a revolta do bailundo - shana melnysyn, 23 agosto 2013

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Conflitos de Autoridade A Revolta do Bailundo de 1902 Shana Melnysyn, MA, ABD Antropologia e História Universidade de Michigan, EUA [email protected]

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Page 1: A Revolta do Bailundo - Shana Melnysyn, 23 Agosto 2013

Conflitos de Autoridade

A Revolta do Bailundo de 1902

Shana Melnysyn, MA, ABDAntropologia e História

Universidade de Michigan, [email protected]

Page 2: A Revolta do Bailundo - Shana Melnysyn, 23 Agosto 2013

Criar uma imagem da realidade social de

Angola colonial no final do século 19/início do século 20

Esclarecer o contexto internacional Entender o contexto local Identificar os fatores que levaram à revolta Estabelecer uma hierarquia de importância de

causas Dar a devida importância aos fatores não

económicos

Objectivos do Estudo

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Até que ponto é possível saber “a verdade”

em termos históricos? Muitos historiadores reconhecem que as

fontes que temos nunca estão completas, e nenhuma fonte pode ser objectiva

Nunca podemos “ouvir as vozes” de todas as pessoas que participaram de um evento, e as vozes que sobrevivem em forma escrita são as vozes das pessoas que tinham o poder

História como disciplina académica

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Qual é a função da memória na construção

de histórias? A memória do ser humano é perfeita? Ou pode

falhar? É completa ou parcial? Documentos primários = recordações

particulares de eventos História oral = versões de eventos que têm

sido alteradas pelo tempo, pelas circunstâncias políticas, e por serem contadas várias vezes e por várias pessoas

História e Memória

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Quais foram as forças principais

na história colonial de Angola no fim do século 19, início do século

20?

História de Angola

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O estado colonial (português)

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O comércio (de escravos/serviçais,

borracha, cera, marfim)

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O poder das autoridades tradicionais (sobas, reis)

(Ekuikui II)

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As missões cristãs (Católicas e

Protestantes)

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Portugal nunca teve facilidade na conquista de

Angola – sempre houve muita resistência em todas as regiões de Angola

Historiador francês René Pélissier escreveu dois livros sobre as revoltas de Angola

A Revolta do Bailundo (1902) foi a guerra mais importante na conquista do planalto de Angola

Revoltas na História de Angola

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O Planalto Central

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Muito importante em termos de comércio Foi a ligação entre o porto de Benguela e o

interior do continente africano – quem controlava o planalto controlava o comércio Atlântico

Comerciantes tinham que pagar impostos e tributos às autoridades locais, e pedir a autorização para passar com caravanas

Entre 1890 e 1904, Portugal implementou uma política agressiva de dominação militar sobre os reinos Ovimbundu (Bailundo, Bié, Huambo)

A importância do planalto

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Mantinham muita autonomia até o século 20 Tinham uma longa história de dominação do

comércio, comunicação, e transporte entre Benguela e o interior do continente

Era um povo bem integrado com as forças e valores do capitalismo

Mesmo assim, o povo mantinha tradições muito fortes com respeito às autoridades tradicionais, inclusive os ocimbanda (curandeiros)

A importância dos Ovimbundu

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O preço da borracha, caiu dramaticamente

no mercado mundial Dívida de aguardente – (Mutu-ya-Kevela) Mutu-ya-Kevela insultou os soldados, dizendo

que não respeitava a autoridade portuguesa Segundo a história oral, uma das mulheres do

Rei teve relações com um comerciante português, e o Rei ficou furioso com essa falta de respeito

O que aconteceu em 1902?

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Concorrência com Grã Bretanha Muita pressão internacional para cumprir com

as exigências da Conferência de Berlim (1884-85)

Ocupação efetiva

O que aconteceu em 1902?

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O recém-coroado Rei do Bailundo, Kalandula,

foi chamado à fortaleza e foi preso Os rebeldes, liderados por Mutu-ya-Kevela,

amarraram e mataram alguns comerciantes Os missionários foram ao campo de guerra e

tentaram negociar entre os rebeldes e as autoridades, mas não deu certo

O que aconteceu em 1902?

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Mutu-ya-Kevela e milhares de rebeldes

atacaram a fortaleza do Bailundo O planalto todo ficou em revolta, os

Ovimbundu mataram comerciantes e queimaram casas de comércio, fechando a comunicação entre o litoral e o interior durante meses

No final, os portugueses tinham potência de fogo superior, e os Ovimbundu foram trucidados

O que aconteceu em 1902?

Page 23: A Revolta do Bailundo - Shana Melnysyn, 23 Agosto 2013

Alguns rebeldes conseguiram fugir até

às montanhas do Bimbe Ficaram lá a resistir o domínio português

até 1904...

Resistência até o fim: Bimbe

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Resistência até o fim: Pedras de Kandumbu

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Monumentos contraditórios

“Homenagem a Coluna do Sul - que aqui travou em 18 e 19 de setembro de 1902, os últimos combates para a ocupação do Huambo”

19-09-1948

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Monumentos contraditórios

“Governo Provincial do Huambo – Administração de Chicala Choloanga”

“Memorial Heróis da Pedra de Candumbo”

16 maio 2009

Page 30: A Revolta do Bailundo - Shana Melnysyn, 23 Agosto 2013

Não há só uma razão que tenha levado à

Revolta do Bailundo Uns historiadores tem argumentado que foi a

primeira instância de unidade étnica dos Ovimbundu

Mas há muita evidência ao contrário – Bailundo e Bié ainda eram rivais, e o Rei do Bié não participou da Revolta

Houve casos de traições e alianças com os portugueses durante a revolta

Conclusões

Page 31: A Revolta do Bailundo - Shana Melnysyn, 23 Agosto 2013

Os missionários protestantes acreditavam que a

Revolta fosse uma demostração de desgosto com o sistema de trabalho forçado e o comércio de “serviçais” mandados para São Tomé

Os missionários eram contra a escravatura e o aguardente e uma grande parte da missão deles em Angola foi a abolição

Os líderes da Revolta eram elites, autoridades tradicionais, que também vendiam e compravam serviçais

Conclusões

Page 32: A Revolta do Bailundo - Shana Melnysyn, 23 Agosto 2013

Causa primária: a necessidade de Portugal

de legitimar o seu projeto colonial nos olhos das potências europeias (principalmente Grã Bretanha), mas também nos olhos dos angolanos

Os colonos preocupavam-se muito com a sua falta de prestígio, dentro e fora de Angola

Queriam tomar de vez o planalto para mostrar o seu poder e solidificar sua soberania

Conclusões

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Causas secundárias: A queda do preço da borracha Crise de autoridade entre os reinos

Ovimbundu Falta de entendimento em termos sociais (a

dívida de aguardente, o caso da mulher do rei) Descontentamento com os abusos das

autoridades portugueses e dos comerciantes contra os Ovimbundu

A questão de abusos foi a única constante nas análises após a Revolta – cada grupo culpava ao outro

Conclusões

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Conflitos de Autoridade

A Revolta do Bailundo de 1902

Shana Melnysyn, MA, ABDAntropologia e História

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