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A PRODUÇÃO DE TEXTOS EM BLOGS

Autora: Célia Regina Regina Andrioli Silva Barbosa1

Orientadora: Jacqueline Costa Sanches Vignoli2

RESUMO

O presente trabalho pretende mostrar a relevância na utilização de uma ferramenta das novas tecnologias, muito usada pelos alunos, chamada blog, no ensino de Língua Portuguesa e apresenta os resultados alcançados na aplicação do projeto de intervenção, intitulado “A produção de textos em blogs”, desenvolvido em uma turma de 3ª série do Ensino Médio, do Instituto Estadual de Educação “Dr. Caetano Munhoz da Rocha”, em Paranaguá. Este trabalho faz parte do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), do governo do Estado do Paraná e propõe oferecer ao professor de Língua Portuguesa uma nova maneira de trabalhar a produção de textos. O gênero escolhido para a produção final foi o artigo de opinião, no entanto, para melhor preparar os alunos para a escrita, contemplaram-se, também, os gêneros notícia, reportagem e, para fortalecer a argumentação que tem um papel fundamental na escrita do artigo de opinião, foi promovido um debate sobre o tema escolhido para a produção do artigo. Depois da reescrita, foi criado um blog para postagem dos textos.

Palavras-chave: Artigo de opinião. Blog. Debate. Gêneros textuais. Notícia. Reportagem.

1 Introdução

Pretendemos apresentar, neste texto, os resultados do projeto de

intervenção “A produção de textos em blogs” produzido e aplicado durante vigência

1 Especialista em Letras, licenciada em Letras, habilitação em Língua Portuguesa pela Faculdade Estadual de

Filosofia Ciências e Letras de Paranaguá – FAFIPAR, atua como professora de Língua Portuguesa no Instituto Estadual de Educação “Dr. Caetano Munhoz da Rocha” – Paranaguá. 2 Mestre em Estudos Linguísticos – Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras de Paranaguá – FAFIPAR,

disciplinas de Língua Portuguesa e Linguística.

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do Programa de Desenvolvimento da Educação do Paraná (PDE / PR). Os alunos

atendidos pelo projeto eram pertencentes ao terceiro ano do Ensino Médio, do

Instituto Estadual de Educação “Dr. Caetano Munhoz da Rocha”, em Paranaguá,

durante o segundo semestre de 2010. Organizamos nosso artigo de maneira a

apresentar os pressupostos teóricos que embasam nosso projeto de intervenção,

seguido da descrição da sequência das atividades desenvolvidas e apresentação de

nossas considerações finais sobre a aplicação do projeto.

O aluno produz os mais variados gêneros de textos, orais e escritos, nas

mais variadas situações do dia a dia, bem como na escola, uma vez que em quase

todas as disciplinas é solicitada a produção de relatórios, resumos, entre outros

textos. Então, por que a dificuldade para produzir textos nas aulas de Língua

Portuguesa?

Normalmente, o aluno, quando escreve um texto como atividade das aulas

de Língua Portuguesa, tem apenas a preocupação em preencher o número

solicitado de linhas. Ele não encontra sentido nos seus escritos e também não leva

em conta a “participação” de um elemento fundamental na construção do sentido: o

leitor. Nas práticas de sala de aula, na maioria das vezes, o texto é direcionado

apenas ao professor que não desempenha função comunicativa, mas avaliativa.

Como justificar esse comportamento nas aulas, uma vez que temos

conhecimento de que muitos alunos mantêm uma comunicação escrita frequente

nas redes sociais?

Talvez esteja aí uma explicação para a dificuldade: nas redes sociais há

certeza de um leitor real e a expectativa dessa interação motiva o aluno a ter maior

atenção no momento de escrever. Na escola, a tarefa é vista apenas como

obrigação, numa tentativa de cumprir os deveres escolares.

Nesse sentido, propomos a utilização dos blogs (diários virtuais) como meio

de circulação dos textos produzidos pelos alunos nas aulas de Língua Portuguesa,

uma vez que os textos postados no blog ficam acessíveis a todos na rede, a

interação entre autor e leitor é direta, e isso torna o escritor mais cuidadoso para

evitar uma escrita esvaziada de sentido, de frases soltas, tão comuns em textos

produzidos nas aulas Língua Portuguesa.

Há um grande interesse por parte dos alunos nessa forma inovadora de

comunicação que tem como qualidade, não só a produção, mas também a

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circulação de textos na rede, numa situação singular, pois a interação entre autor e

leitor efetiva-se através de comentários postados, sem que haja necessidade do

contato face a face. Isso gera grande fascínio e serve de incentivo aos produtores

dos blogs para postar, com regularidade, materiais diversos.

Essa interatividade elimina aquelas dificuldades frequentes no ensino de

Língua Portuguesa: a falta de leitura e o desinteresse pela escrita. E a escola não

pode, simplesmente, ignorar a força dessa importante ferramenta que se realiza,

sobretudo, na escrita e que possibilita a produção dos mais variados gêneros

textuais.

2 Fundamentação teórica

Este artigo está ancorado em uma perspectiva textual-interativa, uma vez

que entendemos linguagem como interação, seguindo a abordagem orientada por

Geraldi em seu livro basilar O texto na sala de aula. Nesta obra, o linguista afirma

serem três as concepções de linguagem correntes, sendo claro que aderimos à

última delas:

a) A linguagem é a expressão do pensamento: essa concepção ilumina,

basicamente, os estudos tradicionais.

b) A linguagem é instrumento de comunicação: essa concepção está ligada

à teoria da comunicação e vê a língua como código (conjunto de signos que se

combinam segundo regras) capaz de transmitir ao receptor certa mensagem.

c) A linguagem é uma forma de interação: mais do que possibilitar uma

transmissão de informações de um emissor a um receptor, a linguagem é vista como

um lugar de interação humana. Por meio dela, o sujeito que fala pratica ações que

não conseguiria levar a cabo, a não ser falando; com ela o falante age sobre o

ouvinte, constituindo compromissos e vínculos que não preexistiam à fala.

(GERALDI, 2004, p. 41)

Além de nossas opções teóricas, partimos de um contexto em que a

utilização e as maneiras de circulação da linguagem sofreram os efeitos da evolução

tecnológica que vem ocorrendo, de forma mais acentuada, nos últimos 30 anos

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quando os equipamentos eletrônicos e as novas tecnologias invadiram o cotidiano

das pessoas. Essas inovações tecnológicas, além de estabelecerem novos

paradigmas de comunicação, afetaram profundamente as relações na escola, a qual

se viu impelida a rever seus objetivos e a reorganizar a sua prática para não perder

a sua principal condição que é promover o conhecimento.

A consolidação da rede mundial de computadores conectando o mundo

inteiro 24 h por dia, além de acelerar a comunicação, trouxe à tona uma discussão a

respeito da influência que os suportes promovem na linguagem e como esse

fenômeno interferiu diretamente nas formas de escrita, dando origem a novos

gêneros. Para Marcuschi (2008, p. 233) praticamente todas as nossas ações diárias

mais significativas estão revestidas de linguagem.

A escrita, por sua vez, precisou acompanhar os novos tempos, adequar-se

aos gêneros que foram aparecendo e circulando na rede mundial. Para Irandé

Antunes (2003, p.120) o que passou a ter prioridade é criar oportunidades diárias

para o aluno construir, analisar, discutir, levantar hipóteses a partir da leitura de

diferentes gêneros de textos. A produção de textos passou a ter lugar de destaque

no estudo da língua. A relação entre autor e leitor passou a ser mais estreita. “Um

texto é uma proposta de sentido e ele só se completa com a participação do seu

leitor/ouvinte” (MARCUSCHI, 2008, p. 94).

2.1 Gêneros textuais

O trabalho com gêneros em Língua Portuguesa é fundamental porque

emprega a linguagem em situações reais de comunicação, atribuindo sentido e

potencializando a competência comunicativa dos alunos. Sob esta nova perspectiva,

desvia-se o olhar do caráter meramente formal da língua em que o mais importante

é o léxico e a sintaxe. Segundo Marcuschi,

Gêneros textuais são os textos que encontramos em nossa vida diária e que apresentam padrões sociocomunicativos característicos definidos por

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composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados na integração de forças históricas sociais, institucionais e técnicas. (MARCUSCHI, 2008, p.155)

Os gêneros evoluem de uma forma ativa dando origem a outros gêneros, de

acordo com as novas exigências ou as novas demandas tecnológicas, como os

equipamentos informáticos e as tecnologias de comunicação.

A mobilidade de gêneros permite dizer que estamos na direção de uma

“hibridização” ou “mesclagem” de gêneros de tal forma que podemos chegar a uma

situação em que não haja mais “categorias de gêneros puros e sim apenas fluxo”

(KRESS, 2003, p. 89-90).

2.2 Gêneros digitais

Nas últimas três décadas, o aparecimento das novas tecnologias causou

uma verdadeira revolução na comunicação e na vida das pessoas.

O reflexo dessas modificações na utilização da linguagem é incontestável.

Termos como escrita digital, texto eletrônico, gêneros digitais surgiram

acompanhando essas demandas tecnológicas que culminaram com o aparecimento

de ambientes virtuais. Diante de novas situações comunicativas, a linguagem

precisou se adaptar a esses ambientes que foram surgindo.

Os gêneros surgem dentro de ambientes como locais que permitem “culturas” variadas. A internet não é um ambiente virtual homogêneo, mas apresenta uma grande heterogeneidade de formatos e permite muitas maneiras de operação relativas à participação e aos processos interativos (MARCUSCHI, 2010, p. 32-33).

E assim surgiram os gêneros eletrônicos que se situam em ambientes ou

entornos virtuais. “Esses ambientes distinguem-se dos gêneros em vários sentidos,

pois eles os abrigam e por vezes os condicionam. Não são domínios discursivos,

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mas domínios de produção e processamento textual em que surgem os gêneros”

(MARCUSCHI, 2010, p. 31).

A escola, por sua vez, assume posicionamentos diversos com relação aos

textos produzidos no meio digital. Discursos múltiplos são tecidos em torno das

influências da rede no ensino, indo desde a total recusa do instrumento,

culpabilizando-o pela pouca proficiência de produção textual na escola; até a

preponderância dos gêneros digitais sobre os demais, em uma postura que

preconiza o uso da internet como único meio de circulação dos textos produzidos na

escola.

Qualquer que seja o posicionamento do professor de Língua Portuguesa

frente às novas tecnologias e, consequentemente, frente a novos usos da

linguagem, não é mais possível fazer de conta que os ambientes virtuais nada têm

com a escola, visto ser nesses espaços em que nossos alunos mais se relacionam

com textos escritos, tanto na produção, quanto na leitura.

2.3 Blog: espaço de divulgação textual.

Entre os gêneros mais praticados dentro de ambientes virtuais está o weblog

(blog). A expressão blog surgiu no final de 1997 e diz o senso comum que o termo

foi cunhado por Jorn Barger para fazer a descrição de site particulares, modificados

regularmente, em que fossem postadas anotações e links.

O termo surgiu a partir de duas palavras: web (rede de computadores) e log

(espécie de diário de bordo dos navegadores que anotavam as posições do dia), no

entanto popularizou-se na abreviação blog. Compreende-se o blog como um espaço

em que aquele que escreve pode exprimir o que quiser, podendo utilizar imagens e

sons para compor o todo do texto veiculado pela internet.

Os blogs funcionam como um diário pessoal, são datados, comportam fotos,

músicas, normalmente os textos são curtos, podem ser escritos diariamente e

receber comentários. A disposição do material postado permite uma rápida

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navegação. Esse diário digital fascinou de início apenas os jovens, mas hoje agrada

a todos, independente da idade, profissão e formação.

Essa ferramenta possibilita a circulação dos textos, ali inseridos, por toda a

rede, essa exposição determina dois comportamentos distintos: alguns não se

sentem à vontade para revelar fatos de sua intimidade, outros ficam fascinados com

essa exibição.

O blog conserva semelhanças com o diário de papel, com a diferença de

que, ao invés de caneta e folhas em branco, o usuário necessita de um computador

e acesso à internet. A contradição é que, ao mesmo tempo, o blog não está

revestido naquele código de segredo absoluto: ele é publicado on line para quem

quiser ler.

A internet possibilita que o texto do autor do blog seja lido por muitas

pessoas sem que seja necessário um relacionamento face a face. Seus leitores

podem ser desconhecidos. A possibilidade da interação entre escritor e leitor

incentiva o autor do diário eletrônico a continuar postando material para submetê-lo

à apreciação e participação dos leitores.

2.4. O hipertexto

O hipertexto, tipo de construção textual própria dos ambientes virtuais,

constitui-se de uma teia de pequenos textos interligados através de hiperlinks que

permite ao leitor escolher os caminhos que deseja percorrer para a construção de

sentido. Dessa forma, o leitor deixa de ter um papel passivo e assume uma posição

de destaque, tão importante quanto a do próprio autor na construção de possíveis

sentidos.

O hipertexto propõe vias de acesso e instrumentos de orientação sob forma

de diagramas, de redes ou de mapas conceituais manipuláveis e dinâmicos, o que

vem favorecer, segundo Lévy, um domínio mais rápido e fácil da matéria do que

através do audiovisual clássico ou do suporte impresso tradicional (LÉVY, 1993, p.

40).

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Para Koch (2003, p. 63), o hipertexto “constitui um suporte linguístico-

semiótico hoje intensamente utilizado para estabelecer interações virtuais

desterritorializadas”. É um dispositivo “textual” digital multimodal e semiolinguístico

(dotado de elementos verbais, imagéticos e sonoros), disponibilizados na internet em

um endereço eletrônico, e que se encontra interligado a outros hipertextos mediante

os hiperlinks (links) que o constituem. Para esse autor, o hiperlink é a ideia motriz do

hipertexto, uma vez que se trata de um dispositivo que possibilita a relação de

hipertextos de maneira não-sequencial, arbitrária e rizomática. Mais do que

relacionar textos em rede, trata-se de relacionar pessoas e instituições (XAVIER,

2002, p. 152-153).

A atividade de produção textual exige não só uma linguagem adequada e

ideias bem articuladas. É necessário, sobretudo, que o aluno encontre sentido nessa

atividade. Então, por que não utilizar a ferramenta blog que agrada tanto aos alunos

e exercita não só a leitura como também a produção? A elaboração de nosso

material didático visa exatamente a isto: tornar a produção textual do aluno mais

prazerosa, instigante. Os textos foram escritos para serem postados nos blogs (o

que infelizmente, não ocorreu de fato, conforme explicaremos mais adiante) e,

certamente, a existência de um leitor proporcionou sentido à atividade.

3 Aplicação da Sequência didática

Pertenço ao quadro de professores da Rede estadual há 27 anos. Já tive

tantas turmas (Fundamental e Ensino Médio) e tão variadas experiências que,

confesso, já perdi a conta, durante todo esse tempo, de quantas vezes fui

protagonista e também coadjuvante em muitas situações na sala de aula. E, nesse

rodamoinho de emoções que é o dia a dia de todo professor: a dinâmica das aulas,

os planejamentos, os prazos, as variadas avaliações, a preocupação com o uso de

recursos dos mais variados tipos visando à motivação dos alunos, não sobra muito

tempo para o professor respirar e, eis que de repente, entra em nossa vida o PDE.

Esse programa funciona como um ponto (não final, claro!), que nos permite

respirar fundo e arejar nossas ideias. Em um primeiro momento, o professor

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descobre que há vida, além do “detalhado” livro de chamada, dos testes e

recuperações, dos trabalhos, das pesquisas, dos projetos e dos prazos. Contudo,

depois desse bem estar insólito, inicia-se uma nova fase, em que somos

apresentados a novas leituras (e são muitas), realizamos cursos, participamos de

discussões que proporcionam, sobretudo, novas e agradáveis descobertas.

O percurso desenvolvido no PDE inclui quatro etapas: produção de um

projeto de intervenção, desenvolvimento de material didático, aplicação do projeto e

divulgação dos resultados por meio de artigo. A linha de pesquisa que escolhi para

desenvolver o projeto foi a Linguística, valendo-me, em especial, de teorias da

Linguística Textual, enfatizando a produção de textos e, como pretendia aplicá-lo

numa 3ª série de Ensino Médio, julguei relevante priorizar o gênero textual artigo de

opinião e divulgá-lo em blogs.

Vale ressaltar a enriquecedora experiência que é o GTR, pois nele pude

acompanhar meu projeto sendo aplicado e analisado pelos “alunos/colegas” . Foi

uma experiência marcante. Não é novidade para nenhum professor que vivemos em

nossa sala de aula momentos de alegria e frustração, mas dividir essas angústias

com colegas de regiões bem distantes é, no mínimo, alentador.

No terceiro momento, estava prevista a aplicação do projeto. O retorno à

escola estava envolto em muita expectativa, mas, depois de tantas “aprendizagens”,

havia chegado a hora de voltar para a realidade do professor que é o chão da

escola. É lá que as coisas efetivamente acontecem, é lá que as energias são

trocadas, enfim é onde o professor alegra-se, frustra, supera-se.

No início da implementação, apenas houve a preocupação em “conhecer” os

alunos para, mais tarde, apresentar-lhes o projeto. A proposta de criação de um blog

para divulgação de textos produzidos em Língua Portuguesa foi bem recebida. Entre

outros comentários, também disseram que o blog seria mais uma ferramenta para

manterem contato depois da formatura. Nas aulas seguintes, começamos

efetivamente a nos envolver com o projeto. Para melhor visualização das etapas

desenvolvidas durante a aplicação do projeto, organizamos as atividades a partir do

procedimento das Sequências Didáticas, conforme DOLZ, NOVERRAZ E

SCHNEUWLY, 2004.

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3.1 Apresentação da situação inicial

O gênero textual escolhido para os alunos produzirem foi o artigo de opinião,

pois se tratava de alunos que prestariam o vestibular em pouco tempo e exercitar a

argumentação é fundamental na produção de textos, sobretudo nessa fase.

Como o tema de um artigo de opinião tem como origem um assunto polêmico,

ligado ao dia a dia das pessoas, inicialmente, foram apresentados os gêneros notícia

e reportagem, esclarecidas as suas características, suportes, público-alvo,

periodicidade, intenção e aspectos ligados à linguagem. Nesse momento, chamou-

se a atenção dos alunos para a divulgação desses textos na mídia virtual.

Para explorar esses dois gêneros, foram levados para a sala de aula, jornais

e revistas para que os alunos pudessem encontrar, nesses materiais, as

características estudadas anteriormente.

O passo seguinte foi a abordagem de nosso gênero alvo: o artigo de opinião.

No decorrer das aulas, todas as atividades desenvolvidas visavam destacar, dentre

as muitas características do gênero em questão, a importância e os tipos de

argumento, o perfil e intenção do articulista, os elementos articuladores e outro

elemento essencial para despertar o senso crítico nos alunos: as vozes presentes no

gênero artigo de opinião. Até então a participação dos alunos estava bastante ativa.

Todas as etapas foram cuidadosamente “trabalhadas”. Além de algumas

atividades estruturais para apurar o emprego de elementos articuladores, foram

utilizados diferentes jornais para que os alunos tivessem a oportunidade de

reconhecer onde eles se encontravam e que eles sempre tinham as mesmas

características. O articulista sempre é um especialista no assunto, o artigo de

opinião tem como base um fato polêmico e, o mais importante, a contundência na

argumentação utilizada para persuadir o leitor.

Os textos que serviram de base para as atividades foram: Incêndio assusta

moradores do São Francisco (gênero notícia), disponível em

http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=18id=11529028ti

t=Incendio-assust, acesso em 31/07/11; Cidade sem catracas (gênero artigo de

opinião) do autor Gilberto Dimenstein, disponível em.

<http://www.blogacesso.com.br, acesso em 27/07/11; e Poucas emoções (gênero

artigo de opinião), autor Belmiro Valverde Jobim Castor, disponível

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em<http://gazetadopovo.com.br/colunistas/conteúdo.phtml?id=1150364, acesso em

30/07/11.

A etapa seguinte foi o debate. Para que ele ocorresse, foi solicitado aos

alunos que escolhessem um tema de seu interesse, ou algo ligado ao seu universo

escolar que estivesse causando muita controvérsia. Avalio a experiência do debate

como uma das mais produtivas. Os alunos ficaram muito motivados. Antes de

começarmos, alertei-os de que o objetivo da atividade era o levantamento do maior

número de argumentos para ajudá-los, mais tarde, na produção do artigo. Depois

que terminamos, pedi-lhes que anotassem as ideias que julgaram mais pertinentes e

que estavam mais de acordo com o seu ponto de vista para usarem na próxima

etapa.

3.2 Primeira produção do artigo de opinião

Iniciamos a aula com um alerta aos alunos de que, como articulistas,

deveriam tomar alguns cuidados com o texto, tais como:

O título deveria despertar curiosidade e provocar o leitor;

O texto partiria da questão polêmica debatida e apresentaria argumentos

(utilizar, também, aquelas anotações feitas após o debate) relevantes e

confiáveis;

A clareza é fundamental, o ponto de vista assumido pelo articulista deve ser

percebido/ compreendido pelo leitor;

Seguir a norma culta;

Preocupar-se com a “presença” do leitor;

Apresentar, sobretudo, opiniões contrárias a respeito do assunto com intuito

de rebatê-las;

E finalizar com uma possível solução para a questão.

Tranquilizei-os para o fato de que essa era a primeira escrita e que ela

serviria, apenas, para sinalizar o quê já sabiam e o quê poderia ser feito para

melhorá-la, para que atendesse aos requisitos do gênero em questão.

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3.3 Módulos de atividades

O passo seguinte consistia em dar mais segurança aos alunos sobre os

requisitos para a produção de um artigo de opinião, por isso levei para a sala de aula

o artigo: Internet vai mudar sua memória, de Gilberto Dimenstein (disponível em

<http//www1.folha.uol.com.br/colunas/gilbertodimenstein/943959-internet-vai-mudar-

sua-memoria.shtml) , acesso em 01/08/11 e fizemos as seguintes atividades:

Leitura silenciosa e esclarecimentos sobre o significado de palavras

desconhecidas pelos alunos (fundamental para a compreensão do

texto e ampliação do vocabulário);

Destaque, no próprio texto, da questão polêmica que serviu de base

para o artigo, o ponto de vista assumido pelo autor e dos argumentos

usados;

Observação da presença ou não de contra-argumentos na estruturação

textual;

Análise da conclusão para perceber se o autor sugeria alguma solução

para a questão polêmica.

Levantamento das respostas dadas para elaboração de uma lista das

constatações a que os alunos chegaram.

Na aula seguinte, devolvi os textos que foram produzidos anteriormente para

que os alunos tomassem ciência das observações que fiz, sobretudo, apontando

aspectos que não correspondiam ao gênero em questão. Retomei pontos

importantes discutidos anteriormente, que não poderiam faltar na versão final do

artigo, e pedi-lhes que, em casa, reescrevessem o texto para deixá-lo “interessante”

e “adequado ao gênero”. Para concluir essa etapa da reescrita, após os alunos

realizarem as mudanças que julgaram necessárias para que atendessem às

características do gênero estudado, recolhi os textos para realizar uma nova

observação dos artigos. Passamos para outra etapa: a criação do blog.

3.4 Produção final – publicação dos artigos no blog

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Como é de praxe, nossos alunos sempre estão mais “antenados” com as

novas mídias que nós, professores, e, seguindo “essa norma”, recebi uma ajuda

valiosa de um aluno que se propôs a ajudar a criar o blog.

Numa aula bem participativa, reunimos a turma para que dessem sugestões

para customizarmos “o nosso blog”. Foram muitas as contribuições, em especial na

seleção de textos que poderiam compor nosso conteúdo (reportagens, poemas,

músicas, imagens, etc.) e, depois que terminamos, todos gostaram do resultado.

A última etapa consistia nas postagens dos textos pelos alunos. Nesse

momento, uma grande dificuldade precisa ser relatada. Estávamos na primeira

semana de dezembro e os nossos alunos enfrentavam uma rotina cansativa de

estudos preparatórios para o vestibular. Esse é um ponto de bastante relevância e

que deve ser levado em conta: a implementação não pode ocorrer numa época tão

difícil para os nossos alunos (falo pelos alunos de 3ª série do Ensino Médio), pois o

momento de finalização coincide com uma fase em que a atenção dos alunos está

apenas voltada para a aprovação que lhes permitirá a entrada na universidade.

4 Considerações finais

Procurei, neste trabalho, ressaltar a importância de associar o ensino de

produção textual ao uso das novas tecnologias, descrevendo os efeitos positivos

que resultam dessa união.

Durante a implementação do projeto houve momentos bem agradáveis, por

exemplo, quando expus o projeto na sala de aula, os alunos acharam bem

interessante a ideia do blog para divulgar seus textos. Outro ponto que também

agradou bastante foi a utilização de textos jornalísticos na abordagem de gêneros

textuais. Alguns chegaram a comentar que não sabiam que nos jornais havia textos

tão bons e, que daí em diante, adotariam novos hábitos de leitura.

Um fator que, em minha avaliação, atrapalhou um pouco foi a duração da

implementação, pois a etapa final, e a que seria mais rica: a postagem dos textos e

dos comentários, foi prejudicada, pois coincidiu com o término das aulas.

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Apesar de todos os desafios que fazem parte da jornada de um professor,

são incontestáveis as mudanças provocadas pelas novas tecnologias e como elas

influenciaram, e ainda influenciam, o processo ensino-aprendizagem. Sendo assim,

não há como evitá-las, devemos, sim, encará-las como importantes aliadas, na

delicada tarefa de tornar as nossas aulas mais dinâmicas e atraentes.

Enfim, avalio a minha participação no Programa como uma experiência

muito importante, que me proporcionou um indiscutível crescimento pessoal e

intelectual, o que, sem dúvida, modificou a minha concepção sobre língua e

despertou em mim um novo olhar sobre o ensino de Língua Portuguesa, o qual

pode ser uma atividade prazerosa, não só para o professor, como também para o

aluno.

5 Referências

ANTUNES, I. Aula de português: Encontro & interação. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.

DOLZ, J.;NOVERRAZ, M.; SCHNEUWLY, B. Sequência Didática para o oral e a escrita: apresentação de um procedimento. In: SCHNEUWLY,B.; DOLZ, J. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2004.

GERALDI, J. W. O Texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 2004.

KOCH, I.G.V. Texto e hipertexto. In: Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2002. p 61-73. Disponível em: <http://ufpe.br/neht/artigos/hipertexto.pdf.>. Acesso em: 10/05/2011.

KRESS, G. Literacy in the New Media Age. London: Routledge, 2003. LÉVY, P. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Trad.: Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993. p. 40 Disponível em: <http://ufpe.br/nehte/artigos/hipertexto.pdf.>. Acesso em: 10/05/2011. MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

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MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital. In: MARCUSCHI, L. A. & XAVIER, A. C. (orgs.) Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de construção de sentido. Rio de Janeiro: Cortez, 2010. XAVIER, A. C. Hipertexto na sociedade da informação: a constituição do modo de enunciação digital. Tese (Doutorado) em Linguística. Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem. Campinas (SP):/s.n./, 2002. p 152-153. Disponível em: http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000287629&fd=y. Acesso em: 10/05/2011.