A NOVA EXECUÇÃO A NOVA EXECUÇÃO TRABALHISTATRABALHISTA

À LUZ DAS REFORMAS DO À LUZ DAS REFORMAS DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVILCÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

CARLOS HENRIQUE BEZERRA LEITEMestre e Doutor em Direito das Relações Sociais (PUC/SP)

Desembargador do TRT da 17ª Região/ES. Ex-Procurador Regional do Ministério Público do Trabalho/ES

Professor Adjunto de Direitos Humanos e Processo do Trabalho (UFES)Professor de Direitos Metaindividuais do Mestrado (FDV)

Membro da Academia Nacional de Direito do TrabalhoMedalha do Mérito Judiciário do Trabalho (Comendador)

Ex-coordenador Estadual da Escola Superior do MPU/ESAutor de Dezenas de Livros e Artigos Jurídicos

ProblematizaçãoProblematização Há relação entre o Estado e o Processo? Acesso à justiça é direito humano? Quais são as fontes normativas da execução

trabalhista? A execução trabalhista é processo ou

procedimento? As Leis ns. 11.232/2005 e 11.382/2006 podem

ser aplicadas no processo do trabalho mesmo diante de inexistência de lacuna da CLT?

Que são lacunas do Direito? Que é heterointegração do sistema

processual civil e trabalhista?

O Estado e o ProcessoESTADO LIBERAL – lei, liberdade e propriedade

• Processo Formal e Legalista - CONCEITUALISMO• Ação como direito de propriedade em juízo (Princípio dispositivo).• Reconhece apenas lacunas normativas• Desconfia do juiz como criador de normas - interpretação literal –

juiz como “boca da lei”• Poder mais importante – Legislativo

ESTADO SOCIAL – decreto-lei, igualdade, direitos sociais – Função social da propriedade

A jurisdição, e não mais a ação, que passa a ser o eixo central do sistema de acesso ao Judiciário. Relativização do princípio dispositivo INSTRUMENTALIDADEPoder mais importante - Executivo

O Processo no Estado Democrático O Processo no Estado Democrático de Direitode Direito

•Dignidade da Pessoa Humana - solidarismo•Reconhece lacunas ontológicas e axiológicas no sistema jurídico•Poder mais importante: Judiciário (efetivação dos direitos fundamentais)•Legislação compreendida a partir dos princípios constitucionais de justiça e dos direitos fundamentais. • Deveres de o juiz interpretar a lei conforme a Constituição, de controlar a constitucionalidade da lei, especialmente atribuindo-lhe novo sentido para evitar a declaração de inconstitucionalidade, de suprir a omissão legal que impede a proteção de um direito fundamental, de decidir diante de colisão de direitos fundamentais•Ampliação dos poderes do juiz (ativismo judicial). Controle judicial de políticas públicas•Processo = Direito Constitucional Aplicado•EFETIVIDADE DO PROCESSO = celeridade com justiça social

Acesso à Justiça como Direito Humano

• Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) - Artigo 8º:“Toda a pessoa tem direito a recurso efetivo para as jurisdições nacionais competentes contra os atos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou pela Lei”.

Princípios Constitucionais de Acesso à Justiça

Título II – Dos Direitos e Garantias FundamentaisCapítulo I – Dos Direitos e Deveres Individuais e

Coletivos– Acesso à Justiça (CF, art. 5º, XXXV) – Devido processo legal (inciso LIV)– Ampla defesa (autor e réu) e contraditório (LV)– Duração Razoável do Processo (LXXVIII)

• Escopo: Efetivo acesso, tanto individual quanto coletivo, ao Poder Judiciário brasileiro.

Fontes da Execução TrabalhistaPrimária:

- CLT – Título X, Cap. V, arts. 876 a 892Secundária:

- LEF – Lei 6.830/80 (CLT, art. 889)- Ordem de penhora (art. 655 CPC c/c

CLT, art. 882) – quebra da lógica- CPC, havendo lacuna e compatibilidade

principiológica (CLT, art. 769)

A Reforma do CPC e a CLT●A efetividade do processo, = a morosidade processual favorece os mais ricos (no Processo do Trabalho, os empregadores) em detrimento dos mais pobres (trabalhadores), sendo estes últimos certamente os mais prejudicados com a intempestividade da prestação jurisdicional.= o reconhecimento da relativização do dogma da autonomia do processo do trabalho nos casos em que os arts. 769 e 899 da CLT representarem, na prática, descompromisso com a justiça e efetividade.

As Lacunas do Direito• 1ª) normativa - ausência de norma sobre

determinado caso;

• 2ª) ontológica – há norma, mas ela não correspode aos fatos sociais, pois o grande desenvolvimento das relações sociais e o progresso acarretaram o seu ancilosamento;

• 3ª) axiológica - ausência de norma justa, isto é, existe um preceito normativo, mas se for aplicado ipis litteris, a solução será insatisfatória ou injusta.

As Lacunas Ontológicas do Processo do Trabalho

• >Com o desenvolvimento das relações políticas, sociais e econômicas desde a vigência da CLT (1943) até hoje, inúmeros institutos e garantias do processo civil passaram a influenciar diretamente o processo do trabalho (astreintes, antecipação de tutela, multas por litigância de má-fé e por embragos procrastinatórios, matéria dos embargos do devedor, remessa ex officio etc.);

• >O progresso técnico decorrente da constatação de que, na prática, raramente é exercido o ius postulandi pelas próprias partes, e sim por advogados cada vez ais especializados na área justrabalhista.

As Lacunas Ontológicas• A interpretação evolutiva do art. 769

CLT – Cláusula de contenção• Necessidade de Heterointegração

dos Subsistemas do Processo Civil e Trabalhista – Diálogo das Fontes

• Desnecessidade do PL que acrescenta § único ao art. 769

As Lacunas Axiológicas do Processo do Trabalho

• >A aplicação e interpretação dos arts. 769 e 889 da CLT se mostra injusta e inefetiva quando comparada com as novas regras do CPC.

• >A transferência da competência material das ações oriundas da relação de trabalho para a Justiça do Trabalho implica retrocesso econômico e social para os seus novos jurisdicionados nas hipóteses em que a migração de normas do CPC redunda melhoria da efetividade da prestação jurisdicional. Exemplo: multa de 10% e a intimação do advogado (em lugar de citação) do devedor para o cumprimento da sentença.

O Peso dos Princípios Constitucionais na Acolmatação das Lacunas

• Para acolmatar as lacunas ontológica e axiológica do art. 769 da CLT torna-se necessária uma nova hermenêutica que propicie um novo sentido ao seu conteúdo devido ao peso dos princípios constitucionais do acesso efetivo à justiça com utilização dos meios necessários para abreviar a duração do processo.

Enunciado 1 da 1ª Jornada de DT e DPT:• 1. DIREITOS FUNDAMENTAIS. INTERPRETAÇÃO E

APLICAÇÃO. Os direitos fundamentais devem ser interpretados e aplicados de maneira a preservar a integridade sistêmica da Constituição, a estabilizar as relações sociais e, acima de tudo, a oferecer a devida tutela ao titular do direito fundamental. No Direito do Trabalho, deve prevalecer o princípio da dignidade da pessoa humana.

Por Uma Heterointegração do Sistema Processual Não-Penal Pátrio

• “A realização do Direito é unitária. Apenas em análise abstrata é possível decompô-la em várias fases que funcionam, tão-só, em inseparável conjunto. Particularmente focada é a unidade entre interpretação e aplicação. Mas há que ir mais longe, tudo está implicado, desde a localização da fonte à delimitação dos fatores relevantes; o caso é a parte de um todo vivo, sendo certo que interpretar é conhcer e decidir.”(CORDEIRO, Antônio Menezes).

1ª Jornada DT e DPT (2007)

• Enunciado 66. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DE NORMAS DO PROCESSO COMUM AO PROCESSO TRABALHISTA. OMISSÕES ONTOLÓGICA E AXIOLÓGICA. ADMISSIBILIDADE. Diante do atual estágio de desenvolvimento do processo comum e da necessidade de se conferir aplicabilidade à garantia constitucional da duração razoável do processo, os artigos 769 e 889 da CLT comportam interpretação conforme a Constituição Federal, permitindo a aplicação de normas processuais mais adequadas à efetivação do direito. Aplicação dos princípios da instrumentalidade, efetividade e não-retrocesso social.

1ª Jornada de DT e DPT (2007)

Enunciado 71. ARTIGO 475-J DO CPC. APLICAÇÃO NO PROCESSO DO TRABALHO. A aplicação subsidiária do artigo 475-J do CPC atende às garantias constitucionais da razoável duração do processo, efetividade e celeridade, tendo, portanto, pleno cabimento na execução trabalhista.

O Problema da Autonomia da Execução Trabalhista• PROCESSO AUTÔNOMO:

a) citação do executado (CLT, art. 880), por mandado (oficial de justiça);

b) influência do CPC de 1973

• PROCEDIMENTO/FASE DO PROCESSO (SINCRÉTICO) DE CONHECIMENTO

a) execução ex officiob) execução nos mesmos autos;c) O termo “citação” interpretado como

“intimação” (não hã mandado)

Títulos executivos judiciais no processo do trabalho:

a) a sentença (ou acórdão) que reconheça obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia;

b) as decisões (que também são sentenças) que homologam acordos entre as partes e que tenham conteúdo obrigacional;

c) os créditos previdenciários decorrentes de sentenças (ou acórdãos) condenatórias ou homologatórias de acordos entre as partes.

Títulos executivos extrajudiciais no processo do trabalho:

a) os Termos De Compromisso De Ajustamento De Conduta (TAC) com conteúdo obrigacional firmados perante o MPT (CLT 876);

b) os Termos De Conciliação com conteúdo obrigacional celebrados perante a CCP (idem);

c) as Certidões De Dívida Ativa — (CDA) decorrentes das multas aplicadas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização do trabalho (CF 114, VII).

Exemplo de Heterointegração do Sistema da Execução Trabalhista

Da Intimação do Devedor para Cumprimento da Sentença

• Mediante a heterointegração (CPC 475-J) e (CLT 880), o cumprimento da sentença trabalhista poderá ser promovido, de ofício, pelo próprio juiz, ou a requerimento das partes, sendo certo que em qualquer hipótese o devedor não será mais citado, e sim intimado na pessoa do seu advogado, que é a situação mais corriqueira na atualidade, ou diretamente, pelo correio ou por mandado, caso esteja litigando sem o patrocínio de um causídico (CLT, art. 791).

Exemplo de Heterointegração do Sistema da Execução Trabalhista

• “o cumprimento do acordo ou da decisão far-se-á no prazo e condições estabelecidas.” (CLT, 835)

• A CLT permite que juiz disponha sobre o prazo e as condições para o cumprimento da sentença, Logo, pode incidir a multa do art. 475-J do CPC, no que couber, por haver lacuna e ser compatível com os princípios que fundamentam o processo do trabalho.

• ASSIM, ao ser intimado da sentença que reconheça obrigação de pagar quantia líquida (ou da decisão que homologar a liquidação), o devedor terá o prazo de 8 dias (sentença líquida) 48 h (da intimação da sentença de liquidação) para, querendo, efetuar o pagamento da quantia devida. Caso não o faça, incidirá a multa de 10% sobre o total da dívida.

Conclusão“Há em nosso tempo duas categorias de juristas: os da legalidade e os da legitimidade, os tecnocratas e os retóricos, os das normas e regras e os dos princípios e valores, os juristas do status quo e os juristas da reforma e da mudança. Eu me inscrevo nas fileiras do segundo grupo, porque sendo ambos ideológicos, um pertence à renovação e ao porvir ao passo que o outro se filia na corrente conservadora e neutralista. Mas este último, sem embargo de apregoar neutralidade, professa, em derradeira instância, uma falsa e suposta isenção ideológica e, pelo silêncio e abstinência, acaba por fazer-se cúmplice do sistema e das suas opressões sociais e liberticidas” (BONAVIDES, Paulo. Democracia participativa. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 66).

Muito Obrigado!