divulgação.(REIS, 2006, p.14)

Dada a sua proporção como espetáculo e mercadoria, o futebol, por

conseqüência, foi e vem sendo um tema de estudo para sociólogos, antropólogos,

economistas, advogados e profissionais de segurança pública.

Isto porque alguns acontecimentos se tornaram corriqueiros em jogos de

futebol, como é o caso da presença de certa dose de violência entre os torcedores

participantes do espetáculo.

As raízes da violência relacionada ao futebol, estão na sociedade brasileira. A

formação de indivíduos apáticos ou agressivos e violentos ocorre a partir de sua

sociabilidade primária, quando já podem ser percebidas tendências a manifestações

agressivas ou apáticas. A violência é gerada socialmente e suas raízes e soluções

são complexas, assim como é a própria relação entre o futebol e a violência: “o

futebol foi criado sob valores de masculinidade, valores exacerbados de virilidade,

força e sobrepujança”. (REIS, 2006, p.15)

No Brasil, a situação estrutural do serviço público contribui para uma

sociedade de indivíduos descontentes, revoltados, desiludidos e frustrados, podendo

expressar estes sentimentos de maneira agressiva e violenta.

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É comum observar tais condutas em dias de jogos de futebol. Torcedores,

sem mesmo se preocuparem com os resultados das partidas entre os clubes

favoritos, cometem atos considerados reprováveis na sociedade. Outro aspecto que

desencadeia a violência dos torcedores de futebol está relacionado com a formação

do indivíduo e com o ambiente social em que vive. (REIS, 2006)

A relação entre violência e futebol não é algo novo, quanto a essa questão

Reis acrescenta o seguinte:

“os fatores geradores de violência são vários e complexos, e pode-se afirmar que a disseminação de uma cultura de que a violência e o futebol sempre caminharam juntos contribuiu para a permissividade da violência nos estádios e dificulta a sua diminuição”. (REIS, 2006, p.17)

A prática das condutas violentas, por torcedores desordeiros pode provocar

tragédias, principalmente por causa do grande número de pessoas presentes em um

recinto fechado, como são os estádios de futebol, e pela dificuldade atual de

impedimento de confrontos com grande número de pessoas nos trajetos e entornos

dos estádios.

Nota-se assim a dificuldade do problema, evidenciando que a diminuição da

violência e outras práticas delituosas não é apenas um problema de repressão do

poder público. É preciso compreender todo o complexo mecanismo que envolve as

formações sociais da atualidade, a caracterização da violência como uma reação a

essa formação deficitária e o uso do espaço e do contexto dos jogos de futebol

como um ambiente propício para se extravasar toda esta revolta.

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2.2.2 As torcidas organizadas

As partidas de futebol tornaram-se com o tempo o contexto e o espaço onde

toda esta problemática da violência tem sido percebida de forma escancarada.

Desta forma, torna-se importante discorrer de que forma as torcidas organizadas têm

feito parte e muitas vezes sido responsáveis por episódios de brutalidade e

rivalidade desmedida dentro e fora dos estádios.

A questão dos torcedores organizados não é nova. Há muitas décadas que no

mundo todo esse tipo de organização já existe. As primeiras torcidas no Brasil

surgiram em São Paulo nos anos de 1940. No início, eram jovens de classe média,

sendo a sua maioria de sócios dos próprios clubes. (CUNHA, 2006)

O intuito inicial das torcidas organizadas era agregar e organizar torcedores

do mesmo time, facilitando a comunicação e contato entre eles, com o objetivo inicial

de levar o maior número de pessoas aos estádios para torcer e “empurrar seus times

pra frente”. A festa era maravilhosa nas arquibancadas, com serpentinas e confetes.

As torcidas sobreviviam com as mensalidades e faziam todo o tipo de promoções

para arrecadarem fundos – festas, rifas, sorteios, patrocínios, venda de bandeiras,

camisas, bonés e outros acessórios. (CUNHA, 2006)

Por torcedores organizados entende-se o conjunto de pessoas que vivenciam

o sentimento comum de respeito e estima a uma determinada associação esportiva,

proporcionando desde os mais belos espetáculos nas arquibancadas com a sua

vibração, cânticos, gritos e bandeirões.

A presença em massa e apoio da torcida impulsiona e motiva a equipe de

jogadores a buscar a vitória. Contudo, essa intenção inicial foi sendo modificada e

infelizmente, atualmente os torcedores organizados também estão relacionados às

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reprováveis cenas de violência e irracionalidade diante de derrotas e até mesmo de

vitórias de seu clube favorito. De alegres e brincalhonas, as torcidas organizadas

foram-se envolvendo em confrontos armados entre as massas de torcedores e hoje,

são as organizadas que estão transformando o espetáculo de futebol em cenas de

violência. (CUNHA, 2006)

A violência das torcidas organizadas nos estádios de futebol e fora deles é um

assunto que, de certa maneira, afeta todo o cidadão, independentemente de sua

condição sócio-econômica, pois, o futebol é o esporte preferido da imensa maioria

dos brasileiros.

No Brasil, tornou-se uma constante relacionar as torcidas organizadas com

uma parcela da população composta por indivíduos desajustados, que buscam nas

torcidas uma válvula de escape para descarregar suas emoções contidas,

recheadas de inconformismo, nas práticas de ações anti-sociais de toda natureza

nos dias em que são realizados os espetáculos futebolísticos.

O episódio da morte de um torcedor, em agosto de 1995 no estádio

Pacaembu, em São Paulo, foi o ponto inicial, por parte do poder público, para a

tomada de providências quanto ao crescente aumento da violência nos espetáculos

esportivos. A proibição foi controlada impedindo-se a entrada de torcedores com

camisa contendo distintivos ou outro tipo de alusão às agremiações torcedoras,

assim como a entrada com bandeiras e instrumentos de percussão.

O incidente do Pacaembu fez com que as autoridades despertassem para o

problema da violência nos estádios e tomassem algumas providências. Foi a partir

daí que os julgamentos de processos judiciais dessa natureza foram acelerados,

processos que estavam há anos para serem julgados.

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A mudança de comportamento do torcedor nas arquibancadas dos estádios

começa a ser sentida num viés de violência, truculência e agressividade, nos moldes

atuais, pelo torcedor comum e pelos agentes envolvidos com o esporte, e passa a

ser veiculada com maior freqüência pelos órgãos de imprensa, a partir dos anos

noventa. Simultaneamente, grupos de jovens e adolescentes engrossam as fileiras

associativas das “organizadas”. Há uma relação efetiva entre a mudança no

comportamento do torcedor e do aumento vertiginoso de jovens e de adolescentes

associando-se às torcidas organizadas. (PIMENTA, 1997)

Quanto à característica das torcidas organizadas, Reis afirma:

as características das torcidas organizadas assemelham-se às gangues juvenis que infestam as grandes cidades, uma vez que tais grupos desenvolvem nos dias de jogos o controle das ruas ou de um determinado território, como por exemplo, vias de acesso para o estádio ou um setor dentro das arenas.(REIS, 2006, p.27)

Ainda segundo a autora, alguns fatores influenciam a causa da violência entre

as torcidas organizadas, como por exemplo:

a) A falta de perspectiva da juventude das periferias;

b) A proletarização forçada da classe média;

c) A formação da identidade individual e coletiva desses jovens torcedores.

A participação de jovens em grupos que protagonizam episódios violentos, e

a identificação que esses jovens estabelecem com os jogadores e as instituições

esportivas estão diretamente relacionadas à construção das suas identidades.

(REIS, 2006)

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A violência nos estádios de futebol é de fato um problema que vem se

agravando e tem contribuído para afastar os torcedores. Cabe, perguntar,

entretanto, se banir as torcidas organizadas para a ilegalidade é solução para o

problema?

2.2.3 Hooligans: uma realidade diferente no Brasil

Os meios de comunicação costumam comparar a violência esportiva no Brasil

com o fenômeno dos hooligans, observado na Europa, mas principalmente na

Inglaterra. Porém, o hooliganismo não pode servir de modelo para a análise da

violência das torcidas de futebol sem que se estabeleçam algumas diferenças muito

importantes entre as duas realidades.

Espejel, Hidalgo, e Romero, citado por Cunha (2007), relatam que em 1877,

um homem chamado Edward Hooligan ficou famoso no sudeste de Londres, por ser

um alcoólatra protagonista de imensas brigas na capital inglesa. Ele enfrentava

todos aqueles que se opunham à sua maneira de consumir cerveja. Seus

escândalos impressionavam tanto a sociedade londrina, que todos que praticavam

atos violentos passaram a ser denominados hooligans, e isso cresceu com o passar

dos anos. Assim, o termo acabou sendo utilizado no mundo todo para denominar os

torcedores violentos.

Os hooligans são grupos sem organização explícita, onde a participação é

determina pela sua vulnerabilidade social, procurando compensar a sua baixa

perspectiva social por meio de excitação e identificação, com o clube ganhador, com

um grupo que mobiliza o aparato policial, e ainda o prestígio individual, pelas

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façanhas especiais e de desafios a toda estrutura de suporte ao espetáculo

esportivo. (MARIVOET, 1992)

Os hooligans encontram seus rivais no mesmo nível social, de modo que os

confrontos se dão com torcedores do mesmo clube ou de clubes rivais, com a

polícia, e também com os próprios jogadores. As agressões nem sempre são físicas,

podendo ser apenas verbais.

A masculinidade seria o principal fator responsável pela existência do

fenômeno hooligan. Essa masculinidade agressiva, típica dos hooligans é

extravasada, dentro e fora dos estádios, em forma de cânticos de auto-exultação e

depreciação contínua dos adversários, acusados de homossexuais e afeminados.

(MONTEIRO, 2003)

Já no caso brasileiro a violência nos estádios de futebol é causada

basicamente pela ação das torcidas organizadas que por torcerem por times

diferentes desejam exercer seu poder perante os demais grupos. Muitos aproveitam

da impessoalidade e do anonimato das multidões e praticam os delitos, colaborando,

cada vez mais, para que as famílias não compareçam mais aos estádios de futebol.

Teorias psicológicas comprovam que quando em grupo o indivíduo é capaz

de agir e pensar de maneira completamente diferente ao modo como agiria e

comportaria se estivesse sozinho, podendo ser altamente sugestionado:

o comportamento agressivo desenfreado às vezes apresentado por bandos e multidões pode ser o resultado de um estado de desindividuação, no qual os indivíduos sentem que perderam suas identidades e se fundiram ao grupo. (...) algumas das conseqüências da desindividuação são o enfraquecimento das restrições ao comportamento impulsivo, maior sensibilidade às sugestões e menor preocupação com a avaliação dos outros. (ATKINSON, 2002, p.696)

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O uso do álcool agrava essa situação, pois a embriaguez acarreta

manifestações comportamentais que facilitariam uma excitação motora e por vezes,

rompantes de agressividade. Segue algumas características de um episódio de

embriaguez comum:

As primeiras manifestações clínicas são caracterizadas pela excitação intelectual e motora, uma sensação de euforia, de otimismo, de facilidade, mas ao mesmo tempo, existe uma diminuição do autocontrole e da vigilância, uma loquacidade anormal, propósitos inconsiderados, por vezes uma certa irritabilidade agressiva. (MELMAN, 1992, p.22)

Nesse sentido, o presente trabalho procura verificar na prática a inter-relação

entre o uso de bebidas alcoólicas em dias de jogos e as atitudes violentas de

torcedores, contribuindo para pensar estratégias que possam intervir nessa relação,

buscando diminuir o número de ocorrências por estes motivos no Estádio do

Mineirão.

2.3 APRESENTAÇÃO DA DESCRIÇÃO DO MINEIRÃO

2.3.1 História de sua construção

O Mineirão – Estádio Governador Magalhães Pinto – é o objeto de nosso

estudo. Nesse tópico faremos uma breve apresentação da história de construção do

mesmo com a intenção de homenagear a arena mineira feita para ser palco de

grandes festas, mas que às vezes se torna palco de manifestações violentas.

As obras de edificação do gigante da Pampulha ocorreram a partir de 1959.

Muito mais do que um desafio à capacidade da engenharia brasileira, o estádio foi a

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síntese da abnegação de milhares de pessoas, cuja determinação tornou viável uma

das principais obras do país na década de 1960 e, até hoje, reverenciadas como um

modelo de praça desportiva (SEIXAS; SIMÕES e RIBEIRO, 2005).

De acordo com os citados autores, Gaspar Garreto e Eduardo Mendes

Guimarães Júnior, funcionários da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),

foram os idealizadores do projeto arquitetônico do “Estádio Universitário”. Guimarães

era o chefe do escritório técnico da UFMG e mantinha a esperança de ver sua

imaginada arena tornar-se real.

Percebe-se que a edificação do estádio tornou-se motivo de orgulho dos

mineiros, conquistada com muito trabalho e tendo dificuldades naturais no processo

da construção:

Enfiados no meio do nada, os operários se deslocavam para a região da Pampulha em comboio de caminhões, carros ou pelo bonde, cujos trilhos saiam do centro de Belo Horizonte e terminavam na barragem da Pampulha. A ida para o local era uma “viagem”, dada às péssimas condições de tráfego e acesso. Envolvidos em fundações profundas e superficiais, todos os trabalhadores sabiam da importância da construção e o que ela representaria para o futebol mineiro. Para os engenheiros, o Mineirão comprovaria a competência da engenharia nacional (SEIXAS, SIMÕES e RIBEIRO, 2005).

A arena mineira foi uma importante obra de arte para a engenharia brasileira

ao oferecer inúmeros exemplos de evolução na construção civil. A máquina mais

moderna utilizada no canteiro de obras foi a betoneira. Os profissionais responsáveis

pela realização da edificação foram ao extremo nos detalhes. Os engenheiros

viajaram para o Rio de Janeiro e fizeram uma vistoria técnica no Maracanã,

identificando falhas no maior estádio do mundo as quais não deveriam ser repetidas

no campo mineiro.

Para Seixas, Simões e Ribeiro (2005), a grande dúvida que testava

engenheiros e operários era quanto à capacidade de se executar uma

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superestrutura, utilizando equipamento convencional. Para avaliar e suprimir

incertezas, foi projetado um mini-mineirão, chamado de setor experimental 15 (hoje

abrigando a torcida do Atlético, onde um elo de arquibancadas e cobertura seria

submetido a todo tipo de prova). Assim, os autores se posicionam:

O momento mais importante da obra foi o descoramento do setor 15. Ele era

o resumo, em 1/28 do que seria o estádio. O processo durou dois longos dias,

gerando angústia coletiva. A cada momento, o macaco hidráulico que segurava as

escoras era afrouxado e, dentro da normalidade, a laje cedia alguns centímetros. O

setor 15 estava pronto e restava o teste final. Sem equipamentos sofisticados para

dimensionar a eficiência da estrutura, os engenheiros decidiram usar o método

“manual” de aferição. Escolheram um grupo de 1500 operários para subir nas

arquibancadas. Inseguros, eles se recusaram sob o argumento de temer pelo

desmoronamento da obra. Para convencer os trabalhadores da segurança, todos os

engenheiros foram os primeiros a participarem do teste. A decisão encorajou os

trabalhadores. Todavia, além de subir, precisaram saltar. Era também uma atitude

temerária e ocorre outra recusa. Mas eles foram, novamente, encorajados e,

inicialmente, pularam timidamente. Certificaram, gradativamente, na sola dos pés da

eficiência da estrutura para, em seguida, desenvolverem uma ação semelhante à

comemoração de um gol decisivo.

O sucesso do setor 15 contagiou também o Governador Magalhães Pinto e os

construtores aproveitaram o bom momento para acionar o processo de conclusão.

A inauguração da arena mineira foi uma grande festa. O evento ganhou

projeção na mídia nacional. A euforia era total pelo jogo inaugural entre a Seleção

Mineira e o River Plate. No dia 5 de setembro de 1965, no entorno do Mineirão,

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milhares de torcedores formaram filas para entrar. Foram quase 80 mil pessoas

presentes no Mineirão que prestigiaram o grande evento inaugural.

Depois da realização de diversas atividades de entretenimento, o espetáculo

que marcaria a estréia do estádio como palco de futebol entra em campo. A seleção

mineira venceu a Argentina pelo placar mínimo. O gol, o primeiro da nova arena foi

marcado por Buglê, o que lhe rendeu uma placa no hall de entrada e a imortalidade

na história do futebol.

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3 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

3.1 O PROBLEMA DA BEBIDA ALCOÓLICA

Minimizar a violência nos estádios de futebol, a partir da proibição da venda e

do consumo de bebidas alcoólicas, é uma das grandes polêmicas que hoje se

discute no cenário desportivo mundial. No Brasil essa discussão é parte integrante

de um conjunto de medidas para potencializar a segurança nas arenas do futebol.

No Brasil o líquido fermentado mais consumido é a cerveja, preparada a partir

de cereais, geralmente a cevada. Apesar de considerada uma droga lícita, o álcool

irreverentemente absorvido torna-se tóxico, perigoso e agressivo ao organismo,

causando, entre outros sintomas, euforia desmedida, depressões, excitações e

alucinações.

Verifica-se que, no caso do torcedor partícipe do evento desportivo, antes,

durante e após a realização das partidas, ele tem estatutariamente garantido o

direito à segurança e à qualidade dos produtos vendidos no local (Lei N° 10 671, de

15 de maio de 2003). Também, no território nacional, a Lei N° 6 368, de 21 de

outubro de 1976, embora, não proibisse a comercialização das bebidas alcoólicas,

obriga, entre outros, também os dirigentes de estabelecimentos recreativos e

esportivos, nos recintos ou imediações de suas atividades, a adotarem, de comum

acordo e sob orientação técnica de autoridades especializadas, todas as medidas

necessárias à prevenção do uso indevido de substâncias entorpecentes ou que

determinem dependência física.

Registra-se que a Lei N° 11 343, de 22 de agosto de 2006, de maneira mais

ampla ainda, dispõe como um dos princípios do Sistema Nacional de Políticas

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Públicas sobre Drogas (SISNAD) “a promoção dos valores éticos, culturais e de

cidadania do povo brasileiro, reconhecendo-os como fatores de proteção para o uso

indevido de drogas e outros comportamentos”.

No Estado de São Paulo, com fundamento na Constituição Federal de 1988

(CF/88), que permite o estado-membro legislar sobre o direito econômico, produção

e consumo, e proteção e defesa de saúde, editou-se a Lei N° 9 470, de 27 de

dezembro de 1996, que, entre outras disposições, proibiu a venda, a distribuição ou

utilização de bebidas alcoólicas nos estádios de futebol e ginásios de esporte, a um

raio de 200 metros de distância das suas entradas.

Na capital mineira destaca-se a recomendação do Ministério Público do

Estado de Minas Gerais (MP/MG), por intermédio da Promotoria de Defesa do

Cidadão, Defesa do Consumidor, de 12 de dezembro de 2006, no sentido de que

seja proibido a comercialização e o consumo de bebida alcoólica nas áreas internas

e externas do estádio do Mineirão. O Estádio é administrado pela ADEMG

(Administração dos Estádios do Estado de Minas Gerais), autarquia responsável

pela direção das arenas estaduais, em razão de deliberação unânime dos Órgãos de

Segurança Regionais visando à melhoria na prestação dos serviços públicos de

salvaguarda naquele local..

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3.2 ATENDIMENTOS MÉDICOS EM DECORRENCIA DA BEBIDA ALCOÓLICA

NO ESTÁDIO DO MINEIRÃO

Para entender melhor as questões que envolvem o uso de bebida alcoólica

dentro e no entorno do Mineirão, faz-se necessário analisar o problema em quatro

períodos distintos:

3.2.1 Primeiro período – fevereiro de 1998 a 2000

O consumo de bebidas alcoólicas nas dependências do Estádio Governador

Magalhães Pinto era liberado, sem restrições.

Nesta época o que chamava a atenção era o alto índice de problemas de

saúde e casos graves atendidos no Departamento Médico do Mineirão, com grande

número de encaminhamentos para hospitais de emergência, em particular para o

Hospital de Pronto Socorro João XXIII, e alguns casos de óbitos.

Levantamentos estatísticos elaborados, pela administração desses hospitais

neste período, demonstraram um grande número de ocorrências (atendimento) que

tinham como características problemas de alcoolismo ou lesões corporais

conseqüências de casos de briqas e rixas em dias de jogos no Mineirão. Tal fato fez

com que a administração desses hospitais (especialmente o João XXIII)

comunicasse a situação para as autoridades (Diretoria da Administração dos

Estádios de Minas Gerais e PMMG).

Naquela época optou-se pela instalação nas dependências internas do

Mineirão do Juizado Especial Criminal, composto pelo Judiciário, Ministério Público e

pela Defensoria Pública, aliados aos trabalhos da Polícia Militar e Polícia Civil. Na

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Tabela 2 consta uma planilha de atendimentos deste período, com um público acima

de 50 000 espectadores.

Tabela 2: Atendimentos médicos no Mineirão – mar. 1998 a abr. 2000

Data Jogo Público Atendimentos Médicos

Suspeita de alcoolizados %

08/03/98 Atlético x Cruzeiro 59 488 59 37 62,70

02/05/98 Cruzeiro x Vasco 62 764 60 38 63,30

26/05/98 Cruzeiro x Palmeiras 61 814 40 22 55,00

01/11/98 Atlético x Esporte 51 962 31 17 54,80

11/11/98 Cruzeiro x Palmeiras 53 705 42 25 59,50

29/11/98 Cruzeiro x Portuguesa 90 482 78 31 39,70

13/12/98 Cruzeiro x Corinthians 87 619 106 59 54,60

20/05/99 Cruzeiro x Atlético 78 324 89 58 65,10

21/05/99 Atlético x América 61 894 51 28 54,90

07/07/99 Atlético x América 74 825 102 57 55,80

09/08/99 Cruzeiro x Corinthians 52 385 49 28 57,10

29/08/99 Atlético x Flamengo 71 665 58 34 58,60

03/10/99 Cruzeiro x Atlético 62 039 79 57 72,60

17/10/99 Atlético x Ponte Preta 72 033 56 20 35,70

29/10/99 Cruzeiro x Palmeiras 61 427 35 17 48,50

11/11/99 Atlético x Cruzeiro 66 642 125 68 54,40

21/11/99 Cruzeiro x Atlético 86 224 136 78 57,30

12/12/99 Atlético x Corinthians 82 317 155 86 55,40

23/04/00 Atlético x Cruzeiro 64 074 61 36 62,20

Fonte: Departamento Médico do Mineirão

Nota-se através dos dados, um percentual elevado entre o número de

atendimentos médicos em cada evento futebolístico e a suspeita de terem ingerido

bebida alcoólica.

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3.2.2 Segundo período: maio a julho de 2000

Instalado o Juizado Especial Criminal, observa-se uma redução significativa

no número de atendimentos no Departamento Médico do Mineirão. Salienta-se uma

queda considerável nos atendimentos aos torcedores com sintomas de terem

ingerido bebidas alcoólicas e nos encaminhamentos para os hospitais de

emergência, lembrando-se que o comércio e o consumo de tais substâncias

continuavam liberados e sem restrições.

Tabela 3: Atendimentos médicos no Mineirão – maio a julho de 2000

Data Jogo Público Atendimentos Médicos

Suspeita de alcoolizados Percentual

06/05/00 Atlético x Vila Nova 15 975 12 0 0

13/05/00 América x Cruzeiro 15 191 17 0 0

14/05/00 Atlético x Democrata (GV) 13 058 14 0 0

18/05/00 Atlético x Corinthians 59 800 53 2 3,70

27/05/00 Cruzeiro x Atlético 12 474 23 2 9,70

31/05/00 Atlético x Portuguesa 21 031 20 0 0

03/06/00 Cruzeiro x Atlético 30 473 56 5 8,93

08/06/00 Atlético x Cruzeiro 52 733 54 20 37

18/06/00 Atlético x Seleção 10 258 19 1 5,25

21/06/00 Atlético x Fluminense 30 597 25 2 8

29/06/00 Cruzeiro x Santos 16 196 22 2 9,09

02/07/00 Atlético x São Paulo 16 152 30 2 6,67

09/07/00 Cruzeiro x São Paulo 89 239 125 27 21,60

Fonte: Departamento Médico do Mineirão

Na Tabela 3 observa-se uma redução do número de torcedores no Estádio do

Mineirão. A instalação do Juizado Especial Criminal foi uma das medidas

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responsáveis pela redução significativa dos agravos à saúde dos torcedores, com

fica evidente na tabela acima.

3.2.3 Terceiro período – setembro a dezembro de 2006

Com a evidência dos dados estatísticos, as autoridades decidiram pela

proibição da comercialização e uso de bebidas alcoólicas, no Mineirão, com a

finalidade de tornar o esporte mais saudável e menos agressivo para os torcedores

que ali comparecem.

Tabela 4: Atendimentos médicos no Mineirão – set. a dez. 2006

Data Jogo Número Atendimento

Casos graves Remoções Observações

117/09/05 Cruzeiro x Palmeiras 36 4 3 -

21/10/05 Atlético x Avai 49 4 1 -

04/11/05 Atlético x Paissandu 26 2 2 -

05/11/05 Cruzeiro x Vasco 29 3 3 -

10/11/05 Cruzeiro x Santos 21 2 2 -

25/10/05 Atlético x América (RGN) 112 8 6 3 óbitos

Fonte: Departamento Médico do Mineirão

Um fato marcante e que chamou a atenção do Departamento Médico do

Mineirão, ocorreu no jogo comemorativo do retorno do Clube Atlético Mineiro para a

divisão A do futebol brasileiro, realizado no Mineirão, contra o América do Rio

Grande do Norte. Havia praticamente apenas uma torcida e ainda estava liberada a

comercialização e uso da bebida alcoólica, porém, em conseqüência destas

variáveis, houve um triste e irreversível quadro:

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– 112 atendimentos médicos em geral;

– 8 casos graves;

– 6 remoções para hospitais de emergência e 3 óbitos;

3.2.4 Quarto período: momento atual (2007)

Conforme apresentado na parte introdutória deste trabalho, o principal

objetivo é apresentar os resultados obtidos, expressos no número de ocorrências

policiais após a proibição do consumo de bebidas alcoólicas nos Estádios de Futebol

de Belo Horizonte (especificamente no Mineirão). Desse modo, apresenta-se a

Tabela 5.

Observa-se o relevante alcance que a medida de proibir a ingestão e o

comércio da bebida alcoólica atingiu nos estádios de Belo Horizonte. Praticamente

não houve, especificamente no Mineirão, nenhum atendimento médico em que se

notou a presença de sintomas de embriagues nas pessoas assistidas.

Tabela 5: Atendimentos médicos no Mineirão – jan. a mai. de 2007

Data Jogo Número Atendimento

Casos graves Remoções Observações

21/01/07 Atlético x Vila Nova 16 0 0 -

07/02/07 Cruzeiro x Guarani 34 1 1 Fora do Mineirão

10/02/07 Atlético x Cruzeiro 50 0 0 -

25/02/07 Cruzeiro x Ituiutaba 20 1 1 Fora do Mineirão

04/03/07 Cruzeiro x América 15 0 0 -

11/03/07 Atlético x Democrata GV 16 0 1 Fora do Mineirão

17/03/07 Cruzeiro x Tupi 21 0 0 -

18/03/07 Atlético x América 18 0 0 -

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25/03/07 Cruzeiro x Democrata 8 0 0 -

04/04/07 Atlético x América 13 0 0 -

05/04/07 Cruzeiro x Vila Nova 14 0 0 -

08/04/07 Cruzeiro x Caldense 12 0 0 -

12/04/07 Cruzeiro x Brasiliense 13 0 0 -

15/04/07 Atlético x Democrata GV 18 0 0 -

21/04/07 Atlético x Democrata GV 19 0 0 -

22/04/07 Atlético x Tupi 15 0 0 -

25/04/07 Atlético x Avaí 57 0 0 -

23/04/07 Atlético x Cruzeiro 58 0 0

06/05/07 Atlético x Cruzeiro 65 0 0 -

Fonte: Departamento Médico do Mineirão

Os próximos tópicos apresentam uma analise dos registros de ocorrências

policiais realizadas dentro do estádio do Mineirão e no seu entorno nos dias de jogos

de futebol ocorridos nos anos de 2006 e 2007. No intuito de facilitar o entendimento

dos dados, dividimos a seção em dois momentos. No primeiro analisamos as

ocorrências registradas no interior do Estádio; no segundo momento apresentamos

as ocorrências registradas no lado externo do Estádio no horário e em dias de

partidas de futebol. As ocorrências analisadas dentro do Estádio são expostas a

cada trimestre.

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3.3 ANÁLISE DA CRIMINALIDADE DENTRO DO ESTÁDIO DO MINEIRÃO EM

DIAS JOGOS DE FUTEBOL - 2006 E 2007

Foram analisados os dados referentes às ocorrências policiais registradas nos

jogos válidos pelos campeonatos Mineiro e Brasileiro nos anos de 2006 e 2007.

Essa análise contempla a incidência criminal um ano antes da proibição (2006) e o

ano de 2007, período que a comercialização de bebidas alcoólicas no interior do

Estádio do Mineirão já estava vetada.

3.3.1 Primeiro período – 1º Trimestre de 2006 e 2007

Ao analisar o período compreendido entre o primeiro trimestre de 2006 e o

primeiro trimestre de 2007 pode-se notar que houve a redução dos registros de

ocorrências na maioria dos tópicos citados na tabela 06. São apresentadas 29

variáveis entre crimes e contravenções penais, sendo que houve a diminuição de 16

variáveis, a estabilidade de 4 variáveis e o aumento de 9 variáveis.

Deve-se destacar que nesse período não foi registrado homicídio consumado

e que apesar da proibição da comercialização de bebidas alcoólicas no interior do

Estádio do Mineirão, houve registro de um caso de embriaguez. Pode-se constatar

então, que ocorreu falha na fiscalização da venda e consumo de bebida alcoólica ou

que o cidadão se embriagou antes de entrar no Estádio. Deste modo a tabela 06

apresenta um total de 38 ocorrências registradas em 2006 contra 25 ocorrências

registradas em 2007, reduzindo em 34% a quantidade de ocorrências registradas.

O período de 2007 analisado foi primeiro na historia do estádio o qual não se

podia comprar nem mesmo fazer o uso de bebidas alcoólicas no seu interior. Cabe

ressaltar que apesar do aumento de 34% na quantidade de ocorrências nesse

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período, se analisado caso por caso, não houve uma incidência criminal que se

destacasse nesse trimestre.

Tabela 6: Ocorrências Policiais Registradas no Interior do Estádio do Mineirão . 1º Trimestre de

2006 e 2007

Quantidade Descrição 2006 2007

Posse/ guarda para uso próprio de subst. Entorpecente 9 8 Outras contra pessoa 3 1 Lesão Corporal 2 0 Furto consumado a estabelecimento comercial 2 1 Furto consumado a outros 2 0 Roubo consumado a transeunte 2 2 Furto Qualificado a veículo automotor 2 0 Moeda falsa 2 0 Desacato 2 0 Pessoa ferida ou enferma 1 0 Ameaça 1 0 Vias de fato/Agressão 1 1 Furto de veículo tentado 1 0 Provocação de tumulto/ conduta incoveniente 1 0 Arremesso ou colocação perigosa 1 3 Outras referentes a substancias entorpecentes 1 0 Desobediência 1 1 Outras contra a Administração Pública 1 1 Prisão em virtude de mandato 1 0 Coisa Alheia achada 1 0 Providencia dispensada 1 0 Homicídio Tentado 0 1 Furto tentado a outros 0 1 Estelionato 0 1 Outras contra patrimônio 0 1 Ato obsceno 0 1 Embriaguez 0 1 Outras contra os costumes 0 1 TOTAL 38 25

Fonte, PMMG, 2008

3.3.2 Período – 2º Trimestre de 2006 e 2007

No segundo período houve um aumento significativo do número de

ocorrências policiais registradas, uma vez que no ano de 2006 foram registradas 16

ocorrências policiais contra 31 ocorrências policiais registradas no ano de 2007, ou

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seja, houve um aumento de 94% no registro de ocorrências o que pode ser

observado na tabela 07.

Pode-se destacar o aumento significativo dos crimes de lesão corporal e de

posse ou guarda de substância entorpecente. Havendo ainda uma queda abrupta

dos crimes de roubo a transeunte e arremesso ou colocação perigosa.

Um item interessante a ser analisado no trimestre de 2007 é o surgimento de

vários registros de crimes e contravenções penais que não foram registrados no

trimestre do ano anterior. Em sua maioria aparecimento de apenas um caso como

por exemplo, vias de fato e comércio de entorpecentes.

Tabela 7: Ocorrências Policiais Registradas no Interior do Estádio do Mineirão . 2º Trimestre de

2006 e 2007

Quantidade Descrição 2006 2007

Posse/ guarda para uso próprio de subst. Entorpecente 5 13 Roubo consumado a transeunte 4 0 Arremesso ou colocação perigosa 2 0 Lesão Corporal 1 4 Outras contra pessoa 1 0 Furto consumado a outros 1 0 Moeda falsa 1 0 Desacato 1 1 Constrangimento ilegal 0 1 Vias de fato/Agressão 0 1 Atrito Verbal 0 1 Furto consumado a transeunte em via pública 0 1 Ato obsceno 0 1 Provocação de tumulto/ conduta incoveniente 0 1 Outras contra os costumes 0 1 Outras contra a incolumidade pública 0 2 Comércio ou fornecimento de entorpecentes (tráfico) 0 1 Desobediência 0 2 Coisa Alheia achada 0 1 TOTAL 16 31

Fonte, PMMG, 2008

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3.3.3 Período – 3º Trimestre de 2006 e 2007

Esse período se destaca pelo crescente número de ocorrências registradas

se comparado com os trimestres anteriores. Houve também novamente aumento do

número de ocorrências policiais registradas se compararmos o 3º trimestre de 2006

com o mesmo período de 2007. Nesse período de 2006 foram registradas 31

ocorrências policiais, já nos mesmos meses de 2007 foram registradas 78

ocorrências policiais, o que totalizou um aumento de 152% nos períodos analisados.

Novamente se destaca o aumento das ocorrências de posse ou guarda de

substância entorpecente com total de 41 ocorrências registradas contra 17 no

mesmo período do ano anterior, totalizando um aumento de 241,2 %. Esse aumento

tanto no segundo trimestre quanto no segundo trimestre pode ser justificado como

uma alternativa de entrar no estádio portando substancia com poder entorpecente

para a substituição, por alguns, do álcool antes vendido. Lembrando que ao

entrarem nos estádios todos os torcedores devem passar por uma busca pessoal e

é mais fácil e menos volumoso esconder, por exemplo, um cigarro de maconha do

que uma lata de cerveja.

Novamente houve o registro de algumas ocorrências em 2007 inexistentes no

mesmo trimestre de 2006 como arremesso ou colocação perigosa e furto

consumado a outros com três ocorrências cada um. Pode-se destacar também o

aumento dos crimes contra a administração pública como é o caso dos crimes de

desacato e desobediência. Deste modo a tabela 08 apresenta um total de 31

ocorrências registradas em 2006 contra 78 ocorrências registradas em 2007, um

crescimento de 152% a quantidade de ocorrências registradas.

Tabela 8: Ocorrências Policiais Registradas no Interior do Estádio do Mineirão . 3º Trimestre de

2006 e 2007

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Quantidade Descrição

2006 2007 Posse/ guarda para uso próprio de subst. Entorpecente 17 41 Outras contra pessoa 2 2 Comércio ou fornecimento de entorpecentes (tráfico) 2 0 Desacato 2 7 Lesão Corporal 1 1 Injúria 1 0 Vias de fato/Agressão 1 2 Dano 1 1 Moeda falsa 1 0 Desobediência 1 4 Infrações contra relação de consumo 1 0 Prisão em virtude de mandato 1 0 Pessoa ferida ou enferma 0 1 Detenção ilegal de arma ou munição 0 1 Constrangimento ilegal 0 0 Atrito Verbal 0 2 Furto consumado a outros 0 3 Roubo consumado a transeunte 0 1 Roubo tentado a outros 0 1 Outras contra patrimônio 0 2 Provocação de tumulto/ conduta incoveniente 0 1 Arremesso ou colocação perigosa 0 3 Outras contra a Incolumidade Pública 0 1 Resistência 0 1 Outras contra a Administração Pública 0 1 Outras de Diversas de Polícia 0 1 Providencia dispensada 0 1 TOTAL 31 78

Fonte, PMMG, 2008

3.3.4 Período – 4º Trimestre de 2006 e 2007

Pode-se destacar no período analisado a queda dos registros de ocorrência

policiais no interior do Estádio do Mineirão . No último trimestre de 2006 houve o

registro de 75 ocorrências policiais já no mesmo período do ano posterior houve o

registro de 35 ocorrências policiais, apresentando uma queda de 53% do total de

registros de acordo com dados apresentados na tabela 09.

Nesse período é interessante salientar a queda dos crimes de posse ou

guarda de substância entorpecente com total de 33 ocorrências registradas no

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ultimo trimestre de 2006 contra 17 no mesmo período do ano posterior. Outro crime

que diminuiu consideravelmente foi o de Arremesso ou colocação perigosa com total

de 06 registros no período em 2006 contra apenas 01 registro em 2007. Um crime

que aumentou de forma significativa foi o de lesão corporal com o surgimento de 03

casos no 4º trimestre de 2007 contra nenhum caso registrado no mesmo trimestre

de 2006.

Houve uma queda considerável dos registros de resistência e de incitação à

violência, lembrando que tais condutas são típicas de locais onde há grande

aglomeração de pessoas e propicias a ocorreram em jogos de futebol.

Tabela 9: Ocorrências Policiais Registradas no Interior do Estádio do Mineirão . 4º Trimestre de

2006 e 2007

Quantidade Descrição

2006 2007 Posse/ guarda para uso próprio de subst. Entorpecente 33 16 Arremesso ou colocação perigosa 6 1 Desacato 6 3 Outras contra pessoa 4 0 Vias de fato/Agressão 3 1 Resistência 3 0 Desobediência 3 3 Roubo tentado a outros 2 2 Incitação ao crime 2 0 Pessoa ferida ou enferma 1 0 Rixa 1 0 Ameaça 1 0 Furto consumado a outros 1 1 Roubo consumado a transeunte 1 1 Extorção 1 0 Importunação ofensiva ao pudor 1 0 Apologia ao crime ou a fato criminoso 1 0 Outras contra os costumes 1 0 Outras contra a incolumidade pública 1 0 Comércio ou fornecimento de entorpecentes (tráfico) 1 1 Restrição por preconceito 1 0 Outras de Diversas de Polícia 1 0 Lesão Corporal 0 3 Atrito Verbal 0 1 Provocação de tumulto/ conduta incoveniente 0 1

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Outras referentes a substancias entorpecentes 0 1 TOTAL 75 35

Fonte, PMMG, 2008

3.3.5 Total de ocorrências atendidas nos anos de 2006 e 2007

Nesse momento analisamos todos os dados dos dois anos pesquisados.

Pode-se observar que houve um aumento das ocorrências registradas no interior do

Estádio do Mineirão no ano de 2007 se comparado com o ano de 2008. De acordo

com dados da tabela 10 houve um aumento de 11% de ocorrências registradas nos

jogos válidos pelos campeonatos Estadual e Nacional.

É interessante ressaltar que alguns registros de ocorrências no ano de 2006

não foram registrados no ano de 2007 o mesmo ocorrendo no último ano da série.

No ano de 2006 foram registradas as ocorrências policiais de ameaça, incitação ao

crime, moeda falsa, importunação ofensiva ao pudor, apologia ao crime e restrições

por preconceito, sendo que no ano de 2007 não foi registrado nenhum caso desses

crimes citados. Alem disso, em 2006 ocorreu no interior do Estádio do Mineirão a 02

prisões m virtude de mandados judiciais.

Em contrapartida em 2007 foram registradas as seguintes ocorrências sem

registros em 2006: homicídio tentado, detenção ilegal de arma de fogo, homicídio

tentado, constrangimento ilegal, atrito verbal, furto consumado a estabelecimento

publico, roubo consumado a transeunte, extorsão, ato obsceno e embriaguez.

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Tabela 10: Ocorrências Policiais Registradas no Interior do Estádio do Mineirão . Nos anos de

2006 e 2007

Quantidade Descrição

2006 2007 Posse/ guarda para uso próprio de subst. Entorpecente 67 77 Desacato 11 11 Outras contra pessoa 9 2 Arremesso ou colocação perigosa 8 6 Vias de fato/Agressão 5 5 Desobediência 5 10 Furto consumado a estabelecimento comercial 4 2 Moeda falsa 4 0 Comércio ou fornecimento de entorpecentes (tráfico) 3 2 Resistência 3 1 Pessoa ferida ou enferma 2 1 Ameaça 2 0 Lesão Corporal 2 7 Furto consumado a outros 2 3 Roubo tentado a outros 2 1 Incitação ao crime 2 0 Prisão em virtude de mandato 2 0 Calúnia 1 1 Dano 1 1 Provocação de tumulto/ conduta incoveniente 1 3 Importunação ofensiva ao pudor 1 0 Apologia ao crime ou a fato criminoso 1 0 Outras contra os costumes 1 2 Outras contra a incolumidade pública 1 3 Outras referentes a substancias entorpecentes 1 1 Restrição por preconceito 1 0 Infrações contra relação de consumo 1 0 Coisa Alheia achada 1 1 Outras de Diversas de Polícia 1 1 Homicídio Tentado 0 1 Detenção ilegal de arma ou munição 0 1 Constrangimento ilegal 0 1 Atrito Verbal 0 4 Furto consumado a estabelecimento público 0 1 Roubo consumado a transeunte 0 4 Furto tentado a outros 0 1 Extorsão 0 1 Outras contra patrimônio 0 1 Ato obsceno 0 2 Embriaguez 0 1 Outras contra a Administração Pública 0 1 Providencia dispensada 0 1 TOTAL 145 161

Fonte, PMMG, 2008

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A implementação da medida que proibi o uso e a comercialização de bebidas

alcoólicas no interior do Estádio do Mineirão visa a redução da violência nos jogos

de futebol. De uma maneira geral, a proibição de comercialização de bebidas

alcoólicas no interior do Estádio do Mineirão parece não ter relação direta com a

criminalidade registrada pela policia militar dentro do estádio, uma vez que não

houve diminuição do número de registro de ocorrências do ano antes à proibição ao

ano que se iniciou esse projeto. De maneira geral, houve um crescimento do número

de ocorrências o que pode comprovar a não relação da criminalidade com o uso de

bebidas alcoólicas durante jogos de futebol, pelo menos nos anos de 2006 e 2007

na cidade de Belo Horizonte.

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3.3 ANÁLISE DA CRIMINALIDADE NO ENTORNO DO ESTÁDIO DO MINEIRÃO

EM DIAS JOGOS DE FUTEBOL - 2006 E 2007

A Policia Militar de Minas Gerais dividi o policiamento do Estádio do Mineirão,

em dias de jogos de futebol, em duas formas de atuação. A primeira, o policiamento

interno do Estádio, fica a cargo do Batalhão de Policia de Eventos; a segunda, o

policiamento externo, fica sob responsabilidade do Batalhão que atua em toda a

região onde esta localizado o estádio, nesse caso o 34º Batalhão de Policia Militar.

Esse recebe o apoio do Regimento de Cavalaria Tiradentes e dos policiais da

Companhia de Trânsito. Devido a essa divisão, para fins estatísticos e de

planejamento estratégico, foi elaborado um estudo de ocorrências ocorridas no

interior e no entorno do Estádio de forma separada.

Analisando as ocorrências policiais registradas no entorno do Estádio do

Mineirão, especificamente nos períodos em que ocorreram jogos de futebol, pode-se

destacar o crime de roubo e furto em suas diversas modalidades como os mais

comuns, visto na tabela 11.

Além disso, pode-se citar certo equilíbrio se compararmos os crimes mais

freqüentes ocorridos no entorno do Estádio do Mineirão nos anos de 2006 e 2007,

como por exemplo, os crimes de lesão corporal, furto e roubo. Uma exceção ocorreu

com o crime de dano que no ano de 2006 foram registrados 52 casos e no ano de

2007 foram registrados 27 boletins de ocorrência com essa natureza, ocorrendo uma

diminuição de 48,1%.

Outros crimes com diminuição significativa em sua incidência de 2006 para

2007 foram os crimes de roubo a mão armada consumado a Ônibus, Roubo a mão

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armada consumado à padaria e roubo a mão armada consumado a Posto de

Combustível, sendo esse com nenhum caso registrado no ano de 2007.

Pode-se citar também o aumento da incidência de alguns registros como, por

exemplo, atrito verbal que se destaca por apresentar 04 registros em 2007 e

nenhum em 2006. Além disso, pode ser destacado o aumento de um crime violento

como a tentativa de homicídio que em 2007 apresentou 02 ocorrências registradas.

Com relação ao número total de ocorrência não houve mudança significativa,

pois em 2006 foram registradas 406 ocorrências no entorno do Estádio do Mineirão

contra 402 ocorrências registradas no ano de 2007. Essa estabilidade no numero de

ocorrências registradas antes e após a proibição da comercialização e venda de

bebida alcoólica no Estádio do Mineirão é um fato interessante que comprova a

independência do uso do álcool com a prática de crimes na área externa do Estádio.

O fato do crescente número de registro de ocorrências policiais em dias de

jogos tem relação a oportunidade que essa situação propicia ao cometimento de

delitos. Os jogos geralmente possuem um público com mais de 10.000 torcedores,

os quais se descuidam um pouco da segurança e se distraem com o evento

esportivo. Além disso, o fluxo de carros na área externa do Estádio Mineirão é muito

grande em dias de jogos o que pode chamar a atenção de marginais que visão o

furto e o roubo de veículos. de cometer o que é comprovado pelo número de

ocorrências registradas nos anos de 2006 e 2007 de furto qualificado consumado -

arrombamento de veiculo automotor liderando os registros da tabela 11.

Outro dado que pode comprovar essa afirmação é que o segundo crime mais

registrado, o de furto consumado a transeunte em via pública, o qual só ocorre com

tanta incidência devido ao grande número de pessoas que se deslocam ao estádio

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ou permanecem em suas adjacências se divertindo antes de entra nas

dependências do Mineirão.

Tabela 11: Ocorrências Policiais Registradas no Entorno do Estádio do Mineirão . Nos anos de

2006 e 2007

Quantidade Descrição 2006 2007

Furto qualificado consumado- arrombamento de veiculo automotor 81 97 Furto consumado a transeunte em via publica 58 78 Furto consumado a outros 54 47 Dano 52 27 Roubo consumado a transeunte 42 39 Roubo a mão armada consumado a veiculo 24 18 Lesão Corporal 23 24 Roubo a mão armada consumado a transeunte 20 19 Vias de fato – agressão 18 26 Ameaça 7 4 Roubo a mão armada consumado a Ônibus 6 2 Rixa 5 3 Porte de arma branca 5 1 Roubo a mão armada consumado a Posto de Combustível 3 0 Roubo a mão armada consumado a padaria 3 1 Porte de arma de fogo 2 3 Roubo consumado de veiculo automotor 2 3 Homicídio consumado 1 0 Roubo a mão armada consumado a cliente de estabelecimento financeiro 1 1 Atrito verbal 0 4 Homicídio tentado 0 2 Furto de veiculo consumado 0 2 Constrangimento ilegal 0 1 TOTAL 406 402

Fonte, PMMG, 2008

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4 CONCLUSÃO

Após a realização da presente monografia, pode-se dizer inicialmente que a

violência urbana é um problema cada vez mais presente na sociedade brasileira e

diariamente os cidadãos são assombrados com notícias de crimes, seqüestros, atos

de vandalismos, espancamentos e todo um rol de problemas conseqüentes do

aumento generalizado da violência urbana.

A violência foi explicada no desenvolvimento teórico deste trabalho como

sendo um problema típico da heterogeneidade da sociedade. Em outras palavras,

pode-se dizer que grupos distintos possuem necessidades distintas, ideologias

distintas, comportamentos distintos e em determinadas ocasiões entram em conflitos

com outros grupos.

Os autores pesquisados apontam uma série de fatores como desencadeantes

da violência, dentre eles podem-se citar as diferenças sociais, a ausência de

políticas públicas adequadas que promovam o equilíbrio na distribuição de renda,

desenvolvimento técno-científico, excesso de veiculação na mídia de assuntos

relacionados e etc.

Verificou-se que quando o assunto se estende ao futebol, a análise da

violência fica bastante complexa, pois em um primeiro momento, o indivíduo busca

os estádios para se divertir e para expressar sua paixão e preferência por um

determinado time. Contudo, ao se deparar com indivíduos de times adversários os

conflitos acontecem e a violência se torna um problema generalizado, chegando a

casos extremos de assassinatos, espancamentos e etc.

É comum a sociedade ter notícia de problemas relacionados à violência nos

estádios de futebol, sendo que os problemas ocorrem dentro e fora dos limites dos

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estádios. Importante considerar que o problema se torna ainda mais grave quando a

violência parte das torcidas organizadas que andam em grandes grupos em busca

de conflitos com os times adversários em uma torpe demonstração de poder e

superioridade.

As autoridades tentam a todo instante conter este problema, publicando

códigos internos de conduta para as torcidas, reforçando o policiamento dentro e

fora dos limites dos estádios e ainda criando legislações municipais punitivas para

os agentes causadores da violência.

Mas, mesmo obtendo algumas vitórias, o problema ainda está longe de ser

resolvido, já que a minimização da violência nos estádios de futebol é também um

problema cultural e dessa forma a resolução do problema deve partir também dos

próprios agentes violentos.

É preciso aqui fazer uma importante relação entre a violência e o consumo de

bebidas alcoólicas, pois segundo a teoria pesquisada o consumo exagerado de

álcool dificulta a percepção cognitiva do indivíduo, aumenta o déficit de atenção e

possibilita a realização de julgamentos errados diante de situações de tensão

fazendo com que o individuo tenha muito mais chances de se tornar violento do que

um indivíduo que não consumiu bebidas alcoólicas.

Foi neste prisma que se traçaram os objetivos pretendidos nessa monografia,

pois no caso da cidade de Belo Horizonte a Secretaria dos Esportes Turismo e

Lazer, promulgou uma resolução que entrou em vigor a partir de 01 de janeiro de

2007, proibindo a venda e o consumo de bebidas alcoólicas em dias de jogo nos

ocorridos no Estádio do Mineirão. Essa decisão foi fundamentada em uma

recomendação expedida pelo Ministério Publico do Estado da Minas Gerais.

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Em um primeiro momento a resolução foi publicada a título de teste e para

que de fato a venda e o consumo de bebidas alcoólicas seja definitivamente proibida

não só nos jogos de campeonato mineiro mas em todos os jogos fez-se necessário

uma análise apurada dos resultados obtidos com a publicação da referida resolução.

Os dados apresentados constaram de uma pesquisa no banco de dados no

sistema de informações da Polícia Militar de Minas Gerais. Esse trabalho

monográfico expôs os atendimentos médicos no interior do Estádio do Mineirão para

entender o quanto se embriaga o torcedor mineiro. Após essa analise comparou as

ocorrências policiais, nos anos de 2006 e 2007, registradas dentro e fora do Estádio

do Mineirão.

Assim sendo, verificou-se que no primeiro período pesquisado (Fevereiro de

1998 a fevereiro de 2000), a bebida alcoólica nas dependências do Mineirão

(Estádio Governador Magalhães Pinto) era permitida sem restrições e nos jogos

analisados foram realizados cerca de 1.412 atendimentos médicos, sendo que em

796 deste total ou 56,37% foram detectadas suspeitas de alcoolismo.

No segundo período pesquisado (maio a julho de 2000), foram realizados 13

jogos, tendo estes um total de 470 atendimentos médicos, com 63 casos de suspeita

de alcoolismo. Cabe dizer que a significativa redução do número de atendimentos

médicos e consequentemente a redução do número de suspeitas de indivíduos

alcoolizados deu-se devido à instalação do Juizado Especial Criminal dentro das

dependências do Mineirão, mesmo com o consumo e venda de bebidas alcoólicas

sendo ainda liberado sem restrição.

O terceiro período pesquisado constou dos meses de setembro a dezembro

de 2006, onde foram realizados seis jogos no Mineirão. Importante considerar que

nesse período, pela primeira vez as autoridades decidiram pela proibição da venda e

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consumo de bebidas alcoólicas nas dependências do estádio e os dados apontam

que nesses jogos foram realizados 273 atendimentos médicos, mas nenhum com

suspeita de alcoolismo.

É fato que os dados são significativamente altos, levando em consideração o

pouco número de jogos realizados, porém deve-se mencionar que um desses jogos

foi o jogo de retorno do Clube Atlético Mineiro à primeira divisão do campeonato

brasileiro e este foi realizado contra o América do Rio Grande do Norte.

Por considerarem o jogo como sendo um evento “tranqüilo”, já que a torcida

atleticana era a maioria e o jogo seria mais uma comemoração do que uma decisão,

as autoridades resolveram liberar o consumo de bebidas alcoólicas. Mas,

infelizmente os resultados foram desastrosos, pois houve 112 atendimentos (41%)

do total dos seis jogos realizados, sendo 8 casos graves e 6 remoções para

hospitais de emergência com 3 óbitos.

Diante da triste e problemática constatação de que a bebida alcoólica era de

fato uma das principais causadoras da violência e dos atendimentos médicos feitos

no Mineirão, no ano de 2007 (o quarto período pesquisado), as autoridades através

da referida resolução proibiu o consumo de álcool durante os jogos do campeonato

brasileiro.

Os resultados apontam que em 19 jogos foram realizados 482 atendimentos

médicos não havendo nenhum com suspeita de consumo de álcool e apenas 2

atendimentos considerados como grave, necessitando de remoção para hospitais de

emergência.

Com relação às ocorrências policiais realizadas dentro do estádio do

Mineirão, o período de pesquisa foi o total de jogos realizados nos anos de 2006

com 145 ocorrências policiais registradas e em 2007, 161 ocorrências policiais

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registradas. Os resultados dessa pesquisa são interessantes, pois ao ser

implementada a medida que proibiu o uso e comercialização de bebida alcoólica nos

jogos de futebol, esperava se que houvesse uma queda significativa no numero de

ocorrências registradas tanto dentro como fora do Estádio, o que de fato não

ocorreu.

Houve na verdade um crescimento do numero de ocorrências registradas no

Estádio se comparados os anos de 2007 e 2006, isso dentro das dependências do

Estádio do Mineirão. Já no entorno do Estádio houve uma queda pouco significativa

sendo que em 2007 foram registradas 402 ocorrências policiais contra 406 no ano

anterior.

Essa analise comprova que o uso ou não de bebidas alcoólicas não contribuiu

para a queda da violência nos jogos de futebol ocorridos no período destacado. A

pesquisa foi importante para comprovar que, no caso dos jogos no Estádio do

Mineirão, não houve ligação entre o ato de fazer a ingestão de bebidas alcoólicas

com o ato do cometimento de crime.

O alto número de ocorrências policiais registradas nos dias de jogos pode ser

justificado pela questão de oportunidade para o cometimento de crime. Em dias de

jogos há aglomerações de pessoas que podem passar de 50.000 torcedores e

muitos deles ficam relapsos no tocante a segurança, além da sensação de

impunidade que o anonimato pode trazer àqueles que têm a intenção de praticar

crimes.

Além das ocorrências policiais registradas no interior do Estádio do Mineirão,

foi realizado estudo comparativo de ocorrências que ocorreram no entorno do

estádio. Como já descrito anteriormente não houve mudança significativa no numero

de ocorrências nos anos de 2006 e 2007. O interessante é identificar os tipos de

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crimes mais comuns nesses dois anos e entender se os mesmos estão relacionados

ao uso do álcool.

Os crimes mais registrados no entorno do Estádio do Mineirão tanto no ano

de 2006 quanto no ano de 2007 foram: furto qualificado consumado arrombamento

de veiculo automotor, com 81 registros em 2006 e 97 registros em 2007, e furto

consumado a transeunte em via publica, com 58 registros em 2006 e 78 registros

em 2007. Quando verificamos a incidência desses crimes antes e após a proibição

de bebidas alcoólicas e a natureza desses delitos (crimes contra o patrimônio),

podemos concluir que não ligação entre eles e o uso de bebidas alcoólicas. Isso

pode ser explicado porque a ingestão de bebida alcoólica pode alterar o

discernimento da pessoa tornando a mais agressiva e o crime de furto não é um

crime propriamente com o uso de violência. Ainda podemos dizer que esses crimes

estão relacionados a oportunidades de cometê-los, ou seja, em um local onde o

fluxo de pessoas é muito grande e o número de veículos estacionados nas ruas

também é, cria se uma atmosfera propicia para que os delinqüentes possam atuar.

Um fato analisado durante a realização da pesquisa é o aumento do número

de ocorrência policiais relacionadas ao posse ou guarda para uso próprio de

substância entorpecente, na maioria dos casos a apreensão de maconha, cocaína

ou crack no interior do Estádio do Mineirão. De acordo com esses dados pode-se

confirmar que ou mais pessoas estão tentando adentrar no interior do Estádio do

Mineirão portando substâncias entorpecentes ou a revista policial na entrada do

Estádio está sendo mais eficiente. Deve se também entender que algumas pessoas

confundem diversão nos estádios com o uso de substancias entorpecentes, ou seja,

que mudam o juízo normal do ser humano e uma vez que não se pode consumir o

álcool no interior do estádio algum torcedor pode tentar outra droga alternativa.

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Lembrando que é mais fácil esconder uma pedra de crack ou um cigarro de

maconha do que uma lata de cerveja ou garrafa de destilado.

Grande parte dos crimes e contravenções penais registrados nos anos de

2006 e 2007, quando analisados não tiveram variação que pudesse comprovar a

sua incidência ou não com o uso de bebidas alcoólicas. Tanto no interior do Estádio

do Mineirão quanto no seu entorno não foi possível através dos dados analisados

comprovar a diminuição da violência nos Estádios de Futebol após a proibição do

uso e comercialização de bebida alcoólica.

Nesse caso, pode-se concluir que a proibição do consumo e venda de

bebidas alcoólicas dentro do Mineirão não contribuiu para a diminuição da violência

nos jogos e a instauração da paz e tranqüilidade daqueles que vão aos estádios

para se divertir e entreter-se com um espetáculo que é uma paixão nacional.

A titulo de conclusão, deixa-se claro que apenas a proibição do consumo e

vendas de bebidas alcoólicas por si só não resolve o problema da violência nos

estádios de futebol, pois como já mencionado a questão cultural e o comportamento

agressivo, principalmente dos participantes de torcida organizada são problemas

muito complexos e requerem estudos mais aprofundados.

É preciso que a legislação municipal torne-se mais rigorosa punindo de forma

eficaz qualquer cidadão agressor, seja este participante ou não de uma gangue. É

preciso ainda que a Polícia Militar desenvolva estratégias de contenção cada vez

mais eficazes, principalmente as relacionadas ao policiamento de áreas de risco

após os jogos (como por exemplo, a Praça Sete, local tradicional de encontro de

torcidas após os jogos) visando coibir qualquer tentativa de explosão das torcidas,

seja com relação à violência contra a pessoa, ou com relação à atitudes de

depredamento, vandalismo ou arrastões.

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Finalmente destaca-se que acabar com a violência deve partir da própria

sociedade e principalmente, no caso deste trabalho, deve partir das torcidas

organizadas que devem punir os membros agressivos e controlar de forma mais

eficaz a atuação de todos os membros dentro e fora dos estádios.

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