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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE AÇÃO RESCISÓRIA E O TERCEIRO JURIDICAMENTE INTERESSADO Por: Rosângela Aparecida Corrêa Orientador Prof. Jean Alves Almeida Rio de Janeiro Agosto, 2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

AÇÃO RESCISÓRIA E O TERCEIRO JURIDICAMENTE

INTERESSADO

Por: Rosângela Aparecida Corrêa

Orientador

Prof. Jean Alves Almeida

Rio de Janeiro

Agosto, 2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

AÇÃO RESCISÓRIA E O TERCEIRO JURIDICAMENTE

INTERESSADO

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do

Mestre – Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Direito Processual Civil.

Por: Rosângela Aparecida Corrêa

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AGRADECIMENTOS

É com incomensurável felicidade que

agradeço a todas as pessoas que me

ajudaram a tornar este trabalho

realidade e, em especial, aos meus

amigos Amanda Franco Machado e

Marcelo Alves Henrique Pinto Moreira.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta obra a todos aqueles que

acreditam numa sociedade melhor e

buscam constantemente alcançar seus

ideais. Assim como, a todos que pelejam

a fim de por termo a toda e qualquer

injustiça que possa ser capaz de macular

os interesses e a dignidade de qualquer

ser humano.

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RESUMO

O objetivo deste trabalho é apresentar uma breve análise sobre a legitimidade

do terceiro juridicamente interessado para propositura de uma ação rescisória.

Todo o estudo foi realizado com base na análise de nosso ordenamento

jurídico, como também da doutrina e jurisprudência. Inicialmente, apresentou-

se o nascimento e evolução da ação rescisória, abordando-se algumas

características consideradas relevantes para melhor compreensão deste

instituto. Assim, delimitou-se o campo de atuação de cada elemento

considerado importante para se determinar o motivo da existência desta

modalidade de ação autônoma. Posteriormente, foram analisados elementos

considerados de natureza indispensável, tais como a sentença de mérito e o

trânsito em julgado, já que são estes os pressupostos da rescisão. Tais

elementos foram apresentados por meio da análise de institutos como a

sentença, a coisa julgada e os efeitos da sentença. Este último apresentado

como premissa para justificar a legitimidade do terceiro juridicamente

interessado, evitando-se assim adentrar na seara da relativização da coisa

julgada, posto que não seja a autoridade da coisa julgada questionada, mas

sim os efeitos da sentença que extrapolam os limites da coisa julgada. Neste

sentido, apresentou-se a doutrina de Liebman para balizar e sustentar tal

posicionamento, levando em consideração que a coisa julgada trata-se de uma

qualidade da sentença, embora nossa doutrina não tenha absorvido de forma

ampla e irrestrita os ensinamentos da doutrina italiana.

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METODOLOGIA

O método de pesquisa adotado para a realização deste trabalho foi uma

intensa pesquisa bibliográfica sobre o tema, associado à busca de

jurisprudências de nosso ordenamento pátrio. E, principalmente, considerando

a opinião da mais renomada doutrina sobre os diferentes posicionamentos

adotados para embasar o entendimento da temática ora abordada.

Inicialmente, foram feitas leituras dirigidas ao assunto, as quais direcionaram a

pesquisa de outros temas correlatos. A partir disso, nasceu à idéia da estrutura

e, por conseguinte da organização aqui apresentada, buscando proporcionar

ao leitor uma leitura fácil, embasada com situações jurisprudenciais

aproximando-o da realidade sobre a qual o tema é tratado em nosso

ordenamento.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Uma breve análise sobre a ação rescisória 10

CAPÍTULO II - Elementos indispensáveis à rescisão de uma sentença 24

CAPÍTULO III - A legitimidade do terceiro juridicamente interessado 37

CONCLUSÃO 48

BIBLIOGRAFIA 50

ÍNDICE 53

FOLHA DE AVALIAÇÃO 55

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INTRODUÇÃO

É o estudo da ação rescisória importante instituto a ser analisado,

embora seja permeado de controvérsias desde sua origem. Talvez seja esta a

característica que o torne tão interessante e peculiar. Mesmo porque, ainda

hoje, há que se observar a existência de confusões de terminologia sobre

nulidade, anulabilidade e rescindibilidade quando do julgamento de casos

concretos.

Inicialmente, cabe analisar de forma breve os aspectos concernentes ao

histórico, enfatizando surgimento da ação rescisória. Em seguida, a partir de

uma análise de evolução processual busca-se confrontar as modificações

sofridas. Posteriormente, sem nenhuma pretensão de esgotar o tema,

apresentam-se aspectos conceituais, pontuando o objeto sob o qual recai a

aplicação da rescisão de uma sentença.

Outrossim, pretende-se delimitar a natureza jurídica, a competência, a

possibilidade de se assegurar o efeito suspensivo da execução da sentença

rescindenda, finalizando com a apresentação das suas condições processuais,

tais como o trânsito em julgado, a legitimidade e os pressupostos legais, estes

últimos taxativamente previstos em nosso ordenamento.

Na segunda parte deste trabalho, adentra-se na seara dos elementos

que são indispensáveis e, portanto, definidores da admissibilidade da

propositura de uma ação rescisória. Apresentando-se, aqui, a sentença, a coisa

julgada e os efeitos da sentença, para ao final entendermos o que significa uma

sentença de mérito e o trânsito em julgado de uma sentença, visto que estes

são os pressupostos essenciais para a rescisão. Não há que se falar em ação

rescisória sem que haja uma sentença de mérito transitada em julgado. E ao

mesmo tempo, traz-se à baila o contexto jurisprudencial sobre tais

pressupostos.

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Apesar destas características de natureza indubitavelmente relevantes

para o estudo da rescisória, não se deve olvidar que o que se pretende é

analisar o porquê de se admitir o terceiro, como parte legítima, para ajuizar

uma ação rescisória. Em verdade, este é o escopo precípuo deste trabalho.

O objeto do terceiro capítulo é, portanto, abordar, sob os auspícios do

nosso ordenamento processual civil, o surgimento e a motivação da

intervenção do terceiro juridicamente interessado mesmo que não sujeito a

coisa julgada, mas nem por isso, sem legitimidade para insurgir-se contra ela

desde que sofra algum tipo de prejuízo com a sentença prolatada. Entenda-se

aqui o prejuízo de natureza jurídica, e não qualquer prejuízo de natureza fática.

Em última análise, o que se pretende especificamente é tratar da

legitimidade do terceiro juridicamente interessado, visando entender a extensão

desta nomenclatura. Muito, além disso, urge que se tenha interesse jurídico

para que possa propor uma ação rescisória. Análise esta feita com fundamento

nos ensinamentos de Liebman, cuja doutrina é o cerne de influência para que

se compreenda a legitimidade do terceiro. Por fim, alguns casos concretos,

serão apresentados por meio da mais respeitável jurisprudência pátria,

tornando a leitura aprazível e fácil.

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CAPÍTULO I

UMA BREVE ANÁLISE SOBRE AÇÃO RESCISÓRIA

O direito brasileiro reconhece dois tipos de remédios que podem ser

utilizados contra decisões judiciais, quais sejam os recursos e ações

autônomas de impugnação. A característica distintiva é que nos primeiros a

decisão é impugnada no próprio processo em que foi proferida, enquanto que

nas ações autônomas se observa a instauração de outro processo. Neste

capítulo nos interessa traçar alguns aspectos importantes da ação autônoma

denominada ação rescisória.

1.1 – Historicidade

A ação rescisória no direito brasileiro tem sua gênese nas Ordenações

Filipinas, mas também recebeu grande influência da doutrina italiana, haja vista

que o artigo 485, do Código de Processo Civil foi elaborado em conformidade

com o artigo 495, do Código de Processo italiano. Posteriormente, a ação

rescisória foi disciplinada em vários diplomas processuais estaduais mantendo

o mesmo modelo anterior, em razão de ter sido dada aos Estados tal

competência pela Constituição de 1891. (FADEL, ano ?, pp. 10 e 13).

Com a promulgação da Constituição de 1934, nasce à competência

privativa da União para legislar sobre direito processual, nos termos do artigo

5º, inciso XIX, alínea a. Entrementes, a disciplina da ação rescisória só recebeu

realmente melhor técnica processual com o advento do Código de Processo

Civil de 1973.

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Com a devida vênia, José Carlos Barbosa Moreira (2006) se

manifestou afirmando que ação rescisória nasceu, em verdade, da junção da

querella nulitatis insanabilis com a restitutio in integrum (p. 103). Interessa,

então, fazer uma breve digressão sobre estes dois institutos para se

compreender a essência da formação da ação rescisória.

A querella nullitatis surgiu nos estatutos italianos com a função

precípua de impugnar as sentenças que apresentassem errores in procedendo

(erros na atividade de elaboração da decisão). Apresentava a seguinte

subdivisão: (a) sanável, quando os erros atacáveis eram de natureza menos

grave; e (b) insanável, quando visavam atacar os erros mais graves. Enquanto

a querella nullitatis sanável desapareceu sendo absorvida pela apelação, a

querella nullitatis insanável contribuiu para o surgimento da rescisória

(MACEDO apud CAMARA, 2007, pp. 4 e 5), da mesma forma que a restitutio in

integrum, que era assim denominado de:

(...) um meio processual criado pelo pretor em virtude de seu imperium para sanar os vícios de consentimento nos contratos e proteger às pessoas que, em razão de sua inexperiência, contrataram em condições lesivas ao seu patrimônio, anulando todo o avençado e restituindo as coisas ao estado em que estavam antes (...) (CUENCA apud CAMARA, 2007, p. 5)

Com a evolução deste segundo instituto passou-se a desconstituir

sentenças a partir do desenvolvimento de dois juízos: “um sobre o direito do

postulante a obter a rescisão da sentença” (juízo rescindente) e outro “sobre

sua pretensão que havia sido objeto da primeira decisão” (juízo rescisório).

(CAMARA, 2007, p. 6)

1.1.1 – Juízo rescindente e Juízo rescisório

No processo da ação rescisória ocorre que além do pedido de rescisão,

eventualmente, pode cumular-se o pedido de novo julgamento da causa (artigo

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488, inciso I do Código de Processo Civil). Neste caso, há que se falar em juízo

rescindente e juízo rescisório, respectivamente. Em verdade trata-se de uma

bipartição do juízo de mérito de uma ação rescisória que só ocorrerá quando

houver sido julgado procedente o juízo rescindente, porque somente se

efetivará um novo julgamento da causa (juízo rescisório) se houver

procedência do pedido de rescisão (juízo rescindente). Neste sentido é a lição

da mais renomada doutrina:

O julgamento da ação rescisória comporta em princípio três etapas sucessivas: a verificação da admissibilidade da ação; o exame do pedido de rescisão no mérito, em que o tribunal decide rescindir ou não a sentença impugnada (iudicium rescindens); e, finalmente, o rejulgamento da matéria que por ela fora decidida (iudicium rescissorium). É claro que só se passa à segunda etapa caso, na primeira, a ação tenha sido considerada admissível; e só se passa à terceira caso, na segunda, o pedido haja sido julgado procedente e, pois, rescindida a sentença. Quer isso dizer que cada uma das etapas é, tecnicamente, preliminar à seguinte. (MOREIRA, 2006, pp. 207 e 208)

Impende salientar que nem sempre o julgamento procedente do juízo

rescindente acarretará o rejulgamento favorável da causa, pois existe a

possibilidade do julgado ser substituído por outro de igual fundamentação,

devendo, portanto, ser aferido cada caso de rescindibilidade previsto na lei

processual (artigo 485 do Código de Processo Civil), a fim de se determinar em

quais caberá o juízo rescisório. Não cabendo aqui tal aprofundamento, já que

este não é o objetivo deste estudo.

1.1.2 – Nulidade, anulabilidade ou rescindibilidade

Por muito tempo, o que gerou controvérsias foi à confusão entre os

termos nulidade e rescindibilidade, visto que o termo nulidade era utilizado para

determinar os pressupostos para a rescisão de sentenças. Impropriedade de

significado que foi corrigido no decurso do tempo. Afinal, como bem atesta

Humberto Theodoro Júnior (2007) os termos não se confundem, “a rescisória,

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portanto, não supõe sentença nula, mas ao contrário, sentença válida, que

tenha produzido a coisa julgada” (p. 796). Pontes de Miranda (1976) corrobora

ao pronunciar que “A rescisão, pois que cinde (rescinde) a sentença válida” (p.

451), e “Ao desconstituir-se a sentença nula não se destroem efeitos, porque a

sentença nula não surte efeitos”, mas “Ao desconstituir-se a sentença

rescindível, destroem-se os seus efeitos” (p. 460).

Na verdade, a questão sobre a inadequação de terminologia insurge,

também, em função do conceito de anulação que pode ser pontuado no texto

legal do Regulamento de 737 de 1850 que determinava que a sentença

pudesse ser anulada por meio de rescisória, quando não fosse proferida em

grau de revista. Assim previa o artigo 681 do Regulamento: “a sentença pode

ser anulada por meio de apelação, por meio da revista, por meio de embargos

á execução, por meio da acção rescisória, não sendo a sentença proferida em

grau de revista.” (MIRANDA, 1934, p. 113). O que se depreende é uma total

inadequação de significado, já que o se almejava era rescindir, ou seja, pôr

termo aos efeitos da sentença. Urge observar que este choque conceitual é

anterior ao Regulamento, apresentando-se no decurso temporal com outras

características e sendo modificado segundo o avanço social, embora tenha

perdurado por muito tempo a ambigüidade terminológica. Fundamento que

reforça a diferenciação é que a técnica legislativa prevê ação específica para

declarar a nulidade, enquanto que reserva à rescisória a função de remédio

contra sentença sob o efeito da coisa julgada.

Mesmo tendo ocorrido uma evolução a respeito desta

controvérsia, é possível, ainda em nossos dias, encontrar julgados como o do

Superior Tribunal de Justiça em que se pronunciou por meio de voto de seu

relator: “no sentido de julgar procedente a ação para o fim de anular o v.

acórdão e, apreciando a sentença, também anulá-la, para o fim de que outra

seja proferida, com observância dos seus requisitos legais.” (Ação rescisória -

226/AM – Superior Tribunal de Justiça – Relator: Min. Ilmar Galvão – Julgado

em 04.12.1990). No mesmo caminho, segue o acórdão do Tribunal de Justiça

do Rio de Janeiro:

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL - ACAO RESCISORIA LITISPENDENCIA - ERRO PALMAR DO JUIZ - SENTENCA NULA. 1. comete erro palmar o juiz que rejeita exceção de litispendência sob o argumento de estar arquivado o processo anterior, sem verificar se esse arquivamento decorre de extinção do processo ou era ato provisório decorrente do abandono temporário do processo pelas partes. 2. litispendência e repetição de ação já existente e a sentença proferida no segundo processo e nula, ainda que seja proferida antes da proferida do outro processo e venha a transitar em julgado, pois a nulidade é absoluta e não se convalida. 3. ação rescisória que se julga procedente. (Ação rescisória – 1999.006.00008 – Décima sexta Câmara Cível – Relator: Des. Miguel Ângelo Barros – Julgamento: 05.10.1999).

Por fim, observa-se que apesar de não ter sofrido a ação rescisória um

grande avanço, não se deve mais confundir que seu escopo é rescindir, e não

anular a sentença, correção de uma visão equivocada que associava a

rescisória aos casos de nulidade. Sendo assim, interpretações tais como as

dos julgados anteriores não devem mais prosperar, por absoluta impropriedade

da terminologia adotada.

1.1.3 – Confronto com a legislação anterior

A reforma processual promoveu grandes avanços no estudo da ação

rescisória, os quais serão superficialmente apontados comparando-se o antigo

e novo ordenamento:

a. O artigo 798 da legislação de 1939 trazia em seu bojo que eram nulas as

sentenças, quando na verdade deveria dizer que seriam rescindíveis, já que

enumerava os casos de rescisão e não de nulidade;

b. Anteriormente era possível rescindir decisões não definitivas, atualmente a

admissibilidade ocorre somente nas sentenças de mérito, conforme previsto

no texto do artigo 485 do Código de Processo Civil;

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c. Era o texto do artigo 800 do Código de 1939: “a injustiça da sentença e a

má apreciação da prova ou errônea interpretação do contrato não autorizam

o exercício da ação rescisória”, que não se repetiu na nova redação, não

obstante tenha conteúdo normativo ainda aplicável; (CAMARA, 2007, p. 10)

d. As sentenças rescindíveis à época que vigoravam as Ordenações

Manuelinas e Filipinas não precisavam passar em julgado, o que é

hodiernamente pressuposto essencial para que se possa falar na ação

rescisória (MIRANDA, 1934, p. 118);

e. A legislação processual inovou em relação à disposição no artigo 491, em

sua parte final, admitindo que seja aplicado o procedimento ordinário;

f. Outra inovação se refere ao prazo (havia dúvidas sobre sua natureza, ou

seja, se era preclusivo ou prescritivo) que inicialmente era de trinta anos,

posteriormente passou a ser de cinco anos, nos termos da Lei civil de 1916,

e, atualmente, é extintivo de dois anos, conforme artigo 495 da Lei

processual;

g. O artigo 498 do Código de Processo Civil previa que não havia suspensão

da execução de sentença rescindenda. Em outro sentido, entendeu o

legislador que havia esta natureza de caráter suspensivo, quando ação

rescisória era proposta pela União, Estado, Municí0pio ou Autarquia, tal

posicionamento foi desmistificado quando o Decreto-lei 1.130 de 1969 foi

declarado inconstitucional pela Suprema Corte (FADEL, ano ?, p. 47). Hoje,

é possível, em caráter de excepcionalidade, a suspensão da execução da

sentença rescindenda, haja vista o artigo 489 da lei processual;

h. O antigo artigo 799 do Código de 1939, em que se previa a possibilidade de

rescisão da sentença rescindente, foi suprimido do Novo Código;

i. Surge com a nova redação da lei, a multa prevista no artigo 488, inciso II do

Código de Processo Civil para os casos de inadmissibilidade ou

improcedência da ação quando houver unanimidade de votos.

Analisada a evolução histórica, interessa-nos destacar alguns critérios

considerados relevantes sobre ação rescisória, para compreendermos um

pouco mais este instituto de natureza processual em relação ao seu alcance no

nosso ordenamento jurídico.

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1.2 – Conceito e objeto

Humberto Theodoro Júnior (2007) ensina que “A ação rescisória é

tecnicamente ação, portanto. Visa a rescindir, a romper, a cindir a sentença

como ato jurídico viciado” (p. 768).

Pontes de Miranda assim conceitua:

Em quási todos os povos, a acção rescisória é remédio, qualquer que seja o nome que se lhe dê, qualquer que seja a veste processual sob que apareça, se a lei lhe confere o caráter de ir contra a coisa julgada. Ainda que tivesse o nome, não seria acção rescisória se as sentenças contra as quais dêle se pudesse usar fôssem reputados ainda não passados em julgado. (MIRANDA, 1934, pp. 92 e 93)

Na esteira de ensinamentos de Barbosa Moreira (2008) apreende-se o

conceito de rescisória como sendo “à ação por meio da qual se pede a

desconstituição de sentença trânsita em julgado, com eventual rejulgamento, a

seguir, da matéria nela julgada” (p. 100).

Em que pese o enorme quantitativo de conceitos que poderiam ser

apresentados e que como se percebe se tornariam repetitivos, destaca-se a

visão do eminente estudioso Alexandre Câmara (2007) que define a “ação

rescisória como demanda autônoma de impugnação de provimentos de mérito

transitados em julgado, com eventual rejulgamento da matéria neles

apreciada.” E complementa a sua definição afirmando que o objeto “da ação

será, sempre, a pretensão de desconstituição do provimento de mérito

transitado em julgado”. (p. 30)

É, então, fundamental indicar que o objeto da rescisão é a sentença de

mérito transitada em julgado que pode ser rescindível em razão da existência

de error in procedendo (erro de atividade da produção da decisão), ou mesmo,

de violação de norma processual (artigo 485 do Código de Processo Civil),

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sempre visando aferir a rescindibilidade levando-se em conta a verdadeira

natureza da decisão.

1.3 – Natureza jurídica

É essencial que se determine a natureza jurídica da ação rescisória.

Assim sendo, alguns aspectos serão delineados com o objetivo de se pontuar

que a rescisória nada mais é que uma ação propriamente dita:

a- Inicialmente destaca-se no Título IX (DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS),

Capítulo IV (DA AÇÃO RESCISÓRIA), o instituto da rescisória como sendo

uma ação. Entrementes, o mesmo Código processual prevê expressamente

os recursos no seu Título X. É oportuno destacar que o legislador enumera

quais são os recursos cabíveis (artigo 496 do Código de Processo Civil): (i)

apelação; (ii) agravo; (iii) embargos infringentes; (iv) embargos de

declaração; (v) recurso ordinário; (vi) recurso especial; (vii) recurso

extraordinário; e (viii) embargos de divergência em recurso especial e

extraordinário. Isto demonstra que o legislador se preocupou em distinguir

rescisória e recursos em geral.

b- Outra característica é o fato de ser a rescisória de competência dos

Tribunais, enquanto que o juízo de apreciação dos recursos tanto pode ser

aquele que prolatou a decisão quanto aquele hierarquicamente superior;

c- O prazo é outro aspecto que ganha relevo, pois para a interposição do

recurso (artigo 506 do Código de Processo Civil) conta-se da data: (i) da

leitura da sentença em audiência; (ii) da intimação às partes, quando a

sentença não for proferida em audiência; (iii) da publicação do dispositivo do

acórdão no órgão oficial. Por outro lado, o prazo atinente à ação rescisória

conta-se do trânsito em julgado da decisão (sentença ou acórdão

rescindendo);

d- A ação rescisória é ajuizada sob a forma de petição inicial nos temos do

artigo 282 do Código de Processo Civil. Em contrapartida os recursos são

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interpostos cada qual com suas peculiaridades, conforme prevê todo o

Título X (DOS RECURSOS) da legislação processual, desconsiderando-se

para este estudo outros recursos previstos em outras legislações;

e- Em última análise, o recurso é aquele meio pelo qual se reexaminará a

decisão antes que seja formada a coisa julgada. No entanto, a ação

rescisória precisa que haja o trânsito em julgado, ou seja, que não caiba

mais recurso para que seja proposta.

Em conclusão, demonstra-se tratar-se a rescisória não de uma espécie

de recurso, mas sim de uma ação autônoma constitutiva negativa com

dispositivos próprios previstos na dicção de nosso moderno ordenamento

processual. Não havendo, assim, qualquer impeditivo para que várias

rescisórias sejam ajuizadas em face de uma única decisão sob fundamentos

diferenciados.

1.4 – Competência

Hodiernamente, subsume-se da norma processual a competência para

apreciação da ação rescisória:

Art. 494. Julgando procedente a ação, o tribunal rescindirá a sentença, proferirá, se for o caso, novo julgamento e determinará a restituição do depósito; declarando inadmissível ou improcedente a ação, a importância do depósito reverterá a favor do réu, sem prejuízo do disposto no art. 20.

Sustentando o mesmo entendimento podemos enumerar três

dispositivos constitucionais sobre competência. A Constituição brasileira prevê

que o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça em seu artigo

102, inciso I, alínea j e artigo 105, inciso I, alínea e, respectivamente, têm

competência originária para processar e julgar a ação rescisória de seus

julgados. Enquanto que aos Tribunais Regionais Federais atribui-se a

competência originária para processar e julgar as ações rescisórias de seus

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julgados ou dos julgados dos juízes federais da região, conforme artigo 108,

inciso I, alínea b da mesma Carta constitucional.

Conclui-se diante de todo o exposto que a competência para

julgamento de ação rescisória é originária de Tribunal, não cabendo ao juiz de

1º grau apreciá-la.

1.5 – Possibilidade de suspensão da execução da sentença

rescindenda

O artigo 489 do Código de Processo Civil previa: “A ação rescisória não

suspende a execução da sentença rescindenda”. Tal posicionamento era

reforçado pela orientação, que prevaleceu por muito tempo no nosso

ordenamento através do enunciado n. 234 do extinto Tribunal Federal de

Recursos que afirmava: “Não cabe medida cautelar em ação rescisória para

obstar os efeitos da coisa julgada” (PIMENTEL SOUZA, 2004, p. 773). Em

caminho diverso, as leis 8.952/94 e 9.032/95 abriram precedentes para

admissão de suspensão da execução da sentença rescindenda: a primeira,

porque deu nova redação ao artigo 273 do Código de Processo Civil ao tratar

do instituto da antecipação de tutela e, a segunda, porque acrescentou o

parágrafo único ao artigo 71 da Lei 8.212/91 prevendo a concessão de medida

cautelar preparatória nas ações rescisórias, em caso de fraude ou erro material

comprovado. Mesmo assim, por muito tempo ainda gerou inúmeras discussões

sobre qual seria a via processual adequada, ou seja, se o pedido de liminar

ocorreria na própria ação rescisória ou se seria pela via cautelar proposta antes

do ajuizamento da principal (ação rescisória).

Com o advento da Lei 11.280/2006 o artigo 489 da legislação

processual passou a ter a seguinte redação:

Art. 489. O ajuizamento da ação rescisória não impede o cumprimento da sentença ou acórdão rescindendo,

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ressalvada a concessão, caso imprescindíveis e sob os pressupostos previstos em lei, de medidas de natureza cautelar ou antecipatória de tutela.

Neste sentido, é possível admitir a suspensão de forma expressa na

Lei processual, mesmo que por via de exceção, demonstrando ser incompatível

com a nova dicção legal o não cabimento de medida cautelar em ação

rescisória para alcançar a suspensão dos efeitos da execução da sentença

rescindenda. A nova orientação põe termo à discussão, pois apresenta as duas

vias processuais, tanto a antecipação de tutela quanto a medida cautelar

preparatória como admissíveis, desde que atendidos os pressupostos

processuais previstos em lei (a fumaça do bom direito e o perigo de demora),

sem os quais a execução prosseguirá normalmente.

Por fim, é expressiva a lição de Alexandre Câmara (2007) ao definir a

imperiosidade do efeito suspensivo:

A meu ver, a decisão que suspende os efeitos do provimento rescindendo até o julgamento da ação rescisória limita-se a preservar a utilidade desse futuro julgamento. Afinal, em alguns casos nenhuma utilidade prática haveria se a ação rescisória fosse julgada só quando já estivessem produzidos todos os efeitos práticos do provimento rescindendo e não fosse possível o retorno ao estado anterior. (p. 152)

1.5.1 – Jurisprudência

É o entendimento jurisprudencial acerca da necessidade da presença

dos pressupostos processuais (fumaça do bom direito e perigo de demora)

para que seja reconhecido o efeito suspensivo da decisão rescindenda, por ter

a suspensão natureza excepcional:

EMENTA: AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE FRUTOS ILÍCITOS. EXISTÊNCIA DE AÇÃO RESCISÓRIA VISANDO RESCINDIR A DECISÃO QUE DISPÔS SOBRE A APURAÇÃO DO PRINCIPAL. A ação rescisória

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não suspende a execução da sentença rescindenda, art. 489, do CPC. Apenas em casos excepcionais admite-se o efeito suspensivo. Antecipação de tutela, na ação rescisória, que foi indeferida pelo Relator por falta de verossimilhança da pretensão. Descabimento da suspensão do processo que visa os lucros deixados de auferir pela parte supostamente em face da prejudicialidade da ação rescisória. Inaplicabilidade da regra do art. 265, IV, a, do CPC. AGRAVO PROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70021877808, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: José Aquino Flores de Camargo, Julgado em 26/10/2007) EMENTA: AGRAVO INTERNO NA AÇÃO RESCISÓRIA N. 2009.006.00083. Decisão que indeferiu o efeito suspensivo pleiteado pela Autora, que visava sustar a execução da sentença rescindenda. - Ausência de demonstração do fumus boni iuris e do periculum in mora capazes de justificar a medida. (...) Assim, poderia a Autora, no curso do processo, ter trazido aos autos as provas do direito que alega possuir, mas preferiu não fazê-lo, deixando transitar em julgado a sentença que declarou a rescisão do contrato de promessa de compra e venda e determinou o conseqüente desalijo da ré, condenando-a, ainda, em danos materiais. Conforme se vê, não milita em favor da Autora da presente ação rescisória o fumus boni iuris e o periculum in mora que indispensáveis para que se autorize a suspensão da execução de uma decisão coberta pelo manto da coisa julgada. Por tais motivos, nega-se provimento ao recurso, corrigindo-se, entretanto, o erro material constante da decisão agravada, para que passe a constar, no lugar da expressão "ação de despejo", "ação declaratória de rescisão contratual". (Ação Rescisória - 2009.006.00083 – Décima Oitava Câmara Cível do TJERJ – Relatora: DES Mariana Pereira Nunes - Julgamento: 28/04/2009)

1.6 – Condições processuais

São três as condições processuais para se abordar sobre ação

rescisória: o trânsito em julgado da sentença que será estudado adiante, a

legitimidade para propor a ação e os pressupostos legais para cabimento da

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rescisão. Não se olvidando que a legitimidade será destacada na parte que

abrange o terceiro, como parte legítima para proposição de ação rescisória.

Quando se trata da legitimidade para propositura de uma ação

rescisória basta se ater aos termos da Lei processual abaixo transcrita:

Art. 487. Tem legitimidade para propor a ação: I- quem foi parte no processo ou o seu sucessor a título universal ou singular; II- o terceiro juridicamente interessado; III- o Ministério Público: a) se não foi ouvido no processo, em que Ihe era obrigatória a intervenção; b) quando a sentença é o efeito de colusão das partes, a fim de fraudar a lei.

No mesmo sentido, a legislação enumera taxativamente os

pressupostos de admissibilidade da ação rescisória que pode ser verificado

pela letra do artigo:

Art. 485. A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: I- se verificar que foi dada por prevaricação, concussão ou corrupção do juiz; II- proferida por juiz impedido ou absolutamente incompetente; III- resultar de dolo da parte vencedora em detrimento da parte vencida, ou de colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei; IV- ofender a coisa julgada; V- violar literal disposição de lei; VI- se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal, ou seja, provada na própria ação rescisória; VII- depois da sentença, o autor obtiver documento novo, cuja existência ignorava, ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de Ihe assegurar pronunciamento favorável; VIII- houver fundamento para invalidar confissão, desistência ou transação, em que se baseou a sentença;

Não é oportuno discorrer minuciosamente sobre cada hipótese de

rescisão da sentença, já que não é objetivo deste trabalho pormenorizar seus

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pressupostos. Sendo assim, feita a análise sobre o instituto da ação rescisória,

importa agora tratar de assuntos, tais como a sentença, a coisa julgada e os

efeitos da sentença, sem qualquer aprofundamento, ressaltando apenas alguns

aspectos relevantes que terão o condão, portanto, de esclarecer a

admissibilidade da rescisão de uma sentença de mérito por terceiros.

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CAPÍTULO II

ELEMENTOS INDISPENSÁVEIS À RESCISÃO DE UMA

SENTENÇA

2.1 – A sentença

Inicialmente, interessa conceituar e classificar a sentença. Em seguida,

é fundamental compreender o que é uma sentença de mérito e o trânsito em

julgado, já que estes são os pressupostos indispensáveis para que haja a

rescisão de uma sentença.

2.1.1 – Conceito

A luz dos conhecimentos do ilustre processualista Liebman, sentença é

definida como:

(...) um comando, quer tenha o fim de declarar, quer tenha o de constituir ou modificar ou determinar uma relação jurídica. (...) A sentença vale como comando, pelo menos no sentido de que contém a formulação autoritativa duma vontade de conteúdo imperativo; e basta isso para que se possa falar, ao menos do ponto de vista formal, do comando que nasce da sentença. (LIEBMAN, 1981, p. 51)

Na esteira de ensinamentos de Pontes de Miranda é possível

conceituar sentença:

Quando se está no plano do direito processual, o que se há de investigar é o que se passa no processo: compreende-se, portanto, que se chamem sentença o

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julgado do mérito e o julgado da extinção do processo sem o julgamento do mérito. (MIRANDA, 1996, p. 78)

Em linhas gerais, a sentença é definida na legislação processual civil

brasileira como sendo o ato do juiz que implica as situações previstas no artigo

267, extinção do processo sem resolução de mérito e no artigo 269, que abarca

os casos de extinção com a resolução de mérito: (i) quando o juiz acolher ou

rejeitar o pedido do autor; (ii) quando o réu reconhecer a procedência do

pedido; (iii) quando as partes transigirem; (iv) quando o juiz pronunciar a

decadência ou a prescrição; e (v) quando o autor renunciar ao direito sobre que

se funda a ação. Sendo estes os casos que interessam ao estudo da

rescisória.

Não menos importante para o estudo em exame é o julgamento

proferido por Tribunais que se denomina acórdão (artigo 163 do Código de

Processo Civil). Ernane Fidélis assim pondera: “Seus efeitos poderão ser os

mesmos da sentença ou decisões interlocutórias”. Cabe apenas ressaltar os

efeitos equivalentes ao de sentença, assim estatui o autor que “Se confirma ou

nega provimento à apelação contra sentença, seus efeitos são de sentença” e

continua “E, se, no recurso de agravo de instrumento, o acórdão extingue o

processo como ocorre quando reconhece o abandono de causa (art. 267, III)

que o juiz de primeiro grau não acatou, o acórdão equivale à sentença.”

(SANTOS, 2007, p. 217)

2.1.2 – Classes de sentença

As sentenças não serão abordadas abrangendo todas as suas

classificações, pois interessa-nos apenas delimitar três espécies clássicas, no

plano processual. Segundo o entendimento doutrinário, as sentenças são

classificadas em declaratórias, pois declaram a existência ou inexistência de

uma relação jurídica; em constitutivas porque criam, modificam ou extinguem

determinada relação jurídica; e, em condenatórias já que declaram o direito

existente e sujeitam o demandado à prestação executória, atribuindo ao

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demandante um título executivo. (THEODORO JUNIOR, 2007, pp. 583 e 584 e

SILVA, 2002, p 78).

Ultrapassada a superficial apresentação da classificação das

sentenças, posteriormente serão os seus efeitos analisados. Antes, porém,

compreenderemos como se forma a sentença de mérito, uma vez que ela é

base fundamental deste estudo.

2.1.3 – Sentença de mérito

As sentenças, apesar da lei processual não fazer qualquer distinção, se

dividem em duas categorias denominadas de sentenças de mérito (definitivas)

e sentenças terminativas, esta diferenciação se destaca tão somente no seio

do processo de conhecimento, uma vez que nos processos de execução e

cautelar não há que se falar em mérito de decisão.

Os pressupostos para a formação de uma sentença de mérito devem

ser destacados, porquanto sem eles não será possível resolver o mérito. É

possível destacar como elementos constitutivos de uma sentença de mérito o

desenvolvimento válido e regular do processo (capacidade da parte, a

representação por advogado, a competência de juízo, a forma adequada de

procedimento), as condições da ação (possibilidade jurídica, legitimidade das

partes e interesse processual) e a inexistência de pressupostos negativos

(litispendência, coisa julgada, inépcia da petição exordial).

Além dos pressupostos, são imprescindíveis dois elementos para que

se possa falar em sentença definitiva: impossibilidade de haver recurso e que

coloque termo a uma relação jurídica processual. (MIRANDA, 1934, pp. 39 e

40)

Assim, destacam-se para o estudo da ação rescisória as sentenças de

mérito, que apresentam como característica peculiar e diferencial a eficácia de

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formar a coisa julgada material, que as revestem de imutabilidade e

indiscutibilidade. No escólio do ilustre mestre Humberto Theodoro Júnior:

A ação rescisória só é viável nos casos de sentença de mérito (art. 485). É que as sentenças terminativas não fazem coisa julgada sobre a lide e, por isso, não impedem que a parte renove a propositura da ação (art. 268). E não ocorrendo a res iudicata, não há que se falar em ação rescisória. (THEODORO JÚNIOR, 2007, p. 770).

O mérito, segundo Ovídio Baptista, é julgamento, apenas, de

procedência ou improcedência. E persevera ao afirmar que a sentença de

mérito será necessariamente declaratória, posto que “definir a lide” será

sempre um ato de julgamento, logo uma discussão acerca da procedência ou

improcedência da ação. (SILVA, 2006, pp. 238 e 239) Seguindo esta linha de

raciocínio, é cabível excluir de nossa apreciação as sentenças de natureza

constitutiva e condenatória, porque não são formadoras de mérito.

Neste sentido, não basta adentrar diretamente na seara de estudo da

coisa julgada sem antes delimitar o que significa o trânsito em julgado, já que é

da sentença trânsita em julgado que nasce a coisa julgada.

2.1.4 – O trânsito em julgado

Constitui pressuposto genérico para que haja rescisão de uma

sentença, o trânsito em julgado, que é definido nas lições de Cândido

Dinamarco (2001) da seguinte maneira: “transitar em julgado significa adquirir a

qualidade de decisão imutável, quer com a autoridade da coisa julgada

material, quer sem ela” (p. 297).

Colaciona-se da obra de Pontes de Miranda (1934) que a sentença que

passou em julgado é aquela da qual não caberá mais recurso. (p. 93), por

conseguinte, “tornando o decisório imutável e indiscutível.” (THEODORO

JUNIOR, 2007, p. 592). Entende-se neste contexto que:

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a) pela imutabilidade, as partes estão proibidas de propor ação idêntica àquela em que se estabeleceu a coisa julgada; b) pela indiscutibilidade, o juiz é que em novo processo, no qual se tenha de tomar a situação jurídica definida anteriormente pela coisa julgada como razão de decidir, não poderá reexaminá-la ou rejulgá-la; terá de tomá-la simplesmente como premissa indiscutível. (THEODORO JUNIOR, 2007, p. 600)

2.1.5 – Jurisprudência

Interessante trazer à baila o posicionamento adotado pelos Tribunais,

por meio de dois exemplos, sobre a necessidade de existência dos requisitos -

sentença de mérito e trânsito em julgado -, sem os quais não será possível o

cabimento de ação rescisória:

DESPESAS DE CONDOMINIO. RESCISÓRIA DE SENTENÇA. PRESSUPOSTO. DECISÃO DE MÉRITO COM TRANSITO EM JULGADO. INCORRENCIA NA ESPECIE. SENTENÇA TERMINATIVA. EXTINÇAO DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO. A sentença terminativa que reconheceu a ilegitimidade passiva e a falta de interesse processual e julgou extinto o processo sem julgamento do mérito, não comporta reforma em sede de ação rescisória, posto que esta pressupõe uma decisão de mérito transitada em julgado. Indeferimento da inicial, extinguindo-se o processo sem julgamento de mérito, com base no artigo 267, incisos I e VI, combinado com o artigo 295, inciso III, ambos do Código de Processo Civil. (Rescisória de sentença – Nº 1125872007 – 25ª Câmara de Direito Privado Comarca de Santos. TJESP – Relator: Marcondes D'Angelo – Julgamento: 19.08.2008). PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. DESCABIMENTO. INEXISTÊNCIA DE "SENTENÇA DE MÉRITO". PRECEDENTES DO STJ. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO 2. A pretensão não merece prosperar. Nos termos do art. 485, V, do CPC, "a sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando (...) violar literal disposição de lei". Assim, nos termos do referido dispositivo legal, apenas a "sentença de mérito" é rescindível, não sendo legítima a propositura da ação rescisória para rescindir

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decisão que não analisou a pretensão recursal. Como ressaltam Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery, "não é qualquer decisão transitada em julgado que enseja a ação rescisória, mas somente aquela de mérito, capaz de ser acobertada pela autoridade da coisa julgada" (Código de Processo Civil Comentado e legislação extravagante, 10ª ed., São Paulo: Ed. Rev. dos Tribunais, 2007, pág. 777). Nesse contexto, não há falar em cabimento de ação rescisória da decisão proferida no RMS 21.247/RO (Rel. Min. Castro Meira, DJ de 1º.12.2006), que não adentrou no mérito da discussão, extinguindo o processo sem resolução do mérito por perda superveniente de objeto. (Ação Rescisória Nº 4.164 - RO 2008/0279547-0 - STJ - Relatora: MINISTRA DENISE ARRUDA – Julgamento: 05/02/2009)

2.2 – Coisa julgada

O instituto da coisa julgada tem sua gênese no Direito Romano, mas

sofreu grande evolução no seu conceito a partir de estudos de Liebman ao

afirmar que se tratava de uma qualidade dos efeitos da sentença, e não um

efeito da sentença como era outrora denominado pela doutrina tradicional.

2.2.1 – Conceito

O Código de Processo Civil brasileiro conceitua a coisa julgada nos

seguintes termos do artigo 467: “Denomina-se coisa julgada material a eficácia,

que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso

ordinário ou extraordinário.”

Liebman (1981), que influenciou a doutrina brasileira de forma

marcante, define autoridade da coisa julgada “como a imutabilidade do

comando emergente da sentença”, e prossegue asseverando que é “uma

qualidade, mais intensa e mais profunda, que reveste o ato também em seu

conteúdo e torna assim imutáveis, além do ato em sua existência formal, os

efeitos, quaisquer que sejam, do próprio ato” (p. 54).

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De outro modo, Celso Neves, representante da doutrina clássica,

define coisa julgada como “efeito da sentença definitiva sobre o mérito da

causa que, pondo termo final às controvérsias, faz imutável e vinculativo, para

as partes e para os órgãos jurisdicionais, o conteúdo declaratório da decisão

final” (NEVES, 1971, p. 443).

Divergindo dos posicionamentos adotados acima, o processualista

Ovídio Baptista (2002) conceitua a coisa julgada como “a qualidade que torna

indiscutível o efeito declaratório da sentença, uma vez exauridos os recursos

como que os interessados poderiam atacá-la” (pp. 324 e 325). Adotando esta

linha de pensamento demonstra utilizar-se dos ensinamentos de Liebman,

quando considera a coisa julgada como qualidade da sentença. No entanto,

discorda da tese da doutrina clássica, que considera a coisa julgada um efeito

da sentença.

Colaciona-se dos ensinamentos de Cândido Dinamarco (2007) que “a

coisa julgada material consiste na imutabilidade dos efeitos substanciais da

sentença, ou seja, na sua imunidade a futuros questionamentos” (p. 245)

Prossegue explicando que:

“São efeitos substanciais da sentença que a coisa material pereniza, a declaração de existência ou inexistência de uma relação, a constituição de uma situação jurídica substancial nova ou a declaração da existência de um direito, acompanhada da criação de um título executivo que o ampare (sentenças meramente declaratória, constitutiva ou condenatória); tais efeitos reputam-se substanciais, em oposição aos efeitos processuais que todas as sentenças têm, porque se referem às realidades da vida dos litigantes, em suas relações um com o outro ou com os bens da vida.” (DINAMARCO, 2007, p. 245)

O ilustre mestre distingue da coisa julgada material à coisa julgada

formal que:

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“é a imutabilidade da sentença como ato jurídico processual. Consiste no impedimento de qualquer recurso ou expediente processual destinado a impugná-la, de modo que, naquele processo, nenhum outro julgamento se fará.” (DINAMARCO, 2001, p. 297)

2.2.2 – Limites objetivos e subjetivos

Delinear os limites objetivos e subjetivos da coisa julgada é de suma

importância, pois determina em quais circunstâncias a imutabilidade e a

indiscutibilidade de uma sentença não beneficiará, nem tampouco, prejudicará

terceiros estranhos ao processo em que houve trânsito em julgado. Isto

corrobora para que o terceiro tenha legitimidade para propor ação rescisória

quando houver possibilidade de sofrer danos na sua esfera jurídica.

Na doutrina italiana, Liebman (1981) se destaca quando define os

limites objetivos e subjetivos da coisa julgada. Este “porque a imutabilidade

vale somente entre as partes”; e aquele como sendo “o comando pronunciado

pelo juiz que se torna imutável, não a atividade lógica exercida pelo juiz para

preparar e justificar a decisão” (pp. 55 e 56).

A legislação processual brasileira traz a delimitação dos limites

objetivos nos artigos 468 e 469, enquanto que os limites subjetivos se

depreendem do artigo 472:

Art. 468. A sentença, que julgar total ou parcialmente a lide, tem força de lei nos limites da lide e das questões decididas.

Art. 469. Não fazem coisa julgada: I- os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença; II- a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença; III- a apreciação da questão prejudicial, decidida incidentemente no processo.

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Art. 472. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não beneficiando, nem prejudicando terceiros. Nas causas relativas ao estado de pessoa, se houverem sido citados no processo, em litisconsórcio necessário, todos os interessados, a sentença produz coisa julgada em relação a terceiros.

Na visão clássica carneluttiniana, lide é um conflito de interesses

qualificado por uma pretensão resistida. E, interesse, é a “posição favorável

para a satisfação de uma necessidade”. Ressalta, ainda, que não são todos os

conflitos que repercutem no campo de atuação da atividade jurisdicional, por

isso a necessidade de existir uma resistência de uma parte em relação a

pretensão de outra. (THEODORO JUNIOR, 2007, p. 39)

A finalidade precípua de apresentar os limites subjetivos é justificar as

razões para que a autoridade da coisa julgada não extrapole o seu raio de

atuação sobre os sujeitos processuais (as partes). Enfatizando que se deve

atentar para a relevância do princípio constitucional do contraditório, assim

como a ausência de legitimidade para os terceiros que estão alheios ou

totalmente desinteressados em uma determinada questão judicial indiferente a

sua esfera jurídica.

2.2.3 – A segurança jurídica

O que se traz a baila neste momento é o fato de se fundamentar a

coisa julgada como instituto imutável, intangível e absoluto considerando-se

para tanto o princípio da segurança jurídica como balizador desta percepção

conservadora de alguns processualistas. Importante demonstrar que a coisa

julgada não deve ser analisada como se fosse revestida de imutabilidade

absoluta, mas sim dentro do campo de estudo de que as coisas são

permeadas de relatividade, já que a coisa julgada sofre limitações em seu

aspecto subjetivo quando o legislador permite a desconstituição do trânsito em

julgado por meio de uma ação rescisória. Não se pretende aqui invadir a seara

de discussão acerca da relativização da coisa julgada, basta apenas

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demonstrar que não se pode analisar nenhum valor como se absoluto fosse,

pois a evolução da sociedade tem demonstrado quão relevante é perceber a

natureza relativa e mutável de todos os conceitos que nos cercam.

Cabe ressaltar que a autoridade da coisa julgada deve ser estudada

tendo em vista que sua existência está diretamente vinculada à segurança

almejada pela sociedade, já que não se deve permitir que litígios se perpetuem

sem uma solução. Todavia não se deve olvidar que a busca pela segurança

jurídica permita que a sentença, acobertada pela autoridade da coisa julgada,

possa propalar injustiças. Neste sentido, destaca-se a importância de se

analisar a coisa julgada sob o prisma da principiologia, principalmente

considerando os princípios da proporcionalidade e razoabilidade aplicados ao

ordenamento jurídico, afastando quaisquer eventos que gerem insegurança ou

incerteza.

A admissibilidade da ação rescisória está taxativamente prevista pelo

legislador no artigo 485, do Código de Processo Civil, tendo em vista à

necessidade de se dar relevância a segurança jurídica, evitando-se assim que

se estenda à rescisão a outra causa que seja dissonante ao que a lei

estabelece.

E asseverava Pontes de Miranda ao seu tempo, mas que encontra

ainda hoje com suas devidas proporções lugar comum em nossa realidade é

que:

A razão para que se admitam remédios processuais contra a sentença, está em que o Estado considera alguns casos de nulidade ou de injustiça perigosos, seja para a paz pública, seja para a respeitabilidade e realização do direito objectivo. O tom das leis sôbre acção rescisória é o tom de textos que procuram cortar, cerce, os motivos de escândalo e de desprestigio do direito. (MIRANDA, 1934, pp. 53 e 54)

É, em última análise, uma necessidade social e legal que haja fim as

controvérsias, buscando-se o equilíbrio pela prestação jurisdicional do Estado.

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Entrementes, não há que se justificar seja alcançada a paz social a qualquer

preço, por isso abrem-se precedentes para rediscussão dos efeitos produzidos

pela sentença, que não possui qualquer relação com a coisa julgada. É certo,

tão somente, que a coisa julgada nasceu com o intuito de atender a uma

exigência de estabilidade social evitando-se infindáveis e reiteradas demandas

sobre a mesma causa, mas é inegável também o quão danosos podem ser os

efeitos de uma dada sentença. É, então, necessário analisá-los.

2.3 – Os efeitos da sentença

O Código de Processo Civil apresenta a sentença como instituto

extintivo do processo, sendo correto observar que não basta a prolação de uma

sentença para por termo a uma relação processual, que só termina quando se

perfaz a coisa julgada formal. Destaca-se que a coisa julgada é uma qualidade

da sentença que tem por escopo manter os efeitos da sua imutabilidade no

tempo.

Em que pesem divergências deve-se atentar para os ensinamentos de

Ovídio Baptista quando declara que “os efeitos da sentença serão imutáveis se,

e somente se, para modificá-los for indispensável produzir uma declaração que

infirme ou contrarie a declaração anterior, formadora da coisa julgada”.

Concluindo que a indiscutibilidade da sentença se refere apenas a declaração

nela contida, e não de todos os seus efeitos como apregoa Liebman (SILVA,

2002, p. 237). Como sabido, a doutrina brasileira, mesmo tendo sofrido grande

influência da doutrina italiana, não recepcionou a mesma de forma integral

cabendo, por conseguinte, em alguns momentos adaptações que sejam

necessárias.

Humberto Theodoro Junior (2007) classifica as sentenças em relação

aos seus efeitos, a saber: a) sentenças de eficácia imediata ou completa são

aquelas “quando por si só produzem todos os efeitos para os quais foi

pronunciada. É o caso das sentenças constitutivas e declaratórias em geral,

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bem como de certas condenatórias (...)” (p. 588); e, b) sentenças de eficácia

contida ou mediata:

(...) quando a concretização da tutela é diferida para estágio ulterior ao provimento de certificação do direito da parte e somente se completa mediante outras providências judiciais de natureza coercitiva sobre a pessoa do devedor ou seu patrimônio. É o caso das sentenças condenatórias (...)” (THEODORO JR., 2007, p. 588).

Cândido Dinamarco apresenta os efeitos substanciais da sentença e

sua correlação com a coisa julgada para cada classe de sentença, vejamos:

“na sentença meramente declaratória a coisa julgada incide sobre a declaração

positiva e negativa da sentença”; enquanto que na sentença constitutiva “ficam

cobertas pela autoridade da coisa julgada a declaração de existência do direito

à modificação jurídica e a implantação da mera situação jurídica a que o autor

tinha direito”; e, por fim, afirma que nas sentenças condenatórias a coisa

julgada age “imunizando a declaração de existência do direito e a formação de

título para a execução forçada” (DINAMARCO, 2001, p. 305).

Conclui-se que não há que se confundirem os efeitos imanentes a uma

dada sentença com o fenômeno denominado de coisa julgada, pois aqueles

atingem tanto as partes quanto aos terceiros, e é esta compreensão dos fatos

que justifica ser o terceiro possuidor de legitimidade. Neste contexto,

demonstra-se importante entender a eficácia do trânsito em julgado, assim

como a extensão da coisa julgada, ambos anteriormente analisados, visto que

“Os efeitos próprios da sentença só ocorrerão no momento em que não seja

mais suscetível de reforma por de meio de recursos” (THEODORO JUNIOR,

2007, p. 592). E são estes efeitos que ganham destaque para este estudo, pois

não se busca aqui tratar da coisa julgada enfatizando a necessidade de sua

relativização, que geraria um possível estado de incerteza e/ou injustiça, mas

sim os efeitos da sentença que extrapolam os limites da coisa julgada e afetam

a esfera jurídica do terceiro.

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Deste modo, faz-se mister utilizarmos as palavras do mestre Liebman

para demonstrar que:

O escopo desta nova pesquisa é, portanto, precisar em que consiste a eficácia da sentença independentemente da autoridade da coisa julgada, e explicar assim, também e especialmente, como e em que sentido produz a sentença efeitos fora dos limites da coisa julgada e precisamente em relação a terceiros. (LIEBMAN, 1981, p. 133)

Tomando-se como referência o que foi até o momento exposto, sobre

sentença, coisa julgada e os efeitos da sentença, é possível agora explorarmos

a temática sobre a legitimidade do terceiro interessado para a propositura de

ação rescisória.

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CAPÍTULO III

A LEGITIMIDADE DO TERCEIRO JURIDICAMENTE INTERESSADO

3.1 – O conceito

Inicialmente faz-se mister destacar o que abrange a figura do terceiro

interessado. Sendo assim, o terceiro é todo aquele que não participou da

relação processual onde foi prolatada uma sentença. Outrossim, o terceiro

juridicamente interessado será aquele em que os efeitos de uma dada

sentença com força de coisa julgada possam atingir sua esfera jurídica. Neste

sentido, é o posicionamento da mais renomada doutrina:

Também podem intentá-la e intervir ao lado do réu os terceiros, com interêsse jurídico no resultado. Dissemos interêsse jurídico. É a tal interêsse que se referia a Ord. do Liv. III, tít. 81, pr., onde se diz “pôsto que a sentença não aproveita, nem empece mais que as pessoas, entre que é dada, poderá, porém, dela apelar não sòmente cada um dos litigantes que se dela sentir agravado, mas ainda qualquer outro a que o feito possa tocar e lhe da sentença possa vir algum prejuízo” . No Reg. N. 737, de 25 de novembro de 1850, art. 738, tem o mesmo sentido a referência a terceiros “prejudicados”. O interêsse do terceiro é na sentença rescindenda e, pois, na rescisória, ou só na rescisória. Porisso não se precita ter sido parte naquela. (MIRANDA, 1934, pp.142 e 143)

O código processual de 1939 não prestigiava a figura do terceiro, ao

contrário do que ocorre atualmente no artigo 487, inciso II do Código de

Processo Civil ao estatuir expressamente a legitimidade do terceiro

juridicamente interessado para propositura da ação rescisória.

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O que se deve compreender do estudo em questão é que o terceiro

não deve ficar aguardando que os efeitos de uma sentença lhe atinjam de

forma a lhe causar prejuízo, por isso a Lei prestigia a rescisão da sentença em

razão dos danos que será capaz de causar. Neste sentido, os ensinamentos de

Pontes de Miranda (1934): “O terceiro pode ser prejudicado pelos fatos que a

sentença acarreta; porém não é justo que o sofra na sua esfera jurídica. É

preciso que a posição dêle fique juridicamente intacta” (p. 64).

3.1.1 – Efeitos da sentença para o terceiro

Nas suas origens, a restituição contra o julgado estava ligada à lesão, que a parte sofreu, e muito se discutiu, depois, sobre o assunto nos Séculos XVI até XVIII. No Século XIX, alargou-se um pouco o conceito de lesão, substituindo-se-lhe o de interesse na rescisão, evidentemente mais próprio, por ser tratar de acção autônoma. (MIRANDA, 1934, pp. 142 e 143)

Ultrapassado este entendimento de que a parte necessitava sofrer uma

lesão para se ajuizar uma rescisória, o que importa para o estudo em exame é

a repercussão dos efeitos da sentença na esfera do terceiro, já que esta é a

premissa ora defendida para se permitir que o terceiro juridicamente

prejudicado utilize a ação rescisória como meio de impugnação.

Em 1916, o Supremo Tribunal Federal entendia não ser admissível à

intervenção do terceiro por meio de ação rescisória, pois acreditava que iria

“engendrar estado de inseguridade permanente para o direito” (MIRANDA,

1960, p. 168). O que era plenamente justificável, pois se baseava

exclusivamente na injustiça proveniente de dada sentença, justificando o temor

de instabilidade social. Dentro desta linha de pensamento os efeitos de uma

sentença poderiam repercutir negativamente na esfera jurídica de terceiros, por

total ausência de um remédio jurídico adequado para socorrê-los. Por outro

lado, já em 1939 os julgados (vide item 3.3) passaram a admitir a intervenção

do terceiro interessado por meio de propositura de ação rescisória, mesmo

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diante de total ausência expressa em texto legal, reconhecendo-se que não

devia prosperar que o terceiro permanecesse desamparado.

Segundo Ovídio Baptista, a todos cabe reconhecer o julgado entre as

partes, mas não podem sofrer prejuízo. Entende-se aqui o prejuízo de natureza

jurídica e não aquele meramente de fato. (SILVA, 2002, p. 71). Prossegue

afirmando:

(...) se quisermos construir uma teoria consistente sobre coisa julgada e eficácias da sentença: a circunstância que nunca pode ser esquecida, de que a sentenças podem ter múltiplas eficácias e o fato de que a imutabilidade que protege a decisão jurisdicional, identificável com a coisa julgada material, só se refere ao efeito declaratório da sentença, jamais atingindo aos terceiros que não participaram do processo. (SILVA, 2002, p. 81)

Preconiza o renomado autor que:

O que há de importante, para a distinção entre a imutabilidade que se define como coisa julgada material e a outra imutabilidade que atinge os terceiros, como efeito natural da sentença é que, na primeira, tem-se que a indiscutibilidade da própria relação jurídica que fora objeto da sentença pelas próprias partes entre as quais a sentença fora dada e que tiveram, assim, declarada sua relação jurídica, ao passo que a imutabilidade que atinge os terceiros, como eficácia natural da sentença, só se manifesta precisamente por serem eles terceiros e, pois, não terem legitimação como parte e nem legitimação que poderia lhes advir como terceiros titulares de uma relação jurídica dependente, o que corresponderia ao efeito reflexo da sentença, com base no qual poderiam afastar, quanto às suas esferas jurídicas, os efeitos prejudiciais da sentença, sendo-lhes facultado rediscutirem o julgado. (SILVA, 2006, p. 91)

O ordenamento processual admite algumas formas de intervenção de

terceiro, tais como, nomeação a autoria, denunciação da lide, chamamento ao

processo, assistência e recurso de terceiro. Inicialmente cumpre observar que

as três primeiras formas de intervenção são inadmissíveis no processo da ação

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rescisória quando se trata de rejulgamento da causa (primeira parte do artigo

494 do Código de Processo Civil).

De outro modo, a Lei processual civil abriu precedentes para se admitir

a intervenção do terceiro juridicamente interessado por meio de rescisória

quando reconheceu que os efeitos da sentença são capazes de atingir a esfera

jurídica de terceiros, o que pode ser aduzido pela assistência litisconsorcial

prevista no artigo 54 e pelo recurso do terceiro prejudicado previsto no artigo

499, caput e parágrafo 1º, que são outros institutos de natureza processual que

podem ser manejados por terceiro.

3.2 – A visão crítica de Liebman sobre legitimidade do terceiro

Em sua obra intitulada Eficácia e Autoridade da Sentença, Liebman nos

apresenta a teoria que enseja a aplicabilidade da ação rescisória no Direito

brasileiro quando existe a presença do terceiro prejudicado. Este autor destaca

às teorias de Carnelutti e Betti sobre a figura do terceiro interessado, embora

não sejam as únicas sobre o tema. Neste caminho, será apresentado um breve

escorço a guisa destes ensinamentos e da recepção no universo jurídico

brasileiro das teorias elaboradas pelos processualistas citados.

Betti reconhece no Direito italiano que os limites da coisa julgada têm

por base dois princípios, um de caráter negativo no qual a autoridade da coisa

julgada não tem qualquer relevância em relação a terceiros estranhos ao

processo; e outro de caráter positivo, que estabelece que a coisa julgada

proveniente de uma decisão interfere na esfera jurídica de determinados

terceiros. Sendo assim, pode-se extrair da correlação dos dois princípios a

seguinte classificação: os terceiros juridicamente indiferentes, os terceiros

juridicamente interessados, não sujeitos à exceção de coisa julgada e os

terceiros juridicamente interessados, sujeitos à exceção de coisa julgada. Para

os terceiros juridicamente indiferentes “é a sentença juridicamente irrelevante

para eles, mas vale como coisa julgada para outrem, e pode produzir mero

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prejuízo de fato”. Já para os terceiros juridicamente interessados, não sujeitos

à exceção de coisa julgada, aplica-se a tese do princípio negativo; enquanto

que para os que se sujeitam à exceção de coisa julgada aplica-se o princípio

positivo (LIEBMAN, 1981, pp. 91 e 92).

Carnelutti considera que a eficácia da sentença se estende as partes e

aos terceiros, embora faça apenas a distinção sobre os efeitos diretos e

reflexos. Na verdade, o que se extrai de suas considerações é uma clara

confusão de autoridade da coisa julgada na imperatividade da sentença. Sob

seu ponto de vista, a eficácia direta é aquela em que a coisa julgada atinge a

relação jurídica das partes litigantes. (ESTELLITA, 1936, pp. 201 e 202)

Seguindo a linha de entendimento de que todos os terceiros sujeitam-se a

coisa julgada reflexa que provém da sentença de outrem, independentemente

da relação entre o terceiro e a relação jurídica das partes (LIEBMAN, 1981, pp.

84 e 104).

Tal entendimento acerca dos princípios propostos por Betti é repelido

por Liebman ao afirmar que os princípios parecem, sob seu ponto de vista,

arbitrários, pois “a coisa julgada que se formou entre as partes não tem nunca

e em nenhum sentido valor para os terceiros, ao menos para aqueles que

verdadeiramente são tais segundo a teoria geral das partes em juízo”

(LIEBMAN, 1981, p. 95). Neste sentido, também tece críticas a teoria de

Carnelutti quando “demonstra a contradição da sua tese com a disposição da

lei, que sujeita à coisa julgada as partes e não os terceiros, (...), para sujeitar

uns e eximir outros da autoridade da coisa julgada” (LIEBMAN, 1981, p. 107).

Entrementes, segue Liebman (1981) afirmando que as classificações de Betti e

Carnelutti são válidas, sendo aceitas pela doutrina brasileira, apesar de

inaceitáveis “quanto à sujeição de certos terceiros à autoridade da coisa

julgada” (p. 114). Suas criticas se perfazem, pois é incompatível a aplicação da

doutrina dos efeitos reflexos com sua proposta de ser a coisa julgada mera

qualidade dos efeitos da sentença.

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Em sua obra Liebman assevera que a ação rescisória só pode ser

proposta no âmbito taxativo previsto na lei não atingindo desta forma o alcance

do instituto italiano e, ainda, destaca que:

(...) a sistemática brasileira impõe que não se aceite a teoria de extensão da coisa julgada a terceiros, que não podem suportar as conseqüências prejudiciais da sentença prolatada inter alios, por não ficarem suficientemente garantidos contra as mesmas pelos institutos da intervenção, do recurso de terceiro prejudicado e da ação rescisória (LIEBMAN, 1981, p. 119).

Liebman (1981) ressalta que “A coisa julgada, contudo, assim como

não é para as partes um efeito da sentença, a fortiori não pode sê-lo para

terceiros, nem por via direta nem por via reflexa” (p. 86). Acrescenta ainda que

“A coisa julgada está, na verdade, limitada às partes por norma precisa de lei;

mas, pelas razões amplamente expostas, não é efeito, nem direito nem reflexo,

da sentença, mas tão-só uma qualidade dos seus efeitos” (p.88).

Importante é a distinção que se deve fazer dos efeitos da sentença da

coisa julgada, porque esta se limita às partes e aqueles se estendem também

aos terceiros. Tal entendimento se coaduna com intervenção do terceiro no

processo, a fim de evitar que uma sentença lhe cause dano. Neste sentido,

fundamenta o autor que “(...), a intervenção voluntária que, seguindo a tradição,

também o direito italiano admite, é segura confirmação de que a sentença não

limita seus efeitos às partes, mas os estende também aos terceiros”

(LIEBMAN, 1981, p. 128).

Ao fim de sua obra conclui que a intensidade dos efeitos de uma

sentença que se aplicam aos terceiros é menor do que para as partes do

processo, já que para estas os efeitos se tornam imutáveis em razão da

autoridade da coisa julgada; enquanto que para aqueles os efeitos podem ser

modificados quando se comprova injustiça na decisão prolatada. (LIEBMAN,

1981, p. 126). Conclui-se, por conseguinte, que o direito brasileiro realmente

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não aplicou em toda a sua essência o ensinamento italiano, visto que não é a

injustiça da sentença que justifica a admissibilidade de rescisão, mas sim a

existência de um de seus pressupostos legais.

Por fim, o que vale destacar para este trabalho do ensinamento do

mestre é que o terceiro juridicamente prejudicado tem legitimidade para a

proposição de ação rescisória, o que é plenamente acolhido pela doutrina

brasileira e previsto no ordenamento processual. Sendo indubitável considerar

que a doutrina de Liebman é um meio termo entre todas as teorias

apresentadas sobre a influência de uma dada sentença na esfera jurídica de

terceiros. O melhor caminho, portanto, será apresentar este tema sob os

auspícios de posicionamento jurisprudencial pátrio.

3.3 – Jurisprudência

Colacionam-se dos estudos de Sahione Fadel dois exemplos da

jurisprudência sobre a legitimidade do terceiro:

O Código de 1939 era silente a respeito, mas o terceiro interessado e afetado pela sentença rescindenda tinha legitimidade para propô-la (3º Grupo de Câmaras Cíveis, do Tribunal de Justiça do Estado da Guanabara, ação rescisória nº 1.258). No mesmo sentido, proclamou o Tribunal Federal de Recursos: “Constitui princípio assente o de que partes na ação Rescisória são, em regra, as que figuraram como tal na ação julgada pela decisão rescindenda, podendo, porém, propor a ação o terceiro prejudicado pela coisa julgada; também como partes podem figurar o cessionário, o sub-rogado, o sucessor, etc...(Ação Rescisória nº 379, in D. J. de 31/8/72, pág. 5.685). (FADEL, ano ?, p. 23)

Cabe aqui ressaltar a relevância do entendimento jurisprudencial sobre

a legitimidade do terceiro para propositura de uma ação rescisória. É

imprescindível observar que é uníssono o posicionamento no sentido de que

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não basta ser apenas ser terceiro, nem tampouco ter interesse, o fundamento

precípuo é ser o terceiro juridicamente interessado. Destacando que não se

deve tratar de interesse de fato ou ter meramente sofrido um prejuízo em

relação a uma sentença, é necessário que os efeitos desta atinjam

negativamente sua esfera jurídica. Seguem abaixo alguns julgados dos mais

importantes Tribunais a respeito do tema:

AÇÃO RESCISÓRIA. LEGITIMIDADE ATIVA. TERCEIRO JURIDICAMENTE INTERESSADO. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE JULGADA PROCEDENTE. JUIZ QUE TOMOU CONHECIMENTO, POR MEIO DE AÇÃO CAUTELAR QUE O IMÓVEL FOI VENDIDO PELO AUTOR DA AÇÃO POSSESSÓRIA. FATO NÃO LEVADO EM CONSIDERAÇÃO NO JULGAMENTO DA DEMANDA. ERRO DE FATO. OCORRÊNCIA. AÇÃO DE REITEGRAÇÃO DE POSSE. PROVA INEQUÍVOCA DA POSSE. NECESSIDADE. DÚVIDA QUANTO A POSSE DO IMÓVEL. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. CONSEQÜÊNCIA. Tem legitimidade para ajuizar ação rescisória o terceiro juridicamente interessado, se demonstrado que o mesmo sofreu prejuízo com a sentença proferida. Se o juiz tomou conhecimento, por meio de ação cautelar, de que o imóvel objeto da ação reintegratória havia sido alienado pelo demandante e julgou procedente o pedido, entendendo que o mesmo possuía a posse do bem, verificado está o erro de fato. Não basta para ajuizar a ação possessória que o autor comprove ser proprietário do bem esbulhado, deve demonstrar que era detentor da posse do mesmo antes do esbulho. Não há nos autos prova deste fato, muito pelo contrário, as provas existentes levam à conclusão de que o real possuidor do imóvel era o autor da ação rescisória. Não havendo prova inequívoca da posse do bem supostamente esbulhado, impõe-se a improcedência da ação de reintegração de posse. Precedentes do TJERJ. Provimento do recurso para julgar procedente a ação rescisória para rescindir a sentença, e, no iudicium rescisorium, julgar improcedente o pedido de reintegração de posse. (Ação Rescisória - 2007.006.00055 - DECIMA TERCEIRA CAMARA CIVEL. DO TJERJ – Relator: DES. LINDOLPHO MORAIS MARINHO - Julgamento: 26/11/2008). ACAO RESCISORIA. TERCEIRO INTERESSADO. LEGITIMIDADE. HABILITACAO A PARTILHA DOS BENS

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DO ESPOLIO. MULHER DIVORCIADA. DIVORCIO NO EXTERIOR. HOMOLOGACAO DE SENTENCA ESTRANGEIRA. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Ação rescisória. Legitimação do terceiro juridicamente interessado. Código de Processo Civil. Artigo 487, II. Aplicação. O terceiro juridicamente interessado dispõe de legitimação para a propositura de ação rescisória de acórdão que atingiu relação jurídica de que é titular, ao reduzir à metade o valor do seu quinhão hereditário. Decadência. Momento obstativo da sua consumação. Definição. Para obstar a consumação da decadência, basta a simples apresentação da petição inicial, no foro, dentro do prazo legal. Sentença estrangeira. Homologação pelo Supremo Tribunal Federal. Produção de efeitos. Momento determinativo. A homologação da sentença estrangeira, pelo Supremo Tribunal Federal, produz efeitos "ex tunc". Inventario. Abertura da sucessão ao tempo em que o herdeiro já' estava divorciado, no estrangeiro, por sentença transitada em julgado. Comunicação dos bens recebidos pelo herdeiro assim divorciado ao ex-conjuge. Inocorrência. Os bens recebidos por um dos cônjuges, através de herança, não se comunicam ao outro, se, ao tempo da abertura da sucessão, já' estavam divorciados, por sentença estrangeira transitada em julgado. Ação rescisória julgada procedente. (JRC) (Ação Rescisória - 1994.006.00072 - IV GRUPO DE CAMARAS CIVEIS DO TJERJ - Relator: DES. WILSON MARQUES - Julgamento: 19/11/1997). EMENTA: ACAO RESCISORIA - LEGITIMIDADE. LEGITIMA-SE A ACAO RESCISORIA. Em primeiro lugar, quem figurou na relação processual de onde surgiu a decisão rescindenda. o inciso ii do artigo 487 do CPC, no entanto, admite o terceiro juridicamente interessado, entre os legitimados a ação rescisória, mas o interesse e de ser jurídico, não só econômico. Não tem interesse jurídico para rescindir sentença proferida em ação que tenha por objeto rescisão de contrato de permuta de imóveis, quem não e titular do domínio e nem exerce posse "ad interdicta", sendo dela apenas detentor por permissão ou tolerância (arts. 497 e 499 do CC). Carência de ação decretada. (6FLS.) (Ação Rescisória Nº 598598217, Primeira Câmara Especial Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Genaro José Baroni Borges, Julgado em 06/04/2000)

EMENTA: AÇÃO RESCISÓRIA. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. TERCEIRO INTERESSADO. ILEGITIMIDADE ATIVA. O terceiro só é legitimado

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ativamente para a ação rescisória quando possui demonstrado interesse jurídico, originado de relação de direito material com a parte adversária e não de mero interesse ou prejuízo econômico. Ação rescisória inadmitida. (Ação Rescisória Nº 70004460457, Décima Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sejalmo Sebastião de Paula Nery, Julgado em 13/05/2004) EMENTA: AR. LEGITIMACAO ATIVA. TERCEIRO. PRESSUPOSTOS ESPECIFICOS. HA DE SE RECONHECER LEGITIMIDADE ATIVA A TERCEIROS, EM ACAO RESCISORIA, QUANDO DEMONSTRADO O INTERESSE JURIDICO, NAO BASTANDO O MERO INTERESSE DE FATO. AUSENTES AS VIOLACOES A DISPOSITIVOS LEGAIS, NAO MERECE ACOLHIMENTO PRETENSAO DESCONSTITUTIVA DE ACORDAO TRANSITO EM JULGADO. ACAO JULGADA IMPROCEDENTE. (Ação Rescisória Nº 596133710, Terceiro Grupo de Câmaras Cíveis, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Antônio Janyr Dall'Agnol Júnior, Julgado em 05/06/1998)

EMENTA: ACAO RESCISORIA. LEGITIMIDADE ATIVA. E PARTE ATIVA LEGITIMA NAO SO AQUELE QUE FOI PARTE NA DEMANDA QUE DEU ORIGEM A SENTENCA RESCINDENDA, COMO TAMBEM O TERCEIRO INTERESSADO, A QUEM A DECISAO POSSA CAUSAR PREJUIZO. INTELIGENCIA DO ART. 487, II, DO CPC. SUB-ROGACAO DA LOCACAO, NA SEPARACAO, AO CONJUGE QUE PERMANECEU NO IMOVEL. NA SEPARACAO JUDICIAL, SUB-ROGA-SE NO CONTRATO DE LOCACAO O CONJUGE QUE PERMANECER NO IMOVEL (LEI 6649/79, ART. 13) NESSE CASO, A ACAO DEVE SER ENDERECADA CONTRA O SUB-ROGADO, SENDO NULA A SENTENCA QUE, BASEADA EM ERRONEA INDICACAO DO DEMANDADO, CONDENA O NOVO LOCATARIO A VER-SE DESPEJADO. ACAO PROCEDENTE. (Ação Rescisória Nº 191002393, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Alçada do RS, Relator: Ramon Georg Von Berg, Julgado em 27/08/1991)

Apoiando-se em tese contrária também se pode aduzir a legitimidade

do terceiro, conforme o seguinte julgado:

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EMENTA - AÇÃO RESCISÓRIA. Decisão que se pretende rescindir buscando novo julgamento, com fincas a inserir a autora, em razão de documento novo que comprova sua união estável, nas indenizações determinadas a serem pagas pelo réu aos demais herdeiros de Edelmir Batista dos santos, em razão de acidente de veículo que ceifou a sua vida. Inicial que insere no pólo passivo somente a Transportadora, mesmo que no bojo da petição fale em requeridos. Ré, ora autora, que teve indeferido seu pedido de intervenção na qualidade de litisconsorte. Documento novo que comprova a união estável. Preliminares suscitadas pela empresa ré alegando irregularidade na formação do pólo passivo da lide, ausência de interesse de agir, falta de utilidade do provimento jurisdicional que poderia ser obtido independente do resultado da demanda originária, falta de comprovação de tempestividade e ausência do depósito prévio. Decisão rescindenda que não atingiu o direito da autora. À época da sentença a autora não pôde comprovar sua união estável, portanto sendo correta a decisão que a afastou da ação originária. À época do acórdão que ordenou o pagamento de indenização a outros postulantes não contava com a autora em seu pólo ativo, e em nenhum momento seu direito foi atingido de modo cabal. O pagamento de indenização a uma vítima, não pode ter, neste caso, o condão de elidir o pagamento a outras tantas, posteriormente, sobre a alegação de estar o réu pagando duas vezes pelo mesmo fato. O dano material pago na decisão originária foi somente em relação às despesas com funeral e apenas para a viúva, deixando clara a decisão que o réu, em relação aos autores do feito originário, não era um provedor. Não estando este direito fechado á autora, assim como não está o direito ao dano moral que é individualizado. O que se tem nestes autos por parte da autora é mero interesse econômico que não lhe legitima a ingressar com esta ação. A autora, portanto, não é terceiro interessado legitimado a propor ação rescisória, pois seu direito não foi afetado pela decisão que pretende rever. Jurisprudência e doutrina trazidas pela procuradoria de justiça em seu parecer que no permissivo regimental faço constar deste acórdão. Extinção do processo sem resolução do mérito. Art. 267, VI, CPC. (Ação Rescisória - 2007.006.00238 - Órgão Especial do TJERJ – Relatora: DES. NILZA BITAR - Julgamento: 23/06/2008).

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CONCLUSÃO

A ação rescisória é uma ação autônoma de impugnação, cuja natureza

jurídica é desconstitutiva, não se tratando em hipótese alguma de uma

modalidade de recurso, visto que encontra referência em título especial de

nosso ordenamento processual, fora do campo de atuação dos recursos em

geral. Sua função precípua é rescindir sentenças de mérito transitadas em

julgado, ou seja, das quais não caibam mais recurso, com eventual

rejulgamento da sentença rescindenda.

A partir de um breve estudo acerca da sentença, da coisa julgada e dos

efeitos da sentença, buscou-se entender o que significa uma sentença de

mérito e, além disso, qual o alcance do trânsito em julgado, que são

pressupostos indispensáveis para a propositura de uma ação rescisória. É

claro o texto legal ao afirmar que é somente a sentença de mérito transitada

em julgado que poderá ser rescindida, nenhuma outra, portanto. Assim como, é

taxativo o rol de pressupostos legais que ensejam uma rescisão.

É indispensável notar que entendida a sentença de mérito transitada

em julgado como aquela da qual não se cabe mais recurso e que colocou

termo numa relação jurídica. Em seguida, delimitou-se a coisa julgada e seus

limites subjetivos e objetivos, cuja função é garantir a indiscutibilidade e

imutabilidade da sentença, para ao final concluir-se que os efeitos de uma

sentença não devem ser confundidos com a coisa julgada.

É, então, a doutrina de Liebman que se apresenta relevante, para este

estudo, ao defender a legitimidade do terceiro para propor uma ação rescisória.

Em que pesem divergências doutrinárias, deve ser considerada a coisa julgada

uma qualidade da sentença, e mais que isso, deve se analisar os efeitos da

sentença que extrapolam a seara dos limites da coisa julgada, sem se quer

macular sua autoridade, nem ao menos engendrar um estado de insegurança

no seio da sociedade.

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Em suma, interessa mesmo salientar que não é qualquer terceiro que

terá legitimidade, mas tão somente aquele que tenha interesse jurídico. Não

basta que seja terceiro, nem tampouco que tenha interesse. É necessário que

seja este interesse de natureza jurídica, pois não se trata aqui de sanar

injustiças provenientes de uma sentença, mas sim prejuízos que invadam a

esfera jurídica de terceiros, o que foi amplamente demonstrado pela

jurisprudência pátria.

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BIBLIOGRAFIA

ALVIM, Arruda. Direito processual civil. São Paulo: Editora Revista dos

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

UMA BREVE ANÁLISE SOBRE AÇÃO RESCISÓRIA 10

1.1 – Historicidade 10

1.1.1 – Juízo rescindente e juízo rescisório 11

1.1.2 – Nulidade, anulabilidade e rescindibilidade 12

1.1.3 – Confronto com a legislação anterior 14

1.2 – Conceito e objeto 16

1.3 – Natureza jurídica 17

1.4 – Competência 18

1.5 – Possibilidade de suspensão da execução da sentença rescindenda 19

1.5.1 – Jurisprudência 20

1.6 – Condições processuais 21

CAPÍTULO II

ELEMENTOS INDISPENSÁVEIS À RESCISÃO DE UMA SENTENÇA 24

2.1 – A Sentença

24

2.1.1 – Conceito 24

2.1.2 – Classes de sentença 25

2.1.3 – Sentença de mérito 26

2.1.4 – O trânsito em julgado 27

2.1.5 – Jurisprudência 28

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2.2 – Coisa julgada 29

2.2.1 – Conceito 29

2.2.2 – Limites objetivos e subjetivos 31

2.2.3 – A segurança jurídica 32

2.3 – Os efeitos da sentença 34

CAPÍTULO III

A LEGITIMIDADE DO TERCEIRO JURIDICAMENTE INTERESSADO 37

3.1 – O conceito 37

3.1.1 – Efeitos da sentença para o terceiro interessado 38

3.2 – A visão crítica de Liebman sobre a legitimidade do terceiro 40

3.3 – Jurisprudência 43

CONCLUSÃO 48

BIBLIOGRAFIA 50

ÍNDICE 53

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes – Instituto A Vez do

Mestre

Título da Monografia: Ação rescisória e o terceiro juridicamente interessado

Autor: Rosângela Aparecida Corrêa

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: