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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO PEDAGOGIA – ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL CARLA VANESSA TRINDADE DE LIMA A TRANSVERSALIDADE DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PRESSUPOSTOS PARA A SUA EFETIVAÇÃO NA PRÁTICA DOCENTE NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Salvador-Ba 2010

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO

PEDAGOGIA – ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

CARLA VANESSA TRINDADE DE LIMA

A TRANSVERSALIDADE DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL:

PRESSUPOSTOS PARA A SUA EFETIVAÇÃO NA PRÁTICA DOCENTE NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO

FUNDAMENTAL

Salvador-Ba

2010

1

CARLA VANESSA TRINDADE DE LIMA

A TRANSVERSALIDADE DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PRESSUPOSTOS PARA A SUA EFETIVAÇÃO NA PRÁTICA

DOCENTE NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção da graduação em Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia. Orientador: Professor Dr. Luciano Bomfim.

Salvador-Ba

2010

2

CARLA VANESSA TRINDADE DE LIMA

A TRANSVERSALIDADE DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PRESSUPOSTOS PARA A SUA EFETIVAÇÃO NA PRÁTICA DOCENTE NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção da graduação em Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia. Orientador: Professor Dr. Luciano Bomfim.

Aprovado em: ___/___/___

BANCA EXAMINADORA

Professor Dr. Luciano Sérgio Ventin Bomfim - UNEB

Professora Msc. Ieda Balogh - UNEB ___________________________________________________________________ Professor Dr. Valdélio Santos Silva - UNEB

Salvador-Ba

2010

3

RESUMO

O presente trabalho tem como proposta explicitar os pressupostos para a efetivação da transversalidade da educação ambiental na prática docente nos anos iniciais. Para delinear este estudo, a metodologia empregada baseou-se nas análises e reflexões de obras previamente selecionadas. Primeiramente, optamos por escolher as obras de autores considerados secundários como Rodrigo Duarte, Sônia Kramer, Sandra Mara Corazza, Mauro Guimarães, Genebaldo Freire e outros para que pudéssemos compreender com mais facilidade as obras de autores considerados primários como Karl Marx, Paulo Freire, Hilton Japiassu, Zygmunt Bauman e Philippe Ariès, cujas ideias contribuíram de forma expressiva para o desenvolvimento do presente trabalho. Além destes é importante ressaltar a análise de documentos oficiais, como os Parâmetros Curriculares Nacionais e o Estatuto da Criança e do Adolescente. A partir disto fizemos uma análise da relação do ser humano com a natureza e como se desencadeou o processo da degradação ambiental no modo de produção capitalista com o intuito de se compreender a emergência e importância da educação ambiental. Estruturamos este trabalho em três capítulos. No primeiro discutimos a relação do ser humano com a natureza, como esta é vista no modo de produção capitalista e como o discurso de desenvolvimento sustentável é divulgado no contexto de mercado. No segundo fizemos uma abordagem sobre o conceito de infância, como este foi se formando ao longo dos séculos e a importância da educação ambiental para o desenvolvimento das crianças, visto que estas também são agentes transformadoras do meio ambiente em que vivem. Já no terceiro capítulo fizemos referência à transversalidade da educação ambiental na prática docente como um recurso que pode proporcionar a aprendizagem significativa do aluno. Nas considerações finais, apresentamos os pressupostos que consideramos inicialmente mais relevantes, nesta pesquisa, para a efetivação da transversalidade da educação ambiental na prática docente. São eles: o professor, enquanto ser vivo, precisa reconhecer a sua dependência em relação ao meio ambiente/natureza, é necessário conhecer os princípios e objetivos da educação ambiental, além de ter consciência da sua função social desenvolvendo diariamente uma prática transversal.

Palavras-chave: Modo de produção capitalista. Educação ambiental.

Transversalidade. Prática docente. Meio ambiente.

4

AGRADECIMENTOS

A Deus,

Aos meus pais e irmãos.

A Fabiano, meu esposo, por ter compartilhado o seu saber ao longo da minha

formação acadêmica.

Às minhas amigas, em especial Aline Rocha e Daiana Leão, pelo apoio

incondicional.

Ao meu orientador Luciano Bomfim, por ter me incentivado.

5

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 6

2 AMBIENTALISMO X CAPITALISMO

9

2.1 A NATUREZA NO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA

9

2.2 A RELAÇÃO SER HUMANO-NATUREZA NO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA

14

2.3 A EMERGÊNCIA DO DISCURSO AMBIENTAL NO CONTEXTO DO CAPITAL

20

2.3.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: IDEOLOGIA

22

3 INFÂNCIA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL

26

3.1 CONCEITO DE INFÂNCIA

26

3.2 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA

32

4 A TRANSVERSALIDADE DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

37

4.1 A EMERGÊNCIA E FUNÇÕES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO DO CAPITAL

37

4.2 POSSIBILIDADES E PRESSUPOSTOS DA TRANSVERSALIDADE DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NOS ANOS INICIAIS

42

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

49

REFERÊNCIAS

52

6

1 INTRODUÇÃO

Diante de tantos acontecimentos, muitas vezes, irreversíveis no meio

ambiente/natureza1, causados pela ação humana, se faz necessário uma

abordagem sobre as questões ambientais, no que diz respeito aos seus impactos. O

meio ambiente é tudo que cerca o ser humano, que com ele mantêm uma estreita

relação, pois este faz parte do meio ambiente e sem ele não sobrevive. Porém,

mesmo dependendo desta condição para sobreviver, o que diariamente observamos

são os impactos negativos derivados da ação humana, que acarretam a degradação

dos recursos ambientais, especialmente nas sociedades cujo modelo econômico é o

modo de produção capitalista.

Ao longo dos séculos XX e XXI, a degradação do meio ambiente se

intensificou, comprometendo a sobrevivência da sociedade atual e tornando

realidade a possibilidade de não sobrevivência das gerações futuras. Diante desta

situação, se iniciou um processo de “conscientização”, não apenas dos

ambientalistas, mas da sociedade como um todo, em relação ao cuidado, à

preservação e conservação da natureza. Desta forma, criou-se o “desenvolvimento

sustentável” como alternativa para se resolver ou amenizar as questões ambientais.

No entanto, é importante ressaltar que no modo de produção capitalista, torna-se

extremamente questionável o desenvolvimento sustentável, uma vez que no

capitalismo tudo é transformado em mercadoria, inclusive os recursos naturais.

Entendemos que para o desenvolvimento sustentável ser viabilizado, o

mesmo não deverá ser concebido de forma fragmentada, ou seja, os aspectos

sociais, econômicos e políticos devem estar integrados, buscando o

desenvolvimento ético da sociedade, voltados para o ser humano e não para a

lógica do capital. E o que seria o desenvolvimento ético da sociedade? De uma

forma simples, o desenvolvimento ético parte do princípio de uma educação que não

abranja, apenas, conteúdos escolares pré-estabelecidos, mas também conteúdos

que contemplem a realidade de cada aluno e isto poderá ser feito através da

transversalidade da educação ambiental.

A transversalidade, quando aplicada de forma efetiva, tem a capacidade de

abordar de uma forma não engessada temas relevantes sobre o ser humano e as

1 Para este trabalho emprega-se o termo natureza para se referir aos recursos naturais e meio ambiente como tudo

que cerca o ser humano e com este mantém uma relação. Ressaltamos que o ambiente pode ser “natural” ou

modificado pela ação humana.

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importantes questões que o cercam: problemática ambiental, social, econômica e

política que permeiam a sociedade. Discutir e entender estas questões são de

fundamental importância para o florescimento da criticidade e o desenvolvimento da

cidadania.

Para que a educação ambiental seja compreendida como uma ferramenta de

conscientização e de mudança, se faz necessário a união do ensino e da

aprendizagem, ou seja, é preciso que não apenas o aluno seja conscientizado da

importância de se preservar e conservar o meio ambiente/natureza, mas é

necessário que o professor em sua prática, também tenha consciência de que é um

ser humano, um cidadão que está inserido no ambiente, para que em sua prática

diária, seja um dos principais agentes transformadores e que possa permitir que

seus alunos reflitam sobre os problemas que afligem a sociedade e procurem

soluções para resolvê-los. Dessa forma, professor e aluno são, conjuntamente,

agentes responsáveis, pertencentes e transformadores do ambiente em que vivem.

Para haver compreensão e valorização por parte dos alunos em relação ao

meio ambiente/natureza, é necessário que o professor tenha noção do seu papel

social como educador, visando a formação de alunos reflexivos, em relação às

questões ambientais, sociais, econômicas e políticas, que são intrínsecas e

inseparáveis. Por isso, estudar e analisar estas questões, ainda que não seja algo

inédito é sempre relevante se considerarmos a dependência entre ser humano e

meio ambiente/natureza. É preciso alertar os alunos de que não haverá vida se não

existir uma relação harmônica entre o homem e o meio no qual está inserido.

O interesse em realizar uma pesquisa direcionada para a transversalidade da

educação ambiental surgiu pela curiosidade e necessidade de entender como se

deu e se dá a relação do ser humano com o meio ambiente/ natureza. Qual o motivo

das transformações ambientais? Por que o futuro dos seres vivos está

comprometido? Qual a função da natureza no modo de produção capitalista? Então,

diante de tantas inquietações, resolvemos pesquisar um dos aspectos mais cruciais

para a defesa da vida, qual seja, a transversalidade da educação ambiental no

âmbito escolar, focalizando a prática docente.

Dessa forma, este trabalho tem como proposta explicitar os pressupostos

para que a transversalidade da educação ambiental seja efetivada na prática

docente nos anos iniciais do ensino fundamental. A metodologia empregada baseou-

se nas análises e reflexões de obras previamente selecionadas. Primeiramente,

8

optamos por escolher as obras de autores considerados secundários como Rodrigo

Duarte (1995), Sônia Kramer (2007), Sandra Mara Corazza (2002), Mauro

Guimarães (2009), Genebaldo Freire (2004) e outros para que pudéssemos

compreender com mais facilidade as obras de autores considerados primários como

Karl Marx (1988), Paulo Freire (2006), Hilton Japiassu (1976), Zygmunt Bauman

(2008) e Philippe Áries (2006). Além destes, analisamos documentos oficiais, como

os Parâmetros Curriculares Nacionais e o Estatuto da Criança e do Adolescente.

No primeiro capítulo discutimos a relação do ser humano com a natureza,

como esta é vista no modo de produção capitalista e como o discurso de

desenvolvimento sustentável é divulgado no contexto de mercado. No segundo

capítulo fizemos uma abordagem sobre o conceito de infância e como este foi se

formando ao longo dos séculos e a importância da educação ambiental para o

desenvolvimento das crianças, visto que estas também são agentes transformadoras

do meio em que vivem. Já no terceiro capítulo fizemos referência à transversalidade

da educação ambiental na prática docente como um recurso que pode proporcionar

a aprendizagem significativa do aluno.

Nas considerações finais, apresentamos os pressupostos que consideramos

inicialmente mais relevantes, nesta pesquisa, para a efetivação da transversalidade

da educação ambiental na prática docente. São eles: o professor, enquanto ser vivo,

precisa reconhecer a sua dependência em relação ao meio ambiente/natureza, é

necessário conhecer os princípios e objetivos da educação ambiental, além de ter

consciência da sua função social desenvolvendo diariamente uma prática

transversal.

9

2 AMBIENTALISMO X CAPITALISMO

Com a transição do feudalismo para o capitalismo podemos observar como

houve uma estridente mudança na relação do ser humano com a natureza. Desde

então, a natureza passou a ser a principal fonte de lucro para o modo de produção

capitalista. Isto se evidenciou com o advento da Revolução Industrial que é o marco

para esse modelo econômico, hegemônico e monopolista presente nas sociedades

ocidentais.

É importante ressaltar que com o modo de produção capitalista, iniciou-se a

crise instalada no meio ambiente ao longo dos anos. Esta crise se refere à

degradação ambiental, que no decorrer do século XX se aprofundou e se perdura

neste início de século.

A degradação do ambiente trouxe conseqüências negativas não apenas para

a natureza, mas para todo e qualquer ser vivo. A natureza para o modo de produção

capitalista é vista como simples objeto de manipulação e transformação.

2.1 A NATUREZA NO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA

Quando pensamos na natureza, logo imaginamos as mais belas paisagens

constituídas pela fauna e flora, além do ar, água, solo, todos mantendo uma relação

harmônica. Entretanto, não podemos deixar de incluir o ser humano como parte

integrante da mesma, porém este com um enorme diferencial: é o único que tem a

competência de transformá-la em proveito próprio, ainda que possa desestabilizar o

curso harmônico da natureza.

O ser humano se relaciona com a natureza há milhões de anos e desde os

primórdios retira da mesma elementos para o seu sustento. Com o passar do tempo

o homem começou a se desenvolver, descobriu formas de melhor se adaptar ao

meio para garantir a sua sobrevivência. Desenvolveu técnicas para caçar, pescar,

construiu moradia, dominou o fogo, entre outros. Esta evolução lhe permitiu a

adaptação ao ambiente no qual vivia e favoreceu também, cada vez mais, a

adequação da natureza às suas necessidades, chegando ao estágio de grande

desenvolvimento da ciência e da tecnologia que estamos vivenciando no século

atual.

10

O melhor desenvolvimento do ser humano tornou-se possível a partir do

momento em que este percebeu que é um ser consciente e livre, consciente pelo

fato de ter a capacidade de pensar, e livre, por ser o único com autonomia para

manipular e transformar tudo ao seu redor, conforme as suas necessidades e

vontades. Isto diferencia o ser humano das outras espécies e com esse pensamento

percebemos que:

[...] a tomada de consciência do homem como um ser distinto dos outros seres é um primeiro passo para o reconhecimento explicito da alteridade da natureza, indispensável para a constituição de um conhecimento mais objetivo da mesma [...] (DUARTE, 1995, p.23).

Segundo Duarte, a certeza que o ser humano tem de que é diferenciado em relação

as demais espécies permite que este maneje e interfira na natureza, através da sua

“consciência” e também pelas suas experiências em relação ao meio em que está

inserido. O ser humano estuda a natureza não só para conhecê-la, mas também

para se apropriar da mesma de forma que lhe seja conveniente. Isto quer dizer que o

ser humano “[...] por meio de sua atividade modifica as formas das matérias naturais

de um modo que lhe é útil [...]” (MARX, 1988, p.70). Karl Marx deixa bem claro que o

ser humano tem aptidão de manipular, transformar e construir novos elementos com

a exploração da natureza, de maneira que lhe seja vantajoso e que também o

mantenha um ser distinto das outras espécies.

No modo de produção capitalista, a natureza não tem o simples objetivo de

suprir as necessidades básicas do ser humano como, por exemplo, alimentação,

moradia e vestimenta, mas deve servir como elemento que proporcione lucros cada

vez maiores, pois para esse modelo econômico, a natureza já não tem apenas a

função de subsidiar estas necessidades, mas auxiliar na manutenção da produção

capitalista. E de que forma o ser humano faz com que a natureza contribua para o

fortalecimento da produção capitalista?

O estudo da história deixa evidente que o sistema capitalista anseia pela

acumulação de riquezas, assim a natureza para este modelo econômico serve como

um eixo seguro para efetivar seu objetivo principal: acumulação de poder e riqueza.

A partir desta lógica é atribuído um valor de uso à natureza e sobre valores de uso,

Duarte afirma que estes são:

11

[...] em primeiro lugar, objetos para a satisfação de uma carência humana determinada e, portanto, estão ligados às propriedades naturais das coisas. Por exemplo, o algodão, por sua possibilidade de ser esticado e torcido de certo modo, presta-se à confecção de fios, que por sua vez podem ser tecidos, cortados e costurados de modo a abrigar o homem. Numa sociedade mercantil, o valor de uso funciona como um dos pólos da mercadoria, que tem por sua função, por sua utilidade, possibilitar a realização do seu outro pólo, o valor [...] (DUARTE, 1995, p. 68).

Referindo-se especificamente à natureza, e corroborando com o pensamento de

Duarte, notamos que a natureza tem valor de uso mesmo antes de ser transformada

em ‘objetos’ pela ação humana, uma vez que esta fornece elementos que nos são

úteis e essenciais para o nosso sustento enquanto espécie, a exemplo da fruta que

nos alimenta, o sol que nos aquece, o oxigênio que nos mantém vivos, a água que

nos hidrata, mas que por outro lado também nutri o modo de produção capitalista,

visto que neste sistema tudo tem um valor comercial, ou melhor, um valor de troca2,

tudo é transformado em mercadoria.

Para Marx a mercadoria é:

[...] um objeto externo, uma coisa, a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espécie [...] não se trata como a coisa satisfaz a necessidade humana, se imediatamente, como meio de subsistência, isto é, objeto de consumo, ou se indiretamente, como meio de produção (MARX, 1988, p.45).

A partir da definição de Marx, entendemos que a mercadoria tem dupla função,

atender as necessidades dos seres humanos e das forças produtivas, uma vez que

a mercadoria é produzida para o consumo humano e é uma das forças motrizes do

modo de produção capitalista. Mas vale ressaltar que:

[...] não é mais o consumo que determina a produção, mas o contrário, é a produção que determina o consumo. Logo, as necessidades são criadas em função dos interesses capitalistas, independente de suas conseqüências [...] (BOMFIM, 1996 p.48).

O que notamos é que no transcorrer do tempo, o objetivo do ser humano em suprir

as suas necessidades mais básicas foi superado pela necessidade cada vez mais

crescente de demandas induzidas, isto é, a escolha das necessidades deixou de ser

própria para ser “imposta”. De acordo com Bomfim, a produção define o consumo,

2 O valor de troca é definido pela forma como o trabalho é determinado na sociedade capitalista. (BOMFIM,

1996, p.49).

12

ou seja, novos produtos são desenvolvidos e colocados no mercado como

elementos fundamentais para os seres humanos. Estes devem consumi-los, adquiri-

los, porém percebemos que esses novos produtos não estão ligados as reais

necessidades do ser humano e sim às do modelo econômico em vigência, pois há

um interesse do capitalista nessa “imposição”.

O modelo capitalista necessita criar demandas de consumo inconscientes,

mas que pareçam naturais. Na verdade estas demandas não passam de

intermináveis apelos ao consumismo desenfreado. E cada vez que essas demandas

são criadas, é preciso nos questionar de onde vem a matéria-prima para tanta

produção? É preciso ter em mente que o ser humano sempre dependerá da

natureza, logo o modo de produção capitalista, invenção do próprio ser humano,

também dependerá indubitavelmente da natureza.

A natureza, no modo de produção capitalista passa pelo processo de

metamorfose, ou seja, ela sai do seu estágio primário, enquanto valor de uso até

chegar a um estágio final que é a mercadoria. Este processo se dá pela mediação

realizada pelo ser humano, através das forças produtivas3. Salientamos que o valor

de uso enquanto utilidade, nesse caso, é o menos importante em relação à

mercadoria portadora de valor.

A mercadoria produzida a partir dos recursos disponibilizados na natureza

precisa ser consumida, ela precisa ter um valor de troca. Então, as forças produtivas

dotadas de poder transformam os seres humanos em consumidores manipulados

pela ideia de que para ser cidadão é preciso ser consumidor. Lembrando que esse

consumo não está diretamente ligado apenas às necessidades básicas do ser

humano, mas às necessidades passageiras e descartáveis. Assim, a sociedade se

torna uma sociedade de consumidores.

Para o sociólogo polonês Zygmunt Bauman:

A sociedade de consumo tem como base de suas alegações a promessa de satisfazer os desejos humanos em um grau que nenhuma sociedade do passado pôde alcançar, ou mesmo sonhar, mas a promessa de satisfação só permanece sedutora enquanto o desejo continua insatisfeito; mais importante ainda, quando o cliente não está “plenamente satisfeito” – ou seja, enquanto não se acredita que os desejos que motivaram e colocaram em movimento a busca da satisfação e estimularam experimentos consumistas tenham sido

3 Ampliaremos essa discussão mais adiante.

13

verdadeira e totalmente realizados [...] (BAUMAN, 2008, p.63) (grifos do autor).

Bauman deixa claro que o apelo não é apenas para o consumo, mas para a

sensação de satisfação que o consumo carrega consigo, uma sensação que nunca

será totalmente satisfeita, uma vez que para a manutenção do sistema capitalista, o

que importa é consumir, a satisfação deve ser temporária.

Podemos inferir, cada vez mais que a natureza no contexto capitalista se

torna “descartável”, pois sempre são retiradas da natureza as matérias-primas que

são transformadas em mercadorias para consumo. Estas têm o papel de satisfazer

as necessidades do ser humano, não só as básicas, mas principalmente, as novas

necessidades de consumo, que são suscitadas pelo apelo de mercado: propaganda,

consumo e descarte. É exatamente neste ponto que a natureza é descartável, pois

as necessidades de consumo são criadas para serem supridas de forma passageira.

Logo, a mercadoria que é a natureza modificada passa a ter um valor que é

temporário, sendo descartada rapidamente no âmbito da sociedade capitalista.

O ser humano consumidor, que tem dinheiro para comprar, “parece”

desconhecer as reais intenções do modelo econômico vigente: conquistar o máximo

de lucro possível. Em uma sociedade voltada para economia de mercado, não é

interessante que as pessoas tenham consciência da problemática ambiental

acarretada pelo consumo desenfreado evidenciado na sociedade, principalmente

neste século. O que importa realmente é uma pseudoconsciência, uma consciência

formada a partir da interpretação de pontos de vista de “especialistas” que, apoiados

pela máxima “é comprovado cientificamente” têm a autoridade subjetiva de

“manipular” opiniões.

Como o principal objetivo do modo capitalista de produção é a acumulação de

riqueza e a obtenção cada vez maior do lucro, a natureza através dos seus recursos

naturais é fundamental para manter vivo este sistema, já que a mesma possui valor

comercial, a partir das alterações que sofrem pela própria ação humana funcionando

como meios produtivos e de consumo. Então, a todo instante novas mercadorias são

feitas, novas necessidades são atribuídas para a sociedade capitalista. Para elucidar

este pensamento Marx nos diz que:

As mercadorias vêm ao mundo sob a forma de valores de uso ou de corpos de mercadorias, como ferro, linho, trigo, etc. essa é a sua forma natural com que estamos habituados. Elas são só

14

mercadorias, entretanto, devido à sua duplicidade, objetos de uso e simultaneamente portadores de valor. Elas aparecem, por isso, como mercadoria ou possuem a forma de mercadoria apenas na medida em que possuem forma dupla, forma natural e forma de valor [...] (MARX, 1988, p. 53).

O pensamento de Marx explica o que estamos discutindo, ou seja, a mercadoria é

‘objeto de uso’ com valor, comercialmente falando, pois a mercadoria tem a

finalidade de satisfazer a necessidade de quem a adquiriu e ao próprio sistema

econômico. Os recursos naturais são ‘corpos de mercadorias’ em sua forma

primária, sem a intervenção dos seres humanos sobre os mesmos e com ‘valores de

usos’ já aplicados, antes mesmo de serem manipulados.

O modo de produção capitalista, a partir das forças produtivas, recursos

tecnológicos e avanços científicos possibilita que enormes transformações sejam

realizadas no ambiente natural, e o discurso utilizado é que essas alterações visam

à melhoria do próprio ser humano, quando na verdade a intenção não é somente

essa.

Contudo, compreendemos que a natureza constantemente sofre intervenções

humanas. O ser humano já não se relaciona com a mesma como se fossem únicos,

na verdade existe uma relação de poder sobre o ambiente natural, sobre seus

recursos visando o enriquecimento e fortalecimento do modo de produção

capitalista, por meio das forças produtivas.

2.2 A RELAÇÃO SER HUMANO-NATUREZA NO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA

Vimos no tópico anterior como a natureza é vista no modo de produção

capitalista. Compreendemos que a natureza neste sistema econômico é

transformada em mercadoria, através da mediação do ser humano, por meio das

forças produtivas. Esta intervenção ocorre através do trabalho humano.

Antes de fazermos uma abordagem sobre a relação do ser humano com a

natureza é preciso salientar que o trabalho é intrínseco ao ser humano e também

uma necessidade básica. O ser humano sempre desempenhou atividades para se

manter vivo, atividades que lhe dessem a oportunidade de obter alimentos, moradia

e outras. Isto o ser humano conquistou a partir do seu contato direto com a natureza

15

e com o conhecimento que adquiriu sobre esta, a partir de estudos e com sua

própria evolução, enquanto espécie diferenciada dos demais seres vivos.

Mas a questão é como a atividade outrora desempenhada pelo ser humano

era efetivada, isto é, como o ser humano se relacionava com a natureza?

Certamente havia uma relação mais harmônica e de respeito com a mesma e esta

era mediada pelo trabalho humano, mas um trabalho essencial à vida, à

sobrevivência da espécie humana. Era um trabalho diferenciado e muito distinto do

que é hoje, já que ainda não existiam as forças produtivas essenciais ao modo de

produção capitalista, pois:

Primitivamente o trabalho era mais inter-ação do que intervenção, pois o ser humano tinha veneração diante da natureza. Somente utilizava aquilo que precisava para sobreviver e tornar mais segura e prazerosa a existência [...] (BOFF, 2001, p.93).

Conforme nos explicita o teólogo Leonardo Boff4, aparentemente o trabalho humano

se apresentava como uma relação mútua entre o ser humano e a natureza, na qual

o ser humano só extraia o essencial à sua sobrevivência, não existindo ainda a

interferência intensiva e dominante do ser humano sobre o ambiente natural, ou

seja, os impactos negativos causados pelo ser humano tinham uma dimensão menor

se comparados ao que se tem observado na atualidade. O que Boff traz, é que,

através da utilização da razão instrumental-analítica, da objetividade, o ser humano

começou a intervir com mais profundidade na natureza, distanciando-se da realidade

com o objetivo de:

[...] estudá-la como a um objeto para acumular experiências e dela assenhorear-se. Cumpre enfatizar que os ”objetos” não são objetos em si. São feitos pela razão, pois ela os isola do seu meio, os separa de outros companheiros de sua existência e os usa para os seus interesses. A “objetividade” é uma projeção da razão [...] que compartimenta a realidade para melhor conhecê-la e subjugá-la; usa de poder e até de agressão para alcançar seus objetivos utilitaristas [...] (BOFF, 2001, p.94-95).

Ao discorrer sobre a razão instrumental-analítica, Boff faz referência à pesquisa

científica, que estuda a natureza como a um “objeto” para poder “dominá-la” e

4 Leonardo Boff é professor de teologia, filosofia, espiritualidade e de ecologia. Ajudou a formular, juntamente

com Frei Betto e outros, a Teologia da Libertação.

16

subjugá-la. Assim, notamos que a “inter-ação” que havia entre o ser humano e a

natureza é algo que diminuiu de forma drástica, principalmente, com a introdução do

modo de produção capitalista na sociedade, pois “[...] do ponto de vista prático, a

natureza torna-se um simples campo para a exploração técnica, levada a extremos

pelo surgimento da indústria moderna [...]” (DUARTE, 1995, p.32). Esta reflexão

deixa explícito que no modo de produção capitalista a natureza foi reduzida a uma

mercadoria, que tem como função propiciar o lucro desse modelo econômico,

havendo assim uma mudança na ação do ser humano sobre a natureza, a partir da

sua exploração incessante e predatória.

Entretanto, o ser humano deve ter em mente que apesar do seu domínio

sobre natureza, precisa dela para se manter vivo, pois como nos ensina Marx:

A natureza é o corpo inorgânico do homem, ou seja, a natureza na medida em que não é o próprio corpo humano. O homem vive da natureza, ou também, a natureza é o seu corpo, com o qual tem de manter-se em permanente intercâmbio para não morrer [...] (MARX, 2006, p.116).

Ao falar sobre a integração do ser humano com a natureza, Marx, já no século XIX,

expressava a dependência do ser humano com a mesma. É fato que o ser humano

precisa da natureza para sobreviver e este deveria considerar o seu corpo como

uma extensão da mesma. Esta afirmação corrobora com a idéia de que ser humano

e natureza são inseparáveis, com a necessidade de viver em perfeita simbiose.

Todavia, o que percebemos ao longo dos anos, é que o respeito à natureza,

ou melhor, a si próprio, deixou de existir, pois a partir do progresso humano, através

das inovações tecnológicas e científicas, o ser humano no contexto capitalista, já

não utiliza os recursos naturais apenas para se manter vivo, pois não só atua “[...] na

natureza com o objetivo de se apropriar de suas matérias para a satisfação de suas

necessidades orgânicas [...]” (DUARTE, 1995, p.63), mas também para alimentar

este modelo de produção econômico.

As necessidades orgânicas que são inerentes a todo ser humano e que

precisam ser supridas para que o mesmo mantenha o seu ciclo de vida, são

saciadas, em sua maioria, pela apropriação dos recursos fornecidos pela natureza.

No entanto, se evidencia que o ser humano mesmo dependendo da natureza,

transforma o seu comportamento diante da mesma, isto é, “[...] no que ele a

transforma, transforma também a sua própria natureza [...]” (DUARTE, 1995, p.63),

17

em outras palavras, o ser humano muda a sua conduta, evolui enquanto espécie e

explora a natureza passando a existir assim, uma relação de poder e domínio sobre

esta5.

Dessa forma, houve uma ruptura entre a relação ser humano-natureza, ou

seja, a natureza deixou de ser o ‘corpo inorgânico’ do ser humano e passou a ser o

corpo do modo de produção capitalista. A natureza posta no ambiente está a serviço

da razão do capitalismo, este permanece vivo pelo valor de uso, de troca e do lucro

que os recursos naturais oferecem à economia. É através do trabalho realizado

pelos seres humanos, por meio das forças produtivas que se estabelece a co-

relação entre o valor de uso, o valor de troca e o lucro. Notemos que:

O trabalho não é mais relacionado com a natureza (modelação), mas com o capital [...]. O trabalho agora é trabalho assalariado e não atividade de plasmação da natureza. As pessoas vivem escravizadas pelas estruturas do trabalho produtivo, racionalizado, objetivado e despersonalizado, submetidas à lógica da máquina [...] (BOFF, 2001, p.97).

Leonardo Boff sinaliza para o fato de como o ser humano foi condicionado a viver

para um trabalho desassociado da natureza, no qual o seu trabalho não lhe pertence

mais, ou seja, o ser humano se tornou alheio à natureza e ao próprio trabalho. Isto é

uma das conseqüências que o modo de produção capitalista trouxe para o ser

humano. Este, nesse modelo econômico, realiza um trabalho que não lhe pertence,

pois o trabalhador vende a sua força de trabalho aos representantes do capitalismo,

para ter um mínimo de garantia em relação a sua sobrevivência dentro dessa

conjuntura econômica, uma segurança de que as suas necessidades básicas

possam ser supridas. Conforme nos diz Bomfim:

[...] o trabalhador vende a sua força de trabalho e não seu trabalho ao capitalista que lhe dá, como equivalente, o valor em forma de salário, correspondente as horas de trabalho proposta pelo proprietário dos meios de produção, e que são necessárias a reprodução da força de trabalho [...] (BOMFIM, 1996, p.59).

5 Enfatizamos que esta relação se dá por intermédio do trabalho humano, a partir das forças produtivas no modo

de produção capitalista.

18

Compartilhando da ideia do autor é perceptível como o ser humano (trabalhador),

precisa vender a sua força de trabalho para poder receber um salário, muitas vezes

defasado, com o intuito de assegurar as suas necessidades básicas, que podem ser

ou não atendidas. O trabalhador se torna “refém” do modo de produção capitalista.

Assim entendemos que “[...] a base de funcionamento do desenvolvimento

capitalista como um todo é dado pela busca de expansão constante do capital.

Trata-se de um objetivo puramente monetário, quantitativo e unidimensional [...]”

(RAMPAZZO, p. 163, 1999). O importante para os proprietários dos ‘meios de

produção’, é o resultado monetário que será alcançado, a partir da relação do ser

humano (trabalhador) com a natureza, ou seja, como este irá manipulá-la, a fim de

transformá-la em valor de troca.

O ser humano moderno “vive” basicamente para o trabalho6, pois sem este é

provável que fique a margem do sistema capitalista, sem condições para se manter

vivo e suprir as suas necessidades básicas. O ser humano diminuiu o seu contato

direto com a natureza, até mesmo para a sua subsistência. Isso é devido à própria

dinâmica do modo de produção capitalista que não permite que o indivíduo

contemple a natureza mantendo uma relação de simbiose e interação com a mesma,

além de expropriar o trabalho enquanto essência do ser humano.

O modo de produção capitalista fez com que o ser humano, trabalhando, se

afastasse cada vez mais da natureza, e de si próprio. Para Bomfim são quatro as

formas de alienação do ser humano no modo de produção capitalista porém, para

esta discussão citaremos duas, que são, a alienação do ser humano em relação a

natureza e de si mesmo. E de que forma isso acontece? Para este autor:

[...] o trabalhador está alienado da natureza, uma vez que o emprego da sua força de trabalho depende dos meios de produção e dos elementos da natureza que são propriedade do capitalista que, por sua vez, faz do produto do trabalho do trabalhador propriedade sua.[...] o trabalhador está alienado de si mesmo, na medida em que sua força de trabalho pertence a outro; em que seu emprego “descarta” a manifestação do trabalhador enquanto ser genérico, na medida em que seu fazer não é seu, mas de outro. O trabalhador não se ver no seu trabalho [...] (BOMFIM, 1996, p.81) (grifos do autor).

6 Destacamos que o trabalho empregado aqui não é o trabalho de ‘modelação’ e inerente ao ser humano, mas a

uma atividade executada por este e que lhe é distante.

19

A partir do que foi exposto por Bomfim, percebemos que o ser humano é

completamente dependente das forças produtivas. No modo de produção capitalista

é preciso que o ser humano venda a sua força de trabalho para sobreviver. Tudo o

que produz é alheio a si próprio, inclusive os recursos da natureza que são utilizados

na produção. Desta forma, podemos apreender que quem determina como será a

relação do ser humano com a natureza e como o trabalho será realizado são os

donos dos instrumentos de transformação dos elementos da natureza em

mercadoria. O trabalho nesse contexto, já não atende apenas a uma necessidade

humana, enquanto atividade inerente ao ser humano, mas ao modo de produção

capitalista.

Com isso, observamos que quanto mais o ser humano trabalha para

sustentar a si próprio ele acaba sustentando o capitalismo, além de se tornar mais

distante da natureza, isto é, “[...] o trabalho alienado aliena a natureza do homem,

aliena o homem de si mesmo [...]” (MARX, 2006, p. 116). Compreendemos, a partir

do que expõe Marx, que a natureza e o trabalhado são estranhos ao trabalhador,

uma vez que este foi condicionado a viver para um trabalho dissociado da natureza,

em que a produção em excesso e o lucro não lhe pertencem, sendo que estes são

os principais objetivos da ideologia capitalista.

O modo de produção capitalista retira a sua rentabilidade da natureza

modificada e do próprio ser humano, por meio da sua força de trabalho. Desta forma,

o ser humano se torna alheio à natureza e ao próprio trabalho, enquanto atividade

humana, uma vez que vende a sua força de trabalho por um salário para se manter

vivo, o mínimo suficiente para um novo dia de trabalho, manipulando apenas os

recursos naturais, que pertencem aos capitalistas. Então, se evidencia que a relação

do ser humano com a natureza é mediada, por meio das forças produtivas.

Ao longo dos séculos a natureza passou e ainda passa por constantes

alterações, que na maioria dos casos são irreversíveis. Isto se deve ao fato da

natureza ser vista, no modo de produção capitalista, meramente como mercadoria.

Como consequência surgiu um desequilíbrio ambiental que se não for controlado

poderá colocar em risco a sobrevivência de todos os seres vivos. Isto fez com que o

ser humano “refletisse” sobre as suas ações na natureza e “criasse” algumas

alternativas com o intuito de preservá-la e de conservá-la. Porém, será que há de

fato uma preocupação com a natureza em uma sociedade capitalista, em que os

20

meios de produção determinam a relação do ser humano com a natureza? É o que

tentaremos abordar no tópico seguinte.

2.3 A EMERGÊNCIA DO DISCURSO AMBIENTAL NO CONTEXTO DO CAPITAL

Para se adaptar ao ambiente natural em que vivia, foi preciso que o ser

humano buscasse ao longo dos séculos alternativas que pudessem garantir a sua

sobrevivência. Desta forma, o ser humano desencadeou processos de intervenções

na natureza que perduram até hoje.

A interferência humana na natureza a priori tinha o objetivo de suprir as

necessidades básicas do ser humano, além de fazer com que este se adaptasse ao

meio ambiente de uma maneira melhor e mais confortável. Sendo assim, o ser

humano se apropriou dos recursos naturais e estes passaram a ter um valor de uso

para o mesmo. Os recursos da natureza tinham um valor de uso que estavam

voltados para a subsistência humana e tudo o que se produzia era para o seu

sustento, não existindo ainda a forma mercadoria. Contudo, o ser humano “evoluiu”,

se adaptou e transformou o ambiente ao seu redor, novas tecnologias apareceram,

assim como a ciência que permitiu que o ser humano estudasse e conhecesse a

natureza de forma mais detalhada. Com isso, o ser humano iniciou um processo de

exploração no ambiente natural, em especial nas sociedades ocidentais, que na

atualidade já não atende apenas as suas necessidades básicas, mas as do modo de

produção capitalista.

A partir desse pensamento podemos inferir que a interferência humana em

relação à natureza se tornou mais efetiva, principalmente pelo fato do ser humano

ser consciente e livre, condição inerente à espécie humana. Sendo assim, o ser

humano pode manipular e modificar tudo ao seu redor. Para essa reflexão

ressaltamos o ambiente natural, que por sua vez mostrava-se:

[...] em estado de equilíbrio dinâmico até o momento em que as sociedades humanas passaram, progressivamente, a interferir cada vez mais intensamente na exploração de recursos naturais. Essa exploração ambiental está diretamente ligada ao avanço do complexo desenvolvimento tecnológico, cientifico e econômico que, muitas vezes tem alterado de modo irreversível, o cenário do planeta e levado a processos degenerativos profundos na natureza [...] (RAMPAZZO, 1999, p. 157).

21

É evidente, como afirma Rampazzo, que a influência do ser humano na natureza

acarretou um desequilíbrio ambiental, de forma progressiva e “irreversível”. E isso é

uma das conseqüências do modo de produção capitalista que necessita dos

recursos naturais e das mercadorias produzidas.

Leonardo Boff também explicita sobre a ação do ser humano no ambiente

natural revelando um ‘descuido’ e ‘descaso’ deste com o mesmo, com o planeta

Terra, já que os:

[...] Solos são envenenados, ares são contaminados, águas são poluídas, florestas são dizimadas, espécies de seres vivos são exterminados. [...] Um principio de autodestruição está em ação, capaz de liquidar o sutil equilíbrio físico-químico e ecológico do planeta e devastar a biosfera, pondo assim em risco a continuidade do experimento da espécie homo sapiens e demens [...] (BOFF, 2001, p. 20).

Boff esclarece que o ambiente natural sofre grandes impactos e que estes são

negativos, uma vez que colocam em risco a sobrevivência dos seres vivos e a do

próprio planeta. Este ainda para Boff:

É um sistema de sistemas e superorganismos de complexo equilíbrio, urdido ao longo de milhões de anos. Por causa do assalto predador do processo industrialista dos últimos séculos esse equilíbrio está prestes a romper-se em cadeia. Desde o começo da industrialização, no século XVIII, a população mundial cresceu 8 vezes, consumindo mais e mais os recursos naturais; somente a produção baseada na exploração da natureza, cresceu mais de cem vezes. O agravamento deste quadro com a mundialização do acelerado processo produtivo faz aumentar a ameaça e, conseqüentemente, a necessidade de um cuidado especial com o futuro da Terra [...] (BOFF, 2001, p. 133).

A ideia que Boff nos traz confirma ainda mais a problemática ambiental promovida,

principalmente, com a industrialização nas sociedades. Com isso, o equilíbrio dos

sistemas e superorganismos do planeta já começaram a romper as suas estruturas e

ligações. O aumento do consumo é uma conseqüência das novas necessidades

consumistas criadas pelo modo de produção capitalista e isso faz com que a

exploração do ser humano sobre a natureza se expanda, além de tornar o consumo

mais essencial do que a própria preservação e conservação da natureza.

22

Sendo assim a sociedade tornou-se uma sociedade de consumo7 em que o

status destaca-se em relação ao ser. A sociedade de consumo é:

[...] uma das inúmeras tentativas de compreensão das mudanças que vêm ocorrendo nas sociedades contemporâneas. Refere-se à importância que o consumo tem ganhado na formação e fortalecimento das nossas identidades e na construção das relações sociais. Assim, o nível e o estilo de consumo se tornam a principal fonte de identidade cultural, de participação na vida coletiva, de aceitação em um grupo e de distinção com os demais. Podemos chamar de consumismo a expansão da cultura do “ter” em detrimento da cultura do “ser” [...] (BRASIL, 2005, p.15).

A partir do pensamento exposto percebemos como o modo de produção capitalista,

ao longo dos séculos foi transformando a sociedade e valorizando o consumo. Este

permeia as relações sociais entre os seres humanos, além de assumir um papel de

destaque na sociedade. Essa situação é preocupante, pois se existem demandas de

consumo e isso é o que realmente importa, significa dizer que a exploração dos

recursos naturais são cada vez mais intensificados, colocando em risco a

sobrevivência dos próprios seres humanos “consumidores”.

Para combater uma provável extinção dos seres vivos e dos recursos

naturais, criou-se o desenvolvimento sustentável cujo objetivo é desenvolver a

economia das sociedades, através dos recursos naturais, mas sem agredir de forma

tão predatória o meio ambiente. Mas, será que desenvolver a economia de forma

sustentável das sociedades que tem como modelo econômico o capitalismo, é

realmente possível? Ou será que o desenvolvimento sustentável não passa de um

mero discurso capitalista?

2.3.1 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: IDEOLOGIA?

O discurso do desenvolvimento sustentável é propalado como alternativa para

minimizar os danos causados ao meio ambiente. A “invenção” do desenvolvimento

sustentável tem como proposta desenvolver a economia das sociedades capitalistas

com a utilização dos recursos naturais provocando o mínimo de impacto no meio

ambiente. Porém, isso pode ser de fato viabilizado ou é uma maneira sutil de

continuar explorando e degradando os recursos naturais e o ambiente?

7 Lembramos que no modo de produção capitalista o consumo é extremamente indispensável para a manutenção

desse modelo econômico.

23

Sabemos que no modo de produção capitalista novas demandas de consumo

são criadas para que esse modelo econômico continue em vigência, ou seja,

produtos são elaborados e colocados para o ser humano como imprescindíveis para

a sua vida e que algum tempo depois são descartados para que os novos produtos

se tornem essenciais. Assim, identificamos a “[...] ideia de que o ‘modelo econômico’

da sociedade atual produz cada vez mais necessidades e, na busca das formas de

satisfazê-las, esgotam-se os recursos naturais [...]” (TOZONI-REIS, 2008, p. 28). E

isso se torna um ciclo nas sociedades capitalistas, o que aumenta

irresponsavelmente o consumo, a partir das novas necessidades. Como

consequência desse consumo desenfreado, temos dia após dia, observado um

aterrorizante aumento na utilização dos recursos naturais e da poluição ambiental, o

que tem desequilibrado a biodiversidade do planeta.

A exploração demasiada dos recursos naturais é extremamente necessária

para que o modo de produção capitalista se mantenha ativo. E devido a essa

exploração excessiva, notamos que muitos acontecimentos catastróficos como as

grandes enchentes ou o calor excessivo, devido às alterações no clima, por

exemplo, acontecem na sociedade de forma mais constante, causados pela força da

natureza como resposta à ação antropomórfica na mesma. Diante desta situação

fica difícil acreditar se os representantes das forças produtivas estão preocupados

em preservar os recursos naturais ou em utilizá-los de forma “consciente”, já que

estes são manipulados e transformados em mercadorias para serem posteriormente

comercializados.

Percebemos que os recursos naturais, além de manterem a sobrevivência e

melhorarem a “qualidade de vida” de pequena parcela8 de seres humanos, são

transformados em fonte de renda para o capitalismo. Vale ressaltar que o lucro é o

maior objetivo desse sistema econômico. Sendo assim, será que podemos acreditar

que as modificações pelas quais a natureza sofre são para favorecer a qualidade de

vida do ser humano e conseqüentemente a sua sobrevivência, não só no presente,

mas também no futuro?

Os representantes do modo de produção capitalista “vendem” a promessa de

melhoria da qualidade de vida, de desenvolvimento sustentável quando na verdade

não existe isso sem a comunhão entre o ser humano-natureza. O ser humano

8 “Pequena parcela”, pois nem todos os seres humanos são beneficiados com as transformações pelas quais os

recursos naturais passam até atingirem o estado de mercadorias.

24

precisa da natureza para se manter vivo, mas como vimos houve uma ruptura na

relação do ser humano com a natureza. Isto põe em risco a vida do ser humano,

assim como as dos demais seres vivos.

Então, os reflexos da separação entre ser humano e a natureza se

evidenciam cotidianamente, uma vez que as leis naturais já começaram a reagir a

essa ruptura e por mais que o ser humano desenvolva a sua tecnologia e ciência,

como forma de aperfeiçoar a sua qualidade de vida, a reversibilidade da

problemática ambiental se torna cada vez mais longínqua, já que:

[...] a paisagem natural está cada vez mais ameaçada, principalmente, pelo indiscriminado uso de recursos naturais não renováveis. Por isso, em todo o mundo, o lençol freático se contamina, a área florestal diminui, os desertos se multiplicam, o clima sofre profundas alterações, a camada de ozônio se depaupera, o ar se torna irrespirável, o patrimônio genético se degrada, abreviando os anos que o homem tem para viver sobre o planeta [...] (RAMPAZZO, 1999, p. 158).

A partir da reflexão feita por Rampazzo, notamos que os seres vivos já não têm a

garantia de sobrevivência no futuro, caso os recursos naturais, sobretudo os não-

renováveis se esgotem. O ser humano deve ter em mente que a natureza é um

pressuposto para se manter vivo e que se ele a destrói, acaba se autodestruindo.

Como, ao longo dos séculos XX e XXI, a degradação do meio ambiente se

intensificou, a ponto de comprometer a vida dos seres vivos, podemos perceber que

o desenvolvimento sustentável se torna questionável no modo de produção

capitalista, devido à própria estrutura, social, econômica e política que prevalece

neste modelo econômico. Enquanto, os recursos naturais forem manipulados

exclusivamente a favor da economia, independente das consequências para o ser

humano e demais seres vivos, a ideia de desenvolvimento sustentável se torna cada

vez mais distante, pois:

[...] a defesa da sustentabilidade como valor universal “camufla as contradições da organização econômica e política da sociedade”, na qual o princípio básico da acumulação implica ações predatórias na natureza [...] (TOZONI-REIS, 2008, p.28 e 29).

Observamos nas palavras de Tozoni-Reis que o discurso da sustentabilidade oculta

as contradições que permeiam o modo de produção capitalista. Aparentemente o

desenvolvimento sustentável é uma alternativa superficial para se controlar e

25

minimizar a problemática em torno da natureza, além de mascarar o uso incessante

dos recursos naturais, de forma que a sociedade acredite e que de alguma forma

apóie a invenção desse modelo econômico que tem como princípio o acúmulo de

riquezas.

O desenvolvimento sustentável como discurso ideológico corre o risco de

multiplicar os impactos negativos na natureza devido à manipulação ocasionada

pela crença na melhoria da qualidade de vida. Em países de economia dependente

como o Brasil, o desenvolvimento sustentável pode ser viabilizado se houver uma

mudança de postura perante a natureza e na forma como os recursos naturais são

utilizados. Porém, a dificuldade reside exatamente nesta dependência, pois a

soberania normalmente é ameaçada por interferências de interesses de mercado.

Os créditos de carbono9 podem ser usados como exemplo – imagine a compra de

crédito para continuar poluindo – isto é uma comprovação de como os interesses

capitalistas não “enxergam” limites para sua ótica acumulativa.

Portanto, possibilitar a tomada de consciência do indivíduo para sua

emancipação e cidadania é um desafio para a educação do século XXI. É

indispensável uma educação crítica, impregnada de valores éticos e de respeito

entre ser humano e natureza. É necessário uma educação que revele aos indivíduos

sua importância enquanto agentes transformadores da história. Na educação do

século XXI, urge a necessidade cada vez maior da formação de cidadãos com

participação ativa no processo de reestruturação da nova sociedade, com indivíduos

éticos e responsáveis.

Para que a nova sociedade seja composta por indivíduos éticos e

responsáveis é preciso que a educação “conscientizadora e transformadora” da

realidade social seja desenvolvida desde a infância, pois esta é uma fase em que os

indivíduos, também, estão se formando enquanto cidadãos. No próximo capítulo

faremos uma abordagem histórica sobre o conceito de infância para depois

discutirmos sobre a importância da educação ambiental para a criança.

9 Créditos de carbono é o termo que se dá à compra de bônus de terceiros para que as empresas que não

conseguem cumprir a sua cota de emissão de carbono, continuem poluindo. Fonte:

http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/ambiente/conteudo_260001.shtml, acesso em 30 de agosto de 2010.

26

3 INFÂNCIA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A infância é uma etapa da vida do ser humano que pode ser vivenciada por

cada criança de maneira bem diferente. Isto dependerá do contexto social na qual

está situada. Se a criança pertencer à classe economicamente favorecida é provável

que a sua experiência esteja associada a situações de prazer como as brincadeiras,

festas de aniversário, presentes, acesso a culturas diferentes através de viagens e à

educação de qualidade. Por outro lado, se a criança pertencer à classe

economicamente desfavorecida é possível que esta passe por situações em que

seus direitos sejam desrespeitados, pois podem sofrer algum tipo de violência física

ou sexual; além de não ter acesso à educação, muitas vezes precisam trabalhar.

Então, apreendemos que o meio em que a criança vive influencia diretamente no

desenvolvimento da sua infância.

No que diz respeito à educação ambiental, entendemos que esta tem um

papel importante durante o desenvolvimento da infância, pois tem como princípio

conscientizar as pessoas, independente de serem adultos ou crianças, sobre as

questões ambientais para que estas possam transformar o ambiente em que vive.

Educar as crianças para praticarem hábitos e atitudes de respeito com o meio

ambiente durante a sua formação é essencial para que estas se tornem adultos

conscientes sobre a importância do meio ambiente/natureza para a sua vida.

3.1 CONCEITO DE INFÂNCIA

Ao ouvir ou pronunciar o termo infância é provável que logo associemos à

criança. É possível que imaginemos as crianças vivenciando situações prazerosas,

de diversão, correndo, pulando e convivendo com outras crianças. Na verdade, a

infância reporta a uma época lúdica, de cuidados, de brincadeiras, de afeto, de

educação que fazem parte, ou pelo menos deveriam fazer da vida de uma criança, já

que são tão importantes para o seu perfeito desenvolvimento.

Há um entendimento de que a infância é uma etapa da vida do ser humano

muito valorizada na atualidade. Nesta fase a criança se desenvolve em vários

aspectos como físicos, cognitivos e sócio-afetivos. A criança está em processo de

formação, de construção, pois é um momento em que ela adquire novas

informações, conhecimentos e está se constituindo enquanto cidadã.

27

Durante a infância é provável que a criança seja orientada por alguém mais

experiente, normalmente um adulto, que apresentam as regras e valores da

sociedade em vigor. As regras já existem e as crianças precisam ser “educadas”

para se adaptarem às mesmas. Que regras são essas? Regras morais, religiosas,

sociais, entre outras.

Diante disso, percebemos que há uma preocupação em torno das crianças,

uma vez que estas estão em fase de desenvolvimento e precisam de todo auxílio

possível que contemple e seja favorável à sua formação. As crianças precisam ter

acesso à educação, a saúde, a alimentação, ao lazer, a família. Essa assistência

não parte somente do eixo familiar, mas também da sociedade.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) explicita bem o cuidado que o

Estado, a sociedade e a família devem ter com as crianças. Este estatuto garante

alguns direitos para a criança e o adolescente. Em seu artigo 3º discorre que a

criança deve gozar:

[...] de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade [... ] (BRASIL, 2004. p.19).

Então, ao lermos esse artigo podemos apreender que deve haver uma assistência

oferecida à criança, pelo menos a lei assim determina, para que esta se desenvolva

ao longo da sua infância e com dignidade.

Falar sobre o conceito de infância não é tão simples quanto pode parecer,

pois se formos estudar sobre a mesma, notaremos que esta, ou melhor, o

“sentimento” de infância, assume características diferentes, conforme o contexto

analisado. Certamente o conceito que se tem de infância hoje, não é o mesmo de

séculos passados. Então, como a infância era vivenciada pelas crianças no

passado? Como as crianças eram inseridas na sociedade?

Alguns estudos relacionados à história da infância podem nos ajudar a

esclarecer como a ideia deste termo surgiu no transcorrer dos séculos. Tomaremos

como referência a pesquisa realizada por Philippe Ariès10, que é considerado um

dos precursores do estudo da infância. Este realizou a sua pesquisa, através da

10 Philippe Ariès é um historiador francês, publicou a obra “História Social da Criança e da Família”.

28

interpretação de quadros, fotografias dos séculos XII ao XIX, aproximadamente. A

partir da iconografia11 foi possível analisar as etapas da vida do ser humano, pois

estas eram representadas nas obras de artes. Desta forma, Ariès pode identificar as

atividades realizadas pelo indivíduo, as roupas da época, os aspectos físicos e

também a representação das crianças, isto é, como as mesmas eram vistas na

sociedade, nos séculos passados.

Philippe Ariès, ao analisar a arte medieval por volta do século XII conclui que

a infância não era muito valorizada. Ele diz que provavelmente “[...] não houvesse

lugar para a infância nesse mundo [...]” (ARIÈS, 2002, p.17), pois as crianças eram

representadas como pequenos adultos. Nas obras de artes realizadas na Idade

Média as crianças tinham as mesmas características dos adultos, sendo que eram

representadas em tamanhos menores. Ainda no século XII, a “[...] idéia de infância

estava ligada à idéia de dependência [...]. Só se saía da infância ao se sair da

dependência [...]” (ARIÈS, 2002, p.11). Isso quer dizer que um adolescente ou um

jovem que dependesse de algo eram considerados crianças.

Com o transcorrer dos séculos, principalmente no século XVII houve uma

evolução sutil no modo em que as crianças eram tratadas e reconhecidas na família

e sociedade, pelo menos para as crianças da classe econômica mais favorecida.

Para exemplificar, Ariès nos diz que a criança pertencente à “[...] boa família, quer

fosse nobre ou burguesa, não era mais vestida como adultos. Ela agora tinha um

traje reservado à sua idade, que a distinguia dos adultos [...]” (ARIÈS, 2002, p.32).

Como conseqüência a criança já era vista de outra maneira que não um “pequeno

adulto”. Podemos perceber na descrição feita por Ariès, que se iniciou um processo

de distinção entre as crianças12 e os adultos.

Porém, isso não se aplicava a todas as crianças e nem a toda fase do que

consideramos infância na atualidade, pois como nos diz Ariès:

As crianças do povo, os filhos dos camponeses e dos artesãos, as crianças que brincavam nas praças das aldeias, nas ruas das cidades ou nas cozinhas das casas continuaram a usar o mesmo traje dos adultos [...]. Elas conservaram o antigo modo de vida que não separava as crianças dos adultos, nem através do traje, nem

11 Segundo o Minidicionário da língua portuguesa, iconografia é a descrição de imagens, pinturas, estátuas,

medalhas e outros monumentos da Antiguidade (AMORA, 2009, p. 368).

12 Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente é considerada criança a pessoa até doze anos de idade.

29

através do trabalho, nem através dos jogos e brincadeiras (ARIÈS, 2002, p. 41).

Conforme nos explicita o autor, a diferenciação que existia na época em relação ao

tratamento dado às crianças, seja na maneira em que elas se vestiam ou brincavam

na sociedade, era restrita às crianças de ‘boa família’, pois as crianças inseridas nas

classes populares continuavam sendo tratadas como adultos em miniaturas.

De maneira geral, ao lermos a obra de Philippe Ariès percebemos como o

sentimento de infância se distancia do contexto em que vivemos no século XXI,

tendo em vista que na sociedade medieval:

[...] o sentimento da infância não existia – o que não quer dizer que as crianças fossem negligenciadas, abandonadas ou desprezadas. O sentimento da infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças: corresponde à consciência da particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem. Essa consciência não existia. Por essa razão, assim que a criança tinha condições de viver sem a solicitude constante de sua mãe ou de sua ama, ela ingressava na sociedade dos adultos e não se distinguia mais destes [...] (ARIÈS, 2002, p. 99).

Ao refletirmos sobre o que Philippe Ariès descreve, podemos compreender que a

criança na época e contexto pesquisado tinha assessoria familiar, enquanto

dependiam de suas mães ou amas. No entanto, assim que a criança adquiria mais

autonomia, passava a interagir com adultos, a viver e a se comportar como se fosse

um deles. As crianças entravam no mundo “adultocentrico”. É válido ressaltar que

apesar da obra “História Social da Criança e da Família” escrita por Philippe Ariès ter

importância por iniciar um estudo relevante sobre a história da infância, este autor

recebeu algumas críticas direcionadas ao seu trabalho. A autora Corazza, afirma

que:

A contribuição desse trabalho foi relativizada de forma crítica e polemizada por vários historiadores, que apontaram, por exemplo, as suas carências metodológicas em termos de comprovação das hipóteses, realizada apenas por meio de fontes iconográficas e figurativas; ou então que deixara de fora todo um segmento das classes sociais em desvantagem [...] (CORAZZA, 2002, p. 82).

Como já foi explicitado, a obra de Ariès contribuiu significamente para a iniciação

dos estudos direcionados à infância, porém conforme afirma a autora Corazza,

Philippe Ariès teve como referência para seu estudo a classe burguesa. As crianças

30

que pertenciam a este segmento eram mais favorecidas em relação às crianças das

classes populares. Estas, devido a sua condição social, ainda foram consideradas

como pequenos adultos.

Partindo do estudo de Ariès, observamos que a ideia ou o sentimento de

infância é variável, pois dependerá das condições sócio-econômicas em que a

criança está situada, ao contexto a que pertence. Desta forma, a realidade vivida por

uma criança favorecida nos aspectos sociais e econômicos, é completamente oposta

à de uma criança que precisa trabalhar, que não tem afeto, moradia, ou seja, a

criança que é isenta de todos os cuidados e direitos que lhes são garantidos por lei.

Apesar da ideia de infância ter surgido na modernidade e ser bem diferente

do conceito que se tinha na Idade Média, é possível observar que as crianças das

classes populares, mesmo na contemporaneidade, ainda são tão sacrificadas

quanto àquelas que viveram antes desse período, uma vez que:

[...] o trabalho escravo e opressor desde o inicio da revolução industrial condenavam-nas a não ser crianças: meninos trabalhavam nas fábricas, nas minas de carvão, nas ruas. Mas, até hoje o projeto da modernidade não é real para a maioria das populações infantis, em países como o Brasil, onde não é assegurado às crianças o direito de brincar, de não trabalhar [...] (KRAMER, 2007, p.15).

Através dessa abordagem feita por Sônia Kramer, se torna mais claro que nem

todas as crianças conseguem exercer de forma efetiva seus direitos, apesar de que

perante a lei todas as crianças são iguais, independente de raça, cor e religião.

Porém, ainda hoje podemos ver crianças trabalhando em sinaleiras, lavouras, ao

invés de estarem na escola ou brincando. O que nos confirma que o contexto

econômico e social pode tornar as crianças diferentes entre si ao viver a infância.

No Brasil, cuja economia é baseada no modo de produção capitalista, é

notável a divergência que existe entre o simbolismo isonômico apresentado pela

Constituição Federal e a realidade vivenciada por várias crianças na sociedade, no

que diz respeito aos direitos que lhes são garantidos. Uma das consequências

desse modelo econômico e que certamente influencia diretamente na infância de

muitas crianças, é a desigualdade social, pois em:

[...] contextos em que não há garantia de direitos, acentuam-se a desigualdade e a injustiça social e as crianças enfrentam situações além de seu nível de compreensão, convivem com problemas além do seu conhecimento [...] (KRAMER, 2007, p. 19).

31

A distribuição de renda não ocorre de forma homogênea na sociedade, e devido a

isto, por exemplo, muitas crianças ainda precisam trabalhar para garantir a sua

sobrevivência e até da própria família. Isto é um reflexo da desigualdade e injustiça

social, no contexto capitalista. Conforme o artigo 227 da Constituição Federal (1988)

a criança e o adolescente devem está “[...] a salvo de toda forma de negligência,

discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão [...]” (BRASIL, 2005,

p.89). Mas, como já foi dito nem todas as crianças são privilegiadas com o que

dispõe a Constituição e o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente, uma vez

que segundo Sônia Kramer é o contexto que determinará se a criança terá seus

direitos assegurados ou não.

Contudo, podemos notar que o sentimento de infância foi sendo construído

historicamente ao longo dos séculos. O tratamento dado às crianças durante a Idade

Média não é o mesmo que observamos hoje. A criança já não vista como pequeno

adulto, uma vez que esta:

[...] não se resume a ser alguém que não é, mas que se tornará (adulto, no dia em que deixar de ser criança). Reconhecemos o que é específico da infância: seu poder de imaginação, a fantasia, a criação, a brincadeira entendida como experiência de cultura. Crianças são cidadãs, pessoas detentoras de direitos [...] (KRAMER, 2007, p. 15).

Conforme Kramer, para que a criança possa viver a especificidade da infância a

criança precisa viver esta fase, através das brincadeiras, dos contos de fadas, das

cantigas, que fazem parte do contexto infantil. Por isso cada criança deve viver o

momento criança e não avançar etapas e viver o que ainda não é.

Entretanto, apesar da infância ser uma etapa do ciclo de vida comum a todo

ser humano, cada indivíduo tem um modo peculiar de vivê-la. As experiências pelas

quais as crianças vivenciam durante a infância está co-relacionada ao contexto

social e econômico a que pertencem. O que significa dizer que nem todas as

crianças vivem como criança em um “mundo encantado e colorido”, pois muitas são

vítimas de violência sexual, não tem acesso à alimentação, a saúde, à educação

formal e muitas precisam trabalhar para sustentar sua família. Estes são uns dos

mais “simples” reflexos da agressividade disseminada pelo modelo capitalista.

32

Essa negativa realidade vivenciada por grande parte das crianças, por

exemplo, as brasileiras é uma limitação para o desenvolvimento sadio de sua

infância. Um ponto importante que precisa ser levado em consideração para que a

criança se desenvolva de forma saudável, está associado ao ambiente, enquanto

espaço no qual esta se encontra. Se o ambiente é insalubre, poluído, sem

saneamento básico é provável que a criança não tenha um desenvolvimento

saudável.

Por isso a seguir, trataremos como a educação ambiental pode possibilitar

alterações positivas para a construção de seres humanos conscientes da sua

realidade, para que lutem por sua emancipação e não permaneçam inertes e

resignados apenas com as questões ambientais.

3.2 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA

Agora que já fizemos uma abordagem sobre a história da infância e

compreendemos como o contexto socioeconômico influencia no desenvolvimento da

criança, tentaremos discutir neste tópico um assunto de suma relevância para a

formação da mesma, enquanto cidadã, pertencente a uma sociedade capitalista, que

é a educação ambiental.

A natureza é imprescindível para que os seres vivos garantam a sua

sobrevivência no planeta. Porém, apesar desta condição, a relação do ser humano

com a mesma sofreu um abalo, chegando a um estágio preocupante, devido ao tipo

de uso que este tem feito dos recursos naturais (solo, água, vegetação, petróleo)

disponíveis na natureza, principalmente no modo de produção capitalista. Diante

disto, iniciou-se o processo de desequilíbrio ambiental causado pelo rompimento na

integração entre a natureza e o ser humano, já que este a cada dia que passa

parece se distanciar cada vez mais da natureza, influenciando, assim no seu

equilíbrio, visto que com:

[...] o passar do tempo a humanidade vai afirmando uma consciência individual. Paralelamente, cada vez mais vai deixando de se sentir integrada com o todo e assumindo a noção de parte da natureza. Nas sociedades atuais o ser humano afasta-se da natureza. A individualização chegou ao extremo do individualismo. O ser

33

humano, totalmente desintegrado do todo, não percebe mais as relações de equilíbrio da natureza [...] (GUIMARÃES, 2009, p. 12).

Como nos diz Mauro Guimarães, a “consciência” do ser humano permitiu que ele se

percebesse como um ser distinto à sua espécie e que está à parte da natureza. Isto

desencadeou o seu afastamento da natureza, desestabilizando a teia de relações

entre o ser humano e os elementos que a constitui. Sendo assim, o ser humano se

tornou um ser egocêntrico, explorador, dominador e separado da natureza,

resultando em:

[...] uma postura antropocêntrica em que o ser humano está colocado como centro e todas as outras partes que compõem o ambiente estão a seu dispor, sem aperceber das relações de interdependência entre os elementos existentes no meio ambiente [...] (GUIMARÃES, 2009, p. 13).

Podemos perceber, a partir do exposto, que o antropocentrismo, enquanto

característica do ser humano, revela um ar de superioridade do mesmo no que diz

respeito às suas atitudes para com o meio ambiente e seus elementos. Para o ser

humano, tudo o que existe está a sua disposição, para lhe satisfazer, independente

das possíveis consequências ambientais, uma vez que as relações de

interdependência entre os elementos disponíveis no meio ambiente são abaladas.

Como vimos no primeiro capítulo, a natureza no modo de produção capitalista

é considerada como uma mercadoria. A partir desta visão que o ser humano

construiu sobre a natureza no transcorrer dos séculos, foi se estabelecendo uma

relação de poder e dominação sobre os recursos naturais. Desta forma, foi dada a

largada para a exploração incessante dos elementos naturais e devido a isto, hoje

estamos vivenciando uma enorme problemática ambiental que é consequência da

transformação da natureza em mercadoria. A origem da problemática ambiental dá –

se:

[...] num processo histórico dominado pela expansão do modo de produção capitalista, pelos padrões tecnológicos gerados por uma racionalidade econômica guiada pelo propósito de maximizar os lucros e os excedentes econômicos a curto prazo [...] (LEFF, 2007, p.64).

Então, o que notamos é que os problemas ambientais surgem historicamente com o

avanço do capitalismo, com o desenvolvimento tecnológico, ambos associados à

34

economia. Na verdade, a problemática ambiental existe pelo fato da economia

priorizar o acúmulo de capital e para isto é necessário se produzir mercadorias.

Estas, por sua vez, se materializam através, da utilização das matérias-primas

disponíveis na natureza, dando o retorno lucrativo tão desejado no modo de

produção capitalista.

O efeito estufa, as alterações climáticas, o buraco na camada de ozônio,

poluição dos mais variados tipos (ar, solo, água, sonora), provável escassez da água

potável são alguns exemplos, só para citarmos, dos sintomas provocados pelas

ações humanas no ambiente. Com isto, na atualidade, a questão ambiental13 está

sendo bastante discutida na sociedade, pois a problemática em torno do ambiente

atinge o ser humano, independente deste ser um adulto ou uma criança,

independente da classe econômica a qual pertence.

Como o futuro dos seres vivos está comprometido, devido à crise ambiental

instalada no planeta, significa dizer que o futuro das crianças, que supostamente

serão as gerações vindouras, também está comprometido. Se as crianças

provavelmente - aquelas que sobreviverem às consequências dos danos ao meio

ambiente - serão os adultos do amanhã, como ressaltar a importância do meio

ambiente para a sua sobrevivência, não só no presente, mas também no futuro? É

preciso que as crianças tenham consciência de que fazem parte do meio ambiente e

que dependem da natureza. Além disso, é extremamente necessário o

reconhecimento das mesmas sobre o desequilíbrio ambiental e que este traz

impactos negativos para a sua vida. É exatamente por isso, que:

[...] se tornou categórico a necessidade de implementar a E A para as novas gerações em idade de formação de valores e atitudes, como também para a população em geral, pela emergência da situação em que nos encontramos [...] (GUIMARÃES, 2009, p.15).

Sendo assim, a partir do explicitado por Guimarães, percebemos a importância da

educação ambiental para a criança, pois a mesma está em fase de desenvolvimento,

se formando enquanto cidadã. Durante esta formação é fundamental que às

crianças adquiram uma postura ética, no que diz respeito as suas ações no meio

ambiente/natureza.

13 Segundo os PCN’S a questão ambiental é o conjunto de temáticas relativas não só à proteção da vida no

planeta, mas também à melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida das comunidades (BRASIL, 2001, p.

23).

35

Então, como trabalhar o tema meio ambiente com as crianças de forma que

elas compreendam as questões ambientais? Como desconstruir a ideia de que o ser

humano é superior à natureza?

Através da educação ambiental as crianças poderão se apropriar e entender

com maior riqueza de detalhes o ambiente ao seu redor, e também como se

processa a relação do ser humano com a natureza. Por meio da educação ambiental

a criança poderá aprender que a “[...] perspectiva ambiental consiste num modo de

ver o mundo em que se evidenciam as inter-relações e a interdependência dos

diversos elementos na constituição e manutenção da vida [...]” (BRASIL, 2001, p.

19). Isto quer dizer que a criança educada ambientalmente perceberá que a

manutenção da vida está sujeita à relação de interação e dependência existente

entre os seres vivos e a natureza. Assim, como a criança é um ser vivo

compreenderá que é, também, dependente do meio ambiente/natureza. Além disto,

é imprescindível que a criança saiba distinguir um ambiente natural de um

transformado pela ação humana, já que interage com o ambiente no qual está

situado, seja ele natural ou transformado, devendo respeitá-lo.

Sendo assim, a criança deve compreender o que é um ambiente natural e um

ambiente que sofreu alterações. O PCN “Meio Ambiente e Saúde” esclarece que

ambiente natural é aquele composto por:

[...] elementos que são “como a natureza os fez”, sem a intervenção direta do homem: desde cada recurso natural presente num sistema, até conjuntos de plantas e animais nativos, silvestres; paisagens mantidas quase sem nenhuma intervenção humana; nascentes rios e lagos não atingidos pela ação humana [...]. Esses elementos são predominantes nas matas, nas praias afastadas, nas cavernas não descaracterizadas [...] BRASIL, 2001, 32).

Podemos perceber, a partir da definição exposta no PCN, que a concepção de

natureza ou ambiente natural, está associada a tudo o que existe no meio ambiente,

mas que ainda não sofreu, de forma mais intensiva a interferência do ser humano.

No entanto, vale ressaltar que “[...] não existe uma natureza intocada pelo

homem, uma vez que a espécie humana faz parte da trama toda da vida no planeta

[...]” (BRASIL, 2001, p. 32). Ao analisar esta ideia podemos confirmar que o ser

humano e a natureza são inerentes, pois o ser humano desde os tempos mais

36

primitivos se relaciona com a natureza, ou seja, sempre interagiu com os

ecossistemas que compõem o planeta.

Por ambiente transformado compreendemos que são aqueles que sofreram a

ação direta dos seres humanos como as cidades, as indústrias, isto é, os ambientes

que tiveram a sua paisagem natural completamente alterada. Portanto, para a

criança ter noção da importância da natureza, por meio da educação ambiental, é

preciso que ela saiba diferenciar um ambiente natural de um ambiente transformado,

pois assim as crianças terão um parâmetro facilitador para o entendimento no que se

refere à integração e influência do ser humano nesses ambientes.

É importante que a criança saiba dissociar um ambiente natural de um

transformado para não perder a capacidade de se encantar com a beleza não

“manipulada” do ambiente natural. A criança pode não entender perfeitamente que o

objetivo econômico é o agente indutor das transformações no meio ambiente.

Porém, se a mesma inicia um processo de compreensão sobre as relações humanas

no meio ambiente, poderá questionar atitudes que julgue incorretas, além de refletir

sobre seu próprio comportamento enquanto cidadã e o comportamento de outros

indivíduos, levando-os, como nos diz Reigota:

[...] a adquirir o sentido dos valores sociais, um sentimento profundo de interesse pelo meio ambiente e a vontade de contribuir para sua proteção e qualidade. [...] Não adianta só falar do meio ambiente, mas também mudar os comportamentos individuais e sociais [...] (REIGOTA, 2006, p.32-33).

Deste modo, a partir do que traz Reigota, durante o processo de formação da

criança, é fundamental que esta adquira hábitos e atitudes “ecologicamente

corretos”, no que se refere à sua conduta no meio ambiente, sendo este natural ou

transformado. A criança deve ter noção, por exemplo, de como usar racionalmente a

água para evitar o desperdício, deve saber sobre a importância da reciclagem, da

reutilização de objetos que provavelmente seriam descartados, na verdade elas

devem ter consciência de que também são agentes transformadoras da sua

realidade social e que “pequenos gestos” como estes são de grande relevância para

a preservação e conservação do ambiente.

No capítulo a seguir faremos uma abordagem sobre a emergência da

educação ambiental no contexto do capital e como a mesma poderá ser trabalhada

na prática docente, em especial nos anos iniciais.

37

4 A TRANSVERSALIDADE DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Podemos dizer que estamos vivendo um momento crucial, no que se refere

às relações que são e foram tecidas entre o ser humano e o meio ambiente.

Chegamos a um estágio muito delicado, pois a garantia de sobrevivência dos seres

vivos, no futuro está comprometida. Este comprometimento surgiu, a partir do uso

indiscriminado dos recursos naturais pelos seres humanos e, também, através das

transformações ocorridas no meio ambiente ao longo dos séculos, por meio das

ações humanas. Com isso, foi desencadeado um problema ambiental de grande

proporção e que o próprio ser humano, deve se sentir responsável por resolvê-lo.

E de que forma tornar isso viável? Entendemos que uma das possibilidades

para este questionamento é a educação ambiental, pois esta tem como função

conscientizar, alertar as pessoas para as questões ambientais que implicam

diretamente em suas vidas. Desta forma, cada indivíduo poderá agir no meio em que

está situado, com uma postura ética e solidária em relação ao meio

ambiente/natureza.

Sabemos que o ato de educar não se realiza somente no espaço escolar.

Porém, a escola tem um papel fundamental durante a formação dos indivíduos no

que diz respeito, a socialização do saber. Nos referindo, especificamente, à

problemática ambiental, se faz necessária na prática educacional uma abordagem

não superficial, em outras palavras, transversal sobre o meio ambiente e as relações

que se processam no mesmo. Tendo em vista o ser humano como um agente que

“desestabilizou” o equilíbrio ambiental e que precisa encontrar soluções para um

possível re-equilíbrio do meio ambiente/natureza.

4.1 A EMERGÊNCIA E FUNÇÕES DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CONTEXTO DO CAPITAL

A partir da problemática ambiental e suas conseqüências para a humanidade,

a educação ambiental surge como ferramenta de mobilização e conscientização,

visto que esta:

[...] é um processo permanente no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, valores, habilidades, experiências e determinação

38

que tornem aptos a agir e resolver problemas ambientais, presentes e futuros. (DIAS, 2004, p. 523).

Desta forma, a educação ambiental não deve ser vista apenas como um instrumento

com o fim em si mesmo. Como nos diz o autor, através dela os indivíduos e a

sociedade de modo geral, podem se conscientizar dos problemas ambientais e com

isso buscarem alternativas que minimizem os impactos no meio ambiente/natureza.

A educação ambiental para Mauro Grün se efetivou como:

[...] uma preocupação no âmbito da educação há mais de duas décadas. A emergência da crise ambiental como uma preocupação específica da educação foi precedida de uma certa “ecologização das sociedades”. Essa ecologização começou no momento em que o meio ambiente deixou de ser um assunto exclusivo de amantes da natureza e se tornou um assunto da sociedade civil mais ampla (GRÜN, 2009, p. 15).

Conforme menciona o autor, a educação ambiental não é algo que surgiu de

repente, uma vez que esta há mais de vinte anos se faz presente na esfera

educacional. A educação ambiental é uma “ramificação” da educação como um todo

e se estabeleceu, devido à situação crítica e talvez insustentável, do meio ambiente,

o que hoje é motivo de preocupação para todos.

Através da educação ambiental, o ser humano pode adquirir uma nova

postura em relação ao meio ambiente/natureza, refletindo e chegando a conclusão

de que devemos ter atitudes éticas e solidárias, mostrando-se, como nos diz Boff

ser:

[...] capaz de assumir novos hábitos e de projetar um tipo de desenvolvimento que cultive o cuidado com os equilíbrios ecológicos e funcione dentro dos limites impostos pela natureza. Não significa voltar ao passado, mas oferecer um novo enfoque para o futuro comum (BOFF, 2000, p.137).

Para que o pensamento de Boff seja viabilizado seria necessário que o ser humano

voltasse a se sentir integrado à natureza, e manter uma relação de respeito e não de

dominação e poder com a mesma, já que esta é imprescindível para a sua vida. A

partir disto, a possibilidade de re-equilibrar a “teia” ambiental e viver com mais

tranqüilidade e qualidade de vida no futuro se torna mais real. Para isto, o uso

racional dos elementos naturais precisa ser colocado em prática.

39

Por ser livre e consciente o ser humano deve pensar na relação que mantém

com o ambiente/natureza e se preocupar com o futuro da humanidade, do planeta,

buscando alternativas que amenizem e diminuam as questões ambientais, na

mesma proporção em que se avança a degradação ambiental, permitindo que as

gerações futuras também possam ter acesso aos recursos naturais. Este acesso

será possibilitado, se o homem na atualidade permitir e mudar seu modo de pensar

e agir. Esta mudança se tornará efetiva, através da educação, mas uma educação

integral e ambiental que permita que o indivíduo conheça seus direitos e deveres,

que aprenda a respeitar ao próximo e o meio ambiente, que não deixa de ser,

também, a sua “casa”. Como nos ensinou Paulo Freire, a educação é “[...]

especificidade humana, como um ato de intervenção no mundo [...]” (FREIRE, 1996,

p.109). Então, podemos considerar que a educação é intrínseca ao ser humano,

pois é um processo ininterrupto que faz parte da sua vida. A educação possibilita

que o indivíduo transforme as suas atitudes no ambiente do qual faz parte.

A educação ambiental surge com o desígnio de se alcançar as soluções para

a preservação, a conservação do meio ambiente e a manutenção da vida no planeta

considerando-se os aspectos culturais, socioeconômicos, políticos, além dos

avanços científicos e tecnológicos, já que estes estão integrados ao meio ambiente.

Preservar segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais é “[...] a ação de

proteger contra a destruição e qualquer forma de dano ou degradação de um

ecossistema, uma área geográfica, ou espécies animais e vegetais ameaçados de

extinção [...]” (BRASIL, 2001, p. 35-36) enquanto que conservar é “[...] a utilização

racional de um recurso qualquer, de modo a se obter um rendimento considerado

bom, garantindo-se, entretanto sua renovação ou auto-sustentação [...]” (BRASIL,

2001, p.36).

Isto nos remete ao desenvolvimento sustentável, criado como uma possível

alternativa para se produzir riqueza e “bem-estar”, promovendo harmonia na

sociedade, evitando a destruição da natureza e impedindo um desequilíbrio no

ecossistema. Porém, como pensar em desenvolvimentos sustentável, no modo de

produção capitalista se para este, o mais importante é o lucro? Isto nos leva a

questionar a efetivação do desenvolvimento sustentável no modo de produção

capitalista, pois como afirma Dias:

40

A chave para o desenvolvimento é a participação, a organização, a educação e o fortalecimento de pessoas. O desenvolvimento sustentado não é centrado na produção, é centrado nas pessoas. Deve ser apropriado não só aos recursos e ao meio ambiente, mas também à cultura, história e sistemas sociais do local onde ele ocorre. Deve ser eqüitativo, agradável (DIAS, 2004, p.226).

Para atingir o desenvolvimento sustentável, como esclarece o autor, é necessário

haver uma mudança na estrutura política, econômica e cultural das sociedades em

que o capitalismo se faz presente. A educação ambiental é um dos pressupostos

para que essa mudança se torne viável, mas que deve ser colocada em prática e

não ficar só no “papel”. É importante salientar que apesar dos recursos naturais

manterem a sobrevivência dos seres vivos, no modo de produção capitalista tem a

função de dar o retorno lucrativo objetivado por este sistema. Daí notamos que o

“desenvolvimento” está centrado na economia e não nas pessoas.

Para a educação ambiental ser efetivada, vários encontros para discutir as

questões ambientais foram realizados mundialmente. Segundo Reigota (2006), em

1968, foi realizada, em Roma, na Itália, uma reunião para se discutir o consumo e as

reservas de recursos naturais e os impactos do crescimento populacional. Como

consequência desta reunião, deu-se a realização da Primeira Conferência Mundial

do Meio Ambiente Humano, organizada pela ONU, em Estocolmo, Suécia, no ano de

1972. Dessa conferência, surge a educação ambiental, cujos objetivos foram

definidos em 1975, na Iugoslávia, com a publicação da “Carta de Belgrado”.

A Carta de Belgrado também teve como finalidade, afirmar que a educação

ambiental é um dos elementos vitais para a solução da crise do meio ambiente

mundial expressando “[...] a necessidade do exercício de uma nova ética global, que

proporcionasse a erradicação da pobreza, da fome, do analfabetismo, da poluição e

da dominação e exploração humana [...]” (DIAS, 2004, p.80). Mais uma vez, nos

reportaremos ao sistema capitalista, pois todos os problemas citados acima, são

provenientes deste modelo econômico que tornam as oportunidades desiguais,

dividindo as sociedades em classes econômicas favorecidas e desfavorecidas,

gerando, assim, todos os problemas da sociedade e do ambiente.

Em 1977, ocorreu a primeira Conferência Intergovernamental sobre a

educação ambiental, em Tbilisi, Geórgia, promovida pela UNESCO. Conforme Dias

(2004) esta conferência sinalizou para o mundo os caminhos para a incorporação da

dimensão ambiental, em todas as formas de educação, além de ser um

41

prolongamento da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano

é o ponto culminante da primeira fase do Programa Internacional de Educação

Ambiental, iniciado em 1975.

Em 1992, foi realizado no Rio de Janeiro, entre os dias 3 e 14 de junho, a

Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Unced), com a

participação de 170 países. Esta conferência ficou conhecida como a Rio-92 e teve

como objetivos:

a) examinar a situação ambiental do mundo e as mudanças ocorridas depois da Conferência de Estocolmo; b) identificar estratégias regionais e globais para ações apropriadas referentes às principais questões ambientais; c) recomendar medidas a serem tomadas, nacional e internacionalmente, referentes à proteção ambiental através de política de desenvolvimento sustentado; d) promover o aperfeiçoamento da legislação ambiental internacional; e) examinar estratégias de promoção do desenvolvimento e da eliminação da pobreza nos países em desenvolvimento, entre outros (DIAS, 2004, p.50).

Apesar de todos os acontecimentos citados refletirem um sinal de preocupação com

o meio ambiente e o futuro da humanidade, alcançar o desenvolvimento sustentável

parece se tornar distante, pois muito do que se preconizou nas diversas

conferências mundiais ficaram, apenas, nos registros e com isso o tempo vai

passando e a “crise ambiental” se mantém no planeta.

A elaboração da Agenda 21, que foi um plano de ação para o século XXI,

também fez uma abordagem sobre a tão esperada sustentabilidade, mas em julho

de 1997, na Conferência de Avaliação Rio+5, os resultados não foram os esperados,

ou seja, mais uma vez a teoria se distanciou da prática. Enquanto não houver de

fato uma mudança no modelo econômico capitalista que predomina nos países que

o adotam, as boas intenções para com o meio ambiente permanecerão no papel.

A partir das conferências e seminários sobre o meio ambiente e educação

ambiental, o Brasil implantou em 1999, a Lei Nº 9.795. Esta lei na redação do seu

artigo 2º afirma que a educação ambiental é “[...] um componente essencial e

permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em

todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-

formal [...]”. Isto que dizer que a educação ambiental não deve ser dissociada da

educação como um todo, pois ambas são intrínsecas. A educação ambiental deve

42

permear todo o processo educativo seja ele formal ou informal, pois o aprendizado

não acontece somente em sala de aula, de forma isolada. Porém é válido ressaltar

que a sala de aula ou o ambiente escolar é um espaço fundamental para a

discussão acerca da educação ambiental. Sendo que esta discussão não deve ser

propalada de qualquer maneira e de forma ingênua. Então de que forma a educação

deve ser colocada em prática no espaço escolar, em especial nos anos iniciais?

Tentaremos discutir a esta indagação no tópico seguinte.

4.2 POSSIBILIDADES E PRESSUPOSTOS DA TRANSVERSALIDADE DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NOS ANOS INICIAIS

A escola enquanto espaço educativo deve garantir uma educação com o

mínimo de qualidade para seus alunos. Esta educação deve ser associada ao

contexto social, econômico, cultural e político que estamos vivenciando. Deve estar

em consonância com a realidade dos alunos para que a formação e

desenvolvimento destes, enquanto cidadãos permitam interferir de forma crítica em

seu meio, com o intuito de conhecê-lo e transformá-lo. Sendo assim a escola

conforme os PCN’S:

[...] na perspectiva da construção de cidadania, precisa assumir a valorização da cultura de sua própria comunidade e, ao mesmo tempo, buscar ultrapassar seus limites, propiciando às crianças pertencentes aos diferentes grupos sociais o acesso ao saber [...] (BRASIL, 1997, p.46).

A partir do exposto, percebemos como a escola tem a função de tornar acessível

todo tipo de conhecimento ao educando, uma vez que é necessário que estes, se

apropriem não só dos saberes relevantes a sua cultura, mas também do saber como

um todo, um saber não fragmentado, respeitando os diferentes grupos sociais, pois

a educação deve ser igualitária.

Na escola, o principal agente para socializar os saberes é o professor, através

da sua prática pedagógica. Nos referimos ao professor, pois este é quem tem maior

contato com o aluno e de forma direta. O professor tem a responsabilidade de

abordar os conteúdos referentes a cada disciplina, de maneira que o aluno valorize-

o. Os conteúdos devem suscitar a curiosidade do aluno para que o mesmo sinta-se

interessado, assim será mais fácil que o aluno perceba a importância destes para a

43

sua vida. Segundo Paulo Freire (2006), tanto o professor como o aluno devem saber

que sua postura, enquanto professor e aluno, deve ser dialógica, aberta, curiosa,

indagadora e não apassivada, o importante é que se assumam epistemologicamente

curiosos. Assim, o educador que é curioso possivelmente tornará a sua prática

pedagógica mais dinâmica, não reproduzindo os conteúdos apenas, uma vez que a

curiosidade o fará pesquisar, refletir, dialogar e questionar o que se pretende

ensinar. Da mesma forma é provável que aconteça com o educando que deixará de

ser um mero receptor de informações e passará a ter uma postura mais ativa no que

diz respeito a sua aprendizagem, tornando-a mais significativa.

De que forma o professor pode tornar o aprendizado do seu aluno mais

significativo? Compreendemos que se os conteúdos forem desenvolvidos a partir de

temas transversais, a aprendizagem do aluno será importante para o mesmo, já que

segundo os PCN’S (1997) abordam as questões sociais e tem natureza diferente

das áreas convencionais, atravessando os diferentes campos de conhecimento. Em

outras palavras, a transversalidade tem como objetivo flexibilizar os conteúdos,

associando-os à realidade do educando. Assim, o professor poderá despertar a

criticidade do aluno, permitindo que este se desenvolva, enquanto cidadão,

evoluindo não apenas nos aspectos individuais, mas também coletivos.

No âmbito escolar, a educação ambiental deve ser trabalhada de forma

transversal pelo professor. Este deve aliar a transversalidade à sua prática diária,

pois estará em contato permanente com o aluno e o mesmo terá uma formação

voltada para a cidadania. Para isto, é necessário que o professor contextualize as

questões ambientais que permeiam a sociedade, através de explanações que façam

referência de como as nossas atitudes individuais podem trazer consequências

negativas para o meio ambiente/natureza como, por exemplo, a produção excessiva

do lixo, o uso que se tem feito da água potável e o próprio consumismo. É um

trabalho de conscientização, mas um trabalho que:

[...] não é simplesmente transmitir valores “verdes” do educador para o educando; essa é a lógica da educação “tradicional”; é, na verdade, possibilitar ao educando questionar criticamente os valores estabelecidos pela sociedade, assim como os valores do próprio educador que está trabalhando em sua conscientização [...] (GUIMARÃES, 2009. p. 31).

44

Então, percebemos que o educador em sua prática docente não está em sala de

aula apenas para transmitir atitudes ecologicamente corretas para seus alunos, no

que diz respeito à educação ambiental. Mas, o educador deve fazer com que seus

alunos se tornem críticos e que possam ser agentes transformadores da sua

realidade.

O MEC14 desenvolveu os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN’S, que

são referenciais que auxiliam a prática docente. Estes nos dizem que:

O compromisso com a construção da cidadania pede necessariamente uma prática educacional voltada para a compreensão da realidade social e dos direitos e responsabilidades em relação à vida pessoal, coletiva e ambiental [...] (BRASIL, 1997, p.15).

Percebemos que os PCN’S tem como finalidade construir a cidadania, por meio da

prática educacional. Sendo assim, “[...] foram incorporadas como Temas

Transversais às questões da Ética, da Pluralidade Cultural, do Meio Ambiente, da

Saúde e da Orientação Sexual [...]” (BRASIL, 1997, p.15), que tem como proposta

discutir as questões sociais que envolvem o ser humano.

A proposta de se trabalhar o tema transversal meio ambiente é que este

contribua para a:

[...] formação de cidadãos conscientes, aptos para decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um da sociedade, local e global [...] (BRASIL, 2001, p.29).

Formar cidadãos conscientes como foi mencionado, não parte apenas da

“transmissão” de informações relacionadas ao meio ambiente, é preciso que a

escola, através do seu corpo docente, da sua gestão proponha novos hábitos, novas

atitudes e valores que suscitem o respeito, a solidariedade, a fim de que os alunos

transformem a sua realidade social, respeitando o meio ambiente.

Segundo os PCN’S, a transversalidade proporciona a:

[...] possibilidade de se estabelecer, na prática educativa, uma relação entre aprender na realidade e da realidade de conhecimentos teoricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as

14 MEC - Ministério da Educação e Cultura.

45

questões da vida real (aprender na realidade e da realidade) [...] (BRASIL, 1997, p. 40).

Desta forma, a transversalidade apresenta-se como proposta de tornar a

aprendizagem mais significativa e integral, no sentido de trazer para a sala de aula,

através da prática docente, conhecimentos do dia a dia e não apenas os conteúdos

pré-estabelecidos e que, muitas vezes, não condiz com a realidade do aluno.

A transversalidade é um recurso que o professor possui e que se for bem

“executada”, certamente fará com que seus alunos compreendam a sua realidade

local e global. O escocês Patrick Geddes (1854-1933) considerado o pai da

educação ambiental, já afirmava que “[...] uma criança em contato com a realidade

do seu ambiente não só aprenderia melhor, mas também desenvolveria atitudes

criativas em relação ao mundo em sua volta [...]” (GEDDES apud DIAS, 2004, p.29).

O professor que realiza a transversalidade da educação ambiental proporcionará

aos seus alunos a possibilidade deles se reconhecerem como pertencentes ao meio

ambiente e através de reflexões e análises sobre a problemática ambiental, o aluno

poderá ter uma nova postura, enquanto cidadão, ou seja, este poderá transformar

ações negativas em positivas, no que se refere ao seu comportamento no meio

ambiente.

A transversalidade auxilia o professor para que o mesmo possa proporcionar

um pensamento crítico nos alunos. Através desta, o professor pode fazer

abordagens do cotidiano, do contexto socioeconômico, cultural e de tudo que está

envolvido na interação do ser humano com o meio ambiente/natureza. Assim, a

transversalidade é uma aliada para viabilizar uma educação ambiental de forma

completa e adequada com a realidade do momento histórico que se vive. Neste

caso, com a realidade exposta em uma sociedade capitalista.

É importante ressaltar que não só os alunos devem ser sensibilizados sobre a

problemática ambiental, mas também, os próprios professores, pois os mesmos, por

serem formadores de opinião, se tornam exemplos de cidadania para os alunos.

Assim, o professor deve saber o que é a educação ambiental, compreendendo seus

objetivos e princípios, para poder realizá-la de forma transversal. Segundo Freire

(1996) o professor em sua prática precisa ser coerente entre o que diz, escreve e

faz, ou seja, o professor deve aliar a teoria à prática. Não basta que o professor fale

como se fazer a educação ambiental, mas que a pratique diariamente.

46

Devido ao currículo pré-estabelecido nas escolas, normalmente, os conteúdos

são trabalhados de forma disciplinar. Esta forma de organizar os conteúdos,

conforme cada área de conhecimento, fragmentou o saber.

Sendo assim, cada disciplina visa metas isoladas, sem haver uma integração

nas diversas áreas de conhecimentos. Para Hilton Japiassu a fragmentação do

conhecimento é uma patologia. Ainda para este autor, se formos analisar o

fenômeno da “interdisciplinarização” perceberemos que este:

[...] revela muito mais o sintoma da situação patológica em que se encontra, hoje, o saber [...] o saber chegou a tal ponto de esmigalhamento, que a exigência interdisciplinar mais parece, em nossos dias, a manifestação de um lamentável estado de carência [...] (JAPIASSU, 1976, p.30).

A partir do que nos diz Japiassu, percebemos que a interdisciplinaridade surge para

expor o estágio patológico que o saber chegou, devido a sua fragmentação. Esta

fragmentação representa em nossos dias, o modo disciplinar de se trabalhar os

conteúdos no ambiente escolar. Os assuntos são explorados conforme cada área de

conhecimento, sem haver uma relação com as outras disciplinas.

Tomando como exemplo, o tema discutido neste trabalho - Meio Ambiente -

parece que os assuntos que o englobam são, apenas, de responsabilidade de

disciplinas como geografia e ciências naturais, por possuírem conteúdos que mais

se aproximam da temática ambiental. Isto nos remete, mais uma vez que a:

[...] fragmentação do saber, representado pelas especializações do conhecimento, aprofundou a compreensão das partes. Contudo, o ambiente é também uma unidade que precisa ser compreendida inteira, e é através de um conhecimento interdisciplinar que poderemos assimilar plenamente o equilíbrio dinâmico do ambiente (GUIMARÃES, 2009, p.12).

Com isso, entendemos a partir da explicitação, que a interdisciplinaridade ajuda a

compreender o ambiente como um todo. Porém, ressaltamos que no contexto em

que vivemos, é extremamente necessário não só enfatizar a prática interdisciplinar,

mas, principalmente, a transversal para a apropriação das informações sobre o

ambiente.

Com o modelo disciplinar de abordar os conteúdos, tornar o aprendizado do

aluno mais integral, acaba se distanciando da proposta da transversalidade que é

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exatamente trabalhar assuntos da nossa realidade social, através da proposição de

temas relevantes para o ser humano. Sem a transversalidade, os conteúdos se

tornam “engessados” e o professor tem apenas que seguir a programação proposta

para o ano letivo. Daí a importância de professor e aluno compreenderem o

verdadeiro sentido de “transversalizarem” a prática diária do ensino-aprendizagem.

O que percebemos na prática docente, no que diz respeito ao meio ambiente,

é que este tema não é abordado de forma transversal, apesar do Brasil dispor de

documentos oficiais como os PCN’S, que apresentam a transversalidade como

alternativa de se alcançar uma educação mais integral e significativa para os alunos,

condizente com o seu contexto socioeconômico, político e cultural.

No caso do professor dos anos iniciais, que precisa conhecer os assuntos

referentes a todas disciplinas, problematizar e transversalizar deveria ser mais fácil,

porém, o que vemos com mais freqüência é uma tentativa de se realizar uma prática

muito mais interdisciplinar do que transversal, uma vez que a interdisciplinaridade se

aproxima da transversalidade, pois:

Questiona a segmentação entre os diferentes campos do conhecimento produzida por uma abordagem que não leva em conta a inter-relação e a influência entre eles – questiona a visão compartimentada (disciplinar) da realidade sobre a qual a escola, tal como é conhecida, historicamente se constituiu. Refere-se, portanto, a uma relação entre disciplinas [...] (BRASIL, 1997, p. 40).

De fato, a escola desenvolve um trabalho muito mais disciplinar em que as áreas de

conhecimentos não se comunicam do que interdisciplinar e transversal, salvo

algumas vezes em que é desenvolvido um projeto “interdisciplinar” em que um tema

gerador é escolhido para ser trabalhado na prática docente, por todas as disciplinas.

Mas, ainda assim, a prática transversal mesmo aliada à interdisciplinaridade é

principiante, já que cada disciplina irá trabalhar o tema proposto visando a sua área

de conhecimento, fragmentando o saber.

Transversalizar a educação ambiental na prática docente, é um caminho para

que o aluno alcance uma aprendizagem mais expressiva e completa. Para isto, o

professor deve fazer com que seus alunos saiam do estado de passividade, pois o

objetivo do mesmo é favorecer a construção de conhecimento e problematizar

situações com os mesmos, fazendo com que eles reflitam sobre os fenômenos que

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permeiam o contexto atual, no qual eles estão vivendo, pois assim como nos diz

Moacir Gadotti:

Todo ser vivo aprende na interação com o seu contexto: aprendizagem é relação com o contexto. Quem dá significado ao que aprendemos é o contexto. Por isso, para o educador ensinar com qualidade, ele precisa dominar, além do conteúdo, o “com-texto”, além de um conteúdo, o significado do conteúdo que é dado pelo contexto social, político, econômico... enfim, histórico que ensina [... ] (GADOTTI, 2005, p.48).

Com a transversalidade da educação ambiental, o professor poderá discutir

conteúdos que remetam à realidade social, política, econômica e cultural da

conjuntura local e global, no que se refere à problemática do meio ambiente. Assim,

o professor poderá flexibilizar a rigidez dos conteúdos estabelecidos no currículo

promovendo um aprendizado menos fragmentado para seus alunos e com mais

qualidade, como nos diz Gadotti.

Contudo, é preciso que o professor e o aluno tenham consciência de que são

cidadãos, conheçam e reflitam sobre a realidade que os cercam, pois apenas desta

forma, ambos aprenderão com a interação dos contextos individual e coletivo. Só

assim o educador ensinará com qualidade e o aluno aprenderá a dar valor ao que

lhe é ensinado. É importante também que o professor tenha consciência de seu

saber fragmentado e que tenha humildade para ampliar seu conhecimento. O

professor precisa estar comprometido com a transformação e com a difusão das

conquistas qualitativas, consequência da sua prática educacional voltada para o

despertar do senso crítico e da emancipação de si mesmo e de seus educandos.

Porém, é importante destacar que quando falamos em transformação,

conscientização e emancipação, não estamos tendo uma visão romântico-idealista

da sociedade. Entendemos que por estarmos inseridos no modelo capitalista,

precisamos pagar contas e adquirir produtos básicos para podermos sobreviver. O

professor não está fora disso. O nosso objetivo é enfatizar, que mesmo fazendo

parte deste sistema, o professor pode colaborar de forma ativa, contribuindo para a

construção de um novo paradigma, que se assente na possibilidade real de

desenvolvimento sustentável focado no compromisso social, com respeito ao ser

humano e ao meio ambiente/natureza.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como o intento deste estudo foi explicitar os pressupostos para a efetivação

da transversalidade da educação ambiental na prática docente nos anos iniciais,

constatamos inicialmente três pontos que mais se destacaram nesta pesquisa e que

são de extrema relevância para a prática diária do educador. O primeiro é que o

professor, enquanto ser vivo, precisa reconhecer a sua dependência em relação ao

meio ambiente/natureza; segundo conhecer os princípios e objetivos da educação

ambiental e terceiro é necessário que tenha consciência da sua função social

desenvolvendo diariamente uma prática transversal. É preciso deixar claro que

existem outros pressupostos, mas que para este estudo resolvemos enfatizar o que

consideramos mais importantes.

A partir da pesquisa percebemos que estamos vivenciando um momento

ímpar na história da sociedade, em que todos os olhares se voltam para as ações

depredadoras do ser humano para com o meio ambiente/natureza. Árvores, animais,

água, ar, solo estão sendo destruídos. Quando a escassez dos recursos naturais for

mais notável, talvez os monopolizadores das forças produtivas mudem seu

comportamento predatório, apresentando uma postura ética e de respeito ao meio

ambiente, ao invés de viverem para acumular riquezas materiais.

Devido à relação que o ser humano estabeleceu com o meio

ambiente/natureza, ao longo dos séculos explorando os recursos naturais, o futuro

das gerações vindouras está comprometido. É preciso que todos nós tenhamos a

consciência de que dependemos dos recursos disponibilizados na natureza para

sobreviver. É uma condição! Entretanto, no modo de produção capitalista o ser

humano apresenta uma postura antropocêntrica, ou seja, o ser humano se coloca

como o centro de tudo demonstrando poder e dominação, no que se refere à sua

relação com o meio ambiente/natureza.

Compreendemos que foi a partir da relação desarmônica entre o ser humano

– natureza constituída no modo de produção capitalista, que se iniciou o processo

de desequilíbrio no meio ambiente. Ressaltamos que a reversibilidade dos impactos

ambientais é improvável, o que agrava ainda mais a situação ambiental. Diante

disto, para que este problema seja amenizado é preciso que haja uma nova postura

(ética) dos seres humanos diante do meio ambiente/natureza.

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Sendo assim, como viabilizar esta nova postura? Nesse contexto,

entendemos que a educação ambiental é uma das alternativas que melhor poderá

responder a este questionamento.

A educação ambiental é uma das principais ferramentas de incentivo às

reflexões da problemática ambiental que envolve a sociedade no século XXI. O

paradigma que se apresenta questiona de forma crítica o antigo paradigma de

destruição, poluição, consumismo desenfreado, pois trouxe consigo discussões

sobre as questões ambientais e desejadas transformações sociais: democratização,

mudança no padrão de consumo, preocupação com as gerações futuras e dignidade

coletiva. Além disso, a educação ambiental nos convida para uma mudança de

consciência, para que nos tornemos “melhores” seres humanos.

Então, nos referindo ao professor, enquanto agente transformador da

sociedade, como este pode em sua prática conscientizar seus alunos de forma que

conheçam a sua realidade social, econômica, política e cultural, no que se refere ao

meio ambiente? Precisa ter uma atitude de inconformismo com as regras postas e

permitir que os alunos participem ativamente na construção da sua própria

consciência crítica. De que maneira o educador poderá enfatizar a relevância da

educação ambiental para os alunos? O professor deve ressaltar que o meio

ambiente/natureza é parte indissociável do ser humano, ou seja, o comprometimento

do equilíbrio do meio ambiente/natureza enseja automaticamente o desequilíbrio do

próprio ser humano.

A transversalidade é um recurso que o educador possui para trabalhar temas

que estão intrinsecamente associados à nossa realidade social. Além disso, ajuda a

flexibilizar o currículo escolar, uma vez que este se apresenta de forma disciplinar

fragmentando o conhecimento. O meio ambiente enquanto tema transversal faz uma

abordagem sobre os problemas ambientais que estão diretamente ligados,

principalmente, à estrutura da sociedade capitalista, uma sociedade

economicamente desigual e consumista. Daí, a relevância e necessidade de se

efetivar a transversalidade da educação ambiental na prática docente.

Diante disso, percebemos a responsabilidade que o professor tem de

trabalhar conteúdos que sejam significativos para seus alunos, pois a partir deles os

alunos poderão compreender e analisar o seu contexto socioeconômico, político e

cultural, se conscientizando das questões ambientais, passando a ter uma nova

postura em relação ao seu meio social.

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Gostaríamos de destacar que o professor no exercício da sua prática

pedagógica transversal pode enfrentar algumas dificuldades que influenciam na

qualidade do ensino e na aprendizagem dos alunos, porém não citaremos esses

obstáculos, uma vez que este não foi o objetivo desta pesquisa. No entanto, é

fundamental que todos nós tenhamos consciência de que o professor pertence a

uma sociedade, cujo modelo econômico é o modo de produção capitalista, o que por

si só já é um grande obstáculo.

Além disso, no sistema capitalista o professor assim como outros

profissionais estão alheios ao seu trabalho, enquanto atividade humana, pois como

afirmou Karl Marx o trabalho alienado, aliena o ser humano de si mesmo. Em outras

palavras, o professor vende a sua força de trabalho, ainda que seja um trabalho

relacionado à educação, pois o mesmo enquanto cidadão precisa garantir um salário

para ter o mínimo de dignidade e garantir as suas necessidades mais básicas para

sobreviver.

Entretanto, a partir do que discutimos, concluímos que mesmo o professor

fazendo parte de uma sociedade capitalista, é preciso que ele enquanto agente

transformador desenvolva em sua prática diária um trabalho de qualidade, visando a

aprendizagem significativa do aluno, especialmente no que se refere à

transversalidade da educação ambiental. Para esta ser efetivada é necessário que o

professor tenha um conhecimento aprofundado sobre as causas e consequências da

problemática ambiental, se reconhecer como um agente transformador e

principalmente como um ser vivo que depende da natureza para sobreviver.

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