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A PROMESSA

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XXXIII – Tudo o que os vossos olhos alcançam

O lendário bispo da Guarda e do Pinhel, o sábio e ilustre senense D. Mendonça

Arrais, afirmava na velhice ser um dos últimos de uma civilização esmagada pelos

romanos no Norte de África. Gente arrastada para as minas existentes na

Península Ibérica onde a maioria morreu de sacrifício ou foi morta pelos soldados

do Império.

Essa gente descendia de fenícios, os mesmos que conheceram o anil, o ciano e

outros matizes do azul pelos contactos comerciais intensos com os berberes e a essa

gente do deserto, ensinaram a fixar a nova cor nos tecidos e nas várias tintas. Foi

com eles que fundaram Cartago.

Depois da queda do Império, um grupo grande de escravos dessa arruinada

civilização criou uma cidade no Sul da Península; mas, um grupo das minas do rio

Alva e outro perto de Peniche dedicaram-se ao comércio da lã e ao mar.

Foram eles que colocaram o azul nas paredes das casas caiadas de Póvoa de

Varzim, Ericeira e todo o litoral de Portugal. Foram eles que colocaram o azul nas

portas e janelas do Aguincho, Outeiro da Vinha e do Piódão.

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Uma gente que deixou de escrever com tinta preta e adoptou o azul. Uma gente

de pele morena, olhos azuis ou verdes, conhecidos por uma resistência sem limites

que desenhava olhos em barcos e navios. Marcavam rotas em azul e guardam

outros trajando de azul. Foi esse azul que deu cor à bandeira de Portugal por

muitos séculos. Por causa deles, ainda hoje parte significativa dos sinais de trânsito

são azuis e parte das polícias usa o azul. Invejados por alguns que colocaram o

amarelo como resposta em fachadas e portas, mas que em silêncio desapareceram

na história. Enfim, o que seria do amarelo se todos gostassem do azul? Mas o ouro

sobre o azul impôs-se e essa gente acabou por misturar-se e apagar-se na história,

mesmo que D. Mendonça Arrais, Santo Agostinho de Hipona ou Zinédine Yazid

Zidane, ao longo dos tempos, reclamassem serem filhos da talassocracia de

Cartago.

Em 1681, quando vários estrangeiros chegaram à Covilhã e ao Fundão para se

dedicarem à indústria dos lanifícios, numa noite igual a tantas outras, quando as

cigarras começam a cantar, foi colocado à porta da igreja do Piódão, uma criança

com um chorar diferente.

O padre acolheu-o e como todos os homens que o são, atrapalhado, pediu

ajuda às primeiras mulheres que viu. Dois dias depois, no dia de Nossa Senhora do

Perpétuo do Socorro no calendário hagiológico, de rabo cuidado e amamentado

por uma vizinha que parira recentemente, o bebé foi baptizado como João Batista

Pacheco, por ter aparecido no dia de São João Batista e Pacheco porque não há

ninguém nascido no Piódão que não seja Pacheco, desde que reza a lenda de que lá

se refugiou um dos assassinos de Inês de Castro, com o mesmo apelido. Como tinha

os olhos muito azuis ganhou a alcunha de ‘Olho Azul’. Assim cresceu, trocando de

colo em colo entre as fiéis e beatas da terra. Quando começou a andar e a ter

consciência de si, passou a ser o sacristão da igreja do Piódão. Tinha dificuldade

em falar. Não tinha o céu-da-boca, diziam as pessoas. Tornou-se conhecido pelo

falar diferente, como aconteceu com o ‘Dé’, que era ‘Zé’ e não ‘Dé’. Um dia, farto

de missas e de uma vida de dias repetidos, decidiu abalar do Piódão.

Aqui e ali, viveu de biscates, aos alavancos e aos caídos, até que uma viúva

nova, quase tão nova como ele, ali para os lados de Cortes do Meio, fez dele homem

e seu caseiro. A coisa acabou em gravidez da senhora e com a fuga do “Olho Azul”.

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Andou perdido por uns tempos, em sítios certos e lugar nenhum até que

arrependido do que havia feito, voltou e casou. Contaram-me que teve seis filhas e

de pastor chegou a mercador, com alguma cobiçada riqueza, mas numa noite o

azar atravessou-se a caminho de casa, quando um filho de uma mãe de duvidosa

virtude o assaltou e matou com requintes de malvadez.

A história do “Olho Azul” ficava por ali e seria mais uma história para juntar

a muitas outras histórias infelizes, mas as filhas decidiram vingar o pai e

mandaram o salteador para o outro mundo, perto da Nave de Santo António.

Se tivessem sido seis filhos a vingar o pai, seriam heróis e famosos; como foram

seis filhas, ganharam a pior das famas e as mais variadas alcunhas; das quais

“víboras”, seria a mais educada delas. Com tamanha fama fugiram para vários

sítios e só uma voltou a casa da mãe quando se preparava para também ser mãe.

Essa criança, neta do ‘Olho Azul’, nasceu por altura do São Miguel e foi

baptizada como João Olho Azul. A mãe, procurada que era pelas autoridades,

fugiu logo e não tornou a ver o filho, mas a avó criou-o com tudo o que de melhor

lhe podia dar. Depois, quando já sabia ler e escrever, foi entregue a um padre que

o levou para Lisboa e queria fazer dele vigário, mas muitas vezes a força do sangue

é quem dita a vontade e o rapaz acabou militar.

Como militar e com nome tão original, tornou-se braço direito do próprio

Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, quando em 1750

ascendeu ao cargo de ‘ministro da pasta do Reino’ e o marquês dele fez espião.

Depois, ajudou a restaurar a Real Fábrica das Sedas do Rato. Foi responsável pela

contratação do tintureiro francês Pierre d’Angé e pela plantação de dois mil pés de

amoreiras que vieram de França e que foram inicialmente plantados na Barroca

de Alva, propriedade de Jácome Ratton, perto de Alcochete. Ao João Olho Azul

deve-se o conhecimento e difusão da barregana, tecido forte dos capotes e também

da saragoça, do burel e até da almáfega, que é o burel grosseiro feito da pior lã,

que chamamos de churra. Com o protecionismo e a ambição sem limites do

marquês, Olho Azul andou muito tempo por França, Flandres e Inglaterra de onde

trouxe tapeceiros dos Gobelins e tecelões de Manchester; mas, com a ‘queda’ do

marquês também ele caiu em desgraça. Refugiou-se velho, em Cortes do Meio,

onde ganhou a alcunha de “Cascalho”, por atirar pedras aos miúdos que o

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provocavam e importunavam. Mesmo assim e velho, casou com uma moça nova de

Alvoco da Serra. Dela teve uma única filha que fugiu com um moço de bestas, de

Loriga, para a Póvoa de Varzim e dela não soube durante muitos anos.

O moço de Loriga cresceu e tornou-se um grande velhaco para a rapariga e

para todos quando se tornou homem de confiança dos franceses nas Invasões. Mas,

como não há mal que sempre dure, acabou morto por melícias no Douro.

A moça, com um filho de dez anos e viúva, voltou para casa. Olho Azul estava

velho e nessa altura tinha como criado um rapazinho que seria o famoso Senhor

Manuel Luiz de Alvoco da Serra, a quem ensinou os caminhos para a Europa.

Quando o neto do Olho Azul foi apresentado ao avô, este afirmou, “Tem cara de

mosca”. Assim, ‘Mosca’ ficou e como era um reguila fugiu cedo e de novo tornou a

Vila do Conde.

O ‘Mosca’ aprendeu a amar o mar na barriga da mãe e a ouvir falar com

saudade das ribeiras da Serra da Estrela ao pai, quando ainda não gatinhava.

O seu nome ou alcunha não consta de nenhum documento, nem o seu rosto

está representado nos azulejos de anil, ao lado do Cego de Maio, do Patrão Sérgio

ou do Patrão Lagoa, apesar de ter nascido em Póvoa de Varzim.

Não perdeu os anos de vida no ‘Creoula’ ou no ‘Santa Maria Manuela’, nem a

vida, como tantos, no ‘Nossa Senhora da Guia’. A sua vida não foi o bacalhau, mas

o transporte do vinho até Inglaterra pelo Golfo da Biscaia. O regresso com lã e

outros produtos que faziam falta em Portugal. Com ele e sobre o mar muito

aprendeu D. Manuel António de Menezes, que viria a ser o 1º Conde de Seia.

O ‘Mosca’ começou miúdo e raramente estava com os pés fora do mar. O sal

que gretou a pele não lhe tirou a cor ao cabelo, mas sim a tristeza das muitas

missas a que assistiu pelos que perdeu no mar. Era rico, sem o saber, pois não teve

tempo suficiente para gastar. Mesmo assim, deu muito à caridade e nunca se

fartou de dar, sem que a mão esquerda soubesse o que dava a direita. Podia ter

construído um solar maior do que aquele que o Rangel ergueu na Rua Nova de

Vila do Conde, mas não teria nada a ver com ele. Tinha dinheiro para construir

um palácio e agora ser o palácio ‘Mosca’ e rivalizar com a quinta que foi de D.

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Jerónimo Manuel ‘Bacalhau’, na Vila Fresca de Azeitão, mas o mar estava sempre

primeiro. Nada pagava a beleza do rebentar das ondas na areia.

Depois, como a todos os que não morrem novos, foi envelhecendo sem dar por

isso e quando queria uma mulher, já estava velho e cansado para o aturarem.

Contava as varizes acumuladas, as veias torcidas, as aranhas das bebidas expostas

na face e as cicatrizes que rivalizavam com as tatuagens nos braços.

Era mais um dos que José Régio tão bem descreveu e que Bernardo Santareno

chamaria de pescadores “daquelas águas onde o dia nunca acaba e o Sol brilha no

meio da noite.”

Restavam-lhe poucas forças e apesar de contar com quase setenta anos,

aparentava ter mais uma dúzia deles. No dia de São José Copertino, o ‘Mosca’

encheu um saco de lona com pouca roupa, uma Pistola Arsenal do Exército de 17,3

mm, um punhal e umas libras de ouro. Fechou a porta de casa, na actual rua da

Cordeira, perto donde agora está a igreja paroquial do Nosso Senhor dos

Navegantes e andou em direcção à igreja de São João Baptista. Caminhou até que

parou junto do Convento de Santa Clara onde incomodou umas freiras que sobre o

rebolo faziam rendas de bilros.

Foram as freiras que dele cuidaram nos últimos dias de vida e que lhe ouviam

repetir, vezes sem conta, a lenda da irmã Berengária. Quando estava quase a

partir, chamou os mercadores de Manteigas, Fraga e Biscaia, que tinham herdado

a caravana do ‘Bispo’. Foi a eles que pediu que dissessem aos mercadores de

Loriga para destruírem a Caverna do Covão do Meio, pois nela estavam muitos

explosivos dos franceses. A notícia passou discretamente a um dos mercadores de

Loriga, o “Trambolho” que a comunicou ao padre Brito.

O padre Brito descendia da poderosa família Brito de Alvoco da Serra. Um

Brito fez a primeira fábrica da terra e as irmãs e sobrinhas casaram em Loriga

com mercadores de lã. Os Britos mandaram em Alvoco da Serra e arredores até

Sebastião casar e aos poucos construir o império dos Monteiro de Pina. Em Loriga

mandaram muito tempo os Pinas, parentes de Sebastião, depois foram sendo

ultrapassados por outros, Leitões, Cabrais, Britos. Tudo se perdeu devido a

partilhas, casamentos, partidas para o Brasil e outras coisas. Era gente sonhadora

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de visão extensa; para além disso, quase todos os habitantes de Loriga têm um

ascendente Pina, mesmo que já tenham perdido o apelido.

O padre Brito, como eu contava, não quis que se soubesse do assunto e que o

tal não chegasse aos ouvidos do chefe da quadrilha de salteadores que ocupavam a

vila, Estanislau Xavier de Pina. A maior parte dos mercadores e dos moços de

bestas tinham saído recentemente da prisão da Portagem e estavam fracos. A

precisar mais de ajuda do que o próprio padre.

A pé como sempre, o padre foi a Alvoco da Serra procurar Sebastião. Nesse

dia não estava e quem o recebeu foi D. Francisca mas, combinou com esta, no dia

seguinte, encontrar Sebastião no Olho de Loriga.

Sebastião nada sabia e depois de saber, ainda pensou por minutos guardar

para si os explosivos e usá-los para sacudir a quadrilha de salteadores de Loriga,

mas o padre Brito lembrou-lhe que tinha filhos e que não acabaria bem se o

fizesse. O mesmo lhe fez ver, Ribeirão Preto, um alentejano que servia Sebastião

como chefe de caravanas desde que ficou pelos Montes Hermínios, depois de ter

ajudado a construir a torre, por ordens de D. João VI e que Portugal se elevasse de

1993 metros para os 2000 metros, na mais alta serra continental.

Bastaram dois dias, para que o padre reunisse homens de Loriga para

alcançarem a Caverna do Covão do Meio sob a orientação de Sebastião, do

Ribeirão Preto e de mais dois Galvões, estes acostumados à serra e que na

Primavera cavavam a Quinta do Portezo, propriedade do Senhor Manuel Luiz e

dos seus descendentes, os Camelos de São Romão. Com eles, subiram dois miúdos

mais travessos e que eram mais chegados ao pai, a ‘Dentola’ e o Tó que seria

depois Barão de São Domingos e primeiro Barão de Alvoco da Serra. O Zé da

Cabeça não subiu. Estava desaparecido.

Dois dias antes, a poucos metros da igreja de Midões, o Zé foi ladeado por Vaz

Pato e mais meia dúzia de salteadores da quadrilha deste. Todos com calças de

saragoça, apertadas por cinto de coiro com fivela de latão, camisa com bordado de

linha, apertada no pescoço com dois pequenos botões de prata. No cinto, foice

curta à maneira de faca-de-mato e na mão uma clavina.

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Ao ver tantos, não resistiu. Vaz Pato sossegou-o dizendo, “És como um parente

para mim. Não tens nada que temer. Há uns padres que te querem ver. Se algo de

mal que quiserem fazer, nós não deixamos.”

Os terrenos da Torre pertencem apenas a quatro terras, Alvoco da Serra,

Loriga, São Pedro e Unhais da Serra. E, se a porção maior de terra parece ser de

Loriga, o número de pastores de Alvoco da Serra depressa confundiam qualquer

um. Segundo a gente de Loriga, as cinquenta cabradas certas de Alvoco da Serra

em 1830, impressionavam o maior exército de homens que aparecesse. Pelo menos,

impressionaram o Regimento 14, quando subiu à Serra da Estrela.

Pastores de bota de cano, çafões, com uma caldeira para o leite, o saco de

estopa para o centeio negro e com a manta ao ombro, orientavam a maior riqueza

de Alvoco da Serra, as cabradas. Vidas de trabalhos. Da pastorícia à construção

das cancelas dos bardos dos alqueves, das unhas que pareciam cair das mãos nos

dias de gelo ao enfrentar das lobadas no Covão do Martinho, na Fraga Lisa e em

tantos lugares da serra. Por ali também passavam os rebanhos da transumância

pagando os meeiros, que eram sociedades de pastores, portagens às quatro terras.

Era uma serra coberta de gado e cheia de vida. No topo, entre o rigor do clima

e a riqueza das terras, ainda nasce a água que sacia a sede a mais de metade de

Portugal.

Na Caverna do Covão do Meio, Ribeirão Preto foi o primeiro a entrar. Sentiu

água a correr; a mesma água puríssima que dá vida à ribeira da Nave. Voltou para

trás e disse que ali era impossível existirem explosivos, pois a água apodrecia tudo,

mas o padre Brito insistiu que haviam explosivos lá e sem que lhe voltassem a

teimar que não, entrou ele mesmo no breu e entre apalpadelas lá encontrou

algumas arcas. Com medo, afastou-se e avisou os outros. Então, Ribeirão Preto e

um dos Galvões entraram.

Tendo ficado a poucos metros da saída, o Galvão com um lampião alumiou o

caminho do alentejano atrevido. Pouco tempo depois, Ribeirão Preto saiu com uns

trapos comidos pelo tempo ou rompidos por lobos, dos quais se via os restos de

uma bandeira napoleónica.

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Mexer naquela carga era perigoso, mas parecia muita, valiosa e tentadora.

Mas, o padre insistiu no perigo de cair em más mãos. Assim, Sebastião e Ribeirão

Preto, com os farrapos fizeram um rastilho. Cascaram-lhe fogo e tudo acabou por

resultar numa valente explosão, que ecoou por alguns segundos e se ouviu bem

longe. Daqueles barulhos inesperados que são tema de conversa durante semanas

em casas de família, praças e tascas.

O padre Brito agradeceu a todos e por lá ainda comeram um farnel antes de

descerem a serra. Foi também a oportunidade de Sebastião apresentar e explicar

alguns lugares e pastores aos filhos, ‘Dentola’ e Tó.

Eram muitas, já nessa altura, as cabradas de D. Francisca. Ter uma cabra era

como ter dinheiro depositado. Se fosse preciso ir ao médico, pagar uma dívida,

comprar medicamentos ou mandar os filhos estudar, vendiam-se cabras. A riqueza

de uma família de Alvoco da Serra media-se pelo número de cabras. Sebastião era

de Loriga, terra das melhores cerzideiras do país e não estava habituado a tanta

cabra, mas, depois do casamento, lá se avezou.

Nesse dia, lá na serra, ainda agradeceu a um pastor que dispensou

generosamente duas cabras ‘merendeiras’ que alimentaram os miúdos. As

‘merendeiras’ são cabras carregadas de leite que ninguém bebe e que o meeiro,

dono do rebanho, dispensa ao pastor para que ele coe com coadeira de linho e faça

o saboroso e único queijo-da-serra.

Sebastião ficou orgulhoso de ver a alegria dos filhos e prometeu-lhes que parte

dos que os seus olhos alcançavam seria deles, nem que tivesse de encontrar o

fantasioso moinho que moia ouro e prata entre Valcova e a Lapa da Lias.

Tinha guardado do ‘Sábio’ que o melhor na vida era comprar terra, pois é

coisa que já não se fabrica. Com tempo, vagar e dinheiro, Sebastião e os

descendentes compraram bastante terra na Serra da Estrela e em terras mais

afastadas, como Arganil e Mangualde. Quanto a parte dessas terras, ainda nos

finais do século XX, no jornal ‘Porta da Estrela’ de Seia, foi publicado um anúncio

de usucapião por parte de uma das netas do Senhor Augusto Luís Mendes sobre

uma enorme porção de terras da freguesia de Loriga, que seria pertença da família

Mendes, desde que esta se tornou herdeira do 2ºBarão de Alvoco.

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O padre Brito foi um dos poucos padres amado por todos. Natural de Loriga.

Quando morreu foi enterrado por baixo daqueles degraus que dão acesso ao altar,

na igreja de Santa Maria Maior de Loriga. Ribeirão Preto morreu feliz, velho e

enfartado na boda do casamento de uma sobrinha em Fronteira. Os Galvões

morreram de depois de uma vida longa e dura. A sua garra ainda corre nas veias

dos que escrevem o seu apelido e vivem em Vasco Esteves de Cima.

No Covão do Meio ergueu-se uma barragem entre 1951 e 1953 que, muitas

vezes, alimenta com água a Lagoa Comprida. Sendo terras de Loriga é

impressionante como os habitantes de Loriga tenham de pagar uma das águas

mais caras da Serra da Estrela, mesmo que seja a mais pura água.