diagnostico da pobreza

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Relatório No. X CABO VERDE DIAGNÓSTICO DA POBRE ZA Revisto: 29 de Novembro, 2004 Sector da Redução da Pobreza e Gestão Económica Região da África Sub-Sahariana Em Colaboração com o Instituto Nacional de Estatística (INE) Ministério das Finanças e Planeamento Documento do Banco Mundial ?????

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Page 1: DIAGNOSTICO da pobreza

Relatório No. X

CABO VERDE DIAGNÓSTICO DA POBREZA Revisto: 29 de Novembro, 2004 Sector da Redução da Pobreza e Gestão Económica Região da África Sub-Sahariana Em Colaboração com o Instituto Nacional de Estatística (INE) Ministério das Finanças e Planeamento

Documento do Banco Mundial

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MOEDAS E EQUIVALÊNCIAS (de Maio, 2004)

Unidade da Moeda = Escudo de Cabo Verde (CV$) US 1 $ = CV$ 108.96

ANO FISCAL

Janeiro 1 – Dezembro 31

SIGLAS E ABREVIAÇÕES CV República de Cabo Verde IPC Índice de Preço no Consumidor FAIMO Frentes de Alta Intensidade de Mão de Obra PIB Produto Interno Bruto IDRF Inquérito às Despesas e Receitas Familiares IEFP Instituto do Emprego e Formação Profissional INE Instituto Nacional de Estatística FMI Fundo Monetário Internacional INPS Instituto Nacional de Previdência Social I-PRSP Interim Poverty Reduction Strategy Paper JSAN Recomendações do Staff ODM Objectivos de Desenvolvimento do Milénio ONG Organizações Não Governamentais PNLP Programa Nacional de Luta Contra a Pobreza OCDE Organização de Cooperação Económica para o Desenvolvimento PRGF Programa de Redução de Pobreza e Crescimento PRSP Documento de Estratégia de Redução de Pobreza PSM Esquema de Protecção Social Mínima SEDESOL Secretaría de Desarrollo Social SimSIP Simulações dos Indicadores sociais da Pobreza IVA Imposto sobre Valor Acrescentado

Vice Presidente: Gobind Nankani Director para o País: Madani Tall Director do PREM: Paula Donovan Gestor do Sector PREM : Robert Blake Gestor da Equipa: Quentin Wodon [Reconhecimentos a toda a equipa (incluindo INE) será integrado no próximo draft]

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ÍNDICE

Abreviações e Siglas

Agradecimentos

Sumário Executivo I. Introdução e Sumário Executivo II. Crescimento, Pobreza e Desigualdade Desempenho Macro-económico: Breve Revisão Progressos alcançados na Redução da Pobreza

Desafios Futuros

III. Determinantes da Pobreza e Fontes de Rendimento Perfil da Pobreza

Determinantes da Pobreza Fontes de Rendimento IV. Remessas

Tendências na Emigração Internacional e das Remessas enviadas Análise da incidência dos Benefícios das Remessas

V. Pensões Estrutura do Sistema de Pensões em Cabo Verde Análise da incidência dos Benefícios das Pensões Reformas e Sustentabilidade a Longo Prazo

VI. Educação, Saúde e as Transferências da Protecção Social Resultados e Desafios na Educação e Saúde: Breve Revisão Análise da incidência de Benefícios das Despesas Públicas para os Sectores Sociais

VII. Impostos Indirectos e Tarifas dos Serviços Imposto sobre Valor Acrescentado, Taxas de Importação, Receitas do Governo e Impacto na Pobreza Tarifas dos Serviços e Custos da ELECTRA

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Lista das Caixas Caixa 4.1: Aumento do Impacto das Remessas no Desenvolvimento: Lições do México Lista das Figuras: Figura 2.1: Estrutura da economia e crescimento do PIB Figura 2.2: Simulações para Futura Redução da Pobreza sob Vários Cenários de Crescimento Figura 3.1. Relação entre rendimento e consumo por decile, Cabo Verde 2001-02 Figura 3.2. Relação entre as remessas e o emprego, Cabo Verde 2001-02 Figuras 4.1 & 4.2: Tendências nas remessas do estrangeiro) total e por pais), Cabo Verde Figura 4.3: Incidência e cobertura das remessas, transferências privadas, Cabo Verde 2001-02 Figura 4.4: Impacto por pessoa das perdas das transferências privadas, Cabo Verde 2001-02 Figura 5.1: Estrutura Etária dos Contribuintes da Segurança Social Figura 6.1: Despesa Publica com a educação e custo unitário por nível, Cabo Verde, 1990s Figura 6.2: Despesa Pública com a Saúde, total e por categoria, Cabo Verde Figura 6.3: Incidência e cobertura das despesas publicas, Cabo Verde 2001-02 Figura 6.4: Aumento do numero dos pobres se as transferências publicas diminuírem, 2001-02 Lista dos Quadros Quadro 2.1. Tendências da pobreza e desigualdade medidas (%), Cabo Verde 1998-99 a 2001-02 Quadro 3.1. Percentagem da população vivendo na pobreza por ilha, Cabo Verde 2001-02 Quadro 3.2: Percentagem de Ganhos/Perdas associadas a varias características, Cabo Verde 2001-02 Quadro 3.3. Pobreza e acesso aos serviços: Barracas vs Bairros, Cabo Verde 2001-02 Quadro 3.4: Fontes de Rendimento por Quintile e Localização Geográfica, Cabo Verde 2001-02 Quadro 3.5: Ganhos: Percentagem dos ganhos/perdas associadas as características, Cabo Verde 2001-02 Quadro 3.6. Estatísticas seleccionadas sobre o emprego por Quintile e Localização, Cabo Verde 2001-02 Quadro 5.1: Comparação entre a cobertura das pensões e as estimativas obtidas no inquérito de 2001-02 Quadro 5.2: Características da distribuição dos vários tipos de pensões, Cabo Verde 2001-02 Quadro 6.1: Taxa de Matricula por quintile (crianças de idade 6-15), Cabo Verde 2001-02 Quadro 6.2: Incidência de doentes e tratamentos prestado por quintile, Cabo Verde 2001-02 Quadro 6.3: Relatório da Cobertura da Imunização (OMS), Cabo Verde 1992-2002 Quadro 6:4: Despesas Privadas com a educação e a saúde por quintile, Cabo Verde 2001-02 Quadro 7.1. Receitas do Governo em Cabo Verde, 2001-2004 [em biliões de ECV] Quadro 7.2. Impacto do IVA na pobreza, Cabo Verde 2001-02 Quadro 7.3: Contas da Electra, em milhões de ECV Quadro 7.4. Tarifas para uso doméstico em ECV, Cabo Verde 2001/02 e 2003 Quadro 7.5. População com acesso a Electricidade e Agua por Decile, Cabo Verde 2001-02 Quadro 7.6. Despesa mensal do consumo de agua e electricidade, Cabo Verde 2001-02 Anexos – Documentos de Consulta Seleccionados

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CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO E SUMÁRIO EXECUTIVO

Graças a altos níveis de crescimento, progressos significativos foram alcançados na redução da pobreza em Cabo Verde nos anos noventa. A percentagem da população pobre diminuiu de 49% em 1988-89 para 37% em 2001-02. No sector social, (educação e saúde) os indicadores também melhoraram. Porém, a promoção de um desenvolvimento equitativo por forma a atingir os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio requererão mais que o crescimento económico per se. A desigualdade permanece elevada e tem vindo a crescer. As despesas públicas com a educação, a saúde, e as pensões não estão bem segmentadas aos que mais precisam da ajuda. Na ausência de políticas efectivas de transferências aos mais pobres, tornar-se-á mais difícil reduzir a pobreza no futuro, por duas razões. Primeiro, os fortes constrangimentos no orçamento poderão forçar a opções na determinação das despesas públicas. Segundo, na área de transferências privadas, futuros fluxos das remessas do estrangeiro poderão continuar diminuindo como percentagem do PIB. Um olhar atento às propriedades distributivas do sistema de tributação (especialmente o IVA) é igualmente necessário, como ainda é necessária uma revisão dos subsídios implícitos para a electricidade e a água.

1.1. Este relatório foi preparado com o apoio do pessoal do Instituto Nacional de Estatística de Cabo Verde (INE) e com o apoio do Ministério das Finanças e Planeamento. O relatório foi preparado para apoiar a preparação do documento final da Estratégia de Redução de Pobreza do país. O relatório contém estimativas da tendência da pobreza e da desigualdade em Cabo Verde (Capítulo 2), analisa os determinantes da pobreza e as principais fontes de rendimentos dos agregados familiares (Capítulo 3), avalia as características da distribuição de algumas fontes de rendimento e transferências (remessas em Capítulo 4, pensões em Capítulo 5, e transferências aos sectores sociais no Capítulo 6), como também impostos e subsídios (Capítulo 7). O presente relatório deverá ser considerado como um diagnóstico da pobreza. O objectivo não é sugerir recomendações de política, mas apresentar vários resultados que poderão ser utilizados na preparação e implementação da Estratégia de Redução de Pobreza do país. Trabalhos adicionais deverão ser desenvolvidos nos próximos meses sobre vários assuntos. Aqui, apresentamos somente os resultados mais importantes da análise da pobreza. 1.2. O relatório é parte de um programa mais alargado de trabalho analítico e reforço de capacidade do país sobre a questão da pobreza. O pessoal do INE participou num seminário destinado a vários países que decorreu em Washington, DC, em Março e Abril de 2004 para conhecimento e utilização de ferramentas simples baseadas no Excel (SimSIP) de simulação para estimar as tendências da pobreza e avaliar o impacto dos programas e transferências sobre a pobreza. Os documentos de suporte deste relatório assentam num número de simulações, e espera-se que a disponibilidade destas ferramentas de simulação ajudarão o Governo de Cabo Verde a testar o impacto de políticas alternativas. Outros participantes do Governo de Cabo Verde tomaram parte num outro seminário multi-país também realizado em Março-Abril de 2004 em Washington, DC para aprender a preparar o mapa da pobreza combinando dados do censo e do inquérito. Um segundo seminário sobre o mapeamento da pobreza teve lugar em Dakar em Outubro de 2004 e um último seminário sobre esse tema está agendado para Janeiro-Fevereiro de 2005 em Dakar. Este programa de reforço de capacidades é parte de uma iniciativa destinada aos países da África Ocidental e Central financiado pelo Programa de Redução de Pobreza da Bélgica.

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1.3. O primeiro objectivo deste relatório é apresentar uma análise das tendências sobre a pobreza e a desigualdade e os determinantes da pobreza em Cabo Verde. As estimativas no Capítulo 2 sugerem que graças ao rápido crescimento económico, a percentagem da população vivendo na pobreza reduziu de 49% em 1988-89 para 37% em 2001-02. Todavia, a redução poderia ter sido maior se, nesse mesmo período, a desigualdade não tivesse aumentado. O facto da desigualdade ser elevada e crescente, sugere que o Governo deverá implementar políticas a favor dos pobres para apoiá -los a beneficiarem-se o mais que puderem do crescimento. Não obstante a necessidade de estudos adicionais para melhor identificar essas políticas, de uma forma geral, uma alteração na composição das despesas públicas poderá ser uma alternativa. Uma análise aos determinantes da pobreza no Capítulo 3, sugere que a estrutura familiar, o tamanho do agregado familiar, o nível de educação do chefe de família, o tipo de emprego, a emigração, e local de residência, todos afectam o nível de rendimento per capita ou as despesas do agregado, os seus activos/propriedade, e assim a probabilidade de uma pessoa ser pobre. 1.4. O segundo objectivo deste relatório é analisar com algum detalhe algumas das principais fontes de rendimentos dos agregados familiares. Para além de uma breve análise das fontes de rendimento em geral, e especialmente dos salários no Capítulo 3, uma análise mais detalhada das fontes de rendimento seleccionadas são descritas nos Capítulos 4 a 6. O foco desses capítulos assenta nas remessas (Capítulo 4), pensões (Capítulo 5), e transferências dos sectores sociais (transferências em género, das despesas públicas com a educação e saúde, e as transferências em dinheiro da assistência social no Capítulo 6). Os principais resultados são os seguintes:

• Remessas: Cabo Verde tem uma longa história de emigração, e as remessas dos emigrantes podem ser consideradas como uma manifestação de décadas de “minimização de riscos” fora de Cabo Verde que ajudaram a suportar os choques como as crises de fome do passado. Porém, enquanto que presentemente as remessas constituem uma forte fonte de rendimentos e de redução da vulnerabilidade, os fluxos de emigração diminuíram desde os anos setenta a esta parte devido às políticas mais restritivas de emigração nos países de destino. Como resultado, embora as remessas tenham crescido, a sua percentagem do PIB tem diminuído continuamente, e é incerto se o nível das remessas externas poderá ser mantido. Uma outra questão é que enquanto que mais de metade da população recebe algum tipo de remessa, só uma pequena parcela desses fundos e outras transferências privadas beneficiam os pobres. Uma terceira questão é que enquanto as remessas parecem ser usadas para investimentos na educação e na habitação, muitas outras aplicações poderiam provavelmente serem feitas para aumentar o seu impacto no desenvolvimento.

• Pensões: As transferências para as pensões constituem uma importante fonte de

rendimento para os agregados familiares beneficiários de Cabo Verde. Cerca de 20% dos agregados familiares recebem alguma forma de pensão e estes respondem cerca de 30% do total de rendimentos dos beneficiários. Os pensionistas do estrangeiro e as pensões de reforma estão concentrados nos deciles superiores. O recentemente definido e parcialmente financiado sistema de pensões para os trabalhadores privados está actualmente em boa situação, mas a sua situação financeira a longo prazo é insustentável. A rápida maturação, o envelhecimento da população e um esquema generoso de benefícios poderá transformar rapidamente o sistema em déficits crescentes. O sistema estabelecido para os funcionários públicos é também considerado insustentável considerando os altos benefícios prometidos, a baixa taxa de contribuição e o número de anos exigidos para se qualificar para uma pensão de velhice. O sistema não-contributivo do programa de pensão mínima, embora um pouco re-distributiva, pode ter problemas de

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focalização/segmentação dos visados e carece portanto de algum estudo. (Este relatório apresenta resultados preliminares das pensões em Cabo Verde; um estudo de maior abrangência do Banco Mundial está em curso).

• Educação, saúde, e protecção social: progressos significativos foram alcançados na

educação, mas a um custo orçamental relativamente elevado. Isso é devido ao elevado custo unitário e ao grande número de matrículas dos alunos. Para garantir maiores progressos na educação básica, a eficiência e a equidade na educação necessitam de melhorias. Uma maior eficiência é requerida no uso dos recursos existentes e especia lmente na redução do gap das despesas por estudante entre os níveis do ensino primário e secundário. O sector da saúde em Cabo Verde também deu passos significativos incluindo o controle e a erradicação de muitas doenças contagiosas. Ao contrário de muitos de seus vizinhos africanos, Cabo Verde tem uma baixa incidência de HIV/AIDS, e de uma forma geral, melhores indicadores de saúde. Porém, como mencionado em relação á educação o custo orçamental para alcançar tais resultados tem sido significativo. A nível dos agregados familiares, porque as despesas públicas cobrem a maioria dos custos de educação e saúde, as despesas privadas para ambos os sectores são baixas. Existem igualmente questões distributivas nas despesas da educação e da saúde assim como as despesas relacionadas com os programas de protecção social com os pobres obtendo só uma parte limitada dos benefícios.

1.5. O terceiro objectivo do relatório é apresentar uma análise preliminar da distribuição de alguns impostos seleccionados e subsídios. O foco vai para o IVA e os preços das utilidades no Capítulo 7.

• Tributação indirecta: No dia 1 de janeiro de 2004, o Governo introduziu uma reforma alargada do sistema de tributação, incluindo a substituição do imposto de consumo pelo Imposto sobre o Valor Acrescentado e a redução das tarifas de importação. Um dos objectivos da reforma é encorajar o desenvolvimento do sector privado, reduzindo as distorções económicas da taxa de consumo, isenções aplicáveis e altas tarifas, ao mesmo tempo mantendo um fluxo fixo de receitas internas. As reformas afectam fontes fundamentais de tributação: o consumo e o impostos do comércio contabilizam em média mais de metade das receitas, ou seja 10% do PIB durante os últimos 5 anos. A título de comparação, os países da OCDE arrecadam cerca de um terço do total das receitas destes impostos. Enquanto que a introdução da reforma parece ter sido feita com sucesso e os dados preliminares sobre os impostos apontarem para um aumento nas receitas internas, permanece ainda a questão relativa ao atraso nos reembolsos. Aliás esta questão aparece sempre por resolver com a introdução do IVA em vários países. Para além disso, como demonstrado no capítulo 7 onde o foco centra-se no impacto redistributivo da introdução do IVA (e das tarifas de importação ainda existentes numa vasta gama de bens), o custo para o pobre é potencialmente elevado porque poucos bens são isentos. Considerando que o aumento das receitas provenientes do IVA foi maior que a redução das taxas de importação, a reforma tributária provavelmente conduziu a um aumento da pobreza. A única forma de contrabalançar esse efeito será assegurar que as receitas da tributação sejam utilizadas nos programas prioritários beneficiando os pobres.

• A estrutura das tarifas da água e electricidade: Com o crescimento da economia de Cabo

Verde cresceu a procura da água e electricidade. Por exemplo, novos desenvolvimentos para habitação e indústria estão aumentando a demanda de electricidade e água de qualidade alta. O consumo anual per capita de electricidade em 2002 (todos os usos) foi calculado em cerca de 175 kWh que é baixo comparado com a média para países de

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rendimento médio. Mas isto está mudando, e coloca uma série de questões, especialmente no contexto de um quadro regulador para a electricidade e distribuição de água ainda com disfunções. Este quadro regulador não acompanhou a privatização rápida e os acordos de concessão insatisfatórios em 1999. Uma Agência de Regulação Económica foi estabelecida, mas ainda encontra-se inoperacional. Existe uma estrutura tarifária mas não se conhece como ela irá progredir especialmente no contexto de grandes prejuízos técnicos e comerciais. Para além disso, os ajustes de preço do petróleo introduzidos pelo Governo em 2001 não foram seguidos por ajustes comparáveis ás tarifas de electricidade (também controladas pelo governo), e conduziu a uma situação financeira difícil para o monopólio, Electra. Assim, os planos para aumentar as ligações de água e electricidade foram suspensas e estão ligadas as várias redes, incluindo as redes rurais funcionando com geradores pequenos onde vivem a maioria dos pobres. No capítulo 7, a análise focaliza nas implicações da distribuição da estrutura de tarifas. Só uma minoria dos subsídios implícitos no bloco invertido de tarifas beneficia os pobres. Em contrapartida, os investimentos para expansão da rede teriam um impacto maior na população e melhor focalizariam nos pobres uma vez que tendem a ter as menores taxas de ligação. Neste relatório somente informações básicas são apresentadas. No entanto, estudos mais aprofundados estão sendo efectuados sobre as escolhas da estrutura de tarifas em Cabo Verde.

1.6. Outras questões que carecem de um trabalho analítico mais aprofundado poderão ser consideradas quando solicitadas. Como acima mencionado, o presente relatório é o resultado de um trabalho conjunto, mas muito mais precisa ser feito para informar o diálogo político sobre a problemática da pobreza do país e a implementação da estratégia de redução de pobreza. O Banco Mundial prosseguirá a sua colaboração com o INE para a preparação de um mapa de pobreza detalhado do país combinando os dados do IDRF e do Censo. Tal mapa poderá melhorar as intervenções do Governo para as áreas onde estão concentrados os pobres, um assunto que este relatório mostra ser importante para o país. Ferramentas para simulações dos indicadores sociais e da pobreza (SimSIP) estão sendo parametrizados com os dados de Cabo Verde e serão disponibilizados ao Governo para facilitar a análise de vários cenários de política. Outros estudos estão igualmente a ser conduzidos sobre a tributação indirecta e os subsídios para melhor elaboração das políticas. Além disso, a questão da relação entre produtividade e emprego nas áreas rurais e a pobreza rural requererá atenção uma vez que os agregados familiares vivendo nas áreas rurais têm uma probabilidade mais alta de serem pobres do que as suas contrapartes urbanas. A cobertura da educação e da saúde neste relatório é igualmente muito parcial e preliminar, carecendo de análises mais detalhadas e aprofundadas. Finalmente, estudos sobre a liberalização do comércio e a redução da pobreza no contexto específico de Cabo Verde será importante para defender mais a liberalização do comércio.

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CAPÍTULO 2 CRESCIMENTO, POBREZA E DESIGUALDADE

Cabo Verde é uma história de sucesso entre as nações africanas. O país geriu de forma pacífica a transição para a democracia. Graças á implementação de reformas e á estabilidade política, foi conseguido um crescimento económico sustentado nos anos noventa. Como resultado, a percentagem da população vivendo na pobreza foi reduzida de 49% em 1988-89 para 37% em 2001-02. A secção A deste capítulo apresenta uma breve revisão do desempenho macroeconómico do país. A secção B apresenta estimativas da tendência da pobreza e da desigualdade. A secção C esboça alguns dos desafios que o país poderá enfrentar no futuro.

A. DESEMPENHO MACROECONÓMICO: UMA BREVE REVISÃO 2.1. Cabo Verde é um país pequeno constituído por dez ilhas localizado aproximadamente a 650 Km da costa do Senegal e com uma área de 4036 Km2. Somente nove das dez ilhas são habitadas e de acordo com o censo de 2002, mais de metade da população total de 434,625 pessoas vivem na Ilha de Santiago. Devido às peculiaridades do clima Saheliano do país - seca e falta de chuvas, somente um décimo do solo do país é arável. Períodos persistentes de seca e uma falta de água dificultam o desenvolvimento de uma produção agrícola estável e, mesmo nos melhores anos de chuva, a produção agrícola fornece somente parte das necessidades alimentares da população.

2.2. O país passou de um modelo de desenvolvimento económico socialista para um modelo capitalista em finais dos anos 80. Após a independência em 1975, o modelo económico de Cabo Verde confiou ao governo o papel principal de desenvolvimento empresarial na agricultura, na indústria e nos serviços, atribuindo ao sector privado uma fraca importância. Assim, o Governo criou empresas públicas nos principais sectores da economia. Esta estratégia conduziu a uma deterioração da competitividade, a baixos níveis de investimento directo estrangeiro e a um fraco desempenho económico em geral. Em 1988, o governo do pós -independência adoptou um novo modelo económico com uma estratégia orientada para o exterior promovendo a privatização das empresas públicas e promovendo a liberalização do comércio. As prioridades das despesas públicas mudaram rapidamente centrando-se na construção de infra-estruturas económicas e sociais, deixando o investimento privado liderar em algumas indústrias, especialmente a indústria ligeira de confecções e pescas. A alta taxa de desemprego e desigualdades nos finais dos anos oitenta conduziram a uma mudança no Governo em 1991. O novo governo continuou com a política de redução do papel do estado na economia e estabeleceu prioridades visando a melhoria da educação, a redução da pobreza e do desemprego. Introduziu novas legislação e reformas, que ainda precisam ser refinadas e implementadas na sua globalidade em vários aspectos relacionados com o investimento estrangeiro, a privatização, e os serviços bancários off-shore. O novo governo também procurou o apoio tanto bilateral como multilateral dos doadores para melhorar os serviços e o desenvolvimento humano e de infra-estruturas importantes. 2.3. Desde finais dos anos 80, um crescimento económico remarcável foi conseguido. Entre 1988 e 2002, o PIB real cresceu em média, a 6.4% e a inflação foi contida a uma taxa média de 3% por ano. Ao contrário da maioria dos países africanos da região sub-sahariana, a economia depende muito mais dos serviços e industria/manufactura do que do sector primário. A maioria do crescimento foi gerado pelos serviços onde as actividades do sector privado aumentaram dramaticamente com a retirada do Estado dos sectores, seguido de reformas implementadas ao

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longo dos anos 90. A construção e o comércio constituem os maiores sectores da economia. Juntos constituem aproximadamente 30% do PIB (cada um perfazendo 15% do PIB). Dentro dos serviços, os sectores de maior crescimento foram os serviços de restauração e hotelaria, transportes, e comunicações. Estes sectores devem o seu crescimento a uma rápida expansão do turismo. Em 2002, o turismo respondeu para 42% das receitas de exportação. Durante os últimos cinco anos, a percentagem dos serviços no PIB ronda em média 72% sendo a agricultura e a indústria a contribuíram com 11% e 17% do PIB, respectivamente.

Figure 2.1: Estrutura da economia e Crescimento do PIB

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Fonte: INE.

2.4. Reformas adicionais foram recentemente implementadas. As restrições quantitativas nas importações e exportações foram eliminadas. A reforma tributária introduzida em 2004 reduziu o número de bandas de tarifas de 64 para 7 e a tarifa máxima reduziu de 250% para 50% . Espera-se que a introdução do IVA também em 2004 elimine distorções na estrutura de incentivos para os empresários e conquiste serviços pela primeira vez. A terceira revisão sob a égide do FMI PRGF que foi concluída em Dezembro de 2003 mostra que a implementação de reformas estruturais continuou de maneira satisfatória. O relatório do FMI concorda com o conjunto de políticas macro-económicas proposto pelo Governo para 2003-04 o que permitirá uma maior cobertura dos serviços da educação e saúde, um aumento nas reservas internacionais e a expansão do crédito. O relatório também felicita as autoridades pelos progressos alcançados na implementação do IVA e na redução dos prejuízos financeiros das empresas públicas. Uma discussão mais detalhada das principais características da economia de Cabo Verde foi apresentada recentemente pelo Banco Mundial (2004) no documento Revisão da Política de Desenvolvimento. B. PROGRESSOS ALCANÇADOS NA REDUÇÃO DA POBREZA 2.5. Graças ao elevado crescimento económico, a percentagem da população vivendo na pobreza reduziu em ¼ nos anos 90. Durante os anos noventa, Cabo Verde cresceu a uma taxa de 6-7% por ano o que induz a uma taxa de crescimento per capita de cerca de 4%. Como resultado, entre 1988-89 e 2001-02, a pobreza foi grandemente reduzida. As nossas estimativas de pobreza estão baseadas no inquérito do IDRF (Inquérito às Despensas e Receitas Familiares) levado a cabo pelo Instituto Nacional de Estatísticas entre Outubro de 2001 e Outubro de 2002. O

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Quadro 2.1 apresenta os principais resultados. As medidas da pobreza e da desigualdade foram baseadas no consumo per capita. A linha da pobreza por pessoa, por ano em 2001-02 é igual a 43,250 escudos (o equivalente a EUA $396.9 por ano), e a linha da pobreza extrema é de 28,833 escudos por ano (o equivalente a EUA $264.6 por ano). Embora a linha da pobreza em 2001-02 foi fixada numa base relativa, a evolução da pobreza entre 1988-89 e 2001-02 reflecte uma mudança absoluta do bem-estar.

• Níveis de Pobreza: A percentagem da população vivendo na pobreza (headcount index) em 2001-02 era de 36.69% do total da população. Isto significa que em termos gerais, 173,000 pessoas eram pobres. De entre estes, cerca de 93.000 – 20.50% da população–vivia em pobreza extrema (i.e. o consumo per capita desse grupo estava abaixo de 28,833 escudos por ano).

• Tendências da pobreza: A parte da população vivendo na pobreza foi reduzida de 48.97%

em 1988/89 para 36.69% em 2001/02 (uma redução de 12.28 pontos, um quarto do nível inicial). A parte da população vivendo em extrema pobreza foi reduzida de 32.34% para 20.50%. Outras medidas utilizadas como o “gap da pobreza” (que leva em conta a distância que separa o pobre da linha de pobreza) e o “gap” ao quadrado (que leva em conta a desigualdade entre o pobre) também diminuiu drasticamente. Outro indicador da melhoria das condições de vida é o facto que a percentagem do consumo total destinado à alimentação (que pode ser considerado, regra geral como sendo em necessidades básicas) foi igualmente reduzida de 50% para 35%.

• Desigualdade e previdência social: A desigualdade aumentou, com o índice de Gini

subindo de 50.17 em 1988/89 para 52.83 em 2001/02. Apesar do aumento da desigualdade, a previdência social, medido pela média do consumo per capita vezes 1 menos o índice de Gini, aumentou substancialmente, em cerca de um terço versus o nível de 1988-89. Se a desigualdade não tivesse aumentado, a redução da percentagem da população vivendo na pobreza teria sido ainda maior (14.09 pontos em vez de 12.28 pontos). Apesar do aumento de desigualdade não ser desprezível, uma preocupação mais importante é que Cabo Verde parece ser um país com níveis altos de desigualdade em comparação com outros países. Cerca de 20% da população consome somente 4.16% do consumo total, enquanto os 10% do topo contabilizam o consumo de cerca de 43%.

Quadro 2.1. Tendência da pobreza e desigualdade em (%), Cabo Verde 1998-99 a 2001-02

Pobreza Moderada 1998-99 2001-02 Impacto no crescimento Mod Ext

Total 48.97 36.69 Total -14.09 -11.98 Gap Pobreza 21.48 13.59 Gap Pobreza -8.39 -6.00 Quadrado do Gap 11.86 6.61 Quadr. Gap -5.59 -3.36

Ext. Pobreza Impacto na desigualdade

Total 32.34 20.50 Total 3.15 1.51 Gap Pobreza 11.70 5.96 Gap Pobreza 1.10 0.43 Quadrado do Gap 5.41 2.36 Quadr. Gap 0.57 0.32

Previdência social Residual Consumo Médio 70328 98790 Total 1.34 1.37 Gini index 50.17 52.83 Gap Pobreza 0.59 0.16 Média*(1-Gini) 35044 46600 Quadr. Gap 0.24 0.00

Fonte: INE e estimativas do pessoal do Banco Mundial

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2.6. Se o PIB continuar crescendo à mesma taxa, a pobreza será reduzida por metade em 2015 contra o nível de 1990. Assumindo que o crescimento futuro será uniformemente distribuído entre todos os indivíduos – um cenário optimista considerando um aumento moderado na desigualdade em CV entre 1988/89 e 2001/02 – a uma taxa constante de crescimento do PIB per capita de 3, 4, e 5 por cento por ano, Cabo Verde poderá alcançar a meta de reduzir para metade a pobreza estabelecida nos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio nos anos 2011, 2009, e 2008 respectivamente (Figura 2.2). Porém, convém notar que o impacto futuro na redução da pobreza não necessita ser tão grande, especialmente se a desigualdade continuar a crescer. Políticas de despesas públicas a favor dos pobres poderiam, a longo prazo, ajudar o crescimento futuro mais direccionado para os mais pobres.

Figura 2.2: Simulações para Redução da Pobreza Futura Sob Vários Cenários de Crescimento

5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

30,00

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40,00

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Inci

den

cia

da

Po

bre

za

Taxa Cresc. 5%Taxa Cresc.4Taxa Cresc. 3%Taxa Cresc. 5% (2002-2007), 3% (2007-2015)Obj. Des. Mil.

2.7. Cabo Verde também alcançou progressos significativos no desenvolvimento humano. O índice de desenvolvimento humano do país aumentou 14 pontos (de 0.587 em 1990 para 0.670 em 2003). A taxa de escolarização entre os jovens é muito alta (91% para os indivíduos entre 5 e 30 anos de idade). Foram erradicadas doenças contagiosas que são comuns em muitos outros países africanos, através do fácil e grátis acesso a cuidados médicos para todos. A esperança de vida á nascença de 69 anos, é provavelmente a terceira mais alta da África. A taxa de mortalidade infantil em Cabo Verde é a terceira mais baixa do continente. Porém, doenças relacionadas com câncer, doenças de coração e diabetes estão crescendo. Uma discussão sobre os resultados da educação e da saúde do país é apresentada no capítulo 5. C. DESAFIOS FUTUROS 2.8. Apesar do grande desempenho dos anos noventa, há uma preocupação se o país poderá

sustentar o mesmo alto nível de crescimento no futuro. Pelo menos duas observações poderão ser feitas (aqui só esboçamos estas perguntas; um tratamento mais aprofundado

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destas e outros assuntos relacionados foram incluídos no Documento do Banco Mundial (2004) Revisão de Política de Desenvolvimento:

• Ambiente empresarial: O ambiente empresarial para o desenvolvimento do sector privado

melhorou desde inícios de 90, mas os empresários ainda continuam enfrentando constrangimentos. Processos administrativos morosos para estabelecer uma empresas e infra-estruturas inadequadas (por exemplo, energia, água) constituem constrangimentos sérios assim como o limitado acesso ao financiamento, particularmente para as pequenas empresas, para a agricultura e para a pesca. A uma taxa média de 13%, as taxas de juros permanecem altas. Como existem somente cinco bancos comerciais no país e os dois maiores bancos controlam quase 90% dos activos, a concorrência no sector financeiro fica limitada. Isto é reflectido no “spread” da taxa de juros que subiu de 5 pontos em 1999 para 7.1 pontos em 2003. Talvez e com mais fundamento, como o país consiste em ilhas separadas, custos de transporte são altos que é uma questão que afecta ambas a competitividade internacional e o custo de vida da população dentro do país. A melhoria da qualidade e a redução do custo de transportes marítimo e aéreos poderiam ajudar.

• Vulnerabilidade a choques externos: Uma segunda preocupação é a alta propensidade do

país para importar os choques externos e consequentemente aumentar a sua vulnerabilidade. Em média, a conta de importações é de cerca de 40% do PIB. O sistema de câmbio fixo - que provou ser resiliente durante períodos de aumento rápido dos preços internacionais do petróleo e as flutuações internacionais do financiamento externo - é mantido através de influxos do financiamento externo. Por forma a manter a confiança no regime cambial, as reservas internacionais devem estar a um nível adequado para servir de barreira contra os choques recorrentes. Actualmente, as reservas correspondem a 2 meses do valor das importações. Um declínio no financiamento externo poderia ter implicações importantes no nível de reservas e na política macro-económica do país. Como apontado no relatório de revisão do FMI PRGF, o stock de reservas cambiais pode ser baixo para suportar um potencial choque externo. Igualmente, as tarifas continuam ainda relativamente altas apesar de 10 anos de liberalização.

2.9. Também estreitamente relacionado com a redução da pobreza e o PRSP é a questão se o país estará vivendo para além dos seus recursos. Novamente, podem ser colocadas duas observações principais a este respeito:

• Dependência nas remessas e na ajuda externa : Hoje existem mais Caboverdianos vivendo no estrangeiro do que dentro do país. Em média, as remessas dos emigrantes representam cerca de 20% do PIB e as poupanças dos emigrantes representam 3.5% do PIB. Os depósitos nas contas dos emigrantes representam 33% do total dos depósitos dos bancos comerciais. Essas remessas constituem uma fonte importante de rendimento para muitas famílias e desempenham um papel importante na redução da pobreza. As remessas em Cabo Verde são de alguma forma regressivas e, por conseguinte, afectam a desigualdade do rendimento. O fluxo das remessas pressupõe que o nível de consumo é alto, a 115% do PIB. A taxa de poupança nacional é de cerca de 7% do PIB e o investimento cerca de 20% do PIB do qual três quartos são privados, mas igualmente influenciada pelo impacto das remessas. Se as remessas terminassem de entrar isso traria um impacto negativo no crescimento e levaria muitos agregados familiares do país a serem vulneráveis à pobreza. O papel das remessas para a redução da pobreza é discutido no capítulo 3. O nível de vida dos Caboverdianos continua a aumentar constantemente e o país poderá em breve ser graduado do estatuto de Países Menos Desenvolvimentos, o que poderá conduzir a um declínio significativo da ajuda externa. Presentemente, Cabo Verde está entre os países

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recipientes com alta taxa per capita da ajuda externa. Em 2002 recebia US$201 de ajuda por pessoa. Uma redução na ajuda externa também teria implicações na capacidade de redução da pobreza no futuro.

• Rápido aumento das despesas públicas: Como o governo apostou em investir mais nos

sectores sociais, infra-estruturas básicas e a luta contra o desemprego, as despesas públicas têm crescido rapidamente. Houve um rápido aumento nos salários públicos, nas pensões, nas despesas sociais, e pagamentos de juros. A conta de ordenados do governo alcançou 10% do PIB em 2002 (60% dos quais relativos a despesas com a educação). Enquanto as pensões correspondem a somente 2% do PIB em 2003, o seu montante está aumentando rapidamente, e os vários esquemas (financiados através do sistema de pagamento ao longo do tempo) deverá ter uma nova vaga de pensionistas com todos os benefícios adquiridos nos próximos dez anos. O déficit fiscal (excluindo donativos) era de 8.0% em 2001 e 8.5% em 2002. O pagamento de juros da dívida externa e interna também aumentou muito (2.6% do PIB em 2003). Nos finais de 2003, o valor presente líquido da dívida externa era de US$257 milhões ou 33% do PIB. Porque o sistema de câmbio fixo limita o uso de políticas monetárias, a política fiscal teria aguentado o fardo do ajuste macro-económico quando esses ajustes se mostraram necessários. A questão do nível das despesas e o seu impacto na pobreza é discutida nos capítulos 4 e 5.

2.10. Um outro desafio é a falta da avaliação do impacto - se o país está usando os seus recursos efectivamente para reduzir a pobreza. Em 1999, o Governo de Cabo Verde iniciou a implementação do Programa Nacional de Redução da Pobreza (PNLP) que pretende desenvolver uma estratégia para reduzir a pobreza de uma maneira sustentável e durável. O Governo pretende implementar o programa de um modo descentralizado, levando em conta as diferentes necessidades da população em cada ilha. Os objectivos principais do programa são i) melhorar a capacidade produtiva do pobre; ii) reduzir a pobreza das mulheres aumentando a sua auto-promoção; iii) fortalecer a capacidade institucional do estado na planificação, coordenação, e implementação das actividades relacionadas com a redução da pobreza; iv) melhorar as infra-estruturas sociais, especialmente nas regiões onde a pobreza está concentrada; e v) corrigir desigualdades entre os agregados ricos e pobres em termos de provisão dos serviços básicos, como a educação, a saúde, o saneamento, a nutrição, e o abastecimento de água potável. Em 2003, foi efectuada uma avaliação do PNLP baseado nas percepções dos beneficiários do programa. De acordo com os beneficiários que participaram no estudo, 85% consideraram que as intervenções/programas implementadas pelo PNLP eram importantes para a redução da pobreza e satisfaziam as necessidades das comunidades. Não obstante o encorajamento desses resultados, dificilmente poderiam ser considerados como uma avaliação aprofundada do impacto e do custo/eficiência dos programas implementados. Igualmente o estudo mostrou que a maioria dos beneficiários (69%) não participou no desenvolvimento dos programas. Só 11% dos beneficiários participaram no processo de identificação do programa, e 9% participaram na implementação. Falta de tempo (24%), falta de interesse (15%), e falta de informação em como ser envolvido (15%), foram as razões principais por que os beneficiários não estão mais envolvidos nas várias actividades. De uma maneira geral, uma avaliação mais completa do programa de redução da pobreza de Cabo Verde será necessária para se avaliar se realmente o programa responde às necessidades dos pobres, especialmente nas áreas rurais onde vivem aproximadamente dois terços dos pobres do país. 2.11. Muitos dos desafios apontados foram considerados no PRSP do país. O Governo de Cabo Verde apresentou seu Ínterim PRSP em Janeiro de 2002 e o PRSP completo em Setembro de 2004. O PRSP assenta em cinco pilares – desenvolvimento do capital humano, promoção da boa governação, promoção do desenvolvimento social e coesão, desenvolvimento do sector

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privado, e desenvolvimento de infra-estruturas básicas e económicas – e é desenvolvido a partir de três documentos nacionais, nomeadamente, o Programa Nacional de Luta Contra a Pobreza Nacional (1987), o Plano Nacional de Redução da Pobreza (1997), e as Grandes Opções do Plano (2001). O PRSP reconhece os importantes ganhos económicos, sociais e culturais mas ainda identifica a pobreza como o obstáculo principal ao desenvolvimento. O PRSP reconhece que a pobreza permanece alta porque o desemprego é alto e as disparidades regionais persistem enquanto a emigração diminuiu. O documento identifica correctamente que a população rural, os analfabetos, os desempregados e ou as mulheres são os mais prováveis de serem pobres. O PRSP discute o plano do governo para melhorar a capacidade produtiva do pobre através da melhoria da política de micro-finanças, provisão de formação, e melhores infra-estruturas económicas e sociais. As áreas prioritárias de intervenção são a educação, a saúde e nutrição, água potável e saneamento básico e habitação. O PRSP também enfatiza a necessidade de focalizar as intervenções nas mulheres através da melhoria da saúde materna, educação e encorajamento para uma participação activa na vida económica. Os comentários mais detalhados ao PRSP encontram-se na nota conjunta preparada pelo Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial (2004).

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CAPÍTULO 3 DETERMINANTES DA POBREZA E FONTES DE RENDIMENTO

Este capítulo é dedicado a uma análise dos determinantes da pobreza e bem-estar em Cabo Verde. A Secção A apresenta um resumo de alguns dos resultados do perfil da pobreza preparados pelo INE. A Secção B descreve os resultados dos determinantes do nível de consumo, rendimentos, e os activos-bens dos agregados familiares. Depois, a Secção C apresenta dados sobre as principais fontes de rendimentos dos agregados familiares. Como os salários representam dois terços do rendimento total das famílias, uma breve análise dos determinantes dos salários é fornecida.

A. O PERFIL DA POBREZA 3.1. O perfil da pobreza foi preparado pelo INE com base no inquérito de 2001 -02. Muitas das estatísticas são apresentadas em termos de percentagem dos agregados familiares (em vez de percentagem da população) que são pobres de entre todas as famílias e de grupos específicos de agregados familiares. Em 2001-02, dos 95,000 agregados familiares, 28% eram pobres (aproximadamente 27,000 famílias) e 14% eram extremamente pobres (13,000 famílias). As taxas de pobreza e de pobreza extrema em termos da população total (não em termos do número total de famílias) está em 36.7% (aproximadamente 173,000 indivíduos) e 20.50% (aproximadamente 93,000 indivíduos) respectivamente. A percentagem das famílias na pobreza é mais baixa do que a percentagem de indivíduos (ou da população) na pobreza isso porque os agregados familiares pobres tendem a ter mais pessoas, e isto não é considerado na medida da pobreza das famílias. A pobreza é mais prevalecente entre famílias com um maior número de pessoas11. Por exemplo, 46% das famílias com mais de 6 crianças são pobres. Isto também implica que os indivíduos mais jovens como as crianças que normalmente são mais numerosas nas famílias também sejam mais pobres. Como era de esperar, a pobreza é mais acentuada entre as pessoas com níveis mais baixos de educação. Cerca de 85% dos pobres com idade entre os 5 e mais não têm nenhuma ou têm menos que a educação primária (do total dos 155,000 com idade superior a 5 anos que são pobres, 37,000 não têm nenhuma educação, e 94,000 somente completaram a sua educação primária). O nível da pobreza é igualmente influenciado pelo nível de instrução do chefe do agregado familiar. Quase todas as famílias pobres têm um chefe de família com nenhuma educação (42%) ou só com a educação primária (56%). A incidência da pobreza também depende da ilha (e da área dentro da ilha) onde o agregado familiar vive. Por exemplo, em Santiago, a percentagem da população na pobreza é de 49% entre os indivíduos que vivem fora da cidade da Praia e de 20% para os indivíduos que residem na Praia. Cerca de 55% de todos os indivíduos pobres (95,000 pessoas) 1 Utilizando o consumo per capita como indicador de bem –estar, não se toma em conta as economias de escala das famílias, nem a diferença nas necessidades dos membros da família. Ignorando as economias de escala, consideramos que as necessidades de uma família de oito pessoas são as mesmas de uma família de quatro pessoas. Com a economia de escala, uma família de oito membros tendo o dobro do rendimento da de quatro será melhor classificada do que aquela com quatro membros. Assim, não permitir a contabilização das economias de escala, sobrestima o impacto negativo do número de bebés e crianças na pobreza. Para além disso, ignorando as diferenças em necessidades entre os diferentes membros de uma família, não consideramos o facto de famílias numerosas com muitas crianças podem não ter as mesmas necessidades per capita do que uma família pequena porque as necessidades dos bebés e das crianças tendem a ser menores do que as dos adultos. Não considerar as diferenças das necessidades também leva a uma sobre-estimação do impacto do número de bebés e crianças na pobreza. No entanto, mesmo que correcções sejam feitas para tomar em consideração as diferenças nas necessidades e economias de escala, um grande número de bebés e crianças levaria a um nível baixo de consumo pelo equivalente a um adulto e uma alta probabilidade de ser pobre.

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vivem em Santiago; aproximadamente 22,000 desses vivem na Praia. Santo Antão é a ilha com a mais alta incidência da pobreza (54%, ou seja 18 pontos sobre a média nacional). As ilhas de S. Antão, S. Vicente, e Fogo respondem por 37% do total das pessoas pobres. 3.2. A Pobreza está altamente concentrada entre os indivíduos jovens. O total da pobreza para os indivíduos até 14 anos de idade é de 43 a 44%, de 35% para os jovens, e de 30 a 31% para os indivíduos mais velhos (estas estimativas podem ser um pouco sensíveis da escala de equivalência; veja a nota de rodapé 1 na página anterior). Considerando que perto de dois terços da população tem menos de 24 anos de idade, o país enfrenta um problema demográfico importante na implementação do PRSP (de entre outras questões, fazer face ao desemprego dos jovens e a análise do sistema de pensões). Quadro 3.1. Percentagem da população pobre por ilha, Cabo Verde 2001-02

Número de Pobres

Total dos pobres

%

Percentagem dos pobres

%r

Número de Pobres

Total dos Pobres

%

Percentagem dos pobres

%

Ilha Grupo de idade Santiago 95026 37,1 55,0 0-4 anos 22850 0.44 0.11 Praia urbano 21637 20,3 12,5 5-14 anos 60907 0.43 0.30 Restante Santiago 73389 49,1 42,5 15-24 anos 34728 0.35 0.21 S. Antão 27414 54,2 15,9 25-64 anos 43970 0.30 0.31 São Vicente 18240 25,5 10,6 65 e mais 10258 0.31 0.07

Fogo 17363 42,1 10,1 Género Outras Ilhas 14684 28,6 8,5 Homens 83857 0.49 0.48 Cabo Verde 172712 36,7 100 Mulheres 88855 0.51 0.52

Fonte: INE e Banco Mundial utilizando os dados do IDRF 2001/02 B. DETERMINANTES DA POBREZA 3.3. É prática geral a apresentação de um perfil de pobreza num relatório da pobreza. No entanto, será melhor apresentar regressões que fornecem mais informações sobre os determinantes da pobreza. O perfil da pobreza é um conjunto de quadros que fornece a probabilidade de ser pobre de acordo com várias características, como a área na qual o agregado familiar vive, o nível de educação do chefe de família. O problema com o perfil da pobreza é que enquanto fornece informações sobre quem é o pobre, ela não poderá ser utilizada para avaliar com qualquer precisão quais os determinantes da pobreza. Por exemplo, o facto das famílias nalgumas ilhas terem uma baixa probabilidade de serem pobres do que outras famílias noutras ilhas pode não ter nada a ver com as características das ilhas nas quais as famílias vivem. As diferenças nas taxas de pobreza entre ilhas podem ser devidas (pelo menos em parte) pelas diferenças nas características das famílias que vivem nessas várias ilhas, do que nas diferenças das características das próprias ilhas. De uma maneira geral, para gerar as correlações ou os determinantes da pobreza e o impacto de várias variáveis na probabilidade de se ser pobre, são necessárias as regressões. Nesta secção, apresentamos os resultados de tais regressões. 3.4. Para avaliar o impacto de várias características no consumo per capita das famílias, assentamos em regressões lineares. São apresentadas em separado as regressões para as áreas urbanas e rurais. Analisamos os determinantes do consumo per capita, rendimento per capita, e os

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bens por cada agregado familiar. Para além de uma constante, os “regressores” incluem : (a) local geográfico de acordo com a ilha na qual o agregado familiar reside; (b) variáveis do tamanho dos agregados familiares e o quadrado dessa medida (número de bebés, crianças, e adultos), se o chefe de família é uma mulher, a idade do chefe e quadrado desse número, se o chefe de família tem um cônjuge ou não, e o estatuto de emigração do chefe de família; (c) características do chefe de família, incluindo seu nível de educação; se ele ou ela é empregado, desempregado procurando trabalho, ou não trabalhando; seu sector de actividade; seu/sua função; se trabalha no sector público; o tamanho da empresa na qual ele/ela trabalha; se ele/ela é desempregado; e se ele/ela não pode trabalhar devido a razões de saúde ou razões de família; e (d) o mesmo conjunto de características para o cônjuge do chefe de família quando existir. Os resultados importantes são os seguintes (as estimativas dos ganhos marginais ou perdas associadas com as várias características dos agregados familiares são apresentadas no Quadro 3.2; estas estimativas fornecem a magnitude dos impactos observados directamente no consumo per capita):

• As características demográficas: Para cada bebé/criança adicional na família, o

consumo per capita diminui em até 20 a 30%. Um adulto sénior extra na família está associado com 13 a 20% de perda de rendimento per capita, mas um nível mais alto de bens. Embora os agregados urbanos chefiados por mulheres estejam associados a uma perda em 6% dos rendimentos per capita, não existem evidências que semelhantes resultados também se repetem a nível do consumo e dos bens. Os agregados cujos chefes são solteiros, têm um baixo nível de rendimentos e bens do que os agregados com chefes de famílias casados.

• O emprego: Os agregados com o chefe fora do mercado de trabalho são associados com

ganhos em rendimentos, consumo, e bens, sugerindo que somente os que têm posses podem não trabalhar ou não estar a procurar um trabalho (outras explicações podem ser relacionadas com o generoso sistema de pensões, e o nível das remessas. Estudos adicionais poderão trazer mais luz a este resultado). Os agregados com um chefe de família desempregado (6% de todos os agregados) não têm níveis mais baixos de consumo como seria esperado, de rendimentos, ou bens comparado com os agregados com o chefe empregado. Porém, para cada semana adicional de desemprego acima do limite, o rendimento per capita diminui de 1.7 a 1.9% (nas áreas rurais e urbanas, respectivamente) o que sugere que a menos que o tempo no desemprego seja muito curto, isso tem um impacto no bem-estar familiar. O facto do impacto não ser maior pode estar relacionado com a recepção de maiores influxos das remessas quando no desemprego o que poderá minimizar os efeitos do desemprego. Para além disso, o lapso de tempo de desemprego do chefe de família é curto, em média (3.8 semanas média nas áreas urbanas contra 6.8 semanas nas áreas rurais), mas isto pode ser precisamente porque os chefes de família não podem ficar sem trabalho por períodos significativos de tempo, e assim conseguem arranjar algum tipo de trabalho.

• Tipo de trabalho: Os agregados cujos chefes são donos das firmas ou são trabalhadores

independentes estão associadas com 20 a 60% dos níveis mais altos de consumo per capita e de rendimentos e também possuírem mais bens. Os agregados com chefes trabalhando nos sectores secundário, terciário e na administração pública têm níveis de rendimentos/consumos 15 a 22% mais do que os chefes que trabalham no sector primário. De uma forma geral, este resultado também se verifica para o nível de propriedade. Os agregados com o chefe trabalhando como trabalhador não qualificado tem um nível de consumo per capita, rendimentos e bens muito abaixo dos agregados

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cujo chefe é um profissional, um trabalhador administrativo ou operador de máquinas, ou com alguma qualificação. O tempo de trabalho do chefe de família, seja tempo inteiro ou parte do tempo, não faz diferença no consumo ou bens per capita, mas os trabalhadores a tempo parcial estão associados com níveis baixos de rendimentos do que os trabalhadores a tempo inteiro. Quando o chefe tem dois trabalhos, isso conduz a um ganho de 8% no consumo do agregado. As variáveis relacionadas com o emprego do cônjuge têm igualmente impactos, mas estes tendem a ser de menor magnitude do que os impactos observados para os chefes de família.

• Educação: O impacto da educação do chefe e do cônjuge é significante e maior nas

áreas urbanas que nas áreas rurais. Os ganhos associados com um chefe de família com a educação primária, secundária, ou superior varia de 20 a 90% do nível de consumo per capita e rendimento da família cujo chefe não tenha nenhuma educação, com ganhos maiores para os níveis de ensino superior. O impacto da educação nos bens/propriedades é ainda maior.

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Quadro 3.2: Percentagem dos Ganhos/Perdas associados com as várias características, Cabo Verde 2001-02 Urbano Rural Urbano Rural Urbano Rural

Consumo

(per capita) Rendimento (per capita)

Riqueza (nível de bens)

Variáveis demográficas (número) Número de crianças (menos de-5) na família -0.232 -0.239 -0.211 -0.232 -0.471 -0.148 Quadrado do número de crianças na família 0.027 0.036 N.S. 0.034 0.060 N.S. Número de crianças (idade 5 -14) na família -0.297 -0.200 -0.294 -0.231 N.S. 0.205 Quadrado do número de crianças na família 0.029 0.010 0.027 0.016 N.S. -0.029 Número de adultos (idade 15-64) na família -0.181 -0.083 -0.164 -0.081 0.278 0.248 Quadrado do número de adultos na família 0.015 N.S. 0.016 0.008 N.S. N.S. Número de idosos (idade 65+) na família -0.134 N.S. -0.136 -0.147 0.417 N.S. Quadrado do número de idosos na família N.S. N.S. N.S. N.S. N.S. 0.187 Casa chefiada por uma mulher N.S. N.S. -0.062 N.S. 0.255 N.S. Chefe de família é solteiro N.S. N.S. -0.082 -0.167 -0.335 -0.485 Idade do chefe de família 0.020 N.S. 0.016 N.S. 0.159 0.038 Quadrado da idade do chefe de família 0.000 N.S. N.S. N.S. -0.001 N.S. Categoria profissional (chefe)

Chefe de família não trabalha 0.330 0.230 0.127 N.S. 1.592 0.631 Chefe de família está desempregada N.S. N.S. N.S. N.S. N.S. N.S.

Categoria Ocupacional (Chefe) Chefe é dono do seu trabalho (independente) N.S. 0.197 0.075 0.136 N.S. 0.354 Chefe é dono de firma, é empregador 0.294 0.624 0.210 0.546 1.092 2.140 Chefe não é pago – trabalho familiar/ outro tipo de trabalhador N.S. N.S. N.S. N.S. N.S. N.S.

Sector (Chefe) Chefe trabalha no sector secundário 0.154 N.S. N.S. 0.220 0.484 0.284 Chefe trabalha no sector terciário 0.160 0.173 N.S. 0.137 0.559 0.231 Chefe trabalha na administração pública 0.183 N.S. N.S. N.S. 0.506 0.260

Tipo de Emprego (Chefe) Trabalho administrativo, profissional, ou técnico 0.460 N.S. 0.449 0.289 2.064 0.791 Administrativo/serviços, operador de máquinas, forças armadas, 0.290 N.S. 0.237 0.173 1.221 0.725 Trabalhador agrícola qualificado, operador, 0.153 0.110 0.184 0.139 0.664 N.S.

Estatuto no emprego (Chefe) Trabalhador temporário, ocasional N.S. N.S. -0.125 N.S. N.S. N.S. Outro estatuto N.S. N.S. N.S. N.S. N.S. N.S.

Outras variáveis relacionadas com o empreg o (Chefe) Chefe tem um segundo emprego 0.081 0.086 N.S. N.S. N.S. 0.207 Número de semanas chefe esteve desempregado nos 12 últimos meses N.S. N.S. -0.017 -0.019 -0.068 -0.031 Quadrado número semanas chefe esteve desempregado nos últimos 12 meses N.S. N.S. 0.000 0.000 0.001 0.001

Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial. NS: Não significante. Coeficientes exibidos são significantes com um nível de 5% de confiança. Os coeficientes significativos são sublinhados com 10% do nível de confiança. Categorias omitidas: Ocupação: Chefe empregado; Estatuto Ocupacional: Chefe ganha um salário; Sector Primário; Tipo de Emprego: Trabalhador não qualificado; Estatuto no Emprego: tempo inteiro.

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Quadro 3.2: Continua Urbano Rural Urbano Rural Urbano Rural

Consumo

(per capita) Rendimento (per capita)

Riqueza (nível de bens)

Categoria profissional (do cônjuge) Cônjuge fora da população activa N.S. -0.186 -0.208 -0.269 N.S. -0.384 Cônjuge é desempregado N.S. N.S. N.S. N.S. N.S. N.S.

Estatuto profissional (do cônjuge) Cônjuge é o dono de uma firma ou independente N.S. -0.127 0.080 N.S. N.S. N.S. Cônjuge é um trabalhador da família não remunerado N.S. N.S. -0.192 N.S. -0.846 -0.495

Tipo de Emprego (do cônjuge) Gestão, profissional, ou técnico 0.227 0.494 0.303 0.586 1.168 1.697 Serviços/Administrativo, operador de máquina, forças armadas 0.147 0.250 0.172 0.258 0.656 1.005 Trabalhador agrícola qualificado, operador N.S. N.S. N.S. N.S. N.S. N.S.

Estatuto no emprego (do cônjuge) Cônjuge é trabalhador temporário, ocasional N.S. N.S. -0.317 -0.185 N.S. N.S. Estatuto do cônjuge é outro N.S. N.S. N.S. N.S. N.S. N.S.

Outras variáveis relacionadas com o emprego (do cônjuge) Cônjuge tem um segundo emprego N.S. N.S. N.S. N.S. N.S. -0.362 Nº de semanas esteve desempregado nos últimos 12 meses N.S. -0.021 N.S. N.S. N.S. -0.036 Quadrado Nº semanas desempregado nos últimos 12 meses N.S. 0.000 N.S. N.S. N.S. N.S.

Educação do Chefe do Agregado Alfabetizado N.S. N.S. N.S. N.S. 0.759 N.S. Educação primária Incompleta 0.277 0.062 0.219 0.117 1.174 0.583 Educação primária concluída 0.408 0.132 0.313 0.134 1.970 0.828 Educação Secundária Co mpleta/incompleta 0.597 0.350 0.588 0.319 2.554 1.233 Nível intermédio ou educação terciária 0.882 0.737 0.853 0.675 3.073 2.413

Estatuto de emigração do Chefe do Agregado Emigrante no estrangeiro 0.164 0.109 0.104 0.211 0.551 N.S. Migrante interno 0.055 0.131 N.S. 0.097 N.S. N.S.

Educação do Cônjuge Alfabetizado N.S. N.S. N.S. N.S. N.S. N.S. Educação primária incompleta N.S. N.S. 0.123 N.S. 0.249 0.289 Educação primária Completa N.S. 0.166 N.S. 0.301 N.S. 0.992 Educação secundária Completa/incompleta 0.227 N.S. 0.167 N.S. 0.688 1.184 Nível intermédio ou educação terciária 0.393 N.S. 0.251 N.S. 1.446 N.S.

Estatuto de emigração do Cônjuge Emigrante no estrangeiro 0.121 0.186 N.S. 0.248 N.S. N.S. Migrante interno N.S. N.S. N.S. N.S. -0.338 N.S.

Localização geográfica (Ilha) Santo Antão -0.337 N.S. -0.429 -0.238 N.S. N.S. S. Vicente -0.164 N.S. -0.275 -0.184 N.S. 0.746 S. Nicolau -0.270 N.S. -0.184 N.S. -0.508 1.021 Sal 0.153 0.424 0.125 0.433 0.892 1.582 B. Vista N.S. 0.253 N.S. N.S. N.S. 0.966 Maio N.S. N.S. N.S. N.S. N.S. 1.330 Fogo N.S. N.S. N.S. N.S. N.S. 0.257 Brava N.S. N.S. N.S. N.S. N.S. 1.247 Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial. NS: Não significante. Coeficientes exibidos são significantes com um nível de confiança de 5%. Coeficientes sublinhados são significantes com um nível de confiança de 10%. As categorias omitidas para as características de emprego do cônjuge são semelhantes às do chefe. Educação: Chefe/cônjuge sem educação; Emigração: Chefe/Cônjuge não são emigrantes; Ilha: Santiago.

Page 22: DIAGNOSTICO da pobreza

21

• Emigração e Localização Geográfica: Os agregados familiares cujo chefe seja

emigrante (ou cônjuge está associado com um nível de bem-estar 10 a 20% mais alto, especialmente quando essa pessoa, o chefe (ou cônjuge) vêm do estrangeiro. Controlando todas as características dos agregados familiares anteriormente mencionadas tem-se que as famílias vivendo em Santo Antão, São Vicente, e São Nicolau têm níveis de bem-estar entre 15 a 40% inferior ás famílias que residem em Santiago. Por outro lado, as famílias que vivem no Sal têm níveis mais altos de bem-estar do que as vivendo em Santiago (especialmente no tocante aos bens). Analisaremos ma is tarde o papel da emigração e remessas no capítulo 4.

• Bairros urbanos degradados (barracas ): Uma das consequências visíveis da migração

interna, especialmente entre famílias pobres, é a questão dos moradores nos bairros degradados, especialmente concentrados na Praia urbana em Santiago. Como apresentado no Quadro 3.3, esses bairros2 têm níveis de pobreza e pobreza extrema que são substancialmente mais altos que os agregados urbanos que não moram nesses bairros. Para além disso, os moradores nesses bairros degradados e as suas crianças tendem a ser mais vulneráveis a doenças e condições de vida precárias, em parte devido a uma baixa taxa de acesso aos serviços das infra-estruturas básicas (como água, electricidade, e saneamento de entre outros).

2 Barracas são definidas como uma bairro urbano (primeira unidade no inquérito) com uma média do nível habitacional abaixo da média geral do índice habitacional. O índice habitacional urbano foi estimado como a componente principal do factor de análise dos dados sobre a habitação que inclui informações sobre o tipo de pavimento, de cobertura, casa de banho e paredes das habitações. De acordo com esta definição, cerca de 1/3 do total dos agregados familiares vivem nesses bairros/barracas.

Page 23: DIAGNOSTICO da pobreza

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Quadro 3.3. Pobreza e acesso aos serviços: Moradores em Barracas vs. Casas, Cabo Verde 2001-02

Barracas

% Casas

%

TOTAL URBANO

% Barracas

% Casas

%

TOTAL URBANO

%

Pobreza Pobreza extrema Total 0.34 0.21 0.25 Total 0.16 0.09 0.11 Gap da pobreza 0.11 0.07 0.08 Gap da Pobreza 0.04 0.02 0.03 Quadrado do Gap 0.05 0.03 0.04 Quadrado Gap 0.02 0.01 0.01 Fonte de Água Tipo de Saneamento Água da Rede Pública 60.19 25.43 49.75 Na Natureza 14.05 18.28 15.32 Água Tanque- privado 10.02 14.64 11.41 Fora de casa 35.62 61.69 43.45 Cisterna pública, chafar, 21.43 41.78 27.54 Rede Pública 21.38 8.62 17.54 Ribeira, riacho, outro, 8.37 18.14 11.3 Tanque séptico 28.96 11.41 23.69 Tempo Gasto até Fonte de Água Água é Tratada? 1 a 14 min. 25.53 50.36 32.99 N.A. 0.12 0.23 0.16 15 a 29 min. 3.47 5.52 4.09 Regularmente 57.08 57.02 57.06 30 a 44 min. 0.64 2.46 1.19 Raramente 12.52 15.49 13.41

Mais de 45 min. 0.16 1.58 0.58 Água Engarrafada 6.52 0.37 4.67

Em casa 70.21 40.07 61.16 Nenhum tratamento 23.77 26.88 24.7

Tipo Energia utilizada p/ Iluminação Tipo de Energia Usada p/ Cozinhar Vela 5.47 11.82 7.38 N.A. 3.6 3.95 3.7 Petróleo 6.5 19.53 10.42 Carvão 0.45 0.26 0.39 Gás 1.43 2.56 1.77 Madeira 6.33 12.68 8.24 Electricidade 86.6 66.09 80.43 Petróleo 0.21 0.48 0.29 - - - Electricidade 0.62 0.15 0.48 - - - Gás 88.79 82.48 86.89 Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial. C. FONTES DE RENDIMENTOS 3.5. Como a economia de Cabo Verde é altamente monetizada, o rendimento e o consumo per capita estão estreitamente relacionados. A Figure 3.1 mostra uma correlação forte entre o consumo per capita e o rendimento per capita em todos os deciles de consumo per capita. Como apresentado no Quadro 3.4, os salários constituem a fonte de rendimento mais importantes, representando mais de 60% do total dos rendimentos para todos os quintiles. O “rendimento imputado” (correspondendo principalmente ao valor do arrendamento das casas para as famílias que possuem suas próprias habitações) representa entre 12 a 13% do total dos rendimentos. Se não consideramos a receita da renda da casa como uma fonte de rendimento, as receitas periódicas de fontes estrangeiras (remessas, pensões estrangeiras, e outras fontes de rendimentos estrangeiras) é a segunda mais importante fonte de rendimento. Nas áreas rurais, este tipo de rendimento representa 13.3% do total dos rendimentos, mas encontra-se largamente concentrado nos deciles mais ricos. Nas áreas urbanas, a percentagem é mais baixa em 5% , e representa um rendimento significativo principalmente para os que se encontram no segundo, terço, e quarto deciles. O arrendamento é uma fonte importante de rendimento nas áreas urbanas, especialmente entre as famílias mais abastecidas. As transferências públicas representam 3 a 4% do rendimento total para os agregados nos primeiros 4 quintiles e 5% para os agregados nos quintiles mais ricos.

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As transferências públicas (privado) representam uma grande parte do rendimento total dos agregados nas áreas urbanas do que nas áreas rurais.

Figura 3.1. Relação entre o rendimento e o consumo por decile, Cabo Verde 2001-02

0

50,000

100,000

150,000

200,000

250,000

300,000

350,000

400,000

450,000

PoorestDecile

2 3 4 5 6 7 8 9 RichestDecileTotal Income Per capita Total Consumtion Per capita

Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial

Quadro 3.4: Fontes de Rendimento por Quintile e Localização Geográfi ca, Cabo Verde 2001-02 Nacional Urbano Rural 1 2 3 4 5 Tudo 1 2 3 4 5 Tudo 1 2 3 4 5 Tudo Salário 66.7 62.5 61.5 62.8 65.2 64.0 66.4 64.4 66.2 65.6 67.5 66.6 65.6 63.4 58.0 57.8 50.6 56.8 Aluguer 2.8 3.3 3.6 4.0 8.0 5.8 3.7 4.7 4.4 4.6 8.7 6.6 1.6 2.6 2.8 2.5 5.7 3.7 Transf. domésticas

Públ., periódico, 3.7 3.9 3.8 3.8 5.0 4.4 4.2 4.5 3.8 4.3 5.3 4.7 4.0 3.5 3.5 3.3 3.6 3.5 Priv., periódico 3.4 2.6 2.8 2.2 1.4 2.0 2.5 3.5 2.1 2.4 1.2 1.8 3.1 3.3 3.5 1.8 2.1 2.5 Não-periódico 1.3 1.2 0.9 1.1 1.4 1.3 1.6 0.7 0.7 1.3 1.5 1.3 1.2 1.7 0.8 1.4 1.1 1.2

Transf.estrangeiras Periódicas 6.8 8.6 10.5 8.2 5.5 7.1 6.9 5.4 6.5 5.5 4.0 5.0 9.0 7.3 12.7 14.7 16.1 13.3 Não-periódicas 2.5 3.2 3.6 3.5 2.1 2.7 1.6 1.3 2.2 2.1 1.5 1.7 2.9 4.4 5.3 5.8 6.9 5.6

Rendim. Imputado 12.7 14.7 13.4 14.3 11.3 12.6 13.3 15.5 14.1 14.3 10.7 12.4 12.7 13.9 13.5 12.7 13.9 13.4 Rendimento total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial 3.6. Embora a análise da regressão da secção anterior não mostre um impacto muito significativo do desemprego no bem-estar, outros dados sugerem que o desemprego seja a principal causa da pobreza. De acordo com os dados do inquérito de 2001-02, a população activa comporta aproximadamente 166,000 indivíduos (54% homens e 46% mulheres). Isto corresponde ao número de indivíduos com idade a partir dos 15 anos que estiveram a maior parte das vezes empregados ou desempregados (i.e. procurou emprego) durante os últimos 12 meses antes do inquérito. Da população activa, 22% estavam desempregados dos quais 53% eram mulheres. A taxa de desemprego entre os pobres é muito mais alta, até 33% (11 pontos percentuais mais alto do que a média). De entre os desempregados, 49% são pobres, novamente uma taxa mais alta do que a do total da população. O papel do desemprego como factor principal da pobreza foi confirmado pela percepção da pobreza dos beneficiários do Programa Nacional de Luta Contra a Pobreza (PNLP). De acordo com os resultados da avaliação parcial mencionados

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no Capítulo 2, uma parte significativa dos beneficiários entrevistados (41%) consideram que a escassez de emprego é a fonte principal de pobreza, seguido por falta de meios (17%), e uma redução da qualidade de vida (11%). Os beneficiários residentes nas ilhas cujas taxas de desemprego são mais altas (Fogo e S. Vicente) atribuíram mais peso ao desemprego (53% e 50%, respectivamente) como a principal causa da pobreza. 3.7. Em parte a habilidade dos agregados em suportar o desemprego (i.e., manter o seu nível de consumo apesar do desemprego) é devido ás remessas. As remessas parecem jogar um papel de segurança em Cabo Verde. A família cujo chefe seja desempregado ou com um membro fora do mercado de trabalho é mais provável receber remessas (excluindo as pensões do estrangeiro) do que as famílias cujo chefe esteja empregado. Cerca de 67% dos agregados com um membro fora do mercado de trabalho recebe algum montante de remessa, comparado com 56% dos agregados cujo chefe seja desempregado e 45% dos agregados com um membro empregado. Estas estatísticas dizem respeito às famílias nas áreas urbanas; nas áreas rurais, a percentagem de empregados e desempregados receptores de remessas é bastante semelhante. Em termos de níveis, as remessas per capita para famílias cujo chefe esteja desempregado é mais alto do que o recebido pelas famílias cujo chefe esteja empregado. Novamente, as estatísticas são influenciadas pelos agregados familiares urbanos. Por exemplo, como mostra a Figura 3.2, no segundo decile, uma família com o chefe desempregado recebeu duas vezes mais remessas do que uma família com o chefe empregado.

Figure 3.2. Relação entre remessas e emprego, Cabo Verde 2001 -02 Percentage of recipients by employment status of the head of household

(by decile)

30%

40%

50%

60%

70%

80%

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Decile

Not in labor force Employed Unemploye

d

Remittances per capita for unemployed and employed heads of household(by decile)

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Decile

Une

mpl

oyed

/ E

mpl

oyed

0

5,000

10,000

15,000

20,000

25,000

30,000

35,000

40,000

45,000

Fraction Employed Unemployed Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial 3.8. Os rendimentos do trabalho dependem de entre outros do género, da experiência, do sector de emprego, da localização geográfica, e da educação. Em média, o rendimento do traba lho para os homens é 16.4% mais alto do que para as mulheres com níveis semelhantes de educação e experiência (como proxy de idade). Os indivíduos solteiros esperam ter níveis de salários que são 8% mais baixos do que os indivíduos casados. Isto poderia acontecer porque os indivíduos solteiros que normalmente têm dependentes são mais prováveis de seleccionarem trabalhos temporários ou de mais baixa qualidade. O retorno á escola é elevado após o nível do ensino pós-primário. Os indivíduos com educação primária e secundária têm níveis de rendimentos entre 11 a 65% mais altos que os indivíduos sem qualquer educação. Os ganhos que a educação intermédia e terciária trazem são ainda maiores em 90%. O rendimento entre os empregados por conta própria é 5% maior que os trabalhadores por conta de outrem. Também, os profissionais e trabalhadores qualificados têm níveis de rendimentos de 20 a 50% maiores que os trabalhadores sem qualificação. Os trabalhadores nos sectores secundários e terciários e na

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administração pública têm entre 16 a 25% níveis mais altos de rendimentos do que os trabalhadores do sector primário (i.e. agricultura). Os trabalhadores que migraram dentro do país nos últimos 5 anos têm níveis de rendimentos de 8.3% mais baixos do que os outros trabalhadores nos mesmos locais que não migraram. Isto é justificado pelo facto dos trabalhadores migrantes normalmente enfrentarem um período de ajuste no seu novo local de residência durante o qual poderão estar dispostos a aceitar salários mais baixos. Não encontramos nenhuma diferença no rendimento dos trabalhadores migrantes e não-migrantes quando os migrantes tiverem já um tempo no novo local de residência (i.e. quando já lá residirem 5 ou mais anos). Também existem variações nos rendimentos entre as ilhas de Cabo Verde, mesmo controlando todas as outras variáveis anteriores. Primeiro, o rendimento nas áreas urbanas é 46.2% superior que nas áreas rurais. Segundo, os trabalhadores no Sal e na Boavista esperam ter rendimentos entre 34 a 37% mais altos que os trabalhadores em Santiago. Em contrapartida, em S. Antão, S. Vicente, e S. Nicolau, os trabalhadores têm 40, 23, e 17% níveis mais baixos de rendimento que em Santiago. Quadro 3.5: Salários: Ganhos/Perdas em percentagem associadas ás características, Cabo Ve rde 2001-02

% Ganhos/Perdas %

Ganhos/Perdas

Homem 0.164 Estat. No emprego

Idade 0.002 Mesmo empregou 0.051 Quadrado da Idade NS Indústria Solteiro -0.078 Sector secun. 0.243 Tamanho do agregado Sector terc. 0.236 Quadrado do Tamanho do Agregado Adm. pública 0.165 Educação Emigração

Pré-escolar /alfabetizado N.S No estrang. N.S

Educação Primária Incompleta 0.117 Nacionalidade 5+ anos N.S

Educação primária completa 0.239 Nacionalidade < 5 anos -0.083

Educação secundária incompleta 0.381 Out. urbano 0.462 Educação secundaria Completa 0.650 Região Educação nível intermédia/terciário 0.904 S. Antão -0.404

Emprego S. Vicente -0.226 12 últimas semanas desempregado N.S S. Nicolau -0.169 Semanas desemp _12 meses N.S Sal 0.341 Tem um segundo emprego, 12 meses -0.058 B. Vista 0.374

Tipo de Emprego Maio N.S Administrativo, executivo, técnico, prof. 0.483 Fogo -0.226 Forças armadas, admin. / serv., operadores de máquina 0.241 Brava -0.150 Agric qualificado. os trabalhadores e outros operadores 0.172 Constante 11.887

Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial. Amostra: os assalariados e os Trabalhadores Independentes entre os 16 e os 65 anos de idade. Categorias omitidas: Educação: Nenhuma educação; Tipo de Emprego: sem trabalhador sem qualificação; Estatuto no Emprego: o assalariado; Indústria: sector Primário; Emigração: não-emigrante; Localização Geográfica: Santiago. 3.9. Existem diferenças notáveis na qualidade do mercado de trabalho entre as áreas urbanas e as rurais em Cabo Verde. Nas áreas rurais, o auto-emprego e o trabalho não remunerado é mais frequente que nas áreas urbanas, em mais de 10 pontos percentuais na maioria dos deciles. Além disso, a parte de indivíduos que trabalha em meio tempo nas áreas rurais é mais que o dobro dos das áreas urbanas (20% nas áreas rurais versus 6% nas áreas urbanas). Os

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trabalhadores nas áreas rurais também vivem muito mais distantes do seu local de trabalho (a percentagem dos trabalhadores que vivem mais que meia hora longe de trabalho é de 30% nas zonas rurais vs 15% nas áreas urbanas). Muitas das diferenças em termos de “qualidade” de emprego entre trabalhadores dos diferentes deciles é na realidade menos notável que entre trabalhadores urbanos e rurais. No entanto, como esperado, os trabalhadores dos quintiles/deciles mais altos são mais prováveis de serem empregados ou serem empregadores, trabalharem a tempo inteiro, e residirem mais perto dos seus locais de trabalho. Quadro 3.6. Estatísticas seleccionadas sobre o emprego por Quintile e Local, Cabo Verde 2001-02 Amostra: os assalariados e os Trabalhadores Independentes entre 16 e 65 anos de idade Nacional Urbano Rural Quintile 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 Estatuto no Emprego Tempo inteiro 72.9 81.1 78.3 84.0 87.2 83.2 85.8 86.9 86.5 89.2 69.1 75.2 73.8 74.3 78.0 Meio período 19.3 12.7 13.1 10.8 8.6 7.5 5.7 6.4 8.3 6.7 24.8 19.5 18.5 20.2 17.0 Ocasional 6.4 4.5 6.1 3.4 3.0 6.6 5.9 4.1 3.4 3.1 5.5 4.2 5.8 4.7 3.5 Outro 1.4 1.7 2.6 1.7 1.2 2.8 2.6 2.7 1.8 1.0 0.7 1.0 1.9 0.8 1.5 Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 Tipo de Trabalhador Assalariado 50.7 57.3 50.6 57.3 69.1 61.9 65.6 57.8 66.0 75.4 48.2 47.3 47.4 44.1 46.7 Empregado por conta própria 36.2 30.6 37.0 32.2 23.3 32.4 29.2 34.6 28.1 19.5 36.5 35.6 34.6 35.7 36.1 Empregador 0.1 0.2 0.9 1.0 2.4 0.0 0.9 0.9 1.4 2.4 0.0 0.2 0.4 1.0 1.6 Trabalhador familiar não remuner. 11.9 10.0 8.9 7.2 3.3 1.2 1.1 0.9 2.4 0.6 15.3 16.4 17.6 18.9 15.5 Outro 1.1 1.9 2.6 2.4 2.0 4.5 3.2 5.8 2.2 2.1 0.0 0.6 0.0 0.3 0.1 Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 Transporte para oTrabalho A pé 83.0 73.7 65.8 58.0 43.0 74.6 67.5 54.2 52.1 36.9 84.9 80.3 73.5 69.6 60.9 Autocarro 7.7 12.8 14.4 19.5 17.6 10.8 15.5 22.3 20.4 16.7 8.5 7.8 12.1 12.5 15.6 Veículo pessoal 1.9 2.9 4.7 7.1 21.8 4.2 5.0 7.2 11.7 30.2 1.0 2.4 2.2 2.0 4.3 Vários modos 2.7 3.8 6.6 5.4 4.9 2.7 2.9 6.7 2.3 5.3 3.5 4.0 4.4 9.4 6.9 Trabalha em casa 3.6 6.2 7.5 8.5 10.8 6.8 7.5 8.5 12.5 8.7 1.6 4.8 7.6 5.0 10.1 Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 Tempo para o Trabalho Menos de 14 min 39.2 39.5 41.7 48.2 61.3 45.2 43.6 54.2 55.9 66.4 33.0 38.9 39.1 33.0 42.4 15 a 29 min. 35.7 35.9 34.4 32.5 26.5 39.1 39.4 31.5 31.8 25.3 37.4 33.1 31.6 31.5 29.9 30 a 44 min. 16.1 17.9 14.5 13.3 8.3 12.1 13.0 10.6 8.8 6.0 18.5 18.9 19.6 18.9 18.2 Mais de 45 min. 9.0 6.6 9.4 6.0 3.8 3.5 4.0 3.7 3.5 2.4 11.1 9.1 9.7 16.6 9.5 Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial

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CAPÍTULO 4 REMESSAS

Cabo Verde tem uma longa história de emigração. Porem, os fluxos de emigração diminuíram desde os anos setenta devido às políticas restritivas dos países de destino. Como resultado, embora as remessas tenham vindo a aumentar, a sua percentagem no PIB tem diminuído continuamente, e não está claro se, a longo prazo, o nível das remessas poderá ser sustentado. No entanto, presentemente, o montante das remessas é alta e ligeiramente mais que metade da população recebe algum tipo de remessas. Infelizmente, só uma pequena parte do fluxo total das remessas e outras transferências privadas beneficiam os pobre. Enquanto remessas são usadas para investimentos em educação e habitação, provavelmente muito mais poderia ser feito para aumentar o seu impacto no desenvolvimento.

A. AS TENDÊNCIAS DA EMIGRAÇÃO INTERNACIONAL E DAS REMESSAS DO ESTRANGEIRO 4.1. O fluxo da emigração para o estrangeiro diminuiu consideravelmente desde os anos setenta. Algumas das razões que motivavam o desejo de emigrar e unir-se aos parentes no estrangeiro entre Caboverdianos, incluíam as secas periódicas, os altos níveis de desemprego e a percepção que Cabo Verde era “um lugar de pobreza inevitável” (Carling, 2002). Porém, nas últimas duas décadas o fluxo de emigração reduziu. Os dados do censo sugerem que as perdas líquidas da população diminuíram de 2% nos inícios dos anos 70 a aproximadamente 0.5% em inícios de 90. As políticas mais rígidas de emigração tornaram a emigração crescentemente mais difícil para os Caboverdianos. A diminuição na emigração pode ter sido o factor importante no aumento em três vezes do crescimento da população do país durante o mesmo período. Ainda, muitos autores calculam que haja hoje igual ou superior número de Caboverdianos vivendo no estrangeiro que o número de residentes no país. As estimativas baseadas no censo de 2000 sugerem que cerca de metade de todos os emigrantes no pe ríodo 1995-2000 foram para Portugal. Outros 20% foram para os Estados Unidos, 10% para a França e 5% para os Países Baixos. A melhoria nas condições de vida das famílias parece diminuir o desejo de emigrar, como mostra uma recente pesquisa da mão-de-obra do Instituto do Emprego e Formação Profissional em que 50% de todos os respondentes desejaram emigrar por uma variedade de razões. 4.2. As remessas do estrangeiro mais que duplicaram desde 1990, mas a taxa de crescimento mostra uma tendência decrescente desde 1993. As remessas do estrangeiro representou 14.5% do PIB (ou 3,136 milhões de Escudos) em 1990. Este montante tem diminuído para 10% (ou 7,929 milhões de Escudos) em 2003. Cerca de 83% do total das remessas em 2003 vieram de Portugal, França, os Estados Unidos, e os Países Baixos, por ordem de importância do destino preferido pela maioria dos emigrantes. Os fluxos das remessas enviadas dos Estados Unidos eram os mais altos entre 10 dos 14 anos de 1990 a 2003, com Portugal em segundo lugar. Depois de 1999, as remessas da França aumentaram rapidamente, equiparando-se ao montante das remessas de Portugal e dos Estados Unidos. As remessas dos Países Baixos são menores. As disparidades de rendimentos entre Cabo Verde e os países de emigração, as taxas de juros relativamente altas, e a criação de contas de depósito especiais para as remessas dos emigrantes têm sido importantes determinantes do rápido crescimento das remessas depois de meados dos anos oitenta de acordo com um estudo do FMI (1996). As contas de depósito especiais desfrutam de uma taxa de juros mais alta que depende da duração dos depósitos. A curto prazo, as remessas não deverão diminuir muito rapidamente uma vez que muitos emigrantes de idade média provavelmente voltarão a Cabo Verde para se aposentarem, e continuarão enviando dinheiro e pensões para a sua terra natal. Mas o que acontecerá a longo prazo com as contas das remessas é uma questão em aberto.

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Figuras 4.1 & 4.2: Tendência das remessas do estrangeiro (total e por país), Cabo Verde Total remittances to Cape Verde

million Escudos

0

2,000

4,000

6,000

8,000

10,000

1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002

-15%

-10%

-5%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

Level Growth rate

Remittances from the country as a percentage of total remittances

0 %

5 %

10%

15%

20%

25%

30%

35%

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003

USA Netherland France Portugal Fonte: Banco de Cabo Verde 4.3. Mais de metade de todos os agregados familiares recebeu alguma forma de remessa em 2001. A média do rendimento a partir das remessas (doméstico e estrangeiro, com a média incluindo os agregados não receptores de remessas) era de 43,805 Escudos por família por ano (ou EUA $402.04), o equivalente a 9% do consumo dos agregados. O rendimento médio das remessas nas áreas urbanas e rurais é semelhante, mas como uma porcentagem do total do consumo do agregado, as remessas são mais importantes nas áreas rurais (14.8% do consumo) do que nas áreas urbanas (7% do consumo). As estimativas do Banco Mundial (1994) baseadas no inquérito de 1988-89 calculam que 60 a 70% dos agregados receberam algum tipo de remessa do estrangeiro naquele período o que implica que a percentagem de agregados receptores de remessas diminuiu um pouco durante os anos noventa (os resultados mostram que em 2001, 43.8% dos agregados urbanos receberam algum tipo de remessas, enquanto que a parte correspondente ás áreas rurais era de 58.8%). A ilha de São Vicente é hoje o mais alto concelho receptor de remessas, com 20% do total das remessas do estrangeiro. Praia, Santa Catarina, e Fogo receberam 15.7%, 12.1%, e 11.3% do total das remessas, respectivamente. Como esperado, a proporção do total das remessas recebidas por um concelho é positivamente associada com a sua parte de população. B. ANÁLISE DA INCIDÊNCIA DOS BENEFÍCIOS DAS REMESSAS 4.4. Embora as remessas representem uma parte importante do rendimento total dos pobres, a maioria das remessas é recebida pelos não pobres. A nível nacional, a percentagem dos agregados familiares, por decile, que recebem remessas tem a forma corcova: é mais baixa para o primeiro e décimo decile, e mais alta para os deciles 6 e 7. Entre 45% e 60% dos agregados familiares em cada decile recebe algum tipo de remessas, mas para o maior tipo de remessas quando considerado separadamente, as proporções são na ordem de 10-15%. A parte dos agregados que recebe remessas do estrangeiras é mais alta que os agregados que recebem remessas domésticas, e a diferença é mais elevada quanto mais elevado for o estatuto económico da família. A Figura 4.3 mostra uma visualização da incidência e cobertura das remessas e transferências privadas. São representados três indicadores na Figura: a parte do pobre que beneficia da fonte de rendimento, a parte do rendimento total da fonte que alcança o pobre, e o tamanho da fonte (que é proporcional ao tamanho da bolha - uma bolha maior indica uma fonte maior).

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• Tamanho de vários tipos de remessas/transferencias: As pensões estrangeiras e as

remessas domésticas são as duas maiores fontes de rendimentos das transferências privadas (na realidade, as pensões do estrangeiro não são exactamente uma transferência uma vez que essas transferências são recebidas pelos seus beneficiários aposentados na sua terra natal após terem trabalhado no estrangeiro). As remessas do estrangeiro, outras remessas do estrangeiro e outras transferências privadas são muito menores.

• Cobertura: O eixo vertical na Figura fornece dados sobre a parte dos pobres que beneficia

de vários tipos de remessas. As percentagens são tipicamente baixas, na ordem dos 10-15%, mas quando contabilizado juntos, os diferentes tipos de remessas e transferências beneficiam somente metade dos pobres. Quer dizer, se todas as transferências fossem agrupadas, a bolha correspondente mostraria uma taxa de cobertura mais alta entre os pobres (como agregados diferentes beneficiam de tipos diferentes de transferências), mas a “segmentação do pobre” como indicador (como abaixo discutido) permanece baixo, muito abaixo dos 20%.

• Segmentação: O eixo horizontal mostra a parte dos vários tipos de remessas que chegam

aos pobres. Considerando que o pobre representa 36.7% da população, uma percentagem mais baixa que 36.7% significaria que, proporcionalmente à população, os pobres beneficiam menos das transferências privadas que os não pobres. Enquanto que as remessas representam uma percentagem alta do total do rendimento nacional, a parte do total dos rendimentos de todos os tipos de remessas e transferência privada é baixa, em 20% ou menos.

• Erradicação da pobreza: A bolha maior no canto superior direito da Figura não está

relacionado com as remessas, mas sim representa o ta manho de uma segmentação perfeita da transferência que seria o suficiente para erradicar a pobreza (a cobertura dos pobres seria de 100%, como seria a segmentação entre os pobres, uma vez que a transferência forneceria aos agregados pobres exactamente o que precisariam para saírem da linha da pobreza). Quando olharmos os diferentes tamanhos das diferentes bolhas, pode-se ver que agrupando os recursos dos vários tipos de remessas e transferência privada poderia, teoricamente, ser suficiente para erradicar a pobreza se todas as remessas fossem recebidas pelos pobres. Infelizmente, este não é o caso uma vez que só uma pequena parte dos fluxos beneficia o pobre. Ainda, como ilustrado na Figura 4.4., as remessas do estrangeiro e as pensões estrangeiras têm um papel significante na redução da pobreza. Se as remessas estrangeiras e as pensões estrangeiras terminassem, a pobreza aumentaria em 9 e 7% respectivamente (ou dito de forma diferente, sem as remessas estrangeiras, o total da população indexada á pobreza seria reduzido de 2.6 pontos percentuais, i.e. 9% do total de 37%).

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30

Figura 4.3: Incidência e cobertura das transferências privadas e das remessas, Cabo Verde 2001-02

-0,20

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

0,00 0,25 0,50 0,75 1,00Segmentação para os pobres

Cob

ertu

ra e

ntre

os

pobr

es

Remessas Domésticas

Pensiões do Estrangeiro

Remessas doEstrangeiro

Outras transferências

privadas

Outras transferências do Estrangeiro

Transferência Perfeita

Figura 4.4: Impacto do total da perda das transferências privadas, Cabo Verde 2001-02

6,87%

3,89%

8,68%

0,40%

0,59%

0,00% 1,00% 2,00% 3,00% 4,00% 5,00% 6,00% 7,00% 8,00% 9,00% 10,00%

Foreign Pensions

Domestic Remittances

Foreign Remittances

Other Foreign Transfers

Other Private Transfers

Percentage Change in the Headcount

Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial

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4.5. As remessas são especialmente importantes para o desenvolvimento uma vez que tendem a ser usados mais para o investimento do que qualquer outra fonte de rendimento. Para os emigrantes, enviar as remessas para o país natal é mais benéfico se as remessas forem usadas para investimentos que também beneficiarão os emigrantes. Este seria o caso para investimentos em habitação (uma vez regressado ao país, o emigrante poderá viver na sua casa construída ou melhorada com as remessas enviadas). Também seria o caso para investimentos na educação de crianças, uma vez que o emigrante pode ter salários mais altos beneficiando as suas crianças. As estimativas baseadas no inquérito de 2001-02 sugerem que em Cabo Verde, as remessas são usadas mais do que qualquer outra fonte de rendimento para melhorar as condições de habitação e para a matrícula das crianças na escola (isto acontece para ambos meninos e meninas, nas áreas urbanas e rurais). Os programas pilotos em curso noutros países para encontrar uma melhor utilização das remessas para a redução da pobreza através de iniciativas locais poderiam servir talvez como uma fonte de inspiração para Cabo Verde. CAIXA 4.1: AUMENTANDO O IMPACTO DAS REMESSAS NO DESENVOLVIMENTO : LIÇÕES DO MÉXICO Embora as remessas beneficiem de um prémio na taxa de juros se depositados nas contas especiais em Cabo Verde, muito mais pode ser feito para maximizar o impacto destas transferências no desenvolvimento. No México, as remessas enviadas dos Estados Unidos podem ser destinadas a famílias específicas dos emigrantes. Mas podem também ser direccionadas para as comunidades como um todo ao denominado “Associações das Cidades”. Estas associações arrecadam fundos do estrangeiro para serem utilizados em programas sociais nas comunidades de origem dos emigrantes. Algumas dessas associações são bastante sofisticadas, conseguindo fundos avultados (Alarcon, 2002). O programa do Governo Mexicano “3x1” é uma tentativa para diminuir o poder dessas associações em conseguirem fundos para projectos de investimento promovendo o desenvolvimento local. O programa encoraja as remessas internacionais adicionando um peso por cada peso recebido de uma ONG estrangeira a nível federal e local por forma a que haja três pesos em recursos para o projecto. O programa é direccionado aos projectos de desenvolvimento social dentro das regiões de pobreza extrema. Mais precisamente, enquanto as regiões exactas ou municipalidades onde os projectos são implementados dependem das escolhas das ONGs, o governo dá preferência a projectos que são executados nas micro-regiões definidas pela SEDESOL (A Secretaria Mexicana para o Desenvolvimento Social). Para ser elegível para o programa “3x1” os projectos devem: i) serem apresentados por uma ONG com o consentimento da comunidade e do governo local; ii) sejam co-financiados em igual proporção pela ONG, o governo local (estado ou município) e o governo Federal; iii) melhorem as infra -estruturas e/ou serviços básicos, ou aumentem a produtividade e a criação de empregos; e iv) não dupliquem outros projectos existentes ou beneficiem a mesma população já contemplada por outro programa. Para garantir a transparência, a selecção do projecto é administrada através de comités com representantes das ONGs, do SEDESOL, e das autoridades locais. Estes comités buscam a contribuição das comunidades e as comunidades são responsáveis para monitorar os projectos. Para isto, eles têm que emitir relatórios periódicos sobre a implementação e o uso dos recursos. Quando os projectos estiverem concluídos, os comités são responsáveis para assegurar a própria manutenção. O COPLADEs (Agência Estatal de Planeamento e Desenvolvimento) está envolvida na avaliação dos projectos propostos em nome da SEDESOL. Isto é feito não só para assegurar a qualidade dos projectos submetidos, mas também para evitar a duplicação. Fonte: Wodon et al. (2003).

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CAPÍTULO 5 PENSÕES

Cerca de 20% dos agregados familiares recebem algum tipo de pensão o qual conta para 30% do seu rendimento total. Os receptores de pensões do estrangeiro e pensões de reforma estão concentrados nos deciles superiores, enquanto que os receptores da pensão mínima chegam melhor aos mais baixos deciles. O sistema de pensões para os trabalhadores do sector privado recentemente criado e parcialmente financiado está em boas condições financeiras hoje, mas essa situação é insustentável a longo prazo. A maturação rápida, o envelhecimento da população e um esquema de benefícios generoso poderá rapidamente transformar o sistema em déficits crescentes. Também, o esquema de benefícios definido para os funcionários públicos é insustentável considerando os altos benefícios que o sistema prevê, a baixa taxa de contribuição e o número de anos exigidos para se qualificar a uma pensão por idade. O programa de pensão mínimo não contributivo, embora um pouco redistributivo, pode ter problemas de segmentação que é necessário analisar. A análise aqui apresentada é preliminar. Estudos mais aprofundados sobre as pensões será prosseguida pela equipa do Banco Mundial e apresentadas as recomendações específicas de política.

A. A ESTRUTURA DO SISTEMA DE PENSÕES EM CABO VERDE 5.1. Existem dois esquemas básicos de contribuição definidos pelo sistema de pensões em Cabo Verde: Um para os funcionários públicos e outro para os empregados privados do sector formal (INPS). O sistema de pensão em Cabo Verde é jovem. O Instituto Nacional de Previdência Social começou a operar em 1983. O número total de contribuintes para todos os esquemas é de cerca de 50,000 que representa aproximadamente um terço da mão-de-obra. O tamanho do esquema voluntário de pensões é desprezível.

• INPS: Em 2000, o número de contribuintes do INPS era 36,289 e o número de pensionistas (inclusive invalidez, velhice, e sobreviventes) era 3,306. A relação contribuintes para pensionistas estava perto de 11, e 25 para os pensionistas de velhice, mas essa situação irá reduzir -se rapidamente. A taxa de contribuição é de 10% (3% para o empregado + 7% para o empregador) 2% do qual é usado para cobrir os custos de administração. A idade de aposentação é 65 anos para os homens e 60 anos para as mulheres, e o cálculo dos benefícios é determinada pela seguinte fórmula: pensão = salários base x (20% + 0.015% x anos da cobertura). A taxa máxima de substituição é de 86% do último salário ganho, o que é equivalente a contribuir durante 44 anos e os direitos das pensões adquiridos depois de somente 3 anos de contribuições (a média da taxa de substituição eh porém provavelmente mais baixa). A base de salários utilizada é feita a partir dos 36 meses de salários mais altos pagos nos últimos 5 anos de contribuições. Os sobreviventes adquirem 50% da pensão do segurado. Existe um sub-sistema para os empregados dos bancos que são administrados pelos próprios bancos (central e comercial).

• Funcionários públicos: Em 1999, 11,037 funcionários públicos, pessoal militar e das

forças armadas e pessoal de segurança, e funcionários em serviços independentes estavam cobertos por este sistema. O número de beneficiários era ligeiramente superior a 1,900. A taxa de contribuição é de 6% para o empregado. A idade da aposentação é 60 anos para ambos os sexos, com uma taxa de substituição de 100% depois de 34 anos de

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serviço. Um trabalhador que se aposenta antes de 10 anos de contribuições recebe a sua contribuição sem juros.

• Estimativas baseadas no inquérito: Como mostra o quadro 5.1, utilizando informações

disponíveis do inquérito de 2001-02, é possível estimar o número de contribuintes, mas não é possível avaliar o número de pensionistas/beneficiários (pode-se no entanto apresentar informações dos agregados que beneficiam de vários tipos de pensões, como abaixo apresentado).

• Situação do sistema: O sistema é jovem, mas espera-se que amadureça rapidamente. A

estrutura etária do sistema é determinada na Figura 5.1. A idade média do trabalhador coberto pelo sistema INPS é de 32 anos, e 44% dos contribuintes estão entre 20 e 30 anos de idade. A idade média no sistema público é de 38 anos e 41% dos contribuintes estão entre 35 e 45 anos de idade. O rácio número de contribuintes / número de beneficiários) deverá diminuir de 18.2 em 2002 para 9.2 em 2006.

Quadro 5.1: Comparação da cobertura das pensões e estimativas obtidas no inquérito de 2001-02

Contribuintes do INPS

Pensionistas Contribuintes Pensionistas

Fonte oficial 36,289 3,306 11,037 1,949 Estimativas do IDRF 40,312 - 11,113 - Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial

Figura 5.1: Estrutura de Idade dos Contribuintes da Segurança social Age structure of contributors to Social Security

0.0%

1.0%

2.0%

3.0%

4.0%

5.0%

6.0%

15 19 23 27 31 35 39 43 47 51 56 60 64

Age

Civil ServantsINPS

Source: CVHS (2000) 5.2. A situação financeira do sistema contributivo de pensões é actualmente favorável, mas insustentável a longo prazo. Presentemente o INPS possui reservas de cerca de 10% do PIB, devido principalmente ao elevado rácio contribuinte -pensionista e o aumento rápido no número de novas entradas no sistema a partir de 1997. No entanto, a projecção aponta para um rápido envelhecimento da população e os benefícios são muito altos para as taxas de contribuição, tornando assim insustentável o sistema a longo prazo. A dívida não coberta do sistema do INPS foi calculada em estudos preliminares em 40% do PIB. O sistema poderá permanecer negativo por mais 3 anos, enfrentando déficits crescentes depois disso (Whitehouse, 2003). O sistema também é injusto; uma vez que a base de pensão é calculada utilizando os 36 meses de contribuição mais altos nos últimos 5 anos, ela favorece os trabalhadores cujos salários sejam mais elevados (os trabalhadores com rendimentos normalmente altos). Embora informações mais

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fiáveis não estejam ainda disponíveis para calcular a responsabilidade do sistema público, existem sérias dúvidas sérias sobre a sua sustentabilidade. 5.3. Existem dois sistemas de pensões não-contributivos: um para os trabalhadores das FAIMO e um outro para os idosos e ou inválidos (PSM). O Programa de Alta Intensidade de Mão de Obra – FAIMO – é um programa de mão-de-obra intensiva para trabalhos de infra-estruturas financiado pela contrapartida das ajudas alimentares e emprega anualmente cerca de 15,000 a 20,000 pessoas. O objectivo deste programa é fornecer um pouco de segurança no rendimento dos pobres, especialmente nas áreas rurais e para as mulheres chefes de família. Em 1992 foi introduzido um sistema de pensão não contributiva para os trabalhadores das FAIMO. Todos os idosos que tenham trabalhado pelo menos 10 anos em campanhas financiadas pelo governo estão cobertos (44% dos trabalhadores das FAIMO têm pelo menos 10 anos de trabalho), e são providas de pensões de invalidez e de velhice. Todos os pensionistas das FAIMO recebem uma pensão fixa equivalente a US$300 por ano. O esquema de Protecção Social Mínima –PSM–é um programa não contributivo, um programa-teste que foi estabelecido em 1995 para dar um rendimento às pessoas não cobertas por qualquer outro programa de protecção social. O programa é financiado completamente com recursos de Assistência ao Desenvolvimento. Cerca de 7,000 famílias recebem pensões do PSM. O esquema beneficia principalmente os idosos e famílias em situação económica precária. B. ANÁLISE DA INCIDÊNCIA DOS BENEFÍCIOS DAS PENSÕES 5.4. Aproximadamente 20% dos agregados recebem algum tipo de pensão em Cabo Verde e estas pensões representam 30% do rendimento dos agregados receptores. Nas áreas urbanas, 15% dos agregados são receptoress com 33% do seu rendimento das pensões. Nas áreas rurais, a percentagem de receptores é de 25% com 36% do seu rendimento entrando sob forma de pensões. A nível nacional, os agregados que recebem pensões do estrangeiro derivam 38% do seu rendimento destas pensões. Os receptores de “pensões de reforma” (i.e., o INPS e sistema dos funcionários públicos) obtêm 30% do seu rendimento daquela fonte, e os que recebem pensões sociais mínimas adquirem 14% do seu rendimento total como pensões. As percentagens dos rendimentos para os agregados urbanas são 30% provenientes de pensões do estrangeiro, 31% proveniente da pensão de reforma e 16% para as pensões sociais mínimas. Nas áreas rurais, os receptores de pensões do estrangeiro obtêm quase 50% do seu rendimento daquela fonte, em 25% e 12% respectivamente da social mínima e das pensões de reforma. 5.5. Embora as pensões representem uma grande parte do total do rendimento dos agregados pobres que os recebem, a grande parte das pensões beneficia os que estão em melhores condições (não pobres) O quadro 5.2 apresenta as características distribucionais dos vários tipos de pensões utilizando os dados do inquérito de 2001-02.

• Quantos agregados beneficiam de pensões? Globalmente, 10% dos agregados nas áreas rurais e urbanas recebem pensões de reforma. Aproximadamente 8% recebem pensões mínimas nas áreas rurais comparado com somente 2% nas áreas urbanas. Só 70% dos agregados a nível nacional que recebem pensões do estrangeiro têm um membro idoso comparado com 92% e 86% respectivamente para a reforma e pensões mínimas.

• Quem beneficia de pensões? A percentagem dos agregados num decile que recebe

pensões de reforma aumenta com o estatuto económico do agregado, enquanto diminuiu para a pensão social mínima. A primeira constatação pode ser explicada pela observação de que as pessoas mais educadas (que tendem a ser mais ricas) tenham mais acesso ao

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emprego formal, e estão cobertas pelo sistema de segurança social. A segunda constatação sugere alguma característica distributiva positiva do sistema de pensão mínima. Mesmo assim, 30% dos receptores a nível nacional (47% nas áreas rurais) estão nos 4 decis mais altos o que aponta para problemas importantes de focalização/segmentação. Nas áreas rurais, a percentagem dos agregados receptores de pensões mínimas é constante em todos os decis.

• Quão grande são os benefícios das pensões? A nível nacional, o rendimento das pensões

do estrangeiro é 2.5 vezes maior que o rendimento dos receptores da pensão mínima. Ainda, os receptores de reforma de pensão recebem em média, duas vezes das pensões do que os receptores da pensão mínima. As pensões do estrangeiro constituem uma importante fonte de rendimentos para os receptores das áreas rurais, mas principalmente para os agregados rurais com melhores condições de vida.

5.6. Uma análise mais aprofundada das características distributivas potenciais dos sistemas de pensões existentes do que a análise aqui apresentada deverá ser levada a cabo. Uma análise preliminar comparativa das características distributivas do presente sistema nacional de pensões com os outros tipos de transferências públicas, é apresentado no Capítulo 6. Nesse capítulo, dados similares aos apresentados neste capítulo 4 para as remessa s e outras transferências privadas em termos da cobertura e propriedades da segmentação das várias fontes de rendimento são apresentados para a pensão de reforma e para a pensão social mínima. Particularmente para a pensão mínima cujo objectivo são os que tenham um rendimento limitado, o desempenho actual parece geralmente deficiente. No caso das pensões do estrangeiro, a Figura 4.3 indica que a cobertura é limitada entre os pobres, com a maioria dos benefícios indo para os não pobres. Porém, para ambas as pensões nacional e estrangeira, é importante sublinhar que a análise aqui apresentada é simplesmente preliminar. Como a maioria das dívidas dos vários sistemas de pensões só serão pagas daqui a algum tempo no futuro, uma fotografia presente das características distributivas das várias pensões pode incorrer a erros em termos de consequências a longo prazo dessa distribuição.

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Quadro 5.2: Características Distributivas dos vários tipos de pensões, Cabo Verde 2001-02 Número de receptores Percentagem dos receptores Decile Agregados Do

estrangeiro Mínima Reforma Do

estrang. Mínimo Reforma

1 6,548 292 361 644 4.5 5.5 9.8 2 7,095 213 617 541 3.0 8.7 7.6 3 7,770 354 596 839 4.6 7.7 10.8 4 8,175 402 420 790 4.9 5.1 9.7 5 8,422 587 526 778 7.0 6.2 9.2 6 9,057 592 700 855 6.5 7.7 9.4 7 9,621 1,002 380 919 10.4 3.9 9.6 8 10,268 676 316 1,055 6.6 3.1 10.3 9 12,268 979 458 1,436 8.0 3.7 11.7 10 16,033 1,020 135 1,836 6.4 0.8 11.5

Total 95,257 6,117 4,509 9,693 6.4 4.7 10.2 Media Pensão por agregado receptor

(em Escudos Mensal) Pensão como porcentagem do

rendimento total por agregado receptor

Decile Agregado Do estrangeiro

Mínima Reforma Do estrang.

Mínima Reforma

1 6,548 2545.28 413.38 717.31 13.6% 2.2% 3.8% 2 7,095 2344.87 647.85 1021.75 10.3% 2.9% 4.5% 3 7,770 2729.62 475.86 998.97 11.3% 2.0% 4.1% 4 8,175 3109.67 705.08 1209.81 11.5% 2.6% 4.5% 5 8,422 3960.35 754.80 1821.54 13.2% 2.5% 6.1% 6 9,057 3133.88 634.19 1972.35 8.8% 1.8% 5.5% 7 9,621 4445.34 709.46 2801.96 11.4% 1.8% 7.2% 8 10,268 4493.17 3199.06 2557.23 10.3% 7.3% 5.8% 9 12,268 5741.67 1370.99 4827.52 11.5% 2.8% 9.7% 10 16,033 15250.00 9000.00 13166.67 16.6% 9.8% 14.4%

Total 95,257 4775.39 1791.07 3109.51 13.6% 2.2% 3.8% Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial. C. AS REFORMAS E SUSTENTABILIDADE A LONGO PRAZO 3 5.7. Na situação presente, o sistema de pensões poderá ter deficits de dinheiro a partir de 2007 e as reservas financeiras poderão esvaziar-se antes de 2028. Um número de pressupostos foi utilizado nas simulações. A média dos anos das contribuições aumentam em um ano por cada ano civil, de 16 anos em 2002 até um máximo de 35 anos para os homens e de 30 anos para as mulheres. A inflação esperada é de 4%, o real crescimento dos salários é de 3%, e a taxa real de juros é de 3.5% . O salário mínimo é fixado em 9% da média do salário. É assumido um crescimento real do PIB de 4%. As dificuldades financeiras no cenário base será devido à rápida maturação do sistema, o envelhecimento da população, e o pacote generoso de benefícios para as actuais taxas de contribuição. Os deficits de liquidez seriam pequenos até o ano 2020 mas após essa data cresceriam rapidamente. Em 2002, as reservas financeiras poderiam pagar por 15 anos de despesas de pensão; isto reduziria para 5 anos em 2010. Um aumento imediato na taxa de contribuição para 21% bastaria para cobrir as obrigações de pensão durante o horizonte da

3 Os resultados são baseados numa análise preliminar feita por Whitehouse (2003) utilizando o modelo Prost do Banco Mundial

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37

simulação (2003-2075) sem variações nos benefícios. Para a cobertura dos deficits, uma taxa de 23% seria requerida para 2050 e 38% para 2075. 5.8. Em 2001, a Lei de Base da Protecção Social foi aprovada pelo Parlamento, e uma reforma paramétrica está sendo discutida. As propostas de reforma para o INPS só se aplicariam aos novos contribuintes e podem ser resumidas como segue. O número mínimo de anos de contribuições para qualificar para uma pensão de velhice seria aumentado de 3 para 15. Além disso, seriam requeridos 5 anos de contribuições para uma pensão de sobrevivência e 10 anos para uma de invalidez. A fórmula actual de cálculo da pensão [pensão = salário base x (20% + 0.015% x anos de cobertura)] seria substituída por uma taxa de acréscimo constante de 2% por ano para um máximo de 80% do salário base. A base do salário actualmente os 3 melhores dos últimos 5 anos de salários nominais, seria substituída pelos 10 melhores dos 15 últimos anos de salários. Algumas outras mudanças como a inclusão dos trabalhadores do sector bancário na componente do sistema obrigatório e o estabelecimento de uma comissão para avaliar a elegibilidade por invalidez podem ter um efeito importante. 5.9. Infelizmente, as propostas de reforma teriam pouco impacto antes de 2040 e por conseguinte são insuficientes para trazer o equilíbrio financeiro ao sistema. A demora no efeito da reforma surge pela não alteração das condições para os actuais contribuintes mas só para os novos contribuintes. A reforma adia a depleção de reservas um par de anos. Para que o deficit seja coberto por um aumento na taxa de contribuição, uma taxa de 15% será necessária antes de 2030, 20% antes de 2042, e 33% antes de 2075. Um aumento imediato na taxa de contribuição para 17.3% poderia ser porém bastante para pagar todas as obrigações até 2075, não afectando os benefícios. É importante notar que uma reforma que mudaria só para os novos contribuintes seria injusto; os trabalhadores que entrarem no sistema de pensão depois de aprovada a reforma enfrentariam condições completamente diferentes que os trabalhadores que entraram há pouco de um ano. 5.10. Uma reforma alternativa que reduziria os benefícios aos actuais trabalhadores com idade abaixo dos 55 anos poderia tornar o sistema mais viável. Só para ilustrar, poderiam ser assumidas três mudanças básicas na reforma: 1) o número de anos exigido para qualificar para uma pensão de velhice poderia ser aumentado um ano por ano civil para trabalhadores abaixo dos 55 anos de idade; 2) A taxa de acréscimo anual poderia ser diminuída gradualmente de 2% para 1,5%; 3) O número de anos utilizado no calculo do salário base poderia ser aumentado gradualmente. As taxas de substituição resultantes para uma carreira de 40 anos seriam então 60% em vez de 80% na proposta actual da reforma. O anterior está perto da taxa média dos países da OCDE. Os efeitos desta reforma alternativa poderiam ser vistos tão cedo em 2020. Para que o gap remanescente fosse coberto através do aumento da taxa de contribuição, um amento de menos de 20% seria necessário até 2055 e 25% até 2075. Se um aumento imediato fosse possível, a taxa exigida seria de 14.4%. 5.11. Embora não tenham sido quantificadas as responsabilidades/dividas da administração pública devido à falta de dados disponíveis neste momento, acredita-se que o sistema seja igualmente insustentável. A taxa de substituição para um trabalhador de tempo inteiro é provavelmente muito alta em Cabo Verde comparado com os padrões internacionais, e o número de anos exigidos para se qualificar para uma pensão de aposentação é mais baixo que em muitos outros sistemas de administração publica. Porém, a lei aprovada em 2001 abre a possibilidade para trabalhadores de administração pública serem incluídos no sistema compulsório do INPS. Assim, as condições existentes para os trabalhadores da administração publica seriam alteradas para convergirem para o sistema do INPS. Isto faria sentido uma vez que é injusto ter um grupo pequeno de trabalhadores com condições mais favoráveis que a maioria dos outros trabalhadores pela simples afiliação num sistema diferente.

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38

CAPÍTULO 6 EDUCAÇÃO, SAÚDE, E AS TRANSFERÊNCIAS DA PROTEÇÃO SOCIAL

Progressos significativos foram alcançados na educação, mas a um custo orçamental relativamente alto devido a um elevado custo unitário sem contar com o grande número de alunos matriculados. Para que maiores progressos sejam conseguidos na educação básica, a equidade e a eficiência na prestação dos serviços de educação pública precisarão provavelmente de melhorias. Uma maior eficiência requererá uma melhor utilização dos recursos existentes e especialmente a redução da abertura das despesas entre os níveis primário e secundário. O sector da saúde em Cabo Verde também conheceu avanços significativos incluindo o controle e a erradicação de muitas doenças transmissíveis. Ao contrário de muitos dos seus vizinhos africanos, Cabo Verde tem uma baixa incidência de HIV/AIDS, e melhores resultados de saúde de uma forma geral. À semelhança da educação, alcançar estes resultados foi graças a um importante custo orçamental. A nível dos agregados familiares, porque as despesas públicas cobrem a maioria dos custos de educação e saúde, as despesas privadas para ambos os sectores é baixa. Existem igualmente questões distributivas nas despesas da educação e da saúde assim como para as despesas com os programas de protecção social com os pobres obtendo uma parte limitada dos benefícios.

A. PROGRESSOS E DESAFIOS NA EDUCAÇÃO E NA SAÚDE: UMA BREVE REVISÃO 6.1. A educação tem sido um dos pilares da estratégia de desenvolvimento de Cabo Verde desde a independênc ia. Nma nação de ilhas com recursos naturais severamente limitados, o capital humano tem sido considerado uma contribuição vital para o desenvolvimento económico. Os Caboverdianos vêem na educação uma saída da pobreza e assim, como nação investem pesadamente no sector. O PRSP acentua a necessidade de reduzir os desequilíbrios regionais ou sociais no acesso à educação como uma via de melhorar os indicadores sociais e como parte de uma orientação estratégica mais abrangente para diminuir as desigualdades no país. O Plano Nacional de Desenvolvimento, como resumido nas Grandes Opções para o Desenvolvimento, enfatiza a importância dos ganhos significativos já conseguidos na educação como via de prosseguir o desenvolvimento e o crescimento. Estas Opções propõem uma estratégia alargada de educação que novamente acentua a necessidade de colmatar as injustiças a todos os níveis dentro do sistema de ensino, como também a necessidade de melhorar as infra-estruturas, os materiais pedagógicos e a formação dos professores nas áreas pobres. 6.2. As taxas de matrícula são muito altas comparadas com os padrões da África Sub-Sahariana. Em 1995, Cabo Verde assumiu a educação primária universal até 6 anos de escolaridade. Hoje, como ilustra o quadro 6.1, a taxa de matrícula é alta para as crianças entre 5 a 15 anos de idade. Isto é especialmente verdade nos quintiles mais altos, mas até mesmo nos quintiles mais pobres, 85 entre 100 crianças entre os 5 e 15 de idade são matriculados. De um modo geral, as matrículas para o ensino primário aumentaram para mais de 110% até 2001 e a matrícula líquida ultrapassou 98.5% para o mesmo ano. Mais que 80% de todas as crianças matriculadas habitam a menos de meia hora longe da escola, o que mostra o acesso bastante bom em termos de distâncias para escolas (a proporção das crianças que vivem mais que meio hora longe da escola é maior entre os quintiles mais pobre e nas áreas rurais).

Page 40: DIAGNOSTICO da pobreza

39

Quadro 6.1: Taxa de Matrícula por quintile (crianças idade 6-15), Cabo Verde 2001-02

Matrícula Quintile mais

pobre 2º quintile 3º quintile 4º quintile Quintile mais

rico Total Nacional 0.85 0.87 0.88 0.93 0.96 0.90 Urbano 0.83 0.89 0.93 0.95 0.98 0.92 Rural 0.84 0.87 0.87 0.89 0.91 0.88 Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial. 6.3. Uma análise da regressão dos determinantes da matrícula escolar aponta diferenças entre os agregados familiares. As crianças que trabalham têm uma mais baixa probabilidade de estarem matriculadas. Nas áreas urbanas, as crianças (especialmente os meninos) de agregados cujo chefe de família seja uma mulher têm uma taxa de matrícula mais alta, mas o contrário é observado nas áreas rurais. As crianças dos agregados cujo chefe é trabalhador por conta própria ou um trabalhador familiar não remunerado têm mais baixas probabilidades de serem matriculadas quando comparadas com crianças cujo chefe seja um assalariado, enquanto que as crianças de agregados cujo chefe seja empregado a tempo inteiro ou tenha um segundo trabalho ter taxas de matrícula ligeiramente mais altas. Como esperado, as crianças dos agregados cujo chefe enfrentou um desemprego de longo prazo são menos prováveis de serem matriculados (como poderão ter que deixar escola para trabalhar para ajudar a família conter a redução do rendimento devido ao desemprego do chefe). As crianças que têm o chefe ou cônjuge com níveis mais altos de educação – primária e pelo menos alguma educação secundária quando comparado com as crianças que têm um chefe ou cônjuge sem educação–têm probabilidades mais altas de estarem na escola. O efeito da emigração do chefe/cônjuge na matrícula escolar é ambíguo. Mas controlando todas as variáveis anteriores, a taxa de matrícula em Santiago é, com poucas excepções, mais alta que em todas as outras ilhas o que aponta para as desigualdades persistentes entre ilhas. 6.4. As despesas públicas na educação aumentou significativamente com o passar do tempo. As despesas per capita com a educação mais que duplicou em termos reais condições durante os últimos dez anos, de US$38 em 1994 para $96 em 2004 (as estimativas estão em EUA $ de 1995). Existem várias razões para esse aumento.

• O aumento das matrículas no ensino primário e secundário: Grande parte das despesas reflecte um aumento no número de estudantes que cresceu mais rápido do que o crescimento da população. Mais especificamente, a força imprimida para a educação primária universal aumentou a matrícula na educação secundária e, igualmente a onda de construção de estabelecimentos do ensino secundário iniciada durante a primeira metade dos anos noventa. A matrícula na educação secundária aumentou de 14,097 em 1993 para 46,119 durante o ano lectivo 2003/2004.

• Custos unitários ascendentes: o custo unitário por estudante matriculado na educação

primária mais que duplicou em termos reais durante os anos 90s, de US$60 em 1993 para US$128 em 2000. O aumento ao nível do secundário é ainda maior, de US$125 em 1993 para US$334 em 2000. A maioria dos custos consiste dos ordenados e salários para professores. Uma possível explicação para a parte significativa de salários e salários nas despesas da educação poderá ser os altos custos associados com o provimento de pessoal para as escolas em locais remotos e rurais nas ilhas. Em todo caso, considerando a necessidade reconhecida de modernização do sistema de ensino, com professores formados, livros escolares melhorados e melhores infra-estruturas, a estrutura de custo da educação deverá ser monitorada de perto.

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40

• Despesas mais elevadas com a educação superior: Até recentemente, Cabo Verde

ofereceu poucas opções para os estudantes que queiriam prosseguir uma educação superior no próprio país. Aquando da independência, Cabo Verde não possuía uma única universidade. Tendo como estratégia aumentar a capacidade para o desenvolvimento, o governo embarcou numa po lítica de fornecer bolsas de estudos para o estrangeiro em grande número para continuação dos estudos a nível universitário e de graduação. Esta política ainda hoje continua com a vasta maioria dos estudantes que terminam o liceu procurarem o ensino superior no estrangeiro às expensas do governo (apesar da abertura da primeira universidade de Cabo Verde em 2000 e a existência de institutos técnicos e vocacionais). Enquanto que a maior parte das despesas de educação é ainda alocada aos níveis primários e secundários, a parte das despesas com a educação superior atingiu os 20% do total das despesas da educação em 2001. Isto reflecte tanto um aumento na demanda para a educação superior (uma vez que os pupilos que beneficiaram da educação primaria universal desde que 1995 estão atingindo idade para esse nível de ensino) e altos custos médios unitários ($4,777 USA por estudante por ano em 2004.)

Figure 6.1: educação Pública que gasta e custos unitários através de nível, Cabo Verde, 1990s,

Total education expenditure per capita

020406080

100120

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

2003

Year

1995

US$

Total education expenditure per capita

Expenditure per student, by level

2760

128111 125

334

050

100150200250300350400

1980 1993 2000

Year

1995

US

$ Primary per student

Secondary per student

Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial baseado nos dados do Ministério da Educação 6.5. O sistema de cuidados médicos em Cabo Verde é largamente descentralizado em termos de serviços básicos. Cabo Verde tem dois hospitais centrais, um em São Vicente e outro na cidade capital da Praia. Para além disso, existem clínicas locais de saúde que prestam os primeiros cuidados básicos de saúde como imunizações ou algum serviço pré-natal. As delegações, normalmente localizadas nas principais cidades prestam uma vasta gama de serviços de saúde e também implementam iniciativas de saúde pública. Os dois hospitais centrais têm recursos, pessoal e equipamento muito mais que as contrapartes regionais. Esses são os únicos centros de cuidados médicos providos de especialistas em vários campos da medicina. Os hospitais frequentemente também servem como clínicas médicas, fornecendo consultas a pacientes externos para a população urbana. Os casos críticos ou casos de doenças sérias para as quais Cabo Verde não possui especialistas ou equ ipamentos apropriados são frequentemente evacuados para Portugal. Esta é uma prática cara, que cada vez mais assenta nas concessões e cooperações dos doadores bilaterais. O Ministério de Saúde supervisiona a política de saúde e

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41

coordenada os esforços nacionais visando epidemias específicas e os desafios dos cuidados da saúde. 6.6. Assim como para a educação, os indicadores da saúde são melhores que os dos países vizinhos. A esperança de vida à nascença é de 70.1 anos. A taxa de mortalidade infantil é de 42 por 1,000 nados-vivos rapazes e 30 por 1,000 nados -vivos para as meninas. O rácio de mortalidade materna era 150 para 100,000 nados-vivos em 2000. Estas figuras reflectem o rendimento per capita relativamente alto em Cabo Verde, como também o alto gasto público dedicado à saúde. Os serviços de saúde reprodutiva são geralmente bons (88.5% dos nascimentos foram assistidos por profissionais de saúde em 1998), embora existam diferenças regionais no acesso – por exemplo na ilha de Maio, os partos com complicações ou os que requerem cesariana devem ser evacuados para um dos dois hospitais centrais, aumentando assim significativamente os riscos para a mãe e para a criança. Apesar dos desafios impostos pela geografia, o país teve sucesso no provimento de serviços básicos de saúde para a maioria dos habitantes em todas as ilhas. Existe ainda um fosso na cobertura dos pobres e dos não-pobres, mas esse gap não é muito grande. Como mostrado no quadro 6.2, entre os que se adoeceram no 1º quintile de consumo per capita, 49% receberam tratamento médico ao invés de 59% no 4º e 5º quintiles (nem todos os episódios de doença ou acidentes requerem tratamento médico o que explica que as proporções sejam bem abaixo dos 100%). Também, 24% dos que receberam tratamento no 5º quintile, foram assistidos para por um médico privado, ao contrário de menos que 1% no último quintile. Esta discrepância é provavelmente devida a uma falta de seguro de saúde entre os pobres, mas não é provável que isto seja significativo uma vez que os cuidados de saúde pública estão disponíveis a baixo custo. Quadro 6.2: Incidência de doenças e tratamento prestado por quintile, Cabo Verde 2001-02

Você esteve

doente? (% sim)

Você recebeu

tratamento? (% sim)

Quantas visitas?

Hospital (%)

Médico Privado

(%)

Centro Saude

(%)

Unid. Sanit. (%)

Farmácia (%)

Tradicional (%)

Mais pobre 18 49 1.62 52 1 25 16 1 0 2º quintile 20 52 1.63 57 3 24 11 2 0 3º quintile 20 56 1.65 62 4 21 9 1 0 4º quintile 20 59 1.72 64 8 14 8 2 0 Mais rico 24 59 1.77 49 24 14 8 1 0

Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial 6.7. O sistema de cuidados de saúde em Cabo Verde tem tido sucessos na erradicação da maioria das doenças transmissíveis, mas houve uma derrapagem na taxa de vacinação nos últimos anos da década de 90. A taxa de vacinação é muito alta e as epidemias tendem a ser bastante raras. Porém, enquanto nos princípios dos anos 90 a cobertura de vacinações para a maioria das principais doenças comunicáveis atingiram os 100%, o financiamento para as grandes campanhas de vacinação diminuíram em meados dos anos noventa, resultando em algumas erupções de doenças como o sarampo e a pólio. Em 2001, várias dúzias de pessoas também se tornaram vítima de uma erupção de cólera. Estas epidemias aumentaram a consciência entre os prestadores de cuidados médicos e os decisores políticos da necessidade de aumentar os esforços para a cobertura continua de imunização, de forma que até finais de 2000, recuperassem significativamente a taxa de cobertura de imunização, como mostra o Quadro 6.3.

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42

Quadro 6.3: Cobertura de Imunização (OMS), Cabo Verde 1992-2002 1992 1997 1999 2000 2001 2002 BCG 99+ 80 75 92 84 92 DTP1 - - - 93 79 96 DTP3 99+ 78 69 86 78 94 MCV 91 82 61 80 72 85 Pol3 99+ 77 70 86 77 94 TT2+ 99 55 52 45 26 - Fonte: OMS 6.8. As despesas com a saúde aumentaram nos finais de 1990s, mas foi estabilizado a partir desse período. Como mostra a Figura 6.2, o total das despesas públicas com a saúde ascendeu a $US 11.5 milhão em 2004 dos quais os ordenados e os salários constituem a porção mais significante, seguidos de bens e serviços. Apesar do grande peso dos ordenados e salários no orçamento do sector da saúde, Cabo Verde tem tido dificuldades em atrair e reter médicos e enfermeiros qualificados. Incentivos e pacotes para o recrutamento de expatriados são oferecidos aos chineses, cubanos e médicos russos como incentivos para exercerem a sua prática em Cabo Verde. Uma vez que não existe nenhuma escola médica em Cabo Verde, a formação de novos médicos é cara e requer o envio dos estudantes ao estrangeiro com bolsas de estudos durante uns anos. A maioria das despesas de capital para infra-estrutura de saúde vêm dos doadores. Uma grande doação de equipamentos médicos também veio do estrangeiro de doações privadas (um exemplo recente de doação foi um equipamento completo de uma sala de cardiologia doado por uma medico Caboverdiano de renome trabalhando em Nova Iorque). O acesso aos serviços de cuidado médicos é alargado, mas os cuidados variam significativamente com o rendimento.

Figure 6.2: Despesas pública com a saúde total e por função, Cabo Verde

Total expenditure on health

2.8

10.1 10.59.9

11.712.9

11.5

0.0

2.0

4.0

6.0

8.0

10.0

12.0

14.0

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Year

Mill

ions

of U

S$

Health expenditures, by function

7.38.5

7.4 8.0 9.1 9.6

0.40.3

0.30.5

0.50.9

0.0

2.0

4.0

6.0

8.0

10.0

12.0

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004

Year

Mill

ions

of $

US

Investment

Goods and Services

Wages and Salaries

Fonte: Ministério de Saúde 6.9. Uma mudança significativa operando no sector da saúde é o papel crescente do sector privado. Por muitos anos Cabo Verde encarou a prestação dos cuidados médicos como um bem que deveria ser prestado exclusivamente pelo estado. Porém, os custos elevados de cuidados médicos vêm aumentando, e a demanda de qualidade cada vez mais levaram o governo a reavaliar sua proibição à pratica privada de prestação de cuidados médicos. Para além disso, muitos médicos Caboverdianos argumentam que a proibição da prática privada torna o seu

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trabalho em Cabo Verde muito menos atractivo e constitui uma exacerbação do cérebro. Em 1995, os médicos finalmente ganharam o direito de abrirem as suas próprias práticas privadas. Até 2001, as despesas privadas com a saúde era de 16% do total das despesas de saúde em Cabo Verde. Muitos aplaudiram esta nova estratégia como forma de aliviar a sobrecarga e a falta de recursos no sector da saúde pública e melhorar a prestação de serviços de saúde para o pobre. Porém, entrevistas com os funcionários locais e nacionais de saúde sugerem que o advento da medicina privada pode também exigir cuidados adicionais para assegurar que os benefícios do novo e duplo sistema sejam passados aos pacientes. Um problema existente que parece ser a prática comum por alguns doutores é o de utilizar as instalações publicas, principalmente os hospitais, para consultas dos pacientes privados para teste e para diagnósticos. Este hábito de misturar a prática privada com a pública retira os recursos do sector de saúde pública e pode significativamente ter um impacto na qualidade dos cuidados médicos prestados. Aqueles que não podem pagar são frequentemente solicitados a esperar muito mais tempo enquanto os médicos prestam atenção aos pacientes da sua prática privada, ou são-lhes dispensados menos tempo para a sua consulta. É importante avaliar que medidas de protecção serão necessárias pôr em prática para assegurar que as práticas médicas privadas sejam separadas da prestação de cuidados de saúde pública. 6.10. Hoje, devido ao alto nível das despesas públicas com a educação e a saúde, as despesas privadas dos agregados familiares tendem a ser baixas. O Quadro 6.4 apresenta estimativas das despesas privadas com a educação e a saúde baseado nos dados do inquérito de 2001-02. Os níveis globais de despesas são bastante baixos. Em média, os agregados nos últimos quatro quintiles gastam menos que um por cento do seu consumo total em educação, e menos que dois por cento na saúde. Para a educação, tirando as despesas com a educação secundária, gastos com cadernos, uniformes, e livros representam as maiores despesas. Na saúde, as despesas com os medicamentos representam mais que 70% do total das despesas privadas com a saúde para os agregados nos primeiros quatro quintiles. As consultas representam uma parte mais elevada (14 e 24%) do total das despesas com a saúde entre os agregados nos quintiles mais rico (quarto e quinto quintiles respectivamente). Quadro 6:4: Despesa Privada com Educação e Saúde por quintile, Cabo Verde 2001-02

Parte das despesas privada com a educação por categoria Gasto privado como%

de consumo total

Quintile Uniformes Livros Cadernos Pré-

escolar Primário Secundário Super. Outro Todos os

Agregados

" Não zero " para

educação Mais pobre 10.7 13.8 29.4 14.1 16.0 16.1 0.0 0.0 0.6 1.3

2 13.9 7.8 38.6 7.5 9.6 19.7 0.0 2.9 0.6 1.4 3 8.8 7.7 19.8 12.7 4.8 43.9 0.0 2.3 0.8 1.7 4 14.2 11.6 21.5 10.6 5.8 21.8 13.8 0.8 0.7 1.3

Mais rico 7.7 3.1 4.0 9.3 8.2 24.1 37.7 6.0 1.5 2.8

Quintile Hospital Enfermeiras / Fisioterapeuta Dentista Consultas

Despesas Outro

Paramédico Saúde

Inventa Medicamen

to Todos

agregados " Não zero " para saúde

Mais pobre 0.1 0.0 2.2 5.5 4.1 0.0 88.1 1.2 3.3

2 0.8 0.1 1.5 4.2 4.4 1.2 87.9 1.2 2.9 3 0.8 0.0 1.3 7.2 3.0 2.0 85.5 1.3 2.7 4 1.6 0.0 3.2 13.8 4.8 3.2 73.5 1.6 3.0

Mais rico 3.1 4.5 3.5 24.2 8.5 10.0 46.3 2.1 3.3

Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial.

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B. ANALISE DA INCIDENCIA DOS BENEFÍCIOS DAS DESPES AS PUBLICAS NOS SECTORES SOCIAIS 6.11. É importante apresentar uma análise comparativa das características distributivas das transferências públicas. A Figure 6.1 mostra uma visualização da incidência e cobertura das transferências públicas em Cabo Verde baseado nos dados do inquérito de 2001-02. À semelhança do que foi feito para as transferências privadas no capítulo 4, três indicadores são apresentados na Figura: a parte dos pobres que beneficiam da fonte de rendimento, a parte do total do rendimento que chega ao pobre, e o tamanho-grandeza da fonte (que é proporcional ao tamanho da bolha - uma bolha maior indica uma fonte maior). As despesas públicas com a educação primária, secundária, e terciária (educação superior) incluído, são apresentadas à semelhança do apresentado para as pensões (pensões de reforma, e pensões mínimas; veja capítulo 5 para uma discussão). O inquérito inclui também informações sobre as bolsas (bolsas de estudo), outros subsídios públicos (abonações e subsídios diversos), e a ajuda social (prestações de assistência social pelas administrações publicas em género). Os principais resultados são os seguintes:

• Tamanho-dimensão das várias transferências: a educação primária, secundária, terciária (superior), a saúde, como também a pensão de reforma todos representam grandes transferências públicas para os agregados. Os ganhos para a pensões mínima, as bolsas de estudo, a ajuda social e outros subsídios públicos são muito menores.

• Cobertura: O eixo vertical na Figura apresenta dados sobre a parte dos pobres que

beneficiam das várias transferências. Para a educação primária e secundária como também para saúde, as partes são muito altas. Para as outras transferências, as partes estão na ordem dos 10-15% ou mais baixo. A cobertura para a educação superior entre os pobres é virtualmente zero.

• Segmentação: O eixo horizontal mostra a parte dos vários tipos de transferências que

alcançam os pobres. Os indicadores sobre a segmentação são mais favoráveis para a educação primária do que para a educação secundária e para a saúde, com virtualmente nenhuma despesas na educação terciária (superior) que alcança os pobres. A parte das pensões de reforma que alcança os pobres é igualmente baixa. Cerca de um terço do dispêndio para o sistema de pensões mínima alcança os pobres mas os pobres continuam obtendo uma parcela mais baixa do que a da população em geral. Aproximadamente 40% dos gastos da ajuda social alcançam os pobres, mas o indicador de segmentação é muito mais baixo para outros subsídios públicos e as bolsas de estudo.

• Erradicação da pobreza : Como no capítulo 4, a bolha grande no canto superior direito da

Figura 4.3 representa o tamanho de uma transferência perfeitamente segmentada que seria suficiente para erradicar a pobreza. Agrupando todos os recursos dos vários tipos de dinheiro transferido poderia percorre um longo caminho na redução da pobreza se todos esses recursos fossem bem direccionados para os pobres (o que é difícil em alguns casos, como para as pensões de reforma). No entanto, como só uma pequena parte das transferências alcança o pobre, o seu impacto na pobreza é limitado. A Figure 6.4 ilustra o aumento da pobreza caso as transferências fossem suprimidas dos agregados familiares receptores. As pensões (por causa da sua dimensão) teriam o maior impacto reduzindo a pobreza, seguido dos subsídios públicos, fundos para estudos, e a assistência social.

Page 46: DIAGNOSTICO da pobreza

45

Figure 6.3: Incidência e cobertura das despesas públicas, Cabo Verde 2001 -02,

-0,20

0,10

0,40

0,70

1,00

0,00 0,25 0,50 0,75 1,00

Segmentando os Pobres

Alc

ance

ent

re o

s P

obre

s

Educação Primária

EducaçãoSecundária

Pensão de Reforma

Subsídios Publicos

Pensão Mínima

Assistência Social

Fundo Públicospara Estudos

Transferência Perfeita

Saúde

Ensino Superior

Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial

Figure 6.4: Aumento da pobreza caso as transferências públicas fossem suprimidas, 2001-02

0.56%

0.40%

0.10%

4.13%

0.94%

0.00% 0.50% 1.00% 1.50% 2.00% 2.50% 3.00% 3.50% 4.00% 4.50%

Public Subsidies

Public Study Fund

Social Assistance

Reform Pensions

Minimum Pension

P e r c e n t a g e I n c r e a s e i n t h e H e a d c o u n t

Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial

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46

CAPÍTULO 7 TRIBUTAÇÃO INDIRECTA E TARIFAS DE SERVIÇOS

O Imposto sobre Valor Acrescentado foi introduzido em 2004. Este capítulo faz uma primeira apreciação do impacto deste imposto nos pobres. Considerando que muitos dos produtos consumidos pelos pobres são afectados por este imposto, para que haja um impacto positivo na redução da pobreza será importante assegurar essa mudança no lado do consumo, e que os recursos adicionais gerados pela introdução do IVA sejam gastos de forma a favorecer os pobres. O capítulo apresenta depois evidências do impacto da estrutura de tarifas (e os subsídios implícitos) para água e electricidade sobre a pobreza. Os resultados aqui apresentados são preliminares e pretenderam simplesmente lançar o debate sobre essa problemática.

A. O IMPOSTO SOBRE O VALOR ACRESCENTADO, AS RECEITAS PÚBLICAS E O IMPACTO NA POBREZA 7.1. Em 2004, o Governo implementou uma reforma alargada do sistema de tributação que incluiu a introdução do IVA. De acordo com as projecções do FMI (2004), as receitas internas deveriam aumentar em 20% do PIB em 2004 graças às reformas nos mecanismos de cobrança dos impostos (incluindo a introdução do IVA), como também maiores dividendos das empresas públicas, especialmente da empresa pública de autoridade aeroportuária. A taxa do IVA em efectividade desde 1 de Janeiro de 2004 é de 15%, com algumas isenções assim como algumas taxas mais altas para licores, comidas de luxo (como caviar) e veículos, entre outros. Como apresentado no Quadro 7.1, a projecção da cobrança do IVA em 2004 é calculada em 4.32 bilhões de ECV, representando um quarto de todas as receitas de impostos em Cabo Verde. Em contrapartida, a previsão das receitas das taxas de importação foram calculadas 3.88 bilhões de ECV para 2004, abaixo do nível alcançado em 2002 de 6.13 bilhões de ECV, em parte devido à diminuição das tarifas de importação. O aumento da tributação dos bens de consumo e do comércio entre 2002 e 2004 é de cerca de 1.2 bilhões de ECV.

Page 48: DIAGNOSTICO da pobreza

47

Quadro 7.1. Receitas do Governo em Cabo Verde, 2001-2004 [em bilhões de ECV]

2000 2001 2002 2003 2004 Programa 1

/ Prel. Programa 1

/ Rend. Proj.

Receitas, donativos e empréstimos líquidos

17.14 18.94 22.98 23.24 21.91 23.27 24.52

Receitas internas 13.24 14.83 16.66 17.59 17.51 18.39 19.63 Receitas Fiscais 11.76 12.99 14.68 15.71 15.46 16.55 17.18

Receitas e impostos de lucro 3.91 4.79 5.13 5.54 5.30 6.08 6.34 Imposto do salário pessoal 2.95 3.07 3.20 2.97 3.79 Imposto dos lucros empresas 0.95 1.72 1.94 2.33 2.55

Impostos de consumo 1.89 2.10 2.47 2.50 2.50 2.69 5.99 Impostos em bens e serviços 1.89 2.10 2.47 ... 2.50 ... 1.67 de qual: impostos de petróleo 0.03 0.12 0.31 ... 0.22 ... 0.44 Imposto valor acrescentado 0.00 0.00 0.00 ... 0.00 ... 4.32

Impostos do comércio internac. 4.81 5.34 6.13 6.79 6.76 6.83 3.88 Outros impostos 1.16 0.76 0.95 0.87 0.90 0.94 0.97

Receitas Não Fiscais 1.48 1.54 1.76 1.33 1.51 1.58 2.19 Taxas e penalidades 0.37 0.34 0.32 0.41 0.36 0.47 0.64 Outras rendas de não fiscais 1.10 0.56 0.61 0.74 0.87 0.86 1.00 Transferências de lucro 0.01 0.65 0.83 0.60 0.29 0.70 0.55

Participação importante doméstica

0.00 0.01 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00

Rede emprestando 0.00 0.29 0.22 0.55 0.54 0.26 0.26 Concess ões externas 3.90 4.11 6.32 5.65 4.40 4.88 4.88

Concessões importantes 3.90 4.11 5.16 4.88 3.63 4.88 4.88 Orce apoio 0.00 0.00 1.16 0.77 0.77 0.00 0.00

Fonte: FMI (2004)

7.2. A parte do IVA e as taxas de importação pagas pelos pobres é de aproximadamente três quartos do seu consumo desses bens. Utilizando as informações do consumo do IDRF 2001/02 as estimativas da parte do consumo de cada produto sujeito a tributação do IVA e outras taxas estima-se que foi obtido um total de cobranças do IVA de 3.9 bilhões (isto comparado com a projecção de 4.3 bilhões no Quadro 7.1 acima). Um método semelhante para as taxas de importação dá-nos uma estimativa de cobrança de 3.5 bilhões de ECV (contra os 3.8 bilhões no Quadro 7.1). A parte do IVA e impostos de importação pagos pelos pobres (como também a parte dos bens consumidos pelos pobres) é representada nas Figuras 7.1 e 7.2, onde o tamanho das bolhas é proporcional ao consumo. Globalmente, enquanto que o pobre consume 10.34% de consumo total em Cabo Verde, eles pagam só 7.32% da conta do IVA e 8.13% das tarifas de importação. Isto significa que o pagamento dos impostos pelos pobres é menor do que o pagamento dos impostos pelos não pobres, mas mesmo assim, o montante dos impostos que os pobres pagam é ainda elevada, essencialmente porque muitos dos bens são importados e tributados. No caso de comida especialmente (o maior artigo em termos de impostos pagos), a parte dos impostos indirectos pagos pelos pobres eleva-se a mais de 12%. Uma melhor apreciação sobre os bens e a revisão das taxas poderia reduzir o peso que o IVA e o imposto de importação impuseram aos pobres.

Page 49: DIAGNOSTICO da pobreza

48

Figura 7.1: Grandeza do Pagamento e parte do IVA pagos pelos pobres.

0,00

0,02

0,04

0,06

0,08

0,10

0,12

0,14

0,16

0,18

0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 0,12 0,14 0,16

% IVA pago pelos Pobres

Con

sum

ido

pelo

s P

obre

s Comida

Álcool e Tabaco

Habitação

OutrosServiços

Bens de Consumo

Educação e Saúde

EntretenimentoVestuário

Telecom

Figura 7.2: Grandeza do Pagamento e parte dos impostos de importação pagos pelo pobre.

0,00%

2,00%

4,00%

6,00%

8,00%

10,00%

12,00%

14,00%

16,00%

18,00%

0,00% 2,00% 4,00% 6,00% 8,00% 10,00% 12,00% 14,00% 16,00%

% taxa de importação pago pelos pobres

Con

sum

ido

pelo

s P

obre

s

Comida

Habitação

ÁlcoolTabaco

Vestuário

Bens de Consumo

Outros Serviços Entretenimento

Telecom

7.3. As estimativas baseadas no inquérito IDRF 2001/02 sugerem que a introdução do IVA aumentou a percentagem da população na pobreza. O Quadro 7.1 apresenta medidas da pobreza com e sem o IVA. As medidas sem o IVA são baseadas nas estimativas obtidas com o inquérito de 2001-02. As medidas com o IVA são obtidas subtraindo do consumo do agregado o que eles têm que pagar pelo IVA. As estimativas sugerem que o IVA pode ter levado a um aumento da população na pobreza em 3.02 pontos percentuais, contra uma situação na qual os agregados não teriam que pagar tal taxa. Claro está que este aumento é exagerado uma vez que os

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49

impostos de importação foram reduzidos aquando da introdução do IVA. Mesmo assim, o grande impacto na pobreza das sub- componentes do IVA (especialmente a tributação da comida) requer uma revisão das taxas para testar se específicos bens são consumidos essencialmente pelos pobres e assim poderem merecer uma isenção do IVA. Para além disso, porque os agregados mais ricos tendem a consumir mais, e por conseguinte pagam mais impostos indirectos, o IVA (assim como também as taxas de importação) contribuem para uma redução da desigualdade como medido pelo índice de Gini de respectivamente 0.64 pontos percentuais e 0.43 pontos percentuais. Quadro 7.2. Impacto do IVA na pobreza, Cabo Verde 2001-02

Pobreza Base Comida Álcool Tabaco Habitação Vestuário Bens

Total 37.02% 38.50% 37.09% 37.40% 37.17% 37.17%

Gap da pobreza 13.50% 14.27% 13.53% 13.66% 13.56% 13.57% Quadrado do Gap 6.37% 6.83% 6.38% 6.46% 6.40% 6.41%

% Consumo dos pobres - 14.76% 8.48% 12.02% 5.51% 4.84% % IVA pago pelos pobres - 12.25% 8.48% 7.12% 5.48% 4.87%

Base Telecom Saúde

Educação Lazer Outros

serviços Total Total 37.02% 37.39% 37.05% 37.18% 37.11% 40.04% Gap Pobreza 13.50% 13.67% 13.51% 13.56% 13.53% 14.99%

Quadrado do Gap 6.37% 6.46% 6.37% 6.40% 6.39% 7.24% % Consumo dos pobres - 5.49% 3.59% 3.94% 3.22% 10.34% % IVA pago pelos pobres - 4.67% 4.14% 3.97% 2.97% 7.32% Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial.

B. AS TARIFAS DAS UTILIDADES E CUSTOS DA ELECTRA

7.4. Em parte devido às condições geográficas, o fornecimento de água e serviços de electricidade é caro em Cabo Verde, com a companhia nacional de água e electricidade operando com prejuízos. Os agregados familiares obtêm água e electricidade principalmente do único fornecedor: a Electra. Em 1999, a Electra foi privatizada e comprada por um consórcio português (a Electricidade de Portugal e a Água de Portugal). A Electra fornece electricidade ao país inteiro e água na Praia, no Mindelo, e na Boavista (também faz o tratamento de águas residuais na Praia e no Mindelo.) O sistema de electricidade (e em certa medida a água) é inerentemente caro porque a demanda é espalhada pelas várias ilhas e alguns dos lugares são de difícil acesso o que complica a operação e a manutenção dos equipamentos de geração e distribuição. Para além disso, os baixos níveis de procura em algumas ilhas limita as possibilidades de se alcançar economias de escala e pela instalação de geradores que funcionam a um custo mais baixo. Por exemplo, à excepção da Praia, São Vicente, e Sal, a demanda de electricidade pode ser fornecida usando unidades de gás-óleo pequenos com custos operacionais altos. Em 2002, as estimativas sugerem que a Electra teve prejuízos de operação de metade do total da sua receita bruta. Esses prejuízos podem ter agora aumentado devido aos altos preços de combustível. Aquando da privatização, as projecções apontavam para um “break-even” em 2005, mas isso não parece provável de ser alcançado.

Page 51: DIAGNOSTICO da pobreza

50

Quadro 7.3: Contas da Electra em milhões de ECV 2000 2001 2002

(estimativa) 2003

(projecção)

Receitas de operação 1842 1961 2339 3455 Venda Electricidade 1328 1418 1735 2340 Venda de Água 436 465 523 928 Outra Renda de Operação 78 78 81 187 Custo total 2381 3055 3773 4545 Combustível 1058 1536 2001 2459 um Pessoal 577 630 665 646 Amortizações 429 506 748 1081 Prejuízos de operação 539 1094 1434 1090 Renda excepcional 163 168 281 273 Total dos prejuizos 376 926 1153 817

Fonte: Electra, GOCV, pessoal do BM. Nota: 1: light fuel representa 40% de custos aproximadamente, e diesel 60%.

7.5. A estrutura de tarifas para a electricidade e água para os clientes residenciais tendem a favorecer os agregados que consomem menos. A parte de despesa com a água e a electricidade entre usuários é aproximadamente 7% do total do consumo (4.12% para electricidade e 3.06% para água) o que é relativamente importante. O Quadro 7.4 apresenta a estrutura das tarifas existentes em Cabo Verde. Os agregados que consomem menos electricidade ou água pagam uma taxa por kwh ou metro cúbico de água ligeiramente mais baixa taxa que os clientes que consomem mais. As tarifas de electricidade foram aumentadas em 2002. As estimativas sugerem que esse aumento elevou a parte da população na pobreza em de 0.16 pontos percentuais. Porém, esse aumento não foi suficiente para a Electra cobrir os seus custos. Um aumento maior poderia afectar ainda mais a pobreza. Assim, torna-se necessária uma análise detalhada do impacto da estrutura das tarifas de electricidade e água nos pobres. (tal análise está em curso).

Quadro 7.4. Tarifas para utilizadores domésticos em ECV, Cabo Ve rde 2001/02 e 2003 ELETRICIDADE

<= 40 kWh > 40 kWh Taxa doméstica 2003 (2001/02)

16,5 (14,0) 20,5 (17,0)

Estabelecimentos públicos 12,0 12,0 Monofásico Trifásico Normal Urgente Normal Urgente Custo de ligação 650 2.000 650 2.000 Custo médio fixo 45 (32) 45 (32) 45 (32) 45 (32)

ÁGUA <= 6 m3 >6 e <= 10 m3 > 10 m3 Taxa doméstica 200 280 350 Custo de ligação 650 650 650 ½” para ¾” 1” para 1½” 1½” para 2” > 2” Custo fixo 65 195 260 650 Fonte: Electra. Nota: O consumo mínimo de electricidade é 10 kWh. 7.6. O acesso à electricidade e à água é muito mais alto entre deciles mais altos, especialmente em termos de agregados que pagam as suas contas na Electra. O acesso à electricidade e agua canalizada é elevado pelos padrões da Africana, mas um terço de todos os usuários de água e electricidade nos últimos 8 deciles não pagam a Electra pelos serviços (de

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51

acordo com os dados do inquérito de 2001-02). Se o não pagamento observado no inquérito é devido á fraude, isso significa que a Electra perde em receitas cerca de 27% para a electricidade residencial e 23% para a água. Uma investigação mais detalhada deveria ser levada a cabo com as informações apropriadas por forma a melhor entender esta questão.

Quadro 7.5. Acesso da população ah Electricidade e Agua por Decile, Cabo Verde 2001-02, Electricidade Água

Decile

Percentagem dos Agregados com

acesso

Agregados que não declaram pagamento

como parte do agregado

com acesso

Parte do Agregado com acesso

Casas que não declara m pagamento

como parte do agregado

com acesso 1 0.207 0.444 0.083 0.4578 2 0.358 0.316 0.141 0.2766 3 0.406 0.416 0.158 0.4051 4 0.581 0.250 0.220 0.1818 5 0.523 0.258 0.251 0.2948 6 0.626 0.235 0.255 0.2549 7 0.692 0.244 0.388 0.1211 8 0.775 0.227 0.429 0.2075 9 0.839 0.186 0.576 0.1649 10 0.913 0.169 0.735 0.1796

Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial. 7.7. Enquanto uma pequena parte da população beneficia do bloco invertido da estrutura de tarifa para a electricidade, um benefício maior teria do bloco invertido da estrutura de tarifa para a água. O Quadro 7.6 apresenta as despesas per capita como também por kilowatt-hora de electricidade e metros cúbicos de água consumidos pela população por decile. Como já anteriormente mencionado , a despesa total de água e electricidade é de cerca de 7% do total do consumo. De acordo com os dados do inquérito, (que poderia ser comparado com dados da Electra), só os agregados no primeiro decile consomem em média menos de 40 kwh de electricidade por mês. Em contraste, os agregados nos primeiros sete deciles consomem em média menos água que o mínimo actualmente estabelecido de 6 m3 por mês. Isto sugere que para melhor segmentar os pobres, a estrutura de tarifa de água poderia ser mudada para taxas mais baixas somente para os de baixos níveis de consumo. Uma alternativa a ser utilizada poderia ser “o teste da média” para segmentar os subsídios aos pobres. Por exemplo, as informações sobre as características do agregado poderiam ser utilizadas para diferenciar as tarifas. Tal modelo identifica melhor os pobres do que o nível de consumo dos agregados. No entanto, os subsídios para reduzir os custos de ligação dos novos agregados à rede (ou para facilitar a expansão da rede) poderiam até serem melhores na segmentação dos pobres. Hoje, de entre a população com acesso á electricidade, somente 20% são pobres. Para a água canalizada, a figura correspondente é ainda mais baixa em 11%. Subsidiando o consumo de electricidade ou água aos agregados actualmente ligados á rede é uma política que não favorece os pobres do que apoiar os agregados que não estão ligados á rede a fazerem essa ligação.

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Quadro 7.6. Despesas/consumo mensal de água e electricidade, Cabo Verde 2001-02,

Todos os Agregados Somente os Usuários Electricidade

Decile ECV

per capita Kwh/mes por

agregado % Consumo per capita

ECV per capita

Kwh/mes por agregado

% Consumo per capita

1 5.02 3.43 0.38% 43.88 29.92 3.33% 2 18.76 11.78 0.89% 76.61 48.12 3.56% 3 31.61 17.32 1.15% 133.67 73.23 4.86% 4 63.84 31.56 1.83% 146.17 72.25 4.21% 5 77.09 34.94 1.80% 198.40 89.92 4.64% 6 117.59 51.40 2.20% 245.59 107.36 4.58% 7 178.05 69.85 2.67% 340.05 133.41 5.11% 8 227.72 81.99 2.65% 380.41 136.97 4.37% 9 343.06 102.13 2.71% 502.40 149.56 3.95% 10 703.96 154.92 2.01% 927.14 204.04 2.59%

Média 176.67 55.932 1.83% 299.432 104.478 4.12% Água

Decile ECV

per capita m3/mes por agregado

% Consumo per capita

ECV per capita m3/mes por casa

% Consumo per capita

1 2.27 0.10 0.17% 50.62 2.29 3.61% 2 7.67 0.37 0.36% 74.83 3.60 3.54% 3 12.25 0.48 0.44% 131.03 5.10 4.70% 4 16.50 0.65 0.47% 91.67 3.62 2.63% 5 21.37 0.71 0.50% 121.19 4.02 2.83% 6 26.67 0.83 0.50% 140.52 4.36 2.62% 7 78.21 2.29 1.17% 229.41 6.72 3.42% 8 85.56 2.43 0.99% 251.51 7.15 2.89% 9 154.38 3.35 1.22% 320.95 6.95 2.51% 10 409.98 6.83 1.17% 679.35 11.32 1.85%

Média 81.49 1.80 0.70% 209.11 5.51 3.06% Fonte: Estimativas do pessoal do Banco Mundial. [Referências para o relatório serão fornecido]