cartel em paranaguá

115
EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DE UMA DAS VARAS CÍVEIS DA COMARCA DE PARANAGUÁ – PARANÁ O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por seus Promotores de Justiça subscritores, no uso de suas atribuições legais, com fulcro no artigo 129, inciso III, da Constituição Federal de 1988; artigo 25, inciso IV, alínea ‘a’, da Lei Federal n.º 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público) combinado com o artigo 2º e seguintes, da Lei Complementar Estadual n.º 85/99 (Lei Orgânica Estadual do Ministério Público); Leis Federais n.º 7.347/85 (Ação Civil Pública) e n.º 1

Upload: derick-fernandes

Post on 04-Apr-2016

232 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Confira relatório completo do processo em que Baka teria recebido pelo menos R$ 1,3 milhão em propina como "comissão" de contrato com empresa SP Alimentação

TRANSCRIPT

Page 1: Cartel em Paranaguá

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DE UMA DAS VARAS CÍVEIS DA COMARCA DE PARANAGUÁ – PARANÁ

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por seus Promotores de Justiça subscritores, no uso de suas atribuições legais, com fulcro no artigo 129, inciso III, da Constituição Federal de 1988; artigo 25, inciso IV, alínea ‘a’, da Lei Federal n.º 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público) combinado com o artigo 2º e seguintes, da Lei Complementar Estadual n.º 85/99 (Lei Orgânica Estadual do Ministério Público); Leis Federais n.º 7.347/85 (Ação Civil Pública) e n.º 8.429/92 (Lei de Improbidade); e com base no Procedimento Preparatório n.º MPPR 0103.12.000141-9, vem, respeitosamente, à preclara presença de Vossa Excelência, aforar a presente

1

Page 2: Cartel em Paranaguá

AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA, COM PEDIDOS LIMINARES em face de

JOSÉ BAKA FILHO, brasileiro, casado, engenheiro civil, atual Prefeito Municipal de Paranaguá, filho de Ruth Crocetti Baka e José Baka, portador da cédula de identidade RG n. 3.561.568-7 SSP/PR, inscrito no CPF/MF sob o n. 033.708.538-25, residente e domiciliado na rua Domingos Peneda, n. 3.275, Bairro Jardim Guaraituba, CEP n. 83.203-340, município de Paranaguá/PR;

ROSIANA CUNHA DO ESPIRÍTO SANTA CRUZ, brasileira, portadora do CPF n.º 503.369.169-49, filha de Lindamir Cunha do Esperito, nascida aos 05 de agosto de 1961, residente na rua Pedro Nicco, 225, casa 14, Mossungue, Curitiba-PR;

RICARDO BULGARI, brasileiro, portador do CPF n.º 063.025.448-66, filho de Maria Cleide Lima Bulgari, nascido aos 29 de julho de 1965, residente na rua Capitão Alceu Vieira, 130, apto. 132, Centro, Amparo-SP;

11 A COMÉRCIO DE MANUFATURADOS LTDA, sociedade empresária, inscrita no CNPJ n. 06.268.154/0001-45, sediada na Avenida Diogenes Ribeiro de

2

Page 3: Cartel em Paranaguá

Lima, n. 2872, 7º andar, Alto da Lapa, São Paulo-SP;VERDURAMA COMÉRCIO ATACADISTA

DE ALIMENTOS, sociedade empresária, inscrita no CNPJ n.º 00.567.949/0001-7, com sede na rua Hassib Mofarrej, 1111, Vila Leopoldina, São Paulo-SP;

ELOIZO GOMES AFONSO DURÃES, brasileiro, empresário, Presidente do grupo SP ALIMENTAÇÃO, portador da cédula de identidade RG n. 6.379.342-8 e do CPF n. 806.302.868-68, residente e domiciliado na rua Rio de Janeiro, n. 338, apto. n. 8, na cidade de São Paulo, podendo ser encontrado também na rua Almeida Maia, n. 38, apto. n. 101, Santana, São Paulo - SP;

SILVIO MARQUES, brasileiro, casado, empresário, ex-diretor financeiro da SP ALIMENTAÇÃO, portador da cédula de identidade RG n.6.002.656-X e do CPF n.938.083.138-20, residente na rua Almeida Maia n. 38, apto. 71, Santana, São Paulo – SP;

OLÉSIO MAGNO DE CARVALHO, brasileiro, portador da cédula de identidade RG n.10.567.320 e do CPF n.870.144.088-87, residente e domiciliado na rua Capote Valente n. 281, 5º andar, Jardim América, São Paulo - SP;

ANTONIO MARQUES FRANCO, brasileiro, advogado, OAB 104665-SP, portador do CPF n.º 022.630.438-

3

Page 4: Cartel em Paranaguá

88, filho de Carmen Marques Franco, nascido aos 21 de abril de 1962, residente na rua Francisco Marcondes Vieira, 03, T 03, ap. 93, com endereço profissional na rua Ed Bernardino Carareto, n.º 366, São José do Rio Preto-SP;

JOSÉ AUGUSTO FONSECA NETTO, brasileiro, filho de Elza Leitão Netto, natural de São Paulo-SP, portador do RG n.º 7162631 e do CPF n.º 892.899.868-91, nascido aos 28 de dezembro de 1956, residente na rua Barão do Triunfo, 786, apto. 51, Brooklin, São Paulo-SP; e

LUCIANO ROBERTO FONSECA NETTO, brasileiro, filho de Elza Leitão Netto, portador CPF n.º 011.207.598-38, nascido aos 26 de maio de 1958, residente na rua Major José Marioro Ferreira, 850, apto. 84, Paraisópolis, São Paulo, com endereço profissional na empresa Directo Consultoria Empresarial, situada na rua Alcides Ricardine Neves, 12, Cj. 813, Cidade Monções, São Paulo/SP.

I – DO OBJETO DA LIMINAR

Na presente ação civil pública por atos de improbidade administrativa, em que se demonstra cabalmente a prática de formação de cartel e fraude em procedimento licitatório relativo à aquisição de uniformes e kits escolares no município de Paranaguá, os pagamentos de

4

Page 5: Cartel em Paranaguá

altas cifras de propinas aos agentes públicos (requeridos JOSÉ BAKA FILHO e RICARDO BULGARI), o enriquecimento ilícito, a lesão ao erário e a violação aos princípios regentes da atividade administrativa no âmbito das atividades ilegais do grupo SP ALIMENTAÇÃO (máfia da merenda, também objeto de outra ação civil pública), pleiteia o Ministério Público provimento jurisdicional de caráter liminar e urgente consistente na indisponibilidade de bens de todos os requeridos até o limite de R$ 2.448.783,00 (dois milhões e quatrocentos e quarenta e oito mil e setecentos e oitenta e três reais).

Deduz, ainda, pedido de liminar de afastamento cautelar do requerido JOSÉ BAKA FILHO do exercício das funções de Prefeito Municipal de Paranaguá, tendo em vista que este vem claramente dificultando, por meio de atos concretos, a instrução processual.

II – DO OBJETO PRINCIPAL DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

O objeto principal da presente Ação Civil Pública é o de condenar os requeridos nas sanções do art. 12, incisos I, II e III da Lei 8.429/92, quais sejam: perda da

5

Page 6: Cartel em Paranaguá

função pública, a suspensão dos direitos políticos, perda dos valores indevidamente acrescidos ao patrimônio dos agentes públicos (requeridos JOSÉ BAKA FILHO e RICARDO BULGARI), totalizando, por ora, a importância de R$ 467.437,95 (quatrocentos e sessenta e sete mil e quatrocentos e trinta e sete reais e noventa e cinco centavos)1, ressarcimento do prejuízo causado ao erário no valor de R$ 2.448.783,00 (dois milhões e quatrocentos e quarenta e oito mil e setecentos e oitenta e três reais), devidamente corrigidos e atualizados, pagamento de multa civil, e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, conforme pedidos constantes alhures.

Ainda, no mérito, objetiva-se obter a declaração de nulidade do contrato celebrado entre o Município de Paranaguá e a empresa 11 A DISTRIBUIDORA DE UNIFORMES para o fornecimento de uniformes e kits escolares em Paranaguá.

1 Valor total resultante da soma dos seguintes valores: R$ 125.000,00 (cento e vinte e cinco mil l reais), que foi uma das parcelas do valor total pago ao Prefeito Municipal pelo contrato; R$ 100.257,95 (cem mil duzentos e cinquenta e sete reais e noventa e cinco centavos), referente ao valor pago a título de propina entre os meses de junho a dezembro de 2008; R$ 242.180,00 (duzentos e quarenta e dois mil e cento e oitenta reais), valores referentes às propinas e comissões calculados sobre os pagamento total efetuado pelo município à empresa 11 A, no mês de maio de 2007, de R$ 837.000,00.

6

Page 7: Cartel em Paranaguá

III - DO BREVE HISTÓRICO

O Ministério Público do Estado do Paraná, através da Promotoria de Justiça de Proteção ao Patrimônio Público da comarca de Paranaguá, instaurou o Procedimento Preparatório n.º MPPR 0103.12.000141-9, a partir do Inquérito Civil Público nº MPPR 0103.09.000037-5, visando apurar notícias da existência de inúmeras ilegalidades no fornecimento de uniformes escolares no município de Paranaguá, tais como o recebimento de propinas por agentes públicos, bem como fraudes no procedimento licitatório (Pregão Presencial n.º 75/2006), que culminou na contratação da empresa 11 A COMÉRCIO DE MANUFATURADOS LTDA, para o fornecimento de uniformes escolares e Kits escolares para as escolas municipais.

O Inquérito Civil Público nº MPPR 0103.09.000037-5 foi instaurado para apurar notícias da existência de inúmeras ilegalidades no fornecimento de merenda escolar no município de Paranaguá, tais como a

7

Page 8: Cartel em Paranaguá

falta de qualidade nas merendas escolares fornecidas, o recebimento de propinas por agentes públicos relacionadas ao superfaturamento das merendas escolares, bem como fraudes no procedimento licitatório (Concorrência Pública n.º 01/2006), que culminou na contratação da empresa SP ALIMENTAÇÃO E SERVIÇOS LTDA, para a prestação de “serviços de preparo e de fornecimento de alimentação escolar.”

O Ministério Público do Estado de São Paulo já havia instaurado, através das Promotorias de Justiça do Patrimônio Público e Social da Capital e do GEDEC – Grupo de Atuação Especial de Repressão aos Crimes Econômicos, respectivamente, o Inquérito Civil n.º PJPP – CAP 34/2008 e o Procedimento Investigatório Criminal n.º 07/08, cuja finalidade inicial também era a de promover investigações sobre os contratos firmados entre aquele município de São Paulo e a empresa SP ALIMENTAÇÃO E SERVIÇOS LTDA. para fornecimento de merenda escolar à rede pública de ensino.

Durante as aludidas investigações, o Ministério Público do Estado de São Paulo constatou a existência de fraudes nos procedimentos licitatórios realizados para a contratação de empresas destinadas ao fornecimento de merenda escolar à rede pública de ensino, já

8

Page 9: Cartel em Paranaguá

que somente participavam do certame aquelas pertencentes ao mesmo grupo da empresa SP ALIMENTAÇÃO E SERVIÇOS LTDA, denominado GRUPO SP ALIMENTAÇÃO, e aquelas que realizavam acordos com este último, seja financeiro, seja de garantia de ganho do próximo procedimento licitatório.

A partir da formação do cartel descrito, as fraudes aos procedimentos licitatórios para fornecimento de merenda escolar foram perpetradas não somente no município de São Paulo, como em outros inúmeros municípios deste Estado e dos demais Estados da Federação, e mediante pagamento de propinas a servidores públicos, inclusive neste município de Paranaguá, razão pela qual foi encaminhada a esta Promotoria de Justiça, no dia 19 de outubro de 2010, os documentos que tinham sido, até então, obtidos pelo Ministério Público do Estado de São Paulo em suas investigações.

As empresas que integram o grupo SP ALIMENTAÇÃO, conforme o infograma elaborado durante a instrução do procedimento investigatório criminal do Ministério Público do Estado de São Paulo, são as seguintes: A) SP ALIMENTAÇÃO E SERVIÇOS LTDA; B) VERDURAMA COMERCIO ATACADISTA DE ALIMENTOS; C) TERRA AZUL

9

Page 10: Cartel em Paranaguá

ALIMENTAÇÃO COLETIVA E SERVIÇOS LTDA.; D) VEGETAIS PROCESSADOS COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA.; E) CEAZZA DISTRIBUIDORA DE FRUTAS, VERDURAS E LEGUMES LTDA; F) GOURMAITRE COZINHA INDUSTRIAL E REFEIÇÃO LTDA.; G) 11 A UNIFORMES E SERVIÇOS LTDA; H) BIOLÓGICA – COMÉRCIO E GERENCIAMENTO DE MEDICAMENTOS E PRODUTOS E SERVIÇOS HOSPITALARES LTDA - EPP; I) L&S COMERCIAL E SERVIÇOS LTDA; J) MERCOFRIG ALIMENTOS E LOGÍSTICA LTDA; K) ABONA PARTICIPAÇÕES LTDA; L) PARAMED MATERIAIS MÉDICOS E HOSPITALARES LTDA; M) FUNDAÇÃO GENTIL AFONSO DURÃES; e N) DIAGVERDE COMERCIAL LTDA.

As outras empresas que, embora não integrem o grupo referido, participam do esquema e possibilitam uma “cartelização” do fornecimento de merenda escolar à rede pública de ensino, são: A) GERALDO J. COAN; B) NUTRIPLUS ALIMENTAÇÃO E TECNOLOGIA LTDA; C) CONVIDA ALIMENTAÇÃO LTDA (DENADAI); e D) EB SISTAL ALIMENTAÇÃO DE COLETIVIDADE LTDA.

Num primeiro momento, constatou-se, nas investigações realizadas pelo Ministério Público de São Paulo, que as empresas supramencionadas, com o propósito de fraudar licitações, concorriam concomitantemente em

10

Page 11: Cartel em Paranaguá

certames para fornecimento de merenda escolar e pagavam propinas aos agentes públicos da municipalidade, com os quais firmavam os contratos de prestação de serviços.

No curso das referidas investigações encetadas pelo Ministério Público de São Paulo para desvendar a atuação da máfia da merenda logrou-se obter a colaboração de um ex-funcionário do Grupo SP Alimentação, Genivaldo Marques dos Santos, que passou a colaborar com as investigações, fornecendo fartos elementos que permitiram identificar o modus operandi da organização criminosa e as respectivas áreas de atuação. Em razão das informações desta testemunha dando conta da existência de documentos comprobatórios do esquema, principalmente em um pen-drive de propriedade do requerido SILVIO MARQUES, um dos diretores do grupo SP Alimentação, mas também com os demais diretores, os requeridos ELOÍZO DURÃES e ANTONIO MARQUES FRANCO, foi requerida a busca e apreensão nas residências destes, todas localizadas no município de São Paulo.

Cumpridos os mandados de busca e apreensão aludidos, foram apreendidos documentos referentes ao esquema da merenda escolar (máfia da merenda) em Paranaguá e em diversos outros municípios de Estados da Federação, razão pela qual o

11

Page 12: Cartel em Paranaguá

Ministério Público de São Paulo pleiteou ao juízo do DIPO (Departamento de Inquéritos Policiais) de São Paulo o deferimento de compartilhamento das provas obtidas com a comarca de Paranaguá. Deferido o pleito, foi possibilitado judicialmente o compartilhamento das provas obtidas em razão do cumprimento dos mandados de busca e apreensão, bem como das análises técnicas já realizadas pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, e daquelas que o seriam posteriormente.

Assim, foi encaminhado a este Ministério Público do Estado do Paraná material probatório que demonstra o funcionamento da máfia da merenda no município de Paranaguá, destacando-se, dentre os documentos, extratos bancários apreendidos na residência do requerido ANTONIO MARQUES FRANCO, acompanhados dos depoimentos de Adalberto Valentim Baka e Alda Zoni Baka, e de outros, colhidos por àquelas Promotorias de Justiça.

No dia 07 de abril de 2011, o Ministério Público do Estado de São Paulo encaminhou à Promotoria de Justiça da comarca de Paranaguá, através do ofício n.º 0364/11 – GEDEC, os documentos apreendidos na residência de Silvio Marques, acompanhados de testemunhos e depoimentos, especificamente os de Genivaldo Marques dos

12

Page 13: Cartel em Paranaguá

Santos (fls. 114/126, 132/144), bem como relatórios técnicos decorrentes da análise de discos rígidos apreendidos.

A testemunha que colaborou com as investigações, Genivaldo Marques dos Santos, sócio da L&S Comercial também pertencente ao grupo SP Alimentação, entregou ao Ministério Público do Estado de São Paulo, um documento denominado “Participação Holding”, consistente em um relatório das propinas pagas pela SP Alimentação em diversas cidades no ano de 2006, no qual consta a cidade de Paranaguá, cujo código era S37, e a propina era de 7% + 2% do valor recebido pela Prefeitura Municipal.

Foi encaminhado, nesse mesmo ofício (n.º 0364/11), o relatório de inteligência emitido pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão aos Crimes Econômicos, decorrente da análise do disco rígido apreendido na residência do requerido SILVIO MARQUES. Verificou-se a existência de diversos documentos que se referiam ao controle de cheques da empresa 11 A Distribuidora de Manufaturados Ltda., também do grupo SP Alimentação, relacionando-os a diversas cidades, inclusive Paranaguá. Na documentação apreendida referida, foi apurado que as fraudes licitatórias, através da atuação do mesmo cartel, também foram perpetradas nos certames referentes à compra de

13

Page 14: Cartel em Paranaguá

uniformes escolares no município de Paranaguá e também com pagamento de propinas a servidores públicos (fls. 149/195).

No dia 12 de abril de 2011, o Ministério Público do Estado de São Paulo encaminhou à Promotoria de Justiça da comarca de Paranaguá, através do ofício n.º 0383/11 – GEDEC, cópia de um DVD contendo informações sobre a investigação de fraudes às licitações para fornecimento de merenda escolar, testemunhos de Genivaldo Marques dos Santos e relatório preliminar de análise dos documentos do pen drive apreendido em poder do requerido SILVIO MARQUES e outros documentos.

Durante a instrução do inquérito civil em epígrafe na Promotoria de Justiça de Proteção ao Patrimônio Público da comarca de Paranaguá, foram providenciadas, dentre outros documentos, provas e diligências: cópia do contrato firmado com a empresa requerida SP ALIMENTAÇÃO e os seus oito aditivos; cópia do estudo de avaliação da merenda escolar realizado pelo requerido Olavo Egidio Ozzetti; cópia do contrato firmado entre o município de Paranaguá e a empresa 11A Comércio de Manufaturados Ltda; carta precatória para o Ministério Público de São Paulo para nova oitiva de Genivaldo Marques dos Santos.

14

Page 15: Cartel em Paranaguá

No dia 18 de novembro de 2011, o Ministério Público do Estado de São Paulo encaminhou, através do ofício n.º 958/11 – GEDEC (fls. 342/356), os documentos apreendidos na sede da empresa 11 A Comércio de Manufaturados Ltda, pertencente ao grupo SP Alimentação, e cujo contrato firmado com o município de Paranaguá também envolveu fraudes à licitação e pagamentos de propinas a agentes públicos. (objeto da presente ação civil pública).

Retificada a portaria de instauração do inquérito civil originário para incluir os contratos firmados entre a empresa 11 A Distribuidora de Uniformes com o município de Paranaguá, o inquérito civil em anexo foi encaminhado para o Centro de Apoio Operacional do Patrimônio Público para análise. Realizada a auditora em todos os documentos constantes do inquérito civil, este retornou a esta Promotoria de Justiça com o relatório n.º 37-2012.

Por tudo que constou daquele inquérito civil, restou comprovada a ocorrência de graves fraudes e atos de improbidade administrativa em dois procedimentos licitatórios distintos no município de Paranaguá, quais sejam: a) o da concorrência pública n.º 001/2006, da qual originou o contrato para

15

Page 16: Cartel em Paranaguá

fornecimento de merenda escolar às redes públicas de ensino firmado entre o município de Paranaguá e a empresa SP Alimentação Ltda, inclusive com o pagamento de propinas a agente público (máfia da merenda); b) o do Pregão Presencial n.º 75/2006, da qual originou o contrato para fornecimento de uniformes escolares e Kits escolares firmado entre o município de Paranaguá e a empresa 11 A Distribuidora de Uniformes, também sob a prática de pagamento de propinas a agente público.

Embora se trate, basicamente, do mesmo grupo criminoso nas aludidas fraudes e atos de corrupção, mas considerando justamente que são duas licitações distintas e dotadas de objetos diferentes, e que contaram também com o envolvimento de empresas e representantes legais distintos, foi ajuizada uma ação civil pública de improbidade para cada procedimento licitatório referido.

Desta forma, foi determinada a extração de xerocópias dos documentos daquele inquérito civil, referentes também à licitação que originou o contrato entre o município e a empresa 11 A Uniformes e Serviços para fornecimento de kits e uniformes escolares, e foi instaurado o presente procedimento preparatório MPPR 0103.12.000141-9, para embasar esta ação civil de improbidade

16

Page 17: Cartel em Paranaguá

administrativa.

IV - DAS FRAUDES AO PROCEDIMENTO LICITATÓRIO PREGÃO PRESENCIAL N.º 75/2006.

O Pregão Presencial n.º 075/2006 foi motivado pelo Ofício de número 264/2006, de 03/07/2006, encaminhado pela Secretária Municipal de Educação, Rosiana Cunha do Espírito Santo Cruz, ao Prefeito Municipal, José Baka Filho, no qual solicitou autorização para a aquisição de kits escolares, compostos por uniformes, materiais e mochilas escolares, a um custo total de R$ 2.884.000,00, para o período de 2006 a 2008.

A primeira fraude licitatória traduz-se na ausência de publicação do edital com antecedência necessária para garantir o atendimento dos princípios licitatórios constitucionais e legais, especialmente o da publicidade e o da concorrência.

Com efeito, o aviso do pregão e o edital da licitação foram datados de 18/07/2006, com a abertura do certame marcada para o dia 01/08/2006. A publicação do aviso da licitação teria ocorrido no Diário Oficial do Estado

17

Page 18: Cartel em Paranaguá

do Paraná de 20/07/2006, conforme fl. 724 do procedimento preparatório em anexo. Ocorre que, a publicação no Diário Oficial de Paranaguá somente foi efetuada na edição de 29/07/2006 (dois dias antes da abertura do procedimento licitatório), consoante consta na fl. 725 do referido procedimento preparatório.

No procedimento licitatório, consta o encaminhamento do edital de abertura a diversas empresas (fls. 728/751), dentre os dias 25 a 31 de julho de 2006, contudo, repise-se que a data de abertura da licitação era 01 de agosto de 2006.

No anexo II do Edital de Licitação (fls. 706/707), foram descritos os itens que deverão compor a proposta dos licitantes. Ressalta-se que os itens exigidos foram de natureza distinta, pois consistiram em uniformes escolares, tênis, material escolar, o que acarretou a incompatibilidade do objeto de licitação e, portanto, reduziu a competitividade da licitação, restringindo o número de participantes.

O item 8.1. do edital exigiu como requisito da proposta para a participação da licitação, a apresentação de uma amostra de cada tamanho dos produtos especificados no anexo I do edital ( fls. 656/705): 01 amostra de cada tamanho de calça,

18

Page 19: Cartel em Paranaguá

jaqueta, bermuda, short-saia, camiseta, sunga, maiô, par de meia; 01 amostra de par de tênis aos n.ºs 28 a 44; e 01 amostra de cada produto do material escolar. Ainda, as amostras deveriam ser entregues no dia da apresentação dos envelopes, entregues mediante recibo à Comissão de Avaliação das Amostras, e seguir as numerosas especificações técnicas constantes do edital. (fls. 649/650)

Esta regra do edital não somente restringiu a competitividade no certame licitatório e consistiu em fraude licitatória, como demonstrou que, provavelmente, o edital foi disponibilizado à empresa vencedora com antecedência, pois impossível preparar esta quantidade de amostras em 08 dias úteis (isso, contados da publicação do edital no Diário Oficial do Paraná, que ocorreu no dia 20 de julho de 2006) para entrega no dia 01 de agosto de 2006. No Diário Oficial de Paranaguá, a publicação ocorreu no dia 29 de julho de 2006!!!

As empresas que se habilitaram a participar do procedimento licitatório foram três: 11A Comércio de Manufaturados Ltda, Gigabyte Produtos de Informática, Papelaria, Higiene e Limpeza, e Verdurama Comércio Atacadista de Alimentos Ltda. Primeiramente, a verdadeira concorrente da empresa 11 A Comércio de Manufaturados

19

Page 20: Cartel em Paranaguá

Ltda foi a empresa Gigabyte, já que a empresa Verdurama também é do grupo da SP ALIMENTAÇÂO, sendo que participou da licitação apenas para dar aparência de legalidade a esta (de acordo com o infograma apresentado na fl. 357 dos autos). Inclusive a empresa Gigabyte Produtos de Informática apresentou impugnação ao edital do pregão presencial em comento, a qual foi arquivada pelo município.

A empresa 11 A Comercio de Manufaturados, na abertura dos envelopes, ofereceu o menor preço, entretanto, nos lances, a empresa vencedora foi a empresa Gigabyte Produtos de Informática, Papelaria, Higiene e Limpeza.

Considerando que as amostras dos produtos apresentadas pela empresa Gigabyte Produtos de Informática, Papelaria, Higiene e Limpeza foi reprovada pelo atestado técnico emitido pela Secretaria Municipal de Educação, de 03 de agosto de 2006 (fl. 871) e que as empresas Verdurama e 11 A Distribuidora de Uniformes tiveram suas amostras aprovadas (fls. 872/873), este última sagrou-se vencedora porque ficou em segundo lugar na etapa dos lances.

Assim, as fraudes licitatórias no Pregão n.º 75/2006 restaram comprovadas e, portanto, nulo é o contrato que decorreu deste certame. Isso porque, em suma: a)

20

Page 21: Cartel em Paranaguá

publicação do edital sem tempo hábil para a inscrição do maior número de concorrentes possível, com ênfase na data em que foi publicado no Diário Oficial de Paranaguá, dia 29 de julho de 2006, três dias antes da apresentação das propostas, dia 01 de agosto de 2006; b) incompatibilidade nos itens que compuseram o objeto de licitação, os quais são, em regra, fabricados por empresas diferentes, sendo que tal fato também restringiu a concorrência; c) exigência de apresentação de um número excessivo de amostras com atendimento de uma enorme gama de especificações técnicas complexas em apenas oito dias úteis, este tempo para aqueles que tiveram acesso ao edital no mesmo dia de sua publicação e naquela efetuada no Diário Oficial do Estado do Paraná (20 de julho de 2006); d) a empresa Verdurama que teve suas amostras aprovadas é do mesmo grupo de empresas que a 11 A Distribuidora de Uniformes, qual seja, do grupo da SP ALIMENTAÇÃO, e foi utilizada apenas para dar aparência de legalidade na licitação, especificamente na exigência da apresentação e aprovação das amostras, conferindo também a ela o atestado de aprovação.

Na esteira do que já foi explicitado no histórico da presente ação, das investigações procedidas em diversas empresas, não somente do ramo alimentício, como do ramo de medicamentos e de outros serviços, verificou-se a

21

Page 22: Cartel em Paranaguá

existência de um grupo de empresas denominado SP ALIMENTAÇÃO, o qual está composto tanto de empresas com coincidências nos quadros societários, como daquelas em que tal similaridade reside no grau de parentesco existente entre sócios de uma e os da outra.

O Ministério Público do Estado de São Paulo elaborou o Infograma supramencionado que demonstra a composição do grupo SP ALIMENTAÇÃO. Com o intuito de demonstrar a lógica realizada na elaboração do cruzamento de informações societárias e de gerência de diversas empresas, para demonstrar que todas pertencem ao mesmo grupo e estão no comando das mesmas pessoas, realizam-se os seguintes apontamentos:

a) A SP ALIMENTAÇÃO tem como sócios ELOIZO AFONSO DURÃES e VALMIR RODRIGUES DOS SANTOS. O primeiro possui 97% das cotas sociais, enquanto o segundo, apenas 3%;

b) O requerido ELOIZO AFONSO DURÃES também é sócio da empresa 11 A DISTRIBUIDORA DE UNIFORMES E SERVIÇOS, possuindo 80% das quotas, enquanto Heloisa Helena Dalazoana Afonso tem 20% das quotas, desde 24 de fevereiro de 2006 (fls. 340/341 e 829/832);

c) VALMIR RODRIGUES DOS SANTOS era

22

Page 23: Cartel em Paranaguá

sócio da empresa VERDURAMA. Em julho de 2006, o quadro societário da empresa passou a ser composto de VILSON NASCIMENTO e GENIVALDO MARQUES DOS SANTOS (testemunha beneficiada com a delação premiada)(fls. 813/820);

d) E assim por diante.Também é imperioso anotar que alguns

procuradores das empresas acumulam as suas funções em mais de uma delas: por exemplo, as pessoas de Olesio Magno Carvalho, Antonio Marques Franco, Osmir Henrique Mouro e Valter Lessao representam as empresas SP ALIMENTAÇÃO, GOURMAITRE e VERDURAMA.

Diversos fatos apurados durante a instrução do inquérito civil referido, do qual se originou o procedimento preparatório em anexo, denotaram as fraudes licitatórias então narradas. Os documentos apreendidos pelo cumprimento de mandado de busca e apreensão na sede da empresa 11 A Distribuidora de Uniformes, expedido no município de São Paulo, e cujo compartilhamento de provas foi deferido pelo MM. Juízo daquela comarca, evidenciaram o direcionamento da referida licitação. (fl. 342)

Foi encontrado, em poder da empresa 11 A, orçamento apresentado pela empresa Flamingo Têxtil Ltda, referente ao município de Paranaguá (fls. 353/355), o qual

23

Page 24: Cartel em Paranaguá

indica que, já em maio de 2006, antes mesmo da expedição de ofício que pleiteou a abertura de procedimento licitatório (n.º 264/2006), a empresa 11 A Distribuidora de Uniformes já tinha conhecimento da licitação, contanto que encomendou cotação de parte do objeto da licitação empresa Flamingo Têxtil os Uniformes Escolares.

No relatório de diárias pagas à Secretária de Educação, à época, Rosiana Cunha do Espírito Santo Cruz, consta a realização de uma viagem para São Paulo para visitar a sede da empresa SP ALIMENTAÇÃO, no dia 25 de abril de 2006. Interessante notar que: nesta data, o contrato para fornecimento de merenda escolar já tinha sido firmado entre o município e a empresa SP ALIMENTAÇÃO, não existindo razão para tal viagem; que a data da viagem foi anterior à abertura do procedimento licitatório para a aquisição de uniformes, no qual a empresa 11 A DISTRIBUIDORA UNIFORMES, do mesmo grupo (LEIA-SE CARTEL), foi vencedora, o que permite cogitar que a viagem teria tido tal finalidade, até mesmo pela razão do atestado de aprovação das amostras exigidas no certame que serviram para garantir a contratação.

Ademais, na planilha de controle de pagamentos da empresa SP ALIMENTAÇÃO, decorrente do mandado de busca e apreensão cumprido na residência de

24

Page 25: Cartel em Paranaguá

Silvio Marques, diretor da empresa SP ALIMENTAÇÃO, referente ao ano de 2006 (fls. 276/322) constam as despesas em nome da Secretária de Educação de Paranaguá: 1. Na data de 18/04/2006, consta despesa de R$ 2,51, referente ao reembolso com despesa de hospedagem da Secretária de Educação de Paranaguá (despesa total de R$ 457,49, custeada pela empresa SP Alimentação e Serviços Ltda, descontada do valor de R$ 460,00, adiantado para esta finalidade). (fl. 281 dos autos); 2. Na data de 02/08/2006, um dia depois da abertura das propostas apresentadas no pregão presencial para aquisição de uniformes escolares, consta a despesa referente ao pagamento do valor de R$ 535,04, com o histórico de reembolso das despesas da Secretaria de Educação (fl. 299 dos autos).

Destarte, o conhecimento prévio da licitação possibilitou às empresas participantes do esquema fraudulento (11A Comercio de Manufaturados Ltda e Verdurama Comercio Atacadista de Alimentos Ltda – ambas integrantes do cartel da merenda – GRUPO SP ALIMENTAÇÃO) obter vantagens sobre a outra concorrente, a empresa Gigabyte, pois no prazo previsto no edital, seria impossível para esta a confecção de todas as amostras dos produtos objetos da licitação com as especificações exigidas.

A proposta de preços apresentada pela

25

Page 26: Cartel em Paranaguá

empresa 11 A Distribuidora de Uniformes e Serviços Ltda foi de R$ 139, 50 (cento e trinta e nove reais e cinquenta centavos) por Kit, totalizando em 2006, 2007 e 2008 o valor de R$ 2.873.700,00 (dois milhões oitocentos e setenta e três mil e setecentos reais).

Os pagamentos totais realizados à empresa 11 A Comércio de Manufaturados Ltda nos três anos referidos somaram:

Ano Empenho

Dt

Empenho

Vlr. Líquido

Empenho Total dos Pagamentos

200

6 7242 15/08/06 1.555.425,00 1.555.425,00

200

7 12603 21/12/07 191.952,00 191.952,00

200

7 12604 21/12/07 398.272,50 398.272,50

200

8 5689 19/05/08 303.133,50 303.133,50

T O T A I S 2.448.783,00 2.448.783,00

Além disso, da mesma forma que ocorreu

com a contratação da empresa SP ALIMENTAÇÃO para fornecimento de merenda escolar ao município de Paranaguá, a empresa 11 A DISTRIBUIDORA DE

26

Page 27: Cartel em Paranaguá

MANUFATURADOS LTDA também negociou com os agentes públicos envolvidos, JOSÉ BAKA FILHO, RICARDO BULGARI e ROSIANA CUNHA DO ESPÍRITO SANTA CRUZ, como seriam procedidas às fraudes licitatórias ao pregão presencial n.º 75/2006 para possibilitar a contratação desta empresa.

A testemunha Genivaldo Marques dos Santos que colaborou com as investigações, participando da delação premiada, era sócio de duas empresas do grupo SP, quais sejam, a L&S COMERCIAL e a VERDURAMA e, por isso, tem amplo conhecimento de como era realizado todo o esquema da máfia da merenda.

No dia 26 de março de 2010, Genivaldo Marques dos Santos foi ouvido no Ministério Público de São Paulo e esclareceu a composição e o funcionamento do grupo SP ALIMENTAÇÃO, confirmando que foi sócio da empresa VERDURAMA entre 2002 a agosto de 2008 e que adquiriu as cotas da empresa através de ELOIZO DURÃES, sócio majoritário da empresa SP ALIMENTAÇÃO e Presidente do GRUPO SP ALIMENTAÇÃO:

“ O GRUPO SP ALIMENTAÇÃO faturava em 2008 cerca de R$ 60.000.000,00 (sessenta milhões de reais) por mês, ou aproximadamente R$ 700.000.000,00 (setecentos milhões de reais) por ano. As principais atividades das

27

Page 28: Cartel em Paranaguá

empresas do GRUPO SP ALIMENTAÇÃO se referem a cmercialização de merenda escolar (SP ALIMENTAÇÃO, VERDURAMA, CEAZZA, GOURMAITRE, TERRA AZUL E LE BARON), cestas básicas (VERDURAMA), hortifrutigranjeiros (CEAZZA), legumes á vácuo (VEGETAIS PROCESSADOS) e uniforme escolar (11 A), esta representando 10% do faturamento do grupo (...)” (fls.567/584)

Assim, patente que os requeridos, ajustados entre si, praticaram diversos atos de improbidade administrativa, relativos ao procedimento licitatório para o fornecimento de uniformes escolares e kits escolares no município de Paranaguá n.º 75/2006, do qual culminou a contratação da empresa 11 A DISTRIBUIDORA E COMÉRCIO DE MANUFATURADOS LTDA, seja pelas patentes fraudes que contaminaram todo o certame licitatório, seja por todo o esquema ilícito que envolvia o pagamento de altas cifras de propinas a agente público, dentre várias outras ilicitudes.

V- DO PAGAMENTO DAS PROPINAS RELACIONADAS AO CONTRATO DE FORNECIMENTO DE KITS ESCOLARES E UNIFORMES ESCOLARES

28

Page 29: Cartel em Paranaguá

De todos os elementos de prova colhidos durante a instrução do Inquérito Civil aludido, aliados às provas obtidas pelo Ministério Público de São Paulo, cujo compartilhamento foi deferido pelo MM. Juízo daquela comarca, foi constatado que os requeridos 11 A DISTRIBUIDORA COMÉRCIO DE MANUFATURADOS LTDA, ROSIANA CUNHA DO ESPIRÍTO SANTA CRUZ, RICARDO BULGARI, VERDURAMA COMÉRCIO ATACADISTA DE ALIMENTOS, ELOIZO GOMES AFONSO DURÃES, SILVIO MARQUES, OLÉSIO MAGNO DE CARVALHO, ANTONIO MARQUES FRANCO, JOSÉ AUGUSTO FONSECA NETTO, LUCIANO ROBERTO FONSECA NETTO, em comunhão de vontades, todos ajustados para o mesmo fim, fraudaram a licitação para aquisição de uniformes e Kits escolares, com o pagamento de “comissões” ao agente público, JOSÉ BAKA FILHO.

Verifica-se nos documentos apreendidos no Estado de São Paulo, a presença de evidências relativas à negociação das “comissões” sobre o fornecimento dos uniformes e kits escolares para o município de Paranaguá.

Como já referido no histórico da presente ação, o Ministério Público do Estado de São Paulo encaminhou os documentos, bem como a análise destes,

29

Page 30: Cartel em Paranaguá

contidos em pen drives apreendidos na residência do requerido SILVIO MARQUES (fl. 114). Ademais, foram encaminhados testemunhos colhidos durante a instrução do procedimento criminal e do inquérito civil instaurados naquela comarca referente à “máfia da merenda”.

Nos documentos constantes do CPU do computador da residência de SILVIO MARQUES existiam planilhas que se referiam a controle de cheques da empresa 11 A DISTRIBUIDORA E COMÉRCIO DE MANUFATURADOS LTDA, empresa, como já dito, integrante do grupo SP ALIMENTAÇÃO. Constatou-se que esta planilha se referia ao controle dos pagamentos das comissões aos agentes públicos e que os referidos cheques eram utilizados para os respectivos pagamentos.

José Eduardo Bello Visentin, inquirido pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (fls. 115/121), trabalhou na empresa 11 A DISTRIBUIDORA DE UNIFORMES e afirmou que esta é diretamente ligada à empresa SP ALIMENTAÇÃO. Veja-se:

“que trabalhou na empresa 11 A UNIFORMES E SERVIÇOS LTDA, ligada ao grupo SP ALIMENTAÇÃO; (...) o declarante era representante da 11 A em diversos procedimentos licitatório ou prestava auxílio jurídico nas licitações, a partir da sede da empresa;”

30

Page 31: Cartel em Paranaguá

O Setor de Inteligência do GEDEC – Grupo Especial de Delitos Econômicos elaborou relatório de inteligência acerca dos documentos constantes da CPU apreendida na residência de Silvio Marques, no qual descreveu como era feito o pagamento aos agentes públicos das “comissões”, decorrentes dos contratos firmados com a empresa 11 A. (fls. 150/153).

No documento nomeado 11 A - Controle de Cheques (fls. 164/189), constam inúmeros pagamentos efetuados, aparentemente, para a empresa BRINK MART COMERCIAL LTDA, em datas próximas ou até mesmo na mesma data. Foi também encontrada uma planilha que atribuía códigos aos municípios que integravam o “esquema”, dentre eles, o município de Paranaguá que possuía o código U03. (fl. 151).

Inferiu-se que os cheques emitidos em favor da empresa em epígrafe eram destinados ao pagamento indevido das propinas, já que, ao lado da sua identificação, em todos os cheques, constavam os códigos identificadores dos municípios que eram os reais beneficiários dos valores, tais como U03, U05, U07, e outros. (fl. 182 em diante).

Os cheques eram destinados à empresa BRINK MART com o código do município destinatário, então, eram compensados na conta corrente desta última empresa

31

Page 32: Cartel em Paranaguá

e, depois, os valores eram sacados e repassados, em regra, em espécie, aos agentes públicos.

Realizadas as investigações sobre a empresa BRINK MART, determinou-se, primeiramente, que a empresa também comporia o grupo SP ALIMENTAÇÃO, já que a esposa do requerido SILVIO MARQUES, ANA LUCIA BELARMINO MARQUES integrava o seu quadro societário (fls. 338/339). Apurou-se que, no período de 31 de março de 2008 a 27 de abril de 2009, esta empresa recebeu o valor total de R$ 2.328.803,77 (dois milhões, trezentos e vinte e oito mil, oitocentos e três reais e setenta e sete centavos).

Em continuidade, o Grupo Especial de Delitos Econômicos constatou que esta empresa não possuía qualquer atividade econômica, sendo que apenas consistia em instrumento para a destinação dos valores de “propina” no esquema delituoso (“empresa fantasma”), e posterior repasse dos mesmos para os agentes públicos dos municípios respectivos.

De fato, realizadas outras diligências, no dia 10 de março de 2010, no “suposto” endereço da empresa BRINK MART, foi verificado que nele não existia qualquer empresa ou loja, bem como não havia qualquer linha telefônica instalada. No relatório desta diligência, foram carreadas fotografias do local no qual a empresa estaria

32

Page 33: Cartel em Paranaguá

instalada e as informações obtidas no local (fls. 190/194).Os valores destinados aos pagamentos dos

agentes públicos eram determinados de acordo com uma porcentagem sobre os valores pagos pelo município de Paranaguá à empresa 11 A DISTRIBUIDORA DE UNIFORMES, que eram denominadas pelo autor das planilhas de “devoluções”, e operacionalizadas através da empresa fantasma BRINK MART.

Segundo a informação de auditoria elaborada pelo Ministério Público do Estado do Paraná (fls. 370/402), com base nas informações do Tribunal de Contas do Estado do Paraná, os pagamentos efetuados pela Prefeitura Municipal de Paranaguá à empresa 11 A Distribuidora de Uniformes Ltda, a partir do mês de junho do ano de 2008 até o mês de dezembro do mesmo ano , foram os seguintes:

DATA VALOR11 de junho de 2008 R$ 40.455,0024 de junho de 2008 R$ 200.000,0002 de julho de 2008 R$ 100.000,0014 de julho de 2008 R$ 20.000,0018 de julho de 2008 R$ 36.648,0019 de agosto de 2008 R$ 41.624,5019 de agosto de 2008 R$ 3.133,50

33

Page 34: Cartel em Paranaguá

15 de outubro de 2008

R$ 100.000,00

05 de novembro de 2008

R$ 40.000,00

18 de novembro de 2008

R$ 30.000,00

03 de dezembro de 2008

R$ 20.000,00

15 de dezembro de 2008

R$ 20.000,00

Os cheques destinados ao pagamento das “devoluções” para Paranaguá, no controle de cheques da empresa 11 A, estão identificados da seguinte forma:

BANCO CHEQUEDATA HISTÓRICO VALOR R$

COMPENSAÇÃO

FLS.

237 1434 25/06 BRINK MART COMERCIAL U 03

36.068,25 26/06/2008 184

237 1441 04/07 BRINK MART COMERCIAL U 03

10.000,00 08/07/2008 184

237 1445 07/07 DIRECTO LTDA U 03 4.692,50 10/07/2008 184237 1492 15/08 BRINK MART COMERCIAL

U 038.497,20 18/08/2008 185

237 1511 208/08 BRINK MART COMERCIAL U 03

15.000,00 29/08/2008 186

237 1562 1 08/11 BRINK MART COMERCIAL U 03

3.000,00 18/11/2008 187

No dia 18 de novembro de 2011, o Ministério

34

Page 35: Cartel em Paranaguá

Público do Estado de São Paulo encaminhou documentos apreendidos na sede da empresa 11 A DISTRIBUIDORA DE UNIFORMES LTDA, sendo que na CPU dos computadores foi identificada uma pasta denominada Paranaguá, cuja última modificação teria ocorrido no dia 04 de maio de 2009, contendo planilhas das “devoluções”. (fls. 343/344)

Na planilha referida, foram relacionados os cheques acima declinados, mas também outras “devoluções”, através de numeração incomum na coluna n.º de cheque (fl. 344), quais sejam:

DATA EMISSÃO VALOR N.º CHEQUE COMPENSAÇÃO 15/10/2008 R$ 10.000,00 3 16/10/200831/10/2008 R$ 5.000,00 Não consta 03/11/200807/11/2008 R$ 4.000,00 16 07/11/200805/12/2008 R$ 2.000,00 35 05/12/200816/12/2008 R$ 2.000,00 42 17/12/2008

Através do cruzamento entre os valores pagos pela Prefeitura Municipal à empresa 11 A DISTRIBUIDORA DE UNIFORMES LTDA e os valores que retornaram a título de “propina” ou “devolução”, somados às demais informações do material apreendido também planilhadas, chega-se a:

35

Page 36: Cartel em Paranaguá

RECEBIMENTO

VALOR PAGO

PROPINA

VALOR CHEQUE

RESPONSÁVEL

11.06.2008 R$ 40.455,00

15 % R$ 6.068,25

1434 Zé Augusto

24.06.2008 R$ 200.000,00

15% R$ 30.000,00

1434 Zé Augusto

02.07.2008 R$ 100.000,00

14,69 % R$ 10.000,00 R$ 4.692,50

14411445

Zé AugustoDirecto/Luciano

14.07.2008 R$ 20.000,00

15% R$ 3.000,00

1492 Luciano

18.07.2008 R$ 36.648,00

15 % R$ 5.497,20

1492 Luciano

20.08.2008 R$ 100.000,00

15% R$ 15.000,00

1511 Luciano

15.10.2008 R$ 100.000,00

15% R$ 15.000,00

3 Responsável

05.11.2008 R$ 40.000,00

10% R$ 4.000,00

16 Responsável

18.11.2008 R$ 30.000,00

10% R$ 3.000,00

1562 Responsável

03.12.2008 R$ 20.000,00

10% R$ 2.000,00

35 Responsável

15.12.2008 R$ 20.000,00

10% R$ 2.000,00

42 Responsável

R$ 707.103,00

R$ 100.257,95

Portanto, no período compreendido entre 11 de junho de 2008 a 15 de dezembro de 2008 (06 meses!!!),

36

Page 37: Cartel em Paranaguá

o município de Paranaguá pagou à empresa 11 A DISTRIBUIDORA DE MANUFATURADOS LTDA o valor de R$ 707.103,00 (setecentos e sete mil e cento e três reais), sendo que deste, R$ 100.257,95 (cem mil e duzentos e cinqüenta e sete reais e noventa e cinco centavos) retornaram a título de propina aos agentes públicos, os requeridos JOSÉ BAKA FILHO e RICARDO BULGARI.

A empresa DIRECTO LTDA que teria sido destinatária do cheque 1445, entretanto, com o código U 03, o que significa que os valores foram repassados aos agentes públicos de Paranaguá – os reais beneficiários, pertence aos requeridos JOSÉ AUGUSTO FONSECA NETTO e LUCIANO ROBERTO FONSECA NETTO.

Realizadas as investigações necessárias, foi possível identificar a empresa DIRECTO CONSULTORIA EMPRESARIAL LTDA (fls. 332/337), situada no município de São Paulo e cujo capital social é de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), sendo que o sócio administrador no ano de 2006 era exatamente a pessoa do requerido JOSÉ AUGUSTO FONSECA NETTO, a qual continua sendo seu administrador de fato, já que, quando excluído da sociedade, colocou como administradora da empresa Elza Leitão Netto, que é a sua genitora.

Conseguiu-se identificar a pessoa de Luciano,

37

Page 38: Cartel em Paranaguá

relacionado a DIRECTO e referido naquele demonstrativo de fl. 344, a qual se trata do requerido LUCIANO ROBERTO FONSECA NETTO, irmão do requerido JOSÉ AUGUSTO e que atua na empresa até a presente data.

De acordo com a pesquisa realizada no Infoseg (29 de março de 2012), o requerido JOSÉ AUGUSTO FONSECA NETTO é sócio administrador, atualmente, de quatro empresas, todas situadas no município de São Paulo: DOC LUX SERVIÇOS DE ELETRICIDADE E CONSTRUÇÃO LTDA, DOK PUBLICIDADE E PROPAGANDA S/C LTDA, EBARA REPRESENTAÇÕES COMERCIAIS S/C LTDA e QUIMARKS MAQUINAS E EQUIPAMENTOS LTDA. (fls. 1026/1041).

Os requeridos JOSÉ AUGUSTO FONSECA NETTO e LUCIANO ROBERTO não recebiam, em regra, “as devoluções” consistentes em porcentagens sobre os valores pagos pela municipalidade à empresa 11 A Distribuidora de Uniformes, mas as repassava ao requerido JOSÉ BAKA FILHO, já que ambos recebiam indevidamente, de forma criminosa, uma espécie de comissão mensal ou quinzenal.

Conforme a planilha “Participação Holding - SP” (fl. 145), JOSÉ AUGUSTO possuía o código denominado “class S17” e recebia R$ 5.000,00 (cinco mil reais) nos dias 15 e 30 de cada mês (quinzenal), ou seja, R$ 10.000,00

38

Page 39: Cartel em Paranaguá

mensais (dez mil reais).No relatório preliminar de 02/09/2010,

elaborado pelo Setor de Inteligência do GEDEC, com base nos documentos constantes do pen drive do requerido SILVIO MARQUES, há menção aos pagamentos, no ano de 2006, para o irmão do requerido JOSÉ AUGUSTO, LUCIANO ROBERTO FONSECA NETO, sempre no dia 15 de cada mês, do valor de R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais). (fl. 247)

No dia 15 de maio de 2007 (fl. 347) consta memorando da empresa 11 A UNIFORMES, no qual foi solicitado para o requerido SILVIO MARQUES o pagamento ao requerido JOSÉ AUGUSTO de R$ 41.850,00 (quarenta e um mil e oitocentos e cinqüenta reais), referentes, neste caso específico, à participação dos valores pagos por Paranaguá à empresa, correspondentes a 5% destes últimos. Outro memorando em favor do requerido JOSÉ AUGUSTO, também da 11 A UNIFORMES, do dia 07 de maio de 2007 (fl. 975), solicita a inclusão de mais 2% destes mesmos valores, ou seja, dos valores pagos, no mesmo período, por Paranaguá à esta empresa.

Na mesma documentação encaminhada, no dia 18 de novembro de 2011, pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, precisamente na CPU dos computadores localizados na sede da empresa 11 A

39

Page 40: Cartel em Paranaguá

DISTRIBUIDORA DE UNIFORMES LTDA, continha a relação de pagamentos efetuados entre os dias 15/12/2008 a 19/12/2008, na qual consta o pagamento no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), no dia 17 de dezembro de 2008, Paranaguá, destinado a “Baca”. (Prefeito José Baka Filho) (fl. 349)

Veja-se que, conforme as tabelas acima elaboradas com fulcro na farta documentação constante dos autos, no dia 15 de dezembro de 2008, a Prefeitura Municipal de Paranaguá efetuou um pagamento no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) em favor da empresa 11 A DISTRIBUIDORA DE MANUFATURADOS LTDA. A devolução, a título de propina, cuja porcentagem foi de 10%, somou exatamente R$ 2.000,00, sendo que a compensação ocorreu no dia 17 de dezembro de 2008. Os valores e datas coincidem com aqueles indicados na fl. 349 e se destinavam, indubitavelmente, ao requerido JOSÉ BAKA FILHO.

Com relação ao ano de 2007, na primeira imagem utilizada na informação de auditoria do Ministério Público do Estado do Paraná n.º 37/2012, também constante na fl. 973 do procedimento preparatório em anexo, as anotações atestam a abertura de uma “conta corrente”, no valor de R$ 250.000,00, para o contrato de fornecimento de

40

Page 41: Cartel em Paranaguá

uniformes escolares para o município de Paranaguá, sendo 50% deste valor pago no contrato e 50% pago por ocasião da eleição, em fato do requerido JOSÉ BAKA FILHO.

Registre-se que todas as imagens utilizadas no relatório de auditoria encontram-se na documentação apreendida no município de São Paulo em razão de cumprimento de mandados de busca e apreensão, constante do DVD encartado no presente procedimento preparatório, e cujo compartilhamento das provas foi deferido por aquele MM. Juízo.

Na segunda imagem daquela auditoria, também constante na fl. 974 dos autos, há a informação, datada de 17 de novembro de 2006, referente ao contrato da empresa 11 A DISTRIBUIDORA DE MANUFATURADOS com o município de Paranaguá, firmado no dia 26 de outubro de 2006, sobre adiantamento ao Prefeito de Paranaguá do valor de R$ 125.000,00 (cento e vinte e cinco mil reais), ou seja, 50% do valor contratado.

A primeira imagem colacionada na informação de auditoria no item 6.23, consiste em outro memorando interno, desta feita, da empresa SP ALIMENTAÇÃO, o qual evidencia o envolvimento do “Secretário de Finanças, de Paranaguá” no esquema fraudulento, com evidências do recebimento de percentual de

41

Page 42: Cartel em Paranaguá

1% sobre os valores pagos pela municipalidade às empresas 11A Comercio de Manufaturados Ltda e SP Alimentação e Serviços Ltda. O cargo de Secretário de Finanças, à época, era ocupado pelo requerido RICARDO BULGARI.

No memorando interno da empresa 11 A UNIFORMES (fl.982 e imagem do item 6.23 do relatório de auditoria de fls. 370/402), do dia 07 de maio de 2007, consta a solicitação de retorno (propina) a Paranaguá do valor de R$ 242.180,00 (duzentos e quarenta e dois mil e cento e oitenta reais), sobre o valor recebido da Prefeitura Municipal no total de R$ 837.000,00 (oitocentos e trinta e sete mil reais).

No ano de 2007, segundo as informações oficiais do Tribunal de Contas do Estado do Paraná, o município de Paranaguá efetuou pagamentos de empenhos emitidos em 15 de agosto de 2006, sendo que, no dia 04 de maio de 2007, efetuou dois pagamentos em favor da empresa 11 A, no valor de R$ 418.500,00 (quatrocentos e dezoito mil e quinhentos reais) cada um, cuja soma resulta em exatamente R$ 837.000,00 (oitocentos e trinta e sete mil reais) (fl. 379).

Este valor de R$ 242.180,00 que foi destinado a título de propina foi composto de: 10% do valor total recebido pela empresa: R$ 83.700,00; do valor referido

42

Page 43: Cartel em Paranaguá

ao acordo com JOSÉ BAKA FILHO: a outra parcela de R$ 125.000,00; 1% do Secretário de Fazenda, o requerido RICARDO BULGARI, no valor de R$ 8.370,00; 1 % no valor de R$ 8.370,00, cuja destinação não foi identificada; e o restante para JOSÉ AUGUSTO: no valor de R$ 16.740,00, exatamente 2% do valor total pago pela Prefeitura Municipal de Paranaguá à empresa 11 A Uniformes, o qual acresceu os 5% já recebido pelo requerido.

Repita-se que a participação inicial de JOSÉ AUGUSTO era de 5% sobre o valor pago pela Prefeitura municipal à empresa 11 A UNIFORMES, sendo que, de acordo com o memorando desta, datado de 15 de maio de 2007 (fl. 347) foi solicitado ao requerido SILVIO MARQUES o pagamento ao requerido JOSÉ AUGUSTO de R$ 41.850,00 (quarenta e um mil e oitocentos e cinqüenta reais), referentes à comissão de Paranaguá, consistente em 5% do valor total de R$ 837.000,00. Outro memorando em favor do requerido JOSÉ AUGUSTO, também da empresa 11 A UNIFORMES, do dia 07 de maio de 2007 (fl. 975), solicitou a inclusão de mais 2% na comissão deste, referente ao recebimento de Paranaguá, que resultou no recebimento por este de R$ 16.740,00 (dezesseis mil setecentos e quarenta reais).

Portanto, restou fartamente comprovado que:

43

Page 44: Cartel em Paranaguá

a) a empresa 11 A efetuou o pagamento, a título de propina, no valor de R$ 250.000,00 (duzentos e cinqüenta mil reais) ao agente público de Paranaguá (requerido JOSÉ BAKA FILHO), em troca da sua contratação para fornecimento de uniformes e kits escolares; b) o valor total pago pelo município de Paranaguá à empresa 11 A UNIFORMES, durante a execução do contrato, foi de R$ 2. 448.783,00 (dois milhões, quatrocentos e quarenta e oito mil e setecentos e oitenta e três reais); c) o pagamento das propinas perdurou durante a vigência do contrato de prestação dos serviços de fornecimento de uniformes escolares e Kits escolares, cuja porcentagem era de 10% a 15% do valor pago pela Prefeitura Municipal à empresa; d) no mês de maio de 2007, em razão do pagamento efetuado pelo município à empresa 11 A, no valor de R$ 837.000,00 (oitocentos e trinta e sete mil reais), retornou para Paranaguá, a título de propina, o valor de R$ 242.180,00 (duzentos e quarenta e dois mil e cento e oitenta reais). Este valor foi composto de: R$ 125.000,00 (cento e vinte e cinco mil reais) ao requerido JOSÉ BAKA FILHO, 10% do valor total, a título de propina, também a este requerido, totalizando R$ 83.700,00 (oitenta e três mil e setecentos reais), 1% ao requerido RICARDO BULGARI no valor de R$ 8.370,00 (oito mil e trezentos e setenta reais),

44

Page 45: Cartel em Paranaguá

outro 1%, cujo destinatário não foi identificado, e 2% ao requerido JOSÉ AUGUSTO FONSECA NETTO; e) os valores recebidos pagos a título de propina, dentre os meses de junho de 2008 a dezembro de 2008 aos requeridos JOSÉ BAKA FILHO e RICARDO BULGARI somaram R$ 100.257,95 (cem mil duzentos e cinqüenta e sete reais e noventa e cinco centavos).

Pelos fatos então narrados, todos lastreados nas incontáveis provas produzidas durante a instrução do inquérito civil que acompanha esta ação civil de improbidade administrativa, somados às investigações procedidas em inúmeros municípios em todo o País, especialmente àquelas provenientes do Ministério Público de São Paulo, impõe-se a condenação de todos os requeridos pela prática de fraudes licitatórias e contratuais, pelo enriquecimento ilícito (recebimento de propinas e outras vantagens ilícitas), pelos gigantescos danos ao erário público e pelas frontais violações aos princípios da administração pública.

Desta forma, há provas contundentes de que os requeridos 11 A DISTRIBUIDORA COMÉRCIO DE MANUFATURADOS LTDA, ROSIANA CUNHA DO ESPIRÍTO SANTA CRUZ, VERDURAMA COMÉRCIO ATACADISTA DE ALIMENTOS, ELOIZO GOMES AFONSO DURÃES, SILVIO MARQUES, OLÉSIO MAGNO

45

Page 46: Cartel em Paranaguá

DE CARVALHO, ANTONIO MARQUES FRANCO, JOSÉ AUGUSTO FONSECA NETTO, LUCIANO ROBERTO FONSECA NETTO participaram das fraudes licitatórias e contratos nulos celebrados com o município de Paranaguá, sob um esquema inescrupuloso de pagamento de significativos valores a título de propina e outras vantagens indevidas ao requerido JOSÉ BAKA FILHO e RICARDO BULGARI.

VI - DO DIREITO

A Lei Federal n.º 8.429, de 02 de junho de 1992, trata da improbidade administrativa, disciplinando as sanções aplicáveis aos agentes públicos que, no exercício de mandato, cargo, emprego, função, atividade na administração pública direta, indireta, de qualquer dos poderes da União, Estados, Municípios e do Distrito Federal e Territórios, praticaram atos de improbidade administrativa, cujas consequências consubstanciaram em enriquecimento ilícito, dano patrimonial ao erário público e/ou afronta aos princípios da administração pública.

A lei de improbidade ora estudada constitui importante conquista para a sociedade brasileira, como

46

Page 47: Cartel em Paranaguá

consentânea com o regime jurídico e democrático do país. Tem ela seu alicerce no artigo 37 da Constituição Federal, cujo caput assim estabelece:

“Artigo 37. A administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes da União , dos Estados , do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade , impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, também, ao seguinte:(...).” (Grifos Nossos).

Os fatos aqui ventilados constituem atos de improbidade administrativa na exata definição legal do artigo 1º, da Lei Federal nº 8.429/92. Ademais, encontram tipificação legal nos artigos 9º, 10º e 11, todos do mesmo diploma legal, porque causaram dano ao erário, propiciaram enriquecimento ilícito e afrontaram os princípios da administração pública.

Primeiramente, embora somente os requeridos JOSÉ BAKA FILHO ainda exerça mandato eletivo na administração direta municipal e o requerido RICARDO BULGARI exerceu, na época dos fatos, os cargos de

47

Page 48: Cartel em Paranaguá

Secretário Municipal da Fazenda e Controlador Geral do município, na forma do artigo 2º da Lei nº 8.429/92, os demais requeridos, inclusive as empresas VERDURAMA e 11 A UNIFORMES, também praticaram ato de improbidade administrativa na forma do artigo 3º da lei n.º 8429/92:

“Art. 3º. As disposições desta lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta”.

Já foram discriminadas, nos tópicos anteriores, as condutas ilegais que foram praticadas pelos requeridos, entretanto, imperioso apontar, ainda que brevemente, a síntese de cada qual para que se proceda à subsunção adequada nos artigos 9º, 10 e 11 da Lei nº 8.429/92.

Os requeridos JOSÉ BAKA FILHO, 11 A DISTRIBUIDORA COMÉRCIO DE MANUFATURADOS LTDA, ROSIANA CUNHA DO ESPIRÍTO SANTA CRUZ, RICARDO BULGARI, VERDURAMA COMÉRCIO ATACADISTA DE ALIMENTOS, ELOIZO GOMES

48

Page 49: Cartel em Paranaguá

AFONSO DURÃES, SILVIO MARQUES, OLÉSIO MAGNO DE CARVALHO, ANTONIO MARQUES FRANCO, JOSÉ AUGUSTO FONSECA NETTO e LUCIANO ROBERTO FONSECA NETTO, em comunhão de esforços, mediante combinação prévia, praticaram uma série de condutas destinadas a fraudar procedimento licitatório para a contratação de empresa especializada no fornecimento de uniformes e kits escolares, o que propiciou o enriquecimento ilícito próprio e de terceiros, causou danos ao erário público e violou frontalmente os princípios da administração pública.

As etapas delituosas percorridas pelos requeridos foram as seguintes:

1. Formação de um cartel de empresas que atuassem no ramo de alimentação e outras prestações de serviços – também fornecimento de uniformes escolares - para fraudar, num primeiro momento, as licitações realizadas para a contratação de empresas fornecedoras de merenda escolar em municípios do País inteiro, cuja atuação iniciou-se no município de São Paulo e se estendeu aos municípios deste e de outros Estados, como o do Paraná.

2. O núcleo deste cartel residia nos representantes legais da empresa SP ALIMENTAÇÃO E SERVIÇOS, especificamente ELOIZO GOMES AFONSO DURÃES, SILVIO MARQUES, OLESIO MAGNO DE

49

Page 50: Cartel em Paranaguá

CARVALHO, ANTONIO MARQUES FRANCO.3. O cartel era composto pelas empresas do

grupo SP ALIMENTOS, já descritas nesta ação civil e que compõem o infograma já apontado, dentre elas, as empresas VERDURAMA e 11 A DISTRIBUIDORA DE UNIFORMES, as quais participaram do procedimento licitatório em questão no município de Paranaguá.

4. O procedimento licitatório em questão já estava destinado à empresa 11 A UNIFORMES, sendo negociado com o requerido JOSÉ BAKA FILHO, Prefeito municipal, o pagamento no valor de R$ 250.000,00 (duzentos e cinqüenta mil reais) pelo contrato.

5. Após o trâmite do procedimento licitatório fraudulento referido, o município de Paranaguá firmou o contrato de prestação de serviços com a empresa 11 A UNIFORMES. O município pagou para esta empresa o montante de R$ 2.448.783,00 (dois milhões quatrocentos e quarenta e oito mil e setecentos e oitenta e três reais).

6. O grupo SP ALIMENTAÇÃO contratava pessoas que eram remuneradas através de comissões e tinham por função controlar e repassar os valores das propinas para os agentes públicos, em Paranaguá, os requeridos JOSÉ AUGUSTO FONSECA NETTO e

50

Page 51: Cartel em Paranaguá

LUCIANO ROBERTO FONSECA NETTO, os quais recebiam as comissões fixas do grupo, como repassavam as propinas mensais aos requeridos JOSÉ BAKA FILHO e RICARDO BULGARI.

7. Os valores que, indevidamente, retornaram para Paranaguá em favor dos agentes públicos foram: A) no mês de maio de 2007, em razão do pagamento efetuado pelo município à empresa 11 A, no valor de R$ 837.000,00 (oitocentos e trinta e sete mil reais), retornou para Paranaguá, a título de propina, o valor de R$ 242.180,00 (duzentos e quarenta e dois mil e cento e oitenta reais). Este valor foi composto de: R$ 125.000,00 (cento e vinte e cinco mil reais) ao requerido JOSÉ BAKA FILHO, 10% do valor total, a título de propina, também a este requerido, totalizando R$ 83.700,00 (oitenta e três mil e setecentos reais), 1% ao requerido RICARDO BULGARI no valor de R$ 8.370,00 (oito mil e trezentos e setenta reais), outro 1%, cujo destinatário não foi identificado, e 2% ao requerido JOSÉ AUGUSTO FONSECA NETTO; B) os valores recebidos pagos a título de propina, dentre os meses de junho de 2008 a dezembro de 2008 aos requeridos JOSÉ BAKA FILHO e RICARDO BULGARI somaram R$ 100.257,95 (cem mil duzentos e cinqüenta e sete reais e noventa e cinco centavos); C) por fim, houve o recebimento na época da

51

Page 52: Cartel em Paranaguá

realização do contrato de R$ 125.000,00 (cento e vinte e cinco mil reais) pelo requerido JOSÉ BAKA FILHO.

A partir desta síntese das condutas delituosas, passar-se-á às suas subsunções aos atos de improbidade administrativa previstos na lei de improbidade administrativa.

O artigo 9º da lei n.º 8429/92:

“Art. 9°. Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1° desta lei, e notadamente:I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público; II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas entidades referidas no art. 1º por preço superior ao valor de mercado;(...)

52

Page 53: Cartel em Paranaguá

XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta Lei;

Cediço que a enumeração do artigo 9º supratranscrito, é exemplificativa, sendo que constitui ato de improbidade administrativa qualquer espécie de conduta indevida que propicie o enriquecimento ilícito do agente público, para si ou para benefício de terceiro.

Fernando Rodrigues Martins cita a fórmula proposta por Marcelo Figueiredo para a aplicação do artigo 9º da Lei nº 8.429/92: a) presença de agente público ou terceiro na relação jurídica acoimada de “imoral” (ato de improbidade administrativa, conceito de lei); b) presença do elemento “vantagem patrimonial indevida” na mesma relação jurídica; c) ausência de fundamento jurídico apto a justificar a vantagem recebida; e d) presença de elo ou nexo fático entre a vantagem retro citada e a conduta do agente público.2

Como se passará a demonstrar, as condutas de todos os requeridos subsumem-se com exatidão aos requisitos configuradores da existência de ato de improbidade administrativa que causa enriquecimento ilícito, de modo incipiente: a) a contratação da empresa 11 A 2 MARTINS, Fernando Rodrigues. Controle do Patrimônio Público: comentários à lei de improbidade administrativa. 4ª edição. São Paulo: RT, 2010. p. 262.

53

Page 54: Cartel em Paranaguá

UNIFORMES foi ilegal, já que ocorreu mediante a prática de fraudes licitatórias, sendo que a destinação das verbas públicas à contratada é responsabilidade do Prefeito Municipal; b) houve vantagem patrimonial indevida tanto dos agentes públicos como das demais pessoas físicas e jurídicas, que integram o cartel, referentes à licitação em comento, sendo que todas figuram no polo passivo da ação; c) não há qualquer fundamento jurídico no recebimento das vantagens indevidas; d) as vantagens recebidas pelos requeridos devem-se à licitação fraudulenta e a execução do contrato nulo, com todas as suas prorrogações.

Pela exegese do caput do artigo 9º, por óbvio que o requerido JOSE BAKA FILHO recebeu vantagem patrimonial indevida para que a empresa 11 A UNIFORMES fosse contratada pelo município para fornecimento de uniformes e kits escolares, bem como continuou recebendo dela vantagens financeiras indevidas, tanto para manter o contrato referido, como para permitir o seu superfaturamento.

Como já explicitado, o enriquecimento ilícito pode também ser propiciado por terceiro que não possui a qualidade de agente público, assim como um particular pode ser também beneficiado pela conduta ímproba e, em casos tais, na forma do artigo 3º da Lei nº 8.429/92, deve ser

54

Page 55: Cartel em Paranaguá

responsabilizado pela prática do ato de improbidade administrativa.

Não há dúvidas que os demais requeridos também praticaram atos de improbidade que acarretaram em seus enriquecimentos ilícitos e de terceiros, pois, através do contrato firmado mediante fraude licitatória, obtinham indecorosamente, a título remuneratório da prestação de um serviço público, os valores que tornavam o “esquema lucrativo” e as vantagens pessoais e financeiras indevidas que eram distribuídas entre os integrantes da organização criminosa.

No caso em comento, as condutas acima descritas demonstram com clareza que todos os requeridos dedicaram-se à prática de fraudes licitatórias, sendo que os requeridos JOSÉ BAKA FILHO, ROSIANA CUNHA DO ESPIRÍTO SANTA CRUZ e RICARDO BULGARI, no exercício de funções públicas na administração direta municipal, aliaram-se à organização criminosa que já havia sido formada pelos demais requeridos, 11 A DISTRIBUIDORA COMÉRCIO DE MANUFATURADOS LTDA, VERDURAMA COMÉRCIO ATACADISTA DE ALIMENTOS, ELOIZO GOMES AFONSO DURÃES, SILVIO MARQUES, OLÉSIO MAGNO DE CARVALHO, ANTONIO MARQUES FRANCO, JOSÉ AUGUSTO

55

Page 56: Cartel em Paranaguá

FONSECA NETTO e LUCIANO ROBERTO FONSECA NETTO, e todos agiram, delituosamente, de forma a fraudar procedimento licitatório para possibilitar a contratação da empresa 11 A UNIFORMES para o fornecimento de merenda escolar no município de Paranaguá.

Após a contratação da empresa 11 A UNIFORMES e durante a execução do contrato, o município despendeu como pagamento dos serviços prestados o montante de R$ 2.448.783,00 (dois milhões quatrocentos e quarenta e oito mil, setecentos e oitenta e três).

Nos itens 6 a 7 das condutas descritas, verificou-se que houve pagamento indevido de comissões fixas e porcentagens sobre o valor pago pela municipalidade à empresa 11 A UNIFORMES, e outras vantagens financeiras variáveis, em regra, pagamento de outras despesas aos requeridos JOSÉ BAKA FILHO, RICARDO BULGARI, JOSÉ AUGUSTO FONSECA NETTO e LUCIANO ANTONIO ROBERTO FONSECA.

No que se refere ao requerido JOSÉ AUGUSTO FONSECA NETTO, foi apurado que recebia comissões quinzenais nos valores de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) cada uma. Da mesma forma, constou no relatório de inteligência do Ministério Público do Estado de São Paulo que, seu irmão, o requerido LUCIANO ROBERTO FONSECA

56

Page 57: Cartel em Paranaguá

NETTO recebia R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais) mensais. O primeiro requerido, ainda, recebeu verbas públicas pertencentes ao município de Paranaguá que somou 7% de R$ 837.000,00, valores pagos por este à empresa 11 A UNIFORMES, no mês de maio de 2007.

O artigo 10 da lei n.º 8429/92 cuida das condutas ímprobas que causem lesão ao erário, entendida esta como qualquer perda patrimonial, desvio e apropriação de bens e haveres pertencentes à administração pública. Ressalta-se que este dispositivo legal também possui caráter exemplificativo, já que nele se insere a prática de qualquer conduta dolosa que acarrete um resultado lesivo ao patrimônio público, ainda que nele não estejam previstas expressamente.

In verbis: Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta Lei, e notadamente:

57

Page 58: Cartel em Paranaguá

(...)VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente;(...)XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente;

Vislumbra-se que as hipóteses de atos de improbidade que causam prejuízo ao erário descritas nos incisos do dispositivo legal, não exigem a demonstração de um dano efetivo, já que somente o fato do administrador público se desviar da observância dos procedimentos legais para tratar a coisa pública, já impõe o reconhecimento de um dano presumido, suficiente para a configuração do ato de improbidade administrativa. Novamente, Fernando Rodrigues Martins elucida esta ilação:

É possível, neste viés, esquadrinhar que a lei federal n.º 8.429/92, nos incisos do artigo 10, impõe o raciocínio de que a ausência da “legitimação pelo procedimento” (configurada pela falta de licitação, o superfaturamento na compra, ...), posta-se como elemento suficiente na verificação da improbidade administrativa, já que não se exige a comprovação de dano para a configuração

58

Page 59: Cartel em Paranaguá

do ato ímprobo. O dano é apenas presumido na lógica de que, suprimidos os passos legitimadores de disposição do acervo patrimonial, amesquinha-se a res publica.3

Pode-se afirmar, portanto, que a ocorrência do dano ao erário não é imprescindível à configuração do ato de improbidade administrativa previsto no artigo 10 da lei de improbidade administrativa. Nas hipóteses elencadas nos seus incisos, a ocorrência de dano ao erário é de logo presumida com a prática da conduta pelo agente público, sendo que a comprovação do dano, delimitando-se a sua extensão, servirá tão somente à aplicação das penalidades pela improbidade administrativa.

Assim, no caso em testilha, independentemente do dano efetivo causado ao erário, certo é que a fraude licitatória praticada já traz consigo a presunção da ocorrência de danos gravíssimos ao erário público. A incidência do inciso VIII, do artigo 10 da Lei nº 8.429/92 sobre os fatos postos em exame é de rigor, pois a fraude licitatória é expressamente declarada na lei como ato de improbidade administrativa que causa danos ao erário.

Tratando-se de fraude licitatória, há que se reportar, ainda que superficialmente, à legislação sobre as 3 MARTINS, Fernando Rodrigues. Controle do Patrimônio Público: comentários à lei de improbidade administrativa. 4ª edição. São Paulo: RT, 2010. p. 275.

59

Page 60: Cartel em Paranaguá

licitações públicas, desde a Constituição Federal, perpassando a lei n.º 8666/93, até a lei nº 8987/95.

A conduta do agente público que frustra a licitude do processo licitatório, segundo Wallace Paiva Martins Junior, engloba “a corrupção dos princípios, regras e fins do instituto da licitação, em prejuízo real da isonomia entre os aspirantes e da seleção da obtenção da proposta mais vantajosa para o Poder Público.”4

Todas as etapas fraudulentas ao procedimento licitatório para a contratação de empresa para fornecimento de uniformes e kits escolares foram, pormenorizadamente, descritas na presente ação, bem como foram demonstradas as responsabilidades de todos os requeridos.

Assim, não se fazem necessárias grandes digressões para concluir que todos os requeridos, em comunhão de esforços e divisão de tarefas, fraudaram a licitude do procedimento licitatório para contratação de empresa fornecedora de uniformes e Kits escolares à rede pública de ensino em Paranaguá.

Imprescindível repisar que independe de efetivo dano ao erário público o reconhecimento da prática do ato de improbidade administrativa; que a fraude licitatória 4 MARTINS JUNIOR, Wallace Paiva. Probidade Administrativa. São Paulo: Saraiva, 2006. P. 218.

60

Page 61: Cartel em Paranaguá

torna o contrato firmado nestas condições absolutamente nulo; e que impõe o ressarcimento de todos os valores pagos pela administração pública durante a sua execução.

Com efeito, os princípios da administração pública que regem o procedimento licitatório, quando afrontados, não podem ser relativizados, a ponto de se cogitar eventual convalidação da nulidade absoluta de um contrato decorrente de fraude à licitação.

O artigo 37, inciso XXI, da Constituição Federal e o artigo 3º da lei n.º 8666/93, determinam, como regra, a realização do procedimento licitatório para aquisição de obras e prestação de serviços públicos, sendo que a razão de todo o procedimento pode ser resumida na finalidade de contratação mais vantajosa à administração, a qual somente poderá ser aferida se conferida igualdade de condições entre os concorrentes e observados os demais princípios atinentes ao procedimento licitatório.

Nos casos em que a administração pública opta por terceirizar um serviço público, deve observar todos os princípios que regem o procedimento licitatório, desde a publicidade ampla e irrestrita dos atos licitatórios até o oferecimento de iguais condições aos participantes do certame, ou seja, do trinômio: publicidade, concorrência e isonomia.

61

Page 62: Cartel em Paranaguá

A fraude ao procedimento licitatório, praticada através da atuação de cartel e mediante pagamento de comissões e propinas, fere todos os princípios da licitação pública, até mesmo porque forja a existência de concorrência entre os participantes. A proposta vencedora não será a mais vantajosa à administração pública, mas sim será àquela almejada pelo cartel de empresas em conluio com o agente público responsável pelo contrato.

Desta feita, o contrato firmado entre o município de Paranaguá e a empresa 11 A UNIFORMES, no ano de 2006, deve ser declarado nulo, sendo que todos os valores pagos - dele decorrente - devem ser devolvidos ao erário público.

A decretação de nulidade contratual com a devolução integral dos valores recebidos já foi objeto de celeuma doutrinária, pois há quem alegue que a administração pública poderia enriquecer-se ilicitamente ao não pagar pelos serviços que lhe foram prestados.

Por outro lado, a permissão de que o contrato administrativo daqueles que agiram dolosamente contra a administração pública, onerando-a contratualmente e se sobrepondo, por vezes, a outras empresas que teriam mais competência e preços melhores para oferecer, continuasse válido, ainda que por um preço justo, seria

62

Page 63: Cartel em Paranaguá

fomentar a prática de tais “esquemas delituosos”.Emerson Garcia difere o elemento subjetivo

do contratado ao dispor sobre a nulidade contratual como efeito do ato de improbidade de fraude licitatória, sendo que entende que o contratado que age de má-fé deve restituir tudo o que recebeu em virtude do contrato.

O referido doutrinador, com esteio no artigo 59 da lei n.º 8666/935, leciona, primorosamente, sobre o contratado e o agente público que agem de má-fé na execução do contrato posteriormente declarado nulo, razão pela qual se transcreve um grande trecho de sua obra:

“Tratando-se de contratado que tenha agido com má-fé em conluio com o agente público, praticando ato em dissonância da lei e visando ao benefício próprio em detrimento do interesse público, terá ele a obrigação de restituir tudo o que recebeu em virtude do contrato.

Em um primeiro plano, vislumbra-se que a nulidade do contrato ao resultou unicamente de um comportamento da administração, já que o contratado 5 Art. 59. A declaração de nulidade do contrato administrativo opera retroativamente impedindo os efeitos jurídicos que ele, ordinariamente, deveria produzir, além de desconstituir os já produzidos. Parágrafo único. A nulidade não exonera a Administração do dever de indenizar o contratado pelo que este houver executado até a data em que ela for declarada e por outros prejuízos regularmente comprovados, contanto que não lhe seja imputável, promovendo-se a responsabilidade de quem lhe deu causa.

63

Page 64: Cartel em Paranaguá

também concorrera para a prática do ato. Identificado o dolo do contratado e ainda que tenha ele cumprido sua parte na avença e a administração se beneficiado desta, não fará jus a qualquer indenização, sendo esta, a teor do artigo 59 da lei n.º 8666/93, a sanção pelo ilícito que praticara. Assim, por força de lei, tanto a ação exclusiva do contratado, como obrar concorrente, excluem o dever de indenizar.

(...)No que concerne a um possível

enriquecimento ilícito do Poder Público, é inevitável a constatação de que o acolhimento desse entendimento acabaria por tornar legítimo o constante descumprimento dos princípios da legalidade e da moralidade, fazendo com que sejam sistematicamente sustentados os possíveis benefícios auferidos pelo ente público, o que relegaria a infringência dos vetores básicos da probidade ao plano secundário.

(...)Decretada a nulidade do contrato, haverá

forte indício da prática do ato de improbidade por parte do agente público que concorreu para a sua celebração. Presente a improbidade, tem-se a lesividade da conduta, a qual, longe de acarretar o enriquecimento do Poder Público, torna claro o seu prejuízo (e de toda a coletividade) e o dever

64

Page 65: Cartel em Paranaguá

de ter ressarcido o que fora indevidamente despendido.”6 Neste diapasão, também é o entendimento

de Sérgio Ferraz e Lúcia Valle Figueiredo7:

“Quem gastar em desacordo com a lei, há de fazê-lo por sua conta, risco e perigos. Pois, impugnada a despesa, a quantia gasta irregularmente, terá de retornar ao Erário Público.

Não caberá a invocação, assaz de vezes realizada, de enriquecimento da Administração. Ter-se-ia, consoante essa linha de argumentação, beneficiado com a obra, serviço e fornecimento, e, ainda mais, com o recolhimento do responsável ou responsáveis pela despesa considerada ilegal.”

Destarte, decretada a nulidade do contrato firmado entre o município de Paranaguá e a empresa 11 A UNIFORMES, os valores pagos pela municipalidade à contratada deverão ser integralmente restituídos aos cofres públicos.

Por fim, as condutas de todos os requeridos

6 GARCIA, Emerson. Alves, Rogério Pacheco. Improbidade Administrativa. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004. p. 475 – 478.7 Dispensa e Inexigibilidade de Licitação, p. 93, São Paulo, Malheiros, 1994.

65

Page 66: Cartel em Paranaguá

constituem em atos de improbidade administrativa porque ferem os princípios da administração pública na forma do artigo 11 da lei n.º 8429/92:

“Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente: (...)”

Indubitável que a prática de fraudes à licitação, o pagamento e o recebimento de vantagens indevidas e o desvio da finalidade das verbas públicas afrontam os princípios da administração pública supramencionados, e também, por isso, importam em atos de improbidade administrativa.

VII - DAS PENALIDADES

O artigo 37, §4º, da Constituição Federal, determina que:

66

Page 67: Cartel em Paranaguá

“(...)§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade de bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da sanção penal cabível.” (Grifos Nossos).

A Lei n.º 8.429/92 elenca as sanções cabíveis aos atos de improbidade administrativa quando importam em enriquecimento ilícito, em dano ao erário, ou atentam contra os princípios da administração pública:

“Art. 12.  Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato: I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano,

67

Page 68: Cartel em Paranaguá

quando houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos; (...)II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;III - na hipótese do art. 11, ressarcimento

68

Page 69: Cartel em Paranaguá

integral do dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos”.

Destarte, considerando que as condutas ímprobas praticadas dos requeridos JOSÉ BAKA FILHO, 11 A DISTRIBUIDORA COMÉRCIO DE MANUFATURADOS LTDA, ROSIANA CUNHA DO ESPIRÍTO SANTA CRUZ, RICARDO BULGARI, VERDURAMA COMÉRCIO ATACADISTA DE ALIMENTOS, ELOIZO GOMES AFONSO DURÃES, SILVIO MARQUES, OLÉSIO MAGNO DE CARVALHO, ANTONIO MARQUES FRANCO, JOSÉ AUGUSTO FONSECA NETTO, LUCIANO ROBERTO FONSECA NETTO, acarretaram danos ao patrimônio público, propiciaram enriquecimentos ilícitos próprios e de terceiros e, ainda, afrontaram os princípios da administração

69

Page 70: Cartel em Paranaguá

pública, as penalidades que lhes devem ser impostas, cumulativamente e de acordo com a gravidade de cada ato praticado, são as previstas nos incisos I, II e III do artigo 12 da lei n.º 8.429/92.

VIII – DAS MEDIDAS CAUTELARES

VIII.I - DA INDISPONIBILIDADE DOS BENS DOS REQUERIDOS

As provas produzidas nos presentes autos do inquérito civil demonstram, portanto, a formação de um esquema delituoso por todos os requeridos, no qual a empresa 11 A UNIFORMES foi indevidamente contratada pelo município de Paranaguá para fornecimento de merenda escolar, e no qual houve o dispêndio de valores exorbitantes do erário público municipal e a reversão de parte destes valores em pagamentos de comissões aos integrantes do “esquema”, bem como em propinas aos agentes públicos JOSÉ BAKA FILHO e RICARDO BULGARI.

Necessário se faz, assim, conceder medidas cautelares, em caráter liminar inaudita altera parte, para proteger o patrimônio público municipal e restabelecer a moralidade e a legalidade dos atos administrativos, princípios

70

Page 71: Cartel em Paranaguá

que foram gravemente violados pelos demandados. A indisponibilidade de bens dos requeridos

garantirá o ressarcimento dos valores pagos pela municipalidade durante a execução do contrato, bem como dos valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio dos requeridos, especialmente dos requeridos JOSÉ BAKA FILHO e RICARDO BULGARI, através do recebimento de altos valores a título de propinas.

Encontra-se presente, destarte, o fumus boni iuris, considerando o amplo conjunto probatório que demonstra o significativo dano ao erário, o enriquecimento ilícito de agente público, de beneficiários e de seus intermediários, com afronta literal aos princípios constitucionais da moralidade administrativa e legalidade, previstos na Carta Magna (art. 37).

Nesta linha, necessário se faz determinar a indisponibilidade dos bens de todos os requeridos que participaram dos atos de improbidade administrativa, com o fim de tornar útil o resultado do processo, com a preservação de valores que possam garantir a restituição à Fazenda Pública Municipal de Paranaguá do total pago ilegalmente e do acréscimo indevido ao patrimônio de agente público e beneficiários (arts. 7º e 16 § 2º da Lei 8.429/1992).

A determinação de indisponibilidade dos bens

71

Page 72: Cartel em Paranaguá

de todos os requeridos é a única medida que pode garantir o futuro ressarcimento dos altos valores desviados dos cofres públicos Municipais. Conforme tem decidido reiteradamente o Superior Tribunal de Justiça, o periculum in mora em tais casos é presumido. (EDcl no REsp 1211986 / MT, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 24/05/2011).

Colaciona-se o seguinte acórdão do STJ:

RECURSO ESPECIAL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DOS BENS. DECRETAÇÃO. REQUISITOS. ART. 7º DA LEI 8.429/1992. FUMUS BONI IURIS DEMONSTRADO.1. No caso presente, o juízo singular e o Tribunal a quo concluíram pela inexistência de elementos que justificassem a indisponibilidade de bens dos recorridos, na forma do art. 7º da Lei nº 8.429/92, ao fundamento de ser necessária a especificação dos bens necessários ao ressarcimento do dano ou eventualmente decorrentes de acréscimo patrimonial, por enriquecimento ilícito.2. No especial, alega-se a existência de fundados indícios de dano ao erário - fumaça do bom direito - o que, por si só, seria suficiente para motivar o ato de constrição patrimonial, à vista do periculum in mora presumido no art. 7º da Lei nº 8.429/92.3. É desnecessária a prova do periculum in mora concreto, ou seja, de que os réus estariam dilapidando seu patrimônio, ou

72

Page 73: Cartel em Paranaguá

na iminência de fazê-lo, exigindo-se apenas a demonstração de fumus boni iuris, consistente em fundados indícios da prática de atos de improbidade. Precedentes.4. O acórdão impugnado manifestou-se, explicitamente, sobre a plausibilidade da responsabilidade imputada aos recorridos, constatando, assim, a presença da fumaça do bom direito.5. Recurso especial provido.(Recurso Especial nº 1201702/MT (2010/0124251-5), 2ª Turma do STJ, Rel. Castro Meira. j. 21.09.2010, unânime, DJe 04.10.2010) Grifos nossos.

Inclusive, em demanda similar que versa sobre os desvios da merenda escolar na cidade de Barueri, no Estado de São Paulo (Agravo de instrumento n. 0101009-25.2011.8.26.0000), o E. Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu:

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. Indisponibilidade de bens. Admissibilidade. Presença dos requisitos necessários à concessão da medida. O STJ tem entendido que a medida prevista no art. 7º, da Lei 8.429/92 tem natureza cautelar e seu deferimento depende da presença do fumus boni iuris e do periculum in mora. A decretação de indisponibilidade dos bens não está condicionada à comprovação de que o réu

73

Page 74: Cartel em Paranaguá

esteja dilapidando seu patrimônio, ou com intenção de fazê-lo. Decisão mantida. Recurso não provido”.

Desta forma, a medida cautelar ora requerida, a rigor, garante que parte do patrimônio do município de Paranaguá, que está em poder dos requeridos, seja preservada até o futuro cumprimento da sentença.

VIII.II - DO AFASTAMENTO CAUTELAR DO REQUERIDO JOSÉ BAKA FILHO

A Constituição Federal, quando trata da independência entre os Poderes da República (art. 2º), estabelece um complexo sistema de equilíbrio entre estes poderes e possibilita, para a manutenção da harmonia, algumas hipóteses de intervenções legítimas.

Por sua vez, prevê a Lei de Improbidade Administrativa, que também encontra fundamento na Carta Magna, que:

Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos só se efetivam com o trânsito em julgado da sentença condenatória.

74

Page 75: Cartel em Paranaguá

Parágrafo Único. A autoridade judicial ou administrativa competente poderá determinar o afastamento do agente público do exercício do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à instrução processual.” Portanto, no caso específico de repressão à

prática de atos de improbidade administrativa, é possível o afastamento cautelar do agente público, inclusive daqueles que exercem funções decorrentes de mandato ou eleição, desde que presentes os requisitos permissivos.

Da análise da norma excepcional do art. 20, parágrafo único, da lei n.º 8.429/1992, pode-se concluir que o afastamento do agente público deverá ser determinado quando se mostrar necessário à instrução processual. O afastamento cautelar é medida excepcional, mas, de outro lado, sua decretação é de rigor quando haja indícios de que é necessário para a instrução processual.

Por se tratar de medida cautelar, é necessária a demonstração da presença dos requisitos genéricos para a sua concessão, quais sejam, o fumus boni iuris e o periculum in mora. O primeiro consiste na existência de indícios da prática dos atos de improbidade imputados ao agente público

75

Page 76: Cartel em Paranaguá

que se pretende afastar do exercício do mandato e, o segundo, consiste na demonstração de que a medida cautelar é necessária à preservação da instrução processual da ação civil pública.

Consoante se passará a demonstrar, estão presentes os requisitos para a concessão da medida cautelar de afastamento do requerido JOSÉ BAKA FILHO das funções de Prefeito Municipal de Paranaguá, tanto pela existência de provas suficientes da prática das fraudes licitatórias com recebimento de altos valores de propinas, o que demonstra a plausibilidade do direito invocado pelo Ministério Público (fumus boni iuris), como pela necessidade de seu afastamento do cargo para preservar a instrução processual da ação civil, já que este requerido vem, de modo concreto, praticando atos que obstam ou dificultam a instrução (periculum in mora).

O requerido JOSÉ BAKA FILHO é o atual Prefeito Municipal de Paranaguá, o que, desde logo, já admite a ilação de que a sua permanência no mandato implica não somente na dificuldade da obtenção de outras provas e documentos necessários à comprovação dos fatos, como também se traduz no exercício de influência e de temor sobre os administrados, o que dificultará a regular produção de prova testemunhal.

A excepcionalidade da medida não significa

76

Page 77: Cartel em Paranaguá

que a sua decretação depende da demonstração cabal de que, na permanência do cargo, o agente público prejudicará a instrução da ação civil pública, bastando que o autor da ação demonstre a existência de indícios de que poderá existir prejuízo à instrução. Registre-se que o afastamento judicial ocorre sem prejuízo da remuneração do agente público, o que denota a sua finalidade de proteção à instrução justa da ação civil pública, e não de penalidade.

Veja-se a lição de Emerson Garcia:

“Nesta linha, embora não possa o afastamento provisório arrimar-se em “meras conjecturas”, não tem sentido exigir a prova cabal, exauriente, de que o agente, mantido no exercício da função, acarretará prejuízo ao descobrimento da verdade. Indícios já serão suficientes à decretação da medida, o que em nada infirma o seu caráter excepcional.” 8

O requerido JOSÉ BAKA FILHO tentou, durante a instrução do presente inquérito civil, obstar, ou no mínimo, procrastinar, a obtenção da prova documental pelo Ministério Público. Percebe-se que o requerido JOSÉ BAKA FILHO adotou condutas repletas de má-fé ao responder os 8 GARCIA, Emerson. Alves, Rogério Pacheco. Improbidade Administrativa. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004. p. 814.

77

Page 78: Cartel em Paranaguá

ofícios expedidos pelo Ministério Público, chegando a, inclusive, alterar a verdade dos fatos.

No mês de março de 2011, o Ministério Público encaminhou ofício à Prefeitura Municipal solicitando a remessa de cópia do contrato de prestação de serviços firmado pela municipalidade com OLAVO EGIDIO OZETTI (contrato que foi englobado na outra ação civil pública ajuizada), do procedimento licitatório que lhe deu origem, do estudo de viabilidade referente ao ano de 2005 e de informações sobre os valores que foram pagos pelo serviço prestado (fl. 112).

Pois bem, o ofício n. 243/2011 – GAB, de 12 de abril de 2011, encaminhado pela municipalidade informou que: “Com relação a cópia do contrato firmado com o professor, estamos com dificuldades de localizar, face a troca do sistema contábil efetuado em 2005; porém verificamos junto a Secretaria de Recursos Humanos que esse serviço consta no relatório de Rendimentos Tributáveis de Novembro de 2004, final de Mandato do Prefeito Mario Manoel das Dores Roque, no valor de R$ 16.400,00 (dezesseis mil e quatrocentos reais), documento anexo.”

Veja-se que, na documentação encaminhada, houve a tentativa de atribuir ao Prefeito

78

Page 79: Cartel em Paranaguá

anterior a responsabilidade pela contratação fraudulenta de OLAVO EGIDIO OZETTI (contrato que foi englobado na outra ação civil pública ajuizada, mas também atinente à máfia da merenda, sendo que os fatos ocorreram enquanto tramitava um único inquérito civil acerca dos dois procedimentos licitatórios), com a afirmação expressa que se referia ao ano de 2004 e, ainda, com alteração do documento apresentado na fl. 901, a Dirf 2010, referente ao ano-calendário 2005, onde foi colocado em frente ao mês de novembro uma barra e o ano de 2004.

O estudo de viabilidade foi realizado nos meses de agosto e setembro de 2005, ou seja, durante o mandato como Prefeito do requerido JOSÉ BAKA FILHO, em razão de um procedimento licitatório realizado naquele mesmo ano, consoante as informações do Tribunal de Contas do Estado do Paraná. Entretanto, em documento formal, a municipalidade alterou a verdade dos fatos, afirmando que toda esta negociação teria sido realizada no ano de 2004.

Se não bastasse tal fato, cuja finalidade foi inegavelmente a de obstaculizar a produção das provas, o requerido José Baka Filho adotou, novamente, posturas consistentes em prejudicar a instrução do inquérito civil.

De fato, o Ministério Público oficiou à

79

Page 80: Cartel em Paranaguá

Prefeitura Municipal solicitando a remessa de cópia do procedimento licitatório que culminou na contratação da empresa 11 A Distribuidora de Uniformes pela municipalidade (ofício n.º 37/2012), no dia 08 de março de 2012, consoante certificado na fl. 363.

No dia 16 de março, através do ofício 169/2012, o requerido JOSÉ BAKA FILHO solicitou a prorrogação do prazo por mais 10 dias a partir do dia 19 de março de 2012 para a extração das cópias requeridas.

No dia 21 de março de 2012, o requerido encaminhou o ofício n.º 179/2012 ao Ministério Público, no qual demonstrou a intenção de colocar à disposição todos os procedimentos licitatórios referentes à contratação da empresa SP ALIMENTAÇÃO e da empresa 11 A DISTRIBUIDORA DE UNIFORMES. No entanto, não obstante o teor deste ofício, as cópias do procedimento licitatório da empresa 11 A não foram encaminhadas, ficando tão somente na INTENÇÃO, como ironicamente consta do ofício.

No dia 28 de março de 2012 , o município encaminhou o ofício n.º 189/2012 à Promotoria de Justiça, no qual, inacreditavelmente, informou que O PROCESSO DE LICITAÇÃO SOLICITADO POR VOSSA EXCELÊNCIA NÃO FOI LOCALIZADO NOS ARQUIVOS DA COMISSÃO

80

Page 81: Cartel em Paranaguá

PERMANENTE DE LICITAÇÃO!!!!!Reitera-se que o procedimento licitatório

que não foi encontrado foi o referente à empresa 11 A Distribuidora de Uniformes, cujo ofício n.º 169/2012 da Prefeitura Municipal havia solicitado dilação de prazo para a extração de cópias e cujo oficio n.º 179/2012 do requerido JOSÉ BAKA FILHO tinha demonstrado a intenção de colocá-lo à disposição do Ministério Público!!!

No dia 30 de março de 2012, diante da impossibilidade de obter os documentos necessários para a elaboração de relatório pelo núcleo de auditoria do Ministério Público do Estado do Paraná, o auditor Sergio Tomal, lotado em Curitiba, veio até Paranaguá e foi encaminhado, através de ofício, à Prefeitura Municipal para realizar análise dos documentos faltantes no local. Curioso é que o referido auditor encontrou o aludido procedimento licitatório na comissão permanente de licitação, em cima de uma das mesas, de forma visível, certificando tal fato no item 3.3. da informação de auditoria.

Portanto, resta demonstrado pelos fatos concretos apontados que o requerido JOSÉ BAKA FILHO adotou condutas destinadas a obstaculizar a investigação realizada no inquérito civil pelo Ministério Público, seja

81

Page 82: Cartel em Paranaguá

buscando alterar a verdade documental sobre os fatos, seja tentando ocultar a documentação que era necessária para análise das investigações.

Desta feita, impõe-se o afastamento cautelar do requerido José Baka Filho do exercício do mandato de Prefeito Municipal de Paranaguá, já que se encontram preenchidos os requisitos para a determinação judicial desta medida, os quais denotam o risco que sua permanência no cargo representa para a instrução da ação civil de improbidade administrativa.

Este é o entendimento do STJ: “PEDIDO DE SUSPENSÃO DE MEDIDA LIMINAR. AFASTAMENTO DO CARGO DE PREFEITO. LESÃO À ORDEM PÚBLICA. A norma do art. 20, parágrafo único, da Lei nº 8.429, de 1992, que prevê o afastamento cautelar doagente público durante a apuração dos atos de improbidadeadministrativa, só pode ser aplicada em situação excepcional.Hipótese em que a medida foi fundamentada em elementos concretos a evidenciar que a permanência no cargo representa risco efetivo à instrução processual. Pedido de suspensão deferido em parte para limitar o afastamento do cargo ao prazo de 120 dias. Agravo regimental não provido. (STJ – Agravo Regimental 2011/0232820-0 - Relator Ministro

82

Page 83: Cartel em Paranaguá

Ari Pargendeler – Corte Especial – j. em 24/11/2011 – p. em DJe 29/02/2012)

PEDIDO DE SUSPENSÃO DE MEDIDA LIMINAR. AFASTAMENTO DE PREFEITO. LESÃO À ORDEM PÚBLICA. A norma do art. 20, parágrafo único, da Lei nº 8.429, de 1992, que prevê o afastamento cautelar do agente público durante a apuração dos atos de improbidade administrativa, só pode ser aplicada em situação excepcional, como a dos autos.Hipótese em que a medida está fundada na existência de indícios de manipulação dos documentos públicos relativos às irregularidades apuradas, bem como na influência do requerente na produção da prova testemunhal, o que evidencia risco efetivo à instrução processual. Agravo regimental não provido. (STJ – AgRg na SLS 1382 - 2011/0082222-6 - Relator Ministro Ari Pargendler – Corte Especial – j. em 01/06/2011 - p. em DJe 23/09/2011).

O Tribunal de Justiça do Estado do Paraná também decidiu nesse mesmo sentido no seguinte acórdão:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. APURAÇÃO DE FRAUDE EM CONCURSO PÚBLICO. AFASTAMENTO DE PREFEITO MUNICIPAL. EXISTÊNCIA DE

83

Page 84: Cartel em Paranaguá

INDÍCIOS DE QUE A PERMANÊNCIA NO CARGO TRARÁ PREJUÍZOS À INSTRUÇÃO PROCESSUAL. BLOQUEIO E INDISPONIBILIDADE DE BENS COM VISTAS A EVITAR O DESVIO OU DILAPIDAÇÃO DO PATRIMÔNIO. OBJETIVO DE VIABILIZAR A REPARAÇÃO DO DANO. CONSTRIÇÃO QUE TODAVIA, DEVE SER LIMITADA AO VALOR ATRIBUÍDO À CAUSA. PRESENTES OS REQUISITOS PARA O DEFERIMENTO LIMINAR DA MEDIDA. DECISÃO SINGULAR DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (AGRAVO DE INSTRUMENTO N.º 537.060-3, DA 2ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE PARANAVAÍ. RELATORA: Desª. Lélia Samardã Giacomet. Unânime. Data de julgamento: 14.07.2009).

Portanto, o afastamento do demandado JOSÉ BAKA FILHO no cargo de Prefeito Municipal é medida que se impõe, especialmente para que não exerça qualquer influência sobre subordinados e que sejam interrompidos os atos ilegais supramencionados. Reitere-se que as citadas condutas praticadas pelo requerido JOSÉ BAKA FILHO configuram hipóteses claras de tentativa de dificultar a instrução processual, o que autoriza a aplicação da medida cautelar de afastamento, prevista no artigo 20, parágrafo único, da Lei nº 8.429/92.

Verifica-se, concretamente, que o requerido

84

Page 85: Cartel em Paranaguá

JOSÉ BAKA FILHO, se mantido no cargo de Prefeito Municipal, colocará em sérios riscos a instrução processual, pois vem empreendendo esforços para dificultar e ocultar provas consubstanciadas principalmente em documentos, mas também em pessoas sobre as quais exerce diretamente a sua chefia.

IX – DOS REQUERIMENTOS FINAIS

Ante ao exposto, apresentada a fundamentação fática e jurídica da presente Ação Civil Pública, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, com base nos dispositivos legais antes invocados e com base na prova contida nos inclusos autos de Inquérito Civil Público, requer a autuação da presente, e:

1) A CONCESSÃO DE MEDIDAS CAUTELARES em caráter liminar, inaudita altera parte, para:

1.1.) determinar, nos termos do art. 7º da Lei 8.429/1992, a indisponibilidade dos bens dos demandados JOSÉ BAKA FILHO, 11 A DISTRIBUIDORA COMÉRCIO DE MANUFATURADOS LTDA, ROSIANA CUNHA DO

85

Page 86: Cartel em Paranaguá

ESPIRÍTO SANTA CRUZ, RICARDO BULGARI, VERDURAMA COMÉRCIO ATACADISTA DE ALIMENTOS, ELOIZO GOMES AFONSO DURÃES, SILVIO MARQUES, OLÉSIO MAGNO DE CARVALHO, ANTONIO MARQUES FRANCO, JOSÉ AUGUSTO FONSECA NETTO, LUCIANO ROBERTO FONSECA NETTO, até o valor da causa R$ 2.448.783,00 (dois milhões, quatrocentos e quarenta e oito mil e setecentos e oitenta e três reais). Para efetivar a medida, requer-se: I) se possível pelo Sistema Mensageiro9, a comunicação da indisponbilidade de bens dos requeridos à Corregedoria-Geral de Justiça e aos Cartórios de Registro de Imóveis do Estado do Paraná; II) a expedição de ofício à Corregedoria-Geral de Justiça do Estado de São Paulo com o mesmo fim; III) se possível, a utilização do sistema denominado RENAJUD10 para bloquear a transferência e alienação dos veículos dos requeridos; IV) a expedição de ofício às Juntas Comerciais de São Paulo e do Paraná para que anotem ou averbem junto aos seus registros a indisponibilidade de quotas das empresas demandadas ou de quotas e ações pertencentes aos demandados pessoas físicas, até final julgamento desta ação; V) sejam requisitadas via

9 Regulado pela Resolução nº 001/2008, do Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná.10 O TJPR aderiu junto ao CNJ ao sistema RENAJUD.

86

Page 87: Cartel em Paranaguá

INFOJUD as três últimas declarações de Imposto de Renda dos requeridos; VI) seja determinada a ordem de bloqueio das aplicações financeiras dos requeridos via BACENJUD.

1.2. determinar, nos termos do art. 20, parágrafo único, da Lei 8.429/1992, o afastamento cautelar imediato do demandado JOSÉ BAKA FILHO das funções de Prefeito Municipal de Paranaguá, até final julgamento desta ação, oficiando-se incontinenti ao Presidente da Câmara Municipal local para conhecimentos e adoção de providências.

2. as notificações dos requeridos JOSÉ BAKA FILHO, 11 A DISTRIBUIDORA COMÉRCIO DE MANUFATURADOS LTDA, ROSIANA CUNHA DO ESPIRÍTO SANTA CRUZ, RICARDO BULGARI, VERDURAMA COMÉRCIO ATACADISTA DE ALIMENTOS, ELOIZO GOMES AFONSO DURÃES, SILVIO MARQUES, OLÉSIO MAGNO DE CARVALHO, ANTONIO MARQUES FRANCO, JOSÉ AUGUSTO FONSECA NETTO, LUCIANO ROBERTO FONSECA NETTO, já qualificados e endereçados, para, nos termos do artigo 17, §7º, da Lei n.º 8429/92, no prazo de quinze dias, apresentarem suas defesas preliminares por escrito;

3. Após, repelindo-se as defesas preliminares referidas, o recebimento da inicial, ordenando-se a citação

87

Page 88: Cartel em Paranaguá

dos requeridos, desta feita, para responder aos termos da presente ação e acompanhá-la até final julgamento e condenação, no prazo legal e se quiserem, porém, sob pena de revelia e confissão quanto à matéria fática (CPC, art. 285, in fine, c/c. os arts. 319 e 324);

4. Seja julgada procedente a presente ação civil para declarar a nulidade do contrato firmado entre o município de Paranaguá e a empresa 11 A UNIFORMES LTDA;

5. Seja julgada procedente a presente ação de responsabilidade civil por atos de improbidade administrativa para:

5.1. condenar os requeridos JOSÉ BAKA FILHO, 11 A DISTRIBUIDORA COMÉRCIO DE MANUFATURADOS LTDA, ROSIANA CUNHA DO ESPIRÍTO SANTA CRUZ, RICARDO BULGARI, VERDURAMA COMÉRCIO ATACADISTA DE ALIMENTOS, ELOIZO GOMES AFONSO DURÃES, SILVIO MARQUES, OLÉSIO MAGNO DE CARVALHO, ANTONIO MARQUES FRANCO, JOSÉ AUGUSTO FONSECA NETTO, LUCIANO ROBERTO FONSECA NETTO solidariamente com os demais demandados, nos termos dos artigos 2º, 3º e 9º, I, II e XI, c.c. art. 12, inciso I, da Lei 8.429/1992, na perda do valor de R$ 467.437,65

88

Page 89: Cartel em Paranaguá

(quatrocentos e sessenta e sete mil, quatrocentos e trinta e sete reais e sessenta e cinco centavos), até então apurado, e relativo ao ilícito acréscimo patrimonial, em benefício da Fazenda Pública Municipal, e pela nulidade do contrato sejam também condenados na devolução do valor total das importâncias pagas pela Prefeitura Municipal de Paranaguá à empresa 11 A DISTRIBUIDORA DE UNIFORMES, no montante de R$ R$ 2.448.783,00 (dois milhões, quatrocentos e quarenta e oito mil e setecentos e oitenta e três reais) e perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial (R$ 467.437,95) e proibição de contratarem com o Poder Público ou receberem benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoas jurídicas das quais sejam sócios majoritários, pelo prazo de dez anos;

5.2. condenar os requeridos JOSÉ BAKA FILHO, 11 A DISTRIBUIDORA COMÉRCIO DE MANUFATURADOS LTDA, ROSIANA CUNHA DO ESPIRÍTO SANTA CRUZ, RICARDO BULGARI, VERDURAMA COMÉRCIO ATACADISTA DE ALIMENTOS, ELOIZO GOMES AFONSO DURÃES, SILVIO MARQUES, OLÉSIO MAGNO DE CARVALHO,

89

Page 90: Cartel em Paranaguá

ANTONIO MARQUES FRANCO, JOSÉ AUGUSTO FONSECA NETTO, LUCIANO ROBERTO FONSECA NETTO solidariamente com os demais demandados, nos termos dos artigos 2º, 3º e 10º, VIII, c.c. art. 12, inciso II, da Lei 8.429/1992, na perda do valor de R$ 467.437,65 (quatrocentos e sessenta e sete mil, quatrocentos e trinta e sete reais e sessenta e cinco centavos), até então apurado, e relativo ao ilícito acréscimo patrimonial, em benefício da Fazenda Pública Municipal, e pela nulidade do contrato, sejam também condenados na devolução do valor total das importâncias pagas pela Prefeitura Municipal de Paranaguá à empresa 11 A DISTRIBUIDORA DE UNIFORMES, no montante de R$ 2.448.783,00 (dois milhões, quatrocentos e quarenta e oito mil e setecentos e oitenta e três reais), e perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do acréscimo patrimonial (R$ 467.437,95) e proibição de contratarem com o Poder Público ou receberem benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoas jurídicas das quais sejam sócios majoritários, pelo prazo de cinco anos;

5.3. condenar os requeridos JOSÉ BAKA FILHO, 11 A DISTRIBUIDORA COMÉRCIO DE

90

Page 91: Cartel em Paranaguá

MANUFATURADOS LTDA, ROSIANA CUNHA DO ESPIRÍTO SANTA CRUZ, RICARDO BULGARI, VERDURAMA COMÉRCIO ATACADISTA DE ALIMENTOS, ELOIZO GOMES AFONSO DURÃES, SILVIO MARQUES, OLÉSIO MAGNO DE CARVALHO, ANTONIO MARQUES FRANCO, JOSÉ AUGUSTO FONSECA NETTO, LUCIANO ROBERTO FONSECA NETTO solidariamente com os demais demandados, nos termos dos artigos 2º, 3º e 11 c.c. art. 12, inciso III, da Lei 8.429/1992, pela nulidade dos contratos e aditamentos sejam condenados às devoluções do valor total das importâncias pagas pela Prefeitura Municipal de Paranaguá à empresa 11 A DISTRIBUIDORA DE UNIFORMES LTDA, no montante de R$ 2.448.783,00 (dois milhões, quatrocentos e quarenta e oito mil e setecentos e oitenta e três reais), e perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração do agente público e proibição de contratarem com o Poder Público ou receberem benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoas jurídicas das quais sejam sócios majoritários, pelo prazo de três anos;

6. a condenação dos réus ao pagamento das despesas processuais e verba honorária de sucumbência,

91

Page 92: Cartel em Paranaguá

cujo recolhimento deste último deve ser feito ao Fundo Especial do Ministério Público do Estado do Paraná, criado pela Lei Estadual n. 12.241, de 28 de julho de 1998 (DOE n. 5302, de 29 de julho de 1.998), nos termos do artigo 118, inciso II, alínea “a”, parte final da Constituição do Estado do Paraná;

7. a produção de todas as provas admitidas pelo direito, além dos depoimentos pessoais dos requeridos, da ouvida de testemunhas, cujo rol será oportunamente apresentado, e da juntada de novos documentos que se fizerem necessários;

8. a observância do art. 18 da Lei 7.347/85 e do art. 27 do Código de Processo Civil quanto aos atos processuais requeridos pelo Ministério Público;

9. a intimação pessoal do Ministério Público para acompanhar todos os atos que integram o processo ora instaurado;

Atribui-se à causa o valor de R$ 2.448.783,00 (dois milhões, quatrocentos e quarenta e oito mil, e setecentos e oitenta e três reais).

Paranaguá, 09 de maio de 2012.

92

Page 93: Cartel em Paranaguá

Ana Paula Pina Gaio Alexandre Gaio Promotora de Justiça Promotor de Justiça

93