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1 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ SAMANTHA AMARAL DA CUNHA A RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA NA AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE Biguaçu 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

SAMANTHA AMARAL DA CUNHA

A RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA NA AÇÃO DE

INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE

Biguaçu 2008

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SAMANTHA AMARAL DA CUNHA

A RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA NA AÇÃO DE

INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE

Monografia apresentada à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI , como requisito parcial a obtenção do grau em Bacharel em Direito. Orientadora: Prof. MSc. Helena Nastassya Paschoal Pítsica

Biguaçu 2008

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SAMANTHA AMARAL DA CUNHA

A RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA NA AÇÃO DE

INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE

Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de bacharel e

aprovada pelo Curso de Direito, da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de

Ciências Sociais e Jurídicas.

Área de Concentração:

Biguaçu, 10 de novembro de 2008.

Prof. MSc. Helena Nastassya Paschoal Pítsica

UNIVALI – Campus de Biguaçu

Orientadora

Prof. Esp. Cláudio Andrei Cathcart

UNIVALI – Campus de Biguaçu

Membro

Prof. Esp. Pedro Joaquim Cardoso Júnior

UNIVALI – Campus de Biguaçu

Membro

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Dedico este trabalho aos meus queridos pais que com muito carinho e apoio, não

mediram esforços para que eu chegasse até esta etapa de minha vida.

Ao meu irmão, Douglas Amaral da Cunha, pelo apoio, pela compreensão e pela

amizade.

Ao meu namorado, pelo companheirismo, dedicação e incentivo oferecidos, antes e

durante a realização deste trabalho.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, aos meus pais, Antônio Cláudio da Cunha e Marlene

Cristina Amaral da Cunha, pelo esforço, dedicação e compreensão, em todos os

momentos da minha vida e principalmente neste.

Ao meu namorado e amigo, Felipe Gorges Corrêa, pela tolerância e compreensão

que encarou o meu mau humor em determinados momentos deste trabalho.

A professora Helena Nastassya Paschoal Pítsica, pela valiosa orientação, apoio e

incentivo, os quais foram indispensáveis para a realização deste trabalho.

Ao Dr. José Clésio Machado, pela paciência e oportunidade de aprendizado que me

proporcionou.

A amiga Giovanna Silveira da Silva, pelo apoio, atenção e ensinamentos oferecidos.

Aos meus amigos, Deyse Domingues, Denise Souza de Barros, Sônia Maria Kremer

da Silva, Cíntia da Silva e Luiz Fernando Cella, pelo incentivo, paciência e apoio

irrestritos durante a realização deste trabalho.

A Deus, por ter me iluminado em mais uma jornada e, finalmente, a todos que, de

uma forma ou de outra, contribuíram para o desenvolvimento deste trabalho.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do

Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de

toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Biguaçu, 31 de novembro de 2008.

Samantha Amaral da Cunha

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RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo demonstrar que a coisa julgada, em algumas

situações excepcionais, pode ser passível de relativização. Em ações que

fundamentam a sentença em provas inequívocas, em especial as ações de

investigação de paternidade, se após o trânsito em julgado, houver um outro tipo de

exame ou prova cientificamente confiável, não há porque, em nome da segurança

jurídica, manter uma inverdade científica. Isto porque somente após o advento do

exame de DNA, é que se tornou possível a exclusão ou afirmação da paternidade

com uma certeza quase que absoluta. Portanto, ocorrendo o transito em julgado da

sentença e decorrido o prazo de dois anos para a interposição da ação rescisória, o

que deve prevalecer? A segurança e estabilidade das decisões jurídicas,

decorrentes da coisa julgada, ou a dignidade da pessoa humana de saber a verdade

cientificamente comprovada sobre a sua paternidade? Com base nestas assertivas e

com base lógica dedutiva buscou-se as respostas legais, doutrinária e

jurisprudencial a esses questionamentos.

Palavra-chave: Coisa Julgada; Relativização; Investigação de Paternidade.

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RÉSUMÉ

Le présent travail a pour objectif de démontrer ce qui est jugé, dans quelques

situations exceptionnelles, peut être passible de relativisation. Dans des actions qui

basent le jugement dans des preuves évidentes, en particulier les actions de

recherche de paternité, si après le transit il y aura un autre type d'examen ou preuve

scientifiquement digne de confiance, il n'y a pas de raison qu’au nom de la sécurité

juridique d’entretenir un mensonge scientifique. Ceci parce que c’est seulement

après l'avènement de l'examen de ADN que l'exclusion ou l'affirmation de la paternité

s'est rendue possible avec une certitude presque absolue. Donc, en se produisant le

transite jugé de la sentence et écoulé le délai de deux ans pour l'interposition de

l'action rescisoire, qu’est ce qui doit prévaloir ? La sécurité et la stabilité des

décisions juridiques, liées à la chose jugée, ou à la dignité de la personne humaine

de savoir la vérité scientifiquement confirmée sur sa paternité ? Sur base de ces

assertives et avec une base logique déductive il s'est cherché les réponses légales,

doctrinale et la jurisprudentielle à ces questionnements.

Mot-clé : Chose Jugée ; Relativisation ; Recherche de Paternité.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................1

1 COISA JULGADA....................................................................................................3

1.1 CONCEITO E MODALIDADES..............................................................................3

1.1.1 Coisa Julgada Formal ......................................................................................6

1.1.2 Coisa Julgada Material.....................................................................................7

1.2 LIMITES DA COISA JULGADA..............................................................................9

1.2.1 Limites Subjetivos da Coisa Julgada ...........................................................10

1.2.2 Limites Objetivos da Coisa Julgada .............................................................11

1.3 EFICÁCIA PRECLUSIVA DA COISA JULGADA..................................................17

1.4 COISA JULGADA E SEGURANÇA JURÍDICA ....................................................20

2 AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE..................................................22

2.1 FILIAÇÃO ............................................................................................................22

2.1.1 Espécies de Filiação ......................................................................................23

2.1.1.1 Filiação Legítima ...........................................................................................24

2.1.1.2 Filiação Legitimada........................................................................................27

2.1.1.3 Filiação Ilegítima ...........................................................................................28

2.2 RECONHECIMENTO DOS FILHOS....................................................................30

2.2.1 Reconhecimento Voluntário..........................................................................31

2.2.1.1 Formas de Reconhecimento Voluntário dos Filhos .......................................32

2.2.2 Reconhecimento Judicial: Ação de Investigação de Paternidade.............35

2.3 LEGITIMIDADE PARA A AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE .........36

2.4 PROVAS NA AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE............................39

3 A RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA NA AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE

PATERNIDADE ........................................................................................................43

3.1 MEIOS DE DESCONSTITUIÇÃO DA COISA JULGADA .....................................43

3.1.1 Ação Negatória de Paternidade ....................................................................43

3.1.2 A Ação Rescisória..........................................................................................43

3.2 A COISA JULGADA E A COLISÃO ENTRE OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

..................................................................................................................................45

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3.3 A TESE DA RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA NA AÇÃO DE

INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE COM O ADVENTO DO EXAME DE DNA .......50

CONCLUSÃO ...........................................................................................................62

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................65

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto o estudo acerca da

relativização da coisa julgada nas ações de investigação de paternidade.

O seu objetivo é demonstrar que em algumas situações a coisa

julgada pode ser relativizada, posto que nas ações de investigação de paternidade,

em virtude da sua natureza, existem valores mais importantes que o mero

formalismo da coisa julgada.

Para a presente foi levantada a seguinte hipótese: embora não

se possa abandonar a regra da coisa julgada, que confere ao processo judicial

segurança e estabilidade jurídica, tem-se um valor mais alto, que é de o filho saber

quem é o seu pai e o pai saber se realmente gerou aquele filho. Por este motivo é

que a coisa julgada deve ser relativizada nas ações de investigação de paternidade

em que não houve o exaurimento de todas as provas, dando, assim, uma solução

mais justa a matéria, posto que o exame de DNA desmistificou a santidade da coisa

julgada como valor absoluto.

A sentença judicial, prima facie, é a verdade produzida

judicialmente e que espelha todos os elementos colocados no processo pelas partes

que buscam no judiciário a decisão e acalanto em seus litígios. Essa sentença

busca, através da coisa julgada e da verdade real, tranqüilidade e estabilidade às

relações jurídicas, geradas pela segurança jurídica.

Em se tratando de ação investigatória de paternidade, a qual

tem como objetivo principal a reivindicação do estado de filiação, a verdade

produzida judicialmente deve estar em conformidade com a verdade real, uma vez

que não ocorrendo tal situação, não se terá assegurada a segurança jurídica.

E a maneira de se garantir segurança às ações de investigação

de paternidade é através do exaurimento de todos os meios de provas, posto que a

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não utilização do exame de DNA, não permitiria ao julgador um juízo de certeza

sobre o vínculo genético de paternidade.

Para tanto, principiar-se-á, no Capítulo 1, denominado Coisa

Julgada, com o estudo legal e doutrinário da coisa julgada em si, iniciando com a

conceituação, limites e classificação, com vistas à eficácia preclusiva e a segurança

jurídica.

No Capítulo 2, tratará de Investigação de Paternidade a partir

da pesquisa da filiação e das formas voluntária e involuntária de reconhecimento,

buscar-se-á os fundamentos, legitimidade e elementos de prova da ação de

investigação de paternidade.

No Capítulo 3, referir-se-á ao tema central desta monografia,

ou seja, a relativização da coisa julgada nas ações de investigação de paternidade,

sendo apreciados também a ação rescisória e os princípios constitucionais.

O presente Relatório de pesquisa se encerra com a Conclusão,

na qual são apresentados pontos conclusivos destacados, seguidos da estimulação

à continuidade dos estudos e das reflexões sobre a relativização da coisa julgada na

ação de investigação de paternidade.

Quanto à metodologia empregada, registra-se que, a pesquisa

utiliza o método dedutivo e as técnicas da categoria, do conceito operacional, da

pesquisa bibliográfica, legal e jurisprudencial.

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1 COISA JULGADA

O presente capítulo abordará a coisa julgada, sua

conceituação, bem como suas modalidades, características e limitações.

A partir desses conceitos iniciais é que será possível promover

a análise da relativização da coisa julgada no terceiro e último capítulo.

1.1 CONCEITO E MODALIDADES

Para conceituação da coisa julgada partir-se-á do

entendimento de Marcus Vinicius Rios Gonçalves que define a coisa julgada como

sendo “uma qualidade dos efeitos da sentença (ou acórdão), que se tornam

imutáveis quando contra ela já não cabem mais recursos”.1

Vicente Greco Filho destaca ainda o aspecto intrínsico do

conceito ao coadunar-se com Enrico Tullio Liebman ao afirmar, “a coisa julgada não

é um novo efeito da sentença, mas uma qualidade dos efeitos que naturalmente já

tinha, sendo essa qualidade a imutabilidade”.2

No mesmo sentido, Ernane Fidélis dos Santos segue afirmando

que “a coisa julgada não é nenhum efeito da sentença, já que desta ela não decorre.

[...] É, simplesmente, uma qualidade que, por questão de ordem pública, a sentença

adquire: a imutabilidade e a indiscutibilidade”.3

1 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil. v. 2. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 19. 2 GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. 19 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 53. 3 SANTOS, Ernani Fidélis dos. Manual de direito procesual civil. 4 ed. atual. e ref. São Paulo: Saraiva, 1996. p. 502.

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Assim, a coisa julgada representa a qualidade da sentença,

que torna imutável o conteúdo ou os efeitos daquilo que foi decidido entre as partes

numa relação jurídica, garantindo a sua indiscutibilidade posteriormente.

Luiz Rodrigues Wambier, Flavio Renato Correia de Almeida e

Eduardo Talamini lecionam que “se algo pode dizer genericamente a respeito da

coisa julgada é que se trata de um instituto ligado ao fim do processo e à

imutabilidade daquilo que tenha sido decidido”. 4

Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart também

interpretam o conceito afirmando:

Quando se alude a indiscutibilidade da sentença judicial fora do processo, portanto em relação a outros feitos judiciais, o campo é da coisa julgada material [...]. Já a indiscutibilidade da decisão judicial verificada dentro do processo remete à noção de coisa julgada

formal. A coisa julgada formal, como se nota, é endoprocessual, e se vincula à impossibilidade de rediscutir o tema decidido dentro da relação jurídica processual em que a sentença foi prolatada. Já a coisa julgada material é extraprocessual, ou seja, seus efeitos repercutem fora do processo.5

Desse modo, classifica-se a coisa julgada em: a coisa julgada

formal e a coisa julgada material, sendo que ambas dizem respeito à

indiscutibilidade de uma decisão. Todavia, na coisa julgada formal, a decisão não

pode mais ser modificada dentro do processo. Já a coisa julgada material, impede

que a decisão seja novamente discutida dentro da mesma relação processual ou em

qualquer outra.6

Essa classificação tem pontos em comum às duas espécies

que ao mesmo tempo as une e as distinguem:

4 WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. 9 ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 519. 5 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil: processo de conhecimento. v. 2. 6 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 631. 6 TUCCI, Rogério Lauria. Curso de direito processual civil. v. 3. São Paulo: Saraiva, 1989. p. 90.

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Em ambas as hipóteses existe a idéia de imodificabilidade de uma decisão. A coisa julgada formal se refere, no entanto, a um mesmo processo. Quer dizer, diz-se que ela surge quando a decisão não possa mais, dentro da mesma relação processual, ser rediscutida.

[...]

Já a coisa julgada material vai mais adiante. Exige, como requisito indeclinável, a formação da coisa julgada formal; só que soma qualidade mais ampla: a imutabilidade do decidido vale não apenas para a mesma relação processual, mas também em qualquer outro feito.7

Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e

Cândido Rangel Dinamarco seguem o mesmo entendimento afirmando que:

A coisa julgada formal é pressuposto da coisa julgada material. Enquanto a primeira torna imutável dentro do processo o ato processual sentença, pondo-a com isso ao abrigo dos recursos definitivamente preclusos, a coisa julgada material torna imutáveis os efeitos produzidos por ela e lançados fora do processo. É a imutabilidade da sentença, no mesmo processo ou em qualquer outro, entre as mesmas partes. [...]8 (grifo no original)

Em síntese, as duas modalidades de coisa julgada se formam a

partir do momento em que da sentença não seja mais possível a interposição de

nenhum recurso. A coisa julgada formal ocorre quando já foram esgotados todos os

recursos possíveis, tornando estável a sentença dentro do mesmo processo.

Todavia, a coisa julgada material torna imutável todos os efeitos da sentença e seu

conteúdo, proibindo uma nova discussão da matéria, mesmo em processo

autônomo.9

7 PEREIRA, Hélio do Valle. Manual de direito processual civil: roteiros de aula – processo de conhecimento. Florianópolis: Conceito Editorial, 2007. p. 711. 8 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. 15 ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros Editores, 1999. p. 305/306. 9 GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. v. 2. 17 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 274/275.

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1.1.1 Coisa Julgada Formal

A coisa julgada formal é a imutabilidade da sentença, no

processo em que foi proferida, pela insuscetibilidade de reexame da decisão por

meio de recursos.10

Sobre o assunto esclarece Humberto Theodoro Júnior:

A coisa julgada formal decorre simplesmente da imutabilidade da sentença dentro do processo em que foi proferida pela impossibilidade de interposição de recursos, quer porque a lei não mais admite, quer porque se esgotou o prazo estipulado pela lei sem interposição pelo vencido, quer porque o recorrente tenha desistido do recurso interposto ou ainda tenha renunciado a sua interposição.11

José Frederico Marques segue o mesmo entendimento,

afirmando que “na coisa julgada formal, o julgamento da lide como ato processual,

se torna imutável dentro do processo, porque a preclusão impede que seja ele

impugnado ou revisto, através de recurso”.12

A coisa julgada formal, também denominada de preclusão

máxima, possui natureza processual, e corresponde a imutabilidade da sentença

como ato processual, que põe fim ao processo na qual foi proferida, em razão da

preclusão de todos os recursos possíveis.13

10 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. v. 3. 21 ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 47. 11 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: teoria geral do direito processual civil e processo de conhecimento. 43 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 570. 12 MARQUES, José Frederico. Manual de direito processual civil. 4 v. Campinas: Bookseller, 1997. p. 272. 13 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil. p. 20.

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Para corroborar, lecionam Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada

Pelledrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco:

A sentença não mais suscetível de reforma por meio de recursos transita em julgado, tornando-se imutável dentro do processo. Configura-se a coisa julgada formal, pela qual a sentença, como ato daquele processo, não poderá ser reexaminada. É sua imutabilidade como ato processual, provindo da preclusão das impugnações e dos recursos. A coisa julgada formal representa a preclusão máxima, ou seja, a extinção do direito ao processo (àquele processo, o qual se extingue).14 (grifo no original)

Para Ernani Fidélis dos Santos:

A coisa julgada formal decorre simplesmente da impossibilidade de interposição de recurso contra sentença, ou contra acórdão que confirmou a sentença, ou extinguiu o processo, não importa tenha havido ou não julgamento da lide, do mérito. Ela é comum a toda e qualquer decisão e se refere, exclusivamente, ao processo em que foi aquela proferida.15

Com efeito, a coisa julgada formal, presente em toda decisão, é

a estabilidade da sentença ou acórdão nos limites do processo em que foi proferida,

por inexistência de outros meios de revisão.16

1.1.2 Coisa Julgada Material

14 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. p. 305. 15 SANTOS, Ernani Fidélis dos. Manual de direito procesual civil. p. 501. 16 WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. p. 520.

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Segundo o artigo 467 do atual Código de Processo Civil, a

coisa julgada material, denomina-se como “a eficácia, que torna imutável e

indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário e extraordinário”.17

Todavia, a doutrina não define a coisa julgada material como

sendo uma eficácia da sentença, e sim como uma qualidade desta, visto que a coisa

julgada não é capaz de produzir efeitos, ela apenas atribui uma característica aos

efeitos da sentença, qual seja a imutabilidade.18

Maria Stella Villela Souto Lopes Rodrigues destaca em sua

obra que, para Enrico Tullio Liebman, “o efeito normal da sentença é a eficácia da

declaração que encerra; a coisa julgada é a definitividade e a incontestabilidade

desse efeito. Daí porque entende ser a coisa julgada uma qualidade desse efeito”.19

Deste modo, a coisa julgada material consiste na imutabilidade

dos efeitos da sentença de mérito, impedindo uma nova discussão da matéria

decida, não apenas no processo em que foi proferida, mas em qualquer outro.20

De acordo com a orientação de Luiz Rodrigues Wambier,

Flavio Renato Correia de Almeida e Eduardo Talamini:

A coisa julgada material, a seu turno, só se produz quando tratar de sentença de mérito. Faz nascer a imutabilidade daquilo que tenha sido decidido para além dos limites daquele processo em que se produziu, ou seja, quando sobre determinada decisão judicial passa a pesar autoridade de coisa julgada, não se pode mais discutir sobre aquilo que foi decidido em nenhum outro processo.21 (grifo no original)

17 BRASIL. Código de processo civil. Vade mecum. 2 ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 406. 18 PEREIRA, Hélio do Valle. Manual de direito processual civil: roteiros de aula – processo de conhecimento. p. 713. 19 RODRIGUES, Maria Stella Villela Lopes. ABC do processo civil: processo de conhecimento e processo de execução. 7 ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997. p. 296. 20 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil. p. 21.

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Assim, é atribuída a autoridade de coisa julgada, ao conteúdo

da sentença de mérito que se tornou imutável e indiscutível, não apenas dentro do

processo em que a decisão foi proferida, mas em qualquer outro processo. Portanto,

tem-se a coisa julgada material como a autoridade da coisa julgada, visto que os

efeitos da sentença ao tornarem-se imutáveis, impedem a rediscussão do que fora

decidido, no mesmo ou em outro processo.22

Ovídio Araújo Baptista da Silva entende que:

[...] para que haja imutabilidade da sentença no futuro, primeiro é necessário conseguir-se sua imutabilidade na própria relação jurídica de onde ela provém. Não há coisa julgada material, sem a prévia formação da coisa julgada formal, de modo que somente as sentenças contra as quais não caibam mais recursos poderão produzir coisa julgada material.23 (grifo no original)

Dessa forma, tem-se como coisa julgada material, a

imutabilidade da decisão transitada formalmente em julgado, ou seja, para que a

sentença de mérito se torne indiscutível no processo em que foi proferida ou em

qualquer outro, é necessário que tenha ocorrido antes a coisa julgada formal.24

Cumpre mencionar que a coisa julgada material faz lei entre as

partes, ao tornar imutável o conteúdo e os efeitos da sentença, impedindo a

propositura da uma nova ação sobre a mesma lide, não somente no processo em

que a sentença foi proferida, mas em qualquer outro.25

1.2 LIMITES DA COISA JULGADA

21 WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. p. 520. 22 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 48. 23 SILVA, Ovídio Araújo Baptista da. Curso de processo civil: processo de conhecimento. 3 ed. Porto Alegre: Fabris, 1996. p. 413. 24 NERY JUNIOR, Nelson. NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de processo civil comentado e legislação extravagante. 10 ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 680.

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Analisando a coisa julgada como sendo a qualidade da

sentença que a torna imutável, impedindo uma rediscussão da matéria, percebe-se

a necessidade de determinar qual o alcance dessa imutabilidade.

Desse modo, verifica-se que a coisa julgada atua dentro de

limites subjetivos, que determinam quem será atingido pelos efeitos da coisa julgada

e, de limites objetivos, fixando quais partes da sentença são acobertadas pela coisa

julgada.

1.2.1 Limites Subjetivos da Coisa Julgada

O Código de Processo Civil, em seu artigo 472, institui os

limites subjetivos da coisa julgada ao dispor que “a sentença faz coisa julgada às

partes entre as quais é dada, não beneficiando, nem prejudicando terceiros”.

Dessa forma, a regra geral é de que somente as partes são

acobertadas pela coisa julgada. No entanto, o mencionado artigo ainda dispõe que

nas ações relativas ao estado das pessoas, desde que citados para a ação todos os

interessados, em litisconsórcio necessário, a coisa julgada não somente atingiria as

partes, mas também a terceiros.

Luiz Rodrigues Wambier, Flavio Renato Correia de Almeida e

Eduardo Talamini, sobre o assunto, estabelecem que “os efeitos da coisa julgada

atingem, do ponto de vista subjetivo, as partes. A doutrina predominantemente

considera serem atingidos também os assistentes litisconsorciais”. 26

25 GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. p. 275. 26 WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. p. 523.

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Portanto, citando-se todos os terceiros interessados em

litisconsórcio necessário, a sentença também produzirá coisa julgada em relação a

estes, posto que os interessados terão sido parte no processo.27

1.2.2 Limites Objetivos da Coisa Julgada

Os limites objetivos da coisa julgada incidem sobre a

imutabilidade da declaração contida na sentença, atingindo apenas a sua parte

dispositiva, pois é no dispositivo que existe o julgamento pelo magistrado do caso

concreto.28

Luiz Rodrigues Wambier, Flavio Renato Correia de Almeida e

Eduardo Talamini consideram que “a autoridade de coisa julgada recai sobre a parte

decisória da sentença de mérito”.29

Conforme entendimento de Nelson Nery Junior e Rosa Maria

de Andrade Nery:

A sentença é composta por três partes distintas: relatório, fundamentação e dispositivo (CPC 458). Somente a parte dispositiva da sentença, na qual o juiz decide efetivamente o pedido (lide), proferindo um comando que deve ser obedecido pelas partes, é alcançada pela coisa julgada material (autoridade da coisa julgada). [...] Fazendo-se a correlação entre petição inicial e sentença, poder-se-ia dizer que a parte final da petição inicial, isto é, o pedido, corresponde à parte final da sentença, vale dizer, o dispositivo.

27 DIDIER JR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de direito processual civil: direito probatório, decisão judicial, cumprimento e liquidação de sentença e coisa julgada. v. 2. 3 ed. rev. ampl. e atual. Salvador: JusPodivm, 2008. p. 567. 28 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil: processo de conhecimento. p. 644. 29 WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. p. 523.

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Assim, o conjunto formado pelo pedido e o dispositivo é alcançado pela coisa julgada material.30 (grifo no original)

Vicente Greco Filho, também nesse sentido, destaca em sua

obra que, para Enrico Tullio Liebman:

É exato dizer que a coisa julgada se restringe à parte dispositiva da sentença; a essa expressão, todavia, deve dar-se um sentido substancial e não formalista, de modo que abranja não só a parte final da sentença, como também qualquer outro ponto em que tenha o juiz eventualmente provido sobre os pedidos das partes.31

Como a sentença é separada em três partes, existe a

possibilidade de que haja uma decisão do magistrado, sobre os pedidos, na

fundamentação, razão pela qual lhe será atribuído à qualidade da coisa julgada, uma

vez que a referida decisão possui natureza de dispositivo.32

Cumpre ressaltar que, segundo o artigo 468 do atual Código de

Processo Civil, “a sentença, que julgar total ou parcialmente a lide, tem força de lei

nos limites da lide e das questões decididas”.

Ernani Fidélis dos Santos considera que “os limites da lide são

estabelecidos pelo pedido com a respectiva causa de pedir”.33 Portanto, a coisa

julgada incide sobre os limites do objeto do processo, ou seja, a sentença faz coisa

julgada sobre os limites do pedido e de sua causa de pedir.34

Luiz Fux ensina a respeito que:

30 NERY JUNIOR, Nelson. NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de processo civil comentado e legislação extravagante. p. 701. 31 GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. p. 279. 32 PEREIRA, Hélio do Valle. Manual de direito processual civil: roteiros de aula – processo de conhecimento. p. 716. 33 SANTOS, Ernani Fidélis dos. Manual de direito procesual civil. p. 502. 34 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 64.

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A lei menciona as questões decididas e à lide, referindo-se ao conteúdo da ação proposta. Aliás, a coisa julgada incide sobre as

partes, o pedido e a causa de pedir. Nesse sentido, é textual o Código ao afirmar que se verifica a coisa julgada quando se “reproduz ação anteriormente decidida por sentença de que não caiba recurso, considerando idênticas duas ações quando têm as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido” (artigo 301 e §§ 2º e 3º do CPC).35 (grifo no original)

Quanto às questões decididas, as quais foram suscitadas pelas

partes no processo, tem-se que estas não produzem coisa julgada, mas apenas

determinam à extensão dos seus limites.36

Marcos Vinícius Rios Gonçalves afirma que:

De acordo com o art. 468 do CPC, a sentença tem força de lei, isto é, faz coisa julgada material, nos limites da lide e das questões decididas. Esse dispositivo [...] impede a propositura de demanda idêntica, com os mesmos elementos da anterior: partes, pedido e causa de pedir.37

Verifica-se que a coisa julgada está vinculada, objetivamente,

aos três elementos da lide, quais sejam as partes, o pedido e a causa de pedir.

Dessa forma, havendo mudança em qualquer dos três elementos, não se pode falar

em coisa julgada, visto que não há reprodução da ação.38

Nesse sentido, é o que dispõe o artigo 471 do atual Código de

Processo Civil, ao determinar que “nenhum juiz decidirá novamente as questões já

decididas, relativas à mesma lide, salvo”, nas relações jurídicas continuativas, em

que houve alteração do estado de fato e de direito, e nos demais casos em que a lei

permite a revisão do que restou estabelecido em sentença anterior.

35 FUX, Luiz. Curso de direito processual civil. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 827. 36 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 65. 37 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil. p. 23. 38 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: teoria geral do direito processual civil e processo de conhecimento. p. 581.

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Para o doutrinador Luiz Fux, o “caput” do mencionado artigo

aborda o caráter negativo da coisa julgada, o qual impede que se volte a discutir, em

processos futuros, a questão já decidida.39

Vicente Greco Filho segue o mesmo entendimento afirmando

que “o efeito negativo da coisa julgada consiste na proibição de voltar a discutir, ou

decidir, o que foi decidido no dispositivo de sentença de mérito irrecorrível em face

das mesmas partes, qualquer que seja a ação futura”.40

Cumpre ressaltar que as relações jurídicas de cunho

continuativo, por se prolongarem no tempo, mesmo depois de proferidas, estão

sujeitas a alterações, sem prejuízo da autoridade da coisa julgada, em razão de uma

situação superveniente que modificou o estado de fato ou de direito.41

Sobre o assunto entende Moacyr Amaral Santos que:

Não é que a sentença determinativa não produza coisa julgada. Ela apenas é suscetível de um “processo de integração, decorrente da situação superveniente, a que deve o juiz atender, tendo em vista a natureza continuativa da relação jurídica decidida” (FREDERICO MARQUES).42

Dessa forma, percebe-se que as relações continuativas não

são uma exceção a imutabilidade da coisa julgada, posto que as mesmas apenas

atendem o princípio rebus sic stantibus, o qual possibilita que a sentença, embora

transitada em julgado, seja alterada sempre que as circunstâncias que envolveram a

sua formação forem modificadas, fazendo com que a nova decisão se adapte a

situação fática.43

39 FUX, Luiz. Curso de direito processual civil. p. 831. 40 GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. p. 289. 41 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil. p. 27/28. 42 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 60. 43 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. p. 306.

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De outro norte, estabelece o artigo 469 do atual Código de

Processo Civil, que os motivos, a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento

da sentença e a apreciação da questão prejudicial44, decidida incidentalmente no

processo, não fazem coisa julgada.

Nesse sentido, disciplina Vicente Greco Filho, com respeito à

matéria:

Todas essas questões são resolvidas pelo juiz a fim de poder chegar ao dispositivo ou conclusão e são importantes para determinar o alcance e o próprio correto entendimento da decisão, mas sobre elas não incide a imutabilidade da coisa julgada.45

Vê-se que os motivos, apesar de “determinar o entendimento e

o alcance” do dispositivo, apenas ajudam no esclarecimento da decisão, não sendo,

portanto, acobertados pela coisa julgada.46

Entende Humberto Theodoro Júnior, sobre o assunto, que:

Os motivos, ainda que relevantes para fixação do dispositivo da sentença, limitam-se ao plano lógico da elaboração do julgado. Influenciam em sua interpretação mas não se recobrem do manto de intangibilidade que é próprio da res iudicata. O julgamento, que se torna imutável e indiscutível, é a resposta dada ao pedido do autor, não o “porquê” dessa resposta.47

Também não é acobertada pela imutabilidade da coisa julgada

a verdade dos fatos, por tratar-se de fundamento do juiz na decisão do julgado.

44 Questão prejudicial, para Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery “é o fato ou a relação jurídica anterior ao mérito, de cuja declaração de existência ou inexistência o julgador não pode prescindir para julgar a causa. A questão prejudicial influencia no teor da questão seguinte (prejudicada)“. (in Código de processo civil comentado e legislação extravagante. 10 ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 680). 45 GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. p. 278. 46 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 68. 47 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: teoria geral do direito processual civil e processo de conhecimento. p. 582.

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Ademais, a verdade dos fatos insere-se na motivação da sentença, o que, por si só,

já impede que esta adquira a autoridade da coisa julgada.48

Afirma Luiz Fux que:

A verdade dos fatos escapa dessa eficácia de imutabilidade posto que ditada por amplo subjetivismo do juiz na análise do material cognitivo. O que se revela verdade para um juízo pode não o ser para outro. Não há qualquer instrumento jurídico processual capaz de revestir essa verdade com a força da coisa julgada.49

Da mesma forma, não faz coisa julgada a decisão de questão

prejudicial, quando feita incidentalmente nos autos, uma vez que a sua análise

servirá apenas para fundamentar a sentença.50

Ernane Fidélis dos Santos ensina a respeito que as questões

prejudiciais “decididas apenas incidentalmente no processo, como pressuposto da

lide, [...] não se extravasa dos limites da lide a que se serviu. É questão que continua

em aberto para novos julgamentos, seja autonomamente, seja ainda como

prejudicial de outra lide”.51

No entanto, o artigo 470, do atual Código de Processo Civil,

prevê que, em havendo ação declaratória incidental52, no curso do processo, a

respeito de questão prejudicial, esta será abarcada pela coisa julgada, pois o

magistrado julgará a referida questão por sentença, incluindo-a na parte

dispositiva.53

48 TUCCI, Rogério Lauria. Curso de direito processual civil. p. 133. 49 FUX, Luiz. Curso de direito processual civil. p. 829. 50 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil. p. 22/23. 51 SANTOS, Ernani Fidélis dos. Manual de direito procesual civil. p. 505. 52 Ação declaratória incidental, para Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery “é a ação movida por qualquer das partes (autor ou réu), incidentemente a uma outra, principal, que se encontra em curso, tendo por objetivo o julgamento de questão prejudicial de mérito controvertida, de que dependa o julgamento da ação principal. Trata-se, na verdade, de instrumento destinado a ampliar os limites objetivos da coisa julgada“. (in Código de processo civil comentado e legislação extravagante. 10 ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 680). 53 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil: processo de conhecimento. p. 644/645.

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Moacyr Amaral Santos, sobre o assunto, entende que:

[...] para que a decisão sobre questão prejudicial se revista dos atributos de coisa julgada, deverá: a) ser provocada pela parte por meio de ação declaratória incidental, de que falam os arts. 5º e 325 do referido Código; b) constituir pressuposto necessário para o julgamento da lide principal; c) ter o juiz competência em razão da matéria para decidi-la. Respeitados esses requisitos, a resolução da questão prejudicial, por ser provocada por meio de ação, conquanto incidental, terá eficácia de coisa julgada.54

Portanto, quando a questão prejudicial constituir pressuposto

lógico para a decisão da lide, sendo requerida por qualquer das partes mediante

ação declaratória incidental, e tendo o juiz competência para julgá-la, esta será

decidida por sentença e produzirá coisa julgada.55

1.3 EFICÁCIA PRECLUSIVA DA COISA JULGADA

A eficácia preclusiva da coisa julgada é uma forma de proteção

da decisão judicial prevista no artigo 474 do atual Código de Processo Civil, o qual

dispõe que “passada em julgado a sentença de mérito, reputar-se-ão deduzidas e

repelidas todas as alegações e defesas que a parte poderia opor assim ao

acolhimento como à rejeição do pedido”.56

Gustavo Filipe Barbosa Garcia conceitua a eficácia preclusiva

da coisa julgada como sendo “[...] o efeito decorrente da coisa julgada material, que

54 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 69/70. 55 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria geral do processo. p. 308. 56 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil: processo de conhecimento. p. 647.

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a protege de violação, obstando alegações das partes com tal objetivo, posteriores

ao trânsito em julgado, já deduzidas ou anteriormente dedutíveis”.57

Moacyr Amaral Santos ensina que:

As alegações e defesas omitidas “reputar-se-ão deduzidas e repelidas”, não mais podendo ser aventadas em futuro processo sobre a lide, nada obstando, entretanto, sejam discutíveis e sujeitas a decisão em outro processo referente à lide diversa a daquela em que se operou a coisa julgada.58

Para corroborar, José Frederico Marques estabelece em sua

obra que, para Eurico Tullio Liebman:

[...] se uma questão pudesse ser discutida no processo, mas de fato não o foi, também a ela se estende, não obstante, a coisa julgada, no sentido de que aquela questão não poderia ser utilizada para negar ou contestar o resultado a que se chegou naquele processo.59

Assim, nota-se que a eficácia preclusiva da coisa julgada

impede não apenas nova discussão das questões já decididas no dispositivo da

sentença, como também a discussão das demais questões úteis a solução da lide

que as partes poderiam ter apresentado, mas não apresentaram.60

Alexandre Freitas Câmara, sobre o artigo 474 do Código de

Processo Civil, afirma que:

[...] Por este dispositivo se torna impossível que, em qualquer processo, se torne a discutir o que ficou decidido e coberto pela autoridade da coisa julgada, mesmo que se queira agora aduzir

57 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Coisa julgada: novos enfoques no direito processual, na jurisdição metaindividual e nos dissídios coletivos. São Paulo: Método, 2007. p. 18. 58 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. p. 62. 59 MARQUES, José Frederico. Manual de direito processual civil. p. 278.

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razões novas, que poderiam ter sido alegadas no processo onde se formou a coisa julgada.61

Nesse sentido, Hélio do Valle Pereira destaca em sua obra

que, Cândido Rangel Dinamarco considera que:

Não se trata (no art. 474) de causas de pedir omitidas, porque a

coisa julgada material não vai além dos limites da demanda proposta

e, se houver outra causa petendi a alegar, a demanda será outra e

não ficará impedida de julgamento; mas novos argumentos, novas

circunstâncias de fato, interpretação da lei de outro modo,

atualidades de jurisprudência etc., que talvez pudessem ser úteis

quando trazidas antes do julgamento da causa, agora já não poderão

ser utilizadas” (Instituições de Direito Processual Civil, v. III, p. 325). (grifo no original)62

Cumpre ressaltar que, para ocorrer a eficácia preclusiva da

coisa julgada é essencial que as questões de fato e de direito por ela alcançadas

sejam existentes no momento do trânsito em julgado da sentença, ou seja, da

formação da coisa julgada. Portanto, as questões supervenientes não são

abrangidas pelo efeito preclusivo da coisa julgada.63

Destarte, somente as questões relacionadas à lide e, por

conseguinte, referentes às mesmas partes, ao mesmo pedido e à mesma causa de

pedir é que ficarão sujeitas a eficácia preclusiva da coisa julgada, de modo que

estará preclusa a oportunidade de apresentá-las em processo posterior.64

60 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil. p. 30. 61 CÂMARA, Alexandre Freitas. Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. 16 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007. p. 500. 62 PEREIRA, Hélio do Valle. Manual de direito processual civil: roteiros de aula – processo de conhecimento. p. 718. 63 NERY JUNIOR, Nelson. NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de processo civil comentado e legislação extravagante. p. 704. 64 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil: processo de conhecimento. p. 648/650.

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1.4 COISA JULGADA E SEGURANÇA JURÍDICA

A coisa julgada destina-se a garantir estabilidade e segurança

nas relações jurídicas já decididas pelo poder judiciário, visando assim, o equilíbrio

social. Por esta razão é que após o trânsito em julgado da sentença, esta se torna

imutável, impedindo a reapreciação, a todo instante, de uma mesma lide.65

Nesse sentido leciona Carmem Lúcia Antunes:

Afirma-se a coisa julgada como manifestação necessária ou como decorrência precisa da segurança jurídica, em virtude do que as decisões judiciais devem ser revestir de intangibilidade absoluta após o seu trânsito em julgado.66

Para corroborar, ensinam Luiz Rodrigues Wambier, Flavio

Renato Correia de Almeida e Eduardo Talamini que:

Trata-se de instituto que tem em vista gerar segurança. A segurança, de fato, é um valor que desde sempre tem desempenhado papel de um dos objetivos do direito. O homem sempre está a procura de segurança e o direito é um instrumento que se presta, em grande parte, ao atingimento desse desejo humano. Por meio do direito, procura-se tanto a segurança no que diz respeito ao ordenamento jurídico como um todo, quanto no que tange às relações jurídicas individualizadas. É quanto a esta espécie de segurança que a coisa julgada desempenha o seu papel.67

A segurança jurídica, assegurada pela coisa julgada,

garante tranqüilidade e estabilidade das relações jurídicas, no entanto, não se pode

65 FUX, Luiz. Curso de direito processual civil. p. 822. 66 ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. O princípio da coisa julgada e o vício de inconstitucionalidade. In: ROCHA, Cármen Lúcia Antunes (coord.). Constituição e segurança jurídica: direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada. p. 167. 67 WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. p. 519.

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fazer da coisa julgada como algo inatingível, pois “é a justiça, que conduz à

segurança, não a certeza processual de um momento, que não se pode manter

quando contrarie todos os princípios postos de justiça, dignidade e liberdade”.68

Sobre o assunto explica Hélio Pereira do Valle:

Defende-se que a coisa julgada é instituto essencial, e deve ser valorizada. Contudo, não é valor absoluto, cabendo entrosá-la com outros postulados de igual (ou eventualmente) superior relevância. Tal se justificará quando se revelar que a sentença, malgrado timbrada pela coisa julgada, se mostre injusta, agredindo outros princípios constitucionais.69

Por fim, verifica-se que parte da doutrina e da jurisprudência

tem entendido como relativa à coisa julgada material, quando esta violar garantias

ou direitos fundamentais da pessoa humana. Contudo, a relativização da coisa

julgada somente é aplicada em circunstâncias excepcionais, como exemplo o da

investigação de paternidade, a qual será abordada no próximo capítulo.70

68 ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. O princípio da coisa julgada e o vício de inconstitucionalidade. In: ROCHA, Cármen Lúcia Antunes (coord.). Constituição e segurança jurídica: direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada. p. 191. 69 PEREIRA, Hélio do Valle. 2007. Manual de direito processual civil: roteiros de aula – processo de conhecimento. p. 730. 70 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil. p. 31.

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2 AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE

Existem fatos que independem de decisão judicial e discussão

quanto a sua origem e validade. Um desses fatos é a filiação. Ocorre que mesmo

ela, em alguns casos específicos, carece de produção de provas e decisão judicial

para que se esclareça e se defina não só a origem genética como todos os direitos

dela advindos.

2.1 FILIAÇÃO

A filiação é uma das mais importantes formas de relação de

parentesco que se estabelece entre os descendentes e seus ascendentes de

primeiro grau.71 Nota-se que essa relação existente entre o filho e seus pais quando

“encarada em sentido inverso, isto é, do lado dos genitores referentemente ao filho”,

chama-se paternidade.72

Silvio Rodrigues ainda conceitua a filiação como sendo “a

relação de parentesco consangüíneo, em primeiro grau e em linha reta, que liga uma

pessoa àquelas que a geraram, ou a receberam como se a tivessem gerado”.73

Assim, tem-se que a filiação pode decorrer da “fecundação

natural, da reprodução assistida homóloga (sêmen do esposo ou do companheiro;

óvulo da esposa ou da companheira) ou heteróloga (sêmen de outro homem ou

71 ALBUQUERQUE, J. B. Torres. Investigação de paternidade: teoria, formulários, pareceres, jurisprudência e legislação. 6 ed. rev. e ampl. Leme: Albuquerque editores Associados, 1998. p. 37. 72 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito de família. 38 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 305. 73 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. 6 v. 28 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 297.

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óvulo de outra mulher, porém com consentimento do esposo ou da esposa), assim

como em virtude da adoção”.74

Nesse sentido, ensina Rui Ribeiro de Magalhães que:

Dentre todas as classes parentais, a filiação é a mais importante. O termo filiação indica a relação de parentesco entre ascendentes e descendentes do primeiro grau não só resultante da fecundação natural, fruto da união do homem e da mulher, como também a filiação obtida pelas outras formas previstas na lei como fecundação

artificial homóloga, inseminação artificial heteróloga e adoção.75

Cumpre ressaltar que todos os filhos, independentemente de

como se originou o vínculo existente entre estes e seus pais, têm assegurados os

mesmos direitos decorrente da filiação.76

2.1.1 Espécies de Filiação

O ordenamento anterior à Constituição da República Federativa

do Brasil de 1988 – CRFB/88 havia classificado a filiação em: legítima, legitimada e

ilegítima. Hoje essa classificação, além de obsoleta é contrária às disposições

constitucionais, uma vez que não é mais admitida qualquer forma de distinção entre

os filhos havidos ou não da relação de casamento. No entanto, para o

encadeamento de idéias, far-se-á um breve escorço a respeito de cada uma daquela

classificação, com visão exclusivamente acadêmica-doutrinária.

74 BARBOSA, Águida Arruda (coord.); VIEIRA, Cláudia Stein (coord.). Direito de família. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 191. 75 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito de família no novo código civil brasileiro. 2 ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2003. p. 147. 76 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família: lei nº 10.406, de 10.01.2002. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 404.

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2.1.1.1 Filiação Legítima

Consideravam-se como legítimos os filhos concebidos durante

o matrimônio, ou seja, nascidos na constância do casamento, ainda que este fosse

posteriormente anulado ou considerado nulo, mesmo que não cometidos de boa-fé

por ambos os cônjuges.77

Águida Arruda Barbosa e Claudia Stein Vieira seguem o

mesmo entendimento afirmando que a filiação legítima era “aquela que provém da

constância do casamento dos pais, ainda que venha a ser anulado ou considerado

nulo, e mesmo que não tenham sido declaradas putativas as núpcias”.78

Ressalta-se, que da mesma forma que anteriormente, hoje em

dia o casamento dos pais faz nascer a presunção de paternidade, também

denominada de pater is est, a qual presume que o filho concebido na constância do

casamento tem como pai, o marido de sua mãe, mas, por óbvio, que hodiernamente

sem classificação quanto á sua legitimidade.79

Nesse sentido, ensina Carlos Roberto Gonçalves que:

Essa presunção, que vigora quando o filho é concebido na constância do casamento, é conhecida [...] pelo adágio romano pater

is est quem justae nuptiae demonstrant, segundo o qual é presumida a paternidade do marido no caso de filho gerado pela mulher casada. Comumente, no entanto, é referida de modo abreviado: presunção

pater is est.80 (grifo no original)

O artigo 1.597 do atual Código Civil admite a presunção de

paternidade, supondo serem concebidos na constância do casamento os filhos

77 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 231. 78 BARBOSA, Águida Arruda (coord.); VIEIRA, Cláudia Stein (coord.). Direito de família. p. 192. 79 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. p. 299/300. 80 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 3 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 275.

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nascidos, pelo menos, cento e oitenta dias após o estabelecimento da convivência

conjugal, os nascidos nos trezentos dias posteriores à dissolução conjugal por

morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento, bem como os filhos

havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido, ou por

concepção artificial homóloga, tratando-se de embriões excedentários, ou ainda os

filhos havido por inseminação artificial heteróloga com prévia autorização do

marido.81

As duas primeiras hipóteses de presunção, previstas no

mencionado artigo, já eram adotadas pelo Código Civil anterior. Ambas dizem

respeito ao prazo mínimo e máximo, respectivamente, de uma gestação humana.

Dessa forma, nascendo o filho seis meses após o convívio conjugal ou dez meses

posteriores a separação de fato do casal, presume-se que seja o pai, o marido da

mãe.82

Quanto as três últimas hipóteses de presunção da paternidade

(filhos havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido, por

concepção artificial homóloga, tratando-se de embriões excedentários, e por

inseminação artificial heteróloga com prévia autorização do marido), inovadas pelo

artigo 1.597 do atual Código Civil, considera como concebidos na constância do

casamento os filhos nascidos por técnica de procriação assistida ou também

chamada de reprodução assistida.83

Silvio Rodrigues, sobre a procriação assistida, leciona que:

Com rápidas palavras, para identificação das expressões, temos que: homóloga é a inseminação promovida com o material genético (sêmen e óvulo) dos próprios cônjuges; heteróloga é a fecundação realizada com material genético de pelo menos um terceiro, aproveitando ou não os gametas (sêmen ou óvulos) de um ou de outro cônjuge; e, por fim, embriões excedentários são aqueles

81 BRASIL. Código civil. Vade mecum. 2 ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 287. 82 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família: lei nº 10.406, de 10.01.2002. p. 416. 83 CHAMELETE NETO, Alberto. Investigação de paternidade & DNA. Curitiba: Juruá, 2002. p. 19.

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resultantes da inseminação promovida in vitro, ainda não

introduzidos no útero materno.84

Reputa-se fecundação artificial homóloga “a reprodução

assistida consistente na fertilização do óvulo pelo espermatozóide” pertencente à

mulher e ao marido, respectivamente. Admite-se ainda, a presunção de paternidade

do marido falecido, quando a mulher, ao se submeter à técnica de fecundação

artificial homóloga, encontre-se na condição de viúva e que haja a autorização

expressa do marido.85

Quanto aos embriões excedentários, somente é admitida a sua

concepção “se estes derivarem de fecundação artificial homóloga, ou seja, de

gametas da mãe e do pai”86, pois a sua utilização, para fins de procriação, por

pessoas que não sejam os pais genéticos é vedada no ordenamento, haja vista que

juridicamente o filho seria da mulher parturiente e seu marido, em virtude da

presunção de maternidade e paternidade, respectivamente.87 Todavia, tal situação

“só pode ocorrer se a mãe não tiver condições, por razões médicas, de abrigar a

gestação do embrião”, devendo a doadora do útero ser sua parente até segundo

grau.”88

Por fim, presumem-se também concebidos na constância do

casamento os filhos havidos por inseminação artificial heteróloga, a qual “se dá

quando é utilizado sêmen de outro homem, normalmente doador anônimo, e não do

marido, para a fecundação do óvulo da mulher”, desde que anteriormente autorizado

pelo marido.89

Cumpre ressaltar que a presunção de paternidade tem

natureza iuris tantum, isto é, trata-se de presunção relativa, uma vez que pode ser

84 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. p. 314. 85 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. p. 279. 86 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família. 5 v. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 319. 87 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. p. 280. 88 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil. 5 v. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 155. 89 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família. p. 319.

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ilidida por prova em contrário.90 Tal presunção, no antigo Código Civil, para que

pudesse ser contestada, era necessário que o marido provasse que estava

impossibilitado fisicamente de coabitar com a mulher ou que ambos estavam

separados legalmente. No entanto, o atual Código Civil concedeu ao marido o

direito, amplo e irrestrito, de contestar a paternidade dos filhos tidos como

biológicos.91

2.1.1.2 Filiação Legitimada

A anterior filiação legitimada, na lição de Pedro Paulo Filho e

Guiomar A. de Castro Rangel Paulo, era aquela que “surge da união de duas

pessoas que, após o nascimento do filho, vieram a casar”.92

Arnaldo Rizzardo conceitua os filhos legitimados como sendo

aqueles que foram gerados ou nascidos antes do casamento civil de seus pais, que

os legitima.93 Portanto, o casamento dos pais legitimava os filhos anteriormente

concebidos ou nascidos, conferindo a estes os mesmos direitos e qualificações dos

filhos legítimos.94

Silvio Rodrigues segue o mesmo entendimento afirmando que:

A legitimação [...] representava importante efeito do casamento, por meio da qual os filhos havidos anteriormente ao matrimônio adquiriam a condição de legítimos, como se houvessem sido concebidos após as núpcias, determinando a lei que os filhos

legitimados em tudo se equiparavam aos legítimos.95

90 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. p. 300. 91 CHAMELETE NETO, Alberto. Investigação de paternidade & DNA. p. 20/22. 92 PAULO FILHO, Pedro; PAULO, Guiomar A. de Castro Rangel. Concubinato, união estável, alimento, investigação de paternidade. 2 ed. Leme: J.H.Mizuno, 2006. p. 337. 93 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família: lei nº 10.406, de 10.01.2002. p. 408. 94 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. p. 274. 95 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. p. 298.

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Dessa forma, verifica-se que o subseqüente casamento dos

pais, cessava a ilegitimidade da origem dos filhos, fazendo com que estes

adquirissem o status de legítimos.

2.1.1.3 Filiação Ilegítima

A filiação ilegítima consistia naquela em que os filhos não

proviam de justas núpcias, isto é, nasciam fora do casamento de seus genitores.

Essa filiação dividia-se em natural e espúria. Os filhos naturais descendiam de pais

que não possuíam impedimento matrimonial no momento da concepção. Já os filhos

espúrios eram aqueles cujos pais eram impedidos de casar.96

A filiação espúria dividia-se ainda em incestuosa e adulterina.

Consideravam-se incestuosos os filhos advindos de pais cujo impedimento

matrimonial decorria de parentesco, enquanto que os filhos adulterinos eram os

nascidos de pais impedidos de casar em razão de já serem casados com terceiros.97

Arnaldo Rizzardo entende como filhos ilegítimos:

Os nascidos fora do casamento civil de seus pais, os quais, por sua vez, se distinguem em naturais strico sensu e espúrios. Naturais são os filhos cujos pais não se achavam impedidos de se casar um como o outro quando foram concebidos. Os espúrios, pelo contrário, nasceram ou foram gerados quando seus pais eram impedidos de se casar entre si, em virtude de ser um deles ou ambos já casados com outra pessoa (adulterinos), ou porque eram parentes em linha reta ou

em grau proibido (incestuosos).98

96 MAGALHÃES, Rui Ribeiro de. Direito de família no novo código civil brasileiro. 2 ed. rev. e atual. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2003. p. 147. 97 SIMAS FILHO, Fernando. A prova na investigação de paternidade. 10 ed. Curitiba: Juriá, 2007. p. 31/32 98 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família: lei nº 10.406, de 10.01.2002. p. 408.

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Como dito, atualmente a situação é diversa, posto que

“independentemente da origem da filiação, seja ela havida do casamento ou não,

vigora o princípio constitucional da igualdade absoluta de direitos entre os filhos”.99

(grifo no original)

Todavia, ao mesmo tempo em que a lei veda qualquer forma

discriminatória de qualificações e direitos pela origem da filiação, também estabelece

diferenças entre os filhos concebidos na constância do matrimônio e os havidos fora

do casamento, uma vez que, quanto aos primeiros há uma presunção de

paternidade, fazendo com que a relação de parentesco se manifeste plenamente,

enquanto que aos segundos, inexiste essa presunção, sendo necessário o

reconhecimento para que se estabeleça o vínculo jurídico de parentesco entre estes

e seus pais.100

Nesse sentido, esclarece Fábio Ulhoa Coelho “que só se

reconhecem voluntariamente os filhos havidos fora do casamento. Os nascidos de

mulher casada, na constância do casamento, têm sempre pai, que é o cônjuge dela

(presunção pater is est)”.101 (grifo no original)

O ordenamento anterior a Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988 – CRFB/88, sofreu inúmeras alterações. No início

vedava o reconhecimento dos filhos adulterinos e incestuosos. Posteriormente

houve a possibilidade do reconhecimento de filhos adulterinos, ainda preterindo os

incestuosos. Entretanto, o atual ordenamento jurídico estabelece a igualdade de

direitos entre todos os filhos, permitindo assim, o reconhecimento dos filhos outrora

denominados espúrios.102

Para corroborar, ensina Roberto Senise Lisboa que “pouco

importa a origem da filiação, tornando-se perfeitamente cabível até mesmo o

99 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e sucessões. 5. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 309. 100 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. p. 274. 101 COELHO, Fábio Ulhoa. 2006. p. 172. 102 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito de família. p. 309.

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reconhecimento dos filhos espúrios, ante o princípio da igualdade entre os filhos

havidos do casamento ou fora dele”.103

2.2 RECONHECIMENTO DOS FILHOS

Como visto, o reconhecimento dos filhos recebeu tratamentos

diferenciados ao longo do tempo. Em especial no Brasil, esse ato de identificação da

paternidade, fosse ele espontâneo ou impingido, sempre teve regras muito

ordenadas por princípios morais e religiosos.

Sobre o reconhecimento dos filhos, José Antonio Alem destaca

em sua obra que, para Pinto Ferreira:

[...] é o ato pelo qual o pai ou a mãe, em conjunto ou separadamente, admitem como sua a filiação, com um ato espontâneo e por escrito (reconhecimento voluntário) ou quando tal admissão de filiação é obtido por meio de sentença em processo regular (reconhecimento

judicial).104

Carlos Roberto Gonçalves segue o mesmo entendimento

afirmando que “o reconhecimento de filho pode ser voluntário, também denominado

“perfilhação”, ou judicial, também chamado de “coativo” ou “forçado”, que se realiza

por meio de ação de investigação de paternidade”.105 (grifo no original)

Ressalta-se que o reconhecimento dos filhos, seja ele

voluntário ou judicial, é ato declaratório, posto que não cria a paternidade, mas

apenas a declara, retroagindo, conseqüentemente, a data do nascimento ou da

103 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e sucessões. p. 311. 104 ALEM, José Antonio. Investigação de paternidade. São Paulo: Universitária de Direito, 1987. p. 05. 105 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. p. 295.

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concepção do filho, motivo pelo qual não importa animus inicial, o resultado é

equânime em relação aos filhos.106

2.2.1 Reconhecimento Voluntário

O reconhecimento voluntário, segundo Pedro Paulo Filho e

Guiomar A. de Castro Rangel Paulo, “é a forma consensual de o pai, a mãe ou

ambos manifestarem espontaneamente o liame que os vincula ao filho ilegítimo”.107

Roberto Senise Lisboa estabelece ainda, que o

reconhecimento voluntário dos filhos “é ato personalíssimo pelo qual o suposto pai

assume formalmente o estado jurídico de genitor de uma pessoa havida fora do

casamento”.108

Cumpre mencionar que o reconhecimento dos filhos constitui

ato de pura manifestação de vontade, não admitindo qualquer condição ou termo

que limite ou altere seus efeitos legais.109

O reconhecimento voluntário “pode preceder o nascimento do

filho já concebido”, bem como, ser posterior ao falecimento deste. No caso de filho já

falecido, o reconhecimento somente é admitido quando este tiver deixado

descendente, evitando assim, o reconhecimento por interesse do pai, haja vista que

os bens do filho sem descendente serão transmitidos ao ascendente.110 (grifo no

original)

106 PAULO FILHO, Pedro; Guiomar A. de Castro Rangel. Concubinato, união estável, alimento, investigação de paternidade. p. 338. 107 PAULO FILHO, Pedro; Guiomar A. de Castro Rangel. Concubinato, união estável, alimento, investigação de paternidade. p. 339. 108 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e sucessões.p. 310. 109 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família: lei nº 10.406, de 10.01.2002. p. 437. 110 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. p. 300.

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2.2.1.1 Formas de Reconhecimento Voluntário dos Filhos

O atual Código Civil, em seu artigo 1.609, dispõe que o

reconhecimento voluntário dos filhos pode ser feito: “no registro do nascimento; por

escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório; por testamento,

ainda que incidentalmente manifestado; e por manifestação direta e expressa

perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto único e principal

do ato que o contém”.

O reconhecimento do filho “no registro de nascimento é a forma

mais comum e utilizada”, em que ”o pai, ou a mãe, comparece espontaneamente ao

Registro Civil e declara a paternidade ou maternidade do filho nascido, averbando-

se no termo de nascimento o nome do genitor, que apõe sua assinatura”, na

presença de duas testemunhas.111

O genitor pode ainda, reconhecer a paternidade através de

escritura pública ou escrito particular, arquivado em cartório. “A escritura pode ser

lavrada especificamente para o reconhecimento da paternidade, ou pode fazer-se

incidentemente em escritura que tenha outros objetivos imediatos, desde que a

manifestação seja expressa e não deixe margem a nenhuma dúvida”. 112

No tocante ao escrito particular, pode-se reconhecer a

paternidade em instrumento específico para essa finalidade, onde o genitor

manifesta de forma clara a sua vontade.113

Para corroborar, estabelece Arnaldo Rizzardo:

No tocante à escritura pública, é possível reconhecer-se em ato especificamente elaborado para tal finalidade, ou em ato também destinado para outro objetivo [...]. mesmo através de procuração

111 CHAMELETE NETO, Alberto. Investigação de paternidade & DNA. p. 44. 112 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. p. 298. 113 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família. p. 350.

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pública admite-se o reconhecimento, pois, ao dar alguém poderes para outrem proceder o ato, está confessando a paternidade.

Já o escrito particular consiste numa declaração específica de reconhecimento, onde aparece claramente a manifestação da vontade do progenitor. Não servem outros documentos, cujo conteúdo revelam o reconhecimento pelo texto em si, mas não dirigidos especificamente para o reconhecimento.114

O reconhecimento também pode ser feito por testamento, que

mesmo “não redigido especificamente para aquela finalidade, vale como meio de

reconhecimento e é irrevogável”. Destarte, ainda que o testamento venha a ser

revogado, “as eventuais alterações que ocorrerem não atingem o

reconhecimento”.115

Todavia, “se o testamento for invalidado por inobservância de

condição extrínseca ou intrínseca, igualmente exigida para o reconhecimento da

paternidade, tal condição fulminará este último”.116

A última forma de reconhecimento voluntário prevista no

mencionada artigo é a efetuada por meio de manifestação direta e expressa do

genitor perante o juiz, que determinará a averbação da paternidade no registro de

nascimento do filho.117

Ademais, ressalta-se que a Lei 8.560 de 29 de dezembro de

1992, a qual regula a investigação de paternidade dos filhos havidos fora do

casamento, prevê uma nova forma de reconhecimento da paternidade, denominada

de averiguação oficiosa.118

José Aparecido da Cruz, sobre o assunto, afirma que:

114 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família: lei nº 10.406, de 10.01.2002. p. 439. 115 LEITE, Eduardo de Oliveira. Direito civil aplicado, volume 5: direito de família. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 229. 116 CRUZ, José Aparecido. Averiguação e investigação de paternidade no direito brasileiro: teoria, legislação, jurisprudência. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. p. 50. 117 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família: lei nº 10.406, de 10.01.2002. p. 440. 118 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. p. 319.

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A averiguação oficiosa é um procedimento administrativo de jurisdição voluntária, cuja iniciativa não é das partes interessadas, mas do Estado que busca retificar o assento de nascimento de criança ou adolescente, averbando-se à margem, o nome do suposto

pai.119

Tal procedimento ocorre quando o oficial do Registro Civil,

verificando que no assento de nascimento do menor consta apenas a maternidade,

remete ao juiz certidão do registro do mesmo, informando a qualificação do suposto

pai, a qual foi declarada pela mãe do registrando, para que o juiz proceda a

investigação oficiosa, visando regularizar a paternidade do menor.120

Nesse sentido, disciplina Carlos Roberto Gonçalves com

respeito a matéria:

[...] o oficial que procedeu ao registro de nascimento de menor apenas com a maternidade estabelecida deverá remeter ao juiz certidão integral do registro e o nome e prenome, profissão, identidade e residência do suposto pai, a fim de ser averiguada oficiosamente a procedência da alegação. Se este admitir, será lavrado termo de reconhecimento, a ser averbado pelo oficial do Registro Civil junto ao assento de nascimento. Se, porém, negá-la, ou não atender a notificação, os autos serão remetidos ao Ministério Público para que este promova a ação de investigação de

paternidade.121

Destarte, o juiz mandará notificar o suposto pai para que se

manifeste sobre a paternidade a ele atribuída. Caso seja confirmada a paternidade,

será lavrado o termo de reconhecimento paterno, remetendo-se a certidão ao oficial

do Registro Civil, para proceder a devida averbação.122

119 CRUZ, José Aparecido. Averiguação e investigação de paternidade no direito brasileiro: teoria, legislação, jurisprudência. p. 58. 120 PAULO FILHO, Pedro; PAULO, Guiomar A. de Castro Rangel. Concubinato, união estável, alimento, investigação de paternidade. p. 340/341. 121 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. p. 300. 122 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família: lei nº 10.406, de 10.01.2002. p. 440/441.

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Todavia, não atendendo o suposto pai a notificação do juiz, no

prazo de trinta dias, ou negando a paternidade, “os autos do procedimento

administrativo deverão ser remetidos ao Ministério Público, para eventual propositura

de ação de investigação de paternidade”.123 (grifo no original)

2.2.2 Reconhecimento Judicial: Ação de Investigação de Paternidade

Quando o reconhecimento dos filhos não é realizado de forma

voluntária, este pode ser efetuado via judicial pelo interessado, por meio da ação de

investigação de paternidade, também denominada de ação de prova de filiação.124

Nesse sentido, leciona Carlos Roberto Gonçalves:

O filho não reconhecido voluntariamente pode obter o reconhecimento judicial, forçado ou coativo, por meio da ação de investigação de paternidade, que é ação de estado, de natureza

declaratória e imprescritível.125

Sobre o assunto, estabelece Alberto Chamelete Neto que “a

investigação de paternidade é ação de estado”, posto que “visa a declaração judicial

da existência do vínculo biológico entre pai e filho, estabelecendo-se em decorrência

o vínculo jurídico”.126

Por tratar-se de ação de estado, a ação investigatória de

paternidade é imprescritível, permitindo assim que o filho, a qualquer tempo,

reivindique o seu estado de filiação.127

123 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e sucessões. p. 312. 124 SIMAS FILHO, Fernando. A prova na investigação de paternidade. 10 ed. Curitiba: Juriá, 2007. p. 39. 125 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. p. 305. 126 CHAMELETE NETO, Alberto. Investigação de paternidade & DNA. p. 30. 127 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família. p. 361.

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De outro norte, percebe-se que a ação de investigação de

paternidade é uma ação declaratória, haja vista que tem como propósito a

declaração judicial da paternidade. Por este motivo, retroage a data do nascimento

ou da concepção do filho, posto que apenas vem confirmar uma relação

anteriormente existente.128

Cumpre ressaltar que o ordenamento jurídico anterior admitia a

propositura da ação de investigação de paternidade apenas pelos filhos ilegítimos

naturais, excluindo-se assim, os incestuosos e adulterinos, e somente nos casos em

que ocorresse o concubinato da mãe com o suposto pai, o rapto da mãe pelo

suposto pai ou quando as relações sexuais deste com a mãe coincidissem com a

concepção do filho, bem como quando houvesse um escrito do suposto pai,

reconhecendo expressamente a paternidade.129

No entanto, com o advento da Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988 – CRFB/88, a qual estabeleceu a igualdade entre os

filhos, permitiu-se que a ação de investigação de paternidade fosse proposta, sem

nenhuma restrição, por qualquer filho não reconhecido voluntariamente, estando

também incluídos os adulterinos e incestuosos.130

Destarte, atualmente, não há mais qualquer exigência para a

propositura da ação de investigação de paternidade, posto que o interessado tem o

direito de saber a sua origem genética.131

2.3 LEGITIMIDADE PARA A AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE

128 SIMAS FILHO, Fernando. A prova na investigação de paternidade. p. 39. 129 CRUZ, José Aparecido. Averiguação e investigação de paternidade no direito brasileiro: teoria, legislação, jurisprudência. p. 80/81. 130 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. p. 326. 131 PAULO FILHO, Pedro; PAULO, Guiomar A. de Castro Rangel. Concubinato, união estável, alimento, investigação de paternidade. p. 343.

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A legitimidade para figurar no pólo ativo da ação de

investigação de paternidade pertence ao “filho investigante que, se menor,

comparecerá em Juízo representado por sua genitora, tutor ou qualquer outro

representante legal”.132

Nesse sentido, sustenta Carlos Roberto Gonçalves:

A legitimidade ativa para o ajuizamento da ação de investigação de paternidade é do filho. O reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, por isso, a ação é privativa dele. Se menor, será representado pela mãe ou tutor.133

Com efeito, estabelece o artigo 1.606 do atual Código Civil

como sendo parte legítima para propor ação de investigação de paternidade, o filho.

Entretanto, se este vier a falecer, menor ou incapaz, a legitimidade para propor a

ação passa aos os herdeiros, por substituição processual. Ademais, conforme

dispõe o parágrafo único do citado artigo, nos casos em que a ação investigatória já

tiver sido iniciada pelo filho e vindo este a falecer, poderão os herdeiros dar

prosseguimento no processo.

Para corroborar, leciona Arnaldo Rizzardo:

No caso de falecimento do pretenso filho ainda menor ou incapaz, a legitimidade para promover a demanda passa aos herdeiros. Mas, se iniciada a demanda, e dando-se o falecimento do autor no seu curso, prosseguem os herdeiros, devendo habilitar-se no processo, a

menos que tenha o mesmo sido julgado extinto [...].134

Cumpre mencionar que o Superior Tribunal de Justiça tem

admitido, nos casos em que o filho veio a falecer sem antes ter investigado a sua

132 CRUZ, José Aparecido. Averiguação e investigação de paternidade no direito brasileiro: teoria, legislação, jurisprudência. p. 98. 133 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. p. 307. 134 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família: lei nº 10.406, de 10.01.2002. p. 457.

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origem genética, que os herdeiros deste intentem ação investigatória em face do

suposto pai, ou seja, a jurisprudência vem reconhecendo a legitimidade ativa dos

netos para ajuizar ação de investigação de paternidade contra os avôs, quando já

falecido o pai.135

Destarte, a “possibilidade dos netos procurarem investigar a

paternidade do avô, relativamente aos pais dos mesmos” é chamada de relação

avoenga e encontra validade na Constituição Federal de 1988, bem como no fato de

inexistir qualquer limitação no ordenamento jurídico capaz de excluir outros

interessados de pleitearem o seu direito.136

A legitimidade ativa para propor ação investigatória estende-se

também ao Ministério Público, nos casos em que, ocorrendo o procedimento de

averiguação oficiosa, o suposto pai negar a alegada paternidade ou não atender a

notificação judicial, no prazo legal.137

Portanto, nota-se “que o Ministério Público também é

legitimado quando o pretenso pai não responder a notificação no procedimento de

averiguação oficiosa em 30 dias ou vier a negar a paternidade”.138

Neste diapasão, Alberto Chamelete Neto esclarece que:

A Lei 8.560/92 conferiu ao Ministério Público legitimidade concorrente para intentar a ação investigatória. Trata-se de legitimidade extraordinária, que será exercida nos casos de averiguação oficiosa, quando o procedimento não lograr êxito, ou seja, não havendo o reconhecimento da paternidade pelo suposto

pai.139

135 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família. p. 363. 136 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família: lei nº 10.406, de 10.01.2002. p. 460/461. 137 ASSUMPÇÃO, Luiz Roberto de. Aspectos da paternidade no novo código civil. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 116/117. 138 PAULO FILHO, Pedro; Guiomar A. de Castro Rangel. Concubinato, união estável, alimento, investigação de paternidade. p. 343/344. 139 CHAMELETE NETO, Alberto. Investigação de paternidade & DNA. p. 31.

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No tocante a legitimidade passiva, esta recai no suposto pai ou

nos seus herdeiros, se o mesmo for falecido.140

Sobre o assunto, esclarece Carlos Roberto Gonçalves que “a

legitimidade passiva recai no suposto pai ou na suposta mãe, dependendo de quem

está sendo investigado. Se o demandado já for falecido, a ação deverá ser dirigida

contra os seus herdeiros”.141

Entretanto, dispõe o artigo 1.615 do atual Código Civil que

qualquer pessoa interessada pode contestar a ação de investigação de paternidade.

Neste contexto, Alberto Chamelete Neto destaca em sua obra

que para Mário Aguiar Moura, “qualquer que seja o herdeiro, aparece a legitimidade

passiva”.142

Dessa forma, qualquer pessoa, seja ela herdeira, legatária ou

ainda, cônjuge do suposto pai, que venha a ser atingida em seus direitos e, portanto,

tendo interesse na ação, pode atuar como no pólo passivo da ação de investigação

de paternidade.143

2.4 PROVAS NA AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE

Nas palavras de Arnaldo Rizzardo, “a investigação de

paternidade requer a produção de prova forte e induvidosa, de modo a não permitir

incertezas ou inseguranças, o que impõe um atilado cuidado na apuração dos

fatos”.144

140 SIMAS FILHO, Fernando. A prova na investigação de paternidade. p. 72 141 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. p. 309. 142 CHAMELETE NETO, Alberto. Investigação de paternidade & DNA. p. 32. 143 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família: lei nº 10.406, de 10.01.2002. p. 463. 144 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família: lei nº 10.406, de 10.01.2002. p. 474.

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Seguindo o mesmo entendimento afirma Fernando Simas Filho

que:

Em ações de investigação de paternidade, a prova terá que ser robusta, pois a paternidade apenas possível não pode ser sinônimo de paternidade concreta, judicialmente comprovada por critérios objetivos. Só o conjunto uniforme de elementos seguros, pode levar à declaração de filiação contestada, pois se é desumano não ter o filho direito à paternidade, injusto também é a declaração de

uma filiação inexistente.145 (grifo no original)

Luiz Roberto de Assumpção, sobre o assunto, destaca em sua

obra que, para Salmo Raskin:

Até o advento do Teste em DNA, não era possível garantir com absoluta certeza se um indivíduo era ou não filho biológico de um determinado casal. No entanto, com o advento das técnicas que analisam o DNA, este problema ficou definitivamente resolvido, já que agora é possível não só excluir os indivíduos falsamente acusados, mas também obter probabilidade de inclusão extremamente próxima de 100%. Ou seja, é possível, através do Teste em DNA, afirmar que um indivíduo é, com certeza, o progenitor de determinada pessoa, inclusive naqueles casos em que membros

da família já faleceram.146 (grifo no original)

Também nesse sentido, ensina Alberto Chameleto Neto, que:

A introdução do DNA no cotidiano forense causou um profundo impacto na dinâmica das ações de investigação de paternidade. A jurisprudência, incorporando os avanços científicos conquistados na área da Genética, elegeu o exame de DNA como principal meio de prova, reconhecendo-lhe segurança e confiabilidade inquestionáveis na averiguação biológica da paternidade. O DNA é defendido por

145 SIMAS FILHO, Fernando. A prova na investigação de paternidade. p. 101. 146 ASSUMPÇÃO, Luiz Roberto de. Aspectos da paternidade no novo código civil. p. 187.

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muitos juristas como o antídoto perfeito para todos os problemas

relativos à prova da filiação em juízo.147

Embora o exame de DNA seja, hoje, o principal meio de prova

da paternidade, ele não é obrigatório. Contudo, conforme dispõe o artigo 232 do

atual Código Civil, a recusa em submeter-se ao exame de DNA poderá suprir a

prova que se pretendia alcançar com a realização deste exame, ou seja, a recusa do

suposto pai ao exame de DNA induz presunção juris tantum de paternidade (Súmula

301 do Superior Tribunal de Justiça).

Cumpre mencionar que a presunção resultante da recusa do

suposto pai em se submeter ao exame genético é relativa, isto é, admite prova em

contrário. Por este motivo, é que deve tal recusa ser analisada conjuntamente com

os demais meios de provas constante nos autos, posto que “sozinha, não deve ser

considerada prova bastante para declarar a existência do vínculo da paternidade”.148

Destarte, o exame de DNA não é o único meio idôneo de prova

utilizado nas ações de investigação de paternidade, até porque, nem sempre é

possível a sua realização, sendo também admitidas como instrumento probatório da

paternidade, as provas documentais, testemunhais e outros exames periciais.149

Esclarece Luiz Roberto de Assumpção que as referidas provas,

admitidas na ação de investigação de paternidade, “não conduzem, e dificilmente

conduzirão, à revelação da verdade real, permanecendo, sim, na revelação indiciária

e presumida do vínculo genético de paternidade”, posto que não permitem, ao

julgador, um juízo de certeza sobre a paternidade.150

147 CHAMELETE NETO, Alberto. Investigação de paternidade & DNA. p. 87. 148

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. p. 316. 149

RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família: lei nº 10.406, de 10.01.2002. p. 475. 150 ASSUMPÇÃO, Luiz Roberto de. Aspectos da paternidade no novo código civil. p. 109/112.

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Ademais, os exames periciais (exames de sangue),

anteriormente utilizados, não traduzem a verdadeira paternidade, posto que apenas

servem para excluí-la, não fornecendo a segurança do DNA.151

Verifica-se assim, que a sentença, proferida em demanda que

não tenha utilizado o exame de DNA como meio de prova, é “destituída de

comprovação científica da verdade biológica da paternidade”, e por esta razão, é

que deve ser analisada a possibilidade de desconstituição de tal decisão, posto que

a verdade real quanto à origem genética deve prevalecer sobre a intangibilidade da

coisa julgada.

151 WELTER, Pedro Belmiro. Investigação de Paternidade: obrigatoriedade do exame genético. Revista Jurídica: órgão nacional de doutrina, jurisprudência, legislação e crítica jurídica, ano XLVI, n. 246, p. 05-12, abr. 1998.

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3 A RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA NA AÇÃO DE

INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE

3.1 MEIOS DE DESCONSTITUIÇÃO DA COISA JULGADA

3.1.1 Ação Negatória de Paternidade

Uma das formas de desconstituição da coisa julgada é a

denominada ação negatória de paternidade, também conhecida como ação de

contestação da paternidade. Tal ação se destina a excluir a presunção legal de

paternidade, sendo, portanto, proposta pelo marido com o objetivo de contestar a

paternidade do filho nascido de sua mulher.152

Cumpre ressaltar, que a ação negatória de paternidade é uma

ação imprescritível. Contudo para a propositura da referida ação é necessário que o

marido comprove que o reconhecimento voluntário da paternidade não espelha a

verdade biológica, posto que eivado em vícios de consentimento (erro, dolo ou

coação).153

3.1.2 A Ação Rescisória

A partir do momento em que a decisão judicial não for mais

passível de impugnação pelas partes, através da interposição de recursos, é que se

forma a coisa julgada. Todavia, a lei prevê uma forma de se desconstituir a sentença

transitada em julgado, por meio da ação rescisória.154

152

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. p. 284/285. 153

RIZZARDO, Arnaldo. Direito de família: lei nº 10.406, de 10.01.2002. p. 502. 154 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil. p. 172.

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Hélio do Valle Pereira considera a ação rescisória como sendo

“aquela destinada a desconstituir uma decisão que, enfrentando o mérito, transitou

em julgado. Cuida-se de ação autônoma de impugnação – forma de ataque a uma

deliberação judicial por meio de nova relação processual”.155 (grifo no original)

Sobre o assunto, esclarecem Fredie Didier Jr., Paulo Sarno

Braga e Rafael Oliveira que:

A ação rescisória é uma ação autônoma de impugnação de decisão de mérito transitada em julgado, quando inquinada por vícios

rescisórios (previstos no art. 485, CPC). Visa desconstituir a coisa julgada material. Para ser manejada deve estar presente uma das hipóteses de cabimento do art. 485, CPC, respeitando-se o prazo decadencial de 02 anos – cujo termo inicial é a data do trânsito em

julgado.156 (grifo no original)

A ação rescisória somente é cabível nas hipóteses previstas no

artigo 485 do Código de Processo Civil, as quais dispõem que a sentença pode ser

rescindida quando se verificar que esta foi dada por prevaricação, concussão ou

corrupção do juiz; quando for proferida por juiz impedido ou absolutamente

incompetente; quando resultar de dolo da parte vencedora ou de colusão entre as

partes a fim de fraudar a lei; bem como quando a sentença ofender a coisa julgada;

violar literal disposição de lei; quando se fundar em prova falsa; ou ainda quando,

depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência ignorava;

quando houver fundamento para invalidar confissão, desistência ou transação em

que se baseou a sentença e quando a sentença for fundada em erro de fato,

resultante de atos ou documentos da causa.

Ademais, para que a coisa julgada possa ser anulada pela

ação rescisória é necessário que, além do preenchimento de uma das hipóteses

previstas no artigo acima mencionado, que haja uma sentença de mérito, que tenha

155PEREIRA, Hélio do Valle. Manual de direito processual civil: roteiros de aula – processo de conhecimento. p. 863. 156 DIDIER JR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de direito processual civil: direito probatório, decisão judicial, cumprimento e liquidação de sentença e coisa julgada. p. 579.

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ocorrido a coisa julgada material sobre tal sentença e, ainda, que não tenha

transcorrido o prazo de dois anos do trânsito em julgado da mencionada sentença.157

Para corroborar, esclarece Alexandre Freitas Câmara:

A rescisão da sentença poderá, assim, ser pleiteada toda vez que ocorrer algum dos vícios previstos no art. 485 do Código de Processo Civil, através de “ação rescisória”, a qual deverá ser proposta num

prazo máximo de dois anos a contar do trânsito em julgado.158

Cumpre ressaltar, que o ordenamento jurídico não permite o

ajuizamento de uma ação que já tenha sido decidida, anteriormente, por sentença

transitada em julgado, posto que, em razão do efeito negativo da coisa julgada, as

partes devem a esta se submeter, vedando a rediscussão de uma mesma matéria.159

No entanto, em razão do curto prazo, 02 (dois) anos, para a

propositura da ação rescisória, constata-se a possibilidade de perpetuação de

graves injustiças, como nos casos em que a ação de paternidade, que por ter se

baseado apenas em provas testemunhais ou documentais, apresenta uma decisão

contrária a realidade.160

3.2 A COISA JULGADA E A COLISÃO ENTRE OS PRINCÍPIOS

CONSTITUCIONAIS

Como já abordado no primeiro capítulo desta monografia, a

coisa julgada, por ser a imutabilidade e a indiscutibilidade dos efeitos da sentença,

157 MARINONI, Luiz Guilherme. ARENHART, Sérgio Cruz. Curso de processo civil: processo de conhecimento. p. 657. 158 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. p. 267. 159 GONÇALVES, Adriana Wüst. Coisa julgada inconstitucional. Revista de direito civil e processual civil, n. 41, p. 07-31, maio/jun. 2006. 160 BRANDÃO, Fabricio dos Reis. Coisa julgada. São Paulo: MP Editora, 2005. p. 30.

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assegura a estabilidade das relações jurídicas, garantindo, portanto, segurança aos

julgados.

Fredie Didier Jr., Paulo Sarno Braga e Rafael Oliveira

ressaltam que “a coisa julgada é instituto jurídico que integra o conteúdo do direito

fundamental à segurança jurídica, assegurado em todo Estado Democrático de

Direito, encontrando consagração expressa, em nosso ordenamento, no art. 5º,

XXXVI, CF”.161

Contudo, o Estado Democrático de Direito não é somente

assegurado pela coisa julgada, decorrente do valor da segurança jurídica, mas

também por outros valores fundamentais, como, por exemplo, a busca da verdade

real, a dignidade da pessoa humana e o princípio da proporcionalidade.162

Cumpre ressaltar, ainda que a segurança jurídica decorrente da

coisa julgada atribua certeza à decisão, tal segurança somente geraria estabilidade

aos julgados se imposta de acordo com a realidade dos fatos.

Assim, apesar da coisa julgada evitar infinitas discussões

judiciais, deve a mesma, em situações excepcionais, ser analisada conjuntamente

com outros princípios constitucionais, posto que, havendo colisão entre os mesmos,

a coisa julgada poderá ceder diante de outros “valores fundamentais envolvidos, no

caso concreto”.163

Humberto Theodoro Júnior e Juliana Cordeiro de Faria

esclarecem que:

Impossível é continuar-se afirmando, em nome da segurança jurídica, a santidade da coisa julgada e a sua intangibilidade como

161 DIDIER JR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de direito processual civil: direito probatório, decisão judicial, cumprimento e liquidação de sentença e coisa julgada. p. 552. 162 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. MEDINA, José Miguel Garcia. O dogma da coisa julgada: hipóteses de relativização. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 22. 163 WAMBIER, Luiz Rodrigues (coord.). Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. p. 528.

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valor absoluto. Embora a sua relativização seja medida excepcional, sempre será justificada pela via rescisória quando, observadas a proporcionalidade e razoabilidade, estiverem sendo malferidos

valores e garantias que igualmente merecem tutela.164

Nesse sentido, Marcos Vinícius Rios Gonçalves disciplina que

a autoridade da coisa julgada deve ser mitigada quando estiver contrariando “valores

mais importantes”, tais como, por exemplo, a verdade cientificamente

comprovada.165

Para corroborar, sustenta Luiz Guilherme Marinoni “que a coisa

julgada, por ser apenas um dos valores protegidos constitucionalmente, não

pode prevalecer sobre outros valores que têm o mesmo grau hierárquico”.166 (grifo

no original)

Dessa forma, percebe-se que embora a coisa julgada seja um

instituto garantido constitucionalmente, não possui valor absoluto, devendo a mesma

ser moderada, em cada caso concreto, através da ponderação do valor da

segurança jurídica e outros valores constitucionalmente previstos.167

Gustavo Lopes Pires de Souza e Daniel de Ávila Almeida

destacam, em seu artigo que, para Cândido Rangel Dinamarco, “nenhum princípio

constitui um objetivo em si mesmo e todos eles, em seu conjunto, devem valer como

meios de melhor proporcionar um sistema processual justo, capaz de efetivar a

promessa constitucional de acesso à Justiça”, entendida como o acesso a ordem

jurídica justa.168

164 THEODORO JÚNIOR, Humberto; FARIA, Juliana Cordeiro de. Reflexão sobre o princípio da intangibilidade da coisa julgada e sua relativização. NASCIMENTO, Carlos Valder (org.); DELGADO, José Augusto (org.). Coisa julgada inconstitucional. Belo Horizonte: Fórum, 2006. p. 161-194. 165 GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Novo curso de direito processual civil. p. 31. 166 MARINONI, Luiz Guilherme. O princípio da segurança dos atos jurisdicionais: a questão da relativização da coisa julgada material. Revista de direito processual civil, v. 31, Curitiba: Genesis, p. 142-162, jan./mar. 2004. 167 THEODORO JÚNIOR, Humberto; FARIA, Juliana Cordeiro de. Reflexão sobre o princípio da intangibilidade da coisa julgada e sua relativização. NASCIMENTO, Carlos Valder (org.); DELGADO, José Augusto (org.). Coisa julgada inconstitucional. Belo Horizonte: Fórum, 2006. p. 161-194. 168 SOUZA, Gustavo Lopes Pires de; ALMEIDA, Daniel de Ávila. Coisa julgada nas ações de paternidade. Justilex, ano IV, n. 44, ago. 2005.

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Neste diapasão, esclarece Fabrico dos Reis Brandão que “a

aplicação de princípios constitucionais dentro de um contexto pode excluir ou reduzir

a aplicação de um outro princípio constitucional também aplicável no caso concreto”,

fazendo com que estes princípios não sejam absolutos.169

Essa ponderação de princípios é realizada através da

aplicação do princípio da proporcionalidade. Tal princípio busca a sobreposição,

frente a uma demanda específica, dentre os valores fundamentais em conflito, do

que melhor se adapta ao caso específico, de modo a não lesar, ou lesar o mínimo,

os demais valores envolvidos.170

Sérgio Gilberto Porto, sobre a idéia de proporcionalidade,

afirma em seu artigo que:

O princípio da proporcionalidade, tem por escopo - como sua designação deixa antever - a vontade de evitar resultados desproporcionais e injustos, baseado em valores fundamentais conflitantes, ou seja, o reconhecimento e aplicação do princípio permite vislumbrar a circunstância de que o propósito constitucional de proteger determinados valores fundamentais deve ceder quando a observância intransigente de tal orientação importar na violação de

outro direito fundamental ainda mais valorado.171

Portanto, ocorrendo “colisão” entre princípios, no caso

concreto, deve o magistrado, aplicar o princípio da proporcionalidade, buscando

assim, harmonizar os princípios conflitantes e alcançar um equilíbrio entre os

mesmos.172

169 BRANDÃO, Fabricio dos Reis. Coisa julgada. p. 49. 170 BRANDÃO, Fabricio dos Reis. Coisa julgada. p. 55/57. 171 PORTO, Sérgio Gilberto. Cidadania processual e relativização da coisa julgada. Revista de processo, ano 28, n. 112, São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 23-32, out./dez. 2003. 172 THEODORO JÚNIOR, Humberto; FARIA, Juliana Cordeiro de. Reflexão sobre o princípio da intangibilidade da coisa julgada e sua relativização. NASCIMENTO, Carlos Valder (org.); DELGADO, José Augusto (org.). Coisa julgada inconstitucional. Belo Horizonte: Fórum, 2006. p. 161-194.

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Donaldo Armelin ensina a respeito que os princípios “não se

excluem, mas se harmonizam, através da ponderação dos valores conflitantes,

permitindo a atuação do princípio da proporcionalidade que impõe a existência de

uma relação adequada [...] relacionados a uma específica situação”.173

Nesse contexto, entende o Tribunal de Justiça do Distrito

Federal, que em casos específicos, deve o magistrado ponderar sobre que valor

fundamental, dentre todos os aplicáveis, deverá prevalecer, de modo que melhor se

ajuste ao caso:

PROCESSO CIVIL. AGRAVO. FAMÍLIA. INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. COISA JULGADA. COLIDÊNCIA ENTRE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS. RAZOABILIDADE. 1. Ante conflito de princípios constitucionais, como o do inciso XXXVI, do artigo 5º, da CF, que assegura o respeito à coisa julgada, e aquele da dignidade humana, § 7º, do artigo 226 (e entre eles o direito do filho em conhecer sua paternidade efetiva), deve o poder judiciário utilizar-se de critérios que lhe permitam ponderar, em virtude da situação concreta, qual seja o direito a prevalecer no caso. 2. A jurisprudência tem obviado a rigidez da coisa julgada, para, reabrindo a lide, e ante produção de prova pericial (exame DNA), diligência que fornece quase cem por cento de certeza, esclarecer a situação biológica do investigante.174

Dessa forma, percebe-se que os princípios em si não se

colidem. O que ocorre é que um caso concreto particular abarca um ou mais

princípios. Então, dentre os possíveis se opta pelo que melhor se adequa na busca

da justiça. Verifica-se, assim, que “as colisões entre princípios resultam apenas em

173 ARMELIN, Donaldo. Flexibilização da coisa julgada. NASCIMENTO, Carlos Valder (org.); DELGADO, José Augusto (org.). Coisa julgada inconstitucional. Belo Horizonte: Fórum, 2006. p. 195-232. 174 DISTRITO FEDERAL, Tribunal de Justiça. 20020020041108AGI, Rel. Des. Silvânio Barbosa dos Santos, Segunda Turma Cível, julgado em 05/12/2002, DJ 26/03/2003, p. 37. Disponível em: <http://tjdf19.tjdft.jus.br/cgi-bin/tjcgi1?DOCNUM=1&PGATU=1&l=20&ID=61292,52298,20147&MGWLPN=SERVIDOR1&NXTPGM=jrhtm03&OPT=&ORIGEM=INTER>. Acessado em: 22 out. 2008.

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que se privilegie o acatamento de um, sem que isso implique no desrespeito

completo do outro”.175

3.3 A TESE DA RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA NA AÇÃO DE

INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE COM O ADVENTO DO EXAME DE DNA

A relativização da coisa julgada ocorre quando, após a

sentença de mérito ter se tornado imutável e passado o prazo para a propositura da

ação rescisória, admiti-se, em casos excepcionais, que o que fora decidido na

mencionada sentença, seja desconsiderado, possibilitando a sua rediscussão.176

Hoje em dia, muito tem se discutido sobre a relativização da

coisa julgada. Um dos exemplos que se questiona sobre a possibilidade dessa

relativização é o da ação de investigação de paternidade, em que após o seu

trânsito em julgado, realizou-se o exame de DNA, desconhecido no tempo do

processo, do qual resultou a comprovação da filiação biológica, em sentido inverso

ao admitido na sentença.177

Nas ações investigatórias de paternidade, por envolver o direito

da personalidade, a prova deve ser forte e convincente, e somente com o advento

do DNA, é que isso se tornou possível, posto que este exame possibilitou que se

retirasse “qualquer dúvidas surgidas com a prova testemunhal e, porventura por

outros exames genéticos” anteriormente utilizados como único meio de prova.178

Sobre o assunto, Cláudia Bellotti Moura e Vitor Hugo Oltramari

se posicionam da seguinte forma:

175 GUERRA FILHO, Willis Santiago. O princípio da proporcionalidade como garantia do estado democrático de direito. PEIXINHO, Manoel Messias; GUERRA, Isabella Franco; NASCIMENTTO FILHO, Firly. Os princípios da constituição de 1988. 2 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. p. 423-433. 176 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. p. 491. 177 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Considerações sobre a chamada “relativização” da coisa julgada material. Revista Dialética de direito processual, n. 22, p. 91-111. 178 VARGAS, Glaci de Oliveira Pinto; WERLANG, Maslova. Paternidade: investigação judicial e coisa julgada. Florianópolis: OAB/SC, 2004. p. 73.

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Até o advento do teste de DNA, não era possível garantir com absoluta certeza se um indivíduo era ou não filho biológico de um determinado casal. No entanto, com as técnicas que analisam o DNA, esse problema ficou definitivamente resolvido, não mais se justificando a existência de “criança sem pai”.

E, ainda destacam que:

Foi a partir da difusão, no Brasil, do exame de DNA que se passou a discutir se a verdade biológica demonstrada por tal exame deveria ceder ante a coisa julgada; deve-se, portanto, a esse exame a tendência de se relativizar a coisa julgada nas ações de investigação

de paternidade.179

No Brasil, o exame de DNA passou a ser utilizado como meio

de prova somente no ano de 1988. Portanto, verifica-se que o referido exame “só

veio a beneficiar a instrução de ações investigatórias posteriores àquele período”,

ficando prejudicadas as ações decididas antes do surgimento do DNA ou da

utilização deste, pois fundadas apenas em provas que não ofereciam “nenhuma

segurança da verdade sobre a filiação”.180

Verifica-se ainda, que as ações de investigação de paternidade

não podem mais ser julgadas sem que se utilize o exame de DNA, uma vez que tal

exame é capaz de excluir ou afirmar a paternidade com uma certeza que atinge o

percentual de 99,99999%.181

Neste diapasão, ensina Alexandre Freitas Câmara:

179 MOURA, Cláudia Bellotti; OLTRAMARI, Vitor Hugo. A quebra da coisa julgada na ação de investigação de paternidade: uma questão de dignidade. Revista de direito privado, n.21, São Paulo: Revista dos Tribunais, p. 49-67, jan./mar. 2005. 180 MOREIRA, Karina de Pinto. A coisa julgada na investigação de paternidade com o advento do exame de DNA. Disponível em: <http://direito.newtonpaiva.br/revistadireito/docs/convidados/BKP/Coisa_julgada.doc> Acessado em: 20/10/2008. 181 NICOLAU JUNIOR, Mauro. Coisa julgada ou DNA negativo. O que deve prevalecer? Revista brasileira de direito de família. Porto Alegre: Síntese, v. 1, n. 1, p. 113-159, abr./jun. 1999.

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O caso mais importante de desconsideração da coisa julgada material é, sem sombra de dúvida, o dos processos em que se busque a declaração de existência ou inexistência de relação de parentesco. Figure-se a hipótese de se ter julgado “ação de investigação de paternidade” quando ainda não existiam as técnicas científicas hoje existentes, e a posterior realização de exames tornados possíveis por técnicas mais modernas permitiam verificar que o resultado anteriormente alcançado estava errado. Parece-nos que declarar que uma pessoa é genitora (ou filha) de outra quando isto não corresponde à verdade contraria o mais relevante dos princípios constitucionais: o da dignidade humana.182

Dessa maneira, com o advento do exame de DNA, “estão em

jogo dois aspectos fundamentais: o legítimo interesse do investigante de saber a

verdade sobre sua paternidade e a alegação da coisa julgada onde não existiram

elementos de convicção do julgador”. Diante disso, nota-se que a intangibilidade da

coisa julgada, no tempo em que se desconhecia o DNA, não pode ser mantida, ante

a evidência da verdade que se extrai de tal exame.183

“Outrossim, há que se observar a prevalência da dignidade da

pessoa humana frente ao princípio da segurança jurídica”, posto que a segurança

jurídica não pode prevalecer em face do direito à filiação.184

Para corroborar, tem-se o entendimento do Tribunal de Justiça

do Rio Grande do Sul:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE JULGADA PROCEDENTE. RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA MATERIAL. PROPOSITURA DE NOVA AÇÃO. O valor que a coisa

182 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. 16 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007. p. 495. 183 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família. p. 373 184 LOURENÇO, Alan Ricardo D. A relativização da coisa julgada nas ações de investigação de paternidade julgadas improcedentes por insuficiência de provas. Disponível em: <http://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&pwst=1&q=coisa+julgada+relativiza%C3%A7%C3%A3o&start=10&sa=N >. Acessado em: 10 set. 2008.

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julgada visa resguardar é justamente o da segurança jurídica, e esse valor deve ser posto em cotejo com um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, consagrado no art. 1º, inc. III, da Constituição, ou seja, o da dignidade da pessoa humana. Logo, ante a absoluta excepcionalidade do caso concreto, em que resta flagrante que a tramitação processual da ação julgada procedente não observou os dogmas constitucionais da ampla defesa, e em respeito ao direito à correta atribuição da relação paterno-filial ligado à preservação da dignidade pessoal. valor que deve ser sobreposto a qualquer outro princípio, inclusive o da segurança jurídica. adequada a relativização da coisa julgada, viabilizando a propositura de nova ação com o mesmo objeto, para na instrução probatória ser realizada perícia genética, devendo ser desconstituída a decisão que extinguiu a demanda, sem julgamento de mérito. DERAM PROVIMENTO, POR MAIORIA.185

Assim sendo, “quando restar configurada a colisão entre o

direito à segurança jurídica decorrente da coisa julgada e os direitos fundamentais

da personalidade e dignidade, devem prevalecer os dois últimos”, posto que a

segurança jurídica somente trará estabilidade ao julgado quando estiver de encontro

com a verdade real.186

Portanto, “não parece justo que a segurança da coisa julgada

advinda da prolação de uma sentença definitiva se sobreponha ao direito

personalíssimo, indisponível e imprescritível do indivíduo ver-se devidamente

reconhecido pelo seu genitor”.187

Em consonância, é a jurisprudência do Tribunal de Justiça

Minas Gerais:

185 RIO GRANDE DO SUL, Tribunal de Justiça do Estado. Apelação Cível Nº 70008102378, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, Julgado em 29/09/2004. Disponível em: < http://www.tj.rs.gov.br/site_php/jprud2/ementa.php>. Acessado em 22 out. 2008. 186 BARBERATO, Celso. A relativização da coisa julgada nas ações de investigação de paternidade e maternidade. Revista jurídica da universidade de franca, Franca: Universidade de Franca, ano 6, n. 11, p. 22-28, 2º semestre 2003. 187 SILVA, Luciana Genehr da. Investigação de paternidade: efeitos da coisa julgada. Atuação – Revista jurídica do Ministério Público Catarinense. v. 3, n. 7, Florianópolis: PGJ, p. 231-241.

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COISA JULGADA – INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE - DNA - PROVA DA VERDADE REAL - RELATIVIZAÇÃO. Sabe-se que a coisa julgada existe à conta de instituto destinado à segurança das relações jurídicas, o que explica a natural oposição de dificuldades às pretensões conducentes à sua ruptura. Todavia, nas ações de estado, - estado de pessoa - após a evolução, não só no âmbito da ciência médica, mas também no da jurídica, em decorrência do advento do DNA, a coisa julgada sofreu justificável e oportuna atenuação em seus rigores, resultante da imperiosa necessidade do reconhecimento da verdade real emanada daquele exame genético. Ensejou-se, em conseqüência, sua relativização (dela, coisa

julgada).188

Dessa forma, tendo em vista que as ações investigatórias de

paternidade guardam certas peculiaridades (ações de estado, indisponíveis e

imprescritíveis), não se pode admitir que a estabilidade das decisões jurídicas,

garantida pela coisa julgada, prevaleça sobre o direito de um indivíduo em saber

quem é o seu genitor, ou deste em saber se realmente gerou aquele indivíduo.189

Cumpre ressaltar que, o que se quer não é extirpar a coisa

julgada, mas sim revisar os julgados que não tenham utilizado o exame de DNA, ou

porque na época não existia ou porque não se tinha conhecimento sobre ele, para

que a nova decisão, que será acobertada pela coisa julgada, seja proferida de

acordo com a verdade real cientificamente comprovada sobre a paternidade.190

Sobre o assunto, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais

entende que, se tratando de ações relativas à paternidade, deixar de utilizar o

exame de DNA, que busca a certeza científica, é ofender o princípio da dignidade da

pessoa humana:

188 MINAS GERAIS, Tribunal de Justiça do Estado. APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0407.03.003745-8/001 - Comarca de Mateus Leme - Relator: DES. ALMEIDA MELO. Disponível em: <http://www.tjmg.gov.br/juridico/jt_/inteiro_teor.jsp?tipoTribunal=1&comrCodigo=0407&ano=3&txt_processo=3745&complemento=001&sequencial=&pg=0&resultPagina=10&palavrasConsulta=>. Acessado em 24 out. 2008. 189 SOUZA, Gustavo Lopes Pires; ALMEIDA, Daniel Ávila. Coisa julgada nas ações de paternidade. Justilex, ano IV, n. 44, ago. 2005. 190 VARGAS, Glaci de Oliveira Pinto; WERLANG, Maslova. Paternidade: investigação judicial e coisa julgada. p. 86.

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INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. REPETIÇÃO DA AÇÃO. ARGÜIÇÃO DE COISA JULGADA. CONFLITO DE PROVAS. INEXISTÊNCIA DE EXAME DE DNA. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE E DA PERSONALIDADE. RELATIVIZAÇÃO. A ação de investigação de paternidade, por constituir uma ação de estado não é alcançada pela coisa julgada como óbice ao seu prosseguimento até final julgamento. - A segurança jurídica deve ser imposta, desde que adequada aos princípios postos no ordenamento jurídico, máxime para exprimir valores essenciais da pessoa como a sua ascendência biológica. - A evolução ocorrida no âmbito da ciência médica e nas relações jurídicas com o advento do exame genético de DNA reativou a possibilidade da busca da verdade real, a isso não impedindo os rigores da coisa julgada, e, em conseqüência a

relativização da "res iudicata" em casos que tais.191

Assim, em demandas que buscam o reconhecimento da

paternidade, não se pode ter uma situação real e cientificamente verificável que não

seja considerada judicialmente em nome de uma mera formalidade, posto que a

segurança jurídica estará presente também ao final, com a nova sentença que

exprimirá a “verdade real”.

Ademais, hodiernamente, muito vem se discutindo sobre a

possibilidade da sentença proferida em demandas investigatórias de paternidade

serem ou não acobertadas pela intangibilidade da coisa julgada, como também, a

possibilidade de interposição da ação rescisória com fulcro no inciso VII, do artigo

485 do Código de Processo Civil.192

“Alguns autores sustentam a tese de que apenas ocorrerá a

coisa julgada material, ou seja, a decisão somente passará a ser irrecorrível e

191 MINAS GERAIS, Tribunal de Justiça do Estado. APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0487.03.002633-9/001 - Comarca de Pedra Azul - Relator: Des. Belizário de Lacerda. Disponível em: <http://www.tjmg.gov.br/juridico/jt_/inteiro_teor.jsp?tipoTribunal=1&comrCodigo=487&ano=3&txt_processo=2633&complemento=1&sequencial=0&palavrasConsulta=INVESTIGAÇÃO%20DE%20PATERNIDADE.%20REPETIÇÃO%20DA%20AÇÃO.%20ARGÜIÇÃO%20DE%20COISA%20JULGADA.%20CONFLITO%20DE%20PROVAS.%20&todas=&expressao=&qualquer=&sem=&radical=> Acessado em: 21 out. 2008. 192 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. MEDINA, José Miguel Garcia. O dogma da coisa julgada: hipóteses de relativização. p. 185.

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definitiva, se forem produzidas todas as provas”, inclusive o exame genético do

DNA.193

Neste contexto, Glaci de Oliveira Pinto Vargas e Maslova

Werlang destacam em sua obra que, na lição de Belmiro Pedro Welter “não há coisa

julgada material nas ações de investigação de paternidade quando não produzidas

todas as provas”.194

Algumas jurisprudências seguem esse entendimento,

afirmando que é possível a propositura de nova ação de investigação de paternidade

quando precária e não segura a prova constante da anterior ação, por não produzir

coisa julgada material:

INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. AUSÊNCIA DO EXAME DE DNA. COISA JULGADA. NÃO OCORRÊNCIA. Não há que se falar em coisa julgada, se na ação anterior de investigação de paternidade a sentença proferida não teve por base prova concreta, inequívoca,

da paternidade, ante a ausência do exame de DNA.195

E, ainda:

AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. EXTINÇÃO DE PROCESSO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO. RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE EM ÉPOCA ANTERIOR A EXISTÊNCIA DE EXAME DE DNA. COISA JULGADA. INOCORRÊNCIA. BUSCA DA VERDADE REAL. DIREITO

193 MOREIRA, Karina de Pinto. A coisa julgada na investigação de paternidade com o advento do exame de DNA. Disponível em: <http://direito.newtonpaiva.br/revistadireito/docs/convidados/BKP/Coisa_julgada.doc> Acessado em: 20/10/2008. 194 VARGAS, Glaci de Oliveira Pinto; WERLANG, Maslova. Paternidade: investigação judicial e coisa julgada. p. 76. 195MINAS GERAIS, Tribunal de Justiça do Estado. AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 1.0324.03.015712-1/001 - Comarca de Itajubá - Relator: Des. Geraldo Augusto. Disponível em: <http://www.tjmg.gov.br/juridico/jt_/inteiro_teor.jsp?tipoTribunal=1&comrCodigo=324&ano=3&txt_processo=15712&complemento=1&sequencial=0&palavrasConsulta=INVESTIGAÇÃO%20DE%20PATERNIDADE.%20AUSÊNCIA%20DO%20EXAME%20DE%20DNA.%20COISA%20JULGADA.%20NÃO%20OCORRÊNCIA.%20&todas=&expressao=&qualquer=&sem=&radical=> Acessado em: 21 out. 2008.

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INDISPONÍVEL. Diante da precariedade da prova apresentada em ação anterior e por estar a inicial da ação negatória de paternidade instruída com comprovante de exame de DNA, de molde a dirimir a controvérsia em definitivo, admite-se o ajuizamento de nova ação objetivando a busca da verdade real, por se tratar de direito indisponível, que envolve ação de estado, afastando, assim, incidência da coisa julgada. [...].196

Destarte, conforme dispõe os acórdãos retro, em se tratando

de ações de estado que envolva o direito a filiação, somente ocorrerá a coisa

julgada material quando houver o exaurimento de todos os meios provas, em

especial o exame de DNA.197

Contudo, tal orientação deve ser afastada, posto que as ações

investigatórias de paternidade julgadas improcedentes por falta de provas também

são acobertadas pela coisa julgada material. Entretanto, em razão da ausência de

provas contundentes, e da nova realidade resultante do advento do exame de DNA,

a intangibilidade da coisa julgada é mitigada, de modo a se adequar a verdade real

comprovada pelo DNA.198

Nota-se, portanto, que o caminho idôneo para atacar uma

sentença transitada em julgado, propiciando um novo julgamento da demanda, é a

ação rescisória.199

O artigo 485 do Código de Processo Civil, em seu inciso VII,

permite o ajuizamento da ação rescisória com base em documento novo, do qual a

parte não tinha conhecimento ou de que não pode fazer uso, mas que é capaz de

assegurar um pronunciamento favorável a mesma.

196 GOIÁIS, Tribunal de Justiça do Estado. AC 69171-7/188; Proc.200300470899; Itumbiara; Segunda Câmara Cível; Rel. Des. Geraldo Salvador de Moura; Julg. 30/09/2003; DJGO 17/10/2003. Disponível em: <http://www.tjgo.jus.br/ >. Acesso em 23 out. 2008. 197 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família. p. 375. 198 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. MEDINA, José Miguel Garcia. O dogma da coisa julgada: hipóteses de relativização. p. 197. 199 NICOLAU JUNIOR, Mauro. Coisa julgada ou DNA negativo. O que deve prevalecer? Revista brasileira de direito de família. Porto Alegre: Síntese, v. 1, n. 1, p. 113-159, abr./jun. 1999.

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Parte da doutrina e da jurisprudência compreende como sendo

documento novo aquele cuja existência era anterior a sentença rescindenda.200

Entretanto, a outra parte, entende que o exame de DNA, obtido após a prolação da

sentença, configura documento novo apto a instruir a ação rescisória, visto tratar-se

de prova pericial capaz de comprovar o vínculo da paternidade com confiabilidade

quase absoluta.201

Sobre o assunto leciona Caio Mário da Silva Pereira, em sua

obra que, para Galeno Lacerda não importa se o documento novo foi elaborado

antes ou depois da sentença rescindenda, desde que o mesmo substitua a verdade

ficta pela “verdade real na coisa julgada”.202

Nestes termos, tem entendido a jurisprudência que o exame de

DNA, realizado após a sentença investigatória de paternidade, equipara-se a

documento novo, justificando, assim, a propositura da ação rescisória:

RESCISÓRIA. DESCONSTITUIÇÃO DE SENTENÇA DE RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE. EXAME DE DNA ELABORADO AGORA E TIDO POR DOCUMENTO NOVO. ENTENDIMENTO ATUAL DO STJ FUNDADO NA RELATIVIZAÇÃO OU FLEXIBILIZAÇÃO DA COISA JULGADA. QUESTÃO ATINENTE A ESTADO DE PESSOA. BUSCA DA VERDADE REAL. PROCEDÊNCIA DA RESCISÓRIA. NAS AÇÕES DE ESTADO, A RELATIVIZAÇÃO OU FLEXIBILIZAÇÃO DA COISA JULGADA. DITADA, NO ÂMBITO JURÍDICO, PELA NECESSIDADE DO ENCONTRO DA VERDADE REAL E AGORA TÃO FACILITADA COM O ADVENTO DO DNA. CULMINOU POR SER PRESTIGIADA POR ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL PIONEIRO DO STJ, AMPLAMENTE DIFUNDIDO E JÁ SEGUIDO PELA MAIORIA DOS TRIBUNAIS INFERIORES E JUÍZOS. EM CONSEQÜÊNCIA, PASSOU-SE A PERMITIR QUE O EXAME DE DNA. REALIZADO POSTERIORMENTE À SENTENÇA PROLATADA EM INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE E TRANSITADA EM JULGADO. SEJA ACEITO E SE EQUIPARE A "DOCUMENTO

200 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Considerações sobre a chamada “relativização” da coisa julgada material. Revista Dialética de direito processual, n. 22, p. 91-111. 201 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. MEDINA, José Miguel Garcia. O dogma da coisa julgada: hipóteses de relativização. p. 201/202.

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NOVO" (CPC, ART. 485), PARA EFEITO DE INSTRUIR AÇÃO RESCISÓRIA. A IMPERIOSA NECESSIDADE DO ENCONTRO DA VERDADE REAL, POR SUA RELEVÂNCIA NO ÂMBITO DAS RELAÇÕES JURÍDICAS, CONDUZIU O JUDICIÁRIO A ADMITIR A RELATIVIZAÇÃO DA COISA JULGADA, NAS AÇÕES DE FILIAÇÃO. ancorado no exame de DNA, internacionalmente reconhecido -, a fim de dar solução, inclusive e notadamente, a situações geradoras de extrema perplexidade, como a do pai que

não é o real pai, ou, inversamente, a do filho que não é filho.203

Ademais, embora tenha sido, o exame de DNA, elaborado

após a sentença transitada em julgado, “o referido exame genético noticia, em

verdade, ""uma situação preexistente"", isto é, que já existia, à época da ação

investigatória de paternidade”.204 Portanto, o aceite do exame de DNA não é

constitutivo, mas sim declaratório de uma situação fática que gera, muito além de um

prenome, direitos da personalidade de ambas as partes: filho e genitor.

Salienta-se que o prazo para a propositura da ação rescisória,

conforme dispõe o artigo 495 do Código de Processo Civil, é de dois anos contados

a partir do transito em julgado da sentença. Todavia, há casos em que o exame de

DNA somente foi possível após o fim do mencionado prazo. Situação esta que

possibilita que o prazo, para a ação rescisória, comece a correr quando da ciência

do exame de DNA, posto que o direito a filiação deve se sobrepor ao da coisa

julgada.205

202 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: direito de família. p. 374. 203 MINAS GERAIS, Tribunal de Justiça do Estado. AÇÃO RESCISÓRIA Nº 1.0000.00.266361-5/000 - Comarca de Coronel Fabriciano - Relator: Des. Hyparco Immesi. Publicada em 18/11/2205. Disponível em: <http://www.tjmg.gov.br/juridico/jt_/inteiro_teor.jsp?tipoTribunal=1&comrCodigo=0&ano=0&txt_processo=266361&complemento=0&sequencial=0&palavrasConsulta=DESCONSTITUIÇÃO%20DE%20SENTENÇA%20DE%20RECONHECIMENTO%20DE%20PATERNIDADE.%20EXAME%20DE%20DNA%20ELABORADO%20AGORA%20E%20TIDO%20POR%20DOCUMENTO%20NOVO.%20&todas=&expressao=&qualquer=&sem=&radical=> Acessado em: 21 out. 2008. 204 MINAS GERAIS, tribunal de Justiça do estado. AÇÃO RESCISÓRIA Nº 1.0000.00.251998-1/000 - Comarca de Carmo do Cajuru - Relator: Des. Hyparco Immesi. Disponível em: <http://www.tjmg.gov.br/juridico/jt_/inteiro_teor.jsp?tipoTribunal=1&comrCodigo=0&ano=0&txt_processo=251998&complemento=0&sequencial=0&palavrasConsulta=exame%20dna%20documento%20novo&todas=&expressao=&qualquer=&sem=&radical=>. Acessado em: 25 out. 2008. 205 LEITE, Glauco Salomé. Coisa julgada inconstitucional: relativizando a “relativização”. Disponível em: <http://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&pwst=1&q=coisa+julgada+relativiza%C3%A7%C3%A3o&start=80&sa=N>. Acessado em: 30 set. 2008.

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Em consonância, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina

proferiu a decisão que segue:

PRELIMINAR. DECADÊNCIA. AÇÃO RESCISÓRIA. SUPERAÇÃO DO PRAZO BIENAL. INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. COLISÃO DOS PRINCÍPIOS DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COM O DA SEGURANÇA JURÍDICA. RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. PRAZO DECADENCIAL NÃO INCIDENTE. PREFACIAL AFASTADA. A redação do artigo 495 do Código de Processo Civil estabelece que "o direito de propor ação rescisória se extingue em 2 (dois) anos, contados do trânsito em julgado da decisão". Ultrapassado esse prazo referente ao direito potestativo de agir, a decisão de mérito se torna, como diz a doutrina, coisa soberanamente julgada. Ocorre que, existindo colisão entre os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e o da segurança jurídica, como exceção a regra, e especificamente quando se investigue a paternidade de ser humano, aquele deve se sobrepor a este utilizando o critério da razoabilidade e a máxima da proporcionalidade e, por conseqüência, o prazo decadencial bienal cede para se efetivar o princípio fundamental insculpido no artigo 1,

inc. II, da Constituição Federal. [...].206

Assim, como a ação de investigação de paternidade versa

sobre direito da personalidade, têm-se que é necessário o exaurimento de todos os

meios de provas possíveis acerca da paternidade, principalmente o exame de DNA

que “permite tanto a exclusão como a inclusão da paternidade com confiabilidade

superior a 99,9999%”, uma vez que a referida ação tem como finalidade a busca da

verdade real sobre a ascendência biológica do filho ou descendência do genitor.207

Para tanto, verifica-se que em tais demandas, os princípios da

segurança jurídica e da dignidade da pessoa humana precisam ser ponderados,

posto que o exame de DNA, por conduzir o magistrado a uma certeza segura sobre

206 SANTA CATARINA, Tribunal de Justiça do Estado. Ação rescisória n. 1988.073947-0, de Lages. Relator: Des. Carlos Prudêncio.Disponível em: <http://tjsc6.tj.sc.gov.br/jurisprudencia/VerIntegraAvancada.do>. Acessado em: 19 out. 2008.

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a paternidade, permite a substituição da verdade ficta pela verdade real, a qual é

indispensável à formação da justiça.208

No mesmo sentido, Sílvio de Salvo Venosa destaca o respaldo

necessário dado pela prova científica:

Por todas as razões expostas, em sede de reconhecimento de paternidade, não há que se conceder um valor absoluto à coisa julgada. Nesse aspecto, há que se levar em conta as particularidades do direito de família e os avanços científicos. Não há como se impingir à sociedade e a alguém uma paternidade irreal, se lastreada em coisa julgada questionável por meio de nossos instrumentos

probatórios disponíveis.209

Para corroborar, leciona Luciana Genehr da Silva que:

Neste contexto, se um novo fato científico torna possível ao magistrado tomar decisões mais justas e corretas do que as que lhe apresentavam anteriormente, visto que trazem ao feito a verdade real, deve-se entender como perfeitamente possível a revisitação de uma demanda já transitada em julgado se, desta nova análise, for possível a constatação não só da verdade dos fatos, mas também da certeza científica daquela situação sub judice.210 (grifo no original)

Por fim, não se pode admitir que, em razão do formalismo

processual da coisa julgada, abandone-se a verdade real reconhecida pelo exame

de DNA, posto que ao contrário, estar-se-ia ferindo o direito humano à filiação e a

dignidade da pessoa humana e, por conseguinte, a própria segurança jurídica.211

207 WELTER, Pedro Belmiro. Investigação de Paternidade: obrigatoriedade do exame genético DNA. Revista Jurídica: órgão nacional de doutrina, jurisprudência, legislação e crítica jurídica, ano XLVI, n. 246, p. 05-12, abr. 1998. 208

VARGAS, Glaci de Oliveira Pinto; WERLANG, Maslova. Paternidade: investigação judicial e coisa julgada. p. 74/75. 209 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. p. 470 210 SILVA, Luciana Genehr da. Investigação de paternidade: efeitos da coisa julgada. Atuação – Revista jurídica do Ministério Público Catarinense. v. 3, n. 7, Florianópolis: PGJ, p. 231-241. 211 BARBERATO, Celso. A relativização da coisa julgada nas ações de investigação de paternidade e maternidade. Revista jurídica da universidade de franca, Franca: Universidade de Franca, ano 6, n. 11, p. 22-28, 2º semestre 2003.

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CONCLUSÃO

A coisa julgada é uma qualidade da sentença, que torna

imutável e indiscutível aquilo que fora decidido entre as partes numa relação jurídica.

Quando essa indiscutibilidade da decisão judicial for verificada dentro do processo

em que a sentença foi proferida, diz-se que ocorreu a coisa julgada formal.

Entretanto se a indiscutibilidade da decisão se projetar para fora do processo, tem-

se a coisa julgada material.

Cumpre mencionar que a coisa julgada formal, como

pressuposto da coisa julgada material, decorre da impossibilidade da interposição de

recurso contra a sentença, nos limites do processo em que foi proferida. Já a coisa

julgada material consiste na imutabilidade da sentença de mérito, impedindo que a

matéria decidida seja novamente discutida, não apenas no processo em que foi

prolatada, mas em qualquer outro.

Portanto, percebe-se que o instituto da coisa julgada, por tornar

imutável o conteúdo da sentença, impedindo a sua reapreciação a todo instante,

garante segurança as relações jurídicas. Todavia, tal instituto não possui valor

absoluto, devendo o mesmo ser relativizado quando violar outros direitos

fundamentais, tais como a justiça, verdade real e dignidade da pessoa humana.

Essa relativização da coisa julgada ocorre somente em casos

excepcionais, como exemplo, as ações de investigação de paternidade, que tem

como finalidade a declaração de existência ou inexistência de relação de

parentesco.

A ação investigatória de paternidade é o meio pelo qual se

requer o reconhecimento judicial da filiação. Por tratar-se de ação de direito

personalíssimo e imprescritível do indivíduo saber quem é o seu pai ou deste em

saber se realmente gerou aquele filho, a sua produção probatória deve ser forte e

convincente.

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Para tanto, observa-se que anteriormente ao advento do

exame de DNA, não era possível garantir com certeza a existência ou não da

paternidade, posto que a sentença era embasada apenas em presunções

decorrentes de provas testemunhais e documentais que dificilmente conduziam a

verdade real do vínculo genético da paternidade, bem como em provas periciais que

serviam apenas como meios de exclusão da paternidade.

Destarte, com o advento do exame genético de DNA, este

problema foi resolvido, haja vista que tal exame não apenas exclui a paternidade,

como também a declara com uma probabilidade de certeza praticamente absoluta,

podendo retirar quaisquer dúvidas antes existentes sobre a paternidade.

Dessa forma, passou-se a questionar sobre a possibilidade de

relativização da coisa julgada nas ações de investigação de paternidade em que

após o seu trânsito em julgado, realizou-se o exame de DNA, desconhecido ou não

utilizado no tempo de processo, resultando na comprovação da filiação biológica em

sentido inverso ao admitido na sentença.

Com efeito, verificam-se presentes dois valores fundamentais,

o da dignidade humana em saber a verdade sobre a paternidade e o da segurança

das relações jurídicas, garantida pela coisa julgada, os quais deverão ser

ponderados, através do princípio da proporcionalidade, o qual busca a sobreposição,

dentre os valores fundamentais em conflito, do que melhor se adéqua ao caso

específico.

Assim, neste caso específico, deverá prevalecer o princípio da

dignidade humana sobre o da segurança jurídica, uma vez que a intangibilidade da

coisa julgada, no tempo em que não se conhecia o exame de DNA, não pode ser

mantida, ante a verdade cientificamente comprovada que se extrai de tal exame.

Ademais, embora a segurança jurídica decorrente da coisa

julgada garanta estabilidade aos julgados, esta estabilidade somente será gerada se

a segurança jurídica for imposta em concordância com a verdade real dos fatos.

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Por esta razão, não parece justo que a segurança jurídica

advinda de uma sentença proferida sem a utilização do exame de DNA, se

sobreponha ao direito ao reconhecimento da verdade real sobre a paternidade,

emanada por tal exame.

Por oportuno destaca-se, também, que o próprio exame de

DNA não deve, de modo algum, ser endeusado posto que a ciência caminha a

passos largos para novos avanços, novas constatações e novas descobertas.

Ressalta-se que, não se pretende extinguir a coisa julgada, que

por ser um instituto garantido constitucionalmente, deve ser respeitada, mas sim,

relativizá-la quando contrariar valores que, frente a uma demanda específica, são

relevantes, tais como a dignidade da pessoa humana e a verdade real nas ações de

investigação de paternidade.

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