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A Psicologia hospitalar e o hospital1
Health Psycology and gerneral hospital
Laila T. Noleto Q. Mosimann2Maria Alice Lustosa3
Santa Casa da Misericrdia do RJ-CESANTA
Resumo
O presente trabalho se refere a uma pesquisa bibliogrfica acerca de possveisrelaes entre a Psicologia Hospitalar e o Hospital Geral. Desta forma conduziu-se o trabalho com o propsito de compreender aspectos relativos sespecificidades tanto da Psicologia Hospitalar quanto da Medicina. Para tanto otema foi tratado tendo como pano de fundo as seguintes temticas: Um Pouco daHistria Psicologia Moderna, Hospital e Medicina; Psicologia da Sade,Psicologia Mdica, Psicologia Hospitalar e Psicossomtica; Psicologia e Medicina:Dilogo Psicologia, Psicologia Hospitalar e Medicina e, Psicologia e Medicina:um paradoxo ou simplesmente dois paradigmas? Mediante realizao dotrabalho foi possvel identificar, reconhecer e mesmo compreender algumasnuances que, embora no justifiquem, em alguma medida explicam algumasposturas profissionais tomadas no trabalho e, dado seu modo de acontecer, noencontro com o(s) outro(s). Enfim, mais do que descrever aspectos da dinmicade funcionamento da Psicologia Hospitalar e do Hospital, o presente estudoviabilizou crer que a concatenao entre tais passvel e desejvel de realizar-se.
Palavras-chave: Psicologia Hospitalar; Psicologia da Sade; Hospital Geral.
Abstract
This paper refers to a literature search on themes that are entwined with thedynamics of the possible relationship between Health Psychology and theHospital. Therefore, this research was conducted in order to understand some
1 Monografia Apresentada ao Servio de Psicologia Hospitalar da 28 Enfermaria da Santa Casa da Misericrdia do Rio deJaneiro, como Requisito Parcial Obteno do Ttulo de Ps Graduao em Psicologia Hospitalar e da Sade.
2 Psicloga e Pedagoga formada pela Universidade Catlica de Braslia UCB; Especializao em Teoria Psicanalticapela Universidade de Braslia UnB; Especializao em Psicologia Hospitalar e da Sade pela Santa Casa daMisericrdia do RJ.
3 Doutora em Psicologia pela UFRJ; Coordenadora dos 22 Cursos de Ps-Graduao da Santa Casa da Misericrdia doRJ-CESANTA; Coordenadora do Curso de Ps Graduao em Psicologia Hospitalar e da sade do CESANTA;Orientadora desta Monografia.
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specific aspects of both Health Psychology and Medicine. The following themeswere taken as a background for both topics: A Bit of History - Modern Psychology,Hospital Medicine, Health Psychology, Medical Psychology, Psychosomatics andHealth Psychology, Psychology and Medicine: Dialogue Psychology, MedicalPsychology and Medicine, Psychology and Medicine: a paradox or simply twoparadigms? Upon completion of the work, it was possible to identify, recognizeand understand some points that, although do not justify, to some extent explainsome of the positions taken by professionals in their meetings with others. Finally,beyond describing the dynamic aspects of the operations of Health Psychologyand the Hospital, this study makes viable the belief that these two areas are liableto cooperate.
Keywords: Health Psychology; General Hospital; General Hospital.
Introduo
A Psicologia Hospitalar e o Hospital Greral suscitam interessantes
investigaes devido sua recente articulao. Partindo desse pressuposto o
presente trabalho se prope, a investigar temticas que se fazem primordiais na
compreenso de alguns pormenores relativos necessidade de articulao em
contexto hospitalar, entre a Psicologia e a Medicina, levantado pelo
questionamento: Dilogo - Psicologia e Medicina: um paradoxo ou simplesmente
dois paradigmas?
A partir da pesquisa bibliogrfica e da composio do presente trabalho foi
possvel mergulhar na realidade prtica de cada uma das cincias em separado,
Medicina e Psicologia, alm de identificar peculiaridades tanto de suas origens
quanto de sua prtica. Alm disso, foi possvel identificar e compreender aspectos
relativos aos desdobramentos da, ainda que recente, tentativa de comunho
entre estas cincias.
Portanto, mais do que meramente descrever aspectos relativos
Psicologia Hospitalar e Medicina, o presente trabalho se props a viabilizar,
ainda que de maneira sutil, a constatao de que o trabalho conjunto embora
penoso pode ser forjado por uma escolha, considerando-se aspectos morais e
ticos especficos de cada atribuio profissional.
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Assim, a discusso da temtica se deu levando em considerao as
especificidades de cada profisso, mas sempre partindo da tentativa de no
neglicenciar as possibilidades criadoras, criativas e curativas dessa profcua
associao entre Psicologia Hospitalar e Medicina.
Muito provavelmente, a pesquisa bibliogrfica aqui apresentada no ir
dirimir todas dvidas, dado no ser sua proposta, mas abrir-se um espao para
que o assunto, to carente de publicaes cientficas, seja discutido, sem
tendenciosidade, e com cuidado de evitar generalizaes alienadas ou
alienantes. Alm disso, vislumbra-se a possibilidade de estudos futuros para a
ampliao do olhar, almejando encontrar respostas e erguer novas perguntassobre o tema pesquisado alm de, principalmente, viabilizar reflexes acerca da
criao e desenvolvimento de estratgias de enfrentamento diante das
adversidades que se apresentam diante do trabalho realizado em Instituio
Hospitalar.
Um pouco da histria
Psicologia Moderna
De acordo com Schultz e Schultz (1981), aqui encontra-se um paradoxo. A
Psicologia uma das mais antigas disciplinas acadmicas, ao mesmo tempo em
que tambm uma das mais novas. A aparente contradio demonstra, de modo
irrefutvel, uma continuidade vital entre passado e presente em termos de seu
objeto de estudo, uma vez que as mesmas espcies de interrogaes feitas
atualmente sobre a natureza humana tambm o eram h sculos atrs.
Para os autores supra citados, o que verdadeiramente distingue a
disciplina mais antiga da filosofia da Psicologia Moderna so a abordagem e as
tcnicas usadas, que demonstram a emergncia desta ltima como um campo de
estudo prprio e, essencialmente cientfico. De tal modo, a distino entre a
Psicologia Moderna e seus antecedentes est menos nos tipos de perguntas
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feitas sobre a natureza humana do que nos mtodos empregados na busca das
respostas. Consequentemente, uma considervel parte da histria da Psicologia,
depois de sua separao da Filosofia, a histria do contnuo aprimoramento de
instrumental, tcnicas e mtodos de estudo voltados para o alcance de uma
preciso e objetividade maiores tanto no mbito das perguntas quanto no das
resposta. Segundo estes autores, o primeiro indcio de um campo distinto de
pesquisa conhecido como Psicologia manifestou-se no ltimo quarto do sculo
XIX, momento em que o mtodo cientfico foi adotado como um recurso para
tentar solucionar problemas desta disciplina.
Irrefutavelmente, a Psicologia se expandiu e causa significativo impactona vida cotidiana. Seja qual for a idade, ocupao ou interesses, a vida do sujeito
, em alguma medida, influenciada pelo trabalho de Psiclogos, ou mesmo por
sua ausncia.
Para Schultz e Schultz (1981), desde o incio da histria registrada,
estudiosos vm tentando compreender o pensamento e o comportamento
humanos. Seus esforos tm produzido muitas descobertas e concluses
respeitveis, embora tambm devam ser considerados os mitos e imprecises.Contudo, muitos dos questionamentos levantados sculos atrs ainda so
relevantes hoje, o que denota uma considervel continuidade de problemas, e,
sobretudo que a Psicologia tem uma ligao vital e tangivel com o seu prprio
passado.
De fato, no existe uma uniformidade na abordagem ou definio da
Psicologia Moderna. Em vez disso, ocorre uma enorme diversidade, e at
desacordo e fragmentao, tanto em termos de especializaes cientficas eprofissionais quanto em termos de objeto de estudo. No entanto, o conhecimento
da histria pode trazer ordem desordem e produzir sentido a partir do caos;
permite enxergar o passado com mais clareza e explicar o presente (Schultz e
Schultz, 1981, p. 20).
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Temtica inesgotvel, a histria da Psicologia por si s uma narrativa
fascinante, a qual no faltam o drama, a tragdia e as idias revolucionrias
(Schultz e Schultz, 1981, p. 21).
Hospital
Ao longo da histria documentada, possvel identificar o desenvolvimento
de povos e de comunidades que vislumbravam a melhoria da qualidade de vida
de sua populao, assim tambm o com os hospitais, os aspectos sanitrios e,
por conseguinte o aparecimento de prticas neste exercidas.
Segundo Lisboa (2002), medida que as doenas e calamidades afetavam
a humanidade, por vezes originrias da prpria degradao humana, era possvel
ver o quanto profissionais e leigos buscavam prticas ou tcnicas que
minimizassem os sofrimentos de seus doentes e a cura de seus males. Contudo,
ainda que frente ao avano cientfico e tecnolgico, os processos de mudana,
necessariamente, sempre estaro inerentes a novos desafios. Para a autora, o
hospital, em toda a sua histria, tentou adequar-se s mudanas, essencialmente
no tocante s questes que envolvessem a diversidade de funes, a
complexidade e, prioritariamente, o desenvolvimento profissional de seus
colaboradores. A autora pontua que dificilmente se encontra, na
Antiguidade, denominao especfica para o local onde pessoas enfermas fossem
aceitas para permanncia e tratamento de doenas. Em sentido geral, pessoas
pobres, rfos, doentes e peregrinos se misturavam para toda e qualquer
necessidade de cuidados.
Lisboa (2002), refere que a palavra hospital origina-se do latim hospitalis,
que significa "ser hospitaleiro", acolhedor, adjetivo derivado de hospes, que se
refere a hspede, estrangeiro, conviva, viajante, aquele que d agasalho, que
hospeda. Assim, os termos "hospital " e "hospedale" surgiram do primitivo latim e
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se difundiram por diferentes pases. possvel verificar que no incio da era crist,
a terminologia mais utilizada relacionava-se com o grego e o latim, sendo que
hospital tem hoje a mesma concepo de nosocomium, lugar dos doentes, asilo
dos enfermos e nosodochium, que significa recepo de doentes. Assim, da
palavra "hospitium", derivou hospcio, que designava os estabelecimentos que
recebiam ou eram ocupados permanentemente por enfermos pobres, incurveis
ou insanos. As casas reservadas para tratamento temporrio dos doentes eram
denominadas "hospital" e, hotel, o lugar que recebia pessoas "no doentes".
Refere Lisboa (2002), que deve-se ao budismo a propagao das
instituies hospitalares , a partir de Sidartha Gautama, o Iluminado (Buda), que,segundo os registros da autora, construiu vrios hospitais e nomeou, para cada
dez cidades, um mdico j "formado", prtica continuada por seu filho Upatise.
Verifica-se que as primeiras figuras humanas a exercerem a "arte de curar"
foram os sacerdotes dos templos e, estes, os primeiros locais para onde iam os
doentes. Inicialmente, eram movimentos espontneos, indo os enfermos orar ao
Deus, pela cura de seus males. Com o passar do tempo, e o nmero desses
enfermos aumentando, foi necessria a criao de lugares apropriadose, finalmente, novos templos foram construdos em locais de bosques sagrados,
com fontes de gua de propriedades teraputicas, para atender aos doentes.
De acordo com Lisboa (2002), ento desenvolvido o conceito de
"hospedagem", ou seja, atendimento de viajantes doentes, os iatreuns, lugares
pblicos de tratamento, servidos por mdicos que no pertenciam casta
sacerdotal. Muitos no passavam de residncia dos mdicos e seus estudantes,
que acolhiam enfermos. Outros representavam local de "internao" de doentes,sob a superviso dos especialistas (medicina emprica), sendo que nestes locais
passaram a funcionar, tambm, escolas de medicina.
Com o advento do cristianismo surge uma nova viso humanstica, a que
altera a organizao social e as responsabilidades do indivduo. ento
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desenvolvido, mais rapidamente, o conceito de servios gerais de
assistncia aos menos favorecidos e aos enfermos, idosos, rfos, vivas, da
mesma forma que viajantes e peregrinos, sustentados pela contribuio dos
cristos, desde os tempos apostlicos.
Para Lisboa (2002), novos preceitos tambm para a vida monstica so
estabelecidos, e toma importncia fundamental a ajuda aos enfermos visando
melhorar o tratamento dos doentes. Difunde-se, tambm, o estudo das ervas
medicinais. O conhecimento recuperado tem influncia na postura perante o
conceito doena/sade, modificando desde a alimentao fornecida at, a
disposio dos prdios. Assim, mosteiros beneditinos serviram de modelo paraoutras ordens religiosas que se dedicaram aos enfermos, inclusive ordens
militares posteriores.
Durante o Renascimento, as transformaes econmicas e sociais
alteraram o carter da insero dos hospitais na vida urbana. A emergncia da
burguesia se refletiu na melhoria das condies de vida das cidades, que
passaram a atuar como focos de atrao desordenada de migraes e
deslocamentos de carter comercial. Alm disso a "vadiagem", conseqncia dodesemprego, sobrecarregou o carter assistencial dos hospitais.
Consequentemente, surge a necessidade urgente de alterar a funo do hospital
para que venha a atender um maior nmero de pessoas, em menor espao de
tempo. Surge consequentemente a figura emblemtico do mdico detentor do
poder.
Ressalta Lisboa (2002), que os regulamentos deveriam visar a atuao
curativa do especialista: visita noite para doentes mais graves; outra visita paraatender a todos os doentes; residncia de um mdico no hospital, que deve se
locomover a qualquer hora do dia e da noite, tanto para observar o que se passa,
quanto para atender chamados. Surge, assim, uma classe de profissional, o
"mdico de hospital". Desta forma, a tomada do poder pelo mdico, levou a uma
inverso das relaes hierrquicas anteriormente existentes no hospital, tendo
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sua manifestao concreta no denominado "ritual de visita", ou seja, um desfile
quase religioso, encabeado pelo mdico, que se detm no leito.
To logo, na tomada de cada doente, o mdico seguido por todas ascategorias subseqentes da instituio, ou seja, pelos assistentes, pelos alunos,
pelos enfermeiros etc. Cada um com seu lugar determinado, e a presena do
mdico anunciada por uma sineta. A organizao e o poder eram assim
indissociveis.
Quanto ao funcionamento econmico, Lisboa (2002), ressalta que o
mdico substitui a caridade, a organizao religiosa ou municipal. Ou seja, com a
melhoria do atendimento mdico, a burguesia procura o hospital e paga peloscuidados recebidos, reforando o poder de deciso dos profissionais. O mdico
passa a ser o principal responsvel pela organizao hospitalar.
Em meados do sculo XIX, o desenvolvimento da medicina, o uso de
mtodos asspticos e anti-spticos que diminuram drasticamente o nmero de
mortes por infeco, a introduo da anestesia, permitindo a realizao de
cirurgias sem dor e com mais possibilidades de xito, contriburam muito para
alterar a imagem do hospital, que, consequentemente, deixou de ser um lugaraonde os pobres iam para morrer, transformando-se em local onde os enfermos
podiam curar-se. Como resultado, os ricos passaram a, aconselhados por seus
mdicos, solicitar servios hospitalares. Consequentemente, os hospitais
modificaram seu objetivo, e por conseguinte, sua clientela. Assim, passaram de
abrigos a centros onde se dispensavam cuidados de nvel cientfico da medicina,
em detrimento ao atendimento daqueles que dependiam da caridade pblica.
De acordo com Ceclio e Mendes (2004), na recente micropoltica do
hospital, as diretrizes da direo sofrem uma espcie de distoro: as citadas
diretrizes so reinterpretadas, ressignificadas e traduzidas em prticas que mais
parecem manter certos institudos em particular a ainda expressiva autonomia
da prtica mdica e das relaes de dominao dos mdicos em relao a outras
corporaes do que reinventar, efetivamente, as relaes existentes na vida
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hospitalar. Assinalam ainda que as intenes de se implantar modelos gerenciais
mais racionais e coordenados, com vistas a alcanar uma certa concentrao dos
trabalhadores em torno dos objetivos da direo sero, na maioria das vezes
deformadas ao percorrerem o denso campo de foras imanentes micropoltica
do hospital. H sempre uma incontornvel distncia entre as equipes envolvidas
diretamente no cuidado e a direo do hospital, de maneira que as diretrizes
dessa ltima, sejam elas quais forem, so sempre reinterpretadas, reinventadas,
digeridas e recriadas antropofagicamente, pelas primeiras.
Embora ainda sob a insgnia de uma acentuada ciso hierrquica entre o
mdico e os outros profissionais, as exigncias de um hospital eficiente e eficaz,assim determinam, que ocorra o encontro - no mesmo espao geogrfico
(hospital) e social (doente) - entre profissionais que se complementam. Tendo
sido o profissional da enfermagem, aquele que viria a imprimir uma maior
humanizao ao espao hospitalar.
na Idade Moderna que surge a descentralizao, a segregao de
atividades complementares e a coexistncia de pessoal administrativo, mdico e
auxiliar dentro das instituies hospitalares. Na Idade Contempornea cresce adescentralizao, aumenta a complexidade das estruturas organizacionais e a
diversidade de funes. O modelo do hospital de hoje e do futuro deve adotar,
como ponto de partida, a qualidade total da gesto, sem o que se converteria
em um projeto fracassado em curto prazo. Logo, a qualidade deve ser
determinada pelas necessidades e expectativas dos clientes externos e internos.
Lembrando que a qualidade obtida por meio de melhores processos e
atividades, e no, to somente, por inspeo. Ou seja, um melhoramento
contnuo que nunca termina (Malagn-Londoo e cols, 2010, p.9).
Medicina
Segundo Straub (2005), responsvel por estabelecer as razes da medicina
ocidental quando se rebelou contra o antigo foco no misticismo e na supertio, o
filsofo grego Hipcrates (cerca de 460 a 377 a.C), frequentemente chamado de
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o pai da medicina moderna, foi o primeiro a afirmar que a doena era um
fenmeno natural e que suas causas, seu tratamento e sua preveno podem ser
conhecidos e merecem estudos srios. Segundo o autor, assim, foi construida a
base mais antiga para uma abordagem cientfica da cura.
Assim, foi proposta por Hipcrates a primeira explicao racional para o
fato de as pessoas adoecerem teoria humoral. Ainda que tenha sido descartada
medida que foram feitos avanos em anatomia, fisiologia e microbiologia, a
noo sobre os traos da personalidade estarem ligados aos fluidos corporais
persite na medicina popular e alternativa de muitas culturas. Alm disso, sabido
que muitas doenas envolvem um desequilbrio entre os neurotransmissores docrebro, de modo que Hipcrates no estava completamente equivocado. De tal
modo vale a a descrio que segue:
(...) um corpo e uma mente saudveis resultavam do equilbrio entre
quatro fluidos corporais chamados de humores: sangue, bile amarela, bile negra e
fleuma. Quando os humores estavam desequilibrados, contudo, o corpo e a
mente seriam afetados de maneiras previsveis, dependendo de qual dos quatro
humores estivessem em excesso. (Straub, 2005, p. 28).Para Straub (2005), outra grande figura na histria da medicina ocidental
foi o mdico Claudius Galeno (cerca de 129 a 200 d.C). Conduzindo estudos de
dissecao de animais e tratando os ferimentos graves dos gladiadores romanos,
a partir dos quais ele aprendeu grande parte do que anteriormente no se sabia a
respeito da sade e da doena. Galeno escreveu volumes a respeito da anatomia,
higiene e dieta, construdos sobre as bases hipocrticas da explicao racional e
da descrio cuidadossa dos sintomas fsicos de cada paciente. Galenodesenvolveu um sistema elaborado de farmacologia que os mdicos seguiram por
quase 1.500 anos. Tal sistema era fundamentado na noo de que cada um dos
quatro humores do corpo possuia sua prpria qualidade elementar que
determinava o carter de doenas especficas. Embora tais vises possam
parecer arcaicas, a farmacologia de Galeno era lgica, baseada em observaes
cuidadosas, e semelhantes aos antigos sistemas de medicina que surgiram na
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China, ndia e em outras culturas no-ocidentais. De maneira que muitas formas
de medicina alternativa ainda usam idias semelhantes, hoje em dia.
Segundo Straub (2005), em meados do sculo V d.C. a doena era vistacomo punio divina por algum mal realizado e acreditava-se que doenas
epidmias, que ocorreram durante a Idade Mdia, eram um sinal da ira de Deus.
Neste cenrio, embora os seguidores de Hipcrates e Galeno continuassem a
promover uma abordagem cientfica, a maioria dos mdicos medievais enfatizava
a feitiaria, a demonologia e outras formas de tratamento. De modo que houve
poucos avanos cientficos na medicina europia po 1.500 anos.
No final do sculo XV, nascia a era da Renascena. Com o ressurgimentoda investigao cientfica, esse perodo vivenciou a revitalizao do estudo da
anatomia e da prtica mdica. Ren Descartes, cuja primeira inovao foi o
conceito do corpo humano como mquina, descreveu todos os reflexos bsicos
do corpo, construindo, modelos mecnicos para demonstrar seus princpios.
Descartes acreditava que a doena ocorria quando a mquina estragava e a
tarefa do mdico era consertar a mquina.Conhecido por sua crena de que
a mente e o corpo so processos separados e autnomos, que interagemde forma mnima e que cada um deles est sujeito a diferentes leis de
causalidade, Descartes defendia o ponto de vista do dualismo mente-
corpo ou dualismo cartesiano; baseado na doutrina de que os seres humanos
possuem duas naturezas, a mental e a fsica (Straub, 2005, p. 30). Aps a
Renascena, a antiga teoria humoral de Hipcrates poderia ser descartada em
favor da nova teoria anatmica da doena. Inquestionavelmente a cincia e a
medicina mudaram rapidamente durante os sculos XVII e XVIII, motivadas por
inmeros avanos tecnolgicos como por exemplo a utilizao clnica da
termometria e a inveno do microscpio. Logo, uma vez que as clulas
individuais tornaram-se visveis, o cenrio estava pronto para Rudolf Virchow, j
no sculo XIX esboar a teoria celular da doena. Ou seja, a idia de que a
doena uma resultante do funcionamento incorreto ou da morte das clulas
corporais.
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Para o autor, no sculo XX, marco de uma nova era, o campo da medicina
continuava a avanar. Cada vez mais apoiado sob as bases da fisiologia e da
anatomia e distante do estudo dos pensamentos e emoes. Nasce o modelo
biomdico de sade, cuja crena que a doena sempre temcausas biolgicas.
Viso esta ainda dominante na medicina nos dias de hoje,e que no faz
meno s variveis psicolgicas, sociais ou comportamentais na doena.
Vale ressaltar que se trata de um modelo reducionista, cuja sade nada
mais do que a ausncia de doenas. Dessa forma, aqueles que trabalham
apoiados nessa perspectiva concentram-se em investigar as causas das doenas
fsicas em vez daqueles fatores que promovem a vitalidade fsica, psicolgica esocial. (Straub, 2005, p. 32).
Naturalmente, um breve esboo histrico suficiente para demonstrar o
quo antiga a arte mdica, ento exercida pelos feiticeiros, Xams e
sacerdotes. Por outro lado, a comprovao da cincia mdica bastante recente,
apenas nascida a partir do sculo XIX, e, do ponto de vista psicolgico, sempre
sofrendo forte influncia daqueles predecessores msticos. Dessa forma, at h
bem pouco tempo a relao do mdico com seu paciente era unidirecional, comesse ltimo submisso e esvaziado, investindo o primeiro com uma aura de forte
idealizao e magia (Zimermann, 2010 in Mello Filho, Burd e Cols, 2010, p.80).
Psicologia da Sade
Straub (2005), refere hoje ser possvel afirmar que a psicologia da sade
possui focos e objetivos prprios. Tendo sido os quatro principais aqueles
estabelecidos pela American Psycological Association (APA) e seu ento
presidente Joseph Matarazzo e publicados no primeiro volume de seu peridico
oficial, Health Psychology.
Para o referido autor, tendo a sade como seu tema fundamental, a
Psicologia da Sade um subcampo da Psicologia que aplicam princpios e
pesquisas psicolgicas para melhoria, tratamento e preveno de doenas. As
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reas de interesse da Psicologia da Sade incluem condies sociais, fatores
biolgicos e traos de personalidade. Um campo relativamente novo que ir
desempenhar um papel fundamental para o enfrentamento de desafios para a
sade do mundo, a Psicologia da Sade a cincia que busca responder
questes relativas forma como o bem estar das pessoas pode ser afetado pelo
que se pensa, sente e faz. Por se tratar de um subcampo da Psicologia, a
Psicologia da Sade tem como premissa quatro objetivos distintos porm
complementares:
1. Estudar de forma cientfica as causas e origens de determinadas
doenas, ou seja, a sua etiologia. Os psiclogos da sade esto principalmenteinteressados nas origens psicolgicas, comportamentais e sociais da doena.
2. Promover a sade. Preocupa-se com questes sobre como levar
as pessoas realizarem comportamentos que promovam a sade (praticar
exerccios regularmente, comer alimentos nutritivo, etc).
3. Prevenir e tratar doenas. Projeta programas para ajudar as pessoas a
pararem de fumar, perderem peso, administrarem o estresse, e minimizarem
outros fatores de risco de uma sade fraca. Preocupa-se tambm com aquelasque j esto doentes, em seus esforos para adaptarem-se a suas doenas ou
obedecerem regimes de tratamento difceis.
4. Promover polticas de sade pblica e aprimorameto do sistema de
sade pblica. Os psiclogos da sade so bastante ativos em todos os aspectos
da educao para a sade, e renem-se com frequncia com os lderes
governamentais que formulam polticas pblicas na tentativa de melhorar os
servios de sade para todos os indivduos.
Notadamente, as tendncias sociais e histricas, criaram a necessidade de
um modelo novo e mais amplo de sade e de doena, os psiclogos da sade
estando cada vez mais dispostos a alcanar o xito diante de tal tendncia. Deste
modo, estes profissionais desenvolveram diversos modelos, ou persectivas, para
guiar seu trabalho.
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Psicologia Mdica
Provavelmente por se tratar de um novo captulo na histria da Medicina, a
Psicologia Mdica pode ser melhor percebida como um estudo do que como umaprtica. O que verdadeiramente no diminui seu mrito, uma vez que a maioria
das prticas melhor aproveitada e praticada quando advindas de estudo
aprofundado.
Para Muniz e Chazan (2010), no mbito da Psicologia Mdica, a proposta
estudar a psicologia do estudante, do mdico, do paciente, da relao entre estes,
da famlia e do prprio contexto institucional dessas relaes.
Levando em considerao o contexto da criao e da prtica da Psicologia
Mdica, possvel perceber que a Psicologia Mdica tem como principal objetivo
de estudo, as relaes humanas no contexto mdico. Portanto, a compreenso do
homem em sua totalidade, em seu dilogo permanente entre mente e corpo, em
sua condio biopsicossocial, fundamental para a Psicologia Mdica (Muniz e
Chazan, 2010, p. 49 in Mello Filho, Burd e Cols, 2010).
Se a interlocuo entre ensino e prtica questo fundamental, e portanto
indispensvel, pode-se partir do princpio de que pouco adiantam os
conhecimentos de ordem intelectual em Psicologia Mdica se eles no forem
experienciados na prtica clnica do estudante ou mdico (Muniz e Chazan,
2010, p. 51 in Mello Filho, Burd e Cols, 2010). possvel crer que perceber o que
no diretamente explicitado pelo paciente no tarefa fcil. Escutar o que no
dito em palavras requer um modelo de relao que, de forma alguma, o
habitual (Muniz e Chazan, 2010, p. 52 in Mello Filho, Burd e Cols, 2010). ...as
transformaes, ou melhor, as possibilidade de mudanas nas atitudes dos
estudantes estaro ligadas diretametne intensidade das experincias
emocionais vividas no decorrer de sua formao mdica. E desenvolvendo a
capacidade de elaborar seus conflitos. De refletir sobre suas angstias, que o
estudante poder posteriormente ouvir as angstias do paciente (Muniz e
Chazan, 2010, p.52 in Mello Filho, Burd e Cols, 2010). Assim, como ocorre em
Psicologia de um modo geral.
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Segundo Caixeta (2010), o conceito de Psicologia Mdica controverso
desde o incio. Portanto, em uma tentativa de elucidar no to somente o
conceito, mas, sobretudo a prtica do profissional de Psicologia Mdica, vale
lanar mo de seus objetivos. Para o autor, os objetivos da Psicologia Mdica no
se confundem, com os da Psiquiatria ou Psicanlise, estando fundamentados
sobretudo no estudo e manejo dos problemas psicolgicos inerentes aos
mdicos, no estudo sobre o adoecer e o morrer, no estudo das repercusses
sistmicas ou cerebrais sobre a psicologia do paciente, na repercusso da
doena sobre a psicodinmica familiar, na importnica dos fatores
psicobiolgicos dentro da gnese, desencadeamento e teraputica de certas
doenas, no mitigar convenientemente as angstias espirituais e existenciais ao
curso das enfermidades longas e difceis, no escutar o paciente, escutar sobre a
doena, escutar as queixas e o sofrimento do paciente e de seus prximos, no
esclarecer, na medida do possvel, as complexas relaes psicobiolgicas entre
alma e corpo dentro do contexto mdico, e, no fornecer aos mdicos noes
psicolgicas prticas indispensveis ao seu exerccio mdico cotidiano.
Em um nvel mais profundo de Psicologia Mdica (no tocante Psiquiatria
de Ligao ou aos servios Especializados em Psicologia Mdica), empenha-se
enxergar os fatores psicopatolgicos presentes dentro de certas relaes mdico-
paciente. ento um nvel mais aprofundado de Psicologia Mdica e que releva
uma assistncia mais especializada, pertencente talvez a um servio de
Psiquiatria de Ligao ou de Psicologia Mdica (Caixeta, 2010).
Enfim, embora seja tanto tentador quanto mais fcil fragmentar a atividade
mdica em uma Medicina Somtica e uma Medicina Psicolgia, na maioria das
vezes uma em detrimento da outra, faz-se necessria a unificao da medicina
intentando uma melhor compreenso, terapia mais eficaz e indubitavelmente, um
prazer e um interesse acrescidos a prtica.
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Psicologia Hospitalar
Mais que uma atuao determinada por uma localizao, a Psicologia
hospitalar o campo de entendimento e tratamento dos aspectos psicolgicos emtorno do adoecimento aquele que se d quando o sujeito humano, carregado
de subjetividade, esbarra em um real, de natureza patolgica, denominado
doena...(Simonetti, 2004, p. 15).
importante apontar o objeto da psicologia hospitalar e estabelecer que
est relacionado aos aspectos psicolgicos, e no s causas psicolgicas.
Assim, fica estabelecido que a psicologia hospitalar no trata apenas das
doenas com causas psquicas, classicamente denominadas psicossomticas,
mas sim dos aspectos psicolgicos de toda e qualquer doena, uma vez que
factvel que toda doena encontra-se repleta de subjetividade, e por isso pode se
beneficiar do trabalho da psicologia hospitalar (Simonetti, 2004, p. 15).
Embora o foco da psicologia hospitalar seja o aspecto psicolgico em torno
do adoecimento, sensato aceitar que aspectos psicolgicos no existem soltos.
Entre tantas importantes caractersticas da psicologia hospitalar, uma delas, de
extrema relevncia a de que ela no estabelece uma meta ideal para o
paciente alcanar, mas simplesmente aciona um processo de elaborao
simblica do adoecimento. (Simonetti, 2004, p. 19).
Vale citar a afirmativa: curar sempre que possvel, aliviar quase sempre,
consolar sempre (Simonetti, 2004, p. 21).4 A transmutao de consolar em
escutar se aproxima consideravelmente da filosofia da psicologia hospitalar,
que ento pode ser definida como psicologia da escuta, em oposio filosofia da
cura... (Simonetti, 2004, p. 21).
Mesmo naqueles casos em que o paciente encontra-se impossibilitado de
falar por razes orgnicas ou no, (...) ou pura resistncia, ainda assim essa
orientao do trabalho pela palavra vlida, j que existem muitos signos no-
verbais com valor de palavra, como gestos, olhares, a escrita e mesmo o silncio
(Simonetti, 2004, p. 23).
4 Aforismo hipocrtico citado por Simonetti.
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Enfim, a psicologia hospitalar vem se desenvolvendo no mbito de um
novo paradigna epistemolgico que busca uma viso mais ampla do ser humano
e privilegia a articulao entre diferentes formas de conhecimento (Simonetti,
2004, p. 25-26). E, a consequncia clnica mais importante dessa viso a de
que em vez de doenas existem doentes (Simonetti, 2004, p. 26 citando
Perestrello, 1989).
Psicossomtica
Pensar em Psicossomtica requer abertura para novas perspectivas entre
a Medicina e a Psicanlise. Neste sentido, a abertura para integrao entre as
perpectivas da doena com sua dimenso psicolgia; da relao mdico-paciente
com seus mltiplos desdobramentos; da ao teraputica voltada para a pessoa
do doente - um ser entendido como um todo biopsicossocial. Diante dessa
abertura, necessria para a concepo dessa cincia e prtica (Psicossomtica),
possvel afirmar que se trata sobretudo de uma nova viso da Patologia e da
Teraputica, tornando possvel o axioma antropolgico do objetivo mdico.Em
outras palavras, trouxe para o pensamento mdico cientfico e para a prticaassistencial o mote clssico: tratar doentes e no doenas. (Eksterman in
MelloFilho, Burd e cols, 2010. p. 40 ).
Vale afirmar que em sentido prtico, no se trata de Psicanlise aplicada
aos doentes somticos, ou mesmo psicanalisar portadores de enfermidade
fsicas: trata-se, fundamentalmente, de uma transformao, tanto do pensamento
quanto da atitude mdica.
Dia a dia, os vrios fatos observados na prtica clnica evidenciam que
soma e psiquismo formam uma s unidade; que a oposico entre termos mental
e corporal, fsico e anmico, psquico e somtico carece de existncia real.
Impe-se, pois a noo do homem como unidade psicossomtica. O paciente
deve ser encarado no como simples mquina que precisa de reparo, mas como
ser necessitado que pede ajuda e proteo (...) (Eksterman in Mello Filho, Burd e
cols, 2010. p. 40 citando Perestrello, 1945).
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Em seu cerne, a Psicossomtica traz o objetivo bsico de promoo de
uma nova atitude na assistncia, educao e pesquisa mdicas, ou seja, atitude
psicossomtica, que visa a integrao dos elementos psicodinmicos e biolgicos
da Patologia. Para alm dessa premissa, a Psicossomtica atribui o valor devido
multidisciplinaridade, uma vez que busca conexo efetiva com a Enfermagem, o
Servio Social, a Nutrio e a Psicologia, desde que comprometidas com o
cuidado geral e a dimenso social da patologia, alm da condio existencial do
doente. Para tanto imprescindvel que haja absoluto compromentimento de
todos os profissionais envolvidos.
Apesar de toda a conceituao bem estruturada e at otimista acerca daPsicossomtica, vale citar a expectativa de Ekstermam acerca da Psicossomtica
como ainda sendo mais uma esperana do que uma realidade prtica. Isso
porque persiste o maior dos desafios; o efetivo encontro do ser humano consigo
prprio e com o outro (Eksterman in Melo Filho, Burd e cols, 2010. p. 45).
Psicologia e Medicina: o possvel dilogo
Psicologia, Psicologia Hospitalar e Medicina
Segundo Angerami-Camon (2009), as perspectivas da Psicologia
Hospitalar podem ser consideradas bastante promissoras, uma vez que
determinam a prpria trajetria de suas conquistas e realizaes. A Psicologia,
sobretudo a Psicologia Hospitalar, por mrito prprio, ganhou reconhecimento da
comunidade cientfica, alm de inquestionvel notoriedade junto a outras
profisses, assim como , contribuiu e contribui para a humanizao da prtica dos
profissionais da sade dentro do contexto hospitalar, sendo esta uma das
determinantes da mudana da postura mdica diante das patologias, de modo
que aspectos emocionais passaram a ser considerados no quadro geral do
paciente.
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Para o autor, a Psicologia Hospitalar inovou na maneira de compreender o
contexto de realidade institucional e sedimentou a compreenso do quadro de
restabelecimento cirrgico do paciente hospitalizado, estabelecendo a dimenso
de seus medos, angstias e fantasias. Atuar como Psiclogo Hospitalar crer que
a humanizao da abordagem hospitalar possvel e real; sobretudo verter o
grito de dor do paciente de modo que este seja no to somente escutado, mas
sobretudo, compreendido em toda a sua dimenso humana. O fato de a
Psicologia Hospitalar ser igualmente presena obrigatria e indispensvel em
simpsios e congressos que abordam a Psicologia Clnica e Social de maneira
abrangente e generalizada, pode ser considerado um fator sumamente relevante,
uma vez que surgem dos cantos mais diversos do pas, vozes que ecoam a
performance desta rea da Psicologia. partir da Psicologia Hospitalar que a
prpria Psicologia redefine conceitos tericos, com o intuito de compreender
melhor a somatizao, suas implicaes, ocorrncias e portanto, consequncias.
Alm disso, o autor defende que tambm partir da Psicologia Hospitalar que a
conceituao da sade passa a ser redefinida , na realidade institucional , em
suas nuances e aspectos mais profundos.
A Psicologia Hospitalar um determinante de novos modelos tericos de
atendimento, o questionamento da prtica, em uma atuao determinada pela
prpria realidade da conceituao de sade e at mesmo de normalidade. Capaz
de transformar tanto a realidade institucional quanto a realidade interior daquele
que dela se aproxima e se apropria. Consiste ainda no renovar da esperana
de que a dor seja entendida de uma forma mais humana, e de que os
profissionais da sade, sobretudo os mdicos, possam aprender a escutar a
angstia, o sofrimento, a ansiedade e o medo presentes em cada manifestao
fsica de dor e sofrimento, sem temores, e com condies de lidarem com este
lado do humano. A Psicologia Hospitalar o renovar do corao que vibra em
nsia antes e aps cada cirurgia; o renovar da famlia que sofre junto do
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paciente, sua dor, medo e angstia; o esclarecimento dos sentimentos do
profissional de sade que se envolve com a dor do paciente e que, igualmente,
sofre em nveis organsmicos a dor desse envolvimento. Pela tica da Psicologia
Hospitalar, o rgo enfermo inserido no ser totalitrio. De tal modo, se existe um
movimento na filosofia, na psicologia, na psiquiatria e nas cincias humanas em
geral para que seja abandonada a viso dualista mente-corpo, sumamente na
Psicologia Hospitalar que ser encontrado o enfeixamento de compreenso do
homem como um todo. (Angerami-Camon, 2009, p. 139).
Sendo a subjetividade o objetivo da Psicologia Hospitalar, a doena um
real do corpo no qual o homem esbarra. E, quando isso acontece toda a suasubjetividade sacudida. De tal modo, a Psicologia Hospitalar est interessada
em dar voz subjetividade do paciente, restituindo-lhe seu lugar, de que a
medicina, por vezes, lhe afasta. Uma caracterstica importante da Psicologia
Hospitalar a de que ela no estabelece uma meta ideal a ser alcanada pelo
paciente, mas simplesmente aciona um processo de elaborao simblica do
adoecimento. Para o autor, ela se prope a ajudar o paciente a fazer a travessia
da experincia do adoecimento, embora no diga onde vai dar essa travessia. O
destino do sintoma e, por conseguinte, do adoecimento depende de muitas
variveis: do real biolgico, do inconsciente e das circunstncias. Logo, o
Psiclogo Hospitalar participa dessa travessia como ouvinte privilegiado e no
como guia. (Citando Moretto, Simonetti, 2004).
certo que, na cena hospitalar, Medicina e Psicologia se aproximam
significativamente, articulam-se, coexistem e tratam do mesmo paciente, no
entanto, nunca se confundem, j que possuem objetos, mtodos e propsitos
marcadamente distintos. A filosofia da Medicina curar doenas e salvar vidas.
J a filosofia da Psicologia Hospitalar reposicionar o sujeito em relao sua
doena.
Citando Moreto, Simonetti (2004), refere, de modo bastante pertinente, que
a Psicologia no est no Hospital para melhorar ou facilitar o trabalho da
Medicina, embora isto possa ocorrer. A Psicologia Hospitalar jamais poderia
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funcionar a partir de uma filosofia de cura, especialmente porque se prope a lidar
tambm com situaes em que a cura j no mais provvel, como no caso de
doenas crnicas, assim como de doenas sem possibilidades teraputicas. Vale
ressaltar que no sentido mdico de erradicao de doenas e eliminao de
sintomas, a psicologia pouco eficiente.
Assim, verdadeiramente, o Psiclogo pode fazer muito pouco em relao
doena em si, dado que este o compo de trabalho do mdico, mas pode
fazer muito no mbito da relao do paciente com seu sintoma: essa sim sendo
uma das funes do Psiclogo inserido em um hospital geral.
Para Simonetti (2004), se a filosofia da Psicologia Hospitalar no se dpela cura, tambm no se d contra a cura. Trata-se de uma filosofia para alm
da cura, uma vez que suprimidos os sintomas e eliminadas as causas das
doenas, ainda permanecem a angstia, os traumas, as desiluses, os medos, as
consequncias reais e imaginrias, ou seja, as marcas da doena. Logo, mesmo
no trabalho bem sucedido de cura, muitas experincias ficam, resistem, tanto no
curador como no doente. A Psicologia Hospitalar se prope a tratar tambm
dessas situaes, dessas marcas, destas cicatrizes.Embora tanto a Medicina quanto a Psicologia aceitem que a doena um
fenmeno bastante complexo, comportando vrias dimenses, situ-las em
termos de causas psquicas versus causas orgnicas, ainda uma caracterstica
do pensamento de parte dos mdicos, uma armadilha para o Psiclogo, que de
modo algum deve incorrer no erro epistemolgico, uma vez que
incontestavelmente o psquico orgnico e vice-versa.
De acordo com Simonetti (2004), a Psicologia Hospitalar embora enfatize a
parte psquica, no diz, e nem to pouco sugere , que outra parte no exista ou
seja importante. Ao contrrio, perguntar sempre qual a reao psquica diante da
realidade orgnica, qual a posio do sujeito diante desse real da doena, e disso
far seu material de trabalho.Alm disso, a Psicologia Hospitalar define como
objeto de trabalho no somente a dor do paciente, mas tambm a angstia da
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famlia, a angstia, na maioria das vezes disfarada da equipe, e a angstia
muitas vezes negada dos mdicos. De tal maneira, alm de considerar essas
pessoas individualmente a Psicologia Hospitalar tambm se ocupa das relaes
entre esses atores, o que a constitui como uma verdadeira psicologia de ligao,
com a funo de facilitar os relacionamentos entre pacientes, familiares e
mdicos. No esquecendo-se, claro, da prpria angstia e dor do Psiclogo neste
teatro vivo do adoecimento e morte.
No terreno da subjetividade, possvel verificar que a relao entre a
Psicologia e a Medicina , por vezes, de uma contradio radical. Uma vez que a
primeira faz da subjetividade seu foco principal, a segunda, muitas vezes, semcerimnias, exclui a subjetividade de seu campo epistmico de maneira, por
vezes, uma suposta, porm equivocada, abordagem objetiva do adoecimento
sem o vis de sentimentos ou desejos. De tal modo acaba, muitas vezes por
negligenciar a subjetividade tanto do paciente como do prprio mdico e equipe.
Simonetti (2004) , refere que tal abordagem, to objetiva, sofre o mal
de que o excludo na teoria, retorna, com toda a fora, na prtica da clnica
mdica. Citando Moreto o autor afirma que possvel assim, assistir, na relaoconcreta mdico-paciente, uma verdadeira enxurrada de emoes, sentimentos,
fantasias e desejos, - de ambos que, por no terem amparo terico, so
negados e escamoteados, embora nem por isso deixem de existir e influir. Vale
considerar que a postura mdica, diferenciada da postura do Psiclogo
Hospitalar, frente ao adoecimento subjetivo do paciente no deve ser tratada
como uma escolha meramente comportamental, mas sim como uma construo
histrica que, embora sensivelmente, e, com grande esforo, vem se modificando
ao longo dos anos5.
5 Na Grcia antiga havia dois tipos de mdicos, os que cuidavam dos cidados gregos e os que cuidavam dos escravos.Como os escravos eram oriundos de outras naes e no falavam o idioma grego, os mdicos que deles cuidavamforam perdendo o hbito de conversar com os pacientes. No adiantaria mesmo, e no sendo possvel a comunicao,apenas os examinavam e medicavam. J os mdicos que cuidavam de seus compatriotas gregos, costumavamconversar muito com eles, e, como para conversar com pessoas doentes preciso se inclinar um pouco sobre o leito,eles comearam a ser conhecidos como os mdicos que se inclinavam, do grego inclinare, e disso nasceu o termo atual
clnica. O Psiclogo hospitalar um clnico. Fonte: Sinonetti (2004, p. 28).
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Psicologia e Medicina: um paradoxo ou simplesmente dois paradgmas?
Inicialmente, a prtica psicolgica frente prtica mdica pode constituir-se
em um embate. Afinal, quando o discurso mdico fracassa em sua pretensoepistemolgica de banir a subjetividade, abrem-se ento as portas do hospital
para a psicologia entrar, adentrar e cuidar desta importante caracterstica
humana que revoluciona a meta mdica, subvertem-na alm de lanarem
complexa perplexidade na cena hospitalar.
Para Simonetti (2004), a medicina quer esvaziar o paciente de
subjetividade, e a psicologia se especializou em mergulhar nessa mesma
subjetividade, crendo que mais fcil do que secar o mar, aprender a navegar...(p. 22). Que exatamente isto, ou seja, restabelecer as condies para a prtica
da medicina cientfica, o que a medicina espera da psicologia hospitalar, no resta
dvida. A questo saber se essa mesmo a melhor funo da psicologia nessa
empreitada hospitalar. Ser o papel da Psicologia Hospitalar o de atuar como
depositria de toda a subjetividade em torno do adoecimento, permitindo,
com esse gesto, que a medicina continue a ignorar a subjetividade e a
trabalhar com um corpo como se nele no estivesse embutido um sujeito? Oucaberia Psicologia Hospitalar redirecionar, de forma cuidadosa e no acusativa
e crtica, essa subjetividade de volta para medicina, auxiliando-a tanto a inclu-la
quanto a compreender e com ela lidar, em sua filosofia?
Por outro lado, vale ressaltar que a especificidade de cada profisso
inquestionavelmente relevante, uma vez que d condies ao profissional de se
apropriar de modo mais profundo daquilo que lhe compete enquanto especialista,
o que no justifica a desqualificao de um outro profissional. Ao contrrio, anecessidade e portanto, aceitao do outro, pode lanar luz possibilidade de
uma ressignificao interessante, produtiva para ambos, em termos de qualidade
e efetividade no atendimento daquele que adoece, e que portanto, sofre.
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Outra questo importante na compreenso do paradoxo Medicina e
Psicologia a questo do destino desejado ao sintoma, ou seja, o que cada
profissional faz, tenta, ou deseja fazer com o sintoma do paciente. Fcil supor que
na medicina no h dvidas: ela quer elimin-lo, destru-lo. Ora, e tem mesmo
que proceder assim, no h como defender o contrrio. Afinal, esta a natureza
da medicina: o tratamento e a cura. E, embora no se colocando no caminho com
vistas a atrapalhar tal premissa a Psicologia Hospitalar atua de maneira
notadamente diferenciada, uma vez que no tem como funo a eliminao
imediada de todo e qualquer sintoma, j que se interessa por escutar e
compreender o que ele tem a dizer. Partindo de uma natureza
inquestionavelmente diferenciada, para a Psicologia, todo sintoma, alm de doer
e fazer sofrer, traz em si uma dimenso de mensagem e comporta informaes
sobre a subjetividade de quem o possui. Existe no atuar da Psicologia Hospitalar
a inalienvel noo de que o sujeito fala por meio de seus sintomas, ou falado
por eles. Logo, a Psicologia se prope a escutar, compreender e fazer com que
todos o entendam: paciente, famlia e equipe de sade. Eis a estratgia da
Psicologia Hospitalar: tratar do adoecimento no registro do simblico, uma vez
que no registro do real a medicina j o faz brilhantemente e, notadamente, vem se
esforando para fazer, e fazendo, cada vez melhor.
Vale ressaltar que, mesmo nos casos em que o paciente se encontra
impossibilitado de falar, por razes orgnicas, instrumentais ou emocionais, ainda
assim, a orientao do trabalho pela palavra bastante vlida, j que no se pode
e nem to pouco se deve ignorar os signos no verbais com valor de palavra, tais
como gestos, olhares, a escrita, at mesmo o valioso e expressivo silncio.
De acordo com Simonetti (2004), o que interessa Psicologia Hospitalar
no a doena em si, mas a relao que o doente tem com o seu sintoma, ou
seja, o destino do sintoma, o que o paciente faz com sua doena e o significado
que lhe confere.
A Psicologia Hospitalar vem se desenvolvendo no mbito de um novo
paradigma epistemolgico que busca uma viso mais ampla do ser
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humano, e privilegia a clnica, uma viso mais holstica em termos de
perceber no to somente doenas mas, sobretudo, a vivncia existencial de
pessoas que apresentam doenas.
Nessa direo a Psicologia perfeitamente capaz de perceber que todo
conhecimento parcial e que jamais ser possvel alcanar a verdade total de
objeto ou de objetivo algum. De tal modo, deve se propor a dialogar sempre com
aquela que se ainda no, dever, em uma questo de tempo, e para o bem dos
doentes, aceitar e melhor compreender algumas das nuances da Psicologia
Hospitalar, de modo a caminharem sempre como complementares e nunca como
combatentes. Um conhecimento nunca deve ter o propsito de anular ou mesmodesqualificar o outro, mas sobretudo, se legtimo, tico, moral, aliar-se a ele com
vistas a um emriquecimento contnuo para ambos. Assim, se no possvel
conhecer o todo da doena, ou do doente, j ser de grande utilidade conhecer
muitas de suas dimenses, aliando-se conhecimentos de diferentes reas.
De tal modo, se capazes de por em prtica tal premissa, ambos os
profissionais, tanto da Psicologia Hospitalar quanto da Medicina tero chances
mais profcuas de estabelecerem um dilogo verdadeiro e fomentarem em suaprtica diria um trabalho mais eficaz e por conseguinte mais efetivo para aquele
que sofre.
Em termos de expectativas em relao ao exercco da Medicina, o que
mais se deseja a j to falada humanizao, no tocante a relao mdico-
paciente, biotica, ao barateamento dos custos e sobretudo, ao acesso sade
para todos, conforme seu direito j assegurado pela Constituio Brasileira. No
entanto, isso somente ser possvel de fato, se houver a reflexo sobre ocienticismo radical, e da criao de conexes produtivas entre a cincia e
outros campos do saber, como a espiritualidade, a poltica e a cultura em geral.
Outro aspecto relevante no contexto do trabalho em hospital o
diagnstico, tanto em Medicina quanto em Psicologia. Para Simonetti (2004, p.
33), diagnosticar o instante de ver, seguido pelo tempo de entender que leva ao
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momento de intervir, no necessariamente nessa ordem , mas
necessariamente interligados. Logo, a principal razo pela qual os diagnsticos
so feitos para facilitarem o tratamento, uma vez que diante de um diagnstico
bem feito a melhor estratgia teraputica se evidencie, naturalmente, na mente do
psiclogo bem treinado. Alm obviamente de outras imprescindves razes como
a pesquisa cientfica e, a comunicao e relacionamento entre os profissionais.
Segundo Simonetti (2004), em medicina, diagnstico o conhecimento
da doena por meio de seus sintomas, enquanto na psicologia hospitalar o
diagnstico o conhecimento da situao existencial e subjetiva da pessoa
adoentada em sua relao com a doena (p. 33). Assim, na Psicologia Hospitalarno so diagnosticadas doenas, mas o a relao das pessoas com a doena
apresentada. Desta maneira, o diagnstico, ao contrrio do que ocorre na
Medicina, no necessariamente expresso em termos de nomenclatura de
doenas , mas por uma descrio abrangente dos processos que influenciam e
que so influenciados pela doena vivida pelo paciente.
Tanto a Psicologia Hospitalar quanto a Medicina compreendem o
diagnstico como uma hiptese de trabalho e no como uma verdade absoluta.De tal modo, a Psicologia Hospitalar em seu cerne, trabalha com o sentido das
coisas e no com a verdade delas ( se tal existe!). E, assim tambm o faz a
medicina, ainda que trabalhando com sua filosofia pragmtica. Uma vez que so
inmeras as doenas de que no se consegue descobrir a etiologia, mas que por
outro lado se consegue cur-las, e ainda lembrando de quantas doenas que
ainda no so de conhecimento da Medicina, mas que existem e das quais
padecem muitos seres humanos. A Medicina no se esgotou em termos de
investigao e prtica. Nem a Psicologia Hospitalar, embora estejam muito
avanadas!
Enfim, a Medicina diagnostica e trata a doena da pessoa, enquanto a
Psicologia Hospitalar diagnostica e trabalha com a pessoa, e sua relao com a
doena apresentada. Desta forma pode-se entender que, de maneira alguma
dever se impor um hiato intransponvel entre as duas cincias. Ao contrrio,
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uma, incontestavelmente, complementar a outra como cada uma das asas de
um pssaro: fundamentais, em seus esforos, para um bem sucedido vo. Fazem
parte de um s corpo, se interdempendem, e no podem encontrar separao no
objetivo a alcanar: o auxlio ao que sofre.
Concluses e Consideraes Finais
Levando em considerao que a Psicologia em si foi forjada e
sedimentada de maneira paradoxal, uma vez que uma das mais antigas
disciplinas acadmicas ao mesmo tempo em que uma das mais novas, vale
maximizar, em alguns termos, a tolerncia no tocante criao, desenvolvimento
e prtica da medicina.
certo que a Psicologia, por seu alcance, causa significativo impacto na
vida das pessoas, seja por sua presena ou mesmo por sua ausncia.
Notadamente, assim tambm o com Medicina. E, qualquer abalo na
normalidade ser significativamente impactante na vida do sujeito e de sua
famlia.
Se no h na Psicologia uma uniformidade na abordagem, seja pela
possvel diversidade riqueza - de sua prtica, ou mesmo pelo temperamento ou
personalidade do profissional que acaba guiando em sua escolha, no se pode
incorrer no erro de crucificar outra cincia que vem, ao longo de vrios sculos,
caminhando para a evoluo e o incontestvel aprimoramento de sua prtica.
Assim, se a busca da Psicologia Hospitalar tambm pela evoluo e
aprimoramento de sua prtica, vale sugerir que tanto a Medicina quanto a
Psicologia Hospitalar estejam constantemente abertas para o dilogo, uma vez
que ambas vislumbram, a melhoria da qualidade de vida dos seres humanos.
Vale ressaltar que, embora a Medicina h muito mais tempo, tambm a
Psicologia evoluiu e evolui tendo em seu cerne a necessidade tica de adequar-
se s mudanas necessrias para a evoluo humana. De tal modo, percebendo
e aceitando que todo processo de mudana, necessariamente ter inerente a ele
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novos desafios, vale reconhecer que para alm do desenvolvimento e prtica
destas duas cincias de maneira isolada, existe a necessidade atual de uma
maior unio entre as cincias. O que se trata de nada menos que um processo
inerente a uma srie de desafios, muito provavelmente o maior deles: a
determinante necessidade de lidar com o novo, com o outro, e com as prprias
limitaes.
Logo, fundamental, a abertura para o desenvolvimento e aceitao de
novos preceitos. Segundo Caixeta (2005), muito importante que o mdico, figura
emblemtica durante muito tempo detentor de todo o poder, saiba e incorpore que
o paciente no vem s trazer-lhe um rgo doente, mas tambm a ansiedade eos problemas psicolgicos ou mesmo sociais que deles decorrem.
Assim, o ser humano transcende suas condies fisiolgicas, e a Medicina
fundamental para auxlio de seu adoecimento e preveno do mesmo. Mas,
trabalhando sozinha, jamais poder alcanar o xito to almejado, dado que no
contempla o ser humano em sua integralidade. Alm disso o mdico pode e deve
tambm incorporar sua prtica, o fato de que no est sozinho nesta
empreitada, mas que poder contar com outros profissionais, que emborainseridos recentemente no hospital, se predispem a compartilhar todo o seu
conhecimento, para maior chances de alcance de seu objetivo:auxiliar o ser
humano na manuteno de sua sade. Um destes profissionais, certamente o
Psiclogo Hospitalar.
Assim, como clientes internos cabe a estes profissionais, juntos, Mdicos e
Psiclogos, principalmente, fazer saber que para o melhoramento de
sua prtica fundamental uma reinterpretao do trabalho em equipe, onde oconceito sai do papel e toma a forma real, e porque no, ideal. De tal modo,
diminui-se no somente a distncia entre as equipe, mas sobretudo, entre as
equipes diretamente envolvidas no cuidado com o paciente e a Direo do
Hospital. Sem a pretenso de neste trabalho esgotar o tema que pode vir a ser
bastante extenso, pareceu relevante mencionar.
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Por que separar aquilo que a prtica hospitalar vem demonstrando maior
efetividade quando caminhando junto? Para alm das produes cientficas, a
possibilidade de atender ao doente lanando mo de um leque maior de
possibilidades em termos de apropriao de conhecimento e especialidades, no
somente mdicas mas psicolgicas alm de pedaggicas, irrefutavelmente uma
conquista das mais dignificantes. Uma vez que coloca o saber completa e
efetivamente ao dispor da sade, de preveno de doenas, e da qualidade vida.
De certo modo, consideradas as limitaes, se trataria de uma disposio
para atender a necessidade de um modelo mais amplo de sade, bem como de
doena. De tal modo, seria compreender que, efetivamente, a vida interior doOutro s compreendida quando podemos remetermo-nos para dentro da pele
dele, vivermos ns mesmos, por identificao, o que ele tenta descrever e,
depois, num segundo tempo, capt-lo graas a uma tomada de distncia
objetivante Caixeta (2005, p. 9).
fundamental compreender que, para o profissional inserido em contexto
hospitalar, seja ele Mdico ou Psiclogo, necessita de uma predisposio
para a compreenso do homem em sua totalidade, seu dilogo entre mente ecorpo, sua condio biopsicossocial, poltica, e espiritual. Assim se implanta a
verdadeira abertura ao dilogo interdisciplinar: com a compreenso das
magnficas contribuies dos diversos campos cientficos que objetivam lidar com
o ser humano, em seu processo de preveno e tratemento de doenas.
Embora aparentemente mais fcil e, portanto tentador, fragmentar a
atividade profissional em hospital, primordial a unificao de interesses no
tocante ao doente e s questes relativas ao adoecimento, onde a sade, o bemestar e a qualidade de vida do paciente estaro sempre acima de
incompreenses entre provissionais de reas difentes. Faz-se necessrio
modstia, na abertura para uma nova viso e atuao diante, tanto da
patologia quanto da teraputica, ou seja, transformao no somente de
pensamento mas de atitude dentro da Instituio Hospitalar.
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As percepes obtidas a partir do levantamento bibliogrfico do presente
trabalho levantaram a reflexo sobre o fato de que a Psicologia da Sade,
como um todo, uma prtica promissora que fez e vem fazendo avanos em sua,
ainda que breve, impressionante e rica histria, embora haja muito ainda a
aprender, estudar, pesquisar, e tambm muitos desafios a serem transpostos
pelos profissonais de Psicologia, sobretudo os inseridos em Instituio Hospitalar.
So irrefutveis as contribuies advindas da elaborao deste trabalho.
Contudo, vale salientar a importncia inquestionvel de o profissional de
Psicologia no ficar alheio s transformaes pelas quais a profisso passa, bem
como no escapar ao chamado de uma realidade prtica e dinmica que se lheapresenta e, que para alm disto, solicita um profcuo comprometimento com o
trabalho e sobretudo com o humano. O estudo constante, a dedicao pesquisa
(to difcil em nossa profisso!), e a troca de experincia atravs de apresentao
de trabalhos em Congressos uni e multiprofissionais, podero auxiliar na melhoria
de fundamentao, assim como na realizao de prtica nas Instituies
Hospitalares, visando tanto a unificao e o trabalho verdadeiro interdisciplinares,
como no alcance dos objetivos de todos os profissionais atuantes no Hospital
Geral.
Ao considerar os objetivos deste trabalho, foi possvel verificar a existncia
de peculiaridades inerentes a cada profisso. O que no impediu de constatar a
existncia de uma gama significativa de possibilidades positivas emergentes de
um trabalho conjunto e continuado entre os profissionais implicados, tanto na
sade fsica, quanto na sade mental, social, religiosa e pltica a inseridas.
Cabe enfatizar que, face diversidade de possbilidades de trabalho aserem investidos em um ambiente hospitalar, a propria elaborao do presente
trabalho, a cada releitura, prope, por si s, uma gama cada vez maior de
questes que vo sendo suscitadas, o que sugere ser impossvel que todas as
questes se esgotem no presente estudo, dadas as diversas possibilidades de
interpretaes e releituras.
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Portanto, espera-se que a presente pesquisa bibliogrfica seja no
somente mais um instrumento para coleta de dados, mas sobretudo um incentivo
para o aprofundamento no tema, para novos estudos, para muitas outras
reflexes e novos olhares na direo da compreenso e viabilizao de novas e
mais efetivas estratgias de trabalho interdisciplinar.
certo que muitas vezes as adversidades com as quais se depara um
profissional de Psicologia, se efetivamente inserido em um hospital, e, portanto,
Psiclogo Hospitalar, muitas das vezes so dignas de incitar o repensar
profissional. O que sobremaneira no pode paralisar os profissionais, mas
sobretudo, deveria motiv-los a desenvolverem, implementarem ereadaptarem mecanismos efetivos de enfrentamento. No mbito da Psicologia
Hospitalar, muito resta a ser conquistado. Existe, sem sombra de dvida, muita
luta a ser enfrentada, muitos sonhos a serem renovados, decepes inmeras a
serem colhidas e frustraes a serem enfrentadas. No entanto, fundamental
seguir a tecer a congruncia de seus ideais redimensionando parmetros e
sobretudo limites, para to somente assim, continuar conquistando espao em
uma evoluo e transformao que prometem ser contnuas, e de excelente
resultados.
Vale ressaltar que o Psiclogo Hospitalar est inserido no contexto da
sade, de maneira to intensa quanto outros profissionais atuantes nesta rea. E,
a realidade hospitalar lhe apresentar, algumas vezes, celeumas e condies que
exigiro performances sequer imaginadas no tocante a valores ticos, tericos e
ideolgicos. Para tanto fundamental que o Psiclogo Hospitalar, alm de
profissionalmente preparado, e devidamente especializado para a atuar, esteja
aberto e atento ao verdadeiro dilogo, sobretudo interdisciplinar.
Enfim, no h empreitada, seja ela qual for, que no carregue em si
alguma dimenso de sacrifcio, doao ou mesmo de aliana. Logo, para todo e
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qualquer profissional que se proponha a trabalhar em contexto hospitalar vale
introjetar o fato de que fundamental a manuteno da sade mental, sobretudo
a dele prprio. Sendo cuidadoso consigo assim como o com os outros e vice-
versa. De acordo com Paiva (2003), a dor um vento spero que passa por
dentro da gente e atravessa para o outro lado carregando pedaos da alma...
(p. 156).
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