apresentação revolta da chibata

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  • 8/8/2019 Apresentao Revolta da Chibata

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    Centro Universitrio La Salle -UNILASALLE

    Revolta daChibata

    Disciplina: Histria do Brasil IIIProfessora: Ana Maria Colling

    Cisane Bordin de Almeida

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    Rio de Janeiro, 1910.

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    22 de novembro

    O Marechal Hermes da Fonseca, recmempossado presidente, era recebido com pompas no

    Clube da Tijuca, templo da elite carioca.Sua comemorao, porm, interrompida por

    disparos que rasgam a noite. Em seguida, um

    telegrama informa o marechal que os marujostomaram os mais poderosos navios da nao.Marinheiros negros haviam tomado a esquadra.

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    A Repblica

    A Repblica chegou ao pas. O cenrio parecia

    ideal para profundas mudanas na sociedade brasileira.No entanto, apenas a mudana da forma degoverno no seria suficiente para apagar as cicatrizesarraigadas na vida do povo.

    Uma dessas cicatrizes foi sentida ainda pormuito tempo em nossa Marinha de Guerra.

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    Marinha nacional

    A instituio era desigual aos seus desde o incio.O prprio recrutamento era muitas vezes traumtico, j que apesar da Constituio determinar o

    voluntariado, o quadro era completadocompulsoriamente. Os pobres, descendentes deescravos, os filhos tidos como rebeldes, enfim; a massa

    humana disponvel era levada para servir na Armada.Como tinham mais dificuldade em encontraroutras alternativas de trabalho, muitos negros juntaram-se s fileiras da Marinha.

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    No obstante, as condies de trabalho da Armada eram as piores possveis. Alm do baixosoldo, a comida era racionada e o trabalho abundante.

    No havia acomodaes aos subalternos, que dormiamem redes espalhadas pelo navio.

    Como se no bastasse, a disciplina rgida sempre

    feria os mais fracos. Os castigos eram os mais diversos,desde a perda de benefcios como licenas, vinhos,rebaixamento, reduo do ordenado, perda do tempode servio, solitria e a temidachibata.

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    A chibata e seus iguais

    A temida chibata no era o nico castigodestinado aos marinheiros. Mrio Maestri, ao citar umromance histrico de Octvio Brando, O Caminho,

    nos fala tambm de palmatrias, ferros (sim, osmesmos do tempo da escravido) e da sueca,especialmente detestada.

    Como se no bastasse, no haviam critrios na

    aplicao dos castigos, nem cuidado com a sade doindisciplinado. Uma briga, xingamentos, ou mesmoolhar de frente para um superior poderia levar omarinheiro perdio.

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    A modernizao da Armada

    Vivo contraste com as condies de trabalho dosmarinheiros eram as naves em que eles labutavam. Amodernizao da Armada foi proposta pelo Baro do

    Rio Branco, e segundo o prprio, para quepudssemos falar com os canhes.O armamento comprado foram dois

    encouraados (Minas Gerais e So Paulo), trs

    cruzadores, seis contratorpedeiros, seis torpedeirosmenores, trs submarinos e um navio carvoeiro. AMarinha de Guerra brasileira estava entre as maioresdo mundo poca.

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    Minas Gerais

    So Paulo

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    Esta modernizao da Armada mobilizou osmarinheiros brasileiros, que foram mandados Inglaterra para aprender a operar as mquinas. L, aoque parece, teriam conhecido a Revolta do

    Encouraado Potemkin. Esse episdio ficariaprofundamente marcado no imaginrio desteshomens.

    Os marinheiros ingleses no sofriam castigosfsicos desde 1881! J no era possvel que, em plenosc XX, sofressem como escravos fugidos! Era umgrotesco disparate: trabalharem nas mais modernasarmas de sua poca e serem tratados como animais.

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    De volta ao Brasil...

    Era o momento de mobilizao. No retorno aopas, os marujos se organizaram clandestinamente.Usavam hotis e pousados como ponto de encontro

    para esperar a concluso dos navios e conspirar.Edmar Morel, o mais famoso bigrafo de JooCndido - figura proeminente na revolta o marujocontava que elas j tinham se dirigido jornais, na

    expectativa de conseguir apoio do restante de populao.Mas apesar das recusas, prosseguiram no seu intento. Aorganizao foi rigorosa, embora os detalhes do plano deao ainda sejam obscuros.

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    Os lderes

    O nome que sempre nos vem mente quandolembramos da Revolta da Chibata o de Joo Cndido

    (dreadnougth Minas Gerais). Porm alm dele,marinheiros como Francisco Dias Martins e RicardoFreitas (cruzador Bahia), Manuel Gregrio doNascimento (So Paulo) entre outros, tem atuao

    destacada. Alm deles, marinheiros de outros naviostambm estariam envolvidos. E foi a bordo docruzador Bahia que tenso tomou conta da

    marujada.

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    A viagem ao Chile

    Foi numa viagem ao Chile que esta tensoganhou contorno mais frenticos. Durante esta viagemdiversos marinheiros teriam sido chicoteados, embora

    os livros registrassem apenas a penasolitria. Quandooito marinheiros foram castigados por jogo a dinheirodepois do toque de queda.

    Esse castigo teria feito que Francisco Martins

    escrevesse um alerta annimo ao comandante daembarcao. Sob o pseudnimo de Mo Negra, eleteria pedido no bilhete o fim da chibata e alertavacuidado.

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    O cmulo

    Foram porm as 250 chibatadas levadas porMarcelino Rodrigues de Menezes que precipitaram os

    acontecimentos. O motivo foi mais uma vez pequenocomparado ao castigo: um leve corte de navalha norosto num cabo protegido pela oficialidade. O castigofoi aplicado como sempre: em frente toda a

    tripulao, totalmente fardados e dispostos no convs.A revolta marcada para o dia 25 foi adiada para

    o dia 22, devido aos nimos exaltados da tripulao.

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    Naquela noite o clarim

    no pedia silncio e simcombate

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    A tomada da nave

    A tomada do navio foi rpida. Joo Cndido adescreveu da seguinte maneira: Cadaum assumiu seuposto e os oficiais de h muito j estavam presos nosseus camarotes. No houve afobao. Cada canho

    ficou guarnecido com cinco marujos, com ordem deatirar para matar contra todo aquele que tentasseimpedir o levante. (...) s 22h30, quando cessou a lutano convs, mandei disparar um tiro de canho, sinal

    combinado para chamar fala os navioscomprometidos.Foi uma luta rpida, porm intensa, nela tombou

    o comandante do Minas Gerais, Joo Batista dasNeves.

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    Marinheiros no Minas Gerais

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    As tentativas dos oficiais de reconquistar aembarcao foram frustradas, j que eles no tinhamapoio da tripulao. O comando do navio foi dado a

    Joo Cndido. No So Paulo foi tudo ainda maisrpido, pois os oficiais sabiam que era improvvel quebatessem os marujos. Estes demonstraram cuidado aoevitar derramamento de sangue, pois sabiam da sina de

    seus irmos russos. Alm disso, j tinham a certeza davitria.Enquanto no So Paulo tudo correu

    calmamente, no Bahiaa situao foi mais dramtica.

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    No Bahiao primeiro morto foi um marinheiro,seguido do primeiro-tenente Mrio Alves, que resistiua acabou baleado depois de duas horas de combate.

    O Deodoroseguiu o Bahia adeso, bem comoos navios-escola Benjamin Constant e o Primeiro deMaro e o cruzador Repblica. Neste ltimos os

    oficiais foram apenas retirados das embarcaes.As naves rebeladas repeliram os fracos ataques eenfim, a revolta venceu.

    No total morreram vinte marinheiros.

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    As tentativas do governo

    O marechal imediatamente deu ordens paraatacar os rebeldes. Mas nada planejado surtiu efeitos.Misteriosamente, ordens perdiam-se no caminho, a

    munio para o contra-ataque sumia e os telegrafistasinformavam secretamente os marujos das medidas.

    As exigncias dos marujos eram justas: pediam o

    fim da chibata, melhores salrios, e a reforma docdigo de disciplina, bem como anistia para osmarinheiros envolvidos no evento. Mas o governo nocederia facilmente um bando de marinheiros negros.

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    Negociaes

    O marechal imediatamente deu ordens paraatacar os rebeldes. Mas nada planejado surtiu efeitos.Misteriosamente, ordens perdiam-se no caminho, a

    munio para o contra-ataque sumia e os telegrafistasinformavam secretamente os marujos das medidas.

    As exigncias dos marujos eram justas: pediam o

    fim da chibata, melhores salrios, e a reforma docdigo de disciplina, bem como anistia para osmarinheiros envolvidos no evento. Mas o governo nocederia facilmente um bando de marinheiros negros.

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    No Senado, as opinies divergiam. Os rebeldeshaviam disparados dois tiros de aviso contra a cidade erealizavam em alto-mar manobras que demonstravam

    sua capacidade em bombardear a cidade. Queriamapenas ser tratados como cidados, a todo momentodeixavam clara sua submisso Repblica, no entanto,

    no retrocederiam at conseguir o que queriam.Curiosamente, o senador baiano Rui Barbosa que anteriormente formulara uma medida quepermitia os castigos era o defensor da marujada.

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    Marujos bordo do Minas Gerais ede lenovermelho, Joo Cndido.

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    A bordo do Minas Gerais

    Jos Carlos de Moraes, oficial reformado edeputado pelo Rio Grande do Sul, foi o escolhido paranegociar com os marujos. Quando subiu bordo do

    Minas Gerais, ficou surpreso com a ordem queimperava na embarcao. Nem os cofre nem ascabinas dos oficiais haviam sido violadas. Nada deexcessos na bebida e no jogo.

    Os marinheiros deixavam claro com isso que seuintento no era mudar a ordem estabelecida, mas simconquistar condies dignas de continuar no servio daArmada.

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    O Malho, 03 de Dezembro de 1910.

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    O marinheiro chicoteado, Marcelino, foiavaliado pelo comandante como umatainha lanhadapara ser salgada .

    J no Senado, Pinheiro Machado insistia emno conceder a anistia a marinheiros armados. Dianteda demora na disposio da anistia, os marinheirosacabam por enviar telegrama ao Senado dizendo que

    confiam em sua palavra e que esperariam a anistiadesarmados. s 22h do dia 24 os navios entravamnovamente na Guanabara.

    Possivelmente tenha sido essa sua perdio.

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    A populao apoiava os rebeldes,

    e o governo teve de ceder -temporariamente - s suaspresses.

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    A traio

    Mesmo com a anistia e o fim da chibata osmarinheiros sabiam que o governo no os receberia debraos abertos. Muitos cogitaram deixar a Marinha e

    fugir, embora poucos tenham o feito.J o governo se preparava para aplicar as devidaspunies aos revoltosos. Dias depois era aprovado emtodas as instncias o projeto que permitia a oficialidade

    expulsar sumariamente qualquer marinheiro cujapermanncia se tornar inconveniente disciplina.Ou seja, os marujos negros seriam chutados sem

    discrio e sem direitos,.

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    Porm nem o governo nem a Marinha estavamcontentes. Menos de um ms depois, nova tensosurge nos barcos da Armada. Dessa vez o comandante

    do cruzador-ligeiro Rio Grande do Sul d uma listados suspeito de conspirao ao comando da Marinhapara que sejam expulsos. Surpreendentemente, sualista recusada.

    O comandante Pereira da Cunha deixa aembarcao e vai terra. Quando retorna encontra osoficiais mobilizados. O segundo em comando haviamandado prender a ferros um marujo.

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    evidente que tudo foi previamente preparado.Os oficiais estavam a espera que os marinheiros viessem em socorro do colega. Ficaram esperando

    pacientemente a posio do comandante.A situao transbordou quando este assumiu o

    castigo. Minutos depois o navio estava s escuras, e a

    tripulao atacou. Mas antes mesmo da meia-noite asmarujos escutaram as ordens e abandonaram armas. Aagitao, no entanto, fora suficiente para agitar oBatalho Naval na Ilha das Cobras.

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    Vista da Ilha das Cobras: Morro do Castelo e ancoradouro.

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    O comeo do fim

    Das tentativas de adeso nova revolta temospoucos dados. Sabe, por exemplo, que poucos naviospoderiam auxili-los, j a maioria havia sido

    previamente desarmada.Os marujos da primeira revolta deixaram claro,por meio de telegramas constantes sua fidelidade aogoverno. Manobraram para longe, temendo aular a

    tripulao, e quando receberam ordens, atiraramcontra os companheiros do Batalho. Mas tudo jestava previamente decidido, independente de comoagissem.

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    A represso

    O batalho da Ilha das Cobras seria o exemplo.O governo invadiu o Minas Geraise o So Paulo, masa tripulao no esboou reao.

    Foram expulsos mais de 1.200 marinheirosnacionais. Mas aos lderes foi reservado outro destino. Joo Cndido foi preso com mais dezoito

    companheiros em uma cela na Ilha das Cobras. L j

    estavam presos mais de seiscentos marinheirosenvolvidos, ou no, na revolta. Em uma cela para doisprisioneiros, recm lavada com cal, o oficial os tranca eleva a chave consigo para a terra.

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    Era dezembro. A cal era para

    que os prisioneiros no gritassem,pois ficavam com a garganta seca.Os gritos durante a noite foram

    abafados com o rufar dostambores.

    Aos poucos, os gritos diminuram epela manh j haviam cessado.

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    Apenas dois sobreviveram, um deles JooCndido. Ele faleceria muito mais tarde, aos quase

    noventa anos. Sua memria, no entanto, guardou at ofim da vida os momentos de desespero vividos na ilhadas cobras. No bito dos companheiros, consta apenasinsolao.

    No s isso. Houve ainda o caso do navioSatlite . Sado do Rio com destino a Amaznia, partiudia 25 de dezembro de 1910. Nele estavam 250marinheiros envolvidos nas revoltas, junto com outrosprisioneiros comuns: prostitutas, desocupados, etc. Ocomandante recebeu uma lista, onde mais tarde foramassinalados com uma cruz os que sobreviveram a

    funesta viagem.

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    Tidos como subversivos, foram enviados paratrabalhos forados no Acre. Durante o trajeto,todavia, muitos prisioneiros foram assassinados,torturados esperando assim gravar a imagem datragdia nas cabeas dos revoltosos.

    O Governo era generoso: dava trabalho,

    contando que muitos padecessem na lida insalubre.Parte foi vendida a seringueiros, condenados umasemi-escravido.

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    Consideraes

    Como podemos encarar um movimento to caroa evoluo da cidadania nacional, no entanto legado aoesquecimento? Primeiro movimento organizado a

    alcanar mudanas efetivas, a Revolta da Chibata serveuma cicatriz da frgil compleio dos direitos bsicosem nosso pas.

    Entender e conhecer os fatos que desembocam

    na revolta dos marinheiros negros fundamental paraque possamos compreender a dificuldade doreconhecimento garantido pela Constituio: igualdadee liberdade.

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    Referncias

    MAESTRI, Mrio. Cisnes negros: uma histria da Revolta da Chibata. SoPaulo: Moderna, 2000. 112 p. (Polmica

    Revista de Histria da Biblioteca Nacional. Ano 5, n 53, fevereiro de 2010.

    Nossa Histria. Ano 3, n 29, maro de 2006.Revista de Histria da Biblioteca Nacional. Ano 1, n 9, abril de 2006.

    http://www.projetomemoria.art.br/