a tecnologia nas visões marxista e neoclássica

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  • 7/25/2019 A Tecnologia Nas Vises Marxista e Neoclssica

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    A tecnologia nas vises marxista e neoclssica

    Na segunda metade do sculo XIX ocorreu um aprofundamento do processo de

    industrializao europeu, o desenvolvimento e aprimoramento no processo industrial

    europeu, caracterizado pela insero irrestrita da energia eltrica, uso do motor a

    exploso, carvo mineral, inveno do ao.

    Todas essas mudanas marcaram o desenvolvimento industrial em diversos setores

    como: Manufatureiro, transportes, Metalrgico, Txtil e Mudanas institucionais

    importantes foram observadas nas reas jurdica, financeira e poltica, de forma a

    permitir o avano do crescimento industrial.

    Do ponto de vista do pensamento econmico sobre indstria e tecnologia, esse perodo

    foi particularmente frtil, dando origem a duas correntes de interpretao sobre a

    dinmica do sistema capitalista, Karl Marx retomando a tradio da escola clssica, com

    Adam Smith e David Ricardo, para elaborar sua teoria do valor-trabalho.

    A teoria do valor-trabalho o reconhecimento de que em todas as sociedades, oprocesso de produo pode ser reduzido a uma srie de esforos humanos onde no

    conseguem sobreviver sem se esforar para transformar o ambiente natural de uma

    forma que lhes seja mais conveniente. O ponto de partida dessa teoria : O trabalho

    era o primeiro preo, o dinheiro da compra inicial que era pago por todas as coisas.

    Assim, Smith afirmou que o pr-requisito para qualquer mercadoria ter valor era que

    ela fosse produto do trabalho humano.

    Por outro, comea a ser desenvolvida a chamada teoria neoclssica a partir dos

    princpios tericos de equilbrio geral estabelecidos por Leon Walras.

    As inovaes da Segunda Revoluo IndustrialPor volta de 1880, apesar do desenvolvimento industrial da Europa Ocidental e

    dos Estados Unidos, a Gr-Bretanha consolidou seu papel de superpotncia. A Inglaterra

    bero da Revoluo Industrial era responsvel por cerca de 40% das exportaes

    mundiais de produtos manufaturados, contra apenas 6% dos Estados Unidos. Sua

    superioridade organizacional e tecnolgica se expressava tambm por uma

    produtividade de trabalho 14% maior do que a americana (Lazonick, 1992).

    Em consequncia, o modelo de operao das firmas britnicas serviu como

    referncia para as formulaes tericas tanto de Marx como de Walras e Marshall. A

    Inglaterra era o modelo de excelncia que todos observavam para aprender com sua

    experincia.Do ponto de vista tecnolgico, o perodo caracterizado pela rpida difuso da

    mquina a vapor, da metalurgia do ferro e do ao, das ferrovias e das novas prticas na

    indstria qumica. Embora o uso da energia a vapor j fosse conhecido desde o sculo

    XVIII, sua difuso em massa s ocorreu quando inovaes complementares nos

    materiais e em novas fontes de energia (carvo mineral) estavam disponveis. Foi uma

    poca marcada pelo aprimoramento de inovaes desenvolvidas anteriormente,

    visando torn-las mais operacionais e econmicas.

    Transportes Ferrovirios e Martimos

    Desde o incio do sculo XIX, observa-se um contnuo melhoramento dossistemas de transportes na Europa em funo do aumento da demanda e da unificao

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    interna dos mercados nacionais. A princpio, os melhoramentos se deram na construo

    de estradas, permitindo o uso de carroas, e no aproveitamento da vias fluviais, com a

    construo de canais e eclusas. Os barcos eram inicialmente puxados por cavalos que

    trafegavam nas margens dos canais. O primeiro barco a vapor foi o Clermont,

    desenvolvido por Fulton em 1807 para navegar no rio Hudson nos Estados Unidos. O uso

    de barcos e barcaas a vapor exigia vias navegveis de maior profundidade econfiabilidade, e por isso ficou popular no rio Mississipi e na travessia do Atlntico.

    As estradas de ferro exigiram um tempo maior para se desenvolver, dado seu

    carter sistmico. O estabelecimento das ferrovias requeria uma srie de inovaes

    complementares na tecnologia do vapor, na indstria mecnica, na qualidade do

    material e no manejo de equipamentos pesados, a exemplo do macaco a vapor e dos

    guindastes suspensos. Stephenson construiu a primeira estrada de ferro (1818-1825),

    dando origem orgia ferroviria na Inglaterra nas dcadas seguintes. Nos Estados

    Unidos, o primeiro boom ferrovirio iniciou-se na dcada de 1840 e, em 1860, a rede j

    havia alcanado 60 mil milhas (Chandler, 1990). Na Europa ocidental, as principais

    conexes ferrovirias s foram estabelecidas nas dcadas de 1850 e 1860.O Brasil entrou na era ferroviria em 1854, quando o Baro de Mau construiu a

    ferrovia Mau--Raiz da Serra de Petrpolis. Os impactos econmicos das ferrovias no

    podem ser subestimados.

    Por um lado, foi possvel incorporar mercados antes isolados pelos altos custos

    de transportes e adicionar novas fontes produtoras de matrias-primas e alimentos. Por

    outro, criou-se uma demanda de ferro sem precedentes em uma ampla variedade de

    formas acabadas que iam de itens relativamente simples, como trilhos e rodas, at

    motores e mquinas complexas, dando impulso metalurgia e indstria mecnica.

    Indstria Txtil

    Por volta de 1870, a Inglaterra j havia substitudo os teares manuais e a maioria dosmoinhos hidrulicos pioneiros da Revoluo Industrial por mquinas automticas

    movidas a vapor. A partir de ento, o desafio passou a ser obter ganhos de produtividade

    por meio de inovaes mecnicas incrementais e da soluo de gargalos, formados por

    elos da cadeia produtiva que ficaram margem do processo de inovao. As reas de

    fiao e tecelagem de algodo e l entraram em um processo de aperfeioamento

    contnuo que conferia crescente produtividade. A inovao na indstria txtil era

    alimentada por fornecedores de bens de capital especializados, que, por sua vez,

    contavam com os avanos na metalurgia do ferro para desenvolver mquinas mais

    precisas, com maior potncia e com transmisso mais eficiente. A automao provocou

    novos saltos de produtividade e acentuou a substituio de mo de obra. Os tearesautomticos permitiam a operao simultnea de vrios equipamentos por trabalhador.

    Na preparao do fio, as mquinas aperfeioadas difundiram-se com rapidez,

    praticamente extinguindo uma grande e antes florescente arte manual.

    Ferro E Ao

    A produo metalrgica est sujeita a fatores de competitividade muito diferentes

    daqueles observados na indstria txtil. H menor diversidade de matrias-primas e

    produtos finais, as mudanas tecnolgicas no so dificultadas pela concorrncia entre

    diferentes modos de produo e a localizao definida pela disponibilidade de

    recursos naturais. Landes (1969) assinala que o principal fenmeno da metalurgia foi a

    vitria definitiva do combustvel mineral. A inelasticidade da oferta de madeira, assimcomo a disperso forada e a capacidade limitada dos fornos que queimavam este

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    material, tornaram antieconmica a fundio de carvo vegetal. O novo combustvel

    permitiu um aumento contnuo do tamanho do equipamento e das usinas, gerado e

    estimulado por aperfeioamentos tecnolgicos que no foram espetaculares ou

    revolucionrios em si, mas que constituram, individualmente, uma grande

    transformao. O jato de ar tornou-se mais potente e mais quente e o resfriamento mais

    eficaz, permitindo fluxos de fundio mais longos e de carregamento mais fcil.O grande gargalo da indstria metalrgica era a rea de purificao. A separao do

    metal descarbonizado em processo de solidificao dependia diretamente de um

    penoso trabalho humano, um fator que limitava o tamanho dos fornos e os aumentos

    de produtividade. As respostas vieram de uma direo inteiramente diferente: a

    fabricao de ao barato e seu emprego como substituto do ferro forjado na maioria

    dos usos. As grandes inovaes que contriburam para essa transio foram o processo

    de Bessemer, de 1856, e a tcnica do forno aberto de Siemens-Martin, de 1864. Tais

    inovaes, entretanto, levaram vrias dcadas para serem aperfeioadas e

    efetivamente dominarem o processo produtivo.

    O panorama institucionalO uso da mquina a vapor, apesar de revolucionar o processo produtivo, no permitiu,

    de incio, um aumento significativo das escalas de produo. Por um lado, faltavam

    recursos tcnicos e financeiros para promover investimentos em equipamentos e

    desenvolver formas de organizao que garantissem a produo em massa com

    qualidade. Por outro, a presena de economias externas em distritos industriais

    dinmicos, a exemplo de Manchester, garantia a eficincia coletiva das empresas

    individuais. As economias externas derivam da disponibilidade de fatores de produo

    especializados no mercado local, e no de uma melhor utilizao dos recursos

    produtivos no interior da firma. A esse respeito, Marshall observou que as firmas podem

    usufruir economias externas quando o crescimento de uma indstria permite diluir oscustos fixos j investidos na economia como um todo em um volume maior de produo.

    Ele reconhecia que economias externas podiam ser obtidas com base na coordenao,

    pelo mercado, dos fatores de produo (e

    Particularmente dos fatores variveis de produo) adquiridos com frequncia pela

    firma. Tais princpios permanecem at hoje adequados para descrever a fora de

    distritos industriais especializados, articulando pequenas e grandes firmas.

    A forma jurdica e os arranjos tpicos de propriedade e gesto de empresas na segunda

    metade do sculo XIX tambm impunham dificuldades ao crescimento da firma. A

    maioria das manufaturas txteis era do tipo firma--propriedade, gerenciada pelos

    prprios donos, geralmente uma famlia ou um pequeno grupo de scios. Restrita porseus limitados recursos gerenciais e financeiros, a empresa tendia a ter uma nica

    planta, especializada em uma estreita gama de atividades (Tigre, 1998). O modelo

    competitivo de pequenas empresas era reforado por um regime jurdico que atribua

    responsabilidade integral dos proprietrios pelas dvidas da firma. Em caso de falncia,

    os proprietrios respondiam com seus bens pessoais. Embora o regime de sociedades

    annimas por cotas j existisse na Inglaterra desde 1862, os sucessivos escndalos

    decorrentes da quebra de empresas limitaram a aceitao pblica dessa forma de

    organizao legal. O regime de responsabilidade integral limitava o crescimento da firma

    e evitava a concentrao do mercado. Alm disso, fomentava o conservadorismo da

    classe empresarial avessa a riscos que pudessem resultar em sua runa pessoal.

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    O final do sculo XIX, particularmente entre 1873 e 1896, foi um perodo caracterizado

    pela deflao, com uma queda mdia de aproximadamente 1/3 nos preos das

    commodities. A taxa de juros tambm caiu a tal ponto que os economistas tericos

    passaram a admitir a possibilidade de o capital ser abundante o suficiente para ser

    considerado um bem livre. As barreiras entrada, sejam de origem tcnica ou

    financeira, no desempenhavam um papel to importante como hoje na estruturaodos mercados.