a saÚde do trabalhador como um direito humano · resumo: a saúde do trabalhador é um direito...

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Resumo: A saúde do trabalhador é um direito humano, um valor fun- damental do sistema jurídico, alicerçado no princípio ontológico da dignidade da pessoa humana. Trata-se de um bem jurídico que com- põe o catálogo das necessidades básicas do ser humano, na teoria do mínimo existencial. Como um direito essencial, deve a saúde ser enten- dida como o mais completo bem-estar físico-funcional da pessoa, em seus aspectos negativo e positivo. Esse direito tem dois aspectos essen- ciais, que configuram seu conteúdo mínimo: a) o direito à abstenção, por exemplo, de exigência de horas extras habituais; b) e o direito à prestação, com as medidas de prevenção estipuladas pelas normas regulamentadoras. Palavras-chave: direitos humanos; saúde do trabalhador; dignidade da pessoa humana. Sumário: 1 Introdução; 2 Noção de direitos humanos; 3 Fundamento dos direitos humanos; 4 As gerações de direitos humanos; 5 A saúde do trabalhador como um direito humano; 6 O direito à saúde do traba- lhador; 7 O meio ambiente do trabalho – o princípio da prevenção; 8 O conteúdo essencial do direito à saúde do trabalhador; 9 Conclusão; 10 Bibliografia. *José Antônio Ribeiro de Oliveira Silva é Juiz do Trabalho, Titular da Vara de Orlândia (SP), Mestre em Direito Obrigacional Público e Privado pela UNESP, Doutorando em Direito Social pela Universidad de Castilla-La Mancha (Espanha) e Professor do CAMAT – Curso Avançado para a Magistratura do Trabalho em Ribeirão Preto (SP). 1 Os direitos sociais foram erigidos em norma constitucional pela primeira vez em 1917, com a Constituição do México, e logo em seguida com a Constituição de Weimar, na Alemanha, em 1919. A Constituição brasileira de 1988 traz um rol de direitos sociais em seu art. 6º, destacan- do-se alí os direitos à educação, à saúde, ao trabalho e à previdência social. 1 INTRODUÇÃO Dentre os direitos sociais que foram reconhecidos à pessoa huma- na e há quase um século estão ca- José Antônio Ribeiro de Oliveira Silva* A SAÚDE DO TRABALHADOR COMO UM DIREITO HUMANO talogados nas Constituições con- temporâneas como direitos funda- mentais 1 , o direito à saúde assume especial relevância, porquanto de pouca valia os direitos de liberda- Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, n. 31, jul./dez. 2007.

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Resumo: A saúde do trabalhador é um direito humano, um valor fun-damental do sistema jurídico, alicerçado no princípio ontológico dadignidade da pessoa humana. Trata-se de um bem jurídico que com-põe o catálogo das necessidades básicas do ser humano, na teoria domínimo existencial. Como um direito essencial, deve a saúde ser enten-dida como o mais completo bem-estar físico-funcional da pessoa, emseus aspectos negativo e positivo. Esse direito tem dois aspectos essen-ciais, que configuram seu conteúdo mínimo: a) o direito à abstenção,por exemplo, de exigência de horas extras habituais; b) e o direito àprestação, com as medidas de prevenção estipuladas pelas normasregulamentadoras.

Palavras-chave: direitos humanos; saúde do trabalhador; dignidadeda pessoa humana.

Sumário: 1 Introdução; 2 Noção de direitos humanos; 3 Fundamentodos direitos humanos; 4 As gerações de direitos humanos; 5 A saúdedo trabalhador como um direito humano; 6 O direito à saúde do traba-lhador; 7 O meio ambiente do trabalho – o princípio da prevenção; 8 Oconteúdo essencial do direito à saúde do trabalhador; 9 Conclusão; 10Bibliografia.

*José Antônio Ribeiro de Oliveira Silva é Juiz do Trabalho, Titular da Vara de Orlândia (SP),Mestre em Direito Obrigacional Público e Privado pela UNESP, Doutorando em Direito Socialpela Universidad de Castilla-La Mancha (Espanha) e Professor do CAMAT – Curso Avançadopara a Magistratura do Trabalho em Ribeirão Preto (SP).

1Os direitos sociais foram erigidos em norma constitucional pela primeira vez em 1917, com aConstituição do México, e logo em seguida com a Constituição de Weimar, na Alemanha, em1919. A Constituição brasileira de 1988 traz um rol de direitos sociais em seu art. 6º, destacan-do-se alí os direitos à educação, à saúde, ao trabalho e à previdência social.

1 INTRODUÇÃO

Dentre os direitos sociais queforam reconhecidos à pessoa huma-na e há quase um século estão ca-

José Antônio Ribeiro de Oliveira Silva*

A SAÚDE DO TRABALHADOR COMOUM DIREITO HUMANO

talogados nas Constituições con-temporâneas como direitos funda-mentais1 , o direito à saúde assumeespecial relevância, porquanto depouca valia os direitos de liberda-

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de se a pessoa não tem uma vidasaudável que lhe permita fazer suasescolhas. Basta lembrar que, estan-do doente, a pessoa não pode tra-balhar e, se desempregada, não teráforças para exercer o seu direito aotrabalho, outro direito humanofundamental. Demais, conforme adoença que lhe tenha acometido,não poderá exercer determinadasatividades profissionais, diminuindoo seu leque de escolha quando daprocura de trabalho, pouca valiatendo nesses casos a liberdade pre-conizada no inciso XIII do art. 5ºda Constituição Federal.

Destas breves consideraçõesse pode dessumir que a saúde do tra-balhador, como espécie da saúde emgeral, é um direito humano e, comotal, é inviolável, devendo ser obser-vado rigorosamente tanto pelo em-pregador quanto pelo Estado emsua atividade regulatória e de fis-calização. E que quaisquer viola-ções a esse direito fundamental,principalmente se resultado de aci-dente do trabalho, devem encontraruma resposta satisfatória do siste-ma jurídico, pela voz interpretativada doutrina e da jurisprudência.

Neste pequeno artigo preten-de-se desenvolver um estudo dessatemática, apresentando, primeiro,uma noção de direitos humanos,entendidos como os valores funda-mentais de todo e qualquer sistemajurídico, com alicerce no princípio dadignidade da pessoa humana. Buscaros seus fundamentos também é pre-ciso, para se encontrar, ao lado deseu fundamento ético-político, umde ordem moral – a idéia de digni-dade do ser humano. Com basenestas reflexões, será possível sus-tentar que a saúde do trabalhadortambém se trata de um direito hu-

mano, compreendida no catálogode necessidades básicas das pessoas,na teoria do mínimo existencial,em respeito à sua dignidadeontológica.

Posteriormente, pretende-sefornecer uma noção do direito àsaúde, em geral, bem como do di-reito à saúde do trabalhador, comoespécie, a fim de se ter caminho se-guro na busca do conteúdo essen-cial deste direito, na prevenção e narecuperação da saúde. E no campoda saúde do trabalhador há doisaspectos essenciais que devem seranalisados: o direito à abstenção e odireito a inúmeras prestações, da par-te do Estado e do empregador,consubstanciando o direito de pre-venção, no seu conteúdo essencial.

Por fim, serão estudadas al-gumas das violações mais graves àsaúde do trabalhador, para que setenha a possibilidade de construçãode uma nova forma de interpreta-ção do manancial de normas e prin-cípios a respeito da matéria, à luzdo princípio ontológico da dignida-de da pessoa humana, com o obje-tivo de se fornecer a adequada pro-teção a esse bem tão valioso: a saú-de do trabalhador.

O que importa é que hajaefetividade na proteção à saúde dotrabalhador, em respeito ao direitofundamental a uma vida digna,fundamento último de qualquersistema jurídico. Esta é a grandepreocupação que permeia o artigoque segue.

2 NOÇÃO DE DIREITOS HU-MANOS

Observa Antônio AugustoCançado Trindade que a idéia de

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2CANÇADO TRINDADE, Antonio Augusto. Tratado de Direito Internacional dos DireitosHumanos. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1997. v. 1, p. 17.

3LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos: um diálogo com o pensamento deHannah Arendt. São Paulo: Companhia das Letras, 1988, p. 124.

4Ibidem, p. 134.O postulado ético de Kant foi exposto em sua obra Fundamentação da Metafísica dos Costu-mes, uma introdução à Crítica da Razão Prática. Para Immanuel Kant, o homem e, de umamaneira geral, todo o ser racional – existe como fim em si mesmo, e não apenas como meio parao uso arbitrário desta ou daquela vontade. [...] Os seres, cuja existência não assenta em nossavontade, mas na natureza, têm, contudo, se são seres irracionais, um valor meramente relativo,como meios, e por isso denominam-se coisas, ao passo que os seres racionais denominam-sepessoas, porque a sua natureza os distingue já como fins em si mesmos, ou seja, como algo quenão pode ser empregado como simples meio e que, portanto, nessa medida, limita todo oarbítrio (e é um objeto de respeito).

5KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução de LeopoldoHolzbach. São Paulo: Martin Claret, 2006, p. 58-59.

6COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 3. ed. rev. eatual. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 21-22.

direitos humanos é tão antiga comoa própria história das civilizações,tendo se manifestado em culturasdistintas e em momentos históricossucessivos, na afirmação da digni-dade da pessoa humana, na lutacontra todas as formas de domina-ção, exclusão e opressão, na lutacontra o despotismo e a arbitrarie-dade, na asserção da participaçãona vida comunitária e do princípioda legitimidade2 . Demais, o avan-ço do reconhecimento e respeitoaos direitos da humanidade não foisimétrico, porquanto alguns paísesos incorporaram a seus estatutosbásicos antes de ou-tros, havendo muitoainda a se conquis-tar em inúmeros paí-ses. Com efeito,pode-se mesmo afir-mar que os direitoshumanos são umaconquista histórica.Por isso Celso Laferpreconiza que essesdireitos tiveram re-conhecimento emcada época, representando, assim,uma conquista histórica e política3 .São uma construção, uma invenção

“...o homem não pode ser em-

pregado como um meio para a

realização de um fim, pois é um

fim em si mesmo, haja vista

que, apesar do caráter profa-

no de cada indivíduo, ele é sa-

grado, porquanto na sua pes-

soa pulsa a humanidade.”

da humanidade, ligada à organiza-ção da comunidade política4.

O postulado ético de ImmanuelKant está no princípio de toda expla-nação sobre os direitos humanos, nomomento em que aquele filósofoenunciou que o homem não pode serempregado como um meio para a reali-zação de um fim, pois é um fim em simesmo, haja vista que, apesar do ca-ráter profano de cada indivíduo, ele ésagrado, porquanto na sua pessoa pulsaa humanidade. Este postulado conduzà dignidade da pessoa humana5 . Daídecorre que toda pessoa:

[...] tem dignidade enão um preço, comoas coisas. A huma-nidade como espé-cie, e cada ser hu-mano em sua indi-vidualidade, é pro-priamente insubs-tituível: não temequivalente, não po-de ser trocado porcoisa alguma.6

Por isso MiguelReale, o maior jusfilósofo brasilei-ro, afirmou que o valor da pessoahumana é mesmo um valor-fonte, o

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fundamento último da ordem jurí-dica, na medida em que o ser hu-mano é o valor fundamental, algo quevale por si mesmo, identificando-seseu ser com sua valia7 .

Os direitos humanos são, por-tanto, valores fundamentais de todo equalquer sistema jurídico, pelo menosnum Estado democrático de Direi-to. Repousam sobre o valor maiorda dignidade da pessoa humana, umprincípio praticamente absolutopara o mundo do direito.

José Afonso da Silva anotaque a dignidade da pessoa humana éum valor supremo, que atrai o con-teúdo de todos os di-reitos fundamentaisdo homem, desde odireito à vida8 .

N o r b e r t oBobbio sustenta queos direitos humanossão direitos históri-cos, nascidos em cer-tas circunstâncias, naluta em defesa denovas l iberdadescontra velhos pode-res, e nascidos de modo gradual.Afirma que os direitos não nascemtodos de uma vez e nem de umavez por todas, tendo em vista quesurgem como proteção diante dasameaças à liberdade da pessoa oucomo remédios para suprir as indi-gências humanas, ou seja, como exi-gências, sendo que estas só nascemquando surgem determinadoscarecimentos. As exigências dos

7REALE, Miguel. Filosofia do direito. 14. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 210.8SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 27. ed. rev. e atual. até a

Emenda Constitucional n. 52, de 8.3.2006. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 105.9BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro:

Campus, 1992, p. 5-7.10PÉREZ LUÑO, A. E. La tercera generación de derechos humanos. Navarra: Editorial Aranzadi,

2006, p. 13.

“Os direitos humanos são, por-

tanto, valores fundamentais de

todo e qualquer sistema jurídi-

co, pelo menos num Estado de-

mocrático de Direito. Repousam

sobre o valor maior da dignida-

de da pessoa humana, um prin-

cípio praticamente absoluto para

o mundo do direito.”

direitos são apenas estas duas: im-pedir os malefícios do poder ou deleobter benefícios9.

Segundo Pérez Luño, jusfiló-sofo espanhol, os direitos humanossão verdades demonstradas atravésdos ditames da reta razão, expres-sando um conjunto de faculdadesjurídicas e políticas próprias de to-dos os seres humanos e em todosos tempos10.

Não é a positivação, tam-pouco sua constitucionalização,que os torna dignos dessa adje-tivação: humanos. São direitos hu-manos porque indissociáveis da

pessoa humana, oude sua dignidade.Vale dizer, a digni-dade da pessoa so-mente estará assegu-rada quando respeita-dos esses direitos. Atéporque ainda exis-tem Estados que nãoos reconhecem, aomenos em sua tota-lidade, nas ordena-ções internas. Poroutro lado, mesmo

que determinado Estado promova,na ordem interna, a despositivaçãodesses direitos, eles não deixarão deser imprescindíveis aos seus nacio-nais. De tal modo que a positivação,conquanto valiosíssima para aexigibilidade dos direitos humanos,não tem o condão de lhes conferiresse rótulo, ainda que se mude anomenclatura para direitos funda-mentais.

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Os direitos humanos são direi-tos naturais, que pertencem ao indi-víduo – que não pode ser dividido –e precedem a qualquer sociedadepolítica. Não se pode olvidar, ain-da, que inúmeros direitos encon-tram-se positivados nas Constitui-ções atuais, mas sem que haja a elesrespeito efetivo, mormente quantoaos direitos humanos denominadosde sociais.

Entretanto, de se reconhecerque a expressão direitos fundamen-tais é a preferida pelos constitucio-nalistas e até mesmo pelos doutrina-dores de direito do trabalho. De-mais, quando se estáa falar de direitos hu-manos positivadosna Constituição, na-da obsta que a eles sedê a adjetivação dedireitos fundamentais.Tem-se que a distin-ção essencial entre di-reitos humanos e direi-tos fundamentais as-senta na idéia de queaqueles têm como titu-lares apenas a pessoa humana, obrade Deus, ao passo que os direitos fun-damentais também têm como titu-lares as pessoas jurídicas, criação dohomem.

De tal modo que, a título deconclusão e sem qualquer preten-são de esgotar tão ampla matéria,pode-se fornecer (apenas) uma no-ção geral de direitos humanos. Tem-se que direitos humanos são um con-junto de direitos, garantias, faculda-des, positivados ou não no sistemajurídico, sem os quais a dignidade dapessoa humana estará seriamenteameaçada, açambarcando toda uma11BOBBIO, Norberto. A era dos direitos, p. 5.

“...a distinção essencial entre

direitos humanos e direitos fun-

damentais assenta na idéia de

que aqueles têm como titula-

res apenas a pessoa humana,

obra de Deus, ao passo que os

direitos fundamentais também

têm como titulares as pessoas

jurídicas, criação do homem.”

gama de liberdades essenciais, bemcomo direitos mínimos à afirmaçãoda pessoa para a concretização doideal de igualdade. Sem os direitossociais mínimos, a igualdade serámeramente retórica. Sem as liberda-des, a igualdade não se justifica.

3 FUNDAMENTO DOS DIREI-TOS HUMANOS

Conquanto Norberto Bobbioenuncie que o fundamento dos di-reitos humanos é um problema malformulado, afirmando ser ilusóriaa busca de um fundamento abso-

luto desses direitos11,o problema dafundamentação dostais direitos é aindaatual. É tão atualque em recente obra,publicada na Espanhano ano de 2006,apontou-se o equí-voco de Bobbio, aoafirmar que o pro-blema dos funda-mentos dos direitos

humanos teve sua solução na De-claração Universal dos Direitos doHomem, aprovada pela Assem-bléia-Geral das Nações Unidas, em10 de dezembro de 1948. Em pri-meiro lugar, a referida Declaraçãonão deixa claro que os direitos hu-manos são reconhecidos e não cria-dos pelos textos positivos. De outraparte, a locução direitos humanosrevela certa ambigüidade, encon-trando-se referência a direitos na-turais, direitos fundamentais, direi-tos subjetivos, direitos morais, liber-dades públicas etc. Não parece pos-sível implementar eficazmente os

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“A justificação última dos direi-

tos humanos é, pois, a digni-

dade da pessoa, em tudo aqui-

lo que se mostra imprescindí-

vel à sua existência.”

direitos humanos se não sabemospreviamente em que consistem12 , detal modo que se deve buscar o seu fun-damento.

Gregório Robles também cri-tica o posicionamento de Bobbio,asseverando que seu argumentoesconde um sofisma que um filóso-fo não pode permitir-se. E ponderaque é importante saber por que osrepresentantes dos mais diversospaíses e ideologias proclamaramque todos estavam de acordo coma declaração dos direitos humanos.Não se pode separar o fundamen-to do fundamentado, já que o pri-meiro determina oconteúdo do segun-do. Prossegue afir-mando que o consen-so geral que permitiuesta declaração re-presenta o funda-mento relativo dos di-reitos numa socieda-de plural e heterogê-nea (ética política),mas que, além do fun-damento político (oude ética política), queé justamente o tal consenso, está ofundamento moral, que é o funda-mento absoluto dos direitos. Estefundamento é, em minha opinião,a idéia de dignidade da pessoa hu-mana. Ou, para ser mais exato, aidéia de dignidade do ser humano,haja vista que o ser humano é umfim em si mesmo. É um valor em simesmo, e não uma 114coisa ou

12PUERTO, Manuel J. Rodríguez. ¿Qué son los derechos humanos? In: QUIRÓS, José Justo Megías(Coord.). Manual de derechos humanos: los derechos humanos en el siglo XXI. Navarra:Editorial Aranzadi, 2006, p. 14-15.

13ROBLES, Gregório. La olvidada complementariedad entre deberes y derechos. In: Manual dederechos humanos: los derechos humanos en el siglo XXI, p. 39-41.

14APARISI, Ángela. Fundamento y justificación de los derechos humanos. In: Manual de derechoshumanos: los derechos humanos en el siglo XXI, p. 163-164.

uma utilidade ao serviço de outrasrealidades. O conceito de dignida-de do ser humano supõe uma tra-dução laica da idéia cristã de quetodos os seres humanos são filhosde Deus13 .

Ángela Aparisi, ainda na obracoletiva objeto de análise, após re-futar a tese de Bobbio, aponta quevárias são as razões pelas quais sepode afirmar que o estudo do fun-damento dos direitos humanos nãoé uma questão meramente supérfluaou inútil, destacando-se seu aportede que é precisamente a constanteviolação de tais direitos que põe a

descoberto a falta defundamentos sólidose a ausência de con-vicções geralmentecompartilhadas. Adiversidade de pres-supostos ideológicossubjacentes aosdistintos sistemaspolíticos desfaz ailusão de uma acei-tação internacionalou de um amplo con-senso social, o que

demonstra a necessidade da justifi-cação e fundamentação dos direitoshumanos14.

A justificação última dos direi-tos humanos é, pois, a dignidade dapessoa, em tudo aquilo que se mostraimprescindível à sua existência.

O objeto dos direitos humanosé possibilitar o pleno desenvolvimen-

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to da personalidade de cada um, ou,de outro modo, oferecer-lhe as con-dições materiais e morais para quepossa alcançar o máximo desenvol-vimento possível, de acordo comsua vontade. Fala-se, então, embens humanos básicos, como a vida,a saúde, a segurança social, o tra-balho, a alimentação, a habitação,o vestuário, a liberdade de consci-ência, a educação.

Daí se verifica que a referênciaa alguns valores é constante, como avida, a liberdade, a igualdade, bemcomo a educação, a saúde, o traba-lho, a moradia, a segurança, a ali-mentação e o vestuário, direitos pre-conizados nos arts. 5º, 6º e 7º daConstituição Federal brasileira.

Viera de Andrade foi o pri-meiro a procurar estabelecer a es-treita correlação entre os direitoshumanos e o princípio da dignida-de da pessoa humana. Ele distin-gue os direitos fundamentais, emseu conjunto, dos demais, por te-rem uma estrutura, uma função euma intenção próprias. Asseveraque a consagração de um conjuntode direitos fundamentais tem umaintenção específica:

[...] explicitar uma idéia deHomem, decantada pelaconsciência universal ao lon-go dos tempos, enraizada nacultura dos homens que for-mam cada sociedade e rece-bida, por essa via, na consti-tuição de cada Estado concre-to. Idéia de Homem que noâmbito da nossa cultura semanifesta juridicamente num

15VIEIRA DE ANDRADE, J. C. Os direitos fundamentais na Constituição Portuguesa de 1976.Coimbra: Almedina, 1983, p. 84-85.

princípio de valor, que é oprimeiro da Constituição por-tuguesa: o princípio da digni-dade da pessoa humana.15

Percebe-se, assim, a referên-cia constante ao princípio-guia: o dadignidade da pessoa humana – ofundamento dos direitos humanos.Nesse princípio se pode identificar,portanto, todos os direitos, ondequer que estejam previstos, ou ain-da que não positivados – normal-mente nascidos da criação jurispru-dencial –, merecedores da adjeti-vação humanos ou fundamentais. Nadefinição do conteúdo essencial dosdireitos humanos está a preocupa-ção com a esfera de liberdades e dedireitos materiais sem a qual não háasserção da pessoa humana en-quanto tal. Por isso a referênciaconstante, conforme a ideologia decada doutrinador, a alguns valoreshumanos básicos, como a vida (prin-cípio de tudo), a liberdade (toda agama de liberdades difundida nadisciplina dos direitos individuais)e a igualdade, aqui entendida comoigualdade real, para cuja realizaçãose torna imprescindível a satisfaçãode direitos sociais básicos, como aeducação, a saúde, o trabalho, a mo-radia, a segurança social, a alimen-tação e o vestuário.

4 AS GERAÇÕES DE DIREITOSHUMANOS

Os valores humanos básicosidentificam a categoria de direitoshumanos da época contemporânea,

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cujo reconhecimento foi gradativo,numa evolução histórica que acom-panhou o evoluir da própria huma-nidade. Assim é que houve primei-ramente a positivação dos direitosde liberdade, posteriormente dos di-reitos sociais e no estágio atual es-tão sendo positivados os direitos desolidariedade. A doutrina clássicaconcebe, para explicar didatica-mente essa evolução, as denomina-das gerações de direitos humanos16,falando em direitos de primeira ge-ração, dentre os quais as liberdadesde religião e de pensamento, ao ladodo direito à vida e à propriedade;de segunda geração, compreenden-do os direitos sociais dos trabalha-dores e alguns direitos de ordemeconômica e cultural, como o direi-to à saúde e à educação; por fim,os de terceira geração, a partir daDeclaração Universal dos DireitosHumanos de 1948, como o direitoà paz, ao meio ambiente, ao desen-volvimento etc.

Atribui-se a Karel Vasak, Di-retor do Departamento Jurídico daUNESCO, a concepção genera-cional dos direitos humanos, quan-do ministrou, em 2 de julho de1979, a Aula Inaugural da DécimaSessão do Instituto Internacional deDireitos Humanos de Estrasburgo,defendendo a idéia de direitos hu-manos de terceira geração. Ele co-locou ênfase nos direitos humanosde terceira geração, que completa-ram as liberdades civis e políticasda primeira, bem como os direitoseconômicos, sociais e culturais dasegunda17.

16A referência às gerações de direitos humanos tem aqui a exclusiva finalidade de explicar didatica-mente a evolução histórica dos mencionados direitos, a única serventia que pode ter a tal teoria.

17PÉREZ LUÑO, Antonio-Enrique. La tercera generación de derechos humanos, p.15.

Quanto aos direitos humanosde primeira geração, também cha-mados de direitos de liberdade, pra-ticamente todos os doutrinadoresenfatizam que foram os grandesmovimentos revolucionários do séc.XVIII que resultaram no reconheci-mento em caráter mais abrangente(dito universal) dos direitos huma-nos denominados de liberdades pú-blicas. A Declaração de Direitos daVirgínia, de 12 de junho de 1776, aDeclaração de Independência dosEstados Unidos da América do Nor-te, de 4 de julho de 1776, e a Revo-lução Francesa, com sua Declaraçãodos Direitos do Homem e do Cida-dão, de 26 de agosto de 1789, foramo marco histórico da afirmação dos di-reitos de liberdade, de igualdade for-mal e de propriedade (um direitoinviolável e sagrado – art. 17 daDeclaração dos Direitos do Homeme do Cidadão – exigência dos revo-lucionários burgueses).

Era o movimento pelo reco-nhecimento de direitos inatos à pes-soa humana, a fim de que a eles fos-se dada maior garantia e proteção,mormente diante dos poderes públi-cos. Essa luta foi primeiro para queos direitos humanos naturais fossemdeclarados de forma solene, assu-mindo-se um compromisso em rela-ção a eles, e logo em seguida pelasua positivação nas Constituiçõesque se seguiram, dando origem aoconstitucionalismo moderno. Apositivação, portanto, não cria os di-reitos humanos, somente os reconhe-ce, nesse movimento de asserção dofinal do séc. XVIII.

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Os direitos de primeira gera-ção são de duas categorias: a pri-meira de direitos humanos naturaisou liberdades, e a segunda de direi-tos do cidadão ou direitos políticos.Dentre as liberdades em geral, comodireitos humanos, incluem-se as li-berdades de crença religiosa, depensamento, de expressão, de loco-moção, bem como o direito à segu-rança e à propriedade. Logica-mente, também o direito à vida,razão de ser do próprio Direito. Emsuma, os direitos à vida, à liberda-de e à propriedade constituem a es-sência dos direitos denominados deprimeira geração, ou a clássica tríadedo pensamento individualista, cujodesenvolvimento levou ao reconhe-cimento de inúmeros direitos civise políticos nos séc. XIX e XX, culmi-nando no Pacto Internacional deDireitos Civis e Políticos de 1966,não havendo Constituição dignadesse nome que os não reconheçaem toda a extensão18 no estágioatual da civilização, neste terceiromilênio.

Quanto aos direitos sociais,enquanto direitos de igualdade mate-rial, passaram à ordem do dia ape-nas no final do segundo quartel doséc. XIX, surgindo posteriormente achamada segunda geração de direitoshumanos.

A liberdade de mercado, maioraspiração da ascendente burguesia,propiciou o desenvolvimento do

18BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 19. ed. atual. São Paulo: Malheiros,2006, p. 563.

19MEDEIROS, João Leonardo Gomes. A economia diante do horror econômico. 2004. 204 f. Tese(Doutorado em Economia). Instituto de Economia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Riode Janeiro, 2004, p. 23.

20O Capítulo VIII da obra O Capital, de Marx, é consulta obrigatória para quem pretende compre-ender a situação de miséria e doenças que levaram às lutas pelo reconhecimento dos direitos sociaise por que devem ser assegurados de fato. São estarrecedores os relatórios oficiais de saúde públicainglesa, destacando-se o de 1863. MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Traduçãode Reginaldo Sant Anna. 22. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004. Livro I.

regime capitalista de produção nosséc. XVIII e XIX. Porém, na buscafrenética por produtividade emajoração do lucro, deu-se a explo-ração desumana dos seres humanostrabalhadores, espoliados em seusdireitos mais fundamentais, dentreos quais a saúde e a própria vida,em muitos casos.

As péssimas condições de tra-balho a que foram submetidos ostrabalhadores, incluindo mulherese crianças, deixavam expostas aschagas do sistema capitalista. Porisso se conta somente a primeirahistória da época das revoluções, desucesso e progresso fantástico,advindo da revolução científica etecnológica, que propiciou o au-mento da produção e da produti-vidade, ao lado da consolidação dademocracia moderna e da aboliçãodos privilégios nobiliárquicos19. Nãoa segunda história, do pauperismoda classe trabalhadora, de sua ab-soluta miséria20.

Foi essa situação de miséria,de aviltamento da condição huma-na dos trabalhadores pelos capita-listas, que levou às lutas por direi-tos sociais. As duríssimas e muitasvezes desumanas condições de vidae de trabalho do proletariado, re-sultantes da Revolução Industrial,fizeram com que se tomasse cons-ciência de que a salvaguarda dadignidade humana exige libertar o

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ser humano não só do medo, daopressão e da tirania, mas tambémda necessidade econômica, da fome,da miséria, da falta de cultura21. Pas-sou-se, então, a exigir a intervençãodo Estado nas relações jurídico-pri-vadas, a fim de restabelecer o idealde igualdade, princípio de justiçaimanente ao Direito Natural. Não aigualdade formal, expressa nas de-clarações de direitos e nas constitui-ções dos Estados democráticos deDireito, que serve apenas para mas-carar as diferenças sociais, mas aigualdade material, que por sua vez levaà liberdade real, no lugar da liberda-de meramente abstrata do individu-alismo burguês.

Paulo Bonavides pontificaque os direitos de segunda geraçãonasceram abraçados ao princípio daigualdade, do qual não se podemseparar, pois fazê-lo equivaleria adesmembrá-los da razão de ser queos ampara e estimula22.

A segunda geração de direi-tos humanos surge, assim, em de-corrência da deplorável situaçãoda população pobre das cidadesindustrializadas da Europa Oci-dental, que era constituída, basi-camente, por trabalhadores expul-sos do campo, processo que teveorigem nos cercamentos levados aefeito naquele continente, com oobjetivo de criar mão-de-obra dis-ponível para a indústria, pois oscamponeses, expulsos do campo,tornaram-se muitas vezes mendi-gos nas cidades23.

21FERNANDEZ, Maria Encarnación. Los derechos económicos, sociales y culturales. In: Manualde derechos humanos: los derechos humanos en el siglo XXI, p. 103-104.

22BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional, p. 564.23Cf. KARL MARX sobre a forma de acumulação primitiva, o ponto de partida do modo de

produção capitalista. O capital: crítica da economia política. Apresentação de Jacob Gorender.Coord. e rev. de Paul Singer. Tradução de Regis Barbosa e Flávio R. Kothe. São Paulo: AbrilCultural, 1984. v. 1, Livro Primeiro, Tomo 2 (Capítulo XXIV), p. 261-275.

Por outro lado, a exploraçãoda classe trabalhadora, decorrenteda industrialização, propiciou aconscientização dos operários e as lu-tas por melhores condições de traba-lho. Os trabalhadores e suas orga-nizações passaram a reagir às rela-ções desumanas e precárias dasgrandes indústrias. Os intelectuais,alguns políticos e, mais tarde, a Igre-ja Católica, passaram a lutar poruma regulação do mercado de tra-balho. Essa luta se deu no campopolítico e sindical, tendo sido o Ma-nifesto Comunista (1848), de Marx eEngels, um marco nesse processo.

O resultado dessa ação co-letiva dos trabalhadores foi a res-posta dada pelo Estado, ainda noséc. XIX, seja mediante políticas so-ciais, seja pela edição de leisprotetivas dos trabalhadores, dan-do início ao intervencionismo esta-tal nas relações jurídicas entre em-pregados e empregadores. Esseintervencionismo deu origem aoEstado social de Direito, assim comoao denominado constitucionalismosocial. Primeiro, exigiram-se pres-tações positivas por parte do Esta-do (serviços públicos), para a satis-fação das necessidades imediatasda população, sobremodo as rela-cionadas à seguridade social, à saú-de, à educação e à proteção dos di-reitos trabalhistas; posteriormente,houve a positivação dos direitos so-ciais, incluindo-se os direitos espe-cíficos dos trabalhadores, nas Car-tas políticas do séc. XX.

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Dessa explanação se percebeque somente no séc. XX, em 5 defevereiro de 1917, com a promul-gação da (nova) Constituição doMéxico, mais de 127 anos após a Re-volução Francesa, é que verdadeira-mente se deu reconhecimento his-tórico aos direitos sociais, como odireito ao trabalho, à saúde, à edu-cação e à previdência social, na LeiFundamental de um país. E por issosão denominados direitos humanosde segunda geração. Foi a Consti-tuição mexicana de 1917 a primei-ra a atribuir aos direitos trabalhis-tas a qualidade de direitos funda-mentais, juntamentecom as liberdadesindividuais e osdireitos políticos24 ,nos seus arts. 5º e123, contendo um rolde direitos mínimosdo trabalhador (art.123). E mais, foi aprimeira a instituir afunção social da pro-priedade (art. 27),bem como a criar aresponsabilidade dosempregadores por acidentes do tra-balho, lançando, de modo geral,as bases para a construção do mo-derno Estado Social de Direito25.

Entretanto, a Constituição deWeimar – aprovada em 31 de julhode 1919, pouco depois da ratifica-ção do Tratado de Versalhes pelaAlemanha, ocorrida em 9 de julhodaquele ano – é, com certeza, a fon-te mais conhecida de reconhecimentodos direitos sociais, sobretudo do di-

24COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos, p. 174.25Ibidem, p. 177.26Em virtude de se tratar apenas de um artigo sobre a saúde do trabalhador, não serão analisados

aqui os chamados direitos humanos de terceira geração.

“...somente no séc. XX, em 5

de fevereiro de 1917, com a

promulgação da (nova) Cons-

tituição do México, mais de 127

anos após a Revolução Fran-

cesa, é que verdadeiramente

se deu reconhecimento histó-

rico aos direitos sociais, como

o direito ao trabalho, à saúde,

à educação e à previdência

social, na Lei Fundamental de

um país.”

reito ao trabalho, à educação e àseguridade social.

Destarte, estavam reconheci-dos os direitos sociais mais importan-tes, quais sejam: os direitos ao tra-balho, à saúde, à educação e à pre-vidência social. Inaugurava-se, as-sim, o chamado Estado social de Di-reito, o Welfare State.

Sem embargo, a turbulênciasocioeconômica iniciada no final dadécada de 1960 fez com que a par-tir daí ganhasse novamente força olaissez faire, culminando no triunfodo capitalismo liberal no final do

século XX, colocandoem xeque o Estado so-cial de Direito e, porvia de conseqüência,os próprios direitossociais, cujo reconhe-cimento foi fruto deárduas lutas inicia-das ainda no séc.XIX26.

5 A SAÚDE DOTRABALHADORCOMO UM DI-REITO HUMA-NO

Por tudo o que já visto, épossível afirmar que a saúde do tra-balhador trata-se de um direito hu-mano. Como tal é inalienável,imprescritível e irrenunciável. E éum direito natural de todos os tra-balhadores, em todos os tempos elugares, ainda que sua positivaçãotenha ocorrido tardiamente, comose viu. Se a saúde do trabalhador é

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algo a ele inerente, imanente, emrespeito à sua dignidade essenciale até mesmo para uma boa presta-ção de serviços ao empregador, tra-ta-se de um direito natural, no senti-do de intrínseco à conformação desua personalidade e de seu desen-volvimento enquanto pessoa. É umdireito imprescindível para o serhumano. De tal forma que assim seinsere no continente maior dos di-reitos humanos, como conteúdodestes, vale dizer, como um dos va-lores fundamentais do sistema jurídi-co, sem o qual a dignidade da pes-soa humana estará seriamenteameaçada.

Esse direito é dotado de umconteúdo essencial, identificado nascondições mínimas que devem seratendidas para a sua satisfação, jáque componente do rol de necessi-dades básicas do ser humano. O di-reito à saúde do trabalhador temum conteúdo essencial bastanteextenso, configurando um direitoindividual subjetivo à sua proteção.Na complementaridade entre osdireitos à vida (com suas projeçõesexteriores – a integridade físico-fun-cional e moral), à saúde em sentidoestrito e ao meio ambiente equili-brado, é que se identifica o conteú-do essencial do direito em questão.Nessa conformação teve papel de-cisivo a Organização Internacionaldo Trabalho, adotando convençõese recomendações para a proteçãoà saúde do trabalhador, muito an-tes da Aliança das Nações e da Or-ganização das Nações Unidas.

Demais, as normas de prote-ção à saúde do trabalhador são deordem pública. De maneira que asaúde do trabalhador, como direi-to básico, fundamental, tem de seratendida em quaisquer circunstân-

cias, em nome do princípio-guia dosistema jurídico brasileiro, qual seja,o da dignidade da pessoa humana,indissociável do próprio direito àvida, o fundamento último de todoEstado de Direito, social ou não.Essa complementaridade entre osdireitos à vida (integridade físico-funcional e moral), à saúde do tra-balhador e ao meio ambiente do tra-balho também pode ser extraída deuma interpretação sistemática daConstituição Federal (arts. 1º, 5º, 6º,7º, 200 e 225), na qual se encontra,portanto, um fundamento máximoàquele direito. Nestes dispositivos seencontra, então, a nítida inter-dependência entre os tais direitos –vida, saúde do trabalhador e meioambiente do trabalho equilibrado-,interpretação levada a efeito combase no princípio ontológico da dig-nidade da pessoa humana, um valorpraticamente absoluto no sistemajurídico nacional.

O princípio da dignidade dapessoa humana é o ápice da cons-trução jusfilosófica na evolução cultu-ral da humanidade, encontrando-sebem conformado na doutrina atual,havendo inclusive monografias so-bre o tema, merecendo destaque aobra de Ingo W. Sarlet. Nesta obrao insigne constitucionalista obser-va que a ordem constitucional emvigor, que consagra a idéia da dig-nidade da pessoa humana, parte dopressuposto de que a pessoa, tão-somente em virtude de sua condi-ção humana, é titular de direitos quedevem ser reconhecidos e respeita-dos pelos outros e pelo Estado,remanescendo aí uma fundamenta-ção metafísica da mencionada dig-nidade, derivada do pensamentocristão e humanista. Adverte quenão há como fornecer um conceito

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fixo e acabado de dignidade, poisse trata de uma noção em perma-nente processo de construção e de-senvolvimento, dado o pluralismoe a diversidade de valores presen-tes nas sociedades democráticascontemporâneas27.

O referido princípio significa,em uma síntese muito apertada, quea pessoa humana é dotada de direitosessenciais sem cuja realização não teráforças suficientes para a conformaçãode sua personalidade e o seu pleno de-senvolvimento enquanto pessoa. Valedizer, não será respeitada comopessoa, enquanto tal. Há direitos ina-tos, indissociáveis dacondição de pessoahumana, pessoa quemerece o maior respei-to possível, simples-mente por ser, porexistir. Esses direitosconsubstanciam oque se tem conven-cionado chamar demínimo existencial.

Isso significaque o Estado passa areduzir seu tamanho como pres-tador de serviços públicos, dedican-do-se apenas ao mínimo que dele sepode exigir – a doutrina neoliberaldo Estado mínimo. Por isso agora adoutrina jurídica se põe a encon-trar qual é o catálogo mínimo de di-reitos fundamentais que compõe oconteúdo essencial da dignidade dapessoa humana, na perspectiva deque os demais podem esperar porsatisfação.

Conquanto não se possa con-cordar com essa tarefa reducionista

27SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Consti-tuição Federal de 1988. 4. ed. rev. e atual. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006, p. 38-41.

“O referido princípio significa,

em uma síntese muito aperta-

da, que a pessoa humana é do-

tada de direitos essenciais sem

cuja realização não terá forças

suficientes para a conformação

de sua personalidade e o seu

pleno desenvolvimento en-

quanto pessoa.”

de direitos, mormente na área dosdireitos sociais, a nova dogmáticapode ser utilizada no sentido inver-so, para se conferir efetividade ma-terial aos chamados direitos sociaismínimos, situação longe de seralcançada em países periféricoscomo o Brasil, no qual nunca hou-ve, de fato, a implantação de umverdadeiro Estado social de Direi-to. E pode a Justiça do Trabalhodesenvolver uma jurisprudênciacriativa muito importante nessecontexto.

Quanto ao mínimo existencialsocial, os doutrinadores procuram

identificá-lo, haven-do referências tam-bém às necessidadesbásicas do ser huma-no. Agora, o que seentende por necessi-dades básicas? O maisimportante é definir,concretamente, quaisas necessidades bási-cas, inadiáveis, quecompõem o mínimoexistencial proposto

pela doutrina, pois há teorias paratodos os gostos e credos, mas quenão resolvem o problema concretodos necessitados, os quais não têmsequer condição de acesso à discus-são acadêmica que se trava, longedas áreas de ocupação humana em quea teoria deveria descer à prática.

A satisfação dos direitos so-ciais, na implantação de um autên-tico Estado social de Direito, é ocaminho mais seguro para aconcretude da teoria do mínimoexistencial. Pelo menos a satisfaçãodos direitos básicos dos trabalhadores,

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empregados ou não – aí incluídos osbenefícios previdenciários, o direitoà saúde e o direito à educação gra-tuita, pelo menos no nível funda-mental. Sem a realização dos direi-tos sociais que configuram o chama-do patamar civilizatório mínimo, nafeliz expressão de Mauricio GodinhoDelgado28, não há falar em direitoshumanos sociais ou de segunda ge-ração, os quais desempenham du-pla função, de limitar a autonomiado mercado e, em conseqüênciadisso, de materializar a justiçadistributiva, especialmente através deum sistema de prestações e serviçospúblicos, para a satis-fação das necessidadesbásicas da população.

Em suma, pode-se afirmar que a Cons-tituição Federal brasilei-ra definiu muito bem otal mínimo existencialsocial, quando no seuart. 6º consagrou osdireitos sociais à edu-cação, à saúde, aotrabalho, à mora-dia29, ao lazer, à segurança, à pre-vidência social, à proteção da ma-ternidade e da infância, e à assis-tência social aos desamparados.Mais rigorosa, ainda, quandoelencou as necessidades vitais bási-cas dos trabalhadores, urbanos erurais, e de sua família, no incisoIV do seu art. 7º, as quais sãoidentificadas como sendo a mora-

28DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 4. ed. São Paulo: LTr, 2005, p.1321.

29O direito à moradia foi introduzido no catálogo do art. 6º pela Emenda Constitucional nº 26, de14 de fevereiro de 2000.

30Segundo os léxicos, a expressão saúde provém do latim salute, que significa salvação, conserva-ção da vida. Por isso sempre foi tida como o estado da pessoa cujas funções orgânicas, físicas ementais se acham em situação normal, ou como o estado do que é sadio ou são.FERREIRA,Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. 2. ed. rev. e aum., 23.impr. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986, p. 1556.

“De tal modo que a saúde do tra-

balhador, como espécie do gêne-

ro, compõe, ineludivelmente, o

chamado conteúdo essencial da

dignidade da pessoa humana,

não podendo, jamais, ser poster-

gada sua proteção e, em caso de

doença, o tratamento mais ade-

quado deve ser o mais breve

possível.”

dia, a alimentação, a educação, asaúde, o lazer, o vestuário, a higie-ne, o transporte e a previdência so-cial, razão pela qual o salário míni-mo fixado por lei deveria atender to-das estas necessidades, simplesmen-te porque vitais.

De tal modo que a saúde dotrabalhador, como espécie do gêne-ro, compõe, ineludivelmente, o cha-mado conteúdo essencial da dignidadeda pessoa humana, não podendo, ja-mais, ser postergada sua proteção e,em caso de doença, o tratamentomais adequado deve ser o mais bre-ve possível.

6 O DIREITO ÀSAÚDE DO TRA-BALHADOR

Não há comodissertar sobre o di-reito à saúde do tra-balhador sem antescolacionar uma no-ção do que é o direi-to à saúde, enquan-to gênero.

Por longo espaço de tempo asaúde foi entendida simplesmentecomo o estado de quem se encon-tra sadio, sem doença30. Todavia, apartir de 1946, com a criação daOMS (Organização Mundial daSaúde) – cuja existência oficial co-meçou em 7 de abril de 1948, quan-do da ratificação de sua constitui-

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ção por vinte e seis países31 –, hou-ve um passo à frente na definiçãoda saúde, haja vista que aquelaagência especializada da ONU for-neceu um conceito positivo do direi-to, em sua carta de fundação, qualseja: a saúde é um estado de com-pleto bem-estar físico, mental e so-cial, e não somente a ausência deafecções ou enfermidades32 .

Em seguida a DeclaraçãoUniversal dos Direitos Humanos,proclamada pela Assembléia Geraldas Nações Unidas, em 10 de de-zembro de 1948, assegurou como umdireito humano a saúde e o bem-estar,em seu art. XXV, n. 1, sendo que oPacto Internacional sobre DireitosEconômicos, Sociais e Culturais,aprovado na XXI Sessão da Assem-bléia Geral das Nações Unidas, emNova York, no dia 19 de dezembrode 1966, reconheceu em seu art. 12,n. 1, o direito de toda pessoa a desfru-tar o mais elevado nível possível desaúde física e mental.

A saúde, portanto, é o maiscompleto bem-estar físico e funcionalda pessoa, sendo que, dentre as di-versas funções do organismo, en-contram-se as do encéfalo, ou docérebro, se se preferir. Pois bem, afunção mental ou psíquica do or-ganismo humano é apenas umadentre tantas funções, razão pelaqual a menção constante à saúdefísica e mental na área jurídica, na

31ROSEN, George. Uma história da saúde pública. Tradução de Marcos Fernandes da SilvaMoreira, com a colaboração de José Ruben de Alcântara Bonfim. São Paulo: Hucitec: Ed. daUniversidade Estadual Paulista, 1994, p. 344-345. A OMS assumiu os poderes e os deveres daOrganização de Saúde da Liga das Nações, que havia sido criada em 1923.

32Constitución de la Organización Mundial de la Salud. Disponível em: <http://www.who.int/gb/bd/S/S_documents.htm>. Acesso em: 16 mar. 2007.

33PENNA, João Bosco. Lesões corporais: caracterização clínica e médico legal. Leme-SP: LEDEditora de Direito, 1996, p. 148-149.

psicologia e em outras áreas do co-nhecimento humano mostra-se in-completa. A anatomia do corpo hu-mano diz respeito ao seu aspectofísico: cabeça, tronco, membros (su-periores e inferiores), órgãos (olhos,ouvidos, nariz, boca, coração, cé-rebro etc.), aparelhos (digestivo, res-piratório, circulatório, reprodutor,encéfalo etc.), sistemas (nervoso,muscular, arterial, ósseo, dentárioetc.). E a fisiologia é o estudo da fun-cionalidade do corpo humano, ouseja, de suas funções, do funciona-mento dos órgãos. Quem diz órgãodiz função e vice-versa.

O Órgão é a parte do corpoque serve para sensações efunções do homem, porexemplo, os olhos, ouvidos,pele, etc. Por meio dos órgãos,no organismo, operam-se asfunções especiais e distintas,e, ao contrário, vários órgãospodem destinar-se a uma sófunção33.

A saúde ou incolumidade docorpo humano abrange todos osseus tecidos, órgãos e também asinfinitas funções destes órgãos, poisfunção é o mecanismo de atuaçãode órgãos, aparelhos e sistemas .Dentre as funções podem ser cita-das as seguintes: respiratória, cir-culatória, digestiva, excretora,reprodutora, locomotora, sensitiva(visão, audição, olfato, paladar e

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tato), psíquica, mastigatória, fun-ção de preensão etc. E a saúde men-tal, ligada à atividade funcional doencéfalo, abrange a consciência, aatenção, a concentração, a orienta-ção, a percepção, a memória, aafetividade, a inteligência, a vonta-de, a linguagem, nas palavras doProf. João Bosco Penna34. Destarte,o mais adequado seria sempre men-cionar saúde física e funcional (in-clusive mental ou psíquica).

Enfim, é pacífico que o con-ceito atual de saúde compreende osseus aspectos negativo e positivo. Porisso Canotilho e Vital Moreira afir-mam que o direito à proteção dasaúde, como os direitos sociais emgeral, comporta duas vertentes:

[...] uma, de natureza negati-va, que consiste no direito aexigir do Estado (ou de tercei-ros) que se abstenham dequalquer acto que prejudiquea saúde; outra, de naturezapositiva, que significa o direi-to às medidas e prestaçõesestaduais visando a preven-ção das doenças e o tratamen-to delas35.

Afirma-se que a função nega-tiva identifica a saúde como um di-reito de defesa, ao passo que a fun-ção positiva do direito o qualificacomo um direito prestacional.

No sistema jurídico brasileiro,observa-se que somente na Consti-tuição Federal de 1988 é que a saú-de foi positivada como um direitofundamental. Numa análise dasConstituições mais recentes, nem aConstituição de 1946 nem a de

34Ibidem, p. 124 e 169.35GOMES CANOTILHO, J. J.; MOREIRA, Vital. Constituição da República Portuguesa anota-

da. 2. ed. rev. e ampl. Coimbra: Coimbra Ed., 1984. v.1, p. 342-343.

1967, tampouco as Emendas Cons-titucionais que se inauguraram apartir de 1969 (Primeira Emenda)trataram do tema saúde como umdireito fundamental. A atual Cons-tituição inovou em matéria de direi-tos fundamentais e, dentre os direi-tos sociais assegurados pelo art. 6º,pela primeira vez a saúde foi posi-tivada como um direito fundamental.

Demais, ela criou um títuloespecífico para a Ordem Social (Tí-tulo VIII). Neste, assegurou o direitoà saúde como um direito deseguridade social, mais precisamen-te como um direito de todos e de-ver do Estado, garantido mediantepolíticas sociais e econômicas quevisem à redução do risco de doen-ça e de outros agravos e ao acessoigualitário às ações e serviços parasua promoção, proteção e recupe-ração, nos termos de seu art. 196.Cuidou como de relevância públi-ca as ações e serviços de saúde (art.197), que, segundo o art. 198, cons-tituem um sistema único (SUS).Dentre as atribuições do SUS, ar-roladas no art. 200, destaca-se a decolaborar na proteção do meio ambi-ente, nele compreendido o do traba-lho (inciso VIII).

Quanto às leis infracons-titucionais, a mais importante é aLei nº 8.080, de 19-9-90 – Lei Or-gânica da Saúde –, que regulamen-ta o Serviço Único de Saúde, dis-pondo seu art. 3º que:

A saúde tem como fatoresdeterminantes e condicio-nantes, entre outros, a alimen-

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36SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2004,p. 70.

tação, a moradia, o sanea-mento básico, o meio ambien-te, o trabalho, a renda, a edu-cação, o transporte, o lazer eo acesso aos bens e serviçosessenciais; os níveis de saúdeda população expressam aorganização social e econômi-ca do País.

Há, induvidosamente, umaestreita ligação entre o direito à saú-de e o direito à vida. O que se pro-tege na tutela da saúde é, em últi-ma instância, o direito humano àvida e à incolumidade física e fun-cional (inclusivemental ou psíquica).À interpretação siste-mática da Constitui-ção Federal brasileiraisso revela, encon-trando-se nela, pois,um fundamento máxi-mo à mencionadaproteção, como já seafirmou.

É importanteter a consciência deque o direito à vidadigna é a matriz de todos os demaisdireitos fundamentais da pessoahumana. O direito à vida

[...] é um fator preponderan-te, que há de estar acima dequaisquer outras considera-ções como as de desenvolvi-mento, como as de respeito aodireito de propriedade, comoas da iniciativa privada. Tam-bém estes são garantidos notexto constitucional, mas, atoda evidência, não podem

“Em suma, pode-se afirmar que

o direito à vida e suas proje-

ções exteriores, as referidas in-

tegridade física e moral, con-

vergem com o direito à saúde,

para se tornar um só.”

primar sobre o direito funda-mental à vida, que está emjogo quando se discute a tu-tela da qualidade do meioambiente. É que a tutela daqualidade do meio ambienteé instrumental no sentido deque, através dela, o que seprotege é um valor maior: aqualidade da vida36.

Em suma, pode-se afir-mar que o direito à vida esuas projeções exteriores, asreferidas integridade física emoral, convergem com o di-reito à saúde, para se tornar

um só.

Pois bem, se asaúde é o mais com-pleto bem-estar físi-co, mental e socialque o Estado deveproporcionar às pes-soas, porquanto oser humano tem umdireito fundamentalao gozo do graumáximo de saúdeque se pode alcançar

em determinado tempo e lugar; seo direito à proteção da saúde com-porta duas vertentes, uma de na-tureza negativa e outra de nature-za positiva, também o direito à saúdedo trabalhador deve ser examinadonessa perspectiva, por ser uma espé-cie daquela.

A assertiva de que a saúde dotrabalhador é espécie da saúde ge-ral, ou que se trata de conteúdodeste continente, pode ser extraídada interpretação das normas desti-

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nadas à disciplina da matéria, emnível constitucional e principal-mente na legislação infracons-titucional.

A Constituição de 1988, deforma inédita, positivou a saúdecomo um direito fundamental, pos-to como um direito social (arts. 6º e196 a 200). Relativamente à saúdedo trabalhador, além da disciplinamais avançada do que nas Consti-tuições anteriores (art. 7º, incisosXXII e XXVIII37), as quais se refe-riam apenas a higiene e segurançado trabalho, a Constituição atual con-tém um capítulo específico sobre a pro-teção do meio ambiente (art. 225), umdos fatores fundamentais à garan-tia da saúde, quiçá o mais impor-tante, preconizando que no meioambiente geral está compreendido omeio ambiente do trabalho (art. 200,inciso VIII – artigo que versa sobreo Sistema Único de Saúde).

Na Espanha, há uma nítidainter-relação entre os direitos à vida,à saúde em geral e à saúde do tra-balhador, porque a proteção à saú-de somente se concretiza no binômioprevenção-reparação, sendo o direi-to à vida e o direito à integridadefísica os fundamentos constitucio-nais desse binômio porque Todostêm direito à vida e à integridadefísica e moral (art. 15 da Consti-tuição espanhola), devendo os po-deres públicos velar pela seguran-ça e higiene no trabalho, garantin-do o descanso necessário, mediante alimitação da jornada laboral e as fériasperiódicas remuneradas, e promo-vendo centros de atendimento ade-

37Estes dispositivos asseguram o direito social dos trabalhadores urbanos e rurais à redução dosriscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança (art. 7º, XXII), bemcomo o direito ao seguro contra acidentes do trabalho e à reparação dos danos por parte doempregador (inciso XXVIII).

quados (art. 40.2), reconhecendo-se no art. 43.1 o direito à proteçãoda saúde. Demais, todos têm o di-reito a desfrutar de um meio ambi-ente adequado para o desenvolvi-mento da personalidade, assimcomo o dever de conservá-lo (art.45.1).

Também na legislação infra-constitucional brasileira verifica-sea confluência do direito à saúde dotrabalhador com o direito à saúdeem geral, pelo exame da Lei Or-gânica da Saúde (Lei n. 8.080/90).O art. 3º da indigitada lei é deextrema relevância, ao conformaro núcleo essencial do direito,positivando os fatores determi-nantes e condicionantes do direitoà saúde, dentre os quais o meio am-biente e o trabalho.

A saúde do trabalhador é,assim, uma espécie da saúde geral,tanto que o SUS tem de prover, den-tre suas atividades, as predispostasà proteção e recuperação dessa saú-de (art. 6º, I, c, e § 3º – o qual elencatais atividades).

7 O MEIO AMBIENTE DO TRA-BALHO – O PRINCÍPIO DAPREVENÇÃO

A internacionalização da lutapor um meio ambiente equilibradoentrou em cena apenas na décadade 1970. No ano de 1972 a Confe-rência das Nações Unidas sobre oMeio Ambiente Humano, reunidaem Estocolmo de 5 a 16 de junhodaquele ano, proclamou relevan-

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tíssima Declaração, com vistas à pro-teção e ao melhoramento do meio am-biente humano.

José Afonso da Silva anotaque a Declaração de Estocolmoabriu caminho para que as Consti-tuições posteriores reconhecessemo meio ambiente ecologicamenteequilibrado como um direito funda-mental, dentre os direitos sociais,com sua característica de direitos aserem realizados e direitos a não se-rem perturbados.38

Quanto ao meio ambientegeral, foi promulgada no Brasil, em1981, a Lei n. 6.938, de 31 de agos-to daquele ano, cujo art. 3º, incisoI, define o meio ambiente como oconjunto de condições, leis, influ-ências e interações de ordem física,química e biológica, que permite,abriga e rege a vida em todas as suasformas.

Raimundo Simão de Melo ob-serva que o legislador fez opção porum conceito jurídico aberto, a fim decriar um espaço positivo de incidên-cia da norma legal, lembrando queessa lei está em plena harmonia coma Constituição Federal de 1988, cujoart. 225, caput, buscou tutelar todosos aspectos do meio ambiente (na-tural, artificial, cultural e do traba-lho)39.

Quanto ao meio ambiente dotrabalho, Celso Antônio PachecoFiorillo o define como

[...] o local onde as pessoasdesempenham suas ativida-

38SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional, p. 69-70.39MELO, Raimundo Simão de. Direito ambiental do trabalho e a saúde do trabalhador: respon-

sabilidades legais, dano material, dano moral, dano estético. São Paulo: LTr, 2004, p. 27.40FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. São Paulo: Saraiva,

2000, p. 21.

des laborais, sejam remunera-das ou não, cujo equilíbrioestá baseado na salubridadedo meio e na ausência deagentes que comprometam aincolumidade físico-psíquicados trabalhadores, indepen-dentemente da condição queostentem (homens ou mulhe-res, maiores ou menores deidade, celetistas, servidorespúblicos, autônomos etc.)40.

A preocupação com o ambi-ente de trabalho é antiga no direitolaboral. Por certo que não havia acompreensão completa e genéricaque hoje se tem sobre o meio ambi-ente em geral e, em particular, o dotrabalho, o que se alcançou na dé-cada de 1970, como já referido.

A evolução das legislaçõesnacionais e da normatização inter-nacional pela OIT revelam a cres-cente preocupação com o ambien-te de trabalho, culminando nas Con-venções n. 148, 155 e 161, nas quaisse acentuou o campo de proteção àsaúde do trabalhador e se lhe con-feriu um caráter abrangente, paratodos os trabalhadores, de todos ossetores da atividade econômica. Erecentemente foi aprovada a Con-venção n. 187, que ainda não foiobjeto de estudo no Brasil.

Procedendo-se ao estudo dascitadas Convenções, nota-se que aConferência Internacional do Tra-balho, preocupada com as conse-qüências danosas à saúde do tra-

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balhador provocadas pela conta-minação do ar, pelo ruído e pelasvibrações, aprovou, na reunião de1977, a Convenção n. 148, relativa àmatéria. Esta Convenção foi apro-vada no Brasil pelo DecretoLegislativo n. 56, de 9-10-81,ratificada em 14-1-82, promulgadaem 15-10-86 pelo Decreto n.93.413, passando a vigorar no dia14-1-83.

Ela disciplina que a legislaçãonacional do Estado-Membro que ra-tificar a Convenção deve disporsobre a adoção de medidas preven-tivas e limitativas dos riscos profis-sionais no local de trabalho devidosàqueles agentes (art. 4º). Tratandodas medidas de prevenção e de pro-teção, disciplina o art. 8º que a au-toridade competente deve fixar oslimites de exposição àqueles agentes,o que foi cumprido pelo Brasil, atra-vés da NR-15, norma que fixa os li-mites de exposição a todos os agen-tes insalubres. No art. 9º se prescre-veu que, na medida do possível, de-ver-se-á eliminar todo o risco devi-do à contaminação do ar, ao ruídoe às vibrações no local de trabalho.Apenas quando as medidas referi-das no art. 9º não forem suficientespara reduzir os agentes agressivosa limites de exposição aceitáveis, éque o empregador deverá propor-cionar e conservar em bom estado oequipamento de proteção pessoalapropriado (art. 10). De tal modoque, em primeiro lugar se deve buscara eliminação do risco e, somente quan-do isso não seja possível, num se-gundo momento se deve providen-ciar a neutralização do agente agres-sivo, mediante o fornecimento deequipamento de proteção.

E, de acordo com o art. 11 daConvenção n. 148, deve haver um

controle permanente do estado desaúde dos trabalhadores expostosou que possam estar expostos aosriscos profissionais derivados dacontaminação do ar, do ruído e dasvibrações no local de trabalho. Estecontrole deverá compreender umexame médico anterior ao empre-go e exames periódicos, conformedetermine a autoridade competen-te, sem qualquer despesa para o tra-balhador.

Entrementes, foi a Convençãon. 155 da OIT o grande marco inter-nacional na proteção à saúde dos tra-balhadores, tendo em vista que a re-ferida Convenção, conforme seuart. 1º, aplica-se a todas as áreas deatividade econômica.

A mencionada Convençãode 1981 foi aprovada tardiamenteno Brasil, apenas em 17-3-92, peloDecreto Legislativo n. 2 do Con-gresso Nacional; foi ratificada em18-5-92, promulgada pelo Decreton. 1.254, de 29-9-94, passando a tervigência nacional em 18-5-93.

De acordo com o art. 3º, letrab, desta Convenção, o termo traba-lhadores abrange todas as pessoasempregadas, inclusive os funcionáriospúblicos. Seu art. 4º obriga todos osEstados-Membros a formularem,colocarem em prática e reexa-minarem periodicamente uma políti-ca nacional coerente em matéria desegurança e saúde dos trabalhado-res e o meio ambiente de trabalho;esta política deve ter como objetivoprevenir os acidentes e os danos àsaúde derivados do trabalho, ten-do ainda como meta a ser alcançadaa redução ao mínimo, na medida emque for razoável e possível, das cau-sas dos riscos inerentes ao meioambiente do trabalho.

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A preocupação com aefetividade da política nacional de pro-teção foi tanta que se estipulou aobrigação de os Estados-Membros,dentre outras tarefas, elaborar es-tatísticas anuais sobre acidentes dotrabalho e doenças ocupacionais, bemcomo realizar sindicâncias toda vezque um acidente do trabalho, umcaso de doença ocupacional ouqualquer outro dano à saúde indi-que uma situação grave, sendo obri-gatória, ainda, a publicação anual deinformações sobre as medidas adotadaspara a aplicação da política nacionalreferida (art. 11, letras c, d e e)41.

De acordo com o art. 13 daConvenção, deve ser dada proteçãoa todo trabalhador que julgar ne-cessário interromper uma situaçãode trabalho por considerar, pormotivos razoáveis, que ela envolveum perigo iminente e grave parasua vida ou sua saúde. Ressalta-seque, enquanto o empregador nãotiver tomado as medidas corretivasnecessárias, não poderá exigir dostrabalhadores a sua volta a uma si-tuação de trabalho onde exista, emcaráter contínuo, um perigo graveou iminente para sua vida ou suasaúde (art. 19, letra f, segundaparte).

Mais tarde a Conferência In-ternacional do Trabalho, na reu-nião de 1985, aprovou a Convençãon. 161, que tornou obrigatória acriação de Serviços de saúde no tra-balho. A Convenção foi aprovadano Brasil pelo Decreto Legislativon. 86, de 14-12-89, ratificada em 18-

41Por isso a Previdência Social publica anualmente estatísticas sobre acidentes do trabalho edoenças ocupacionais, em seu banco de dados: DATAPREV. Anuário estatístico de acidentesdo trabalho 2005. Disponível em: <http://www.previdenciasocial.gov.br/pg_secundarias/previdencia_social_13.asp>. Acesso em: 16 fev. 2007.

42ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Disponível em: <www.ilo.org/ilolex/cgi-lex/ convds.pl?C187>. Acesso em: 12 fev. 2007.

5-90, promulgada pelo Decreto n.127, de 22-5-91, tendo entrado emvigor no dia 18-5-91.

De acordo com ela, os empre-gadores têm a obrigação de criarServiços de saúde no trabalho, comfunções essencialmente preventivase encarregados de aconselhar tan-to eles (empregadores) quanto ostrabalhadores e seus representan-tes na empresa, especialmente so-bre: 1º) os requisitos necessáriospara estabelecer e manter um am-biente de trabalho seguro e salubre,de modo a favorecer uma saúde fí-sica e mental ótima em relação aotrabalho; 2º) a adaptação do traba-lho às capacidades dos trabalhado-res, levando em conta seu estado desaúde física e mental (art. 1º da re-ferida Convenção).

E recentemente, reconhecendoa magnitude, em nível mundial, daslesões, doenças e mortes ocasionadaspelo trabalho, bem como a necessi-dade de prosseguir a ação destina-da a reduzir o índice de acidentese doenças ocupacionais, a Confe-rência Geral da Organização In-ternacional do Trabalho, em sua95ª reunião, adotou, com data de15 de junho de 2006, a Convençãon. 187, que poderá ser citada comoo Convenio sobre el marco pro-mocional para la seguridad y saluden el trabajo, 2006. Segundo estima-tivas da OIT, morrem todos os dias6.000 trabalhadores vítimas de do-enças ou acidentes relacionadoscom o trabalho42.

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O objetivo da mencionada Con-venção, de acordo com o seu art. 2º,é o de que todo Estado-Membro quea ratifique promova a melhora con-tínua da segurança e da saúde no tra-balho, com o fim de prevenir as le-sões, as doenças e as mortesprovocadas por acidentes, median-te o desenvolvimento de uma polí-tica, um sistema e um programanacionais, com consulta às organi-zações mais representativas de em-pregadores e de trabalhadores. Arespeito da política nacional, o art.3º estipula que os trabalhadorestêm direito a um meio ambiente dotrabalho seguro e saudável, razãopela qual a política destinada a essefim deve ter como princípios básicosos seguintes: a) avaliação dos ris-cos ou perigos no local de trabalho;b) o combate, em sua origem, a es-tes riscos ou perigos; c) o desenvol-vimento de uma cultura nacionalde prevenção em matéria de segu-rança e saúde que inclua informa-ção, consultas e formação profissio-nal.

Dentre as inúmeras exigênciasque devem ser cumpridas pelo sis-tema nacional de proteção à saúde dotrabalhador, arroladas no art. 4º, des-tacam-se as de se estabelecer me-canismos para garantir a observân-cia da legislação nacional, aí inclu-ídos os sistemas de inspeção, bemcomo mecanismos de apoio para amelhora progressiva das condiçõesde segurança e saúde no trabalho,nas microempresas, nas pequenase médias empresas, e na economiainformal. No que diz respeito aoprograma nacional, deverá promover

43ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Disponível em: <www.ilo.org/ilolex/cgi-lex/ convds.pl?C187>. Acesso em: 25 abr. 2007.

44A Convenção nº 129 ainda não foi ratificada pelo Brasil, que tem, no entanto, um dos setores agrícolasmais produtivos do mundo, empregando, em conseqüência, inúmeros trabalhadores rurais.

o desenvolvimento de uma culturanacional de prevenção, contribuirpara a eliminação dos perigos e ris-cos do ambiente de trabalho, ou suaredução ao mínimo possível, razo-ável e factível, assim como incluirobjetivos, metas e indicadores deprogresso (art. 5º).

A Convenção n. 187 aindanão entrou em vigor, porquanto issose dará doze meses após a data emque as ratificações de dois Estados-Membros tenham sido registradaspelo Diretor Geral da OIT (art. 8.2).Não há notícia de nenhuma ade-são até esta data43. Entretanto, nãose pode questionar o irrefragávelvalor que tem a referida Conven-ção para a proteção da saúde dotrabalhador, tanto que nominadade marco promocional na luta con-tra os efeitos danosos das doençase acidentes do trabalho.

A Conferência Geral da OITadotou, para complementar estaConvenção, também em 15 de ju-nho de 2006, a Recomendação n. 197,que poderá ser citada como aRecomendación sobre el marcopromocional para la seguridad y saluden el trabajo, 2006. Na Recomenda-ção se preconiza que o sistema na-cional de proteção observe as con-venções e recomendações cataloga-das no seu Anexo, por serem deextrema importância para o men-cionado marco promocional, mor-mente a Convenção n. 155 (sobre se-gurança e saúde dos trabalhadores) de1981, a Convenção n. 81 (sobre a ins-peção do trabalho) de 1947 e a Con-venção n. 129 (sobre a inspeção do tra-balho na agricultura) de 196944.

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O que se verifica é uma inten-sa preocupação da OIT com os aci-dentes e doenças ocupacionais ocor-ridos nas micro, pequenas e médiasempresas, preocupando-se aindacom os trabalhadores da economiainformal, temas que devem ser bemdisciplinados no programa nacionala ser desenvolvido para que se esta-beleça, de fato, o marco promocionalda segurança e saúde no trabalho.Essa disciplina, embora deva consi-derar as limitações das pequenasempresas, não pode, em absoluto,olvidar-se do princípio da dignidadeda pessoa humana e de que a saúdelaboral é um direito humano de todosos trabalhadores, independentemen-te do tamanho da empresa.

8 O CONTEÚDO ESSENCIALDO DIREITO À SAÚDE DOTRABALHADOR

A saúde do trabalhador é umdireito humano fundamental denatureza negativa e positiva, queexige tanto do empregador quantodo Estado não somente a abstençãode práticas que ocasionem a doen-ça física ou mental do trabalhador,mas também uma positividade, istoé, a adoção de medidas preventi-vas de tal doença. Eis aí os dois as-pectos essenciais do mencionado di-reito: a) o direito à abstenção; b) e odireito à prestação, por sua vez sub-dividido em direito à prevenção edireito à reparação.

Se para a garantia do direitoà saúde o Estado tem de cumpriralgumas obrigações básicas, tam-bém no campo da saúde do trabalha-dor ele tem de cumprir estas mesmasobrigações, porquanto se trata deespécie da saúde geral. Por isso o

SUS tem diversas atribuições rela-cionadas à saúde laboral, de acor-do com o art. 6º, § 3º, da Lei n.8.080/90.

No que se refere às obrigaçõesbásicas do empregador para a ga-rantia do direito à saúde do traba-lhador, ele tem de cumprir todas asprescrições normativas sobre otema, estejam elas na Constituição,nas leis infraconstitucionais, nas re-gulamentações, nas chamadas nor-mas coletivas, ou nas disposições decaráter internacional, como os tra-tados, convenções e recomenda-ções. Porém, é melhor identificar asnormas aí contidas com aquelesdois aspectos dantes mencionados,do direito à abstenção e à presta-ção, incluindo neste o direito à pre-venção.

No tocante ao primeiro as-pecto, tem o trabalhador o direitode abstenção do empregador quantoao fator tempo de trabalho: a) não-exigência de prestação de horasextras habituais (art. 7º, XIII e XIV,da CF); b) não-exigência de labornos intervalos intra e interjornadas;c) não-exigência de trabalho nosdias de repouso semanal e feriados,tampouco nos períodos de férias(art. 7º, XV e XVII); d) não-exigên-cia de trabalho da mulher duranteo período de licença-maternidade(art. 7º, XVIII); e) não-exigência detrabalho noturno, perigoso ou in-salubre a menores de 18 anos (art.7º, XXXIII). E também direito à abs-tenção quanto ao fator saúde mentalou psíquica, sendo que o direito denão-agressão a essa saúde compre-ende: a) o não-tratamento rigoro-so, vexatório, quando das ordens efiscalização do serviço; b) e a não-exigência de produtividade superior

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às forças físicas e mentais do traba-lhador.

Quanto às prestações a queestá obrigado o empregador, tra-tam-se de um imenso caudal denormas, envolvendo: a) a obrigaçãode prevenção; b) e a obrigação dereparação. Esta envolve a respon-sabilidade do empregador pelosdanos de natureza física ou funcio-nal (inclusive mental) causados aoempregado, em decorrência de aci-dente do trabalho ou doençaocupacional, matéria que foge aosestreitos limites deste artigo.

Relativamente à prevenção, oBrasil possui uma das mais avan-çadas e extensas legislações de pro-teção à saúde do trabalhador, es-pecialmente no que se relaciona aomeio ambiente do trabalho. E aprincipal obrigação do Estadoquanto a esta matéria é a de fiscali-zar o cumprimento das normas de pro-teção por parte do empregador.

Quanto a estas normas, de serecordar que em 1977 a Lei n. 6.514deu nova redação ao Capítulo V doTítulo II da CLT, o qual disciplinasobre a Segurança e Medicina do Tra-balho, sendo que em 1978 a Porta-ria n. 3.214, do Ministério do Tra-balho, aprovou as NRs (NormasRegulamentadoras) do referido ca-pítulo, normas que foram recepcio-nadas pela nova Constituição. Atual-mente são 33 (trinta e três) normasregulamentadoras45 . No que se re-laciona à prevenção, podem serdestacadas as seguintes NRs:

a) NR-3 – a qual regulamen-ta o art. 161 da CLT, tratando da

45MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO (MTE). Normas Regulamentadoras. Disponívelem: <http://www.mte.gov.br/legislacao/normas_regulamentadoras/default.asp>. Acesso em:2 abr. 2007. A Norma Regulamentadora nº 33 trata da Segurança e Saúde nos Trabalhos emEspaços Confinados.

possibilidade de embargo e interdi-ção, na medida em que o DelegadoRegional do Trabalho, diante delaudo técnico do serviço competen-te que demonstre grave e iminenterisco para o trabalhador, poderáinterditar estabelecimento, setor deserviço, máquina ou equipamento,ou ainda embargar obra, indican-do na decisão tomada, com a bre-vidade que a ocorrência exigir, asprovidências que deverão seradotadas para prevenção de aci-dentes do trabalho e doenças pro-fissionais (item 3.1);

b) NR-4 – prevê a obriga-toriedade de que as empresas públi-cas e privadas que possuam empre-gados regidos pela CLT mantenhamServiços Especializados em Enge-nharia de Segurança e em Medici-na do Trabalho – SESMT, com a fi-nalidade de promover a saúde e pro-teger a integridade do trabalhadorno local de trabalho (item 4.1), con-forme o risco da sua atividade prin-cipal e a quantidade de empregados(Quadros I e II);

c) NR-5 – dispõe sobre aobrigatoriedade de que as empresasorganizem e mantenham funcionan-do em seus estabelecimentos umaCIPA – Comissão Interna de Preven-ção de Acidentes, cujo objetivo estádescrito no item 5.1;

d) NR-6 – torna obrigatório ofornecimento gratuito de equipa-mento de proteção individual – EPI,adequado ao risco e em perfeito es-tado de conservação e funciona-mento (item 6.2);

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e) NR-7 – a qual estabelece aobrigatoriedade de elaboração eimplementação, por parte dos em-pregadores, do Programa de Con-trole Médico de Saúde Ocupacional– PCMSO, com o objetivo de pro-moção e preservação da saúde doconjunto dos seus trabalhadores(item 7.1.1);

f) NR-9 – que estabelece aobrigatoriedade de elaboração eimplementação, por parte de todosos empregadores e instituições queadmitam trabalhadores como em-pregados, do PPRA – Programa dePrevenção de Riscos Ambientais, oqual tem como finalidade a preser-vação da saúde e da integridade dostrabalhadores, através da antecipa-ção, reconhecimento, avaliação econseqüente controle da ocorrênciade riscos ambientais existentes ouque venham a existir no ambientede trabalho, tendo em consideraçãoa proteção do meio ambiente e dosrecursos naturais (item 9.1.1);

g) NR-17 – importante regu-lamentação sobre ergonomia, queestabeleceu parâmetros a fim depermitir a adaptação das condiçõesde trabalho às características psico-fisiológicas dos trabalhadores, demodo a proporcionar um máximode conforto, segurança e desempe-nho eficiente (item 17.1), estipulan-do que as condições de trabalhoincluem aspectos relacionados aolevantamento, transporte e descar-ga de materiais, ao mobiliário, aosequipamentos e às condições

46Esta Portaria revogou a Portaria MTb nº 3.067, de 12-4-1988, a qual tinha, com quinze anos deatraso, regulamentado as condições de labor do trabalhador rural, tendo em vista que já o art. 13da Lei nº 5.889/73 (Estatuto do Trabalho Rural) havia delegado competência para que o entãoMinistro do Trabalho elaborasse as normas preventivas de segurança e saúde no trabalho rural.GONÇALVES, Edwar Abreu. Manual de segurança e saúde no trabalho. 3. ed. São Paulo:LTr, 2006, p. 917.

ambientais do posto de trabalho eà própria organização do tra-balho (item 17.1.1), tratando des-ses aspectos nos itens 17.2 a 17.6;

h) NR-31 – instituída pelaPortaria MTE n. 86, de 3-3-200546

– esta NR tem por objetivo estabe-lecer os preceitos a serem observa-dos na organização e no ambientede trabalho, de forma a tornar com-patível o planejamento e o desen-volvimento das atividades da agri-cultura, pecuária, silvicultura, ex-ploração florestal e aqüicultura,com a segurança e saúde e meioambiente do trabalho (item 31.1.1).

Em conclusão, o conteúdo es-sencial do direito à saúde do trabalha-dor abrange os seguintes aspectos:

1º) direito à abstenção: a) doEstado – a não-interferência noexercício do direito; b) do emprega-dor – quanto ao fator tempo de traba-lho, a abstenção de exigir trabalhoem horas extras habituais, nos in-tervalos intra e interjornadas, nosdias de repouso semanal e feriados,nos períodos de férias, assim comode exigir trabalho da mulher duran-te a licença-maternidade e dos me-nores de 18 anos trabalho noturno,perigoso ou insalubre; quanto ao fa-tor saúde mental, a abstenção de tra-tamento rigoroso quando das or-dens e fiscalização do serviço, bemcomo de exigir produtividade supe-rior às forças físicas do trabalhador;

2º) direito de prevenção: a) doEstado – as prestações atribuídas ao

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SUS (na forma do § 3º do art. 6º daLei n. 8.080/90), a obrigação de edi-tar normas de saúde, higiene e se-gurança para a redução dos riscosinerentes ao trabalho, bem como deproteger o meio ambiente geral eprincipalmente de fiscalizar o cum-primento das normas de ordem pú-blica por parte do empregador; b)do empregador – a obrigação decumprir tais normas, especialmen-te as NRs, para a proteção do meioambiente do trabalho e da saúde dotrabalhador, assim como de contra-tar seguro contra acidentes do tra-balho.

9 CONCLUSÃO

O objetivo principal deste ar-tigo é o de demonstrar que a saúdedo trabalhador trata-se de umdireito humano, em atenção aoprincípio ontológico da dignidadeda pessoa humana, fundamentomaior do Estado Democrático(e Social) de Direito em que seconsubstancia a República Federa-tiva do Brasil.

Os direitos humanos são va-lores fundamentais de todo e qualquersistema jurídico, cujo fundamentoúltimo é o da dignidade da pessoahumana, um princípio praticamen-te absoluto no mundo jurídico. Adespeito da preferência doutrináriapela expressão direitos fundamen-tais, tem-se que os direitos huma-nos são direitos naturais, inatos à pes-soa, que pertencem ao indivíduo –que não pode ser dividido – e pre-cedem a qualquer sociedade políti-ca, numa perspectiva jusnatu-ralista, por expressarem valores im-prescindíveis à existência da pessoahumana e ao desenvolvimento de suapersonalidade.

A despeito da concepçãonegativista de Norberto Bobbio arespeito da busca dos fundamentosdos direitos humanos, tem-se quesua fundamentação é de extremarelevância para a compreensão deseu verdadeiro conteúdo e para quese tenha condições de justificar asua exigibilidade perante o Estadoe diante dos particulares, na cha-mada eficácia horizontal dos direi-tos humanos. Para além do funda-mento ético-político de sua justifi-cação, encontrado na positivaçãointernacional promovida pela De-claração Universal dos DireitosHumanos, há um fundamento moral(ou ético em sentido estrito), que éa idéia de dignidade do ser humano,que é um fim em si mesmo, conformejá expusera Immanuel Kant na for-mulação do seu postulado ético,ainda no séc. XVIII.

Quando se discorre sobre di-reitos humanos há sempre referên-cia a alguns valores básicos ou funda-mentais, como a vida, a liberdade,a igualdade, bem como a educação,a saúde, o trabalho, a moradia, asegurança, a alimentação e o ves-tuário, direitos fundamentais pre-vistos nos arts. 5º, 6º e 7º da Consti-tuição brasileira. De modo que sepode sustentar que os direitos hu-manos são um conjunto de direitos,garantias, faculdades, positivados ounão no sistema jurídico, sem os quaisa dignidade da pessoa humana estaráseriamente ameaçada, açambarcandotoda uma gama de liberdades es-senciais, bem como de direitos mí-nimos à afirmação da pessoa paraa concretização do ideal de igual-dade (material).

O princípio da dignidade dapessoa humana, ápice da construçãojusfilosófica na evolução cultural da

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humanidade, é o mais profundo ali-cerce dessa temática. Tal princípiosignifica, em síntese, que a pessoahumana é dotada de direitos essenciaissem cuja realização não terá forçassuficientes para a conformação de suapersonalidade e seu pleno desenvolvi-mento. Tais direitos consubstanciamo que se tem convencionado cha-mar de mínimo existencial, sendopossível falar em um núcleo essencialda dignidade humana, que é tambémdireito (ou norma), além de princí-pio-guia do sistema jurídico. Comefeito, pode-se afirmar que a Cons-tituição brasileira definiu muitobem o referido mínimo existencialsocial, em seu art. 6º, definindo ain-da com mais rigor as necessidadesvitais básicas dos trabalhadores noinciso IV do seu art. 7º. De tal modoque a saúde do trabalhador, comoespécie do gênero, compõe, segura-mente, o chamado conteúdo essen-cial da dignidade da pessoa humana.

Quanto à saúde, deve ser con-siderada como o bem-estar físico-fun-cional da pessoa, sendo incompletaa alusão à saúde mental, porquan-to há diversas funções do organis-mo humano, sendo uma delas afunção mental ou psíquica, demodo que a saúde abrange o bem-estar anatômico do corpo humano,quanto ao seu aspecto físico, bemcomo o seu bem-estar fisiológico, ouseja, de todas as funções, de todosos órgãos do referido corpo.

O mais importante nessatemática, no entanto, é a concep-ção de que o conceito de saúde com-preende os seus aspectos negativo epositivo, tendo as pessoas direito auma abstenção de práticas que aviolem, assim como a prestaçõesdestinadas a sua efetivação. Tam-

bém a saúde do trabalhador, comoespécie, dever ser compreendidacomo um direito humano funda-mental de natureza negativa e po-sitiva, exigindo do empregador e doEstado não somente a abstenção depráticas que possam levar à doen-ça do trabalhador, mas também aadoção de medidas preventivas detal doença.

Na positividade da Constitui-ção brasileira de 1988 se verificaque a mesma proteção dada à saú-de em geral é também destinada àsaúde do trabalhador, numa inter-pretação sistemática dos arts. 6º, 7º,XXII e XXVIII, 196 a 200 e 225. Deigual modo, a Lei Orgânica da Saú-de, tratando do SUS, especifica asações para a proteção da saúde dotrabalhador, mais especificamenteno § 3º do seu art. 6º. Também omeio ambiente do trabalho encon-tra a mesma proteção disposta parao meio ambiente geral, em face doprincípio da prevenção, em cumpri-mento às Convenções n. 148, 155, 161e 187 da OIT, importantíssimanormativa internacional para a pro-teção do meio ambiente do traba-lho e, por via de conseqüência, dasaúde do trabalhador.

Por fim, o conteúdo essencialdo direito à saúde do trabalhadortem dois aspectos essenciais, quaissejam: 1º) direito à abstenção: a) doEstado – a não-interferência noexercício do direito; b) do emprega-dor – quanto ao fator tempo de traba-lho, a abstenção de exigir trabalhoem horas extras habituais, nos in-tervalos intra e interjornadas, nosdias de repouso semanal e feriados,nos períodos de férias, assim comode exigir trabalho da mulher duran-te a licença-maternidade e dos me-nores de 18 anos trabalho noturno,

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perigoso ou insalubre; quanto ao fa-tor saúde mental, a abstenção de tra-tamento rigoroso quando das or-dens e fiscalização do serviço, bemcomo de exigir produtividade supe-rior às forças físicas e mentais dotrabalhador; 2º) direito de preven-ção: a) do Estado – as prestaçõesatribuídas ao SUS (na forma do §3º do art. 6º da Lei nº 8.080/90), aobrigação de editar normas de saú-de, higiene e segurança para a re-dução dos riscos inerentes ao tra-balho, bem como de proteger o meioambiente geral e fiscalizar o cum-primento das normas de ordempública por parte do empregador;b) do empregador – a obrigação decumprir tais normas, especialmen-te as NRs, para a proteção do meioambiente do trabalho e da saúde dotrabalhador, assim como de contra-tar seguro contra acidentes do tra-balho.

Do exposto, conclui-se que háum farto manancial legislativo e denormas internacionais para a proteçãoda saúde do trabalhador , comoum dos bens mais relevantes detodo o sistema jurídico, já queconsubstancia uma vertente pri-mordial dos direitos humanos.É necessário, pois, que os atoresjurídicos utilizem as normas postase, na falta destas, tenham acriatividade para oferecer a devidaproteção a esse bem essencial, à luzdo princípio ontológico da dignidadeda pessoa humana.

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