a prevenção de fraude e a afirmação da auditoria forense

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  • 8/17/2019 A prevenção de fraude e a afirmação da auditoria forense

    1/20

    2015 vol. V nº 019 pág. 000-000

     A PREVENÇÃO DE FRAUDE E A AFIRMAÇÃO DA AUDITORIA FORENSE

    Luís Fonseca...

  • 8/17/2019 A prevenção de fraude e a afirmação da auditoria forense

    2/20

    Ficha Técnica

    Título

    Revista Portuguesa de Contabilidade

    Director

    Hernâni Olímpio Carqueja

    Subdirector

    Bruno Miranda Alves Pereira

    Editor

    Ginocar Produções, Lda.

    NIPC: 501 736 026

    Sede de Redacção

    Rua Domingos Sequeira, n.º 178

    4050-230 Porto

     Telf.: 22 339 40 30 • Fax: 22 339 40 39

    www.revistadecontabilidade.com

    [email protected]

    Propriedade

    Ginocar Produções, Lda.

    Execução Gráfica

    www.Ginocar.pt

    Rua Domingos Sequeira, n.º 178

    4050-230 Porto

    Tiragem

    2000 Exemplares

    Periodicidade Trimestral

    DEZEMBRO/2015

    ERC 126037

    ISSN 2182-2042

    DEP. LEGAL 327583/11

     A PREVENÇÃO DE FRAUDE E A AFIRMAÇÃO DA AUDI-TORIA FORENSE

    ÍNDICEResumo ___________________________________________________________________000

    1_Introdução _______________________________________________________________000

    2_Conceito de fraude ________________________________________________________000

    3_Os números da fraude _____________________________________________________000

    4_O auditor forense__________________________________________________________000

    5_A prevenção da fraude _____________________________________________________000

    6_Limitações da auditoria forense ______________________________________________000

    7_Conclusão _______________________________________________________________000

    Bibliografia _________________________________________________________________000

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    3Revista Portuguesa de Contabilidade nº 019 vol. V

     A PREVENÇÃO DE FRAUDE E A AFIRMAÇÃO DA AUDI-TORIA FORENSE

    RESUMO

     As organizações devem reforçar a prevenção de fraude nos seus sistemas de controlo.

     Além dos custos financeiros e de imagem a que estas poderão incorrer, no limite, a sua

    perenidade poderá ser colocada em causa, e, em última instância, a economia dum país

    poderá estremecer. Ao topo da gestão são também exigidas responsabilidades públicas.

    É assim primordial conhecer-se com maior profundidade as raízes e as consequências

    dos diversos tipos de fraudes, de forma a permitir às organizações preveni-las e detetá-laseficazmente.

    Neste contexto, o objetivo desta comunicação é partilhar mais um olhar sobre a importância

    dos meios de controlo para a dissuasão de fraude e para o papel da auditoria e do auditor

    forense.

    Palavras-chave: Auditoria forense; Fraude; Deteção de Fraude; Prevenção de Fraude.

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    Revista Portuguesa de Contabilidade4 vol. V nº 019

    1_INTRODUÇÃO

     A presente edição do Congresso dos TOC é uma excelente oportunidade para manter

    presente e vivo o tema do risco de fraude nas organizações. Este tema está na ordem do dia

    porque continuamos a vivenciar casos de fraude que afetam a perenidade das empresas e

    a economia do nosso país, com impactos nefastos na sociedade e, portanto, nas pessoas.

     A fraude, nas suas mais diversas formas, é uma das principais causas para que o relato

    financeiro das organizações não seja fiável, sendo que, para além de potenciais perdas de

    elevados montantes de dinheiro, coloca também em causa a credibilidade das organizações.

    Esta comunicação tem o objetivo de ser mais uma forma de demonstrar o papel que um

    auditor forense deve ter numa organização, procurando assegurar a implementação de

    mecanismos que previnam e possam dissuadir a fraude, com todas as vantagens mais

    adiante demonstradas.

    Para que a auditoria forense seja uma realidade, é necessário compreender em que condições

    é que as fraudes têm maiores probabilidades de ocorrer, desafio que, pela sua natureza, não

    é fácil e pode exigir um elevado nível de competências especializadas inerentes ao perfil e às

    responsabilidades dos auditores forenses.

    Nesta comunicação, para além do conceito de fraude, baseado no "Report to the Nation

    on Occupational Fraud and Abuse - 2014 Global Fraud Study", publicado pela ACFE, são

    apresentados os números da fraude a nível mundial. Seguidamente, é também apresentada a

    importância da auditoria forense através do papel que o auditor forense poderá desempenharnas organizações, bem como um conjunto de medidas sugeridas para prevenir a fraude

    ocupacional nas organizações. São ainda mencionadas limitações da auditoria forense e,

    por último, são apresentadas as conclusões desta comunicação.

    2_CONCEITO DE FRAUDE:

    Definição de fraude1:

    Nome feminino

    1. ato de má-fé praticado com o objetivo de enganar ou prejudicar alguém; burla;

    engano; logração

    2. ato ou comportamento que é ilícito e punível por lei

    3. contrabando; candonga

    1 Fraude  in Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico [em linha]. Porto: Porto Editora,2003-2015. [consult. . em 27 Abr. 2015]. Disponível na Internet: http://www.infopedia.pt/dicionarios/ lingua-portuguesa/fraude

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    5Revista Portuguesa de Contabilidade nº 019 vol. V

    De acordo com Roque2, na vida empresarial pode-se considerar que fraude é qualquer ato

    ou omissão intencional destinada a enganar outrem, resultando em que a vítima sofra uma

    perda e o autor obtenha um ganho.

    De acordo com a ISA 2403, a fraude é definida como: “Um ato intencional praticado por

    um ou mais indivíduos de entre a gerência, encarregados da governação, empregados outerceiros, envolvendo o uso propositado de falsidades para obter uma vantagem injusta ou

    ilegal”. Para a mesma ISA, as distorções nas demonstrações financeiras podem resultar de

    fraude quando a ação subjacente que resulta na distorção das demonstrações financeiras

    foi intencional, ou de erro, quando a mesma ação não foi intencional.

    Esta ISA esclarece ainda que cabe à gestão da organização a responsabilidade primária

    pela prevenção e deteção da fraude. É importante que seja colocada uma forte ênfase na

    prevenção da fraude, para reduzir as oportunidades da sua ocorrência, desencorajando-a e

    procurando persuadir os indivíduos a não cometê-la devido à probabilidade da sua deteção

    e punição.

     A fraude pode envolver esquemas sofisticados e cuidadosamente organizados concebidos

    para a ocultar, como falsificação, falha deliberada do registo de transações ou declarações

    ao auditor que sejam intencionalmente enganadoras. Tais tentativas de ocultação podem

    ser ainda mais difíceis de detetar quando acompanhadas de conluio. O conluio pode fazer

    com que o auditor creia que a prova de auditoria é persuasiva quando de facto é falsa. A

    capacidade do auditor para detetar uma fraude depende de fatores como a habilidade do

    seu autor, a frequência e extensão da manipulação, o grau de conluio envolvido, a dimensão

    relativa das quantias individuais manipuladas e a senioridade dos indivíduos envolvidos.Embora possa conseguir identificar potenciais oportunidades de fraude, é difícil para o auditor

    determinar se distorções em áreas de julgamento, como as estimativas contabilísticas, são

    causadas por fraude ou erro.

     A identificação e prevenção da fraude devem estar regulamentadas a nível organizacional.

     Tendo em consideração os impactos económico-financeiros que uma fraude produz

    numa organização, assim como a falta de credibilidade gerada, é recomendável que as

    organizações desenvolvam mecanismos de prevenção e deteção de indícios de fraude e

    que invistam em sistemas de controlo interno robustos e eficazes.

    No entanto, para que a fraude seja detetada, é necessário ao auditor forense conhecer os

    diversos tipos de fraude praticados, assim como os fatores que promovem a prática de atos

    fraudulentos por parte de determinados indivíduos. Neste âmbito, são aqui abordadas duas

    2 ROQUE, Pedro. Auditor Forense - Contributo para a definição de uma nova profissão em Portugal. [emlinha] (s.d) [consult. em 27 Abr. 2015] Disponível na Internet: http://www.otoc.pt/news/comcontabaudit/ pdf/128.pdf 

    3 International Standard on Auditing 240, The Auditor’s Responsibilities Relating to Fraud in an Audit ofFinancial Statements

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    Revista Portuguesa de Contabilidade6 vol. V nº 019

    das principais referências que permitem compreender melhor a fraude: a Árvore da Fraude

    e o Triângulo da Fraude.

     Árvore da Fraude - A Árvore da Fraude foi apresentada num estudo desenvolvido por Wells

    (2009) e tem como objetivo classificar as fraudes e os abusos ocupacionais.

    De acordo com a Árvore da Fraude, existem três categorias principais de fraude:

    1.  Apropriação indevida de ativos: Segundo Wells (2009) “[…] a apropriação

    indevida de ativos inclui mais do que o furto ou o desfalque [,] envolve o uso

    indevido de qualquer bem da empresa para benefício pessoal.”. Esta categoria

    divide-se em duas formas de apropriação, nomeadamente de dinheiro, de

    inventários e de todos os outros ativos. Em relação à apropriação indevida do

    dinheiro, esta subdivide-se em três meios: furto, desembolsos fraudulentos e

    sonegação. O furto consiste em desviar valores em caixa e depósitos. Por sua

    vez, os desembolsos fraudulentos compreendem esquemas relacionados comfalsificações de faturação, remunerações, reembolsos de despesas, cheques e

    falsos registos em caixa.

    2. Corrupção: Consiste na utilização do poder para favorecer o próprio ou

    terceiros. Este tipo de fraude divide-se em quatro subcategorias: conflito de

    interesses; suborno; gratificações ilegais e extorsão económica. O conflito de

    interesses patenteia o favorecimento pessoal ou de um terceiro, através do

    desenvolvimento de esquemas de compras ou de vendas. Relativamente ao

    suborno, este representa a prática de oferecer dinheiro ou benefícios a umindivíduo, em troca de um ato ilícito, promovendo a obtenção de vantagens.

    No caso das gratificações ilegais, estas constituem uma recompensa paga, de

    forma ilícita, pela realização de um determinado serviço prestado. Por sua vez, a

    extorsão económica compreende a obtenção de vantagens por parte de outrem,

    com recurso à coação, chantagem ou violência.

    3. Relatórios de contas fraudulentos: As informações financeiras divulgadas

    apresentam distorções que detém como finalidade induzir os seus utilizadores

    em erro. Os relatórios em causa podem ser financeiros e não financeiros. Caso

    se tratem de relatórios financeiros, poderão estar evidenciadas sobrevalorizações

    ou subvalorizações de ativos e receitas. A nível dos relatórios não financeiro é

    possível verificar-se a falsificação de documentos organizacionais, quer internos

    quer externos.

    Triângulo da Fraude - Donald Cressey na sua obra, "Other people's money; a study of the

     social psychology of embezzlement", publicada em 1953, desenvolveu o Triângulo da Fraude

    que permite identificar os motivos que originam ou incentivam a ocorrência de fraude, por

    parte de um ou mais indivíduos. Este autor identificou três fatores que, em simultâneo,

    promovem a prática de atos fraudulentos: a pressão, geralmente associada a necessidades

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    7Revista Portuguesa de Contabilidade nº 019 vol. V

    financeiras que o perpetrador possa ter, ou quando este pretenda viver com um estatuto

    acima das suas possibilidades; a oportunidade, geralmente associada a fragilidades do

    sistema de controlo das organizações; e a racionalização, geralmente através das razões

    com que o perpetrador procura justificar a fraude.

    3_OS NÚMEROS DA FRAUDE

     A ACFE – Association of Certified Fraud Examiners (www.acfe.com) é a maior organização

    do mundo que combate a fraude, sendo também o primeiro fornecedor de treino e formação

    antifraude. Juntamente com mais de 75.000 membros, contribui para reduzir mundialmente

    a fraude nas organizações e inspirar a confiança pública, a integridade e a objetividade desta

    profissão.

    De acordo com o último "Report to the Nation on Occupational Fraud and Abuse - 2014

    Global Fraud Study", publicado pela ACFE, que contem uma análise de 1.483 casos de

    fraude ocupacional que ocorreram em mais de 100 países e que foram investigados por

    profissionais certificados pela ACFE, verificou-se que:

    • Uma organização típica perde anualmente 5% dos rendimentos devido a fraude.

    Se extrapolarmos o produto bruto mundial, estimado para o ano de 2013, a

    perda global potencial de fraude estaria perto de $3.7 triliões.

    • A perda média causada pelas fraudes foi de $145.000. Adicionalmente, 22%dos casos envolveram perdas de pelo menos de $1 milhão.

    • A quantidade de tempo decorrida entre o início e a deteção da fraude foi de 18 meses.

    • As fraudes ocupacionais podem ser classificadas em três categorias preliminares:

     Apropriação indevida de ativos, corrupção e relatórios de contas fraudulentos.

    Destes, a apropriação indevida de ativos é a mais comum, com 85% dos casos,

    representando os casos com menores custos, e que causaram uma perda média

    de $130.000. Por outro lado, somente 9% dos casos respeitam a fraudes de

    relatórios de contas fraudulentos, sendo de salientar que estes casos tiveram omaior impacto financeiro, com uma perda média de $1 milhão. Os esquemas de

    corrupção posicionam-se a meio da frequência, 37% dos casos, e representam

    uma perda média de $200.000.

    • Muitos dos casos envolveram mais do que uma categoria de fraude ocupacional.

     Aproximadamente 30% dos esquemas estudados incluíram duas, ou três das

    formas preliminares de fraude ocupacional.

    • As denúncias são consistentemente o método mais comum que permitem

    a deteção de fraude - 40% de todos os casos foram detetados a partir de

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    Revista Portuguesa de Contabilidade8 vol. V nº 019

    denúncias, mais do dobro da percentagem do que qualquer dos outros métodos

    de deteção. Foram os próprios colaboradores da organização que efetuaram

    quase a metade de todas as denúncias que conduziram à descoberta da fraude.

    • Nas organizações com linhas de alerta existem maiores probabilidades para

    se detetar a fraude através de uma denúncia. Conforme demonstrado pelosdados do estudo, esta foi a maneira mais eficaz para se detetar a fraude.

    Nestas organizações verificou-se também que os custos das fraudes eram 41%

    menores, e 50% das fraudes foram detetadas mais rapidamente.

    • As organizações menores tendem a sofrer perdas desproporcionalmente maiores.

     Adicionalmente, os riscos específicos de fraude enfrentados por organizações

    de pequeno porte diferem daqueles enfrentados por organizações maiores,

    em determinadas categorias de fraude, que são muito mais proeminentes em

    entidades pequenas do que nas maiores (por exemplo, nas organizações mais

    pequenas, a segregação de funções, pilar dum sistema de controlo eficaz, nem

    sempre é assegurada).

    • As operações bancárias, os serviços financeiros, o governo, a administração

    pública e as indústrias de manufatura continuam a ter o maior número dos casos

    relatados, enquanto a indústria mineira, o mercado imobiliário, e as indústrias do

    petróleo e do gás tiveram perdas médias em relação às relatadas.

    • Os esquemas de Fraude que ocorreram nas organizações que tinham em

    funcionamento diversos controles antifraude tiveram um custo significativamenteinferior e foram detetados mais rapidamente do que as fraudes ocorridas nas

    organizações onde faltam estes tipos de controlos.

    • Quanto mais elevado for o nível hierárquico do perpetrador, mais significativas

    tendem a ser as perdas devido a fraude. Os proprietários/ executivos

    representaram somente 19% de todas as fraudes, mas causaram uma perda

    média de $500.000. Os colaboradores de base, inversamente, cometeram 42%

    de fraudes ocupacionais mas causaram somente uma perda média de $75.000.

    Os valores das fraudes cometidas por gestores encontram-se na média, tendo

    cometido 36% das fraudes com uma perda média de $130.000.

    • As fraudes efetuadas por colaboradores em conluio, que contornaram os

    controlos antifraude, permitiram roubos de maiores valores. A perda média

    em fraudes cometidas por uma única pessoa foi de $80.000, mas quando o

    número dos perpetradores aumenta, as perdas aumentam significativamente.

    Nos casos de fraude com dois perpetradores a perda média foi de $200.000,

    no caso de serem três perpetradores, a perda média foi de $355.000 e quando

    a fraude foi cometida por quatro ou mais perpetradores, a perda média excedeu

    os $500.000.

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    • Aproximadamente 77% das fraudes foram cometidas por indivíduos que

    trabalham num dos seguintes sete departamentos: contabilidade, operações,

    vendas, executivo/ gerência, serviço ao cliente, compras e finanças.

    • Na avaliação do tempo e do esforço para recuperar o dinheiro roubado por

    perpetradores, muitas organizações podem nunca vir a ser compensadas. Dasorganizações vítimas de fraude, 58% não tinha recuperado quaisquer das suas

    perdas, e somente 14% tinha feito uma recuperação total.

    Este estudo apresenta ainda as seguintes conclusões sobre os números apresentados:

    • A fraude ocupacional é um problema, a nível global, para as organizações.

    Embora existam algumas variações regionais nos métodos usados pelos

    perpetradores, para cometerem os seus crimes, e pelas organizações, para

    impedirem e detetarem os esquemas de fraude, as tendências totais verificadas

    são bastante consistentes. Esta consistência sublinha a natureza e a persistênciada ameaça de fraude em todas as organizações.

    • As fraudes mais longas são as que mais danos financeiros causam. Os métodos

    de deteção passivos (confissão, notificação pelas autoridades legais, auditorias

    externas e por acidente) tendem a fazer com que as investigações se prolonguem

    por um maior período de tempo, fazendo notar à gestão o quanto a perda por

    fraude é aumentada. Consequentemente, as medidas proactivas de deteção,

    tais como as linhas alerta, os procedimentos de revisão da gestão, as auditorias

    internas e os sistemas de monitorização, demonstram ser vitais para a deteçãooportuna das fraudes, limitando as perdas por si causadas.

    • As organizações mais pequenas estarão mais vulneráveis à fraude porque

    geralmente, carecem de controlos antifraudes. Os valores em causa poderão ser

    desproporcionais. Quando os recursos disponíveis para medidas da prevenção

    e da deteção de fraude são limitados em muitas organizações pequenas,

    diversos controles antifraude, tais como uma política antifraude, procedimentos

    formais da revisão da gestão e formação antifraude para membros da equipa de

    colaboradores poderão ser implementados com reduzidos custos financeiros e,

    assim, representarem um investimento eficaz para proteger, da fraude, este tipo

    de organizações.

    • As auditorias externas são executadas por um grande número organizações, mas

    estão entre os controlos menos eficazes para combater a fraude ocupacional.

    Estas auditorias representaram o método de deteção preliminar em apenas

    3% dos casos de fraude relatados no estudo, tal como os 7% dos casos que

    foram detetados por acidente. Consequentemente, apesar das auditorias

    independentes servirem um papel vital na governação organizacional, o estudo

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    Revista Portuguesa de Contabilidade10 vol. V nº 019

    demonstra que esta não deve ser considerada como mecanismo antifraude

    preliminar das organizações.

    • Muitos dos controlos antifraude mais eficazes estão a ser negligenciados por

    uma parcela significativa das organizações. Por exemplo, a monitorização dos

    dados e a análise proactiva foram usadas por somente 35% das organizaçõesvítimas de fraude, mas a presença deste controlo foi correlacionada com as

    fraudes que tiveram 60% casos de menores custos e 50% de casos com

    duração mais curta. Outros controlos menos comuns, incluindo as auditorias

    de surpresa, efetuadas por um departamento de fraude ou por uma equipa

    dedicada a avaliações de risco formais de fraude, comportam associações

    similares, com reduções dos danos de fraude em termos de custo e de tempo

    de ocorrência. Ao se determinar como investir em medidas antifraude, a gestão

    deve considerar a eficácia observada das atividades específicas do controlo e

    como esses controlos podem reforçar aos potenciais perpetradores a perceçãodo sucesso de deteção, funcionando como um sólido fator de dissuasão de

    fraude.

    • A vasta maioria de perpetradores ocupacionais é estreante. No estudo, somente

    5% foram identificados como reincidentes de outros crimes. Além disso, 82%

    de perpetradores nunca tinham sido previamente punidos ou despedidos

    por um empregador devido a conduta relacionada com fraude. No ato de

    recrutamento, sempre que for possível, deve-se verificar em profundidade as

    referências do candidato a emprego. Estas informações poderão ser úteis parauma seleção credível também em termos éticos, mas apesar de ser uma medida

    preventiva antifraude, é impossível garantir a imunidade do candidato a um

    futuro comportamento fraudulento. A maioria de perpetradores trabalham para

    os seus empregadores durante anos antes de se tornarem criminosos, assim, a

    monitorização contínua da atividade e uma compreensão dos fatores de risco e

    dos sinais de advertência da fraude serão muito mais eficazes na identificação

    da fraude, do que no processo de recrutamento.

    • As maiorias dos perpetradores ocupacionais exibem determinados traços de

    comportamento que podem ser sinais de advertência dos seus crimes, tais como

    viverem além de seus recursos ou terem relacionamentos muito próximos com

    fornecedores ou clientes. Em 92% dos casos do estudo, uma red flag com estes

    tipos de comportamento foi identificada antes da fraude ter sido detetada. Os

    gestores, os funcionários, os revisores de contas e outros devem ser formados

    para reconhecer estes sinais de advertência que, quando combinados com

    outros fatores, poderão indiciar fraude.

  • 8/17/2019 A prevenção de fraude e a afirmação da auditoria forense

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    11Revista Portuguesa de Contabilidade nº 019 vol. V

    4_O AUDITOR FORENSE

    No contexto organizacional, de acordo com Roque4,

    Se, num primeiro momento, a investigação da fraude era uma atividade que

    estava essencialmente reservada às polícias e entidades oficiais de investigação,nos últimos anos tem vindo a crescer e a ganhar importância a investigação da

    fraude por entidades privadas, os auditores forenses.

    Quando um auditor forense é chamado a intervir num processo de fraude,

    procede à investigação da fraude, de forma independente, com vista ao

    apuramento dos factos e, consequentemente, da prova.

    É recomendável que o auditor forense, nas suas competências, tenha sólidos conhecimentos

    de matérias como a auditoria financeira e interna, contabilidade, gestão de fraude, gestão

    de riscos e direito (especialmente o do setor da organização em questão). Ao nível daorganização, o auditor forense deve ter um profundo conhecimento dos regulamentos

    internos, da missão, da cadeia de valor, da estrutura orgânica e funcional e do meio

    envolvente (para poder comparar os dados obtidos com os dados de referência do setor).

    O auditor forense tem um papel importante a desempenhar nas organizações. A confiança

    que transmite deverá ser reconhecida pelas características do trabalho que desenvolve,

    que incluem a independência, a objetividade, o rigor, a verdade, a qualidade, e o ceticismo

    profissional. É através de referências normalizadas, sob as quais efetua o seu trabalho, e

    também através do seu julgamento profissional, que reforça a credibilidade das conclusõesa que chega e que transmite nos seus relatórios.

     A prova deve ser sempre obtida em conformidade com as leis e regulamentos e ser suficiente

    e apropriada. O auditor forense, para cada linha de investigação, desenvolve o seu trabalho

    analisando exaustivamente a informação disponível. O acesso à informação deverá ser feito

    com independência e objetividade.

    No âmbito dos trabalhos de investigação de fraude efetuados, o auditor forense deve

    informar o topo da gestão da organização sobre as seguintes questões: o esquema da

    fraude; a exposição legal; a extensão das perdas; durante quanto tempo decorreu a fraude;como é que ela esteve oculta durante esse período de tempo, onde é que a fraude ocorreu;

    quem estava envolvido; como prevenir futuras ocorrências e qual o custo da investigação.

    4 ROQUE, Pedro. Auditor Forense - Contributo para a definição de uma nova profissão em Portugal. [emlinha] (s.d) [consult. em 27 Abr. 2015] Disponível em: http://www.otoc.pt/news/comcontabaudit/pdf/128.pdf 

  • 8/17/2019 A prevenção de fraude e a afirmação da auditoria forense

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    Revista Portuguesa de Contabilidade12 vol. V nº 019

    5_A PREVENÇÃO DE FRAUDE:

    Importa entender as razões que explicam a existência continuada de fraude. Desta forma,

    segundo Roque (apud Goldman, 2009): existem cinco mitos que ajudam a explicar as razões

    que promovem a ocorrência de fraude nas organizações:

    • Mito 1: Ética e treino em compliance mantêm-nos protegidos;

    • Mito 2: O staff  é qualificado para proteger a empresa contra a fraude;

    • Mito 3: Não existe fraude na empresa;

    • Mito 4: A fraude é um custo necessário para o exercício da atividade;

    • Mito 5: A implementação de controlos e a formação são caros.

    Estes mitos, que efetivamente podem ser frequentemente constatados nas organizações,

    são, essencialmente, justificados pelas deficientes autoavaliações que se fazem aoconhecimento interno sobre o combate à fraude e pelas deficientes avaliações das relações

    custo-benefício inerentes à implementação de controlos e formação/treino em prevenção e

    combate à fraude adequados (e não apenas formação em ética e compliance).

    Os gestores têm de partir da presunção de que nenhuma organização está imune à fraude,

    pelo que deverão manter uma atitude de ceticismo permanente. A prevenção da fraude

    exige assim um esforço diligente e contínuo.

    De acordo com a ISA 2405, terá de existir empenho na criação de uma cultura de

    honestidade e de comportamento ético, que pode ser reforçada por uma supervisão ativados encarregados da governação. A supervisão pelos encarregados da governação inclui

    considerar a potencial derrogação de controlos, ou outra influência inapropriada, sobre o

    processo de relato financeiro, tais como esforços da gerência para gerir os resultados de

    modo a influenciar as perceções dos analistas quanto ao desempenho e rentabilidade da

    entidade.

    Esta mesma ISA diz o seguinte no que respeita à prevenção de fraude:

    O auditor deve obter declarações escritas da gerência e, quando apropriado, dos

    encarregados da governação de que:

    a. Reconhecem a sua responsabilidade pela conceção, implementação e

    manutenção do controlo interno destinado a evitar e detetar a fraude;

    b. Divulgaram ao auditor os resultados da sua avaliação do risco de que as

    demonstrações financeiras possam estar materialmente distorcidas em

    consequência de fraude;

    5 International Standard on Auditing 240, The Auditor’s Responsibilities Relating to Fraud in an Audit ofFinancial Statements

  • 8/17/2019 A prevenção de fraude e a afirmação da auditoria forense

    13/20

    13Revista Portuguesa de Contabilidade nº 019 vol. V

    c. Divulgaram ao auditor o seu conhecimento de fraude ou de suspeita de fraude

    que afecte a entidade envolvendo:

    i.  A Gerência;

    ii. Funcionários que tenham funções importantes no controlo interno; ou

    iii. Outros, quando a fraude possa ter um efeito material nas demonstrações

    financeiras; e

    d. Divulgaram ao auditor o seu conhecimento de quaisquer alegações de fraude,

    ou suspeita de fraude, que afetem as demonstrações financeiras da entidade,

    comunicadas por funcionários, antigos funcionários, analistas, reguladores ou

    outros.

    De acordo com o "Report to the Nation on Occupational Fraud and Abuse - 2014 Global

    Fraud Study", a ameaça de provável deteção é um dos fatores mais poderosos no combateà fraude, porque elimina principalmente a oportunidade percebida do perpetrador. No actual

    relatório e nas versões anteriores, foi solicitadas aos entrevistados informações sobre como

    é que os seus esquemas de fraude ocupacional foram detectados pela primeira vez. Uma

    das tendências recorrentes que se verificou, foi o facto de alguns métodos de deteção

    mostrarem-se mais eficazes do que outros. Comparando-se o método de detecção inicial

    com outras informações, tais como a duração da fraude e o prejuízo financeiro causado,

    encontramos diferenças substanciais entre as várias fraudes e as maneiras como foram

    descobertas. O método de detecção está portanto diretamente relacionado ao combate à

    fraude e à mitigação da perda. Além disso, a maneira pela qual são detectadas fraudes não épuramente acidental, os dados sugerem que a probabilidade de descobrir a fraude aumenta

    quando os vários métodos são adequadamente modelados às particularidades das fraudes

    em questão, devendo ser incluídos nos procedimentos de controlo implementados nas

    organizações.

    Em "Managing the Business Risk of Fraud: A Practical Guide"6, encontramos definidos os

    princípios-chave para criar um ambiente pró-ativo para gerir eficazmente o risco de fraude

    numa organização:

    Princípio 1: Como parte da estrutura de governação da organização, deve estar disponívelum programa de gestão do risco de fraude, incluindo uma política escrita para transmitir as

    expectativas da administração e alta direção quanto ao risco de fraude de gestão.

    Princípio 2: O risco de exposição à fraude deve ser avaliado periodicamente pela organização

    para identificar os potenciais esquemas e acontecimentos que a organização precisa de

    mitigar;

    6 Managing the Business Risk of Fraud: a Practical Guide, publicado pelo Institute of Internal Auditors - IIA,pelo The American Institute of Certified Public Accountants - AICPA e pelo Association of Certified FraudExaminers – ACFE

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    Revista Portuguesa de Contabilidade14 vol. V nº 019

    Princípio 3: Sempre que possível devem ser estabelecidas técnicas de prevenção para evitar

    situações chave de risco de fraude, no sentido de atenuar os possíveis impactos sobre a

    organização.

    Princípio 4: Devem ser estabelecidas técnicas de deteção para a descoberta de fraudes

    quando as medidas preventivas falham ou se efetivam riscos não mitigados;Princípio 5: Deve estar disponível um processo de relato, que incorpore informação sobre

    qualquer possível fraude, e deve ser utilizado um processo de investigação coordenado

    bem como ações correctivas, adequadas para assegurar que potenciais fraudes sejam

    comunicadas de forma apropriada e tempestiva.

     Ainda neste mesmo documento na Secção 3: Prevenção de Fraude, é referido que: “devem

    ser estabelecidos, sempre que possível, técnicas de prevenção de fraude para mitigar

    possíveis riscos de fraude, e os seus impactos sobre a organização”.

     Apesar dos melhores esforços dos responsáveis pela prevenção de fraudes, uma realidade

    inevitável continua: a "fraude acontece." A fraude e a má conduta podem ocorrer em vários

    níveis, em qualquer organização, é essencial que as técnicas preventivas e de deteção

    de fraude sejam apropriadas e estejam implementadas. A prevenção de fraude engloba

    políticas, procedimentos, formação e comunicação.

    Embora as medidas preventivas não permitam assegurar que a fraude não será cometida,

    elas são a primeira linha de defesa para minimizar o risco de fraude.

    Uma chave para a prevenção é fazer o pessoal de toda a organização consciente do

    programa de gestão de risco de fraude, incluindo os tipos de fraude e má conduta que possa

    ocorrer. Esta consciência deve reforçar a noção de que todas as técnicas estabelecidas no

    programa são reais e que são aplicadas. Os esforços de comunicação deverão fornecer

    informações sobre o potencial disciplinar, criminal e ações civis que a organização poderá

    tomar contra o perpetrador.

    Com estes pontos chave em mente, a prevenção e dissuasão são conceitos interligados. Se

    os controles preventivos forem eficazes e estiverem bem presentes no seio da organização,

    contribuirão para dissuadir aqueles que de outra forma poderiam ser tentados a cometer

    fraudes. O medo de ser apanhado é sempre um forte elemento dissuasor.

    O sistema de controlos internos numa organização é projetado para lidar com os riscos

    do negócio inerentes. Os riscos do negócio são identificados no protocolo de avaliação

    de riscos da empresa, e os controles associados a cada risco são anotados. O Enterprise

    Risk Management Framework  - Integrado do COSO7 descreve os componentes essenciais

    da gestão de riscos da organização, princípios e conceitos para todas as organizações,

    independentemente do seu tamanho.

    7 Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission

  • 8/17/2019 A prevenção de fraude e a afirmação da auditoria forense

    15/20

    15Revista Portuguesa de Contabilidade nº 019 vol. V

    Estabelecer controlos internos pode não ser suficiente para mitigar todos os riscos de fraude

    de uma organização. Estes riscos necessitam de controlos específicos para mitigá-los,

    o que torna o processo de avaliação de risco de fraude de uma organização essencial

    para prevenção de fraudes. Além da implementação de controlos preventivos de fraude,

    é importante para a organização, avaliar e monitorizar continuamente a sua eficácia

    operacional, para prevenir de que outros tipos de fraude ocorram.

    Podem-se resumir, nos pontos seguintes, as principais medidas presentes neste documento

    para prevenir a Fraude:

    a. Implementação dos controles preventivos de fraude

     A função de recursos humanos (RH) de uma organização pode desempenhar um papel

    importante na prevenção de fraude, obtendo, na fase de recrutamento, informações credíveis

    sobre a idoneidade do candidato a ser admitido, mediante a aplicação dos seguintes

    procedimentos:

     A chave do negócio de risco e fraude em qualquer organização está nas pessoas

    contratadas para operar o negócio e nas que são promovidas para posições de confiança e

    autoridade. Por essa razão, é importante conhecer os funcionários, a fim de avaliar as suas

    credenciais e competência, habilidades para as exigências do trabalho, e estar ciente de

    quaisquer questões de integridade pessoal que podem afetar a sua aptidão para o cargo.

    Muito pode ser aprendido sobre um indivíduo através da confirmação do seu histórico de

    trabalho e da educação apresentados numa candidatura de emprego, ou pelo seu currículo,

    ou nas confirmações das referências fornecidas. É possível encontrar informações falsas,ou eventos não revelados de reputação, que podem representar um aumento de risco,

    possivelmente inaceitável.

    Enquanto a organização deva estabelecer procedimentos para obter informações suficientes

    para avaliar um candidato a emprego, ou a uma promoção, a natureza e a extensão da

    informação que pode ser solicitada, seja a um colaborador em perspetiva, ou existente, ou

    obtidos de forma independente, é regida por leis e regulamentos aplicáveis. A verificação

    de antecedentes criminais, ou da situação financeira pessoal só pode ser possível com o

    consentimento do indivíduo em questão. O departamento jurídico deve ser procurado para

    aconselhar sobre quais as informações que podem ser obtidas e quais os procedimentos

    adequados a seguir.

     A verificação histórica também deve ser realizada aos novos e aos fornecedores já existentes,

    clientes e parceiros de negócios, para identificar quaisquer problemas de saúde financeira,

    de reputação e de integridade, que podem representar um risco inaceitável para o negócio.

    b. Formação Antifraude

    Uma organização pode contratar ou promover pessoas competentes que, tendo sido

    submetidas a verificações de antecedentes apropriadas, representam um baixo risco

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    Revista Portuguesa de Contabilidade16 vol. V nº 019

    de fraude. É possível que essas pessoas tenham uma compreensão abrangente do que

    a fraude é, e quais são as suas  red flags, e uma apreciação do seu potencial que pode

    devastar uma organização. Não deve, porém, ser descurada a necessidade delas receberem

    uma orientação inicial e uma formação permanente sobre o programa de gestão de risco

    de fraude implementado na organização, independentemente das posições que esses

    indivíduos vão ocupar na organização. Essa formação serve para estabelecer e reforçar a

    politica da gestão de topo em relação à responsabilidade dos indivíduos e dos processos

    que lidam com as suspeitas de fraude.

    O grupo de RH de uma organização é muitas vezes responsável por desenvolver e fornecer a

    formação necessária sobre a finalidade do programa de gestão de risco de fraude, incluindo

    os códigos de conduta e ética, o que constitui fraude, e o que fazer quando há suspeita de

    fraude. A eficácia dessa formação é dependente da presença obrigatória dos colaboradores,

    com atualizações periódicas e respetivas sessões de atualização.

    c.  Avaliação do Desempenho e dos Programas de Remuneração

    Os Gestores de RH devem estar envolvidos nos programas de gestão de desempenho e

    de remuneração. A gestão de desempenho envolve a avaliação do comportamento dos

    funcionários e desempenho, bem como a competência relacionada com o trabalho. É uma

    característica humana querer o reconhecimento da sua competência e a recompensa pelo

    seu desempenho e sucesso positivo. A avaliação regular e robusta de desempenho dos

    funcionários com feedback   em tempo útil e construtivo, permite desenvolver um longo

    percurso para a prevenção de possíveis problemas.

     A recompensa também pode ser refletida na remuneração. Desta forma, através da realização

    de pesquisas de remunerações e análise do mercado local, os RH podem determinar se a

    alta administração e os funcionários são remunerados de forma adequada e, portanto, o

    tipo de condução desejado através de um equilíbrio entre a remuneração fixa e variável. No

    entanto, convém, considerar que no respeita aos gestores, cuja remuneração é amplamente

    baseada em bónus relacionados com indicadores de desempenho de curto prazo, existe

    o risco desses indicadores serem adulterados para que os gestores possam receber esse

    bónus.

    d. Realização de entrevistas de saída

    Uma política de realização de entrevistas de saída de funcionários demitidos ou que pediram

    demissão pode auxiliar a prevenção e a deteção de fraude. Estas entrevistas podem ajudar

    os gestores de RH a determinar se existem questões relativas à integridade da gestão ou

    à informação a respeito de condições propícias à fraude. Os RH devem, também, rever o

    conteúdo e as informações contidas em cartas de demissão, pois podem conter informações

    sobre possíveis fraudes e má conduta existente dentro da organização.

  • 8/17/2019 A prevenção de fraude e a afirmação da auditoria forense

    17/20

    17Revista Portuguesa de Contabilidade nº 019 vol. V

    e. Limites de autoridade

    Uma organização pode estabelecer níveis de aprovação de autoridade em toda a empresa,

    de modo a desenvolver um controlo de nível de entidade. Por outro lado, aos indivíduos que

    trabalham dentro de uma função específica pode ser atribuído apenas um acesso limitado

    de TI como um controle ao nível dos processos. Estes tipos de controlos, apoiados poruma segregação adequada de funções, são importantes na primeira linha de defesa na

    prevenção da fraude.

    f. Procedimentos ao nível das Transações

    O Controlo de transações com terceiros e com partes relacionadas também pode ajudar a

    prevenir a fraude. Porque esquemas de fraude muitas vezes envolvem o uso de entidades /

    indivíduos de terceiros, as organizações precisam de medidas exaustivas no front-end que

    irão impedir as atividades de back-end. Falsos vendedores ou funcionários são dois dos

    esquemas mais óbvios e anotados nesta área.

     As medidas preventivas são especialmente necessárias para as transações com partes

    relacionadas, podendo ser efetuadas por membros da direção, ou por funcionários

    mandatados de uma entidade externa com a qual a organização é representada na realização

    de um negócio, no sentido se se obterem benefícios pessoais à custa da organização.

    g. Documentação de Técnicas de Prevenção de Fraudes

    Uma organização deve documentar formalmente as técnicas desenvolvidas e

    implementadas para evitar fraudes. Isso inclui processos de documentação usados para

    avaliar o desempenho dos controlos preventivos de fraude, ou para indicar quando tais

    controlos são ineficazes. Procedimentos de testes realizados para garantir o funcionamento

    adequado de controlos preventivos de fraude e os resultados dos testes também devem ser

    cuidadosamente documentados.

    Junto a esta documentação deve constar uma descrição detalhada dos elementos e

    das técnicas de prevenção de fraudes da organização, com ênfase sobre os papéis e

    responsabilidades de todas as partes envolvidas.

    h.  Avaliar Prevenção a Fraudes da Organização As organizações devem avaliar periodicamente os seus programas de gestão de riscos de

    fraude, assim como, a avaliação das técnicas de prevenção de fraude utilizadas, promovendo

    a melhoria da sua gestão de riscos. As organizações com grandes preocupações e obrigações

    perante a prevenção da fraude podem recorrer a especialistas externos independentes, para

    avaliar suas técnicas de prevenção de fraude.

    i. Monitorização Contínua da fraude e controles preventivos

    O plano da organização, a abordagem e o âmbito de monitorizar as suas técnicas de

    prevenção da fraude, deve ser documentado e atualizado conforme necessário. Com

  • 8/17/2019 A prevenção de fraude e a afirmação da auditoria forense

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    Revista Portuguesa de Contabilidade18 vol. V nº 019

    todas as partes envolvidas no processo de avaliação de risco e, subsequente elaboração

    das atividades de controlo, é difícil exigir que a prevenção da fraude seja monitorizada

    regularmente por uma entidade independente. Mas as revisões devem ser realizadas

    separadamente de quaisquer auditorias de rotina, ou planeada, e devem ser projetadas para

    assegurar a gestão da eficácia da prevenção de fraudes da organização.

     Antes de cada revisão do programa, temas como mudanças significativas na organização

    e seus riscos associados, mudanças no pessoal responsável pela execução das atividades

    e dos resultados das avaliações anteriores, irão determinar se o âmbito de aplicação do

    exame atual precisa ser alterado. Cada avaliação deve incluir elementos de prova de que a

    gestão mantém ativamente a responsabilidade pela supervisão do programa de gestão de

    risco de fraude, que foram tomadas as medidas corretivas oportunas e suficientes, tendo

    em consideração as deficiências de controlo ou fraquezas detetadas anteriormente, e que

    o plano para a monitorização do programa mantém-se adequada para garantir o sucesso

    contínuo do mesmo.

    6_LIMITAÇÕES DA AUDITORIA FORENSE:

    O acesso e a análise da informação estão normalizados por leis e regulamentos e requer,

    entre outros, competências específicas ao nível dos Recursos Humanos, assim como

    investimento. É também fundamental garantir-se a suficiência e a fiabilidade dos dados

    necessários à investigação. Atualmente, estes são alguns dos grandes desafios que asorganizações devem respeitar ou, conforme o caso, superar, para assegurarem a eficácia

    da auditoria contínua.

    Neste sentido, podem-se considerar como limitações comuns:

    • Conformidade legal.  Todo o processo de auditoria forense tem que ser

    desenvolvido em conformidade legal, com relevância para a legislação que

    protege os dados pessoais. A conformidade legal é obrigatória e, nalguns casos,

    poderá limitar a informação disponível. Existem informações que poderão ser

    relevantes para a investigação, mas que só podem ser acedidas por agentesda lei quando devidamente autorizados, por exemplo, o sigilo bancário, a

    informação pessoal presente em computadores, ou registos telefónicos.

    • Investimento. O investimento necessário para a formação dos auditores forenses,

    poderá ser considerado limitativo se disser respeito a um recurso interno da

    organização, pois o número de horas mensais necessário a esta actividade

    especifica poderá não justificar o investimento. No entanto, é importante salientar

    duas coisas, a primeira, é que a implementação dum sistema de prevenção

    de fraude produzirá um rápido retorno de investimento; a segunda, é que o

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    19Revista Portuguesa de Contabilidade nº 019 vol. V

    auditor forense poderá exercer outras funções em complemento, igualmente

    independentes, enquadradas numa equipa de auditoria interna.

    • Necessidade de constante reavaliação das regras definidas no sistema de

    prevenção de fraude. Por forma a combater a rotina dos testes forenses (um dos

    principais inimigos de qualquer auditoria), é fundamental avaliar a pertinência dosmesmos em eventos cujo risco está mitigado e é também importante identificar

    novos eventos de risco que justifiquem ser acompanhados.

    7_CONCLUSÃO

     A questão fundamental à qual se procurou responder ao longo desta comunicação, passou

    por confirmar, se vale a pena investir na prevenção da fraude.

     Foi possível perceber os diversos contornos que a fraude ocupacional tem, identificar, com

    uma segurança razoável, que os valores monetários que a fraude impacta nas organizações,

    exigem medidas a serem aplicadas em áreas críticas, com a finalidade de se prevenirem

    e se detetarem eventuais esquemas fraudulentos, afirmando-se assim a necessidade e a

    importância das auditorias forenses nas organizações.

    Os custos da fraude quando esta é prevenida, serão mais baixos, do que quando se tentam

    recuperar os valores que foram indevidamente apropriados por terceiros. Nesta perspetiva,

    as organizações devem adotar rapidamente uma política pró-ativa em vez de reativaChega-se à conclusão que é fundamental para o país e para as organizações, erradicar

    as situações que podem servir de incentivo a atos fraudulentos, impondo-se políticas e

    um investimento global estratégico para implementação de medidas ao nível da prevenção,

    maior celeridade na detecção e investigação da fraude.

    Com este trabalho pretende-se contribuir para reforçar junto das organizações importância

    da dissuasão de fraude, contrariando, cada vez mais, as ideias de facilidade e de impunidade

    que estarão na oportunidade de fraude.

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    Revista Portuguesa de Contabilidade20 vol. V nº 019

    BIBLIOGRAFIA 

     2014 Report to the Nations on Occupational Fraud and Abuse. Copyright 2014 by the

     Association of Certified Fraud Examiners, Inc.

    International Standard on Auditing 240, The Auditor’s Responsibilities Relating to Fraud in an Audit of Financial Statements

    Managing the Business Risk of Fraud: a Practical Guide. Institute of Internal Auditors – IIA;

     The American Institute of Certified Public Accountants – AICPA; Association of Certified

    Fraud Examiners – ACFE Managing the Business Risk of Fraud: a Practical Guide.

    ROQUE, Pedro. Auditor Forense - Contributo para a definição de uma nova profissão em

    Portugal . [em linha] (s.d) [consult. em 27 Abr. 2015] Disponível em: http://www.otoc.pt/news/ 

    comcontabaudit/pdf/128.pdf 

    WELLS, Joseph T. – Fraude na empresa: prevenção e deteção. 2ª ed. Coimbra: Edições

     Almedina. SA, 2009. ISBN 978-972-40-3757-8