a psicologia hospitalar e o hospital

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    Rev. SBPH vol.14 no.1, Rio de Janeiro - Jan/Jun. - 2011

    A Psicologia hospitalar e o hospital1

    Health Psycology and gerneral hospital

    Laila T. Noleto Q. Mosimann2Maria Alice Lustosa3

    Santa Casa da Misericrdia do RJ-CESANTA

    Resumo

    O presente trabalho se refere a uma pesquisa bibliogrfica acerca de possveisrelaes entre a Psicologia Hospitalar e o Hospital Geral. Desta forma conduziu-se o trabalho com o propsito de compreender aspectos relativos sespecificidades tanto da Psicologia Hospitalar quanto da Medicina. Para tanto otema foi tratado tendo como pano de fundo as seguintes temticas: Um Pouco daHistria Psicologia Moderna, Hospital e Medicina; Psicologia da Sade,Psicologia Mdica, Psicologia Hospitalar e Psicossomtica; Psicologia e Medicina:Dilogo Psicologia, Psicologia Hospitalar e Medicina e, Psicologia e Medicina:um paradoxo ou simplesmente dois paradigmas? Mediante realizao dotrabalho foi possvel identificar, reconhecer e mesmo compreender algumasnuances que, embora no justifiquem, em alguma medida explicam algumasposturas profissionais tomadas no trabalho e, dado seu modo de acontecer, noencontro com o(s) outro(s). Enfim, mais do que descrever aspectos da dinmicade funcionamento da Psicologia Hospitalar e do Hospital, o presente estudoviabilizou crer que a concatenao entre tais passvel e desejvel de realizar-se.

    Palavras-chave: Psicologia Hospitalar; Psicologia da Sade; Hospital Geral.

    Abstract

    This paper refers to a literature search on themes that are entwined with thedynamics of the possible relationship between Health Psychology and theHospital. Therefore, this research was conducted in order to understand some

    1 Monografia Apresentada ao Servio de Psicologia Hospitalar da 28 Enfermaria da Santa Casa da Misericrdia do Rio deJaneiro, como Requisito Parcial Obteno do Ttulo de Ps Graduao em Psicologia Hospitalar e da Sade.

    2 Psicloga e Pedagoga formada pela Universidade Catlica de Braslia UCB; Especializao em Teoria Psicanalticapela Universidade de Braslia UnB; Especializao em Psicologia Hospitalar e da Sade pela Santa Casa daMisericrdia do RJ.

    3 Doutora em Psicologia pela UFRJ; Coordenadora dos 22 Cursos de Ps-Graduao da Santa Casa da Misericrdia doRJ-CESANTA; Coordenadora do Curso de Ps Graduao em Psicologia Hospitalar e da sade do CESANTA;Orientadora desta Monografia.

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    specific aspects of both Health Psychology and Medicine. The following themeswere taken as a background for both topics: A Bit of History - Modern Psychology,Hospital Medicine, Health Psychology, Medical Psychology, Psychosomatics andHealth Psychology, Psychology and Medicine: Dialogue Psychology, MedicalPsychology and Medicine, Psychology and Medicine: a paradox or simply twoparadigms? Upon completion of the work, it was possible to identify, recognizeand understand some points that, although do not justify, to some extent explainsome of the positions taken by professionals in their meetings with others. Finally,beyond describing the dynamic aspects of the operations of Health Psychologyand the Hospital, this study makes viable the belief that these two areas are liableto cooperate.

    Keywords: Health Psychology; General Hospital; General Hospital.

    Introduo

    A Psicologia Hospitalar e o Hospital Greral suscitam interessantes

    investigaes devido sua recente articulao. Partindo desse pressuposto o

    presente trabalho se prope, a investigar temticas que se fazem primordiais na

    compreenso de alguns pormenores relativos necessidade de articulao em

    contexto hospitalar, entre a Psicologia e a Medicina, levantado pelo

    questionamento: Dilogo - Psicologia e Medicina: um paradoxo ou simplesmente

    dois paradigmas?

    A partir da pesquisa bibliogrfica e da composio do presente trabalho foi

    possvel mergulhar na realidade prtica de cada uma das cincias em separado,

    Medicina e Psicologia, alm de identificar peculiaridades tanto de suas origens

    quanto de sua prtica. Alm disso, foi possvel identificar e compreender aspectos

    relativos aos desdobramentos da, ainda que recente, tentativa de comunho

    entre estas cincias.

    Portanto, mais do que meramente descrever aspectos relativos

    Psicologia Hospitalar e Medicina, o presente trabalho se props a viabilizar,

    ainda que de maneira sutil, a constatao de que o trabalho conjunto embora

    penoso pode ser forjado por uma escolha, considerando-se aspectos morais e

    ticos especficos de cada atribuio profissional.

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    Assim, a discusso da temtica se deu levando em considerao as

    especificidades de cada profisso, mas sempre partindo da tentativa de no

    neglicenciar as possibilidades criadoras, criativas e curativas dessa profcua

    associao entre Psicologia Hospitalar e Medicina.

    Muito provavelmente, a pesquisa bibliogrfica aqui apresentada no ir

    dirimir todas dvidas, dado no ser sua proposta, mas abrir-se um espao para

    que o assunto, to carente de publicaes cientficas, seja discutido, sem

    tendenciosidade, e com cuidado de evitar generalizaes alienadas ou

    alienantes. Alm disso, vislumbra-se a possibilidade de estudos futuros para a

    ampliao do olhar, almejando encontrar respostas e erguer novas perguntassobre o tema pesquisado alm de, principalmente, viabilizar reflexes acerca da

    criao e desenvolvimento de estratgias de enfrentamento diante das

    adversidades que se apresentam diante do trabalho realizado em Instituio

    Hospitalar.

    Um pouco da histria

    Psicologia Moderna

    De acordo com Schultz e Schultz (1981), aqui encontra-se um paradoxo. A

    Psicologia uma das mais antigas disciplinas acadmicas, ao mesmo tempo em

    que tambm uma das mais novas. A aparente contradio demonstra, de modo

    irrefutvel, uma continuidade vital entre passado e presente em termos de seu

    objeto de estudo, uma vez que as mesmas espcies de interrogaes feitas

    atualmente sobre a natureza humana tambm o eram h sculos atrs.

    Para os autores supra citados, o que verdadeiramente distingue a

    disciplina mais antiga da filosofia da Psicologia Moderna so a abordagem e as

    tcnicas usadas, que demonstram a emergncia desta ltima como um campo de

    estudo prprio e, essencialmente cientfico. De tal modo, a distino entre a

    Psicologia Moderna e seus antecedentes est menos nos tipos de perguntas

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    feitas sobre a natureza humana do que nos mtodos empregados na busca das

    respostas. Consequentemente, uma considervel parte da histria da Psicologia,

    depois de sua separao da Filosofia, a histria do contnuo aprimoramento de

    instrumental, tcnicas e mtodos de estudo voltados para o alcance de uma

    preciso e objetividade maiores tanto no mbito das perguntas quanto no das

    resposta. Segundo estes autores, o primeiro indcio de um campo distinto de

    pesquisa conhecido como Psicologia manifestou-se no ltimo quarto do sculo

    XIX, momento em que o mtodo cientfico foi adotado como um recurso para

    tentar solucionar problemas desta disciplina.

    Irrefutavelmente, a Psicologia se expandiu e causa significativo impactona vida cotidiana. Seja qual for a idade, ocupao ou interesses, a vida do sujeito

    , em alguma medida, influenciada pelo trabalho de Psiclogos, ou mesmo por

    sua ausncia.

    Para Schultz e Schultz (1981), desde o incio da histria registrada,

    estudiosos vm tentando compreender o pensamento e o comportamento

    humanos. Seus esforos tm produzido muitas descobertas e concluses

    respeitveis, embora tambm devam ser considerados os mitos e imprecises.Contudo, muitos dos questionamentos levantados sculos atrs ainda so

    relevantes hoje, o que denota uma considervel continuidade de problemas, e,

    sobretudo que a Psicologia tem uma ligao vital e tangivel com o seu prprio

    passado.

    De fato, no existe uma uniformidade na abordagem ou definio da

    Psicologia Moderna. Em vez disso, ocorre uma enorme diversidade, e at

    desacordo e fragmentao, tanto em termos de especializaes cientficas eprofissionais quanto em termos de objeto de estudo. No entanto, o conhecimento

    da histria pode trazer ordem desordem e produzir sentido a partir do caos;

    permite enxergar o passado com mais clareza e explicar o presente (Schultz e

    Schultz, 1981, p. 20).

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    Temtica inesgotvel, a histria da Psicologia por si s uma narrativa

    fascinante, a qual no faltam o drama, a tragdia e as idias revolucionrias

    (Schultz e Schultz, 1981, p. 21).

    Hospital

    Ao longo da histria documentada, possvel identificar o desenvolvimento

    de povos e de comunidades que vislumbravam a melhoria da qualidade de vida

    de sua populao, assim tambm o com os hospitais, os aspectos sanitrios e,

    por conseguinte o aparecimento de prticas neste exercidas.

    Segundo Lisboa (2002), medida que as doenas e calamidades afetavam

    a humanidade, por vezes originrias da prpria degradao humana, era possvel

    ver o quanto profissionais e leigos buscavam prticas ou tcnicas que

    minimizassem os sofrimentos de seus doentes e a cura de seus males. Contudo,

    ainda que frente ao avano cientfico e tecnolgico, os processos de mudana,

    necessariamente, sempre estaro inerentes a novos desafios. Para a autora, o

    hospital, em toda a sua histria, tentou adequar-se s mudanas, essencialmente

    no tocante s questes que envolvessem a diversidade de funes, a

    complexidade e, prioritariamente, o desenvolvimento profissional de seus

    colaboradores. A autora pontua que dificilmente se encontra, na

    Antiguidade, denominao especfica para o local onde pessoas enfermas fossem

    aceitas para permanncia e tratamento de doenas. Em sentido geral, pessoas

    pobres, rfos, doentes e peregrinos se misturavam para toda e qualquer

    necessidade de cuidados.

    Lisboa (2002), refere que a palavra hospital origina-se do latim hospitalis,

    que significa "ser hospitaleiro", acolhedor, adjetivo derivado de hospes, que se

    refere a hspede, estrangeiro, conviva, viajante, aquele que d agasalho, que

    hospeda. Assim, os termos "hospital " e "hospedale" surgiram do primitivo latim e

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    se difundiram por diferentes pases. possvel verificar que no incio da era crist,

    a terminologia mais utilizada relacionava-se com o grego e o latim, sendo que

    hospital tem hoje a mesma concepo de nosocomium, lugar dos doentes, asilo

    dos enfermos e nosodochium, que significa recepo de doentes. Assim, da

    palavra "hospitium", derivou hospcio, que designava os estabelecimentos que

    recebiam ou eram ocupados permanentemente por enfermos pobres, incurveis

    ou insanos. As casas reservadas para tratamento temporrio dos doentes eram

    denominadas "hospital" e, hotel, o lugar que recebia pessoas "no doentes".

    Refere Lisboa (2002), que deve-se ao budismo a propagao das

    instituies hospitalares , a partir de Sidartha Gautama, o Iluminado (Buda), que,segundo os registros da autora, construiu vrios hospitais e nomeou, para cada

    dez cidades, um mdico j "formado", prtica continuada por seu filho Upatise.

    Verifica-se que as primeiras figuras humanas a exercerem a "arte de curar"

    foram os sacerdotes dos templos e, estes, os primeiros locais para onde iam os

    doentes. Inicialmente, eram movimentos espontneos, indo os enfermos orar ao

    Deus, pela cura de seus males. Com o passar do tempo, e o nmero desses

    enfermos aumentando, foi necessria a criao de lugares apropriadose, finalmente, novos templos foram construdos em locais de bosques sagrados,

    com fontes de gua de propriedades teraputicas, para atender aos doentes.

    De acordo com Lisboa (2002), ento desenvolvido o conceito de

    "hospedagem", ou seja, atendimento de viajantes doentes, os iatreuns, lugares

    pblicos de tratamento, servidos por mdicos que no pertenciam casta

    sacerdotal. Muitos no passavam de residncia dos mdicos e seus estudantes,

    que acolhiam enfermos. Outros representavam local de "internao" de doentes,sob a superviso dos especialistas (medicina emprica), sendo que nestes locais

    passaram a funcionar, tambm, escolas de medicina.

    Com o advento do cristianismo surge uma nova viso humanstica, a que

    altera a organizao social e as responsabilidades do indivduo. ento

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    desenvolvido, mais rapidamente, o conceito de servios gerais de

    assistncia aos menos favorecidos e aos enfermos, idosos, rfos, vivas, da

    mesma forma que viajantes e peregrinos, sustentados pela contribuio dos

    cristos, desde os tempos apostlicos.

    Para Lisboa (2002), novos preceitos tambm para a vida monstica so

    estabelecidos, e toma importncia fundamental a ajuda aos enfermos visando

    melhorar o tratamento dos doentes. Difunde-se, tambm, o estudo das ervas

    medicinais. O conhecimento recuperado tem influncia na postura perante o

    conceito doena/sade, modificando desde a alimentao fornecida at, a

    disposio dos prdios. Assim, mosteiros beneditinos serviram de modelo paraoutras ordens religiosas que se dedicaram aos enfermos, inclusive ordens

    militares posteriores.

    Durante o Renascimento, as transformaes econmicas e sociais

    alteraram o carter da insero dos hospitais na vida urbana. A emergncia da

    burguesia se refletiu na melhoria das condies de vida das cidades, que

    passaram a atuar como focos de atrao desordenada de migraes e

    deslocamentos de carter comercial. Alm disso a "vadiagem", conseqncia dodesemprego, sobrecarregou o carter assistencial dos hospitais.

    Consequentemente, surge a necessidade urgente de alterar a funo do hospital

    para que venha a atender um maior nmero de pessoas, em menor espao de

    tempo. Surge consequentemente a figura emblemtico do mdico detentor do

    poder.

    Ressalta Lisboa (2002), que os regulamentos deveriam visar a atuao

    curativa do especialista: visita noite para doentes mais graves; outra visita paraatender a todos os doentes; residncia de um mdico no hospital, que deve se

    locomover a qualquer hora do dia e da noite, tanto para observar o que se passa,

    quanto para atender chamados. Surge, assim, uma classe de profissional, o

    "mdico de hospital". Desta forma, a tomada do poder pelo mdico, levou a uma

    inverso das relaes hierrquicas anteriormente existentes no hospital, tendo

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    sua manifestao concreta no denominado "ritual de visita", ou seja, um desfile

    quase religioso, encabeado pelo mdico, que se detm no leito.

    To logo, na tomada de cada doente, o mdico seguido por todas ascategorias subseqentes da instituio, ou seja, pelos assistentes, pelos alunos,

    pelos enfermeiros etc. Cada um com seu lugar determinado, e a presena do

    mdico anunciada por uma sineta. A organizao e o poder eram assim

    indissociveis.

    Quanto ao funcionamento econmico, Lisboa (2002), ressalta que o

    mdico substitui a caridade, a organizao religiosa ou municipal. Ou seja, com a

    melhoria do atendimento mdico, a burguesia procura o hospital e paga peloscuidados recebidos, reforando o poder de deciso dos profissionais. O mdico

    passa a ser o principal responsvel pela organizao hospitalar.

    Em meados do sculo XIX, o desenvolvimento da medicina, o uso de

    mtodos asspticos e anti-spticos que diminuram drasticamente o nmero de

    mortes por infeco, a introduo da anestesia, permitindo a realizao de

    cirurgias sem dor e com mais possibilidades de xito, contriburam muito para

    alterar a imagem do hospital, que, consequentemente, deixou de ser um lugaraonde os pobres iam para morrer, transformando-se em local onde os enfermos

    podiam curar-se. Como resultado, os ricos passaram a, aconselhados por seus

    mdicos, solicitar servios hospitalares. Consequentemente, os hospitais

    modificaram seu objetivo, e por conseguinte, sua clientela. Assim, passaram de

    abrigos a centros onde se dispensavam cuidados de nvel cientfico da medicina,

    em detrimento ao atendimento daqueles que dependiam da caridade pblica.

    De acordo com Ceclio e Mendes (2004), na recente micropoltica do

    hospital, as diretrizes da direo sofrem uma espcie de distoro: as citadas

    diretrizes so reinterpretadas, ressignificadas e traduzidas em prticas que mais

    parecem manter certos institudos em particular a ainda expressiva autonomia

    da prtica mdica e das relaes de dominao dos mdicos em relao a outras

    corporaes do que reinventar, efetivamente, as relaes existentes na vida

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    hospitalar. Assinalam ainda que as intenes de se implantar modelos gerenciais

    mais racionais e coordenados, com vistas a alcanar uma certa concentrao dos

    trabalhadores em torno dos objetivos da direo sero, na maioria das vezes

    deformadas ao percorrerem o denso campo de foras imanentes micropoltica

    do hospital. H sempre uma incontornvel distncia entre as equipes envolvidas

    diretamente no cuidado e a direo do hospital, de maneira que as diretrizes

    dessa ltima, sejam elas quais forem, so sempre reinterpretadas, reinventadas,

    digeridas e recriadas antropofagicamente, pelas primeiras.

    Embora ainda sob a insgnia de uma acentuada ciso hierrquica entre o

    mdico e os outros profissionais, as exigncias de um hospital eficiente e eficaz,assim determinam, que ocorra o encontro - no mesmo espao geogrfico

    (hospital) e social (doente) - entre profissionais que se complementam. Tendo

    sido o profissional da enfermagem, aquele que viria a imprimir uma maior

    humanizao ao espao hospitalar.

    na Idade Moderna que surge a descentralizao, a segregao de

    atividades complementares e a coexistncia de pessoal administrativo, mdico e

    auxiliar dentro das instituies hospitalares. Na Idade Contempornea cresce adescentralizao, aumenta a complexidade das estruturas organizacionais e a

    diversidade de funes. O modelo do hospital de hoje e do futuro deve adotar,

    como ponto de partida, a qualidade total da gesto, sem o que se converteria

    em um projeto fracassado em curto prazo. Logo, a qualidade deve ser

    determinada pelas necessidades e expectativas dos clientes externos e internos.

    Lembrando que a qualidade obtida por meio de melhores processos e

    atividades, e no, to somente, por inspeo. Ou seja, um melhoramento

    contnuo que nunca termina (Malagn-Londoo e cols, 2010, p.9).

    Medicina

    Segundo Straub (2005), responsvel por estabelecer as razes da medicina

    ocidental quando se rebelou contra o antigo foco no misticismo e na supertio, o

    filsofo grego Hipcrates (cerca de 460 a 377 a.C), frequentemente chamado de

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    o pai da medicina moderna, foi o primeiro a afirmar que a doena era um

    fenmeno natural e que suas causas, seu tratamento e sua preveno podem ser

    conhecidos e merecem estudos srios. Segundo o autor, assim, foi construida a

    base mais antiga para uma abordagem cientfica da cura.

    Assim, foi proposta por Hipcrates a primeira explicao racional para o

    fato de as pessoas adoecerem teoria humoral. Ainda que tenha sido descartada

    medida que foram feitos avanos em anatomia, fisiologia e microbiologia, a

    noo sobre os traos da personalidade estarem ligados aos fluidos corporais

    persite na medicina popular e alternativa de muitas culturas. Alm disso, sabido

    que muitas doenas envolvem um desequilbrio entre os neurotransmissores docrebro, de modo que Hipcrates no estava completamente equivocado. De tal

    modo vale a a descrio que segue:

    (...) um corpo e uma mente saudveis resultavam do equilbrio entre

    quatro fluidos corporais chamados de humores: sangue, bile amarela, bile negra e

    fleuma. Quando os humores estavam desequilibrados, contudo, o corpo e a

    mente seriam afetados de maneiras previsveis, dependendo de qual dos quatro

    humores estivessem em excesso. (Straub, 2005, p. 28).Para Straub (2005), outra grande figura na histria da medicina ocidental

    foi o mdico Claudius Galeno (cerca de 129 a 200 d.C). Conduzindo estudos de

    dissecao de animais e tratando os ferimentos graves dos gladiadores romanos,

    a partir dos quais ele aprendeu grande parte do que anteriormente no se sabia a

    respeito da sade e da doena. Galeno escreveu volumes a respeito da anatomia,

    higiene e dieta, construdos sobre as bases hipocrticas da explicao racional e

    da descrio cuidadossa dos sintomas fsicos de cada paciente. Galenodesenvolveu um sistema elaborado de farmacologia que os mdicos seguiram por

    quase 1.500 anos. Tal sistema era fundamentado na noo de que cada um dos

    quatro humores do corpo possuia sua prpria qualidade elementar que

    determinava o carter de doenas especficas. Embora tais vises possam

    parecer arcaicas, a farmacologia de Galeno era lgica, baseada em observaes

    cuidadosas, e semelhantes aos antigos sistemas de medicina que surgiram na

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    China, ndia e em outras culturas no-ocidentais. De maneira que muitas formas

    de medicina alternativa ainda usam idias semelhantes, hoje em dia.

    Segundo Straub (2005), em meados do sculo V d.C. a doena era vistacomo punio divina por algum mal realizado e acreditava-se que doenas

    epidmias, que ocorreram durante a Idade Mdia, eram um sinal da ira de Deus.

    Neste cenrio, embora os seguidores de Hipcrates e Galeno continuassem a

    promover uma abordagem cientfica, a maioria dos mdicos medievais enfatizava

    a feitiaria, a demonologia e outras formas de tratamento. De modo que houve

    poucos avanos cientficos na medicina europia po 1.500 anos.

    No final do sculo XV, nascia a era da Renascena. Com o ressurgimentoda investigao cientfica, esse perodo vivenciou a revitalizao do estudo da

    anatomia e da prtica mdica. Ren Descartes, cuja primeira inovao foi o

    conceito do corpo humano como mquina, descreveu todos os reflexos bsicos

    do corpo, construindo, modelos mecnicos para demonstrar seus princpios.

    Descartes acreditava que a doena ocorria quando a mquina estragava e a

    tarefa do mdico era consertar a mquina.Conhecido por sua crena de que

    a mente e o corpo so processos separados e autnomos, que interagemde forma mnima e que cada um deles est sujeito a diferentes leis de

    causalidade, Descartes defendia o ponto de vista do dualismo mente-

    corpo ou dualismo cartesiano; baseado na doutrina de que os seres humanos

    possuem duas naturezas, a mental e a fsica (Straub, 2005, p. 30). Aps a

    Renascena, a antiga teoria humoral de Hipcrates poderia ser descartada em

    favor da nova teoria anatmica da doena. Inquestionavelmente a cincia e a

    medicina mudaram rapidamente durante os sculos XVII e XVIII, motivadas por

    inmeros avanos tecnolgicos como por exemplo a utilizao clnica da

    termometria e a inveno do microscpio. Logo, uma vez que as clulas

    individuais tornaram-se visveis, o cenrio estava pronto para Rudolf Virchow, j

    no sculo XIX esboar a teoria celular da doena. Ou seja, a idia de que a

    doena uma resultante do funcionamento incorreto ou da morte das clulas

    corporais.

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    Para o autor, no sculo XX, marco de uma nova era, o campo da medicina

    continuava a avanar. Cada vez mais apoiado sob as bases da fisiologia e da

    anatomia e distante do estudo dos pensamentos e emoes. Nasce o modelo

    biomdico de sade, cuja crena que a doena sempre temcausas biolgicas.

    Viso esta ainda dominante na medicina nos dias de hoje,e que no faz

    meno s variveis psicolgicas, sociais ou comportamentais na doena.

    Vale ressaltar que se trata de um modelo reducionista, cuja sade nada

    mais do que a ausncia de doenas. Dessa forma, aqueles que trabalham

    apoiados nessa perspectiva concentram-se em investigar as causas das doenas

    fsicas em vez daqueles fatores que promovem a vitalidade fsica, psicolgica esocial. (Straub, 2005, p. 32).

    Naturalmente, um breve esboo histrico suficiente para demonstrar o

    quo antiga a arte mdica, ento exercida pelos feiticeiros, Xams e

    sacerdotes. Por outro lado, a comprovao da cincia mdica bastante recente,

    apenas nascida a partir do sculo XIX, e, do ponto de vista psicolgico, sempre

    sofrendo forte influncia daqueles predecessores msticos. Dessa forma, at h

    bem pouco tempo a relao do mdico com seu paciente era unidirecional, comesse ltimo submisso e esvaziado, investindo o primeiro com uma aura de forte

    idealizao e magia (Zimermann, 2010 in Mello Filho, Burd e Cols, 2010, p.80).

    Psicologia da Sade

    Straub (2005), refere hoje ser possvel afirmar que a psicologia da sade

    possui focos e objetivos prprios. Tendo sido os quatro principais aqueles

    estabelecidos pela American Psycological Association (APA) e seu ento

    presidente Joseph Matarazzo e publicados no primeiro volume de seu peridico

    oficial, Health Psychology.

    Para o referido autor, tendo a sade como seu tema fundamental, a

    Psicologia da Sade um subcampo da Psicologia que aplicam princpios e

    pesquisas psicolgicas para melhoria, tratamento e preveno de doenas. As

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    reas de interesse da Psicologia da Sade incluem condies sociais, fatores

    biolgicos e traos de personalidade. Um campo relativamente novo que ir

    desempenhar um papel fundamental para o enfrentamento de desafios para a

    sade do mundo, a Psicologia da Sade a cincia que busca responder

    questes relativas forma como o bem estar das pessoas pode ser afetado pelo

    que se pensa, sente e faz. Por se tratar de um subcampo da Psicologia, a

    Psicologia da Sade tem como premissa quatro objetivos distintos porm

    complementares:

    1. Estudar de forma cientfica as causas e origens de determinadas

    doenas, ou seja, a sua etiologia. Os psiclogos da sade esto principalmenteinteressados nas origens psicolgicas, comportamentais e sociais da doena.

    2. Promover a sade. Preocupa-se com questes sobre como levar

    as pessoas realizarem comportamentos que promovam a sade (praticar

    exerccios regularmente, comer alimentos nutritivo, etc).

    3. Prevenir e tratar doenas. Projeta programas para ajudar as pessoas a

    pararem de fumar, perderem peso, administrarem o estresse, e minimizarem

    outros fatores de risco de uma sade fraca. Preocupa-se tambm com aquelasque j esto doentes, em seus esforos para adaptarem-se a suas doenas ou

    obedecerem regimes de tratamento difceis.

    4. Promover polticas de sade pblica e aprimorameto do sistema de

    sade pblica. Os psiclogos da sade so bastante ativos em todos os aspectos

    da educao para a sade, e renem-se com frequncia com os lderes

    governamentais que formulam polticas pblicas na tentativa de melhorar os

    servios de sade para todos os indivduos.

    Notadamente, as tendncias sociais e histricas, criaram a necessidade de

    um modelo novo e mais amplo de sade e de doena, os psiclogos da sade

    estando cada vez mais dispostos a alcanar o xito diante de tal tendncia. Deste

    modo, estes profissionais desenvolveram diversos modelos, ou persectivas, para

    guiar seu trabalho.

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    Rev. SBPH vol.14 no.1, Rio de Janeiro - Jan/Jun. - 2011 213

    Psicologia Mdica

    Provavelmente por se tratar de um novo captulo na histria da Medicina, a

    Psicologia Mdica pode ser melhor percebida como um estudo do que como umaprtica. O que verdadeiramente no diminui seu mrito, uma vez que a maioria

    das prticas melhor aproveitada e praticada quando advindas de estudo

    aprofundado.

    Para Muniz e Chazan (2010), no mbito da Psicologia Mdica, a proposta

    estudar a psicologia do estudante, do mdico, do paciente, da relao entre estes,

    da famlia e do prprio contexto institucional dessas relaes.

    Levando em considerao o contexto da criao e da prtica da Psicologia

    Mdica, possvel perceber que a Psicologia Mdica tem como principal objetivo

    de estudo, as relaes humanas no contexto mdico. Portanto, a compreenso do

    homem em sua totalidade, em seu dilogo permanente entre mente e corpo, em

    sua condio biopsicossocial, fundamental para a Psicologia Mdica (Muniz e

    Chazan, 2010, p. 49 in Mello Filho, Burd e Cols, 2010).

    Se a interlocuo entre ensino e prtica questo fundamental, e portanto

    indispensvel, pode-se partir do princpio de que pouco adiantam os

    conhecimentos de ordem intelectual em Psicologia Mdica se eles no forem

    experienciados na prtica clnica do estudante ou mdico (Muniz e Chazan,

    2010, p. 51 in Mello Filho, Burd e Cols, 2010). possvel crer que perceber o que

    no diretamente explicitado pelo paciente no tarefa fcil. Escutar o que no

    dito em palavras requer um modelo de relao que, de forma alguma, o

    habitual (Muniz e Chazan, 2010, p. 52 in Mello Filho, Burd e Cols, 2010). ...as

    transformaes, ou melhor, as possibilidade de mudanas nas atitudes dos

    estudantes estaro ligadas diretametne intensidade das experincias

    emocionais vividas no decorrer de sua formao mdica. E desenvolvendo a

    capacidade de elaborar seus conflitos. De refletir sobre suas angstias, que o

    estudante poder posteriormente ouvir as angstias do paciente (Muniz e

    Chazan, 2010, p.52 in Mello Filho, Burd e Cols, 2010). Assim, como ocorre em

    Psicologia de um modo geral.

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    Rev. SBPH vol.14 no.1, Rio de Janeiro - Jan/Jun. - 2011 214

    Segundo Caixeta (2010), o conceito de Psicologia Mdica controverso

    desde o incio. Portanto, em uma tentativa de elucidar no to somente o

    conceito, mas, sobretudo a prtica do profissional de Psicologia Mdica, vale

    lanar mo de seus objetivos. Para o autor, os objetivos da Psicologia Mdica no

    se confundem, com os da Psiquiatria ou Psicanlise, estando fundamentados

    sobretudo no estudo e manejo dos problemas psicolgicos inerentes aos

    mdicos, no estudo sobre o adoecer e o morrer, no estudo das repercusses

    sistmicas ou cerebrais sobre a psicologia do paciente, na repercusso da

    doena sobre a psicodinmica familiar, na importnica dos fatores

    psicobiolgicos dentro da gnese, desencadeamento e teraputica de certas

    doenas, no mitigar convenientemente as angstias espirituais e existenciais ao

    curso das enfermidades longas e difceis, no escutar o paciente, escutar sobre a

    doena, escutar as queixas e o sofrimento do paciente e de seus prximos, no

    esclarecer, na medida do possvel, as complexas relaes psicobiolgicas entre

    alma e corpo dentro do contexto mdico, e, no fornecer aos mdicos noes

    psicolgicas prticas indispensveis ao seu exerccio mdico cotidiano.

    Em um nvel mais profundo de Psicologia Mdica (no tocante Psiquiatria

    de Ligao ou aos servios Especializados em Psicologia Mdica), empenha-se

    enxergar os fatores psicopatolgicos presentes dentro de certas relaes mdico-

    paciente. ento um nvel mais aprofundado de Psicologia Mdica e que releva

    uma assistncia mais especializada, pertencente talvez a um servio de

    Psiquiatria de Ligao ou de Psicologia Mdica (Caixeta, 2010).

    Enfim, embora seja tanto tentador quanto mais fcil fragmentar a atividade

    mdica em uma Medicina Somtica e uma Medicina Psicolgia, na maioria das

    vezes uma em detrimento da outra, faz-se necessria a unificao da medicina

    intentando uma melhor compreenso, terapia mais eficaz e indubitavelmente, um

    prazer e um interesse acrescidos a prtica.

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    Rev. SBPH vol.14 no.1, Rio de Janeiro - Jan/Jun. - 2011 215

    Psicologia Hospitalar

    Mais que uma atuao determinada por uma localizao, a Psicologia

    hospitalar o campo de entendimento e tratamento dos aspectos psicolgicos emtorno do adoecimento aquele que se d quando o sujeito humano, carregado

    de subjetividade, esbarra em um real, de natureza patolgica, denominado

    doena...(Simonetti, 2004, p. 15).

    importante apontar o objeto da psicologia hospitalar e estabelecer que

    est relacionado aos aspectos psicolgicos, e no s causas psicolgicas.

    Assim, fica estabelecido que a psicologia hospitalar no trata apenas das

    doenas com causas psquicas, classicamente denominadas psicossomticas,

    mas sim dos aspectos psicolgicos de toda e qualquer doena, uma vez que

    factvel que toda doena encontra-se repleta de subjetividade, e por isso pode se

    beneficiar do trabalho da psicologia hospitalar (Simonetti, 2004, p. 15).

    Embora o foco da psicologia hospitalar seja o aspecto psicolgico em torno

    do adoecimento, sensato aceitar que aspectos psicolgicos no existem soltos.

    Entre tantas importantes caractersticas da psicologia hospitalar, uma delas, de

    extrema relevncia a de que ela no estabelece uma meta ideal para o

    paciente alcanar, mas simplesmente aciona um processo de elaborao

    simblica do adoecimento. (Simonetti, 2004, p. 19).

    Vale citar a afirmativa: curar sempre que possvel, aliviar quase sempre,

    consolar sempre (Simonetti, 2004, p. 21).4 A transmutao de consolar em

    escutar se aproxima consideravelmente da filosofia da psicologia hospitalar,

    que ento pode ser definida como psicologia da escuta, em oposio filosofia da

    cura... (Simonetti, 2004, p. 21).

    Mesmo naqueles casos em que o paciente encontra-se impossibilitado de

    falar por razes orgnicas ou no, (...) ou pura resistncia, ainda assim essa

    orientao do trabalho pela palavra vlida, j que existem muitos signos no-

    verbais com valor de palavra, como gestos, olhares, a escrita e mesmo o silncio

    (Simonetti, 2004, p. 23).

    4 Aforismo hipocrtico citado por Simonetti.

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    Rev. SBPH vol.14 no.1, Rio de Janeiro - Jan/Jun. - 2011 216

    Enfim, a psicologia hospitalar vem se desenvolvendo no mbito de um

    novo paradigna epistemolgico que busca uma viso mais ampla do ser humano

    e privilegia a articulao entre diferentes formas de conhecimento (Simonetti,

    2004, p. 25-26). E, a consequncia clnica mais importante dessa viso a de

    que em vez de doenas existem doentes (Simonetti, 2004, p. 26 citando

    Perestrello, 1989).

    Psicossomtica

    Pensar em Psicossomtica requer abertura para novas perspectivas entre

    a Medicina e a Psicanlise. Neste sentido, a abertura para integrao entre as

    perpectivas da doena com sua dimenso psicolgia; da relao mdico-paciente

    com seus mltiplos desdobramentos; da ao teraputica voltada para a pessoa

    do doente - um ser entendido como um todo biopsicossocial. Diante dessa

    abertura, necessria para a concepo dessa cincia e prtica (Psicossomtica),

    possvel afirmar que se trata sobretudo de uma nova viso da Patologia e da

    Teraputica, tornando possvel o axioma antropolgico do objetivo mdico.Em

    outras palavras, trouxe para o pensamento mdico cientfico e para a prticaassistencial o mote clssico: tratar doentes e no doenas. (Eksterman in

    MelloFilho, Burd e cols, 2010. p. 40 ).

    Vale afirmar que em sentido prtico, no se trata de Psicanlise aplicada

    aos doentes somticos, ou mesmo psicanalisar portadores de enfermidade

    fsicas: trata-se, fundamentalmente, de uma transformao, tanto do pensamento

    quanto da atitude mdica.

    Dia a dia, os vrios fatos observados na prtica clnica evidenciam que

    soma e psiquismo formam uma s unidade; que a oposico entre termos mental

    e corporal, fsico e anmico, psquico e somtico carece de existncia real.

    Impe-se, pois a noo do homem como unidade psicossomtica. O paciente

    deve ser encarado no como simples mquina que precisa de reparo, mas como

    ser necessitado que pede ajuda e proteo (...) (Eksterman in Mello Filho, Burd e

    cols, 2010. p. 40 citando Perestrello, 1945).

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    Rev. SBPH vol.14 no.1, Rio de Janeiro - Jan/Jun. - 2011 217

    Em seu cerne, a Psicossomtica traz o objetivo bsico de promoo de

    uma nova atitude na assistncia, educao e pesquisa mdicas, ou seja, atitude

    psicossomtica, que visa a integrao dos elementos psicodinmicos e biolgicos

    da Patologia. Para alm dessa premissa, a Psicossomtica atribui o valor devido

    multidisciplinaridade, uma vez que busca conexo efetiva com a Enfermagem, o

    Servio Social, a Nutrio e a Psicologia, desde que comprometidas com o

    cuidado geral e a dimenso social da patologia, alm da condio existencial do

    doente. Para tanto imprescindvel que haja absoluto compromentimento de

    todos os profissionais envolvidos.

    Apesar de toda a conceituao bem estruturada e at otimista acerca daPsicossomtica, vale citar a expectativa de Ekstermam acerca da Psicossomtica

    como ainda sendo mais uma esperana do que uma realidade prtica. Isso

    porque persiste o maior dos desafios; o efetivo encontro do ser humano consigo

    prprio e com o outro (Eksterman in Melo Filho, Burd e cols, 2010. p. 45).

    Psicologia e Medicina: o possvel dilogo

    Psicologia, Psicologia Hospitalar e Medicina

    Segundo Angerami-Camon (2009), as perspectivas da Psicologia

    Hospitalar podem ser consideradas bastante promissoras, uma vez que

    determinam a prpria trajetria de suas conquistas e realizaes. A Psicologia,

    sobretudo a Psicologia Hospitalar, por mrito prprio, ganhou reconhecimento da

    comunidade cientfica, alm de inquestionvel notoriedade junto a outras

    profisses, assim como , contribuiu e contribui para a humanizao da prtica dos

    profissionais da sade dentro do contexto hospitalar, sendo esta uma das

    determinantes da mudana da postura mdica diante das patologias, de modo

    que aspectos emocionais passaram a ser considerados no quadro geral do

    paciente.

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    Rev. SBPH vol.14 no.1, Rio de Janeiro - Jan/Jun. - 2011 218

    Para o autor, a Psicologia Hospitalar inovou na maneira de compreender o

    contexto de realidade institucional e sedimentou a compreenso do quadro de

    restabelecimento cirrgico do paciente hospitalizado, estabelecendo a dimenso

    de seus medos, angstias e fantasias. Atuar como Psiclogo Hospitalar crer que

    a humanizao da abordagem hospitalar possvel e real; sobretudo verter o

    grito de dor do paciente de modo que este seja no to somente escutado, mas

    sobretudo, compreendido em toda a sua dimenso humana. O fato de a

    Psicologia Hospitalar ser igualmente presena obrigatria e indispensvel em

    simpsios e congressos que abordam a Psicologia Clnica e Social de maneira

    abrangente e generalizada, pode ser considerado um fator sumamente relevante,

    uma vez que surgem dos cantos mais diversos do pas, vozes que ecoam a

    performance desta rea da Psicologia. partir da Psicologia Hospitalar que a

    prpria Psicologia redefine conceitos tericos, com o intuito de compreender

    melhor a somatizao, suas implicaes, ocorrncias e portanto, consequncias.

    Alm disso, o autor defende que tambm partir da Psicologia Hospitalar que a

    conceituao da sade passa a ser redefinida , na realidade institucional , em

    suas nuances e aspectos mais profundos.

    A Psicologia Hospitalar um determinante de novos modelos tericos de

    atendimento, o questionamento da prtica, em uma atuao determinada pela

    prpria realidade da conceituao de sade e at mesmo de normalidade. Capaz

    de transformar tanto a realidade institucional quanto a realidade interior daquele

    que dela se aproxima e se apropria. Consiste ainda no renovar da esperana

    de que a dor seja entendida de uma forma mais humana, e de que os

    profissionais da sade, sobretudo os mdicos, possam aprender a escutar a

    angstia, o sofrimento, a ansiedade e o medo presentes em cada manifestao

    fsica de dor e sofrimento, sem temores, e com condies de lidarem com este

    lado do humano. A Psicologia Hospitalar o renovar do corao que vibra em

    nsia antes e aps cada cirurgia; o renovar da famlia que sofre junto do

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    paciente, sua dor, medo e angstia; o esclarecimento dos sentimentos do

    profissional de sade que se envolve com a dor do paciente e que, igualmente,

    sofre em nveis organsmicos a dor desse envolvimento. Pela tica da Psicologia

    Hospitalar, o rgo enfermo inserido no ser totalitrio. De tal modo, se existe um

    movimento na filosofia, na psicologia, na psiquiatria e nas cincias humanas em

    geral para que seja abandonada a viso dualista mente-corpo, sumamente na

    Psicologia Hospitalar que ser encontrado o enfeixamento de compreenso do

    homem como um todo. (Angerami-Camon, 2009, p. 139).

    Sendo a subjetividade o objetivo da Psicologia Hospitalar, a doena um

    real do corpo no qual o homem esbarra. E, quando isso acontece toda a suasubjetividade sacudida. De tal modo, a Psicologia Hospitalar est interessada

    em dar voz subjetividade do paciente, restituindo-lhe seu lugar, de que a

    medicina, por vezes, lhe afasta. Uma caracterstica importante da Psicologia

    Hospitalar a de que ela no estabelece uma meta ideal a ser alcanada pelo

    paciente, mas simplesmente aciona um processo de elaborao simblica do

    adoecimento. Para o autor, ela se prope a ajudar o paciente a fazer a travessia

    da experincia do adoecimento, embora no diga onde vai dar essa travessia. O

    destino do sintoma e, por conseguinte, do adoecimento depende de muitas

    variveis: do real biolgico, do inconsciente e das circunstncias. Logo, o

    Psiclogo Hospitalar participa dessa travessia como ouvinte privilegiado e no

    como guia. (Citando Moretto, Simonetti, 2004).

    certo que, na cena hospitalar, Medicina e Psicologia se aproximam

    significativamente, articulam-se, coexistem e tratam do mesmo paciente, no

    entanto, nunca se confundem, j que possuem objetos, mtodos e propsitos

    marcadamente distintos. A filosofia da Medicina curar doenas e salvar vidas.

    J a filosofia da Psicologia Hospitalar reposicionar o sujeito em relao sua

    doena.

    Citando Moreto, Simonetti (2004), refere, de modo bastante pertinente, que

    a Psicologia no est no Hospital para melhorar ou facilitar o trabalho da

    Medicina, embora isto possa ocorrer. A Psicologia Hospitalar jamais poderia

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    funcionar a partir de uma filosofia de cura, especialmente porque se prope a lidar

    tambm com situaes em que a cura j no mais provvel, como no caso de

    doenas crnicas, assim como de doenas sem possibilidades teraputicas. Vale

    ressaltar que no sentido mdico de erradicao de doenas e eliminao de

    sintomas, a psicologia pouco eficiente.

    Assim, verdadeiramente, o Psiclogo pode fazer muito pouco em relao

    doena em si, dado que este o compo de trabalho do mdico, mas pode

    fazer muito no mbito da relao do paciente com seu sintoma: essa sim sendo

    uma das funes do Psiclogo inserido em um hospital geral.

    Para Simonetti (2004), se a filosofia da Psicologia Hospitalar no se dpela cura, tambm no se d contra a cura. Trata-se de uma filosofia para alm

    da cura, uma vez que suprimidos os sintomas e eliminadas as causas das

    doenas, ainda permanecem a angstia, os traumas, as desiluses, os medos, as

    consequncias reais e imaginrias, ou seja, as marcas da doena. Logo, mesmo

    no trabalho bem sucedido de cura, muitas experincias ficam, resistem, tanto no

    curador como no doente. A Psicologia Hospitalar se prope a tratar tambm

    dessas situaes, dessas marcas, destas cicatrizes.Embora tanto a Medicina quanto a Psicologia aceitem que a doena um

    fenmeno bastante complexo, comportando vrias dimenses, situ-las em

    termos de causas psquicas versus causas orgnicas, ainda uma caracterstica

    do pensamento de parte dos mdicos, uma armadilha para o Psiclogo, que de

    modo algum deve incorrer no erro epistemolgico, uma vez que

    incontestavelmente o psquico orgnico e vice-versa.

    De acordo com Simonetti (2004), a Psicologia Hospitalar embora enfatize a

    parte psquica, no diz, e nem to pouco sugere , que outra parte no exista ou

    seja importante. Ao contrrio, perguntar sempre qual a reao psquica diante da

    realidade orgnica, qual a posio do sujeito diante desse real da doena, e disso

    far seu material de trabalho.Alm disso, a Psicologia Hospitalar define como

    objeto de trabalho no somente a dor do paciente, mas tambm a angstia da

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    famlia, a angstia, na maioria das vezes disfarada da equipe, e a angstia

    muitas vezes negada dos mdicos. De tal maneira, alm de considerar essas

    pessoas individualmente a Psicologia Hospitalar tambm se ocupa das relaes

    entre esses atores, o que a constitui como uma verdadeira psicologia de ligao,

    com a funo de facilitar os relacionamentos entre pacientes, familiares e

    mdicos. No esquecendo-se, claro, da prpria angstia e dor do Psiclogo neste

    teatro vivo do adoecimento e morte.

    No terreno da subjetividade, possvel verificar que a relao entre a

    Psicologia e a Medicina , por vezes, de uma contradio radical. Uma vez que a

    primeira faz da subjetividade seu foco principal, a segunda, muitas vezes, semcerimnias, exclui a subjetividade de seu campo epistmico de maneira, por

    vezes, uma suposta, porm equivocada, abordagem objetiva do adoecimento

    sem o vis de sentimentos ou desejos. De tal modo acaba, muitas vezes por

    negligenciar a subjetividade tanto do paciente como do prprio mdico e equipe.

    Simonetti (2004) , refere que tal abordagem, to objetiva, sofre o mal

    de que o excludo na teoria, retorna, com toda a fora, na prtica da clnica

    mdica. Citando Moreto o autor afirma que possvel assim, assistir, na relaoconcreta mdico-paciente, uma verdadeira enxurrada de emoes, sentimentos,

    fantasias e desejos, - de ambos que, por no terem amparo terico, so

    negados e escamoteados, embora nem por isso deixem de existir e influir. Vale

    considerar que a postura mdica, diferenciada da postura do Psiclogo

    Hospitalar, frente ao adoecimento subjetivo do paciente no deve ser tratada

    como uma escolha meramente comportamental, mas sim como uma construo

    histrica que, embora sensivelmente, e, com grande esforo, vem se modificando

    ao longo dos anos5.

    5 Na Grcia antiga havia dois tipos de mdicos, os que cuidavam dos cidados gregos e os que cuidavam dos escravos.Como os escravos eram oriundos de outras naes e no falavam o idioma grego, os mdicos que deles cuidavamforam perdendo o hbito de conversar com os pacientes. No adiantaria mesmo, e no sendo possvel a comunicao,apenas os examinavam e medicavam. J os mdicos que cuidavam de seus compatriotas gregos, costumavamconversar muito com eles, e, como para conversar com pessoas doentes preciso se inclinar um pouco sobre o leito,eles comearam a ser conhecidos como os mdicos que se inclinavam, do grego inclinare, e disso nasceu o termo atual

    clnica. O Psiclogo hospitalar um clnico. Fonte: Sinonetti (2004, p. 28).

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    Psicologia e Medicina: um paradoxo ou simplesmente dois paradgmas?

    Inicialmente, a prtica psicolgica frente prtica mdica pode constituir-se

    em um embate. Afinal, quando o discurso mdico fracassa em sua pretensoepistemolgica de banir a subjetividade, abrem-se ento as portas do hospital

    para a psicologia entrar, adentrar e cuidar desta importante caracterstica

    humana que revoluciona a meta mdica, subvertem-na alm de lanarem

    complexa perplexidade na cena hospitalar.

    Para Simonetti (2004), a medicina quer esvaziar o paciente de

    subjetividade, e a psicologia se especializou em mergulhar nessa mesma

    subjetividade, crendo que mais fcil do que secar o mar, aprender a navegar...(p. 22). Que exatamente isto, ou seja, restabelecer as condies para a prtica

    da medicina cientfica, o que a medicina espera da psicologia hospitalar, no resta

    dvida. A questo saber se essa mesmo a melhor funo da psicologia nessa

    empreitada hospitalar. Ser o papel da Psicologia Hospitalar o de atuar como

    depositria de toda a subjetividade em torno do adoecimento, permitindo,

    com esse gesto, que a medicina continue a ignorar a subjetividade e a

    trabalhar com um corpo como se nele no estivesse embutido um sujeito? Oucaberia Psicologia Hospitalar redirecionar, de forma cuidadosa e no acusativa

    e crtica, essa subjetividade de volta para medicina, auxiliando-a tanto a inclu-la

    quanto a compreender e com ela lidar, em sua filosofia?

    Por outro lado, vale ressaltar que a especificidade de cada profisso

    inquestionavelmente relevante, uma vez que d condies ao profissional de se

    apropriar de modo mais profundo daquilo que lhe compete enquanto especialista,

    o que no justifica a desqualificao de um outro profissional. Ao contrrio, anecessidade e portanto, aceitao do outro, pode lanar luz possibilidade de

    uma ressignificao interessante, produtiva para ambos, em termos de qualidade

    e efetividade no atendimento daquele que adoece, e que portanto, sofre.

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    Outra questo importante na compreenso do paradoxo Medicina e

    Psicologia a questo do destino desejado ao sintoma, ou seja, o que cada

    profissional faz, tenta, ou deseja fazer com o sintoma do paciente. Fcil supor que

    na medicina no h dvidas: ela quer elimin-lo, destru-lo. Ora, e tem mesmo

    que proceder assim, no h como defender o contrrio. Afinal, esta a natureza

    da medicina: o tratamento e a cura. E, embora no se colocando no caminho com

    vistas a atrapalhar tal premissa a Psicologia Hospitalar atua de maneira

    notadamente diferenciada, uma vez que no tem como funo a eliminao

    imediada de todo e qualquer sintoma, j que se interessa por escutar e

    compreender o que ele tem a dizer. Partindo de uma natureza

    inquestionavelmente diferenciada, para a Psicologia, todo sintoma, alm de doer

    e fazer sofrer, traz em si uma dimenso de mensagem e comporta informaes

    sobre a subjetividade de quem o possui. Existe no atuar da Psicologia Hospitalar

    a inalienvel noo de que o sujeito fala por meio de seus sintomas, ou falado

    por eles. Logo, a Psicologia se prope a escutar, compreender e fazer com que

    todos o entendam: paciente, famlia e equipe de sade. Eis a estratgia da

    Psicologia Hospitalar: tratar do adoecimento no registro do simblico, uma vez

    que no registro do real a medicina j o faz brilhantemente e, notadamente, vem se

    esforando para fazer, e fazendo, cada vez melhor.

    Vale ressaltar que, mesmo nos casos em que o paciente se encontra

    impossibilitado de falar, por razes orgnicas, instrumentais ou emocionais, ainda

    assim, a orientao do trabalho pela palavra bastante vlida, j que no se pode

    e nem to pouco se deve ignorar os signos no verbais com valor de palavra, tais

    como gestos, olhares, a escrita, at mesmo o valioso e expressivo silncio.

    De acordo com Simonetti (2004), o que interessa Psicologia Hospitalar

    no a doena em si, mas a relao que o doente tem com o seu sintoma, ou

    seja, o destino do sintoma, o que o paciente faz com sua doena e o significado

    que lhe confere.

    A Psicologia Hospitalar vem se desenvolvendo no mbito de um novo

    paradigma epistemolgico que busca uma viso mais ampla do ser

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    humano, e privilegia a clnica, uma viso mais holstica em termos de

    perceber no to somente doenas mas, sobretudo, a vivncia existencial de

    pessoas que apresentam doenas.

    Nessa direo a Psicologia perfeitamente capaz de perceber que todo

    conhecimento parcial e que jamais ser possvel alcanar a verdade total de

    objeto ou de objetivo algum. De tal modo, deve se propor a dialogar sempre com

    aquela que se ainda no, dever, em uma questo de tempo, e para o bem dos

    doentes, aceitar e melhor compreender algumas das nuances da Psicologia

    Hospitalar, de modo a caminharem sempre como complementares e nunca como

    combatentes. Um conhecimento nunca deve ter o propsito de anular ou mesmodesqualificar o outro, mas sobretudo, se legtimo, tico, moral, aliar-se a ele com

    vistas a um emriquecimento contnuo para ambos. Assim, se no possvel

    conhecer o todo da doena, ou do doente, j ser de grande utilidade conhecer

    muitas de suas dimenses, aliando-se conhecimentos de diferentes reas.

    De tal modo, se capazes de por em prtica tal premissa, ambos os

    profissionais, tanto da Psicologia Hospitalar quanto da Medicina tero chances

    mais profcuas de estabelecerem um dilogo verdadeiro e fomentarem em suaprtica diria um trabalho mais eficaz e por conseguinte mais efetivo para aquele

    que sofre.

    Em termos de expectativas em relao ao exercco da Medicina, o que

    mais se deseja a j to falada humanizao, no tocante a relao mdico-

    paciente, biotica, ao barateamento dos custos e sobretudo, ao acesso sade

    para todos, conforme seu direito j assegurado pela Constituio Brasileira. No

    entanto, isso somente ser possvel de fato, se houver a reflexo sobre ocienticismo radical, e da criao de conexes produtivas entre a cincia e

    outros campos do saber, como a espiritualidade, a poltica e a cultura em geral.

    Outro aspecto relevante no contexto do trabalho em hospital o

    diagnstico, tanto em Medicina quanto em Psicologia. Para Simonetti (2004, p.

    33), diagnosticar o instante de ver, seguido pelo tempo de entender que leva ao

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    momento de intervir, no necessariamente nessa ordem , mas

    necessariamente interligados. Logo, a principal razo pela qual os diagnsticos

    so feitos para facilitarem o tratamento, uma vez que diante de um diagnstico

    bem feito a melhor estratgia teraputica se evidencie, naturalmente, na mente do

    psiclogo bem treinado. Alm obviamente de outras imprescindves razes como

    a pesquisa cientfica e, a comunicao e relacionamento entre os profissionais.

    Segundo Simonetti (2004), em medicina, diagnstico o conhecimento

    da doena por meio de seus sintomas, enquanto na psicologia hospitalar o

    diagnstico o conhecimento da situao existencial e subjetiva da pessoa

    adoentada em sua relao com a doena (p. 33). Assim, na Psicologia Hospitalarno so diagnosticadas doenas, mas o a relao das pessoas com a doena

    apresentada. Desta maneira, o diagnstico, ao contrrio do que ocorre na

    Medicina, no necessariamente expresso em termos de nomenclatura de

    doenas , mas por uma descrio abrangente dos processos que influenciam e

    que so influenciados pela doena vivida pelo paciente.

    Tanto a Psicologia Hospitalar quanto a Medicina compreendem o

    diagnstico como uma hiptese de trabalho e no como uma verdade absoluta.De tal modo, a Psicologia Hospitalar em seu cerne, trabalha com o sentido das

    coisas e no com a verdade delas ( se tal existe!). E, assim tambm o faz a

    medicina, ainda que trabalhando com sua filosofia pragmtica. Uma vez que so

    inmeras as doenas de que no se consegue descobrir a etiologia, mas que por

    outro lado se consegue cur-las, e ainda lembrando de quantas doenas que

    ainda no so de conhecimento da Medicina, mas que existem e das quais

    padecem muitos seres humanos. A Medicina no se esgotou em termos de

    investigao e prtica. Nem a Psicologia Hospitalar, embora estejam muito

    avanadas!

    Enfim, a Medicina diagnostica e trata a doena da pessoa, enquanto a

    Psicologia Hospitalar diagnostica e trabalha com a pessoa, e sua relao com a

    doena apresentada. Desta forma pode-se entender que, de maneira alguma

    dever se impor um hiato intransponvel entre as duas cincias. Ao contrrio,

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    uma, incontestavelmente, complementar a outra como cada uma das asas de

    um pssaro: fundamentais, em seus esforos, para um bem sucedido vo. Fazem

    parte de um s corpo, se interdempendem, e no podem encontrar separao no

    objetivo a alcanar: o auxlio ao que sofre.

    Concluses e Consideraes Finais

    Levando em considerao que a Psicologia em si foi forjada e

    sedimentada de maneira paradoxal, uma vez que uma das mais antigas

    disciplinas acadmicas ao mesmo tempo em que uma das mais novas, vale

    maximizar, em alguns termos, a tolerncia no tocante criao, desenvolvimento

    e prtica da medicina.

    certo que a Psicologia, por seu alcance, causa significativo impacto na

    vida das pessoas, seja por sua presena ou mesmo por sua ausncia.

    Notadamente, assim tambm o com Medicina. E, qualquer abalo na

    normalidade ser significativamente impactante na vida do sujeito e de sua

    famlia.

    Se no h na Psicologia uma uniformidade na abordagem, seja pela

    possvel diversidade riqueza - de sua prtica, ou mesmo pelo temperamento ou

    personalidade do profissional que acaba guiando em sua escolha, no se pode

    incorrer no erro de crucificar outra cincia que vem, ao longo de vrios sculos,

    caminhando para a evoluo e o incontestvel aprimoramento de sua prtica.

    Assim, se a busca da Psicologia Hospitalar tambm pela evoluo e

    aprimoramento de sua prtica, vale sugerir que tanto a Medicina quanto a

    Psicologia Hospitalar estejam constantemente abertas para o dilogo, uma vez

    que ambas vislumbram, a melhoria da qualidade de vida dos seres humanos.

    Vale ressaltar que, embora a Medicina h muito mais tempo, tambm a

    Psicologia evoluiu e evolui tendo em seu cerne a necessidade tica de adequar-

    se s mudanas necessrias para a evoluo humana. De tal modo, percebendo

    e aceitando que todo processo de mudana, necessariamente ter inerente a ele

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    novos desafios, vale reconhecer que para alm do desenvolvimento e prtica

    destas duas cincias de maneira isolada, existe a necessidade atual de uma

    maior unio entre as cincias. O que se trata de nada menos que um processo

    inerente a uma srie de desafios, muito provavelmente o maior deles: a

    determinante necessidade de lidar com o novo, com o outro, e com as prprias

    limitaes.

    Logo, fundamental, a abertura para o desenvolvimento e aceitao de

    novos preceitos. Segundo Caixeta (2005), muito importante que o mdico, figura

    emblemtica durante muito tempo detentor de todo o poder, saiba e incorpore que

    o paciente no vem s trazer-lhe um rgo doente, mas tambm a ansiedade eos problemas psicolgicos ou mesmo sociais que deles decorrem.

    Assim, o ser humano transcende suas condies fisiolgicas, e a Medicina

    fundamental para auxlio de seu adoecimento e preveno do mesmo. Mas,

    trabalhando sozinha, jamais poder alcanar o xito to almejado, dado que no

    contempla o ser humano em sua integralidade. Alm disso o mdico pode e deve

    tambm incorporar sua prtica, o fato de que no est sozinho nesta

    empreitada, mas que poder contar com outros profissionais, que emborainseridos recentemente no hospital, se predispem a compartilhar todo o seu

    conhecimento, para maior chances de alcance de seu objetivo:auxiliar o ser

    humano na manuteno de sua sade. Um destes profissionais, certamente o

    Psiclogo Hospitalar.

    Assim, como clientes internos cabe a estes profissionais, juntos, Mdicos e

    Psiclogos, principalmente, fazer saber que para o melhoramento de

    sua prtica fundamental uma reinterpretao do trabalho em equipe, onde oconceito sai do papel e toma a forma real, e porque no, ideal. De tal modo,

    diminui-se no somente a distncia entre as equipe, mas sobretudo, entre as

    equipes diretamente envolvidas no cuidado com o paciente e a Direo do

    Hospital. Sem a pretenso de neste trabalho esgotar o tema que pode vir a ser

    bastante extenso, pareceu relevante mencionar.

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    Por que separar aquilo que a prtica hospitalar vem demonstrando maior

    efetividade quando caminhando junto? Para alm das produes cientficas, a

    possibilidade de atender ao doente lanando mo de um leque maior de

    possibilidades em termos de apropriao de conhecimento e especialidades, no

    somente mdicas mas psicolgicas alm de pedaggicas, irrefutavelmente uma

    conquista das mais dignificantes. Uma vez que coloca o saber completa e

    efetivamente ao dispor da sade, de preveno de doenas, e da qualidade vida.

    De certo modo, consideradas as limitaes, se trataria de uma disposio

    para atender a necessidade de um modelo mais amplo de sade, bem como de

    doena. De tal modo, seria compreender que, efetivamente, a vida interior doOutro s compreendida quando podemos remetermo-nos para dentro da pele

    dele, vivermos ns mesmos, por identificao, o que ele tenta descrever e,

    depois, num segundo tempo, capt-lo graas a uma tomada de distncia

    objetivante Caixeta (2005, p. 9).

    fundamental compreender que, para o profissional inserido em contexto

    hospitalar, seja ele Mdico ou Psiclogo, necessita de uma predisposio

    para a compreenso do homem em sua totalidade, seu dilogo entre mente ecorpo, sua condio biopsicossocial, poltica, e espiritual. Assim se implanta a

    verdadeira abertura ao dilogo interdisciplinar: com a compreenso das

    magnficas contribuies dos diversos campos cientficos que objetivam lidar com

    o ser humano, em seu processo de preveno e tratemento de doenas.

    Embora aparentemente mais fcil e, portanto tentador, fragmentar a

    atividade profissional em hospital, primordial a unificao de interesses no

    tocante ao doente e s questes relativas ao adoecimento, onde a sade, o bemestar e a qualidade de vida do paciente estaro sempre acima de

    incompreenses entre provissionais de reas difentes. Faz-se necessrio

    modstia, na abertura para uma nova viso e atuao diante, tanto da

    patologia quanto da teraputica, ou seja, transformao no somente de

    pensamento mas de atitude dentro da Instituio Hospitalar.

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    As percepes obtidas a partir do levantamento bibliogrfico do presente

    trabalho levantaram a reflexo sobre o fato de que a Psicologia da Sade,

    como um todo, uma prtica promissora que fez e vem fazendo avanos em sua,

    ainda que breve, impressionante e rica histria, embora haja muito ainda a

    aprender, estudar, pesquisar, e tambm muitos desafios a serem transpostos

    pelos profissonais de Psicologia, sobretudo os inseridos em Instituio Hospitalar.

    So irrefutveis as contribuies advindas da elaborao deste trabalho.

    Contudo, vale salientar a importncia inquestionvel de o profissional de

    Psicologia no ficar alheio s transformaes pelas quais a profisso passa, bem

    como no escapar ao chamado de uma realidade prtica e dinmica que se lheapresenta e, que para alm disto, solicita um profcuo comprometimento com o

    trabalho e sobretudo com o humano. O estudo constante, a dedicao pesquisa

    (to difcil em nossa profisso!), e a troca de experincia atravs de apresentao

    de trabalhos em Congressos uni e multiprofissionais, podero auxiliar na melhoria

    de fundamentao, assim como na realizao de prtica nas Instituies

    Hospitalares, visando tanto a unificao e o trabalho verdadeiro interdisciplinares,

    como no alcance dos objetivos de todos os profissionais atuantes no Hospital

    Geral.

    Ao considerar os objetivos deste trabalho, foi possvel verificar a existncia

    de peculiaridades inerentes a cada profisso. O que no impediu de constatar a

    existncia de uma gama significativa de possibilidades positivas emergentes de

    um trabalho conjunto e continuado entre os profissionais implicados, tanto na

    sade fsica, quanto na sade mental, social, religiosa e pltica a inseridas.

    Cabe enfatizar que, face diversidade de possbilidades de trabalho aserem investidos em um ambiente hospitalar, a propria elaborao do presente

    trabalho, a cada releitura, prope, por si s, uma gama cada vez maior de

    questes que vo sendo suscitadas, o que sugere ser impossvel que todas as

    questes se esgotem no presente estudo, dadas as diversas possibilidades de

    interpretaes e releituras.

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    Portanto, espera-se que a presente pesquisa bibliogrfica seja no

    somente mais um instrumento para coleta de dados, mas sobretudo um incentivo

    para o aprofundamento no tema, para novos estudos, para muitas outras

    reflexes e novos olhares na direo da compreenso e viabilizao de novas e

    mais efetivas estratgias de trabalho interdisciplinar.

    certo que muitas vezes as adversidades com as quais se depara um

    profissional de Psicologia, se efetivamente inserido em um hospital, e, portanto,

    Psiclogo Hospitalar, muitas das vezes so dignas de incitar o repensar

    profissional. O que sobremaneira no pode paralisar os profissionais, mas

    sobretudo, deveria motiv-los a desenvolverem, implementarem ereadaptarem mecanismos efetivos de enfrentamento. No mbito da Psicologia

    Hospitalar, muito resta a ser conquistado. Existe, sem sombra de dvida, muita

    luta a ser enfrentada, muitos sonhos a serem renovados, decepes inmeras a

    serem colhidas e frustraes a serem enfrentadas. No entanto, fundamental

    seguir a tecer a congruncia de seus ideais redimensionando parmetros e

    sobretudo limites, para to somente assim, continuar conquistando espao em

    uma evoluo e transformao que prometem ser contnuas, e de excelente

    resultados.

    Vale ressaltar que o Psiclogo Hospitalar est inserido no contexto da

    sade, de maneira to intensa quanto outros profissionais atuantes nesta rea. E,

    a realidade hospitalar lhe apresentar, algumas vezes, celeumas e condies que

    exigiro performances sequer imaginadas no tocante a valores ticos, tericos e

    ideolgicos. Para tanto fundamental que o Psiclogo Hospitalar, alm de

    profissionalmente preparado, e devidamente especializado para a atuar, esteja

    aberto e atento ao verdadeiro dilogo, sobretudo interdisciplinar.

    Enfim, no h empreitada, seja ela qual for, que no carregue em si

    alguma dimenso de sacrifcio, doao ou mesmo de aliana. Logo, para todo e

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    qualquer profissional que se proponha a trabalhar em contexto hospitalar vale

    introjetar o fato de que fundamental a manuteno da sade mental, sobretudo

    a dele prprio. Sendo cuidadoso consigo assim como o com os outros e vice-

    versa. De acordo com Paiva (2003), a dor um vento spero que passa por

    dentro da gente e atravessa para o outro lado carregando pedaos da alma...

    (p. 156).

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