trabalhador rural empregado x trabalhador rural em regime de economia familiar

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Trabalhador rural empregado X trabalhador rural em regime de economia familiar (segurado especial): diferenças previdenciárias Danilo Cruz Madeira Elaborado em 01/2011. Página 1 de 2 » A A SUMÁRIO: 1. Introdução; 2. Do trabalhador rural; 3.Do empregado rural; 4. Do trabalhador rural em regime de economia familiar (segurado especial); 5. Do regime previdenciário do empregado rural; 6. Do regime previdenciário do segurado especial; 7. Do artigo 143 da Lei n.º 8.213/91: norma transitória; 8. Conclusão 1. Introdução O presente artigo tem por escopo tratar das diferenças no enquadramento previdenciário entre duas espécies de trabalhadores rurais – o empregado e o pequeno produtor que trabalha em regime de economia familiar. A iniciativa em tratar do tema advém do fato de ser comum no dia-a-dia daqueles que lidam com o Direito Previdenciário depararem-se com confusões e equívocos conceituais ao ver a questão ser tratada. Vale dizer, são invocados direitos e normas aplicáveis

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Page 1: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

Trabalhador rural empregado X trabalhador rural em regime de economia familiar (segurado especial): diferenças previdenciárias

Danilo Cruz Madeira

Elaborado em 01/2011.Página 1 de 2»

A A

SUMÁRIO: 1. Introdução; 2. Do trabalhador rural; 3.Do

empregado rural; 4. Do trabalhador rural em regime de

economia familiar (segurado especial); 5. Do regime

previdenciário do empregado rural; 6. Do regime previdenciário

do segurado especial; 7. Do artigo 143 da Lei n.º 8.213/91:

norma transitória; 8. Conclusão

1. Introdução

O presente artigo tem por escopo tratar das diferenças

no enquadramento previdenciário entre duas espécies de

trabalhadores rurais – o empregado e o pequeno produtor que

trabalha em regime de economia familiar.

A iniciativa em tratar do tema advém do fato de ser

comum no dia-a-dia daqueles que lidam com o Direito

Previdenciário depararem-se com confusões e equívocos

conceituais ao ver a questão ser tratada. Vale dizer, são

invocados direitos e normas aplicáveis a uma espécie de

segurado ao outro, indistintamente, como se não houvesse

diferenças entre ambos.

Page 2: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

Busca-se, assim, despretensiosamente, sanar algumas

dúvidas conceituais, de forma a enquadrar cada espécie de

segurado em seu devido lugar dentro do ordenamento jurídico

previdenciário.

Para tanto, inciar-se-á conceituando o que vem a ser o

trabalhador rural, genericamente considerado. Em seguida,

tratar-se-á de duas espécies distintas de trabalhadores rurais,

quais sejam, o empregado e o segurado especial. Por fim,

enquadrar-se-á cada uma delas em um determinado

grupamento de segurado.

Iniciem-se, então, os trabalhos.

2. Do trabalhador rural

A Convenção n.º 141 da Organização Internacional do

Trabalho – OIT, em seu artigo 2º, definiu o que vem a ser

trabalhador rural, no seguintes termos:

Art. 2º – 1. Para efeito da presente Convenção, a

expressão "trabalhadores rurais" abrange todas as pessoas

dedicadas, nas regiões rurais, a tarefas agrícolas ou

artesanais ou a ocupações similares ou conexas, tanto

se se trata de assalariados como, ressalvadas as

disposições do parágrafo 2 deste artigo, de pessoas que

Page 3: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

trabalhem por conta própria, como arrendatários,

parceiros e pequenos proprietários.

Já de início, vê-se que a própria Convenção da OIT

distingue, no mínimo, duas espécies distintas de trabalhadores

rurais. Trata-se, portanto, de expressão genérica, que engloba

tanto o empregado rural como aquele que se dedica, por conta

própria, ao labor rural, seja como arrendatário, parceiro, meeiro

ou em sua própria propriedade.

Em síntese, trabalhador rural é toda aquela pessoa

física que lida com atividades de natureza agrícola, retirando

daí o seu sustento.

No ordenamento jurídico pátrio, era a Lei n.º 4.214/63,

o chamado Estatuto do Trabalhador Rural, que tratava do tema.

Essa lei, que previa quase os mesmos direitos trabalhistas para

os trabalhadores rurais em relação aos urbanos, foi revogada

pela Lei n.º 5.889/73 (art. 21), atualmente vigente e

regulamentada pelo Decreto n.º 73.626/74.

Ressai do exposto que há várias espécies de

trabalhadores rurais. No que interessa ao presente artigo,

destacam-se o empregado rural e o segurado especial.

3. Do empregado rural

Page 4: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

De início, cumpre advertir que, salvo quando houver

determinação em sentido contrário, a CLT não se aplica ao

empregado rural, nos termos do artigo 7º, b, dessa mesma

Consolidação.

Dito isso, note-se que, nos termos do artigo 2º da Lei

n.º 5.889/73, considera-se empregado rural "toda pessoa física

que, em propriedade rural ou prédio rústico, presta serviços de

natureza não eventual a empregador rural, sob a dependência

deste e mediante salário".

Trata de conceito semelhante ao da legislação

trabalhista (art. 3º da CLT), com a inclusão do rurícola. Para fins

previdenciários, não há distinção entre o empregado urbano ou

rural. Tal distinção existia no passado, em períodos anteriores à

Constituição de 1988. Atualmente, não é mais cabível qualquer

discriminação entre estas figuras. [01]

O empregado rural, conforme se vê, nada mais é do

que uma espécie do gênero empregado. Vale dizer, é uma

pessoa física que presta serviços habitualmente (não eventual),

de forma subordinada e pessoalmente, mediante o pagamento

de salário.

Advirta-se, neste ponto, que:

Na verdade, não é apenas quem presta serviços em

prédio rústico ou propriedade rural que será considerado

empregado rural. O empregado poderá prestar serviços no

Page 5: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

perímetro urbano da cidade e ser considerado trabalhador rural.

O elemento preponderante, por conseguinte, é a atividade do

empregador. Se o empregador exerce atividade agroeconômica

com finalidade de lucro, o empregado será rural, mesmo que

trabalhe no perímetro urbano da cidade. [02]

Em outros termos, a única diferença entre o empregado

rural e o urbano é que aquele presta serviços de natureza

agrícola (planta, aduba, ordenha e cuida do gado etc) a

empregador que explora a atividade economicamente. Se, por

outro lado, a atividade não tiver fim lucrativo, será considerado

empregado doméstico (ex.: caseiro). Vale dizer, se há plantação

no sítio, mas não há comercialização, o caseiro será empregado

doméstico. Se, porém, os produtos cultivados por esse

empregado forem vendidos, essa mesma pessoa será

considerada empregada rural.

Toda essa diferenciação entre empregado rural e

urbano, contudo, perdeu muito de sua relevância, porquanto,

com o advento da Constituição de 1988, ambos possuem, em

regra [03], os mesmos direitos (artigo 7º,caput) [04].

Dizer que um determinado empregado é rural ou

urbano apenas qualifica o tipo de labor ao qual se dedica, e

nada mais.

4. Do trabalhador rural em regime de economia

familiar (segurado especial)

Page 6: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

Espécie de trabalhador rural, o segurado especial é o

único com definição no próprio texto constitucional, que, em

seu artigo 195, §8º, prevê que:

O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário

rurais e o pescador artesanal, bem como os respectivos

cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de

economia familiar, sem empregados permanentes,

contribuirão para a seguridade social mediante a aplicação de

uma alíquota sobre o resultado da comercialização da produção

e farão jus aos benefícios nos termos da lei. (Redação dada pela

Emenda Constitucional nº 20, de 1998)

No mesmo sentido, é a Convenção n.º 141 da

Organização Internacional do Trabalho – OIT, que, no item 2 de

seu artigo 2º, diz que:

2. A presente Convenção aplica-se apenas àqueles

arrendatários, parceiros ou pequenos proprietários cuja

principal fonte de renda seja a agricultura e que trabalhem a

terra por conta própria ou exclusivamente com a ajuda de seus

familiares, ou recorrendo eventualmente a trabalhadores

suplente e que:

a) não empreguem mão-de-obra permanente; ou

b) não empreguem mão-de-obra numerosa, com

caráter estacionário; ou

Page 7: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

c) não cultivem suas terras por meio de parceiros ou

arrendatários.

A Lei n.º 8.213/91, por sua vez, após qualificá-lo como

segurado obrigatório da Previdência Social, assim define o

segurado especial (artigo 11):

VII – como segurado especial: a pessoa física residente

no imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural próximo a

ele que, individualmente ou em regime de economia familiar,

ainda que com o auxílio eventual de terceiros, na condição

de: (Redação dada pela Lei nº 11.718, de 2008)

a) produtor, seja proprietário, usufrutuário, possuidor,

assentado, parceiro ou meeiro outorgados, comodatário ou

arrendatário rurais, que explore atividade: (Incluído pela Lei nº

11.718, de 2008)

1. agropecuária em área de até 4 (quatro) módulos

fiscais; (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)

2. de seringueiro ou extrativista vegetal que exerça

suas atividades nos termos do inciso XII do caput do art. 2º da

Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, e faça dessas atividades o

principal meio de vida; (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)

b) pescador artesanal ou a este assemelhado que faça

da pesca profissão habitual ou principal meio de vida;

e (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)

c) cônjuge ou companheiro, bem como filho maior de

16 (dezesseis) anos de idade ou a este equiparado, do segurado

Page 8: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

de que tratam as alíneas a e b deste inciso, que,

comprovadamente, trabalhem com o grupo familiar

respectivo. (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)

§ 1º  Entende-se como regime de economia familiar a

atividade em que o trabalho dos membros da família é

indispensável à própria subsistência e ao desenvolvimento

socioeconômico do núcleo familiar e é exercido em condições

de mútua dependência e colaboração, sem a utilização de

empregados permanentes. (Redação dada pela Lei nº 11.718,

de 2008)

Em resumo, considera-se segurado especial o pequeno

produtor rural e o pescador artesanal que trabalhem

individualmente ou em regime de economia familiar, desde que

não tenham empregados.

O regime de economia familiar é aquele em que a

atividade dos membros da família é indispensável à própria

subsistência, em condições de mútua colaboração, sem

utilização de empregados.

Todos os membros da família maiores de 16 anos,

desde que não exerçam outra atividade econômica, são

enquadrados na categoria. No entanto (artigo 11 da Lei n.º

8.213/91):

§ 9º  Não é segurado especial o membro de grupo

familiar que possuir outra fonte de rendimento, exceto se

decorrente de: (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)

Page 9: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

I – benefício de pensão por morte, auxílio-acidente ou

auxílio-reclusão, cujo valor não supere o do menor benefício de

prestação continuada da Previdência Social; (Incluído pela Lei

nº 11.718, de 2008)

II – benefício previdenciário pela participação em plano

de previdência complementar instituído nos termos do inciso IV

do § 8º deste artigo; (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)

III – exercício de atividade remunerada em período de

entressafra ou do defeso, não superior a 120 (cento e vinte)

dias, corridos ou intercalados, no ano civil, observado o disposto

no § 13 do art. 12 da Lei nº 8.212, de 24 julho de 1991; (Incluído

pela Lei nº 11.718, de 2008)

IV – exercício de mandato eletivo de dirigente sindical

de organização da categoria de trabalhadores rurais; (Incluído

pela Lei nº 11.718, de 2008)

V – exercício de mandato de vereador do Município em

que desenvolve a atividade rural ou de dirigente de cooperativa

rural constituída, exclusivamente, por segurados especiais,

observado o disposto no § 13 do art. 12 da Lei nº 8.212, de 24

de julho de 1991; (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)

VI – parceria ou meação outorgada na forma e

condições estabelecidas no inciso I do § 8º deste

artigo; (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)

VII – atividade artesanal desenvolvida com matéria-

prima produzida pelo respectivo grupo familiar, podendo ser

utilizada matéria-prima de outra origem, desde que a renda

mensal obtida na atividade não exceda ao menor benefício de

Page 10: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

prestação continuada da Previdência Social; e (Incluído pela Lei

nº 11.718, de 2008)

VIII – atividade artística, desde que em valor mensal

inferior ao menor benefício de prestação continuada da

Previdência Social. (Incluído pela Lei nº 11.718, de 2008)

5. Do regime previdenciário do empregado rural

Conforme já dito, a Lei 8.213/91 não diferencia os

empregados urbanos dos rurais ao classificar a sua qualidade.

Ambos são enquadrados como segurados obrigatórios da

Previdência Social. Veja-se:

Art. 11. São segurados obrigatórios da Previdência

Social as seguintes pessoas físicas:

I- como empregado:

a) aquele que presta serviço de natureza urbana ou

rural à empresa, em carater não eventual, sob sua

subordinação e mediante remuneração, inclusive como direitor

empregado;

Enquanto segurado obrigatório da Previdência, a sua

inscrição é formalizada, via de regra, pelo contrato de trabalho

registrado na Carteira do Trabalho e Previdência Social.

Nesse caso, são devidas contribuições previdenciárias

tanto pelo empregado como pelo empregador. No caso da

Page 11: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

contribuição devida pelo empregado (alíquota de 8% a 11%), é

de responsabilidade do empregador retê-la do salário daquele

para, em seguida, repassá-la ao INSS. A contribuição do

empregador, por sua vez, possui alíquota de, em regra, 20% [05],

incidente sobre a totalidade da remuneração. O fato gerador do

tributo é o exercício da atividade remunerada, e não o efetivo

pagamento dos salários.

Conclui-se, pois, que, para fazer jus aos benefícios

previdenciários, o empregado rural, tal como o urbano, deve

contribuir para a manutenção do sistema.

A lei não dispensou, em momento algum, o empregado

rural dessa obrigação [06].

É verdade, contudo, que, como a obrigação de reter e

repassar as contribuições é do empregador, não poderá o

empregado ser prejudicado por eventual falta daquele. Ao

contrário, uma vez comprovado o vínculo empregatício,

mediante início de prova documental [07] suficiente, será ele

considerado, para todos os fins, segurado da Previdência.

Restará à União buscar, junto ao empregador, o pagamento das

contribuições devidas e não pagas.

A regra, no entanto, é que o empregado rural fará jus

aos benefícios previdenciários decorrentes de sua qualidade de

segurado obrigatório se houver vertido as contribuições

pertinentes ao vínculo empregatício alegado, devidamente

anotado em sua Carteira do Trabalho.

Page 12: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

Se não houver contribuições ou anotação em sua

Carteira do Trabalho, deverá, tal como ocorre com o empregado

urbano, provar a sua qualidade de segurado mediante início de

prova documental suficiente dos vínculos alegados.

Se não conseguir comprovar a sua remuneração,

perceberá benefício de valor equivalente a 1 salário mínimo, em

conformidade com o artigo 35 da Lei n.º 8.213/91, ressalvando

a lei o direito de revisar a renda mensal inicial de seu benefício

tão-logo seja apresentada prova do valor real de seus salários

de contribuição.

Tudo, portanto, de forma idêntica ao trabalhador

urbano. A única diferença, na verdade, no tratamento entre

ambos é quanto ao tempo de carência para obtenção do

benefício de aposentadoria por idade, que, em se tratando do

trabalhador rural, é reduzido em 5 (cinco) anos (artigo 201, §7º,

II, da Constituição da República, e artigo 48, §1º, da Lei n.º

8.213/91).

6. Do regime previdenciário do segurado especial

Conforme já se viu, a própria Constituição da República

(artigo 195, §8º) já antecipou que as contribuições de tais

trabalhadores rurais serão diferentes das vertidas pelos

empregados rurais.

Page 13: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

No caso dos segurados especiais, a contribuição para a

Previdência Social recairá sobre o valor obtido com a

comercialização de sua produção. Afinal, não há salário a ser

descontado, nem tampouco empregador para pagar a sua

respectiva cota-parte.

Se não houver venda de sua produção, que se destina

unicamente para a subsistência do grupo familiar, contribuição

alguma haverá. Mesmo assim, estará o segurado protegido pela

Previdência Social.

É justamente por isso que se chama o segurado, nessa

hipótese, de especial.

Todos os membros da família (cônjuge ou

companheiros e filhos maiores de 16 anos de idade ou a eles

equiparados) que trabalham na atividade rural, no próprio

grupo familiar, são considerados segurados especiais.

Ao segurado especial é garantida a percepção dos

benefícios de aposentadoria por idade ou invalidez, auxílio-

doença, auxílio-reclusão, salário-maternidade e, aos seus

dependentes, de pensão por morte, no valor, em todos os

casos, de um salário mínimo (artigo 39, I, parágrafo único, da

Lei n.º 8.213/91). Veja-se:

Art. 39. Para os segurados especiais, referidos no inciso

VII do art. 11 desta Lei, fica garantida a concessão:

Page 14: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

I - de aposentadoria por idade ou por invalidez, de

auxílio-doença, de auxílio-reclusão ou de pensão, no valor de 1

(um) salário mínimo, desde que comprove o exercício de

atividade rural, ainda que de forma descontínua, no período,

imediatamente anterior ao requerimento do benefício, igual ao

número de meses correspondentes à carência do benefício

requerido; ou

II - dos benefícios especificados nesta Lei, observados

os critérios e a forma de cálculo estabelecidos, desde que

contribuam facultativamente para a Previdência Social, na

forma estipulada no Plano de Custeio da Seguridade Social.

Parágrafo único. Para a segurada especial fica

garantida a concessão do salário-maternidade no valor de 1

(um) salário mínimo, desde que comprove o exercício de

atividade rural, ainda que de forma descontínua, nos 12 (doze)

meses imediatamente anteriores ao do início do benefício.

(Incluído pela Lei nº 8.861, de 1994)

Do segurado especial não se exige carência, que é a

comprovação de número mínimo de contribuições vertidas ao

sistema previdenciário. Basta o exercício da atividade rural,

individualmente ou em regime de economia familiar, sem

empregados, pelo número de meses correspondentes à

carência do benefício pretendido.

Ao segurado especial, portanto, é assegurada a

aposentadoria por idade desde que demonstre o exercício de

Page 15: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

labor rural, imediatamente anterior ao requerimento, pelo

período de 180 meses se se tratar de segurado especial que

deu início às suas atividades após o advento da Lei n.º

8.213/91. Caso exercesse o trabalho rural desde antes da Lei de

Benefícios a ele se aplica o disposto no art. 142, que fixa a

tabela transitória progressiva de carências, apresentando

tempo menor para comprovação de atividade rural, conforme o

ano de implemento de idade. [08]

Caso pretenda obter algum outro benefício

previdenciário além dos previstos no inciso I do artigo 39 da Lei

n.º 8.213/91, ou, ainda, perceber valor maior que o mínimo,

deverá inscrever-se como segurado facultativo, vertendo as

contribuições previdenciárias pertinentes (artigo 39, II, da Lei

8.213/91 e artigo 25, §1º, da Lei n.º 8.212/91)

Trabalhador rural empregado X trabalhador rural em regime de economia familiar (segurado especial): diferenças previdenciárias

Danilo Cruz Madeira

Elaborado em 01/2011.«Página 2 de 2

A A

7. Do artigo 143 da Lei n.º 8.213/91: norma

transitória

A norma prevista no artigo 143 da Lei n.º 8.213/91 será

tratada em item apartado porque se trata de norma aplicável

tanto ao empregado rural como ao segurado especial. Diz esse

artigo que:

Page 16: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

Art. 143. O trabalhador rural ora enquadrado como

segurado obrigatório no Regime Geral de Previdência Social, na

forma da alínea "a" do inciso I, ou do inciso IV ou VII do art. 11

desta Lei, pode requerer aposentadoria por idade, no valor de

um salário mínimo, durante quinze anos, contados a partir da

data de vigência desta Lei, desde que comprove o exercício de

atividade rural, ainda que descontínua, no período

imediatamente anterior ao requerimento do benefício, em

número de meses idêntico à carência do referido

benefício. (Redação dada pela Lei nº. 9.063, de 1995) (Vide

Medida Provisória nº 410, de 2007).

Apenas o trabalhador rural, seja ele empregado,

trabalhador autônomo ou segurado especial, foi contemplado

pela norma.

Trata-se de norma transitória, porquanto tem prazo

certo para seu fim: 15 anos a contar da vigência da Lei 8.213.

Ou seja, somente até o ano de 2006 poderia o trabalhador

apresentar seu requerimento administrativo.

Em relação ao empregado rural, e somente a ele, o

prazo foi prorrogado até 31/12/2010 (MP 410, convertida na Lei

n.º 11.718/2008). Estendeu-se tal prorrogação ao contribuinte

individual que preste serviços rurais.

Em relação ao segurado especial, não mais subsiste a

norma transitória. No entanto, conquanto expirada a norma do

art. 143 em relação ao segurado especial, este não sofre

Page 17: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

prejuízo algum, já que permanecerá podendo auferir o benefício

de aposentadoria por idade com espeque no artigo 39, I, da Lei

n.º 8.213/91, já visto em tópico anterior.

Conclui-se, pois, que o escopo do artigo 143 foi tão-

somente estender aos demais trabalhadores rurais a regra

válida, em princípio, apenas para os segurados especiais, qual

seja, a regra de que a carência é contada independentemente

de comprovação de recolhimentos à Previdência. Contudo, em

relação a eles, a norma tem prazo certo para acabar.

Após esse prazo, estes trabalhadores seguirão a regra

geral de carência, devendo comprovar os recolhimentos

mensais necessários, à exceção do segurado especial, que

continuará em regra própria de carência. A ampliação justifica-

se, pois os trabalhadores rurais migraram de um sistema não

contributivo para um contributivo. [09]

8. Conclusão

De todo o exposto pode-se concluir que o empregado

rural foi tratado pela legislação previdenciária, bem como pela

própria Constituição da República, de forma idêntica ao urbano,

com apenas algumas ressalvas.

Dentre elas, vale destacar duas. Primeiro, a diminuição,

em 5 anos, da idade necessária para obtenção do benefício de

Page 18: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

aposentadoria por idade. Segundo, a prevista no artigo 143 da

Lei n.º 8.213/91, já analisado.

No restante, as mesmas exigências e regras aplicáveis

aos trabalhadores urbanos devem ser utilizadas para os rurais.

Ressalvada a regra transitória do artigo 143 da Lei n.º

8.213/91, somente os segurados especiais são beneficiados

pela norma que os dispensa de verter contribuições sociais ao

INSS, bastando comprovar que, no tempo equivalente à

carência exigida para obtenção do benefício pretendido,

exerceram, de fato, a atividade rural, individualmente ou em

regime de economia familiar, sem o auxílio de empregados.

Na hipótese, portanto, de o trabalho exercido pelo

empregado rural, bem como pelo segurado especial, não estar

devidamente registrado, cada um tem fatos distintos a serem

comprovados.

O empregado rural deverá comprovar que exerceu, de

forma subordinada, habitual (não eventual) e pessoalmente,

percebendo, para tanto, salários, atividade em favor de

empregador rural, que explorava o agronegócio

economicamente. Deverá, em outros termos, comprovar o

vínculo empregatício, que, uma vez reconhecido, ensejará a

anotação na Carteira do Trabalho e a exigência, do

empregador, do pagamento das contribuições devidas e não

pagas.

Page 19: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

Em relação ao segurado especial, deverá ele comprovar

outro fato. Que era um pequeno agricultor, que exercia sua

atividade individualmente ou em regime de economia familiar,

sem o auxílio de empregados, e que dependia desse trabalho

para sobreviver.

Situações distintas, portanto, que devem ser tratadas

de forma diversa pelo intérprete-aplicador do Direito.

Da pensão por morte no regime geral de previdência social

Danilo Cruz Madeira

Elaborado em 05/2011.

Página 1 de 1A A

SUMÁRIO: 1. Introdução; 2. Da pensão por morte:

requisitos; 2.1. Da qualidade de

segurado; 2.2.Dependentes; 3. Do valor mensal e da data do

início do benefício; 4. Da cessação; 5. Da cumulação com

outros benefícios; 6. Conclusão

1. Introdução

O presente artigo tratará, sem pretensões de esgotar o

tema, do benefício previdenciário chamado de pensão por

morte.

Page 20: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

Trata-se de verba paga pelo INSS aos dependentes do

segurado que vier a falecer, substituindo a renda antes advinda

de seu trabalho.

De início, explicitar-se-ão quais os requisitos para sua

fruição (qualidade de segurado e dependência). Em seguida,

tratar-se-á do seu valor e da data de seu início. Por fim, serão

elencadas as hipóteses de cessação do benefício, bem como

acerca da sua possibilidade de cumulação com outros

benefícios.

Neste ponto, vale advertir que a iniciativa de escrever o

presente artigo não nasceu, como normalmente ocorre, de

dúvidas ou estudos profundos acerca do Direito Previdenciário.

Aliás, advirta-se desde já que o mesmo não é direcionado aos

especialistas nesse ramo do Direito.

Conforme dito em oportunidade anterior, após publicar

meus primeiros artigos nesta conhecida revista eletrônica,

fiquei surpreso pela grande quantidade de dúvidas práticas,

encaminhadas a mim por e-mail, relacionadas aos mesmos.

Maior foi a minha surpresa ao perceber que muitas dessas

dúvidas foram encaminhadas por pessoas sem formação

jurídica, as quais, mesmo assim, tinham interesse em saber um

pouco mais acerca dos temas tratados.

Trata-se de uma feliz conseqüência da disseminação do

uso da internet, possibilitando que todos tenham acesso a

Page 21: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

informações sobre as mais diversas áreas. E o Direito, por

óbvio, é uma delas.

Além disso, é comum que as pessoas sem formação

jurídica indaguem daqueles que a possuem acerca de algumas

questões de seu interesse individual. No caso do Direito

Previdenciário, as questões mais corriqueiras relacionam-se ao

cabimento e ao valor do benefício

É esse o público alvo do presente artigo. Destina-se

àquelas pessoas que, mesmo sem conhecimento técnico-

jurídico, buscarem saber como o INSS verifica o cabimento e

apura o valor dos benefícios previdenciários que paga. Para

tanto, nada melhor do que publicá-lo em uma revista eletrônica

de amplo acesso e publicidade, tal como a presente.

Considerando tal objetivo, tentar-se-á escrever da

forma mais clara e didática possível. Afinal, conforme já dito, o

presente artigo não é direcionado às pessoas que, com

formação jurídica ou não, já conhecem o Direito Previdenciário.

Não se trata, afinal, de um artigo científico. Ao contrário, busca

alcançar aqueles que não têm acesso a livros jurídicos e que

não estão acostumados à linguagem da legislação vigente, bem

como àqueles iniciantes no estudo do Direito Previdenciário.

Traçadas a meta e a forma como se pretende alcançá-

la, iniciem-se os trabalhos.

Page 22: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

2. Da pensão por morte: requisitos

O benefício em apreço tem por escopo garantir a

subsistência dos dependentes do segurado que vier a falecer.

Não se exige carência [01] mínima para se fazer jus à

pensão por morte. Exige-se, contudo, que o óbito tenha ocorrido

enquanto o segurado ainda ostentava a qualidade de segurado

da Previdência Social. Vale dizer, ou o segurado deverá estar

contribuindo para a Previdência ou deverá estar, quando

ocorrer o evento morte, no período de graça [02].

Exceção a essa regra ocorre quando o falecido já tiver

adquirido, em vida, o direito a aposentar-se, em qualquer

modalidade, mas não o tenha exercido. Nesse caso, a pensão

pela sua morte será devida mesmo que, em tese, já tenha

perdido a qualidade de segurado.

São dois, portanto, os requisitos para percepção da

pensão por morte:

1º) o falecido deverá ostentar a qualidade de segurado

da Previdência Social na data de seu óbito ou já ter adquirido,

em vida, o direito a aposentar-se;

2º) o requerente deverá ser considerado dependente

do segurado falecido, na forma do artigo 16 da Lei nº 8.213/91.

Analisem-se tais requisitos separadamente.

Page 23: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

2.1 Da qualidade de segurado

A qualidade de segurado é mantida, em regra,

enquanto houver contribuições para a Previdência. Contudo, a

lei confere uma extensão do amparo previdenciário por um

período após o fim dessas contribuições, chamado deperíodo de

graça. Nesse período, não há contribuições, mas permanece,

por ficção legal, a qualidade de segurado pelo lapso previsto no

artigo 15 da Lei nº 8.213/91, que diz:

Art. 15. Mantém a qualidade de segurado,

independentemente de contribuições:

I - sem limite de prazo, quem está em gozo de

benefício;

II - até 12 (doze) meses após a cessação das

contribuições, o segurado que deixar de exercer atividade

remunerada abrangida pela Previdência Social ou estiver

suspenso ou licenciado sem remuneração;

III - até 12 (doze) meses após cessar a segregação, o

segurado acometido de doença de segregação compulsória;

IV - até 12 (doze) meses após o livramento, o segurado

retido ou recluso;

V - até 3 (três) meses após o licenciamento, o segurado

incorporado às Forças Armadas para prestar serviço militar;

Page 24: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

VI - até 6 (seis) meses após a cessação das

contribuições, o segurado facultativo.

§ 1º O prazo do inciso II será prorrogado para até 24

(vinte e quatro) meses se o segurado já tiver pago mais de 120

(cento e vinte) contribuições mensais sem interrupção que

acarrete a perda da qualidade de segurado.

§ 2º Os prazos do inciso II ou do § 1º serão acrescidos

de 12 (doze) meses para o segurado desempregado, desde que

comprovada essa situação pelo registro no órgão próprio do

Ministério do Trabalho e da Previdência Social.

§ 3º Durante os prazos deste artigo, o segurado

conserva todos os seus direitos perante a Previdência Social.

§ 4º A perda da qualidade de segurado ocorrerá no dia

seguinte ao do término do prazo fixado no Plano de Custeio da

Seguridade Social para recolhimento da contribuição referente

ao mês imediatamente posterior ao do final dos prazos fixados

neste artigo e seus parágrafos.

Vale dizer, a morte do segurado deverá ocorrer

enquanto o mesmo estiver contribuindo para a Previdência

Social ou, se tais contribuições tiverem cessado, enquanto

durar o período de graça (em regra, 12 meses após o fim das

contribuições, salvo as exceções acima).

Page 25: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

Se, contudo, na data do óbito, o segurado já tiver

perdido a qualidade de segurado a pensão pela sua morte não

será devida, salvo se comprovado que o falecido possuía

direito, em vida, embora não exercido, de aposentar-se, sob

qualquer modalidade, pela Previdência Social. Afinal, nos

termos do artigo 15, I, da Lei 8.213/91, quem está em gozo de

benefício mantém a sua qualidade de segurado. Logo, se a

pessoa poderia estar aposentada, mas não está por qualquer

motivo pessoal, deve, igualmente, manter sua qualidade de

segurado.

2.2 Dependentes

De início, vale transcrever o previsto no artigo 16 da Lei

nº 8.213/91, que diz:

Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de

Previdência Social, na condição de dependentes do segurado:

I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho

não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e

um) anos ou inválido;  (Redação dada pela Lei nº 9.032, de

1995)

II - os pais;

III - o irmão não emancipado, de qualquer condição,

menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido; (Redação dada pela

Lei nº 9.032, de 1995)

IV -  (Revogada pela Lei nº 9.032, de 1995)

Page 26: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

§ 1º A existência de dependente de qualquer das

classes deste artigo exclui do direito às prestações os das

classes seguintes.

§ 2º O enteado e o menor tutelado equiparam-se a filho

mediante declaração do segurado e desde que comprovada a

dependência econômica na forma estabelecida no

Regulamento. (Redação dada pela Lei nº 9.528, de 1997)

§ 3º Considera-se companheira ou companheiro a

pessoa que, sem ser casada, mantém união estável com o

segurado ou com a segurada, de acordo com o § 3º do art. 226

da Constituição Federal.

§ 4º A dependência econômica das pessoas indicadas

no inciso I é presumida e a das demais deve ser comprovada.

Conforme se viu, a dependência econômica do cônjuge,

da companheira e dos filhos menores ou inválidos é presumida.

Os demais devem comprovar essa dependência para fazer jus

ao benefício.

Equiparam-se a filho o enteado e o menor tutelado

assim declarados pelo segurado e desde que comprovada a

dependência econômica (artigo 16, §2º, da Lei 8.213/91). Ou

seja, se possuírem bens suficientes para o seu próprio sustento,

o benefício não será devido.

Conclui-se, pois, que apenas o filho menor de 21 anos

(não emancipado) ou inválido (de qualquer idade) possui em

seu favor a presunção absoluta de dependência.

Page 27: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

O cônjuge, a companheira e o companheiro ostentam

presunção apenas relativa de sua dependência econômica,

admitindo, portanto, prova em contrário.

Em relação ao irmão ou ao filho maior inválido, farão

eles jus à pensão desde que a invalidez, atestada pelo médico

perito do INSS, seja anterior ou simultânea ao  óbito do

segurado e o requerente não tenha se emancipado até a data

da invalidez. Já no que concerne ao filho ou irmão menores que

se tornem inválidos antes de completarem 21 anos, mesmo que

após o óbito, o benefício não será extinto, pois, neste caso, a

dependência, que já existia na data do óbito, continuará.

Todavia, se a invalidez tiver início após os 21 anos e após o

óbito, não será devida a pensão.

Note-se, aliás, que os dependentes para fins

previdenciários são agrupados em três classes:

I) cônjuge, companheiro(a), filhos menores de 21 anos

(não emancipados) ou inválidos (de qualquer idade);

II) pais;

III) irmão menor de 21 anos (não emancipado) ou

inválido (de qualquer idade).

Existindo dependente da classe I, estão

automaticamente excluídos os da classe II e III. Existindo da

classe II, excluem-se os da III.

Page 28: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

A dependência em relação aos cônjuges separados,

judicialmente ou de fato, ou divorciados somente persistirá se o

segurado vinha pagando pensão alimentícia ao seu ex-consorte.

Se não houver pagamento de pensão, a presunção de

dependência cessará.

Admite-se, contudo, que o cônjuge divorciado ou

separado (judicialmente ou de fato) que tenha renunciado a

alimentos comprove, por todos os meios possíveis, que, na data

do óbito, dependia economicamente de seu ex consorte [03]. O

ônus da prova, contudo, recai sobre ele. Uma vez comprovada a

dependência econômica, a despeito da separação, o benefício

será devido.

No caso de companheiro ou companheira de segurado

casado, exige-se que se comprove, além de sua dependência

econômica, que o falecido havia-se separado de fato do seu

cônjuge. Afinal, o chamado concubinato impuro decorrente de

uma relação adulterina não configura união estável. Nesse

caso, a pensão por morte será deferida apenas ao cônjuge. Para

que o benefício seja deferido à companheira ou companheiro,

devem estes demonstrar que viviam com o segurado falecido

como se fossem uma família, o que pressupõe, no caso de

segurado casado, que ele estava separado de fato de seu

cônjuge.

Page 29: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

O companheirismo decorrente de relações

homoafetivas exige demonstração de vida em comum. A união

estável deverá ser igualmente comprovada.

Destaque-se que, nos termos do Decreto 3.048/99, não

se admite prova exclusivamente testemunhal. Exigem-se, no

mínimo, três provas documentais:

Art. 22. (...)

§ 3º Para comprovação do vínculo e da dependência

econômica, conforme o caso, devem ser apresentados no

mínimo três dos seguintes documentos: (Redação dada

pelo Decreto nº 3.668, de 22/11/2000)

I - certidão de nascimento de filho havido em comum;

II - certidão de casamento religioso;

III- declaração do imposto de renda do segurado, em

que conste o interessado como seu dependente;

IV - disposições testamentárias;

V- (Revogado pelo  Decreto nº 5.699, de

13/02/2006 - DOU DE 14/2/2006)

VI - declaração especial feita perante tabelião;

VII - prova de mesmo domicílio;

Page 30: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

VIII - prova de encargos domésticos evidentes e

existência de sociedade ou comunhão nos atos da vida civil;

IX - procuração ou fiança reciprocamente outorgada;

X - conta bancária conjunta;

XI - registro em associação de qualquer natureza, onde

conste o interessado como dependente do segurado;

XII - anotação constante de ficha ou livro de registro de

empregados;

XIII- apólice de seguro da qual conste o segurado como

instituidor do seguro e a pessoa interessada como sua

beneficiária;

XIV - ficha de tratamento em instituição de assistência

médica, da qual conste o segurado como responsável;

XV - escritura de compra e venda de imóvel pelo

segurado em nome de dependente;

XVI - declaração de não emancipação do dependente

menor de vinte e um anos; ou

XVII - quaisquer outros que possam levar à convicção

do fato a comprovar.

Page 31: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

Admite-se, na via administrativa ou judicial, a produção

de prova para exclusão de dependente que esteja situado em

posição concorrente ou preferencial em relação ao interessado

(ex.: companheira provar que a ex-esposa do segurado falecido,

que não recebia pensão alimentícia, não dependia

economicamente daquele).

Esclareça-se que, atualmente, no Regime Geral de

Previdência Social, o fato de a viúva ou viúvo contrair novas

núpcias não interfere no seu direito à percepção do benefício

em apreço. Em outros termos, o beneficiário de pensão por

morte pode casar-se novamente sem prejuízo de seu benefício.

3. Do valor mensal e da data do início do

benefício

A pensão por morte tem por escopo substituir a renda

do segurado falecido.

Seu valor corresponderá a 100% do valor da

aposentadoria que o segurado eventualmente percebia. Caso

não fosse aposentado, seu valor corresponderá ao valor que

seria devido se, na data do seu óbito, fosse aposentado por

invalidez [04].

Em se tratando de segurado especial (trabalhador rural

em regime de economia familiar, sem o auxílio de empregados,

Page 32: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

que dependa de tal atividade para sobreviver), o valor da

pensão corresponderá a 1 (um) salário mínimo mensal.

Em regra, o pagamento do benefício se inicia:

1) a partir do dia do óbito, se solicitada até 30 dias do

falecimento;

2) a partir da data de entrada do requerimento, se

solicitada após 30 dias do falecimento;

3) a partir da data da decisão judicial declaratória do

óbito,  no caso de morte presumida;

4) a partir da data da ocorrência, nos casos de

desaparecimento do segurado por motivo de catástrofe,

acidente ou desastre, quando requerida até 30 dias desta data.

Em se tratando de trabalhador rural, o pagamento se

inicia, se o falecimento ocorreu:

1) após a Lei Complementar n.º 11, de 1971, e antes da

Lei 8.213, de 1991: na data do óbito;

2) antes da LC 11/71: em 01/04/87;

3) antes da MP 1.596-14, de 10/11/97, mas após a Lei

8.213/91, respeitada a prescrição qüinqüenal: na data do óbito;

Page 33: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

4) a partir de 11/11/97: aplica-se a regra geral

mencionada anteriormente.

Na existência de mais de um dependente, o benefício

será dividido entre todos em partes iguais.

A pensão por morte não poderá ter valor inferior ao

salário mínimo. Contudo, as cotas individuais que formam o

benefício podem ser menores que tal piso (ex.: dois

dependentes receberem, cada um, ½ salário mínimo).

Noutro passo, vale lembrar que a concessão da pensão

por morte não será adiada pela falta de habilitação de outro

possível dependente.

Em caso de habilitação tardia de outro dependente,

somente fará ele jus ao rateio a partir de sua inclusão enquanto

tal. Vale dizer, não terá ele direito às prestações anteriores à

sua inclusão ou habilitação.

4. Da cessação

A pensão por morte será cessada automaticamente

pela perda da qualidade de dependente.

Nessa hipótese, caso haja mais de um beneficiário da

pensão, o valor da respectiva cota-parte será revertida em

favor dos demais (direito de acrescer).

Page 34: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

Perde-se a qualidade de dependente:

1) pelo óbito;

2) pela emancipação (salvo se decorrente de colação

de grau em curso de ensino superior) ou implemento de 21

anos de idade, salvo se inválido;

3) pela cessação da invalidez, constatada por médico-

perito do INSS, em caso de dependente inválido.

A pensão por morte será extinta quando o último

dependente perder essa qualidade.

Vale destacar, neste ponto, que:

(...) a morte do último pensionista não traz direito à

concessão da pensão aos dependentes excluídos à época do

óbito.

Por exemplo, se o cônjuge dependente falecer, não

existindo mais nenhum outro dependente preferencial, os pais

do segurado falecido não irão conseguir a pensão, pois esta já

fora concedida ao cônjuge, e, com sua morte, será extinta. [05]

Cessará, ainda, a pensão por morte se, decorrente ela

de óbito presumido, reaparecer o segurado. Nesse caso, ficam

os dependentes desobrigados da reposição dos valores

recebidos, salvo má-fé (§2º do artigo 78 da Lei 8.213/91).

Page 35: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

5. Da cumulação com outros benefícios

É lícita a cumulação de pensão por morte e

aposentadoria. Vale dizer, uma mesma pessoa pode auferir,

como dependente, pensão pela morte de um segurado e, ao

mesmo tempo, perceber aposentadoria, por direito próprio,

enquanto segurado da Previdência Social.

O que não é possível é a mesma pessoa auferir mais de

uma pensão deixada por cônjuge ou companheiro (artigo 124,

VI, da Lei n.º 8.213/91, com a redação dada pela Lei n.º

9.032/95). Nesse caso, subsistirá apenas a pensão mais

vantajosa. Ou seja, a de valor menor será extinta.

Em relação aos demais benefícios previdenciários, a

cumulação é possível.

6. Conclusão

Conclui-se de todo o exposto que a pensão por morte é

benefício previdenciário pago aos dependentes do segurado da

Previdência Social que vier a falecer.

Na data do óbito, deverá o falecido ostentar a

qualidade de segurado da Previdência, seja por estar

Page 36: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

contribuindo para a mesma, seja por estar no período de graça.

O benefício será, contudo, devido, independentemente da sua

qualidade de segurado, se o falecido já houver adquirido o

direito, em vida, de aposentar-se, embora não o tenha exercido.

Atente-se, neste ponto, que quem está em gozo de

benefício (ex.: aposentadoria ou auxílio-doença) mantém a sua

qualidade de segurado da Previdência Social.

Seu valor corresponde ao da aposentadoria que o

segurado percebia ou, se não for aposentado, a 100% de seu

salário-de-benefício (igual à aposentadoria por invalidez).

Notas

1. Carência é o número mínimo de contribuições mensais

que o segurado precisa contar para fazer jus ao benefício

pretendido. Somente a partir daquele número de

contribuições que o segurado estará apto ao percebimento

do benefício previdenciário que pretende obter. No caso da

pensão por morte, conforme já dito, não se exige essa

carência mínima.

2. Em regra, a qualidade de segurado é mantida enquanto

houver contribuições para a Previdência. Contudo, a lei

confere uma extensão do amparo previdenciário por um

período após o fim dessas contribuições, chamado

de período de graça. Nesse período, não há contribuições,

mas permanece, por ficção legal, a qualidade de segurado

pelo lapso previsto no artigo 15 da Lei nº 8.213/91.

3. Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça editou a

Súmula 336, que diz: "A mulher que renunciou aos alimentos

Page 37: Trabalhador Rural Empregado X Trabalhador Rural Em Regime de Economia Familiar

na separação judicial tem direito à pensão previdenciária por

morte do ex-marido, comprovada a necessidade econômica

superveniente."

4. Para saber como se apura o valor da aposentadoria por

invalidez, sugere-se a leitura de outro artigo publicado nesta

mesma revista eletrônica: MADEIRA, Danilo Cruz. Da renda

mensal inicial dos benefícios previdenciários de

auxílio-doença e aposentadoria por invalidez. Como é

calculada. Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 2837, 8 abr.

2011. Disponível

em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/18860>. Acesso em:

28 abr. 2011.