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1 A POBREZA NO RIO GRANDE DO SUL: Evidências a partir de uma análise multidimensional no período de 2007 a 2014 Andréa Ferreira da Silva 1 Jair Andrade Araujo 2 Eryka Fernanda Miranda Sobral 3 Janaildo Soares de Sousa 4 RESUMO A pobreza é um tema bastante discutido na literatura das ciências socias, ante a sua implicação nas satisfações de necessidades básicas da população, que pode abranger tanto aspectos monetários como não monetários. Nesse sentido, o presente artigo tem como objetivo apresentar novas perspectivas para a compreensão da pobreza multidimensional na Unidade Federativa (UF) do Rio Grande do Sul nos anos de 2007 a 2014. Como metodologia utilizou-se da proposta dos autores Bourguignon e Chakravarty (2003), que apresentam uma forma alternativa de medir a multidimensionalidade da pobreza. Com dados retirados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), tomou-se como referência a abordagem das necessidades básicas e a Teoria das Capacitações que define pobreza como um fenômeno multidimensional. Os resultados das seis dimensões analisadas revelaram uma redução na proporção de pobres multidimensionais da população gaúcha, de 22,57% em 2007, para 19,90% em 2014. Para as análises isoladas das regiões metropolitana, urbana e rural, verificou-se que a pobreza foi mais intensa na região rural. E para a análise de grupos etários, constatou-se o grupo dos idosos como os mais privados, destacando para tais maior déficit na saúde. Palavras - Chave: Pobreza Multidimensional; Privação; Gap. ABSTRACT Poverty is an issue widely discussed in the literature of social sciences discourse, before his involvement in basic needs satisfaction of the population, which can cover both monetary aspects as non-monetary. In this sense, this article aims to present new perspectives for the understanding of multidimensional poverty in the Federal Unit (UF) of Rio Grande do Sul in 2007 and 2014. The methodology used is the proposal of the authors Bourguignon and Chakravarty (2003 ), which present an alternative way of measuring the multidimensionality of poverty. With data from the National Sample Survey of Households (PNAD), was taken as a reference to basic needs approach and the Theory of Capabilities that defines poverty as a multidimensional phenomenon. The results of the six dimensions analyzed showed a reduction in the proportion of poor dimensional Gaucho population, 22.57% in 2007 to 19.90% in 2014. For analysis of the isolated metropolitan, urban and rural areas, it was found that poverty was more intense in the countryside. And for the analysis of age groups, there was the group of the elderly as the most private, pointing to such larger deficit in health. Keywords: Multidimensional Poverty; Deprivation; Gap. Área: Economia Regional e Urbana Código JEL: C01, I32 1 Economista. Mestre em Economia Rural pela UFC. Doutoranda do Curso de Pós-Graduação em Economia - PPGE, Universidade Federal da Paraíba (UFPB). E-mail: [email protected]. Cel.: (83) 99845-3167. 2 Prof. Dr. Adjunto do Curso de Mestrado em Economia Rural (MAER). Endereço: Av. Mister Hull, Bloco 826 - Campus do Pici/UFC. Fortaleza/Ceará. Cep: 60.356-000, Fone: (85)33669720. E-mail: [email protected]. 3 Economista. Mestre em Economia pelo PPGECON/UFPE/CAA. Doutoranda do Curso de Pós-Graduação em Economia - PPGE, Universidade Federal da Paraíba (UFPB). E-mail: [email protected]. 4 Economista. Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal do Ceará MAER/UFC. Doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Ceará UFC. E-mail: [email protected].

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1

A POBREZA NO RIO GRANDE DO SUL: Evidências a partir de uma análise multidimensional

no período de 2007 a 2014

Andréa Ferreira da Silva1

Jair Andrade Araujo2

Eryka Fernanda Miranda Sobral3

Janaildo Soares de Sousa4

RESUMO

A pobreza é um tema bastante discutido na literatura das ciências socias, ante a sua implicação nas

satisfações de necessidades básicas da população, que pode abranger tanto aspectos monetários como não

monetários. Nesse sentido, o presente artigo tem como objetivo apresentar novas perspectivas para a

compreensão da pobreza multidimensional na Unidade Federativa (UF) do Rio Grande do Sul nos anos

de 2007 a 2014. Como metodologia utilizou-se da proposta dos autores Bourguignon e Chakravarty

(2003), que apresentam uma forma alternativa de medir a multidimensionalidade da pobreza. Com dados

retirados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), tomou-se como referência a

abordagem das necessidades básicas e a Teoria das Capacitações que define pobreza como um fenômeno

multidimensional. Os resultados das seis dimensões analisadas revelaram uma redução na proporção de

pobres multidimensionais da população gaúcha, de 22,57% em 2007, para 19,90% em 2014. Para as

análises isoladas das regiões metropolitana, urbana e rural, verificou-se que a pobreza foi mais intensa na

região rural. E para a análise de grupos etários, constatou-se o grupo dos idosos como os mais privados,

destacando para tais maior déficit na saúde.

Palavras - Chave: Pobreza Multidimensional; Privação; Gap.

ABSTRACT

Poverty is an issue widely discussed in the literature of social sciences discourse, before his involvement

in basic needs satisfaction of the population, which can cover both monetary aspects as non-monetary. In

this sense, this article aims to present new perspectives for the understanding of multidimensional poverty

in the Federal Unit (UF) of Rio Grande do Sul in 2007 and 2014. The methodology used is the proposal

of the authors Bourguignon and Chakravarty (2003 ), which present an alternative way of measuring the

multidimensionality of poverty. With data from the National Sample Survey of Households (PNAD), was

taken as a reference to basic needs approach and the Theory of Capabilities that defines poverty as a

multidimensional phenomenon. The results of the six dimensions analyzed showed a reduction in the

proportion of poor dimensional Gaucho population, 22.57% in 2007 to 19.90% in 2014. For analysis of

the isolated metropolitan, urban and rural areas, it was found that poverty was more intense in the

countryside. And for the analysis of age groups, there was the group of the elderly as the most private,

pointing to such larger deficit in health.

Keywords: Multidimensional Poverty; Deprivation; Gap.

Área: Economia Regional e Urbana

Código JEL: C01, I32

1 Economista. Mestre em Economia Rural pela UFC. Doutoranda do Curso de Pós-Graduação em Economia - PPGE,

Universidade Federal da Paraíba (UFPB). E-mail: [email protected]. Cel.: (83) 99845-3167. 2 Prof. Dr. Adjunto do Curso de Mestrado em Economia Rural (MAER). Endereço: Av. Mister Hull, Bloco 826 - Campus do

Pici/UFC. Fortaleza/Ceará. Cep: 60.356-000, Fone: (85)33669720. E-mail: [email protected]. 3 Economista. Mestre em Economia pelo PPGECON/UFPE/CAA. Doutoranda do Curso de Pós-Graduação em Economia -

PPGE, Universidade Federal da Paraíba (UFPB). E-mail: [email protected]. 4 Economista. Mestre em Economia Rural pela Universidade Federal do Ceará – MAER/UFC. Doutorando em

Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Ceará – UFC. E-mail: [email protected].

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1 INTRODUÇÃO

O problema da pobreza em um país é, em geral, decorrente de políticas macroeconômicas

inconsistentes que acumuladas ao longo do tempo levam à estagnação, ao desemprego e à queda de

investimentos na economia. Uma das consequências disto se reflete no baixo crescimento econômico que

agrava ainda mais a pobreza.

O estado do Rio Grande de Sul (RS) encontra-se na região com menores taxas de extrema pobreza

do Brasil, conforme informações coletadas pela PNAD, quando se tem a região sul registrando para os

anos de 2004, 2011 e 2014, taxas nos valores de 3,1%, 1,7% e 1,1%, respectivamente. Entretanto, ao

comprar o RS com os demais estados, a partir do censo demográfico 2010 do IBGE, ele encontrava-se na

21º posição com relação à proporção de pessoas extremamente pobres, num total de 1,90%, superando

apenas o resultado dos estados do Paraná, Rio de Janeiro, Goiás, São Paulo, Santa Catarina e Distrito

Federal, com proporção de pessoas extremamente pobres de 1,80%, 1,70%, 1,70%, 1,10%, 0,90% e

0,90%, respectivamente.

A partir do IPEA pode-se constatar que de 2007 a 2014, a taxa de extrema pobreza caiu 62,29%

no estado, sendo o segundo estado da região sul que menos reduziu pobreza, em comparação a Santa

Catarina e Paraná que também apresentaram redução, respectivamente de 38,70% e 62,65%. Porém, tais

resultados levam em consideração a pobreza de uma forma unidimensional, apenas pela ótica da renda,

não levando em consideração, assim, aspectos relacionados a privação de demais fatores para uma boa

qualidade de vida.

Com efeito, constata-se a relevância do tema aqui abordado por meio do expressivo volume de

artigos científicos produzidos pelas mais diversas instituições no estado do Rio Grande do Sul. Uma das

principais variáveis, senão a maior, da causa da pobreza se relaciona a renda domiciliar per capita. No

entanto, poucos são aqueles que tratam a pobreza enquanto fenômeno multidimensional, a saber, Comim

e Bagolin (2002), Picolloto (2005), Brites et. al. (2015), Comim et. al. (2006), Bagolin et. al. (2007),

Martins e Junior (2013), e Avila e Bagolin (2014), todos concluindo em comum que a renda não é um

indicador completo de qualidade de vida.

Salienta-se que, em meados da década de 1980, a pobreza é sim apresentada como um fenômeno

multidimensional. Nessa abordagem, para definir os pobres de uma determinada população ou região,

além da análise de informações sobre a renda, consideram-se também, características sociais, culturais e

políticas que influenciam no bem-estar dos indivíduos. Daí, a necessidade da ampliar as análises da

pobreza do estado do Rio Grande do Sul, agora não mais apenas pela ótica da renda. A saber, que se

focalize no estudo das necessidades básicas e se incremente à definição de pobreza um caráter

multidimensional.

Assim sendo, o presente trabalho se propõe a apresentar novas perspectivas para a compreensão

da pobreza multidimensional no estado de Rio Grande do Sul, em relação aos anos de 2007 a 2014,

considerando outras dimensões além da renda. A ideia é auxiliar políticas públicas centradas na sua

diminuição e a consequente aceleração do processo de desenvolvimento. Acredita-se fortemente que os

resultados do exercício empírico poderão servir para uma discussão sobre o estudo de pobreza

multidimensional, inclusive em outros estados da região sul do Brasil, por apresentarem características

semelhantes ao estado analisado.

Apesar da existência de outros estudos sobre o tema, o diferencial desta pesquisa é que nela se

considera – além de diversos indicadores que mensuram a pobreza multidimensional, na dimensão

educação, por exemplo – as prerrogativas da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/1996) que

estabelece as diretrizes e bases da educação. Nesta lei está dito existir um nível de escolaridade mínima

requerida para uma determinada faixa etária de idade dos estudantes, mas que não fora não contemplada

em estudos anteriores. Logo, esse artigo pode ser visto como complemento aos demais existentes sobre

estudos de pobreza.

3

A metodologia apresentada foi construída por Bourguignon e Chakravarty (2003) e detalhada por

Mideros (2012)5. Apresenta-se uma forma alternativa de medir a pobreza ao especificar uma linha de

pobreza para cada dimensão.

As informações foram construídas através da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

(PNAD). Serão sete os anos estudados, a partir da década de 2000, ou seja, de 2007 a 2014. E a

justificativa para a escolha deste período não é outra senão o fato de que em 2007 já haviam transcorrido

quatro anos desde o início das ações governamentais sob a liderança do Partido dos Trabalhadores, o PT,

no governo federal. Acredita-se que as políticas públicas somente tenham efeito algum tempo depois de

implementadas.

O artigo está dividido em cinco seções. Inicialmente, na seção 2, serão discutidas a pobreza

multidimensional suas abordagens, determinação e algumas evidências. Na terceira seção se apresenta a

base de dados e a construção das dimensões utilizadas. Na quarta seção especifica-se a metodologia. Na

quinta seção são analisados os resultados do modelo. Na última são apresentadas as principais conclusões.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Pobreza Multidimensional: abordagem das necessidades básicas e a abordagem das

capacitações

Desde a década de 1970, proliferaram as investigações acerca da adoção da perspectiva

unidimensional no estudo da pobreza, o que levou alguns autores a buscarem formas alternativas de

analisá-la. A ideia era a de incorporar à pobreza, e a seus meios de medidas, dimensões não monetárias e

particularmente sociais e políticas (SALAMA e DESTREMAU, 1999). Desde então, esse movimento se

intensificou, o que permitiu que o enfoque multidimensional da pobreza ganhasse espaço no debate, a

despeito da permanência da abordagem unidimensional. No estudo multidimensional da pobreza, duas

abordagens têm se destacado: a das necessidades básicas e a abordagem das capacitações.

Salama e Destremau (1999) detalharam a abordagem das necessidades básicas na definição de

pobreza ao considerar essencial o acesso a alguns bens, sem os quais os cidadãos não seriam capazes de

usufruírem uma vida minimamente digna, a saber: água potável, rede de esgoto, coleta de lixo, acesso ao

transporte público e educação, que são bens imprescindíveis para que os indivíduos possam levar vidas

saudáveis e tenham chances de inserção na sociedade.

Rocha (2006) ainda define que essa abordagem significa ir além daquelas definições de

alimentação ou nutrição, para, assim, incorporar uma noção mais ampla das necessidades humanas, tais

como educação, saneamento, habitação. Essa noção de pobreza abrange outros aspectos da vida cotidiana

dos indivíduos, pelo simples fato de que elas não apenas se alimentam, mas se relacionam, e trabalham,

tendo, portanto, uma vida social.

De acordo com Stewart (2006), a abordagem das necessidades básicas tem, apenas, a intenção de

complementar o crescimento econômico, pois considera que este é essencial na geração de renda às

populações pobres e de receitas públicas que assegurem a oferta dos bens e serviços públicos. Trata-se

apenas de refutar o argumento de que o crescimento econômico é somente condição suficiente para

reduzir ou evitar a pobreza.

Já com relação a abordagem das capacitações, Lacerda (2009) destaca os trabalhos do economista

Amartya Sen os quais se constituíram um ponto de inflexão na formulação dessa teoria. A intenção dessa

abordagem não se restringe apenas à análise da pobreza. Ela traz contribuições importantes para a teoria

do bem-estar social e para a teoria do desenvolvimento socioeconômico.

Thorbecke (2008) afirma que a compreensão do conceito de pobreza tem melhorado e se

aprofundado consideravelmente nas últimas três décadas ou mais precisamente após os trabalhos de Sen.

Atualmente, há ferramentas empíricas que identificam e localizam os pobres, além de descrever suas

características e medir o grau de pobreza em diferentes níveis de agregação. No entanto, apesar de todo o

5 A propósito, Mideros (2012) não está referenciado nos demais trabalhos.

4

avanço metodológico na análise da pobreza, um número conceitual de pontos continuam ainda a ser

abordados ou esclarecidos.

Ao se destacar por ser uma abordagem não utilitarista da pobreza, a abordagem das capacitações é

uma vertente particular do desenvolvimento econômico, segundo o qual a liberdade é um elemento

substantivo básico na vida das pessoas (SILVA, 2009). Entende-se que os indivíduos têm o direito de

praticarem suas liberdades e de fazerem respeitar seus direitos na busca de analisar as diferentes formas

de acesso aos recursos privados e coletivos. É importante ressaltar não apenas os direitos sociais, mas

também os direitos civis e políticos.

De acordo com Sen (1997), a pobreza representa uma situação na qual as oportunidades mais

básicas ao desenvolvimento dos indivíduos, enquanto cidadãos, são negadas. Significando, assim, a

privação de uma boa saúde, de usufruir de uma vida criativa e ter um padrão de vida digna, de liberdade,

de decência, de amor próprio, entre outras privações.

Conforme Kuklys (2005), a abordagem das capacitações opera claramente em dois níveis. O

primeiro refere-se à realização de bem-estar que é mensurado em termos de “funcionamentos”. Entende-

se que funcionamentos refletem vários acontecimentos ou bens que um indivíduo pode considerar valioso

fazer ou ter. O segundo diz respeito ao potencial de bem-estar que é estimado em termos de

“capacidades”. Em que um indivíduo consiste nas diversas combinações de funcionamentos cuja

realização é possível para ele. Assim, a capacidade é um tipo de liberdade, a liberdade provável de

realizar combinações alternativas de funcionamentos.

Nessa perspectiva, Bourguignon e Chakravarty (2003) afirma que o bem-estar é intrinsecamente

multidimensional sobre o ponto de vista das capacitações e funcionamentos. Com efeito, funcionamentos

são minunciosamente motivados por atributos como capacidade de ler e escrever, expectativa de vida,

entre outros e não apenas pela renda.

Sen (1993), ainda aponta as restrições da renda per capita como único indicador de bem-estar ou

de privação econômica ao destacar que avaliar o sucesso econômico de uma nação somente pela renda,

como fim de mensurar riqueza, inviabiliza a análise dos demais indicadores de bem-estar da população e

exemplifica que um país com alta renda per capita e acesso restrito aos serviços de saúde e educação

básica pode ter menor expectativa de vida e maiores taxas de mortalidade, por outro lado, num país com

alto valor da disponibilidade de alimentos per capita pode existir partes da população desnutridos ou

famintos.

Anand e Sen (1997) alegam que a pobreza é a pior forma de privação e envolve a ausência de

oportunidades para se viver uma vida suportável, daí a necessidade de um aspecto multidimensional para

este fenômeno. Essa abordagem tem sido vista como uma vantagem, e ao envolver adequadamente uma

ampla visão de privação, sendo ela indispensável e importante.

Todavia, segundo Salama e Destremau (1999) existem críticos direcionados à abordagem

multidimensional da pobreza a qual apresenta evidências quantitativa e qualitativa: a primeira crítica

argumenta que a estimativa empírica da pobreza multidimensional é dificultada pela necessidade de

ponderação de múltiplos conceitos de pobreza em um único indicador. A segunda, de caráter qualitativo,

expõe que a abordagem multidimensional da pobreza pode criar um conflito entre as suas causas e a real

pobreza, referente à renda, no que pode levar a uma subestimação do papel da renda sobre esse fenômeno.

Cabe destacar que a opção pelo enfoque da pobreza multidimensional não significa o abandono da

renda como uma dimensão da pobreza, embora alguns trabalhos não incluam essa variável. Conforme

enfatizado por Sen (2000), a renda é uma importante dimensão da pobreza, mas não pode ser considerada

a única.

Por esta razão, Silva e Neder (2010) entendem que a pobreza baseada na escassez de renda não é

uma ideia totalmente infundada, já que a insuficiência de renda é limitadora dos atos dos indivíduos e a

principal causa da fome individual e coletiva. Uma renda inadequada é, com efeito, uma forte condição de

uma vida pobre.

Por isso os níveis de renda são relevantes, pois permitem que as pessoas adquiram bens e serviços

e que usufruam de um determinado padrão de vida. Por este motivo, a dimensão renda está presente na

maioria dos estudos multidimensionais.

5

Dentro desse contexto, esse artigo abordará diversos indicadores na definição da pobreza

multidimensional no estado do Rio Grande do Sul relativo ao período 2007 a 2014.

2.2 A determinação da pobreza multidimensional: Indicadores e Dimensões

Para Bourguignon e Chakravarty (2003) a pobreza já existe há muitos anos e continua a existir em

um grande número de países. A redução da pobreza continua a ser um importante problema em todos os

locais. E, a fim de conhecer as ameaças que a pobreza estabelece, é necessário conhecer a sua dimensão e

o processo por meio do qual ela é medida.

De acordo com Sen (1976), tal como no caso unidimensional, a medição da pobreza

multidimensional pode ser dividida conceitualmente em duas etapas distintas: identificação e agregação.

A etapa da identificação pressupõe o estabelecimento de um parâmetro, chamado de linha de pobreza que,

quando confrontado a um indicador de bem-estar, permite a classificação da população em dois grupos:

pobres e não pobres. Enquanto a agregação consiste na seleção de uma medida ou um índice de pobreza

específico que agregou as informações sobre pessoas pobres em um indicador global de pobreza (SEN,

1976).

De acordo com Oliveira (2012), para estabelecer um índice de pobreza multidimensional, um

conjunto de questões adicionais deve ser respondido: (i) Quais dimensões devem ser consideradas? (ii)

Como definir as linhas de pobreza para cada dimensão? (iii) Como devem ser ponderadas as dimensões?

(iv) Qual critério deve ser utilizado para classificar uma pessoa em situação de pobreza

multidimensional?

Mideros (2012) inicia seu trabalho com a seguinte indagação: “Porque é importante a redução da

pobreza?”. Para o autor, reduzir a pobreza é uma questão central no desenvolvimento de um país. Afirma

ainda que qualquer política de desenvolvimento coerente deve proporcionar uma solução para a pobreza.

Há uma grande variedade de políticas para combatê-la, o que vai depender é a abordagem utilizada para a

análise e a definição de pobreza escolhida.

Segundo Barros, Carvalho e Franco (2006), a literatura sobre a construção de indicadores

escalares de pobreza multidimensional passou por avanços recentes, mas ainda são muito comuns os

trabalhos que se concentram no caso unidimensional, onde a pobreza é tratada, sobretudo, como sinônimo

de insuficiência de renda das famílias.

Portanto, ainda de acordo com os autores supracitados, a importância de indicadores escalares de

pobreza multidimensional apresentam setes passos necessários para a construção de medidas de pobreza.

São eles: (1) Selecionando dimensões e indicadores; (2) A opção por um escalar; (3) Agregando

indicadores e dimensões; (4) Agregações e sequências das agregações; (5) Agregando a pobreza dos

agentes; (6) Linhas de pobreza; e (7) Medindo o grau de pobreza.

Vale enfatizar ainda que não existe uma forma única para sua construção. Silva e Barros (2006)

lembram que existem diversas possibilidades para a construção de um indicador escalar de pobreza

multidimensional. Ao se comparar dois índices distintos, mesmo que estes sejam compostos pelas

mesmas dimensões ou mesmas variáveis, o peso de cada variável pode diferir, assim como os métodos de

agregação.

Em uma abordagem multidimensional não se encaixa comparações de dimensões de estudos

diferentes entre países distintos. A análise é contextual e, assim gera informações relevantes para a

tomada de decisões e políticas públicas específicas de cada região ou país. Sendo assim, para Mideros

(2012), a seleção de dimensões deve ser especificada para cada contexto e com base nas metas de

desenvolvimento.

Quanto a seleção das variáveis das dimensões, deve-se incluí-las a partir das sugestões dadas pela

literatura sobre a pobreza multidimensional. Essas sugestões apontam para certo grupo de dimensões

básicas, que podem ser identificadas tanto na abordagem das necessidades básicas quanto na abordagem

das capacitações: educação, saúde, segurança alimentar, moradia, acesso aos serviços públicos básicos de

infraestrutura e trabalho.

6

2.3 Pobreza Multidimensional no Estado do Rio Grande do Sul, algumas evidências

O Rio Grande do Sul é um estado que se encontra presente na segunda região menos pobre do

país, conforme Cancin et. al. (2013), e destaca-se como uma das regiões mais industrializadas e

economicamente desenvolvidas. Porém, segundo Comim e Bagolin (2002), esse estado, de modo geral, e

comparado com as demais unidades federativas (UFs) brasileiras, pode não se destacar como um estado

de elevada pobreza monetária, mas que, como qualquer outro, apresenta uma população relativamente

pobre, quando em 2014, conforme dados da PNAD/IBGE (2014), aproximadamente 8 milhões de

indivíduos de sua população se encontravam na condição de extrema pobreza. Condição essa, que tem

levado alguns autores a investigarem sobre a presença de pobreza multidimensional na referida unidade

federativa.

Dessa forma, como exemplo da inquietação mencionada anteriormente, tem-se o trabalho de

Comim e Bagolin (2002), que com o objetivo de traçar um perfil da população pobre, no estado do Rio

Grande do Sul (RS), concluiu que essa não pode ser reduzida apenas ao aspecto monetário, mas que

apresenta um caráter multidimensional, a partir da privação de capacitações básicas. Ante a isso,

realizaram uma análise relativa de pobreza comparando os vinte municípios gaúchos em melhores

condições de vida e os vinte em piores condições de vida, conforme o Índice Social Municipal Ampliado

(ISMA). Os autores observaram que altos níveis de pobreza associados a maiores níveis de desigualdade

são mais visíveis através do comportamento de outras variáveis que não seja a renda, tais como, taxa de

mortalidade infantil e acesso à justiça. Tal evidência levou-os a sugerir que, para o estado do RS, a

pobreza em termos multidimensionais é maior do que a pobreza sugerida apenas unidimensionalmente,

pela falta de renda.

Nessa mesma perspectiva, porém, analisando os vinte municípios com maiores IDHs e os vinte

municípios com piores, Picolloto (2005) pôde verificar que não ocorre equivalência entre indicadores

tradicionais de pobreza e privação de alguns funcionamentos tais como, percentual de crianças na escola,

número médio de anos de estudo, taxa de analfabetismo, percentual da população em domicílios com

instalações adequadas de esgoto, esperança de vida ao nascer, taxa de fecundidade e mortalidade infantil.

Os resultados puderam sugerir similarmente ao estudo de Comim e Bagolin (2002), que a renda não é um

indicador perfeito de qualidade de vida, mas uma perspectiva mais abrangente a partir da privação de

capacitações, conforme a proposta de Sen.

Baseado nessa discussão, Brites, Marin e Rohenkohl (2015) investigaram a incidência da pobreza,

a partir da Teoria dos Conjuntos Fuzzy, com a justificativa de que mesmo o Rio Grande do Sul não sendo

um estado pobre, há muitas pessoas que ainda estão próximas da condição de pobreza como privação em

diferentes dimensões. Assim, esses construíram índices fuzzy de pobreza (IFP) que permitiram a análise

da pobreza relativa entre os municípios gaúchos, a partir do Censo Demográfico de 2010, disponibilizado

pelo IBGE, levando em consideração quatro dimensões, sendo estas: condições de moradia, trabalho e

renda, acesso ao conhecimento e educação e saúde, de forma a não apenas identificar quem são os pobres

como na lógica binária, mas através de graus de proximidade com a pobreza, ou seja, consegue captar o

‘quão pobre o município’ e/ou em qual dimensão possui uma maior aproximação com a situação de

pobreza. Os resultados do IFP mostram que a dimensão que mais apresenta privação é trabalho e renda,

seguido de acesso ao conhecimento e educação, saúde, e por última, da dimensão condições de moradia,

sugerindo a necessidade de políticas públicas, que não visem apenas a insuficiência de renda, mas

também atentem para a ausência de serviços essenciais, como uma educação de qualidade, atendimento

de saúde pública, boas condições de moradia, água potável e segurança.

Comim et. al. (2006), levantando críticas sobre indicadores secundários, aplica questionários a

população da cidade de Porto Alegre-RS, com o objetivo, a partir de indicadores sob uma perspectiva

multidimensional como, saúde (ausência de doenças, não consumo de cigarros e visita a dentistas);

nutrição (consumo de frutas, legumes e verduras e consumo de carne); educação (anos de estudo,

aprovação e número de livros lidos), conhecimento (capital do Brasil, período do mandato do presidente,

partidos do presidente, governador e prefeito, e lógica); participação (atividades coletivas do bairro e

reuniões do orçamento participativo); amizade e confiança (amizade e confiança); solidariedade (ajuda

consulta e ajuda financeira); e liberdade e satisfação, verificar que a pobreza pode ser diminuída mesmo

7

que a renda dessas pessoas não sejam maior, por meio de políticas públicas especificas que levem em

consideração essas demais dimensões. Concluindo que, para o município de Porto Alegre, com base nas

privações mais expressivas dos entrevistados, há necessidade de políticas de prevenção de doenças

graves, de saúde bucal, de melhoria do ensino para aumentar o nível de escolaridade, diminuir as

reprovações e aumentar a leitura.

Na mesma linha de argumentação do trabalho anterior, o estudo de Bagolin et. al. (2007)

comprova algumas das evidências encontradas no trabalho de Comim et. al. (2006), relatado

anteriormente, também para a capital do estado, Porto Alegre. Ao destacar que 11% da população da

cidade se encontra abaixo da linha de pobreza, e que o resultado torna-se mais intenso quando, na

verdade, são utilizadas medidas multidimensionais de pobreza, enfatizando a realidade de das

disparidades regionais, de gênero, de acesso a oportunidades, a condições de habitação e saúde. Obtendo

resultados da existência de mais mulheres do que homens pobres, bem como, a heterogeneidade das

privações enfrentadas pelas pessoas nas diferentes regiões do referido estado.

Por sua vez, Cancian et. al. (2013) com o objetivo de analisar a distribuição espacial da pobreza e

da desigualdade de renda na região Sul do Brasil no período de 1991 a 2000, levou em consideração a

pobreza unidimensional, com foco monetário. E pôde constatar a existência de autocorrelação espacial

positiva entre os municípios da região, isto é, os municípios gaúchos puderam demonstrar haver

dependência espacial da pobreza e da desigualdade, porém, o Rio Grande do Sul a formação de clusters

do tipo alto-alto ocorreram em menores áreas do que no Paraná, indicando que municípios de maior nível

de pobreza não se encontram concentrados em uma determinada localidade.

Já Martins e Junior (2013), com os objetivos elaborar uma análise espacial da pobreza no Rio

Grande do Sul, por meio da verificação de clusters, similar a Cancian et. al. (2013), e de testar a

correlação de diferentes dimensões da pobreza, por meio de técnicas econométricas, pôde constatar para o

primeiro objetivo que existe um padrão regional (com indicadores de alto desempenho) na Região

Metropolitana de Porto Alegre e Serra, e na região de Cruz Alta e Passo Fundo, assim como, alguns

municípios pólo no estado, tais como Pelotas, Rio Grande, Santa Maria e Santa Rosa. Contudo, para o

segundo objetivo, puderam verificar que para o Estado existe uma forte relação positiva entre pobreza

monetária e carência de serviços públicos básicos de educação (taxa de analfabetismo), saúde (taxa de

mortalidade infantil) e saneamento (domicílios inadequados), o que evidencia a pobreza como um

fenômeno multidimensional, e não unidimensional como investigada por Cancian et. al. (2013).

Os autores Avila e Bagolin (2014) também realizaram análise espacial para a pobreza no estado, a

partir da metodologia de Análise Exploratória de Dados (AEDE), porém, comparando resultados na

condição unidimensional, pela ótica apenas da e renda, e pela condição multidimensional, construindo

para isso seu próprio indicador municipal de pobreza, a partir da metodologia do Índice de Pobreza

Humana (IPH), levando em consideração quatro dimensões, sendo estas: habitação e saneamento,

educação, saúde e renda. Os resultados obtidos com a análise espacial mostraram a existência de clusters

de pobreza no Rio Grande do Sul independentemente do índice usado para medi-la, mostraram que a

medição da pobreza por índices multidimensionais aponta para um maior número de municípios nessa

situação do que quando a análise é fundamentada apenas na renda e que os clusters de pobreza

encontram-se mais distribuídos pelo território gaúcho quando se analisa o problema pela ótica

multidimensional. Concluindo assim que, políticas públicas fundamentadas somente na renda serão

eficazes em um número menor de localidades do que as fundamentadas por meio do conceito

multidimensional de pobreza para o estado.

Como pode ser visto essa não é uma discussão inédita para o estado do Rio Grande do Sul. E com

a proposta de corroborar a ideia de que a pobreza é do tipo multidimensional, esse estudo pode ir mais

além dos demais, ao levar em consideração mais do que apenas quatro dimensões, como analisadas por

grande parte dos estudos nesta seção relatados, mas na verdade seis, que serão apresentadas a seguir.

3 BASE DE DADOS E CONSTRUÇÃO DAS DIMENSÕES

A fonte de dados utilizada para a construção dos indicadores e dimensões composto na pobreza

multidimensional foi a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) referentes aos anos de

8

2007 a 2014. Neste trabalho, foram consideradas seis dimensões na elaboração de um indicador

multidimensional (ver Tabela 1). Nota-se, além das 6 dimensões, 22 variáveis derivadas a partir das

variáveis originais extraídas das PNADs. Elas foram escolhidas com base na revisão da literatura acerca

da temática da pobreza, tanto sob o enfoque da teoria das necessidades básicas quanto da teoria das

capacidades.

Na Tabela 1 estão os indicadores l

kiX , construídos para i={1,2,...,n} pessoas, j={1,2,...,h}

domicílios e , k={1,2,...,m} dimensões. Todos os indicadores têm um valor máximo de 1 (não privado) e

um mínimo de 0 (privação total). Os indicadores são definidos entre 0 e 1 para reduzir os problemas de

descontinuidade, mas são limitados pela informação disponível. Com o fim de obter diferentes conjuntos

de dados categóricos se estabelecem diferentes níveis equidistantes (ou seja, os indicadores são ordinal).

Os indicadores se agregam em cada dimensão sobre a base da seguinte função: 𝑋𝑖,𝑘 =

𝑔𝑘(𝑋𝑖,𝑘1 , … , 𝑋𝑖,𝑘

𝑝 ) para as variáveis l= {1, ..., p}, onde a função 𝑔𝑘(. ) é especifica de cada dimensão k.

Para identificar o nível de privação de cada dimensão, a reformulação dos índices se realiza utilizando a

formula: �̂�𝑖,𝑘 = 1 − 𝑋𝑖,𝑘, em que o nível de privação �̂�𝑖,𝑘 é interpretado como sendo o Gap relativo entre

o nível individual de 𝑋𝑘 e o limiar da privação 𝑧𝑘 = 1, com um valor máximo de 1 (privação total) e um

mínimo de 0 (sem privação).

Tabela 1 - Dimensões e Indicadores da Pobreza Multidimensional Dimensões Variáveis Derivadas Indicadores

Alimentos e Água Água na Moradia 𝑋𝑖,1

1 = {1, 𝑠𝑒 𝑠𝑖𝑚0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜

Capacidade de compra de alimentos 𝑋𝑖,1

2 = 𝑚𝑖𝑛 {1,𝑟𝑒𝑛𝑑𝑎 𝑝𝑒𝑟 𝑐𝑎𝑝𝑖𝑡𝑎𝑗;𝑖 ∈𝐽

𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎 𝑑𝑒 𝑝𝑜𝑏𝑟𝑒𝑧𝑎}

Comunicação e Informação Telefone 𝑋𝑖,2

1 = {1, 𝑠𝑒 𝑠𝑖𝑚0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜

Televisão 𝑋𝑖,2

2 = {1, 𝑠𝑒 𝑠𝑖𝑚0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜

Computador 𝑋𝑖,2

3 = {1, 𝑠𝑒 𝑠𝑖𝑚0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜

Internet 𝑋𝑖,2

4 = {1, 𝑠𝑒 𝑠𝑖𝑚0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜

Educação Ensino Primário 𝑋𝑖,3

1 = {1, 𝑠𝑒 𝑡𝑖𝑣𝑒𝑟 1 𝑎 5 𝑎𝑛𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑡𝑢𝑑𝑜

𝑛𝑎 𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑎𝑑𝑒𝑞𝑢𝑎𝑑𝑎0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜

Ensino Fundamental incompleto 𝑋𝑖,3

2 = {1, 𝑠𝑒 𝑡𝑖𝑣𝑒𝑟 4 𝑎 9 𝑎𝑛𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑡𝑢𝑑𝑜

𝑛𝑎 𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑎𝑑𝑒𝑞𝑢𝑎𝑑𝑎0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜

Ensino Fundamental completo 𝑋𝑖,3

3 = {1, 𝑠𝑒 𝑡𝑖𝑣𝑒𝑟 8 𝑎 14 𝑎𝑛𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑡𝑢𝑑𝑜

𝑛𝑎 𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑎𝑑𝑒𝑞𝑢𝑎𝑑𝑎0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜

Ensino Médio incompleto 𝑋𝑖,3

4 = {1, 𝑠𝑒 𝑡𝑖𝑣𝑒𝑟 12 𝑎 15 𝑎𝑛𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑡𝑢𝑑𝑜

𝑛𝑎 𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑎𝑑𝑒𝑞𝑢𝑎𝑑𝑎0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜

Ensino Médio completo

𝑋𝑖,35 = {

1, 𝑠𝑒 𝑡𝑖𝑣𝑒𝑟 𝑎𝑐𝑖𝑚𝑎 𝑑𝑒 15 𝑎𝑛𝑜𝑠 𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑡𝑢𝑑𝑜 𝑛𝑎 𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑎𝑑𝑒𝑞𝑢𝑎𝑑𝑎

0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜

9

Proporção de crianças na escola 𝑋𝑖,3

6 = {1, 𝑠𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑝𝑜𝑟çã𝑜 > 0

0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜

Condições de Moradia Tipo de Moradia

𝑋𝑖,41 = {

1, 𝑠𝑒 𝑎 𝑐𝑎𝑠𝑎 é 𝑝𝑟ó𝑝𝑟𝑖𝑎0,5 𝑠𝑒 𝑎 𝑐𝑎𝑠𝑎 𝑝𝑟ó𝑝𝑟𝑖𝑎 𝑝𝑎𝑔𝑎𝑛𝑑𝑜

0, 𝑠𝑒 𝑜𝑢𝑡𝑟𝑜𝑠

Iluminação 𝑋𝑖,4

2 = {1, 𝑠𝑒 𝑎𝑑𝑒𝑞𝑢𝑎𝑑𝑜

0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜

Material da parede 𝑋𝑖,4

3 = {1, 𝑠𝑒 𝑎𝑑𝑒𝑞𝑢𝑎𝑑𝑜

0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜

Material do teto 𝑋𝑖,4

4 = {1, 𝑠𝑒 𝑎𝑑𝑒𝑞𝑢𝑎𝑑𝑜

0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜

Nº de pessoas por dormitório 𝑋𝑖,5

5 = {1, 𝑠𝑒 < 30, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜

Saúde Esgotamento sanitário 𝑋𝑖,5

1 = {1, 𝑠𝑒 𝑎𝑑𝑒𝑞𝑢𝑎𝑑𝑜

0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜

Condição Sanitária 𝑋𝑖,5

2 = {1, 𝑠𝑒 𝑎𝑑𝑒𝑞𝑢𝑎𝑑𝑜

0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜

Eliminação do lixo 𝑋𝑖,5

3 = {1, 𝑠𝑒 𝑎𝑑𝑒𝑞𝑢𝑎𝑑𝑜

0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜

Trabalho e Demografia Trabalho precário 𝑋𝑖,6

1 = {1, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜0, 𝑠𝑒 𝑠𝑖𝑚

Razão de dependência por domicílio 𝑋𝑖,6

2 = {1, 𝑠𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑝𝑜𝑟çã𝑜 < 1

0, 𝑠𝑒 𝑛ã𝑜

Fonte: Elaboração pelos próprios autores a partir dos dados da PNADs.

A dimensão 1: alimentos e água, a variável água mede se há abastecimento de água apropriada na

moradia. Já a segunda, captura a capacidade de compra de alimentos, por meio da condição monetária,

fazendo uma relação da renda per capita do indivíduo com a linha de pobreza utilizada. As linhas de

pobreza utilizadas foram do Instituto de Estudo do Trabalho e Sociedade (IETS), elaboração de Sônia

Rocha com base na POF (Pesquisa de Orçamento Familiar).

A dimensão 2: comunicação e informação também entram na análise, considera como indivíduos

privados os que não possuem meios de informação para a vivência na sociedade atual. As variáveis

adotadas no estudo são: telefone, televisão, computador e internet.

A dimensão 3: educação, apresenta mais uma novidade para a mensuração da pobreza

multidimensional no estado do Rio Grande do Sul. Leva em consideração a Lei de Diretrizes e Bases da

Educação (Lei 9.394/1996), que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, na qual afirma que

há um nível de escolaridade mínima requerida para uma determinada faixa etária.

Assim, para o morador com nível de escolaridade maior do que o requerido na sua idade, é

considerado não privado, caso contrário, privado. Considerando também os indivíduos de 18 anos ou

mais que não tenham a quantidade de anos de estudos referentes a conclusão do ensino médio, sendo este

considerado carente com relação a anos de estudo não sendo capaz de conseguir um emprego digno sem

ao menos o ensino médio concluído, seria considerado privado.

Sendo assim, a dimensão educação está dividida em 6 variáveis em análise, a idade adequada

referente a cada etapa escolar: Ensino primário, ensino fundamental incompleto e completo, ensino médio

incompleto e completo. Essas categorias, em cujas especificações se levou em conta o número de anos de

estudo mínimos exigidos para conclusão dos níveis de ensino. Ao incluir essa variável no indicador, a

intenção foi captar não somente o ano de estudo médio por indivíduo, mas também o “contexto

educacional” no qual o indivíduo está inserido.

10

A proporção de crianças da escola diz respeito ao total de crianças no domicílio. De acordo com a

Lei nº 8.069/90, art. 2º, considera-se criança a pessoa até 12 anos de idade incompletos, e adolescentes

aquela entre doze e dezoito anos de idade.

A dimensão 4: Condições de moradia, na sua análise foram utilizadas as variáveis tipo de

moradia, iluminação, material de parede, material do teto, e número de pessoas por dormitório. Ainda que

essas variáveis possam ser discutidas quanto à sua utilidade na análise da pobreza, percebe-se que a

ausência de condições adequadas de moradia se configura em um tipo de privação importante, além de ser

um abuso aos direitos sociais garantidos pelo texto constitucional brasileiro.

E outro ponto relevante do estudo dado nessa seção é a dimensão 5: saúde. Como não existem

variáveis especificas que possa trazer informações a respeito dessa dimensão, serão utilizados proxies

para estudá-la, sendo elas: esgotamento sanitário, condição sanitária e eliminação do lixo. A justificativa

para essa escolha repousa no entendimento de que a falta de acesso, ou o acesso inapropriado, a qualquer

uma dessas variáveis pode ocasionar sérios prejuízos à saúde do indivíduo, principalmente no que diz

respeito à saúde básica.

E por fim, na dimensão 6: trabalho e demografia, tem-se: trabalho precário e a razão de

dependência por domicilio. Classificou-se como situação de trabalho precário aquela na qual o

trabalhador não era segurado da previdência social nem contribuinte de outro instituto de previdência e,

por isso, não tinha proteção contra os chamados riscos sociais (incapacitantes ao trabalho).

E a variável razão de dependência é um indicador demográfico utilizado nas análises de mercado

de trabalho, pois trata da relação entre pessoas em idade potencialmente inativa e pessoas em idade

potencialmente ativa. As pessoas com idade inferior a 14 anos ou igual ou superior a 60 anos foram

definidas como dependentes. A especificação do limite na idade de 60 anos ou mais se pautou no que foi

estabelecido pelo Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003), que considera idoso os indivíduos que estão nessa

faixa etária (LACERDA, 2009).

4 METODOLOGIA

Conforme Bourguignon e Chakravarty (2003) uma maneira simples de definir a pobreza e a

contagem do número de pobres é levar em consideração a possibilidade de ser pobre em qualquer

dimensão da pobreza. Uma forma de fazer isso é definir a variável indicador de pobreza. Um enfoque

multidimensional define a pobreza mediante um vetor de características particulares (TSUI, 2002).

Em termos gerais, um índice de pobreza multidimensional pode ser apresentado como uma

função:

𝑃(𝑋, 𝑧): 𝑀 × 𝑧 → 𝑅+1

em que 𝑋 ∈ 𝑀 é uma matriz de atributos, como renda, educação, saúde, (n x m), para 𝑖 = {1, 2, … , 𝑚}

pessoas e 𝑘 = {1, 2, … . 𝑚} dimensões, 𝑧 ∈ 𝑍 é um vetor de limites ou “níveis minimamente aceitáveis”

para diferentes atributos (BOURGUIGNON e CHAKRAVARTY, 2003).

Um índice pode ser construído por meio de pelo menos três diferentes abordagens

metodológicas: a abordagem axiomática, a teoria dos conjuntos fuzzy e a teoria das informações

(MAASOUMI e LUGO, 2008).

Com base em Bourguignon e Chakravarty (2003) - um índice multidimensional geral – pode ser

decomposto e cumpre os axiomas necessários, pode ser definido como:

𝑃(𝑋, 𝑧) =1

𝑛∑ 𝑓

𝑛

𝑖=1

(𝑚𝑎𝑥 {0; (1 −

𝑥𝑖,1

𝑧1)}

, … , 𝑚𝑎𝑥 {0; (1 −𝑥𝑖,𝑘

𝑧𝑘)}

) (1)

Ou de forma geral, como:

𝑃(𝑋, 𝑧) =1

𝑛∑ 𝑓

𝑛

𝑖=1

(𝑋𝑖,̂1, … , 𝑋𝑖,̂𝑚) (1.1)

11

Por abordagem vinculativa para definir f (∙) e usando uma variação no índice de Foster, Greer e

Thorbecke (1984) para capturar a severidade da pobreza, a pobreza multidimensional pode ser medida da

seguinte forma:

𝑃(𝑋, 𝑧) =1

𝑛∑ 𝑓

𝑛

𝑖=1

[1

𝑚∑ 𝑋�̂�,𝑘2

𝑛

𝑖=1

] (2)

Em (2) presume-se que as dimensões não são substituíveis mas se inter-relacionam com o nível

geral de pobreza, o que é consistente com uma abordagem baseada em dimensões de bem-estar. No nível

individual, mais peso é dado para as dimensões que apresentam um maior Gap de privação e, em seguida,

mais peso é atribuído a pessoas com maiores níveis de privação. Isto faz com que o índice seja sensível

para a distribuição de pobreza. A pobreza a nível individual se define por: 𝑃𝑖1

𝑚∑ 𝑋�̂�,𝑘2

𝑛𝑖=1 , com um valor

máximo de 1 (pobreza total) e um mínimo de 0 (sem pobreza).

Para cada dimensão, podem ser estimados os índices de incidência (proporção de pobres) e os

níveis de privação para diferentes regiões e grupos demográficos. Para o índice de incidência é

considerado que todas as pessoas que estão abaixo do limite em pelo menos uma variável sofrem privação

(enforque de união), com base em a seguinte regra:

𝑆𝑜𝑓𝑟𝑒 𝑃𝑟𝑖𝑣𝑎çã𝑜 = { 𝑆𝑖𝑚; 𝑠𝑒 𝑋�̂�,𝑘 > 0

𝑁ã𝑜; 𝑠𝑒 𝑋�̂�,𝑘 = 0 (3)

O nível de privação para cada pessoa em cada indicador se mede diretamente por 𝑋𝑖,𝑘𝑙 , embora o

nível privação individual em cada dimensão é determinado pela função de agregação 𝑔𝑘(. ) como segue:

𝑋𝑖,𝑘 = 1

𝑝∑ 𝑋𝑖,𝑘

𝑙

𝑝

𝑙=1

(4)

Os indicadores se agregam a para cada dimensão sobre a base da seguinte função: 𝑋𝑖,𝑘 =

𝑔𝑘(𝑋𝑖,𝑘𝑙 , … , 𝑋𝑖,𝑘

𝑝 ) para as variáveis l = {1, ..., p}, onde a função 𝑔𝑘(. ) é específica de cada dimensão k.

Todos os indicadores têm o valor máximo de 1 (nível alcançado) e um valor mínimos de 0 (privação

total), sendo essa definição utilizada para reduzir os problemas de descontinuidade.

Finalmente, o nível de privação global que pode ser decomposto para cada dimensão é:

𝑋�̂� = 1

𝑛∑ 𝑋�̂�,𝑘

𝑛

𝑖=1

(5)

O nível de privação global (𝑋�̂�,𝑘) se mede usando (4) em cada dimensão e se define como o nível

de privação médio entre as variáveis. Para identificar o nível de privação de cada dimensão, a

reformulação dos índices é feita usando a fórmula: 𝑋�̂�,𝑘 = 1 − 𝑋𝑖,𝑘, onde o nível de privação 𝑋�̂�,𝑘 é

interpretado como a diferença relativa entre o nível individual de 𝑋𝑖,𝑘 e o limite da privação 𝑍𝑘 = 1, com

um valor máximo de 1 (privação total) e um mínimo de 0 (sem privação).

Mediante a utilização de (5) é possível decompor o nível de privação por região e grupo

demográfico da seguinte forma:

𝑋�̂� = ∑𝑛𝑠

𝑛𝑋�̂�,𝑘(𝑠)

𝑞

𝑠=1

(6)

em que S é o conjunto de grupos {1, ..., q}, e {1, … , 𝑞}, 𝑒 𝑋�̂�(𝑠) =1

𝑛𝑠∑ 𝑋�̂�𝑠,𝑘

𝑛𝑠𝑖𝑠=1 .

12

5 RESULTADOS

Inicialmente analisa-se os resultados dos graus de privação em cada uma dos indicadores e nas

respectivas dimensões, de 2007 a 2014. Os Gaps, que são a distância dos indivíduos pobres a um limite

de pobreza, também serão apresentados para cada dimensão no estado do Rio Grande do Sul, entre as

áreas (metropolitana, urbana e rural), e grupos: sexo, faixa etária e raça. E, num segundo momento, a

pobreza multidimensional é analisada dentro o Rio Grande do Sul e os grupos estudados.

5.1 Incidência de Privação no Rio Grande do Sul: Indicadores e suas Dimensões

A Tabela 2 mostra a incidência de privação no estado do Rio Grande do Sul, de 2007 a 2014,

entre os indicadores e dimensões. A dimensão água e alimentos é definida por duas varáveis: água na

moradia e capacidade de compra de alimentos. Considerando água na moradia, esta é definida como bem

de necessidade básica para a sobrevivência humana, e sua proveniência nos domicílios mede a privação

ou não da população. Se o abastecimento for da rede geral de distribuição o domicílio é considerado não

privado. Contudo, se for proveniente de poço ou nascente, ou outra providencia é denominado privado do

bem. Ante a isso, A percentagem de pessoas que não têm um abastecimento de água potável, proveniente

da rede geral de distribuição, em seus domicílios caiu de 5,22% em 2007, para 4,57% em 2014.

Por outro lado, a variável capacidade de compra de alimentos mede a privação monetária (ou

seja, a renda), como um substituto para a privação de alimentos. Os domicílios com renda per capita

inferior a linha de pobreza é considerado privado, por não ser capaz de consumir as necessidades

nutricionais mínimas. Assim, o percentual de pessoas com privação monetária, também, houve uma

redução de 3,23% para 1,70% no mesmo período. Importante observar que na dimensão como um todo, o

impacto da redução foi maior em conjunto, do que quando os indicadores são analisados separadamente.

Houve uma redução de 8,18% em 2007 para 6,08% em 2014, diminuição de 2,10% da pobreza

multidimensional no Rio Grande do Sul na dimensão água e alimentos.

Logo em seguida é observado a dimensão de comunicação e informação, a qual é medida por

cinco variáveis a nível domiciliar: a posse de telefone (incluindo fixo ou celular), uma televisão (preto e

branco ou colorida), um computador, e acesso à internet. Destaca-se que a maioria destes acessos à

informação não significa uma verdadeira privação, e também não traz nada sobre a qualidade da

informação que os domicílios acessam. Embora seja necessária uma análise completa desses critérios,

mas isso está além do escopo desta investigação.

Diante isso, a Tabela 2 mostra que, entre 2007 e 2014, a incidência de pobreza apresentou uma

trajetória de queda em todos os indicadores. Os que apresentaram os maiores impactos de redução da

privação foram: internet, redução de 29,05% de 2007 para 2014, computador, redução de 27,86%, no

mesmo período, e acesso à telefone reduzindo 7,54%. No ano 2014, os maiores índices de privação foram

registrados para acesso à internet (48,73%) e computador (40,39%). Enquanto os níveis mais baixos de

privação são de televisão (1,62%) e telefone (1,21%). Como pode ser observado, quando se trata da

privação de computadores e internet, embora os graus de ambos tenham apresentado queda no período,

ainda assim, permanecem consideravelmente elevados. Deste modo, é possível que a redução da privação

encontre-se correlacionada a propagação tecnológica ocorrida nos últimos anos, que proporcionou uma

maior facilidade ao acesso as novas tecnologias de comunicação.

Os maiores indicadores de privação se concentram na dimensão educação. Precisamente

por conta de a pesquisa levar em consideração a adoção da Lei de Diretrizes e Bases da Educação

(Lei 9.394/1996), que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. No ensino primário, de

acordo com a Lei, crianças com até 5 anos de idade, podem ter no máximo 5 anos de escolaridade,

denominado ensino pré-escolar. No ensino fundamental incompleto, crianças de 6 anos a 10 anos de idade

para não serem consideradas privadas devem ter de 4 a 9 anos de estudo. No ensino fundamental

completo, estariam as crianças de 11 a 14 anos que estariam terminando o ensino fundamental em torno

de 8 a 14 anos de escolaridade. No ensino médio incompleto, os pré-adolescentes em torno dos 15 a 17

anos estariam completando o ensino médio de 12 a 15 anos de estudo. E por fim, no ensino médio

completo, estão os jovens acima de 18 anos que devem ter no mínimo 15 anos de escolaridade para poder

13

ter uma boa formação educacional e ter capacidade para entrar no mercado de trabalho e não ser

considerado privado de educação. E a proporção de crianças na escola refere-se ao total de crianças no

domicílio. Na dimensão educação, como pode ser observado na Tabela 2, há uma pequena redução na

privação: em 2007 era de 93,03%, passando para 89,78% em 2014, queda de 3,26%. O ensino que

apresentou uma maior redução na privação foi o ensino médio completo, reduziu 3,26% de 2007 para

2014. Logo em seguida, a proporção de crianças na escola e o ensino médio incompleto, com 3,21% e

3,26% respectivamente.

Tabela 2 - Incidência de Privação no estado do Rio Grande do Sul, 2007-2014 (%)

Fonte: Elaboração pelos próprios autores a partir dos dados da PNADs.

Para medir a privação de habitação são levados em conta cinco indicadores. A Tabela 2 mostra a

percentagem de população com

privação na moradia. Aproximadamente mais um quarto da população não possui uma moradia própria já

quitada em 2014. Houve uma variação bastante instável durante os anos analisados com relação ao tipo de

moradia, mas comparando 2014 a 2007, percebe-se que ocorreu um aumento de 0,15%, na privação de

moradia. No que diz respeito à iluminação, qualidade de teto, e número de pessoas por dormitório houve

uma redução não muito significativa nos índices de incidência, nos quais já apresentam uma baixa

privação. Já a variável material de parede apresentou uma queda, bastante significativa quando

comparado aos outros indicadores, de 6,91% no índice de privação. Em 2014, apenas 2,52% da população

vive em uma casa com mais de três pessoas por quarto.

Um aspecto interessante na próxima dimensão em análise é que foram utilizadas as condições de

saneamento básico como proxy para analisar a dimensão saúde. Como justificativa, a falta de acesso, ou o

acesso inapropriado, a qualquer uma dessas variáveis de saneamento pode ocasionar sérios prejuízos à

saúde do indivíduo, principalmente no que diz respeito à saúde básica. A Tabela 2 mostra que, na

dimensão, houve uma redução da sua privação, de 43,36% em 2007, para 38,52% em 2014, ou seja,

queda de 4,84% no período analisado. Essa redução pode ser explicada porque também ocorreu uma

Dimensões/Variáveis 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014

Dimensão 1: Água e Alimentos 8,18 7,56 7,45 6,93 6,24 6,25 6,08

Água na Moradia 5,22 5,57 5,31 4,85 4,25 3,98 4,57

Capacidade de compra de alimentos 3,23 2,20 2.34 2,26 2,12 2,40 1,70

Dimensão 2: Comunicação e Informação 78,01 73,54 67,17 58,11 53,97 50,10 49,01

Telefone 9,16 5,25 4,49 3,55 2,87 1,95 1,62

Televisão 3,41 2,91 2,04 1,52 1,31 1,26 1,21

Computador 68,25 61,98 55,55 47,70 44,66 40,69 40,39

Internet 77,78 73,39 67,00 57,93 53,77 49,75 48,73

Dimensão 3: Educação 93,03 92,21 92,22 91,75 90,95 90,55 89,78

Ensino Primário 82,75 82,07 82,21 81,80 82,25 81,87 81,03

Ensino Fundamental incompleto 90,42 89,54 89,45 89,36 88,95 88,72 87,93

Ensino Fundamental completo 91,82 90,77 90,92 90,38 89,77 89,47 88,66

Ensino Médio incompleto 92,82 92,07 91,99 91,53 90,74 90,34 89,56

Ensino Médio Completo 92,99 92,20 92,15 91,73 90,94 90,54 89,78

Proporção de crianças na escola 5,20 3,22 3,58 2,94 2,90 2,36 2,07

Dimensão 4: Condições da Moradia 50,90 48,52 48,44 49,36 45,74 45,87 45,65

Tipo de Moradia 25,95 24,78 25,96 25,55 24,64 23,94 26,05

Iluminação 0,13 0,16 0,21 0,04 0,04 0,04 0,04

Material da Parede 26,29 25,81 25,37 23,09 20,90 20,58 19,38

Material do Teto 7,50 5,11 5,45 9,66 7,16 8,24 6,19

Nº de pessoas por dormitório 3,98 3,86 3,59 3,19 3,08 2,95 2,52

Dimensão 5: Saúde 43,36 48,15 47,37 38,78 39,47 39,40 38,52

Esgotamento Sanitário 42,85 47,56 46,97 38,29 38,94 38,85 37,98

Condição Sanitária 9,45 8,98 8,32 7,63 7,94 7,67 6,50

Eliminação do lixo 0,92 1,16 0,84 0,67 0,53 0,72 0,57

Dimensão 6: Trabalho e Demografia 57,37 57,52 55,10 51,58 51,40 50,17 50,02

Trabalho Precário 51,23 50,53 49,09 44,19 43,83 43,17 42,51

Razão de dependência por domicilio 17,40 16,99 16,50 17,74 17,99 18,59 18,23

14

redução em todos os indicadores da dimensão. No esgotamento sanitário, indicador com maior impacto

na redução da privação, houve uma queda de 4,87%. Diminuição também na condição sanitária, e na

eliminação do lixo, de 2,95% e 0,35%, respectivamente, de 2007para 2014.

Por fim, na dimensão trabalho e demografia, trabalho precário foi denominado aquele no qual o

trabalhador não era segurado da previdência social nem contribuinte de outro instituto de previdência. E

demografia, a razão de pessoas dependentes por domicílio, sendo elas as menos de 14 anos e maiores de

60. A Tabela 2 apresenta a incidência de privação para cada indicador. Na análise da dimensão de forma

geral, mais de 50% da população sofre de privação de trabalho digno, ou seja, metade da população em

2014 ainda trabalham em situação de trabalho precário. Mesmo tendo ocorrido uma redução de 7,35% de

2007 para 2014, ainda permanece uma taxa de privação elevada. Por outro lado, a razão de dependência

apresenta uma taxa de privação considerada baixa, pois 18,23% da população em 2014 apresenta alguma

relação de dependência.

5.2 Os Gap’s de Privação

O Gap de privação é apresentado na Tabela 3 por dimensões e grupos demográficos. Os números

mostram a diferença média para diferentes áreas e grupos populacionais. Como discutido na seção 4, que

trata da metodologia, os gap’s ou lacuna de privação representam a distância entre os indivíduos pobres e

um determinado limite de pobreza total, variando entre 0 e 1 e calculados para cada dimensão.

Pode-se observar que a pobreza na dimensão Alimentos e Água, Tabela 3, é um problema,

especialmente, nas áreas metropolitanas gaúchas. Em 2014, a lacuna de privação da área metropolitana do

Rio Grande do Sul é de 4,24%, apresentando-se maior quando comparadas com as regiões urbanas e

rurais, nas quais há uma lacuna de registros de privação, respectivamente, de 1,99% e 2,13%, no mesmo

período. Verificou-se que, com relação aos grupos populacionais não há uma lacuna tão significante com

relação à pobreza. Contudo, houve uma redução em todos os grupos em estudo, de 2007 a 2014.

Na dimensão comunicação e informação, Tabela 3, o Gap foi reduzido no Estado, áreas e grupos

entre 2007 e 2014. Tanto em 2007, quanto em 2014, o Gap de privação da população rural gaúcha foi

bem mais elevado do que das regiões metropolitana e urbana. Em 2014, a área rural apresenta-se com

uma lacuna de privação de 37,45%, enquanto as regiões metropolitana e urbana apresentam,

respectivamente, 19,74% e 21,38%. Observa-se ainda que a privação entre as pessoas do sexo masculino

é maior do que a do sexo feminino com relação a esta dimensão. Analisando a faixa etária a privação é

maior nas crianças e nos idosos, 22,74% e 37,30%, respectivamente, em 2014. Com relação ao grupo

raça, a lacuna de privação é maior para as raças não brancas, 29,32% em 2014.

No tocante a dimensão educação, conforme exposto na Tabela 3, há um Gap de 82,38% de

privação em 2014. Com relação às áreas, observa-se um maior Gap na área rural, quando comparadas às

regiões metropolitana e urbana, não diferente do que foi ressaltado nas outras dimensões. Esta

apresentaram um Gap de privação, 89,74% em 20077, para 89,81% em 2014. Em relação às áreas

metropolitanas e urbanas, foi observada também uma redução da privação em educação, no período

analisado. Houve também uma redução na quantidade de homens e mulheres: mulheres apresentam uma

privação menor de 80,91% em 2014, quando comparados com homens, 83,97%. Nota-se que no hiato

médio de privação educação é 3,06 vezes maior para homens do que para mulheres. No grupo faixa

etária, todas a faixas apresentaram uma redução na privação. Sendo o grupo adultos aquele que

apresentou maior redução, 3,97% de 2007 a 2014, enquanto que o grupo crianças apresentou aumento de

privação de 0,37% conforme o Gap. No grupo raça, em 2014, nos brancos a privação é de 81,15%, e não

brancos de 87,25%. Verifica-se que o impacto da redução de 2007 para 2014 também ocorreu no grupo

de raça branca, houve uma redução de 2,14%, comparado com apenas 0,74% na raça não branca.

15

Tabela 3 – Rio Grande do Sul: Gap da privação por dimensão, 2007 e 2014. (%)

(continua)

Região/Grupo

Água e Alimentos

Comunicação e

Informação

Educação

2007 2014 2007 2014 2007 2014

Rio Grande do Sul 3,68 2,85 39,65 22,98 84,10 82,38

Metropolitano 5,48 4,24 35,04 19,74 82,71 80,46

Urbano 2,64 1,99 38,31 21,38 83,21 81,73

Rural 2,58 2,13 53,82 37,45 89,74 89,81

Homens 3,69 2,91 40,17 23,25 85,14 83,97

Mulheres 3,67 2,79 39,15 22,73 83,12 80,91

Crianças 4,85 3,64 43,28 22,74 77,43 77,80

Adolescentes 3,85 3,31 38,08 20,72 83,10 84,07

Jovens 4,00 3,22 36,73 19,56 83,11 84,07

Adultos 3,31 2,60 38,21 21,20 84,19 80,27

Idosos 2,39 1,94 47,47 37,30 93,47 92,75

Branca 3,53 2,75 37,94 21,39 83,29 81,15

Não Branca 4,40 3,20 47,82 29,32 87,99 87,25

Fonte: Elaboração pelos próprios autores a partir dos dados da PNADs.

Tabela 3 - Rio Grande do Sul: Gap da privação por dimensão, 2007 e 2014. (%) (conclusão)

Região/Grupo

Condições da Moradia

Saúde

Trabalho e Demografia

2007 2014 2007 2014 2007 2014

Rio Grande do Sul 12,16 10,08 17,74 15,01 34,31 30,37

Metropolitano 10,73 8,83 6,06 4,76 34,52 29,72

Urbano 11,74 10,77 15,37 13,83 36,43 31,13

Rural 16,58 11,02 50,80 46,89 27,82 29,39

Homens 12,35 10,34 18,53 15,63 33,32 29,17

Mulheres 11,97 9,85 16,99 14,44 35,34 31,46

Crianças 14,87 12,74 18,21 15,33 37,74 30,08

Adolescentes 13,03 10,75 19,08 15,25 31,99 27,54

Jovens 12,88 11,33 15,52 13,00 28,59 22,10

Adultos 11,16 9,29 17,98 14,97 29,62 24,93

Idosos 9,40 7,69 18,82 17,51 66,38 67,03

Branca 11,54 9,24 17,83 14,87 33,25 29,78

Não Branca 15,15 13,45 17,27 15,56 39,42 32,70

Fonte: Elaboração pelos próprios autores a partir dos dados da PNADs.

Quanto aos gap’s relacionados às dimensões de condições de moradia, na Tabela 3, em 2014, o

estado do Rio Grande do Sul apresenta uma lacuna de privação com relação às condições de moradia

inadequada de 10,08%. Em áreas rurais houve a maior redução do Gap de privação na dimensão moradia,

redução de 16,58% em 2007 para 11,02% em 2014. Contudo, a área rural na dimensão condições de

moradia não se diferenciou das demais. Nesta dimensão, a área metropolitana apresentou menor lacuna de

privação dentre as áreas urbana (10,77%) e rural (11,02%) em 2014. No grupo sexo, homens apresentam

uma privação maior que as mulheres, sendo essa diferença de apenas 0,49%, em 2014. Ainda esse mesmo

período, entre os grupos etários, quem possui a menor privação é o grupo dos idosos, com apenas 7,69%,

e a maior é o grupo das crianças, com 12,74%. As populações de raça não branca têm Gap de maior

privação do que a raça não branca. A não branca apresenta um hiato de privação de 4,21% maior que a

branca, em 2014.

Dentro da dimensão saúde, a maior diferença da privação entre as áreas está localizada na área

rural, em 2007, a lacuna de privação é de 50,80%, sofrendo uma redução em 2014, para 46,89%.

Indicando que, aproximadamente, metade na população rural apresenta privação de saneamento básico. E,

em decorrência desse resultado, a área rural apresenta também como a região mais sensível com relação a

saúde. Já as áreas metropolitana (4,76%) e urbana (13,91%) gauchas apresentam menores privações em

2014. Com relação aos homens e mulheres houve uma redução de 2007 para 2014, as mulheres

16

apresentam uma menor privação, em 2014, de 14,44%, quando comparadas com os homens que têm

15,63% de privação no mesmo período. No grupo etário, quem possui maior déficit na saúde é o grupo

dos idosos, com 17,51% em 2014. E o menor, é o grupo dos jovens, com 13,00%. Em todos os grupos foi

observada uma redução da privação. As populações de raça não brancas têm lacunas de privação mais

elevadas, com uma taxa de 15,51% em 2014, maior quando comparada com a raça branca, que é apenas

de 14,87%.

Por fim, considerando o Gap de privação da dimensão trabalho e demografia, o estado do Rio

Grande do Sul apresentou redução no Gap de privação, de 3,94% entre 2007 e 2014 (Tabela 3). A área

metropolitana se destacou dentre as outras por apresentar uma maior lacuna de privação de trabalho e

demografia, 34,52% em 2007 e 29,72% em 2014. Na área urbana houve um maior impacto entre 2007 e

2014, uma redução de 5,30% no período analisado. Redução também na área rural, de 27,82% em 2007

para 29,39% em 2014. Contrapondo-se com todas as outras dimensões, na dimensão trabalho e

demografia, as mulheres apresentam dessa vez um Gap de privação maior que os homens. Evidencia-se

assim a diferença no mercado de trabalho entre homens e mulheres. Mesmo havendo uma redução, ainda

é considerada alta a privação entre mulheres e homens; em 2014, uma lacuna de privação de 31,46% de

mulheres, e 29,17% em homens. No grupo da faixa etária, ocorreu os resultados esperados, maior

privação para crianças e idosos, pois os mesmos são dependentes e não trabalham; crianças em 2014, com

privação de 30,08% e idosos, com 67,03%. Com o menor Gap, apresentou-se o grupo dos jovens, com

22,10%, em 2014. A população branca possui uma lacuna de privação menor quando comparada com a

raça não branca, representando apenas um hiato de 2,92% menor, mesmo ambos os grupos obtendo uma

redução no período de 2007 a 2014.

5.3 A Pobreza Multidimensional

De maneira geral, as informações extraídas da PNAD sinalizam uma melhora nas condições de

vida da população gaúcha entre os anos 2007 a 2014. Essa melhora, no entanto, não ocorreu de forma

homogênea entre as áreas, nem entre os grupos sexo, faixa etário e raça do estado.

A Tabela 4 mostra a pobreza multidimensional por áreas e grupos do estado do Rio Grande do

Sul, 2007 a 2014. Os resultados sugerem uma redução na pobreza multidimensional: de 22,57% em 2007

para 19,90% em 2014 segundo a metodologia adotada, com uma variação de 2,67%. Entre o período

analisado, o nível de pobreza multidimensional declinou a uma taxa média anual de 0,38 %. Tal

comportamento reflete a dinâmica recente dos índices de pobreza em todo o Brasil. Segundo Silva(2015),

entre os anos de 2007 e 2014 a redução observada dos níveis de pobreza multidimensional foi de

respectivamente 3,01% e 2,55%, para o Brasil e o Sul. Particularmente, pode-se destacar o Sul como uma

das regiões em que a redução da pobreza foi a menor durante esse período, embora, ainda seja a região

com a menor proporção de pobres muldimencionais do Brasil no período analisado.

Ainda na Tabela 4, a área rural do estado apresenta uma proporção de pobres bem maior quando

comparada com as áreas metropolitanas e urbanas. Em 2014, o Rio Grande do Sul tem uma população

pobre na área rural referente a 25,45%. Corroborando, assim, com Silva e Neder (2010) que estudaram a

pobreza multidimensional nas áreas rurais do Brasil em 1995 e 2004.

Os autores supra citados destacam a importância de se mensurar pobreza levando em

consideração, além da renda, a habitação, o abastecimento de água, o saneamento básico, a educação e o

mercado de trabalho. Nacionalmente, a proporção de pobres na zona rural em 2014 é de 25,45%,

enquanto que na zona urbana é de 19,41%. Esta convergência sugere que a população residente nesta área

melhorou os níveis de bem estar associado às multidimensões que refletem o grau de pobreza. Contudo,

mesmo com a melhoria das condições de vida, as disparidades ainda resistem entre as áreas, embora em

menor magnitude, visto que a dinâmica de distribuição dos efeitos sobre a pobreza ocorreu de forma

heterogênea no espaço.

17

Tabela 4 - Pobreza Multidimensional por Áreas e Grupos do estado do Rio Grande do Sul, 2007-2014.

(%)

Pobreza Multidimensional

Variação

2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014

Rio Grande do Sul 22,57 21,84 21,39 20,63 20,35 20,19 19,90 -2,67

Metropolitano 20,93 20,38 20,07 18,75 18,67 18,51 18,50 -2,43

Urbano 21,88 21,14 20,88 20,46 19,93 19,88 19,41 -2,47

Rural 28,21 27,26 26,05 25,97 26,00 25,47 25,45 -2,76

Homens 22,69 21,96 21,54 20,78 20,53 20,35 20,03 -2,66

Mulheres 22,45 21,73 21,25 20,48 20,18 20,04 19,79 -2,66

Crianças 21,14 20,13 19,62 18,61 18,26 18,01 17,39 -3,75

Adolescentes 21,22 20,52 20,24 19,28 18,82 18,70 18,61 -2,61

Jovens 21,88 21,21 20,88 19,55 19,43 18,93 18,81 -3,07

Adultos 21,93 21,15 20,52 19,96 19,41 19,28 18,79 -3,14

Idosos 31,57 31,11 31,02 30,26 30,10 30,09 30,11 -1,46

Branca 22,09 21,35 20,94 20,20 19,99 19,79 19,47 -2,62

Não Branca 24,85 23,95 23,42 22,55 21,82 21,82 21,65 -3,20

Fonte: Elaboração pelos próprios autores a partir dos dados da PANDs.

Em média, não há diferença significativa na pobreza entre o grupo sexo. A pobreza

multidimensional entre os homens em 2014 é de 20,03%, enquanto que nas mulheres é de 19,79%,

havendo uma variação (queda) igual para os dois, de 2,66% (Tabela 4). Já no grupo faixa etária houve

uma redução em todos os grupos. Diferença pouco notada também entre crianças, adolescentes, jovens e

adultos. Um impacto maior na redução foi no grupo crianças, uma queda de 3,75% de 2007 a 2014. Já no

grupo idosos, houve pouca redução na proporção, 1,46%, sendo ela o grupo com maior pobreza

multidimensional, 30,11% em 2014. As populações de raça não branca têm os mais altos níveis de

pobreza multidimensional, 21,65% em 2014. Mesmo apresentando a maior taxa de variação 3,20% de

2007 a 2014.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo partiu com o objetivo de apresentar novas perspectivas para a compreensão da pobreza

multidimensional no estado do Rio Grande do Sul nos anos de 2007 a 2014, considerando outras

dimensões além da renda, com a finalidade de auxiliar políticas públicas focadas na sua diminuição e

aceleração do processo de desenvolvimento. As principais conclusões foram:

Considerando a mensuração da pobreza multidimensional no Rio Grande do Sul pela ótica das seis

dimensões estudas, constatou-se que a pobreza multidimensional apresentou uma trajetória decrescente

durante o período de estudo. Os resultados do trabalho sugerem uma redução de 22,57% em 2007, para

19,90% em 2014, da pobreza multidimensional.

Para as análises separadas das áreas metropolitana, urbana e rural o nível de pobreza foi mais

intenso na área rural, onde as intensidades de pobreza foram sensivelmente maiores. Por outro lado, essa

situação é menos grave na área metropolitana gaúchas. Na análise da pobreza entre os grupos quase não

existe diferenças entre homens e mulheres, mas vale salientar que a persistente privação concentra-se em

ser maior entre os homens.

Já entre as faixas etárias também observa-se uma pequena privação. Crianças, adolescentes,

jovens e adultos encontram-se com a mesma proporção, em média, de pobres multidimensionais. O

impacto maior na pobreza seria sobre o grupo dos idosos, esses são considerados mais privados com

relação aos outros grupos etários.

Pode-se inferir que para reduzir a pobreza multidimensional, a administração pública deve adotar

políticas públicas direcionadas especificamente para as dimensões que mais impactam a pobreza, sendo

elas: educação, comunicação e informação, trabalho e demografia e condições de moradia. Para que

assim, haja uma melhor distribuição desses dos recursos entre as áreas do Rio Grande do Sul, reduzindo

dessa forma as disparidades locais.

18

Como sugestão de futuras pesquisas, deve-se ser realizada uma investigação para compreender as

relações entre proteção social, crescimento econômico, e redução da desigualdade sobre redução da

pobreza multidimensional. É também importante contar com dimensões adicionais para uma análise mais

completa. Portanto, deve-se ser continua à procura de novos dados que visem melhorar os indicadores

utilizados para medir cada uma das dimensões, e assim mensurar qual tem mais impacto na pobreza

multidimensional gaúcha.

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