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Octavio Ianni O estado e o trabalhador rural In: Origens agrárias do estado brasileiroTRANSCRIPT
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13inegavel que a SUDENE foi criada em conseqilencia das
condi<;oes sociais, economicas e politicas envolvidas nesses proble-
mas. Na medida em que esses problemas se apresentavam, ou eram
apr esentados, como dilemas reais ou imaginarios, cada gr upo e
classe social mais ou menos envolvido neles procurava uma solu-<;ao. Cad a grupo e classe propunha debates, defendia interesses
interpretava per s pectivas, seja em term os particulares, seja e~
f un<;ao d e conveniencias mais gerais. Nesse contexto, encontra-
vam-se as oligarquias tradicionais, de base agropecuaria, a burgue-
sia comer cial, os setores financeiros, a burguesia industrial, alguns
setores da classe media, operarios, camponeses, intelectuais, parti-
dos politicos, sindicatos, ligas camponesas, a Igreja, 0 governo
feder al (Executivo e Legislativo) etc. Cada grupo e classe, pois,
segundo as suas razoes particulares e a sua compreensao d as conve-
niencias gerais, ingressou no debate e elaborou os dilemas a seu
modo. Nesse sentido e que os problemas apontados acima foram
importantes para produzir as condi<;oes que deram nascimento a
SUDENE.
Entretanto, essas condi<;oes nao operaram individualmente;
nem em conjunto, como numa soma aritmetica. Elas somente ope-
r aram na medida em que se transformaram em urn dilema politico
fundamental, para os govern antes do Nordeste e do pais. Em essen-
cia, os problemas contribuiram para a cria<;aoda SUDE NE somente
quando eles apareceram no entendimento dos governantes, poli-
ticos, economistas e tecnicos (inclusive setores militar es) como urn
dilema politico crucial. E esse dilema politico consistia no seguinte:
o rapido agravamento das contradi<;oes de classes, com suas impli-
ca<;oes politicas e economicas. Isto e, as estruturas de domina<;ao
(politicas) e apropria<;ao (economicas) come<;aram a ser contesta-
das, tanto nas assembleias como nos locais de tr a balho. Esse foi 0dilema que provocou a "revolu<;ao" no espirito daqueles que toma-
yam decisoes. Pensava-se que havia uma revolu<;ao em mar cha, na
cidade e no campo.
o Estado
e 0trabalhador rural*
A hist6ria do relacionamento entre 0Estado e a mao-de-obra agri-
cola no Brasil, desde 1888, e tambem a hist6ria da proletariza<;ao
d o trabalhador rural. 13a hist6ria do progressivo, mas ao mesmo
tempo descontinuo e contradit6rio, processo de s epara<;ao entre a
propriedade dos meios de produ<;aoe a propriedade da for<;ade
tr aball.Io. Envolve a analise de distintas formas de organiza<;ao das
rela<;oes de produ<;ao. No interior dessas formas de organiza<;ao
social do trabalho produtivo, inserem-se as rela<;oesentre 0 traba-
Ihador e 0empresario; ou entre colono, morador , agregado, em-
pr egado, camarada, volante, b6ia-fria, peao, assalariado perma-
nente e temporario, por urn lado, e fazendeiro, usineiro, criador,empreiteiro de mao-de-obra ou gato, por outro lado. Em geral, 0
Estado esta presente nessas rela<;oes,apesar de que freqilentemente
a parece como se estivesse por fora ou acima delas.
13verdade que a aboli<;ao do regime de t rabalho escravo e a-/
cr ia<;aodo regime de trabalho assalariado, dur ante os anos 1850-
1888, constituiram os prim6r dios da forma<;ao do proletariado
rural. Mas esse processo nao se completou em 1888, com a assina-
tura do decreto de aboli<;ao da escravatura; ou em 1891, com a
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grand e naturaliza<;a o d os imigr antes estabelecida pela primeira
Constitui<;ao republicana. Com a aboli<;aoe a naturaliza<;ao, cons-
tituiu-se juridicamente 0 trabalhad or l ivre no Brasil. Mas Mo se
constituiu na pnltica, economica e politicamente; a nao ser pouco a
pouco, de forma descontinua e desigual, se examinamos 0con junto
~a hist6ria e da sociedade do pais. Dentre as difer entes formas d e
organiza<;ao das rela<;oes de produ<;ao, algumas baseavam-se, ou
baseiam-se, no trabalho assalariado, em sentido estrito. Esse f oi 0
caso do camarada, na cafeicultura, desde a segunda metade do
seculo XIX ate 1930; e mesmo depois, em e scala menor . Tambem e
o caso do b6ia-fria, volante, corumba ou peao. Mas ha distintas
formas de organiza<;ao social da produ<;ao, tais como remanescen-
tes do colonato (com base no trabalho do colono, morador, agre-
gado), a parceria, 0arrend amento, a mea<;ao e outras, q ue nao se
ajustam pura e simplesmente as condi<;oes de compra e venda de
for<;a de trabalho. 0 barracao, armazem, venda, cambao, avia-
mento sac distintas modalidades de comercio entre trabalhador esrurais e os seus empregadores, modalidades essas nas quais a condi-
<;aooperaria aparece subsumida ou articulada a for mas patrimo-
niais de organiza<;ao das rela<;oesde produ<;ao. Em 1983, a legisla-
<;aotrabalhista relativa as rela<;oesde trabalho no campo ainda esta
em processo de implanta<;ao, mesmo para 0 assalariad o per ma-
nente e residente nas terras da fazenda ou usina.Ha muitos acontecimentos importantes que precisam ser
esclarecidos, se queremos conhecer a hist6ria do relacionamento
entre 0Estado e 0trabalhador rural. 0exame d esses acontecimen-
tos pode mostrar tanto avan<;os como recuos, tanto descontinuida-
des como desencontros, no pr ocesso de forma<;ao do proletariado
rural. Houve 0 cicio da borracha, nos anos 1890-1912; tam bemhouve a ex pansao da cafeicultura, desde 0 seculo passado ate a
crise maior, nos anos 1929-33. Houve e continua a haver a for ma-
<;aoe a expansao da grande empresa agricola, pecuaria, agropecua-
ria e agr oindustrial, desde 0 sui gaucho a regiao amazonica. Os
incentivos fiscais e as facilidades de crectito, propiciados pelo pod er
publico, estao impulsionando a f orma<;ao e a ex pansao da gra~de
empresa na Amazonia legal. Ao mesmo tem po, cresce nessa reglaO
o contingente de peoes, assalariados temporarios, trabalhand o no
d esmatamento das terr as para a forma<;ao de fazendas. Mas e escas-
sa, ou nula, a prote<;ao legal que tern ali tanto 0 peao, enquanto
assalar iado tem por ar io, como 0 vaqueir o, enquanto assalariado
permanente ha bitand o nas ter r as d a fazend a de gado.
Em certas ocasioes encontramos alguma atua<;ao do poder
pu blico, com refer encia a mao-d e-obra, quanto aos direitos e d eve-
res dos assalar iados rurais. As vezes essa atua<;ao a par ece na legis-
la<;ao,0que nao signif ica q ue se efetiva na prMica das rela<;oesd e
prod u<;ao. Outras vezes ha omissoes do poder publico. Mas ha
atua<;oesque se realizam por modos indiretos, como aquelas relati-
vas as condi<;oesd e posse e d ominie das ter r as d evolutas, ao povoa-
mento e a coloniza<;ao, as r eser vas ind igenas, ou outras modalida-
des d e d inamizar 0desenvolvimento das f or<;as produtivas e rela-
<;oesde produ<;ao na agr icultura.
Assim, par a estud ar 0relacionamento entre 0Estado e 0tr ~
balhador assalar iado do campo, parece conveniente come<;ar por
estabelecer algumas preliminares. Primeiro, esse relacionamento
pod e ser visto ao longo do tempo, em seus desenvolvimentos. Segun-
do, em boa par te esse relacionamento e as suas modifica<;oes estao
ex pressos na legisla<;ao trabalhista. Terceiro, tambem as omissoes
do pod er publico, quanta a questoes sociais no campo, sac outras
tantas d imensoes importantes do relacionamento entre 0Estado e 0tra balhador rural. Quarto, nao e apenas a legisla<;ao trabalhista
que ex pressa 0 car Mer e a modifica<;ao do relacionamento entre 0
Estad o e 0 trabalha do r r ural, mas tambem as politicas de terra,
povoamento, coloniza<;ao, indigenista e outras. Quinto, a legisla-
<;aotra balhista pode sempre s er encarada na perspectiva do pr6prio
tr abalhador, alem da perspectiva do empresario ou do Estado.
Sexto, 0 relacionamento entre 0 Estado e 0 trabalhador rural,
ex presso na legisla<;aotrabalhista, nas omissoes do poder publico,
ou nas atua<;oes indir etas deste, pode ser consider ado uma dimen-
sac f undamental das rela<;oesde prodUl;;aoprevalecentes no camp~
em distintas ocasioes e em diferentes lugares.
Neste ponto, antes de prosseguir, cabe urn esclarecimento.Torno a expressao agricultura brasileira em sentido amplo, englo-
bando a pecuaria, a agr oindustria e 0extrativismo. Nos pontos em
q ue a exposi<;aoexigir, explicitarei a conota<;ao principal envolvida
na analise.
Vejamos alguns dos acontecimentos que parecem mais rele-
vantes a demarca<;ao da hist6ria da mao-de-obra agricola no Br sil.
Pr imeiro, a extin<;ao do trafico de escravos, a imigra<;ao de bra<;os
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para a lavoura, a lei do ventre livre e a lei dos sexagenarios, entr e
1850 e 1885. Segundo, a abolir;ao do regime de trabalho escravo
em 1888, e a grande naturalizar;ao dos imigrantes, estabelecida pel~
Constituir;ao de 1891. A abolir;ao e a natura1izar;ao geral d os imi-
grantes que nada declarassem em contrario ao estipulado na Cons-
tituir;ao foram atos politicos que instituiram 0 trabalho livre, 0trabalhador como cidadao. Terceiro, 0 regime de trabalh o l ivr e
vigente na fazenda de cafe, desde a segunda metade do seculo XIX
ate 1930, foi 0 regime de colonato, que se estruturou em forma
juridico-politica, segundo leis especiais. Quarto, no ciclo amazo-
nico da borracha, que teve 0 seu apogeu nos anos 1890-1912, nao
houve qualquer tentativa do poder publico no sentido de garantir
alguma reivindicar;ao ou algum direito do seringueiro. 0sistema d e
aviamento, que era baseado numa cadeia de endividamentos, sub-
jugava 0 seringueiro ao seringalista, este ao aviador e 0 aviador ao
exportador de borracha. Quinto, a Consolidar;ao das Leis do Tra-
balho (CLT), promulgada pela ditadura do Estado Novo, em 1943,
nao contempla senao em plano muito secundario algumas reivindi-car;oes do proletariado rural. Alias, 0 Estatuto da Lavour a Cana-
vieira, de 1941, em seus artigos 19 a 26, procurava garantir a condi-
r;ao de morador para 0 trabalhador do canavial. Esse estatuto r ee-
ditava alguns dos dispositivos que haviam sido estabelecidos no
comer;o do seculo para 0 colonato da fazenda de cafe. Sexto, em
1963promulgou-se 0 Estatuto do Trabalhador Rural, no q ual, pela
primeira vez definem-se em forma relativamente sistematica as con-
dir;oes politico-economicas do contrato de trabalho na agricultura
\ b:~sileira; e nao apenas na cafeicultura ou na agroindustr ia cana-
O'leira.Vejamos, agora, a titulo de registro, algumas das pr incipai~
leis adotadas e agencias governamentais criadas, relativamente a
mao-de-obra agricola. Incluem-se tambem a referencia a leis ,e
agencias concernentes a terra, ao indio, ao povoamento e a colon~-
(zar;ao. Direta ou indiretamente, esta legislar;ao influencia as condl-
I r;oesde trabalho e de vida do assalariado rural. Mas e tambem con-
veniente observar que a legislar;ao brasileira relativa ao assalariado
rural, ou a questoes que 0 afetam, nao pode ser entendida numa
unica perspectiva. As vezes a lei reflete mais ou menos fielmente
uma reivindicar;ao do proletariado rural, ou de urn dos seus setores.
Outras vezes reflete mais ou menos fielmente uma reivindicar ;ao da
burguesia rural, ou de algum dos seus setores. Mas tambem p~~e
expressar uma correlar;ao de fon;as de grupos ou classes SOCialS
envolvidos. Ha situar;oes - que nao sac poucas - nas quais 0
governo pode impor uma resolur;ao que atende, acomoda ou arti-
cula, tanto interesses de grupos ou classes sociais agrarios como
destes com grupos e classes urbanos. Muitas decisoes adotadas pelo
poder publico, relativamente as relar;oes de produr;ao no mundo
rural, expressam nao s6 a supremacia da cidade sobre 0 campo,
Imas 0 crescente predominio do capital industrial sobre a agricultu-
ra. A regra nao e unica, nem a mais complexa, nem a mais simples.
Sao os contextos politico-economicos que explicam os significados
da lei ou das agencias governamentais. Nao se pode esquecer, entre-
tanto, que nem as relar;oes sociais estacam-se nos moldes da lei)
nem a lei se fixa numa unica moldura.
Quanto a mao-de-obra, as condir;6es de trabalho do assala-
riado rural , sua condir;ao de grupo social em dado setor produtivo,
ou sua condir;ao de classe, a legislar;ao desdobra-se nas seguintes
leis e decretos. Em 1888decretou-se a emancipar;ao dos escravos, 0
que transformou 0 meio milhao restante de escravos do pais em
homens livres. Pode-se supor que a emancipar;ao dos escravos con-feriu uma nova definir;ao social tambem aos negros e mulatos livres.
Ao mesmo tempo, toda modalidade de trabalho brar;al ganhou
outra conotar;ao social, nao mais exclusiva do negro ou do escravo.
Alias, antes ja vinha a mao-de-obra do imigrante sendo utilizada
como trabalho livre. Assim, a emancipar;ao dos escravos criou 0-)trabalhador livre como categoria geral na sociedade brasileira, para
as lidas do campo e da cidade, da fazenda e da fabrica. Essa mu-
danr ;a talvez se complete, no plano juridico-politico, com a grande
naturalizar;ao dos imigrantes entrados no pais em escala crescente
nas decadas anteriores ao decreto da abolir;ao. Em 1903,0 Decreto.::J
Lei n? 979, de 6 de janeiro, praticamente inicia 0 ordenamento das
relar;oes de trabalho no campo. Eo Decreto-Lei n? 1637, de 1907,
foi 0 principal instrumento legal do sistema sindical proposto para
o ordenamento das relar;oes de produr;ao no campo. Mas foi a Lei
n? 1299-A, de 27 de dezembro de 1911, do governo do Estado de
Sao Paulo, que criou 0 Patronato Agricola, instituir;ao que se inse-
riu na base do regime de colonato entao vigente na cafeicultura. 0
Decreto n? 22789, de 1 de junho de 1933, criou 0 Instituto do Ar;u-
car e do Alcool (IAA) para assegurar 0 equilibrio entre as safras
anuais de cana e 0 consumo de ar;ucar, mas nada acrescentando
quanta as condir;oes de trabalho de moradores ou assalariados. Eo
Estatuto da Lavoura Canavieira, criado pelo Decreto-Lei n"3855,
de 21 de novembro de 1941, focalizou as relar;oes entre os fornece-
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dores de cana, isto e pr oprietarios de canaviais e as usinas. No con-
texto da economia de guerra, em 1942, a Portaria n? 28, de 30 de
novembro desse ano, baixada pelo coordenador da Mobi1iza~ao
Economica, criou 0Servi~o Es pecial de Mobiliza~ao de Tr abalha_
dores para a Amazonia (SEMT A), servi~o este que deveria respon-
sabilizar-se pelo transporte e a localiza~ao de nordestinos na Ama-
zonia, para trabalhar na produ~ao da borracha e de outr os mate-
riais estrategicos. A Consolida~ao das Leis do Trabalho (CLT) foi
promulgada pelo Decreto-Lei n? 5452, de 1 de maio de 1943, esta-
belecendo todas as principais condi~oes das rela~oes entre assala-
riados e empresarios, ou empr egadores; mas estabeleceu, e m seu
artigo setimo, que os pr eceitos da CL T nao se aplicariam aos traba-
lhadores rurais, salvo nos cas os em que isso fosse expresso. 0Decre-
to-Lei n? 6969, de 19 de outubro de 1944, tratou dos direitos dos
trabalhadores rurais na agroindustria canavieira. Em 1963, a Lei
n? 4214, de 2 de m ar~o, criou 0 E statuto do T rabalha do r R ur al
(ETR). A Lei n? 4870, d e 1 de dezembro de 1965, em seus artigos 35
e 36 tratou de assistencia aos trabalhadores da agroindustria cana -
viei:a. A Lei Complementar n? 11, de 25 de m aio de 1 971, criou 0
Program a de Assistencia ao Tr abalhador Rural (PRORURAL) e 0
Fu nd o d e Assistencia ao Tr abalhador Rural (FUNRURAL). E a
Lei n? 5889, d e 8 d e junho de 1973, estatuiu normas regulad o ra s d o
trabalho rural, complementando 0 que havia sido estatu id o n o'
ETR. .
Os problemas relativos a imigrariio , a migrariio interna e a
colonizariio foram enfocados por leis, decretos e agencias governa-
mentais em diferentes e pocas, des de 0 seculo passado. 0quarto
paragrafo do artigo 69 da Constitui~ao brasileira de 1891 estabel~-
cia que todos os imigrantes seriam considerados brasileiros, em selS
meses se nada declarassem em contrario. Durante os anos 1883-91, . S . d defuncionou ativamente, e com apolO governamental, a OCle a
Central de Imigra~ao, para defender a imigra~ao europeia e f aze! a
sua propaganda, como alternativa para amp liar a oferta d e mao-. . lmentede-obra na agricultura. A agricultura, no caso, era pnnclpa
a cafeicultura. E 0 governo financiava boa par te da importa~ao de
bra~os par a a lavoura. "Campos Sales, quando presidente de Sa.o
Paulo, na sua mensagem de 7 de abril de 1897 distinguia os d~IS
tipos de imigra~ao: 'Os operarios agricolas, que se colocam, satlS-
feitos a servi~o da grande lavoura, nas fazendas , e os colonos pro-, . . " oam os nu cleos priamente dltOS, os pequenos propnetanos, que pov .
colonais e que dificilmente tomariam outro destino', DepOts de se
declarar a favor, simultaneamente desses dois tipos de imigra~ao
' para a solu~ao do dupl0 problema do povoamento e do trabalho' ,
Campos Sales defendia a imigrariJo estipendiada nos seguintes ter-
mos: 'Fala-se tambem da imigra~ao estipendiada e censura-se 0 sis-
tema paulista. E este urn ponto que deve ficar esclarecido, pois quedele depende essencialmente a orienta~ao a imprimir-se a fu tu ra s
r esolu~oes legislativas. Desde que se trata de introdu~ao de opera-
rios agricolas, uma de duas: ou ela sera estipendiada, ou nao existi-
r a',") Em 19090 governo federal criou 0 Servi~o de Povoamento,
junto ao Ministerio da Via~ao. Seguiram-se as seguintes agencias
governamentais relacionadas a problemas de imigra~ao, migra~ao
interna e coloniza~ao: Departamento Nacional de Povoamento, em
1931; Divisao de Terras e Coloniza~ao, em 1938; Instituto Nacio-
nal de Im igra~ao e Coloniza~ao, em 1954; Superintendencia da
Politica Agraria (SUPRA), em 1962; Instituto Brasileiro de Refor~
ma Agraria (IBRA) e Instituto Nacional de Desenvolvimento Agra-
r io (lNDA), em 1964; e Instituto Nacional de Coloniza~ao e Refor-ma Agraria (INCRA), em 1970.
Os problemas indigenas, tais como a preserva~ao do seu con-
tingente populacional, da sua cultura, das suas terras, em face das
invasoes e agressoes das frentes de expansao ou pioneiras, dos pos-
seiros, grileiros e fazendeiros, foram objeto das seguintes ag~ncias
ou regulamentos governamentais: Servi~o de Prote~ao aos Indios
(SPI), criado pelo Decreto n? 8072, de 20 de junho de 1910; Conse-
lho Nacional de Prote~ao aos Indios (CNPI), criado pelo Decreto
n? 1794, de 22 de novembro de 1939; Funda~ao Nacional do Indio
(FUNAI), criada pelo Decreto-Lei de 5 de dezembro de 1967; eo
E statuto do Indio, promulgado conform e a lei n? 6001, de 19 de
dezembro de 1973.
A questiio da terra tern sido objeto de uma legisla~ao especial,
na qual se destacam as seguintes dis posi~oes legais: Lei n? 601, de
18 de setembro de 1850; Decreto-Lei n? 9760, de 5 de setembro de
1946; Lei delegada n? 11, do dia 11 de outubro de 1962, criando a
Superintendencia de Politica Agraria (SUPRA); Lei n? 4504, de 30
de novembro de 1964, dispondo sobre 0 Estatuto da Terra, ou seja,
a politica agraria governamental e a reforma agrar ia; Decreto-Lei
n? 1110, de 9 de julho de 1970, criando 0 Instituto Nacional de
1 J. Fernando Carneiro, Imigrar;:ao e Colonizar;:ao no Brasil, Rio de Janeiro,
Faculdade Nacional de Filosofia, Publicaf ;iio Avulsa n.o 2 da Cadeira de Geo-
graf ia do Brasil, 1950, p. 28.
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Colonizar;ao e Reforma Agnhia (INCRA); eo Decreto-Lei n? 1164
de I de abril de 1971, que declarou indispensaveis a seguranr ;a e a~
desenvolvimento nacionais as terras devolutas situadas na faixa de
cern quilometros de largura de cada lado do eixo de rodovias na
Amazonia lega1.2
Neste ponto, vale a pena reler dois textos queresumem urn t6pico basico da doutrina que tern inspirado a legisla-
Gao da terra no Brasil. Antes da Lei n? 601, de 1850, preconizavam _
se as seguintes providencias: "I) a importa<;ao de tra balhadores,
feita pelo governo, fixado, porem, 0respectivo tempo o brigat6rio
de servir;o; 2) a alienar;ao das terras devolutas por meio de venda,
mas fora de hasta publica, e a prer;o tao elevado quanta bastasse
para impedir 0 trabalhador importado de tornar-se proprietario,
demasiado cedo; 3) a aplicar;ao do produto total das alienar ;oes de
terras a urn fundo de imigrar;ao, destinado exclusivamente a custear
a importar;ao de maior numero ainda de trabalhadores. Exceto a
abolir;ao da hasta publica, essas sao, de fato, as providencias cons-
tantes dos artigos 18, 14 e §2, e 19 da nossa Lei de Terras", de~850. 3 E em 1888, numa consulta do Conselho de Estado, persistia
a preocupar;ao em "tornar mais custosa a aquisir;ao de terras ...
Como a profusao em datas de terras tern, mais que outras causas,
contribuido para a dificuldade que hoje se sente de obter tra balha-
dores livres, e seu parecer que d'ora em diante sejam as terr as ven-
didas sem excer;ao alguma. Aumentando-se, assim, 0valor das ter-
ras e dificultando-se, conseqtientemente, a sua aquisir;ao, e de
esperar que 0 imigrado pobre alugue 0 seu trabalho efetivamente
por algum tempo, antes de obter meios de se fazer proprietar io".4
Con forme sugerem essas breves informar;oes sobre a leg isla-
r;ao relativa ao trabalhador rural, a imigrar;ao, a colonizar ;ao, ao
indigena e a terra, 0 relaciomento entre 0Estado e 0assalariado
rural envolve varias e diferentes situar;oes politico-economicas.Mas cabe lembrar que uma coisa sao as leis e as agencias governa-
mentais, outra e a pratica cotidiana das relar;oes de produr;ao, nas
diferentes formas de organizar;ao social do trabalho. As vezes a lei
e apenas uma declarar;ao de intenr;oes; mas ha casos em que ela se
efetiva. Ha leis que pegam e leis que nllo pegam.
2 Ainda quanta a terra, caberia lembrar 0 Grupo Executivo das Terras do Ara-
guaia e Tocantins (GETAT) e 0 Grupo Executivo das Terras do Baixo AmazO-
nas (GEBAMl. em 1980.
3 Ruy Cirne Lima, Pequena Hist6ria Territorial do Brasil, 2." ed., Porto Alegre,
Livraria Sulina Editora, 1954, pp. 81-82.
4 Ruy Cirne Lima, op. cit., p. 82.
Neste ponto, cabe uma breve informar;ao sobre a evolufiio
recenle da populafiio aliva na agricultura. Essa informar;ao pode
especificar alguns aspectos da hist6ria do trabalhador rural.
Durante todo 0 seculo XIX e boa parte do seculo XX, 0 BrasiJ7
foi urn "pais de vocar;ao essencialmente agraria". A economia pri-maria exportadora dominou a hist6ria social do pais ate 1930, de
forma mais ou menos absoluta. Em seguida, entre 1930 e 1960,
houve uma mudanr;a estrutural notavel, quando a economia brasi-
leira em conjunto diversificou-se amplamente e desenvolveu-se urn
setor industrial que passou a predominar sobre 0 conjunto. Nem
por isso, no entanto, a agricultura deixou de apresentar grande
importancia economica e politica. Inclusive ela se modificou acen-
tuadamente, a medida que era reincorporada aos movimentos do
capital industrial, as exigencias da urbanizar;ao e as f1utuar;oes do
comercio internacional. Esse e 0contexto hist6rico no qual ocor-
rem a evolur;ao e a diferencia;ao interna da popular;ao ativa empr 0gada na agricultura.
Em 1872 havia no pais 1510806 escravos; em 1888, no ana da
abolir;ao, ainda havia meio milhilo. E 6bvio que nem todos estavam
na agricultura. Mas sabe-se que a grande maioria trabalhava nos
eitos, ror;ados, fazendas e criar;oes. Sem esquecer que ja naquele
entao havia ex-escravos, nascidos Iivres e imigrantes trabalhando
na agricultura. Na decada de 1890-99 entraram no Brasil 1 205803
imigrantes europeus, principalmente italianos. E verdade que uma
parte desses imigrantes voltou aos seus paises de origem; e outra
parte foi povoar as colonias nos Estados do Rio Grande do Sui,
Santa Catarina, Parana e outros. Mas a grande maioria dos imi-
grantes entrados no pais, tanto ao 10ngo da segunda metade do
seculo XIX como nas primeiras decadas do seculo XX, foi compor
a mao-de-obra agricola dos cafezais do Estado de Sao Paulo. Em1920,havia 6376880 pessoas maiores de 14 anos de idade ocupadas
na agricultura, ao passo que eram 1264007 as pessoas ocupadas em
atividades de cunho industrial e artesanal.
Observemos, agora, a distribuir;ao dos assalariados rurais nas
decadas recentes. Em 1950, havia no pais 23,61 por cento assalaria-
dos permanentes e 38,37 temporarios, no conjunto da popular;ao
ocupada na agricultura. Em 1972, os assalariados permanentes na
agricultura somavam 7,28 por cento, ao passo que os temporarios
somavam 58,40 do total das pessoas ocupadas na agricultura. A
medida que se desenvolve a agricultura, em termos de grande em-
presa agricola, pecuaria, agropecuaria ou agroindustrial, cresce 0
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contingente absoluto e relativo dos assalariados temponirios, de-
crescendo algumas outras categorias de trabalhadores.
o relacionamento entre 0Estado e 0 trabalhador r ural apare-
ce, d e forma relativamente clara, em alguns momentos da historia
social da agricultura brasileira. Seria enganoso tomar esse relacio-
namento como continuo e harmonica; ao contnirio, e descontinuo
e contraditorio. Tanto assim que se podem eleger alguns momentos
singulares, ou cruciais, nos quais a natureza do relacionamento
entre 0Estado e 0 trabalhador rural aparece de forma mais nitida.
Penso que e vtl1idosugerir que os principais momentos do relacio-
name.nto entre 0Estado e 0 trabalhador rural sac aqueles nos quais
ocor rem 0 desenvolvimento das forr;as produtivas e r elal;oes de
pr odul;ao na agricultura. Alguns aspectos fundamentais dessa pro- blematica estao presentes na cafeicultura capitalista, na politica de
povoamento e colonizal;ao, no ciclo da borracha, na politica indi-
genista, na politica da terra, no crescimento da agroindustria cana-
vieira, na expansao da grande empresa agricola, pecuaria, agrope-
cuaria e agroindustrial. Ha algumas correspondencias e desconti-
nuidad es bastante expressivas, quando confrontamos a expansao
dos negocios e atividades agricolas, por ur n lade, e 0 relaciona-
mento entr e 0Estado e 0 trabalhador rural, por outro.
Legis/ar ao traba /hista no regime de co/ana to. 0colonato
constitui-se nas f azendas do cafe, do chamado Oeste paulista, prin-
cipalmente a partir de 1870. So b esse regime de organizal;ao das
relal;oes d e pr od ul;ao, e a familia que e contratada par a trabalhar na f azenda, na pessoa do seu chefe. 0fazendeiro paga salario ao
chef e da familia, pelo trabalho executado no prepar e da terra,
plantio, r e plantio, limpa, apanha do cafe etc. Mas obriga-se a dar-
K the casa gr atuita e alguma terra, para p lantio de verdur as, legumes
e cereais, ou a cr ial;ao, tudo para 0consumo da familia ou eventual
comercio. 0regime de colonato combina 0salario com a pr odul;ao
para a auto-subsis tencia do assalariado e seus familiares. Isso impli-
ca q ue 0 pr odutor era induzido a tra balhar diretamente na reprodu-
l;ao d a propr ia f or l;a de trabalho.
r Mas nao eram tranqiiilas as relal;oes de produl;ao organizadas
sob a forma de colonato. Houve t~os que estiveram
na base da legislal;ao que se adotou para organizar 0relacionamento
entre fazendeiros e colonos. "Nao e necessario narrar aqui a longa
luta social e diplomtltica que antecedeu e acompanhou a crial;ao do
regime de trabalho livre e do contrato de colonato. Houve fugas d e
imigrantes das fazendas; houve retorno de imigrantes aos paises d e
origem; tambem protestos pela imprensa e meios diplomaticos.
Inclusive houve interrupl;oes nos fluxos migratorios, devido aos
maus-tratos a que foram submetidos os imigrantes das primeir as
e poc~s, a esc,r~vidao. disfarl;ad.a ,ou aberta que lhes impunham. Q - . J
q ue e necessano registrar aqUi e que 0 contrato de colonato e 0
r esultado de urn processo de tensoes, lutas e negocial;oes, no qu al
envolveram-se fazendeiros, colon os e governos. Tantas foram as
tensoes, lutas e negocial;oes, que no Brasil 0 sindicalismo r ural
sur ge nessa epoca. Evaristo de Moraes Filho sugere que num pais
predominantemente agrario, na epoca em que se extingue 0regime
escravista, "nao podiamos deixar de iniciar a nossa legislal;ao sin-
dical senao por este lado". 5
Na legislal;ao relativa as relal;oes de produl;ao nas fazend as d ecafe, cabe ressaltar uma lei inclusive pelo q ue envolve das outras. A
Lei n? 1299-A, de 27 de dezembro de 1911, do governo d o Estado
d e Sao Paulo, cria 0Patronato Agricola com a finalidad e de "auxi-
liar as execul;oes das leis federais e estaduais no que concer ne a de-
fesa dos direitos e interesses dos operarios agricolas. 0Patronato e
subordinado ao secretario da Agricultura, e tern sua sede na ca pital'
do Estado de Sao Paulo. Ele se faz representar no interior do Esta-
do por 106 promotores publicos. Essa lei o briga 0 fazef\d eiro a
organizar a sua escritural;ao agricola e a fornecer aos colon os as
cadernetas que r eproduzem os lanl;amentos feitos pelo fazendeiro
em seu livro de contas correntes. Dentre os seus varios fins ex pr es-
sos, a Lei estadual n? 1299-A, de 1911, destina-se a fiscalizar as
cadernetas dos operarios agr icolas, a fim de verificar se estas se
revestem das formalidades prescritas pela Lei federal n? 6437, de 27
de marl;o de 1907"6.
Ao lade do colono, assalariado permanente residente nas ter--
r as da fazenda, havia 0camarada. Este era urn assalariado tempo-
r ario, empregado nas ocasioes de desmatamento, apanha ou seca-
5 Octavio Ianni, A Classe Operaria vai ao Campo, Sao Paulo, CEBRAP-
Brasiliense, 1976, p. 15; Evaristo de Moraes Filho, 0 Problema do Sindicato
Unico no Brasil, Rio de Janeiro, Editora A Noite, 1952, pp. 184-185.
6 Octavio Ianni, op. cit., p. 15.
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gem do cafe e mesmo outras atividad es.7
Em muitos casos, 0cama-
rada era urn sitiante, ou membro da sua familia, que se emprega
I· I va
para rea Izar a guma r en da monetaria, par a fazer compras nas ven-
das e armazens.'-
Ausencia de legislariio trabalhista no monoextrativismo do
f borracha. Nas atividades relativas a extr a~ao do latex, ao pr eparodas bolas e peles de borracha, ao trans porte do produto ate 0 barra-
cao, armazem ou venda do ser ingalista, 0seringueiro estava subor-
dinado as imposi~oes do seringalista, e s6 a e l e. N ao t inha para
quem apelar. Estava atado ao ser ingalista, pela divida continua-
mente renovada d evido ao monop61io que este exercia na venda dos
instrumentos d e t r a balho, armas, utensilios domest ic os , r oupas,
calcados, bebidas etc. e compra das bolas e peles de borracha. Nessas
condkoes, la no fundo da mata, 0 seringueir o era prisioneiro das
condi~oes d e produ~ao articuladas no aviamen to . 0 s is tema de
aviamento (pr ovimento de mer cadorias) atava 0 seringueir o ao
seringalista, este a casa aviad or a (pr ovedora de mercadorias) e esta
a empresa ex portador a d e borracha, que f inanciava a cada aviado-
ra. Nessa cadeia de rela~oes e subordinacoes, a p i or po si Ca o era a
do seringueiro, que se endividava ao preparar -se para seguir para 0
seringal e comecar a tr a balhar . E permanecia prisioneiro de uma
) jlJcessao de dividas continuamente renovadas. "E preciso im pedir
que 0trabalhador acumule reservas e fa~a economias que 0tornem
independente. Nesta regiao semideserta de escassa mao-de-o bra, a
estabilidade do trabalho tern sua maior garantia no endividamento
do empregado. As dividas comecam logo ao ser contratado: ele adqui-
re a credito os instrumentos que utilizar a, e que embora muito rudi-
mentares (0 machado, a faca, as tigelas onde recolhe a goma) estao
acima de suas posses, em regra, nulas. FreqUentemente estara ainda
devendo as despesas d e passagem desd e sua terra nativa ate 0serin-
gal. Estas dividas iniciais nunca se saldarao porque sempre havera
meios de fazer as despesas do trabalhador ultrapassarem seus magros
salarios. Generos caros (somente 0 pr o prietario pode fornece-Ios
porque os centros urbanos estao longe), a aguardente . .. E q uando
isto ainda nao basta, urn habil jogo d e contas que a ignodl.ncia do
seringueiro analfabeto nao pod e perce ber completara a mano br a.
Enquanto deve, 0trabalhador nao pode abandonar seu patrao c re -
dor; existe entre os proprietarios urn compromisso sagrado de nao
7 Augusto Ramos, 0 Cafe no Brasil e no Estrangeiro, Rio de Janeiro, Pap. Santa
Helena, 1923, pp. 203·204, 562, 568-569 e 571.
aceitarem a seu ser vi~o empregados com dividas para com outro e
nao saldadas. Alias a lei vem sancionar este compromisso porque
r es ponsabiliza 0 patrao que contrata urn trabalhador pelas dividas
deste (C6digo Civil Brasileiro, art. 1230). E quando tudo isto nao
basta para reter 0empregado endividado, existe 0recurso da for~a.Embora a margem da lei ninguem contesta ao proprietario 0direito
de emprega-Ia."8
Foi grande a populacao que se deslocou de outras atividades,
d o campo e da cidade, de perto e de longe, para trabalhar nos serin-
gais. Muitos eram nordestinos. Nao houve legislacao tr abalhista,
sequer incipiente, para proteger algum interesse do seringueiro. 0
regulamento do seringal era "impiedoso", resguardando apenas 0
interesse do seringalista.9 0 sistem a d e a viamento articulava de tal
f orm a as rela~oes de produ~ao que 0seringueiro estava totalmente
f ora do horizonte do poder publico; ou melhor, no caso d o serin-
gueiro, 0 poder publico estava totalmente omisso. Nem por isso, no
entanto, 0Estado deixava de beneficiar-se do produto do trabalho
d o seringueiro.
Preservar ou recriar 0 colonato? Na agroindustria canavieira,
a legisla~ao pouco avancou, salvo depois do Estatuto do Trabalha-
d or Rural, adotado em 1963, complementado pela Lei n? 5889, de
1973. Antes, pouco se havia feito. 0 Instituto do A~ucar e do Alcool
(IAA), criado em 1933, tratou d e disciplinar principalmente as
r eservas regionais de mercado para os engenhos e as usinas do Nor-
deste e do Centro-SuI. E 0 Estatuto da Lavoura Canavieira, de
1941, destinou-se a ordenar 0relacionamento entre fornecedores de
can a e usinas. Tratava-se de harmonizar ou acomodar as rela~oes
entre duas categorias de pr oprietarios.
Foi 0 Decr eto- Lei n? 6969, de 19 de outubro de 1944, que
come~ou a definir melhor 0relacionamento dos trabalhadores comos proprietarios de planta~oes de cana e usineiros. Nos artigos 19 a
26 desse decreto procurou-se garantir a sobrevivencia do morador
nas terras do proprietario do canavial. Vejamos 0que estabelecia 0
art. 23 e seu paragrafo unico: "0 trabalhador rural com m ais de
urn ana de ser vico, ter a direito a concessao, a titulo gratuito, de
uma area de terr a pr6xima a sua moradia, suficiente para planta~ao
8 Caio Prado Junior , Hist6ria Economica do Brasil, 3." ed., Sao Paulo, Ed. Brasi-
liense, 1953, p. 244.
9 Euclides da Cunha, Um Parafso Perdido IReuniiio dos Ensaios Amazonicos),
Petr6polis, Ed. Vozes, 1976, pp. 109-11 2.
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e cria~ao necessarias a s U. bsi~tencia d e ~ua f amilia. 0contrato-tipo
ou as mstrw;oes do lAA m dlcarao as dlmensoes minimas das ar Id . b eas
a que a u e este artlgo, em com o a distancia maxima a que de _
rao ficar da moradia do trabalhador". Mas a L ei n? 4870, d e 1v~e
. dezembro de 1965, no seu capitulo sobre a assistenci a a os tr a ba lh _ dores .na agroin~us~ria canavieira (arts. 35 e 36) confere ao d ono d~
canavlal e ao usmelro total monop61io sobre 0modo de aplicar
programa de assistencia. Se ja residente ou nao, 0assalariad o p er ~
~anente da fazenda de cana ou usin a e levado a receber a assisten-
c~a ~omo urn favor do empresario, antes do que uma parte de urn
dlrelto seu. A forma pela qual pod e ser aplicada a legislac;ao r ela-
tiva a assistencia social aos trabalhadores das usinas, destilar ias e
canaviais permite que 0 usineir o e 0 f azendeiro aumentem 0 seu
controle politico sobre os oper f uios rurais e industriais.
- A grande empresa e 0desenvolvimento do proletariad o. Nas
ulti~a~ decad~s, a agricultura brasileira adquiriu uma conotac;ao
capltahsta malS profunda e generaliza da . Ne m p or isso, no en tan-
to, deixa de ser bastante desigual, segund o as cultur as, regioes ou
outros caracteristicos. Na estrutur a fundiaria brasileira predomi-
nam principal mente a g rande propriedade rural e a pequena proprie-
dade, sendo que em umas e outras a produc;ao se organiza sob dif e-
rentes formas. Ha grandes empr esas que apresentam altos indices
de mecanizac;ao e quimificac;ao dos process os produtivos. Variarn
bastante os indices de utilizac;ao da forc;a de trabalho bem como as
modalidades de sua vinculac;ao a unidade produtiva: Sao diversas
as formas de organizac;ao social das forc;as produtivas e das reia-
c;oes de produc;ao que se encontram na agricultura brasileira. Nao
cabe descrever agora as formas que se encontram aqui e acola. M as
sao diversos os pesquisadores que concordam quanta a expansao
da em pres a capitalista no campo: multiplicam-se , e xp an dem-se ediversificam-se, de ponta a ponta do pais. E alguns indicam inclu-
sive a influencia que essa expansao acarreta na modificac;ao da
estrutura da mao-de-obra. Vejamos algumas observac;o es d e pes-
\ quisadores sobre a economia e as relac;oes de produc;a o n a ag r icul-
tura.
Hoffmann e Gra ziano d a Silva: "A constancia de valores e1e-
vados para os indices de concentrac;ao da posse da terra no Br asil
nesse meio seculo (1920-1970) indica que as modif icac;oe.s-ocorrid as
na estrutura agraria do pais nao rompera~ o padra o de alta
concentrac;ao da riqueza, e, consequentemente, do poder, no setor
agricola. Ainda hoje coexistem 0 latif undio e 0 minifun di o c omo
for mas d ominantes de propriedade da ter ra, trac;o caracteristico de
uma distr i buic;:ao da posse da terra altamente concentrada".10
M end onr a d e Barros, Rizzieri e Pastore: "Sem perda de gene-
ralidade e possivel admitir que 0 papel da agricultura no processo
do cr escimento econ6mico apresente cinco aspectos: oferta adequa-
da de alimentos e materias-pr i ma s p ar a 0setor urbano; colabora-
c;:aod ecisiva na oferta de divisas; oferta de mao-de-obra para as ati-
vidades urbanas; c on tr i buic;ao da poupanc;a gerada no setor prima-
rio para a formac;ao d e capital na industria; elevac;ao do mercado
para produtos industriais. Implicita no preenchimento destes papeis
esta, obviamente, a ideia de que junto com 0crescimento da produ-
c;ao total tambem cresc;a a produtividade no setor rural".11
Corr eia de And r ade: "Essa expansao da area de produc;:ao e'1
feita atr aves do empr ego cada vez m aior do fator capital, de vez
que os grandes proprietar ios e as sociedades anonimas fazem gran-
des inversoes a f im de organizarem uma produc;ao competitiva face
a concorrencia internacional e se processa com a incorporac;ao de
terras antes inexploradas ou ocupadas por pequenos agricultores r q ue se deslocam abrindo frentes pioneiras. Constituindo-se dentre •
os mol des capitalistas mais modernos, visando a maximizac;ao dos
lucros e contando com o s incentivos oficiais, canalizados atraves d e
agencias de desenvo lv im en to c omo a SUD AM n a Am az on ia e a
SUDENE no Nordeste e com as facilidades oferecidas as atividades
economicas voltadas para a exportac;ao, 0 processo se faz com a
agregac;ao de tecnologias mais modernas e vem destruindo as for-
mas de relac;oes de trabalho tradicionais, arcaicas ... " 12 )
A medida que se desenvolvem as forc;as produtivas e as rela-
c;oes de produc;ao, tanto se form a ou expande a grande empresa,
como se desenvolvem as s!flsse~ociaiJ' Desenvolvem -se - econo-
mica e politicamente - tanto a burguesia de base agraria (com ousem vinculos na cidade) como 0 p£9letariado rural. As classes socials
e a empresa capitalista passaram a ser elementos essenciais da socie-
10 Rodolfo Hofmann e Jose Francisco Graziano da Silva. A Estrutura Agraria
Brasileira. Serie Pesquisa n.O 31, Piracicaba. Departamento de Cillncias
Sociais Aplicadas, Escola Super ior de Agr icultura Luiz de Queiroz, 1975.
p.35.11 Jose Roberto Mendon<;:a de Barros, Juarez A. B. Rizzieri e Affonso Celso
Pastore. A Evolur;ao Recente da Agricultura Brasileira. Sao Paulo, Instituto
de Pesquisas EconOmicas (lPE). Faculdade de Economia e Administra<;:ao,
Universidade de Sao Paulo, 1975. pp. 1-2.
12 Manuel Cor r eia de Andrade. 0 Planejamento Regional e 0 Problema Agrario
no Br asil. Sao Paulo. Ed. HUCITEC, 1976, pp. 148-149.
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dade agniria. E claro que de modo variavel, conforme a area 0
Estado ou a regillo do pais. Em urn mesmo Estado, encontr am'-se
freqiientemente desenvolvimentos desiguais desses elementos.
A grande empresa agricola, pecuaria, agropecuaria OU
agroindustrial se torna uma expressao fundamental da economia
politica do campo. E inegavel que a pequena e a media empresa
continuam a subsistir . Inclusive podem tornar-se, como de f ato se
) tornaram, elementos importantes da expansao das atividades r urais.
Os pr6prios regimes de arrendamento, parceria, meac;;ao,troca pela
forma e outras modalidades de organizac;;aoda produc;;aosubsistem
e redefinem-se continuamente, nos quadros da produc;;aorural c api-
Ltalista. Ao lade destes desenvolvimentos, no entanto, expande-se a
grande empresa. Mesmo porque ela recebe apoio e estimulo econo-
mico e politico do poder estatal, por intermedio de entidades publi-
cas tais como 0Instituto do Ac;;ucare do Alcool (lAA), Su perinten-
dencia do Desenvolvimento da Amazonia (SUDAM), Banco da
\ Amazonia S.A. (BASA), Banco do Brasil e outras.13 Ocorre que 0
Estado propicia novos canais de atuac;;ao(ou dinamiza os preexis-tentes) do capital industrial na economia rural: agricola, pecuaria,
extrativa ou agroindustrial. Em boa parte, as transformac;;oes havi-
das e em curso no mundo rural mostram como a industria su bjuga
e modifica as condic;;oesde produc;;aono campo.
Quanto a burguesia de base agraria, e claro que em geral ela
esta amplamente articulada com as burguesias industrial e financei-
ra, de base urbana. Ao lade de empresarios (grandes, medios ou
pequenos) de base exclusivamente agraria, cresce 0numero daque-
les articulados com empresarios industriais e banqueiros. As vezes
as empresas rurais, industriais e financeiras fazem parte do mesma
grupo economico. Outras vezes 0empresario e urn s6. Ocorre que 0
capital industrial submete, cada vez mais ampla e profundamente,
13 Obras nas quais examinam-se aspectos da aQaoestatal no mundo rural: Ruy
Miller Paiva, S. Schattan e C. F. Trench de Freitas, Setor Agricola do Brasil,
Sao Paulo, Secreta ria da Agricultura, 1973; Jose de Souza Martins, Capita-
lismo e Tr f Jdicionalismo, Sao Paulo, Livraria Pioneira Editora, 1975; Jose
C. A. Gnaccarini, Estado, Ideologia e At;:ao Empresarial na Agroindustria
At;:ucareira do Estado de Sao Paulo, Sao Paulo, 1972, mimeo; Or iowaldo
Queda, A Intervent;:ao do Estado e a Agroindustria Acucareira Paulista, Pira-
cicaba, 1972, mimeD; Tamas Szmrecsanyi, Contribuit;:ao a Analise do Pla-
nejamento da Agroindustria Canavieira do Brasil, Campinas, 1976; Roberto
M. Perosa Jr ., A Industria no Campo, Campinas, 1977, mimeo; Octavia
lanni, A Luta pela Terra, Saa Paulo, 1977, mimeo.
a agricultura, ou seus ramos, as exigencias da reproduc;;lloe expan-
sao desse mesmo capital.Ao mesmo tempo que se desenvolvem as forc;;asprodutivaS"7
as relac;;oesde produc;;ao no campo, desenvolve-se a classe 0 eraria
rural. Ainda que ela nao se expanda permanentemente, em termos
qu~titativos, e inegavel que ela se modifica e amadurece qualitati-vamente; desenvolve-se economica e politicamente. Em varias par-
tes do pais, ocorre a expropriac;;ao de camponeses - isto e, sitian-
tes, posseiros, rendeiros, parceiros e outros - de seus meios de
produC;;llo.Tambem ocorre a expulsao de colonos, moradores e
outros residentes das terras de fazendas, criac;;oes, plantac;;oes ou
usinas de ac;;ucar .Inclusive verifica-se a expulsao de indios de suas
terras e a transformac;;ao deles em assalariados. Pouco a pouco,
formam-se dois contingentes principais de operarios agricolas:
os permanentes e os temporarios. Uns, os permanentes, em menor 1numero, sao aqueles contratados para trabalhar ao longo do an?,
ou mesmo anos seguidos, para a mesma empresa ou fazendeiro. As
vezes, sao residentes nas terras das fazendas, plantac;;oes, criac;;oesou usinas; outras, residem fora ou longe das terras onde trabalham.
Outros, os temporarios, sempre residem fora ou longe das terras
onde trabalham. Sao chamados "b6ia-fria", por exemplo, no
Estado de Sao Paulo, "corumba", em Pernambuco, ou "peao",
na Amazonia, entre outras denominac;;oes, pejorativas ou nao. Na
maioria dos casos, os trabalhadores assalariados temporarios sao
arregimentados por urn empreiteiro de mao-de-obra, que pode
denominar-se "gato", "caminhoneiro" ou outro termo, pejora-
tivo ou nao. E este, 0empreiteiro, que contrata a quantidade de
trabalhadores e as condic;;oessob as quais eles devem trabalhar para
o fazendeiro ou a empresa, nas usinas, fazendas de gada ou plan:)
tac;;oes. Rangel: "A monocultura agricola e a pecuaria, na medida em
que, neste ultimo caso, essa atividade passa a estagios superiores,
tendendo a converter-se em explorac;;aointensiva, caracteriza-se por
uma demanda altamente flutuante de mao-de-obra, segundo a esta-
c;;aodo ano. Sua saude economica e financeira exige, pois, urn mer-
cado especial de mao-de-obra, caracterizado por uma oferta forte-
mente elastica. Enquanto esse tipo de atividade constituia excec;;ao
ou estava ainda nos estagios iniciais do seu desenvolvimento, essa
oferta de mao-de-obra era assegurada pela populac;;ao camponesa,
instalada no latifundio convencional circunvizinho, ou no interior
da pr6pria fazenda, em processo de conversao .... Trata-se de criar ,
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em locais previamente escolhidos, aldeias destinadas a rece ber 0
trabalhador tempon\rio com suas familias .... Ora, como seria
aberrante, por hostil aos interessesfundamentais da fazenda, exigir
estabilidade da ocupa~ao minifundiaria dentro da fazenda, urge
que essa estabilidade seja assegurada fora de/a. A estabilid ade da
oferta de mao-de-obra a monocultura, tanto em termos de q uanti-dade como de salario, retiraria os 6bices presentes a expansao do
capitalismo no campo" .14
Brandao Lopes: "Do modo como esta empresa (agropecua-
ria) esta surgindo no Brasil, os empregados permanentes, que tr adi-
cionalmente soem guardar pelo menos resquicios de rela~oes nao
capitalistas, tendem a restringir-se ao minima e aquela mao-de-
obra de mais alta qualifica~ao (tratoristas, contador, etc.). Pr oces-
sa-se a expulsao de colonos e moradores e cria-se assim urn proleta-
riado rural puro, (chamados 'volantes' ou 'b6ias-frias', em Sao
Pauld, 'trabalhadores de fora' ou 'clandestinos' na Zona da Mata
nordestina), que se aglomera em novos bairros rurais a beir a das
estradas ou na periferia das cidades e vilas. A este proletar iadorecorrem as empresas agricolas para a maior parte das fainas ru-
rais, utilizando-se do sistema de empreiteiros de turmas. A pr odu-
~ao, com 0declinio das atividades para autoconsumo, especializa-
se e a popula~ao residente nessas empresas passa a recorrer, para a
satisfa~ao de suas necessidades, ao mercado. Passando a vigir com-
pletamente a l6gica do capital, mecanizam-se as tarefas agricolas,
elevando-se a composi~ao organica do capital". 15
Conceirao d'[ncao e Mello: "E comum dentre os empresarios
rurais, a referencia ao Estatuto do Trabalhador Rural, como prin-
cipal responsavel por este tipo de explora~ao (intermitente) do tra-
balho no meio rural. Entretanto, os estudos de caso realizad os r eve-
laram que, embora muitas vezes 0empregador adote 0 sistema decontrata~ao de trabalhadores 'b6ias-frias', como urn meio de f ugir
aos compromissos trabalhistas, 0que the determina sobremaneira
esta possibilidade e que sempre ha disponibilidade de mao-de-obra
na regillo". 16 "A medida, todavia, que a mecaniza~llo vai sendo
14 Ignacio Rangel, A Questao Agraria Brasileira, Recife, Comissao de Desen-
volvimento EconOmico de Pernambuco, 1962, pp. 60-61.
15 Juarez Rubens Brandao Lopes, Tipo de Areas Rurais no Brasil, Sao Paulo,
Caderno CEBRAP n.D 26, 1975, p. 8. Consultar tambem: Jose P. Gr aziano
da Silva e Jose G. Guasques, Diagn6stico Inicial do Volante em Sao Paulo,
Botucatu Faculdade de Cit'lncias Medicas e Biol6gicas, 1976.
16 Maria Co'ncei9ao d'incao e Mello, a "B6ia-Fria"; Acumular;:ao e Mis{uia,
Petr6polis, Ed. Vozes, 1975, p. 117.
introduzida na agricultura, em decorrencia da pr6pria acumula~ao,
dos financiamentos bancarios e da eleva~ao do pre~o da terra, tra-
zendo consigo 0aumento da produtividade do trabalho e a conse-
qtiente diminui~ao da mao-de-obra necessaria, torna-se mais vanta-
josa para 0
empresario rural a explora~ao da for~a de trabalho pelosistema de salariato. Esta solu~ao desonera 0 proprietario dos com-
promissos com as instala~oes e a manuten~ao das numerosas fa,?i-
lias dos arrendatarios e parceiros, alem d e permitir-lhe urn malOr
controle sobre a qualidade da pr odu~ao, feita agora em melhores
condi~oes tecnicas. E quando 0Estatuto do Trablhador Rural a~a-
rece como varia vel significativa na op~ao, pela contrata~ao do dla-
rista." 17
Essas modifica~oes ocorridas na economia e sociedade agra-
rias provocaram 0desenvolvimento das classes sociais no campo,
principalmente 0 proletariado e a burguesia; e n?vos relacionamen-
tos entre 0campo e a cidade, a industria e a agncultura. Desenvol-
veram-se dois setores importantes no interior do proletariado rural;
o assalariado permanente e 0assalariado temporario. Ao mesmo
tempo, 0 proletariado rural e 0 proletariado u~ba.no passa:~m a
conviver cada vez mais nos mesmos espa~os economlcos e politiCOS.
Entrou em nova fase 0desenvolvimento do mercado nacional (ru-
ral e urbano, agricola e industrial) de for~a de trabalho. ,
A medida que se expandiu e diversificou a empresa agncola,
desenvolveu-se a legisla~ao do trabalho no campo. 0 Estado pas-
sou a estabelecer diretrizes juridicas, ou melhor, condi~oes politico-
econ6micas destinadas a organizar ou reorganizar as rela~oes de
produ~ao. t claro que tern havido e continua a ha-:er razoavel des-
compasso entre 0 progresso da empresa, a prospendade do empre-
sario a organiza~ao politica da burguesia agraria, por urn lado, e
as c~ndi~oes politicas de negocia~ao do assalariado permanente,assalariado temporario ou 0 conjunto do proletariado rural, por
outro. 0 empresario, individualmente ou como classe, tern acesso
as exigencias governamentais, bancos, contabilida,de ~e cus.tos,
garantia dos pre~os minimos para as suas mercadonas, Incentlvos
fiscais facilidades para a exporta~ao, reservas de mercado. 0 assa-
lariad~ ainda tern poucas possibilidades de defender os seus interes-
ses, com base na legisla~ao vigente. 0 seu sindicato foi basta~te
burocratizado, atado ao aparelho estatal e orientado para 0asSlS-
tencialismo.
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Com as modifical;oes havidas na economia e sociedade agra-
(ria, desenvolveram-se nao apenas as relal;oes de produl;ao e as clas-
ses sociais. Tambem generalizaram-se e aprofundaram-se os anta-
gonismos sociais. Simultaneamente, e por isso mesmo, tornou-se
conveniente, para a empresa, 0empresariado, a reprodul;ao do ca- pital, que 0governo estabelecesse limites a atividade politica dos
assalariados, em conjunto e em seus principais setores. Nao interes-
sava a empresa que as relal;oes de produl;ao ficassem totalmente ao
acaso das forl;as politicas em jogo. Mesmo porque 0sindicato r ural
e as ligas camponesas, ou outras organizal;oes de trabalhadores do
campo, estavam fazendo propostas e encaminhando solul;oes que
pouco convinham aos interesses da empresa e do conjunto da bur-
guesia agraria. Esse foi 0contexto no qual desenvolveu-se uma f or-
I ~alizal;ao mais "burocratica" das relal;oes de produl;ao na agr icul-
~ura brasileira.
"
A questao agrariae as formas do Estado*
No Brasil, a questao agraria e urn elemento importante para expli-
car tanto as diversas formas adquiridas pelo Estado como as princi-
pais rupturas ocorridas na hist6ria deste. No Imperio e na Republi-
r ca, os problemas da sociedade agraria marcam bastante, e as vezes
de modo decisivo, a fisionomia do Estado brasileiro. 0 poder mo-
'-- derador, a politica dos governadores, 0Estado Novo, 0 populismo .(
e 0militarismo tern muito a ver com as forl;as sociais do campo;
naturalmente sempre em combinal;ao com as da cidade. Da mesma
maneira, a abolil;ao da escravatura, a proclamal;ao da Republica, a
Revolul;ao de 1930, 0golpe de Estado de 1945 e 0golpe de Estado
de 1964 revelam a presenl;a e influencia das controversias e interes-
ses que se desenvolvem no campo.
E verdade que as formas mais notaveis do Estado brasileiro,
bem como as suas rupturas, sao inexplicaveis se nao se levam em
conta 0Exercito, a Igreja e 0 imperialismo. Outra vez, no Imperio
e na Republica, essas sao tres "instituil;oes" decisivas. Na hist6ria
do povo brasileiro, desde a Independencia, a questao agraria, 0
* Inedito, escrito em setembro de 1983. 0 tema deste trabalho foi objeto de
uma conferE?Jncia realizada no Departamento de CiE?JnciasSociais da Universi-
dade Federal do Rio Grande do Norte, em Natal, a 23 de setembro do mesmo
ano.
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l i T O
@~m~• Amazonia: Expansao do Capitalismo - F. H . Cardoso •
• Brasil-Hist6ria - Vol. 1 - Colonia - A. Mendes Jr ., R. Maranhao e
L. Roncari (orgs.J
• Brasil-Hist6ria - Vol. 2 - Imperio - A. Mendes Jr., R. Maranhao e
L. Roncari (orgs. J
• Cidade e Campo no Brasil - Manoel C. Andrade
• Da Colonia ao Imperio - Um Brasil para Ingles ver e Latifundiario
Nenhum Botar Defeito - Lilia Moritz Schwarcz e Miguel Paiva
• Economia Brasileira - Uma Introduc;:ao Critica - L. C. Bresser
Pereira
• Evoluc;:aoPolitica do Brasil - Caio Prado Jr .
• Formac;:aodo Brasil Contemporaneo - Caio Prado Jr .
• Getulio Vargas e a Oligarquia Paulista - Vavy Pacheco Borges
• Hist6ria da Agricultura Brasileira - Francisco Carlos T. Silveira e
Maria Yedda Linhares
• Hist6r ia Economica do Brasil - Caio Prado Jr.
• 0 Massacre dos Posseiros - Ricardo Kotscho• Ouestao Agraria - Weber , Engels, Lenin, Kautsky, Chayanov e Stalin
- Jose Graziano da Silva e Verena Stolcke (orgs. J
• A Ouestao Agraria no Brasil - Caio Prado Jr.
• A Revoluc;:aode 1930 - Boris Fausto
ColeC;:80 Primeiros Passos
• 0 que e Ouestao Agraria, - Jose Graziano da Silva
ColeC;:80 Tuclo e Hist6r~ ,:'
• A Burguesia Brasileira ~'Jacob Gor~nder
• Os Caipiras de sao 'Paulo - Carlos R;, Brandao
• A Civilizac;:aodo Ac;:ucar ~ Vera L.. A. Ferlini
• 0 Coronelismo - Uma Politica'de Compromissos - Maria de
Lourdes Janotti
• A Crise do Escravismo e a Grande Imigrac;:ao - P. Beiguelman
• A Economia Cafeeira - J. R. do Amaral Lapa
• Nordeste Insurgente (1850-1890) - Hamilton de M . Monteiro
• Reforma Agraria no Brasil-Colonia - Leopoldo Jobim
ColeC;:8o Primeiros Voos
• 0 Antigo Sistema Colonial - J. R. Amaral Lapa
• Ouestao Agraria e Ecologia - Francisco Graziano Neto
. ' .Orlgens agrarlaS
do Estado brasileiro
i P1984
RETOM A DO
~~~I< g _ ,...................•... _ ...
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B6ia-f ria e mais-valia(Classes sociais rurais 132
/Lutas sociais no cam~~" 142A sociedade ,. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 155
agrana. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 160Formas sociais da ter ra (,'7'] .
..................................
~,TERCEIRA PARTE
Agricultura e Estado
A crise do caf e e a Revolw;ao de 1930As ligas camponesas e a cria~ao da S U D E N - E ' .o Estado e 0trabalhador rural .
A quesHlo agraria e as formas d~ 'E;t~d'; ....................
192
20 6
221
241
Prefacio _
E possivel dizer que todos os momentos mais ~otaveis da hist6ria
da sociedade brasileira estiio influenciados pela questiio agraria. As
rupturas politicas das u/timas decadas, quando 0 Brasil ja e um pais
bastante urbanizado e industria/izado, tambem revelam essa injluen-
cia. A questiio agraria esta presente na transi~iio da Monarquia a
Republica, do Estado o/igarquico ao popu/ista, do populista ao
mi/ itar, na crise da ditadura mi/itar e nos movimentos e partidos
que estiio lutando pela constru~iio de outras formas de Estado. Ha
muito campo nessa hist6ria.
A sociedade brasileira sempre esteve marcada por sua dimen-
siio agraria. A despeito das aitera~oes ocorridas desde a e xtin~iio
da escravatura, continuam a ser importantes as bases agrarias dasociedade nacional. A industria/iza~ilo e a urbaniza~iio, que se
acent uaram desde 1930, modijicaram largamente 0mundo agrario.
Pode-se mesmo falar em industria/iza~ilo e urbani za~iio do campo.
Houve uma revolu~ilo na agricultura. Do ponto de vista das classes
dominant es , 0 sertilo ja virou mar e 0mar ja virou sertiio.
A cidade e a indUstria nilo deixam de ter rai zes agrarias. Em
termos sociais , economicos, polit icos e cuitur ais , e f or t e a presen~a
do mundo agrario no mundo urbano. As classes sociais agrarias e
urbanas misturam-se e injluenciam-se em muitos lugares. Ao lado
d as pecu/iaridades regionais, ganharam dimensoes nacionais. Do
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ponto de vista dos camponeses e operarios rurais, juntamente com
os operarios urbanos, a metajora do sertao e mar ainda nao se des-lindou. Implica outra revolw;ao.
E verdade que ocorrem periodicos surtos de rearticularao
entre a cidade e 0campo. Nem por isso, no entanto, deixam de
recriar-se especijicidades lQe ca. Ha produroes culturais, jeitos de
olhar 0 tempo, entonaroes no modo dejalar, estilos de jazer poli-
tica, jormas de organizar 0 trabalho, produzir e reproduzir, que
expressam diversidades de ca e lQ. Elas podem ser basicas para a
compreensao das rearticularoes que injluenciam a narao como um
todo. Coloca-se, pois, a conveniencia de continuar 0estudo dasorigens agrarias da sociedade e do Estado.
Os trabalhos que compoem este livrojoram escritos em diver-
sas ocasioes, entre 1961 e 1983. A primeira parte, intitulada "A
Classe Operaria Vai ao Campo", compreende uma pequena mono-
grajia completa. A segunda e a terceira parte, intituladas respecti-
vamente "Classes Agrarias e Sociedade Nacional" e "Agricultura e
Estado", reunem estudos autonomos, escritos em dijerentes opor-
tunidades. Em cada texto, uma nota inicial indica a data da publi-carao, ou a data em que joi escrito e a condirao de inedito. Todos
joram revistos para esta publicarao. No conjunto, os trabalhos que
compoem este livro abarcam um tempo que vai da abolirao daescravatura a 1983.
Ha temas que reaparecem aqui e acolQ. Sao varios os que res-
soam em diversos escritos, algumas vezes repetidos, em geral desen-
volvidos. E claro que a sequencia dos textos revela alguma sequen-
cia na analise de temas, elaborarao de ideias, desenvolvimento
da linguagem, alargamento da rejlexao. Ha muito campo nessa his-toria.
,.A classe operarla
vai ao campo*
. b Iho teve duas edir;;Oesanteriores, como* Terceira edir;;ao, revista. Este tra d
aa do Centro Brasileiro de An~lise e Pla-
Caderno CEBRAP n.o 24, em c~-e Ir;; 0 1977.nejamento com a Editora Brasillense, em 1976 e