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A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS NÃO-FINANCEIRAS: Estudo de Caso na Companhia Vale do Rio Doce ALEXANDRE SEGADILHA ADLER UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro COPPEAD – Instituto de Pós-graduação em Administração Orientador: Eduardo Facó Lemgruber Rio de Janeiro 2002

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A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS

NÃO-FINANCEIRAS:

Estudo de Caso na Companhia Vale do Rio Doce

ALEXANDRE SEGADILHA ADLER

UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro

COPPEAD – Instituto de Pós-graduação em Administração

Orientador: Eduardo Facó Lemgruber

Rio de Janeiro2002

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A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS

NÃO-FINANCEIRAS:

Estudo de Caso na Companhia Vale do Rio Doce

ALEXANDRE SEGADILHA ADLER

Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto de Pós-graduação emAdministração – COPPEAD, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ,como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre emAdministração.

Aprovada por:

___________________________________________Prof. Eduardo Facó Lemgruber, Ph.D. – OrientadorCOPPEAD - UFRJ

___________________________________________Prof. Celso F. Lemme, D.Sc.COPPEAD – UFRJ

___________________________________________Prof. César das Neves, Ph.D.COPPE - UFRJ

Rio de Janeiro2002

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FICHA CATALOGRÁFICA

Adler, Alexandre Segadilha.A Racionalidade da Gestão de Riscos em Empresas

Não-Financeiras: Estudo de Caso na Companhia Valedo Rio Doce/ Alexandre Segadilha Adler – Rio deJaneiro, 2002.

xiii, 160p. il.Dissertação (Mestrado em Administração) –

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ,Instituto de Pós Graduação em Administração –COPPEAD, 2002.

1. Risco. 2. Criação de Valor. 3. Finanças – Teses. I.Lemgruber, Eduardo Faço (Orient.). II. UniversidadeFederal do Rio de Janeiro. Instituto de Pós Graduaçãoem Administração. III. Título.

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Dedico este trabalho à minha esposa,

Cris, a meus pais e à minha irmã, que

sempre me incentivaram nas horas mais

difíceis.

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AGRADECIMENTOS

! Aos meus pais, pelos incentivos constantes aos meus estudos e por

me proporcionarem uma educação sólida e de excelente qualidade;

! À minha esposa, Cristina, pela sua grande paciência nos momentos

de ausência por causa deste trabalho e pela sua perseverança em

me incentivar nos momentos em que quase desisti;

! Ao meu orientador, Eduardo Facó, pela sua orientação sempre

precisa e estimulante, e pela sua grande disponibilidade, mostrando-

se presente sempre que precisei;

! Aos meus colegas da Turma 98 pelos dois anos de excelente

convívio e pelas discussões enriquecedoras;

! A todos os funcionários do COPPEAD pelo apoio nestes dois anos;

! À minha empresa, a Monitor Group, pelo apoio e compreensão nos

momentos em que tive que me ausentar para concluir este trabalho;

! Aos meus colegas de trabalho, Fernando Musa, Giovanni Foragi,

Renato Carvalho, Alberto Moel, Paulo Vandor e Fernando Monteiro,

pelas colaborações com discussões construtivas para este trabalho,

obtenção de informações e incentivo para a conclusão do mesmo;

! A todos os funcionários da Companhia Vale do Rio Doce que

colaboraram com este trabalho me ajudando a entender a dinâmica

de uma empresa tão complexa.

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RESUMO

Em geral, empresas não-financeiras possuem custos e receitas sujeitos a

complexos padrões de risco advindos da volatilidade de preços de commodities,

taxas de câmbio e taxas de juros. Esses três riscos financeiros de preço são tema

das teorias de finanças que visam explicar a crescente prática da Gestão

Financeira de Riscos. Críticos do hedge questionam, contudo, se a existência

destes riscos é uma razão suficiente para a realização de uma política de gestão

financeira de riscos. Além disso, é levantada a questão que concerne se tal

gestão de riscos está de acordo com os interesses do acionista e com o objetivo

de maximização do valor da empresa.

A teoria de finanças oferece diversas hipóteses para explicar a

racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o

acionista, e o presente trabalho estudou a prática de gestão de riscos financeiros

na Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) à luz desta teoria sobre a racionalidade

do hedge em empresas. O estudo buscou assim avaliar discrepâncias entre a

teoria e a prática da gestão de riscos e analisar a existência potencial de ganhos

que permitam a criação de valor através de uma estratégia integrada de Gestão

de Riscos na CVRD. Foi utilizado, para determinar este potencial de ganhos, um

modelo de simulação de Monte Carlo com o objetivo de determinar a existência

de potencial de criação de valor através da gestão de riscos na empresa.

Os resultados obtidos demonstraram a existência de potencial de ganhos

para o acionista em função da redução do potencial de problemas de sub-

investimento e da redução de custos de dificuldades financeiras.

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vii

ABSTRACT

Non-financial companies, generally have costs and revenues subject to

complex risk patterns caused by the volatility of commodity prices, exchange rates

and interest rates. These financial price risks are themes for financial theories

about the growing practice of Financial Risk Management. Academics that criticize

the practice of hedge, question if the existence of such risks is a sufficient reason

to justify a risk management policy. Besides, they raise questions concerning

whether this policy would be in the best interest of the shareholders and consistent

with objectives of shareholder value maximization.

Financial theory offers several hypotheses, based on the shareholder value

maximization paradigm, to explain the rationality of hedge policies and, in light of

such theory, the present work studied the risk management practice within

Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). This study searched for discrepancies

between the theory and practice of risk management and for the existence of

potential gains related to an integrated risk management strategy that can result in

value creation for the shareholders at CVRD. To determine this potential, a Monte

Carlo simulation model was used.

The results achieved have demonstrated potential gains for the

shareholders, related to the reduction of under investment problems and costs of

financial distress.

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SUMÁRIO

1. O PROBLEMA.............................................................................................................................................1

1.1. INTRODUÇÃO ..............................................................................................................................................11.2. OBJETIVO....................................................................................................................................................41.3. DELIMITAÇÕES DO ESTUDO .......................................................................................................................41.4. RELEVÂNCIA...............................................................................................................................................51.5. DESCRIÇÃO DOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS ...................................................................................................7

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................................................9

2.1. DEFINIÇÕES DE RISCO E HEDGE ................................................................................................................92.1.1. RISCO ........................................................................................................................................................92.1.2. RISCO DE PREÇO .....................................................................................................................................102.1.3. RISCO DE CRÉDITO..................................................................................................................................112.1.4. RISCO PURO ............................................................................................................................................112.1.5. HEDGE.....................................................................................................................................................122.2. TIPOS DE HEDGE REALIZADOS POR EMPRESAS NÃO-FINANCEIRAS ......................................................132.2.1. HEDGE DE TRANSAÇÕES .........................................................................................................................132.2.2. HEDGE DO BALANÇO...............................................................................................................................132.2.3. HEDGE OPERACIONAL.............................................................................................................................142.2.4. GESTÃO INTEGRADA DE RISCOS..............................................................................................................142.3. TEORIA MODERNA SOBRE OS DETERMINANTES DO HEDGE EM EMPRESAS............................................172.3.1. A RACIONALIDADE DO HEDGE................................................................................................................172.3.2. REDUÇÃO DE CUSTOS DE FALÊNCIA........................................................................................................192.3.3. REDUÇÃO DE PROBLEMAS DE SUB-INVESTIMENTO .................................................................................222.3.4. CONFLITOS ENTRE O CAPITAL DE TERCEIROS E O CAPITAL PRÓPRIO.......................................................242.3.5. REDUÇÃO DE IMPOSTOS E HEDGE ...........................................................................................................272.3.6. CONFLITOS DE AGENCY ...........................................................................................................................292.4. PESQUISAS SOBRE AS PRÁTICAS DE GESTÃO DE RISCOS.........................................................................312.4.1. ESTUDOS ANALISADOS............................................................................................................................312.4.2. DOLDE (1993) .........................................................................................................................................312.4.3. PESQUISA DA WHARTON SCHOOL DE 1995 .............................................................................................332.4.4. PESQUISA DA WHARTON SCHOOL DE 1996 .............................................................................................352.4.5. PESQUISA DA WHARTON SCHOOL DE 1998 .............................................................................................382.4.6. COMPARAÇÃO ENTRE OS ESTUDOS ..........................................................................................................432.5. EVIDÊNCIAS EMPÍRICAS SOBRE FATORES DETERMINANTES DO COMPORTAMENTO DE HEDGING DEEMPRESAS ........................................................................................................................................................452.5.1. ESTUDOS ANALISADOS............................................................................................................................452.5.2. A PESQUISA DE NANCE, SMITH E SMITHSON (1993) ...............................................................................452.5.3 O ESTUDO DE TUFANO (1996) .................................................................................................................492.5.4 O ESTUDO DE GECZKY, MINTON E SCHRAND (1997)...............................................................................522.5.5 O ESTUDO DE HAUSHALTER (2001) .........................................................................................................532.5.6 SUMÁRIO DAS EVIDÊNCIAS ......................................................................................................................542.6. ESTUDOS SOBRE IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE HEDGE COM O OBJETIVO DE CRIAR VALOR..........................................................................................................................................................................562.6.1. A VIABILIDADE DA REDUÇÃO DE IMPOSTOS ...........................................................................................562.6.2. REDUÇÃO DA PROBABILIDADE DE FALÊNCIA..........................................................................................592.6.3. HEDGING ESTRATÉGICO ..........................................................................................................................622.7. RESUMO DO REFERENCIAL TEÓRICO......................................................................................................64

3. DESCRIÇÃO DO CASO: A COMPANHIA VALE DO RIO DOCE....................................................77

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3.1. A EMPRESA...............................................................................................................................................773.1.1. INTRODUÇÃO...........................................................................................................................................773.1.2 PRINCIPAIS LINHAS DE NEGÓCIOS............................................................................................................793.1.3. CAPACITAÇÕES DIFERENCIAIS ................................................................................................................873.1.4 DESEMPENHO RECENTE ...........................................................................................................................913.2. PROJEÇÕES DE ANALISTAS.......................................................................................................................963.2.1. PREMISSAS DE CÂMBIO, VENDAS E CPV ................................................................................................963.2.2. EBITDA E CAPEX.................................................................................................................................973.2.3. REPAGAMENTO DA DÍVIDA E PAGAMENTO DE DIVIDENDOS ....................................................................99

4. METODOLOGIA E MODELAGEM.....................................................................................................101

4.1. TIPO DE PESQUISA ..................................................................................................................................1014.2. COLETA DE DADOS .................................................................................................................................1024.3. TRATAMENTO DOS DADOS .....................................................................................................................1044.3.1. TIPO DE TRATAMENTO UTILIZADO........................................................................................................1044.3.2. TRATAMENTO QUALITATIVO.................................................................................................................1054.3.3. TRATAMENTO QUANTITATIVO ..............................................................................................................1054.4. MODELO DE SIMULAÇÃO .......................................................................................................................1064.5. MODELO DE BOND RATING DESENVOLVIDO PELA MONITOR GROUP...................................................1094.6. LIMITAÇÕES DO MÉTODO ......................................................................................................................110

5. RESULTADOS.........................................................................................................................................112

5.1. ANÁLISE DA ESTRATÉGIA DE HEDGE DA CVRD ...................................................................................1125.1.1. A POLÍTICA DE HEDGE DA CVRD.........................................................................................................1125.1.2. RISCOS DA TAXA DE JUROS E DA TAXA DE CÂMBIO DA DÍVIDA DA CVRD ..........................................1135.1.3. RISCOS DE TAXAS DE JUROS .................................................................................................................1145.1.4. RISCOS DA TAXA DE CÂMBIO................................................................................................................1155.1.5. RISCO DE PREÇOS DE COMMODITIES......................................................................................................1175.1.6. A ADOÇÃO DO SFAS 133 .....................................................................................................................1195.1.7. COMPARAÇÃO COM A TEORIA...............................................................................................................1215.2. POTENCIAL DE CRIAÇÃO DE VALOR ATRAVÉS DE HEDGE NA CVRD ..................................................1275.2.1. ANÁLISE DOS RESULTADOS DO MODELO DE SIMULAÇÃO .....................................................................127

6. CONCLUSÃO...........................................................................................................................................138

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................................................143

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LISTA DE TABELAS E FIGURAS

FIGURA 1 – DIFICULDADES FINANCEIRAS E HEDGE......................................................................20

FIGURA 2 – CONVEXIDADE NA FUNÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA.............................................27

FIGURA 3 – REDUÇÃO DE IMPOSTOS ATRAVÉS DA GESTÃO DE RISCO ..................................28

FIGURA 4 – UTILIZAÇÃO DE DERIVATIVOS DE ACORDO COM O TAMANHO, 1994 ..............34

FIGURA 5 – UTILIZAÇÃO DE DERIVATIVOS POR CLASSE DE RISCO, 1995 ..............................37

FIGURA 6 – UTILIZAÇÃO DE DERIVATIVOS DE ACORDO COM O TAMANHO, 1997 ..............39

FIGURA 7 – UTILIZAÇÃO DE DERIVATIVOS POR SETOR INDUSTRIAL, 1997 ..........................40

FIGURA 8 – UTILIZAÇÃO DE DERIVATIVOS POR CLASSE DE RISCO, 1997 ..............................42

TABELA 1 – PRÁTICAS DE GESTÃO DE RISCO NA INDÚSTRIA MINERADORA DE OURONORTE-AMERICANA, 1990-1993 ..............................................................................................................50

FIGURA 9 –FLUXOS DE CAIXA E FRONTEIRAS DE FLUTUAÇÃO NO TEMPO..........................60

FIGURA 10 – DIAGRAMA DA DEMONSTRAÇÃO DOS FLUXOS DE CAIXA DA EMPRESA ......63

TABELA 2 – RESUMO DA BIBLIOGRAFIA............................................................................................64

FIGURA 11– UNIDADES DE NEGÓCIO DA CVRD................................................................................78

FIGURA 12 – MAPA LOGÍSTICO DA CVRD ..........................................................................................81

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TABELA 3 – RESULTADOS FINANCEIROS CONSOLIDADOS, 1999 A 1S2001 (US$ MILHÕES) 91

FIGURA 13 – CAPITALIZAÇÃO DA EMPRESA EM US$ (1996 A 2S2001) ........................................92

FIGURA 14 – RECEITA CONSOLIDADA POR PRODUTO, JAN A SET DE 2001.............................93

TABELA 4 – FLUXOS DE CAIXA CONSOLIDADOS, 1999 A 1S 2001 (US$ MIL) .............................94

FIGURA 15 – EVOLUÇÃO DO ENDIVIDAMENTO, 1998 A 1S 2001 DE 2001 (US$ ‘000) .................95

TABELA 5 –PREMISSAS DE CÂMBIO (R$/ US$), 2001 A 2005 ............................................................96

TABELA 6 –RECEITA LÍQUIDA, 2001 A 2005 (US$ MIL).....................................................................97

TABELA 7 –CUSTOS DOS PRODUTOS VENDIDOS, 2001 A 2005 (US$ MIL) ...................................97

TABELA 8 – EBITDA DA CVRD, 2001 A 2005 (US$ MIL)......................................................................98

TABELA 9 – CAPEX DA CVRD, 2001 A 2005 (US$ MIL) .......................................................................98

TABELA 10 – INVESTIMENTOS EM COBRE E ENERGIA .................................................................98

TABELA 11 – REPAGAMENTO DAS DÍVIDAS, 2001 A 2005 (US$ MIL)............................................99

TABELA 12 – PERFIL DA DÍVIDA DE LONGO PRAZO DA CVRD, 1999 E 2000 (US$ MILHÕES)........................................................................................................................................................................113

TABELA 13 – CARTEIRA DE DERIVATIVOS DE TAXA DE JUROS DA CVRD, 1999 E 2000 (US$MILHÕES)....................................................................................................................................................115

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TABELA 14 – CARTEIRA DE DERIVATIVOS DE TAXA DE CÂMBIO DA CVRD, 1999 E 2000(US$ MILHÕES) ..........................................................................................................................................116

TABELA 15 – CARTEIRA DE DERIVATIVOS DE PREÇOS DE ALUMÍNIO DA ALBRAS, 1999 E2000 (US$ MILHÕES) .................................................................................................................................118

TABELA 16 – CARTEIRA DE DERIVATIVOS DE PREÇOS DE ALUMÍNIO DA ALUNORTE, 1999E 2000 (US$ MILHÕES)..............................................................................................................................119

TABELA 17 – GANHOS/ PERDAS LÍQUIDAS DAS POSIÇÕES DE DERIVATIVOS, 30 DE JUNHODE 2001 (US$ MIL)......................................................................................................................................120

TABELA 18 – GANHOS/ PERDAS LÍQUIDAS DAS POSIÇÕES DE DERIVATIVOS, 30 DE JUNHODE 2001 (US$ MIL)......................................................................................................................................121

TABELA 19 – INTENSIDADE DE USO DE DERIVATIVOS DA CVRD.............................................122

TABELA 20 – INTENSIDADE DE USO DE DERIVATIVOS DA CVRD POR CLASSE DE RISCO........................................................................................................................................................................123

TABELA 21 – RESULTADOS DO FLUXO DE CAIXA OPERACIONAL NO CENÁRIO SEMHEDGE, 2002 A 2005 (US$ MIL) ...............................................................................................................128

TABELA 22 – RESULTADOS DO FLUXO DE CAIXA DE INVESTIMENTOS NO CENÁRIO SEMHEDGE, 2002 A 2005 (US$ MIL) ...............................................................................................................129

TABELA 23 – FLUXO DE REPAGAMENTO DAS DÍVIDAS E DE PAGAMENTO DEDIVIDENDOS, 2001 A 2005 (US$ MIL) ....................................................................................................130

TABELA 24 – RESULTADOS DE FUNDING GAP NO CENÁRIO SEM HEDGE, 2002 A 2005 (US$MIL)...............................................................................................................................................................131

FIGURA 16 – EVOLUÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DE FUNDING GAP NO CENÁRIO SEM HEDGE,2002 A 2005 (US$ MIL) ...............................................................................................................................132

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FIGURA 17 – EVOLUÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DOS CUSTOS DE FINANCIAMENTO NOCENÁRIO SEM HEDGE, 2002 A 2005 (US$ MIL) ..................................................................................133

FIGURA 18 – DISTRIBUIÇÕES DE FUNDING GAP, 2003 (US$ MIL)...............................................134

FIGURA 19 – DISTRIBUIÇÕES DE FUNDING GAP, 2004 (US$ MIL)...............................................134

FIGURA 20 – DISTRIBUIÇÕES DE CUSTOS DE FINANCIAMENTO, 2003 (US$ MIL) ................135

FIGURA 21 – DISTRIBUIÇÕES DE CUSTOS DE FINANCIAMENTO, 2004 (US$ MIL) ................136

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1. O PROBLEMA

1.1. Introdução

Em geral, empresas não-financeiras possuem custos e receitas sujeitos a

complexos padrões de risco advindos, de um lado, da interação de negócios

globais e decisões de financiamento, e de outro, da volatilidade de preços de

commodities, taxas de câmbio e taxas de juros.

Mudanças na taxa de câmbio podem gerar um acirramento na competição

onde antes não havia nenhuma. De forma semelhante, flutuações de preços de

commodities podem resultar em mudanças nos preços dos insumos, de tal forma

a tornar produtos substitutos (feitos com outros insumos) mais acessíveis aos

consumidores finais. A variação das taxa de juros têm impacto direto nos custos

financeiros das empresas (No caso de empresas cujas vendas são inversamente

relacionadas às taxa de juros, a elevação das taxas pode ainda causar

dificuldades financeiras mais severas, pois resulta em crescimento dos custos

acompanhado de queda nas vendas). Esses três riscos financeiros de preço são

assim, tema do campo crescente da Gestão Financeira de Riscos. (SMITH,

SMITHSON, WILFORD, 1990)

Pesquisas recentes evidenciam que as empresas estão tratando com

grande seriedade esta questão. O trabalho de Rawls e Smithson (1993) observa

que a gestão financeira de risco é apontada por executivos de finanças como um

de seus objetivos mais importantes. Smith, Smithson, Wilford (1990), observam

que, devido ao crescimento dessa necessidade de gestão desses riscos, o

mercado financeiro reagiu rapidamente e observou-se recentemente a evolução

de uma série de instrumentos financeiros que podem ser utilizadas para gerenciar

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a crescente exposição ao risco financeiro de preço através de estratégias de

hedge.

Críticos do hedge questionam, contudo, se a redução da incerteza

(variabilidade) dos fluxos de caixa, através do hedge, é uma razão suficiente para

a gestão financeira de riscos. Além disso, é levantada a questão que concerne se

tal gestão de riscos está de acordo com os interesses do acionista e com o

objetivo de maximização do valor da empresa. (EITEMAN, STONEHILL,

MOFFET, 1998)

Dentro deste contexto, deve-se ressaltar o trabalho de M&M, Modigliani e

Miller (1958), o qual é utilizado por muitos teóricos de finanças para fortalecer os

argumentos contra a utilização de hedge em empresas. A lógica por trás desta

argumentação contra o hedge, baseada no trabalho de M&M, é que a empresa

cria valor através da gerência do lado esquerdo do balanço, ou seja, através de

bons investimentos em ativos, equipamentos, pesquisa e desenvolvimento, etc;

que permitam o incremento dos fluxos de caixa operacionais. A forma como a

empresa financia esses investimentos (lado direito do balanço) é, portanto

irrelevante, pois afeta apenas a forma como esse valor é dividido. A extrapolação

deste conceito implica que a gestão financeira de riscos também seria indiferente,

dado que consiste apenas em transações financeiras, não afetando o valor dos

ativos operacionais da empresa.

Entretanto, a teoria de finanças oferece diversas hipóteses para explicar a

racionalidade do hedge, baseadas em alguma forma de imperfeição de mercado

(que implicam em quebra das premissas do modelo de M&M). Tais hipóteses se

baseiam no paradigma de maximização de valor para o acionista e na redução de

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custos de agente, podendo-se citar os trabalhos de entre outros, Stulz (1984),

Smith e Stulz (1985), Smith, Smithson e Wilford (1990), Stulz (1990) e Froot,

Scharfstein e Stein (1993). Stulz (1996) ressalta, contudo a existência de um

aparente conflito entre a teoria e a prática corrente da gestão de riscos em

empresas.

! Este trabalho explora a racionalidade das políticas de gestão de riscos

em empresas não-financeiras e tem como objetivo explorar tanto

potenciais conflitos entre a prática de gestão de riscos e a teoria, como

o potencial de criação de valor de políticas de gestão de riscos. Para

tanto, foi realizado um estudo de caso na Companhia Vale do Rio Doce

(CVRD), empresa não-financeira que possui política ativa de hedge.

Temos assim, as seguintes questões permeando o mesmo:

! Existe conflito entre a prática de gestão de riscos na Companhia Vale

do Rio Doce (CVRD) e a teoria sobre a racionalidade do hedge?

! Políticas que permitam reduções da Volatilidade dos fluxos de caixa da

CVRD podem trazer ganhos para os acionistas da empresa? (que se

forem maiores que os custos de gestão de risco implicarão em criação

de valor para o mesmo)

Este trabalho trata os termos “gestão de riscos”, “hedge” e “redução de

volatilidade” (ou de incertezas) como sinônimos, dado que a teoria existente trata

o racional do hedge e da gestão de riscos analisando os benefícios de políticas

que permitam reduções de volatilidade dos fluxos de caixa da empresa não-

financeira.

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1.2. Objetivo

O objetivo deste trabalho é estudar a prática de gestão de riscos

financeiros na Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) à luz da teoria sobre a

racionalidade do hedge em empresas, visando avaliar as discrepâncias entre a

teoria e a prática da gestão de riscos e analisar a existência potencial de ganhos

que permitam a criação de valor através de uma estratégia integrada de Gestão

de Riscos na CVRD.

Para tanto, foram utilizadas informações públicas disponibilizadas pela

empresa, relatórios de analistas financeiros sobre o desempenho da empresa e

realizadas entrevistas com o departamento de gestão de riscos da empresa. Foi

utilizado ainda um modelo de projeção dos fluxos de caixa da empresa e técnicas

de simulação de Monte Carlo com o objetivo de determinar a existência de

potencial de criação de valor para a CVRD de políticas de gestão de riscos.

1.3. Delimitações do Estudo

O presente estudo não teve a pretensão de colocar um fim a questão da

necessidade de hedge, ou de obter hipóteses de generalização quanto às razões

pelas quais se faz hedge em empresas. Seu objetivo foi apenas o de contrapor a

estratégia de hedge corrente na CVRD com a teoria sobre o assunto, ilustrando

as diferenças entre a prática e a teoria. Além disso, é objetivo deste trabalho

determinar a existência de potencial de ganhos para o acionista com uma

estratégia de gestão de riscos na CVRD, mostrando que, apesar da grande

evolução que se observou no emprego de técnicas de controle de risco em

empresas (e.g. emprego de técnicas de Value-at-risk, Earnings-at-risk, Cashflow-

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at-risk, dentre outros), existe ainda grande necessidade de implementação prática

de estratégias de gestão de riscos voltada para o objetivo de maximização do

valor para o acionista.

Esta análise do potencial de ganhos, não pretende estimar precisamente o

potencial de criação de valor, pois não são analisados os custos associados à

gestão de riscos e também não se determina a viabilidade de reduções na

volatilidade dos fluxos de caixa através dos diversos instrumentos de gestão de

riscos. Deve-se ressaltar ainda que, para estimar o potencial de ganhos, não

foram exploradas todas as possibilidades presentes na teoria, limitando-se o

estudo a ganhos potenciais com a redução de custos de financiamento e de

problemas de sub-investimento.

Também não foi escopo deste trabalho avaliar a gestão de todos os riscos

existentes na empresa estudada, concentrando seus esforços nos riscos de preço

(câmbio, commodities ou taxas de juros) e na prática de hedge dos mesmos.

1.4. Relevância

Smith, Smithson e Wilford (1995) analisam séries de preços de taxa de

câmbio (US$ – Marco alemão), taxas de juros (U.S. Treasuries de 5 anos) e de

commodities (preços de Petróleo no mercado americano), e constatam o aumento

do risco nesses mercados, evidenciado pelo aumento da volatilidade nas séries

analisadas. Este crescimento observado dos riscos financeiros, conforme já

mencionado anteriormente, pode ser um fator complicador do processo de gestão

de uma empresa e deixá-la exposta a eventos que podem ter impacto fortemente

negativo no seu valor. Tal fato, por si só, já seria uma justificativa bastante

plausível para um estudo em gestão de risco, dada a importância que tal

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instrumento pode assumir na gestão de qualquer negócio. Entretanto, temos

ainda outro aspecto a considerar:

Froot, Scharfstein e Stein (1993) observam que, apesar da existência de

extensa literatura sobre diversos aspectos práticos do que pode ser chamado de

“mecânica de hedge”, a Literatura em Finanças oferece ainda respostas pouco

claras no que concerne a que tipos de riscos devem ser gerenciados e a em que

medida deve-se fazer hedge. Isto não quer dizer que não existam na literatura

teorias sobre as razões de se fazer hedge. Inclusive já foram mencionados

anteriormente diversos autores com trabalhos nesta linha de pesquisa. Contudo,

não existe ainda uma estrutura sólida de conhecimento que permita avaliar a

estratégia de hedge de empresas.

Foram analisados também trabalhos acadêmicos e teses publicadas no

Brasil permitindo observar a existência de grande interesse no assunto, devendo-

se ressaltar a existência de grupos de discussão sobre o tema na internet (e.g.

[email protected] ) e publicação de extensa literatura

sobre a mecânica do hedge e técnicas de controle de risco (e.g. Value-at-risk),

podendo-se mencionar os trabalhos de Lemgruber (1995); Lemgruber et Al

(2001); Duarte (s.d.); Duarte, Pinheiro, Jordão e Bastos (s.d.) 1 e Moel (2000).

Entretanto, não foi possível encontrar trabalhos explorando o paradigma de

maximização de valor através de políticas de gestão de risco em empresas não-

financeiras.

A falta de uma estrutura sólida de conhecimento, tanto fora do Brasil

quanto dentro, que permita avaliar a criação de valor através de estratégias de

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hedge de empresas ressalta um aspecto importante de relevância do presente

estudo, dado que o seu objetivo é, dentro do paradigma vigente, avaliar a

possibilidade de implementação prática dos conceitos já existentes sobre o

potencial de criação de valor via hedge em uma empresa brasileira que acredita

dispor da “tecnologia de ponta” atual em termos de gestão de riscos.

1.5. Descrição dos Próximos Capítulos

No capítulo 2 foi feita a revisão bibliográfica sobre o tema da gestão de

riscos em empresas não-financeiras, na qual se buscou caracterizar as teorias

que introduziram o racional da maximização de valor aplicado à gestão de riscos.

Feita esta caracterização teórica, o capítulo ilustra os estudos que pesquisaram a

prática das empresas não financeiras na gestão de riscos e os estudos que

encontram evidências empíricas sobre estímulos ao hedge em função das razões

oferecidas pela teoria para a execução de políticas de hedge. Finalmente, foi feita

uma revisão de trabalhos que focam na implementação das teorias em empresas

e no entendimento mais profundo das fontes de valor da gestão de risco e de qual

deve ser o nível ótimo de hedge, dado a lógica oferecida pela teoria.

O capítulo 3 descreve o estudo de caso, descrevendo as unidades de

negócios, a estratégia e os resultados da empresa. Esta parte do estudo do caso

é bastante descritiva e não precisa ser lida pelo leitor que não possui interesse

em adquirir maior entendimento dos negócios da CVRD e do contexto no qual

está inserida a sua prática de gestão de riscos. O capítulo é encerrado,

apresentado as projeções dos analistas de mercado que foram utilizadas para a

1 Os artigos de Duarte e de Duarte, Pinheiro, Jordão e Bastos foram obtidos pela através do grupo dediscussão [email protected] e não possuíam data

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construção do modelo de simulação de Monte Carlo e para avaliar o potencial de

ganhos com a redução da volatilidade dos fluxos de caixa da CVRD.

O capítulo 4 discute a metodologia utilizada neste trabalho, descrevendo

como se confeccionou, tanto o estudo de caso, quanto à análise das práticas de

gestão de riscos observadas na CVRD e a modelagem utilizada para simular

incertezas de preço observadas na empresa e o impacto da redução destas

incertezas no valor da empresa.

Os resultados da análise das práticas de gestão de riscos e da simulação

de Monte Carlo são descritos no capítulo 5 e o capítulo 6 faz uma breve

conclusão sobre o trabalho, criticando resultados e apresentando sugestões para

pesquisas futuras.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. Definições de Risco e Hedge

2.1.1. Risco

O termo risco possui uma variedade de significados em negócios e no

senso comum. Niehaus (1999) afirma que, na sua forma mais genérica, risco é

usado para descrever qualquer situação na qual exista incerteza com relação à

ocorrência de um resultado.

Neste trabalho, utilizou-se o conceito de Markowitz (1959) que definiu risco

como sendo a variância dos retornos esperados de um ativo. Fabozzi (1995)

atesta que se utilizava em análise de investimentos uma diversidade de definições

para descrever risco e que o trabalho de Markowitz (1952) mudou a forma de

pensar da comunidade de finanças, ao quantificar o conceito em termos de uma

medida estatística amplamente conhecida.

Utilizando-se dessa estrutura conceitual, Fabozzi (1995) classifica os

ativos, de acordo com a incerteza dos seus retornos futuros, em ativos com risco

e ativos sem risco.

Um ativo com risco é aquele para o qual o retorno a ser realizado no futuro

é incerto. Esta definição pode ser ilustrada por situações em que o investidor

pretende deter um ativo por um determinado espaço de tempo, mas, no momento

da compra, ele não sabe qual será o retorno realizado.

Ativos para os quais o retorno a ser realizado no futuro é conhecido são

denominados ativos sem risco (risk-free) como, por exemplo, um título do tesouro

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americano que vence daqui a um ano e que o investidor pretende manter em seu

portfolio até o seu vencimento.

A ênfase deste trabalho se encontra nos riscos enfrentados por empresas

não-financeiras e na gestão destes riscos. Niehaus (1999) afirma que os

principais riscos enfrentados por empresas não-financeiras, os quais aumentam a

variabilidade de seus fluxos de caixa, são o risco de preço, o risco de crédito e o

risco puro.

2.1.2. Risco de Preço

Riscos de preço referem-se a incertezas na magnitude dos fluxos de caixa

devido a possíveis mudanças em preços de Entrada ou de Saída do processo

produtivo da empresa não-financeira. Riscos de preço de Saída se referem a

riscos de mudanças nos preços dos bens e serviços que a empresa produz.

Riscos de preço de Entrada se referem a possíveis variações nos preços que a

empresa deve pagar pela sua mão de obra, matérias-primas, e outros inputs do

seu processo produtivo. A análise dos riscos de preço associados à venda e a

produção de bens e serviços existentes e futuros possui um papel central na

gerência estratégica de uma empresa. Os três tipos mais importantes de riscos de

preço são os associados a preço de commodities, taxas de câmbio e taxas de

juros. (NIEHAUS, 1999)

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2.1.3. Risco de Crédito

O risco de default, ou seja, de não pagamento de compromissos

financeiros por consumidores de uma empresa ou por parceiros para os quais ela

fez um financiamento é denominado risco de crédito. (NIEHAUS, 1999)

Bessis (1998) ressalta que o risco de crédito se refere ainda ao risco de

declínio no crédito disponível a uma contraparte. Tal deterioração não implica

necessariamente em não pagamento, mas implica no aumento da probabilidade

de default. Os mercados financeiros atribuem valor a esta probabilidade de

falência aumentando a taxa de juros nas emissões dessas empresas, ou através

de um declínio no valor de suas ações.

2.1.4. Risco Puro

Skipper (1998) observa que, na literatura de seguros, é feita uma distinção

entre riscos puros e riscos especulativos. Classifica-se como risco especulativo

aquele cuja série de resultados possíveis pode ser tanto de ganhos, quanto de

perdas. Assim, os Riscos puros são aqueles que não têm possibilidade de

ganhos, alternando entre resultados com perda e sem perda.

Niehaus (1999) classifica os tipos de perdas que podem advir de riscos

puros em perdas diretas e indiretas.

Perdas diretas são associadas a riscos de perdas por danos, destruição ou

expropriação de ativos; pagamentos feitos a empregados por doença ou acidente

de trabalho; e custos legais oriundos de processos movidos contra a empresa.

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Perdas indiretas ocorrem como conseqüência de perdas diretas. Por

exemplo, danos a ativos do processo produtivo podem resultar em perdas

indiretas, por implicar em diminuição ou eliminação do fluxo caixa que o ativo

geralmente geraria se não tivesse sofrido dano.

2.1.5. Hedge

Estratégias de hedge consistem basicamente, em montar uma posição,

quer seja adquirindo um fluxo de caixa, um ativo ou um contrato, a qual terá

movimento de preço (cair ou subir) contrário a uma posição existente.

Genericamente, o objetivo do hedge é, portanto, diminuir a incerteza de uma certa

posição, protegendo o detentor de um certo ativo de possíveis flutuações no

preço do mesmo. (EITEMAN, STONEHILL, MOFFET, 1998)

Nance, Smith e Smithson (1993), classificam os instrumentos de hedge

como instrumentos off-balance-sheet ou on-balance-sheet. Assim, a empresa

pode fazer hedge utilizando instrumentos financeiros (off-balance-sheet), como

contratos a termo, futuros, swaps e opções ou, alternativamente, utilizando

estratégias on-balance-sheet, ou seja, realocando fábricas no exterior, tomando

empréstimos em moeda estrangeira ou se valendo de opções reais que

eventualmente possua (e.g. possibilidade de expansão, retração ou fechamento

de uma planta produtiva), etc.

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2.2. Tipos de Hedge Realizados por Empresas Não-Financeiras

2.2.1. Hedge de Transações

O hedge de transações consiste em eliminar os riscos associados a

determinadas obrigação ou bens e direitos sujeitos à volatilidade de preços que

podem resultar em variações no fluxo de caixa da empresa. Esta operação trata

individualmente exposições advindas de transações como:

! Compras ou vendas a crédito de bens ou serviços cujos preços são

determinados em moeda estrangeira;

! Contas a receber ou contas a pagar ligados a preços de commodities

ou em moeda estrangeira;

! Dívidas adquiridas ou empréstimos a terceiros, com taxas de juros

variáveis ou em moeda estrangeira;

A exposição a uma transação existe até que o pagamento seja recebido ou

efetuado pela empresa. (EITEMAN, STONEHILL, MOFFET, 1998)

2.2.2. Hedge do Balanço

Exposições de balanço ocorrem porque as demonstrações financeiras de

empresas são impactadas pelos riscos de preço a que estas estão submetidas e

porque as demonstrações financeiras de filiais internacionais, que são apuradas

em moeda estrangeira, precisam ser consolidadas nas demonstrações da

empresa matriz em moeda local. Desta forma, o hedge de balanço busca

gerenciar variações no patrimônio líquido ou nos lucros de uma empresa não-

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financeira, causadas por variações de preço em relação à última contabilização

das demonstrações financeiras.

2.2.3. Hedge Operacional

O hedge operacional consiste em gerenciar o risco do conjunto de

operações da empresa, possuindo maior efeito sobre a saúde financeira de longo-

prazo de uma empresa não-financeira do que o hedge de transações e o hedge

de balanço. O planejamento da exposição operacional é uma função gerencial

mais ampla, pois envolve estratégias financeiras, de marketing, de suprimento e

de produção. Sob esta perspectiva mais ampla, o hedge operacional não gerencia

apenas a sensibilidade do fluxo de caixa da empresa à volatilidade de

commodities, taxas de câmbio e de juros, mas também a sua sensibilidade

operacional à incerteza macroeconômica, levando em consideração correlações

entre as diversas fontes de riscos. (EITEMAN, STONEHILL, MOFFET, 1998)

2.2.4. Gestão Integrada de Riscos

Segundo Skipper (1998), a Gestão de Riscos está sofrendo mudanças e

evoluiu de uma visão fragmentada, na qual se preocupava apenas com os riscos

puros ou apenas com os riscos de preço; para uma abordagem integrada, que

envolve todos os riscos aos quais uma empresa está exposta.

Shapiro e Titman (1985) atestam que é típico que tais decisões − do tipo

quanto comprar de seguro contra incêndio, ou a decisão de fazer ou não hedge

de um risco específico de câmbio − sejam tomadas independentemente

(provavelmente porque cada uma lida com uma fonte diferente de risco). Todavia,

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como cada uma dessas decisões afeta o risco total da empresa (apesar de com

custos e conseqüências diferentes), existem benefícios claros para atividades

integradas de gestão de risco.

Niehaus (1999) observa que, independente do tipo de risco que se está

considerando, o processo de gestão de risco envolve as seguintes etapas-chave:

1. Identificação dos riscos significativos que podem reduzir o valor do

negócio;

2. Avaliação da probabilidade associada aos riscos e de quão severos

podem ser os efeitos dos mesmos; 2

3. Desenvolvimento e seleção de métodos para gerenciar o risco de forma

a aumentar o valor da empresa para o acionista;

4. Implementação dos métodos de gestão de risco escolhidos;

5. Monitoramento contínuo da performance e da adequação dos métodos

e estratégias de gestão de riscos da empresa

Segundo Shapiro e Titman (1985), o objetivo da gestão integrada de riscos

é contribuir para a criação de valor na empresa. Estes autores afirmam que, na

medida que o risco total aumenta, o custo dos negócios da empresa também

aumenta, diminuindo assim o nível dos fluxos líquidos de caixas esperados. Se tal

fato se observa, então a redução do risco total é capaz de aumentar os fluxos

esperados de caixa, aumentando assim o valor da empresa.

2 Se possível tal etapa inclui uma estimativa da perda máxima que pode ocorrer com um certo nível deconfiança. Esse valor é conhecido como Maximum Probable Loss, na Gestão de Riscos Puros, e como Value-at-risk, na Gestão Financeira de Riscos.

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Existe distinção na literatura entre a gestão de riscos puros e a gestão

financeira de riscos. A gestão de riscos puros se preocupa com os eventos

tradicionais de perdas como incêndios e vendavais, e com decisões de compra de

seguros ou de investimento em projetos de controles de danos. Já a gestão

financeira de riscos se preocupa com a redução da volatilidade dos riscos de

preço e com decisões de como e quanto fazer de hedge. (SKIPPER, 1999).

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2.3. Teoria Moderna sobre os determinantes do Hedge em empresas

2.3.1. A Racionalidade do Hedge

O fato de uma empresa se confrontar com os riscos financeiros de preço

mencionados anteriormente (risco de preços de comoditties, taxa de câmbio e

taxa de juros) é uma condição necessária para que uma empresa gerencie o

risco, mas não é uma condição suficiente. Para que haja uma racionalidade na

gestão de risco de uma empresa, é necessário que tal gestão aumente o valor

esperado da empresa. (SMITH, SMITHSON, WILFORD, 1990)

Uma forma de se medir o valor da empresa amplamente utilizada na

literatura de finanças corporativas é o método do fluxo de caixa descontado. Esse

método tem como base o conceito de valor presente líquido, que permite calcular

o valor de um ativo trazendo a valor presente os fluxos de caixa futuros esperados

do mesmo. (ROSS, WESTERFIELD, JAFFE, 1995)

Utilizando essa metodologia, Damodaran (1994) define que o valor da firma

pode ser obtido descontando-se o fluxo de caixa líquido esperado dos ativos da

firma, após o pagamento de impostos, ao custo médio ponderado de capital.

Onde, o custo médio ponderado de capital, é a média dos diferentes

componentes de financiamentos usados pela empresa, ponderados pelos seus

respectivos valores de mercado.

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Temos assim:

∑ == +

= ntt wacc t

FCLtFirmadaValor 1 )1(

Onde:

CapitaldePonderadoMédioCustoWACC

tperíodonoesperadolivrecaixadefluxotFCL

=

=

Modigliani e Miller (1958) mostram que, com uma política de investimentos

fixa e sem custos de falência ou impostos, decisões com relação à estrutura de

capital da empresa não afetam o valor da firma. Este argumento está sendo

utilizado pelos estudiosos da gerência de risco, para avaliar a relevância da

política de hedge. Seguindo a lógica de argumentação do trabalho de M&M,

defende-se que, se a empresa decide mudar a sua política de hedge, os

investidores que possuem títulos emitidos pela empresa podem alterar a sua

posição de ativos de risco e anular qualquer mudança feita pela empresa na

política de hedge, tornando a mesma irrelevante em termos de valor para o

acionista.

Entretanto, quando as premissas do trabalho de M&M (política de

investimentos fixa, ausência de custos de falência e de impostos) são quebradas,

decisões relativas à estrutura de capital podem afetar o valor da empresa. Desta

forma, seguindo também esta linha de raciocínio, a teoria de finanças oferece

diversas hipóteses para explicar as situações em que a utilização do hedge em

empresas pode ser classificada como uma estratégia racional, ou, como uma

atividade que cria valor para a empresa. (GAY e NAM, 1998)

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Os estudos de Smith e Stulz (1985); Nance, Smith e Smithson (1993);

Froot, Scharfstein, e Stein (1993); Colquitt e Hoyt (1997); Gay e Nam (1998)

utilizam hipóteses baseadas no paradigma da maximização do valor da empresa

para o acionista, e analisa as possibilidades do hedge aumentar o valor da

empresa através de três fatores principais: (1) custos de falência (2) problemas de

sub-investimento (Estes trabalhos examinam também conflitos de interesse entre

o capital de terceiros e o capital próprio, que podem resultar em problemas de

sub-investimento), e (3) Impostos.

Os estudos de Smith e Stulz (1985); Nance, Smith e Smithson (1993);

Tufano (1996) e Tufano (1998), se utilizam ainda de mais uma hipótese, baseada

na teoria de agentes, que analisa políticas de gestão de risco orientadas pelas

razões pessoais dos gerentes, que buscam a maximização de sua riqueza

pessoal em detrimento do interesse dos acionistas.

2.3.2. Redução de Custos de Falência

A possibilidade de falência exerce um efeito negativo sobre o valor da

empresa. Entretanto, não é o risco de falência em si que provoca a redução do

valor, mas sim os custos de dificuldades financeiras observadas na falência.

(ROSS, WESTERFIELD, JAFFE, 1995)

De acordo com o que já foi apresentado até este ponto do trabalho, temos

que a gestão de risco reduz a volatilidade do valor da empresa. Smith, Smithson e

Wilford (1995) vão mais adiante, como pode ser observado na figura 1, e mostram

que, ao reduzir a volatilidade, a gestão de risco reduz a probabilidade de uma

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empresa encontrar dificuldades financeiras e, conseqüentemente, os custos de

falência.

Figura 1 – Dificuldades Financeiras e Hedge

Smith, Smithson, Wilford (1995) mostram que o valor da empresa possui uma distribuição deprobabilidade inerente e que dentro desta distribuição, existe um conjunto de valores para os quaisa empresa encontraria dificuldades financeiras. Com base nesta análise, eles mostram que o hedgealtera esta distribuição de probabilidades, reduzindo a probabilidade de a empresa encontrardificuldades financeiras.

Fonte: Smith, Smithson e Wilford (1995)

A medida exata do quanto à gestão de risco é capaz de reduzir esses

custos depende de dois fatores: A probabilidade da empresa encontrar

dificuldades financeiras se não fizer o hedge, e os custos (diretos e indiretos)

incorridos, se a falência ocorrer. Quanto maior a probabilidade de custos de

Probabilidadede encontrardificuldadesfinanceiras

Valor da Empresa sem Hedge

DistribuiçãoInerente

Probabilidadede encontrardificuldadesfinanceiras

Valor da Empresa com Hedge

DistribuiçãoInerente

Distribuiçãoapós o hedge

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falência, maiores os benefícios da gestão financeira de risco, pois a mesma

possibilita a redução desses custos. (SMITH, SMITHSON, WILFORD, 1995)

A probabilidade de uma firma falir é determinada por dois fatores: A

cobertura das obrigações fixas (porque a probabilidade de default aumenta à

medida que a cobertura – hedge – das obrigações fixas diminui), e a volatilidade

das receitas (porque a probabilidade de default aumenta à medida que a receita

da empresa se torna mais volátil).

Ross, Westerfield e Jaffe (1995) definem que os custos de falência, ou

custos de dificuldades financeiras, têm duas componentes principais: Os custos

de falência diretos e os indiretos:

! Os custos diretos são as despesas judiciais e administrativas de

liquidação ou concordata.

! Os custos indiretos são relativos a redução de capacidade de operação

da empresa, pois o risco de falência afeta o relacionamento com

clientes e fornecedores. Freqüentemente, há perda de vendas por

temor de interrupção de serviço e perda de confiança.

Se os acionistas de uma empresa percebem a falência como uma

possibilidade real, então o valor presente esperado desses custos se refletirá no

preço corrente de mercado da empresa. Um programa de gestão de risco que

diminui esse risco de falência reduz esses custos e, ao fazer isso, aumenta o

valor da empresa. (STULZ, 1998)

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2.3.3. Redução de Problemas de Sub-Investimento

Gay e Nam (1998) atestam que a existência de custos de financiamento

externos (capital de terceiros) caros quando comparados ao custo do capital

gerado internamente (capital próprio), é uma imperfeição de mercado que torna o

hedge uma estratégia que cria valor para a empresa. Quando as empresas

consideram que o financiamento externo está caro demais, pode ocorrer um

problema de sub-investimento, pois elas são obrigadas a reduzir os gastos com

investimentos quando o caixa gerado internamente não é suficiente para financiar

as oportunidades de crescimento. O hedge, ou a gestão financeira de risco, ao

antecipar esta situação, cria valor, na medida que permite a garantia que a

empresa possuirá caixa suficiente disponível para aproveitar oportunidades

atrativas de investimento.

Froot, Scharfstein e Stein (1993) desenvolveram um framework geral para

a análise da gestão financeira de risco na presença de financiamento externo de

alto custo. O paradigma deste estudo reside em três premissas:

1. A criação de valor para a empresa é feita através de investimentos com

valor presente líquido (VPL) positivo.

2. Um fator chave para dar suporte a boas oportunidades de investimento

é a geração interna de caixa suficiente para financiar esses

investimentos.

3. O caixa gerado internamento, que é crítico para o processo de

investimento, pode ser perturbado por fatores externos, tais como,

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movimentos de taxas de câmbio, taxas de juros ou preços de

commodities.

Dentro deste contexto, Froot, Scharfstein e Stein (1994), mostram que a

atividade de hedge na empresa pode criar valor, na medida que garante que a

empresa possuirá caixa suficiente para fazer frente a investimentos que

aumentarão o seu valor.

A lógica básica para esse pensamento é a seguinte: Quando uma empresa

não faz hedge, existe alguma variabilidade no fluxo de caixa gerado pelos seus

ativos. Tal fato resultará em variabilidade na quantidade de dinheiro captada

externamente e/ou, variabilidade na quantia de investimentos. A existência de

volatilidade nos investimentos é geralmente indesejável, dado que o retorno

desses investimentos é uma função côncava, ou seja, que cresce

progressivamente, com o aumento do volume de investimentos.

Se o suprimento de financiamento externo fosse perfeitamente elástico, a

solução ex post ótima seria deixar o plano de investimento inalterado em face de

variabilidade no fluxo de caixa interno, preenchendo a diferença via mudanças na

quantidade de caixa externo captado. Infelizmente, este procedimento passa a

não ser mais válido na medida que o custo marginal desses fundos cresce com a

quantidade captada externamente. Neste caso, se o caixa interno for insuficiente,

pode-se resolver o problema com algum aumento no financiamento externo, mas

também com uma redução nos investimentos.

Assim, a variabilidade no fluxo de caixa dos ativos altera tanto os planos de

financiamento, quanto os de investimento, gerando um custo para a empresa. Na

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medida que o hedge é capaz de reduzir a variabilidade nos fluxos de caixa, ele é

capaz de aumentar o valor da empresa. (FROOT, SCHARFSTEIN, STEIN, 1993)

2.3.4. Conflitos entre o capital de Terceiros e o Capital Próprio

Quando uma empresa utiliza capital de terceiros, surgem conflitos de

interesse entre acionistas e credores. Esses conflitos resultam da diferença no

tipo de ativo que cada um carrega, pois os credores possuem um ativo com renda

fixa e os acionistas possuem um ativo equivalente a uma opção de compra no

valor da empresa e com preço de exercício igual ao valor das dívidas da

empresa3. (SMITH, SMITHSON, WILFORD, 1995)

Ross, Westerfield e Jaffe (1995), descrevem três tipos de estratégias que

os acionistas utilizam para favorecer a si próprios, em detrimento dos credores:

1. Incentivo a Assumir Riscos Elevados. As empresas próximas da

falência diversas vezes apresentam uma tendência a se arriscar muito

porque os acionistas não têm muito o quê perder ao correr grandes

riscos. Tal fato se deve às particularidades do tipo de obrigação que os

acionistas possuem, conforme já mencionado, pois os mesmos são

indiferentes (em termos de risco) à escolha de um projeto que, por

exemplo, apresente o risco de a empresa ficar com seu valor igual ao

valor das suas dívidas (caso em que os acionistas ficariam com nada,

mas os credores receberiam as obrigações na integra) e um projeto no

qual o risco é maior e no qual a empresa pode ficar com seu valor muito

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inferior ao valor das suas dívidas, porém com maiores chances de

ganhos. Por exemplo, os acionistas tendem a preferir um projeto no

qual a empresa corre o risco de ter o seu valor reduzido à metade do

valor das dívidas (caso em que os acionistas não conseguem ganhos,

mas os credores recebem somente a metade das obrigações a que têm

direito), porém as suas chances de ganho são maiores do que uma

outra alternativa na qual os acionistas também possam ficar sem

ganhos, mas que preserva uma parcela maior das obrigações a que os

credores têm direito. Assim, existe uma tendência a escolher projetos

mais arriscados que possuam maior promessa de retorno. Neste caso,

os acionistas retiram riqueza dos credores ao selecionarem projetos de

alto risco.

2. Incentivo ao Sub-investimento. Os acionistas de uma empresa na

qual a probabilidade de falência é elevada freqüentemente constatam

que novos investimentos ajudam os credores, às custas dos acionistas.

A discussão desta estratégia é muito semelhante a anterior e se deve

ao fato de que, diante da perspectiva de falência, os acionistas não

possuem estímulo a fazer novos investimentos com valor presente

positivo, se estes não forem suficientes para impedir a falência (pois os

únicos beneficiados desse valor presente positivo seriam os credores).

3. Esvaziar a Propriedade. Uma outra estratégia consiste em pagar

dividendos extraordinários ou fazer outros tipos de pagamento aos

3 Esta afirmação se deve ao fato que, se o valor da empresa for superior ao valor das dívidas, os acionistastem a opção de pagar as mesmas e “ficar” com a empresa e, se o valor da empresa for inferior ao valor dasdívidas, o acionista não paga as mesmas e “perde” a empresa.

Page 39: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

26

acionistas em situação de dificuldades financeiras, deixando menos

ativos para os credores. Isto é equivalente a esvaziar a propriedade.

Ross, Westerfield e Jaffe (1995), afirmam que os credores potenciais

sabem da possibilidade de comportamento oportunista por parte dos acionistas, e

se protegem diminuindo o preço que os mesmos estão dispostos a pagar pelos

títulos de dívida da empresa e elevando as taxas de juros que exigem nas

obrigações. Assim, como os acionistas devem pagar essa taxa mais alta, em

última instância acabam pagando os custos associados a tais conflitos de

interesse. Como resultado de tais conflitos, pode-se observar redução na

capacidade de endividamento ou aumento do custo de endividamento da firma.

Para convencer os credores potenciais a pagar mais pelos títulos de dívida,

os acionistas precisam criar garantias de que não haverá transferência de

riqueza. Estas garantias freqüentemente têm sido dadas através de cláusulas

protetoras na emissão dos títulos, através de convertibilidade das dívidas em

ações, e através da emissão de ações preferenciais ao invés de dívida (para

diminuir as chances de que as condições futuras de mercado possam levar a uma

situação de default). (SMITH, SMITHSON, WILFORD, 1995)

Nance, Smith e Smithson (1993), afirmam que o conflito entre credores e

acionistas também pode ser reduzido através da gestão financeira de risco. A

gestão financeira de risco reduz o risco de default, de modo que os detentores

potenciais de títulos da dívida estarão dispostos a pagar mais pelo mesmo. Da

mesma forma, a gestão financeira pode resultar em uma diminuição do coupon

pago pela empresa em suas dívidas.

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27

2.3.5. Redução de Impostos e Hedge

O potencial de benefícios fiscais advindos da gestão de risco deriva da

interação entre a habilidade de redução da volatilidade dos lucros tributáveis

reportados e da existência de taxação progressiva de imposto de renda, que se

observa na maioria das legislações tributárias do mundo. Essa taxação

progressiva significa que a taxa de imposto efetivamente paga pela empresa

aumenta com o crescimento do lucro antes de imposto, e temos assim uma

relação de convexidade entre o lucro antes do imposto de renda e o imposto de

renda a pagar conforme ilustrado na figura 2. (SMITH, STULZ, 1985)

Figura 2 – Convexidade na Função de Imposto de Renda

A existência de taxação progressiva significa que a taxa de imposto efetivamente paga pelaempresa aumenta com o crescimento do lucro antes de imposto, e temos assim uma relação deconvexidade entre o lucro antes do imposto de renda e o imposto de renda a pagar.

Fonte: Smith, Smithson e Wilford (1995)

Devido a essa convexidade, existem benefícios em “gerenciar” o lucro

reportado, de forma a mantê-lo em um intervalo ótimo. Assim, através da redução

das flutuações do lucro tributável, a gestão de risco pode permitir o pagamento de

Lucro antes de IR

IR

Taxa Linear de IR Taxa Progressiva de IR

Page 41: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

28

menos imposto ao garantir que, durante um ciclo de negócios, a maior parcela

dos lucros da empresa se situe dentro deste intervalo ótimo de taxas de imposto

de renda.

Smith, Smithson e Wilford (1995) ilustram esta teoria graficamente,

conforme pode se observar na figura 3:

Figura 3 – Redução de Impostos através da Gestão de Risco

Se uma empresa possui lucros antes de imposto de renda, situados em uma zona de convexidade dacurva de alíquotas de imposto de renda, e o seu resultado possui variabilidade tal que os seus lucrosantes de IR flutuem entre os pontos LAIR mínimo e LAIR máximo de alíquota de impostos, elapossuirá um custo esperado de Imposto de Renda superior ao custo que teria se tivesse possuído umLucro Antes de IR sempre igual à média (ou ao redor dela) entre LAIR mínimo e LAIR máximo.Desta forma, se a empresa conseguir, através do hedge diminuir a volatilidades de seus lucros antesde imposto, situando-as ao redor da média da sua distribuição de lucros, ela reduzirá seus custos deIR.

Fonte: Smith, Smithson e Wilford (1995)

Considerando-se uma empresa que possui exposição financeira a riscos de

preço e supondo que, se a empresa não fizer hedge, a distribuição dos seus

lucros é tal que o mesmo pode se situar entre um LAIR mínimo e LAIR (máximo),

IR ($

)

IR anualesperado

sem hedge

IR anual esperadocom hedgeIR mínimo

IR máximo

Lucro antes de IR ($)Média LAIR máximoLAIR mínimo

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29

pode-se observar pelo gráfico que, caso a empresa tenha esta distribuição lucros

dentro de uma região progressiva de taxação de Imposto de renda, ela possuirá

um valor esperado de IR mais baixo se fizer hedge. Tal resultado se deve ao fato

que, se essa empresa não fizer hedge, ela terá o valor esperado de IR situado na

reta que liga os pontos IR mínimo e IR máximo, enquanto que, se a empresa fizer

hedge, ela terá os seus lucros distribuídos em torno da média de lucro (entre o

LAIR mínimo e o LAIR máximo) e, portanto o IR médio, nesse caso, se situará na

região de convexidade da curva de IR.

2.3.6. Conflitos de Agency

A diminuição de conflitos de interesse entre a gerência das empresas e os

acionistas, é uma outra razão apontada na teoria de finanças para ganhos com a

criação de uma política de hedge orientada para a criação de valor para o

acionista. (SMITH, SMITHSON e WILFORD, 1995)

Estes conflitos de Agency ocorrem quando a gerência busca maximizar a

sua função de objetivos pessoais de ganhos, em detrimento dos interesses dos

acionistas.

Estes conflitos tornam-se mais relevantes de acordo com os incentivos que

são criados para as ações da gerência na sua relação com a empresa, tais como,

a avaliação de sua performance, a política de crescimento profissional, os critérios

que determinam a sua remuneração fixa e remuneração variável e a distribuição

de ações ou opções da empresa.

Desta forma, a gerência pode ser estimulada a considerar a sua riqueza

pessoal e suas preferências em termos de aversão a risco.

Page 43: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

30

Pode-se argumentar, entretanto, que as preferências dos acionistas e da

gerência, pois a busca de maximização do valor para o acionista tende a

beneficiar a gerência. Entretanto, a riqueza pessoal da gerência tende a estar

mais concentrada no valor da empresa, ao contrário dos acionistas, que podem

possuir portfolios diversificados e tal fato tende a estimular a proteção de sua

riqueza pessoal através de políticas de hedging. Se estas políticas não estiverem

desenhadas de forma a criar valor para os acionistas, a tendência é que os

mesmos paguem pelos custos de gestão de riscos e que se destrua valor sob a

ótica dos acionistas.

Page 44: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

31

2.4. Pesquisas sobre as Práticas de Gestão de Riscos

2.4.1. Estudos Analisados

Diversos estudos analisam evidências empíricas sobre as práticas de

gestão de riscos e foram escolhidos os estudos de Dolde (1993) e as três

pesquisas realizadas pela Wharton School, respectivamente em 1995 (BODNAR,

HAYT, MARSTON, SMITHSON, 1995), 1996 (BODNAR, HAYT, MARSTON,

1996) e 1998 (BODNAR, HAYT, MARSTON, 1998); para ilustrar a evolução

observada nas práticas de gestão de riscos. Estas pesquisas foram

caracterizadas pela utilização de questionários de pesquisa para detalhar as

particularidades da prática de gestão de riscos em empresas não-financeiras.

2.4.2. Dolde (1993)

Dolde (1993) enviou um questionário sobre Gestão de Riscos Financeiros

de taxas de câmbio e taxas de juros para todas as empresas da Fortune 500 em

1992. A amostra do estudo foi de 244 empresas que responderam ao questionário

onde se observou:

Utilização de derivativos:

! 85 % reportaram utilizar swaps, contratos a termo, futuros ou opções na

gestão de riscos financeiros de taxas de câmbio e taxas de juros;

! Os usuários de instrumentos de gestão de riscos eram

substancialmente maiores que os não-usuários. Por exemplo, o valor de

Page 45: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

32

mercado médio dos usuários era de US$ 5,4 bilhões, comparados a

uma média de US$ 1,8 bilhões para os não-usuários;

! Empresas maiores possuíam menor probabilidade de fazer hedge

intenso de exposições a taxas de câmbio e taxas de juros. As empresas

que faziam hedge de uma fração de sua exposição maior do que a

mediana das frações de hedge observadas tinham a metade do

tamanho das empresas que faziam hedge de uma fração menor do que

a mediana;

! As maiores empresas do Fortune 500 possuíam maior probabilidade de

utilização de derivativos, porém empresas menores do Fortune 500 que

usam derivativos fazem hedge de uma fração maior de sua exposição.

Focos na Gestão dos Riscos:

! Dolde observou ainda, que o foco na grande maioria das empresas era

em fazer o hedge de exposições a transações e de exposições de

curto-prazo.

Influência da Visão de Mercado:

! Uma evidência interessante adicional advinda deste trabalho se refere à

questão sobre a influência da visão da empresa sobre as decisões de

hedge;

! Várias empresas, ao serem requisitadas a estimar a parcela de sua

exposição para a qual fazem hedge, disseram que tal decisão depende

se eles tiverem ou não uma previsão do movimento de mercado;

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33

! Aproximadamente 90% dos usuários de derivativos da pesquisa

afirmaram que utilizam algumas vezes sua visão de mercado;

! Adicionalmente, Dolde (1993) observou que esta visão de mercado é

menos importante para as empresas menores que, quando utilizam sua

visão de mercado, fazem menos hedge do que empresas maiores;

! Este fato é citado por Stulz (1999) como um indicativo que grandes

empresas tendem a fazer um “auto-seguro” de sua exposição, ou seja,

quando possuem uma crença de mercado, fazem hedge de uma

parcela menor de sua exposição, e utilizam sua “força financeira” para

garantir o risco corrido.

2.4.3. Pesquisa da Wharton School de 1995

Os questionários da pesquisa da Wharton School e do Chase Manhattan

Bank, foram enviadas para uma amostra aleatória de 2000 empresas não-

financeiras em Novembro de 1994. (BODNAR, HAYT, MARSTON, SMITHSON,

1995)

Destes questionários, 530 foram recebidos de volta e os resultados

observaram foram os seguintes:

Utilização de derivativos:

! Apenas 183, ou 34,5% das empresas que responderam à pesquisa

utilizavam derivativos;

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34

! Quando os autores dividiram as empresas de acordo com o tamanho,

observaram que 65% das empresas com valor de mercado acima de

US$ 250 milhões usavam derivativos, mas apenas 13% das empresas

com valor de mercado abaixo de US$ 50 milhões os utilizavam,

evidenciando maior utilização de derivativos por empresas maiores,

como pode ser observado na figura 4;

Figura 4 – Utilização de Derivativos de Acordo com o Tamanho, 1994

Bodnar Hayt e Marston (1995) dividiram a amostra de empresas de seu estudo em empresas detamanho pequeno (com valor de mercado abaixo de US$ 50 milhões), médio (valor de mercado

entre US$ 50 milhões e US$ 250 milhões) e grande (com valor de mercado acima de US$ 250milhões).

Fonte: Bodnar, Hayt, Marston (1995)

Focos na Gestão dos Riscos:

! 75,4% das empresas pesquisadas utilizavam derivativos para fazer

hedge de transações e a maioria destas empresas dizia que o fazem

freqüentemente;

65

22

13

0 20 40 60 80

Grande (acimade $250)

Médio (de $50 a$250)

Pequeno(abaixo de $50)

Tam

anho

(Val

or d

e M

erca

do -

US$

milh

ões)

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35

! 44,8% das empresas freqüentemente utilizam derivativos para fazer

hedge de transações previstas para os próximos 12 meses e apenas

14,2% fazem hedge freqüentemente de transações previstas para

prazos acima de 12 meses.

! 60,7% afirmam nunca usar derivativos para arbitrar mercados

! 51,3% afirmam nunca utilizar derivativos para fazer hedge de balanço;

! Aproximadamente 66% afirmam que não usam derivativos para fazer

hedge de exposição operacional ou estratégica;

Influência da Visão de Mercado:

! Finalmente, 52,5% afirmam nunca usar derivativos para obter

resultados através de uma previsão de mercado.

2.4.4. Pesquisa da Wharton School de 1996

Em Outubro de 1995 o estudo foi revisado e foram enviados questionários

para a mesma amostra e, adicionalmente, foram incluídas empresas do Fortune

500 que não estavam na pesquisa de 1994. (BODNAR, HAYT, MARSTON, 1996)

Um total de 350 questionários foi respondido, nos quais se observou o

seguinte:

Page 49: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

36

Utilização de derivativos:

! 143 empresas, ou 41% da amostra de respostas reportaram utilizar

derivativos;

! Quando apenas empresas que responderam à primeira pesquisa foram

utilizadas, observou-se que a sua utilização de derivativos aumentou de

35% para 39% da primeira para a segunda pesquisa;

Instrumentos Derivativos Utilizados:

! A segunda pesquisa considerou os tipos de derivativos que os usuários

utilizaram e observou que 76% dos usuários utilizaram instrumentos

derivativos de taxa de câmbio e que, neste caso, o instrumento mais

utilizado foi o contrato a termo;

! 73% utilizaram derivativos de taxa de juros e o instrumento mais

utilizado foi o Swap;

! Finalmente, 37% utilizam derivativos de commodities e o instrumento

mais utilizado foi o contrato futuro;

! A figura 5 ilustra a distribuição por classes de risco observadas:

Page 50: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

37

Figura 5 – Utilização de Derivativos por Classe de Risco, 1995

Bodnar Hayt e Marston (1996) dividiram as empresas da amostra que utilizavam derivativos emtermos das classes de riscos a que se aplicavam os instrumentos utilizados. Os tipos de riscosutilizados foram riscos de câmbio, juros e commodities.

Fonte: Bodnar, Hayt, Marston (1996)

Focos na Gestão dos Riscos:

! 49% das empresas que utilizavam derivativos afirmaram que o seu foco

era reduzir a volatilidade dos fluxos de caixa

! 42% apontaram a redução da volatilidade dos lucros;

! 8% apontaram a volatilidade do valor de mercado da empresa; e

! 1% a volatilidade do balanço financeiro

Focos na Gestão de Riscos de exposições a taxa de câmbio:

! As empresas apresentaram maior foco em transações com

comprometimento contratual e em transações antecipadas;

37

73

76

0 20 40 60 80

Commodity

Juros

Câmbio

Tipo

s de

Ris

co

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38

! Não apresentaram muita preocupação com exposições que venciam em

mais de um ano. 53% das empresas que usavam derivativos possuíam

apenas derivativos de custo prazo, com vencimento entre 180 dias e o

vencimento do ano fiscal;

Influência da Visão de Mercado:

! Novamente, foram encontradas evidências que grande parcela das

empresas deixam a sua visão de mercado influenciar a política de

hedge.

! A grande maioria afirma que a sua visão de mercado afeta algumas

vezes o timing de fazer o hedge de taxas de câmbio e de taxas de juros;

! 33% dos usuários afirmar que eventualmente “assume posições ativas”

baseadas na sua visão sobre as taxas de câmbio

2.4.5. Pesquisa da Wharton School de 1998

A terceira pesquisa de Wharton foi realizada em Outubro de 1997. A

amostra consistiu nas 2.000 empresas utilizadas no estudo de 1994 mais as 154

empresas do Fortune 500 incluídas no estudo de 1995. Em função de fusões,

aquisições e falências, esta amostra consistia de um total de 1.928 empresas.

(BODNAR, HAYT, MARSTON, 1998)

Um total de 399 questionários foi respondido, nos quais se observaram os

seguintes resultados:

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39

Utilização de derivativos:

! 200 empresas, ou 50% da amostra de respostas reportaram utilizar

derivativos;

! Dividindo-se as empresas de acordo com o tamanho, observou-se que

83% das empresas com valor de mercado acima de US$ 250 milhões

usavam derivativos e apenas 12% das empresas com valor de mercado

abaixo de US$ 50 milhões os utilizavam, evidenciando novamente

maior utilização de derivativos por empresas maiores;

Figura 6 – Utilização de Derivativos de Acordo com o Tamanho, 1997

Bodnar Hayt e Marston (1998) dividiram a amostra de empresas de seu estudo em empresas detamanho pequeno (com valor de mercado abaixo de US$ 50 milhões), médio (valor de mercadoentre US$ 50 milhões e US$ 250 milhões) e grande (com valor de mercado acima de US$ 250milhões).

Fonte: Bodnar, Hayt, Marston (1998)

83

45

12

0 20 40 60 80 100

Grande (acimade $250)

Médio (de $50 a$250)

Pequeno(abaixo de $50)

Tam

anho

(Val

or d

e M

erca

do -

US$

milh

ões)

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40

! Para evidenciar as mudanças na intensidade de utilização de ativos, foi

perguntado como a utilização de derivativos variou (com base no valor

nocional dos contratos) e observou-se que 42% indicaram que o uso

aumentou, comparado a apenas 13% que indicaram uma diminuição;

! Em termos de indústria, a utilização é maior por produtores de produtos

primários dos quais 68% reportaram utilização de derivativos, nas

empresas industriais o valor foi de 48% e nas de serviço 42%, conforme

pode ser observado na figura 7;

Figura 7 – Utilização de Derivativos por Setor Industrial, 1997

Bodnar Hayt e Marston (1996) dividiram as empresas da amostra que utilizavam derivativos emtermos dos setores industriais a que pertenciam. Os setores industriais utilizados foram: Primário,industrial e de serviços.

Fonte: Bodnar, Hayt, Marston (1998)

42

48

68

0 20 40 60 80

Serviços

Industrial

Primário

Ram

o de

Ativ

idad

e

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41

Instrumentos Derivativos Utilizados:

! 83% dos usuários utilizaram instrumentos derivativos de taxa de

câmbio, 76% utilizaram derivativos de taxa de juros, 56% utilizaram

derivativos de commodities e 34% utilizaram derivativos de equity;

! A utilização de instrumentos por classe de risco é dependente do setor

industrial. Entre as empresas do Setor Primário, os derivativos de

commodities foram os mais presentes, utilizados por 79% das

empresas;

! Nas empresas industrias os derivativos de taxa de câmbio foram

utilizados por 95% das empresas, sendo os mais utilizados;

! No setor de serviços os derivativos de taxa de juros foram um pouco

mais utilizados do que os de taxa de câmbio, sendo utilizados por 78%

contra 72% respectivamente;

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Figura 8 – Utilização de Derivativos por Classe de Risco, 1997

Bodnar Hayt e Marston (1998) dividiram as empresas da amostra que utilizavam derivativos emtermos das classes de riscos a que se aplicavam os instrumentos utilizados. Os tipos de riscosutilizados foram riscos de câmbio, juros e commodities.

Fonte: Bodnar, Hayt, Marston (1998)

Focos na Gestão dos Riscos:

! As empresas apresentaram maior foco em fazer hedge de

comprometimentos on-balance-sheet – i.e. contas a receber e contas a

pagar – (89% fazem hedge freqüente ou eventual), Transações

antecipadas com prazo menor que um ano (85% fazem hedge

freqüente ou eventual) e repatriações de fluxos em moeda estrangeira

(78% fazem hedge freqüente ou eventual);

! No caso de transações antecipadas com prazo superior a um ano, 12%

das empresas fizeram hedge freqüentemente e 45% das empresas

fizeram hedge destas operações eventualmente;

34

56

76

83

0 20 40 60 80 100

Equity

Commodity

Juros

Câmbio

Tipo

s de

Ris

co

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43

! A exposição competitiva sofreu hedge freqüente em apenas 11% das

empresas com um adicional eventual de 28%

Influência da Visão de Mercado:

! Conforme foi observado nas pesquisas anteriores, a visão de mercado

influenciou as políticas de hedge de diversas empresas;

! 10% das empresas indicaram que a sua visão de mercado influenciou

freqüentemente suas decisões de hedge em termos de tamanho do

hedge e do timing enquanto que 49% das empresas afirmaram que sua

visão afeta suas decisões de timing e 51% que afeta as decisões

quanto ao volume do hedge;

! Uma parcela menor das empresas afirmar “tomar posições ativas”,

observando-se que 6% afirmaram faze-lo freqüentemente e 26% o

fazem eventualmente.

2.4.6. Comparação entre os estudos

As pesquisas analisadas apresentam concordâncias em diversos pontos:

1. Empresas maiores possuem maior tendência a praticar a gestão de riscos com

derivativos;

2. As empresas tendem a fazer mais hedge de fluxos de caixa e de lucros

contábeis ao invés de hedge do valor de mercado;

3. Existe foco em instrumentos de curto prazo; e

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44

4. As empresas tipicamente não fazem um hedge de toda a sua exposição

sistematicamente, praticando o assim chamado, “hedge seletivo”, ou seja,

levando em consideração as suas visões de mercado para assumir posições

de derivativos.

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45

2.5. Evidências Empíricas sobre Fatores Determinantes do Comportamentode Hedging de Empresas

2.5.1. Estudos Analisados

Diversos estudos analisaram o comportamento de hedge de empresas,

buscando relacionar as razões para o hedge com base na teoria e o

comportamento observado (fazer ou não fazer hedge, parcela da exposição que é

protegida, etc)

São analisados a seguir os estudos de Nance, Smith e Smithson (1993),

Tufano (1996), Geczky, Minton e Schrand (1997), e Haushalter (2001) que

permitem uma boa visão das evidências encontradas neste tipo de estudo.

2.5.2. A Pesquisa de Nance, Smith e Smithson (1993)

Nance, Smith e Smithson (1993), enviaram questionários para empresas

do Fortune 500 e/ ou do S&P 400 questionando se estas empresas utilizaram

derivativos no ano fiscal de 1986. De um total de 535 empresas, 169

responderam, dentre as quais, 104 utilizaram derivativos.

O estudo busca testar as hipóteses de racionalidade do hedge em

empresas não-financeiras utilizando uma regressão logística que permite analisar

as diferenças entre as empresas que utilizam derivativos e as que não utilizam.

Para fazer esta análise, os autores utilizaram, além dos dados contidos nos

questionários, informações de balanço do banco de dados COMPUSTAT,

utilizados como Proxies para medir hipóteses de utilização de derivativos

Page 59: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

46

baseados nas teorias moderna sobre criação de valor através da gestão de

riscos:

1. Hipótese de Redução de Custos Fiscais – Utilizando como proxies:

! Prejuízos fiscais acumulados disponibilizados em 1985 para utilização

como “escudo fiscal” nos anos subseqüentes;

! Investment Tax Credits (ITC’s) utilizados para reduzir (ou anular)

impostos a pagar em 1986; e

! O intervalo dos lucros tributáveis de empresas localizado na região de

progressividade das alíquotas de imposto.

- Para medir se o intervalo de lucros tributáveis se encontrava na

região de progressividade, foi criada uma variável binária que

seria igual a 1 caso o intervalo de 95% de confiança do lucro

tributável de 1986 (formado utilizando o desvio padrão calculado

de 1977 a 1986) caísse na zona de progressividade, ou zero em

caso contrário.

2. Hipótese de Redução dos Custos de Falência – Utilizando como proxies:

! O Tamanho da Empresa (definido como size), medido pela soma do

valor contábil da dívida da empresa com o valor de mercado do seu

equity; e

! A alavancagem da empresa, medida pelo debt-size ratio e pelo debt

service coverage ratio

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47

- O debt-size ratio foi definido como o ratio da média de 1984 a

1986 do valor contábil da dívida em relação à medida definida de

valor da empresa

- O debt service coverage ratio foi definido como o ratio da média

de 1984 a 1986 do EBIT em relação à média de 1984 a 1986 de

despesas de juros

3. Hipótese de Redução dos Custos de Agency – Utilizando como proxies:

! Para medir o impacto de conflitos entre acionistas e detentores de

dívida, são usadas as proxies de alavancagem já mencionadas;

! Opções de crescimento nas oportunidades de investimento da empresa

são medidas pelas despesas com pesquisa e desenvolvimento (P&D) e

pelo book-value ratio

- As opções de crescimento foram definidas como o resultados da

divisão das despesas de P&D de 1986 pela variável de tamanho

da empresa

- Book-value ratio foi definido como o ratio entre o valor contábil

dos ativos da empresa e a variável de tamanho da empresa

4. Hipótese de Substituição dos Derivativos por Instrumentos On-balance

Sheet – Utilizando como proxies:

! A utilização de dívida conversível pela empresa

Page 61: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

48

- Valor contábil da dívida conversível da empresa em 1986,

dividida pela variável de tamanho da empresa

! Utilização de ações preferenciais pela empresa

- Valor contábil das ações preferenciais da empresa em 1986,

dividida pela variável de tamanho da empresa

! Liquidez dos ativos da empresa

- Média de 1984 a 1986 da taxa de liquidez da empresa (e.g. o

ativo circulante dividido pelo passivo circulante)

! O comportamento de distribuição de dividendos da empresa

- Média de 1984 a 1986 do taxa de pagamento de dividendo

A comparação de médias entre empresas que utilizaram derivativos e as

que não utilizaram permitiu aos autores observar que as empresas que utilizaram

derivativos possuíam significantemente mais ITC’s e maior parcela do intervalo de

seus lucros tributáveis na região de progressividade. Entretanto, não havia

diferença significativa em termos de prejuízos acumulados.

Observou-se também que as empresas que utilizaram derivativos eram

significantemente maiores do que as que não utilizaram, observação que está em

linha com os estudos de Dolde (1993), Bodnar, Hayt, Marston e Smithson (1995),

Bodnar, Hayt e Marston (1996) e Bodnar, Hayt e Marston (1998).

Page 62: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

49

As empresas que utilizaram derivativos possuíam ainda proporções

maiores de despesas de P&D, porém, surpreendentemente, não se observou

diferença significativa em termos de alavancagem e de interest coverage ratios.

A comparação de médias indica ainda que empresas que utilizaram hedge

possuíam ativos menos líquidos e maiores taxas de distribuição de dividendos.

Porém, não há diferença significativa no uso de dívidas conversíveis ou ações

preferenciais.

Com base nestas proxies, Nance, Smith, e Smithson (1993) fizeram

diversas regressões, combinando as variáveis explicativas. Poucas variáveis

foram estatisticamente significativas e o poder da regressão foi baixo, mas, pode-

se observar que a probabilidade de uma empresa utilizar derivativos aumenta se

o valor da empresa aumentar, se a empresa possuir mais oportunidades de

crescimento (proporção de P&D com valor da empresa), se possuir mais ITC’s, se

uma maior parcela dos lucros tributáveis da empresa se encontrar na zona de

progressividade de impostos e se a empresa possuir maior taxa de distribuição de

dividendos.

2.5.3 O Estudo de Tufano (1996)

Tufano (1996) explora os determinantes do hedge na indústria de ouro.

Como as empresas mineradoras de ouro explicam muito precisamente seus

volumes de hedge, Tufano (1996) pode computar a fração de produção de ouro

dos três anos seguintes ao estudo, que estava cobertas por atividades de Gestão

de Riscos.

Page 63: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

50

Suas evidências são apresentadas na tabela 1. Mais uma vez, pode-se

observar uma grande variação nas práticas de gestão de risco. Algumas poucas

empresas na média não fazem hedge nenhum, mas nenhuma empresa faz hedge

de toda a sua exposição. A proporção média de hedge é 25,6%, indicando que a

empresa mineradora de ouro típica faz hedge de 25,6% de sua produção.

Tabela 1 – Práticas de Gestão de Risco na Indústria Mineradora de Ouro

Norte-Americana, 1990-1993

Para cada uma das 48 empresas e trimestres da amostra, Tufano (1996) computou a fração daprodução dos três anos seguintes ao estudo que havia sido efetivamente cobertas atividades degestão de riscos.

Fração da produção efeti-vamente coberta por hedge

Percentual de empresas naamostra

Exatamente 0 14,60,1%-10% 14,610-20 14,620-30 14,630-40 2540-50 2,150-60 4,260-70 4,270-80 4,280-90 2,190-100 0

Média 25.6% -

Mediana 22.9% -

Desvio Padrão 22.4% -

Fonte: Tufano (1996)

Tufano procura explicar o porquê destas diferenças na intensidade de

hedging, através de regressões múltiplas, que tinham como variáveis explicativas

às características que afetam os benefícios de se fazer hedge. Observou-se que

empresas que atuam mais em exploração, fazem menos hedge, fato que foi

considerado surpreendente. Empresas com mais reservas também apresentaram

Page 64: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

51

menos hedge e empresas que possuíam saldos de caixa também faziam menos

hedge. Estes resultados foram, contudo pouco significativos estatisticamente.

Os resultados de maior significância estatística estava relacionados a

variáveis ligadas a gerência. Empresas cujos gerentes possuem mais ações da

empresas fazem mais hedge. Esta evidência pode sugerir uma atuação da

gerência em benefício próprio, buscando maximizar o valor para si, em função de

sua própria aversão a risco. Entretanto, as empresas da amostra que possuíam

acionistas (fora da gerência) com grandes participações apresentaram menor

tendência a fazer hedge.

Observou-se ainda que a gerência faz menos hedge quando possui opções

ao invés de ações da empresa. Tal fato é explicado também pelo busca da

gerência de maximizar o resultado para si, pois o valor das opções cresce com o

aumento do risco da empresa.

Desta forma, o que se observou é que a prática de gestão de riscos possui

influência crucial dos incentivos que são dados à gerência, pois os mesmos

tenderão a fazer mais hedge se possuírem ações da empresa e essas ações são

uma grande parcela de sua riqueza pessoal, buscando proteger o seu risco

pessoal. Em contrapartida, se a compensação dos gerentes aumentar muito com

bons resultados fora do esperado, os mesmos podem ter tendência a “arriscar em

apostas” para atingir estes resultados.

Page 65: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

52

2.5.4 O Estudo de Geczky, Minton e Schrand (1997)

Estudos mais recentes se beneficiaram de mudanças nas determinações

de disclosure das empresas, que tornou possível aprender sobre a atividade de

derivativos a partir das notas explicativas de annual reports.

Geczky, Minton e Schrad (1997) estudaram empresas abertas da Fortune

500, para as quais havia dados disponíveis dos anos fiscais de 1990 e 1991.

Constituíram assim, uma amostra de 411 empresas e utilizaram as notas

explicativas dos 10-K fillings do ano fiscal terminado em 1991, para obter dados

sobre o uso de derivativos.

Em 1991, Geczky, Minton, e Schrand (1997) observaram que 230 das 411

empresas, ou 56% de sua amostra divulgavam algum uso de derivativos. Eles

observaram que os usuários de derivativos possuíam:

1. Menor liquidez do que as não usuárias. O saldo de caixa e equivalentes

de caixa das empresas não usuárias excedia o passivo circulante em

aproximadamente 40%, que pode ser comparado a um valor de 22% nas

empresas usuárias de derivativos;

2. Melhores oportunidades de investimento e uma taxa de P&D em relação

a vendas que era quase o dobro das não usuárias;

3. Maior cobertura por analistas e maior percentual de participação de

investidores institucionais nas ações da empresa, porém ressalta que estes fatos

podem ser em função do tamanho das empresas.

Page 66: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

53

Para separar o papel do tamanho das empresas de outras variáveis, os

autores utilizam um modelo logístico de regressão. Com base nos resultados

deste modelo, o tamanho das empresas parecia não ser relevante, e todas as

variáveis listadas acima continuaram a possuir um efeito significativo, afetando a

decisão de uso de derivativos.

2.5.5 O Estudo de Haushalter (2001)

Haushalter (2001) conduziu um estudo detalhado sobre hedging de

produtores de oil&gas nos EUA no período de 1992 a 1994. De forma semelhante

a Tufano (1996), ele buscou investigar a fração da produção que os produtores

protegiam através de hedge contra flutuações de preços.

Para examinar esta questão, a fração protegida via hedge foi submetida a

uma regressão múltipla utilizando variáveis pertinentes à política financeira, ao

tamanho da empresa, estrutura acionária, assim como uma certa quantidade de

variáveis de controle. A regressão separou a decisão de hedge em duas etapas,

uma primeira regressão examinou a decisão de fazer hedge e uma segunda

examinou características relativas à fração da produção submetida ao hedge. As

principais descobertas são resumidas a seguir:

! Existiu grande variabilidade nas políticas de gestão de riscos de

produtores de oil&gás. Por exemplo, em 1993 pouco mais da metade

das empresas da amostra não fazia hedge, enquanto que um quarto

das empresas na amostra fazia hedge de mais de 28% da sua

produção. O autor acredita que, dadas as semelhanças nos riscos das

empresas, elas deveriam ter políticas mais semelhantes, e que,

Page 67: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

54

portanto, estas diferenças são um indicativo de que existem diferenças

nas características das empresas ou de suas gerências que afetam a

decisão quanto a política de hedge;

! As políticas de hedge de empresas foram altamente correlacionadas

com as suas políticas financeiras. Em particular, os produtores da

amostra que possuíam mais dívida faziam hedging de uma parcela

maior de sua produção. O autor considera que esta evidência está

ligada a busca de redução de custos de dificuldades financeiras e/ou

para garantir fluxo de caixa suficiente para garantir futuros

investimentos;

! Empresas com mais ativos tiveram maior probabilidade de fazer hedge.

O autor acredita que este fato está associado à existência de grandes

custos fixos em programas de gestão de riscos e que por isso os

ganhos com políticas de gestão de riscos podem ser mais bem

aproveitados por empresas de grande porte;

! Não houve relação clara entre as políticas de gestão de riscos das

empresas e a compensação de seus gerentes ou com o fato deles

receberem ações da empresas.

2.5.6 Sumário das Evidências

A revisão dos estudos acima permitiu observar evidências empíricas

quanto ao porquê de fazer hedge. Dentre as principais razões observadas na

teoria, as evidências sugerem que as mais importantes são:

Page 68: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

55

1) Impostos: As evidências sugerem que empresas com mais prejuízos

acumulados e mais ITC’s fazem mais hedge, e presume-se que o fazem para

proteger o valor destes benefícios fiscais. Nenhum estudo encontrou efeito

contrário significativo;

2) Custos de dificuldades financeiras: Todos os resultados significativos

sugeriram que as empresas fazem menos hedge quando possuem maior interest

coverage ratio. Houve evidências também que as empresas fazem mais hedge

quando têm grande alavancagem. Observou-se grande relação entre despesas

de P&D e hedging; Nenhum estudo encontrou evidências de relação negativa

entre P&D e a utilização de derivativos. As evidências com relação a market-to-

book e hedging são variadas, mas a preponderância é de que empresas com

maiores market-to-book ratios fazem mais hedge.

3) Incentivos da Gerência: Existem evidências consistentes que empresas

nas quais os gerentes possuem mais equity, fazem mais hedge. As evidências

com relação ao uso de opções na compensação são, contudo conflitantes.

Page 69: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

56

2.6. Estudos sobre Implementação de Estratégias de Hedge com o Objetivode Criar Valor

2.6.1. A Viabilidade da Redução de Impostos

Graham e Smith (2000) analisaram mais de 80.000 observações anuais de

empresas da base de dados COMPUSTAT, utilizando métodos de simulação para

investigar aspectos da regulamentação fiscal de empresas e verificar se a

estrutura da função de taxa efetiva da empresa é convexa e, portanto, examinar

uma condição necessária para que a empresa tenha um incentivo a fazer hedge

com base em impostos.

O estudo foi focado nas questões que afetam a progressividade:

! Progressividade das alíquotas de imposto; especialmente a assimetria

de tratamento entre perdas e ganhos;

! Os limites fiscais para dedução de prejuízos acumulados;

! O crédito de taxa de investimento (ITC – investment tax credit); e

! O imposto mínimo alternativo (AMT – alternative minimum tax)

Em aproximadamente 25% dos casos, as empresas apresentaram funções

de imposto essencialmente lineares, sendo indiferentes (em termos de incentivos

de impostos) a políticas de hedging. As demais empresas apresentaram funções

efetivas de imposto na grande maioria côncavas, apresentando um desincentivo

ao hedge em termos fiscais. Nos casos em que existia convexidade,

aproximadamente um quarto destas empresas apresentava economias potencias

advindas de políticas de hedge que pareciam “materiais” – em casos extremos,

Page 70: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

57

excedendo 40% do passivo fiscal esperado. Para as demais empresas, as

economias fiscais eram substancialmente pequenas. Desta forma, o estudo

sugere uma distribuição de potenciais economias fiscais bastante assimétricas.

As economias fiscais esperadas das empresas foram mais altas nas

seguintes situações:

! O lucro líquido tributável se encontrava próximo do ponto de mudança

na curva de impostos (e.g. lucro tributável próximo de zero);

! O lucro tributável era mais volátil

! Os lucros apresentavam autocorrelação serial negativa (e, portanto a

empresa possuía maiores chances de ficar variando entre perdas e

ganhos)

O método utilizado no estudo permitiu ainda decompor a estrutura básica

da regulamentação fiscal, para examinar o impacto incremental de itens

individuais. Desta forma, foi observado que grande parte da progressividade foi

advinda do tratamento assimétrico de lucros e prejuízos, ou seja, taxas positivas

quando ocorrem lucros e taxa igual a zero quando ocorrem prejuízos. Prejuízos

acumulados permitem que as empresas suavizem as perdas, reduzindo assim a

curvatura da função de impostos nestes pontos de mudança (assim como em

outros pontos de progressividade), apesar de também possuírem um efeito de

espalhar a área de progressividade sobre o lucro tributável. O imposto mínimo

alternativo (AMT) e o crédito de taxa de investimento (ITC) tiveram apenas efeitos

modestos na curvatura da função de impostos.

Page 71: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

58

As principais constatações do estudo foram:

! Entre as empresas que apresentavam uma função progressiva de

impostos, a economia média resultante de uma redução de 5% na

volatilidade é de US$ 122.718 ou 5% da base de passivo fiscal (a soma

dos passivos fiscais correntes com o valor presente dos benefícios

fiscais associados a prejuízos acumulados, ITC’s e AMT’s)

! A distribuição de economias fiscais potenciais é muito assimétrica.

Apesar de 75% das empresas apresentarem um pequeno incentivo

fiscal a fazer hedge, as economias parecem substanciais nos casos

extremos. Por exemplo, entre as empresas que apresentam função

progressiva de impostos, as estimativas sugerem que empresas que se

situam no percentil acima de 99% podem economizar US$ 2.000.000

anualmente, se conseguirem reduzir em 5% a volatilidade

! O tratamento assimétrico de lucros e prejuízos é responsável por

grande parte da progressividade observada

! O AMT introduz apenas um modesto aumento na progressividade e os

ITC’s possuem pouco impacto.

Page 72: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

59

2.6.2. Redução da Probabilidade de Falência

Copeland e Copeland (1999) introduziram uma metodologia de

maximização do valor de políticas de hedge em empresas através da redução do

custo esperado de falência a um determinado custo de hedge.

O método proposto encontra o hedge ratio que minimiza a probabilidade de

falência em um determinado período de tempo e então avalia uma relação entre

benefício e custo do hedge. O benefício é definido como a redução esperada no

custo de falência resultante do hedge, e o custo é definido como o custo direto do

programa de hedging.

Neste estudo, mostrou-se que a redução de volatilidade per si não é uma

condição necessária, nem suficiente, para reduzir o risco de falência, devendo-se

considerar outros fatores, como a mudança na tendência dos fluxos de caixa

induzida pelo risco de preço e um coverage ratio do fluxo de caixa.

Para encontrar o hedge ratio que minimiza a probabilidade de falência em

um determinado período de tempo, os autores, buscam maximizar o que eles

caracterizam como “time to ruin”, ou seja, o tempo para a ocorrência de falência.

Os autores observam que, para atingir este objetivo, o que importa não é a

minimização da volatilidade, mas sim o padrão dos fluxos de caixa, mais

precisamente a probabilidade de o fluxo de caixa declinar até um valor tal no qual

os custos de falência são incorridos. Desta forma, o hedge, pode ser totalmente

desnecessário em casos que o fluxo de caixa gerado está muito acima e

crescendo mais rápido do que as necessidades de caixa, pois neste caso o time

to ruin esperado é quase infinito.

Page 73: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

60

A figura 9 ilustra o tratamento dado a esta questão pelos autores. Assume-

se que o fluxo de caixa operacional com hedge (Pt) segue um processo de Gauss-

Wiener. Define-se assim que, µ é igual ao drift por unidade de tempo e σ é o

desvio padrão instantâneo e temos:

tt zt

PP

∂+∂=∂ σµ

tztt

t ePPσσµ +

= 20

2

Figura 9 –Fluxos de Caixa e Fronteiras de Flutuação no Tempo

Assume-se que o fluxo de caixa operacional segue um processo de Gauss-Wiener, como ilustradopela linha P0Pt’. O fluxo de caixa com hedge, também segue um processo de Gauss-Wiener,conforme representado pela linha P0Pt, porém com um drift menor (em função dos custos de hedge)e menor volatilidade. Se a linha representando os fluxos de caixa com hedge, tocar a linha limite,linha h0ht, a empresa sofrerá custos de falência.

Fonte: Copeland e Copeland (1999)

A empresa encontra dificuldades financeiras se o seu fluxo de caixa

operacional com hedge toca a fronteira inferior que determina o nível de

Tempo

LN $

Page 74: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

61

compromissos de caixa, e.g. serviço da dívida ou um nível de desconforto no qual

a empresa fica inapta a aproveitar projetos com fluxo de caixa positivo. Por

questão de simplicidade, assumiu-se que esta fronteira não é aleatória e que ela

cresce com o passar do tempo à taxa r.

trt ehh 0=

Utilizando-se a condição de “toque” da fronteira Pt = ht, os autores

encontram o valor esperado de time to ruin:

( )

2

ln2

0

0

σµ −−

−=r

hP

TE

Nota-se que o valor esperado de time to ruin aumenta com a redução da

volatilidade, fato que é condizente com a recomendação usual de hedge de

reduzir a volatilidade dos fluxos de caixa operacionais, porém outras coisas são

importantes também. Os autores interpretam o ratio (Pt/ht) como um “coverage

ratio”, porque ele mede a relação entre o fluxo de caixa operacional com hedge

dividido pelos compromissos de caixa que estabelecem a fronteira inicial. O valor

esperado aumenta se P0 estiver muito acima de h0. Ele também aumenta se o drift

do fluxo de caixa com hedge, µ, aumentar em relação à taxa de crescimento da

fronteira, r.

Estes resultados são intuitivos e mostram que a redução da volatilidade

não é a única variável a considerar para fazer o hedge. Inclusive, mesmo se o

hedge reduzir o σ, ele pode reduzir o µ o suficiente para diminuir o valor esperado

de time to ruin e, portanto, a redução de variância não é suficiente para reduzir o

Page 75: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

62

E(T). É necessário, portanto, considerar também o drift dos fluxos de caixa e o

coverage ratio do fluxo de caixa com hedge.

2.6.3. Hedging Estratégico

Mello e Parsons (1999) apresentam uma abordagem para a gestão de

riscos, denominada pelos autores de “Hedging Estratégico”. O objetivo do

Hedging Estratégico seria garantir que a empresa possua geração de caixa

interno e acesso a capital externo suficientes para garantir seus investimentos

estratégicos.

A base deste método consiste em uma medição abrangente da exposição

da empresa, que considera a empresa como um conjunto de ativos geradores de

caixa e de oportunidades de investimento futuro. Os ativos em uso, em conjunto

com capacidade de endividamento não utilizada são as principais fontes de

fundos da empresa, enquanto que os investimentos futuros são os usuários

esperados deste caixa. Neste contexto, a exposição é uma medida de como

mudanças em variáveis de preço pode afetar a habilidade da empresa de atingir

seus objetivos estratégicos. Ou seja, esta exposição mede como, tanto o caixa

operacional atual, quanto às necessidades de investimento futuros são

influenciados por essas variáveis de preço. Esta exposição é classificada como o

Funding Gap, como pode ser observado na figura 10.

Page 76: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

63

Figura 10 – Diagrama da Demonstração dos Fluxos de Caixa da Empresa

Mello e Parsons (1999) dividem a análise dos fluxos de caixa da empresa em três componentes: (1)Fluxos de caixa operacionais que são classificados como a “Oferta Interna de Fundos”; (2) Fluxosde caixa das atividades de investimento, que são classificados como a “Demanda por Fundos”; e(3) Fluxos de caixa das atividades de financiamento, ou a “Oferta Externa de Fundos”. O resultadolíquido soma destas componentes é classificada como o “Funding Gap” que mede a exposição daempresa a custos de dificuldades financeiras e problemas de sub-investimento.

Fonte: Mello e Parson (1999)

Neste contexto, o hedge pode aumentar a capacidade da empresa de

gerenciar o Funding Gap e com isso evitar os custos de sub-investimento ou de

dificuldades financeiras.

Fluxo de Caixa OperacionalFluxo de Caixa Operacional

• Lucro líquido•Depreciação•Fluxo de caixa líquido proveniente das operações

• Lucro líquido•Depreciação•Fluxo de caixa líquido proveniente das operações

Fluxo de Caixa de InvestimentosFluxo de Caixa de Investimentos

• CAPEX• Investimentos em subsidiárias• Investimento em capital de giro

• CAPEX• Investimentos em subsidiárias• Investimento em capital de giro

Fluxo de Caixa das Atividades de Financiamento

Fluxo de Caixa das Atividades de Financiamento

• Serviço da dívida (juros e principal)• Dividendos• Aportes de Capital

• Serviço da dívida (juros e principal)• Dividendos• Aportes de Capital

Risco de Preço

Oferta Interna de FundosVolatilidade na oferta interna provocada pelos riscos de preço ligadas a receitas ou custos

Demanda por FundosVolatilidade na oferta interna provocada pelos riscos de preço ligadas a receitas ou custos

-

Oferta Externa de FundosVolatilidade na oferta interna provocada pelos riscos de preço ligadas a receitas ou custos

+

= Funding Gap

Fluxo de Caixa OperacionalFluxo de Caixa Operacional

• Lucro líquido•Depreciação•Fluxo de caixa líquido proveniente das operações

• Lucro líquido•Depreciação•Fluxo de caixa líquido proveniente das operações

Fluxo de Caixa de InvestimentosFluxo de Caixa de Investimentos

• CAPEX• Investimentos em subsidiárias• Investimento em capital de giro

• CAPEX• Investimentos em subsidiárias• Investimento em capital de giro

Fluxo de Caixa das Atividades de Financiamento

Fluxo de Caixa das Atividades de Financiamento

• Serviço da dívida (juros e principal)• Dividendos• Aportes de Capital

• Serviço da dívida (juros e principal)• Dividendos• Aportes de Capital

Risco de Preço

Oferta Interna de FundosVolatilidade na oferta interna provocada pelos riscos de preço ligadas a receitas ou custos

Demanda por FundosVolatilidade na oferta interna provocada pelos riscos de preço ligadas a receitas ou custos

-

Oferta Externa de FundosVolatilidade na oferta interna provocada pelos riscos de preço ligadas a receitas ou custos

+

=

Fluxo de Caixa OperacionalFluxo de Caixa Operacional

• Lucro líquido•Depreciação•Fluxo de caixa líquido proveniente das operações

• Lucro líquido•Depreciação•Fluxo de caixa líquido proveniente das operações

Fluxo de Caixa OperacionalFluxo de Caixa Operacional

• Lucro líquido•Depreciação•Fluxo de caixa líquido proveniente das operações

• Lucro líquido•Depreciação•Fluxo de caixa líquido proveniente das operações

Fluxo de Caixa de InvestimentosFluxo de Caixa de Investimentos

• CAPEX• Investimentos em subsidiárias• Investimento em capital de giro

• CAPEX• Investimentos em subsidiárias• Investimento em capital de giro

Fluxo de Caixa de InvestimentosFluxo de Caixa de Investimentos

• CAPEX• Investimentos em subsidiárias• Investimento em capital de giro

• CAPEX• Investimentos em subsidiárias• Investimento em capital de giro

Fluxo de Caixa das Atividades de Financiamento

Fluxo de Caixa das Atividades de Financiamento

• Serviço da dívida (juros e principal)• Dividendos• Aportes de Capital

• Serviço da dívida (juros e principal)• Dividendos• Aportes de Capital

Fluxo de Caixa das Atividades de Financiamento

Fluxo de Caixa das Atividades de Financiamento

• Serviço da dívida (juros e principal)• Dividendos• Aportes de Capital

• Serviço da dívida (juros e principal)• Dividendos• Aportes de Capital

Risco de Preço

Oferta Interna de FundosVolatilidade na oferta interna provocada pelos riscos de preço ligadas a receitas ou custos

Demanda por FundosVolatilidade na oferta interna provocada pelos riscos de preço ligadas a receitas ou custos

-

Oferta Externa de FundosVolatilidade na oferta interna provocada pelos riscos de preço ligadas a receitas ou custos

+

= Funding Gap

Page 77: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

64

2.7. Resumo do Referencial Teórico

Dada a amplitude do tema, apresenta-se a seguir as referências

consultadas e as principais conclusões:

Tabela 2 – Resumo da Bibliografia

Tópico Resumo Referências

2.1. Definições de Risco e Hedge

2.1.1. Risco

" O trabalho utiliza o conceito deMarkowitz (1959) que definiu riscocomo a variância dos retornos esperadosde um ativo;

" Os principais riscos enfrentados porempresas não-financeiras são definidoscomo risco de preço, risco de crédito erisco puro;

Markowitz (1952),Markowitz (1959),Fabozzi (1995),Niehaus (1999)

2.1.2. Riscode Preço

" Os três tipos mais importantes de riscosde preço são associados a preços decommodities, taxas de câmbio e taxas dejuros;

" Os principais riscos enfrentados porempresas não-financeiras são definidoscomo risco de preço, risco de crédito erisco puro;

Niehaus (1999)

2.1.3. Riscode Crédito

" O risco de default, ou seja, de nãopagamento de compromissos financeirospor consumidores ou parceiros de umaempresa é denominado risco de crédito;

Bessis (1998),Niehaus (1999)

2.1.4. RiscoPuro

" Riscos puros são aqueles que não têmpossibilidade de ganhos, alternando entreresultados com perda e sem perda;

Skipper (1998),Niehaus (1999)

2.1.5. Hedge

" Estratégias de hedge consistembasicamente, em montar uma posição,quer seja adquirindo um fluxo de caixa,um ativo ou um contrato, a qual terámovimento de preço (cair ou subir)contrário a uma posição existente.

Nance, Smith eSmithson (1993)Eiteman, Stonehill,Moffet (1998)

2.2 Tipos de Hedge Realizados por Empresas Não-Financeiras

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2.2.1. Hedgede Transações

" O hedge de transações consiste emeliminar os riscos associados adeterminadas obrigação ou bens edireitos sujeitos à volatilidade de preçosque podem resultar em variações nofluxo de caixa da empresa.

Eiteman, Stonehill eMoffet (1998)

2.2.2. Hedgede Balanço

" O hedge de balanço busca gerenciarvariações no patrimônio líquido ou noslucros de uma empresa não-financeira,causadas por variações de preço emrelação à última contabilização dasdemonstrações financeiras.

Eiteman, Stonehill eMoffet (1998)

2.2.3. HedgeOperacional

" O hedge operacional consiste emgerenciar o risco do conjunto deoperações da empresa, possuindo maiorefeito sobre a saúde financeira de longo-prazo de uma empresa não-financeira doque o hedge de transações e o hedge debalanço.

Eiteman, Stonehill eMoffet (1998)

2.2.4. GestãoIntegrada deRiscos

" A Gestão de Riscos está sofrendomudanças e evoluiu de uma visãofragmentada, na qual se preocupavaapenas com os riscos puros ou apenascom os riscos de preço; para umaabordagem integrada, que envolve todosos riscos aos quais uma empresa estáexposta.

Shapiro e Titman(1985)Skipper (1998)Niehaus (1999)

2.3. Teoria Moderna sobre os Determinantes do Hedge em Empresas

2.3.1. ARacionalidadedo Hedge

" O fato de uma empresa se confrontarcom riscos financeiros de preço é umacondição necessária para que umaempresa gerencie o risco, mas não é umacondição suficiente. Para que haja umaracionalidade na gestão de risco de umaempresa, é necessário que tal gestãoaumente o valor esperado da empresa.

" Modigliani e Miller (1958) mostram que,com uma política de investimentos fixa esem custos de falência ou impostos,decisões com relação à estrutura decapital da empresa não afetam o valor dafirma

" O trabalho de M&M está sendo utilizadopelos estudiosos da gerência de risco,para avaliar a relevância da política dehedge. Defende-se que, se a empresa

Modgliani e Miller(1958)Smith e Stulz (1985)Smith, Smithson,Wilford, (1990)Nance, Smith eSmithson (1993)Smith e Smithson(1993)Froot, Scharfstein eStein (1993)Damodaran (1994)

Ross, Westerfield eJaffe (1995)Tufano (1996)Colquitt e Hoyt(1997)

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decide mudar a sua política de hedge, osinvestidores podem alterar a sua posiçãode ativos de risco e anular a política dehedge, tornando a mesma irrelevante emtermos de valor para o acionista.

" Quando as premissas do trabalho deM&M são quebradas, decisões relativas àestrutura de capital e à gestão de riscospodem afetar o valor da empresa.

" A teoria de finanças oferece, portanto,diversas hipóteses para explicar assituações em que a utilização do hedgeem empresas pode ser classificada comouma estratégia racional, ou, como umaatividade que cria valor para a empresaatravés de três fatores principais: (1)custos de falência (2) problemas de sub-investimento e (3) Impostos.

Gay e Nam (1998)Tufano (1998)

2.3.2.Redução deCustos deFalência

" Os custos de falência exercem um efeitonegativo sobre o valor da empresa.

" A gestão de riscos reduz a volatilidade dovalor da empresa e , ao reduzi-la, diminuia probabilidade da empresa encontrardificuldades financeiras, reduzindo oscustos de falência.

Ross, Westerfield eJaffe (1995)Smith, Smithson eWilford (1995)Stulz (1998)

2.3.3.Reduçãode Problemasde Sub-Investimento

" Quando as empresas consideram que ofinanciamento externo está caro demais,pode ocorrer um problema de sub-investimento, pois elas são obrigadas areduzir os gastos com investimentos se ocaixa gerado internamente não ésuficiente para financiar as oportunidadesde crescimento.

" O hedge cria valor, na medida quepermite a garantia que a empresapossuirá caixa suficiente disponível paraaproveitar oportunidades atrativas deinvestimento.

Gay e Nam (1998)Froot, Scharfstein eStein (1993)Froot, Scharfstein eStein (1994)

2.3.4.Conflitos entre oCapital deTerceiros e oCapitalPróprio

" Quando uma empresa utiliza capital deterceiros, surgem conflitos de interesseentre acionistas e credores, em função dadiferença no tipo de ativo que cada umcarrega.

" Ross, Westerfield e Jaffe (1995), descre-vem três tipos de estratégias que os

Nance, Smith eSmithson (1993)Smith, Smithson,Wilford (1995)Ross, Westerfield eJaffe (1995)

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acionistas utilizam para favorecer a sipróprios, em detrimento dos credores: 1)Incentivo a Assumir Riscos Elevados; 2)Incentivo ao Sub-investimento; 3) Es-vaziar a Propriedade;

" Ross, Westerfield e Jaffe (1995),afirmam que os credores se protegemdestes conflitos possíveis, elevando astaxas de juros que exigem nas obri-gações. Assim, são os acionistas, emúltima instância, que acabam pagando oscustos associados a tais conflitos deinteresse

2.3.5.Redução deImpostos eHedge

" O potencial de benefícios fiscaisadvindos da gestão de risco deriva dainteração entre a habilidade de reduçãoda volatilidade dos lucros tributáveisreportados e da existência de taxaçãoprogressiva de imposto de renda;

" Essa taxação progressiva significa que ataxa de imposto efetivamente paga pelaempresa aumenta com o crescimento dolucro antes de imposto;

" Através da redução das flutuações dolucro tributável, a gestão de risco podepermitir o pagamento de menos impostoao garantir que, durante um ciclo denegócios, a maior parcela dos lucros daempresa se situe dentro deste intervaloótimo de taxas de imposto de renda.

Smith e Stulz (1985)Smith, Smithson eWilford (1995)

2.3.6.Conflitos deAgency

" A diminuição de conflitos de interesseentre a gerência das empresas e osacionistas, é uma outra razão apontada nateoria de finanças para ganhos com acriação de uma política de hedgeorientada para a criação de valor para oacionista;

" Estes conflitos de Agency ocorremquando a gerência busca maximizar a suafunção de objetivos pessoais de ganhos,em detrimento dos interesses dosacionistas;

Smith, Smithson eWilford (1995)

" 2.4. Pesquisas sobre as Práticas de Gestão de Riscos

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2.4.1.EstudosAnalisados

" Foram escolhidos os estudos de Dolde(1993) e as três pesquisas realizadas pelaWharton School, respectivamente em1995, 1996 e 1998; para ilustrar aevolução observada nas práticas degestão de riscos;

" Estas pesquisas foram caracterizadaspela utilização de questionários depesquisa para detalhar as particularidadesda prática de gestão de riscos emempresas não-financeiras.

Dolde (1993)Bodnar, Hayt,Marston e Smithson(1995)Bodnar, Hayt eMarston (1996)Bodnar, Hayt,Marston (1998)

2.4.2. Dolde(1993)

" Questionários enviados para todas asempresas da Fortune 500 em 1992

" Amostra de 244 empresas queresponderam ao questionário

" 85 % reportaram utilizar swaps, contratosa termo, futuros ou opções na gestão deriscos financeiros de taxas de câmbio etaxas de juros;

" As maiores empresas do Fortune 500possuíam maior probabilidade deutilização de derivativos, porémempresas menores do Fortune 500 queusam derivativos fazem hedge de umafração maior de sua exposição.

" O foco na grande maioria das empresasera em fazer o hedge de exposições atransações e de exposições de curto-prazo.

" Aproximadamente 90% dos usuários dederivativos da pesquisa afirmaram queutilizam algumas vezes sua visão demercado;

Dolde (1993)Stulz (1999)

2.4.3.Pesquisada WhartonSchool de1995

" Questionários enviados para amostraaleatória de 2000 empresas não-financeiras em Novembro de 1994;

" Amostra de 530 questionáriosrespondidos;

" 34,5% utilizavam derivativos;

" 65% das com valor de mercado acima deUS$ 250 milhões usavam derivativos eapenas 13% das com valor abaixo deUS$ 50 milhões os utilizavam;

" 75,4% utilizavam derivativos para fazer

Bodnar, Hayt,Marston e Smithson(1995)

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hedge de transações

" 60,7% afirmam nunca usar derivativospara arbitrar mercados

" 51,3% afirmam nunca utilizar derivativospara fazer hedge de balanço;

" Aproximadamente 66% afirmam que nãousam derivativos para fazer hedge deexposição operacional ou estratégica;

" 52,5% afirmam nunca usar derivativospara obter resultados através de umaprevisão de mercado.

2.4.4.Pesquisada WhartonSchool de1996

" Questionários enviados para a mesmaamostra e, adicionalmente, foramincluídas empresas do Fortune 500 quenão estavam na pesquisa de 1994;

" 350 questionários devolvidos;

" 41% reportaram utilizar derivativos;

" 76% usaram derivativos de taxa decâmbio;

" 73% utilizaram derivativos de taxa dejuros;

" 37% utilizam derivativos decommodities;

" 49% das empresas que utilizavamderivativos afirmaram que o seu foco erareduzir a volatilidade dos fluxos de caixa

" 42% apontaram a redução da volatilidadedos lucros;

" Novamente, foram encontradasevidências que grande parcela dasempresas deixam a sua visão de mercadoinfluenciar a política de hedge.

" 33% dos usuários afirmar queeventualmente “assume posições ativas”baseadas na sua visão sobre as taxas decâmbio

Bodnar, Hayt,Marston (1996)

2.4.5.Pesquisa daWhartonSchool de1998

" Amostra de 1.928 empresas;

" 399 questionários foram respondidos;

" 50% da amostra de respostas reportaramutilizar derivativos;

" 83% das empresas com valor de mercado

Bodnar, Hayt,Marston (1998)

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acima de US$ 250 milhões usavamderivativos e apenas 12% das empresascom valor de mercado abaixo de US$ 50milhões os utilizavam, evidenciandonovamente maior utilização dederivativos por empresas maiores;

" A utilização é maior em produtores deprodutos primários dos quais 68%reportaram utilização de derivativos, nasempresas industriais o valor foi de 48% enas de serviço 42%;

" As empresas apresentaram maior focoem fazer hedge de comprometimentoson-balance-sheet – i.e. contas a receber econtas a pagar, Transações antecipadascom prazo menor que um ano erepatriações de fluxos em moedaestrangeira;

" A exposição competitiva sofreu hedgefreqüente em apenas 11% das empresascom um adicional eventual de 28%

" Conforme foi observado nas pesquisasanteriores, a visão de mercadoinfluenciou as políticas de hedge dediversas empresas;

" 10% das empresas indicaram que a suavisão de mercado influencioufreqüentemente suas decisões de hedgeem termos de tamanho do hedge e dotiming enquanto que 49% das empresasafirmaram que sua visão afeta suasdecisões de timing e 51% que afeta asdecisões quanto ao volume do hedge;

" Uma parcela menor das empresas afirmar“tomar posições ativas”, observando-seque 6% afirmaram faze-lofreqüentemente e 26% o fazemeventualmente

2.4.6.ComparaçãoEntre osEstudos

As pesquisas analisadas apresentamconcordâncias em diversos pontos:

" Empresas maiores possuem maiortendência a praticar a gestão de riscoscom derivativos;

" As empresas tendem a fazer mais hedgede fluxos de caixa e de lucros contábeisao invés de hedge do valor de mercado;

________

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71

" Existe foco em instrumentos de curtoprazo; e

" As empresas tipicamente não fazem umhedge de toda a sua exposiçãosistematicamente, praticando o assimchamado, “hedge seletivo”, ou seja,levando em consideração as suas visõesde mercado para assumir posições dederivativos.

2.5. Evidências Empíricas sobre fatores Determinantes do Comportamento de Hedgingde Empresas

2.5.1.EstudosAnalisados

" Diversos estudos analisaram ocomportamento de hedge de empresas,buscando relacionar as razões para ohedge com base na teoria e ocomportamento observado (fazer ou nãofazer hedge, parcela da exposição que éprotegida, etc)

" Para permitir uma boa visão dasevidências encontradas neste tipo deestudo, foram analisados os estudos deNance, Smith e Smithson (1993), Tufano(1996), Geczky, Minton e Schrand(1997), e Haushalter (2001).

Nance, Smith eSmithson (1993)Tufano (1996)Geczky, Minton eSchrand (1997)Haushalter (2001)

2.5.2. APesquisa deNance, Smithe Smithson(1993)

" Nance, Smith e Smithson (1993),enviaram questionários para empresas doFortune 500 e/ ou do S&P 400questionando se estas empresasutilizaram derivativos no ano fiscal de1986. De um total de 535 empresas, 169responderam, dentre as quais, 104utilizaram derivativos.

" O estudo busca testar as hipóteses deracionalidade do hedge em empresasnão-financeiras utilizando uma regressãologística que permite analisar asdiferenças entre as empresas que utilizamderivativos e as que não utilizam.

" Os autores utilizaram, além dos dadoscontidos nos questionários, informaçõesdo banco de dados COMPUSTAT;

" Foram utilizadas Proxies para medirhipóteses de utilização de derivativosbaseados nas teorias moderna sobrecriação de valor através da gestão de

Nance, Smith eSmithson (1993)Dolde (1993)Bodnar, Hayt,Marston e Smithson(1995)Bodnar, Hayt eMarston (1996)Bodnar, Hayt eMarston (1998)

Page 85: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

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riscos:

" Com base nestas proxies, Nance, Smith,e Smithson (1993) fizeram diversasregressões, combinando as variáveisexplicativas

" Poucas variáveis foram estatisticamentesignificativas e o poder da regressão foibaixo, mas, pode-se observar que aprobabilidade de uma empresa utilizarderivativos aumenta se o valor daempresa aumentar, se a empresa possuirmais oportunidades de crescimento, sepossuir mais ITC’s, se uma maior parcelados lucros tributáveis da empresa seencontrar na zona de progressividade deimpostos e se a empresa possuir maiortaxa de distribuição de dividendos

2.5.3. OEstudo deTufano(1996)

" Tufano (1996) explora os determinantesdo hedge na indústria de ouro

" O estudo analisa o porquê das diferençasna intensidade de hedging destasempresas, através de regressõesmúltiplas;

" Os resultados de maior significânciaestatística estava relacionados a variáveisligadas a gerência;

" Observou-se que a prática de gestão deriscos pode ser influenciada pelosincentivos oferecidos à gerência,estimulando os mesmos a fazer maishedge, buscando proteger o seu riscopessoal

" Em contrapartida, se a compensação dosgerentes aumentar muito com resultadosacima do esperado, os mesmos podem tertendência a assumir riscos visando atingirestes resultados

Tufano (1996)

2.5.4.OEstudo deGeczky,Minton eSchrand(1997)

" Estudo com empresas abertas da Fortune500;

" Amostra de 411 empresas utilizando asnotas explicativas dos 10-K fillings doano fiscal terminado em 1991, para obterdados sobre o uso de derivativos;

" 56% da amostra divulgavam algum usode derivativos;

Geczky, Minton eSchard (1997)

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" Empresas usuárias de derivativospossuíam:

o Menor liquidez do que as não usuárias;

o Melhores oportunidades de investimentoe uma taxa de P&D em relação a vendasque era quase o dobro das não usuárias;

o Maior cobertura por analistas e maiorpercentual de participação deinvestidores institucionais nas ações daempresa, porém ressalta que estes fatospodem ser em função do tamanho dasempresas.

" Para separar o papel do tamanho dasempresas de outras variáveis, os autoresutilizam um modelo logístico deregressão. Com base nos resultados destemodelo, o tamanho das empresas parecianão ser relevante, e todas as variáveislistadas acima continuaram a possuir umefeito significativo, afetando a decisão deuso de derivativos.

2.5.5.OEstudo deHaushalter(2001)

" Estudo detalhado sobre hedging deprodutores de oil&gas nos EUA

" A fração protegida via hedge foisubmetida a uma regressão múltiplautilizando variáveis pertinentes à políticafinanceira, ao tamanho da empresa,estrutura acionária, assim como umacerta quantidade de variáveis de controle

" A regressão separou a decisão de hedgeem duas etapas, uma primeira regressãoexaminou a decisão de fazer hedge e umasegunda examinou característicasrelativas à fração da produção submetidaao hedge. As principais descobertas sãoresumidas a seguir:

o Existiu grande variabilidade naspolíticas de gestão de riscos deprodutores de oil&gás;

o As políticas de hedge de empresas foramaltamente correlacionadas com as suaspolíticas financeiras. Em particular, osprodutores da amostra que possuíammais dívida faziam hedging de umaparcela maior de sua produção;

o Empresas com mais ativos tiverammaior probabilidade de fazer hedge;

o Não houve relação clara entre as

Tufano (1996)Haushalter (2001)

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políticas de gestão de riscos dasempresas e a compensação de seusgerentes ou com o fato deles receberemações da empresas.

2.5.6.Sumário dasEvidências

Dentre as principais razões observadas nateoria quanto ao porquê de fazer hedge, asevidências sugerem que as mais importantessão:

" Impostos: As evidências sugerem queempresas com mais prejuízosacumulados e mais ITC’s fazem maishedge. Nenhum estudo encontrou efeitocontrário significativo;

" Custos de dificuldades financeiras: Todosos resultados significativos sugeriramque as empresas fazem menos hedgequando possuem maior interest coverageratio. Houve evidências também que asempresas fazem mais hedge quando têmgrande alavancagem. Observou-se granderelação entre despesas de P&D ehedging;

" Incentivos da Gerência: Existemevidências consistentes que empresas nasquais os gerentes possuem mais equity,fazem mais hedge. As evidências comrelação ao uso de opções nacompensação são, contudo conflitantes.

________

2.6. Estudos sobre Implementação de Estratégias de Hedge com o Objetivo de CriarValor

2.6.1. AViabilidadede Reduçãode Impostos

" Análise de mais de 80.000 observaçõesanuais de empresas da base de dadosCOMPUSTAT.

" Estudo foi focado nas questões queafetam a progressividade;

" Em aproximadamente 25% dos casos, asempresas apresentaram funções deimposto essencialmente lineares, sendoindiferentes (em termos de incentivos deimpostos) a políticas de hedging

" Nos casos em que existia convexidade,aproximadamente um quarto dasempresas apresentava economiaspotencias advindas de políticas de hedgeque pareciam “materiais” – em casosextremos, excedendo 40% do passivo

Graham e Smith(2000)

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fiscal esperado;

" As economias fiscais esperadas dasempresas foram mais altas nas seguintessituações:

o O lucro líquido tributável se encontravapróximo do ponto de mudança na curvade impostos (e.g. lucro tributávelpróximo de zero);

o O lucro tributável era mais volátil

o Os lucros apresentavam auto-correlaçãoserial negativa (maiores chances de olucro variar entre perdas e ganhos)

" Grande parte da progressividade foiadvinda do tratamento assimétrico delucros e prejuízos

" O imposto mínimo alternativo (AMT) e ocrédito de taxa de investimento (ITC)tiveram apenas efeitos modestos nacurvatura da função de impostos.

" Entre as empresas que apresentavam umafunção progressiva de impostos, aeconomia média resultante de umaredução de 5% na volatilidade é de US$122.718 ou 5% da base de passivo fiscal

" A distribuição de economias fiscaispotenciais é muito assimétrica. Apesar de75% das empresas apresentarem umpequeno incentivo fiscal a fazer hedge, aseconomias parecem substanciais noscasos extremos;

" O tratamento assimétrico de lucros eprejuízos é responsável por grande parteda progressividade observada

" O AMT introduz apenas um modestoaumento na progressividade e os ITC’spossuem pouco impacto.

2.6.2.ReduçãodaProbabilidadede Falência

" Copeland e Copeland (1999)introduziram uma metodologia demaximização do valor de políticas dehedge em empresas através da reduçãodo custo esperado de falência a umdeterminado custo de hedge.

" O método proposto encontra o hedgeratio que minimiza a probabilidade defalência em um determinado período detempo e então avalia uma relação entre

Copeland e Copeland(1999)

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benefício e custo do hedge. O benefício édefinido como a redução esperada nocusto de falência resultante do hedge, e ocusto é definido como o custo direto doprograma de hedging.

" Neste estudo, mostrou-se que a reduçãode volatilidade per si não é uma condiçãonecessária, nem suficiente, para reduzir orisco de falência, devendo-se consideraroutros fatores, como a mudança natendência dos fluxos de caixa induzidapelo risco de preço e um coverage ratiodo fluxo de caixa.

" Para encontrar o hedge ratio queminimiza a probabilidade de falência emum determinado período de tempo, osautores, buscam maximizar o que elescaracterizam como “time to ruin”, ouseja, o tempo para a ocorrência defalência.

2.6.3.HedgingEstratégico

" O objetivo do Hedging Estratégico seriagarantir que a empresa possua geração decaixa interno e acesso a capital externosuficientes para garantir seusinvestimentos estratégicos;

" A base deste método consiste em umamedição abrangente da exposição daempresa, que considera a empresa comoum conjunto de ativos geradores de caixae de oportunidades de investimentofuturo;

" Os ativos em uso, em conjunto comcapacidade de endividamento nãoutilizada são as principais fontes defundos da empresa, enquanto que osinvestimentos futuros são os usuáriosesperados deste caixa;

" Neste contexto, a exposição é umamedida de como mudanças em variáveisde preço pode afetar a habilidade daempresa de atingir seus objetivosestratégicos. Esta exposição éclassificada como o Funding Gap;

" Neste contexto, o hedge pode aumentar acapacidade da empresa de gerenciar oFunding Gap e com isso evitar os custosde sub-investimento ou de dificuldades

Mello e Parsons(1999)

Page 90: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

77

financeiras

3. DESCRIÇÃO DO CASO: A COMPANHIA VALE DO RIO DOCE

3.1. A Empresa

3.1.1. Introdução

Fundada em 1942, a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) é conhecida

pela sua liderança mundial no mercado de produção e fornecimento de minério de

ferro. Suas operações em Minério de ferro são a base para as suas habilidades

em prospecção e exploração de jazidas minerais e no desenvolvimento e

operação de minas e instalações industriais de grande escala, gerenciando

sistemas complexos de logística e comercializando metais e minerais. As

atividades da CVRD englobam uma grande gama de produtos e serviços,

incluindo:

! Atividades de mineração em minério de ferro, ouro, manganês, cobre,

caulim e potássio;

! Sistemas de transporte e logística, compostas de estradas de ferro, portos

e instalações portuárias e navios transoceânicos;

! Produção de pelotas, alumina e alumínio;

! Atividades envolvendo papel e celulose e outros produtos florestais

! Participação em siderúrgicas no Brasil, na Argentina, na França e nos

EUA.

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Figura 11– Unidades de Negócio da CVRD

Mello e Parsons (1999) dividem a análise dos fluxos de caixa da empresa em três componentes: (1)Fluxos de caixa operacionais que são classificados como a “Oferta Interna de Fundos”; (2) Fluxosde caixa das atividades de investimento, que são classificados como a “Demanda por Fundos”; e(3) Fluxos de caixa das atividades de financiamento, ou a “Oferta Externa de Fundos”. O resultadolíquido soma destas componentes é classificada como o “Funding Gap” que mede a exposição daempresa a custos de dificuldades financeiras e problemas de sub-investimento.

Fonte: Relatório Anual da Empresa

A Companhia Vale do Rio Doce - CVRD é a maior produtora e exportadora

mundial de minério de ferro. A receita bruta da controladora da CVRD em 2000

atingiu R$ 5.2 bilhões, tendo o Grupo vendas consolidadas de R$ 9.8 bilhões. As

vendas de minério de ferro da controladora bateram o volume recorde de 116.7

milhões de toneladas, ressaltando a sua força no setor. O segmento de minério

de ferro e pelotas representa cerca de 75% das vendas brutas da controladora

CVRD.

• Cobre • Ouro • Potássio • Caulim • Pesquisa em

exploração mineral

CVRD

Ferrosos Não Ferrosos Energia Logística

• Transporte Ferroviário

• Transporte Marítimo

• Movimentação e Armazenagem

• Comercialização de Contratos de Energia

• Geração e energia

Participações

• Minério de Ferro

• Pelotas • Manganês e

Ligas

• Madeira • Celulose • Papel • Bauxita • Alumínio e Alumina

• Cobre • Ouro • Potássio • Caulim • Pesquisa em

exploração mineral

CVRD

Ferrosos Não Ferrosos Energia Logística

• Transporte Ferroviário

• Transporte Marítimo

• Movimentação e Armazenagem

• Comercialização de Contratos de Energia

• Geração de

Participações

• Minério de Ferro

• Pelotas • Manganês e

Ligas

• Madeira • Celulose • Papel • Bauxita • Alumínio e Alumina

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Suas operações de mineração e também as de transporte são conduzidas

principalmente pela própria empresa e por suas subsidiárias. Já as atividades em

aço, pelotas, alumínio e papel e celulose, assim como algumas atividades de

mineração, são conduzidas através de joint ventures e empresas afiliadas.

O Grupo CVRD opera dois sistemas próprios do tipo mina-ferrovia-porto,

localizados em duas regiões distintas do País; o Sistema Norte e o Sistema Sul. A

CVRD possui uma ampla e eficiente infra-estrutura de transportes,

compreendendo ferrovias, terminais portuários, linhas de navegação e sistema de

comunicação. Este complexo foi implementado inicialmente visando atender as

necessidades de integração do complexo de minério de ferro, mas atualmente

este complexo vem sendo modernizado e expandido, atendendo também a

demanda de terceiros.

O Grupo vem ainda diversificando sua atuação, participando de projetos de

cobre e energia elétrica, que deverão abrir novos caminhos de crescimento.

3.1.2 Principais Linhas de Negócios

Algumas das principais atividades das Unidades de Negócios da CVRD

são detalhadas abaixo para permitir uma melhor compreensão dos negócios da

empresa:

Minério de Ferro e Pelotas

O segmento de minério de ferro e pelotas representa cerca de 75% das

vendas brutas da controladora CVRD. O Grupo CVRD opera dois sistemas

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80

próprios do tipo mina-ferrovia-porto, localizados em duas regiões distintas do

País; o Sistema Norte e o Sistema Sul.

O Sistema Norte está situado na região Amazônica, no Estado do Pará

(550 Km sudoeste de Belém), sendo ligado por uma estrada de ferro, FC -

Estrada de Ferro Carajás, ao terminal marítimo de Ponta da Madeira, localizado

em São Luis (Maranhão). Atualmente, a capacidade de produção de Carajás está

em cerca de 50 M toneladas/ano. Carajás é reconhecido por sua alta qualidade

de ferro natural (66% Fe) e pelo tamanho de sua reserva, estimada em 1,2 bilhão

de toneladas medidas. A alta qualidade do minério extraído em Carajás é

responsável por considerável redução de custos de beneficiamento do minério,

que não necessita de processos de concentração.

Ainda no sistema norte, estará sendo inaugurado em abril/2002 o complexo

de pelotização de São Luis, que irá utilizar 100% do minério de Carajás. A

pelotizadora terá uma capacidade 6M de toneladas com investimentos de US$

380 M.

O Sistema Sul é formado por sete minas, localizadas em Itabira, no Estado

de Minas Gerais, sendo ligadas pela Estrada de ferro Vitória-Minas - EFVM, ao

Porto de Tubarão. Atualmente a capacidade produção deste Sistema é de 76,5

milhões de toneladas/ano, possuindo uma reserva estimada em 2.3 bilhões de

toneladas medidas. Ainda no Sistema Sul, localiza-se o Complexo de Pelotização

da CVRD, constituído por sete usinas com capacidade nominal de 21,2 milhões

de t/ano de pelotas de minério de ferro. Duas usinas pertencem exclusivamente à

Vale e as demais foram implementadas em joint ventures com companhias da

Espanha, Itália, Japão e Coréia. Os finos de minério são transportados das minas

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de Itabira- MG para as usinas de pelotização de Vitória em trens da Estrada de

Ferro Vitória a Minas, de propriedade da CVRD.

Logística

A CVRD possui uma ampla e eficiente infra-estrutura de transportes,

compreendendo ferrovias, terminais portuários, linhas de navegação e sistema de

comunicação. Inicialmente o complexo foi implementado visando atender as

necessidades de integração do complexo de minério de ferro. Atualmente este

complexo vem sendo modernizado e expandido, atendendo também à demanda

de terceiros, nas quais a CVRD vem concentrando esforços de ampliação.

Figura 12 – Mapa Logístico da CVRD

Fonte: Relatório Anual da Empresa

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Conforme detalhado no mapa anterior, o complexo é composto por duas

principais ferrovias, a EFC - Estrada de Ferro Carajás e a EFVM - Estrada de

Ferro Vitória Minas. A Estrada de Ferro Carajás tem como principal função o

transporte de minério de ferro de Carajás até o Terminal Marítimo Ponta da

Madeira. Com uma extensão de 892 km, possui uma capacidade instalada de 70

milhões de toneladas ano. Em 2000, a carga de terceiros representou 11% do

volume total transportado pela EFC.

A Ferrovia Vitória Minas - FVM, movimenta mais de 100 milhões de

toneladas de cargas por ano e o principal produto é o minério de ferro com cerca

de 80 milhões de toneladas transportadas. Circulam também por suas linhas

cerca de 20 milhões de toneladas de cargas compondo um diversificado portfolio

de produtos, com destaques para o aço, carvão mineral, calcário, ferro gusa,

coque, contêineres, grãos, insumos agrícolas, veículos, entre outros. A FVM liga

as minas de Minas Gerais e a cidade de Belo Horizonte aos portos do Espírito

Santo e à região da Grande Vitória.

A FCA - Ferrovia Centro-Atlântica S.A cobre extensa área do território

brasileiro, constituindo-se na principal ligação ferroviária da Região Sudeste com

as Regiões Nordeste e Centro-Oeste do país. Seus 7.080km de linha abrangem

os estados de Sergipe, Bahia, Goiás, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais

e o Distrito Federal. A FCA está ligada a quatro outras ferrovias: EFVM, MRS,

CFN e Ferroban, e a importantes portos marítimos e fluviais: Salvador (BA), Aratu

(BA), Vitória (ES) e Angra dos Reis (RJ), além de Pirapora (MG) e Juazeiro (BA)

no Rio São Francisco.

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83

A Empresa transporta, em média, 1,6 milhão de toneladas por mês entre

produtos industrializados e insumos, tais como: derivados de petróleo,

contêineres, fertilizantes, produtos agrícolas, minérios, produtos siderúrgicos,

cimento e produtos químicos.

A CFN - Companhia Ferroviária do Nordeste opera, 3,4 mil quilômetros de

ferrovias no Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas,

Sergipe e Maranhão. Tem ligação ao sul com a FCA e ao norte com a EFC.

Transporta 1,7 milhão de toneladas de mercadorias: diesel, álcool, derivados de

petróleo, cimento, milho, gasolina e sal entre outros.

A Ferrovia Norte-Sul é somente operada pela CVRD. De propriedade do

Governo, tem como objetivo a ligação de Açailândia (MA) a Goiânia (GO), e assim

criar um canal de escoamento para a produção agropecuária e agro-industrial do

cerrado brasileiro. Atualmente está operando no trecho de 215km de extensão,

entre Açailândia e Estreito, na divisa com Tocantins, e participa de um importante

corredor na Região Norte, em operação regular para cargas e passageiros,

mediante convênio com a Estrada de Ferro Carajás (EFC).

Portos

Atendendo ao Projeto de Ferro de Carajás, a CVRD possui o Terminal

Marítimo de Ponta da Madeira. Localizado na Ilha de São Luís, na Baía de São

Marcos, nove quilômetros a sudoeste da capital do Maranhão. Ponta da Madeira

é um dos poucos terminais marítimos no mundo capacitados a carregar navios

com até 420 mil toneladas de porte bruto. O canal natural da Baía de São Marcos

permite o acesso fácil aos maiores navios existentes.

Page 97: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

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Para o complexo Sul de minério, a CVRD opera no Porto de Tubarão dois

piers para embarque de pelotas, um terminal para carvão e coque, um terminal

para fertilizantes e grãos, e um terminal para granéis líquidos, que atualmente é

operado pela Petrobrás. Possui ainda o TVV, Terminal Marítimo de Vila Velha,

que opera contêineres.

Alumínio

A Aluvale é a holding do Grupo CVRD responsável pelo segmento de

alumínio, que através de quatro empresas operacionais compõe a produção

integrada da CVRD: bauxita, alumina e alumínio primário. A Aluvale ocupa hoje

uma posição entre os dez maiores players mundiais deste setor.

A MRN (40% da CVRD) está localizada no Estado do Pará, e possui uma

capacidade de produção de 10.7 M toneladas de bauxita, que está sendo elevada

para 16.3 milhões até 2003. Da produção da MRN, 60% é transformada em

alumina na Região Norte do Brasil e 40% no exterior. Adicionalmente a MRN

possui uma participação de 12.62% na Alunorte.

A Alunorte (46.6% da CVRD) está localizada ao lado da Albras, a cerca de

40Km de Belém, capital do Estado do Pará, no município de Barcarena. Possui

uma capacidade de produção de 1.5 M toneladas de alumina, que está sendo

ampliada para 2.3 M de toneladas até 2003. Opera com a bauxita da MRN

(100%), Além de fornecer toda a alumina requerida pela Albras e 55% das

necessidades da Valesul, a Alunorte exporta 50% de sua produção.

A Albras (51% da CVRD) localiza-se no município paraense de Barcarena.

Após uma ampliação durante 2001 elevou sua capacidade de produção de 360

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85

mil toneladas para 400 mil toneladas / ano. Seus principais insumos, alumina e

energia, são fornecidos, respectivamente, pela Alunorte e pela hidroelétrica de

Tucuruí

Localizada no Rio de Janeiro, a Valesul (54.5% da CVRD), possui uma

capacidade nominal para produzir 92 mil toneladas / ano de alumínio primário. De

seu consumo total de energia elétrica, já dispõe de 20% de geração própria com a

operação de quatro hidrelétricas, com uma potência total instalada de 62MW.

Participa ainda do consórcio de Machadinho, que recentemente implantou uma

usina no Rio Pelotas, elevando a sua capacidade de geração própria para cerca

de 50% de suas necessidades.

Ferteco

A Ferteco foi adquirida pela CVRD em abril/2001 por US$ 566 M. A Ferteco

tem como principais atividades a mineração e o processamento de minério de

ferro. É a terceira maior produtora de minério de ferro do Brasil, com capacidade

de produção de 15 milhões de toneladas por ano. Possui reservas lavráveis

avaliadas em 263 milhões de toneladas de hematita e itabirito, com qualidade

semelhante ao minério do Sistema Sul da CVRD. Opera duas minas de minério

de ferro, Fábrica e Feijão, e uma planta de pelotização no Estado de Minas Gerais

que produz atualmente quatro milhões de toneladas por ano.

O principal mercado para seus produtos tem sido a Europa, sendo a alemã

Thyssen Krupp, sua antiga acionista, o maior cliente com seis milhões de

toneladas de minério de ferro e pelotas em 2000.

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A Ferteco possui uma participação acionária de 10,5% no capital total da

empresa ferroviária MRS Logística S.A. (MRS). A MRS possui uma extensão de

1.612 quilômetros e liga os Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais,

com capacidade de transporte de carga anual de 80 milhões de toneladas.

Através de uma subsidiária integral, a Companhia Portuária Baía de

Sepetiba S.A. (CPBS), a Ferteco opera um terminal marítimo no Porto de

Sepetiba, Estado do Rio de Janeiro. A Ferteco utiliza também os serviços de

transportes da CVRD, tendo embarcado no ano passado 10 milhões de toneladas

de produtos pela Estrada de Ferro Vitória a Minas e Porto de Tubarão.

Celmar

A Celmar S.A. Indústria de Celulose e Papel, criada em março de 1992, é

constituída pela CVRD (85% das ações) em associação com a Nissho Iwai

Corporation (15%) e tem sede em Imperatriz, no Maranhão. A empresa está

reavaliando seu projeto inicial de produção de celulose, e poderá vir a utilizar suas

reservas para a produção de carvão vegetal.

Florestas Rio Doce

A Florestas Rio Doce S.A. (FRDSA) tem suas instalações localizadas nas

regiões de Itabira e Grão Mogol, no Estado de Minas Gerais, e em São Mateus,

no Espírito Santo. A empresa atua nas atividades de reflorestamento e venda de

madeira. A CVRD está avaliando a alienação deste investimento.

Page 100: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

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3.1.3. Capacitações Diferenciais

A CVRD acredita se beneficiar das seguintes forças em suas operações de

minério de ferro e outros minerais:

! Recursos minerais: A CVRD possui vastos recursos de minério de ferro

em suas áreas principais de mineração, no Sistema Norte (Carajás) e no

Sistema Sul. Com base nos níveis de produção de 2000, possui

aproximadamente 20 anos de reservas de minério de ferro e mais de 400

anos de depósitos de outros minerais;

! Jazidas de alta qualidade: Suas jazidas de minério de ferro possuem alto

teor de metal comparado com os de vários de seus competidores. As

reservas do Sistema Norte possuem teor de 65,4% de ferro e as reservas

do Sistema Sul, possuem teor de 55,0% em média. Seus minérios

possuem também baixo nível de impurezas e boas características

metalúrgicas que resultam em alto nível de produtividade nas fornalhas de

seus clientes;

! Habilidade de produzir ampla gama de produtos de minério de ferro:

Suas minas oferecem tipos variados de características de minérios,

permitindo produzir uma ampla gama de produtos de minério de ferro. Sua

capacidade de conciliar a produção em larga escala com a capacidade de

disponibilizar produtos especializados de minério de elevada qualidade, os

quais têm alto teor de ferro, baixos níveis de impurezas e complementam

as necessidades dos fornos de seus clientes permitiu que a CVRD se

tornasse uma fornecedora importante a clientes asiáticos significativos,

apesar de sua proximidade em relação a alguns de nossos concorrentes.

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! Vantagens nos custos de produção: Possui vantagens de custos

relacionadas à produção e entrega na atividade comercial de minério de

ferro. Tem a capacidade de transportar minério de ferro a seus clientes de

forma eficaz e confiável por intermédio de sistemas próprios mina-ferrovia-

porto. A CVRD opera uma rede integrada de ferrovia e terminal marítimo

em ambos os Sistemas, Sul e Norte. Estas redes transportam o minério de

ferro das minas localizadas no interior aos terminais portuários e até os

clientes nacionais. Adicionalmente, o elevado teor de ferro no Sistema

Norte elimina a necessidade de operar uma unidade de concentração em

Carajás.

! Posição Confortável para Atender Demanda de uma Indústria de Aço

em Constante Mudança: Contínuas mudanças estruturais na fabricação

do ferro e do aço estimularam o aumento da demanda por pelotas

proporcionalmente em relação ao mercado mundial de minério de ferro e

pelotas. A CVRD acredita que estas mudanças industriais também

reduzirão a volatilidade da demanda por pelotas, a qual tinha decrescido

por quase 2% e crescido por quase 17% em bases anuais desde 1996.

Desta forma, a CVRD desenvolveu uma capacidade substancial de

produção de pelotas porque acredita que o aumento na demanda de

pelotas é uma tendência que irá continuar.

! Forte Posição em Desenvolvimento de Projetos de Cobre: Possui

participações em joint ventures em cinco projetos de desenvolvimento de

cobre contendo aproximadamente 1,6 bilhões de toneladas de recursos

com um teor médio de 0,93%. Estudos independentes indicam que esses

se situam entre os mais competitivos projetos de cobre em fase de

Page 102: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

89

desenvolvimento no mundo em termos de custo de investimento por

tonelada de minério e, parcialmente em virtude de serem minas de

extração a céu aberto e a disponibilidade de ter o ouro como um

subproduto. Os projetos estão situados em Carajás, se beneficiando das

eficiências disponibilizadas por seu sistema, já existente, mina-ferrovia-

porto. A CVRD acredita que esses projetos oferecem um sólido alicerce

para a sua estratégia de buscar por uma posição significativa no crescente

mercado mundial do cobre.

! Atividades Integradas de Alumínio de Baixo Custo: Realiza operações

integradas de alumínio basicamente por intermédio de joint ventures, que

envolvem a mineração de bauxita, o refino da alumina e a produção de

alumínio primário. Sua joint venture de bauxita é detentora de 166,8

milhões de toneladas de reservas provadas e prováveis de bauxita e de

626,4 milhões de toneladas de outros recursos minerais de bauxita. Sua

refinaria de alumina é moderna e diretamente adjacente a uma de nossas

instalações de fundição de alumínio. A ALBRAS se situa entre os 5%

primeiros produtores com o mais baixo cash cost entre os produtores na

industria de alumínio primário. Conseqüentemente, pode-se observar que a

CVRD possui cash cost de produção de alumínio primário inferior a maioria

de seus competidores.

! Forte Posição em Minério de Manganês e Ferro Ligas: A CVRD é uma

das líderes mundiais de produção de minério de manganês e ferro liga de

manganês. Acredita que sua principal mina de manganês, Igarapé do Azul,

possui, mundialmente, o custo mais baixo de produção e, portanto, que

seus custos de extração de manganês são mais baixos que os da maioria

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dos concorrentes. Continua a consolidar sua posição de produtora

integrada de minério de manganês e ferro liga. Recentemente a CVRD

adquiriu as participações de seu ex-parceiro na CPFL e na SIBRA, ambas

produtoras líderes de ferro ligas, possuindo agora 460 mil toneladas de

capacidade de produção anual atribuível. Possui auto-suficiência em

minério de manganês no que se refere ao fornecimento dessa capacidade

de produção. Em 31 de dezembro de 2000 possuía 39,4 milhões de

toneladas de reservas provadas e prováveis de manganês, ou mais de 20

anos de fornecimento às atuais taxas de produção.

! Atividade Comercial de Logística Integrada: Possui ampla experiência

na administração de operações complexas de logística. Construído

originariamente para servir a atividade comercial de minério de ferro, seu

sistema de logística inclui Estrada de Ferro Vitória-Minas de 898 km e os

portos de Tubarão e Praia Mole no Sistema Sul, e Estada de Ferro de

Carajás, de 892 km e o terminal marítimo de Ponta da Madeira no Sistema

Norte. Adicionalmente, nos últimos cinco anos adquiriu lotes de ações em

três ferrovias privatizadas, incluindo a Ferrovia Centro-Atlântica, que faz

interligação com a Estrada de Ferro Vitória-Minas utilizando a mesma bitola

de trilho, alavancando, portanto, seus volumes. Esses investimentos

visaram expandir mais sua atividade comercial de carga. Acredita que sua

ampla experiência em transporte, quando aplicada a essas atividades

comerciais, deva aumentar sua lucratividade e eficiência.

! Recursos Financeiros: O balanço patrimonial e os sólidos fluxos de caixa

da CVRD a suprem de recursos financeiros para que continue a perseguir

oportunidades de crescimento e desenvolvimento. A CVRD gera fluxos de

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caixa operacionais de US$ 1.424 milhões em 2000 sobre receitas

operacionais de US$ 4.069 milhões. A razão de sua dívida sobre o

patrimônio líquido em 31 de dezembro de 2000 era de 0,4:1,0, e por essa

razão acreditam ter capacidade para dívidas adicionais. Substancialmente

todas as suas vendas de minério de ferro são efetuadas com amparo de

contratos de longo prazo, um fator que minimiza sua exposição a

flutuações de volume em bases anuais. Procura proteger sua produção de

alumínio e ouro contra a volatilidade de preços, utilizando-se de

instrumentos de hedge, de maneira a manter estável seu fluxo de caixa.

3.1.4 Desempenho Recente

O desempenho da CVRD em 2000 e 2001 esteve fortemente atrelado ao

desempenho do câmbio, dado o elevado nível de exportação da companhia frente

ao percentual de seus custos atrelados ao Real, fato que lhe garantiu margens

EBITDA bastante satisfatórias. A tabela 3 apresenta abaixo a evolução recente

de alguns resultados financeiros consolidados em US$ de 1999 até o primeiro

semestre de 2001 e a figura 13 apresenta a evolução do valor de mercado em

US$ da CVRD.

Tabela 3 – Resultados Financeiros Consolidados, 1999 a 1S2001 (US$ milhões)

1998 1999 2000 1S2001

Receita Bruta 3.658 3.157 4.069 2.034

Lucro Líquido 896 412 1.100 363

EBITDA 1.341 1.282 1.682 867

Capex 631 469 1489 486

Fonte: Relatório 20-F da CVRD

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Figura 13 – Capitalização da Empresa em US$ (1996 a 2S2001)

Fonte: Relatórios 20-F da CVRD

A desvalorização do Real implicou em crescimento das receitas brutas, não

acompanhado pelos custos dos produtos vendidos, resultando em ganhos de

margem. Por outro lado, contudo, acarretou em aumento das despesas

financeiras, em função do impacto na dívida em dólares (variação monetária

negativa), e perdas na equivalência patrimonial. As empresas do Grupo

localizadas no exterior, como a Itaco e a CSI, foram beneficiadas pela

desvalorização, enquanto que as situadas no Brasil, como a Albras e Alunorte,

realizaram perdas devido às suas dívidas líquidas atreladas ao dólar.

O crescimento de vendas vem sendo impulsionado principalmente pela

expansão do mercado transoceânico onde a CVRD conquistou novos clientes.

Parte desse aumento é derivado de maior penetração na Europa Oriental e China.

7,57,9

4,9

10,39,6

9,1

0

2

4

6

8

10

12

1996 1997 1998 1999 2000 2001

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A China, o maior produtor de aço do mundo, está reestruturando sua indústria,

fato que tem implicado, em crescente substituição do minério doméstico por

produto importado de melhor qualidade. No ano de 2000 a participação chinesa

no mercado transoceânico era de 15.6%, contra menos de 4% no início dos anos

90. Investimentos em portos com maior capacidade permitirão que as

importações chinesas cresçam no futuro. Nos nove primeiros meses do ano de

2001, as vendas da Vale para a China apresentaram salto de 76.9% em relação

ao mesmo período de 2000.

A Receita Bruta consolidada do grupo CVRD nos seis primeiros meses de

2001 somou US$ 2,0 bilhões e a figura 14 apresenta a divisão das vendas por

produto.

Figura 14 – Receita Consolidada por Produto, Jan a Set de 2001

Fonte: Relatório Anual da Empresa

Ouro3%

Potássio e Caulim

2%

Outros2%

Manganês5%

Alumínio11%

Siderurgia11%

Logística13%

Minério de Ferro e Pelotas

53%

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A CVRD foi forte geradora de caixa no período de 1998 até o primeiro

semestre de 2001, sendo capaz de pagar dividendos acima do mínimo

comprometido de 50% do lucro líquido4 e financiar com facilidade necessidades

de caixa como as observadas em 2000. A tabela 4 permite observar os principais

fluxos de caixa observados.

Tabela 4 – Fluxos de Caixa Consolidados, 1999 a 1S 2001 (US$ mil)

1998 1999 2000 1S 2001

Fluxo de Caixa Operacional 1.615 1.569 1.739 762

CAPEX (631) (469) (1.489) (486)

Fluxo de Financiamento 432 458 940 940

Pagamento de Dividendos (607) (452) (246) (639)

Fonte: Relatório 20-F da CVRD

Desta forma, a evolução do endividamento neste período, foi influenciada por

estes fluxos de caixa, apresentando um grande crescimento em 2000, para suprir

às necessidades de investimento da época, conforme pode ser observado na

figura 15.

4 A CVRD se compromete no seu estatuto a pagar pelo menos 50% do lucro líquido do período emdividendos

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Figura 15 – Evolução do Endividamento, 1998 a 1S 2001 de 2001 (US$ ‘000)

Fonte: Relatório Anual da Empresa

2.484

2.427

2.694

2.478

2250

2300

2350

2400

2450

2500

2550

2600

2650

2700

2750

1998 1999 2000 2001

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3.2. Projeções de Analistas

3.2.1. Premissas de Câmbio, Vendas e CPV

Para fazer a modelagem e avaliar o potencial de criação de valor através

de uma política integrada de Gestão de Riscos, foram avaliadas as projeções de

quatro bancos de Investimento que acompanham a CVRD: Unibanco

(BROLLO,2002), Pactual (LAYDNER, VILELA, 2002), Salomon Smith Barney

(CORROU, JIMENEZ, 2002) e JP Morgan (LUPARIA, FULTON, 2002).

As principais premissas destes relatórios encontram-se nos quadros

abaixo:

Tabela 5 –Premissas de Câmbio (R$/ US$), 2001 a 2005

JP Morgan 2,31 2,50 2,60 N.D.* N.D.*

Pactual 2,31 2,59 N.D.* N.D.* N.D.*

Salomon Smith Barney 2,36 2,79 2,93 N.D.* N.D.*

Fonte: Relatórios de Fev 2002 do Unibanco, JP Morgan, Pactual e Salomon Smith Barney. Nota: * (N.D.) = Não Disponível.

As projeções de receita abaixo se referem à receita do centro corporativo, e

não incorpora a receita das subsidiárias da CVRD. Para fins desta análise,

considerar-se-á os fluxos de caixa das subsidiárias entrando como dividendos,

para reproduzir melhor a realidade. Deve-se ressaltar que as projeções de receita

dos analistas são muito semelhantes, mostrando um certo consenso com relação

a este dado.

2001 2002 2003 2004 2005

Unibanco 2,31 2,59 2,65 2,68 2,71

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Tabela 6 –Receita Líquida, 2001 A 2005 (US$ mil)

Fonte: Relatórios de Fev 2002 do Unibanco, JP Morgan, Pactual e Salomon Smith Barney. Nota: * (N.D.) = Não Disponível.

Nas projeções de custo dos produtos vendidos começa a haver um

pequeno descolamento entre as premissas, porém não chega a ser uma

discordância substancial como pode ser observado na tabela abaixo:

Tabela 7 –Custos dos Produtos Vendidos, 2001 a 2005 (US$ mil)

JP Morgan 2.703 3.098 3.336 N.D.* N.D.*

Pactual 3.225 3.540 N.D.* N.D.* N.D.*

Salomon Smith Barney 2.775 3.298 3.352 N.D.* N.D.*

Fonte: Relatórios de Fev 2002 do Unibanco, JP Morgan, Pactual e Salomon Smith Barney. Nota: * (N.D.) = Não Disponível.

3.2.2. EBITDA e CAPEX

A tabela abaixo resume as projeções de EBITDA, que começam a

apresentar diferenças maiores entre os analistas:

2001 2002 2003 2004 2005

Unibanco 2.756 2.643 2.879 3.082 3.245

JP Morgan 2.738 2.823 2.941 N.D.* N.D.*

Pactual 2.743 2.584 N.D.* N.D.* N.D.*

Salomon Smith Barney 2.731 2.817 3.054 N.D.* N.D.*

2001 2002 2003 2004 2005

Unibanco 2.732 2.868 3.178 3.372 3.586

Page 111: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

98

Tabela 8 – EBITDA da CVRD, 2001 a 2005 (US$ mil)

JP Morgan 1,384 1.399 1.468 N.D.* N.D.*

Pactual 2030 1953 N.D.* N.D.* N.D.*

Salomon Smith Barney 1.014 1.027 1.181 N.D.* N.D.*

Fonte: Relatórios de Fev 2002 do Unibanco, JP Morgan, Pactual e Salomon Smith Barney. Nota: * (N.D.) = Não Disponível.

Os dados de CAPEX apresentados abaixo não incluem os projetos de

Cobre e de Energia, que são apresentados logo a seguir:

Tabela 9 – CAPEX da CVRD, 2001 a 2005 (US$ mil)

JP Morgan 620 650 500 N.D.* N.D.*

Pactual N.D.* N.D.* N.D.* N.D.* N.D.*

Salomon Smith Barney 644 569 325 N.D.* N.D.*

Fonte: Relatórios de Fev 2002 do Unibanco, JP Morgan, Pactual e Salomon Smith Barney. Nota: * (N.D.) = Não Disponível.

Os analistas trabalham com os mesmos valores para os investimentos em

Cobre e energia, e, portanto não foi necessário apresentar dados separados por

analistas:

Tabela 10 – Investimentos em Cobre e Energia

Participação daCVRD

Início CAPEX(US$ mil)

2001 2002 2003 2004 2005

Unibanco 1.401 1.107 1.197 1.257 1.324

2001 2002 2003 2004 2005

Unibanco 633 463 218 223 229

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Sossego 100% Jan-04 486

Cristalino 50% Set-05 250

Alemão 67% Set-06 369

Salobo 50% Jan-07 503

118 50% Jul-04 85

Fonte: Relatórios de Fev 2002 do Unibanco, JP Morgan, Pactual e Salomon Smith Barney. Nota: * (N.D.) = Não Disponível.

Conforme pode ser observado no quadro acima, espera-se que as

primeiras minas de cobre já entrem em operação em 2004.

3.2.3. Repagamento da dívida e Pagamento de Dividendos

A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) possui em junho de 2001 o

seguinte calendário de pagamento de suas dívidas. Como pode ser observado na

tabela abaixo, existe um grande fluxo de repagamento nos anos 2002 e 2003 e,

se a dívida não for refinanciada, praticamente se esgotará até 2005.

Tabela 11 – Repagamento das dívidas, 2001 a 2005 (US$ mil)

Repagamento 125 644 710 190 125

Saldo Final da Dívida 2.353 1.709 1.065 355 230

Fonte: Relatórios de Fev 2002 do Unibanco, JP Morgan, Pactual e Salomon Smith Barney. Nota: * (N.D.) = Não Disponível.

2001 2002 2003 2004 2005

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100

A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) se compromete em seu estatuto

social a distribuir pelo menos 50% do lucro líquido aos seus acionistas. Tal fato

gera um grande comprometimento e pode ser um fator complicador da gestão do

fluxo de caixa da empresa.

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101

4. METODOLOGIA E MODELAGEM

4.1. Tipo de Pesquisa

De acordo com a taxonomia proposta por Vergara (1997), a pesquisa

presente neste estudo pode ser classificada em termos dos meios que utiliza ou

dos fins a que se destina.

O presente trabalho tem como foco a caracterização e análise do potencial

de criação de valor através da gestão financeira de risco em uma empresa

brasileira, a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Assim, quanto aos fins,

enquadra-se como uma pesquisa do tipo descritiva.

Gil (1989), caracteriza as pesquisas descritivas como sendo aquelas que

têm como objetivo primordial à descrição de determinada população ou fenômeno

ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Ressalta, contudo, que algumas

pesquisas descritivas vão além da simples identificação de existência de relações

entre variáveis, pretendendo determinar a natureza dessa relação. Neste caso

tem-se uma pesquisa descritiva que se aproxima da explicativa. Este trabalho

procura identificar a natureza das relações observadas na prática da gerência de

risco na CVRD à luz da teoria existente e, portanto se aproxima também da

pesquisa explicativa.

Com relação aos meios, a pesquisa pode ser classificada como uma

pesquisa de campo, pois adere à definição de Vergara (1997), de uma pesquisa

centrada em poucas entidades (no caso, a Companhia Vale do Rio Doce),

caracterizada pela profundidade e pelo detalhamento.

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102

Yin (1994), afirma que em estudos nos quais o tipo de questão de pesquisa

é “Por que” , como é o caso do presente estudo, temos uma questão que tende a

ser mais explicativa e, portanto, implica no uso de estudos de caso, pesquisas

históricas ou de pesquisas experimentais, como estratégias de pesquisa

preferenciais. Isto se deve a tal questão lidar com links operacionais, tornando-se

necessário traçar um estudo no tempo, ao invés da mera observação de

freqüências ou de incidências.

Yin (1994) argumenta, contudo, que se deve usar o método do estudo de

caso em situações nas quais se deseja, deliberadamente, estudar condições

contextuais, na crença de que elas podem ser altamente pertinentes para o

estudo em questão.

4.2. Coleta de Dados

Para coletar informações que permitissem a realização deste trabalho, foi

necessário recorrer a uma ampla gama de fontes, incluindo fontes secundárias e

pesquisa de campo. Desta forma, utilizou-se dos seguintes meios:

! Fontes secundárias:

" Relatórios anuais e demonstrações financeiras da empresa: Utilizados para

se obter detalhes das políticas financeiras da empresa e para analisar os

seus negócios, a sua estratégia e a sua situação financeira atual e

histórica;

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103

" Relatórios de analistas de bancos de investimento: Analisados em conjunto

para permitir integrar diversas visões sobre as projeções financeiras da

CVRD;

" Clippings de jornal e de revistas: Onde foi possível obter informações mais

atuais sobre a estratégia de gerência de riscos e os planos de investimento

da empresa

" Bancos de dados financeiros: Utilizados para estimar os parâmetros de

entrada do modelo de simulação de um processo estocástico de evolução

dos preços das principais commodities que a CVRD comercializa

! Pesquisa de Campo:

" Entrevistas com a equipe responsável pela gestão dos riscos financeiros

na empresa: Visou consolidar a análise das políticas declaradas pela

empresa e buscar um detalhamento da estratégia de gestão de riscos

o Durante essa entrevista, utilizou-se a base conceitual do presente

trabalho como roteiro, questionando a estratégia de gerência de

risco, sem buscar aprofundamento na mecânica utilizada.

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104

4.3. Tratamento dos Dados

4.3.1. Tipo de Tratamento Utilizado

Vergara (1997) aponta que os dados podem ser tratados de forma

quantitativa ou qualitativa, devendo-se utilizar a técnica que melhor se adequar

aos fins propostos.

No caso do presente estudo, optou-se por trabalhar os dados tanto de

forma qualitativa, através da estruturação e análise do caso, quanto de forma

quantitativa, através da construção de um modelo em Excel para analisar as

projeções de fluxo de caixa da empresa e de técnicas de simulação Monte Carlo,

utilizando o Cristal Ball.

Goode e Hatt (1979), enfatizam a importância da teoria no estabelecimento

de inter-relações entre proposições. Mediante uma teoria pode-se verificar que

atrás dos dados existe uma série complexa de observações e suposições que

servem para nortear a análise. Portanto, o trabalho se propõe a fazer combinar a

análise qualitativa e a quantitativa, à luz da teoria, para inferir sobre o potencial de

criação de valor na empresa em questão.

Deve-se levar em consideração, contudo, a observação de Gil (1987), o

qual, alerta para o fato que, teorias que não são suficientemente confirmadas,

podem dar uma falsa adequação à realidade, e até inibir investigações

apropriadas.

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105

4.3.2. Tratamento Qualitativo

Foi feita uma análise qualitativa da prática da gestão de riscos na CVRD

visando contrapô-la com a teoria. Para tanto, foram comparadas as seguintes

dimensões:

! Intensidade de utilização de derivativos

! Hedge por classes de risco

! Escopo da Gestão de Riscos

! Incorporação de visão de mercado na política de hedge

Esta análise permitiu comparar o comportamento da CVRD com os

comportamentos observados empiricamente e discutir este comportamento com

base nas teorias modernas de maximização de valor através da gestão de riscos.

4.3.3. Tratamento Quantitativo

Para a análise quantitativa foi necessário construir um modelo em Excel

para projetar os fluxos de caixa da empresa para os próximos cinco anos. Este

modelo utiliza processos estocásticos para simular o comportamento dos preços

das commodities e simula distribuições normais para alguns custos e

investimentos da CVRD, baseando estas simulações em observações históricas.

O resultado deste modelo é um conjunto de projeções das distribuições de

necessidades de financiamento da CVRD.

Para decidir se o resultado possui potencial de criação de valor através do

hedge serão utilizados dois cenários: 1) O primeiro com a volatilidade normal

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106

observada nos preços de commodities e 2) O outro com uma redução na

volatilidade simulando o efeito do hedge.

Como não foi feita nenhuma análise da viabilidade de redução da

volatilidade e do quanto é possível reduzir a mesma com os instrumentos de

gestão de riscos disponíveis no mercado, optou-se por fazer uma análise de

sensibilidade no segundo cenário, de forma a permitir analisar os resultados em

diversas situações de diminuição de volatilidade.

Para estes dois resultados, será utilizado um modelo de determinação do

Bond Rating e do custo de financiamento de empresas, desenvolvido pela Monitor

Group. Se o cenário com hedge permitir a eliminação de cenários de deterioração

do rating e de grande crescimento dos custos de financiamento, será considerado

que existe potencial de criação de valor através da redução das chances de

existência de cenários com maiores restrições financeiras (maiores custos em

momentos de grandes investimentos) que tenderiam a provocar um desestímulo a

investimentos com NPV positivo, ou um estímulo ao sub-investimento.

4.4. Modelo de Simulação

O modelo desenvolvido utiliza a estrutura conceitual desenvolvida por Mello

(1999) e separa os fluxos de caixa da empresa nos fluxos operacionais, que irão

constituir a oferta interna de fundos, nos fluxos de investimento, que irão ditar a

necessidade de investimentos, e nos fluxos de financiamento que determinam a

oferta externa de fundos.

Page 120: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

107

Desta forma, utilizou-se a projeção dos analistas de mercado mencionados

anteriormente para projetar os componentes destes três “building blocks” do fluxo

de caixa da empresa.

Para fazer a simulação de Monte Carlo assumiu-se que os preços de

cobre, minério de ferro, alumínio e ouro seguem um processo estocástico de

difusão, utilizando-se dos trabalhos de Gibson e Schwartz (1990) e de Schwartz

(1997). Assume-se, portanto, que os preços de cobre, de alumínio, de ouro e de

minério de ferro seguem um movimento geométrico browniano, enquanto que

seus convenience yields apresentam auto-correlação serial. O preço de cada

commodities é negativamente correlacionada com o seu convenience yields e que

as commodities possuem correlação positiva umas com as outras.

Formalmente, a dinâmica de preços e de convenience yields são dadas

pelas seguintes fórmulas:

cccc

c ztrPP

∂+∂−=∂ σδ )(

AuAuAuAu

Au ztrPP

∂+∂−=∂

σδ )(

AlAlAlAl

Al ztrPP

∂+∂−=∂

σδ )(

FeFeFeFe

Fe ztrPP

∂+∂−=∂ σδ )(

cccccc zt δδσδακδ ∂+∂−=∂ )(

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108

AuAuAuAuAuAu zt δδσδακδ ∂+∂−=∂ )(

AlAlAlAlAlAl zt δδσδακδ ∂+∂−=∂ )(

FeFeFeFeFeFe zt δδσδακδ ∂+∂−=∂ )(

Onde as letras P se referem a variáveis de preço, r se refere à taxa livre de

risco, δ’s se referem a convenience yields, e os subscritos Z, C, Au, Al e Fe, se

referem aos minerais “zinco, cobre, ouro, alumínio e minério de ferro”,

respectivamente. Os α’s são a média de longo prazo dos convenience yields,

enquanto os κ’s são os coeficientes de auto-correlação serial, ditando a

velocidade com a qual os convenience yields alcançam a média de longo prazo.

Os dz’s são os incrementos correlacionados do processo Browniano padrão, com

correlação entre os seus resíduos. Para ilustrar, vamos mostrar a relação entre o

cobre e o ouro:

tzz czAuc ∂=∂∂ ρ

tzz cccc ∂=∂∂ δδ ρ , b

tzz AuAuAuAu ∂=∂∂ δδ ρ ,

Onde os ρ’s denotam o coeficiente de correlação correspondente entre os

incrementos do processo browniano.

Para obter estimativas dos parâmetros relevantes, foram utilizados preços

spot dos metais e preços de futuros para o período de janeiro de 1992 a

dezembro de 2001. Utilizaram-se assim os preços spot e futuro de 3 meses para

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determinar os convenience yields, utilizando a metodologia descrita na equação 9

do trabalho de Gibson e Schwartz (1990):

))3,((ln4'SSFr −=δ

Onde o r’ é a taxa livre de risco de 3 meses, S é o preço spot e F (S,3) é o

preço futuro de 3 meses.

Para determinar os parâmetros κ e α, foi feita a regressão:

tttt ba ξδδδ ++=− −− 11

A simulação de Monte Carlo utilizada, gerou 1000 resultados que foram

utilizados como input para o cálculo da receita da CVRD.

Além disso, o modelo utilizou as projeções de câmbio e investimentos dos

analistas de mercado para simular uma distribuição normal com média igual à

projeção dos analistas e desvio padrão igual a 10% do valor projetado. Optou-se

por simular estas distribuições em torno das projeções para permitir um melhor

retrato da dinâmica empresarial da CVRD, na qual os resultados são

influenciados também por outras incertezas além dos riscos de preço de

commodities.

4.5. Modelo de Bond Rating desenvolvido pela Monitor Group

Para fazer uma inferência sobre os custos ligados a dificuldades

financeiras, foi utilizado um modelo desenvolvido pela Monitor Group para prever

o rating de uma empresa e , de posse do rating, estimar o custo de financiamento

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110

ao qual estaria submetida esta empresa na situação analisada. Este modelo nada

mais é do que uma regressão, na qual se utilizam os seguintes dados de balanço:

! Logaritmo neperiano dos Ativos;

! Alavancagem da empresa, medida pela relação entre a dívida e o valor

total da empresa (dívida mais valor de mercado);

! Interest coverage ratio;

! Mix de vencimento das dívidas da empresa, medido pela relação entre

dívida de curto-prazo e dívida de longo-prazo;

! Indústria em que se encontra a empresa analisada;

! Volatilidade dos fluxos de caixa da empresa; e

! Uma variável binária que é igual a 0 em ambientes regulatórios estáveis

e iguais a 1 em ambientes regulatórios instáveis.

Com este modelo e com a pesquisa de mercado realizada pela Monitor

sobre os custos de empréstimo associados a diferentes níveis de rating, foi

possível estimar o custo de diferentes cenários de financiamento.

4.6. Limitações do Método

As principais limitações desta pesquisa são decorrentes do próprio método

utilizado:

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111

! Por utilizar-se de análise de relatórios da empresa e de relatórios de analistas,

este método pode introduzir erros associados à capacidade de interpretação

do pesquisador.

! A entrevista pessoal também pode introduzir erros associados à capacidade

de percepção do entrevistado/ entrevistador, conflitos entre o que é a prática e

o que o(s) entrevistado(s) gostaria(m) que fosse, e à dificuldade inerente ao

processo, de o entrevistado não lembrar de algum aspecto importante para a

análise do caso.

! Como abrangerá um universo de apenas uma empresa, as conclusões tiradas

do estudo não devem e não podem ser generalizadas para uma população

maior. Servem, contudo, para orientar e despertar questões e hipóteses para

serem abordadas em estudos posteriores.

Pode-se observar ainda outras limitações que não são diretamente ligadas

ao método, as quais são função de:

! Escassez de literatura sobre o assunto no Brasil, o que forçou a utilização de

literatura estrangeira. Por outro lado, tal escassez reforça a importância do

presente estudo e de outros que venham a contribuir com o avanço do

conhecimento nesta área.

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112

5. RESULTADOS

5.1. Análise da Estratégia de Hedge da CVRD

5.1.1. A Política de Hedge da CVRD

A CVRD possui exposição a riscos de preço de commodities, taxas de

juros e taxas de câmbio e gerencia os três através de operações com derivativos.

A CVRD deixa claro que a utilização destes instrumentos é única e

exclusivamente voltada para a redução da exposição a riscos, não sendo os

mesmos utilizados para fins especulativos.

As atividades de gerenciamento de risco na CVRD seguem políticas e

orientações revisadas e aprovadas pelo Conselho de Administração. Estas

políticas e orientações geralmente proíbem a comercialização especulativa e

vendas a descoberto e requerem diversificação de transações e parceiros.

A CVRD avalia e monitora sua posição de derivativos diariamente, de

maneira a avaliar os resultados financeiros e o impacto no seu fluxo de caixa. Os

limites de crédito e de credibilidade de cobertura de contrapartes são revisados

periodicamente para o acontecimento destas transações de hedge. Em função

das políticas e práticas estabelecidas para as operações com derivativos, a

gerência financeira da CVRD considera improvável a ocorrência de situações de

risco não mensuráveis.

Em dezembro de 2000, a CVRD introduziu um novo sistema de gestão de

riscos, para avaliar, medir e gerenciar riscos de mercado associados com as suas

atividades financeiras, utilizando para isso a metodologia do value-at-risk (VAR).

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113

O VAR incorpora uma variedade de fatores de risco que afetam os resultados da

CVRD, incluindo volatilidades de commodities, taxas de juros e taxas de câmbio,

assim como as correlações entre estas variáveis. Esta ferramenta permite um

monitoramento mais eficiente da exposição ao risco de mercado.

5.1.2. Riscos da Taxa de Juros e da Taxa de Câmbio da Dívida da CVRD

A tabela abaixo apresenta um resumo de informações relativas às taxas

fixas e flutuantes das dívidas de longo prazo da CVRD, separadas em moeda

local e estrangeira, e como um percentual dos seus empréstimos de longo prazo

em 31 de dezembro de 1999 e 2000, incluindo empréstimos com partes

relacionadas e não relacionadas, conforme as demonstrações contábeis

consolidadas da CVRD.

Tabela 12 – Perfil da Dívida de Longo Prazo da CVRD, 1999 e 2000 (US$Milhões)

Dívida denominada em R$com taxa flutuante 165 12,8% 131 6,6%

Dívida denominada emMoeda Estrangeira com taxaflutuante

537 41,6% 1.051 53,5%

Dívida denominada emMoeda Estrangeira com taxafixa

588 45,6% 783 39,9%

TOTAL 1.290 100% 1.965 100%

Fonte: 20-F do primeiro semestre de 2001

1999 2000

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114

5.1.3. Riscos de Taxas de Juros

A CVRD está sujeita a riscos relacionados a taxas de juros no que se

refere às taxas flutuantes da sua dívida. Sua dívida de longo prazo com taxa

flutuante é constituída principalmente de notas e empréstimos em dólares norte-

americanos, os quais são utilizados basicamente para financiar seus custos de

capital e investimentos em empréstimos para joint ventures e companhias

afiliadas. A dívida de curto prazo com taxa flutuante da CVRD é composta

principalmente de financiamentos de comercialização em dólares norte-

americanos. De maneira geral, a dívida em moeda estrangeira com taxa flutuante

da CVRD está sujeita a mudanças da LIBOR. A sua dívida em reais com taxa

flutuante está sujeita a mudanças da TJLP, taxa fixada pelo BNDES.

A carteira de derivativos de taxa de juros da CVRD consiste basicamente

de opções de comercialização com o propósito de limitar a exposição às

flutuações das taxas de juros.

A tabela abaixo permite visualizar a carteira de derivativos de taxas de

juros da CVRD em 31 de dezembro de 2000 e 1999:

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115

Tabela 13 – Carteira de Derivativos de Taxa de Juros da CVRD, 1999 e 2000(US$ Milhões)

ValorNominal

Faixa deTaxa

Ganho(Perda)

NãoRealizado

ValorNominal

Faixa deTaxa

Ganho(Perda)

NãoRealizado

VencimentoFinal

Cap 1200 5-8% 10 1200 5-8% 3 12/ 2004

Floor 850 5,0-6,5% (4) 850 5,0-6,5% (7) 12/ 2004

Swap - 5,5-7,5% - 125 5,5-7,5% (4) 12/ 2007

6 (8)

Fonte: 20-F do primeiro semestre de 2001

Os prejuízos não realizados no valor de $8 milhões representariam um

valor a pagar se todas as transações houvessem sido liquidadas em 31 de

dezembro de 2000.

5.1.4. Riscos da Taxa de Câmbio

A dívida de longo prazo da CVRD está primordialmente denominada em

moedas estrangeiras, principalmente em dólares norte-americanos. Devido ao

fato das suas receitas estarem primordialmente denominadas em dólares norte-

americanos, a CVRD não acredita que a alta incidência de débitos em dólares na

sua carteira de dívidas de longo prazo a exponha a montantes não cobertos

oriundos do risco da taxa de cambio.

1999 2000

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116

Contudo, uma parte da sua dívida está denominada em euros e ienes

japoneses, e a CVRD usa instrumentos derivativos para se proteger contra riscos

específicos associados a movimentações de taxa de câmbio destas moedas

estrangeiras.

A tabela abaixo apresenta informações com relação à carteira de

derivativos da CVRD em 31 de dezembro de 2000 e 1999. Estes derivativos estão

estruturados a termo com as compras da CVRD, as quais requerem a compra de

moedas estrangeiras, como abaixo:

Tabela 14 – Carteira de Derivativos de Taxa de Câmbio da CVRD, 1999 e 2000(US$ Milhões)

ValorNominal

Faixa dePreço

Ganho(Perda)

NãoRealizado

ValorNominal

Faixa deTaxa

Ganho(Perda)

NãoRealizado

VencimentoFinal

Iene 8 90 – 100Ienes/ US$ 0,6 8 90 – 100

Ienes/ US$ (2) 4/ 2005

Euro 13,3 US$ 0,2-1,2 E (1,1) 13,3 US$ 0,2-

1,2 E (2) 4/ 2005

(0,5) (4)

Fonte: 20-F do primeiro semestre de 2001

Os prejuízos não realizados no valor de U$ 4 milhões e US$ 0,5 milhão

representam os valores a pagar se todas as transações houvessem sido

liquidadas em 31 de dezembro de 2000 e 1999, respectivamente.

1999 2000

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117

5.1.5. Risco de Preços de Commodities

A CVRD também está sujeitos a vários riscos de mercado associados à

volatilidade dos preços nos mercados mundiais de:

! Minério de ferro, que representaram 53,5% das receitas consolidadas

da CVRD de 2000,

! Alumínio, que representaram 8,9% das receitas consolidadas da CVRD

de 2000, e

! Ouro, que representaram 3,8% das receitas consolidadas da CVRD de

2000.

A CVRD não realiza transações com derivativos para proteger a sua

exposição em minério de ferro em função da baixa volatilidade desta commodity e

da ausência de instrumentos no mercado que viabilizem tal operação.

Para gerenciar o risco associado com as flutuações nos preços de

alumínio, suas empresas afiliadas Albras e Alunorte se engajaram em transações

de hedging envolvendo opções do tipo puts e calls, assim como contratos

“forward”. Estes instrumentos derivativos permitem a ALBRAS e a ALUNORTE

estabelecer lucros médios mínimos para suas futuras produções de alumínio

excessivas aos seus custos de operação e, conseqüentemente, assegurar

geração estável de caixa. Contudo, eles também têm o efeito de reduzir ganhos

potenciais com o aumento de preço do mercado spot de alumínio.

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A tabela abaixo apresenta informações com relação à carteira de

derivativos da ALBRAS em 31 de dezembro de 2000 e 1999. A CVRD possui 51%

de participação tanto no capital votante quanto no capital total da ALBRAS.

Tabela 15 – Carteira de Derivativos de Preços de Alumínio da Albras, 1999 e2000 (US$ Milhões)

ValorNominal

Faixa dePreço

Ganho(Perda)

NãoRealizado

ValorNominal

Faixa dePreço

Ganho(Perda)

NãoRealizado

VencimentoFinal

Puts42,000 1,450 2,0 39,000 1,450 (5,3) 12/2001

Forward85,189 1,500 (1,4) 168,000 1,500 (20) 12/2006

Calls105,000 1,500 (5,5) 90,000 1,500 (13,8) 12/2003

(4,9) (39,1)

Fonte: 20-F do primeiro semestre de 2001

A tabela abaixo apresenta informações com relação à carteira de

derivativos da Alunorte em 31 de dezembro de 2000 e 1999. A CVRD possui

50,3% de participação no capital votante e 49,3% de participação no capital total

da Alunorte.

1999 2000

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119

Tabela 16 – Carteira de Derivativos de Preços de Alumínio da Alunorte, 1999 e2000 (US$ Milhões)

ValorNominal

Faixa dePreço

Ganho(Perda)

NãoRealizado

ValorNominal

Faixa dePreço

Ganho(Perda)

NãoRealizado

VencimentoFinal

Puts 60,000 1,450-1,650 3,8 - - 12/2002

Forward 24,000 1,500-1,700 (0,4) 15,000 1,500 (0,1) 12/2002

Calls 163,500 1,500-1,700 (5,1) 60,000 1,500 (4,9) 12/2002

Collarcondicio

nal36,000

1,4 5 0 –1,550 (puts)

1,5 5 0 –1,700 (call)0,2 - - 12/2003

(1,5) (5,0)

Fonte: 20-F do primeiro semestre de 2001

Para gerenciar o risco associado com flutuações no preço do ouro, a CVRD

opera instrumentos derivativos que permitem estabelecer um nível mínimo de

lucro para a futura produção de ouro. Contudo, eles também podem ter o efeito de

eliminar o efeito ganhos potenciais com o aumento de preço do mercado spot de

ouro.

5.1.6. A Adoção do SFAS 133

A partir de janeiro de 2001, a CVRD adotou o “SFAS 133 Accounting for

Derivative Financial Instruments and Hedging Activities", de acordo com as

alterações do SFAS 137 e SFAS 138, e começou a retratar todos os derivativos

no seu balanço ao fair value. De acordo com esta metodologia, foi reconhecido

um ajuste de US$ 3 mil como uma despesa na demonstração de resultados,

1999 2000

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120

relativa a perdas não realizadas em contratos abertos anteriormente a Dezembro

de 2000. Após o dia 1 de Janeiro de 2001, todos os derivativos foram ajustados

no valor justo de mercado a cada data do balanço e a mudança foi incluída na

demonstração de resultado.

Para os seis primeiros meses terminados em 30 de Junho de 2001, o

movimento de ganhos ou perdas não-realizados e realizados em instrumentos

derivativos será de acordo com a tabela 17 ilustrada a seguir:

Tabela 17 – Ganhos/ Perdas Líquidas das Posições de Derivativos, 30 de Junho

de 2001 (US$ mil)

Ganhos/ Perdas Iniciais Não-realizadasem 1o de Janeiro de 2001 9 (8) (4) (3)

Mudança no período, incluída emoutras despesas não operacionais 6 (10) (4) (8)

Ganhos/ Perdas Realizados no período (4) 2 3 1

Ganhos/ Perdas Não-realizadas em 30de Junho de 2001 11 (16) (5) (10)

Fonte: 20-F do primeiro semestre de 2001

A tabela 18 permite ver, para esses instrumentos, as suas respectivas

datas de vencimento:

Ouro Taxas deJuros

Moedasestran-geiras

Total

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121

Tabela 18 – Ganhos/ Perdas Líquidas das Posições de Derivativos, 30 de Junho

de 2001 (US$ mil)

Ouro Dezembro de 2004

Taxas de Juros Outubro de 2007

Moedas Abril de 2005

Fonte: 20-F do primeiro semestre de 2001

5.1.7. Comparação com a Teoria

Nesta seção, é feita a análise qualitativa da prática da gestão de riscos na

CVRD visando contrapô-la com a teoria. Para tanto, foram analisadas as

seguintes dimensões: 1) Intensidade de utilização de derivativos; 2) Hedge por

classes de risco; 3) Escopo da Gestão de Riscos; 4) Incorporação de visão de

mercado na política de hedge; e 5) Fontes de criação de valor via hedge

1. Intensidade de utilização de derivativos

A CVRD utiliza derivativos para gerenciar os riscos de taxas de juros, taxas

de câmbio em iene e em euro e preços de commodity de ouro e alumínio.

Desta forma, não são gerenciados os riscos de taxa de câmbio de dólar

(porque a CVRD considera que só se beneficia com as variações do dólar),

preços de commodity de óleo combustível (parte integrante de seus custos),

energia elétrica (custo), minério de ferro (aparentemente por não possuir mercado

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122

de derivativos), ferro-ligas, manganês, outros não-ferrosos (e.g. caulim e

potássio), etc.

Como pode ser observado na tabela abaixo, o uso de derivativos varia

muito em função do tipo de risco gerenciado e do instrumento derivativo utilizado.

Observa-se, entretanto que, dada a gama de riscos existentes nos negócios da

CVRD, a utilização de derivativos na CVRD não é muito intensa, podendo ser

classificada como de média para baixa intensidades.

Tabela 19 – Intensidade de Uso de Derivativos na CVRD

Taxa de Câmbio Preço de CommodityTaxa de Juros

Iene Euro Dólar Al Au Outros

Cap 4 1 1 1 1 1 1

Floor 3 1 1 1 1 1 1

Collar 1 1 1 1 2 2 1

Swap 2 1 1 1 1 1 1

Forward 1 2 2 1 3 2 1

Puts 1 1 1 1 2 3 1

Calls 1 1 1 1 4 4 1

Fonte: 20-F do primeiro semestre de 2001

Legenda:

1 Não utiliza derivativos2 Utilização baixa de derivativos (>=0% e < 25% da exposição)3 Utilização média de derivativos (>=25% e < 50% da exposição)4 Utilização alta de derivativos (>=50% e < 75% da exposição)5 Intensa utilização de derivativos (>= 75% da exposição)

2. Hedge por classes de risco

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123

Analisando-se as classes de risco gerenciados pela CVRD, observa-se

maior intensidade de utilização de derivativos para gerenciar os riscos de taxa de

juros e dos preços de commodity de alumínio e ouro.

Tabela 20 – Intensidade de Uso de Derivativos da CVRD por Classe de Risco

Taxa de Câmbio Preço de CommodityTaxa deJuros

Iene Euro Dólar Al Au Outros

Utilização dederivativos 5 2 2 1 5 4 1

Fonte: 20-F do primeiro semestre de 2001

Legenda:

1 Não utiliza derivativos2 Utilização baixa de derivativos (>=0% e < 25% da exposição)3 Utilização média de derivativos (>=25% e < 50% da exposição)4 Utilização alta de derivativos (>=50% e < 75% da exposição)5 Intensa utilização de derivativos (>= 75% da exposição)

3. Escopo da Gestão de Riscos

A análise da prática de gestão de riscos da CVRD permite observar a

utilização do hedge para proteger transações específicas e não do negócio como

um todo.

A introdução de um sistema utilizando a metodologia do value-at-risk (VAR)

para a gestão de riscos, para avaliar, visando medir e gerenciar riscos de

mercado associados com as suas atividades financeiras permitiu uma visão mais

integrada da sua gestão de riscos e um monitoramento mais eficiente da

exposição ao risco de mercado, aprimorando a sua capacidade de controle dos

riscos, sem alterar, contudo a sua estratégia de gestão dos riscos, que continua

Page 137: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

124

sendo orientada por riscos individuais ligados às vendas realizadas ou às suas

dívidas.

Deve-se ressaltar, portanto, que não foi observado uma política voltada

para a criação de valor. A visão da gerência financeira e as declarações

presentes nas suas demonstrações financeiras deixam claro que o racional

presente nas suas atividades é focado na aversão ao risco.

4. Incorporação de visão de mercado na política de hedge

A CVRD possui uma política explícita de não assumir riscos especulativos

com derivativos, porém não faz o hedge de toda a sua exposição, possuindo uma

certa flexibilidade para praticar o “hedge seletivo”, ou seja, levando em

consideração as suas visões de mercado para assumir posições de derivativos.

5. Fontes de criação de valor via hedge

! Redução de Impostos

Comparando-se a situação de lucro tributável da CVRD com a teoria sobre

criação de valor do hedge através de redução de impostos e o estudo de Graham

e Smith (2000) sobre a viabilidade prática de se obter tais ganhos, pode-se

observar que, como o lucro tributável da CVRD se encontra substancialmente

acima do zero e da zona de progressividade das alíquotas de imposto brasileiras,

a possibilidade de ganhos com o hedge associados a redução de impostos é

muito pequena e não deve ser considerada para fins deste estudo.

Page 138: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

125

! Problemas de sub-investimento

A CVRD está em um momento de intensa movimentação estratégica e, em

função disso, apresenta um programa de investimentos intenso programado para

os próximos anos, principalmente em projetos de geração elétrica e de

desenvolvimento de minas de cobre e em ampliação de sua capacidade

produtiva. Além disso, em função da dimensão do seu negócio, apresenta

anualmente investimentos pesados na manutenção de suas operações.

Desta forma, a necessidade crescente de investimentos e a existência de

volatilidade no seu fluxo de caixa operacional, pode ocasionar os problemas de

sub-investimentos descritos por Froot, Scharfstein e Stein (1994). Desta forma, a

análise do Funding Gap, conforme descrito no estudo de Mello e Parsons (1999)

foi utilizada neste trabalho para permitir o entendimento dos efeitos da

possibilidade de situações de sub-investimento.

! Redução de custos de dificuldades financeiras

A probabilidade de falência de uma empresa como a CVRD na sua

situação atual é muito baixa, pois a sua capacidade de geração de caixa é muito

superior ao seu endividamento, de forma que, mesmo que exista grande

volatilidade de seu fluxo de caixa, as chances da empresa não honrar com os

seus compromissos é muito baixa.

Page 139: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

126

Entretanto, a sua política agressiva para os próximos anos, resulta em

possibilidade de dificuldades financeiras, ligadas às chances de existência de

situações de grande crescimento do funding gap. Tal possibilidade de dificuldades

financeiras, de acordo com o observado por Froot, Scharfstein e Stein (1994)

resultam em um custo marginal dos fundos que cresce com a quantidade captada

externamente.

As reduções deste efeito de crescimento dos custos de captação e de

problemas de sub-investimento são, portanto a origem dos prováveis benefícios

de uma política de hedge na CVRD.

Page 140: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

127

5.2. Potencial de Criação de Valor através de Hedge na CVRD

5.2.1. Análise dos Resultados do Modelo de Simulação

Conforme já mencionado na metodologia, foi utilizado um modelo de

simulação de Monte Carlo para avaliar o potencial de criação de valor de Políticas

de hedge na CVRD e analisar os fluxos de caixa com foco nas questões ligadas a

restrições na política de investimentos e na busca por redução nos custos de

endividamento.

A análise do modelo de simulação, com base nas projeções dos analistas

de bancos investimento, permitiu separar a volatilidade dos fluxos de caixa

operacional e de Investimentos, e observar a variabilidade da necessidade de

funding para o cenário sem hedging e para os cenários com hedging. Os quadros

a seguir resumem os principais resultados estatísticos (resultantes de 1000

iterações) do cenário sem hedge para os anos de 2002 a 2005.

O quadro 5.8 apresenta a distribuição dos fluxos de caixa operacional, o

quadro 5.9 apresenta a distribuição das necessidades de investimento, o quadro

5.10 apresenta novamente o cenário de repagamento utilizado e o quadro 5.11

apresenta a distribuição do Funding Gap.

Page 141: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

128

Tabela 21 – Resultados do Fluxo de Caixa Operacional no Cenário sem Hedge,

2002 a 2005 (US$ mil)

Para obter os resultados do Fluxo de Caixa Operacional, foram rodadas 1000 iterações dasimulação de Monte Carlo com base nos parâmetros do cenário sem hedge. O resultado do fluxo decaixa operacional inclui o fluxo de caixa da controladora e o fluxo de caixa de suas subsidiárias,que é incorporado através de pagamento de dividendos.

2002 2003 2004 2005

Média 1.339 1.479 1.507 1.503

Mediana 1.356 1.497 1.521 1.520

Desvio Padrão 157 168 171 183

Variância 24.635 28.187 29.292 33.637

Assimetria -0,60 -0,78 -0,60 -0,52

Curtose 3,42 4,79 3,75 3,28

Coef. deVariabilidade 0,12 0,11 0,11 0,12

Limite mínimo 759 518 664 761

Limite máximo 1.734 1.866 1.992 1.946

Largura daDistribuição 975 1.349 1.327 1.186

Fonte: Modelo de Simulação

O quadro 5.9 permite o entendimento da distribuição dos fluxos de caixa

operacionais observada na análise. A largura da distribuição é muito grande,

próxima a US$ 1 bilhão e o coeficiente de variabilidade de 12% indica que se trata

de um fluxo muito volátil que conforme será observado mais adiante, causa

dificuldades nos momentos de maior necessidade de investimentos.

Page 142: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

129

Tabela 22 – Resultados do Fluxo de Caixa de Investimentos no Cenário sem

Hedge, 2002 a 2005 (US$ mil)

Para obter os resultados do Fluxo de Caixa Investimento, foram rodadas 1000 iterações dasimulação de Monte Carlo com base nos parâmetros do cenário sem hedge. O resultado do fluxo decaixa de investimentos inclui os investimentos de CAPEX da controladora e os investimentos desuas subsidiárias, que são incorporado de acordo com a participação da CVRD no projeto.

2002 2003 2004 2005

Média -870 -937 -902 -799

Mediana -861 -929 -889 -791

Desvio Padrão 102 111 110 96

Variância 10.432 12.422 12.060 9.294

Assimetria -0,55 -0,63 -0,64 -0,79

Curtose 3,35 4,42 4,04 4,84

Coef. deVariabilidade -0,12 -0,12 -0,12 -0,12

Limite mínimo -1.309 -1.580 -1.535 -1.409

Limite máximo -587 -660 -610 -586

Largura daDistribuição 722 920 924 822

Fonte: Modelo de Simulação

A distribuição de fluxos de caixa de investimento também possui uma

largura muito grande e coeficiente de variabilidade alto, porém, observa-se que o

crescimento da média não é tão “assustador” e a concentração maior de

investimentos ocorre nos anos 2003 e 2004.

Page 143: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

130

Tabela 23 – Fluxo de Repagamento das dívidas e de Pagamento de Dividendos,

2001 a 2005 (US$ mil)

O Fluxo de Repagamento da dívida é dado, com base no fluxo atual de repagamento da CVRD e opagamento de dividendos é uma função do lucro líquido, dado que a CVRD tem o compromisso dedistribuir pelo menos 50% do lucro líquido em dividendos. Desta forma, temos os valores abaixoonde os valores de dívida são fixos e o Pagamento de Dividendos apresentado abaixo correspondea 50% do lucro líquido média, e a sua distribuição irá acompanhar a distribuição do fluxo de caixaoperacional.

Repagamento da Dívida 125 644 710 190 125

Pagamento de Dividendos 695 547 608 724 725

Fonte: Relatórios 20-F da CVRD e Análise do Modelo

Com base na distribuição dos fluxos de caixa operacionais, na necessidade

de caixa para financiar os investimentos e nos compromissos repagamento da

dívida e de Pagamento de Dividendos é possível determinar a distribuição do

Funding Gap (MELLO, 1999). A Tabela 22 permite o entendimento desta

distribuição:

2001 2002 2003 2004 2005

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131

Tabela 24 – Resultados de Funding Gap no Cenário sem Hedge, 2002 a 2005

(US$ mil)

Para obter os resultados do Fluxo de Caixa Investimento, foram rodadas 1000 iterações dasimulação de Monte Carlo com base nos parâmetros do cenário sem hedge. Com base nadistribuição dos fluxos de caixa operacionais, na necessidade de caixa para financiar osinvestimentos e nos compromissos repagamento da dívida e de Pagamento de Dividendos épossível determinar a distribuição do Funding Gap.

2002 2003 2004 2005

Média -437 -845 -893 -436

Mediana -411 -818 -865 -415

Desvio Padrão 237 263 264 248

Variância 56.287 69.232 69.927 61.458

Assimetria -0,60 -0,74 -0,58 -0,89

Curtose 3,45 4,76 3,75 5,48

Coef. deVariabilidade -0,54 -0,31 -0,30 -0,57

Limite mínimo -1.396 -2.381 -2.250 -2.087

Limite máximo 206 -233 -191 174

Largura daDistribuição 1.602 2.148 2.059 2.261

Fonte: Modelo de Simulação

As médias de Funding Gap já implicam em grandes financiamentos, mas

não representariam uma tarefa impossível para uma empresa do Porte da CVRD.

Entretanto, a distribuição é muito larga, ficando ao redor de US$ 2 bilhões, e

possui um coeficiente de variabilidade muito grande.

A figura 16 ilustra como as distribuições de funding gap estão se

comportando ao longo do tempo.

Page 145: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

132

Figura 16 – Evolução da Distribuição de Funding Gap no Cenário sem Hedge,

2002 a 2005 (US$ mil)

A figura representa a evolução das distribuições de funding gap, separando os quartis para ilustrar agrande probabilidade de Funding Gaps elevados e de difícil financiamento.

Fonte: Modelo de Simulação

A figura deixa claro que para 2003, 2004 e 2005 o funding gap tem uma

distribuição com grande probabilidade de atingir níveis que podem dificultar a

implementação da estratégia de investimentos da CVRD.

Com a ajuda do modelo de rating da Monitor Group, é necessário entender

o impacto deste funding gap nos custos de financiamento e comparar os mesmos

com a alternativa sem hedge.

A figura 17 mostra o resultado da evolução de custos de financiamento em

um cenário sem a utilização de hedge.

Cumulative Certainties

-2.250

-1.500

-750

0

750

Funding Gap 2002

Funding Gap 2003

Funding Gap 2004

Funding Gap 2005

Funding Gap 2006

95%

75%

50%

25%

Trend Chart

Page 146: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

133

Figura 17 – Evolução da Distribuição dos Custos de Financiamento no Cenário

sem Hedge, 2002 a 2005 (US$ mil)

A figura representa a evolução dos custos de financiamento no cenário sem hedge. Os custos definanciamento são simplesmente o valor do financiamento multiplicado pela taxa de financiamentoque se conseguiria no mercado, dado o impacto que esta situação financeira teria sobre o rating daempresa.

Fonte: Modelo de Simulação

Observa-se que os custos realmente são mais altos nos anos de 2003 e

2004, voltando a cair em 2005 e 2006. Esta é uma situação típica na qual a

política de hedge cria valor, pois os custos mais elevados podem efetivamente

levar a uma política de sub-investimento. Além disso, a situação de alternância

entre situação financeira mais difícil e situação mais tranqüila é importante para

que o hedge possa criar valor, pois ele permite homogeneizar estes fluxos,

conforme será mostrado a seguir.

Para avaliar o efeito do hedge, são apresentadas abaixo distribuições de

funding gap e custos de financiamento em 2003 e 2004 (anos mais críticos,

conforme observado acima) em diversos cenários de hedge (redução de

volatilidade).

Cumulative Certainties

-100,00

12,50

125,00

237,50

350,00

CU

STO 2002

CU

STO2003

CU

STO2004

CU

STO2005

CU

STO2006

95%

75%

50%

25%

Trend Chart

Page 147: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

134

Figura 18 – Distribuições de Funding Gap, 2003 (US$ mil)

A figura representa as distribuições de funding gap em 2003 no cenário sem Hedge (0% de reduçãode volatilidade) e nos cenários com hedge (de 10% a 100% de redução na volatilidade dos preçosde alumínio, cobre, ouro e taxa de câmbio), permitindo observar que a distribuição de Funding Gapse estreita em função de uma redução na volatilidade dos fluxos de caixa, porém sem alterarsignificativamente a média.

Fonte: Modelo de Simulação

Figura 19 – Distribuições de Funding Gap, 2004 (US$ mil)

A figura representa as distribuições de funding gap em 2004 no cenário sem Hedge (0% de reduçãode volatilidade) e nos cenários com hedge (de 10% a 100% de redução na volatilidade dos preçosde alumínio, cobre, ouro e taxa de câmbio), permitindo observar que a distribuição de Funding Gapse estreita em função de uma redução na volatilidade dos fluxos de caixa, porém sem alterarsignificativamente a média.

Fonte: Modelo de Simulação

0

400

800

1.200

1.600

2.000

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Redução na Volatilidade

Fund

ing

Gap

M ínimo

1o quartil

M édia

3o quartil

M áximo

0

400

800

1.200

1.600

2.000

2.400

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Redução na Volatilidade

Fund

ing

Gap

M ínim o

1o quartil

M édia

3o quartil

M áxim o

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135

As figuras 18 e 19 mostram que nos cenários com hedge ocorre um

estreitamento das distribuições de funding gap, porém sem alterar

significativamente as suas médias.

Figura 20 – Distribuições de Custos de Financiamento, 2003 (US$ mil)

A figura representa as distribuições de custo de financiamento em 2003 no cenário sem Hedge (0%de redução de volatilidade) e nos cenários com hedge (de 10% a 100% de redução na volatilidadedos preços de alumínio, cobre, ouro e taxa de câmbio), permitindo observar que a distribuição seestreita em função de uma redução na volatilidade dos fluxos de caixa, reduzindo a probabilidadede problemas de sub-investimento e resulta em diminuição da média das mesmas, em função daredução de probabilidade de dificuldades financeiras.

Fonte: Modelo de Simulação

0

50

100

150

200

250

300

350

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Redução na Volatilidade

Cus

to d

e Fi

nanc

iam

ento

M ínimo

1o quartil

M édia

3o quartil

M áximo

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136

Figura 21 – Distribuições de Custos de Financiamento, 2004 (US$ mil)

A figura representa as distribuições de custo de financiamento em 2004 no cenário sem Hedge (0%de redução de volatilidade) e nos cenários com hedge (de 10% a 100% de redução na volatilidadedos preços de alumínio, cobre, ouro e taxa de câmbio), permitindo observar que a distribuição seestreita em função de uma redução na volatilidade dos fluxos de caixa, reduzindo a probabilidadede problemas de sub-investimento e resulta em diminuição da média das mesmas, em função daredução de probabilidade de dificuldades financeiras.

Fonte: Modelo de Simulação

Observa-se, portanto que os custos de financiamento com hedge

apresentam uma distribuição mais estreita, diminuindo a probabilidade de

políticas de sub-investimento. Além disso, a média dos custos apresenta queda

certos intervalos de redução de volatilidade, em função da redução de

dificuldades financeiras que é reflexo do impacto no rating da empresa.

Para determinar a criação de valor, seria necessário determinar a redução

de volatilidade que é viável, dados os instrumentos de gestão de riscos

disponíveis no mercado e os custos desta gestão de riscos. Apesar destes

0

50

100

150

200

250

300

350

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Redução na Volatilidade

Cus

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M ínimo

1o quartil

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3o quartil

M áximo

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cálculos não terem sido feitos, observa-se que, dado que existem custos de

gestão de riscos, o ponto ótimo de gestão de riscos não é necessariamente a

redução de 100% da volatilidade das incertezas gerenciadas, pois no caso da

CVRD, a redução do custo médio de financiamento e no estreitamento da

distribuição não é significativamente superior aos cenários próximos (e.g. redução

de 80% e 90%).

Desta forma, conclui-se que, para o período analisado e, dadas as

condições de hedge idealizadas na descrição do método, a política de hedge traz

benefícios para o acionista, criando valor ao reduzir os custos de dificuldades

financeiras e os problemas de sub-investimento, caso estes benefícios sejam

superiores aos custos de gestão de riscos.

Page 151: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

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6. CONCLUSÃO

O objetivo deste trabalho foi estudar a prática de gestão de riscos

financeiros na Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) à luz da teoria sobre a

racionalidade do hedge em empresas. Desta forma, o estudo visa avaliar as

discrepâncias entre a teoria e a prática da gestão de riscos e analisar a existência

potencial de ganhos que permitam a criação de valor através de uma estratégia

integrada de Gestão de Riscos na CVRD.

Para tanto, valeu-se da metodologia de estudos de caso, utilizando

informações públicas disponibilizadas pela CVRD, relatórios de analistas

financeiros sobre o desempenho da empresa e entrevistas realizadas com o

departamento de gestão de riscos da empresa. Foi utilizado ainda um modelo de

projeção dos fluxos de caixa da empresa e técnicas de simulação de Monte Carlo

com o objetivo de determinar a existência de potencial de criação de valor para a

CVRD de políticas de gestão de riscos.

Nos capítulos iniciais foi feita a revisão bibliográfica sobre o tema, na qual

se buscou caracterizar as teorias que introduziram o racional da maximização de

valor aplicado à gestão de riscos, analisar os estudos que pesquisaram sobre as

práticas de gestão de risco e as pesquisas que encontram evidências empíricas

sobre estímulos ao hedge em função das razões oferecidas pela teoria para a

execução de políticas de hedge. Além disso, foi feita uma revisão de trabalhos

que focam na implementação das teorias em empresas e no entendimento mais

profundo das fontes de valor da gestão de risco e de qual deve ser o nível ótimo

de hedge, dado a lógica oferecida pela teoria.

Page 152: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

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A revisão destes estudos criou a base para iniciar o estudo de caso.

Inicialmente, foram analisados as unidades de negócios, a estratégia e os

resultados da empresa, para permitir encerrar o capítulo capturando as análises e

projeções dos analistas de mercado, que foram essenciais para a construção do

modelo de simulação de Monte Carlo.

A análise da prática de gestão de riscos da CVRD permitiu observar que,

apesar de a CVRD ser bastante ativa na utilização de derivativos, a sua

intensidade no uso de derivativos varia muito em função do tipo de risco

gerenciado e do tipo de derivativo. Observa-se assim que, dada a gama de riscos

existentes nos negócios da CVRD, a utilização de derivativos na CVRD não é

muito intensa, podendo ser classificada como de média para baixa intensidades.

Analisando-se as classes de risco gerenciadas pela CVRD, observa-se

ainda maior intensidade de utilização de derivativos para gerenciar os riscos de

taxa de juros e dos preços de commodity de alumínio e ouro. Esta observação

está em linha com o fato que a CVRD utiliza o hedge para proteger transações

específicas e não o negócio como um todo, não apresentando uma política

voltada para a criação de valor, focando o racional para suas atividades na

aversão ao risco.

A análise das possíveis fontes de benefícios para os acionistas ligadas à

gestão de riscos permitiu observar que, de acordo com a teoria, o efeito de

crescimento dos custos de captação (ligados a dificuldades financeiras) e de

problemas de sub-investimento. Esta análise guiou o desenho dos testes

realizados no modelo de simulação.

Page 153: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

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O modelo foi estruturado para simular o processo estocástico Browniano

dos preços das commodities estudadas e uma variação ao redor das projeções

dos analistas das incertezas de câmbio e do volume de investimentos, visando

com isso garantir uma simulação coerente com a realidade de mercado. Além do

modelo de simulação, o teste desenhado valeu-se ainda do modelo de bond

rating desenvolvido pela Monitor Group para testar as diferenças entre os custos

de financiamento da empresa com e sem hedge.

Os resultados obtidos demonstraram a existência de potencial de criação

de valor, pois foi possível observar diferenças em termos de custos e de

necessidade de financiamento entre os dois cenários. De forma geral, a redução

de volatilidade estudada, resultou em redução da probabilidade de existência de

políticas de sub-investimento, em função da homogeneização das distribuições de

funding gap e dos custos de financiamento de 2002 a 2006, observadas após a

simulação de Monte Carlo.

Além disso, observou-se que as médias das distribuições de custo de

financiamento apresentaram queda em relação ao cenário sem hedge, em função

da deterioração do rating da empresa observada em uma parcela da distribuição

de resultados sem hedge. Este benefício ligado à redução dos custos de

financiamento, contudo, apresentou uma curva de crescimento da média de

custos côncava em relação à redução de volatilidade nas incertezas consideradas

no trabalho. Portanto, dependendo do comportamento dos custos de hedge,

observa-se que o ponto ótimo não é necessariamente, a redução de 100% das

incertezas.

Page 154: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

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Este trabalho não determinou a viabilidade das reduções de volatilidade

estudadas para a CVRD, dados os instrumentos de gestão de risco presentes no

mercado e, portanto, também não se aprofundou na análise dos custos da gestão

destes riscos, não podendo concluir sobre a dimensão da criação de valor que é

possível na CVRD. Sugere-se assim, que em trabalhos posteriores, haja um

aprofundamento nos seguintes temas:

! Quais instrumentos podem ser utilizados para a gestão de riscos da

Companhia Vale do Rio Doce e quais os custos envolvidos com tais

instrumentos

! Quanto é possível reduzir a volatilidade das incertezas presentes nos

negócios da CVRD

! Quais são os custos fixos de se manter uma estrutura fazendo a gestão

dos riscos da CVRD

! Qual o potencial de criação de valor na CVRD e qual o ponto ótimo para

o hedge dados os custos de gestão de riscos e a viabilidade de redução

de volatilidade

Além disso, em função da natureza da metodologia de estudos de caso, os

resultados deste trabalho não podem ser estendidos para uma população maior

de empresas brasileiras e sugere-se portanto:

! Fazer pesquisa no Brasil sobre a utilização de hedge em empresas e

sobre os motivos que levam a empresa a fazer hedge

Page 155: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

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! Utilização de modelo de simulação para mapear potencial de benefícios

com o hedge ligados a custos de dificuldades financeiras e problemas

de sub-investimento em diferentes situações operacionais do mercado

de mineração

! Elaboração de pesquisa estatística correlacionando retornos de ações,

os racionais para o hedge e a utilização de hedge por empresas

brasileiras

Page 156: A RACIONALIDADE DA GESTÃO DE RISCOS EM EMPRESAS Estudo de ... · racionalidade do hedge, baseadas no paradigma de maximização de valor para o acionista, ... FIGURA 11– UNIDADES

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