a mentoria na educação de crianças e adolescentes carentes ... · figura 5 (4) modelo de...

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Universidade Federal de Pernambuco Centro de Ciências Sociais Aplicadas Departamento de Ciências Administrativas Programa de Pós Graduação em Administração - PROPAD Adriana Alvarenga Marques A mentoria na educação de crianças e adolescentes carentes: estudo de caso de um projeto de reforço escolar em uma comunidade do Recife/PE. Recife, 2006.

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Page 1: A mentoria na educação de crianças e adolescentes carentes ... · Figura 5 (4) Modelo de Certificado de Padrinho 70 Figura 6 (4) Foto da apresentação das meninas do projeto em

Universidade Federal de Pernambuco Centro de Ciecircncias Sociais Aplicadas

Departamento de Ciecircncias Administrativas Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Administraccedilatildeo - PROPAD

Adriana Alvarenga Marques

A mentoria na educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes carentes estudo de caso de um projeto de reforccedilo

escolar em uma comunidade do RecifePE

Recife 2006

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

CLASSIFICACcedilAtildeO DE ACESSO A TESES E DISSERTACcedilOtildeES Considerando a natureza das informaccedilotildees e compromissos assumidos com suas fontes o acesso a monografias do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Administraccedilatildeo da Universidade Federal de Pernambuco eacute definido em trecircs graus

- Grau 1 livre (sem prejuiacutezo das referecircncias ordinaacuterias em citaccedilotildees diretas e indiretas)

- Grau 2 com vedaccedilatildeo a coacutepias no todo ou em parte sendo em consequumlecircncia restrita a consulta em ambientes de biblioteca com saiacuteda controlada

- Grau 3 apenas com autorizaccedilatildeo expressa do autor por escrito devendo por isso o texto se confiado a bibliotecas que assegurem a restriccedilatildeo ser mantido em local sob chave ou custoacutedia

A classificaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo se encontra abaixo definida por seu autor Solicita-se aos depositaacuterios e usuaacuterios sua fiel observacircncia a fim de que se preservem

as condiccedilotildees eacuteticas e operacionais da pesquisa cientiacutefica na aacuterea da administraccedilatildeo Tiacutetulo da Dissertaccedilatildeo A mentoria na educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes carentes estudo de caso de um projeto de reforccedilo escolar em uma comunidade do RecifePE Nome do Autor Adriana Alvarenga Marques Data da aprovaccedilatildeo 21 de marccedilo de 2006 Classificaccedilatildeo conforme especificaccedilatildeo acima Grau 1 Grau 2 Grau 3

X

--------------------------------------- Adriana Alvarenga Marques

Adriana Alvarenga Marques

A mentoria na educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes carentes estudo de caso de um projeto de reforccedilo

escolar em uma comunidade do RecifePE

Orientadora ndash Profordf Socircnia Maria Rodrigues Calado Dias PhD

Dissertaccedilatildeo apresentada como requisito complementar para obtenccedilatildeo do grau de Mestre em Administraccedilatildeo aacuterea de concentraccedilatildeo em Gestatildeo Organizacional do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Administraccedilatildeo da Universidade Federal de Pernambuco

Recife 2006

Marques Adriana Alvarenga A mentoria na educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes carentes estudo de caso de um projeto de reforccedilo escolar em uma comunidade do Recife PE Adriana Alvarenga Marques ndash Recife O Autor 2006 148 folhas fig quadros Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Universidade Federal de Pernambuco CCSA Administraccedilatildeo 2006 Inclui bibliografia apecircndices e anexos 1 Educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes 2 Delinquumlecircncia juvenil 3 Mentoria 4 Aconselhamento ndash Educaccedilatildeo de crianccedilas I Tiacutetulo 3704 CDU (1997) UFPE 3701 CDD (22ed) CSA2006-005

Agravequeles que por algum motivo natildeo tiveram a oportunidade de conhecer o brilho das letras e que hoje excluiacutedos vivem agrave sombra do conhecimento

Agradecimentos

A Deus nosso amado Pai que fez com que mais um dos meus sonhos se tornasse realidade que colocou pessoas dEle ao meu redor para me ensinar incentivar compartilhar e corrigir Agrave querida Professora Drordf Socircnia Calado por sua dedicaccedilatildeo e nobreza ao partilhar saberes tatildeo altos comigo e pela confianccedila e aceitaccedilatildeo Aos meus queridos e competentes mestres que me ensinaram entre tantos conteuacutedos a alegria e a dor do aprendizado Ao professor Dr Pedro Lincoln pelo exemplo de aula e pela consideraccedilatildeo Agraves professoras Drordfs Lenice Pimentel e Maria Auxiliadora (UFALCHLA) por me apresentarem a este Programa Agrave Professora Drordf Lilian Outtes por sua amizade e profissionalismo Agrave UFPE esta reconhecida Instituiccedilatildeo da qual eu muito me orgulho A todos os que fazem o PROPAD minha sincera gratidatildeo Agrave dona Socorro pela simpatia e pelo cafezinho gostoso Ao Sr Moab Silva e sua esposa Miriam pela receptividade e apoio A todos os que fazem o Projeto Amigos para Sempre pela abertura colaboraccedilatildeo e confianccedila Ao Emanuel Marques meu querido marido pelo carinho apoio e paciecircncia tatildeo presentes nestes dois anos Obrigada amor Aos meus filhos Juliana e Carlos Henrique pela forccedila que mesmo sem saber me transmitiram o tempo todo Aos meus pais Carlos e Ana por pedirem a Deus pela minha vida Ele os tem ouvido Aos meus sogros Fernando Marques e Zeine Gomes pelo incentivo constante e por acreditar em mim Aos meus irmatildeos Edilson Elisana e Adilson Ao Dr Conrado Paulino (in memoriam) e sua esposa Drordf Zery Gomes pelos saacutebios e sinceros conselhos Ao Sr Joaquim Vera e Fabiana Sousa pelo apoio e assistecircncia Agrave Roberta Arauacutejo pela amizade mesmo que agrave distacircncia Aos colegas da turma 10 pelas alegrias e agonias partilhadas De fato vocecircs satildeo 10 Que Deus vos abenccediloe ricamente A Ana Claudia Ariaacutedne Denise Maria Elisa e agrave Monique pela amizade construiacuteda neste periacuteodo Minha sincera gratidatildeo a todos que contribuiacuteram para que este sonho se tornasse real Sem vocecircs esta conquista natildeo seria possiacutevel Muito obrigada

ldquoAinda que eu conheccedila todos os misteacuterios e toda a ciecircncia se natildeo tiver amor nada sereirdquo

Adap Apoacutestolo Paulo

Resumo

A mentoria se caracteriza pela relaccedilatildeo existente entre mentor (algueacutem com reconhecida

experiecircncia) e mentorado (um neoacutefito) na qual o mentor serve de guia para o jovem aprendiz

dando-lhe conselhos instruccedilotildees patrociacutenio e amizade de modo a facilitar o desenvolvimento

de sua carreira Em troca o mentor obteacutem reconhecimento apoio e realizaccedilatildeo ao acompanhar

o crescimento profissional de seu mentorado A mentoria voltada para jovens e adolescentes

com risco para a delinquumlecircncia tem sido investigada em paiacuteses como Estados Unidos e Canadaacute

Dentre os benefiacutecios encontrados pode-se citar a diminuiccedilatildeo de comportamentos agressivos

reduccedilatildeo da evasatildeo escolar aumento da auto-estima e consequumlentemente reduccedilatildeo da

delinquumlecircncia juvenil A presente pesquisa propocircs-se a investigar um programa de mentoria

voltado para crianccedilas e adolescentes carentes O objetivo foi verificar quais as especificidades

deste programa num contexto brasileiro e quais os benefiacutecios desta relaccedilatildeo na vida dos

mentorados (crianccedilas e adolescentes) dos mentores (colaboradores do projeto) e da

comunidade A percepccedilatildeo das famiacutelias acerca do projeto tambeacutem foi considerada Fez-se um

estudo de caso exploratoacuterio-descritivo acerca de um projeto de reforccedilo escolar localizado na

Vila do Vinteacutem II uma comunidade carente do Recife A estrateacutegia de pesquisa foi

qualitativa atraveacutes de entrevistas observaccedilatildeo e anaacutelise documental Pocircde-se perceber que

apenas em alguns aspectos a mentoria ocorrida no projeto diferia dos achados na literatura

Por exemplo o fato de o mentor ser um modelo para o mentorado (fato expliacutecito

teoricamente) natildeo ficou evidenciado neste contexto A pesquisa procurou verificar a

viabilidade de uma forma de intervenccedilatildeo na vida de crianccedilas e adolescentes carentes que

pode ser utilizada por organizaccedilotildees privadas como meio de accedilatildeo de responsabilidade social e

por instituiccedilotildees puacuteblicas no sentido de alcanccedilar maior aproveitamento escolar das crianccedilas e

dos adolescentes

Palavras-chave Mentoria Educaccedilatildeo Comunidade carente Delinquumlecircncia Suporte

psicossocial

Abstract

Mentorship is characterized by the relationship between a mentor (someone with recognized

experience) and the individual to be mentored (novice) in which the mentor guides the young

apprentice offering himher counsel advice and friendship in a way as to facilitate the

development of hisher career In exchange the mentor obtains recognition support and

personal reward taking part in the professional growth of the person being mentored

Mentorship geared towards youth and teenagers with risks of becoming delinquent individuals

has been investigated in countries such as the United States and Canada Among the benefits

found one can mention the decrease in aggressive behavior and school absenteeism an

increase in self esteem and consequently a decrease in juvenile delinquency This research is

intended to investigate a mentorship program geared towards impoverished children and

teenagers with the purpose of verifying if in the Brazilian context specifically in the

northeast of Brazil the mentor relationship presents the same characteristics as those shown

in previously documented researches This is a descriptive-exploratory case study about a

school tutorship program at Vila do Vinteacutem II a slum in Recife Pernambuco Brazil The

objective of this study was to verify what are the specificities of a mentorship program

designed for children and teenagers in the Brazilian context and what are the benefits of this

relationship in the life of those who are mentored (children and teenagers) the mentors (who

joined the program) and the community The perception of the families about the program has

been taken into consideration as well The strategy used for this research was qualitative

through interviews and observation and documental analysis It was observed that only in a

few aspects the mentorship analyzed in this program was different from the findings of

previous research as for instance the fact that the mentor is considered a role model for the

apprentice (a theoretical fact that is widely accepted) has not been evidenced in this context

This research was intended to demonstrate the possibility of an intervention in the lives of

impoverished children and teenagers and can be utilized by organizations in their social

responsibility actions and by public policy formulators with the purpose of increasing school

progress for children and teenagers

Key-words Mentorship Tutorship Education Impoverished community Delinquency

Psychosocial support

Lista de figuras

Figura 1 (4) Foto da Vila do Vinteacutem II 60Figura 2 (4) Foto das palafitas da Vila do Vinteacutem II 61Figura 3 (4) Foto da festa de Natal para as crianccedilas da Vila Vinteacutem 63Figura 4 (4) Foto da festa das crianccedilas na sede do projeto 64Figura 5 (4) Modelo de Certificado de Padrinho 70Figura 6 (4)

Foto da apresentaccedilatildeo das meninas do projeto em uma missa de Natal realizada pela Igreja Catoacutelica de Casa Forte na Vila Vinteacutem 81

Figura 7 (4)

Foto da professora e alunos durante a aula de reforccedilo na sede do projeto 90

Figura 8 (4) Boletim escolar de Afracircnio 98Figura 9 (4) Boletim escolar de Jairo 99

Sumaacuterio 1 Introduccedilatildeo 1511 Objetivos 18111 Objetivo geral 18112 Objetivos especiacuteficos 1812 Justificativa 19121 Justificativa teoacuterica 19122 Justificativa praacutetica e social 192 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica 2121 Mentoria 21211 Funccedilotildees de mentoria 242111 Suporte de carreira 242112 Suporte psicossocial 26212 Fases da relaccedilatildeo mentoria 28213 Tipos de mentoria 302131 Mentoria informal 302132 Mentoria formal 31214 Fatores relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria formal 312141 Seleccedilatildeo de mentores e mentorados 322142 Treinamento supervisatildeo e acompanhamento do programa de mentoria 332143 Frequumlecircncia dos encontros 342144 Duraccedilatildeo da relaccedilatildeo de mentoria 3422 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria 35221 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentorado 36222 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentor 39223 Benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria 413 Metodologia 4631 Delineamento da pesquisa 4632 Primeira fase da coleta de dados 47321 Objetivo 47322 Instrumentos de coleta de dados 4833 Segunda fase de coleta de dados 50331 Objetivos 50332 Instrumentos de coleta de dados 5034 Sujeitos da pesquisa 52341 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos sujeitos 5335 Meacutetodos de anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados 5436 Limitaccedilotildees da pesquisa 564 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos achados 5841 O caso 58411 O contexto do projeto Vila Vinteacutem II 58412 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 62413 Atividades desenvolvidas pelo projeto 65414 Formalizaccedilatildeo do projeto como organizaccedilatildeo natildeo-governamental 67415 Situaccedilatildeo atual do projeto 68416 Dificuldades enfrentadas pelo projeto 69417 Motivaccedilatildeo para a existecircncia e continuidade do projeto 70418 Dados dos mentores entrevistados 71419 Dados dos mentorados pesquisados 72

4191 Alunos tidos como que de ecircxito nos estudos 724192 Alunos tidos como que de natildeo ecircxito nos estudos 7442 Achados referentes agrave primeira questatildeo norteadora do trabalho 76421 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida como um programa de mentoria 76422 Funccedilotildees de mentoria encontradas no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 784221 Suporte de carreira 784222 Suporte psicossocial 83423 Fases da relaccedilatildeo de mentoria apresentadas no projeto de reforccedilo 87424

Fatores encontrados no projeto que estatildeo relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria 87

425 Fatores responsaacuteveis pelo ecircxito e natildeo ecircxito nos estudos percepccedilatildeo do mentor e da famiacutelia do mentorado 93

426

Resposta da primeira questatildeo norteadora especificidades da relaccedilatildeo de mentoria existentes no projeto de reforccedilo escolar 94

43 Achados referentes agrave segunda questatildeo norteadora 95431

Aumento da auto-estima da responsabilidade maior progresso escolar e perspectiva positiva de futuro 95

432

Resposta da segunda questatildeo norteadora benefiacutecios da mentoria para a crianccedila adolescente do projeto 101

44 Achados referentes agrave terceira questatildeo norteadora 101441 Realizaccedilatildeo pessoal 101442 Motivaccedilatildeo 102443 Ser amado pelo mentorado 103444 Autoconhecimento 103445 Senso de dever cumprido 104446 Resposta da terceira questatildeo norteadora benefiacutecios da mentoria para o mentor 10445 Achados referentes agrave quarta questatildeo norteadora 105451 Desenvolvimento educacional das crianccedilas e dos adolescentes 105452 Assistencialismo 106453 Diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia 107454

Resposta da quarta questatildeo norteadora benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria 108

5 Conclusatildeo 10951 Contribuiccedilotildees do estudo 112511 Contribuiccedilatildeo teoacuterica 112512 Contribuiccedilatildeo praacutetica 113513 Contribuiccedilatildeo social 11352 Sugestotildees de pesquisas futuras 114Referecircncias 115APEcircNDICE A- Apresentaccedilatildeo da entrevista 122APEcircNDICE B- Roteiro da entrevista com os pais 124APEcircNDICE C- Roteiro da entrevista com os colaboradores 127APEcircNDICE D- Roteiro da entrevista com o fundador do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 129ANEXO A- Estatuto da Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre 132ANEXO B- Documento de apresentaccedilatildeo do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 140ANEXO C- Estrutura baacutesica para orientaccedilatildeo de teses e dissertaccedilotildees 147

15

1 Introduccedilatildeo

A educaccedilatildeo no Brasil tem sido nos uacuteltimos anos alvo de atenccedilatildeo por parte dos

governantes da iniciativa privada e da sociedade De acordo com dados do IBGE-Pnad

(2000) o Brasil conta com um iacutendice de analfabetismo de 116 sendo que na Regiatildeo

Nordeste este iacutendice sobe para 23 Em se tratando de analfabetismo funcional o que se

refere agraves pessoas com menos de quatro anos de estudo completos o iacutendice eacute de 24 no Brasil

e 39 na Regiatildeo Nordeste chegando a 43 em alguns municiacutepios Tais dados revelam a

existecircncia de municiacutepios onde quase metade da populaccedilatildeo tem menos de quatro anos de

estudo O fato de haver analfabetos funcionais em tatildeo grande proporccedilatildeo pode ser explicado

pela evasatildeo escolar

Trata-se de milhotildees de brasileiros excluiacutedos agrave margem por natildeo terem acesso agrave leitura

agrave escrita agrave cultura e ao conhecimento formal comprometendo ainda mais a auto-estima e

reduzindo a qualidade de vida de tais pessoas A alta taxa de analfabetismo (116) reduz

ainda mais o IDH (Iacutendice de Desenvolvimento Humano) que no Brasil eacute considerado meacutedio

077 (PNUD 2000) O IDH foi criado para medir o niacutevel de desenvolvimento humano dos

paiacuteses com base em indicadores de educaccedilatildeo (alfabetizaccedilatildeo e taxa de matriacutecula) longevidade

e renda Tal iacutendice varia de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1(desenvolvimento

humano total) Em Pernambuco este iacutendice eacute de 069 considerado meacutedio A taxa de ocupaccedilatildeo

no mercado de trabalho cresce agrave medida que a escolaridade aumenta Entre analfabetos eacute de

52 a chance de ocupaccedilatildeo enquanto que entre graduados sobe para 87 (NERY COSTA

2003)

Satildeo brasileiros que devido agrave exclusatildeo social decorrente do analfabetismo entre outros

fatores natildeo fazem parte do mercado consumidor Pessoas que por sua insuficiente renda ou

16

total falta dela ficam seriamente limitadas no tocante ao consumo sendo muitas dependentes

de poliacuteticas assistencialistas

As empresas tambeacutem sofrem as consequumlecircncias do analfabetismo seja absoluto (pessoa

iletrada) ou funcional pois tecircm em funccedilatildeo dele uma matildeo de obra desqualificada Soma-se o

fato de que estas pessoas natildeo fazem parte de sua clientela uma vez que natildeo tecircm poder

aquisitivo para tal

Estatiacutesticas confirmam que haacute um aumento na renda agrave medida que se acrescentam

anos de estudo A cada ano de estudo a renda aumenta cerca de 16 (IBGE-PNAD 1998) e

consequumlentemente aumenta tambeacutem o poder de compra a inserccedilatildeo social e a qualificaccedilatildeo

Uma questatildeo pertinente em se tratando de evasatildeo escolar eacute sua associaccedilatildeo com a

delinquumlecircncia Um estudo realizado com adolescentes paulistas demonstrou que a defasagem

escolar bem como a multirrepetecircncia satildeo fatores positivamente relacionados com a inserccedilatildeo

de jovens na criminalidade (DIAS 2003)

Barros et al (1994) revelam que um dos principais determinantes do desempenho

escolar da crianccedila eacute a educaccedilatildeo meacutedia das matildees Riveiro (2001) com base em dados da

Unesco afirma que os brasileiros que satildeo analfabetos absolutos estatildeo localizados

principalmente em aacutereas carentes da Regiatildeo Nordeste Considerando que haacute grande propensatildeo

de as matildees que moram em comunidades carentes do Nordeste serem analfabetas e que a

educaccedilatildeo da matildee tende a ser um fator determinante da educaccedilatildeo dos filhos parece legiacutetimo

esperar limitaccedilotildees graves na educaccedilatildeo de crianccedilas em comunidades carentes do Recife

O atual governo em 2001 criou o Programa Nacional do Bolsa-Escola que incentiva

a famiacutelia a colocar o filho na escola e fazecirc-lo permanecer nela Para tanto a famiacutelia recebe a

quantia de R$ 1500 por filho matriculado (MEC 2005) O projeto visa a reduccedilatildeo da evasatildeo

escolar sem no entanto acompanhar o rendimento do aluno beneficiado

17

Quanto agrave iniciativa privada a educaccedilatildeo tem sido o foco de algumas empresas ao

investirem na formaccedilatildeo dos funcionaacuterios e dos filhos destes Acerca do levantamento sobre as

100 melhores empresas para se trabalhar no ano de 2002 Silveira (2002) afirma que eacute fato

relevante para a organizaccedilatildeo que pertence a este ranking a colaboraccedilatildeo com a comunidade na

qual estaacute inserida Para tal algumas organizaccedilotildees contam inclusive com seus funcionaacuterios

agindo como voluntaacuterios nestas accedilotildees de responsabilidade social Desenvolvendo atividades

como esta de responsabilidade social e cidadania a empresa eacute mais bem avaliada por seus

stakeholders internos e externos (ASHLEY 2003)

Nos Estados Unidos uma alternativa para evitar a evasatildeo escolar tem sido

desenvolvida atraveacutes da mentoria Nesta relaccedilatildeo o mentor eacute uma pessoa mais experiente do

que o mentorado algueacutem em quem este confia com quem pode compartilhar suas

dificuldades necessidades e anseios e de quem recebe apoio e orientaccedilatildeo Um exemplo deste

trabalho foi realizado por Klaw et al (2003) com adolescentes afro-americanas gestantes O

objetivo do programa de mentoria era ajudar estas novas matildees a terminar a escola e a

conseguir resultados educacionais satisfatoacuterios apoacutes o nascimento da crianccedila O estudo

mostrou que das adolescentes que foram acompanhadas durante dois anos por um mentor

65 terminaram os estudos Jaacute entre as matildees que natildeo contaram com o programa de mentoria

este percentual caiu para 35 Pode-se concluir que apesar dos fatores adversos (maternidade

na adolescecircncia dificuldade econocircmica e preconceito racial) a mentoria mostrou-se eficaz no

combate agrave evasatildeo escolar

No Recife (PE) em uma comunidade carente verificou-se a existecircncia de um

programa de reforccedilo escolar Foram percebidas atraveacutes de uma pesquisa exploratoacuteria

evidecircncias da relaccedilatildeo de mentoria entre os colaboradores e os alunos sendo estes os

mentorados Esta evidecircncia criou a possibilidade de pesquisar os benefiacutecios produzidos pela

relaccedilatildeo de mentoria voltada para educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes carentes no Brasil

18

Investiga-se assim ateacute que ponto a mentoria pode ser um recurso para auxiliar no aumento do

aproveitamento escolar dos mentorados e na reduccedilatildeo da evasatildeo escolar Desta forma

considerando a situaccedilatildeo da educaccedilatildeo as limitaccedilotildees impostas pelo analfabetismo e a evasatildeo

escolar que aleacutem da exclusatildeo social estaacute associada agrave delinquumlecircncia definimos a seguinte

pergunta de pesquisa

Como ocorre a mentoria voltada para a educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes em

uma comunidade carente do Recife

11 Objetivos

111 Objetivo geral

Investigar como ocorre a mentoria em um programa de reforccedilo escolar voltado para

crianccedilas e adolescentes carentes de uma comunidade do RecifePE

112 Objetivos especiacuteficos

bull Investigar as especificidades da relaccedilatildeo de mentoria (funccedilotildees fases tipos e

fatores de ecircxito) voltada para crianccedilas e adolescentes carentes no contexto de

uma comunidade do Recife

bull Verificar quais os benefiacutecios da mentoria para o mentorado na percepccedilatildeo das

famiacutelias destes

bull Investigar quais os benefiacutecios da mentoria para os mentores na percepccedilatildeo

destes e

bull Verificar quais os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria

19

12 Justificativa

O presente trabalho se justifica devido agrave relevacircncia do tema que aborda e de suas

implicaccedilotildees poliacuteticas organizacionais e sociais

121 Justificativa teoacuterica

No aspecto teoacuterico pode-se citar a escassez de bibliografia nacional acerca da

mentoria Trata-se de um fenocircmeno pouco estudado no Brasil e menos ainda voltado para

educaccedilatildeo de jovens e adolescentes Faz-se necessaacuterio portanto investigar como ocorre a

mentoria no paiacutes e quais as suas especificidades e caracteriacutesticas Neste sentido o presente

estudo pode oferecer algumas contribuiccedilotildees

122 Justificativa praacutetica e social

Do ponto de vista praacutetico a proposta eacute que conhecendo como a mentoria ocorre aqui

agrave luz da teoria existente se possa auxiliar o processo otimizando-o

Quanto agrave justificativa da pesquisa do ponto de vista social pode-se mencionar a

necessidade de pesquisar alternativas para minimizar os problemas de analfabetismo evasatildeo

escolar e delinquumlecircncia juvenil Estes problemas fazem parte do cotidiano do Recife bem

como das demais grandes cidades brasileiras

As organizaccedilotildees podem ter nesta pesquisa um modelo de accedilatildeo de responsabilidade

social intervindo na comunidade local e inclusive preparando a sua futura matildeo-de-obra

Outra justificativa deste trabalho eacute a possibilidade de contribuir com as poliacuteticas

puacuteblicas no sentido de sugerir uma alternativa de intervenccedilatildeo na educaccedilatildeo de crianccedilas e

adolescentes em particular as que se encontram em situaccedilatildeo de risco

20

Neste capiacutetulo introdutoacuterio foi apresentado o tema abordado os objetivos da presente

pesquisa e as razotildees pelas quais o estudo se justifica No proacuteximo capiacutetulo seraacute exposta a

literatura que fornece as bases teoacutericas para a pesquisa

21

2 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica

Com o intuito de se investigar como ocorre a mentoria voltada para crianccedilas e

adolescentes carentes faz-se necessaacuterio trazer agrave luz o que a teoria diz acerca da mentoria

Portanto tratar-se-aacute neste capiacutetulo sobre o conceito de mentoria e suas especificidades ou

seja quais as funccedilotildees desempenhadas na relaccedilatildeo as fases pertinentes a este relacionamento

os tipos de mentoria e os fatores relacionados ao ecircxito desta relaccedilatildeo Os benefiacutecios que a

mentoria oferece ao mentorado ao mentor e agrave comunidade tambeacutem seratildeo considerados

Segue-se pois o conceito de mentoria

21 Mentoria

A palavra mentor surgiu por volta de 800 aC na antiga Greacutecia mais especificamente

na Odisseacuteia de Homero O poema eacutepico pertinente agrave Mitologia Grega relata as aventuras e as

batalhas vividas pelo rei Odisseu (Ulisses em latim) Ao partir de Troacuteia para guerra Odisseu

confiou a guarda de seu filho Telecircmaco a Mentor seu amigo (ENSHER MURPHY 1997)

Mentor passou a ser o responsaacutevel pela preparaccedilatildeo de Telecircmaco para ser o sucessor de seu

pai Mentor natildeo ocupou lugar de destaque na obra de Homero Entretanto em 1699 Franccedilois

de la Mothe-Fenelon fez uma releitura da Odisseacuteia e atribuiu a Mentor a condiccedilatildeo de segundo

pai professor orientador e guia de Telecircmaco Atraveacutes de Fenelon escritor e educador a

figura de Mentor tornou-se conhecida e relevante e em 1750 a palavra mentor jaacute constava

nos dicionaacuterios contendo o seguinte significado conselheiro saacutebio protetor e financiador

(GEHRINGER 2002) Apesar de a mentoria ter surgido em tempos muito distantes a

sistematizaccedilatildeo dos estudos nesta aacuterea data de apenas trecircs deacutecadas

22

Em 1978 Levinson et al (apud KLAW et al 2003) caracterizaram a mentoria como a

assistecircncia unilateral de um indiviacuteduo mais graduado e desejoso de partilhar seus

conhecimentos e experiecircncia a um menos experiente visando o desenvolvimento deste O

relacionamento com um mentor propicia ao jovem adentrar com ecircxito o mundo dos adultos e

o mundo dos negoacutecios Higgins e Kram (2001) salientam que mentores natildeo precisam ser

necessariamente pessoas mais graduadas do que os mentorados podendo ser seus colegas

pares ou parentes Hesgtad (1999) declara que o importante eacute que o mentor exerccedila influecircncia

sobre o mentorado

Hunt e Michael (1983) caracterizam o mentor como algueacutem que estaacute comprometido

em prover crescimento pessoal e suporte de carreira ao seu mentorado Higgins e Kram

(2001) consideram que o apoio e a assistecircncia na relaccedilatildeo de mentoria seriam bilaterais Nesta

relaccedilatildeo mentor e mentorado se auxiliariam no processo de desenvolvimento e tal processo

dar-se-ia atraveacutes de redes de mentoria e natildeo apenas de um mentor para um mentorado As

autoras trazem agrave mentoria a perspectiva do desenvolvimento de redes no qual o mentorado

dispotildee de vaacuterios mentores

Os Estados Unidos e parte da Europa tecircm demonstrado interesse cientiacutefico e

desenvolvido pesquisas sobre o tema Estas pesquisas tecircm sido voltadas para a aacuterea

organizacional na qual a mentoria se destina a jovens que ingressam na organizaccedilatildeo e satildeo

acompanhados por um secircnior Entretanto a mentoria tambeacutem pode ser utilizada na aacuterea

educacional e dirigir-se a estudantes como ocorre por exemplo no sistema de escola puacuteblica

da cidade de Nova Iorque e na Austraacutelia (ZEY 1998) Acerca da importacircncia da mentoria no

acircmbito educacional Astin (1977) defende que alguns estudantes ao serem mentorados podem

se sentir mais encorajados e se envolver mais com os estudos e aprendizado uma vez que o

mentor pode ser um referencial para tal

23

A mentoria voltada para crianccedilas seria de acordo com Brody (1991 apud JACKSON

2002) um relacionamento entre um adulto e uma crianccedila visando facilitar o crescimento

pessoal educacional e social desta Nos EUA tem crescido o nuacutemero de programas de

mentoria com foco na aacuterea social visando atender agraves minorias ou aos jovens adolescentes e

crianccedilas com risco para delinquumlecircncia DuBois et al (2002) realizaram uma meta-anaacutelise

buscando levantar os efeitos de 55 programas de mentoria voltados para juventude Estes

programas diferiam no curriacuteculo No entanto a grande maioria enfatizava o relacionamento

entre um jovem problemaacutetico e um adulto mais experiente O objetivo era o de ajudar o jovem

a resolver satisfatoriamente as dificuldades da vida (KEATING et al 2002) Pode-se entatildeo

afirmar que a mentoria eacute o relacionamento entre um adulto e um jovem com o qual o mentor

estaacute comprometido Este comprometimento visa o desenvolvimento pessoal e profissional de

seu mentorado (KRAM 1985)

Atualmente os mentores naturais pais avoacutes e tios nem sempre estatildeo disponiacuteveis para

o adolescente As famiacutelias a escola e a comunidade tecircm reduzido drasticamente ao longo

dos anos a disponibilidade de adultos para acompanhar e oferecer suporte aos jovens

(DARLING et al 2002) Estas instituiccedilotildees que ao longo da histoacuteria eram as responsaacuteveis por

prover os jovens de suporte necessaacuterio e de conduccedilatildeo tecircm sofrido mudanccedilas e reduzido sua

capacidade de continuar a prover tal apoio A demanda dos grandes centros urbanos bem

como o ecircxodo rural fizeram com que o nuacutemero de adultos que serviam de liacutederes modelos e

agentes de controle social diminuiacutesse A entrada das matildees no mercado de trabalho e o

aumento das separaccedilotildees conjugais levaram os adolescentes a passar menos tempo com os

pais ficando grande parte do tempo com pares e sem a supervisatildeo de um adulto (HARRIS et

al 2002)

A disponibilidade dos adultos para com as crianccedilas tem diminuiacutedo de tal forma que

mais de 25 das crianccedilas nascem em casas com apenas um dos pais e 50 das crianccedilas

24

vivem a maior parte de sua infacircncia nesta mesma situaccedilatildeo A escassez de adultos para

suportar crianccedilas e adolescentes eacute ainda mais intensa em se tratando de comunidades carentes

(GROSSMAN TIERNEY 1998) Darling et al (2002) verificaram que em muitos casos na

ausecircncia de suporte dos mentores naturais os mentores voluntaacuterios tecircm sido alistados

A literatura aborda as funccedilotildees pertinentes a este relacionamento atraveacutes das quais o

mentor teraacute condiccedilotildees de contribuir com o crescimento de seu mentorado Tais funccedilotildees de

mentoria seratildeo abordadas na proacutexima seccedilatildeo

211 Funccedilotildees de mentoria

Satildeo as funccedilotildees desempenhadas no decorrer da relaccedilatildeo de mentoria Na mentoria

tradicional o mentorado recebe do mentor assistecircncia individual acesso a informaccedilotildees

necessaacuterias feedback encorajamento suporte de carreira e suporte emocional (MULLEN

1998) Kram (1985) agrupou diversas atividades em dois grupos de funccedilotildees desempenhadas

pelo mentor quais sejam suporte de carreira e suporte psicossocial Estas funccedilotildees satildeo

distintas mas inter-relacionadas A relaccedilatildeo de mentoria pode prover os dois tipos de suporte

ou apenas um destes a depender do niacutevel da relaccedilatildeo (RAGINS 1997) No entanto quando

ocorrem as duas funccedilotildees ou seja suporte de carreira e psicossocial a mentoria se torna mais

intensa (KRAM 1983)

Nas seguintes seccedilotildees seraacute apresentado e definido o suporte oferecido pelo mentor ao

seu mentorado tanto em termos de carreira quanto psicossocial

2111 Suporte de carreira

O suporte de carreira inclui a ajuda que o mentor daacute ao mentorado para que este se

firme na organizaccedilatildeo e conheccedila seus meandros preparando-o para a ascensatildeo Este suporte

refere-se tambeacutem agraves atividades que o mentor desenvolve no sentido de auxiliar o mentorado

25

em sua carreira profissional Kram (1985) identifica as seguintes atividades oferta de tarefas

desafiadoras coaching proteccedilatildeo exposiccedilatildeo e visibilidade positiva e patrociacutenio Tais funccedilotildees

satildeo abordadas abaixo

a) Oferta de tarefas desafiadoras

Satildeo as tarefas que o mentor atribui ao mentorado visando o desenvolvimento de

competecircncias especiacuteficas Juntamente com estas tarefas o mentor provecirc treinamento

teacutecnico capacitando-o a superar desafios O mentor tambeacutem fornece feedback ao

mentorado sobre seu desempenho A oferta de tarefas desafiadoras prepara o

mentorado para posiccedilotildees de maior responsabilidade

b) Coaching

Ocorre quando o mentor tal qual um teacutecnico transmite conhecimento ao mentorado

sobre como ldquonavegarrdquo no mundo dos negoacutecios O mentor sugere estrateacutegias e

transmite informaccedilotildees ao mentorado Chao et al (1992) defendem que o coach

preocupa-se apenas com a tarefa e as informaccedilotildees necessaacuterias para sua realizaccedilatildeo natildeo

desenvolvendo o interesse para com a carreira do jovem aprendiz Entretanto como

observam Azevedo e Dias (2002) o mentor em algumas ocasiotildees realiza o coaching

por exemplo quando orienta o mentorado com respeito ao desenvolvimento de

habilidades especiacuteficas para o cumprimento de determinada tarefa

c) Proteccedilatildeo

Ocorre quando o mentor se coloca na posiccedilatildeo de um escudo protegendo seu

mentorado O mentor pode assumir determinadas falhas de seu mentorado ou natildeo

permitir que elas se tornem conhecidas A proteccedilatildeo tende a ocorrer com mais

frequumlecircncia quando o mentorado ainda natildeo apresenta resultados dignos de exposiccedilatildeo

Klaw et al (2003) afirmam que o mentor pode inclusive advogar em nome de seus

mentorados adolescentes

26

d) Exposiccedilatildeo e visibilidade positiva

Ocorre quando o mentor daacute ao mentorado condiccedilotildees de demonstrar seu potencial agraves

pessoas de mais alto niacutevel facilitando futuras promoccedilotildees O mentor expotildee

positivamente o mentorado

e) Patrociacutenio

O patrociacutenio acontece quando o mentor indica formal ou informalmente o mentorado

para promoccedilatildeo Ele viabiliza a ascensatildeo de seu mentorado atraveacutes desta indicaccedilatildeo ou

quando propicia os recursos necessaacuterios para o desenvolvimento profissional de seu

mentorado

Estas satildeo as atividades que o mentor desempenha no sentido de viabilizar o

desenvolvimento profissional do mentorado Seguem abaixo as funccedilotildees psicossociais atraveacutes

das quais o mentor desenvolve atividades que contribuem com o crescimento pessoal de seu

protegido

2112 Suporte psicossocial

As funccedilotildees de suporte psicossocial estatildeo mais associadas ao desenvolvimento pessoal

do mentorado do que propriamente ao seu desenvolvimento profissional O suporte

psicossocial afeta a relaccedilatildeo do mentorado consigo mesmo e com as pessoas com as quais se

relaciona O desenvolvimento desta funccedilatildeo iraacute depender da confianccedila existente na relaccedilatildeo De

acordo com Kram (1985) o apoio psicossocial diz respeito ao suporte psicoloacutegico e social que

o mentor daacute ao mentorado As atividades que compotildeem este suporte satildeo amizade aceitaccedilatildeo e

confirmaccedilatildeo aconselhamento e modelagem de papeis Tais atividades satildeo expostas a seguir

a) Amizade

Ocorre quando a relaccedilatildeo de mentoria daacute ao mentorado a sensaccedilatildeo de bem estar de

ligaccedilatildeo e de ser compreendido por seu mentor O coleguismo facilita ao mentorado

27

desenvolver relacionamento com pessoas de niacutevel mais elevado do que ele Esta

amizade contribui tambeacutem para o aumento da autoconfianccedila do mentorado

b) Aceitaccedilatildeo e confirmaccedilatildeo

A aceitaccedilatildeo por parte do mentor faz com que o mentorado se sinta seguro inclusive

para assumir riscos e aceitar desafios

Dados qualitativos de estudos feitos por Style e Morrow (1992) demonstraram que

relacionamentos voltados para juventude satildeo mais eficazes quando o adulto pode

compreender as dificuldades enfrentadas por seus mentorados bem como respeitar e

aceitar sua famiacutelia classe social e cultura

c) Aconselhamento

Ocorre quando o mentorado ao falar de suas duacutevidas medos e ansiedades tem no

mentor um conselheiro algueacutem que o escuta e lhe daacute feedback Ao desempenhar esta

funccedilatildeo o mentor pode se valer de suas proacuteprias experiecircncias e dilemas enfrentados no

iniacutecio de sua carreira

d) Modelagem de papeacuteis

A modelagem ocorre quando o mentorado vecirc em seu mentor sua proacutepria imagem

idealizada Neste caso os comportamentos os valores e as atitudes do mentor satildeo

exemplos a serem seguidos A partir desta identificaccedilatildeo o mentorado passa a admirar

respeitar e imitar seu mentor Scandura (1992) considera que o fato de o mentor ser

um modelo para o mentorado estaria em uma terceira funccedilatildeo da mentoria distinta de

suporte psicossocial No entanto para efeito deste trabalho tal fator seraacute considerado

como pertinente ao suporte psicossocial uma vez que se tomou por base o modelo

proposto por Kram (1985) O mentorado pode ver seu mentor como representante do

seu proacuteprio futuro (RAGINS 1997) No caso de jovens e adolescentes os adultos satildeo

vistos como ideais com quem aqueles aprenderatildeo determinados comportamentos de

28

quem iratildeo receber colaboraccedilotildees sobre carreiras potenciais e com quem iratildeo

desenvolver habilidades especiacuteficas (RHODES et al 2002) Com relaccedilatildeo agraves

implicaccedilotildees deste aprendizado Hartmam e Harris (1992) encontraram que estudantes

modelam seu estilo de gerenciamento baseados no estilo de lideranccedila da pessoa que

admiravam quando mais novos Por sua vez Zacharatos et al (2000) em um estudo

sobre lideranccedila transformacional observaram que o desenvolvimento dos

comportamentos de lideranccedila se daacute na adolescecircncia e que comportamentos aprendidos

nesta fase tendem a ser estaacuteveis Finalmente Krosnick e Alwin (1989) defendem que

assim como os comportamentos as atitudes adquiridas durante a adolescecircncia tendem

a permanecer na vida adulta

Especificamente em se tratando de mentoria voltada para jovens e adolescentes Klaw

et al (2003) observaram as implicaccedilotildees e possibilidades de mudanccedila de comportamento do

mentorado ao se ter no mentor um modelo

os mentores podem servir como exemplos concretos de realizaccedilatildeo educacional e ocupacional demonstrando as qualidades que os adolescentes podem desejar imitar O adolescente pode adotar comportamentos novos observando e comparando seu proacuteprio desempenho ao de seu mentor (p225)

Nesta seccedilatildeo foram apresentadas as funccedilotildees de mentoria ou seja suporte de carreira e

suporte psicossocial Na sequumlecircncia seratildeo abordadas as fases pelas quais o relacionamento se

desenvolve ateacute chegar agrave redefiniccedilatildeo

212 Fases da relaccedilatildeo mentoria

Dando continuidade agraves caracteriacutesticas da relaccedilatildeo de mentoria seratildeo abordadas as fases

pertinentes a esse relacionamento Vale salientar que a relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas e

adolescentes de risco podem ou natildeo apresentar estaacutegios semelhantes agrave mentoria desenvolvida

no acircmbito da organizaccedilatildeo (RHODES et al 2002)

29

Da perspectiva organizacional Kram (1983) sugere que a mentoria ocorre geralmente

em quatro fases distintas mas natildeo riacutegidas Satildeo elas

bull Iniciaccedilatildeo - esta fase ocorre no inicio da relaccedilatildeo na qual o mentor eacute admirado e

respeitado pelo mentorado O mentor reconhece o mentorado como algueacutem com

potencial e com quem iraacute desenvolver um trabalho agradaacutevel O mentorado

tambeacutem eacute visto pelo mentor como algueacutem que lhe proveraacute assistecircncia teacutecnica e que

seraacute beneficiado com seus conselhos uma vez que o mentor tem mais experiecircncia

de vida Estas fantasias iniciais seratildeo responsaacuteveis por orientar as expectativas

presentes na relaccedilatildeo de mentoria

bull Cultivo - nesta fase as expectativas surgidas no iniacutecio da relaccedilatildeo iratildeo defrontar-se

com a realidade do contato O mentor proveraacute o mentorado com as funccedilotildees de

carreira e psicossociais Kram (1983) salienta que o suporte de carreira vai

depender das tarefas e da experiecircncia do mentor No entanto o suporte

psicossocial estaacute mais fortemente relacionado agrave confianccedila e agrave mutualidade que

houver na relaccedilatildeo Eacute nesta fase de cultivo que as funccedilotildees da mentoria seratildeo

plenamente desenvolvidas

bull Separaccedilatildeo - ocorre quando a natureza do relacionamento eacute alterada por mudanccedilas

no contexto social ou organizacional Este periacuteodo eacute marcado por ansiedade em

que o mentorado sente necessidade de autonomia e independecircncia A separaccedilatildeo

ocorre estruturalmente e psicologicamente e a mentoria deixa de ocupar lugar de

destaque na vida de ambos mentor e mentorado

bull Redefiniccedilatildeo - a ansiedade da separaccedilatildeo eacute superada e o relacionamento eacute

resignificado ou termina Nesta fase a mentoria pode se tornar apenas um

relacionamento de amizade com encontros esporaacutedicos e informais e o mentor

30

pode ainda oferecer algum tipo de apoio mas de forma mais distante e sem a

frequumlecircncia de outrora

Abordadas algumas caracteriacutesticas da mentoria tais como suas funccedilotildees e fases

seguem-se os tipos de mentoria visando enriquecer a compreensatildeo de como se daacute esta

relaccedilatildeo

213 Tipos de mentoria

A relaccedilatildeo de mentoria conforme abordado anteriormente eacute algo que emerge

naturalmente entre uma pessoa mais experiente e um novato A mentoria pode ser

caracterizada como uma relaccedilatildeo intrinsecamente informal No entanto devido aos benefiacutecios

alcanccedilados por esta relaccedilatildeo intenta-se reproduzi-la formalmente em uma escala mais ampla e

com maior controle Neste caso tem-se a mentoria formal uma relaccedilatildeo mais estruturada e que

busca atingir os benefiacutecios para o mentor mentorado organizaccedilatildeo e sociedade resultantes da

mentoria informal ou natural Segue abaixo uma maior explicitaccedilatildeo do que vem a ser a

mentoria informal e a formal

2131 Mentoria informal

Eacute a que nasce espontaneamente por iniciativa dos indiviacuteduos de acordo com

necessidades e interesses pessoais O mentor escolhe seu mentorado agraves vezes por ver-se nele

quando jovem O mentorado por sua vez tambeacutem escolhe para seu mentor geralmente

algueacutem a quem tem por modelo A seleccedilatildeo do mentor eacute feita frequumlentemente com base na

identificaccedilatildeo do mentorado com seu possiacutevel mentor (RAGINS 1997) Tal identificaccedilatildeo faz

com que a mentoria informal seja considerada mais poderosa do que a formal (NOE 1998)

Na mentoria informal natildeo haacute uma estruturaccedilatildeo da relaccedilatildeo e a frequumlecircncia dos encontros parte

da necessidade Este tipo de mentoria pode se estender por longos periacuteodos

31

Decorrente do sucesso obtido atraveacutes da mentoria informal esforccedilos tecircm sido

desenvolvidos para reproduzi-la formalmente conforme seraacute abordado na proacutexima seccedilatildeo

2132 Mentoria formal

A mentoria formal natildeo eacute espontacircnea como a informal Antes ocorre por iniciativa

encaminhamento e estruturaccedilatildeo da organizaccedilatildeo Sua duraccedilatildeo geralmente varia de seis meses a

um ano e a frequumlecircncia dos encontros eacute preacute-estabelecida mediante contrato firmado entre as

partes (MURRAY 2001)

Na mentoria formal a motivaccedilatildeo para ser mentor pode estar associada ao fato de o

mentor ser visto como bom cidadatildeo organizacional e ao reconhecimento que pode lhe trazer o

fato de ser mentor

Tendo sido abordado o conceito de mentoria suas funccedilotildees as fases pelas quais passa a

relaccedilatildeo e os tipos de mentoria faz-se necessaacuterio analisar alguns fatores que contribuem para o

ecircxito desta relaccedilatildeo Tais fatores seratildeo abordados nas seguintes seccedilotildees

214 Fatores relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria formal

Os programas de mentoria voltados para jovens e adolescentes por se tratarem de

programas de mentoria formal necessitam seguir alguns criteacuterios na busca de se atingir os

objetivos e os benefiacutecios desejados Como jaacute referido os programas de mentoria formal

intentam reproduzir artificialmente as caracteriacutesticas essenciais dos relacionamentos naturais

de suporte Eacute importante ressaltar no entanto que programas mal orientados podem trazer

efeitos negativos na vida do mentorado (DUBOIS et al 2002) Ragins et al (2000) consideram

que em relaccedilatildeo ao niacutevel de satisfaccedilatildeo do mentorado o relacionamento de mentoria estaria em

um continuum no qual em um extremo ficaria o relacionamento altamente satisfatoacuterio e no

outro o relacionamento nocivo ou prejudicial O relacionamento localizado no meio do

32

continuum seria considerado pelas autoras como marginal mentoring ou seja um

relacionamento de mentoria no qual o mentor seria apenas ldquobom o suficienterdquo Os fatores

relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo devem ser observados na tentativa de evitar que o

relacionamento torne-se nocivo ou ateacute mesmo destrutivo Tais fatores visam fazer com que a

relaccedilatildeo seja satisfatoacuteria e beneacutefica

Na tentativa de potencializar os benefiacutecios da mentoria faz-se necessaacuterio considerar os

seguintes fatores seleccedilatildeo de mentores e mentorados treinamento supervisatildeo e

acompanhamento do programa frequumlecircncia dos encontros e a duraccedilatildeo da relaccedilatildeo Estes fatores

relacionados com o ecircxito da relaccedilatildeo seratildeo detalhados nas seccedilotildees seguintes

2141 Seleccedilatildeo de mentores e mentorados

Visando o sucesso do relacionamento de mentoria haacute algumas recomendaccedilotildees

relevantes sobre como combinar mentor e mentorado Fatores como dados demograacuteficos raccedila

e gecircnero devem ser considerados Em se tratando de mentoria com crianccedilas e adolescentes

faz-se necessaacuterio um cuidado ainda maior na seleccedilatildeo do mentor uma vez que

comportamentos e atitudes aprendidos na infacircncia e adolescecircncia tendem a perdurar por toda

a vida

O Big Brothers Big Sisters (programa norte-americano de mentoria voltado para

crianccedilas e adolescentes com risco para delinquumlecircncia) ao fazer o recrutamento dos voluntaacuterios

para agirem como mentores faz um levantamento da vida destes para saber suas intenccedilotildees e

sua vida pregressa Em um programa de mentoria voltado para crianccedilas delinquumlentes os

mentores natildeo poderiam ter qualquer tipo de envolvimento criminal (JACKSON 2002) A

investigaccedilatildeo da vida pregressa do mentor tem o objetivo de garantir a seguranccedila do

mentorado e verificar a possibilidade de comprometimento do mesmo para com o programa

Tal investigaccedilatildeo eacute importante inclusive para assegurar que o mentor poderaacute ser um modelo

33

positivo com condiccedilotildees de influenciar beneficamente o mentorado (GROSSMAN TIERNEY

1998) Os autores sugerem que se considere tambeacutem o interesse dos pais em que a crianccedila ou

adolescente tenha um mentor uma vez que o apoio da famiacutelia eacute um fator de sucesso para o

programa Depois de feita a seleccedilatildeo deve-se fazer um treinamento e acompanhar o

desenvolvimento do relacionamento Tais fatores seratildeo observados na proacutexima seccedilatildeo

2142 Treinamento supervisatildeo e acompanhamento do programa

de mentoria

Assim como a seleccedilatildeo a supervisatildeo deve ser cuidadosa Eacute necessaacuterio fazer um

monitoramento do programa e deve-se comunicar claramente e acordar as expectativas o

tempo do relacionamento a frequumlecircncia dos encontros e os objetivos O mentor deve contar

com apoio constante da organizaccedilatildeo durante todo o programa (DUBOIS et al 2002) O

mentor deve receber treinamento e orientaccedilatildeo e deve haver uma supervisatildeo incluindo

relatoacuterios sobre os encontros (GROSSMAN TIERNEY 1998)

No programa de mentoria voltado para crianccedilas delinquumlentes pesquisado por Jackson

(2002) a supervisatildeo foi feita em trecircs niacuteveis a primeira se deu em termos de conhecimentos

na qual um psicoacutelogo cliacutenico transmitia informaccedilotildees sobre psicopatologia causas e

caracteriacutesticas da crianccedila delinquumlente bem como teacutecnicas de intervenccedilatildeo No segundo niacutevel

foram feitos encontros com o psicoacutelogo para falar acerca das dificuldades encontradas e as

possibilidades de soluccedilatildeo O terceiro e uacuteltimo niacutevel foi o da supervisatildeo que ocorreu em

grupo no qual os diversos mentores discutiram suas experiecircncias Vale ressaltar que o

programa apresentou resultados positivos na vida dos que dele participaram

Fenney et al (2000 apud RHODES et al 2002) afirmam que adultos bem sucedidos

em trabalhar como mentores de jovens satildeo os que tecircm empatia por eles recordando-se de

como eram no passado A participaccedilatildeo dos pais durante o programa de mentoria seja para

34

apoiar seus filhos seja para receber sustentaccedilatildeo tem sido relacionada positivamente ao

sucesso do programa (FRECKNALL LUKS 1992) Outro fator que leva ao ecircxito da relaccedilatildeo

de mentoria eacute a frequumlecircncia com que ocorrem os encontros fato este abordado na proacutexima

seccedilatildeo

2143 Frequumlecircncia dos encontros

Alguns estudos tecircm sido feitos com ecircxito no sentido de relacionar a frequumlecircncia dos

encontros com o sucesso da relaccedilatildeo principalmente em se tratando de mentorados

adolescentes com risco para delinquumlecircncia (KEATING et al 2002) Na mesma linha Azevedo

e Dias (2002) sugerem que a influecircncia do mentor na carreira do mentorado pode ser

diminuiacuteda quando se dispotildee de pouco tempo para a relaccedilatildeo

Keating et al (2002) defendem que a frequumlecircncia de uma ou duas vezes por mecircs eacute

insuficiente para prover suporte para jovens com risco para delinquumlecircncia fazendo com que o

relacionamento natildeo tenha ecircxito As autoras afirmam que programas para jovens e

adolescentes com risco devem ter frequumlentes contatos face-a-face para serem realmente

efetivos O encontro semanal eacute sugerido Segue na proacutexima seccedilatildeo outro fator de ecircxito para a

relaccedilatildeo de mentoria a saber a duraccedilatildeo do relacionamento entre mentor e mentorado

2144 Duraccedilatildeo da relaccedilatildeo de mentoria

A maioria dos benefiacutecios da relaccedilatildeo emerge de um relacionamento de mentoria que

perdure por um ano ou mais Ou seja os benefiacutecios estatildeo associados ao amadurecimento da

relaccedilatildeo (GROSSMAN RHODES 2002) Os autores consideram que relacionamentos curtos

estatildeo associados com efeitos negativos para a juventude de risco

Adolescentes cujo relacionamento de mentoria se estende por um ano ou mais

apresentam melhores resultados educacionais psicossociais e comportamentais Estes

35

resultados satildeo positivamente relacionados com o tempo da relaccedilatildeo Em outras palavras na

medida em que se reduz o tempo de mentoria diminui tambeacutem a apresentaccedilatildeo de resultados

positivos atribuiacutedos agrave relaccedilatildeo (GROSSMAN RHODES 2002)

Frecnall e Luks (1992) encontraram em suas pesquisas que o tempo de duraccedilatildeo da

relaccedilatildeo de mentoria tem sido um fator determinante de ecircxito 70 de resultado positivo com

crianccedilas de um a dois anos de programa e 90 com crianccedilas com dois a trecircs anos de

participaccedilatildeo em um programa de mentoria

O exposto revela a teoria vigente acerca da relaccedilatildeo de mentoria das funccedilotildees

desempenhadas na relaccedilatildeo das fases pelas quais ela passa dos tipos de mentoria

identificados bem como de alguns fatores que se observados contribuem para o sucesso da

relaccedilatildeo Faz-se entatildeo pertinente a seguinte questatildeo norteadora em uma comunidade carente

brasileira ateacute que ponto a mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes apresenta as

caracteriacutesticas definidas pela teoria

Mencionadas as caracteriacutesticas da relaccedilatildeo de mentoria abordar-se-aacute a seguir os

benefiacutecios desta relaccedilatildeo para o mentorado e para o mentor bem como seratildeo considerados

tambeacutem os benefiacutecios sociais desta relaccedilatildeo

22 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria

Satildeo muitos os benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria Zey (1998) revela que a relaccedilatildeo de

mentoria na organizaccedilatildeo pode ser extremamente beneacutefica para o mentorado para o mentor e

para a proacutepria empresa Os benefiacutecios da mentoria foram amplamente estudados no que

concerne agrave mentoria voltada para a organizaccedilatildeo No entanto pretende-se aqui estabelecer um

paralelo entre os benefiacutecios da mentoria organizacional e os da mentoria voltada para jovens e

adolescentes de risco Tais benefiacutecios foram verificados atraveacutes de pesquisas mas ainda natildeo

se apresentam sistematizados Como beneficiaacuterios diretos da relaccedilatildeo de mentoria pode-se citar

36

o mentor o mentorado e a organizaccedilatildeo Entretanto o alcance de um programa bem

estruturado pode se estender para a famiacutelia e para a sociedade

Nas seccedilotildees seguintes seratildeo apresentados os benefiacutecios da mentoria para o mentorado

para o mentor e posteriormente seratildeo abordados os benefiacutecios sociais desta relaccedilatildeo

221 Benefiacutecios da mentoria para o mentorado

O mentorado pode ser muito beneficiado atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria O mentor ao

fornecer suporte psicossocial e de carreira auxilia o mentorado em seu crescimento pessoal o

que inclui o desenvolvimento emocional o social e o de carreira Tal suporte facilita transiccedilatildeo

do adolescente para a fase adulta (RHODES et al 2002)

A literatura apresenta os seguintes benefiacutecios para o mentorado

a) Aumento da auto-estima

Grossman e Tierney (1998) verificaram que os jovens com risco para delinquumlecircncia que

foram acompanhados por mentores sentiram-se mais confiantes em suas habilidades para com

as tarefas escolares do que os jovens natildeo mentorados Harter (1982) demonstrou que se sentir

competente leva os jovens a demonstrarem melhor desempenho

O aumento da auto-estima foi verificado em adolescentes e jovens ao se relacionarem

com um mentor (FRECKNALL LUKS 1992) Alguns programas de mentoria tecircm

favorecido o aumento da auto-estima tambeacutem em crianccedilas com comportamentos

autodestrutivos (JACKSON 2002)

b) Maior interaccedilatildeo social e com a famiacutelia

Outro benefiacutecio para o mentorado decorrente do suporte que recebe na relaccedilatildeo de

mentoria eacute a atratividade social Pessoas com alto grau de suporte social satildeo vistas como mais

atrativas tecircm maior conhecimento relativo a relacionamentos sociais e satildeo menos

manipulaacuteveis do que as com baixo suporte social (SARASON et al 1985) Frecknall e Luks

37

(1992) verificaram que adolescentes assistidos por um mentor apresentaram maior

envolvimento com a famiacutelia e amigos do que os natildeo mentorados

O fato de o mentor ser um modelo de sucesso estimula ainda a melhora da

autopercepccedilatildeo bem como de atitudes e comportamentos do adolescente mentorado Haacute

evidecircncias de que a influecircncia positiva do mentor pode se estender aos relacionamentos mais

proacuteximos do adolescente operando mudanccedilas inclusive na vida daqueles que com ele

convivem (WALKER FREEMAN 1996)

c) Maior progresso da carreira e aumento da responsabilidade

Mentorados recebem mais promoccedilotildees tecircm melhor desempenho e mais satisfaccedilatildeo no

trabalho do que os natildeo mentorados (CHAO et al 1992) Os mentorados satildeo beneficiados

pois recebem melhores pagamentos dos que os que natildeo dispotildeem de um mentor (MULLEN

1998) Mentorados tecircm na mentoria uma contribuiccedilatildeo potencial para o desenvolvimento

pessoal e profissional sendo tambeacutem um meio para adentrar o mundo dos negoacutecios (KRAM

1983)

Para o mentorado jovem e adolescente o mentor fornece instruccedilatildeo e incentivo

facilitando a transiccedilatildeo da adolescecircncia para o mundo adulto (RHODES et al 2002) Os

presidentes de empresas mais bem sucedidos afirmaram que para tal tiveram a influecircncia de

mentores em sua vida profissional (FAGENSON 1989) Liacutederes mais competentes e

solucionadores de problemas satildeo pessoas consideradas com alto suporte social (SARASON et

al 1986)

O mentorado apresenta maior crescimento profissional e melhor desenvolvimento da

carreira (ZEY 1998) Mentorados tecircm maior satisfaccedilatildeo com a carreira do que os que natildeo

possuem mentor (FAGENSON 1989) Pessoas com alto suporte psicossocial satildeo mais

extrovertidas e apresentam menos comportamentos neuroacuteticos hostilidade solidatildeo e

depressatildeo (COYNE 1978 apud SARASON et al 1986)

38

Outro beneficio para o mentorado diz respeito agrave definiccedilatildeo da identidade profissional e

senso de competecircncia (KRAM ISABELLA 1985) Especificamente com relaccedilatildeo a mentoria

voltada para adolescentes estes apresentaram melhor rendimento escolar e aumento da

responsabilidade (FRECKNALL LUKS 1992)

Grossman e Tierney (1998) ao avaliarem o impacto do Programa Big Brother Big

Sister natildeo haviam sido otimistas em acreditar que o programa aumentasse o rendimento

escolar dos alunos participantes pois conforme verificado em pesquisas anteriores o

aproveitamento escolar e a obtenccedilatildeo de graus dependem de um acompanhamento estaacutevel e

geralmente natildeo satildeo afetadas por uma relaccedilatildeo de mentoria que natildeo tenha foco educacional

Entretanto apesar de o programa Big Brother Big Sister natildeo fornecer diretamente apoio

escolar o rendimento escolar dos mentorados mostrou-se superior As ausecircncias ou faltas agrave

escola foram reduzidas Os autores consideraram que tal fato foi consequumlecircncia de os

mentores (todos acadecircmicos) serem tidos como exemplos valorizarem os estudos e

transmitirem uma visatildeo otimista de futuro para seus mentorados

d) Melhor enfrentamento das adversidades visatildeo otimista da vida e perspectivas

positivas de futuro

Jovens com alto suporte social satildeo mais otimistas quanto ao futuro uma vez que

mentores os auxiliam em relaccedilatildeo agraves suas perspectivas (HARRIS et al 2002 KASHANI et al

1989) Indiviacuteduos com alto suporte social aleacutem de mais atrativos e mais haacutebeis socialmente

satildeo mais otimistas quanto aos eventos da vida do que os que manifestam ter baixo suporte

social (SARASON et al 1985)

Pessoas com baixo suporte social satildeo mais retraiacutedas desatentas tecircm menos esperanccedila

quanto ao futuro e satildeo mais prejudiciais aos outros do que as que tecircm alto niacutevel de suporte

social (KASHANI et al 1989) O sucesso dos adolescentes que superaram momentos de

39

adversidades inclui frequumlentemente a presenccedila de pelo menos um mentor que lhe proveu tal

suporte (RHODES et al 2002)

Benefiacutecios tambeacutem satildeo apresentados em se tratando de jovens com risco para

delinquumlecircncia Nestes o desenvolvimento pessoal pode ser percebido frequumlentemente quando o

mentor eacute um modelo positivo para o mentorado Este fato auxilia na reduccedilatildeo do estresse

diaacuterio e provecirc condiccedilotildees de o mentorado rever sua percepccedilatildeo acerca de seus relacionamentos

mudando de uma visatildeo negativa destes para uma positiva (MAIN et al 1985 apud

GROSSMAN RHODES 2002)

Eacute particularmente importante a influecircncia positiva que o mentor oferece ao mentorado

na reduccedilatildeo do estresse diaacuterio Sendo um modelo de resoluccedilatildeo de conflitos o mentor auxilia

indiretamente na diminuiccedilatildeo do estresse familiar melhorando ateacute mesmo a interaccedilatildeo do

mentorado com seus proacuteximos Segundo os autores o relacionamento de mentoria pode ter

ainda um efeito corretivo para adolescentes que tiveram experiecircncias negativas no

relacionamento com os pais

Conforme visto pesquisas anteriores demonstraram que o mentorado pode ser muito

beneficiado atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria Cabe aqui portanto a segunda questatildeo norteadora

deste trabalho em um contexto brasileiro ateacute que ponto os mentorados carentes estudados

tecircm desfrutado dos benefiacutecios da mentoria apontados pela literatura

Considerados os benefiacutecios da mentoria para o mentorado cabe expor a forma pela

qual a mentoria beneficia o mentor fato abordado na seccedilatildeo seguinte

222 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentor

A mentoria pode proporcionar ao mentor diversos benefiacutecios Os mentores podem ter

no mentorado uma versatildeo de si proacuteprios quando mais jovens como se o mentorado fosse

representante de seu passado (RAGINS 1997) De acordo com a literatura os mentores

40

podem ser beneficiados com esta relaccedilatildeo atraveacutes da realizaccedilatildeo pessoal da motivaccedilatildeo e do

reconhecimento Segue-se a explanaccedilatildeo de tais fatores

a) Realizaccedilatildeo pessoal

O fato de ser mentor daacute ao indiviacuteduo um senso de generosidade ao contribuir com as

geraccedilotildees futuras Satisfaccedilatildeo interna e reconhecimento organizacional lealdade do mentorado

apreciaccedilatildeo do grupo renovaccedilatildeo da carreira e melhor performance no trabalho satildeo benefiacutecios

da mentoria para o mentor Mentores podem obter mais conhecimento empatia e capacidade

de se relacionar com outros grupos do que aqueles que natildeo satildeo mentores (RAGINS 1997)

Em se tratando de mentores de jovens e adolescentes com risco para delinquumlecircncia

Shields (2001) verificou que a mentoria propiciou ao mentor um sentimento de recompensa

ao observar as mudanccedilas positivas ocorridas no comportamento de seus mentorados Jackson

(2002) observou em seu estudo que mentores de adolescentes delinquumlentes relataram como

sendo gratificante o fato de terem atraveacutes da mentoria uma oportunidade de ajudar estas

pessoas

b) Motivaccedilatildeo

O mentor pode redirecionar sua energia para a criatividade e a accedilatildeo produtiva num

periacuteodo que dependendo do indiviacuteduo pode ser entendido como de estagnaccedilatildeo Neste caso a

mentoria pode significar estiacutemulo e desafio (ZEY 1998)

c) Reconhecimento

Mentores podem ter a confianccedila e serem amados por seus mentorados (KLAW et al

2003) Ganham suporte teacutecnico e psicoloacutegico e satisfaccedilatildeo interna ao fazer com que um novato

seja capaz de ldquonavegarrdquo no mundo dos negoacutecios Os mentores ganham respeito de seus

colegas ao desenvolver um jovem talento para organizaccedilatildeo (KRAM ISABELLA 1985)

41

Assim a terceira questatildeo norteadora deste trabalho eacute ateacute que ponto um projeto de

mentoria voltado para crianccedilas e adolescentes carentes no Recife oferece os benefiacutecios de

realizaccedilatildeo pessoal motivaccedilatildeo e reconhecimento para os mentores

Considerados os benefiacutecios da mentoria para o mentorado e para o mentor seratildeo

abordados na proacutexima seccedilatildeo os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes desta relaccedilatildeo

223 Benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria

Em se tratando de mentoria voltada para crianccedilas jovens e adolescentes com risco

para delinquumlecircncia aleacutem dos benefiacutecios na vida dos que participam diretamente da relaccedilatildeo a

sociedade tambeacutem pode ser positivamente afetada

Frecknall e Luks (1992) investigaram a avaliaccedilatildeo dos pais acerca do aproveitamento

de seus filhos inseridos em um programa de mentoria voltado para jovens com risco para

delinquumlecircncia Com relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo de 63 dos pais os filhos apresentaram uma grande

melhora em toacutepicos como rendimento escolar comportamento com a famiacutelia

comportamento com os amigos aumento da auto-estima aumento da responsabilidade e

diminuiccedilatildeo de envolvimento em situaccedilotildees problema Paralelamente ao beneficio alcanccedilado

por um adolescente e por sua famiacutelia haacute uma contribuiccedilatildeo indireta para a sociedade na

medida em que diminuem os iacutendices de delinquumlecircncia e de evasatildeo escolar Indiretamente haacute

tambeacutem a reduccedilatildeo da possibilidade de assistencialismo o aumento do iacutendice de alfabetizaccedilatildeo

e o crescimento do IDH (Iacutendice de Desenvolvimento Humano) Com frequumlecircncia aumenta

ainda a mobilidade social e a possibilidade de contribuiccedilatildeo social direta destas crianccedilas

adolescentes e jovens

A teoria aponta a reduccedilatildeo da dependecircncia de poliacuteticas assistencialistas e a diminuiccedilatildeo

da delinquumlecircncia como benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria fatores que seratildeo abordados a

seguir

42

a) Reduccedilatildeo futura da dependecircncia de poliacuteticas assistencialistas

Patterson et al (1989) esclarecem que a expressatildeo ldquosituaccedilatildeo de riscordquo eacute usada

geralmente para descrever

jovens que demonstram problemas comportamentais e emocionais que tecircm dificuldade em desenvolver-se com sucesso Quando adultos estes apresentam alta incidecircncia em desemprego crocircnico divoacutercio problemas fiacutesicos e psiquiaacutetricos envolvimento com drogas tornam-se dependentes de assistecircncia social podendo ainda envolver-se em atividades criminosas (p329) Grifo da pesquisadora

Adolescentes com altas expectativas educacionais de futuro (muitas vezes providas

por um mentor) desenvolvem bons haacutebitos de estudo pensam em fazer curso universitaacuterio e

buscam se envolver em atividades intelectuais extracurriculares Em contrapartida os que

deteacutem baixa expectativa apresentam maior probabilidade de desenvolver comportamentos de

risco (HARRIS et al 2002) Jovens em situaccedilatildeo de risco entre outros fatores satildeo propensos a

depender no futuro de poliacuteticas assistencialistas

b) Diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia

Jovens e adolescentes em situaccedilatildeo de risco satildeo candidatos potenciais a programas de

mentoria Estes podem ser usados como prevenccedilatildeo contra a delinquumlecircncia particularmente na

ausecircncia de adultos que representem figuras positivas ou modelos O mentor pode claramente

desempenhar este papel (RHODES et al 1994)

O risco para delinquumlecircncia natildeo eacute uma questatildeo que dependa apenas de um fator Antes eacute

um conjunto de variaacuteveis que levam o adolescente a apresentar comportamentos delinquumlentes

Ellickson e Mcguigan (2000) ao investigarem os riscos para violecircncia em adolescentes

verificaram que no caso das meninas adolescentes fatores de risco incluem a baixa auto-

estima poucos anos de estudo e baixo niacutevel soacutecio-econocircmico Estes fatores podem ser

revertidos atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria Dornbusch et al (1985) verificaram que

adolescentes que convivem com apenas um dos pais apresentam maior probabilidade de se

43

envolver em comportamentos delinquumlentes e violentos do que os que vivem com ambos os

pais Uma afirmaccedilatildeo destoante eacute a de Larson et al (2001) Eles defendem que crianccedilas e

adolescentes que convivem com apenas um dos pais podem se adaptar bem a esta situaccedilatildeo

natildeo sendo o fato de conviver com apenas um dos pais determinante da delinquumlecircncia Natildeo

obstante essa natildeo eacute a tendecircncia das evidecircncias disponiacuteveis

Caffray e Schneider (2000) por exemplo ao pesquisarem sobre as motivaccedilotildees que

levam o adolescente aos comportamentos de risco citam como influecircncias importantes

sentimentos negativos sobre o relacionamento com os pais pouca comunicaccedilatildeo em casa

baixa coesatildeo familiar reduzido desempenho escolar e baixo suporte social Fatores familiares

estressantes como desemprego violecircncia domeacutestica discoacuterdia entre os pais e divoacutercio estatildeo

positivamente associados com a delinquumlecircncia (FARRINGTON 1987 apud PATTERSON et

al 1989) bem como poucos anos de estudo (DIAS 2003)

De modo geral a literatura sugere que em ambientes de risco jovens que dispotildeem de

suporte atraveacutes de relacionamentos com adultos podem diminuir os efeitos negativos das

adversidades sobre seu desenvolvimento (RHODES et al 1994) A tiacutetulo de exemplo

Jackson (2002) verificou que crianccedilas delinquumlentes ao serem assistidas por um mentor

diminuiacuteram a frequumlecircncia de comportamentos agressivos e de problemas de conduta

DuBois et al (2002) fizeram uma meta-anaacutelise acerca de 55 avaliaccedilotildees dos efeitos de

programas de mentoria voltados para juventude norte-americana Ficou aiacute evidenciado que os

participantes se beneficiam muito com a participaccedilatildeo em tais programas Os programas

diferem em seu conteuacutedo mas a maioria tem como foco a juventude de risco Haacute tambeacutem

programas destinados a filhos que vivem com apenas um dos pais e a minorias eacutetnicas

Quanto aos objetivos os programas avaliados buscavam o desenvolvimento na aacuterea

emocional comportamental educacional e em alguns casos o desenvolvimento profissional

dos mentorados

44

Um exemplo deste tipo de programa pode ser visto em Nova Iorque nos EUA e em

parte do Canadaacute Trata-se de um programa criado em 1904 o Big Brothers Big Sisters of

Ameacuterica (BBBS) que provecirc relacionamento de mentoria para crianccedilas de risco que vivem

com apenas um dos pais O programa eacute voltado para populaccedilatildeo menos favorecida que

apresenta problemas como delinquumlecircncia baixo aproveitamento escolar e baixa auto-estima

(FRECNALL LUKS 1992)

O BBBS emparelha adultos voluntaacuterios (Big Brothers Big Sisters) com crianccedilas e

adolescentes de 6 a 18 anos (Litle Brothers Litle Sisters) Os mentores modelos positivos

devem prover amizade aconselhamento e servir de guia para os mentorados Os encontros satildeo

feitos de duas a quatro vezes por mecircs Cada encontro dura em meacutedia de trecircs a quatro horas

Grossman e Tierney (1998) ao avaliarem o impacto do Big Brothers Big Sisters

levantaram soacutelidas evidecircncias de que a mentoria neste programa teve efeitos positivos e

socialmente importantes na vida dos jovens participantes Os autores compararam dois

grupos homogecircneos um de jovens participantes do programa e um outro de natildeo-participantes

Pocircde-se concluir que com relaccedilatildeo aos comportamentos anti-sociais nos jovens que tinham

mentor a frequumlecircncia de comportamentos agressivos para com outros jovens apresentou

frequumlecircncia 32 menor do que no grupo que natildeo foi assistido pelo programa A probabilidade

de iniciar o uso de drogas foi reduzida em 70 para os jovens que participaram do programa

em relaccedilatildeo aos natildeo participantes

Jackson (2002) tambeacutem realizou um estudo sobre mentoria voltada para adolescentes

delinquumlentes que teve oito meses de duraccedilatildeo Os adolescentes corriam risco de suspensatildeo ou

expulsatildeo da escola em que estudavam devido agrave infraccedilatildeo das normas Dos alunos mentorados

menos de 1 continuou a apresentar problemas de comportamento que comprometiam sua

permanecircncia na escola Os demais no entanto nos uacuteltimos trecircs meses de programa

apresentaram uma reduccedilatildeo meacutedia de 80 nos comportamentos infratores

45

Considerando todo o exposto pode-se afirmar que a mentoria tem se mostrado um

valioso recurso no auxiacutelio educacional de jovens e adolescentes Claramente as experiecircncias

de programas de mentoria com jovens de risco tecircm apresentado resultados positivos A

literatura apresentou alguns benefiacutecios sociais desta relaccedilatildeo em diversos contextos sendo

pertinente a verificaccedilatildeo da influecircncia desta relaccedilatildeo num contexto brasileiro Destaca-se entatildeo

a quarta questatildeo norteadora desta pesquisa quais os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da

relaccedilatildeo de mentoria na vida de crianccedilas e adolescentes de uma comunidade carente do Recife

Foi abordada neste capiacutetulo a literatura acerca da mentoria o conceito o suporte de

carreira e psicossocial oferecido pelo mentor as fases da relaccedilatildeo os fatores responsaacuteveis pelo

ecircxito da mentoria e os benefiacutecios da relaccedilatildeo Segue no capiacutetulo trecircs a metodologia deste

estudo que iraacute expor a forma como foi realizada a pesquisa

46

3 Metodologia

31 Delineamento da pesquisa

A presente pesquisa eacute um estudo de caso definido por Gil (1996) como ldquoestudo

profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos que permite seu amplo e detalhado

conhecimentordquo (p58) O estudo de caso segundo Laville e Dione (1999) pode ser feito com

uma pessoa um grupo uma comunidade um meio uma mudanccedila poliacutetica ou um conflito

A escolha deste tipo de delineamento de pesquisa deu-se devido agrave possibilidade de

avaliar as diversas dimensotildees do problema analisando-o como um todo Em se tratando de

estudo de caso a metodologia requer flexibilidade e portanto natildeo se tem uma estrutura riacutegida

quanto aos passos a seguir Laville e Dione (1999) afirmam que

o pesquisador pode pois mostrar-se mais criativo mais imaginativo tem mais tempo de adaptar seus instrumentos modificar sua abordagem para explorar elementos imprevistos precisar alguns detalhes e construir uma compreensatildeo do caso que leve em conta tudo isso pois ele natildeo mais estaacute atrelado a um protocolo de pesquisa que deveria permanecer o mais imutaacutevel possiacutevel (p156)

Utilizando o modelo proposto por Gil (1996) foram consideradas trecircs fases distintas

no delineamento do estudo delimitaccedilatildeo da unidade-caso coleta de dados anaacutelise e

interpretaccedilatildeo dos dados O estudo de caso se caracteriza como exploratoacuterio-descritivo O

objetivo do estudo exploratoacuterio segundo Selltiz et al (1974) eacute tornar o fenocircmeno conhecido

ou obter uma nova compreensatildeo deste Embora a relaccedilatildeo de mentoria seja um fenocircmeno

conhecido e estudado em outros paises no Brasil pouco se sabe como se daacute efetivamente esta

relaccedilatildeo Em se tratando de mentoria com crianccedilas e adolescentes brasileiros o conhecimento

47

eacute ainda mais escasso Por este motivo o presente estudo eacute exploratoacuterio buscou conhecer

como ocorre a relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas e adolescentes num contexto brasileiro mais

especificamente nordestino Ainda como objetivo de um estudo exploratoacuterio pode-se chegar a

novos conhecimentos sobre o objeto de estudo e a partir dele novos questionamentos e

hipoacuteteses podem emergir tal como abordado por Selltiz et al (1974) O estudo foi descritivo

pois se propocircs a descrever qualitativamente o fenocircmeno estudado (LAKATOS MARCONI

1995) A descriccedilatildeo do programa de reforccedilo foi feita com base na anaacutelise documental nas

notas de campo e nas entrevistas

A coleta de dados foi realizada sob o arcabouccedilo da metodologia qualitativa Tal coleta

deu-se em duas fases que seratildeo expostas nas seccedilotildees seguintes

32 Primeira fase da coleta de dados

A primeira fase da coleta de dados foi realizada na comunidade atraveacutes de um

primeiro contato com algumas matildees de alunos participantes do projeto Esta fase relacionou-

se com uma sondagem do campo para verificar a possibilidade da efetivaccedilatildeo ou natildeo da

pesquisa

321 Objetivo

Como uma primeira fase de coleta foi feita uma sondagem do programa com o intuito

de perceber se havia relaccedilatildeo de mentoria no projeto e caso houvesse quais as funccedilotildees

existentes nesta relaccedilatildeo

48

322 Instrumentos de coleta de dados

Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram a entrevista semi-estruturada

a observaccedilatildeo e as notas de campo conforme se segue

bull Entrevistas semi-estruturadas

A entrevista ldquo natildeo significa uma conversa despretensiosa e neutra uma vez que se

insere como meio de coleta de fatos relatados pelos autores enquanto sujeito-objeto da

pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que estaacute sendo focalizadardquo (NETO 1997

p57) Segundo Laville e Dione (1999) a entrevista semi-estruturada eacute ldquouma seacuterie de

perguntas abertas feitas verbalmente em uma ordem prevista mas na qual o entrevistador

pode acrescentar perguntas de esclarecimentordquo (p188)

Atraveacutes da situaccedilatildeo de interaccedilatildeo que eacute a entrevista buscou-se chegar ao conhecimento

proacuteprio dos sujeitos pesquisados As entrevistas foram semi-estruturadas com perguntas

abertas Minayo (1998) afirma que neste tipo de entrevista ldquoo entrevistado tem a possibilidade

de discorrer o tema proposto sem respostas ou condiccedilotildees preacute-fixadas pelo pesquisadorrdquo

(p108) A teacutecnica de entrevista foi complementada com a praacutetica da observaccedilatildeo fornecendo

assim uma visatildeo mais ampla do objeto em estudo conforme sugere Minayo (1998)

A entrevista conteve os seguintes temas

a) Significado de sucesso escolar

b) Fatores responsaacuteveis pelo ecircxito nos estudos

c) Significado do projeto Educaccedilatildeo eacute Vida na vida da famiacutelia

A entrevista foi realizada com cinco matildees que tinham filhos participando do projeto

A escolha das matildees foi feita por acessibilidade na qual o pesquisador seleciona os

casos a que tem acesso admitindo que estes representam o universo Este tipo de amostragem

49

pode ser aplicado em estudos exploratoacuterios e qualitativos conforme sugere Gil (1999) Foi

levantada a quantidade de pais responsaacuteveis pelas crianccedilas e adolescentes do programa que

natildeo trabalhassem fora de casa ou que o fizessem proacuteximo agrave comunidade e que pudessem

responder agrave entrevista O coordenador do projeto indicou 14 matildees que atendiam a este

requisito De posse dos nomes foi realizado um sorteio e das sorteadas duas natildeo estavam

disponiacuteveis A entrevista foi realizada com cinco matildees Colheram-se alguns dados

demograacuteficos acerca da matildee (ocupaccedilatildeo grau de instruccedilatildeo e situaccedilatildeo conjugal) e da crianccedila

participante do projeto (sexo idade seacuterie e tempo de projeto)

bull Observaccedilatildeo participante ndash feita na comunidade e no programa

Schwartz e Schwartz (1955) definem observaccedilatildeo participante como

um processo pelo qual manteacutem-se a presenccedila do observador numa situaccedilatildeo social com a finalidade de realizar uma investigaccedilatildeo cientiacutefica O observador estaacute em relaccedilatildeo face a face com os observados e ao participar da vida deles no seu cenaacuterio cultural colhe dados Assim o observador eacute parte do contexto sob observaccedilatildeo ao mesmo tempo modificando e sendo modificado por este contexto (p355 apud MINAYO 1998)

Em se tratando de suporte social para crianccedilas Frey e Rothlisberger (1996) sugerem a

observaccedilatildeo direta dos comportamentos o que neste caso pressupotildee a necessidade de

inserccedilatildeo do pesquisador na comunidade e no programa

No caso desta pesquisa a pesquisadora foi tida como observadora A observaccedilatildeo foi

feita atraveacutes durante algumas visitas da pesquisadora agrave comunidade e ao projeto

Nestas pode-se observar as crianccedilas assistidas pelo projeto bem como suas famiacutelias

uma vez que as entrevistas foram realizadas nas casas dos alunos pesquisados

bull Notas de campo

Referem-se agraves observaccedilotildees feitas no campo contendo a descriccedilatildeo das pessoas objetos

lugares fatos atividades e conversas Incluem a anotaccedilatildeo dos sentimentos

50

impressotildees ideacuteias e estrateacutegias que ocorreram agrave pesquisadora durante a observaccedilatildeo

Segundo Bogdan e Biklen (1994) as notas de campo satildeo ldquoo relato escrito daquilo que

o investigador ouve vecirc experencia e pensa no decurso da coleta e refletindo sobre os

dados de um estudo qualitativordquo (p150) Sendo assim as notas de campo tecircm

conteuacutedo tanto descritivo quanto reflexivo

A partir das entrevistas da observaccedilatildeo e das notas de campo pocircde-se verificar que

havia relaccedilatildeo de mentoria no projeto e percebeu-se a existecircncia das funccedilotildees da mentoria tanto

de suporte psicossocial como de carreira Tal fato incentivou a continuidade do estudo uma

vez que a relaccedilatildeo de mentoria se mostrou presente A partir daiacute fez-se necessaacuterio uma segunda

fase de coleta de dados que seraacute exposta a seguir

33 Segunda fase de coleta de dados

331 Objetivos

Tendo sido confirmada a existecircncia da relaccedilatildeo de mentoria no projeto de reforccedilo

buscou-se colher dados capazes de responder agrave seguinte pergunta de pesquisa como se daacute a

mentoria voltada para a educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes em uma comunidade carente do

Recife

332 Instrumentos de coleta de dados

Buscando investigar as especificidades (funccedilotildees fases e fatores de ecircxito) da relaccedilatildeo

de mentoria existentes no projeto e para se conhecer os benefiacutecios desta relaccedilatildeo na vida do

mentor do mentorado e da comunidade foram utilizados os seguintes instrumentos de coleta

51

de dados entrevista documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo observaccedilatildeo participante e notas de campo

Tais instrumentos satildeo considerados a seguir

bull Entrevista semi-estruturada - abordada na primeira fase de coleta de dados

Inicialmente a entrevista foi realizada com o coordenador do projeto buscando

conhecer a histoacuteria deste projeto e sua relaccedilatildeo com ele Posteriormente foram

entrevistadas nove matildees e uma avoacute que satildeo as pessoas responsaacuteveis pelos alunos

selecionados e foi entrevistado tambeacutem um aluno O objetivo destas entrevistas foi

compreender qual a percepccedilatildeo da famiacutelia acerca do projeto e de seus resultados na

vida da crianccedila ou adolescente que dele participa

Foram realizadas entrevistas com os demais colaboradores uma professora

(participante do projeto e de uma escola que fornece bolsa para a comunidade) a

psicoacuteloga e uma dentista visando conhecer a participaccedilatildeo destes no projeto e sua

percepccedilatildeo acerca do mesmo

Finalmente foi realizada entrevista com a coordenadora de uma das escolas que

fornece bolsa para as crianccedilasadolescentes do projeto buscando conhecer sua

percepccedilatildeo acerca do reforccedilo e de seus resultados na vida do aluno participante

bull Observaccedilatildeo participante (abordada na primeira fase)

bull Notas de campo (abordadas anteriormente)

bull Documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo ndash a situaccedilatildeo formal em que ela se encontra contribuindo

para o conhecimento da sua histoacuteria Foram analisados o estatuto e o projeto

pedagoacutegico da instituiccedilatildeo

Abordados os instrumentos de coleta de dados segue a explanaccedilatildeo a respeito dos

sujeitos da pesquisa

52

34 Sujeitos da pesquisa

O programa atende cerca de 80 crianccedilas e adolescentes das quais foram estudadas 13

Inicialmente pretendia-se pesquisar 10 sendo 5 consideradas pelo projeto como bem

sucedidas e 5 consideradas como de natildeo ecircxito Ampliou-se o nuacutemero de casos uma vez que

uma das matildees entrevistadas tem um filho que eacute considerado pelo projeto (e por ela) como de

natildeo-ecircxito e outro que apresenta ecircxito Inicialmente seria levado em consideraccedilatildeo somente o

caso de natildeo-ecircxito mas foram analisados ambos os casos ao inveacutes de apenas o de natildeo ecircxito

buscando compreender o por quecirc de em um uacutenico ambiente atraveacutes de um mesmo projeto

crianccedilas demonstrarem resultados tatildeo diferentes A entrevista natildeo seria dirigida aos alunos

visto se tratar de crianccedilas o que exige preparo do pesquisador com este tipo de sujeito No

entanto no momento da entrevista com um dos responsaacuteveis o aluno estava presente e

contribuiu com a ela Os dados coletados foram aceitos visto se tratar de um adolescente de

17 anos o mais velho dos alunos pesquisados Uma das matildees entrevistadas tem dois filhos no

projeto e suas respostas incluiacuteam frequumlentemente os dois motivo pelo qual ambos foram

considerados ao inveacutes de apenas um O quadro abaixo revela alguns dados dos sujeitos

Nome idade seacuterie tempo de

projeto escola

Afracircnio 9 anos 4a 3 anos Particular Daniel 8 anos 1a 3 anos Particular Almir 9 anos 2a 3 anos Particular Silvia 10 anos 4a 3 anos Particular Nuacutebia 12 anos 5a 3 anos Particular Frederico 12 anos 6a 4 anos Particular Jairo 14 anos 6a 4 anos Particular Walter 17 anos 2ordmano 7 anos Puacuteblica Tito 8 anos 2a 3 anos Particular Helena 10 anos 4a 4 anos Particular Tacircnia 10 anos 4a 7 anos Puacuteblica Nestor 14 anos 1ordmano 4 anos Puacuteblica Faacutebio 12anos 6a 3 anos Puacuteblica

53

Segundo Selltiz et al (1974) no estudo exploratoacuterio natildeo se tem um nuacutemero exato de

respondentes que deveratildeo ser entrevistados Antes o pesquisador no decorrer das entrevistas

verificaraacute que em um determinado ponto as respostas comeccedilam a formar um padratildeo tornam-

se repetitivas A partir daiacute aumentar o nuacutemero de informantes eacute pouco compensador Seguem

na proacutexima seccedilatildeo os criteacuterios utilizados para selecionar os sujeitos

341 Criteacuterios de seleccedilatildeo dos sujeitos

O criteacuterio primordial para seleccedilatildeo das cinco crianccedilas foi o fato de serem consideradas

alunos(as) exemplares em termos de rendimento escolar e comportamento (alunos

considerados pelo projeto como de ecircxito) Os outros cinco foram escolhidos por natildeo

apresentarem bom rendimento escolar eou bom comportamento apesar de estarem no

reforccedilo Neste sentido o coordenador do projeto indicou quem seriam as crianccedilas que se

encaixavam nestes perfis

Selltiz et al (1974) afirmam que em um estudo exploratoacuterio

eacute importante selecionar informantes de forma a assegurar uma representaccedilatildeo de diferentes tipos de experiecircncia Sempre que haja qualquer razatildeo para acreditar que diferentes pontos de vista possam influir no conteuacutedo da observaccedilatildeo deve-se fazer um esforccedilo para incluir variaccedilatildeo de pontos de vista e tipos de experiecircncia (p65)

Ainda segundo estes autores os estudos exploratoacuterios que apresentam maior contraste

podem ser mais uacuteteis em revelar diferentes aspectos do fenocircmeno

Outro criteacuterio utilizado foi o tempo de inserccedilatildeo do aluno no projeto O tempo miacutenimo

foi de dois anos visto que Frecnall e Luks (1992) verificaram em suas pesquisas que o

resultado de um programa de mentoria para crianccedilas que participaram por dois a trecircs anos

obteve 90 de ecircxito A literatura sugere a existecircncia de uma relaccedilatildeo direta entre os benefiacutecios

da mentoria e o tempo da relaccedilatildeo (GROSSMAN RHODES 2002)

54

Abordados os instrumentos de coleta de dados os sujeitos da pesquisa e os criteacuterios

para seleccedilatildeo destes sujeitos Seguem na proacutexima seccedilatildeo os meacutetodos de anaacutelise destes dados

35 Meacutetodos de anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados

Em se tratando de uma pesquisa qualitativa a anaacutelise dos dados jaacute vai sendo realizada

ao longo da coleta A anaacutelise segundo Minayo (1998) tem trecircs finalidades compreender os

dados colhidos confirmar ou natildeo as hipoacuteteses ou responder agraves questotildees elaboradas

previamente e ampliar o conhecimento do fenocircmeno estabelecendo viacutenculos com o contexto

cultural no qual estaacute inserido

O tratamento dispensado agraves entrevistas foi o de anaacutelise de conteuacutedo cujo objetivo

segundo Chizzotti (1998) eacute ldquocompreender criticamente o sentido das comunicaccedilotildees seu

conteuacutedo manifesto ou latente as significaccedilotildees expliacutecitas ou ocultasrdquo (p98) Seguindo-se esta

proposta de anaacutelise o conteuacutedo das entrevistas foi categorizado do texto se extraiacuteram

categorias que de acordo com Bardin (1997) ldquosatildeo rubricas ou classes as quais reuacutenem um

grupo de elementos sob um tiacutetulo geneacuterico agrupamento esse efetuado em razatildeo dos

caracteres comuns destes elementosrdquo (p117) As categorias foram utilizadas para agrupar as

ideacuteias em torno dos conceitos As categorias foram elaboradas antes da coleta de dados

conforme proposto por Gomes (1997) Estas categorias foram levantadas a partir do

referencial teoacuterico apresentado considerando-se toacutepicos relevantes que constituem a relaccedilatildeo

de mentoria e dos benefiacutecios propostos As categorias encontradas refletiram a percepccedilatildeo dos

responsaacuteveis pelos alunos e dos professores sobre o programa e seu resultado na vida das

crianccedilas e adolescentes participantes Vale ressaltar que na medida em que foram sendo

analisados os dados foram sendo incluiacutedas novas categorias natildeo abordadas pela teoria mas

que se fizeram presentes nos discursos

55

O discurso advindo da entrevista foi decomposto conforme sugere Gomes (1997)

formando unidades de registro que podia ser uma palavra ou frase significativa dentro do

conceito que se estava investigando

Minayo (1998) propotildee o meacutetodo de anaacutelise hermenecircutico-dialeacutetico no qual a fala dos

atores deve ser contextualizada

O pesquisador tem que aclarar para si mesmo o contexto de seus entrevistados ou dos documentos a serem analisados Isso eacute importante porque o discurso expressa um saber compartilhado com outros do ponto de vista moral cultural e cognitivo (p222)

Inicialmente foi feita uma preacute-anaacutelise na qual os materiais coletados foram

organizados destacando-se os textos significativos e as categorias

Posteriormente foi feita a exploraccedilatildeo do material atraveacutes da leitura exaustiva o que

resultou no tratamento dos resultados e na sua interpretaccedilatildeo Segundo Gomes (1997) isto

significa ldquo desvendar o conteuacutedo subjacente ao que estaacute sendo manifestordquo (p 76) O autor

ressalta que a busca das informaccedilotildees estatiacutesticas deve se voltar para as ideologias as

tendecircncias e outras caracteriacutesticas dos fenocircmenos que se estaacute analisando

Realizou-se o primeiro niacutevel de interpretaccedilatildeo dos dados que segundo Minayo (1998) eacute

o das determinaccedilotildees fundamentais no qual se levam em conta a conjuntura soacutecio-econocircmica e

poliacutetica do objeto da pesquisa

O segundo niacutevel de interpretaccedilatildeo foi a observaccedilatildeo das comunicaccedilotildees individuais

condutas costumes e rituais expressos no grupo

Segundo Minayo (1998) o produto final da anaacutelise as conclusotildees a que se chega

devem ser tidos sempre como provisoacuterios e aproximativos

Acerca da generalizaccedilatildeo dos resultados Laville e Dione (1999) afirmam

56

o estudo de caso incide sobre um caso examinado em profundidade toda forma de generalizaccedilatildeo natildeo eacute por isso excluiacuteda Com efeito um pesquisador seleciona um caso na medida em que este lhe pareccedila tiacutepico representativo de outros casos As conclusotildees gerais que ele tiraraacute deveratildeo ser contudo marcadas pela prudecircncia devendo o pesquisador fazer prova de rigor e transparecircncia no momento de enunciaacute-las (p156)

Pocircde-se ao fim das anaacutelises chegar a um maior conhecimento do fenocircmeno estudado

bem como seu impacto na vida das famiacutelias e da comunidade onde estaacute inserido Segue na

proacutexima seccedilatildeo as limitaccedilotildees deste trabalho

36 Limitaccedilotildees da pesquisa

A presente pesquisa apresenta algumas limitaccedilotildees que seratildeo expostas a seguir

a) Impossibilidade de se verificar os resultados sociais

Sendo um projeto de longo prazo os benefiacutecios seratildeo evidenciados quando existirem

egressos do projeto Por outro lado o tempo que se dispotildee para esta pesquisa eacute de apenas

dois anos Procurou-se entatildeo verificar resultados de curto prazo e a partir deles fazer

inferecircncias

b) Falta de bibliografia nacional sobre o tema

Natildeo se tem pesquisa realizada em mentoria para crianccedilas e adolescentes no contexto

brasileiro limitando o arcabouccedilo teoacuterico Esta limitaccedilatildeo pode ser vista tambeacutem como uma

oportunidade na medida em que este trabalho jaacute significa um avanccedilo em termos de

contextualizar a teoria

c) Envolvimento da pesquisadora com o objeto

A aacuterea social eacute uma aacuterea de afinidade da pesquisadora e o projeto a encantou Este fato

pode ter influenciado a percepccedilatildeo e os resultados da pesquisa No entanto na busca pela

57

objetividade buscou-se separar os conteuacutedos dos sujeitos dos da pesquisadora aliando o

que os dados observados com os discursos deles advindos

d) Interrupccedilatildeo do projeto no momento das entrevistas

A pesquisa ocorreu em um momento criacutetico do projeto um momento de transiccedilatildeo A

observaccedilatildeo e a primeira fase de coleta se deram quando as atividades ainda estavam sendo

desenvolvidas No entanto no momento das entrevistas as atividades jaacute estavam

suspensas Este fato pode ter alterado a percepccedilatildeo das matildees entrevistadas pois o projeto jaacute

natildeo estava em seu cotidiano Por outro lado este fato pode ter contribuiacutedo com a

percepccedilatildeo do valor do projeto uma vez que pela ausecircncia se podia evidenciar o que este

representava na vida da famiacutelia

d) Impossibilidade de verificar com precisatildeo os fatores responsaacuteveis pelo ecircxito e natildeo-

ecircxito dos mentorados uma vez que as famiacutelias consideravam os filhos como tendo ecircxito

nos estudos

Estas foram as limitaccedilotildees percebidas nesta pesquisa

Cientes da metodologia do trabalho segue a apresentaccedilatildeo do caso e dos dados

coletados bem como sua respectiva discussatildeo

58

4 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos achados

Segue-se a apresentaccedilatildeo do caso pesquisado e posteriormente seratildeo apresentados e

discutidos os dados colhidos atraveacutes da observaccedilatildeo das entrevistas e da anaacutelise documental

No iniacutecio de cada seccedilatildeo seraacute apresentada uma questatildeo norteadora seguida da apresentaccedilatildeo e

da discussatildeo dos dados obtidos Finalmente seraacute respondida a questatildeo norteadora que iniciou

a seccedilatildeo Feito isto seraacute abordada outra questatildeo e assim sucessivamente ateacute que se responda a

todas as questotildees postas na fundamentaccedilatildeo teoacuterica

41 O caso

Nesta seccedilatildeo seraacute abordado o caso considerando-se o contexto no qual o mesmo se

insere Seraacute detalhado o surgimento do programa de reforccedilo escolar as motivaccedilotildees para tal os

objetivos as dificuldades enfrentadas os beneficiaacuterios os estaacutegios pelos quais passou e o seu

momento atual

411 O contexto do projeto Vila do Vinteacutem II

O caso pesquisado foi o programa de reforccedilo escolar chamado Educaccedilatildeo eacute Vida que

era localizado na Vila Vinteacutem II tambeacutem chamada de favela do Vinteacutem ou Vila Vinteacutem A

Vila do Vinteacutem era uma favela existente haacute mais de dez anos localizada no bairro de Casa

Forte na cidade do RecifePE

59

A Prefeitura do Recife em fevereiro de 2005 transferiu as 192 famiacutelias moradoras da

favela da Vila do Vinteacutem para o Conjunto Habitacional Casaratildeo do Cordeiro situado agrave

avenida Mauriacutecio de Nassau no bairro do Cordeiro

Esta transferecircncia faz parte de um projeto social chamado ldquoo Recife sem palafitasrdquo

Tal projeto beneficiou 720 famiacutelias que hoje residem no conjunto habitacional mas pretende

alcanccedilar 1337 famiacutelias procedentes de comunidades carentes

As quase 200 famiacutelias que faziam a Vila Vinteacutem moravam em palafitas agraves margens do

rio Capibaribe sob o viaduto Torre-Parnamirim e entre as ruas Joatildeo Tude de Melo e

Leonardo Bezerra Cavalcante As casas - barracos de madeira papelatildeo e plaacutestico - eram de

aproximadamente 12 m2 e natildeo contavam com aacutegua encanada nem esgoto e muitas natildeo tinham

sanitaacuterios

O relator especial das Naccedilotildees Unidas para habitaccedilatildeo Miloon Kothari classificou

algumas das favelas do Recife como sendo as piores do mundo ldquoAlgumas das condiccedilotildees de

moradia do Recife () estatildeo entre as piores que eu jaacute vi As pessoas natildeo podem dormir agrave

noite com aacutegua entrando nas casas ratos e baratasrdquo (Diaacuterio de Pernambuco 2004)

60

Figura 1 (4) - Foto da Vila do Vinteacutem 2002

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

Dentre as inuacutemeras dificuldades presentes nesta comunidade pode-se citar o

desemprego fator que atinge mais de 71 das famiacutelias da Vila (Diaacuterio de Pernambuco

2004) O iacutendice de desemprego como visto anteriormente estaacute diretamente relacionado agrave

escolaridade (NEacuteRY COSTA 2003) de forma que no Recife o maior iacutendice de

analfabetismo encontra-se em domiciacutelios com rendimento de ateacute um salaacuterio miacutenimo

(SECRETARIA DA POLIacuteTICA DE ASSISTEcircNCIA SOCIAL 2004) Mais especificamente

na Vila Vinteacutem mais de 60 dos moradores natildeo tecircm rendimento maior do que meio salaacuterio

miacutenimo

O contexto familiar muitas vezes eacute de agressividade como o exposto pela avoacute de uma

aluna ldquoCom a matildee de Nuacutebia eacute tudo no pau () ela vai para casa da matildee arenga com os

irmatildeos e chega toda machucadardquo (entrevista out05) Esta constataccedilatildeo eacute coerente com a

literatura fatores vivenciados pelas famiacutelias tais como o desemprego crocircnico violecircncia

61

domeacutestica e brigas entre o casal estatildeo associados com a delinquumlecircncia (FARRINGTON 1987

apud PATTERSON et al 1989) Neste ambiente estava inserido o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

O projeto situava-se agrave entrada da favela da Vila Vinteacutem II agrave rua Joatildeo Tude de Melo

nuacutemero 21 no bairro de Casa Forte

Desde a transferecircncia das famiacutelias da Vila do Vinteacutem para o Casaratildeo do Cordeiro as

atividades do projeto foram suspensas O projeto aguarda a liberaccedilatildeo de um terreno no

referido conjunto conforme jaacute acordado entre o projeto e a Prefeitura do Recife para retomar

suas atividades

Figura 2 (4) ndash Foto das palafitas da Vila do Vinteacutem no dia da mudanccedila para o Casaratildeo do Cordeiro Fev2005

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

Considerado o contexto onde estava inserido o projeto faz-se necessaacuterio conhecer o

projeto em si A seccedilatildeo seguinte eacute dedicada a este assunto

62

412 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

O projeto teve iniacutecio atraveacutes de uma famiacutelia residente nas proximidades da favela Vila

do Vinteacutem II Moab Silva e sua esposa Miriam Maria da Silva tinham um restaurante nesta

aacuterea O casal tem dois filhos A filha tem graduaccedilatildeo em Histoacuteria e estaacute terminando o curso de

Publicidade e o filho fez Engenharia Mecacircnica eacute mestre em Oceanografia e estaacute concluindo o

doutorado em Oceanografia Moab eacute cozinheiro autocircnomo e sua esposa eacute graduada em

Relaccedilotildees Puacuteblicas

A famiacutelia conhecia a favela do Vinteacutem e quando havia necessidade contratava alguns

dos moradores para prestar pequenos serviccedilos ao restaurante Com isto e dado ao fato de

Moab ter crescido neste local a famiacutelia tornou-se conhecedora e conhecida da comunidade

Quando os pais vinham trabalhar no restaurante seus filhos os acompanhavam e ficavam

ldquotomando contardquo dos carros no estacionamento Ao fechamento do restaurante estas recebiam

alimentaccedilatildeo

A partir daiacute Miriam que jaacute lecionava para crianccedilas em uma igreja evangeacutelica teve a

ideacuteia de reunir as crianccedilas da comunidade e formar um pequeno coral para se apresentar para

a comunidade na festa de Natal Foi entatildeo que se iniciou a Comunidade Cristatilde Amigos Para

Sempre (ANEXO A) com o objetivo primeiro de evangelizaccedilatildeo e posteriormente

educacional Visando o alcance do objetivo educacional criou-se o Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

(ANEXO B) Moab e a esposa reuniram aproximadamente 15 crianccedilas moradoras da favela

do Vinteacutem para formar o coral As crianccedilas ensaiavam ouviam histoacuterias e lanchavam O coral

reunia-se duas vezes por semana as quartas e aos domingos Os pais tambeacutem se

aproximaram

Moab atraveacutes deste contato mais proacuteximo com as crianccedilas foi percebendo o potencial

que elas tinham e visando desenvolver este potencial resolveu fazer uma banca de estudos

63

para acompanhaacute-las em suas tarefas escolares As crianccedilas jaacute estavam matriculadas em

escolas puacuteblicas e Moab e sua esposa iniciaram o reforccedilo escolar

De 1988 ateacute 2000 o projeto funcionou na informalidade e as reuniotildees aconteciam no

espaccedilo do restaurante Quando este natildeo estava em atividade era dedicado agraves crianccedilas de

forma que laacute ocorriam aleacutem das reuniotildees ensaios do coral jogos festas do dia das crianccedilas

de aniversaacuterio e de Natal

Figura 3 (4) - Festa de Natal para as crianccedilas da Vila do Vinteacutem II 2004

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

No ano de 2000 um grupo de 18 americanos foi agraves proximidades da Vila Moab ao ir

cozinhar para este grupo foi acompanhado pelas crianccedilas Os americanos intrigados ao

verem tantas crianccedilas perguntaram quem eram elas Ao saber a respeito do projeto o grupo

se sensibilizou e resolveu contribuir Foi assim que o projeto comprou uma casa na rua Joatildeo

Tude de Melo ao lado da favela O projeto contava agora com uma sede

64

Figura 4 (4) - Festa das crianccedilas na sede do projeto 00

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

No projeto as atividades de reforccedilo eram disponibilizadas para quem fosse da favela e

quisesse estudar independentemente da seacuterie em que estivesse matriculado O projeto contava

com materiais didaacuteticos um quadro-negro cadeiras uma biblioteca e um computador com

acesso agrave Internet

Os professores do projeto eram Moab cuja vocaccedilatildeo segundo ele eacute alfabetizar sua

esposa que jaacute havia sido professora de crianccedilas e uma professora contratada Havendo

necessidade seus filhos tambeacutem davam aula no projeto

Segue na proacutexima seccedilatildeo uma breve descriccedilatildeo das atividades que o projeto

desenvolvia antes da transferecircncia

65

413 Atividades desenvolvidas pelo projeto

As aulas do reforccedilo funcionavam pela manhatilde e pela tarde contando em meacutedia com 25

alunos em cada turno As atividades do projeto eram realizadas de forma que o aluno estando

em uma escola puacuteblica recebia atraveacutes do projeto um ensino considerado pelo coordenador

como de maior qualidade Os alunos passavam a alcanccedilar um conhecimento diferenciado de

seus colegas de classe Quando os alunos absorviam estes conhecimentos o projeto buscava

transferi-los para uma escola privada

Deu-se entatildeo iniacutecio agrave busca por bolsas de estudos em escolas particulares para os

alunos com bom desempenho escolar Moab o coordenador ia ateacute agrave escola particular falava

acerca do programa de reforccedilo e dava o perfil da crianccedila para qual estava fazendo a

solicitaccedilatildeo da bolsa A escola convidava este aluno para conhecer suas instalaccedilotildees e aplicava

um teste de conhecimento Se o aluno fosse aprovado no teste seria bolsista da escola O

projeto passava a acompanhaacute-lo com mais intensidade visando mantecirc-lo com bom

desempenho em sua nova escola

Atualmente o projeto conta com as seguintes bolsas em instituiccedilotildees de ensino

privado

INSTITUICcedilAtildeO Nordm DE BOLSAS Coleacutegio de Ensino Fundamental I fase 10 Coleacutegio de Ensino Fundamental e Meacutedio 3 Centro de Informaacutetica 10 Curso de Inglecircs 11

As crianccedilas bolsistas que terminam a 4a Seacuterie da primeira fase do Ensino Fundamental

recebem uma bolsa na escola de inglecircs Buscando melhor atender as crianccedilas o coordenador

buscou pessoas que pudessem assisti-las com relaccedilatildeo agrave sauacutede O projeto passou a contar com

66

o voluntariado de uma psicoacuteloga um meacutedico e dois dentistas que datildeo assistecircncia agraves crianccedilas

No caso de assistecircncia psicoloacutegica a famiacutelia tambeacutem recebe acompanhamento

Em 2000 foi fechado um acordo com dois dentistas para o tratamento dentaacuterio das

crianccedilas Mais uma vez o grupo de americanos contribuiu com R$ 1500 por crianccedila para

cobrir as despesas com o material odontoloacutegico Um grupo de 90 crianccedilas da Vila do Vinteacutem

fez tratamento dentaacuterio que incluiu obturaccedilatildeo extraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de fluacuteor ldquoFoi um ano de

tratamento Eu levava as crianccedilas quatro vezes por semana duas turmas para dra () e duas

turmas para o dr ()rdquo (COORDENADOR entrevista set05)

Aleacutem das atividades educacionais propriamente ditas o projeto desenvolvia outras

atividades com as crianccedilas Dentre estas o coordenador citou passeios agrave praccedila do

Entroncamento no final de ano e agrave exposiccedilatildeo da aeronaacuteutica e visita a museus (Ricardo

Brennand Museu do Homem do Nordeste Museu do Estado) ldquoQualquer exposiccedilatildeo que

esteja havendo e que vaacute influir acrescentar em termos de educaccedilatildeo para eles a gente levardquo

(COORDENADOR entrevista set05) Anualmente o projeto levava alguns adolescentes para

acampar O acampamento que tem duraccedilatildeo de cinco dias eacute de cunho religioso Atividades

como pintura muacutesica danccedila recreaccedilatildeo e jogos tambeacutem eram desenvolvidas regularmente

pelo projeto Festas e reuniotildees eram realizadas Estas ocorriam na sede ou no espaccedilo onde era

o restaurante por este comportar um nuacutemero maior de pessoas

Na proacutexima seccedilatildeo seraacute explicado como o projeto foi formalizado tornando-se uma

organizaccedilatildeo natildeo governamental

67

414 Formalizaccedilatildeo do projeto como organizaccedilatildeo natildeo-

governamental

Aproximadamente em 2000 com o projeto jaacute instalado na sede buscou-se a

formalizaccedilatildeo do projeto ou seja o registro como ONG (organizaccedilatildeo natildeo-governamental) O

coordenador procurou entatildeo mais quatro pessoas que juntamente com ele tivessem os

mesmos objetivos Encontradas estas pessoas que natildeo eram estranhas ao projeto intentou-se

proceder agrave formalizaccedilatildeo No entanto estas pessoas desistiram e o coordenador procurou

outras Encontradas as pessoas que segundo ele realmente assumiram o projeto o mesmo foi

formalizado O projeto conta com um presidente (Moab) um vice-presidente dois secretaacuterios

e um tesoureiro Das cinco pessoas responsaacuteveis pela ONG duas foram substituiacutedas

O projeto mesmo anterior agrave formalizaccedilatildeo jaacute contava com objetivos definidos estes

foram entatildeo sistematizados (ANEXO B) Satildeo objetivos do projeto

bull Melhorar a qualidade de vida natildeo somente no presente mas intervir num ciclo

vicioso preparando a crianccedila e o jovem para o futuro

bull Atuar na aacuterea de educaccedilatildeo solicitando bolsa de estudo na rede privada com aulas

de reforccedilo para o ensino fundamental alfabetizaccedilatildeo infantil distribuiccedilatildeo de

material escolar e merenda

bull Ofertar curso regular de liacutengua inglesa e iniciaccedilatildeo musical

bull Oferecer acompanhamento cliacutenico odontoloacutegico e psico-pedagoacutegico e

bull Desenvolver atividades que proporcionem o desenvolvimento de competecircncias

sociais pessoais e intelectuais

Formalmente o coordenador estaacute na diretoria da ONG haacute trecircs anos Em outubro de

2006 ao completar dois mandatos haveraacute eleiccedilatildeo e ele natildeo mais estaraacute agrave frente do projeto

68

pois assim rege o estatuto O projeto eacute mantido com doaccedilotildees e serviccedilo voluntaacuterio Com a

formalizaccedilatildeo natildeo houve alteraccedilatildeo nas atividades desenvolvidas pelo projeto

Considerada a formalizaccedilatildeo do projeto segue a explanaccedilatildeo de sua situaccedilatildeo atual ou

seja como se encontra o projeto apoacutes a transferecircncia das famiacutelias

415 Situaccedilatildeo atual do projeto

Com a transferecircncia das famiacutelias para o conjunto habitacional Casaratildeo do Cordeiro o

projeto interrompeu suas atividades regulares e tem ido agrave busca da liberaccedilatildeo do terreno jaacute

destinado ao mesmo

Neste iacutenterim de fevereiro a novembro de 2005 as crianccedilas bolsistas que estavam

estudando na primeira fase do ensino fundamental foram colocadas pelo projeto em semi-

internatos Tal fato ocorreu na busca de garantir a continuidade da assistecircncia educacional a

estas crianccedilas

Ainda neste periacuteodo de transiccedilatildeo o mesmo grupo de americanos que outrora

beneficiou o projeto com a compra da casa fez uma nova doaccedilatildeo Desta vez o grupo doou

um galpatildeo preacute-moldado com capacidade para 300 pessoas que seraacute erguido no local

destinado para o projeto no Casaratildeo do Cordeiro O envio do galpatildeo estaacute condicionado agrave

liberaccedilatildeo do terreno

Na proacutexima seccedilatildeo seratildeo consideradas as dificuldades enfrentadas pelo projeto

Educaccedilatildeo eacute Vida

69

416 Dificuldades enfrentadas pelo projeto

O coordenador diz encontrar dificuldade para obter apoio junto agraves instituiccedilotildees que

segundo ele deveriam cooperar com as ONGrsquos tais como Conselho Municipal Conselho

Estadual e Conselho Federal de Accedilatildeo Social e Conselhos Municipais dos Direitos da Crianccedila

e do Adolescente Ele afirma que haacute excesso de burocracia e que estas instituiccedilotildees natildeo estatildeo

presentes para apoiar antes para punir caso haja alguma irregularidade ldquoEles natildeo querem ver

resultados querem ver papelrdquo desabafa o coordenador (entrevista set05) Mesmo

entregando os documentos solicitados o coordenador lamenta natildeo ter tido ecircxito nas

solicitaccedilotildees legais fato que ele atribui agrave morosidade e ao excesso de burocracia

Outra dificuldade considerada a maior delas eacute enfrentada a cada iniacutecio de ano devido

a necessidade de se patrocinar os alunos bolsistas O custo com materiais e fardamentos eacute em

meacutedia de R$ 50000 por crianccedila O projeto busca cobrir tal despesa buscando

apadrinhamento (patrociacutenio) para os alunos ou seja pessoas que contribuam parcial ou

totalmente com as despesas deste

A cada ano as escolas oferecem novas vagas ao projeto e com elas aumenta a

dificuldade devido agrave falta de recursos O projeto tem crianccedilas com desempenho suficiente

para serem aceitas por uma escola particular e as escolas tecircm ofertado mais bolsas mas a falta

de patrociacutenio tem imposto limites a esta transferecircncia O coordenador diz que ao colocar uma

crianccedila na escola particular o projeto assume realmente seus estudos fazendo o possiacutevel para

que a crianccedilaadolescente seja inserida e obtenha ecircxito

Ao final de cada ano os padrinhos satildeo homenageados recebendo um Certificado de

Agente Social conforme a figura 5 (4) como forma de reconhecimento e gratidatildeo pelo

patrociacutenio

70

Figura 5 (4) - Certificado do padrinho

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

A despeito das dificuldades enfrentadas o projeto intenta continuar e expandir-se

Tem o objetivo de atender ao Conjunto Habitacional Casaratildeo do Cordeiro

Segue na proacutexima seccedilatildeo a motivaccedilatildeo que deu iniacutecio a este projeto e que o sustenta ateacute

o momento desta pesquisa

417 Motivaccedilatildeo para a existecircncia e continuidade do projeto

O coordenador explica assim sua motivaccedilatildeo para prosseguir com o projeto

Como cidadatildeo pobre eu sempre lutei para que meus filhos conseguissem terminar o terceiro grau () Depois que os meus terminaram eu digo bom agora eu posso lutar pelos dos outros para que eles tambeacutem consigam porque eles natildeo vatildeo conseguir se natildeo tiver quem ofereccedila oportunidade () Essas crianccedilas sendo assistidas dessa forma sem duacutevida alguma vatildeo trilhar o mesmo caminho que meus filhos trilharam Eu trato as crianccedilas participantes deste projeto como se elas fossem os meus filhos (COORDENADOR entrevista set05)

71

Acerca de seu envolvimento com o projeto ele declara ldquoEu natildeo vejo como me

desvincular hoje () separar do projeto Eu respiro o projeto luto faccedilo o que for necessaacuterio o

que for possiacutevel para que o projeto continuerdquo (COORDENADOR entrevista set05)

A seccedilatildeo 41 foi destinada ao caso Foram aqui considerados o contexto onde estaacute

inserido as atividades desenvolvidas o processo de formalizaccedilatildeo as dificuldades enfrentadas

e a motivaccedilatildeo existente no projeto

Para melhor compreensatildeo dos sujeitos da pesquisa seratildeo expostos nas proacuteximas

seccedilotildees os dados referentes aos mentores e aos mentorados pesquisados

418 Dados dos mentores entrevistados

Seguem algumas informaccedilotildees acerca dos mentores do projeto

Coordenador- foi o fundador do projeto e estaacute nele haacute 16 anos Jaacute deu alfabetizou diversas

crianccedilas e pais da comunidade Atualmente eacute o presidente da ONG

Professora ndash participou do projeto durante um ano Leciona em uma das escolas particulares

que fornece bolsa para os alunos Diz ter muita identidade com a proposta do projeto

Psicoacuteloga ndash estaacute no projeto haacute 5 anos Aleacutem deste trabalho no qual atua como voluntaacuteria

participa de um outro tambeacutem com comunidade carente

Dentista- estaacute no projeto haacute mais de um ano e diz ter identidade com o tipo de trabalho

realizado

Seguem na proacutexima seccedilatildeo os dados referentes aos mentorados pesquisados

72

419 Dados dos mentorados pesquisados

Visando um maior conhecimento dos sujeitos pesquisados seguem-se alguns dados

acerca dos mesmos Na busca pelo anonimato os nomes dos alunos foram trocados

Inicialmente seratildeo abordados os alunos que foram apontados como que de ecircxito nos estudos e

posteriormente os de natildeo-ecircxito

4191 Alunos tidos como que de ecircxito nos estudos

O coordenador do projeto demonstra orgulho ao falar dos seguintes alunos pois aleacutem

do rendimento escolar eles apresentam bom comportamento Satildeo estes os alunos

Afracircnio- aluno com 9 anos de idade cursa a 4a seacuterie do Ensino Fundamental em um coleacutegio

particular com bolsa obtida atraveacutes do projeto Educaccedilatildeo eacute Vida Afracircnio estaacute no projeto haacute 3

anos Mora com a matildee que eacute analfabeta funcional1 Aleacutem de estudar em escola particular

atraveacutes do projeto Afracircnio tambeacutem faz inglecircs

Daniel- aluno com 8 anos cursa a 1a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular cuja

bolsa foi obtida atraveacutes do projeto Ele participa do projeto haacute 3 anos Sua participaccedilatildeo nas

atividades desenvolvidas pelo projeto eacute integral passeios e lazer Daniel mora com os pais e eacute

o filho mais novo do casal Seu pai que eacute porteiro estudou ateacute o 3o ano do Ensino Meacutedio e

sua matildee ateacute a 8a seacuterie do Ensino Fundamental Aleacutem dos pais Daniel mora com seu irmatildeo

mais velho Faacutebio (tido como de natildeo ecircxito) sua irmatilde e sua tia A matildee sofre de fobia social e

toma remeacutedio ldquocontroladordquo Segundo ela o filho eacute muito responsaacutevel e gosta de estudar

1 Analfabeto funcional- Pessoa com menos de quatro anos de estudos

73

Almir- Garoto de 9 anos que cursa a 2a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular

cuja bolsa foi obtida atraveacutes do projeto Almir estaacute no projeto haacute 3 anos Mora com os pais

que satildeo analfabetos funcionais e com Silvia sua irmatilde

Silvia- eacute irmatilde de Almir tem 10 anos cursa a 4a seacuterie do Ensino Fundamental Estaacute no projeto

cerca de 3 anos Tal qual o irmatildeo Silvia estuda em escola particular

Nuacutebia- aluna de 12 anos cursa a 5a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular cuja

bolsa foi obtida atraveacutes do projeto do qual ela faz parte haacute cerca de 3 anos Nuacutebia eacute apontada

pelo coordenador do projeto como sendo uma aluna excelente Durante a semana Nuacutebia estaacute

morando na casa da avoacute paterna pois eacute mais perto da escola do que a casa da matildee pois esta

mora no Casaratildeo do Cordeiro A avoacute diz que a neta eacute muito calma e desanimada Acredita

que ela sente muita falta dos irmatildeos e da matildee (os pais satildeo separados) Nos finais de semana

Nuacutebia vai para a casa da matildee A avoacute diz que ao retornar ela vem agitada e machucada pois

em casa Nuacutebia apanha da matildee e dos irmatildeos A matildee de Nuacutebia disse ao coordenador que em

2006 iraacute tiraacute-la da escola particular apesar do bom rendimento que ela apresenta A matildee alega

que a escola eacute longe O coordenador e a professora acreditam que tal fato se deve tambeacutem agrave

limitaccedilatildeo da matildee (analfabeta funcional) em compreender o valor do estudo Ao falar acerca

deste fato o coordenador se mostra bastante entristecido

Frederico- aluno com 12 anos cursa a 6a seacuterie do Ensino Fundamental Ele estaacute no projeto

haacute 4 anos estuda em coleacutegio particular com bolsa obtida atraveacutes do projeto Frederico mora

com os pais Estes satildeo analfabetos funcionais O coordenador diz que eacute um menino muito

bom pois eacute esforccedilado e apresenta bom comportamento

Jairo- aluno com 14 anos que cursa a 6a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular

Sua bolsa foi obtida atraveacutes do projeto bem como o curso de inglecircs no qual ele estuda haacute 3

anos Jairo mora com a matildee o padrasto e com o irmatildeo mais novo que eacute portador de

74

necessidades especiais A matildee eacute analfabeta absoluta2 e o padrasto analfabeto funcional Jairo

perdeu o pai com dois anos A matildee fala que ele eacute um menino ldquoquietordquo e que gosta muito do

coordenador do projeto Jairo morou no interior onde estudava mas natildeo obtinha

aproveitamento escolar Ao chegar no Recife foi incentivado a estudar e segundo a matildee

ldquotomou gosto pelos estudosrdquo desde entatildeo tem demonstrado bom rendimento aleacutem do

comportamento exemplar que sempre apresentou A matildee diz que o coordenador eacute como um

pai para o Jairo lhe aconselha encaminha ajuda patrocina e eacute amigo

Walter- aluno de 17 anos que cursa o 2o ano do Ensino Fundamental em escola puacuteblica e

estaacute haacute 7 anos no projeto Walter mora com os pais que satildeo analfabetos funcionais O

coordenador diz que a famiacutelia acompanha os estudos de Walter Ele eacute aluno de inglecircs com

bolsa obtida pelo projeto Walter pretende ser professor deste inglecircs visto o bom rendimento

que vem apresentando e o interesse que afirma ter com o idioma

Nesta seccedilatildeo foram apresentados alguns dados acerca dos alunos tidos como de ecircxito segue na

proacutexima seccedilatildeo dados dos alunos pesquisados que foram tidos como que de natildeo ecircxito nos

estudos

4192 Alunos tidos como que de natildeo ecircxito nos estudos

Os seguintes alunos natildeo apresentam o rendimento escolar esperado pelo projeto A

aleacutem do que alguns apresentam problemas de comportamento Satildeo estes

Tito ndash aluno com 8 anos de idade que cursa a 2a seacuterie do Ensino Fundamental Mora com os

pais que satildeo analfabetos funcionais Ele estuda em um coleacutegio particular com bolsa obtida

atraveacutes do projeto O coordenador afirma que o mesmo natildeo demonstra interesse para com os

estudos

2 Analfabeta absoluta- pessoa iletrada

75

Helena- aluna de 10 anos que cursa a 4a seacuterie do Ensino Fundamental Ela estaacute no projeto haacute

4 anos Mora com a matildee que eacute analfabeta funcional A matildee trabalha fora e tem pouco contato

a filha cerca de uma hora por dia Os pais satildeo separados O coordenador diz que a matildee eacute

muito nervosa e toma remeacutedio ldquocontroladordquo Ele afirma que a matildee por ser agressiva e

impaciente eacute quem dificulta o aprendizado e o comportamento da filha Helena estuda em

escola particular mas natildeo estaacute obtendo notas suficientes para continuar nela

Tacircnia- aluna de 10 anos que cursa a 4a seacuterie em escola puacuteblica Ela estaacute no projeto haacute 7 anos

Tacircnia mora com a matildee adotiva com o padrasto com um irmatildeo mais novo e com um irmatildeo

mais velho e sua esposa Sua situaccedilatildeo eacute peculiar sua matildee morava com outro ldquomaridordquo quando

resolveu adotaacute-la Deixou o primeiro marido e atualmente mora com outro Sendo que este

casal teve um filho que no momento da pesquisa tinha dois anos Segundo o relato da

psicoacuteloga desde a separaccedilatildeo da matildee Tacircnia jaacute natildeo gozava de muito atenccedilatildeo e com o

nascimento do irmatildeo esta diminuiu significativamente O coordenador atribui muito de sua

dificuldade de aprendizagem agrave falta de estrutura familiar

Nestor- aluno com 14 anos cursa o 1o ano do ensino Meacutedio estaacute no projeto haacute 4 anos e mora

com os pais Sua matildee eacute analfabeta funcional e seu pai cursou ateacute a 6a seacuterie do Ensino

Fundamental Nestor estuda em escola puacuteblica

Faacutebio- garoto com 12 anos que cursa a 6a seacuterie do Ensino Fundamental Ele participa do

projeto haacute 3 anos Faacutebio mora com os pais com a tia com a irmatilde e com Daniel seu irmatildeo A

matildee estudou ateacute a 8a seacuterie e o pai ateacute o 3o ano do Ensino Meacutedio Faacutebio segundo a matildee natildeo

gosta de estudar e seu interesse estaacute em jogar futebol e ficar na rua Em casa ele natildeo recebe

acompanhamento em termos de estudo

Estes foram alguns dos dados acerca dos alunos pesquisados Ao longo da

apresentaccedilatildeo dos dados seratildeo apresentadas mais informaccedilotildees acerca destes sujeitos

76

Seguem nas proacuteximas seccedilotildees as questotildees norteadoras deste trabalho bem como a

apresentaccedilatildeo e discussatildeo dos dados colhidos na busca pelas respostas agraves questotildees

42 Achados referentes agrave primeira questatildeo norteadora

Para responder a seguinte questatildeo em uma comunidade carente brasileira ateacute que

ponto a mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes apresenta as caracteriacutesticas definidas

pela teoria Faz-se necessaacuterio inicialmente caracterizar o projeto de reforccedilo como um

programa de mentoria o que seraacute feito na proacutexima seccedilatildeo Posteriormente seratildeo analisados os

achados referentes agraves funccedilotildees de mentoria existente no projeto as fases em que se encontram

os relacionamentos e os fatores relacionados ao ecircxito do projeto

421 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida como um programa de mentoria

Percebeu-se que os alunos recebem suporte vindo de vaacuterios mentores A psicoacuteloga

fornece sustentaccedilatildeo para o aluno e para a famiacutelia a professora aconselha e ajuda a

desenvolver habilidades o coordenador e sua esposa acompanham o desenvolvimento dos

alunos fornecendo-lhes feedback e encorajando-os Tal fato foi constatado atraveacutes dos

discursos das matildees que relatavam o suporte recebido principalmente pelo coordenador e pela

professora

A partir destes dados pode-se concluir que o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida caracteriza-se

como um programa de redes de mentoria (HIGGINS KRAM 2001) uma vez que o

mentorado recebe influecircncia de vaacuterios mentores O coordenador do projeto eacute a pessoa que

mais acompanha os alunos eacute o mais citado pelas matildees e pelo aluno como oferecedor de

suporte tanto psicossocial como de carreira Pode ser considerado o mentor principal do

projeto

77

A relaccedilatildeo tem iniciativa da organizaccedilatildeo ao se manter aberta a novos entrantes e a

relaccedilatildeo eacute estruturada Alguns encontros como a aula de reforccedilo satildeo preacute-estabelecidos No

entanto os encontros natildeo se limitam agrave aula de reforccedilo Eles podem ser esporaacutedicos partindo

da necessidade O relacionamento natildeo tem uma delimitaccedilatildeo de seis meses ou um ano O

mesmo pode se estender por longos periacuteodos de tempo Walter aluno entrevistado por

exemplo estaacute no projeto haacute sete anos Haacute alunos que foram alfabetizados pelo projeto e

receberam acompanhamento ateacute terminar o ensino meacutedio caracterizando assim um

relacionamento de no miacutenimo 11 anos

Dentre os tipos de mentoria propostos por Kram (1985) a mentoria realizada no

projeto parece estar na interface da mentoria formal e informal Alguns fatores levam a

consideraacute-la formal como por exemplo a estruturaccedilatildeo da relaccedilatildeo e os encontros preacute-

estabelecidos Por outro lado vecirc-se tambeacutem caracteriacutesticas da mentoria informal Ou seja o

mentorado toma a iniciativa em fazer parte ou natildeo da relaccedilatildeo nem todos os encontros satildeo preacute-

estabelecidos e o tempo de duraccedilatildeo da relaccedilatildeo ultrapassa em muito os dois anos ldquolimiterdquo da

mentoria formal

Outra caracteriacutestica especiacutefica do projeto eacute o fato de haver dois tipos de

relacionamento de mentoria entre os mentores e seus mentorados Os alunos bolsistas

parecem gozar de maior assistecircncia visto que para o projeto o ldquoinvestimentordquo eacute maior nestes

alunos Este diferencial foi percebido quando no periacuteodo de transiccedilatildeo alguns bolsistas foram

colocados em regime de semi-internato enquanto os natildeo-bolsistas natildeo tiveram o mesmo

tratamento Deve-se considerar a quantidade restrita de vagas e nesta situaccedilatildeo a preferecircncia

eacute dos alunos bolsistas

Percebeu-se pelos discursos que quando haacute algum passeio com o nuacutemero limitado de

participantes a preferecircncia eacute dos alunos mais comportados e que apresentam melhores notas

normalmente os bolsistas A matildee de Faacutebio (que tem um filho bolsista e outro considerado de

78

natildeo-ecircxito) diz que o coordenador tem seus ldquoescolhidosrdquo (entrevista out05) Ela enfatiza estar

ciente que um de seus filhos eacute ldquoescolhidordquo e o outro natildeo

Este tipo de relacionamento eacute explicado na teoria LMX (Leader-Member Exchange)

teoria da troca entre liacuteder e liderado que afirma que os liacutederes estabelecem um

relacionamento especial com um grupo restrito de liderados (grupo interno) distinto do

relacionamento com os demais liderados que fazem o grupo externo (ROBBINS 2002)

Tal fato pode levar aos seguintes questionamentos

- Os alunos mentorados que se saem melhor em termos de notas e

comportamentos passam a ter uma assistecircncia diferenciada

- Ter uma assistecircncia ldquomais proacuteximardquo leva os alunos a demonstrar melhores

comportamentos e apresentar melhores notas

Abordadas estas caracteriacutesticas da relaccedilatildeo de mentoria do projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

seguem-se as funccedilotildees de mentoria observadas no projeto

422 Funccedilotildees de mentoria encontradas no projeto Educaccedilatildeo eacute

Vida

Nesta seccedilatildeo seratildeo apresentados e discutidos os dados que revelam a existecircncia das

funccedilotildees de mentoria Inicialmente seratildeo abordadas as funccedilotildees de suporte de carreira e

posteriormente as de suporte psicossocial

4221 Suporte de carreira

Nesta seccedilatildeo seratildeo apresentadas as funccedilotildees do suporte de carreira encontradas no projeto

de reforccedilo Satildeo funccedilotildees que o mentor desempenha no sentido de auxiliar o mentorado em seu

desenvolvimento profissional Para cada funccedilatildeo abordada seratildeo apresentados alguns exemplos

encontrados

79

bull Tarefas desafiadoras

Um aluno bolsista de inglecircs diz que seu mentor sempre lhe lembra que aluno bolsista eacute

aluno modelo ldquoA gente tem que mostrar porque tinha direito agravequela bolsa () Se vocecirc

recebe uma ajuda e vocecirc natildeo se esforccedila para passar os obstaacuteculos natildeo adianta nada () eu

tenho me esforccediladordquo (WALTER entrevista out05)

Jairo em cuja casa soacute haacute analfabetos (absoluto e funcional) eacute um dos alunos do projeto

tido como exemplar Tem bolsa em uma escola particular e cursou a 4a e a 5a seacuteries no

mesmo ano A matildee de Nestor diz acerca do filho ldquoEle (Nestor) diz que quer estudar natildeo quer

ser como o pai dele que natildeo estudou Depois que ele conheceu o seu Moab aiacute eacute que ele pegou

o incentivo mesmo para estudarrdquo (MAE DE NESTOR entrevista out05)

ldquoSe vocecirc eacute bolsista natildeo eacute porque vocecirc eacute pobre natildeo eacute porque vocecirc eacute preto natildeo eacute

porque vocecirc eacute favelado Vocecirc estaacute laacute por capacidade () vou buscar bolsa porque ele eacute capaz

e estaacute faltando uma oportunidaderdquo (COORDENADOR entrevista set05)

O programa de reforccedilo ao dar aos alunos a oportunidade de acompanhamento nos

estudos impotildee-lhes uma tarefa extremamente desafiadora a de conseguir superar uma

realidade de exclusatildeo social A crianccedila demanda esforccedilo para adentrar uma escola particular e

para se manter apta a permanecer nessa escola Mesmo no caso de alunos natildeo bolsistas existe

o desafio de manter-se com bom rendimento na escola puacuteblica Este desafio eacute igualmente

vaacutelido para o curso de inglecircs

O desafio parece ser maior do que se apresenta pois subjacente agrave continuidade dos

estudos na vida da crianccedilaadolescente estaacute o status quo da famiacutelia O estudo do filho rompe

uma situaccedilatildeo de analfabetismo familiar Leva a crianccedila a superar sua expectativa negativa de

futuro uma vez que a educaccedilatildeo da matildee (das matildees entrevistadas 78 satildeo analfabetas) eacute

determinante do desempenho do filho (BARROS et al 1994)

80

Walter parece ter ciecircncia do desafio individual que tem que enfrentar mas talvez natildeo

perceba a dimensatildeo do desafio social que isto representa ou seja conhecer e dominar a liacutengua

inglesa estando inserido em uma comunidade que natildeo domina seu proacuteprio idioma Falar de

futuro para uma comunidade de favela jaacute eacute por si soacute um desafio Qual o futuro para quem

natildeo sabe se vai comer ou ter a oportunidade de continuar vivo no dia presente Que futuro

esperar quando se vecirc o pai becircbado jogado na rua catando lixo ou ao perceber a matildee se

prostituindo Que futuro espera quem vive nas condiccedilotildees caracterizadas pelo representante da

ONU como sendo as piores do mundo Talvez esta seja uma das mais belas funccedilotildees do

mentor de crianccedilas e adolescentes carentes abrir-lhes os olhos para novas e promissoras

experiecircncias e viabilizar o alcance destas Ofertar mais tarefas desafiadoras quando estas

crianccedilas e adolescentes jaacute possuem tantas pode parecer cruel No entanto elas parecem estar

recebendo suporte suficiente para superar tais desafios indo aleacutem do que se espera

bull Exposiccedilatildeo e visibilidade positiva

Na introduccedilatildeo da pesquisadora ao programa pocircde-se assistir agrave apresentaccedilatildeo de alunos-

talentos do projeto onde foram citados o rendimento escolar e as habilidades dos mesmos

Os colaboradores e alguns alunos apresentam-se em busca de patrociacutenio Nestas ocasiotildees os

melhores alunos satildeo destacados

Walter aluno de inglecircs foi observado em seu desempenho por seu mentor e por sua

professora da escola de inglecircs Ele foi indicado para fazer intercacircmbio cultural nos EUA

As alunas do projeto que tinham aula de danccedila apresentavam-se quando havia oportunidade

mesmo que se tratasse de uma missa

81

Figura 6 (4) - Apresentaccedilatildeo de coreografia das meninas do projeto em uma missa de Natal realizada pela Igreja Catoacutelica de Casa Forte na Vila do Vinteacutem II

Fonte Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

Pocircde-se perceber que o projeto expotildee positivamente seus mentorados conforme o

proposto por Kram (1985) Oferecer visibilidade positiva a crianccedilas marginalizadas pela

sociedade mostrando os talentos que estas possuem contribui para resgatar a auto-estima

das crianccedilas e das famiacutelias Crianccedilas e adolescentes de favela satildeo estigmatizados e

relacionados agrave delinquumlecircncia Esta visibilidade positiva eacute interessante para a sociedade

havendo a possibilidade de reduccedilatildeo do preconceito para com estes que estatildeo agrave margem Para

os mentorados a visibilidade positiva pode ajudaacute-los a resgatar aleacutem da auto-estima a

dignidade ao reconhecerem capacidade e potencial em si mesmos

bull Coaching

O reforccedilo era oferecido diariamente para as crianccedilas durante 1hora e meia fossem as

crianccedilas bolsistas ou natildeo ldquoEu eacute que ensinava a ela (Silvia) mas natildeo tenho jeito Depois do

82

projeto ela melhorou a letra aprendeu a ler mais raacutepido aprendeu a escreverrdquo (MAE

DE SILVIA entrevista out 05) ldquoQuando a professora natildeo ia ele (Moab) botava a filha dele

praacute ensinar () Ele eacute professor a esposa o filho e a filha Assim eacute bom neacute Quando um natildeo

tava o outro tava (sic)rdquo (MAE DE AFRAtildeNIO entrevista out05)

Uma das atividades mais presentes observadas no projeto eacute o coaching devido agrave

frequumlecircncia com a qual ocorre As tarefas o estudo o ensino enfim o reforccedilo diaacuterio reflete a

preocupaccedilatildeo com a tarefa e a transmissatildeo das informaccedilotildees necessaacuterias para a sua execuccedilatildeo

tal qual o proposto por Kram (1985)

bull Patrociacutenio

O projeto viabilizou o estudo de 24 crianccedilas adolescentes em escolas particulares

sendo 13 no Ensino Fundamental e Meacutedio e 11 no curso de Inglecircs O projeto provecirc as

condiccedilotildees necessaacuterias para que o aluno possa assumir satisfatoriamente a vaga na escola

particular Houve relato de provisatildeo de assistecircncia meacutedica e odontoloacutegica material e

fardamento escolar e ateacute corte de cabelo Algumas matildees entrevistadas disseram receber

ajuda em termos de alimentaccedilatildeo medicamento e doaccedilotildees de roupas

Ao analisar o patrociacutenio oferecido pelo projeto pode-se estabelecer um diferencial em

relaccedilatildeo agrave teoria proposta por Kram (1985) O patrociacutenio mencionado em pesquisas anteriores

reflete uma preocupaccedilatildeo bem especiacutefica do mentor em termos de patrocinar a carreira do

mentorado No projeto Educaccedilatildeo eacute Vida o patrociacutenio eacute bem mais abrangente Estaacute

relacionado agraves necessidades baacutesicas do mentorado e de sua famiacutelia sem as quais ele natildeo teria

condiccedilotildees sequer de estudar Entenda-se como patrociacutenio neste contexto a oferta de

alimentaccedilatildeo medicamento e sauacutede natildeo excluindo aquele ou seja o material o fardamento a

bolsa de estudos e os cursos

83

Estas foram as atividades de suporte de carreira encontradas no projeto de reforccedilo

Atividades que auxiliam o mentorado em sua carreira profissional conforme proposto por

Kram (1985) Em se tratando de crianccedilas e adolescentes falar de carreira profissional pode

parecer precoce No entanto considerou-se o necessaacuterio para que o mentorado venha a ter

condiccedilotildees de futuramente ter uma carreira Eacute desta forma que atividades como patrociacutenio

coaching tarefas desafiadoras e exposiccedilatildeo positiva devem ser encaradas

Segue na proacutexima seccedilatildeo os resultados e discussotildees dos dados obtidos com relaccedilatildeo agraves

atividades de suporte psicossocial encontradas no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

4222 Suporte psicossocial

Seratildeo considerados os dados que refletem o suporte psicoloacutegico e social oferecido pelo

mentor ao mentorado As funccedilotildees encontradas foram amizade aceitaccedilatildeo e confirmaccedilatildeo e

aconselhamento que seratildeo expostas a seguir

bull Amizade

A professora entrevistada disse buscar construir um viacutenculo de afetividade com os

alunos algo que ultrapassasse o relacionamento distanciado entre professor e aluno ldquoquando

a gente daacute atenccedilatildeo afeto eles aprendem tambeacutem a parte cognitivardquo (PROFESSORA

entrevista out05) A matildee de Helena diz ldquoEle (Moab) daacute atenccedilatildeo ela gosta dele porque ele

sabe conversar daacute carinhordquo (entrevista out05) Walter declara ldquoEacute como se ele (Moab) fosse

um pai praacute mim me estende a matildeordquo (entrevista out05) O projeto busca acompanhar a

famiacutelia atraveacutes do coordenador e da psicoacuteloga que se propotildee a realizar um acompanhamento

terapecircutico se necessaacuterio

Pocircde-se observar claramente que a amizade estaacute presente na relaccedilatildeo de mentoria

Atraveacutes dos discursos acima percebe-se um viacutenculo entre mentor e mentorado no qual o

mentorado mostra-se compreendido tal qual o proposto por Kram (1985)

84

bull Aceitaccedilatildeo e confirmaccedilatildeo

Pode-se observar atraveacutes dos discursos e mais evidentemente em uma das entrevistas

ldquoAfracircnio eacute muito bom em histoacuteria e ciecircncias ele soacute tira 10 Seu Moab sempre ficava

elogiando ele que ele era bom e acho que isso foi incentivando elerdquo (MAE DE

AFRAcircNIO entrevista out05)

Conforme o proposto por Kram (1985) a aceitaccedilatildeo faz com que o mentorado se sinta

seguro ateacute mesmo para enfrentar os desafios que conforme exposto satildeo muitos O

coordenador relata que entre os alunos do projeto haacute casos em que a crianccedila eacute

frequumlentemente desprezada pela matildee Neste caso o valor da aceitaccedilatildeo oferecida pelo mentor

torna-se imensuraacutevel

bull Aconselhamento

Dar conselhos apareceu frequumlentemente nos discursos da professora e do coordenador

O que pocircde ser confirmado atraveacutes da fala das matildees e do aluno entrevistado Os conselhos satildeo

dados visando o progresso dos alunos nos estudos por evitar que fiquem na rua e na tentativa

de convencecirc-los de que o seu futuro pode ser melhor do que o presente

O seu Moab soacute apoacuteia Agora eacute de falar o pesado tambeacutem Ele daacute apoio tudinho mas tambeacutem quando vecirc que taacute errado ele vem chega e conversa () ele tira o tempo dele praacute vir dar conselhos ele diz praacute Jairo que quer que ele estude que se forme e seja algueacutem na vidardquo (MAE DE JAIRO entrevista out05)

Outra matildee diz que quando o filho tem duacutevida sobre algo que aparece procura seu

Moab Diz que ele eacute rigoroso mas o filho atende ldquoA professora dizia para Faacutebio que ele soacute

seria algueacutem na vida se estudasse seu Moab tambeacutem dava o exemplo dos filhos delerdquo (MAE

DE FAacuteBIO entrevista out05) e a matildee de Helena diz ldquoEu sempre pedia a ele (Moab) para

dar conselho a Helena sobre estudo quando eu falo com ela entra por um ouvido e sai pelo

outro ela ouve elerdquo (entrevista out05)

85

O aconselhamento eacute mais uma das funccedilotildees relevantes em um projeto de mentoria

voltado para crianccedilas e adolescentes de risco uma vez que as crianccedilas nem sempre dispotildeem

de pessoas para aconselhaacute-las Segundo Harris et al (2002) a disponibilidade de adultos para

aconselhar as crianccedilas eacute escassa fazendo com que passem mais tempo com seus pares que

neste caso podem ter pouco a oferecer em termos de aconselhamento e de orientaccedilatildeo para um

futuro mais promissor do que o vivenciado na comunidade

bull Modelagem de papeacuteis

Acerca do suporte psicossocial oferecido pelo projeto a funccedilatildeo modelagem de papeacuteis

foi encontrada de duas formas uma atraveacutes da pessoa do mentor e outra atraveacutes do mentor

elegendo seus filhos como modelo Em termos educacionais o coordenador parece constituir

seus filhos como exemplos a serem seguidos um cursando o doutorado e a outra com dois

cursos superiores O que traz sentido agrave fala de uma das matildees ao dizer que ele cita os filhos

como exemplos Por outro lado a modelagem de papeacuteis natildeo consiste apenas em o mentor se

um modelo educacional para o mentorado A modelagem eacute mais ampla uma vez que o

mentorado tem nos comportamentos valores e atitudes de seu mentor um modelo positivo O

coordenador leva ao conhecimento de seus mentorados o sacrifiacutecio que fez para educar seus

filhos ainda que abrindo matildeo de sua proacutepria formaccedilatildeo Rhodes et al (2002) dizem que o fato

de ser um modelo faz com que o mentor seja visto pelo mentorado como ideal Neste sentido

o coordenador parece ser visto pelos mentorados como exemplo de um vencedor A fala de

Walter ao colocaacute-lo como pai transmite esta ideacuteia de referencial Walter diz ter a seguinte fala

de seu mentor em sua cabeccedila e colada em seu caderno ldquoo fracasso jamais me surpreenderaacute se

a minha decisatildeo de vencer for suficientemente forterdquo (WALTER entrevista out 2005) Esta

fala parece ser o lema do proacuteprio coordenador Vale salientar que assim como o lema Walter

deseja tambeacutem ldquoimitarrdquo o mentor quanto ao ser professor

86

Parece haver a necessidade de mostrar agrave crianccedila ou adolescente que haacute uma

possibilidade diferente da que ela estaacute habituada a ver Que haacute outros referenciais e que ela

tem possibilidade de escolha mesmo que esta implique em desafios Pode-se retomar o

discurso do coordenador quando diz que seu filho para ir agrave Universidade muitas vezes pegou

carona no caminhatildeo do lixo Ao citar isto o mentor pode estar criando uma identidade entre

as crianccedilas e seu filho ao demonstrar que mesmo com a difiacutecil realidade o esforccedilo e a

vontade de sobressair o fizeram ldquovencedorrdquo Assim como ele conseguiu elas tambeacutem podem

conseguir Vecirc-se claramente isto no discurso de uma das crianccedilas quando diz que natildeo quer ser

como o pai sem estudos O que revela que em relaccedilatildeo aos estudos e carreira ele tem outro

referencial Pocircde-se neste relato observar um olhar mais reflexivo da crianccedila ao sair de seu

proacuteprio contexto e desejar escapar do ldquodeterminismordquo a que estaacute sujeita

Estas foram as especificidades das funccedilotildees da mentoria desenvolvida no projeto em

relaccedilatildeo agraves propostas pela literatura Observou-se a existecircncia de suporte de carreira e

psicossocial Foram portanto encontradas no projeto as duas funccedilotildees de mentoria propostas

por Kram (1985) Neste caso a mentoria desenvolvida no projeto pode ser considerada

intensa A autora salienta que a funccedilatildeo psicossocial estaacute relacionada agrave confianccedila existente na

relaccedilatildeo Pocircde-se observar que o coordenador do projeto goza da confianccedila da comunidade

tanto pela abertura que as famiacutelias lhe demonstram como por entregar seus filhos aos seus

cuidados Tal confianccedila foi observada em todas as entrevistas Este fato permite que sejam

desempenhadas as funccedilotildees de suporte psicossocial

Seguem na proacutexima seccedilatildeo as fases da mentoria no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

87

423 Fases da relaccedilatildeo de mentoria apresentadas no projeto de

reforccedilo

Com relaccedilatildeo aos alunos pesquisados todos estavam na fase de cultivo da relaccedilatildeo seja

com apenas dois anos de projeto seja com oito No entanto pocircde-se observar que em alguns

casos de egressos a mentoria estaacute na fase de redefiniccedilatildeo uma vez que os mentorados estatildeo

seguindo seus proacuteprios rumos jaacute natildeo com um acompanhamento ldquotatildeo de pertordquo Eacute o caso de

uma ex-aluna do projeto que ganhou um apartamento no Conjunto Habitacional Casaratildeo do

Cordeiro intermediado pelo coordenador junto agrave Prefeitura

Pode-se perceber que os relacionamentos de mentoria encontram-se

predominantemente na fase de cultivo Eacute nesta fase que o mentor provecirc as funccedilotildees de

carreira e psicossociais Tal achado culmina com os encontrados anteriormente facilitando o

desenvolvimento das funccedilotildees de mentoria tatildeo evidentes neste projeto

Segue na proacutexima seccedilatildeo os fatores relacionados ao ecircxito de um programa de mentoria

formal que foram encontrados no projeto

424 Fatores encontrados no projeto que de acordo com a

literatura estatildeo relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria

A literatura aponta fatores que estatildeo relacionados ao ecircxito de um programa de

mentoria Estes foram encontrados no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida Os fatores satildeo seleccedilatildeo de

mentores e mentorados acompanhamento da relaccedilatildeo de mentoria frequumlecircncia dos encontros e

duraccedilatildeo da relaccedilatildeo Seguem-se os dados e sua discussatildeo acerca de cada fator de ecircxito

88

bull Seleccedilatildeo de mentor e mentorado

O uacutenico criteacuterio para ser mentorado era o fato de residir na Vila do Vinteacutem As

crianccedilas e adolescentes que tivessem interesse em levar suas tarefas ao reforccedilo poderiam fazecirc-

lo Laacute recebiam acompanhamento de um professor desde que com o aval dos pais

Para se fazer parte do projeto enquanto mentor era necessaacuterio o compartilhamento da

visatildeo de que eacute possiacutevel acreditar na mudanccedila de vida das crianccedilas e adolescentes atraveacutes da

educaccedilatildeo de qualidade e que as crianccedilas tecircm potencial mas lhes falta oportunidade Os

professores satildeo selecionados pelo coordenador do projeto mediante anaacutelise do curriacuteculo e da

experiecircncia A professora entrevistada jaacute conhecia os alunos do projeto pois eacute uma das

professoras que leciona em uma das escolas que fornece bolsa para a comunidade o que fez

com que o coordenador conhecesse parcialmente seu trabalho Ao falar de sua admissatildeo ao

projeto ela diz ldquoeu gosto desta clientela (crianccedilas carentes) e ele (Moab) me deu esta

oportunidaderdquo (entrevista out05) A dentista aderiu ao projeto a partir de uma das

apresentaccedilotildees do grupo em busca de patrociacutenio e apoio Diante da necessidade de pessoas

qualificadas para prestar serviccedilo voluntaacuterio ela que diz ter interesse e identidade com a aacuterea

social prontificou-se e estaacute no projeto haacute um ano

A psicoacuteloga demonstra o mesmo interesse ldquoEu sempre fui muito voltada para o social

sempre gostei muito de ajudarrdquo Ela parece estar muito inserida com a comunidade atraveacutes

do projeto pois frequumlentemente em seu discurso ela afirma ldquoquando vocecirc estaacute laacute dentro com

elesrdquo (entrevista out05) A psicoacuteloga trabalha em outro centro de atendimento a pessoas

carentes Estaacute no projeto haacute cinco anos

Pode-se observar que os colaboradores tecircm identidade com o projeto a ponto de

realizarem o trabalho como voluntaacuterios A uacutenica exceccedilatildeo eacute a professora mas mesmo ela em

seu discurso considera que fazer parte do projeto eacute uma oportunidade Eacute marcante a fala da

89

psicoacuteloga em sua entrevista ao inserir-se realmente na comunidade Esta dedicaccedilatildeo e

identidade podem ser fatores que contribuem para que o projeto tenha maior ecircxito

bull Acompanhamento da relaccedilatildeo de mentoria

O coordenador do projeto estaacute frequumlentemente avaliando se os resultados obtidos satildeo

os desejados

Eu optei pela Vila Vinteacutem porque o nosso acompanhamento eacute a liberdade vigiada () noacutes fazemos as coisas para eles mas tambeacutem queremos acompanhar de perto o que estaacute acontecendo entatildeo natildeo adianta eu pegar um menino da comunidade onde eu natildeo possa visitaacute-lo ele natildeo possa vir ao projeto Eu natildeo vejo o resultado do investimento feito enquanto eles aqui eu vejo passo-a-passo () eacute um acompanhamento bem de perto mesmo (COORDENADOR out05)

Haacute reuniotildees com os pais responsaacuteveis esclarecendo a importacircncia do projeto e

solicitando sua interaccedilatildeo no programa

Eles passavam fita de viacutedeo para os pais sobre educaccedilatildeo e pediam para os pais falar com os filhos () ele sempre queria o bem das crianccedilas agora dependia das crianccedilas e dos pais () seu Moab dizia que a gente tinha que ajudar ele com o Faacutebio (crianccedila tida pelo coordenador como de natildeo-ecircxito) botar ele praacute estudar (MAE DE FAacuteBIO E DE DIEGO entrevista out05)

Com relaccedilatildeo ao mentorado pode ocorrer o desligamento do aluno da bolsa de estudos

na escola particular caso ele natildeo atinja um desempenho satisfatoacuterio ldquoQuando uma crianccedila

natildeo valoriza isso que a gente oferece a gente tambeacutem natildeo aceita repetente natildeo aceita falta

vocecirc tem que estar de acordo dentro do projeto em disciplina bem comportado e com boas

notasrdquo (COORDENADOR entrevista out 05) Mesmo desligado da escola particular o

aluno pode continuar fazendo parte do reforccedilo

Pocircde-se confirmar atraveacutes destes discursos o relatado por Frecknall e Luks (1992) A

participaccedilatildeo dos pais apoiando o programa tem uma relaccedilatildeo positiva com o sucesso e sem este

apoio o ecircxito do programa pode ficar comprometido Em uma comunidade onde a grande

maioria dos moradores eacute analfabeta o acompanhamento deve ser intenso visando incutir na

famiacutelia a necessidade de compreensatildeo do valor da educaccedilatildeo Grossman e Tierney (1998)

90

tambeacutem salientam a importacircncia de se verificar o grau de envolvimento da famiacutelia no

programa pois conforme exposto este eacute um fator de ecircxito para a relaccedilatildeo

bull Frequumlecircncia dos encontros

A frequumlecircncia dos encontros entre os mentores e mentorados varia A psicoacuteloga ia agrave

comunidade uma tarde por semana na qual prestava os atendimentos agendados e caso

houvesse mais pessoas a serem atendidas fazia outros atendimentos Em caso de necessidade

ela ia agrave comunidade num outro dia A dentista atendia em seu consultoacuterio Havendo

necessidade o coordenador ligava e agendava o atendimento Jaacute as aulas eram ministradas

diariamente para os alunos que estudavam agrave tarde o reforccedilo era pela manhatilde e para os que

estudavam pela manhatilde o reforccedilo era agrave tarde O acompanhamento era feito durante uma hora e

meia para cada turma As turmas eram assim divididas alfabetizaccedilatildeo e 1a seacuterie 2a e 3a

seacuteries e 4a e 5a seacuteries

Figura 7 (4) - Professora e alunos durante a aula de reforccedilo na sede do projeto03

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

91

Apoacutes o reforccedilo os alunos tinham outras atividades como aula de muacutesica (teoria e

praacutetica) danccedila pintura ou inglecircs O projeto dispunha de quadra alugada onde as crianccedilas

podiam jogar futebol Em quase todas as atividades o coordenador diz estar presente

No ano de 2005 como as atividades foram parcialmente suspensas natildeo houve mais

frequumlecircncia no relacionamento Algumas das crianccedilas com bolsa de estudos em escola

particular foram colocadas num semi-internato conseguido pelo projeto Esta interrupccedilatildeo teve

reflexo na vida dos alunos como se pocircde observar no discurso abaixo

Em casa ela natildeo eacute comportada sempre ela foi danada mas ela melhorou no projeto Agora que ta sem o projeto ela jaacute ta voltando ao que era eu tocirc recebendo reclamaccedilatildeo do coleacutegio que natildeo quer estudar soacute quer ta brincando ta voltando a dar problema ta voltando a ser o que era () no semi-internato tem muita atividade satildeo muitas crianccedilas e eles arengam e no projeto eu nunca tive esse problema de ela ta arengando (sic) (MAE DE HELENA entrevista out05)

O fato de as entrevistas terem sido realizadas neste periacuteodo de transiccedilatildeo no qual as

crianccedilas natildeo estatildeo sendo assistidas faz com que a importacircncia da frequumlecircncia dos encontros

fique evidenciada Confirma-se assim que esta eacute um relevante fator de ecircxito para a relaccedilatildeo de

mentoria conforme observado na teoria (KEATING et al 2002) No entanto pode-se dizer

que o projeto de reforccedilo apresentava uma frequumlecircncia maior do que nos programas

similares apresentados pela teoria Tal frequumlecircncia garante um acompanhamento mais

proacuteximo visto que todos os dias por no miacutenimo uma hora e meia os alunos estavam no

projeto em contato com seus mentores Estudos feitos por Keating et al (2002) revelam que a

frequumlecircncia dos encontros tem relaccedilatildeo com o ecircxito do relacionamento principalmente em se

tratando de adolescentes com risco para delinquumlecircncia Neste sentido o projeto apresentava

maior probabilidade de ecircxito uma vez que a frequumlecircncia dos encontros era alta

d) Duraccedilatildeo da relaccedilatildeo de mentoria

Os alunos pesquisados estatildeo inseridos nesta relaccedilatildeo de mentoria por no miacutenimo dois

anos Segundo Grossmam e Rhodes (2002) a maioria dos benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria

92

como melhores resultados educacionais psicossocias e comportamentais apresentam-se em

relaccedilotildees que perduram por um ano ou mais Frecnall e Luks (1992) consideram que a duraccedilatildeo

eacute um fator determinante do ecircxito

O projeto mostra-se rigoroso com os fatores que impedem o ecircxito dos alunos desde

que sob sua responsabilidade Os fatores acima tecircm sido observados uma vez que a

negligecircncia em referecircncia a qualquer destes fatores pode levar a uma relaccedilatildeo ineficiente ou

ateacute mesmo negativa trazendo efeitos nocivos agrave vida da famiacutelia do mentorado e tambeacutem do

mentor

Natildeo se pode ignorar que na medida em que se vai estruturando uma relaccedilatildeo de

mentoria a mesma vai sofrendo ajustes visando tornaacute-la mais produtiva mais ldquopoderosardquo

Existem fatores que podem e devem ser estruturados previamente tais como a duraccedilatildeo e a

frequumlecircncia dos encontros e o objetivo da relaccedilatildeo No entanto haacute outros fatores que nem

sempre se consegue estruturar Um exemplo eacute a confianccedila necessaacuteria para que a relaccedilatildeo

realmente aconteccedila Em outras palavras observando-se os fatores relacionados ao ecircxito seratildeo

minimizadas as possibilidades de insucesso mas elas natildeo deixaratildeo de existir pois a mentoria

mesmo com seus inuacutemeros benefiacutecios natildeo eacute uma soluccedilatildeo maacutegica Trata-se de uma relaccedilatildeo e

portanto dependente do encontro de pessoas e de viacutenculos emocionais entre elas Este aspecto

eacute de difiacutecil controle havendo sempre um espaccedilo para a imprevisibilidade do ser humano

Se os fatores que levam ao ecircxito da relaccedilatildeo foram observados pelo projeto resta o

questionamento de o por quecirc de alguns casos serem considerados pelo projeto como de natildeo-

ecircxito Este aspecto eacute abordado na seccedilatildeo seguinte

93

425 Fatores responsaacuteveis pelo ecircxito e natildeo-ecircxito nos estudos na

percepccedilatildeo do mentor e da famiacutelia do mentorado

Na percepccedilatildeo do coordenador o ecircxito eacute obtido quando a cada ano a crianccedila vai sendo

aprovada e ascendendo e apresentando um bom comportamento ldquoQuando uma instituiccedilatildeo se

abre e nos convida a oferecer mais bolsas eacute porque nossos alunos estatildeo correspondendo tanto

em disciplina quanto no aprendizadordquo (COORDENADOR entrevista set05) Um exemplo

de ecircxito citado pelo coordenador eacute o caso de uma moccedila que foi acompanhada pelo projeto

desde a 6a seacuterie ateacute o 3ordm ano do ensino Meacutedio Ela fez um curso de informaacutetica depois fez um

estaacutegio junto agrave Prefeitura e hoje aos 20 anos trabalha no setor burocraacutetico de um hospital

O coordenador considera um caso de natildeo-ecircxito o caso da crianccedila ou adolescente que

natildeo rende o esperado em termos de desempenho escolar e de comportamento

Vale salientar que em quase sua totalidade os casos de natildeo-ecircxito indicados para

pesquisa foram avaliados pelas famiacutelias como de ecircxito A uacutenica exceccedilatildeo eacute a matildee de Faacutebio

que acredita que seu filho realmente natildeo tem tido sucesso nos estudos Segundo o

coordenador a diferenccedila estaacute na expectativa Para os pais o fato de o aluno estar na escola e

apresentar melhor comportamento jaacute eacute ecircxito enquanto que para o projeto isto natildeo eacute o

suficiente Na opiniatildeo dele a falta de sucesso deve-se a trecircs fatores

a) Estrutura familiar ndash muitas vezes a famiacutelia natildeo daacute o suporte que a crianccedila necessita

Para o coordenador a escola natildeo eacute valorizada por esses pais ldquoEles natildeo tecircm a escola como um

centro de promoccedilatildeo social como mobilidade social Eles natildeo descobriram isso As famiacutelias

natildeo as crianccedilasrdquo (COORDENADOR entrevista set05)

A professora chamava conversava com os alunos com a matildee em particular Ela queria ajudar ele mas ele natildeo queria ser ajudado Eu sabia que o Faacutebio natildeo ia ter uma oportunidade em uma escola melhor porque ele eacute assim () Eu nunca tava em cima dele para estudar eu natildeo tenho paciecircncia natildeo Se ele responder duas coisas erradas eu jaacute fico brava O pai eacute pior que eu Mal digo a ele que eacute pior do que eu (MAE DE FAacuteBIO entrevista out05)

94

b) Relacionamento negativo entre os pais e os filhos

Outro fator que notamos eacute a falta de amor para com essas crianccedilas que natildeo datildeo tatildeo certo () Os pais tecircm outros objetivos tecircm outras coisas mais importantes do que amar seus filhos () todas as crianccedilas bem comportadas na sala de aula eram bem amadas em casa () Quando isso natildeo ocorre a crianccedila torna-se uma crianccedila problema porque ela leva os haacutebitos e a falta de amor que ela tem em casa praacute escola para onde ela chegar (COORDENADOR entrevista set05)

c) Desinteresse do proacuteprio aluno O projeto contava com quatro alunos que eram

irmatildeos Estes recebiam acompanhamento diaacuterio nas tarefas O coordenador diz que foi agrave

escola deles para saber suas notas Por este motivo eles deixaram de ir ao projeto Nenhum

deles terminou o Ensino Meacutedio e atualmente um eacute zelador o outro eacute jardineiro e dois estatildeo

desempregados

O objetivo do projeto eacute de longo prazo o que dificulta uma anaacutelise dos resultados ou

de egressos para se identificar o ecircxito ou natildeo-ecircxito Mesmo os casos que desde o iniacutecio foram

acompanhados ainda hoje o satildeo Natildeo com a mesma intensidade mas ainda recebem algum

tipo de suporte do projeto Outro fator que dificulta a anaacutelise eacute o fato de que todos os alunos

estatildeo na escola e avanccedilando em seacuteries mesmo porque atualmente a escola natildeo reprova o que

torna difiacutecil saber ateacute que ponto tecircm realmente bom aproveitamento Portanto natildeo se

conseguiu distinguir dentre os casos pesquisados um limite claro entre o ecircxito e o natildeo-ecircxito

contando-se apenas com a percepccedilatildeo dos respondentes (matildees de alunos psicoacuteloga professora

e coordenador)

426 Resposta agrave primeira questatildeo norteadora especificidades da

relaccedilatildeo de mentoria existentes no projeto de reforccedilo escolar

Conforme o objetivo proposto pocircde-se encontrar algumas especificidades na relaccedilatildeo

de mentoria realizada no projeto que diferem um pouco dos achados teoacutericos Satildeo eles

95

a) A mentoria apresenta aspectos de mentoria formal e informal

b) Existem dois tipos de relacionamento entre mentor e mentorado em um o

acompanhamento eacute mais proacuteximo do que no outro

c) A frequumlecircncia dos encontros eacute maior no projeto do que a encontrada na literatura

d) Dentre as funccedilotildees de carreira o patrociacutenio oferecido pelo projeto eacute mais amplo do

que o apresentado pela teoria e

Com base nestes achados eacute possiacutevel concluir que um programa de mentoria para

crianccedilas e adolescentes de uma comunidade carente do Recife tem suas especificidades suas

caracteriacutesticas particulares diferindo de outros programas realizados no contexto de outros

paises Respondida a primeira questatildeo norteadora segue-se a segunda que aborda os

benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentorado

43 Achados referentes agrave segunda questatildeo norteadora

Seguem os achados que buscam responder a seguinte questatildeo em um contexto

brasileiro ateacute que ponto os mentorados carentes estudados tecircm desfrutado dos benefiacutecios da

relaccedilatildeo de mentoria apontados pela literatura

Pocircde-se observar os seguintes benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria na vida dos

mentorados enquanto participantes do programa de reforccedilo

431 Aumento da auto-estima da responsabilidade maior

progresso escolar e perspectiva positiva de futuro

Devido agrave impossibilidade de neste trabalho medir-se a auto-estima dos mentorados o

aumento desta seraacute considerado em relaccedilatildeo ao progresso escolar pois com base no observado

por Harter (1982) o sentir-se competente leva o jovem a obter melhor desempenho Grossman

96

e Tierney (1998) salientam que jovens ao serem acompanhados por um mentor se sentiram

mais confiantes para com suas tarefas escolares Associou-se tambeacutem o progresso escolar com

perspectiva positiva de futuro uma vez que se percebeu que o avanccedilo nos estudos estaacute

relacionado com melhores perspectivas de futuro

O aumento do desempenho escolar eacute visiacutevel nos casos que se seguem

Antes (do projeto) ela era preguiccedilosa soacute queria ficar brincando ela teve muita dificuldade para aprender (na preacute-escola) Estudava mas natildeo aprendia na 1a foi fazer o reforccedilo depois do projeto ela foi se interessando mais pode ser porque natildeo tinha nenhum incentivo neacute () Ela chegava e dizia que era bom quando estudava e tirava nota boa antes (de interromper o projeto) ela natildeo esperava nem chegar em casa vinha aqui (no trabalho) para me mostrar as provas (MAE DE HELENA entrevista out05)

No interior eu fiz matricula dele noacutes trabalhava na roccedila ele natildeo gostava (de estudar) natildeo se dedicava ia caccedilar passarinho mas quando chegou aqui seu Moab quis acordar ele pra vida Ele vendo os meninos tudo com a idade dele (9 anos na eacutepoca) sabendo ler e escrever dentro de seis meses o menino desenrolou para aprender mesmo (sic) (MAE DE JAIRO entrevista out05)

Jairo cursou a 4a e a 5a seacuteries no mesmo ano Faz tambeacutem curso de inglecircs O

coordenador ouviu da professora deste curso que o aluno tem dom para idiomas natildeo soacute

inglecircs mas espanhol e francecircs

A possibilidade do intercacircmbio foi boa para eu ter uma certa ideacuteia do que pode acontecer comigo do que pode acontecer () Ele (Moab) dizia que para analfabeto a caneta e o papel eacute o chatildeo e a vassoura Que eu estudasse porque a miseacuteria hoje em dia -saiu na revista- jaacute tinha endereccedilo que era praacute pobre negro e nordestino e que se a gente natildeo lutasse essa realidade a gente natildeo iria mudar nunca () Eu decidi que quero ser professor de inglecircs (WALTER entrevista out05)

Ele diz que quer fazer faculdade ele ficou com mais esperanccedila de conseguir uma coisa melhor ele diz que eu natildeo me preocupe porque daqui a dez anos ele vai ter um emprego bom e vai me ajudar (MAE DE FREDERICO entrevista out05)

Ele quer ir estudar nos Estados Unidos fez vaacuterios cursos inglecircs francecircs espanhol informaacutetica e de entrevista Onde tiver curso ele vai ele quer muito trabalhar ter seu dinheiro fazer sua vida () o negoacutecio dele eacute ta dentro de casa estudando pregado nos livros (MAE DE NESTOR entrevista out05)

97

A professora entrevistada leciona tambeacutem no coleacutegio que oferece bolsa para os alunos

do projeto sendo professora deles em ambos os lugares Ao ser solicitada a comparar o

desempenho dos alunos do projeto com os demais alunos a professora mencionou que dentre

seus trecircs alunos com desempenho excelente dois satildeo do projeto Os demais do projeto estatildeo

na meacutedia

A coordenadora de uma das escolas que fornece bolsa de estudos ao projeto (esta

escola oferece bolsas para dois alunos da sexta seacuterie) ao ser entrevistada disse que o

comportamento dos alunos do projeto eacute bom e o desempenho apresentado por eles eacute maior do

que a meacutedia da turma e da seacuterie como se pode observar nos boletins que se seguem

98

Figura 8 (4) Boletim escolar de Afracircnio - 6a Seacuterie

99

Figura 9(4) Boletim escolar de Jairo ndash 6a Seacuterie

Em ambos os casos as famiacutelias satildeo analfabetas E neste ano os dois alunos estatildeo sem

o reforccedilo motivo pelo qual segundo uma das matildees o desempenho do filho caiu Este mesmo

aluno neste ano natildeo conta com todo o material didaacutetico necessaacuterio Ainda assim estes alunos

estatildeo apresentando um desempenho superior ao de seus colegas

100

Atraveacutes dos discursos das matildees percebeu-se considerarem que o fato de seus filhos

terminarem a primeira fase do ensino fundamental e darem sequumlecircncia a estes estudos jaacute eacute uma

visatildeo positiva de futuro Observou-se isso no discurso da matildee de Afracircnio ldquoquem estuda tem

esperanccedila de um futuro melhorrdquo O caso de Jairo que chegou analfabeto do interior e em seis

meses estava lendo e escrevendo confirma o proposto por Rhodes et al (2002) de que a

presenccedila de um mentor ajuda os adolescentes a superarem momentos de adversidade Neste

caso ele natildeo tem pai e sua matildee considera o mentor como algueacutem da famiacutelia que ajuda a

suprir esta ausecircncia na vida do filho O fato de Walter (que convive com analfabetos) ter

definido sua carreira (professor de inglecircs) demonstra o proposto por Kram (1985) o mentor

ajuda o mentorado na definiccedilatildeo da identidade profissional

Vale destacar a relevacircncia de se promover o aumento da auto-estima decorrente do

desempenho apresentado pelos alunos Pessoas que ainda natildeo tecircm satisfeitas adequadamente

as necessidades fisioloacutegicas (alimentam-se mal natildeo contam com aacutegua encanada nem

sanitaacuterios) e de seguranccedila (moram e vivem permanentemente expostos a riscos) apresentando

necessidade de realizaccedilatildeo Vale ressaltar a teoria da motivaccedilatildeo proposta por Maslow (apud

ROBBINS 2002) que defende que a satisfaccedilatildeo da necessidade de realizaccedilatildeo dependeria da

satisfaccedilatildeo de niacuteveis mais baacutesicos de necessidade como as fisioloacutegicas de seguranccedila e sociais e

de estima Percebeu-se no contexto da pesquisa a possibilidade do caminho inverso Atraveacutes

do aumento da auto-estima e da satisfaccedilatildeo da necessidade de realizaccedilatildeo as crianccedilas e

adolescentes podem vir a ter no futuro condiccedilotildees de satisfazer a contento suas necessidades

fisioloacutegicas e de seguranccedila

101

432 Resposta da segunda questatildeo norteadora benefiacutecios da

mentoria para a crianccedila adolescente do projeto

Foram encontrados os seguintes benefiacutecios para o mentorado participante do projeto

aumento da auto-estima maior progresso escolar e perspectiva positiva de futuro

Em termos de especificidades com relaccedilatildeo ao proposto pela teoria natildeo foram

percebidas diferenccedilas existentes entre os benefiacutecios para o mentorado encontrados em

pesquisas anteriores e os encontrados no projeto de reforccedilo escolar na Vila do Vinteacutem II fato

que responde agrave segunda questatildeo norteadora desta pesquisa

Seguem os achados acerca da terceira questatildeo que versa sobre os benefiacutecios para o

mentor encontrados na mentoria desenvolvida pelo projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

44 Achados referentes agrave terceira questatildeo norteadora

Dentre os benefiacutecios na vida dos mentores que participam do projeto pocircde-se observar

realizaccedilatildeo pessoal motivaccedilatildeo amizade auto-conhecimento e senso de dever cumprido Tais

achados apresentados nas seccedilotildees abaixo buscam responder a seguinte questatildeo ateacute que ponto

um projeto de mentoria voltado para crianccedilas e adolescentes carentes oferece os benefiacutecios

propostos pela teoria para os mentores

441 Realizaccedilatildeo pessoal

Pocircde-se observar que fazer parte do projeto faz com que os mentores se sintam

realizados

Quando a gente eacute uacutetil a outra pessoa a gente se realiza () Eu me realizo assim vendo a alegria dos meninos que realmente estatildeo mudando a cara natildeo soacute da famiacutelia mas tambeacutem da comunidade (COORDENADOR entrevista set05)

102

Eu fico muito bem comigo mesma na realizaccedilatildeo deste trabalho () O que me deixa realizada eacute ver alguns frutos desse trabalho natildeo soacute nas crianccedilas como da proacutepria famiacutelia () em relaccedilatildeo ao futuro agrave auto-estima potencial de cada um que eles natildeo estatildeo sozinhos a gente taacute laacute com eles () e esse pouquinho esse pouco que eu estou fazendo estaacute facilitando a vida melhorando A gente vecirc um salto de qualidade na vida deles (PSICOacuteLOGA entrevista out05)

Ao acompanhar preparar os alunos para os exames de admissatildeo vecirc-los entrar na

escola particular acompanhar o crescimento e desenvolvimento dos mentorados a professora

entrevistada demonstra sentir orgulho do trabalho feito com seus dois melhores alunos

ldquoRealmente valeu a pena investir porque satildeo crianccedilas que apesar de todo o contexto social

que eles vivem eles satildeo responsaacuteveis inteligentiacutessimosrdquo (PROFESSORA entrevista out05)

Ficou evidenciado que o fato de ser um mentor daacute ao indiviacuteduo um senso de

generosidade ao contribuir com as geraccedilotildees futuras (RAGINS 1997) e que ser mentor de

adolescentes delinquumlentes tem sido gratificante na medida em que os mentores tecircm uma

oportunidade de ajudar estas pessoas (JACKSON 2002) Ser mentor do projeto Educaccedilatildeo eacute

Vida provecirc um sentimento de recompensa ao ver as mudanccedilas positivas na vida dos

mentorados conforme o propostos por Shields (2001)

442 Motivaccedilatildeo

A psicoacuteloga diz que a partir de seu envolvimento com o projeto ela fez curso em

Psicopedagogia e especializaccedilatildeo em Psicologia da Famiacutelia

O trabalho com as crianccedilas e as famiacutelias me proporcionou outros aprendizados maiores ateacute do que eu esperava porque a gente aprende muito laacute dentro com eles E assim eu comecei a me especializar a voltar para mim em niacutevel de aprendizado de crescimento tambeacutem profissional () Eacute uma troca muito grande de saber quando a gente taacute laacute dentro com eles a gente tem essa vontade de realmente acertar (PSICOacuteLOGA entrevista out05)

Zey (1998) diz que o mentor pode redirecionar sua energia para a criatividade e accedilatildeo

produtiva A mentoria pode entatildeo significar estiacutemulo e desafio O que pocircde ser observado no

103

discurso acima O desenvolvimento profissional natildeo eacute benefiacutecio apenas para o mentorado

mas para o mentor tambeacutem

443 Ser amado pelo mentorado

Pocircde ser observado que o mentor recebe amizade e carinho de seus mentorados

conforme verificado por Klaw et al (2003) ldquoEle ama o seu Moab ele almoccedila na casa de

Moab segunda e quarta e diz que laacute tudo eacute bomrdquo (MAE DE AFRAcircNIO entrevista out05)

ldquoMeus dois filhos eacute agarrado com seu Moabrdquo (sic) (MAE DE TAcircNIA entrevista set 05)

ldquoMoab foi vendo que eu tava sempre ali no projeto do lado dele e ele do meu lado () o

pessoal me achava careta porque eu sentia alguma coisa pelo projeto eu sempre prestava a

atenccedilatildeo procurava entenderrdquo (WALTER entrevista out05)

444 Autoconhecimento

Percebeu-se que fazer parte do projeto enquanto mentor provecirc um maior

autoconhecimento ou autopercepccedilatildeo

ldquoEacute muito gratificante trabalhar com pessoas carentes comeccedilo a valorizar o que eu

tenho a gente comeccedila a agradecer muito por essa vida boa que a gente tem que eacute muito boa

muito boa mesmordquo (DENTISTA entrevista out05)

A partir desta relaccedilatildeo ela percebe melhor sua situaccedilatildeo fala acerca da sauacutede dos filhos e de ter

uma casa maravilhosa

Neste caso o contato com a realidade da comunidade pode tecirc-la levado a comparar

esta realidade com a sua proacutepria e entatildeo perceber-se abastada

104

445 Senso de dever cumprido

Outro beneficio encontrado diz respeito ao senso de dever cumprido que o fato de ser

mentor propicia

A gente sabe que tem um papel social a desempenhar Natildeo fomos beneficiados pela sociedade com o direito de estudar de fazer um curso superior de ter uma habilitaccedilatildeo () para que isso sirva apenas para o nosso benefiacutecio Essa nossa habilitaccedilatildeo que a sociedade deu a sociedade deu eu estudei em uma Universidade Federal essa habilitaccedilatildeo deve retornar para a sociedade tambeacutem para quem pode pagar e para quem natildeo pode pagar Eacute necessaacuterio que isso volte (DENTISTA entrevista out05)

Este benefiacutecio natildeo foi encontrado na literatura talvez por tratar de um tema ainda

recente o indiviacuteduo ter responsabilidade com a realidade social que o cerca

446 Resposta da terceira questatildeo norteadora benefiacutecios da

mentoria para o mentor

Foram encontrados no projeto educaccedilatildeo eacute Vida os seguintes benefiacutecios para o mentor

a) Realizaccedilatildeo pessoal

b) Motivaccedilatildeo

c) Ser amado pelo mentorado

d) Autoconhecimento e

e) Senso de dever cumprido

Sendo que estes dois uacuteltimos natildeo foram encontrados na teoria mas percebidos na

relaccedilatildeo de mentoria que ocorre no projeto Estes achados podem ser explicados devido ao

contexto no qual a mentoria ocorreu crianccedilas e adolescentes de uma comunidade carente

Contexto que difere da realidade dos mentores e que pode tecirc-los levado a uma reflexatildeo sobre

sua proacutepria condiccedilatildeo de vida e sua responsabilidade com os que natildeo se acham em iguais

condiccedilotildees Tais achados respondem a terceira questatildeo norteadora deste trabalho

105

45 Achados referentes agrave quarta questatildeo norteadora

Puderam ser verificados outros benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas

e adolescentes com risco para delinquumlecircncia aleacutem dos mencionados anteriormente Pois na

medida em que o mentorado se beneficia da relaccedilatildeo sua famiacutelia alcanccedila estes benefiacutecios e a

sociedade tambeacutem acaba sendo beneficiada ainda que indiretamente

Com o intuito de responder a questatildeo quais os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da

relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas e adolescentes carentes em uma comunidade do Recife

seguem os benefiacutecios sociais diretos da mentoria realizada pelo projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

451 Desenvolvimento educacional das crianccedilas e dos adolescentes

Por se tratar de um ambiente carente e de analfabetos a comunidade natildeo tem como

prover o acompanhamento das crianccedilas e adolescentes as famiacutelias natildeo dispotildeem de tempo

eou conhecimento e preparo para prover tal suporte Por exemplo uma matildee analfabeta natildeo

parece ter condiccedilotildees de ajudar o filho nas tarefas escolares

Eu tocirc pensando quando ela fizer a 5a que natildeo tem o reforccedilo nem o semi-internato ela vai fazer a tarefa em casa e se brincar ela sabe mais do que eu (MAE DE SILVIA entrevista out05)

Eu natildeo tenho estudo faccedilo meu nome muito mal Meu marido sabe mas trabalha e de noite jaacute ta cansado () no reforccedilo ele fazia a tarefa todo dia sem reforccedilo e sem uma matildee que sabe ler quem ia ensinar a ele ai ia ficar complicado (MAE DE FREDERICO entrevista out05) Os coleacutegios hoje em dia quer a crianccedila saiba ler quer natildeo saiba o Estado passa natildeo quer saber se a crianccedila ta aprendendo se aprendeu se natildeo aprendeu (MAE DE TITO entrevista out05) A escola (puacuteblica) um dia tem aula outro dia natildeo tem ai ela fica em casa Hoje mesmo ela taacute em casa porque natildeo teve aula (MAE DE TAcircNIA entrevista out05)

106

A professora dele disse que ele natildeo tinha condiccedilotildees de passar mas ela natildeo podia reprovar (MAE DE FAacuteBIO entrevista out05)

Tais depoimentos revelam dois fatores incapacidade da famiacutelia em acompanhar os

estudos do filho e ineficiecircncia do ensino puacuteblico na experiecircncia destas famiacutelias O que leva a

pensar que o futuro educacional destas crianccedilas seria similar ao de suas matildees conforme

Barros et al (1994) que diz que a educaccedilatildeo meacutedia das matildees eacute o principal determinante do

desempenho escolar do filho ou seja haveria maior evasatildeo escolar Neste sentido o projeto

propicia que o aluno vaacute aleacutem da escolaridade da matildee

Vale aqui um questionamento por que o governo investe em bolsa escola e natildeo

acompanha o aluno Simplesmente ter a presenccedila do aluno na escola natildeo eacute garantia de que o

mesmo estaacute aprendendo O fato de que um professor natildeo pode mais reprovar o aluno mesmo

que sem condiccedilotildees de galgar um grau superior pode demonstrar que o interesse das poliacuteticas

puacuteblicas pode estar relacionado a nuacutemeros A taxa de matriacutecula estaacute associada ao aumento do

IDH mas ateacute que ponto isto reflete o real rendimento escolar dos alunos

Neste caso a mentoria vem suprir uma falta natildeo apenas da famiacutelia mas tambeacutem do

Estado e do Municiacutepio uma vez que por si soacute natildeo tecircm tido ecircxito com o aproveitamento e a

manutenccedilatildeo dos alunos na escola

452 Assistencialismo

Foi observado que algumas famiacutelias associam o projeto agrave assistecircncia social ldquoO reforccedilo

faz muita falta () tinha muitas doaccedilotildees roupas cestas baacutesicas no dia das crianccedilas

tinha brinquedos festas doaccedilotildees para as crianccedilasrdquo (MAtildeE DE FAacuteBIO entrevista

set05)

Ainda que esta natildeo seja a proposta do projeto as famiacutelias devido ao patrociacutenio

ofertado ao mentorado e agrave sua famiacutelia percebem o projeto como assistencialista

107

453 Diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia

O projeto demonstra contribuir indiretamente com a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia

As crianccedilas tando no projeto a gente fica despreocupada Quando ela natildeo tava no projeto ficava na rua natildeo queria estudar soacute queria ficar na rua brincando () muitas matildees estatildeo preocupadas em o que fazer com as crianccedilas sem o projeto (MAE DE HELENA entrevista out05) Ele tando laacute no projeto eu saio despreocupada neacute Que ele natildeo ta na rua A vida que a gente vive hoje sai pra trabalhar e sabe que o filho natildeo ta na rua a gente fica despreocupada (MAE DE AFRAcircNIO entrevista out05) Ele gosta eacute de rua de papagaio peatildeo bola () Ele natildeo liga para o caderno livros agora falou em rua eacute com ele () No reforccedilo ele estudava mais um pouco (MAE DE FAacuteBIO entrevista out05) O reforccedilo evita de as crianccedilas ta na rua no sinal pedindo (MAE DE TITO entrevista out05)

Atraveacutes destas declaraccedilotildees pocircde-se observar o referido por Harris et al (2002) que a

entrada das matildees no mercado de trabalho e o aumento das separaccedilotildees conjugais fazem com

que o adolescente passe menos tempo com os pais e passe a maior parte do tempo com seus

pares Conforme observado anteriormente a delinquumlecircncia tem diversas causas Dias (2003)

por exemplo verificou que a maior parte dos jovens delinquumlentes participantes de sua

amostra era de analfabetos funcionais relacionando assim a delinquumlecircncia a poucos anos de

estudos e consequumlentemente agrave evasatildeo escolar Na medida em que a crianccedila se desenvolve

nos estudos haacute uma diminuiccedilatildeo da evasatildeo escolar e consequumlentemente da delinquumlecircncia

Outra forma de o projeto contribuir com a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia refere-se a levar as

crianccedilas a deixarem a rua onde estatildeo expostas a diversos riscos como violecircncia drogas

exploraccedilatildeo sexual e confusotildees situaccedilotildees frequumlentes em um contexto de favela

A relaccedilatildeo de mentoria desenvolvida pelo projeto eacute de longo prazo Portanto por mais

que alguns benefiacutecios se evidenciem estes soacute poderatildeo ser claramente observados ao longo do

108

tempo quando as crianccedilas e adolescentes do projeto forem adultos Pode-se inferir a partir

dos resultados apresentados que ao inveacutes de dependentes de poliacuteticas assistencialistas os

egressos contribuiratildeo com o desenvolvimento de sua cidade Eacute possiacutevel antecipar que uma

grande parcela das pessoas que faziam a favela Vila do Vinteacutem II estaraacute alfabetizada e

ocupando um lugar no mercado de trabalho Aiacute sim ter-se-aacute um aumento real do IDH que de

fato revelaraacute um aumento da qualidade de vida desta populaccedilatildeo do Recife Soacute entatildeo poderatildeo

ser mensurados os benefiacutecios sociais deste projeto

454 Resposta da quarta questatildeo norteadora benefiacutecios sociais

da relaccedilatildeo de mentoria

Pocircde-se observar os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria existente

no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida As especificidades encontradas foram

a) Maior desenvolvimento educacional de crianccedilas e adolescente carentes com risco para

delinquumlecircncia visto tratar-se de um projeto de reforccedilo escolar

b) Assistecircncia social ao prover a satisfaccedilatildeo de algumas das necessidades baacutesicas do

mentorado e de sua famiacutelia

c) Suprimento pela relaccedilatildeo de mentoria de uma falha do sistema educacional do Estado e

do Municiacutepio que gradua o aluno sem que ele tenha condiccedilotildees O projeto tem suprido

esta carecircncia dando condiccedilotildees de o aluno galgar o grau seguinte

Estes foram os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da mentoria realizada no projeto

Educaccedilatildeo eacute Vida o que responde agrave quarta questatildeo norteadora deste trabalho

Seratildeo apresentadas no proacuteximo capiacutetulo as conclusotildees do trabalho bem como as implicaccedilotildees

teoacutericas praacuteticas e sociais e as sugestotildees de pesquisas futuras

109

5 Conclusatildeo

Neste capiacutetulo seratildeo apresentadas as conclusotildees da pesquisa tendo como referencial os

objetivos propostos

Pode-se concluir que a mentoria mostrou assim como no exposto teoricamente

resultados positivos na vida dos mentores mentorados e da comunidade O objetivo da

pesquisa foi atingido uma vez que foi possiacutevel conhecer algumas especificidades da mentoria

no contexto brasileiro e mais especificamente nordestino Ampliou-se tambeacutem o

conhecimento da mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes com risco para delinquumlecircncia

Desta forma a mentoria mostrou-se eficaz no sentido de contribuir para o desenvolvimento

do mentorado de forma que ele permanece na escola e melhora o rendimento escolar

As funccedilotildees de carreira propostas pela literatura foram encontradas e destas vale

destacar a oferta de tarefas desafiadoras O mentor propotildee inuacutemeros e audaciosos desafios

para seus mentorados sem no entanto deixar de prover as condiccedilatildeo de atingi-los e de superar

a realidade de exclusatildeo a que estatildeo sujeitos Outras funccedilotildees desenvolvidas pelo projeto e que

merecem destaque dizem respeito agrave amizade e agrave aceitaccedilatildeo do mentor para com seu

mentorado A importacircncia deste viacutenculo afetivo eacute imensuraacutevel principalmente em se tratando

e crianccedilas que muitas vezes natildeo percebem amor em sua famiacutelia

Seu Moab se preocupa mais com as crianccedilas do que noacutes que somos matildee (risos) Tem paciecircncia tem carinho por aquelas crianccedilas Ele sabe ensinar () ele natildeo machuca ele natildeo grita e as crianccedilas obedecem Eacute uma benccedilatildeo ele tem aquele amor (MAtildeE DE TAcircNIA entrevista set05)

O projeto demonstrou suprir lacunas na famiacutelia sendo o mentor agraves vezes comparado

com um pai ou com algueacutem da famiacutelia Pocircde se perceber a importacircncia da mentoria para o

grupo especiacutefico de pessoas marginalizadas ldquocarentes de tudordquo (PSICOacuteLOGA entrevista

110

set05) ao se ter algueacutem que acredite que aceite valorize incentive e decirc condiccedilotildees de

crescimento e desenvolvimento Papel este desempenhado pelos mentores ldquoO projeto restaura

a dignidade da pessoa do ser pessoa de ser um cidadatildeo de estar num lugar () onde as

pessoas estatildeo olhando para ele Ele eacute importante ele existerdquo (PSICOacuteLOGA entrevista

out05)

A mentoria mostrou-se efetiva em ajudar o mentorado em seu desenvolvimento

pessoal e ldquoprofissionalrdquo e seus benefiacutecios puderam ser em parte verificados

Os fatores de ecircxito mencionados na teoria tambeacutem puderam ser encontrados no

projeto A relaccedilatildeo de mentoria existente no projeto revelou caracteriacutesticas natildeo abordadas pela

teoria o que enriquece os estudos nesta aacuterea

Outro aspecto que chama a atenccedilatildeo eacute o comprometimento dos colaboradores

entrevistados seu desejo em ajudar e realizaccedilatildeo ao poderem contribuir

Esta foi a conclusatildeo objetiva deste trabalho No entanto em se tratando de uma

pesquisa qualitativa na qual haacute o envolvimento do pesquisador com o objeto na busca de se

chegar a uma compreensatildeo deste outros conhecimentos menos objetivos puderam ser

apreendidos e devem ser mencionados

O fazer parte do projeto parece ter um significado especial para quem dele participa e

os benefiacutecios parecem ir aleacutem dos aqui listados Algo taacutecito que natildeo pocircde ser apreendido

apenas sentido o brilho nos olhos as laacutegrimas as pausas e a voz trecircmula Fatos frequumlentes

nas entrevistas quer de mentores de mentorados ou das matildees

O projeto na percepccedilatildeo da pesquisadora pode ser comparado a seguinte metaacutefora uma

sementeira muito acolhedora cujos responsaacuteveis satildeo uma famiacutelia de saacutebios agricultores (pai

matildee filho e filha) que mesmo com outras opccedilotildees ldquomais lucrativasrdquo financeiramente optam

por trabalhar em sementes rejeitadas Esta famiacutelia partilha da visatildeo que vai aleacutem da ldquocascardquo

seca feia suja e aparentemente infrutiacutefera que tais sementes se apresentam E assim doam

111

suas vidas para descobrir (natildeo no sentido de achar mas de tirar o que encobre) e revelar o

tesouro que haacute dentro delas Plantam regam e fornecem a elas os nutrientes tirados de sua

proacutepria mesa no intuito de vecirc-las desabrochar desenvolver crescer e influenciar

positivamente a terra seca e aacuterida na qual foram geradas e permanecem A ideacuteia eacute a de uma

sementeira na qual um belo jardim e um frutiacutefero pomar satildeo vislumbrados Natildeo se

excluem desta percepccedilatildeo as dificuldades que acompanham o preparo da terra a poda as

intempeacuteries do ambiente e o descreacutedito daqueles que muitas vezes ao verem tal trabalho

negligenciam seu valor meneiam a cabeccedila e o desprezam No entanto o amor e a vontade de

ver tais sementes tatildeo marginalizadas frutificarem se alastra e contagia a outros que com o

mesmo intuito tecircm se envolvido contribuindo e partilhando do mesmo sentimento pois

acreditam que fornecendo as condiccedilotildees ldquoadequadasrdquo essas sementes iratildeo frutificar tanto ou

mais do que as mais belas aacutervores do mais belo pomar Esta sementeira para a pesquisadora

eacute o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida os agricultores satildeo Moab Silva Miriam Mariacutelia e Marcos

Moab apenas esporadicamente trabalha como cozinheiro visto dedicar-se

integralmente ao projeto no acompanhamento das crianccedilas e adolescentes nas escolas na

busca de patrociacutenio na comunidade com os pais

Miriam abre as portas de sua casa partilha o alimento com qualquer das crianccedilas que

chegar agrave sua porta e tatildeo importante quanto este partilha tambeacutem o afeto Natildeo se pode

mensurar o quanto este casal jaacute abnegou de sua vida em prol da vida deste projeto

Mariacutelia e Marcos jaacute ensinaram no projeto e quando solicitados retornam eles aceitam

partilhar com tantos outros daquilo que seria soacute seu pai matildee lar e recursos

Este projeto eacute um projeto de uma famiacutelia que se envolve se compromete com

seriedade e responsabilidade com os moradores da comunidade de forma que sofre junto

partilhando das dificuldades de crianccedilas e adolescentes que seriam apenas estranhos ou

ldquomeninos de ruardquo natildeo fosse o amor que os mobiliza

112

Pode-se perceber que muitas vezes faltam recursos materiais para se fazer como se

gostaria e ateacute mesmo para dar continuidade ao que jaacute foi feito No entanto a ausecircncia de

estiacutemulo de coragem de amor e de creacutedito natildeo foi percebida Talvez por isso algumas matildees

tenham se referido ao projeto como sendo algo maravilhoso

Feitas as conclusotildees seguem nas proacuteximas seccedilotildees as implicaccedilotildees teoacutericas praacuteticas e

sociais deste estudo e as sugestotildees de pesquisa futura

51 Contribuiccedilotildees do estudo

O presente trabalho oferece algumas contribuiccedilotildees para a teoria para a praacutetica e

tambeacutem para a sociedade Seguem nas proacuteximas seccedilotildees o detalhamento destas contribuiccedilotildees

511 Contribuiccedilatildeo teoacuterica

Esta pesquisa traz contribuiccedilotildees para a teoria na medida em que verifica a

aplicabilidade da literatura no contexto brasileiro de uma comunidade carente Oferece

contribuiccedilotildees tambeacutem por tratar da mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes com risco

para delinquumlecircncia A pesquisa aborda objetos que no Brasil ainda natildeo tinham sido

pesquisados sob o arcabouccedilo da mentoria

Outra contribuiccedilatildeo deste estudo diz respeito aos achados aqueles que diferem da

teoria e que foram encontrados no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida tais como o patrociacutenio amplo

oferecido pelo mentor ao mentorado o mentor natildeo ser tido como modelo o

autoconhecimento e senso de dever cumprido como benefiacutecios para o mentor Em se tratando

de estudo de caso estes achados natildeo devem ser generalizados No entanto podem servir de

questionamento e de objeto de futuras investigaccedilotildees no sentido de ver sua aplicabilidade em

outros contextos

Segue a contribuiccedilatildeo praacutetica deste trabalho

113

52 Contribuiccedilatildeo praacutetica

O presente objeto de pesquisa (mentoria voltada para educaccedilatildeo de crianccedilas e

adolescentes carentes) pode ser utilizado tambeacutem como forma de intervenccedilatildeo na educaccedilatildeo do

ensino puacuteblico e privado

A iniciativa privada tambeacutem pode ter nesta relaccedilatildeo de mentoria um modelo de accedilatildeo

de responsabilidade social Pode intervir em sua comunidade preparando sua futura matildeo-de-

obra e usufruindo os diversos benefiacutecios que tal relaccedilatildeo pode trazer natildeo soacute em termos de

dividendos ao gerenciar a reputaccedilatildeo mas em termos solidariedade realizaccedilatildeo e senso de

dever cumprido

Era objetivo contribuir com a praacutetica atraveacutes da teoria de mentoria visando

potencializar a relaccedilatildeo existente no projeto de reforccedilo No entanto uma vez que os fatores de

ecircxito jaacute satildeo considerados e que a relaccedilatildeo tem trazido benefiacutecios para o mentorado mentor e

para a sociedade natildeo se percebeu formas de contribuiccedilatildeo com o projeto neste sentido Senatildeo

de apresentar um estudo sistematizado do projeto e de como satildeo beneficiados os que dele

participam

53 Contribuiccedilatildeo social

O presente trabalho oferece contribuiccedilotildees sociais na medida em que confirmou que o

objeto de estudo mostrou-se eficiente em sua proposta podendo entatildeo servir de modelo de

accedilatildeo para outras entidades voltadas para crianccedilas e adolescentes de risco

O trabalho tambeacutem pode servir de fonte de pesquisa para empresas que desejam ser

responsaacuteveis socialmente atraveacutes da educaccedilatildeo tendo na mentoria um modelo que apresentou

resultados positivos

Outra contribuiccedilatildeo social deste estudo diz respeito ao questionamento sobre a

educaccedilatildeo no Brasil O projeto tem sido uma alternativa diante do insucesso da escola puacuteblica

114

em fazer com que o aluno permaneccedila na escola e obtenha bom aproveitamento A

contribuiccedilatildeo pode ser aumentada na medida em que o puacuteblico para tal projeto eacute de crianccedilas e

adolescentes com risco Tais sujeitos aleacutem do aprendizado obtido adquirem perspectiva

positiva de vida podendo-se inferir que haja diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia

Seguem na proacutexima seccedilatildeo algumas sugestotildees de pesquisas futuras que podem ser

realizadas no intuito de compreender melhor o fenocircmeno estudado

52 Sugestotildees de pesquisas futuras

Algumas sugestotildees de pesquisa podem ser feitas a partir do presente trabalho Satildeo elas

a) Acompanhar a histoacuteria dos futuros egressos visando conhecer melhor os

resultados do programa de mentoria

b) Realizar um experimento entre as crianccedilas e adolescentes que participam do

projeto e os natildeo participantes para se verificar a influecircncia deste

c) Investigar quais as implicaccedilotildees de haver dois tipos de relaccedilatildeo de mentoria no

projeto na qual o mentor tem um relacionamento mais proacuteximo com um

mentorado do que com outro

Estas sugestotildees para pesquisa futura encerram este trabalho mas natildeo os

questionamentos dele advindos

Peccedilo licenccedila a Moab para terminar o trabalho com sua fala Para educar natildeo se tem

um resultado imediato Entatildeo vocecirc tem que gastar tempo Eacute investimento em longo

prazo Vocecirc tem que ter paciecircncia () amor (COORDENADOR entrevista set05)

115

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122

APEcircNDICE A - Apresentaccedilatildeo da entrevista

123

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

APRESENTACcedilAtildeO DA ENTREVISTA

Meu nome eacute Adriana Alvarenga Marques Sou pesquisadora da Universidade Federal

de Pernambuco e estamos fazendo um estudo sobre a educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes

Pesquisamos sobre este tema no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida com alguns pais de alunos e com

alguns dos que colaboram com o projeto e tambeacutem com o Sr Moab

Estou aqui para lhe fazer algumas perguntas sobre este assunto A sua participaccedilatildeo eacute

de muita importacircncia para a pesquisa

Quero destacar que vocecirc natildeo precisa se identificar e seus dados e o do aluno natildeo seratildeo

revelados

Gostaria ainda de sua permissatildeo para gravar nossa ldquoconversardquo lembrando que apenas

eu ouvirei a fita Peccedilo isto por que para anotar as respostas eu levaria muito tempo e natildeo seria

feito com precisatildeo Vocecirc autoriza

124

APEcircNDICE B- Roteiro da entrevista com os pais

125

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

Roteiro de Entrevista para os Pais

Nome- ___________________________________________________________________

Nome do(a) filho(a) participante do projeto- _____________________________________

Escolaridade dos pais- _______________________________________________________

Quantas pessoas moram com o(a) aluno(a) _______________________________________

1- Haacute quanto tempo vocecirc conhece o projeto de reforccedilo Educaccedilatildeo eacute Vida

2- O que vocecirc pensa a respeito deste projeto

3- Haacute quanto tempo seusua filho(a) faz parte do projeto

4- Qual a idade dele (a)

5- Qual a seacuterie que ele(a) cursa

6- Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo de seusua filho(a) houve alguma mudanccedila nele(a) depois de

haver entrado no projeto Qual(ais)

7- No dia-a-dia vocecirc percebe alguma influencia do projeto no comportamento de

seusua filho(a) Qual(ais)

8- Existe algueacutem do projeto que demonstre cuidado e preocupaccedilatildeo com seusua filho(a)

que o(a) acompanhe seusua filho(a) mais de perto Quem

9- Como eacute feito esse acompanhamento

10- Qual o significado desta pessoa na vida de seu filho

11- Seu filho(a) gosta de estudar

12- Como vocecirc percebe isto

13- Seu filho(a) jaacute recebeu alguma ajuda vinda do projeto

14- Que tipo de ajuda

15- Quando seu filho passa por alguma dificuldade ou problema a quem ele recorre

16- Haacute algueacutem do projeto que aconselhe seuas filho(a) Quem

17- Que tipo de conselho ele(a) oferece

18- Seusua filho(a) fala sobre seu futuro O que ele(a) diz

126

19- Onde seu filho estuda

20- Como eacute o desempenho de seusua filho(a) na escola Como satildeo suas notas

21- Seusua filho(a) traz tarefas para casa

22- Quem o(a) ajuda a resolve-las

23- Haacute mais alguma coisa sobre a educaccedilatildeo de seu filho que vocecirc considere importante

24- Quando vocecirc pensa no projeto qual a ideacuteia ou sentimento que lhe vem

25- Haacute mais alguma coisa sobre o projeto que vocecirc gostaria de falar

127

APEcircNDICE C - Roteiro da entrevista com os colaboradores

128

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

Roteiro da Entrevista com os Colaboradores

Nome ndash ______________________________________________________________

Tempo de projeto-______________________________________________________

Funccedilatildeo desempenhada no projeto- _________________________________________

Tempo de projeto - _____________________________________________________

1- Haacute quanto tempo vocecirc conhece o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

2- Qual a sua participaccedilatildeo neste projeto

3- Com que frequumlecircncia ocorre seu contato com as crianccedilas adolescentes comunidade

4- Vocecirc recebe alguma remuneraccedilatildeo para atuar no projeto

5- Qual sua motivaccedilatildeo para participar

6- Vocecirc poderia descrever como eacute seu relacionamento com os alunos

7- Haacute algum(a) em especial por quem vocecirc tenha maior preocupaccedilatildeo cuidado carinho

8- Por que

9- Como satildeo seus encontros com as crianccedilas

10- Como vocecirc percebe o significado deste projeto na vida da comunidade

11- Durante o seu tempo de participaccedilatildeo no projeto houve algum evento ou

acontecimento que lhe marcou e que vocecirc gostaria de falar

12- Quando vocecirc pensa no projeto qual a ideacuteia ou sentimento que lhe vem

13- Haacute mais alguma coisa sobre o projeto ou sobre os alunos que vocecirc gostaria de

compartilhar

129

APEcircNDICE D - Roteiro da entrevista com o fundador do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

130

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

Roteiro de Entrevista do Fundador

Nome ndash ______________________________________________________________

1- Como surgiu a ideacuteia do projeto

2- Como foi efetivado

3- Quais as motivaccedilotildees para a existecircncia do projeto

4- Houve participaccedilatildeo de sua famiacutelia

5- Vocecirc poderia falar acerca do funcionamento do projeto as atividades desempenhadas

os objetivos a manutenccedilatildeo

6- A quem o projeto se destina

7- Qual a sua participaccedilatildeo efetiva no projeto

8- Como se deu a formalizaccedilatildeo

9- Como ocorre a seleccedilatildeo das crianccedilas para fazer parte do projeto

10- Quais os criteacuterios para se manter no projeto

11- Como o projeto obteacutem recursos para funcionar

12- Que tipo de atividade o projeto desenvolve

13- Haacute quanto tempo o projeto existe

14- Houve algueacutem em sua vida que serviu de incentivo para que vocecirc desenvolvesse esse

tipo de atividade

15- Por que um projeto em educaccedilatildeo

16- Qual o significado deste projeto na vida da sua famiacutelia

17- Qual o significado deste projeto na vida da comunidade

18- O que significa para uma crianccedila participar do projeto

19- Quais as dificuldades enfrentadas

20- Haacute ou houve algum acontecimento que lhe marcou

21- Existem crianccedilas que vocecirc acompanha mais de perto

22- Como eacute esse acompanhamento

131

23- O que o projeto oferece aos participantes em termos de educaccedilatildeo

24- Haacute mais algum tipo de ajuda que o projeto oferece Qual (ais)

25- O que eacute importante para que o projeto obtenha ecircxito

26- O que vocecirc acredita que eacute determinante do sucesso escolar de um aluno

27- Por que vocecirc acha que alguns alunos natildeo obtecircm bom aproveitamento escolar

28- Como eacute a participaccedilatildeo de sua famiacutelia no projeto

29- Qual o seu sonho para o projeto

30- Quando vocecirc pensa neste projeto qual a ideacuteia ou sentimento que lhe ocorre

31- Haacute mais alguma coisa que vocecirc gostaria de falar

132

ANEXO A - Estatuto da Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre

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ANEXO B ndash Documento de Apresentaccedilatildeo do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

141

142

IDENTIFICACcedilAtildeO Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre situada agrave rua Joatildeo Tude de Melo nordm 21 Casa Forte Recife Pernambuco Brasil CEP ndash52060-030 tel 3442-2084

Objetivo Manter influente obra social cristatilde que possa mudar o quadro social das crianccedilas e jovens da comunidade

O projeto funciona haacute trecircs anos atendendo a comunidade na aacuterea de educaccedilatildeo sauacutede lazer e educaccedilatildeo religiosa

143

ANAacuteLISE DO CONTEXTO DO PROJETO A favela Vila do vinteacutem como todo reduto de pobreza tem seus problemas suas causas e consequumlecircncias Apoacutes trecircs anos de atividades nesta comunidade detectamos que a maacute distribuiccedilatildeo de renda e a falta de uma poliacutetica social voltada para os mais carentes tecircm contribuiacutedo para a formaccedilatildeo de famiacutelias desestruturadas e em situaccedilotildees de risco fomentadas pela pobreza cultural e financeira Residem em barracos de madeira papelatildeo e plaacutestico de aproximadamente 12m2 sem aacutegua esgoto e muitos sem sanitaacuterios O conviacutevio diaacuterio com insetos torna a accedilatildeo meacutedica difiacutecil ou mesmo inviaacutevel Eacute isto que temos vivenciado no dia-dia famiacutelias em condiccedilotildees sub-humanas sobrevivendo de pequenos serviccedilos que prestam

Eacute neste cenaacuterio que consequumlentemente a crianccedila e o jovem desenvolve seu potencial de violecircncia anseios e conflitos convivendo com a fome a falta de higiene ambiente inoacutespito e inadequado para os estudos e outras atividades Essas crianccedilas semi-abandonadas vivem sem perspectivas de mudanccedilas sendo apenas viacutetimas de um processo que as leva a marginalidade

Por esta razatildeo se faz necessaacuterias accedilotildees contiacutenuas para melhoria da qualidade de vida e paz social desenvolvendo atividades que as valorizem como pessoas minimizando o sofrimento dando-lhes esperanccedilas atraveacutes da educaccedilatildeo sauacutede lazer e profissionalizaccedilatildeo

144

OBJETIVOS

Geral Visa natildeo somente melhorar a qualidade de vida no presente mas intervir num ciclo vicioso preparando a crianccedila e o jovem para o futuro Atuar na aacuterea de Educaccedilatildeo solicitando bolsas de estudo na rede privada com aulas de reforccedilo para o ensino fundamental alfabetizaccedilatildeo infantil distribuiccedilatildeo de material escolar e merenda Curso regular de liacutengua estrangeira (Inglecircs) iniciaccedilatildeo musical (teoria e praacutetica) Sauacutede Cliacutenica pediaacutetrica odontoloacutegica psico-pedagoacutegica e aviamento de receitas

Especiacuteficos

A) Promover a melhoria da escolaridade incentivando a permanecircncia e o equiliacutebrio entre o conhecimento e o grau adquirido

B) Desenvolver atividades que proporcionem o desenvolvimento de competecircncias sociais pessoais e intelectuais favorecendo a reflexatildeo e o exerciacutecio da cidadania com palestras passeios e filmes Ampliando o leque de conhecimentos e enriquecendo o senso criacutetico

C) Desenvolver programa intensivo de sauacutede atraveacutes de convecircnios melhorando desta forma a sauacutede e a aparecircncia fiacutesica para que haja um relacionamento pessoal sem reserva ou constrangimento

D) Ampliar os conhecimentos por curso regular de liacutengua estrangeira (Inglecircs) e iniciaccedilatildeo musical teoria e praacutetica Tirando-os da rua e da ociosidade oferecendo uma perspectiva de profissionalizaccedilatildeo e um conviacutevio cultural diferente do que vivenciam

145

PUacuteBLICO ALVO Crianccedilas e jovens de cinco a dezessete anos residentes na Vila Vinteacutem e devidamente matriculados e frequumlentando a rede oficial de ensino puacuteblico ou privado METODOLOGIA Profissionais de suas respectivas aacutereas ministraratildeo aulas diariamente ou em dias alternados conforme as especialidades e necessidades do projeto Por tratar-se de prestaccedilatildeo de serviccedilo voluntaacuterio com fim social todos teratildeo liberdade sobre o plano de accedilatildeo a ser aplicado no entanto deveratildeo estar de acordo com o nosso Estatuto Convecircnio com a Fundaccedilatildeo Manuel de Almeida (Hospital Infantil) para cliacutenica meacutedica e pediaacutetrica cabendo a instituiccedilatildeo a avaliaccedilatildeo e anaacutelise dos resultados As atividades seratildeo desenvolvidas em nossa sede proacutepria e anexo I exceto o curso de inglecircs consultas odontoloacutegicas e cliacutenica meacutedica Modelo de Educaccedilatildeo para a Sauacutede Objetivo Colocar a educaccedilatildeo a serviccedilo de uma vida saudaacutevel Accedilotildees destinadas a orientar os jovens

bull Alimentaccedilatildeo adequada bull Atividades que natildeo promovam o estresse bull Vida sexual segura bull Orientaccedilatildeo sobre o risco do tabaco aacutelcool e outras drogas

psicoativas bull Discussatildeo de temas gerais atuais ndash exemplo tracircnsito poluiccedilatildeo

violecircncia etc Objetivando a formaccedilatildeo de cidadatildeos conscientes e capazes de optar por uma vida mais saudaacutevel individual e coletiva

Modelo de Modificaccedilatildeo das Condiccedilotildees de Ensino Enfatizando a vivecircncia escolas desde a Educaccedilatildeo Infantil ensino Fundamental e Meacutedio como essencial para o desenvolvimento sadio do adolescente e adulto Preocupando-se com a prevenccedilatildeo ao uso abusivo de drogas a delinquumlecircncia as patologias mentais buscando a formaccedilatildeo integral do jovem Envolvendo pais e comunidade

146

Orientaccedilotildees estrateacutegicas

bull Modificar as praacuteticas de ensino bull Melhorar a relaccedilatildeo professoraluno bull Melhorar o ambiente escolar bull Incentivar o desenvolvimento social bull Ofertar serviccedilos de sauacutede bull Envolver os pais em atividades curriculares

AVALIACcedilAtildeO Bimestral junto agraves escolas solicitando boletins de cada aluno assistido pelo projeto cuja permanecircncia dos benefiacutecios dependeraacute do aproveitamento escolar da assiduidade agraves atividades e programaccedilatildeo da instituiccedilatildeo

147

ANEXO C ndash Estrutura baacutesica para orientaccedilatildeo de teses e dissertaccedilotildees

148

  • CLASSIFICACcedilAtildeO DE ACESSO A TESES E DISSERTACcedilOtildeES
    • Adriana Alvarenga Marques
      • 1 Introduccedilatildeo
        • 2 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica
          • Mentoria informal
            • Mentoria formal
              • 3 Metodologia
                  • APEcircNDICE A - Apresentaccedilatildeo da entrevista
                    • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                    • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                      • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                        • APRESENTACcedilAtildeO DA ENTREVISTA
                          • APEcircNDICE B- Roteiro da entrevista com os pais
                            • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                            • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                              • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                                • Roteiro de Entrevista para os Pais
                                  • APEcircNDICE C - Roteiro da entrevista com os colaboradores
                                    • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                                    • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                                      • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                                        • Roteiro da Entrevista com os Colaboradores
                                          • APEcircNDICE D - Roteiro da entrevista com o fundador do Projet
                                            • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                                            • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                                              • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                                                • Roteiro de Entrevista do Fundador
                                                  • ANEXO A - Estatuto da Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre
                                                    • IDENTIFICACcedilAtildeO
                                                      • ANAacuteLISE DO CONTEXTO DO PROJETO
                                                        • OBJETIVOS
                                                          • PUacuteBLICO ALVO
                                                            • METODOLOGIA
                                                                • Modelo de Educaccedilatildeo para a Sauacutede
                                                                • Modelo de Modificaccedilatildeo das Condiccedilotildees de Ensino
                                                                  • AVALIACcedilAtildeO
Page 2: A mentoria na educação de crianças e adolescentes carentes ... · Figura 5 (4) Modelo de Certificado de Padrinho 70 Figura 6 (4) Foto da apresentação das meninas do projeto em

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

CLASSIFICACcedilAtildeO DE ACESSO A TESES E DISSERTACcedilOtildeES Considerando a natureza das informaccedilotildees e compromissos assumidos com suas fontes o acesso a monografias do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Administraccedilatildeo da Universidade Federal de Pernambuco eacute definido em trecircs graus

- Grau 1 livre (sem prejuiacutezo das referecircncias ordinaacuterias em citaccedilotildees diretas e indiretas)

- Grau 2 com vedaccedilatildeo a coacutepias no todo ou em parte sendo em consequumlecircncia restrita a consulta em ambientes de biblioteca com saiacuteda controlada

- Grau 3 apenas com autorizaccedilatildeo expressa do autor por escrito devendo por isso o texto se confiado a bibliotecas que assegurem a restriccedilatildeo ser mantido em local sob chave ou custoacutedia

A classificaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo se encontra abaixo definida por seu autor Solicita-se aos depositaacuterios e usuaacuterios sua fiel observacircncia a fim de que se preservem

as condiccedilotildees eacuteticas e operacionais da pesquisa cientiacutefica na aacuterea da administraccedilatildeo Tiacutetulo da Dissertaccedilatildeo A mentoria na educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes carentes estudo de caso de um projeto de reforccedilo escolar em uma comunidade do RecifePE Nome do Autor Adriana Alvarenga Marques Data da aprovaccedilatildeo 21 de marccedilo de 2006 Classificaccedilatildeo conforme especificaccedilatildeo acima Grau 1 Grau 2 Grau 3

X

--------------------------------------- Adriana Alvarenga Marques

Adriana Alvarenga Marques

A mentoria na educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes carentes estudo de caso de um projeto de reforccedilo

escolar em uma comunidade do RecifePE

Orientadora ndash Profordf Socircnia Maria Rodrigues Calado Dias PhD

Dissertaccedilatildeo apresentada como requisito complementar para obtenccedilatildeo do grau de Mestre em Administraccedilatildeo aacuterea de concentraccedilatildeo em Gestatildeo Organizacional do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Administraccedilatildeo da Universidade Federal de Pernambuco

Recife 2006

Marques Adriana Alvarenga A mentoria na educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes carentes estudo de caso de um projeto de reforccedilo escolar em uma comunidade do Recife PE Adriana Alvarenga Marques ndash Recife O Autor 2006 148 folhas fig quadros Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Universidade Federal de Pernambuco CCSA Administraccedilatildeo 2006 Inclui bibliografia apecircndices e anexos 1 Educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes 2 Delinquumlecircncia juvenil 3 Mentoria 4 Aconselhamento ndash Educaccedilatildeo de crianccedilas I Tiacutetulo 3704 CDU (1997) UFPE 3701 CDD (22ed) CSA2006-005

Agravequeles que por algum motivo natildeo tiveram a oportunidade de conhecer o brilho das letras e que hoje excluiacutedos vivem agrave sombra do conhecimento

Agradecimentos

A Deus nosso amado Pai que fez com que mais um dos meus sonhos se tornasse realidade que colocou pessoas dEle ao meu redor para me ensinar incentivar compartilhar e corrigir Agrave querida Professora Drordf Socircnia Calado por sua dedicaccedilatildeo e nobreza ao partilhar saberes tatildeo altos comigo e pela confianccedila e aceitaccedilatildeo Aos meus queridos e competentes mestres que me ensinaram entre tantos conteuacutedos a alegria e a dor do aprendizado Ao professor Dr Pedro Lincoln pelo exemplo de aula e pela consideraccedilatildeo Agraves professoras Drordfs Lenice Pimentel e Maria Auxiliadora (UFALCHLA) por me apresentarem a este Programa Agrave Professora Drordf Lilian Outtes por sua amizade e profissionalismo Agrave UFPE esta reconhecida Instituiccedilatildeo da qual eu muito me orgulho A todos os que fazem o PROPAD minha sincera gratidatildeo Agrave dona Socorro pela simpatia e pelo cafezinho gostoso Ao Sr Moab Silva e sua esposa Miriam pela receptividade e apoio A todos os que fazem o Projeto Amigos para Sempre pela abertura colaboraccedilatildeo e confianccedila Ao Emanuel Marques meu querido marido pelo carinho apoio e paciecircncia tatildeo presentes nestes dois anos Obrigada amor Aos meus filhos Juliana e Carlos Henrique pela forccedila que mesmo sem saber me transmitiram o tempo todo Aos meus pais Carlos e Ana por pedirem a Deus pela minha vida Ele os tem ouvido Aos meus sogros Fernando Marques e Zeine Gomes pelo incentivo constante e por acreditar em mim Aos meus irmatildeos Edilson Elisana e Adilson Ao Dr Conrado Paulino (in memoriam) e sua esposa Drordf Zery Gomes pelos saacutebios e sinceros conselhos Ao Sr Joaquim Vera e Fabiana Sousa pelo apoio e assistecircncia Agrave Roberta Arauacutejo pela amizade mesmo que agrave distacircncia Aos colegas da turma 10 pelas alegrias e agonias partilhadas De fato vocecircs satildeo 10 Que Deus vos abenccediloe ricamente A Ana Claudia Ariaacutedne Denise Maria Elisa e agrave Monique pela amizade construiacuteda neste periacuteodo Minha sincera gratidatildeo a todos que contribuiacuteram para que este sonho se tornasse real Sem vocecircs esta conquista natildeo seria possiacutevel Muito obrigada

ldquoAinda que eu conheccedila todos os misteacuterios e toda a ciecircncia se natildeo tiver amor nada sereirdquo

Adap Apoacutestolo Paulo

Resumo

A mentoria se caracteriza pela relaccedilatildeo existente entre mentor (algueacutem com reconhecida

experiecircncia) e mentorado (um neoacutefito) na qual o mentor serve de guia para o jovem aprendiz

dando-lhe conselhos instruccedilotildees patrociacutenio e amizade de modo a facilitar o desenvolvimento

de sua carreira Em troca o mentor obteacutem reconhecimento apoio e realizaccedilatildeo ao acompanhar

o crescimento profissional de seu mentorado A mentoria voltada para jovens e adolescentes

com risco para a delinquumlecircncia tem sido investigada em paiacuteses como Estados Unidos e Canadaacute

Dentre os benefiacutecios encontrados pode-se citar a diminuiccedilatildeo de comportamentos agressivos

reduccedilatildeo da evasatildeo escolar aumento da auto-estima e consequumlentemente reduccedilatildeo da

delinquumlecircncia juvenil A presente pesquisa propocircs-se a investigar um programa de mentoria

voltado para crianccedilas e adolescentes carentes O objetivo foi verificar quais as especificidades

deste programa num contexto brasileiro e quais os benefiacutecios desta relaccedilatildeo na vida dos

mentorados (crianccedilas e adolescentes) dos mentores (colaboradores do projeto) e da

comunidade A percepccedilatildeo das famiacutelias acerca do projeto tambeacutem foi considerada Fez-se um

estudo de caso exploratoacuterio-descritivo acerca de um projeto de reforccedilo escolar localizado na

Vila do Vinteacutem II uma comunidade carente do Recife A estrateacutegia de pesquisa foi

qualitativa atraveacutes de entrevistas observaccedilatildeo e anaacutelise documental Pocircde-se perceber que

apenas em alguns aspectos a mentoria ocorrida no projeto diferia dos achados na literatura

Por exemplo o fato de o mentor ser um modelo para o mentorado (fato expliacutecito

teoricamente) natildeo ficou evidenciado neste contexto A pesquisa procurou verificar a

viabilidade de uma forma de intervenccedilatildeo na vida de crianccedilas e adolescentes carentes que

pode ser utilizada por organizaccedilotildees privadas como meio de accedilatildeo de responsabilidade social e

por instituiccedilotildees puacuteblicas no sentido de alcanccedilar maior aproveitamento escolar das crianccedilas e

dos adolescentes

Palavras-chave Mentoria Educaccedilatildeo Comunidade carente Delinquumlecircncia Suporte

psicossocial

Abstract

Mentorship is characterized by the relationship between a mentor (someone with recognized

experience) and the individual to be mentored (novice) in which the mentor guides the young

apprentice offering himher counsel advice and friendship in a way as to facilitate the

development of hisher career In exchange the mentor obtains recognition support and

personal reward taking part in the professional growth of the person being mentored

Mentorship geared towards youth and teenagers with risks of becoming delinquent individuals

has been investigated in countries such as the United States and Canada Among the benefits

found one can mention the decrease in aggressive behavior and school absenteeism an

increase in self esteem and consequently a decrease in juvenile delinquency This research is

intended to investigate a mentorship program geared towards impoverished children and

teenagers with the purpose of verifying if in the Brazilian context specifically in the

northeast of Brazil the mentor relationship presents the same characteristics as those shown

in previously documented researches This is a descriptive-exploratory case study about a

school tutorship program at Vila do Vinteacutem II a slum in Recife Pernambuco Brazil The

objective of this study was to verify what are the specificities of a mentorship program

designed for children and teenagers in the Brazilian context and what are the benefits of this

relationship in the life of those who are mentored (children and teenagers) the mentors (who

joined the program) and the community The perception of the families about the program has

been taken into consideration as well The strategy used for this research was qualitative

through interviews and observation and documental analysis It was observed that only in a

few aspects the mentorship analyzed in this program was different from the findings of

previous research as for instance the fact that the mentor is considered a role model for the

apprentice (a theoretical fact that is widely accepted) has not been evidenced in this context

This research was intended to demonstrate the possibility of an intervention in the lives of

impoverished children and teenagers and can be utilized by organizations in their social

responsibility actions and by public policy formulators with the purpose of increasing school

progress for children and teenagers

Key-words Mentorship Tutorship Education Impoverished community Delinquency

Psychosocial support

Lista de figuras

Figura 1 (4) Foto da Vila do Vinteacutem II 60Figura 2 (4) Foto das palafitas da Vila do Vinteacutem II 61Figura 3 (4) Foto da festa de Natal para as crianccedilas da Vila Vinteacutem 63Figura 4 (4) Foto da festa das crianccedilas na sede do projeto 64Figura 5 (4) Modelo de Certificado de Padrinho 70Figura 6 (4)

Foto da apresentaccedilatildeo das meninas do projeto em uma missa de Natal realizada pela Igreja Catoacutelica de Casa Forte na Vila Vinteacutem 81

Figura 7 (4)

Foto da professora e alunos durante a aula de reforccedilo na sede do projeto 90

Figura 8 (4) Boletim escolar de Afracircnio 98Figura 9 (4) Boletim escolar de Jairo 99

Sumaacuterio 1 Introduccedilatildeo 1511 Objetivos 18111 Objetivo geral 18112 Objetivos especiacuteficos 1812 Justificativa 19121 Justificativa teoacuterica 19122 Justificativa praacutetica e social 192 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica 2121 Mentoria 21211 Funccedilotildees de mentoria 242111 Suporte de carreira 242112 Suporte psicossocial 26212 Fases da relaccedilatildeo mentoria 28213 Tipos de mentoria 302131 Mentoria informal 302132 Mentoria formal 31214 Fatores relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria formal 312141 Seleccedilatildeo de mentores e mentorados 322142 Treinamento supervisatildeo e acompanhamento do programa de mentoria 332143 Frequumlecircncia dos encontros 342144 Duraccedilatildeo da relaccedilatildeo de mentoria 3422 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria 35221 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentorado 36222 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentor 39223 Benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria 413 Metodologia 4631 Delineamento da pesquisa 4632 Primeira fase da coleta de dados 47321 Objetivo 47322 Instrumentos de coleta de dados 4833 Segunda fase de coleta de dados 50331 Objetivos 50332 Instrumentos de coleta de dados 5034 Sujeitos da pesquisa 52341 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos sujeitos 5335 Meacutetodos de anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados 5436 Limitaccedilotildees da pesquisa 564 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos achados 5841 O caso 58411 O contexto do projeto Vila Vinteacutem II 58412 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 62413 Atividades desenvolvidas pelo projeto 65414 Formalizaccedilatildeo do projeto como organizaccedilatildeo natildeo-governamental 67415 Situaccedilatildeo atual do projeto 68416 Dificuldades enfrentadas pelo projeto 69417 Motivaccedilatildeo para a existecircncia e continuidade do projeto 70418 Dados dos mentores entrevistados 71419 Dados dos mentorados pesquisados 72

4191 Alunos tidos como que de ecircxito nos estudos 724192 Alunos tidos como que de natildeo ecircxito nos estudos 7442 Achados referentes agrave primeira questatildeo norteadora do trabalho 76421 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida como um programa de mentoria 76422 Funccedilotildees de mentoria encontradas no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 784221 Suporte de carreira 784222 Suporte psicossocial 83423 Fases da relaccedilatildeo de mentoria apresentadas no projeto de reforccedilo 87424

Fatores encontrados no projeto que estatildeo relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria 87

425 Fatores responsaacuteveis pelo ecircxito e natildeo ecircxito nos estudos percepccedilatildeo do mentor e da famiacutelia do mentorado 93

426

Resposta da primeira questatildeo norteadora especificidades da relaccedilatildeo de mentoria existentes no projeto de reforccedilo escolar 94

43 Achados referentes agrave segunda questatildeo norteadora 95431

Aumento da auto-estima da responsabilidade maior progresso escolar e perspectiva positiva de futuro 95

432

Resposta da segunda questatildeo norteadora benefiacutecios da mentoria para a crianccedila adolescente do projeto 101

44 Achados referentes agrave terceira questatildeo norteadora 101441 Realizaccedilatildeo pessoal 101442 Motivaccedilatildeo 102443 Ser amado pelo mentorado 103444 Autoconhecimento 103445 Senso de dever cumprido 104446 Resposta da terceira questatildeo norteadora benefiacutecios da mentoria para o mentor 10445 Achados referentes agrave quarta questatildeo norteadora 105451 Desenvolvimento educacional das crianccedilas e dos adolescentes 105452 Assistencialismo 106453 Diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia 107454

Resposta da quarta questatildeo norteadora benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria 108

5 Conclusatildeo 10951 Contribuiccedilotildees do estudo 112511 Contribuiccedilatildeo teoacuterica 112512 Contribuiccedilatildeo praacutetica 113513 Contribuiccedilatildeo social 11352 Sugestotildees de pesquisas futuras 114Referecircncias 115APEcircNDICE A- Apresentaccedilatildeo da entrevista 122APEcircNDICE B- Roteiro da entrevista com os pais 124APEcircNDICE C- Roteiro da entrevista com os colaboradores 127APEcircNDICE D- Roteiro da entrevista com o fundador do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 129ANEXO A- Estatuto da Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre 132ANEXO B- Documento de apresentaccedilatildeo do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 140ANEXO C- Estrutura baacutesica para orientaccedilatildeo de teses e dissertaccedilotildees 147

15

1 Introduccedilatildeo

A educaccedilatildeo no Brasil tem sido nos uacuteltimos anos alvo de atenccedilatildeo por parte dos

governantes da iniciativa privada e da sociedade De acordo com dados do IBGE-Pnad

(2000) o Brasil conta com um iacutendice de analfabetismo de 116 sendo que na Regiatildeo

Nordeste este iacutendice sobe para 23 Em se tratando de analfabetismo funcional o que se

refere agraves pessoas com menos de quatro anos de estudo completos o iacutendice eacute de 24 no Brasil

e 39 na Regiatildeo Nordeste chegando a 43 em alguns municiacutepios Tais dados revelam a

existecircncia de municiacutepios onde quase metade da populaccedilatildeo tem menos de quatro anos de

estudo O fato de haver analfabetos funcionais em tatildeo grande proporccedilatildeo pode ser explicado

pela evasatildeo escolar

Trata-se de milhotildees de brasileiros excluiacutedos agrave margem por natildeo terem acesso agrave leitura

agrave escrita agrave cultura e ao conhecimento formal comprometendo ainda mais a auto-estima e

reduzindo a qualidade de vida de tais pessoas A alta taxa de analfabetismo (116) reduz

ainda mais o IDH (Iacutendice de Desenvolvimento Humano) que no Brasil eacute considerado meacutedio

077 (PNUD 2000) O IDH foi criado para medir o niacutevel de desenvolvimento humano dos

paiacuteses com base em indicadores de educaccedilatildeo (alfabetizaccedilatildeo e taxa de matriacutecula) longevidade

e renda Tal iacutendice varia de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1(desenvolvimento

humano total) Em Pernambuco este iacutendice eacute de 069 considerado meacutedio A taxa de ocupaccedilatildeo

no mercado de trabalho cresce agrave medida que a escolaridade aumenta Entre analfabetos eacute de

52 a chance de ocupaccedilatildeo enquanto que entre graduados sobe para 87 (NERY COSTA

2003)

Satildeo brasileiros que devido agrave exclusatildeo social decorrente do analfabetismo entre outros

fatores natildeo fazem parte do mercado consumidor Pessoas que por sua insuficiente renda ou

16

total falta dela ficam seriamente limitadas no tocante ao consumo sendo muitas dependentes

de poliacuteticas assistencialistas

As empresas tambeacutem sofrem as consequumlecircncias do analfabetismo seja absoluto (pessoa

iletrada) ou funcional pois tecircm em funccedilatildeo dele uma matildeo de obra desqualificada Soma-se o

fato de que estas pessoas natildeo fazem parte de sua clientela uma vez que natildeo tecircm poder

aquisitivo para tal

Estatiacutesticas confirmam que haacute um aumento na renda agrave medida que se acrescentam

anos de estudo A cada ano de estudo a renda aumenta cerca de 16 (IBGE-PNAD 1998) e

consequumlentemente aumenta tambeacutem o poder de compra a inserccedilatildeo social e a qualificaccedilatildeo

Uma questatildeo pertinente em se tratando de evasatildeo escolar eacute sua associaccedilatildeo com a

delinquumlecircncia Um estudo realizado com adolescentes paulistas demonstrou que a defasagem

escolar bem como a multirrepetecircncia satildeo fatores positivamente relacionados com a inserccedilatildeo

de jovens na criminalidade (DIAS 2003)

Barros et al (1994) revelam que um dos principais determinantes do desempenho

escolar da crianccedila eacute a educaccedilatildeo meacutedia das matildees Riveiro (2001) com base em dados da

Unesco afirma que os brasileiros que satildeo analfabetos absolutos estatildeo localizados

principalmente em aacutereas carentes da Regiatildeo Nordeste Considerando que haacute grande propensatildeo

de as matildees que moram em comunidades carentes do Nordeste serem analfabetas e que a

educaccedilatildeo da matildee tende a ser um fator determinante da educaccedilatildeo dos filhos parece legiacutetimo

esperar limitaccedilotildees graves na educaccedilatildeo de crianccedilas em comunidades carentes do Recife

O atual governo em 2001 criou o Programa Nacional do Bolsa-Escola que incentiva

a famiacutelia a colocar o filho na escola e fazecirc-lo permanecer nela Para tanto a famiacutelia recebe a

quantia de R$ 1500 por filho matriculado (MEC 2005) O projeto visa a reduccedilatildeo da evasatildeo

escolar sem no entanto acompanhar o rendimento do aluno beneficiado

17

Quanto agrave iniciativa privada a educaccedilatildeo tem sido o foco de algumas empresas ao

investirem na formaccedilatildeo dos funcionaacuterios e dos filhos destes Acerca do levantamento sobre as

100 melhores empresas para se trabalhar no ano de 2002 Silveira (2002) afirma que eacute fato

relevante para a organizaccedilatildeo que pertence a este ranking a colaboraccedilatildeo com a comunidade na

qual estaacute inserida Para tal algumas organizaccedilotildees contam inclusive com seus funcionaacuterios

agindo como voluntaacuterios nestas accedilotildees de responsabilidade social Desenvolvendo atividades

como esta de responsabilidade social e cidadania a empresa eacute mais bem avaliada por seus

stakeholders internos e externos (ASHLEY 2003)

Nos Estados Unidos uma alternativa para evitar a evasatildeo escolar tem sido

desenvolvida atraveacutes da mentoria Nesta relaccedilatildeo o mentor eacute uma pessoa mais experiente do

que o mentorado algueacutem em quem este confia com quem pode compartilhar suas

dificuldades necessidades e anseios e de quem recebe apoio e orientaccedilatildeo Um exemplo deste

trabalho foi realizado por Klaw et al (2003) com adolescentes afro-americanas gestantes O

objetivo do programa de mentoria era ajudar estas novas matildees a terminar a escola e a

conseguir resultados educacionais satisfatoacuterios apoacutes o nascimento da crianccedila O estudo

mostrou que das adolescentes que foram acompanhadas durante dois anos por um mentor

65 terminaram os estudos Jaacute entre as matildees que natildeo contaram com o programa de mentoria

este percentual caiu para 35 Pode-se concluir que apesar dos fatores adversos (maternidade

na adolescecircncia dificuldade econocircmica e preconceito racial) a mentoria mostrou-se eficaz no

combate agrave evasatildeo escolar

No Recife (PE) em uma comunidade carente verificou-se a existecircncia de um

programa de reforccedilo escolar Foram percebidas atraveacutes de uma pesquisa exploratoacuteria

evidecircncias da relaccedilatildeo de mentoria entre os colaboradores e os alunos sendo estes os

mentorados Esta evidecircncia criou a possibilidade de pesquisar os benefiacutecios produzidos pela

relaccedilatildeo de mentoria voltada para educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes carentes no Brasil

18

Investiga-se assim ateacute que ponto a mentoria pode ser um recurso para auxiliar no aumento do

aproveitamento escolar dos mentorados e na reduccedilatildeo da evasatildeo escolar Desta forma

considerando a situaccedilatildeo da educaccedilatildeo as limitaccedilotildees impostas pelo analfabetismo e a evasatildeo

escolar que aleacutem da exclusatildeo social estaacute associada agrave delinquumlecircncia definimos a seguinte

pergunta de pesquisa

Como ocorre a mentoria voltada para a educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes em

uma comunidade carente do Recife

11 Objetivos

111 Objetivo geral

Investigar como ocorre a mentoria em um programa de reforccedilo escolar voltado para

crianccedilas e adolescentes carentes de uma comunidade do RecifePE

112 Objetivos especiacuteficos

bull Investigar as especificidades da relaccedilatildeo de mentoria (funccedilotildees fases tipos e

fatores de ecircxito) voltada para crianccedilas e adolescentes carentes no contexto de

uma comunidade do Recife

bull Verificar quais os benefiacutecios da mentoria para o mentorado na percepccedilatildeo das

famiacutelias destes

bull Investigar quais os benefiacutecios da mentoria para os mentores na percepccedilatildeo

destes e

bull Verificar quais os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria

19

12 Justificativa

O presente trabalho se justifica devido agrave relevacircncia do tema que aborda e de suas

implicaccedilotildees poliacuteticas organizacionais e sociais

121 Justificativa teoacuterica

No aspecto teoacuterico pode-se citar a escassez de bibliografia nacional acerca da

mentoria Trata-se de um fenocircmeno pouco estudado no Brasil e menos ainda voltado para

educaccedilatildeo de jovens e adolescentes Faz-se necessaacuterio portanto investigar como ocorre a

mentoria no paiacutes e quais as suas especificidades e caracteriacutesticas Neste sentido o presente

estudo pode oferecer algumas contribuiccedilotildees

122 Justificativa praacutetica e social

Do ponto de vista praacutetico a proposta eacute que conhecendo como a mentoria ocorre aqui

agrave luz da teoria existente se possa auxiliar o processo otimizando-o

Quanto agrave justificativa da pesquisa do ponto de vista social pode-se mencionar a

necessidade de pesquisar alternativas para minimizar os problemas de analfabetismo evasatildeo

escolar e delinquumlecircncia juvenil Estes problemas fazem parte do cotidiano do Recife bem

como das demais grandes cidades brasileiras

As organizaccedilotildees podem ter nesta pesquisa um modelo de accedilatildeo de responsabilidade

social intervindo na comunidade local e inclusive preparando a sua futura matildeo-de-obra

Outra justificativa deste trabalho eacute a possibilidade de contribuir com as poliacuteticas

puacuteblicas no sentido de sugerir uma alternativa de intervenccedilatildeo na educaccedilatildeo de crianccedilas e

adolescentes em particular as que se encontram em situaccedilatildeo de risco

20

Neste capiacutetulo introdutoacuterio foi apresentado o tema abordado os objetivos da presente

pesquisa e as razotildees pelas quais o estudo se justifica No proacuteximo capiacutetulo seraacute exposta a

literatura que fornece as bases teoacutericas para a pesquisa

21

2 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica

Com o intuito de se investigar como ocorre a mentoria voltada para crianccedilas e

adolescentes carentes faz-se necessaacuterio trazer agrave luz o que a teoria diz acerca da mentoria

Portanto tratar-se-aacute neste capiacutetulo sobre o conceito de mentoria e suas especificidades ou

seja quais as funccedilotildees desempenhadas na relaccedilatildeo as fases pertinentes a este relacionamento

os tipos de mentoria e os fatores relacionados ao ecircxito desta relaccedilatildeo Os benefiacutecios que a

mentoria oferece ao mentorado ao mentor e agrave comunidade tambeacutem seratildeo considerados

Segue-se pois o conceito de mentoria

21 Mentoria

A palavra mentor surgiu por volta de 800 aC na antiga Greacutecia mais especificamente

na Odisseacuteia de Homero O poema eacutepico pertinente agrave Mitologia Grega relata as aventuras e as

batalhas vividas pelo rei Odisseu (Ulisses em latim) Ao partir de Troacuteia para guerra Odisseu

confiou a guarda de seu filho Telecircmaco a Mentor seu amigo (ENSHER MURPHY 1997)

Mentor passou a ser o responsaacutevel pela preparaccedilatildeo de Telecircmaco para ser o sucessor de seu

pai Mentor natildeo ocupou lugar de destaque na obra de Homero Entretanto em 1699 Franccedilois

de la Mothe-Fenelon fez uma releitura da Odisseacuteia e atribuiu a Mentor a condiccedilatildeo de segundo

pai professor orientador e guia de Telecircmaco Atraveacutes de Fenelon escritor e educador a

figura de Mentor tornou-se conhecida e relevante e em 1750 a palavra mentor jaacute constava

nos dicionaacuterios contendo o seguinte significado conselheiro saacutebio protetor e financiador

(GEHRINGER 2002) Apesar de a mentoria ter surgido em tempos muito distantes a

sistematizaccedilatildeo dos estudos nesta aacuterea data de apenas trecircs deacutecadas

22

Em 1978 Levinson et al (apud KLAW et al 2003) caracterizaram a mentoria como a

assistecircncia unilateral de um indiviacuteduo mais graduado e desejoso de partilhar seus

conhecimentos e experiecircncia a um menos experiente visando o desenvolvimento deste O

relacionamento com um mentor propicia ao jovem adentrar com ecircxito o mundo dos adultos e

o mundo dos negoacutecios Higgins e Kram (2001) salientam que mentores natildeo precisam ser

necessariamente pessoas mais graduadas do que os mentorados podendo ser seus colegas

pares ou parentes Hesgtad (1999) declara que o importante eacute que o mentor exerccedila influecircncia

sobre o mentorado

Hunt e Michael (1983) caracterizam o mentor como algueacutem que estaacute comprometido

em prover crescimento pessoal e suporte de carreira ao seu mentorado Higgins e Kram

(2001) consideram que o apoio e a assistecircncia na relaccedilatildeo de mentoria seriam bilaterais Nesta

relaccedilatildeo mentor e mentorado se auxiliariam no processo de desenvolvimento e tal processo

dar-se-ia atraveacutes de redes de mentoria e natildeo apenas de um mentor para um mentorado As

autoras trazem agrave mentoria a perspectiva do desenvolvimento de redes no qual o mentorado

dispotildee de vaacuterios mentores

Os Estados Unidos e parte da Europa tecircm demonstrado interesse cientiacutefico e

desenvolvido pesquisas sobre o tema Estas pesquisas tecircm sido voltadas para a aacuterea

organizacional na qual a mentoria se destina a jovens que ingressam na organizaccedilatildeo e satildeo

acompanhados por um secircnior Entretanto a mentoria tambeacutem pode ser utilizada na aacuterea

educacional e dirigir-se a estudantes como ocorre por exemplo no sistema de escola puacuteblica

da cidade de Nova Iorque e na Austraacutelia (ZEY 1998) Acerca da importacircncia da mentoria no

acircmbito educacional Astin (1977) defende que alguns estudantes ao serem mentorados podem

se sentir mais encorajados e se envolver mais com os estudos e aprendizado uma vez que o

mentor pode ser um referencial para tal

23

A mentoria voltada para crianccedilas seria de acordo com Brody (1991 apud JACKSON

2002) um relacionamento entre um adulto e uma crianccedila visando facilitar o crescimento

pessoal educacional e social desta Nos EUA tem crescido o nuacutemero de programas de

mentoria com foco na aacuterea social visando atender agraves minorias ou aos jovens adolescentes e

crianccedilas com risco para delinquumlecircncia DuBois et al (2002) realizaram uma meta-anaacutelise

buscando levantar os efeitos de 55 programas de mentoria voltados para juventude Estes

programas diferiam no curriacuteculo No entanto a grande maioria enfatizava o relacionamento

entre um jovem problemaacutetico e um adulto mais experiente O objetivo era o de ajudar o jovem

a resolver satisfatoriamente as dificuldades da vida (KEATING et al 2002) Pode-se entatildeo

afirmar que a mentoria eacute o relacionamento entre um adulto e um jovem com o qual o mentor

estaacute comprometido Este comprometimento visa o desenvolvimento pessoal e profissional de

seu mentorado (KRAM 1985)

Atualmente os mentores naturais pais avoacutes e tios nem sempre estatildeo disponiacuteveis para

o adolescente As famiacutelias a escola e a comunidade tecircm reduzido drasticamente ao longo

dos anos a disponibilidade de adultos para acompanhar e oferecer suporte aos jovens

(DARLING et al 2002) Estas instituiccedilotildees que ao longo da histoacuteria eram as responsaacuteveis por

prover os jovens de suporte necessaacuterio e de conduccedilatildeo tecircm sofrido mudanccedilas e reduzido sua

capacidade de continuar a prover tal apoio A demanda dos grandes centros urbanos bem

como o ecircxodo rural fizeram com que o nuacutemero de adultos que serviam de liacutederes modelos e

agentes de controle social diminuiacutesse A entrada das matildees no mercado de trabalho e o

aumento das separaccedilotildees conjugais levaram os adolescentes a passar menos tempo com os

pais ficando grande parte do tempo com pares e sem a supervisatildeo de um adulto (HARRIS et

al 2002)

A disponibilidade dos adultos para com as crianccedilas tem diminuiacutedo de tal forma que

mais de 25 das crianccedilas nascem em casas com apenas um dos pais e 50 das crianccedilas

24

vivem a maior parte de sua infacircncia nesta mesma situaccedilatildeo A escassez de adultos para

suportar crianccedilas e adolescentes eacute ainda mais intensa em se tratando de comunidades carentes

(GROSSMAN TIERNEY 1998) Darling et al (2002) verificaram que em muitos casos na

ausecircncia de suporte dos mentores naturais os mentores voluntaacuterios tecircm sido alistados

A literatura aborda as funccedilotildees pertinentes a este relacionamento atraveacutes das quais o

mentor teraacute condiccedilotildees de contribuir com o crescimento de seu mentorado Tais funccedilotildees de

mentoria seratildeo abordadas na proacutexima seccedilatildeo

211 Funccedilotildees de mentoria

Satildeo as funccedilotildees desempenhadas no decorrer da relaccedilatildeo de mentoria Na mentoria

tradicional o mentorado recebe do mentor assistecircncia individual acesso a informaccedilotildees

necessaacuterias feedback encorajamento suporte de carreira e suporte emocional (MULLEN

1998) Kram (1985) agrupou diversas atividades em dois grupos de funccedilotildees desempenhadas

pelo mentor quais sejam suporte de carreira e suporte psicossocial Estas funccedilotildees satildeo

distintas mas inter-relacionadas A relaccedilatildeo de mentoria pode prover os dois tipos de suporte

ou apenas um destes a depender do niacutevel da relaccedilatildeo (RAGINS 1997) No entanto quando

ocorrem as duas funccedilotildees ou seja suporte de carreira e psicossocial a mentoria se torna mais

intensa (KRAM 1983)

Nas seguintes seccedilotildees seraacute apresentado e definido o suporte oferecido pelo mentor ao

seu mentorado tanto em termos de carreira quanto psicossocial

2111 Suporte de carreira

O suporte de carreira inclui a ajuda que o mentor daacute ao mentorado para que este se

firme na organizaccedilatildeo e conheccedila seus meandros preparando-o para a ascensatildeo Este suporte

refere-se tambeacutem agraves atividades que o mentor desenvolve no sentido de auxiliar o mentorado

25

em sua carreira profissional Kram (1985) identifica as seguintes atividades oferta de tarefas

desafiadoras coaching proteccedilatildeo exposiccedilatildeo e visibilidade positiva e patrociacutenio Tais funccedilotildees

satildeo abordadas abaixo

a) Oferta de tarefas desafiadoras

Satildeo as tarefas que o mentor atribui ao mentorado visando o desenvolvimento de

competecircncias especiacuteficas Juntamente com estas tarefas o mentor provecirc treinamento

teacutecnico capacitando-o a superar desafios O mentor tambeacutem fornece feedback ao

mentorado sobre seu desempenho A oferta de tarefas desafiadoras prepara o

mentorado para posiccedilotildees de maior responsabilidade

b) Coaching

Ocorre quando o mentor tal qual um teacutecnico transmite conhecimento ao mentorado

sobre como ldquonavegarrdquo no mundo dos negoacutecios O mentor sugere estrateacutegias e

transmite informaccedilotildees ao mentorado Chao et al (1992) defendem que o coach

preocupa-se apenas com a tarefa e as informaccedilotildees necessaacuterias para sua realizaccedilatildeo natildeo

desenvolvendo o interesse para com a carreira do jovem aprendiz Entretanto como

observam Azevedo e Dias (2002) o mentor em algumas ocasiotildees realiza o coaching

por exemplo quando orienta o mentorado com respeito ao desenvolvimento de

habilidades especiacuteficas para o cumprimento de determinada tarefa

c) Proteccedilatildeo

Ocorre quando o mentor se coloca na posiccedilatildeo de um escudo protegendo seu

mentorado O mentor pode assumir determinadas falhas de seu mentorado ou natildeo

permitir que elas se tornem conhecidas A proteccedilatildeo tende a ocorrer com mais

frequumlecircncia quando o mentorado ainda natildeo apresenta resultados dignos de exposiccedilatildeo

Klaw et al (2003) afirmam que o mentor pode inclusive advogar em nome de seus

mentorados adolescentes

26

d) Exposiccedilatildeo e visibilidade positiva

Ocorre quando o mentor daacute ao mentorado condiccedilotildees de demonstrar seu potencial agraves

pessoas de mais alto niacutevel facilitando futuras promoccedilotildees O mentor expotildee

positivamente o mentorado

e) Patrociacutenio

O patrociacutenio acontece quando o mentor indica formal ou informalmente o mentorado

para promoccedilatildeo Ele viabiliza a ascensatildeo de seu mentorado atraveacutes desta indicaccedilatildeo ou

quando propicia os recursos necessaacuterios para o desenvolvimento profissional de seu

mentorado

Estas satildeo as atividades que o mentor desempenha no sentido de viabilizar o

desenvolvimento profissional do mentorado Seguem abaixo as funccedilotildees psicossociais atraveacutes

das quais o mentor desenvolve atividades que contribuem com o crescimento pessoal de seu

protegido

2112 Suporte psicossocial

As funccedilotildees de suporte psicossocial estatildeo mais associadas ao desenvolvimento pessoal

do mentorado do que propriamente ao seu desenvolvimento profissional O suporte

psicossocial afeta a relaccedilatildeo do mentorado consigo mesmo e com as pessoas com as quais se

relaciona O desenvolvimento desta funccedilatildeo iraacute depender da confianccedila existente na relaccedilatildeo De

acordo com Kram (1985) o apoio psicossocial diz respeito ao suporte psicoloacutegico e social que

o mentor daacute ao mentorado As atividades que compotildeem este suporte satildeo amizade aceitaccedilatildeo e

confirmaccedilatildeo aconselhamento e modelagem de papeis Tais atividades satildeo expostas a seguir

a) Amizade

Ocorre quando a relaccedilatildeo de mentoria daacute ao mentorado a sensaccedilatildeo de bem estar de

ligaccedilatildeo e de ser compreendido por seu mentor O coleguismo facilita ao mentorado

27

desenvolver relacionamento com pessoas de niacutevel mais elevado do que ele Esta

amizade contribui tambeacutem para o aumento da autoconfianccedila do mentorado

b) Aceitaccedilatildeo e confirmaccedilatildeo

A aceitaccedilatildeo por parte do mentor faz com que o mentorado se sinta seguro inclusive

para assumir riscos e aceitar desafios

Dados qualitativos de estudos feitos por Style e Morrow (1992) demonstraram que

relacionamentos voltados para juventude satildeo mais eficazes quando o adulto pode

compreender as dificuldades enfrentadas por seus mentorados bem como respeitar e

aceitar sua famiacutelia classe social e cultura

c) Aconselhamento

Ocorre quando o mentorado ao falar de suas duacutevidas medos e ansiedades tem no

mentor um conselheiro algueacutem que o escuta e lhe daacute feedback Ao desempenhar esta

funccedilatildeo o mentor pode se valer de suas proacuteprias experiecircncias e dilemas enfrentados no

iniacutecio de sua carreira

d) Modelagem de papeacuteis

A modelagem ocorre quando o mentorado vecirc em seu mentor sua proacutepria imagem

idealizada Neste caso os comportamentos os valores e as atitudes do mentor satildeo

exemplos a serem seguidos A partir desta identificaccedilatildeo o mentorado passa a admirar

respeitar e imitar seu mentor Scandura (1992) considera que o fato de o mentor ser

um modelo para o mentorado estaria em uma terceira funccedilatildeo da mentoria distinta de

suporte psicossocial No entanto para efeito deste trabalho tal fator seraacute considerado

como pertinente ao suporte psicossocial uma vez que se tomou por base o modelo

proposto por Kram (1985) O mentorado pode ver seu mentor como representante do

seu proacuteprio futuro (RAGINS 1997) No caso de jovens e adolescentes os adultos satildeo

vistos como ideais com quem aqueles aprenderatildeo determinados comportamentos de

28

quem iratildeo receber colaboraccedilotildees sobre carreiras potenciais e com quem iratildeo

desenvolver habilidades especiacuteficas (RHODES et al 2002) Com relaccedilatildeo agraves

implicaccedilotildees deste aprendizado Hartmam e Harris (1992) encontraram que estudantes

modelam seu estilo de gerenciamento baseados no estilo de lideranccedila da pessoa que

admiravam quando mais novos Por sua vez Zacharatos et al (2000) em um estudo

sobre lideranccedila transformacional observaram que o desenvolvimento dos

comportamentos de lideranccedila se daacute na adolescecircncia e que comportamentos aprendidos

nesta fase tendem a ser estaacuteveis Finalmente Krosnick e Alwin (1989) defendem que

assim como os comportamentos as atitudes adquiridas durante a adolescecircncia tendem

a permanecer na vida adulta

Especificamente em se tratando de mentoria voltada para jovens e adolescentes Klaw

et al (2003) observaram as implicaccedilotildees e possibilidades de mudanccedila de comportamento do

mentorado ao se ter no mentor um modelo

os mentores podem servir como exemplos concretos de realizaccedilatildeo educacional e ocupacional demonstrando as qualidades que os adolescentes podem desejar imitar O adolescente pode adotar comportamentos novos observando e comparando seu proacuteprio desempenho ao de seu mentor (p225)

Nesta seccedilatildeo foram apresentadas as funccedilotildees de mentoria ou seja suporte de carreira e

suporte psicossocial Na sequumlecircncia seratildeo abordadas as fases pelas quais o relacionamento se

desenvolve ateacute chegar agrave redefiniccedilatildeo

212 Fases da relaccedilatildeo mentoria

Dando continuidade agraves caracteriacutesticas da relaccedilatildeo de mentoria seratildeo abordadas as fases

pertinentes a esse relacionamento Vale salientar que a relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas e

adolescentes de risco podem ou natildeo apresentar estaacutegios semelhantes agrave mentoria desenvolvida

no acircmbito da organizaccedilatildeo (RHODES et al 2002)

29

Da perspectiva organizacional Kram (1983) sugere que a mentoria ocorre geralmente

em quatro fases distintas mas natildeo riacutegidas Satildeo elas

bull Iniciaccedilatildeo - esta fase ocorre no inicio da relaccedilatildeo na qual o mentor eacute admirado e

respeitado pelo mentorado O mentor reconhece o mentorado como algueacutem com

potencial e com quem iraacute desenvolver um trabalho agradaacutevel O mentorado

tambeacutem eacute visto pelo mentor como algueacutem que lhe proveraacute assistecircncia teacutecnica e que

seraacute beneficiado com seus conselhos uma vez que o mentor tem mais experiecircncia

de vida Estas fantasias iniciais seratildeo responsaacuteveis por orientar as expectativas

presentes na relaccedilatildeo de mentoria

bull Cultivo - nesta fase as expectativas surgidas no iniacutecio da relaccedilatildeo iratildeo defrontar-se

com a realidade do contato O mentor proveraacute o mentorado com as funccedilotildees de

carreira e psicossociais Kram (1983) salienta que o suporte de carreira vai

depender das tarefas e da experiecircncia do mentor No entanto o suporte

psicossocial estaacute mais fortemente relacionado agrave confianccedila e agrave mutualidade que

houver na relaccedilatildeo Eacute nesta fase de cultivo que as funccedilotildees da mentoria seratildeo

plenamente desenvolvidas

bull Separaccedilatildeo - ocorre quando a natureza do relacionamento eacute alterada por mudanccedilas

no contexto social ou organizacional Este periacuteodo eacute marcado por ansiedade em

que o mentorado sente necessidade de autonomia e independecircncia A separaccedilatildeo

ocorre estruturalmente e psicologicamente e a mentoria deixa de ocupar lugar de

destaque na vida de ambos mentor e mentorado

bull Redefiniccedilatildeo - a ansiedade da separaccedilatildeo eacute superada e o relacionamento eacute

resignificado ou termina Nesta fase a mentoria pode se tornar apenas um

relacionamento de amizade com encontros esporaacutedicos e informais e o mentor

30

pode ainda oferecer algum tipo de apoio mas de forma mais distante e sem a

frequumlecircncia de outrora

Abordadas algumas caracteriacutesticas da mentoria tais como suas funccedilotildees e fases

seguem-se os tipos de mentoria visando enriquecer a compreensatildeo de como se daacute esta

relaccedilatildeo

213 Tipos de mentoria

A relaccedilatildeo de mentoria conforme abordado anteriormente eacute algo que emerge

naturalmente entre uma pessoa mais experiente e um novato A mentoria pode ser

caracterizada como uma relaccedilatildeo intrinsecamente informal No entanto devido aos benefiacutecios

alcanccedilados por esta relaccedilatildeo intenta-se reproduzi-la formalmente em uma escala mais ampla e

com maior controle Neste caso tem-se a mentoria formal uma relaccedilatildeo mais estruturada e que

busca atingir os benefiacutecios para o mentor mentorado organizaccedilatildeo e sociedade resultantes da

mentoria informal ou natural Segue abaixo uma maior explicitaccedilatildeo do que vem a ser a

mentoria informal e a formal

2131 Mentoria informal

Eacute a que nasce espontaneamente por iniciativa dos indiviacuteduos de acordo com

necessidades e interesses pessoais O mentor escolhe seu mentorado agraves vezes por ver-se nele

quando jovem O mentorado por sua vez tambeacutem escolhe para seu mentor geralmente

algueacutem a quem tem por modelo A seleccedilatildeo do mentor eacute feita frequumlentemente com base na

identificaccedilatildeo do mentorado com seu possiacutevel mentor (RAGINS 1997) Tal identificaccedilatildeo faz

com que a mentoria informal seja considerada mais poderosa do que a formal (NOE 1998)

Na mentoria informal natildeo haacute uma estruturaccedilatildeo da relaccedilatildeo e a frequumlecircncia dos encontros parte

da necessidade Este tipo de mentoria pode se estender por longos periacuteodos

31

Decorrente do sucesso obtido atraveacutes da mentoria informal esforccedilos tecircm sido

desenvolvidos para reproduzi-la formalmente conforme seraacute abordado na proacutexima seccedilatildeo

2132 Mentoria formal

A mentoria formal natildeo eacute espontacircnea como a informal Antes ocorre por iniciativa

encaminhamento e estruturaccedilatildeo da organizaccedilatildeo Sua duraccedilatildeo geralmente varia de seis meses a

um ano e a frequumlecircncia dos encontros eacute preacute-estabelecida mediante contrato firmado entre as

partes (MURRAY 2001)

Na mentoria formal a motivaccedilatildeo para ser mentor pode estar associada ao fato de o

mentor ser visto como bom cidadatildeo organizacional e ao reconhecimento que pode lhe trazer o

fato de ser mentor

Tendo sido abordado o conceito de mentoria suas funccedilotildees as fases pelas quais passa a

relaccedilatildeo e os tipos de mentoria faz-se necessaacuterio analisar alguns fatores que contribuem para o

ecircxito desta relaccedilatildeo Tais fatores seratildeo abordados nas seguintes seccedilotildees

214 Fatores relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria formal

Os programas de mentoria voltados para jovens e adolescentes por se tratarem de

programas de mentoria formal necessitam seguir alguns criteacuterios na busca de se atingir os

objetivos e os benefiacutecios desejados Como jaacute referido os programas de mentoria formal

intentam reproduzir artificialmente as caracteriacutesticas essenciais dos relacionamentos naturais

de suporte Eacute importante ressaltar no entanto que programas mal orientados podem trazer

efeitos negativos na vida do mentorado (DUBOIS et al 2002) Ragins et al (2000) consideram

que em relaccedilatildeo ao niacutevel de satisfaccedilatildeo do mentorado o relacionamento de mentoria estaria em

um continuum no qual em um extremo ficaria o relacionamento altamente satisfatoacuterio e no

outro o relacionamento nocivo ou prejudicial O relacionamento localizado no meio do

32

continuum seria considerado pelas autoras como marginal mentoring ou seja um

relacionamento de mentoria no qual o mentor seria apenas ldquobom o suficienterdquo Os fatores

relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo devem ser observados na tentativa de evitar que o

relacionamento torne-se nocivo ou ateacute mesmo destrutivo Tais fatores visam fazer com que a

relaccedilatildeo seja satisfatoacuteria e beneacutefica

Na tentativa de potencializar os benefiacutecios da mentoria faz-se necessaacuterio considerar os

seguintes fatores seleccedilatildeo de mentores e mentorados treinamento supervisatildeo e

acompanhamento do programa frequumlecircncia dos encontros e a duraccedilatildeo da relaccedilatildeo Estes fatores

relacionados com o ecircxito da relaccedilatildeo seratildeo detalhados nas seccedilotildees seguintes

2141 Seleccedilatildeo de mentores e mentorados

Visando o sucesso do relacionamento de mentoria haacute algumas recomendaccedilotildees

relevantes sobre como combinar mentor e mentorado Fatores como dados demograacuteficos raccedila

e gecircnero devem ser considerados Em se tratando de mentoria com crianccedilas e adolescentes

faz-se necessaacuterio um cuidado ainda maior na seleccedilatildeo do mentor uma vez que

comportamentos e atitudes aprendidos na infacircncia e adolescecircncia tendem a perdurar por toda

a vida

O Big Brothers Big Sisters (programa norte-americano de mentoria voltado para

crianccedilas e adolescentes com risco para delinquumlecircncia) ao fazer o recrutamento dos voluntaacuterios

para agirem como mentores faz um levantamento da vida destes para saber suas intenccedilotildees e

sua vida pregressa Em um programa de mentoria voltado para crianccedilas delinquumlentes os

mentores natildeo poderiam ter qualquer tipo de envolvimento criminal (JACKSON 2002) A

investigaccedilatildeo da vida pregressa do mentor tem o objetivo de garantir a seguranccedila do

mentorado e verificar a possibilidade de comprometimento do mesmo para com o programa

Tal investigaccedilatildeo eacute importante inclusive para assegurar que o mentor poderaacute ser um modelo

33

positivo com condiccedilotildees de influenciar beneficamente o mentorado (GROSSMAN TIERNEY

1998) Os autores sugerem que se considere tambeacutem o interesse dos pais em que a crianccedila ou

adolescente tenha um mentor uma vez que o apoio da famiacutelia eacute um fator de sucesso para o

programa Depois de feita a seleccedilatildeo deve-se fazer um treinamento e acompanhar o

desenvolvimento do relacionamento Tais fatores seratildeo observados na proacutexima seccedilatildeo

2142 Treinamento supervisatildeo e acompanhamento do programa

de mentoria

Assim como a seleccedilatildeo a supervisatildeo deve ser cuidadosa Eacute necessaacuterio fazer um

monitoramento do programa e deve-se comunicar claramente e acordar as expectativas o

tempo do relacionamento a frequumlecircncia dos encontros e os objetivos O mentor deve contar

com apoio constante da organizaccedilatildeo durante todo o programa (DUBOIS et al 2002) O

mentor deve receber treinamento e orientaccedilatildeo e deve haver uma supervisatildeo incluindo

relatoacuterios sobre os encontros (GROSSMAN TIERNEY 1998)

No programa de mentoria voltado para crianccedilas delinquumlentes pesquisado por Jackson

(2002) a supervisatildeo foi feita em trecircs niacuteveis a primeira se deu em termos de conhecimentos

na qual um psicoacutelogo cliacutenico transmitia informaccedilotildees sobre psicopatologia causas e

caracteriacutesticas da crianccedila delinquumlente bem como teacutecnicas de intervenccedilatildeo No segundo niacutevel

foram feitos encontros com o psicoacutelogo para falar acerca das dificuldades encontradas e as

possibilidades de soluccedilatildeo O terceiro e uacuteltimo niacutevel foi o da supervisatildeo que ocorreu em

grupo no qual os diversos mentores discutiram suas experiecircncias Vale ressaltar que o

programa apresentou resultados positivos na vida dos que dele participaram

Fenney et al (2000 apud RHODES et al 2002) afirmam que adultos bem sucedidos

em trabalhar como mentores de jovens satildeo os que tecircm empatia por eles recordando-se de

como eram no passado A participaccedilatildeo dos pais durante o programa de mentoria seja para

34

apoiar seus filhos seja para receber sustentaccedilatildeo tem sido relacionada positivamente ao

sucesso do programa (FRECKNALL LUKS 1992) Outro fator que leva ao ecircxito da relaccedilatildeo

de mentoria eacute a frequumlecircncia com que ocorrem os encontros fato este abordado na proacutexima

seccedilatildeo

2143 Frequumlecircncia dos encontros

Alguns estudos tecircm sido feitos com ecircxito no sentido de relacionar a frequumlecircncia dos

encontros com o sucesso da relaccedilatildeo principalmente em se tratando de mentorados

adolescentes com risco para delinquumlecircncia (KEATING et al 2002) Na mesma linha Azevedo

e Dias (2002) sugerem que a influecircncia do mentor na carreira do mentorado pode ser

diminuiacuteda quando se dispotildee de pouco tempo para a relaccedilatildeo

Keating et al (2002) defendem que a frequumlecircncia de uma ou duas vezes por mecircs eacute

insuficiente para prover suporte para jovens com risco para delinquumlecircncia fazendo com que o

relacionamento natildeo tenha ecircxito As autoras afirmam que programas para jovens e

adolescentes com risco devem ter frequumlentes contatos face-a-face para serem realmente

efetivos O encontro semanal eacute sugerido Segue na proacutexima seccedilatildeo outro fator de ecircxito para a

relaccedilatildeo de mentoria a saber a duraccedilatildeo do relacionamento entre mentor e mentorado

2144 Duraccedilatildeo da relaccedilatildeo de mentoria

A maioria dos benefiacutecios da relaccedilatildeo emerge de um relacionamento de mentoria que

perdure por um ano ou mais Ou seja os benefiacutecios estatildeo associados ao amadurecimento da

relaccedilatildeo (GROSSMAN RHODES 2002) Os autores consideram que relacionamentos curtos

estatildeo associados com efeitos negativos para a juventude de risco

Adolescentes cujo relacionamento de mentoria se estende por um ano ou mais

apresentam melhores resultados educacionais psicossociais e comportamentais Estes

35

resultados satildeo positivamente relacionados com o tempo da relaccedilatildeo Em outras palavras na

medida em que se reduz o tempo de mentoria diminui tambeacutem a apresentaccedilatildeo de resultados

positivos atribuiacutedos agrave relaccedilatildeo (GROSSMAN RHODES 2002)

Frecnall e Luks (1992) encontraram em suas pesquisas que o tempo de duraccedilatildeo da

relaccedilatildeo de mentoria tem sido um fator determinante de ecircxito 70 de resultado positivo com

crianccedilas de um a dois anos de programa e 90 com crianccedilas com dois a trecircs anos de

participaccedilatildeo em um programa de mentoria

O exposto revela a teoria vigente acerca da relaccedilatildeo de mentoria das funccedilotildees

desempenhadas na relaccedilatildeo das fases pelas quais ela passa dos tipos de mentoria

identificados bem como de alguns fatores que se observados contribuem para o sucesso da

relaccedilatildeo Faz-se entatildeo pertinente a seguinte questatildeo norteadora em uma comunidade carente

brasileira ateacute que ponto a mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes apresenta as

caracteriacutesticas definidas pela teoria

Mencionadas as caracteriacutesticas da relaccedilatildeo de mentoria abordar-se-aacute a seguir os

benefiacutecios desta relaccedilatildeo para o mentorado e para o mentor bem como seratildeo considerados

tambeacutem os benefiacutecios sociais desta relaccedilatildeo

22 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria

Satildeo muitos os benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria Zey (1998) revela que a relaccedilatildeo de

mentoria na organizaccedilatildeo pode ser extremamente beneacutefica para o mentorado para o mentor e

para a proacutepria empresa Os benefiacutecios da mentoria foram amplamente estudados no que

concerne agrave mentoria voltada para a organizaccedilatildeo No entanto pretende-se aqui estabelecer um

paralelo entre os benefiacutecios da mentoria organizacional e os da mentoria voltada para jovens e

adolescentes de risco Tais benefiacutecios foram verificados atraveacutes de pesquisas mas ainda natildeo

se apresentam sistematizados Como beneficiaacuterios diretos da relaccedilatildeo de mentoria pode-se citar

36

o mentor o mentorado e a organizaccedilatildeo Entretanto o alcance de um programa bem

estruturado pode se estender para a famiacutelia e para a sociedade

Nas seccedilotildees seguintes seratildeo apresentados os benefiacutecios da mentoria para o mentorado

para o mentor e posteriormente seratildeo abordados os benefiacutecios sociais desta relaccedilatildeo

221 Benefiacutecios da mentoria para o mentorado

O mentorado pode ser muito beneficiado atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria O mentor ao

fornecer suporte psicossocial e de carreira auxilia o mentorado em seu crescimento pessoal o

que inclui o desenvolvimento emocional o social e o de carreira Tal suporte facilita transiccedilatildeo

do adolescente para a fase adulta (RHODES et al 2002)

A literatura apresenta os seguintes benefiacutecios para o mentorado

a) Aumento da auto-estima

Grossman e Tierney (1998) verificaram que os jovens com risco para delinquumlecircncia que

foram acompanhados por mentores sentiram-se mais confiantes em suas habilidades para com

as tarefas escolares do que os jovens natildeo mentorados Harter (1982) demonstrou que se sentir

competente leva os jovens a demonstrarem melhor desempenho

O aumento da auto-estima foi verificado em adolescentes e jovens ao se relacionarem

com um mentor (FRECKNALL LUKS 1992) Alguns programas de mentoria tecircm

favorecido o aumento da auto-estima tambeacutem em crianccedilas com comportamentos

autodestrutivos (JACKSON 2002)

b) Maior interaccedilatildeo social e com a famiacutelia

Outro benefiacutecio para o mentorado decorrente do suporte que recebe na relaccedilatildeo de

mentoria eacute a atratividade social Pessoas com alto grau de suporte social satildeo vistas como mais

atrativas tecircm maior conhecimento relativo a relacionamentos sociais e satildeo menos

manipulaacuteveis do que as com baixo suporte social (SARASON et al 1985) Frecknall e Luks

37

(1992) verificaram que adolescentes assistidos por um mentor apresentaram maior

envolvimento com a famiacutelia e amigos do que os natildeo mentorados

O fato de o mentor ser um modelo de sucesso estimula ainda a melhora da

autopercepccedilatildeo bem como de atitudes e comportamentos do adolescente mentorado Haacute

evidecircncias de que a influecircncia positiva do mentor pode se estender aos relacionamentos mais

proacuteximos do adolescente operando mudanccedilas inclusive na vida daqueles que com ele

convivem (WALKER FREEMAN 1996)

c) Maior progresso da carreira e aumento da responsabilidade

Mentorados recebem mais promoccedilotildees tecircm melhor desempenho e mais satisfaccedilatildeo no

trabalho do que os natildeo mentorados (CHAO et al 1992) Os mentorados satildeo beneficiados

pois recebem melhores pagamentos dos que os que natildeo dispotildeem de um mentor (MULLEN

1998) Mentorados tecircm na mentoria uma contribuiccedilatildeo potencial para o desenvolvimento

pessoal e profissional sendo tambeacutem um meio para adentrar o mundo dos negoacutecios (KRAM

1983)

Para o mentorado jovem e adolescente o mentor fornece instruccedilatildeo e incentivo

facilitando a transiccedilatildeo da adolescecircncia para o mundo adulto (RHODES et al 2002) Os

presidentes de empresas mais bem sucedidos afirmaram que para tal tiveram a influecircncia de

mentores em sua vida profissional (FAGENSON 1989) Liacutederes mais competentes e

solucionadores de problemas satildeo pessoas consideradas com alto suporte social (SARASON et

al 1986)

O mentorado apresenta maior crescimento profissional e melhor desenvolvimento da

carreira (ZEY 1998) Mentorados tecircm maior satisfaccedilatildeo com a carreira do que os que natildeo

possuem mentor (FAGENSON 1989) Pessoas com alto suporte psicossocial satildeo mais

extrovertidas e apresentam menos comportamentos neuroacuteticos hostilidade solidatildeo e

depressatildeo (COYNE 1978 apud SARASON et al 1986)

38

Outro beneficio para o mentorado diz respeito agrave definiccedilatildeo da identidade profissional e

senso de competecircncia (KRAM ISABELLA 1985) Especificamente com relaccedilatildeo a mentoria

voltada para adolescentes estes apresentaram melhor rendimento escolar e aumento da

responsabilidade (FRECKNALL LUKS 1992)

Grossman e Tierney (1998) ao avaliarem o impacto do Programa Big Brother Big

Sister natildeo haviam sido otimistas em acreditar que o programa aumentasse o rendimento

escolar dos alunos participantes pois conforme verificado em pesquisas anteriores o

aproveitamento escolar e a obtenccedilatildeo de graus dependem de um acompanhamento estaacutevel e

geralmente natildeo satildeo afetadas por uma relaccedilatildeo de mentoria que natildeo tenha foco educacional

Entretanto apesar de o programa Big Brother Big Sister natildeo fornecer diretamente apoio

escolar o rendimento escolar dos mentorados mostrou-se superior As ausecircncias ou faltas agrave

escola foram reduzidas Os autores consideraram que tal fato foi consequumlecircncia de os

mentores (todos acadecircmicos) serem tidos como exemplos valorizarem os estudos e

transmitirem uma visatildeo otimista de futuro para seus mentorados

d) Melhor enfrentamento das adversidades visatildeo otimista da vida e perspectivas

positivas de futuro

Jovens com alto suporte social satildeo mais otimistas quanto ao futuro uma vez que

mentores os auxiliam em relaccedilatildeo agraves suas perspectivas (HARRIS et al 2002 KASHANI et al

1989) Indiviacuteduos com alto suporte social aleacutem de mais atrativos e mais haacutebeis socialmente

satildeo mais otimistas quanto aos eventos da vida do que os que manifestam ter baixo suporte

social (SARASON et al 1985)

Pessoas com baixo suporte social satildeo mais retraiacutedas desatentas tecircm menos esperanccedila

quanto ao futuro e satildeo mais prejudiciais aos outros do que as que tecircm alto niacutevel de suporte

social (KASHANI et al 1989) O sucesso dos adolescentes que superaram momentos de

39

adversidades inclui frequumlentemente a presenccedila de pelo menos um mentor que lhe proveu tal

suporte (RHODES et al 2002)

Benefiacutecios tambeacutem satildeo apresentados em se tratando de jovens com risco para

delinquumlecircncia Nestes o desenvolvimento pessoal pode ser percebido frequumlentemente quando o

mentor eacute um modelo positivo para o mentorado Este fato auxilia na reduccedilatildeo do estresse

diaacuterio e provecirc condiccedilotildees de o mentorado rever sua percepccedilatildeo acerca de seus relacionamentos

mudando de uma visatildeo negativa destes para uma positiva (MAIN et al 1985 apud

GROSSMAN RHODES 2002)

Eacute particularmente importante a influecircncia positiva que o mentor oferece ao mentorado

na reduccedilatildeo do estresse diaacuterio Sendo um modelo de resoluccedilatildeo de conflitos o mentor auxilia

indiretamente na diminuiccedilatildeo do estresse familiar melhorando ateacute mesmo a interaccedilatildeo do

mentorado com seus proacuteximos Segundo os autores o relacionamento de mentoria pode ter

ainda um efeito corretivo para adolescentes que tiveram experiecircncias negativas no

relacionamento com os pais

Conforme visto pesquisas anteriores demonstraram que o mentorado pode ser muito

beneficiado atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria Cabe aqui portanto a segunda questatildeo norteadora

deste trabalho em um contexto brasileiro ateacute que ponto os mentorados carentes estudados

tecircm desfrutado dos benefiacutecios da mentoria apontados pela literatura

Considerados os benefiacutecios da mentoria para o mentorado cabe expor a forma pela

qual a mentoria beneficia o mentor fato abordado na seccedilatildeo seguinte

222 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentor

A mentoria pode proporcionar ao mentor diversos benefiacutecios Os mentores podem ter

no mentorado uma versatildeo de si proacuteprios quando mais jovens como se o mentorado fosse

representante de seu passado (RAGINS 1997) De acordo com a literatura os mentores

40

podem ser beneficiados com esta relaccedilatildeo atraveacutes da realizaccedilatildeo pessoal da motivaccedilatildeo e do

reconhecimento Segue-se a explanaccedilatildeo de tais fatores

a) Realizaccedilatildeo pessoal

O fato de ser mentor daacute ao indiviacuteduo um senso de generosidade ao contribuir com as

geraccedilotildees futuras Satisfaccedilatildeo interna e reconhecimento organizacional lealdade do mentorado

apreciaccedilatildeo do grupo renovaccedilatildeo da carreira e melhor performance no trabalho satildeo benefiacutecios

da mentoria para o mentor Mentores podem obter mais conhecimento empatia e capacidade

de se relacionar com outros grupos do que aqueles que natildeo satildeo mentores (RAGINS 1997)

Em se tratando de mentores de jovens e adolescentes com risco para delinquumlecircncia

Shields (2001) verificou que a mentoria propiciou ao mentor um sentimento de recompensa

ao observar as mudanccedilas positivas ocorridas no comportamento de seus mentorados Jackson

(2002) observou em seu estudo que mentores de adolescentes delinquumlentes relataram como

sendo gratificante o fato de terem atraveacutes da mentoria uma oportunidade de ajudar estas

pessoas

b) Motivaccedilatildeo

O mentor pode redirecionar sua energia para a criatividade e a accedilatildeo produtiva num

periacuteodo que dependendo do indiviacuteduo pode ser entendido como de estagnaccedilatildeo Neste caso a

mentoria pode significar estiacutemulo e desafio (ZEY 1998)

c) Reconhecimento

Mentores podem ter a confianccedila e serem amados por seus mentorados (KLAW et al

2003) Ganham suporte teacutecnico e psicoloacutegico e satisfaccedilatildeo interna ao fazer com que um novato

seja capaz de ldquonavegarrdquo no mundo dos negoacutecios Os mentores ganham respeito de seus

colegas ao desenvolver um jovem talento para organizaccedilatildeo (KRAM ISABELLA 1985)

41

Assim a terceira questatildeo norteadora deste trabalho eacute ateacute que ponto um projeto de

mentoria voltado para crianccedilas e adolescentes carentes no Recife oferece os benefiacutecios de

realizaccedilatildeo pessoal motivaccedilatildeo e reconhecimento para os mentores

Considerados os benefiacutecios da mentoria para o mentorado e para o mentor seratildeo

abordados na proacutexima seccedilatildeo os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes desta relaccedilatildeo

223 Benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria

Em se tratando de mentoria voltada para crianccedilas jovens e adolescentes com risco

para delinquumlecircncia aleacutem dos benefiacutecios na vida dos que participam diretamente da relaccedilatildeo a

sociedade tambeacutem pode ser positivamente afetada

Frecknall e Luks (1992) investigaram a avaliaccedilatildeo dos pais acerca do aproveitamento

de seus filhos inseridos em um programa de mentoria voltado para jovens com risco para

delinquumlecircncia Com relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo de 63 dos pais os filhos apresentaram uma grande

melhora em toacutepicos como rendimento escolar comportamento com a famiacutelia

comportamento com os amigos aumento da auto-estima aumento da responsabilidade e

diminuiccedilatildeo de envolvimento em situaccedilotildees problema Paralelamente ao beneficio alcanccedilado

por um adolescente e por sua famiacutelia haacute uma contribuiccedilatildeo indireta para a sociedade na

medida em que diminuem os iacutendices de delinquumlecircncia e de evasatildeo escolar Indiretamente haacute

tambeacutem a reduccedilatildeo da possibilidade de assistencialismo o aumento do iacutendice de alfabetizaccedilatildeo

e o crescimento do IDH (Iacutendice de Desenvolvimento Humano) Com frequumlecircncia aumenta

ainda a mobilidade social e a possibilidade de contribuiccedilatildeo social direta destas crianccedilas

adolescentes e jovens

A teoria aponta a reduccedilatildeo da dependecircncia de poliacuteticas assistencialistas e a diminuiccedilatildeo

da delinquumlecircncia como benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria fatores que seratildeo abordados a

seguir

42

a) Reduccedilatildeo futura da dependecircncia de poliacuteticas assistencialistas

Patterson et al (1989) esclarecem que a expressatildeo ldquosituaccedilatildeo de riscordquo eacute usada

geralmente para descrever

jovens que demonstram problemas comportamentais e emocionais que tecircm dificuldade em desenvolver-se com sucesso Quando adultos estes apresentam alta incidecircncia em desemprego crocircnico divoacutercio problemas fiacutesicos e psiquiaacutetricos envolvimento com drogas tornam-se dependentes de assistecircncia social podendo ainda envolver-se em atividades criminosas (p329) Grifo da pesquisadora

Adolescentes com altas expectativas educacionais de futuro (muitas vezes providas

por um mentor) desenvolvem bons haacutebitos de estudo pensam em fazer curso universitaacuterio e

buscam se envolver em atividades intelectuais extracurriculares Em contrapartida os que

deteacutem baixa expectativa apresentam maior probabilidade de desenvolver comportamentos de

risco (HARRIS et al 2002) Jovens em situaccedilatildeo de risco entre outros fatores satildeo propensos a

depender no futuro de poliacuteticas assistencialistas

b) Diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia

Jovens e adolescentes em situaccedilatildeo de risco satildeo candidatos potenciais a programas de

mentoria Estes podem ser usados como prevenccedilatildeo contra a delinquumlecircncia particularmente na

ausecircncia de adultos que representem figuras positivas ou modelos O mentor pode claramente

desempenhar este papel (RHODES et al 1994)

O risco para delinquumlecircncia natildeo eacute uma questatildeo que dependa apenas de um fator Antes eacute

um conjunto de variaacuteveis que levam o adolescente a apresentar comportamentos delinquumlentes

Ellickson e Mcguigan (2000) ao investigarem os riscos para violecircncia em adolescentes

verificaram que no caso das meninas adolescentes fatores de risco incluem a baixa auto-

estima poucos anos de estudo e baixo niacutevel soacutecio-econocircmico Estes fatores podem ser

revertidos atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria Dornbusch et al (1985) verificaram que

adolescentes que convivem com apenas um dos pais apresentam maior probabilidade de se

43

envolver em comportamentos delinquumlentes e violentos do que os que vivem com ambos os

pais Uma afirmaccedilatildeo destoante eacute a de Larson et al (2001) Eles defendem que crianccedilas e

adolescentes que convivem com apenas um dos pais podem se adaptar bem a esta situaccedilatildeo

natildeo sendo o fato de conviver com apenas um dos pais determinante da delinquumlecircncia Natildeo

obstante essa natildeo eacute a tendecircncia das evidecircncias disponiacuteveis

Caffray e Schneider (2000) por exemplo ao pesquisarem sobre as motivaccedilotildees que

levam o adolescente aos comportamentos de risco citam como influecircncias importantes

sentimentos negativos sobre o relacionamento com os pais pouca comunicaccedilatildeo em casa

baixa coesatildeo familiar reduzido desempenho escolar e baixo suporte social Fatores familiares

estressantes como desemprego violecircncia domeacutestica discoacuterdia entre os pais e divoacutercio estatildeo

positivamente associados com a delinquumlecircncia (FARRINGTON 1987 apud PATTERSON et

al 1989) bem como poucos anos de estudo (DIAS 2003)

De modo geral a literatura sugere que em ambientes de risco jovens que dispotildeem de

suporte atraveacutes de relacionamentos com adultos podem diminuir os efeitos negativos das

adversidades sobre seu desenvolvimento (RHODES et al 1994) A tiacutetulo de exemplo

Jackson (2002) verificou que crianccedilas delinquumlentes ao serem assistidas por um mentor

diminuiacuteram a frequumlecircncia de comportamentos agressivos e de problemas de conduta

DuBois et al (2002) fizeram uma meta-anaacutelise acerca de 55 avaliaccedilotildees dos efeitos de

programas de mentoria voltados para juventude norte-americana Ficou aiacute evidenciado que os

participantes se beneficiam muito com a participaccedilatildeo em tais programas Os programas

diferem em seu conteuacutedo mas a maioria tem como foco a juventude de risco Haacute tambeacutem

programas destinados a filhos que vivem com apenas um dos pais e a minorias eacutetnicas

Quanto aos objetivos os programas avaliados buscavam o desenvolvimento na aacuterea

emocional comportamental educacional e em alguns casos o desenvolvimento profissional

dos mentorados

44

Um exemplo deste tipo de programa pode ser visto em Nova Iorque nos EUA e em

parte do Canadaacute Trata-se de um programa criado em 1904 o Big Brothers Big Sisters of

Ameacuterica (BBBS) que provecirc relacionamento de mentoria para crianccedilas de risco que vivem

com apenas um dos pais O programa eacute voltado para populaccedilatildeo menos favorecida que

apresenta problemas como delinquumlecircncia baixo aproveitamento escolar e baixa auto-estima

(FRECNALL LUKS 1992)

O BBBS emparelha adultos voluntaacuterios (Big Brothers Big Sisters) com crianccedilas e

adolescentes de 6 a 18 anos (Litle Brothers Litle Sisters) Os mentores modelos positivos

devem prover amizade aconselhamento e servir de guia para os mentorados Os encontros satildeo

feitos de duas a quatro vezes por mecircs Cada encontro dura em meacutedia de trecircs a quatro horas

Grossman e Tierney (1998) ao avaliarem o impacto do Big Brothers Big Sisters

levantaram soacutelidas evidecircncias de que a mentoria neste programa teve efeitos positivos e

socialmente importantes na vida dos jovens participantes Os autores compararam dois

grupos homogecircneos um de jovens participantes do programa e um outro de natildeo-participantes

Pocircde-se concluir que com relaccedilatildeo aos comportamentos anti-sociais nos jovens que tinham

mentor a frequumlecircncia de comportamentos agressivos para com outros jovens apresentou

frequumlecircncia 32 menor do que no grupo que natildeo foi assistido pelo programa A probabilidade

de iniciar o uso de drogas foi reduzida em 70 para os jovens que participaram do programa

em relaccedilatildeo aos natildeo participantes

Jackson (2002) tambeacutem realizou um estudo sobre mentoria voltada para adolescentes

delinquumlentes que teve oito meses de duraccedilatildeo Os adolescentes corriam risco de suspensatildeo ou

expulsatildeo da escola em que estudavam devido agrave infraccedilatildeo das normas Dos alunos mentorados

menos de 1 continuou a apresentar problemas de comportamento que comprometiam sua

permanecircncia na escola Os demais no entanto nos uacuteltimos trecircs meses de programa

apresentaram uma reduccedilatildeo meacutedia de 80 nos comportamentos infratores

45

Considerando todo o exposto pode-se afirmar que a mentoria tem se mostrado um

valioso recurso no auxiacutelio educacional de jovens e adolescentes Claramente as experiecircncias

de programas de mentoria com jovens de risco tecircm apresentado resultados positivos A

literatura apresentou alguns benefiacutecios sociais desta relaccedilatildeo em diversos contextos sendo

pertinente a verificaccedilatildeo da influecircncia desta relaccedilatildeo num contexto brasileiro Destaca-se entatildeo

a quarta questatildeo norteadora desta pesquisa quais os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da

relaccedilatildeo de mentoria na vida de crianccedilas e adolescentes de uma comunidade carente do Recife

Foi abordada neste capiacutetulo a literatura acerca da mentoria o conceito o suporte de

carreira e psicossocial oferecido pelo mentor as fases da relaccedilatildeo os fatores responsaacuteveis pelo

ecircxito da mentoria e os benefiacutecios da relaccedilatildeo Segue no capiacutetulo trecircs a metodologia deste

estudo que iraacute expor a forma como foi realizada a pesquisa

46

3 Metodologia

31 Delineamento da pesquisa

A presente pesquisa eacute um estudo de caso definido por Gil (1996) como ldquoestudo

profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos que permite seu amplo e detalhado

conhecimentordquo (p58) O estudo de caso segundo Laville e Dione (1999) pode ser feito com

uma pessoa um grupo uma comunidade um meio uma mudanccedila poliacutetica ou um conflito

A escolha deste tipo de delineamento de pesquisa deu-se devido agrave possibilidade de

avaliar as diversas dimensotildees do problema analisando-o como um todo Em se tratando de

estudo de caso a metodologia requer flexibilidade e portanto natildeo se tem uma estrutura riacutegida

quanto aos passos a seguir Laville e Dione (1999) afirmam que

o pesquisador pode pois mostrar-se mais criativo mais imaginativo tem mais tempo de adaptar seus instrumentos modificar sua abordagem para explorar elementos imprevistos precisar alguns detalhes e construir uma compreensatildeo do caso que leve em conta tudo isso pois ele natildeo mais estaacute atrelado a um protocolo de pesquisa que deveria permanecer o mais imutaacutevel possiacutevel (p156)

Utilizando o modelo proposto por Gil (1996) foram consideradas trecircs fases distintas

no delineamento do estudo delimitaccedilatildeo da unidade-caso coleta de dados anaacutelise e

interpretaccedilatildeo dos dados O estudo de caso se caracteriza como exploratoacuterio-descritivo O

objetivo do estudo exploratoacuterio segundo Selltiz et al (1974) eacute tornar o fenocircmeno conhecido

ou obter uma nova compreensatildeo deste Embora a relaccedilatildeo de mentoria seja um fenocircmeno

conhecido e estudado em outros paises no Brasil pouco se sabe como se daacute efetivamente esta

relaccedilatildeo Em se tratando de mentoria com crianccedilas e adolescentes brasileiros o conhecimento

47

eacute ainda mais escasso Por este motivo o presente estudo eacute exploratoacuterio buscou conhecer

como ocorre a relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas e adolescentes num contexto brasileiro mais

especificamente nordestino Ainda como objetivo de um estudo exploratoacuterio pode-se chegar a

novos conhecimentos sobre o objeto de estudo e a partir dele novos questionamentos e

hipoacuteteses podem emergir tal como abordado por Selltiz et al (1974) O estudo foi descritivo

pois se propocircs a descrever qualitativamente o fenocircmeno estudado (LAKATOS MARCONI

1995) A descriccedilatildeo do programa de reforccedilo foi feita com base na anaacutelise documental nas

notas de campo e nas entrevistas

A coleta de dados foi realizada sob o arcabouccedilo da metodologia qualitativa Tal coleta

deu-se em duas fases que seratildeo expostas nas seccedilotildees seguintes

32 Primeira fase da coleta de dados

A primeira fase da coleta de dados foi realizada na comunidade atraveacutes de um

primeiro contato com algumas matildees de alunos participantes do projeto Esta fase relacionou-

se com uma sondagem do campo para verificar a possibilidade da efetivaccedilatildeo ou natildeo da

pesquisa

321 Objetivo

Como uma primeira fase de coleta foi feita uma sondagem do programa com o intuito

de perceber se havia relaccedilatildeo de mentoria no projeto e caso houvesse quais as funccedilotildees

existentes nesta relaccedilatildeo

48

322 Instrumentos de coleta de dados

Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram a entrevista semi-estruturada

a observaccedilatildeo e as notas de campo conforme se segue

bull Entrevistas semi-estruturadas

A entrevista ldquo natildeo significa uma conversa despretensiosa e neutra uma vez que se

insere como meio de coleta de fatos relatados pelos autores enquanto sujeito-objeto da

pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que estaacute sendo focalizadardquo (NETO 1997

p57) Segundo Laville e Dione (1999) a entrevista semi-estruturada eacute ldquouma seacuterie de

perguntas abertas feitas verbalmente em uma ordem prevista mas na qual o entrevistador

pode acrescentar perguntas de esclarecimentordquo (p188)

Atraveacutes da situaccedilatildeo de interaccedilatildeo que eacute a entrevista buscou-se chegar ao conhecimento

proacuteprio dos sujeitos pesquisados As entrevistas foram semi-estruturadas com perguntas

abertas Minayo (1998) afirma que neste tipo de entrevista ldquoo entrevistado tem a possibilidade

de discorrer o tema proposto sem respostas ou condiccedilotildees preacute-fixadas pelo pesquisadorrdquo

(p108) A teacutecnica de entrevista foi complementada com a praacutetica da observaccedilatildeo fornecendo

assim uma visatildeo mais ampla do objeto em estudo conforme sugere Minayo (1998)

A entrevista conteve os seguintes temas

a) Significado de sucesso escolar

b) Fatores responsaacuteveis pelo ecircxito nos estudos

c) Significado do projeto Educaccedilatildeo eacute Vida na vida da famiacutelia

A entrevista foi realizada com cinco matildees que tinham filhos participando do projeto

A escolha das matildees foi feita por acessibilidade na qual o pesquisador seleciona os

casos a que tem acesso admitindo que estes representam o universo Este tipo de amostragem

49

pode ser aplicado em estudos exploratoacuterios e qualitativos conforme sugere Gil (1999) Foi

levantada a quantidade de pais responsaacuteveis pelas crianccedilas e adolescentes do programa que

natildeo trabalhassem fora de casa ou que o fizessem proacuteximo agrave comunidade e que pudessem

responder agrave entrevista O coordenador do projeto indicou 14 matildees que atendiam a este

requisito De posse dos nomes foi realizado um sorteio e das sorteadas duas natildeo estavam

disponiacuteveis A entrevista foi realizada com cinco matildees Colheram-se alguns dados

demograacuteficos acerca da matildee (ocupaccedilatildeo grau de instruccedilatildeo e situaccedilatildeo conjugal) e da crianccedila

participante do projeto (sexo idade seacuterie e tempo de projeto)

bull Observaccedilatildeo participante ndash feita na comunidade e no programa

Schwartz e Schwartz (1955) definem observaccedilatildeo participante como

um processo pelo qual manteacutem-se a presenccedila do observador numa situaccedilatildeo social com a finalidade de realizar uma investigaccedilatildeo cientiacutefica O observador estaacute em relaccedilatildeo face a face com os observados e ao participar da vida deles no seu cenaacuterio cultural colhe dados Assim o observador eacute parte do contexto sob observaccedilatildeo ao mesmo tempo modificando e sendo modificado por este contexto (p355 apud MINAYO 1998)

Em se tratando de suporte social para crianccedilas Frey e Rothlisberger (1996) sugerem a

observaccedilatildeo direta dos comportamentos o que neste caso pressupotildee a necessidade de

inserccedilatildeo do pesquisador na comunidade e no programa

No caso desta pesquisa a pesquisadora foi tida como observadora A observaccedilatildeo foi

feita atraveacutes durante algumas visitas da pesquisadora agrave comunidade e ao projeto

Nestas pode-se observar as crianccedilas assistidas pelo projeto bem como suas famiacutelias

uma vez que as entrevistas foram realizadas nas casas dos alunos pesquisados

bull Notas de campo

Referem-se agraves observaccedilotildees feitas no campo contendo a descriccedilatildeo das pessoas objetos

lugares fatos atividades e conversas Incluem a anotaccedilatildeo dos sentimentos

50

impressotildees ideacuteias e estrateacutegias que ocorreram agrave pesquisadora durante a observaccedilatildeo

Segundo Bogdan e Biklen (1994) as notas de campo satildeo ldquoo relato escrito daquilo que

o investigador ouve vecirc experencia e pensa no decurso da coleta e refletindo sobre os

dados de um estudo qualitativordquo (p150) Sendo assim as notas de campo tecircm

conteuacutedo tanto descritivo quanto reflexivo

A partir das entrevistas da observaccedilatildeo e das notas de campo pocircde-se verificar que

havia relaccedilatildeo de mentoria no projeto e percebeu-se a existecircncia das funccedilotildees da mentoria tanto

de suporte psicossocial como de carreira Tal fato incentivou a continuidade do estudo uma

vez que a relaccedilatildeo de mentoria se mostrou presente A partir daiacute fez-se necessaacuterio uma segunda

fase de coleta de dados que seraacute exposta a seguir

33 Segunda fase de coleta de dados

331 Objetivos

Tendo sido confirmada a existecircncia da relaccedilatildeo de mentoria no projeto de reforccedilo

buscou-se colher dados capazes de responder agrave seguinte pergunta de pesquisa como se daacute a

mentoria voltada para a educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes em uma comunidade carente do

Recife

332 Instrumentos de coleta de dados

Buscando investigar as especificidades (funccedilotildees fases e fatores de ecircxito) da relaccedilatildeo

de mentoria existentes no projeto e para se conhecer os benefiacutecios desta relaccedilatildeo na vida do

mentor do mentorado e da comunidade foram utilizados os seguintes instrumentos de coleta

51

de dados entrevista documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo observaccedilatildeo participante e notas de campo

Tais instrumentos satildeo considerados a seguir

bull Entrevista semi-estruturada - abordada na primeira fase de coleta de dados

Inicialmente a entrevista foi realizada com o coordenador do projeto buscando

conhecer a histoacuteria deste projeto e sua relaccedilatildeo com ele Posteriormente foram

entrevistadas nove matildees e uma avoacute que satildeo as pessoas responsaacuteveis pelos alunos

selecionados e foi entrevistado tambeacutem um aluno O objetivo destas entrevistas foi

compreender qual a percepccedilatildeo da famiacutelia acerca do projeto e de seus resultados na

vida da crianccedila ou adolescente que dele participa

Foram realizadas entrevistas com os demais colaboradores uma professora

(participante do projeto e de uma escola que fornece bolsa para a comunidade) a

psicoacuteloga e uma dentista visando conhecer a participaccedilatildeo destes no projeto e sua

percepccedilatildeo acerca do mesmo

Finalmente foi realizada entrevista com a coordenadora de uma das escolas que

fornece bolsa para as crianccedilasadolescentes do projeto buscando conhecer sua

percepccedilatildeo acerca do reforccedilo e de seus resultados na vida do aluno participante

bull Observaccedilatildeo participante (abordada na primeira fase)

bull Notas de campo (abordadas anteriormente)

bull Documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo ndash a situaccedilatildeo formal em que ela se encontra contribuindo

para o conhecimento da sua histoacuteria Foram analisados o estatuto e o projeto

pedagoacutegico da instituiccedilatildeo

Abordados os instrumentos de coleta de dados segue a explanaccedilatildeo a respeito dos

sujeitos da pesquisa

52

34 Sujeitos da pesquisa

O programa atende cerca de 80 crianccedilas e adolescentes das quais foram estudadas 13

Inicialmente pretendia-se pesquisar 10 sendo 5 consideradas pelo projeto como bem

sucedidas e 5 consideradas como de natildeo ecircxito Ampliou-se o nuacutemero de casos uma vez que

uma das matildees entrevistadas tem um filho que eacute considerado pelo projeto (e por ela) como de

natildeo-ecircxito e outro que apresenta ecircxito Inicialmente seria levado em consideraccedilatildeo somente o

caso de natildeo-ecircxito mas foram analisados ambos os casos ao inveacutes de apenas o de natildeo ecircxito

buscando compreender o por quecirc de em um uacutenico ambiente atraveacutes de um mesmo projeto

crianccedilas demonstrarem resultados tatildeo diferentes A entrevista natildeo seria dirigida aos alunos

visto se tratar de crianccedilas o que exige preparo do pesquisador com este tipo de sujeito No

entanto no momento da entrevista com um dos responsaacuteveis o aluno estava presente e

contribuiu com a ela Os dados coletados foram aceitos visto se tratar de um adolescente de

17 anos o mais velho dos alunos pesquisados Uma das matildees entrevistadas tem dois filhos no

projeto e suas respostas incluiacuteam frequumlentemente os dois motivo pelo qual ambos foram

considerados ao inveacutes de apenas um O quadro abaixo revela alguns dados dos sujeitos

Nome idade seacuterie tempo de

projeto escola

Afracircnio 9 anos 4a 3 anos Particular Daniel 8 anos 1a 3 anos Particular Almir 9 anos 2a 3 anos Particular Silvia 10 anos 4a 3 anos Particular Nuacutebia 12 anos 5a 3 anos Particular Frederico 12 anos 6a 4 anos Particular Jairo 14 anos 6a 4 anos Particular Walter 17 anos 2ordmano 7 anos Puacuteblica Tito 8 anos 2a 3 anos Particular Helena 10 anos 4a 4 anos Particular Tacircnia 10 anos 4a 7 anos Puacuteblica Nestor 14 anos 1ordmano 4 anos Puacuteblica Faacutebio 12anos 6a 3 anos Puacuteblica

53

Segundo Selltiz et al (1974) no estudo exploratoacuterio natildeo se tem um nuacutemero exato de

respondentes que deveratildeo ser entrevistados Antes o pesquisador no decorrer das entrevistas

verificaraacute que em um determinado ponto as respostas comeccedilam a formar um padratildeo tornam-

se repetitivas A partir daiacute aumentar o nuacutemero de informantes eacute pouco compensador Seguem

na proacutexima seccedilatildeo os criteacuterios utilizados para selecionar os sujeitos

341 Criteacuterios de seleccedilatildeo dos sujeitos

O criteacuterio primordial para seleccedilatildeo das cinco crianccedilas foi o fato de serem consideradas

alunos(as) exemplares em termos de rendimento escolar e comportamento (alunos

considerados pelo projeto como de ecircxito) Os outros cinco foram escolhidos por natildeo

apresentarem bom rendimento escolar eou bom comportamento apesar de estarem no

reforccedilo Neste sentido o coordenador do projeto indicou quem seriam as crianccedilas que se

encaixavam nestes perfis

Selltiz et al (1974) afirmam que em um estudo exploratoacuterio

eacute importante selecionar informantes de forma a assegurar uma representaccedilatildeo de diferentes tipos de experiecircncia Sempre que haja qualquer razatildeo para acreditar que diferentes pontos de vista possam influir no conteuacutedo da observaccedilatildeo deve-se fazer um esforccedilo para incluir variaccedilatildeo de pontos de vista e tipos de experiecircncia (p65)

Ainda segundo estes autores os estudos exploratoacuterios que apresentam maior contraste

podem ser mais uacuteteis em revelar diferentes aspectos do fenocircmeno

Outro criteacuterio utilizado foi o tempo de inserccedilatildeo do aluno no projeto O tempo miacutenimo

foi de dois anos visto que Frecnall e Luks (1992) verificaram em suas pesquisas que o

resultado de um programa de mentoria para crianccedilas que participaram por dois a trecircs anos

obteve 90 de ecircxito A literatura sugere a existecircncia de uma relaccedilatildeo direta entre os benefiacutecios

da mentoria e o tempo da relaccedilatildeo (GROSSMAN RHODES 2002)

54

Abordados os instrumentos de coleta de dados os sujeitos da pesquisa e os criteacuterios

para seleccedilatildeo destes sujeitos Seguem na proacutexima seccedilatildeo os meacutetodos de anaacutelise destes dados

35 Meacutetodos de anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados

Em se tratando de uma pesquisa qualitativa a anaacutelise dos dados jaacute vai sendo realizada

ao longo da coleta A anaacutelise segundo Minayo (1998) tem trecircs finalidades compreender os

dados colhidos confirmar ou natildeo as hipoacuteteses ou responder agraves questotildees elaboradas

previamente e ampliar o conhecimento do fenocircmeno estabelecendo viacutenculos com o contexto

cultural no qual estaacute inserido

O tratamento dispensado agraves entrevistas foi o de anaacutelise de conteuacutedo cujo objetivo

segundo Chizzotti (1998) eacute ldquocompreender criticamente o sentido das comunicaccedilotildees seu

conteuacutedo manifesto ou latente as significaccedilotildees expliacutecitas ou ocultasrdquo (p98) Seguindo-se esta

proposta de anaacutelise o conteuacutedo das entrevistas foi categorizado do texto se extraiacuteram

categorias que de acordo com Bardin (1997) ldquosatildeo rubricas ou classes as quais reuacutenem um

grupo de elementos sob um tiacutetulo geneacuterico agrupamento esse efetuado em razatildeo dos

caracteres comuns destes elementosrdquo (p117) As categorias foram utilizadas para agrupar as

ideacuteias em torno dos conceitos As categorias foram elaboradas antes da coleta de dados

conforme proposto por Gomes (1997) Estas categorias foram levantadas a partir do

referencial teoacuterico apresentado considerando-se toacutepicos relevantes que constituem a relaccedilatildeo

de mentoria e dos benefiacutecios propostos As categorias encontradas refletiram a percepccedilatildeo dos

responsaacuteveis pelos alunos e dos professores sobre o programa e seu resultado na vida das

crianccedilas e adolescentes participantes Vale ressaltar que na medida em que foram sendo

analisados os dados foram sendo incluiacutedas novas categorias natildeo abordadas pela teoria mas

que se fizeram presentes nos discursos

55

O discurso advindo da entrevista foi decomposto conforme sugere Gomes (1997)

formando unidades de registro que podia ser uma palavra ou frase significativa dentro do

conceito que se estava investigando

Minayo (1998) propotildee o meacutetodo de anaacutelise hermenecircutico-dialeacutetico no qual a fala dos

atores deve ser contextualizada

O pesquisador tem que aclarar para si mesmo o contexto de seus entrevistados ou dos documentos a serem analisados Isso eacute importante porque o discurso expressa um saber compartilhado com outros do ponto de vista moral cultural e cognitivo (p222)

Inicialmente foi feita uma preacute-anaacutelise na qual os materiais coletados foram

organizados destacando-se os textos significativos e as categorias

Posteriormente foi feita a exploraccedilatildeo do material atraveacutes da leitura exaustiva o que

resultou no tratamento dos resultados e na sua interpretaccedilatildeo Segundo Gomes (1997) isto

significa ldquo desvendar o conteuacutedo subjacente ao que estaacute sendo manifestordquo (p 76) O autor

ressalta que a busca das informaccedilotildees estatiacutesticas deve se voltar para as ideologias as

tendecircncias e outras caracteriacutesticas dos fenocircmenos que se estaacute analisando

Realizou-se o primeiro niacutevel de interpretaccedilatildeo dos dados que segundo Minayo (1998) eacute

o das determinaccedilotildees fundamentais no qual se levam em conta a conjuntura soacutecio-econocircmica e

poliacutetica do objeto da pesquisa

O segundo niacutevel de interpretaccedilatildeo foi a observaccedilatildeo das comunicaccedilotildees individuais

condutas costumes e rituais expressos no grupo

Segundo Minayo (1998) o produto final da anaacutelise as conclusotildees a que se chega

devem ser tidos sempre como provisoacuterios e aproximativos

Acerca da generalizaccedilatildeo dos resultados Laville e Dione (1999) afirmam

56

o estudo de caso incide sobre um caso examinado em profundidade toda forma de generalizaccedilatildeo natildeo eacute por isso excluiacuteda Com efeito um pesquisador seleciona um caso na medida em que este lhe pareccedila tiacutepico representativo de outros casos As conclusotildees gerais que ele tiraraacute deveratildeo ser contudo marcadas pela prudecircncia devendo o pesquisador fazer prova de rigor e transparecircncia no momento de enunciaacute-las (p156)

Pocircde-se ao fim das anaacutelises chegar a um maior conhecimento do fenocircmeno estudado

bem como seu impacto na vida das famiacutelias e da comunidade onde estaacute inserido Segue na

proacutexima seccedilatildeo as limitaccedilotildees deste trabalho

36 Limitaccedilotildees da pesquisa

A presente pesquisa apresenta algumas limitaccedilotildees que seratildeo expostas a seguir

a) Impossibilidade de se verificar os resultados sociais

Sendo um projeto de longo prazo os benefiacutecios seratildeo evidenciados quando existirem

egressos do projeto Por outro lado o tempo que se dispotildee para esta pesquisa eacute de apenas

dois anos Procurou-se entatildeo verificar resultados de curto prazo e a partir deles fazer

inferecircncias

b) Falta de bibliografia nacional sobre o tema

Natildeo se tem pesquisa realizada em mentoria para crianccedilas e adolescentes no contexto

brasileiro limitando o arcabouccedilo teoacuterico Esta limitaccedilatildeo pode ser vista tambeacutem como uma

oportunidade na medida em que este trabalho jaacute significa um avanccedilo em termos de

contextualizar a teoria

c) Envolvimento da pesquisadora com o objeto

A aacuterea social eacute uma aacuterea de afinidade da pesquisadora e o projeto a encantou Este fato

pode ter influenciado a percepccedilatildeo e os resultados da pesquisa No entanto na busca pela

57

objetividade buscou-se separar os conteuacutedos dos sujeitos dos da pesquisadora aliando o

que os dados observados com os discursos deles advindos

d) Interrupccedilatildeo do projeto no momento das entrevistas

A pesquisa ocorreu em um momento criacutetico do projeto um momento de transiccedilatildeo A

observaccedilatildeo e a primeira fase de coleta se deram quando as atividades ainda estavam sendo

desenvolvidas No entanto no momento das entrevistas as atividades jaacute estavam

suspensas Este fato pode ter alterado a percepccedilatildeo das matildees entrevistadas pois o projeto jaacute

natildeo estava em seu cotidiano Por outro lado este fato pode ter contribuiacutedo com a

percepccedilatildeo do valor do projeto uma vez que pela ausecircncia se podia evidenciar o que este

representava na vida da famiacutelia

d) Impossibilidade de verificar com precisatildeo os fatores responsaacuteveis pelo ecircxito e natildeo-

ecircxito dos mentorados uma vez que as famiacutelias consideravam os filhos como tendo ecircxito

nos estudos

Estas foram as limitaccedilotildees percebidas nesta pesquisa

Cientes da metodologia do trabalho segue a apresentaccedilatildeo do caso e dos dados

coletados bem como sua respectiva discussatildeo

58

4 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos achados

Segue-se a apresentaccedilatildeo do caso pesquisado e posteriormente seratildeo apresentados e

discutidos os dados colhidos atraveacutes da observaccedilatildeo das entrevistas e da anaacutelise documental

No iniacutecio de cada seccedilatildeo seraacute apresentada uma questatildeo norteadora seguida da apresentaccedilatildeo e

da discussatildeo dos dados obtidos Finalmente seraacute respondida a questatildeo norteadora que iniciou

a seccedilatildeo Feito isto seraacute abordada outra questatildeo e assim sucessivamente ateacute que se responda a

todas as questotildees postas na fundamentaccedilatildeo teoacuterica

41 O caso

Nesta seccedilatildeo seraacute abordado o caso considerando-se o contexto no qual o mesmo se

insere Seraacute detalhado o surgimento do programa de reforccedilo escolar as motivaccedilotildees para tal os

objetivos as dificuldades enfrentadas os beneficiaacuterios os estaacutegios pelos quais passou e o seu

momento atual

411 O contexto do projeto Vila do Vinteacutem II

O caso pesquisado foi o programa de reforccedilo escolar chamado Educaccedilatildeo eacute Vida que

era localizado na Vila Vinteacutem II tambeacutem chamada de favela do Vinteacutem ou Vila Vinteacutem A

Vila do Vinteacutem era uma favela existente haacute mais de dez anos localizada no bairro de Casa

Forte na cidade do RecifePE

59

A Prefeitura do Recife em fevereiro de 2005 transferiu as 192 famiacutelias moradoras da

favela da Vila do Vinteacutem para o Conjunto Habitacional Casaratildeo do Cordeiro situado agrave

avenida Mauriacutecio de Nassau no bairro do Cordeiro

Esta transferecircncia faz parte de um projeto social chamado ldquoo Recife sem palafitasrdquo

Tal projeto beneficiou 720 famiacutelias que hoje residem no conjunto habitacional mas pretende

alcanccedilar 1337 famiacutelias procedentes de comunidades carentes

As quase 200 famiacutelias que faziam a Vila Vinteacutem moravam em palafitas agraves margens do

rio Capibaribe sob o viaduto Torre-Parnamirim e entre as ruas Joatildeo Tude de Melo e

Leonardo Bezerra Cavalcante As casas - barracos de madeira papelatildeo e plaacutestico - eram de

aproximadamente 12 m2 e natildeo contavam com aacutegua encanada nem esgoto e muitas natildeo tinham

sanitaacuterios

O relator especial das Naccedilotildees Unidas para habitaccedilatildeo Miloon Kothari classificou

algumas das favelas do Recife como sendo as piores do mundo ldquoAlgumas das condiccedilotildees de

moradia do Recife () estatildeo entre as piores que eu jaacute vi As pessoas natildeo podem dormir agrave

noite com aacutegua entrando nas casas ratos e baratasrdquo (Diaacuterio de Pernambuco 2004)

60

Figura 1 (4) - Foto da Vila do Vinteacutem 2002

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

Dentre as inuacutemeras dificuldades presentes nesta comunidade pode-se citar o

desemprego fator que atinge mais de 71 das famiacutelias da Vila (Diaacuterio de Pernambuco

2004) O iacutendice de desemprego como visto anteriormente estaacute diretamente relacionado agrave

escolaridade (NEacuteRY COSTA 2003) de forma que no Recife o maior iacutendice de

analfabetismo encontra-se em domiciacutelios com rendimento de ateacute um salaacuterio miacutenimo

(SECRETARIA DA POLIacuteTICA DE ASSISTEcircNCIA SOCIAL 2004) Mais especificamente

na Vila Vinteacutem mais de 60 dos moradores natildeo tecircm rendimento maior do que meio salaacuterio

miacutenimo

O contexto familiar muitas vezes eacute de agressividade como o exposto pela avoacute de uma

aluna ldquoCom a matildee de Nuacutebia eacute tudo no pau () ela vai para casa da matildee arenga com os

irmatildeos e chega toda machucadardquo (entrevista out05) Esta constataccedilatildeo eacute coerente com a

literatura fatores vivenciados pelas famiacutelias tais como o desemprego crocircnico violecircncia

61

domeacutestica e brigas entre o casal estatildeo associados com a delinquumlecircncia (FARRINGTON 1987

apud PATTERSON et al 1989) Neste ambiente estava inserido o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

O projeto situava-se agrave entrada da favela da Vila Vinteacutem II agrave rua Joatildeo Tude de Melo

nuacutemero 21 no bairro de Casa Forte

Desde a transferecircncia das famiacutelias da Vila do Vinteacutem para o Casaratildeo do Cordeiro as

atividades do projeto foram suspensas O projeto aguarda a liberaccedilatildeo de um terreno no

referido conjunto conforme jaacute acordado entre o projeto e a Prefeitura do Recife para retomar

suas atividades

Figura 2 (4) ndash Foto das palafitas da Vila do Vinteacutem no dia da mudanccedila para o Casaratildeo do Cordeiro Fev2005

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

Considerado o contexto onde estava inserido o projeto faz-se necessaacuterio conhecer o

projeto em si A seccedilatildeo seguinte eacute dedicada a este assunto

62

412 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

O projeto teve iniacutecio atraveacutes de uma famiacutelia residente nas proximidades da favela Vila

do Vinteacutem II Moab Silva e sua esposa Miriam Maria da Silva tinham um restaurante nesta

aacuterea O casal tem dois filhos A filha tem graduaccedilatildeo em Histoacuteria e estaacute terminando o curso de

Publicidade e o filho fez Engenharia Mecacircnica eacute mestre em Oceanografia e estaacute concluindo o

doutorado em Oceanografia Moab eacute cozinheiro autocircnomo e sua esposa eacute graduada em

Relaccedilotildees Puacuteblicas

A famiacutelia conhecia a favela do Vinteacutem e quando havia necessidade contratava alguns

dos moradores para prestar pequenos serviccedilos ao restaurante Com isto e dado ao fato de

Moab ter crescido neste local a famiacutelia tornou-se conhecedora e conhecida da comunidade

Quando os pais vinham trabalhar no restaurante seus filhos os acompanhavam e ficavam

ldquotomando contardquo dos carros no estacionamento Ao fechamento do restaurante estas recebiam

alimentaccedilatildeo

A partir daiacute Miriam que jaacute lecionava para crianccedilas em uma igreja evangeacutelica teve a

ideacuteia de reunir as crianccedilas da comunidade e formar um pequeno coral para se apresentar para

a comunidade na festa de Natal Foi entatildeo que se iniciou a Comunidade Cristatilde Amigos Para

Sempre (ANEXO A) com o objetivo primeiro de evangelizaccedilatildeo e posteriormente

educacional Visando o alcance do objetivo educacional criou-se o Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

(ANEXO B) Moab e a esposa reuniram aproximadamente 15 crianccedilas moradoras da favela

do Vinteacutem para formar o coral As crianccedilas ensaiavam ouviam histoacuterias e lanchavam O coral

reunia-se duas vezes por semana as quartas e aos domingos Os pais tambeacutem se

aproximaram

Moab atraveacutes deste contato mais proacuteximo com as crianccedilas foi percebendo o potencial

que elas tinham e visando desenvolver este potencial resolveu fazer uma banca de estudos

63

para acompanhaacute-las em suas tarefas escolares As crianccedilas jaacute estavam matriculadas em

escolas puacuteblicas e Moab e sua esposa iniciaram o reforccedilo escolar

De 1988 ateacute 2000 o projeto funcionou na informalidade e as reuniotildees aconteciam no

espaccedilo do restaurante Quando este natildeo estava em atividade era dedicado agraves crianccedilas de

forma que laacute ocorriam aleacutem das reuniotildees ensaios do coral jogos festas do dia das crianccedilas

de aniversaacuterio e de Natal

Figura 3 (4) - Festa de Natal para as crianccedilas da Vila do Vinteacutem II 2004

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

No ano de 2000 um grupo de 18 americanos foi agraves proximidades da Vila Moab ao ir

cozinhar para este grupo foi acompanhado pelas crianccedilas Os americanos intrigados ao

verem tantas crianccedilas perguntaram quem eram elas Ao saber a respeito do projeto o grupo

se sensibilizou e resolveu contribuir Foi assim que o projeto comprou uma casa na rua Joatildeo

Tude de Melo ao lado da favela O projeto contava agora com uma sede

64

Figura 4 (4) - Festa das crianccedilas na sede do projeto 00

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

No projeto as atividades de reforccedilo eram disponibilizadas para quem fosse da favela e

quisesse estudar independentemente da seacuterie em que estivesse matriculado O projeto contava

com materiais didaacuteticos um quadro-negro cadeiras uma biblioteca e um computador com

acesso agrave Internet

Os professores do projeto eram Moab cuja vocaccedilatildeo segundo ele eacute alfabetizar sua

esposa que jaacute havia sido professora de crianccedilas e uma professora contratada Havendo

necessidade seus filhos tambeacutem davam aula no projeto

Segue na proacutexima seccedilatildeo uma breve descriccedilatildeo das atividades que o projeto

desenvolvia antes da transferecircncia

65

413 Atividades desenvolvidas pelo projeto

As aulas do reforccedilo funcionavam pela manhatilde e pela tarde contando em meacutedia com 25

alunos em cada turno As atividades do projeto eram realizadas de forma que o aluno estando

em uma escola puacuteblica recebia atraveacutes do projeto um ensino considerado pelo coordenador

como de maior qualidade Os alunos passavam a alcanccedilar um conhecimento diferenciado de

seus colegas de classe Quando os alunos absorviam estes conhecimentos o projeto buscava

transferi-los para uma escola privada

Deu-se entatildeo iniacutecio agrave busca por bolsas de estudos em escolas particulares para os

alunos com bom desempenho escolar Moab o coordenador ia ateacute agrave escola particular falava

acerca do programa de reforccedilo e dava o perfil da crianccedila para qual estava fazendo a

solicitaccedilatildeo da bolsa A escola convidava este aluno para conhecer suas instalaccedilotildees e aplicava

um teste de conhecimento Se o aluno fosse aprovado no teste seria bolsista da escola O

projeto passava a acompanhaacute-lo com mais intensidade visando mantecirc-lo com bom

desempenho em sua nova escola

Atualmente o projeto conta com as seguintes bolsas em instituiccedilotildees de ensino

privado

INSTITUICcedilAtildeO Nordm DE BOLSAS Coleacutegio de Ensino Fundamental I fase 10 Coleacutegio de Ensino Fundamental e Meacutedio 3 Centro de Informaacutetica 10 Curso de Inglecircs 11

As crianccedilas bolsistas que terminam a 4a Seacuterie da primeira fase do Ensino Fundamental

recebem uma bolsa na escola de inglecircs Buscando melhor atender as crianccedilas o coordenador

buscou pessoas que pudessem assisti-las com relaccedilatildeo agrave sauacutede O projeto passou a contar com

66

o voluntariado de uma psicoacuteloga um meacutedico e dois dentistas que datildeo assistecircncia agraves crianccedilas

No caso de assistecircncia psicoloacutegica a famiacutelia tambeacutem recebe acompanhamento

Em 2000 foi fechado um acordo com dois dentistas para o tratamento dentaacuterio das

crianccedilas Mais uma vez o grupo de americanos contribuiu com R$ 1500 por crianccedila para

cobrir as despesas com o material odontoloacutegico Um grupo de 90 crianccedilas da Vila do Vinteacutem

fez tratamento dentaacuterio que incluiu obturaccedilatildeo extraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de fluacuteor ldquoFoi um ano de

tratamento Eu levava as crianccedilas quatro vezes por semana duas turmas para dra () e duas

turmas para o dr ()rdquo (COORDENADOR entrevista set05)

Aleacutem das atividades educacionais propriamente ditas o projeto desenvolvia outras

atividades com as crianccedilas Dentre estas o coordenador citou passeios agrave praccedila do

Entroncamento no final de ano e agrave exposiccedilatildeo da aeronaacuteutica e visita a museus (Ricardo

Brennand Museu do Homem do Nordeste Museu do Estado) ldquoQualquer exposiccedilatildeo que

esteja havendo e que vaacute influir acrescentar em termos de educaccedilatildeo para eles a gente levardquo

(COORDENADOR entrevista set05) Anualmente o projeto levava alguns adolescentes para

acampar O acampamento que tem duraccedilatildeo de cinco dias eacute de cunho religioso Atividades

como pintura muacutesica danccedila recreaccedilatildeo e jogos tambeacutem eram desenvolvidas regularmente

pelo projeto Festas e reuniotildees eram realizadas Estas ocorriam na sede ou no espaccedilo onde era

o restaurante por este comportar um nuacutemero maior de pessoas

Na proacutexima seccedilatildeo seraacute explicado como o projeto foi formalizado tornando-se uma

organizaccedilatildeo natildeo governamental

67

414 Formalizaccedilatildeo do projeto como organizaccedilatildeo natildeo-

governamental

Aproximadamente em 2000 com o projeto jaacute instalado na sede buscou-se a

formalizaccedilatildeo do projeto ou seja o registro como ONG (organizaccedilatildeo natildeo-governamental) O

coordenador procurou entatildeo mais quatro pessoas que juntamente com ele tivessem os

mesmos objetivos Encontradas estas pessoas que natildeo eram estranhas ao projeto intentou-se

proceder agrave formalizaccedilatildeo No entanto estas pessoas desistiram e o coordenador procurou

outras Encontradas as pessoas que segundo ele realmente assumiram o projeto o mesmo foi

formalizado O projeto conta com um presidente (Moab) um vice-presidente dois secretaacuterios

e um tesoureiro Das cinco pessoas responsaacuteveis pela ONG duas foram substituiacutedas

O projeto mesmo anterior agrave formalizaccedilatildeo jaacute contava com objetivos definidos estes

foram entatildeo sistematizados (ANEXO B) Satildeo objetivos do projeto

bull Melhorar a qualidade de vida natildeo somente no presente mas intervir num ciclo

vicioso preparando a crianccedila e o jovem para o futuro

bull Atuar na aacuterea de educaccedilatildeo solicitando bolsa de estudo na rede privada com aulas

de reforccedilo para o ensino fundamental alfabetizaccedilatildeo infantil distribuiccedilatildeo de

material escolar e merenda

bull Ofertar curso regular de liacutengua inglesa e iniciaccedilatildeo musical

bull Oferecer acompanhamento cliacutenico odontoloacutegico e psico-pedagoacutegico e

bull Desenvolver atividades que proporcionem o desenvolvimento de competecircncias

sociais pessoais e intelectuais

Formalmente o coordenador estaacute na diretoria da ONG haacute trecircs anos Em outubro de

2006 ao completar dois mandatos haveraacute eleiccedilatildeo e ele natildeo mais estaraacute agrave frente do projeto

68

pois assim rege o estatuto O projeto eacute mantido com doaccedilotildees e serviccedilo voluntaacuterio Com a

formalizaccedilatildeo natildeo houve alteraccedilatildeo nas atividades desenvolvidas pelo projeto

Considerada a formalizaccedilatildeo do projeto segue a explanaccedilatildeo de sua situaccedilatildeo atual ou

seja como se encontra o projeto apoacutes a transferecircncia das famiacutelias

415 Situaccedilatildeo atual do projeto

Com a transferecircncia das famiacutelias para o conjunto habitacional Casaratildeo do Cordeiro o

projeto interrompeu suas atividades regulares e tem ido agrave busca da liberaccedilatildeo do terreno jaacute

destinado ao mesmo

Neste iacutenterim de fevereiro a novembro de 2005 as crianccedilas bolsistas que estavam

estudando na primeira fase do ensino fundamental foram colocadas pelo projeto em semi-

internatos Tal fato ocorreu na busca de garantir a continuidade da assistecircncia educacional a

estas crianccedilas

Ainda neste periacuteodo de transiccedilatildeo o mesmo grupo de americanos que outrora

beneficiou o projeto com a compra da casa fez uma nova doaccedilatildeo Desta vez o grupo doou

um galpatildeo preacute-moldado com capacidade para 300 pessoas que seraacute erguido no local

destinado para o projeto no Casaratildeo do Cordeiro O envio do galpatildeo estaacute condicionado agrave

liberaccedilatildeo do terreno

Na proacutexima seccedilatildeo seratildeo consideradas as dificuldades enfrentadas pelo projeto

Educaccedilatildeo eacute Vida

69

416 Dificuldades enfrentadas pelo projeto

O coordenador diz encontrar dificuldade para obter apoio junto agraves instituiccedilotildees que

segundo ele deveriam cooperar com as ONGrsquos tais como Conselho Municipal Conselho

Estadual e Conselho Federal de Accedilatildeo Social e Conselhos Municipais dos Direitos da Crianccedila

e do Adolescente Ele afirma que haacute excesso de burocracia e que estas instituiccedilotildees natildeo estatildeo

presentes para apoiar antes para punir caso haja alguma irregularidade ldquoEles natildeo querem ver

resultados querem ver papelrdquo desabafa o coordenador (entrevista set05) Mesmo

entregando os documentos solicitados o coordenador lamenta natildeo ter tido ecircxito nas

solicitaccedilotildees legais fato que ele atribui agrave morosidade e ao excesso de burocracia

Outra dificuldade considerada a maior delas eacute enfrentada a cada iniacutecio de ano devido

a necessidade de se patrocinar os alunos bolsistas O custo com materiais e fardamentos eacute em

meacutedia de R$ 50000 por crianccedila O projeto busca cobrir tal despesa buscando

apadrinhamento (patrociacutenio) para os alunos ou seja pessoas que contribuam parcial ou

totalmente com as despesas deste

A cada ano as escolas oferecem novas vagas ao projeto e com elas aumenta a

dificuldade devido agrave falta de recursos O projeto tem crianccedilas com desempenho suficiente

para serem aceitas por uma escola particular e as escolas tecircm ofertado mais bolsas mas a falta

de patrociacutenio tem imposto limites a esta transferecircncia O coordenador diz que ao colocar uma

crianccedila na escola particular o projeto assume realmente seus estudos fazendo o possiacutevel para

que a crianccedilaadolescente seja inserida e obtenha ecircxito

Ao final de cada ano os padrinhos satildeo homenageados recebendo um Certificado de

Agente Social conforme a figura 5 (4) como forma de reconhecimento e gratidatildeo pelo

patrociacutenio

70

Figura 5 (4) - Certificado do padrinho

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

A despeito das dificuldades enfrentadas o projeto intenta continuar e expandir-se

Tem o objetivo de atender ao Conjunto Habitacional Casaratildeo do Cordeiro

Segue na proacutexima seccedilatildeo a motivaccedilatildeo que deu iniacutecio a este projeto e que o sustenta ateacute

o momento desta pesquisa

417 Motivaccedilatildeo para a existecircncia e continuidade do projeto

O coordenador explica assim sua motivaccedilatildeo para prosseguir com o projeto

Como cidadatildeo pobre eu sempre lutei para que meus filhos conseguissem terminar o terceiro grau () Depois que os meus terminaram eu digo bom agora eu posso lutar pelos dos outros para que eles tambeacutem consigam porque eles natildeo vatildeo conseguir se natildeo tiver quem ofereccedila oportunidade () Essas crianccedilas sendo assistidas dessa forma sem duacutevida alguma vatildeo trilhar o mesmo caminho que meus filhos trilharam Eu trato as crianccedilas participantes deste projeto como se elas fossem os meus filhos (COORDENADOR entrevista set05)

71

Acerca de seu envolvimento com o projeto ele declara ldquoEu natildeo vejo como me

desvincular hoje () separar do projeto Eu respiro o projeto luto faccedilo o que for necessaacuterio o

que for possiacutevel para que o projeto continuerdquo (COORDENADOR entrevista set05)

A seccedilatildeo 41 foi destinada ao caso Foram aqui considerados o contexto onde estaacute

inserido as atividades desenvolvidas o processo de formalizaccedilatildeo as dificuldades enfrentadas

e a motivaccedilatildeo existente no projeto

Para melhor compreensatildeo dos sujeitos da pesquisa seratildeo expostos nas proacuteximas

seccedilotildees os dados referentes aos mentores e aos mentorados pesquisados

418 Dados dos mentores entrevistados

Seguem algumas informaccedilotildees acerca dos mentores do projeto

Coordenador- foi o fundador do projeto e estaacute nele haacute 16 anos Jaacute deu alfabetizou diversas

crianccedilas e pais da comunidade Atualmente eacute o presidente da ONG

Professora ndash participou do projeto durante um ano Leciona em uma das escolas particulares

que fornece bolsa para os alunos Diz ter muita identidade com a proposta do projeto

Psicoacuteloga ndash estaacute no projeto haacute 5 anos Aleacutem deste trabalho no qual atua como voluntaacuteria

participa de um outro tambeacutem com comunidade carente

Dentista- estaacute no projeto haacute mais de um ano e diz ter identidade com o tipo de trabalho

realizado

Seguem na proacutexima seccedilatildeo os dados referentes aos mentorados pesquisados

72

419 Dados dos mentorados pesquisados

Visando um maior conhecimento dos sujeitos pesquisados seguem-se alguns dados

acerca dos mesmos Na busca pelo anonimato os nomes dos alunos foram trocados

Inicialmente seratildeo abordados os alunos que foram apontados como que de ecircxito nos estudos e

posteriormente os de natildeo-ecircxito

4191 Alunos tidos como que de ecircxito nos estudos

O coordenador do projeto demonstra orgulho ao falar dos seguintes alunos pois aleacutem

do rendimento escolar eles apresentam bom comportamento Satildeo estes os alunos

Afracircnio- aluno com 9 anos de idade cursa a 4a seacuterie do Ensino Fundamental em um coleacutegio

particular com bolsa obtida atraveacutes do projeto Educaccedilatildeo eacute Vida Afracircnio estaacute no projeto haacute 3

anos Mora com a matildee que eacute analfabeta funcional1 Aleacutem de estudar em escola particular

atraveacutes do projeto Afracircnio tambeacutem faz inglecircs

Daniel- aluno com 8 anos cursa a 1a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular cuja

bolsa foi obtida atraveacutes do projeto Ele participa do projeto haacute 3 anos Sua participaccedilatildeo nas

atividades desenvolvidas pelo projeto eacute integral passeios e lazer Daniel mora com os pais e eacute

o filho mais novo do casal Seu pai que eacute porteiro estudou ateacute o 3o ano do Ensino Meacutedio e

sua matildee ateacute a 8a seacuterie do Ensino Fundamental Aleacutem dos pais Daniel mora com seu irmatildeo

mais velho Faacutebio (tido como de natildeo ecircxito) sua irmatilde e sua tia A matildee sofre de fobia social e

toma remeacutedio ldquocontroladordquo Segundo ela o filho eacute muito responsaacutevel e gosta de estudar

1 Analfabeto funcional- Pessoa com menos de quatro anos de estudos

73

Almir- Garoto de 9 anos que cursa a 2a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular

cuja bolsa foi obtida atraveacutes do projeto Almir estaacute no projeto haacute 3 anos Mora com os pais

que satildeo analfabetos funcionais e com Silvia sua irmatilde

Silvia- eacute irmatilde de Almir tem 10 anos cursa a 4a seacuterie do Ensino Fundamental Estaacute no projeto

cerca de 3 anos Tal qual o irmatildeo Silvia estuda em escola particular

Nuacutebia- aluna de 12 anos cursa a 5a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular cuja

bolsa foi obtida atraveacutes do projeto do qual ela faz parte haacute cerca de 3 anos Nuacutebia eacute apontada

pelo coordenador do projeto como sendo uma aluna excelente Durante a semana Nuacutebia estaacute

morando na casa da avoacute paterna pois eacute mais perto da escola do que a casa da matildee pois esta

mora no Casaratildeo do Cordeiro A avoacute diz que a neta eacute muito calma e desanimada Acredita

que ela sente muita falta dos irmatildeos e da matildee (os pais satildeo separados) Nos finais de semana

Nuacutebia vai para a casa da matildee A avoacute diz que ao retornar ela vem agitada e machucada pois

em casa Nuacutebia apanha da matildee e dos irmatildeos A matildee de Nuacutebia disse ao coordenador que em

2006 iraacute tiraacute-la da escola particular apesar do bom rendimento que ela apresenta A matildee alega

que a escola eacute longe O coordenador e a professora acreditam que tal fato se deve tambeacutem agrave

limitaccedilatildeo da matildee (analfabeta funcional) em compreender o valor do estudo Ao falar acerca

deste fato o coordenador se mostra bastante entristecido

Frederico- aluno com 12 anos cursa a 6a seacuterie do Ensino Fundamental Ele estaacute no projeto

haacute 4 anos estuda em coleacutegio particular com bolsa obtida atraveacutes do projeto Frederico mora

com os pais Estes satildeo analfabetos funcionais O coordenador diz que eacute um menino muito

bom pois eacute esforccedilado e apresenta bom comportamento

Jairo- aluno com 14 anos que cursa a 6a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular

Sua bolsa foi obtida atraveacutes do projeto bem como o curso de inglecircs no qual ele estuda haacute 3

anos Jairo mora com a matildee o padrasto e com o irmatildeo mais novo que eacute portador de

74

necessidades especiais A matildee eacute analfabeta absoluta2 e o padrasto analfabeto funcional Jairo

perdeu o pai com dois anos A matildee fala que ele eacute um menino ldquoquietordquo e que gosta muito do

coordenador do projeto Jairo morou no interior onde estudava mas natildeo obtinha

aproveitamento escolar Ao chegar no Recife foi incentivado a estudar e segundo a matildee

ldquotomou gosto pelos estudosrdquo desde entatildeo tem demonstrado bom rendimento aleacutem do

comportamento exemplar que sempre apresentou A matildee diz que o coordenador eacute como um

pai para o Jairo lhe aconselha encaminha ajuda patrocina e eacute amigo

Walter- aluno de 17 anos que cursa o 2o ano do Ensino Fundamental em escola puacuteblica e

estaacute haacute 7 anos no projeto Walter mora com os pais que satildeo analfabetos funcionais O

coordenador diz que a famiacutelia acompanha os estudos de Walter Ele eacute aluno de inglecircs com

bolsa obtida pelo projeto Walter pretende ser professor deste inglecircs visto o bom rendimento

que vem apresentando e o interesse que afirma ter com o idioma

Nesta seccedilatildeo foram apresentados alguns dados acerca dos alunos tidos como de ecircxito segue na

proacutexima seccedilatildeo dados dos alunos pesquisados que foram tidos como que de natildeo ecircxito nos

estudos

4192 Alunos tidos como que de natildeo ecircxito nos estudos

Os seguintes alunos natildeo apresentam o rendimento escolar esperado pelo projeto A

aleacutem do que alguns apresentam problemas de comportamento Satildeo estes

Tito ndash aluno com 8 anos de idade que cursa a 2a seacuterie do Ensino Fundamental Mora com os

pais que satildeo analfabetos funcionais Ele estuda em um coleacutegio particular com bolsa obtida

atraveacutes do projeto O coordenador afirma que o mesmo natildeo demonstra interesse para com os

estudos

2 Analfabeta absoluta- pessoa iletrada

75

Helena- aluna de 10 anos que cursa a 4a seacuterie do Ensino Fundamental Ela estaacute no projeto haacute

4 anos Mora com a matildee que eacute analfabeta funcional A matildee trabalha fora e tem pouco contato

a filha cerca de uma hora por dia Os pais satildeo separados O coordenador diz que a matildee eacute

muito nervosa e toma remeacutedio ldquocontroladordquo Ele afirma que a matildee por ser agressiva e

impaciente eacute quem dificulta o aprendizado e o comportamento da filha Helena estuda em

escola particular mas natildeo estaacute obtendo notas suficientes para continuar nela

Tacircnia- aluna de 10 anos que cursa a 4a seacuterie em escola puacuteblica Ela estaacute no projeto haacute 7 anos

Tacircnia mora com a matildee adotiva com o padrasto com um irmatildeo mais novo e com um irmatildeo

mais velho e sua esposa Sua situaccedilatildeo eacute peculiar sua matildee morava com outro ldquomaridordquo quando

resolveu adotaacute-la Deixou o primeiro marido e atualmente mora com outro Sendo que este

casal teve um filho que no momento da pesquisa tinha dois anos Segundo o relato da

psicoacuteloga desde a separaccedilatildeo da matildee Tacircnia jaacute natildeo gozava de muito atenccedilatildeo e com o

nascimento do irmatildeo esta diminuiu significativamente O coordenador atribui muito de sua

dificuldade de aprendizagem agrave falta de estrutura familiar

Nestor- aluno com 14 anos cursa o 1o ano do ensino Meacutedio estaacute no projeto haacute 4 anos e mora

com os pais Sua matildee eacute analfabeta funcional e seu pai cursou ateacute a 6a seacuterie do Ensino

Fundamental Nestor estuda em escola puacuteblica

Faacutebio- garoto com 12 anos que cursa a 6a seacuterie do Ensino Fundamental Ele participa do

projeto haacute 3 anos Faacutebio mora com os pais com a tia com a irmatilde e com Daniel seu irmatildeo A

matildee estudou ateacute a 8a seacuterie e o pai ateacute o 3o ano do Ensino Meacutedio Faacutebio segundo a matildee natildeo

gosta de estudar e seu interesse estaacute em jogar futebol e ficar na rua Em casa ele natildeo recebe

acompanhamento em termos de estudo

Estes foram alguns dos dados acerca dos alunos pesquisados Ao longo da

apresentaccedilatildeo dos dados seratildeo apresentadas mais informaccedilotildees acerca destes sujeitos

76

Seguem nas proacuteximas seccedilotildees as questotildees norteadoras deste trabalho bem como a

apresentaccedilatildeo e discussatildeo dos dados colhidos na busca pelas respostas agraves questotildees

42 Achados referentes agrave primeira questatildeo norteadora

Para responder a seguinte questatildeo em uma comunidade carente brasileira ateacute que

ponto a mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes apresenta as caracteriacutesticas definidas

pela teoria Faz-se necessaacuterio inicialmente caracterizar o projeto de reforccedilo como um

programa de mentoria o que seraacute feito na proacutexima seccedilatildeo Posteriormente seratildeo analisados os

achados referentes agraves funccedilotildees de mentoria existente no projeto as fases em que se encontram

os relacionamentos e os fatores relacionados ao ecircxito do projeto

421 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida como um programa de mentoria

Percebeu-se que os alunos recebem suporte vindo de vaacuterios mentores A psicoacuteloga

fornece sustentaccedilatildeo para o aluno e para a famiacutelia a professora aconselha e ajuda a

desenvolver habilidades o coordenador e sua esposa acompanham o desenvolvimento dos

alunos fornecendo-lhes feedback e encorajando-os Tal fato foi constatado atraveacutes dos

discursos das matildees que relatavam o suporte recebido principalmente pelo coordenador e pela

professora

A partir destes dados pode-se concluir que o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida caracteriza-se

como um programa de redes de mentoria (HIGGINS KRAM 2001) uma vez que o

mentorado recebe influecircncia de vaacuterios mentores O coordenador do projeto eacute a pessoa que

mais acompanha os alunos eacute o mais citado pelas matildees e pelo aluno como oferecedor de

suporte tanto psicossocial como de carreira Pode ser considerado o mentor principal do

projeto

77

A relaccedilatildeo tem iniciativa da organizaccedilatildeo ao se manter aberta a novos entrantes e a

relaccedilatildeo eacute estruturada Alguns encontros como a aula de reforccedilo satildeo preacute-estabelecidos No

entanto os encontros natildeo se limitam agrave aula de reforccedilo Eles podem ser esporaacutedicos partindo

da necessidade O relacionamento natildeo tem uma delimitaccedilatildeo de seis meses ou um ano O

mesmo pode se estender por longos periacuteodos de tempo Walter aluno entrevistado por

exemplo estaacute no projeto haacute sete anos Haacute alunos que foram alfabetizados pelo projeto e

receberam acompanhamento ateacute terminar o ensino meacutedio caracterizando assim um

relacionamento de no miacutenimo 11 anos

Dentre os tipos de mentoria propostos por Kram (1985) a mentoria realizada no

projeto parece estar na interface da mentoria formal e informal Alguns fatores levam a

consideraacute-la formal como por exemplo a estruturaccedilatildeo da relaccedilatildeo e os encontros preacute-

estabelecidos Por outro lado vecirc-se tambeacutem caracteriacutesticas da mentoria informal Ou seja o

mentorado toma a iniciativa em fazer parte ou natildeo da relaccedilatildeo nem todos os encontros satildeo preacute-

estabelecidos e o tempo de duraccedilatildeo da relaccedilatildeo ultrapassa em muito os dois anos ldquolimiterdquo da

mentoria formal

Outra caracteriacutestica especiacutefica do projeto eacute o fato de haver dois tipos de

relacionamento de mentoria entre os mentores e seus mentorados Os alunos bolsistas

parecem gozar de maior assistecircncia visto que para o projeto o ldquoinvestimentordquo eacute maior nestes

alunos Este diferencial foi percebido quando no periacuteodo de transiccedilatildeo alguns bolsistas foram

colocados em regime de semi-internato enquanto os natildeo-bolsistas natildeo tiveram o mesmo

tratamento Deve-se considerar a quantidade restrita de vagas e nesta situaccedilatildeo a preferecircncia

eacute dos alunos bolsistas

Percebeu-se pelos discursos que quando haacute algum passeio com o nuacutemero limitado de

participantes a preferecircncia eacute dos alunos mais comportados e que apresentam melhores notas

normalmente os bolsistas A matildee de Faacutebio (que tem um filho bolsista e outro considerado de

78

natildeo-ecircxito) diz que o coordenador tem seus ldquoescolhidosrdquo (entrevista out05) Ela enfatiza estar

ciente que um de seus filhos eacute ldquoescolhidordquo e o outro natildeo

Este tipo de relacionamento eacute explicado na teoria LMX (Leader-Member Exchange)

teoria da troca entre liacuteder e liderado que afirma que os liacutederes estabelecem um

relacionamento especial com um grupo restrito de liderados (grupo interno) distinto do

relacionamento com os demais liderados que fazem o grupo externo (ROBBINS 2002)

Tal fato pode levar aos seguintes questionamentos

- Os alunos mentorados que se saem melhor em termos de notas e

comportamentos passam a ter uma assistecircncia diferenciada

- Ter uma assistecircncia ldquomais proacuteximardquo leva os alunos a demonstrar melhores

comportamentos e apresentar melhores notas

Abordadas estas caracteriacutesticas da relaccedilatildeo de mentoria do projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

seguem-se as funccedilotildees de mentoria observadas no projeto

422 Funccedilotildees de mentoria encontradas no projeto Educaccedilatildeo eacute

Vida

Nesta seccedilatildeo seratildeo apresentados e discutidos os dados que revelam a existecircncia das

funccedilotildees de mentoria Inicialmente seratildeo abordadas as funccedilotildees de suporte de carreira e

posteriormente as de suporte psicossocial

4221 Suporte de carreira

Nesta seccedilatildeo seratildeo apresentadas as funccedilotildees do suporte de carreira encontradas no projeto

de reforccedilo Satildeo funccedilotildees que o mentor desempenha no sentido de auxiliar o mentorado em seu

desenvolvimento profissional Para cada funccedilatildeo abordada seratildeo apresentados alguns exemplos

encontrados

79

bull Tarefas desafiadoras

Um aluno bolsista de inglecircs diz que seu mentor sempre lhe lembra que aluno bolsista eacute

aluno modelo ldquoA gente tem que mostrar porque tinha direito agravequela bolsa () Se vocecirc

recebe uma ajuda e vocecirc natildeo se esforccedila para passar os obstaacuteculos natildeo adianta nada () eu

tenho me esforccediladordquo (WALTER entrevista out05)

Jairo em cuja casa soacute haacute analfabetos (absoluto e funcional) eacute um dos alunos do projeto

tido como exemplar Tem bolsa em uma escola particular e cursou a 4a e a 5a seacuteries no

mesmo ano A matildee de Nestor diz acerca do filho ldquoEle (Nestor) diz que quer estudar natildeo quer

ser como o pai dele que natildeo estudou Depois que ele conheceu o seu Moab aiacute eacute que ele pegou

o incentivo mesmo para estudarrdquo (MAE DE NESTOR entrevista out05)

ldquoSe vocecirc eacute bolsista natildeo eacute porque vocecirc eacute pobre natildeo eacute porque vocecirc eacute preto natildeo eacute

porque vocecirc eacute favelado Vocecirc estaacute laacute por capacidade () vou buscar bolsa porque ele eacute capaz

e estaacute faltando uma oportunidaderdquo (COORDENADOR entrevista set05)

O programa de reforccedilo ao dar aos alunos a oportunidade de acompanhamento nos

estudos impotildee-lhes uma tarefa extremamente desafiadora a de conseguir superar uma

realidade de exclusatildeo social A crianccedila demanda esforccedilo para adentrar uma escola particular e

para se manter apta a permanecer nessa escola Mesmo no caso de alunos natildeo bolsistas existe

o desafio de manter-se com bom rendimento na escola puacuteblica Este desafio eacute igualmente

vaacutelido para o curso de inglecircs

O desafio parece ser maior do que se apresenta pois subjacente agrave continuidade dos

estudos na vida da crianccedilaadolescente estaacute o status quo da famiacutelia O estudo do filho rompe

uma situaccedilatildeo de analfabetismo familiar Leva a crianccedila a superar sua expectativa negativa de

futuro uma vez que a educaccedilatildeo da matildee (das matildees entrevistadas 78 satildeo analfabetas) eacute

determinante do desempenho do filho (BARROS et al 1994)

80

Walter parece ter ciecircncia do desafio individual que tem que enfrentar mas talvez natildeo

perceba a dimensatildeo do desafio social que isto representa ou seja conhecer e dominar a liacutengua

inglesa estando inserido em uma comunidade que natildeo domina seu proacuteprio idioma Falar de

futuro para uma comunidade de favela jaacute eacute por si soacute um desafio Qual o futuro para quem

natildeo sabe se vai comer ou ter a oportunidade de continuar vivo no dia presente Que futuro

esperar quando se vecirc o pai becircbado jogado na rua catando lixo ou ao perceber a matildee se

prostituindo Que futuro espera quem vive nas condiccedilotildees caracterizadas pelo representante da

ONU como sendo as piores do mundo Talvez esta seja uma das mais belas funccedilotildees do

mentor de crianccedilas e adolescentes carentes abrir-lhes os olhos para novas e promissoras

experiecircncias e viabilizar o alcance destas Ofertar mais tarefas desafiadoras quando estas

crianccedilas e adolescentes jaacute possuem tantas pode parecer cruel No entanto elas parecem estar

recebendo suporte suficiente para superar tais desafios indo aleacutem do que se espera

bull Exposiccedilatildeo e visibilidade positiva

Na introduccedilatildeo da pesquisadora ao programa pocircde-se assistir agrave apresentaccedilatildeo de alunos-

talentos do projeto onde foram citados o rendimento escolar e as habilidades dos mesmos

Os colaboradores e alguns alunos apresentam-se em busca de patrociacutenio Nestas ocasiotildees os

melhores alunos satildeo destacados

Walter aluno de inglecircs foi observado em seu desempenho por seu mentor e por sua

professora da escola de inglecircs Ele foi indicado para fazer intercacircmbio cultural nos EUA

As alunas do projeto que tinham aula de danccedila apresentavam-se quando havia oportunidade

mesmo que se tratasse de uma missa

81

Figura 6 (4) - Apresentaccedilatildeo de coreografia das meninas do projeto em uma missa de Natal realizada pela Igreja Catoacutelica de Casa Forte na Vila do Vinteacutem II

Fonte Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

Pocircde-se perceber que o projeto expotildee positivamente seus mentorados conforme o

proposto por Kram (1985) Oferecer visibilidade positiva a crianccedilas marginalizadas pela

sociedade mostrando os talentos que estas possuem contribui para resgatar a auto-estima

das crianccedilas e das famiacutelias Crianccedilas e adolescentes de favela satildeo estigmatizados e

relacionados agrave delinquumlecircncia Esta visibilidade positiva eacute interessante para a sociedade

havendo a possibilidade de reduccedilatildeo do preconceito para com estes que estatildeo agrave margem Para

os mentorados a visibilidade positiva pode ajudaacute-los a resgatar aleacutem da auto-estima a

dignidade ao reconhecerem capacidade e potencial em si mesmos

bull Coaching

O reforccedilo era oferecido diariamente para as crianccedilas durante 1hora e meia fossem as

crianccedilas bolsistas ou natildeo ldquoEu eacute que ensinava a ela (Silvia) mas natildeo tenho jeito Depois do

82

projeto ela melhorou a letra aprendeu a ler mais raacutepido aprendeu a escreverrdquo (MAE

DE SILVIA entrevista out 05) ldquoQuando a professora natildeo ia ele (Moab) botava a filha dele

praacute ensinar () Ele eacute professor a esposa o filho e a filha Assim eacute bom neacute Quando um natildeo

tava o outro tava (sic)rdquo (MAE DE AFRAtildeNIO entrevista out05)

Uma das atividades mais presentes observadas no projeto eacute o coaching devido agrave

frequumlecircncia com a qual ocorre As tarefas o estudo o ensino enfim o reforccedilo diaacuterio reflete a

preocupaccedilatildeo com a tarefa e a transmissatildeo das informaccedilotildees necessaacuterias para a sua execuccedilatildeo

tal qual o proposto por Kram (1985)

bull Patrociacutenio

O projeto viabilizou o estudo de 24 crianccedilas adolescentes em escolas particulares

sendo 13 no Ensino Fundamental e Meacutedio e 11 no curso de Inglecircs O projeto provecirc as

condiccedilotildees necessaacuterias para que o aluno possa assumir satisfatoriamente a vaga na escola

particular Houve relato de provisatildeo de assistecircncia meacutedica e odontoloacutegica material e

fardamento escolar e ateacute corte de cabelo Algumas matildees entrevistadas disseram receber

ajuda em termos de alimentaccedilatildeo medicamento e doaccedilotildees de roupas

Ao analisar o patrociacutenio oferecido pelo projeto pode-se estabelecer um diferencial em

relaccedilatildeo agrave teoria proposta por Kram (1985) O patrociacutenio mencionado em pesquisas anteriores

reflete uma preocupaccedilatildeo bem especiacutefica do mentor em termos de patrocinar a carreira do

mentorado No projeto Educaccedilatildeo eacute Vida o patrociacutenio eacute bem mais abrangente Estaacute

relacionado agraves necessidades baacutesicas do mentorado e de sua famiacutelia sem as quais ele natildeo teria

condiccedilotildees sequer de estudar Entenda-se como patrociacutenio neste contexto a oferta de

alimentaccedilatildeo medicamento e sauacutede natildeo excluindo aquele ou seja o material o fardamento a

bolsa de estudos e os cursos

83

Estas foram as atividades de suporte de carreira encontradas no projeto de reforccedilo

Atividades que auxiliam o mentorado em sua carreira profissional conforme proposto por

Kram (1985) Em se tratando de crianccedilas e adolescentes falar de carreira profissional pode

parecer precoce No entanto considerou-se o necessaacuterio para que o mentorado venha a ter

condiccedilotildees de futuramente ter uma carreira Eacute desta forma que atividades como patrociacutenio

coaching tarefas desafiadoras e exposiccedilatildeo positiva devem ser encaradas

Segue na proacutexima seccedilatildeo os resultados e discussotildees dos dados obtidos com relaccedilatildeo agraves

atividades de suporte psicossocial encontradas no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

4222 Suporte psicossocial

Seratildeo considerados os dados que refletem o suporte psicoloacutegico e social oferecido pelo

mentor ao mentorado As funccedilotildees encontradas foram amizade aceitaccedilatildeo e confirmaccedilatildeo e

aconselhamento que seratildeo expostas a seguir

bull Amizade

A professora entrevistada disse buscar construir um viacutenculo de afetividade com os

alunos algo que ultrapassasse o relacionamento distanciado entre professor e aluno ldquoquando

a gente daacute atenccedilatildeo afeto eles aprendem tambeacutem a parte cognitivardquo (PROFESSORA

entrevista out05) A matildee de Helena diz ldquoEle (Moab) daacute atenccedilatildeo ela gosta dele porque ele

sabe conversar daacute carinhordquo (entrevista out05) Walter declara ldquoEacute como se ele (Moab) fosse

um pai praacute mim me estende a matildeordquo (entrevista out05) O projeto busca acompanhar a

famiacutelia atraveacutes do coordenador e da psicoacuteloga que se propotildee a realizar um acompanhamento

terapecircutico se necessaacuterio

Pocircde-se observar claramente que a amizade estaacute presente na relaccedilatildeo de mentoria

Atraveacutes dos discursos acima percebe-se um viacutenculo entre mentor e mentorado no qual o

mentorado mostra-se compreendido tal qual o proposto por Kram (1985)

84

bull Aceitaccedilatildeo e confirmaccedilatildeo

Pode-se observar atraveacutes dos discursos e mais evidentemente em uma das entrevistas

ldquoAfracircnio eacute muito bom em histoacuteria e ciecircncias ele soacute tira 10 Seu Moab sempre ficava

elogiando ele que ele era bom e acho que isso foi incentivando elerdquo (MAE DE

AFRAcircNIO entrevista out05)

Conforme o proposto por Kram (1985) a aceitaccedilatildeo faz com que o mentorado se sinta

seguro ateacute mesmo para enfrentar os desafios que conforme exposto satildeo muitos O

coordenador relata que entre os alunos do projeto haacute casos em que a crianccedila eacute

frequumlentemente desprezada pela matildee Neste caso o valor da aceitaccedilatildeo oferecida pelo mentor

torna-se imensuraacutevel

bull Aconselhamento

Dar conselhos apareceu frequumlentemente nos discursos da professora e do coordenador

O que pocircde ser confirmado atraveacutes da fala das matildees e do aluno entrevistado Os conselhos satildeo

dados visando o progresso dos alunos nos estudos por evitar que fiquem na rua e na tentativa

de convencecirc-los de que o seu futuro pode ser melhor do que o presente

O seu Moab soacute apoacuteia Agora eacute de falar o pesado tambeacutem Ele daacute apoio tudinho mas tambeacutem quando vecirc que taacute errado ele vem chega e conversa () ele tira o tempo dele praacute vir dar conselhos ele diz praacute Jairo que quer que ele estude que se forme e seja algueacutem na vidardquo (MAE DE JAIRO entrevista out05)

Outra matildee diz que quando o filho tem duacutevida sobre algo que aparece procura seu

Moab Diz que ele eacute rigoroso mas o filho atende ldquoA professora dizia para Faacutebio que ele soacute

seria algueacutem na vida se estudasse seu Moab tambeacutem dava o exemplo dos filhos delerdquo (MAE

DE FAacuteBIO entrevista out05) e a matildee de Helena diz ldquoEu sempre pedia a ele (Moab) para

dar conselho a Helena sobre estudo quando eu falo com ela entra por um ouvido e sai pelo

outro ela ouve elerdquo (entrevista out05)

85

O aconselhamento eacute mais uma das funccedilotildees relevantes em um projeto de mentoria

voltado para crianccedilas e adolescentes de risco uma vez que as crianccedilas nem sempre dispotildeem

de pessoas para aconselhaacute-las Segundo Harris et al (2002) a disponibilidade de adultos para

aconselhar as crianccedilas eacute escassa fazendo com que passem mais tempo com seus pares que

neste caso podem ter pouco a oferecer em termos de aconselhamento e de orientaccedilatildeo para um

futuro mais promissor do que o vivenciado na comunidade

bull Modelagem de papeacuteis

Acerca do suporte psicossocial oferecido pelo projeto a funccedilatildeo modelagem de papeacuteis

foi encontrada de duas formas uma atraveacutes da pessoa do mentor e outra atraveacutes do mentor

elegendo seus filhos como modelo Em termos educacionais o coordenador parece constituir

seus filhos como exemplos a serem seguidos um cursando o doutorado e a outra com dois

cursos superiores O que traz sentido agrave fala de uma das matildees ao dizer que ele cita os filhos

como exemplos Por outro lado a modelagem de papeacuteis natildeo consiste apenas em o mentor se

um modelo educacional para o mentorado A modelagem eacute mais ampla uma vez que o

mentorado tem nos comportamentos valores e atitudes de seu mentor um modelo positivo O

coordenador leva ao conhecimento de seus mentorados o sacrifiacutecio que fez para educar seus

filhos ainda que abrindo matildeo de sua proacutepria formaccedilatildeo Rhodes et al (2002) dizem que o fato

de ser um modelo faz com que o mentor seja visto pelo mentorado como ideal Neste sentido

o coordenador parece ser visto pelos mentorados como exemplo de um vencedor A fala de

Walter ao colocaacute-lo como pai transmite esta ideacuteia de referencial Walter diz ter a seguinte fala

de seu mentor em sua cabeccedila e colada em seu caderno ldquoo fracasso jamais me surpreenderaacute se

a minha decisatildeo de vencer for suficientemente forterdquo (WALTER entrevista out 2005) Esta

fala parece ser o lema do proacuteprio coordenador Vale salientar que assim como o lema Walter

deseja tambeacutem ldquoimitarrdquo o mentor quanto ao ser professor

86

Parece haver a necessidade de mostrar agrave crianccedila ou adolescente que haacute uma

possibilidade diferente da que ela estaacute habituada a ver Que haacute outros referenciais e que ela

tem possibilidade de escolha mesmo que esta implique em desafios Pode-se retomar o

discurso do coordenador quando diz que seu filho para ir agrave Universidade muitas vezes pegou

carona no caminhatildeo do lixo Ao citar isto o mentor pode estar criando uma identidade entre

as crianccedilas e seu filho ao demonstrar que mesmo com a difiacutecil realidade o esforccedilo e a

vontade de sobressair o fizeram ldquovencedorrdquo Assim como ele conseguiu elas tambeacutem podem

conseguir Vecirc-se claramente isto no discurso de uma das crianccedilas quando diz que natildeo quer ser

como o pai sem estudos O que revela que em relaccedilatildeo aos estudos e carreira ele tem outro

referencial Pocircde-se neste relato observar um olhar mais reflexivo da crianccedila ao sair de seu

proacuteprio contexto e desejar escapar do ldquodeterminismordquo a que estaacute sujeita

Estas foram as especificidades das funccedilotildees da mentoria desenvolvida no projeto em

relaccedilatildeo agraves propostas pela literatura Observou-se a existecircncia de suporte de carreira e

psicossocial Foram portanto encontradas no projeto as duas funccedilotildees de mentoria propostas

por Kram (1985) Neste caso a mentoria desenvolvida no projeto pode ser considerada

intensa A autora salienta que a funccedilatildeo psicossocial estaacute relacionada agrave confianccedila existente na

relaccedilatildeo Pocircde-se observar que o coordenador do projeto goza da confianccedila da comunidade

tanto pela abertura que as famiacutelias lhe demonstram como por entregar seus filhos aos seus

cuidados Tal confianccedila foi observada em todas as entrevistas Este fato permite que sejam

desempenhadas as funccedilotildees de suporte psicossocial

Seguem na proacutexima seccedilatildeo as fases da mentoria no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

87

423 Fases da relaccedilatildeo de mentoria apresentadas no projeto de

reforccedilo

Com relaccedilatildeo aos alunos pesquisados todos estavam na fase de cultivo da relaccedilatildeo seja

com apenas dois anos de projeto seja com oito No entanto pocircde-se observar que em alguns

casos de egressos a mentoria estaacute na fase de redefiniccedilatildeo uma vez que os mentorados estatildeo

seguindo seus proacuteprios rumos jaacute natildeo com um acompanhamento ldquotatildeo de pertordquo Eacute o caso de

uma ex-aluna do projeto que ganhou um apartamento no Conjunto Habitacional Casaratildeo do

Cordeiro intermediado pelo coordenador junto agrave Prefeitura

Pode-se perceber que os relacionamentos de mentoria encontram-se

predominantemente na fase de cultivo Eacute nesta fase que o mentor provecirc as funccedilotildees de

carreira e psicossociais Tal achado culmina com os encontrados anteriormente facilitando o

desenvolvimento das funccedilotildees de mentoria tatildeo evidentes neste projeto

Segue na proacutexima seccedilatildeo os fatores relacionados ao ecircxito de um programa de mentoria

formal que foram encontrados no projeto

424 Fatores encontrados no projeto que de acordo com a

literatura estatildeo relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria

A literatura aponta fatores que estatildeo relacionados ao ecircxito de um programa de

mentoria Estes foram encontrados no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida Os fatores satildeo seleccedilatildeo de

mentores e mentorados acompanhamento da relaccedilatildeo de mentoria frequumlecircncia dos encontros e

duraccedilatildeo da relaccedilatildeo Seguem-se os dados e sua discussatildeo acerca de cada fator de ecircxito

88

bull Seleccedilatildeo de mentor e mentorado

O uacutenico criteacuterio para ser mentorado era o fato de residir na Vila do Vinteacutem As

crianccedilas e adolescentes que tivessem interesse em levar suas tarefas ao reforccedilo poderiam fazecirc-

lo Laacute recebiam acompanhamento de um professor desde que com o aval dos pais

Para se fazer parte do projeto enquanto mentor era necessaacuterio o compartilhamento da

visatildeo de que eacute possiacutevel acreditar na mudanccedila de vida das crianccedilas e adolescentes atraveacutes da

educaccedilatildeo de qualidade e que as crianccedilas tecircm potencial mas lhes falta oportunidade Os

professores satildeo selecionados pelo coordenador do projeto mediante anaacutelise do curriacuteculo e da

experiecircncia A professora entrevistada jaacute conhecia os alunos do projeto pois eacute uma das

professoras que leciona em uma das escolas que fornece bolsa para a comunidade o que fez

com que o coordenador conhecesse parcialmente seu trabalho Ao falar de sua admissatildeo ao

projeto ela diz ldquoeu gosto desta clientela (crianccedilas carentes) e ele (Moab) me deu esta

oportunidaderdquo (entrevista out05) A dentista aderiu ao projeto a partir de uma das

apresentaccedilotildees do grupo em busca de patrociacutenio e apoio Diante da necessidade de pessoas

qualificadas para prestar serviccedilo voluntaacuterio ela que diz ter interesse e identidade com a aacuterea

social prontificou-se e estaacute no projeto haacute um ano

A psicoacuteloga demonstra o mesmo interesse ldquoEu sempre fui muito voltada para o social

sempre gostei muito de ajudarrdquo Ela parece estar muito inserida com a comunidade atraveacutes

do projeto pois frequumlentemente em seu discurso ela afirma ldquoquando vocecirc estaacute laacute dentro com

elesrdquo (entrevista out05) A psicoacuteloga trabalha em outro centro de atendimento a pessoas

carentes Estaacute no projeto haacute cinco anos

Pode-se observar que os colaboradores tecircm identidade com o projeto a ponto de

realizarem o trabalho como voluntaacuterios A uacutenica exceccedilatildeo eacute a professora mas mesmo ela em

seu discurso considera que fazer parte do projeto eacute uma oportunidade Eacute marcante a fala da

89

psicoacuteloga em sua entrevista ao inserir-se realmente na comunidade Esta dedicaccedilatildeo e

identidade podem ser fatores que contribuem para que o projeto tenha maior ecircxito

bull Acompanhamento da relaccedilatildeo de mentoria

O coordenador do projeto estaacute frequumlentemente avaliando se os resultados obtidos satildeo

os desejados

Eu optei pela Vila Vinteacutem porque o nosso acompanhamento eacute a liberdade vigiada () noacutes fazemos as coisas para eles mas tambeacutem queremos acompanhar de perto o que estaacute acontecendo entatildeo natildeo adianta eu pegar um menino da comunidade onde eu natildeo possa visitaacute-lo ele natildeo possa vir ao projeto Eu natildeo vejo o resultado do investimento feito enquanto eles aqui eu vejo passo-a-passo () eacute um acompanhamento bem de perto mesmo (COORDENADOR out05)

Haacute reuniotildees com os pais responsaacuteveis esclarecendo a importacircncia do projeto e

solicitando sua interaccedilatildeo no programa

Eles passavam fita de viacutedeo para os pais sobre educaccedilatildeo e pediam para os pais falar com os filhos () ele sempre queria o bem das crianccedilas agora dependia das crianccedilas e dos pais () seu Moab dizia que a gente tinha que ajudar ele com o Faacutebio (crianccedila tida pelo coordenador como de natildeo-ecircxito) botar ele praacute estudar (MAE DE FAacuteBIO E DE DIEGO entrevista out05)

Com relaccedilatildeo ao mentorado pode ocorrer o desligamento do aluno da bolsa de estudos

na escola particular caso ele natildeo atinja um desempenho satisfatoacuterio ldquoQuando uma crianccedila

natildeo valoriza isso que a gente oferece a gente tambeacutem natildeo aceita repetente natildeo aceita falta

vocecirc tem que estar de acordo dentro do projeto em disciplina bem comportado e com boas

notasrdquo (COORDENADOR entrevista out 05) Mesmo desligado da escola particular o

aluno pode continuar fazendo parte do reforccedilo

Pocircde-se confirmar atraveacutes destes discursos o relatado por Frecknall e Luks (1992) A

participaccedilatildeo dos pais apoiando o programa tem uma relaccedilatildeo positiva com o sucesso e sem este

apoio o ecircxito do programa pode ficar comprometido Em uma comunidade onde a grande

maioria dos moradores eacute analfabeta o acompanhamento deve ser intenso visando incutir na

famiacutelia a necessidade de compreensatildeo do valor da educaccedilatildeo Grossman e Tierney (1998)

90

tambeacutem salientam a importacircncia de se verificar o grau de envolvimento da famiacutelia no

programa pois conforme exposto este eacute um fator de ecircxito para a relaccedilatildeo

bull Frequumlecircncia dos encontros

A frequumlecircncia dos encontros entre os mentores e mentorados varia A psicoacuteloga ia agrave

comunidade uma tarde por semana na qual prestava os atendimentos agendados e caso

houvesse mais pessoas a serem atendidas fazia outros atendimentos Em caso de necessidade

ela ia agrave comunidade num outro dia A dentista atendia em seu consultoacuterio Havendo

necessidade o coordenador ligava e agendava o atendimento Jaacute as aulas eram ministradas

diariamente para os alunos que estudavam agrave tarde o reforccedilo era pela manhatilde e para os que

estudavam pela manhatilde o reforccedilo era agrave tarde O acompanhamento era feito durante uma hora e

meia para cada turma As turmas eram assim divididas alfabetizaccedilatildeo e 1a seacuterie 2a e 3a

seacuteries e 4a e 5a seacuteries

Figura 7 (4) - Professora e alunos durante a aula de reforccedilo na sede do projeto03

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

91

Apoacutes o reforccedilo os alunos tinham outras atividades como aula de muacutesica (teoria e

praacutetica) danccedila pintura ou inglecircs O projeto dispunha de quadra alugada onde as crianccedilas

podiam jogar futebol Em quase todas as atividades o coordenador diz estar presente

No ano de 2005 como as atividades foram parcialmente suspensas natildeo houve mais

frequumlecircncia no relacionamento Algumas das crianccedilas com bolsa de estudos em escola

particular foram colocadas num semi-internato conseguido pelo projeto Esta interrupccedilatildeo teve

reflexo na vida dos alunos como se pocircde observar no discurso abaixo

Em casa ela natildeo eacute comportada sempre ela foi danada mas ela melhorou no projeto Agora que ta sem o projeto ela jaacute ta voltando ao que era eu tocirc recebendo reclamaccedilatildeo do coleacutegio que natildeo quer estudar soacute quer ta brincando ta voltando a dar problema ta voltando a ser o que era () no semi-internato tem muita atividade satildeo muitas crianccedilas e eles arengam e no projeto eu nunca tive esse problema de ela ta arengando (sic) (MAE DE HELENA entrevista out05)

O fato de as entrevistas terem sido realizadas neste periacuteodo de transiccedilatildeo no qual as

crianccedilas natildeo estatildeo sendo assistidas faz com que a importacircncia da frequumlecircncia dos encontros

fique evidenciada Confirma-se assim que esta eacute um relevante fator de ecircxito para a relaccedilatildeo de

mentoria conforme observado na teoria (KEATING et al 2002) No entanto pode-se dizer

que o projeto de reforccedilo apresentava uma frequumlecircncia maior do que nos programas

similares apresentados pela teoria Tal frequumlecircncia garante um acompanhamento mais

proacuteximo visto que todos os dias por no miacutenimo uma hora e meia os alunos estavam no

projeto em contato com seus mentores Estudos feitos por Keating et al (2002) revelam que a

frequumlecircncia dos encontros tem relaccedilatildeo com o ecircxito do relacionamento principalmente em se

tratando de adolescentes com risco para delinquumlecircncia Neste sentido o projeto apresentava

maior probabilidade de ecircxito uma vez que a frequumlecircncia dos encontros era alta

d) Duraccedilatildeo da relaccedilatildeo de mentoria

Os alunos pesquisados estatildeo inseridos nesta relaccedilatildeo de mentoria por no miacutenimo dois

anos Segundo Grossmam e Rhodes (2002) a maioria dos benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria

92

como melhores resultados educacionais psicossocias e comportamentais apresentam-se em

relaccedilotildees que perduram por um ano ou mais Frecnall e Luks (1992) consideram que a duraccedilatildeo

eacute um fator determinante do ecircxito

O projeto mostra-se rigoroso com os fatores que impedem o ecircxito dos alunos desde

que sob sua responsabilidade Os fatores acima tecircm sido observados uma vez que a

negligecircncia em referecircncia a qualquer destes fatores pode levar a uma relaccedilatildeo ineficiente ou

ateacute mesmo negativa trazendo efeitos nocivos agrave vida da famiacutelia do mentorado e tambeacutem do

mentor

Natildeo se pode ignorar que na medida em que se vai estruturando uma relaccedilatildeo de

mentoria a mesma vai sofrendo ajustes visando tornaacute-la mais produtiva mais ldquopoderosardquo

Existem fatores que podem e devem ser estruturados previamente tais como a duraccedilatildeo e a

frequumlecircncia dos encontros e o objetivo da relaccedilatildeo No entanto haacute outros fatores que nem

sempre se consegue estruturar Um exemplo eacute a confianccedila necessaacuteria para que a relaccedilatildeo

realmente aconteccedila Em outras palavras observando-se os fatores relacionados ao ecircxito seratildeo

minimizadas as possibilidades de insucesso mas elas natildeo deixaratildeo de existir pois a mentoria

mesmo com seus inuacutemeros benefiacutecios natildeo eacute uma soluccedilatildeo maacutegica Trata-se de uma relaccedilatildeo e

portanto dependente do encontro de pessoas e de viacutenculos emocionais entre elas Este aspecto

eacute de difiacutecil controle havendo sempre um espaccedilo para a imprevisibilidade do ser humano

Se os fatores que levam ao ecircxito da relaccedilatildeo foram observados pelo projeto resta o

questionamento de o por quecirc de alguns casos serem considerados pelo projeto como de natildeo-

ecircxito Este aspecto eacute abordado na seccedilatildeo seguinte

93

425 Fatores responsaacuteveis pelo ecircxito e natildeo-ecircxito nos estudos na

percepccedilatildeo do mentor e da famiacutelia do mentorado

Na percepccedilatildeo do coordenador o ecircxito eacute obtido quando a cada ano a crianccedila vai sendo

aprovada e ascendendo e apresentando um bom comportamento ldquoQuando uma instituiccedilatildeo se

abre e nos convida a oferecer mais bolsas eacute porque nossos alunos estatildeo correspondendo tanto

em disciplina quanto no aprendizadordquo (COORDENADOR entrevista set05) Um exemplo

de ecircxito citado pelo coordenador eacute o caso de uma moccedila que foi acompanhada pelo projeto

desde a 6a seacuterie ateacute o 3ordm ano do ensino Meacutedio Ela fez um curso de informaacutetica depois fez um

estaacutegio junto agrave Prefeitura e hoje aos 20 anos trabalha no setor burocraacutetico de um hospital

O coordenador considera um caso de natildeo-ecircxito o caso da crianccedila ou adolescente que

natildeo rende o esperado em termos de desempenho escolar e de comportamento

Vale salientar que em quase sua totalidade os casos de natildeo-ecircxito indicados para

pesquisa foram avaliados pelas famiacutelias como de ecircxito A uacutenica exceccedilatildeo eacute a matildee de Faacutebio

que acredita que seu filho realmente natildeo tem tido sucesso nos estudos Segundo o

coordenador a diferenccedila estaacute na expectativa Para os pais o fato de o aluno estar na escola e

apresentar melhor comportamento jaacute eacute ecircxito enquanto que para o projeto isto natildeo eacute o

suficiente Na opiniatildeo dele a falta de sucesso deve-se a trecircs fatores

a) Estrutura familiar ndash muitas vezes a famiacutelia natildeo daacute o suporte que a crianccedila necessita

Para o coordenador a escola natildeo eacute valorizada por esses pais ldquoEles natildeo tecircm a escola como um

centro de promoccedilatildeo social como mobilidade social Eles natildeo descobriram isso As famiacutelias

natildeo as crianccedilasrdquo (COORDENADOR entrevista set05)

A professora chamava conversava com os alunos com a matildee em particular Ela queria ajudar ele mas ele natildeo queria ser ajudado Eu sabia que o Faacutebio natildeo ia ter uma oportunidade em uma escola melhor porque ele eacute assim () Eu nunca tava em cima dele para estudar eu natildeo tenho paciecircncia natildeo Se ele responder duas coisas erradas eu jaacute fico brava O pai eacute pior que eu Mal digo a ele que eacute pior do que eu (MAE DE FAacuteBIO entrevista out05)

94

b) Relacionamento negativo entre os pais e os filhos

Outro fator que notamos eacute a falta de amor para com essas crianccedilas que natildeo datildeo tatildeo certo () Os pais tecircm outros objetivos tecircm outras coisas mais importantes do que amar seus filhos () todas as crianccedilas bem comportadas na sala de aula eram bem amadas em casa () Quando isso natildeo ocorre a crianccedila torna-se uma crianccedila problema porque ela leva os haacutebitos e a falta de amor que ela tem em casa praacute escola para onde ela chegar (COORDENADOR entrevista set05)

c) Desinteresse do proacuteprio aluno O projeto contava com quatro alunos que eram

irmatildeos Estes recebiam acompanhamento diaacuterio nas tarefas O coordenador diz que foi agrave

escola deles para saber suas notas Por este motivo eles deixaram de ir ao projeto Nenhum

deles terminou o Ensino Meacutedio e atualmente um eacute zelador o outro eacute jardineiro e dois estatildeo

desempregados

O objetivo do projeto eacute de longo prazo o que dificulta uma anaacutelise dos resultados ou

de egressos para se identificar o ecircxito ou natildeo-ecircxito Mesmo os casos que desde o iniacutecio foram

acompanhados ainda hoje o satildeo Natildeo com a mesma intensidade mas ainda recebem algum

tipo de suporte do projeto Outro fator que dificulta a anaacutelise eacute o fato de que todos os alunos

estatildeo na escola e avanccedilando em seacuteries mesmo porque atualmente a escola natildeo reprova o que

torna difiacutecil saber ateacute que ponto tecircm realmente bom aproveitamento Portanto natildeo se

conseguiu distinguir dentre os casos pesquisados um limite claro entre o ecircxito e o natildeo-ecircxito

contando-se apenas com a percepccedilatildeo dos respondentes (matildees de alunos psicoacuteloga professora

e coordenador)

426 Resposta agrave primeira questatildeo norteadora especificidades da

relaccedilatildeo de mentoria existentes no projeto de reforccedilo escolar

Conforme o objetivo proposto pocircde-se encontrar algumas especificidades na relaccedilatildeo

de mentoria realizada no projeto que diferem um pouco dos achados teoacutericos Satildeo eles

95

a) A mentoria apresenta aspectos de mentoria formal e informal

b) Existem dois tipos de relacionamento entre mentor e mentorado em um o

acompanhamento eacute mais proacuteximo do que no outro

c) A frequumlecircncia dos encontros eacute maior no projeto do que a encontrada na literatura

d) Dentre as funccedilotildees de carreira o patrociacutenio oferecido pelo projeto eacute mais amplo do

que o apresentado pela teoria e

Com base nestes achados eacute possiacutevel concluir que um programa de mentoria para

crianccedilas e adolescentes de uma comunidade carente do Recife tem suas especificidades suas

caracteriacutesticas particulares diferindo de outros programas realizados no contexto de outros

paises Respondida a primeira questatildeo norteadora segue-se a segunda que aborda os

benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentorado

43 Achados referentes agrave segunda questatildeo norteadora

Seguem os achados que buscam responder a seguinte questatildeo em um contexto

brasileiro ateacute que ponto os mentorados carentes estudados tecircm desfrutado dos benefiacutecios da

relaccedilatildeo de mentoria apontados pela literatura

Pocircde-se observar os seguintes benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria na vida dos

mentorados enquanto participantes do programa de reforccedilo

431 Aumento da auto-estima da responsabilidade maior

progresso escolar e perspectiva positiva de futuro

Devido agrave impossibilidade de neste trabalho medir-se a auto-estima dos mentorados o

aumento desta seraacute considerado em relaccedilatildeo ao progresso escolar pois com base no observado

por Harter (1982) o sentir-se competente leva o jovem a obter melhor desempenho Grossman

96

e Tierney (1998) salientam que jovens ao serem acompanhados por um mentor se sentiram

mais confiantes para com suas tarefas escolares Associou-se tambeacutem o progresso escolar com

perspectiva positiva de futuro uma vez que se percebeu que o avanccedilo nos estudos estaacute

relacionado com melhores perspectivas de futuro

O aumento do desempenho escolar eacute visiacutevel nos casos que se seguem

Antes (do projeto) ela era preguiccedilosa soacute queria ficar brincando ela teve muita dificuldade para aprender (na preacute-escola) Estudava mas natildeo aprendia na 1a foi fazer o reforccedilo depois do projeto ela foi se interessando mais pode ser porque natildeo tinha nenhum incentivo neacute () Ela chegava e dizia que era bom quando estudava e tirava nota boa antes (de interromper o projeto) ela natildeo esperava nem chegar em casa vinha aqui (no trabalho) para me mostrar as provas (MAE DE HELENA entrevista out05)

No interior eu fiz matricula dele noacutes trabalhava na roccedila ele natildeo gostava (de estudar) natildeo se dedicava ia caccedilar passarinho mas quando chegou aqui seu Moab quis acordar ele pra vida Ele vendo os meninos tudo com a idade dele (9 anos na eacutepoca) sabendo ler e escrever dentro de seis meses o menino desenrolou para aprender mesmo (sic) (MAE DE JAIRO entrevista out05)

Jairo cursou a 4a e a 5a seacuteries no mesmo ano Faz tambeacutem curso de inglecircs O

coordenador ouviu da professora deste curso que o aluno tem dom para idiomas natildeo soacute

inglecircs mas espanhol e francecircs

A possibilidade do intercacircmbio foi boa para eu ter uma certa ideacuteia do que pode acontecer comigo do que pode acontecer () Ele (Moab) dizia que para analfabeto a caneta e o papel eacute o chatildeo e a vassoura Que eu estudasse porque a miseacuteria hoje em dia -saiu na revista- jaacute tinha endereccedilo que era praacute pobre negro e nordestino e que se a gente natildeo lutasse essa realidade a gente natildeo iria mudar nunca () Eu decidi que quero ser professor de inglecircs (WALTER entrevista out05)

Ele diz que quer fazer faculdade ele ficou com mais esperanccedila de conseguir uma coisa melhor ele diz que eu natildeo me preocupe porque daqui a dez anos ele vai ter um emprego bom e vai me ajudar (MAE DE FREDERICO entrevista out05)

Ele quer ir estudar nos Estados Unidos fez vaacuterios cursos inglecircs francecircs espanhol informaacutetica e de entrevista Onde tiver curso ele vai ele quer muito trabalhar ter seu dinheiro fazer sua vida () o negoacutecio dele eacute ta dentro de casa estudando pregado nos livros (MAE DE NESTOR entrevista out05)

97

A professora entrevistada leciona tambeacutem no coleacutegio que oferece bolsa para os alunos

do projeto sendo professora deles em ambos os lugares Ao ser solicitada a comparar o

desempenho dos alunos do projeto com os demais alunos a professora mencionou que dentre

seus trecircs alunos com desempenho excelente dois satildeo do projeto Os demais do projeto estatildeo

na meacutedia

A coordenadora de uma das escolas que fornece bolsa de estudos ao projeto (esta

escola oferece bolsas para dois alunos da sexta seacuterie) ao ser entrevistada disse que o

comportamento dos alunos do projeto eacute bom e o desempenho apresentado por eles eacute maior do

que a meacutedia da turma e da seacuterie como se pode observar nos boletins que se seguem

98

Figura 8 (4) Boletim escolar de Afracircnio - 6a Seacuterie

99

Figura 9(4) Boletim escolar de Jairo ndash 6a Seacuterie

Em ambos os casos as famiacutelias satildeo analfabetas E neste ano os dois alunos estatildeo sem

o reforccedilo motivo pelo qual segundo uma das matildees o desempenho do filho caiu Este mesmo

aluno neste ano natildeo conta com todo o material didaacutetico necessaacuterio Ainda assim estes alunos

estatildeo apresentando um desempenho superior ao de seus colegas

100

Atraveacutes dos discursos das matildees percebeu-se considerarem que o fato de seus filhos

terminarem a primeira fase do ensino fundamental e darem sequumlecircncia a estes estudos jaacute eacute uma

visatildeo positiva de futuro Observou-se isso no discurso da matildee de Afracircnio ldquoquem estuda tem

esperanccedila de um futuro melhorrdquo O caso de Jairo que chegou analfabeto do interior e em seis

meses estava lendo e escrevendo confirma o proposto por Rhodes et al (2002) de que a

presenccedila de um mentor ajuda os adolescentes a superarem momentos de adversidade Neste

caso ele natildeo tem pai e sua matildee considera o mentor como algueacutem da famiacutelia que ajuda a

suprir esta ausecircncia na vida do filho O fato de Walter (que convive com analfabetos) ter

definido sua carreira (professor de inglecircs) demonstra o proposto por Kram (1985) o mentor

ajuda o mentorado na definiccedilatildeo da identidade profissional

Vale destacar a relevacircncia de se promover o aumento da auto-estima decorrente do

desempenho apresentado pelos alunos Pessoas que ainda natildeo tecircm satisfeitas adequadamente

as necessidades fisioloacutegicas (alimentam-se mal natildeo contam com aacutegua encanada nem

sanitaacuterios) e de seguranccedila (moram e vivem permanentemente expostos a riscos) apresentando

necessidade de realizaccedilatildeo Vale ressaltar a teoria da motivaccedilatildeo proposta por Maslow (apud

ROBBINS 2002) que defende que a satisfaccedilatildeo da necessidade de realizaccedilatildeo dependeria da

satisfaccedilatildeo de niacuteveis mais baacutesicos de necessidade como as fisioloacutegicas de seguranccedila e sociais e

de estima Percebeu-se no contexto da pesquisa a possibilidade do caminho inverso Atraveacutes

do aumento da auto-estima e da satisfaccedilatildeo da necessidade de realizaccedilatildeo as crianccedilas e

adolescentes podem vir a ter no futuro condiccedilotildees de satisfazer a contento suas necessidades

fisioloacutegicas e de seguranccedila

101

432 Resposta da segunda questatildeo norteadora benefiacutecios da

mentoria para a crianccedila adolescente do projeto

Foram encontrados os seguintes benefiacutecios para o mentorado participante do projeto

aumento da auto-estima maior progresso escolar e perspectiva positiva de futuro

Em termos de especificidades com relaccedilatildeo ao proposto pela teoria natildeo foram

percebidas diferenccedilas existentes entre os benefiacutecios para o mentorado encontrados em

pesquisas anteriores e os encontrados no projeto de reforccedilo escolar na Vila do Vinteacutem II fato

que responde agrave segunda questatildeo norteadora desta pesquisa

Seguem os achados acerca da terceira questatildeo que versa sobre os benefiacutecios para o

mentor encontrados na mentoria desenvolvida pelo projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

44 Achados referentes agrave terceira questatildeo norteadora

Dentre os benefiacutecios na vida dos mentores que participam do projeto pocircde-se observar

realizaccedilatildeo pessoal motivaccedilatildeo amizade auto-conhecimento e senso de dever cumprido Tais

achados apresentados nas seccedilotildees abaixo buscam responder a seguinte questatildeo ateacute que ponto

um projeto de mentoria voltado para crianccedilas e adolescentes carentes oferece os benefiacutecios

propostos pela teoria para os mentores

441 Realizaccedilatildeo pessoal

Pocircde-se observar que fazer parte do projeto faz com que os mentores se sintam

realizados

Quando a gente eacute uacutetil a outra pessoa a gente se realiza () Eu me realizo assim vendo a alegria dos meninos que realmente estatildeo mudando a cara natildeo soacute da famiacutelia mas tambeacutem da comunidade (COORDENADOR entrevista set05)

102

Eu fico muito bem comigo mesma na realizaccedilatildeo deste trabalho () O que me deixa realizada eacute ver alguns frutos desse trabalho natildeo soacute nas crianccedilas como da proacutepria famiacutelia () em relaccedilatildeo ao futuro agrave auto-estima potencial de cada um que eles natildeo estatildeo sozinhos a gente taacute laacute com eles () e esse pouquinho esse pouco que eu estou fazendo estaacute facilitando a vida melhorando A gente vecirc um salto de qualidade na vida deles (PSICOacuteLOGA entrevista out05)

Ao acompanhar preparar os alunos para os exames de admissatildeo vecirc-los entrar na

escola particular acompanhar o crescimento e desenvolvimento dos mentorados a professora

entrevistada demonstra sentir orgulho do trabalho feito com seus dois melhores alunos

ldquoRealmente valeu a pena investir porque satildeo crianccedilas que apesar de todo o contexto social

que eles vivem eles satildeo responsaacuteveis inteligentiacutessimosrdquo (PROFESSORA entrevista out05)

Ficou evidenciado que o fato de ser um mentor daacute ao indiviacuteduo um senso de

generosidade ao contribuir com as geraccedilotildees futuras (RAGINS 1997) e que ser mentor de

adolescentes delinquumlentes tem sido gratificante na medida em que os mentores tecircm uma

oportunidade de ajudar estas pessoas (JACKSON 2002) Ser mentor do projeto Educaccedilatildeo eacute

Vida provecirc um sentimento de recompensa ao ver as mudanccedilas positivas na vida dos

mentorados conforme o propostos por Shields (2001)

442 Motivaccedilatildeo

A psicoacuteloga diz que a partir de seu envolvimento com o projeto ela fez curso em

Psicopedagogia e especializaccedilatildeo em Psicologia da Famiacutelia

O trabalho com as crianccedilas e as famiacutelias me proporcionou outros aprendizados maiores ateacute do que eu esperava porque a gente aprende muito laacute dentro com eles E assim eu comecei a me especializar a voltar para mim em niacutevel de aprendizado de crescimento tambeacutem profissional () Eacute uma troca muito grande de saber quando a gente taacute laacute dentro com eles a gente tem essa vontade de realmente acertar (PSICOacuteLOGA entrevista out05)

Zey (1998) diz que o mentor pode redirecionar sua energia para a criatividade e accedilatildeo

produtiva A mentoria pode entatildeo significar estiacutemulo e desafio O que pocircde ser observado no

103

discurso acima O desenvolvimento profissional natildeo eacute benefiacutecio apenas para o mentorado

mas para o mentor tambeacutem

443 Ser amado pelo mentorado

Pocircde ser observado que o mentor recebe amizade e carinho de seus mentorados

conforme verificado por Klaw et al (2003) ldquoEle ama o seu Moab ele almoccedila na casa de

Moab segunda e quarta e diz que laacute tudo eacute bomrdquo (MAE DE AFRAcircNIO entrevista out05)

ldquoMeus dois filhos eacute agarrado com seu Moabrdquo (sic) (MAE DE TAcircNIA entrevista set 05)

ldquoMoab foi vendo que eu tava sempre ali no projeto do lado dele e ele do meu lado () o

pessoal me achava careta porque eu sentia alguma coisa pelo projeto eu sempre prestava a

atenccedilatildeo procurava entenderrdquo (WALTER entrevista out05)

444 Autoconhecimento

Percebeu-se que fazer parte do projeto enquanto mentor provecirc um maior

autoconhecimento ou autopercepccedilatildeo

ldquoEacute muito gratificante trabalhar com pessoas carentes comeccedilo a valorizar o que eu

tenho a gente comeccedila a agradecer muito por essa vida boa que a gente tem que eacute muito boa

muito boa mesmordquo (DENTISTA entrevista out05)

A partir desta relaccedilatildeo ela percebe melhor sua situaccedilatildeo fala acerca da sauacutede dos filhos e de ter

uma casa maravilhosa

Neste caso o contato com a realidade da comunidade pode tecirc-la levado a comparar

esta realidade com a sua proacutepria e entatildeo perceber-se abastada

104

445 Senso de dever cumprido

Outro beneficio encontrado diz respeito ao senso de dever cumprido que o fato de ser

mentor propicia

A gente sabe que tem um papel social a desempenhar Natildeo fomos beneficiados pela sociedade com o direito de estudar de fazer um curso superior de ter uma habilitaccedilatildeo () para que isso sirva apenas para o nosso benefiacutecio Essa nossa habilitaccedilatildeo que a sociedade deu a sociedade deu eu estudei em uma Universidade Federal essa habilitaccedilatildeo deve retornar para a sociedade tambeacutem para quem pode pagar e para quem natildeo pode pagar Eacute necessaacuterio que isso volte (DENTISTA entrevista out05)

Este benefiacutecio natildeo foi encontrado na literatura talvez por tratar de um tema ainda

recente o indiviacuteduo ter responsabilidade com a realidade social que o cerca

446 Resposta da terceira questatildeo norteadora benefiacutecios da

mentoria para o mentor

Foram encontrados no projeto educaccedilatildeo eacute Vida os seguintes benefiacutecios para o mentor

a) Realizaccedilatildeo pessoal

b) Motivaccedilatildeo

c) Ser amado pelo mentorado

d) Autoconhecimento e

e) Senso de dever cumprido

Sendo que estes dois uacuteltimos natildeo foram encontrados na teoria mas percebidos na

relaccedilatildeo de mentoria que ocorre no projeto Estes achados podem ser explicados devido ao

contexto no qual a mentoria ocorreu crianccedilas e adolescentes de uma comunidade carente

Contexto que difere da realidade dos mentores e que pode tecirc-los levado a uma reflexatildeo sobre

sua proacutepria condiccedilatildeo de vida e sua responsabilidade com os que natildeo se acham em iguais

condiccedilotildees Tais achados respondem a terceira questatildeo norteadora deste trabalho

105

45 Achados referentes agrave quarta questatildeo norteadora

Puderam ser verificados outros benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas

e adolescentes com risco para delinquumlecircncia aleacutem dos mencionados anteriormente Pois na

medida em que o mentorado se beneficia da relaccedilatildeo sua famiacutelia alcanccedila estes benefiacutecios e a

sociedade tambeacutem acaba sendo beneficiada ainda que indiretamente

Com o intuito de responder a questatildeo quais os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da

relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas e adolescentes carentes em uma comunidade do Recife

seguem os benefiacutecios sociais diretos da mentoria realizada pelo projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

451 Desenvolvimento educacional das crianccedilas e dos adolescentes

Por se tratar de um ambiente carente e de analfabetos a comunidade natildeo tem como

prover o acompanhamento das crianccedilas e adolescentes as famiacutelias natildeo dispotildeem de tempo

eou conhecimento e preparo para prover tal suporte Por exemplo uma matildee analfabeta natildeo

parece ter condiccedilotildees de ajudar o filho nas tarefas escolares

Eu tocirc pensando quando ela fizer a 5a que natildeo tem o reforccedilo nem o semi-internato ela vai fazer a tarefa em casa e se brincar ela sabe mais do que eu (MAE DE SILVIA entrevista out05)

Eu natildeo tenho estudo faccedilo meu nome muito mal Meu marido sabe mas trabalha e de noite jaacute ta cansado () no reforccedilo ele fazia a tarefa todo dia sem reforccedilo e sem uma matildee que sabe ler quem ia ensinar a ele ai ia ficar complicado (MAE DE FREDERICO entrevista out05) Os coleacutegios hoje em dia quer a crianccedila saiba ler quer natildeo saiba o Estado passa natildeo quer saber se a crianccedila ta aprendendo se aprendeu se natildeo aprendeu (MAE DE TITO entrevista out05) A escola (puacuteblica) um dia tem aula outro dia natildeo tem ai ela fica em casa Hoje mesmo ela taacute em casa porque natildeo teve aula (MAE DE TAcircNIA entrevista out05)

106

A professora dele disse que ele natildeo tinha condiccedilotildees de passar mas ela natildeo podia reprovar (MAE DE FAacuteBIO entrevista out05)

Tais depoimentos revelam dois fatores incapacidade da famiacutelia em acompanhar os

estudos do filho e ineficiecircncia do ensino puacuteblico na experiecircncia destas famiacutelias O que leva a

pensar que o futuro educacional destas crianccedilas seria similar ao de suas matildees conforme

Barros et al (1994) que diz que a educaccedilatildeo meacutedia das matildees eacute o principal determinante do

desempenho escolar do filho ou seja haveria maior evasatildeo escolar Neste sentido o projeto

propicia que o aluno vaacute aleacutem da escolaridade da matildee

Vale aqui um questionamento por que o governo investe em bolsa escola e natildeo

acompanha o aluno Simplesmente ter a presenccedila do aluno na escola natildeo eacute garantia de que o

mesmo estaacute aprendendo O fato de que um professor natildeo pode mais reprovar o aluno mesmo

que sem condiccedilotildees de galgar um grau superior pode demonstrar que o interesse das poliacuteticas

puacuteblicas pode estar relacionado a nuacutemeros A taxa de matriacutecula estaacute associada ao aumento do

IDH mas ateacute que ponto isto reflete o real rendimento escolar dos alunos

Neste caso a mentoria vem suprir uma falta natildeo apenas da famiacutelia mas tambeacutem do

Estado e do Municiacutepio uma vez que por si soacute natildeo tecircm tido ecircxito com o aproveitamento e a

manutenccedilatildeo dos alunos na escola

452 Assistencialismo

Foi observado que algumas famiacutelias associam o projeto agrave assistecircncia social ldquoO reforccedilo

faz muita falta () tinha muitas doaccedilotildees roupas cestas baacutesicas no dia das crianccedilas

tinha brinquedos festas doaccedilotildees para as crianccedilasrdquo (MAtildeE DE FAacuteBIO entrevista

set05)

Ainda que esta natildeo seja a proposta do projeto as famiacutelias devido ao patrociacutenio

ofertado ao mentorado e agrave sua famiacutelia percebem o projeto como assistencialista

107

453 Diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia

O projeto demonstra contribuir indiretamente com a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia

As crianccedilas tando no projeto a gente fica despreocupada Quando ela natildeo tava no projeto ficava na rua natildeo queria estudar soacute queria ficar na rua brincando () muitas matildees estatildeo preocupadas em o que fazer com as crianccedilas sem o projeto (MAE DE HELENA entrevista out05) Ele tando laacute no projeto eu saio despreocupada neacute Que ele natildeo ta na rua A vida que a gente vive hoje sai pra trabalhar e sabe que o filho natildeo ta na rua a gente fica despreocupada (MAE DE AFRAcircNIO entrevista out05) Ele gosta eacute de rua de papagaio peatildeo bola () Ele natildeo liga para o caderno livros agora falou em rua eacute com ele () No reforccedilo ele estudava mais um pouco (MAE DE FAacuteBIO entrevista out05) O reforccedilo evita de as crianccedilas ta na rua no sinal pedindo (MAE DE TITO entrevista out05)

Atraveacutes destas declaraccedilotildees pocircde-se observar o referido por Harris et al (2002) que a

entrada das matildees no mercado de trabalho e o aumento das separaccedilotildees conjugais fazem com

que o adolescente passe menos tempo com os pais e passe a maior parte do tempo com seus

pares Conforme observado anteriormente a delinquumlecircncia tem diversas causas Dias (2003)

por exemplo verificou que a maior parte dos jovens delinquumlentes participantes de sua

amostra era de analfabetos funcionais relacionando assim a delinquumlecircncia a poucos anos de

estudos e consequumlentemente agrave evasatildeo escolar Na medida em que a crianccedila se desenvolve

nos estudos haacute uma diminuiccedilatildeo da evasatildeo escolar e consequumlentemente da delinquumlecircncia

Outra forma de o projeto contribuir com a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia refere-se a levar as

crianccedilas a deixarem a rua onde estatildeo expostas a diversos riscos como violecircncia drogas

exploraccedilatildeo sexual e confusotildees situaccedilotildees frequumlentes em um contexto de favela

A relaccedilatildeo de mentoria desenvolvida pelo projeto eacute de longo prazo Portanto por mais

que alguns benefiacutecios se evidenciem estes soacute poderatildeo ser claramente observados ao longo do

108

tempo quando as crianccedilas e adolescentes do projeto forem adultos Pode-se inferir a partir

dos resultados apresentados que ao inveacutes de dependentes de poliacuteticas assistencialistas os

egressos contribuiratildeo com o desenvolvimento de sua cidade Eacute possiacutevel antecipar que uma

grande parcela das pessoas que faziam a favela Vila do Vinteacutem II estaraacute alfabetizada e

ocupando um lugar no mercado de trabalho Aiacute sim ter-se-aacute um aumento real do IDH que de

fato revelaraacute um aumento da qualidade de vida desta populaccedilatildeo do Recife Soacute entatildeo poderatildeo

ser mensurados os benefiacutecios sociais deste projeto

454 Resposta da quarta questatildeo norteadora benefiacutecios sociais

da relaccedilatildeo de mentoria

Pocircde-se observar os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria existente

no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida As especificidades encontradas foram

a) Maior desenvolvimento educacional de crianccedilas e adolescente carentes com risco para

delinquumlecircncia visto tratar-se de um projeto de reforccedilo escolar

b) Assistecircncia social ao prover a satisfaccedilatildeo de algumas das necessidades baacutesicas do

mentorado e de sua famiacutelia

c) Suprimento pela relaccedilatildeo de mentoria de uma falha do sistema educacional do Estado e

do Municiacutepio que gradua o aluno sem que ele tenha condiccedilotildees O projeto tem suprido

esta carecircncia dando condiccedilotildees de o aluno galgar o grau seguinte

Estes foram os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da mentoria realizada no projeto

Educaccedilatildeo eacute Vida o que responde agrave quarta questatildeo norteadora deste trabalho

Seratildeo apresentadas no proacuteximo capiacutetulo as conclusotildees do trabalho bem como as implicaccedilotildees

teoacutericas praacuteticas e sociais e as sugestotildees de pesquisas futuras

109

5 Conclusatildeo

Neste capiacutetulo seratildeo apresentadas as conclusotildees da pesquisa tendo como referencial os

objetivos propostos

Pode-se concluir que a mentoria mostrou assim como no exposto teoricamente

resultados positivos na vida dos mentores mentorados e da comunidade O objetivo da

pesquisa foi atingido uma vez que foi possiacutevel conhecer algumas especificidades da mentoria

no contexto brasileiro e mais especificamente nordestino Ampliou-se tambeacutem o

conhecimento da mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes com risco para delinquumlecircncia

Desta forma a mentoria mostrou-se eficaz no sentido de contribuir para o desenvolvimento

do mentorado de forma que ele permanece na escola e melhora o rendimento escolar

As funccedilotildees de carreira propostas pela literatura foram encontradas e destas vale

destacar a oferta de tarefas desafiadoras O mentor propotildee inuacutemeros e audaciosos desafios

para seus mentorados sem no entanto deixar de prover as condiccedilatildeo de atingi-los e de superar

a realidade de exclusatildeo a que estatildeo sujeitos Outras funccedilotildees desenvolvidas pelo projeto e que

merecem destaque dizem respeito agrave amizade e agrave aceitaccedilatildeo do mentor para com seu

mentorado A importacircncia deste viacutenculo afetivo eacute imensuraacutevel principalmente em se tratando

e crianccedilas que muitas vezes natildeo percebem amor em sua famiacutelia

Seu Moab se preocupa mais com as crianccedilas do que noacutes que somos matildee (risos) Tem paciecircncia tem carinho por aquelas crianccedilas Ele sabe ensinar () ele natildeo machuca ele natildeo grita e as crianccedilas obedecem Eacute uma benccedilatildeo ele tem aquele amor (MAtildeE DE TAcircNIA entrevista set05)

O projeto demonstrou suprir lacunas na famiacutelia sendo o mentor agraves vezes comparado

com um pai ou com algueacutem da famiacutelia Pocircde se perceber a importacircncia da mentoria para o

grupo especiacutefico de pessoas marginalizadas ldquocarentes de tudordquo (PSICOacuteLOGA entrevista

110

set05) ao se ter algueacutem que acredite que aceite valorize incentive e decirc condiccedilotildees de

crescimento e desenvolvimento Papel este desempenhado pelos mentores ldquoO projeto restaura

a dignidade da pessoa do ser pessoa de ser um cidadatildeo de estar num lugar () onde as

pessoas estatildeo olhando para ele Ele eacute importante ele existerdquo (PSICOacuteLOGA entrevista

out05)

A mentoria mostrou-se efetiva em ajudar o mentorado em seu desenvolvimento

pessoal e ldquoprofissionalrdquo e seus benefiacutecios puderam ser em parte verificados

Os fatores de ecircxito mencionados na teoria tambeacutem puderam ser encontrados no

projeto A relaccedilatildeo de mentoria existente no projeto revelou caracteriacutesticas natildeo abordadas pela

teoria o que enriquece os estudos nesta aacuterea

Outro aspecto que chama a atenccedilatildeo eacute o comprometimento dos colaboradores

entrevistados seu desejo em ajudar e realizaccedilatildeo ao poderem contribuir

Esta foi a conclusatildeo objetiva deste trabalho No entanto em se tratando de uma

pesquisa qualitativa na qual haacute o envolvimento do pesquisador com o objeto na busca de se

chegar a uma compreensatildeo deste outros conhecimentos menos objetivos puderam ser

apreendidos e devem ser mencionados

O fazer parte do projeto parece ter um significado especial para quem dele participa e

os benefiacutecios parecem ir aleacutem dos aqui listados Algo taacutecito que natildeo pocircde ser apreendido

apenas sentido o brilho nos olhos as laacutegrimas as pausas e a voz trecircmula Fatos frequumlentes

nas entrevistas quer de mentores de mentorados ou das matildees

O projeto na percepccedilatildeo da pesquisadora pode ser comparado a seguinte metaacutefora uma

sementeira muito acolhedora cujos responsaacuteveis satildeo uma famiacutelia de saacutebios agricultores (pai

matildee filho e filha) que mesmo com outras opccedilotildees ldquomais lucrativasrdquo financeiramente optam

por trabalhar em sementes rejeitadas Esta famiacutelia partilha da visatildeo que vai aleacutem da ldquocascardquo

seca feia suja e aparentemente infrutiacutefera que tais sementes se apresentam E assim doam

111

suas vidas para descobrir (natildeo no sentido de achar mas de tirar o que encobre) e revelar o

tesouro que haacute dentro delas Plantam regam e fornecem a elas os nutrientes tirados de sua

proacutepria mesa no intuito de vecirc-las desabrochar desenvolver crescer e influenciar

positivamente a terra seca e aacuterida na qual foram geradas e permanecem A ideacuteia eacute a de uma

sementeira na qual um belo jardim e um frutiacutefero pomar satildeo vislumbrados Natildeo se

excluem desta percepccedilatildeo as dificuldades que acompanham o preparo da terra a poda as

intempeacuteries do ambiente e o descreacutedito daqueles que muitas vezes ao verem tal trabalho

negligenciam seu valor meneiam a cabeccedila e o desprezam No entanto o amor e a vontade de

ver tais sementes tatildeo marginalizadas frutificarem se alastra e contagia a outros que com o

mesmo intuito tecircm se envolvido contribuindo e partilhando do mesmo sentimento pois

acreditam que fornecendo as condiccedilotildees ldquoadequadasrdquo essas sementes iratildeo frutificar tanto ou

mais do que as mais belas aacutervores do mais belo pomar Esta sementeira para a pesquisadora

eacute o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida os agricultores satildeo Moab Silva Miriam Mariacutelia e Marcos

Moab apenas esporadicamente trabalha como cozinheiro visto dedicar-se

integralmente ao projeto no acompanhamento das crianccedilas e adolescentes nas escolas na

busca de patrociacutenio na comunidade com os pais

Miriam abre as portas de sua casa partilha o alimento com qualquer das crianccedilas que

chegar agrave sua porta e tatildeo importante quanto este partilha tambeacutem o afeto Natildeo se pode

mensurar o quanto este casal jaacute abnegou de sua vida em prol da vida deste projeto

Mariacutelia e Marcos jaacute ensinaram no projeto e quando solicitados retornam eles aceitam

partilhar com tantos outros daquilo que seria soacute seu pai matildee lar e recursos

Este projeto eacute um projeto de uma famiacutelia que se envolve se compromete com

seriedade e responsabilidade com os moradores da comunidade de forma que sofre junto

partilhando das dificuldades de crianccedilas e adolescentes que seriam apenas estranhos ou

ldquomeninos de ruardquo natildeo fosse o amor que os mobiliza

112

Pode-se perceber que muitas vezes faltam recursos materiais para se fazer como se

gostaria e ateacute mesmo para dar continuidade ao que jaacute foi feito No entanto a ausecircncia de

estiacutemulo de coragem de amor e de creacutedito natildeo foi percebida Talvez por isso algumas matildees

tenham se referido ao projeto como sendo algo maravilhoso

Feitas as conclusotildees seguem nas proacuteximas seccedilotildees as implicaccedilotildees teoacutericas praacuteticas e

sociais deste estudo e as sugestotildees de pesquisa futura

51 Contribuiccedilotildees do estudo

O presente trabalho oferece algumas contribuiccedilotildees para a teoria para a praacutetica e

tambeacutem para a sociedade Seguem nas proacuteximas seccedilotildees o detalhamento destas contribuiccedilotildees

511 Contribuiccedilatildeo teoacuterica

Esta pesquisa traz contribuiccedilotildees para a teoria na medida em que verifica a

aplicabilidade da literatura no contexto brasileiro de uma comunidade carente Oferece

contribuiccedilotildees tambeacutem por tratar da mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes com risco

para delinquumlecircncia A pesquisa aborda objetos que no Brasil ainda natildeo tinham sido

pesquisados sob o arcabouccedilo da mentoria

Outra contribuiccedilatildeo deste estudo diz respeito aos achados aqueles que diferem da

teoria e que foram encontrados no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida tais como o patrociacutenio amplo

oferecido pelo mentor ao mentorado o mentor natildeo ser tido como modelo o

autoconhecimento e senso de dever cumprido como benefiacutecios para o mentor Em se tratando

de estudo de caso estes achados natildeo devem ser generalizados No entanto podem servir de

questionamento e de objeto de futuras investigaccedilotildees no sentido de ver sua aplicabilidade em

outros contextos

Segue a contribuiccedilatildeo praacutetica deste trabalho

113

52 Contribuiccedilatildeo praacutetica

O presente objeto de pesquisa (mentoria voltada para educaccedilatildeo de crianccedilas e

adolescentes carentes) pode ser utilizado tambeacutem como forma de intervenccedilatildeo na educaccedilatildeo do

ensino puacuteblico e privado

A iniciativa privada tambeacutem pode ter nesta relaccedilatildeo de mentoria um modelo de accedilatildeo

de responsabilidade social Pode intervir em sua comunidade preparando sua futura matildeo-de-

obra e usufruindo os diversos benefiacutecios que tal relaccedilatildeo pode trazer natildeo soacute em termos de

dividendos ao gerenciar a reputaccedilatildeo mas em termos solidariedade realizaccedilatildeo e senso de

dever cumprido

Era objetivo contribuir com a praacutetica atraveacutes da teoria de mentoria visando

potencializar a relaccedilatildeo existente no projeto de reforccedilo No entanto uma vez que os fatores de

ecircxito jaacute satildeo considerados e que a relaccedilatildeo tem trazido benefiacutecios para o mentorado mentor e

para a sociedade natildeo se percebeu formas de contribuiccedilatildeo com o projeto neste sentido Senatildeo

de apresentar um estudo sistematizado do projeto e de como satildeo beneficiados os que dele

participam

53 Contribuiccedilatildeo social

O presente trabalho oferece contribuiccedilotildees sociais na medida em que confirmou que o

objeto de estudo mostrou-se eficiente em sua proposta podendo entatildeo servir de modelo de

accedilatildeo para outras entidades voltadas para crianccedilas e adolescentes de risco

O trabalho tambeacutem pode servir de fonte de pesquisa para empresas que desejam ser

responsaacuteveis socialmente atraveacutes da educaccedilatildeo tendo na mentoria um modelo que apresentou

resultados positivos

Outra contribuiccedilatildeo social deste estudo diz respeito ao questionamento sobre a

educaccedilatildeo no Brasil O projeto tem sido uma alternativa diante do insucesso da escola puacuteblica

114

em fazer com que o aluno permaneccedila na escola e obtenha bom aproveitamento A

contribuiccedilatildeo pode ser aumentada na medida em que o puacuteblico para tal projeto eacute de crianccedilas e

adolescentes com risco Tais sujeitos aleacutem do aprendizado obtido adquirem perspectiva

positiva de vida podendo-se inferir que haja diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia

Seguem na proacutexima seccedilatildeo algumas sugestotildees de pesquisas futuras que podem ser

realizadas no intuito de compreender melhor o fenocircmeno estudado

52 Sugestotildees de pesquisas futuras

Algumas sugestotildees de pesquisa podem ser feitas a partir do presente trabalho Satildeo elas

a) Acompanhar a histoacuteria dos futuros egressos visando conhecer melhor os

resultados do programa de mentoria

b) Realizar um experimento entre as crianccedilas e adolescentes que participam do

projeto e os natildeo participantes para se verificar a influecircncia deste

c) Investigar quais as implicaccedilotildees de haver dois tipos de relaccedilatildeo de mentoria no

projeto na qual o mentor tem um relacionamento mais proacuteximo com um

mentorado do que com outro

Estas sugestotildees para pesquisa futura encerram este trabalho mas natildeo os

questionamentos dele advindos

Peccedilo licenccedila a Moab para terminar o trabalho com sua fala Para educar natildeo se tem

um resultado imediato Entatildeo vocecirc tem que gastar tempo Eacute investimento em longo

prazo Vocecirc tem que ter paciecircncia () amor (COORDENADOR entrevista set05)

115

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LARSON R DWORKIN J GILLMAN S Facilitating adolescentsacuteconstructive use of time in on-parent families Applied Developmental Science v 5 n3 p 143-157 2001 LAVILLE C DIONE J A construccedilatildeo do saber Manual de metodologia da pesquisa em ciecircncias humanas Porto AlegreUFMG 1999 LEVINSON D J DARROW CN KLEIN E LEVINSON MA MCKEE B The seasons of a manacutes life In KLAW E RHODES J FITZGERALD L Natural mentors in the lives of African American adolescent mothers tracking relationships over time Journal of Youth and Adolescence v 3 n 32 p 223-232 2003 MAIN M KAPLAN K CASSIDY J Security in infancy childhood and adulthood a move to the level of representation In GROSSMAN J RHODES J The test of time predictors and effects of duration in youth mentoring relationships American Journal of Comm Psychol v30 n2 p 199-120 2002 MINAYO MC O desafio do conhecimento Satildeo Paulo-Rio de Janeiro HucitecAbrasco 1998 MULLEN E Vocational and psychosocial mentoring functions identifying mentors who serve both Human Resource Development Quarterly v9 n4 p319-331 1998 ___________ Framing the mentoring relationships as an information exchange Human Resource Management Review v4 p 257-281 1994 MURRAY M Beyond the myths and magic o mentoring how to facilitate an effective mentoring program San Francisco CA Jossey-Bass Publishers 2001 NETO OC O trabalho de campo como descoberta e criaccedilatildeo In MINAYO M C (org) Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade 7ed Rio de Janeiro Vozes 1997 NERI M COSTA D O tempo das crianccedilas Ensaio econocircmico Faculdade Getuacutelio Vargas 2003 Disponiacutevel em lthttpepgefgvbrgt Acesso em 12 fevereiro 2005 NOE RA An investigation of the determinants of successful assigned mentoring relationships Personnel Psychology v 41 p 457-479 1988 PATTERSON G DEBARISHE B RAMSEY E A developmental perspective on antisocial behavior American Psychologist v44 n 2 p 329-335 1989

120

PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO - PNUD Desenvolvimento Humano 2000 Brasiacutelia 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwpnudorgbrgt Acesso em 22 marccedilo 2005 RAGINS B Diversified mentoring relationships in organizations a power perspective Academy of Management Review v22 n2 p482-521 1997 RAGINS B COTTON J MILLER J Marginal mentoring the effects of type of mentor quality of relationship and program design on work and career Academy of Management Journal v 43 n6 p 1177-1194 2000 RHODES J EBERT L MEYERS A Social support relationship problems and psychological functioning of young African American mothers Am Journal of Comm Psychology v20 p 445-506 1994 RHODES J BOGAT G ROFFMAN J EDELMAN P GALASSO L Youth mentoring in perspective introduction to the special issue Am Journal of Comm Psychology v30 n2 p 149-156 2002 RIVEIRO J As diferentes faces do analfabetismo Simpoacutesio 15 1ordm Congresso Brasileiro de Qualidade na Educaccedilatildeo ndash Formaccedilatildeo de professores Brasilia 2001 Disponiacutevel em lt httpwwwmecgovbrgt Acesso em 18 fevereiro 2005 SARASON I SARASON B POTTER E ANTONI M Life events social support and illness Psychosom Med n 47 p 156-63 1985 SARASON I SARASON B SHEARIN E Social support as an individual difference variable its stability origins and relational aspects Journal of Personality and Social Psychology v50 n4 p 845-855 1986 SCANDURA T Mentorship and career mobility an empirical investigation Journal of Organizational Behavior v13 p 169-174 1992 SCHWARTZ M SCHWARTZ CG Problems in participant observations In MINAYO MC O desafio do conhecimento Satildeo Paulo-Rio de Janeiro HucitecAbrasco 1998 SELLTIZ JAHODA DEUTSH COOK Meacutetodos de pesquisa nas relaccedilotildees sociais Satildeo Paulo EPU 1974

121

SHIELDS C Music education and mentoring as intervention for at-risk urban adolescents their self-perceptions opinions and attitudes Journal of Research in Music Education v 49 n3 p 273-287 2001 SILVEIRA M O raio X das estrelas As 100 melhores empresas para vocecirc trabalhar Revista Exame Abril ed especial p42-44 2002 SOUZA D DOURADO D AUGUSTO R A realidade observada de um programa de mentoria o que a maacutescara esconde O caso de uma multinacional de consultoria In Encontro da Associaccedilatildeo Nacional dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Administraccedilatildeo ENAMPAD Anais Rio de Janeiro ANPAD 2003 CD-Rom STYLES M MORROW K Understanding how youth and elders form relationships a study of four linking lifetime programs Philadelphia PublicPrivate Ventures 1992 WALKER G FREEMAN M Social change one on one the new mentoring movement The American Prospect v27 p75-81 1996 ZACHARATOS A DARLING J KELLOWAY E K Development and effects of transformational leadership in adolescents Leadership Quarterly v 11 n2 2000 ZEY M A mentor for all reasons Personnel Journal n1 p46-51 1998

122

APEcircNDICE A - Apresentaccedilatildeo da entrevista

123

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

APRESENTACcedilAtildeO DA ENTREVISTA

Meu nome eacute Adriana Alvarenga Marques Sou pesquisadora da Universidade Federal

de Pernambuco e estamos fazendo um estudo sobre a educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes

Pesquisamos sobre este tema no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida com alguns pais de alunos e com

alguns dos que colaboram com o projeto e tambeacutem com o Sr Moab

Estou aqui para lhe fazer algumas perguntas sobre este assunto A sua participaccedilatildeo eacute

de muita importacircncia para a pesquisa

Quero destacar que vocecirc natildeo precisa se identificar e seus dados e o do aluno natildeo seratildeo

revelados

Gostaria ainda de sua permissatildeo para gravar nossa ldquoconversardquo lembrando que apenas

eu ouvirei a fita Peccedilo isto por que para anotar as respostas eu levaria muito tempo e natildeo seria

feito com precisatildeo Vocecirc autoriza

124

APEcircNDICE B- Roteiro da entrevista com os pais

125

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

Roteiro de Entrevista para os Pais

Nome- ___________________________________________________________________

Nome do(a) filho(a) participante do projeto- _____________________________________

Escolaridade dos pais- _______________________________________________________

Quantas pessoas moram com o(a) aluno(a) _______________________________________

1- Haacute quanto tempo vocecirc conhece o projeto de reforccedilo Educaccedilatildeo eacute Vida

2- O que vocecirc pensa a respeito deste projeto

3- Haacute quanto tempo seusua filho(a) faz parte do projeto

4- Qual a idade dele (a)

5- Qual a seacuterie que ele(a) cursa

6- Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo de seusua filho(a) houve alguma mudanccedila nele(a) depois de

haver entrado no projeto Qual(ais)

7- No dia-a-dia vocecirc percebe alguma influencia do projeto no comportamento de

seusua filho(a) Qual(ais)

8- Existe algueacutem do projeto que demonstre cuidado e preocupaccedilatildeo com seusua filho(a)

que o(a) acompanhe seusua filho(a) mais de perto Quem

9- Como eacute feito esse acompanhamento

10- Qual o significado desta pessoa na vida de seu filho

11- Seu filho(a) gosta de estudar

12- Como vocecirc percebe isto

13- Seu filho(a) jaacute recebeu alguma ajuda vinda do projeto

14- Que tipo de ajuda

15- Quando seu filho passa por alguma dificuldade ou problema a quem ele recorre

16- Haacute algueacutem do projeto que aconselhe seuas filho(a) Quem

17- Que tipo de conselho ele(a) oferece

18- Seusua filho(a) fala sobre seu futuro O que ele(a) diz

126

19- Onde seu filho estuda

20- Como eacute o desempenho de seusua filho(a) na escola Como satildeo suas notas

21- Seusua filho(a) traz tarefas para casa

22- Quem o(a) ajuda a resolve-las

23- Haacute mais alguma coisa sobre a educaccedilatildeo de seu filho que vocecirc considere importante

24- Quando vocecirc pensa no projeto qual a ideacuteia ou sentimento que lhe vem

25- Haacute mais alguma coisa sobre o projeto que vocecirc gostaria de falar

127

APEcircNDICE C - Roteiro da entrevista com os colaboradores

128

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

Roteiro da Entrevista com os Colaboradores

Nome ndash ______________________________________________________________

Tempo de projeto-______________________________________________________

Funccedilatildeo desempenhada no projeto- _________________________________________

Tempo de projeto - _____________________________________________________

1- Haacute quanto tempo vocecirc conhece o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

2- Qual a sua participaccedilatildeo neste projeto

3- Com que frequumlecircncia ocorre seu contato com as crianccedilas adolescentes comunidade

4- Vocecirc recebe alguma remuneraccedilatildeo para atuar no projeto

5- Qual sua motivaccedilatildeo para participar

6- Vocecirc poderia descrever como eacute seu relacionamento com os alunos

7- Haacute algum(a) em especial por quem vocecirc tenha maior preocupaccedilatildeo cuidado carinho

8- Por que

9- Como satildeo seus encontros com as crianccedilas

10- Como vocecirc percebe o significado deste projeto na vida da comunidade

11- Durante o seu tempo de participaccedilatildeo no projeto houve algum evento ou

acontecimento que lhe marcou e que vocecirc gostaria de falar

12- Quando vocecirc pensa no projeto qual a ideacuteia ou sentimento que lhe vem

13- Haacute mais alguma coisa sobre o projeto ou sobre os alunos que vocecirc gostaria de

compartilhar

129

APEcircNDICE D - Roteiro da entrevista com o fundador do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

130

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

Roteiro de Entrevista do Fundador

Nome ndash ______________________________________________________________

1- Como surgiu a ideacuteia do projeto

2- Como foi efetivado

3- Quais as motivaccedilotildees para a existecircncia do projeto

4- Houve participaccedilatildeo de sua famiacutelia

5- Vocecirc poderia falar acerca do funcionamento do projeto as atividades desempenhadas

os objetivos a manutenccedilatildeo

6- A quem o projeto se destina

7- Qual a sua participaccedilatildeo efetiva no projeto

8- Como se deu a formalizaccedilatildeo

9- Como ocorre a seleccedilatildeo das crianccedilas para fazer parte do projeto

10- Quais os criteacuterios para se manter no projeto

11- Como o projeto obteacutem recursos para funcionar

12- Que tipo de atividade o projeto desenvolve

13- Haacute quanto tempo o projeto existe

14- Houve algueacutem em sua vida que serviu de incentivo para que vocecirc desenvolvesse esse

tipo de atividade

15- Por que um projeto em educaccedilatildeo

16- Qual o significado deste projeto na vida da sua famiacutelia

17- Qual o significado deste projeto na vida da comunidade

18- O que significa para uma crianccedila participar do projeto

19- Quais as dificuldades enfrentadas

20- Haacute ou houve algum acontecimento que lhe marcou

21- Existem crianccedilas que vocecirc acompanha mais de perto

22- Como eacute esse acompanhamento

131

23- O que o projeto oferece aos participantes em termos de educaccedilatildeo

24- Haacute mais algum tipo de ajuda que o projeto oferece Qual (ais)

25- O que eacute importante para que o projeto obtenha ecircxito

26- O que vocecirc acredita que eacute determinante do sucesso escolar de um aluno

27- Por que vocecirc acha que alguns alunos natildeo obtecircm bom aproveitamento escolar

28- Como eacute a participaccedilatildeo de sua famiacutelia no projeto

29- Qual o seu sonho para o projeto

30- Quando vocecirc pensa neste projeto qual a ideacuteia ou sentimento que lhe ocorre

31- Haacute mais alguma coisa que vocecirc gostaria de falar

132

ANEXO A - Estatuto da Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre

133

134

135

136

137

138

139

140

ANEXO B ndash Documento de Apresentaccedilatildeo do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

141

142

IDENTIFICACcedilAtildeO Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre situada agrave rua Joatildeo Tude de Melo nordm 21 Casa Forte Recife Pernambuco Brasil CEP ndash52060-030 tel 3442-2084

Objetivo Manter influente obra social cristatilde que possa mudar o quadro social das crianccedilas e jovens da comunidade

O projeto funciona haacute trecircs anos atendendo a comunidade na aacuterea de educaccedilatildeo sauacutede lazer e educaccedilatildeo religiosa

143

ANAacuteLISE DO CONTEXTO DO PROJETO A favela Vila do vinteacutem como todo reduto de pobreza tem seus problemas suas causas e consequumlecircncias Apoacutes trecircs anos de atividades nesta comunidade detectamos que a maacute distribuiccedilatildeo de renda e a falta de uma poliacutetica social voltada para os mais carentes tecircm contribuiacutedo para a formaccedilatildeo de famiacutelias desestruturadas e em situaccedilotildees de risco fomentadas pela pobreza cultural e financeira Residem em barracos de madeira papelatildeo e plaacutestico de aproximadamente 12m2 sem aacutegua esgoto e muitos sem sanitaacuterios O conviacutevio diaacuterio com insetos torna a accedilatildeo meacutedica difiacutecil ou mesmo inviaacutevel Eacute isto que temos vivenciado no dia-dia famiacutelias em condiccedilotildees sub-humanas sobrevivendo de pequenos serviccedilos que prestam

Eacute neste cenaacuterio que consequumlentemente a crianccedila e o jovem desenvolve seu potencial de violecircncia anseios e conflitos convivendo com a fome a falta de higiene ambiente inoacutespito e inadequado para os estudos e outras atividades Essas crianccedilas semi-abandonadas vivem sem perspectivas de mudanccedilas sendo apenas viacutetimas de um processo que as leva a marginalidade

Por esta razatildeo se faz necessaacuterias accedilotildees contiacutenuas para melhoria da qualidade de vida e paz social desenvolvendo atividades que as valorizem como pessoas minimizando o sofrimento dando-lhes esperanccedilas atraveacutes da educaccedilatildeo sauacutede lazer e profissionalizaccedilatildeo

144

OBJETIVOS

Geral Visa natildeo somente melhorar a qualidade de vida no presente mas intervir num ciclo vicioso preparando a crianccedila e o jovem para o futuro Atuar na aacuterea de Educaccedilatildeo solicitando bolsas de estudo na rede privada com aulas de reforccedilo para o ensino fundamental alfabetizaccedilatildeo infantil distribuiccedilatildeo de material escolar e merenda Curso regular de liacutengua estrangeira (Inglecircs) iniciaccedilatildeo musical (teoria e praacutetica) Sauacutede Cliacutenica pediaacutetrica odontoloacutegica psico-pedagoacutegica e aviamento de receitas

Especiacuteficos

A) Promover a melhoria da escolaridade incentivando a permanecircncia e o equiliacutebrio entre o conhecimento e o grau adquirido

B) Desenvolver atividades que proporcionem o desenvolvimento de competecircncias sociais pessoais e intelectuais favorecendo a reflexatildeo e o exerciacutecio da cidadania com palestras passeios e filmes Ampliando o leque de conhecimentos e enriquecendo o senso criacutetico

C) Desenvolver programa intensivo de sauacutede atraveacutes de convecircnios melhorando desta forma a sauacutede e a aparecircncia fiacutesica para que haja um relacionamento pessoal sem reserva ou constrangimento

D) Ampliar os conhecimentos por curso regular de liacutengua estrangeira (Inglecircs) e iniciaccedilatildeo musical teoria e praacutetica Tirando-os da rua e da ociosidade oferecendo uma perspectiva de profissionalizaccedilatildeo e um conviacutevio cultural diferente do que vivenciam

145

PUacuteBLICO ALVO Crianccedilas e jovens de cinco a dezessete anos residentes na Vila Vinteacutem e devidamente matriculados e frequumlentando a rede oficial de ensino puacuteblico ou privado METODOLOGIA Profissionais de suas respectivas aacutereas ministraratildeo aulas diariamente ou em dias alternados conforme as especialidades e necessidades do projeto Por tratar-se de prestaccedilatildeo de serviccedilo voluntaacuterio com fim social todos teratildeo liberdade sobre o plano de accedilatildeo a ser aplicado no entanto deveratildeo estar de acordo com o nosso Estatuto Convecircnio com a Fundaccedilatildeo Manuel de Almeida (Hospital Infantil) para cliacutenica meacutedica e pediaacutetrica cabendo a instituiccedilatildeo a avaliaccedilatildeo e anaacutelise dos resultados As atividades seratildeo desenvolvidas em nossa sede proacutepria e anexo I exceto o curso de inglecircs consultas odontoloacutegicas e cliacutenica meacutedica Modelo de Educaccedilatildeo para a Sauacutede Objetivo Colocar a educaccedilatildeo a serviccedilo de uma vida saudaacutevel Accedilotildees destinadas a orientar os jovens

bull Alimentaccedilatildeo adequada bull Atividades que natildeo promovam o estresse bull Vida sexual segura bull Orientaccedilatildeo sobre o risco do tabaco aacutelcool e outras drogas

psicoativas bull Discussatildeo de temas gerais atuais ndash exemplo tracircnsito poluiccedilatildeo

violecircncia etc Objetivando a formaccedilatildeo de cidadatildeos conscientes e capazes de optar por uma vida mais saudaacutevel individual e coletiva

Modelo de Modificaccedilatildeo das Condiccedilotildees de Ensino Enfatizando a vivecircncia escolas desde a Educaccedilatildeo Infantil ensino Fundamental e Meacutedio como essencial para o desenvolvimento sadio do adolescente e adulto Preocupando-se com a prevenccedilatildeo ao uso abusivo de drogas a delinquumlecircncia as patologias mentais buscando a formaccedilatildeo integral do jovem Envolvendo pais e comunidade

146

Orientaccedilotildees estrateacutegicas

bull Modificar as praacuteticas de ensino bull Melhorar a relaccedilatildeo professoraluno bull Melhorar o ambiente escolar bull Incentivar o desenvolvimento social bull Ofertar serviccedilos de sauacutede bull Envolver os pais em atividades curriculares

AVALIACcedilAtildeO Bimestral junto agraves escolas solicitando boletins de cada aluno assistido pelo projeto cuja permanecircncia dos benefiacutecios dependeraacute do aproveitamento escolar da assiduidade agraves atividades e programaccedilatildeo da instituiccedilatildeo

147

ANEXO C ndash Estrutura baacutesica para orientaccedilatildeo de teses e dissertaccedilotildees

148

  • CLASSIFICACcedilAtildeO DE ACESSO A TESES E DISSERTACcedilOtildeES
    • Adriana Alvarenga Marques
      • 1 Introduccedilatildeo
        • 2 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica
          • Mentoria informal
            • Mentoria formal
              • 3 Metodologia
                  • APEcircNDICE A - Apresentaccedilatildeo da entrevista
                    • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                    • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                      • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                        • APRESENTACcedilAtildeO DA ENTREVISTA
                          • APEcircNDICE B- Roteiro da entrevista com os pais
                            • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                            • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                              • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                                • Roteiro de Entrevista para os Pais
                                  • APEcircNDICE C - Roteiro da entrevista com os colaboradores
                                    • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                                    • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                                      • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                                        • Roteiro da Entrevista com os Colaboradores
                                          • APEcircNDICE D - Roteiro da entrevista com o fundador do Projet
                                            • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                                            • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                                              • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                                                • Roteiro de Entrevista do Fundador
                                                  • ANEXO A - Estatuto da Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre
                                                    • IDENTIFICACcedilAtildeO
                                                      • ANAacuteLISE DO CONTEXTO DO PROJETO
                                                        • OBJETIVOS
                                                          • PUacuteBLICO ALVO
                                                            • METODOLOGIA
                                                                • Modelo de Educaccedilatildeo para a Sauacutede
                                                                • Modelo de Modificaccedilatildeo das Condiccedilotildees de Ensino
                                                                  • AVALIACcedilAtildeO
Page 3: A mentoria na educação de crianças e adolescentes carentes ... · Figura 5 (4) Modelo de Certificado de Padrinho 70 Figura 6 (4) Foto da apresentação das meninas do projeto em

Adriana Alvarenga Marques

A mentoria na educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes carentes estudo de caso de um projeto de reforccedilo

escolar em uma comunidade do RecifePE

Orientadora ndash Profordf Socircnia Maria Rodrigues Calado Dias PhD

Dissertaccedilatildeo apresentada como requisito complementar para obtenccedilatildeo do grau de Mestre em Administraccedilatildeo aacuterea de concentraccedilatildeo em Gestatildeo Organizacional do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Administraccedilatildeo da Universidade Federal de Pernambuco

Recife 2006

Marques Adriana Alvarenga A mentoria na educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes carentes estudo de caso de um projeto de reforccedilo escolar em uma comunidade do Recife PE Adriana Alvarenga Marques ndash Recife O Autor 2006 148 folhas fig quadros Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Universidade Federal de Pernambuco CCSA Administraccedilatildeo 2006 Inclui bibliografia apecircndices e anexos 1 Educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes 2 Delinquumlecircncia juvenil 3 Mentoria 4 Aconselhamento ndash Educaccedilatildeo de crianccedilas I Tiacutetulo 3704 CDU (1997) UFPE 3701 CDD (22ed) CSA2006-005

Agravequeles que por algum motivo natildeo tiveram a oportunidade de conhecer o brilho das letras e que hoje excluiacutedos vivem agrave sombra do conhecimento

Agradecimentos

A Deus nosso amado Pai que fez com que mais um dos meus sonhos se tornasse realidade que colocou pessoas dEle ao meu redor para me ensinar incentivar compartilhar e corrigir Agrave querida Professora Drordf Socircnia Calado por sua dedicaccedilatildeo e nobreza ao partilhar saberes tatildeo altos comigo e pela confianccedila e aceitaccedilatildeo Aos meus queridos e competentes mestres que me ensinaram entre tantos conteuacutedos a alegria e a dor do aprendizado Ao professor Dr Pedro Lincoln pelo exemplo de aula e pela consideraccedilatildeo Agraves professoras Drordfs Lenice Pimentel e Maria Auxiliadora (UFALCHLA) por me apresentarem a este Programa Agrave Professora Drordf Lilian Outtes por sua amizade e profissionalismo Agrave UFPE esta reconhecida Instituiccedilatildeo da qual eu muito me orgulho A todos os que fazem o PROPAD minha sincera gratidatildeo Agrave dona Socorro pela simpatia e pelo cafezinho gostoso Ao Sr Moab Silva e sua esposa Miriam pela receptividade e apoio A todos os que fazem o Projeto Amigos para Sempre pela abertura colaboraccedilatildeo e confianccedila Ao Emanuel Marques meu querido marido pelo carinho apoio e paciecircncia tatildeo presentes nestes dois anos Obrigada amor Aos meus filhos Juliana e Carlos Henrique pela forccedila que mesmo sem saber me transmitiram o tempo todo Aos meus pais Carlos e Ana por pedirem a Deus pela minha vida Ele os tem ouvido Aos meus sogros Fernando Marques e Zeine Gomes pelo incentivo constante e por acreditar em mim Aos meus irmatildeos Edilson Elisana e Adilson Ao Dr Conrado Paulino (in memoriam) e sua esposa Drordf Zery Gomes pelos saacutebios e sinceros conselhos Ao Sr Joaquim Vera e Fabiana Sousa pelo apoio e assistecircncia Agrave Roberta Arauacutejo pela amizade mesmo que agrave distacircncia Aos colegas da turma 10 pelas alegrias e agonias partilhadas De fato vocecircs satildeo 10 Que Deus vos abenccediloe ricamente A Ana Claudia Ariaacutedne Denise Maria Elisa e agrave Monique pela amizade construiacuteda neste periacuteodo Minha sincera gratidatildeo a todos que contribuiacuteram para que este sonho se tornasse real Sem vocecircs esta conquista natildeo seria possiacutevel Muito obrigada

ldquoAinda que eu conheccedila todos os misteacuterios e toda a ciecircncia se natildeo tiver amor nada sereirdquo

Adap Apoacutestolo Paulo

Resumo

A mentoria se caracteriza pela relaccedilatildeo existente entre mentor (algueacutem com reconhecida

experiecircncia) e mentorado (um neoacutefito) na qual o mentor serve de guia para o jovem aprendiz

dando-lhe conselhos instruccedilotildees patrociacutenio e amizade de modo a facilitar o desenvolvimento

de sua carreira Em troca o mentor obteacutem reconhecimento apoio e realizaccedilatildeo ao acompanhar

o crescimento profissional de seu mentorado A mentoria voltada para jovens e adolescentes

com risco para a delinquumlecircncia tem sido investigada em paiacuteses como Estados Unidos e Canadaacute

Dentre os benefiacutecios encontrados pode-se citar a diminuiccedilatildeo de comportamentos agressivos

reduccedilatildeo da evasatildeo escolar aumento da auto-estima e consequumlentemente reduccedilatildeo da

delinquumlecircncia juvenil A presente pesquisa propocircs-se a investigar um programa de mentoria

voltado para crianccedilas e adolescentes carentes O objetivo foi verificar quais as especificidades

deste programa num contexto brasileiro e quais os benefiacutecios desta relaccedilatildeo na vida dos

mentorados (crianccedilas e adolescentes) dos mentores (colaboradores do projeto) e da

comunidade A percepccedilatildeo das famiacutelias acerca do projeto tambeacutem foi considerada Fez-se um

estudo de caso exploratoacuterio-descritivo acerca de um projeto de reforccedilo escolar localizado na

Vila do Vinteacutem II uma comunidade carente do Recife A estrateacutegia de pesquisa foi

qualitativa atraveacutes de entrevistas observaccedilatildeo e anaacutelise documental Pocircde-se perceber que

apenas em alguns aspectos a mentoria ocorrida no projeto diferia dos achados na literatura

Por exemplo o fato de o mentor ser um modelo para o mentorado (fato expliacutecito

teoricamente) natildeo ficou evidenciado neste contexto A pesquisa procurou verificar a

viabilidade de uma forma de intervenccedilatildeo na vida de crianccedilas e adolescentes carentes que

pode ser utilizada por organizaccedilotildees privadas como meio de accedilatildeo de responsabilidade social e

por instituiccedilotildees puacuteblicas no sentido de alcanccedilar maior aproveitamento escolar das crianccedilas e

dos adolescentes

Palavras-chave Mentoria Educaccedilatildeo Comunidade carente Delinquumlecircncia Suporte

psicossocial

Abstract

Mentorship is characterized by the relationship between a mentor (someone with recognized

experience) and the individual to be mentored (novice) in which the mentor guides the young

apprentice offering himher counsel advice and friendship in a way as to facilitate the

development of hisher career In exchange the mentor obtains recognition support and

personal reward taking part in the professional growth of the person being mentored

Mentorship geared towards youth and teenagers with risks of becoming delinquent individuals

has been investigated in countries such as the United States and Canada Among the benefits

found one can mention the decrease in aggressive behavior and school absenteeism an

increase in self esteem and consequently a decrease in juvenile delinquency This research is

intended to investigate a mentorship program geared towards impoverished children and

teenagers with the purpose of verifying if in the Brazilian context specifically in the

northeast of Brazil the mentor relationship presents the same characteristics as those shown

in previously documented researches This is a descriptive-exploratory case study about a

school tutorship program at Vila do Vinteacutem II a slum in Recife Pernambuco Brazil The

objective of this study was to verify what are the specificities of a mentorship program

designed for children and teenagers in the Brazilian context and what are the benefits of this

relationship in the life of those who are mentored (children and teenagers) the mentors (who

joined the program) and the community The perception of the families about the program has

been taken into consideration as well The strategy used for this research was qualitative

through interviews and observation and documental analysis It was observed that only in a

few aspects the mentorship analyzed in this program was different from the findings of

previous research as for instance the fact that the mentor is considered a role model for the

apprentice (a theoretical fact that is widely accepted) has not been evidenced in this context

This research was intended to demonstrate the possibility of an intervention in the lives of

impoverished children and teenagers and can be utilized by organizations in their social

responsibility actions and by public policy formulators with the purpose of increasing school

progress for children and teenagers

Key-words Mentorship Tutorship Education Impoverished community Delinquency

Psychosocial support

Lista de figuras

Figura 1 (4) Foto da Vila do Vinteacutem II 60Figura 2 (4) Foto das palafitas da Vila do Vinteacutem II 61Figura 3 (4) Foto da festa de Natal para as crianccedilas da Vila Vinteacutem 63Figura 4 (4) Foto da festa das crianccedilas na sede do projeto 64Figura 5 (4) Modelo de Certificado de Padrinho 70Figura 6 (4)

Foto da apresentaccedilatildeo das meninas do projeto em uma missa de Natal realizada pela Igreja Catoacutelica de Casa Forte na Vila Vinteacutem 81

Figura 7 (4)

Foto da professora e alunos durante a aula de reforccedilo na sede do projeto 90

Figura 8 (4) Boletim escolar de Afracircnio 98Figura 9 (4) Boletim escolar de Jairo 99

Sumaacuterio 1 Introduccedilatildeo 1511 Objetivos 18111 Objetivo geral 18112 Objetivos especiacuteficos 1812 Justificativa 19121 Justificativa teoacuterica 19122 Justificativa praacutetica e social 192 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica 2121 Mentoria 21211 Funccedilotildees de mentoria 242111 Suporte de carreira 242112 Suporte psicossocial 26212 Fases da relaccedilatildeo mentoria 28213 Tipos de mentoria 302131 Mentoria informal 302132 Mentoria formal 31214 Fatores relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria formal 312141 Seleccedilatildeo de mentores e mentorados 322142 Treinamento supervisatildeo e acompanhamento do programa de mentoria 332143 Frequumlecircncia dos encontros 342144 Duraccedilatildeo da relaccedilatildeo de mentoria 3422 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria 35221 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentorado 36222 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentor 39223 Benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria 413 Metodologia 4631 Delineamento da pesquisa 4632 Primeira fase da coleta de dados 47321 Objetivo 47322 Instrumentos de coleta de dados 4833 Segunda fase de coleta de dados 50331 Objetivos 50332 Instrumentos de coleta de dados 5034 Sujeitos da pesquisa 52341 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos sujeitos 5335 Meacutetodos de anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados 5436 Limitaccedilotildees da pesquisa 564 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos achados 5841 O caso 58411 O contexto do projeto Vila Vinteacutem II 58412 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 62413 Atividades desenvolvidas pelo projeto 65414 Formalizaccedilatildeo do projeto como organizaccedilatildeo natildeo-governamental 67415 Situaccedilatildeo atual do projeto 68416 Dificuldades enfrentadas pelo projeto 69417 Motivaccedilatildeo para a existecircncia e continuidade do projeto 70418 Dados dos mentores entrevistados 71419 Dados dos mentorados pesquisados 72

4191 Alunos tidos como que de ecircxito nos estudos 724192 Alunos tidos como que de natildeo ecircxito nos estudos 7442 Achados referentes agrave primeira questatildeo norteadora do trabalho 76421 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida como um programa de mentoria 76422 Funccedilotildees de mentoria encontradas no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 784221 Suporte de carreira 784222 Suporte psicossocial 83423 Fases da relaccedilatildeo de mentoria apresentadas no projeto de reforccedilo 87424

Fatores encontrados no projeto que estatildeo relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria 87

425 Fatores responsaacuteveis pelo ecircxito e natildeo ecircxito nos estudos percepccedilatildeo do mentor e da famiacutelia do mentorado 93

426

Resposta da primeira questatildeo norteadora especificidades da relaccedilatildeo de mentoria existentes no projeto de reforccedilo escolar 94

43 Achados referentes agrave segunda questatildeo norteadora 95431

Aumento da auto-estima da responsabilidade maior progresso escolar e perspectiva positiva de futuro 95

432

Resposta da segunda questatildeo norteadora benefiacutecios da mentoria para a crianccedila adolescente do projeto 101

44 Achados referentes agrave terceira questatildeo norteadora 101441 Realizaccedilatildeo pessoal 101442 Motivaccedilatildeo 102443 Ser amado pelo mentorado 103444 Autoconhecimento 103445 Senso de dever cumprido 104446 Resposta da terceira questatildeo norteadora benefiacutecios da mentoria para o mentor 10445 Achados referentes agrave quarta questatildeo norteadora 105451 Desenvolvimento educacional das crianccedilas e dos adolescentes 105452 Assistencialismo 106453 Diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia 107454

Resposta da quarta questatildeo norteadora benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria 108

5 Conclusatildeo 10951 Contribuiccedilotildees do estudo 112511 Contribuiccedilatildeo teoacuterica 112512 Contribuiccedilatildeo praacutetica 113513 Contribuiccedilatildeo social 11352 Sugestotildees de pesquisas futuras 114Referecircncias 115APEcircNDICE A- Apresentaccedilatildeo da entrevista 122APEcircNDICE B- Roteiro da entrevista com os pais 124APEcircNDICE C- Roteiro da entrevista com os colaboradores 127APEcircNDICE D- Roteiro da entrevista com o fundador do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 129ANEXO A- Estatuto da Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre 132ANEXO B- Documento de apresentaccedilatildeo do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 140ANEXO C- Estrutura baacutesica para orientaccedilatildeo de teses e dissertaccedilotildees 147

15

1 Introduccedilatildeo

A educaccedilatildeo no Brasil tem sido nos uacuteltimos anos alvo de atenccedilatildeo por parte dos

governantes da iniciativa privada e da sociedade De acordo com dados do IBGE-Pnad

(2000) o Brasil conta com um iacutendice de analfabetismo de 116 sendo que na Regiatildeo

Nordeste este iacutendice sobe para 23 Em se tratando de analfabetismo funcional o que se

refere agraves pessoas com menos de quatro anos de estudo completos o iacutendice eacute de 24 no Brasil

e 39 na Regiatildeo Nordeste chegando a 43 em alguns municiacutepios Tais dados revelam a

existecircncia de municiacutepios onde quase metade da populaccedilatildeo tem menos de quatro anos de

estudo O fato de haver analfabetos funcionais em tatildeo grande proporccedilatildeo pode ser explicado

pela evasatildeo escolar

Trata-se de milhotildees de brasileiros excluiacutedos agrave margem por natildeo terem acesso agrave leitura

agrave escrita agrave cultura e ao conhecimento formal comprometendo ainda mais a auto-estima e

reduzindo a qualidade de vida de tais pessoas A alta taxa de analfabetismo (116) reduz

ainda mais o IDH (Iacutendice de Desenvolvimento Humano) que no Brasil eacute considerado meacutedio

077 (PNUD 2000) O IDH foi criado para medir o niacutevel de desenvolvimento humano dos

paiacuteses com base em indicadores de educaccedilatildeo (alfabetizaccedilatildeo e taxa de matriacutecula) longevidade

e renda Tal iacutendice varia de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1(desenvolvimento

humano total) Em Pernambuco este iacutendice eacute de 069 considerado meacutedio A taxa de ocupaccedilatildeo

no mercado de trabalho cresce agrave medida que a escolaridade aumenta Entre analfabetos eacute de

52 a chance de ocupaccedilatildeo enquanto que entre graduados sobe para 87 (NERY COSTA

2003)

Satildeo brasileiros que devido agrave exclusatildeo social decorrente do analfabetismo entre outros

fatores natildeo fazem parte do mercado consumidor Pessoas que por sua insuficiente renda ou

16

total falta dela ficam seriamente limitadas no tocante ao consumo sendo muitas dependentes

de poliacuteticas assistencialistas

As empresas tambeacutem sofrem as consequumlecircncias do analfabetismo seja absoluto (pessoa

iletrada) ou funcional pois tecircm em funccedilatildeo dele uma matildeo de obra desqualificada Soma-se o

fato de que estas pessoas natildeo fazem parte de sua clientela uma vez que natildeo tecircm poder

aquisitivo para tal

Estatiacutesticas confirmam que haacute um aumento na renda agrave medida que se acrescentam

anos de estudo A cada ano de estudo a renda aumenta cerca de 16 (IBGE-PNAD 1998) e

consequumlentemente aumenta tambeacutem o poder de compra a inserccedilatildeo social e a qualificaccedilatildeo

Uma questatildeo pertinente em se tratando de evasatildeo escolar eacute sua associaccedilatildeo com a

delinquumlecircncia Um estudo realizado com adolescentes paulistas demonstrou que a defasagem

escolar bem como a multirrepetecircncia satildeo fatores positivamente relacionados com a inserccedilatildeo

de jovens na criminalidade (DIAS 2003)

Barros et al (1994) revelam que um dos principais determinantes do desempenho

escolar da crianccedila eacute a educaccedilatildeo meacutedia das matildees Riveiro (2001) com base em dados da

Unesco afirma que os brasileiros que satildeo analfabetos absolutos estatildeo localizados

principalmente em aacutereas carentes da Regiatildeo Nordeste Considerando que haacute grande propensatildeo

de as matildees que moram em comunidades carentes do Nordeste serem analfabetas e que a

educaccedilatildeo da matildee tende a ser um fator determinante da educaccedilatildeo dos filhos parece legiacutetimo

esperar limitaccedilotildees graves na educaccedilatildeo de crianccedilas em comunidades carentes do Recife

O atual governo em 2001 criou o Programa Nacional do Bolsa-Escola que incentiva

a famiacutelia a colocar o filho na escola e fazecirc-lo permanecer nela Para tanto a famiacutelia recebe a

quantia de R$ 1500 por filho matriculado (MEC 2005) O projeto visa a reduccedilatildeo da evasatildeo

escolar sem no entanto acompanhar o rendimento do aluno beneficiado

17

Quanto agrave iniciativa privada a educaccedilatildeo tem sido o foco de algumas empresas ao

investirem na formaccedilatildeo dos funcionaacuterios e dos filhos destes Acerca do levantamento sobre as

100 melhores empresas para se trabalhar no ano de 2002 Silveira (2002) afirma que eacute fato

relevante para a organizaccedilatildeo que pertence a este ranking a colaboraccedilatildeo com a comunidade na

qual estaacute inserida Para tal algumas organizaccedilotildees contam inclusive com seus funcionaacuterios

agindo como voluntaacuterios nestas accedilotildees de responsabilidade social Desenvolvendo atividades

como esta de responsabilidade social e cidadania a empresa eacute mais bem avaliada por seus

stakeholders internos e externos (ASHLEY 2003)

Nos Estados Unidos uma alternativa para evitar a evasatildeo escolar tem sido

desenvolvida atraveacutes da mentoria Nesta relaccedilatildeo o mentor eacute uma pessoa mais experiente do

que o mentorado algueacutem em quem este confia com quem pode compartilhar suas

dificuldades necessidades e anseios e de quem recebe apoio e orientaccedilatildeo Um exemplo deste

trabalho foi realizado por Klaw et al (2003) com adolescentes afro-americanas gestantes O

objetivo do programa de mentoria era ajudar estas novas matildees a terminar a escola e a

conseguir resultados educacionais satisfatoacuterios apoacutes o nascimento da crianccedila O estudo

mostrou que das adolescentes que foram acompanhadas durante dois anos por um mentor

65 terminaram os estudos Jaacute entre as matildees que natildeo contaram com o programa de mentoria

este percentual caiu para 35 Pode-se concluir que apesar dos fatores adversos (maternidade

na adolescecircncia dificuldade econocircmica e preconceito racial) a mentoria mostrou-se eficaz no

combate agrave evasatildeo escolar

No Recife (PE) em uma comunidade carente verificou-se a existecircncia de um

programa de reforccedilo escolar Foram percebidas atraveacutes de uma pesquisa exploratoacuteria

evidecircncias da relaccedilatildeo de mentoria entre os colaboradores e os alunos sendo estes os

mentorados Esta evidecircncia criou a possibilidade de pesquisar os benefiacutecios produzidos pela

relaccedilatildeo de mentoria voltada para educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes carentes no Brasil

18

Investiga-se assim ateacute que ponto a mentoria pode ser um recurso para auxiliar no aumento do

aproveitamento escolar dos mentorados e na reduccedilatildeo da evasatildeo escolar Desta forma

considerando a situaccedilatildeo da educaccedilatildeo as limitaccedilotildees impostas pelo analfabetismo e a evasatildeo

escolar que aleacutem da exclusatildeo social estaacute associada agrave delinquumlecircncia definimos a seguinte

pergunta de pesquisa

Como ocorre a mentoria voltada para a educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes em

uma comunidade carente do Recife

11 Objetivos

111 Objetivo geral

Investigar como ocorre a mentoria em um programa de reforccedilo escolar voltado para

crianccedilas e adolescentes carentes de uma comunidade do RecifePE

112 Objetivos especiacuteficos

bull Investigar as especificidades da relaccedilatildeo de mentoria (funccedilotildees fases tipos e

fatores de ecircxito) voltada para crianccedilas e adolescentes carentes no contexto de

uma comunidade do Recife

bull Verificar quais os benefiacutecios da mentoria para o mentorado na percepccedilatildeo das

famiacutelias destes

bull Investigar quais os benefiacutecios da mentoria para os mentores na percepccedilatildeo

destes e

bull Verificar quais os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria

19

12 Justificativa

O presente trabalho se justifica devido agrave relevacircncia do tema que aborda e de suas

implicaccedilotildees poliacuteticas organizacionais e sociais

121 Justificativa teoacuterica

No aspecto teoacuterico pode-se citar a escassez de bibliografia nacional acerca da

mentoria Trata-se de um fenocircmeno pouco estudado no Brasil e menos ainda voltado para

educaccedilatildeo de jovens e adolescentes Faz-se necessaacuterio portanto investigar como ocorre a

mentoria no paiacutes e quais as suas especificidades e caracteriacutesticas Neste sentido o presente

estudo pode oferecer algumas contribuiccedilotildees

122 Justificativa praacutetica e social

Do ponto de vista praacutetico a proposta eacute que conhecendo como a mentoria ocorre aqui

agrave luz da teoria existente se possa auxiliar o processo otimizando-o

Quanto agrave justificativa da pesquisa do ponto de vista social pode-se mencionar a

necessidade de pesquisar alternativas para minimizar os problemas de analfabetismo evasatildeo

escolar e delinquumlecircncia juvenil Estes problemas fazem parte do cotidiano do Recife bem

como das demais grandes cidades brasileiras

As organizaccedilotildees podem ter nesta pesquisa um modelo de accedilatildeo de responsabilidade

social intervindo na comunidade local e inclusive preparando a sua futura matildeo-de-obra

Outra justificativa deste trabalho eacute a possibilidade de contribuir com as poliacuteticas

puacuteblicas no sentido de sugerir uma alternativa de intervenccedilatildeo na educaccedilatildeo de crianccedilas e

adolescentes em particular as que se encontram em situaccedilatildeo de risco

20

Neste capiacutetulo introdutoacuterio foi apresentado o tema abordado os objetivos da presente

pesquisa e as razotildees pelas quais o estudo se justifica No proacuteximo capiacutetulo seraacute exposta a

literatura que fornece as bases teoacutericas para a pesquisa

21

2 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica

Com o intuito de se investigar como ocorre a mentoria voltada para crianccedilas e

adolescentes carentes faz-se necessaacuterio trazer agrave luz o que a teoria diz acerca da mentoria

Portanto tratar-se-aacute neste capiacutetulo sobre o conceito de mentoria e suas especificidades ou

seja quais as funccedilotildees desempenhadas na relaccedilatildeo as fases pertinentes a este relacionamento

os tipos de mentoria e os fatores relacionados ao ecircxito desta relaccedilatildeo Os benefiacutecios que a

mentoria oferece ao mentorado ao mentor e agrave comunidade tambeacutem seratildeo considerados

Segue-se pois o conceito de mentoria

21 Mentoria

A palavra mentor surgiu por volta de 800 aC na antiga Greacutecia mais especificamente

na Odisseacuteia de Homero O poema eacutepico pertinente agrave Mitologia Grega relata as aventuras e as

batalhas vividas pelo rei Odisseu (Ulisses em latim) Ao partir de Troacuteia para guerra Odisseu

confiou a guarda de seu filho Telecircmaco a Mentor seu amigo (ENSHER MURPHY 1997)

Mentor passou a ser o responsaacutevel pela preparaccedilatildeo de Telecircmaco para ser o sucessor de seu

pai Mentor natildeo ocupou lugar de destaque na obra de Homero Entretanto em 1699 Franccedilois

de la Mothe-Fenelon fez uma releitura da Odisseacuteia e atribuiu a Mentor a condiccedilatildeo de segundo

pai professor orientador e guia de Telecircmaco Atraveacutes de Fenelon escritor e educador a

figura de Mentor tornou-se conhecida e relevante e em 1750 a palavra mentor jaacute constava

nos dicionaacuterios contendo o seguinte significado conselheiro saacutebio protetor e financiador

(GEHRINGER 2002) Apesar de a mentoria ter surgido em tempos muito distantes a

sistematizaccedilatildeo dos estudos nesta aacuterea data de apenas trecircs deacutecadas

22

Em 1978 Levinson et al (apud KLAW et al 2003) caracterizaram a mentoria como a

assistecircncia unilateral de um indiviacuteduo mais graduado e desejoso de partilhar seus

conhecimentos e experiecircncia a um menos experiente visando o desenvolvimento deste O

relacionamento com um mentor propicia ao jovem adentrar com ecircxito o mundo dos adultos e

o mundo dos negoacutecios Higgins e Kram (2001) salientam que mentores natildeo precisam ser

necessariamente pessoas mais graduadas do que os mentorados podendo ser seus colegas

pares ou parentes Hesgtad (1999) declara que o importante eacute que o mentor exerccedila influecircncia

sobre o mentorado

Hunt e Michael (1983) caracterizam o mentor como algueacutem que estaacute comprometido

em prover crescimento pessoal e suporte de carreira ao seu mentorado Higgins e Kram

(2001) consideram que o apoio e a assistecircncia na relaccedilatildeo de mentoria seriam bilaterais Nesta

relaccedilatildeo mentor e mentorado se auxiliariam no processo de desenvolvimento e tal processo

dar-se-ia atraveacutes de redes de mentoria e natildeo apenas de um mentor para um mentorado As

autoras trazem agrave mentoria a perspectiva do desenvolvimento de redes no qual o mentorado

dispotildee de vaacuterios mentores

Os Estados Unidos e parte da Europa tecircm demonstrado interesse cientiacutefico e

desenvolvido pesquisas sobre o tema Estas pesquisas tecircm sido voltadas para a aacuterea

organizacional na qual a mentoria se destina a jovens que ingressam na organizaccedilatildeo e satildeo

acompanhados por um secircnior Entretanto a mentoria tambeacutem pode ser utilizada na aacuterea

educacional e dirigir-se a estudantes como ocorre por exemplo no sistema de escola puacuteblica

da cidade de Nova Iorque e na Austraacutelia (ZEY 1998) Acerca da importacircncia da mentoria no

acircmbito educacional Astin (1977) defende que alguns estudantes ao serem mentorados podem

se sentir mais encorajados e se envolver mais com os estudos e aprendizado uma vez que o

mentor pode ser um referencial para tal

23

A mentoria voltada para crianccedilas seria de acordo com Brody (1991 apud JACKSON

2002) um relacionamento entre um adulto e uma crianccedila visando facilitar o crescimento

pessoal educacional e social desta Nos EUA tem crescido o nuacutemero de programas de

mentoria com foco na aacuterea social visando atender agraves minorias ou aos jovens adolescentes e

crianccedilas com risco para delinquumlecircncia DuBois et al (2002) realizaram uma meta-anaacutelise

buscando levantar os efeitos de 55 programas de mentoria voltados para juventude Estes

programas diferiam no curriacuteculo No entanto a grande maioria enfatizava o relacionamento

entre um jovem problemaacutetico e um adulto mais experiente O objetivo era o de ajudar o jovem

a resolver satisfatoriamente as dificuldades da vida (KEATING et al 2002) Pode-se entatildeo

afirmar que a mentoria eacute o relacionamento entre um adulto e um jovem com o qual o mentor

estaacute comprometido Este comprometimento visa o desenvolvimento pessoal e profissional de

seu mentorado (KRAM 1985)

Atualmente os mentores naturais pais avoacutes e tios nem sempre estatildeo disponiacuteveis para

o adolescente As famiacutelias a escola e a comunidade tecircm reduzido drasticamente ao longo

dos anos a disponibilidade de adultos para acompanhar e oferecer suporte aos jovens

(DARLING et al 2002) Estas instituiccedilotildees que ao longo da histoacuteria eram as responsaacuteveis por

prover os jovens de suporte necessaacuterio e de conduccedilatildeo tecircm sofrido mudanccedilas e reduzido sua

capacidade de continuar a prover tal apoio A demanda dos grandes centros urbanos bem

como o ecircxodo rural fizeram com que o nuacutemero de adultos que serviam de liacutederes modelos e

agentes de controle social diminuiacutesse A entrada das matildees no mercado de trabalho e o

aumento das separaccedilotildees conjugais levaram os adolescentes a passar menos tempo com os

pais ficando grande parte do tempo com pares e sem a supervisatildeo de um adulto (HARRIS et

al 2002)

A disponibilidade dos adultos para com as crianccedilas tem diminuiacutedo de tal forma que

mais de 25 das crianccedilas nascem em casas com apenas um dos pais e 50 das crianccedilas

24

vivem a maior parte de sua infacircncia nesta mesma situaccedilatildeo A escassez de adultos para

suportar crianccedilas e adolescentes eacute ainda mais intensa em se tratando de comunidades carentes

(GROSSMAN TIERNEY 1998) Darling et al (2002) verificaram que em muitos casos na

ausecircncia de suporte dos mentores naturais os mentores voluntaacuterios tecircm sido alistados

A literatura aborda as funccedilotildees pertinentes a este relacionamento atraveacutes das quais o

mentor teraacute condiccedilotildees de contribuir com o crescimento de seu mentorado Tais funccedilotildees de

mentoria seratildeo abordadas na proacutexima seccedilatildeo

211 Funccedilotildees de mentoria

Satildeo as funccedilotildees desempenhadas no decorrer da relaccedilatildeo de mentoria Na mentoria

tradicional o mentorado recebe do mentor assistecircncia individual acesso a informaccedilotildees

necessaacuterias feedback encorajamento suporte de carreira e suporte emocional (MULLEN

1998) Kram (1985) agrupou diversas atividades em dois grupos de funccedilotildees desempenhadas

pelo mentor quais sejam suporte de carreira e suporte psicossocial Estas funccedilotildees satildeo

distintas mas inter-relacionadas A relaccedilatildeo de mentoria pode prover os dois tipos de suporte

ou apenas um destes a depender do niacutevel da relaccedilatildeo (RAGINS 1997) No entanto quando

ocorrem as duas funccedilotildees ou seja suporte de carreira e psicossocial a mentoria se torna mais

intensa (KRAM 1983)

Nas seguintes seccedilotildees seraacute apresentado e definido o suporte oferecido pelo mentor ao

seu mentorado tanto em termos de carreira quanto psicossocial

2111 Suporte de carreira

O suporte de carreira inclui a ajuda que o mentor daacute ao mentorado para que este se

firme na organizaccedilatildeo e conheccedila seus meandros preparando-o para a ascensatildeo Este suporte

refere-se tambeacutem agraves atividades que o mentor desenvolve no sentido de auxiliar o mentorado

25

em sua carreira profissional Kram (1985) identifica as seguintes atividades oferta de tarefas

desafiadoras coaching proteccedilatildeo exposiccedilatildeo e visibilidade positiva e patrociacutenio Tais funccedilotildees

satildeo abordadas abaixo

a) Oferta de tarefas desafiadoras

Satildeo as tarefas que o mentor atribui ao mentorado visando o desenvolvimento de

competecircncias especiacuteficas Juntamente com estas tarefas o mentor provecirc treinamento

teacutecnico capacitando-o a superar desafios O mentor tambeacutem fornece feedback ao

mentorado sobre seu desempenho A oferta de tarefas desafiadoras prepara o

mentorado para posiccedilotildees de maior responsabilidade

b) Coaching

Ocorre quando o mentor tal qual um teacutecnico transmite conhecimento ao mentorado

sobre como ldquonavegarrdquo no mundo dos negoacutecios O mentor sugere estrateacutegias e

transmite informaccedilotildees ao mentorado Chao et al (1992) defendem que o coach

preocupa-se apenas com a tarefa e as informaccedilotildees necessaacuterias para sua realizaccedilatildeo natildeo

desenvolvendo o interesse para com a carreira do jovem aprendiz Entretanto como

observam Azevedo e Dias (2002) o mentor em algumas ocasiotildees realiza o coaching

por exemplo quando orienta o mentorado com respeito ao desenvolvimento de

habilidades especiacuteficas para o cumprimento de determinada tarefa

c) Proteccedilatildeo

Ocorre quando o mentor se coloca na posiccedilatildeo de um escudo protegendo seu

mentorado O mentor pode assumir determinadas falhas de seu mentorado ou natildeo

permitir que elas se tornem conhecidas A proteccedilatildeo tende a ocorrer com mais

frequumlecircncia quando o mentorado ainda natildeo apresenta resultados dignos de exposiccedilatildeo

Klaw et al (2003) afirmam que o mentor pode inclusive advogar em nome de seus

mentorados adolescentes

26

d) Exposiccedilatildeo e visibilidade positiva

Ocorre quando o mentor daacute ao mentorado condiccedilotildees de demonstrar seu potencial agraves

pessoas de mais alto niacutevel facilitando futuras promoccedilotildees O mentor expotildee

positivamente o mentorado

e) Patrociacutenio

O patrociacutenio acontece quando o mentor indica formal ou informalmente o mentorado

para promoccedilatildeo Ele viabiliza a ascensatildeo de seu mentorado atraveacutes desta indicaccedilatildeo ou

quando propicia os recursos necessaacuterios para o desenvolvimento profissional de seu

mentorado

Estas satildeo as atividades que o mentor desempenha no sentido de viabilizar o

desenvolvimento profissional do mentorado Seguem abaixo as funccedilotildees psicossociais atraveacutes

das quais o mentor desenvolve atividades que contribuem com o crescimento pessoal de seu

protegido

2112 Suporte psicossocial

As funccedilotildees de suporte psicossocial estatildeo mais associadas ao desenvolvimento pessoal

do mentorado do que propriamente ao seu desenvolvimento profissional O suporte

psicossocial afeta a relaccedilatildeo do mentorado consigo mesmo e com as pessoas com as quais se

relaciona O desenvolvimento desta funccedilatildeo iraacute depender da confianccedila existente na relaccedilatildeo De

acordo com Kram (1985) o apoio psicossocial diz respeito ao suporte psicoloacutegico e social que

o mentor daacute ao mentorado As atividades que compotildeem este suporte satildeo amizade aceitaccedilatildeo e

confirmaccedilatildeo aconselhamento e modelagem de papeis Tais atividades satildeo expostas a seguir

a) Amizade

Ocorre quando a relaccedilatildeo de mentoria daacute ao mentorado a sensaccedilatildeo de bem estar de

ligaccedilatildeo e de ser compreendido por seu mentor O coleguismo facilita ao mentorado

27

desenvolver relacionamento com pessoas de niacutevel mais elevado do que ele Esta

amizade contribui tambeacutem para o aumento da autoconfianccedila do mentorado

b) Aceitaccedilatildeo e confirmaccedilatildeo

A aceitaccedilatildeo por parte do mentor faz com que o mentorado se sinta seguro inclusive

para assumir riscos e aceitar desafios

Dados qualitativos de estudos feitos por Style e Morrow (1992) demonstraram que

relacionamentos voltados para juventude satildeo mais eficazes quando o adulto pode

compreender as dificuldades enfrentadas por seus mentorados bem como respeitar e

aceitar sua famiacutelia classe social e cultura

c) Aconselhamento

Ocorre quando o mentorado ao falar de suas duacutevidas medos e ansiedades tem no

mentor um conselheiro algueacutem que o escuta e lhe daacute feedback Ao desempenhar esta

funccedilatildeo o mentor pode se valer de suas proacuteprias experiecircncias e dilemas enfrentados no

iniacutecio de sua carreira

d) Modelagem de papeacuteis

A modelagem ocorre quando o mentorado vecirc em seu mentor sua proacutepria imagem

idealizada Neste caso os comportamentos os valores e as atitudes do mentor satildeo

exemplos a serem seguidos A partir desta identificaccedilatildeo o mentorado passa a admirar

respeitar e imitar seu mentor Scandura (1992) considera que o fato de o mentor ser

um modelo para o mentorado estaria em uma terceira funccedilatildeo da mentoria distinta de

suporte psicossocial No entanto para efeito deste trabalho tal fator seraacute considerado

como pertinente ao suporte psicossocial uma vez que se tomou por base o modelo

proposto por Kram (1985) O mentorado pode ver seu mentor como representante do

seu proacuteprio futuro (RAGINS 1997) No caso de jovens e adolescentes os adultos satildeo

vistos como ideais com quem aqueles aprenderatildeo determinados comportamentos de

28

quem iratildeo receber colaboraccedilotildees sobre carreiras potenciais e com quem iratildeo

desenvolver habilidades especiacuteficas (RHODES et al 2002) Com relaccedilatildeo agraves

implicaccedilotildees deste aprendizado Hartmam e Harris (1992) encontraram que estudantes

modelam seu estilo de gerenciamento baseados no estilo de lideranccedila da pessoa que

admiravam quando mais novos Por sua vez Zacharatos et al (2000) em um estudo

sobre lideranccedila transformacional observaram que o desenvolvimento dos

comportamentos de lideranccedila se daacute na adolescecircncia e que comportamentos aprendidos

nesta fase tendem a ser estaacuteveis Finalmente Krosnick e Alwin (1989) defendem que

assim como os comportamentos as atitudes adquiridas durante a adolescecircncia tendem

a permanecer na vida adulta

Especificamente em se tratando de mentoria voltada para jovens e adolescentes Klaw

et al (2003) observaram as implicaccedilotildees e possibilidades de mudanccedila de comportamento do

mentorado ao se ter no mentor um modelo

os mentores podem servir como exemplos concretos de realizaccedilatildeo educacional e ocupacional demonstrando as qualidades que os adolescentes podem desejar imitar O adolescente pode adotar comportamentos novos observando e comparando seu proacuteprio desempenho ao de seu mentor (p225)

Nesta seccedilatildeo foram apresentadas as funccedilotildees de mentoria ou seja suporte de carreira e

suporte psicossocial Na sequumlecircncia seratildeo abordadas as fases pelas quais o relacionamento se

desenvolve ateacute chegar agrave redefiniccedilatildeo

212 Fases da relaccedilatildeo mentoria

Dando continuidade agraves caracteriacutesticas da relaccedilatildeo de mentoria seratildeo abordadas as fases

pertinentes a esse relacionamento Vale salientar que a relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas e

adolescentes de risco podem ou natildeo apresentar estaacutegios semelhantes agrave mentoria desenvolvida

no acircmbito da organizaccedilatildeo (RHODES et al 2002)

29

Da perspectiva organizacional Kram (1983) sugere que a mentoria ocorre geralmente

em quatro fases distintas mas natildeo riacutegidas Satildeo elas

bull Iniciaccedilatildeo - esta fase ocorre no inicio da relaccedilatildeo na qual o mentor eacute admirado e

respeitado pelo mentorado O mentor reconhece o mentorado como algueacutem com

potencial e com quem iraacute desenvolver um trabalho agradaacutevel O mentorado

tambeacutem eacute visto pelo mentor como algueacutem que lhe proveraacute assistecircncia teacutecnica e que

seraacute beneficiado com seus conselhos uma vez que o mentor tem mais experiecircncia

de vida Estas fantasias iniciais seratildeo responsaacuteveis por orientar as expectativas

presentes na relaccedilatildeo de mentoria

bull Cultivo - nesta fase as expectativas surgidas no iniacutecio da relaccedilatildeo iratildeo defrontar-se

com a realidade do contato O mentor proveraacute o mentorado com as funccedilotildees de

carreira e psicossociais Kram (1983) salienta que o suporte de carreira vai

depender das tarefas e da experiecircncia do mentor No entanto o suporte

psicossocial estaacute mais fortemente relacionado agrave confianccedila e agrave mutualidade que

houver na relaccedilatildeo Eacute nesta fase de cultivo que as funccedilotildees da mentoria seratildeo

plenamente desenvolvidas

bull Separaccedilatildeo - ocorre quando a natureza do relacionamento eacute alterada por mudanccedilas

no contexto social ou organizacional Este periacuteodo eacute marcado por ansiedade em

que o mentorado sente necessidade de autonomia e independecircncia A separaccedilatildeo

ocorre estruturalmente e psicologicamente e a mentoria deixa de ocupar lugar de

destaque na vida de ambos mentor e mentorado

bull Redefiniccedilatildeo - a ansiedade da separaccedilatildeo eacute superada e o relacionamento eacute

resignificado ou termina Nesta fase a mentoria pode se tornar apenas um

relacionamento de amizade com encontros esporaacutedicos e informais e o mentor

30

pode ainda oferecer algum tipo de apoio mas de forma mais distante e sem a

frequumlecircncia de outrora

Abordadas algumas caracteriacutesticas da mentoria tais como suas funccedilotildees e fases

seguem-se os tipos de mentoria visando enriquecer a compreensatildeo de como se daacute esta

relaccedilatildeo

213 Tipos de mentoria

A relaccedilatildeo de mentoria conforme abordado anteriormente eacute algo que emerge

naturalmente entre uma pessoa mais experiente e um novato A mentoria pode ser

caracterizada como uma relaccedilatildeo intrinsecamente informal No entanto devido aos benefiacutecios

alcanccedilados por esta relaccedilatildeo intenta-se reproduzi-la formalmente em uma escala mais ampla e

com maior controle Neste caso tem-se a mentoria formal uma relaccedilatildeo mais estruturada e que

busca atingir os benefiacutecios para o mentor mentorado organizaccedilatildeo e sociedade resultantes da

mentoria informal ou natural Segue abaixo uma maior explicitaccedilatildeo do que vem a ser a

mentoria informal e a formal

2131 Mentoria informal

Eacute a que nasce espontaneamente por iniciativa dos indiviacuteduos de acordo com

necessidades e interesses pessoais O mentor escolhe seu mentorado agraves vezes por ver-se nele

quando jovem O mentorado por sua vez tambeacutem escolhe para seu mentor geralmente

algueacutem a quem tem por modelo A seleccedilatildeo do mentor eacute feita frequumlentemente com base na

identificaccedilatildeo do mentorado com seu possiacutevel mentor (RAGINS 1997) Tal identificaccedilatildeo faz

com que a mentoria informal seja considerada mais poderosa do que a formal (NOE 1998)

Na mentoria informal natildeo haacute uma estruturaccedilatildeo da relaccedilatildeo e a frequumlecircncia dos encontros parte

da necessidade Este tipo de mentoria pode se estender por longos periacuteodos

31

Decorrente do sucesso obtido atraveacutes da mentoria informal esforccedilos tecircm sido

desenvolvidos para reproduzi-la formalmente conforme seraacute abordado na proacutexima seccedilatildeo

2132 Mentoria formal

A mentoria formal natildeo eacute espontacircnea como a informal Antes ocorre por iniciativa

encaminhamento e estruturaccedilatildeo da organizaccedilatildeo Sua duraccedilatildeo geralmente varia de seis meses a

um ano e a frequumlecircncia dos encontros eacute preacute-estabelecida mediante contrato firmado entre as

partes (MURRAY 2001)

Na mentoria formal a motivaccedilatildeo para ser mentor pode estar associada ao fato de o

mentor ser visto como bom cidadatildeo organizacional e ao reconhecimento que pode lhe trazer o

fato de ser mentor

Tendo sido abordado o conceito de mentoria suas funccedilotildees as fases pelas quais passa a

relaccedilatildeo e os tipos de mentoria faz-se necessaacuterio analisar alguns fatores que contribuem para o

ecircxito desta relaccedilatildeo Tais fatores seratildeo abordados nas seguintes seccedilotildees

214 Fatores relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria formal

Os programas de mentoria voltados para jovens e adolescentes por se tratarem de

programas de mentoria formal necessitam seguir alguns criteacuterios na busca de se atingir os

objetivos e os benefiacutecios desejados Como jaacute referido os programas de mentoria formal

intentam reproduzir artificialmente as caracteriacutesticas essenciais dos relacionamentos naturais

de suporte Eacute importante ressaltar no entanto que programas mal orientados podem trazer

efeitos negativos na vida do mentorado (DUBOIS et al 2002) Ragins et al (2000) consideram

que em relaccedilatildeo ao niacutevel de satisfaccedilatildeo do mentorado o relacionamento de mentoria estaria em

um continuum no qual em um extremo ficaria o relacionamento altamente satisfatoacuterio e no

outro o relacionamento nocivo ou prejudicial O relacionamento localizado no meio do

32

continuum seria considerado pelas autoras como marginal mentoring ou seja um

relacionamento de mentoria no qual o mentor seria apenas ldquobom o suficienterdquo Os fatores

relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo devem ser observados na tentativa de evitar que o

relacionamento torne-se nocivo ou ateacute mesmo destrutivo Tais fatores visam fazer com que a

relaccedilatildeo seja satisfatoacuteria e beneacutefica

Na tentativa de potencializar os benefiacutecios da mentoria faz-se necessaacuterio considerar os

seguintes fatores seleccedilatildeo de mentores e mentorados treinamento supervisatildeo e

acompanhamento do programa frequumlecircncia dos encontros e a duraccedilatildeo da relaccedilatildeo Estes fatores

relacionados com o ecircxito da relaccedilatildeo seratildeo detalhados nas seccedilotildees seguintes

2141 Seleccedilatildeo de mentores e mentorados

Visando o sucesso do relacionamento de mentoria haacute algumas recomendaccedilotildees

relevantes sobre como combinar mentor e mentorado Fatores como dados demograacuteficos raccedila

e gecircnero devem ser considerados Em se tratando de mentoria com crianccedilas e adolescentes

faz-se necessaacuterio um cuidado ainda maior na seleccedilatildeo do mentor uma vez que

comportamentos e atitudes aprendidos na infacircncia e adolescecircncia tendem a perdurar por toda

a vida

O Big Brothers Big Sisters (programa norte-americano de mentoria voltado para

crianccedilas e adolescentes com risco para delinquumlecircncia) ao fazer o recrutamento dos voluntaacuterios

para agirem como mentores faz um levantamento da vida destes para saber suas intenccedilotildees e

sua vida pregressa Em um programa de mentoria voltado para crianccedilas delinquumlentes os

mentores natildeo poderiam ter qualquer tipo de envolvimento criminal (JACKSON 2002) A

investigaccedilatildeo da vida pregressa do mentor tem o objetivo de garantir a seguranccedila do

mentorado e verificar a possibilidade de comprometimento do mesmo para com o programa

Tal investigaccedilatildeo eacute importante inclusive para assegurar que o mentor poderaacute ser um modelo

33

positivo com condiccedilotildees de influenciar beneficamente o mentorado (GROSSMAN TIERNEY

1998) Os autores sugerem que se considere tambeacutem o interesse dos pais em que a crianccedila ou

adolescente tenha um mentor uma vez que o apoio da famiacutelia eacute um fator de sucesso para o

programa Depois de feita a seleccedilatildeo deve-se fazer um treinamento e acompanhar o

desenvolvimento do relacionamento Tais fatores seratildeo observados na proacutexima seccedilatildeo

2142 Treinamento supervisatildeo e acompanhamento do programa

de mentoria

Assim como a seleccedilatildeo a supervisatildeo deve ser cuidadosa Eacute necessaacuterio fazer um

monitoramento do programa e deve-se comunicar claramente e acordar as expectativas o

tempo do relacionamento a frequumlecircncia dos encontros e os objetivos O mentor deve contar

com apoio constante da organizaccedilatildeo durante todo o programa (DUBOIS et al 2002) O

mentor deve receber treinamento e orientaccedilatildeo e deve haver uma supervisatildeo incluindo

relatoacuterios sobre os encontros (GROSSMAN TIERNEY 1998)

No programa de mentoria voltado para crianccedilas delinquumlentes pesquisado por Jackson

(2002) a supervisatildeo foi feita em trecircs niacuteveis a primeira se deu em termos de conhecimentos

na qual um psicoacutelogo cliacutenico transmitia informaccedilotildees sobre psicopatologia causas e

caracteriacutesticas da crianccedila delinquumlente bem como teacutecnicas de intervenccedilatildeo No segundo niacutevel

foram feitos encontros com o psicoacutelogo para falar acerca das dificuldades encontradas e as

possibilidades de soluccedilatildeo O terceiro e uacuteltimo niacutevel foi o da supervisatildeo que ocorreu em

grupo no qual os diversos mentores discutiram suas experiecircncias Vale ressaltar que o

programa apresentou resultados positivos na vida dos que dele participaram

Fenney et al (2000 apud RHODES et al 2002) afirmam que adultos bem sucedidos

em trabalhar como mentores de jovens satildeo os que tecircm empatia por eles recordando-se de

como eram no passado A participaccedilatildeo dos pais durante o programa de mentoria seja para

34

apoiar seus filhos seja para receber sustentaccedilatildeo tem sido relacionada positivamente ao

sucesso do programa (FRECKNALL LUKS 1992) Outro fator que leva ao ecircxito da relaccedilatildeo

de mentoria eacute a frequumlecircncia com que ocorrem os encontros fato este abordado na proacutexima

seccedilatildeo

2143 Frequumlecircncia dos encontros

Alguns estudos tecircm sido feitos com ecircxito no sentido de relacionar a frequumlecircncia dos

encontros com o sucesso da relaccedilatildeo principalmente em se tratando de mentorados

adolescentes com risco para delinquumlecircncia (KEATING et al 2002) Na mesma linha Azevedo

e Dias (2002) sugerem que a influecircncia do mentor na carreira do mentorado pode ser

diminuiacuteda quando se dispotildee de pouco tempo para a relaccedilatildeo

Keating et al (2002) defendem que a frequumlecircncia de uma ou duas vezes por mecircs eacute

insuficiente para prover suporte para jovens com risco para delinquumlecircncia fazendo com que o

relacionamento natildeo tenha ecircxito As autoras afirmam que programas para jovens e

adolescentes com risco devem ter frequumlentes contatos face-a-face para serem realmente

efetivos O encontro semanal eacute sugerido Segue na proacutexima seccedilatildeo outro fator de ecircxito para a

relaccedilatildeo de mentoria a saber a duraccedilatildeo do relacionamento entre mentor e mentorado

2144 Duraccedilatildeo da relaccedilatildeo de mentoria

A maioria dos benefiacutecios da relaccedilatildeo emerge de um relacionamento de mentoria que

perdure por um ano ou mais Ou seja os benefiacutecios estatildeo associados ao amadurecimento da

relaccedilatildeo (GROSSMAN RHODES 2002) Os autores consideram que relacionamentos curtos

estatildeo associados com efeitos negativos para a juventude de risco

Adolescentes cujo relacionamento de mentoria se estende por um ano ou mais

apresentam melhores resultados educacionais psicossociais e comportamentais Estes

35

resultados satildeo positivamente relacionados com o tempo da relaccedilatildeo Em outras palavras na

medida em que se reduz o tempo de mentoria diminui tambeacutem a apresentaccedilatildeo de resultados

positivos atribuiacutedos agrave relaccedilatildeo (GROSSMAN RHODES 2002)

Frecnall e Luks (1992) encontraram em suas pesquisas que o tempo de duraccedilatildeo da

relaccedilatildeo de mentoria tem sido um fator determinante de ecircxito 70 de resultado positivo com

crianccedilas de um a dois anos de programa e 90 com crianccedilas com dois a trecircs anos de

participaccedilatildeo em um programa de mentoria

O exposto revela a teoria vigente acerca da relaccedilatildeo de mentoria das funccedilotildees

desempenhadas na relaccedilatildeo das fases pelas quais ela passa dos tipos de mentoria

identificados bem como de alguns fatores que se observados contribuem para o sucesso da

relaccedilatildeo Faz-se entatildeo pertinente a seguinte questatildeo norteadora em uma comunidade carente

brasileira ateacute que ponto a mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes apresenta as

caracteriacutesticas definidas pela teoria

Mencionadas as caracteriacutesticas da relaccedilatildeo de mentoria abordar-se-aacute a seguir os

benefiacutecios desta relaccedilatildeo para o mentorado e para o mentor bem como seratildeo considerados

tambeacutem os benefiacutecios sociais desta relaccedilatildeo

22 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria

Satildeo muitos os benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria Zey (1998) revela que a relaccedilatildeo de

mentoria na organizaccedilatildeo pode ser extremamente beneacutefica para o mentorado para o mentor e

para a proacutepria empresa Os benefiacutecios da mentoria foram amplamente estudados no que

concerne agrave mentoria voltada para a organizaccedilatildeo No entanto pretende-se aqui estabelecer um

paralelo entre os benefiacutecios da mentoria organizacional e os da mentoria voltada para jovens e

adolescentes de risco Tais benefiacutecios foram verificados atraveacutes de pesquisas mas ainda natildeo

se apresentam sistematizados Como beneficiaacuterios diretos da relaccedilatildeo de mentoria pode-se citar

36

o mentor o mentorado e a organizaccedilatildeo Entretanto o alcance de um programa bem

estruturado pode se estender para a famiacutelia e para a sociedade

Nas seccedilotildees seguintes seratildeo apresentados os benefiacutecios da mentoria para o mentorado

para o mentor e posteriormente seratildeo abordados os benefiacutecios sociais desta relaccedilatildeo

221 Benefiacutecios da mentoria para o mentorado

O mentorado pode ser muito beneficiado atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria O mentor ao

fornecer suporte psicossocial e de carreira auxilia o mentorado em seu crescimento pessoal o

que inclui o desenvolvimento emocional o social e o de carreira Tal suporte facilita transiccedilatildeo

do adolescente para a fase adulta (RHODES et al 2002)

A literatura apresenta os seguintes benefiacutecios para o mentorado

a) Aumento da auto-estima

Grossman e Tierney (1998) verificaram que os jovens com risco para delinquumlecircncia que

foram acompanhados por mentores sentiram-se mais confiantes em suas habilidades para com

as tarefas escolares do que os jovens natildeo mentorados Harter (1982) demonstrou que se sentir

competente leva os jovens a demonstrarem melhor desempenho

O aumento da auto-estima foi verificado em adolescentes e jovens ao se relacionarem

com um mentor (FRECKNALL LUKS 1992) Alguns programas de mentoria tecircm

favorecido o aumento da auto-estima tambeacutem em crianccedilas com comportamentos

autodestrutivos (JACKSON 2002)

b) Maior interaccedilatildeo social e com a famiacutelia

Outro benefiacutecio para o mentorado decorrente do suporte que recebe na relaccedilatildeo de

mentoria eacute a atratividade social Pessoas com alto grau de suporte social satildeo vistas como mais

atrativas tecircm maior conhecimento relativo a relacionamentos sociais e satildeo menos

manipulaacuteveis do que as com baixo suporte social (SARASON et al 1985) Frecknall e Luks

37

(1992) verificaram que adolescentes assistidos por um mentor apresentaram maior

envolvimento com a famiacutelia e amigos do que os natildeo mentorados

O fato de o mentor ser um modelo de sucesso estimula ainda a melhora da

autopercepccedilatildeo bem como de atitudes e comportamentos do adolescente mentorado Haacute

evidecircncias de que a influecircncia positiva do mentor pode se estender aos relacionamentos mais

proacuteximos do adolescente operando mudanccedilas inclusive na vida daqueles que com ele

convivem (WALKER FREEMAN 1996)

c) Maior progresso da carreira e aumento da responsabilidade

Mentorados recebem mais promoccedilotildees tecircm melhor desempenho e mais satisfaccedilatildeo no

trabalho do que os natildeo mentorados (CHAO et al 1992) Os mentorados satildeo beneficiados

pois recebem melhores pagamentos dos que os que natildeo dispotildeem de um mentor (MULLEN

1998) Mentorados tecircm na mentoria uma contribuiccedilatildeo potencial para o desenvolvimento

pessoal e profissional sendo tambeacutem um meio para adentrar o mundo dos negoacutecios (KRAM

1983)

Para o mentorado jovem e adolescente o mentor fornece instruccedilatildeo e incentivo

facilitando a transiccedilatildeo da adolescecircncia para o mundo adulto (RHODES et al 2002) Os

presidentes de empresas mais bem sucedidos afirmaram que para tal tiveram a influecircncia de

mentores em sua vida profissional (FAGENSON 1989) Liacutederes mais competentes e

solucionadores de problemas satildeo pessoas consideradas com alto suporte social (SARASON et

al 1986)

O mentorado apresenta maior crescimento profissional e melhor desenvolvimento da

carreira (ZEY 1998) Mentorados tecircm maior satisfaccedilatildeo com a carreira do que os que natildeo

possuem mentor (FAGENSON 1989) Pessoas com alto suporte psicossocial satildeo mais

extrovertidas e apresentam menos comportamentos neuroacuteticos hostilidade solidatildeo e

depressatildeo (COYNE 1978 apud SARASON et al 1986)

38

Outro beneficio para o mentorado diz respeito agrave definiccedilatildeo da identidade profissional e

senso de competecircncia (KRAM ISABELLA 1985) Especificamente com relaccedilatildeo a mentoria

voltada para adolescentes estes apresentaram melhor rendimento escolar e aumento da

responsabilidade (FRECKNALL LUKS 1992)

Grossman e Tierney (1998) ao avaliarem o impacto do Programa Big Brother Big

Sister natildeo haviam sido otimistas em acreditar que o programa aumentasse o rendimento

escolar dos alunos participantes pois conforme verificado em pesquisas anteriores o

aproveitamento escolar e a obtenccedilatildeo de graus dependem de um acompanhamento estaacutevel e

geralmente natildeo satildeo afetadas por uma relaccedilatildeo de mentoria que natildeo tenha foco educacional

Entretanto apesar de o programa Big Brother Big Sister natildeo fornecer diretamente apoio

escolar o rendimento escolar dos mentorados mostrou-se superior As ausecircncias ou faltas agrave

escola foram reduzidas Os autores consideraram que tal fato foi consequumlecircncia de os

mentores (todos acadecircmicos) serem tidos como exemplos valorizarem os estudos e

transmitirem uma visatildeo otimista de futuro para seus mentorados

d) Melhor enfrentamento das adversidades visatildeo otimista da vida e perspectivas

positivas de futuro

Jovens com alto suporte social satildeo mais otimistas quanto ao futuro uma vez que

mentores os auxiliam em relaccedilatildeo agraves suas perspectivas (HARRIS et al 2002 KASHANI et al

1989) Indiviacuteduos com alto suporte social aleacutem de mais atrativos e mais haacutebeis socialmente

satildeo mais otimistas quanto aos eventos da vida do que os que manifestam ter baixo suporte

social (SARASON et al 1985)

Pessoas com baixo suporte social satildeo mais retraiacutedas desatentas tecircm menos esperanccedila

quanto ao futuro e satildeo mais prejudiciais aos outros do que as que tecircm alto niacutevel de suporte

social (KASHANI et al 1989) O sucesso dos adolescentes que superaram momentos de

39

adversidades inclui frequumlentemente a presenccedila de pelo menos um mentor que lhe proveu tal

suporte (RHODES et al 2002)

Benefiacutecios tambeacutem satildeo apresentados em se tratando de jovens com risco para

delinquumlecircncia Nestes o desenvolvimento pessoal pode ser percebido frequumlentemente quando o

mentor eacute um modelo positivo para o mentorado Este fato auxilia na reduccedilatildeo do estresse

diaacuterio e provecirc condiccedilotildees de o mentorado rever sua percepccedilatildeo acerca de seus relacionamentos

mudando de uma visatildeo negativa destes para uma positiva (MAIN et al 1985 apud

GROSSMAN RHODES 2002)

Eacute particularmente importante a influecircncia positiva que o mentor oferece ao mentorado

na reduccedilatildeo do estresse diaacuterio Sendo um modelo de resoluccedilatildeo de conflitos o mentor auxilia

indiretamente na diminuiccedilatildeo do estresse familiar melhorando ateacute mesmo a interaccedilatildeo do

mentorado com seus proacuteximos Segundo os autores o relacionamento de mentoria pode ter

ainda um efeito corretivo para adolescentes que tiveram experiecircncias negativas no

relacionamento com os pais

Conforme visto pesquisas anteriores demonstraram que o mentorado pode ser muito

beneficiado atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria Cabe aqui portanto a segunda questatildeo norteadora

deste trabalho em um contexto brasileiro ateacute que ponto os mentorados carentes estudados

tecircm desfrutado dos benefiacutecios da mentoria apontados pela literatura

Considerados os benefiacutecios da mentoria para o mentorado cabe expor a forma pela

qual a mentoria beneficia o mentor fato abordado na seccedilatildeo seguinte

222 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentor

A mentoria pode proporcionar ao mentor diversos benefiacutecios Os mentores podem ter

no mentorado uma versatildeo de si proacuteprios quando mais jovens como se o mentorado fosse

representante de seu passado (RAGINS 1997) De acordo com a literatura os mentores

40

podem ser beneficiados com esta relaccedilatildeo atraveacutes da realizaccedilatildeo pessoal da motivaccedilatildeo e do

reconhecimento Segue-se a explanaccedilatildeo de tais fatores

a) Realizaccedilatildeo pessoal

O fato de ser mentor daacute ao indiviacuteduo um senso de generosidade ao contribuir com as

geraccedilotildees futuras Satisfaccedilatildeo interna e reconhecimento organizacional lealdade do mentorado

apreciaccedilatildeo do grupo renovaccedilatildeo da carreira e melhor performance no trabalho satildeo benefiacutecios

da mentoria para o mentor Mentores podem obter mais conhecimento empatia e capacidade

de se relacionar com outros grupos do que aqueles que natildeo satildeo mentores (RAGINS 1997)

Em se tratando de mentores de jovens e adolescentes com risco para delinquumlecircncia

Shields (2001) verificou que a mentoria propiciou ao mentor um sentimento de recompensa

ao observar as mudanccedilas positivas ocorridas no comportamento de seus mentorados Jackson

(2002) observou em seu estudo que mentores de adolescentes delinquumlentes relataram como

sendo gratificante o fato de terem atraveacutes da mentoria uma oportunidade de ajudar estas

pessoas

b) Motivaccedilatildeo

O mentor pode redirecionar sua energia para a criatividade e a accedilatildeo produtiva num

periacuteodo que dependendo do indiviacuteduo pode ser entendido como de estagnaccedilatildeo Neste caso a

mentoria pode significar estiacutemulo e desafio (ZEY 1998)

c) Reconhecimento

Mentores podem ter a confianccedila e serem amados por seus mentorados (KLAW et al

2003) Ganham suporte teacutecnico e psicoloacutegico e satisfaccedilatildeo interna ao fazer com que um novato

seja capaz de ldquonavegarrdquo no mundo dos negoacutecios Os mentores ganham respeito de seus

colegas ao desenvolver um jovem talento para organizaccedilatildeo (KRAM ISABELLA 1985)

41

Assim a terceira questatildeo norteadora deste trabalho eacute ateacute que ponto um projeto de

mentoria voltado para crianccedilas e adolescentes carentes no Recife oferece os benefiacutecios de

realizaccedilatildeo pessoal motivaccedilatildeo e reconhecimento para os mentores

Considerados os benefiacutecios da mentoria para o mentorado e para o mentor seratildeo

abordados na proacutexima seccedilatildeo os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes desta relaccedilatildeo

223 Benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria

Em se tratando de mentoria voltada para crianccedilas jovens e adolescentes com risco

para delinquumlecircncia aleacutem dos benefiacutecios na vida dos que participam diretamente da relaccedilatildeo a

sociedade tambeacutem pode ser positivamente afetada

Frecknall e Luks (1992) investigaram a avaliaccedilatildeo dos pais acerca do aproveitamento

de seus filhos inseridos em um programa de mentoria voltado para jovens com risco para

delinquumlecircncia Com relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo de 63 dos pais os filhos apresentaram uma grande

melhora em toacutepicos como rendimento escolar comportamento com a famiacutelia

comportamento com os amigos aumento da auto-estima aumento da responsabilidade e

diminuiccedilatildeo de envolvimento em situaccedilotildees problema Paralelamente ao beneficio alcanccedilado

por um adolescente e por sua famiacutelia haacute uma contribuiccedilatildeo indireta para a sociedade na

medida em que diminuem os iacutendices de delinquumlecircncia e de evasatildeo escolar Indiretamente haacute

tambeacutem a reduccedilatildeo da possibilidade de assistencialismo o aumento do iacutendice de alfabetizaccedilatildeo

e o crescimento do IDH (Iacutendice de Desenvolvimento Humano) Com frequumlecircncia aumenta

ainda a mobilidade social e a possibilidade de contribuiccedilatildeo social direta destas crianccedilas

adolescentes e jovens

A teoria aponta a reduccedilatildeo da dependecircncia de poliacuteticas assistencialistas e a diminuiccedilatildeo

da delinquumlecircncia como benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria fatores que seratildeo abordados a

seguir

42

a) Reduccedilatildeo futura da dependecircncia de poliacuteticas assistencialistas

Patterson et al (1989) esclarecem que a expressatildeo ldquosituaccedilatildeo de riscordquo eacute usada

geralmente para descrever

jovens que demonstram problemas comportamentais e emocionais que tecircm dificuldade em desenvolver-se com sucesso Quando adultos estes apresentam alta incidecircncia em desemprego crocircnico divoacutercio problemas fiacutesicos e psiquiaacutetricos envolvimento com drogas tornam-se dependentes de assistecircncia social podendo ainda envolver-se em atividades criminosas (p329) Grifo da pesquisadora

Adolescentes com altas expectativas educacionais de futuro (muitas vezes providas

por um mentor) desenvolvem bons haacutebitos de estudo pensam em fazer curso universitaacuterio e

buscam se envolver em atividades intelectuais extracurriculares Em contrapartida os que

deteacutem baixa expectativa apresentam maior probabilidade de desenvolver comportamentos de

risco (HARRIS et al 2002) Jovens em situaccedilatildeo de risco entre outros fatores satildeo propensos a

depender no futuro de poliacuteticas assistencialistas

b) Diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia

Jovens e adolescentes em situaccedilatildeo de risco satildeo candidatos potenciais a programas de

mentoria Estes podem ser usados como prevenccedilatildeo contra a delinquumlecircncia particularmente na

ausecircncia de adultos que representem figuras positivas ou modelos O mentor pode claramente

desempenhar este papel (RHODES et al 1994)

O risco para delinquumlecircncia natildeo eacute uma questatildeo que dependa apenas de um fator Antes eacute

um conjunto de variaacuteveis que levam o adolescente a apresentar comportamentos delinquumlentes

Ellickson e Mcguigan (2000) ao investigarem os riscos para violecircncia em adolescentes

verificaram que no caso das meninas adolescentes fatores de risco incluem a baixa auto-

estima poucos anos de estudo e baixo niacutevel soacutecio-econocircmico Estes fatores podem ser

revertidos atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria Dornbusch et al (1985) verificaram que

adolescentes que convivem com apenas um dos pais apresentam maior probabilidade de se

43

envolver em comportamentos delinquumlentes e violentos do que os que vivem com ambos os

pais Uma afirmaccedilatildeo destoante eacute a de Larson et al (2001) Eles defendem que crianccedilas e

adolescentes que convivem com apenas um dos pais podem se adaptar bem a esta situaccedilatildeo

natildeo sendo o fato de conviver com apenas um dos pais determinante da delinquumlecircncia Natildeo

obstante essa natildeo eacute a tendecircncia das evidecircncias disponiacuteveis

Caffray e Schneider (2000) por exemplo ao pesquisarem sobre as motivaccedilotildees que

levam o adolescente aos comportamentos de risco citam como influecircncias importantes

sentimentos negativos sobre o relacionamento com os pais pouca comunicaccedilatildeo em casa

baixa coesatildeo familiar reduzido desempenho escolar e baixo suporte social Fatores familiares

estressantes como desemprego violecircncia domeacutestica discoacuterdia entre os pais e divoacutercio estatildeo

positivamente associados com a delinquumlecircncia (FARRINGTON 1987 apud PATTERSON et

al 1989) bem como poucos anos de estudo (DIAS 2003)

De modo geral a literatura sugere que em ambientes de risco jovens que dispotildeem de

suporte atraveacutes de relacionamentos com adultos podem diminuir os efeitos negativos das

adversidades sobre seu desenvolvimento (RHODES et al 1994) A tiacutetulo de exemplo

Jackson (2002) verificou que crianccedilas delinquumlentes ao serem assistidas por um mentor

diminuiacuteram a frequumlecircncia de comportamentos agressivos e de problemas de conduta

DuBois et al (2002) fizeram uma meta-anaacutelise acerca de 55 avaliaccedilotildees dos efeitos de

programas de mentoria voltados para juventude norte-americana Ficou aiacute evidenciado que os

participantes se beneficiam muito com a participaccedilatildeo em tais programas Os programas

diferem em seu conteuacutedo mas a maioria tem como foco a juventude de risco Haacute tambeacutem

programas destinados a filhos que vivem com apenas um dos pais e a minorias eacutetnicas

Quanto aos objetivos os programas avaliados buscavam o desenvolvimento na aacuterea

emocional comportamental educacional e em alguns casos o desenvolvimento profissional

dos mentorados

44

Um exemplo deste tipo de programa pode ser visto em Nova Iorque nos EUA e em

parte do Canadaacute Trata-se de um programa criado em 1904 o Big Brothers Big Sisters of

Ameacuterica (BBBS) que provecirc relacionamento de mentoria para crianccedilas de risco que vivem

com apenas um dos pais O programa eacute voltado para populaccedilatildeo menos favorecida que

apresenta problemas como delinquumlecircncia baixo aproveitamento escolar e baixa auto-estima

(FRECNALL LUKS 1992)

O BBBS emparelha adultos voluntaacuterios (Big Brothers Big Sisters) com crianccedilas e

adolescentes de 6 a 18 anos (Litle Brothers Litle Sisters) Os mentores modelos positivos

devem prover amizade aconselhamento e servir de guia para os mentorados Os encontros satildeo

feitos de duas a quatro vezes por mecircs Cada encontro dura em meacutedia de trecircs a quatro horas

Grossman e Tierney (1998) ao avaliarem o impacto do Big Brothers Big Sisters

levantaram soacutelidas evidecircncias de que a mentoria neste programa teve efeitos positivos e

socialmente importantes na vida dos jovens participantes Os autores compararam dois

grupos homogecircneos um de jovens participantes do programa e um outro de natildeo-participantes

Pocircde-se concluir que com relaccedilatildeo aos comportamentos anti-sociais nos jovens que tinham

mentor a frequumlecircncia de comportamentos agressivos para com outros jovens apresentou

frequumlecircncia 32 menor do que no grupo que natildeo foi assistido pelo programa A probabilidade

de iniciar o uso de drogas foi reduzida em 70 para os jovens que participaram do programa

em relaccedilatildeo aos natildeo participantes

Jackson (2002) tambeacutem realizou um estudo sobre mentoria voltada para adolescentes

delinquumlentes que teve oito meses de duraccedilatildeo Os adolescentes corriam risco de suspensatildeo ou

expulsatildeo da escola em que estudavam devido agrave infraccedilatildeo das normas Dos alunos mentorados

menos de 1 continuou a apresentar problemas de comportamento que comprometiam sua

permanecircncia na escola Os demais no entanto nos uacuteltimos trecircs meses de programa

apresentaram uma reduccedilatildeo meacutedia de 80 nos comportamentos infratores

45

Considerando todo o exposto pode-se afirmar que a mentoria tem se mostrado um

valioso recurso no auxiacutelio educacional de jovens e adolescentes Claramente as experiecircncias

de programas de mentoria com jovens de risco tecircm apresentado resultados positivos A

literatura apresentou alguns benefiacutecios sociais desta relaccedilatildeo em diversos contextos sendo

pertinente a verificaccedilatildeo da influecircncia desta relaccedilatildeo num contexto brasileiro Destaca-se entatildeo

a quarta questatildeo norteadora desta pesquisa quais os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da

relaccedilatildeo de mentoria na vida de crianccedilas e adolescentes de uma comunidade carente do Recife

Foi abordada neste capiacutetulo a literatura acerca da mentoria o conceito o suporte de

carreira e psicossocial oferecido pelo mentor as fases da relaccedilatildeo os fatores responsaacuteveis pelo

ecircxito da mentoria e os benefiacutecios da relaccedilatildeo Segue no capiacutetulo trecircs a metodologia deste

estudo que iraacute expor a forma como foi realizada a pesquisa

46

3 Metodologia

31 Delineamento da pesquisa

A presente pesquisa eacute um estudo de caso definido por Gil (1996) como ldquoestudo

profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos que permite seu amplo e detalhado

conhecimentordquo (p58) O estudo de caso segundo Laville e Dione (1999) pode ser feito com

uma pessoa um grupo uma comunidade um meio uma mudanccedila poliacutetica ou um conflito

A escolha deste tipo de delineamento de pesquisa deu-se devido agrave possibilidade de

avaliar as diversas dimensotildees do problema analisando-o como um todo Em se tratando de

estudo de caso a metodologia requer flexibilidade e portanto natildeo se tem uma estrutura riacutegida

quanto aos passos a seguir Laville e Dione (1999) afirmam que

o pesquisador pode pois mostrar-se mais criativo mais imaginativo tem mais tempo de adaptar seus instrumentos modificar sua abordagem para explorar elementos imprevistos precisar alguns detalhes e construir uma compreensatildeo do caso que leve em conta tudo isso pois ele natildeo mais estaacute atrelado a um protocolo de pesquisa que deveria permanecer o mais imutaacutevel possiacutevel (p156)

Utilizando o modelo proposto por Gil (1996) foram consideradas trecircs fases distintas

no delineamento do estudo delimitaccedilatildeo da unidade-caso coleta de dados anaacutelise e

interpretaccedilatildeo dos dados O estudo de caso se caracteriza como exploratoacuterio-descritivo O

objetivo do estudo exploratoacuterio segundo Selltiz et al (1974) eacute tornar o fenocircmeno conhecido

ou obter uma nova compreensatildeo deste Embora a relaccedilatildeo de mentoria seja um fenocircmeno

conhecido e estudado em outros paises no Brasil pouco se sabe como se daacute efetivamente esta

relaccedilatildeo Em se tratando de mentoria com crianccedilas e adolescentes brasileiros o conhecimento

47

eacute ainda mais escasso Por este motivo o presente estudo eacute exploratoacuterio buscou conhecer

como ocorre a relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas e adolescentes num contexto brasileiro mais

especificamente nordestino Ainda como objetivo de um estudo exploratoacuterio pode-se chegar a

novos conhecimentos sobre o objeto de estudo e a partir dele novos questionamentos e

hipoacuteteses podem emergir tal como abordado por Selltiz et al (1974) O estudo foi descritivo

pois se propocircs a descrever qualitativamente o fenocircmeno estudado (LAKATOS MARCONI

1995) A descriccedilatildeo do programa de reforccedilo foi feita com base na anaacutelise documental nas

notas de campo e nas entrevistas

A coleta de dados foi realizada sob o arcabouccedilo da metodologia qualitativa Tal coleta

deu-se em duas fases que seratildeo expostas nas seccedilotildees seguintes

32 Primeira fase da coleta de dados

A primeira fase da coleta de dados foi realizada na comunidade atraveacutes de um

primeiro contato com algumas matildees de alunos participantes do projeto Esta fase relacionou-

se com uma sondagem do campo para verificar a possibilidade da efetivaccedilatildeo ou natildeo da

pesquisa

321 Objetivo

Como uma primeira fase de coleta foi feita uma sondagem do programa com o intuito

de perceber se havia relaccedilatildeo de mentoria no projeto e caso houvesse quais as funccedilotildees

existentes nesta relaccedilatildeo

48

322 Instrumentos de coleta de dados

Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram a entrevista semi-estruturada

a observaccedilatildeo e as notas de campo conforme se segue

bull Entrevistas semi-estruturadas

A entrevista ldquo natildeo significa uma conversa despretensiosa e neutra uma vez que se

insere como meio de coleta de fatos relatados pelos autores enquanto sujeito-objeto da

pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que estaacute sendo focalizadardquo (NETO 1997

p57) Segundo Laville e Dione (1999) a entrevista semi-estruturada eacute ldquouma seacuterie de

perguntas abertas feitas verbalmente em uma ordem prevista mas na qual o entrevistador

pode acrescentar perguntas de esclarecimentordquo (p188)

Atraveacutes da situaccedilatildeo de interaccedilatildeo que eacute a entrevista buscou-se chegar ao conhecimento

proacuteprio dos sujeitos pesquisados As entrevistas foram semi-estruturadas com perguntas

abertas Minayo (1998) afirma que neste tipo de entrevista ldquoo entrevistado tem a possibilidade

de discorrer o tema proposto sem respostas ou condiccedilotildees preacute-fixadas pelo pesquisadorrdquo

(p108) A teacutecnica de entrevista foi complementada com a praacutetica da observaccedilatildeo fornecendo

assim uma visatildeo mais ampla do objeto em estudo conforme sugere Minayo (1998)

A entrevista conteve os seguintes temas

a) Significado de sucesso escolar

b) Fatores responsaacuteveis pelo ecircxito nos estudos

c) Significado do projeto Educaccedilatildeo eacute Vida na vida da famiacutelia

A entrevista foi realizada com cinco matildees que tinham filhos participando do projeto

A escolha das matildees foi feita por acessibilidade na qual o pesquisador seleciona os

casos a que tem acesso admitindo que estes representam o universo Este tipo de amostragem

49

pode ser aplicado em estudos exploratoacuterios e qualitativos conforme sugere Gil (1999) Foi

levantada a quantidade de pais responsaacuteveis pelas crianccedilas e adolescentes do programa que

natildeo trabalhassem fora de casa ou que o fizessem proacuteximo agrave comunidade e que pudessem

responder agrave entrevista O coordenador do projeto indicou 14 matildees que atendiam a este

requisito De posse dos nomes foi realizado um sorteio e das sorteadas duas natildeo estavam

disponiacuteveis A entrevista foi realizada com cinco matildees Colheram-se alguns dados

demograacuteficos acerca da matildee (ocupaccedilatildeo grau de instruccedilatildeo e situaccedilatildeo conjugal) e da crianccedila

participante do projeto (sexo idade seacuterie e tempo de projeto)

bull Observaccedilatildeo participante ndash feita na comunidade e no programa

Schwartz e Schwartz (1955) definem observaccedilatildeo participante como

um processo pelo qual manteacutem-se a presenccedila do observador numa situaccedilatildeo social com a finalidade de realizar uma investigaccedilatildeo cientiacutefica O observador estaacute em relaccedilatildeo face a face com os observados e ao participar da vida deles no seu cenaacuterio cultural colhe dados Assim o observador eacute parte do contexto sob observaccedilatildeo ao mesmo tempo modificando e sendo modificado por este contexto (p355 apud MINAYO 1998)

Em se tratando de suporte social para crianccedilas Frey e Rothlisberger (1996) sugerem a

observaccedilatildeo direta dos comportamentos o que neste caso pressupotildee a necessidade de

inserccedilatildeo do pesquisador na comunidade e no programa

No caso desta pesquisa a pesquisadora foi tida como observadora A observaccedilatildeo foi

feita atraveacutes durante algumas visitas da pesquisadora agrave comunidade e ao projeto

Nestas pode-se observar as crianccedilas assistidas pelo projeto bem como suas famiacutelias

uma vez que as entrevistas foram realizadas nas casas dos alunos pesquisados

bull Notas de campo

Referem-se agraves observaccedilotildees feitas no campo contendo a descriccedilatildeo das pessoas objetos

lugares fatos atividades e conversas Incluem a anotaccedilatildeo dos sentimentos

50

impressotildees ideacuteias e estrateacutegias que ocorreram agrave pesquisadora durante a observaccedilatildeo

Segundo Bogdan e Biklen (1994) as notas de campo satildeo ldquoo relato escrito daquilo que

o investigador ouve vecirc experencia e pensa no decurso da coleta e refletindo sobre os

dados de um estudo qualitativordquo (p150) Sendo assim as notas de campo tecircm

conteuacutedo tanto descritivo quanto reflexivo

A partir das entrevistas da observaccedilatildeo e das notas de campo pocircde-se verificar que

havia relaccedilatildeo de mentoria no projeto e percebeu-se a existecircncia das funccedilotildees da mentoria tanto

de suporte psicossocial como de carreira Tal fato incentivou a continuidade do estudo uma

vez que a relaccedilatildeo de mentoria se mostrou presente A partir daiacute fez-se necessaacuterio uma segunda

fase de coleta de dados que seraacute exposta a seguir

33 Segunda fase de coleta de dados

331 Objetivos

Tendo sido confirmada a existecircncia da relaccedilatildeo de mentoria no projeto de reforccedilo

buscou-se colher dados capazes de responder agrave seguinte pergunta de pesquisa como se daacute a

mentoria voltada para a educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes em uma comunidade carente do

Recife

332 Instrumentos de coleta de dados

Buscando investigar as especificidades (funccedilotildees fases e fatores de ecircxito) da relaccedilatildeo

de mentoria existentes no projeto e para se conhecer os benefiacutecios desta relaccedilatildeo na vida do

mentor do mentorado e da comunidade foram utilizados os seguintes instrumentos de coleta

51

de dados entrevista documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo observaccedilatildeo participante e notas de campo

Tais instrumentos satildeo considerados a seguir

bull Entrevista semi-estruturada - abordada na primeira fase de coleta de dados

Inicialmente a entrevista foi realizada com o coordenador do projeto buscando

conhecer a histoacuteria deste projeto e sua relaccedilatildeo com ele Posteriormente foram

entrevistadas nove matildees e uma avoacute que satildeo as pessoas responsaacuteveis pelos alunos

selecionados e foi entrevistado tambeacutem um aluno O objetivo destas entrevistas foi

compreender qual a percepccedilatildeo da famiacutelia acerca do projeto e de seus resultados na

vida da crianccedila ou adolescente que dele participa

Foram realizadas entrevistas com os demais colaboradores uma professora

(participante do projeto e de uma escola que fornece bolsa para a comunidade) a

psicoacuteloga e uma dentista visando conhecer a participaccedilatildeo destes no projeto e sua

percepccedilatildeo acerca do mesmo

Finalmente foi realizada entrevista com a coordenadora de uma das escolas que

fornece bolsa para as crianccedilasadolescentes do projeto buscando conhecer sua

percepccedilatildeo acerca do reforccedilo e de seus resultados na vida do aluno participante

bull Observaccedilatildeo participante (abordada na primeira fase)

bull Notas de campo (abordadas anteriormente)

bull Documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo ndash a situaccedilatildeo formal em que ela se encontra contribuindo

para o conhecimento da sua histoacuteria Foram analisados o estatuto e o projeto

pedagoacutegico da instituiccedilatildeo

Abordados os instrumentos de coleta de dados segue a explanaccedilatildeo a respeito dos

sujeitos da pesquisa

52

34 Sujeitos da pesquisa

O programa atende cerca de 80 crianccedilas e adolescentes das quais foram estudadas 13

Inicialmente pretendia-se pesquisar 10 sendo 5 consideradas pelo projeto como bem

sucedidas e 5 consideradas como de natildeo ecircxito Ampliou-se o nuacutemero de casos uma vez que

uma das matildees entrevistadas tem um filho que eacute considerado pelo projeto (e por ela) como de

natildeo-ecircxito e outro que apresenta ecircxito Inicialmente seria levado em consideraccedilatildeo somente o

caso de natildeo-ecircxito mas foram analisados ambos os casos ao inveacutes de apenas o de natildeo ecircxito

buscando compreender o por quecirc de em um uacutenico ambiente atraveacutes de um mesmo projeto

crianccedilas demonstrarem resultados tatildeo diferentes A entrevista natildeo seria dirigida aos alunos

visto se tratar de crianccedilas o que exige preparo do pesquisador com este tipo de sujeito No

entanto no momento da entrevista com um dos responsaacuteveis o aluno estava presente e

contribuiu com a ela Os dados coletados foram aceitos visto se tratar de um adolescente de

17 anos o mais velho dos alunos pesquisados Uma das matildees entrevistadas tem dois filhos no

projeto e suas respostas incluiacuteam frequumlentemente os dois motivo pelo qual ambos foram

considerados ao inveacutes de apenas um O quadro abaixo revela alguns dados dos sujeitos

Nome idade seacuterie tempo de

projeto escola

Afracircnio 9 anos 4a 3 anos Particular Daniel 8 anos 1a 3 anos Particular Almir 9 anos 2a 3 anos Particular Silvia 10 anos 4a 3 anos Particular Nuacutebia 12 anos 5a 3 anos Particular Frederico 12 anos 6a 4 anos Particular Jairo 14 anos 6a 4 anos Particular Walter 17 anos 2ordmano 7 anos Puacuteblica Tito 8 anos 2a 3 anos Particular Helena 10 anos 4a 4 anos Particular Tacircnia 10 anos 4a 7 anos Puacuteblica Nestor 14 anos 1ordmano 4 anos Puacuteblica Faacutebio 12anos 6a 3 anos Puacuteblica

53

Segundo Selltiz et al (1974) no estudo exploratoacuterio natildeo se tem um nuacutemero exato de

respondentes que deveratildeo ser entrevistados Antes o pesquisador no decorrer das entrevistas

verificaraacute que em um determinado ponto as respostas comeccedilam a formar um padratildeo tornam-

se repetitivas A partir daiacute aumentar o nuacutemero de informantes eacute pouco compensador Seguem

na proacutexima seccedilatildeo os criteacuterios utilizados para selecionar os sujeitos

341 Criteacuterios de seleccedilatildeo dos sujeitos

O criteacuterio primordial para seleccedilatildeo das cinco crianccedilas foi o fato de serem consideradas

alunos(as) exemplares em termos de rendimento escolar e comportamento (alunos

considerados pelo projeto como de ecircxito) Os outros cinco foram escolhidos por natildeo

apresentarem bom rendimento escolar eou bom comportamento apesar de estarem no

reforccedilo Neste sentido o coordenador do projeto indicou quem seriam as crianccedilas que se

encaixavam nestes perfis

Selltiz et al (1974) afirmam que em um estudo exploratoacuterio

eacute importante selecionar informantes de forma a assegurar uma representaccedilatildeo de diferentes tipos de experiecircncia Sempre que haja qualquer razatildeo para acreditar que diferentes pontos de vista possam influir no conteuacutedo da observaccedilatildeo deve-se fazer um esforccedilo para incluir variaccedilatildeo de pontos de vista e tipos de experiecircncia (p65)

Ainda segundo estes autores os estudos exploratoacuterios que apresentam maior contraste

podem ser mais uacuteteis em revelar diferentes aspectos do fenocircmeno

Outro criteacuterio utilizado foi o tempo de inserccedilatildeo do aluno no projeto O tempo miacutenimo

foi de dois anos visto que Frecnall e Luks (1992) verificaram em suas pesquisas que o

resultado de um programa de mentoria para crianccedilas que participaram por dois a trecircs anos

obteve 90 de ecircxito A literatura sugere a existecircncia de uma relaccedilatildeo direta entre os benefiacutecios

da mentoria e o tempo da relaccedilatildeo (GROSSMAN RHODES 2002)

54

Abordados os instrumentos de coleta de dados os sujeitos da pesquisa e os criteacuterios

para seleccedilatildeo destes sujeitos Seguem na proacutexima seccedilatildeo os meacutetodos de anaacutelise destes dados

35 Meacutetodos de anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados

Em se tratando de uma pesquisa qualitativa a anaacutelise dos dados jaacute vai sendo realizada

ao longo da coleta A anaacutelise segundo Minayo (1998) tem trecircs finalidades compreender os

dados colhidos confirmar ou natildeo as hipoacuteteses ou responder agraves questotildees elaboradas

previamente e ampliar o conhecimento do fenocircmeno estabelecendo viacutenculos com o contexto

cultural no qual estaacute inserido

O tratamento dispensado agraves entrevistas foi o de anaacutelise de conteuacutedo cujo objetivo

segundo Chizzotti (1998) eacute ldquocompreender criticamente o sentido das comunicaccedilotildees seu

conteuacutedo manifesto ou latente as significaccedilotildees expliacutecitas ou ocultasrdquo (p98) Seguindo-se esta

proposta de anaacutelise o conteuacutedo das entrevistas foi categorizado do texto se extraiacuteram

categorias que de acordo com Bardin (1997) ldquosatildeo rubricas ou classes as quais reuacutenem um

grupo de elementos sob um tiacutetulo geneacuterico agrupamento esse efetuado em razatildeo dos

caracteres comuns destes elementosrdquo (p117) As categorias foram utilizadas para agrupar as

ideacuteias em torno dos conceitos As categorias foram elaboradas antes da coleta de dados

conforme proposto por Gomes (1997) Estas categorias foram levantadas a partir do

referencial teoacuterico apresentado considerando-se toacutepicos relevantes que constituem a relaccedilatildeo

de mentoria e dos benefiacutecios propostos As categorias encontradas refletiram a percepccedilatildeo dos

responsaacuteveis pelos alunos e dos professores sobre o programa e seu resultado na vida das

crianccedilas e adolescentes participantes Vale ressaltar que na medida em que foram sendo

analisados os dados foram sendo incluiacutedas novas categorias natildeo abordadas pela teoria mas

que se fizeram presentes nos discursos

55

O discurso advindo da entrevista foi decomposto conforme sugere Gomes (1997)

formando unidades de registro que podia ser uma palavra ou frase significativa dentro do

conceito que se estava investigando

Minayo (1998) propotildee o meacutetodo de anaacutelise hermenecircutico-dialeacutetico no qual a fala dos

atores deve ser contextualizada

O pesquisador tem que aclarar para si mesmo o contexto de seus entrevistados ou dos documentos a serem analisados Isso eacute importante porque o discurso expressa um saber compartilhado com outros do ponto de vista moral cultural e cognitivo (p222)

Inicialmente foi feita uma preacute-anaacutelise na qual os materiais coletados foram

organizados destacando-se os textos significativos e as categorias

Posteriormente foi feita a exploraccedilatildeo do material atraveacutes da leitura exaustiva o que

resultou no tratamento dos resultados e na sua interpretaccedilatildeo Segundo Gomes (1997) isto

significa ldquo desvendar o conteuacutedo subjacente ao que estaacute sendo manifestordquo (p 76) O autor

ressalta que a busca das informaccedilotildees estatiacutesticas deve se voltar para as ideologias as

tendecircncias e outras caracteriacutesticas dos fenocircmenos que se estaacute analisando

Realizou-se o primeiro niacutevel de interpretaccedilatildeo dos dados que segundo Minayo (1998) eacute

o das determinaccedilotildees fundamentais no qual se levam em conta a conjuntura soacutecio-econocircmica e

poliacutetica do objeto da pesquisa

O segundo niacutevel de interpretaccedilatildeo foi a observaccedilatildeo das comunicaccedilotildees individuais

condutas costumes e rituais expressos no grupo

Segundo Minayo (1998) o produto final da anaacutelise as conclusotildees a que se chega

devem ser tidos sempre como provisoacuterios e aproximativos

Acerca da generalizaccedilatildeo dos resultados Laville e Dione (1999) afirmam

56

o estudo de caso incide sobre um caso examinado em profundidade toda forma de generalizaccedilatildeo natildeo eacute por isso excluiacuteda Com efeito um pesquisador seleciona um caso na medida em que este lhe pareccedila tiacutepico representativo de outros casos As conclusotildees gerais que ele tiraraacute deveratildeo ser contudo marcadas pela prudecircncia devendo o pesquisador fazer prova de rigor e transparecircncia no momento de enunciaacute-las (p156)

Pocircde-se ao fim das anaacutelises chegar a um maior conhecimento do fenocircmeno estudado

bem como seu impacto na vida das famiacutelias e da comunidade onde estaacute inserido Segue na

proacutexima seccedilatildeo as limitaccedilotildees deste trabalho

36 Limitaccedilotildees da pesquisa

A presente pesquisa apresenta algumas limitaccedilotildees que seratildeo expostas a seguir

a) Impossibilidade de se verificar os resultados sociais

Sendo um projeto de longo prazo os benefiacutecios seratildeo evidenciados quando existirem

egressos do projeto Por outro lado o tempo que se dispotildee para esta pesquisa eacute de apenas

dois anos Procurou-se entatildeo verificar resultados de curto prazo e a partir deles fazer

inferecircncias

b) Falta de bibliografia nacional sobre o tema

Natildeo se tem pesquisa realizada em mentoria para crianccedilas e adolescentes no contexto

brasileiro limitando o arcabouccedilo teoacuterico Esta limitaccedilatildeo pode ser vista tambeacutem como uma

oportunidade na medida em que este trabalho jaacute significa um avanccedilo em termos de

contextualizar a teoria

c) Envolvimento da pesquisadora com o objeto

A aacuterea social eacute uma aacuterea de afinidade da pesquisadora e o projeto a encantou Este fato

pode ter influenciado a percepccedilatildeo e os resultados da pesquisa No entanto na busca pela

57

objetividade buscou-se separar os conteuacutedos dos sujeitos dos da pesquisadora aliando o

que os dados observados com os discursos deles advindos

d) Interrupccedilatildeo do projeto no momento das entrevistas

A pesquisa ocorreu em um momento criacutetico do projeto um momento de transiccedilatildeo A

observaccedilatildeo e a primeira fase de coleta se deram quando as atividades ainda estavam sendo

desenvolvidas No entanto no momento das entrevistas as atividades jaacute estavam

suspensas Este fato pode ter alterado a percepccedilatildeo das matildees entrevistadas pois o projeto jaacute

natildeo estava em seu cotidiano Por outro lado este fato pode ter contribuiacutedo com a

percepccedilatildeo do valor do projeto uma vez que pela ausecircncia se podia evidenciar o que este

representava na vida da famiacutelia

d) Impossibilidade de verificar com precisatildeo os fatores responsaacuteveis pelo ecircxito e natildeo-

ecircxito dos mentorados uma vez que as famiacutelias consideravam os filhos como tendo ecircxito

nos estudos

Estas foram as limitaccedilotildees percebidas nesta pesquisa

Cientes da metodologia do trabalho segue a apresentaccedilatildeo do caso e dos dados

coletados bem como sua respectiva discussatildeo

58

4 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos achados

Segue-se a apresentaccedilatildeo do caso pesquisado e posteriormente seratildeo apresentados e

discutidos os dados colhidos atraveacutes da observaccedilatildeo das entrevistas e da anaacutelise documental

No iniacutecio de cada seccedilatildeo seraacute apresentada uma questatildeo norteadora seguida da apresentaccedilatildeo e

da discussatildeo dos dados obtidos Finalmente seraacute respondida a questatildeo norteadora que iniciou

a seccedilatildeo Feito isto seraacute abordada outra questatildeo e assim sucessivamente ateacute que se responda a

todas as questotildees postas na fundamentaccedilatildeo teoacuterica

41 O caso

Nesta seccedilatildeo seraacute abordado o caso considerando-se o contexto no qual o mesmo se

insere Seraacute detalhado o surgimento do programa de reforccedilo escolar as motivaccedilotildees para tal os

objetivos as dificuldades enfrentadas os beneficiaacuterios os estaacutegios pelos quais passou e o seu

momento atual

411 O contexto do projeto Vila do Vinteacutem II

O caso pesquisado foi o programa de reforccedilo escolar chamado Educaccedilatildeo eacute Vida que

era localizado na Vila Vinteacutem II tambeacutem chamada de favela do Vinteacutem ou Vila Vinteacutem A

Vila do Vinteacutem era uma favela existente haacute mais de dez anos localizada no bairro de Casa

Forte na cidade do RecifePE

59

A Prefeitura do Recife em fevereiro de 2005 transferiu as 192 famiacutelias moradoras da

favela da Vila do Vinteacutem para o Conjunto Habitacional Casaratildeo do Cordeiro situado agrave

avenida Mauriacutecio de Nassau no bairro do Cordeiro

Esta transferecircncia faz parte de um projeto social chamado ldquoo Recife sem palafitasrdquo

Tal projeto beneficiou 720 famiacutelias que hoje residem no conjunto habitacional mas pretende

alcanccedilar 1337 famiacutelias procedentes de comunidades carentes

As quase 200 famiacutelias que faziam a Vila Vinteacutem moravam em palafitas agraves margens do

rio Capibaribe sob o viaduto Torre-Parnamirim e entre as ruas Joatildeo Tude de Melo e

Leonardo Bezerra Cavalcante As casas - barracos de madeira papelatildeo e plaacutestico - eram de

aproximadamente 12 m2 e natildeo contavam com aacutegua encanada nem esgoto e muitas natildeo tinham

sanitaacuterios

O relator especial das Naccedilotildees Unidas para habitaccedilatildeo Miloon Kothari classificou

algumas das favelas do Recife como sendo as piores do mundo ldquoAlgumas das condiccedilotildees de

moradia do Recife () estatildeo entre as piores que eu jaacute vi As pessoas natildeo podem dormir agrave

noite com aacutegua entrando nas casas ratos e baratasrdquo (Diaacuterio de Pernambuco 2004)

60

Figura 1 (4) - Foto da Vila do Vinteacutem 2002

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

Dentre as inuacutemeras dificuldades presentes nesta comunidade pode-se citar o

desemprego fator que atinge mais de 71 das famiacutelias da Vila (Diaacuterio de Pernambuco

2004) O iacutendice de desemprego como visto anteriormente estaacute diretamente relacionado agrave

escolaridade (NEacuteRY COSTA 2003) de forma que no Recife o maior iacutendice de

analfabetismo encontra-se em domiciacutelios com rendimento de ateacute um salaacuterio miacutenimo

(SECRETARIA DA POLIacuteTICA DE ASSISTEcircNCIA SOCIAL 2004) Mais especificamente

na Vila Vinteacutem mais de 60 dos moradores natildeo tecircm rendimento maior do que meio salaacuterio

miacutenimo

O contexto familiar muitas vezes eacute de agressividade como o exposto pela avoacute de uma

aluna ldquoCom a matildee de Nuacutebia eacute tudo no pau () ela vai para casa da matildee arenga com os

irmatildeos e chega toda machucadardquo (entrevista out05) Esta constataccedilatildeo eacute coerente com a

literatura fatores vivenciados pelas famiacutelias tais como o desemprego crocircnico violecircncia

61

domeacutestica e brigas entre o casal estatildeo associados com a delinquumlecircncia (FARRINGTON 1987

apud PATTERSON et al 1989) Neste ambiente estava inserido o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

O projeto situava-se agrave entrada da favela da Vila Vinteacutem II agrave rua Joatildeo Tude de Melo

nuacutemero 21 no bairro de Casa Forte

Desde a transferecircncia das famiacutelias da Vila do Vinteacutem para o Casaratildeo do Cordeiro as

atividades do projeto foram suspensas O projeto aguarda a liberaccedilatildeo de um terreno no

referido conjunto conforme jaacute acordado entre o projeto e a Prefeitura do Recife para retomar

suas atividades

Figura 2 (4) ndash Foto das palafitas da Vila do Vinteacutem no dia da mudanccedila para o Casaratildeo do Cordeiro Fev2005

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

Considerado o contexto onde estava inserido o projeto faz-se necessaacuterio conhecer o

projeto em si A seccedilatildeo seguinte eacute dedicada a este assunto

62

412 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

O projeto teve iniacutecio atraveacutes de uma famiacutelia residente nas proximidades da favela Vila

do Vinteacutem II Moab Silva e sua esposa Miriam Maria da Silva tinham um restaurante nesta

aacuterea O casal tem dois filhos A filha tem graduaccedilatildeo em Histoacuteria e estaacute terminando o curso de

Publicidade e o filho fez Engenharia Mecacircnica eacute mestre em Oceanografia e estaacute concluindo o

doutorado em Oceanografia Moab eacute cozinheiro autocircnomo e sua esposa eacute graduada em

Relaccedilotildees Puacuteblicas

A famiacutelia conhecia a favela do Vinteacutem e quando havia necessidade contratava alguns

dos moradores para prestar pequenos serviccedilos ao restaurante Com isto e dado ao fato de

Moab ter crescido neste local a famiacutelia tornou-se conhecedora e conhecida da comunidade

Quando os pais vinham trabalhar no restaurante seus filhos os acompanhavam e ficavam

ldquotomando contardquo dos carros no estacionamento Ao fechamento do restaurante estas recebiam

alimentaccedilatildeo

A partir daiacute Miriam que jaacute lecionava para crianccedilas em uma igreja evangeacutelica teve a

ideacuteia de reunir as crianccedilas da comunidade e formar um pequeno coral para se apresentar para

a comunidade na festa de Natal Foi entatildeo que se iniciou a Comunidade Cristatilde Amigos Para

Sempre (ANEXO A) com o objetivo primeiro de evangelizaccedilatildeo e posteriormente

educacional Visando o alcance do objetivo educacional criou-se o Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

(ANEXO B) Moab e a esposa reuniram aproximadamente 15 crianccedilas moradoras da favela

do Vinteacutem para formar o coral As crianccedilas ensaiavam ouviam histoacuterias e lanchavam O coral

reunia-se duas vezes por semana as quartas e aos domingos Os pais tambeacutem se

aproximaram

Moab atraveacutes deste contato mais proacuteximo com as crianccedilas foi percebendo o potencial

que elas tinham e visando desenvolver este potencial resolveu fazer uma banca de estudos

63

para acompanhaacute-las em suas tarefas escolares As crianccedilas jaacute estavam matriculadas em

escolas puacuteblicas e Moab e sua esposa iniciaram o reforccedilo escolar

De 1988 ateacute 2000 o projeto funcionou na informalidade e as reuniotildees aconteciam no

espaccedilo do restaurante Quando este natildeo estava em atividade era dedicado agraves crianccedilas de

forma que laacute ocorriam aleacutem das reuniotildees ensaios do coral jogos festas do dia das crianccedilas

de aniversaacuterio e de Natal

Figura 3 (4) - Festa de Natal para as crianccedilas da Vila do Vinteacutem II 2004

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

No ano de 2000 um grupo de 18 americanos foi agraves proximidades da Vila Moab ao ir

cozinhar para este grupo foi acompanhado pelas crianccedilas Os americanos intrigados ao

verem tantas crianccedilas perguntaram quem eram elas Ao saber a respeito do projeto o grupo

se sensibilizou e resolveu contribuir Foi assim que o projeto comprou uma casa na rua Joatildeo

Tude de Melo ao lado da favela O projeto contava agora com uma sede

64

Figura 4 (4) - Festa das crianccedilas na sede do projeto 00

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

No projeto as atividades de reforccedilo eram disponibilizadas para quem fosse da favela e

quisesse estudar independentemente da seacuterie em que estivesse matriculado O projeto contava

com materiais didaacuteticos um quadro-negro cadeiras uma biblioteca e um computador com

acesso agrave Internet

Os professores do projeto eram Moab cuja vocaccedilatildeo segundo ele eacute alfabetizar sua

esposa que jaacute havia sido professora de crianccedilas e uma professora contratada Havendo

necessidade seus filhos tambeacutem davam aula no projeto

Segue na proacutexima seccedilatildeo uma breve descriccedilatildeo das atividades que o projeto

desenvolvia antes da transferecircncia

65

413 Atividades desenvolvidas pelo projeto

As aulas do reforccedilo funcionavam pela manhatilde e pela tarde contando em meacutedia com 25

alunos em cada turno As atividades do projeto eram realizadas de forma que o aluno estando

em uma escola puacuteblica recebia atraveacutes do projeto um ensino considerado pelo coordenador

como de maior qualidade Os alunos passavam a alcanccedilar um conhecimento diferenciado de

seus colegas de classe Quando os alunos absorviam estes conhecimentos o projeto buscava

transferi-los para uma escola privada

Deu-se entatildeo iniacutecio agrave busca por bolsas de estudos em escolas particulares para os

alunos com bom desempenho escolar Moab o coordenador ia ateacute agrave escola particular falava

acerca do programa de reforccedilo e dava o perfil da crianccedila para qual estava fazendo a

solicitaccedilatildeo da bolsa A escola convidava este aluno para conhecer suas instalaccedilotildees e aplicava

um teste de conhecimento Se o aluno fosse aprovado no teste seria bolsista da escola O

projeto passava a acompanhaacute-lo com mais intensidade visando mantecirc-lo com bom

desempenho em sua nova escola

Atualmente o projeto conta com as seguintes bolsas em instituiccedilotildees de ensino

privado

INSTITUICcedilAtildeO Nordm DE BOLSAS Coleacutegio de Ensino Fundamental I fase 10 Coleacutegio de Ensino Fundamental e Meacutedio 3 Centro de Informaacutetica 10 Curso de Inglecircs 11

As crianccedilas bolsistas que terminam a 4a Seacuterie da primeira fase do Ensino Fundamental

recebem uma bolsa na escola de inglecircs Buscando melhor atender as crianccedilas o coordenador

buscou pessoas que pudessem assisti-las com relaccedilatildeo agrave sauacutede O projeto passou a contar com

66

o voluntariado de uma psicoacuteloga um meacutedico e dois dentistas que datildeo assistecircncia agraves crianccedilas

No caso de assistecircncia psicoloacutegica a famiacutelia tambeacutem recebe acompanhamento

Em 2000 foi fechado um acordo com dois dentistas para o tratamento dentaacuterio das

crianccedilas Mais uma vez o grupo de americanos contribuiu com R$ 1500 por crianccedila para

cobrir as despesas com o material odontoloacutegico Um grupo de 90 crianccedilas da Vila do Vinteacutem

fez tratamento dentaacuterio que incluiu obturaccedilatildeo extraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de fluacuteor ldquoFoi um ano de

tratamento Eu levava as crianccedilas quatro vezes por semana duas turmas para dra () e duas

turmas para o dr ()rdquo (COORDENADOR entrevista set05)

Aleacutem das atividades educacionais propriamente ditas o projeto desenvolvia outras

atividades com as crianccedilas Dentre estas o coordenador citou passeios agrave praccedila do

Entroncamento no final de ano e agrave exposiccedilatildeo da aeronaacuteutica e visita a museus (Ricardo

Brennand Museu do Homem do Nordeste Museu do Estado) ldquoQualquer exposiccedilatildeo que

esteja havendo e que vaacute influir acrescentar em termos de educaccedilatildeo para eles a gente levardquo

(COORDENADOR entrevista set05) Anualmente o projeto levava alguns adolescentes para

acampar O acampamento que tem duraccedilatildeo de cinco dias eacute de cunho religioso Atividades

como pintura muacutesica danccedila recreaccedilatildeo e jogos tambeacutem eram desenvolvidas regularmente

pelo projeto Festas e reuniotildees eram realizadas Estas ocorriam na sede ou no espaccedilo onde era

o restaurante por este comportar um nuacutemero maior de pessoas

Na proacutexima seccedilatildeo seraacute explicado como o projeto foi formalizado tornando-se uma

organizaccedilatildeo natildeo governamental

67

414 Formalizaccedilatildeo do projeto como organizaccedilatildeo natildeo-

governamental

Aproximadamente em 2000 com o projeto jaacute instalado na sede buscou-se a

formalizaccedilatildeo do projeto ou seja o registro como ONG (organizaccedilatildeo natildeo-governamental) O

coordenador procurou entatildeo mais quatro pessoas que juntamente com ele tivessem os

mesmos objetivos Encontradas estas pessoas que natildeo eram estranhas ao projeto intentou-se

proceder agrave formalizaccedilatildeo No entanto estas pessoas desistiram e o coordenador procurou

outras Encontradas as pessoas que segundo ele realmente assumiram o projeto o mesmo foi

formalizado O projeto conta com um presidente (Moab) um vice-presidente dois secretaacuterios

e um tesoureiro Das cinco pessoas responsaacuteveis pela ONG duas foram substituiacutedas

O projeto mesmo anterior agrave formalizaccedilatildeo jaacute contava com objetivos definidos estes

foram entatildeo sistematizados (ANEXO B) Satildeo objetivos do projeto

bull Melhorar a qualidade de vida natildeo somente no presente mas intervir num ciclo

vicioso preparando a crianccedila e o jovem para o futuro

bull Atuar na aacuterea de educaccedilatildeo solicitando bolsa de estudo na rede privada com aulas

de reforccedilo para o ensino fundamental alfabetizaccedilatildeo infantil distribuiccedilatildeo de

material escolar e merenda

bull Ofertar curso regular de liacutengua inglesa e iniciaccedilatildeo musical

bull Oferecer acompanhamento cliacutenico odontoloacutegico e psico-pedagoacutegico e

bull Desenvolver atividades que proporcionem o desenvolvimento de competecircncias

sociais pessoais e intelectuais

Formalmente o coordenador estaacute na diretoria da ONG haacute trecircs anos Em outubro de

2006 ao completar dois mandatos haveraacute eleiccedilatildeo e ele natildeo mais estaraacute agrave frente do projeto

68

pois assim rege o estatuto O projeto eacute mantido com doaccedilotildees e serviccedilo voluntaacuterio Com a

formalizaccedilatildeo natildeo houve alteraccedilatildeo nas atividades desenvolvidas pelo projeto

Considerada a formalizaccedilatildeo do projeto segue a explanaccedilatildeo de sua situaccedilatildeo atual ou

seja como se encontra o projeto apoacutes a transferecircncia das famiacutelias

415 Situaccedilatildeo atual do projeto

Com a transferecircncia das famiacutelias para o conjunto habitacional Casaratildeo do Cordeiro o

projeto interrompeu suas atividades regulares e tem ido agrave busca da liberaccedilatildeo do terreno jaacute

destinado ao mesmo

Neste iacutenterim de fevereiro a novembro de 2005 as crianccedilas bolsistas que estavam

estudando na primeira fase do ensino fundamental foram colocadas pelo projeto em semi-

internatos Tal fato ocorreu na busca de garantir a continuidade da assistecircncia educacional a

estas crianccedilas

Ainda neste periacuteodo de transiccedilatildeo o mesmo grupo de americanos que outrora

beneficiou o projeto com a compra da casa fez uma nova doaccedilatildeo Desta vez o grupo doou

um galpatildeo preacute-moldado com capacidade para 300 pessoas que seraacute erguido no local

destinado para o projeto no Casaratildeo do Cordeiro O envio do galpatildeo estaacute condicionado agrave

liberaccedilatildeo do terreno

Na proacutexima seccedilatildeo seratildeo consideradas as dificuldades enfrentadas pelo projeto

Educaccedilatildeo eacute Vida

69

416 Dificuldades enfrentadas pelo projeto

O coordenador diz encontrar dificuldade para obter apoio junto agraves instituiccedilotildees que

segundo ele deveriam cooperar com as ONGrsquos tais como Conselho Municipal Conselho

Estadual e Conselho Federal de Accedilatildeo Social e Conselhos Municipais dos Direitos da Crianccedila

e do Adolescente Ele afirma que haacute excesso de burocracia e que estas instituiccedilotildees natildeo estatildeo

presentes para apoiar antes para punir caso haja alguma irregularidade ldquoEles natildeo querem ver

resultados querem ver papelrdquo desabafa o coordenador (entrevista set05) Mesmo

entregando os documentos solicitados o coordenador lamenta natildeo ter tido ecircxito nas

solicitaccedilotildees legais fato que ele atribui agrave morosidade e ao excesso de burocracia

Outra dificuldade considerada a maior delas eacute enfrentada a cada iniacutecio de ano devido

a necessidade de se patrocinar os alunos bolsistas O custo com materiais e fardamentos eacute em

meacutedia de R$ 50000 por crianccedila O projeto busca cobrir tal despesa buscando

apadrinhamento (patrociacutenio) para os alunos ou seja pessoas que contribuam parcial ou

totalmente com as despesas deste

A cada ano as escolas oferecem novas vagas ao projeto e com elas aumenta a

dificuldade devido agrave falta de recursos O projeto tem crianccedilas com desempenho suficiente

para serem aceitas por uma escola particular e as escolas tecircm ofertado mais bolsas mas a falta

de patrociacutenio tem imposto limites a esta transferecircncia O coordenador diz que ao colocar uma

crianccedila na escola particular o projeto assume realmente seus estudos fazendo o possiacutevel para

que a crianccedilaadolescente seja inserida e obtenha ecircxito

Ao final de cada ano os padrinhos satildeo homenageados recebendo um Certificado de

Agente Social conforme a figura 5 (4) como forma de reconhecimento e gratidatildeo pelo

patrociacutenio

70

Figura 5 (4) - Certificado do padrinho

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

A despeito das dificuldades enfrentadas o projeto intenta continuar e expandir-se

Tem o objetivo de atender ao Conjunto Habitacional Casaratildeo do Cordeiro

Segue na proacutexima seccedilatildeo a motivaccedilatildeo que deu iniacutecio a este projeto e que o sustenta ateacute

o momento desta pesquisa

417 Motivaccedilatildeo para a existecircncia e continuidade do projeto

O coordenador explica assim sua motivaccedilatildeo para prosseguir com o projeto

Como cidadatildeo pobre eu sempre lutei para que meus filhos conseguissem terminar o terceiro grau () Depois que os meus terminaram eu digo bom agora eu posso lutar pelos dos outros para que eles tambeacutem consigam porque eles natildeo vatildeo conseguir se natildeo tiver quem ofereccedila oportunidade () Essas crianccedilas sendo assistidas dessa forma sem duacutevida alguma vatildeo trilhar o mesmo caminho que meus filhos trilharam Eu trato as crianccedilas participantes deste projeto como se elas fossem os meus filhos (COORDENADOR entrevista set05)

71

Acerca de seu envolvimento com o projeto ele declara ldquoEu natildeo vejo como me

desvincular hoje () separar do projeto Eu respiro o projeto luto faccedilo o que for necessaacuterio o

que for possiacutevel para que o projeto continuerdquo (COORDENADOR entrevista set05)

A seccedilatildeo 41 foi destinada ao caso Foram aqui considerados o contexto onde estaacute

inserido as atividades desenvolvidas o processo de formalizaccedilatildeo as dificuldades enfrentadas

e a motivaccedilatildeo existente no projeto

Para melhor compreensatildeo dos sujeitos da pesquisa seratildeo expostos nas proacuteximas

seccedilotildees os dados referentes aos mentores e aos mentorados pesquisados

418 Dados dos mentores entrevistados

Seguem algumas informaccedilotildees acerca dos mentores do projeto

Coordenador- foi o fundador do projeto e estaacute nele haacute 16 anos Jaacute deu alfabetizou diversas

crianccedilas e pais da comunidade Atualmente eacute o presidente da ONG

Professora ndash participou do projeto durante um ano Leciona em uma das escolas particulares

que fornece bolsa para os alunos Diz ter muita identidade com a proposta do projeto

Psicoacuteloga ndash estaacute no projeto haacute 5 anos Aleacutem deste trabalho no qual atua como voluntaacuteria

participa de um outro tambeacutem com comunidade carente

Dentista- estaacute no projeto haacute mais de um ano e diz ter identidade com o tipo de trabalho

realizado

Seguem na proacutexima seccedilatildeo os dados referentes aos mentorados pesquisados

72

419 Dados dos mentorados pesquisados

Visando um maior conhecimento dos sujeitos pesquisados seguem-se alguns dados

acerca dos mesmos Na busca pelo anonimato os nomes dos alunos foram trocados

Inicialmente seratildeo abordados os alunos que foram apontados como que de ecircxito nos estudos e

posteriormente os de natildeo-ecircxito

4191 Alunos tidos como que de ecircxito nos estudos

O coordenador do projeto demonstra orgulho ao falar dos seguintes alunos pois aleacutem

do rendimento escolar eles apresentam bom comportamento Satildeo estes os alunos

Afracircnio- aluno com 9 anos de idade cursa a 4a seacuterie do Ensino Fundamental em um coleacutegio

particular com bolsa obtida atraveacutes do projeto Educaccedilatildeo eacute Vida Afracircnio estaacute no projeto haacute 3

anos Mora com a matildee que eacute analfabeta funcional1 Aleacutem de estudar em escola particular

atraveacutes do projeto Afracircnio tambeacutem faz inglecircs

Daniel- aluno com 8 anos cursa a 1a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular cuja

bolsa foi obtida atraveacutes do projeto Ele participa do projeto haacute 3 anos Sua participaccedilatildeo nas

atividades desenvolvidas pelo projeto eacute integral passeios e lazer Daniel mora com os pais e eacute

o filho mais novo do casal Seu pai que eacute porteiro estudou ateacute o 3o ano do Ensino Meacutedio e

sua matildee ateacute a 8a seacuterie do Ensino Fundamental Aleacutem dos pais Daniel mora com seu irmatildeo

mais velho Faacutebio (tido como de natildeo ecircxito) sua irmatilde e sua tia A matildee sofre de fobia social e

toma remeacutedio ldquocontroladordquo Segundo ela o filho eacute muito responsaacutevel e gosta de estudar

1 Analfabeto funcional- Pessoa com menos de quatro anos de estudos

73

Almir- Garoto de 9 anos que cursa a 2a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular

cuja bolsa foi obtida atraveacutes do projeto Almir estaacute no projeto haacute 3 anos Mora com os pais

que satildeo analfabetos funcionais e com Silvia sua irmatilde

Silvia- eacute irmatilde de Almir tem 10 anos cursa a 4a seacuterie do Ensino Fundamental Estaacute no projeto

cerca de 3 anos Tal qual o irmatildeo Silvia estuda em escola particular

Nuacutebia- aluna de 12 anos cursa a 5a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular cuja

bolsa foi obtida atraveacutes do projeto do qual ela faz parte haacute cerca de 3 anos Nuacutebia eacute apontada

pelo coordenador do projeto como sendo uma aluna excelente Durante a semana Nuacutebia estaacute

morando na casa da avoacute paterna pois eacute mais perto da escola do que a casa da matildee pois esta

mora no Casaratildeo do Cordeiro A avoacute diz que a neta eacute muito calma e desanimada Acredita

que ela sente muita falta dos irmatildeos e da matildee (os pais satildeo separados) Nos finais de semana

Nuacutebia vai para a casa da matildee A avoacute diz que ao retornar ela vem agitada e machucada pois

em casa Nuacutebia apanha da matildee e dos irmatildeos A matildee de Nuacutebia disse ao coordenador que em

2006 iraacute tiraacute-la da escola particular apesar do bom rendimento que ela apresenta A matildee alega

que a escola eacute longe O coordenador e a professora acreditam que tal fato se deve tambeacutem agrave

limitaccedilatildeo da matildee (analfabeta funcional) em compreender o valor do estudo Ao falar acerca

deste fato o coordenador se mostra bastante entristecido

Frederico- aluno com 12 anos cursa a 6a seacuterie do Ensino Fundamental Ele estaacute no projeto

haacute 4 anos estuda em coleacutegio particular com bolsa obtida atraveacutes do projeto Frederico mora

com os pais Estes satildeo analfabetos funcionais O coordenador diz que eacute um menino muito

bom pois eacute esforccedilado e apresenta bom comportamento

Jairo- aluno com 14 anos que cursa a 6a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular

Sua bolsa foi obtida atraveacutes do projeto bem como o curso de inglecircs no qual ele estuda haacute 3

anos Jairo mora com a matildee o padrasto e com o irmatildeo mais novo que eacute portador de

74

necessidades especiais A matildee eacute analfabeta absoluta2 e o padrasto analfabeto funcional Jairo

perdeu o pai com dois anos A matildee fala que ele eacute um menino ldquoquietordquo e que gosta muito do

coordenador do projeto Jairo morou no interior onde estudava mas natildeo obtinha

aproveitamento escolar Ao chegar no Recife foi incentivado a estudar e segundo a matildee

ldquotomou gosto pelos estudosrdquo desde entatildeo tem demonstrado bom rendimento aleacutem do

comportamento exemplar que sempre apresentou A matildee diz que o coordenador eacute como um

pai para o Jairo lhe aconselha encaminha ajuda patrocina e eacute amigo

Walter- aluno de 17 anos que cursa o 2o ano do Ensino Fundamental em escola puacuteblica e

estaacute haacute 7 anos no projeto Walter mora com os pais que satildeo analfabetos funcionais O

coordenador diz que a famiacutelia acompanha os estudos de Walter Ele eacute aluno de inglecircs com

bolsa obtida pelo projeto Walter pretende ser professor deste inglecircs visto o bom rendimento

que vem apresentando e o interesse que afirma ter com o idioma

Nesta seccedilatildeo foram apresentados alguns dados acerca dos alunos tidos como de ecircxito segue na

proacutexima seccedilatildeo dados dos alunos pesquisados que foram tidos como que de natildeo ecircxito nos

estudos

4192 Alunos tidos como que de natildeo ecircxito nos estudos

Os seguintes alunos natildeo apresentam o rendimento escolar esperado pelo projeto A

aleacutem do que alguns apresentam problemas de comportamento Satildeo estes

Tito ndash aluno com 8 anos de idade que cursa a 2a seacuterie do Ensino Fundamental Mora com os

pais que satildeo analfabetos funcionais Ele estuda em um coleacutegio particular com bolsa obtida

atraveacutes do projeto O coordenador afirma que o mesmo natildeo demonstra interesse para com os

estudos

2 Analfabeta absoluta- pessoa iletrada

75

Helena- aluna de 10 anos que cursa a 4a seacuterie do Ensino Fundamental Ela estaacute no projeto haacute

4 anos Mora com a matildee que eacute analfabeta funcional A matildee trabalha fora e tem pouco contato

a filha cerca de uma hora por dia Os pais satildeo separados O coordenador diz que a matildee eacute

muito nervosa e toma remeacutedio ldquocontroladordquo Ele afirma que a matildee por ser agressiva e

impaciente eacute quem dificulta o aprendizado e o comportamento da filha Helena estuda em

escola particular mas natildeo estaacute obtendo notas suficientes para continuar nela

Tacircnia- aluna de 10 anos que cursa a 4a seacuterie em escola puacuteblica Ela estaacute no projeto haacute 7 anos

Tacircnia mora com a matildee adotiva com o padrasto com um irmatildeo mais novo e com um irmatildeo

mais velho e sua esposa Sua situaccedilatildeo eacute peculiar sua matildee morava com outro ldquomaridordquo quando

resolveu adotaacute-la Deixou o primeiro marido e atualmente mora com outro Sendo que este

casal teve um filho que no momento da pesquisa tinha dois anos Segundo o relato da

psicoacuteloga desde a separaccedilatildeo da matildee Tacircnia jaacute natildeo gozava de muito atenccedilatildeo e com o

nascimento do irmatildeo esta diminuiu significativamente O coordenador atribui muito de sua

dificuldade de aprendizagem agrave falta de estrutura familiar

Nestor- aluno com 14 anos cursa o 1o ano do ensino Meacutedio estaacute no projeto haacute 4 anos e mora

com os pais Sua matildee eacute analfabeta funcional e seu pai cursou ateacute a 6a seacuterie do Ensino

Fundamental Nestor estuda em escola puacuteblica

Faacutebio- garoto com 12 anos que cursa a 6a seacuterie do Ensino Fundamental Ele participa do

projeto haacute 3 anos Faacutebio mora com os pais com a tia com a irmatilde e com Daniel seu irmatildeo A

matildee estudou ateacute a 8a seacuterie e o pai ateacute o 3o ano do Ensino Meacutedio Faacutebio segundo a matildee natildeo

gosta de estudar e seu interesse estaacute em jogar futebol e ficar na rua Em casa ele natildeo recebe

acompanhamento em termos de estudo

Estes foram alguns dos dados acerca dos alunos pesquisados Ao longo da

apresentaccedilatildeo dos dados seratildeo apresentadas mais informaccedilotildees acerca destes sujeitos

76

Seguem nas proacuteximas seccedilotildees as questotildees norteadoras deste trabalho bem como a

apresentaccedilatildeo e discussatildeo dos dados colhidos na busca pelas respostas agraves questotildees

42 Achados referentes agrave primeira questatildeo norteadora

Para responder a seguinte questatildeo em uma comunidade carente brasileira ateacute que

ponto a mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes apresenta as caracteriacutesticas definidas

pela teoria Faz-se necessaacuterio inicialmente caracterizar o projeto de reforccedilo como um

programa de mentoria o que seraacute feito na proacutexima seccedilatildeo Posteriormente seratildeo analisados os

achados referentes agraves funccedilotildees de mentoria existente no projeto as fases em que se encontram

os relacionamentos e os fatores relacionados ao ecircxito do projeto

421 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida como um programa de mentoria

Percebeu-se que os alunos recebem suporte vindo de vaacuterios mentores A psicoacuteloga

fornece sustentaccedilatildeo para o aluno e para a famiacutelia a professora aconselha e ajuda a

desenvolver habilidades o coordenador e sua esposa acompanham o desenvolvimento dos

alunos fornecendo-lhes feedback e encorajando-os Tal fato foi constatado atraveacutes dos

discursos das matildees que relatavam o suporte recebido principalmente pelo coordenador e pela

professora

A partir destes dados pode-se concluir que o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida caracteriza-se

como um programa de redes de mentoria (HIGGINS KRAM 2001) uma vez que o

mentorado recebe influecircncia de vaacuterios mentores O coordenador do projeto eacute a pessoa que

mais acompanha os alunos eacute o mais citado pelas matildees e pelo aluno como oferecedor de

suporte tanto psicossocial como de carreira Pode ser considerado o mentor principal do

projeto

77

A relaccedilatildeo tem iniciativa da organizaccedilatildeo ao se manter aberta a novos entrantes e a

relaccedilatildeo eacute estruturada Alguns encontros como a aula de reforccedilo satildeo preacute-estabelecidos No

entanto os encontros natildeo se limitam agrave aula de reforccedilo Eles podem ser esporaacutedicos partindo

da necessidade O relacionamento natildeo tem uma delimitaccedilatildeo de seis meses ou um ano O

mesmo pode se estender por longos periacuteodos de tempo Walter aluno entrevistado por

exemplo estaacute no projeto haacute sete anos Haacute alunos que foram alfabetizados pelo projeto e

receberam acompanhamento ateacute terminar o ensino meacutedio caracterizando assim um

relacionamento de no miacutenimo 11 anos

Dentre os tipos de mentoria propostos por Kram (1985) a mentoria realizada no

projeto parece estar na interface da mentoria formal e informal Alguns fatores levam a

consideraacute-la formal como por exemplo a estruturaccedilatildeo da relaccedilatildeo e os encontros preacute-

estabelecidos Por outro lado vecirc-se tambeacutem caracteriacutesticas da mentoria informal Ou seja o

mentorado toma a iniciativa em fazer parte ou natildeo da relaccedilatildeo nem todos os encontros satildeo preacute-

estabelecidos e o tempo de duraccedilatildeo da relaccedilatildeo ultrapassa em muito os dois anos ldquolimiterdquo da

mentoria formal

Outra caracteriacutestica especiacutefica do projeto eacute o fato de haver dois tipos de

relacionamento de mentoria entre os mentores e seus mentorados Os alunos bolsistas

parecem gozar de maior assistecircncia visto que para o projeto o ldquoinvestimentordquo eacute maior nestes

alunos Este diferencial foi percebido quando no periacuteodo de transiccedilatildeo alguns bolsistas foram

colocados em regime de semi-internato enquanto os natildeo-bolsistas natildeo tiveram o mesmo

tratamento Deve-se considerar a quantidade restrita de vagas e nesta situaccedilatildeo a preferecircncia

eacute dos alunos bolsistas

Percebeu-se pelos discursos que quando haacute algum passeio com o nuacutemero limitado de

participantes a preferecircncia eacute dos alunos mais comportados e que apresentam melhores notas

normalmente os bolsistas A matildee de Faacutebio (que tem um filho bolsista e outro considerado de

78

natildeo-ecircxito) diz que o coordenador tem seus ldquoescolhidosrdquo (entrevista out05) Ela enfatiza estar

ciente que um de seus filhos eacute ldquoescolhidordquo e o outro natildeo

Este tipo de relacionamento eacute explicado na teoria LMX (Leader-Member Exchange)

teoria da troca entre liacuteder e liderado que afirma que os liacutederes estabelecem um

relacionamento especial com um grupo restrito de liderados (grupo interno) distinto do

relacionamento com os demais liderados que fazem o grupo externo (ROBBINS 2002)

Tal fato pode levar aos seguintes questionamentos

- Os alunos mentorados que se saem melhor em termos de notas e

comportamentos passam a ter uma assistecircncia diferenciada

- Ter uma assistecircncia ldquomais proacuteximardquo leva os alunos a demonstrar melhores

comportamentos e apresentar melhores notas

Abordadas estas caracteriacutesticas da relaccedilatildeo de mentoria do projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

seguem-se as funccedilotildees de mentoria observadas no projeto

422 Funccedilotildees de mentoria encontradas no projeto Educaccedilatildeo eacute

Vida

Nesta seccedilatildeo seratildeo apresentados e discutidos os dados que revelam a existecircncia das

funccedilotildees de mentoria Inicialmente seratildeo abordadas as funccedilotildees de suporte de carreira e

posteriormente as de suporte psicossocial

4221 Suporte de carreira

Nesta seccedilatildeo seratildeo apresentadas as funccedilotildees do suporte de carreira encontradas no projeto

de reforccedilo Satildeo funccedilotildees que o mentor desempenha no sentido de auxiliar o mentorado em seu

desenvolvimento profissional Para cada funccedilatildeo abordada seratildeo apresentados alguns exemplos

encontrados

79

bull Tarefas desafiadoras

Um aluno bolsista de inglecircs diz que seu mentor sempre lhe lembra que aluno bolsista eacute

aluno modelo ldquoA gente tem que mostrar porque tinha direito agravequela bolsa () Se vocecirc

recebe uma ajuda e vocecirc natildeo se esforccedila para passar os obstaacuteculos natildeo adianta nada () eu

tenho me esforccediladordquo (WALTER entrevista out05)

Jairo em cuja casa soacute haacute analfabetos (absoluto e funcional) eacute um dos alunos do projeto

tido como exemplar Tem bolsa em uma escola particular e cursou a 4a e a 5a seacuteries no

mesmo ano A matildee de Nestor diz acerca do filho ldquoEle (Nestor) diz que quer estudar natildeo quer

ser como o pai dele que natildeo estudou Depois que ele conheceu o seu Moab aiacute eacute que ele pegou

o incentivo mesmo para estudarrdquo (MAE DE NESTOR entrevista out05)

ldquoSe vocecirc eacute bolsista natildeo eacute porque vocecirc eacute pobre natildeo eacute porque vocecirc eacute preto natildeo eacute

porque vocecirc eacute favelado Vocecirc estaacute laacute por capacidade () vou buscar bolsa porque ele eacute capaz

e estaacute faltando uma oportunidaderdquo (COORDENADOR entrevista set05)

O programa de reforccedilo ao dar aos alunos a oportunidade de acompanhamento nos

estudos impotildee-lhes uma tarefa extremamente desafiadora a de conseguir superar uma

realidade de exclusatildeo social A crianccedila demanda esforccedilo para adentrar uma escola particular e

para se manter apta a permanecer nessa escola Mesmo no caso de alunos natildeo bolsistas existe

o desafio de manter-se com bom rendimento na escola puacuteblica Este desafio eacute igualmente

vaacutelido para o curso de inglecircs

O desafio parece ser maior do que se apresenta pois subjacente agrave continuidade dos

estudos na vida da crianccedilaadolescente estaacute o status quo da famiacutelia O estudo do filho rompe

uma situaccedilatildeo de analfabetismo familiar Leva a crianccedila a superar sua expectativa negativa de

futuro uma vez que a educaccedilatildeo da matildee (das matildees entrevistadas 78 satildeo analfabetas) eacute

determinante do desempenho do filho (BARROS et al 1994)

80

Walter parece ter ciecircncia do desafio individual que tem que enfrentar mas talvez natildeo

perceba a dimensatildeo do desafio social que isto representa ou seja conhecer e dominar a liacutengua

inglesa estando inserido em uma comunidade que natildeo domina seu proacuteprio idioma Falar de

futuro para uma comunidade de favela jaacute eacute por si soacute um desafio Qual o futuro para quem

natildeo sabe se vai comer ou ter a oportunidade de continuar vivo no dia presente Que futuro

esperar quando se vecirc o pai becircbado jogado na rua catando lixo ou ao perceber a matildee se

prostituindo Que futuro espera quem vive nas condiccedilotildees caracterizadas pelo representante da

ONU como sendo as piores do mundo Talvez esta seja uma das mais belas funccedilotildees do

mentor de crianccedilas e adolescentes carentes abrir-lhes os olhos para novas e promissoras

experiecircncias e viabilizar o alcance destas Ofertar mais tarefas desafiadoras quando estas

crianccedilas e adolescentes jaacute possuem tantas pode parecer cruel No entanto elas parecem estar

recebendo suporte suficiente para superar tais desafios indo aleacutem do que se espera

bull Exposiccedilatildeo e visibilidade positiva

Na introduccedilatildeo da pesquisadora ao programa pocircde-se assistir agrave apresentaccedilatildeo de alunos-

talentos do projeto onde foram citados o rendimento escolar e as habilidades dos mesmos

Os colaboradores e alguns alunos apresentam-se em busca de patrociacutenio Nestas ocasiotildees os

melhores alunos satildeo destacados

Walter aluno de inglecircs foi observado em seu desempenho por seu mentor e por sua

professora da escola de inglecircs Ele foi indicado para fazer intercacircmbio cultural nos EUA

As alunas do projeto que tinham aula de danccedila apresentavam-se quando havia oportunidade

mesmo que se tratasse de uma missa

81

Figura 6 (4) - Apresentaccedilatildeo de coreografia das meninas do projeto em uma missa de Natal realizada pela Igreja Catoacutelica de Casa Forte na Vila do Vinteacutem II

Fonte Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

Pocircde-se perceber que o projeto expotildee positivamente seus mentorados conforme o

proposto por Kram (1985) Oferecer visibilidade positiva a crianccedilas marginalizadas pela

sociedade mostrando os talentos que estas possuem contribui para resgatar a auto-estima

das crianccedilas e das famiacutelias Crianccedilas e adolescentes de favela satildeo estigmatizados e

relacionados agrave delinquumlecircncia Esta visibilidade positiva eacute interessante para a sociedade

havendo a possibilidade de reduccedilatildeo do preconceito para com estes que estatildeo agrave margem Para

os mentorados a visibilidade positiva pode ajudaacute-los a resgatar aleacutem da auto-estima a

dignidade ao reconhecerem capacidade e potencial em si mesmos

bull Coaching

O reforccedilo era oferecido diariamente para as crianccedilas durante 1hora e meia fossem as

crianccedilas bolsistas ou natildeo ldquoEu eacute que ensinava a ela (Silvia) mas natildeo tenho jeito Depois do

82

projeto ela melhorou a letra aprendeu a ler mais raacutepido aprendeu a escreverrdquo (MAE

DE SILVIA entrevista out 05) ldquoQuando a professora natildeo ia ele (Moab) botava a filha dele

praacute ensinar () Ele eacute professor a esposa o filho e a filha Assim eacute bom neacute Quando um natildeo

tava o outro tava (sic)rdquo (MAE DE AFRAtildeNIO entrevista out05)

Uma das atividades mais presentes observadas no projeto eacute o coaching devido agrave

frequumlecircncia com a qual ocorre As tarefas o estudo o ensino enfim o reforccedilo diaacuterio reflete a

preocupaccedilatildeo com a tarefa e a transmissatildeo das informaccedilotildees necessaacuterias para a sua execuccedilatildeo

tal qual o proposto por Kram (1985)

bull Patrociacutenio

O projeto viabilizou o estudo de 24 crianccedilas adolescentes em escolas particulares

sendo 13 no Ensino Fundamental e Meacutedio e 11 no curso de Inglecircs O projeto provecirc as

condiccedilotildees necessaacuterias para que o aluno possa assumir satisfatoriamente a vaga na escola

particular Houve relato de provisatildeo de assistecircncia meacutedica e odontoloacutegica material e

fardamento escolar e ateacute corte de cabelo Algumas matildees entrevistadas disseram receber

ajuda em termos de alimentaccedilatildeo medicamento e doaccedilotildees de roupas

Ao analisar o patrociacutenio oferecido pelo projeto pode-se estabelecer um diferencial em

relaccedilatildeo agrave teoria proposta por Kram (1985) O patrociacutenio mencionado em pesquisas anteriores

reflete uma preocupaccedilatildeo bem especiacutefica do mentor em termos de patrocinar a carreira do

mentorado No projeto Educaccedilatildeo eacute Vida o patrociacutenio eacute bem mais abrangente Estaacute

relacionado agraves necessidades baacutesicas do mentorado e de sua famiacutelia sem as quais ele natildeo teria

condiccedilotildees sequer de estudar Entenda-se como patrociacutenio neste contexto a oferta de

alimentaccedilatildeo medicamento e sauacutede natildeo excluindo aquele ou seja o material o fardamento a

bolsa de estudos e os cursos

83

Estas foram as atividades de suporte de carreira encontradas no projeto de reforccedilo

Atividades que auxiliam o mentorado em sua carreira profissional conforme proposto por

Kram (1985) Em se tratando de crianccedilas e adolescentes falar de carreira profissional pode

parecer precoce No entanto considerou-se o necessaacuterio para que o mentorado venha a ter

condiccedilotildees de futuramente ter uma carreira Eacute desta forma que atividades como patrociacutenio

coaching tarefas desafiadoras e exposiccedilatildeo positiva devem ser encaradas

Segue na proacutexima seccedilatildeo os resultados e discussotildees dos dados obtidos com relaccedilatildeo agraves

atividades de suporte psicossocial encontradas no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

4222 Suporte psicossocial

Seratildeo considerados os dados que refletem o suporte psicoloacutegico e social oferecido pelo

mentor ao mentorado As funccedilotildees encontradas foram amizade aceitaccedilatildeo e confirmaccedilatildeo e

aconselhamento que seratildeo expostas a seguir

bull Amizade

A professora entrevistada disse buscar construir um viacutenculo de afetividade com os

alunos algo que ultrapassasse o relacionamento distanciado entre professor e aluno ldquoquando

a gente daacute atenccedilatildeo afeto eles aprendem tambeacutem a parte cognitivardquo (PROFESSORA

entrevista out05) A matildee de Helena diz ldquoEle (Moab) daacute atenccedilatildeo ela gosta dele porque ele

sabe conversar daacute carinhordquo (entrevista out05) Walter declara ldquoEacute como se ele (Moab) fosse

um pai praacute mim me estende a matildeordquo (entrevista out05) O projeto busca acompanhar a

famiacutelia atraveacutes do coordenador e da psicoacuteloga que se propotildee a realizar um acompanhamento

terapecircutico se necessaacuterio

Pocircde-se observar claramente que a amizade estaacute presente na relaccedilatildeo de mentoria

Atraveacutes dos discursos acima percebe-se um viacutenculo entre mentor e mentorado no qual o

mentorado mostra-se compreendido tal qual o proposto por Kram (1985)

84

bull Aceitaccedilatildeo e confirmaccedilatildeo

Pode-se observar atraveacutes dos discursos e mais evidentemente em uma das entrevistas

ldquoAfracircnio eacute muito bom em histoacuteria e ciecircncias ele soacute tira 10 Seu Moab sempre ficava

elogiando ele que ele era bom e acho que isso foi incentivando elerdquo (MAE DE

AFRAcircNIO entrevista out05)

Conforme o proposto por Kram (1985) a aceitaccedilatildeo faz com que o mentorado se sinta

seguro ateacute mesmo para enfrentar os desafios que conforme exposto satildeo muitos O

coordenador relata que entre os alunos do projeto haacute casos em que a crianccedila eacute

frequumlentemente desprezada pela matildee Neste caso o valor da aceitaccedilatildeo oferecida pelo mentor

torna-se imensuraacutevel

bull Aconselhamento

Dar conselhos apareceu frequumlentemente nos discursos da professora e do coordenador

O que pocircde ser confirmado atraveacutes da fala das matildees e do aluno entrevistado Os conselhos satildeo

dados visando o progresso dos alunos nos estudos por evitar que fiquem na rua e na tentativa

de convencecirc-los de que o seu futuro pode ser melhor do que o presente

O seu Moab soacute apoacuteia Agora eacute de falar o pesado tambeacutem Ele daacute apoio tudinho mas tambeacutem quando vecirc que taacute errado ele vem chega e conversa () ele tira o tempo dele praacute vir dar conselhos ele diz praacute Jairo que quer que ele estude que se forme e seja algueacutem na vidardquo (MAE DE JAIRO entrevista out05)

Outra matildee diz que quando o filho tem duacutevida sobre algo que aparece procura seu

Moab Diz que ele eacute rigoroso mas o filho atende ldquoA professora dizia para Faacutebio que ele soacute

seria algueacutem na vida se estudasse seu Moab tambeacutem dava o exemplo dos filhos delerdquo (MAE

DE FAacuteBIO entrevista out05) e a matildee de Helena diz ldquoEu sempre pedia a ele (Moab) para

dar conselho a Helena sobre estudo quando eu falo com ela entra por um ouvido e sai pelo

outro ela ouve elerdquo (entrevista out05)

85

O aconselhamento eacute mais uma das funccedilotildees relevantes em um projeto de mentoria

voltado para crianccedilas e adolescentes de risco uma vez que as crianccedilas nem sempre dispotildeem

de pessoas para aconselhaacute-las Segundo Harris et al (2002) a disponibilidade de adultos para

aconselhar as crianccedilas eacute escassa fazendo com que passem mais tempo com seus pares que

neste caso podem ter pouco a oferecer em termos de aconselhamento e de orientaccedilatildeo para um

futuro mais promissor do que o vivenciado na comunidade

bull Modelagem de papeacuteis

Acerca do suporte psicossocial oferecido pelo projeto a funccedilatildeo modelagem de papeacuteis

foi encontrada de duas formas uma atraveacutes da pessoa do mentor e outra atraveacutes do mentor

elegendo seus filhos como modelo Em termos educacionais o coordenador parece constituir

seus filhos como exemplos a serem seguidos um cursando o doutorado e a outra com dois

cursos superiores O que traz sentido agrave fala de uma das matildees ao dizer que ele cita os filhos

como exemplos Por outro lado a modelagem de papeacuteis natildeo consiste apenas em o mentor se

um modelo educacional para o mentorado A modelagem eacute mais ampla uma vez que o

mentorado tem nos comportamentos valores e atitudes de seu mentor um modelo positivo O

coordenador leva ao conhecimento de seus mentorados o sacrifiacutecio que fez para educar seus

filhos ainda que abrindo matildeo de sua proacutepria formaccedilatildeo Rhodes et al (2002) dizem que o fato

de ser um modelo faz com que o mentor seja visto pelo mentorado como ideal Neste sentido

o coordenador parece ser visto pelos mentorados como exemplo de um vencedor A fala de

Walter ao colocaacute-lo como pai transmite esta ideacuteia de referencial Walter diz ter a seguinte fala

de seu mentor em sua cabeccedila e colada em seu caderno ldquoo fracasso jamais me surpreenderaacute se

a minha decisatildeo de vencer for suficientemente forterdquo (WALTER entrevista out 2005) Esta

fala parece ser o lema do proacuteprio coordenador Vale salientar que assim como o lema Walter

deseja tambeacutem ldquoimitarrdquo o mentor quanto ao ser professor

86

Parece haver a necessidade de mostrar agrave crianccedila ou adolescente que haacute uma

possibilidade diferente da que ela estaacute habituada a ver Que haacute outros referenciais e que ela

tem possibilidade de escolha mesmo que esta implique em desafios Pode-se retomar o

discurso do coordenador quando diz que seu filho para ir agrave Universidade muitas vezes pegou

carona no caminhatildeo do lixo Ao citar isto o mentor pode estar criando uma identidade entre

as crianccedilas e seu filho ao demonstrar que mesmo com a difiacutecil realidade o esforccedilo e a

vontade de sobressair o fizeram ldquovencedorrdquo Assim como ele conseguiu elas tambeacutem podem

conseguir Vecirc-se claramente isto no discurso de uma das crianccedilas quando diz que natildeo quer ser

como o pai sem estudos O que revela que em relaccedilatildeo aos estudos e carreira ele tem outro

referencial Pocircde-se neste relato observar um olhar mais reflexivo da crianccedila ao sair de seu

proacuteprio contexto e desejar escapar do ldquodeterminismordquo a que estaacute sujeita

Estas foram as especificidades das funccedilotildees da mentoria desenvolvida no projeto em

relaccedilatildeo agraves propostas pela literatura Observou-se a existecircncia de suporte de carreira e

psicossocial Foram portanto encontradas no projeto as duas funccedilotildees de mentoria propostas

por Kram (1985) Neste caso a mentoria desenvolvida no projeto pode ser considerada

intensa A autora salienta que a funccedilatildeo psicossocial estaacute relacionada agrave confianccedila existente na

relaccedilatildeo Pocircde-se observar que o coordenador do projeto goza da confianccedila da comunidade

tanto pela abertura que as famiacutelias lhe demonstram como por entregar seus filhos aos seus

cuidados Tal confianccedila foi observada em todas as entrevistas Este fato permite que sejam

desempenhadas as funccedilotildees de suporte psicossocial

Seguem na proacutexima seccedilatildeo as fases da mentoria no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

87

423 Fases da relaccedilatildeo de mentoria apresentadas no projeto de

reforccedilo

Com relaccedilatildeo aos alunos pesquisados todos estavam na fase de cultivo da relaccedilatildeo seja

com apenas dois anos de projeto seja com oito No entanto pocircde-se observar que em alguns

casos de egressos a mentoria estaacute na fase de redefiniccedilatildeo uma vez que os mentorados estatildeo

seguindo seus proacuteprios rumos jaacute natildeo com um acompanhamento ldquotatildeo de pertordquo Eacute o caso de

uma ex-aluna do projeto que ganhou um apartamento no Conjunto Habitacional Casaratildeo do

Cordeiro intermediado pelo coordenador junto agrave Prefeitura

Pode-se perceber que os relacionamentos de mentoria encontram-se

predominantemente na fase de cultivo Eacute nesta fase que o mentor provecirc as funccedilotildees de

carreira e psicossociais Tal achado culmina com os encontrados anteriormente facilitando o

desenvolvimento das funccedilotildees de mentoria tatildeo evidentes neste projeto

Segue na proacutexima seccedilatildeo os fatores relacionados ao ecircxito de um programa de mentoria

formal que foram encontrados no projeto

424 Fatores encontrados no projeto que de acordo com a

literatura estatildeo relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria

A literatura aponta fatores que estatildeo relacionados ao ecircxito de um programa de

mentoria Estes foram encontrados no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida Os fatores satildeo seleccedilatildeo de

mentores e mentorados acompanhamento da relaccedilatildeo de mentoria frequumlecircncia dos encontros e

duraccedilatildeo da relaccedilatildeo Seguem-se os dados e sua discussatildeo acerca de cada fator de ecircxito

88

bull Seleccedilatildeo de mentor e mentorado

O uacutenico criteacuterio para ser mentorado era o fato de residir na Vila do Vinteacutem As

crianccedilas e adolescentes que tivessem interesse em levar suas tarefas ao reforccedilo poderiam fazecirc-

lo Laacute recebiam acompanhamento de um professor desde que com o aval dos pais

Para se fazer parte do projeto enquanto mentor era necessaacuterio o compartilhamento da

visatildeo de que eacute possiacutevel acreditar na mudanccedila de vida das crianccedilas e adolescentes atraveacutes da

educaccedilatildeo de qualidade e que as crianccedilas tecircm potencial mas lhes falta oportunidade Os

professores satildeo selecionados pelo coordenador do projeto mediante anaacutelise do curriacuteculo e da

experiecircncia A professora entrevistada jaacute conhecia os alunos do projeto pois eacute uma das

professoras que leciona em uma das escolas que fornece bolsa para a comunidade o que fez

com que o coordenador conhecesse parcialmente seu trabalho Ao falar de sua admissatildeo ao

projeto ela diz ldquoeu gosto desta clientela (crianccedilas carentes) e ele (Moab) me deu esta

oportunidaderdquo (entrevista out05) A dentista aderiu ao projeto a partir de uma das

apresentaccedilotildees do grupo em busca de patrociacutenio e apoio Diante da necessidade de pessoas

qualificadas para prestar serviccedilo voluntaacuterio ela que diz ter interesse e identidade com a aacuterea

social prontificou-se e estaacute no projeto haacute um ano

A psicoacuteloga demonstra o mesmo interesse ldquoEu sempre fui muito voltada para o social

sempre gostei muito de ajudarrdquo Ela parece estar muito inserida com a comunidade atraveacutes

do projeto pois frequumlentemente em seu discurso ela afirma ldquoquando vocecirc estaacute laacute dentro com

elesrdquo (entrevista out05) A psicoacuteloga trabalha em outro centro de atendimento a pessoas

carentes Estaacute no projeto haacute cinco anos

Pode-se observar que os colaboradores tecircm identidade com o projeto a ponto de

realizarem o trabalho como voluntaacuterios A uacutenica exceccedilatildeo eacute a professora mas mesmo ela em

seu discurso considera que fazer parte do projeto eacute uma oportunidade Eacute marcante a fala da

89

psicoacuteloga em sua entrevista ao inserir-se realmente na comunidade Esta dedicaccedilatildeo e

identidade podem ser fatores que contribuem para que o projeto tenha maior ecircxito

bull Acompanhamento da relaccedilatildeo de mentoria

O coordenador do projeto estaacute frequumlentemente avaliando se os resultados obtidos satildeo

os desejados

Eu optei pela Vila Vinteacutem porque o nosso acompanhamento eacute a liberdade vigiada () noacutes fazemos as coisas para eles mas tambeacutem queremos acompanhar de perto o que estaacute acontecendo entatildeo natildeo adianta eu pegar um menino da comunidade onde eu natildeo possa visitaacute-lo ele natildeo possa vir ao projeto Eu natildeo vejo o resultado do investimento feito enquanto eles aqui eu vejo passo-a-passo () eacute um acompanhamento bem de perto mesmo (COORDENADOR out05)

Haacute reuniotildees com os pais responsaacuteveis esclarecendo a importacircncia do projeto e

solicitando sua interaccedilatildeo no programa

Eles passavam fita de viacutedeo para os pais sobre educaccedilatildeo e pediam para os pais falar com os filhos () ele sempre queria o bem das crianccedilas agora dependia das crianccedilas e dos pais () seu Moab dizia que a gente tinha que ajudar ele com o Faacutebio (crianccedila tida pelo coordenador como de natildeo-ecircxito) botar ele praacute estudar (MAE DE FAacuteBIO E DE DIEGO entrevista out05)

Com relaccedilatildeo ao mentorado pode ocorrer o desligamento do aluno da bolsa de estudos

na escola particular caso ele natildeo atinja um desempenho satisfatoacuterio ldquoQuando uma crianccedila

natildeo valoriza isso que a gente oferece a gente tambeacutem natildeo aceita repetente natildeo aceita falta

vocecirc tem que estar de acordo dentro do projeto em disciplina bem comportado e com boas

notasrdquo (COORDENADOR entrevista out 05) Mesmo desligado da escola particular o

aluno pode continuar fazendo parte do reforccedilo

Pocircde-se confirmar atraveacutes destes discursos o relatado por Frecknall e Luks (1992) A

participaccedilatildeo dos pais apoiando o programa tem uma relaccedilatildeo positiva com o sucesso e sem este

apoio o ecircxito do programa pode ficar comprometido Em uma comunidade onde a grande

maioria dos moradores eacute analfabeta o acompanhamento deve ser intenso visando incutir na

famiacutelia a necessidade de compreensatildeo do valor da educaccedilatildeo Grossman e Tierney (1998)

90

tambeacutem salientam a importacircncia de se verificar o grau de envolvimento da famiacutelia no

programa pois conforme exposto este eacute um fator de ecircxito para a relaccedilatildeo

bull Frequumlecircncia dos encontros

A frequumlecircncia dos encontros entre os mentores e mentorados varia A psicoacuteloga ia agrave

comunidade uma tarde por semana na qual prestava os atendimentos agendados e caso

houvesse mais pessoas a serem atendidas fazia outros atendimentos Em caso de necessidade

ela ia agrave comunidade num outro dia A dentista atendia em seu consultoacuterio Havendo

necessidade o coordenador ligava e agendava o atendimento Jaacute as aulas eram ministradas

diariamente para os alunos que estudavam agrave tarde o reforccedilo era pela manhatilde e para os que

estudavam pela manhatilde o reforccedilo era agrave tarde O acompanhamento era feito durante uma hora e

meia para cada turma As turmas eram assim divididas alfabetizaccedilatildeo e 1a seacuterie 2a e 3a

seacuteries e 4a e 5a seacuteries

Figura 7 (4) - Professora e alunos durante a aula de reforccedilo na sede do projeto03

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

91

Apoacutes o reforccedilo os alunos tinham outras atividades como aula de muacutesica (teoria e

praacutetica) danccedila pintura ou inglecircs O projeto dispunha de quadra alugada onde as crianccedilas

podiam jogar futebol Em quase todas as atividades o coordenador diz estar presente

No ano de 2005 como as atividades foram parcialmente suspensas natildeo houve mais

frequumlecircncia no relacionamento Algumas das crianccedilas com bolsa de estudos em escola

particular foram colocadas num semi-internato conseguido pelo projeto Esta interrupccedilatildeo teve

reflexo na vida dos alunos como se pocircde observar no discurso abaixo

Em casa ela natildeo eacute comportada sempre ela foi danada mas ela melhorou no projeto Agora que ta sem o projeto ela jaacute ta voltando ao que era eu tocirc recebendo reclamaccedilatildeo do coleacutegio que natildeo quer estudar soacute quer ta brincando ta voltando a dar problema ta voltando a ser o que era () no semi-internato tem muita atividade satildeo muitas crianccedilas e eles arengam e no projeto eu nunca tive esse problema de ela ta arengando (sic) (MAE DE HELENA entrevista out05)

O fato de as entrevistas terem sido realizadas neste periacuteodo de transiccedilatildeo no qual as

crianccedilas natildeo estatildeo sendo assistidas faz com que a importacircncia da frequumlecircncia dos encontros

fique evidenciada Confirma-se assim que esta eacute um relevante fator de ecircxito para a relaccedilatildeo de

mentoria conforme observado na teoria (KEATING et al 2002) No entanto pode-se dizer

que o projeto de reforccedilo apresentava uma frequumlecircncia maior do que nos programas

similares apresentados pela teoria Tal frequumlecircncia garante um acompanhamento mais

proacuteximo visto que todos os dias por no miacutenimo uma hora e meia os alunos estavam no

projeto em contato com seus mentores Estudos feitos por Keating et al (2002) revelam que a

frequumlecircncia dos encontros tem relaccedilatildeo com o ecircxito do relacionamento principalmente em se

tratando de adolescentes com risco para delinquumlecircncia Neste sentido o projeto apresentava

maior probabilidade de ecircxito uma vez que a frequumlecircncia dos encontros era alta

d) Duraccedilatildeo da relaccedilatildeo de mentoria

Os alunos pesquisados estatildeo inseridos nesta relaccedilatildeo de mentoria por no miacutenimo dois

anos Segundo Grossmam e Rhodes (2002) a maioria dos benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria

92

como melhores resultados educacionais psicossocias e comportamentais apresentam-se em

relaccedilotildees que perduram por um ano ou mais Frecnall e Luks (1992) consideram que a duraccedilatildeo

eacute um fator determinante do ecircxito

O projeto mostra-se rigoroso com os fatores que impedem o ecircxito dos alunos desde

que sob sua responsabilidade Os fatores acima tecircm sido observados uma vez que a

negligecircncia em referecircncia a qualquer destes fatores pode levar a uma relaccedilatildeo ineficiente ou

ateacute mesmo negativa trazendo efeitos nocivos agrave vida da famiacutelia do mentorado e tambeacutem do

mentor

Natildeo se pode ignorar que na medida em que se vai estruturando uma relaccedilatildeo de

mentoria a mesma vai sofrendo ajustes visando tornaacute-la mais produtiva mais ldquopoderosardquo

Existem fatores que podem e devem ser estruturados previamente tais como a duraccedilatildeo e a

frequumlecircncia dos encontros e o objetivo da relaccedilatildeo No entanto haacute outros fatores que nem

sempre se consegue estruturar Um exemplo eacute a confianccedila necessaacuteria para que a relaccedilatildeo

realmente aconteccedila Em outras palavras observando-se os fatores relacionados ao ecircxito seratildeo

minimizadas as possibilidades de insucesso mas elas natildeo deixaratildeo de existir pois a mentoria

mesmo com seus inuacutemeros benefiacutecios natildeo eacute uma soluccedilatildeo maacutegica Trata-se de uma relaccedilatildeo e

portanto dependente do encontro de pessoas e de viacutenculos emocionais entre elas Este aspecto

eacute de difiacutecil controle havendo sempre um espaccedilo para a imprevisibilidade do ser humano

Se os fatores que levam ao ecircxito da relaccedilatildeo foram observados pelo projeto resta o

questionamento de o por quecirc de alguns casos serem considerados pelo projeto como de natildeo-

ecircxito Este aspecto eacute abordado na seccedilatildeo seguinte

93

425 Fatores responsaacuteveis pelo ecircxito e natildeo-ecircxito nos estudos na

percepccedilatildeo do mentor e da famiacutelia do mentorado

Na percepccedilatildeo do coordenador o ecircxito eacute obtido quando a cada ano a crianccedila vai sendo

aprovada e ascendendo e apresentando um bom comportamento ldquoQuando uma instituiccedilatildeo se

abre e nos convida a oferecer mais bolsas eacute porque nossos alunos estatildeo correspondendo tanto

em disciplina quanto no aprendizadordquo (COORDENADOR entrevista set05) Um exemplo

de ecircxito citado pelo coordenador eacute o caso de uma moccedila que foi acompanhada pelo projeto

desde a 6a seacuterie ateacute o 3ordm ano do ensino Meacutedio Ela fez um curso de informaacutetica depois fez um

estaacutegio junto agrave Prefeitura e hoje aos 20 anos trabalha no setor burocraacutetico de um hospital

O coordenador considera um caso de natildeo-ecircxito o caso da crianccedila ou adolescente que

natildeo rende o esperado em termos de desempenho escolar e de comportamento

Vale salientar que em quase sua totalidade os casos de natildeo-ecircxito indicados para

pesquisa foram avaliados pelas famiacutelias como de ecircxito A uacutenica exceccedilatildeo eacute a matildee de Faacutebio

que acredita que seu filho realmente natildeo tem tido sucesso nos estudos Segundo o

coordenador a diferenccedila estaacute na expectativa Para os pais o fato de o aluno estar na escola e

apresentar melhor comportamento jaacute eacute ecircxito enquanto que para o projeto isto natildeo eacute o

suficiente Na opiniatildeo dele a falta de sucesso deve-se a trecircs fatores

a) Estrutura familiar ndash muitas vezes a famiacutelia natildeo daacute o suporte que a crianccedila necessita

Para o coordenador a escola natildeo eacute valorizada por esses pais ldquoEles natildeo tecircm a escola como um

centro de promoccedilatildeo social como mobilidade social Eles natildeo descobriram isso As famiacutelias

natildeo as crianccedilasrdquo (COORDENADOR entrevista set05)

A professora chamava conversava com os alunos com a matildee em particular Ela queria ajudar ele mas ele natildeo queria ser ajudado Eu sabia que o Faacutebio natildeo ia ter uma oportunidade em uma escola melhor porque ele eacute assim () Eu nunca tava em cima dele para estudar eu natildeo tenho paciecircncia natildeo Se ele responder duas coisas erradas eu jaacute fico brava O pai eacute pior que eu Mal digo a ele que eacute pior do que eu (MAE DE FAacuteBIO entrevista out05)

94

b) Relacionamento negativo entre os pais e os filhos

Outro fator que notamos eacute a falta de amor para com essas crianccedilas que natildeo datildeo tatildeo certo () Os pais tecircm outros objetivos tecircm outras coisas mais importantes do que amar seus filhos () todas as crianccedilas bem comportadas na sala de aula eram bem amadas em casa () Quando isso natildeo ocorre a crianccedila torna-se uma crianccedila problema porque ela leva os haacutebitos e a falta de amor que ela tem em casa praacute escola para onde ela chegar (COORDENADOR entrevista set05)

c) Desinteresse do proacuteprio aluno O projeto contava com quatro alunos que eram

irmatildeos Estes recebiam acompanhamento diaacuterio nas tarefas O coordenador diz que foi agrave

escola deles para saber suas notas Por este motivo eles deixaram de ir ao projeto Nenhum

deles terminou o Ensino Meacutedio e atualmente um eacute zelador o outro eacute jardineiro e dois estatildeo

desempregados

O objetivo do projeto eacute de longo prazo o que dificulta uma anaacutelise dos resultados ou

de egressos para se identificar o ecircxito ou natildeo-ecircxito Mesmo os casos que desde o iniacutecio foram

acompanhados ainda hoje o satildeo Natildeo com a mesma intensidade mas ainda recebem algum

tipo de suporte do projeto Outro fator que dificulta a anaacutelise eacute o fato de que todos os alunos

estatildeo na escola e avanccedilando em seacuteries mesmo porque atualmente a escola natildeo reprova o que

torna difiacutecil saber ateacute que ponto tecircm realmente bom aproveitamento Portanto natildeo se

conseguiu distinguir dentre os casos pesquisados um limite claro entre o ecircxito e o natildeo-ecircxito

contando-se apenas com a percepccedilatildeo dos respondentes (matildees de alunos psicoacuteloga professora

e coordenador)

426 Resposta agrave primeira questatildeo norteadora especificidades da

relaccedilatildeo de mentoria existentes no projeto de reforccedilo escolar

Conforme o objetivo proposto pocircde-se encontrar algumas especificidades na relaccedilatildeo

de mentoria realizada no projeto que diferem um pouco dos achados teoacutericos Satildeo eles

95

a) A mentoria apresenta aspectos de mentoria formal e informal

b) Existem dois tipos de relacionamento entre mentor e mentorado em um o

acompanhamento eacute mais proacuteximo do que no outro

c) A frequumlecircncia dos encontros eacute maior no projeto do que a encontrada na literatura

d) Dentre as funccedilotildees de carreira o patrociacutenio oferecido pelo projeto eacute mais amplo do

que o apresentado pela teoria e

Com base nestes achados eacute possiacutevel concluir que um programa de mentoria para

crianccedilas e adolescentes de uma comunidade carente do Recife tem suas especificidades suas

caracteriacutesticas particulares diferindo de outros programas realizados no contexto de outros

paises Respondida a primeira questatildeo norteadora segue-se a segunda que aborda os

benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentorado

43 Achados referentes agrave segunda questatildeo norteadora

Seguem os achados que buscam responder a seguinte questatildeo em um contexto

brasileiro ateacute que ponto os mentorados carentes estudados tecircm desfrutado dos benefiacutecios da

relaccedilatildeo de mentoria apontados pela literatura

Pocircde-se observar os seguintes benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria na vida dos

mentorados enquanto participantes do programa de reforccedilo

431 Aumento da auto-estima da responsabilidade maior

progresso escolar e perspectiva positiva de futuro

Devido agrave impossibilidade de neste trabalho medir-se a auto-estima dos mentorados o

aumento desta seraacute considerado em relaccedilatildeo ao progresso escolar pois com base no observado

por Harter (1982) o sentir-se competente leva o jovem a obter melhor desempenho Grossman

96

e Tierney (1998) salientam que jovens ao serem acompanhados por um mentor se sentiram

mais confiantes para com suas tarefas escolares Associou-se tambeacutem o progresso escolar com

perspectiva positiva de futuro uma vez que se percebeu que o avanccedilo nos estudos estaacute

relacionado com melhores perspectivas de futuro

O aumento do desempenho escolar eacute visiacutevel nos casos que se seguem

Antes (do projeto) ela era preguiccedilosa soacute queria ficar brincando ela teve muita dificuldade para aprender (na preacute-escola) Estudava mas natildeo aprendia na 1a foi fazer o reforccedilo depois do projeto ela foi se interessando mais pode ser porque natildeo tinha nenhum incentivo neacute () Ela chegava e dizia que era bom quando estudava e tirava nota boa antes (de interromper o projeto) ela natildeo esperava nem chegar em casa vinha aqui (no trabalho) para me mostrar as provas (MAE DE HELENA entrevista out05)

No interior eu fiz matricula dele noacutes trabalhava na roccedila ele natildeo gostava (de estudar) natildeo se dedicava ia caccedilar passarinho mas quando chegou aqui seu Moab quis acordar ele pra vida Ele vendo os meninos tudo com a idade dele (9 anos na eacutepoca) sabendo ler e escrever dentro de seis meses o menino desenrolou para aprender mesmo (sic) (MAE DE JAIRO entrevista out05)

Jairo cursou a 4a e a 5a seacuteries no mesmo ano Faz tambeacutem curso de inglecircs O

coordenador ouviu da professora deste curso que o aluno tem dom para idiomas natildeo soacute

inglecircs mas espanhol e francecircs

A possibilidade do intercacircmbio foi boa para eu ter uma certa ideacuteia do que pode acontecer comigo do que pode acontecer () Ele (Moab) dizia que para analfabeto a caneta e o papel eacute o chatildeo e a vassoura Que eu estudasse porque a miseacuteria hoje em dia -saiu na revista- jaacute tinha endereccedilo que era praacute pobre negro e nordestino e que se a gente natildeo lutasse essa realidade a gente natildeo iria mudar nunca () Eu decidi que quero ser professor de inglecircs (WALTER entrevista out05)

Ele diz que quer fazer faculdade ele ficou com mais esperanccedila de conseguir uma coisa melhor ele diz que eu natildeo me preocupe porque daqui a dez anos ele vai ter um emprego bom e vai me ajudar (MAE DE FREDERICO entrevista out05)

Ele quer ir estudar nos Estados Unidos fez vaacuterios cursos inglecircs francecircs espanhol informaacutetica e de entrevista Onde tiver curso ele vai ele quer muito trabalhar ter seu dinheiro fazer sua vida () o negoacutecio dele eacute ta dentro de casa estudando pregado nos livros (MAE DE NESTOR entrevista out05)

97

A professora entrevistada leciona tambeacutem no coleacutegio que oferece bolsa para os alunos

do projeto sendo professora deles em ambos os lugares Ao ser solicitada a comparar o

desempenho dos alunos do projeto com os demais alunos a professora mencionou que dentre

seus trecircs alunos com desempenho excelente dois satildeo do projeto Os demais do projeto estatildeo

na meacutedia

A coordenadora de uma das escolas que fornece bolsa de estudos ao projeto (esta

escola oferece bolsas para dois alunos da sexta seacuterie) ao ser entrevistada disse que o

comportamento dos alunos do projeto eacute bom e o desempenho apresentado por eles eacute maior do

que a meacutedia da turma e da seacuterie como se pode observar nos boletins que se seguem

98

Figura 8 (4) Boletim escolar de Afracircnio - 6a Seacuterie

99

Figura 9(4) Boletim escolar de Jairo ndash 6a Seacuterie

Em ambos os casos as famiacutelias satildeo analfabetas E neste ano os dois alunos estatildeo sem

o reforccedilo motivo pelo qual segundo uma das matildees o desempenho do filho caiu Este mesmo

aluno neste ano natildeo conta com todo o material didaacutetico necessaacuterio Ainda assim estes alunos

estatildeo apresentando um desempenho superior ao de seus colegas

100

Atraveacutes dos discursos das matildees percebeu-se considerarem que o fato de seus filhos

terminarem a primeira fase do ensino fundamental e darem sequumlecircncia a estes estudos jaacute eacute uma

visatildeo positiva de futuro Observou-se isso no discurso da matildee de Afracircnio ldquoquem estuda tem

esperanccedila de um futuro melhorrdquo O caso de Jairo que chegou analfabeto do interior e em seis

meses estava lendo e escrevendo confirma o proposto por Rhodes et al (2002) de que a

presenccedila de um mentor ajuda os adolescentes a superarem momentos de adversidade Neste

caso ele natildeo tem pai e sua matildee considera o mentor como algueacutem da famiacutelia que ajuda a

suprir esta ausecircncia na vida do filho O fato de Walter (que convive com analfabetos) ter

definido sua carreira (professor de inglecircs) demonstra o proposto por Kram (1985) o mentor

ajuda o mentorado na definiccedilatildeo da identidade profissional

Vale destacar a relevacircncia de se promover o aumento da auto-estima decorrente do

desempenho apresentado pelos alunos Pessoas que ainda natildeo tecircm satisfeitas adequadamente

as necessidades fisioloacutegicas (alimentam-se mal natildeo contam com aacutegua encanada nem

sanitaacuterios) e de seguranccedila (moram e vivem permanentemente expostos a riscos) apresentando

necessidade de realizaccedilatildeo Vale ressaltar a teoria da motivaccedilatildeo proposta por Maslow (apud

ROBBINS 2002) que defende que a satisfaccedilatildeo da necessidade de realizaccedilatildeo dependeria da

satisfaccedilatildeo de niacuteveis mais baacutesicos de necessidade como as fisioloacutegicas de seguranccedila e sociais e

de estima Percebeu-se no contexto da pesquisa a possibilidade do caminho inverso Atraveacutes

do aumento da auto-estima e da satisfaccedilatildeo da necessidade de realizaccedilatildeo as crianccedilas e

adolescentes podem vir a ter no futuro condiccedilotildees de satisfazer a contento suas necessidades

fisioloacutegicas e de seguranccedila

101

432 Resposta da segunda questatildeo norteadora benefiacutecios da

mentoria para a crianccedila adolescente do projeto

Foram encontrados os seguintes benefiacutecios para o mentorado participante do projeto

aumento da auto-estima maior progresso escolar e perspectiva positiva de futuro

Em termos de especificidades com relaccedilatildeo ao proposto pela teoria natildeo foram

percebidas diferenccedilas existentes entre os benefiacutecios para o mentorado encontrados em

pesquisas anteriores e os encontrados no projeto de reforccedilo escolar na Vila do Vinteacutem II fato

que responde agrave segunda questatildeo norteadora desta pesquisa

Seguem os achados acerca da terceira questatildeo que versa sobre os benefiacutecios para o

mentor encontrados na mentoria desenvolvida pelo projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

44 Achados referentes agrave terceira questatildeo norteadora

Dentre os benefiacutecios na vida dos mentores que participam do projeto pocircde-se observar

realizaccedilatildeo pessoal motivaccedilatildeo amizade auto-conhecimento e senso de dever cumprido Tais

achados apresentados nas seccedilotildees abaixo buscam responder a seguinte questatildeo ateacute que ponto

um projeto de mentoria voltado para crianccedilas e adolescentes carentes oferece os benefiacutecios

propostos pela teoria para os mentores

441 Realizaccedilatildeo pessoal

Pocircde-se observar que fazer parte do projeto faz com que os mentores se sintam

realizados

Quando a gente eacute uacutetil a outra pessoa a gente se realiza () Eu me realizo assim vendo a alegria dos meninos que realmente estatildeo mudando a cara natildeo soacute da famiacutelia mas tambeacutem da comunidade (COORDENADOR entrevista set05)

102

Eu fico muito bem comigo mesma na realizaccedilatildeo deste trabalho () O que me deixa realizada eacute ver alguns frutos desse trabalho natildeo soacute nas crianccedilas como da proacutepria famiacutelia () em relaccedilatildeo ao futuro agrave auto-estima potencial de cada um que eles natildeo estatildeo sozinhos a gente taacute laacute com eles () e esse pouquinho esse pouco que eu estou fazendo estaacute facilitando a vida melhorando A gente vecirc um salto de qualidade na vida deles (PSICOacuteLOGA entrevista out05)

Ao acompanhar preparar os alunos para os exames de admissatildeo vecirc-los entrar na

escola particular acompanhar o crescimento e desenvolvimento dos mentorados a professora

entrevistada demonstra sentir orgulho do trabalho feito com seus dois melhores alunos

ldquoRealmente valeu a pena investir porque satildeo crianccedilas que apesar de todo o contexto social

que eles vivem eles satildeo responsaacuteveis inteligentiacutessimosrdquo (PROFESSORA entrevista out05)

Ficou evidenciado que o fato de ser um mentor daacute ao indiviacuteduo um senso de

generosidade ao contribuir com as geraccedilotildees futuras (RAGINS 1997) e que ser mentor de

adolescentes delinquumlentes tem sido gratificante na medida em que os mentores tecircm uma

oportunidade de ajudar estas pessoas (JACKSON 2002) Ser mentor do projeto Educaccedilatildeo eacute

Vida provecirc um sentimento de recompensa ao ver as mudanccedilas positivas na vida dos

mentorados conforme o propostos por Shields (2001)

442 Motivaccedilatildeo

A psicoacuteloga diz que a partir de seu envolvimento com o projeto ela fez curso em

Psicopedagogia e especializaccedilatildeo em Psicologia da Famiacutelia

O trabalho com as crianccedilas e as famiacutelias me proporcionou outros aprendizados maiores ateacute do que eu esperava porque a gente aprende muito laacute dentro com eles E assim eu comecei a me especializar a voltar para mim em niacutevel de aprendizado de crescimento tambeacutem profissional () Eacute uma troca muito grande de saber quando a gente taacute laacute dentro com eles a gente tem essa vontade de realmente acertar (PSICOacuteLOGA entrevista out05)

Zey (1998) diz que o mentor pode redirecionar sua energia para a criatividade e accedilatildeo

produtiva A mentoria pode entatildeo significar estiacutemulo e desafio O que pocircde ser observado no

103

discurso acima O desenvolvimento profissional natildeo eacute benefiacutecio apenas para o mentorado

mas para o mentor tambeacutem

443 Ser amado pelo mentorado

Pocircde ser observado que o mentor recebe amizade e carinho de seus mentorados

conforme verificado por Klaw et al (2003) ldquoEle ama o seu Moab ele almoccedila na casa de

Moab segunda e quarta e diz que laacute tudo eacute bomrdquo (MAE DE AFRAcircNIO entrevista out05)

ldquoMeus dois filhos eacute agarrado com seu Moabrdquo (sic) (MAE DE TAcircNIA entrevista set 05)

ldquoMoab foi vendo que eu tava sempre ali no projeto do lado dele e ele do meu lado () o

pessoal me achava careta porque eu sentia alguma coisa pelo projeto eu sempre prestava a

atenccedilatildeo procurava entenderrdquo (WALTER entrevista out05)

444 Autoconhecimento

Percebeu-se que fazer parte do projeto enquanto mentor provecirc um maior

autoconhecimento ou autopercepccedilatildeo

ldquoEacute muito gratificante trabalhar com pessoas carentes comeccedilo a valorizar o que eu

tenho a gente comeccedila a agradecer muito por essa vida boa que a gente tem que eacute muito boa

muito boa mesmordquo (DENTISTA entrevista out05)

A partir desta relaccedilatildeo ela percebe melhor sua situaccedilatildeo fala acerca da sauacutede dos filhos e de ter

uma casa maravilhosa

Neste caso o contato com a realidade da comunidade pode tecirc-la levado a comparar

esta realidade com a sua proacutepria e entatildeo perceber-se abastada

104

445 Senso de dever cumprido

Outro beneficio encontrado diz respeito ao senso de dever cumprido que o fato de ser

mentor propicia

A gente sabe que tem um papel social a desempenhar Natildeo fomos beneficiados pela sociedade com o direito de estudar de fazer um curso superior de ter uma habilitaccedilatildeo () para que isso sirva apenas para o nosso benefiacutecio Essa nossa habilitaccedilatildeo que a sociedade deu a sociedade deu eu estudei em uma Universidade Federal essa habilitaccedilatildeo deve retornar para a sociedade tambeacutem para quem pode pagar e para quem natildeo pode pagar Eacute necessaacuterio que isso volte (DENTISTA entrevista out05)

Este benefiacutecio natildeo foi encontrado na literatura talvez por tratar de um tema ainda

recente o indiviacuteduo ter responsabilidade com a realidade social que o cerca

446 Resposta da terceira questatildeo norteadora benefiacutecios da

mentoria para o mentor

Foram encontrados no projeto educaccedilatildeo eacute Vida os seguintes benefiacutecios para o mentor

a) Realizaccedilatildeo pessoal

b) Motivaccedilatildeo

c) Ser amado pelo mentorado

d) Autoconhecimento e

e) Senso de dever cumprido

Sendo que estes dois uacuteltimos natildeo foram encontrados na teoria mas percebidos na

relaccedilatildeo de mentoria que ocorre no projeto Estes achados podem ser explicados devido ao

contexto no qual a mentoria ocorreu crianccedilas e adolescentes de uma comunidade carente

Contexto que difere da realidade dos mentores e que pode tecirc-los levado a uma reflexatildeo sobre

sua proacutepria condiccedilatildeo de vida e sua responsabilidade com os que natildeo se acham em iguais

condiccedilotildees Tais achados respondem a terceira questatildeo norteadora deste trabalho

105

45 Achados referentes agrave quarta questatildeo norteadora

Puderam ser verificados outros benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas

e adolescentes com risco para delinquumlecircncia aleacutem dos mencionados anteriormente Pois na

medida em que o mentorado se beneficia da relaccedilatildeo sua famiacutelia alcanccedila estes benefiacutecios e a

sociedade tambeacutem acaba sendo beneficiada ainda que indiretamente

Com o intuito de responder a questatildeo quais os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da

relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas e adolescentes carentes em uma comunidade do Recife

seguem os benefiacutecios sociais diretos da mentoria realizada pelo projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

451 Desenvolvimento educacional das crianccedilas e dos adolescentes

Por se tratar de um ambiente carente e de analfabetos a comunidade natildeo tem como

prover o acompanhamento das crianccedilas e adolescentes as famiacutelias natildeo dispotildeem de tempo

eou conhecimento e preparo para prover tal suporte Por exemplo uma matildee analfabeta natildeo

parece ter condiccedilotildees de ajudar o filho nas tarefas escolares

Eu tocirc pensando quando ela fizer a 5a que natildeo tem o reforccedilo nem o semi-internato ela vai fazer a tarefa em casa e se brincar ela sabe mais do que eu (MAE DE SILVIA entrevista out05)

Eu natildeo tenho estudo faccedilo meu nome muito mal Meu marido sabe mas trabalha e de noite jaacute ta cansado () no reforccedilo ele fazia a tarefa todo dia sem reforccedilo e sem uma matildee que sabe ler quem ia ensinar a ele ai ia ficar complicado (MAE DE FREDERICO entrevista out05) Os coleacutegios hoje em dia quer a crianccedila saiba ler quer natildeo saiba o Estado passa natildeo quer saber se a crianccedila ta aprendendo se aprendeu se natildeo aprendeu (MAE DE TITO entrevista out05) A escola (puacuteblica) um dia tem aula outro dia natildeo tem ai ela fica em casa Hoje mesmo ela taacute em casa porque natildeo teve aula (MAE DE TAcircNIA entrevista out05)

106

A professora dele disse que ele natildeo tinha condiccedilotildees de passar mas ela natildeo podia reprovar (MAE DE FAacuteBIO entrevista out05)

Tais depoimentos revelam dois fatores incapacidade da famiacutelia em acompanhar os

estudos do filho e ineficiecircncia do ensino puacuteblico na experiecircncia destas famiacutelias O que leva a

pensar que o futuro educacional destas crianccedilas seria similar ao de suas matildees conforme

Barros et al (1994) que diz que a educaccedilatildeo meacutedia das matildees eacute o principal determinante do

desempenho escolar do filho ou seja haveria maior evasatildeo escolar Neste sentido o projeto

propicia que o aluno vaacute aleacutem da escolaridade da matildee

Vale aqui um questionamento por que o governo investe em bolsa escola e natildeo

acompanha o aluno Simplesmente ter a presenccedila do aluno na escola natildeo eacute garantia de que o

mesmo estaacute aprendendo O fato de que um professor natildeo pode mais reprovar o aluno mesmo

que sem condiccedilotildees de galgar um grau superior pode demonstrar que o interesse das poliacuteticas

puacuteblicas pode estar relacionado a nuacutemeros A taxa de matriacutecula estaacute associada ao aumento do

IDH mas ateacute que ponto isto reflete o real rendimento escolar dos alunos

Neste caso a mentoria vem suprir uma falta natildeo apenas da famiacutelia mas tambeacutem do

Estado e do Municiacutepio uma vez que por si soacute natildeo tecircm tido ecircxito com o aproveitamento e a

manutenccedilatildeo dos alunos na escola

452 Assistencialismo

Foi observado que algumas famiacutelias associam o projeto agrave assistecircncia social ldquoO reforccedilo

faz muita falta () tinha muitas doaccedilotildees roupas cestas baacutesicas no dia das crianccedilas

tinha brinquedos festas doaccedilotildees para as crianccedilasrdquo (MAtildeE DE FAacuteBIO entrevista

set05)

Ainda que esta natildeo seja a proposta do projeto as famiacutelias devido ao patrociacutenio

ofertado ao mentorado e agrave sua famiacutelia percebem o projeto como assistencialista

107

453 Diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia

O projeto demonstra contribuir indiretamente com a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia

As crianccedilas tando no projeto a gente fica despreocupada Quando ela natildeo tava no projeto ficava na rua natildeo queria estudar soacute queria ficar na rua brincando () muitas matildees estatildeo preocupadas em o que fazer com as crianccedilas sem o projeto (MAE DE HELENA entrevista out05) Ele tando laacute no projeto eu saio despreocupada neacute Que ele natildeo ta na rua A vida que a gente vive hoje sai pra trabalhar e sabe que o filho natildeo ta na rua a gente fica despreocupada (MAE DE AFRAcircNIO entrevista out05) Ele gosta eacute de rua de papagaio peatildeo bola () Ele natildeo liga para o caderno livros agora falou em rua eacute com ele () No reforccedilo ele estudava mais um pouco (MAE DE FAacuteBIO entrevista out05) O reforccedilo evita de as crianccedilas ta na rua no sinal pedindo (MAE DE TITO entrevista out05)

Atraveacutes destas declaraccedilotildees pocircde-se observar o referido por Harris et al (2002) que a

entrada das matildees no mercado de trabalho e o aumento das separaccedilotildees conjugais fazem com

que o adolescente passe menos tempo com os pais e passe a maior parte do tempo com seus

pares Conforme observado anteriormente a delinquumlecircncia tem diversas causas Dias (2003)

por exemplo verificou que a maior parte dos jovens delinquumlentes participantes de sua

amostra era de analfabetos funcionais relacionando assim a delinquumlecircncia a poucos anos de

estudos e consequumlentemente agrave evasatildeo escolar Na medida em que a crianccedila se desenvolve

nos estudos haacute uma diminuiccedilatildeo da evasatildeo escolar e consequumlentemente da delinquumlecircncia

Outra forma de o projeto contribuir com a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia refere-se a levar as

crianccedilas a deixarem a rua onde estatildeo expostas a diversos riscos como violecircncia drogas

exploraccedilatildeo sexual e confusotildees situaccedilotildees frequumlentes em um contexto de favela

A relaccedilatildeo de mentoria desenvolvida pelo projeto eacute de longo prazo Portanto por mais

que alguns benefiacutecios se evidenciem estes soacute poderatildeo ser claramente observados ao longo do

108

tempo quando as crianccedilas e adolescentes do projeto forem adultos Pode-se inferir a partir

dos resultados apresentados que ao inveacutes de dependentes de poliacuteticas assistencialistas os

egressos contribuiratildeo com o desenvolvimento de sua cidade Eacute possiacutevel antecipar que uma

grande parcela das pessoas que faziam a favela Vila do Vinteacutem II estaraacute alfabetizada e

ocupando um lugar no mercado de trabalho Aiacute sim ter-se-aacute um aumento real do IDH que de

fato revelaraacute um aumento da qualidade de vida desta populaccedilatildeo do Recife Soacute entatildeo poderatildeo

ser mensurados os benefiacutecios sociais deste projeto

454 Resposta da quarta questatildeo norteadora benefiacutecios sociais

da relaccedilatildeo de mentoria

Pocircde-se observar os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria existente

no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida As especificidades encontradas foram

a) Maior desenvolvimento educacional de crianccedilas e adolescente carentes com risco para

delinquumlecircncia visto tratar-se de um projeto de reforccedilo escolar

b) Assistecircncia social ao prover a satisfaccedilatildeo de algumas das necessidades baacutesicas do

mentorado e de sua famiacutelia

c) Suprimento pela relaccedilatildeo de mentoria de uma falha do sistema educacional do Estado e

do Municiacutepio que gradua o aluno sem que ele tenha condiccedilotildees O projeto tem suprido

esta carecircncia dando condiccedilotildees de o aluno galgar o grau seguinte

Estes foram os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da mentoria realizada no projeto

Educaccedilatildeo eacute Vida o que responde agrave quarta questatildeo norteadora deste trabalho

Seratildeo apresentadas no proacuteximo capiacutetulo as conclusotildees do trabalho bem como as implicaccedilotildees

teoacutericas praacuteticas e sociais e as sugestotildees de pesquisas futuras

109

5 Conclusatildeo

Neste capiacutetulo seratildeo apresentadas as conclusotildees da pesquisa tendo como referencial os

objetivos propostos

Pode-se concluir que a mentoria mostrou assim como no exposto teoricamente

resultados positivos na vida dos mentores mentorados e da comunidade O objetivo da

pesquisa foi atingido uma vez que foi possiacutevel conhecer algumas especificidades da mentoria

no contexto brasileiro e mais especificamente nordestino Ampliou-se tambeacutem o

conhecimento da mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes com risco para delinquumlecircncia

Desta forma a mentoria mostrou-se eficaz no sentido de contribuir para o desenvolvimento

do mentorado de forma que ele permanece na escola e melhora o rendimento escolar

As funccedilotildees de carreira propostas pela literatura foram encontradas e destas vale

destacar a oferta de tarefas desafiadoras O mentor propotildee inuacutemeros e audaciosos desafios

para seus mentorados sem no entanto deixar de prover as condiccedilatildeo de atingi-los e de superar

a realidade de exclusatildeo a que estatildeo sujeitos Outras funccedilotildees desenvolvidas pelo projeto e que

merecem destaque dizem respeito agrave amizade e agrave aceitaccedilatildeo do mentor para com seu

mentorado A importacircncia deste viacutenculo afetivo eacute imensuraacutevel principalmente em se tratando

e crianccedilas que muitas vezes natildeo percebem amor em sua famiacutelia

Seu Moab se preocupa mais com as crianccedilas do que noacutes que somos matildee (risos) Tem paciecircncia tem carinho por aquelas crianccedilas Ele sabe ensinar () ele natildeo machuca ele natildeo grita e as crianccedilas obedecem Eacute uma benccedilatildeo ele tem aquele amor (MAtildeE DE TAcircNIA entrevista set05)

O projeto demonstrou suprir lacunas na famiacutelia sendo o mentor agraves vezes comparado

com um pai ou com algueacutem da famiacutelia Pocircde se perceber a importacircncia da mentoria para o

grupo especiacutefico de pessoas marginalizadas ldquocarentes de tudordquo (PSICOacuteLOGA entrevista

110

set05) ao se ter algueacutem que acredite que aceite valorize incentive e decirc condiccedilotildees de

crescimento e desenvolvimento Papel este desempenhado pelos mentores ldquoO projeto restaura

a dignidade da pessoa do ser pessoa de ser um cidadatildeo de estar num lugar () onde as

pessoas estatildeo olhando para ele Ele eacute importante ele existerdquo (PSICOacuteLOGA entrevista

out05)

A mentoria mostrou-se efetiva em ajudar o mentorado em seu desenvolvimento

pessoal e ldquoprofissionalrdquo e seus benefiacutecios puderam ser em parte verificados

Os fatores de ecircxito mencionados na teoria tambeacutem puderam ser encontrados no

projeto A relaccedilatildeo de mentoria existente no projeto revelou caracteriacutesticas natildeo abordadas pela

teoria o que enriquece os estudos nesta aacuterea

Outro aspecto que chama a atenccedilatildeo eacute o comprometimento dos colaboradores

entrevistados seu desejo em ajudar e realizaccedilatildeo ao poderem contribuir

Esta foi a conclusatildeo objetiva deste trabalho No entanto em se tratando de uma

pesquisa qualitativa na qual haacute o envolvimento do pesquisador com o objeto na busca de se

chegar a uma compreensatildeo deste outros conhecimentos menos objetivos puderam ser

apreendidos e devem ser mencionados

O fazer parte do projeto parece ter um significado especial para quem dele participa e

os benefiacutecios parecem ir aleacutem dos aqui listados Algo taacutecito que natildeo pocircde ser apreendido

apenas sentido o brilho nos olhos as laacutegrimas as pausas e a voz trecircmula Fatos frequumlentes

nas entrevistas quer de mentores de mentorados ou das matildees

O projeto na percepccedilatildeo da pesquisadora pode ser comparado a seguinte metaacutefora uma

sementeira muito acolhedora cujos responsaacuteveis satildeo uma famiacutelia de saacutebios agricultores (pai

matildee filho e filha) que mesmo com outras opccedilotildees ldquomais lucrativasrdquo financeiramente optam

por trabalhar em sementes rejeitadas Esta famiacutelia partilha da visatildeo que vai aleacutem da ldquocascardquo

seca feia suja e aparentemente infrutiacutefera que tais sementes se apresentam E assim doam

111

suas vidas para descobrir (natildeo no sentido de achar mas de tirar o que encobre) e revelar o

tesouro que haacute dentro delas Plantam regam e fornecem a elas os nutrientes tirados de sua

proacutepria mesa no intuito de vecirc-las desabrochar desenvolver crescer e influenciar

positivamente a terra seca e aacuterida na qual foram geradas e permanecem A ideacuteia eacute a de uma

sementeira na qual um belo jardim e um frutiacutefero pomar satildeo vislumbrados Natildeo se

excluem desta percepccedilatildeo as dificuldades que acompanham o preparo da terra a poda as

intempeacuteries do ambiente e o descreacutedito daqueles que muitas vezes ao verem tal trabalho

negligenciam seu valor meneiam a cabeccedila e o desprezam No entanto o amor e a vontade de

ver tais sementes tatildeo marginalizadas frutificarem se alastra e contagia a outros que com o

mesmo intuito tecircm se envolvido contribuindo e partilhando do mesmo sentimento pois

acreditam que fornecendo as condiccedilotildees ldquoadequadasrdquo essas sementes iratildeo frutificar tanto ou

mais do que as mais belas aacutervores do mais belo pomar Esta sementeira para a pesquisadora

eacute o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida os agricultores satildeo Moab Silva Miriam Mariacutelia e Marcos

Moab apenas esporadicamente trabalha como cozinheiro visto dedicar-se

integralmente ao projeto no acompanhamento das crianccedilas e adolescentes nas escolas na

busca de patrociacutenio na comunidade com os pais

Miriam abre as portas de sua casa partilha o alimento com qualquer das crianccedilas que

chegar agrave sua porta e tatildeo importante quanto este partilha tambeacutem o afeto Natildeo se pode

mensurar o quanto este casal jaacute abnegou de sua vida em prol da vida deste projeto

Mariacutelia e Marcos jaacute ensinaram no projeto e quando solicitados retornam eles aceitam

partilhar com tantos outros daquilo que seria soacute seu pai matildee lar e recursos

Este projeto eacute um projeto de uma famiacutelia que se envolve se compromete com

seriedade e responsabilidade com os moradores da comunidade de forma que sofre junto

partilhando das dificuldades de crianccedilas e adolescentes que seriam apenas estranhos ou

ldquomeninos de ruardquo natildeo fosse o amor que os mobiliza

112

Pode-se perceber que muitas vezes faltam recursos materiais para se fazer como se

gostaria e ateacute mesmo para dar continuidade ao que jaacute foi feito No entanto a ausecircncia de

estiacutemulo de coragem de amor e de creacutedito natildeo foi percebida Talvez por isso algumas matildees

tenham se referido ao projeto como sendo algo maravilhoso

Feitas as conclusotildees seguem nas proacuteximas seccedilotildees as implicaccedilotildees teoacutericas praacuteticas e

sociais deste estudo e as sugestotildees de pesquisa futura

51 Contribuiccedilotildees do estudo

O presente trabalho oferece algumas contribuiccedilotildees para a teoria para a praacutetica e

tambeacutem para a sociedade Seguem nas proacuteximas seccedilotildees o detalhamento destas contribuiccedilotildees

511 Contribuiccedilatildeo teoacuterica

Esta pesquisa traz contribuiccedilotildees para a teoria na medida em que verifica a

aplicabilidade da literatura no contexto brasileiro de uma comunidade carente Oferece

contribuiccedilotildees tambeacutem por tratar da mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes com risco

para delinquumlecircncia A pesquisa aborda objetos que no Brasil ainda natildeo tinham sido

pesquisados sob o arcabouccedilo da mentoria

Outra contribuiccedilatildeo deste estudo diz respeito aos achados aqueles que diferem da

teoria e que foram encontrados no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida tais como o patrociacutenio amplo

oferecido pelo mentor ao mentorado o mentor natildeo ser tido como modelo o

autoconhecimento e senso de dever cumprido como benefiacutecios para o mentor Em se tratando

de estudo de caso estes achados natildeo devem ser generalizados No entanto podem servir de

questionamento e de objeto de futuras investigaccedilotildees no sentido de ver sua aplicabilidade em

outros contextos

Segue a contribuiccedilatildeo praacutetica deste trabalho

113

52 Contribuiccedilatildeo praacutetica

O presente objeto de pesquisa (mentoria voltada para educaccedilatildeo de crianccedilas e

adolescentes carentes) pode ser utilizado tambeacutem como forma de intervenccedilatildeo na educaccedilatildeo do

ensino puacuteblico e privado

A iniciativa privada tambeacutem pode ter nesta relaccedilatildeo de mentoria um modelo de accedilatildeo

de responsabilidade social Pode intervir em sua comunidade preparando sua futura matildeo-de-

obra e usufruindo os diversos benefiacutecios que tal relaccedilatildeo pode trazer natildeo soacute em termos de

dividendos ao gerenciar a reputaccedilatildeo mas em termos solidariedade realizaccedilatildeo e senso de

dever cumprido

Era objetivo contribuir com a praacutetica atraveacutes da teoria de mentoria visando

potencializar a relaccedilatildeo existente no projeto de reforccedilo No entanto uma vez que os fatores de

ecircxito jaacute satildeo considerados e que a relaccedilatildeo tem trazido benefiacutecios para o mentorado mentor e

para a sociedade natildeo se percebeu formas de contribuiccedilatildeo com o projeto neste sentido Senatildeo

de apresentar um estudo sistematizado do projeto e de como satildeo beneficiados os que dele

participam

53 Contribuiccedilatildeo social

O presente trabalho oferece contribuiccedilotildees sociais na medida em que confirmou que o

objeto de estudo mostrou-se eficiente em sua proposta podendo entatildeo servir de modelo de

accedilatildeo para outras entidades voltadas para crianccedilas e adolescentes de risco

O trabalho tambeacutem pode servir de fonte de pesquisa para empresas que desejam ser

responsaacuteveis socialmente atraveacutes da educaccedilatildeo tendo na mentoria um modelo que apresentou

resultados positivos

Outra contribuiccedilatildeo social deste estudo diz respeito ao questionamento sobre a

educaccedilatildeo no Brasil O projeto tem sido uma alternativa diante do insucesso da escola puacuteblica

114

em fazer com que o aluno permaneccedila na escola e obtenha bom aproveitamento A

contribuiccedilatildeo pode ser aumentada na medida em que o puacuteblico para tal projeto eacute de crianccedilas e

adolescentes com risco Tais sujeitos aleacutem do aprendizado obtido adquirem perspectiva

positiva de vida podendo-se inferir que haja diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia

Seguem na proacutexima seccedilatildeo algumas sugestotildees de pesquisas futuras que podem ser

realizadas no intuito de compreender melhor o fenocircmeno estudado

52 Sugestotildees de pesquisas futuras

Algumas sugestotildees de pesquisa podem ser feitas a partir do presente trabalho Satildeo elas

a) Acompanhar a histoacuteria dos futuros egressos visando conhecer melhor os

resultados do programa de mentoria

b) Realizar um experimento entre as crianccedilas e adolescentes que participam do

projeto e os natildeo participantes para se verificar a influecircncia deste

c) Investigar quais as implicaccedilotildees de haver dois tipos de relaccedilatildeo de mentoria no

projeto na qual o mentor tem um relacionamento mais proacuteximo com um

mentorado do que com outro

Estas sugestotildees para pesquisa futura encerram este trabalho mas natildeo os

questionamentos dele advindos

Peccedilo licenccedila a Moab para terminar o trabalho com sua fala Para educar natildeo se tem

um resultado imediato Entatildeo vocecirc tem que gastar tempo Eacute investimento em longo

prazo Vocecirc tem que ter paciecircncia () amor (COORDENADOR entrevista set05)

115

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122

APEcircNDICE A - Apresentaccedilatildeo da entrevista

123

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

APRESENTACcedilAtildeO DA ENTREVISTA

Meu nome eacute Adriana Alvarenga Marques Sou pesquisadora da Universidade Federal

de Pernambuco e estamos fazendo um estudo sobre a educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes

Pesquisamos sobre este tema no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida com alguns pais de alunos e com

alguns dos que colaboram com o projeto e tambeacutem com o Sr Moab

Estou aqui para lhe fazer algumas perguntas sobre este assunto A sua participaccedilatildeo eacute

de muita importacircncia para a pesquisa

Quero destacar que vocecirc natildeo precisa se identificar e seus dados e o do aluno natildeo seratildeo

revelados

Gostaria ainda de sua permissatildeo para gravar nossa ldquoconversardquo lembrando que apenas

eu ouvirei a fita Peccedilo isto por que para anotar as respostas eu levaria muito tempo e natildeo seria

feito com precisatildeo Vocecirc autoriza

124

APEcircNDICE B- Roteiro da entrevista com os pais

125

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

Roteiro de Entrevista para os Pais

Nome- ___________________________________________________________________

Nome do(a) filho(a) participante do projeto- _____________________________________

Escolaridade dos pais- _______________________________________________________

Quantas pessoas moram com o(a) aluno(a) _______________________________________

1- Haacute quanto tempo vocecirc conhece o projeto de reforccedilo Educaccedilatildeo eacute Vida

2- O que vocecirc pensa a respeito deste projeto

3- Haacute quanto tempo seusua filho(a) faz parte do projeto

4- Qual a idade dele (a)

5- Qual a seacuterie que ele(a) cursa

6- Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo de seusua filho(a) houve alguma mudanccedila nele(a) depois de

haver entrado no projeto Qual(ais)

7- No dia-a-dia vocecirc percebe alguma influencia do projeto no comportamento de

seusua filho(a) Qual(ais)

8- Existe algueacutem do projeto que demonstre cuidado e preocupaccedilatildeo com seusua filho(a)

que o(a) acompanhe seusua filho(a) mais de perto Quem

9- Como eacute feito esse acompanhamento

10- Qual o significado desta pessoa na vida de seu filho

11- Seu filho(a) gosta de estudar

12- Como vocecirc percebe isto

13- Seu filho(a) jaacute recebeu alguma ajuda vinda do projeto

14- Que tipo de ajuda

15- Quando seu filho passa por alguma dificuldade ou problema a quem ele recorre

16- Haacute algueacutem do projeto que aconselhe seuas filho(a) Quem

17- Que tipo de conselho ele(a) oferece

18- Seusua filho(a) fala sobre seu futuro O que ele(a) diz

126

19- Onde seu filho estuda

20- Como eacute o desempenho de seusua filho(a) na escola Como satildeo suas notas

21- Seusua filho(a) traz tarefas para casa

22- Quem o(a) ajuda a resolve-las

23- Haacute mais alguma coisa sobre a educaccedilatildeo de seu filho que vocecirc considere importante

24- Quando vocecirc pensa no projeto qual a ideacuteia ou sentimento que lhe vem

25- Haacute mais alguma coisa sobre o projeto que vocecirc gostaria de falar

127

APEcircNDICE C - Roteiro da entrevista com os colaboradores

128

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

Roteiro da Entrevista com os Colaboradores

Nome ndash ______________________________________________________________

Tempo de projeto-______________________________________________________

Funccedilatildeo desempenhada no projeto- _________________________________________

Tempo de projeto - _____________________________________________________

1- Haacute quanto tempo vocecirc conhece o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

2- Qual a sua participaccedilatildeo neste projeto

3- Com que frequumlecircncia ocorre seu contato com as crianccedilas adolescentes comunidade

4- Vocecirc recebe alguma remuneraccedilatildeo para atuar no projeto

5- Qual sua motivaccedilatildeo para participar

6- Vocecirc poderia descrever como eacute seu relacionamento com os alunos

7- Haacute algum(a) em especial por quem vocecirc tenha maior preocupaccedilatildeo cuidado carinho

8- Por que

9- Como satildeo seus encontros com as crianccedilas

10- Como vocecirc percebe o significado deste projeto na vida da comunidade

11- Durante o seu tempo de participaccedilatildeo no projeto houve algum evento ou

acontecimento que lhe marcou e que vocecirc gostaria de falar

12- Quando vocecirc pensa no projeto qual a ideacuteia ou sentimento que lhe vem

13- Haacute mais alguma coisa sobre o projeto ou sobre os alunos que vocecirc gostaria de

compartilhar

129

APEcircNDICE D - Roteiro da entrevista com o fundador do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

130

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

Roteiro de Entrevista do Fundador

Nome ndash ______________________________________________________________

1- Como surgiu a ideacuteia do projeto

2- Como foi efetivado

3- Quais as motivaccedilotildees para a existecircncia do projeto

4- Houve participaccedilatildeo de sua famiacutelia

5- Vocecirc poderia falar acerca do funcionamento do projeto as atividades desempenhadas

os objetivos a manutenccedilatildeo

6- A quem o projeto se destina

7- Qual a sua participaccedilatildeo efetiva no projeto

8- Como se deu a formalizaccedilatildeo

9- Como ocorre a seleccedilatildeo das crianccedilas para fazer parte do projeto

10- Quais os criteacuterios para se manter no projeto

11- Como o projeto obteacutem recursos para funcionar

12- Que tipo de atividade o projeto desenvolve

13- Haacute quanto tempo o projeto existe

14- Houve algueacutem em sua vida que serviu de incentivo para que vocecirc desenvolvesse esse

tipo de atividade

15- Por que um projeto em educaccedilatildeo

16- Qual o significado deste projeto na vida da sua famiacutelia

17- Qual o significado deste projeto na vida da comunidade

18- O que significa para uma crianccedila participar do projeto

19- Quais as dificuldades enfrentadas

20- Haacute ou houve algum acontecimento que lhe marcou

21- Existem crianccedilas que vocecirc acompanha mais de perto

22- Como eacute esse acompanhamento

131

23- O que o projeto oferece aos participantes em termos de educaccedilatildeo

24- Haacute mais algum tipo de ajuda que o projeto oferece Qual (ais)

25- O que eacute importante para que o projeto obtenha ecircxito

26- O que vocecirc acredita que eacute determinante do sucesso escolar de um aluno

27- Por que vocecirc acha que alguns alunos natildeo obtecircm bom aproveitamento escolar

28- Como eacute a participaccedilatildeo de sua famiacutelia no projeto

29- Qual o seu sonho para o projeto

30- Quando vocecirc pensa neste projeto qual a ideacuteia ou sentimento que lhe ocorre

31- Haacute mais alguma coisa que vocecirc gostaria de falar

132

ANEXO A - Estatuto da Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre

133

134

135

136

137

138

139

140

ANEXO B ndash Documento de Apresentaccedilatildeo do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

141

142

IDENTIFICACcedilAtildeO Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre situada agrave rua Joatildeo Tude de Melo nordm 21 Casa Forte Recife Pernambuco Brasil CEP ndash52060-030 tel 3442-2084

Objetivo Manter influente obra social cristatilde que possa mudar o quadro social das crianccedilas e jovens da comunidade

O projeto funciona haacute trecircs anos atendendo a comunidade na aacuterea de educaccedilatildeo sauacutede lazer e educaccedilatildeo religiosa

143

ANAacuteLISE DO CONTEXTO DO PROJETO A favela Vila do vinteacutem como todo reduto de pobreza tem seus problemas suas causas e consequumlecircncias Apoacutes trecircs anos de atividades nesta comunidade detectamos que a maacute distribuiccedilatildeo de renda e a falta de uma poliacutetica social voltada para os mais carentes tecircm contribuiacutedo para a formaccedilatildeo de famiacutelias desestruturadas e em situaccedilotildees de risco fomentadas pela pobreza cultural e financeira Residem em barracos de madeira papelatildeo e plaacutestico de aproximadamente 12m2 sem aacutegua esgoto e muitos sem sanitaacuterios O conviacutevio diaacuterio com insetos torna a accedilatildeo meacutedica difiacutecil ou mesmo inviaacutevel Eacute isto que temos vivenciado no dia-dia famiacutelias em condiccedilotildees sub-humanas sobrevivendo de pequenos serviccedilos que prestam

Eacute neste cenaacuterio que consequumlentemente a crianccedila e o jovem desenvolve seu potencial de violecircncia anseios e conflitos convivendo com a fome a falta de higiene ambiente inoacutespito e inadequado para os estudos e outras atividades Essas crianccedilas semi-abandonadas vivem sem perspectivas de mudanccedilas sendo apenas viacutetimas de um processo que as leva a marginalidade

Por esta razatildeo se faz necessaacuterias accedilotildees contiacutenuas para melhoria da qualidade de vida e paz social desenvolvendo atividades que as valorizem como pessoas minimizando o sofrimento dando-lhes esperanccedilas atraveacutes da educaccedilatildeo sauacutede lazer e profissionalizaccedilatildeo

144

OBJETIVOS

Geral Visa natildeo somente melhorar a qualidade de vida no presente mas intervir num ciclo vicioso preparando a crianccedila e o jovem para o futuro Atuar na aacuterea de Educaccedilatildeo solicitando bolsas de estudo na rede privada com aulas de reforccedilo para o ensino fundamental alfabetizaccedilatildeo infantil distribuiccedilatildeo de material escolar e merenda Curso regular de liacutengua estrangeira (Inglecircs) iniciaccedilatildeo musical (teoria e praacutetica) Sauacutede Cliacutenica pediaacutetrica odontoloacutegica psico-pedagoacutegica e aviamento de receitas

Especiacuteficos

A) Promover a melhoria da escolaridade incentivando a permanecircncia e o equiliacutebrio entre o conhecimento e o grau adquirido

B) Desenvolver atividades que proporcionem o desenvolvimento de competecircncias sociais pessoais e intelectuais favorecendo a reflexatildeo e o exerciacutecio da cidadania com palestras passeios e filmes Ampliando o leque de conhecimentos e enriquecendo o senso criacutetico

C) Desenvolver programa intensivo de sauacutede atraveacutes de convecircnios melhorando desta forma a sauacutede e a aparecircncia fiacutesica para que haja um relacionamento pessoal sem reserva ou constrangimento

D) Ampliar os conhecimentos por curso regular de liacutengua estrangeira (Inglecircs) e iniciaccedilatildeo musical teoria e praacutetica Tirando-os da rua e da ociosidade oferecendo uma perspectiva de profissionalizaccedilatildeo e um conviacutevio cultural diferente do que vivenciam

145

PUacuteBLICO ALVO Crianccedilas e jovens de cinco a dezessete anos residentes na Vila Vinteacutem e devidamente matriculados e frequumlentando a rede oficial de ensino puacuteblico ou privado METODOLOGIA Profissionais de suas respectivas aacutereas ministraratildeo aulas diariamente ou em dias alternados conforme as especialidades e necessidades do projeto Por tratar-se de prestaccedilatildeo de serviccedilo voluntaacuterio com fim social todos teratildeo liberdade sobre o plano de accedilatildeo a ser aplicado no entanto deveratildeo estar de acordo com o nosso Estatuto Convecircnio com a Fundaccedilatildeo Manuel de Almeida (Hospital Infantil) para cliacutenica meacutedica e pediaacutetrica cabendo a instituiccedilatildeo a avaliaccedilatildeo e anaacutelise dos resultados As atividades seratildeo desenvolvidas em nossa sede proacutepria e anexo I exceto o curso de inglecircs consultas odontoloacutegicas e cliacutenica meacutedica Modelo de Educaccedilatildeo para a Sauacutede Objetivo Colocar a educaccedilatildeo a serviccedilo de uma vida saudaacutevel Accedilotildees destinadas a orientar os jovens

bull Alimentaccedilatildeo adequada bull Atividades que natildeo promovam o estresse bull Vida sexual segura bull Orientaccedilatildeo sobre o risco do tabaco aacutelcool e outras drogas

psicoativas bull Discussatildeo de temas gerais atuais ndash exemplo tracircnsito poluiccedilatildeo

violecircncia etc Objetivando a formaccedilatildeo de cidadatildeos conscientes e capazes de optar por uma vida mais saudaacutevel individual e coletiva

Modelo de Modificaccedilatildeo das Condiccedilotildees de Ensino Enfatizando a vivecircncia escolas desde a Educaccedilatildeo Infantil ensino Fundamental e Meacutedio como essencial para o desenvolvimento sadio do adolescente e adulto Preocupando-se com a prevenccedilatildeo ao uso abusivo de drogas a delinquumlecircncia as patologias mentais buscando a formaccedilatildeo integral do jovem Envolvendo pais e comunidade

146

Orientaccedilotildees estrateacutegicas

bull Modificar as praacuteticas de ensino bull Melhorar a relaccedilatildeo professoraluno bull Melhorar o ambiente escolar bull Incentivar o desenvolvimento social bull Ofertar serviccedilos de sauacutede bull Envolver os pais em atividades curriculares

AVALIACcedilAtildeO Bimestral junto agraves escolas solicitando boletins de cada aluno assistido pelo projeto cuja permanecircncia dos benefiacutecios dependeraacute do aproveitamento escolar da assiduidade agraves atividades e programaccedilatildeo da instituiccedilatildeo

147

ANEXO C ndash Estrutura baacutesica para orientaccedilatildeo de teses e dissertaccedilotildees

148

  • CLASSIFICACcedilAtildeO DE ACESSO A TESES E DISSERTACcedilOtildeES
    • Adriana Alvarenga Marques
      • 1 Introduccedilatildeo
        • 2 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica
          • Mentoria informal
            • Mentoria formal
              • 3 Metodologia
                  • APEcircNDICE A - Apresentaccedilatildeo da entrevista
                    • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                    • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                      • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                        • APRESENTACcedilAtildeO DA ENTREVISTA
                          • APEcircNDICE B- Roteiro da entrevista com os pais
                            • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                            • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                              • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                                • Roteiro de Entrevista para os Pais
                                  • APEcircNDICE C - Roteiro da entrevista com os colaboradores
                                    • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                                    • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                                      • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                                        • Roteiro da Entrevista com os Colaboradores
                                          • APEcircNDICE D - Roteiro da entrevista com o fundador do Projet
                                            • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                                            • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                                              • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                                                • Roteiro de Entrevista do Fundador
                                                  • ANEXO A - Estatuto da Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre
                                                    • IDENTIFICACcedilAtildeO
                                                      • ANAacuteLISE DO CONTEXTO DO PROJETO
                                                        • OBJETIVOS
                                                          • PUacuteBLICO ALVO
                                                            • METODOLOGIA
                                                                • Modelo de Educaccedilatildeo para a Sauacutede
                                                                • Modelo de Modificaccedilatildeo das Condiccedilotildees de Ensino
                                                                  • AVALIACcedilAtildeO
Page 4: A mentoria na educação de crianças e adolescentes carentes ... · Figura 5 (4) Modelo de Certificado de Padrinho 70 Figura 6 (4) Foto da apresentação das meninas do projeto em

Marques Adriana Alvarenga A mentoria na educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes carentes estudo de caso de um projeto de reforccedilo escolar em uma comunidade do Recife PE Adriana Alvarenga Marques ndash Recife O Autor 2006 148 folhas fig quadros Dissertaccedilatildeo (mestrado) ndash Universidade Federal de Pernambuco CCSA Administraccedilatildeo 2006 Inclui bibliografia apecircndices e anexos 1 Educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes 2 Delinquumlecircncia juvenil 3 Mentoria 4 Aconselhamento ndash Educaccedilatildeo de crianccedilas I Tiacutetulo 3704 CDU (1997) UFPE 3701 CDD (22ed) CSA2006-005

Agravequeles que por algum motivo natildeo tiveram a oportunidade de conhecer o brilho das letras e que hoje excluiacutedos vivem agrave sombra do conhecimento

Agradecimentos

A Deus nosso amado Pai que fez com que mais um dos meus sonhos se tornasse realidade que colocou pessoas dEle ao meu redor para me ensinar incentivar compartilhar e corrigir Agrave querida Professora Drordf Socircnia Calado por sua dedicaccedilatildeo e nobreza ao partilhar saberes tatildeo altos comigo e pela confianccedila e aceitaccedilatildeo Aos meus queridos e competentes mestres que me ensinaram entre tantos conteuacutedos a alegria e a dor do aprendizado Ao professor Dr Pedro Lincoln pelo exemplo de aula e pela consideraccedilatildeo Agraves professoras Drordfs Lenice Pimentel e Maria Auxiliadora (UFALCHLA) por me apresentarem a este Programa Agrave Professora Drordf Lilian Outtes por sua amizade e profissionalismo Agrave UFPE esta reconhecida Instituiccedilatildeo da qual eu muito me orgulho A todos os que fazem o PROPAD minha sincera gratidatildeo Agrave dona Socorro pela simpatia e pelo cafezinho gostoso Ao Sr Moab Silva e sua esposa Miriam pela receptividade e apoio A todos os que fazem o Projeto Amigos para Sempre pela abertura colaboraccedilatildeo e confianccedila Ao Emanuel Marques meu querido marido pelo carinho apoio e paciecircncia tatildeo presentes nestes dois anos Obrigada amor Aos meus filhos Juliana e Carlos Henrique pela forccedila que mesmo sem saber me transmitiram o tempo todo Aos meus pais Carlos e Ana por pedirem a Deus pela minha vida Ele os tem ouvido Aos meus sogros Fernando Marques e Zeine Gomes pelo incentivo constante e por acreditar em mim Aos meus irmatildeos Edilson Elisana e Adilson Ao Dr Conrado Paulino (in memoriam) e sua esposa Drordf Zery Gomes pelos saacutebios e sinceros conselhos Ao Sr Joaquim Vera e Fabiana Sousa pelo apoio e assistecircncia Agrave Roberta Arauacutejo pela amizade mesmo que agrave distacircncia Aos colegas da turma 10 pelas alegrias e agonias partilhadas De fato vocecircs satildeo 10 Que Deus vos abenccediloe ricamente A Ana Claudia Ariaacutedne Denise Maria Elisa e agrave Monique pela amizade construiacuteda neste periacuteodo Minha sincera gratidatildeo a todos que contribuiacuteram para que este sonho se tornasse real Sem vocecircs esta conquista natildeo seria possiacutevel Muito obrigada

ldquoAinda que eu conheccedila todos os misteacuterios e toda a ciecircncia se natildeo tiver amor nada sereirdquo

Adap Apoacutestolo Paulo

Resumo

A mentoria se caracteriza pela relaccedilatildeo existente entre mentor (algueacutem com reconhecida

experiecircncia) e mentorado (um neoacutefito) na qual o mentor serve de guia para o jovem aprendiz

dando-lhe conselhos instruccedilotildees patrociacutenio e amizade de modo a facilitar o desenvolvimento

de sua carreira Em troca o mentor obteacutem reconhecimento apoio e realizaccedilatildeo ao acompanhar

o crescimento profissional de seu mentorado A mentoria voltada para jovens e adolescentes

com risco para a delinquumlecircncia tem sido investigada em paiacuteses como Estados Unidos e Canadaacute

Dentre os benefiacutecios encontrados pode-se citar a diminuiccedilatildeo de comportamentos agressivos

reduccedilatildeo da evasatildeo escolar aumento da auto-estima e consequumlentemente reduccedilatildeo da

delinquumlecircncia juvenil A presente pesquisa propocircs-se a investigar um programa de mentoria

voltado para crianccedilas e adolescentes carentes O objetivo foi verificar quais as especificidades

deste programa num contexto brasileiro e quais os benefiacutecios desta relaccedilatildeo na vida dos

mentorados (crianccedilas e adolescentes) dos mentores (colaboradores do projeto) e da

comunidade A percepccedilatildeo das famiacutelias acerca do projeto tambeacutem foi considerada Fez-se um

estudo de caso exploratoacuterio-descritivo acerca de um projeto de reforccedilo escolar localizado na

Vila do Vinteacutem II uma comunidade carente do Recife A estrateacutegia de pesquisa foi

qualitativa atraveacutes de entrevistas observaccedilatildeo e anaacutelise documental Pocircde-se perceber que

apenas em alguns aspectos a mentoria ocorrida no projeto diferia dos achados na literatura

Por exemplo o fato de o mentor ser um modelo para o mentorado (fato expliacutecito

teoricamente) natildeo ficou evidenciado neste contexto A pesquisa procurou verificar a

viabilidade de uma forma de intervenccedilatildeo na vida de crianccedilas e adolescentes carentes que

pode ser utilizada por organizaccedilotildees privadas como meio de accedilatildeo de responsabilidade social e

por instituiccedilotildees puacuteblicas no sentido de alcanccedilar maior aproveitamento escolar das crianccedilas e

dos adolescentes

Palavras-chave Mentoria Educaccedilatildeo Comunidade carente Delinquumlecircncia Suporte

psicossocial

Abstract

Mentorship is characterized by the relationship between a mentor (someone with recognized

experience) and the individual to be mentored (novice) in which the mentor guides the young

apprentice offering himher counsel advice and friendship in a way as to facilitate the

development of hisher career In exchange the mentor obtains recognition support and

personal reward taking part in the professional growth of the person being mentored

Mentorship geared towards youth and teenagers with risks of becoming delinquent individuals

has been investigated in countries such as the United States and Canada Among the benefits

found one can mention the decrease in aggressive behavior and school absenteeism an

increase in self esteem and consequently a decrease in juvenile delinquency This research is

intended to investigate a mentorship program geared towards impoverished children and

teenagers with the purpose of verifying if in the Brazilian context specifically in the

northeast of Brazil the mentor relationship presents the same characteristics as those shown

in previously documented researches This is a descriptive-exploratory case study about a

school tutorship program at Vila do Vinteacutem II a slum in Recife Pernambuco Brazil The

objective of this study was to verify what are the specificities of a mentorship program

designed for children and teenagers in the Brazilian context and what are the benefits of this

relationship in the life of those who are mentored (children and teenagers) the mentors (who

joined the program) and the community The perception of the families about the program has

been taken into consideration as well The strategy used for this research was qualitative

through interviews and observation and documental analysis It was observed that only in a

few aspects the mentorship analyzed in this program was different from the findings of

previous research as for instance the fact that the mentor is considered a role model for the

apprentice (a theoretical fact that is widely accepted) has not been evidenced in this context

This research was intended to demonstrate the possibility of an intervention in the lives of

impoverished children and teenagers and can be utilized by organizations in their social

responsibility actions and by public policy formulators with the purpose of increasing school

progress for children and teenagers

Key-words Mentorship Tutorship Education Impoverished community Delinquency

Psychosocial support

Lista de figuras

Figura 1 (4) Foto da Vila do Vinteacutem II 60Figura 2 (4) Foto das palafitas da Vila do Vinteacutem II 61Figura 3 (4) Foto da festa de Natal para as crianccedilas da Vila Vinteacutem 63Figura 4 (4) Foto da festa das crianccedilas na sede do projeto 64Figura 5 (4) Modelo de Certificado de Padrinho 70Figura 6 (4)

Foto da apresentaccedilatildeo das meninas do projeto em uma missa de Natal realizada pela Igreja Catoacutelica de Casa Forte na Vila Vinteacutem 81

Figura 7 (4)

Foto da professora e alunos durante a aula de reforccedilo na sede do projeto 90

Figura 8 (4) Boletim escolar de Afracircnio 98Figura 9 (4) Boletim escolar de Jairo 99

Sumaacuterio 1 Introduccedilatildeo 1511 Objetivos 18111 Objetivo geral 18112 Objetivos especiacuteficos 1812 Justificativa 19121 Justificativa teoacuterica 19122 Justificativa praacutetica e social 192 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica 2121 Mentoria 21211 Funccedilotildees de mentoria 242111 Suporte de carreira 242112 Suporte psicossocial 26212 Fases da relaccedilatildeo mentoria 28213 Tipos de mentoria 302131 Mentoria informal 302132 Mentoria formal 31214 Fatores relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria formal 312141 Seleccedilatildeo de mentores e mentorados 322142 Treinamento supervisatildeo e acompanhamento do programa de mentoria 332143 Frequumlecircncia dos encontros 342144 Duraccedilatildeo da relaccedilatildeo de mentoria 3422 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria 35221 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentorado 36222 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentor 39223 Benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria 413 Metodologia 4631 Delineamento da pesquisa 4632 Primeira fase da coleta de dados 47321 Objetivo 47322 Instrumentos de coleta de dados 4833 Segunda fase de coleta de dados 50331 Objetivos 50332 Instrumentos de coleta de dados 5034 Sujeitos da pesquisa 52341 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos sujeitos 5335 Meacutetodos de anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados 5436 Limitaccedilotildees da pesquisa 564 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos achados 5841 O caso 58411 O contexto do projeto Vila Vinteacutem II 58412 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 62413 Atividades desenvolvidas pelo projeto 65414 Formalizaccedilatildeo do projeto como organizaccedilatildeo natildeo-governamental 67415 Situaccedilatildeo atual do projeto 68416 Dificuldades enfrentadas pelo projeto 69417 Motivaccedilatildeo para a existecircncia e continuidade do projeto 70418 Dados dos mentores entrevistados 71419 Dados dos mentorados pesquisados 72

4191 Alunos tidos como que de ecircxito nos estudos 724192 Alunos tidos como que de natildeo ecircxito nos estudos 7442 Achados referentes agrave primeira questatildeo norteadora do trabalho 76421 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida como um programa de mentoria 76422 Funccedilotildees de mentoria encontradas no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 784221 Suporte de carreira 784222 Suporte psicossocial 83423 Fases da relaccedilatildeo de mentoria apresentadas no projeto de reforccedilo 87424

Fatores encontrados no projeto que estatildeo relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria 87

425 Fatores responsaacuteveis pelo ecircxito e natildeo ecircxito nos estudos percepccedilatildeo do mentor e da famiacutelia do mentorado 93

426

Resposta da primeira questatildeo norteadora especificidades da relaccedilatildeo de mentoria existentes no projeto de reforccedilo escolar 94

43 Achados referentes agrave segunda questatildeo norteadora 95431

Aumento da auto-estima da responsabilidade maior progresso escolar e perspectiva positiva de futuro 95

432

Resposta da segunda questatildeo norteadora benefiacutecios da mentoria para a crianccedila adolescente do projeto 101

44 Achados referentes agrave terceira questatildeo norteadora 101441 Realizaccedilatildeo pessoal 101442 Motivaccedilatildeo 102443 Ser amado pelo mentorado 103444 Autoconhecimento 103445 Senso de dever cumprido 104446 Resposta da terceira questatildeo norteadora benefiacutecios da mentoria para o mentor 10445 Achados referentes agrave quarta questatildeo norteadora 105451 Desenvolvimento educacional das crianccedilas e dos adolescentes 105452 Assistencialismo 106453 Diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia 107454

Resposta da quarta questatildeo norteadora benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria 108

5 Conclusatildeo 10951 Contribuiccedilotildees do estudo 112511 Contribuiccedilatildeo teoacuterica 112512 Contribuiccedilatildeo praacutetica 113513 Contribuiccedilatildeo social 11352 Sugestotildees de pesquisas futuras 114Referecircncias 115APEcircNDICE A- Apresentaccedilatildeo da entrevista 122APEcircNDICE B- Roteiro da entrevista com os pais 124APEcircNDICE C- Roteiro da entrevista com os colaboradores 127APEcircNDICE D- Roteiro da entrevista com o fundador do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 129ANEXO A- Estatuto da Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre 132ANEXO B- Documento de apresentaccedilatildeo do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 140ANEXO C- Estrutura baacutesica para orientaccedilatildeo de teses e dissertaccedilotildees 147

15

1 Introduccedilatildeo

A educaccedilatildeo no Brasil tem sido nos uacuteltimos anos alvo de atenccedilatildeo por parte dos

governantes da iniciativa privada e da sociedade De acordo com dados do IBGE-Pnad

(2000) o Brasil conta com um iacutendice de analfabetismo de 116 sendo que na Regiatildeo

Nordeste este iacutendice sobe para 23 Em se tratando de analfabetismo funcional o que se

refere agraves pessoas com menos de quatro anos de estudo completos o iacutendice eacute de 24 no Brasil

e 39 na Regiatildeo Nordeste chegando a 43 em alguns municiacutepios Tais dados revelam a

existecircncia de municiacutepios onde quase metade da populaccedilatildeo tem menos de quatro anos de

estudo O fato de haver analfabetos funcionais em tatildeo grande proporccedilatildeo pode ser explicado

pela evasatildeo escolar

Trata-se de milhotildees de brasileiros excluiacutedos agrave margem por natildeo terem acesso agrave leitura

agrave escrita agrave cultura e ao conhecimento formal comprometendo ainda mais a auto-estima e

reduzindo a qualidade de vida de tais pessoas A alta taxa de analfabetismo (116) reduz

ainda mais o IDH (Iacutendice de Desenvolvimento Humano) que no Brasil eacute considerado meacutedio

077 (PNUD 2000) O IDH foi criado para medir o niacutevel de desenvolvimento humano dos

paiacuteses com base em indicadores de educaccedilatildeo (alfabetizaccedilatildeo e taxa de matriacutecula) longevidade

e renda Tal iacutendice varia de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1(desenvolvimento

humano total) Em Pernambuco este iacutendice eacute de 069 considerado meacutedio A taxa de ocupaccedilatildeo

no mercado de trabalho cresce agrave medida que a escolaridade aumenta Entre analfabetos eacute de

52 a chance de ocupaccedilatildeo enquanto que entre graduados sobe para 87 (NERY COSTA

2003)

Satildeo brasileiros que devido agrave exclusatildeo social decorrente do analfabetismo entre outros

fatores natildeo fazem parte do mercado consumidor Pessoas que por sua insuficiente renda ou

16

total falta dela ficam seriamente limitadas no tocante ao consumo sendo muitas dependentes

de poliacuteticas assistencialistas

As empresas tambeacutem sofrem as consequumlecircncias do analfabetismo seja absoluto (pessoa

iletrada) ou funcional pois tecircm em funccedilatildeo dele uma matildeo de obra desqualificada Soma-se o

fato de que estas pessoas natildeo fazem parte de sua clientela uma vez que natildeo tecircm poder

aquisitivo para tal

Estatiacutesticas confirmam que haacute um aumento na renda agrave medida que se acrescentam

anos de estudo A cada ano de estudo a renda aumenta cerca de 16 (IBGE-PNAD 1998) e

consequumlentemente aumenta tambeacutem o poder de compra a inserccedilatildeo social e a qualificaccedilatildeo

Uma questatildeo pertinente em se tratando de evasatildeo escolar eacute sua associaccedilatildeo com a

delinquumlecircncia Um estudo realizado com adolescentes paulistas demonstrou que a defasagem

escolar bem como a multirrepetecircncia satildeo fatores positivamente relacionados com a inserccedilatildeo

de jovens na criminalidade (DIAS 2003)

Barros et al (1994) revelam que um dos principais determinantes do desempenho

escolar da crianccedila eacute a educaccedilatildeo meacutedia das matildees Riveiro (2001) com base em dados da

Unesco afirma que os brasileiros que satildeo analfabetos absolutos estatildeo localizados

principalmente em aacutereas carentes da Regiatildeo Nordeste Considerando que haacute grande propensatildeo

de as matildees que moram em comunidades carentes do Nordeste serem analfabetas e que a

educaccedilatildeo da matildee tende a ser um fator determinante da educaccedilatildeo dos filhos parece legiacutetimo

esperar limitaccedilotildees graves na educaccedilatildeo de crianccedilas em comunidades carentes do Recife

O atual governo em 2001 criou o Programa Nacional do Bolsa-Escola que incentiva

a famiacutelia a colocar o filho na escola e fazecirc-lo permanecer nela Para tanto a famiacutelia recebe a

quantia de R$ 1500 por filho matriculado (MEC 2005) O projeto visa a reduccedilatildeo da evasatildeo

escolar sem no entanto acompanhar o rendimento do aluno beneficiado

17

Quanto agrave iniciativa privada a educaccedilatildeo tem sido o foco de algumas empresas ao

investirem na formaccedilatildeo dos funcionaacuterios e dos filhos destes Acerca do levantamento sobre as

100 melhores empresas para se trabalhar no ano de 2002 Silveira (2002) afirma que eacute fato

relevante para a organizaccedilatildeo que pertence a este ranking a colaboraccedilatildeo com a comunidade na

qual estaacute inserida Para tal algumas organizaccedilotildees contam inclusive com seus funcionaacuterios

agindo como voluntaacuterios nestas accedilotildees de responsabilidade social Desenvolvendo atividades

como esta de responsabilidade social e cidadania a empresa eacute mais bem avaliada por seus

stakeholders internos e externos (ASHLEY 2003)

Nos Estados Unidos uma alternativa para evitar a evasatildeo escolar tem sido

desenvolvida atraveacutes da mentoria Nesta relaccedilatildeo o mentor eacute uma pessoa mais experiente do

que o mentorado algueacutem em quem este confia com quem pode compartilhar suas

dificuldades necessidades e anseios e de quem recebe apoio e orientaccedilatildeo Um exemplo deste

trabalho foi realizado por Klaw et al (2003) com adolescentes afro-americanas gestantes O

objetivo do programa de mentoria era ajudar estas novas matildees a terminar a escola e a

conseguir resultados educacionais satisfatoacuterios apoacutes o nascimento da crianccedila O estudo

mostrou que das adolescentes que foram acompanhadas durante dois anos por um mentor

65 terminaram os estudos Jaacute entre as matildees que natildeo contaram com o programa de mentoria

este percentual caiu para 35 Pode-se concluir que apesar dos fatores adversos (maternidade

na adolescecircncia dificuldade econocircmica e preconceito racial) a mentoria mostrou-se eficaz no

combate agrave evasatildeo escolar

No Recife (PE) em uma comunidade carente verificou-se a existecircncia de um

programa de reforccedilo escolar Foram percebidas atraveacutes de uma pesquisa exploratoacuteria

evidecircncias da relaccedilatildeo de mentoria entre os colaboradores e os alunos sendo estes os

mentorados Esta evidecircncia criou a possibilidade de pesquisar os benefiacutecios produzidos pela

relaccedilatildeo de mentoria voltada para educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes carentes no Brasil

18

Investiga-se assim ateacute que ponto a mentoria pode ser um recurso para auxiliar no aumento do

aproveitamento escolar dos mentorados e na reduccedilatildeo da evasatildeo escolar Desta forma

considerando a situaccedilatildeo da educaccedilatildeo as limitaccedilotildees impostas pelo analfabetismo e a evasatildeo

escolar que aleacutem da exclusatildeo social estaacute associada agrave delinquumlecircncia definimos a seguinte

pergunta de pesquisa

Como ocorre a mentoria voltada para a educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes em

uma comunidade carente do Recife

11 Objetivos

111 Objetivo geral

Investigar como ocorre a mentoria em um programa de reforccedilo escolar voltado para

crianccedilas e adolescentes carentes de uma comunidade do RecifePE

112 Objetivos especiacuteficos

bull Investigar as especificidades da relaccedilatildeo de mentoria (funccedilotildees fases tipos e

fatores de ecircxito) voltada para crianccedilas e adolescentes carentes no contexto de

uma comunidade do Recife

bull Verificar quais os benefiacutecios da mentoria para o mentorado na percepccedilatildeo das

famiacutelias destes

bull Investigar quais os benefiacutecios da mentoria para os mentores na percepccedilatildeo

destes e

bull Verificar quais os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria

19

12 Justificativa

O presente trabalho se justifica devido agrave relevacircncia do tema que aborda e de suas

implicaccedilotildees poliacuteticas organizacionais e sociais

121 Justificativa teoacuterica

No aspecto teoacuterico pode-se citar a escassez de bibliografia nacional acerca da

mentoria Trata-se de um fenocircmeno pouco estudado no Brasil e menos ainda voltado para

educaccedilatildeo de jovens e adolescentes Faz-se necessaacuterio portanto investigar como ocorre a

mentoria no paiacutes e quais as suas especificidades e caracteriacutesticas Neste sentido o presente

estudo pode oferecer algumas contribuiccedilotildees

122 Justificativa praacutetica e social

Do ponto de vista praacutetico a proposta eacute que conhecendo como a mentoria ocorre aqui

agrave luz da teoria existente se possa auxiliar o processo otimizando-o

Quanto agrave justificativa da pesquisa do ponto de vista social pode-se mencionar a

necessidade de pesquisar alternativas para minimizar os problemas de analfabetismo evasatildeo

escolar e delinquumlecircncia juvenil Estes problemas fazem parte do cotidiano do Recife bem

como das demais grandes cidades brasileiras

As organizaccedilotildees podem ter nesta pesquisa um modelo de accedilatildeo de responsabilidade

social intervindo na comunidade local e inclusive preparando a sua futura matildeo-de-obra

Outra justificativa deste trabalho eacute a possibilidade de contribuir com as poliacuteticas

puacuteblicas no sentido de sugerir uma alternativa de intervenccedilatildeo na educaccedilatildeo de crianccedilas e

adolescentes em particular as que se encontram em situaccedilatildeo de risco

20

Neste capiacutetulo introdutoacuterio foi apresentado o tema abordado os objetivos da presente

pesquisa e as razotildees pelas quais o estudo se justifica No proacuteximo capiacutetulo seraacute exposta a

literatura que fornece as bases teoacutericas para a pesquisa

21

2 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica

Com o intuito de se investigar como ocorre a mentoria voltada para crianccedilas e

adolescentes carentes faz-se necessaacuterio trazer agrave luz o que a teoria diz acerca da mentoria

Portanto tratar-se-aacute neste capiacutetulo sobre o conceito de mentoria e suas especificidades ou

seja quais as funccedilotildees desempenhadas na relaccedilatildeo as fases pertinentes a este relacionamento

os tipos de mentoria e os fatores relacionados ao ecircxito desta relaccedilatildeo Os benefiacutecios que a

mentoria oferece ao mentorado ao mentor e agrave comunidade tambeacutem seratildeo considerados

Segue-se pois o conceito de mentoria

21 Mentoria

A palavra mentor surgiu por volta de 800 aC na antiga Greacutecia mais especificamente

na Odisseacuteia de Homero O poema eacutepico pertinente agrave Mitologia Grega relata as aventuras e as

batalhas vividas pelo rei Odisseu (Ulisses em latim) Ao partir de Troacuteia para guerra Odisseu

confiou a guarda de seu filho Telecircmaco a Mentor seu amigo (ENSHER MURPHY 1997)

Mentor passou a ser o responsaacutevel pela preparaccedilatildeo de Telecircmaco para ser o sucessor de seu

pai Mentor natildeo ocupou lugar de destaque na obra de Homero Entretanto em 1699 Franccedilois

de la Mothe-Fenelon fez uma releitura da Odisseacuteia e atribuiu a Mentor a condiccedilatildeo de segundo

pai professor orientador e guia de Telecircmaco Atraveacutes de Fenelon escritor e educador a

figura de Mentor tornou-se conhecida e relevante e em 1750 a palavra mentor jaacute constava

nos dicionaacuterios contendo o seguinte significado conselheiro saacutebio protetor e financiador

(GEHRINGER 2002) Apesar de a mentoria ter surgido em tempos muito distantes a

sistematizaccedilatildeo dos estudos nesta aacuterea data de apenas trecircs deacutecadas

22

Em 1978 Levinson et al (apud KLAW et al 2003) caracterizaram a mentoria como a

assistecircncia unilateral de um indiviacuteduo mais graduado e desejoso de partilhar seus

conhecimentos e experiecircncia a um menos experiente visando o desenvolvimento deste O

relacionamento com um mentor propicia ao jovem adentrar com ecircxito o mundo dos adultos e

o mundo dos negoacutecios Higgins e Kram (2001) salientam que mentores natildeo precisam ser

necessariamente pessoas mais graduadas do que os mentorados podendo ser seus colegas

pares ou parentes Hesgtad (1999) declara que o importante eacute que o mentor exerccedila influecircncia

sobre o mentorado

Hunt e Michael (1983) caracterizam o mentor como algueacutem que estaacute comprometido

em prover crescimento pessoal e suporte de carreira ao seu mentorado Higgins e Kram

(2001) consideram que o apoio e a assistecircncia na relaccedilatildeo de mentoria seriam bilaterais Nesta

relaccedilatildeo mentor e mentorado se auxiliariam no processo de desenvolvimento e tal processo

dar-se-ia atraveacutes de redes de mentoria e natildeo apenas de um mentor para um mentorado As

autoras trazem agrave mentoria a perspectiva do desenvolvimento de redes no qual o mentorado

dispotildee de vaacuterios mentores

Os Estados Unidos e parte da Europa tecircm demonstrado interesse cientiacutefico e

desenvolvido pesquisas sobre o tema Estas pesquisas tecircm sido voltadas para a aacuterea

organizacional na qual a mentoria se destina a jovens que ingressam na organizaccedilatildeo e satildeo

acompanhados por um secircnior Entretanto a mentoria tambeacutem pode ser utilizada na aacuterea

educacional e dirigir-se a estudantes como ocorre por exemplo no sistema de escola puacuteblica

da cidade de Nova Iorque e na Austraacutelia (ZEY 1998) Acerca da importacircncia da mentoria no

acircmbito educacional Astin (1977) defende que alguns estudantes ao serem mentorados podem

se sentir mais encorajados e se envolver mais com os estudos e aprendizado uma vez que o

mentor pode ser um referencial para tal

23

A mentoria voltada para crianccedilas seria de acordo com Brody (1991 apud JACKSON

2002) um relacionamento entre um adulto e uma crianccedila visando facilitar o crescimento

pessoal educacional e social desta Nos EUA tem crescido o nuacutemero de programas de

mentoria com foco na aacuterea social visando atender agraves minorias ou aos jovens adolescentes e

crianccedilas com risco para delinquumlecircncia DuBois et al (2002) realizaram uma meta-anaacutelise

buscando levantar os efeitos de 55 programas de mentoria voltados para juventude Estes

programas diferiam no curriacuteculo No entanto a grande maioria enfatizava o relacionamento

entre um jovem problemaacutetico e um adulto mais experiente O objetivo era o de ajudar o jovem

a resolver satisfatoriamente as dificuldades da vida (KEATING et al 2002) Pode-se entatildeo

afirmar que a mentoria eacute o relacionamento entre um adulto e um jovem com o qual o mentor

estaacute comprometido Este comprometimento visa o desenvolvimento pessoal e profissional de

seu mentorado (KRAM 1985)

Atualmente os mentores naturais pais avoacutes e tios nem sempre estatildeo disponiacuteveis para

o adolescente As famiacutelias a escola e a comunidade tecircm reduzido drasticamente ao longo

dos anos a disponibilidade de adultos para acompanhar e oferecer suporte aos jovens

(DARLING et al 2002) Estas instituiccedilotildees que ao longo da histoacuteria eram as responsaacuteveis por

prover os jovens de suporte necessaacuterio e de conduccedilatildeo tecircm sofrido mudanccedilas e reduzido sua

capacidade de continuar a prover tal apoio A demanda dos grandes centros urbanos bem

como o ecircxodo rural fizeram com que o nuacutemero de adultos que serviam de liacutederes modelos e

agentes de controle social diminuiacutesse A entrada das matildees no mercado de trabalho e o

aumento das separaccedilotildees conjugais levaram os adolescentes a passar menos tempo com os

pais ficando grande parte do tempo com pares e sem a supervisatildeo de um adulto (HARRIS et

al 2002)

A disponibilidade dos adultos para com as crianccedilas tem diminuiacutedo de tal forma que

mais de 25 das crianccedilas nascem em casas com apenas um dos pais e 50 das crianccedilas

24

vivem a maior parte de sua infacircncia nesta mesma situaccedilatildeo A escassez de adultos para

suportar crianccedilas e adolescentes eacute ainda mais intensa em se tratando de comunidades carentes

(GROSSMAN TIERNEY 1998) Darling et al (2002) verificaram que em muitos casos na

ausecircncia de suporte dos mentores naturais os mentores voluntaacuterios tecircm sido alistados

A literatura aborda as funccedilotildees pertinentes a este relacionamento atraveacutes das quais o

mentor teraacute condiccedilotildees de contribuir com o crescimento de seu mentorado Tais funccedilotildees de

mentoria seratildeo abordadas na proacutexima seccedilatildeo

211 Funccedilotildees de mentoria

Satildeo as funccedilotildees desempenhadas no decorrer da relaccedilatildeo de mentoria Na mentoria

tradicional o mentorado recebe do mentor assistecircncia individual acesso a informaccedilotildees

necessaacuterias feedback encorajamento suporte de carreira e suporte emocional (MULLEN

1998) Kram (1985) agrupou diversas atividades em dois grupos de funccedilotildees desempenhadas

pelo mentor quais sejam suporte de carreira e suporte psicossocial Estas funccedilotildees satildeo

distintas mas inter-relacionadas A relaccedilatildeo de mentoria pode prover os dois tipos de suporte

ou apenas um destes a depender do niacutevel da relaccedilatildeo (RAGINS 1997) No entanto quando

ocorrem as duas funccedilotildees ou seja suporte de carreira e psicossocial a mentoria se torna mais

intensa (KRAM 1983)

Nas seguintes seccedilotildees seraacute apresentado e definido o suporte oferecido pelo mentor ao

seu mentorado tanto em termos de carreira quanto psicossocial

2111 Suporte de carreira

O suporte de carreira inclui a ajuda que o mentor daacute ao mentorado para que este se

firme na organizaccedilatildeo e conheccedila seus meandros preparando-o para a ascensatildeo Este suporte

refere-se tambeacutem agraves atividades que o mentor desenvolve no sentido de auxiliar o mentorado

25

em sua carreira profissional Kram (1985) identifica as seguintes atividades oferta de tarefas

desafiadoras coaching proteccedilatildeo exposiccedilatildeo e visibilidade positiva e patrociacutenio Tais funccedilotildees

satildeo abordadas abaixo

a) Oferta de tarefas desafiadoras

Satildeo as tarefas que o mentor atribui ao mentorado visando o desenvolvimento de

competecircncias especiacuteficas Juntamente com estas tarefas o mentor provecirc treinamento

teacutecnico capacitando-o a superar desafios O mentor tambeacutem fornece feedback ao

mentorado sobre seu desempenho A oferta de tarefas desafiadoras prepara o

mentorado para posiccedilotildees de maior responsabilidade

b) Coaching

Ocorre quando o mentor tal qual um teacutecnico transmite conhecimento ao mentorado

sobre como ldquonavegarrdquo no mundo dos negoacutecios O mentor sugere estrateacutegias e

transmite informaccedilotildees ao mentorado Chao et al (1992) defendem que o coach

preocupa-se apenas com a tarefa e as informaccedilotildees necessaacuterias para sua realizaccedilatildeo natildeo

desenvolvendo o interesse para com a carreira do jovem aprendiz Entretanto como

observam Azevedo e Dias (2002) o mentor em algumas ocasiotildees realiza o coaching

por exemplo quando orienta o mentorado com respeito ao desenvolvimento de

habilidades especiacuteficas para o cumprimento de determinada tarefa

c) Proteccedilatildeo

Ocorre quando o mentor se coloca na posiccedilatildeo de um escudo protegendo seu

mentorado O mentor pode assumir determinadas falhas de seu mentorado ou natildeo

permitir que elas se tornem conhecidas A proteccedilatildeo tende a ocorrer com mais

frequumlecircncia quando o mentorado ainda natildeo apresenta resultados dignos de exposiccedilatildeo

Klaw et al (2003) afirmam que o mentor pode inclusive advogar em nome de seus

mentorados adolescentes

26

d) Exposiccedilatildeo e visibilidade positiva

Ocorre quando o mentor daacute ao mentorado condiccedilotildees de demonstrar seu potencial agraves

pessoas de mais alto niacutevel facilitando futuras promoccedilotildees O mentor expotildee

positivamente o mentorado

e) Patrociacutenio

O patrociacutenio acontece quando o mentor indica formal ou informalmente o mentorado

para promoccedilatildeo Ele viabiliza a ascensatildeo de seu mentorado atraveacutes desta indicaccedilatildeo ou

quando propicia os recursos necessaacuterios para o desenvolvimento profissional de seu

mentorado

Estas satildeo as atividades que o mentor desempenha no sentido de viabilizar o

desenvolvimento profissional do mentorado Seguem abaixo as funccedilotildees psicossociais atraveacutes

das quais o mentor desenvolve atividades que contribuem com o crescimento pessoal de seu

protegido

2112 Suporte psicossocial

As funccedilotildees de suporte psicossocial estatildeo mais associadas ao desenvolvimento pessoal

do mentorado do que propriamente ao seu desenvolvimento profissional O suporte

psicossocial afeta a relaccedilatildeo do mentorado consigo mesmo e com as pessoas com as quais se

relaciona O desenvolvimento desta funccedilatildeo iraacute depender da confianccedila existente na relaccedilatildeo De

acordo com Kram (1985) o apoio psicossocial diz respeito ao suporte psicoloacutegico e social que

o mentor daacute ao mentorado As atividades que compotildeem este suporte satildeo amizade aceitaccedilatildeo e

confirmaccedilatildeo aconselhamento e modelagem de papeis Tais atividades satildeo expostas a seguir

a) Amizade

Ocorre quando a relaccedilatildeo de mentoria daacute ao mentorado a sensaccedilatildeo de bem estar de

ligaccedilatildeo e de ser compreendido por seu mentor O coleguismo facilita ao mentorado

27

desenvolver relacionamento com pessoas de niacutevel mais elevado do que ele Esta

amizade contribui tambeacutem para o aumento da autoconfianccedila do mentorado

b) Aceitaccedilatildeo e confirmaccedilatildeo

A aceitaccedilatildeo por parte do mentor faz com que o mentorado se sinta seguro inclusive

para assumir riscos e aceitar desafios

Dados qualitativos de estudos feitos por Style e Morrow (1992) demonstraram que

relacionamentos voltados para juventude satildeo mais eficazes quando o adulto pode

compreender as dificuldades enfrentadas por seus mentorados bem como respeitar e

aceitar sua famiacutelia classe social e cultura

c) Aconselhamento

Ocorre quando o mentorado ao falar de suas duacutevidas medos e ansiedades tem no

mentor um conselheiro algueacutem que o escuta e lhe daacute feedback Ao desempenhar esta

funccedilatildeo o mentor pode se valer de suas proacuteprias experiecircncias e dilemas enfrentados no

iniacutecio de sua carreira

d) Modelagem de papeacuteis

A modelagem ocorre quando o mentorado vecirc em seu mentor sua proacutepria imagem

idealizada Neste caso os comportamentos os valores e as atitudes do mentor satildeo

exemplos a serem seguidos A partir desta identificaccedilatildeo o mentorado passa a admirar

respeitar e imitar seu mentor Scandura (1992) considera que o fato de o mentor ser

um modelo para o mentorado estaria em uma terceira funccedilatildeo da mentoria distinta de

suporte psicossocial No entanto para efeito deste trabalho tal fator seraacute considerado

como pertinente ao suporte psicossocial uma vez que se tomou por base o modelo

proposto por Kram (1985) O mentorado pode ver seu mentor como representante do

seu proacuteprio futuro (RAGINS 1997) No caso de jovens e adolescentes os adultos satildeo

vistos como ideais com quem aqueles aprenderatildeo determinados comportamentos de

28

quem iratildeo receber colaboraccedilotildees sobre carreiras potenciais e com quem iratildeo

desenvolver habilidades especiacuteficas (RHODES et al 2002) Com relaccedilatildeo agraves

implicaccedilotildees deste aprendizado Hartmam e Harris (1992) encontraram que estudantes

modelam seu estilo de gerenciamento baseados no estilo de lideranccedila da pessoa que

admiravam quando mais novos Por sua vez Zacharatos et al (2000) em um estudo

sobre lideranccedila transformacional observaram que o desenvolvimento dos

comportamentos de lideranccedila se daacute na adolescecircncia e que comportamentos aprendidos

nesta fase tendem a ser estaacuteveis Finalmente Krosnick e Alwin (1989) defendem que

assim como os comportamentos as atitudes adquiridas durante a adolescecircncia tendem

a permanecer na vida adulta

Especificamente em se tratando de mentoria voltada para jovens e adolescentes Klaw

et al (2003) observaram as implicaccedilotildees e possibilidades de mudanccedila de comportamento do

mentorado ao se ter no mentor um modelo

os mentores podem servir como exemplos concretos de realizaccedilatildeo educacional e ocupacional demonstrando as qualidades que os adolescentes podem desejar imitar O adolescente pode adotar comportamentos novos observando e comparando seu proacuteprio desempenho ao de seu mentor (p225)

Nesta seccedilatildeo foram apresentadas as funccedilotildees de mentoria ou seja suporte de carreira e

suporte psicossocial Na sequumlecircncia seratildeo abordadas as fases pelas quais o relacionamento se

desenvolve ateacute chegar agrave redefiniccedilatildeo

212 Fases da relaccedilatildeo mentoria

Dando continuidade agraves caracteriacutesticas da relaccedilatildeo de mentoria seratildeo abordadas as fases

pertinentes a esse relacionamento Vale salientar que a relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas e

adolescentes de risco podem ou natildeo apresentar estaacutegios semelhantes agrave mentoria desenvolvida

no acircmbito da organizaccedilatildeo (RHODES et al 2002)

29

Da perspectiva organizacional Kram (1983) sugere que a mentoria ocorre geralmente

em quatro fases distintas mas natildeo riacutegidas Satildeo elas

bull Iniciaccedilatildeo - esta fase ocorre no inicio da relaccedilatildeo na qual o mentor eacute admirado e

respeitado pelo mentorado O mentor reconhece o mentorado como algueacutem com

potencial e com quem iraacute desenvolver um trabalho agradaacutevel O mentorado

tambeacutem eacute visto pelo mentor como algueacutem que lhe proveraacute assistecircncia teacutecnica e que

seraacute beneficiado com seus conselhos uma vez que o mentor tem mais experiecircncia

de vida Estas fantasias iniciais seratildeo responsaacuteveis por orientar as expectativas

presentes na relaccedilatildeo de mentoria

bull Cultivo - nesta fase as expectativas surgidas no iniacutecio da relaccedilatildeo iratildeo defrontar-se

com a realidade do contato O mentor proveraacute o mentorado com as funccedilotildees de

carreira e psicossociais Kram (1983) salienta que o suporte de carreira vai

depender das tarefas e da experiecircncia do mentor No entanto o suporte

psicossocial estaacute mais fortemente relacionado agrave confianccedila e agrave mutualidade que

houver na relaccedilatildeo Eacute nesta fase de cultivo que as funccedilotildees da mentoria seratildeo

plenamente desenvolvidas

bull Separaccedilatildeo - ocorre quando a natureza do relacionamento eacute alterada por mudanccedilas

no contexto social ou organizacional Este periacuteodo eacute marcado por ansiedade em

que o mentorado sente necessidade de autonomia e independecircncia A separaccedilatildeo

ocorre estruturalmente e psicologicamente e a mentoria deixa de ocupar lugar de

destaque na vida de ambos mentor e mentorado

bull Redefiniccedilatildeo - a ansiedade da separaccedilatildeo eacute superada e o relacionamento eacute

resignificado ou termina Nesta fase a mentoria pode se tornar apenas um

relacionamento de amizade com encontros esporaacutedicos e informais e o mentor

30

pode ainda oferecer algum tipo de apoio mas de forma mais distante e sem a

frequumlecircncia de outrora

Abordadas algumas caracteriacutesticas da mentoria tais como suas funccedilotildees e fases

seguem-se os tipos de mentoria visando enriquecer a compreensatildeo de como se daacute esta

relaccedilatildeo

213 Tipos de mentoria

A relaccedilatildeo de mentoria conforme abordado anteriormente eacute algo que emerge

naturalmente entre uma pessoa mais experiente e um novato A mentoria pode ser

caracterizada como uma relaccedilatildeo intrinsecamente informal No entanto devido aos benefiacutecios

alcanccedilados por esta relaccedilatildeo intenta-se reproduzi-la formalmente em uma escala mais ampla e

com maior controle Neste caso tem-se a mentoria formal uma relaccedilatildeo mais estruturada e que

busca atingir os benefiacutecios para o mentor mentorado organizaccedilatildeo e sociedade resultantes da

mentoria informal ou natural Segue abaixo uma maior explicitaccedilatildeo do que vem a ser a

mentoria informal e a formal

2131 Mentoria informal

Eacute a que nasce espontaneamente por iniciativa dos indiviacuteduos de acordo com

necessidades e interesses pessoais O mentor escolhe seu mentorado agraves vezes por ver-se nele

quando jovem O mentorado por sua vez tambeacutem escolhe para seu mentor geralmente

algueacutem a quem tem por modelo A seleccedilatildeo do mentor eacute feita frequumlentemente com base na

identificaccedilatildeo do mentorado com seu possiacutevel mentor (RAGINS 1997) Tal identificaccedilatildeo faz

com que a mentoria informal seja considerada mais poderosa do que a formal (NOE 1998)

Na mentoria informal natildeo haacute uma estruturaccedilatildeo da relaccedilatildeo e a frequumlecircncia dos encontros parte

da necessidade Este tipo de mentoria pode se estender por longos periacuteodos

31

Decorrente do sucesso obtido atraveacutes da mentoria informal esforccedilos tecircm sido

desenvolvidos para reproduzi-la formalmente conforme seraacute abordado na proacutexima seccedilatildeo

2132 Mentoria formal

A mentoria formal natildeo eacute espontacircnea como a informal Antes ocorre por iniciativa

encaminhamento e estruturaccedilatildeo da organizaccedilatildeo Sua duraccedilatildeo geralmente varia de seis meses a

um ano e a frequumlecircncia dos encontros eacute preacute-estabelecida mediante contrato firmado entre as

partes (MURRAY 2001)

Na mentoria formal a motivaccedilatildeo para ser mentor pode estar associada ao fato de o

mentor ser visto como bom cidadatildeo organizacional e ao reconhecimento que pode lhe trazer o

fato de ser mentor

Tendo sido abordado o conceito de mentoria suas funccedilotildees as fases pelas quais passa a

relaccedilatildeo e os tipos de mentoria faz-se necessaacuterio analisar alguns fatores que contribuem para o

ecircxito desta relaccedilatildeo Tais fatores seratildeo abordados nas seguintes seccedilotildees

214 Fatores relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria formal

Os programas de mentoria voltados para jovens e adolescentes por se tratarem de

programas de mentoria formal necessitam seguir alguns criteacuterios na busca de se atingir os

objetivos e os benefiacutecios desejados Como jaacute referido os programas de mentoria formal

intentam reproduzir artificialmente as caracteriacutesticas essenciais dos relacionamentos naturais

de suporte Eacute importante ressaltar no entanto que programas mal orientados podem trazer

efeitos negativos na vida do mentorado (DUBOIS et al 2002) Ragins et al (2000) consideram

que em relaccedilatildeo ao niacutevel de satisfaccedilatildeo do mentorado o relacionamento de mentoria estaria em

um continuum no qual em um extremo ficaria o relacionamento altamente satisfatoacuterio e no

outro o relacionamento nocivo ou prejudicial O relacionamento localizado no meio do

32

continuum seria considerado pelas autoras como marginal mentoring ou seja um

relacionamento de mentoria no qual o mentor seria apenas ldquobom o suficienterdquo Os fatores

relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo devem ser observados na tentativa de evitar que o

relacionamento torne-se nocivo ou ateacute mesmo destrutivo Tais fatores visam fazer com que a

relaccedilatildeo seja satisfatoacuteria e beneacutefica

Na tentativa de potencializar os benefiacutecios da mentoria faz-se necessaacuterio considerar os

seguintes fatores seleccedilatildeo de mentores e mentorados treinamento supervisatildeo e

acompanhamento do programa frequumlecircncia dos encontros e a duraccedilatildeo da relaccedilatildeo Estes fatores

relacionados com o ecircxito da relaccedilatildeo seratildeo detalhados nas seccedilotildees seguintes

2141 Seleccedilatildeo de mentores e mentorados

Visando o sucesso do relacionamento de mentoria haacute algumas recomendaccedilotildees

relevantes sobre como combinar mentor e mentorado Fatores como dados demograacuteficos raccedila

e gecircnero devem ser considerados Em se tratando de mentoria com crianccedilas e adolescentes

faz-se necessaacuterio um cuidado ainda maior na seleccedilatildeo do mentor uma vez que

comportamentos e atitudes aprendidos na infacircncia e adolescecircncia tendem a perdurar por toda

a vida

O Big Brothers Big Sisters (programa norte-americano de mentoria voltado para

crianccedilas e adolescentes com risco para delinquumlecircncia) ao fazer o recrutamento dos voluntaacuterios

para agirem como mentores faz um levantamento da vida destes para saber suas intenccedilotildees e

sua vida pregressa Em um programa de mentoria voltado para crianccedilas delinquumlentes os

mentores natildeo poderiam ter qualquer tipo de envolvimento criminal (JACKSON 2002) A

investigaccedilatildeo da vida pregressa do mentor tem o objetivo de garantir a seguranccedila do

mentorado e verificar a possibilidade de comprometimento do mesmo para com o programa

Tal investigaccedilatildeo eacute importante inclusive para assegurar que o mentor poderaacute ser um modelo

33

positivo com condiccedilotildees de influenciar beneficamente o mentorado (GROSSMAN TIERNEY

1998) Os autores sugerem que se considere tambeacutem o interesse dos pais em que a crianccedila ou

adolescente tenha um mentor uma vez que o apoio da famiacutelia eacute um fator de sucesso para o

programa Depois de feita a seleccedilatildeo deve-se fazer um treinamento e acompanhar o

desenvolvimento do relacionamento Tais fatores seratildeo observados na proacutexima seccedilatildeo

2142 Treinamento supervisatildeo e acompanhamento do programa

de mentoria

Assim como a seleccedilatildeo a supervisatildeo deve ser cuidadosa Eacute necessaacuterio fazer um

monitoramento do programa e deve-se comunicar claramente e acordar as expectativas o

tempo do relacionamento a frequumlecircncia dos encontros e os objetivos O mentor deve contar

com apoio constante da organizaccedilatildeo durante todo o programa (DUBOIS et al 2002) O

mentor deve receber treinamento e orientaccedilatildeo e deve haver uma supervisatildeo incluindo

relatoacuterios sobre os encontros (GROSSMAN TIERNEY 1998)

No programa de mentoria voltado para crianccedilas delinquumlentes pesquisado por Jackson

(2002) a supervisatildeo foi feita em trecircs niacuteveis a primeira se deu em termos de conhecimentos

na qual um psicoacutelogo cliacutenico transmitia informaccedilotildees sobre psicopatologia causas e

caracteriacutesticas da crianccedila delinquumlente bem como teacutecnicas de intervenccedilatildeo No segundo niacutevel

foram feitos encontros com o psicoacutelogo para falar acerca das dificuldades encontradas e as

possibilidades de soluccedilatildeo O terceiro e uacuteltimo niacutevel foi o da supervisatildeo que ocorreu em

grupo no qual os diversos mentores discutiram suas experiecircncias Vale ressaltar que o

programa apresentou resultados positivos na vida dos que dele participaram

Fenney et al (2000 apud RHODES et al 2002) afirmam que adultos bem sucedidos

em trabalhar como mentores de jovens satildeo os que tecircm empatia por eles recordando-se de

como eram no passado A participaccedilatildeo dos pais durante o programa de mentoria seja para

34

apoiar seus filhos seja para receber sustentaccedilatildeo tem sido relacionada positivamente ao

sucesso do programa (FRECKNALL LUKS 1992) Outro fator que leva ao ecircxito da relaccedilatildeo

de mentoria eacute a frequumlecircncia com que ocorrem os encontros fato este abordado na proacutexima

seccedilatildeo

2143 Frequumlecircncia dos encontros

Alguns estudos tecircm sido feitos com ecircxito no sentido de relacionar a frequumlecircncia dos

encontros com o sucesso da relaccedilatildeo principalmente em se tratando de mentorados

adolescentes com risco para delinquumlecircncia (KEATING et al 2002) Na mesma linha Azevedo

e Dias (2002) sugerem que a influecircncia do mentor na carreira do mentorado pode ser

diminuiacuteda quando se dispotildee de pouco tempo para a relaccedilatildeo

Keating et al (2002) defendem que a frequumlecircncia de uma ou duas vezes por mecircs eacute

insuficiente para prover suporte para jovens com risco para delinquumlecircncia fazendo com que o

relacionamento natildeo tenha ecircxito As autoras afirmam que programas para jovens e

adolescentes com risco devem ter frequumlentes contatos face-a-face para serem realmente

efetivos O encontro semanal eacute sugerido Segue na proacutexima seccedilatildeo outro fator de ecircxito para a

relaccedilatildeo de mentoria a saber a duraccedilatildeo do relacionamento entre mentor e mentorado

2144 Duraccedilatildeo da relaccedilatildeo de mentoria

A maioria dos benefiacutecios da relaccedilatildeo emerge de um relacionamento de mentoria que

perdure por um ano ou mais Ou seja os benefiacutecios estatildeo associados ao amadurecimento da

relaccedilatildeo (GROSSMAN RHODES 2002) Os autores consideram que relacionamentos curtos

estatildeo associados com efeitos negativos para a juventude de risco

Adolescentes cujo relacionamento de mentoria se estende por um ano ou mais

apresentam melhores resultados educacionais psicossociais e comportamentais Estes

35

resultados satildeo positivamente relacionados com o tempo da relaccedilatildeo Em outras palavras na

medida em que se reduz o tempo de mentoria diminui tambeacutem a apresentaccedilatildeo de resultados

positivos atribuiacutedos agrave relaccedilatildeo (GROSSMAN RHODES 2002)

Frecnall e Luks (1992) encontraram em suas pesquisas que o tempo de duraccedilatildeo da

relaccedilatildeo de mentoria tem sido um fator determinante de ecircxito 70 de resultado positivo com

crianccedilas de um a dois anos de programa e 90 com crianccedilas com dois a trecircs anos de

participaccedilatildeo em um programa de mentoria

O exposto revela a teoria vigente acerca da relaccedilatildeo de mentoria das funccedilotildees

desempenhadas na relaccedilatildeo das fases pelas quais ela passa dos tipos de mentoria

identificados bem como de alguns fatores que se observados contribuem para o sucesso da

relaccedilatildeo Faz-se entatildeo pertinente a seguinte questatildeo norteadora em uma comunidade carente

brasileira ateacute que ponto a mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes apresenta as

caracteriacutesticas definidas pela teoria

Mencionadas as caracteriacutesticas da relaccedilatildeo de mentoria abordar-se-aacute a seguir os

benefiacutecios desta relaccedilatildeo para o mentorado e para o mentor bem como seratildeo considerados

tambeacutem os benefiacutecios sociais desta relaccedilatildeo

22 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria

Satildeo muitos os benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria Zey (1998) revela que a relaccedilatildeo de

mentoria na organizaccedilatildeo pode ser extremamente beneacutefica para o mentorado para o mentor e

para a proacutepria empresa Os benefiacutecios da mentoria foram amplamente estudados no que

concerne agrave mentoria voltada para a organizaccedilatildeo No entanto pretende-se aqui estabelecer um

paralelo entre os benefiacutecios da mentoria organizacional e os da mentoria voltada para jovens e

adolescentes de risco Tais benefiacutecios foram verificados atraveacutes de pesquisas mas ainda natildeo

se apresentam sistematizados Como beneficiaacuterios diretos da relaccedilatildeo de mentoria pode-se citar

36

o mentor o mentorado e a organizaccedilatildeo Entretanto o alcance de um programa bem

estruturado pode se estender para a famiacutelia e para a sociedade

Nas seccedilotildees seguintes seratildeo apresentados os benefiacutecios da mentoria para o mentorado

para o mentor e posteriormente seratildeo abordados os benefiacutecios sociais desta relaccedilatildeo

221 Benefiacutecios da mentoria para o mentorado

O mentorado pode ser muito beneficiado atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria O mentor ao

fornecer suporte psicossocial e de carreira auxilia o mentorado em seu crescimento pessoal o

que inclui o desenvolvimento emocional o social e o de carreira Tal suporte facilita transiccedilatildeo

do adolescente para a fase adulta (RHODES et al 2002)

A literatura apresenta os seguintes benefiacutecios para o mentorado

a) Aumento da auto-estima

Grossman e Tierney (1998) verificaram que os jovens com risco para delinquumlecircncia que

foram acompanhados por mentores sentiram-se mais confiantes em suas habilidades para com

as tarefas escolares do que os jovens natildeo mentorados Harter (1982) demonstrou que se sentir

competente leva os jovens a demonstrarem melhor desempenho

O aumento da auto-estima foi verificado em adolescentes e jovens ao se relacionarem

com um mentor (FRECKNALL LUKS 1992) Alguns programas de mentoria tecircm

favorecido o aumento da auto-estima tambeacutem em crianccedilas com comportamentos

autodestrutivos (JACKSON 2002)

b) Maior interaccedilatildeo social e com a famiacutelia

Outro benefiacutecio para o mentorado decorrente do suporte que recebe na relaccedilatildeo de

mentoria eacute a atratividade social Pessoas com alto grau de suporte social satildeo vistas como mais

atrativas tecircm maior conhecimento relativo a relacionamentos sociais e satildeo menos

manipulaacuteveis do que as com baixo suporte social (SARASON et al 1985) Frecknall e Luks

37

(1992) verificaram que adolescentes assistidos por um mentor apresentaram maior

envolvimento com a famiacutelia e amigos do que os natildeo mentorados

O fato de o mentor ser um modelo de sucesso estimula ainda a melhora da

autopercepccedilatildeo bem como de atitudes e comportamentos do adolescente mentorado Haacute

evidecircncias de que a influecircncia positiva do mentor pode se estender aos relacionamentos mais

proacuteximos do adolescente operando mudanccedilas inclusive na vida daqueles que com ele

convivem (WALKER FREEMAN 1996)

c) Maior progresso da carreira e aumento da responsabilidade

Mentorados recebem mais promoccedilotildees tecircm melhor desempenho e mais satisfaccedilatildeo no

trabalho do que os natildeo mentorados (CHAO et al 1992) Os mentorados satildeo beneficiados

pois recebem melhores pagamentos dos que os que natildeo dispotildeem de um mentor (MULLEN

1998) Mentorados tecircm na mentoria uma contribuiccedilatildeo potencial para o desenvolvimento

pessoal e profissional sendo tambeacutem um meio para adentrar o mundo dos negoacutecios (KRAM

1983)

Para o mentorado jovem e adolescente o mentor fornece instruccedilatildeo e incentivo

facilitando a transiccedilatildeo da adolescecircncia para o mundo adulto (RHODES et al 2002) Os

presidentes de empresas mais bem sucedidos afirmaram que para tal tiveram a influecircncia de

mentores em sua vida profissional (FAGENSON 1989) Liacutederes mais competentes e

solucionadores de problemas satildeo pessoas consideradas com alto suporte social (SARASON et

al 1986)

O mentorado apresenta maior crescimento profissional e melhor desenvolvimento da

carreira (ZEY 1998) Mentorados tecircm maior satisfaccedilatildeo com a carreira do que os que natildeo

possuem mentor (FAGENSON 1989) Pessoas com alto suporte psicossocial satildeo mais

extrovertidas e apresentam menos comportamentos neuroacuteticos hostilidade solidatildeo e

depressatildeo (COYNE 1978 apud SARASON et al 1986)

38

Outro beneficio para o mentorado diz respeito agrave definiccedilatildeo da identidade profissional e

senso de competecircncia (KRAM ISABELLA 1985) Especificamente com relaccedilatildeo a mentoria

voltada para adolescentes estes apresentaram melhor rendimento escolar e aumento da

responsabilidade (FRECKNALL LUKS 1992)

Grossman e Tierney (1998) ao avaliarem o impacto do Programa Big Brother Big

Sister natildeo haviam sido otimistas em acreditar que o programa aumentasse o rendimento

escolar dos alunos participantes pois conforme verificado em pesquisas anteriores o

aproveitamento escolar e a obtenccedilatildeo de graus dependem de um acompanhamento estaacutevel e

geralmente natildeo satildeo afetadas por uma relaccedilatildeo de mentoria que natildeo tenha foco educacional

Entretanto apesar de o programa Big Brother Big Sister natildeo fornecer diretamente apoio

escolar o rendimento escolar dos mentorados mostrou-se superior As ausecircncias ou faltas agrave

escola foram reduzidas Os autores consideraram que tal fato foi consequumlecircncia de os

mentores (todos acadecircmicos) serem tidos como exemplos valorizarem os estudos e

transmitirem uma visatildeo otimista de futuro para seus mentorados

d) Melhor enfrentamento das adversidades visatildeo otimista da vida e perspectivas

positivas de futuro

Jovens com alto suporte social satildeo mais otimistas quanto ao futuro uma vez que

mentores os auxiliam em relaccedilatildeo agraves suas perspectivas (HARRIS et al 2002 KASHANI et al

1989) Indiviacuteduos com alto suporte social aleacutem de mais atrativos e mais haacutebeis socialmente

satildeo mais otimistas quanto aos eventos da vida do que os que manifestam ter baixo suporte

social (SARASON et al 1985)

Pessoas com baixo suporte social satildeo mais retraiacutedas desatentas tecircm menos esperanccedila

quanto ao futuro e satildeo mais prejudiciais aos outros do que as que tecircm alto niacutevel de suporte

social (KASHANI et al 1989) O sucesso dos adolescentes que superaram momentos de

39

adversidades inclui frequumlentemente a presenccedila de pelo menos um mentor que lhe proveu tal

suporte (RHODES et al 2002)

Benefiacutecios tambeacutem satildeo apresentados em se tratando de jovens com risco para

delinquumlecircncia Nestes o desenvolvimento pessoal pode ser percebido frequumlentemente quando o

mentor eacute um modelo positivo para o mentorado Este fato auxilia na reduccedilatildeo do estresse

diaacuterio e provecirc condiccedilotildees de o mentorado rever sua percepccedilatildeo acerca de seus relacionamentos

mudando de uma visatildeo negativa destes para uma positiva (MAIN et al 1985 apud

GROSSMAN RHODES 2002)

Eacute particularmente importante a influecircncia positiva que o mentor oferece ao mentorado

na reduccedilatildeo do estresse diaacuterio Sendo um modelo de resoluccedilatildeo de conflitos o mentor auxilia

indiretamente na diminuiccedilatildeo do estresse familiar melhorando ateacute mesmo a interaccedilatildeo do

mentorado com seus proacuteximos Segundo os autores o relacionamento de mentoria pode ter

ainda um efeito corretivo para adolescentes que tiveram experiecircncias negativas no

relacionamento com os pais

Conforme visto pesquisas anteriores demonstraram que o mentorado pode ser muito

beneficiado atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria Cabe aqui portanto a segunda questatildeo norteadora

deste trabalho em um contexto brasileiro ateacute que ponto os mentorados carentes estudados

tecircm desfrutado dos benefiacutecios da mentoria apontados pela literatura

Considerados os benefiacutecios da mentoria para o mentorado cabe expor a forma pela

qual a mentoria beneficia o mentor fato abordado na seccedilatildeo seguinte

222 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentor

A mentoria pode proporcionar ao mentor diversos benefiacutecios Os mentores podem ter

no mentorado uma versatildeo de si proacuteprios quando mais jovens como se o mentorado fosse

representante de seu passado (RAGINS 1997) De acordo com a literatura os mentores

40

podem ser beneficiados com esta relaccedilatildeo atraveacutes da realizaccedilatildeo pessoal da motivaccedilatildeo e do

reconhecimento Segue-se a explanaccedilatildeo de tais fatores

a) Realizaccedilatildeo pessoal

O fato de ser mentor daacute ao indiviacuteduo um senso de generosidade ao contribuir com as

geraccedilotildees futuras Satisfaccedilatildeo interna e reconhecimento organizacional lealdade do mentorado

apreciaccedilatildeo do grupo renovaccedilatildeo da carreira e melhor performance no trabalho satildeo benefiacutecios

da mentoria para o mentor Mentores podem obter mais conhecimento empatia e capacidade

de se relacionar com outros grupos do que aqueles que natildeo satildeo mentores (RAGINS 1997)

Em se tratando de mentores de jovens e adolescentes com risco para delinquumlecircncia

Shields (2001) verificou que a mentoria propiciou ao mentor um sentimento de recompensa

ao observar as mudanccedilas positivas ocorridas no comportamento de seus mentorados Jackson

(2002) observou em seu estudo que mentores de adolescentes delinquumlentes relataram como

sendo gratificante o fato de terem atraveacutes da mentoria uma oportunidade de ajudar estas

pessoas

b) Motivaccedilatildeo

O mentor pode redirecionar sua energia para a criatividade e a accedilatildeo produtiva num

periacuteodo que dependendo do indiviacuteduo pode ser entendido como de estagnaccedilatildeo Neste caso a

mentoria pode significar estiacutemulo e desafio (ZEY 1998)

c) Reconhecimento

Mentores podem ter a confianccedila e serem amados por seus mentorados (KLAW et al

2003) Ganham suporte teacutecnico e psicoloacutegico e satisfaccedilatildeo interna ao fazer com que um novato

seja capaz de ldquonavegarrdquo no mundo dos negoacutecios Os mentores ganham respeito de seus

colegas ao desenvolver um jovem talento para organizaccedilatildeo (KRAM ISABELLA 1985)

41

Assim a terceira questatildeo norteadora deste trabalho eacute ateacute que ponto um projeto de

mentoria voltado para crianccedilas e adolescentes carentes no Recife oferece os benefiacutecios de

realizaccedilatildeo pessoal motivaccedilatildeo e reconhecimento para os mentores

Considerados os benefiacutecios da mentoria para o mentorado e para o mentor seratildeo

abordados na proacutexima seccedilatildeo os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes desta relaccedilatildeo

223 Benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria

Em se tratando de mentoria voltada para crianccedilas jovens e adolescentes com risco

para delinquumlecircncia aleacutem dos benefiacutecios na vida dos que participam diretamente da relaccedilatildeo a

sociedade tambeacutem pode ser positivamente afetada

Frecknall e Luks (1992) investigaram a avaliaccedilatildeo dos pais acerca do aproveitamento

de seus filhos inseridos em um programa de mentoria voltado para jovens com risco para

delinquumlecircncia Com relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo de 63 dos pais os filhos apresentaram uma grande

melhora em toacutepicos como rendimento escolar comportamento com a famiacutelia

comportamento com os amigos aumento da auto-estima aumento da responsabilidade e

diminuiccedilatildeo de envolvimento em situaccedilotildees problema Paralelamente ao beneficio alcanccedilado

por um adolescente e por sua famiacutelia haacute uma contribuiccedilatildeo indireta para a sociedade na

medida em que diminuem os iacutendices de delinquumlecircncia e de evasatildeo escolar Indiretamente haacute

tambeacutem a reduccedilatildeo da possibilidade de assistencialismo o aumento do iacutendice de alfabetizaccedilatildeo

e o crescimento do IDH (Iacutendice de Desenvolvimento Humano) Com frequumlecircncia aumenta

ainda a mobilidade social e a possibilidade de contribuiccedilatildeo social direta destas crianccedilas

adolescentes e jovens

A teoria aponta a reduccedilatildeo da dependecircncia de poliacuteticas assistencialistas e a diminuiccedilatildeo

da delinquumlecircncia como benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria fatores que seratildeo abordados a

seguir

42

a) Reduccedilatildeo futura da dependecircncia de poliacuteticas assistencialistas

Patterson et al (1989) esclarecem que a expressatildeo ldquosituaccedilatildeo de riscordquo eacute usada

geralmente para descrever

jovens que demonstram problemas comportamentais e emocionais que tecircm dificuldade em desenvolver-se com sucesso Quando adultos estes apresentam alta incidecircncia em desemprego crocircnico divoacutercio problemas fiacutesicos e psiquiaacutetricos envolvimento com drogas tornam-se dependentes de assistecircncia social podendo ainda envolver-se em atividades criminosas (p329) Grifo da pesquisadora

Adolescentes com altas expectativas educacionais de futuro (muitas vezes providas

por um mentor) desenvolvem bons haacutebitos de estudo pensam em fazer curso universitaacuterio e

buscam se envolver em atividades intelectuais extracurriculares Em contrapartida os que

deteacutem baixa expectativa apresentam maior probabilidade de desenvolver comportamentos de

risco (HARRIS et al 2002) Jovens em situaccedilatildeo de risco entre outros fatores satildeo propensos a

depender no futuro de poliacuteticas assistencialistas

b) Diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia

Jovens e adolescentes em situaccedilatildeo de risco satildeo candidatos potenciais a programas de

mentoria Estes podem ser usados como prevenccedilatildeo contra a delinquumlecircncia particularmente na

ausecircncia de adultos que representem figuras positivas ou modelos O mentor pode claramente

desempenhar este papel (RHODES et al 1994)

O risco para delinquumlecircncia natildeo eacute uma questatildeo que dependa apenas de um fator Antes eacute

um conjunto de variaacuteveis que levam o adolescente a apresentar comportamentos delinquumlentes

Ellickson e Mcguigan (2000) ao investigarem os riscos para violecircncia em adolescentes

verificaram que no caso das meninas adolescentes fatores de risco incluem a baixa auto-

estima poucos anos de estudo e baixo niacutevel soacutecio-econocircmico Estes fatores podem ser

revertidos atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria Dornbusch et al (1985) verificaram que

adolescentes que convivem com apenas um dos pais apresentam maior probabilidade de se

43

envolver em comportamentos delinquumlentes e violentos do que os que vivem com ambos os

pais Uma afirmaccedilatildeo destoante eacute a de Larson et al (2001) Eles defendem que crianccedilas e

adolescentes que convivem com apenas um dos pais podem se adaptar bem a esta situaccedilatildeo

natildeo sendo o fato de conviver com apenas um dos pais determinante da delinquumlecircncia Natildeo

obstante essa natildeo eacute a tendecircncia das evidecircncias disponiacuteveis

Caffray e Schneider (2000) por exemplo ao pesquisarem sobre as motivaccedilotildees que

levam o adolescente aos comportamentos de risco citam como influecircncias importantes

sentimentos negativos sobre o relacionamento com os pais pouca comunicaccedilatildeo em casa

baixa coesatildeo familiar reduzido desempenho escolar e baixo suporte social Fatores familiares

estressantes como desemprego violecircncia domeacutestica discoacuterdia entre os pais e divoacutercio estatildeo

positivamente associados com a delinquumlecircncia (FARRINGTON 1987 apud PATTERSON et

al 1989) bem como poucos anos de estudo (DIAS 2003)

De modo geral a literatura sugere que em ambientes de risco jovens que dispotildeem de

suporte atraveacutes de relacionamentos com adultos podem diminuir os efeitos negativos das

adversidades sobre seu desenvolvimento (RHODES et al 1994) A tiacutetulo de exemplo

Jackson (2002) verificou que crianccedilas delinquumlentes ao serem assistidas por um mentor

diminuiacuteram a frequumlecircncia de comportamentos agressivos e de problemas de conduta

DuBois et al (2002) fizeram uma meta-anaacutelise acerca de 55 avaliaccedilotildees dos efeitos de

programas de mentoria voltados para juventude norte-americana Ficou aiacute evidenciado que os

participantes se beneficiam muito com a participaccedilatildeo em tais programas Os programas

diferem em seu conteuacutedo mas a maioria tem como foco a juventude de risco Haacute tambeacutem

programas destinados a filhos que vivem com apenas um dos pais e a minorias eacutetnicas

Quanto aos objetivos os programas avaliados buscavam o desenvolvimento na aacuterea

emocional comportamental educacional e em alguns casos o desenvolvimento profissional

dos mentorados

44

Um exemplo deste tipo de programa pode ser visto em Nova Iorque nos EUA e em

parte do Canadaacute Trata-se de um programa criado em 1904 o Big Brothers Big Sisters of

Ameacuterica (BBBS) que provecirc relacionamento de mentoria para crianccedilas de risco que vivem

com apenas um dos pais O programa eacute voltado para populaccedilatildeo menos favorecida que

apresenta problemas como delinquumlecircncia baixo aproveitamento escolar e baixa auto-estima

(FRECNALL LUKS 1992)

O BBBS emparelha adultos voluntaacuterios (Big Brothers Big Sisters) com crianccedilas e

adolescentes de 6 a 18 anos (Litle Brothers Litle Sisters) Os mentores modelos positivos

devem prover amizade aconselhamento e servir de guia para os mentorados Os encontros satildeo

feitos de duas a quatro vezes por mecircs Cada encontro dura em meacutedia de trecircs a quatro horas

Grossman e Tierney (1998) ao avaliarem o impacto do Big Brothers Big Sisters

levantaram soacutelidas evidecircncias de que a mentoria neste programa teve efeitos positivos e

socialmente importantes na vida dos jovens participantes Os autores compararam dois

grupos homogecircneos um de jovens participantes do programa e um outro de natildeo-participantes

Pocircde-se concluir que com relaccedilatildeo aos comportamentos anti-sociais nos jovens que tinham

mentor a frequumlecircncia de comportamentos agressivos para com outros jovens apresentou

frequumlecircncia 32 menor do que no grupo que natildeo foi assistido pelo programa A probabilidade

de iniciar o uso de drogas foi reduzida em 70 para os jovens que participaram do programa

em relaccedilatildeo aos natildeo participantes

Jackson (2002) tambeacutem realizou um estudo sobre mentoria voltada para adolescentes

delinquumlentes que teve oito meses de duraccedilatildeo Os adolescentes corriam risco de suspensatildeo ou

expulsatildeo da escola em que estudavam devido agrave infraccedilatildeo das normas Dos alunos mentorados

menos de 1 continuou a apresentar problemas de comportamento que comprometiam sua

permanecircncia na escola Os demais no entanto nos uacuteltimos trecircs meses de programa

apresentaram uma reduccedilatildeo meacutedia de 80 nos comportamentos infratores

45

Considerando todo o exposto pode-se afirmar que a mentoria tem se mostrado um

valioso recurso no auxiacutelio educacional de jovens e adolescentes Claramente as experiecircncias

de programas de mentoria com jovens de risco tecircm apresentado resultados positivos A

literatura apresentou alguns benefiacutecios sociais desta relaccedilatildeo em diversos contextos sendo

pertinente a verificaccedilatildeo da influecircncia desta relaccedilatildeo num contexto brasileiro Destaca-se entatildeo

a quarta questatildeo norteadora desta pesquisa quais os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da

relaccedilatildeo de mentoria na vida de crianccedilas e adolescentes de uma comunidade carente do Recife

Foi abordada neste capiacutetulo a literatura acerca da mentoria o conceito o suporte de

carreira e psicossocial oferecido pelo mentor as fases da relaccedilatildeo os fatores responsaacuteveis pelo

ecircxito da mentoria e os benefiacutecios da relaccedilatildeo Segue no capiacutetulo trecircs a metodologia deste

estudo que iraacute expor a forma como foi realizada a pesquisa

46

3 Metodologia

31 Delineamento da pesquisa

A presente pesquisa eacute um estudo de caso definido por Gil (1996) como ldquoestudo

profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos que permite seu amplo e detalhado

conhecimentordquo (p58) O estudo de caso segundo Laville e Dione (1999) pode ser feito com

uma pessoa um grupo uma comunidade um meio uma mudanccedila poliacutetica ou um conflito

A escolha deste tipo de delineamento de pesquisa deu-se devido agrave possibilidade de

avaliar as diversas dimensotildees do problema analisando-o como um todo Em se tratando de

estudo de caso a metodologia requer flexibilidade e portanto natildeo se tem uma estrutura riacutegida

quanto aos passos a seguir Laville e Dione (1999) afirmam que

o pesquisador pode pois mostrar-se mais criativo mais imaginativo tem mais tempo de adaptar seus instrumentos modificar sua abordagem para explorar elementos imprevistos precisar alguns detalhes e construir uma compreensatildeo do caso que leve em conta tudo isso pois ele natildeo mais estaacute atrelado a um protocolo de pesquisa que deveria permanecer o mais imutaacutevel possiacutevel (p156)

Utilizando o modelo proposto por Gil (1996) foram consideradas trecircs fases distintas

no delineamento do estudo delimitaccedilatildeo da unidade-caso coleta de dados anaacutelise e

interpretaccedilatildeo dos dados O estudo de caso se caracteriza como exploratoacuterio-descritivo O

objetivo do estudo exploratoacuterio segundo Selltiz et al (1974) eacute tornar o fenocircmeno conhecido

ou obter uma nova compreensatildeo deste Embora a relaccedilatildeo de mentoria seja um fenocircmeno

conhecido e estudado em outros paises no Brasil pouco se sabe como se daacute efetivamente esta

relaccedilatildeo Em se tratando de mentoria com crianccedilas e adolescentes brasileiros o conhecimento

47

eacute ainda mais escasso Por este motivo o presente estudo eacute exploratoacuterio buscou conhecer

como ocorre a relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas e adolescentes num contexto brasileiro mais

especificamente nordestino Ainda como objetivo de um estudo exploratoacuterio pode-se chegar a

novos conhecimentos sobre o objeto de estudo e a partir dele novos questionamentos e

hipoacuteteses podem emergir tal como abordado por Selltiz et al (1974) O estudo foi descritivo

pois se propocircs a descrever qualitativamente o fenocircmeno estudado (LAKATOS MARCONI

1995) A descriccedilatildeo do programa de reforccedilo foi feita com base na anaacutelise documental nas

notas de campo e nas entrevistas

A coleta de dados foi realizada sob o arcabouccedilo da metodologia qualitativa Tal coleta

deu-se em duas fases que seratildeo expostas nas seccedilotildees seguintes

32 Primeira fase da coleta de dados

A primeira fase da coleta de dados foi realizada na comunidade atraveacutes de um

primeiro contato com algumas matildees de alunos participantes do projeto Esta fase relacionou-

se com uma sondagem do campo para verificar a possibilidade da efetivaccedilatildeo ou natildeo da

pesquisa

321 Objetivo

Como uma primeira fase de coleta foi feita uma sondagem do programa com o intuito

de perceber se havia relaccedilatildeo de mentoria no projeto e caso houvesse quais as funccedilotildees

existentes nesta relaccedilatildeo

48

322 Instrumentos de coleta de dados

Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram a entrevista semi-estruturada

a observaccedilatildeo e as notas de campo conforme se segue

bull Entrevistas semi-estruturadas

A entrevista ldquo natildeo significa uma conversa despretensiosa e neutra uma vez que se

insere como meio de coleta de fatos relatados pelos autores enquanto sujeito-objeto da

pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que estaacute sendo focalizadardquo (NETO 1997

p57) Segundo Laville e Dione (1999) a entrevista semi-estruturada eacute ldquouma seacuterie de

perguntas abertas feitas verbalmente em uma ordem prevista mas na qual o entrevistador

pode acrescentar perguntas de esclarecimentordquo (p188)

Atraveacutes da situaccedilatildeo de interaccedilatildeo que eacute a entrevista buscou-se chegar ao conhecimento

proacuteprio dos sujeitos pesquisados As entrevistas foram semi-estruturadas com perguntas

abertas Minayo (1998) afirma que neste tipo de entrevista ldquoo entrevistado tem a possibilidade

de discorrer o tema proposto sem respostas ou condiccedilotildees preacute-fixadas pelo pesquisadorrdquo

(p108) A teacutecnica de entrevista foi complementada com a praacutetica da observaccedilatildeo fornecendo

assim uma visatildeo mais ampla do objeto em estudo conforme sugere Minayo (1998)

A entrevista conteve os seguintes temas

a) Significado de sucesso escolar

b) Fatores responsaacuteveis pelo ecircxito nos estudos

c) Significado do projeto Educaccedilatildeo eacute Vida na vida da famiacutelia

A entrevista foi realizada com cinco matildees que tinham filhos participando do projeto

A escolha das matildees foi feita por acessibilidade na qual o pesquisador seleciona os

casos a que tem acesso admitindo que estes representam o universo Este tipo de amostragem

49

pode ser aplicado em estudos exploratoacuterios e qualitativos conforme sugere Gil (1999) Foi

levantada a quantidade de pais responsaacuteveis pelas crianccedilas e adolescentes do programa que

natildeo trabalhassem fora de casa ou que o fizessem proacuteximo agrave comunidade e que pudessem

responder agrave entrevista O coordenador do projeto indicou 14 matildees que atendiam a este

requisito De posse dos nomes foi realizado um sorteio e das sorteadas duas natildeo estavam

disponiacuteveis A entrevista foi realizada com cinco matildees Colheram-se alguns dados

demograacuteficos acerca da matildee (ocupaccedilatildeo grau de instruccedilatildeo e situaccedilatildeo conjugal) e da crianccedila

participante do projeto (sexo idade seacuterie e tempo de projeto)

bull Observaccedilatildeo participante ndash feita na comunidade e no programa

Schwartz e Schwartz (1955) definem observaccedilatildeo participante como

um processo pelo qual manteacutem-se a presenccedila do observador numa situaccedilatildeo social com a finalidade de realizar uma investigaccedilatildeo cientiacutefica O observador estaacute em relaccedilatildeo face a face com os observados e ao participar da vida deles no seu cenaacuterio cultural colhe dados Assim o observador eacute parte do contexto sob observaccedilatildeo ao mesmo tempo modificando e sendo modificado por este contexto (p355 apud MINAYO 1998)

Em se tratando de suporte social para crianccedilas Frey e Rothlisberger (1996) sugerem a

observaccedilatildeo direta dos comportamentos o que neste caso pressupotildee a necessidade de

inserccedilatildeo do pesquisador na comunidade e no programa

No caso desta pesquisa a pesquisadora foi tida como observadora A observaccedilatildeo foi

feita atraveacutes durante algumas visitas da pesquisadora agrave comunidade e ao projeto

Nestas pode-se observar as crianccedilas assistidas pelo projeto bem como suas famiacutelias

uma vez que as entrevistas foram realizadas nas casas dos alunos pesquisados

bull Notas de campo

Referem-se agraves observaccedilotildees feitas no campo contendo a descriccedilatildeo das pessoas objetos

lugares fatos atividades e conversas Incluem a anotaccedilatildeo dos sentimentos

50

impressotildees ideacuteias e estrateacutegias que ocorreram agrave pesquisadora durante a observaccedilatildeo

Segundo Bogdan e Biklen (1994) as notas de campo satildeo ldquoo relato escrito daquilo que

o investigador ouve vecirc experencia e pensa no decurso da coleta e refletindo sobre os

dados de um estudo qualitativordquo (p150) Sendo assim as notas de campo tecircm

conteuacutedo tanto descritivo quanto reflexivo

A partir das entrevistas da observaccedilatildeo e das notas de campo pocircde-se verificar que

havia relaccedilatildeo de mentoria no projeto e percebeu-se a existecircncia das funccedilotildees da mentoria tanto

de suporte psicossocial como de carreira Tal fato incentivou a continuidade do estudo uma

vez que a relaccedilatildeo de mentoria se mostrou presente A partir daiacute fez-se necessaacuterio uma segunda

fase de coleta de dados que seraacute exposta a seguir

33 Segunda fase de coleta de dados

331 Objetivos

Tendo sido confirmada a existecircncia da relaccedilatildeo de mentoria no projeto de reforccedilo

buscou-se colher dados capazes de responder agrave seguinte pergunta de pesquisa como se daacute a

mentoria voltada para a educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes em uma comunidade carente do

Recife

332 Instrumentos de coleta de dados

Buscando investigar as especificidades (funccedilotildees fases e fatores de ecircxito) da relaccedilatildeo

de mentoria existentes no projeto e para se conhecer os benefiacutecios desta relaccedilatildeo na vida do

mentor do mentorado e da comunidade foram utilizados os seguintes instrumentos de coleta

51

de dados entrevista documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo observaccedilatildeo participante e notas de campo

Tais instrumentos satildeo considerados a seguir

bull Entrevista semi-estruturada - abordada na primeira fase de coleta de dados

Inicialmente a entrevista foi realizada com o coordenador do projeto buscando

conhecer a histoacuteria deste projeto e sua relaccedilatildeo com ele Posteriormente foram

entrevistadas nove matildees e uma avoacute que satildeo as pessoas responsaacuteveis pelos alunos

selecionados e foi entrevistado tambeacutem um aluno O objetivo destas entrevistas foi

compreender qual a percepccedilatildeo da famiacutelia acerca do projeto e de seus resultados na

vida da crianccedila ou adolescente que dele participa

Foram realizadas entrevistas com os demais colaboradores uma professora

(participante do projeto e de uma escola que fornece bolsa para a comunidade) a

psicoacuteloga e uma dentista visando conhecer a participaccedilatildeo destes no projeto e sua

percepccedilatildeo acerca do mesmo

Finalmente foi realizada entrevista com a coordenadora de uma das escolas que

fornece bolsa para as crianccedilasadolescentes do projeto buscando conhecer sua

percepccedilatildeo acerca do reforccedilo e de seus resultados na vida do aluno participante

bull Observaccedilatildeo participante (abordada na primeira fase)

bull Notas de campo (abordadas anteriormente)

bull Documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo ndash a situaccedilatildeo formal em que ela se encontra contribuindo

para o conhecimento da sua histoacuteria Foram analisados o estatuto e o projeto

pedagoacutegico da instituiccedilatildeo

Abordados os instrumentos de coleta de dados segue a explanaccedilatildeo a respeito dos

sujeitos da pesquisa

52

34 Sujeitos da pesquisa

O programa atende cerca de 80 crianccedilas e adolescentes das quais foram estudadas 13

Inicialmente pretendia-se pesquisar 10 sendo 5 consideradas pelo projeto como bem

sucedidas e 5 consideradas como de natildeo ecircxito Ampliou-se o nuacutemero de casos uma vez que

uma das matildees entrevistadas tem um filho que eacute considerado pelo projeto (e por ela) como de

natildeo-ecircxito e outro que apresenta ecircxito Inicialmente seria levado em consideraccedilatildeo somente o

caso de natildeo-ecircxito mas foram analisados ambos os casos ao inveacutes de apenas o de natildeo ecircxito

buscando compreender o por quecirc de em um uacutenico ambiente atraveacutes de um mesmo projeto

crianccedilas demonstrarem resultados tatildeo diferentes A entrevista natildeo seria dirigida aos alunos

visto se tratar de crianccedilas o que exige preparo do pesquisador com este tipo de sujeito No

entanto no momento da entrevista com um dos responsaacuteveis o aluno estava presente e

contribuiu com a ela Os dados coletados foram aceitos visto se tratar de um adolescente de

17 anos o mais velho dos alunos pesquisados Uma das matildees entrevistadas tem dois filhos no

projeto e suas respostas incluiacuteam frequumlentemente os dois motivo pelo qual ambos foram

considerados ao inveacutes de apenas um O quadro abaixo revela alguns dados dos sujeitos

Nome idade seacuterie tempo de

projeto escola

Afracircnio 9 anos 4a 3 anos Particular Daniel 8 anos 1a 3 anos Particular Almir 9 anos 2a 3 anos Particular Silvia 10 anos 4a 3 anos Particular Nuacutebia 12 anos 5a 3 anos Particular Frederico 12 anos 6a 4 anos Particular Jairo 14 anos 6a 4 anos Particular Walter 17 anos 2ordmano 7 anos Puacuteblica Tito 8 anos 2a 3 anos Particular Helena 10 anos 4a 4 anos Particular Tacircnia 10 anos 4a 7 anos Puacuteblica Nestor 14 anos 1ordmano 4 anos Puacuteblica Faacutebio 12anos 6a 3 anos Puacuteblica

53

Segundo Selltiz et al (1974) no estudo exploratoacuterio natildeo se tem um nuacutemero exato de

respondentes que deveratildeo ser entrevistados Antes o pesquisador no decorrer das entrevistas

verificaraacute que em um determinado ponto as respostas comeccedilam a formar um padratildeo tornam-

se repetitivas A partir daiacute aumentar o nuacutemero de informantes eacute pouco compensador Seguem

na proacutexima seccedilatildeo os criteacuterios utilizados para selecionar os sujeitos

341 Criteacuterios de seleccedilatildeo dos sujeitos

O criteacuterio primordial para seleccedilatildeo das cinco crianccedilas foi o fato de serem consideradas

alunos(as) exemplares em termos de rendimento escolar e comportamento (alunos

considerados pelo projeto como de ecircxito) Os outros cinco foram escolhidos por natildeo

apresentarem bom rendimento escolar eou bom comportamento apesar de estarem no

reforccedilo Neste sentido o coordenador do projeto indicou quem seriam as crianccedilas que se

encaixavam nestes perfis

Selltiz et al (1974) afirmam que em um estudo exploratoacuterio

eacute importante selecionar informantes de forma a assegurar uma representaccedilatildeo de diferentes tipos de experiecircncia Sempre que haja qualquer razatildeo para acreditar que diferentes pontos de vista possam influir no conteuacutedo da observaccedilatildeo deve-se fazer um esforccedilo para incluir variaccedilatildeo de pontos de vista e tipos de experiecircncia (p65)

Ainda segundo estes autores os estudos exploratoacuterios que apresentam maior contraste

podem ser mais uacuteteis em revelar diferentes aspectos do fenocircmeno

Outro criteacuterio utilizado foi o tempo de inserccedilatildeo do aluno no projeto O tempo miacutenimo

foi de dois anos visto que Frecnall e Luks (1992) verificaram em suas pesquisas que o

resultado de um programa de mentoria para crianccedilas que participaram por dois a trecircs anos

obteve 90 de ecircxito A literatura sugere a existecircncia de uma relaccedilatildeo direta entre os benefiacutecios

da mentoria e o tempo da relaccedilatildeo (GROSSMAN RHODES 2002)

54

Abordados os instrumentos de coleta de dados os sujeitos da pesquisa e os criteacuterios

para seleccedilatildeo destes sujeitos Seguem na proacutexima seccedilatildeo os meacutetodos de anaacutelise destes dados

35 Meacutetodos de anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados

Em se tratando de uma pesquisa qualitativa a anaacutelise dos dados jaacute vai sendo realizada

ao longo da coleta A anaacutelise segundo Minayo (1998) tem trecircs finalidades compreender os

dados colhidos confirmar ou natildeo as hipoacuteteses ou responder agraves questotildees elaboradas

previamente e ampliar o conhecimento do fenocircmeno estabelecendo viacutenculos com o contexto

cultural no qual estaacute inserido

O tratamento dispensado agraves entrevistas foi o de anaacutelise de conteuacutedo cujo objetivo

segundo Chizzotti (1998) eacute ldquocompreender criticamente o sentido das comunicaccedilotildees seu

conteuacutedo manifesto ou latente as significaccedilotildees expliacutecitas ou ocultasrdquo (p98) Seguindo-se esta

proposta de anaacutelise o conteuacutedo das entrevistas foi categorizado do texto se extraiacuteram

categorias que de acordo com Bardin (1997) ldquosatildeo rubricas ou classes as quais reuacutenem um

grupo de elementos sob um tiacutetulo geneacuterico agrupamento esse efetuado em razatildeo dos

caracteres comuns destes elementosrdquo (p117) As categorias foram utilizadas para agrupar as

ideacuteias em torno dos conceitos As categorias foram elaboradas antes da coleta de dados

conforme proposto por Gomes (1997) Estas categorias foram levantadas a partir do

referencial teoacuterico apresentado considerando-se toacutepicos relevantes que constituem a relaccedilatildeo

de mentoria e dos benefiacutecios propostos As categorias encontradas refletiram a percepccedilatildeo dos

responsaacuteveis pelos alunos e dos professores sobre o programa e seu resultado na vida das

crianccedilas e adolescentes participantes Vale ressaltar que na medida em que foram sendo

analisados os dados foram sendo incluiacutedas novas categorias natildeo abordadas pela teoria mas

que se fizeram presentes nos discursos

55

O discurso advindo da entrevista foi decomposto conforme sugere Gomes (1997)

formando unidades de registro que podia ser uma palavra ou frase significativa dentro do

conceito que se estava investigando

Minayo (1998) propotildee o meacutetodo de anaacutelise hermenecircutico-dialeacutetico no qual a fala dos

atores deve ser contextualizada

O pesquisador tem que aclarar para si mesmo o contexto de seus entrevistados ou dos documentos a serem analisados Isso eacute importante porque o discurso expressa um saber compartilhado com outros do ponto de vista moral cultural e cognitivo (p222)

Inicialmente foi feita uma preacute-anaacutelise na qual os materiais coletados foram

organizados destacando-se os textos significativos e as categorias

Posteriormente foi feita a exploraccedilatildeo do material atraveacutes da leitura exaustiva o que

resultou no tratamento dos resultados e na sua interpretaccedilatildeo Segundo Gomes (1997) isto

significa ldquo desvendar o conteuacutedo subjacente ao que estaacute sendo manifestordquo (p 76) O autor

ressalta que a busca das informaccedilotildees estatiacutesticas deve se voltar para as ideologias as

tendecircncias e outras caracteriacutesticas dos fenocircmenos que se estaacute analisando

Realizou-se o primeiro niacutevel de interpretaccedilatildeo dos dados que segundo Minayo (1998) eacute

o das determinaccedilotildees fundamentais no qual se levam em conta a conjuntura soacutecio-econocircmica e

poliacutetica do objeto da pesquisa

O segundo niacutevel de interpretaccedilatildeo foi a observaccedilatildeo das comunicaccedilotildees individuais

condutas costumes e rituais expressos no grupo

Segundo Minayo (1998) o produto final da anaacutelise as conclusotildees a que se chega

devem ser tidos sempre como provisoacuterios e aproximativos

Acerca da generalizaccedilatildeo dos resultados Laville e Dione (1999) afirmam

56

o estudo de caso incide sobre um caso examinado em profundidade toda forma de generalizaccedilatildeo natildeo eacute por isso excluiacuteda Com efeito um pesquisador seleciona um caso na medida em que este lhe pareccedila tiacutepico representativo de outros casos As conclusotildees gerais que ele tiraraacute deveratildeo ser contudo marcadas pela prudecircncia devendo o pesquisador fazer prova de rigor e transparecircncia no momento de enunciaacute-las (p156)

Pocircde-se ao fim das anaacutelises chegar a um maior conhecimento do fenocircmeno estudado

bem como seu impacto na vida das famiacutelias e da comunidade onde estaacute inserido Segue na

proacutexima seccedilatildeo as limitaccedilotildees deste trabalho

36 Limitaccedilotildees da pesquisa

A presente pesquisa apresenta algumas limitaccedilotildees que seratildeo expostas a seguir

a) Impossibilidade de se verificar os resultados sociais

Sendo um projeto de longo prazo os benefiacutecios seratildeo evidenciados quando existirem

egressos do projeto Por outro lado o tempo que se dispotildee para esta pesquisa eacute de apenas

dois anos Procurou-se entatildeo verificar resultados de curto prazo e a partir deles fazer

inferecircncias

b) Falta de bibliografia nacional sobre o tema

Natildeo se tem pesquisa realizada em mentoria para crianccedilas e adolescentes no contexto

brasileiro limitando o arcabouccedilo teoacuterico Esta limitaccedilatildeo pode ser vista tambeacutem como uma

oportunidade na medida em que este trabalho jaacute significa um avanccedilo em termos de

contextualizar a teoria

c) Envolvimento da pesquisadora com o objeto

A aacuterea social eacute uma aacuterea de afinidade da pesquisadora e o projeto a encantou Este fato

pode ter influenciado a percepccedilatildeo e os resultados da pesquisa No entanto na busca pela

57

objetividade buscou-se separar os conteuacutedos dos sujeitos dos da pesquisadora aliando o

que os dados observados com os discursos deles advindos

d) Interrupccedilatildeo do projeto no momento das entrevistas

A pesquisa ocorreu em um momento criacutetico do projeto um momento de transiccedilatildeo A

observaccedilatildeo e a primeira fase de coleta se deram quando as atividades ainda estavam sendo

desenvolvidas No entanto no momento das entrevistas as atividades jaacute estavam

suspensas Este fato pode ter alterado a percepccedilatildeo das matildees entrevistadas pois o projeto jaacute

natildeo estava em seu cotidiano Por outro lado este fato pode ter contribuiacutedo com a

percepccedilatildeo do valor do projeto uma vez que pela ausecircncia se podia evidenciar o que este

representava na vida da famiacutelia

d) Impossibilidade de verificar com precisatildeo os fatores responsaacuteveis pelo ecircxito e natildeo-

ecircxito dos mentorados uma vez que as famiacutelias consideravam os filhos como tendo ecircxito

nos estudos

Estas foram as limitaccedilotildees percebidas nesta pesquisa

Cientes da metodologia do trabalho segue a apresentaccedilatildeo do caso e dos dados

coletados bem como sua respectiva discussatildeo

58

4 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos achados

Segue-se a apresentaccedilatildeo do caso pesquisado e posteriormente seratildeo apresentados e

discutidos os dados colhidos atraveacutes da observaccedilatildeo das entrevistas e da anaacutelise documental

No iniacutecio de cada seccedilatildeo seraacute apresentada uma questatildeo norteadora seguida da apresentaccedilatildeo e

da discussatildeo dos dados obtidos Finalmente seraacute respondida a questatildeo norteadora que iniciou

a seccedilatildeo Feito isto seraacute abordada outra questatildeo e assim sucessivamente ateacute que se responda a

todas as questotildees postas na fundamentaccedilatildeo teoacuterica

41 O caso

Nesta seccedilatildeo seraacute abordado o caso considerando-se o contexto no qual o mesmo se

insere Seraacute detalhado o surgimento do programa de reforccedilo escolar as motivaccedilotildees para tal os

objetivos as dificuldades enfrentadas os beneficiaacuterios os estaacutegios pelos quais passou e o seu

momento atual

411 O contexto do projeto Vila do Vinteacutem II

O caso pesquisado foi o programa de reforccedilo escolar chamado Educaccedilatildeo eacute Vida que

era localizado na Vila Vinteacutem II tambeacutem chamada de favela do Vinteacutem ou Vila Vinteacutem A

Vila do Vinteacutem era uma favela existente haacute mais de dez anos localizada no bairro de Casa

Forte na cidade do RecifePE

59

A Prefeitura do Recife em fevereiro de 2005 transferiu as 192 famiacutelias moradoras da

favela da Vila do Vinteacutem para o Conjunto Habitacional Casaratildeo do Cordeiro situado agrave

avenida Mauriacutecio de Nassau no bairro do Cordeiro

Esta transferecircncia faz parte de um projeto social chamado ldquoo Recife sem palafitasrdquo

Tal projeto beneficiou 720 famiacutelias que hoje residem no conjunto habitacional mas pretende

alcanccedilar 1337 famiacutelias procedentes de comunidades carentes

As quase 200 famiacutelias que faziam a Vila Vinteacutem moravam em palafitas agraves margens do

rio Capibaribe sob o viaduto Torre-Parnamirim e entre as ruas Joatildeo Tude de Melo e

Leonardo Bezerra Cavalcante As casas - barracos de madeira papelatildeo e plaacutestico - eram de

aproximadamente 12 m2 e natildeo contavam com aacutegua encanada nem esgoto e muitas natildeo tinham

sanitaacuterios

O relator especial das Naccedilotildees Unidas para habitaccedilatildeo Miloon Kothari classificou

algumas das favelas do Recife como sendo as piores do mundo ldquoAlgumas das condiccedilotildees de

moradia do Recife () estatildeo entre as piores que eu jaacute vi As pessoas natildeo podem dormir agrave

noite com aacutegua entrando nas casas ratos e baratasrdquo (Diaacuterio de Pernambuco 2004)

60

Figura 1 (4) - Foto da Vila do Vinteacutem 2002

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

Dentre as inuacutemeras dificuldades presentes nesta comunidade pode-se citar o

desemprego fator que atinge mais de 71 das famiacutelias da Vila (Diaacuterio de Pernambuco

2004) O iacutendice de desemprego como visto anteriormente estaacute diretamente relacionado agrave

escolaridade (NEacuteRY COSTA 2003) de forma que no Recife o maior iacutendice de

analfabetismo encontra-se em domiciacutelios com rendimento de ateacute um salaacuterio miacutenimo

(SECRETARIA DA POLIacuteTICA DE ASSISTEcircNCIA SOCIAL 2004) Mais especificamente

na Vila Vinteacutem mais de 60 dos moradores natildeo tecircm rendimento maior do que meio salaacuterio

miacutenimo

O contexto familiar muitas vezes eacute de agressividade como o exposto pela avoacute de uma

aluna ldquoCom a matildee de Nuacutebia eacute tudo no pau () ela vai para casa da matildee arenga com os

irmatildeos e chega toda machucadardquo (entrevista out05) Esta constataccedilatildeo eacute coerente com a

literatura fatores vivenciados pelas famiacutelias tais como o desemprego crocircnico violecircncia

61

domeacutestica e brigas entre o casal estatildeo associados com a delinquumlecircncia (FARRINGTON 1987

apud PATTERSON et al 1989) Neste ambiente estava inserido o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

O projeto situava-se agrave entrada da favela da Vila Vinteacutem II agrave rua Joatildeo Tude de Melo

nuacutemero 21 no bairro de Casa Forte

Desde a transferecircncia das famiacutelias da Vila do Vinteacutem para o Casaratildeo do Cordeiro as

atividades do projeto foram suspensas O projeto aguarda a liberaccedilatildeo de um terreno no

referido conjunto conforme jaacute acordado entre o projeto e a Prefeitura do Recife para retomar

suas atividades

Figura 2 (4) ndash Foto das palafitas da Vila do Vinteacutem no dia da mudanccedila para o Casaratildeo do Cordeiro Fev2005

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

Considerado o contexto onde estava inserido o projeto faz-se necessaacuterio conhecer o

projeto em si A seccedilatildeo seguinte eacute dedicada a este assunto

62

412 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

O projeto teve iniacutecio atraveacutes de uma famiacutelia residente nas proximidades da favela Vila

do Vinteacutem II Moab Silva e sua esposa Miriam Maria da Silva tinham um restaurante nesta

aacuterea O casal tem dois filhos A filha tem graduaccedilatildeo em Histoacuteria e estaacute terminando o curso de

Publicidade e o filho fez Engenharia Mecacircnica eacute mestre em Oceanografia e estaacute concluindo o

doutorado em Oceanografia Moab eacute cozinheiro autocircnomo e sua esposa eacute graduada em

Relaccedilotildees Puacuteblicas

A famiacutelia conhecia a favela do Vinteacutem e quando havia necessidade contratava alguns

dos moradores para prestar pequenos serviccedilos ao restaurante Com isto e dado ao fato de

Moab ter crescido neste local a famiacutelia tornou-se conhecedora e conhecida da comunidade

Quando os pais vinham trabalhar no restaurante seus filhos os acompanhavam e ficavam

ldquotomando contardquo dos carros no estacionamento Ao fechamento do restaurante estas recebiam

alimentaccedilatildeo

A partir daiacute Miriam que jaacute lecionava para crianccedilas em uma igreja evangeacutelica teve a

ideacuteia de reunir as crianccedilas da comunidade e formar um pequeno coral para se apresentar para

a comunidade na festa de Natal Foi entatildeo que se iniciou a Comunidade Cristatilde Amigos Para

Sempre (ANEXO A) com o objetivo primeiro de evangelizaccedilatildeo e posteriormente

educacional Visando o alcance do objetivo educacional criou-se o Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

(ANEXO B) Moab e a esposa reuniram aproximadamente 15 crianccedilas moradoras da favela

do Vinteacutem para formar o coral As crianccedilas ensaiavam ouviam histoacuterias e lanchavam O coral

reunia-se duas vezes por semana as quartas e aos domingos Os pais tambeacutem se

aproximaram

Moab atraveacutes deste contato mais proacuteximo com as crianccedilas foi percebendo o potencial

que elas tinham e visando desenvolver este potencial resolveu fazer uma banca de estudos

63

para acompanhaacute-las em suas tarefas escolares As crianccedilas jaacute estavam matriculadas em

escolas puacuteblicas e Moab e sua esposa iniciaram o reforccedilo escolar

De 1988 ateacute 2000 o projeto funcionou na informalidade e as reuniotildees aconteciam no

espaccedilo do restaurante Quando este natildeo estava em atividade era dedicado agraves crianccedilas de

forma que laacute ocorriam aleacutem das reuniotildees ensaios do coral jogos festas do dia das crianccedilas

de aniversaacuterio e de Natal

Figura 3 (4) - Festa de Natal para as crianccedilas da Vila do Vinteacutem II 2004

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

No ano de 2000 um grupo de 18 americanos foi agraves proximidades da Vila Moab ao ir

cozinhar para este grupo foi acompanhado pelas crianccedilas Os americanos intrigados ao

verem tantas crianccedilas perguntaram quem eram elas Ao saber a respeito do projeto o grupo

se sensibilizou e resolveu contribuir Foi assim que o projeto comprou uma casa na rua Joatildeo

Tude de Melo ao lado da favela O projeto contava agora com uma sede

64

Figura 4 (4) - Festa das crianccedilas na sede do projeto 00

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

No projeto as atividades de reforccedilo eram disponibilizadas para quem fosse da favela e

quisesse estudar independentemente da seacuterie em que estivesse matriculado O projeto contava

com materiais didaacuteticos um quadro-negro cadeiras uma biblioteca e um computador com

acesso agrave Internet

Os professores do projeto eram Moab cuja vocaccedilatildeo segundo ele eacute alfabetizar sua

esposa que jaacute havia sido professora de crianccedilas e uma professora contratada Havendo

necessidade seus filhos tambeacutem davam aula no projeto

Segue na proacutexima seccedilatildeo uma breve descriccedilatildeo das atividades que o projeto

desenvolvia antes da transferecircncia

65

413 Atividades desenvolvidas pelo projeto

As aulas do reforccedilo funcionavam pela manhatilde e pela tarde contando em meacutedia com 25

alunos em cada turno As atividades do projeto eram realizadas de forma que o aluno estando

em uma escola puacuteblica recebia atraveacutes do projeto um ensino considerado pelo coordenador

como de maior qualidade Os alunos passavam a alcanccedilar um conhecimento diferenciado de

seus colegas de classe Quando os alunos absorviam estes conhecimentos o projeto buscava

transferi-los para uma escola privada

Deu-se entatildeo iniacutecio agrave busca por bolsas de estudos em escolas particulares para os

alunos com bom desempenho escolar Moab o coordenador ia ateacute agrave escola particular falava

acerca do programa de reforccedilo e dava o perfil da crianccedila para qual estava fazendo a

solicitaccedilatildeo da bolsa A escola convidava este aluno para conhecer suas instalaccedilotildees e aplicava

um teste de conhecimento Se o aluno fosse aprovado no teste seria bolsista da escola O

projeto passava a acompanhaacute-lo com mais intensidade visando mantecirc-lo com bom

desempenho em sua nova escola

Atualmente o projeto conta com as seguintes bolsas em instituiccedilotildees de ensino

privado

INSTITUICcedilAtildeO Nordm DE BOLSAS Coleacutegio de Ensino Fundamental I fase 10 Coleacutegio de Ensino Fundamental e Meacutedio 3 Centro de Informaacutetica 10 Curso de Inglecircs 11

As crianccedilas bolsistas que terminam a 4a Seacuterie da primeira fase do Ensino Fundamental

recebem uma bolsa na escola de inglecircs Buscando melhor atender as crianccedilas o coordenador

buscou pessoas que pudessem assisti-las com relaccedilatildeo agrave sauacutede O projeto passou a contar com

66

o voluntariado de uma psicoacuteloga um meacutedico e dois dentistas que datildeo assistecircncia agraves crianccedilas

No caso de assistecircncia psicoloacutegica a famiacutelia tambeacutem recebe acompanhamento

Em 2000 foi fechado um acordo com dois dentistas para o tratamento dentaacuterio das

crianccedilas Mais uma vez o grupo de americanos contribuiu com R$ 1500 por crianccedila para

cobrir as despesas com o material odontoloacutegico Um grupo de 90 crianccedilas da Vila do Vinteacutem

fez tratamento dentaacuterio que incluiu obturaccedilatildeo extraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de fluacuteor ldquoFoi um ano de

tratamento Eu levava as crianccedilas quatro vezes por semana duas turmas para dra () e duas

turmas para o dr ()rdquo (COORDENADOR entrevista set05)

Aleacutem das atividades educacionais propriamente ditas o projeto desenvolvia outras

atividades com as crianccedilas Dentre estas o coordenador citou passeios agrave praccedila do

Entroncamento no final de ano e agrave exposiccedilatildeo da aeronaacuteutica e visita a museus (Ricardo

Brennand Museu do Homem do Nordeste Museu do Estado) ldquoQualquer exposiccedilatildeo que

esteja havendo e que vaacute influir acrescentar em termos de educaccedilatildeo para eles a gente levardquo

(COORDENADOR entrevista set05) Anualmente o projeto levava alguns adolescentes para

acampar O acampamento que tem duraccedilatildeo de cinco dias eacute de cunho religioso Atividades

como pintura muacutesica danccedila recreaccedilatildeo e jogos tambeacutem eram desenvolvidas regularmente

pelo projeto Festas e reuniotildees eram realizadas Estas ocorriam na sede ou no espaccedilo onde era

o restaurante por este comportar um nuacutemero maior de pessoas

Na proacutexima seccedilatildeo seraacute explicado como o projeto foi formalizado tornando-se uma

organizaccedilatildeo natildeo governamental

67

414 Formalizaccedilatildeo do projeto como organizaccedilatildeo natildeo-

governamental

Aproximadamente em 2000 com o projeto jaacute instalado na sede buscou-se a

formalizaccedilatildeo do projeto ou seja o registro como ONG (organizaccedilatildeo natildeo-governamental) O

coordenador procurou entatildeo mais quatro pessoas que juntamente com ele tivessem os

mesmos objetivos Encontradas estas pessoas que natildeo eram estranhas ao projeto intentou-se

proceder agrave formalizaccedilatildeo No entanto estas pessoas desistiram e o coordenador procurou

outras Encontradas as pessoas que segundo ele realmente assumiram o projeto o mesmo foi

formalizado O projeto conta com um presidente (Moab) um vice-presidente dois secretaacuterios

e um tesoureiro Das cinco pessoas responsaacuteveis pela ONG duas foram substituiacutedas

O projeto mesmo anterior agrave formalizaccedilatildeo jaacute contava com objetivos definidos estes

foram entatildeo sistematizados (ANEXO B) Satildeo objetivos do projeto

bull Melhorar a qualidade de vida natildeo somente no presente mas intervir num ciclo

vicioso preparando a crianccedila e o jovem para o futuro

bull Atuar na aacuterea de educaccedilatildeo solicitando bolsa de estudo na rede privada com aulas

de reforccedilo para o ensino fundamental alfabetizaccedilatildeo infantil distribuiccedilatildeo de

material escolar e merenda

bull Ofertar curso regular de liacutengua inglesa e iniciaccedilatildeo musical

bull Oferecer acompanhamento cliacutenico odontoloacutegico e psico-pedagoacutegico e

bull Desenvolver atividades que proporcionem o desenvolvimento de competecircncias

sociais pessoais e intelectuais

Formalmente o coordenador estaacute na diretoria da ONG haacute trecircs anos Em outubro de

2006 ao completar dois mandatos haveraacute eleiccedilatildeo e ele natildeo mais estaraacute agrave frente do projeto

68

pois assim rege o estatuto O projeto eacute mantido com doaccedilotildees e serviccedilo voluntaacuterio Com a

formalizaccedilatildeo natildeo houve alteraccedilatildeo nas atividades desenvolvidas pelo projeto

Considerada a formalizaccedilatildeo do projeto segue a explanaccedilatildeo de sua situaccedilatildeo atual ou

seja como se encontra o projeto apoacutes a transferecircncia das famiacutelias

415 Situaccedilatildeo atual do projeto

Com a transferecircncia das famiacutelias para o conjunto habitacional Casaratildeo do Cordeiro o

projeto interrompeu suas atividades regulares e tem ido agrave busca da liberaccedilatildeo do terreno jaacute

destinado ao mesmo

Neste iacutenterim de fevereiro a novembro de 2005 as crianccedilas bolsistas que estavam

estudando na primeira fase do ensino fundamental foram colocadas pelo projeto em semi-

internatos Tal fato ocorreu na busca de garantir a continuidade da assistecircncia educacional a

estas crianccedilas

Ainda neste periacuteodo de transiccedilatildeo o mesmo grupo de americanos que outrora

beneficiou o projeto com a compra da casa fez uma nova doaccedilatildeo Desta vez o grupo doou

um galpatildeo preacute-moldado com capacidade para 300 pessoas que seraacute erguido no local

destinado para o projeto no Casaratildeo do Cordeiro O envio do galpatildeo estaacute condicionado agrave

liberaccedilatildeo do terreno

Na proacutexima seccedilatildeo seratildeo consideradas as dificuldades enfrentadas pelo projeto

Educaccedilatildeo eacute Vida

69

416 Dificuldades enfrentadas pelo projeto

O coordenador diz encontrar dificuldade para obter apoio junto agraves instituiccedilotildees que

segundo ele deveriam cooperar com as ONGrsquos tais como Conselho Municipal Conselho

Estadual e Conselho Federal de Accedilatildeo Social e Conselhos Municipais dos Direitos da Crianccedila

e do Adolescente Ele afirma que haacute excesso de burocracia e que estas instituiccedilotildees natildeo estatildeo

presentes para apoiar antes para punir caso haja alguma irregularidade ldquoEles natildeo querem ver

resultados querem ver papelrdquo desabafa o coordenador (entrevista set05) Mesmo

entregando os documentos solicitados o coordenador lamenta natildeo ter tido ecircxito nas

solicitaccedilotildees legais fato que ele atribui agrave morosidade e ao excesso de burocracia

Outra dificuldade considerada a maior delas eacute enfrentada a cada iniacutecio de ano devido

a necessidade de se patrocinar os alunos bolsistas O custo com materiais e fardamentos eacute em

meacutedia de R$ 50000 por crianccedila O projeto busca cobrir tal despesa buscando

apadrinhamento (patrociacutenio) para os alunos ou seja pessoas que contribuam parcial ou

totalmente com as despesas deste

A cada ano as escolas oferecem novas vagas ao projeto e com elas aumenta a

dificuldade devido agrave falta de recursos O projeto tem crianccedilas com desempenho suficiente

para serem aceitas por uma escola particular e as escolas tecircm ofertado mais bolsas mas a falta

de patrociacutenio tem imposto limites a esta transferecircncia O coordenador diz que ao colocar uma

crianccedila na escola particular o projeto assume realmente seus estudos fazendo o possiacutevel para

que a crianccedilaadolescente seja inserida e obtenha ecircxito

Ao final de cada ano os padrinhos satildeo homenageados recebendo um Certificado de

Agente Social conforme a figura 5 (4) como forma de reconhecimento e gratidatildeo pelo

patrociacutenio

70

Figura 5 (4) - Certificado do padrinho

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

A despeito das dificuldades enfrentadas o projeto intenta continuar e expandir-se

Tem o objetivo de atender ao Conjunto Habitacional Casaratildeo do Cordeiro

Segue na proacutexima seccedilatildeo a motivaccedilatildeo que deu iniacutecio a este projeto e que o sustenta ateacute

o momento desta pesquisa

417 Motivaccedilatildeo para a existecircncia e continuidade do projeto

O coordenador explica assim sua motivaccedilatildeo para prosseguir com o projeto

Como cidadatildeo pobre eu sempre lutei para que meus filhos conseguissem terminar o terceiro grau () Depois que os meus terminaram eu digo bom agora eu posso lutar pelos dos outros para que eles tambeacutem consigam porque eles natildeo vatildeo conseguir se natildeo tiver quem ofereccedila oportunidade () Essas crianccedilas sendo assistidas dessa forma sem duacutevida alguma vatildeo trilhar o mesmo caminho que meus filhos trilharam Eu trato as crianccedilas participantes deste projeto como se elas fossem os meus filhos (COORDENADOR entrevista set05)

71

Acerca de seu envolvimento com o projeto ele declara ldquoEu natildeo vejo como me

desvincular hoje () separar do projeto Eu respiro o projeto luto faccedilo o que for necessaacuterio o

que for possiacutevel para que o projeto continuerdquo (COORDENADOR entrevista set05)

A seccedilatildeo 41 foi destinada ao caso Foram aqui considerados o contexto onde estaacute

inserido as atividades desenvolvidas o processo de formalizaccedilatildeo as dificuldades enfrentadas

e a motivaccedilatildeo existente no projeto

Para melhor compreensatildeo dos sujeitos da pesquisa seratildeo expostos nas proacuteximas

seccedilotildees os dados referentes aos mentores e aos mentorados pesquisados

418 Dados dos mentores entrevistados

Seguem algumas informaccedilotildees acerca dos mentores do projeto

Coordenador- foi o fundador do projeto e estaacute nele haacute 16 anos Jaacute deu alfabetizou diversas

crianccedilas e pais da comunidade Atualmente eacute o presidente da ONG

Professora ndash participou do projeto durante um ano Leciona em uma das escolas particulares

que fornece bolsa para os alunos Diz ter muita identidade com a proposta do projeto

Psicoacuteloga ndash estaacute no projeto haacute 5 anos Aleacutem deste trabalho no qual atua como voluntaacuteria

participa de um outro tambeacutem com comunidade carente

Dentista- estaacute no projeto haacute mais de um ano e diz ter identidade com o tipo de trabalho

realizado

Seguem na proacutexima seccedilatildeo os dados referentes aos mentorados pesquisados

72

419 Dados dos mentorados pesquisados

Visando um maior conhecimento dos sujeitos pesquisados seguem-se alguns dados

acerca dos mesmos Na busca pelo anonimato os nomes dos alunos foram trocados

Inicialmente seratildeo abordados os alunos que foram apontados como que de ecircxito nos estudos e

posteriormente os de natildeo-ecircxito

4191 Alunos tidos como que de ecircxito nos estudos

O coordenador do projeto demonstra orgulho ao falar dos seguintes alunos pois aleacutem

do rendimento escolar eles apresentam bom comportamento Satildeo estes os alunos

Afracircnio- aluno com 9 anos de idade cursa a 4a seacuterie do Ensino Fundamental em um coleacutegio

particular com bolsa obtida atraveacutes do projeto Educaccedilatildeo eacute Vida Afracircnio estaacute no projeto haacute 3

anos Mora com a matildee que eacute analfabeta funcional1 Aleacutem de estudar em escola particular

atraveacutes do projeto Afracircnio tambeacutem faz inglecircs

Daniel- aluno com 8 anos cursa a 1a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular cuja

bolsa foi obtida atraveacutes do projeto Ele participa do projeto haacute 3 anos Sua participaccedilatildeo nas

atividades desenvolvidas pelo projeto eacute integral passeios e lazer Daniel mora com os pais e eacute

o filho mais novo do casal Seu pai que eacute porteiro estudou ateacute o 3o ano do Ensino Meacutedio e

sua matildee ateacute a 8a seacuterie do Ensino Fundamental Aleacutem dos pais Daniel mora com seu irmatildeo

mais velho Faacutebio (tido como de natildeo ecircxito) sua irmatilde e sua tia A matildee sofre de fobia social e

toma remeacutedio ldquocontroladordquo Segundo ela o filho eacute muito responsaacutevel e gosta de estudar

1 Analfabeto funcional- Pessoa com menos de quatro anos de estudos

73

Almir- Garoto de 9 anos que cursa a 2a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular

cuja bolsa foi obtida atraveacutes do projeto Almir estaacute no projeto haacute 3 anos Mora com os pais

que satildeo analfabetos funcionais e com Silvia sua irmatilde

Silvia- eacute irmatilde de Almir tem 10 anos cursa a 4a seacuterie do Ensino Fundamental Estaacute no projeto

cerca de 3 anos Tal qual o irmatildeo Silvia estuda em escola particular

Nuacutebia- aluna de 12 anos cursa a 5a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular cuja

bolsa foi obtida atraveacutes do projeto do qual ela faz parte haacute cerca de 3 anos Nuacutebia eacute apontada

pelo coordenador do projeto como sendo uma aluna excelente Durante a semana Nuacutebia estaacute

morando na casa da avoacute paterna pois eacute mais perto da escola do que a casa da matildee pois esta

mora no Casaratildeo do Cordeiro A avoacute diz que a neta eacute muito calma e desanimada Acredita

que ela sente muita falta dos irmatildeos e da matildee (os pais satildeo separados) Nos finais de semana

Nuacutebia vai para a casa da matildee A avoacute diz que ao retornar ela vem agitada e machucada pois

em casa Nuacutebia apanha da matildee e dos irmatildeos A matildee de Nuacutebia disse ao coordenador que em

2006 iraacute tiraacute-la da escola particular apesar do bom rendimento que ela apresenta A matildee alega

que a escola eacute longe O coordenador e a professora acreditam que tal fato se deve tambeacutem agrave

limitaccedilatildeo da matildee (analfabeta funcional) em compreender o valor do estudo Ao falar acerca

deste fato o coordenador se mostra bastante entristecido

Frederico- aluno com 12 anos cursa a 6a seacuterie do Ensino Fundamental Ele estaacute no projeto

haacute 4 anos estuda em coleacutegio particular com bolsa obtida atraveacutes do projeto Frederico mora

com os pais Estes satildeo analfabetos funcionais O coordenador diz que eacute um menino muito

bom pois eacute esforccedilado e apresenta bom comportamento

Jairo- aluno com 14 anos que cursa a 6a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular

Sua bolsa foi obtida atraveacutes do projeto bem como o curso de inglecircs no qual ele estuda haacute 3

anos Jairo mora com a matildee o padrasto e com o irmatildeo mais novo que eacute portador de

74

necessidades especiais A matildee eacute analfabeta absoluta2 e o padrasto analfabeto funcional Jairo

perdeu o pai com dois anos A matildee fala que ele eacute um menino ldquoquietordquo e que gosta muito do

coordenador do projeto Jairo morou no interior onde estudava mas natildeo obtinha

aproveitamento escolar Ao chegar no Recife foi incentivado a estudar e segundo a matildee

ldquotomou gosto pelos estudosrdquo desde entatildeo tem demonstrado bom rendimento aleacutem do

comportamento exemplar que sempre apresentou A matildee diz que o coordenador eacute como um

pai para o Jairo lhe aconselha encaminha ajuda patrocina e eacute amigo

Walter- aluno de 17 anos que cursa o 2o ano do Ensino Fundamental em escola puacuteblica e

estaacute haacute 7 anos no projeto Walter mora com os pais que satildeo analfabetos funcionais O

coordenador diz que a famiacutelia acompanha os estudos de Walter Ele eacute aluno de inglecircs com

bolsa obtida pelo projeto Walter pretende ser professor deste inglecircs visto o bom rendimento

que vem apresentando e o interesse que afirma ter com o idioma

Nesta seccedilatildeo foram apresentados alguns dados acerca dos alunos tidos como de ecircxito segue na

proacutexima seccedilatildeo dados dos alunos pesquisados que foram tidos como que de natildeo ecircxito nos

estudos

4192 Alunos tidos como que de natildeo ecircxito nos estudos

Os seguintes alunos natildeo apresentam o rendimento escolar esperado pelo projeto A

aleacutem do que alguns apresentam problemas de comportamento Satildeo estes

Tito ndash aluno com 8 anos de idade que cursa a 2a seacuterie do Ensino Fundamental Mora com os

pais que satildeo analfabetos funcionais Ele estuda em um coleacutegio particular com bolsa obtida

atraveacutes do projeto O coordenador afirma que o mesmo natildeo demonstra interesse para com os

estudos

2 Analfabeta absoluta- pessoa iletrada

75

Helena- aluna de 10 anos que cursa a 4a seacuterie do Ensino Fundamental Ela estaacute no projeto haacute

4 anos Mora com a matildee que eacute analfabeta funcional A matildee trabalha fora e tem pouco contato

a filha cerca de uma hora por dia Os pais satildeo separados O coordenador diz que a matildee eacute

muito nervosa e toma remeacutedio ldquocontroladordquo Ele afirma que a matildee por ser agressiva e

impaciente eacute quem dificulta o aprendizado e o comportamento da filha Helena estuda em

escola particular mas natildeo estaacute obtendo notas suficientes para continuar nela

Tacircnia- aluna de 10 anos que cursa a 4a seacuterie em escola puacuteblica Ela estaacute no projeto haacute 7 anos

Tacircnia mora com a matildee adotiva com o padrasto com um irmatildeo mais novo e com um irmatildeo

mais velho e sua esposa Sua situaccedilatildeo eacute peculiar sua matildee morava com outro ldquomaridordquo quando

resolveu adotaacute-la Deixou o primeiro marido e atualmente mora com outro Sendo que este

casal teve um filho que no momento da pesquisa tinha dois anos Segundo o relato da

psicoacuteloga desde a separaccedilatildeo da matildee Tacircnia jaacute natildeo gozava de muito atenccedilatildeo e com o

nascimento do irmatildeo esta diminuiu significativamente O coordenador atribui muito de sua

dificuldade de aprendizagem agrave falta de estrutura familiar

Nestor- aluno com 14 anos cursa o 1o ano do ensino Meacutedio estaacute no projeto haacute 4 anos e mora

com os pais Sua matildee eacute analfabeta funcional e seu pai cursou ateacute a 6a seacuterie do Ensino

Fundamental Nestor estuda em escola puacuteblica

Faacutebio- garoto com 12 anos que cursa a 6a seacuterie do Ensino Fundamental Ele participa do

projeto haacute 3 anos Faacutebio mora com os pais com a tia com a irmatilde e com Daniel seu irmatildeo A

matildee estudou ateacute a 8a seacuterie e o pai ateacute o 3o ano do Ensino Meacutedio Faacutebio segundo a matildee natildeo

gosta de estudar e seu interesse estaacute em jogar futebol e ficar na rua Em casa ele natildeo recebe

acompanhamento em termos de estudo

Estes foram alguns dos dados acerca dos alunos pesquisados Ao longo da

apresentaccedilatildeo dos dados seratildeo apresentadas mais informaccedilotildees acerca destes sujeitos

76

Seguem nas proacuteximas seccedilotildees as questotildees norteadoras deste trabalho bem como a

apresentaccedilatildeo e discussatildeo dos dados colhidos na busca pelas respostas agraves questotildees

42 Achados referentes agrave primeira questatildeo norteadora

Para responder a seguinte questatildeo em uma comunidade carente brasileira ateacute que

ponto a mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes apresenta as caracteriacutesticas definidas

pela teoria Faz-se necessaacuterio inicialmente caracterizar o projeto de reforccedilo como um

programa de mentoria o que seraacute feito na proacutexima seccedilatildeo Posteriormente seratildeo analisados os

achados referentes agraves funccedilotildees de mentoria existente no projeto as fases em que se encontram

os relacionamentos e os fatores relacionados ao ecircxito do projeto

421 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida como um programa de mentoria

Percebeu-se que os alunos recebem suporte vindo de vaacuterios mentores A psicoacuteloga

fornece sustentaccedilatildeo para o aluno e para a famiacutelia a professora aconselha e ajuda a

desenvolver habilidades o coordenador e sua esposa acompanham o desenvolvimento dos

alunos fornecendo-lhes feedback e encorajando-os Tal fato foi constatado atraveacutes dos

discursos das matildees que relatavam o suporte recebido principalmente pelo coordenador e pela

professora

A partir destes dados pode-se concluir que o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida caracteriza-se

como um programa de redes de mentoria (HIGGINS KRAM 2001) uma vez que o

mentorado recebe influecircncia de vaacuterios mentores O coordenador do projeto eacute a pessoa que

mais acompanha os alunos eacute o mais citado pelas matildees e pelo aluno como oferecedor de

suporte tanto psicossocial como de carreira Pode ser considerado o mentor principal do

projeto

77

A relaccedilatildeo tem iniciativa da organizaccedilatildeo ao se manter aberta a novos entrantes e a

relaccedilatildeo eacute estruturada Alguns encontros como a aula de reforccedilo satildeo preacute-estabelecidos No

entanto os encontros natildeo se limitam agrave aula de reforccedilo Eles podem ser esporaacutedicos partindo

da necessidade O relacionamento natildeo tem uma delimitaccedilatildeo de seis meses ou um ano O

mesmo pode se estender por longos periacuteodos de tempo Walter aluno entrevistado por

exemplo estaacute no projeto haacute sete anos Haacute alunos que foram alfabetizados pelo projeto e

receberam acompanhamento ateacute terminar o ensino meacutedio caracterizando assim um

relacionamento de no miacutenimo 11 anos

Dentre os tipos de mentoria propostos por Kram (1985) a mentoria realizada no

projeto parece estar na interface da mentoria formal e informal Alguns fatores levam a

consideraacute-la formal como por exemplo a estruturaccedilatildeo da relaccedilatildeo e os encontros preacute-

estabelecidos Por outro lado vecirc-se tambeacutem caracteriacutesticas da mentoria informal Ou seja o

mentorado toma a iniciativa em fazer parte ou natildeo da relaccedilatildeo nem todos os encontros satildeo preacute-

estabelecidos e o tempo de duraccedilatildeo da relaccedilatildeo ultrapassa em muito os dois anos ldquolimiterdquo da

mentoria formal

Outra caracteriacutestica especiacutefica do projeto eacute o fato de haver dois tipos de

relacionamento de mentoria entre os mentores e seus mentorados Os alunos bolsistas

parecem gozar de maior assistecircncia visto que para o projeto o ldquoinvestimentordquo eacute maior nestes

alunos Este diferencial foi percebido quando no periacuteodo de transiccedilatildeo alguns bolsistas foram

colocados em regime de semi-internato enquanto os natildeo-bolsistas natildeo tiveram o mesmo

tratamento Deve-se considerar a quantidade restrita de vagas e nesta situaccedilatildeo a preferecircncia

eacute dos alunos bolsistas

Percebeu-se pelos discursos que quando haacute algum passeio com o nuacutemero limitado de

participantes a preferecircncia eacute dos alunos mais comportados e que apresentam melhores notas

normalmente os bolsistas A matildee de Faacutebio (que tem um filho bolsista e outro considerado de

78

natildeo-ecircxito) diz que o coordenador tem seus ldquoescolhidosrdquo (entrevista out05) Ela enfatiza estar

ciente que um de seus filhos eacute ldquoescolhidordquo e o outro natildeo

Este tipo de relacionamento eacute explicado na teoria LMX (Leader-Member Exchange)

teoria da troca entre liacuteder e liderado que afirma que os liacutederes estabelecem um

relacionamento especial com um grupo restrito de liderados (grupo interno) distinto do

relacionamento com os demais liderados que fazem o grupo externo (ROBBINS 2002)

Tal fato pode levar aos seguintes questionamentos

- Os alunos mentorados que se saem melhor em termos de notas e

comportamentos passam a ter uma assistecircncia diferenciada

- Ter uma assistecircncia ldquomais proacuteximardquo leva os alunos a demonstrar melhores

comportamentos e apresentar melhores notas

Abordadas estas caracteriacutesticas da relaccedilatildeo de mentoria do projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

seguem-se as funccedilotildees de mentoria observadas no projeto

422 Funccedilotildees de mentoria encontradas no projeto Educaccedilatildeo eacute

Vida

Nesta seccedilatildeo seratildeo apresentados e discutidos os dados que revelam a existecircncia das

funccedilotildees de mentoria Inicialmente seratildeo abordadas as funccedilotildees de suporte de carreira e

posteriormente as de suporte psicossocial

4221 Suporte de carreira

Nesta seccedilatildeo seratildeo apresentadas as funccedilotildees do suporte de carreira encontradas no projeto

de reforccedilo Satildeo funccedilotildees que o mentor desempenha no sentido de auxiliar o mentorado em seu

desenvolvimento profissional Para cada funccedilatildeo abordada seratildeo apresentados alguns exemplos

encontrados

79

bull Tarefas desafiadoras

Um aluno bolsista de inglecircs diz que seu mentor sempre lhe lembra que aluno bolsista eacute

aluno modelo ldquoA gente tem que mostrar porque tinha direito agravequela bolsa () Se vocecirc

recebe uma ajuda e vocecirc natildeo se esforccedila para passar os obstaacuteculos natildeo adianta nada () eu

tenho me esforccediladordquo (WALTER entrevista out05)

Jairo em cuja casa soacute haacute analfabetos (absoluto e funcional) eacute um dos alunos do projeto

tido como exemplar Tem bolsa em uma escola particular e cursou a 4a e a 5a seacuteries no

mesmo ano A matildee de Nestor diz acerca do filho ldquoEle (Nestor) diz que quer estudar natildeo quer

ser como o pai dele que natildeo estudou Depois que ele conheceu o seu Moab aiacute eacute que ele pegou

o incentivo mesmo para estudarrdquo (MAE DE NESTOR entrevista out05)

ldquoSe vocecirc eacute bolsista natildeo eacute porque vocecirc eacute pobre natildeo eacute porque vocecirc eacute preto natildeo eacute

porque vocecirc eacute favelado Vocecirc estaacute laacute por capacidade () vou buscar bolsa porque ele eacute capaz

e estaacute faltando uma oportunidaderdquo (COORDENADOR entrevista set05)

O programa de reforccedilo ao dar aos alunos a oportunidade de acompanhamento nos

estudos impotildee-lhes uma tarefa extremamente desafiadora a de conseguir superar uma

realidade de exclusatildeo social A crianccedila demanda esforccedilo para adentrar uma escola particular e

para se manter apta a permanecer nessa escola Mesmo no caso de alunos natildeo bolsistas existe

o desafio de manter-se com bom rendimento na escola puacuteblica Este desafio eacute igualmente

vaacutelido para o curso de inglecircs

O desafio parece ser maior do que se apresenta pois subjacente agrave continuidade dos

estudos na vida da crianccedilaadolescente estaacute o status quo da famiacutelia O estudo do filho rompe

uma situaccedilatildeo de analfabetismo familiar Leva a crianccedila a superar sua expectativa negativa de

futuro uma vez que a educaccedilatildeo da matildee (das matildees entrevistadas 78 satildeo analfabetas) eacute

determinante do desempenho do filho (BARROS et al 1994)

80

Walter parece ter ciecircncia do desafio individual que tem que enfrentar mas talvez natildeo

perceba a dimensatildeo do desafio social que isto representa ou seja conhecer e dominar a liacutengua

inglesa estando inserido em uma comunidade que natildeo domina seu proacuteprio idioma Falar de

futuro para uma comunidade de favela jaacute eacute por si soacute um desafio Qual o futuro para quem

natildeo sabe se vai comer ou ter a oportunidade de continuar vivo no dia presente Que futuro

esperar quando se vecirc o pai becircbado jogado na rua catando lixo ou ao perceber a matildee se

prostituindo Que futuro espera quem vive nas condiccedilotildees caracterizadas pelo representante da

ONU como sendo as piores do mundo Talvez esta seja uma das mais belas funccedilotildees do

mentor de crianccedilas e adolescentes carentes abrir-lhes os olhos para novas e promissoras

experiecircncias e viabilizar o alcance destas Ofertar mais tarefas desafiadoras quando estas

crianccedilas e adolescentes jaacute possuem tantas pode parecer cruel No entanto elas parecem estar

recebendo suporte suficiente para superar tais desafios indo aleacutem do que se espera

bull Exposiccedilatildeo e visibilidade positiva

Na introduccedilatildeo da pesquisadora ao programa pocircde-se assistir agrave apresentaccedilatildeo de alunos-

talentos do projeto onde foram citados o rendimento escolar e as habilidades dos mesmos

Os colaboradores e alguns alunos apresentam-se em busca de patrociacutenio Nestas ocasiotildees os

melhores alunos satildeo destacados

Walter aluno de inglecircs foi observado em seu desempenho por seu mentor e por sua

professora da escola de inglecircs Ele foi indicado para fazer intercacircmbio cultural nos EUA

As alunas do projeto que tinham aula de danccedila apresentavam-se quando havia oportunidade

mesmo que se tratasse de uma missa

81

Figura 6 (4) - Apresentaccedilatildeo de coreografia das meninas do projeto em uma missa de Natal realizada pela Igreja Catoacutelica de Casa Forte na Vila do Vinteacutem II

Fonte Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

Pocircde-se perceber que o projeto expotildee positivamente seus mentorados conforme o

proposto por Kram (1985) Oferecer visibilidade positiva a crianccedilas marginalizadas pela

sociedade mostrando os talentos que estas possuem contribui para resgatar a auto-estima

das crianccedilas e das famiacutelias Crianccedilas e adolescentes de favela satildeo estigmatizados e

relacionados agrave delinquumlecircncia Esta visibilidade positiva eacute interessante para a sociedade

havendo a possibilidade de reduccedilatildeo do preconceito para com estes que estatildeo agrave margem Para

os mentorados a visibilidade positiva pode ajudaacute-los a resgatar aleacutem da auto-estima a

dignidade ao reconhecerem capacidade e potencial em si mesmos

bull Coaching

O reforccedilo era oferecido diariamente para as crianccedilas durante 1hora e meia fossem as

crianccedilas bolsistas ou natildeo ldquoEu eacute que ensinava a ela (Silvia) mas natildeo tenho jeito Depois do

82

projeto ela melhorou a letra aprendeu a ler mais raacutepido aprendeu a escreverrdquo (MAE

DE SILVIA entrevista out 05) ldquoQuando a professora natildeo ia ele (Moab) botava a filha dele

praacute ensinar () Ele eacute professor a esposa o filho e a filha Assim eacute bom neacute Quando um natildeo

tava o outro tava (sic)rdquo (MAE DE AFRAtildeNIO entrevista out05)

Uma das atividades mais presentes observadas no projeto eacute o coaching devido agrave

frequumlecircncia com a qual ocorre As tarefas o estudo o ensino enfim o reforccedilo diaacuterio reflete a

preocupaccedilatildeo com a tarefa e a transmissatildeo das informaccedilotildees necessaacuterias para a sua execuccedilatildeo

tal qual o proposto por Kram (1985)

bull Patrociacutenio

O projeto viabilizou o estudo de 24 crianccedilas adolescentes em escolas particulares

sendo 13 no Ensino Fundamental e Meacutedio e 11 no curso de Inglecircs O projeto provecirc as

condiccedilotildees necessaacuterias para que o aluno possa assumir satisfatoriamente a vaga na escola

particular Houve relato de provisatildeo de assistecircncia meacutedica e odontoloacutegica material e

fardamento escolar e ateacute corte de cabelo Algumas matildees entrevistadas disseram receber

ajuda em termos de alimentaccedilatildeo medicamento e doaccedilotildees de roupas

Ao analisar o patrociacutenio oferecido pelo projeto pode-se estabelecer um diferencial em

relaccedilatildeo agrave teoria proposta por Kram (1985) O patrociacutenio mencionado em pesquisas anteriores

reflete uma preocupaccedilatildeo bem especiacutefica do mentor em termos de patrocinar a carreira do

mentorado No projeto Educaccedilatildeo eacute Vida o patrociacutenio eacute bem mais abrangente Estaacute

relacionado agraves necessidades baacutesicas do mentorado e de sua famiacutelia sem as quais ele natildeo teria

condiccedilotildees sequer de estudar Entenda-se como patrociacutenio neste contexto a oferta de

alimentaccedilatildeo medicamento e sauacutede natildeo excluindo aquele ou seja o material o fardamento a

bolsa de estudos e os cursos

83

Estas foram as atividades de suporte de carreira encontradas no projeto de reforccedilo

Atividades que auxiliam o mentorado em sua carreira profissional conforme proposto por

Kram (1985) Em se tratando de crianccedilas e adolescentes falar de carreira profissional pode

parecer precoce No entanto considerou-se o necessaacuterio para que o mentorado venha a ter

condiccedilotildees de futuramente ter uma carreira Eacute desta forma que atividades como patrociacutenio

coaching tarefas desafiadoras e exposiccedilatildeo positiva devem ser encaradas

Segue na proacutexima seccedilatildeo os resultados e discussotildees dos dados obtidos com relaccedilatildeo agraves

atividades de suporte psicossocial encontradas no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

4222 Suporte psicossocial

Seratildeo considerados os dados que refletem o suporte psicoloacutegico e social oferecido pelo

mentor ao mentorado As funccedilotildees encontradas foram amizade aceitaccedilatildeo e confirmaccedilatildeo e

aconselhamento que seratildeo expostas a seguir

bull Amizade

A professora entrevistada disse buscar construir um viacutenculo de afetividade com os

alunos algo que ultrapassasse o relacionamento distanciado entre professor e aluno ldquoquando

a gente daacute atenccedilatildeo afeto eles aprendem tambeacutem a parte cognitivardquo (PROFESSORA

entrevista out05) A matildee de Helena diz ldquoEle (Moab) daacute atenccedilatildeo ela gosta dele porque ele

sabe conversar daacute carinhordquo (entrevista out05) Walter declara ldquoEacute como se ele (Moab) fosse

um pai praacute mim me estende a matildeordquo (entrevista out05) O projeto busca acompanhar a

famiacutelia atraveacutes do coordenador e da psicoacuteloga que se propotildee a realizar um acompanhamento

terapecircutico se necessaacuterio

Pocircde-se observar claramente que a amizade estaacute presente na relaccedilatildeo de mentoria

Atraveacutes dos discursos acima percebe-se um viacutenculo entre mentor e mentorado no qual o

mentorado mostra-se compreendido tal qual o proposto por Kram (1985)

84

bull Aceitaccedilatildeo e confirmaccedilatildeo

Pode-se observar atraveacutes dos discursos e mais evidentemente em uma das entrevistas

ldquoAfracircnio eacute muito bom em histoacuteria e ciecircncias ele soacute tira 10 Seu Moab sempre ficava

elogiando ele que ele era bom e acho que isso foi incentivando elerdquo (MAE DE

AFRAcircNIO entrevista out05)

Conforme o proposto por Kram (1985) a aceitaccedilatildeo faz com que o mentorado se sinta

seguro ateacute mesmo para enfrentar os desafios que conforme exposto satildeo muitos O

coordenador relata que entre os alunos do projeto haacute casos em que a crianccedila eacute

frequumlentemente desprezada pela matildee Neste caso o valor da aceitaccedilatildeo oferecida pelo mentor

torna-se imensuraacutevel

bull Aconselhamento

Dar conselhos apareceu frequumlentemente nos discursos da professora e do coordenador

O que pocircde ser confirmado atraveacutes da fala das matildees e do aluno entrevistado Os conselhos satildeo

dados visando o progresso dos alunos nos estudos por evitar que fiquem na rua e na tentativa

de convencecirc-los de que o seu futuro pode ser melhor do que o presente

O seu Moab soacute apoacuteia Agora eacute de falar o pesado tambeacutem Ele daacute apoio tudinho mas tambeacutem quando vecirc que taacute errado ele vem chega e conversa () ele tira o tempo dele praacute vir dar conselhos ele diz praacute Jairo que quer que ele estude que se forme e seja algueacutem na vidardquo (MAE DE JAIRO entrevista out05)

Outra matildee diz que quando o filho tem duacutevida sobre algo que aparece procura seu

Moab Diz que ele eacute rigoroso mas o filho atende ldquoA professora dizia para Faacutebio que ele soacute

seria algueacutem na vida se estudasse seu Moab tambeacutem dava o exemplo dos filhos delerdquo (MAE

DE FAacuteBIO entrevista out05) e a matildee de Helena diz ldquoEu sempre pedia a ele (Moab) para

dar conselho a Helena sobre estudo quando eu falo com ela entra por um ouvido e sai pelo

outro ela ouve elerdquo (entrevista out05)

85

O aconselhamento eacute mais uma das funccedilotildees relevantes em um projeto de mentoria

voltado para crianccedilas e adolescentes de risco uma vez que as crianccedilas nem sempre dispotildeem

de pessoas para aconselhaacute-las Segundo Harris et al (2002) a disponibilidade de adultos para

aconselhar as crianccedilas eacute escassa fazendo com que passem mais tempo com seus pares que

neste caso podem ter pouco a oferecer em termos de aconselhamento e de orientaccedilatildeo para um

futuro mais promissor do que o vivenciado na comunidade

bull Modelagem de papeacuteis

Acerca do suporte psicossocial oferecido pelo projeto a funccedilatildeo modelagem de papeacuteis

foi encontrada de duas formas uma atraveacutes da pessoa do mentor e outra atraveacutes do mentor

elegendo seus filhos como modelo Em termos educacionais o coordenador parece constituir

seus filhos como exemplos a serem seguidos um cursando o doutorado e a outra com dois

cursos superiores O que traz sentido agrave fala de uma das matildees ao dizer que ele cita os filhos

como exemplos Por outro lado a modelagem de papeacuteis natildeo consiste apenas em o mentor se

um modelo educacional para o mentorado A modelagem eacute mais ampla uma vez que o

mentorado tem nos comportamentos valores e atitudes de seu mentor um modelo positivo O

coordenador leva ao conhecimento de seus mentorados o sacrifiacutecio que fez para educar seus

filhos ainda que abrindo matildeo de sua proacutepria formaccedilatildeo Rhodes et al (2002) dizem que o fato

de ser um modelo faz com que o mentor seja visto pelo mentorado como ideal Neste sentido

o coordenador parece ser visto pelos mentorados como exemplo de um vencedor A fala de

Walter ao colocaacute-lo como pai transmite esta ideacuteia de referencial Walter diz ter a seguinte fala

de seu mentor em sua cabeccedila e colada em seu caderno ldquoo fracasso jamais me surpreenderaacute se

a minha decisatildeo de vencer for suficientemente forterdquo (WALTER entrevista out 2005) Esta

fala parece ser o lema do proacuteprio coordenador Vale salientar que assim como o lema Walter

deseja tambeacutem ldquoimitarrdquo o mentor quanto ao ser professor

86

Parece haver a necessidade de mostrar agrave crianccedila ou adolescente que haacute uma

possibilidade diferente da que ela estaacute habituada a ver Que haacute outros referenciais e que ela

tem possibilidade de escolha mesmo que esta implique em desafios Pode-se retomar o

discurso do coordenador quando diz que seu filho para ir agrave Universidade muitas vezes pegou

carona no caminhatildeo do lixo Ao citar isto o mentor pode estar criando uma identidade entre

as crianccedilas e seu filho ao demonstrar que mesmo com a difiacutecil realidade o esforccedilo e a

vontade de sobressair o fizeram ldquovencedorrdquo Assim como ele conseguiu elas tambeacutem podem

conseguir Vecirc-se claramente isto no discurso de uma das crianccedilas quando diz que natildeo quer ser

como o pai sem estudos O que revela que em relaccedilatildeo aos estudos e carreira ele tem outro

referencial Pocircde-se neste relato observar um olhar mais reflexivo da crianccedila ao sair de seu

proacuteprio contexto e desejar escapar do ldquodeterminismordquo a que estaacute sujeita

Estas foram as especificidades das funccedilotildees da mentoria desenvolvida no projeto em

relaccedilatildeo agraves propostas pela literatura Observou-se a existecircncia de suporte de carreira e

psicossocial Foram portanto encontradas no projeto as duas funccedilotildees de mentoria propostas

por Kram (1985) Neste caso a mentoria desenvolvida no projeto pode ser considerada

intensa A autora salienta que a funccedilatildeo psicossocial estaacute relacionada agrave confianccedila existente na

relaccedilatildeo Pocircde-se observar que o coordenador do projeto goza da confianccedila da comunidade

tanto pela abertura que as famiacutelias lhe demonstram como por entregar seus filhos aos seus

cuidados Tal confianccedila foi observada em todas as entrevistas Este fato permite que sejam

desempenhadas as funccedilotildees de suporte psicossocial

Seguem na proacutexima seccedilatildeo as fases da mentoria no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

87

423 Fases da relaccedilatildeo de mentoria apresentadas no projeto de

reforccedilo

Com relaccedilatildeo aos alunos pesquisados todos estavam na fase de cultivo da relaccedilatildeo seja

com apenas dois anos de projeto seja com oito No entanto pocircde-se observar que em alguns

casos de egressos a mentoria estaacute na fase de redefiniccedilatildeo uma vez que os mentorados estatildeo

seguindo seus proacuteprios rumos jaacute natildeo com um acompanhamento ldquotatildeo de pertordquo Eacute o caso de

uma ex-aluna do projeto que ganhou um apartamento no Conjunto Habitacional Casaratildeo do

Cordeiro intermediado pelo coordenador junto agrave Prefeitura

Pode-se perceber que os relacionamentos de mentoria encontram-se

predominantemente na fase de cultivo Eacute nesta fase que o mentor provecirc as funccedilotildees de

carreira e psicossociais Tal achado culmina com os encontrados anteriormente facilitando o

desenvolvimento das funccedilotildees de mentoria tatildeo evidentes neste projeto

Segue na proacutexima seccedilatildeo os fatores relacionados ao ecircxito de um programa de mentoria

formal que foram encontrados no projeto

424 Fatores encontrados no projeto que de acordo com a

literatura estatildeo relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria

A literatura aponta fatores que estatildeo relacionados ao ecircxito de um programa de

mentoria Estes foram encontrados no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida Os fatores satildeo seleccedilatildeo de

mentores e mentorados acompanhamento da relaccedilatildeo de mentoria frequumlecircncia dos encontros e

duraccedilatildeo da relaccedilatildeo Seguem-se os dados e sua discussatildeo acerca de cada fator de ecircxito

88

bull Seleccedilatildeo de mentor e mentorado

O uacutenico criteacuterio para ser mentorado era o fato de residir na Vila do Vinteacutem As

crianccedilas e adolescentes que tivessem interesse em levar suas tarefas ao reforccedilo poderiam fazecirc-

lo Laacute recebiam acompanhamento de um professor desde que com o aval dos pais

Para se fazer parte do projeto enquanto mentor era necessaacuterio o compartilhamento da

visatildeo de que eacute possiacutevel acreditar na mudanccedila de vida das crianccedilas e adolescentes atraveacutes da

educaccedilatildeo de qualidade e que as crianccedilas tecircm potencial mas lhes falta oportunidade Os

professores satildeo selecionados pelo coordenador do projeto mediante anaacutelise do curriacuteculo e da

experiecircncia A professora entrevistada jaacute conhecia os alunos do projeto pois eacute uma das

professoras que leciona em uma das escolas que fornece bolsa para a comunidade o que fez

com que o coordenador conhecesse parcialmente seu trabalho Ao falar de sua admissatildeo ao

projeto ela diz ldquoeu gosto desta clientela (crianccedilas carentes) e ele (Moab) me deu esta

oportunidaderdquo (entrevista out05) A dentista aderiu ao projeto a partir de uma das

apresentaccedilotildees do grupo em busca de patrociacutenio e apoio Diante da necessidade de pessoas

qualificadas para prestar serviccedilo voluntaacuterio ela que diz ter interesse e identidade com a aacuterea

social prontificou-se e estaacute no projeto haacute um ano

A psicoacuteloga demonstra o mesmo interesse ldquoEu sempre fui muito voltada para o social

sempre gostei muito de ajudarrdquo Ela parece estar muito inserida com a comunidade atraveacutes

do projeto pois frequumlentemente em seu discurso ela afirma ldquoquando vocecirc estaacute laacute dentro com

elesrdquo (entrevista out05) A psicoacuteloga trabalha em outro centro de atendimento a pessoas

carentes Estaacute no projeto haacute cinco anos

Pode-se observar que os colaboradores tecircm identidade com o projeto a ponto de

realizarem o trabalho como voluntaacuterios A uacutenica exceccedilatildeo eacute a professora mas mesmo ela em

seu discurso considera que fazer parte do projeto eacute uma oportunidade Eacute marcante a fala da

89

psicoacuteloga em sua entrevista ao inserir-se realmente na comunidade Esta dedicaccedilatildeo e

identidade podem ser fatores que contribuem para que o projeto tenha maior ecircxito

bull Acompanhamento da relaccedilatildeo de mentoria

O coordenador do projeto estaacute frequumlentemente avaliando se os resultados obtidos satildeo

os desejados

Eu optei pela Vila Vinteacutem porque o nosso acompanhamento eacute a liberdade vigiada () noacutes fazemos as coisas para eles mas tambeacutem queremos acompanhar de perto o que estaacute acontecendo entatildeo natildeo adianta eu pegar um menino da comunidade onde eu natildeo possa visitaacute-lo ele natildeo possa vir ao projeto Eu natildeo vejo o resultado do investimento feito enquanto eles aqui eu vejo passo-a-passo () eacute um acompanhamento bem de perto mesmo (COORDENADOR out05)

Haacute reuniotildees com os pais responsaacuteveis esclarecendo a importacircncia do projeto e

solicitando sua interaccedilatildeo no programa

Eles passavam fita de viacutedeo para os pais sobre educaccedilatildeo e pediam para os pais falar com os filhos () ele sempre queria o bem das crianccedilas agora dependia das crianccedilas e dos pais () seu Moab dizia que a gente tinha que ajudar ele com o Faacutebio (crianccedila tida pelo coordenador como de natildeo-ecircxito) botar ele praacute estudar (MAE DE FAacuteBIO E DE DIEGO entrevista out05)

Com relaccedilatildeo ao mentorado pode ocorrer o desligamento do aluno da bolsa de estudos

na escola particular caso ele natildeo atinja um desempenho satisfatoacuterio ldquoQuando uma crianccedila

natildeo valoriza isso que a gente oferece a gente tambeacutem natildeo aceita repetente natildeo aceita falta

vocecirc tem que estar de acordo dentro do projeto em disciplina bem comportado e com boas

notasrdquo (COORDENADOR entrevista out 05) Mesmo desligado da escola particular o

aluno pode continuar fazendo parte do reforccedilo

Pocircde-se confirmar atraveacutes destes discursos o relatado por Frecknall e Luks (1992) A

participaccedilatildeo dos pais apoiando o programa tem uma relaccedilatildeo positiva com o sucesso e sem este

apoio o ecircxito do programa pode ficar comprometido Em uma comunidade onde a grande

maioria dos moradores eacute analfabeta o acompanhamento deve ser intenso visando incutir na

famiacutelia a necessidade de compreensatildeo do valor da educaccedilatildeo Grossman e Tierney (1998)

90

tambeacutem salientam a importacircncia de se verificar o grau de envolvimento da famiacutelia no

programa pois conforme exposto este eacute um fator de ecircxito para a relaccedilatildeo

bull Frequumlecircncia dos encontros

A frequumlecircncia dos encontros entre os mentores e mentorados varia A psicoacuteloga ia agrave

comunidade uma tarde por semana na qual prestava os atendimentos agendados e caso

houvesse mais pessoas a serem atendidas fazia outros atendimentos Em caso de necessidade

ela ia agrave comunidade num outro dia A dentista atendia em seu consultoacuterio Havendo

necessidade o coordenador ligava e agendava o atendimento Jaacute as aulas eram ministradas

diariamente para os alunos que estudavam agrave tarde o reforccedilo era pela manhatilde e para os que

estudavam pela manhatilde o reforccedilo era agrave tarde O acompanhamento era feito durante uma hora e

meia para cada turma As turmas eram assim divididas alfabetizaccedilatildeo e 1a seacuterie 2a e 3a

seacuteries e 4a e 5a seacuteries

Figura 7 (4) - Professora e alunos durante a aula de reforccedilo na sede do projeto03

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

91

Apoacutes o reforccedilo os alunos tinham outras atividades como aula de muacutesica (teoria e

praacutetica) danccedila pintura ou inglecircs O projeto dispunha de quadra alugada onde as crianccedilas

podiam jogar futebol Em quase todas as atividades o coordenador diz estar presente

No ano de 2005 como as atividades foram parcialmente suspensas natildeo houve mais

frequumlecircncia no relacionamento Algumas das crianccedilas com bolsa de estudos em escola

particular foram colocadas num semi-internato conseguido pelo projeto Esta interrupccedilatildeo teve

reflexo na vida dos alunos como se pocircde observar no discurso abaixo

Em casa ela natildeo eacute comportada sempre ela foi danada mas ela melhorou no projeto Agora que ta sem o projeto ela jaacute ta voltando ao que era eu tocirc recebendo reclamaccedilatildeo do coleacutegio que natildeo quer estudar soacute quer ta brincando ta voltando a dar problema ta voltando a ser o que era () no semi-internato tem muita atividade satildeo muitas crianccedilas e eles arengam e no projeto eu nunca tive esse problema de ela ta arengando (sic) (MAE DE HELENA entrevista out05)

O fato de as entrevistas terem sido realizadas neste periacuteodo de transiccedilatildeo no qual as

crianccedilas natildeo estatildeo sendo assistidas faz com que a importacircncia da frequumlecircncia dos encontros

fique evidenciada Confirma-se assim que esta eacute um relevante fator de ecircxito para a relaccedilatildeo de

mentoria conforme observado na teoria (KEATING et al 2002) No entanto pode-se dizer

que o projeto de reforccedilo apresentava uma frequumlecircncia maior do que nos programas

similares apresentados pela teoria Tal frequumlecircncia garante um acompanhamento mais

proacuteximo visto que todos os dias por no miacutenimo uma hora e meia os alunos estavam no

projeto em contato com seus mentores Estudos feitos por Keating et al (2002) revelam que a

frequumlecircncia dos encontros tem relaccedilatildeo com o ecircxito do relacionamento principalmente em se

tratando de adolescentes com risco para delinquumlecircncia Neste sentido o projeto apresentava

maior probabilidade de ecircxito uma vez que a frequumlecircncia dos encontros era alta

d) Duraccedilatildeo da relaccedilatildeo de mentoria

Os alunos pesquisados estatildeo inseridos nesta relaccedilatildeo de mentoria por no miacutenimo dois

anos Segundo Grossmam e Rhodes (2002) a maioria dos benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria

92

como melhores resultados educacionais psicossocias e comportamentais apresentam-se em

relaccedilotildees que perduram por um ano ou mais Frecnall e Luks (1992) consideram que a duraccedilatildeo

eacute um fator determinante do ecircxito

O projeto mostra-se rigoroso com os fatores que impedem o ecircxito dos alunos desde

que sob sua responsabilidade Os fatores acima tecircm sido observados uma vez que a

negligecircncia em referecircncia a qualquer destes fatores pode levar a uma relaccedilatildeo ineficiente ou

ateacute mesmo negativa trazendo efeitos nocivos agrave vida da famiacutelia do mentorado e tambeacutem do

mentor

Natildeo se pode ignorar que na medida em que se vai estruturando uma relaccedilatildeo de

mentoria a mesma vai sofrendo ajustes visando tornaacute-la mais produtiva mais ldquopoderosardquo

Existem fatores que podem e devem ser estruturados previamente tais como a duraccedilatildeo e a

frequumlecircncia dos encontros e o objetivo da relaccedilatildeo No entanto haacute outros fatores que nem

sempre se consegue estruturar Um exemplo eacute a confianccedila necessaacuteria para que a relaccedilatildeo

realmente aconteccedila Em outras palavras observando-se os fatores relacionados ao ecircxito seratildeo

minimizadas as possibilidades de insucesso mas elas natildeo deixaratildeo de existir pois a mentoria

mesmo com seus inuacutemeros benefiacutecios natildeo eacute uma soluccedilatildeo maacutegica Trata-se de uma relaccedilatildeo e

portanto dependente do encontro de pessoas e de viacutenculos emocionais entre elas Este aspecto

eacute de difiacutecil controle havendo sempre um espaccedilo para a imprevisibilidade do ser humano

Se os fatores que levam ao ecircxito da relaccedilatildeo foram observados pelo projeto resta o

questionamento de o por quecirc de alguns casos serem considerados pelo projeto como de natildeo-

ecircxito Este aspecto eacute abordado na seccedilatildeo seguinte

93

425 Fatores responsaacuteveis pelo ecircxito e natildeo-ecircxito nos estudos na

percepccedilatildeo do mentor e da famiacutelia do mentorado

Na percepccedilatildeo do coordenador o ecircxito eacute obtido quando a cada ano a crianccedila vai sendo

aprovada e ascendendo e apresentando um bom comportamento ldquoQuando uma instituiccedilatildeo se

abre e nos convida a oferecer mais bolsas eacute porque nossos alunos estatildeo correspondendo tanto

em disciplina quanto no aprendizadordquo (COORDENADOR entrevista set05) Um exemplo

de ecircxito citado pelo coordenador eacute o caso de uma moccedila que foi acompanhada pelo projeto

desde a 6a seacuterie ateacute o 3ordm ano do ensino Meacutedio Ela fez um curso de informaacutetica depois fez um

estaacutegio junto agrave Prefeitura e hoje aos 20 anos trabalha no setor burocraacutetico de um hospital

O coordenador considera um caso de natildeo-ecircxito o caso da crianccedila ou adolescente que

natildeo rende o esperado em termos de desempenho escolar e de comportamento

Vale salientar que em quase sua totalidade os casos de natildeo-ecircxito indicados para

pesquisa foram avaliados pelas famiacutelias como de ecircxito A uacutenica exceccedilatildeo eacute a matildee de Faacutebio

que acredita que seu filho realmente natildeo tem tido sucesso nos estudos Segundo o

coordenador a diferenccedila estaacute na expectativa Para os pais o fato de o aluno estar na escola e

apresentar melhor comportamento jaacute eacute ecircxito enquanto que para o projeto isto natildeo eacute o

suficiente Na opiniatildeo dele a falta de sucesso deve-se a trecircs fatores

a) Estrutura familiar ndash muitas vezes a famiacutelia natildeo daacute o suporte que a crianccedila necessita

Para o coordenador a escola natildeo eacute valorizada por esses pais ldquoEles natildeo tecircm a escola como um

centro de promoccedilatildeo social como mobilidade social Eles natildeo descobriram isso As famiacutelias

natildeo as crianccedilasrdquo (COORDENADOR entrevista set05)

A professora chamava conversava com os alunos com a matildee em particular Ela queria ajudar ele mas ele natildeo queria ser ajudado Eu sabia que o Faacutebio natildeo ia ter uma oportunidade em uma escola melhor porque ele eacute assim () Eu nunca tava em cima dele para estudar eu natildeo tenho paciecircncia natildeo Se ele responder duas coisas erradas eu jaacute fico brava O pai eacute pior que eu Mal digo a ele que eacute pior do que eu (MAE DE FAacuteBIO entrevista out05)

94

b) Relacionamento negativo entre os pais e os filhos

Outro fator que notamos eacute a falta de amor para com essas crianccedilas que natildeo datildeo tatildeo certo () Os pais tecircm outros objetivos tecircm outras coisas mais importantes do que amar seus filhos () todas as crianccedilas bem comportadas na sala de aula eram bem amadas em casa () Quando isso natildeo ocorre a crianccedila torna-se uma crianccedila problema porque ela leva os haacutebitos e a falta de amor que ela tem em casa praacute escola para onde ela chegar (COORDENADOR entrevista set05)

c) Desinteresse do proacuteprio aluno O projeto contava com quatro alunos que eram

irmatildeos Estes recebiam acompanhamento diaacuterio nas tarefas O coordenador diz que foi agrave

escola deles para saber suas notas Por este motivo eles deixaram de ir ao projeto Nenhum

deles terminou o Ensino Meacutedio e atualmente um eacute zelador o outro eacute jardineiro e dois estatildeo

desempregados

O objetivo do projeto eacute de longo prazo o que dificulta uma anaacutelise dos resultados ou

de egressos para se identificar o ecircxito ou natildeo-ecircxito Mesmo os casos que desde o iniacutecio foram

acompanhados ainda hoje o satildeo Natildeo com a mesma intensidade mas ainda recebem algum

tipo de suporte do projeto Outro fator que dificulta a anaacutelise eacute o fato de que todos os alunos

estatildeo na escola e avanccedilando em seacuteries mesmo porque atualmente a escola natildeo reprova o que

torna difiacutecil saber ateacute que ponto tecircm realmente bom aproveitamento Portanto natildeo se

conseguiu distinguir dentre os casos pesquisados um limite claro entre o ecircxito e o natildeo-ecircxito

contando-se apenas com a percepccedilatildeo dos respondentes (matildees de alunos psicoacuteloga professora

e coordenador)

426 Resposta agrave primeira questatildeo norteadora especificidades da

relaccedilatildeo de mentoria existentes no projeto de reforccedilo escolar

Conforme o objetivo proposto pocircde-se encontrar algumas especificidades na relaccedilatildeo

de mentoria realizada no projeto que diferem um pouco dos achados teoacutericos Satildeo eles

95

a) A mentoria apresenta aspectos de mentoria formal e informal

b) Existem dois tipos de relacionamento entre mentor e mentorado em um o

acompanhamento eacute mais proacuteximo do que no outro

c) A frequumlecircncia dos encontros eacute maior no projeto do que a encontrada na literatura

d) Dentre as funccedilotildees de carreira o patrociacutenio oferecido pelo projeto eacute mais amplo do

que o apresentado pela teoria e

Com base nestes achados eacute possiacutevel concluir que um programa de mentoria para

crianccedilas e adolescentes de uma comunidade carente do Recife tem suas especificidades suas

caracteriacutesticas particulares diferindo de outros programas realizados no contexto de outros

paises Respondida a primeira questatildeo norteadora segue-se a segunda que aborda os

benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentorado

43 Achados referentes agrave segunda questatildeo norteadora

Seguem os achados que buscam responder a seguinte questatildeo em um contexto

brasileiro ateacute que ponto os mentorados carentes estudados tecircm desfrutado dos benefiacutecios da

relaccedilatildeo de mentoria apontados pela literatura

Pocircde-se observar os seguintes benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria na vida dos

mentorados enquanto participantes do programa de reforccedilo

431 Aumento da auto-estima da responsabilidade maior

progresso escolar e perspectiva positiva de futuro

Devido agrave impossibilidade de neste trabalho medir-se a auto-estima dos mentorados o

aumento desta seraacute considerado em relaccedilatildeo ao progresso escolar pois com base no observado

por Harter (1982) o sentir-se competente leva o jovem a obter melhor desempenho Grossman

96

e Tierney (1998) salientam que jovens ao serem acompanhados por um mentor se sentiram

mais confiantes para com suas tarefas escolares Associou-se tambeacutem o progresso escolar com

perspectiva positiva de futuro uma vez que se percebeu que o avanccedilo nos estudos estaacute

relacionado com melhores perspectivas de futuro

O aumento do desempenho escolar eacute visiacutevel nos casos que se seguem

Antes (do projeto) ela era preguiccedilosa soacute queria ficar brincando ela teve muita dificuldade para aprender (na preacute-escola) Estudava mas natildeo aprendia na 1a foi fazer o reforccedilo depois do projeto ela foi se interessando mais pode ser porque natildeo tinha nenhum incentivo neacute () Ela chegava e dizia que era bom quando estudava e tirava nota boa antes (de interromper o projeto) ela natildeo esperava nem chegar em casa vinha aqui (no trabalho) para me mostrar as provas (MAE DE HELENA entrevista out05)

No interior eu fiz matricula dele noacutes trabalhava na roccedila ele natildeo gostava (de estudar) natildeo se dedicava ia caccedilar passarinho mas quando chegou aqui seu Moab quis acordar ele pra vida Ele vendo os meninos tudo com a idade dele (9 anos na eacutepoca) sabendo ler e escrever dentro de seis meses o menino desenrolou para aprender mesmo (sic) (MAE DE JAIRO entrevista out05)

Jairo cursou a 4a e a 5a seacuteries no mesmo ano Faz tambeacutem curso de inglecircs O

coordenador ouviu da professora deste curso que o aluno tem dom para idiomas natildeo soacute

inglecircs mas espanhol e francecircs

A possibilidade do intercacircmbio foi boa para eu ter uma certa ideacuteia do que pode acontecer comigo do que pode acontecer () Ele (Moab) dizia que para analfabeto a caneta e o papel eacute o chatildeo e a vassoura Que eu estudasse porque a miseacuteria hoje em dia -saiu na revista- jaacute tinha endereccedilo que era praacute pobre negro e nordestino e que se a gente natildeo lutasse essa realidade a gente natildeo iria mudar nunca () Eu decidi que quero ser professor de inglecircs (WALTER entrevista out05)

Ele diz que quer fazer faculdade ele ficou com mais esperanccedila de conseguir uma coisa melhor ele diz que eu natildeo me preocupe porque daqui a dez anos ele vai ter um emprego bom e vai me ajudar (MAE DE FREDERICO entrevista out05)

Ele quer ir estudar nos Estados Unidos fez vaacuterios cursos inglecircs francecircs espanhol informaacutetica e de entrevista Onde tiver curso ele vai ele quer muito trabalhar ter seu dinheiro fazer sua vida () o negoacutecio dele eacute ta dentro de casa estudando pregado nos livros (MAE DE NESTOR entrevista out05)

97

A professora entrevistada leciona tambeacutem no coleacutegio que oferece bolsa para os alunos

do projeto sendo professora deles em ambos os lugares Ao ser solicitada a comparar o

desempenho dos alunos do projeto com os demais alunos a professora mencionou que dentre

seus trecircs alunos com desempenho excelente dois satildeo do projeto Os demais do projeto estatildeo

na meacutedia

A coordenadora de uma das escolas que fornece bolsa de estudos ao projeto (esta

escola oferece bolsas para dois alunos da sexta seacuterie) ao ser entrevistada disse que o

comportamento dos alunos do projeto eacute bom e o desempenho apresentado por eles eacute maior do

que a meacutedia da turma e da seacuterie como se pode observar nos boletins que se seguem

98

Figura 8 (4) Boletim escolar de Afracircnio - 6a Seacuterie

99

Figura 9(4) Boletim escolar de Jairo ndash 6a Seacuterie

Em ambos os casos as famiacutelias satildeo analfabetas E neste ano os dois alunos estatildeo sem

o reforccedilo motivo pelo qual segundo uma das matildees o desempenho do filho caiu Este mesmo

aluno neste ano natildeo conta com todo o material didaacutetico necessaacuterio Ainda assim estes alunos

estatildeo apresentando um desempenho superior ao de seus colegas

100

Atraveacutes dos discursos das matildees percebeu-se considerarem que o fato de seus filhos

terminarem a primeira fase do ensino fundamental e darem sequumlecircncia a estes estudos jaacute eacute uma

visatildeo positiva de futuro Observou-se isso no discurso da matildee de Afracircnio ldquoquem estuda tem

esperanccedila de um futuro melhorrdquo O caso de Jairo que chegou analfabeto do interior e em seis

meses estava lendo e escrevendo confirma o proposto por Rhodes et al (2002) de que a

presenccedila de um mentor ajuda os adolescentes a superarem momentos de adversidade Neste

caso ele natildeo tem pai e sua matildee considera o mentor como algueacutem da famiacutelia que ajuda a

suprir esta ausecircncia na vida do filho O fato de Walter (que convive com analfabetos) ter

definido sua carreira (professor de inglecircs) demonstra o proposto por Kram (1985) o mentor

ajuda o mentorado na definiccedilatildeo da identidade profissional

Vale destacar a relevacircncia de se promover o aumento da auto-estima decorrente do

desempenho apresentado pelos alunos Pessoas que ainda natildeo tecircm satisfeitas adequadamente

as necessidades fisioloacutegicas (alimentam-se mal natildeo contam com aacutegua encanada nem

sanitaacuterios) e de seguranccedila (moram e vivem permanentemente expostos a riscos) apresentando

necessidade de realizaccedilatildeo Vale ressaltar a teoria da motivaccedilatildeo proposta por Maslow (apud

ROBBINS 2002) que defende que a satisfaccedilatildeo da necessidade de realizaccedilatildeo dependeria da

satisfaccedilatildeo de niacuteveis mais baacutesicos de necessidade como as fisioloacutegicas de seguranccedila e sociais e

de estima Percebeu-se no contexto da pesquisa a possibilidade do caminho inverso Atraveacutes

do aumento da auto-estima e da satisfaccedilatildeo da necessidade de realizaccedilatildeo as crianccedilas e

adolescentes podem vir a ter no futuro condiccedilotildees de satisfazer a contento suas necessidades

fisioloacutegicas e de seguranccedila

101

432 Resposta da segunda questatildeo norteadora benefiacutecios da

mentoria para a crianccedila adolescente do projeto

Foram encontrados os seguintes benefiacutecios para o mentorado participante do projeto

aumento da auto-estima maior progresso escolar e perspectiva positiva de futuro

Em termos de especificidades com relaccedilatildeo ao proposto pela teoria natildeo foram

percebidas diferenccedilas existentes entre os benefiacutecios para o mentorado encontrados em

pesquisas anteriores e os encontrados no projeto de reforccedilo escolar na Vila do Vinteacutem II fato

que responde agrave segunda questatildeo norteadora desta pesquisa

Seguem os achados acerca da terceira questatildeo que versa sobre os benefiacutecios para o

mentor encontrados na mentoria desenvolvida pelo projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

44 Achados referentes agrave terceira questatildeo norteadora

Dentre os benefiacutecios na vida dos mentores que participam do projeto pocircde-se observar

realizaccedilatildeo pessoal motivaccedilatildeo amizade auto-conhecimento e senso de dever cumprido Tais

achados apresentados nas seccedilotildees abaixo buscam responder a seguinte questatildeo ateacute que ponto

um projeto de mentoria voltado para crianccedilas e adolescentes carentes oferece os benefiacutecios

propostos pela teoria para os mentores

441 Realizaccedilatildeo pessoal

Pocircde-se observar que fazer parte do projeto faz com que os mentores se sintam

realizados

Quando a gente eacute uacutetil a outra pessoa a gente se realiza () Eu me realizo assim vendo a alegria dos meninos que realmente estatildeo mudando a cara natildeo soacute da famiacutelia mas tambeacutem da comunidade (COORDENADOR entrevista set05)

102

Eu fico muito bem comigo mesma na realizaccedilatildeo deste trabalho () O que me deixa realizada eacute ver alguns frutos desse trabalho natildeo soacute nas crianccedilas como da proacutepria famiacutelia () em relaccedilatildeo ao futuro agrave auto-estima potencial de cada um que eles natildeo estatildeo sozinhos a gente taacute laacute com eles () e esse pouquinho esse pouco que eu estou fazendo estaacute facilitando a vida melhorando A gente vecirc um salto de qualidade na vida deles (PSICOacuteLOGA entrevista out05)

Ao acompanhar preparar os alunos para os exames de admissatildeo vecirc-los entrar na

escola particular acompanhar o crescimento e desenvolvimento dos mentorados a professora

entrevistada demonstra sentir orgulho do trabalho feito com seus dois melhores alunos

ldquoRealmente valeu a pena investir porque satildeo crianccedilas que apesar de todo o contexto social

que eles vivem eles satildeo responsaacuteveis inteligentiacutessimosrdquo (PROFESSORA entrevista out05)

Ficou evidenciado que o fato de ser um mentor daacute ao indiviacuteduo um senso de

generosidade ao contribuir com as geraccedilotildees futuras (RAGINS 1997) e que ser mentor de

adolescentes delinquumlentes tem sido gratificante na medida em que os mentores tecircm uma

oportunidade de ajudar estas pessoas (JACKSON 2002) Ser mentor do projeto Educaccedilatildeo eacute

Vida provecirc um sentimento de recompensa ao ver as mudanccedilas positivas na vida dos

mentorados conforme o propostos por Shields (2001)

442 Motivaccedilatildeo

A psicoacuteloga diz que a partir de seu envolvimento com o projeto ela fez curso em

Psicopedagogia e especializaccedilatildeo em Psicologia da Famiacutelia

O trabalho com as crianccedilas e as famiacutelias me proporcionou outros aprendizados maiores ateacute do que eu esperava porque a gente aprende muito laacute dentro com eles E assim eu comecei a me especializar a voltar para mim em niacutevel de aprendizado de crescimento tambeacutem profissional () Eacute uma troca muito grande de saber quando a gente taacute laacute dentro com eles a gente tem essa vontade de realmente acertar (PSICOacuteLOGA entrevista out05)

Zey (1998) diz que o mentor pode redirecionar sua energia para a criatividade e accedilatildeo

produtiva A mentoria pode entatildeo significar estiacutemulo e desafio O que pocircde ser observado no

103

discurso acima O desenvolvimento profissional natildeo eacute benefiacutecio apenas para o mentorado

mas para o mentor tambeacutem

443 Ser amado pelo mentorado

Pocircde ser observado que o mentor recebe amizade e carinho de seus mentorados

conforme verificado por Klaw et al (2003) ldquoEle ama o seu Moab ele almoccedila na casa de

Moab segunda e quarta e diz que laacute tudo eacute bomrdquo (MAE DE AFRAcircNIO entrevista out05)

ldquoMeus dois filhos eacute agarrado com seu Moabrdquo (sic) (MAE DE TAcircNIA entrevista set 05)

ldquoMoab foi vendo que eu tava sempre ali no projeto do lado dele e ele do meu lado () o

pessoal me achava careta porque eu sentia alguma coisa pelo projeto eu sempre prestava a

atenccedilatildeo procurava entenderrdquo (WALTER entrevista out05)

444 Autoconhecimento

Percebeu-se que fazer parte do projeto enquanto mentor provecirc um maior

autoconhecimento ou autopercepccedilatildeo

ldquoEacute muito gratificante trabalhar com pessoas carentes comeccedilo a valorizar o que eu

tenho a gente comeccedila a agradecer muito por essa vida boa que a gente tem que eacute muito boa

muito boa mesmordquo (DENTISTA entrevista out05)

A partir desta relaccedilatildeo ela percebe melhor sua situaccedilatildeo fala acerca da sauacutede dos filhos e de ter

uma casa maravilhosa

Neste caso o contato com a realidade da comunidade pode tecirc-la levado a comparar

esta realidade com a sua proacutepria e entatildeo perceber-se abastada

104

445 Senso de dever cumprido

Outro beneficio encontrado diz respeito ao senso de dever cumprido que o fato de ser

mentor propicia

A gente sabe que tem um papel social a desempenhar Natildeo fomos beneficiados pela sociedade com o direito de estudar de fazer um curso superior de ter uma habilitaccedilatildeo () para que isso sirva apenas para o nosso benefiacutecio Essa nossa habilitaccedilatildeo que a sociedade deu a sociedade deu eu estudei em uma Universidade Federal essa habilitaccedilatildeo deve retornar para a sociedade tambeacutem para quem pode pagar e para quem natildeo pode pagar Eacute necessaacuterio que isso volte (DENTISTA entrevista out05)

Este benefiacutecio natildeo foi encontrado na literatura talvez por tratar de um tema ainda

recente o indiviacuteduo ter responsabilidade com a realidade social que o cerca

446 Resposta da terceira questatildeo norteadora benefiacutecios da

mentoria para o mentor

Foram encontrados no projeto educaccedilatildeo eacute Vida os seguintes benefiacutecios para o mentor

a) Realizaccedilatildeo pessoal

b) Motivaccedilatildeo

c) Ser amado pelo mentorado

d) Autoconhecimento e

e) Senso de dever cumprido

Sendo que estes dois uacuteltimos natildeo foram encontrados na teoria mas percebidos na

relaccedilatildeo de mentoria que ocorre no projeto Estes achados podem ser explicados devido ao

contexto no qual a mentoria ocorreu crianccedilas e adolescentes de uma comunidade carente

Contexto que difere da realidade dos mentores e que pode tecirc-los levado a uma reflexatildeo sobre

sua proacutepria condiccedilatildeo de vida e sua responsabilidade com os que natildeo se acham em iguais

condiccedilotildees Tais achados respondem a terceira questatildeo norteadora deste trabalho

105

45 Achados referentes agrave quarta questatildeo norteadora

Puderam ser verificados outros benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas

e adolescentes com risco para delinquumlecircncia aleacutem dos mencionados anteriormente Pois na

medida em que o mentorado se beneficia da relaccedilatildeo sua famiacutelia alcanccedila estes benefiacutecios e a

sociedade tambeacutem acaba sendo beneficiada ainda que indiretamente

Com o intuito de responder a questatildeo quais os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da

relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas e adolescentes carentes em uma comunidade do Recife

seguem os benefiacutecios sociais diretos da mentoria realizada pelo projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

451 Desenvolvimento educacional das crianccedilas e dos adolescentes

Por se tratar de um ambiente carente e de analfabetos a comunidade natildeo tem como

prover o acompanhamento das crianccedilas e adolescentes as famiacutelias natildeo dispotildeem de tempo

eou conhecimento e preparo para prover tal suporte Por exemplo uma matildee analfabeta natildeo

parece ter condiccedilotildees de ajudar o filho nas tarefas escolares

Eu tocirc pensando quando ela fizer a 5a que natildeo tem o reforccedilo nem o semi-internato ela vai fazer a tarefa em casa e se brincar ela sabe mais do que eu (MAE DE SILVIA entrevista out05)

Eu natildeo tenho estudo faccedilo meu nome muito mal Meu marido sabe mas trabalha e de noite jaacute ta cansado () no reforccedilo ele fazia a tarefa todo dia sem reforccedilo e sem uma matildee que sabe ler quem ia ensinar a ele ai ia ficar complicado (MAE DE FREDERICO entrevista out05) Os coleacutegios hoje em dia quer a crianccedila saiba ler quer natildeo saiba o Estado passa natildeo quer saber se a crianccedila ta aprendendo se aprendeu se natildeo aprendeu (MAE DE TITO entrevista out05) A escola (puacuteblica) um dia tem aula outro dia natildeo tem ai ela fica em casa Hoje mesmo ela taacute em casa porque natildeo teve aula (MAE DE TAcircNIA entrevista out05)

106

A professora dele disse que ele natildeo tinha condiccedilotildees de passar mas ela natildeo podia reprovar (MAE DE FAacuteBIO entrevista out05)

Tais depoimentos revelam dois fatores incapacidade da famiacutelia em acompanhar os

estudos do filho e ineficiecircncia do ensino puacuteblico na experiecircncia destas famiacutelias O que leva a

pensar que o futuro educacional destas crianccedilas seria similar ao de suas matildees conforme

Barros et al (1994) que diz que a educaccedilatildeo meacutedia das matildees eacute o principal determinante do

desempenho escolar do filho ou seja haveria maior evasatildeo escolar Neste sentido o projeto

propicia que o aluno vaacute aleacutem da escolaridade da matildee

Vale aqui um questionamento por que o governo investe em bolsa escola e natildeo

acompanha o aluno Simplesmente ter a presenccedila do aluno na escola natildeo eacute garantia de que o

mesmo estaacute aprendendo O fato de que um professor natildeo pode mais reprovar o aluno mesmo

que sem condiccedilotildees de galgar um grau superior pode demonstrar que o interesse das poliacuteticas

puacuteblicas pode estar relacionado a nuacutemeros A taxa de matriacutecula estaacute associada ao aumento do

IDH mas ateacute que ponto isto reflete o real rendimento escolar dos alunos

Neste caso a mentoria vem suprir uma falta natildeo apenas da famiacutelia mas tambeacutem do

Estado e do Municiacutepio uma vez que por si soacute natildeo tecircm tido ecircxito com o aproveitamento e a

manutenccedilatildeo dos alunos na escola

452 Assistencialismo

Foi observado que algumas famiacutelias associam o projeto agrave assistecircncia social ldquoO reforccedilo

faz muita falta () tinha muitas doaccedilotildees roupas cestas baacutesicas no dia das crianccedilas

tinha brinquedos festas doaccedilotildees para as crianccedilasrdquo (MAtildeE DE FAacuteBIO entrevista

set05)

Ainda que esta natildeo seja a proposta do projeto as famiacutelias devido ao patrociacutenio

ofertado ao mentorado e agrave sua famiacutelia percebem o projeto como assistencialista

107

453 Diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia

O projeto demonstra contribuir indiretamente com a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia

As crianccedilas tando no projeto a gente fica despreocupada Quando ela natildeo tava no projeto ficava na rua natildeo queria estudar soacute queria ficar na rua brincando () muitas matildees estatildeo preocupadas em o que fazer com as crianccedilas sem o projeto (MAE DE HELENA entrevista out05) Ele tando laacute no projeto eu saio despreocupada neacute Que ele natildeo ta na rua A vida que a gente vive hoje sai pra trabalhar e sabe que o filho natildeo ta na rua a gente fica despreocupada (MAE DE AFRAcircNIO entrevista out05) Ele gosta eacute de rua de papagaio peatildeo bola () Ele natildeo liga para o caderno livros agora falou em rua eacute com ele () No reforccedilo ele estudava mais um pouco (MAE DE FAacuteBIO entrevista out05) O reforccedilo evita de as crianccedilas ta na rua no sinal pedindo (MAE DE TITO entrevista out05)

Atraveacutes destas declaraccedilotildees pocircde-se observar o referido por Harris et al (2002) que a

entrada das matildees no mercado de trabalho e o aumento das separaccedilotildees conjugais fazem com

que o adolescente passe menos tempo com os pais e passe a maior parte do tempo com seus

pares Conforme observado anteriormente a delinquumlecircncia tem diversas causas Dias (2003)

por exemplo verificou que a maior parte dos jovens delinquumlentes participantes de sua

amostra era de analfabetos funcionais relacionando assim a delinquumlecircncia a poucos anos de

estudos e consequumlentemente agrave evasatildeo escolar Na medida em que a crianccedila se desenvolve

nos estudos haacute uma diminuiccedilatildeo da evasatildeo escolar e consequumlentemente da delinquumlecircncia

Outra forma de o projeto contribuir com a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia refere-se a levar as

crianccedilas a deixarem a rua onde estatildeo expostas a diversos riscos como violecircncia drogas

exploraccedilatildeo sexual e confusotildees situaccedilotildees frequumlentes em um contexto de favela

A relaccedilatildeo de mentoria desenvolvida pelo projeto eacute de longo prazo Portanto por mais

que alguns benefiacutecios se evidenciem estes soacute poderatildeo ser claramente observados ao longo do

108

tempo quando as crianccedilas e adolescentes do projeto forem adultos Pode-se inferir a partir

dos resultados apresentados que ao inveacutes de dependentes de poliacuteticas assistencialistas os

egressos contribuiratildeo com o desenvolvimento de sua cidade Eacute possiacutevel antecipar que uma

grande parcela das pessoas que faziam a favela Vila do Vinteacutem II estaraacute alfabetizada e

ocupando um lugar no mercado de trabalho Aiacute sim ter-se-aacute um aumento real do IDH que de

fato revelaraacute um aumento da qualidade de vida desta populaccedilatildeo do Recife Soacute entatildeo poderatildeo

ser mensurados os benefiacutecios sociais deste projeto

454 Resposta da quarta questatildeo norteadora benefiacutecios sociais

da relaccedilatildeo de mentoria

Pocircde-se observar os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria existente

no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida As especificidades encontradas foram

a) Maior desenvolvimento educacional de crianccedilas e adolescente carentes com risco para

delinquumlecircncia visto tratar-se de um projeto de reforccedilo escolar

b) Assistecircncia social ao prover a satisfaccedilatildeo de algumas das necessidades baacutesicas do

mentorado e de sua famiacutelia

c) Suprimento pela relaccedilatildeo de mentoria de uma falha do sistema educacional do Estado e

do Municiacutepio que gradua o aluno sem que ele tenha condiccedilotildees O projeto tem suprido

esta carecircncia dando condiccedilotildees de o aluno galgar o grau seguinte

Estes foram os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da mentoria realizada no projeto

Educaccedilatildeo eacute Vida o que responde agrave quarta questatildeo norteadora deste trabalho

Seratildeo apresentadas no proacuteximo capiacutetulo as conclusotildees do trabalho bem como as implicaccedilotildees

teoacutericas praacuteticas e sociais e as sugestotildees de pesquisas futuras

109

5 Conclusatildeo

Neste capiacutetulo seratildeo apresentadas as conclusotildees da pesquisa tendo como referencial os

objetivos propostos

Pode-se concluir que a mentoria mostrou assim como no exposto teoricamente

resultados positivos na vida dos mentores mentorados e da comunidade O objetivo da

pesquisa foi atingido uma vez que foi possiacutevel conhecer algumas especificidades da mentoria

no contexto brasileiro e mais especificamente nordestino Ampliou-se tambeacutem o

conhecimento da mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes com risco para delinquumlecircncia

Desta forma a mentoria mostrou-se eficaz no sentido de contribuir para o desenvolvimento

do mentorado de forma que ele permanece na escola e melhora o rendimento escolar

As funccedilotildees de carreira propostas pela literatura foram encontradas e destas vale

destacar a oferta de tarefas desafiadoras O mentor propotildee inuacutemeros e audaciosos desafios

para seus mentorados sem no entanto deixar de prover as condiccedilatildeo de atingi-los e de superar

a realidade de exclusatildeo a que estatildeo sujeitos Outras funccedilotildees desenvolvidas pelo projeto e que

merecem destaque dizem respeito agrave amizade e agrave aceitaccedilatildeo do mentor para com seu

mentorado A importacircncia deste viacutenculo afetivo eacute imensuraacutevel principalmente em se tratando

e crianccedilas que muitas vezes natildeo percebem amor em sua famiacutelia

Seu Moab se preocupa mais com as crianccedilas do que noacutes que somos matildee (risos) Tem paciecircncia tem carinho por aquelas crianccedilas Ele sabe ensinar () ele natildeo machuca ele natildeo grita e as crianccedilas obedecem Eacute uma benccedilatildeo ele tem aquele amor (MAtildeE DE TAcircNIA entrevista set05)

O projeto demonstrou suprir lacunas na famiacutelia sendo o mentor agraves vezes comparado

com um pai ou com algueacutem da famiacutelia Pocircde se perceber a importacircncia da mentoria para o

grupo especiacutefico de pessoas marginalizadas ldquocarentes de tudordquo (PSICOacuteLOGA entrevista

110

set05) ao se ter algueacutem que acredite que aceite valorize incentive e decirc condiccedilotildees de

crescimento e desenvolvimento Papel este desempenhado pelos mentores ldquoO projeto restaura

a dignidade da pessoa do ser pessoa de ser um cidadatildeo de estar num lugar () onde as

pessoas estatildeo olhando para ele Ele eacute importante ele existerdquo (PSICOacuteLOGA entrevista

out05)

A mentoria mostrou-se efetiva em ajudar o mentorado em seu desenvolvimento

pessoal e ldquoprofissionalrdquo e seus benefiacutecios puderam ser em parte verificados

Os fatores de ecircxito mencionados na teoria tambeacutem puderam ser encontrados no

projeto A relaccedilatildeo de mentoria existente no projeto revelou caracteriacutesticas natildeo abordadas pela

teoria o que enriquece os estudos nesta aacuterea

Outro aspecto que chama a atenccedilatildeo eacute o comprometimento dos colaboradores

entrevistados seu desejo em ajudar e realizaccedilatildeo ao poderem contribuir

Esta foi a conclusatildeo objetiva deste trabalho No entanto em se tratando de uma

pesquisa qualitativa na qual haacute o envolvimento do pesquisador com o objeto na busca de se

chegar a uma compreensatildeo deste outros conhecimentos menos objetivos puderam ser

apreendidos e devem ser mencionados

O fazer parte do projeto parece ter um significado especial para quem dele participa e

os benefiacutecios parecem ir aleacutem dos aqui listados Algo taacutecito que natildeo pocircde ser apreendido

apenas sentido o brilho nos olhos as laacutegrimas as pausas e a voz trecircmula Fatos frequumlentes

nas entrevistas quer de mentores de mentorados ou das matildees

O projeto na percepccedilatildeo da pesquisadora pode ser comparado a seguinte metaacutefora uma

sementeira muito acolhedora cujos responsaacuteveis satildeo uma famiacutelia de saacutebios agricultores (pai

matildee filho e filha) que mesmo com outras opccedilotildees ldquomais lucrativasrdquo financeiramente optam

por trabalhar em sementes rejeitadas Esta famiacutelia partilha da visatildeo que vai aleacutem da ldquocascardquo

seca feia suja e aparentemente infrutiacutefera que tais sementes se apresentam E assim doam

111

suas vidas para descobrir (natildeo no sentido de achar mas de tirar o que encobre) e revelar o

tesouro que haacute dentro delas Plantam regam e fornecem a elas os nutrientes tirados de sua

proacutepria mesa no intuito de vecirc-las desabrochar desenvolver crescer e influenciar

positivamente a terra seca e aacuterida na qual foram geradas e permanecem A ideacuteia eacute a de uma

sementeira na qual um belo jardim e um frutiacutefero pomar satildeo vislumbrados Natildeo se

excluem desta percepccedilatildeo as dificuldades que acompanham o preparo da terra a poda as

intempeacuteries do ambiente e o descreacutedito daqueles que muitas vezes ao verem tal trabalho

negligenciam seu valor meneiam a cabeccedila e o desprezam No entanto o amor e a vontade de

ver tais sementes tatildeo marginalizadas frutificarem se alastra e contagia a outros que com o

mesmo intuito tecircm se envolvido contribuindo e partilhando do mesmo sentimento pois

acreditam que fornecendo as condiccedilotildees ldquoadequadasrdquo essas sementes iratildeo frutificar tanto ou

mais do que as mais belas aacutervores do mais belo pomar Esta sementeira para a pesquisadora

eacute o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida os agricultores satildeo Moab Silva Miriam Mariacutelia e Marcos

Moab apenas esporadicamente trabalha como cozinheiro visto dedicar-se

integralmente ao projeto no acompanhamento das crianccedilas e adolescentes nas escolas na

busca de patrociacutenio na comunidade com os pais

Miriam abre as portas de sua casa partilha o alimento com qualquer das crianccedilas que

chegar agrave sua porta e tatildeo importante quanto este partilha tambeacutem o afeto Natildeo se pode

mensurar o quanto este casal jaacute abnegou de sua vida em prol da vida deste projeto

Mariacutelia e Marcos jaacute ensinaram no projeto e quando solicitados retornam eles aceitam

partilhar com tantos outros daquilo que seria soacute seu pai matildee lar e recursos

Este projeto eacute um projeto de uma famiacutelia que se envolve se compromete com

seriedade e responsabilidade com os moradores da comunidade de forma que sofre junto

partilhando das dificuldades de crianccedilas e adolescentes que seriam apenas estranhos ou

ldquomeninos de ruardquo natildeo fosse o amor que os mobiliza

112

Pode-se perceber que muitas vezes faltam recursos materiais para se fazer como se

gostaria e ateacute mesmo para dar continuidade ao que jaacute foi feito No entanto a ausecircncia de

estiacutemulo de coragem de amor e de creacutedito natildeo foi percebida Talvez por isso algumas matildees

tenham se referido ao projeto como sendo algo maravilhoso

Feitas as conclusotildees seguem nas proacuteximas seccedilotildees as implicaccedilotildees teoacutericas praacuteticas e

sociais deste estudo e as sugestotildees de pesquisa futura

51 Contribuiccedilotildees do estudo

O presente trabalho oferece algumas contribuiccedilotildees para a teoria para a praacutetica e

tambeacutem para a sociedade Seguem nas proacuteximas seccedilotildees o detalhamento destas contribuiccedilotildees

511 Contribuiccedilatildeo teoacuterica

Esta pesquisa traz contribuiccedilotildees para a teoria na medida em que verifica a

aplicabilidade da literatura no contexto brasileiro de uma comunidade carente Oferece

contribuiccedilotildees tambeacutem por tratar da mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes com risco

para delinquumlecircncia A pesquisa aborda objetos que no Brasil ainda natildeo tinham sido

pesquisados sob o arcabouccedilo da mentoria

Outra contribuiccedilatildeo deste estudo diz respeito aos achados aqueles que diferem da

teoria e que foram encontrados no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida tais como o patrociacutenio amplo

oferecido pelo mentor ao mentorado o mentor natildeo ser tido como modelo o

autoconhecimento e senso de dever cumprido como benefiacutecios para o mentor Em se tratando

de estudo de caso estes achados natildeo devem ser generalizados No entanto podem servir de

questionamento e de objeto de futuras investigaccedilotildees no sentido de ver sua aplicabilidade em

outros contextos

Segue a contribuiccedilatildeo praacutetica deste trabalho

113

52 Contribuiccedilatildeo praacutetica

O presente objeto de pesquisa (mentoria voltada para educaccedilatildeo de crianccedilas e

adolescentes carentes) pode ser utilizado tambeacutem como forma de intervenccedilatildeo na educaccedilatildeo do

ensino puacuteblico e privado

A iniciativa privada tambeacutem pode ter nesta relaccedilatildeo de mentoria um modelo de accedilatildeo

de responsabilidade social Pode intervir em sua comunidade preparando sua futura matildeo-de-

obra e usufruindo os diversos benefiacutecios que tal relaccedilatildeo pode trazer natildeo soacute em termos de

dividendos ao gerenciar a reputaccedilatildeo mas em termos solidariedade realizaccedilatildeo e senso de

dever cumprido

Era objetivo contribuir com a praacutetica atraveacutes da teoria de mentoria visando

potencializar a relaccedilatildeo existente no projeto de reforccedilo No entanto uma vez que os fatores de

ecircxito jaacute satildeo considerados e que a relaccedilatildeo tem trazido benefiacutecios para o mentorado mentor e

para a sociedade natildeo se percebeu formas de contribuiccedilatildeo com o projeto neste sentido Senatildeo

de apresentar um estudo sistematizado do projeto e de como satildeo beneficiados os que dele

participam

53 Contribuiccedilatildeo social

O presente trabalho oferece contribuiccedilotildees sociais na medida em que confirmou que o

objeto de estudo mostrou-se eficiente em sua proposta podendo entatildeo servir de modelo de

accedilatildeo para outras entidades voltadas para crianccedilas e adolescentes de risco

O trabalho tambeacutem pode servir de fonte de pesquisa para empresas que desejam ser

responsaacuteveis socialmente atraveacutes da educaccedilatildeo tendo na mentoria um modelo que apresentou

resultados positivos

Outra contribuiccedilatildeo social deste estudo diz respeito ao questionamento sobre a

educaccedilatildeo no Brasil O projeto tem sido uma alternativa diante do insucesso da escola puacuteblica

114

em fazer com que o aluno permaneccedila na escola e obtenha bom aproveitamento A

contribuiccedilatildeo pode ser aumentada na medida em que o puacuteblico para tal projeto eacute de crianccedilas e

adolescentes com risco Tais sujeitos aleacutem do aprendizado obtido adquirem perspectiva

positiva de vida podendo-se inferir que haja diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia

Seguem na proacutexima seccedilatildeo algumas sugestotildees de pesquisas futuras que podem ser

realizadas no intuito de compreender melhor o fenocircmeno estudado

52 Sugestotildees de pesquisas futuras

Algumas sugestotildees de pesquisa podem ser feitas a partir do presente trabalho Satildeo elas

a) Acompanhar a histoacuteria dos futuros egressos visando conhecer melhor os

resultados do programa de mentoria

b) Realizar um experimento entre as crianccedilas e adolescentes que participam do

projeto e os natildeo participantes para se verificar a influecircncia deste

c) Investigar quais as implicaccedilotildees de haver dois tipos de relaccedilatildeo de mentoria no

projeto na qual o mentor tem um relacionamento mais proacuteximo com um

mentorado do que com outro

Estas sugestotildees para pesquisa futura encerram este trabalho mas natildeo os

questionamentos dele advindos

Peccedilo licenccedila a Moab para terminar o trabalho com sua fala Para educar natildeo se tem

um resultado imediato Entatildeo vocecirc tem que gastar tempo Eacute investimento em longo

prazo Vocecirc tem que ter paciecircncia () amor (COORDENADOR entrevista set05)

115

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122

APEcircNDICE A - Apresentaccedilatildeo da entrevista

123

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

APRESENTACcedilAtildeO DA ENTREVISTA

Meu nome eacute Adriana Alvarenga Marques Sou pesquisadora da Universidade Federal

de Pernambuco e estamos fazendo um estudo sobre a educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes

Pesquisamos sobre este tema no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida com alguns pais de alunos e com

alguns dos que colaboram com o projeto e tambeacutem com o Sr Moab

Estou aqui para lhe fazer algumas perguntas sobre este assunto A sua participaccedilatildeo eacute

de muita importacircncia para a pesquisa

Quero destacar que vocecirc natildeo precisa se identificar e seus dados e o do aluno natildeo seratildeo

revelados

Gostaria ainda de sua permissatildeo para gravar nossa ldquoconversardquo lembrando que apenas

eu ouvirei a fita Peccedilo isto por que para anotar as respostas eu levaria muito tempo e natildeo seria

feito com precisatildeo Vocecirc autoriza

124

APEcircNDICE B- Roteiro da entrevista com os pais

125

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

Roteiro de Entrevista para os Pais

Nome- ___________________________________________________________________

Nome do(a) filho(a) participante do projeto- _____________________________________

Escolaridade dos pais- _______________________________________________________

Quantas pessoas moram com o(a) aluno(a) _______________________________________

1- Haacute quanto tempo vocecirc conhece o projeto de reforccedilo Educaccedilatildeo eacute Vida

2- O que vocecirc pensa a respeito deste projeto

3- Haacute quanto tempo seusua filho(a) faz parte do projeto

4- Qual a idade dele (a)

5- Qual a seacuterie que ele(a) cursa

6- Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo de seusua filho(a) houve alguma mudanccedila nele(a) depois de

haver entrado no projeto Qual(ais)

7- No dia-a-dia vocecirc percebe alguma influencia do projeto no comportamento de

seusua filho(a) Qual(ais)

8- Existe algueacutem do projeto que demonstre cuidado e preocupaccedilatildeo com seusua filho(a)

que o(a) acompanhe seusua filho(a) mais de perto Quem

9- Como eacute feito esse acompanhamento

10- Qual o significado desta pessoa na vida de seu filho

11- Seu filho(a) gosta de estudar

12- Como vocecirc percebe isto

13- Seu filho(a) jaacute recebeu alguma ajuda vinda do projeto

14- Que tipo de ajuda

15- Quando seu filho passa por alguma dificuldade ou problema a quem ele recorre

16- Haacute algueacutem do projeto que aconselhe seuas filho(a) Quem

17- Que tipo de conselho ele(a) oferece

18- Seusua filho(a) fala sobre seu futuro O que ele(a) diz

126

19- Onde seu filho estuda

20- Como eacute o desempenho de seusua filho(a) na escola Como satildeo suas notas

21- Seusua filho(a) traz tarefas para casa

22- Quem o(a) ajuda a resolve-las

23- Haacute mais alguma coisa sobre a educaccedilatildeo de seu filho que vocecirc considere importante

24- Quando vocecirc pensa no projeto qual a ideacuteia ou sentimento que lhe vem

25- Haacute mais alguma coisa sobre o projeto que vocecirc gostaria de falar

127

APEcircNDICE C - Roteiro da entrevista com os colaboradores

128

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

Roteiro da Entrevista com os Colaboradores

Nome ndash ______________________________________________________________

Tempo de projeto-______________________________________________________

Funccedilatildeo desempenhada no projeto- _________________________________________

Tempo de projeto - _____________________________________________________

1- Haacute quanto tempo vocecirc conhece o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

2- Qual a sua participaccedilatildeo neste projeto

3- Com que frequumlecircncia ocorre seu contato com as crianccedilas adolescentes comunidade

4- Vocecirc recebe alguma remuneraccedilatildeo para atuar no projeto

5- Qual sua motivaccedilatildeo para participar

6- Vocecirc poderia descrever como eacute seu relacionamento com os alunos

7- Haacute algum(a) em especial por quem vocecirc tenha maior preocupaccedilatildeo cuidado carinho

8- Por que

9- Como satildeo seus encontros com as crianccedilas

10- Como vocecirc percebe o significado deste projeto na vida da comunidade

11- Durante o seu tempo de participaccedilatildeo no projeto houve algum evento ou

acontecimento que lhe marcou e que vocecirc gostaria de falar

12- Quando vocecirc pensa no projeto qual a ideacuteia ou sentimento que lhe vem

13- Haacute mais alguma coisa sobre o projeto ou sobre os alunos que vocecirc gostaria de

compartilhar

129

APEcircNDICE D - Roteiro da entrevista com o fundador do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

130

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

Roteiro de Entrevista do Fundador

Nome ndash ______________________________________________________________

1- Como surgiu a ideacuteia do projeto

2- Como foi efetivado

3- Quais as motivaccedilotildees para a existecircncia do projeto

4- Houve participaccedilatildeo de sua famiacutelia

5- Vocecirc poderia falar acerca do funcionamento do projeto as atividades desempenhadas

os objetivos a manutenccedilatildeo

6- A quem o projeto se destina

7- Qual a sua participaccedilatildeo efetiva no projeto

8- Como se deu a formalizaccedilatildeo

9- Como ocorre a seleccedilatildeo das crianccedilas para fazer parte do projeto

10- Quais os criteacuterios para se manter no projeto

11- Como o projeto obteacutem recursos para funcionar

12- Que tipo de atividade o projeto desenvolve

13- Haacute quanto tempo o projeto existe

14- Houve algueacutem em sua vida que serviu de incentivo para que vocecirc desenvolvesse esse

tipo de atividade

15- Por que um projeto em educaccedilatildeo

16- Qual o significado deste projeto na vida da sua famiacutelia

17- Qual o significado deste projeto na vida da comunidade

18- O que significa para uma crianccedila participar do projeto

19- Quais as dificuldades enfrentadas

20- Haacute ou houve algum acontecimento que lhe marcou

21- Existem crianccedilas que vocecirc acompanha mais de perto

22- Como eacute esse acompanhamento

131

23- O que o projeto oferece aos participantes em termos de educaccedilatildeo

24- Haacute mais algum tipo de ajuda que o projeto oferece Qual (ais)

25- O que eacute importante para que o projeto obtenha ecircxito

26- O que vocecirc acredita que eacute determinante do sucesso escolar de um aluno

27- Por que vocecirc acha que alguns alunos natildeo obtecircm bom aproveitamento escolar

28- Como eacute a participaccedilatildeo de sua famiacutelia no projeto

29- Qual o seu sonho para o projeto

30- Quando vocecirc pensa neste projeto qual a ideacuteia ou sentimento que lhe ocorre

31- Haacute mais alguma coisa que vocecirc gostaria de falar

132

ANEXO A - Estatuto da Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre

133

134

135

136

137

138

139

140

ANEXO B ndash Documento de Apresentaccedilatildeo do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

141

142

IDENTIFICACcedilAtildeO Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre situada agrave rua Joatildeo Tude de Melo nordm 21 Casa Forte Recife Pernambuco Brasil CEP ndash52060-030 tel 3442-2084

Objetivo Manter influente obra social cristatilde que possa mudar o quadro social das crianccedilas e jovens da comunidade

O projeto funciona haacute trecircs anos atendendo a comunidade na aacuterea de educaccedilatildeo sauacutede lazer e educaccedilatildeo religiosa

143

ANAacuteLISE DO CONTEXTO DO PROJETO A favela Vila do vinteacutem como todo reduto de pobreza tem seus problemas suas causas e consequumlecircncias Apoacutes trecircs anos de atividades nesta comunidade detectamos que a maacute distribuiccedilatildeo de renda e a falta de uma poliacutetica social voltada para os mais carentes tecircm contribuiacutedo para a formaccedilatildeo de famiacutelias desestruturadas e em situaccedilotildees de risco fomentadas pela pobreza cultural e financeira Residem em barracos de madeira papelatildeo e plaacutestico de aproximadamente 12m2 sem aacutegua esgoto e muitos sem sanitaacuterios O conviacutevio diaacuterio com insetos torna a accedilatildeo meacutedica difiacutecil ou mesmo inviaacutevel Eacute isto que temos vivenciado no dia-dia famiacutelias em condiccedilotildees sub-humanas sobrevivendo de pequenos serviccedilos que prestam

Eacute neste cenaacuterio que consequumlentemente a crianccedila e o jovem desenvolve seu potencial de violecircncia anseios e conflitos convivendo com a fome a falta de higiene ambiente inoacutespito e inadequado para os estudos e outras atividades Essas crianccedilas semi-abandonadas vivem sem perspectivas de mudanccedilas sendo apenas viacutetimas de um processo que as leva a marginalidade

Por esta razatildeo se faz necessaacuterias accedilotildees contiacutenuas para melhoria da qualidade de vida e paz social desenvolvendo atividades que as valorizem como pessoas minimizando o sofrimento dando-lhes esperanccedilas atraveacutes da educaccedilatildeo sauacutede lazer e profissionalizaccedilatildeo

144

OBJETIVOS

Geral Visa natildeo somente melhorar a qualidade de vida no presente mas intervir num ciclo vicioso preparando a crianccedila e o jovem para o futuro Atuar na aacuterea de Educaccedilatildeo solicitando bolsas de estudo na rede privada com aulas de reforccedilo para o ensino fundamental alfabetizaccedilatildeo infantil distribuiccedilatildeo de material escolar e merenda Curso regular de liacutengua estrangeira (Inglecircs) iniciaccedilatildeo musical (teoria e praacutetica) Sauacutede Cliacutenica pediaacutetrica odontoloacutegica psico-pedagoacutegica e aviamento de receitas

Especiacuteficos

A) Promover a melhoria da escolaridade incentivando a permanecircncia e o equiliacutebrio entre o conhecimento e o grau adquirido

B) Desenvolver atividades que proporcionem o desenvolvimento de competecircncias sociais pessoais e intelectuais favorecendo a reflexatildeo e o exerciacutecio da cidadania com palestras passeios e filmes Ampliando o leque de conhecimentos e enriquecendo o senso criacutetico

C) Desenvolver programa intensivo de sauacutede atraveacutes de convecircnios melhorando desta forma a sauacutede e a aparecircncia fiacutesica para que haja um relacionamento pessoal sem reserva ou constrangimento

D) Ampliar os conhecimentos por curso regular de liacutengua estrangeira (Inglecircs) e iniciaccedilatildeo musical teoria e praacutetica Tirando-os da rua e da ociosidade oferecendo uma perspectiva de profissionalizaccedilatildeo e um conviacutevio cultural diferente do que vivenciam

145

PUacuteBLICO ALVO Crianccedilas e jovens de cinco a dezessete anos residentes na Vila Vinteacutem e devidamente matriculados e frequumlentando a rede oficial de ensino puacuteblico ou privado METODOLOGIA Profissionais de suas respectivas aacutereas ministraratildeo aulas diariamente ou em dias alternados conforme as especialidades e necessidades do projeto Por tratar-se de prestaccedilatildeo de serviccedilo voluntaacuterio com fim social todos teratildeo liberdade sobre o plano de accedilatildeo a ser aplicado no entanto deveratildeo estar de acordo com o nosso Estatuto Convecircnio com a Fundaccedilatildeo Manuel de Almeida (Hospital Infantil) para cliacutenica meacutedica e pediaacutetrica cabendo a instituiccedilatildeo a avaliaccedilatildeo e anaacutelise dos resultados As atividades seratildeo desenvolvidas em nossa sede proacutepria e anexo I exceto o curso de inglecircs consultas odontoloacutegicas e cliacutenica meacutedica Modelo de Educaccedilatildeo para a Sauacutede Objetivo Colocar a educaccedilatildeo a serviccedilo de uma vida saudaacutevel Accedilotildees destinadas a orientar os jovens

bull Alimentaccedilatildeo adequada bull Atividades que natildeo promovam o estresse bull Vida sexual segura bull Orientaccedilatildeo sobre o risco do tabaco aacutelcool e outras drogas

psicoativas bull Discussatildeo de temas gerais atuais ndash exemplo tracircnsito poluiccedilatildeo

violecircncia etc Objetivando a formaccedilatildeo de cidadatildeos conscientes e capazes de optar por uma vida mais saudaacutevel individual e coletiva

Modelo de Modificaccedilatildeo das Condiccedilotildees de Ensino Enfatizando a vivecircncia escolas desde a Educaccedilatildeo Infantil ensino Fundamental e Meacutedio como essencial para o desenvolvimento sadio do adolescente e adulto Preocupando-se com a prevenccedilatildeo ao uso abusivo de drogas a delinquumlecircncia as patologias mentais buscando a formaccedilatildeo integral do jovem Envolvendo pais e comunidade

146

Orientaccedilotildees estrateacutegicas

bull Modificar as praacuteticas de ensino bull Melhorar a relaccedilatildeo professoraluno bull Melhorar o ambiente escolar bull Incentivar o desenvolvimento social bull Ofertar serviccedilos de sauacutede bull Envolver os pais em atividades curriculares

AVALIACcedilAtildeO Bimestral junto agraves escolas solicitando boletins de cada aluno assistido pelo projeto cuja permanecircncia dos benefiacutecios dependeraacute do aproveitamento escolar da assiduidade agraves atividades e programaccedilatildeo da instituiccedilatildeo

147

ANEXO C ndash Estrutura baacutesica para orientaccedilatildeo de teses e dissertaccedilotildees

148

  • CLASSIFICACcedilAtildeO DE ACESSO A TESES E DISSERTACcedilOtildeES
    • Adriana Alvarenga Marques
      • 1 Introduccedilatildeo
        • 2 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica
          • Mentoria informal
            • Mentoria formal
              • 3 Metodologia
                  • APEcircNDICE A - Apresentaccedilatildeo da entrevista
                    • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                    • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                      • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                        • APRESENTACcedilAtildeO DA ENTREVISTA
                          • APEcircNDICE B- Roteiro da entrevista com os pais
                            • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                            • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                              • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                                • Roteiro de Entrevista para os Pais
                                  • APEcircNDICE C - Roteiro da entrevista com os colaboradores
                                    • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                                    • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                                      • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                                        • Roteiro da Entrevista com os Colaboradores
                                          • APEcircNDICE D - Roteiro da entrevista com o fundador do Projet
                                            • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                                            • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                                              • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                                                • Roteiro de Entrevista do Fundador
                                                  • ANEXO A - Estatuto da Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre
                                                    • IDENTIFICACcedilAtildeO
                                                      • ANAacuteLISE DO CONTEXTO DO PROJETO
                                                        • OBJETIVOS
                                                          • PUacuteBLICO ALVO
                                                            • METODOLOGIA
                                                                • Modelo de Educaccedilatildeo para a Sauacutede
                                                                • Modelo de Modificaccedilatildeo das Condiccedilotildees de Ensino
                                                                  • AVALIACcedilAtildeO
Page 5: A mentoria na educação de crianças e adolescentes carentes ... · Figura 5 (4) Modelo de Certificado de Padrinho 70 Figura 6 (4) Foto da apresentação das meninas do projeto em

Agravequeles que por algum motivo natildeo tiveram a oportunidade de conhecer o brilho das letras e que hoje excluiacutedos vivem agrave sombra do conhecimento

Agradecimentos

A Deus nosso amado Pai que fez com que mais um dos meus sonhos se tornasse realidade que colocou pessoas dEle ao meu redor para me ensinar incentivar compartilhar e corrigir Agrave querida Professora Drordf Socircnia Calado por sua dedicaccedilatildeo e nobreza ao partilhar saberes tatildeo altos comigo e pela confianccedila e aceitaccedilatildeo Aos meus queridos e competentes mestres que me ensinaram entre tantos conteuacutedos a alegria e a dor do aprendizado Ao professor Dr Pedro Lincoln pelo exemplo de aula e pela consideraccedilatildeo Agraves professoras Drordfs Lenice Pimentel e Maria Auxiliadora (UFALCHLA) por me apresentarem a este Programa Agrave Professora Drordf Lilian Outtes por sua amizade e profissionalismo Agrave UFPE esta reconhecida Instituiccedilatildeo da qual eu muito me orgulho A todos os que fazem o PROPAD minha sincera gratidatildeo Agrave dona Socorro pela simpatia e pelo cafezinho gostoso Ao Sr Moab Silva e sua esposa Miriam pela receptividade e apoio A todos os que fazem o Projeto Amigos para Sempre pela abertura colaboraccedilatildeo e confianccedila Ao Emanuel Marques meu querido marido pelo carinho apoio e paciecircncia tatildeo presentes nestes dois anos Obrigada amor Aos meus filhos Juliana e Carlos Henrique pela forccedila que mesmo sem saber me transmitiram o tempo todo Aos meus pais Carlos e Ana por pedirem a Deus pela minha vida Ele os tem ouvido Aos meus sogros Fernando Marques e Zeine Gomes pelo incentivo constante e por acreditar em mim Aos meus irmatildeos Edilson Elisana e Adilson Ao Dr Conrado Paulino (in memoriam) e sua esposa Drordf Zery Gomes pelos saacutebios e sinceros conselhos Ao Sr Joaquim Vera e Fabiana Sousa pelo apoio e assistecircncia Agrave Roberta Arauacutejo pela amizade mesmo que agrave distacircncia Aos colegas da turma 10 pelas alegrias e agonias partilhadas De fato vocecircs satildeo 10 Que Deus vos abenccediloe ricamente A Ana Claudia Ariaacutedne Denise Maria Elisa e agrave Monique pela amizade construiacuteda neste periacuteodo Minha sincera gratidatildeo a todos que contribuiacuteram para que este sonho se tornasse real Sem vocecircs esta conquista natildeo seria possiacutevel Muito obrigada

ldquoAinda que eu conheccedila todos os misteacuterios e toda a ciecircncia se natildeo tiver amor nada sereirdquo

Adap Apoacutestolo Paulo

Resumo

A mentoria se caracteriza pela relaccedilatildeo existente entre mentor (algueacutem com reconhecida

experiecircncia) e mentorado (um neoacutefito) na qual o mentor serve de guia para o jovem aprendiz

dando-lhe conselhos instruccedilotildees patrociacutenio e amizade de modo a facilitar o desenvolvimento

de sua carreira Em troca o mentor obteacutem reconhecimento apoio e realizaccedilatildeo ao acompanhar

o crescimento profissional de seu mentorado A mentoria voltada para jovens e adolescentes

com risco para a delinquumlecircncia tem sido investigada em paiacuteses como Estados Unidos e Canadaacute

Dentre os benefiacutecios encontrados pode-se citar a diminuiccedilatildeo de comportamentos agressivos

reduccedilatildeo da evasatildeo escolar aumento da auto-estima e consequumlentemente reduccedilatildeo da

delinquumlecircncia juvenil A presente pesquisa propocircs-se a investigar um programa de mentoria

voltado para crianccedilas e adolescentes carentes O objetivo foi verificar quais as especificidades

deste programa num contexto brasileiro e quais os benefiacutecios desta relaccedilatildeo na vida dos

mentorados (crianccedilas e adolescentes) dos mentores (colaboradores do projeto) e da

comunidade A percepccedilatildeo das famiacutelias acerca do projeto tambeacutem foi considerada Fez-se um

estudo de caso exploratoacuterio-descritivo acerca de um projeto de reforccedilo escolar localizado na

Vila do Vinteacutem II uma comunidade carente do Recife A estrateacutegia de pesquisa foi

qualitativa atraveacutes de entrevistas observaccedilatildeo e anaacutelise documental Pocircde-se perceber que

apenas em alguns aspectos a mentoria ocorrida no projeto diferia dos achados na literatura

Por exemplo o fato de o mentor ser um modelo para o mentorado (fato expliacutecito

teoricamente) natildeo ficou evidenciado neste contexto A pesquisa procurou verificar a

viabilidade de uma forma de intervenccedilatildeo na vida de crianccedilas e adolescentes carentes que

pode ser utilizada por organizaccedilotildees privadas como meio de accedilatildeo de responsabilidade social e

por instituiccedilotildees puacuteblicas no sentido de alcanccedilar maior aproveitamento escolar das crianccedilas e

dos adolescentes

Palavras-chave Mentoria Educaccedilatildeo Comunidade carente Delinquumlecircncia Suporte

psicossocial

Abstract

Mentorship is characterized by the relationship between a mentor (someone with recognized

experience) and the individual to be mentored (novice) in which the mentor guides the young

apprentice offering himher counsel advice and friendship in a way as to facilitate the

development of hisher career In exchange the mentor obtains recognition support and

personal reward taking part in the professional growth of the person being mentored

Mentorship geared towards youth and teenagers with risks of becoming delinquent individuals

has been investigated in countries such as the United States and Canada Among the benefits

found one can mention the decrease in aggressive behavior and school absenteeism an

increase in self esteem and consequently a decrease in juvenile delinquency This research is

intended to investigate a mentorship program geared towards impoverished children and

teenagers with the purpose of verifying if in the Brazilian context specifically in the

northeast of Brazil the mentor relationship presents the same characteristics as those shown

in previously documented researches This is a descriptive-exploratory case study about a

school tutorship program at Vila do Vinteacutem II a slum in Recife Pernambuco Brazil The

objective of this study was to verify what are the specificities of a mentorship program

designed for children and teenagers in the Brazilian context and what are the benefits of this

relationship in the life of those who are mentored (children and teenagers) the mentors (who

joined the program) and the community The perception of the families about the program has

been taken into consideration as well The strategy used for this research was qualitative

through interviews and observation and documental analysis It was observed that only in a

few aspects the mentorship analyzed in this program was different from the findings of

previous research as for instance the fact that the mentor is considered a role model for the

apprentice (a theoretical fact that is widely accepted) has not been evidenced in this context

This research was intended to demonstrate the possibility of an intervention in the lives of

impoverished children and teenagers and can be utilized by organizations in their social

responsibility actions and by public policy formulators with the purpose of increasing school

progress for children and teenagers

Key-words Mentorship Tutorship Education Impoverished community Delinquency

Psychosocial support

Lista de figuras

Figura 1 (4) Foto da Vila do Vinteacutem II 60Figura 2 (4) Foto das palafitas da Vila do Vinteacutem II 61Figura 3 (4) Foto da festa de Natal para as crianccedilas da Vila Vinteacutem 63Figura 4 (4) Foto da festa das crianccedilas na sede do projeto 64Figura 5 (4) Modelo de Certificado de Padrinho 70Figura 6 (4)

Foto da apresentaccedilatildeo das meninas do projeto em uma missa de Natal realizada pela Igreja Catoacutelica de Casa Forte na Vila Vinteacutem 81

Figura 7 (4)

Foto da professora e alunos durante a aula de reforccedilo na sede do projeto 90

Figura 8 (4) Boletim escolar de Afracircnio 98Figura 9 (4) Boletim escolar de Jairo 99

Sumaacuterio 1 Introduccedilatildeo 1511 Objetivos 18111 Objetivo geral 18112 Objetivos especiacuteficos 1812 Justificativa 19121 Justificativa teoacuterica 19122 Justificativa praacutetica e social 192 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica 2121 Mentoria 21211 Funccedilotildees de mentoria 242111 Suporte de carreira 242112 Suporte psicossocial 26212 Fases da relaccedilatildeo mentoria 28213 Tipos de mentoria 302131 Mentoria informal 302132 Mentoria formal 31214 Fatores relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria formal 312141 Seleccedilatildeo de mentores e mentorados 322142 Treinamento supervisatildeo e acompanhamento do programa de mentoria 332143 Frequumlecircncia dos encontros 342144 Duraccedilatildeo da relaccedilatildeo de mentoria 3422 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria 35221 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentorado 36222 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentor 39223 Benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria 413 Metodologia 4631 Delineamento da pesquisa 4632 Primeira fase da coleta de dados 47321 Objetivo 47322 Instrumentos de coleta de dados 4833 Segunda fase de coleta de dados 50331 Objetivos 50332 Instrumentos de coleta de dados 5034 Sujeitos da pesquisa 52341 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos sujeitos 5335 Meacutetodos de anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados 5436 Limitaccedilotildees da pesquisa 564 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos achados 5841 O caso 58411 O contexto do projeto Vila Vinteacutem II 58412 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 62413 Atividades desenvolvidas pelo projeto 65414 Formalizaccedilatildeo do projeto como organizaccedilatildeo natildeo-governamental 67415 Situaccedilatildeo atual do projeto 68416 Dificuldades enfrentadas pelo projeto 69417 Motivaccedilatildeo para a existecircncia e continuidade do projeto 70418 Dados dos mentores entrevistados 71419 Dados dos mentorados pesquisados 72

4191 Alunos tidos como que de ecircxito nos estudos 724192 Alunos tidos como que de natildeo ecircxito nos estudos 7442 Achados referentes agrave primeira questatildeo norteadora do trabalho 76421 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida como um programa de mentoria 76422 Funccedilotildees de mentoria encontradas no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 784221 Suporte de carreira 784222 Suporte psicossocial 83423 Fases da relaccedilatildeo de mentoria apresentadas no projeto de reforccedilo 87424

Fatores encontrados no projeto que estatildeo relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria 87

425 Fatores responsaacuteveis pelo ecircxito e natildeo ecircxito nos estudos percepccedilatildeo do mentor e da famiacutelia do mentorado 93

426

Resposta da primeira questatildeo norteadora especificidades da relaccedilatildeo de mentoria existentes no projeto de reforccedilo escolar 94

43 Achados referentes agrave segunda questatildeo norteadora 95431

Aumento da auto-estima da responsabilidade maior progresso escolar e perspectiva positiva de futuro 95

432

Resposta da segunda questatildeo norteadora benefiacutecios da mentoria para a crianccedila adolescente do projeto 101

44 Achados referentes agrave terceira questatildeo norteadora 101441 Realizaccedilatildeo pessoal 101442 Motivaccedilatildeo 102443 Ser amado pelo mentorado 103444 Autoconhecimento 103445 Senso de dever cumprido 104446 Resposta da terceira questatildeo norteadora benefiacutecios da mentoria para o mentor 10445 Achados referentes agrave quarta questatildeo norteadora 105451 Desenvolvimento educacional das crianccedilas e dos adolescentes 105452 Assistencialismo 106453 Diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia 107454

Resposta da quarta questatildeo norteadora benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria 108

5 Conclusatildeo 10951 Contribuiccedilotildees do estudo 112511 Contribuiccedilatildeo teoacuterica 112512 Contribuiccedilatildeo praacutetica 113513 Contribuiccedilatildeo social 11352 Sugestotildees de pesquisas futuras 114Referecircncias 115APEcircNDICE A- Apresentaccedilatildeo da entrevista 122APEcircNDICE B- Roteiro da entrevista com os pais 124APEcircNDICE C- Roteiro da entrevista com os colaboradores 127APEcircNDICE D- Roteiro da entrevista com o fundador do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 129ANEXO A- Estatuto da Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre 132ANEXO B- Documento de apresentaccedilatildeo do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 140ANEXO C- Estrutura baacutesica para orientaccedilatildeo de teses e dissertaccedilotildees 147

15

1 Introduccedilatildeo

A educaccedilatildeo no Brasil tem sido nos uacuteltimos anos alvo de atenccedilatildeo por parte dos

governantes da iniciativa privada e da sociedade De acordo com dados do IBGE-Pnad

(2000) o Brasil conta com um iacutendice de analfabetismo de 116 sendo que na Regiatildeo

Nordeste este iacutendice sobe para 23 Em se tratando de analfabetismo funcional o que se

refere agraves pessoas com menos de quatro anos de estudo completos o iacutendice eacute de 24 no Brasil

e 39 na Regiatildeo Nordeste chegando a 43 em alguns municiacutepios Tais dados revelam a

existecircncia de municiacutepios onde quase metade da populaccedilatildeo tem menos de quatro anos de

estudo O fato de haver analfabetos funcionais em tatildeo grande proporccedilatildeo pode ser explicado

pela evasatildeo escolar

Trata-se de milhotildees de brasileiros excluiacutedos agrave margem por natildeo terem acesso agrave leitura

agrave escrita agrave cultura e ao conhecimento formal comprometendo ainda mais a auto-estima e

reduzindo a qualidade de vida de tais pessoas A alta taxa de analfabetismo (116) reduz

ainda mais o IDH (Iacutendice de Desenvolvimento Humano) que no Brasil eacute considerado meacutedio

077 (PNUD 2000) O IDH foi criado para medir o niacutevel de desenvolvimento humano dos

paiacuteses com base em indicadores de educaccedilatildeo (alfabetizaccedilatildeo e taxa de matriacutecula) longevidade

e renda Tal iacutendice varia de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1(desenvolvimento

humano total) Em Pernambuco este iacutendice eacute de 069 considerado meacutedio A taxa de ocupaccedilatildeo

no mercado de trabalho cresce agrave medida que a escolaridade aumenta Entre analfabetos eacute de

52 a chance de ocupaccedilatildeo enquanto que entre graduados sobe para 87 (NERY COSTA

2003)

Satildeo brasileiros que devido agrave exclusatildeo social decorrente do analfabetismo entre outros

fatores natildeo fazem parte do mercado consumidor Pessoas que por sua insuficiente renda ou

16

total falta dela ficam seriamente limitadas no tocante ao consumo sendo muitas dependentes

de poliacuteticas assistencialistas

As empresas tambeacutem sofrem as consequumlecircncias do analfabetismo seja absoluto (pessoa

iletrada) ou funcional pois tecircm em funccedilatildeo dele uma matildeo de obra desqualificada Soma-se o

fato de que estas pessoas natildeo fazem parte de sua clientela uma vez que natildeo tecircm poder

aquisitivo para tal

Estatiacutesticas confirmam que haacute um aumento na renda agrave medida que se acrescentam

anos de estudo A cada ano de estudo a renda aumenta cerca de 16 (IBGE-PNAD 1998) e

consequumlentemente aumenta tambeacutem o poder de compra a inserccedilatildeo social e a qualificaccedilatildeo

Uma questatildeo pertinente em se tratando de evasatildeo escolar eacute sua associaccedilatildeo com a

delinquumlecircncia Um estudo realizado com adolescentes paulistas demonstrou que a defasagem

escolar bem como a multirrepetecircncia satildeo fatores positivamente relacionados com a inserccedilatildeo

de jovens na criminalidade (DIAS 2003)

Barros et al (1994) revelam que um dos principais determinantes do desempenho

escolar da crianccedila eacute a educaccedilatildeo meacutedia das matildees Riveiro (2001) com base em dados da

Unesco afirma que os brasileiros que satildeo analfabetos absolutos estatildeo localizados

principalmente em aacutereas carentes da Regiatildeo Nordeste Considerando que haacute grande propensatildeo

de as matildees que moram em comunidades carentes do Nordeste serem analfabetas e que a

educaccedilatildeo da matildee tende a ser um fator determinante da educaccedilatildeo dos filhos parece legiacutetimo

esperar limitaccedilotildees graves na educaccedilatildeo de crianccedilas em comunidades carentes do Recife

O atual governo em 2001 criou o Programa Nacional do Bolsa-Escola que incentiva

a famiacutelia a colocar o filho na escola e fazecirc-lo permanecer nela Para tanto a famiacutelia recebe a

quantia de R$ 1500 por filho matriculado (MEC 2005) O projeto visa a reduccedilatildeo da evasatildeo

escolar sem no entanto acompanhar o rendimento do aluno beneficiado

17

Quanto agrave iniciativa privada a educaccedilatildeo tem sido o foco de algumas empresas ao

investirem na formaccedilatildeo dos funcionaacuterios e dos filhos destes Acerca do levantamento sobre as

100 melhores empresas para se trabalhar no ano de 2002 Silveira (2002) afirma que eacute fato

relevante para a organizaccedilatildeo que pertence a este ranking a colaboraccedilatildeo com a comunidade na

qual estaacute inserida Para tal algumas organizaccedilotildees contam inclusive com seus funcionaacuterios

agindo como voluntaacuterios nestas accedilotildees de responsabilidade social Desenvolvendo atividades

como esta de responsabilidade social e cidadania a empresa eacute mais bem avaliada por seus

stakeholders internos e externos (ASHLEY 2003)

Nos Estados Unidos uma alternativa para evitar a evasatildeo escolar tem sido

desenvolvida atraveacutes da mentoria Nesta relaccedilatildeo o mentor eacute uma pessoa mais experiente do

que o mentorado algueacutem em quem este confia com quem pode compartilhar suas

dificuldades necessidades e anseios e de quem recebe apoio e orientaccedilatildeo Um exemplo deste

trabalho foi realizado por Klaw et al (2003) com adolescentes afro-americanas gestantes O

objetivo do programa de mentoria era ajudar estas novas matildees a terminar a escola e a

conseguir resultados educacionais satisfatoacuterios apoacutes o nascimento da crianccedila O estudo

mostrou que das adolescentes que foram acompanhadas durante dois anos por um mentor

65 terminaram os estudos Jaacute entre as matildees que natildeo contaram com o programa de mentoria

este percentual caiu para 35 Pode-se concluir que apesar dos fatores adversos (maternidade

na adolescecircncia dificuldade econocircmica e preconceito racial) a mentoria mostrou-se eficaz no

combate agrave evasatildeo escolar

No Recife (PE) em uma comunidade carente verificou-se a existecircncia de um

programa de reforccedilo escolar Foram percebidas atraveacutes de uma pesquisa exploratoacuteria

evidecircncias da relaccedilatildeo de mentoria entre os colaboradores e os alunos sendo estes os

mentorados Esta evidecircncia criou a possibilidade de pesquisar os benefiacutecios produzidos pela

relaccedilatildeo de mentoria voltada para educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes carentes no Brasil

18

Investiga-se assim ateacute que ponto a mentoria pode ser um recurso para auxiliar no aumento do

aproveitamento escolar dos mentorados e na reduccedilatildeo da evasatildeo escolar Desta forma

considerando a situaccedilatildeo da educaccedilatildeo as limitaccedilotildees impostas pelo analfabetismo e a evasatildeo

escolar que aleacutem da exclusatildeo social estaacute associada agrave delinquumlecircncia definimos a seguinte

pergunta de pesquisa

Como ocorre a mentoria voltada para a educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes em

uma comunidade carente do Recife

11 Objetivos

111 Objetivo geral

Investigar como ocorre a mentoria em um programa de reforccedilo escolar voltado para

crianccedilas e adolescentes carentes de uma comunidade do RecifePE

112 Objetivos especiacuteficos

bull Investigar as especificidades da relaccedilatildeo de mentoria (funccedilotildees fases tipos e

fatores de ecircxito) voltada para crianccedilas e adolescentes carentes no contexto de

uma comunidade do Recife

bull Verificar quais os benefiacutecios da mentoria para o mentorado na percepccedilatildeo das

famiacutelias destes

bull Investigar quais os benefiacutecios da mentoria para os mentores na percepccedilatildeo

destes e

bull Verificar quais os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria

19

12 Justificativa

O presente trabalho se justifica devido agrave relevacircncia do tema que aborda e de suas

implicaccedilotildees poliacuteticas organizacionais e sociais

121 Justificativa teoacuterica

No aspecto teoacuterico pode-se citar a escassez de bibliografia nacional acerca da

mentoria Trata-se de um fenocircmeno pouco estudado no Brasil e menos ainda voltado para

educaccedilatildeo de jovens e adolescentes Faz-se necessaacuterio portanto investigar como ocorre a

mentoria no paiacutes e quais as suas especificidades e caracteriacutesticas Neste sentido o presente

estudo pode oferecer algumas contribuiccedilotildees

122 Justificativa praacutetica e social

Do ponto de vista praacutetico a proposta eacute que conhecendo como a mentoria ocorre aqui

agrave luz da teoria existente se possa auxiliar o processo otimizando-o

Quanto agrave justificativa da pesquisa do ponto de vista social pode-se mencionar a

necessidade de pesquisar alternativas para minimizar os problemas de analfabetismo evasatildeo

escolar e delinquumlecircncia juvenil Estes problemas fazem parte do cotidiano do Recife bem

como das demais grandes cidades brasileiras

As organizaccedilotildees podem ter nesta pesquisa um modelo de accedilatildeo de responsabilidade

social intervindo na comunidade local e inclusive preparando a sua futura matildeo-de-obra

Outra justificativa deste trabalho eacute a possibilidade de contribuir com as poliacuteticas

puacuteblicas no sentido de sugerir uma alternativa de intervenccedilatildeo na educaccedilatildeo de crianccedilas e

adolescentes em particular as que se encontram em situaccedilatildeo de risco

20

Neste capiacutetulo introdutoacuterio foi apresentado o tema abordado os objetivos da presente

pesquisa e as razotildees pelas quais o estudo se justifica No proacuteximo capiacutetulo seraacute exposta a

literatura que fornece as bases teoacutericas para a pesquisa

21

2 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica

Com o intuito de se investigar como ocorre a mentoria voltada para crianccedilas e

adolescentes carentes faz-se necessaacuterio trazer agrave luz o que a teoria diz acerca da mentoria

Portanto tratar-se-aacute neste capiacutetulo sobre o conceito de mentoria e suas especificidades ou

seja quais as funccedilotildees desempenhadas na relaccedilatildeo as fases pertinentes a este relacionamento

os tipos de mentoria e os fatores relacionados ao ecircxito desta relaccedilatildeo Os benefiacutecios que a

mentoria oferece ao mentorado ao mentor e agrave comunidade tambeacutem seratildeo considerados

Segue-se pois o conceito de mentoria

21 Mentoria

A palavra mentor surgiu por volta de 800 aC na antiga Greacutecia mais especificamente

na Odisseacuteia de Homero O poema eacutepico pertinente agrave Mitologia Grega relata as aventuras e as

batalhas vividas pelo rei Odisseu (Ulisses em latim) Ao partir de Troacuteia para guerra Odisseu

confiou a guarda de seu filho Telecircmaco a Mentor seu amigo (ENSHER MURPHY 1997)

Mentor passou a ser o responsaacutevel pela preparaccedilatildeo de Telecircmaco para ser o sucessor de seu

pai Mentor natildeo ocupou lugar de destaque na obra de Homero Entretanto em 1699 Franccedilois

de la Mothe-Fenelon fez uma releitura da Odisseacuteia e atribuiu a Mentor a condiccedilatildeo de segundo

pai professor orientador e guia de Telecircmaco Atraveacutes de Fenelon escritor e educador a

figura de Mentor tornou-se conhecida e relevante e em 1750 a palavra mentor jaacute constava

nos dicionaacuterios contendo o seguinte significado conselheiro saacutebio protetor e financiador

(GEHRINGER 2002) Apesar de a mentoria ter surgido em tempos muito distantes a

sistematizaccedilatildeo dos estudos nesta aacuterea data de apenas trecircs deacutecadas

22

Em 1978 Levinson et al (apud KLAW et al 2003) caracterizaram a mentoria como a

assistecircncia unilateral de um indiviacuteduo mais graduado e desejoso de partilhar seus

conhecimentos e experiecircncia a um menos experiente visando o desenvolvimento deste O

relacionamento com um mentor propicia ao jovem adentrar com ecircxito o mundo dos adultos e

o mundo dos negoacutecios Higgins e Kram (2001) salientam que mentores natildeo precisam ser

necessariamente pessoas mais graduadas do que os mentorados podendo ser seus colegas

pares ou parentes Hesgtad (1999) declara que o importante eacute que o mentor exerccedila influecircncia

sobre o mentorado

Hunt e Michael (1983) caracterizam o mentor como algueacutem que estaacute comprometido

em prover crescimento pessoal e suporte de carreira ao seu mentorado Higgins e Kram

(2001) consideram que o apoio e a assistecircncia na relaccedilatildeo de mentoria seriam bilaterais Nesta

relaccedilatildeo mentor e mentorado se auxiliariam no processo de desenvolvimento e tal processo

dar-se-ia atraveacutes de redes de mentoria e natildeo apenas de um mentor para um mentorado As

autoras trazem agrave mentoria a perspectiva do desenvolvimento de redes no qual o mentorado

dispotildee de vaacuterios mentores

Os Estados Unidos e parte da Europa tecircm demonstrado interesse cientiacutefico e

desenvolvido pesquisas sobre o tema Estas pesquisas tecircm sido voltadas para a aacuterea

organizacional na qual a mentoria se destina a jovens que ingressam na organizaccedilatildeo e satildeo

acompanhados por um secircnior Entretanto a mentoria tambeacutem pode ser utilizada na aacuterea

educacional e dirigir-se a estudantes como ocorre por exemplo no sistema de escola puacuteblica

da cidade de Nova Iorque e na Austraacutelia (ZEY 1998) Acerca da importacircncia da mentoria no

acircmbito educacional Astin (1977) defende que alguns estudantes ao serem mentorados podem

se sentir mais encorajados e se envolver mais com os estudos e aprendizado uma vez que o

mentor pode ser um referencial para tal

23

A mentoria voltada para crianccedilas seria de acordo com Brody (1991 apud JACKSON

2002) um relacionamento entre um adulto e uma crianccedila visando facilitar o crescimento

pessoal educacional e social desta Nos EUA tem crescido o nuacutemero de programas de

mentoria com foco na aacuterea social visando atender agraves minorias ou aos jovens adolescentes e

crianccedilas com risco para delinquumlecircncia DuBois et al (2002) realizaram uma meta-anaacutelise

buscando levantar os efeitos de 55 programas de mentoria voltados para juventude Estes

programas diferiam no curriacuteculo No entanto a grande maioria enfatizava o relacionamento

entre um jovem problemaacutetico e um adulto mais experiente O objetivo era o de ajudar o jovem

a resolver satisfatoriamente as dificuldades da vida (KEATING et al 2002) Pode-se entatildeo

afirmar que a mentoria eacute o relacionamento entre um adulto e um jovem com o qual o mentor

estaacute comprometido Este comprometimento visa o desenvolvimento pessoal e profissional de

seu mentorado (KRAM 1985)

Atualmente os mentores naturais pais avoacutes e tios nem sempre estatildeo disponiacuteveis para

o adolescente As famiacutelias a escola e a comunidade tecircm reduzido drasticamente ao longo

dos anos a disponibilidade de adultos para acompanhar e oferecer suporte aos jovens

(DARLING et al 2002) Estas instituiccedilotildees que ao longo da histoacuteria eram as responsaacuteveis por

prover os jovens de suporte necessaacuterio e de conduccedilatildeo tecircm sofrido mudanccedilas e reduzido sua

capacidade de continuar a prover tal apoio A demanda dos grandes centros urbanos bem

como o ecircxodo rural fizeram com que o nuacutemero de adultos que serviam de liacutederes modelos e

agentes de controle social diminuiacutesse A entrada das matildees no mercado de trabalho e o

aumento das separaccedilotildees conjugais levaram os adolescentes a passar menos tempo com os

pais ficando grande parte do tempo com pares e sem a supervisatildeo de um adulto (HARRIS et

al 2002)

A disponibilidade dos adultos para com as crianccedilas tem diminuiacutedo de tal forma que

mais de 25 das crianccedilas nascem em casas com apenas um dos pais e 50 das crianccedilas

24

vivem a maior parte de sua infacircncia nesta mesma situaccedilatildeo A escassez de adultos para

suportar crianccedilas e adolescentes eacute ainda mais intensa em se tratando de comunidades carentes

(GROSSMAN TIERNEY 1998) Darling et al (2002) verificaram que em muitos casos na

ausecircncia de suporte dos mentores naturais os mentores voluntaacuterios tecircm sido alistados

A literatura aborda as funccedilotildees pertinentes a este relacionamento atraveacutes das quais o

mentor teraacute condiccedilotildees de contribuir com o crescimento de seu mentorado Tais funccedilotildees de

mentoria seratildeo abordadas na proacutexima seccedilatildeo

211 Funccedilotildees de mentoria

Satildeo as funccedilotildees desempenhadas no decorrer da relaccedilatildeo de mentoria Na mentoria

tradicional o mentorado recebe do mentor assistecircncia individual acesso a informaccedilotildees

necessaacuterias feedback encorajamento suporte de carreira e suporte emocional (MULLEN

1998) Kram (1985) agrupou diversas atividades em dois grupos de funccedilotildees desempenhadas

pelo mentor quais sejam suporte de carreira e suporte psicossocial Estas funccedilotildees satildeo

distintas mas inter-relacionadas A relaccedilatildeo de mentoria pode prover os dois tipos de suporte

ou apenas um destes a depender do niacutevel da relaccedilatildeo (RAGINS 1997) No entanto quando

ocorrem as duas funccedilotildees ou seja suporte de carreira e psicossocial a mentoria se torna mais

intensa (KRAM 1983)

Nas seguintes seccedilotildees seraacute apresentado e definido o suporte oferecido pelo mentor ao

seu mentorado tanto em termos de carreira quanto psicossocial

2111 Suporte de carreira

O suporte de carreira inclui a ajuda que o mentor daacute ao mentorado para que este se

firme na organizaccedilatildeo e conheccedila seus meandros preparando-o para a ascensatildeo Este suporte

refere-se tambeacutem agraves atividades que o mentor desenvolve no sentido de auxiliar o mentorado

25

em sua carreira profissional Kram (1985) identifica as seguintes atividades oferta de tarefas

desafiadoras coaching proteccedilatildeo exposiccedilatildeo e visibilidade positiva e patrociacutenio Tais funccedilotildees

satildeo abordadas abaixo

a) Oferta de tarefas desafiadoras

Satildeo as tarefas que o mentor atribui ao mentorado visando o desenvolvimento de

competecircncias especiacuteficas Juntamente com estas tarefas o mentor provecirc treinamento

teacutecnico capacitando-o a superar desafios O mentor tambeacutem fornece feedback ao

mentorado sobre seu desempenho A oferta de tarefas desafiadoras prepara o

mentorado para posiccedilotildees de maior responsabilidade

b) Coaching

Ocorre quando o mentor tal qual um teacutecnico transmite conhecimento ao mentorado

sobre como ldquonavegarrdquo no mundo dos negoacutecios O mentor sugere estrateacutegias e

transmite informaccedilotildees ao mentorado Chao et al (1992) defendem que o coach

preocupa-se apenas com a tarefa e as informaccedilotildees necessaacuterias para sua realizaccedilatildeo natildeo

desenvolvendo o interesse para com a carreira do jovem aprendiz Entretanto como

observam Azevedo e Dias (2002) o mentor em algumas ocasiotildees realiza o coaching

por exemplo quando orienta o mentorado com respeito ao desenvolvimento de

habilidades especiacuteficas para o cumprimento de determinada tarefa

c) Proteccedilatildeo

Ocorre quando o mentor se coloca na posiccedilatildeo de um escudo protegendo seu

mentorado O mentor pode assumir determinadas falhas de seu mentorado ou natildeo

permitir que elas se tornem conhecidas A proteccedilatildeo tende a ocorrer com mais

frequumlecircncia quando o mentorado ainda natildeo apresenta resultados dignos de exposiccedilatildeo

Klaw et al (2003) afirmam que o mentor pode inclusive advogar em nome de seus

mentorados adolescentes

26

d) Exposiccedilatildeo e visibilidade positiva

Ocorre quando o mentor daacute ao mentorado condiccedilotildees de demonstrar seu potencial agraves

pessoas de mais alto niacutevel facilitando futuras promoccedilotildees O mentor expotildee

positivamente o mentorado

e) Patrociacutenio

O patrociacutenio acontece quando o mentor indica formal ou informalmente o mentorado

para promoccedilatildeo Ele viabiliza a ascensatildeo de seu mentorado atraveacutes desta indicaccedilatildeo ou

quando propicia os recursos necessaacuterios para o desenvolvimento profissional de seu

mentorado

Estas satildeo as atividades que o mentor desempenha no sentido de viabilizar o

desenvolvimento profissional do mentorado Seguem abaixo as funccedilotildees psicossociais atraveacutes

das quais o mentor desenvolve atividades que contribuem com o crescimento pessoal de seu

protegido

2112 Suporte psicossocial

As funccedilotildees de suporte psicossocial estatildeo mais associadas ao desenvolvimento pessoal

do mentorado do que propriamente ao seu desenvolvimento profissional O suporte

psicossocial afeta a relaccedilatildeo do mentorado consigo mesmo e com as pessoas com as quais se

relaciona O desenvolvimento desta funccedilatildeo iraacute depender da confianccedila existente na relaccedilatildeo De

acordo com Kram (1985) o apoio psicossocial diz respeito ao suporte psicoloacutegico e social que

o mentor daacute ao mentorado As atividades que compotildeem este suporte satildeo amizade aceitaccedilatildeo e

confirmaccedilatildeo aconselhamento e modelagem de papeis Tais atividades satildeo expostas a seguir

a) Amizade

Ocorre quando a relaccedilatildeo de mentoria daacute ao mentorado a sensaccedilatildeo de bem estar de

ligaccedilatildeo e de ser compreendido por seu mentor O coleguismo facilita ao mentorado

27

desenvolver relacionamento com pessoas de niacutevel mais elevado do que ele Esta

amizade contribui tambeacutem para o aumento da autoconfianccedila do mentorado

b) Aceitaccedilatildeo e confirmaccedilatildeo

A aceitaccedilatildeo por parte do mentor faz com que o mentorado se sinta seguro inclusive

para assumir riscos e aceitar desafios

Dados qualitativos de estudos feitos por Style e Morrow (1992) demonstraram que

relacionamentos voltados para juventude satildeo mais eficazes quando o adulto pode

compreender as dificuldades enfrentadas por seus mentorados bem como respeitar e

aceitar sua famiacutelia classe social e cultura

c) Aconselhamento

Ocorre quando o mentorado ao falar de suas duacutevidas medos e ansiedades tem no

mentor um conselheiro algueacutem que o escuta e lhe daacute feedback Ao desempenhar esta

funccedilatildeo o mentor pode se valer de suas proacuteprias experiecircncias e dilemas enfrentados no

iniacutecio de sua carreira

d) Modelagem de papeacuteis

A modelagem ocorre quando o mentorado vecirc em seu mentor sua proacutepria imagem

idealizada Neste caso os comportamentos os valores e as atitudes do mentor satildeo

exemplos a serem seguidos A partir desta identificaccedilatildeo o mentorado passa a admirar

respeitar e imitar seu mentor Scandura (1992) considera que o fato de o mentor ser

um modelo para o mentorado estaria em uma terceira funccedilatildeo da mentoria distinta de

suporte psicossocial No entanto para efeito deste trabalho tal fator seraacute considerado

como pertinente ao suporte psicossocial uma vez que se tomou por base o modelo

proposto por Kram (1985) O mentorado pode ver seu mentor como representante do

seu proacuteprio futuro (RAGINS 1997) No caso de jovens e adolescentes os adultos satildeo

vistos como ideais com quem aqueles aprenderatildeo determinados comportamentos de

28

quem iratildeo receber colaboraccedilotildees sobre carreiras potenciais e com quem iratildeo

desenvolver habilidades especiacuteficas (RHODES et al 2002) Com relaccedilatildeo agraves

implicaccedilotildees deste aprendizado Hartmam e Harris (1992) encontraram que estudantes

modelam seu estilo de gerenciamento baseados no estilo de lideranccedila da pessoa que

admiravam quando mais novos Por sua vez Zacharatos et al (2000) em um estudo

sobre lideranccedila transformacional observaram que o desenvolvimento dos

comportamentos de lideranccedila se daacute na adolescecircncia e que comportamentos aprendidos

nesta fase tendem a ser estaacuteveis Finalmente Krosnick e Alwin (1989) defendem que

assim como os comportamentos as atitudes adquiridas durante a adolescecircncia tendem

a permanecer na vida adulta

Especificamente em se tratando de mentoria voltada para jovens e adolescentes Klaw

et al (2003) observaram as implicaccedilotildees e possibilidades de mudanccedila de comportamento do

mentorado ao se ter no mentor um modelo

os mentores podem servir como exemplos concretos de realizaccedilatildeo educacional e ocupacional demonstrando as qualidades que os adolescentes podem desejar imitar O adolescente pode adotar comportamentos novos observando e comparando seu proacuteprio desempenho ao de seu mentor (p225)

Nesta seccedilatildeo foram apresentadas as funccedilotildees de mentoria ou seja suporte de carreira e

suporte psicossocial Na sequumlecircncia seratildeo abordadas as fases pelas quais o relacionamento se

desenvolve ateacute chegar agrave redefiniccedilatildeo

212 Fases da relaccedilatildeo mentoria

Dando continuidade agraves caracteriacutesticas da relaccedilatildeo de mentoria seratildeo abordadas as fases

pertinentes a esse relacionamento Vale salientar que a relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas e

adolescentes de risco podem ou natildeo apresentar estaacutegios semelhantes agrave mentoria desenvolvida

no acircmbito da organizaccedilatildeo (RHODES et al 2002)

29

Da perspectiva organizacional Kram (1983) sugere que a mentoria ocorre geralmente

em quatro fases distintas mas natildeo riacutegidas Satildeo elas

bull Iniciaccedilatildeo - esta fase ocorre no inicio da relaccedilatildeo na qual o mentor eacute admirado e

respeitado pelo mentorado O mentor reconhece o mentorado como algueacutem com

potencial e com quem iraacute desenvolver um trabalho agradaacutevel O mentorado

tambeacutem eacute visto pelo mentor como algueacutem que lhe proveraacute assistecircncia teacutecnica e que

seraacute beneficiado com seus conselhos uma vez que o mentor tem mais experiecircncia

de vida Estas fantasias iniciais seratildeo responsaacuteveis por orientar as expectativas

presentes na relaccedilatildeo de mentoria

bull Cultivo - nesta fase as expectativas surgidas no iniacutecio da relaccedilatildeo iratildeo defrontar-se

com a realidade do contato O mentor proveraacute o mentorado com as funccedilotildees de

carreira e psicossociais Kram (1983) salienta que o suporte de carreira vai

depender das tarefas e da experiecircncia do mentor No entanto o suporte

psicossocial estaacute mais fortemente relacionado agrave confianccedila e agrave mutualidade que

houver na relaccedilatildeo Eacute nesta fase de cultivo que as funccedilotildees da mentoria seratildeo

plenamente desenvolvidas

bull Separaccedilatildeo - ocorre quando a natureza do relacionamento eacute alterada por mudanccedilas

no contexto social ou organizacional Este periacuteodo eacute marcado por ansiedade em

que o mentorado sente necessidade de autonomia e independecircncia A separaccedilatildeo

ocorre estruturalmente e psicologicamente e a mentoria deixa de ocupar lugar de

destaque na vida de ambos mentor e mentorado

bull Redefiniccedilatildeo - a ansiedade da separaccedilatildeo eacute superada e o relacionamento eacute

resignificado ou termina Nesta fase a mentoria pode se tornar apenas um

relacionamento de amizade com encontros esporaacutedicos e informais e o mentor

30

pode ainda oferecer algum tipo de apoio mas de forma mais distante e sem a

frequumlecircncia de outrora

Abordadas algumas caracteriacutesticas da mentoria tais como suas funccedilotildees e fases

seguem-se os tipos de mentoria visando enriquecer a compreensatildeo de como se daacute esta

relaccedilatildeo

213 Tipos de mentoria

A relaccedilatildeo de mentoria conforme abordado anteriormente eacute algo que emerge

naturalmente entre uma pessoa mais experiente e um novato A mentoria pode ser

caracterizada como uma relaccedilatildeo intrinsecamente informal No entanto devido aos benefiacutecios

alcanccedilados por esta relaccedilatildeo intenta-se reproduzi-la formalmente em uma escala mais ampla e

com maior controle Neste caso tem-se a mentoria formal uma relaccedilatildeo mais estruturada e que

busca atingir os benefiacutecios para o mentor mentorado organizaccedilatildeo e sociedade resultantes da

mentoria informal ou natural Segue abaixo uma maior explicitaccedilatildeo do que vem a ser a

mentoria informal e a formal

2131 Mentoria informal

Eacute a que nasce espontaneamente por iniciativa dos indiviacuteduos de acordo com

necessidades e interesses pessoais O mentor escolhe seu mentorado agraves vezes por ver-se nele

quando jovem O mentorado por sua vez tambeacutem escolhe para seu mentor geralmente

algueacutem a quem tem por modelo A seleccedilatildeo do mentor eacute feita frequumlentemente com base na

identificaccedilatildeo do mentorado com seu possiacutevel mentor (RAGINS 1997) Tal identificaccedilatildeo faz

com que a mentoria informal seja considerada mais poderosa do que a formal (NOE 1998)

Na mentoria informal natildeo haacute uma estruturaccedilatildeo da relaccedilatildeo e a frequumlecircncia dos encontros parte

da necessidade Este tipo de mentoria pode se estender por longos periacuteodos

31

Decorrente do sucesso obtido atraveacutes da mentoria informal esforccedilos tecircm sido

desenvolvidos para reproduzi-la formalmente conforme seraacute abordado na proacutexima seccedilatildeo

2132 Mentoria formal

A mentoria formal natildeo eacute espontacircnea como a informal Antes ocorre por iniciativa

encaminhamento e estruturaccedilatildeo da organizaccedilatildeo Sua duraccedilatildeo geralmente varia de seis meses a

um ano e a frequumlecircncia dos encontros eacute preacute-estabelecida mediante contrato firmado entre as

partes (MURRAY 2001)

Na mentoria formal a motivaccedilatildeo para ser mentor pode estar associada ao fato de o

mentor ser visto como bom cidadatildeo organizacional e ao reconhecimento que pode lhe trazer o

fato de ser mentor

Tendo sido abordado o conceito de mentoria suas funccedilotildees as fases pelas quais passa a

relaccedilatildeo e os tipos de mentoria faz-se necessaacuterio analisar alguns fatores que contribuem para o

ecircxito desta relaccedilatildeo Tais fatores seratildeo abordados nas seguintes seccedilotildees

214 Fatores relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria formal

Os programas de mentoria voltados para jovens e adolescentes por se tratarem de

programas de mentoria formal necessitam seguir alguns criteacuterios na busca de se atingir os

objetivos e os benefiacutecios desejados Como jaacute referido os programas de mentoria formal

intentam reproduzir artificialmente as caracteriacutesticas essenciais dos relacionamentos naturais

de suporte Eacute importante ressaltar no entanto que programas mal orientados podem trazer

efeitos negativos na vida do mentorado (DUBOIS et al 2002) Ragins et al (2000) consideram

que em relaccedilatildeo ao niacutevel de satisfaccedilatildeo do mentorado o relacionamento de mentoria estaria em

um continuum no qual em um extremo ficaria o relacionamento altamente satisfatoacuterio e no

outro o relacionamento nocivo ou prejudicial O relacionamento localizado no meio do

32

continuum seria considerado pelas autoras como marginal mentoring ou seja um

relacionamento de mentoria no qual o mentor seria apenas ldquobom o suficienterdquo Os fatores

relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo devem ser observados na tentativa de evitar que o

relacionamento torne-se nocivo ou ateacute mesmo destrutivo Tais fatores visam fazer com que a

relaccedilatildeo seja satisfatoacuteria e beneacutefica

Na tentativa de potencializar os benefiacutecios da mentoria faz-se necessaacuterio considerar os

seguintes fatores seleccedilatildeo de mentores e mentorados treinamento supervisatildeo e

acompanhamento do programa frequumlecircncia dos encontros e a duraccedilatildeo da relaccedilatildeo Estes fatores

relacionados com o ecircxito da relaccedilatildeo seratildeo detalhados nas seccedilotildees seguintes

2141 Seleccedilatildeo de mentores e mentorados

Visando o sucesso do relacionamento de mentoria haacute algumas recomendaccedilotildees

relevantes sobre como combinar mentor e mentorado Fatores como dados demograacuteficos raccedila

e gecircnero devem ser considerados Em se tratando de mentoria com crianccedilas e adolescentes

faz-se necessaacuterio um cuidado ainda maior na seleccedilatildeo do mentor uma vez que

comportamentos e atitudes aprendidos na infacircncia e adolescecircncia tendem a perdurar por toda

a vida

O Big Brothers Big Sisters (programa norte-americano de mentoria voltado para

crianccedilas e adolescentes com risco para delinquumlecircncia) ao fazer o recrutamento dos voluntaacuterios

para agirem como mentores faz um levantamento da vida destes para saber suas intenccedilotildees e

sua vida pregressa Em um programa de mentoria voltado para crianccedilas delinquumlentes os

mentores natildeo poderiam ter qualquer tipo de envolvimento criminal (JACKSON 2002) A

investigaccedilatildeo da vida pregressa do mentor tem o objetivo de garantir a seguranccedila do

mentorado e verificar a possibilidade de comprometimento do mesmo para com o programa

Tal investigaccedilatildeo eacute importante inclusive para assegurar que o mentor poderaacute ser um modelo

33

positivo com condiccedilotildees de influenciar beneficamente o mentorado (GROSSMAN TIERNEY

1998) Os autores sugerem que se considere tambeacutem o interesse dos pais em que a crianccedila ou

adolescente tenha um mentor uma vez que o apoio da famiacutelia eacute um fator de sucesso para o

programa Depois de feita a seleccedilatildeo deve-se fazer um treinamento e acompanhar o

desenvolvimento do relacionamento Tais fatores seratildeo observados na proacutexima seccedilatildeo

2142 Treinamento supervisatildeo e acompanhamento do programa

de mentoria

Assim como a seleccedilatildeo a supervisatildeo deve ser cuidadosa Eacute necessaacuterio fazer um

monitoramento do programa e deve-se comunicar claramente e acordar as expectativas o

tempo do relacionamento a frequumlecircncia dos encontros e os objetivos O mentor deve contar

com apoio constante da organizaccedilatildeo durante todo o programa (DUBOIS et al 2002) O

mentor deve receber treinamento e orientaccedilatildeo e deve haver uma supervisatildeo incluindo

relatoacuterios sobre os encontros (GROSSMAN TIERNEY 1998)

No programa de mentoria voltado para crianccedilas delinquumlentes pesquisado por Jackson

(2002) a supervisatildeo foi feita em trecircs niacuteveis a primeira se deu em termos de conhecimentos

na qual um psicoacutelogo cliacutenico transmitia informaccedilotildees sobre psicopatologia causas e

caracteriacutesticas da crianccedila delinquumlente bem como teacutecnicas de intervenccedilatildeo No segundo niacutevel

foram feitos encontros com o psicoacutelogo para falar acerca das dificuldades encontradas e as

possibilidades de soluccedilatildeo O terceiro e uacuteltimo niacutevel foi o da supervisatildeo que ocorreu em

grupo no qual os diversos mentores discutiram suas experiecircncias Vale ressaltar que o

programa apresentou resultados positivos na vida dos que dele participaram

Fenney et al (2000 apud RHODES et al 2002) afirmam que adultos bem sucedidos

em trabalhar como mentores de jovens satildeo os que tecircm empatia por eles recordando-se de

como eram no passado A participaccedilatildeo dos pais durante o programa de mentoria seja para

34

apoiar seus filhos seja para receber sustentaccedilatildeo tem sido relacionada positivamente ao

sucesso do programa (FRECKNALL LUKS 1992) Outro fator que leva ao ecircxito da relaccedilatildeo

de mentoria eacute a frequumlecircncia com que ocorrem os encontros fato este abordado na proacutexima

seccedilatildeo

2143 Frequumlecircncia dos encontros

Alguns estudos tecircm sido feitos com ecircxito no sentido de relacionar a frequumlecircncia dos

encontros com o sucesso da relaccedilatildeo principalmente em se tratando de mentorados

adolescentes com risco para delinquumlecircncia (KEATING et al 2002) Na mesma linha Azevedo

e Dias (2002) sugerem que a influecircncia do mentor na carreira do mentorado pode ser

diminuiacuteda quando se dispotildee de pouco tempo para a relaccedilatildeo

Keating et al (2002) defendem que a frequumlecircncia de uma ou duas vezes por mecircs eacute

insuficiente para prover suporte para jovens com risco para delinquumlecircncia fazendo com que o

relacionamento natildeo tenha ecircxito As autoras afirmam que programas para jovens e

adolescentes com risco devem ter frequumlentes contatos face-a-face para serem realmente

efetivos O encontro semanal eacute sugerido Segue na proacutexima seccedilatildeo outro fator de ecircxito para a

relaccedilatildeo de mentoria a saber a duraccedilatildeo do relacionamento entre mentor e mentorado

2144 Duraccedilatildeo da relaccedilatildeo de mentoria

A maioria dos benefiacutecios da relaccedilatildeo emerge de um relacionamento de mentoria que

perdure por um ano ou mais Ou seja os benefiacutecios estatildeo associados ao amadurecimento da

relaccedilatildeo (GROSSMAN RHODES 2002) Os autores consideram que relacionamentos curtos

estatildeo associados com efeitos negativos para a juventude de risco

Adolescentes cujo relacionamento de mentoria se estende por um ano ou mais

apresentam melhores resultados educacionais psicossociais e comportamentais Estes

35

resultados satildeo positivamente relacionados com o tempo da relaccedilatildeo Em outras palavras na

medida em que se reduz o tempo de mentoria diminui tambeacutem a apresentaccedilatildeo de resultados

positivos atribuiacutedos agrave relaccedilatildeo (GROSSMAN RHODES 2002)

Frecnall e Luks (1992) encontraram em suas pesquisas que o tempo de duraccedilatildeo da

relaccedilatildeo de mentoria tem sido um fator determinante de ecircxito 70 de resultado positivo com

crianccedilas de um a dois anos de programa e 90 com crianccedilas com dois a trecircs anos de

participaccedilatildeo em um programa de mentoria

O exposto revela a teoria vigente acerca da relaccedilatildeo de mentoria das funccedilotildees

desempenhadas na relaccedilatildeo das fases pelas quais ela passa dos tipos de mentoria

identificados bem como de alguns fatores que se observados contribuem para o sucesso da

relaccedilatildeo Faz-se entatildeo pertinente a seguinte questatildeo norteadora em uma comunidade carente

brasileira ateacute que ponto a mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes apresenta as

caracteriacutesticas definidas pela teoria

Mencionadas as caracteriacutesticas da relaccedilatildeo de mentoria abordar-se-aacute a seguir os

benefiacutecios desta relaccedilatildeo para o mentorado e para o mentor bem como seratildeo considerados

tambeacutem os benefiacutecios sociais desta relaccedilatildeo

22 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria

Satildeo muitos os benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria Zey (1998) revela que a relaccedilatildeo de

mentoria na organizaccedilatildeo pode ser extremamente beneacutefica para o mentorado para o mentor e

para a proacutepria empresa Os benefiacutecios da mentoria foram amplamente estudados no que

concerne agrave mentoria voltada para a organizaccedilatildeo No entanto pretende-se aqui estabelecer um

paralelo entre os benefiacutecios da mentoria organizacional e os da mentoria voltada para jovens e

adolescentes de risco Tais benefiacutecios foram verificados atraveacutes de pesquisas mas ainda natildeo

se apresentam sistematizados Como beneficiaacuterios diretos da relaccedilatildeo de mentoria pode-se citar

36

o mentor o mentorado e a organizaccedilatildeo Entretanto o alcance de um programa bem

estruturado pode se estender para a famiacutelia e para a sociedade

Nas seccedilotildees seguintes seratildeo apresentados os benefiacutecios da mentoria para o mentorado

para o mentor e posteriormente seratildeo abordados os benefiacutecios sociais desta relaccedilatildeo

221 Benefiacutecios da mentoria para o mentorado

O mentorado pode ser muito beneficiado atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria O mentor ao

fornecer suporte psicossocial e de carreira auxilia o mentorado em seu crescimento pessoal o

que inclui o desenvolvimento emocional o social e o de carreira Tal suporte facilita transiccedilatildeo

do adolescente para a fase adulta (RHODES et al 2002)

A literatura apresenta os seguintes benefiacutecios para o mentorado

a) Aumento da auto-estima

Grossman e Tierney (1998) verificaram que os jovens com risco para delinquumlecircncia que

foram acompanhados por mentores sentiram-se mais confiantes em suas habilidades para com

as tarefas escolares do que os jovens natildeo mentorados Harter (1982) demonstrou que se sentir

competente leva os jovens a demonstrarem melhor desempenho

O aumento da auto-estima foi verificado em adolescentes e jovens ao se relacionarem

com um mentor (FRECKNALL LUKS 1992) Alguns programas de mentoria tecircm

favorecido o aumento da auto-estima tambeacutem em crianccedilas com comportamentos

autodestrutivos (JACKSON 2002)

b) Maior interaccedilatildeo social e com a famiacutelia

Outro benefiacutecio para o mentorado decorrente do suporte que recebe na relaccedilatildeo de

mentoria eacute a atratividade social Pessoas com alto grau de suporte social satildeo vistas como mais

atrativas tecircm maior conhecimento relativo a relacionamentos sociais e satildeo menos

manipulaacuteveis do que as com baixo suporte social (SARASON et al 1985) Frecknall e Luks

37

(1992) verificaram que adolescentes assistidos por um mentor apresentaram maior

envolvimento com a famiacutelia e amigos do que os natildeo mentorados

O fato de o mentor ser um modelo de sucesso estimula ainda a melhora da

autopercepccedilatildeo bem como de atitudes e comportamentos do adolescente mentorado Haacute

evidecircncias de que a influecircncia positiva do mentor pode se estender aos relacionamentos mais

proacuteximos do adolescente operando mudanccedilas inclusive na vida daqueles que com ele

convivem (WALKER FREEMAN 1996)

c) Maior progresso da carreira e aumento da responsabilidade

Mentorados recebem mais promoccedilotildees tecircm melhor desempenho e mais satisfaccedilatildeo no

trabalho do que os natildeo mentorados (CHAO et al 1992) Os mentorados satildeo beneficiados

pois recebem melhores pagamentos dos que os que natildeo dispotildeem de um mentor (MULLEN

1998) Mentorados tecircm na mentoria uma contribuiccedilatildeo potencial para o desenvolvimento

pessoal e profissional sendo tambeacutem um meio para adentrar o mundo dos negoacutecios (KRAM

1983)

Para o mentorado jovem e adolescente o mentor fornece instruccedilatildeo e incentivo

facilitando a transiccedilatildeo da adolescecircncia para o mundo adulto (RHODES et al 2002) Os

presidentes de empresas mais bem sucedidos afirmaram que para tal tiveram a influecircncia de

mentores em sua vida profissional (FAGENSON 1989) Liacutederes mais competentes e

solucionadores de problemas satildeo pessoas consideradas com alto suporte social (SARASON et

al 1986)

O mentorado apresenta maior crescimento profissional e melhor desenvolvimento da

carreira (ZEY 1998) Mentorados tecircm maior satisfaccedilatildeo com a carreira do que os que natildeo

possuem mentor (FAGENSON 1989) Pessoas com alto suporte psicossocial satildeo mais

extrovertidas e apresentam menos comportamentos neuroacuteticos hostilidade solidatildeo e

depressatildeo (COYNE 1978 apud SARASON et al 1986)

38

Outro beneficio para o mentorado diz respeito agrave definiccedilatildeo da identidade profissional e

senso de competecircncia (KRAM ISABELLA 1985) Especificamente com relaccedilatildeo a mentoria

voltada para adolescentes estes apresentaram melhor rendimento escolar e aumento da

responsabilidade (FRECKNALL LUKS 1992)

Grossman e Tierney (1998) ao avaliarem o impacto do Programa Big Brother Big

Sister natildeo haviam sido otimistas em acreditar que o programa aumentasse o rendimento

escolar dos alunos participantes pois conforme verificado em pesquisas anteriores o

aproveitamento escolar e a obtenccedilatildeo de graus dependem de um acompanhamento estaacutevel e

geralmente natildeo satildeo afetadas por uma relaccedilatildeo de mentoria que natildeo tenha foco educacional

Entretanto apesar de o programa Big Brother Big Sister natildeo fornecer diretamente apoio

escolar o rendimento escolar dos mentorados mostrou-se superior As ausecircncias ou faltas agrave

escola foram reduzidas Os autores consideraram que tal fato foi consequumlecircncia de os

mentores (todos acadecircmicos) serem tidos como exemplos valorizarem os estudos e

transmitirem uma visatildeo otimista de futuro para seus mentorados

d) Melhor enfrentamento das adversidades visatildeo otimista da vida e perspectivas

positivas de futuro

Jovens com alto suporte social satildeo mais otimistas quanto ao futuro uma vez que

mentores os auxiliam em relaccedilatildeo agraves suas perspectivas (HARRIS et al 2002 KASHANI et al

1989) Indiviacuteduos com alto suporte social aleacutem de mais atrativos e mais haacutebeis socialmente

satildeo mais otimistas quanto aos eventos da vida do que os que manifestam ter baixo suporte

social (SARASON et al 1985)

Pessoas com baixo suporte social satildeo mais retraiacutedas desatentas tecircm menos esperanccedila

quanto ao futuro e satildeo mais prejudiciais aos outros do que as que tecircm alto niacutevel de suporte

social (KASHANI et al 1989) O sucesso dos adolescentes que superaram momentos de

39

adversidades inclui frequumlentemente a presenccedila de pelo menos um mentor que lhe proveu tal

suporte (RHODES et al 2002)

Benefiacutecios tambeacutem satildeo apresentados em se tratando de jovens com risco para

delinquumlecircncia Nestes o desenvolvimento pessoal pode ser percebido frequumlentemente quando o

mentor eacute um modelo positivo para o mentorado Este fato auxilia na reduccedilatildeo do estresse

diaacuterio e provecirc condiccedilotildees de o mentorado rever sua percepccedilatildeo acerca de seus relacionamentos

mudando de uma visatildeo negativa destes para uma positiva (MAIN et al 1985 apud

GROSSMAN RHODES 2002)

Eacute particularmente importante a influecircncia positiva que o mentor oferece ao mentorado

na reduccedilatildeo do estresse diaacuterio Sendo um modelo de resoluccedilatildeo de conflitos o mentor auxilia

indiretamente na diminuiccedilatildeo do estresse familiar melhorando ateacute mesmo a interaccedilatildeo do

mentorado com seus proacuteximos Segundo os autores o relacionamento de mentoria pode ter

ainda um efeito corretivo para adolescentes que tiveram experiecircncias negativas no

relacionamento com os pais

Conforme visto pesquisas anteriores demonstraram que o mentorado pode ser muito

beneficiado atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria Cabe aqui portanto a segunda questatildeo norteadora

deste trabalho em um contexto brasileiro ateacute que ponto os mentorados carentes estudados

tecircm desfrutado dos benefiacutecios da mentoria apontados pela literatura

Considerados os benefiacutecios da mentoria para o mentorado cabe expor a forma pela

qual a mentoria beneficia o mentor fato abordado na seccedilatildeo seguinte

222 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentor

A mentoria pode proporcionar ao mentor diversos benefiacutecios Os mentores podem ter

no mentorado uma versatildeo de si proacuteprios quando mais jovens como se o mentorado fosse

representante de seu passado (RAGINS 1997) De acordo com a literatura os mentores

40

podem ser beneficiados com esta relaccedilatildeo atraveacutes da realizaccedilatildeo pessoal da motivaccedilatildeo e do

reconhecimento Segue-se a explanaccedilatildeo de tais fatores

a) Realizaccedilatildeo pessoal

O fato de ser mentor daacute ao indiviacuteduo um senso de generosidade ao contribuir com as

geraccedilotildees futuras Satisfaccedilatildeo interna e reconhecimento organizacional lealdade do mentorado

apreciaccedilatildeo do grupo renovaccedilatildeo da carreira e melhor performance no trabalho satildeo benefiacutecios

da mentoria para o mentor Mentores podem obter mais conhecimento empatia e capacidade

de se relacionar com outros grupos do que aqueles que natildeo satildeo mentores (RAGINS 1997)

Em se tratando de mentores de jovens e adolescentes com risco para delinquumlecircncia

Shields (2001) verificou que a mentoria propiciou ao mentor um sentimento de recompensa

ao observar as mudanccedilas positivas ocorridas no comportamento de seus mentorados Jackson

(2002) observou em seu estudo que mentores de adolescentes delinquumlentes relataram como

sendo gratificante o fato de terem atraveacutes da mentoria uma oportunidade de ajudar estas

pessoas

b) Motivaccedilatildeo

O mentor pode redirecionar sua energia para a criatividade e a accedilatildeo produtiva num

periacuteodo que dependendo do indiviacuteduo pode ser entendido como de estagnaccedilatildeo Neste caso a

mentoria pode significar estiacutemulo e desafio (ZEY 1998)

c) Reconhecimento

Mentores podem ter a confianccedila e serem amados por seus mentorados (KLAW et al

2003) Ganham suporte teacutecnico e psicoloacutegico e satisfaccedilatildeo interna ao fazer com que um novato

seja capaz de ldquonavegarrdquo no mundo dos negoacutecios Os mentores ganham respeito de seus

colegas ao desenvolver um jovem talento para organizaccedilatildeo (KRAM ISABELLA 1985)

41

Assim a terceira questatildeo norteadora deste trabalho eacute ateacute que ponto um projeto de

mentoria voltado para crianccedilas e adolescentes carentes no Recife oferece os benefiacutecios de

realizaccedilatildeo pessoal motivaccedilatildeo e reconhecimento para os mentores

Considerados os benefiacutecios da mentoria para o mentorado e para o mentor seratildeo

abordados na proacutexima seccedilatildeo os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes desta relaccedilatildeo

223 Benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria

Em se tratando de mentoria voltada para crianccedilas jovens e adolescentes com risco

para delinquumlecircncia aleacutem dos benefiacutecios na vida dos que participam diretamente da relaccedilatildeo a

sociedade tambeacutem pode ser positivamente afetada

Frecknall e Luks (1992) investigaram a avaliaccedilatildeo dos pais acerca do aproveitamento

de seus filhos inseridos em um programa de mentoria voltado para jovens com risco para

delinquumlecircncia Com relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo de 63 dos pais os filhos apresentaram uma grande

melhora em toacutepicos como rendimento escolar comportamento com a famiacutelia

comportamento com os amigos aumento da auto-estima aumento da responsabilidade e

diminuiccedilatildeo de envolvimento em situaccedilotildees problema Paralelamente ao beneficio alcanccedilado

por um adolescente e por sua famiacutelia haacute uma contribuiccedilatildeo indireta para a sociedade na

medida em que diminuem os iacutendices de delinquumlecircncia e de evasatildeo escolar Indiretamente haacute

tambeacutem a reduccedilatildeo da possibilidade de assistencialismo o aumento do iacutendice de alfabetizaccedilatildeo

e o crescimento do IDH (Iacutendice de Desenvolvimento Humano) Com frequumlecircncia aumenta

ainda a mobilidade social e a possibilidade de contribuiccedilatildeo social direta destas crianccedilas

adolescentes e jovens

A teoria aponta a reduccedilatildeo da dependecircncia de poliacuteticas assistencialistas e a diminuiccedilatildeo

da delinquumlecircncia como benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria fatores que seratildeo abordados a

seguir

42

a) Reduccedilatildeo futura da dependecircncia de poliacuteticas assistencialistas

Patterson et al (1989) esclarecem que a expressatildeo ldquosituaccedilatildeo de riscordquo eacute usada

geralmente para descrever

jovens que demonstram problemas comportamentais e emocionais que tecircm dificuldade em desenvolver-se com sucesso Quando adultos estes apresentam alta incidecircncia em desemprego crocircnico divoacutercio problemas fiacutesicos e psiquiaacutetricos envolvimento com drogas tornam-se dependentes de assistecircncia social podendo ainda envolver-se em atividades criminosas (p329) Grifo da pesquisadora

Adolescentes com altas expectativas educacionais de futuro (muitas vezes providas

por um mentor) desenvolvem bons haacutebitos de estudo pensam em fazer curso universitaacuterio e

buscam se envolver em atividades intelectuais extracurriculares Em contrapartida os que

deteacutem baixa expectativa apresentam maior probabilidade de desenvolver comportamentos de

risco (HARRIS et al 2002) Jovens em situaccedilatildeo de risco entre outros fatores satildeo propensos a

depender no futuro de poliacuteticas assistencialistas

b) Diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia

Jovens e adolescentes em situaccedilatildeo de risco satildeo candidatos potenciais a programas de

mentoria Estes podem ser usados como prevenccedilatildeo contra a delinquumlecircncia particularmente na

ausecircncia de adultos que representem figuras positivas ou modelos O mentor pode claramente

desempenhar este papel (RHODES et al 1994)

O risco para delinquumlecircncia natildeo eacute uma questatildeo que dependa apenas de um fator Antes eacute

um conjunto de variaacuteveis que levam o adolescente a apresentar comportamentos delinquumlentes

Ellickson e Mcguigan (2000) ao investigarem os riscos para violecircncia em adolescentes

verificaram que no caso das meninas adolescentes fatores de risco incluem a baixa auto-

estima poucos anos de estudo e baixo niacutevel soacutecio-econocircmico Estes fatores podem ser

revertidos atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria Dornbusch et al (1985) verificaram que

adolescentes que convivem com apenas um dos pais apresentam maior probabilidade de se

43

envolver em comportamentos delinquumlentes e violentos do que os que vivem com ambos os

pais Uma afirmaccedilatildeo destoante eacute a de Larson et al (2001) Eles defendem que crianccedilas e

adolescentes que convivem com apenas um dos pais podem se adaptar bem a esta situaccedilatildeo

natildeo sendo o fato de conviver com apenas um dos pais determinante da delinquumlecircncia Natildeo

obstante essa natildeo eacute a tendecircncia das evidecircncias disponiacuteveis

Caffray e Schneider (2000) por exemplo ao pesquisarem sobre as motivaccedilotildees que

levam o adolescente aos comportamentos de risco citam como influecircncias importantes

sentimentos negativos sobre o relacionamento com os pais pouca comunicaccedilatildeo em casa

baixa coesatildeo familiar reduzido desempenho escolar e baixo suporte social Fatores familiares

estressantes como desemprego violecircncia domeacutestica discoacuterdia entre os pais e divoacutercio estatildeo

positivamente associados com a delinquumlecircncia (FARRINGTON 1987 apud PATTERSON et

al 1989) bem como poucos anos de estudo (DIAS 2003)

De modo geral a literatura sugere que em ambientes de risco jovens que dispotildeem de

suporte atraveacutes de relacionamentos com adultos podem diminuir os efeitos negativos das

adversidades sobre seu desenvolvimento (RHODES et al 1994) A tiacutetulo de exemplo

Jackson (2002) verificou que crianccedilas delinquumlentes ao serem assistidas por um mentor

diminuiacuteram a frequumlecircncia de comportamentos agressivos e de problemas de conduta

DuBois et al (2002) fizeram uma meta-anaacutelise acerca de 55 avaliaccedilotildees dos efeitos de

programas de mentoria voltados para juventude norte-americana Ficou aiacute evidenciado que os

participantes se beneficiam muito com a participaccedilatildeo em tais programas Os programas

diferem em seu conteuacutedo mas a maioria tem como foco a juventude de risco Haacute tambeacutem

programas destinados a filhos que vivem com apenas um dos pais e a minorias eacutetnicas

Quanto aos objetivos os programas avaliados buscavam o desenvolvimento na aacuterea

emocional comportamental educacional e em alguns casos o desenvolvimento profissional

dos mentorados

44

Um exemplo deste tipo de programa pode ser visto em Nova Iorque nos EUA e em

parte do Canadaacute Trata-se de um programa criado em 1904 o Big Brothers Big Sisters of

Ameacuterica (BBBS) que provecirc relacionamento de mentoria para crianccedilas de risco que vivem

com apenas um dos pais O programa eacute voltado para populaccedilatildeo menos favorecida que

apresenta problemas como delinquumlecircncia baixo aproveitamento escolar e baixa auto-estima

(FRECNALL LUKS 1992)

O BBBS emparelha adultos voluntaacuterios (Big Brothers Big Sisters) com crianccedilas e

adolescentes de 6 a 18 anos (Litle Brothers Litle Sisters) Os mentores modelos positivos

devem prover amizade aconselhamento e servir de guia para os mentorados Os encontros satildeo

feitos de duas a quatro vezes por mecircs Cada encontro dura em meacutedia de trecircs a quatro horas

Grossman e Tierney (1998) ao avaliarem o impacto do Big Brothers Big Sisters

levantaram soacutelidas evidecircncias de que a mentoria neste programa teve efeitos positivos e

socialmente importantes na vida dos jovens participantes Os autores compararam dois

grupos homogecircneos um de jovens participantes do programa e um outro de natildeo-participantes

Pocircde-se concluir que com relaccedilatildeo aos comportamentos anti-sociais nos jovens que tinham

mentor a frequumlecircncia de comportamentos agressivos para com outros jovens apresentou

frequumlecircncia 32 menor do que no grupo que natildeo foi assistido pelo programa A probabilidade

de iniciar o uso de drogas foi reduzida em 70 para os jovens que participaram do programa

em relaccedilatildeo aos natildeo participantes

Jackson (2002) tambeacutem realizou um estudo sobre mentoria voltada para adolescentes

delinquumlentes que teve oito meses de duraccedilatildeo Os adolescentes corriam risco de suspensatildeo ou

expulsatildeo da escola em que estudavam devido agrave infraccedilatildeo das normas Dos alunos mentorados

menos de 1 continuou a apresentar problemas de comportamento que comprometiam sua

permanecircncia na escola Os demais no entanto nos uacuteltimos trecircs meses de programa

apresentaram uma reduccedilatildeo meacutedia de 80 nos comportamentos infratores

45

Considerando todo o exposto pode-se afirmar que a mentoria tem se mostrado um

valioso recurso no auxiacutelio educacional de jovens e adolescentes Claramente as experiecircncias

de programas de mentoria com jovens de risco tecircm apresentado resultados positivos A

literatura apresentou alguns benefiacutecios sociais desta relaccedilatildeo em diversos contextos sendo

pertinente a verificaccedilatildeo da influecircncia desta relaccedilatildeo num contexto brasileiro Destaca-se entatildeo

a quarta questatildeo norteadora desta pesquisa quais os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da

relaccedilatildeo de mentoria na vida de crianccedilas e adolescentes de uma comunidade carente do Recife

Foi abordada neste capiacutetulo a literatura acerca da mentoria o conceito o suporte de

carreira e psicossocial oferecido pelo mentor as fases da relaccedilatildeo os fatores responsaacuteveis pelo

ecircxito da mentoria e os benefiacutecios da relaccedilatildeo Segue no capiacutetulo trecircs a metodologia deste

estudo que iraacute expor a forma como foi realizada a pesquisa

46

3 Metodologia

31 Delineamento da pesquisa

A presente pesquisa eacute um estudo de caso definido por Gil (1996) como ldquoestudo

profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos que permite seu amplo e detalhado

conhecimentordquo (p58) O estudo de caso segundo Laville e Dione (1999) pode ser feito com

uma pessoa um grupo uma comunidade um meio uma mudanccedila poliacutetica ou um conflito

A escolha deste tipo de delineamento de pesquisa deu-se devido agrave possibilidade de

avaliar as diversas dimensotildees do problema analisando-o como um todo Em se tratando de

estudo de caso a metodologia requer flexibilidade e portanto natildeo se tem uma estrutura riacutegida

quanto aos passos a seguir Laville e Dione (1999) afirmam que

o pesquisador pode pois mostrar-se mais criativo mais imaginativo tem mais tempo de adaptar seus instrumentos modificar sua abordagem para explorar elementos imprevistos precisar alguns detalhes e construir uma compreensatildeo do caso que leve em conta tudo isso pois ele natildeo mais estaacute atrelado a um protocolo de pesquisa que deveria permanecer o mais imutaacutevel possiacutevel (p156)

Utilizando o modelo proposto por Gil (1996) foram consideradas trecircs fases distintas

no delineamento do estudo delimitaccedilatildeo da unidade-caso coleta de dados anaacutelise e

interpretaccedilatildeo dos dados O estudo de caso se caracteriza como exploratoacuterio-descritivo O

objetivo do estudo exploratoacuterio segundo Selltiz et al (1974) eacute tornar o fenocircmeno conhecido

ou obter uma nova compreensatildeo deste Embora a relaccedilatildeo de mentoria seja um fenocircmeno

conhecido e estudado em outros paises no Brasil pouco se sabe como se daacute efetivamente esta

relaccedilatildeo Em se tratando de mentoria com crianccedilas e adolescentes brasileiros o conhecimento

47

eacute ainda mais escasso Por este motivo o presente estudo eacute exploratoacuterio buscou conhecer

como ocorre a relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas e adolescentes num contexto brasileiro mais

especificamente nordestino Ainda como objetivo de um estudo exploratoacuterio pode-se chegar a

novos conhecimentos sobre o objeto de estudo e a partir dele novos questionamentos e

hipoacuteteses podem emergir tal como abordado por Selltiz et al (1974) O estudo foi descritivo

pois se propocircs a descrever qualitativamente o fenocircmeno estudado (LAKATOS MARCONI

1995) A descriccedilatildeo do programa de reforccedilo foi feita com base na anaacutelise documental nas

notas de campo e nas entrevistas

A coleta de dados foi realizada sob o arcabouccedilo da metodologia qualitativa Tal coleta

deu-se em duas fases que seratildeo expostas nas seccedilotildees seguintes

32 Primeira fase da coleta de dados

A primeira fase da coleta de dados foi realizada na comunidade atraveacutes de um

primeiro contato com algumas matildees de alunos participantes do projeto Esta fase relacionou-

se com uma sondagem do campo para verificar a possibilidade da efetivaccedilatildeo ou natildeo da

pesquisa

321 Objetivo

Como uma primeira fase de coleta foi feita uma sondagem do programa com o intuito

de perceber se havia relaccedilatildeo de mentoria no projeto e caso houvesse quais as funccedilotildees

existentes nesta relaccedilatildeo

48

322 Instrumentos de coleta de dados

Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram a entrevista semi-estruturada

a observaccedilatildeo e as notas de campo conforme se segue

bull Entrevistas semi-estruturadas

A entrevista ldquo natildeo significa uma conversa despretensiosa e neutra uma vez que se

insere como meio de coleta de fatos relatados pelos autores enquanto sujeito-objeto da

pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que estaacute sendo focalizadardquo (NETO 1997

p57) Segundo Laville e Dione (1999) a entrevista semi-estruturada eacute ldquouma seacuterie de

perguntas abertas feitas verbalmente em uma ordem prevista mas na qual o entrevistador

pode acrescentar perguntas de esclarecimentordquo (p188)

Atraveacutes da situaccedilatildeo de interaccedilatildeo que eacute a entrevista buscou-se chegar ao conhecimento

proacuteprio dos sujeitos pesquisados As entrevistas foram semi-estruturadas com perguntas

abertas Minayo (1998) afirma que neste tipo de entrevista ldquoo entrevistado tem a possibilidade

de discorrer o tema proposto sem respostas ou condiccedilotildees preacute-fixadas pelo pesquisadorrdquo

(p108) A teacutecnica de entrevista foi complementada com a praacutetica da observaccedilatildeo fornecendo

assim uma visatildeo mais ampla do objeto em estudo conforme sugere Minayo (1998)

A entrevista conteve os seguintes temas

a) Significado de sucesso escolar

b) Fatores responsaacuteveis pelo ecircxito nos estudos

c) Significado do projeto Educaccedilatildeo eacute Vida na vida da famiacutelia

A entrevista foi realizada com cinco matildees que tinham filhos participando do projeto

A escolha das matildees foi feita por acessibilidade na qual o pesquisador seleciona os

casos a que tem acesso admitindo que estes representam o universo Este tipo de amostragem

49

pode ser aplicado em estudos exploratoacuterios e qualitativos conforme sugere Gil (1999) Foi

levantada a quantidade de pais responsaacuteveis pelas crianccedilas e adolescentes do programa que

natildeo trabalhassem fora de casa ou que o fizessem proacuteximo agrave comunidade e que pudessem

responder agrave entrevista O coordenador do projeto indicou 14 matildees que atendiam a este

requisito De posse dos nomes foi realizado um sorteio e das sorteadas duas natildeo estavam

disponiacuteveis A entrevista foi realizada com cinco matildees Colheram-se alguns dados

demograacuteficos acerca da matildee (ocupaccedilatildeo grau de instruccedilatildeo e situaccedilatildeo conjugal) e da crianccedila

participante do projeto (sexo idade seacuterie e tempo de projeto)

bull Observaccedilatildeo participante ndash feita na comunidade e no programa

Schwartz e Schwartz (1955) definem observaccedilatildeo participante como

um processo pelo qual manteacutem-se a presenccedila do observador numa situaccedilatildeo social com a finalidade de realizar uma investigaccedilatildeo cientiacutefica O observador estaacute em relaccedilatildeo face a face com os observados e ao participar da vida deles no seu cenaacuterio cultural colhe dados Assim o observador eacute parte do contexto sob observaccedilatildeo ao mesmo tempo modificando e sendo modificado por este contexto (p355 apud MINAYO 1998)

Em se tratando de suporte social para crianccedilas Frey e Rothlisberger (1996) sugerem a

observaccedilatildeo direta dos comportamentos o que neste caso pressupotildee a necessidade de

inserccedilatildeo do pesquisador na comunidade e no programa

No caso desta pesquisa a pesquisadora foi tida como observadora A observaccedilatildeo foi

feita atraveacutes durante algumas visitas da pesquisadora agrave comunidade e ao projeto

Nestas pode-se observar as crianccedilas assistidas pelo projeto bem como suas famiacutelias

uma vez que as entrevistas foram realizadas nas casas dos alunos pesquisados

bull Notas de campo

Referem-se agraves observaccedilotildees feitas no campo contendo a descriccedilatildeo das pessoas objetos

lugares fatos atividades e conversas Incluem a anotaccedilatildeo dos sentimentos

50

impressotildees ideacuteias e estrateacutegias que ocorreram agrave pesquisadora durante a observaccedilatildeo

Segundo Bogdan e Biklen (1994) as notas de campo satildeo ldquoo relato escrito daquilo que

o investigador ouve vecirc experencia e pensa no decurso da coleta e refletindo sobre os

dados de um estudo qualitativordquo (p150) Sendo assim as notas de campo tecircm

conteuacutedo tanto descritivo quanto reflexivo

A partir das entrevistas da observaccedilatildeo e das notas de campo pocircde-se verificar que

havia relaccedilatildeo de mentoria no projeto e percebeu-se a existecircncia das funccedilotildees da mentoria tanto

de suporte psicossocial como de carreira Tal fato incentivou a continuidade do estudo uma

vez que a relaccedilatildeo de mentoria se mostrou presente A partir daiacute fez-se necessaacuterio uma segunda

fase de coleta de dados que seraacute exposta a seguir

33 Segunda fase de coleta de dados

331 Objetivos

Tendo sido confirmada a existecircncia da relaccedilatildeo de mentoria no projeto de reforccedilo

buscou-se colher dados capazes de responder agrave seguinte pergunta de pesquisa como se daacute a

mentoria voltada para a educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes em uma comunidade carente do

Recife

332 Instrumentos de coleta de dados

Buscando investigar as especificidades (funccedilotildees fases e fatores de ecircxito) da relaccedilatildeo

de mentoria existentes no projeto e para se conhecer os benefiacutecios desta relaccedilatildeo na vida do

mentor do mentorado e da comunidade foram utilizados os seguintes instrumentos de coleta

51

de dados entrevista documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo observaccedilatildeo participante e notas de campo

Tais instrumentos satildeo considerados a seguir

bull Entrevista semi-estruturada - abordada na primeira fase de coleta de dados

Inicialmente a entrevista foi realizada com o coordenador do projeto buscando

conhecer a histoacuteria deste projeto e sua relaccedilatildeo com ele Posteriormente foram

entrevistadas nove matildees e uma avoacute que satildeo as pessoas responsaacuteveis pelos alunos

selecionados e foi entrevistado tambeacutem um aluno O objetivo destas entrevistas foi

compreender qual a percepccedilatildeo da famiacutelia acerca do projeto e de seus resultados na

vida da crianccedila ou adolescente que dele participa

Foram realizadas entrevistas com os demais colaboradores uma professora

(participante do projeto e de uma escola que fornece bolsa para a comunidade) a

psicoacuteloga e uma dentista visando conhecer a participaccedilatildeo destes no projeto e sua

percepccedilatildeo acerca do mesmo

Finalmente foi realizada entrevista com a coordenadora de uma das escolas que

fornece bolsa para as crianccedilasadolescentes do projeto buscando conhecer sua

percepccedilatildeo acerca do reforccedilo e de seus resultados na vida do aluno participante

bull Observaccedilatildeo participante (abordada na primeira fase)

bull Notas de campo (abordadas anteriormente)

bull Documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo ndash a situaccedilatildeo formal em que ela se encontra contribuindo

para o conhecimento da sua histoacuteria Foram analisados o estatuto e o projeto

pedagoacutegico da instituiccedilatildeo

Abordados os instrumentos de coleta de dados segue a explanaccedilatildeo a respeito dos

sujeitos da pesquisa

52

34 Sujeitos da pesquisa

O programa atende cerca de 80 crianccedilas e adolescentes das quais foram estudadas 13

Inicialmente pretendia-se pesquisar 10 sendo 5 consideradas pelo projeto como bem

sucedidas e 5 consideradas como de natildeo ecircxito Ampliou-se o nuacutemero de casos uma vez que

uma das matildees entrevistadas tem um filho que eacute considerado pelo projeto (e por ela) como de

natildeo-ecircxito e outro que apresenta ecircxito Inicialmente seria levado em consideraccedilatildeo somente o

caso de natildeo-ecircxito mas foram analisados ambos os casos ao inveacutes de apenas o de natildeo ecircxito

buscando compreender o por quecirc de em um uacutenico ambiente atraveacutes de um mesmo projeto

crianccedilas demonstrarem resultados tatildeo diferentes A entrevista natildeo seria dirigida aos alunos

visto se tratar de crianccedilas o que exige preparo do pesquisador com este tipo de sujeito No

entanto no momento da entrevista com um dos responsaacuteveis o aluno estava presente e

contribuiu com a ela Os dados coletados foram aceitos visto se tratar de um adolescente de

17 anos o mais velho dos alunos pesquisados Uma das matildees entrevistadas tem dois filhos no

projeto e suas respostas incluiacuteam frequumlentemente os dois motivo pelo qual ambos foram

considerados ao inveacutes de apenas um O quadro abaixo revela alguns dados dos sujeitos

Nome idade seacuterie tempo de

projeto escola

Afracircnio 9 anos 4a 3 anos Particular Daniel 8 anos 1a 3 anos Particular Almir 9 anos 2a 3 anos Particular Silvia 10 anos 4a 3 anos Particular Nuacutebia 12 anos 5a 3 anos Particular Frederico 12 anos 6a 4 anos Particular Jairo 14 anos 6a 4 anos Particular Walter 17 anos 2ordmano 7 anos Puacuteblica Tito 8 anos 2a 3 anos Particular Helena 10 anos 4a 4 anos Particular Tacircnia 10 anos 4a 7 anos Puacuteblica Nestor 14 anos 1ordmano 4 anos Puacuteblica Faacutebio 12anos 6a 3 anos Puacuteblica

53

Segundo Selltiz et al (1974) no estudo exploratoacuterio natildeo se tem um nuacutemero exato de

respondentes que deveratildeo ser entrevistados Antes o pesquisador no decorrer das entrevistas

verificaraacute que em um determinado ponto as respostas comeccedilam a formar um padratildeo tornam-

se repetitivas A partir daiacute aumentar o nuacutemero de informantes eacute pouco compensador Seguem

na proacutexima seccedilatildeo os criteacuterios utilizados para selecionar os sujeitos

341 Criteacuterios de seleccedilatildeo dos sujeitos

O criteacuterio primordial para seleccedilatildeo das cinco crianccedilas foi o fato de serem consideradas

alunos(as) exemplares em termos de rendimento escolar e comportamento (alunos

considerados pelo projeto como de ecircxito) Os outros cinco foram escolhidos por natildeo

apresentarem bom rendimento escolar eou bom comportamento apesar de estarem no

reforccedilo Neste sentido o coordenador do projeto indicou quem seriam as crianccedilas que se

encaixavam nestes perfis

Selltiz et al (1974) afirmam que em um estudo exploratoacuterio

eacute importante selecionar informantes de forma a assegurar uma representaccedilatildeo de diferentes tipos de experiecircncia Sempre que haja qualquer razatildeo para acreditar que diferentes pontos de vista possam influir no conteuacutedo da observaccedilatildeo deve-se fazer um esforccedilo para incluir variaccedilatildeo de pontos de vista e tipos de experiecircncia (p65)

Ainda segundo estes autores os estudos exploratoacuterios que apresentam maior contraste

podem ser mais uacuteteis em revelar diferentes aspectos do fenocircmeno

Outro criteacuterio utilizado foi o tempo de inserccedilatildeo do aluno no projeto O tempo miacutenimo

foi de dois anos visto que Frecnall e Luks (1992) verificaram em suas pesquisas que o

resultado de um programa de mentoria para crianccedilas que participaram por dois a trecircs anos

obteve 90 de ecircxito A literatura sugere a existecircncia de uma relaccedilatildeo direta entre os benefiacutecios

da mentoria e o tempo da relaccedilatildeo (GROSSMAN RHODES 2002)

54

Abordados os instrumentos de coleta de dados os sujeitos da pesquisa e os criteacuterios

para seleccedilatildeo destes sujeitos Seguem na proacutexima seccedilatildeo os meacutetodos de anaacutelise destes dados

35 Meacutetodos de anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados

Em se tratando de uma pesquisa qualitativa a anaacutelise dos dados jaacute vai sendo realizada

ao longo da coleta A anaacutelise segundo Minayo (1998) tem trecircs finalidades compreender os

dados colhidos confirmar ou natildeo as hipoacuteteses ou responder agraves questotildees elaboradas

previamente e ampliar o conhecimento do fenocircmeno estabelecendo viacutenculos com o contexto

cultural no qual estaacute inserido

O tratamento dispensado agraves entrevistas foi o de anaacutelise de conteuacutedo cujo objetivo

segundo Chizzotti (1998) eacute ldquocompreender criticamente o sentido das comunicaccedilotildees seu

conteuacutedo manifesto ou latente as significaccedilotildees expliacutecitas ou ocultasrdquo (p98) Seguindo-se esta

proposta de anaacutelise o conteuacutedo das entrevistas foi categorizado do texto se extraiacuteram

categorias que de acordo com Bardin (1997) ldquosatildeo rubricas ou classes as quais reuacutenem um

grupo de elementos sob um tiacutetulo geneacuterico agrupamento esse efetuado em razatildeo dos

caracteres comuns destes elementosrdquo (p117) As categorias foram utilizadas para agrupar as

ideacuteias em torno dos conceitos As categorias foram elaboradas antes da coleta de dados

conforme proposto por Gomes (1997) Estas categorias foram levantadas a partir do

referencial teoacuterico apresentado considerando-se toacutepicos relevantes que constituem a relaccedilatildeo

de mentoria e dos benefiacutecios propostos As categorias encontradas refletiram a percepccedilatildeo dos

responsaacuteveis pelos alunos e dos professores sobre o programa e seu resultado na vida das

crianccedilas e adolescentes participantes Vale ressaltar que na medida em que foram sendo

analisados os dados foram sendo incluiacutedas novas categorias natildeo abordadas pela teoria mas

que se fizeram presentes nos discursos

55

O discurso advindo da entrevista foi decomposto conforme sugere Gomes (1997)

formando unidades de registro que podia ser uma palavra ou frase significativa dentro do

conceito que se estava investigando

Minayo (1998) propotildee o meacutetodo de anaacutelise hermenecircutico-dialeacutetico no qual a fala dos

atores deve ser contextualizada

O pesquisador tem que aclarar para si mesmo o contexto de seus entrevistados ou dos documentos a serem analisados Isso eacute importante porque o discurso expressa um saber compartilhado com outros do ponto de vista moral cultural e cognitivo (p222)

Inicialmente foi feita uma preacute-anaacutelise na qual os materiais coletados foram

organizados destacando-se os textos significativos e as categorias

Posteriormente foi feita a exploraccedilatildeo do material atraveacutes da leitura exaustiva o que

resultou no tratamento dos resultados e na sua interpretaccedilatildeo Segundo Gomes (1997) isto

significa ldquo desvendar o conteuacutedo subjacente ao que estaacute sendo manifestordquo (p 76) O autor

ressalta que a busca das informaccedilotildees estatiacutesticas deve se voltar para as ideologias as

tendecircncias e outras caracteriacutesticas dos fenocircmenos que se estaacute analisando

Realizou-se o primeiro niacutevel de interpretaccedilatildeo dos dados que segundo Minayo (1998) eacute

o das determinaccedilotildees fundamentais no qual se levam em conta a conjuntura soacutecio-econocircmica e

poliacutetica do objeto da pesquisa

O segundo niacutevel de interpretaccedilatildeo foi a observaccedilatildeo das comunicaccedilotildees individuais

condutas costumes e rituais expressos no grupo

Segundo Minayo (1998) o produto final da anaacutelise as conclusotildees a que se chega

devem ser tidos sempre como provisoacuterios e aproximativos

Acerca da generalizaccedilatildeo dos resultados Laville e Dione (1999) afirmam

56

o estudo de caso incide sobre um caso examinado em profundidade toda forma de generalizaccedilatildeo natildeo eacute por isso excluiacuteda Com efeito um pesquisador seleciona um caso na medida em que este lhe pareccedila tiacutepico representativo de outros casos As conclusotildees gerais que ele tiraraacute deveratildeo ser contudo marcadas pela prudecircncia devendo o pesquisador fazer prova de rigor e transparecircncia no momento de enunciaacute-las (p156)

Pocircde-se ao fim das anaacutelises chegar a um maior conhecimento do fenocircmeno estudado

bem como seu impacto na vida das famiacutelias e da comunidade onde estaacute inserido Segue na

proacutexima seccedilatildeo as limitaccedilotildees deste trabalho

36 Limitaccedilotildees da pesquisa

A presente pesquisa apresenta algumas limitaccedilotildees que seratildeo expostas a seguir

a) Impossibilidade de se verificar os resultados sociais

Sendo um projeto de longo prazo os benefiacutecios seratildeo evidenciados quando existirem

egressos do projeto Por outro lado o tempo que se dispotildee para esta pesquisa eacute de apenas

dois anos Procurou-se entatildeo verificar resultados de curto prazo e a partir deles fazer

inferecircncias

b) Falta de bibliografia nacional sobre o tema

Natildeo se tem pesquisa realizada em mentoria para crianccedilas e adolescentes no contexto

brasileiro limitando o arcabouccedilo teoacuterico Esta limitaccedilatildeo pode ser vista tambeacutem como uma

oportunidade na medida em que este trabalho jaacute significa um avanccedilo em termos de

contextualizar a teoria

c) Envolvimento da pesquisadora com o objeto

A aacuterea social eacute uma aacuterea de afinidade da pesquisadora e o projeto a encantou Este fato

pode ter influenciado a percepccedilatildeo e os resultados da pesquisa No entanto na busca pela

57

objetividade buscou-se separar os conteuacutedos dos sujeitos dos da pesquisadora aliando o

que os dados observados com os discursos deles advindos

d) Interrupccedilatildeo do projeto no momento das entrevistas

A pesquisa ocorreu em um momento criacutetico do projeto um momento de transiccedilatildeo A

observaccedilatildeo e a primeira fase de coleta se deram quando as atividades ainda estavam sendo

desenvolvidas No entanto no momento das entrevistas as atividades jaacute estavam

suspensas Este fato pode ter alterado a percepccedilatildeo das matildees entrevistadas pois o projeto jaacute

natildeo estava em seu cotidiano Por outro lado este fato pode ter contribuiacutedo com a

percepccedilatildeo do valor do projeto uma vez que pela ausecircncia se podia evidenciar o que este

representava na vida da famiacutelia

d) Impossibilidade de verificar com precisatildeo os fatores responsaacuteveis pelo ecircxito e natildeo-

ecircxito dos mentorados uma vez que as famiacutelias consideravam os filhos como tendo ecircxito

nos estudos

Estas foram as limitaccedilotildees percebidas nesta pesquisa

Cientes da metodologia do trabalho segue a apresentaccedilatildeo do caso e dos dados

coletados bem como sua respectiva discussatildeo

58

4 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos achados

Segue-se a apresentaccedilatildeo do caso pesquisado e posteriormente seratildeo apresentados e

discutidos os dados colhidos atraveacutes da observaccedilatildeo das entrevistas e da anaacutelise documental

No iniacutecio de cada seccedilatildeo seraacute apresentada uma questatildeo norteadora seguida da apresentaccedilatildeo e

da discussatildeo dos dados obtidos Finalmente seraacute respondida a questatildeo norteadora que iniciou

a seccedilatildeo Feito isto seraacute abordada outra questatildeo e assim sucessivamente ateacute que se responda a

todas as questotildees postas na fundamentaccedilatildeo teoacuterica

41 O caso

Nesta seccedilatildeo seraacute abordado o caso considerando-se o contexto no qual o mesmo se

insere Seraacute detalhado o surgimento do programa de reforccedilo escolar as motivaccedilotildees para tal os

objetivos as dificuldades enfrentadas os beneficiaacuterios os estaacutegios pelos quais passou e o seu

momento atual

411 O contexto do projeto Vila do Vinteacutem II

O caso pesquisado foi o programa de reforccedilo escolar chamado Educaccedilatildeo eacute Vida que

era localizado na Vila Vinteacutem II tambeacutem chamada de favela do Vinteacutem ou Vila Vinteacutem A

Vila do Vinteacutem era uma favela existente haacute mais de dez anos localizada no bairro de Casa

Forte na cidade do RecifePE

59

A Prefeitura do Recife em fevereiro de 2005 transferiu as 192 famiacutelias moradoras da

favela da Vila do Vinteacutem para o Conjunto Habitacional Casaratildeo do Cordeiro situado agrave

avenida Mauriacutecio de Nassau no bairro do Cordeiro

Esta transferecircncia faz parte de um projeto social chamado ldquoo Recife sem palafitasrdquo

Tal projeto beneficiou 720 famiacutelias que hoje residem no conjunto habitacional mas pretende

alcanccedilar 1337 famiacutelias procedentes de comunidades carentes

As quase 200 famiacutelias que faziam a Vila Vinteacutem moravam em palafitas agraves margens do

rio Capibaribe sob o viaduto Torre-Parnamirim e entre as ruas Joatildeo Tude de Melo e

Leonardo Bezerra Cavalcante As casas - barracos de madeira papelatildeo e plaacutestico - eram de

aproximadamente 12 m2 e natildeo contavam com aacutegua encanada nem esgoto e muitas natildeo tinham

sanitaacuterios

O relator especial das Naccedilotildees Unidas para habitaccedilatildeo Miloon Kothari classificou

algumas das favelas do Recife como sendo as piores do mundo ldquoAlgumas das condiccedilotildees de

moradia do Recife () estatildeo entre as piores que eu jaacute vi As pessoas natildeo podem dormir agrave

noite com aacutegua entrando nas casas ratos e baratasrdquo (Diaacuterio de Pernambuco 2004)

60

Figura 1 (4) - Foto da Vila do Vinteacutem 2002

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

Dentre as inuacutemeras dificuldades presentes nesta comunidade pode-se citar o

desemprego fator que atinge mais de 71 das famiacutelias da Vila (Diaacuterio de Pernambuco

2004) O iacutendice de desemprego como visto anteriormente estaacute diretamente relacionado agrave

escolaridade (NEacuteRY COSTA 2003) de forma que no Recife o maior iacutendice de

analfabetismo encontra-se em domiciacutelios com rendimento de ateacute um salaacuterio miacutenimo

(SECRETARIA DA POLIacuteTICA DE ASSISTEcircNCIA SOCIAL 2004) Mais especificamente

na Vila Vinteacutem mais de 60 dos moradores natildeo tecircm rendimento maior do que meio salaacuterio

miacutenimo

O contexto familiar muitas vezes eacute de agressividade como o exposto pela avoacute de uma

aluna ldquoCom a matildee de Nuacutebia eacute tudo no pau () ela vai para casa da matildee arenga com os

irmatildeos e chega toda machucadardquo (entrevista out05) Esta constataccedilatildeo eacute coerente com a

literatura fatores vivenciados pelas famiacutelias tais como o desemprego crocircnico violecircncia

61

domeacutestica e brigas entre o casal estatildeo associados com a delinquumlecircncia (FARRINGTON 1987

apud PATTERSON et al 1989) Neste ambiente estava inserido o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

O projeto situava-se agrave entrada da favela da Vila Vinteacutem II agrave rua Joatildeo Tude de Melo

nuacutemero 21 no bairro de Casa Forte

Desde a transferecircncia das famiacutelias da Vila do Vinteacutem para o Casaratildeo do Cordeiro as

atividades do projeto foram suspensas O projeto aguarda a liberaccedilatildeo de um terreno no

referido conjunto conforme jaacute acordado entre o projeto e a Prefeitura do Recife para retomar

suas atividades

Figura 2 (4) ndash Foto das palafitas da Vila do Vinteacutem no dia da mudanccedila para o Casaratildeo do Cordeiro Fev2005

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

Considerado o contexto onde estava inserido o projeto faz-se necessaacuterio conhecer o

projeto em si A seccedilatildeo seguinte eacute dedicada a este assunto

62

412 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

O projeto teve iniacutecio atraveacutes de uma famiacutelia residente nas proximidades da favela Vila

do Vinteacutem II Moab Silva e sua esposa Miriam Maria da Silva tinham um restaurante nesta

aacuterea O casal tem dois filhos A filha tem graduaccedilatildeo em Histoacuteria e estaacute terminando o curso de

Publicidade e o filho fez Engenharia Mecacircnica eacute mestre em Oceanografia e estaacute concluindo o

doutorado em Oceanografia Moab eacute cozinheiro autocircnomo e sua esposa eacute graduada em

Relaccedilotildees Puacuteblicas

A famiacutelia conhecia a favela do Vinteacutem e quando havia necessidade contratava alguns

dos moradores para prestar pequenos serviccedilos ao restaurante Com isto e dado ao fato de

Moab ter crescido neste local a famiacutelia tornou-se conhecedora e conhecida da comunidade

Quando os pais vinham trabalhar no restaurante seus filhos os acompanhavam e ficavam

ldquotomando contardquo dos carros no estacionamento Ao fechamento do restaurante estas recebiam

alimentaccedilatildeo

A partir daiacute Miriam que jaacute lecionava para crianccedilas em uma igreja evangeacutelica teve a

ideacuteia de reunir as crianccedilas da comunidade e formar um pequeno coral para se apresentar para

a comunidade na festa de Natal Foi entatildeo que se iniciou a Comunidade Cristatilde Amigos Para

Sempre (ANEXO A) com o objetivo primeiro de evangelizaccedilatildeo e posteriormente

educacional Visando o alcance do objetivo educacional criou-se o Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

(ANEXO B) Moab e a esposa reuniram aproximadamente 15 crianccedilas moradoras da favela

do Vinteacutem para formar o coral As crianccedilas ensaiavam ouviam histoacuterias e lanchavam O coral

reunia-se duas vezes por semana as quartas e aos domingos Os pais tambeacutem se

aproximaram

Moab atraveacutes deste contato mais proacuteximo com as crianccedilas foi percebendo o potencial

que elas tinham e visando desenvolver este potencial resolveu fazer uma banca de estudos

63

para acompanhaacute-las em suas tarefas escolares As crianccedilas jaacute estavam matriculadas em

escolas puacuteblicas e Moab e sua esposa iniciaram o reforccedilo escolar

De 1988 ateacute 2000 o projeto funcionou na informalidade e as reuniotildees aconteciam no

espaccedilo do restaurante Quando este natildeo estava em atividade era dedicado agraves crianccedilas de

forma que laacute ocorriam aleacutem das reuniotildees ensaios do coral jogos festas do dia das crianccedilas

de aniversaacuterio e de Natal

Figura 3 (4) - Festa de Natal para as crianccedilas da Vila do Vinteacutem II 2004

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

No ano de 2000 um grupo de 18 americanos foi agraves proximidades da Vila Moab ao ir

cozinhar para este grupo foi acompanhado pelas crianccedilas Os americanos intrigados ao

verem tantas crianccedilas perguntaram quem eram elas Ao saber a respeito do projeto o grupo

se sensibilizou e resolveu contribuir Foi assim que o projeto comprou uma casa na rua Joatildeo

Tude de Melo ao lado da favela O projeto contava agora com uma sede

64

Figura 4 (4) - Festa das crianccedilas na sede do projeto 00

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

No projeto as atividades de reforccedilo eram disponibilizadas para quem fosse da favela e

quisesse estudar independentemente da seacuterie em que estivesse matriculado O projeto contava

com materiais didaacuteticos um quadro-negro cadeiras uma biblioteca e um computador com

acesso agrave Internet

Os professores do projeto eram Moab cuja vocaccedilatildeo segundo ele eacute alfabetizar sua

esposa que jaacute havia sido professora de crianccedilas e uma professora contratada Havendo

necessidade seus filhos tambeacutem davam aula no projeto

Segue na proacutexima seccedilatildeo uma breve descriccedilatildeo das atividades que o projeto

desenvolvia antes da transferecircncia

65

413 Atividades desenvolvidas pelo projeto

As aulas do reforccedilo funcionavam pela manhatilde e pela tarde contando em meacutedia com 25

alunos em cada turno As atividades do projeto eram realizadas de forma que o aluno estando

em uma escola puacuteblica recebia atraveacutes do projeto um ensino considerado pelo coordenador

como de maior qualidade Os alunos passavam a alcanccedilar um conhecimento diferenciado de

seus colegas de classe Quando os alunos absorviam estes conhecimentos o projeto buscava

transferi-los para uma escola privada

Deu-se entatildeo iniacutecio agrave busca por bolsas de estudos em escolas particulares para os

alunos com bom desempenho escolar Moab o coordenador ia ateacute agrave escola particular falava

acerca do programa de reforccedilo e dava o perfil da crianccedila para qual estava fazendo a

solicitaccedilatildeo da bolsa A escola convidava este aluno para conhecer suas instalaccedilotildees e aplicava

um teste de conhecimento Se o aluno fosse aprovado no teste seria bolsista da escola O

projeto passava a acompanhaacute-lo com mais intensidade visando mantecirc-lo com bom

desempenho em sua nova escola

Atualmente o projeto conta com as seguintes bolsas em instituiccedilotildees de ensino

privado

INSTITUICcedilAtildeO Nordm DE BOLSAS Coleacutegio de Ensino Fundamental I fase 10 Coleacutegio de Ensino Fundamental e Meacutedio 3 Centro de Informaacutetica 10 Curso de Inglecircs 11

As crianccedilas bolsistas que terminam a 4a Seacuterie da primeira fase do Ensino Fundamental

recebem uma bolsa na escola de inglecircs Buscando melhor atender as crianccedilas o coordenador

buscou pessoas que pudessem assisti-las com relaccedilatildeo agrave sauacutede O projeto passou a contar com

66

o voluntariado de uma psicoacuteloga um meacutedico e dois dentistas que datildeo assistecircncia agraves crianccedilas

No caso de assistecircncia psicoloacutegica a famiacutelia tambeacutem recebe acompanhamento

Em 2000 foi fechado um acordo com dois dentistas para o tratamento dentaacuterio das

crianccedilas Mais uma vez o grupo de americanos contribuiu com R$ 1500 por crianccedila para

cobrir as despesas com o material odontoloacutegico Um grupo de 90 crianccedilas da Vila do Vinteacutem

fez tratamento dentaacuterio que incluiu obturaccedilatildeo extraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de fluacuteor ldquoFoi um ano de

tratamento Eu levava as crianccedilas quatro vezes por semana duas turmas para dra () e duas

turmas para o dr ()rdquo (COORDENADOR entrevista set05)

Aleacutem das atividades educacionais propriamente ditas o projeto desenvolvia outras

atividades com as crianccedilas Dentre estas o coordenador citou passeios agrave praccedila do

Entroncamento no final de ano e agrave exposiccedilatildeo da aeronaacuteutica e visita a museus (Ricardo

Brennand Museu do Homem do Nordeste Museu do Estado) ldquoQualquer exposiccedilatildeo que

esteja havendo e que vaacute influir acrescentar em termos de educaccedilatildeo para eles a gente levardquo

(COORDENADOR entrevista set05) Anualmente o projeto levava alguns adolescentes para

acampar O acampamento que tem duraccedilatildeo de cinco dias eacute de cunho religioso Atividades

como pintura muacutesica danccedila recreaccedilatildeo e jogos tambeacutem eram desenvolvidas regularmente

pelo projeto Festas e reuniotildees eram realizadas Estas ocorriam na sede ou no espaccedilo onde era

o restaurante por este comportar um nuacutemero maior de pessoas

Na proacutexima seccedilatildeo seraacute explicado como o projeto foi formalizado tornando-se uma

organizaccedilatildeo natildeo governamental

67

414 Formalizaccedilatildeo do projeto como organizaccedilatildeo natildeo-

governamental

Aproximadamente em 2000 com o projeto jaacute instalado na sede buscou-se a

formalizaccedilatildeo do projeto ou seja o registro como ONG (organizaccedilatildeo natildeo-governamental) O

coordenador procurou entatildeo mais quatro pessoas que juntamente com ele tivessem os

mesmos objetivos Encontradas estas pessoas que natildeo eram estranhas ao projeto intentou-se

proceder agrave formalizaccedilatildeo No entanto estas pessoas desistiram e o coordenador procurou

outras Encontradas as pessoas que segundo ele realmente assumiram o projeto o mesmo foi

formalizado O projeto conta com um presidente (Moab) um vice-presidente dois secretaacuterios

e um tesoureiro Das cinco pessoas responsaacuteveis pela ONG duas foram substituiacutedas

O projeto mesmo anterior agrave formalizaccedilatildeo jaacute contava com objetivos definidos estes

foram entatildeo sistematizados (ANEXO B) Satildeo objetivos do projeto

bull Melhorar a qualidade de vida natildeo somente no presente mas intervir num ciclo

vicioso preparando a crianccedila e o jovem para o futuro

bull Atuar na aacuterea de educaccedilatildeo solicitando bolsa de estudo na rede privada com aulas

de reforccedilo para o ensino fundamental alfabetizaccedilatildeo infantil distribuiccedilatildeo de

material escolar e merenda

bull Ofertar curso regular de liacutengua inglesa e iniciaccedilatildeo musical

bull Oferecer acompanhamento cliacutenico odontoloacutegico e psico-pedagoacutegico e

bull Desenvolver atividades que proporcionem o desenvolvimento de competecircncias

sociais pessoais e intelectuais

Formalmente o coordenador estaacute na diretoria da ONG haacute trecircs anos Em outubro de

2006 ao completar dois mandatos haveraacute eleiccedilatildeo e ele natildeo mais estaraacute agrave frente do projeto

68

pois assim rege o estatuto O projeto eacute mantido com doaccedilotildees e serviccedilo voluntaacuterio Com a

formalizaccedilatildeo natildeo houve alteraccedilatildeo nas atividades desenvolvidas pelo projeto

Considerada a formalizaccedilatildeo do projeto segue a explanaccedilatildeo de sua situaccedilatildeo atual ou

seja como se encontra o projeto apoacutes a transferecircncia das famiacutelias

415 Situaccedilatildeo atual do projeto

Com a transferecircncia das famiacutelias para o conjunto habitacional Casaratildeo do Cordeiro o

projeto interrompeu suas atividades regulares e tem ido agrave busca da liberaccedilatildeo do terreno jaacute

destinado ao mesmo

Neste iacutenterim de fevereiro a novembro de 2005 as crianccedilas bolsistas que estavam

estudando na primeira fase do ensino fundamental foram colocadas pelo projeto em semi-

internatos Tal fato ocorreu na busca de garantir a continuidade da assistecircncia educacional a

estas crianccedilas

Ainda neste periacuteodo de transiccedilatildeo o mesmo grupo de americanos que outrora

beneficiou o projeto com a compra da casa fez uma nova doaccedilatildeo Desta vez o grupo doou

um galpatildeo preacute-moldado com capacidade para 300 pessoas que seraacute erguido no local

destinado para o projeto no Casaratildeo do Cordeiro O envio do galpatildeo estaacute condicionado agrave

liberaccedilatildeo do terreno

Na proacutexima seccedilatildeo seratildeo consideradas as dificuldades enfrentadas pelo projeto

Educaccedilatildeo eacute Vida

69

416 Dificuldades enfrentadas pelo projeto

O coordenador diz encontrar dificuldade para obter apoio junto agraves instituiccedilotildees que

segundo ele deveriam cooperar com as ONGrsquos tais como Conselho Municipal Conselho

Estadual e Conselho Federal de Accedilatildeo Social e Conselhos Municipais dos Direitos da Crianccedila

e do Adolescente Ele afirma que haacute excesso de burocracia e que estas instituiccedilotildees natildeo estatildeo

presentes para apoiar antes para punir caso haja alguma irregularidade ldquoEles natildeo querem ver

resultados querem ver papelrdquo desabafa o coordenador (entrevista set05) Mesmo

entregando os documentos solicitados o coordenador lamenta natildeo ter tido ecircxito nas

solicitaccedilotildees legais fato que ele atribui agrave morosidade e ao excesso de burocracia

Outra dificuldade considerada a maior delas eacute enfrentada a cada iniacutecio de ano devido

a necessidade de se patrocinar os alunos bolsistas O custo com materiais e fardamentos eacute em

meacutedia de R$ 50000 por crianccedila O projeto busca cobrir tal despesa buscando

apadrinhamento (patrociacutenio) para os alunos ou seja pessoas que contribuam parcial ou

totalmente com as despesas deste

A cada ano as escolas oferecem novas vagas ao projeto e com elas aumenta a

dificuldade devido agrave falta de recursos O projeto tem crianccedilas com desempenho suficiente

para serem aceitas por uma escola particular e as escolas tecircm ofertado mais bolsas mas a falta

de patrociacutenio tem imposto limites a esta transferecircncia O coordenador diz que ao colocar uma

crianccedila na escola particular o projeto assume realmente seus estudos fazendo o possiacutevel para

que a crianccedilaadolescente seja inserida e obtenha ecircxito

Ao final de cada ano os padrinhos satildeo homenageados recebendo um Certificado de

Agente Social conforme a figura 5 (4) como forma de reconhecimento e gratidatildeo pelo

patrociacutenio

70

Figura 5 (4) - Certificado do padrinho

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

A despeito das dificuldades enfrentadas o projeto intenta continuar e expandir-se

Tem o objetivo de atender ao Conjunto Habitacional Casaratildeo do Cordeiro

Segue na proacutexima seccedilatildeo a motivaccedilatildeo que deu iniacutecio a este projeto e que o sustenta ateacute

o momento desta pesquisa

417 Motivaccedilatildeo para a existecircncia e continuidade do projeto

O coordenador explica assim sua motivaccedilatildeo para prosseguir com o projeto

Como cidadatildeo pobre eu sempre lutei para que meus filhos conseguissem terminar o terceiro grau () Depois que os meus terminaram eu digo bom agora eu posso lutar pelos dos outros para que eles tambeacutem consigam porque eles natildeo vatildeo conseguir se natildeo tiver quem ofereccedila oportunidade () Essas crianccedilas sendo assistidas dessa forma sem duacutevida alguma vatildeo trilhar o mesmo caminho que meus filhos trilharam Eu trato as crianccedilas participantes deste projeto como se elas fossem os meus filhos (COORDENADOR entrevista set05)

71

Acerca de seu envolvimento com o projeto ele declara ldquoEu natildeo vejo como me

desvincular hoje () separar do projeto Eu respiro o projeto luto faccedilo o que for necessaacuterio o

que for possiacutevel para que o projeto continuerdquo (COORDENADOR entrevista set05)

A seccedilatildeo 41 foi destinada ao caso Foram aqui considerados o contexto onde estaacute

inserido as atividades desenvolvidas o processo de formalizaccedilatildeo as dificuldades enfrentadas

e a motivaccedilatildeo existente no projeto

Para melhor compreensatildeo dos sujeitos da pesquisa seratildeo expostos nas proacuteximas

seccedilotildees os dados referentes aos mentores e aos mentorados pesquisados

418 Dados dos mentores entrevistados

Seguem algumas informaccedilotildees acerca dos mentores do projeto

Coordenador- foi o fundador do projeto e estaacute nele haacute 16 anos Jaacute deu alfabetizou diversas

crianccedilas e pais da comunidade Atualmente eacute o presidente da ONG

Professora ndash participou do projeto durante um ano Leciona em uma das escolas particulares

que fornece bolsa para os alunos Diz ter muita identidade com a proposta do projeto

Psicoacuteloga ndash estaacute no projeto haacute 5 anos Aleacutem deste trabalho no qual atua como voluntaacuteria

participa de um outro tambeacutem com comunidade carente

Dentista- estaacute no projeto haacute mais de um ano e diz ter identidade com o tipo de trabalho

realizado

Seguem na proacutexima seccedilatildeo os dados referentes aos mentorados pesquisados

72

419 Dados dos mentorados pesquisados

Visando um maior conhecimento dos sujeitos pesquisados seguem-se alguns dados

acerca dos mesmos Na busca pelo anonimato os nomes dos alunos foram trocados

Inicialmente seratildeo abordados os alunos que foram apontados como que de ecircxito nos estudos e

posteriormente os de natildeo-ecircxito

4191 Alunos tidos como que de ecircxito nos estudos

O coordenador do projeto demonstra orgulho ao falar dos seguintes alunos pois aleacutem

do rendimento escolar eles apresentam bom comportamento Satildeo estes os alunos

Afracircnio- aluno com 9 anos de idade cursa a 4a seacuterie do Ensino Fundamental em um coleacutegio

particular com bolsa obtida atraveacutes do projeto Educaccedilatildeo eacute Vida Afracircnio estaacute no projeto haacute 3

anos Mora com a matildee que eacute analfabeta funcional1 Aleacutem de estudar em escola particular

atraveacutes do projeto Afracircnio tambeacutem faz inglecircs

Daniel- aluno com 8 anos cursa a 1a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular cuja

bolsa foi obtida atraveacutes do projeto Ele participa do projeto haacute 3 anos Sua participaccedilatildeo nas

atividades desenvolvidas pelo projeto eacute integral passeios e lazer Daniel mora com os pais e eacute

o filho mais novo do casal Seu pai que eacute porteiro estudou ateacute o 3o ano do Ensino Meacutedio e

sua matildee ateacute a 8a seacuterie do Ensino Fundamental Aleacutem dos pais Daniel mora com seu irmatildeo

mais velho Faacutebio (tido como de natildeo ecircxito) sua irmatilde e sua tia A matildee sofre de fobia social e

toma remeacutedio ldquocontroladordquo Segundo ela o filho eacute muito responsaacutevel e gosta de estudar

1 Analfabeto funcional- Pessoa com menos de quatro anos de estudos

73

Almir- Garoto de 9 anos que cursa a 2a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular

cuja bolsa foi obtida atraveacutes do projeto Almir estaacute no projeto haacute 3 anos Mora com os pais

que satildeo analfabetos funcionais e com Silvia sua irmatilde

Silvia- eacute irmatilde de Almir tem 10 anos cursa a 4a seacuterie do Ensino Fundamental Estaacute no projeto

cerca de 3 anos Tal qual o irmatildeo Silvia estuda em escola particular

Nuacutebia- aluna de 12 anos cursa a 5a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular cuja

bolsa foi obtida atraveacutes do projeto do qual ela faz parte haacute cerca de 3 anos Nuacutebia eacute apontada

pelo coordenador do projeto como sendo uma aluna excelente Durante a semana Nuacutebia estaacute

morando na casa da avoacute paterna pois eacute mais perto da escola do que a casa da matildee pois esta

mora no Casaratildeo do Cordeiro A avoacute diz que a neta eacute muito calma e desanimada Acredita

que ela sente muita falta dos irmatildeos e da matildee (os pais satildeo separados) Nos finais de semana

Nuacutebia vai para a casa da matildee A avoacute diz que ao retornar ela vem agitada e machucada pois

em casa Nuacutebia apanha da matildee e dos irmatildeos A matildee de Nuacutebia disse ao coordenador que em

2006 iraacute tiraacute-la da escola particular apesar do bom rendimento que ela apresenta A matildee alega

que a escola eacute longe O coordenador e a professora acreditam que tal fato se deve tambeacutem agrave

limitaccedilatildeo da matildee (analfabeta funcional) em compreender o valor do estudo Ao falar acerca

deste fato o coordenador se mostra bastante entristecido

Frederico- aluno com 12 anos cursa a 6a seacuterie do Ensino Fundamental Ele estaacute no projeto

haacute 4 anos estuda em coleacutegio particular com bolsa obtida atraveacutes do projeto Frederico mora

com os pais Estes satildeo analfabetos funcionais O coordenador diz que eacute um menino muito

bom pois eacute esforccedilado e apresenta bom comportamento

Jairo- aluno com 14 anos que cursa a 6a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular

Sua bolsa foi obtida atraveacutes do projeto bem como o curso de inglecircs no qual ele estuda haacute 3

anos Jairo mora com a matildee o padrasto e com o irmatildeo mais novo que eacute portador de

74

necessidades especiais A matildee eacute analfabeta absoluta2 e o padrasto analfabeto funcional Jairo

perdeu o pai com dois anos A matildee fala que ele eacute um menino ldquoquietordquo e que gosta muito do

coordenador do projeto Jairo morou no interior onde estudava mas natildeo obtinha

aproveitamento escolar Ao chegar no Recife foi incentivado a estudar e segundo a matildee

ldquotomou gosto pelos estudosrdquo desde entatildeo tem demonstrado bom rendimento aleacutem do

comportamento exemplar que sempre apresentou A matildee diz que o coordenador eacute como um

pai para o Jairo lhe aconselha encaminha ajuda patrocina e eacute amigo

Walter- aluno de 17 anos que cursa o 2o ano do Ensino Fundamental em escola puacuteblica e

estaacute haacute 7 anos no projeto Walter mora com os pais que satildeo analfabetos funcionais O

coordenador diz que a famiacutelia acompanha os estudos de Walter Ele eacute aluno de inglecircs com

bolsa obtida pelo projeto Walter pretende ser professor deste inglecircs visto o bom rendimento

que vem apresentando e o interesse que afirma ter com o idioma

Nesta seccedilatildeo foram apresentados alguns dados acerca dos alunos tidos como de ecircxito segue na

proacutexima seccedilatildeo dados dos alunos pesquisados que foram tidos como que de natildeo ecircxito nos

estudos

4192 Alunos tidos como que de natildeo ecircxito nos estudos

Os seguintes alunos natildeo apresentam o rendimento escolar esperado pelo projeto A

aleacutem do que alguns apresentam problemas de comportamento Satildeo estes

Tito ndash aluno com 8 anos de idade que cursa a 2a seacuterie do Ensino Fundamental Mora com os

pais que satildeo analfabetos funcionais Ele estuda em um coleacutegio particular com bolsa obtida

atraveacutes do projeto O coordenador afirma que o mesmo natildeo demonstra interesse para com os

estudos

2 Analfabeta absoluta- pessoa iletrada

75

Helena- aluna de 10 anos que cursa a 4a seacuterie do Ensino Fundamental Ela estaacute no projeto haacute

4 anos Mora com a matildee que eacute analfabeta funcional A matildee trabalha fora e tem pouco contato

a filha cerca de uma hora por dia Os pais satildeo separados O coordenador diz que a matildee eacute

muito nervosa e toma remeacutedio ldquocontroladordquo Ele afirma que a matildee por ser agressiva e

impaciente eacute quem dificulta o aprendizado e o comportamento da filha Helena estuda em

escola particular mas natildeo estaacute obtendo notas suficientes para continuar nela

Tacircnia- aluna de 10 anos que cursa a 4a seacuterie em escola puacuteblica Ela estaacute no projeto haacute 7 anos

Tacircnia mora com a matildee adotiva com o padrasto com um irmatildeo mais novo e com um irmatildeo

mais velho e sua esposa Sua situaccedilatildeo eacute peculiar sua matildee morava com outro ldquomaridordquo quando

resolveu adotaacute-la Deixou o primeiro marido e atualmente mora com outro Sendo que este

casal teve um filho que no momento da pesquisa tinha dois anos Segundo o relato da

psicoacuteloga desde a separaccedilatildeo da matildee Tacircnia jaacute natildeo gozava de muito atenccedilatildeo e com o

nascimento do irmatildeo esta diminuiu significativamente O coordenador atribui muito de sua

dificuldade de aprendizagem agrave falta de estrutura familiar

Nestor- aluno com 14 anos cursa o 1o ano do ensino Meacutedio estaacute no projeto haacute 4 anos e mora

com os pais Sua matildee eacute analfabeta funcional e seu pai cursou ateacute a 6a seacuterie do Ensino

Fundamental Nestor estuda em escola puacuteblica

Faacutebio- garoto com 12 anos que cursa a 6a seacuterie do Ensino Fundamental Ele participa do

projeto haacute 3 anos Faacutebio mora com os pais com a tia com a irmatilde e com Daniel seu irmatildeo A

matildee estudou ateacute a 8a seacuterie e o pai ateacute o 3o ano do Ensino Meacutedio Faacutebio segundo a matildee natildeo

gosta de estudar e seu interesse estaacute em jogar futebol e ficar na rua Em casa ele natildeo recebe

acompanhamento em termos de estudo

Estes foram alguns dos dados acerca dos alunos pesquisados Ao longo da

apresentaccedilatildeo dos dados seratildeo apresentadas mais informaccedilotildees acerca destes sujeitos

76

Seguem nas proacuteximas seccedilotildees as questotildees norteadoras deste trabalho bem como a

apresentaccedilatildeo e discussatildeo dos dados colhidos na busca pelas respostas agraves questotildees

42 Achados referentes agrave primeira questatildeo norteadora

Para responder a seguinte questatildeo em uma comunidade carente brasileira ateacute que

ponto a mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes apresenta as caracteriacutesticas definidas

pela teoria Faz-se necessaacuterio inicialmente caracterizar o projeto de reforccedilo como um

programa de mentoria o que seraacute feito na proacutexima seccedilatildeo Posteriormente seratildeo analisados os

achados referentes agraves funccedilotildees de mentoria existente no projeto as fases em que se encontram

os relacionamentos e os fatores relacionados ao ecircxito do projeto

421 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida como um programa de mentoria

Percebeu-se que os alunos recebem suporte vindo de vaacuterios mentores A psicoacuteloga

fornece sustentaccedilatildeo para o aluno e para a famiacutelia a professora aconselha e ajuda a

desenvolver habilidades o coordenador e sua esposa acompanham o desenvolvimento dos

alunos fornecendo-lhes feedback e encorajando-os Tal fato foi constatado atraveacutes dos

discursos das matildees que relatavam o suporte recebido principalmente pelo coordenador e pela

professora

A partir destes dados pode-se concluir que o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida caracteriza-se

como um programa de redes de mentoria (HIGGINS KRAM 2001) uma vez que o

mentorado recebe influecircncia de vaacuterios mentores O coordenador do projeto eacute a pessoa que

mais acompanha os alunos eacute o mais citado pelas matildees e pelo aluno como oferecedor de

suporte tanto psicossocial como de carreira Pode ser considerado o mentor principal do

projeto

77

A relaccedilatildeo tem iniciativa da organizaccedilatildeo ao se manter aberta a novos entrantes e a

relaccedilatildeo eacute estruturada Alguns encontros como a aula de reforccedilo satildeo preacute-estabelecidos No

entanto os encontros natildeo se limitam agrave aula de reforccedilo Eles podem ser esporaacutedicos partindo

da necessidade O relacionamento natildeo tem uma delimitaccedilatildeo de seis meses ou um ano O

mesmo pode se estender por longos periacuteodos de tempo Walter aluno entrevistado por

exemplo estaacute no projeto haacute sete anos Haacute alunos que foram alfabetizados pelo projeto e

receberam acompanhamento ateacute terminar o ensino meacutedio caracterizando assim um

relacionamento de no miacutenimo 11 anos

Dentre os tipos de mentoria propostos por Kram (1985) a mentoria realizada no

projeto parece estar na interface da mentoria formal e informal Alguns fatores levam a

consideraacute-la formal como por exemplo a estruturaccedilatildeo da relaccedilatildeo e os encontros preacute-

estabelecidos Por outro lado vecirc-se tambeacutem caracteriacutesticas da mentoria informal Ou seja o

mentorado toma a iniciativa em fazer parte ou natildeo da relaccedilatildeo nem todos os encontros satildeo preacute-

estabelecidos e o tempo de duraccedilatildeo da relaccedilatildeo ultrapassa em muito os dois anos ldquolimiterdquo da

mentoria formal

Outra caracteriacutestica especiacutefica do projeto eacute o fato de haver dois tipos de

relacionamento de mentoria entre os mentores e seus mentorados Os alunos bolsistas

parecem gozar de maior assistecircncia visto que para o projeto o ldquoinvestimentordquo eacute maior nestes

alunos Este diferencial foi percebido quando no periacuteodo de transiccedilatildeo alguns bolsistas foram

colocados em regime de semi-internato enquanto os natildeo-bolsistas natildeo tiveram o mesmo

tratamento Deve-se considerar a quantidade restrita de vagas e nesta situaccedilatildeo a preferecircncia

eacute dos alunos bolsistas

Percebeu-se pelos discursos que quando haacute algum passeio com o nuacutemero limitado de

participantes a preferecircncia eacute dos alunos mais comportados e que apresentam melhores notas

normalmente os bolsistas A matildee de Faacutebio (que tem um filho bolsista e outro considerado de

78

natildeo-ecircxito) diz que o coordenador tem seus ldquoescolhidosrdquo (entrevista out05) Ela enfatiza estar

ciente que um de seus filhos eacute ldquoescolhidordquo e o outro natildeo

Este tipo de relacionamento eacute explicado na teoria LMX (Leader-Member Exchange)

teoria da troca entre liacuteder e liderado que afirma que os liacutederes estabelecem um

relacionamento especial com um grupo restrito de liderados (grupo interno) distinto do

relacionamento com os demais liderados que fazem o grupo externo (ROBBINS 2002)

Tal fato pode levar aos seguintes questionamentos

- Os alunos mentorados que se saem melhor em termos de notas e

comportamentos passam a ter uma assistecircncia diferenciada

- Ter uma assistecircncia ldquomais proacuteximardquo leva os alunos a demonstrar melhores

comportamentos e apresentar melhores notas

Abordadas estas caracteriacutesticas da relaccedilatildeo de mentoria do projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

seguem-se as funccedilotildees de mentoria observadas no projeto

422 Funccedilotildees de mentoria encontradas no projeto Educaccedilatildeo eacute

Vida

Nesta seccedilatildeo seratildeo apresentados e discutidos os dados que revelam a existecircncia das

funccedilotildees de mentoria Inicialmente seratildeo abordadas as funccedilotildees de suporte de carreira e

posteriormente as de suporte psicossocial

4221 Suporte de carreira

Nesta seccedilatildeo seratildeo apresentadas as funccedilotildees do suporte de carreira encontradas no projeto

de reforccedilo Satildeo funccedilotildees que o mentor desempenha no sentido de auxiliar o mentorado em seu

desenvolvimento profissional Para cada funccedilatildeo abordada seratildeo apresentados alguns exemplos

encontrados

79

bull Tarefas desafiadoras

Um aluno bolsista de inglecircs diz que seu mentor sempre lhe lembra que aluno bolsista eacute

aluno modelo ldquoA gente tem que mostrar porque tinha direito agravequela bolsa () Se vocecirc

recebe uma ajuda e vocecirc natildeo se esforccedila para passar os obstaacuteculos natildeo adianta nada () eu

tenho me esforccediladordquo (WALTER entrevista out05)

Jairo em cuja casa soacute haacute analfabetos (absoluto e funcional) eacute um dos alunos do projeto

tido como exemplar Tem bolsa em uma escola particular e cursou a 4a e a 5a seacuteries no

mesmo ano A matildee de Nestor diz acerca do filho ldquoEle (Nestor) diz que quer estudar natildeo quer

ser como o pai dele que natildeo estudou Depois que ele conheceu o seu Moab aiacute eacute que ele pegou

o incentivo mesmo para estudarrdquo (MAE DE NESTOR entrevista out05)

ldquoSe vocecirc eacute bolsista natildeo eacute porque vocecirc eacute pobre natildeo eacute porque vocecirc eacute preto natildeo eacute

porque vocecirc eacute favelado Vocecirc estaacute laacute por capacidade () vou buscar bolsa porque ele eacute capaz

e estaacute faltando uma oportunidaderdquo (COORDENADOR entrevista set05)

O programa de reforccedilo ao dar aos alunos a oportunidade de acompanhamento nos

estudos impotildee-lhes uma tarefa extremamente desafiadora a de conseguir superar uma

realidade de exclusatildeo social A crianccedila demanda esforccedilo para adentrar uma escola particular e

para se manter apta a permanecer nessa escola Mesmo no caso de alunos natildeo bolsistas existe

o desafio de manter-se com bom rendimento na escola puacuteblica Este desafio eacute igualmente

vaacutelido para o curso de inglecircs

O desafio parece ser maior do que se apresenta pois subjacente agrave continuidade dos

estudos na vida da crianccedilaadolescente estaacute o status quo da famiacutelia O estudo do filho rompe

uma situaccedilatildeo de analfabetismo familiar Leva a crianccedila a superar sua expectativa negativa de

futuro uma vez que a educaccedilatildeo da matildee (das matildees entrevistadas 78 satildeo analfabetas) eacute

determinante do desempenho do filho (BARROS et al 1994)

80

Walter parece ter ciecircncia do desafio individual que tem que enfrentar mas talvez natildeo

perceba a dimensatildeo do desafio social que isto representa ou seja conhecer e dominar a liacutengua

inglesa estando inserido em uma comunidade que natildeo domina seu proacuteprio idioma Falar de

futuro para uma comunidade de favela jaacute eacute por si soacute um desafio Qual o futuro para quem

natildeo sabe se vai comer ou ter a oportunidade de continuar vivo no dia presente Que futuro

esperar quando se vecirc o pai becircbado jogado na rua catando lixo ou ao perceber a matildee se

prostituindo Que futuro espera quem vive nas condiccedilotildees caracterizadas pelo representante da

ONU como sendo as piores do mundo Talvez esta seja uma das mais belas funccedilotildees do

mentor de crianccedilas e adolescentes carentes abrir-lhes os olhos para novas e promissoras

experiecircncias e viabilizar o alcance destas Ofertar mais tarefas desafiadoras quando estas

crianccedilas e adolescentes jaacute possuem tantas pode parecer cruel No entanto elas parecem estar

recebendo suporte suficiente para superar tais desafios indo aleacutem do que se espera

bull Exposiccedilatildeo e visibilidade positiva

Na introduccedilatildeo da pesquisadora ao programa pocircde-se assistir agrave apresentaccedilatildeo de alunos-

talentos do projeto onde foram citados o rendimento escolar e as habilidades dos mesmos

Os colaboradores e alguns alunos apresentam-se em busca de patrociacutenio Nestas ocasiotildees os

melhores alunos satildeo destacados

Walter aluno de inglecircs foi observado em seu desempenho por seu mentor e por sua

professora da escola de inglecircs Ele foi indicado para fazer intercacircmbio cultural nos EUA

As alunas do projeto que tinham aula de danccedila apresentavam-se quando havia oportunidade

mesmo que se tratasse de uma missa

81

Figura 6 (4) - Apresentaccedilatildeo de coreografia das meninas do projeto em uma missa de Natal realizada pela Igreja Catoacutelica de Casa Forte na Vila do Vinteacutem II

Fonte Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

Pocircde-se perceber que o projeto expotildee positivamente seus mentorados conforme o

proposto por Kram (1985) Oferecer visibilidade positiva a crianccedilas marginalizadas pela

sociedade mostrando os talentos que estas possuem contribui para resgatar a auto-estima

das crianccedilas e das famiacutelias Crianccedilas e adolescentes de favela satildeo estigmatizados e

relacionados agrave delinquumlecircncia Esta visibilidade positiva eacute interessante para a sociedade

havendo a possibilidade de reduccedilatildeo do preconceito para com estes que estatildeo agrave margem Para

os mentorados a visibilidade positiva pode ajudaacute-los a resgatar aleacutem da auto-estima a

dignidade ao reconhecerem capacidade e potencial em si mesmos

bull Coaching

O reforccedilo era oferecido diariamente para as crianccedilas durante 1hora e meia fossem as

crianccedilas bolsistas ou natildeo ldquoEu eacute que ensinava a ela (Silvia) mas natildeo tenho jeito Depois do

82

projeto ela melhorou a letra aprendeu a ler mais raacutepido aprendeu a escreverrdquo (MAE

DE SILVIA entrevista out 05) ldquoQuando a professora natildeo ia ele (Moab) botava a filha dele

praacute ensinar () Ele eacute professor a esposa o filho e a filha Assim eacute bom neacute Quando um natildeo

tava o outro tava (sic)rdquo (MAE DE AFRAtildeNIO entrevista out05)

Uma das atividades mais presentes observadas no projeto eacute o coaching devido agrave

frequumlecircncia com a qual ocorre As tarefas o estudo o ensino enfim o reforccedilo diaacuterio reflete a

preocupaccedilatildeo com a tarefa e a transmissatildeo das informaccedilotildees necessaacuterias para a sua execuccedilatildeo

tal qual o proposto por Kram (1985)

bull Patrociacutenio

O projeto viabilizou o estudo de 24 crianccedilas adolescentes em escolas particulares

sendo 13 no Ensino Fundamental e Meacutedio e 11 no curso de Inglecircs O projeto provecirc as

condiccedilotildees necessaacuterias para que o aluno possa assumir satisfatoriamente a vaga na escola

particular Houve relato de provisatildeo de assistecircncia meacutedica e odontoloacutegica material e

fardamento escolar e ateacute corte de cabelo Algumas matildees entrevistadas disseram receber

ajuda em termos de alimentaccedilatildeo medicamento e doaccedilotildees de roupas

Ao analisar o patrociacutenio oferecido pelo projeto pode-se estabelecer um diferencial em

relaccedilatildeo agrave teoria proposta por Kram (1985) O patrociacutenio mencionado em pesquisas anteriores

reflete uma preocupaccedilatildeo bem especiacutefica do mentor em termos de patrocinar a carreira do

mentorado No projeto Educaccedilatildeo eacute Vida o patrociacutenio eacute bem mais abrangente Estaacute

relacionado agraves necessidades baacutesicas do mentorado e de sua famiacutelia sem as quais ele natildeo teria

condiccedilotildees sequer de estudar Entenda-se como patrociacutenio neste contexto a oferta de

alimentaccedilatildeo medicamento e sauacutede natildeo excluindo aquele ou seja o material o fardamento a

bolsa de estudos e os cursos

83

Estas foram as atividades de suporte de carreira encontradas no projeto de reforccedilo

Atividades que auxiliam o mentorado em sua carreira profissional conforme proposto por

Kram (1985) Em se tratando de crianccedilas e adolescentes falar de carreira profissional pode

parecer precoce No entanto considerou-se o necessaacuterio para que o mentorado venha a ter

condiccedilotildees de futuramente ter uma carreira Eacute desta forma que atividades como patrociacutenio

coaching tarefas desafiadoras e exposiccedilatildeo positiva devem ser encaradas

Segue na proacutexima seccedilatildeo os resultados e discussotildees dos dados obtidos com relaccedilatildeo agraves

atividades de suporte psicossocial encontradas no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

4222 Suporte psicossocial

Seratildeo considerados os dados que refletem o suporte psicoloacutegico e social oferecido pelo

mentor ao mentorado As funccedilotildees encontradas foram amizade aceitaccedilatildeo e confirmaccedilatildeo e

aconselhamento que seratildeo expostas a seguir

bull Amizade

A professora entrevistada disse buscar construir um viacutenculo de afetividade com os

alunos algo que ultrapassasse o relacionamento distanciado entre professor e aluno ldquoquando

a gente daacute atenccedilatildeo afeto eles aprendem tambeacutem a parte cognitivardquo (PROFESSORA

entrevista out05) A matildee de Helena diz ldquoEle (Moab) daacute atenccedilatildeo ela gosta dele porque ele

sabe conversar daacute carinhordquo (entrevista out05) Walter declara ldquoEacute como se ele (Moab) fosse

um pai praacute mim me estende a matildeordquo (entrevista out05) O projeto busca acompanhar a

famiacutelia atraveacutes do coordenador e da psicoacuteloga que se propotildee a realizar um acompanhamento

terapecircutico se necessaacuterio

Pocircde-se observar claramente que a amizade estaacute presente na relaccedilatildeo de mentoria

Atraveacutes dos discursos acima percebe-se um viacutenculo entre mentor e mentorado no qual o

mentorado mostra-se compreendido tal qual o proposto por Kram (1985)

84

bull Aceitaccedilatildeo e confirmaccedilatildeo

Pode-se observar atraveacutes dos discursos e mais evidentemente em uma das entrevistas

ldquoAfracircnio eacute muito bom em histoacuteria e ciecircncias ele soacute tira 10 Seu Moab sempre ficava

elogiando ele que ele era bom e acho que isso foi incentivando elerdquo (MAE DE

AFRAcircNIO entrevista out05)

Conforme o proposto por Kram (1985) a aceitaccedilatildeo faz com que o mentorado se sinta

seguro ateacute mesmo para enfrentar os desafios que conforme exposto satildeo muitos O

coordenador relata que entre os alunos do projeto haacute casos em que a crianccedila eacute

frequumlentemente desprezada pela matildee Neste caso o valor da aceitaccedilatildeo oferecida pelo mentor

torna-se imensuraacutevel

bull Aconselhamento

Dar conselhos apareceu frequumlentemente nos discursos da professora e do coordenador

O que pocircde ser confirmado atraveacutes da fala das matildees e do aluno entrevistado Os conselhos satildeo

dados visando o progresso dos alunos nos estudos por evitar que fiquem na rua e na tentativa

de convencecirc-los de que o seu futuro pode ser melhor do que o presente

O seu Moab soacute apoacuteia Agora eacute de falar o pesado tambeacutem Ele daacute apoio tudinho mas tambeacutem quando vecirc que taacute errado ele vem chega e conversa () ele tira o tempo dele praacute vir dar conselhos ele diz praacute Jairo que quer que ele estude que se forme e seja algueacutem na vidardquo (MAE DE JAIRO entrevista out05)

Outra matildee diz que quando o filho tem duacutevida sobre algo que aparece procura seu

Moab Diz que ele eacute rigoroso mas o filho atende ldquoA professora dizia para Faacutebio que ele soacute

seria algueacutem na vida se estudasse seu Moab tambeacutem dava o exemplo dos filhos delerdquo (MAE

DE FAacuteBIO entrevista out05) e a matildee de Helena diz ldquoEu sempre pedia a ele (Moab) para

dar conselho a Helena sobre estudo quando eu falo com ela entra por um ouvido e sai pelo

outro ela ouve elerdquo (entrevista out05)

85

O aconselhamento eacute mais uma das funccedilotildees relevantes em um projeto de mentoria

voltado para crianccedilas e adolescentes de risco uma vez que as crianccedilas nem sempre dispotildeem

de pessoas para aconselhaacute-las Segundo Harris et al (2002) a disponibilidade de adultos para

aconselhar as crianccedilas eacute escassa fazendo com que passem mais tempo com seus pares que

neste caso podem ter pouco a oferecer em termos de aconselhamento e de orientaccedilatildeo para um

futuro mais promissor do que o vivenciado na comunidade

bull Modelagem de papeacuteis

Acerca do suporte psicossocial oferecido pelo projeto a funccedilatildeo modelagem de papeacuteis

foi encontrada de duas formas uma atraveacutes da pessoa do mentor e outra atraveacutes do mentor

elegendo seus filhos como modelo Em termos educacionais o coordenador parece constituir

seus filhos como exemplos a serem seguidos um cursando o doutorado e a outra com dois

cursos superiores O que traz sentido agrave fala de uma das matildees ao dizer que ele cita os filhos

como exemplos Por outro lado a modelagem de papeacuteis natildeo consiste apenas em o mentor se

um modelo educacional para o mentorado A modelagem eacute mais ampla uma vez que o

mentorado tem nos comportamentos valores e atitudes de seu mentor um modelo positivo O

coordenador leva ao conhecimento de seus mentorados o sacrifiacutecio que fez para educar seus

filhos ainda que abrindo matildeo de sua proacutepria formaccedilatildeo Rhodes et al (2002) dizem que o fato

de ser um modelo faz com que o mentor seja visto pelo mentorado como ideal Neste sentido

o coordenador parece ser visto pelos mentorados como exemplo de um vencedor A fala de

Walter ao colocaacute-lo como pai transmite esta ideacuteia de referencial Walter diz ter a seguinte fala

de seu mentor em sua cabeccedila e colada em seu caderno ldquoo fracasso jamais me surpreenderaacute se

a minha decisatildeo de vencer for suficientemente forterdquo (WALTER entrevista out 2005) Esta

fala parece ser o lema do proacuteprio coordenador Vale salientar que assim como o lema Walter

deseja tambeacutem ldquoimitarrdquo o mentor quanto ao ser professor

86

Parece haver a necessidade de mostrar agrave crianccedila ou adolescente que haacute uma

possibilidade diferente da que ela estaacute habituada a ver Que haacute outros referenciais e que ela

tem possibilidade de escolha mesmo que esta implique em desafios Pode-se retomar o

discurso do coordenador quando diz que seu filho para ir agrave Universidade muitas vezes pegou

carona no caminhatildeo do lixo Ao citar isto o mentor pode estar criando uma identidade entre

as crianccedilas e seu filho ao demonstrar que mesmo com a difiacutecil realidade o esforccedilo e a

vontade de sobressair o fizeram ldquovencedorrdquo Assim como ele conseguiu elas tambeacutem podem

conseguir Vecirc-se claramente isto no discurso de uma das crianccedilas quando diz que natildeo quer ser

como o pai sem estudos O que revela que em relaccedilatildeo aos estudos e carreira ele tem outro

referencial Pocircde-se neste relato observar um olhar mais reflexivo da crianccedila ao sair de seu

proacuteprio contexto e desejar escapar do ldquodeterminismordquo a que estaacute sujeita

Estas foram as especificidades das funccedilotildees da mentoria desenvolvida no projeto em

relaccedilatildeo agraves propostas pela literatura Observou-se a existecircncia de suporte de carreira e

psicossocial Foram portanto encontradas no projeto as duas funccedilotildees de mentoria propostas

por Kram (1985) Neste caso a mentoria desenvolvida no projeto pode ser considerada

intensa A autora salienta que a funccedilatildeo psicossocial estaacute relacionada agrave confianccedila existente na

relaccedilatildeo Pocircde-se observar que o coordenador do projeto goza da confianccedila da comunidade

tanto pela abertura que as famiacutelias lhe demonstram como por entregar seus filhos aos seus

cuidados Tal confianccedila foi observada em todas as entrevistas Este fato permite que sejam

desempenhadas as funccedilotildees de suporte psicossocial

Seguem na proacutexima seccedilatildeo as fases da mentoria no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

87

423 Fases da relaccedilatildeo de mentoria apresentadas no projeto de

reforccedilo

Com relaccedilatildeo aos alunos pesquisados todos estavam na fase de cultivo da relaccedilatildeo seja

com apenas dois anos de projeto seja com oito No entanto pocircde-se observar que em alguns

casos de egressos a mentoria estaacute na fase de redefiniccedilatildeo uma vez que os mentorados estatildeo

seguindo seus proacuteprios rumos jaacute natildeo com um acompanhamento ldquotatildeo de pertordquo Eacute o caso de

uma ex-aluna do projeto que ganhou um apartamento no Conjunto Habitacional Casaratildeo do

Cordeiro intermediado pelo coordenador junto agrave Prefeitura

Pode-se perceber que os relacionamentos de mentoria encontram-se

predominantemente na fase de cultivo Eacute nesta fase que o mentor provecirc as funccedilotildees de

carreira e psicossociais Tal achado culmina com os encontrados anteriormente facilitando o

desenvolvimento das funccedilotildees de mentoria tatildeo evidentes neste projeto

Segue na proacutexima seccedilatildeo os fatores relacionados ao ecircxito de um programa de mentoria

formal que foram encontrados no projeto

424 Fatores encontrados no projeto que de acordo com a

literatura estatildeo relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria

A literatura aponta fatores que estatildeo relacionados ao ecircxito de um programa de

mentoria Estes foram encontrados no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida Os fatores satildeo seleccedilatildeo de

mentores e mentorados acompanhamento da relaccedilatildeo de mentoria frequumlecircncia dos encontros e

duraccedilatildeo da relaccedilatildeo Seguem-se os dados e sua discussatildeo acerca de cada fator de ecircxito

88

bull Seleccedilatildeo de mentor e mentorado

O uacutenico criteacuterio para ser mentorado era o fato de residir na Vila do Vinteacutem As

crianccedilas e adolescentes que tivessem interesse em levar suas tarefas ao reforccedilo poderiam fazecirc-

lo Laacute recebiam acompanhamento de um professor desde que com o aval dos pais

Para se fazer parte do projeto enquanto mentor era necessaacuterio o compartilhamento da

visatildeo de que eacute possiacutevel acreditar na mudanccedila de vida das crianccedilas e adolescentes atraveacutes da

educaccedilatildeo de qualidade e que as crianccedilas tecircm potencial mas lhes falta oportunidade Os

professores satildeo selecionados pelo coordenador do projeto mediante anaacutelise do curriacuteculo e da

experiecircncia A professora entrevistada jaacute conhecia os alunos do projeto pois eacute uma das

professoras que leciona em uma das escolas que fornece bolsa para a comunidade o que fez

com que o coordenador conhecesse parcialmente seu trabalho Ao falar de sua admissatildeo ao

projeto ela diz ldquoeu gosto desta clientela (crianccedilas carentes) e ele (Moab) me deu esta

oportunidaderdquo (entrevista out05) A dentista aderiu ao projeto a partir de uma das

apresentaccedilotildees do grupo em busca de patrociacutenio e apoio Diante da necessidade de pessoas

qualificadas para prestar serviccedilo voluntaacuterio ela que diz ter interesse e identidade com a aacuterea

social prontificou-se e estaacute no projeto haacute um ano

A psicoacuteloga demonstra o mesmo interesse ldquoEu sempre fui muito voltada para o social

sempre gostei muito de ajudarrdquo Ela parece estar muito inserida com a comunidade atraveacutes

do projeto pois frequumlentemente em seu discurso ela afirma ldquoquando vocecirc estaacute laacute dentro com

elesrdquo (entrevista out05) A psicoacuteloga trabalha em outro centro de atendimento a pessoas

carentes Estaacute no projeto haacute cinco anos

Pode-se observar que os colaboradores tecircm identidade com o projeto a ponto de

realizarem o trabalho como voluntaacuterios A uacutenica exceccedilatildeo eacute a professora mas mesmo ela em

seu discurso considera que fazer parte do projeto eacute uma oportunidade Eacute marcante a fala da

89

psicoacuteloga em sua entrevista ao inserir-se realmente na comunidade Esta dedicaccedilatildeo e

identidade podem ser fatores que contribuem para que o projeto tenha maior ecircxito

bull Acompanhamento da relaccedilatildeo de mentoria

O coordenador do projeto estaacute frequumlentemente avaliando se os resultados obtidos satildeo

os desejados

Eu optei pela Vila Vinteacutem porque o nosso acompanhamento eacute a liberdade vigiada () noacutes fazemos as coisas para eles mas tambeacutem queremos acompanhar de perto o que estaacute acontecendo entatildeo natildeo adianta eu pegar um menino da comunidade onde eu natildeo possa visitaacute-lo ele natildeo possa vir ao projeto Eu natildeo vejo o resultado do investimento feito enquanto eles aqui eu vejo passo-a-passo () eacute um acompanhamento bem de perto mesmo (COORDENADOR out05)

Haacute reuniotildees com os pais responsaacuteveis esclarecendo a importacircncia do projeto e

solicitando sua interaccedilatildeo no programa

Eles passavam fita de viacutedeo para os pais sobre educaccedilatildeo e pediam para os pais falar com os filhos () ele sempre queria o bem das crianccedilas agora dependia das crianccedilas e dos pais () seu Moab dizia que a gente tinha que ajudar ele com o Faacutebio (crianccedila tida pelo coordenador como de natildeo-ecircxito) botar ele praacute estudar (MAE DE FAacuteBIO E DE DIEGO entrevista out05)

Com relaccedilatildeo ao mentorado pode ocorrer o desligamento do aluno da bolsa de estudos

na escola particular caso ele natildeo atinja um desempenho satisfatoacuterio ldquoQuando uma crianccedila

natildeo valoriza isso que a gente oferece a gente tambeacutem natildeo aceita repetente natildeo aceita falta

vocecirc tem que estar de acordo dentro do projeto em disciplina bem comportado e com boas

notasrdquo (COORDENADOR entrevista out 05) Mesmo desligado da escola particular o

aluno pode continuar fazendo parte do reforccedilo

Pocircde-se confirmar atraveacutes destes discursos o relatado por Frecknall e Luks (1992) A

participaccedilatildeo dos pais apoiando o programa tem uma relaccedilatildeo positiva com o sucesso e sem este

apoio o ecircxito do programa pode ficar comprometido Em uma comunidade onde a grande

maioria dos moradores eacute analfabeta o acompanhamento deve ser intenso visando incutir na

famiacutelia a necessidade de compreensatildeo do valor da educaccedilatildeo Grossman e Tierney (1998)

90

tambeacutem salientam a importacircncia de se verificar o grau de envolvimento da famiacutelia no

programa pois conforme exposto este eacute um fator de ecircxito para a relaccedilatildeo

bull Frequumlecircncia dos encontros

A frequumlecircncia dos encontros entre os mentores e mentorados varia A psicoacuteloga ia agrave

comunidade uma tarde por semana na qual prestava os atendimentos agendados e caso

houvesse mais pessoas a serem atendidas fazia outros atendimentos Em caso de necessidade

ela ia agrave comunidade num outro dia A dentista atendia em seu consultoacuterio Havendo

necessidade o coordenador ligava e agendava o atendimento Jaacute as aulas eram ministradas

diariamente para os alunos que estudavam agrave tarde o reforccedilo era pela manhatilde e para os que

estudavam pela manhatilde o reforccedilo era agrave tarde O acompanhamento era feito durante uma hora e

meia para cada turma As turmas eram assim divididas alfabetizaccedilatildeo e 1a seacuterie 2a e 3a

seacuteries e 4a e 5a seacuteries

Figura 7 (4) - Professora e alunos durante a aula de reforccedilo na sede do projeto03

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

91

Apoacutes o reforccedilo os alunos tinham outras atividades como aula de muacutesica (teoria e

praacutetica) danccedila pintura ou inglecircs O projeto dispunha de quadra alugada onde as crianccedilas

podiam jogar futebol Em quase todas as atividades o coordenador diz estar presente

No ano de 2005 como as atividades foram parcialmente suspensas natildeo houve mais

frequumlecircncia no relacionamento Algumas das crianccedilas com bolsa de estudos em escola

particular foram colocadas num semi-internato conseguido pelo projeto Esta interrupccedilatildeo teve

reflexo na vida dos alunos como se pocircde observar no discurso abaixo

Em casa ela natildeo eacute comportada sempre ela foi danada mas ela melhorou no projeto Agora que ta sem o projeto ela jaacute ta voltando ao que era eu tocirc recebendo reclamaccedilatildeo do coleacutegio que natildeo quer estudar soacute quer ta brincando ta voltando a dar problema ta voltando a ser o que era () no semi-internato tem muita atividade satildeo muitas crianccedilas e eles arengam e no projeto eu nunca tive esse problema de ela ta arengando (sic) (MAE DE HELENA entrevista out05)

O fato de as entrevistas terem sido realizadas neste periacuteodo de transiccedilatildeo no qual as

crianccedilas natildeo estatildeo sendo assistidas faz com que a importacircncia da frequumlecircncia dos encontros

fique evidenciada Confirma-se assim que esta eacute um relevante fator de ecircxito para a relaccedilatildeo de

mentoria conforme observado na teoria (KEATING et al 2002) No entanto pode-se dizer

que o projeto de reforccedilo apresentava uma frequumlecircncia maior do que nos programas

similares apresentados pela teoria Tal frequumlecircncia garante um acompanhamento mais

proacuteximo visto que todos os dias por no miacutenimo uma hora e meia os alunos estavam no

projeto em contato com seus mentores Estudos feitos por Keating et al (2002) revelam que a

frequumlecircncia dos encontros tem relaccedilatildeo com o ecircxito do relacionamento principalmente em se

tratando de adolescentes com risco para delinquumlecircncia Neste sentido o projeto apresentava

maior probabilidade de ecircxito uma vez que a frequumlecircncia dos encontros era alta

d) Duraccedilatildeo da relaccedilatildeo de mentoria

Os alunos pesquisados estatildeo inseridos nesta relaccedilatildeo de mentoria por no miacutenimo dois

anos Segundo Grossmam e Rhodes (2002) a maioria dos benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria

92

como melhores resultados educacionais psicossocias e comportamentais apresentam-se em

relaccedilotildees que perduram por um ano ou mais Frecnall e Luks (1992) consideram que a duraccedilatildeo

eacute um fator determinante do ecircxito

O projeto mostra-se rigoroso com os fatores que impedem o ecircxito dos alunos desde

que sob sua responsabilidade Os fatores acima tecircm sido observados uma vez que a

negligecircncia em referecircncia a qualquer destes fatores pode levar a uma relaccedilatildeo ineficiente ou

ateacute mesmo negativa trazendo efeitos nocivos agrave vida da famiacutelia do mentorado e tambeacutem do

mentor

Natildeo se pode ignorar que na medida em que se vai estruturando uma relaccedilatildeo de

mentoria a mesma vai sofrendo ajustes visando tornaacute-la mais produtiva mais ldquopoderosardquo

Existem fatores que podem e devem ser estruturados previamente tais como a duraccedilatildeo e a

frequumlecircncia dos encontros e o objetivo da relaccedilatildeo No entanto haacute outros fatores que nem

sempre se consegue estruturar Um exemplo eacute a confianccedila necessaacuteria para que a relaccedilatildeo

realmente aconteccedila Em outras palavras observando-se os fatores relacionados ao ecircxito seratildeo

minimizadas as possibilidades de insucesso mas elas natildeo deixaratildeo de existir pois a mentoria

mesmo com seus inuacutemeros benefiacutecios natildeo eacute uma soluccedilatildeo maacutegica Trata-se de uma relaccedilatildeo e

portanto dependente do encontro de pessoas e de viacutenculos emocionais entre elas Este aspecto

eacute de difiacutecil controle havendo sempre um espaccedilo para a imprevisibilidade do ser humano

Se os fatores que levam ao ecircxito da relaccedilatildeo foram observados pelo projeto resta o

questionamento de o por quecirc de alguns casos serem considerados pelo projeto como de natildeo-

ecircxito Este aspecto eacute abordado na seccedilatildeo seguinte

93

425 Fatores responsaacuteveis pelo ecircxito e natildeo-ecircxito nos estudos na

percepccedilatildeo do mentor e da famiacutelia do mentorado

Na percepccedilatildeo do coordenador o ecircxito eacute obtido quando a cada ano a crianccedila vai sendo

aprovada e ascendendo e apresentando um bom comportamento ldquoQuando uma instituiccedilatildeo se

abre e nos convida a oferecer mais bolsas eacute porque nossos alunos estatildeo correspondendo tanto

em disciplina quanto no aprendizadordquo (COORDENADOR entrevista set05) Um exemplo

de ecircxito citado pelo coordenador eacute o caso de uma moccedila que foi acompanhada pelo projeto

desde a 6a seacuterie ateacute o 3ordm ano do ensino Meacutedio Ela fez um curso de informaacutetica depois fez um

estaacutegio junto agrave Prefeitura e hoje aos 20 anos trabalha no setor burocraacutetico de um hospital

O coordenador considera um caso de natildeo-ecircxito o caso da crianccedila ou adolescente que

natildeo rende o esperado em termos de desempenho escolar e de comportamento

Vale salientar que em quase sua totalidade os casos de natildeo-ecircxito indicados para

pesquisa foram avaliados pelas famiacutelias como de ecircxito A uacutenica exceccedilatildeo eacute a matildee de Faacutebio

que acredita que seu filho realmente natildeo tem tido sucesso nos estudos Segundo o

coordenador a diferenccedila estaacute na expectativa Para os pais o fato de o aluno estar na escola e

apresentar melhor comportamento jaacute eacute ecircxito enquanto que para o projeto isto natildeo eacute o

suficiente Na opiniatildeo dele a falta de sucesso deve-se a trecircs fatores

a) Estrutura familiar ndash muitas vezes a famiacutelia natildeo daacute o suporte que a crianccedila necessita

Para o coordenador a escola natildeo eacute valorizada por esses pais ldquoEles natildeo tecircm a escola como um

centro de promoccedilatildeo social como mobilidade social Eles natildeo descobriram isso As famiacutelias

natildeo as crianccedilasrdquo (COORDENADOR entrevista set05)

A professora chamava conversava com os alunos com a matildee em particular Ela queria ajudar ele mas ele natildeo queria ser ajudado Eu sabia que o Faacutebio natildeo ia ter uma oportunidade em uma escola melhor porque ele eacute assim () Eu nunca tava em cima dele para estudar eu natildeo tenho paciecircncia natildeo Se ele responder duas coisas erradas eu jaacute fico brava O pai eacute pior que eu Mal digo a ele que eacute pior do que eu (MAE DE FAacuteBIO entrevista out05)

94

b) Relacionamento negativo entre os pais e os filhos

Outro fator que notamos eacute a falta de amor para com essas crianccedilas que natildeo datildeo tatildeo certo () Os pais tecircm outros objetivos tecircm outras coisas mais importantes do que amar seus filhos () todas as crianccedilas bem comportadas na sala de aula eram bem amadas em casa () Quando isso natildeo ocorre a crianccedila torna-se uma crianccedila problema porque ela leva os haacutebitos e a falta de amor que ela tem em casa praacute escola para onde ela chegar (COORDENADOR entrevista set05)

c) Desinteresse do proacuteprio aluno O projeto contava com quatro alunos que eram

irmatildeos Estes recebiam acompanhamento diaacuterio nas tarefas O coordenador diz que foi agrave

escola deles para saber suas notas Por este motivo eles deixaram de ir ao projeto Nenhum

deles terminou o Ensino Meacutedio e atualmente um eacute zelador o outro eacute jardineiro e dois estatildeo

desempregados

O objetivo do projeto eacute de longo prazo o que dificulta uma anaacutelise dos resultados ou

de egressos para se identificar o ecircxito ou natildeo-ecircxito Mesmo os casos que desde o iniacutecio foram

acompanhados ainda hoje o satildeo Natildeo com a mesma intensidade mas ainda recebem algum

tipo de suporte do projeto Outro fator que dificulta a anaacutelise eacute o fato de que todos os alunos

estatildeo na escola e avanccedilando em seacuteries mesmo porque atualmente a escola natildeo reprova o que

torna difiacutecil saber ateacute que ponto tecircm realmente bom aproveitamento Portanto natildeo se

conseguiu distinguir dentre os casos pesquisados um limite claro entre o ecircxito e o natildeo-ecircxito

contando-se apenas com a percepccedilatildeo dos respondentes (matildees de alunos psicoacuteloga professora

e coordenador)

426 Resposta agrave primeira questatildeo norteadora especificidades da

relaccedilatildeo de mentoria existentes no projeto de reforccedilo escolar

Conforme o objetivo proposto pocircde-se encontrar algumas especificidades na relaccedilatildeo

de mentoria realizada no projeto que diferem um pouco dos achados teoacutericos Satildeo eles

95

a) A mentoria apresenta aspectos de mentoria formal e informal

b) Existem dois tipos de relacionamento entre mentor e mentorado em um o

acompanhamento eacute mais proacuteximo do que no outro

c) A frequumlecircncia dos encontros eacute maior no projeto do que a encontrada na literatura

d) Dentre as funccedilotildees de carreira o patrociacutenio oferecido pelo projeto eacute mais amplo do

que o apresentado pela teoria e

Com base nestes achados eacute possiacutevel concluir que um programa de mentoria para

crianccedilas e adolescentes de uma comunidade carente do Recife tem suas especificidades suas

caracteriacutesticas particulares diferindo de outros programas realizados no contexto de outros

paises Respondida a primeira questatildeo norteadora segue-se a segunda que aborda os

benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentorado

43 Achados referentes agrave segunda questatildeo norteadora

Seguem os achados que buscam responder a seguinte questatildeo em um contexto

brasileiro ateacute que ponto os mentorados carentes estudados tecircm desfrutado dos benefiacutecios da

relaccedilatildeo de mentoria apontados pela literatura

Pocircde-se observar os seguintes benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria na vida dos

mentorados enquanto participantes do programa de reforccedilo

431 Aumento da auto-estima da responsabilidade maior

progresso escolar e perspectiva positiva de futuro

Devido agrave impossibilidade de neste trabalho medir-se a auto-estima dos mentorados o

aumento desta seraacute considerado em relaccedilatildeo ao progresso escolar pois com base no observado

por Harter (1982) o sentir-se competente leva o jovem a obter melhor desempenho Grossman

96

e Tierney (1998) salientam que jovens ao serem acompanhados por um mentor se sentiram

mais confiantes para com suas tarefas escolares Associou-se tambeacutem o progresso escolar com

perspectiva positiva de futuro uma vez que se percebeu que o avanccedilo nos estudos estaacute

relacionado com melhores perspectivas de futuro

O aumento do desempenho escolar eacute visiacutevel nos casos que se seguem

Antes (do projeto) ela era preguiccedilosa soacute queria ficar brincando ela teve muita dificuldade para aprender (na preacute-escola) Estudava mas natildeo aprendia na 1a foi fazer o reforccedilo depois do projeto ela foi se interessando mais pode ser porque natildeo tinha nenhum incentivo neacute () Ela chegava e dizia que era bom quando estudava e tirava nota boa antes (de interromper o projeto) ela natildeo esperava nem chegar em casa vinha aqui (no trabalho) para me mostrar as provas (MAE DE HELENA entrevista out05)

No interior eu fiz matricula dele noacutes trabalhava na roccedila ele natildeo gostava (de estudar) natildeo se dedicava ia caccedilar passarinho mas quando chegou aqui seu Moab quis acordar ele pra vida Ele vendo os meninos tudo com a idade dele (9 anos na eacutepoca) sabendo ler e escrever dentro de seis meses o menino desenrolou para aprender mesmo (sic) (MAE DE JAIRO entrevista out05)

Jairo cursou a 4a e a 5a seacuteries no mesmo ano Faz tambeacutem curso de inglecircs O

coordenador ouviu da professora deste curso que o aluno tem dom para idiomas natildeo soacute

inglecircs mas espanhol e francecircs

A possibilidade do intercacircmbio foi boa para eu ter uma certa ideacuteia do que pode acontecer comigo do que pode acontecer () Ele (Moab) dizia que para analfabeto a caneta e o papel eacute o chatildeo e a vassoura Que eu estudasse porque a miseacuteria hoje em dia -saiu na revista- jaacute tinha endereccedilo que era praacute pobre negro e nordestino e que se a gente natildeo lutasse essa realidade a gente natildeo iria mudar nunca () Eu decidi que quero ser professor de inglecircs (WALTER entrevista out05)

Ele diz que quer fazer faculdade ele ficou com mais esperanccedila de conseguir uma coisa melhor ele diz que eu natildeo me preocupe porque daqui a dez anos ele vai ter um emprego bom e vai me ajudar (MAE DE FREDERICO entrevista out05)

Ele quer ir estudar nos Estados Unidos fez vaacuterios cursos inglecircs francecircs espanhol informaacutetica e de entrevista Onde tiver curso ele vai ele quer muito trabalhar ter seu dinheiro fazer sua vida () o negoacutecio dele eacute ta dentro de casa estudando pregado nos livros (MAE DE NESTOR entrevista out05)

97

A professora entrevistada leciona tambeacutem no coleacutegio que oferece bolsa para os alunos

do projeto sendo professora deles em ambos os lugares Ao ser solicitada a comparar o

desempenho dos alunos do projeto com os demais alunos a professora mencionou que dentre

seus trecircs alunos com desempenho excelente dois satildeo do projeto Os demais do projeto estatildeo

na meacutedia

A coordenadora de uma das escolas que fornece bolsa de estudos ao projeto (esta

escola oferece bolsas para dois alunos da sexta seacuterie) ao ser entrevistada disse que o

comportamento dos alunos do projeto eacute bom e o desempenho apresentado por eles eacute maior do

que a meacutedia da turma e da seacuterie como se pode observar nos boletins que se seguem

98

Figura 8 (4) Boletim escolar de Afracircnio - 6a Seacuterie

99

Figura 9(4) Boletim escolar de Jairo ndash 6a Seacuterie

Em ambos os casos as famiacutelias satildeo analfabetas E neste ano os dois alunos estatildeo sem

o reforccedilo motivo pelo qual segundo uma das matildees o desempenho do filho caiu Este mesmo

aluno neste ano natildeo conta com todo o material didaacutetico necessaacuterio Ainda assim estes alunos

estatildeo apresentando um desempenho superior ao de seus colegas

100

Atraveacutes dos discursos das matildees percebeu-se considerarem que o fato de seus filhos

terminarem a primeira fase do ensino fundamental e darem sequumlecircncia a estes estudos jaacute eacute uma

visatildeo positiva de futuro Observou-se isso no discurso da matildee de Afracircnio ldquoquem estuda tem

esperanccedila de um futuro melhorrdquo O caso de Jairo que chegou analfabeto do interior e em seis

meses estava lendo e escrevendo confirma o proposto por Rhodes et al (2002) de que a

presenccedila de um mentor ajuda os adolescentes a superarem momentos de adversidade Neste

caso ele natildeo tem pai e sua matildee considera o mentor como algueacutem da famiacutelia que ajuda a

suprir esta ausecircncia na vida do filho O fato de Walter (que convive com analfabetos) ter

definido sua carreira (professor de inglecircs) demonstra o proposto por Kram (1985) o mentor

ajuda o mentorado na definiccedilatildeo da identidade profissional

Vale destacar a relevacircncia de se promover o aumento da auto-estima decorrente do

desempenho apresentado pelos alunos Pessoas que ainda natildeo tecircm satisfeitas adequadamente

as necessidades fisioloacutegicas (alimentam-se mal natildeo contam com aacutegua encanada nem

sanitaacuterios) e de seguranccedila (moram e vivem permanentemente expostos a riscos) apresentando

necessidade de realizaccedilatildeo Vale ressaltar a teoria da motivaccedilatildeo proposta por Maslow (apud

ROBBINS 2002) que defende que a satisfaccedilatildeo da necessidade de realizaccedilatildeo dependeria da

satisfaccedilatildeo de niacuteveis mais baacutesicos de necessidade como as fisioloacutegicas de seguranccedila e sociais e

de estima Percebeu-se no contexto da pesquisa a possibilidade do caminho inverso Atraveacutes

do aumento da auto-estima e da satisfaccedilatildeo da necessidade de realizaccedilatildeo as crianccedilas e

adolescentes podem vir a ter no futuro condiccedilotildees de satisfazer a contento suas necessidades

fisioloacutegicas e de seguranccedila

101

432 Resposta da segunda questatildeo norteadora benefiacutecios da

mentoria para a crianccedila adolescente do projeto

Foram encontrados os seguintes benefiacutecios para o mentorado participante do projeto

aumento da auto-estima maior progresso escolar e perspectiva positiva de futuro

Em termos de especificidades com relaccedilatildeo ao proposto pela teoria natildeo foram

percebidas diferenccedilas existentes entre os benefiacutecios para o mentorado encontrados em

pesquisas anteriores e os encontrados no projeto de reforccedilo escolar na Vila do Vinteacutem II fato

que responde agrave segunda questatildeo norteadora desta pesquisa

Seguem os achados acerca da terceira questatildeo que versa sobre os benefiacutecios para o

mentor encontrados na mentoria desenvolvida pelo projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

44 Achados referentes agrave terceira questatildeo norteadora

Dentre os benefiacutecios na vida dos mentores que participam do projeto pocircde-se observar

realizaccedilatildeo pessoal motivaccedilatildeo amizade auto-conhecimento e senso de dever cumprido Tais

achados apresentados nas seccedilotildees abaixo buscam responder a seguinte questatildeo ateacute que ponto

um projeto de mentoria voltado para crianccedilas e adolescentes carentes oferece os benefiacutecios

propostos pela teoria para os mentores

441 Realizaccedilatildeo pessoal

Pocircde-se observar que fazer parte do projeto faz com que os mentores se sintam

realizados

Quando a gente eacute uacutetil a outra pessoa a gente se realiza () Eu me realizo assim vendo a alegria dos meninos que realmente estatildeo mudando a cara natildeo soacute da famiacutelia mas tambeacutem da comunidade (COORDENADOR entrevista set05)

102

Eu fico muito bem comigo mesma na realizaccedilatildeo deste trabalho () O que me deixa realizada eacute ver alguns frutos desse trabalho natildeo soacute nas crianccedilas como da proacutepria famiacutelia () em relaccedilatildeo ao futuro agrave auto-estima potencial de cada um que eles natildeo estatildeo sozinhos a gente taacute laacute com eles () e esse pouquinho esse pouco que eu estou fazendo estaacute facilitando a vida melhorando A gente vecirc um salto de qualidade na vida deles (PSICOacuteLOGA entrevista out05)

Ao acompanhar preparar os alunos para os exames de admissatildeo vecirc-los entrar na

escola particular acompanhar o crescimento e desenvolvimento dos mentorados a professora

entrevistada demonstra sentir orgulho do trabalho feito com seus dois melhores alunos

ldquoRealmente valeu a pena investir porque satildeo crianccedilas que apesar de todo o contexto social

que eles vivem eles satildeo responsaacuteveis inteligentiacutessimosrdquo (PROFESSORA entrevista out05)

Ficou evidenciado que o fato de ser um mentor daacute ao indiviacuteduo um senso de

generosidade ao contribuir com as geraccedilotildees futuras (RAGINS 1997) e que ser mentor de

adolescentes delinquumlentes tem sido gratificante na medida em que os mentores tecircm uma

oportunidade de ajudar estas pessoas (JACKSON 2002) Ser mentor do projeto Educaccedilatildeo eacute

Vida provecirc um sentimento de recompensa ao ver as mudanccedilas positivas na vida dos

mentorados conforme o propostos por Shields (2001)

442 Motivaccedilatildeo

A psicoacuteloga diz que a partir de seu envolvimento com o projeto ela fez curso em

Psicopedagogia e especializaccedilatildeo em Psicologia da Famiacutelia

O trabalho com as crianccedilas e as famiacutelias me proporcionou outros aprendizados maiores ateacute do que eu esperava porque a gente aprende muito laacute dentro com eles E assim eu comecei a me especializar a voltar para mim em niacutevel de aprendizado de crescimento tambeacutem profissional () Eacute uma troca muito grande de saber quando a gente taacute laacute dentro com eles a gente tem essa vontade de realmente acertar (PSICOacuteLOGA entrevista out05)

Zey (1998) diz que o mentor pode redirecionar sua energia para a criatividade e accedilatildeo

produtiva A mentoria pode entatildeo significar estiacutemulo e desafio O que pocircde ser observado no

103

discurso acima O desenvolvimento profissional natildeo eacute benefiacutecio apenas para o mentorado

mas para o mentor tambeacutem

443 Ser amado pelo mentorado

Pocircde ser observado que o mentor recebe amizade e carinho de seus mentorados

conforme verificado por Klaw et al (2003) ldquoEle ama o seu Moab ele almoccedila na casa de

Moab segunda e quarta e diz que laacute tudo eacute bomrdquo (MAE DE AFRAcircNIO entrevista out05)

ldquoMeus dois filhos eacute agarrado com seu Moabrdquo (sic) (MAE DE TAcircNIA entrevista set 05)

ldquoMoab foi vendo que eu tava sempre ali no projeto do lado dele e ele do meu lado () o

pessoal me achava careta porque eu sentia alguma coisa pelo projeto eu sempre prestava a

atenccedilatildeo procurava entenderrdquo (WALTER entrevista out05)

444 Autoconhecimento

Percebeu-se que fazer parte do projeto enquanto mentor provecirc um maior

autoconhecimento ou autopercepccedilatildeo

ldquoEacute muito gratificante trabalhar com pessoas carentes comeccedilo a valorizar o que eu

tenho a gente comeccedila a agradecer muito por essa vida boa que a gente tem que eacute muito boa

muito boa mesmordquo (DENTISTA entrevista out05)

A partir desta relaccedilatildeo ela percebe melhor sua situaccedilatildeo fala acerca da sauacutede dos filhos e de ter

uma casa maravilhosa

Neste caso o contato com a realidade da comunidade pode tecirc-la levado a comparar

esta realidade com a sua proacutepria e entatildeo perceber-se abastada

104

445 Senso de dever cumprido

Outro beneficio encontrado diz respeito ao senso de dever cumprido que o fato de ser

mentor propicia

A gente sabe que tem um papel social a desempenhar Natildeo fomos beneficiados pela sociedade com o direito de estudar de fazer um curso superior de ter uma habilitaccedilatildeo () para que isso sirva apenas para o nosso benefiacutecio Essa nossa habilitaccedilatildeo que a sociedade deu a sociedade deu eu estudei em uma Universidade Federal essa habilitaccedilatildeo deve retornar para a sociedade tambeacutem para quem pode pagar e para quem natildeo pode pagar Eacute necessaacuterio que isso volte (DENTISTA entrevista out05)

Este benefiacutecio natildeo foi encontrado na literatura talvez por tratar de um tema ainda

recente o indiviacuteduo ter responsabilidade com a realidade social que o cerca

446 Resposta da terceira questatildeo norteadora benefiacutecios da

mentoria para o mentor

Foram encontrados no projeto educaccedilatildeo eacute Vida os seguintes benefiacutecios para o mentor

a) Realizaccedilatildeo pessoal

b) Motivaccedilatildeo

c) Ser amado pelo mentorado

d) Autoconhecimento e

e) Senso de dever cumprido

Sendo que estes dois uacuteltimos natildeo foram encontrados na teoria mas percebidos na

relaccedilatildeo de mentoria que ocorre no projeto Estes achados podem ser explicados devido ao

contexto no qual a mentoria ocorreu crianccedilas e adolescentes de uma comunidade carente

Contexto que difere da realidade dos mentores e que pode tecirc-los levado a uma reflexatildeo sobre

sua proacutepria condiccedilatildeo de vida e sua responsabilidade com os que natildeo se acham em iguais

condiccedilotildees Tais achados respondem a terceira questatildeo norteadora deste trabalho

105

45 Achados referentes agrave quarta questatildeo norteadora

Puderam ser verificados outros benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas

e adolescentes com risco para delinquumlecircncia aleacutem dos mencionados anteriormente Pois na

medida em que o mentorado se beneficia da relaccedilatildeo sua famiacutelia alcanccedila estes benefiacutecios e a

sociedade tambeacutem acaba sendo beneficiada ainda que indiretamente

Com o intuito de responder a questatildeo quais os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da

relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas e adolescentes carentes em uma comunidade do Recife

seguem os benefiacutecios sociais diretos da mentoria realizada pelo projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

451 Desenvolvimento educacional das crianccedilas e dos adolescentes

Por se tratar de um ambiente carente e de analfabetos a comunidade natildeo tem como

prover o acompanhamento das crianccedilas e adolescentes as famiacutelias natildeo dispotildeem de tempo

eou conhecimento e preparo para prover tal suporte Por exemplo uma matildee analfabeta natildeo

parece ter condiccedilotildees de ajudar o filho nas tarefas escolares

Eu tocirc pensando quando ela fizer a 5a que natildeo tem o reforccedilo nem o semi-internato ela vai fazer a tarefa em casa e se brincar ela sabe mais do que eu (MAE DE SILVIA entrevista out05)

Eu natildeo tenho estudo faccedilo meu nome muito mal Meu marido sabe mas trabalha e de noite jaacute ta cansado () no reforccedilo ele fazia a tarefa todo dia sem reforccedilo e sem uma matildee que sabe ler quem ia ensinar a ele ai ia ficar complicado (MAE DE FREDERICO entrevista out05) Os coleacutegios hoje em dia quer a crianccedila saiba ler quer natildeo saiba o Estado passa natildeo quer saber se a crianccedila ta aprendendo se aprendeu se natildeo aprendeu (MAE DE TITO entrevista out05) A escola (puacuteblica) um dia tem aula outro dia natildeo tem ai ela fica em casa Hoje mesmo ela taacute em casa porque natildeo teve aula (MAE DE TAcircNIA entrevista out05)

106

A professora dele disse que ele natildeo tinha condiccedilotildees de passar mas ela natildeo podia reprovar (MAE DE FAacuteBIO entrevista out05)

Tais depoimentos revelam dois fatores incapacidade da famiacutelia em acompanhar os

estudos do filho e ineficiecircncia do ensino puacuteblico na experiecircncia destas famiacutelias O que leva a

pensar que o futuro educacional destas crianccedilas seria similar ao de suas matildees conforme

Barros et al (1994) que diz que a educaccedilatildeo meacutedia das matildees eacute o principal determinante do

desempenho escolar do filho ou seja haveria maior evasatildeo escolar Neste sentido o projeto

propicia que o aluno vaacute aleacutem da escolaridade da matildee

Vale aqui um questionamento por que o governo investe em bolsa escola e natildeo

acompanha o aluno Simplesmente ter a presenccedila do aluno na escola natildeo eacute garantia de que o

mesmo estaacute aprendendo O fato de que um professor natildeo pode mais reprovar o aluno mesmo

que sem condiccedilotildees de galgar um grau superior pode demonstrar que o interesse das poliacuteticas

puacuteblicas pode estar relacionado a nuacutemeros A taxa de matriacutecula estaacute associada ao aumento do

IDH mas ateacute que ponto isto reflete o real rendimento escolar dos alunos

Neste caso a mentoria vem suprir uma falta natildeo apenas da famiacutelia mas tambeacutem do

Estado e do Municiacutepio uma vez que por si soacute natildeo tecircm tido ecircxito com o aproveitamento e a

manutenccedilatildeo dos alunos na escola

452 Assistencialismo

Foi observado que algumas famiacutelias associam o projeto agrave assistecircncia social ldquoO reforccedilo

faz muita falta () tinha muitas doaccedilotildees roupas cestas baacutesicas no dia das crianccedilas

tinha brinquedos festas doaccedilotildees para as crianccedilasrdquo (MAtildeE DE FAacuteBIO entrevista

set05)

Ainda que esta natildeo seja a proposta do projeto as famiacutelias devido ao patrociacutenio

ofertado ao mentorado e agrave sua famiacutelia percebem o projeto como assistencialista

107

453 Diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia

O projeto demonstra contribuir indiretamente com a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia

As crianccedilas tando no projeto a gente fica despreocupada Quando ela natildeo tava no projeto ficava na rua natildeo queria estudar soacute queria ficar na rua brincando () muitas matildees estatildeo preocupadas em o que fazer com as crianccedilas sem o projeto (MAE DE HELENA entrevista out05) Ele tando laacute no projeto eu saio despreocupada neacute Que ele natildeo ta na rua A vida que a gente vive hoje sai pra trabalhar e sabe que o filho natildeo ta na rua a gente fica despreocupada (MAE DE AFRAcircNIO entrevista out05) Ele gosta eacute de rua de papagaio peatildeo bola () Ele natildeo liga para o caderno livros agora falou em rua eacute com ele () No reforccedilo ele estudava mais um pouco (MAE DE FAacuteBIO entrevista out05) O reforccedilo evita de as crianccedilas ta na rua no sinal pedindo (MAE DE TITO entrevista out05)

Atraveacutes destas declaraccedilotildees pocircde-se observar o referido por Harris et al (2002) que a

entrada das matildees no mercado de trabalho e o aumento das separaccedilotildees conjugais fazem com

que o adolescente passe menos tempo com os pais e passe a maior parte do tempo com seus

pares Conforme observado anteriormente a delinquumlecircncia tem diversas causas Dias (2003)

por exemplo verificou que a maior parte dos jovens delinquumlentes participantes de sua

amostra era de analfabetos funcionais relacionando assim a delinquumlecircncia a poucos anos de

estudos e consequumlentemente agrave evasatildeo escolar Na medida em que a crianccedila se desenvolve

nos estudos haacute uma diminuiccedilatildeo da evasatildeo escolar e consequumlentemente da delinquumlecircncia

Outra forma de o projeto contribuir com a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia refere-se a levar as

crianccedilas a deixarem a rua onde estatildeo expostas a diversos riscos como violecircncia drogas

exploraccedilatildeo sexual e confusotildees situaccedilotildees frequumlentes em um contexto de favela

A relaccedilatildeo de mentoria desenvolvida pelo projeto eacute de longo prazo Portanto por mais

que alguns benefiacutecios se evidenciem estes soacute poderatildeo ser claramente observados ao longo do

108

tempo quando as crianccedilas e adolescentes do projeto forem adultos Pode-se inferir a partir

dos resultados apresentados que ao inveacutes de dependentes de poliacuteticas assistencialistas os

egressos contribuiratildeo com o desenvolvimento de sua cidade Eacute possiacutevel antecipar que uma

grande parcela das pessoas que faziam a favela Vila do Vinteacutem II estaraacute alfabetizada e

ocupando um lugar no mercado de trabalho Aiacute sim ter-se-aacute um aumento real do IDH que de

fato revelaraacute um aumento da qualidade de vida desta populaccedilatildeo do Recife Soacute entatildeo poderatildeo

ser mensurados os benefiacutecios sociais deste projeto

454 Resposta da quarta questatildeo norteadora benefiacutecios sociais

da relaccedilatildeo de mentoria

Pocircde-se observar os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria existente

no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida As especificidades encontradas foram

a) Maior desenvolvimento educacional de crianccedilas e adolescente carentes com risco para

delinquumlecircncia visto tratar-se de um projeto de reforccedilo escolar

b) Assistecircncia social ao prover a satisfaccedilatildeo de algumas das necessidades baacutesicas do

mentorado e de sua famiacutelia

c) Suprimento pela relaccedilatildeo de mentoria de uma falha do sistema educacional do Estado e

do Municiacutepio que gradua o aluno sem que ele tenha condiccedilotildees O projeto tem suprido

esta carecircncia dando condiccedilotildees de o aluno galgar o grau seguinte

Estes foram os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da mentoria realizada no projeto

Educaccedilatildeo eacute Vida o que responde agrave quarta questatildeo norteadora deste trabalho

Seratildeo apresentadas no proacuteximo capiacutetulo as conclusotildees do trabalho bem como as implicaccedilotildees

teoacutericas praacuteticas e sociais e as sugestotildees de pesquisas futuras

109

5 Conclusatildeo

Neste capiacutetulo seratildeo apresentadas as conclusotildees da pesquisa tendo como referencial os

objetivos propostos

Pode-se concluir que a mentoria mostrou assim como no exposto teoricamente

resultados positivos na vida dos mentores mentorados e da comunidade O objetivo da

pesquisa foi atingido uma vez que foi possiacutevel conhecer algumas especificidades da mentoria

no contexto brasileiro e mais especificamente nordestino Ampliou-se tambeacutem o

conhecimento da mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes com risco para delinquumlecircncia

Desta forma a mentoria mostrou-se eficaz no sentido de contribuir para o desenvolvimento

do mentorado de forma que ele permanece na escola e melhora o rendimento escolar

As funccedilotildees de carreira propostas pela literatura foram encontradas e destas vale

destacar a oferta de tarefas desafiadoras O mentor propotildee inuacutemeros e audaciosos desafios

para seus mentorados sem no entanto deixar de prover as condiccedilatildeo de atingi-los e de superar

a realidade de exclusatildeo a que estatildeo sujeitos Outras funccedilotildees desenvolvidas pelo projeto e que

merecem destaque dizem respeito agrave amizade e agrave aceitaccedilatildeo do mentor para com seu

mentorado A importacircncia deste viacutenculo afetivo eacute imensuraacutevel principalmente em se tratando

e crianccedilas que muitas vezes natildeo percebem amor em sua famiacutelia

Seu Moab se preocupa mais com as crianccedilas do que noacutes que somos matildee (risos) Tem paciecircncia tem carinho por aquelas crianccedilas Ele sabe ensinar () ele natildeo machuca ele natildeo grita e as crianccedilas obedecem Eacute uma benccedilatildeo ele tem aquele amor (MAtildeE DE TAcircNIA entrevista set05)

O projeto demonstrou suprir lacunas na famiacutelia sendo o mentor agraves vezes comparado

com um pai ou com algueacutem da famiacutelia Pocircde se perceber a importacircncia da mentoria para o

grupo especiacutefico de pessoas marginalizadas ldquocarentes de tudordquo (PSICOacuteLOGA entrevista

110

set05) ao se ter algueacutem que acredite que aceite valorize incentive e decirc condiccedilotildees de

crescimento e desenvolvimento Papel este desempenhado pelos mentores ldquoO projeto restaura

a dignidade da pessoa do ser pessoa de ser um cidadatildeo de estar num lugar () onde as

pessoas estatildeo olhando para ele Ele eacute importante ele existerdquo (PSICOacuteLOGA entrevista

out05)

A mentoria mostrou-se efetiva em ajudar o mentorado em seu desenvolvimento

pessoal e ldquoprofissionalrdquo e seus benefiacutecios puderam ser em parte verificados

Os fatores de ecircxito mencionados na teoria tambeacutem puderam ser encontrados no

projeto A relaccedilatildeo de mentoria existente no projeto revelou caracteriacutesticas natildeo abordadas pela

teoria o que enriquece os estudos nesta aacuterea

Outro aspecto que chama a atenccedilatildeo eacute o comprometimento dos colaboradores

entrevistados seu desejo em ajudar e realizaccedilatildeo ao poderem contribuir

Esta foi a conclusatildeo objetiva deste trabalho No entanto em se tratando de uma

pesquisa qualitativa na qual haacute o envolvimento do pesquisador com o objeto na busca de se

chegar a uma compreensatildeo deste outros conhecimentos menos objetivos puderam ser

apreendidos e devem ser mencionados

O fazer parte do projeto parece ter um significado especial para quem dele participa e

os benefiacutecios parecem ir aleacutem dos aqui listados Algo taacutecito que natildeo pocircde ser apreendido

apenas sentido o brilho nos olhos as laacutegrimas as pausas e a voz trecircmula Fatos frequumlentes

nas entrevistas quer de mentores de mentorados ou das matildees

O projeto na percepccedilatildeo da pesquisadora pode ser comparado a seguinte metaacutefora uma

sementeira muito acolhedora cujos responsaacuteveis satildeo uma famiacutelia de saacutebios agricultores (pai

matildee filho e filha) que mesmo com outras opccedilotildees ldquomais lucrativasrdquo financeiramente optam

por trabalhar em sementes rejeitadas Esta famiacutelia partilha da visatildeo que vai aleacutem da ldquocascardquo

seca feia suja e aparentemente infrutiacutefera que tais sementes se apresentam E assim doam

111

suas vidas para descobrir (natildeo no sentido de achar mas de tirar o que encobre) e revelar o

tesouro que haacute dentro delas Plantam regam e fornecem a elas os nutrientes tirados de sua

proacutepria mesa no intuito de vecirc-las desabrochar desenvolver crescer e influenciar

positivamente a terra seca e aacuterida na qual foram geradas e permanecem A ideacuteia eacute a de uma

sementeira na qual um belo jardim e um frutiacutefero pomar satildeo vislumbrados Natildeo se

excluem desta percepccedilatildeo as dificuldades que acompanham o preparo da terra a poda as

intempeacuteries do ambiente e o descreacutedito daqueles que muitas vezes ao verem tal trabalho

negligenciam seu valor meneiam a cabeccedila e o desprezam No entanto o amor e a vontade de

ver tais sementes tatildeo marginalizadas frutificarem se alastra e contagia a outros que com o

mesmo intuito tecircm se envolvido contribuindo e partilhando do mesmo sentimento pois

acreditam que fornecendo as condiccedilotildees ldquoadequadasrdquo essas sementes iratildeo frutificar tanto ou

mais do que as mais belas aacutervores do mais belo pomar Esta sementeira para a pesquisadora

eacute o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida os agricultores satildeo Moab Silva Miriam Mariacutelia e Marcos

Moab apenas esporadicamente trabalha como cozinheiro visto dedicar-se

integralmente ao projeto no acompanhamento das crianccedilas e adolescentes nas escolas na

busca de patrociacutenio na comunidade com os pais

Miriam abre as portas de sua casa partilha o alimento com qualquer das crianccedilas que

chegar agrave sua porta e tatildeo importante quanto este partilha tambeacutem o afeto Natildeo se pode

mensurar o quanto este casal jaacute abnegou de sua vida em prol da vida deste projeto

Mariacutelia e Marcos jaacute ensinaram no projeto e quando solicitados retornam eles aceitam

partilhar com tantos outros daquilo que seria soacute seu pai matildee lar e recursos

Este projeto eacute um projeto de uma famiacutelia que se envolve se compromete com

seriedade e responsabilidade com os moradores da comunidade de forma que sofre junto

partilhando das dificuldades de crianccedilas e adolescentes que seriam apenas estranhos ou

ldquomeninos de ruardquo natildeo fosse o amor que os mobiliza

112

Pode-se perceber que muitas vezes faltam recursos materiais para se fazer como se

gostaria e ateacute mesmo para dar continuidade ao que jaacute foi feito No entanto a ausecircncia de

estiacutemulo de coragem de amor e de creacutedito natildeo foi percebida Talvez por isso algumas matildees

tenham se referido ao projeto como sendo algo maravilhoso

Feitas as conclusotildees seguem nas proacuteximas seccedilotildees as implicaccedilotildees teoacutericas praacuteticas e

sociais deste estudo e as sugestotildees de pesquisa futura

51 Contribuiccedilotildees do estudo

O presente trabalho oferece algumas contribuiccedilotildees para a teoria para a praacutetica e

tambeacutem para a sociedade Seguem nas proacuteximas seccedilotildees o detalhamento destas contribuiccedilotildees

511 Contribuiccedilatildeo teoacuterica

Esta pesquisa traz contribuiccedilotildees para a teoria na medida em que verifica a

aplicabilidade da literatura no contexto brasileiro de uma comunidade carente Oferece

contribuiccedilotildees tambeacutem por tratar da mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes com risco

para delinquumlecircncia A pesquisa aborda objetos que no Brasil ainda natildeo tinham sido

pesquisados sob o arcabouccedilo da mentoria

Outra contribuiccedilatildeo deste estudo diz respeito aos achados aqueles que diferem da

teoria e que foram encontrados no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida tais como o patrociacutenio amplo

oferecido pelo mentor ao mentorado o mentor natildeo ser tido como modelo o

autoconhecimento e senso de dever cumprido como benefiacutecios para o mentor Em se tratando

de estudo de caso estes achados natildeo devem ser generalizados No entanto podem servir de

questionamento e de objeto de futuras investigaccedilotildees no sentido de ver sua aplicabilidade em

outros contextos

Segue a contribuiccedilatildeo praacutetica deste trabalho

113

52 Contribuiccedilatildeo praacutetica

O presente objeto de pesquisa (mentoria voltada para educaccedilatildeo de crianccedilas e

adolescentes carentes) pode ser utilizado tambeacutem como forma de intervenccedilatildeo na educaccedilatildeo do

ensino puacuteblico e privado

A iniciativa privada tambeacutem pode ter nesta relaccedilatildeo de mentoria um modelo de accedilatildeo

de responsabilidade social Pode intervir em sua comunidade preparando sua futura matildeo-de-

obra e usufruindo os diversos benefiacutecios que tal relaccedilatildeo pode trazer natildeo soacute em termos de

dividendos ao gerenciar a reputaccedilatildeo mas em termos solidariedade realizaccedilatildeo e senso de

dever cumprido

Era objetivo contribuir com a praacutetica atraveacutes da teoria de mentoria visando

potencializar a relaccedilatildeo existente no projeto de reforccedilo No entanto uma vez que os fatores de

ecircxito jaacute satildeo considerados e que a relaccedilatildeo tem trazido benefiacutecios para o mentorado mentor e

para a sociedade natildeo se percebeu formas de contribuiccedilatildeo com o projeto neste sentido Senatildeo

de apresentar um estudo sistematizado do projeto e de como satildeo beneficiados os que dele

participam

53 Contribuiccedilatildeo social

O presente trabalho oferece contribuiccedilotildees sociais na medida em que confirmou que o

objeto de estudo mostrou-se eficiente em sua proposta podendo entatildeo servir de modelo de

accedilatildeo para outras entidades voltadas para crianccedilas e adolescentes de risco

O trabalho tambeacutem pode servir de fonte de pesquisa para empresas que desejam ser

responsaacuteveis socialmente atraveacutes da educaccedilatildeo tendo na mentoria um modelo que apresentou

resultados positivos

Outra contribuiccedilatildeo social deste estudo diz respeito ao questionamento sobre a

educaccedilatildeo no Brasil O projeto tem sido uma alternativa diante do insucesso da escola puacuteblica

114

em fazer com que o aluno permaneccedila na escola e obtenha bom aproveitamento A

contribuiccedilatildeo pode ser aumentada na medida em que o puacuteblico para tal projeto eacute de crianccedilas e

adolescentes com risco Tais sujeitos aleacutem do aprendizado obtido adquirem perspectiva

positiva de vida podendo-se inferir que haja diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia

Seguem na proacutexima seccedilatildeo algumas sugestotildees de pesquisas futuras que podem ser

realizadas no intuito de compreender melhor o fenocircmeno estudado

52 Sugestotildees de pesquisas futuras

Algumas sugestotildees de pesquisa podem ser feitas a partir do presente trabalho Satildeo elas

a) Acompanhar a histoacuteria dos futuros egressos visando conhecer melhor os

resultados do programa de mentoria

b) Realizar um experimento entre as crianccedilas e adolescentes que participam do

projeto e os natildeo participantes para se verificar a influecircncia deste

c) Investigar quais as implicaccedilotildees de haver dois tipos de relaccedilatildeo de mentoria no

projeto na qual o mentor tem um relacionamento mais proacuteximo com um

mentorado do que com outro

Estas sugestotildees para pesquisa futura encerram este trabalho mas natildeo os

questionamentos dele advindos

Peccedilo licenccedila a Moab para terminar o trabalho com sua fala Para educar natildeo se tem

um resultado imediato Entatildeo vocecirc tem que gastar tempo Eacute investimento em longo

prazo Vocecirc tem que ter paciecircncia () amor (COORDENADOR entrevista set05)

115

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119

LARSON R DWORKIN J GILLMAN S Facilitating adolescentsacuteconstructive use of time in on-parent families Applied Developmental Science v 5 n3 p 143-157 2001 LAVILLE C DIONE J A construccedilatildeo do saber Manual de metodologia da pesquisa em ciecircncias humanas Porto AlegreUFMG 1999 LEVINSON D J DARROW CN KLEIN E LEVINSON MA MCKEE B The seasons of a manacutes life In KLAW E RHODES J FITZGERALD L Natural mentors in the lives of African American adolescent mothers tracking relationships over time Journal of Youth and Adolescence v 3 n 32 p 223-232 2003 MAIN M KAPLAN K CASSIDY J Security in infancy childhood and adulthood a move to the level of representation In GROSSMAN J RHODES J The test of time predictors and effects of duration in youth mentoring relationships American Journal of Comm Psychol v30 n2 p 199-120 2002 MINAYO MC O desafio do conhecimento Satildeo Paulo-Rio de Janeiro HucitecAbrasco 1998 MULLEN E Vocational and psychosocial mentoring functions identifying mentors who serve both Human Resource Development Quarterly v9 n4 p319-331 1998 ___________ Framing the mentoring relationships as an information exchange Human Resource Management Review v4 p 257-281 1994 MURRAY M Beyond the myths and magic o mentoring how to facilitate an effective mentoring program San Francisco CA Jossey-Bass Publishers 2001 NETO OC O trabalho de campo como descoberta e criaccedilatildeo In MINAYO M C (org) Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade 7ed Rio de Janeiro Vozes 1997 NERI M COSTA D O tempo das crianccedilas Ensaio econocircmico Faculdade Getuacutelio Vargas 2003 Disponiacutevel em lthttpepgefgvbrgt Acesso em 12 fevereiro 2005 NOE RA An investigation of the determinants of successful assigned mentoring relationships Personnel Psychology v 41 p 457-479 1988 PATTERSON G DEBARISHE B RAMSEY E A developmental perspective on antisocial behavior American Psychologist v44 n 2 p 329-335 1989

120

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121

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122

APEcircNDICE A - Apresentaccedilatildeo da entrevista

123

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

APRESENTACcedilAtildeO DA ENTREVISTA

Meu nome eacute Adriana Alvarenga Marques Sou pesquisadora da Universidade Federal

de Pernambuco e estamos fazendo um estudo sobre a educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes

Pesquisamos sobre este tema no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida com alguns pais de alunos e com

alguns dos que colaboram com o projeto e tambeacutem com o Sr Moab

Estou aqui para lhe fazer algumas perguntas sobre este assunto A sua participaccedilatildeo eacute

de muita importacircncia para a pesquisa

Quero destacar que vocecirc natildeo precisa se identificar e seus dados e o do aluno natildeo seratildeo

revelados

Gostaria ainda de sua permissatildeo para gravar nossa ldquoconversardquo lembrando que apenas

eu ouvirei a fita Peccedilo isto por que para anotar as respostas eu levaria muito tempo e natildeo seria

feito com precisatildeo Vocecirc autoriza

124

APEcircNDICE B- Roteiro da entrevista com os pais

125

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

Roteiro de Entrevista para os Pais

Nome- ___________________________________________________________________

Nome do(a) filho(a) participante do projeto- _____________________________________

Escolaridade dos pais- _______________________________________________________

Quantas pessoas moram com o(a) aluno(a) _______________________________________

1- Haacute quanto tempo vocecirc conhece o projeto de reforccedilo Educaccedilatildeo eacute Vida

2- O que vocecirc pensa a respeito deste projeto

3- Haacute quanto tempo seusua filho(a) faz parte do projeto

4- Qual a idade dele (a)

5- Qual a seacuterie que ele(a) cursa

6- Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo de seusua filho(a) houve alguma mudanccedila nele(a) depois de

haver entrado no projeto Qual(ais)

7- No dia-a-dia vocecirc percebe alguma influencia do projeto no comportamento de

seusua filho(a) Qual(ais)

8- Existe algueacutem do projeto que demonstre cuidado e preocupaccedilatildeo com seusua filho(a)

que o(a) acompanhe seusua filho(a) mais de perto Quem

9- Como eacute feito esse acompanhamento

10- Qual o significado desta pessoa na vida de seu filho

11- Seu filho(a) gosta de estudar

12- Como vocecirc percebe isto

13- Seu filho(a) jaacute recebeu alguma ajuda vinda do projeto

14- Que tipo de ajuda

15- Quando seu filho passa por alguma dificuldade ou problema a quem ele recorre

16- Haacute algueacutem do projeto que aconselhe seuas filho(a) Quem

17- Que tipo de conselho ele(a) oferece

18- Seusua filho(a) fala sobre seu futuro O que ele(a) diz

126

19- Onde seu filho estuda

20- Como eacute o desempenho de seusua filho(a) na escola Como satildeo suas notas

21- Seusua filho(a) traz tarefas para casa

22- Quem o(a) ajuda a resolve-las

23- Haacute mais alguma coisa sobre a educaccedilatildeo de seu filho que vocecirc considere importante

24- Quando vocecirc pensa no projeto qual a ideacuteia ou sentimento que lhe vem

25- Haacute mais alguma coisa sobre o projeto que vocecirc gostaria de falar

127

APEcircNDICE C - Roteiro da entrevista com os colaboradores

128

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

Roteiro da Entrevista com os Colaboradores

Nome ndash ______________________________________________________________

Tempo de projeto-______________________________________________________

Funccedilatildeo desempenhada no projeto- _________________________________________

Tempo de projeto - _____________________________________________________

1- Haacute quanto tempo vocecirc conhece o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

2- Qual a sua participaccedilatildeo neste projeto

3- Com que frequumlecircncia ocorre seu contato com as crianccedilas adolescentes comunidade

4- Vocecirc recebe alguma remuneraccedilatildeo para atuar no projeto

5- Qual sua motivaccedilatildeo para participar

6- Vocecirc poderia descrever como eacute seu relacionamento com os alunos

7- Haacute algum(a) em especial por quem vocecirc tenha maior preocupaccedilatildeo cuidado carinho

8- Por que

9- Como satildeo seus encontros com as crianccedilas

10- Como vocecirc percebe o significado deste projeto na vida da comunidade

11- Durante o seu tempo de participaccedilatildeo no projeto houve algum evento ou

acontecimento que lhe marcou e que vocecirc gostaria de falar

12- Quando vocecirc pensa no projeto qual a ideacuteia ou sentimento que lhe vem

13- Haacute mais alguma coisa sobre o projeto ou sobre os alunos que vocecirc gostaria de

compartilhar

129

APEcircNDICE D - Roteiro da entrevista com o fundador do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

130

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

Roteiro de Entrevista do Fundador

Nome ndash ______________________________________________________________

1- Como surgiu a ideacuteia do projeto

2- Como foi efetivado

3- Quais as motivaccedilotildees para a existecircncia do projeto

4- Houve participaccedilatildeo de sua famiacutelia

5- Vocecirc poderia falar acerca do funcionamento do projeto as atividades desempenhadas

os objetivos a manutenccedilatildeo

6- A quem o projeto se destina

7- Qual a sua participaccedilatildeo efetiva no projeto

8- Como se deu a formalizaccedilatildeo

9- Como ocorre a seleccedilatildeo das crianccedilas para fazer parte do projeto

10- Quais os criteacuterios para se manter no projeto

11- Como o projeto obteacutem recursos para funcionar

12- Que tipo de atividade o projeto desenvolve

13- Haacute quanto tempo o projeto existe

14- Houve algueacutem em sua vida que serviu de incentivo para que vocecirc desenvolvesse esse

tipo de atividade

15- Por que um projeto em educaccedilatildeo

16- Qual o significado deste projeto na vida da sua famiacutelia

17- Qual o significado deste projeto na vida da comunidade

18- O que significa para uma crianccedila participar do projeto

19- Quais as dificuldades enfrentadas

20- Haacute ou houve algum acontecimento que lhe marcou

21- Existem crianccedilas que vocecirc acompanha mais de perto

22- Como eacute esse acompanhamento

131

23- O que o projeto oferece aos participantes em termos de educaccedilatildeo

24- Haacute mais algum tipo de ajuda que o projeto oferece Qual (ais)

25- O que eacute importante para que o projeto obtenha ecircxito

26- O que vocecirc acredita que eacute determinante do sucesso escolar de um aluno

27- Por que vocecirc acha que alguns alunos natildeo obtecircm bom aproveitamento escolar

28- Como eacute a participaccedilatildeo de sua famiacutelia no projeto

29- Qual o seu sonho para o projeto

30- Quando vocecirc pensa neste projeto qual a ideacuteia ou sentimento que lhe ocorre

31- Haacute mais alguma coisa que vocecirc gostaria de falar

132

ANEXO A - Estatuto da Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre

133

134

135

136

137

138

139

140

ANEXO B ndash Documento de Apresentaccedilatildeo do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

141

142

IDENTIFICACcedilAtildeO Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre situada agrave rua Joatildeo Tude de Melo nordm 21 Casa Forte Recife Pernambuco Brasil CEP ndash52060-030 tel 3442-2084

Objetivo Manter influente obra social cristatilde que possa mudar o quadro social das crianccedilas e jovens da comunidade

O projeto funciona haacute trecircs anos atendendo a comunidade na aacuterea de educaccedilatildeo sauacutede lazer e educaccedilatildeo religiosa

143

ANAacuteLISE DO CONTEXTO DO PROJETO A favela Vila do vinteacutem como todo reduto de pobreza tem seus problemas suas causas e consequumlecircncias Apoacutes trecircs anos de atividades nesta comunidade detectamos que a maacute distribuiccedilatildeo de renda e a falta de uma poliacutetica social voltada para os mais carentes tecircm contribuiacutedo para a formaccedilatildeo de famiacutelias desestruturadas e em situaccedilotildees de risco fomentadas pela pobreza cultural e financeira Residem em barracos de madeira papelatildeo e plaacutestico de aproximadamente 12m2 sem aacutegua esgoto e muitos sem sanitaacuterios O conviacutevio diaacuterio com insetos torna a accedilatildeo meacutedica difiacutecil ou mesmo inviaacutevel Eacute isto que temos vivenciado no dia-dia famiacutelias em condiccedilotildees sub-humanas sobrevivendo de pequenos serviccedilos que prestam

Eacute neste cenaacuterio que consequumlentemente a crianccedila e o jovem desenvolve seu potencial de violecircncia anseios e conflitos convivendo com a fome a falta de higiene ambiente inoacutespito e inadequado para os estudos e outras atividades Essas crianccedilas semi-abandonadas vivem sem perspectivas de mudanccedilas sendo apenas viacutetimas de um processo que as leva a marginalidade

Por esta razatildeo se faz necessaacuterias accedilotildees contiacutenuas para melhoria da qualidade de vida e paz social desenvolvendo atividades que as valorizem como pessoas minimizando o sofrimento dando-lhes esperanccedilas atraveacutes da educaccedilatildeo sauacutede lazer e profissionalizaccedilatildeo

144

OBJETIVOS

Geral Visa natildeo somente melhorar a qualidade de vida no presente mas intervir num ciclo vicioso preparando a crianccedila e o jovem para o futuro Atuar na aacuterea de Educaccedilatildeo solicitando bolsas de estudo na rede privada com aulas de reforccedilo para o ensino fundamental alfabetizaccedilatildeo infantil distribuiccedilatildeo de material escolar e merenda Curso regular de liacutengua estrangeira (Inglecircs) iniciaccedilatildeo musical (teoria e praacutetica) Sauacutede Cliacutenica pediaacutetrica odontoloacutegica psico-pedagoacutegica e aviamento de receitas

Especiacuteficos

A) Promover a melhoria da escolaridade incentivando a permanecircncia e o equiliacutebrio entre o conhecimento e o grau adquirido

B) Desenvolver atividades que proporcionem o desenvolvimento de competecircncias sociais pessoais e intelectuais favorecendo a reflexatildeo e o exerciacutecio da cidadania com palestras passeios e filmes Ampliando o leque de conhecimentos e enriquecendo o senso criacutetico

C) Desenvolver programa intensivo de sauacutede atraveacutes de convecircnios melhorando desta forma a sauacutede e a aparecircncia fiacutesica para que haja um relacionamento pessoal sem reserva ou constrangimento

D) Ampliar os conhecimentos por curso regular de liacutengua estrangeira (Inglecircs) e iniciaccedilatildeo musical teoria e praacutetica Tirando-os da rua e da ociosidade oferecendo uma perspectiva de profissionalizaccedilatildeo e um conviacutevio cultural diferente do que vivenciam

145

PUacuteBLICO ALVO Crianccedilas e jovens de cinco a dezessete anos residentes na Vila Vinteacutem e devidamente matriculados e frequumlentando a rede oficial de ensino puacuteblico ou privado METODOLOGIA Profissionais de suas respectivas aacutereas ministraratildeo aulas diariamente ou em dias alternados conforme as especialidades e necessidades do projeto Por tratar-se de prestaccedilatildeo de serviccedilo voluntaacuterio com fim social todos teratildeo liberdade sobre o plano de accedilatildeo a ser aplicado no entanto deveratildeo estar de acordo com o nosso Estatuto Convecircnio com a Fundaccedilatildeo Manuel de Almeida (Hospital Infantil) para cliacutenica meacutedica e pediaacutetrica cabendo a instituiccedilatildeo a avaliaccedilatildeo e anaacutelise dos resultados As atividades seratildeo desenvolvidas em nossa sede proacutepria e anexo I exceto o curso de inglecircs consultas odontoloacutegicas e cliacutenica meacutedica Modelo de Educaccedilatildeo para a Sauacutede Objetivo Colocar a educaccedilatildeo a serviccedilo de uma vida saudaacutevel Accedilotildees destinadas a orientar os jovens

bull Alimentaccedilatildeo adequada bull Atividades que natildeo promovam o estresse bull Vida sexual segura bull Orientaccedilatildeo sobre o risco do tabaco aacutelcool e outras drogas

psicoativas bull Discussatildeo de temas gerais atuais ndash exemplo tracircnsito poluiccedilatildeo

violecircncia etc Objetivando a formaccedilatildeo de cidadatildeos conscientes e capazes de optar por uma vida mais saudaacutevel individual e coletiva

Modelo de Modificaccedilatildeo das Condiccedilotildees de Ensino Enfatizando a vivecircncia escolas desde a Educaccedilatildeo Infantil ensino Fundamental e Meacutedio como essencial para o desenvolvimento sadio do adolescente e adulto Preocupando-se com a prevenccedilatildeo ao uso abusivo de drogas a delinquumlecircncia as patologias mentais buscando a formaccedilatildeo integral do jovem Envolvendo pais e comunidade

146

Orientaccedilotildees estrateacutegicas

bull Modificar as praacuteticas de ensino bull Melhorar a relaccedilatildeo professoraluno bull Melhorar o ambiente escolar bull Incentivar o desenvolvimento social bull Ofertar serviccedilos de sauacutede bull Envolver os pais em atividades curriculares

AVALIACcedilAtildeO Bimestral junto agraves escolas solicitando boletins de cada aluno assistido pelo projeto cuja permanecircncia dos benefiacutecios dependeraacute do aproveitamento escolar da assiduidade agraves atividades e programaccedilatildeo da instituiccedilatildeo

147

ANEXO C ndash Estrutura baacutesica para orientaccedilatildeo de teses e dissertaccedilotildees

148

  • CLASSIFICACcedilAtildeO DE ACESSO A TESES E DISSERTACcedilOtildeES
    • Adriana Alvarenga Marques
      • 1 Introduccedilatildeo
        • 2 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica
          • Mentoria informal
            • Mentoria formal
              • 3 Metodologia
                  • APEcircNDICE A - Apresentaccedilatildeo da entrevista
                    • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                    • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                      • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                        • APRESENTACcedilAtildeO DA ENTREVISTA
                          • APEcircNDICE B- Roteiro da entrevista com os pais
                            • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                            • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                              • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                                • Roteiro de Entrevista para os Pais
                                  • APEcircNDICE C - Roteiro da entrevista com os colaboradores
                                    • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                                    • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                                      • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                                        • Roteiro da Entrevista com os Colaboradores
                                          • APEcircNDICE D - Roteiro da entrevista com o fundador do Projet
                                            • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                                            • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                                              • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                                                • Roteiro de Entrevista do Fundador
                                                  • ANEXO A - Estatuto da Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre
                                                    • IDENTIFICACcedilAtildeO
                                                      • ANAacuteLISE DO CONTEXTO DO PROJETO
                                                        • OBJETIVOS
                                                          • PUacuteBLICO ALVO
                                                            • METODOLOGIA
                                                                • Modelo de Educaccedilatildeo para a Sauacutede
                                                                • Modelo de Modificaccedilatildeo das Condiccedilotildees de Ensino
                                                                  • AVALIACcedilAtildeO
Page 6: A mentoria na educação de crianças e adolescentes carentes ... · Figura 5 (4) Modelo de Certificado de Padrinho 70 Figura 6 (4) Foto da apresentação das meninas do projeto em

Agradecimentos

A Deus nosso amado Pai que fez com que mais um dos meus sonhos se tornasse realidade que colocou pessoas dEle ao meu redor para me ensinar incentivar compartilhar e corrigir Agrave querida Professora Drordf Socircnia Calado por sua dedicaccedilatildeo e nobreza ao partilhar saberes tatildeo altos comigo e pela confianccedila e aceitaccedilatildeo Aos meus queridos e competentes mestres que me ensinaram entre tantos conteuacutedos a alegria e a dor do aprendizado Ao professor Dr Pedro Lincoln pelo exemplo de aula e pela consideraccedilatildeo Agraves professoras Drordfs Lenice Pimentel e Maria Auxiliadora (UFALCHLA) por me apresentarem a este Programa Agrave Professora Drordf Lilian Outtes por sua amizade e profissionalismo Agrave UFPE esta reconhecida Instituiccedilatildeo da qual eu muito me orgulho A todos os que fazem o PROPAD minha sincera gratidatildeo Agrave dona Socorro pela simpatia e pelo cafezinho gostoso Ao Sr Moab Silva e sua esposa Miriam pela receptividade e apoio A todos os que fazem o Projeto Amigos para Sempre pela abertura colaboraccedilatildeo e confianccedila Ao Emanuel Marques meu querido marido pelo carinho apoio e paciecircncia tatildeo presentes nestes dois anos Obrigada amor Aos meus filhos Juliana e Carlos Henrique pela forccedila que mesmo sem saber me transmitiram o tempo todo Aos meus pais Carlos e Ana por pedirem a Deus pela minha vida Ele os tem ouvido Aos meus sogros Fernando Marques e Zeine Gomes pelo incentivo constante e por acreditar em mim Aos meus irmatildeos Edilson Elisana e Adilson Ao Dr Conrado Paulino (in memoriam) e sua esposa Drordf Zery Gomes pelos saacutebios e sinceros conselhos Ao Sr Joaquim Vera e Fabiana Sousa pelo apoio e assistecircncia Agrave Roberta Arauacutejo pela amizade mesmo que agrave distacircncia Aos colegas da turma 10 pelas alegrias e agonias partilhadas De fato vocecircs satildeo 10 Que Deus vos abenccediloe ricamente A Ana Claudia Ariaacutedne Denise Maria Elisa e agrave Monique pela amizade construiacuteda neste periacuteodo Minha sincera gratidatildeo a todos que contribuiacuteram para que este sonho se tornasse real Sem vocecircs esta conquista natildeo seria possiacutevel Muito obrigada

ldquoAinda que eu conheccedila todos os misteacuterios e toda a ciecircncia se natildeo tiver amor nada sereirdquo

Adap Apoacutestolo Paulo

Resumo

A mentoria se caracteriza pela relaccedilatildeo existente entre mentor (algueacutem com reconhecida

experiecircncia) e mentorado (um neoacutefito) na qual o mentor serve de guia para o jovem aprendiz

dando-lhe conselhos instruccedilotildees patrociacutenio e amizade de modo a facilitar o desenvolvimento

de sua carreira Em troca o mentor obteacutem reconhecimento apoio e realizaccedilatildeo ao acompanhar

o crescimento profissional de seu mentorado A mentoria voltada para jovens e adolescentes

com risco para a delinquumlecircncia tem sido investigada em paiacuteses como Estados Unidos e Canadaacute

Dentre os benefiacutecios encontrados pode-se citar a diminuiccedilatildeo de comportamentos agressivos

reduccedilatildeo da evasatildeo escolar aumento da auto-estima e consequumlentemente reduccedilatildeo da

delinquumlecircncia juvenil A presente pesquisa propocircs-se a investigar um programa de mentoria

voltado para crianccedilas e adolescentes carentes O objetivo foi verificar quais as especificidades

deste programa num contexto brasileiro e quais os benefiacutecios desta relaccedilatildeo na vida dos

mentorados (crianccedilas e adolescentes) dos mentores (colaboradores do projeto) e da

comunidade A percepccedilatildeo das famiacutelias acerca do projeto tambeacutem foi considerada Fez-se um

estudo de caso exploratoacuterio-descritivo acerca de um projeto de reforccedilo escolar localizado na

Vila do Vinteacutem II uma comunidade carente do Recife A estrateacutegia de pesquisa foi

qualitativa atraveacutes de entrevistas observaccedilatildeo e anaacutelise documental Pocircde-se perceber que

apenas em alguns aspectos a mentoria ocorrida no projeto diferia dos achados na literatura

Por exemplo o fato de o mentor ser um modelo para o mentorado (fato expliacutecito

teoricamente) natildeo ficou evidenciado neste contexto A pesquisa procurou verificar a

viabilidade de uma forma de intervenccedilatildeo na vida de crianccedilas e adolescentes carentes que

pode ser utilizada por organizaccedilotildees privadas como meio de accedilatildeo de responsabilidade social e

por instituiccedilotildees puacuteblicas no sentido de alcanccedilar maior aproveitamento escolar das crianccedilas e

dos adolescentes

Palavras-chave Mentoria Educaccedilatildeo Comunidade carente Delinquumlecircncia Suporte

psicossocial

Abstract

Mentorship is characterized by the relationship between a mentor (someone with recognized

experience) and the individual to be mentored (novice) in which the mentor guides the young

apprentice offering himher counsel advice and friendship in a way as to facilitate the

development of hisher career In exchange the mentor obtains recognition support and

personal reward taking part in the professional growth of the person being mentored

Mentorship geared towards youth and teenagers with risks of becoming delinquent individuals

has been investigated in countries such as the United States and Canada Among the benefits

found one can mention the decrease in aggressive behavior and school absenteeism an

increase in self esteem and consequently a decrease in juvenile delinquency This research is

intended to investigate a mentorship program geared towards impoverished children and

teenagers with the purpose of verifying if in the Brazilian context specifically in the

northeast of Brazil the mentor relationship presents the same characteristics as those shown

in previously documented researches This is a descriptive-exploratory case study about a

school tutorship program at Vila do Vinteacutem II a slum in Recife Pernambuco Brazil The

objective of this study was to verify what are the specificities of a mentorship program

designed for children and teenagers in the Brazilian context and what are the benefits of this

relationship in the life of those who are mentored (children and teenagers) the mentors (who

joined the program) and the community The perception of the families about the program has

been taken into consideration as well The strategy used for this research was qualitative

through interviews and observation and documental analysis It was observed that only in a

few aspects the mentorship analyzed in this program was different from the findings of

previous research as for instance the fact that the mentor is considered a role model for the

apprentice (a theoretical fact that is widely accepted) has not been evidenced in this context

This research was intended to demonstrate the possibility of an intervention in the lives of

impoverished children and teenagers and can be utilized by organizations in their social

responsibility actions and by public policy formulators with the purpose of increasing school

progress for children and teenagers

Key-words Mentorship Tutorship Education Impoverished community Delinquency

Psychosocial support

Lista de figuras

Figura 1 (4) Foto da Vila do Vinteacutem II 60Figura 2 (4) Foto das palafitas da Vila do Vinteacutem II 61Figura 3 (4) Foto da festa de Natal para as crianccedilas da Vila Vinteacutem 63Figura 4 (4) Foto da festa das crianccedilas na sede do projeto 64Figura 5 (4) Modelo de Certificado de Padrinho 70Figura 6 (4)

Foto da apresentaccedilatildeo das meninas do projeto em uma missa de Natal realizada pela Igreja Catoacutelica de Casa Forte na Vila Vinteacutem 81

Figura 7 (4)

Foto da professora e alunos durante a aula de reforccedilo na sede do projeto 90

Figura 8 (4) Boletim escolar de Afracircnio 98Figura 9 (4) Boletim escolar de Jairo 99

Sumaacuterio 1 Introduccedilatildeo 1511 Objetivos 18111 Objetivo geral 18112 Objetivos especiacuteficos 1812 Justificativa 19121 Justificativa teoacuterica 19122 Justificativa praacutetica e social 192 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica 2121 Mentoria 21211 Funccedilotildees de mentoria 242111 Suporte de carreira 242112 Suporte psicossocial 26212 Fases da relaccedilatildeo mentoria 28213 Tipos de mentoria 302131 Mentoria informal 302132 Mentoria formal 31214 Fatores relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria formal 312141 Seleccedilatildeo de mentores e mentorados 322142 Treinamento supervisatildeo e acompanhamento do programa de mentoria 332143 Frequumlecircncia dos encontros 342144 Duraccedilatildeo da relaccedilatildeo de mentoria 3422 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria 35221 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentorado 36222 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentor 39223 Benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria 413 Metodologia 4631 Delineamento da pesquisa 4632 Primeira fase da coleta de dados 47321 Objetivo 47322 Instrumentos de coleta de dados 4833 Segunda fase de coleta de dados 50331 Objetivos 50332 Instrumentos de coleta de dados 5034 Sujeitos da pesquisa 52341 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos sujeitos 5335 Meacutetodos de anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados 5436 Limitaccedilotildees da pesquisa 564 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos achados 5841 O caso 58411 O contexto do projeto Vila Vinteacutem II 58412 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 62413 Atividades desenvolvidas pelo projeto 65414 Formalizaccedilatildeo do projeto como organizaccedilatildeo natildeo-governamental 67415 Situaccedilatildeo atual do projeto 68416 Dificuldades enfrentadas pelo projeto 69417 Motivaccedilatildeo para a existecircncia e continuidade do projeto 70418 Dados dos mentores entrevistados 71419 Dados dos mentorados pesquisados 72

4191 Alunos tidos como que de ecircxito nos estudos 724192 Alunos tidos como que de natildeo ecircxito nos estudos 7442 Achados referentes agrave primeira questatildeo norteadora do trabalho 76421 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida como um programa de mentoria 76422 Funccedilotildees de mentoria encontradas no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 784221 Suporte de carreira 784222 Suporte psicossocial 83423 Fases da relaccedilatildeo de mentoria apresentadas no projeto de reforccedilo 87424

Fatores encontrados no projeto que estatildeo relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria 87

425 Fatores responsaacuteveis pelo ecircxito e natildeo ecircxito nos estudos percepccedilatildeo do mentor e da famiacutelia do mentorado 93

426

Resposta da primeira questatildeo norteadora especificidades da relaccedilatildeo de mentoria existentes no projeto de reforccedilo escolar 94

43 Achados referentes agrave segunda questatildeo norteadora 95431

Aumento da auto-estima da responsabilidade maior progresso escolar e perspectiva positiva de futuro 95

432

Resposta da segunda questatildeo norteadora benefiacutecios da mentoria para a crianccedila adolescente do projeto 101

44 Achados referentes agrave terceira questatildeo norteadora 101441 Realizaccedilatildeo pessoal 101442 Motivaccedilatildeo 102443 Ser amado pelo mentorado 103444 Autoconhecimento 103445 Senso de dever cumprido 104446 Resposta da terceira questatildeo norteadora benefiacutecios da mentoria para o mentor 10445 Achados referentes agrave quarta questatildeo norteadora 105451 Desenvolvimento educacional das crianccedilas e dos adolescentes 105452 Assistencialismo 106453 Diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia 107454

Resposta da quarta questatildeo norteadora benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria 108

5 Conclusatildeo 10951 Contribuiccedilotildees do estudo 112511 Contribuiccedilatildeo teoacuterica 112512 Contribuiccedilatildeo praacutetica 113513 Contribuiccedilatildeo social 11352 Sugestotildees de pesquisas futuras 114Referecircncias 115APEcircNDICE A- Apresentaccedilatildeo da entrevista 122APEcircNDICE B- Roteiro da entrevista com os pais 124APEcircNDICE C- Roteiro da entrevista com os colaboradores 127APEcircNDICE D- Roteiro da entrevista com o fundador do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 129ANEXO A- Estatuto da Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre 132ANEXO B- Documento de apresentaccedilatildeo do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 140ANEXO C- Estrutura baacutesica para orientaccedilatildeo de teses e dissertaccedilotildees 147

15

1 Introduccedilatildeo

A educaccedilatildeo no Brasil tem sido nos uacuteltimos anos alvo de atenccedilatildeo por parte dos

governantes da iniciativa privada e da sociedade De acordo com dados do IBGE-Pnad

(2000) o Brasil conta com um iacutendice de analfabetismo de 116 sendo que na Regiatildeo

Nordeste este iacutendice sobe para 23 Em se tratando de analfabetismo funcional o que se

refere agraves pessoas com menos de quatro anos de estudo completos o iacutendice eacute de 24 no Brasil

e 39 na Regiatildeo Nordeste chegando a 43 em alguns municiacutepios Tais dados revelam a

existecircncia de municiacutepios onde quase metade da populaccedilatildeo tem menos de quatro anos de

estudo O fato de haver analfabetos funcionais em tatildeo grande proporccedilatildeo pode ser explicado

pela evasatildeo escolar

Trata-se de milhotildees de brasileiros excluiacutedos agrave margem por natildeo terem acesso agrave leitura

agrave escrita agrave cultura e ao conhecimento formal comprometendo ainda mais a auto-estima e

reduzindo a qualidade de vida de tais pessoas A alta taxa de analfabetismo (116) reduz

ainda mais o IDH (Iacutendice de Desenvolvimento Humano) que no Brasil eacute considerado meacutedio

077 (PNUD 2000) O IDH foi criado para medir o niacutevel de desenvolvimento humano dos

paiacuteses com base em indicadores de educaccedilatildeo (alfabetizaccedilatildeo e taxa de matriacutecula) longevidade

e renda Tal iacutendice varia de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1(desenvolvimento

humano total) Em Pernambuco este iacutendice eacute de 069 considerado meacutedio A taxa de ocupaccedilatildeo

no mercado de trabalho cresce agrave medida que a escolaridade aumenta Entre analfabetos eacute de

52 a chance de ocupaccedilatildeo enquanto que entre graduados sobe para 87 (NERY COSTA

2003)

Satildeo brasileiros que devido agrave exclusatildeo social decorrente do analfabetismo entre outros

fatores natildeo fazem parte do mercado consumidor Pessoas que por sua insuficiente renda ou

16

total falta dela ficam seriamente limitadas no tocante ao consumo sendo muitas dependentes

de poliacuteticas assistencialistas

As empresas tambeacutem sofrem as consequumlecircncias do analfabetismo seja absoluto (pessoa

iletrada) ou funcional pois tecircm em funccedilatildeo dele uma matildeo de obra desqualificada Soma-se o

fato de que estas pessoas natildeo fazem parte de sua clientela uma vez que natildeo tecircm poder

aquisitivo para tal

Estatiacutesticas confirmam que haacute um aumento na renda agrave medida que se acrescentam

anos de estudo A cada ano de estudo a renda aumenta cerca de 16 (IBGE-PNAD 1998) e

consequumlentemente aumenta tambeacutem o poder de compra a inserccedilatildeo social e a qualificaccedilatildeo

Uma questatildeo pertinente em se tratando de evasatildeo escolar eacute sua associaccedilatildeo com a

delinquumlecircncia Um estudo realizado com adolescentes paulistas demonstrou que a defasagem

escolar bem como a multirrepetecircncia satildeo fatores positivamente relacionados com a inserccedilatildeo

de jovens na criminalidade (DIAS 2003)

Barros et al (1994) revelam que um dos principais determinantes do desempenho

escolar da crianccedila eacute a educaccedilatildeo meacutedia das matildees Riveiro (2001) com base em dados da

Unesco afirma que os brasileiros que satildeo analfabetos absolutos estatildeo localizados

principalmente em aacutereas carentes da Regiatildeo Nordeste Considerando que haacute grande propensatildeo

de as matildees que moram em comunidades carentes do Nordeste serem analfabetas e que a

educaccedilatildeo da matildee tende a ser um fator determinante da educaccedilatildeo dos filhos parece legiacutetimo

esperar limitaccedilotildees graves na educaccedilatildeo de crianccedilas em comunidades carentes do Recife

O atual governo em 2001 criou o Programa Nacional do Bolsa-Escola que incentiva

a famiacutelia a colocar o filho na escola e fazecirc-lo permanecer nela Para tanto a famiacutelia recebe a

quantia de R$ 1500 por filho matriculado (MEC 2005) O projeto visa a reduccedilatildeo da evasatildeo

escolar sem no entanto acompanhar o rendimento do aluno beneficiado

17

Quanto agrave iniciativa privada a educaccedilatildeo tem sido o foco de algumas empresas ao

investirem na formaccedilatildeo dos funcionaacuterios e dos filhos destes Acerca do levantamento sobre as

100 melhores empresas para se trabalhar no ano de 2002 Silveira (2002) afirma que eacute fato

relevante para a organizaccedilatildeo que pertence a este ranking a colaboraccedilatildeo com a comunidade na

qual estaacute inserida Para tal algumas organizaccedilotildees contam inclusive com seus funcionaacuterios

agindo como voluntaacuterios nestas accedilotildees de responsabilidade social Desenvolvendo atividades

como esta de responsabilidade social e cidadania a empresa eacute mais bem avaliada por seus

stakeholders internos e externos (ASHLEY 2003)

Nos Estados Unidos uma alternativa para evitar a evasatildeo escolar tem sido

desenvolvida atraveacutes da mentoria Nesta relaccedilatildeo o mentor eacute uma pessoa mais experiente do

que o mentorado algueacutem em quem este confia com quem pode compartilhar suas

dificuldades necessidades e anseios e de quem recebe apoio e orientaccedilatildeo Um exemplo deste

trabalho foi realizado por Klaw et al (2003) com adolescentes afro-americanas gestantes O

objetivo do programa de mentoria era ajudar estas novas matildees a terminar a escola e a

conseguir resultados educacionais satisfatoacuterios apoacutes o nascimento da crianccedila O estudo

mostrou que das adolescentes que foram acompanhadas durante dois anos por um mentor

65 terminaram os estudos Jaacute entre as matildees que natildeo contaram com o programa de mentoria

este percentual caiu para 35 Pode-se concluir que apesar dos fatores adversos (maternidade

na adolescecircncia dificuldade econocircmica e preconceito racial) a mentoria mostrou-se eficaz no

combate agrave evasatildeo escolar

No Recife (PE) em uma comunidade carente verificou-se a existecircncia de um

programa de reforccedilo escolar Foram percebidas atraveacutes de uma pesquisa exploratoacuteria

evidecircncias da relaccedilatildeo de mentoria entre os colaboradores e os alunos sendo estes os

mentorados Esta evidecircncia criou a possibilidade de pesquisar os benefiacutecios produzidos pela

relaccedilatildeo de mentoria voltada para educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes carentes no Brasil

18

Investiga-se assim ateacute que ponto a mentoria pode ser um recurso para auxiliar no aumento do

aproveitamento escolar dos mentorados e na reduccedilatildeo da evasatildeo escolar Desta forma

considerando a situaccedilatildeo da educaccedilatildeo as limitaccedilotildees impostas pelo analfabetismo e a evasatildeo

escolar que aleacutem da exclusatildeo social estaacute associada agrave delinquumlecircncia definimos a seguinte

pergunta de pesquisa

Como ocorre a mentoria voltada para a educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes em

uma comunidade carente do Recife

11 Objetivos

111 Objetivo geral

Investigar como ocorre a mentoria em um programa de reforccedilo escolar voltado para

crianccedilas e adolescentes carentes de uma comunidade do RecifePE

112 Objetivos especiacuteficos

bull Investigar as especificidades da relaccedilatildeo de mentoria (funccedilotildees fases tipos e

fatores de ecircxito) voltada para crianccedilas e adolescentes carentes no contexto de

uma comunidade do Recife

bull Verificar quais os benefiacutecios da mentoria para o mentorado na percepccedilatildeo das

famiacutelias destes

bull Investigar quais os benefiacutecios da mentoria para os mentores na percepccedilatildeo

destes e

bull Verificar quais os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria

19

12 Justificativa

O presente trabalho se justifica devido agrave relevacircncia do tema que aborda e de suas

implicaccedilotildees poliacuteticas organizacionais e sociais

121 Justificativa teoacuterica

No aspecto teoacuterico pode-se citar a escassez de bibliografia nacional acerca da

mentoria Trata-se de um fenocircmeno pouco estudado no Brasil e menos ainda voltado para

educaccedilatildeo de jovens e adolescentes Faz-se necessaacuterio portanto investigar como ocorre a

mentoria no paiacutes e quais as suas especificidades e caracteriacutesticas Neste sentido o presente

estudo pode oferecer algumas contribuiccedilotildees

122 Justificativa praacutetica e social

Do ponto de vista praacutetico a proposta eacute que conhecendo como a mentoria ocorre aqui

agrave luz da teoria existente se possa auxiliar o processo otimizando-o

Quanto agrave justificativa da pesquisa do ponto de vista social pode-se mencionar a

necessidade de pesquisar alternativas para minimizar os problemas de analfabetismo evasatildeo

escolar e delinquumlecircncia juvenil Estes problemas fazem parte do cotidiano do Recife bem

como das demais grandes cidades brasileiras

As organizaccedilotildees podem ter nesta pesquisa um modelo de accedilatildeo de responsabilidade

social intervindo na comunidade local e inclusive preparando a sua futura matildeo-de-obra

Outra justificativa deste trabalho eacute a possibilidade de contribuir com as poliacuteticas

puacuteblicas no sentido de sugerir uma alternativa de intervenccedilatildeo na educaccedilatildeo de crianccedilas e

adolescentes em particular as que se encontram em situaccedilatildeo de risco

20

Neste capiacutetulo introdutoacuterio foi apresentado o tema abordado os objetivos da presente

pesquisa e as razotildees pelas quais o estudo se justifica No proacuteximo capiacutetulo seraacute exposta a

literatura que fornece as bases teoacutericas para a pesquisa

21

2 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica

Com o intuito de se investigar como ocorre a mentoria voltada para crianccedilas e

adolescentes carentes faz-se necessaacuterio trazer agrave luz o que a teoria diz acerca da mentoria

Portanto tratar-se-aacute neste capiacutetulo sobre o conceito de mentoria e suas especificidades ou

seja quais as funccedilotildees desempenhadas na relaccedilatildeo as fases pertinentes a este relacionamento

os tipos de mentoria e os fatores relacionados ao ecircxito desta relaccedilatildeo Os benefiacutecios que a

mentoria oferece ao mentorado ao mentor e agrave comunidade tambeacutem seratildeo considerados

Segue-se pois o conceito de mentoria

21 Mentoria

A palavra mentor surgiu por volta de 800 aC na antiga Greacutecia mais especificamente

na Odisseacuteia de Homero O poema eacutepico pertinente agrave Mitologia Grega relata as aventuras e as

batalhas vividas pelo rei Odisseu (Ulisses em latim) Ao partir de Troacuteia para guerra Odisseu

confiou a guarda de seu filho Telecircmaco a Mentor seu amigo (ENSHER MURPHY 1997)

Mentor passou a ser o responsaacutevel pela preparaccedilatildeo de Telecircmaco para ser o sucessor de seu

pai Mentor natildeo ocupou lugar de destaque na obra de Homero Entretanto em 1699 Franccedilois

de la Mothe-Fenelon fez uma releitura da Odisseacuteia e atribuiu a Mentor a condiccedilatildeo de segundo

pai professor orientador e guia de Telecircmaco Atraveacutes de Fenelon escritor e educador a

figura de Mentor tornou-se conhecida e relevante e em 1750 a palavra mentor jaacute constava

nos dicionaacuterios contendo o seguinte significado conselheiro saacutebio protetor e financiador

(GEHRINGER 2002) Apesar de a mentoria ter surgido em tempos muito distantes a

sistematizaccedilatildeo dos estudos nesta aacuterea data de apenas trecircs deacutecadas

22

Em 1978 Levinson et al (apud KLAW et al 2003) caracterizaram a mentoria como a

assistecircncia unilateral de um indiviacuteduo mais graduado e desejoso de partilhar seus

conhecimentos e experiecircncia a um menos experiente visando o desenvolvimento deste O

relacionamento com um mentor propicia ao jovem adentrar com ecircxito o mundo dos adultos e

o mundo dos negoacutecios Higgins e Kram (2001) salientam que mentores natildeo precisam ser

necessariamente pessoas mais graduadas do que os mentorados podendo ser seus colegas

pares ou parentes Hesgtad (1999) declara que o importante eacute que o mentor exerccedila influecircncia

sobre o mentorado

Hunt e Michael (1983) caracterizam o mentor como algueacutem que estaacute comprometido

em prover crescimento pessoal e suporte de carreira ao seu mentorado Higgins e Kram

(2001) consideram que o apoio e a assistecircncia na relaccedilatildeo de mentoria seriam bilaterais Nesta

relaccedilatildeo mentor e mentorado se auxiliariam no processo de desenvolvimento e tal processo

dar-se-ia atraveacutes de redes de mentoria e natildeo apenas de um mentor para um mentorado As

autoras trazem agrave mentoria a perspectiva do desenvolvimento de redes no qual o mentorado

dispotildee de vaacuterios mentores

Os Estados Unidos e parte da Europa tecircm demonstrado interesse cientiacutefico e

desenvolvido pesquisas sobre o tema Estas pesquisas tecircm sido voltadas para a aacuterea

organizacional na qual a mentoria se destina a jovens que ingressam na organizaccedilatildeo e satildeo

acompanhados por um secircnior Entretanto a mentoria tambeacutem pode ser utilizada na aacuterea

educacional e dirigir-se a estudantes como ocorre por exemplo no sistema de escola puacuteblica

da cidade de Nova Iorque e na Austraacutelia (ZEY 1998) Acerca da importacircncia da mentoria no

acircmbito educacional Astin (1977) defende que alguns estudantes ao serem mentorados podem

se sentir mais encorajados e se envolver mais com os estudos e aprendizado uma vez que o

mentor pode ser um referencial para tal

23

A mentoria voltada para crianccedilas seria de acordo com Brody (1991 apud JACKSON

2002) um relacionamento entre um adulto e uma crianccedila visando facilitar o crescimento

pessoal educacional e social desta Nos EUA tem crescido o nuacutemero de programas de

mentoria com foco na aacuterea social visando atender agraves minorias ou aos jovens adolescentes e

crianccedilas com risco para delinquumlecircncia DuBois et al (2002) realizaram uma meta-anaacutelise

buscando levantar os efeitos de 55 programas de mentoria voltados para juventude Estes

programas diferiam no curriacuteculo No entanto a grande maioria enfatizava o relacionamento

entre um jovem problemaacutetico e um adulto mais experiente O objetivo era o de ajudar o jovem

a resolver satisfatoriamente as dificuldades da vida (KEATING et al 2002) Pode-se entatildeo

afirmar que a mentoria eacute o relacionamento entre um adulto e um jovem com o qual o mentor

estaacute comprometido Este comprometimento visa o desenvolvimento pessoal e profissional de

seu mentorado (KRAM 1985)

Atualmente os mentores naturais pais avoacutes e tios nem sempre estatildeo disponiacuteveis para

o adolescente As famiacutelias a escola e a comunidade tecircm reduzido drasticamente ao longo

dos anos a disponibilidade de adultos para acompanhar e oferecer suporte aos jovens

(DARLING et al 2002) Estas instituiccedilotildees que ao longo da histoacuteria eram as responsaacuteveis por

prover os jovens de suporte necessaacuterio e de conduccedilatildeo tecircm sofrido mudanccedilas e reduzido sua

capacidade de continuar a prover tal apoio A demanda dos grandes centros urbanos bem

como o ecircxodo rural fizeram com que o nuacutemero de adultos que serviam de liacutederes modelos e

agentes de controle social diminuiacutesse A entrada das matildees no mercado de trabalho e o

aumento das separaccedilotildees conjugais levaram os adolescentes a passar menos tempo com os

pais ficando grande parte do tempo com pares e sem a supervisatildeo de um adulto (HARRIS et

al 2002)

A disponibilidade dos adultos para com as crianccedilas tem diminuiacutedo de tal forma que

mais de 25 das crianccedilas nascem em casas com apenas um dos pais e 50 das crianccedilas

24

vivem a maior parte de sua infacircncia nesta mesma situaccedilatildeo A escassez de adultos para

suportar crianccedilas e adolescentes eacute ainda mais intensa em se tratando de comunidades carentes

(GROSSMAN TIERNEY 1998) Darling et al (2002) verificaram que em muitos casos na

ausecircncia de suporte dos mentores naturais os mentores voluntaacuterios tecircm sido alistados

A literatura aborda as funccedilotildees pertinentes a este relacionamento atraveacutes das quais o

mentor teraacute condiccedilotildees de contribuir com o crescimento de seu mentorado Tais funccedilotildees de

mentoria seratildeo abordadas na proacutexima seccedilatildeo

211 Funccedilotildees de mentoria

Satildeo as funccedilotildees desempenhadas no decorrer da relaccedilatildeo de mentoria Na mentoria

tradicional o mentorado recebe do mentor assistecircncia individual acesso a informaccedilotildees

necessaacuterias feedback encorajamento suporte de carreira e suporte emocional (MULLEN

1998) Kram (1985) agrupou diversas atividades em dois grupos de funccedilotildees desempenhadas

pelo mentor quais sejam suporte de carreira e suporte psicossocial Estas funccedilotildees satildeo

distintas mas inter-relacionadas A relaccedilatildeo de mentoria pode prover os dois tipos de suporte

ou apenas um destes a depender do niacutevel da relaccedilatildeo (RAGINS 1997) No entanto quando

ocorrem as duas funccedilotildees ou seja suporte de carreira e psicossocial a mentoria se torna mais

intensa (KRAM 1983)

Nas seguintes seccedilotildees seraacute apresentado e definido o suporte oferecido pelo mentor ao

seu mentorado tanto em termos de carreira quanto psicossocial

2111 Suporte de carreira

O suporte de carreira inclui a ajuda que o mentor daacute ao mentorado para que este se

firme na organizaccedilatildeo e conheccedila seus meandros preparando-o para a ascensatildeo Este suporte

refere-se tambeacutem agraves atividades que o mentor desenvolve no sentido de auxiliar o mentorado

25

em sua carreira profissional Kram (1985) identifica as seguintes atividades oferta de tarefas

desafiadoras coaching proteccedilatildeo exposiccedilatildeo e visibilidade positiva e patrociacutenio Tais funccedilotildees

satildeo abordadas abaixo

a) Oferta de tarefas desafiadoras

Satildeo as tarefas que o mentor atribui ao mentorado visando o desenvolvimento de

competecircncias especiacuteficas Juntamente com estas tarefas o mentor provecirc treinamento

teacutecnico capacitando-o a superar desafios O mentor tambeacutem fornece feedback ao

mentorado sobre seu desempenho A oferta de tarefas desafiadoras prepara o

mentorado para posiccedilotildees de maior responsabilidade

b) Coaching

Ocorre quando o mentor tal qual um teacutecnico transmite conhecimento ao mentorado

sobre como ldquonavegarrdquo no mundo dos negoacutecios O mentor sugere estrateacutegias e

transmite informaccedilotildees ao mentorado Chao et al (1992) defendem que o coach

preocupa-se apenas com a tarefa e as informaccedilotildees necessaacuterias para sua realizaccedilatildeo natildeo

desenvolvendo o interesse para com a carreira do jovem aprendiz Entretanto como

observam Azevedo e Dias (2002) o mentor em algumas ocasiotildees realiza o coaching

por exemplo quando orienta o mentorado com respeito ao desenvolvimento de

habilidades especiacuteficas para o cumprimento de determinada tarefa

c) Proteccedilatildeo

Ocorre quando o mentor se coloca na posiccedilatildeo de um escudo protegendo seu

mentorado O mentor pode assumir determinadas falhas de seu mentorado ou natildeo

permitir que elas se tornem conhecidas A proteccedilatildeo tende a ocorrer com mais

frequumlecircncia quando o mentorado ainda natildeo apresenta resultados dignos de exposiccedilatildeo

Klaw et al (2003) afirmam que o mentor pode inclusive advogar em nome de seus

mentorados adolescentes

26

d) Exposiccedilatildeo e visibilidade positiva

Ocorre quando o mentor daacute ao mentorado condiccedilotildees de demonstrar seu potencial agraves

pessoas de mais alto niacutevel facilitando futuras promoccedilotildees O mentor expotildee

positivamente o mentorado

e) Patrociacutenio

O patrociacutenio acontece quando o mentor indica formal ou informalmente o mentorado

para promoccedilatildeo Ele viabiliza a ascensatildeo de seu mentorado atraveacutes desta indicaccedilatildeo ou

quando propicia os recursos necessaacuterios para o desenvolvimento profissional de seu

mentorado

Estas satildeo as atividades que o mentor desempenha no sentido de viabilizar o

desenvolvimento profissional do mentorado Seguem abaixo as funccedilotildees psicossociais atraveacutes

das quais o mentor desenvolve atividades que contribuem com o crescimento pessoal de seu

protegido

2112 Suporte psicossocial

As funccedilotildees de suporte psicossocial estatildeo mais associadas ao desenvolvimento pessoal

do mentorado do que propriamente ao seu desenvolvimento profissional O suporte

psicossocial afeta a relaccedilatildeo do mentorado consigo mesmo e com as pessoas com as quais se

relaciona O desenvolvimento desta funccedilatildeo iraacute depender da confianccedila existente na relaccedilatildeo De

acordo com Kram (1985) o apoio psicossocial diz respeito ao suporte psicoloacutegico e social que

o mentor daacute ao mentorado As atividades que compotildeem este suporte satildeo amizade aceitaccedilatildeo e

confirmaccedilatildeo aconselhamento e modelagem de papeis Tais atividades satildeo expostas a seguir

a) Amizade

Ocorre quando a relaccedilatildeo de mentoria daacute ao mentorado a sensaccedilatildeo de bem estar de

ligaccedilatildeo e de ser compreendido por seu mentor O coleguismo facilita ao mentorado

27

desenvolver relacionamento com pessoas de niacutevel mais elevado do que ele Esta

amizade contribui tambeacutem para o aumento da autoconfianccedila do mentorado

b) Aceitaccedilatildeo e confirmaccedilatildeo

A aceitaccedilatildeo por parte do mentor faz com que o mentorado se sinta seguro inclusive

para assumir riscos e aceitar desafios

Dados qualitativos de estudos feitos por Style e Morrow (1992) demonstraram que

relacionamentos voltados para juventude satildeo mais eficazes quando o adulto pode

compreender as dificuldades enfrentadas por seus mentorados bem como respeitar e

aceitar sua famiacutelia classe social e cultura

c) Aconselhamento

Ocorre quando o mentorado ao falar de suas duacutevidas medos e ansiedades tem no

mentor um conselheiro algueacutem que o escuta e lhe daacute feedback Ao desempenhar esta

funccedilatildeo o mentor pode se valer de suas proacuteprias experiecircncias e dilemas enfrentados no

iniacutecio de sua carreira

d) Modelagem de papeacuteis

A modelagem ocorre quando o mentorado vecirc em seu mentor sua proacutepria imagem

idealizada Neste caso os comportamentos os valores e as atitudes do mentor satildeo

exemplos a serem seguidos A partir desta identificaccedilatildeo o mentorado passa a admirar

respeitar e imitar seu mentor Scandura (1992) considera que o fato de o mentor ser

um modelo para o mentorado estaria em uma terceira funccedilatildeo da mentoria distinta de

suporte psicossocial No entanto para efeito deste trabalho tal fator seraacute considerado

como pertinente ao suporte psicossocial uma vez que se tomou por base o modelo

proposto por Kram (1985) O mentorado pode ver seu mentor como representante do

seu proacuteprio futuro (RAGINS 1997) No caso de jovens e adolescentes os adultos satildeo

vistos como ideais com quem aqueles aprenderatildeo determinados comportamentos de

28

quem iratildeo receber colaboraccedilotildees sobre carreiras potenciais e com quem iratildeo

desenvolver habilidades especiacuteficas (RHODES et al 2002) Com relaccedilatildeo agraves

implicaccedilotildees deste aprendizado Hartmam e Harris (1992) encontraram que estudantes

modelam seu estilo de gerenciamento baseados no estilo de lideranccedila da pessoa que

admiravam quando mais novos Por sua vez Zacharatos et al (2000) em um estudo

sobre lideranccedila transformacional observaram que o desenvolvimento dos

comportamentos de lideranccedila se daacute na adolescecircncia e que comportamentos aprendidos

nesta fase tendem a ser estaacuteveis Finalmente Krosnick e Alwin (1989) defendem que

assim como os comportamentos as atitudes adquiridas durante a adolescecircncia tendem

a permanecer na vida adulta

Especificamente em se tratando de mentoria voltada para jovens e adolescentes Klaw

et al (2003) observaram as implicaccedilotildees e possibilidades de mudanccedila de comportamento do

mentorado ao se ter no mentor um modelo

os mentores podem servir como exemplos concretos de realizaccedilatildeo educacional e ocupacional demonstrando as qualidades que os adolescentes podem desejar imitar O adolescente pode adotar comportamentos novos observando e comparando seu proacuteprio desempenho ao de seu mentor (p225)

Nesta seccedilatildeo foram apresentadas as funccedilotildees de mentoria ou seja suporte de carreira e

suporte psicossocial Na sequumlecircncia seratildeo abordadas as fases pelas quais o relacionamento se

desenvolve ateacute chegar agrave redefiniccedilatildeo

212 Fases da relaccedilatildeo mentoria

Dando continuidade agraves caracteriacutesticas da relaccedilatildeo de mentoria seratildeo abordadas as fases

pertinentes a esse relacionamento Vale salientar que a relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas e

adolescentes de risco podem ou natildeo apresentar estaacutegios semelhantes agrave mentoria desenvolvida

no acircmbito da organizaccedilatildeo (RHODES et al 2002)

29

Da perspectiva organizacional Kram (1983) sugere que a mentoria ocorre geralmente

em quatro fases distintas mas natildeo riacutegidas Satildeo elas

bull Iniciaccedilatildeo - esta fase ocorre no inicio da relaccedilatildeo na qual o mentor eacute admirado e

respeitado pelo mentorado O mentor reconhece o mentorado como algueacutem com

potencial e com quem iraacute desenvolver um trabalho agradaacutevel O mentorado

tambeacutem eacute visto pelo mentor como algueacutem que lhe proveraacute assistecircncia teacutecnica e que

seraacute beneficiado com seus conselhos uma vez que o mentor tem mais experiecircncia

de vida Estas fantasias iniciais seratildeo responsaacuteveis por orientar as expectativas

presentes na relaccedilatildeo de mentoria

bull Cultivo - nesta fase as expectativas surgidas no iniacutecio da relaccedilatildeo iratildeo defrontar-se

com a realidade do contato O mentor proveraacute o mentorado com as funccedilotildees de

carreira e psicossociais Kram (1983) salienta que o suporte de carreira vai

depender das tarefas e da experiecircncia do mentor No entanto o suporte

psicossocial estaacute mais fortemente relacionado agrave confianccedila e agrave mutualidade que

houver na relaccedilatildeo Eacute nesta fase de cultivo que as funccedilotildees da mentoria seratildeo

plenamente desenvolvidas

bull Separaccedilatildeo - ocorre quando a natureza do relacionamento eacute alterada por mudanccedilas

no contexto social ou organizacional Este periacuteodo eacute marcado por ansiedade em

que o mentorado sente necessidade de autonomia e independecircncia A separaccedilatildeo

ocorre estruturalmente e psicologicamente e a mentoria deixa de ocupar lugar de

destaque na vida de ambos mentor e mentorado

bull Redefiniccedilatildeo - a ansiedade da separaccedilatildeo eacute superada e o relacionamento eacute

resignificado ou termina Nesta fase a mentoria pode se tornar apenas um

relacionamento de amizade com encontros esporaacutedicos e informais e o mentor

30

pode ainda oferecer algum tipo de apoio mas de forma mais distante e sem a

frequumlecircncia de outrora

Abordadas algumas caracteriacutesticas da mentoria tais como suas funccedilotildees e fases

seguem-se os tipos de mentoria visando enriquecer a compreensatildeo de como se daacute esta

relaccedilatildeo

213 Tipos de mentoria

A relaccedilatildeo de mentoria conforme abordado anteriormente eacute algo que emerge

naturalmente entre uma pessoa mais experiente e um novato A mentoria pode ser

caracterizada como uma relaccedilatildeo intrinsecamente informal No entanto devido aos benefiacutecios

alcanccedilados por esta relaccedilatildeo intenta-se reproduzi-la formalmente em uma escala mais ampla e

com maior controle Neste caso tem-se a mentoria formal uma relaccedilatildeo mais estruturada e que

busca atingir os benefiacutecios para o mentor mentorado organizaccedilatildeo e sociedade resultantes da

mentoria informal ou natural Segue abaixo uma maior explicitaccedilatildeo do que vem a ser a

mentoria informal e a formal

2131 Mentoria informal

Eacute a que nasce espontaneamente por iniciativa dos indiviacuteduos de acordo com

necessidades e interesses pessoais O mentor escolhe seu mentorado agraves vezes por ver-se nele

quando jovem O mentorado por sua vez tambeacutem escolhe para seu mentor geralmente

algueacutem a quem tem por modelo A seleccedilatildeo do mentor eacute feita frequumlentemente com base na

identificaccedilatildeo do mentorado com seu possiacutevel mentor (RAGINS 1997) Tal identificaccedilatildeo faz

com que a mentoria informal seja considerada mais poderosa do que a formal (NOE 1998)

Na mentoria informal natildeo haacute uma estruturaccedilatildeo da relaccedilatildeo e a frequumlecircncia dos encontros parte

da necessidade Este tipo de mentoria pode se estender por longos periacuteodos

31

Decorrente do sucesso obtido atraveacutes da mentoria informal esforccedilos tecircm sido

desenvolvidos para reproduzi-la formalmente conforme seraacute abordado na proacutexima seccedilatildeo

2132 Mentoria formal

A mentoria formal natildeo eacute espontacircnea como a informal Antes ocorre por iniciativa

encaminhamento e estruturaccedilatildeo da organizaccedilatildeo Sua duraccedilatildeo geralmente varia de seis meses a

um ano e a frequumlecircncia dos encontros eacute preacute-estabelecida mediante contrato firmado entre as

partes (MURRAY 2001)

Na mentoria formal a motivaccedilatildeo para ser mentor pode estar associada ao fato de o

mentor ser visto como bom cidadatildeo organizacional e ao reconhecimento que pode lhe trazer o

fato de ser mentor

Tendo sido abordado o conceito de mentoria suas funccedilotildees as fases pelas quais passa a

relaccedilatildeo e os tipos de mentoria faz-se necessaacuterio analisar alguns fatores que contribuem para o

ecircxito desta relaccedilatildeo Tais fatores seratildeo abordados nas seguintes seccedilotildees

214 Fatores relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria formal

Os programas de mentoria voltados para jovens e adolescentes por se tratarem de

programas de mentoria formal necessitam seguir alguns criteacuterios na busca de se atingir os

objetivos e os benefiacutecios desejados Como jaacute referido os programas de mentoria formal

intentam reproduzir artificialmente as caracteriacutesticas essenciais dos relacionamentos naturais

de suporte Eacute importante ressaltar no entanto que programas mal orientados podem trazer

efeitos negativos na vida do mentorado (DUBOIS et al 2002) Ragins et al (2000) consideram

que em relaccedilatildeo ao niacutevel de satisfaccedilatildeo do mentorado o relacionamento de mentoria estaria em

um continuum no qual em um extremo ficaria o relacionamento altamente satisfatoacuterio e no

outro o relacionamento nocivo ou prejudicial O relacionamento localizado no meio do

32

continuum seria considerado pelas autoras como marginal mentoring ou seja um

relacionamento de mentoria no qual o mentor seria apenas ldquobom o suficienterdquo Os fatores

relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo devem ser observados na tentativa de evitar que o

relacionamento torne-se nocivo ou ateacute mesmo destrutivo Tais fatores visam fazer com que a

relaccedilatildeo seja satisfatoacuteria e beneacutefica

Na tentativa de potencializar os benefiacutecios da mentoria faz-se necessaacuterio considerar os

seguintes fatores seleccedilatildeo de mentores e mentorados treinamento supervisatildeo e

acompanhamento do programa frequumlecircncia dos encontros e a duraccedilatildeo da relaccedilatildeo Estes fatores

relacionados com o ecircxito da relaccedilatildeo seratildeo detalhados nas seccedilotildees seguintes

2141 Seleccedilatildeo de mentores e mentorados

Visando o sucesso do relacionamento de mentoria haacute algumas recomendaccedilotildees

relevantes sobre como combinar mentor e mentorado Fatores como dados demograacuteficos raccedila

e gecircnero devem ser considerados Em se tratando de mentoria com crianccedilas e adolescentes

faz-se necessaacuterio um cuidado ainda maior na seleccedilatildeo do mentor uma vez que

comportamentos e atitudes aprendidos na infacircncia e adolescecircncia tendem a perdurar por toda

a vida

O Big Brothers Big Sisters (programa norte-americano de mentoria voltado para

crianccedilas e adolescentes com risco para delinquumlecircncia) ao fazer o recrutamento dos voluntaacuterios

para agirem como mentores faz um levantamento da vida destes para saber suas intenccedilotildees e

sua vida pregressa Em um programa de mentoria voltado para crianccedilas delinquumlentes os

mentores natildeo poderiam ter qualquer tipo de envolvimento criminal (JACKSON 2002) A

investigaccedilatildeo da vida pregressa do mentor tem o objetivo de garantir a seguranccedila do

mentorado e verificar a possibilidade de comprometimento do mesmo para com o programa

Tal investigaccedilatildeo eacute importante inclusive para assegurar que o mentor poderaacute ser um modelo

33

positivo com condiccedilotildees de influenciar beneficamente o mentorado (GROSSMAN TIERNEY

1998) Os autores sugerem que se considere tambeacutem o interesse dos pais em que a crianccedila ou

adolescente tenha um mentor uma vez que o apoio da famiacutelia eacute um fator de sucesso para o

programa Depois de feita a seleccedilatildeo deve-se fazer um treinamento e acompanhar o

desenvolvimento do relacionamento Tais fatores seratildeo observados na proacutexima seccedilatildeo

2142 Treinamento supervisatildeo e acompanhamento do programa

de mentoria

Assim como a seleccedilatildeo a supervisatildeo deve ser cuidadosa Eacute necessaacuterio fazer um

monitoramento do programa e deve-se comunicar claramente e acordar as expectativas o

tempo do relacionamento a frequumlecircncia dos encontros e os objetivos O mentor deve contar

com apoio constante da organizaccedilatildeo durante todo o programa (DUBOIS et al 2002) O

mentor deve receber treinamento e orientaccedilatildeo e deve haver uma supervisatildeo incluindo

relatoacuterios sobre os encontros (GROSSMAN TIERNEY 1998)

No programa de mentoria voltado para crianccedilas delinquumlentes pesquisado por Jackson

(2002) a supervisatildeo foi feita em trecircs niacuteveis a primeira se deu em termos de conhecimentos

na qual um psicoacutelogo cliacutenico transmitia informaccedilotildees sobre psicopatologia causas e

caracteriacutesticas da crianccedila delinquumlente bem como teacutecnicas de intervenccedilatildeo No segundo niacutevel

foram feitos encontros com o psicoacutelogo para falar acerca das dificuldades encontradas e as

possibilidades de soluccedilatildeo O terceiro e uacuteltimo niacutevel foi o da supervisatildeo que ocorreu em

grupo no qual os diversos mentores discutiram suas experiecircncias Vale ressaltar que o

programa apresentou resultados positivos na vida dos que dele participaram

Fenney et al (2000 apud RHODES et al 2002) afirmam que adultos bem sucedidos

em trabalhar como mentores de jovens satildeo os que tecircm empatia por eles recordando-se de

como eram no passado A participaccedilatildeo dos pais durante o programa de mentoria seja para

34

apoiar seus filhos seja para receber sustentaccedilatildeo tem sido relacionada positivamente ao

sucesso do programa (FRECKNALL LUKS 1992) Outro fator que leva ao ecircxito da relaccedilatildeo

de mentoria eacute a frequumlecircncia com que ocorrem os encontros fato este abordado na proacutexima

seccedilatildeo

2143 Frequumlecircncia dos encontros

Alguns estudos tecircm sido feitos com ecircxito no sentido de relacionar a frequumlecircncia dos

encontros com o sucesso da relaccedilatildeo principalmente em se tratando de mentorados

adolescentes com risco para delinquumlecircncia (KEATING et al 2002) Na mesma linha Azevedo

e Dias (2002) sugerem que a influecircncia do mentor na carreira do mentorado pode ser

diminuiacuteda quando se dispotildee de pouco tempo para a relaccedilatildeo

Keating et al (2002) defendem que a frequumlecircncia de uma ou duas vezes por mecircs eacute

insuficiente para prover suporte para jovens com risco para delinquumlecircncia fazendo com que o

relacionamento natildeo tenha ecircxito As autoras afirmam que programas para jovens e

adolescentes com risco devem ter frequumlentes contatos face-a-face para serem realmente

efetivos O encontro semanal eacute sugerido Segue na proacutexima seccedilatildeo outro fator de ecircxito para a

relaccedilatildeo de mentoria a saber a duraccedilatildeo do relacionamento entre mentor e mentorado

2144 Duraccedilatildeo da relaccedilatildeo de mentoria

A maioria dos benefiacutecios da relaccedilatildeo emerge de um relacionamento de mentoria que

perdure por um ano ou mais Ou seja os benefiacutecios estatildeo associados ao amadurecimento da

relaccedilatildeo (GROSSMAN RHODES 2002) Os autores consideram que relacionamentos curtos

estatildeo associados com efeitos negativos para a juventude de risco

Adolescentes cujo relacionamento de mentoria se estende por um ano ou mais

apresentam melhores resultados educacionais psicossociais e comportamentais Estes

35

resultados satildeo positivamente relacionados com o tempo da relaccedilatildeo Em outras palavras na

medida em que se reduz o tempo de mentoria diminui tambeacutem a apresentaccedilatildeo de resultados

positivos atribuiacutedos agrave relaccedilatildeo (GROSSMAN RHODES 2002)

Frecnall e Luks (1992) encontraram em suas pesquisas que o tempo de duraccedilatildeo da

relaccedilatildeo de mentoria tem sido um fator determinante de ecircxito 70 de resultado positivo com

crianccedilas de um a dois anos de programa e 90 com crianccedilas com dois a trecircs anos de

participaccedilatildeo em um programa de mentoria

O exposto revela a teoria vigente acerca da relaccedilatildeo de mentoria das funccedilotildees

desempenhadas na relaccedilatildeo das fases pelas quais ela passa dos tipos de mentoria

identificados bem como de alguns fatores que se observados contribuem para o sucesso da

relaccedilatildeo Faz-se entatildeo pertinente a seguinte questatildeo norteadora em uma comunidade carente

brasileira ateacute que ponto a mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes apresenta as

caracteriacutesticas definidas pela teoria

Mencionadas as caracteriacutesticas da relaccedilatildeo de mentoria abordar-se-aacute a seguir os

benefiacutecios desta relaccedilatildeo para o mentorado e para o mentor bem como seratildeo considerados

tambeacutem os benefiacutecios sociais desta relaccedilatildeo

22 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria

Satildeo muitos os benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria Zey (1998) revela que a relaccedilatildeo de

mentoria na organizaccedilatildeo pode ser extremamente beneacutefica para o mentorado para o mentor e

para a proacutepria empresa Os benefiacutecios da mentoria foram amplamente estudados no que

concerne agrave mentoria voltada para a organizaccedilatildeo No entanto pretende-se aqui estabelecer um

paralelo entre os benefiacutecios da mentoria organizacional e os da mentoria voltada para jovens e

adolescentes de risco Tais benefiacutecios foram verificados atraveacutes de pesquisas mas ainda natildeo

se apresentam sistematizados Como beneficiaacuterios diretos da relaccedilatildeo de mentoria pode-se citar

36

o mentor o mentorado e a organizaccedilatildeo Entretanto o alcance de um programa bem

estruturado pode se estender para a famiacutelia e para a sociedade

Nas seccedilotildees seguintes seratildeo apresentados os benefiacutecios da mentoria para o mentorado

para o mentor e posteriormente seratildeo abordados os benefiacutecios sociais desta relaccedilatildeo

221 Benefiacutecios da mentoria para o mentorado

O mentorado pode ser muito beneficiado atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria O mentor ao

fornecer suporte psicossocial e de carreira auxilia o mentorado em seu crescimento pessoal o

que inclui o desenvolvimento emocional o social e o de carreira Tal suporte facilita transiccedilatildeo

do adolescente para a fase adulta (RHODES et al 2002)

A literatura apresenta os seguintes benefiacutecios para o mentorado

a) Aumento da auto-estima

Grossman e Tierney (1998) verificaram que os jovens com risco para delinquumlecircncia que

foram acompanhados por mentores sentiram-se mais confiantes em suas habilidades para com

as tarefas escolares do que os jovens natildeo mentorados Harter (1982) demonstrou que se sentir

competente leva os jovens a demonstrarem melhor desempenho

O aumento da auto-estima foi verificado em adolescentes e jovens ao se relacionarem

com um mentor (FRECKNALL LUKS 1992) Alguns programas de mentoria tecircm

favorecido o aumento da auto-estima tambeacutem em crianccedilas com comportamentos

autodestrutivos (JACKSON 2002)

b) Maior interaccedilatildeo social e com a famiacutelia

Outro benefiacutecio para o mentorado decorrente do suporte que recebe na relaccedilatildeo de

mentoria eacute a atratividade social Pessoas com alto grau de suporte social satildeo vistas como mais

atrativas tecircm maior conhecimento relativo a relacionamentos sociais e satildeo menos

manipulaacuteveis do que as com baixo suporte social (SARASON et al 1985) Frecknall e Luks

37

(1992) verificaram que adolescentes assistidos por um mentor apresentaram maior

envolvimento com a famiacutelia e amigos do que os natildeo mentorados

O fato de o mentor ser um modelo de sucesso estimula ainda a melhora da

autopercepccedilatildeo bem como de atitudes e comportamentos do adolescente mentorado Haacute

evidecircncias de que a influecircncia positiva do mentor pode se estender aos relacionamentos mais

proacuteximos do adolescente operando mudanccedilas inclusive na vida daqueles que com ele

convivem (WALKER FREEMAN 1996)

c) Maior progresso da carreira e aumento da responsabilidade

Mentorados recebem mais promoccedilotildees tecircm melhor desempenho e mais satisfaccedilatildeo no

trabalho do que os natildeo mentorados (CHAO et al 1992) Os mentorados satildeo beneficiados

pois recebem melhores pagamentos dos que os que natildeo dispotildeem de um mentor (MULLEN

1998) Mentorados tecircm na mentoria uma contribuiccedilatildeo potencial para o desenvolvimento

pessoal e profissional sendo tambeacutem um meio para adentrar o mundo dos negoacutecios (KRAM

1983)

Para o mentorado jovem e adolescente o mentor fornece instruccedilatildeo e incentivo

facilitando a transiccedilatildeo da adolescecircncia para o mundo adulto (RHODES et al 2002) Os

presidentes de empresas mais bem sucedidos afirmaram que para tal tiveram a influecircncia de

mentores em sua vida profissional (FAGENSON 1989) Liacutederes mais competentes e

solucionadores de problemas satildeo pessoas consideradas com alto suporte social (SARASON et

al 1986)

O mentorado apresenta maior crescimento profissional e melhor desenvolvimento da

carreira (ZEY 1998) Mentorados tecircm maior satisfaccedilatildeo com a carreira do que os que natildeo

possuem mentor (FAGENSON 1989) Pessoas com alto suporte psicossocial satildeo mais

extrovertidas e apresentam menos comportamentos neuroacuteticos hostilidade solidatildeo e

depressatildeo (COYNE 1978 apud SARASON et al 1986)

38

Outro beneficio para o mentorado diz respeito agrave definiccedilatildeo da identidade profissional e

senso de competecircncia (KRAM ISABELLA 1985) Especificamente com relaccedilatildeo a mentoria

voltada para adolescentes estes apresentaram melhor rendimento escolar e aumento da

responsabilidade (FRECKNALL LUKS 1992)

Grossman e Tierney (1998) ao avaliarem o impacto do Programa Big Brother Big

Sister natildeo haviam sido otimistas em acreditar que o programa aumentasse o rendimento

escolar dos alunos participantes pois conforme verificado em pesquisas anteriores o

aproveitamento escolar e a obtenccedilatildeo de graus dependem de um acompanhamento estaacutevel e

geralmente natildeo satildeo afetadas por uma relaccedilatildeo de mentoria que natildeo tenha foco educacional

Entretanto apesar de o programa Big Brother Big Sister natildeo fornecer diretamente apoio

escolar o rendimento escolar dos mentorados mostrou-se superior As ausecircncias ou faltas agrave

escola foram reduzidas Os autores consideraram que tal fato foi consequumlecircncia de os

mentores (todos acadecircmicos) serem tidos como exemplos valorizarem os estudos e

transmitirem uma visatildeo otimista de futuro para seus mentorados

d) Melhor enfrentamento das adversidades visatildeo otimista da vida e perspectivas

positivas de futuro

Jovens com alto suporte social satildeo mais otimistas quanto ao futuro uma vez que

mentores os auxiliam em relaccedilatildeo agraves suas perspectivas (HARRIS et al 2002 KASHANI et al

1989) Indiviacuteduos com alto suporte social aleacutem de mais atrativos e mais haacutebeis socialmente

satildeo mais otimistas quanto aos eventos da vida do que os que manifestam ter baixo suporte

social (SARASON et al 1985)

Pessoas com baixo suporte social satildeo mais retraiacutedas desatentas tecircm menos esperanccedila

quanto ao futuro e satildeo mais prejudiciais aos outros do que as que tecircm alto niacutevel de suporte

social (KASHANI et al 1989) O sucesso dos adolescentes que superaram momentos de

39

adversidades inclui frequumlentemente a presenccedila de pelo menos um mentor que lhe proveu tal

suporte (RHODES et al 2002)

Benefiacutecios tambeacutem satildeo apresentados em se tratando de jovens com risco para

delinquumlecircncia Nestes o desenvolvimento pessoal pode ser percebido frequumlentemente quando o

mentor eacute um modelo positivo para o mentorado Este fato auxilia na reduccedilatildeo do estresse

diaacuterio e provecirc condiccedilotildees de o mentorado rever sua percepccedilatildeo acerca de seus relacionamentos

mudando de uma visatildeo negativa destes para uma positiva (MAIN et al 1985 apud

GROSSMAN RHODES 2002)

Eacute particularmente importante a influecircncia positiva que o mentor oferece ao mentorado

na reduccedilatildeo do estresse diaacuterio Sendo um modelo de resoluccedilatildeo de conflitos o mentor auxilia

indiretamente na diminuiccedilatildeo do estresse familiar melhorando ateacute mesmo a interaccedilatildeo do

mentorado com seus proacuteximos Segundo os autores o relacionamento de mentoria pode ter

ainda um efeito corretivo para adolescentes que tiveram experiecircncias negativas no

relacionamento com os pais

Conforme visto pesquisas anteriores demonstraram que o mentorado pode ser muito

beneficiado atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria Cabe aqui portanto a segunda questatildeo norteadora

deste trabalho em um contexto brasileiro ateacute que ponto os mentorados carentes estudados

tecircm desfrutado dos benefiacutecios da mentoria apontados pela literatura

Considerados os benefiacutecios da mentoria para o mentorado cabe expor a forma pela

qual a mentoria beneficia o mentor fato abordado na seccedilatildeo seguinte

222 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentor

A mentoria pode proporcionar ao mentor diversos benefiacutecios Os mentores podem ter

no mentorado uma versatildeo de si proacuteprios quando mais jovens como se o mentorado fosse

representante de seu passado (RAGINS 1997) De acordo com a literatura os mentores

40

podem ser beneficiados com esta relaccedilatildeo atraveacutes da realizaccedilatildeo pessoal da motivaccedilatildeo e do

reconhecimento Segue-se a explanaccedilatildeo de tais fatores

a) Realizaccedilatildeo pessoal

O fato de ser mentor daacute ao indiviacuteduo um senso de generosidade ao contribuir com as

geraccedilotildees futuras Satisfaccedilatildeo interna e reconhecimento organizacional lealdade do mentorado

apreciaccedilatildeo do grupo renovaccedilatildeo da carreira e melhor performance no trabalho satildeo benefiacutecios

da mentoria para o mentor Mentores podem obter mais conhecimento empatia e capacidade

de se relacionar com outros grupos do que aqueles que natildeo satildeo mentores (RAGINS 1997)

Em se tratando de mentores de jovens e adolescentes com risco para delinquumlecircncia

Shields (2001) verificou que a mentoria propiciou ao mentor um sentimento de recompensa

ao observar as mudanccedilas positivas ocorridas no comportamento de seus mentorados Jackson

(2002) observou em seu estudo que mentores de adolescentes delinquumlentes relataram como

sendo gratificante o fato de terem atraveacutes da mentoria uma oportunidade de ajudar estas

pessoas

b) Motivaccedilatildeo

O mentor pode redirecionar sua energia para a criatividade e a accedilatildeo produtiva num

periacuteodo que dependendo do indiviacuteduo pode ser entendido como de estagnaccedilatildeo Neste caso a

mentoria pode significar estiacutemulo e desafio (ZEY 1998)

c) Reconhecimento

Mentores podem ter a confianccedila e serem amados por seus mentorados (KLAW et al

2003) Ganham suporte teacutecnico e psicoloacutegico e satisfaccedilatildeo interna ao fazer com que um novato

seja capaz de ldquonavegarrdquo no mundo dos negoacutecios Os mentores ganham respeito de seus

colegas ao desenvolver um jovem talento para organizaccedilatildeo (KRAM ISABELLA 1985)

41

Assim a terceira questatildeo norteadora deste trabalho eacute ateacute que ponto um projeto de

mentoria voltado para crianccedilas e adolescentes carentes no Recife oferece os benefiacutecios de

realizaccedilatildeo pessoal motivaccedilatildeo e reconhecimento para os mentores

Considerados os benefiacutecios da mentoria para o mentorado e para o mentor seratildeo

abordados na proacutexima seccedilatildeo os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes desta relaccedilatildeo

223 Benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria

Em se tratando de mentoria voltada para crianccedilas jovens e adolescentes com risco

para delinquumlecircncia aleacutem dos benefiacutecios na vida dos que participam diretamente da relaccedilatildeo a

sociedade tambeacutem pode ser positivamente afetada

Frecknall e Luks (1992) investigaram a avaliaccedilatildeo dos pais acerca do aproveitamento

de seus filhos inseridos em um programa de mentoria voltado para jovens com risco para

delinquumlecircncia Com relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo de 63 dos pais os filhos apresentaram uma grande

melhora em toacutepicos como rendimento escolar comportamento com a famiacutelia

comportamento com os amigos aumento da auto-estima aumento da responsabilidade e

diminuiccedilatildeo de envolvimento em situaccedilotildees problema Paralelamente ao beneficio alcanccedilado

por um adolescente e por sua famiacutelia haacute uma contribuiccedilatildeo indireta para a sociedade na

medida em que diminuem os iacutendices de delinquumlecircncia e de evasatildeo escolar Indiretamente haacute

tambeacutem a reduccedilatildeo da possibilidade de assistencialismo o aumento do iacutendice de alfabetizaccedilatildeo

e o crescimento do IDH (Iacutendice de Desenvolvimento Humano) Com frequumlecircncia aumenta

ainda a mobilidade social e a possibilidade de contribuiccedilatildeo social direta destas crianccedilas

adolescentes e jovens

A teoria aponta a reduccedilatildeo da dependecircncia de poliacuteticas assistencialistas e a diminuiccedilatildeo

da delinquumlecircncia como benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria fatores que seratildeo abordados a

seguir

42

a) Reduccedilatildeo futura da dependecircncia de poliacuteticas assistencialistas

Patterson et al (1989) esclarecem que a expressatildeo ldquosituaccedilatildeo de riscordquo eacute usada

geralmente para descrever

jovens que demonstram problemas comportamentais e emocionais que tecircm dificuldade em desenvolver-se com sucesso Quando adultos estes apresentam alta incidecircncia em desemprego crocircnico divoacutercio problemas fiacutesicos e psiquiaacutetricos envolvimento com drogas tornam-se dependentes de assistecircncia social podendo ainda envolver-se em atividades criminosas (p329) Grifo da pesquisadora

Adolescentes com altas expectativas educacionais de futuro (muitas vezes providas

por um mentor) desenvolvem bons haacutebitos de estudo pensam em fazer curso universitaacuterio e

buscam se envolver em atividades intelectuais extracurriculares Em contrapartida os que

deteacutem baixa expectativa apresentam maior probabilidade de desenvolver comportamentos de

risco (HARRIS et al 2002) Jovens em situaccedilatildeo de risco entre outros fatores satildeo propensos a

depender no futuro de poliacuteticas assistencialistas

b) Diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia

Jovens e adolescentes em situaccedilatildeo de risco satildeo candidatos potenciais a programas de

mentoria Estes podem ser usados como prevenccedilatildeo contra a delinquumlecircncia particularmente na

ausecircncia de adultos que representem figuras positivas ou modelos O mentor pode claramente

desempenhar este papel (RHODES et al 1994)

O risco para delinquumlecircncia natildeo eacute uma questatildeo que dependa apenas de um fator Antes eacute

um conjunto de variaacuteveis que levam o adolescente a apresentar comportamentos delinquumlentes

Ellickson e Mcguigan (2000) ao investigarem os riscos para violecircncia em adolescentes

verificaram que no caso das meninas adolescentes fatores de risco incluem a baixa auto-

estima poucos anos de estudo e baixo niacutevel soacutecio-econocircmico Estes fatores podem ser

revertidos atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria Dornbusch et al (1985) verificaram que

adolescentes que convivem com apenas um dos pais apresentam maior probabilidade de se

43

envolver em comportamentos delinquumlentes e violentos do que os que vivem com ambos os

pais Uma afirmaccedilatildeo destoante eacute a de Larson et al (2001) Eles defendem que crianccedilas e

adolescentes que convivem com apenas um dos pais podem se adaptar bem a esta situaccedilatildeo

natildeo sendo o fato de conviver com apenas um dos pais determinante da delinquumlecircncia Natildeo

obstante essa natildeo eacute a tendecircncia das evidecircncias disponiacuteveis

Caffray e Schneider (2000) por exemplo ao pesquisarem sobre as motivaccedilotildees que

levam o adolescente aos comportamentos de risco citam como influecircncias importantes

sentimentos negativos sobre o relacionamento com os pais pouca comunicaccedilatildeo em casa

baixa coesatildeo familiar reduzido desempenho escolar e baixo suporte social Fatores familiares

estressantes como desemprego violecircncia domeacutestica discoacuterdia entre os pais e divoacutercio estatildeo

positivamente associados com a delinquumlecircncia (FARRINGTON 1987 apud PATTERSON et

al 1989) bem como poucos anos de estudo (DIAS 2003)

De modo geral a literatura sugere que em ambientes de risco jovens que dispotildeem de

suporte atraveacutes de relacionamentos com adultos podem diminuir os efeitos negativos das

adversidades sobre seu desenvolvimento (RHODES et al 1994) A tiacutetulo de exemplo

Jackson (2002) verificou que crianccedilas delinquumlentes ao serem assistidas por um mentor

diminuiacuteram a frequumlecircncia de comportamentos agressivos e de problemas de conduta

DuBois et al (2002) fizeram uma meta-anaacutelise acerca de 55 avaliaccedilotildees dos efeitos de

programas de mentoria voltados para juventude norte-americana Ficou aiacute evidenciado que os

participantes se beneficiam muito com a participaccedilatildeo em tais programas Os programas

diferem em seu conteuacutedo mas a maioria tem como foco a juventude de risco Haacute tambeacutem

programas destinados a filhos que vivem com apenas um dos pais e a minorias eacutetnicas

Quanto aos objetivos os programas avaliados buscavam o desenvolvimento na aacuterea

emocional comportamental educacional e em alguns casos o desenvolvimento profissional

dos mentorados

44

Um exemplo deste tipo de programa pode ser visto em Nova Iorque nos EUA e em

parte do Canadaacute Trata-se de um programa criado em 1904 o Big Brothers Big Sisters of

Ameacuterica (BBBS) que provecirc relacionamento de mentoria para crianccedilas de risco que vivem

com apenas um dos pais O programa eacute voltado para populaccedilatildeo menos favorecida que

apresenta problemas como delinquumlecircncia baixo aproveitamento escolar e baixa auto-estima

(FRECNALL LUKS 1992)

O BBBS emparelha adultos voluntaacuterios (Big Brothers Big Sisters) com crianccedilas e

adolescentes de 6 a 18 anos (Litle Brothers Litle Sisters) Os mentores modelos positivos

devem prover amizade aconselhamento e servir de guia para os mentorados Os encontros satildeo

feitos de duas a quatro vezes por mecircs Cada encontro dura em meacutedia de trecircs a quatro horas

Grossman e Tierney (1998) ao avaliarem o impacto do Big Brothers Big Sisters

levantaram soacutelidas evidecircncias de que a mentoria neste programa teve efeitos positivos e

socialmente importantes na vida dos jovens participantes Os autores compararam dois

grupos homogecircneos um de jovens participantes do programa e um outro de natildeo-participantes

Pocircde-se concluir que com relaccedilatildeo aos comportamentos anti-sociais nos jovens que tinham

mentor a frequumlecircncia de comportamentos agressivos para com outros jovens apresentou

frequumlecircncia 32 menor do que no grupo que natildeo foi assistido pelo programa A probabilidade

de iniciar o uso de drogas foi reduzida em 70 para os jovens que participaram do programa

em relaccedilatildeo aos natildeo participantes

Jackson (2002) tambeacutem realizou um estudo sobre mentoria voltada para adolescentes

delinquumlentes que teve oito meses de duraccedilatildeo Os adolescentes corriam risco de suspensatildeo ou

expulsatildeo da escola em que estudavam devido agrave infraccedilatildeo das normas Dos alunos mentorados

menos de 1 continuou a apresentar problemas de comportamento que comprometiam sua

permanecircncia na escola Os demais no entanto nos uacuteltimos trecircs meses de programa

apresentaram uma reduccedilatildeo meacutedia de 80 nos comportamentos infratores

45

Considerando todo o exposto pode-se afirmar que a mentoria tem se mostrado um

valioso recurso no auxiacutelio educacional de jovens e adolescentes Claramente as experiecircncias

de programas de mentoria com jovens de risco tecircm apresentado resultados positivos A

literatura apresentou alguns benefiacutecios sociais desta relaccedilatildeo em diversos contextos sendo

pertinente a verificaccedilatildeo da influecircncia desta relaccedilatildeo num contexto brasileiro Destaca-se entatildeo

a quarta questatildeo norteadora desta pesquisa quais os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da

relaccedilatildeo de mentoria na vida de crianccedilas e adolescentes de uma comunidade carente do Recife

Foi abordada neste capiacutetulo a literatura acerca da mentoria o conceito o suporte de

carreira e psicossocial oferecido pelo mentor as fases da relaccedilatildeo os fatores responsaacuteveis pelo

ecircxito da mentoria e os benefiacutecios da relaccedilatildeo Segue no capiacutetulo trecircs a metodologia deste

estudo que iraacute expor a forma como foi realizada a pesquisa

46

3 Metodologia

31 Delineamento da pesquisa

A presente pesquisa eacute um estudo de caso definido por Gil (1996) como ldquoestudo

profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos que permite seu amplo e detalhado

conhecimentordquo (p58) O estudo de caso segundo Laville e Dione (1999) pode ser feito com

uma pessoa um grupo uma comunidade um meio uma mudanccedila poliacutetica ou um conflito

A escolha deste tipo de delineamento de pesquisa deu-se devido agrave possibilidade de

avaliar as diversas dimensotildees do problema analisando-o como um todo Em se tratando de

estudo de caso a metodologia requer flexibilidade e portanto natildeo se tem uma estrutura riacutegida

quanto aos passos a seguir Laville e Dione (1999) afirmam que

o pesquisador pode pois mostrar-se mais criativo mais imaginativo tem mais tempo de adaptar seus instrumentos modificar sua abordagem para explorar elementos imprevistos precisar alguns detalhes e construir uma compreensatildeo do caso que leve em conta tudo isso pois ele natildeo mais estaacute atrelado a um protocolo de pesquisa que deveria permanecer o mais imutaacutevel possiacutevel (p156)

Utilizando o modelo proposto por Gil (1996) foram consideradas trecircs fases distintas

no delineamento do estudo delimitaccedilatildeo da unidade-caso coleta de dados anaacutelise e

interpretaccedilatildeo dos dados O estudo de caso se caracteriza como exploratoacuterio-descritivo O

objetivo do estudo exploratoacuterio segundo Selltiz et al (1974) eacute tornar o fenocircmeno conhecido

ou obter uma nova compreensatildeo deste Embora a relaccedilatildeo de mentoria seja um fenocircmeno

conhecido e estudado em outros paises no Brasil pouco se sabe como se daacute efetivamente esta

relaccedilatildeo Em se tratando de mentoria com crianccedilas e adolescentes brasileiros o conhecimento

47

eacute ainda mais escasso Por este motivo o presente estudo eacute exploratoacuterio buscou conhecer

como ocorre a relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas e adolescentes num contexto brasileiro mais

especificamente nordestino Ainda como objetivo de um estudo exploratoacuterio pode-se chegar a

novos conhecimentos sobre o objeto de estudo e a partir dele novos questionamentos e

hipoacuteteses podem emergir tal como abordado por Selltiz et al (1974) O estudo foi descritivo

pois se propocircs a descrever qualitativamente o fenocircmeno estudado (LAKATOS MARCONI

1995) A descriccedilatildeo do programa de reforccedilo foi feita com base na anaacutelise documental nas

notas de campo e nas entrevistas

A coleta de dados foi realizada sob o arcabouccedilo da metodologia qualitativa Tal coleta

deu-se em duas fases que seratildeo expostas nas seccedilotildees seguintes

32 Primeira fase da coleta de dados

A primeira fase da coleta de dados foi realizada na comunidade atraveacutes de um

primeiro contato com algumas matildees de alunos participantes do projeto Esta fase relacionou-

se com uma sondagem do campo para verificar a possibilidade da efetivaccedilatildeo ou natildeo da

pesquisa

321 Objetivo

Como uma primeira fase de coleta foi feita uma sondagem do programa com o intuito

de perceber se havia relaccedilatildeo de mentoria no projeto e caso houvesse quais as funccedilotildees

existentes nesta relaccedilatildeo

48

322 Instrumentos de coleta de dados

Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram a entrevista semi-estruturada

a observaccedilatildeo e as notas de campo conforme se segue

bull Entrevistas semi-estruturadas

A entrevista ldquo natildeo significa uma conversa despretensiosa e neutra uma vez que se

insere como meio de coleta de fatos relatados pelos autores enquanto sujeito-objeto da

pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que estaacute sendo focalizadardquo (NETO 1997

p57) Segundo Laville e Dione (1999) a entrevista semi-estruturada eacute ldquouma seacuterie de

perguntas abertas feitas verbalmente em uma ordem prevista mas na qual o entrevistador

pode acrescentar perguntas de esclarecimentordquo (p188)

Atraveacutes da situaccedilatildeo de interaccedilatildeo que eacute a entrevista buscou-se chegar ao conhecimento

proacuteprio dos sujeitos pesquisados As entrevistas foram semi-estruturadas com perguntas

abertas Minayo (1998) afirma que neste tipo de entrevista ldquoo entrevistado tem a possibilidade

de discorrer o tema proposto sem respostas ou condiccedilotildees preacute-fixadas pelo pesquisadorrdquo

(p108) A teacutecnica de entrevista foi complementada com a praacutetica da observaccedilatildeo fornecendo

assim uma visatildeo mais ampla do objeto em estudo conforme sugere Minayo (1998)

A entrevista conteve os seguintes temas

a) Significado de sucesso escolar

b) Fatores responsaacuteveis pelo ecircxito nos estudos

c) Significado do projeto Educaccedilatildeo eacute Vida na vida da famiacutelia

A entrevista foi realizada com cinco matildees que tinham filhos participando do projeto

A escolha das matildees foi feita por acessibilidade na qual o pesquisador seleciona os

casos a que tem acesso admitindo que estes representam o universo Este tipo de amostragem

49

pode ser aplicado em estudos exploratoacuterios e qualitativos conforme sugere Gil (1999) Foi

levantada a quantidade de pais responsaacuteveis pelas crianccedilas e adolescentes do programa que

natildeo trabalhassem fora de casa ou que o fizessem proacuteximo agrave comunidade e que pudessem

responder agrave entrevista O coordenador do projeto indicou 14 matildees que atendiam a este

requisito De posse dos nomes foi realizado um sorteio e das sorteadas duas natildeo estavam

disponiacuteveis A entrevista foi realizada com cinco matildees Colheram-se alguns dados

demograacuteficos acerca da matildee (ocupaccedilatildeo grau de instruccedilatildeo e situaccedilatildeo conjugal) e da crianccedila

participante do projeto (sexo idade seacuterie e tempo de projeto)

bull Observaccedilatildeo participante ndash feita na comunidade e no programa

Schwartz e Schwartz (1955) definem observaccedilatildeo participante como

um processo pelo qual manteacutem-se a presenccedila do observador numa situaccedilatildeo social com a finalidade de realizar uma investigaccedilatildeo cientiacutefica O observador estaacute em relaccedilatildeo face a face com os observados e ao participar da vida deles no seu cenaacuterio cultural colhe dados Assim o observador eacute parte do contexto sob observaccedilatildeo ao mesmo tempo modificando e sendo modificado por este contexto (p355 apud MINAYO 1998)

Em se tratando de suporte social para crianccedilas Frey e Rothlisberger (1996) sugerem a

observaccedilatildeo direta dos comportamentos o que neste caso pressupotildee a necessidade de

inserccedilatildeo do pesquisador na comunidade e no programa

No caso desta pesquisa a pesquisadora foi tida como observadora A observaccedilatildeo foi

feita atraveacutes durante algumas visitas da pesquisadora agrave comunidade e ao projeto

Nestas pode-se observar as crianccedilas assistidas pelo projeto bem como suas famiacutelias

uma vez que as entrevistas foram realizadas nas casas dos alunos pesquisados

bull Notas de campo

Referem-se agraves observaccedilotildees feitas no campo contendo a descriccedilatildeo das pessoas objetos

lugares fatos atividades e conversas Incluem a anotaccedilatildeo dos sentimentos

50

impressotildees ideacuteias e estrateacutegias que ocorreram agrave pesquisadora durante a observaccedilatildeo

Segundo Bogdan e Biklen (1994) as notas de campo satildeo ldquoo relato escrito daquilo que

o investigador ouve vecirc experencia e pensa no decurso da coleta e refletindo sobre os

dados de um estudo qualitativordquo (p150) Sendo assim as notas de campo tecircm

conteuacutedo tanto descritivo quanto reflexivo

A partir das entrevistas da observaccedilatildeo e das notas de campo pocircde-se verificar que

havia relaccedilatildeo de mentoria no projeto e percebeu-se a existecircncia das funccedilotildees da mentoria tanto

de suporte psicossocial como de carreira Tal fato incentivou a continuidade do estudo uma

vez que a relaccedilatildeo de mentoria se mostrou presente A partir daiacute fez-se necessaacuterio uma segunda

fase de coleta de dados que seraacute exposta a seguir

33 Segunda fase de coleta de dados

331 Objetivos

Tendo sido confirmada a existecircncia da relaccedilatildeo de mentoria no projeto de reforccedilo

buscou-se colher dados capazes de responder agrave seguinte pergunta de pesquisa como se daacute a

mentoria voltada para a educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes em uma comunidade carente do

Recife

332 Instrumentos de coleta de dados

Buscando investigar as especificidades (funccedilotildees fases e fatores de ecircxito) da relaccedilatildeo

de mentoria existentes no projeto e para se conhecer os benefiacutecios desta relaccedilatildeo na vida do

mentor do mentorado e da comunidade foram utilizados os seguintes instrumentos de coleta

51

de dados entrevista documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo observaccedilatildeo participante e notas de campo

Tais instrumentos satildeo considerados a seguir

bull Entrevista semi-estruturada - abordada na primeira fase de coleta de dados

Inicialmente a entrevista foi realizada com o coordenador do projeto buscando

conhecer a histoacuteria deste projeto e sua relaccedilatildeo com ele Posteriormente foram

entrevistadas nove matildees e uma avoacute que satildeo as pessoas responsaacuteveis pelos alunos

selecionados e foi entrevistado tambeacutem um aluno O objetivo destas entrevistas foi

compreender qual a percepccedilatildeo da famiacutelia acerca do projeto e de seus resultados na

vida da crianccedila ou adolescente que dele participa

Foram realizadas entrevistas com os demais colaboradores uma professora

(participante do projeto e de uma escola que fornece bolsa para a comunidade) a

psicoacuteloga e uma dentista visando conhecer a participaccedilatildeo destes no projeto e sua

percepccedilatildeo acerca do mesmo

Finalmente foi realizada entrevista com a coordenadora de uma das escolas que

fornece bolsa para as crianccedilasadolescentes do projeto buscando conhecer sua

percepccedilatildeo acerca do reforccedilo e de seus resultados na vida do aluno participante

bull Observaccedilatildeo participante (abordada na primeira fase)

bull Notas de campo (abordadas anteriormente)

bull Documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo ndash a situaccedilatildeo formal em que ela se encontra contribuindo

para o conhecimento da sua histoacuteria Foram analisados o estatuto e o projeto

pedagoacutegico da instituiccedilatildeo

Abordados os instrumentos de coleta de dados segue a explanaccedilatildeo a respeito dos

sujeitos da pesquisa

52

34 Sujeitos da pesquisa

O programa atende cerca de 80 crianccedilas e adolescentes das quais foram estudadas 13

Inicialmente pretendia-se pesquisar 10 sendo 5 consideradas pelo projeto como bem

sucedidas e 5 consideradas como de natildeo ecircxito Ampliou-se o nuacutemero de casos uma vez que

uma das matildees entrevistadas tem um filho que eacute considerado pelo projeto (e por ela) como de

natildeo-ecircxito e outro que apresenta ecircxito Inicialmente seria levado em consideraccedilatildeo somente o

caso de natildeo-ecircxito mas foram analisados ambos os casos ao inveacutes de apenas o de natildeo ecircxito

buscando compreender o por quecirc de em um uacutenico ambiente atraveacutes de um mesmo projeto

crianccedilas demonstrarem resultados tatildeo diferentes A entrevista natildeo seria dirigida aos alunos

visto se tratar de crianccedilas o que exige preparo do pesquisador com este tipo de sujeito No

entanto no momento da entrevista com um dos responsaacuteveis o aluno estava presente e

contribuiu com a ela Os dados coletados foram aceitos visto se tratar de um adolescente de

17 anos o mais velho dos alunos pesquisados Uma das matildees entrevistadas tem dois filhos no

projeto e suas respostas incluiacuteam frequumlentemente os dois motivo pelo qual ambos foram

considerados ao inveacutes de apenas um O quadro abaixo revela alguns dados dos sujeitos

Nome idade seacuterie tempo de

projeto escola

Afracircnio 9 anos 4a 3 anos Particular Daniel 8 anos 1a 3 anos Particular Almir 9 anos 2a 3 anos Particular Silvia 10 anos 4a 3 anos Particular Nuacutebia 12 anos 5a 3 anos Particular Frederico 12 anos 6a 4 anos Particular Jairo 14 anos 6a 4 anos Particular Walter 17 anos 2ordmano 7 anos Puacuteblica Tito 8 anos 2a 3 anos Particular Helena 10 anos 4a 4 anos Particular Tacircnia 10 anos 4a 7 anos Puacuteblica Nestor 14 anos 1ordmano 4 anos Puacuteblica Faacutebio 12anos 6a 3 anos Puacuteblica

53

Segundo Selltiz et al (1974) no estudo exploratoacuterio natildeo se tem um nuacutemero exato de

respondentes que deveratildeo ser entrevistados Antes o pesquisador no decorrer das entrevistas

verificaraacute que em um determinado ponto as respostas comeccedilam a formar um padratildeo tornam-

se repetitivas A partir daiacute aumentar o nuacutemero de informantes eacute pouco compensador Seguem

na proacutexima seccedilatildeo os criteacuterios utilizados para selecionar os sujeitos

341 Criteacuterios de seleccedilatildeo dos sujeitos

O criteacuterio primordial para seleccedilatildeo das cinco crianccedilas foi o fato de serem consideradas

alunos(as) exemplares em termos de rendimento escolar e comportamento (alunos

considerados pelo projeto como de ecircxito) Os outros cinco foram escolhidos por natildeo

apresentarem bom rendimento escolar eou bom comportamento apesar de estarem no

reforccedilo Neste sentido o coordenador do projeto indicou quem seriam as crianccedilas que se

encaixavam nestes perfis

Selltiz et al (1974) afirmam que em um estudo exploratoacuterio

eacute importante selecionar informantes de forma a assegurar uma representaccedilatildeo de diferentes tipos de experiecircncia Sempre que haja qualquer razatildeo para acreditar que diferentes pontos de vista possam influir no conteuacutedo da observaccedilatildeo deve-se fazer um esforccedilo para incluir variaccedilatildeo de pontos de vista e tipos de experiecircncia (p65)

Ainda segundo estes autores os estudos exploratoacuterios que apresentam maior contraste

podem ser mais uacuteteis em revelar diferentes aspectos do fenocircmeno

Outro criteacuterio utilizado foi o tempo de inserccedilatildeo do aluno no projeto O tempo miacutenimo

foi de dois anos visto que Frecnall e Luks (1992) verificaram em suas pesquisas que o

resultado de um programa de mentoria para crianccedilas que participaram por dois a trecircs anos

obteve 90 de ecircxito A literatura sugere a existecircncia de uma relaccedilatildeo direta entre os benefiacutecios

da mentoria e o tempo da relaccedilatildeo (GROSSMAN RHODES 2002)

54

Abordados os instrumentos de coleta de dados os sujeitos da pesquisa e os criteacuterios

para seleccedilatildeo destes sujeitos Seguem na proacutexima seccedilatildeo os meacutetodos de anaacutelise destes dados

35 Meacutetodos de anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados

Em se tratando de uma pesquisa qualitativa a anaacutelise dos dados jaacute vai sendo realizada

ao longo da coleta A anaacutelise segundo Minayo (1998) tem trecircs finalidades compreender os

dados colhidos confirmar ou natildeo as hipoacuteteses ou responder agraves questotildees elaboradas

previamente e ampliar o conhecimento do fenocircmeno estabelecendo viacutenculos com o contexto

cultural no qual estaacute inserido

O tratamento dispensado agraves entrevistas foi o de anaacutelise de conteuacutedo cujo objetivo

segundo Chizzotti (1998) eacute ldquocompreender criticamente o sentido das comunicaccedilotildees seu

conteuacutedo manifesto ou latente as significaccedilotildees expliacutecitas ou ocultasrdquo (p98) Seguindo-se esta

proposta de anaacutelise o conteuacutedo das entrevistas foi categorizado do texto se extraiacuteram

categorias que de acordo com Bardin (1997) ldquosatildeo rubricas ou classes as quais reuacutenem um

grupo de elementos sob um tiacutetulo geneacuterico agrupamento esse efetuado em razatildeo dos

caracteres comuns destes elementosrdquo (p117) As categorias foram utilizadas para agrupar as

ideacuteias em torno dos conceitos As categorias foram elaboradas antes da coleta de dados

conforme proposto por Gomes (1997) Estas categorias foram levantadas a partir do

referencial teoacuterico apresentado considerando-se toacutepicos relevantes que constituem a relaccedilatildeo

de mentoria e dos benefiacutecios propostos As categorias encontradas refletiram a percepccedilatildeo dos

responsaacuteveis pelos alunos e dos professores sobre o programa e seu resultado na vida das

crianccedilas e adolescentes participantes Vale ressaltar que na medida em que foram sendo

analisados os dados foram sendo incluiacutedas novas categorias natildeo abordadas pela teoria mas

que se fizeram presentes nos discursos

55

O discurso advindo da entrevista foi decomposto conforme sugere Gomes (1997)

formando unidades de registro que podia ser uma palavra ou frase significativa dentro do

conceito que se estava investigando

Minayo (1998) propotildee o meacutetodo de anaacutelise hermenecircutico-dialeacutetico no qual a fala dos

atores deve ser contextualizada

O pesquisador tem que aclarar para si mesmo o contexto de seus entrevistados ou dos documentos a serem analisados Isso eacute importante porque o discurso expressa um saber compartilhado com outros do ponto de vista moral cultural e cognitivo (p222)

Inicialmente foi feita uma preacute-anaacutelise na qual os materiais coletados foram

organizados destacando-se os textos significativos e as categorias

Posteriormente foi feita a exploraccedilatildeo do material atraveacutes da leitura exaustiva o que

resultou no tratamento dos resultados e na sua interpretaccedilatildeo Segundo Gomes (1997) isto

significa ldquo desvendar o conteuacutedo subjacente ao que estaacute sendo manifestordquo (p 76) O autor

ressalta que a busca das informaccedilotildees estatiacutesticas deve se voltar para as ideologias as

tendecircncias e outras caracteriacutesticas dos fenocircmenos que se estaacute analisando

Realizou-se o primeiro niacutevel de interpretaccedilatildeo dos dados que segundo Minayo (1998) eacute

o das determinaccedilotildees fundamentais no qual se levam em conta a conjuntura soacutecio-econocircmica e

poliacutetica do objeto da pesquisa

O segundo niacutevel de interpretaccedilatildeo foi a observaccedilatildeo das comunicaccedilotildees individuais

condutas costumes e rituais expressos no grupo

Segundo Minayo (1998) o produto final da anaacutelise as conclusotildees a que se chega

devem ser tidos sempre como provisoacuterios e aproximativos

Acerca da generalizaccedilatildeo dos resultados Laville e Dione (1999) afirmam

56

o estudo de caso incide sobre um caso examinado em profundidade toda forma de generalizaccedilatildeo natildeo eacute por isso excluiacuteda Com efeito um pesquisador seleciona um caso na medida em que este lhe pareccedila tiacutepico representativo de outros casos As conclusotildees gerais que ele tiraraacute deveratildeo ser contudo marcadas pela prudecircncia devendo o pesquisador fazer prova de rigor e transparecircncia no momento de enunciaacute-las (p156)

Pocircde-se ao fim das anaacutelises chegar a um maior conhecimento do fenocircmeno estudado

bem como seu impacto na vida das famiacutelias e da comunidade onde estaacute inserido Segue na

proacutexima seccedilatildeo as limitaccedilotildees deste trabalho

36 Limitaccedilotildees da pesquisa

A presente pesquisa apresenta algumas limitaccedilotildees que seratildeo expostas a seguir

a) Impossibilidade de se verificar os resultados sociais

Sendo um projeto de longo prazo os benefiacutecios seratildeo evidenciados quando existirem

egressos do projeto Por outro lado o tempo que se dispotildee para esta pesquisa eacute de apenas

dois anos Procurou-se entatildeo verificar resultados de curto prazo e a partir deles fazer

inferecircncias

b) Falta de bibliografia nacional sobre o tema

Natildeo se tem pesquisa realizada em mentoria para crianccedilas e adolescentes no contexto

brasileiro limitando o arcabouccedilo teoacuterico Esta limitaccedilatildeo pode ser vista tambeacutem como uma

oportunidade na medida em que este trabalho jaacute significa um avanccedilo em termos de

contextualizar a teoria

c) Envolvimento da pesquisadora com o objeto

A aacuterea social eacute uma aacuterea de afinidade da pesquisadora e o projeto a encantou Este fato

pode ter influenciado a percepccedilatildeo e os resultados da pesquisa No entanto na busca pela

57

objetividade buscou-se separar os conteuacutedos dos sujeitos dos da pesquisadora aliando o

que os dados observados com os discursos deles advindos

d) Interrupccedilatildeo do projeto no momento das entrevistas

A pesquisa ocorreu em um momento criacutetico do projeto um momento de transiccedilatildeo A

observaccedilatildeo e a primeira fase de coleta se deram quando as atividades ainda estavam sendo

desenvolvidas No entanto no momento das entrevistas as atividades jaacute estavam

suspensas Este fato pode ter alterado a percepccedilatildeo das matildees entrevistadas pois o projeto jaacute

natildeo estava em seu cotidiano Por outro lado este fato pode ter contribuiacutedo com a

percepccedilatildeo do valor do projeto uma vez que pela ausecircncia se podia evidenciar o que este

representava na vida da famiacutelia

d) Impossibilidade de verificar com precisatildeo os fatores responsaacuteveis pelo ecircxito e natildeo-

ecircxito dos mentorados uma vez que as famiacutelias consideravam os filhos como tendo ecircxito

nos estudos

Estas foram as limitaccedilotildees percebidas nesta pesquisa

Cientes da metodologia do trabalho segue a apresentaccedilatildeo do caso e dos dados

coletados bem como sua respectiva discussatildeo

58

4 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos achados

Segue-se a apresentaccedilatildeo do caso pesquisado e posteriormente seratildeo apresentados e

discutidos os dados colhidos atraveacutes da observaccedilatildeo das entrevistas e da anaacutelise documental

No iniacutecio de cada seccedilatildeo seraacute apresentada uma questatildeo norteadora seguida da apresentaccedilatildeo e

da discussatildeo dos dados obtidos Finalmente seraacute respondida a questatildeo norteadora que iniciou

a seccedilatildeo Feito isto seraacute abordada outra questatildeo e assim sucessivamente ateacute que se responda a

todas as questotildees postas na fundamentaccedilatildeo teoacuterica

41 O caso

Nesta seccedilatildeo seraacute abordado o caso considerando-se o contexto no qual o mesmo se

insere Seraacute detalhado o surgimento do programa de reforccedilo escolar as motivaccedilotildees para tal os

objetivos as dificuldades enfrentadas os beneficiaacuterios os estaacutegios pelos quais passou e o seu

momento atual

411 O contexto do projeto Vila do Vinteacutem II

O caso pesquisado foi o programa de reforccedilo escolar chamado Educaccedilatildeo eacute Vida que

era localizado na Vila Vinteacutem II tambeacutem chamada de favela do Vinteacutem ou Vila Vinteacutem A

Vila do Vinteacutem era uma favela existente haacute mais de dez anos localizada no bairro de Casa

Forte na cidade do RecifePE

59

A Prefeitura do Recife em fevereiro de 2005 transferiu as 192 famiacutelias moradoras da

favela da Vila do Vinteacutem para o Conjunto Habitacional Casaratildeo do Cordeiro situado agrave

avenida Mauriacutecio de Nassau no bairro do Cordeiro

Esta transferecircncia faz parte de um projeto social chamado ldquoo Recife sem palafitasrdquo

Tal projeto beneficiou 720 famiacutelias que hoje residem no conjunto habitacional mas pretende

alcanccedilar 1337 famiacutelias procedentes de comunidades carentes

As quase 200 famiacutelias que faziam a Vila Vinteacutem moravam em palafitas agraves margens do

rio Capibaribe sob o viaduto Torre-Parnamirim e entre as ruas Joatildeo Tude de Melo e

Leonardo Bezerra Cavalcante As casas - barracos de madeira papelatildeo e plaacutestico - eram de

aproximadamente 12 m2 e natildeo contavam com aacutegua encanada nem esgoto e muitas natildeo tinham

sanitaacuterios

O relator especial das Naccedilotildees Unidas para habitaccedilatildeo Miloon Kothari classificou

algumas das favelas do Recife como sendo as piores do mundo ldquoAlgumas das condiccedilotildees de

moradia do Recife () estatildeo entre as piores que eu jaacute vi As pessoas natildeo podem dormir agrave

noite com aacutegua entrando nas casas ratos e baratasrdquo (Diaacuterio de Pernambuco 2004)

60

Figura 1 (4) - Foto da Vila do Vinteacutem 2002

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

Dentre as inuacutemeras dificuldades presentes nesta comunidade pode-se citar o

desemprego fator que atinge mais de 71 das famiacutelias da Vila (Diaacuterio de Pernambuco

2004) O iacutendice de desemprego como visto anteriormente estaacute diretamente relacionado agrave

escolaridade (NEacuteRY COSTA 2003) de forma que no Recife o maior iacutendice de

analfabetismo encontra-se em domiciacutelios com rendimento de ateacute um salaacuterio miacutenimo

(SECRETARIA DA POLIacuteTICA DE ASSISTEcircNCIA SOCIAL 2004) Mais especificamente

na Vila Vinteacutem mais de 60 dos moradores natildeo tecircm rendimento maior do que meio salaacuterio

miacutenimo

O contexto familiar muitas vezes eacute de agressividade como o exposto pela avoacute de uma

aluna ldquoCom a matildee de Nuacutebia eacute tudo no pau () ela vai para casa da matildee arenga com os

irmatildeos e chega toda machucadardquo (entrevista out05) Esta constataccedilatildeo eacute coerente com a

literatura fatores vivenciados pelas famiacutelias tais como o desemprego crocircnico violecircncia

61

domeacutestica e brigas entre o casal estatildeo associados com a delinquumlecircncia (FARRINGTON 1987

apud PATTERSON et al 1989) Neste ambiente estava inserido o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

O projeto situava-se agrave entrada da favela da Vila Vinteacutem II agrave rua Joatildeo Tude de Melo

nuacutemero 21 no bairro de Casa Forte

Desde a transferecircncia das famiacutelias da Vila do Vinteacutem para o Casaratildeo do Cordeiro as

atividades do projeto foram suspensas O projeto aguarda a liberaccedilatildeo de um terreno no

referido conjunto conforme jaacute acordado entre o projeto e a Prefeitura do Recife para retomar

suas atividades

Figura 2 (4) ndash Foto das palafitas da Vila do Vinteacutem no dia da mudanccedila para o Casaratildeo do Cordeiro Fev2005

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

Considerado o contexto onde estava inserido o projeto faz-se necessaacuterio conhecer o

projeto em si A seccedilatildeo seguinte eacute dedicada a este assunto

62

412 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

O projeto teve iniacutecio atraveacutes de uma famiacutelia residente nas proximidades da favela Vila

do Vinteacutem II Moab Silva e sua esposa Miriam Maria da Silva tinham um restaurante nesta

aacuterea O casal tem dois filhos A filha tem graduaccedilatildeo em Histoacuteria e estaacute terminando o curso de

Publicidade e o filho fez Engenharia Mecacircnica eacute mestre em Oceanografia e estaacute concluindo o

doutorado em Oceanografia Moab eacute cozinheiro autocircnomo e sua esposa eacute graduada em

Relaccedilotildees Puacuteblicas

A famiacutelia conhecia a favela do Vinteacutem e quando havia necessidade contratava alguns

dos moradores para prestar pequenos serviccedilos ao restaurante Com isto e dado ao fato de

Moab ter crescido neste local a famiacutelia tornou-se conhecedora e conhecida da comunidade

Quando os pais vinham trabalhar no restaurante seus filhos os acompanhavam e ficavam

ldquotomando contardquo dos carros no estacionamento Ao fechamento do restaurante estas recebiam

alimentaccedilatildeo

A partir daiacute Miriam que jaacute lecionava para crianccedilas em uma igreja evangeacutelica teve a

ideacuteia de reunir as crianccedilas da comunidade e formar um pequeno coral para se apresentar para

a comunidade na festa de Natal Foi entatildeo que se iniciou a Comunidade Cristatilde Amigos Para

Sempre (ANEXO A) com o objetivo primeiro de evangelizaccedilatildeo e posteriormente

educacional Visando o alcance do objetivo educacional criou-se o Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

(ANEXO B) Moab e a esposa reuniram aproximadamente 15 crianccedilas moradoras da favela

do Vinteacutem para formar o coral As crianccedilas ensaiavam ouviam histoacuterias e lanchavam O coral

reunia-se duas vezes por semana as quartas e aos domingos Os pais tambeacutem se

aproximaram

Moab atraveacutes deste contato mais proacuteximo com as crianccedilas foi percebendo o potencial

que elas tinham e visando desenvolver este potencial resolveu fazer uma banca de estudos

63

para acompanhaacute-las em suas tarefas escolares As crianccedilas jaacute estavam matriculadas em

escolas puacuteblicas e Moab e sua esposa iniciaram o reforccedilo escolar

De 1988 ateacute 2000 o projeto funcionou na informalidade e as reuniotildees aconteciam no

espaccedilo do restaurante Quando este natildeo estava em atividade era dedicado agraves crianccedilas de

forma que laacute ocorriam aleacutem das reuniotildees ensaios do coral jogos festas do dia das crianccedilas

de aniversaacuterio e de Natal

Figura 3 (4) - Festa de Natal para as crianccedilas da Vila do Vinteacutem II 2004

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

No ano de 2000 um grupo de 18 americanos foi agraves proximidades da Vila Moab ao ir

cozinhar para este grupo foi acompanhado pelas crianccedilas Os americanos intrigados ao

verem tantas crianccedilas perguntaram quem eram elas Ao saber a respeito do projeto o grupo

se sensibilizou e resolveu contribuir Foi assim que o projeto comprou uma casa na rua Joatildeo

Tude de Melo ao lado da favela O projeto contava agora com uma sede

64

Figura 4 (4) - Festa das crianccedilas na sede do projeto 00

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

No projeto as atividades de reforccedilo eram disponibilizadas para quem fosse da favela e

quisesse estudar independentemente da seacuterie em que estivesse matriculado O projeto contava

com materiais didaacuteticos um quadro-negro cadeiras uma biblioteca e um computador com

acesso agrave Internet

Os professores do projeto eram Moab cuja vocaccedilatildeo segundo ele eacute alfabetizar sua

esposa que jaacute havia sido professora de crianccedilas e uma professora contratada Havendo

necessidade seus filhos tambeacutem davam aula no projeto

Segue na proacutexima seccedilatildeo uma breve descriccedilatildeo das atividades que o projeto

desenvolvia antes da transferecircncia

65

413 Atividades desenvolvidas pelo projeto

As aulas do reforccedilo funcionavam pela manhatilde e pela tarde contando em meacutedia com 25

alunos em cada turno As atividades do projeto eram realizadas de forma que o aluno estando

em uma escola puacuteblica recebia atraveacutes do projeto um ensino considerado pelo coordenador

como de maior qualidade Os alunos passavam a alcanccedilar um conhecimento diferenciado de

seus colegas de classe Quando os alunos absorviam estes conhecimentos o projeto buscava

transferi-los para uma escola privada

Deu-se entatildeo iniacutecio agrave busca por bolsas de estudos em escolas particulares para os

alunos com bom desempenho escolar Moab o coordenador ia ateacute agrave escola particular falava

acerca do programa de reforccedilo e dava o perfil da crianccedila para qual estava fazendo a

solicitaccedilatildeo da bolsa A escola convidava este aluno para conhecer suas instalaccedilotildees e aplicava

um teste de conhecimento Se o aluno fosse aprovado no teste seria bolsista da escola O

projeto passava a acompanhaacute-lo com mais intensidade visando mantecirc-lo com bom

desempenho em sua nova escola

Atualmente o projeto conta com as seguintes bolsas em instituiccedilotildees de ensino

privado

INSTITUICcedilAtildeO Nordm DE BOLSAS Coleacutegio de Ensino Fundamental I fase 10 Coleacutegio de Ensino Fundamental e Meacutedio 3 Centro de Informaacutetica 10 Curso de Inglecircs 11

As crianccedilas bolsistas que terminam a 4a Seacuterie da primeira fase do Ensino Fundamental

recebem uma bolsa na escola de inglecircs Buscando melhor atender as crianccedilas o coordenador

buscou pessoas que pudessem assisti-las com relaccedilatildeo agrave sauacutede O projeto passou a contar com

66

o voluntariado de uma psicoacuteloga um meacutedico e dois dentistas que datildeo assistecircncia agraves crianccedilas

No caso de assistecircncia psicoloacutegica a famiacutelia tambeacutem recebe acompanhamento

Em 2000 foi fechado um acordo com dois dentistas para o tratamento dentaacuterio das

crianccedilas Mais uma vez o grupo de americanos contribuiu com R$ 1500 por crianccedila para

cobrir as despesas com o material odontoloacutegico Um grupo de 90 crianccedilas da Vila do Vinteacutem

fez tratamento dentaacuterio que incluiu obturaccedilatildeo extraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de fluacuteor ldquoFoi um ano de

tratamento Eu levava as crianccedilas quatro vezes por semana duas turmas para dra () e duas

turmas para o dr ()rdquo (COORDENADOR entrevista set05)

Aleacutem das atividades educacionais propriamente ditas o projeto desenvolvia outras

atividades com as crianccedilas Dentre estas o coordenador citou passeios agrave praccedila do

Entroncamento no final de ano e agrave exposiccedilatildeo da aeronaacuteutica e visita a museus (Ricardo

Brennand Museu do Homem do Nordeste Museu do Estado) ldquoQualquer exposiccedilatildeo que

esteja havendo e que vaacute influir acrescentar em termos de educaccedilatildeo para eles a gente levardquo

(COORDENADOR entrevista set05) Anualmente o projeto levava alguns adolescentes para

acampar O acampamento que tem duraccedilatildeo de cinco dias eacute de cunho religioso Atividades

como pintura muacutesica danccedila recreaccedilatildeo e jogos tambeacutem eram desenvolvidas regularmente

pelo projeto Festas e reuniotildees eram realizadas Estas ocorriam na sede ou no espaccedilo onde era

o restaurante por este comportar um nuacutemero maior de pessoas

Na proacutexima seccedilatildeo seraacute explicado como o projeto foi formalizado tornando-se uma

organizaccedilatildeo natildeo governamental

67

414 Formalizaccedilatildeo do projeto como organizaccedilatildeo natildeo-

governamental

Aproximadamente em 2000 com o projeto jaacute instalado na sede buscou-se a

formalizaccedilatildeo do projeto ou seja o registro como ONG (organizaccedilatildeo natildeo-governamental) O

coordenador procurou entatildeo mais quatro pessoas que juntamente com ele tivessem os

mesmos objetivos Encontradas estas pessoas que natildeo eram estranhas ao projeto intentou-se

proceder agrave formalizaccedilatildeo No entanto estas pessoas desistiram e o coordenador procurou

outras Encontradas as pessoas que segundo ele realmente assumiram o projeto o mesmo foi

formalizado O projeto conta com um presidente (Moab) um vice-presidente dois secretaacuterios

e um tesoureiro Das cinco pessoas responsaacuteveis pela ONG duas foram substituiacutedas

O projeto mesmo anterior agrave formalizaccedilatildeo jaacute contava com objetivos definidos estes

foram entatildeo sistematizados (ANEXO B) Satildeo objetivos do projeto

bull Melhorar a qualidade de vida natildeo somente no presente mas intervir num ciclo

vicioso preparando a crianccedila e o jovem para o futuro

bull Atuar na aacuterea de educaccedilatildeo solicitando bolsa de estudo na rede privada com aulas

de reforccedilo para o ensino fundamental alfabetizaccedilatildeo infantil distribuiccedilatildeo de

material escolar e merenda

bull Ofertar curso regular de liacutengua inglesa e iniciaccedilatildeo musical

bull Oferecer acompanhamento cliacutenico odontoloacutegico e psico-pedagoacutegico e

bull Desenvolver atividades que proporcionem o desenvolvimento de competecircncias

sociais pessoais e intelectuais

Formalmente o coordenador estaacute na diretoria da ONG haacute trecircs anos Em outubro de

2006 ao completar dois mandatos haveraacute eleiccedilatildeo e ele natildeo mais estaraacute agrave frente do projeto

68

pois assim rege o estatuto O projeto eacute mantido com doaccedilotildees e serviccedilo voluntaacuterio Com a

formalizaccedilatildeo natildeo houve alteraccedilatildeo nas atividades desenvolvidas pelo projeto

Considerada a formalizaccedilatildeo do projeto segue a explanaccedilatildeo de sua situaccedilatildeo atual ou

seja como se encontra o projeto apoacutes a transferecircncia das famiacutelias

415 Situaccedilatildeo atual do projeto

Com a transferecircncia das famiacutelias para o conjunto habitacional Casaratildeo do Cordeiro o

projeto interrompeu suas atividades regulares e tem ido agrave busca da liberaccedilatildeo do terreno jaacute

destinado ao mesmo

Neste iacutenterim de fevereiro a novembro de 2005 as crianccedilas bolsistas que estavam

estudando na primeira fase do ensino fundamental foram colocadas pelo projeto em semi-

internatos Tal fato ocorreu na busca de garantir a continuidade da assistecircncia educacional a

estas crianccedilas

Ainda neste periacuteodo de transiccedilatildeo o mesmo grupo de americanos que outrora

beneficiou o projeto com a compra da casa fez uma nova doaccedilatildeo Desta vez o grupo doou

um galpatildeo preacute-moldado com capacidade para 300 pessoas que seraacute erguido no local

destinado para o projeto no Casaratildeo do Cordeiro O envio do galpatildeo estaacute condicionado agrave

liberaccedilatildeo do terreno

Na proacutexima seccedilatildeo seratildeo consideradas as dificuldades enfrentadas pelo projeto

Educaccedilatildeo eacute Vida

69

416 Dificuldades enfrentadas pelo projeto

O coordenador diz encontrar dificuldade para obter apoio junto agraves instituiccedilotildees que

segundo ele deveriam cooperar com as ONGrsquos tais como Conselho Municipal Conselho

Estadual e Conselho Federal de Accedilatildeo Social e Conselhos Municipais dos Direitos da Crianccedila

e do Adolescente Ele afirma que haacute excesso de burocracia e que estas instituiccedilotildees natildeo estatildeo

presentes para apoiar antes para punir caso haja alguma irregularidade ldquoEles natildeo querem ver

resultados querem ver papelrdquo desabafa o coordenador (entrevista set05) Mesmo

entregando os documentos solicitados o coordenador lamenta natildeo ter tido ecircxito nas

solicitaccedilotildees legais fato que ele atribui agrave morosidade e ao excesso de burocracia

Outra dificuldade considerada a maior delas eacute enfrentada a cada iniacutecio de ano devido

a necessidade de se patrocinar os alunos bolsistas O custo com materiais e fardamentos eacute em

meacutedia de R$ 50000 por crianccedila O projeto busca cobrir tal despesa buscando

apadrinhamento (patrociacutenio) para os alunos ou seja pessoas que contribuam parcial ou

totalmente com as despesas deste

A cada ano as escolas oferecem novas vagas ao projeto e com elas aumenta a

dificuldade devido agrave falta de recursos O projeto tem crianccedilas com desempenho suficiente

para serem aceitas por uma escola particular e as escolas tecircm ofertado mais bolsas mas a falta

de patrociacutenio tem imposto limites a esta transferecircncia O coordenador diz que ao colocar uma

crianccedila na escola particular o projeto assume realmente seus estudos fazendo o possiacutevel para

que a crianccedilaadolescente seja inserida e obtenha ecircxito

Ao final de cada ano os padrinhos satildeo homenageados recebendo um Certificado de

Agente Social conforme a figura 5 (4) como forma de reconhecimento e gratidatildeo pelo

patrociacutenio

70

Figura 5 (4) - Certificado do padrinho

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

A despeito das dificuldades enfrentadas o projeto intenta continuar e expandir-se

Tem o objetivo de atender ao Conjunto Habitacional Casaratildeo do Cordeiro

Segue na proacutexima seccedilatildeo a motivaccedilatildeo que deu iniacutecio a este projeto e que o sustenta ateacute

o momento desta pesquisa

417 Motivaccedilatildeo para a existecircncia e continuidade do projeto

O coordenador explica assim sua motivaccedilatildeo para prosseguir com o projeto

Como cidadatildeo pobre eu sempre lutei para que meus filhos conseguissem terminar o terceiro grau () Depois que os meus terminaram eu digo bom agora eu posso lutar pelos dos outros para que eles tambeacutem consigam porque eles natildeo vatildeo conseguir se natildeo tiver quem ofereccedila oportunidade () Essas crianccedilas sendo assistidas dessa forma sem duacutevida alguma vatildeo trilhar o mesmo caminho que meus filhos trilharam Eu trato as crianccedilas participantes deste projeto como se elas fossem os meus filhos (COORDENADOR entrevista set05)

71

Acerca de seu envolvimento com o projeto ele declara ldquoEu natildeo vejo como me

desvincular hoje () separar do projeto Eu respiro o projeto luto faccedilo o que for necessaacuterio o

que for possiacutevel para que o projeto continuerdquo (COORDENADOR entrevista set05)

A seccedilatildeo 41 foi destinada ao caso Foram aqui considerados o contexto onde estaacute

inserido as atividades desenvolvidas o processo de formalizaccedilatildeo as dificuldades enfrentadas

e a motivaccedilatildeo existente no projeto

Para melhor compreensatildeo dos sujeitos da pesquisa seratildeo expostos nas proacuteximas

seccedilotildees os dados referentes aos mentores e aos mentorados pesquisados

418 Dados dos mentores entrevistados

Seguem algumas informaccedilotildees acerca dos mentores do projeto

Coordenador- foi o fundador do projeto e estaacute nele haacute 16 anos Jaacute deu alfabetizou diversas

crianccedilas e pais da comunidade Atualmente eacute o presidente da ONG

Professora ndash participou do projeto durante um ano Leciona em uma das escolas particulares

que fornece bolsa para os alunos Diz ter muita identidade com a proposta do projeto

Psicoacuteloga ndash estaacute no projeto haacute 5 anos Aleacutem deste trabalho no qual atua como voluntaacuteria

participa de um outro tambeacutem com comunidade carente

Dentista- estaacute no projeto haacute mais de um ano e diz ter identidade com o tipo de trabalho

realizado

Seguem na proacutexima seccedilatildeo os dados referentes aos mentorados pesquisados

72

419 Dados dos mentorados pesquisados

Visando um maior conhecimento dos sujeitos pesquisados seguem-se alguns dados

acerca dos mesmos Na busca pelo anonimato os nomes dos alunos foram trocados

Inicialmente seratildeo abordados os alunos que foram apontados como que de ecircxito nos estudos e

posteriormente os de natildeo-ecircxito

4191 Alunos tidos como que de ecircxito nos estudos

O coordenador do projeto demonstra orgulho ao falar dos seguintes alunos pois aleacutem

do rendimento escolar eles apresentam bom comportamento Satildeo estes os alunos

Afracircnio- aluno com 9 anos de idade cursa a 4a seacuterie do Ensino Fundamental em um coleacutegio

particular com bolsa obtida atraveacutes do projeto Educaccedilatildeo eacute Vida Afracircnio estaacute no projeto haacute 3

anos Mora com a matildee que eacute analfabeta funcional1 Aleacutem de estudar em escola particular

atraveacutes do projeto Afracircnio tambeacutem faz inglecircs

Daniel- aluno com 8 anos cursa a 1a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular cuja

bolsa foi obtida atraveacutes do projeto Ele participa do projeto haacute 3 anos Sua participaccedilatildeo nas

atividades desenvolvidas pelo projeto eacute integral passeios e lazer Daniel mora com os pais e eacute

o filho mais novo do casal Seu pai que eacute porteiro estudou ateacute o 3o ano do Ensino Meacutedio e

sua matildee ateacute a 8a seacuterie do Ensino Fundamental Aleacutem dos pais Daniel mora com seu irmatildeo

mais velho Faacutebio (tido como de natildeo ecircxito) sua irmatilde e sua tia A matildee sofre de fobia social e

toma remeacutedio ldquocontroladordquo Segundo ela o filho eacute muito responsaacutevel e gosta de estudar

1 Analfabeto funcional- Pessoa com menos de quatro anos de estudos

73

Almir- Garoto de 9 anos que cursa a 2a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular

cuja bolsa foi obtida atraveacutes do projeto Almir estaacute no projeto haacute 3 anos Mora com os pais

que satildeo analfabetos funcionais e com Silvia sua irmatilde

Silvia- eacute irmatilde de Almir tem 10 anos cursa a 4a seacuterie do Ensino Fundamental Estaacute no projeto

cerca de 3 anos Tal qual o irmatildeo Silvia estuda em escola particular

Nuacutebia- aluna de 12 anos cursa a 5a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular cuja

bolsa foi obtida atraveacutes do projeto do qual ela faz parte haacute cerca de 3 anos Nuacutebia eacute apontada

pelo coordenador do projeto como sendo uma aluna excelente Durante a semana Nuacutebia estaacute

morando na casa da avoacute paterna pois eacute mais perto da escola do que a casa da matildee pois esta

mora no Casaratildeo do Cordeiro A avoacute diz que a neta eacute muito calma e desanimada Acredita

que ela sente muita falta dos irmatildeos e da matildee (os pais satildeo separados) Nos finais de semana

Nuacutebia vai para a casa da matildee A avoacute diz que ao retornar ela vem agitada e machucada pois

em casa Nuacutebia apanha da matildee e dos irmatildeos A matildee de Nuacutebia disse ao coordenador que em

2006 iraacute tiraacute-la da escola particular apesar do bom rendimento que ela apresenta A matildee alega

que a escola eacute longe O coordenador e a professora acreditam que tal fato se deve tambeacutem agrave

limitaccedilatildeo da matildee (analfabeta funcional) em compreender o valor do estudo Ao falar acerca

deste fato o coordenador se mostra bastante entristecido

Frederico- aluno com 12 anos cursa a 6a seacuterie do Ensino Fundamental Ele estaacute no projeto

haacute 4 anos estuda em coleacutegio particular com bolsa obtida atraveacutes do projeto Frederico mora

com os pais Estes satildeo analfabetos funcionais O coordenador diz que eacute um menino muito

bom pois eacute esforccedilado e apresenta bom comportamento

Jairo- aluno com 14 anos que cursa a 6a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular

Sua bolsa foi obtida atraveacutes do projeto bem como o curso de inglecircs no qual ele estuda haacute 3

anos Jairo mora com a matildee o padrasto e com o irmatildeo mais novo que eacute portador de

74

necessidades especiais A matildee eacute analfabeta absoluta2 e o padrasto analfabeto funcional Jairo

perdeu o pai com dois anos A matildee fala que ele eacute um menino ldquoquietordquo e que gosta muito do

coordenador do projeto Jairo morou no interior onde estudava mas natildeo obtinha

aproveitamento escolar Ao chegar no Recife foi incentivado a estudar e segundo a matildee

ldquotomou gosto pelos estudosrdquo desde entatildeo tem demonstrado bom rendimento aleacutem do

comportamento exemplar que sempre apresentou A matildee diz que o coordenador eacute como um

pai para o Jairo lhe aconselha encaminha ajuda patrocina e eacute amigo

Walter- aluno de 17 anos que cursa o 2o ano do Ensino Fundamental em escola puacuteblica e

estaacute haacute 7 anos no projeto Walter mora com os pais que satildeo analfabetos funcionais O

coordenador diz que a famiacutelia acompanha os estudos de Walter Ele eacute aluno de inglecircs com

bolsa obtida pelo projeto Walter pretende ser professor deste inglecircs visto o bom rendimento

que vem apresentando e o interesse que afirma ter com o idioma

Nesta seccedilatildeo foram apresentados alguns dados acerca dos alunos tidos como de ecircxito segue na

proacutexima seccedilatildeo dados dos alunos pesquisados que foram tidos como que de natildeo ecircxito nos

estudos

4192 Alunos tidos como que de natildeo ecircxito nos estudos

Os seguintes alunos natildeo apresentam o rendimento escolar esperado pelo projeto A

aleacutem do que alguns apresentam problemas de comportamento Satildeo estes

Tito ndash aluno com 8 anos de idade que cursa a 2a seacuterie do Ensino Fundamental Mora com os

pais que satildeo analfabetos funcionais Ele estuda em um coleacutegio particular com bolsa obtida

atraveacutes do projeto O coordenador afirma que o mesmo natildeo demonstra interesse para com os

estudos

2 Analfabeta absoluta- pessoa iletrada

75

Helena- aluna de 10 anos que cursa a 4a seacuterie do Ensino Fundamental Ela estaacute no projeto haacute

4 anos Mora com a matildee que eacute analfabeta funcional A matildee trabalha fora e tem pouco contato

a filha cerca de uma hora por dia Os pais satildeo separados O coordenador diz que a matildee eacute

muito nervosa e toma remeacutedio ldquocontroladordquo Ele afirma que a matildee por ser agressiva e

impaciente eacute quem dificulta o aprendizado e o comportamento da filha Helena estuda em

escola particular mas natildeo estaacute obtendo notas suficientes para continuar nela

Tacircnia- aluna de 10 anos que cursa a 4a seacuterie em escola puacuteblica Ela estaacute no projeto haacute 7 anos

Tacircnia mora com a matildee adotiva com o padrasto com um irmatildeo mais novo e com um irmatildeo

mais velho e sua esposa Sua situaccedilatildeo eacute peculiar sua matildee morava com outro ldquomaridordquo quando

resolveu adotaacute-la Deixou o primeiro marido e atualmente mora com outro Sendo que este

casal teve um filho que no momento da pesquisa tinha dois anos Segundo o relato da

psicoacuteloga desde a separaccedilatildeo da matildee Tacircnia jaacute natildeo gozava de muito atenccedilatildeo e com o

nascimento do irmatildeo esta diminuiu significativamente O coordenador atribui muito de sua

dificuldade de aprendizagem agrave falta de estrutura familiar

Nestor- aluno com 14 anos cursa o 1o ano do ensino Meacutedio estaacute no projeto haacute 4 anos e mora

com os pais Sua matildee eacute analfabeta funcional e seu pai cursou ateacute a 6a seacuterie do Ensino

Fundamental Nestor estuda em escola puacuteblica

Faacutebio- garoto com 12 anos que cursa a 6a seacuterie do Ensino Fundamental Ele participa do

projeto haacute 3 anos Faacutebio mora com os pais com a tia com a irmatilde e com Daniel seu irmatildeo A

matildee estudou ateacute a 8a seacuterie e o pai ateacute o 3o ano do Ensino Meacutedio Faacutebio segundo a matildee natildeo

gosta de estudar e seu interesse estaacute em jogar futebol e ficar na rua Em casa ele natildeo recebe

acompanhamento em termos de estudo

Estes foram alguns dos dados acerca dos alunos pesquisados Ao longo da

apresentaccedilatildeo dos dados seratildeo apresentadas mais informaccedilotildees acerca destes sujeitos

76

Seguem nas proacuteximas seccedilotildees as questotildees norteadoras deste trabalho bem como a

apresentaccedilatildeo e discussatildeo dos dados colhidos na busca pelas respostas agraves questotildees

42 Achados referentes agrave primeira questatildeo norteadora

Para responder a seguinte questatildeo em uma comunidade carente brasileira ateacute que

ponto a mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes apresenta as caracteriacutesticas definidas

pela teoria Faz-se necessaacuterio inicialmente caracterizar o projeto de reforccedilo como um

programa de mentoria o que seraacute feito na proacutexima seccedilatildeo Posteriormente seratildeo analisados os

achados referentes agraves funccedilotildees de mentoria existente no projeto as fases em que se encontram

os relacionamentos e os fatores relacionados ao ecircxito do projeto

421 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida como um programa de mentoria

Percebeu-se que os alunos recebem suporte vindo de vaacuterios mentores A psicoacuteloga

fornece sustentaccedilatildeo para o aluno e para a famiacutelia a professora aconselha e ajuda a

desenvolver habilidades o coordenador e sua esposa acompanham o desenvolvimento dos

alunos fornecendo-lhes feedback e encorajando-os Tal fato foi constatado atraveacutes dos

discursos das matildees que relatavam o suporte recebido principalmente pelo coordenador e pela

professora

A partir destes dados pode-se concluir que o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida caracteriza-se

como um programa de redes de mentoria (HIGGINS KRAM 2001) uma vez que o

mentorado recebe influecircncia de vaacuterios mentores O coordenador do projeto eacute a pessoa que

mais acompanha os alunos eacute o mais citado pelas matildees e pelo aluno como oferecedor de

suporte tanto psicossocial como de carreira Pode ser considerado o mentor principal do

projeto

77

A relaccedilatildeo tem iniciativa da organizaccedilatildeo ao se manter aberta a novos entrantes e a

relaccedilatildeo eacute estruturada Alguns encontros como a aula de reforccedilo satildeo preacute-estabelecidos No

entanto os encontros natildeo se limitam agrave aula de reforccedilo Eles podem ser esporaacutedicos partindo

da necessidade O relacionamento natildeo tem uma delimitaccedilatildeo de seis meses ou um ano O

mesmo pode se estender por longos periacuteodos de tempo Walter aluno entrevistado por

exemplo estaacute no projeto haacute sete anos Haacute alunos que foram alfabetizados pelo projeto e

receberam acompanhamento ateacute terminar o ensino meacutedio caracterizando assim um

relacionamento de no miacutenimo 11 anos

Dentre os tipos de mentoria propostos por Kram (1985) a mentoria realizada no

projeto parece estar na interface da mentoria formal e informal Alguns fatores levam a

consideraacute-la formal como por exemplo a estruturaccedilatildeo da relaccedilatildeo e os encontros preacute-

estabelecidos Por outro lado vecirc-se tambeacutem caracteriacutesticas da mentoria informal Ou seja o

mentorado toma a iniciativa em fazer parte ou natildeo da relaccedilatildeo nem todos os encontros satildeo preacute-

estabelecidos e o tempo de duraccedilatildeo da relaccedilatildeo ultrapassa em muito os dois anos ldquolimiterdquo da

mentoria formal

Outra caracteriacutestica especiacutefica do projeto eacute o fato de haver dois tipos de

relacionamento de mentoria entre os mentores e seus mentorados Os alunos bolsistas

parecem gozar de maior assistecircncia visto que para o projeto o ldquoinvestimentordquo eacute maior nestes

alunos Este diferencial foi percebido quando no periacuteodo de transiccedilatildeo alguns bolsistas foram

colocados em regime de semi-internato enquanto os natildeo-bolsistas natildeo tiveram o mesmo

tratamento Deve-se considerar a quantidade restrita de vagas e nesta situaccedilatildeo a preferecircncia

eacute dos alunos bolsistas

Percebeu-se pelos discursos que quando haacute algum passeio com o nuacutemero limitado de

participantes a preferecircncia eacute dos alunos mais comportados e que apresentam melhores notas

normalmente os bolsistas A matildee de Faacutebio (que tem um filho bolsista e outro considerado de

78

natildeo-ecircxito) diz que o coordenador tem seus ldquoescolhidosrdquo (entrevista out05) Ela enfatiza estar

ciente que um de seus filhos eacute ldquoescolhidordquo e o outro natildeo

Este tipo de relacionamento eacute explicado na teoria LMX (Leader-Member Exchange)

teoria da troca entre liacuteder e liderado que afirma que os liacutederes estabelecem um

relacionamento especial com um grupo restrito de liderados (grupo interno) distinto do

relacionamento com os demais liderados que fazem o grupo externo (ROBBINS 2002)

Tal fato pode levar aos seguintes questionamentos

- Os alunos mentorados que se saem melhor em termos de notas e

comportamentos passam a ter uma assistecircncia diferenciada

- Ter uma assistecircncia ldquomais proacuteximardquo leva os alunos a demonstrar melhores

comportamentos e apresentar melhores notas

Abordadas estas caracteriacutesticas da relaccedilatildeo de mentoria do projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

seguem-se as funccedilotildees de mentoria observadas no projeto

422 Funccedilotildees de mentoria encontradas no projeto Educaccedilatildeo eacute

Vida

Nesta seccedilatildeo seratildeo apresentados e discutidos os dados que revelam a existecircncia das

funccedilotildees de mentoria Inicialmente seratildeo abordadas as funccedilotildees de suporte de carreira e

posteriormente as de suporte psicossocial

4221 Suporte de carreira

Nesta seccedilatildeo seratildeo apresentadas as funccedilotildees do suporte de carreira encontradas no projeto

de reforccedilo Satildeo funccedilotildees que o mentor desempenha no sentido de auxiliar o mentorado em seu

desenvolvimento profissional Para cada funccedilatildeo abordada seratildeo apresentados alguns exemplos

encontrados

79

bull Tarefas desafiadoras

Um aluno bolsista de inglecircs diz que seu mentor sempre lhe lembra que aluno bolsista eacute

aluno modelo ldquoA gente tem que mostrar porque tinha direito agravequela bolsa () Se vocecirc

recebe uma ajuda e vocecirc natildeo se esforccedila para passar os obstaacuteculos natildeo adianta nada () eu

tenho me esforccediladordquo (WALTER entrevista out05)

Jairo em cuja casa soacute haacute analfabetos (absoluto e funcional) eacute um dos alunos do projeto

tido como exemplar Tem bolsa em uma escola particular e cursou a 4a e a 5a seacuteries no

mesmo ano A matildee de Nestor diz acerca do filho ldquoEle (Nestor) diz que quer estudar natildeo quer

ser como o pai dele que natildeo estudou Depois que ele conheceu o seu Moab aiacute eacute que ele pegou

o incentivo mesmo para estudarrdquo (MAE DE NESTOR entrevista out05)

ldquoSe vocecirc eacute bolsista natildeo eacute porque vocecirc eacute pobre natildeo eacute porque vocecirc eacute preto natildeo eacute

porque vocecirc eacute favelado Vocecirc estaacute laacute por capacidade () vou buscar bolsa porque ele eacute capaz

e estaacute faltando uma oportunidaderdquo (COORDENADOR entrevista set05)

O programa de reforccedilo ao dar aos alunos a oportunidade de acompanhamento nos

estudos impotildee-lhes uma tarefa extremamente desafiadora a de conseguir superar uma

realidade de exclusatildeo social A crianccedila demanda esforccedilo para adentrar uma escola particular e

para se manter apta a permanecer nessa escola Mesmo no caso de alunos natildeo bolsistas existe

o desafio de manter-se com bom rendimento na escola puacuteblica Este desafio eacute igualmente

vaacutelido para o curso de inglecircs

O desafio parece ser maior do que se apresenta pois subjacente agrave continuidade dos

estudos na vida da crianccedilaadolescente estaacute o status quo da famiacutelia O estudo do filho rompe

uma situaccedilatildeo de analfabetismo familiar Leva a crianccedila a superar sua expectativa negativa de

futuro uma vez que a educaccedilatildeo da matildee (das matildees entrevistadas 78 satildeo analfabetas) eacute

determinante do desempenho do filho (BARROS et al 1994)

80

Walter parece ter ciecircncia do desafio individual que tem que enfrentar mas talvez natildeo

perceba a dimensatildeo do desafio social que isto representa ou seja conhecer e dominar a liacutengua

inglesa estando inserido em uma comunidade que natildeo domina seu proacuteprio idioma Falar de

futuro para uma comunidade de favela jaacute eacute por si soacute um desafio Qual o futuro para quem

natildeo sabe se vai comer ou ter a oportunidade de continuar vivo no dia presente Que futuro

esperar quando se vecirc o pai becircbado jogado na rua catando lixo ou ao perceber a matildee se

prostituindo Que futuro espera quem vive nas condiccedilotildees caracterizadas pelo representante da

ONU como sendo as piores do mundo Talvez esta seja uma das mais belas funccedilotildees do

mentor de crianccedilas e adolescentes carentes abrir-lhes os olhos para novas e promissoras

experiecircncias e viabilizar o alcance destas Ofertar mais tarefas desafiadoras quando estas

crianccedilas e adolescentes jaacute possuem tantas pode parecer cruel No entanto elas parecem estar

recebendo suporte suficiente para superar tais desafios indo aleacutem do que se espera

bull Exposiccedilatildeo e visibilidade positiva

Na introduccedilatildeo da pesquisadora ao programa pocircde-se assistir agrave apresentaccedilatildeo de alunos-

talentos do projeto onde foram citados o rendimento escolar e as habilidades dos mesmos

Os colaboradores e alguns alunos apresentam-se em busca de patrociacutenio Nestas ocasiotildees os

melhores alunos satildeo destacados

Walter aluno de inglecircs foi observado em seu desempenho por seu mentor e por sua

professora da escola de inglecircs Ele foi indicado para fazer intercacircmbio cultural nos EUA

As alunas do projeto que tinham aula de danccedila apresentavam-se quando havia oportunidade

mesmo que se tratasse de uma missa

81

Figura 6 (4) - Apresentaccedilatildeo de coreografia das meninas do projeto em uma missa de Natal realizada pela Igreja Catoacutelica de Casa Forte na Vila do Vinteacutem II

Fonte Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

Pocircde-se perceber que o projeto expotildee positivamente seus mentorados conforme o

proposto por Kram (1985) Oferecer visibilidade positiva a crianccedilas marginalizadas pela

sociedade mostrando os talentos que estas possuem contribui para resgatar a auto-estima

das crianccedilas e das famiacutelias Crianccedilas e adolescentes de favela satildeo estigmatizados e

relacionados agrave delinquumlecircncia Esta visibilidade positiva eacute interessante para a sociedade

havendo a possibilidade de reduccedilatildeo do preconceito para com estes que estatildeo agrave margem Para

os mentorados a visibilidade positiva pode ajudaacute-los a resgatar aleacutem da auto-estima a

dignidade ao reconhecerem capacidade e potencial em si mesmos

bull Coaching

O reforccedilo era oferecido diariamente para as crianccedilas durante 1hora e meia fossem as

crianccedilas bolsistas ou natildeo ldquoEu eacute que ensinava a ela (Silvia) mas natildeo tenho jeito Depois do

82

projeto ela melhorou a letra aprendeu a ler mais raacutepido aprendeu a escreverrdquo (MAE

DE SILVIA entrevista out 05) ldquoQuando a professora natildeo ia ele (Moab) botava a filha dele

praacute ensinar () Ele eacute professor a esposa o filho e a filha Assim eacute bom neacute Quando um natildeo

tava o outro tava (sic)rdquo (MAE DE AFRAtildeNIO entrevista out05)

Uma das atividades mais presentes observadas no projeto eacute o coaching devido agrave

frequumlecircncia com a qual ocorre As tarefas o estudo o ensino enfim o reforccedilo diaacuterio reflete a

preocupaccedilatildeo com a tarefa e a transmissatildeo das informaccedilotildees necessaacuterias para a sua execuccedilatildeo

tal qual o proposto por Kram (1985)

bull Patrociacutenio

O projeto viabilizou o estudo de 24 crianccedilas adolescentes em escolas particulares

sendo 13 no Ensino Fundamental e Meacutedio e 11 no curso de Inglecircs O projeto provecirc as

condiccedilotildees necessaacuterias para que o aluno possa assumir satisfatoriamente a vaga na escola

particular Houve relato de provisatildeo de assistecircncia meacutedica e odontoloacutegica material e

fardamento escolar e ateacute corte de cabelo Algumas matildees entrevistadas disseram receber

ajuda em termos de alimentaccedilatildeo medicamento e doaccedilotildees de roupas

Ao analisar o patrociacutenio oferecido pelo projeto pode-se estabelecer um diferencial em

relaccedilatildeo agrave teoria proposta por Kram (1985) O patrociacutenio mencionado em pesquisas anteriores

reflete uma preocupaccedilatildeo bem especiacutefica do mentor em termos de patrocinar a carreira do

mentorado No projeto Educaccedilatildeo eacute Vida o patrociacutenio eacute bem mais abrangente Estaacute

relacionado agraves necessidades baacutesicas do mentorado e de sua famiacutelia sem as quais ele natildeo teria

condiccedilotildees sequer de estudar Entenda-se como patrociacutenio neste contexto a oferta de

alimentaccedilatildeo medicamento e sauacutede natildeo excluindo aquele ou seja o material o fardamento a

bolsa de estudos e os cursos

83

Estas foram as atividades de suporte de carreira encontradas no projeto de reforccedilo

Atividades que auxiliam o mentorado em sua carreira profissional conforme proposto por

Kram (1985) Em se tratando de crianccedilas e adolescentes falar de carreira profissional pode

parecer precoce No entanto considerou-se o necessaacuterio para que o mentorado venha a ter

condiccedilotildees de futuramente ter uma carreira Eacute desta forma que atividades como patrociacutenio

coaching tarefas desafiadoras e exposiccedilatildeo positiva devem ser encaradas

Segue na proacutexima seccedilatildeo os resultados e discussotildees dos dados obtidos com relaccedilatildeo agraves

atividades de suporte psicossocial encontradas no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

4222 Suporte psicossocial

Seratildeo considerados os dados que refletem o suporte psicoloacutegico e social oferecido pelo

mentor ao mentorado As funccedilotildees encontradas foram amizade aceitaccedilatildeo e confirmaccedilatildeo e

aconselhamento que seratildeo expostas a seguir

bull Amizade

A professora entrevistada disse buscar construir um viacutenculo de afetividade com os

alunos algo que ultrapassasse o relacionamento distanciado entre professor e aluno ldquoquando

a gente daacute atenccedilatildeo afeto eles aprendem tambeacutem a parte cognitivardquo (PROFESSORA

entrevista out05) A matildee de Helena diz ldquoEle (Moab) daacute atenccedilatildeo ela gosta dele porque ele

sabe conversar daacute carinhordquo (entrevista out05) Walter declara ldquoEacute como se ele (Moab) fosse

um pai praacute mim me estende a matildeordquo (entrevista out05) O projeto busca acompanhar a

famiacutelia atraveacutes do coordenador e da psicoacuteloga que se propotildee a realizar um acompanhamento

terapecircutico se necessaacuterio

Pocircde-se observar claramente que a amizade estaacute presente na relaccedilatildeo de mentoria

Atraveacutes dos discursos acima percebe-se um viacutenculo entre mentor e mentorado no qual o

mentorado mostra-se compreendido tal qual o proposto por Kram (1985)

84

bull Aceitaccedilatildeo e confirmaccedilatildeo

Pode-se observar atraveacutes dos discursos e mais evidentemente em uma das entrevistas

ldquoAfracircnio eacute muito bom em histoacuteria e ciecircncias ele soacute tira 10 Seu Moab sempre ficava

elogiando ele que ele era bom e acho que isso foi incentivando elerdquo (MAE DE

AFRAcircNIO entrevista out05)

Conforme o proposto por Kram (1985) a aceitaccedilatildeo faz com que o mentorado se sinta

seguro ateacute mesmo para enfrentar os desafios que conforme exposto satildeo muitos O

coordenador relata que entre os alunos do projeto haacute casos em que a crianccedila eacute

frequumlentemente desprezada pela matildee Neste caso o valor da aceitaccedilatildeo oferecida pelo mentor

torna-se imensuraacutevel

bull Aconselhamento

Dar conselhos apareceu frequumlentemente nos discursos da professora e do coordenador

O que pocircde ser confirmado atraveacutes da fala das matildees e do aluno entrevistado Os conselhos satildeo

dados visando o progresso dos alunos nos estudos por evitar que fiquem na rua e na tentativa

de convencecirc-los de que o seu futuro pode ser melhor do que o presente

O seu Moab soacute apoacuteia Agora eacute de falar o pesado tambeacutem Ele daacute apoio tudinho mas tambeacutem quando vecirc que taacute errado ele vem chega e conversa () ele tira o tempo dele praacute vir dar conselhos ele diz praacute Jairo que quer que ele estude que se forme e seja algueacutem na vidardquo (MAE DE JAIRO entrevista out05)

Outra matildee diz que quando o filho tem duacutevida sobre algo que aparece procura seu

Moab Diz que ele eacute rigoroso mas o filho atende ldquoA professora dizia para Faacutebio que ele soacute

seria algueacutem na vida se estudasse seu Moab tambeacutem dava o exemplo dos filhos delerdquo (MAE

DE FAacuteBIO entrevista out05) e a matildee de Helena diz ldquoEu sempre pedia a ele (Moab) para

dar conselho a Helena sobre estudo quando eu falo com ela entra por um ouvido e sai pelo

outro ela ouve elerdquo (entrevista out05)

85

O aconselhamento eacute mais uma das funccedilotildees relevantes em um projeto de mentoria

voltado para crianccedilas e adolescentes de risco uma vez que as crianccedilas nem sempre dispotildeem

de pessoas para aconselhaacute-las Segundo Harris et al (2002) a disponibilidade de adultos para

aconselhar as crianccedilas eacute escassa fazendo com que passem mais tempo com seus pares que

neste caso podem ter pouco a oferecer em termos de aconselhamento e de orientaccedilatildeo para um

futuro mais promissor do que o vivenciado na comunidade

bull Modelagem de papeacuteis

Acerca do suporte psicossocial oferecido pelo projeto a funccedilatildeo modelagem de papeacuteis

foi encontrada de duas formas uma atraveacutes da pessoa do mentor e outra atraveacutes do mentor

elegendo seus filhos como modelo Em termos educacionais o coordenador parece constituir

seus filhos como exemplos a serem seguidos um cursando o doutorado e a outra com dois

cursos superiores O que traz sentido agrave fala de uma das matildees ao dizer que ele cita os filhos

como exemplos Por outro lado a modelagem de papeacuteis natildeo consiste apenas em o mentor se

um modelo educacional para o mentorado A modelagem eacute mais ampla uma vez que o

mentorado tem nos comportamentos valores e atitudes de seu mentor um modelo positivo O

coordenador leva ao conhecimento de seus mentorados o sacrifiacutecio que fez para educar seus

filhos ainda que abrindo matildeo de sua proacutepria formaccedilatildeo Rhodes et al (2002) dizem que o fato

de ser um modelo faz com que o mentor seja visto pelo mentorado como ideal Neste sentido

o coordenador parece ser visto pelos mentorados como exemplo de um vencedor A fala de

Walter ao colocaacute-lo como pai transmite esta ideacuteia de referencial Walter diz ter a seguinte fala

de seu mentor em sua cabeccedila e colada em seu caderno ldquoo fracasso jamais me surpreenderaacute se

a minha decisatildeo de vencer for suficientemente forterdquo (WALTER entrevista out 2005) Esta

fala parece ser o lema do proacuteprio coordenador Vale salientar que assim como o lema Walter

deseja tambeacutem ldquoimitarrdquo o mentor quanto ao ser professor

86

Parece haver a necessidade de mostrar agrave crianccedila ou adolescente que haacute uma

possibilidade diferente da que ela estaacute habituada a ver Que haacute outros referenciais e que ela

tem possibilidade de escolha mesmo que esta implique em desafios Pode-se retomar o

discurso do coordenador quando diz que seu filho para ir agrave Universidade muitas vezes pegou

carona no caminhatildeo do lixo Ao citar isto o mentor pode estar criando uma identidade entre

as crianccedilas e seu filho ao demonstrar que mesmo com a difiacutecil realidade o esforccedilo e a

vontade de sobressair o fizeram ldquovencedorrdquo Assim como ele conseguiu elas tambeacutem podem

conseguir Vecirc-se claramente isto no discurso de uma das crianccedilas quando diz que natildeo quer ser

como o pai sem estudos O que revela que em relaccedilatildeo aos estudos e carreira ele tem outro

referencial Pocircde-se neste relato observar um olhar mais reflexivo da crianccedila ao sair de seu

proacuteprio contexto e desejar escapar do ldquodeterminismordquo a que estaacute sujeita

Estas foram as especificidades das funccedilotildees da mentoria desenvolvida no projeto em

relaccedilatildeo agraves propostas pela literatura Observou-se a existecircncia de suporte de carreira e

psicossocial Foram portanto encontradas no projeto as duas funccedilotildees de mentoria propostas

por Kram (1985) Neste caso a mentoria desenvolvida no projeto pode ser considerada

intensa A autora salienta que a funccedilatildeo psicossocial estaacute relacionada agrave confianccedila existente na

relaccedilatildeo Pocircde-se observar que o coordenador do projeto goza da confianccedila da comunidade

tanto pela abertura que as famiacutelias lhe demonstram como por entregar seus filhos aos seus

cuidados Tal confianccedila foi observada em todas as entrevistas Este fato permite que sejam

desempenhadas as funccedilotildees de suporte psicossocial

Seguem na proacutexima seccedilatildeo as fases da mentoria no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

87

423 Fases da relaccedilatildeo de mentoria apresentadas no projeto de

reforccedilo

Com relaccedilatildeo aos alunos pesquisados todos estavam na fase de cultivo da relaccedilatildeo seja

com apenas dois anos de projeto seja com oito No entanto pocircde-se observar que em alguns

casos de egressos a mentoria estaacute na fase de redefiniccedilatildeo uma vez que os mentorados estatildeo

seguindo seus proacuteprios rumos jaacute natildeo com um acompanhamento ldquotatildeo de pertordquo Eacute o caso de

uma ex-aluna do projeto que ganhou um apartamento no Conjunto Habitacional Casaratildeo do

Cordeiro intermediado pelo coordenador junto agrave Prefeitura

Pode-se perceber que os relacionamentos de mentoria encontram-se

predominantemente na fase de cultivo Eacute nesta fase que o mentor provecirc as funccedilotildees de

carreira e psicossociais Tal achado culmina com os encontrados anteriormente facilitando o

desenvolvimento das funccedilotildees de mentoria tatildeo evidentes neste projeto

Segue na proacutexima seccedilatildeo os fatores relacionados ao ecircxito de um programa de mentoria

formal que foram encontrados no projeto

424 Fatores encontrados no projeto que de acordo com a

literatura estatildeo relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria

A literatura aponta fatores que estatildeo relacionados ao ecircxito de um programa de

mentoria Estes foram encontrados no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida Os fatores satildeo seleccedilatildeo de

mentores e mentorados acompanhamento da relaccedilatildeo de mentoria frequumlecircncia dos encontros e

duraccedilatildeo da relaccedilatildeo Seguem-se os dados e sua discussatildeo acerca de cada fator de ecircxito

88

bull Seleccedilatildeo de mentor e mentorado

O uacutenico criteacuterio para ser mentorado era o fato de residir na Vila do Vinteacutem As

crianccedilas e adolescentes que tivessem interesse em levar suas tarefas ao reforccedilo poderiam fazecirc-

lo Laacute recebiam acompanhamento de um professor desde que com o aval dos pais

Para se fazer parte do projeto enquanto mentor era necessaacuterio o compartilhamento da

visatildeo de que eacute possiacutevel acreditar na mudanccedila de vida das crianccedilas e adolescentes atraveacutes da

educaccedilatildeo de qualidade e que as crianccedilas tecircm potencial mas lhes falta oportunidade Os

professores satildeo selecionados pelo coordenador do projeto mediante anaacutelise do curriacuteculo e da

experiecircncia A professora entrevistada jaacute conhecia os alunos do projeto pois eacute uma das

professoras que leciona em uma das escolas que fornece bolsa para a comunidade o que fez

com que o coordenador conhecesse parcialmente seu trabalho Ao falar de sua admissatildeo ao

projeto ela diz ldquoeu gosto desta clientela (crianccedilas carentes) e ele (Moab) me deu esta

oportunidaderdquo (entrevista out05) A dentista aderiu ao projeto a partir de uma das

apresentaccedilotildees do grupo em busca de patrociacutenio e apoio Diante da necessidade de pessoas

qualificadas para prestar serviccedilo voluntaacuterio ela que diz ter interesse e identidade com a aacuterea

social prontificou-se e estaacute no projeto haacute um ano

A psicoacuteloga demonstra o mesmo interesse ldquoEu sempre fui muito voltada para o social

sempre gostei muito de ajudarrdquo Ela parece estar muito inserida com a comunidade atraveacutes

do projeto pois frequumlentemente em seu discurso ela afirma ldquoquando vocecirc estaacute laacute dentro com

elesrdquo (entrevista out05) A psicoacuteloga trabalha em outro centro de atendimento a pessoas

carentes Estaacute no projeto haacute cinco anos

Pode-se observar que os colaboradores tecircm identidade com o projeto a ponto de

realizarem o trabalho como voluntaacuterios A uacutenica exceccedilatildeo eacute a professora mas mesmo ela em

seu discurso considera que fazer parte do projeto eacute uma oportunidade Eacute marcante a fala da

89

psicoacuteloga em sua entrevista ao inserir-se realmente na comunidade Esta dedicaccedilatildeo e

identidade podem ser fatores que contribuem para que o projeto tenha maior ecircxito

bull Acompanhamento da relaccedilatildeo de mentoria

O coordenador do projeto estaacute frequumlentemente avaliando se os resultados obtidos satildeo

os desejados

Eu optei pela Vila Vinteacutem porque o nosso acompanhamento eacute a liberdade vigiada () noacutes fazemos as coisas para eles mas tambeacutem queremos acompanhar de perto o que estaacute acontecendo entatildeo natildeo adianta eu pegar um menino da comunidade onde eu natildeo possa visitaacute-lo ele natildeo possa vir ao projeto Eu natildeo vejo o resultado do investimento feito enquanto eles aqui eu vejo passo-a-passo () eacute um acompanhamento bem de perto mesmo (COORDENADOR out05)

Haacute reuniotildees com os pais responsaacuteveis esclarecendo a importacircncia do projeto e

solicitando sua interaccedilatildeo no programa

Eles passavam fita de viacutedeo para os pais sobre educaccedilatildeo e pediam para os pais falar com os filhos () ele sempre queria o bem das crianccedilas agora dependia das crianccedilas e dos pais () seu Moab dizia que a gente tinha que ajudar ele com o Faacutebio (crianccedila tida pelo coordenador como de natildeo-ecircxito) botar ele praacute estudar (MAE DE FAacuteBIO E DE DIEGO entrevista out05)

Com relaccedilatildeo ao mentorado pode ocorrer o desligamento do aluno da bolsa de estudos

na escola particular caso ele natildeo atinja um desempenho satisfatoacuterio ldquoQuando uma crianccedila

natildeo valoriza isso que a gente oferece a gente tambeacutem natildeo aceita repetente natildeo aceita falta

vocecirc tem que estar de acordo dentro do projeto em disciplina bem comportado e com boas

notasrdquo (COORDENADOR entrevista out 05) Mesmo desligado da escola particular o

aluno pode continuar fazendo parte do reforccedilo

Pocircde-se confirmar atraveacutes destes discursos o relatado por Frecknall e Luks (1992) A

participaccedilatildeo dos pais apoiando o programa tem uma relaccedilatildeo positiva com o sucesso e sem este

apoio o ecircxito do programa pode ficar comprometido Em uma comunidade onde a grande

maioria dos moradores eacute analfabeta o acompanhamento deve ser intenso visando incutir na

famiacutelia a necessidade de compreensatildeo do valor da educaccedilatildeo Grossman e Tierney (1998)

90

tambeacutem salientam a importacircncia de se verificar o grau de envolvimento da famiacutelia no

programa pois conforme exposto este eacute um fator de ecircxito para a relaccedilatildeo

bull Frequumlecircncia dos encontros

A frequumlecircncia dos encontros entre os mentores e mentorados varia A psicoacuteloga ia agrave

comunidade uma tarde por semana na qual prestava os atendimentos agendados e caso

houvesse mais pessoas a serem atendidas fazia outros atendimentos Em caso de necessidade

ela ia agrave comunidade num outro dia A dentista atendia em seu consultoacuterio Havendo

necessidade o coordenador ligava e agendava o atendimento Jaacute as aulas eram ministradas

diariamente para os alunos que estudavam agrave tarde o reforccedilo era pela manhatilde e para os que

estudavam pela manhatilde o reforccedilo era agrave tarde O acompanhamento era feito durante uma hora e

meia para cada turma As turmas eram assim divididas alfabetizaccedilatildeo e 1a seacuterie 2a e 3a

seacuteries e 4a e 5a seacuteries

Figura 7 (4) - Professora e alunos durante a aula de reforccedilo na sede do projeto03

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

91

Apoacutes o reforccedilo os alunos tinham outras atividades como aula de muacutesica (teoria e

praacutetica) danccedila pintura ou inglecircs O projeto dispunha de quadra alugada onde as crianccedilas

podiam jogar futebol Em quase todas as atividades o coordenador diz estar presente

No ano de 2005 como as atividades foram parcialmente suspensas natildeo houve mais

frequumlecircncia no relacionamento Algumas das crianccedilas com bolsa de estudos em escola

particular foram colocadas num semi-internato conseguido pelo projeto Esta interrupccedilatildeo teve

reflexo na vida dos alunos como se pocircde observar no discurso abaixo

Em casa ela natildeo eacute comportada sempre ela foi danada mas ela melhorou no projeto Agora que ta sem o projeto ela jaacute ta voltando ao que era eu tocirc recebendo reclamaccedilatildeo do coleacutegio que natildeo quer estudar soacute quer ta brincando ta voltando a dar problema ta voltando a ser o que era () no semi-internato tem muita atividade satildeo muitas crianccedilas e eles arengam e no projeto eu nunca tive esse problema de ela ta arengando (sic) (MAE DE HELENA entrevista out05)

O fato de as entrevistas terem sido realizadas neste periacuteodo de transiccedilatildeo no qual as

crianccedilas natildeo estatildeo sendo assistidas faz com que a importacircncia da frequumlecircncia dos encontros

fique evidenciada Confirma-se assim que esta eacute um relevante fator de ecircxito para a relaccedilatildeo de

mentoria conforme observado na teoria (KEATING et al 2002) No entanto pode-se dizer

que o projeto de reforccedilo apresentava uma frequumlecircncia maior do que nos programas

similares apresentados pela teoria Tal frequumlecircncia garante um acompanhamento mais

proacuteximo visto que todos os dias por no miacutenimo uma hora e meia os alunos estavam no

projeto em contato com seus mentores Estudos feitos por Keating et al (2002) revelam que a

frequumlecircncia dos encontros tem relaccedilatildeo com o ecircxito do relacionamento principalmente em se

tratando de adolescentes com risco para delinquumlecircncia Neste sentido o projeto apresentava

maior probabilidade de ecircxito uma vez que a frequumlecircncia dos encontros era alta

d) Duraccedilatildeo da relaccedilatildeo de mentoria

Os alunos pesquisados estatildeo inseridos nesta relaccedilatildeo de mentoria por no miacutenimo dois

anos Segundo Grossmam e Rhodes (2002) a maioria dos benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria

92

como melhores resultados educacionais psicossocias e comportamentais apresentam-se em

relaccedilotildees que perduram por um ano ou mais Frecnall e Luks (1992) consideram que a duraccedilatildeo

eacute um fator determinante do ecircxito

O projeto mostra-se rigoroso com os fatores que impedem o ecircxito dos alunos desde

que sob sua responsabilidade Os fatores acima tecircm sido observados uma vez que a

negligecircncia em referecircncia a qualquer destes fatores pode levar a uma relaccedilatildeo ineficiente ou

ateacute mesmo negativa trazendo efeitos nocivos agrave vida da famiacutelia do mentorado e tambeacutem do

mentor

Natildeo se pode ignorar que na medida em que se vai estruturando uma relaccedilatildeo de

mentoria a mesma vai sofrendo ajustes visando tornaacute-la mais produtiva mais ldquopoderosardquo

Existem fatores que podem e devem ser estruturados previamente tais como a duraccedilatildeo e a

frequumlecircncia dos encontros e o objetivo da relaccedilatildeo No entanto haacute outros fatores que nem

sempre se consegue estruturar Um exemplo eacute a confianccedila necessaacuteria para que a relaccedilatildeo

realmente aconteccedila Em outras palavras observando-se os fatores relacionados ao ecircxito seratildeo

minimizadas as possibilidades de insucesso mas elas natildeo deixaratildeo de existir pois a mentoria

mesmo com seus inuacutemeros benefiacutecios natildeo eacute uma soluccedilatildeo maacutegica Trata-se de uma relaccedilatildeo e

portanto dependente do encontro de pessoas e de viacutenculos emocionais entre elas Este aspecto

eacute de difiacutecil controle havendo sempre um espaccedilo para a imprevisibilidade do ser humano

Se os fatores que levam ao ecircxito da relaccedilatildeo foram observados pelo projeto resta o

questionamento de o por quecirc de alguns casos serem considerados pelo projeto como de natildeo-

ecircxito Este aspecto eacute abordado na seccedilatildeo seguinte

93

425 Fatores responsaacuteveis pelo ecircxito e natildeo-ecircxito nos estudos na

percepccedilatildeo do mentor e da famiacutelia do mentorado

Na percepccedilatildeo do coordenador o ecircxito eacute obtido quando a cada ano a crianccedila vai sendo

aprovada e ascendendo e apresentando um bom comportamento ldquoQuando uma instituiccedilatildeo se

abre e nos convida a oferecer mais bolsas eacute porque nossos alunos estatildeo correspondendo tanto

em disciplina quanto no aprendizadordquo (COORDENADOR entrevista set05) Um exemplo

de ecircxito citado pelo coordenador eacute o caso de uma moccedila que foi acompanhada pelo projeto

desde a 6a seacuterie ateacute o 3ordm ano do ensino Meacutedio Ela fez um curso de informaacutetica depois fez um

estaacutegio junto agrave Prefeitura e hoje aos 20 anos trabalha no setor burocraacutetico de um hospital

O coordenador considera um caso de natildeo-ecircxito o caso da crianccedila ou adolescente que

natildeo rende o esperado em termos de desempenho escolar e de comportamento

Vale salientar que em quase sua totalidade os casos de natildeo-ecircxito indicados para

pesquisa foram avaliados pelas famiacutelias como de ecircxito A uacutenica exceccedilatildeo eacute a matildee de Faacutebio

que acredita que seu filho realmente natildeo tem tido sucesso nos estudos Segundo o

coordenador a diferenccedila estaacute na expectativa Para os pais o fato de o aluno estar na escola e

apresentar melhor comportamento jaacute eacute ecircxito enquanto que para o projeto isto natildeo eacute o

suficiente Na opiniatildeo dele a falta de sucesso deve-se a trecircs fatores

a) Estrutura familiar ndash muitas vezes a famiacutelia natildeo daacute o suporte que a crianccedila necessita

Para o coordenador a escola natildeo eacute valorizada por esses pais ldquoEles natildeo tecircm a escola como um

centro de promoccedilatildeo social como mobilidade social Eles natildeo descobriram isso As famiacutelias

natildeo as crianccedilasrdquo (COORDENADOR entrevista set05)

A professora chamava conversava com os alunos com a matildee em particular Ela queria ajudar ele mas ele natildeo queria ser ajudado Eu sabia que o Faacutebio natildeo ia ter uma oportunidade em uma escola melhor porque ele eacute assim () Eu nunca tava em cima dele para estudar eu natildeo tenho paciecircncia natildeo Se ele responder duas coisas erradas eu jaacute fico brava O pai eacute pior que eu Mal digo a ele que eacute pior do que eu (MAE DE FAacuteBIO entrevista out05)

94

b) Relacionamento negativo entre os pais e os filhos

Outro fator que notamos eacute a falta de amor para com essas crianccedilas que natildeo datildeo tatildeo certo () Os pais tecircm outros objetivos tecircm outras coisas mais importantes do que amar seus filhos () todas as crianccedilas bem comportadas na sala de aula eram bem amadas em casa () Quando isso natildeo ocorre a crianccedila torna-se uma crianccedila problema porque ela leva os haacutebitos e a falta de amor que ela tem em casa praacute escola para onde ela chegar (COORDENADOR entrevista set05)

c) Desinteresse do proacuteprio aluno O projeto contava com quatro alunos que eram

irmatildeos Estes recebiam acompanhamento diaacuterio nas tarefas O coordenador diz que foi agrave

escola deles para saber suas notas Por este motivo eles deixaram de ir ao projeto Nenhum

deles terminou o Ensino Meacutedio e atualmente um eacute zelador o outro eacute jardineiro e dois estatildeo

desempregados

O objetivo do projeto eacute de longo prazo o que dificulta uma anaacutelise dos resultados ou

de egressos para se identificar o ecircxito ou natildeo-ecircxito Mesmo os casos que desde o iniacutecio foram

acompanhados ainda hoje o satildeo Natildeo com a mesma intensidade mas ainda recebem algum

tipo de suporte do projeto Outro fator que dificulta a anaacutelise eacute o fato de que todos os alunos

estatildeo na escola e avanccedilando em seacuteries mesmo porque atualmente a escola natildeo reprova o que

torna difiacutecil saber ateacute que ponto tecircm realmente bom aproveitamento Portanto natildeo se

conseguiu distinguir dentre os casos pesquisados um limite claro entre o ecircxito e o natildeo-ecircxito

contando-se apenas com a percepccedilatildeo dos respondentes (matildees de alunos psicoacuteloga professora

e coordenador)

426 Resposta agrave primeira questatildeo norteadora especificidades da

relaccedilatildeo de mentoria existentes no projeto de reforccedilo escolar

Conforme o objetivo proposto pocircde-se encontrar algumas especificidades na relaccedilatildeo

de mentoria realizada no projeto que diferem um pouco dos achados teoacutericos Satildeo eles

95

a) A mentoria apresenta aspectos de mentoria formal e informal

b) Existem dois tipos de relacionamento entre mentor e mentorado em um o

acompanhamento eacute mais proacuteximo do que no outro

c) A frequumlecircncia dos encontros eacute maior no projeto do que a encontrada na literatura

d) Dentre as funccedilotildees de carreira o patrociacutenio oferecido pelo projeto eacute mais amplo do

que o apresentado pela teoria e

Com base nestes achados eacute possiacutevel concluir que um programa de mentoria para

crianccedilas e adolescentes de uma comunidade carente do Recife tem suas especificidades suas

caracteriacutesticas particulares diferindo de outros programas realizados no contexto de outros

paises Respondida a primeira questatildeo norteadora segue-se a segunda que aborda os

benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentorado

43 Achados referentes agrave segunda questatildeo norteadora

Seguem os achados que buscam responder a seguinte questatildeo em um contexto

brasileiro ateacute que ponto os mentorados carentes estudados tecircm desfrutado dos benefiacutecios da

relaccedilatildeo de mentoria apontados pela literatura

Pocircde-se observar os seguintes benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria na vida dos

mentorados enquanto participantes do programa de reforccedilo

431 Aumento da auto-estima da responsabilidade maior

progresso escolar e perspectiva positiva de futuro

Devido agrave impossibilidade de neste trabalho medir-se a auto-estima dos mentorados o

aumento desta seraacute considerado em relaccedilatildeo ao progresso escolar pois com base no observado

por Harter (1982) o sentir-se competente leva o jovem a obter melhor desempenho Grossman

96

e Tierney (1998) salientam que jovens ao serem acompanhados por um mentor se sentiram

mais confiantes para com suas tarefas escolares Associou-se tambeacutem o progresso escolar com

perspectiva positiva de futuro uma vez que se percebeu que o avanccedilo nos estudos estaacute

relacionado com melhores perspectivas de futuro

O aumento do desempenho escolar eacute visiacutevel nos casos que se seguem

Antes (do projeto) ela era preguiccedilosa soacute queria ficar brincando ela teve muita dificuldade para aprender (na preacute-escola) Estudava mas natildeo aprendia na 1a foi fazer o reforccedilo depois do projeto ela foi se interessando mais pode ser porque natildeo tinha nenhum incentivo neacute () Ela chegava e dizia que era bom quando estudava e tirava nota boa antes (de interromper o projeto) ela natildeo esperava nem chegar em casa vinha aqui (no trabalho) para me mostrar as provas (MAE DE HELENA entrevista out05)

No interior eu fiz matricula dele noacutes trabalhava na roccedila ele natildeo gostava (de estudar) natildeo se dedicava ia caccedilar passarinho mas quando chegou aqui seu Moab quis acordar ele pra vida Ele vendo os meninos tudo com a idade dele (9 anos na eacutepoca) sabendo ler e escrever dentro de seis meses o menino desenrolou para aprender mesmo (sic) (MAE DE JAIRO entrevista out05)

Jairo cursou a 4a e a 5a seacuteries no mesmo ano Faz tambeacutem curso de inglecircs O

coordenador ouviu da professora deste curso que o aluno tem dom para idiomas natildeo soacute

inglecircs mas espanhol e francecircs

A possibilidade do intercacircmbio foi boa para eu ter uma certa ideacuteia do que pode acontecer comigo do que pode acontecer () Ele (Moab) dizia que para analfabeto a caneta e o papel eacute o chatildeo e a vassoura Que eu estudasse porque a miseacuteria hoje em dia -saiu na revista- jaacute tinha endereccedilo que era praacute pobre negro e nordestino e que se a gente natildeo lutasse essa realidade a gente natildeo iria mudar nunca () Eu decidi que quero ser professor de inglecircs (WALTER entrevista out05)

Ele diz que quer fazer faculdade ele ficou com mais esperanccedila de conseguir uma coisa melhor ele diz que eu natildeo me preocupe porque daqui a dez anos ele vai ter um emprego bom e vai me ajudar (MAE DE FREDERICO entrevista out05)

Ele quer ir estudar nos Estados Unidos fez vaacuterios cursos inglecircs francecircs espanhol informaacutetica e de entrevista Onde tiver curso ele vai ele quer muito trabalhar ter seu dinheiro fazer sua vida () o negoacutecio dele eacute ta dentro de casa estudando pregado nos livros (MAE DE NESTOR entrevista out05)

97

A professora entrevistada leciona tambeacutem no coleacutegio que oferece bolsa para os alunos

do projeto sendo professora deles em ambos os lugares Ao ser solicitada a comparar o

desempenho dos alunos do projeto com os demais alunos a professora mencionou que dentre

seus trecircs alunos com desempenho excelente dois satildeo do projeto Os demais do projeto estatildeo

na meacutedia

A coordenadora de uma das escolas que fornece bolsa de estudos ao projeto (esta

escola oferece bolsas para dois alunos da sexta seacuterie) ao ser entrevistada disse que o

comportamento dos alunos do projeto eacute bom e o desempenho apresentado por eles eacute maior do

que a meacutedia da turma e da seacuterie como se pode observar nos boletins que se seguem

98

Figura 8 (4) Boletim escolar de Afracircnio - 6a Seacuterie

99

Figura 9(4) Boletim escolar de Jairo ndash 6a Seacuterie

Em ambos os casos as famiacutelias satildeo analfabetas E neste ano os dois alunos estatildeo sem

o reforccedilo motivo pelo qual segundo uma das matildees o desempenho do filho caiu Este mesmo

aluno neste ano natildeo conta com todo o material didaacutetico necessaacuterio Ainda assim estes alunos

estatildeo apresentando um desempenho superior ao de seus colegas

100

Atraveacutes dos discursos das matildees percebeu-se considerarem que o fato de seus filhos

terminarem a primeira fase do ensino fundamental e darem sequumlecircncia a estes estudos jaacute eacute uma

visatildeo positiva de futuro Observou-se isso no discurso da matildee de Afracircnio ldquoquem estuda tem

esperanccedila de um futuro melhorrdquo O caso de Jairo que chegou analfabeto do interior e em seis

meses estava lendo e escrevendo confirma o proposto por Rhodes et al (2002) de que a

presenccedila de um mentor ajuda os adolescentes a superarem momentos de adversidade Neste

caso ele natildeo tem pai e sua matildee considera o mentor como algueacutem da famiacutelia que ajuda a

suprir esta ausecircncia na vida do filho O fato de Walter (que convive com analfabetos) ter

definido sua carreira (professor de inglecircs) demonstra o proposto por Kram (1985) o mentor

ajuda o mentorado na definiccedilatildeo da identidade profissional

Vale destacar a relevacircncia de se promover o aumento da auto-estima decorrente do

desempenho apresentado pelos alunos Pessoas que ainda natildeo tecircm satisfeitas adequadamente

as necessidades fisioloacutegicas (alimentam-se mal natildeo contam com aacutegua encanada nem

sanitaacuterios) e de seguranccedila (moram e vivem permanentemente expostos a riscos) apresentando

necessidade de realizaccedilatildeo Vale ressaltar a teoria da motivaccedilatildeo proposta por Maslow (apud

ROBBINS 2002) que defende que a satisfaccedilatildeo da necessidade de realizaccedilatildeo dependeria da

satisfaccedilatildeo de niacuteveis mais baacutesicos de necessidade como as fisioloacutegicas de seguranccedila e sociais e

de estima Percebeu-se no contexto da pesquisa a possibilidade do caminho inverso Atraveacutes

do aumento da auto-estima e da satisfaccedilatildeo da necessidade de realizaccedilatildeo as crianccedilas e

adolescentes podem vir a ter no futuro condiccedilotildees de satisfazer a contento suas necessidades

fisioloacutegicas e de seguranccedila

101

432 Resposta da segunda questatildeo norteadora benefiacutecios da

mentoria para a crianccedila adolescente do projeto

Foram encontrados os seguintes benefiacutecios para o mentorado participante do projeto

aumento da auto-estima maior progresso escolar e perspectiva positiva de futuro

Em termos de especificidades com relaccedilatildeo ao proposto pela teoria natildeo foram

percebidas diferenccedilas existentes entre os benefiacutecios para o mentorado encontrados em

pesquisas anteriores e os encontrados no projeto de reforccedilo escolar na Vila do Vinteacutem II fato

que responde agrave segunda questatildeo norteadora desta pesquisa

Seguem os achados acerca da terceira questatildeo que versa sobre os benefiacutecios para o

mentor encontrados na mentoria desenvolvida pelo projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

44 Achados referentes agrave terceira questatildeo norteadora

Dentre os benefiacutecios na vida dos mentores que participam do projeto pocircde-se observar

realizaccedilatildeo pessoal motivaccedilatildeo amizade auto-conhecimento e senso de dever cumprido Tais

achados apresentados nas seccedilotildees abaixo buscam responder a seguinte questatildeo ateacute que ponto

um projeto de mentoria voltado para crianccedilas e adolescentes carentes oferece os benefiacutecios

propostos pela teoria para os mentores

441 Realizaccedilatildeo pessoal

Pocircde-se observar que fazer parte do projeto faz com que os mentores se sintam

realizados

Quando a gente eacute uacutetil a outra pessoa a gente se realiza () Eu me realizo assim vendo a alegria dos meninos que realmente estatildeo mudando a cara natildeo soacute da famiacutelia mas tambeacutem da comunidade (COORDENADOR entrevista set05)

102

Eu fico muito bem comigo mesma na realizaccedilatildeo deste trabalho () O que me deixa realizada eacute ver alguns frutos desse trabalho natildeo soacute nas crianccedilas como da proacutepria famiacutelia () em relaccedilatildeo ao futuro agrave auto-estima potencial de cada um que eles natildeo estatildeo sozinhos a gente taacute laacute com eles () e esse pouquinho esse pouco que eu estou fazendo estaacute facilitando a vida melhorando A gente vecirc um salto de qualidade na vida deles (PSICOacuteLOGA entrevista out05)

Ao acompanhar preparar os alunos para os exames de admissatildeo vecirc-los entrar na

escola particular acompanhar o crescimento e desenvolvimento dos mentorados a professora

entrevistada demonstra sentir orgulho do trabalho feito com seus dois melhores alunos

ldquoRealmente valeu a pena investir porque satildeo crianccedilas que apesar de todo o contexto social

que eles vivem eles satildeo responsaacuteveis inteligentiacutessimosrdquo (PROFESSORA entrevista out05)

Ficou evidenciado que o fato de ser um mentor daacute ao indiviacuteduo um senso de

generosidade ao contribuir com as geraccedilotildees futuras (RAGINS 1997) e que ser mentor de

adolescentes delinquumlentes tem sido gratificante na medida em que os mentores tecircm uma

oportunidade de ajudar estas pessoas (JACKSON 2002) Ser mentor do projeto Educaccedilatildeo eacute

Vida provecirc um sentimento de recompensa ao ver as mudanccedilas positivas na vida dos

mentorados conforme o propostos por Shields (2001)

442 Motivaccedilatildeo

A psicoacuteloga diz que a partir de seu envolvimento com o projeto ela fez curso em

Psicopedagogia e especializaccedilatildeo em Psicologia da Famiacutelia

O trabalho com as crianccedilas e as famiacutelias me proporcionou outros aprendizados maiores ateacute do que eu esperava porque a gente aprende muito laacute dentro com eles E assim eu comecei a me especializar a voltar para mim em niacutevel de aprendizado de crescimento tambeacutem profissional () Eacute uma troca muito grande de saber quando a gente taacute laacute dentro com eles a gente tem essa vontade de realmente acertar (PSICOacuteLOGA entrevista out05)

Zey (1998) diz que o mentor pode redirecionar sua energia para a criatividade e accedilatildeo

produtiva A mentoria pode entatildeo significar estiacutemulo e desafio O que pocircde ser observado no

103

discurso acima O desenvolvimento profissional natildeo eacute benefiacutecio apenas para o mentorado

mas para o mentor tambeacutem

443 Ser amado pelo mentorado

Pocircde ser observado que o mentor recebe amizade e carinho de seus mentorados

conforme verificado por Klaw et al (2003) ldquoEle ama o seu Moab ele almoccedila na casa de

Moab segunda e quarta e diz que laacute tudo eacute bomrdquo (MAE DE AFRAcircNIO entrevista out05)

ldquoMeus dois filhos eacute agarrado com seu Moabrdquo (sic) (MAE DE TAcircNIA entrevista set 05)

ldquoMoab foi vendo que eu tava sempre ali no projeto do lado dele e ele do meu lado () o

pessoal me achava careta porque eu sentia alguma coisa pelo projeto eu sempre prestava a

atenccedilatildeo procurava entenderrdquo (WALTER entrevista out05)

444 Autoconhecimento

Percebeu-se que fazer parte do projeto enquanto mentor provecirc um maior

autoconhecimento ou autopercepccedilatildeo

ldquoEacute muito gratificante trabalhar com pessoas carentes comeccedilo a valorizar o que eu

tenho a gente comeccedila a agradecer muito por essa vida boa que a gente tem que eacute muito boa

muito boa mesmordquo (DENTISTA entrevista out05)

A partir desta relaccedilatildeo ela percebe melhor sua situaccedilatildeo fala acerca da sauacutede dos filhos e de ter

uma casa maravilhosa

Neste caso o contato com a realidade da comunidade pode tecirc-la levado a comparar

esta realidade com a sua proacutepria e entatildeo perceber-se abastada

104

445 Senso de dever cumprido

Outro beneficio encontrado diz respeito ao senso de dever cumprido que o fato de ser

mentor propicia

A gente sabe que tem um papel social a desempenhar Natildeo fomos beneficiados pela sociedade com o direito de estudar de fazer um curso superior de ter uma habilitaccedilatildeo () para que isso sirva apenas para o nosso benefiacutecio Essa nossa habilitaccedilatildeo que a sociedade deu a sociedade deu eu estudei em uma Universidade Federal essa habilitaccedilatildeo deve retornar para a sociedade tambeacutem para quem pode pagar e para quem natildeo pode pagar Eacute necessaacuterio que isso volte (DENTISTA entrevista out05)

Este benefiacutecio natildeo foi encontrado na literatura talvez por tratar de um tema ainda

recente o indiviacuteduo ter responsabilidade com a realidade social que o cerca

446 Resposta da terceira questatildeo norteadora benefiacutecios da

mentoria para o mentor

Foram encontrados no projeto educaccedilatildeo eacute Vida os seguintes benefiacutecios para o mentor

a) Realizaccedilatildeo pessoal

b) Motivaccedilatildeo

c) Ser amado pelo mentorado

d) Autoconhecimento e

e) Senso de dever cumprido

Sendo que estes dois uacuteltimos natildeo foram encontrados na teoria mas percebidos na

relaccedilatildeo de mentoria que ocorre no projeto Estes achados podem ser explicados devido ao

contexto no qual a mentoria ocorreu crianccedilas e adolescentes de uma comunidade carente

Contexto que difere da realidade dos mentores e que pode tecirc-los levado a uma reflexatildeo sobre

sua proacutepria condiccedilatildeo de vida e sua responsabilidade com os que natildeo se acham em iguais

condiccedilotildees Tais achados respondem a terceira questatildeo norteadora deste trabalho

105

45 Achados referentes agrave quarta questatildeo norteadora

Puderam ser verificados outros benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas

e adolescentes com risco para delinquumlecircncia aleacutem dos mencionados anteriormente Pois na

medida em que o mentorado se beneficia da relaccedilatildeo sua famiacutelia alcanccedila estes benefiacutecios e a

sociedade tambeacutem acaba sendo beneficiada ainda que indiretamente

Com o intuito de responder a questatildeo quais os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da

relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas e adolescentes carentes em uma comunidade do Recife

seguem os benefiacutecios sociais diretos da mentoria realizada pelo projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

451 Desenvolvimento educacional das crianccedilas e dos adolescentes

Por se tratar de um ambiente carente e de analfabetos a comunidade natildeo tem como

prover o acompanhamento das crianccedilas e adolescentes as famiacutelias natildeo dispotildeem de tempo

eou conhecimento e preparo para prover tal suporte Por exemplo uma matildee analfabeta natildeo

parece ter condiccedilotildees de ajudar o filho nas tarefas escolares

Eu tocirc pensando quando ela fizer a 5a que natildeo tem o reforccedilo nem o semi-internato ela vai fazer a tarefa em casa e se brincar ela sabe mais do que eu (MAE DE SILVIA entrevista out05)

Eu natildeo tenho estudo faccedilo meu nome muito mal Meu marido sabe mas trabalha e de noite jaacute ta cansado () no reforccedilo ele fazia a tarefa todo dia sem reforccedilo e sem uma matildee que sabe ler quem ia ensinar a ele ai ia ficar complicado (MAE DE FREDERICO entrevista out05) Os coleacutegios hoje em dia quer a crianccedila saiba ler quer natildeo saiba o Estado passa natildeo quer saber se a crianccedila ta aprendendo se aprendeu se natildeo aprendeu (MAE DE TITO entrevista out05) A escola (puacuteblica) um dia tem aula outro dia natildeo tem ai ela fica em casa Hoje mesmo ela taacute em casa porque natildeo teve aula (MAE DE TAcircNIA entrevista out05)

106

A professora dele disse que ele natildeo tinha condiccedilotildees de passar mas ela natildeo podia reprovar (MAE DE FAacuteBIO entrevista out05)

Tais depoimentos revelam dois fatores incapacidade da famiacutelia em acompanhar os

estudos do filho e ineficiecircncia do ensino puacuteblico na experiecircncia destas famiacutelias O que leva a

pensar que o futuro educacional destas crianccedilas seria similar ao de suas matildees conforme

Barros et al (1994) que diz que a educaccedilatildeo meacutedia das matildees eacute o principal determinante do

desempenho escolar do filho ou seja haveria maior evasatildeo escolar Neste sentido o projeto

propicia que o aluno vaacute aleacutem da escolaridade da matildee

Vale aqui um questionamento por que o governo investe em bolsa escola e natildeo

acompanha o aluno Simplesmente ter a presenccedila do aluno na escola natildeo eacute garantia de que o

mesmo estaacute aprendendo O fato de que um professor natildeo pode mais reprovar o aluno mesmo

que sem condiccedilotildees de galgar um grau superior pode demonstrar que o interesse das poliacuteticas

puacuteblicas pode estar relacionado a nuacutemeros A taxa de matriacutecula estaacute associada ao aumento do

IDH mas ateacute que ponto isto reflete o real rendimento escolar dos alunos

Neste caso a mentoria vem suprir uma falta natildeo apenas da famiacutelia mas tambeacutem do

Estado e do Municiacutepio uma vez que por si soacute natildeo tecircm tido ecircxito com o aproveitamento e a

manutenccedilatildeo dos alunos na escola

452 Assistencialismo

Foi observado que algumas famiacutelias associam o projeto agrave assistecircncia social ldquoO reforccedilo

faz muita falta () tinha muitas doaccedilotildees roupas cestas baacutesicas no dia das crianccedilas

tinha brinquedos festas doaccedilotildees para as crianccedilasrdquo (MAtildeE DE FAacuteBIO entrevista

set05)

Ainda que esta natildeo seja a proposta do projeto as famiacutelias devido ao patrociacutenio

ofertado ao mentorado e agrave sua famiacutelia percebem o projeto como assistencialista

107

453 Diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia

O projeto demonstra contribuir indiretamente com a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia

As crianccedilas tando no projeto a gente fica despreocupada Quando ela natildeo tava no projeto ficava na rua natildeo queria estudar soacute queria ficar na rua brincando () muitas matildees estatildeo preocupadas em o que fazer com as crianccedilas sem o projeto (MAE DE HELENA entrevista out05) Ele tando laacute no projeto eu saio despreocupada neacute Que ele natildeo ta na rua A vida que a gente vive hoje sai pra trabalhar e sabe que o filho natildeo ta na rua a gente fica despreocupada (MAE DE AFRAcircNIO entrevista out05) Ele gosta eacute de rua de papagaio peatildeo bola () Ele natildeo liga para o caderno livros agora falou em rua eacute com ele () No reforccedilo ele estudava mais um pouco (MAE DE FAacuteBIO entrevista out05) O reforccedilo evita de as crianccedilas ta na rua no sinal pedindo (MAE DE TITO entrevista out05)

Atraveacutes destas declaraccedilotildees pocircde-se observar o referido por Harris et al (2002) que a

entrada das matildees no mercado de trabalho e o aumento das separaccedilotildees conjugais fazem com

que o adolescente passe menos tempo com os pais e passe a maior parte do tempo com seus

pares Conforme observado anteriormente a delinquumlecircncia tem diversas causas Dias (2003)

por exemplo verificou que a maior parte dos jovens delinquumlentes participantes de sua

amostra era de analfabetos funcionais relacionando assim a delinquumlecircncia a poucos anos de

estudos e consequumlentemente agrave evasatildeo escolar Na medida em que a crianccedila se desenvolve

nos estudos haacute uma diminuiccedilatildeo da evasatildeo escolar e consequumlentemente da delinquumlecircncia

Outra forma de o projeto contribuir com a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia refere-se a levar as

crianccedilas a deixarem a rua onde estatildeo expostas a diversos riscos como violecircncia drogas

exploraccedilatildeo sexual e confusotildees situaccedilotildees frequumlentes em um contexto de favela

A relaccedilatildeo de mentoria desenvolvida pelo projeto eacute de longo prazo Portanto por mais

que alguns benefiacutecios se evidenciem estes soacute poderatildeo ser claramente observados ao longo do

108

tempo quando as crianccedilas e adolescentes do projeto forem adultos Pode-se inferir a partir

dos resultados apresentados que ao inveacutes de dependentes de poliacuteticas assistencialistas os

egressos contribuiratildeo com o desenvolvimento de sua cidade Eacute possiacutevel antecipar que uma

grande parcela das pessoas que faziam a favela Vila do Vinteacutem II estaraacute alfabetizada e

ocupando um lugar no mercado de trabalho Aiacute sim ter-se-aacute um aumento real do IDH que de

fato revelaraacute um aumento da qualidade de vida desta populaccedilatildeo do Recife Soacute entatildeo poderatildeo

ser mensurados os benefiacutecios sociais deste projeto

454 Resposta da quarta questatildeo norteadora benefiacutecios sociais

da relaccedilatildeo de mentoria

Pocircde-se observar os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria existente

no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida As especificidades encontradas foram

a) Maior desenvolvimento educacional de crianccedilas e adolescente carentes com risco para

delinquumlecircncia visto tratar-se de um projeto de reforccedilo escolar

b) Assistecircncia social ao prover a satisfaccedilatildeo de algumas das necessidades baacutesicas do

mentorado e de sua famiacutelia

c) Suprimento pela relaccedilatildeo de mentoria de uma falha do sistema educacional do Estado e

do Municiacutepio que gradua o aluno sem que ele tenha condiccedilotildees O projeto tem suprido

esta carecircncia dando condiccedilotildees de o aluno galgar o grau seguinte

Estes foram os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da mentoria realizada no projeto

Educaccedilatildeo eacute Vida o que responde agrave quarta questatildeo norteadora deste trabalho

Seratildeo apresentadas no proacuteximo capiacutetulo as conclusotildees do trabalho bem como as implicaccedilotildees

teoacutericas praacuteticas e sociais e as sugestotildees de pesquisas futuras

109

5 Conclusatildeo

Neste capiacutetulo seratildeo apresentadas as conclusotildees da pesquisa tendo como referencial os

objetivos propostos

Pode-se concluir que a mentoria mostrou assim como no exposto teoricamente

resultados positivos na vida dos mentores mentorados e da comunidade O objetivo da

pesquisa foi atingido uma vez que foi possiacutevel conhecer algumas especificidades da mentoria

no contexto brasileiro e mais especificamente nordestino Ampliou-se tambeacutem o

conhecimento da mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes com risco para delinquumlecircncia

Desta forma a mentoria mostrou-se eficaz no sentido de contribuir para o desenvolvimento

do mentorado de forma que ele permanece na escola e melhora o rendimento escolar

As funccedilotildees de carreira propostas pela literatura foram encontradas e destas vale

destacar a oferta de tarefas desafiadoras O mentor propotildee inuacutemeros e audaciosos desafios

para seus mentorados sem no entanto deixar de prover as condiccedilatildeo de atingi-los e de superar

a realidade de exclusatildeo a que estatildeo sujeitos Outras funccedilotildees desenvolvidas pelo projeto e que

merecem destaque dizem respeito agrave amizade e agrave aceitaccedilatildeo do mentor para com seu

mentorado A importacircncia deste viacutenculo afetivo eacute imensuraacutevel principalmente em se tratando

e crianccedilas que muitas vezes natildeo percebem amor em sua famiacutelia

Seu Moab se preocupa mais com as crianccedilas do que noacutes que somos matildee (risos) Tem paciecircncia tem carinho por aquelas crianccedilas Ele sabe ensinar () ele natildeo machuca ele natildeo grita e as crianccedilas obedecem Eacute uma benccedilatildeo ele tem aquele amor (MAtildeE DE TAcircNIA entrevista set05)

O projeto demonstrou suprir lacunas na famiacutelia sendo o mentor agraves vezes comparado

com um pai ou com algueacutem da famiacutelia Pocircde se perceber a importacircncia da mentoria para o

grupo especiacutefico de pessoas marginalizadas ldquocarentes de tudordquo (PSICOacuteLOGA entrevista

110

set05) ao se ter algueacutem que acredite que aceite valorize incentive e decirc condiccedilotildees de

crescimento e desenvolvimento Papel este desempenhado pelos mentores ldquoO projeto restaura

a dignidade da pessoa do ser pessoa de ser um cidadatildeo de estar num lugar () onde as

pessoas estatildeo olhando para ele Ele eacute importante ele existerdquo (PSICOacuteLOGA entrevista

out05)

A mentoria mostrou-se efetiva em ajudar o mentorado em seu desenvolvimento

pessoal e ldquoprofissionalrdquo e seus benefiacutecios puderam ser em parte verificados

Os fatores de ecircxito mencionados na teoria tambeacutem puderam ser encontrados no

projeto A relaccedilatildeo de mentoria existente no projeto revelou caracteriacutesticas natildeo abordadas pela

teoria o que enriquece os estudos nesta aacuterea

Outro aspecto que chama a atenccedilatildeo eacute o comprometimento dos colaboradores

entrevistados seu desejo em ajudar e realizaccedilatildeo ao poderem contribuir

Esta foi a conclusatildeo objetiva deste trabalho No entanto em se tratando de uma

pesquisa qualitativa na qual haacute o envolvimento do pesquisador com o objeto na busca de se

chegar a uma compreensatildeo deste outros conhecimentos menos objetivos puderam ser

apreendidos e devem ser mencionados

O fazer parte do projeto parece ter um significado especial para quem dele participa e

os benefiacutecios parecem ir aleacutem dos aqui listados Algo taacutecito que natildeo pocircde ser apreendido

apenas sentido o brilho nos olhos as laacutegrimas as pausas e a voz trecircmula Fatos frequumlentes

nas entrevistas quer de mentores de mentorados ou das matildees

O projeto na percepccedilatildeo da pesquisadora pode ser comparado a seguinte metaacutefora uma

sementeira muito acolhedora cujos responsaacuteveis satildeo uma famiacutelia de saacutebios agricultores (pai

matildee filho e filha) que mesmo com outras opccedilotildees ldquomais lucrativasrdquo financeiramente optam

por trabalhar em sementes rejeitadas Esta famiacutelia partilha da visatildeo que vai aleacutem da ldquocascardquo

seca feia suja e aparentemente infrutiacutefera que tais sementes se apresentam E assim doam

111

suas vidas para descobrir (natildeo no sentido de achar mas de tirar o que encobre) e revelar o

tesouro que haacute dentro delas Plantam regam e fornecem a elas os nutrientes tirados de sua

proacutepria mesa no intuito de vecirc-las desabrochar desenvolver crescer e influenciar

positivamente a terra seca e aacuterida na qual foram geradas e permanecem A ideacuteia eacute a de uma

sementeira na qual um belo jardim e um frutiacutefero pomar satildeo vislumbrados Natildeo se

excluem desta percepccedilatildeo as dificuldades que acompanham o preparo da terra a poda as

intempeacuteries do ambiente e o descreacutedito daqueles que muitas vezes ao verem tal trabalho

negligenciam seu valor meneiam a cabeccedila e o desprezam No entanto o amor e a vontade de

ver tais sementes tatildeo marginalizadas frutificarem se alastra e contagia a outros que com o

mesmo intuito tecircm se envolvido contribuindo e partilhando do mesmo sentimento pois

acreditam que fornecendo as condiccedilotildees ldquoadequadasrdquo essas sementes iratildeo frutificar tanto ou

mais do que as mais belas aacutervores do mais belo pomar Esta sementeira para a pesquisadora

eacute o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida os agricultores satildeo Moab Silva Miriam Mariacutelia e Marcos

Moab apenas esporadicamente trabalha como cozinheiro visto dedicar-se

integralmente ao projeto no acompanhamento das crianccedilas e adolescentes nas escolas na

busca de patrociacutenio na comunidade com os pais

Miriam abre as portas de sua casa partilha o alimento com qualquer das crianccedilas que

chegar agrave sua porta e tatildeo importante quanto este partilha tambeacutem o afeto Natildeo se pode

mensurar o quanto este casal jaacute abnegou de sua vida em prol da vida deste projeto

Mariacutelia e Marcos jaacute ensinaram no projeto e quando solicitados retornam eles aceitam

partilhar com tantos outros daquilo que seria soacute seu pai matildee lar e recursos

Este projeto eacute um projeto de uma famiacutelia que se envolve se compromete com

seriedade e responsabilidade com os moradores da comunidade de forma que sofre junto

partilhando das dificuldades de crianccedilas e adolescentes que seriam apenas estranhos ou

ldquomeninos de ruardquo natildeo fosse o amor que os mobiliza

112

Pode-se perceber que muitas vezes faltam recursos materiais para se fazer como se

gostaria e ateacute mesmo para dar continuidade ao que jaacute foi feito No entanto a ausecircncia de

estiacutemulo de coragem de amor e de creacutedito natildeo foi percebida Talvez por isso algumas matildees

tenham se referido ao projeto como sendo algo maravilhoso

Feitas as conclusotildees seguem nas proacuteximas seccedilotildees as implicaccedilotildees teoacutericas praacuteticas e

sociais deste estudo e as sugestotildees de pesquisa futura

51 Contribuiccedilotildees do estudo

O presente trabalho oferece algumas contribuiccedilotildees para a teoria para a praacutetica e

tambeacutem para a sociedade Seguem nas proacuteximas seccedilotildees o detalhamento destas contribuiccedilotildees

511 Contribuiccedilatildeo teoacuterica

Esta pesquisa traz contribuiccedilotildees para a teoria na medida em que verifica a

aplicabilidade da literatura no contexto brasileiro de uma comunidade carente Oferece

contribuiccedilotildees tambeacutem por tratar da mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes com risco

para delinquumlecircncia A pesquisa aborda objetos que no Brasil ainda natildeo tinham sido

pesquisados sob o arcabouccedilo da mentoria

Outra contribuiccedilatildeo deste estudo diz respeito aos achados aqueles que diferem da

teoria e que foram encontrados no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida tais como o patrociacutenio amplo

oferecido pelo mentor ao mentorado o mentor natildeo ser tido como modelo o

autoconhecimento e senso de dever cumprido como benefiacutecios para o mentor Em se tratando

de estudo de caso estes achados natildeo devem ser generalizados No entanto podem servir de

questionamento e de objeto de futuras investigaccedilotildees no sentido de ver sua aplicabilidade em

outros contextos

Segue a contribuiccedilatildeo praacutetica deste trabalho

113

52 Contribuiccedilatildeo praacutetica

O presente objeto de pesquisa (mentoria voltada para educaccedilatildeo de crianccedilas e

adolescentes carentes) pode ser utilizado tambeacutem como forma de intervenccedilatildeo na educaccedilatildeo do

ensino puacuteblico e privado

A iniciativa privada tambeacutem pode ter nesta relaccedilatildeo de mentoria um modelo de accedilatildeo

de responsabilidade social Pode intervir em sua comunidade preparando sua futura matildeo-de-

obra e usufruindo os diversos benefiacutecios que tal relaccedilatildeo pode trazer natildeo soacute em termos de

dividendos ao gerenciar a reputaccedilatildeo mas em termos solidariedade realizaccedilatildeo e senso de

dever cumprido

Era objetivo contribuir com a praacutetica atraveacutes da teoria de mentoria visando

potencializar a relaccedilatildeo existente no projeto de reforccedilo No entanto uma vez que os fatores de

ecircxito jaacute satildeo considerados e que a relaccedilatildeo tem trazido benefiacutecios para o mentorado mentor e

para a sociedade natildeo se percebeu formas de contribuiccedilatildeo com o projeto neste sentido Senatildeo

de apresentar um estudo sistematizado do projeto e de como satildeo beneficiados os que dele

participam

53 Contribuiccedilatildeo social

O presente trabalho oferece contribuiccedilotildees sociais na medida em que confirmou que o

objeto de estudo mostrou-se eficiente em sua proposta podendo entatildeo servir de modelo de

accedilatildeo para outras entidades voltadas para crianccedilas e adolescentes de risco

O trabalho tambeacutem pode servir de fonte de pesquisa para empresas que desejam ser

responsaacuteveis socialmente atraveacutes da educaccedilatildeo tendo na mentoria um modelo que apresentou

resultados positivos

Outra contribuiccedilatildeo social deste estudo diz respeito ao questionamento sobre a

educaccedilatildeo no Brasil O projeto tem sido uma alternativa diante do insucesso da escola puacuteblica

114

em fazer com que o aluno permaneccedila na escola e obtenha bom aproveitamento A

contribuiccedilatildeo pode ser aumentada na medida em que o puacuteblico para tal projeto eacute de crianccedilas e

adolescentes com risco Tais sujeitos aleacutem do aprendizado obtido adquirem perspectiva

positiva de vida podendo-se inferir que haja diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia

Seguem na proacutexima seccedilatildeo algumas sugestotildees de pesquisas futuras que podem ser

realizadas no intuito de compreender melhor o fenocircmeno estudado

52 Sugestotildees de pesquisas futuras

Algumas sugestotildees de pesquisa podem ser feitas a partir do presente trabalho Satildeo elas

a) Acompanhar a histoacuteria dos futuros egressos visando conhecer melhor os

resultados do programa de mentoria

b) Realizar um experimento entre as crianccedilas e adolescentes que participam do

projeto e os natildeo participantes para se verificar a influecircncia deste

c) Investigar quais as implicaccedilotildees de haver dois tipos de relaccedilatildeo de mentoria no

projeto na qual o mentor tem um relacionamento mais proacuteximo com um

mentorado do que com outro

Estas sugestotildees para pesquisa futura encerram este trabalho mas natildeo os

questionamentos dele advindos

Peccedilo licenccedila a Moab para terminar o trabalho com sua fala Para educar natildeo se tem

um resultado imediato Entatildeo vocecirc tem que gastar tempo Eacute investimento em longo

prazo Vocecirc tem que ter paciecircncia () amor (COORDENADOR entrevista set05)

115

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122

APEcircNDICE A - Apresentaccedilatildeo da entrevista

123

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

APRESENTACcedilAtildeO DA ENTREVISTA

Meu nome eacute Adriana Alvarenga Marques Sou pesquisadora da Universidade Federal

de Pernambuco e estamos fazendo um estudo sobre a educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes

Pesquisamos sobre este tema no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida com alguns pais de alunos e com

alguns dos que colaboram com o projeto e tambeacutem com o Sr Moab

Estou aqui para lhe fazer algumas perguntas sobre este assunto A sua participaccedilatildeo eacute

de muita importacircncia para a pesquisa

Quero destacar que vocecirc natildeo precisa se identificar e seus dados e o do aluno natildeo seratildeo

revelados

Gostaria ainda de sua permissatildeo para gravar nossa ldquoconversardquo lembrando que apenas

eu ouvirei a fita Peccedilo isto por que para anotar as respostas eu levaria muito tempo e natildeo seria

feito com precisatildeo Vocecirc autoriza

124

APEcircNDICE B- Roteiro da entrevista com os pais

125

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

Roteiro de Entrevista para os Pais

Nome- ___________________________________________________________________

Nome do(a) filho(a) participante do projeto- _____________________________________

Escolaridade dos pais- _______________________________________________________

Quantas pessoas moram com o(a) aluno(a) _______________________________________

1- Haacute quanto tempo vocecirc conhece o projeto de reforccedilo Educaccedilatildeo eacute Vida

2- O que vocecirc pensa a respeito deste projeto

3- Haacute quanto tempo seusua filho(a) faz parte do projeto

4- Qual a idade dele (a)

5- Qual a seacuterie que ele(a) cursa

6- Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo de seusua filho(a) houve alguma mudanccedila nele(a) depois de

haver entrado no projeto Qual(ais)

7- No dia-a-dia vocecirc percebe alguma influencia do projeto no comportamento de

seusua filho(a) Qual(ais)

8- Existe algueacutem do projeto que demonstre cuidado e preocupaccedilatildeo com seusua filho(a)

que o(a) acompanhe seusua filho(a) mais de perto Quem

9- Como eacute feito esse acompanhamento

10- Qual o significado desta pessoa na vida de seu filho

11- Seu filho(a) gosta de estudar

12- Como vocecirc percebe isto

13- Seu filho(a) jaacute recebeu alguma ajuda vinda do projeto

14- Que tipo de ajuda

15- Quando seu filho passa por alguma dificuldade ou problema a quem ele recorre

16- Haacute algueacutem do projeto que aconselhe seuas filho(a) Quem

17- Que tipo de conselho ele(a) oferece

18- Seusua filho(a) fala sobre seu futuro O que ele(a) diz

126

19- Onde seu filho estuda

20- Como eacute o desempenho de seusua filho(a) na escola Como satildeo suas notas

21- Seusua filho(a) traz tarefas para casa

22- Quem o(a) ajuda a resolve-las

23- Haacute mais alguma coisa sobre a educaccedilatildeo de seu filho que vocecirc considere importante

24- Quando vocecirc pensa no projeto qual a ideacuteia ou sentimento que lhe vem

25- Haacute mais alguma coisa sobre o projeto que vocecirc gostaria de falar

127

APEcircNDICE C - Roteiro da entrevista com os colaboradores

128

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

Roteiro da Entrevista com os Colaboradores

Nome ndash ______________________________________________________________

Tempo de projeto-______________________________________________________

Funccedilatildeo desempenhada no projeto- _________________________________________

Tempo de projeto - _____________________________________________________

1- Haacute quanto tempo vocecirc conhece o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

2- Qual a sua participaccedilatildeo neste projeto

3- Com que frequumlecircncia ocorre seu contato com as crianccedilas adolescentes comunidade

4- Vocecirc recebe alguma remuneraccedilatildeo para atuar no projeto

5- Qual sua motivaccedilatildeo para participar

6- Vocecirc poderia descrever como eacute seu relacionamento com os alunos

7- Haacute algum(a) em especial por quem vocecirc tenha maior preocupaccedilatildeo cuidado carinho

8- Por que

9- Como satildeo seus encontros com as crianccedilas

10- Como vocecirc percebe o significado deste projeto na vida da comunidade

11- Durante o seu tempo de participaccedilatildeo no projeto houve algum evento ou

acontecimento que lhe marcou e que vocecirc gostaria de falar

12- Quando vocecirc pensa no projeto qual a ideacuteia ou sentimento que lhe vem

13- Haacute mais alguma coisa sobre o projeto ou sobre os alunos que vocecirc gostaria de

compartilhar

129

APEcircNDICE D - Roteiro da entrevista com o fundador do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

130

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

Roteiro de Entrevista do Fundador

Nome ndash ______________________________________________________________

1- Como surgiu a ideacuteia do projeto

2- Como foi efetivado

3- Quais as motivaccedilotildees para a existecircncia do projeto

4- Houve participaccedilatildeo de sua famiacutelia

5- Vocecirc poderia falar acerca do funcionamento do projeto as atividades desempenhadas

os objetivos a manutenccedilatildeo

6- A quem o projeto se destina

7- Qual a sua participaccedilatildeo efetiva no projeto

8- Como se deu a formalizaccedilatildeo

9- Como ocorre a seleccedilatildeo das crianccedilas para fazer parte do projeto

10- Quais os criteacuterios para se manter no projeto

11- Como o projeto obteacutem recursos para funcionar

12- Que tipo de atividade o projeto desenvolve

13- Haacute quanto tempo o projeto existe

14- Houve algueacutem em sua vida que serviu de incentivo para que vocecirc desenvolvesse esse

tipo de atividade

15- Por que um projeto em educaccedilatildeo

16- Qual o significado deste projeto na vida da sua famiacutelia

17- Qual o significado deste projeto na vida da comunidade

18- O que significa para uma crianccedila participar do projeto

19- Quais as dificuldades enfrentadas

20- Haacute ou houve algum acontecimento que lhe marcou

21- Existem crianccedilas que vocecirc acompanha mais de perto

22- Como eacute esse acompanhamento

131

23- O que o projeto oferece aos participantes em termos de educaccedilatildeo

24- Haacute mais algum tipo de ajuda que o projeto oferece Qual (ais)

25- O que eacute importante para que o projeto obtenha ecircxito

26- O que vocecirc acredita que eacute determinante do sucesso escolar de um aluno

27- Por que vocecirc acha que alguns alunos natildeo obtecircm bom aproveitamento escolar

28- Como eacute a participaccedilatildeo de sua famiacutelia no projeto

29- Qual o seu sonho para o projeto

30- Quando vocecirc pensa neste projeto qual a ideacuteia ou sentimento que lhe ocorre

31- Haacute mais alguma coisa que vocecirc gostaria de falar

132

ANEXO A - Estatuto da Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre

133

134

135

136

137

138

139

140

ANEXO B ndash Documento de Apresentaccedilatildeo do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

141

142

IDENTIFICACcedilAtildeO Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre situada agrave rua Joatildeo Tude de Melo nordm 21 Casa Forte Recife Pernambuco Brasil CEP ndash52060-030 tel 3442-2084

Objetivo Manter influente obra social cristatilde que possa mudar o quadro social das crianccedilas e jovens da comunidade

O projeto funciona haacute trecircs anos atendendo a comunidade na aacuterea de educaccedilatildeo sauacutede lazer e educaccedilatildeo religiosa

143

ANAacuteLISE DO CONTEXTO DO PROJETO A favela Vila do vinteacutem como todo reduto de pobreza tem seus problemas suas causas e consequumlecircncias Apoacutes trecircs anos de atividades nesta comunidade detectamos que a maacute distribuiccedilatildeo de renda e a falta de uma poliacutetica social voltada para os mais carentes tecircm contribuiacutedo para a formaccedilatildeo de famiacutelias desestruturadas e em situaccedilotildees de risco fomentadas pela pobreza cultural e financeira Residem em barracos de madeira papelatildeo e plaacutestico de aproximadamente 12m2 sem aacutegua esgoto e muitos sem sanitaacuterios O conviacutevio diaacuterio com insetos torna a accedilatildeo meacutedica difiacutecil ou mesmo inviaacutevel Eacute isto que temos vivenciado no dia-dia famiacutelias em condiccedilotildees sub-humanas sobrevivendo de pequenos serviccedilos que prestam

Eacute neste cenaacuterio que consequumlentemente a crianccedila e o jovem desenvolve seu potencial de violecircncia anseios e conflitos convivendo com a fome a falta de higiene ambiente inoacutespito e inadequado para os estudos e outras atividades Essas crianccedilas semi-abandonadas vivem sem perspectivas de mudanccedilas sendo apenas viacutetimas de um processo que as leva a marginalidade

Por esta razatildeo se faz necessaacuterias accedilotildees contiacutenuas para melhoria da qualidade de vida e paz social desenvolvendo atividades que as valorizem como pessoas minimizando o sofrimento dando-lhes esperanccedilas atraveacutes da educaccedilatildeo sauacutede lazer e profissionalizaccedilatildeo

144

OBJETIVOS

Geral Visa natildeo somente melhorar a qualidade de vida no presente mas intervir num ciclo vicioso preparando a crianccedila e o jovem para o futuro Atuar na aacuterea de Educaccedilatildeo solicitando bolsas de estudo na rede privada com aulas de reforccedilo para o ensino fundamental alfabetizaccedilatildeo infantil distribuiccedilatildeo de material escolar e merenda Curso regular de liacutengua estrangeira (Inglecircs) iniciaccedilatildeo musical (teoria e praacutetica) Sauacutede Cliacutenica pediaacutetrica odontoloacutegica psico-pedagoacutegica e aviamento de receitas

Especiacuteficos

A) Promover a melhoria da escolaridade incentivando a permanecircncia e o equiliacutebrio entre o conhecimento e o grau adquirido

B) Desenvolver atividades que proporcionem o desenvolvimento de competecircncias sociais pessoais e intelectuais favorecendo a reflexatildeo e o exerciacutecio da cidadania com palestras passeios e filmes Ampliando o leque de conhecimentos e enriquecendo o senso criacutetico

C) Desenvolver programa intensivo de sauacutede atraveacutes de convecircnios melhorando desta forma a sauacutede e a aparecircncia fiacutesica para que haja um relacionamento pessoal sem reserva ou constrangimento

D) Ampliar os conhecimentos por curso regular de liacutengua estrangeira (Inglecircs) e iniciaccedilatildeo musical teoria e praacutetica Tirando-os da rua e da ociosidade oferecendo uma perspectiva de profissionalizaccedilatildeo e um conviacutevio cultural diferente do que vivenciam

145

PUacuteBLICO ALVO Crianccedilas e jovens de cinco a dezessete anos residentes na Vila Vinteacutem e devidamente matriculados e frequumlentando a rede oficial de ensino puacuteblico ou privado METODOLOGIA Profissionais de suas respectivas aacutereas ministraratildeo aulas diariamente ou em dias alternados conforme as especialidades e necessidades do projeto Por tratar-se de prestaccedilatildeo de serviccedilo voluntaacuterio com fim social todos teratildeo liberdade sobre o plano de accedilatildeo a ser aplicado no entanto deveratildeo estar de acordo com o nosso Estatuto Convecircnio com a Fundaccedilatildeo Manuel de Almeida (Hospital Infantil) para cliacutenica meacutedica e pediaacutetrica cabendo a instituiccedilatildeo a avaliaccedilatildeo e anaacutelise dos resultados As atividades seratildeo desenvolvidas em nossa sede proacutepria e anexo I exceto o curso de inglecircs consultas odontoloacutegicas e cliacutenica meacutedica Modelo de Educaccedilatildeo para a Sauacutede Objetivo Colocar a educaccedilatildeo a serviccedilo de uma vida saudaacutevel Accedilotildees destinadas a orientar os jovens

bull Alimentaccedilatildeo adequada bull Atividades que natildeo promovam o estresse bull Vida sexual segura bull Orientaccedilatildeo sobre o risco do tabaco aacutelcool e outras drogas

psicoativas bull Discussatildeo de temas gerais atuais ndash exemplo tracircnsito poluiccedilatildeo

violecircncia etc Objetivando a formaccedilatildeo de cidadatildeos conscientes e capazes de optar por uma vida mais saudaacutevel individual e coletiva

Modelo de Modificaccedilatildeo das Condiccedilotildees de Ensino Enfatizando a vivecircncia escolas desde a Educaccedilatildeo Infantil ensino Fundamental e Meacutedio como essencial para o desenvolvimento sadio do adolescente e adulto Preocupando-se com a prevenccedilatildeo ao uso abusivo de drogas a delinquumlecircncia as patologias mentais buscando a formaccedilatildeo integral do jovem Envolvendo pais e comunidade

146

Orientaccedilotildees estrateacutegicas

bull Modificar as praacuteticas de ensino bull Melhorar a relaccedilatildeo professoraluno bull Melhorar o ambiente escolar bull Incentivar o desenvolvimento social bull Ofertar serviccedilos de sauacutede bull Envolver os pais em atividades curriculares

AVALIACcedilAtildeO Bimestral junto agraves escolas solicitando boletins de cada aluno assistido pelo projeto cuja permanecircncia dos benefiacutecios dependeraacute do aproveitamento escolar da assiduidade agraves atividades e programaccedilatildeo da instituiccedilatildeo

147

ANEXO C ndash Estrutura baacutesica para orientaccedilatildeo de teses e dissertaccedilotildees

148

  • CLASSIFICACcedilAtildeO DE ACESSO A TESES E DISSERTACcedilOtildeES
    • Adriana Alvarenga Marques
      • 1 Introduccedilatildeo
        • 2 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica
          • Mentoria informal
            • Mentoria formal
              • 3 Metodologia
                  • APEcircNDICE A - Apresentaccedilatildeo da entrevista
                    • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                    • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                      • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                        • APRESENTACcedilAtildeO DA ENTREVISTA
                          • APEcircNDICE B- Roteiro da entrevista com os pais
                            • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                            • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                              • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                                • Roteiro de Entrevista para os Pais
                                  • APEcircNDICE C - Roteiro da entrevista com os colaboradores
                                    • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                                    • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                                      • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                                        • Roteiro da Entrevista com os Colaboradores
                                          • APEcircNDICE D - Roteiro da entrevista com o fundador do Projet
                                            • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                                            • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                                              • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                                                • Roteiro de Entrevista do Fundador
                                                  • ANEXO A - Estatuto da Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre
                                                    • IDENTIFICACcedilAtildeO
                                                      • ANAacuteLISE DO CONTEXTO DO PROJETO
                                                        • OBJETIVOS
                                                          • PUacuteBLICO ALVO
                                                            • METODOLOGIA
                                                                • Modelo de Educaccedilatildeo para a Sauacutede
                                                                • Modelo de Modificaccedilatildeo das Condiccedilotildees de Ensino
                                                                  • AVALIACcedilAtildeO
Page 7: A mentoria na educação de crianças e adolescentes carentes ... · Figura 5 (4) Modelo de Certificado de Padrinho 70 Figura 6 (4) Foto da apresentação das meninas do projeto em

ldquoAinda que eu conheccedila todos os misteacuterios e toda a ciecircncia se natildeo tiver amor nada sereirdquo

Adap Apoacutestolo Paulo

Resumo

A mentoria se caracteriza pela relaccedilatildeo existente entre mentor (algueacutem com reconhecida

experiecircncia) e mentorado (um neoacutefito) na qual o mentor serve de guia para o jovem aprendiz

dando-lhe conselhos instruccedilotildees patrociacutenio e amizade de modo a facilitar o desenvolvimento

de sua carreira Em troca o mentor obteacutem reconhecimento apoio e realizaccedilatildeo ao acompanhar

o crescimento profissional de seu mentorado A mentoria voltada para jovens e adolescentes

com risco para a delinquumlecircncia tem sido investigada em paiacuteses como Estados Unidos e Canadaacute

Dentre os benefiacutecios encontrados pode-se citar a diminuiccedilatildeo de comportamentos agressivos

reduccedilatildeo da evasatildeo escolar aumento da auto-estima e consequumlentemente reduccedilatildeo da

delinquumlecircncia juvenil A presente pesquisa propocircs-se a investigar um programa de mentoria

voltado para crianccedilas e adolescentes carentes O objetivo foi verificar quais as especificidades

deste programa num contexto brasileiro e quais os benefiacutecios desta relaccedilatildeo na vida dos

mentorados (crianccedilas e adolescentes) dos mentores (colaboradores do projeto) e da

comunidade A percepccedilatildeo das famiacutelias acerca do projeto tambeacutem foi considerada Fez-se um

estudo de caso exploratoacuterio-descritivo acerca de um projeto de reforccedilo escolar localizado na

Vila do Vinteacutem II uma comunidade carente do Recife A estrateacutegia de pesquisa foi

qualitativa atraveacutes de entrevistas observaccedilatildeo e anaacutelise documental Pocircde-se perceber que

apenas em alguns aspectos a mentoria ocorrida no projeto diferia dos achados na literatura

Por exemplo o fato de o mentor ser um modelo para o mentorado (fato expliacutecito

teoricamente) natildeo ficou evidenciado neste contexto A pesquisa procurou verificar a

viabilidade de uma forma de intervenccedilatildeo na vida de crianccedilas e adolescentes carentes que

pode ser utilizada por organizaccedilotildees privadas como meio de accedilatildeo de responsabilidade social e

por instituiccedilotildees puacuteblicas no sentido de alcanccedilar maior aproveitamento escolar das crianccedilas e

dos adolescentes

Palavras-chave Mentoria Educaccedilatildeo Comunidade carente Delinquumlecircncia Suporte

psicossocial

Abstract

Mentorship is characterized by the relationship between a mentor (someone with recognized

experience) and the individual to be mentored (novice) in which the mentor guides the young

apprentice offering himher counsel advice and friendship in a way as to facilitate the

development of hisher career In exchange the mentor obtains recognition support and

personal reward taking part in the professional growth of the person being mentored

Mentorship geared towards youth and teenagers with risks of becoming delinquent individuals

has been investigated in countries such as the United States and Canada Among the benefits

found one can mention the decrease in aggressive behavior and school absenteeism an

increase in self esteem and consequently a decrease in juvenile delinquency This research is

intended to investigate a mentorship program geared towards impoverished children and

teenagers with the purpose of verifying if in the Brazilian context specifically in the

northeast of Brazil the mentor relationship presents the same characteristics as those shown

in previously documented researches This is a descriptive-exploratory case study about a

school tutorship program at Vila do Vinteacutem II a slum in Recife Pernambuco Brazil The

objective of this study was to verify what are the specificities of a mentorship program

designed for children and teenagers in the Brazilian context and what are the benefits of this

relationship in the life of those who are mentored (children and teenagers) the mentors (who

joined the program) and the community The perception of the families about the program has

been taken into consideration as well The strategy used for this research was qualitative

through interviews and observation and documental analysis It was observed that only in a

few aspects the mentorship analyzed in this program was different from the findings of

previous research as for instance the fact that the mentor is considered a role model for the

apprentice (a theoretical fact that is widely accepted) has not been evidenced in this context

This research was intended to demonstrate the possibility of an intervention in the lives of

impoverished children and teenagers and can be utilized by organizations in their social

responsibility actions and by public policy formulators with the purpose of increasing school

progress for children and teenagers

Key-words Mentorship Tutorship Education Impoverished community Delinquency

Psychosocial support

Lista de figuras

Figura 1 (4) Foto da Vila do Vinteacutem II 60Figura 2 (4) Foto das palafitas da Vila do Vinteacutem II 61Figura 3 (4) Foto da festa de Natal para as crianccedilas da Vila Vinteacutem 63Figura 4 (4) Foto da festa das crianccedilas na sede do projeto 64Figura 5 (4) Modelo de Certificado de Padrinho 70Figura 6 (4)

Foto da apresentaccedilatildeo das meninas do projeto em uma missa de Natal realizada pela Igreja Catoacutelica de Casa Forte na Vila Vinteacutem 81

Figura 7 (4)

Foto da professora e alunos durante a aula de reforccedilo na sede do projeto 90

Figura 8 (4) Boletim escolar de Afracircnio 98Figura 9 (4) Boletim escolar de Jairo 99

Sumaacuterio 1 Introduccedilatildeo 1511 Objetivos 18111 Objetivo geral 18112 Objetivos especiacuteficos 1812 Justificativa 19121 Justificativa teoacuterica 19122 Justificativa praacutetica e social 192 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica 2121 Mentoria 21211 Funccedilotildees de mentoria 242111 Suporte de carreira 242112 Suporte psicossocial 26212 Fases da relaccedilatildeo mentoria 28213 Tipos de mentoria 302131 Mentoria informal 302132 Mentoria formal 31214 Fatores relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria formal 312141 Seleccedilatildeo de mentores e mentorados 322142 Treinamento supervisatildeo e acompanhamento do programa de mentoria 332143 Frequumlecircncia dos encontros 342144 Duraccedilatildeo da relaccedilatildeo de mentoria 3422 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria 35221 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentorado 36222 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentor 39223 Benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria 413 Metodologia 4631 Delineamento da pesquisa 4632 Primeira fase da coleta de dados 47321 Objetivo 47322 Instrumentos de coleta de dados 4833 Segunda fase de coleta de dados 50331 Objetivos 50332 Instrumentos de coleta de dados 5034 Sujeitos da pesquisa 52341 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos sujeitos 5335 Meacutetodos de anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados 5436 Limitaccedilotildees da pesquisa 564 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos achados 5841 O caso 58411 O contexto do projeto Vila Vinteacutem II 58412 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 62413 Atividades desenvolvidas pelo projeto 65414 Formalizaccedilatildeo do projeto como organizaccedilatildeo natildeo-governamental 67415 Situaccedilatildeo atual do projeto 68416 Dificuldades enfrentadas pelo projeto 69417 Motivaccedilatildeo para a existecircncia e continuidade do projeto 70418 Dados dos mentores entrevistados 71419 Dados dos mentorados pesquisados 72

4191 Alunos tidos como que de ecircxito nos estudos 724192 Alunos tidos como que de natildeo ecircxito nos estudos 7442 Achados referentes agrave primeira questatildeo norteadora do trabalho 76421 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida como um programa de mentoria 76422 Funccedilotildees de mentoria encontradas no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 784221 Suporte de carreira 784222 Suporte psicossocial 83423 Fases da relaccedilatildeo de mentoria apresentadas no projeto de reforccedilo 87424

Fatores encontrados no projeto que estatildeo relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria 87

425 Fatores responsaacuteveis pelo ecircxito e natildeo ecircxito nos estudos percepccedilatildeo do mentor e da famiacutelia do mentorado 93

426

Resposta da primeira questatildeo norteadora especificidades da relaccedilatildeo de mentoria existentes no projeto de reforccedilo escolar 94

43 Achados referentes agrave segunda questatildeo norteadora 95431

Aumento da auto-estima da responsabilidade maior progresso escolar e perspectiva positiva de futuro 95

432

Resposta da segunda questatildeo norteadora benefiacutecios da mentoria para a crianccedila adolescente do projeto 101

44 Achados referentes agrave terceira questatildeo norteadora 101441 Realizaccedilatildeo pessoal 101442 Motivaccedilatildeo 102443 Ser amado pelo mentorado 103444 Autoconhecimento 103445 Senso de dever cumprido 104446 Resposta da terceira questatildeo norteadora benefiacutecios da mentoria para o mentor 10445 Achados referentes agrave quarta questatildeo norteadora 105451 Desenvolvimento educacional das crianccedilas e dos adolescentes 105452 Assistencialismo 106453 Diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia 107454

Resposta da quarta questatildeo norteadora benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria 108

5 Conclusatildeo 10951 Contribuiccedilotildees do estudo 112511 Contribuiccedilatildeo teoacuterica 112512 Contribuiccedilatildeo praacutetica 113513 Contribuiccedilatildeo social 11352 Sugestotildees de pesquisas futuras 114Referecircncias 115APEcircNDICE A- Apresentaccedilatildeo da entrevista 122APEcircNDICE B- Roteiro da entrevista com os pais 124APEcircNDICE C- Roteiro da entrevista com os colaboradores 127APEcircNDICE D- Roteiro da entrevista com o fundador do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 129ANEXO A- Estatuto da Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre 132ANEXO B- Documento de apresentaccedilatildeo do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 140ANEXO C- Estrutura baacutesica para orientaccedilatildeo de teses e dissertaccedilotildees 147

15

1 Introduccedilatildeo

A educaccedilatildeo no Brasil tem sido nos uacuteltimos anos alvo de atenccedilatildeo por parte dos

governantes da iniciativa privada e da sociedade De acordo com dados do IBGE-Pnad

(2000) o Brasil conta com um iacutendice de analfabetismo de 116 sendo que na Regiatildeo

Nordeste este iacutendice sobe para 23 Em se tratando de analfabetismo funcional o que se

refere agraves pessoas com menos de quatro anos de estudo completos o iacutendice eacute de 24 no Brasil

e 39 na Regiatildeo Nordeste chegando a 43 em alguns municiacutepios Tais dados revelam a

existecircncia de municiacutepios onde quase metade da populaccedilatildeo tem menos de quatro anos de

estudo O fato de haver analfabetos funcionais em tatildeo grande proporccedilatildeo pode ser explicado

pela evasatildeo escolar

Trata-se de milhotildees de brasileiros excluiacutedos agrave margem por natildeo terem acesso agrave leitura

agrave escrita agrave cultura e ao conhecimento formal comprometendo ainda mais a auto-estima e

reduzindo a qualidade de vida de tais pessoas A alta taxa de analfabetismo (116) reduz

ainda mais o IDH (Iacutendice de Desenvolvimento Humano) que no Brasil eacute considerado meacutedio

077 (PNUD 2000) O IDH foi criado para medir o niacutevel de desenvolvimento humano dos

paiacuteses com base em indicadores de educaccedilatildeo (alfabetizaccedilatildeo e taxa de matriacutecula) longevidade

e renda Tal iacutendice varia de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1(desenvolvimento

humano total) Em Pernambuco este iacutendice eacute de 069 considerado meacutedio A taxa de ocupaccedilatildeo

no mercado de trabalho cresce agrave medida que a escolaridade aumenta Entre analfabetos eacute de

52 a chance de ocupaccedilatildeo enquanto que entre graduados sobe para 87 (NERY COSTA

2003)

Satildeo brasileiros que devido agrave exclusatildeo social decorrente do analfabetismo entre outros

fatores natildeo fazem parte do mercado consumidor Pessoas que por sua insuficiente renda ou

16

total falta dela ficam seriamente limitadas no tocante ao consumo sendo muitas dependentes

de poliacuteticas assistencialistas

As empresas tambeacutem sofrem as consequumlecircncias do analfabetismo seja absoluto (pessoa

iletrada) ou funcional pois tecircm em funccedilatildeo dele uma matildeo de obra desqualificada Soma-se o

fato de que estas pessoas natildeo fazem parte de sua clientela uma vez que natildeo tecircm poder

aquisitivo para tal

Estatiacutesticas confirmam que haacute um aumento na renda agrave medida que se acrescentam

anos de estudo A cada ano de estudo a renda aumenta cerca de 16 (IBGE-PNAD 1998) e

consequumlentemente aumenta tambeacutem o poder de compra a inserccedilatildeo social e a qualificaccedilatildeo

Uma questatildeo pertinente em se tratando de evasatildeo escolar eacute sua associaccedilatildeo com a

delinquumlecircncia Um estudo realizado com adolescentes paulistas demonstrou que a defasagem

escolar bem como a multirrepetecircncia satildeo fatores positivamente relacionados com a inserccedilatildeo

de jovens na criminalidade (DIAS 2003)

Barros et al (1994) revelam que um dos principais determinantes do desempenho

escolar da crianccedila eacute a educaccedilatildeo meacutedia das matildees Riveiro (2001) com base em dados da

Unesco afirma que os brasileiros que satildeo analfabetos absolutos estatildeo localizados

principalmente em aacutereas carentes da Regiatildeo Nordeste Considerando que haacute grande propensatildeo

de as matildees que moram em comunidades carentes do Nordeste serem analfabetas e que a

educaccedilatildeo da matildee tende a ser um fator determinante da educaccedilatildeo dos filhos parece legiacutetimo

esperar limitaccedilotildees graves na educaccedilatildeo de crianccedilas em comunidades carentes do Recife

O atual governo em 2001 criou o Programa Nacional do Bolsa-Escola que incentiva

a famiacutelia a colocar o filho na escola e fazecirc-lo permanecer nela Para tanto a famiacutelia recebe a

quantia de R$ 1500 por filho matriculado (MEC 2005) O projeto visa a reduccedilatildeo da evasatildeo

escolar sem no entanto acompanhar o rendimento do aluno beneficiado

17

Quanto agrave iniciativa privada a educaccedilatildeo tem sido o foco de algumas empresas ao

investirem na formaccedilatildeo dos funcionaacuterios e dos filhos destes Acerca do levantamento sobre as

100 melhores empresas para se trabalhar no ano de 2002 Silveira (2002) afirma que eacute fato

relevante para a organizaccedilatildeo que pertence a este ranking a colaboraccedilatildeo com a comunidade na

qual estaacute inserida Para tal algumas organizaccedilotildees contam inclusive com seus funcionaacuterios

agindo como voluntaacuterios nestas accedilotildees de responsabilidade social Desenvolvendo atividades

como esta de responsabilidade social e cidadania a empresa eacute mais bem avaliada por seus

stakeholders internos e externos (ASHLEY 2003)

Nos Estados Unidos uma alternativa para evitar a evasatildeo escolar tem sido

desenvolvida atraveacutes da mentoria Nesta relaccedilatildeo o mentor eacute uma pessoa mais experiente do

que o mentorado algueacutem em quem este confia com quem pode compartilhar suas

dificuldades necessidades e anseios e de quem recebe apoio e orientaccedilatildeo Um exemplo deste

trabalho foi realizado por Klaw et al (2003) com adolescentes afro-americanas gestantes O

objetivo do programa de mentoria era ajudar estas novas matildees a terminar a escola e a

conseguir resultados educacionais satisfatoacuterios apoacutes o nascimento da crianccedila O estudo

mostrou que das adolescentes que foram acompanhadas durante dois anos por um mentor

65 terminaram os estudos Jaacute entre as matildees que natildeo contaram com o programa de mentoria

este percentual caiu para 35 Pode-se concluir que apesar dos fatores adversos (maternidade

na adolescecircncia dificuldade econocircmica e preconceito racial) a mentoria mostrou-se eficaz no

combate agrave evasatildeo escolar

No Recife (PE) em uma comunidade carente verificou-se a existecircncia de um

programa de reforccedilo escolar Foram percebidas atraveacutes de uma pesquisa exploratoacuteria

evidecircncias da relaccedilatildeo de mentoria entre os colaboradores e os alunos sendo estes os

mentorados Esta evidecircncia criou a possibilidade de pesquisar os benefiacutecios produzidos pela

relaccedilatildeo de mentoria voltada para educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes carentes no Brasil

18

Investiga-se assim ateacute que ponto a mentoria pode ser um recurso para auxiliar no aumento do

aproveitamento escolar dos mentorados e na reduccedilatildeo da evasatildeo escolar Desta forma

considerando a situaccedilatildeo da educaccedilatildeo as limitaccedilotildees impostas pelo analfabetismo e a evasatildeo

escolar que aleacutem da exclusatildeo social estaacute associada agrave delinquumlecircncia definimos a seguinte

pergunta de pesquisa

Como ocorre a mentoria voltada para a educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes em

uma comunidade carente do Recife

11 Objetivos

111 Objetivo geral

Investigar como ocorre a mentoria em um programa de reforccedilo escolar voltado para

crianccedilas e adolescentes carentes de uma comunidade do RecifePE

112 Objetivos especiacuteficos

bull Investigar as especificidades da relaccedilatildeo de mentoria (funccedilotildees fases tipos e

fatores de ecircxito) voltada para crianccedilas e adolescentes carentes no contexto de

uma comunidade do Recife

bull Verificar quais os benefiacutecios da mentoria para o mentorado na percepccedilatildeo das

famiacutelias destes

bull Investigar quais os benefiacutecios da mentoria para os mentores na percepccedilatildeo

destes e

bull Verificar quais os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria

19

12 Justificativa

O presente trabalho se justifica devido agrave relevacircncia do tema que aborda e de suas

implicaccedilotildees poliacuteticas organizacionais e sociais

121 Justificativa teoacuterica

No aspecto teoacuterico pode-se citar a escassez de bibliografia nacional acerca da

mentoria Trata-se de um fenocircmeno pouco estudado no Brasil e menos ainda voltado para

educaccedilatildeo de jovens e adolescentes Faz-se necessaacuterio portanto investigar como ocorre a

mentoria no paiacutes e quais as suas especificidades e caracteriacutesticas Neste sentido o presente

estudo pode oferecer algumas contribuiccedilotildees

122 Justificativa praacutetica e social

Do ponto de vista praacutetico a proposta eacute que conhecendo como a mentoria ocorre aqui

agrave luz da teoria existente se possa auxiliar o processo otimizando-o

Quanto agrave justificativa da pesquisa do ponto de vista social pode-se mencionar a

necessidade de pesquisar alternativas para minimizar os problemas de analfabetismo evasatildeo

escolar e delinquumlecircncia juvenil Estes problemas fazem parte do cotidiano do Recife bem

como das demais grandes cidades brasileiras

As organizaccedilotildees podem ter nesta pesquisa um modelo de accedilatildeo de responsabilidade

social intervindo na comunidade local e inclusive preparando a sua futura matildeo-de-obra

Outra justificativa deste trabalho eacute a possibilidade de contribuir com as poliacuteticas

puacuteblicas no sentido de sugerir uma alternativa de intervenccedilatildeo na educaccedilatildeo de crianccedilas e

adolescentes em particular as que se encontram em situaccedilatildeo de risco

20

Neste capiacutetulo introdutoacuterio foi apresentado o tema abordado os objetivos da presente

pesquisa e as razotildees pelas quais o estudo se justifica No proacuteximo capiacutetulo seraacute exposta a

literatura que fornece as bases teoacutericas para a pesquisa

21

2 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica

Com o intuito de se investigar como ocorre a mentoria voltada para crianccedilas e

adolescentes carentes faz-se necessaacuterio trazer agrave luz o que a teoria diz acerca da mentoria

Portanto tratar-se-aacute neste capiacutetulo sobre o conceito de mentoria e suas especificidades ou

seja quais as funccedilotildees desempenhadas na relaccedilatildeo as fases pertinentes a este relacionamento

os tipos de mentoria e os fatores relacionados ao ecircxito desta relaccedilatildeo Os benefiacutecios que a

mentoria oferece ao mentorado ao mentor e agrave comunidade tambeacutem seratildeo considerados

Segue-se pois o conceito de mentoria

21 Mentoria

A palavra mentor surgiu por volta de 800 aC na antiga Greacutecia mais especificamente

na Odisseacuteia de Homero O poema eacutepico pertinente agrave Mitologia Grega relata as aventuras e as

batalhas vividas pelo rei Odisseu (Ulisses em latim) Ao partir de Troacuteia para guerra Odisseu

confiou a guarda de seu filho Telecircmaco a Mentor seu amigo (ENSHER MURPHY 1997)

Mentor passou a ser o responsaacutevel pela preparaccedilatildeo de Telecircmaco para ser o sucessor de seu

pai Mentor natildeo ocupou lugar de destaque na obra de Homero Entretanto em 1699 Franccedilois

de la Mothe-Fenelon fez uma releitura da Odisseacuteia e atribuiu a Mentor a condiccedilatildeo de segundo

pai professor orientador e guia de Telecircmaco Atraveacutes de Fenelon escritor e educador a

figura de Mentor tornou-se conhecida e relevante e em 1750 a palavra mentor jaacute constava

nos dicionaacuterios contendo o seguinte significado conselheiro saacutebio protetor e financiador

(GEHRINGER 2002) Apesar de a mentoria ter surgido em tempos muito distantes a

sistematizaccedilatildeo dos estudos nesta aacuterea data de apenas trecircs deacutecadas

22

Em 1978 Levinson et al (apud KLAW et al 2003) caracterizaram a mentoria como a

assistecircncia unilateral de um indiviacuteduo mais graduado e desejoso de partilhar seus

conhecimentos e experiecircncia a um menos experiente visando o desenvolvimento deste O

relacionamento com um mentor propicia ao jovem adentrar com ecircxito o mundo dos adultos e

o mundo dos negoacutecios Higgins e Kram (2001) salientam que mentores natildeo precisam ser

necessariamente pessoas mais graduadas do que os mentorados podendo ser seus colegas

pares ou parentes Hesgtad (1999) declara que o importante eacute que o mentor exerccedila influecircncia

sobre o mentorado

Hunt e Michael (1983) caracterizam o mentor como algueacutem que estaacute comprometido

em prover crescimento pessoal e suporte de carreira ao seu mentorado Higgins e Kram

(2001) consideram que o apoio e a assistecircncia na relaccedilatildeo de mentoria seriam bilaterais Nesta

relaccedilatildeo mentor e mentorado se auxiliariam no processo de desenvolvimento e tal processo

dar-se-ia atraveacutes de redes de mentoria e natildeo apenas de um mentor para um mentorado As

autoras trazem agrave mentoria a perspectiva do desenvolvimento de redes no qual o mentorado

dispotildee de vaacuterios mentores

Os Estados Unidos e parte da Europa tecircm demonstrado interesse cientiacutefico e

desenvolvido pesquisas sobre o tema Estas pesquisas tecircm sido voltadas para a aacuterea

organizacional na qual a mentoria se destina a jovens que ingressam na organizaccedilatildeo e satildeo

acompanhados por um secircnior Entretanto a mentoria tambeacutem pode ser utilizada na aacuterea

educacional e dirigir-se a estudantes como ocorre por exemplo no sistema de escola puacuteblica

da cidade de Nova Iorque e na Austraacutelia (ZEY 1998) Acerca da importacircncia da mentoria no

acircmbito educacional Astin (1977) defende que alguns estudantes ao serem mentorados podem

se sentir mais encorajados e se envolver mais com os estudos e aprendizado uma vez que o

mentor pode ser um referencial para tal

23

A mentoria voltada para crianccedilas seria de acordo com Brody (1991 apud JACKSON

2002) um relacionamento entre um adulto e uma crianccedila visando facilitar o crescimento

pessoal educacional e social desta Nos EUA tem crescido o nuacutemero de programas de

mentoria com foco na aacuterea social visando atender agraves minorias ou aos jovens adolescentes e

crianccedilas com risco para delinquumlecircncia DuBois et al (2002) realizaram uma meta-anaacutelise

buscando levantar os efeitos de 55 programas de mentoria voltados para juventude Estes

programas diferiam no curriacuteculo No entanto a grande maioria enfatizava o relacionamento

entre um jovem problemaacutetico e um adulto mais experiente O objetivo era o de ajudar o jovem

a resolver satisfatoriamente as dificuldades da vida (KEATING et al 2002) Pode-se entatildeo

afirmar que a mentoria eacute o relacionamento entre um adulto e um jovem com o qual o mentor

estaacute comprometido Este comprometimento visa o desenvolvimento pessoal e profissional de

seu mentorado (KRAM 1985)

Atualmente os mentores naturais pais avoacutes e tios nem sempre estatildeo disponiacuteveis para

o adolescente As famiacutelias a escola e a comunidade tecircm reduzido drasticamente ao longo

dos anos a disponibilidade de adultos para acompanhar e oferecer suporte aos jovens

(DARLING et al 2002) Estas instituiccedilotildees que ao longo da histoacuteria eram as responsaacuteveis por

prover os jovens de suporte necessaacuterio e de conduccedilatildeo tecircm sofrido mudanccedilas e reduzido sua

capacidade de continuar a prover tal apoio A demanda dos grandes centros urbanos bem

como o ecircxodo rural fizeram com que o nuacutemero de adultos que serviam de liacutederes modelos e

agentes de controle social diminuiacutesse A entrada das matildees no mercado de trabalho e o

aumento das separaccedilotildees conjugais levaram os adolescentes a passar menos tempo com os

pais ficando grande parte do tempo com pares e sem a supervisatildeo de um adulto (HARRIS et

al 2002)

A disponibilidade dos adultos para com as crianccedilas tem diminuiacutedo de tal forma que

mais de 25 das crianccedilas nascem em casas com apenas um dos pais e 50 das crianccedilas

24

vivem a maior parte de sua infacircncia nesta mesma situaccedilatildeo A escassez de adultos para

suportar crianccedilas e adolescentes eacute ainda mais intensa em se tratando de comunidades carentes

(GROSSMAN TIERNEY 1998) Darling et al (2002) verificaram que em muitos casos na

ausecircncia de suporte dos mentores naturais os mentores voluntaacuterios tecircm sido alistados

A literatura aborda as funccedilotildees pertinentes a este relacionamento atraveacutes das quais o

mentor teraacute condiccedilotildees de contribuir com o crescimento de seu mentorado Tais funccedilotildees de

mentoria seratildeo abordadas na proacutexima seccedilatildeo

211 Funccedilotildees de mentoria

Satildeo as funccedilotildees desempenhadas no decorrer da relaccedilatildeo de mentoria Na mentoria

tradicional o mentorado recebe do mentor assistecircncia individual acesso a informaccedilotildees

necessaacuterias feedback encorajamento suporte de carreira e suporte emocional (MULLEN

1998) Kram (1985) agrupou diversas atividades em dois grupos de funccedilotildees desempenhadas

pelo mentor quais sejam suporte de carreira e suporte psicossocial Estas funccedilotildees satildeo

distintas mas inter-relacionadas A relaccedilatildeo de mentoria pode prover os dois tipos de suporte

ou apenas um destes a depender do niacutevel da relaccedilatildeo (RAGINS 1997) No entanto quando

ocorrem as duas funccedilotildees ou seja suporte de carreira e psicossocial a mentoria se torna mais

intensa (KRAM 1983)

Nas seguintes seccedilotildees seraacute apresentado e definido o suporte oferecido pelo mentor ao

seu mentorado tanto em termos de carreira quanto psicossocial

2111 Suporte de carreira

O suporte de carreira inclui a ajuda que o mentor daacute ao mentorado para que este se

firme na organizaccedilatildeo e conheccedila seus meandros preparando-o para a ascensatildeo Este suporte

refere-se tambeacutem agraves atividades que o mentor desenvolve no sentido de auxiliar o mentorado

25

em sua carreira profissional Kram (1985) identifica as seguintes atividades oferta de tarefas

desafiadoras coaching proteccedilatildeo exposiccedilatildeo e visibilidade positiva e patrociacutenio Tais funccedilotildees

satildeo abordadas abaixo

a) Oferta de tarefas desafiadoras

Satildeo as tarefas que o mentor atribui ao mentorado visando o desenvolvimento de

competecircncias especiacuteficas Juntamente com estas tarefas o mentor provecirc treinamento

teacutecnico capacitando-o a superar desafios O mentor tambeacutem fornece feedback ao

mentorado sobre seu desempenho A oferta de tarefas desafiadoras prepara o

mentorado para posiccedilotildees de maior responsabilidade

b) Coaching

Ocorre quando o mentor tal qual um teacutecnico transmite conhecimento ao mentorado

sobre como ldquonavegarrdquo no mundo dos negoacutecios O mentor sugere estrateacutegias e

transmite informaccedilotildees ao mentorado Chao et al (1992) defendem que o coach

preocupa-se apenas com a tarefa e as informaccedilotildees necessaacuterias para sua realizaccedilatildeo natildeo

desenvolvendo o interesse para com a carreira do jovem aprendiz Entretanto como

observam Azevedo e Dias (2002) o mentor em algumas ocasiotildees realiza o coaching

por exemplo quando orienta o mentorado com respeito ao desenvolvimento de

habilidades especiacuteficas para o cumprimento de determinada tarefa

c) Proteccedilatildeo

Ocorre quando o mentor se coloca na posiccedilatildeo de um escudo protegendo seu

mentorado O mentor pode assumir determinadas falhas de seu mentorado ou natildeo

permitir que elas se tornem conhecidas A proteccedilatildeo tende a ocorrer com mais

frequumlecircncia quando o mentorado ainda natildeo apresenta resultados dignos de exposiccedilatildeo

Klaw et al (2003) afirmam que o mentor pode inclusive advogar em nome de seus

mentorados adolescentes

26

d) Exposiccedilatildeo e visibilidade positiva

Ocorre quando o mentor daacute ao mentorado condiccedilotildees de demonstrar seu potencial agraves

pessoas de mais alto niacutevel facilitando futuras promoccedilotildees O mentor expotildee

positivamente o mentorado

e) Patrociacutenio

O patrociacutenio acontece quando o mentor indica formal ou informalmente o mentorado

para promoccedilatildeo Ele viabiliza a ascensatildeo de seu mentorado atraveacutes desta indicaccedilatildeo ou

quando propicia os recursos necessaacuterios para o desenvolvimento profissional de seu

mentorado

Estas satildeo as atividades que o mentor desempenha no sentido de viabilizar o

desenvolvimento profissional do mentorado Seguem abaixo as funccedilotildees psicossociais atraveacutes

das quais o mentor desenvolve atividades que contribuem com o crescimento pessoal de seu

protegido

2112 Suporte psicossocial

As funccedilotildees de suporte psicossocial estatildeo mais associadas ao desenvolvimento pessoal

do mentorado do que propriamente ao seu desenvolvimento profissional O suporte

psicossocial afeta a relaccedilatildeo do mentorado consigo mesmo e com as pessoas com as quais se

relaciona O desenvolvimento desta funccedilatildeo iraacute depender da confianccedila existente na relaccedilatildeo De

acordo com Kram (1985) o apoio psicossocial diz respeito ao suporte psicoloacutegico e social que

o mentor daacute ao mentorado As atividades que compotildeem este suporte satildeo amizade aceitaccedilatildeo e

confirmaccedilatildeo aconselhamento e modelagem de papeis Tais atividades satildeo expostas a seguir

a) Amizade

Ocorre quando a relaccedilatildeo de mentoria daacute ao mentorado a sensaccedilatildeo de bem estar de

ligaccedilatildeo e de ser compreendido por seu mentor O coleguismo facilita ao mentorado

27

desenvolver relacionamento com pessoas de niacutevel mais elevado do que ele Esta

amizade contribui tambeacutem para o aumento da autoconfianccedila do mentorado

b) Aceitaccedilatildeo e confirmaccedilatildeo

A aceitaccedilatildeo por parte do mentor faz com que o mentorado se sinta seguro inclusive

para assumir riscos e aceitar desafios

Dados qualitativos de estudos feitos por Style e Morrow (1992) demonstraram que

relacionamentos voltados para juventude satildeo mais eficazes quando o adulto pode

compreender as dificuldades enfrentadas por seus mentorados bem como respeitar e

aceitar sua famiacutelia classe social e cultura

c) Aconselhamento

Ocorre quando o mentorado ao falar de suas duacutevidas medos e ansiedades tem no

mentor um conselheiro algueacutem que o escuta e lhe daacute feedback Ao desempenhar esta

funccedilatildeo o mentor pode se valer de suas proacuteprias experiecircncias e dilemas enfrentados no

iniacutecio de sua carreira

d) Modelagem de papeacuteis

A modelagem ocorre quando o mentorado vecirc em seu mentor sua proacutepria imagem

idealizada Neste caso os comportamentos os valores e as atitudes do mentor satildeo

exemplos a serem seguidos A partir desta identificaccedilatildeo o mentorado passa a admirar

respeitar e imitar seu mentor Scandura (1992) considera que o fato de o mentor ser

um modelo para o mentorado estaria em uma terceira funccedilatildeo da mentoria distinta de

suporte psicossocial No entanto para efeito deste trabalho tal fator seraacute considerado

como pertinente ao suporte psicossocial uma vez que se tomou por base o modelo

proposto por Kram (1985) O mentorado pode ver seu mentor como representante do

seu proacuteprio futuro (RAGINS 1997) No caso de jovens e adolescentes os adultos satildeo

vistos como ideais com quem aqueles aprenderatildeo determinados comportamentos de

28

quem iratildeo receber colaboraccedilotildees sobre carreiras potenciais e com quem iratildeo

desenvolver habilidades especiacuteficas (RHODES et al 2002) Com relaccedilatildeo agraves

implicaccedilotildees deste aprendizado Hartmam e Harris (1992) encontraram que estudantes

modelam seu estilo de gerenciamento baseados no estilo de lideranccedila da pessoa que

admiravam quando mais novos Por sua vez Zacharatos et al (2000) em um estudo

sobre lideranccedila transformacional observaram que o desenvolvimento dos

comportamentos de lideranccedila se daacute na adolescecircncia e que comportamentos aprendidos

nesta fase tendem a ser estaacuteveis Finalmente Krosnick e Alwin (1989) defendem que

assim como os comportamentos as atitudes adquiridas durante a adolescecircncia tendem

a permanecer na vida adulta

Especificamente em se tratando de mentoria voltada para jovens e adolescentes Klaw

et al (2003) observaram as implicaccedilotildees e possibilidades de mudanccedila de comportamento do

mentorado ao se ter no mentor um modelo

os mentores podem servir como exemplos concretos de realizaccedilatildeo educacional e ocupacional demonstrando as qualidades que os adolescentes podem desejar imitar O adolescente pode adotar comportamentos novos observando e comparando seu proacuteprio desempenho ao de seu mentor (p225)

Nesta seccedilatildeo foram apresentadas as funccedilotildees de mentoria ou seja suporte de carreira e

suporte psicossocial Na sequumlecircncia seratildeo abordadas as fases pelas quais o relacionamento se

desenvolve ateacute chegar agrave redefiniccedilatildeo

212 Fases da relaccedilatildeo mentoria

Dando continuidade agraves caracteriacutesticas da relaccedilatildeo de mentoria seratildeo abordadas as fases

pertinentes a esse relacionamento Vale salientar que a relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas e

adolescentes de risco podem ou natildeo apresentar estaacutegios semelhantes agrave mentoria desenvolvida

no acircmbito da organizaccedilatildeo (RHODES et al 2002)

29

Da perspectiva organizacional Kram (1983) sugere que a mentoria ocorre geralmente

em quatro fases distintas mas natildeo riacutegidas Satildeo elas

bull Iniciaccedilatildeo - esta fase ocorre no inicio da relaccedilatildeo na qual o mentor eacute admirado e

respeitado pelo mentorado O mentor reconhece o mentorado como algueacutem com

potencial e com quem iraacute desenvolver um trabalho agradaacutevel O mentorado

tambeacutem eacute visto pelo mentor como algueacutem que lhe proveraacute assistecircncia teacutecnica e que

seraacute beneficiado com seus conselhos uma vez que o mentor tem mais experiecircncia

de vida Estas fantasias iniciais seratildeo responsaacuteveis por orientar as expectativas

presentes na relaccedilatildeo de mentoria

bull Cultivo - nesta fase as expectativas surgidas no iniacutecio da relaccedilatildeo iratildeo defrontar-se

com a realidade do contato O mentor proveraacute o mentorado com as funccedilotildees de

carreira e psicossociais Kram (1983) salienta que o suporte de carreira vai

depender das tarefas e da experiecircncia do mentor No entanto o suporte

psicossocial estaacute mais fortemente relacionado agrave confianccedila e agrave mutualidade que

houver na relaccedilatildeo Eacute nesta fase de cultivo que as funccedilotildees da mentoria seratildeo

plenamente desenvolvidas

bull Separaccedilatildeo - ocorre quando a natureza do relacionamento eacute alterada por mudanccedilas

no contexto social ou organizacional Este periacuteodo eacute marcado por ansiedade em

que o mentorado sente necessidade de autonomia e independecircncia A separaccedilatildeo

ocorre estruturalmente e psicologicamente e a mentoria deixa de ocupar lugar de

destaque na vida de ambos mentor e mentorado

bull Redefiniccedilatildeo - a ansiedade da separaccedilatildeo eacute superada e o relacionamento eacute

resignificado ou termina Nesta fase a mentoria pode se tornar apenas um

relacionamento de amizade com encontros esporaacutedicos e informais e o mentor

30

pode ainda oferecer algum tipo de apoio mas de forma mais distante e sem a

frequumlecircncia de outrora

Abordadas algumas caracteriacutesticas da mentoria tais como suas funccedilotildees e fases

seguem-se os tipos de mentoria visando enriquecer a compreensatildeo de como se daacute esta

relaccedilatildeo

213 Tipos de mentoria

A relaccedilatildeo de mentoria conforme abordado anteriormente eacute algo que emerge

naturalmente entre uma pessoa mais experiente e um novato A mentoria pode ser

caracterizada como uma relaccedilatildeo intrinsecamente informal No entanto devido aos benefiacutecios

alcanccedilados por esta relaccedilatildeo intenta-se reproduzi-la formalmente em uma escala mais ampla e

com maior controle Neste caso tem-se a mentoria formal uma relaccedilatildeo mais estruturada e que

busca atingir os benefiacutecios para o mentor mentorado organizaccedilatildeo e sociedade resultantes da

mentoria informal ou natural Segue abaixo uma maior explicitaccedilatildeo do que vem a ser a

mentoria informal e a formal

2131 Mentoria informal

Eacute a que nasce espontaneamente por iniciativa dos indiviacuteduos de acordo com

necessidades e interesses pessoais O mentor escolhe seu mentorado agraves vezes por ver-se nele

quando jovem O mentorado por sua vez tambeacutem escolhe para seu mentor geralmente

algueacutem a quem tem por modelo A seleccedilatildeo do mentor eacute feita frequumlentemente com base na

identificaccedilatildeo do mentorado com seu possiacutevel mentor (RAGINS 1997) Tal identificaccedilatildeo faz

com que a mentoria informal seja considerada mais poderosa do que a formal (NOE 1998)

Na mentoria informal natildeo haacute uma estruturaccedilatildeo da relaccedilatildeo e a frequumlecircncia dos encontros parte

da necessidade Este tipo de mentoria pode se estender por longos periacuteodos

31

Decorrente do sucesso obtido atraveacutes da mentoria informal esforccedilos tecircm sido

desenvolvidos para reproduzi-la formalmente conforme seraacute abordado na proacutexima seccedilatildeo

2132 Mentoria formal

A mentoria formal natildeo eacute espontacircnea como a informal Antes ocorre por iniciativa

encaminhamento e estruturaccedilatildeo da organizaccedilatildeo Sua duraccedilatildeo geralmente varia de seis meses a

um ano e a frequumlecircncia dos encontros eacute preacute-estabelecida mediante contrato firmado entre as

partes (MURRAY 2001)

Na mentoria formal a motivaccedilatildeo para ser mentor pode estar associada ao fato de o

mentor ser visto como bom cidadatildeo organizacional e ao reconhecimento que pode lhe trazer o

fato de ser mentor

Tendo sido abordado o conceito de mentoria suas funccedilotildees as fases pelas quais passa a

relaccedilatildeo e os tipos de mentoria faz-se necessaacuterio analisar alguns fatores que contribuem para o

ecircxito desta relaccedilatildeo Tais fatores seratildeo abordados nas seguintes seccedilotildees

214 Fatores relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria formal

Os programas de mentoria voltados para jovens e adolescentes por se tratarem de

programas de mentoria formal necessitam seguir alguns criteacuterios na busca de se atingir os

objetivos e os benefiacutecios desejados Como jaacute referido os programas de mentoria formal

intentam reproduzir artificialmente as caracteriacutesticas essenciais dos relacionamentos naturais

de suporte Eacute importante ressaltar no entanto que programas mal orientados podem trazer

efeitos negativos na vida do mentorado (DUBOIS et al 2002) Ragins et al (2000) consideram

que em relaccedilatildeo ao niacutevel de satisfaccedilatildeo do mentorado o relacionamento de mentoria estaria em

um continuum no qual em um extremo ficaria o relacionamento altamente satisfatoacuterio e no

outro o relacionamento nocivo ou prejudicial O relacionamento localizado no meio do

32

continuum seria considerado pelas autoras como marginal mentoring ou seja um

relacionamento de mentoria no qual o mentor seria apenas ldquobom o suficienterdquo Os fatores

relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo devem ser observados na tentativa de evitar que o

relacionamento torne-se nocivo ou ateacute mesmo destrutivo Tais fatores visam fazer com que a

relaccedilatildeo seja satisfatoacuteria e beneacutefica

Na tentativa de potencializar os benefiacutecios da mentoria faz-se necessaacuterio considerar os

seguintes fatores seleccedilatildeo de mentores e mentorados treinamento supervisatildeo e

acompanhamento do programa frequumlecircncia dos encontros e a duraccedilatildeo da relaccedilatildeo Estes fatores

relacionados com o ecircxito da relaccedilatildeo seratildeo detalhados nas seccedilotildees seguintes

2141 Seleccedilatildeo de mentores e mentorados

Visando o sucesso do relacionamento de mentoria haacute algumas recomendaccedilotildees

relevantes sobre como combinar mentor e mentorado Fatores como dados demograacuteficos raccedila

e gecircnero devem ser considerados Em se tratando de mentoria com crianccedilas e adolescentes

faz-se necessaacuterio um cuidado ainda maior na seleccedilatildeo do mentor uma vez que

comportamentos e atitudes aprendidos na infacircncia e adolescecircncia tendem a perdurar por toda

a vida

O Big Brothers Big Sisters (programa norte-americano de mentoria voltado para

crianccedilas e adolescentes com risco para delinquumlecircncia) ao fazer o recrutamento dos voluntaacuterios

para agirem como mentores faz um levantamento da vida destes para saber suas intenccedilotildees e

sua vida pregressa Em um programa de mentoria voltado para crianccedilas delinquumlentes os

mentores natildeo poderiam ter qualquer tipo de envolvimento criminal (JACKSON 2002) A

investigaccedilatildeo da vida pregressa do mentor tem o objetivo de garantir a seguranccedila do

mentorado e verificar a possibilidade de comprometimento do mesmo para com o programa

Tal investigaccedilatildeo eacute importante inclusive para assegurar que o mentor poderaacute ser um modelo

33

positivo com condiccedilotildees de influenciar beneficamente o mentorado (GROSSMAN TIERNEY

1998) Os autores sugerem que se considere tambeacutem o interesse dos pais em que a crianccedila ou

adolescente tenha um mentor uma vez que o apoio da famiacutelia eacute um fator de sucesso para o

programa Depois de feita a seleccedilatildeo deve-se fazer um treinamento e acompanhar o

desenvolvimento do relacionamento Tais fatores seratildeo observados na proacutexima seccedilatildeo

2142 Treinamento supervisatildeo e acompanhamento do programa

de mentoria

Assim como a seleccedilatildeo a supervisatildeo deve ser cuidadosa Eacute necessaacuterio fazer um

monitoramento do programa e deve-se comunicar claramente e acordar as expectativas o

tempo do relacionamento a frequumlecircncia dos encontros e os objetivos O mentor deve contar

com apoio constante da organizaccedilatildeo durante todo o programa (DUBOIS et al 2002) O

mentor deve receber treinamento e orientaccedilatildeo e deve haver uma supervisatildeo incluindo

relatoacuterios sobre os encontros (GROSSMAN TIERNEY 1998)

No programa de mentoria voltado para crianccedilas delinquumlentes pesquisado por Jackson

(2002) a supervisatildeo foi feita em trecircs niacuteveis a primeira se deu em termos de conhecimentos

na qual um psicoacutelogo cliacutenico transmitia informaccedilotildees sobre psicopatologia causas e

caracteriacutesticas da crianccedila delinquumlente bem como teacutecnicas de intervenccedilatildeo No segundo niacutevel

foram feitos encontros com o psicoacutelogo para falar acerca das dificuldades encontradas e as

possibilidades de soluccedilatildeo O terceiro e uacuteltimo niacutevel foi o da supervisatildeo que ocorreu em

grupo no qual os diversos mentores discutiram suas experiecircncias Vale ressaltar que o

programa apresentou resultados positivos na vida dos que dele participaram

Fenney et al (2000 apud RHODES et al 2002) afirmam que adultos bem sucedidos

em trabalhar como mentores de jovens satildeo os que tecircm empatia por eles recordando-se de

como eram no passado A participaccedilatildeo dos pais durante o programa de mentoria seja para

34

apoiar seus filhos seja para receber sustentaccedilatildeo tem sido relacionada positivamente ao

sucesso do programa (FRECKNALL LUKS 1992) Outro fator que leva ao ecircxito da relaccedilatildeo

de mentoria eacute a frequumlecircncia com que ocorrem os encontros fato este abordado na proacutexima

seccedilatildeo

2143 Frequumlecircncia dos encontros

Alguns estudos tecircm sido feitos com ecircxito no sentido de relacionar a frequumlecircncia dos

encontros com o sucesso da relaccedilatildeo principalmente em se tratando de mentorados

adolescentes com risco para delinquumlecircncia (KEATING et al 2002) Na mesma linha Azevedo

e Dias (2002) sugerem que a influecircncia do mentor na carreira do mentorado pode ser

diminuiacuteda quando se dispotildee de pouco tempo para a relaccedilatildeo

Keating et al (2002) defendem que a frequumlecircncia de uma ou duas vezes por mecircs eacute

insuficiente para prover suporte para jovens com risco para delinquumlecircncia fazendo com que o

relacionamento natildeo tenha ecircxito As autoras afirmam que programas para jovens e

adolescentes com risco devem ter frequumlentes contatos face-a-face para serem realmente

efetivos O encontro semanal eacute sugerido Segue na proacutexima seccedilatildeo outro fator de ecircxito para a

relaccedilatildeo de mentoria a saber a duraccedilatildeo do relacionamento entre mentor e mentorado

2144 Duraccedilatildeo da relaccedilatildeo de mentoria

A maioria dos benefiacutecios da relaccedilatildeo emerge de um relacionamento de mentoria que

perdure por um ano ou mais Ou seja os benefiacutecios estatildeo associados ao amadurecimento da

relaccedilatildeo (GROSSMAN RHODES 2002) Os autores consideram que relacionamentos curtos

estatildeo associados com efeitos negativos para a juventude de risco

Adolescentes cujo relacionamento de mentoria se estende por um ano ou mais

apresentam melhores resultados educacionais psicossociais e comportamentais Estes

35

resultados satildeo positivamente relacionados com o tempo da relaccedilatildeo Em outras palavras na

medida em que se reduz o tempo de mentoria diminui tambeacutem a apresentaccedilatildeo de resultados

positivos atribuiacutedos agrave relaccedilatildeo (GROSSMAN RHODES 2002)

Frecnall e Luks (1992) encontraram em suas pesquisas que o tempo de duraccedilatildeo da

relaccedilatildeo de mentoria tem sido um fator determinante de ecircxito 70 de resultado positivo com

crianccedilas de um a dois anos de programa e 90 com crianccedilas com dois a trecircs anos de

participaccedilatildeo em um programa de mentoria

O exposto revela a teoria vigente acerca da relaccedilatildeo de mentoria das funccedilotildees

desempenhadas na relaccedilatildeo das fases pelas quais ela passa dos tipos de mentoria

identificados bem como de alguns fatores que se observados contribuem para o sucesso da

relaccedilatildeo Faz-se entatildeo pertinente a seguinte questatildeo norteadora em uma comunidade carente

brasileira ateacute que ponto a mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes apresenta as

caracteriacutesticas definidas pela teoria

Mencionadas as caracteriacutesticas da relaccedilatildeo de mentoria abordar-se-aacute a seguir os

benefiacutecios desta relaccedilatildeo para o mentorado e para o mentor bem como seratildeo considerados

tambeacutem os benefiacutecios sociais desta relaccedilatildeo

22 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria

Satildeo muitos os benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria Zey (1998) revela que a relaccedilatildeo de

mentoria na organizaccedilatildeo pode ser extremamente beneacutefica para o mentorado para o mentor e

para a proacutepria empresa Os benefiacutecios da mentoria foram amplamente estudados no que

concerne agrave mentoria voltada para a organizaccedilatildeo No entanto pretende-se aqui estabelecer um

paralelo entre os benefiacutecios da mentoria organizacional e os da mentoria voltada para jovens e

adolescentes de risco Tais benefiacutecios foram verificados atraveacutes de pesquisas mas ainda natildeo

se apresentam sistematizados Como beneficiaacuterios diretos da relaccedilatildeo de mentoria pode-se citar

36

o mentor o mentorado e a organizaccedilatildeo Entretanto o alcance de um programa bem

estruturado pode se estender para a famiacutelia e para a sociedade

Nas seccedilotildees seguintes seratildeo apresentados os benefiacutecios da mentoria para o mentorado

para o mentor e posteriormente seratildeo abordados os benefiacutecios sociais desta relaccedilatildeo

221 Benefiacutecios da mentoria para o mentorado

O mentorado pode ser muito beneficiado atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria O mentor ao

fornecer suporte psicossocial e de carreira auxilia o mentorado em seu crescimento pessoal o

que inclui o desenvolvimento emocional o social e o de carreira Tal suporte facilita transiccedilatildeo

do adolescente para a fase adulta (RHODES et al 2002)

A literatura apresenta os seguintes benefiacutecios para o mentorado

a) Aumento da auto-estima

Grossman e Tierney (1998) verificaram que os jovens com risco para delinquumlecircncia que

foram acompanhados por mentores sentiram-se mais confiantes em suas habilidades para com

as tarefas escolares do que os jovens natildeo mentorados Harter (1982) demonstrou que se sentir

competente leva os jovens a demonstrarem melhor desempenho

O aumento da auto-estima foi verificado em adolescentes e jovens ao se relacionarem

com um mentor (FRECKNALL LUKS 1992) Alguns programas de mentoria tecircm

favorecido o aumento da auto-estima tambeacutem em crianccedilas com comportamentos

autodestrutivos (JACKSON 2002)

b) Maior interaccedilatildeo social e com a famiacutelia

Outro benefiacutecio para o mentorado decorrente do suporte que recebe na relaccedilatildeo de

mentoria eacute a atratividade social Pessoas com alto grau de suporte social satildeo vistas como mais

atrativas tecircm maior conhecimento relativo a relacionamentos sociais e satildeo menos

manipulaacuteveis do que as com baixo suporte social (SARASON et al 1985) Frecknall e Luks

37

(1992) verificaram que adolescentes assistidos por um mentor apresentaram maior

envolvimento com a famiacutelia e amigos do que os natildeo mentorados

O fato de o mentor ser um modelo de sucesso estimula ainda a melhora da

autopercepccedilatildeo bem como de atitudes e comportamentos do adolescente mentorado Haacute

evidecircncias de que a influecircncia positiva do mentor pode se estender aos relacionamentos mais

proacuteximos do adolescente operando mudanccedilas inclusive na vida daqueles que com ele

convivem (WALKER FREEMAN 1996)

c) Maior progresso da carreira e aumento da responsabilidade

Mentorados recebem mais promoccedilotildees tecircm melhor desempenho e mais satisfaccedilatildeo no

trabalho do que os natildeo mentorados (CHAO et al 1992) Os mentorados satildeo beneficiados

pois recebem melhores pagamentos dos que os que natildeo dispotildeem de um mentor (MULLEN

1998) Mentorados tecircm na mentoria uma contribuiccedilatildeo potencial para o desenvolvimento

pessoal e profissional sendo tambeacutem um meio para adentrar o mundo dos negoacutecios (KRAM

1983)

Para o mentorado jovem e adolescente o mentor fornece instruccedilatildeo e incentivo

facilitando a transiccedilatildeo da adolescecircncia para o mundo adulto (RHODES et al 2002) Os

presidentes de empresas mais bem sucedidos afirmaram que para tal tiveram a influecircncia de

mentores em sua vida profissional (FAGENSON 1989) Liacutederes mais competentes e

solucionadores de problemas satildeo pessoas consideradas com alto suporte social (SARASON et

al 1986)

O mentorado apresenta maior crescimento profissional e melhor desenvolvimento da

carreira (ZEY 1998) Mentorados tecircm maior satisfaccedilatildeo com a carreira do que os que natildeo

possuem mentor (FAGENSON 1989) Pessoas com alto suporte psicossocial satildeo mais

extrovertidas e apresentam menos comportamentos neuroacuteticos hostilidade solidatildeo e

depressatildeo (COYNE 1978 apud SARASON et al 1986)

38

Outro beneficio para o mentorado diz respeito agrave definiccedilatildeo da identidade profissional e

senso de competecircncia (KRAM ISABELLA 1985) Especificamente com relaccedilatildeo a mentoria

voltada para adolescentes estes apresentaram melhor rendimento escolar e aumento da

responsabilidade (FRECKNALL LUKS 1992)

Grossman e Tierney (1998) ao avaliarem o impacto do Programa Big Brother Big

Sister natildeo haviam sido otimistas em acreditar que o programa aumentasse o rendimento

escolar dos alunos participantes pois conforme verificado em pesquisas anteriores o

aproveitamento escolar e a obtenccedilatildeo de graus dependem de um acompanhamento estaacutevel e

geralmente natildeo satildeo afetadas por uma relaccedilatildeo de mentoria que natildeo tenha foco educacional

Entretanto apesar de o programa Big Brother Big Sister natildeo fornecer diretamente apoio

escolar o rendimento escolar dos mentorados mostrou-se superior As ausecircncias ou faltas agrave

escola foram reduzidas Os autores consideraram que tal fato foi consequumlecircncia de os

mentores (todos acadecircmicos) serem tidos como exemplos valorizarem os estudos e

transmitirem uma visatildeo otimista de futuro para seus mentorados

d) Melhor enfrentamento das adversidades visatildeo otimista da vida e perspectivas

positivas de futuro

Jovens com alto suporte social satildeo mais otimistas quanto ao futuro uma vez que

mentores os auxiliam em relaccedilatildeo agraves suas perspectivas (HARRIS et al 2002 KASHANI et al

1989) Indiviacuteduos com alto suporte social aleacutem de mais atrativos e mais haacutebeis socialmente

satildeo mais otimistas quanto aos eventos da vida do que os que manifestam ter baixo suporte

social (SARASON et al 1985)

Pessoas com baixo suporte social satildeo mais retraiacutedas desatentas tecircm menos esperanccedila

quanto ao futuro e satildeo mais prejudiciais aos outros do que as que tecircm alto niacutevel de suporte

social (KASHANI et al 1989) O sucesso dos adolescentes que superaram momentos de

39

adversidades inclui frequumlentemente a presenccedila de pelo menos um mentor que lhe proveu tal

suporte (RHODES et al 2002)

Benefiacutecios tambeacutem satildeo apresentados em se tratando de jovens com risco para

delinquumlecircncia Nestes o desenvolvimento pessoal pode ser percebido frequumlentemente quando o

mentor eacute um modelo positivo para o mentorado Este fato auxilia na reduccedilatildeo do estresse

diaacuterio e provecirc condiccedilotildees de o mentorado rever sua percepccedilatildeo acerca de seus relacionamentos

mudando de uma visatildeo negativa destes para uma positiva (MAIN et al 1985 apud

GROSSMAN RHODES 2002)

Eacute particularmente importante a influecircncia positiva que o mentor oferece ao mentorado

na reduccedilatildeo do estresse diaacuterio Sendo um modelo de resoluccedilatildeo de conflitos o mentor auxilia

indiretamente na diminuiccedilatildeo do estresse familiar melhorando ateacute mesmo a interaccedilatildeo do

mentorado com seus proacuteximos Segundo os autores o relacionamento de mentoria pode ter

ainda um efeito corretivo para adolescentes que tiveram experiecircncias negativas no

relacionamento com os pais

Conforme visto pesquisas anteriores demonstraram que o mentorado pode ser muito

beneficiado atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria Cabe aqui portanto a segunda questatildeo norteadora

deste trabalho em um contexto brasileiro ateacute que ponto os mentorados carentes estudados

tecircm desfrutado dos benefiacutecios da mentoria apontados pela literatura

Considerados os benefiacutecios da mentoria para o mentorado cabe expor a forma pela

qual a mentoria beneficia o mentor fato abordado na seccedilatildeo seguinte

222 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentor

A mentoria pode proporcionar ao mentor diversos benefiacutecios Os mentores podem ter

no mentorado uma versatildeo de si proacuteprios quando mais jovens como se o mentorado fosse

representante de seu passado (RAGINS 1997) De acordo com a literatura os mentores

40

podem ser beneficiados com esta relaccedilatildeo atraveacutes da realizaccedilatildeo pessoal da motivaccedilatildeo e do

reconhecimento Segue-se a explanaccedilatildeo de tais fatores

a) Realizaccedilatildeo pessoal

O fato de ser mentor daacute ao indiviacuteduo um senso de generosidade ao contribuir com as

geraccedilotildees futuras Satisfaccedilatildeo interna e reconhecimento organizacional lealdade do mentorado

apreciaccedilatildeo do grupo renovaccedilatildeo da carreira e melhor performance no trabalho satildeo benefiacutecios

da mentoria para o mentor Mentores podem obter mais conhecimento empatia e capacidade

de se relacionar com outros grupos do que aqueles que natildeo satildeo mentores (RAGINS 1997)

Em se tratando de mentores de jovens e adolescentes com risco para delinquumlecircncia

Shields (2001) verificou que a mentoria propiciou ao mentor um sentimento de recompensa

ao observar as mudanccedilas positivas ocorridas no comportamento de seus mentorados Jackson

(2002) observou em seu estudo que mentores de adolescentes delinquumlentes relataram como

sendo gratificante o fato de terem atraveacutes da mentoria uma oportunidade de ajudar estas

pessoas

b) Motivaccedilatildeo

O mentor pode redirecionar sua energia para a criatividade e a accedilatildeo produtiva num

periacuteodo que dependendo do indiviacuteduo pode ser entendido como de estagnaccedilatildeo Neste caso a

mentoria pode significar estiacutemulo e desafio (ZEY 1998)

c) Reconhecimento

Mentores podem ter a confianccedila e serem amados por seus mentorados (KLAW et al

2003) Ganham suporte teacutecnico e psicoloacutegico e satisfaccedilatildeo interna ao fazer com que um novato

seja capaz de ldquonavegarrdquo no mundo dos negoacutecios Os mentores ganham respeito de seus

colegas ao desenvolver um jovem talento para organizaccedilatildeo (KRAM ISABELLA 1985)

41

Assim a terceira questatildeo norteadora deste trabalho eacute ateacute que ponto um projeto de

mentoria voltado para crianccedilas e adolescentes carentes no Recife oferece os benefiacutecios de

realizaccedilatildeo pessoal motivaccedilatildeo e reconhecimento para os mentores

Considerados os benefiacutecios da mentoria para o mentorado e para o mentor seratildeo

abordados na proacutexima seccedilatildeo os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes desta relaccedilatildeo

223 Benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria

Em se tratando de mentoria voltada para crianccedilas jovens e adolescentes com risco

para delinquumlecircncia aleacutem dos benefiacutecios na vida dos que participam diretamente da relaccedilatildeo a

sociedade tambeacutem pode ser positivamente afetada

Frecknall e Luks (1992) investigaram a avaliaccedilatildeo dos pais acerca do aproveitamento

de seus filhos inseridos em um programa de mentoria voltado para jovens com risco para

delinquumlecircncia Com relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo de 63 dos pais os filhos apresentaram uma grande

melhora em toacutepicos como rendimento escolar comportamento com a famiacutelia

comportamento com os amigos aumento da auto-estima aumento da responsabilidade e

diminuiccedilatildeo de envolvimento em situaccedilotildees problema Paralelamente ao beneficio alcanccedilado

por um adolescente e por sua famiacutelia haacute uma contribuiccedilatildeo indireta para a sociedade na

medida em que diminuem os iacutendices de delinquumlecircncia e de evasatildeo escolar Indiretamente haacute

tambeacutem a reduccedilatildeo da possibilidade de assistencialismo o aumento do iacutendice de alfabetizaccedilatildeo

e o crescimento do IDH (Iacutendice de Desenvolvimento Humano) Com frequumlecircncia aumenta

ainda a mobilidade social e a possibilidade de contribuiccedilatildeo social direta destas crianccedilas

adolescentes e jovens

A teoria aponta a reduccedilatildeo da dependecircncia de poliacuteticas assistencialistas e a diminuiccedilatildeo

da delinquumlecircncia como benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria fatores que seratildeo abordados a

seguir

42

a) Reduccedilatildeo futura da dependecircncia de poliacuteticas assistencialistas

Patterson et al (1989) esclarecem que a expressatildeo ldquosituaccedilatildeo de riscordquo eacute usada

geralmente para descrever

jovens que demonstram problemas comportamentais e emocionais que tecircm dificuldade em desenvolver-se com sucesso Quando adultos estes apresentam alta incidecircncia em desemprego crocircnico divoacutercio problemas fiacutesicos e psiquiaacutetricos envolvimento com drogas tornam-se dependentes de assistecircncia social podendo ainda envolver-se em atividades criminosas (p329) Grifo da pesquisadora

Adolescentes com altas expectativas educacionais de futuro (muitas vezes providas

por um mentor) desenvolvem bons haacutebitos de estudo pensam em fazer curso universitaacuterio e

buscam se envolver em atividades intelectuais extracurriculares Em contrapartida os que

deteacutem baixa expectativa apresentam maior probabilidade de desenvolver comportamentos de

risco (HARRIS et al 2002) Jovens em situaccedilatildeo de risco entre outros fatores satildeo propensos a

depender no futuro de poliacuteticas assistencialistas

b) Diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia

Jovens e adolescentes em situaccedilatildeo de risco satildeo candidatos potenciais a programas de

mentoria Estes podem ser usados como prevenccedilatildeo contra a delinquumlecircncia particularmente na

ausecircncia de adultos que representem figuras positivas ou modelos O mentor pode claramente

desempenhar este papel (RHODES et al 1994)

O risco para delinquumlecircncia natildeo eacute uma questatildeo que dependa apenas de um fator Antes eacute

um conjunto de variaacuteveis que levam o adolescente a apresentar comportamentos delinquumlentes

Ellickson e Mcguigan (2000) ao investigarem os riscos para violecircncia em adolescentes

verificaram que no caso das meninas adolescentes fatores de risco incluem a baixa auto-

estima poucos anos de estudo e baixo niacutevel soacutecio-econocircmico Estes fatores podem ser

revertidos atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria Dornbusch et al (1985) verificaram que

adolescentes que convivem com apenas um dos pais apresentam maior probabilidade de se

43

envolver em comportamentos delinquumlentes e violentos do que os que vivem com ambos os

pais Uma afirmaccedilatildeo destoante eacute a de Larson et al (2001) Eles defendem que crianccedilas e

adolescentes que convivem com apenas um dos pais podem se adaptar bem a esta situaccedilatildeo

natildeo sendo o fato de conviver com apenas um dos pais determinante da delinquumlecircncia Natildeo

obstante essa natildeo eacute a tendecircncia das evidecircncias disponiacuteveis

Caffray e Schneider (2000) por exemplo ao pesquisarem sobre as motivaccedilotildees que

levam o adolescente aos comportamentos de risco citam como influecircncias importantes

sentimentos negativos sobre o relacionamento com os pais pouca comunicaccedilatildeo em casa

baixa coesatildeo familiar reduzido desempenho escolar e baixo suporte social Fatores familiares

estressantes como desemprego violecircncia domeacutestica discoacuterdia entre os pais e divoacutercio estatildeo

positivamente associados com a delinquumlecircncia (FARRINGTON 1987 apud PATTERSON et

al 1989) bem como poucos anos de estudo (DIAS 2003)

De modo geral a literatura sugere que em ambientes de risco jovens que dispotildeem de

suporte atraveacutes de relacionamentos com adultos podem diminuir os efeitos negativos das

adversidades sobre seu desenvolvimento (RHODES et al 1994) A tiacutetulo de exemplo

Jackson (2002) verificou que crianccedilas delinquumlentes ao serem assistidas por um mentor

diminuiacuteram a frequumlecircncia de comportamentos agressivos e de problemas de conduta

DuBois et al (2002) fizeram uma meta-anaacutelise acerca de 55 avaliaccedilotildees dos efeitos de

programas de mentoria voltados para juventude norte-americana Ficou aiacute evidenciado que os

participantes se beneficiam muito com a participaccedilatildeo em tais programas Os programas

diferem em seu conteuacutedo mas a maioria tem como foco a juventude de risco Haacute tambeacutem

programas destinados a filhos que vivem com apenas um dos pais e a minorias eacutetnicas

Quanto aos objetivos os programas avaliados buscavam o desenvolvimento na aacuterea

emocional comportamental educacional e em alguns casos o desenvolvimento profissional

dos mentorados

44

Um exemplo deste tipo de programa pode ser visto em Nova Iorque nos EUA e em

parte do Canadaacute Trata-se de um programa criado em 1904 o Big Brothers Big Sisters of

Ameacuterica (BBBS) que provecirc relacionamento de mentoria para crianccedilas de risco que vivem

com apenas um dos pais O programa eacute voltado para populaccedilatildeo menos favorecida que

apresenta problemas como delinquumlecircncia baixo aproveitamento escolar e baixa auto-estima

(FRECNALL LUKS 1992)

O BBBS emparelha adultos voluntaacuterios (Big Brothers Big Sisters) com crianccedilas e

adolescentes de 6 a 18 anos (Litle Brothers Litle Sisters) Os mentores modelos positivos

devem prover amizade aconselhamento e servir de guia para os mentorados Os encontros satildeo

feitos de duas a quatro vezes por mecircs Cada encontro dura em meacutedia de trecircs a quatro horas

Grossman e Tierney (1998) ao avaliarem o impacto do Big Brothers Big Sisters

levantaram soacutelidas evidecircncias de que a mentoria neste programa teve efeitos positivos e

socialmente importantes na vida dos jovens participantes Os autores compararam dois

grupos homogecircneos um de jovens participantes do programa e um outro de natildeo-participantes

Pocircde-se concluir que com relaccedilatildeo aos comportamentos anti-sociais nos jovens que tinham

mentor a frequumlecircncia de comportamentos agressivos para com outros jovens apresentou

frequumlecircncia 32 menor do que no grupo que natildeo foi assistido pelo programa A probabilidade

de iniciar o uso de drogas foi reduzida em 70 para os jovens que participaram do programa

em relaccedilatildeo aos natildeo participantes

Jackson (2002) tambeacutem realizou um estudo sobre mentoria voltada para adolescentes

delinquumlentes que teve oito meses de duraccedilatildeo Os adolescentes corriam risco de suspensatildeo ou

expulsatildeo da escola em que estudavam devido agrave infraccedilatildeo das normas Dos alunos mentorados

menos de 1 continuou a apresentar problemas de comportamento que comprometiam sua

permanecircncia na escola Os demais no entanto nos uacuteltimos trecircs meses de programa

apresentaram uma reduccedilatildeo meacutedia de 80 nos comportamentos infratores

45

Considerando todo o exposto pode-se afirmar que a mentoria tem se mostrado um

valioso recurso no auxiacutelio educacional de jovens e adolescentes Claramente as experiecircncias

de programas de mentoria com jovens de risco tecircm apresentado resultados positivos A

literatura apresentou alguns benefiacutecios sociais desta relaccedilatildeo em diversos contextos sendo

pertinente a verificaccedilatildeo da influecircncia desta relaccedilatildeo num contexto brasileiro Destaca-se entatildeo

a quarta questatildeo norteadora desta pesquisa quais os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da

relaccedilatildeo de mentoria na vida de crianccedilas e adolescentes de uma comunidade carente do Recife

Foi abordada neste capiacutetulo a literatura acerca da mentoria o conceito o suporte de

carreira e psicossocial oferecido pelo mentor as fases da relaccedilatildeo os fatores responsaacuteveis pelo

ecircxito da mentoria e os benefiacutecios da relaccedilatildeo Segue no capiacutetulo trecircs a metodologia deste

estudo que iraacute expor a forma como foi realizada a pesquisa

46

3 Metodologia

31 Delineamento da pesquisa

A presente pesquisa eacute um estudo de caso definido por Gil (1996) como ldquoestudo

profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos que permite seu amplo e detalhado

conhecimentordquo (p58) O estudo de caso segundo Laville e Dione (1999) pode ser feito com

uma pessoa um grupo uma comunidade um meio uma mudanccedila poliacutetica ou um conflito

A escolha deste tipo de delineamento de pesquisa deu-se devido agrave possibilidade de

avaliar as diversas dimensotildees do problema analisando-o como um todo Em se tratando de

estudo de caso a metodologia requer flexibilidade e portanto natildeo se tem uma estrutura riacutegida

quanto aos passos a seguir Laville e Dione (1999) afirmam que

o pesquisador pode pois mostrar-se mais criativo mais imaginativo tem mais tempo de adaptar seus instrumentos modificar sua abordagem para explorar elementos imprevistos precisar alguns detalhes e construir uma compreensatildeo do caso que leve em conta tudo isso pois ele natildeo mais estaacute atrelado a um protocolo de pesquisa que deveria permanecer o mais imutaacutevel possiacutevel (p156)

Utilizando o modelo proposto por Gil (1996) foram consideradas trecircs fases distintas

no delineamento do estudo delimitaccedilatildeo da unidade-caso coleta de dados anaacutelise e

interpretaccedilatildeo dos dados O estudo de caso se caracteriza como exploratoacuterio-descritivo O

objetivo do estudo exploratoacuterio segundo Selltiz et al (1974) eacute tornar o fenocircmeno conhecido

ou obter uma nova compreensatildeo deste Embora a relaccedilatildeo de mentoria seja um fenocircmeno

conhecido e estudado em outros paises no Brasil pouco se sabe como se daacute efetivamente esta

relaccedilatildeo Em se tratando de mentoria com crianccedilas e adolescentes brasileiros o conhecimento

47

eacute ainda mais escasso Por este motivo o presente estudo eacute exploratoacuterio buscou conhecer

como ocorre a relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas e adolescentes num contexto brasileiro mais

especificamente nordestino Ainda como objetivo de um estudo exploratoacuterio pode-se chegar a

novos conhecimentos sobre o objeto de estudo e a partir dele novos questionamentos e

hipoacuteteses podem emergir tal como abordado por Selltiz et al (1974) O estudo foi descritivo

pois se propocircs a descrever qualitativamente o fenocircmeno estudado (LAKATOS MARCONI

1995) A descriccedilatildeo do programa de reforccedilo foi feita com base na anaacutelise documental nas

notas de campo e nas entrevistas

A coleta de dados foi realizada sob o arcabouccedilo da metodologia qualitativa Tal coleta

deu-se em duas fases que seratildeo expostas nas seccedilotildees seguintes

32 Primeira fase da coleta de dados

A primeira fase da coleta de dados foi realizada na comunidade atraveacutes de um

primeiro contato com algumas matildees de alunos participantes do projeto Esta fase relacionou-

se com uma sondagem do campo para verificar a possibilidade da efetivaccedilatildeo ou natildeo da

pesquisa

321 Objetivo

Como uma primeira fase de coleta foi feita uma sondagem do programa com o intuito

de perceber se havia relaccedilatildeo de mentoria no projeto e caso houvesse quais as funccedilotildees

existentes nesta relaccedilatildeo

48

322 Instrumentos de coleta de dados

Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram a entrevista semi-estruturada

a observaccedilatildeo e as notas de campo conforme se segue

bull Entrevistas semi-estruturadas

A entrevista ldquo natildeo significa uma conversa despretensiosa e neutra uma vez que se

insere como meio de coleta de fatos relatados pelos autores enquanto sujeito-objeto da

pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que estaacute sendo focalizadardquo (NETO 1997

p57) Segundo Laville e Dione (1999) a entrevista semi-estruturada eacute ldquouma seacuterie de

perguntas abertas feitas verbalmente em uma ordem prevista mas na qual o entrevistador

pode acrescentar perguntas de esclarecimentordquo (p188)

Atraveacutes da situaccedilatildeo de interaccedilatildeo que eacute a entrevista buscou-se chegar ao conhecimento

proacuteprio dos sujeitos pesquisados As entrevistas foram semi-estruturadas com perguntas

abertas Minayo (1998) afirma que neste tipo de entrevista ldquoo entrevistado tem a possibilidade

de discorrer o tema proposto sem respostas ou condiccedilotildees preacute-fixadas pelo pesquisadorrdquo

(p108) A teacutecnica de entrevista foi complementada com a praacutetica da observaccedilatildeo fornecendo

assim uma visatildeo mais ampla do objeto em estudo conforme sugere Minayo (1998)

A entrevista conteve os seguintes temas

a) Significado de sucesso escolar

b) Fatores responsaacuteveis pelo ecircxito nos estudos

c) Significado do projeto Educaccedilatildeo eacute Vida na vida da famiacutelia

A entrevista foi realizada com cinco matildees que tinham filhos participando do projeto

A escolha das matildees foi feita por acessibilidade na qual o pesquisador seleciona os

casos a que tem acesso admitindo que estes representam o universo Este tipo de amostragem

49

pode ser aplicado em estudos exploratoacuterios e qualitativos conforme sugere Gil (1999) Foi

levantada a quantidade de pais responsaacuteveis pelas crianccedilas e adolescentes do programa que

natildeo trabalhassem fora de casa ou que o fizessem proacuteximo agrave comunidade e que pudessem

responder agrave entrevista O coordenador do projeto indicou 14 matildees que atendiam a este

requisito De posse dos nomes foi realizado um sorteio e das sorteadas duas natildeo estavam

disponiacuteveis A entrevista foi realizada com cinco matildees Colheram-se alguns dados

demograacuteficos acerca da matildee (ocupaccedilatildeo grau de instruccedilatildeo e situaccedilatildeo conjugal) e da crianccedila

participante do projeto (sexo idade seacuterie e tempo de projeto)

bull Observaccedilatildeo participante ndash feita na comunidade e no programa

Schwartz e Schwartz (1955) definem observaccedilatildeo participante como

um processo pelo qual manteacutem-se a presenccedila do observador numa situaccedilatildeo social com a finalidade de realizar uma investigaccedilatildeo cientiacutefica O observador estaacute em relaccedilatildeo face a face com os observados e ao participar da vida deles no seu cenaacuterio cultural colhe dados Assim o observador eacute parte do contexto sob observaccedilatildeo ao mesmo tempo modificando e sendo modificado por este contexto (p355 apud MINAYO 1998)

Em se tratando de suporte social para crianccedilas Frey e Rothlisberger (1996) sugerem a

observaccedilatildeo direta dos comportamentos o que neste caso pressupotildee a necessidade de

inserccedilatildeo do pesquisador na comunidade e no programa

No caso desta pesquisa a pesquisadora foi tida como observadora A observaccedilatildeo foi

feita atraveacutes durante algumas visitas da pesquisadora agrave comunidade e ao projeto

Nestas pode-se observar as crianccedilas assistidas pelo projeto bem como suas famiacutelias

uma vez que as entrevistas foram realizadas nas casas dos alunos pesquisados

bull Notas de campo

Referem-se agraves observaccedilotildees feitas no campo contendo a descriccedilatildeo das pessoas objetos

lugares fatos atividades e conversas Incluem a anotaccedilatildeo dos sentimentos

50

impressotildees ideacuteias e estrateacutegias que ocorreram agrave pesquisadora durante a observaccedilatildeo

Segundo Bogdan e Biklen (1994) as notas de campo satildeo ldquoo relato escrito daquilo que

o investigador ouve vecirc experencia e pensa no decurso da coleta e refletindo sobre os

dados de um estudo qualitativordquo (p150) Sendo assim as notas de campo tecircm

conteuacutedo tanto descritivo quanto reflexivo

A partir das entrevistas da observaccedilatildeo e das notas de campo pocircde-se verificar que

havia relaccedilatildeo de mentoria no projeto e percebeu-se a existecircncia das funccedilotildees da mentoria tanto

de suporte psicossocial como de carreira Tal fato incentivou a continuidade do estudo uma

vez que a relaccedilatildeo de mentoria se mostrou presente A partir daiacute fez-se necessaacuterio uma segunda

fase de coleta de dados que seraacute exposta a seguir

33 Segunda fase de coleta de dados

331 Objetivos

Tendo sido confirmada a existecircncia da relaccedilatildeo de mentoria no projeto de reforccedilo

buscou-se colher dados capazes de responder agrave seguinte pergunta de pesquisa como se daacute a

mentoria voltada para a educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes em uma comunidade carente do

Recife

332 Instrumentos de coleta de dados

Buscando investigar as especificidades (funccedilotildees fases e fatores de ecircxito) da relaccedilatildeo

de mentoria existentes no projeto e para se conhecer os benefiacutecios desta relaccedilatildeo na vida do

mentor do mentorado e da comunidade foram utilizados os seguintes instrumentos de coleta

51

de dados entrevista documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo observaccedilatildeo participante e notas de campo

Tais instrumentos satildeo considerados a seguir

bull Entrevista semi-estruturada - abordada na primeira fase de coleta de dados

Inicialmente a entrevista foi realizada com o coordenador do projeto buscando

conhecer a histoacuteria deste projeto e sua relaccedilatildeo com ele Posteriormente foram

entrevistadas nove matildees e uma avoacute que satildeo as pessoas responsaacuteveis pelos alunos

selecionados e foi entrevistado tambeacutem um aluno O objetivo destas entrevistas foi

compreender qual a percepccedilatildeo da famiacutelia acerca do projeto e de seus resultados na

vida da crianccedila ou adolescente que dele participa

Foram realizadas entrevistas com os demais colaboradores uma professora

(participante do projeto e de uma escola que fornece bolsa para a comunidade) a

psicoacuteloga e uma dentista visando conhecer a participaccedilatildeo destes no projeto e sua

percepccedilatildeo acerca do mesmo

Finalmente foi realizada entrevista com a coordenadora de uma das escolas que

fornece bolsa para as crianccedilasadolescentes do projeto buscando conhecer sua

percepccedilatildeo acerca do reforccedilo e de seus resultados na vida do aluno participante

bull Observaccedilatildeo participante (abordada na primeira fase)

bull Notas de campo (abordadas anteriormente)

bull Documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo ndash a situaccedilatildeo formal em que ela se encontra contribuindo

para o conhecimento da sua histoacuteria Foram analisados o estatuto e o projeto

pedagoacutegico da instituiccedilatildeo

Abordados os instrumentos de coleta de dados segue a explanaccedilatildeo a respeito dos

sujeitos da pesquisa

52

34 Sujeitos da pesquisa

O programa atende cerca de 80 crianccedilas e adolescentes das quais foram estudadas 13

Inicialmente pretendia-se pesquisar 10 sendo 5 consideradas pelo projeto como bem

sucedidas e 5 consideradas como de natildeo ecircxito Ampliou-se o nuacutemero de casos uma vez que

uma das matildees entrevistadas tem um filho que eacute considerado pelo projeto (e por ela) como de

natildeo-ecircxito e outro que apresenta ecircxito Inicialmente seria levado em consideraccedilatildeo somente o

caso de natildeo-ecircxito mas foram analisados ambos os casos ao inveacutes de apenas o de natildeo ecircxito

buscando compreender o por quecirc de em um uacutenico ambiente atraveacutes de um mesmo projeto

crianccedilas demonstrarem resultados tatildeo diferentes A entrevista natildeo seria dirigida aos alunos

visto se tratar de crianccedilas o que exige preparo do pesquisador com este tipo de sujeito No

entanto no momento da entrevista com um dos responsaacuteveis o aluno estava presente e

contribuiu com a ela Os dados coletados foram aceitos visto se tratar de um adolescente de

17 anos o mais velho dos alunos pesquisados Uma das matildees entrevistadas tem dois filhos no

projeto e suas respostas incluiacuteam frequumlentemente os dois motivo pelo qual ambos foram

considerados ao inveacutes de apenas um O quadro abaixo revela alguns dados dos sujeitos

Nome idade seacuterie tempo de

projeto escola

Afracircnio 9 anos 4a 3 anos Particular Daniel 8 anos 1a 3 anos Particular Almir 9 anos 2a 3 anos Particular Silvia 10 anos 4a 3 anos Particular Nuacutebia 12 anos 5a 3 anos Particular Frederico 12 anos 6a 4 anos Particular Jairo 14 anos 6a 4 anos Particular Walter 17 anos 2ordmano 7 anos Puacuteblica Tito 8 anos 2a 3 anos Particular Helena 10 anos 4a 4 anos Particular Tacircnia 10 anos 4a 7 anos Puacuteblica Nestor 14 anos 1ordmano 4 anos Puacuteblica Faacutebio 12anos 6a 3 anos Puacuteblica

53

Segundo Selltiz et al (1974) no estudo exploratoacuterio natildeo se tem um nuacutemero exato de

respondentes que deveratildeo ser entrevistados Antes o pesquisador no decorrer das entrevistas

verificaraacute que em um determinado ponto as respostas comeccedilam a formar um padratildeo tornam-

se repetitivas A partir daiacute aumentar o nuacutemero de informantes eacute pouco compensador Seguem

na proacutexima seccedilatildeo os criteacuterios utilizados para selecionar os sujeitos

341 Criteacuterios de seleccedilatildeo dos sujeitos

O criteacuterio primordial para seleccedilatildeo das cinco crianccedilas foi o fato de serem consideradas

alunos(as) exemplares em termos de rendimento escolar e comportamento (alunos

considerados pelo projeto como de ecircxito) Os outros cinco foram escolhidos por natildeo

apresentarem bom rendimento escolar eou bom comportamento apesar de estarem no

reforccedilo Neste sentido o coordenador do projeto indicou quem seriam as crianccedilas que se

encaixavam nestes perfis

Selltiz et al (1974) afirmam que em um estudo exploratoacuterio

eacute importante selecionar informantes de forma a assegurar uma representaccedilatildeo de diferentes tipos de experiecircncia Sempre que haja qualquer razatildeo para acreditar que diferentes pontos de vista possam influir no conteuacutedo da observaccedilatildeo deve-se fazer um esforccedilo para incluir variaccedilatildeo de pontos de vista e tipos de experiecircncia (p65)

Ainda segundo estes autores os estudos exploratoacuterios que apresentam maior contraste

podem ser mais uacuteteis em revelar diferentes aspectos do fenocircmeno

Outro criteacuterio utilizado foi o tempo de inserccedilatildeo do aluno no projeto O tempo miacutenimo

foi de dois anos visto que Frecnall e Luks (1992) verificaram em suas pesquisas que o

resultado de um programa de mentoria para crianccedilas que participaram por dois a trecircs anos

obteve 90 de ecircxito A literatura sugere a existecircncia de uma relaccedilatildeo direta entre os benefiacutecios

da mentoria e o tempo da relaccedilatildeo (GROSSMAN RHODES 2002)

54

Abordados os instrumentos de coleta de dados os sujeitos da pesquisa e os criteacuterios

para seleccedilatildeo destes sujeitos Seguem na proacutexima seccedilatildeo os meacutetodos de anaacutelise destes dados

35 Meacutetodos de anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados

Em se tratando de uma pesquisa qualitativa a anaacutelise dos dados jaacute vai sendo realizada

ao longo da coleta A anaacutelise segundo Minayo (1998) tem trecircs finalidades compreender os

dados colhidos confirmar ou natildeo as hipoacuteteses ou responder agraves questotildees elaboradas

previamente e ampliar o conhecimento do fenocircmeno estabelecendo viacutenculos com o contexto

cultural no qual estaacute inserido

O tratamento dispensado agraves entrevistas foi o de anaacutelise de conteuacutedo cujo objetivo

segundo Chizzotti (1998) eacute ldquocompreender criticamente o sentido das comunicaccedilotildees seu

conteuacutedo manifesto ou latente as significaccedilotildees expliacutecitas ou ocultasrdquo (p98) Seguindo-se esta

proposta de anaacutelise o conteuacutedo das entrevistas foi categorizado do texto se extraiacuteram

categorias que de acordo com Bardin (1997) ldquosatildeo rubricas ou classes as quais reuacutenem um

grupo de elementos sob um tiacutetulo geneacuterico agrupamento esse efetuado em razatildeo dos

caracteres comuns destes elementosrdquo (p117) As categorias foram utilizadas para agrupar as

ideacuteias em torno dos conceitos As categorias foram elaboradas antes da coleta de dados

conforme proposto por Gomes (1997) Estas categorias foram levantadas a partir do

referencial teoacuterico apresentado considerando-se toacutepicos relevantes que constituem a relaccedilatildeo

de mentoria e dos benefiacutecios propostos As categorias encontradas refletiram a percepccedilatildeo dos

responsaacuteveis pelos alunos e dos professores sobre o programa e seu resultado na vida das

crianccedilas e adolescentes participantes Vale ressaltar que na medida em que foram sendo

analisados os dados foram sendo incluiacutedas novas categorias natildeo abordadas pela teoria mas

que se fizeram presentes nos discursos

55

O discurso advindo da entrevista foi decomposto conforme sugere Gomes (1997)

formando unidades de registro que podia ser uma palavra ou frase significativa dentro do

conceito que se estava investigando

Minayo (1998) propotildee o meacutetodo de anaacutelise hermenecircutico-dialeacutetico no qual a fala dos

atores deve ser contextualizada

O pesquisador tem que aclarar para si mesmo o contexto de seus entrevistados ou dos documentos a serem analisados Isso eacute importante porque o discurso expressa um saber compartilhado com outros do ponto de vista moral cultural e cognitivo (p222)

Inicialmente foi feita uma preacute-anaacutelise na qual os materiais coletados foram

organizados destacando-se os textos significativos e as categorias

Posteriormente foi feita a exploraccedilatildeo do material atraveacutes da leitura exaustiva o que

resultou no tratamento dos resultados e na sua interpretaccedilatildeo Segundo Gomes (1997) isto

significa ldquo desvendar o conteuacutedo subjacente ao que estaacute sendo manifestordquo (p 76) O autor

ressalta que a busca das informaccedilotildees estatiacutesticas deve se voltar para as ideologias as

tendecircncias e outras caracteriacutesticas dos fenocircmenos que se estaacute analisando

Realizou-se o primeiro niacutevel de interpretaccedilatildeo dos dados que segundo Minayo (1998) eacute

o das determinaccedilotildees fundamentais no qual se levam em conta a conjuntura soacutecio-econocircmica e

poliacutetica do objeto da pesquisa

O segundo niacutevel de interpretaccedilatildeo foi a observaccedilatildeo das comunicaccedilotildees individuais

condutas costumes e rituais expressos no grupo

Segundo Minayo (1998) o produto final da anaacutelise as conclusotildees a que se chega

devem ser tidos sempre como provisoacuterios e aproximativos

Acerca da generalizaccedilatildeo dos resultados Laville e Dione (1999) afirmam

56

o estudo de caso incide sobre um caso examinado em profundidade toda forma de generalizaccedilatildeo natildeo eacute por isso excluiacuteda Com efeito um pesquisador seleciona um caso na medida em que este lhe pareccedila tiacutepico representativo de outros casos As conclusotildees gerais que ele tiraraacute deveratildeo ser contudo marcadas pela prudecircncia devendo o pesquisador fazer prova de rigor e transparecircncia no momento de enunciaacute-las (p156)

Pocircde-se ao fim das anaacutelises chegar a um maior conhecimento do fenocircmeno estudado

bem como seu impacto na vida das famiacutelias e da comunidade onde estaacute inserido Segue na

proacutexima seccedilatildeo as limitaccedilotildees deste trabalho

36 Limitaccedilotildees da pesquisa

A presente pesquisa apresenta algumas limitaccedilotildees que seratildeo expostas a seguir

a) Impossibilidade de se verificar os resultados sociais

Sendo um projeto de longo prazo os benefiacutecios seratildeo evidenciados quando existirem

egressos do projeto Por outro lado o tempo que se dispotildee para esta pesquisa eacute de apenas

dois anos Procurou-se entatildeo verificar resultados de curto prazo e a partir deles fazer

inferecircncias

b) Falta de bibliografia nacional sobre o tema

Natildeo se tem pesquisa realizada em mentoria para crianccedilas e adolescentes no contexto

brasileiro limitando o arcabouccedilo teoacuterico Esta limitaccedilatildeo pode ser vista tambeacutem como uma

oportunidade na medida em que este trabalho jaacute significa um avanccedilo em termos de

contextualizar a teoria

c) Envolvimento da pesquisadora com o objeto

A aacuterea social eacute uma aacuterea de afinidade da pesquisadora e o projeto a encantou Este fato

pode ter influenciado a percepccedilatildeo e os resultados da pesquisa No entanto na busca pela

57

objetividade buscou-se separar os conteuacutedos dos sujeitos dos da pesquisadora aliando o

que os dados observados com os discursos deles advindos

d) Interrupccedilatildeo do projeto no momento das entrevistas

A pesquisa ocorreu em um momento criacutetico do projeto um momento de transiccedilatildeo A

observaccedilatildeo e a primeira fase de coleta se deram quando as atividades ainda estavam sendo

desenvolvidas No entanto no momento das entrevistas as atividades jaacute estavam

suspensas Este fato pode ter alterado a percepccedilatildeo das matildees entrevistadas pois o projeto jaacute

natildeo estava em seu cotidiano Por outro lado este fato pode ter contribuiacutedo com a

percepccedilatildeo do valor do projeto uma vez que pela ausecircncia se podia evidenciar o que este

representava na vida da famiacutelia

d) Impossibilidade de verificar com precisatildeo os fatores responsaacuteveis pelo ecircxito e natildeo-

ecircxito dos mentorados uma vez que as famiacutelias consideravam os filhos como tendo ecircxito

nos estudos

Estas foram as limitaccedilotildees percebidas nesta pesquisa

Cientes da metodologia do trabalho segue a apresentaccedilatildeo do caso e dos dados

coletados bem como sua respectiva discussatildeo

58

4 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos achados

Segue-se a apresentaccedilatildeo do caso pesquisado e posteriormente seratildeo apresentados e

discutidos os dados colhidos atraveacutes da observaccedilatildeo das entrevistas e da anaacutelise documental

No iniacutecio de cada seccedilatildeo seraacute apresentada uma questatildeo norteadora seguida da apresentaccedilatildeo e

da discussatildeo dos dados obtidos Finalmente seraacute respondida a questatildeo norteadora que iniciou

a seccedilatildeo Feito isto seraacute abordada outra questatildeo e assim sucessivamente ateacute que se responda a

todas as questotildees postas na fundamentaccedilatildeo teoacuterica

41 O caso

Nesta seccedilatildeo seraacute abordado o caso considerando-se o contexto no qual o mesmo se

insere Seraacute detalhado o surgimento do programa de reforccedilo escolar as motivaccedilotildees para tal os

objetivos as dificuldades enfrentadas os beneficiaacuterios os estaacutegios pelos quais passou e o seu

momento atual

411 O contexto do projeto Vila do Vinteacutem II

O caso pesquisado foi o programa de reforccedilo escolar chamado Educaccedilatildeo eacute Vida que

era localizado na Vila Vinteacutem II tambeacutem chamada de favela do Vinteacutem ou Vila Vinteacutem A

Vila do Vinteacutem era uma favela existente haacute mais de dez anos localizada no bairro de Casa

Forte na cidade do RecifePE

59

A Prefeitura do Recife em fevereiro de 2005 transferiu as 192 famiacutelias moradoras da

favela da Vila do Vinteacutem para o Conjunto Habitacional Casaratildeo do Cordeiro situado agrave

avenida Mauriacutecio de Nassau no bairro do Cordeiro

Esta transferecircncia faz parte de um projeto social chamado ldquoo Recife sem palafitasrdquo

Tal projeto beneficiou 720 famiacutelias que hoje residem no conjunto habitacional mas pretende

alcanccedilar 1337 famiacutelias procedentes de comunidades carentes

As quase 200 famiacutelias que faziam a Vila Vinteacutem moravam em palafitas agraves margens do

rio Capibaribe sob o viaduto Torre-Parnamirim e entre as ruas Joatildeo Tude de Melo e

Leonardo Bezerra Cavalcante As casas - barracos de madeira papelatildeo e plaacutestico - eram de

aproximadamente 12 m2 e natildeo contavam com aacutegua encanada nem esgoto e muitas natildeo tinham

sanitaacuterios

O relator especial das Naccedilotildees Unidas para habitaccedilatildeo Miloon Kothari classificou

algumas das favelas do Recife como sendo as piores do mundo ldquoAlgumas das condiccedilotildees de

moradia do Recife () estatildeo entre as piores que eu jaacute vi As pessoas natildeo podem dormir agrave

noite com aacutegua entrando nas casas ratos e baratasrdquo (Diaacuterio de Pernambuco 2004)

60

Figura 1 (4) - Foto da Vila do Vinteacutem 2002

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

Dentre as inuacutemeras dificuldades presentes nesta comunidade pode-se citar o

desemprego fator que atinge mais de 71 das famiacutelias da Vila (Diaacuterio de Pernambuco

2004) O iacutendice de desemprego como visto anteriormente estaacute diretamente relacionado agrave

escolaridade (NEacuteRY COSTA 2003) de forma que no Recife o maior iacutendice de

analfabetismo encontra-se em domiciacutelios com rendimento de ateacute um salaacuterio miacutenimo

(SECRETARIA DA POLIacuteTICA DE ASSISTEcircNCIA SOCIAL 2004) Mais especificamente

na Vila Vinteacutem mais de 60 dos moradores natildeo tecircm rendimento maior do que meio salaacuterio

miacutenimo

O contexto familiar muitas vezes eacute de agressividade como o exposto pela avoacute de uma

aluna ldquoCom a matildee de Nuacutebia eacute tudo no pau () ela vai para casa da matildee arenga com os

irmatildeos e chega toda machucadardquo (entrevista out05) Esta constataccedilatildeo eacute coerente com a

literatura fatores vivenciados pelas famiacutelias tais como o desemprego crocircnico violecircncia

61

domeacutestica e brigas entre o casal estatildeo associados com a delinquumlecircncia (FARRINGTON 1987

apud PATTERSON et al 1989) Neste ambiente estava inserido o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

O projeto situava-se agrave entrada da favela da Vila Vinteacutem II agrave rua Joatildeo Tude de Melo

nuacutemero 21 no bairro de Casa Forte

Desde a transferecircncia das famiacutelias da Vila do Vinteacutem para o Casaratildeo do Cordeiro as

atividades do projeto foram suspensas O projeto aguarda a liberaccedilatildeo de um terreno no

referido conjunto conforme jaacute acordado entre o projeto e a Prefeitura do Recife para retomar

suas atividades

Figura 2 (4) ndash Foto das palafitas da Vila do Vinteacutem no dia da mudanccedila para o Casaratildeo do Cordeiro Fev2005

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

Considerado o contexto onde estava inserido o projeto faz-se necessaacuterio conhecer o

projeto em si A seccedilatildeo seguinte eacute dedicada a este assunto

62

412 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

O projeto teve iniacutecio atraveacutes de uma famiacutelia residente nas proximidades da favela Vila

do Vinteacutem II Moab Silva e sua esposa Miriam Maria da Silva tinham um restaurante nesta

aacuterea O casal tem dois filhos A filha tem graduaccedilatildeo em Histoacuteria e estaacute terminando o curso de

Publicidade e o filho fez Engenharia Mecacircnica eacute mestre em Oceanografia e estaacute concluindo o

doutorado em Oceanografia Moab eacute cozinheiro autocircnomo e sua esposa eacute graduada em

Relaccedilotildees Puacuteblicas

A famiacutelia conhecia a favela do Vinteacutem e quando havia necessidade contratava alguns

dos moradores para prestar pequenos serviccedilos ao restaurante Com isto e dado ao fato de

Moab ter crescido neste local a famiacutelia tornou-se conhecedora e conhecida da comunidade

Quando os pais vinham trabalhar no restaurante seus filhos os acompanhavam e ficavam

ldquotomando contardquo dos carros no estacionamento Ao fechamento do restaurante estas recebiam

alimentaccedilatildeo

A partir daiacute Miriam que jaacute lecionava para crianccedilas em uma igreja evangeacutelica teve a

ideacuteia de reunir as crianccedilas da comunidade e formar um pequeno coral para se apresentar para

a comunidade na festa de Natal Foi entatildeo que se iniciou a Comunidade Cristatilde Amigos Para

Sempre (ANEXO A) com o objetivo primeiro de evangelizaccedilatildeo e posteriormente

educacional Visando o alcance do objetivo educacional criou-se o Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

(ANEXO B) Moab e a esposa reuniram aproximadamente 15 crianccedilas moradoras da favela

do Vinteacutem para formar o coral As crianccedilas ensaiavam ouviam histoacuterias e lanchavam O coral

reunia-se duas vezes por semana as quartas e aos domingos Os pais tambeacutem se

aproximaram

Moab atraveacutes deste contato mais proacuteximo com as crianccedilas foi percebendo o potencial

que elas tinham e visando desenvolver este potencial resolveu fazer uma banca de estudos

63

para acompanhaacute-las em suas tarefas escolares As crianccedilas jaacute estavam matriculadas em

escolas puacuteblicas e Moab e sua esposa iniciaram o reforccedilo escolar

De 1988 ateacute 2000 o projeto funcionou na informalidade e as reuniotildees aconteciam no

espaccedilo do restaurante Quando este natildeo estava em atividade era dedicado agraves crianccedilas de

forma que laacute ocorriam aleacutem das reuniotildees ensaios do coral jogos festas do dia das crianccedilas

de aniversaacuterio e de Natal

Figura 3 (4) - Festa de Natal para as crianccedilas da Vila do Vinteacutem II 2004

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

No ano de 2000 um grupo de 18 americanos foi agraves proximidades da Vila Moab ao ir

cozinhar para este grupo foi acompanhado pelas crianccedilas Os americanos intrigados ao

verem tantas crianccedilas perguntaram quem eram elas Ao saber a respeito do projeto o grupo

se sensibilizou e resolveu contribuir Foi assim que o projeto comprou uma casa na rua Joatildeo

Tude de Melo ao lado da favela O projeto contava agora com uma sede

64

Figura 4 (4) - Festa das crianccedilas na sede do projeto 00

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

No projeto as atividades de reforccedilo eram disponibilizadas para quem fosse da favela e

quisesse estudar independentemente da seacuterie em que estivesse matriculado O projeto contava

com materiais didaacuteticos um quadro-negro cadeiras uma biblioteca e um computador com

acesso agrave Internet

Os professores do projeto eram Moab cuja vocaccedilatildeo segundo ele eacute alfabetizar sua

esposa que jaacute havia sido professora de crianccedilas e uma professora contratada Havendo

necessidade seus filhos tambeacutem davam aula no projeto

Segue na proacutexima seccedilatildeo uma breve descriccedilatildeo das atividades que o projeto

desenvolvia antes da transferecircncia

65

413 Atividades desenvolvidas pelo projeto

As aulas do reforccedilo funcionavam pela manhatilde e pela tarde contando em meacutedia com 25

alunos em cada turno As atividades do projeto eram realizadas de forma que o aluno estando

em uma escola puacuteblica recebia atraveacutes do projeto um ensino considerado pelo coordenador

como de maior qualidade Os alunos passavam a alcanccedilar um conhecimento diferenciado de

seus colegas de classe Quando os alunos absorviam estes conhecimentos o projeto buscava

transferi-los para uma escola privada

Deu-se entatildeo iniacutecio agrave busca por bolsas de estudos em escolas particulares para os

alunos com bom desempenho escolar Moab o coordenador ia ateacute agrave escola particular falava

acerca do programa de reforccedilo e dava o perfil da crianccedila para qual estava fazendo a

solicitaccedilatildeo da bolsa A escola convidava este aluno para conhecer suas instalaccedilotildees e aplicava

um teste de conhecimento Se o aluno fosse aprovado no teste seria bolsista da escola O

projeto passava a acompanhaacute-lo com mais intensidade visando mantecirc-lo com bom

desempenho em sua nova escola

Atualmente o projeto conta com as seguintes bolsas em instituiccedilotildees de ensino

privado

INSTITUICcedilAtildeO Nordm DE BOLSAS Coleacutegio de Ensino Fundamental I fase 10 Coleacutegio de Ensino Fundamental e Meacutedio 3 Centro de Informaacutetica 10 Curso de Inglecircs 11

As crianccedilas bolsistas que terminam a 4a Seacuterie da primeira fase do Ensino Fundamental

recebem uma bolsa na escola de inglecircs Buscando melhor atender as crianccedilas o coordenador

buscou pessoas que pudessem assisti-las com relaccedilatildeo agrave sauacutede O projeto passou a contar com

66

o voluntariado de uma psicoacuteloga um meacutedico e dois dentistas que datildeo assistecircncia agraves crianccedilas

No caso de assistecircncia psicoloacutegica a famiacutelia tambeacutem recebe acompanhamento

Em 2000 foi fechado um acordo com dois dentistas para o tratamento dentaacuterio das

crianccedilas Mais uma vez o grupo de americanos contribuiu com R$ 1500 por crianccedila para

cobrir as despesas com o material odontoloacutegico Um grupo de 90 crianccedilas da Vila do Vinteacutem

fez tratamento dentaacuterio que incluiu obturaccedilatildeo extraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de fluacuteor ldquoFoi um ano de

tratamento Eu levava as crianccedilas quatro vezes por semana duas turmas para dra () e duas

turmas para o dr ()rdquo (COORDENADOR entrevista set05)

Aleacutem das atividades educacionais propriamente ditas o projeto desenvolvia outras

atividades com as crianccedilas Dentre estas o coordenador citou passeios agrave praccedila do

Entroncamento no final de ano e agrave exposiccedilatildeo da aeronaacuteutica e visita a museus (Ricardo

Brennand Museu do Homem do Nordeste Museu do Estado) ldquoQualquer exposiccedilatildeo que

esteja havendo e que vaacute influir acrescentar em termos de educaccedilatildeo para eles a gente levardquo

(COORDENADOR entrevista set05) Anualmente o projeto levava alguns adolescentes para

acampar O acampamento que tem duraccedilatildeo de cinco dias eacute de cunho religioso Atividades

como pintura muacutesica danccedila recreaccedilatildeo e jogos tambeacutem eram desenvolvidas regularmente

pelo projeto Festas e reuniotildees eram realizadas Estas ocorriam na sede ou no espaccedilo onde era

o restaurante por este comportar um nuacutemero maior de pessoas

Na proacutexima seccedilatildeo seraacute explicado como o projeto foi formalizado tornando-se uma

organizaccedilatildeo natildeo governamental

67

414 Formalizaccedilatildeo do projeto como organizaccedilatildeo natildeo-

governamental

Aproximadamente em 2000 com o projeto jaacute instalado na sede buscou-se a

formalizaccedilatildeo do projeto ou seja o registro como ONG (organizaccedilatildeo natildeo-governamental) O

coordenador procurou entatildeo mais quatro pessoas que juntamente com ele tivessem os

mesmos objetivos Encontradas estas pessoas que natildeo eram estranhas ao projeto intentou-se

proceder agrave formalizaccedilatildeo No entanto estas pessoas desistiram e o coordenador procurou

outras Encontradas as pessoas que segundo ele realmente assumiram o projeto o mesmo foi

formalizado O projeto conta com um presidente (Moab) um vice-presidente dois secretaacuterios

e um tesoureiro Das cinco pessoas responsaacuteveis pela ONG duas foram substituiacutedas

O projeto mesmo anterior agrave formalizaccedilatildeo jaacute contava com objetivos definidos estes

foram entatildeo sistematizados (ANEXO B) Satildeo objetivos do projeto

bull Melhorar a qualidade de vida natildeo somente no presente mas intervir num ciclo

vicioso preparando a crianccedila e o jovem para o futuro

bull Atuar na aacuterea de educaccedilatildeo solicitando bolsa de estudo na rede privada com aulas

de reforccedilo para o ensino fundamental alfabetizaccedilatildeo infantil distribuiccedilatildeo de

material escolar e merenda

bull Ofertar curso regular de liacutengua inglesa e iniciaccedilatildeo musical

bull Oferecer acompanhamento cliacutenico odontoloacutegico e psico-pedagoacutegico e

bull Desenvolver atividades que proporcionem o desenvolvimento de competecircncias

sociais pessoais e intelectuais

Formalmente o coordenador estaacute na diretoria da ONG haacute trecircs anos Em outubro de

2006 ao completar dois mandatos haveraacute eleiccedilatildeo e ele natildeo mais estaraacute agrave frente do projeto

68

pois assim rege o estatuto O projeto eacute mantido com doaccedilotildees e serviccedilo voluntaacuterio Com a

formalizaccedilatildeo natildeo houve alteraccedilatildeo nas atividades desenvolvidas pelo projeto

Considerada a formalizaccedilatildeo do projeto segue a explanaccedilatildeo de sua situaccedilatildeo atual ou

seja como se encontra o projeto apoacutes a transferecircncia das famiacutelias

415 Situaccedilatildeo atual do projeto

Com a transferecircncia das famiacutelias para o conjunto habitacional Casaratildeo do Cordeiro o

projeto interrompeu suas atividades regulares e tem ido agrave busca da liberaccedilatildeo do terreno jaacute

destinado ao mesmo

Neste iacutenterim de fevereiro a novembro de 2005 as crianccedilas bolsistas que estavam

estudando na primeira fase do ensino fundamental foram colocadas pelo projeto em semi-

internatos Tal fato ocorreu na busca de garantir a continuidade da assistecircncia educacional a

estas crianccedilas

Ainda neste periacuteodo de transiccedilatildeo o mesmo grupo de americanos que outrora

beneficiou o projeto com a compra da casa fez uma nova doaccedilatildeo Desta vez o grupo doou

um galpatildeo preacute-moldado com capacidade para 300 pessoas que seraacute erguido no local

destinado para o projeto no Casaratildeo do Cordeiro O envio do galpatildeo estaacute condicionado agrave

liberaccedilatildeo do terreno

Na proacutexima seccedilatildeo seratildeo consideradas as dificuldades enfrentadas pelo projeto

Educaccedilatildeo eacute Vida

69

416 Dificuldades enfrentadas pelo projeto

O coordenador diz encontrar dificuldade para obter apoio junto agraves instituiccedilotildees que

segundo ele deveriam cooperar com as ONGrsquos tais como Conselho Municipal Conselho

Estadual e Conselho Federal de Accedilatildeo Social e Conselhos Municipais dos Direitos da Crianccedila

e do Adolescente Ele afirma que haacute excesso de burocracia e que estas instituiccedilotildees natildeo estatildeo

presentes para apoiar antes para punir caso haja alguma irregularidade ldquoEles natildeo querem ver

resultados querem ver papelrdquo desabafa o coordenador (entrevista set05) Mesmo

entregando os documentos solicitados o coordenador lamenta natildeo ter tido ecircxito nas

solicitaccedilotildees legais fato que ele atribui agrave morosidade e ao excesso de burocracia

Outra dificuldade considerada a maior delas eacute enfrentada a cada iniacutecio de ano devido

a necessidade de se patrocinar os alunos bolsistas O custo com materiais e fardamentos eacute em

meacutedia de R$ 50000 por crianccedila O projeto busca cobrir tal despesa buscando

apadrinhamento (patrociacutenio) para os alunos ou seja pessoas que contribuam parcial ou

totalmente com as despesas deste

A cada ano as escolas oferecem novas vagas ao projeto e com elas aumenta a

dificuldade devido agrave falta de recursos O projeto tem crianccedilas com desempenho suficiente

para serem aceitas por uma escola particular e as escolas tecircm ofertado mais bolsas mas a falta

de patrociacutenio tem imposto limites a esta transferecircncia O coordenador diz que ao colocar uma

crianccedila na escola particular o projeto assume realmente seus estudos fazendo o possiacutevel para

que a crianccedilaadolescente seja inserida e obtenha ecircxito

Ao final de cada ano os padrinhos satildeo homenageados recebendo um Certificado de

Agente Social conforme a figura 5 (4) como forma de reconhecimento e gratidatildeo pelo

patrociacutenio

70

Figura 5 (4) - Certificado do padrinho

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

A despeito das dificuldades enfrentadas o projeto intenta continuar e expandir-se

Tem o objetivo de atender ao Conjunto Habitacional Casaratildeo do Cordeiro

Segue na proacutexima seccedilatildeo a motivaccedilatildeo que deu iniacutecio a este projeto e que o sustenta ateacute

o momento desta pesquisa

417 Motivaccedilatildeo para a existecircncia e continuidade do projeto

O coordenador explica assim sua motivaccedilatildeo para prosseguir com o projeto

Como cidadatildeo pobre eu sempre lutei para que meus filhos conseguissem terminar o terceiro grau () Depois que os meus terminaram eu digo bom agora eu posso lutar pelos dos outros para que eles tambeacutem consigam porque eles natildeo vatildeo conseguir se natildeo tiver quem ofereccedila oportunidade () Essas crianccedilas sendo assistidas dessa forma sem duacutevida alguma vatildeo trilhar o mesmo caminho que meus filhos trilharam Eu trato as crianccedilas participantes deste projeto como se elas fossem os meus filhos (COORDENADOR entrevista set05)

71

Acerca de seu envolvimento com o projeto ele declara ldquoEu natildeo vejo como me

desvincular hoje () separar do projeto Eu respiro o projeto luto faccedilo o que for necessaacuterio o

que for possiacutevel para que o projeto continuerdquo (COORDENADOR entrevista set05)

A seccedilatildeo 41 foi destinada ao caso Foram aqui considerados o contexto onde estaacute

inserido as atividades desenvolvidas o processo de formalizaccedilatildeo as dificuldades enfrentadas

e a motivaccedilatildeo existente no projeto

Para melhor compreensatildeo dos sujeitos da pesquisa seratildeo expostos nas proacuteximas

seccedilotildees os dados referentes aos mentores e aos mentorados pesquisados

418 Dados dos mentores entrevistados

Seguem algumas informaccedilotildees acerca dos mentores do projeto

Coordenador- foi o fundador do projeto e estaacute nele haacute 16 anos Jaacute deu alfabetizou diversas

crianccedilas e pais da comunidade Atualmente eacute o presidente da ONG

Professora ndash participou do projeto durante um ano Leciona em uma das escolas particulares

que fornece bolsa para os alunos Diz ter muita identidade com a proposta do projeto

Psicoacuteloga ndash estaacute no projeto haacute 5 anos Aleacutem deste trabalho no qual atua como voluntaacuteria

participa de um outro tambeacutem com comunidade carente

Dentista- estaacute no projeto haacute mais de um ano e diz ter identidade com o tipo de trabalho

realizado

Seguem na proacutexima seccedilatildeo os dados referentes aos mentorados pesquisados

72

419 Dados dos mentorados pesquisados

Visando um maior conhecimento dos sujeitos pesquisados seguem-se alguns dados

acerca dos mesmos Na busca pelo anonimato os nomes dos alunos foram trocados

Inicialmente seratildeo abordados os alunos que foram apontados como que de ecircxito nos estudos e

posteriormente os de natildeo-ecircxito

4191 Alunos tidos como que de ecircxito nos estudos

O coordenador do projeto demonstra orgulho ao falar dos seguintes alunos pois aleacutem

do rendimento escolar eles apresentam bom comportamento Satildeo estes os alunos

Afracircnio- aluno com 9 anos de idade cursa a 4a seacuterie do Ensino Fundamental em um coleacutegio

particular com bolsa obtida atraveacutes do projeto Educaccedilatildeo eacute Vida Afracircnio estaacute no projeto haacute 3

anos Mora com a matildee que eacute analfabeta funcional1 Aleacutem de estudar em escola particular

atraveacutes do projeto Afracircnio tambeacutem faz inglecircs

Daniel- aluno com 8 anos cursa a 1a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular cuja

bolsa foi obtida atraveacutes do projeto Ele participa do projeto haacute 3 anos Sua participaccedilatildeo nas

atividades desenvolvidas pelo projeto eacute integral passeios e lazer Daniel mora com os pais e eacute

o filho mais novo do casal Seu pai que eacute porteiro estudou ateacute o 3o ano do Ensino Meacutedio e

sua matildee ateacute a 8a seacuterie do Ensino Fundamental Aleacutem dos pais Daniel mora com seu irmatildeo

mais velho Faacutebio (tido como de natildeo ecircxito) sua irmatilde e sua tia A matildee sofre de fobia social e

toma remeacutedio ldquocontroladordquo Segundo ela o filho eacute muito responsaacutevel e gosta de estudar

1 Analfabeto funcional- Pessoa com menos de quatro anos de estudos

73

Almir- Garoto de 9 anos que cursa a 2a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular

cuja bolsa foi obtida atraveacutes do projeto Almir estaacute no projeto haacute 3 anos Mora com os pais

que satildeo analfabetos funcionais e com Silvia sua irmatilde

Silvia- eacute irmatilde de Almir tem 10 anos cursa a 4a seacuterie do Ensino Fundamental Estaacute no projeto

cerca de 3 anos Tal qual o irmatildeo Silvia estuda em escola particular

Nuacutebia- aluna de 12 anos cursa a 5a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular cuja

bolsa foi obtida atraveacutes do projeto do qual ela faz parte haacute cerca de 3 anos Nuacutebia eacute apontada

pelo coordenador do projeto como sendo uma aluna excelente Durante a semana Nuacutebia estaacute

morando na casa da avoacute paterna pois eacute mais perto da escola do que a casa da matildee pois esta

mora no Casaratildeo do Cordeiro A avoacute diz que a neta eacute muito calma e desanimada Acredita

que ela sente muita falta dos irmatildeos e da matildee (os pais satildeo separados) Nos finais de semana

Nuacutebia vai para a casa da matildee A avoacute diz que ao retornar ela vem agitada e machucada pois

em casa Nuacutebia apanha da matildee e dos irmatildeos A matildee de Nuacutebia disse ao coordenador que em

2006 iraacute tiraacute-la da escola particular apesar do bom rendimento que ela apresenta A matildee alega

que a escola eacute longe O coordenador e a professora acreditam que tal fato se deve tambeacutem agrave

limitaccedilatildeo da matildee (analfabeta funcional) em compreender o valor do estudo Ao falar acerca

deste fato o coordenador se mostra bastante entristecido

Frederico- aluno com 12 anos cursa a 6a seacuterie do Ensino Fundamental Ele estaacute no projeto

haacute 4 anos estuda em coleacutegio particular com bolsa obtida atraveacutes do projeto Frederico mora

com os pais Estes satildeo analfabetos funcionais O coordenador diz que eacute um menino muito

bom pois eacute esforccedilado e apresenta bom comportamento

Jairo- aluno com 14 anos que cursa a 6a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular

Sua bolsa foi obtida atraveacutes do projeto bem como o curso de inglecircs no qual ele estuda haacute 3

anos Jairo mora com a matildee o padrasto e com o irmatildeo mais novo que eacute portador de

74

necessidades especiais A matildee eacute analfabeta absoluta2 e o padrasto analfabeto funcional Jairo

perdeu o pai com dois anos A matildee fala que ele eacute um menino ldquoquietordquo e que gosta muito do

coordenador do projeto Jairo morou no interior onde estudava mas natildeo obtinha

aproveitamento escolar Ao chegar no Recife foi incentivado a estudar e segundo a matildee

ldquotomou gosto pelos estudosrdquo desde entatildeo tem demonstrado bom rendimento aleacutem do

comportamento exemplar que sempre apresentou A matildee diz que o coordenador eacute como um

pai para o Jairo lhe aconselha encaminha ajuda patrocina e eacute amigo

Walter- aluno de 17 anos que cursa o 2o ano do Ensino Fundamental em escola puacuteblica e

estaacute haacute 7 anos no projeto Walter mora com os pais que satildeo analfabetos funcionais O

coordenador diz que a famiacutelia acompanha os estudos de Walter Ele eacute aluno de inglecircs com

bolsa obtida pelo projeto Walter pretende ser professor deste inglecircs visto o bom rendimento

que vem apresentando e o interesse que afirma ter com o idioma

Nesta seccedilatildeo foram apresentados alguns dados acerca dos alunos tidos como de ecircxito segue na

proacutexima seccedilatildeo dados dos alunos pesquisados que foram tidos como que de natildeo ecircxito nos

estudos

4192 Alunos tidos como que de natildeo ecircxito nos estudos

Os seguintes alunos natildeo apresentam o rendimento escolar esperado pelo projeto A

aleacutem do que alguns apresentam problemas de comportamento Satildeo estes

Tito ndash aluno com 8 anos de idade que cursa a 2a seacuterie do Ensino Fundamental Mora com os

pais que satildeo analfabetos funcionais Ele estuda em um coleacutegio particular com bolsa obtida

atraveacutes do projeto O coordenador afirma que o mesmo natildeo demonstra interesse para com os

estudos

2 Analfabeta absoluta- pessoa iletrada

75

Helena- aluna de 10 anos que cursa a 4a seacuterie do Ensino Fundamental Ela estaacute no projeto haacute

4 anos Mora com a matildee que eacute analfabeta funcional A matildee trabalha fora e tem pouco contato

a filha cerca de uma hora por dia Os pais satildeo separados O coordenador diz que a matildee eacute

muito nervosa e toma remeacutedio ldquocontroladordquo Ele afirma que a matildee por ser agressiva e

impaciente eacute quem dificulta o aprendizado e o comportamento da filha Helena estuda em

escola particular mas natildeo estaacute obtendo notas suficientes para continuar nela

Tacircnia- aluna de 10 anos que cursa a 4a seacuterie em escola puacuteblica Ela estaacute no projeto haacute 7 anos

Tacircnia mora com a matildee adotiva com o padrasto com um irmatildeo mais novo e com um irmatildeo

mais velho e sua esposa Sua situaccedilatildeo eacute peculiar sua matildee morava com outro ldquomaridordquo quando

resolveu adotaacute-la Deixou o primeiro marido e atualmente mora com outro Sendo que este

casal teve um filho que no momento da pesquisa tinha dois anos Segundo o relato da

psicoacuteloga desde a separaccedilatildeo da matildee Tacircnia jaacute natildeo gozava de muito atenccedilatildeo e com o

nascimento do irmatildeo esta diminuiu significativamente O coordenador atribui muito de sua

dificuldade de aprendizagem agrave falta de estrutura familiar

Nestor- aluno com 14 anos cursa o 1o ano do ensino Meacutedio estaacute no projeto haacute 4 anos e mora

com os pais Sua matildee eacute analfabeta funcional e seu pai cursou ateacute a 6a seacuterie do Ensino

Fundamental Nestor estuda em escola puacuteblica

Faacutebio- garoto com 12 anos que cursa a 6a seacuterie do Ensino Fundamental Ele participa do

projeto haacute 3 anos Faacutebio mora com os pais com a tia com a irmatilde e com Daniel seu irmatildeo A

matildee estudou ateacute a 8a seacuterie e o pai ateacute o 3o ano do Ensino Meacutedio Faacutebio segundo a matildee natildeo

gosta de estudar e seu interesse estaacute em jogar futebol e ficar na rua Em casa ele natildeo recebe

acompanhamento em termos de estudo

Estes foram alguns dos dados acerca dos alunos pesquisados Ao longo da

apresentaccedilatildeo dos dados seratildeo apresentadas mais informaccedilotildees acerca destes sujeitos

76

Seguem nas proacuteximas seccedilotildees as questotildees norteadoras deste trabalho bem como a

apresentaccedilatildeo e discussatildeo dos dados colhidos na busca pelas respostas agraves questotildees

42 Achados referentes agrave primeira questatildeo norteadora

Para responder a seguinte questatildeo em uma comunidade carente brasileira ateacute que

ponto a mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes apresenta as caracteriacutesticas definidas

pela teoria Faz-se necessaacuterio inicialmente caracterizar o projeto de reforccedilo como um

programa de mentoria o que seraacute feito na proacutexima seccedilatildeo Posteriormente seratildeo analisados os

achados referentes agraves funccedilotildees de mentoria existente no projeto as fases em que se encontram

os relacionamentos e os fatores relacionados ao ecircxito do projeto

421 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida como um programa de mentoria

Percebeu-se que os alunos recebem suporte vindo de vaacuterios mentores A psicoacuteloga

fornece sustentaccedilatildeo para o aluno e para a famiacutelia a professora aconselha e ajuda a

desenvolver habilidades o coordenador e sua esposa acompanham o desenvolvimento dos

alunos fornecendo-lhes feedback e encorajando-os Tal fato foi constatado atraveacutes dos

discursos das matildees que relatavam o suporte recebido principalmente pelo coordenador e pela

professora

A partir destes dados pode-se concluir que o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida caracteriza-se

como um programa de redes de mentoria (HIGGINS KRAM 2001) uma vez que o

mentorado recebe influecircncia de vaacuterios mentores O coordenador do projeto eacute a pessoa que

mais acompanha os alunos eacute o mais citado pelas matildees e pelo aluno como oferecedor de

suporte tanto psicossocial como de carreira Pode ser considerado o mentor principal do

projeto

77

A relaccedilatildeo tem iniciativa da organizaccedilatildeo ao se manter aberta a novos entrantes e a

relaccedilatildeo eacute estruturada Alguns encontros como a aula de reforccedilo satildeo preacute-estabelecidos No

entanto os encontros natildeo se limitam agrave aula de reforccedilo Eles podem ser esporaacutedicos partindo

da necessidade O relacionamento natildeo tem uma delimitaccedilatildeo de seis meses ou um ano O

mesmo pode se estender por longos periacuteodos de tempo Walter aluno entrevistado por

exemplo estaacute no projeto haacute sete anos Haacute alunos que foram alfabetizados pelo projeto e

receberam acompanhamento ateacute terminar o ensino meacutedio caracterizando assim um

relacionamento de no miacutenimo 11 anos

Dentre os tipos de mentoria propostos por Kram (1985) a mentoria realizada no

projeto parece estar na interface da mentoria formal e informal Alguns fatores levam a

consideraacute-la formal como por exemplo a estruturaccedilatildeo da relaccedilatildeo e os encontros preacute-

estabelecidos Por outro lado vecirc-se tambeacutem caracteriacutesticas da mentoria informal Ou seja o

mentorado toma a iniciativa em fazer parte ou natildeo da relaccedilatildeo nem todos os encontros satildeo preacute-

estabelecidos e o tempo de duraccedilatildeo da relaccedilatildeo ultrapassa em muito os dois anos ldquolimiterdquo da

mentoria formal

Outra caracteriacutestica especiacutefica do projeto eacute o fato de haver dois tipos de

relacionamento de mentoria entre os mentores e seus mentorados Os alunos bolsistas

parecem gozar de maior assistecircncia visto que para o projeto o ldquoinvestimentordquo eacute maior nestes

alunos Este diferencial foi percebido quando no periacuteodo de transiccedilatildeo alguns bolsistas foram

colocados em regime de semi-internato enquanto os natildeo-bolsistas natildeo tiveram o mesmo

tratamento Deve-se considerar a quantidade restrita de vagas e nesta situaccedilatildeo a preferecircncia

eacute dos alunos bolsistas

Percebeu-se pelos discursos que quando haacute algum passeio com o nuacutemero limitado de

participantes a preferecircncia eacute dos alunos mais comportados e que apresentam melhores notas

normalmente os bolsistas A matildee de Faacutebio (que tem um filho bolsista e outro considerado de

78

natildeo-ecircxito) diz que o coordenador tem seus ldquoescolhidosrdquo (entrevista out05) Ela enfatiza estar

ciente que um de seus filhos eacute ldquoescolhidordquo e o outro natildeo

Este tipo de relacionamento eacute explicado na teoria LMX (Leader-Member Exchange)

teoria da troca entre liacuteder e liderado que afirma que os liacutederes estabelecem um

relacionamento especial com um grupo restrito de liderados (grupo interno) distinto do

relacionamento com os demais liderados que fazem o grupo externo (ROBBINS 2002)

Tal fato pode levar aos seguintes questionamentos

- Os alunos mentorados que se saem melhor em termos de notas e

comportamentos passam a ter uma assistecircncia diferenciada

- Ter uma assistecircncia ldquomais proacuteximardquo leva os alunos a demonstrar melhores

comportamentos e apresentar melhores notas

Abordadas estas caracteriacutesticas da relaccedilatildeo de mentoria do projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

seguem-se as funccedilotildees de mentoria observadas no projeto

422 Funccedilotildees de mentoria encontradas no projeto Educaccedilatildeo eacute

Vida

Nesta seccedilatildeo seratildeo apresentados e discutidos os dados que revelam a existecircncia das

funccedilotildees de mentoria Inicialmente seratildeo abordadas as funccedilotildees de suporte de carreira e

posteriormente as de suporte psicossocial

4221 Suporte de carreira

Nesta seccedilatildeo seratildeo apresentadas as funccedilotildees do suporte de carreira encontradas no projeto

de reforccedilo Satildeo funccedilotildees que o mentor desempenha no sentido de auxiliar o mentorado em seu

desenvolvimento profissional Para cada funccedilatildeo abordada seratildeo apresentados alguns exemplos

encontrados

79

bull Tarefas desafiadoras

Um aluno bolsista de inglecircs diz que seu mentor sempre lhe lembra que aluno bolsista eacute

aluno modelo ldquoA gente tem que mostrar porque tinha direito agravequela bolsa () Se vocecirc

recebe uma ajuda e vocecirc natildeo se esforccedila para passar os obstaacuteculos natildeo adianta nada () eu

tenho me esforccediladordquo (WALTER entrevista out05)

Jairo em cuja casa soacute haacute analfabetos (absoluto e funcional) eacute um dos alunos do projeto

tido como exemplar Tem bolsa em uma escola particular e cursou a 4a e a 5a seacuteries no

mesmo ano A matildee de Nestor diz acerca do filho ldquoEle (Nestor) diz que quer estudar natildeo quer

ser como o pai dele que natildeo estudou Depois que ele conheceu o seu Moab aiacute eacute que ele pegou

o incentivo mesmo para estudarrdquo (MAE DE NESTOR entrevista out05)

ldquoSe vocecirc eacute bolsista natildeo eacute porque vocecirc eacute pobre natildeo eacute porque vocecirc eacute preto natildeo eacute

porque vocecirc eacute favelado Vocecirc estaacute laacute por capacidade () vou buscar bolsa porque ele eacute capaz

e estaacute faltando uma oportunidaderdquo (COORDENADOR entrevista set05)

O programa de reforccedilo ao dar aos alunos a oportunidade de acompanhamento nos

estudos impotildee-lhes uma tarefa extremamente desafiadora a de conseguir superar uma

realidade de exclusatildeo social A crianccedila demanda esforccedilo para adentrar uma escola particular e

para se manter apta a permanecer nessa escola Mesmo no caso de alunos natildeo bolsistas existe

o desafio de manter-se com bom rendimento na escola puacuteblica Este desafio eacute igualmente

vaacutelido para o curso de inglecircs

O desafio parece ser maior do que se apresenta pois subjacente agrave continuidade dos

estudos na vida da crianccedilaadolescente estaacute o status quo da famiacutelia O estudo do filho rompe

uma situaccedilatildeo de analfabetismo familiar Leva a crianccedila a superar sua expectativa negativa de

futuro uma vez que a educaccedilatildeo da matildee (das matildees entrevistadas 78 satildeo analfabetas) eacute

determinante do desempenho do filho (BARROS et al 1994)

80

Walter parece ter ciecircncia do desafio individual que tem que enfrentar mas talvez natildeo

perceba a dimensatildeo do desafio social que isto representa ou seja conhecer e dominar a liacutengua

inglesa estando inserido em uma comunidade que natildeo domina seu proacuteprio idioma Falar de

futuro para uma comunidade de favela jaacute eacute por si soacute um desafio Qual o futuro para quem

natildeo sabe se vai comer ou ter a oportunidade de continuar vivo no dia presente Que futuro

esperar quando se vecirc o pai becircbado jogado na rua catando lixo ou ao perceber a matildee se

prostituindo Que futuro espera quem vive nas condiccedilotildees caracterizadas pelo representante da

ONU como sendo as piores do mundo Talvez esta seja uma das mais belas funccedilotildees do

mentor de crianccedilas e adolescentes carentes abrir-lhes os olhos para novas e promissoras

experiecircncias e viabilizar o alcance destas Ofertar mais tarefas desafiadoras quando estas

crianccedilas e adolescentes jaacute possuem tantas pode parecer cruel No entanto elas parecem estar

recebendo suporte suficiente para superar tais desafios indo aleacutem do que se espera

bull Exposiccedilatildeo e visibilidade positiva

Na introduccedilatildeo da pesquisadora ao programa pocircde-se assistir agrave apresentaccedilatildeo de alunos-

talentos do projeto onde foram citados o rendimento escolar e as habilidades dos mesmos

Os colaboradores e alguns alunos apresentam-se em busca de patrociacutenio Nestas ocasiotildees os

melhores alunos satildeo destacados

Walter aluno de inglecircs foi observado em seu desempenho por seu mentor e por sua

professora da escola de inglecircs Ele foi indicado para fazer intercacircmbio cultural nos EUA

As alunas do projeto que tinham aula de danccedila apresentavam-se quando havia oportunidade

mesmo que se tratasse de uma missa

81

Figura 6 (4) - Apresentaccedilatildeo de coreografia das meninas do projeto em uma missa de Natal realizada pela Igreja Catoacutelica de Casa Forte na Vila do Vinteacutem II

Fonte Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

Pocircde-se perceber que o projeto expotildee positivamente seus mentorados conforme o

proposto por Kram (1985) Oferecer visibilidade positiva a crianccedilas marginalizadas pela

sociedade mostrando os talentos que estas possuem contribui para resgatar a auto-estima

das crianccedilas e das famiacutelias Crianccedilas e adolescentes de favela satildeo estigmatizados e

relacionados agrave delinquumlecircncia Esta visibilidade positiva eacute interessante para a sociedade

havendo a possibilidade de reduccedilatildeo do preconceito para com estes que estatildeo agrave margem Para

os mentorados a visibilidade positiva pode ajudaacute-los a resgatar aleacutem da auto-estima a

dignidade ao reconhecerem capacidade e potencial em si mesmos

bull Coaching

O reforccedilo era oferecido diariamente para as crianccedilas durante 1hora e meia fossem as

crianccedilas bolsistas ou natildeo ldquoEu eacute que ensinava a ela (Silvia) mas natildeo tenho jeito Depois do

82

projeto ela melhorou a letra aprendeu a ler mais raacutepido aprendeu a escreverrdquo (MAE

DE SILVIA entrevista out 05) ldquoQuando a professora natildeo ia ele (Moab) botava a filha dele

praacute ensinar () Ele eacute professor a esposa o filho e a filha Assim eacute bom neacute Quando um natildeo

tava o outro tava (sic)rdquo (MAE DE AFRAtildeNIO entrevista out05)

Uma das atividades mais presentes observadas no projeto eacute o coaching devido agrave

frequumlecircncia com a qual ocorre As tarefas o estudo o ensino enfim o reforccedilo diaacuterio reflete a

preocupaccedilatildeo com a tarefa e a transmissatildeo das informaccedilotildees necessaacuterias para a sua execuccedilatildeo

tal qual o proposto por Kram (1985)

bull Patrociacutenio

O projeto viabilizou o estudo de 24 crianccedilas adolescentes em escolas particulares

sendo 13 no Ensino Fundamental e Meacutedio e 11 no curso de Inglecircs O projeto provecirc as

condiccedilotildees necessaacuterias para que o aluno possa assumir satisfatoriamente a vaga na escola

particular Houve relato de provisatildeo de assistecircncia meacutedica e odontoloacutegica material e

fardamento escolar e ateacute corte de cabelo Algumas matildees entrevistadas disseram receber

ajuda em termos de alimentaccedilatildeo medicamento e doaccedilotildees de roupas

Ao analisar o patrociacutenio oferecido pelo projeto pode-se estabelecer um diferencial em

relaccedilatildeo agrave teoria proposta por Kram (1985) O patrociacutenio mencionado em pesquisas anteriores

reflete uma preocupaccedilatildeo bem especiacutefica do mentor em termos de patrocinar a carreira do

mentorado No projeto Educaccedilatildeo eacute Vida o patrociacutenio eacute bem mais abrangente Estaacute

relacionado agraves necessidades baacutesicas do mentorado e de sua famiacutelia sem as quais ele natildeo teria

condiccedilotildees sequer de estudar Entenda-se como patrociacutenio neste contexto a oferta de

alimentaccedilatildeo medicamento e sauacutede natildeo excluindo aquele ou seja o material o fardamento a

bolsa de estudos e os cursos

83

Estas foram as atividades de suporte de carreira encontradas no projeto de reforccedilo

Atividades que auxiliam o mentorado em sua carreira profissional conforme proposto por

Kram (1985) Em se tratando de crianccedilas e adolescentes falar de carreira profissional pode

parecer precoce No entanto considerou-se o necessaacuterio para que o mentorado venha a ter

condiccedilotildees de futuramente ter uma carreira Eacute desta forma que atividades como patrociacutenio

coaching tarefas desafiadoras e exposiccedilatildeo positiva devem ser encaradas

Segue na proacutexima seccedilatildeo os resultados e discussotildees dos dados obtidos com relaccedilatildeo agraves

atividades de suporte psicossocial encontradas no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

4222 Suporte psicossocial

Seratildeo considerados os dados que refletem o suporte psicoloacutegico e social oferecido pelo

mentor ao mentorado As funccedilotildees encontradas foram amizade aceitaccedilatildeo e confirmaccedilatildeo e

aconselhamento que seratildeo expostas a seguir

bull Amizade

A professora entrevistada disse buscar construir um viacutenculo de afetividade com os

alunos algo que ultrapassasse o relacionamento distanciado entre professor e aluno ldquoquando

a gente daacute atenccedilatildeo afeto eles aprendem tambeacutem a parte cognitivardquo (PROFESSORA

entrevista out05) A matildee de Helena diz ldquoEle (Moab) daacute atenccedilatildeo ela gosta dele porque ele

sabe conversar daacute carinhordquo (entrevista out05) Walter declara ldquoEacute como se ele (Moab) fosse

um pai praacute mim me estende a matildeordquo (entrevista out05) O projeto busca acompanhar a

famiacutelia atraveacutes do coordenador e da psicoacuteloga que se propotildee a realizar um acompanhamento

terapecircutico se necessaacuterio

Pocircde-se observar claramente que a amizade estaacute presente na relaccedilatildeo de mentoria

Atraveacutes dos discursos acima percebe-se um viacutenculo entre mentor e mentorado no qual o

mentorado mostra-se compreendido tal qual o proposto por Kram (1985)

84

bull Aceitaccedilatildeo e confirmaccedilatildeo

Pode-se observar atraveacutes dos discursos e mais evidentemente em uma das entrevistas

ldquoAfracircnio eacute muito bom em histoacuteria e ciecircncias ele soacute tira 10 Seu Moab sempre ficava

elogiando ele que ele era bom e acho que isso foi incentivando elerdquo (MAE DE

AFRAcircNIO entrevista out05)

Conforme o proposto por Kram (1985) a aceitaccedilatildeo faz com que o mentorado se sinta

seguro ateacute mesmo para enfrentar os desafios que conforme exposto satildeo muitos O

coordenador relata que entre os alunos do projeto haacute casos em que a crianccedila eacute

frequumlentemente desprezada pela matildee Neste caso o valor da aceitaccedilatildeo oferecida pelo mentor

torna-se imensuraacutevel

bull Aconselhamento

Dar conselhos apareceu frequumlentemente nos discursos da professora e do coordenador

O que pocircde ser confirmado atraveacutes da fala das matildees e do aluno entrevistado Os conselhos satildeo

dados visando o progresso dos alunos nos estudos por evitar que fiquem na rua e na tentativa

de convencecirc-los de que o seu futuro pode ser melhor do que o presente

O seu Moab soacute apoacuteia Agora eacute de falar o pesado tambeacutem Ele daacute apoio tudinho mas tambeacutem quando vecirc que taacute errado ele vem chega e conversa () ele tira o tempo dele praacute vir dar conselhos ele diz praacute Jairo que quer que ele estude que se forme e seja algueacutem na vidardquo (MAE DE JAIRO entrevista out05)

Outra matildee diz que quando o filho tem duacutevida sobre algo que aparece procura seu

Moab Diz que ele eacute rigoroso mas o filho atende ldquoA professora dizia para Faacutebio que ele soacute

seria algueacutem na vida se estudasse seu Moab tambeacutem dava o exemplo dos filhos delerdquo (MAE

DE FAacuteBIO entrevista out05) e a matildee de Helena diz ldquoEu sempre pedia a ele (Moab) para

dar conselho a Helena sobre estudo quando eu falo com ela entra por um ouvido e sai pelo

outro ela ouve elerdquo (entrevista out05)

85

O aconselhamento eacute mais uma das funccedilotildees relevantes em um projeto de mentoria

voltado para crianccedilas e adolescentes de risco uma vez que as crianccedilas nem sempre dispotildeem

de pessoas para aconselhaacute-las Segundo Harris et al (2002) a disponibilidade de adultos para

aconselhar as crianccedilas eacute escassa fazendo com que passem mais tempo com seus pares que

neste caso podem ter pouco a oferecer em termos de aconselhamento e de orientaccedilatildeo para um

futuro mais promissor do que o vivenciado na comunidade

bull Modelagem de papeacuteis

Acerca do suporte psicossocial oferecido pelo projeto a funccedilatildeo modelagem de papeacuteis

foi encontrada de duas formas uma atraveacutes da pessoa do mentor e outra atraveacutes do mentor

elegendo seus filhos como modelo Em termos educacionais o coordenador parece constituir

seus filhos como exemplos a serem seguidos um cursando o doutorado e a outra com dois

cursos superiores O que traz sentido agrave fala de uma das matildees ao dizer que ele cita os filhos

como exemplos Por outro lado a modelagem de papeacuteis natildeo consiste apenas em o mentor se

um modelo educacional para o mentorado A modelagem eacute mais ampla uma vez que o

mentorado tem nos comportamentos valores e atitudes de seu mentor um modelo positivo O

coordenador leva ao conhecimento de seus mentorados o sacrifiacutecio que fez para educar seus

filhos ainda que abrindo matildeo de sua proacutepria formaccedilatildeo Rhodes et al (2002) dizem que o fato

de ser um modelo faz com que o mentor seja visto pelo mentorado como ideal Neste sentido

o coordenador parece ser visto pelos mentorados como exemplo de um vencedor A fala de

Walter ao colocaacute-lo como pai transmite esta ideacuteia de referencial Walter diz ter a seguinte fala

de seu mentor em sua cabeccedila e colada em seu caderno ldquoo fracasso jamais me surpreenderaacute se

a minha decisatildeo de vencer for suficientemente forterdquo (WALTER entrevista out 2005) Esta

fala parece ser o lema do proacuteprio coordenador Vale salientar que assim como o lema Walter

deseja tambeacutem ldquoimitarrdquo o mentor quanto ao ser professor

86

Parece haver a necessidade de mostrar agrave crianccedila ou adolescente que haacute uma

possibilidade diferente da que ela estaacute habituada a ver Que haacute outros referenciais e que ela

tem possibilidade de escolha mesmo que esta implique em desafios Pode-se retomar o

discurso do coordenador quando diz que seu filho para ir agrave Universidade muitas vezes pegou

carona no caminhatildeo do lixo Ao citar isto o mentor pode estar criando uma identidade entre

as crianccedilas e seu filho ao demonstrar que mesmo com a difiacutecil realidade o esforccedilo e a

vontade de sobressair o fizeram ldquovencedorrdquo Assim como ele conseguiu elas tambeacutem podem

conseguir Vecirc-se claramente isto no discurso de uma das crianccedilas quando diz que natildeo quer ser

como o pai sem estudos O que revela que em relaccedilatildeo aos estudos e carreira ele tem outro

referencial Pocircde-se neste relato observar um olhar mais reflexivo da crianccedila ao sair de seu

proacuteprio contexto e desejar escapar do ldquodeterminismordquo a que estaacute sujeita

Estas foram as especificidades das funccedilotildees da mentoria desenvolvida no projeto em

relaccedilatildeo agraves propostas pela literatura Observou-se a existecircncia de suporte de carreira e

psicossocial Foram portanto encontradas no projeto as duas funccedilotildees de mentoria propostas

por Kram (1985) Neste caso a mentoria desenvolvida no projeto pode ser considerada

intensa A autora salienta que a funccedilatildeo psicossocial estaacute relacionada agrave confianccedila existente na

relaccedilatildeo Pocircde-se observar que o coordenador do projeto goza da confianccedila da comunidade

tanto pela abertura que as famiacutelias lhe demonstram como por entregar seus filhos aos seus

cuidados Tal confianccedila foi observada em todas as entrevistas Este fato permite que sejam

desempenhadas as funccedilotildees de suporte psicossocial

Seguem na proacutexima seccedilatildeo as fases da mentoria no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

87

423 Fases da relaccedilatildeo de mentoria apresentadas no projeto de

reforccedilo

Com relaccedilatildeo aos alunos pesquisados todos estavam na fase de cultivo da relaccedilatildeo seja

com apenas dois anos de projeto seja com oito No entanto pocircde-se observar que em alguns

casos de egressos a mentoria estaacute na fase de redefiniccedilatildeo uma vez que os mentorados estatildeo

seguindo seus proacuteprios rumos jaacute natildeo com um acompanhamento ldquotatildeo de pertordquo Eacute o caso de

uma ex-aluna do projeto que ganhou um apartamento no Conjunto Habitacional Casaratildeo do

Cordeiro intermediado pelo coordenador junto agrave Prefeitura

Pode-se perceber que os relacionamentos de mentoria encontram-se

predominantemente na fase de cultivo Eacute nesta fase que o mentor provecirc as funccedilotildees de

carreira e psicossociais Tal achado culmina com os encontrados anteriormente facilitando o

desenvolvimento das funccedilotildees de mentoria tatildeo evidentes neste projeto

Segue na proacutexima seccedilatildeo os fatores relacionados ao ecircxito de um programa de mentoria

formal que foram encontrados no projeto

424 Fatores encontrados no projeto que de acordo com a

literatura estatildeo relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria

A literatura aponta fatores que estatildeo relacionados ao ecircxito de um programa de

mentoria Estes foram encontrados no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida Os fatores satildeo seleccedilatildeo de

mentores e mentorados acompanhamento da relaccedilatildeo de mentoria frequumlecircncia dos encontros e

duraccedilatildeo da relaccedilatildeo Seguem-se os dados e sua discussatildeo acerca de cada fator de ecircxito

88

bull Seleccedilatildeo de mentor e mentorado

O uacutenico criteacuterio para ser mentorado era o fato de residir na Vila do Vinteacutem As

crianccedilas e adolescentes que tivessem interesse em levar suas tarefas ao reforccedilo poderiam fazecirc-

lo Laacute recebiam acompanhamento de um professor desde que com o aval dos pais

Para se fazer parte do projeto enquanto mentor era necessaacuterio o compartilhamento da

visatildeo de que eacute possiacutevel acreditar na mudanccedila de vida das crianccedilas e adolescentes atraveacutes da

educaccedilatildeo de qualidade e que as crianccedilas tecircm potencial mas lhes falta oportunidade Os

professores satildeo selecionados pelo coordenador do projeto mediante anaacutelise do curriacuteculo e da

experiecircncia A professora entrevistada jaacute conhecia os alunos do projeto pois eacute uma das

professoras que leciona em uma das escolas que fornece bolsa para a comunidade o que fez

com que o coordenador conhecesse parcialmente seu trabalho Ao falar de sua admissatildeo ao

projeto ela diz ldquoeu gosto desta clientela (crianccedilas carentes) e ele (Moab) me deu esta

oportunidaderdquo (entrevista out05) A dentista aderiu ao projeto a partir de uma das

apresentaccedilotildees do grupo em busca de patrociacutenio e apoio Diante da necessidade de pessoas

qualificadas para prestar serviccedilo voluntaacuterio ela que diz ter interesse e identidade com a aacuterea

social prontificou-se e estaacute no projeto haacute um ano

A psicoacuteloga demonstra o mesmo interesse ldquoEu sempre fui muito voltada para o social

sempre gostei muito de ajudarrdquo Ela parece estar muito inserida com a comunidade atraveacutes

do projeto pois frequumlentemente em seu discurso ela afirma ldquoquando vocecirc estaacute laacute dentro com

elesrdquo (entrevista out05) A psicoacuteloga trabalha em outro centro de atendimento a pessoas

carentes Estaacute no projeto haacute cinco anos

Pode-se observar que os colaboradores tecircm identidade com o projeto a ponto de

realizarem o trabalho como voluntaacuterios A uacutenica exceccedilatildeo eacute a professora mas mesmo ela em

seu discurso considera que fazer parte do projeto eacute uma oportunidade Eacute marcante a fala da

89

psicoacuteloga em sua entrevista ao inserir-se realmente na comunidade Esta dedicaccedilatildeo e

identidade podem ser fatores que contribuem para que o projeto tenha maior ecircxito

bull Acompanhamento da relaccedilatildeo de mentoria

O coordenador do projeto estaacute frequumlentemente avaliando se os resultados obtidos satildeo

os desejados

Eu optei pela Vila Vinteacutem porque o nosso acompanhamento eacute a liberdade vigiada () noacutes fazemos as coisas para eles mas tambeacutem queremos acompanhar de perto o que estaacute acontecendo entatildeo natildeo adianta eu pegar um menino da comunidade onde eu natildeo possa visitaacute-lo ele natildeo possa vir ao projeto Eu natildeo vejo o resultado do investimento feito enquanto eles aqui eu vejo passo-a-passo () eacute um acompanhamento bem de perto mesmo (COORDENADOR out05)

Haacute reuniotildees com os pais responsaacuteveis esclarecendo a importacircncia do projeto e

solicitando sua interaccedilatildeo no programa

Eles passavam fita de viacutedeo para os pais sobre educaccedilatildeo e pediam para os pais falar com os filhos () ele sempre queria o bem das crianccedilas agora dependia das crianccedilas e dos pais () seu Moab dizia que a gente tinha que ajudar ele com o Faacutebio (crianccedila tida pelo coordenador como de natildeo-ecircxito) botar ele praacute estudar (MAE DE FAacuteBIO E DE DIEGO entrevista out05)

Com relaccedilatildeo ao mentorado pode ocorrer o desligamento do aluno da bolsa de estudos

na escola particular caso ele natildeo atinja um desempenho satisfatoacuterio ldquoQuando uma crianccedila

natildeo valoriza isso que a gente oferece a gente tambeacutem natildeo aceita repetente natildeo aceita falta

vocecirc tem que estar de acordo dentro do projeto em disciplina bem comportado e com boas

notasrdquo (COORDENADOR entrevista out 05) Mesmo desligado da escola particular o

aluno pode continuar fazendo parte do reforccedilo

Pocircde-se confirmar atraveacutes destes discursos o relatado por Frecknall e Luks (1992) A

participaccedilatildeo dos pais apoiando o programa tem uma relaccedilatildeo positiva com o sucesso e sem este

apoio o ecircxito do programa pode ficar comprometido Em uma comunidade onde a grande

maioria dos moradores eacute analfabeta o acompanhamento deve ser intenso visando incutir na

famiacutelia a necessidade de compreensatildeo do valor da educaccedilatildeo Grossman e Tierney (1998)

90

tambeacutem salientam a importacircncia de se verificar o grau de envolvimento da famiacutelia no

programa pois conforme exposto este eacute um fator de ecircxito para a relaccedilatildeo

bull Frequumlecircncia dos encontros

A frequumlecircncia dos encontros entre os mentores e mentorados varia A psicoacuteloga ia agrave

comunidade uma tarde por semana na qual prestava os atendimentos agendados e caso

houvesse mais pessoas a serem atendidas fazia outros atendimentos Em caso de necessidade

ela ia agrave comunidade num outro dia A dentista atendia em seu consultoacuterio Havendo

necessidade o coordenador ligava e agendava o atendimento Jaacute as aulas eram ministradas

diariamente para os alunos que estudavam agrave tarde o reforccedilo era pela manhatilde e para os que

estudavam pela manhatilde o reforccedilo era agrave tarde O acompanhamento era feito durante uma hora e

meia para cada turma As turmas eram assim divididas alfabetizaccedilatildeo e 1a seacuterie 2a e 3a

seacuteries e 4a e 5a seacuteries

Figura 7 (4) - Professora e alunos durante a aula de reforccedilo na sede do projeto03

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

91

Apoacutes o reforccedilo os alunos tinham outras atividades como aula de muacutesica (teoria e

praacutetica) danccedila pintura ou inglecircs O projeto dispunha de quadra alugada onde as crianccedilas

podiam jogar futebol Em quase todas as atividades o coordenador diz estar presente

No ano de 2005 como as atividades foram parcialmente suspensas natildeo houve mais

frequumlecircncia no relacionamento Algumas das crianccedilas com bolsa de estudos em escola

particular foram colocadas num semi-internato conseguido pelo projeto Esta interrupccedilatildeo teve

reflexo na vida dos alunos como se pocircde observar no discurso abaixo

Em casa ela natildeo eacute comportada sempre ela foi danada mas ela melhorou no projeto Agora que ta sem o projeto ela jaacute ta voltando ao que era eu tocirc recebendo reclamaccedilatildeo do coleacutegio que natildeo quer estudar soacute quer ta brincando ta voltando a dar problema ta voltando a ser o que era () no semi-internato tem muita atividade satildeo muitas crianccedilas e eles arengam e no projeto eu nunca tive esse problema de ela ta arengando (sic) (MAE DE HELENA entrevista out05)

O fato de as entrevistas terem sido realizadas neste periacuteodo de transiccedilatildeo no qual as

crianccedilas natildeo estatildeo sendo assistidas faz com que a importacircncia da frequumlecircncia dos encontros

fique evidenciada Confirma-se assim que esta eacute um relevante fator de ecircxito para a relaccedilatildeo de

mentoria conforme observado na teoria (KEATING et al 2002) No entanto pode-se dizer

que o projeto de reforccedilo apresentava uma frequumlecircncia maior do que nos programas

similares apresentados pela teoria Tal frequumlecircncia garante um acompanhamento mais

proacuteximo visto que todos os dias por no miacutenimo uma hora e meia os alunos estavam no

projeto em contato com seus mentores Estudos feitos por Keating et al (2002) revelam que a

frequumlecircncia dos encontros tem relaccedilatildeo com o ecircxito do relacionamento principalmente em se

tratando de adolescentes com risco para delinquumlecircncia Neste sentido o projeto apresentava

maior probabilidade de ecircxito uma vez que a frequumlecircncia dos encontros era alta

d) Duraccedilatildeo da relaccedilatildeo de mentoria

Os alunos pesquisados estatildeo inseridos nesta relaccedilatildeo de mentoria por no miacutenimo dois

anos Segundo Grossmam e Rhodes (2002) a maioria dos benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria

92

como melhores resultados educacionais psicossocias e comportamentais apresentam-se em

relaccedilotildees que perduram por um ano ou mais Frecnall e Luks (1992) consideram que a duraccedilatildeo

eacute um fator determinante do ecircxito

O projeto mostra-se rigoroso com os fatores que impedem o ecircxito dos alunos desde

que sob sua responsabilidade Os fatores acima tecircm sido observados uma vez que a

negligecircncia em referecircncia a qualquer destes fatores pode levar a uma relaccedilatildeo ineficiente ou

ateacute mesmo negativa trazendo efeitos nocivos agrave vida da famiacutelia do mentorado e tambeacutem do

mentor

Natildeo se pode ignorar que na medida em que se vai estruturando uma relaccedilatildeo de

mentoria a mesma vai sofrendo ajustes visando tornaacute-la mais produtiva mais ldquopoderosardquo

Existem fatores que podem e devem ser estruturados previamente tais como a duraccedilatildeo e a

frequumlecircncia dos encontros e o objetivo da relaccedilatildeo No entanto haacute outros fatores que nem

sempre se consegue estruturar Um exemplo eacute a confianccedila necessaacuteria para que a relaccedilatildeo

realmente aconteccedila Em outras palavras observando-se os fatores relacionados ao ecircxito seratildeo

minimizadas as possibilidades de insucesso mas elas natildeo deixaratildeo de existir pois a mentoria

mesmo com seus inuacutemeros benefiacutecios natildeo eacute uma soluccedilatildeo maacutegica Trata-se de uma relaccedilatildeo e

portanto dependente do encontro de pessoas e de viacutenculos emocionais entre elas Este aspecto

eacute de difiacutecil controle havendo sempre um espaccedilo para a imprevisibilidade do ser humano

Se os fatores que levam ao ecircxito da relaccedilatildeo foram observados pelo projeto resta o

questionamento de o por quecirc de alguns casos serem considerados pelo projeto como de natildeo-

ecircxito Este aspecto eacute abordado na seccedilatildeo seguinte

93

425 Fatores responsaacuteveis pelo ecircxito e natildeo-ecircxito nos estudos na

percepccedilatildeo do mentor e da famiacutelia do mentorado

Na percepccedilatildeo do coordenador o ecircxito eacute obtido quando a cada ano a crianccedila vai sendo

aprovada e ascendendo e apresentando um bom comportamento ldquoQuando uma instituiccedilatildeo se

abre e nos convida a oferecer mais bolsas eacute porque nossos alunos estatildeo correspondendo tanto

em disciplina quanto no aprendizadordquo (COORDENADOR entrevista set05) Um exemplo

de ecircxito citado pelo coordenador eacute o caso de uma moccedila que foi acompanhada pelo projeto

desde a 6a seacuterie ateacute o 3ordm ano do ensino Meacutedio Ela fez um curso de informaacutetica depois fez um

estaacutegio junto agrave Prefeitura e hoje aos 20 anos trabalha no setor burocraacutetico de um hospital

O coordenador considera um caso de natildeo-ecircxito o caso da crianccedila ou adolescente que

natildeo rende o esperado em termos de desempenho escolar e de comportamento

Vale salientar que em quase sua totalidade os casos de natildeo-ecircxito indicados para

pesquisa foram avaliados pelas famiacutelias como de ecircxito A uacutenica exceccedilatildeo eacute a matildee de Faacutebio

que acredita que seu filho realmente natildeo tem tido sucesso nos estudos Segundo o

coordenador a diferenccedila estaacute na expectativa Para os pais o fato de o aluno estar na escola e

apresentar melhor comportamento jaacute eacute ecircxito enquanto que para o projeto isto natildeo eacute o

suficiente Na opiniatildeo dele a falta de sucesso deve-se a trecircs fatores

a) Estrutura familiar ndash muitas vezes a famiacutelia natildeo daacute o suporte que a crianccedila necessita

Para o coordenador a escola natildeo eacute valorizada por esses pais ldquoEles natildeo tecircm a escola como um

centro de promoccedilatildeo social como mobilidade social Eles natildeo descobriram isso As famiacutelias

natildeo as crianccedilasrdquo (COORDENADOR entrevista set05)

A professora chamava conversava com os alunos com a matildee em particular Ela queria ajudar ele mas ele natildeo queria ser ajudado Eu sabia que o Faacutebio natildeo ia ter uma oportunidade em uma escola melhor porque ele eacute assim () Eu nunca tava em cima dele para estudar eu natildeo tenho paciecircncia natildeo Se ele responder duas coisas erradas eu jaacute fico brava O pai eacute pior que eu Mal digo a ele que eacute pior do que eu (MAE DE FAacuteBIO entrevista out05)

94

b) Relacionamento negativo entre os pais e os filhos

Outro fator que notamos eacute a falta de amor para com essas crianccedilas que natildeo datildeo tatildeo certo () Os pais tecircm outros objetivos tecircm outras coisas mais importantes do que amar seus filhos () todas as crianccedilas bem comportadas na sala de aula eram bem amadas em casa () Quando isso natildeo ocorre a crianccedila torna-se uma crianccedila problema porque ela leva os haacutebitos e a falta de amor que ela tem em casa praacute escola para onde ela chegar (COORDENADOR entrevista set05)

c) Desinteresse do proacuteprio aluno O projeto contava com quatro alunos que eram

irmatildeos Estes recebiam acompanhamento diaacuterio nas tarefas O coordenador diz que foi agrave

escola deles para saber suas notas Por este motivo eles deixaram de ir ao projeto Nenhum

deles terminou o Ensino Meacutedio e atualmente um eacute zelador o outro eacute jardineiro e dois estatildeo

desempregados

O objetivo do projeto eacute de longo prazo o que dificulta uma anaacutelise dos resultados ou

de egressos para se identificar o ecircxito ou natildeo-ecircxito Mesmo os casos que desde o iniacutecio foram

acompanhados ainda hoje o satildeo Natildeo com a mesma intensidade mas ainda recebem algum

tipo de suporte do projeto Outro fator que dificulta a anaacutelise eacute o fato de que todos os alunos

estatildeo na escola e avanccedilando em seacuteries mesmo porque atualmente a escola natildeo reprova o que

torna difiacutecil saber ateacute que ponto tecircm realmente bom aproveitamento Portanto natildeo se

conseguiu distinguir dentre os casos pesquisados um limite claro entre o ecircxito e o natildeo-ecircxito

contando-se apenas com a percepccedilatildeo dos respondentes (matildees de alunos psicoacuteloga professora

e coordenador)

426 Resposta agrave primeira questatildeo norteadora especificidades da

relaccedilatildeo de mentoria existentes no projeto de reforccedilo escolar

Conforme o objetivo proposto pocircde-se encontrar algumas especificidades na relaccedilatildeo

de mentoria realizada no projeto que diferem um pouco dos achados teoacutericos Satildeo eles

95

a) A mentoria apresenta aspectos de mentoria formal e informal

b) Existem dois tipos de relacionamento entre mentor e mentorado em um o

acompanhamento eacute mais proacuteximo do que no outro

c) A frequumlecircncia dos encontros eacute maior no projeto do que a encontrada na literatura

d) Dentre as funccedilotildees de carreira o patrociacutenio oferecido pelo projeto eacute mais amplo do

que o apresentado pela teoria e

Com base nestes achados eacute possiacutevel concluir que um programa de mentoria para

crianccedilas e adolescentes de uma comunidade carente do Recife tem suas especificidades suas

caracteriacutesticas particulares diferindo de outros programas realizados no contexto de outros

paises Respondida a primeira questatildeo norteadora segue-se a segunda que aborda os

benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentorado

43 Achados referentes agrave segunda questatildeo norteadora

Seguem os achados que buscam responder a seguinte questatildeo em um contexto

brasileiro ateacute que ponto os mentorados carentes estudados tecircm desfrutado dos benefiacutecios da

relaccedilatildeo de mentoria apontados pela literatura

Pocircde-se observar os seguintes benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria na vida dos

mentorados enquanto participantes do programa de reforccedilo

431 Aumento da auto-estima da responsabilidade maior

progresso escolar e perspectiva positiva de futuro

Devido agrave impossibilidade de neste trabalho medir-se a auto-estima dos mentorados o

aumento desta seraacute considerado em relaccedilatildeo ao progresso escolar pois com base no observado

por Harter (1982) o sentir-se competente leva o jovem a obter melhor desempenho Grossman

96

e Tierney (1998) salientam que jovens ao serem acompanhados por um mentor se sentiram

mais confiantes para com suas tarefas escolares Associou-se tambeacutem o progresso escolar com

perspectiva positiva de futuro uma vez que se percebeu que o avanccedilo nos estudos estaacute

relacionado com melhores perspectivas de futuro

O aumento do desempenho escolar eacute visiacutevel nos casos que se seguem

Antes (do projeto) ela era preguiccedilosa soacute queria ficar brincando ela teve muita dificuldade para aprender (na preacute-escola) Estudava mas natildeo aprendia na 1a foi fazer o reforccedilo depois do projeto ela foi se interessando mais pode ser porque natildeo tinha nenhum incentivo neacute () Ela chegava e dizia que era bom quando estudava e tirava nota boa antes (de interromper o projeto) ela natildeo esperava nem chegar em casa vinha aqui (no trabalho) para me mostrar as provas (MAE DE HELENA entrevista out05)

No interior eu fiz matricula dele noacutes trabalhava na roccedila ele natildeo gostava (de estudar) natildeo se dedicava ia caccedilar passarinho mas quando chegou aqui seu Moab quis acordar ele pra vida Ele vendo os meninos tudo com a idade dele (9 anos na eacutepoca) sabendo ler e escrever dentro de seis meses o menino desenrolou para aprender mesmo (sic) (MAE DE JAIRO entrevista out05)

Jairo cursou a 4a e a 5a seacuteries no mesmo ano Faz tambeacutem curso de inglecircs O

coordenador ouviu da professora deste curso que o aluno tem dom para idiomas natildeo soacute

inglecircs mas espanhol e francecircs

A possibilidade do intercacircmbio foi boa para eu ter uma certa ideacuteia do que pode acontecer comigo do que pode acontecer () Ele (Moab) dizia que para analfabeto a caneta e o papel eacute o chatildeo e a vassoura Que eu estudasse porque a miseacuteria hoje em dia -saiu na revista- jaacute tinha endereccedilo que era praacute pobre negro e nordestino e que se a gente natildeo lutasse essa realidade a gente natildeo iria mudar nunca () Eu decidi que quero ser professor de inglecircs (WALTER entrevista out05)

Ele diz que quer fazer faculdade ele ficou com mais esperanccedila de conseguir uma coisa melhor ele diz que eu natildeo me preocupe porque daqui a dez anos ele vai ter um emprego bom e vai me ajudar (MAE DE FREDERICO entrevista out05)

Ele quer ir estudar nos Estados Unidos fez vaacuterios cursos inglecircs francecircs espanhol informaacutetica e de entrevista Onde tiver curso ele vai ele quer muito trabalhar ter seu dinheiro fazer sua vida () o negoacutecio dele eacute ta dentro de casa estudando pregado nos livros (MAE DE NESTOR entrevista out05)

97

A professora entrevistada leciona tambeacutem no coleacutegio que oferece bolsa para os alunos

do projeto sendo professora deles em ambos os lugares Ao ser solicitada a comparar o

desempenho dos alunos do projeto com os demais alunos a professora mencionou que dentre

seus trecircs alunos com desempenho excelente dois satildeo do projeto Os demais do projeto estatildeo

na meacutedia

A coordenadora de uma das escolas que fornece bolsa de estudos ao projeto (esta

escola oferece bolsas para dois alunos da sexta seacuterie) ao ser entrevistada disse que o

comportamento dos alunos do projeto eacute bom e o desempenho apresentado por eles eacute maior do

que a meacutedia da turma e da seacuterie como se pode observar nos boletins que se seguem

98

Figura 8 (4) Boletim escolar de Afracircnio - 6a Seacuterie

99

Figura 9(4) Boletim escolar de Jairo ndash 6a Seacuterie

Em ambos os casos as famiacutelias satildeo analfabetas E neste ano os dois alunos estatildeo sem

o reforccedilo motivo pelo qual segundo uma das matildees o desempenho do filho caiu Este mesmo

aluno neste ano natildeo conta com todo o material didaacutetico necessaacuterio Ainda assim estes alunos

estatildeo apresentando um desempenho superior ao de seus colegas

100

Atraveacutes dos discursos das matildees percebeu-se considerarem que o fato de seus filhos

terminarem a primeira fase do ensino fundamental e darem sequumlecircncia a estes estudos jaacute eacute uma

visatildeo positiva de futuro Observou-se isso no discurso da matildee de Afracircnio ldquoquem estuda tem

esperanccedila de um futuro melhorrdquo O caso de Jairo que chegou analfabeto do interior e em seis

meses estava lendo e escrevendo confirma o proposto por Rhodes et al (2002) de que a

presenccedila de um mentor ajuda os adolescentes a superarem momentos de adversidade Neste

caso ele natildeo tem pai e sua matildee considera o mentor como algueacutem da famiacutelia que ajuda a

suprir esta ausecircncia na vida do filho O fato de Walter (que convive com analfabetos) ter

definido sua carreira (professor de inglecircs) demonstra o proposto por Kram (1985) o mentor

ajuda o mentorado na definiccedilatildeo da identidade profissional

Vale destacar a relevacircncia de se promover o aumento da auto-estima decorrente do

desempenho apresentado pelos alunos Pessoas que ainda natildeo tecircm satisfeitas adequadamente

as necessidades fisioloacutegicas (alimentam-se mal natildeo contam com aacutegua encanada nem

sanitaacuterios) e de seguranccedila (moram e vivem permanentemente expostos a riscos) apresentando

necessidade de realizaccedilatildeo Vale ressaltar a teoria da motivaccedilatildeo proposta por Maslow (apud

ROBBINS 2002) que defende que a satisfaccedilatildeo da necessidade de realizaccedilatildeo dependeria da

satisfaccedilatildeo de niacuteveis mais baacutesicos de necessidade como as fisioloacutegicas de seguranccedila e sociais e

de estima Percebeu-se no contexto da pesquisa a possibilidade do caminho inverso Atraveacutes

do aumento da auto-estima e da satisfaccedilatildeo da necessidade de realizaccedilatildeo as crianccedilas e

adolescentes podem vir a ter no futuro condiccedilotildees de satisfazer a contento suas necessidades

fisioloacutegicas e de seguranccedila

101

432 Resposta da segunda questatildeo norteadora benefiacutecios da

mentoria para a crianccedila adolescente do projeto

Foram encontrados os seguintes benefiacutecios para o mentorado participante do projeto

aumento da auto-estima maior progresso escolar e perspectiva positiva de futuro

Em termos de especificidades com relaccedilatildeo ao proposto pela teoria natildeo foram

percebidas diferenccedilas existentes entre os benefiacutecios para o mentorado encontrados em

pesquisas anteriores e os encontrados no projeto de reforccedilo escolar na Vila do Vinteacutem II fato

que responde agrave segunda questatildeo norteadora desta pesquisa

Seguem os achados acerca da terceira questatildeo que versa sobre os benefiacutecios para o

mentor encontrados na mentoria desenvolvida pelo projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

44 Achados referentes agrave terceira questatildeo norteadora

Dentre os benefiacutecios na vida dos mentores que participam do projeto pocircde-se observar

realizaccedilatildeo pessoal motivaccedilatildeo amizade auto-conhecimento e senso de dever cumprido Tais

achados apresentados nas seccedilotildees abaixo buscam responder a seguinte questatildeo ateacute que ponto

um projeto de mentoria voltado para crianccedilas e adolescentes carentes oferece os benefiacutecios

propostos pela teoria para os mentores

441 Realizaccedilatildeo pessoal

Pocircde-se observar que fazer parte do projeto faz com que os mentores se sintam

realizados

Quando a gente eacute uacutetil a outra pessoa a gente se realiza () Eu me realizo assim vendo a alegria dos meninos que realmente estatildeo mudando a cara natildeo soacute da famiacutelia mas tambeacutem da comunidade (COORDENADOR entrevista set05)

102

Eu fico muito bem comigo mesma na realizaccedilatildeo deste trabalho () O que me deixa realizada eacute ver alguns frutos desse trabalho natildeo soacute nas crianccedilas como da proacutepria famiacutelia () em relaccedilatildeo ao futuro agrave auto-estima potencial de cada um que eles natildeo estatildeo sozinhos a gente taacute laacute com eles () e esse pouquinho esse pouco que eu estou fazendo estaacute facilitando a vida melhorando A gente vecirc um salto de qualidade na vida deles (PSICOacuteLOGA entrevista out05)

Ao acompanhar preparar os alunos para os exames de admissatildeo vecirc-los entrar na

escola particular acompanhar o crescimento e desenvolvimento dos mentorados a professora

entrevistada demonstra sentir orgulho do trabalho feito com seus dois melhores alunos

ldquoRealmente valeu a pena investir porque satildeo crianccedilas que apesar de todo o contexto social

que eles vivem eles satildeo responsaacuteveis inteligentiacutessimosrdquo (PROFESSORA entrevista out05)

Ficou evidenciado que o fato de ser um mentor daacute ao indiviacuteduo um senso de

generosidade ao contribuir com as geraccedilotildees futuras (RAGINS 1997) e que ser mentor de

adolescentes delinquumlentes tem sido gratificante na medida em que os mentores tecircm uma

oportunidade de ajudar estas pessoas (JACKSON 2002) Ser mentor do projeto Educaccedilatildeo eacute

Vida provecirc um sentimento de recompensa ao ver as mudanccedilas positivas na vida dos

mentorados conforme o propostos por Shields (2001)

442 Motivaccedilatildeo

A psicoacuteloga diz que a partir de seu envolvimento com o projeto ela fez curso em

Psicopedagogia e especializaccedilatildeo em Psicologia da Famiacutelia

O trabalho com as crianccedilas e as famiacutelias me proporcionou outros aprendizados maiores ateacute do que eu esperava porque a gente aprende muito laacute dentro com eles E assim eu comecei a me especializar a voltar para mim em niacutevel de aprendizado de crescimento tambeacutem profissional () Eacute uma troca muito grande de saber quando a gente taacute laacute dentro com eles a gente tem essa vontade de realmente acertar (PSICOacuteLOGA entrevista out05)

Zey (1998) diz que o mentor pode redirecionar sua energia para a criatividade e accedilatildeo

produtiva A mentoria pode entatildeo significar estiacutemulo e desafio O que pocircde ser observado no

103

discurso acima O desenvolvimento profissional natildeo eacute benefiacutecio apenas para o mentorado

mas para o mentor tambeacutem

443 Ser amado pelo mentorado

Pocircde ser observado que o mentor recebe amizade e carinho de seus mentorados

conforme verificado por Klaw et al (2003) ldquoEle ama o seu Moab ele almoccedila na casa de

Moab segunda e quarta e diz que laacute tudo eacute bomrdquo (MAE DE AFRAcircNIO entrevista out05)

ldquoMeus dois filhos eacute agarrado com seu Moabrdquo (sic) (MAE DE TAcircNIA entrevista set 05)

ldquoMoab foi vendo que eu tava sempre ali no projeto do lado dele e ele do meu lado () o

pessoal me achava careta porque eu sentia alguma coisa pelo projeto eu sempre prestava a

atenccedilatildeo procurava entenderrdquo (WALTER entrevista out05)

444 Autoconhecimento

Percebeu-se que fazer parte do projeto enquanto mentor provecirc um maior

autoconhecimento ou autopercepccedilatildeo

ldquoEacute muito gratificante trabalhar com pessoas carentes comeccedilo a valorizar o que eu

tenho a gente comeccedila a agradecer muito por essa vida boa que a gente tem que eacute muito boa

muito boa mesmordquo (DENTISTA entrevista out05)

A partir desta relaccedilatildeo ela percebe melhor sua situaccedilatildeo fala acerca da sauacutede dos filhos e de ter

uma casa maravilhosa

Neste caso o contato com a realidade da comunidade pode tecirc-la levado a comparar

esta realidade com a sua proacutepria e entatildeo perceber-se abastada

104

445 Senso de dever cumprido

Outro beneficio encontrado diz respeito ao senso de dever cumprido que o fato de ser

mentor propicia

A gente sabe que tem um papel social a desempenhar Natildeo fomos beneficiados pela sociedade com o direito de estudar de fazer um curso superior de ter uma habilitaccedilatildeo () para que isso sirva apenas para o nosso benefiacutecio Essa nossa habilitaccedilatildeo que a sociedade deu a sociedade deu eu estudei em uma Universidade Federal essa habilitaccedilatildeo deve retornar para a sociedade tambeacutem para quem pode pagar e para quem natildeo pode pagar Eacute necessaacuterio que isso volte (DENTISTA entrevista out05)

Este benefiacutecio natildeo foi encontrado na literatura talvez por tratar de um tema ainda

recente o indiviacuteduo ter responsabilidade com a realidade social que o cerca

446 Resposta da terceira questatildeo norteadora benefiacutecios da

mentoria para o mentor

Foram encontrados no projeto educaccedilatildeo eacute Vida os seguintes benefiacutecios para o mentor

a) Realizaccedilatildeo pessoal

b) Motivaccedilatildeo

c) Ser amado pelo mentorado

d) Autoconhecimento e

e) Senso de dever cumprido

Sendo que estes dois uacuteltimos natildeo foram encontrados na teoria mas percebidos na

relaccedilatildeo de mentoria que ocorre no projeto Estes achados podem ser explicados devido ao

contexto no qual a mentoria ocorreu crianccedilas e adolescentes de uma comunidade carente

Contexto que difere da realidade dos mentores e que pode tecirc-los levado a uma reflexatildeo sobre

sua proacutepria condiccedilatildeo de vida e sua responsabilidade com os que natildeo se acham em iguais

condiccedilotildees Tais achados respondem a terceira questatildeo norteadora deste trabalho

105

45 Achados referentes agrave quarta questatildeo norteadora

Puderam ser verificados outros benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas

e adolescentes com risco para delinquumlecircncia aleacutem dos mencionados anteriormente Pois na

medida em que o mentorado se beneficia da relaccedilatildeo sua famiacutelia alcanccedila estes benefiacutecios e a

sociedade tambeacutem acaba sendo beneficiada ainda que indiretamente

Com o intuito de responder a questatildeo quais os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da

relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas e adolescentes carentes em uma comunidade do Recife

seguem os benefiacutecios sociais diretos da mentoria realizada pelo projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

451 Desenvolvimento educacional das crianccedilas e dos adolescentes

Por se tratar de um ambiente carente e de analfabetos a comunidade natildeo tem como

prover o acompanhamento das crianccedilas e adolescentes as famiacutelias natildeo dispotildeem de tempo

eou conhecimento e preparo para prover tal suporte Por exemplo uma matildee analfabeta natildeo

parece ter condiccedilotildees de ajudar o filho nas tarefas escolares

Eu tocirc pensando quando ela fizer a 5a que natildeo tem o reforccedilo nem o semi-internato ela vai fazer a tarefa em casa e se brincar ela sabe mais do que eu (MAE DE SILVIA entrevista out05)

Eu natildeo tenho estudo faccedilo meu nome muito mal Meu marido sabe mas trabalha e de noite jaacute ta cansado () no reforccedilo ele fazia a tarefa todo dia sem reforccedilo e sem uma matildee que sabe ler quem ia ensinar a ele ai ia ficar complicado (MAE DE FREDERICO entrevista out05) Os coleacutegios hoje em dia quer a crianccedila saiba ler quer natildeo saiba o Estado passa natildeo quer saber se a crianccedila ta aprendendo se aprendeu se natildeo aprendeu (MAE DE TITO entrevista out05) A escola (puacuteblica) um dia tem aula outro dia natildeo tem ai ela fica em casa Hoje mesmo ela taacute em casa porque natildeo teve aula (MAE DE TAcircNIA entrevista out05)

106

A professora dele disse que ele natildeo tinha condiccedilotildees de passar mas ela natildeo podia reprovar (MAE DE FAacuteBIO entrevista out05)

Tais depoimentos revelam dois fatores incapacidade da famiacutelia em acompanhar os

estudos do filho e ineficiecircncia do ensino puacuteblico na experiecircncia destas famiacutelias O que leva a

pensar que o futuro educacional destas crianccedilas seria similar ao de suas matildees conforme

Barros et al (1994) que diz que a educaccedilatildeo meacutedia das matildees eacute o principal determinante do

desempenho escolar do filho ou seja haveria maior evasatildeo escolar Neste sentido o projeto

propicia que o aluno vaacute aleacutem da escolaridade da matildee

Vale aqui um questionamento por que o governo investe em bolsa escola e natildeo

acompanha o aluno Simplesmente ter a presenccedila do aluno na escola natildeo eacute garantia de que o

mesmo estaacute aprendendo O fato de que um professor natildeo pode mais reprovar o aluno mesmo

que sem condiccedilotildees de galgar um grau superior pode demonstrar que o interesse das poliacuteticas

puacuteblicas pode estar relacionado a nuacutemeros A taxa de matriacutecula estaacute associada ao aumento do

IDH mas ateacute que ponto isto reflete o real rendimento escolar dos alunos

Neste caso a mentoria vem suprir uma falta natildeo apenas da famiacutelia mas tambeacutem do

Estado e do Municiacutepio uma vez que por si soacute natildeo tecircm tido ecircxito com o aproveitamento e a

manutenccedilatildeo dos alunos na escola

452 Assistencialismo

Foi observado que algumas famiacutelias associam o projeto agrave assistecircncia social ldquoO reforccedilo

faz muita falta () tinha muitas doaccedilotildees roupas cestas baacutesicas no dia das crianccedilas

tinha brinquedos festas doaccedilotildees para as crianccedilasrdquo (MAtildeE DE FAacuteBIO entrevista

set05)

Ainda que esta natildeo seja a proposta do projeto as famiacutelias devido ao patrociacutenio

ofertado ao mentorado e agrave sua famiacutelia percebem o projeto como assistencialista

107

453 Diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia

O projeto demonstra contribuir indiretamente com a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia

As crianccedilas tando no projeto a gente fica despreocupada Quando ela natildeo tava no projeto ficava na rua natildeo queria estudar soacute queria ficar na rua brincando () muitas matildees estatildeo preocupadas em o que fazer com as crianccedilas sem o projeto (MAE DE HELENA entrevista out05) Ele tando laacute no projeto eu saio despreocupada neacute Que ele natildeo ta na rua A vida que a gente vive hoje sai pra trabalhar e sabe que o filho natildeo ta na rua a gente fica despreocupada (MAE DE AFRAcircNIO entrevista out05) Ele gosta eacute de rua de papagaio peatildeo bola () Ele natildeo liga para o caderno livros agora falou em rua eacute com ele () No reforccedilo ele estudava mais um pouco (MAE DE FAacuteBIO entrevista out05) O reforccedilo evita de as crianccedilas ta na rua no sinal pedindo (MAE DE TITO entrevista out05)

Atraveacutes destas declaraccedilotildees pocircde-se observar o referido por Harris et al (2002) que a

entrada das matildees no mercado de trabalho e o aumento das separaccedilotildees conjugais fazem com

que o adolescente passe menos tempo com os pais e passe a maior parte do tempo com seus

pares Conforme observado anteriormente a delinquumlecircncia tem diversas causas Dias (2003)

por exemplo verificou que a maior parte dos jovens delinquumlentes participantes de sua

amostra era de analfabetos funcionais relacionando assim a delinquumlecircncia a poucos anos de

estudos e consequumlentemente agrave evasatildeo escolar Na medida em que a crianccedila se desenvolve

nos estudos haacute uma diminuiccedilatildeo da evasatildeo escolar e consequumlentemente da delinquumlecircncia

Outra forma de o projeto contribuir com a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia refere-se a levar as

crianccedilas a deixarem a rua onde estatildeo expostas a diversos riscos como violecircncia drogas

exploraccedilatildeo sexual e confusotildees situaccedilotildees frequumlentes em um contexto de favela

A relaccedilatildeo de mentoria desenvolvida pelo projeto eacute de longo prazo Portanto por mais

que alguns benefiacutecios se evidenciem estes soacute poderatildeo ser claramente observados ao longo do

108

tempo quando as crianccedilas e adolescentes do projeto forem adultos Pode-se inferir a partir

dos resultados apresentados que ao inveacutes de dependentes de poliacuteticas assistencialistas os

egressos contribuiratildeo com o desenvolvimento de sua cidade Eacute possiacutevel antecipar que uma

grande parcela das pessoas que faziam a favela Vila do Vinteacutem II estaraacute alfabetizada e

ocupando um lugar no mercado de trabalho Aiacute sim ter-se-aacute um aumento real do IDH que de

fato revelaraacute um aumento da qualidade de vida desta populaccedilatildeo do Recife Soacute entatildeo poderatildeo

ser mensurados os benefiacutecios sociais deste projeto

454 Resposta da quarta questatildeo norteadora benefiacutecios sociais

da relaccedilatildeo de mentoria

Pocircde-se observar os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria existente

no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida As especificidades encontradas foram

a) Maior desenvolvimento educacional de crianccedilas e adolescente carentes com risco para

delinquumlecircncia visto tratar-se de um projeto de reforccedilo escolar

b) Assistecircncia social ao prover a satisfaccedilatildeo de algumas das necessidades baacutesicas do

mentorado e de sua famiacutelia

c) Suprimento pela relaccedilatildeo de mentoria de uma falha do sistema educacional do Estado e

do Municiacutepio que gradua o aluno sem que ele tenha condiccedilotildees O projeto tem suprido

esta carecircncia dando condiccedilotildees de o aluno galgar o grau seguinte

Estes foram os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da mentoria realizada no projeto

Educaccedilatildeo eacute Vida o que responde agrave quarta questatildeo norteadora deste trabalho

Seratildeo apresentadas no proacuteximo capiacutetulo as conclusotildees do trabalho bem como as implicaccedilotildees

teoacutericas praacuteticas e sociais e as sugestotildees de pesquisas futuras

109

5 Conclusatildeo

Neste capiacutetulo seratildeo apresentadas as conclusotildees da pesquisa tendo como referencial os

objetivos propostos

Pode-se concluir que a mentoria mostrou assim como no exposto teoricamente

resultados positivos na vida dos mentores mentorados e da comunidade O objetivo da

pesquisa foi atingido uma vez que foi possiacutevel conhecer algumas especificidades da mentoria

no contexto brasileiro e mais especificamente nordestino Ampliou-se tambeacutem o

conhecimento da mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes com risco para delinquumlecircncia

Desta forma a mentoria mostrou-se eficaz no sentido de contribuir para o desenvolvimento

do mentorado de forma que ele permanece na escola e melhora o rendimento escolar

As funccedilotildees de carreira propostas pela literatura foram encontradas e destas vale

destacar a oferta de tarefas desafiadoras O mentor propotildee inuacutemeros e audaciosos desafios

para seus mentorados sem no entanto deixar de prover as condiccedilatildeo de atingi-los e de superar

a realidade de exclusatildeo a que estatildeo sujeitos Outras funccedilotildees desenvolvidas pelo projeto e que

merecem destaque dizem respeito agrave amizade e agrave aceitaccedilatildeo do mentor para com seu

mentorado A importacircncia deste viacutenculo afetivo eacute imensuraacutevel principalmente em se tratando

e crianccedilas que muitas vezes natildeo percebem amor em sua famiacutelia

Seu Moab se preocupa mais com as crianccedilas do que noacutes que somos matildee (risos) Tem paciecircncia tem carinho por aquelas crianccedilas Ele sabe ensinar () ele natildeo machuca ele natildeo grita e as crianccedilas obedecem Eacute uma benccedilatildeo ele tem aquele amor (MAtildeE DE TAcircNIA entrevista set05)

O projeto demonstrou suprir lacunas na famiacutelia sendo o mentor agraves vezes comparado

com um pai ou com algueacutem da famiacutelia Pocircde se perceber a importacircncia da mentoria para o

grupo especiacutefico de pessoas marginalizadas ldquocarentes de tudordquo (PSICOacuteLOGA entrevista

110

set05) ao se ter algueacutem que acredite que aceite valorize incentive e decirc condiccedilotildees de

crescimento e desenvolvimento Papel este desempenhado pelos mentores ldquoO projeto restaura

a dignidade da pessoa do ser pessoa de ser um cidadatildeo de estar num lugar () onde as

pessoas estatildeo olhando para ele Ele eacute importante ele existerdquo (PSICOacuteLOGA entrevista

out05)

A mentoria mostrou-se efetiva em ajudar o mentorado em seu desenvolvimento

pessoal e ldquoprofissionalrdquo e seus benefiacutecios puderam ser em parte verificados

Os fatores de ecircxito mencionados na teoria tambeacutem puderam ser encontrados no

projeto A relaccedilatildeo de mentoria existente no projeto revelou caracteriacutesticas natildeo abordadas pela

teoria o que enriquece os estudos nesta aacuterea

Outro aspecto que chama a atenccedilatildeo eacute o comprometimento dos colaboradores

entrevistados seu desejo em ajudar e realizaccedilatildeo ao poderem contribuir

Esta foi a conclusatildeo objetiva deste trabalho No entanto em se tratando de uma

pesquisa qualitativa na qual haacute o envolvimento do pesquisador com o objeto na busca de se

chegar a uma compreensatildeo deste outros conhecimentos menos objetivos puderam ser

apreendidos e devem ser mencionados

O fazer parte do projeto parece ter um significado especial para quem dele participa e

os benefiacutecios parecem ir aleacutem dos aqui listados Algo taacutecito que natildeo pocircde ser apreendido

apenas sentido o brilho nos olhos as laacutegrimas as pausas e a voz trecircmula Fatos frequumlentes

nas entrevistas quer de mentores de mentorados ou das matildees

O projeto na percepccedilatildeo da pesquisadora pode ser comparado a seguinte metaacutefora uma

sementeira muito acolhedora cujos responsaacuteveis satildeo uma famiacutelia de saacutebios agricultores (pai

matildee filho e filha) que mesmo com outras opccedilotildees ldquomais lucrativasrdquo financeiramente optam

por trabalhar em sementes rejeitadas Esta famiacutelia partilha da visatildeo que vai aleacutem da ldquocascardquo

seca feia suja e aparentemente infrutiacutefera que tais sementes se apresentam E assim doam

111

suas vidas para descobrir (natildeo no sentido de achar mas de tirar o que encobre) e revelar o

tesouro que haacute dentro delas Plantam regam e fornecem a elas os nutrientes tirados de sua

proacutepria mesa no intuito de vecirc-las desabrochar desenvolver crescer e influenciar

positivamente a terra seca e aacuterida na qual foram geradas e permanecem A ideacuteia eacute a de uma

sementeira na qual um belo jardim e um frutiacutefero pomar satildeo vislumbrados Natildeo se

excluem desta percepccedilatildeo as dificuldades que acompanham o preparo da terra a poda as

intempeacuteries do ambiente e o descreacutedito daqueles que muitas vezes ao verem tal trabalho

negligenciam seu valor meneiam a cabeccedila e o desprezam No entanto o amor e a vontade de

ver tais sementes tatildeo marginalizadas frutificarem se alastra e contagia a outros que com o

mesmo intuito tecircm se envolvido contribuindo e partilhando do mesmo sentimento pois

acreditam que fornecendo as condiccedilotildees ldquoadequadasrdquo essas sementes iratildeo frutificar tanto ou

mais do que as mais belas aacutervores do mais belo pomar Esta sementeira para a pesquisadora

eacute o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida os agricultores satildeo Moab Silva Miriam Mariacutelia e Marcos

Moab apenas esporadicamente trabalha como cozinheiro visto dedicar-se

integralmente ao projeto no acompanhamento das crianccedilas e adolescentes nas escolas na

busca de patrociacutenio na comunidade com os pais

Miriam abre as portas de sua casa partilha o alimento com qualquer das crianccedilas que

chegar agrave sua porta e tatildeo importante quanto este partilha tambeacutem o afeto Natildeo se pode

mensurar o quanto este casal jaacute abnegou de sua vida em prol da vida deste projeto

Mariacutelia e Marcos jaacute ensinaram no projeto e quando solicitados retornam eles aceitam

partilhar com tantos outros daquilo que seria soacute seu pai matildee lar e recursos

Este projeto eacute um projeto de uma famiacutelia que se envolve se compromete com

seriedade e responsabilidade com os moradores da comunidade de forma que sofre junto

partilhando das dificuldades de crianccedilas e adolescentes que seriam apenas estranhos ou

ldquomeninos de ruardquo natildeo fosse o amor que os mobiliza

112

Pode-se perceber que muitas vezes faltam recursos materiais para se fazer como se

gostaria e ateacute mesmo para dar continuidade ao que jaacute foi feito No entanto a ausecircncia de

estiacutemulo de coragem de amor e de creacutedito natildeo foi percebida Talvez por isso algumas matildees

tenham se referido ao projeto como sendo algo maravilhoso

Feitas as conclusotildees seguem nas proacuteximas seccedilotildees as implicaccedilotildees teoacutericas praacuteticas e

sociais deste estudo e as sugestotildees de pesquisa futura

51 Contribuiccedilotildees do estudo

O presente trabalho oferece algumas contribuiccedilotildees para a teoria para a praacutetica e

tambeacutem para a sociedade Seguem nas proacuteximas seccedilotildees o detalhamento destas contribuiccedilotildees

511 Contribuiccedilatildeo teoacuterica

Esta pesquisa traz contribuiccedilotildees para a teoria na medida em que verifica a

aplicabilidade da literatura no contexto brasileiro de uma comunidade carente Oferece

contribuiccedilotildees tambeacutem por tratar da mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes com risco

para delinquumlecircncia A pesquisa aborda objetos que no Brasil ainda natildeo tinham sido

pesquisados sob o arcabouccedilo da mentoria

Outra contribuiccedilatildeo deste estudo diz respeito aos achados aqueles que diferem da

teoria e que foram encontrados no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida tais como o patrociacutenio amplo

oferecido pelo mentor ao mentorado o mentor natildeo ser tido como modelo o

autoconhecimento e senso de dever cumprido como benefiacutecios para o mentor Em se tratando

de estudo de caso estes achados natildeo devem ser generalizados No entanto podem servir de

questionamento e de objeto de futuras investigaccedilotildees no sentido de ver sua aplicabilidade em

outros contextos

Segue a contribuiccedilatildeo praacutetica deste trabalho

113

52 Contribuiccedilatildeo praacutetica

O presente objeto de pesquisa (mentoria voltada para educaccedilatildeo de crianccedilas e

adolescentes carentes) pode ser utilizado tambeacutem como forma de intervenccedilatildeo na educaccedilatildeo do

ensino puacuteblico e privado

A iniciativa privada tambeacutem pode ter nesta relaccedilatildeo de mentoria um modelo de accedilatildeo

de responsabilidade social Pode intervir em sua comunidade preparando sua futura matildeo-de-

obra e usufruindo os diversos benefiacutecios que tal relaccedilatildeo pode trazer natildeo soacute em termos de

dividendos ao gerenciar a reputaccedilatildeo mas em termos solidariedade realizaccedilatildeo e senso de

dever cumprido

Era objetivo contribuir com a praacutetica atraveacutes da teoria de mentoria visando

potencializar a relaccedilatildeo existente no projeto de reforccedilo No entanto uma vez que os fatores de

ecircxito jaacute satildeo considerados e que a relaccedilatildeo tem trazido benefiacutecios para o mentorado mentor e

para a sociedade natildeo se percebeu formas de contribuiccedilatildeo com o projeto neste sentido Senatildeo

de apresentar um estudo sistematizado do projeto e de como satildeo beneficiados os que dele

participam

53 Contribuiccedilatildeo social

O presente trabalho oferece contribuiccedilotildees sociais na medida em que confirmou que o

objeto de estudo mostrou-se eficiente em sua proposta podendo entatildeo servir de modelo de

accedilatildeo para outras entidades voltadas para crianccedilas e adolescentes de risco

O trabalho tambeacutem pode servir de fonte de pesquisa para empresas que desejam ser

responsaacuteveis socialmente atraveacutes da educaccedilatildeo tendo na mentoria um modelo que apresentou

resultados positivos

Outra contribuiccedilatildeo social deste estudo diz respeito ao questionamento sobre a

educaccedilatildeo no Brasil O projeto tem sido uma alternativa diante do insucesso da escola puacuteblica

114

em fazer com que o aluno permaneccedila na escola e obtenha bom aproveitamento A

contribuiccedilatildeo pode ser aumentada na medida em que o puacuteblico para tal projeto eacute de crianccedilas e

adolescentes com risco Tais sujeitos aleacutem do aprendizado obtido adquirem perspectiva

positiva de vida podendo-se inferir que haja diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia

Seguem na proacutexima seccedilatildeo algumas sugestotildees de pesquisas futuras que podem ser

realizadas no intuito de compreender melhor o fenocircmeno estudado

52 Sugestotildees de pesquisas futuras

Algumas sugestotildees de pesquisa podem ser feitas a partir do presente trabalho Satildeo elas

a) Acompanhar a histoacuteria dos futuros egressos visando conhecer melhor os

resultados do programa de mentoria

b) Realizar um experimento entre as crianccedilas e adolescentes que participam do

projeto e os natildeo participantes para se verificar a influecircncia deste

c) Investigar quais as implicaccedilotildees de haver dois tipos de relaccedilatildeo de mentoria no

projeto na qual o mentor tem um relacionamento mais proacuteximo com um

mentorado do que com outro

Estas sugestotildees para pesquisa futura encerram este trabalho mas natildeo os

questionamentos dele advindos

Peccedilo licenccedila a Moab para terminar o trabalho com sua fala Para educar natildeo se tem

um resultado imediato Entatildeo vocecirc tem que gastar tempo Eacute investimento em longo

prazo Vocecirc tem que ter paciecircncia () amor (COORDENADOR entrevista set05)

115

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122

APEcircNDICE A - Apresentaccedilatildeo da entrevista

123

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

APRESENTACcedilAtildeO DA ENTREVISTA

Meu nome eacute Adriana Alvarenga Marques Sou pesquisadora da Universidade Federal

de Pernambuco e estamos fazendo um estudo sobre a educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes

Pesquisamos sobre este tema no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida com alguns pais de alunos e com

alguns dos que colaboram com o projeto e tambeacutem com o Sr Moab

Estou aqui para lhe fazer algumas perguntas sobre este assunto A sua participaccedilatildeo eacute

de muita importacircncia para a pesquisa

Quero destacar que vocecirc natildeo precisa se identificar e seus dados e o do aluno natildeo seratildeo

revelados

Gostaria ainda de sua permissatildeo para gravar nossa ldquoconversardquo lembrando que apenas

eu ouvirei a fita Peccedilo isto por que para anotar as respostas eu levaria muito tempo e natildeo seria

feito com precisatildeo Vocecirc autoriza

124

APEcircNDICE B- Roteiro da entrevista com os pais

125

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

Roteiro de Entrevista para os Pais

Nome- ___________________________________________________________________

Nome do(a) filho(a) participante do projeto- _____________________________________

Escolaridade dos pais- _______________________________________________________

Quantas pessoas moram com o(a) aluno(a) _______________________________________

1- Haacute quanto tempo vocecirc conhece o projeto de reforccedilo Educaccedilatildeo eacute Vida

2- O que vocecirc pensa a respeito deste projeto

3- Haacute quanto tempo seusua filho(a) faz parte do projeto

4- Qual a idade dele (a)

5- Qual a seacuterie que ele(a) cursa

6- Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo de seusua filho(a) houve alguma mudanccedila nele(a) depois de

haver entrado no projeto Qual(ais)

7- No dia-a-dia vocecirc percebe alguma influencia do projeto no comportamento de

seusua filho(a) Qual(ais)

8- Existe algueacutem do projeto que demonstre cuidado e preocupaccedilatildeo com seusua filho(a)

que o(a) acompanhe seusua filho(a) mais de perto Quem

9- Como eacute feito esse acompanhamento

10- Qual o significado desta pessoa na vida de seu filho

11- Seu filho(a) gosta de estudar

12- Como vocecirc percebe isto

13- Seu filho(a) jaacute recebeu alguma ajuda vinda do projeto

14- Que tipo de ajuda

15- Quando seu filho passa por alguma dificuldade ou problema a quem ele recorre

16- Haacute algueacutem do projeto que aconselhe seuas filho(a) Quem

17- Que tipo de conselho ele(a) oferece

18- Seusua filho(a) fala sobre seu futuro O que ele(a) diz

126

19- Onde seu filho estuda

20- Como eacute o desempenho de seusua filho(a) na escola Como satildeo suas notas

21- Seusua filho(a) traz tarefas para casa

22- Quem o(a) ajuda a resolve-las

23- Haacute mais alguma coisa sobre a educaccedilatildeo de seu filho que vocecirc considere importante

24- Quando vocecirc pensa no projeto qual a ideacuteia ou sentimento que lhe vem

25- Haacute mais alguma coisa sobre o projeto que vocecirc gostaria de falar

127

APEcircNDICE C - Roteiro da entrevista com os colaboradores

128

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

Roteiro da Entrevista com os Colaboradores

Nome ndash ______________________________________________________________

Tempo de projeto-______________________________________________________

Funccedilatildeo desempenhada no projeto- _________________________________________

Tempo de projeto - _____________________________________________________

1- Haacute quanto tempo vocecirc conhece o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

2- Qual a sua participaccedilatildeo neste projeto

3- Com que frequumlecircncia ocorre seu contato com as crianccedilas adolescentes comunidade

4- Vocecirc recebe alguma remuneraccedilatildeo para atuar no projeto

5- Qual sua motivaccedilatildeo para participar

6- Vocecirc poderia descrever como eacute seu relacionamento com os alunos

7- Haacute algum(a) em especial por quem vocecirc tenha maior preocupaccedilatildeo cuidado carinho

8- Por que

9- Como satildeo seus encontros com as crianccedilas

10- Como vocecirc percebe o significado deste projeto na vida da comunidade

11- Durante o seu tempo de participaccedilatildeo no projeto houve algum evento ou

acontecimento que lhe marcou e que vocecirc gostaria de falar

12- Quando vocecirc pensa no projeto qual a ideacuteia ou sentimento que lhe vem

13- Haacute mais alguma coisa sobre o projeto ou sobre os alunos que vocecirc gostaria de

compartilhar

129

APEcircNDICE D - Roteiro da entrevista com o fundador do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

130

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

Roteiro de Entrevista do Fundador

Nome ndash ______________________________________________________________

1- Como surgiu a ideacuteia do projeto

2- Como foi efetivado

3- Quais as motivaccedilotildees para a existecircncia do projeto

4- Houve participaccedilatildeo de sua famiacutelia

5- Vocecirc poderia falar acerca do funcionamento do projeto as atividades desempenhadas

os objetivos a manutenccedilatildeo

6- A quem o projeto se destina

7- Qual a sua participaccedilatildeo efetiva no projeto

8- Como se deu a formalizaccedilatildeo

9- Como ocorre a seleccedilatildeo das crianccedilas para fazer parte do projeto

10- Quais os criteacuterios para se manter no projeto

11- Como o projeto obteacutem recursos para funcionar

12- Que tipo de atividade o projeto desenvolve

13- Haacute quanto tempo o projeto existe

14- Houve algueacutem em sua vida que serviu de incentivo para que vocecirc desenvolvesse esse

tipo de atividade

15- Por que um projeto em educaccedilatildeo

16- Qual o significado deste projeto na vida da sua famiacutelia

17- Qual o significado deste projeto na vida da comunidade

18- O que significa para uma crianccedila participar do projeto

19- Quais as dificuldades enfrentadas

20- Haacute ou houve algum acontecimento que lhe marcou

21- Existem crianccedilas que vocecirc acompanha mais de perto

22- Como eacute esse acompanhamento

131

23- O que o projeto oferece aos participantes em termos de educaccedilatildeo

24- Haacute mais algum tipo de ajuda que o projeto oferece Qual (ais)

25- O que eacute importante para que o projeto obtenha ecircxito

26- O que vocecirc acredita que eacute determinante do sucesso escolar de um aluno

27- Por que vocecirc acha que alguns alunos natildeo obtecircm bom aproveitamento escolar

28- Como eacute a participaccedilatildeo de sua famiacutelia no projeto

29- Qual o seu sonho para o projeto

30- Quando vocecirc pensa neste projeto qual a ideacuteia ou sentimento que lhe ocorre

31- Haacute mais alguma coisa que vocecirc gostaria de falar

132

ANEXO A - Estatuto da Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre

133

134

135

136

137

138

139

140

ANEXO B ndash Documento de Apresentaccedilatildeo do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

141

142

IDENTIFICACcedilAtildeO Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre situada agrave rua Joatildeo Tude de Melo nordm 21 Casa Forte Recife Pernambuco Brasil CEP ndash52060-030 tel 3442-2084

Objetivo Manter influente obra social cristatilde que possa mudar o quadro social das crianccedilas e jovens da comunidade

O projeto funciona haacute trecircs anos atendendo a comunidade na aacuterea de educaccedilatildeo sauacutede lazer e educaccedilatildeo religiosa

143

ANAacuteLISE DO CONTEXTO DO PROJETO A favela Vila do vinteacutem como todo reduto de pobreza tem seus problemas suas causas e consequumlecircncias Apoacutes trecircs anos de atividades nesta comunidade detectamos que a maacute distribuiccedilatildeo de renda e a falta de uma poliacutetica social voltada para os mais carentes tecircm contribuiacutedo para a formaccedilatildeo de famiacutelias desestruturadas e em situaccedilotildees de risco fomentadas pela pobreza cultural e financeira Residem em barracos de madeira papelatildeo e plaacutestico de aproximadamente 12m2 sem aacutegua esgoto e muitos sem sanitaacuterios O conviacutevio diaacuterio com insetos torna a accedilatildeo meacutedica difiacutecil ou mesmo inviaacutevel Eacute isto que temos vivenciado no dia-dia famiacutelias em condiccedilotildees sub-humanas sobrevivendo de pequenos serviccedilos que prestam

Eacute neste cenaacuterio que consequumlentemente a crianccedila e o jovem desenvolve seu potencial de violecircncia anseios e conflitos convivendo com a fome a falta de higiene ambiente inoacutespito e inadequado para os estudos e outras atividades Essas crianccedilas semi-abandonadas vivem sem perspectivas de mudanccedilas sendo apenas viacutetimas de um processo que as leva a marginalidade

Por esta razatildeo se faz necessaacuterias accedilotildees contiacutenuas para melhoria da qualidade de vida e paz social desenvolvendo atividades que as valorizem como pessoas minimizando o sofrimento dando-lhes esperanccedilas atraveacutes da educaccedilatildeo sauacutede lazer e profissionalizaccedilatildeo

144

OBJETIVOS

Geral Visa natildeo somente melhorar a qualidade de vida no presente mas intervir num ciclo vicioso preparando a crianccedila e o jovem para o futuro Atuar na aacuterea de Educaccedilatildeo solicitando bolsas de estudo na rede privada com aulas de reforccedilo para o ensino fundamental alfabetizaccedilatildeo infantil distribuiccedilatildeo de material escolar e merenda Curso regular de liacutengua estrangeira (Inglecircs) iniciaccedilatildeo musical (teoria e praacutetica) Sauacutede Cliacutenica pediaacutetrica odontoloacutegica psico-pedagoacutegica e aviamento de receitas

Especiacuteficos

A) Promover a melhoria da escolaridade incentivando a permanecircncia e o equiliacutebrio entre o conhecimento e o grau adquirido

B) Desenvolver atividades que proporcionem o desenvolvimento de competecircncias sociais pessoais e intelectuais favorecendo a reflexatildeo e o exerciacutecio da cidadania com palestras passeios e filmes Ampliando o leque de conhecimentos e enriquecendo o senso criacutetico

C) Desenvolver programa intensivo de sauacutede atraveacutes de convecircnios melhorando desta forma a sauacutede e a aparecircncia fiacutesica para que haja um relacionamento pessoal sem reserva ou constrangimento

D) Ampliar os conhecimentos por curso regular de liacutengua estrangeira (Inglecircs) e iniciaccedilatildeo musical teoria e praacutetica Tirando-os da rua e da ociosidade oferecendo uma perspectiva de profissionalizaccedilatildeo e um conviacutevio cultural diferente do que vivenciam

145

PUacuteBLICO ALVO Crianccedilas e jovens de cinco a dezessete anos residentes na Vila Vinteacutem e devidamente matriculados e frequumlentando a rede oficial de ensino puacuteblico ou privado METODOLOGIA Profissionais de suas respectivas aacutereas ministraratildeo aulas diariamente ou em dias alternados conforme as especialidades e necessidades do projeto Por tratar-se de prestaccedilatildeo de serviccedilo voluntaacuterio com fim social todos teratildeo liberdade sobre o plano de accedilatildeo a ser aplicado no entanto deveratildeo estar de acordo com o nosso Estatuto Convecircnio com a Fundaccedilatildeo Manuel de Almeida (Hospital Infantil) para cliacutenica meacutedica e pediaacutetrica cabendo a instituiccedilatildeo a avaliaccedilatildeo e anaacutelise dos resultados As atividades seratildeo desenvolvidas em nossa sede proacutepria e anexo I exceto o curso de inglecircs consultas odontoloacutegicas e cliacutenica meacutedica Modelo de Educaccedilatildeo para a Sauacutede Objetivo Colocar a educaccedilatildeo a serviccedilo de uma vida saudaacutevel Accedilotildees destinadas a orientar os jovens

bull Alimentaccedilatildeo adequada bull Atividades que natildeo promovam o estresse bull Vida sexual segura bull Orientaccedilatildeo sobre o risco do tabaco aacutelcool e outras drogas

psicoativas bull Discussatildeo de temas gerais atuais ndash exemplo tracircnsito poluiccedilatildeo

violecircncia etc Objetivando a formaccedilatildeo de cidadatildeos conscientes e capazes de optar por uma vida mais saudaacutevel individual e coletiva

Modelo de Modificaccedilatildeo das Condiccedilotildees de Ensino Enfatizando a vivecircncia escolas desde a Educaccedilatildeo Infantil ensino Fundamental e Meacutedio como essencial para o desenvolvimento sadio do adolescente e adulto Preocupando-se com a prevenccedilatildeo ao uso abusivo de drogas a delinquumlecircncia as patologias mentais buscando a formaccedilatildeo integral do jovem Envolvendo pais e comunidade

146

Orientaccedilotildees estrateacutegicas

bull Modificar as praacuteticas de ensino bull Melhorar a relaccedilatildeo professoraluno bull Melhorar o ambiente escolar bull Incentivar o desenvolvimento social bull Ofertar serviccedilos de sauacutede bull Envolver os pais em atividades curriculares

AVALIACcedilAtildeO Bimestral junto agraves escolas solicitando boletins de cada aluno assistido pelo projeto cuja permanecircncia dos benefiacutecios dependeraacute do aproveitamento escolar da assiduidade agraves atividades e programaccedilatildeo da instituiccedilatildeo

147

ANEXO C ndash Estrutura baacutesica para orientaccedilatildeo de teses e dissertaccedilotildees

148

  • CLASSIFICACcedilAtildeO DE ACESSO A TESES E DISSERTACcedilOtildeES
    • Adriana Alvarenga Marques
      • 1 Introduccedilatildeo
        • 2 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica
          • Mentoria informal
            • Mentoria formal
              • 3 Metodologia
                  • APEcircNDICE A - Apresentaccedilatildeo da entrevista
                    • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                    • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                      • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                        • APRESENTACcedilAtildeO DA ENTREVISTA
                          • APEcircNDICE B- Roteiro da entrevista com os pais
                            • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                            • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                              • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                                • Roteiro de Entrevista para os Pais
                                  • APEcircNDICE C - Roteiro da entrevista com os colaboradores
                                    • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                                    • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                                      • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                                        • Roteiro da Entrevista com os Colaboradores
                                          • APEcircNDICE D - Roteiro da entrevista com o fundador do Projet
                                            • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                                            • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                                              • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                                                • Roteiro de Entrevista do Fundador
                                                  • ANEXO A - Estatuto da Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre
                                                    • IDENTIFICACcedilAtildeO
                                                      • ANAacuteLISE DO CONTEXTO DO PROJETO
                                                        • OBJETIVOS
                                                          • PUacuteBLICO ALVO
                                                            • METODOLOGIA
                                                                • Modelo de Educaccedilatildeo para a Sauacutede
                                                                • Modelo de Modificaccedilatildeo das Condiccedilotildees de Ensino
                                                                  • AVALIACcedilAtildeO
Page 8: A mentoria na educação de crianças e adolescentes carentes ... · Figura 5 (4) Modelo de Certificado de Padrinho 70 Figura 6 (4) Foto da apresentação das meninas do projeto em

Resumo

A mentoria se caracteriza pela relaccedilatildeo existente entre mentor (algueacutem com reconhecida

experiecircncia) e mentorado (um neoacutefito) na qual o mentor serve de guia para o jovem aprendiz

dando-lhe conselhos instruccedilotildees patrociacutenio e amizade de modo a facilitar o desenvolvimento

de sua carreira Em troca o mentor obteacutem reconhecimento apoio e realizaccedilatildeo ao acompanhar

o crescimento profissional de seu mentorado A mentoria voltada para jovens e adolescentes

com risco para a delinquumlecircncia tem sido investigada em paiacuteses como Estados Unidos e Canadaacute

Dentre os benefiacutecios encontrados pode-se citar a diminuiccedilatildeo de comportamentos agressivos

reduccedilatildeo da evasatildeo escolar aumento da auto-estima e consequumlentemente reduccedilatildeo da

delinquumlecircncia juvenil A presente pesquisa propocircs-se a investigar um programa de mentoria

voltado para crianccedilas e adolescentes carentes O objetivo foi verificar quais as especificidades

deste programa num contexto brasileiro e quais os benefiacutecios desta relaccedilatildeo na vida dos

mentorados (crianccedilas e adolescentes) dos mentores (colaboradores do projeto) e da

comunidade A percepccedilatildeo das famiacutelias acerca do projeto tambeacutem foi considerada Fez-se um

estudo de caso exploratoacuterio-descritivo acerca de um projeto de reforccedilo escolar localizado na

Vila do Vinteacutem II uma comunidade carente do Recife A estrateacutegia de pesquisa foi

qualitativa atraveacutes de entrevistas observaccedilatildeo e anaacutelise documental Pocircde-se perceber que

apenas em alguns aspectos a mentoria ocorrida no projeto diferia dos achados na literatura

Por exemplo o fato de o mentor ser um modelo para o mentorado (fato expliacutecito

teoricamente) natildeo ficou evidenciado neste contexto A pesquisa procurou verificar a

viabilidade de uma forma de intervenccedilatildeo na vida de crianccedilas e adolescentes carentes que

pode ser utilizada por organizaccedilotildees privadas como meio de accedilatildeo de responsabilidade social e

por instituiccedilotildees puacuteblicas no sentido de alcanccedilar maior aproveitamento escolar das crianccedilas e

dos adolescentes

Palavras-chave Mentoria Educaccedilatildeo Comunidade carente Delinquumlecircncia Suporte

psicossocial

Abstract

Mentorship is characterized by the relationship between a mentor (someone with recognized

experience) and the individual to be mentored (novice) in which the mentor guides the young

apprentice offering himher counsel advice and friendship in a way as to facilitate the

development of hisher career In exchange the mentor obtains recognition support and

personal reward taking part in the professional growth of the person being mentored

Mentorship geared towards youth and teenagers with risks of becoming delinquent individuals

has been investigated in countries such as the United States and Canada Among the benefits

found one can mention the decrease in aggressive behavior and school absenteeism an

increase in self esteem and consequently a decrease in juvenile delinquency This research is

intended to investigate a mentorship program geared towards impoverished children and

teenagers with the purpose of verifying if in the Brazilian context specifically in the

northeast of Brazil the mentor relationship presents the same characteristics as those shown

in previously documented researches This is a descriptive-exploratory case study about a

school tutorship program at Vila do Vinteacutem II a slum in Recife Pernambuco Brazil The

objective of this study was to verify what are the specificities of a mentorship program

designed for children and teenagers in the Brazilian context and what are the benefits of this

relationship in the life of those who are mentored (children and teenagers) the mentors (who

joined the program) and the community The perception of the families about the program has

been taken into consideration as well The strategy used for this research was qualitative

through interviews and observation and documental analysis It was observed that only in a

few aspects the mentorship analyzed in this program was different from the findings of

previous research as for instance the fact that the mentor is considered a role model for the

apprentice (a theoretical fact that is widely accepted) has not been evidenced in this context

This research was intended to demonstrate the possibility of an intervention in the lives of

impoverished children and teenagers and can be utilized by organizations in their social

responsibility actions and by public policy formulators with the purpose of increasing school

progress for children and teenagers

Key-words Mentorship Tutorship Education Impoverished community Delinquency

Psychosocial support

Lista de figuras

Figura 1 (4) Foto da Vila do Vinteacutem II 60Figura 2 (4) Foto das palafitas da Vila do Vinteacutem II 61Figura 3 (4) Foto da festa de Natal para as crianccedilas da Vila Vinteacutem 63Figura 4 (4) Foto da festa das crianccedilas na sede do projeto 64Figura 5 (4) Modelo de Certificado de Padrinho 70Figura 6 (4)

Foto da apresentaccedilatildeo das meninas do projeto em uma missa de Natal realizada pela Igreja Catoacutelica de Casa Forte na Vila Vinteacutem 81

Figura 7 (4)

Foto da professora e alunos durante a aula de reforccedilo na sede do projeto 90

Figura 8 (4) Boletim escolar de Afracircnio 98Figura 9 (4) Boletim escolar de Jairo 99

Sumaacuterio 1 Introduccedilatildeo 1511 Objetivos 18111 Objetivo geral 18112 Objetivos especiacuteficos 1812 Justificativa 19121 Justificativa teoacuterica 19122 Justificativa praacutetica e social 192 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica 2121 Mentoria 21211 Funccedilotildees de mentoria 242111 Suporte de carreira 242112 Suporte psicossocial 26212 Fases da relaccedilatildeo mentoria 28213 Tipos de mentoria 302131 Mentoria informal 302132 Mentoria formal 31214 Fatores relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria formal 312141 Seleccedilatildeo de mentores e mentorados 322142 Treinamento supervisatildeo e acompanhamento do programa de mentoria 332143 Frequumlecircncia dos encontros 342144 Duraccedilatildeo da relaccedilatildeo de mentoria 3422 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria 35221 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentorado 36222 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentor 39223 Benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria 413 Metodologia 4631 Delineamento da pesquisa 4632 Primeira fase da coleta de dados 47321 Objetivo 47322 Instrumentos de coleta de dados 4833 Segunda fase de coleta de dados 50331 Objetivos 50332 Instrumentos de coleta de dados 5034 Sujeitos da pesquisa 52341 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos sujeitos 5335 Meacutetodos de anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados 5436 Limitaccedilotildees da pesquisa 564 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos achados 5841 O caso 58411 O contexto do projeto Vila Vinteacutem II 58412 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 62413 Atividades desenvolvidas pelo projeto 65414 Formalizaccedilatildeo do projeto como organizaccedilatildeo natildeo-governamental 67415 Situaccedilatildeo atual do projeto 68416 Dificuldades enfrentadas pelo projeto 69417 Motivaccedilatildeo para a existecircncia e continuidade do projeto 70418 Dados dos mentores entrevistados 71419 Dados dos mentorados pesquisados 72

4191 Alunos tidos como que de ecircxito nos estudos 724192 Alunos tidos como que de natildeo ecircxito nos estudos 7442 Achados referentes agrave primeira questatildeo norteadora do trabalho 76421 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida como um programa de mentoria 76422 Funccedilotildees de mentoria encontradas no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 784221 Suporte de carreira 784222 Suporte psicossocial 83423 Fases da relaccedilatildeo de mentoria apresentadas no projeto de reforccedilo 87424

Fatores encontrados no projeto que estatildeo relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria 87

425 Fatores responsaacuteveis pelo ecircxito e natildeo ecircxito nos estudos percepccedilatildeo do mentor e da famiacutelia do mentorado 93

426

Resposta da primeira questatildeo norteadora especificidades da relaccedilatildeo de mentoria existentes no projeto de reforccedilo escolar 94

43 Achados referentes agrave segunda questatildeo norteadora 95431

Aumento da auto-estima da responsabilidade maior progresso escolar e perspectiva positiva de futuro 95

432

Resposta da segunda questatildeo norteadora benefiacutecios da mentoria para a crianccedila adolescente do projeto 101

44 Achados referentes agrave terceira questatildeo norteadora 101441 Realizaccedilatildeo pessoal 101442 Motivaccedilatildeo 102443 Ser amado pelo mentorado 103444 Autoconhecimento 103445 Senso de dever cumprido 104446 Resposta da terceira questatildeo norteadora benefiacutecios da mentoria para o mentor 10445 Achados referentes agrave quarta questatildeo norteadora 105451 Desenvolvimento educacional das crianccedilas e dos adolescentes 105452 Assistencialismo 106453 Diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia 107454

Resposta da quarta questatildeo norteadora benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria 108

5 Conclusatildeo 10951 Contribuiccedilotildees do estudo 112511 Contribuiccedilatildeo teoacuterica 112512 Contribuiccedilatildeo praacutetica 113513 Contribuiccedilatildeo social 11352 Sugestotildees de pesquisas futuras 114Referecircncias 115APEcircNDICE A- Apresentaccedilatildeo da entrevista 122APEcircNDICE B- Roteiro da entrevista com os pais 124APEcircNDICE C- Roteiro da entrevista com os colaboradores 127APEcircNDICE D- Roteiro da entrevista com o fundador do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 129ANEXO A- Estatuto da Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre 132ANEXO B- Documento de apresentaccedilatildeo do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 140ANEXO C- Estrutura baacutesica para orientaccedilatildeo de teses e dissertaccedilotildees 147

15

1 Introduccedilatildeo

A educaccedilatildeo no Brasil tem sido nos uacuteltimos anos alvo de atenccedilatildeo por parte dos

governantes da iniciativa privada e da sociedade De acordo com dados do IBGE-Pnad

(2000) o Brasil conta com um iacutendice de analfabetismo de 116 sendo que na Regiatildeo

Nordeste este iacutendice sobe para 23 Em se tratando de analfabetismo funcional o que se

refere agraves pessoas com menos de quatro anos de estudo completos o iacutendice eacute de 24 no Brasil

e 39 na Regiatildeo Nordeste chegando a 43 em alguns municiacutepios Tais dados revelam a

existecircncia de municiacutepios onde quase metade da populaccedilatildeo tem menos de quatro anos de

estudo O fato de haver analfabetos funcionais em tatildeo grande proporccedilatildeo pode ser explicado

pela evasatildeo escolar

Trata-se de milhotildees de brasileiros excluiacutedos agrave margem por natildeo terem acesso agrave leitura

agrave escrita agrave cultura e ao conhecimento formal comprometendo ainda mais a auto-estima e

reduzindo a qualidade de vida de tais pessoas A alta taxa de analfabetismo (116) reduz

ainda mais o IDH (Iacutendice de Desenvolvimento Humano) que no Brasil eacute considerado meacutedio

077 (PNUD 2000) O IDH foi criado para medir o niacutevel de desenvolvimento humano dos

paiacuteses com base em indicadores de educaccedilatildeo (alfabetizaccedilatildeo e taxa de matriacutecula) longevidade

e renda Tal iacutendice varia de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1(desenvolvimento

humano total) Em Pernambuco este iacutendice eacute de 069 considerado meacutedio A taxa de ocupaccedilatildeo

no mercado de trabalho cresce agrave medida que a escolaridade aumenta Entre analfabetos eacute de

52 a chance de ocupaccedilatildeo enquanto que entre graduados sobe para 87 (NERY COSTA

2003)

Satildeo brasileiros que devido agrave exclusatildeo social decorrente do analfabetismo entre outros

fatores natildeo fazem parte do mercado consumidor Pessoas que por sua insuficiente renda ou

16

total falta dela ficam seriamente limitadas no tocante ao consumo sendo muitas dependentes

de poliacuteticas assistencialistas

As empresas tambeacutem sofrem as consequumlecircncias do analfabetismo seja absoluto (pessoa

iletrada) ou funcional pois tecircm em funccedilatildeo dele uma matildeo de obra desqualificada Soma-se o

fato de que estas pessoas natildeo fazem parte de sua clientela uma vez que natildeo tecircm poder

aquisitivo para tal

Estatiacutesticas confirmam que haacute um aumento na renda agrave medida que se acrescentam

anos de estudo A cada ano de estudo a renda aumenta cerca de 16 (IBGE-PNAD 1998) e

consequumlentemente aumenta tambeacutem o poder de compra a inserccedilatildeo social e a qualificaccedilatildeo

Uma questatildeo pertinente em se tratando de evasatildeo escolar eacute sua associaccedilatildeo com a

delinquumlecircncia Um estudo realizado com adolescentes paulistas demonstrou que a defasagem

escolar bem como a multirrepetecircncia satildeo fatores positivamente relacionados com a inserccedilatildeo

de jovens na criminalidade (DIAS 2003)

Barros et al (1994) revelam que um dos principais determinantes do desempenho

escolar da crianccedila eacute a educaccedilatildeo meacutedia das matildees Riveiro (2001) com base em dados da

Unesco afirma que os brasileiros que satildeo analfabetos absolutos estatildeo localizados

principalmente em aacutereas carentes da Regiatildeo Nordeste Considerando que haacute grande propensatildeo

de as matildees que moram em comunidades carentes do Nordeste serem analfabetas e que a

educaccedilatildeo da matildee tende a ser um fator determinante da educaccedilatildeo dos filhos parece legiacutetimo

esperar limitaccedilotildees graves na educaccedilatildeo de crianccedilas em comunidades carentes do Recife

O atual governo em 2001 criou o Programa Nacional do Bolsa-Escola que incentiva

a famiacutelia a colocar o filho na escola e fazecirc-lo permanecer nela Para tanto a famiacutelia recebe a

quantia de R$ 1500 por filho matriculado (MEC 2005) O projeto visa a reduccedilatildeo da evasatildeo

escolar sem no entanto acompanhar o rendimento do aluno beneficiado

17

Quanto agrave iniciativa privada a educaccedilatildeo tem sido o foco de algumas empresas ao

investirem na formaccedilatildeo dos funcionaacuterios e dos filhos destes Acerca do levantamento sobre as

100 melhores empresas para se trabalhar no ano de 2002 Silveira (2002) afirma que eacute fato

relevante para a organizaccedilatildeo que pertence a este ranking a colaboraccedilatildeo com a comunidade na

qual estaacute inserida Para tal algumas organizaccedilotildees contam inclusive com seus funcionaacuterios

agindo como voluntaacuterios nestas accedilotildees de responsabilidade social Desenvolvendo atividades

como esta de responsabilidade social e cidadania a empresa eacute mais bem avaliada por seus

stakeholders internos e externos (ASHLEY 2003)

Nos Estados Unidos uma alternativa para evitar a evasatildeo escolar tem sido

desenvolvida atraveacutes da mentoria Nesta relaccedilatildeo o mentor eacute uma pessoa mais experiente do

que o mentorado algueacutem em quem este confia com quem pode compartilhar suas

dificuldades necessidades e anseios e de quem recebe apoio e orientaccedilatildeo Um exemplo deste

trabalho foi realizado por Klaw et al (2003) com adolescentes afro-americanas gestantes O

objetivo do programa de mentoria era ajudar estas novas matildees a terminar a escola e a

conseguir resultados educacionais satisfatoacuterios apoacutes o nascimento da crianccedila O estudo

mostrou que das adolescentes que foram acompanhadas durante dois anos por um mentor

65 terminaram os estudos Jaacute entre as matildees que natildeo contaram com o programa de mentoria

este percentual caiu para 35 Pode-se concluir que apesar dos fatores adversos (maternidade

na adolescecircncia dificuldade econocircmica e preconceito racial) a mentoria mostrou-se eficaz no

combate agrave evasatildeo escolar

No Recife (PE) em uma comunidade carente verificou-se a existecircncia de um

programa de reforccedilo escolar Foram percebidas atraveacutes de uma pesquisa exploratoacuteria

evidecircncias da relaccedilatildeo de mentoria entre os colaboradores e os alunos sendo estes os

mentorados Esta evidecircncia criou a possibilidade de pesquisar os benefiacutecios produzidos pela

relaccedilatildeo de mentoria voltada para educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes carentes no Brasil

18

Investiga-se assim ateacute que ponto a mentoria pode ser um recurso para auxiliar no aumento do

aproveitamento escolar dos mentorados e na reduccedilatildeo da evasatildeo escolar Desta forma

considerando a situaccedilatildeo da educaccedilatildeo as limitaccedilotildees impostas pelo analfabetismo e a evasatildeo

escolar que aleacutem da exclusatildeo social estaacute associada agrave delinquumlecircncia definimos a seguinte

pergunta de pesquisa

Como ocorre a mentoria voltada para a educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes em

uma comunidade carente do Recife

11 Objetivos

111 Objetivo geral

Investigar como ocorre a mentoria em um programa de reforccedilo escolar voltado para

crianccedilas e adolescentes carentes de uma comunidade do RecifePE

112 Objetivos especiacuteficos

bull Investigar as especificidades da relaccedilatildeo de mentoria (funccedilotildees fases tipos e

fatores de ecircxito) voltada para crianccedilas e adolescentes carentes no contexto de

uma comunidade do Recife

bull Verificar quais os benefiacutecios da mentoria para o mentorado na percepccedilatildeo das

famiacutelias destes

bull Investigar quais os benefiacutecios da mentoria para os mentores na percepccedilatildeo

destes e

bull Verificar quais os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria

19

12 Justificativa

O presente trabalho se justifica devido agrave relevacircncia do tema que aborda e de suas

implicaccedilotildees poliacuteticas organizacionais e sociais

121 Justificativa teoacuterica

No aspecto teoacuterico pode-se citar a escassez de bibliografia nacional acerca da

mentoria Trata-se de um fenocircmeno pouco estudado no Brasil e menos ainda voltado para

educaccedilatildeo de jovens e adolescentes Faz-se necessaacuterio portanto investigar como ocorre a

mentoria no paiacutes e quais as suas especificidades e caracteriacutesticas Neste sentido o presente

estudo pode oferecer algumas contribuiccedilotildees

122 Justificativa praacutetica e social

Do ponto de vista praacutetico a proposta eacute que conhecendo como a mentoria ocorre aqui

agrave luz da teoria existente se possa auxiliar o processo otimizando-o

Quanto agrave justificativa da pesquisa do ponto de vista social pode-se mencionar a

necessidade de pesquisar alternativas para minimizar os problemas de analfabetismo evasatildeo

escolar e delinquumlecircncia juvenil Estes problemas fazem parte do cotidiano do Recife bem

como das demais grandes cidades brasileiras

As organizaccedilotildees podem ter nesta pesquisa um modelo de accedilatildeo de responsabilidade

social intervindo na comunidade local e inclusive preparando a sua futura matildeo-de-obra

Outra justificativa deste trabalho eacute a possibilidade de contribuir com as poliacuteticas

puacuteblicas no sentido de sugerir uma alternativa de intervenccedilatildeo na educaccedilatildeo de crianccedilas e

adolescentes em particular as que se encontram em situaccedilatildeo de risco

20

Neste capiacutetulo introdutoacuterio foi apresentado o tema abordado os objetivos da presente

pesquisa e as razotildees pelas quais o estudo se justifica No proacuteximo capiacutetulo seraacute exposta a

literatura que fornece as bases teoacutericas para a pesquisa

21

2 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica

Com o intuito de se investigar como ocorre a mentoria voltada para crianccedilas e

adolescentes carentes faz-se necessaacuterio trazer agrave luz o que a teoria diz acerca da mentoria

Portanto tratar-se-aacute neste capiacutetulo sobre o conceito de mentoria e suas especificidades ou

seja quais as funccedilotildees desempenhadas na relaccedilatildeo as fases pertinentes a este relacionamento

os tipos de mentoria e os fatores relacionados ao ecircxito desta relaccedilatildeo Os benefiacutecios que a

mentoria oferece ao mentorado ao mentor e agrave comunidade tambeacutem seratildeo considerados

Segue-se pois o conceito de mentoria

21 Mentoria

A palavra mentor surgiu por volta de 800 aC na antiga Greacutecia mais especificamente

na Odisseacuteia de Homero O poema eacutepico pertinente agrave Mitologia Grega relata as aventuras e as

batalhas vividas pelo rei Odisseu (Ulisses em latim) Ao partir de Troacuteia para guerra Odisseu

confiou a guarda de seu filho Telecircmaco a Mentor seu amigo (ENSHER MURPHY 1997)

Mentor passou a ser o responsaacutevel pela preparaccedilatildeo de Telecircmaco para ser o sucessor de seu

pai Mentor natildeo ocupou lugar de destaque na obra de Homero Entretanto em 1699 Franccedilois

de la Mothe-Fenelon fez uma releitura da Odisseacuteia e atribuiu a Mentor a condiccedilatildeo de segundo

pai professor orientador e guia de Telecircmaco Atraveacutes de Fenelon escritor e educador a

figura de Mentor tornou-se conhecida e relevante e em 1750 a palavra mentor jaacute constava

nos dicionaacuterios contendo o seguinte significado conselheiro saacutebio protetor e financiador

(GEHRINGER 2002) Apesar de a mentoria ter surgido em tempos muito distantes a

sistematizaccedilatildeo dos estudos nesta aacuterea data de apenas trecircs deacutecadas

22

Em 1978 Levinson et al (apud KLAW et al 2003) caracterizaram a mentoria como a

assistecircncia unilateral de um indiviacuteduo mais graduado e desejoso de partilhar seus

conhecimentos e experiecircncia a um menos experiente visando o desenvolvimento deste O

relacionamento com um mentor propicia ao jovem adentrar com ecircxito o mundo dos adultos e

o mundo dos negoacutecios Higgins e Kram (2001) salientam que mentores natildeo precisam ser

necessariamente pessoas mais graduadas do que os mentorados podendo ser seus colegas

pares ou parentes Hesgtad (1999) declara que o importante eacute que o mentor exerccedila influecircncia

sobre o mentorado

Hunt e Michael (1983) caracterizam o mentor como algueacutem que estaacute comprometido

em prover crescimento pessoal e suporte de carreira ao seu mentorado Higgins e Kram

(2001) consideram que o apoio e a assistecircncia na relaccedilatildeo de mentoria seriam bilaterais Nesta

relaccedilatildeo mentor e mentorado se auxiliariam no processo de desenvolvimento e tal processo

dar-se-ia atraveacutes de redes de mentoria e natildeo apenas de um mentor para um mentorado As

autoras trazem agrave mentoria a perspectiva do desenvolvimento de redes no qual o mentorado

dispotildee de vaacuterios mentores

Os Estados Unidos e parte da Europa tecircm demonstrado interesse cientiacutefico e

desenvolvido pesquisas sobre o tema Estas pesquisas tecircm sido voltadas para a aacuterea

organizacional na qual a mentoria se destina a jovens que ingressam na organizaccedilatildeo e satildeo

acompanhados por um secircnior Entretanto a mentoria tambeacutem pode ser utilizada na aacuterea

educacional e dirigir-se a estudantes como ocorre por exemplo no sistema de escola puacuteblica

da cidade de Nova Iorque e na Austraacutelia (ZEY 1998) Acerca da importacircncia da mentoria no

acircmbito educacional Astin (1977) defende que alguns estudantes ao serem mentorados podem

se sentir mais encorajados e se envolver mais com os estudos e aprendizado uma vez que o

mentor pode ser um referencial para tal

23

A mentoria voltada para crianccedilas seria de acordo com Brody (1991 apud JACKSON

2002) um relacionamento entre um adulto e uma crianccedila visando facilitar o crescimento

pessoal educacional e social desta Nos EUA tem crescido o nuacutemero de programas de

mentoria com foco na aacuterea social visando atender agraves minorias ou aos jovens adolescentes e

crianccedilas com risco para delinquumlecircncia DuBois et al (2002) realizaram uma meta-anaacutelise

buscando levantar os efeitos de 55 programas de mentoria voltados para juventude Estes

programas diferiam no curriacuteculo No entanto a grande maioria enfatizava o relacionamento

entre um jovem problemaacutetico e um adulto mais experiente O objetivo era o de ajudar o jovem

a resolver satisfatoriamente as dificuldades da vida (KEATING et al 2002) Pode-se entatildeo

afirmar que a mentoria eacute o relacionamento entre um adulto e um jovem com o qual o mentor

estaacute comprometido Este comprometimento visa o desenvolvimento pessoal e profissional de

seu mentorado (KRAM 1985)

Atualmente os mentores naturais pais avoacutes e tios nem sempre estatildeo disponiacuteveis para

o adolescente As famiacutelias a escola e a comunidade tecircm reduzido drasticamente ao longo

dos anos a disponibilidade de adultos para acompanhar e oferecer suporte aos jovens

(DARLING et al 2002) Estas instituiccedilotildees que ao longo da histoacuteria eram as responsaacuteveis por

prover os jovens de suporte necessaacuterio e de conduccedilatildeo tecircm sofrido mudanccedilas e reduzido sua

capacidade de continuar a prover tal apoio A demanda dos grandes centros urbanos bem

como o ecircxodo rural fizeram com que o nuacutemero de adultos que serviam de liacutederes modelos e

agentes de controle social diminuiacutesse A entrada das matildees no mercado de trabalho e o

aumento das separaccedilotildees conjugais levaram os adolescentes a passar menos tempo com os

pais ficando grande parte do tempo com pares e sem a supervisatildeo de um adulto (HARRIS et

al 2002)

A disponibilidade dos adultos para com as crianccedilas tem diminuiacutedo de tal forma que

mais de 25 das crianccedilas nascem em casas com apenas um dos pais e 50 das crianccedilas

24

vivem a maior parte de sua infacircncia nesta mesma situaccedilatildeo A escassez de adultos para

suportar crianccedilas e adolescentes eacute ainda mais intensa em se tratando de comunidades carentes

(GROSSMAN TIERNEY 1998) Darling et al (2002) verificaram que em muitos casos na

ausecircncia de suporte dos mentores naturais os mentores voluntaacuterios tecircm sido alistados

A literatura aborda as funccedilotildees pertinentes a este relacionamento atraveacutes das quais o

mentor teraacute condiccedilotildees de contribuir com o crescimento de seu mentorado Tais funccedilotildees de

mentoria seratildeo abordadas na proacutexima seccedilatildeo

211 Funccedilotildees de mentoria

Satildeo as funccedilotildees desempenhadas no decorrer da relaccedilatildeo de mentoria Na mentoria

tradicional o mentorado recebe do mentor assistecircncia individual acesso a informaccedilotildees

necessaacuterias feedback encorajamento suporte de carreira e suporte emocional (MULLEN

1998) Kram (1985) agrupou diversas atividades em dois grupos de funccedilotildees desempenhadas

pelo mentor quais sejam suporte de carreira e suporte psicossocial Estas funccedilotildees satildeo

distintas mas inter-relacionadas A relaccedilatildeo de mentoria pode prover os dois tipos de suporte

ou apenas um destes a depender do niacutevel da relaccedilatildeo (RAGINS 1997) No entanto quando

ocorrem as duas funccedilotildees ou seja suporte de carreira e psicossocial a mentoria se torna mais

intensa (KRAM 1983)

Nas seguintes seccedilotildees seraacute apresentado e definido o suporte oferecido pelo mentor ao

seu mentorado tanto em termos de carreira quanto psicossocial

2111 Suporte de carreira

O suporte de carreira inclui a ajuda que o mentor daacute ao mentorado para que este se

firme na organizaccedilatildeo e conheccedila seus meandros preparando-o para a ascensatildeo Este suporte

refere-se tambeacutem agraves atividades que o mentor desenvolve no sentido de auxiliar o mentorado

25

em sua carreira profissional Kram (1985) identifica as seguintes atividades oferta de tarefas

desafiadoras coaching proteccedilatildeo exposiccedilatildeo e visibilidade positiva e patrociacutenio Tais funccedilotildees

satildeo abordadas abaixo

a) Oferta de tarefas desafiadoras

Satildeo as tarefas que o mentor atribui ao mentorado visando o desenvolvimento de

competecircncias especiacuteficas Juntamente com estas tarefas o mentor provecirc treinamento

teacutecnico capacitando-o a superar desafios O mentor tambeacutem fornece feedback ao

mentorado sobre seu desempenho A oferta de tarefas desafiadoras prepara o

mentorado para posiccedilotildees de maior responsabilidade

b) Coaching

Ocorre quando o mentor tal qual um teacutecnico transmite conhecimento ao mentorado

sobre como ldquonavegarrdquo no mundo dos negoacutecios O mentor sugere estrateacutegias e

transmite informaccedilotildees ao mentorado Chao et al (1992) defendem que o coach

preocupa-se apenas com a tarefa e as informaccedilotildees necessaacuterias para sua realizaccedilatildeo natildeo

desenvolvendo o interesse para com a carreira do jovem aprendiz Entretanto como

observam Azevedo e Dias (2002) o mentor em algumas ocasiotildees realiza o coaching

por exemplo quando orienta o mentorado com respeito ao desenvolvimento de

habilidades especiacuteficas para o cumprimento de determinada tarefa

c) Proteccedilatildeo

Ocorre quando o mentor se coloca na posiccedilatildeo de um escudo protegendo seu

mentorado O mentor pode assumir determinadas falhas de seu mentorado ou natildeo

permitir que elas se tornem conhecidas A proteccedilatildeo tende a ocorrer com mais

frequumlecircncia quando o mentorado ainda natildeo apresenta resultados dignos de exposiccedilatildeo

Klaw et al (2003) afirmam que o mentor pode inclusive advogar em nome de seus

mentorados adolescentes

26

d) Exposiccedilatildeo e visibilidade positiva

Ocorre quando o mentor daacute ao mentorado condiccedilotildees de demonstrar seu potencial agraves

pessoas de mais alto niacutevel facilitando futuras promoccedilotildees O mentor expotildee

positivamente o mentorado

e) Patrociacutenio

O patrociacutenio acontece quando o mentor indica formal ou informalmente o mentorado

para promoccedilatildeo Ele viabiliza a ascensatildeo de seu mentorado atraveacutes desta indicaccedilatildeo ou

quando propicia os recursos necessaacuterios para o desenvolvimento profissional de seu

mentorado

Estas satildeo as atividades que o mentor desempenha no sentido de viabilizar o

desenvolvimento profissional do mentorado Seguem abaixo as funccedilotildees psicossociais atraveacutes

das quais o mentor desenvolve atividades que contribuem com o crescimento pessoal de seu

protegido

2112 Suporte psicossocial

As funccedilotildees de suporte psicossocial estatildeo mais associadas ao desenvolvimento pessoal

do mentorado do que propriamente ao seu desenvolvimento profissional O suporte

psicossocial afeta a relaccedilatildeo do mentorado consigo mesmo e com as pessoas com as quais se

relaciona O desenvolvimento desta funccedilatildeo iraacute depender da confianccedila existente na relaccedilatildeo De

acordo com Kram (1985) o apoio psicossocial diz respeito ao suporte psicoloacutegico e social que

o mentor daacute ao mentorado As atividades que compotildeem este suporte satildeo amizade aceitaccedilatildeo e

confirmaccedilatildeo aconselhamento e modelagem de papeis Tais atividades satildeo expostas a seguir

a) Amizade

Ocorre quando a relaccedilatildeo de mentoria daacute ao mentorado a sensaccedilatildeo de bem estar de

ligaccedilatildeo e de ser compreendido por seu mentor O coleguismo facilita ao mentorado

27

desenvolver relacionamento com pessoas de niacutevel mais elevado do que ele Esta

amizade contribui tambeacutem para o aumento da autoconfianccedila do mentorado

b) Aceitaccedilatildeo e confirmaccedilatildeo

A aceitaccedilatildeo por parte do mentor faz com que o mentorado se sinta seguro inclusive

para assumir riscos e aceitar desafios

Dados qualitativos de estudos feitos por Style e Morrow (1992) demonstraram que

relacionamentos voltados para juventude satildeo mais eficazes quando o adulto pode

compreender as dificuldades enfrentadas por seus mentorados bem como respeitar e

aceitar sua famiacutelia classe social e cultura

c) Aconselhamento

Ocorre quando o mentorado ao falar de suas duacutevidas medos e ansiedades tem no

mentor um conselheiro algueacutem que o escuta e lhe daacute feedback Ao desempenhar esta

funccedilatildeo o mentor pode se valer de suas proacuteprias experiecircncias e dilemas enfrentados no

iniacutecio de sua carreira

d) Modelagem de papeacuteis

A modelagem ocorre quando o mentorado vecirc em seu mentor sua proacutepria imagem

idealizada Neste caso os comportamentos os valores e as atitudes do mentor satildeo

exemplos a serem seguidos A partir desta identificaccedilatildeo o mentorado passa a admirar

respeitar e imitar seu mentor Scandura (1992) considera que o fato de o mentor ser

um modelo para o mentorado estaria em uma terceira funccedilatildeo da mentoria distinta de

suporte psicossocial No entanto para efeito deste trabalho tal fator seraacute considerado

como pertinente ao suporte psicossocial uma vez que se tomou por base o modelo

proposto por Kram (1985) O mentorado pode ver seu mentor como representante do

seu proacuteprio futuro (RAGINS 1997) No caso de jovens e adolescentes os adultos satildeo

vistos como ideais com quem aqueles aprenderatildeo determinados comportamentos de

28

quem iratildeo receber colaboraccedilotildees sobre carreiras potenciais e com quem iratildeo

desenvolver habilidades especiacuteficas (RHODES et al 2002) Com relaccedilatildeo agraves

implicaccedilotildees deste aprendizado Hartmam e Harris (1992) encontraram que estudantes

modelam seu estilo de gerenciamento baseados no estilo de lideranccedila da pessoa que

admiravam quando mais novos Por sua vez Zacharatos et al (2000) em um estudo

sobre lideranccedila transformacional observaram que o desenvolvimento dos

comportamentos de lideranccedila se daacute na adolescecircncia e que comportamentos aprendidos

nesta fase tendem a ser estaacuteveis Finalmente Krosnick e Alwin (1989) defendem que

assim como os comportamentos as atitudes adquiridas durante a adolescecircncia tendem

a permanecer na vida adulta

Especificamente em se tratando de mentoria voltada para jovens e adolescentes Klaw

et al (2003) observaram as implicaccedilotildees e possibilidades de mudanccedila de comportamento do

mentorado ao se ter no mentor um modelo

os mentores podem servir como exemplos concretos de realizaccedilatildeo educacional e ocupacional demonstrando as qualidades que os adolescentes podem desejar imitar O adolescente pode adotar comportamentos novos observando e comparando seu proacuteprio desempenho ao de seu mentor (p225)

Nesta seccedilatildeo foram apresentadas as funccedilotildees de mentoria ou seja suporte de carreira e

suporte psicossocial Na sequumlecircncia seratildeo abordadas as fases pelas quais o relacionamento se

desenvolve ateacute chegar agrave redefiniccedilatildeo

212 Fases da relaccedilatildeo mentoria

Dando continuidade agraves caracteriacutesticas da relaccedilatildeo de mentoria seratildeo abordadas as fases

pertinentes a esse relacionamento Vale salientar que a relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas e

adolescentes de risco podem ou natildeo apresentar estaacutegios semelhantes agrave mentoria desenvolvida

no acircmbito da organizaccedilatildeo (RHODES et al 2002)

29

Da perspectiva organizacional Kram (1983) sugere que a mentoria ocorre geralmente

em quatro fases distintas mas natildeo riacutegidas Satildeo elas

bull Iniciaccedilatildeo - esta fase ocorre no inicio da relaccedilatildeo na qual o mentor eacute admirado e

respeitado pelo mentorado O mentor reconhece o mentorado como algueacutem com

potencial e com quem iraacute desenvolver um trabalho agradaacutevel O mentorado

tambeacutem eacute visto pelo mentor como algueacutem que lhe proveraacute assistecircncia teacutecnica e que

seraacute beneficiado com seus conselhos uma vez que o mentor tem mais experiecircncia

de vida Estas fantasias iniciais seratildeo responsaacuteveis por orientar as expectativas

presentes na relaccedilatildeo de mentoria

bull Cultivo - nesta fase as expectativas surgidas no iniacutecio da relaccedilatildeo iratildeo defrontar-se

com a realidade do contato O mentor proveraacute o mentorado com as funccedilotildees de

carreira e psicossociais Kram (1983) salienta que o suporte de carreira vai

depender das tarefas e da experiecircncia do mentor No entanto o suporte

psicossocial estaacute mais fortemente relacionado agrave confianccedila e agrave mutualidade que

houver na relaccedilatildeo Eacute nesta fase de cultivo que as funccedilotildees da mentoria seratildeo

plenamente desenvolvidas

bull Separaccedilatildeo - ocorre quando a natureza do relacionamento eacute alterada por mudanccedilas

no contexto social ou organizacional Este periacuteodo eacute marcado por ansiedade em

que o mentorado sente necessidade de autonomia e independecircncia A separaccedilatildeo

ocorre estruturalmente e psicologicamente e a mentoria deixa de ocupar lugar de

destaque na vida de ambos mentor e mentorado

bull Redefiniccedilatildeo - a ansiedade da separaccedilatildeo eacute superada e o relacionamento eacute

resignificado ou termina Nesta fase a mentoria pode se tornar apenas um

relacionamento de amizade com encontros esporaacutedicos e informais e o mentor

30

pode ainda oferecer algum tipo de apoio mas de forma mais distante e sem a

frequumlecircncia de outrora

Abordadas algumas caracteriacutesticas da mentoria tais como suas funccedilotildees e fases

seguem-se os tipos de mentoria visando enriquecer a compreensatildeo de como se daacute esta

relaccedilatildeo

213 Tipos de mentoria

A relaccedilatildeo de mentoria conforme abordado anteriormente eacute algo que emerge

naturalmente entre uma pessoa mais experiente e um novato A mentoria pode ser

caracterizada como uma relaccedilatildeo intrinsecamente informal No entanto devido aos benefiacutecios

alcanccedilados por esta relaccedilatildeo intenta-se reproduzi-la formalmente em uma escala mais ampla e

com maior controle Neste caso tem-se a mentoria formal uma relaccedilatildeo mais estruturada e que

busca atingir os benefiacutecios para o mentor mentorado organizaccedilatildeo e sociedade resultantes da

mentoria informal ou natural Segue abaixo uma maior explicitaccedilatildeo do que vem a ser a

mentoria informal e a formal

2131 Mentoria informal

Eacute a que nasce espontaneamente por iniciativa dos indiviacuteduos de acordo com

necessidades e interesses pessoais O mentor escolhe seu mentorado agraves vezes por ver-se nele

quando jovem O mentorado por sua vez tambeacutem escolhe para seu mentor geralmente

algueacutem a quem tem por modelo A seleccedilatildeo do mentor eacute feita frequumlentemente com base na

identificaccedilatildeo do mentorado com seu possiacutevel mentor (RAGINS 1997) Tal identificaccedilatildeo faz

com que a mentoria informal seja considerada mais poderosa do que a formal (NOE 1998)

Na mentoria informal natildeo haacute uma estruturaccedilatildeo da relaccedilatildeo e a frequumlecircncia dos encontros parte

da necessidade Este tipo de mentoria pode se estender por longos periacuteodos

31

Decorrente do sucesso obtido atraveacutes da mentoria informal esforccedilos tecircm sido

desenvolvidos para reproduzi-la formalmente conforme seraacute abordado na proacutexima seccedilatildeo

2132 Mentoria formal

A mentoria formal natildeo eacute espontacircnea como a informal Antes ocorre por iniciativa

encaminhamento e estruturaccedilatildeo da organizaccedilatildeo Sua duraccedilatildeo geralmente varia de seis meses a

um ano e a frequumlecircncia dos encontros eacute preacute-estabelecida mediante contrato firmado entre as

partes (MURRAY 2001)

Na mentoria formal a motivaccedilatildeo para ser mentor pode estar associada ao fato de o

mentor ser visto como bom cidadatildeo organizacional e ao reconhecimento que pode lhe trazer o

fato de ser mentor

Tendo sido abordado o conceito de mentoria suas funccedilotildees as fases pelas quais passa a

relaccedilatildeo e os tipos de mentoria faz-se necessaacuterio analisar alguns fatores que contribuem para o

ecircxito desta relaccedilatildeo Tais fatores seratildeo abordados nas seguintes seccedilotildees

214 Fatores relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria formal

Os programas de mentoria voltados para jovens e adolescentes por se tratarem de

programas de mentoria formal necessitam seguir alguns criteacuterios na busca de se atingir os

objetivos e os benefiacutecios desejados Como jaacute referido os programas de mentoria formal

intentam reproduzir artificialmente as caracteriacutesticas essenciais dos relacionamentos naturais

de suporte Eacute importante ressaltar no entanto que programas mal orientados podem trazer

efeitos negativos na vida do mentorado (DUBOIS et al 2002) Ragins et al (2000) consideram

que em relaccedilatildeo ao niacutevel de satisfaccedilatildeo do mentorado o relacionamento de mentoria estaria em

um continuum no qual em um extremo ficaria o relacionamento altamente satisfatoacuterio e no

outro o relacionamento nocivo ou prejudicial O relacionamento localizado no meio do

32

continuum seria considerado pelas autoras como marginal mentoring ou seja um

relacionamento de mentoria no qual o mentor seria apenas ldquobom o suficienterdquo Os fatores

relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo devem ser observados na tentativa de evitar que o

relacionamento torne-se nocivo ou ateacute mesmo destrutivo Tais fatores visam fazer com que a

relaccedilatildeo seja satisfatoacuteria e beneacutefica

Na tentativa de potencializar os benefiacutecios da mentoria faz-se necessaacuterio considerar os

seguintes fatores seleccedilatildeo de mentores e mentorados treinamento supervisatildeo e

acompanhamento do programa frequumlecircncia dos encontros e a duraccedilatildeo da relaccedilatildeo Estes fatores

relacionados com o ecircxito da relaccedilatildeo seratildeo detalhados nas seccedilotildees seguintes

2141 Seleccedilatildeo de mentores e mentorados

Visando o sucesso do relacionamento de mentoria haacute algumas recomendaccedilotildees

relevantes sobre como combinar mentor e mentorado Fatores como dados demograacuteficos raccedila

e gecircnero devem ser considerados Em se tratando de mentoria com crianccedilas e adolescentes

faz-se necessaacuterio um cuidado ainda maior na seleccedilatildeo do mentor uma vez que

comportamentos e atitudes aprendidos na infacircncia e adolescecircncia tendem a perdurar por toda

a vida

O Big Brothers Big Sisters (programa norte-americano de mentoria voltado para

crianccedilas e adolescentes com risco para delinquumlecircncia) ao fazer o recrutamento dos voluntaacuterios

para agirem como mentores faz um levantamento da vida destes para saber suas intenccedilotildees e

sua vida pregressa Em um programa de mentoria voltado para crianccedilas delinquumlentes os

mentores natildeo poderiam ter qualquer tipo de envolvimento criminal (JACKSON 2002) A

investigaccedilatildeo da vida pregressa do mentor tem o objetivo de garantir a seguranccedila do

mentorado e verificar a possibilidade de comprometimento do mesmo para com o programa

Tal investigaccedilatildeo eacute importante inclusive para assegurar que o mentor poderaacute ser um modelo

33

positivo com condiccedilotildees de influenciar beneficamente o mentorado (GROSSMAN TIERNEY

1998) Os autores sugerem que se considere tambeacutem o interesse dos pais em que a crianccedila ou

adolescente tenha um mentor uma vez que o apoio da famiacutelia eacute um fator de sucesso para o

programa Depois de feita a seleccedilatildeo deve-se fazer um treinamento e acompanhar o

desenvolvimento do relacionamento Tais fatores seratildeo observados na proacutexima seccedilatildeo

2142 Treinamento supervisatildeo e acompanhamento do programa

de mentoria

Assim como a seleccedilatildeo a supervisatildeo deve ser cuidadosa Eacute necessaacuterio fazer um

monitoramento do programa e deve-se comunicar claramente e acordar as expectativas o

tempo do relacionamento a frequumlecircncia dos encontros e os objetivos O mentor deve contar

com apoio constante da organizaccedilatildeo durante todo o programa (DUBOIS et al 2002) O

mentor deve receber treinamento e orientaccedilatildeo e deve haver uma supervisatildeo incluindo

relatoacuterios sobre os encontros (GROSSMAN TIERNEY 1998)

No programa de mentoria voltado para crianccedilas delinquumlentes pesquisado por Jackson

(2002) a supervisatildeo foi feita em trecircs niacuteveis a primeira se deu em termos de conhecimentos

na qual um psicoacutelogo cliacutenico transmitia informaccedilotildees sobre psicopatologia causas e

caracteriacutesticas da crianccedila delinquumlente bem como teacutecnicas de intervenccedilatildeo No segundo niacutevel

foram feitos encontros com o psicoacutelogo para falar acerca das dificuldades encontradas e as

possibilidades de soluccedilatildeo O terceiro e uacuteltimo niacutevel foi o da supervisatildeo que ocorreu em

grupo no qual os diversos mentores discutiram suas experiecircncias Vale ressaltar que o

programa apresentou resultados positivos na vida dos que dele participaram

Fenney et al (2000 apud RHODES et al 2002) afirmam que adultos bem sucedidos

em trabalhar como mentores de jovens satildeo os que tecircm empatia por eles recordando-se de

como eram no passado A participaccedilatildeo dos pais durante o programa de mentoria seja para

34

apoiar seus filhos seja para receber sustentaccedilatildeo tem sido relacionada positivamente ao

sucesso do programa (FRECKNALL LUKS 1992) Outro fator que leva ao ecircxito da relaccedilatildeo

de mentoria eacute a frequumlecircncia com que ocorrem os encontros fato este abordado na proacutexima

seccedilatildeo

2143 Frequumlecircncia dos encontros

Alguns estudos tecircm sido feitos com ecircxito no sentido de relacionar a frequumlecircncia dos

encontros com o sucesso da relaccedilatildeo principalmente em se tratando de mentorados

adolescentes com risco para delinquumlecircncia (KEATING et al 2002) Na mesma linha Azevedo

e Dias (2002) sugerem que a influecircncia do mentor na carreira do mentorado pode ser

diminuiacuteda quando se dispotildee de pouco tempo para a relaccedilatildeo

Keating et al (2002) defendem que a frequumlecircncia de uma ou duas vezes por mecircs eacute

insuficiente para prover suporte para jovens com risco para delinquumlecircncia fazendo com que o

relacionamento natildeo tenha ecircxito As autoras afirmam que programas para jovens e

adolescentes com risco devem ter frequumlentes contatos face-a-face para serem realmente

efetivos O encontro semanal eacute sugerido Segue na proacutexima seccedilatildeo outro fator de ecircxito para a

relaccedilatildeo de mentoria a saber a duraccedilatildeo do relacionamento entre mentor e mentorado

2144 Duraccedilatildeo da relaccedilatildeo de mentoria

A maioria dos benefiacutecios da relaccedilatildeo emerge de um relacionamento de mentoria que

perdure por um ano ou mais Ou seja os benefiacutecios estatildeo associados ao amadurecimento da

relaccedilatildeo (GROSSMAN RHODES 2002) Os autores consideram que relacionamentos curtos

estatildeo associados com efeitos negativos para a juventude de risco

Adolescentes cujo relacionamento de mentoria se estende por um ano ou mais

apresentam melhores resultados educacionais psicossociais e comportamentais Estes

35

resultados satildeo positivamente relacionados com o tempo da relaccedilatildeo Em outras palavras na

medida em que se reduz o tempo de mentoria diminui tambeacutem a apresentaccedilatildeo de resultados

positivos atribuiacutedos agrave relaccedilatildeo (GROSSMAN RHODES 2002)

Frecnall e Luks (1992) encontraram em suas pesquisas que o tempo de duraccedilatildeo da

relaccedilatildeo de mentoria tem sido um fator determinante de ecircxito 70 de resultado positivo com

crianccedilas de um a dois anos de programa e 90 com crianccedilas com dois a trecircs anos de

participaccedilatildeo em um programa de mentoria

O exposto revela a teoria vigente acerca da relaccedilatildeo de mentoria das funccedilotildees

desempenhadas na relaccedilatildeo das fases pelas quais ela passa dos tipos de mentoria

identificados bem como de alguns fatores que se observados contribuem para o sucesso da

relaccedilatildeo Faz-se entatildeo pertinente a seguinte questatildeo norteadora em uma comunidade carente

brasileira ateacute que ponto a mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes apresenta as

caracteriacutesticas definidas pela teoria

Mencionadas as caracteriacutesticas da relaccedilatildeo de mentoria abordar-se-aacute a seguir os

benefiacutecios desta relaccedilatildeo para o mentorado e para o mentor bem como seratildeo considerados

tambeacutem os benefiacutecios sociais desta relaccedilatildeo

22 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria

Satildeo muitos os benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria Zey (1998) revela que a relaccedilatildeo de

mentoria na organizaccedilatildeo pode ser extremamente beneacutefica para o mentorado para o mentor e

para a proacutepria empresa Os benefiacutecios da mentoria foram amplamente estudados no que

concerne agrave mentoria voltada para a organizaccedilatildeo No entanto pretende-se aqui estabelecer um

paralelo entre os benefiacutecios da mentoria organizacional e os da mentoria voltada para jovens e

adolescentes de risco Tais benefiacutecios foram verificados atraveacutes de pesquisas mas ainda natildeo

se apresentam sistematizados Como beneficiaacuterios diretos da relaccedilatildeo de mentoria pode-se citar

36

o mentor o mentorado e a organizaccedilatildeo Entretanto o alcance de um programa bem

estruturado pode se estender para a famiacutelia e para a sociedade

Nas seccedilotildees seguintes seratildeo apresentados os benefiacutecios da mentoria para o mentorado

para o mentor e posteriormente seratildeo abordados os benefiacutecios sociais desta relaccedilatildeo

221 Benefiacutecios da mentoria para o mentorado

O mentorado pode ser muito beneficiado atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria O mentor ao

fornecer suporte psicossocial e de carreira auxilia o mentorado em seu crescimento pessoal o

que inclui o desenvolvimento emocional o social e o de carreira Tal suporte facilita transiccedilatildeo

do adolescente para a fase adulta (RHODES et al 2002)

A literatura apresenta os seguintes benefiacutecios para o mentorado

a) Aumento da auto-estima

Grossman e Tierney (1998) verificaram que os jovens com risco para delinquumlecircncia que

foram acompanhados por mentores sentiram-se mais confiantes em suas habilidades para com

as tarefas escolares do que os jovens natildeo mentorados Harter (1982) demonstrou que se sentir

competente leva os jovens a demonstrarem melhor desempenho

O aumento da auto-estima foi verificado em adolescentes e jovens ao se relacionarem

com um mentor (FRECKNALL LUKS 1992) Alguns programas de mentoria tecircm

favorecido o aumento da auto-estima tambeacutem em crianccedilas com comportamentos

autodestrutivos (JACKSON 2002)

b) Maior interaccedilatildeo social e com a famiacutelia

Outro benefiacutecio para o mentorado decorrente do suporte que recebe na relaccedilatildeo de

mentoria eacute a atratividade social Pessoas com alto grau de suporte social satildeo vistas como mais

atrativas tecircm maior conhecimento relativo a relacionamentos sociais e satildeo menos

manipulaacuteveis do que as com baixo suporte social (SARASON et al 1985) Frecknall e Luks

37

(1992) verificaram que adolescentes assistidos por um mentor apresentaram maior

envolvimento com a famiacutelia e amigos do que os natildeo mentorados

O fato de o mentor ser um modelo de sucesso estimula ainda a melhora da

autopercepccedilatildeo bem como de atitudes e comportamentos do adolescente mentorado Haacute

evidecircncias de que a influecircncia positiva do mentor pode se estender aos relacionamentos mais

proacuteximos do adolescente operando mudanccedilas inclusive na vida daqueles que com ele

convivem (WALKER FREEMAN 1996)

c) Maior progresso da carreira e aumento da responsabilidade

Mentorados recebem mais promoccedilotildees tecircm melhor desempenho e mais satisfaccedilatildeo no

trabalho do que os natildeo mentorados (CHAO et al 1992) Os mentorados satildeo beneficiados

pois recebem melhores pagamentos dos que os que natildeo dispotildeem de um mentor (MULLEN

1998) Mentorados tecircm na mentoria uma contribuiccedilatildeo potencial para o desenvolvimento

pessoal e profissional sendo tambeacutem um meio para adentrar o mundo dos negoacutecios (KRAM

1983)

Para o mentorado jovem e adolescente o mentor fornece instruccedilatildeo e incentivo

facilitando a transiccedilatildeo da adolescecircncia para o mundo adulto (RHODES et al 2002) Os

presidentes de empresas mais bem sucedidos afirmaram que para tal tiveram a influecircncia de

mentores em sua vida profissional (FAGENSON 1989) Liacutederes mais competentes e

solucionadores de problemas satildeo pessoas consideradas com alto suporte social (SARASON et

al 1986)

O mentorado apresenta maior crescimento profissional e melhor desenvolvimento da

carreira (ZEY 1998) Mentorados tecircm maior satisfaccedilatildeo com a carreira do que os que natildeo

possuem mentor (FAGENSON 1989) Pessoas com alto suporte psicossocial satildeo mais

extrovertidas e apresentam menos comportamentos neuroacuteticos hostilidade solidatildeo e

depressatildeo (COYNE 1978 apud SARASON et al 1986)

38

Outro beneficio para o mentorado diz respeito agrave definiccedilatildeo da identidade profissional e

senso de competecircncia (KRAM ISABELLA 1985) Especificamente com relaccedilatildeo a mentoria

voltada para adolescentes estes apresentaram melhor rendimento escolar e aumento da

responsabilidade (FRECKNALL LUKS 1992)

Grossman e Tierney (1998) ao avaliarem o impacto do Programa Big Brother Big

Sister natildeo haviam sido otimistas em acreditar que o programa aumentasse o rendimento

escolar dos alunos participantes pois conforme verificado em pesquisas anteriores o

aproveitamento escolar e a obtenccedilatildeo de graus dependem de um acompanhamento estaacutevel e

geralmente natildeo satildeo afetadas por uma relaccedilatildeo de mentoria que natildeo tenha foco educacional

Entretanto apesar de o programa Big Brother Big Sister natildeo fornecer diretamente apoio

escolar o rendimento escolar dos mentorados mostrou-se superior As ausecircncias ou faltas agrave

escola foram reduzidas Os autores consideraram que tal fato foi consequumlecircncia de os

mentores (todos acadecircmicos) serem tidos como exemplos valorizarem os estudos e

transmitirem uma visatildeo otimista de futuro para seus mentorados

d) Melhor enfrentamento das adversidades visatildeo otimista da vida e perspectivas

positivas de futuro

Jovens com alto suporte social satildeo mais otimistas quanto ao futuro uma vez que

mentores os auxiliam em relaccedilatildeo agraves suas perspectivas (HARRIS et al 2002 KASHANI et al

1989) Indiviacuteduos com alto suporte social aleacutem de mais atrativos e mais haacutebeis socialmente

satildeo mais otimistas quanto aos eventos da vida do que os que manifestam ter baixo suporte

social (SARASON et al 1985)

Pessoas com baixo suporte social satildeo mais retraiacutedas desatentas tecircm menos esperanccedila

quanto ao futuro e satildeo mais prejudiciais aos outros do que as que tecircm alto niacutevel de suporte

social (KASHANI et al 1989) O sucesso dos adolescentes que superaram momentos de

39

adversidades inclui frequumlentemente a presenccedila de pelo menos um mentor que lhe proveu tal

suporte (RHODES et al 2002)

Benefiacutecios tambeacutem satildeo apresentados em se tratando de jovens com risco para

delinquumlecircncia Nestes o desenvolvimento pessoal pode ser percebido frequumlentemente quando o

mentor eacute um modelo positivo para o mentorado Este fato auxilia na reduccedilatildeo do estresse

diaacuterio e provecirc condiccedilotildees de o mentorado rever sua percepccedilatildeo acerca de seus relacionamentos

mudando de uma visatildeo negativa destes para uma positiva (MAIN et al 1985 apud

GROSSMAN RHODES 2002)

Eacute particularmente importante a influecircncia positiva que o mentor oferece ao mentorado

na reduccedilatildeo do estresse diaacuterio Sendo um modelo de resoluccedilatildeo de conflitos o mentor auxilia

indiretamente na diminuiccedilatildeo do estresse familiar melhorando ateacute mesmo a interaccedilatildeo do

mentorado com seus proacuteximos Segundo os autores o relacionamento de mentoria pode ter

ainda um efeito corretivo para adolescentes que tiveram experiecircncias negativas no

relacionamento com os pais

Conforme visto pesquisas anteriores demonstraram que o mentorado pode ser muito

beneficiado atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria Cabe aqui portanto a segunda questatildeo norteadora

deste trabalho em um contexto brasileiro ateacute que ponto os mentorados carentes estudados

tecircm desfrutado dos benefiacutecios da mentoria apontados pela literatura

Considerados os benefiacutecios da mentoria para o mentorado cabe expor a forma pela

qual a mentoria beneficia o mentor fato abordado na seccedilatildeo seguinte

222 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentor

A mentoria pode proporcionar ao mentor diversos benefiacutecios Os mentores podem ter

no mentorado uma versatildeo de si proacuteprios quando mais jovens como se o mentorado fosse

representante de seu passado (RAGINS 1997) De acordo com a literatura os mentores

40

podem ser beneficiados com esta relaccedilatildeo atraveacutes da realizaccedilatildeo pessoal da motivaccedilatildeo e do

reconhecimento Segue-se a explanaccedilatildeo de tais fatores

a) Realizaccedilatildeo pessoal

O fato de ser mentor daacute ao indiviacuteduo um senso de generosidade ao contribuir com as

geraccedilotildees futuras Satisfaccedilatildeo interna e reconhecimento organizacional lealdade do mentorado

apreciaccedilatildeo do grupo renovaccedilatildeo da carreira e melhor performance no trabalho satildeo benefiacutecios

da mentoria para o mentor Mentores podem obter mais conhecimento empatia e capacidade

de se relacionar com outros grupos do que aqueles que natildeo satildeo mentores (RAGINS 1997)

Em se tratando de mentores de jovens e adolescentes com risco para delinquumlecircncia

Shields (2001) verificou que a mentoria propiciou ao mentor um sentimento de recompensa

ao observar as mudanccedilas positivas ocorridas no comportamento de seus mentorados Jackson

(2002) observou em seu estudo que mentores de adolescentes delinquumlentes relataram como

sendo gratificante o fato de terem atraveacutes da mentoria uma oportunidade de ajudar estas

pessoas

b) Motivaccedilatildeo

O mentor pode redirecionar sua energia para a criatividade e a accedilatildeo produtiva num

periacuteodo que dependendo do indiviacuteduo pode ser entendido como de estagnaccedilatildeo Neste caso a

mentoria pode significar estiacutemulo e desafio (ZEY 1998)

c) Reconhecimento

Mentores podem ter a confianccedila e serem amados por seus mentorados (KLAW et al

2003) Ganham suporte teacutecnico e psicoloacutegico e satisfaccedilatildeo interna ao fazer com que um novato

seja capaz de ldquonavegarrdquo no mundo dos negoacutecios Os mentores ganham respeito de seus

colegas ao desenvolver um jovem talento para organizaccedilatildeo (KRAM ISABELLA 1985)

41

Assim a terceira questatildeo norteadora deste trabalho eacute ateacute que ponto um projeto de

mentoria voltado para crianccedilas e adolescentes carentes no Recife oferece os benefiacutecios de

realizaccedilatildeo pessoal motivaccedilatildeo e reconhecimento para os mentores

Considerados os benefiacutecios da mentoria para o mentorado e para o mentor seratildeo

abordados na proacutexima seccedilatildeo os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes desta relaccedilatildeo

223 Benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria

Em se tratando de mentoria voltada para crianccedilas jovens e adolescentes com risco

para delinquumlecircncia aleacutem dos benefiacutecios na vida dos que participam diretamente da relaccedilatildeo a

sociedade tambeacutem pode ser positivamente afetada

Frecknall e Luks (1992) investigaram a avaliaccedilatildeo dos pais acerca do aproveitamento

de seus filhos inseridos em um programa de mentoria voltado para jovens com risco para

delinquumlecircncia Com relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo de 63 dos pais os filhos apresentaram uma grande

melhora em toacutepicos como rendimento escolar comportamento com a famiacutelia

comportamento com os amigos aumento da auto-estima aumento da responsabilidade e

diminuiccedilatildeo de envolvimento em situaccedilotildees problema Paralelamente ao beneficio alcanccedilado

por um adolescente e por sua famiacutelia haacute uma contribuiccedilatildeo indireta para a sociedade na

medida em que diminuem os iacutendices de delinquumlecircncia e de evasatildeo escolar Indiretamente haacute

tambeacutem a reduccedilatildeo da possibilidade de assistencialismo o aumento do iacutendice de alfabetizaccedilatildeo

e o crescimento do IDH (Iacutendice de Desenvolvimento Humano) Com frequumlecircncia aumenta

ainda a mobilidade social e a possibilidade de contribuiccedilatildeo social direta destas crianccedilas

adolescentes e jovens

A teoria aponta a reduccedilatildeo da dependecircncia de poliacuteticas assistencialistas e a diminuiccedilatildeo

da delinquumlecircncia como benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria fatores que seratildeo abordados a

seguir

42

a) Reduccedilatildeo futura da dependecircncia de poliacuteticas assistencialistas

Patterson et al (1989) esclarecem que a expressatildeo ldquosituaccedilatildeo de riscordquo eacute usada

geralmente para descrever

jovens que demonstram problemas comportamentais e emocionais que tecircm dificuldade em desenvolver-se com sucesso Quando adultos estes apresentam alta incidecircncia em desemprego crocircnico divoacutercio problemas fiacutesicos e psiquiaacutetricos envolvimento com drogas tornam-se dependentes de assistecircncia social podendo ainda envolver-se em atividades criminosas (p329) Grifo da pesquisadora

Adolescentes com altas expectativas educacionais de futuro (muitas vezes providas

por um mentor) desenvolvem bons haacutebitos de estudo pensam em fazer curso universitaacuterio e

buscam se envolver em atividades intelectuais extracurriculares Em contrapartida os que

deteacutem baixa expectativa apresentam maior probabilidade de desenvolver comportamentos de

risco (HARRIS et al 2002) Jovens em situaccedilatildeo de risco entre outros fatores satildeo propensos a

depender no futuro de poliacuteticas assistencialistas

b) Diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia

Jovens e adolescentes em situaccedilatildeo de risco satildeo candidatos potenciais a programas de

mentoria Estes podem ser usados como prevenccedilatildeo contra a delinquumlecircncia particularmente na

ausecircncia de adultos que representem figuras positivas ou modelos O mentor pode claramente

desempenhar este papel (RHODES et al 1994)

O risco para delinquumlecircncia natildeo eacute uma questatildeo que dependa apenas de um fator Antes eacute

um conjunto de variaacuteveis que levam o adolescente a apresentar comportamentos delinquumlentes

Ellickson e Mcguigan (2000) ao investigarem os riscos para violecircncia em adolescentes

verificaram que no caso das meninas adolescentes fatores de risco incluem a baixa auto-

estima poucos anos de estudo e baixo niacutevel soacutecio-econocircmico Estes fatores podem ser

revertidos atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria Dornbusch et al (1985) verificaram que

adolescentes que convivem com apenas um dos pais apresentam maior probabilidade de se

43

envolver em comportamentos delinquumlentes e violentos do que os que vivem com ambos os

pais Uma afirmaccedilatildeo destoante eacute a de Larson et al (2001) Eles defendem que crianccedilas e

adolescentes que convivem com apenas um dos pais podem se adaptar bem a esta situaccedilatildeo

natildeo sendo o fato de conviver com apenas um dos pais determinante da delinquumlecircncia Natildeo

obstante essa natildeo eacute a tendecircncia das evidecircncias disponiacuteveis

Caffray e Schneider (2000) por exemplo ao pesquisarem sobre as motivaccedilotildees que

levam o adolescente aos comportamentos de risco citam como influecircncias importantes

sentimentos negativos sobre o relacionamento com os pais pouca comunicaccedilatildeo em casa

baixa coesatildeo familiar reduzido desempenho escolar e baixo suporte social Fatores familiares

estressantes como desemprego violecircncia domeacutestica discoacuterdia entre os pais e divoacutercio estatildeo

positivamente associados com a delinquumlecircncia (FARRINGTON 1987 apud PATTERSON et

al 1989) bem como poucos anos de estudo (DIAS 2003)

De modo geral a literatura sugere que em ambientes de risco jovens que dispotildeem de

suporte atraveacutes de relacionamentos com adultos podem diminuir os efeitos negativos das

adversidades sobre seu desenvolvimento (RHODES et al 1994) A tiacutetulo de exemplo

Jackson (2002) verificou que crianccedilas delinquumlentes ao serem assistidas por um mentor

diminuiacuteram a frequumlecircncia de comportamentos agressivos e de problemas de conduta

DuBois et al (2002) fizeram uma meta-anaacutelise acerca de 55 avaliaccedilotildees dos efeitos de

programas de mentoria voltados para juventude norte-americana Ficou aiacute evidenciado que os

participantes se beneficiam muito com a participaccedilatildeo em tais programas Os programas

diferem em seu conteuacutedo mas a maioria tem como foco a juventude de risco Haacute tambeacutem

programas destinados a filhos que vivem com apenas um dos pais e a minorias eacutetnicas

Quanto aos objetivos os programas avaliados buscavam o desenvolvimento na aacuterea

emocional comportamental educacional e em alguns casos o desenvolvimento profissional

dos mentorados

44

Um exemplo deste tipo de programa pode ser visto em Nova Iorque nos EUA e em

parte do Canadaacute Trata-se de um programa criado em 1904 o Big Brothers Big Sisters of

Ameacuterica (BBBS) que provecirc relacionamento de mentoria para crianccedilas de risco que vivem

com apenas um dos pais O programa eacute voltado para populaccedilatildeo menos favorecida que

apresenta problemas como delinquumlecircncia baixo aproveitamento escolar e baixa auto-estima

(FRECNALL LUKS 1992)

O BBBS emparelha adultos voluntaacuterios (Big Brothers Big Sisters) com crianccedilas e

adolescentes de 6 a 18 anos (Litle Brothers Litle Sisters) Os mentores modelos positivos

devem prover amizade aconselhamento e servir de guia para os mentorados Os encontros satildeo

feitos de duas a quatro vezes por mecircs Cada encontro dura em meacutedia de trecircs a quatro horas

Grossman e Tierney (1998) ao avaliarem o impacto do Big Brothers Big Sisters

levantaram soacutelidas evidecircncias de que a mentoria neste programa teve efeitos positivos e

socialmente importantes na vida dos jovens participantes Os autores compararam dois

grupos homogecircneos um de jovens participantes do programa e um outro de natildeo-participantes

Pocircde-se concluir que com relaccedilatildeo aos comportamentos anti-sociais nos jovens que tinham

mentor a frequumlecircncia de comportamentos agressivos para com outros jovens apresentou

frequumlecircncia 32 menor do que no grupo que natildeo foi assistido pelo programa A probabilidade

de iniciar o uso de drogas foi reduzida em 70 para os jovens que participaram do programa

em relaccedilatildeo aos natildeo participantes

Jackson (2002) tambeacutem realizou um estudo sobre mentoria voltada para adolescentes

delinquumlentes que teve oito meses de duraccedilatildeo Os adolescentes corriam risco de suspensatildeo ou

expulsatildeo da escola em que estudavam devido agrave infraccedilatildeo das normas Dos alunos mentorados

menos de 1 continuou a apresentar problemas de comportamento que comprometiam sua

permanecircncia na escola Os demais no entanto nos uacuteltimos trecircs meses de programa

apresentaram uma reduccedilatildeo meacutedia de 80 nos comportamentos infratores

45

Considerando todo o exposto pode-se afirmar que a mentoria tem se mostrado um

valioso recurso no auxiacutelio educacional de jovens e adolescentes Claramente as experiecircncias

de programas de mentoria com jovens de risco tecircm apresentado resultados positivos A

literatura apresentou alguns benefiacutecios sociais desta relaccedilatildeo em diversos contextos sendo

pertinente a verificaccedilatildeo da influecircncia desta relaccedilatildeo num contexto brasileiro Destaca-se entatildeo

a quarta questatildeo norteadora desta pesquisa quais os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da

relaccedilatildeo de mentoria na vida de crianccedilas e adolescentes de uma comunidade carente do Recife

Foi abordada neste capiacutetulo a literatura acerca da mentoria o conceito o suporte de

carreira e psicossocial oferecido pelo mentor as fases da relaccedilatildeo os fatores responsaacuteveis pelo

ecircxito da mentoria e os benefiacutecios da relaccedilatildeo Segue no capiacutetulo trecircs a metodologia deste

estudo que iraacute expor a forma como foi realizada a pesquisa

46

3 Metodologia

31 Delineamento da pesquisa

A presente pesquisa eacute um estudo de caso definido por Gil (1996) como ldquoestudo

profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos que permite seu amplo e detalhado

conhecimentordquo (p58) O estudo de caso segundo Laville e Dione (1999) pode ser feito com

uma pessoa um grupo uma comunidade um meio uma mudanccedila poliacutetica ou um conflito

A escolha deste tipo de delineamento de pesquisa deu-se devido agrave possibilidade de

avaliar as diversas dimensotildees do problema analisando-o como um todo Em se tratando de

estudo de caso a metodologia requer flexibilidade e portanto natildeo se tem uma estrutura riacutegida

quanto aos passos a seguir Laville e Dione (1999) afirmam que

o pesquisador pode pois mostrar-se mais criativo mais imaginativo tem mais tempo de adaptar seus instrumentos modificar sua abordagem para explorar elementos imprevistos precisar alguns detalhes e construir uma compreensatildeo do caso que leve em conta tudo isso pois ele natildeo mais estaacute atrelado a um protocolo de pesquisa que deveria permanecer o mais imutaacutevel possiacutevel (p156)

Utilizando o modelo proposto por Gil (1996) foram consideradas trecircs fases distintas

no delineamento do estudo delimitaccedilatildeo da unidade-caso coleta de dados anaacutelise e

interpretaccedilatildeo dos dados O estudo de caso se caracteriza como exploratoacuterio-descritivo O

objetivo do estudo exploratoacuterio segundo Selltiz et al (1974) eacute tornar o fenocircmeno conhecido

ou obter uma nova compreensatildeo deste Embora a relaccedilatildeo de mentoria seja um fenocircmeno

conhecido e estudado em outros paises no Brasil pouco se sabe como se daacute efetivamente esta

relaccedilatildeo Em se tratando de mentoria com crianccedilas e adolescentes brasileiros o conhecimento

47

eacute ainda mais escasso Por este motivo o presente estudo eacute exploratoacuterio buscou conhecer

como ocorre a relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas e adolescentes num contexto brasileiro mais

especificamente nordestino Ainda como objetivo de um estudo exploratoacuterio pode-se chegar a

novos conhecimentos sobre o objeto de estudo e a partir dele novos questionamentos e

hipoacuteteses podem emergir tal como abordado por Selltiz et al (1974) O estudo foi descritivo

pois se propocircs a descrever qualitativamente o fenocircmeno estudado (LAKATOS MARCONI

1995) A descriccedilatildeo do programa de reforccedilo foi feita com base na anaacutelise documental nas

notas de campo e nas entrevistas

A coleta de dados foi realizada sob o arcabouccedilo da metodologia qualitativa Tal coleta

deu-se em duas fases que seratildeo expostas nas seccedilotildees seguintes

32 Primeira fase da coleta de dados

A primeira fase da coleta de dados foi realizada na comunidade atraveacutes de um

primeiro contato com algumas matildees de alunos participantes do projeto Esta fase relacionou-

se com uma sondagem do campo para verificar a possibilidade da efetivaccedilatildeo ou natildeo da

pesquisa

321 Objetivo

Como uma primeira fase de coleta foi feita uma sondagem do programa com o intuito

de perceber se havia relaccedilatildeo de mentoria no projeto e caso houvesse quais as funccedilotildees

existentes nesta relaccedilatildeo

48

322 Instrumentos de coleta de dados

Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram a entrevista semi-estruturada

a observaccedilatildeo e as notas de campo conforme se segue

bull Entrevistas semi-estruturadas

A entrevista ldquo natildeo significa uma conversa despretensiosa e neutra uma vez que se

insere como meio de coleta de fatos relatados pelos autores enquanto sujeito-objeto da

pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que estaacute sendo focalizadardquo (NETO 1997

p57) Segundo Laville e Dione (1999) a entrevista semi-estruturada eacute ldquouma seacuterie de

perguntas abertas feitas verbalmente em uma ordem prevista mas na qual o entrevistador

pode acrescentar perguntas de esclarecimentordquo (p188)

Atraveacutes da situaccedilatildeo de interaccedilatildeo que eacute a entrevista buscou-se chegar ao conhecimento

proacuteprio dos sujeitos pesquisados As entrevistas foram semi-estruturadas com perguntas

abertas Minayo (1998) afirma que neste tipo de entrevista ldquoo entrevistado tem a possibilidade

de discorrer o tema proposto sem respostas ou condiccedilotildees preacute-fixadas pelo pesquisadorrdquo

(p108) A teacutecnica de entrevista foi complementada com a praacutetica da observaccedilatildeo fornecendo

assim uma visatildeo mais ampla do objeto em estudo conforme sugere Minayo (1998)

A entrevista conteve os seguintes temas

a) Significado de sucesso escolar

b) Fatores responsaacuteveis pelo ecircxito nos estudos

c) Significado do projeto Educaccedilatildeo eacute Vida na vida da famiacutelia

A entrevista foi realizada com cinco matildees que tinham filhos participando do projeto

A escolha das matildees foi feita por acessibilidade na qual o pesquisador seleciona os

casos a que tem acesso admitindo que estes representam o universo Este tipo de amostragem

49

pode ser aplicado em estudos exploratoacuterios e qualitativos conforme sugere Gil (1999) Foi

levantada a quantidade de pais responsaacuteveis pelas crianccedilas e adolescentes do programa que

natildeo trabalhassem fora de casa ou que o fizessem proacuteximo agrave comunidade e que pudessem

responder agrave entrevista O coordenador do projeto indicou 14 matildees que atendiam a este

requisito De posse dos nomes foi realizado um sorteio e das sorteadas duas natildeo estavam

disponiacuteveis A entrevista foi realizada com cinco matildees Colheram-se alguns dados

demograacuteficos acerca da matildee (ocupaccedilatildeo grau de instruccedilatildeo e situaccedilatildeo conjugal) e da crianccedila

participante do projeto (sexo idade seacuterie e tempo de projeto)

bull Observaccedilatildeo participante ndash feita na comunidade e no programa

Schwartz e Schwartz (1955) definem observaccedilatildeo participante como

um processo pelo qual manteacutem-se a presenccedila do observador numa situaccedilatildeo social com a finalidade de realizar uma investigaccedilatildeo cientiacutefica O observador estaacute em relaccedilatildeo face a face com os observados e ao participar da vida deles no seu cenaacuterio cultural colhe dados Assim o observador eacute parte do contexto sob observaccedilatildeo ao mesmo tempo modificando e sendo modificado por este contexto (p355 apud MINAYO 1998)

Em se tratando de suporte social para crianccedilas Frey e Rothlisberger (1996) sugerem a

observaccedilatildeo direta dos comportamentos o que neste caso pressupotildee a necessidade de

inserccedilatildeo do pesquisador na comunidade e no programa

No caso desta pesquisa a pesquisadora foi tida como observadora A observaccedilatildeo foi

feita atraveacutes durante algumas visitas da pesquisadora agrave comunidade e ao projeto

Nestas pode-se observar as crianccedilas assistidas pelo projeto bem como suas famiacutelias

uma vez que as entrevistas foram realizadas nas casas dos alunos pesquisados

bull Notas de campo

Referem-se agraves observaccedilotildees feitas no campo contendo a descriccedilatildeo das pessoas objetos

lugares fatos atividades e conversas Incluem a anotaccedilatildeo dos sentimentos

50

impressotildees ideacuteias e estrateacutegias que ocorreram agrave pesquisadora durante a observaccedilatildeo

Segundo Bogdan e Biklen (1994) as notas de campo satildeo ldquoo relato escrito daquilo que

o investigador ouve vecirc experencia e pensa no decurso da coleta e refletindo sobre os

dados de um estudo qualitativordquo (p150) Sendo assim as notas de campo tecircm

conteuacutedo tanto descritivo quanto reflexivo

A partir das entrevistas da observaccedilatildeo e das notas de campo pocircde-se verificar que

havia relaccedilatildeo de mentoria no projeto e percebeu-se a existecircncia das funccedilotildees da mentoria tanto

de suporte psicossocial como de carreira Tal fato incentivou a continuidade do estudo uma

vez que a relaccedilatildeo de mentoria se mostrou presente A partir daiacute fez-se necessaacuterio uma segunda

fase de coleta de dados que seraacute exposta a seguir

33 Segunda fase de coleta de dados

331 Objetivos

Tendo sido confirmada a existecircncia da relaccedilatildeo de mentoria no projeto de reforccedilo

buscou-se colher dados capazes de responder agrave seguinte pergunta de pesquisa como se daacute a

mentoria voltada para a educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes em uma comunidade carente do

Recife

332 Instrumentos de coleta de dados

Buscando investigar as especificidades (funccedilotildees fases e fatores de ecircxito) da relaccedilatildeo

de mentoria existentes no projeto e para se conhecer os benefiacutecios desta relaccedilatildeo na vida do

mentor do mentorado e da comunidade foram utilizados os seguintes instrumentos de coleta

51

de dados entrevista documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo observaccedilatildeo participante e notas de campo

Tais instrumentos satildeo considerados a seguir

bull Entrevista semi-estruturada - abordada na primeira fase de coleta de dados

Inicialmente a entrevista foi realizada com o coordenador do projeto buscando

conhecer a histoacuteria deste projeto e sua relaccedilatildeo com ele Posteriormente foram

entrevistadas nove matildees e uma avoacute que satildeo as pessoas responsaacuteveis pelos alunos

selecionados e foi entrevistado tambeacutem um aluno O objetivo destas entrevistas foi

compreender qual a percepccedilatildeo da famiacutelia acerca do projeto e de seus resultados na

vida da crianccedila ou adolescente que dele participa

Foram realizadas entrevistas com os demais colaboradores uma professora

(participante do projeto e de uma escola que fornece bolsa para a comunidade) a

psicoacuteloga e uma dentista visando conhecer a participaccedilatildeo destes no projeto e sua

percepccedilatildeo acerca do mesmo

Finalmente foi realizada entrevista com a coordenadora de uma das escolas que

fornece bolsa para as crianccedilasadolescentes do projeto buscando conhecer sua

percepccedilatildeo acerca do reforccedilo e de seus resultados na vida do aluno participante

bull Observaccedilatildeo participante (abordada na primeira fase)

bull Notas de campo (abordadas anteriormente)

bull Documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo ndash a situaccedilatildeo formal em que ela se encontra contribuindo

para o conhecimento da sua histoacuteria Foram analisados o estatuto e o projeto

pedagoacutegico da instituiccedilatildeo

Abordados os instrumentos de coleta de dados segue a explanaccedilatildeo a respeito dos

sujeitos da pesquisa

52

34 Sujeitos da pesquisa

O programa atende cerca de 80 crianccedilas e adolescentes das quais foram estudadas 13

Inicialmente pretendia-se pesquisar 10 sendo 5 consideradas pelo projeto como bem

sucedidas e 5 consideradas como de natildeo ecircxito Ampliou-se o nuacutemero de casos uma vez que

uma das matildees entrevistadas tem um filho que eacute considerado pelo projeto (e por ela) como de

natildeo-ecircxito e outro que apresenta ecircxito Inicialmente seria levado em consideraccedilatildeo somente o

caso de natildeo-ecircxito mas foram analisados ambos os casos ao inveacutes de apenas o de natildeo ecircxito

buscando compreender o por quecirc de em um uacutenico ambiente atraveacutes de um mesmo projeto

crianccedilas demonstrarem resultados tatildeo diferentes A entrevista natildeo seria dirigida aos alunos

visto se tratar de crianccedilas o que exige preparo do pesquisador com este tipo de sujeito No

entanto no momento da entrevista com um dos responsaacuteveis o aluno estava presente e

contribuiu com a ela Os dados coletados foram aceitos visto se tratar de um adolescente de

17 anos o mais velho dos alunos pesquisados Uma das matildees entrevistadas tem dois filhos no

projeto e suas respostas incluiacuteam frequumlentemente os dois motivo pelo qual ambos foram

considerados ao inveacutes de apenas um O quadro abaixo revela alguns dados dos sujeitos

Nome idade seacuterie tempo de

projeto escola

Afracircnio 9 anos 4a 3 anos Particular Daniel 8 anos 1a 3 anos Particular Almir 9 anos 2a 3 anos Particular Silvia 10 anos 4a 3 anos Particular Nuacutebia 12 anos 5a 3 anos Particular Frederico 12 anos 6a 4 anos Particular Jairo 14 anos 6a 4 anos Particular Walter 17 anos 2ordmano 7 anos Puacuteblica Tito 8 anos 2a 3 anos Particular Helena 10 anos 4a 4 anos Particular Tacircnia 10 anos 4a 7 anos Puacuteblica Nestor 14 anos 1ordmano 4 anos Puacuteblica Faacutebio 12anos 6a 3 anos Puacuteblica

53

Segundo Selltiz et al (1974) no estudo exploratoacuterio natildeo se tem um nuacutemero exato de

respondentes que deveratildeo ser entrevistados Antes o pesquisador no decorrer das entrevistas

verificaraacute que em um determinado ponto as respostas comeccedilam a formar um padratildeo tornam-

se repetitivas A partir daiacute aumentar o nuacutemero de informantes eacute pouco compensador Seguem

na proacutexima seccedilatildeo os criteacuterios utilizados para selecionar os sujeitos

341 Criteacuterios de seleccedilatildeo dos sujeitos

O criteacuterio primordial para seleccedilatildeo das cinco crianccedilas foi o fato de serem consideradas

alunos(as) exemplares em termos de rendimento escolar e comportamento (alunos

considerados pelo projeto como de ecircxito) Os outros cinco foram escolhidos por natildeo

apresentarem bom rendimento escolar eou bom comportamento apesar de estarem no

reforccedilo Neste sentido o coordenador do projeto indicou quem seriam as crianccedilas que se

encaixavam nestes perfis

Selltiz et al (1974) afirmam que em um estudo exploratoacuterio

eacute importante selecionar informantes de forma a assegurar uma representaccedilatildeo de diferentes tipos de experiecircncia Sempre que haja qualquer razatildeo para acreditar que diferentes pontos de vista possam influir no conteuacutedo da observaccedilatildeo deve-se fazer um esforccedilo para incluir variaccedilatildeo de pontos de vista e tipos de experiecircncia (p65)

Ainda segundo estes autores os estudos exploratoacuterios que apresentam maior contraste

podem ser mais uacuteteis em revelar diferentes aspectos do fenocircmeno

Outro criteacuterio utilizado foi o tempo de inserccedilatildeo do aluno no projeto O tempo miacutenimo

foi de dois anos visto que Frecnall e Luks (1992) verificaram em suas pesquisas que o

resultado de um programa de mentoria para crianccedilas que participaram por dois a trecircs anos

obteve 90 de ecircxito A literatura sugere a existecircncia de uma relaccedilatildeo direta entre os benefiacutecios

da mentoria e o tempo da relaccedilatildeo (GROSSMAN RHODES 2002)

54

Abordados os instrumentos de coleta de dados os sujeitos da pesquisa e os criteacuterios

para seleccedilatildeo destes sujeitos Seguem na proacutexima seccedilatildeo os meacutetodos de anaacutelise destes dados

35 Meacutetodos de anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados

Em se tratando de uma pesquisa qualitativa a anaacutelise dos dados jaacute vai sendo realizada

ao longo da coleta A anaacutelise segundo Minayo (1998) tem trecircs finalidades compreender os

dados colhidos confirmar ou natildeo as hipoacuteteses ou responder agraves questotildees elaboradas

previamente e ampliar o conhecimento do fenocircmeno estabelecendo viacutenculos com o contexto

cultural no qual estaacute inserido

O tratamento dispensado agraves entrevistas foi o de anaacutelise de conteuacutedo cujo objetivo

segundo Chizzotti (1998) eacute ldquocompreender criticamente o sentido das comunicaccedilotildees seu

conteuacutedo manifesto ou latente as significaccedilotildees expliacutecitas ou ocultasrdquo (p98) Seguindo-se esta

proposta de anaacutelise o conteuacutedo das entrevistas foi categorizado do texto se extraiacuteram

categorias que de acordo com Bardin (1997) ldquosatildeo rubricas ou classes as quais reuacutenem um

grupo de elementos sob um tiacutetulo geneacuterico agrupamento esse efetuado em razatildeo dos

caracteres comuns destes elementosrdquo (p117) As categorias foram utilizadas para agrupar as

ideacuteias em torno dos conceitos As categorias foram elaboradas antes da coleta de dados

conforme proposto por Gomes (1997) Estas categorias foram levantadas a partir do

referencial teoacuterico apresentado considerando-se toacutepicos relevantes que constituem a relaccedilatildeo

de mentoria e dos benefiacutecios propostos As categorias encontradas refletiram a percepccedilatildeo dos

responsaacuteveis pelos alunos e dos professores sobre o programa e seu resultado na vida das

crianccedilas e adolescentes participantes Vale ressaltar que na medida em que foram sendo

analisados os dados foram sendo incluiacutedas novas categorias natildeo abordadas pela teoria mas

que se fizeram presentes nos discursos

55

O discurso advindo da entrevista foi decomposto conforme sugere Gomes (1997)

formando unidades de registro que podia ser uma palavra ou frase significativa dentro do

conceito que se estava investigando

Minayo (1998) propotildee o meacutetodo de anaacutelise hermenecircutico-dialeacutetico no qual a fala dos

atores deve ser contextualizada

O pesquisador tem que aclarar para si mesmo o contexto de seus entrevistados ou dos documentos a serem analisados Isso eacute importante porque o discurso expressa um saber compartilhado com outros do ponto de vista moral cultural e cognitivo (p222)

Inicialmente foi feita uma preacute-anaacutelise na qual os materiais coletados foram

organizados destacando-se os textos significativos e as categorias

Posteriormente foi feita a exploraccedilatildeo do material atraveacutes da leitura exaustiva o que

resultou no tratamento dos resultados e na sua interpretaccedilatildeo Segundo Gomes (1997) isto

significa ldquo desvendar o conteuacutedo subjacente ao que estaacute sendo manifestordquo (p 76) O autor

ressalta que a busca das informaccedilotildees estatiacutesticas deve se voltar para as ideologias as

tendecircncias e outras caracteriacutesticas dos fenocircmenos que se estaacute analisando

Realizou-se o primeiro niacutevel de interpretaccedilatildeo dos dados que segundo Minayo (1998) eacute

o das determinaccedilotildees fundamentais no qual se levam em conta a conjuntura soacutecio-econocircmica e

poliacutetica do objeto da pesquisa

O segundo niacutevel de interpretaccedilatildeo foi a observaccedilatildeo das comunicaccedilotildees individuais

condutas costumes e rituais expressos no grupo

Segundo Minayo (1998) o produto final da anaacutelise as conclusotildees a que se chega

devem ser tidos sempre como provisoacuterios e aproximativos

Acerca da generalizaccedilatildeo dos resultados Laville e Dione (1999) afirmam

56

o estudo de caso incide sobre um caso examinado em profundidade toda forma de generalizaccedilatildeo natildeo eacute por isso excluiacuteda Com efeito um pesquisador seleciona um caso na medida em que este lhe pareccedila tiacutepico representativo de outros casos As conclusotildees gerais que ele tiraraacute deveratildeo ser contudo marcadas pela prudecircncia devendo o pesquisador fazer prova de rigor e transparecircncia no momento de enunciaacute-las (p156)

Pocircde-se ao fim das anaacutelises chegar a um maior conhecimento do fenocircmeno estudado

bem como seu impacto na vida das famiacutelias e da comunidade onde estaacute inserido Segue na

proacutexima seccedilatildeo as limitaccedilotildees deste trabalho

36 Limitaccedilotildees da pesquisa

A presente pesquisa apresenta algumas limitaccedilotildees que seratildeo expostas a seguir

a) Impossibilidade de se verificar os resultados sociais

Sendo um projeto de longo prazo os benefiacutecios seratildeo evidenciados quando existirem

egressos do projeto Por outro lado o tempo que se dispotildee para esta pesquisa eacute de apenas

dois anos Procurou-se entatildeo verificar resultados de curto prazo e a partir deles fazer

inferecircncias

b) Falta de bibliografia nacional sobre o tema

Natildeo se tem pesquisa realizada em mentoria para crianccedilas e adolescentes no contexto

brasileiro limitando o arcabouccedilo teoacuterico Esta limitaccedilatildeo pode ser vista tambeacutem como uma

oportunidade na medida em que este trabalho jaacute significa um avanccedilo em termos de

contextualizar a teoria

c) Envolvimento da pesquisadora com o objeto

A aacuterea social eacute uma aacuterea de afinidade da pesquisadora e o projeto a encantou Este fato

pode ter influenciado a percepccedilatildeo e os resultados da pesquisa No entanto na busca pela

57

objetividade buscou-se separar os conteuacutedos dos sujeitos dos da pesquisadora aliando o

que os dados observados com os discursos deles advindos

d) Interrupccedilatildeo do projeto no momento das entrevistas

A pesquisa ocorreu em um momento criacutetico do projeto um momento de transiccedilatildeo A

observaccedilatildeo e a primeira fase de coleta se deram quando as atividades ainda estavam sendo

desenvolvidas No entanto no momento das entrevistas as atividades jaacute estavam

suspensas Este fato pode ter alterado a percepccedilatildeo das matildees entrevistadas pois o projeto jaacute

natildeo estava em seu cotidiano Por outro lado este fato pode ter contribuiacutedo com a

percepccedilatildeo do valor do projeto uma vez que pela ausecircncia se podia evidenciar o que este

representava na vida da famiacutelia

d) Impossibilidade de verificar com precisatildeo os fatores responsaacuteveis pelo ecircxito e natildeo-

ecircxito dos mentorados uma vez que as famiacutelias consideravam os filhos como tendo ecircxito

nos estudos

Estas foram as limitaccedilotildees percebidas nesta pesquisa

Cientes da metodologia do trabalho segue a apresentaccedilatildeo do caso e dos dados

coletados bem como sua respectiva discussatildeo

58

4 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos achados

Segue-se a apresentaccedilatildeo do caso pesquisado e posteriormente seratildeo apresentados e

discutidos os dados colhidos atraveacutes da observaccedilatildeo das entrevistas e da anaacutelise documental

No iniacutecio de cada seccedilatildeo seraacute apresentada uma questatildeo norteadora seguida da apresentaccedilatildeo e

da discussatildeo dos dados obtidos Finalmente seraacute respondida a questatildeo norteadora que iniciou

a seccedilatildeo Feito isto seraacute abordada outra questatildeo e assim sucessivamente ateacute que se responda a

todas as questotildees postas na fundamentaccedilatildeo teoacuterica

41 O caso

Nesta seccedilatildeo seraacute abordado o caso considerando-se o contexto no qual o mesmo se

insere Seraacute detalhado o surgimento do programa de reforccedilo escolar as motivaccedilotildees para tal os

objetivos as dificuldades enfrentadas os beneficiaacuterios os estaacutegios pelos quais passou e o seu

momento atual

411 O contexto do projeto Vila do Vinteacutem II

O caso pesquisado foi o programa de reforccedilo escolar chamado Educaccedilatildeo eacute Vida que

era localizado na Vila Vinteacutem II tambeacutem chamada de favela do Vinteacutem ou Vila Vinteacutem A

Vila do Vinteacutem era uma favela existente haacute mais de dez anos localizada no bairro de Casa

Forte na cidade do RecifePE

59

A Prefeitura do Recife em fevereiro de 2005 transferiu as 192 famiacutelias moradoras da

favela da Vila do Vinteacutem para o Conjunto Habitacional Casaratildeo do Cordeiro situado agrave

avenida Mauriacutecio de Nassau no bairro do Cordeiro

Esta transferecircncia faz parte de um projeto social chamado ldquoo Recife sem palafitasrdquo

Tal projeto beneficiou 720 famiacutelias que hoje residem no conjunto habitacional mas pretende

alcanccedilar 1337 famiacutelias procedentes de comunidades carentes

As quase 200 famiacutelias que faziam a Vila Vinteacutem moravam em palafitas agraves margens do

rio Capibaribe sob o viaduto Torre-Parnamirim e entre as ruas Joatildeo Tude de Melo e

Leonardo Bezerra Cavalcante As casas - barracos de madeira papelatildeo e plaacutestico - eram de

aproximadamente 12 m2 e natildeo contavam com aacutegua encanada nem esgoto e muitas natildeo tinham

sanitaacuterios

O relator especial das Naccedilotildees Unidas para habitaccedilatildeo Miloon Kothari classificou

algumas das favelas do Recife como sendo as piores do mundo ldquoAlgumas das condiccedilotildees de

moradia do Recife () estatildeo entre as piores que eu jaacute vi As pessoas natildeo podem dormir agrave

noite com aacutegua entrando nas casas ratos e baratasrdquo (Diaacuterio de Pernambuco 2004)

60

Figura 1 (4) - Foto da Vila do Vinteacutem 2002

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

Dentre as inuacutemeras dificuldades presentes nesta comunidade pode-se citar o

desemprego fator que atinge mais de 71 das famiacutelias da Vila (Diaacuterio de Pernambuco

2004) O iacutendice de desemprego como visto anteriormente estaacute diretamente relacionado agrave

escolaridade (NEacuteRY COSTA 2003) de forma que no Recife o maior iacutendice de

analfabetismo encontra-se em domiciacutelios com rendimento de ateacute um salaacuterio miacutenimo

(SECRETARIA DA POLIacuteTICA DE ASSISTEcircNCIA SOCIAL 2004) Mais especificamente

na Vila Vinteacutem mais de 60 dos moradores natildeo tecircm rendimento maior do que meio salaacuterio

miacutenimo

O contexto familiar muitas vezes eacute de agressividade como o exposto pela avoacute de uma

aluna ldquoCom a matildee de Nuacutebia eacute tudo no pau () ela vai para casa da matildee arenga com os

irmatildeos e chega toda machucadardquo (entrevista out05) Esta constataccedilatildeo eacute coerente com a

literatura fatores vivenciados pelas famiacutelias tais como o desemprego crocircnico violecircncia

61

domeacutestica e brigas entre o casal estatildeo associados com a delinquumlecircncia (FARRINGTON 1987

apud PATTERSON et al 1989) Neste ambiente estava inserido o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

O projeto situava-se agrave entrada da favela da Vila Vinteacutem II agrave rua Joatildeo Tude de Melo

nuacutemero 21 no bairro de Casa Forte

Desde a transferecircncia das famiacutelias da Vila do Vinteacutem para o Casaratildeo do Cordeiro as

atividades do projeto foram suspensas O projeto aguarda a liberaccedilatildeo de um terreno no

referido conjunto conforme jaacute acordado entre o projeto e a Prefeitura do Recife para retomar

suas atividades

Figura 2 (4) ndash Foto das palafitas da Vila do Vinteacutem no dia da mudanccedila para o Casaratildeo do Cordeiro Fev2005

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

Considerado o contexto onde estava inserido o projeto faz-se necessaacuterio conhecer o

projeto em si A seccedilatildeo seguinte eacute dedicada a este assunto

62

412 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

O projeto teve iniacutecio atraveacutes de uma famiacutelia residente nas proximidades da favela Vila

do Vinteacutem II Moab Silva e sua esposa Miriam Maria da Silva tinham um restaurante nesta

aacuterea O casal tem dois filhos A filha tem graduaccedilatildeo em Histoacuteria e estaacute terminando o curso de

Publicidade e o filho fez Engenharia Mecacircnica eacute mestre em Oceanografia e estaacute concluindo o

doutorado em Oceanografia Moab eacute cozinheiro autocircnomo e sua esposa eacute graduada em

Relaccedilotildees Puacuteblicas

A famiacutelia conhecia a favela do Vinteacutem e quando havia necessidade contratava alguns

dos moradores para prestar pequenos serviccedilos ao restaurante Com isto e dado ao fato de

Moab ter crescido neste local a famiacutelia tornou-se conhecedora e conhecida da comunidade

Quando os pais vinham trabalhar no restaurante seus filhos os acompanhavam e ficavam

ldquotomando contardquo dos carros no estacionamento Ao fechamento do restaurante estas recebiam

alimentaccedilatildeo

A partir daiacute Miriam que jaacute lecionava para crianccedilas em uma igreja evangeacutelica teve a

ideacuteia de reunir as crianccedilas da comunidade e formar um pequeno coral para se apresentar para

a comunidade na festa de Natal Foi entatildeo que se iniciou a Comunidade Cristatilde Amigos Para

Sempre (ANEXO A) com o objetivo primeiro de evangelizaccedilatildeo e posteriormente

educacional Visando o alcance do objetivo educacional criou-se o Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

(ANEXO B) Moab e a esposa reuniram aproximadamente 15 crianccedilas moradoras da favela

do Vinteacutem para formar o coral As crianccedilas ensaiavam ouviam histoacuterias e lanchavam O coral

reunia-se duas vezes por semana as quartas e aos domingos Os pais tambeacutem se

aproximaram

Moab atraveacutes deste contato mais proacuteximo com as crianccedilas foi percebendo o potencial

que elas tinham e visando desenvolver este potencial resolveu fazer uma banca de estudos

63

para acompanhaacute-las em suas tarefas escolares As crianccedilas jaacute estavam matriculadas em

escolas puacuteblicas e Moab e sua esposa iniciaram o reforccedilo escolar

De 1988 ateacute 2000 o projeto funcionou na informalidade e as reuniotildees aconteciam no

espaccedilo do restaurante Quando este natildeo estava em atividade era dedicado agraves crianccedilas de

forma que laacute ocorriam aleacutem das reuniotildees ensaios do coral jogos festas do dia das crianccedilas

de aniversaacuterio e de Natal

Figura 3 (4) - Festa de Natal para as crianccedilas da Vila do Vinteacutem II 2004

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

No ano de 2000 um grupo de 18 americanos foi agraves proximidades da Vila Moab ao ir

cozinhar para este grupo foi acompanhado pelas crianccedilas Os americanos intrigados ao

verem tantas crianccedilas perguntaram quem eram elas Ao saber a respeito do projeto o grupo

se sensibilizou e resolveu contribuir Foi assim que o projeto comprou uma casa na rua Joatildeo

Tude de Melo ao lado da favela O projeto contava agora com uma sede

64

Figura 4 (4) - Festa das crianccedilas na sede do projeto 00

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

No projeto as atividades de reforccedilo eram disponibilizadas para quem fosse da favela e

quisesse estudar independentemente da seacuterie em que estivesse matriculado O projeto contava

com materiais didaacuteticos um quadro-negro cadeiras uma biblioteca e um computador com

acesso agrave Internet

Os professores do projeto eram Moab cuja vocaccedilatildeo segundo ele eacute alfabetizar sua

esposa que jaacute havia sido professora de crianccedilas e uma professora contratada Havendo

necessidade seus filhos tambeacutem davam aula no projeto

Segue na proacutexima seccedilatildeo uma breve descriccedilatildeo das atividades que o projeto

desenvolvia antes da transferecircncia

65

413 Atividades desenvolvidas pelo projeto

As aulas do reforccedilo funcionavam pela manhatilde e pela tarde contando em meacutedia com 25

alunos em cada turno As atividades do projeto eram realizadas de forma que o aluno estando

em uma escola puacuteblica recebia atraveacutes do projeto um ensino considerado pelo coordenador

como de maior qualidade Os alunos passavam a alcanccedilar um conhecimento diferenciado de

seus colegas de classe Quando os alunos absorviam estes conhecimentos o projeto buscava

transferi-los para uma escola privada

Deu-se entatildeo iniacutecio agrave busca por bolsas de estudos em escolas particulares para os

alunos com bom desempenho escolar Moab o coordenador ia ateacute agrave escola particular falava

acerca do programa de reforccedilo e dava o perfil da crianccedila para qual estava fazendo a

solicitaccedilatildeo da bolsa A escola convidava este aluno para conhecer suas instalaccedilotildees e aplicava

um teste de conhecimento Se o aluno fosse aprovado no teste seria bolsista da escola O

projeto passava a acompanhaacute-lo com mais intensidade visando mantecirc-lo com bom

desempenho em sua nova escola

Atualmente o projeto conta com as seguintes bolsas em instituiccedilotildees de ensino

privado

INSTITUICcedilAtildeO Nordm DE BOLSAS Coleacutegio de Ensino Fundamental I fase 10 Coleacutegio de Ensino Fundamental e Meacutedio 3 Centro de Informaacutetica 10 Curso de Inglecircs 11

As crianccedilas bolsistas que terminam a 4a Seacuterie da primeira fase do Ensino Fundamental

recebem uma bolsa na escola de inglecircs Buscando melhor atender as crianccedilas o coordenador

buscou pessoas que pudessem assisti-las com relaccedilatildeo agrave sauacutede O projeto passou a contar com

66

o voluntariado de uma psicoacuteloga um meacutedico e dois dentistas que datildeo assistecircncia agraves crianccedilas

No caso de assistecircncia psicoloacutegica a famiacutelia tambeacutem recebe acompanhamento

Em 2000 foi fechado um acordo com dois dentistas para o tratamento dentaacuterio das

crianccedilas Mais uma vez o grupo de americanos contribuiu com R$ 1500 por crianccedila para

cobrir as despesas com o material odontoloacutegico Um grupo de 90 crianccedilas da Vila do Vinteacutem

fez tratamento dentaacuterio que incluiu obturaccedilatildeo extraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de fluacuteor ldquoFoi um ano de

tratamento Eu levava as crianccedilas quatro vezes por semana duas turmas para dra () e duas

turmas para o dr ()rdquo (COORDENADOR entrevista set05)

Aleacutem das atividades educacionais propriamente ditas o projeto desenvolvia outras

atividades com as crianccedilas Dentre estas o coordenador citou passeios agrave praccedila do

Entroncamento no final de ano e agrave exposiccedilatildeo da aeronaacuteutica e visita a museus (Ricardo

Brennand Museu do Homem do Nordeste Museu do Estado) ldquoQualquer exposiccedilatildeo que

esteja havendo e que vaacute influir acrescentar em termos de educaccedilatildeo para eles a gente levardquo

(COORDENADOR entrevista set05) Anualmente o projeto levava alguns adolescentes para

acampar O acampamento que tem duraccedilatildeo de cinco dias eacute de cunho religioso Atividades

como pintura muacutesica danccedila recreaccedilatildeo e jogos tambeacutem eram desenvolvidas regularmente

pelo projeto Festas e reuniotildees eram realizadas Estas ocorriam na sede ou no espaccedilo onde era

o restaurante por este comportar um nuacutemero maior de pessoas

Na proacutexima seccedilatildeo seraacute explicado como o projeto foi formalizado tornando-se uma

organizaccedilatildeo natildeo governamental

67

414 Formalizaccedilatildeo do projeto como organizaccedilatildeo natildeo-

governamental

Aproximadamente em 2000 com o projeto jaacute instalado na sede buscou-se a

formalizaccedilatildeo do projeto ou seja o registro como ONG (organizaccedilatildeo natildeo-governamental) O

coordenador procurou entatildeo mais quatro pessoas que juntamente com ele tivessem os

mesmos objetivos Encontradas estas pessoas que natildeo eram estranhas ao projeto intentou-se

proceder agrave formalizaccedilatildeo No entanto estas pessoas desistiram e o coordenador procurou

outras Encontradas as pessoas que segundo ele realmente assumiram o projeto o mesmo foi

formalizado O projeto conta com um presidente (Moab) um vice-presidente dois secretaacuterios

e um tesoureiro Das cinco pessoas responsaacuteveis pela ONG duas foram substituiacutedas

O projeto mesmo anterior agrave formalizaccedilatildeo jaacute contava com objetivos definidos estes

foram entatildeo sistematizados (ANEXO B) Satildeo objetivos do projeto

bull Melhorar a qualidade de vida natildeo somente no presente mas intervir num ciclo

vicioso preparando a crianccedila e o jovem para o futuro

bull Atuar na aacuterea de educaccedilatildeo solicitando bolsa de estudo na rede privada com aulas

de reforccedilo para o ensino fundamental alfabetizaccedilatildeo infantil distribuiccedilatildeo de

material escolar e merenda

bull Ofertar curso regular de liacutengua inglesa e iniciaccedilatildeo musical

bull Oferecer acompanhamento cliacutenico odontoloacutegico e psico-pedagoacutegico e

bull Desenvolver atividades que proporcionem o desenvolvimento de competecircncias

sociais pessoais e intelectuais

Formalmente o coordenador estaacute na diretoria da ONG haacute trecircs anos Em outubro de

2006 ao completar dois mandatos haveraacute eleiccedilatildeo e ele natildeo mais estaraacute agrave frente do projeto

68

pois assim rege o estatuto O projeto eacute mantido com doaccedilotildees e serviccedilo voluntaacuterio Com a

formalizaccedilatildeo natildeo houve alteraccedilatildeo nas atividades desenvolvidas pelo projeto

Considerada a formalizaccedilatildeo do projeto segue a explanaccedilatildeo de sua situaccedilatildeo atual ou

seja como se encontra o projeto apoacutes a transferecircncia das famiacutelias

415 Situaccedilatildeo atual do projeto

Com a transferecircncia das famiacutelias para o conjunto habitacional Casaratildeo do Cordeiro o

projeto interrompeu suas atividades regulares e tem ido agrave busca da liberaccedilatildeo do terreno jaacute

destinado ao mesmo

Neste iacutenterim de fevereiro a novembro de 2005 as crianccedilas bolsistas que estavam

estudando na primeira fase do ensino fundamental foram colocadas pelo projeto em semi-

internatos Tal fato ocorreu na busca de garantir a continuidade da assistecircncia educacional a

estas crianccedilas

Ainda neste periacuteodo de transiccedilatildeo o mesmo grupo de americanos que outrora

beneficiou o projeto com a compra da casa fez uma nova doaccedilatildeo Desta vez o grupo doou

um galpatildeo preacute-moldado com capacidade para 300 pessoas que seraacute erguido no local

destinado para o projeto no Casaratildeo do Cordeiro O envio do galpatildeo estaacute condicionado agrave

liberaccedilatildeo do terreno

Na proacutexima seccedilatildeo seratildeo consideradas as dificuldades enfrentadas pelo projeto

Educaccedilatildeo eacute Vida

69

416 Dificuldades enfrentadas pelo projeto

O coordenador diz encontrar dificuldade para obter apoio junto agraves instituiccedilotildees que

segundo ele deveriam cooperar com as ONGrsquos tais como Conselho Municipal Conselho

Estadual e Conselho Federal de Accedilatildeo Social e Conselhos Municipais dos Direitos da Crianccedila

e do Adolescente Ele afirma que haacute excesso de burocracia e que estas instituiccedilotildees natildeo estatildeo

presentes para apoiar antes para punir caso haja alguma irregularidade ldquoEles natildeo querem ver

resultados querem ver papelrdquo desabafa o coordenador (entrevista set05) Mesmo

entregando os documentos solicitados o coordenador lamenta natildeo ter tido ecircxito nas

solicitaccedilotildees legais fato que ele atribui agrave morosidade e ao excesso de burocracia

Outra dificuldade considerada a maior delas eacute enfrentada a cada iniacutecio de ano devido

a necessidade de se patrocinar os alunos bolsistas O custo com materiais e fardamentos eacute em

meacutedia de R$ 50000 por crianccedila O projeto busca cobrir tal despesa buscando

apadrinhamento (patrociacutenio) para os alunos ou seja pessoas que contribuam parcial ou

totalmente com as despesas deste

A cada ano as escolas oferecem novas vagas ao projeto e com elas aumenta a

dificuldade devido agrave falta de recursos O projeto tem crianccedilas com desempenho suficiente

para serem aceitas por uma escola particular e as escolas tecircm ofertado mais bolsas mas a falta

de patrociacutenio tem imposto limites a esta transferecircncia O coordenador diz que ao colocar uma

crianccedila na escola particular o projeto assume realmente seus estudos fazendo o possiacutevel para

que a crianccedilaadolescente seja inserida e obtenha ecircxito

Ao final de cada ano os padrinhos satildeo homenageados recebendo um Certificado de

Agente Social conforme a figura 5 (4) como forma de reconhecimento e gratidatildeo pelo

patrociacutenio

70

Figura 5 (4) - Certificado do padrinho

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

A despeito das dificuldades enfrentadas o projeto intenta continuar e expandir-se

Tem o objetivo de atender ao Conjunto Habitacional Casaratildeo do Cordeiro

Segue na proacutexima seccedilatildeo a motivaccedilatildeo que deu iniacutecio a este projeto e que o sustenta ateacute

o momento desta pesquisa

417 Motivaccedilatildeo para a existecircncia e continuidade do projeto

O coordenador explica assim sua motivaccedilatildeo para prosseguir com o projeto

Como cidadatildeo pobre eu sempre lutei para que meus filhos conseguissem terminar o terceiro grau () Depois que os meus terminaram eu digo bom agora eu posso lutar pelos dos outros para que eles tambeacutem consigam porque eles natildeo vatildeo conseguir se natildeo tiver quem ofereccedila oportunidade () Essas crianccedilas sendo assistidas dessa forma sem duacutevida alguma vatildeo trilhar o mesmo caminho que meus filhos trilharam Eu trato as crianccedilas participantes deste projeto como se elas fossem os meus filhos (COORDENADOR entrevista set05)

71

Acerca de seu envolvimento com o projeto ele declara ldquoEu natildeo vejo como me

desvincular hoje () separar do projeto Eu respiro o projeto luto faccedilo o que for necessaacuterio o

que for possiacutevel para que o projeto continuerdquo (COORDENADOR entrevista set05)

A seccedilatildeo 41 foi destinada ao caso Foram aqui considerados o contexto onde estaacute

inserido as atividades desenvolvidas o processo de formalizaccedilatildeo as dificuldades enfrentadas

e a motivaccedilatildeo existente no projeto

Para melhor compreensatildeo dos sujeitos da pesquisa seratildeo expostos nas proacuteximas

seccedilotildees os dados referentes aos mentores e aos mentorados pesquisados

418 Dados dos mentores entrevistados

Seguem algumas informaccedilotildees acerca dos mentores do projeto

Coordenador- foi o fundador do projeto e estaacute nele haacute 16 anos Jaacute deu alfabetizou diversas

crianccedilas e pais da comunidade Atualmente eacute o presidente da ONG

Professora ndash participou do projeto durante um ano Leciona em uma das escolas particulares

que fornece bolsa para os alunos Diz ter muita identidade com a proposta do projeto

Psicoacuteloga ndash estaacute no projeto haacute 5 anos Aleacutem deste trabalho no qual atua como voluntaacuteria

participa de um outro tambeacutem com comunidade carente

Dentista- estaacute no projeto haacute mais de um ano e diz ter identidade com o tipo de trabalho

realizado

Seguem na proacutexima seccedilatildeo os dados referentes aos mentorados pesquisados

72

419 Dados dos mentorados pesquisados

Visando um maior conhecimento dos sujeitos pesquisados seguem-se alguns dados

acerca dos mesmos Na busca pelo anonimato os nomes dos alunos foram trocados

Inicialmente seratildeo abordados os alunos que foram apontados como que de ecircxito nos estudos e

posteriormente os de natildeo-ecircxito

4191 Alunos tidos como que de ecircxito nos estudos

O coordenador do projeto demonstra orgulho ao falar dos seguintes alunos pois aleacutem

do rendimento escolar eles apresentam bom comportamento Satildeo estes os alunos

Afracircnio- aluno com 9 anos de idade cursa a 4a seacuterie do Ensino Fundamental em um coleacutegio

particular com bolsa obtida atraveacutes do projeto Educaccedilatildeo eacute Vida Afracircnio estaacute no projeto haacute 3

anos Mora com a matildee que eacute analfabeta funcional1 Aleacutem de estudar em escola particular

atraveacutes do projeto Afracircnio tambeacutem faz inglecircs

Daniel- aluno com 8 anos cursa a 1a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular cuja

bolsa foi obtida atraveacutes do projeto Ele participa do projeto haacute 3 anos Sua participaccedilatildeo nas

atividades desenvolvidas pelo projeto eacute integral passeios e lazer Daniel mora com os pais e eacute

o filho mais novo do casal Seu pai que eacute porteiro estudou ateacute o 3o ano do Ensino Meacutedio e

sua matildee ateacute a 8a seacuterie do Ensino Fundamental Aleacutem dos pais Daniel mora com seu irmatildeo

mais velho Faacutebio (tido como de natildeo ecircxito) sua irmatilde e sua tia A matildee sofre de fobia social e

toma remeacutedio ldquocontroladordquo Segundo ela o filho eacute muito responsaacutevel e gosta de estudar

1 Analfabeto funcional- Pessoa com menos de quatro anos de estudos

73

Almir- Garoto de 9 anos que cursa a 2a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular

cuja bolsa foi obtida atraveacutes do projeto Almir estaacute no projeto haacute 3 anos Mora com os pais

que satildeo analfabetos funcionais e com Silvia sua irmatilde

Silvia- eacute irmatilde de Almir tem 10 anos cursa a 4a seacuterie do Ensino Fundamental Estaacute no projeto

cerca de 3 anos Tal qual o irmatildeo Silvia estuda em escola particular

Nuacutebia- aluna de 12 anos cursa a 5a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular cuja

bolsa foi obtida atraveacutes do projeto do qual ela faz parte haacute cerca de 3 anos Nuacutebia eacute apontada

pelo coordenador do projeto como sendo uma aluna excelente Durante a semana Nuacutebia estaacute

morando na casa da avoacute paterna pois eacute mais perto da escola do que a casa da matildee pois esta

mora no Casaratildeo do Cordeiro A avoacute diz que a neta eacute muito calma e desanimada Acredita

que ela sente muita falta dos irmatildeos e da matildee (os pais satildeo separados) Nos finais de semana

Nuacutebia vai para a casa da matildee A avoacute diz que ao retornar ela vem agitada e machucada pois

em casa Nuacutebia apanha da matildee e dos irmatildeos A matildee de Nuacutebia disse ao coordenador que em

2006 iraacute tiraacute-la da escola particular apesar do bom rendimento que ela apresenta A matildee alega

que a escola eacute longe O coordenador e a professora acreditam que tal fato se deve tambeacutem agrave

limitaccedilatildeo da matildee (analfabeta funcional) em compreender o valor do estudo Ao falar acerca

deste fato o coordenador se mostra bastante entristecido

Frederico- aluno com 12 anos cursa a 6a seacuterie do Ensino Fundamental Ele estaacute no projeto

haacute 4 anos estuda em coleacutegio particular com bolsa obtida atraveacutes do projeto Frederico mora

com os pais Estes satildeo analfabetos funcionais O coordenador diz que eacute um menino muito

bom pois eacute esforccedilado e apresenta bom comportamento

Jairo- aluno com 14 anos que cursa a 6a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular

Sua bolsa foi obtida atraveacutes do projeto bem como o curso de inglecircs no qual ele estuda haacute 3

anos Jairo mora com a matildee o padrasto e com o irmatildeo mais novo que eacute portador de

74

necessidades especiais A matildee eacute analfabeta absoluta2 e o padrasto analfabeto funcional Jairo

perdeu o pai com dois anos A matildee fala que ele eacute um menino ldquoquietordquo e que gosta muito do

coordenador do projeto Jairo morou no interior onde estudava mas natildeo obtinha

aproveitamento escolar Ao chegar no Recife foi incentivado a estudar e segundo a matildee

ldquotomou gosto pelos estudosrdquo desde entatildeo tem demonstrado bom rendimento aleacutem do

comportamento exemplar que sempre apresentou A matildee diz que o coordenador eacute como um

pai para o Jairo lhe aconselha encaminha ajuda patrocina e eacute amigo

Walter- aluno de 17 anos que cursa o 2o ano do Ensino Fundamental em escola puacuteblica e

estaacute haacute 7 anos no projeto Walter mora com os pais que satildeo analfabetos funcionais O

coordenador diz que a famiacutelia acompanha os estudos de Walter Ele eacute aluno de inglecircs com

bolsa obtida pelo projeto Walter pretende ser professor deste inglecircs visto o bom rendimento

que vem apresentando e o interesse que afirma ter com o idioma

Nesta seccedilatildeo foram apresentados alguns dados acerca dos alunos tidos como de ecircxito segue na

proacutexima seccedilatildeo dados dos alunos pesquisados que foram tidos como que de natildeo ecircxito nos

estudos

4192 Alunos tidos como que de natildeo ecircxito nos estudos

Os seguintes alunos natildeo apresentam o rendimento escolar esperado pelo projeto A

aleacutem do que alguns apresentam problemas de comportamento Satildeo estes

Tito ndash aluno com 8 anos de idade que cursa a 2a seacuterie do Ensino Fundamental Mora com os

pais que satildeo analfabetos funcionais Ele estuda em um coleacutegio particular com bolsa obtida

atraveacutes do projeto O coordenador afirma que o mesmo natildeo demonstra interesse para com os

estudos

2 Analfabeta absoluta- pessoa iletrada

75

Helena- aluna de 10 anos que cursa a 4a seacuterie do Ensino Fundamental Ela estaacute no projeto haacute

4 anos Mora com a matildee que eacute analfabeta funcional A matildee trabalha fora e tem pouco contato

a filha cerca de uma hora por dia Os pais satildeo separados O coordenador diz que a matildee eacute

muito nervosa e toma remeacutedio ldquocontroladordquo Ele afirma que a matildee por ser agressiva e

impaciente eacute quem dificulta o aprendizado e o comportamento da filha Helena estuda em

escola particular mas natildeo estaacute obtendo notas suficientes para continuar nela

Tacircnia- aluna de 10 anos que cursa a 4a seacuterie em escola puacuteblica Ela estaacute no projeto haacute 7 anos

Tacircnia mora com a matildee adotiva com o padrasto com um irmatildeo mais novo e com um irmatildeo

mais velho e sua esposa Sua situaccedilatildeo eacute peculiar sua matildee morava com outro ldquomaridordquo quando

resolveu adotaacute-la Deixou o primeiro marido e atualmente mora com outro Sendo que este

casal teve um filho que no momento da pesquisa tinha dois anos Segundo o relato da

psicoacuteloga desde a separaccedilatildeo da matildee Tacircnia jaacute natildeo gozava de muito atenccedilatildeo e com o

nascimento do irmatildeo esta diminuiu significativamente O coordenador atribui muito de sua

dificuldade de aprendizagem agrave falta de estrutura familiar

Nestor- aluno com 14 anos cursa o 1o ano do ensino Meacutedio estaacute no projeto haacute 4 anos e mora

com os pais Sua matildee eacute analfabeta funcional e seu pai cursou ateacute a 6a seacuterie do Ensino

Fundamental Nestor estuda em escola puacuteblica

Faacutebio- garoto com 12 anos que cursa a 6a seacuterie do Ensino Fundamental Ele participa do

projeto haacute 3 anos Faacutebio mora com os pais com a tia com a irmatilde e com Daniel seu irmatildeo A

matildee estudou ateacute a 8a seacuterie e o pai ateacute o 3o ano do Ensino Meacutedio Faacutebio segundo a matildee natildeo

gosta de estudar e seu interesse estaacute em jogar futebol e ficar na rua Em casa ele natildeo recebe

acompanhamento em termos de estudo

Estes foram alguns dos dados acerca dos alunos pesquisados Ao longo da

apresentaccedilatildeo dos dados seratildeo apresentadas mais informaccedilotildees acerca destes sujeitos

76

Seguem nas proacuteximas seccedilotildees as questotildees norteadoras deste trabalho bem como a

apresentaccedilatildeo e discussatildeo dos dados colhidos na busca pelas respostas agraves questotildees

42 Achados referentes agrave primeira questatildeo norteadora

Para responder a seguinte questatildeo em uma comunidade carente brasileira ateacute que

ponto a mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes apresenta as caracteriacutesticas definidas

pela teoria Faz-se necessaacuterio inicialmente caracterizar o projeto de reforccedilo como um

programa de mentoria o que seraacute feito na proacutexima seccedilatildeo Posteriormente seratildeo analisados os

achados referentes agraves funccedilotildees de mentoria existente no projeto as fases em que se encontram

os relacionamentos e os fatores relacionados ao ecircxito do projeto

421 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida como um programa de mentoria

Percebeu-se que os alunos recebem suporte vindo de vaacuterios mentores A psicoacuteloga

fornece sustentaccedilatildeo para o aluno e para a famiacutelia a professora aconselha e ajuda a

desenvolver habilidades o coordenador e sua esposa acompanham o desenvolvimento dos

alunos fornecendo-lhes feedback e encorajando-os Tal fato foi constatado atraveacutes dos

discursos das matildees que relatavam o suporte recebido principalmente pelo coordenador e pela

professora

A partir destes dados pode-se concluir que o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida caracteriza-se

como um programa de redes de mentoria (HIGGINS KRAM 2001) uma vez que o

mentorado recebe influecircncia de vaacuterios mentores O coordenador do projeto eacute a pessoa que

mais acompanha os alunos eacute o mais citado pelas matildees e pelo aluno como oferecedor de

suporte tanto psicossocial como de carreira Pode ser considerado o mentor principal do

projeto

77

A relaccedilatildeo tem iniciativa da organizaccedilatildeo ao se manter aberta a novos entrantes e a

relaccedilatildeo eacute estruturada Alguns encontros como a aula de reforccedilo satildeo preacute-estabelecidos No

entanto os encontros natildeo se limitam agrave aula de reforccedilo Eles podem ser esporaacutedicos partindo

da necessidade O relacionamento natildeo tem uma delimitaccedilatildeo de seis meses ou um ano O

mesmo pode se estender por longos periacuteodos de tempo Walter aluno entrevistado por

exemplo estaacute no projeto haacute sete anos Haacute alunos que foram alfabetizados pelo projeto e

receberam acompanhamento ateacute terminar o ensino meacutedio caracterizando assim um

relacionamento de no miacutenimo 11 anos

Dentre os tipos de mentoria propostos por Kram (1985) a mentoria realizada no

projeto parece estar na interface da mentoria formal e informal Alguns fatores levam a

consideraacute-la formal como por exemplo a estruturaccedilatildeo da relaccedilatildeo e os encontros preacute-

estabelecidos Por outro lado vecirc-se tambeacutem caracteriacutesticas da mentoria informal Ou seja o

mentorado toma a iniciativa em fazer parte ou natildeo da relaccedilatildeo nem todos os encontros satildeo preacute-

estabelecidos e o tempo de duraccedilatildeo da relaccedilatildeo ultrapassa em muito os dois anos ldquolimiterdquo da

mentoria formal

Outra caracteriacutestica especiacutefica do projeto eacute o fato de haver dois tipos de

relacionamento de mentoria entre os mentores e seus mentorados Os alunos bolsistas

parecem gozar de maior assistecircncia visto que para o projeto o ldquoinvestimentordquo eacute maior nestes

alunos Este diferencial foi percebido quando no periacuteodo de transiccedilatildeo alguns bolsistas foram

colocados em regime de semi-internato enquanto os natildeo-bolsistas natildeo tiveram o mesmo

tratamento Deve-se considerar a quantidade restrita de vagas e nesta situaccedilatildeo a preferecircncia

eacute dos alunos bolsistas

Percebeu-se pelos discursos que quando haacute algum passeio com o nuacutemero limitado de

participantes a preferecircncia eacute dos alunos mais comportados e que apresentam melhores notas

normalmente os bolsistas A matildee de Faacutebio (que tem um filho bolsista e outro considerado de

78

natildeo-ecircxito) diz que o coordenador tem seus ldquoescolhidosrdquo (entrevista out05) Ela enfatiza estar

ciente que um de seus filhos eacute ldquoescolhidordquo e o outro natildeo

Este tipo de relacionamento eacute explicado na teoria LMX (Leader-Member Exchange)

teoria da troca entre liacuteder e liderado que afirma que os liacutederes estabelecem um

relacionamento especial com um grupo restrito de liderados (grupo interno) distinto do

relacionamento com os demais liderados que fazem o grupo externo (ROBBINS 2002)

Tal fato pode levar aos seguintes questionamentos

- Os alunos mentorados que se saem melhor em termos de notas e

comportamentos passam a ter uma assistecircncia diferenciada

- Ter uma assistecircncia ldquomais proacuteximardquo leva os alunos a demonstrar melhores

comportamentos e apresentar melhores notas

Abordadas estas caracteriacutesticas da relaccedilatildeo de mentoria do projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

seguem-se as funccedilotildees de mentoria observadas no projeto

422 Funccedilotildees de mentoria encontradas no projeto Educaccedilatildeo eacute

Vida

Nesta seccedilatildeo seratildeo apresentados e discutidos os dados que revelam a existecircncia das

funccedilotildees de mentoria Inicialmente seratildeo abordadas as funccedilotildees de suporte de carreira e

posteriormente as de suporte psicossocial

4221 Suporte de carreira

Nesta seccedilatildeo seratildeo apresentadas as funccedilotildees do suporte de carreira encontradas no projeto

de reforccedilo Satildeo funccedilotildees que o mentor desempenha no sentido de auxiliar o mentorado em seu

desenvolvimento profissional Para cada funccedilatildeo abordada seratildeo apresentados alguns exemplos

encontrados

79

bull Tarefas desafiadoras

Um aluno bolsista de inglecircs diz que seu mentor sempre lhe lembra que aluno bolsista eacute

aluno modelo ldquoA gente tem que mostrar porque tinha direito agravequela bolsa () Se vocecirc

recebe uma ajuda e vocecirc natildeo se esforccedila para passar os obstaacuteculos natildeo adianta nada () eu

tenho me esforccediladordquo (WALTER entrevista out05)

Jairo em cuja casa soacute haacute analfabetos (absoluto e funcional) eacute um dos alunos do projeto

tido como exemplar Tem bolsa em uma escola particular e cursou a 4a e a 5a seacuteries no

mesmo ano A matildee de Nestor diz acerca do filho ldquoEle (Nestor) diz que quer estudar natildeo quer

ser como o pai dele que natildeo estudou Depois que ele conheceu o seu Moab aiacute eacute que ele pegou

o incentivo mesmo para estudarrdquo (MAE DE NESTOR entrevista out05)

ldquoSe vocecirc eacute bolsista natildeo eacute porque vocecirc eacute pobre natildeo eacute porque vocecirc eacute preto natildeo eacute

porque vocecirc eacute favelado Vocecirc estaacute laacute por capacidade () vou buscar bolsa porque ele eacute capaz

e estaacute faltando uma oportunidaderdquo (COORDENADOR entrevista set05)

O programa de reforccedilo ao dar aos alunos a oportunidade de acompanhamento nos

estudos impotildee-lhes uma tarefa extremamente desafiadora a de conseguir superar uma

realidade de exclusatildeo social A crianccedila demanda esforccedilo para adentrar uma escola particular e

para se manter apta a permanecer nessa escola Mesmo no caso de alunos natildeo bolsistas existe

o desafio de manter-se com bom rendimento na escola puacuteblica Este desafio eacute igualmente

vaacutelido para o curso de inglecircs

O desafio parece ser maior do que se apresenta pois subjacente agrave continuidade dos

estudos na vida da crianccedilaadolescente estaacute o status quo da famiacutelia O estudo do filho rompe

uma situaccedilatildeo de analfabetismo familiar Leva a crianccedila a superar sua expectativa negativa de

futuro uma vez que a educaccedilatildeo da matildee (das matildees entrevistadas 78 satildeo analfabetas) eacute

determinante do desempenho do filho (BARROS et al 1994)

80

Walter parece ter ciecircncia do desafio individual que tem que enfrentar mas talvez natildeo

perceba a dimensatildeo do desafio social que isto representa ou seja conhecer e dominar a liacutengua

inglesa estando inserido em uma comunidade que natildeo domina seu proacuteprio idioma Falar de

futuro para uma comunidade de favela jaacute eacute por si soacute um desafio Qual o futuro para quem

natildeo sabe se vai comer ou ter a oportunidade de continuar vivo no dia presente Que futuro

esperar quando se vecirc o pai becircbado jogado na rua catando lixo ou ao perceber a matildee se

prostituindo Que futuro espera quem vive nas condiccedilotildees caracterizadas pelo representante da

ONU como sendo as piores do mundo Talvez esta seja uma das mais belas funccedilotildees do

mentor de crianccedilas e adolescentes carentes abrir-lhes os olhos para novas e promissoras

experiecircncias e viabilizar o alcance destas Ofertar mais tarefas desafiadoras quando estas

crianccedilas e adolescentes jaacute possuem tantas pode parecer cruel No entanto elas parecem estar

recebendo suporte suficiente para superar tais desafios indo aleacutem do que se espera

bull Exposiccedilatildeo e visibilidade positiva

Na introduccedilatildeo da pesquisadora ao programa pocircde-se assistir agrave apresentaccedilatildeo de alunos-

talentos do projeto onde foram citados o rendimento escolar e as habilidades dos mesmos

Os colaboradores e alguns alunos apresentam-se em busca de patrociacutenio Nestas ocasiotildees os

melhores alunos satildeo destacados

Walter aluno de inglecircs foi observado em seu desempenho por seu mentor e por sua

professora da escola de inglecircs Ele foi indicado para fazer intercacircmbio cultural nos EUA

As alunas do projeto que tinham aula de danccedila apresentavam-se quando havia oportunidade

mesmo que se tratasse de uma missa

81

Figura 6 (4) - Apresentaccedilatildeo de coreografia das meninas do projeto em uma missa de Natal realizada pela Igreja Catoacutelica de Casa Forte na Vila do Vinteacutem II

Fonte Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

Pocircde-se perceber que o projeto expotildee positivamente seus mentorados conforme o

proposto por Kram (1985) Oferecer visibilidade positiva a crianccedilas marginalizadas pela

sociedade mostrando os talentos que estas possuem contribui para resgatar a auto-estima

das crianccedilas e das famiacutelias Crianccedilas e adolescentes de favela satildeo estigmatizados e

relacionados agrave delinquumlecircncia Esta visibilidade positiva eacute interessante para a sociedade

havendo a possibilidade de reduccedilatildeo do preconceito para com estes que estatildeo agrave margem Para

os mentorados a visibilidade positiva pode ajudaacute-los a resgatar aleacutem da auto-estima a

dignidade ao reconhecerem capacidade e potencial em si mesmos

bull Coaching

O reforccedilo era oferecido diariamente para as crianccedilas durante 1hora e meia fossem as

crianccedilas bolsistas ou natildeo ldquoEu eacute que ensinava a ela (Silvia) mas natildeo tenho jeito Depois do

82

projeto ela melhorou a letra aprendeu a ler mais raacutepido aprendeu a escreverrdquo (MAE

DE SILVIA entrevista out 05) ldquoQuando a professora natildeo ia ele (Moab) botava a filha dele

praacute ensinar () Ele eacute professor a esposa o filho e a filha Assim eacute bom neacute Quando um natildeo

tava o outro tava (sic)rdquo (MAE DE AFRAtildeNIO entrevista out05)

Uma das atividades mais presentes observadas no projeto eacute o coaching devido agrave

frequumlecircncia com a qual ocorre As tarefas o estudo o ensino enfim o reforccedilo diaacuterio reflete a

preocupaccedilatildeo com a tarefa e a transmissatildeo das informaccedilotildees necessaacuterias para a sua execuccedilatildeo

tal qual o proposto por Kram (1985)

bull Patrociacutenio

O projeto viabilizou o estudo de 24 crianccedilas adolescentes em escolas particulares

sendo 13 no Ensino Fundamental e Meacutedio e 11 no curso de Inglecircs O projeto provecirc as

condiccedilotildees necessaacuterias para que o aluno possa assumir satisfatoriamente a vaga na escola

particular Houve relato de provisatildeo de assistecircncia meacutedica e odontoloacutegica material e

fardamento escolar e ateacute corte de cabelo Algumas matildees entrevistadas disseram receber

ajuda em termos de alimentaccedilatildeo medicamento e doaccedilotildees de roupas

Ao analisar o patrociacutenio oferecido pelo projeto pode-se estabelecer um diferencial em

relaccedilatildeo agrave teoria proposta por Kram (1985) O patrociacutenio mencionado em pesquisas anteriores

reflete uma preocupaccedilatildeo bem especiacutefica do mentor em termos de patrocinar a carreira do

mentorado No projeto Educaccedilatildeo eacute Vida o patrociacutenio eacute bem mais abrangente Estaacute

relacionado agraves necessidades baacutesicas do mentorado e de sua famiacutelia sem as quais ele natildeo teria

condiccedilotildees sequer de estudar Entenda-se como patrociacutenio neste contexto a oferta de

alimentaccedilatildeo medicamento e sauacutede natildeo excluindo aquele ou seja o material o fardamento a

bolsa de estudos e os cursos

83

Estas foram as atividades de suporte de carreira encontradas no projeto de reforccedilo

Atividades que auxiliam o mentorado em sua carreira profissional conforme proposto por

Kram (1985) Em se tratando de crianccedilas e adolescentes falar de carreira profissional pode

parecer precoce No entanto considerou-se o necessaacuterio para que o mentorado venha a ter

condiccedilotildees de futuramente ter uma carreira Eacute desta forma que atividades como patrociacutenio

coaching tarefas desafiadoras e exposiccedilatildeo positiva devem ser encaradas

Segue na proacutexima seccedilatildeo os resultados e discussotildees dos dados obtidos com relaccedilatildeo agraves

atividades de suporte psicossocial encontradas no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

4222 Suporte psicossocial

Seratildeo considerados os dados que refletem o suporte psicoloacutegico e social oferecido pelo

mentor ao mentorado As funccedilotildees encontradas foram amizade aceitaccedilatildeo e confirmaccedilatildeo e

aconselhamento que seratildeo expostas a seguir

bull Amizade

A professora entrevistada disse buscar construir um viacutenculo de afetividade com os

alunos algo que ultrapassasse o relacionamento distanciado entre professor e aluno ldquoquando

a gente daacute atenccedilatildeo afeto eles aprendem tambeacutem a parte cognitivardquo (PROFESSORA

entrevista out05) A matildee de Helena diz ldquoEle (Moab) daacute atenccedilatildeo ela gosta dele porque ele

sabe conversar daacute carinhordquo (entrevista out05) Walter declara ldquoEacute como se ele (Moab) fosse

um pai praacute mim me estende a matildeordquo (entrevista out05) O projeto busca acompanhar a

famiacutelia atraveacutes do coordenador e da psicoacuteloga que se propotildee a realizar um acompanhamento

terapecircutico se necessaacuterio

Pocircde-se observar claramente que a amizade estaacute presente na relaccedilatildeo de mentoria

Atraveacutes dos discursos acima percebe-se um viacutenculo entre mentor e mentorado no qual o

mentorado mostra-se compreendido tal qual o proposto por Kram (1985)

84

bull Aceitaccedilatildeo e confirmaccedilatildeo

Pode-se observar atraveacutes dos discursos e mais evidentemente em uma das entrevistas

ldquoAfracircnio eacute muito bom em histoacuteria e ciecircncias ele soacute tira 10 Seu Moab sempre ficava

elogiando ele que ele era bom e acho que isso foi incentivando elerdquo (MAE DE

AFRAcircNIO entrevista out05)

Conforme o proposto por Kram (1985) a aceitaccedilatildeo faz com que o mentorado se sinta

seguro ateacute mesmo para enfrentar os desafios que conforme exposto satildeo muitos O

coordenador relata que entre os alunos do projeto haacute casos em que a crianccedila eacute

frequumlentemente desprezada pela matildee Neste caso o valor da aceitaccedilatildeo oferecida pelo mentor

torna-se imensuraacutevel

bull Aconselhamento

Dar conselhos apareceu frequumlentemente nos discursos da professora e do coordenador

O que pocircde ser confirmado atraveacutes da fala das matildees e do aluno entrevistado Os conselhos satildeo

dados visando o progresso dos alunos nos estudos por evitar que fiquem na rua e na tentativa

de convencecirc-los de que o seu futuro pode ser melhor do que o presente

O seu Moab soacute apoacuteia Agora eacute de falar o pesado tambeacutem Ele daacute apoio tudinho mas tambeacutem quando vecirc que taacute errado ele vem chega e conversa () ele tira o tempo dele praacute vir dar conselhos ele diz praacute Jairo que quer que ele estude que se forme e seja algueacutem na vidardquo (MAE DE JAIRO entrevista out05)

Outra matildee diz que quando o filho tem duacutevida sobre algo que aparece procura seu

Moab Diz que ele eacute rigoroso mas o filho atende ldquoA professora dizia para Faacutebio que ele soacute

seria algueacutem na vida se estudasse seu Moab tambeacutem dava o exemplo dos filhos delerdquo (MAE

DE FAacuteBIO entrevista out05) e a matildee de Helena diz ldquoEu sempre pedia a ele (Moab) para

dar conselho a Helena sobre estudo quando eu falo com ela entra por um ouvido e sai pelo

outro ela ouve elerdquo (entrevista out05)

85

O aconselhamento eacute mais uma das funccedilotildees relevantes em um projeto de mentoria

voltado para crianccedilas e adolescentes de risco uma vez que as crianccedilas nem sempre dispotildeem

de pessoas para aconselhaacute-las Segundo Harris et al (2002) a disponibilidade de adultos para

aconselhar as crianccedilas eacute escassa fazendo com que passem mais tempo com seus pares que

neste caso podem ter pouco a oferecer em termos de aconselhamento e de orientaccedilatildeo para um

futuro mais promissor do que o vivenciado na comunidade

bull Modelagem de papeacuteis

Acerca do suporte psicossocial oferecido pelo projeto a funccedilatildeo modelagem de papeacuteis

foi encontrada de duas formas uma atraveacutes da pessoa do mentor e outra atraveacutes do mentor

elegendo seus filhos como modelo Em termos educacionais o coordenador parece constituir

seus filhos como exemplos a serem seguidos um cursando o doutorado e a outra com dois

cursos superiores O que traz sentido agrave fala de uma das matildees ao dizer que ele cita os filhos

como exemplos Por outro lado a modelagem de papeacuteis natildeo consiste apenas em o mentor se

um modelo educacional para o mentorado A modelagem eacute mais ampla uma vez que o

mentorado tem nos comportamentos valores e atitudes de seu mentor um modelo positivo O

coordenador leva ao conhecimento de seus mentorados o sacrifiacutecio que fez para educar seus

filhos ainda que abrindo matildeo de sua proacutepria formaccedilatildeo Rhodes et al (2002) dizem que o fato

de ser um modelo faz com que o mentor seja visto pelo mentorado como ideal Neste sentido

o coordenador parece ser visto pelos mentorados como exemplo de um vencedor A fala de

Walter ao colocaacute-lo como pai transmite esta ideacuteia de referencial Walter diz ter a seguinte fala

de seu mentor em sua cabeccedila e colada em seu caderno ldquoo fracasso jamais me surpreenderaacute se

a minha decisatildeo de vencer for suficientemente forterdquo (WALTER entrevista out 2005) Esta

fala parece ser o lema do proacuteprio coordenador Vale salientar que assim como o lema Walter

deseja tambeacutem ldquoimitarrdquo o mentor quanto ao ser professor

86

Parece haver a necessidade de mostrar agrave crianccedila ou adolescente que haacute uma

possibilidade diferente da que ela estaacute habituada a ver Que haacute outros referenciais e que ela

tem possibilidade de escolha mesmo que esta implique em desafios Pode-se retomar o

discurso do coordenador quando diz que seu filho para ir agrave Universidade muitas vezes pegou

carona no caminhatildeo do lixo Ao citar isto o mentor pode estar criando uma identidade entre

as crianccedilas e seu filho ao demonstrar que mesmo com a difiacutecil realidade o esforccedilo e a

vontade de sobressair o fizeram ldquovencedorrdquo Assim como ele conseguiu elas tambeacutem podem

conseguir Vecirc-se claramente isto no discurso de uma das crianccedilas quando diz que natildeo quer ser

como o pai sem estudos O que revela que em relaccedilatildeo aos estudos e carreira ele tem outro

referencial Pocircde-se neste relato observar um olhar mais reflexivo da crianccedila ao sair de seu

proacuteprio contexto e desejar escapar do ldquodeterminismordquo a que estaacute sujeita

Estas foram as especificidades das funccedilotildees da mentoria desenvolvida no projeto em

relaccedilatildeo agraves propostas pela literatura Observou-se a existecircncia de suporte de carreira e

psicossocial Foram portanto encontradas no projeto as duas funccedilotildees de mentoria propostas

por Kram (1985) Neste caso a mentoria desenvolvida no projeto pode ser considerada

intensa A autora salienta que a funccedilatildeo psicossocial estaacute relacionada agrave confianccedila existente na

relaccedilatildeo Pocircde-se observar que o coordenador do projeto goza da confianccedila da comunidade

tanto pela abertura que as famiacutelias lhe demonstram como por entregar seus filhos aos seus

cuidados Tal confianccedila foi observada em todas as entrevistas Este fato permite que sejam

desempenhadas as funccedilotildees de suporte psicossocial

Seguem na proacutexima seccedilatildeo as fases da mentoria no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

87

423 Fases da relaccedilatildeo de mentoria apresentadas no projeto de

reforccedilo

Com relaccedilatildeo aos alunos pesquisados todos estavam na fase de cultivo da relaccedilatildeo seja

com apenas dois anos de projeto seja com oito No entanto pocircde-se observar que em alguns

casos de egressos a mentoria estaacute na fase de redefiniccedilatildeo uma vez que os mentorados estatildeo

seguindo seus proacuteprios rumos jaacute natildeo com um acompanhamento ldquotatildeo de pertordquo Eacute o caso de

uma ex-aluna do projeto que ganhou um apartamento no Conjunto Habitacional Casaratildeo do

Cordeiro intermediado pelo coordenador junto agrave Prefeitura

Pode-se perceber que os relacionamentos de mentoria encontram-se

predominantemente na fase de cultivo Eacute nesta fase que o mentor provecirc as funccedilotildees de

carreira e psicossociais Tal achado culmina com os encontrados anteriormente facilitando o

desenvolvimento das funccedilotildees de mentoria tatildeo evidentes neste projeto

Segue na proacutexima seccedilatildeo os fatores relacionados ao ecircxito de um programa de mentoria

formal que foram encontrados no projeto

424 Fatores encontrados no projeto que de acordo com a

literatura estatildeo relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria

A literatura aponta fatores que estatildeo relacionados ao ecircxito de um programa de

mentoria Estes foram encontrados no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida Os fatores satildeo seleccedilatildeo de

mentores e mentorados acompanhamento da relaccedilatildeo de mentoria frequumlecircncia dos encontros e

duraccedilatildeo da relaccedilatildeo Seguem-se os dados e sua discussatildeo acerca de cada fator de ecircxito

88

bull Seleccedilatildeo de mentor e mentorado

O uacutenico criteacuterio para ser mentorado era o fato de residir na Vila do Vinteacutem As

crianccedilas e adolescentes que tivessem interesse em levar suas tarefas ao reforccedilo poderiam fazecirc-

lo Laacute recebiam acompanhamento de um professor desde que com o aval dos pais

Para se fazer parte do projeto enquanto mentor era necessaacuterio o compartilhamento da

visatildeo de que eacute possiacutevel acreditar na mudanccedila de vida das crianccedilas e adolescentes atraveacutes da

educaccedilatildeo de qualidade e que as crianccedilas tecircm potencial mas lhes falta oportunidade Os

professores satildeo selecionados pelo coordenador do projeto mediante anaacutelise do curriacuteculo e da

experiecircncia A professora entrevistada jaacute conhecia os alunos do projeto pois eacute uma das

professoras que leciona em uma das escolas que fornece bolsa para a comunidade o que fez

com que o coordenador conhecesse parcialmente seu trabalho Ao falar de sua admissatildeo ao

projeto ela diz ldquoeu gosto desta clientela (crianccedilas carentes) e ele (Moab) me deu esta

oportunidaderdquo (entrevista out05) A dentista aderiu ao projeto a partir de uma das

apresentaccedilotildees do grupo em busca de patrociacutenio e apoio Diante da necessidade de pessoas

qualificadas para prestar serviccedilo voluntaacuterio ela que diz ter interesse e identidade com a aacuterea

social prontificou-se e estaacute no projeto haacute um ano

A psicoacuteloga demonstra o mesmo interesse ldquoEu sempre fui muito voltada para o social

sempre gostei muito de ajudarrdquo Ela parece estar muito inserida com a comunidade atraveacutes

do projeto pois frequumlentemente em seu discurso ela afirma ldquoquando vocecirc estaacute laacute dentro com

elesrdquo (entrevista out05) A psicoacuteloga trabalha em outro centro de atendimento a pessoas

carentes Estaacute no projeto haacute cinco anos

Pode-se observar que os colaboradores tecircm identidade com o projeto a ponto de

realizarem o trabalho como voluntaacuterios A uacutenica exceccedilatildeo eacute a professora mas mesmo ela em

seu discurso considera que fazer parte do projeto eacute uma oportunidade Eacute marcante a fala da

89

psicoacuteloga em sua entrevista ao inserir-se realmente na comunidade Esta dedicaccedilatildeo e

identidade podem ser fatores que contribuem para que o projeto tenha maior ecircxito

bull Acompanhamento da relaccedilatildeo de mentoria

O coordenador do projeto estaacute frequumlentemente avaliando se os resultados obtidos satildeo

os desejados

Eu optei pela Vila Vinteacutem porque o nosso acompanhamento eacute a liberdade vigiada () noacutes fazemos as coisas para eles mas tambeacutem queremos acompanhar de perto o que estaacute acontecendo entatildeo natildeo adianta eu pegar um menino da comunidade onde eu natildeo possa visitaacute-lo ele natildeo possa vir ao projeto Eu natildeo vejo o resultado do investimento feito enquanto eles aqui eu vejo passo-a-passo () eacute um acompanhamento bem de perto mesmo (COORDENADOR out05)

Haacute reuniotildees com os pais responsaacuteveis esclarecendo a importacircncia do projeto e

solicitando sua interaccedilatildeo no programa

Eles passavam fita de viacutedeo para os pais sobre educaccedilatildeo e pediam para os pais falar com os filhos () ele sempre queria o bem das crianccedilas agora dependia das crianccedilas e dos pais () seu Moab dizia que a gente tinha que ajudar ele com o Faacutebio (crianccedila tida pelo coordenador como de natildeo-ecircxito) botar ele praacute estudar (MAE DE FAacuteBIO E DE DIEGO entrevista out05)

Com relaccedilatildeo ao mentorado pode ocorrer o desligamento do aluno da bolsa de estudos

na escola particular caso ele natildeo atinja um desempenho satisfatoacuterio ldquoQuando uma crianccedila

natildeo valoriza isso que a gente oferece a gente tambeacutem natildeo aceita repetente natildeo aceita falta

vocecirc tem que estar de acordo dentro do projeto em disciplina bem comportado e com boas

notasrdquo (COORDENADOR entrevista out 05) Mesmo desligado da escola particular o

aluno pode continuar fazendo parte do reforccedilo

Pocircde-se confirmar atraveacutes destes discursos o relatado por Frecknall e Luks (1992) A

participaccedilatildeo dos pais apoiando o programa tem uma relaccedilatildeo positiva com o sucesso e sem este

apoio o ecircxito do programa pode ficar comprometido Em uma comunidade onde a grande

maioria dos moradores eacute analfabeta o acompanhamento deve ser intenso visando incutir na

famiacutelia a necessidade de compreensatildeo do valor da educaccedilatildeo Grossman e Tierney (1998)

90

tambeacutem salientam a importacircncia de se verificar o grau de envolvimento da famiacutelia no

programa pois conforme exposto este eacute um fator de ecircxito para a relaccedilatildeo

bull Frequumlecircncia dos encontros

A frequumlecircncia dos encontros entre os mentores e mentorados varia A psicoacuteloga ia agrave

comunidade uma tarde por semana na qual prestava os atendimentos agendados e caso

houvesse mais pessoas a serem atendidas fazia outros atendimentos Em caso de necessidade

ela ia agrave comunidade num outro dia A dentista atendia em seu consultoacuterio Havendo

necessidade o coordenador ligava e agendava o atendimento Jaacute as aulas eram ministradas

diariamente para os alunos que estudavam agrave tarde o reforccedilo era pela manhatilde e para os que

estudavam pela manhatilde o reforccedilo era agrave tarde O acompanhamento era feito durante uma hora e

meia para cada turma As turmas eram assim divididas alfabetizaccedilatildeo e 1a seacuterie 2a e 3a

seacuteries e 4a e 5a seacuteries

Figura 7 (4) - Professora e alunos durante a aula de reforccedilo na sede do projeto03

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

91

Apoacutes o reforccedilo os alunos tinham outras atividades como aula de muacutesica (teoria e

praacutetica) danccedila pintura ou inglecircs O projeto dispunha de quadra alugada onde as crianccedilas

podiam jogar futebol Em quase todas as atividades o coordenador diz estar presente

No ano de 2005 como as atividades foram parcialmente suspensas natildeo houve mais

frequumlecircncia no relacionamento Algumas das crianccedilas com bolsa de estudos em escola

particular foram colocadas num semi-internato conseguido pelo projeto Esta interrupccedilatildeo teve

reflexo na vida dos alunos como se pocircde observar no discurso abaixo

Em casa ela natildeo eacute comportada sempre ela foi danada mas ela melhorou no projeto Agora que ta sem o projeto ela jaacute ta voltando ao que era eu tocirc recebendo reclamaccedilatildeo do coleacutegio que natildeo quer estudar soacute quer ta brincando ta voltando a dar problema ta voltando a ser o que era () no semi-internato tem muita atividade satildeo muitas crianccedilas e eles arengam e no projeto eu nunca tive esse problema de ela ta arengando (sic) (MAE DE HELENA entrevista out05)

O fato de as entrevistas terem sido realizadas neste periacuteodo de transiccedilatildeo no qual as

crianccedilas natildeo estatildeo sendo assistidas faz com que a importacircncia da frequumlecircncia dos encontros

fique evidenciada Confirma-se assim que esta eacute um relevante fator de ecircxito para a relaccedilatildeo de

mentoria conforme observado na teoria (KEATING et al 2002) No entanto pode-se dizer

que o projeto de reforccedilo apresentava uma frequumlecircncia maior do que nos programas

similares apresentados pela teoria Tal frequumlecircncia garante um acompanhamento mais

proacuteximo visto que todos os dias por no miacutenimo uma hora e meia os alunos estavam no

projeto em contato com seus mentores Estudos feitos por Keating et al (2002) revelam que a

frequumlecircncia dos encontros tem relaccedilatildeo com o ecircxito do relacionamento principalmente em se

tratando de adolescentes com risco para delinquumlecircncia Neste sentido o projeto apresentava

maior probabilidade de ecircxito uma vez que a frequumlecircncia dos encontros era alta

d) Duraccedilatildeo da relaccedilatildeo de mentoria

Os alunos pesquisados estatildeo inseridos nesta relaccedilatildeo de mentoria por no miacutenimo dois

anos Segundo Grossmam e Rhodes (2002) a maioria dos benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria

92

como melhores resultados educacionais psicossocias e comportamentais apresentam-se em

relaccedilotildees que perduram por um ano ou mais Frecnall e Luks (1992) consideram que a duraccedilatildeo

eacute um fator determinante do ecircxito

O projeto mostra-se rigoroso com os fatores que impedem o ecircxito dos alunos desde

que sob sua responsabilidade Os fatores acima tecircm sido observados uma vez que a

negligecircncia em referecircncia a qualquer destes fatores pode levar a uma relaccedilatildeo ineficiente ou

ateacute mesmo negativa trazendo efeitos nocivos agrave vida da famiacutelia do mentorado e tambeacutem do

mentor

Natildeo se pode ignorar que na medida em que se vai estruturando uma relaccedilatildeo de

mentoria a mesma vai sofrendo ajustes visando tornaacute-la mais produtiva mais ldquopoderosardquo

Existem fatores que podem e devem ser estruturados previamente tais como a duraccedilatildeo e a

frequumlecircncia dos encontros e o objetivo da relaccedilatildeo No entanto haacute outros fatores que nem

sempre se consegue estruturar Um exemplo eacute a confianccedila necessaacuteria para que a relaccedilatildeo

realmente aconteccedila Em outras palavras observando-se os fatores relacionados ao ecircxito seratildeo

minimizadas as possibilidades de insucesso mas elas natildeo deixaratildeo de existir pois a mentoria

mesmo com seus inuacutemeros benefiacutecios natildeo eacute uma soluccedilatildeo maacutegica Trata-se de uma relaccedilatildeo e

portanto dependente do encontro de pessoas e de viacutenculos emocionais entre elas Este aspecto

eacute de difiacutecil controle havendo sempre um espaccedilo para a imprevisibilidade do ser humano

Se os fatores que levam ao ecircxito da relaccedilatildeo foram observados pelo projeto resta o

questionamento de o por quecirc de alguns casos serem considerados pelo projeto como de natildeo-

ecircxito Este aspecto eacute abordado na seccedilatildeo seguinte

93

425 Fatores responsaacuteveis pelo ecircxito e natildeo-ecircxito nos estudos na

percepccedilatildeo do mentor e da famiacutelia do mentorado

Na percepccedilatildeo do coordenador o ecircxito eacute obtido quando a cada ano a crianccedila vai sendo

aprovada e ascendendo e apresentando um bom comportamento ldquoQuando uma instituiccedilatildeo se

abre e nos convida a oferecer mais bolsas eacute porque nossos alunos estatildeo correspondendo tanto

em disciplina quanto no aprendizadordquo (COORDENADOR entrevista set05) Um exemplo

de ecircxito citado pelo coordenador eacute o caso de uma moccedila que foi acompanhada pelo projeto

desde a 6a seacuterie ateacute o 3ordm ano do ensino Meacutedio Ela fez um curso de informaacutetica depois fez um

estaacutegio junto agrave Prefeitura e hoje aos 20 anos trabalha no setor burocraacutetico de um hospital

O coordenador considera um caso de natildeo-ecircxito o caso da crianccedila ou adolescente que

natildeo rende o esperado em termos de desempenho escolar e de comportamento

Vale salientar que em quase sua totalidade os casos de natildeo-ecircxito indicados para

pesquisa foram avaliados pelas famiacutelias como de ecircxito A uacutenica exceccedilatildeo eacute a matildee de Faacutebio

que acredita que seu filho realmente natildeo tem tido sucesso nos estudos Segundo o

coordenador a diferenccedila estaacute na expectativa Para os pais o fato de o aluno estar na escola e

apresentar melhor comportamento jaacute eacute ecircxito enquanto que para o projeto isto natildeo eacute o

suficiente Na opiniatildeo dele a falta de sucesso deve-se a trecircs fatores

a) Estrutura familiar ndash muitas vezes a famiacutelia natildeo daacute o suporte que a crianccedila necessita

Para o coordenador a escola natildeo eacute valorizada por esses pais ldquoEles natildeo tecircm a escola como um

centro de promoccedilatildeo social como mobilidade social Eles natildeo descobriram isso As famiacutelias

natildeo as crianccedilasrdquo (COORDENADOR entrevista set05)

A professora chamava conversava com os alunos com a matildee em particular Ela queria ajudar ele mas ele natildeo queria ser ajudado Eu sabia que o Faacutebio natildeo ia ter uma oportunidade em uma escola melhor porque ele eacute assim () Eu nunca tava em cima dele para estudar eu natildeo tenho paciecircncia natildeo Se ele responder duas coisas erradas eu jaacute fico brava O pai eacute pior que eu Mal digo a ele que eacute pior do que eu (MAE DE FAacuteBIO entrevista out05)

94

b) Relacionamento negativo entre os pais e os filhos

Outro fator que notamos eacute a falta de amor para com essas crianccedilas que natildeo datildeo tatildeo certo () Os pais tecircm outros objetivos tecircm outras coisas mais importantes do que amar seus filhos () todas as crianccedilas bem comportadas na sala de aula eram bem amadas em casa () Quando isso natildeo ocorre a crianccedila torna-se uma crianccedila problema porque ela leva os haacutebitos e a falta de amor que ela tem em casa praacute escola para onde ela chegar (COORDENADOR entrevista set05)

c) Desinteresse do proacuteprio aluno O projeto contava com quatro alunos que eram

irmatildeos Estes recebiam acompanhamento diaacuterio nas tarefas O coordenador diz que foi agrave

escola deles para saber suas notas Por este motivo eles deixaram de ir ao projeto Nenhum

deles terminou o Ensino Meacutedio e atualmente um eacute zelador o outro eacute jardineiro e dois estatildeo

desempregados

O objetivo do projeto eacute de longo prazo o que dificulta uma anaacutelise dos resultados ou

de egressos para se identificar o ecircxito ou natildeo-ecircxito Mesmo os casos que desde o iniacutecio foram

acompanhados ainda hoje o satildeo Natildeo com a mesma intensidade mas ainda recebem algum

tipo de suporte do projeto Outro fator que dificulta a anaacutelise eacute o fato de que todos os alunos

estatildeo na escola e avanccedilando em seacuteries mesmo porque atualmente a escola natildeo reprova o que

torna difiacutecil saber ateacute que ponto tecircm realmente bom aproveitamento Portanto natildeo se

conseguiu distinguir dentre os casos pesquisados um limite claro entre o ecircxito e o natildeo-ecircxito

contando-se apenas com a percepccedilatildeo dos respondentes (matildees de alunos psicoacuteloga professora

e coordenador)

426 Resposta agrave primeira questatildeo norteadora especificidades da

relaccedilatildeo de mentoria existentes no projeto de reforccedilo escolar

Conforme o objetivo proposto pocircde-se encontrar algumas especificidades na relaccedilatildeo

de mentoria realizada no projeto que diferem um pouco dos achados teoacutericos Satildeo eles

95

a) A mentoria apresenta aspectos de mentoria formal e informal

b) Existem dois tipos de relacionamento entre mentor e mentorado em um o

acompanhamento eacute mais proacuteximo do que no outro

c) A frequumlecircncia dos encontros eacute maior no projeto do que a encontrada na literatura

d) Dentre as funccedilotildees de carreira o patrociacutenio oferecido pelo projeto eacute mais amplo do

que o apresentado pela teoria e

Com base nestes achados eacute possiacutevel concluir que um programa de mentoria para

crianccedilas e adolescentes de uma comunidade carente do Recife tem suas especificidades suas

caracteriacutesticas particulares diferindo de outros programas realizados no contexto de outros

paises Respondida a primeira questatildeo norteadora segue-se a segunda que aborda os

benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentorado

43 Achados referentes agrave segunda questatildeo norteadora

Seguem os achados que buscam responder a seguinte questatildeo em um contexto

brasileiro ateacute que ponto os mentorados carentes estudados tecircm desfrutado dos benefiacutecios da

relaccedilatildeo de mentoria apontados pela literatura

Pocircde-se observar os seguintes benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria na vida dos

mentorados enquanto participantes do programa de reforccedilo

431 Aumento da auto-estima da responsabilidade maior

progresso escolar e perspectiva positiva de futuro

Devido agrave impossibilidade de neste trabalho medir-se a auto-estima dos mentorados o

aumento desta seraacute considerado em relaccedilatildeo ao progresso escolar pois com base no observado

por Harter (1982) o sentir-se competente leva o jovem a obter melhor desempenho Grossman

96

e Tierney (1998) salientam que jovens ao serem acompanhados por um mentor se sentiram

mais confiantes para com suas tarefas escolares Associou-se tambeacutem o progresso escolar com

perspectiva positiva de futuro uma vez que se percebeu que o avanccedilo nos estudos estaacute

relacionado com melhores perspectivas de futuro

O aumento do desempenho escolar eacute visiacutevel nos casos que se seguem

Antes (do projeto) ela era preguiccedilosa soacute queria ficar brincando ela teve muita dificuldade para aprender (na preacute-escola) Estudava mas natildeo aprendia na 1a foi fazer o reforccedilo depois do projeto ela foi se interessando mais pode ser porque natildeo tinha nenhum incentivo neacute () Ela chegava e dizia que era bom quando estudava e tirava nota boa antes (de interromper o projeto) ela natildeo esperava nem chegar em casa vinha aqui (no trabalho) para me mostrar as provas (MAE DE HELENA entrevista out05)

No interior eu fiz matricula dele noacutes trabalhava na roccedila ele natildeo gostava (de estudar) natildeo se dedicava ia caccedilar passarinho mas quando chegou aqui seu Moab quis acordar ele pra vida Ele vendo os meninos tudo com a idade dele (9 anos na eacutepoca) sabendo ler e escrever dentro de seis meses o menino desenrolou para aprender mesmo (sic) (MAE DE JAIRO entrevista out05)

Jairo cursou a 4a e a 5a seacuteries no mesmo ano Faz tambeacutem curso de inglecircs O

coordenador ouviu da professora deste curso que o aluno tem dom para idiomas natildeo soacute

inglecircs mas espanhol e francecircs

A possibilidade do intercacircmbio foi boa para eu ter uma certa ideacuteia do que pode acontecer comigo do que pode acontecer () Ele (Moab) dizia que para analfabeto a caneta e o papel eacute o chatildeo e a vassoura Que eu estudasse porque a miseacuteria hoje em dia -saiu na revista- jaacute tinha endereccedilo que era praacute pobre negro e nordestino e que se a gente natildeo lutasse essa realidade a gente natildeo iria mudar nunca () Eu decidi que quero ser professor de inglecircs (WALTER entrevista out05)

Ele diz que quer fazer faculdade ele ficou com mais esperanccedila de conseguir uma coisa melhor ele diz que eu natildeo me preocupe porque daqui a dez anos ele vai ter um emprego bom e vai me ajudar (MAE DE FREDERICO entrevista out05)

Ele quer ir estudar nos Estados Unidos fez vaacuterios cursos inglecircs francecircs espanhol informaacutetica e de entrevista Onde tiver curso ele vai ele quer muito trabalhar ter seu dinheiro fazer sua vida () o negoacutecio dele eacute ta dentro de casa estudando pregado nos livros (MAE DE NESTOR entrevista out05)

97

A professora entrevistada leciona tambeacutem no coleacutegio que oferece bolsa para os alunos

do projeto sendo professora deles em ambos os lugares Ao ser solicitada a comparar o

desempenho dos alunos do projeto com os demais alunos a professora mencionou que dentre

seus trecircs alunos com desempenho excelente dois satildeo do projeto Os demais do projeto estatildeo

na meacutedia

A coordenadora de uma das escolas que fornece bolsa de estudos ao projeto (esta

escola oferece bolsas para dois alunos da sexta seacuterie) ao ser entrevistada disse que o

comportamento dos alunos do projeto eacute bom e o desempenho apresentado por eles eacute maior do

que a meacutedia da turma e da seacuterie como se pode observar nos boletins que se seguem

98

Figura 8 (4) Boletim escolar de Afracircnio - 6a Seacuterie

99

Figura 9(4) Boletim escolar de Jairo ndash 6a Seacuterie

Em ambos os casos as famiacutelias satildeo analfabetas E neste ano os dois alunos estatildeo sem

o reforccedilo motivo pelo qual segundo uma das matildees o desempenho do filho caiu Este mesmo

aluno neste ano natildeo conta com todo o material didaacutetico necessaacuterio Ainda assim estes alunos

estatildeo apresentando um desempenho superior ao de seus colegas

100

Atraveacutes dos discursos das matildees percebeu-se considerarem que o fato de seus filhos

terminarem a primeira fase do ensino fundamental e darem sequumlecircncia a estes estudos jaacute eacute uma

visatildeo positiva de futuro Observou-se isso no discurso da matildee de Afracircnio ldquoquem estuda tem

esperanccedila de um futuro melhorrdquo O caso de Jairo que chegou analfabeto do interior e em seis

meses estava lendo e escrevendo confirma o proposto por Rhodes et al (2002) de que a

presenccedila de um mentor ajuda os adolescentes a superarem momentos de adversidade Neste

caso ele natildeo tem pai e sua matildee considera o mentor como algueacutem da famiacutelia que ajuda a

suprir esta ausecircncia na vida do filho O fato de Walter (que convive com analfabetos) ter

definido sua carreira (professor de inglecircs) demonstra o proposto por Kram (1985) o mentor

ajuda o mentorado na definiccedilatildeo da identidade profissional

Vale destacar a relevacircncia de se promover o aumento da auto-estima decorrente do

desempenho apresentado pelos alunos Pessoas que ainda natildeo tecircm satisfeitas adequadamente

as necessidades fisioloacutegicas (alimentam-se mal natildeo contam com aacutegua encanada nem

sanitaacuterios) e de seguranccedila (moram e vivem permanentemente expostos a riscos) apresentando

necessidade de realizaccedilatildeo Vale ressaltar a teoria da motivaccedilatildeo proposta por Maslow (apud

ROBBINS 2002) que defende que a satisfaccedilatildeo da necessidade de realizaccedilatildeo dependeria da

satisfaccedilatildeo de niacuteveis mais baacutesicos de necessidade como as fisioloacutegicas de seguranccedila e sociais e

de estima Percebeu-se no contexto da pesquisa a possibilidade do caminho inverso Atraveacutes

do aumento da auto-estima e da satisfaccedilatildeo da necessidade de realizaccedilatildeo as crianccedilas e

adolescentes podem vir a ter no futuro condiccedilotildees de satisfazer a contento suas necessidades

fisioloacutegicas e de seguranccedila

101

432 Resposta da segunda questatildeo norteadora benefiacutecios da

mentoria para a crianccedila adolescente do projeto

Foram encontrados os seguintes benefiacutecios para o mentorado participante do projeto

aumento da auto-estima maior progresso escolar e perspectiva positiva de futuro

Em termos de especificidades com relaccedilatildeo ao proposto pela teoria natildeo foram

percebidas diferenccedilas existentes entre os benefiacutecios para o mentorado encontrados em

pesquisas anteriores e os encontrados no projeto de reforccedilo escolar na Vila do Vinteacutem II fato

que responde agrave segunda questatildeo norteadora desta pesquisa

Seguem os achados acerca da terceira questatildeo que versa sobre os benefiacutecios para o

mentor encontrados na mentoria desenvolvida pelo projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

44 Achados referentes agrave terceira questatildeo norteadora

Dentre os benefiacutecios na vida dos mentores que participam do projeto pocircde-se observar

realizaccedilatildeo pessoal motivaccedilatildeo amizade auto-conhecimento e senso de dever cumprido Tais

achados apresentados nas seccedilotildees abaixo buscam responder a seguinte questatildeo ateacute que ponto

um projeto de mentoria voltado para crianccedilas e adolescentes carentes oferece os benefiacutecios

propostos pela teoria para os mentores

441 Realizaccedilatildeo pessoal

Pocircde-se observar que fazer parte do projeto faz com que os mentores se sintam

realizados

Quando a gente eacute uacutetil a outra pessoa a gente se realiza () Eu me realizo assim vendo a alegria dos meninos que realmente estatildeo mudando a cara natildeo soacute da famiacutelia mas tambeacutem da comunidade (COORDENADOR entrevista set05)

102

Eu fico muito bem comigo mesma na realizaccedilatildeo deste trabalho () O que me deixa realizada eacute ver alguns frutos desse trabalho natildeo soacute nas crianccedilas como da proacutepria famiacutelia () em relaccedilatildeo ao futuro agrave auto-estima potencial de cada um que eles natildeo estatildeo sozinhos a gente taacute laacute com eles () e esse pouquinho esse pouco que eu estou fazendo estaacute facilitando a vida melhorando A gente vecirc um salto de qualidade na vida deles (PSICOacuteLOGA entrevista out05)

Ao acompanhar preparar os alunos para os exames de admissatildeo vecirc-los entrar na

escola particular acompanhar o crescimento e desenvolvimento dos mentorados a professora

entrevistada demonstra sentir orgulho do trabalho feito com seus dois melhores alunos

ldquoRealmente valeu a pena investir porque satildeo crianccedilas que apesar de todo o contexto social

que eles vivem eles satildeo responsaacuteveis inteligentiacutessimosrdquo (PROFESSORA entrevista out05)

Ficou evidenciado que o fato de ser um mentor daacute ao indiviacuteduo um senso de

generosidade ao contribuir com as geraccedilotildees futuras (RAGINS 1997) e que ser mentor de

adolescentes delinquumlentes tem sido gratificante na medida em que os mentores tecircm uma

oportunidade de ajudar estas pessoas (JACKSON 2002) Ser mentor do projeto Educaccedilatildeo eacute

Vida provecirc um sentimento de recompensa ao ver as mudanccedilas positivas na vida dos

mentorados conforme o propostos por Shields (2001)

442 Motivaccedilatildeo

A psicoacuteloga diz que a partir de seu envolvimento com o projeto ela fez curso em

Psicopedagogia e especializaccedilatildeo em Psicologia da Famiacutelia

O trabalho com as crianccedilas e as famiacutelias me proporcionou outros aprendizados maiores ateacute do que eu esperava porque a gente aprende muito laacute dentro com eles E assim eu comecei a me especializar a voltar para mim em niacutevel de aprendizado de crescimento tambeacutem profissional () Eacute uma troca muito grande de saber quando a gente taacute laacute dentro com eles a gente tem essa vontade de realmente acertar (PSICOacuteLOGA entrevista out05)

Zey (1998) diz que o mentor pode redirecionar sua energia para a criatividade e accedilatildeo

produtiva A mentoria pode entatildeo significar estiacutemulo e desafio O que pocircde ser observado no

103

discurso acima O desenvolvimento profissional natildeo eacute benefiacutecio apenas para o mentorado

mas para o mentor tambeacutem

443 Ser amado pelo mentorado

Pocircde ser observado que o mentor recebe amizade e carinho de seus mentorados

conforme verificado por Klaw et al (2003) ldquoEle ama o seu Moab ele almoccedila na casa de

Moab segunda e quarta e diz que laacute tudo eacute bomrdquo (MAE DE AFRAcircNIO entrevista out05)

ldquoMeus dois filhos eacute agarrado com seu Moabrdquo (sic) (MAE DE TAcircNIA entrevista set 05)

ldquoMoab foi vendo que eu tava sempre ali no projeto do lado dele e ele do meu lado () o

pessoal me achava careta porque eu sentia alguma coisa pelo projeto eu sempre prestava a

atenccedilatildeo procurava entenderrdquo (WALTER entrevista out05)

444 Autoconhecimento

Percebeu-se que fazer parte do projeto enquanto mentor provecirc um maior

autoconhecimento ou autopercepccedilatildeo

ldquoEacute muito gratificante trabalhar com pessoas carentes comeccedilo a valorizar o que eu

tenho a gente comeccedila a agradecer muito por essa vida boa que a gente tem que eacute muito boa

muito boa mesmordquo (DENTISTA entrevista out05)

A partir desta relaccedilatildeo ela percebe melhor sua situaccedilatildeo fala acerca da sauacutede dos filhos e de ter

uma casa maravilhosa

Neste caso o contato com a realidade da comunidade pode tecirc-la levado a comparar

esta realidade com a sua proacutepria e entatildeo perceber-se abastada

104

445 Senso de dever cumprido

Outro beneficio encontrado diz respeito ao senso de dever cumprido que o fato de ser

mentor propicia

A gente sabe que tem um papel social a desempenhar Natildeo fomos beneficiados pela sociedade com o direito de estudar de fazer um curso superior de ter uma habilitaccedilatildeo () para que isso sirva apenas para o nosso benefiacutecio Essa nossa habilitaccedilatildeo que a sociedade deu a sociedade deu eu estudei em uma Universidade Federal essa habilitaccedilatildeo deve retornar para a sociedade tambeacutem para quem pode pagar e para quem natildeo pode pagar Eacute necessaacuterio que isso volte (DENTISTA entrevista out05)

Este benefiacutecio natildeo foi encontrado na literatura talvez por tratar de um tema ainda

recente o indiviacuteduo ter responsabilidade com a realidade social que o cerca

446 Resposta da terceira questatildeo norteadora benefiacutecios da

mentoria para o mentor

Foram encontrados no projeto educaccedilatildeo eacute Vida os seguintes benefiacutecios para o mentor

a) Realizaccedilatildeo pessoal

b) Motivaccedilatildeo

c) Ser amado pelo mentorado

d) Autoconhecimento e

e) Senso de dever cumprido

Sendo que estes dois uacuteltimos natildeo foram encontrados na teoria mas percebidos na

relaccedilatildeo de mentoria que ocorre no projeto Estes achados podem ser explicados devido ao

contexto no qual a mentoria ocorreu crianccedilas e adolescentes de uma comunidade carente

Contexto que difere da realidade dos mentores e que pode tecirc-los levado a uma reflexatildeo sobre

sua proacutepria condiccedilatildeo de vida e sua responsabilidade com os que natildeo se acham em iguais

condiccedilotildees Tais achados respondem a terceira questatildeo norteadora deste trabalho

105

45 Achados referentes agrave quarta questatildeo norteadora

Puderam ser verificados outros benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas

e adolescentes com risco para delinquumlecircncia aleacutem dos mencionados anteriormente Pois na

medida em que o mentorado se beneficia da relaccedilatildeo sua famiacutelia alcanccedila estes benefiacutecios e a

sociedade tambeacutem acaba sendo beneficiada ainda que indiretamente

Com o intuito de responder a questatildeo quais os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da

relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas e adolescentes carentes em uma comunidade do Recife

seguem os benefiacutecios sociais diretos da mentoria realizada pelo projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

451 Desenvolvimento educacional das crianccedilas e dos adolescentes

Por se tratar de um ambiente carente e de analfabetos a comunidade natildeo tem como

prover o acompanhamento das crianccedilas e adolescentes as famiacutelias natildeo dispotildeem de tempo

eou conhecimento e preparo para prover tal suporte Por exemplo uma matildee analfabeta natildeo

parece ter condiccedilotildees de ajudar o filho nas tarefas escolares

Eu tocirc pensando quando ela fizer a 5a que natildeo tem o reforccedilo nem o semi-internato ela vai fazer a tarefa em casa e se brincar ela sabe mais do que eu (MAE DE SILVIA entrevista out05)

Eu natildeo tenho estudo faccedilo meu nome muito mal Meu marido sabe mas trabalha e de noite jaacute ta cansado () no reforccedilo ele fazia a tarefa todo dia sem reforccedilo e sem uma matildee que sabe ler quem ia ensinar a ele ai ia ficar complicado (MAE DE FREDERICO entrevista out05) Os coleacutegios hoje em dia quer a crianccedila saiba ler quer natildeo saiba o Estado passa natildeo quer saber se a crianccedila ta aprendendo se aprendeu se natildeo aprendeu (MAE DE TITO entrevista out05) A escola (puacuteblica) um dia tem aula outro dia natildeo tem ai ela fica em casa Hoje mesmo ela taacute em casa porque natildeo teve aula (MAE DE TAcircNIA entrevista out05)

106

A professora dele disse que ele natildeo tinha condiccedilotildees de passar mas ela natildeo podia reprovar (MAE DE FAacuteBIO entrevista out05)

Tais depoimentos revelam dois fatores incapacidade da famiacutelia em acompanhar os

estudos do filho e ineficiecircncia do ensino puacuteblico na experiecircncia destas famiacutelias O que leva a

pensar que o futuro educacional destas crianccedilas seria similar ao de suas matildees conforme

Barros et al (1994) que diz que a educaccedilatildeo meacutedia das matildees eacute o principal determinante do

desempenho escolar do filho ou seja haveria maior evasatildeo escolar Neste sentido o projeto

propicia que o aluno vaacute aleacutem da escolaridade da matildee

Vale aqui um questionamento por que o governo investe em bolsa escola e natildeo

acompanha o aluno Simplesmente ter a presenccedila do aluno na escola natildeo eacute garantia de que o

mesmo estaacute aprendendo O fato de que um professor natildeo pode mais reprovar o aluno mesmo

que sem condiccedilotildees de galgar um grau superior pode demonstrar que o interesse das poliacuteticas

puacuteblicas pode estar relacionado a nuacutemeros A taxa de matriacutecula estaacute associada ao aumento do

IDH mas ateacute que ponto isto reflete o real rendimento escolar dos alunos

Neste caso a mentoria vem suprir uma falta natildeo apenas da famiacutelia mas tambeacutem do

Estado e do Municiacutepio uma vez que por si soacute natildeo tecircm tido ecircxito com o aproveitamento e a

manutenccedilatildeo dos alunos na escola

452 Assistencialismo

Foi observado que algumas famiacutelias associam o projeto agrave assistecircncia social ldquoO reforccedilo

faz muita falta () tinha muitas doaccedilotildees roupas cestas baacutesicas no dia das crianccedilas

tinha brinquedos festas doaccedilotildees para as crianccedilasrdquo (MAtildeE DE FAacuteBIO entrevista

set05)

Ainda que esta natildeo seja a proposta do projeto as famiacutelias devido ao patrociacutenio

ofertado ao mentorado e agrave sua famiacutelia percebem o projeto como assistencialista

107

453 Diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia

O projeto demonstra contribuir indiretamente com a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia

As crianccedilas tando no projeto a gente fica despreocupada Quando ela natildeo tava no projeto ficava na rua natildeo queria estudar soacute queria ficar na rua brincando () muitas matildees estatildeo preocupadas em o que fazer com as crianccedilas sem o projeto (MAE DE HELENA entrevista out05) Ele tando laacute no projeto eu saio despreocupada neacute Que ele natildeo ta na rua A vida que a gente vive hoje sai pra trabalhar e sabe que o filho natildeo ta na rua a gente fica despreocupada (MAE DE AFRAcircNIO entrevista out05) Ele gosta eacute de rua de papagaio peatildeo bola () Ele natildeo liga para o caderno livros agora falou em rua eacute com ele () No reforccedilo ele estudava mais um pouco (MAE DE FAacuteBIO entrevista out05) O reforccedilo evita de as crianccedilas ta na rua no sinal pedindo (MAE DE TITO entrevista out05)

Atraveacutes destas declaraccedilotildees pocircde-se observar o referido por Harris et al (2002) que a

entrada das matildees no mercado de trabalho e o aumento das separaccedilotildees conjugais fazem com

que o adolescente passe menos tempo com os pais e passe a maior parte do tempo com seus

pares Conforme observado anteriormente a delinquumlecircncia tem diversas causas Dias (2003)

por exemplo verificou que a maior parte dos jovens delinquumlentes participantes de sua

amostra era de analfabetos funcionais relacionando assim a delinquumlecircncia a poucos anos de

estudos e consequumlentemente agrave evasatildeo escolar Na medida em que a crianccedila se desenvolve

nos estudos haacute uma diminuiccedilatildeo da evasatildeo escolar e consequumlentemente da delinquumlecircncia

Outra forma de o projeto contribuir com a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia refere-se a levar as

crianccedilas a deixarem a rua onde estatildeo expostas a diversos riscos como violecircncia drogas

exploraccedilatildeo sexual e confusotildees situaccedilotildees frequumlentes em um contexto de favela

A relaccedilatildeo de mentoria desenvolvida pelo projeto eacute de longo prazo Portanto por mais

que alguns benefiacutecios se evidenciem estes soacute poderatildeo ser claramente observados ao longo do

108

tempo quando as crianccedilas e adolescentes do projeto forem adultos Pode-se inferir a partir

dos resultados apresentados que ao inveacutes de dependentes de poliacuteticas assistencialistas os

egressos contribuiratildeo com o desenvolvimento de sua cidade Eacute possiacutevel antecipar que uma

grande parcela das pessoas que faziam a favela Vila do Vinteacutem II estaraacute alfabetizada e

ocupando um lugar no mercado de trabalho Aiacute sim ter-se-aacute um aumento real do IDH que de

fato revelaraacute um aumento da qualidade de vida desta populaccedilatildeo do Recife Soacute entatildeo poderatildeo

ser mensurados os benefiacutecios sociais deste projeto

454 Resposta da quarta questatildeo norteadora benefiacutecios sociais

da relaccedilatildeo de mentoria

Pocircde-se observar os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria existente

no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida As especificidades encontradas foram

a) Maior desenvolvimento educacional de crianccedilas e adolescente carentes com risco para

delinquumlecircncia visto tratar-se de um projeto de reforccedilo escolar

b) Assistecircncia social ao prover a satisfaccedilatildeo de algumas das necessidades baacutesicas do

mentorado e de sua famiacutelia

c) Suprimento pela relaccedilatildeo de mentoria de uma falha do sistema educacional do Estado e

do Municiacutepio que gradua o aluno sem que ele tenha condiccedilotildees O projeto tem suprido

esta carecircncia dando condiccedilotildees de o aluno galgar o grau seguinte

Estes foram os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da mentoria realizada no projeto

Educaccedilatildeo eacute Vida o que responde agrave quarta questatildeo norteadora deste trabalho

Seratildeo apresentadas no proacuteximo capiacutetulo as conclusotildees do trabalho bem como as implicaccedilotildees

teoacutericas praacuteticas e sociais e as sugestotildees de pesquisas futuras

109

5 Conclusatildeo

Neste capiacutetulo seratildeo apresentadas as conclusotildees da pesquisa tendo como referencial os

objetivos propostos

Pode-se concluir que a mentoria mostrou assim como no exposto teoricamente

resultados positivos na vida dos mentores mentorados e da comunidade O objetivo da

pesquisa foi atingido uma vez que foi possiacutevel conhecer algumas especificidades da mentoria

no contexto brasileiro e mais especificamente nordestino Ampliou-se tambeacutem o

conhecimento da mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes com risco para delinquumlecircncia

Desta forma a mentoria mostrou-se eficaz no sentido de contribuir para o desenvolvimento

do mentorado de forma que ele permanece na escola e melhora o rendimento escolar

As funccedilotildees de carreira propostas pela literatura foram encontradas e destas vale

destacar a oferta de tarefas desafiadoras O mentor propotildee inuacutemeros e audaciosos desafios

para seus mentorados sem no entanto deixar de prover as condiccedilatildeo de atingi-los e de superar

a realidade de exclusatildeo a que estatildeo sujeitos Outras funccedilotildees desenvolvidas pelo projeto e que

merecem destaque dizem respeito agrave amizade e agrave aceitaccedilatildeo do mentor para com seu

mentorado A importacircncia deste viacutenculo afetivo eacute imensuraacutevel principalmente em se tratando

e crianccedilas que muitas vezes natildeo percebem amor em sua famiacutelia

Seu Moab se preocupa mais com as crianccedilas do que noacutes que somos matildee (risos) Tem paciecircncia tem carinho por aquelas crianccedilas Ele sabe ensinar () ele natildeo machuca ele natildeo grita e as crianccedilas obedecem Eacute uma benccedilatildeo ele tem aquele amor (MAtildeE DE TAcircNIA entrevista set05)

O projeto demonstrou suprir lacunas na famiacutelia sendo o mentor agraves vezes comparado

com um pai ou com algueacutem da famiacutelia Pocircde se perceber a importacircncia da mentoria para o

grupo especiacutefico de pessoas marginalizadas ldquocarentes de tudordquo (PSICOacuteLOGA entrevista

110

set05) ao se ter algueacutem que acredite que aceite valorize incentive e decirc condiccedilotildees de

crescimento e desenvolvimento Papel este desempenhado pelos mentores ldquoO projeto restaura

a dignidade da pessoa do ser pessoa de ser um cidadatildeo de estar num lugar () onde as

pessoas estatildeo olhando para ele Ele eacute importante ele existerdquo (PSICOacuteLOGA entrevista

out05)

A mentoria mostrou-se efetiva em ajudar o mentorado em seu desenvolvimento

pessoal e ldquoprofissionalrdquo e seus benefiacutecios puderam ser em parte verificados

Os fatores de ecircxito mencionados na teoria tambeacutem puderam ser encontrados no

projeto A relaccedilatildeo de mentoria existente no projeto revelou caracteriacutesticas natildeo abordadas pela

teoria o que enriquece os estudos nesta aacuterea

Outro aspecto que chama a atenccedilatildeo eacute o comprometimento dos colaboradores

entrevistados seu desejo em ajudar e realizaccedilatildeo ao poderem contribuir

Esta foi a conclusatildeo objetiva deste trabalho No entanto em se tratando de uma

pesquisa qualitativa na qual haacute o envolvimento do pesquisador com o objeto na busca de se

chegar a uma compreensatildeo deste outros conhecimentos menos objetivos puderam ser

apreendidos e devem ser mencionados

O fazer parte do projeto parece ter um significado especial para quem dele participa e

os benefiacutecios parecem ir aleacutem dos aqui listados Algo taacutecito que natildeo pocircde ser apreendido

apenas sentido o brilho nos olhos as laacutegrimas as pausas e a voz trecircmula Fatos frequumlentes

nas entrevistas quer de mentores de mentorados ou das matildees

O projeto na percepccedilatildeo da pesquisadora pode ser comparado a seguinte metaacutefora uma

sementeira muito acolhedora cujos responsaacuteveis satildeo uma famiacutelia de saacutebios agricultores (pai

matildee filho e filha) que mesmo com outras opccedilotildees ldquomais lucrativasrdquo financeiramente optam

por trabalhar em sementes rejeitadas Esta famiacutelia partilha da visatildeo que vai aleacutem da ldquocascardquo

seca feia suja e aparentemente infrutiacutefera que tais sementes se apresentam E assim doam

111

suas vidas para descobrir (natildeo no sentido de achar mas de tirar o que encobre) e revelar o

tesouro que haacute dentro delas Plantam regam e fornecem a elas os nutrientes tirados de sua

proacutepria mesa no intuito de vecirc-las desabrochar desenvolver crescer e influenciar

positivamente a terra seca e aacuterida na qual foram geradas e permanecem A ideacuteia eacute a de uma

sementeira na qual um belo jardim e um frutiacutefero pomar satildeo vislumbrados Natildeo se

excluem desta percepccedilatildeo as dificuldades que acompanham o preparo da terra a poda as

intempeacuteries do ambiente e o descreacutedito daqueles que muitas vezes ao verem tal trabalho

negligenciam seu valor meneiam a cabeccedila e o desprezam No entanto o amor e a vontade de

ver tais sementes tatildeo marginalizadas frutificarem se alastra e contagia a outros que com o

mesmo intuito tecircm se envolvido contribuindo e partilhando do mesmo sentimento pois

acreditam que fornecendo as condiccedilotildees ldquoadequadasrdquo essas sementes iratildeo frutificar tanto ou

mais do que as mais belas aacutervores do mais belo pomar Esta sementeira para a pesquisadora

eacute o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida os agricultores satildeo Moab Silva Miriam Mariacutelia e Marcos

Moab apenas esporadicamente trabalha como cozinheiro visto dedicar-se

integralmente ao projeto no acompanhamento das crianccedilas e adolescentes nas escolas na

busca de patrociacutenio na comunidade com os pais

Miriam abre as portas de sua casa partilha o alimento com qualquer das crianccedilas que

chegar agrave sua porta e tatildeo importante quanto este partilha tambeacutem o afeto Natildeo se pode

mensurar o quanto este casal jaacute abnegou de sua vida em prol da vida deste projeto

Mariacutelia e Marcos jaacute ensinaram no projeto e quando solicitados retornam eles aceitam

partilhar com tantos outros daquilo que seria soacute seu pai matildee lar e recursos

Este projeto eacute um projeto de uma famiacutelia que se envolve se compromete com

seriedade e responsabilidade com os moradores da comunidade de forma que sofre junto

partilhando das dificuldades de crianccedilas e adolescentes que seriam apenas estranhos ou

ldquomeninos de ruardquo natildeo fosse o amor que os mobiliza

112

Pode-se perceber que muitas vezes faltam recursos materiais para se fazer como se

gostaria e ateacute mesmo para dar continuidade ao que jaacute foi feito No entanto a ausecircncia de

estiacutemulo de coragem de amor e de creacutedito natildeo foi percebida Talvez por isso algumas matildees

tenham se referido ao projeto como sendo algo maravilhoso

Feitas as conclusotildees seguem nas proacuteximas seccedilotildees as implicaccedilotildees teoacutericas praacuteticas e

sociais deste estudo e as sugestotildees de pesquisa futura

51 Contribuiccedilotildees do estudo

O presente trabalho oferece algumas contribuiccedilotildees para a teoria para a praacutetica e

tambeacutem para a sociedade Seguem nas proacuteximas seccedilotildees o detalhamento destas contribuiccedilotildees

511 Contribuiccedilatildeo teoacuterica

Esta pesquisa traz contribuiccedilotildees para a teoria na medida em que verifica a

aplicabilidade da literatura no contexto brasileiro de uma comunidade carente Oferece

contribuiccedilotildees tambeacutem por tratar da mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes com risco

para delinquumlecircncia A pesquisa aborda objetos que no Brasil ainda natildeo tinham sido

pesquisados sob o arcabouccedilo da mentoria

Outra contribuiccedilatildeo deste estudo diz respeito aos achados aqueles que diferem da

teoria e que foram encontrados no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida tais como o patrociacutenio amplo

oferecido pelo mentor ao mentorado o mentor natildeo ser tido como modelo o

autoconhecimento e senso de dever cumprido como benefiacutecios para o mentor Em se tratando

de estudo de caso estes achados natildeo devem ser generalizados No entanto podem servir de

questionamento e de objeto de futuras investigaccedilotildees no sentido de ver sua aplicabilidade em

outros contextos

Segue a contribuiccedilatildeo praacutetica deste trabalho

113

52 Contribuiccedilatildeo praacutetica

O presente objeto de pesquisa (mentoria voltada para educaccedilatildeo de crianccedilas e

adolescentes carentes) pode ser utilizado tambeacutem como forma de intervenccedilatildeo na educaccedilatildeo do

ensino puacuteblico e privado

A iniciativa privada tambeacutem pode ter nesta relaccedilatildeo de mentoria um modelo de accedilatildeo

de responsabilidade social Pode intervir em sua comunidade preparando sua futura matildeo-de-

obra e usufruindo os diversos benefiacutecios que tal relaccedilatildeo pode trazer natildeo soacute em termos de

dividendos ao gerenciar a reputaccedilatildeo mas em termos solidariedade realizaccedilatildeo e senso de

dever cumprido

Era objetivo contribuir com a praacutetica atraveacutes da teoria de mentoria visando

potencializar a relaccedilatildeo existente no projeto de reforccedilo No entanto uma vez que os fatores de

ecircxito jaacute satildeo considerados e que a relaccedilatildeo tem trazido benefiacutecios para o mentorado mentor e

para a sociedade natildeo se percebeu formas de contribuiccedilatildeo com o projeto neste sentido Senatildeo

de apresentar um estudo sistematizado do projeto e de como satildeo beneficiados os que dele

participam

53 Contribuiccedilatildeo social

O presente trabalho oferece contribuiccedilotildees sociais na medida em que confirmou que o

objeto de estudo mostrou-se eficiente em sua proposta podendo entatildeo servir de modelo de

accedilatildeo para outras entidades voltadas para crianccedilas e adolescentes de risco

O trabalho tambeacutem pode servir de fonte de pesquisa para empresas que desejam ser

responsaacuteveis socialmente atraveacutes da educaccedilatildeo tendo na mentoria um modelo que apresentou

resultados positivos

Outra contribuiccedilatildeo social deste estudo diz respeito ao questionamento sobre a

educaccedilatildeo no Brasil O projeto tem sido uma alternativa diante do insucesso da escola puacuteblica

114

em fazer com que o aluno permaneccedila na escola e obtenha bom aproveitamento A

contribuiccedilatildeo pode ser aumentada na medida em que o puacuteblico para tal projeto eacute de crianccedilas e

adolescentes com risco Tais sujeitos aleacutem do aprendizado obtido adquirem perspectiva

positiva de vida podendo-se inferir que haja diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia

Seguem na proacutexima seccedilatildeo algumas sugestotildees de pesquisas futuras que podem ser

realizadas no intuito de compreender melhor o fenocircmeno estudado

52 Sugestotildees de pesquisas futuras

Algumas sugestotildees de pesquisa podem ser feitas a partir do presente trabalho Satildeo elas

a) Acompanhar a histoacuteria dos futuros egressos visando conhecer melhor os

resultados do programa de mentoria

b) Realizar um experimento entre as crianccedilas e adolescentes que participam do

projeto e os natildeo participantes para se verificar a influecircncia deste

c) Investigar quais as implicaccedilotildees de haver dois tipos de relaccedilatildeo de mentoria no

projeto na qual o mentor tem um relacionamento mais proacuteximo com um

mentorado do que com outro

Estas sugestotildees para pesquisa futura encerram este trabalho mas natildeo os

questionamentos dele advindos

Peccedilo licenccedila a Moab para terminar o trabalho com sua fala Para educar natildeo se tem

um resultado imediato Entatildeo vocecirc tem que gastar tempo Eacute investimento em longo

prazo Vocecirc tem que ter paciecircncia () amor (COORDENADOR entrevista set05)

115

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LARSON R DWORKIN J GILLMAN S Facilitating adolescentsacuteconstructive use of time in on-parent families Applied Developmental Science v 5 n3 p 143-157 2001 LAVILLE C DIONE J A construccedilatildeo do saber Manual de metodologia da pesquisa em ciecircncias humanas Porto AlegreUFMG 1999 LEVINSON D J DARROW CN KLEIN E LEVINSON MA MCKEE B The seasons of a manacutes life In KLAW E RHODES J FITZGERALD L Natural mentors in the lives of African American adolescent mothers tracking relationships over time Journal of Youth and Adolescence v 3 n 32 p 223-232 2003 MAIN M KAPLAN K CASSIDY J Security in infancy childhood and adulthood a move to the level of representation In GROSSMAN J RHODES J The test of time predictors and effects of duration in youth mentoring relationships American Journal of Comm Psychol v30 n2 p 199-120 2002 MINAYO MC O desafio do conhecimento Satildeo Paulo-Rio de Janeiro HucitecAbrasco 1998 MULLEN E Vocational and psychosocial mentoring functions identifying mentors who serve both Human Resource Development Quarterly v9 n4 p319-331 1998 ___________ Framing the mentoring relationships as an information exchange Human Resource Management Review v4 p 257-281 1994 MURRAY M Beyond the myths and magic o mentoring how to facilitate an effective mentoring program San Francisco CA Jossey-Bass Publishers 2001 NETO OC O trabalho de campo como descoberta e criaccedilatildeo In MINAYO M C (org) Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade 7ed Rio de Janeiro Vozes 1997 NERI M COSTA D O tempo das crianccedilas Ensaio econocircmico Faculdade Getuacutelio Vargas 2003 Disponiacutevel em lthttpepgefgvbrgt Acesso em 12 fevereiro 2005 NOE RA An investigation of the determinants of successful assigned mentoring relationships Personnel Psychology v 41 p 457-479 1988 PATTERSON G DEBARISHE B RAMSEY E A developmental perspective on antisocial behavior American Psychologist v44 n 2 p 329-335 1989

120

PROGRAMA DAS NACcedilOtildeES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO - PNUD Desenvolvimento Humano 2000 Brasiacutelia 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwpnudorgbrgt Acesso em 22 marccedilo 2005 RAGINS B Diversified mentoring relationships in organizations a power perspective Academy of Management Review v22 n2 p482-521 1997 RAGINS B COTTON J MILLER J Marginal mentoring the effects of type of mentor quality of relationship and program design on work and career Academy of Management Journal v 43 n6 p 1177-1194 2000 RHODES J EBERT L MEYERS A Social support relationship problems and psychological functioning of young African American mothers Am Journal of Comm Psychology v20 p 445-506 1994 RHODES J BOGAT G ROFFMAN J EDELMAN P GALASSO L Youth mentoring in perspective introduction to the special issue Am Journal of Comm Psychology v30 n2 p 149-156 2002 RIVEIRO J As diferentes faces do analfabetismo Simpoacutesio 15 1ordm Congresso Brasileiro de Qualidade na Educaccedilatildeo ndash Formaccedilatildeo de professores Brasilia 2001 Disponiacutevel em lt httpwwwmecgovbrgt Acesso em 18 fevereiro 2005 SARASON I SARASON B POTTER E ANTONI M Life events social support and illness Psychosom Med n 47 p 156-63 1985 SARASON I SARASON B SHEARIN E Social support as an individual difference variable its stability origins and relational aspects Journal of Personality and Social Psychology v50 n4 p 845-855 1986 SCANDURA T Mentorship and career mobility an empirical investigation Journal of Organizational Behavior v13 p 169-174 1992 SCHWARTZ M SCHWARTZ CG Problems in participant observations In MINAYO MC O desafio do conhecimento Satildeo Paulo-Rio de Janeiro HucitecAbrasco 1998 SELLTIZ JAHODA DEUTSH COOK Meacutetodos de pesquisa nas relaccedilotildees sociais Satildeo Paulo EPU 1974

121

SHIELDS C Music education and mentoring as intervention for at-risk urban adolescents their self-perceptions opinions and attitudes Journal of Research in Music Education v 49 n3 p 273-287 2001 SILVEIRA M O raio X das estrelas As 100 melhores empresas para vocecirc trabalhar Revista Exame Abril ed especial p42-44 2002 SOUZA D DOURADO D AUGUSTO R A realidade observada de um programa de mentoria o que a maacutescara esconde O caso de uma multinacional de consultoria In Encontro da Associaccedilatildeo Nacional dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Administraccedilatildeo ENAMPAD Anais Rio de Janeiro ANPAD 2003 CD-Rom STYLES M MORROW K Understanding how youth and elders form relationships a study of four linking lifetime programs Philadelphia PublicPrivate Ventures 1992 WALKER G FREEMAN M Social change one on one the new mentoring movement The American Prospect v27 p75-81 1996 ZACHARATOS A DARLING J KELLOWAY E K Development and effects of transformational leadership in adolescents Leadership Quarterly v 11 n2 2000 ZEY M A mentor for all reasons Personnel Journal n1 p46-51 1998

122

APEcircNDICE A - Apresentaccedilatildeo da entrevista

123

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

APRESENTACcedilAtildeO DA ENTREVISTA

Meu nome eacute Adriana Alvarenga Marques Sou pesquisadora da Universidade Federal

de Pernambuco e estamos fazendo um estudo sobre a educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes

Pesquisamos sobre este tema no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida com alguns pais de alunos e com

alguns dos que colaboram com o projeto e tambeacutem com o Sr Moab

Estou aqui para lhe fazer algumas perguntas sobre este assunto A sua participaccedilatildeo eacute

de muita importacircncia para a pesquisa

Quero destacar que vocecirc natildeo precisa se identificar e seus dados e o do aluno natildeo seratildeo

revelados

Gostaria ainda de sua permissatildeo para gravar nossa ldquoconversardquo lembrando que apenas

eu ouvirei a fita Peccedilo isto por que para anotar as respostas eu levaria muito tempo e natildeo seria

feito com precisatildeo Vocecirc autoriza

124

APEcircNDICE B- Roteiro da entrevista com os pais

125

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

Roteiro de Entrevista para os Pais

Nome- ___________________________________________________________________

Nome do(a) filho(a) participante do projeto- _____________________________________

Escolaridade dos pais- _______________________________________________________

Quantas pessoas moram com o(a) aluno(a) _______________________________________

1- Haacute quanto tempo vocecirc conhece o projeto de reforccedilo Educaccedilatildeo eacute Vida

2- O que vocecirc pensa a respeito deste projeto

3- Haacute quanto tempo seusua filho(a) faz parte do projeto

4- Qual a idade dele (a)

5- Qual a seacuterie que ele(a) cursa

6- Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo de seusua filho(a) houve alguma mudanccedila nele(a) depois de

haver entrado no projeto Qual(ais)

7- No dia-a-dia vocecirc percebe alguma influencia do projeto no comportamento de

seusua filho(a) Qual(ais)

8- Existe algueacutem do projeto que demonstre cuidado e preocupaccedilatildeo com seusua filho(a)

que o(a) acompanhe seusua filho(a) mais de perto Quem

9- Como eacute feito esse acompanhamento

10- Qual o significado desta pessoa na vida de seu filho

11- Seu filho(a) gosta de estudar

12- Como vocecirc percebe isto

13- Seu filho(a) jaacute recebeu alguma ajuda vinda do projeto

14- Que tipo de ajuda

15- Quando seu filho passa por alguma dificuldade ou problema a quem ele recorre

16- Haacute algueacutem do projeto que aconselhe seuas filho(a) Quem

17- Que tipo de conselho ele(a) oferece

18- Seusua filho(a) fala sobre seu futuro O que ele(a) diz

126

19- Onde seu filho estuda

20- Como eacute o desempenho de seusua filho(a) na escola Como satildeo suas notas

21- Seusua filho(a) traz tarefas para casa

22- Quem o(a) ajuda a resolve-las

23- Haacute mais alguma coisa sobre a educaccedilatildeo de seu filho que vocecirc considere importante

24- Quando vocecirc pensa no projeto qual a ideacuteia ou sentimento que lhe vem

25- Haacute mais alguma coisa sobre o projeto que vocecirc gostaria de falar

127

APEcircNDICE C - Roteiro da entrevista com os colaboradores

128

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

Roteiro da Entrevista com os Colaboradores

Nome ndash ______________________________________________________________

Tempo de projeto-______________________________________________________

Funccedilatildeo desempenhada no projeto- _________________________________________

Tempo de projeto - _____________________________________________________

1- Haacute quanto tempo vocecirc conhece o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

2- Qual a sua participaccedilatildeo neste projeto

3- Com que frequumlecircncia ocorre seu contato com as crianccedilas adolescentes comunidade

4- Vocecirc recebe alguma remuneraccedilatildeo para atuar no projeto

5- Qual sua motivaccedilatildeo para participar

6- Vocecirc poderia descrever como eacute seu relacionamento com os alunos

7- Haacute algum(a) em especial por quem vocecirc tenha maior preocupaccedilatildeo cuidado carinho

8- Por que

9- Como satildeo seus encontros com as crianccedilas

10- Como vocecirc percebe o significado deste projeto na vida da comunidade

11- Durante o seu tempo de participaccedilatildeo no projeto houve algum evento ou

acontecimento que lhe marcou e que vocecirc gostaria de falar

12- Quando vocecirc pensa no projeto qual a ideacuteia ou sentimento que lhe vem

13- Haacute mais alguma coisa sobre o projeto ou sobre os alunos que vocecirc gostaria de

compartilhar

129

APEcircNDICE D - Roteiro da entrevista com o fundador do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

130

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

Roteiro de Entrevista do Fundador

Nome ndash ______________________________________________________________

1- Como surgiu a ideacuteia do projeto

2- Como foi efetivado

3- Quais as motivaccedilotildees para a existecircncia do projeto

4- Houve participaccedilatildeo de sua famiacutelia

5- Vocecirc poderia falar acerca do funcionamento do projeto as atividades desempenhadas

os objetivos a manutenccedilatildeo

6- A quem o projeto se destina

7- Qual a sua participaccedilatildeo efetiva no projeto

8- Como se deu a formalizaccedilatildeo

9- Como ocorre a seleccedilatildeo das crianccedilas para fazer parte do projeto

10- Quais os criteacuterios para se manter no projeto

11- Como o projeto obteacutem recursos para funcionar

12- Que tipo de atividade o projeto desenvolve

13- Haacute quanto tempo o projeto existe

14- Houve algueacutem em sua vida que serviu de incentivo para que vocecirc desenvolvesse esse

tipo de atividade

15- Por que um projeto em educaccedilatildeo

16- Qual o significado deste projeto na vida da sua famiacutelia

17- Qual o significado deste projeto na vida da comunidade

18- O que significa para uma crianccedila participar do projeto

19- Quais as dificuldades enfrentadas

20- Haacute ou houve algum acontecimento que lhe marcou

21- Existem crianccedilas que vocecirc acompanha mais de perto

22- Como eacute esse acompanhamento

131

23- O que o projeto oferece aos participantes em termos de educaccedilatildeo

24- Haacute mais algum tipo de ajuda que o projeto oferece Qual (ais)

25- O que eacute importante para que o projeto obtenha ecircxito

26- O que vocecirc acredita que eacute determinante do sucesso escolar de um aluno

27- Por que vocecirc acha que alguns alunos natildeo obtecircm bom aproveitamento escolar

28- Como eacute a participaccedilatildeo de sua famiacutelia no projeto

29- Qual o seu sonho para o projeto

30- Quando vocecirc pensa neste projeto qual a ideacuteia ou sentimento que lhe ocorre

31- Haacute mais alguma coisa que vocecirc gostaria de falar

132

ANEXO A - Estatuto da Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre

133

134

135

136

137

138

139

140

ANEXO B ndash Documento de Apresentaccedilatildeo do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

141

142

IDENTIFICACcedilAtildeO Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre situada agrave rua Joatildeo Tude de Melo nordm 21 Casa Forte Recife Pernambuco Brasil CEP ndash52060-030 tel 3442-2084

Objetivo Manter influente obra social cristatilde que possa mudar o quadro social das crianccedilas e jovens da comunidade

O projeto funciona haacute trecircs anos atendendo a comunidade na aacuterea de educaccedilatildeo sauacutede lazer e educaccedilatildeo religiosa

143

ANAacuteLISE DO CONTEXTO DO PROJETO A favela Vila do vinteacutem como todo reduto de pobreza tem seus problemas suas causas e consequumlecircncias Apoacutes trecircs anos de atividades nesta comunidade detectamos que a maacute distribuiccedilatildeo de renda e a falta de uma poliacutetica social voltada para os mais carentes tecircm contribuiacutedo para a formaccedilatildeo de famiacutelias desestruturadas e em situaccedilotildees de risco fomentadas pela pobreza cultural e financeira Residem em barracos de madeira papelatildeo e plaacutestico de aproximadamente 12m2 sem aacutegua esgoto e muitos sem sanitaacuterios O conviacutevio diaacuterio com insetos torna a accedilatildeo meacutedica difiacutecil ou mesmo inviaacutevel Eacute isto que temos vivenciado no dia-dia famiacutelias em condiccedilotildees sub-humanas sobrevivendo de pequenos serviccedilos que prestam

Eacute neste cenaacuterio que consequumlentemente a crianccedila e o jovem desenvolve seu potencial de violecircncia anseios e conflitos convivendo com a fome a falta de higiene ambiente inoacutespito e inadequado para os estudos e outras atividades Essas crianccedilas semi-abandonadas vivem sem perspectivas de mudanccedilas sendo apenas viacutetimas de um processo que as leva a marginalidade

Por esta razatildeo se faz necessaacuterias accedilotildees contiacutenuas para melhoria da qualidade de vida e paz social desenvolvendo atividades que as valorizem como pessoas minimizando o sofrimento dando-lhes esperanccedilas atraveacutes da educaccedilatildeo sauacutede lazer e profissionalizaccedilatildeo

144

OBJETIVOS

Geral Visa natildeo somente melhorar a qualidade de vida no presente mas intervir num ciclo vicioso preparando a crianccedila e o jovem para o futuro Atuar na aacuterea de Educaccedilatildeo solicitando bolsas de estudo na rede privada com aulas de reforccedilo para o ensino fundamental alfabetizaccedilatildeo infantil distribuiccedilatildeo de material escolar e merenda Curso regular de liacutengua estrangeira (Inglecircs) iniciaccedilatildeo musical (teoria e praacutetica) Sauacutede Cliacutenica pediaacutetrica odontoloacutegica psico-pedagoacutegica e aviamento de receitas

Especiacuteficos

A) Promover a melhoria da escolaridade incentivando a permanecircncia e o equiliacutebrio entre o conhecimento e o grau adquirido

B) Desenvolver atividades que proporcionem o desenvolvimento de competecircncias sociais pessoais e intelectuais favorecendo a reflexatildeo e o exerciacutecio da cidadania com palestras passeios e filmes Ampliando o leque de conhecimentos e enriquecendo o senso criacutetico

C) Desenvolver programa intensivo de sauacutede atraveacutes de convecircnios melhorando desta forma a sauacutede e a aparecircncia fiacutesica para que haja um relacionamento pessoal sem reserva ou constrangimento

D) Ampliar os conhecimentos por curso regular de liacutengua estrangeira (Inglecircs) e iniciaccedilatildeo musical teoria e praacutetica Tirando-os da rua e da ociosidade oferecendo uma perspectiva de profissionalizaccedilatildeo e um conviacutevio cultural diferente do que vivenciam

145

PUacuteBLICO ALVO Crianccedilas e jovens de cinco a dezessete anos residentes na Vila Vinteacutem e devidamente matriculados e frequumlentando a rede oficial de ensino puacuteblico ou privado METODOLOGIA Profissionais de suas respectivas aacutereas ministraratildeo aulas diariamente ou em dias alternados conforme as especialidades e necessidades do projeto Por tratar-se de prestaccedilatildeo de serviccedilo voluntaacuterio com fim social todos teratildeo liberdade sobre o plano de accedilatildeo a ser aplicado no entanto deveratildeo estar de acordo com o nosso Estatuto Convecircnio com a Fundaccedilatildeo Manuel de Almeida (Hospital Infantil) para cliacutenica meacutedica e pediaacutetrica cabendo a instituiccedilatildeo a avaliaccedilatildeo e anaacutelise dos resultados As atividades seratildeo desenvolvidas em nossa sede proacutepria e anexo I exceto o curso de inglecircs consultas odontoloacutegicas e cliacutenica meacutedica Modelo de Educaccedilatildeo para a Sauacutede Objetivo Colocar a educaccedilatildeo a serviccedilo de uma vida saudaacutevel Accedilotildees destinadas a orientar os jovens

bull Alimentaccedilatildeo adequada bull Atividades que natildeo promovam o estresse bull Vida sexual segura bull Orientaccedilatildeo sobre o risco do tabaco aacutelcool e outras drogas

psicoativas bull Discussatildeo de temas gerais atuais ndash exemplo tracircnsito poluiccedilatildeo

violecircncia etc Objetivando a formaccedilatildeo de cidadatildeos conscientes e capazes de optar por uma vida mais saudaacutevel individual e coletiva

Modelo de Modificaccedilatildeo das Condiccedilotildees de Ensino Enfatizando a vivecircncia escolas desde a Educaccedilatildeo Infantil ensino Fundamental e Meacutedio como essencial para o desenvolvimento sadio do adolescente e adulto Preocupando-se com a prevenccedilatildeo ao uso abusivo de drogas a delinquumlecircncia as patologias mentais buscando a formaccedilatildeo integral do jovem Envolvendo pais e comunidade

146

Orientaccedilotildees estrateacutegicas

bull Modificar as praacuteticas de ensino bull Melhorar a relaccedilatildeo professoraluno bull Melhorar o ambiente escolar bull Incentivar o desenvolvimento social bull Ofertar serviccedilos de sauacutede bull Envolver os pais em atividades curriculares

AVALIACcedilAtildeO Bimestral junto agraves escolas solicitando boletins de cada aluno assistido pelo projeto cuja permanecircncia dos benefiacutecios dependeraacute do aproveitamento escolar da assiduidade agraves atividades e programaccedilatildeo da instituiccedilatildeo

147

ANEXO C ndash Estrutura baacutesica para orientaccedilatildeo de teses e dissertaccedilotildees

148

  • CLASSIFICACcedilAtildeO DE ACESSO A TESES E DISSERTACcedilOtildeES
    • Adriana Alvarenga Marques
      • 1 Introduccedilatildeo
        • 2 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica
          • Mentoria informal
            • Mentoria formal
              • 3 Metodologia
                  • APEcircNDICE A - Apresentaccedilatildeo da entrevista
                    • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                    • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                      • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                        • APRESENTACcedilAtildeO DA ENTREVISTA
                          • APEcircNDICE B- Roteiro da entrevista com os pais
                            • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                            • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                              • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                                • Roteiro de Entrevista para os Pais
                                  • APEcircNDICE C - Roteiro da entrevista com os colaboradores
                                    • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                                    • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                                      • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                                        • Roteiro da Entrevista com os Colaboradores
                                          • APEcircNDICE D - Roteiro da entrevista com o fundador do Projet
                                            • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                                            • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                                              • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                                                • Roteiro de Entrevista do Fundador
                                                  • ANEXO A - Estatuto da Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre
                                                    • IDENTIFICACcedilAtildeO
                                                      • ANAacuteLISE DO CONTEXTO DO PROJETO
                                                        • OBJETIVOS
                                                          • PUacuteBLICO ALVO
                                                            • METODOLOGIA
                                                                • Modelo de Educaccedilatildeo para a Sauacutede
                                                                • Modelo de Modificaccedilatildeo das Condiccedilotildees de Ensino
                                                                  • AVALIACcedilAtildeO
Page 9: A mentoria na educação de crianças e adolescentes carentes ... · Figura 5 (4) Modelo de Certificado de Padrinho 70 Figura 6 (4) Foto da apresentação das meninas do projeto em

Palavras-chave Mentoria Educaccedilatildeo Comunidade carente Delinquumlecircncia Suporte

psicossocial

Abstract

Mentorship is characterized by the relationship between a mentor (someone with recognized

experience) and the individual to be mentored (novice) in which the mentor guides the young

apprentice offering himher counsel advice and friendship in a way as to facilitate the

development of hisher career In exchange the mentor obtains recognition support and

personal reward taking part in the professional growth of the person being mentored

Mentorship geared towards youth and teenagers with risks of becoming delinquent individuals

has been investigated in countries such as the United States and Canada Among the benefits

found one can mention the decrease in aggressive behavior and school absenteeism an

increase in self esteem and consequently a decrease in juvenile delinquency This research is

intended to investigate a mentorship program geared towards impoverished children and

teenagers with the purpose of verifying if in the Brazilian context specifically in the

northeast of Brazil the mentor relationship presents the same characteristics as those shown

in previously documented researches This is a descriptive-exploratory case study about a

school tutorship program at Vila do Vinteacutem II a slum in Recife Pernambuco Brazil The

objective of this study was to verify what are the specificities of a mentorship program

designed for children and teenagers in the Brazilian context and what are the benefits of this

relationship in the life of those who are mentored (children and teenagers) the mentors (who

joined the program) and the community The perception of the families about the program has

been taken into consideration as well The strategy used for this research was qualitative

through interviews and observation and documental analysis It was observed that only in a

few aspects the mentorship analyzed in this program was different from the findings of

previous research as for instance the fact that the mentor is considered a role model for the

apprentice (a theoretical fact that is widely accepted) has not been evidenced in this context

This research was intended to demonstrate the possibility of an intervention in the lives of

impoverished children and teenagers and can be utilized by organizations in their social

responsibility actions and by public policy formulators with the purpose of increasing school

progress for children and teenagers

Key-words Mentorship Tutorship Education Impoverished community Delinquency

Psychosocial support

Lista de figuras

Figura 1 (4) Foto da Vila do Vinteacutem II 60Figura 2 (4) Foto das palafitas da Vila do Vinteacutem II 61Figura 3 (4) Foto da festa de Natal para as crianccedilas da Vila Vinteacutem 63Figura 4 (4) Foto da festa das crianccedilas na sede do projeto 64Figura 5 (4) Modelo de Certificado de Padrinho 70Figura 6 (4)

Foto da apresentaccedilatildeo das meninas do projeto em uma missa de Natal realizada pela Igreja Catoacutelica de Casa Forte na Vila Vinteacutem 81

Figura 7 (4)

Foto da professora e alunos durante a aula de reforccedilo na sede do projeto 90

Figura 8 (4) Boletim escolar de Afracircnio 98Figura 9 (4) Boletim escolar de Jairo 99

Sumaacuterio 1 Introduccedilatildeo 1511 Objetivos 18111 Objetivo geral 18112 Objetivos especiacuteficos 1812 Justificativa 19121 Justificativa teoacuterica 19122 Justificativa praacutetica e social 192 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica 2121 Mentoria 21211 Funccedilotildees de mentoria 242111 Suporte de carreira 242112 Suporte psicossocial 26212 Fases da relaccedilatildeo mentoria 28213 Tipos de mentoria 302131 Mentoria informal 302132 Mentoria formal 31214 Fatores relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria formal 312141 Seleccedilatildeo de mentores e mentorados 322142 Treinamento supervisatildeo e acompanhamento do programa de mentoria 332143 Frequumlecircncia dos encontros 342144 Duraccedilatildeo da relaccedilatildeo de mentoria 3422 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria 35221 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentorado 36222 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentor 39223 Benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria 413 Metodologia 4631 Delineamento da pesquisa 4632 Primeira fase da coleta de dados 47321 Objetivo 47322 Instrumentos de coleta de dados 4833 Segunda fase de coleta de dados 50331 Objetivos 50332 Instrumentos de coleta de dados 5034 Sujeitos da pesquisa 52341 Criteacuterios para seleccedilatildeo dos sujeitos 5335 Meacutetodos de anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados 5436 Limitaccedilotildees da pesquisa 564 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos achados 5841 O caso 58411 O contexto do projeto Vila Vinteacutem II 58412 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 62413 Atividades desenvolvidas pelo projeto 65414 Formalizaccedilatildeo do projeto como organizaccedilatildeo natildeo-governamental 67415 Situaccedilatildeo atual do projeto 68416 Dificuldades enfrentadas pelo projeto 69417 Motivaccedilatildeo para a existecircncia e continuidade do projeto 70418 Dados dos mentores entrevistados 71419 Dados dos mentorados pesquisados 72

4191 Alunos tidos como que de ecircxito nos estudos 724192 Alunos tidos como que de natildeo ecircxito nos estudos 7442 Achados referentes agrave primeira questatildeo norteadora do trabalho 76421 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida como um programa de mentoria 76422 Funccedilotildees de mentoria encontradas no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 784221 Suporte de carreira 784222 Suporte psicossocial 83423 Fases da relaccedilatildeo de mentoria apresentadas no projeto de reforccedilo 87424

Fatores encontrados no projeto que estatildeo relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria 87

425 Fatores responsaacuteveis pelo ecircxito e natildeo ecircxito nos estudos percepccedilatildeo do mentor e da famiacutelia do mentorado 93

426

Resposta da primeira questatildeo norteadora especificidades da relaccedilatildeo de mentoria existentes no projeto de reforccedilo escolar 94

43 Achados referentes agrave segunda questatildeo norteadora 95431

Aumento da auto-estima da responsabilidade maior progresso escolar e perspectiva positiva de futuro 95

432

Resposta da segunda questatildeo norteadora benefiacutecios da mentoria para a crianccedila adolescente do projeto 101

44 Achados referentes agrave terceira questatildeo norteadora 101441 Realizaccedilatildeo pessoal 101442 Motivaccedilatildeo 102443 Ser amado pelo mentorado 103444 Autoconhecimento 103445 Senso de dever cumprido 104446 Resposta da terceira questatildeo norteadora benefiacutecios da mentoria para o mentor 10445 Achados referentes agrave quarta questatildeo norteadora 105451 Desenvolvimento educacional das crianccedilas e dos adolescentes 105452 Assistencialismo 106453 Diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia 107454

Resposta da quarta questatildeo norteadora benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria 108

5 Conclusatildeo 10951 Contribuiccedilotildees do estudo 112511 Contribuiccedilatildeo teoacuterica 112512 Contribuiccedilatildeo praacutetica 113513 Contribuiccedilatildeo social 11352 Sugestotildees de pesquisas futuras 114Referecircncias 115APEcircNDICE A- Apresentaccedilatildeo da entrevista 122APEcircNDICE B- Roteiro da entrevista com os pais 124APEcircNDICE C- Roteiro da entrevista com os colaboradores 127APEcircNDICE D- Roteiro da entrevista com o fundador do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 129ANEXO A- Estatuto da Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre 132ANEXO B- Documento de apresentaccedilatildeo do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida 140ANEXO C- Estrutura baacutesica para orientaccedilatildeo de teses e dissertaccedilotildees 147

15

1 Introduccedilatildeo

A educaccedilatildeo no Brasil tem sido nos uacuteltimos anos alvo de atenccedilatildeo por parte dos

governantes da iniciativa privada e da sociedade De acordo com dados do IBGE-Pnad

(2000) o Brasil conta com um iacutendice de analfabetismo de 116 sendo que na Regiatildeo

Nordeste este iacutendice sobe para 23 Em se tratando de analfabetismo funcional o que se

refere agraves pessoas com menos de quatro anos de estudo completos o iacutendice eacute de 24 no Brasil

e 39 na Regiatildeo Nordeste chegando a 43 em alguns municiacutepios Tais dados revelam a

existecircncia de municiacutepios onde quase metade da populaccedilatildeo tem menos de quatro anos de

estudo O fato de haver analfabetos funcionais em tatildeo grande proporccedilatildeo pode ser explicado

pela evasatildeo escolar

Trata-se de milhotildees de brasileiros excluiacutedos agrave margem por natildeo terem acesso agrave leitura

agrave escrita agrave cultura e ao conhecimento formal comprometendo ainda mais a auto-estima e

reduzindo a qualidade de vida de tais pessoas A alta taxa de analfabetismo (116) reduz

ainda mais o IDH (Iacutendice de Desenvolvimento Humano) que no Brasil eacute considerado meacutedio

077 (PNUD 2000) O IDH foi criado para medir o niacutevel de desenvolvimento humano dos

paiacuteses com base em indicadores de educaccedilatildeo (alfabetizaccedilatildeo e taxa de matriacutecula) longevidade

e renda Tal iacutendice varia de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1(desenvolvimento

humano total) Em Pernambuco este iacutendice eacute de 069 considerado meacutedio A taxa de ocupaccedilatildeo

no mercado de trabalho cresce agrave medida que a escolaridade aumenta Entre analfabetos eacute de

52 a chance de ocupaccedilatildeo enquanto que entre graduados sobe para 87 (NERY COSTA

2003)

Satildeo brasileiros que devido agrave exclusatildeo social decorrente do analfabetismo entre outros

fatores natildeo fazem parte do mercado consumidor Pessoas que por sua insuficiente renda ou

16

total falta dela ficam seriamente limitadas no tocante ao consumo sendo muitas dependentes

de poliacuteticas assistencialistas

As empresas tambeacutem sofrem as consequumlecircncias do analfabetismo seja absoluto (pessoa

iletrada) ou funcional pois tecircm em funccedilatildeo dele uma matildeo de obra desqualificada Soma-se o

fato de que estas pessoas natildeo fazem parte de sua clientela uma vez que natildeo tecircm poder

aquisitivo para tal

Estatiacutesticas confirmam que haacute um aumento na renda agrave medida que se acrescentam

anos de estudo A cada ano de estudo a renda aumenta cerca de 16 (IBGE-PNAD 1998) e

consequumlentemente aumenta tambeacutem o poder de compra a inserccedilatildeo social e a qualificaccedilatildeo

Uma questatildeo pertinente em se tratando de evasatildeo escolar eacute sua associaccedilatildeo com a

delinquumlecircncia Um estudo realizado com adolescentes paulistas demonstrou que a defasagem

escolar bem como a multirrepetecircncia satildeo fatores positivamente relacionados com a inserccedilatildeo

de jovens na criminalidade (DIAS 2003)

Barros et al (1994) revelam que um dos principais determinantes do desempenho

escolar da crianccedila eacute a educaccedilatildeo meacutedia das matildees Riveiro (2001) com base em dados da

Unesco afirma que os brasileiros que satildeo analfabetos absolutos estatildeo localizados

principalmente em aacutereas carentes da Regiatildeo Nordeste Considerando que haacute grande propensatildeo

de as matildees que moram em comunidades carentes do Nordeste serem analfabetas e que a

educaccedilatildeo da matildee tende a ser um fator determinante da educaccedilatildeo dos filhos parece legiacutetimo

esperar limitaccedilotildees graves na educaccedilatildeo de crianccedilas em comunidades carentes do Recife

O atual governo em 2001 criou o Programa Nacional do Bolsa-Escola que incentiva

a famiacutelia a colocar o filho na escola e fazecirc-lo permanecer nela Para tanto a famiacutelia recebe a

quantia de R$ 1500 por filho matriculado (MEC 2005) O projeto visa a reduccedilatildeo da evasatildeo

escolar sem no entanto acompanhar o rendimento do aluno beneficiado

17

Quanto agrave iniciativa privada a educaccedilatildeo tem sido o foco de algumas empresas ao

investirem na formaccedilatildeo dos funcionaacuterios e dos filhos destes Acerca do levantamento sobre as

100 melhores empresas para se trabalhar no ano de 2002 Silveira (2002) afirma que eacute fato

relevante para a organizaccedilatildeo que pertence a este ranking a colaboraccedilatildeo com a comunidade na

qual estaacute inserida Para tal algumas organizaccedilotildees contam inclusive com seus funcionaacuterios

agindo como voluntaacuterios nestas accedilotildees de responsabilidade social Desenvolvendo atividades

como esta de responsabilidade social e cidadania a empresa eacute mais bem avaliada por seus

stakeholders internos e externos (ASHLEY 2003)

Nos Estados Unidos uma alternativa para evitar a evasatildeo escolar tem sido

desenvolvida atraveacutes da mentoria Nesta relaccedilatildeo o mentor eacute uma pessoa mais experiente do

que o mentorado algueacutem em quem este confia com quem pode compartilhar suas

dificuldades necessidades e anseios e de quem recebe apoio e orientaccedilatildeo Um exemplo deste

trabalho foi realizado por Klaw et al (2003) com adolescentes afro-americanas gestantes O

objetivo do programa de mentoria era ajudar estas novas matildees a terminar a escola e a

conseguir resultados educacionais satisfatoacuterios apoacutes o nascimento da crianccedila O estudo

mostrou que das adolescentes que foram acompanhadas durante dois anos por um mentor

65 terminaram os estudos Jaacute entre as matildees que natildeo contaram com o programa de mentoria

este percentual caiu para 35 Pode-se concluir que apesar dos fatores adversos (maternidade

na adolescecircncia dificuldade econocircmica e preconceito racial) a mentoria mostrou-se eficaz no

combate agrave evasatildeo escolar

No Recife (PE) em uma comunidade carente verificou-se a existecircncia de um

programa de reforccedilo escolar Foram percebidas atraveacutes de uma pesquisa exploratoacuteria

evidecircncias da relaccedilatildeo de mentoria entre os colaboradores e os alunos sendo estes os

mentorados Esta evidecircncia criou a possibilidade de pesquisar os benefiacutecios produzidos pela

relaccedilatildeo de mentoria voltada para educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes carentes no Brasil

18

Investiga-se assim ateacute que ponto a mentoria pode ser um recurso para auxiliar no aumento do

aproveitamento escolar dos mentorados e na reduccedilatildeo da evasatildeo escolar Desta forma

considerando a situaccedilatildeo da educaccedilatildeo as limitaccedilotildees impostas pelo analfabetismo e a evasatildeo

escolar que aleacutem da exclusatildeo social estaacute associada agrave delinquumlecircncia definimos a seguinte

pergunta de pesquisa

Como ocorre a mentoria voltada para a educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes em

uma comunidade carente do Recife

11 Objetivos

111 Objetivo geral

Investigar como ocorre a mentoria em um programa de reforccedilo escolar voltado para

crianccedilas e adolescentes carentes de uma comunidade do RecifePE

112 Objetivos especiacuteficos

bull Investigar as especificidades da relaccedilatildeo de mentoria (funccedilotildees fases tipos e

fatores de ecircxito) voltada para crianccedilas e adolescentes carentes no contexto de

uma comunidade do Recife

bull Verificar quais os benefiacutecios da mentoria para o mentorado na percepccedilatildeo das

famiacutelias destes

bull Investigar quais os benefiacutecios da mentoria para os mentores na percepccedilatildeo

destes e

bull Verificar quais os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria

19

12 Justificativa

O presente trabalho se justifica devido agrave relevacircncia do tema que aborda e de suas

implicaccedilotildees poliacuteticas organizacionais e sociais

121 Justificativa teoacuterica

No aspecto teoacuterico pode-se citar a escassez de bibliografia nacional acerca da

mentoria Trata-se de um fenocircmeno pouco estudado no Brasil e menos ainda voltado para

educaccedilatildeo de jovens e adolescentes Faz-se necessaacuterio portanto investigar como ocorre a

mentoria no paiacutes e quais as suas especificidades e caracteriacutesticas Neste sentido o presente

estudo pode oferecer algumas contribuiccedilotildees

122 Justificativa praacutetica e social

Do ponto de vista praacutetico a proposta eacute que conhecendo como a mentoria ocorre aqui

agrave luz da teoria existente se possa auxiliar o processo otimizando-o

Quanto agrave justificativa da pesquisa do ponto de vista social pode-se mencionar a

necessidade de pesquisar alternativas para minimizar os problemas de analfabetismo evasatildeo

escolar e delinquumlecircncia juvenil Estes problemas fazem parte do cotidiano do Recife bem

como das demais grandes cidades brasileiras

As organizaccedilotildees podem ter nesta pesquisa um modelo de accedilatildeo de responsabilidade

social intervindo na comunidade local e inclusive preparando a sua futura matildeo-de-obra

Outra justificativa deste trabalho eacute a possibilidade de contribuir com as poliacuteticas

puacuteblicas no sentido de sugerir uma alternativa de intervenccedilatildeo na educaccedilatildeo de crianccedilas e

adolescentes em particular as que se encontram em situaccedilatildeo de risco

20

Neste capiacutetulo introdutoacuterio foi apresentado o tema abordado os objetivos da presente

pesquisa e as razotildees pelas quais o estudo se justifica No proacuteximo capiacutetulo seraacute exposta a

literatura que fornece as bases teoacutericas para a pesquisa

21

2 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica

Com o intuito de se investigar como ocorre a mentoria voltada para crianccedilas e

adolescentes carentes faz-se necessaacuterio trazer agrave luz o que a teoria diz acerca da mentoria

Portanto tratar-se-aacute neste capiacutetulo sobre o conceito de mentoria e suas especificidades ou

seja quais as funccedilotildees desempenhadas na relaccedilatildeo as fases pertinentes a este relacionamento

os tipos de mentoria e os fatores relacionados ao ecircxito desta relaccedilatildeo Os benefiacutecios que a

mentoria oferece ao mentorado ao mentor e agrave comunidade tambeacutem seratildeo considerados

Segue-se pois o conceito de mentoria

21 Mentoria

A palavra mentor surgiu por volta de 800 aC na antiga Greacutecia mais especificamente

na Odisseacuteia de Homero O poema eacutepico pertinente agrave Mitologia Grega relata as aventuras e as

batalhas vividas pelo rei Odisseu (Ulisses em latim) Ao partir de Troacuteia para guerra Odisseu

confiou a guarda de seu filho Telecircmaco a Mentor seu amigo (ENSHER MURPHY 1997)

Mentor passou a ser o responsaacutevel pela preparaccedilatildeo de Telecircmaco para ser o sucessor de seu

pai Mentor natildeo ocupou lugar de destaque na obra de Homero Entretanto em 1699 Franccedilois

de la Mothe-Fenelon fez uma releitura da Odisseacuteia e atribuiu a Mentor a condiccedilatildeo de segundo

pai professor orientador e guia de Telecircmaco Atraveacutes de Fenelon escritor e educador a

figura de Mentor tornou-se conhecida e relevante e em 1750 a palavra mentor jaacute constava

nos dicionaacuterios contendo o seguinte significado conselheiro saacutebio protetor e financiador

(GEHRINGER 2002) Apesar de a mentoria ter surgido em tempos muito distantes a

sistematizaccedilatildeo dos estudos nesta aacuterea data de apenas trecircs deacutecadas

22

Em 1978 Levinson et al (apud KLAW et al 2003) caracterizaram a mentoria como a

assistecircncia unilateral de um indiviacuteduo mais graduado e desejoso de partilhar seus

conhecimentos e experiecircncia a um menos experiente visando o desenvolvimento deste O

relacionamento com um mentor propicia ao jovem adentrar com ecircxito o mundo dos adultos e

o mundo dos negoacutecios Higgins e Kram (2001) salientam que mentores natildeo precisam ser

necessariamente pessoas mais graduadas do que os mentorados podendo ser seus colegas

pares ou parentes Hesgtad (1999) declara que o importante eacute que o mentor exerccedila influecircncia

sobre o mentorado

Hunt e Michael (1983) caracterizam o mentor como algueacutem que estaacute comprometido

em prover crescimento pessoal e suporte de carreira ao seu mentorado Higgins e Kram

(2001) consideram que o apoio e a assistecircncia na relaccedilatildeo de mentoria seriam bilaterais Nesta

relaccedilatildeo mentor e mentorado se auxiliariam no processo de desenvolvimento e tal processo

dar-se-ia atraveacutes de redes de mentoria e natildeo apenas de um mentor para um mentorado As

autoras trazem agrave mentoria a perspectiva do desenvolvimento de redes no qual o mentorado

dispotildee de vaacuterios mentores

Os Estados Unidos e parte da Europa tecircm demonstrado interesse cientiacutefico e

desenvolvido pesquisas sobre o tema Estas pesquisas tecircm sido voltadas para a aacuterea

organizacional na qual a mentoria se destina a jovens que ingressam na organizaccedilatildeo e satildeo

acompanhados por um secircnior Entretanto a mentoria tambeacutem pode ser utilizada na aacuterea

educacional e dirigir-se a estudantes como ocorre por exemplo no sistema de escola puacuteblica

da cidade de Nova Iorque e na Austraacutelia (ZEY 1998) Acerca da importacircncia da mentoria no

acircmbito educacional Astin (1977) defende que alguns estudantes ao serem mentorados podem

se sentir mais encorajados e se envolver mais com os estudos e aprendizado uma vez que o

mentor pode ser um referencial para tal

23

A mentoria voltada para crianccedilas seria de acordo com Brody (1991 apud JACKSON

2002) um relacionamento entre um adulto e uma crianccedila visando facilitar o crescimento

pessoal educacional e social desta Nos EUA tem crescido o nuacutemero de programas de

mentoria com foco na aacuterea social visando atender agraves minorias ou aos jovens adolescentes e

crianccedilas com risco para delinquumlecircncia DuBois et al (2002) realizaram uma meta-anaacutelise

buscando levantar os efeitos de 55 programas de mentoria voltados para juventude Estes

programas diferiam no curriacuteculo No entanto a grande maioria enfatizava o relacionamento

entre um jovem problemaacutetico e um adulto mais experiente O objetivo era o de ajudar o jovem

a resolver satisfatoriamente as dificuldades da vida (KEATING et al 2002) Pode-se entatildeo

afirmar que a mentoria eacute o relacionamento entre um adulto e um jovem com o qual o mentor

estaacute comprometido Este comprometimento visa o desenvolvimento pessoal e profissional de

seu mentorado (KRAM 1985)

Atualmente os mentores naturais pais avoacutes e tios nem sempre estatildeo disponiacuteveis para

o adolescente As famiacutelias a escola e a comunidade tecircm reduzido drasticamente ao longo

dos anos a disponibilidade de adultos para acompanhar e oferecer suporte aos jovens

(DARLING et al 2002) Estas instituiccedilotildees que ao longo da histoacuteria eram as responsaacuteveis por

prover os jovens de suporte necessaacuterio e de conduccedilatildeo tecircm sofrido mudanccedilas e reduzido sua

capacidade de continuar a prover tal apoio A demanda dos grandes centros urbanos bem

como o ecircxodo rural fizeram com que o nuacutemero de adultos que serviam de liacutederes modelos e

agentes de controle social diminuiacutesse A entrada das matildees no mercado de trabalho e o

aumento das separaccedilotildees conjugais levaram os adolescentes a passar menos tempo com os

pais ficando grande parte do tempo com pares e sem a supervisatildeo de um adulto (HARRIS et

al 2002)

A disponibilidade dos adultos para com as crianccedilas tem diminuiacutedo de tal forma que

mais de 25 das crianccedilas nascem em casas com apenas um dos pais e 50 das crianccedilas

24

vivem a maior parte de sua infacircncia nesta mesma situaccedilatildeo A escassez de adultos para

suportar crianccedilas e adolescentes eacute ainda mais intensa em se tratando de comunidades carentes

(GROSSMAN TIERNEY 1998) Darling et al (2002) verificaram que em muitos casos na

ausecircncia de suporte dos mentores naturais os mentores voluntaacuterios tecircm sido alistados

A literatura aborda as funccedilotildees pertinentes a este relacionamento atraveacutes das quais o

mentor teraacute condiccedilotildees de contribuir com o crescimento de seu mentorado Tais funccedilotildees de

mentoria seratildeo abordadas na proacutexima seccedilatildeo

211 Funccedilotildees de mentoria

Satildeo as funccedilotildees desempenhadas no decorrer da relaccedilatildeo de mentoria Na mentoria

tradicional o mentorado recebe do mentor assistecircncia individual acesso a informaccedilotildees

necessaacuterias feedback encorajamento suporte de carreira e suporte emocional (MULLEN

1998) Kram (1985) agrupou diversas atividades em dois grupos de funccedilotildees desempenhadas

pelo mentor quais sejam suporte de carreira e suporte psicossocial Estas funccedilotildees satildeo

distintas mas inter-relacionadas A relaccedilatildeo de mentoria pode prover os dois tipos de suporte

ou apenas um destes a depender do niacutevel da relaccedilatildeo (RAGINS 1997) No entanto quando

ocorrem as duas funccedilotildees ou seja suporte de carreira e psicossocial a mentoria se torna mais

intensa (KRAM 1983)

Nas seguintes seccedilotildees seraacute apresentado e definido o suporte oferecido pelo mentor ao

seu mentorado tanto em termos de carreira quanto psicossocial

2111 Suporte de carreira

O suporte de carreira inclui a ajuda que o mentor daacute ao mentorado para que este se

firme na organizaccedilatildeo e conheccedila seus meandros preparando-o para a ascensatildeo Este suporte

refere-se tambeacutem agraves atividades que o mentor desenvolve no sentido de auxiliar o mentorado

25

em sua carreira profissional Kram (1985) identifica as seguintes atividades oferta de tarefas

desafiadoras coaching proteccedilatildeo exposiccedilatildeo e visibilidade positiva e patrociacutenio Tais funccedilotildees

satildeo abordadas abaixo

a) Oferta de tarefas desafiadoras

Satildeo as tarefas que o mentor atribui ao mentorado visando o desenvolvimento de

competecircncias especiacuteficas Juntamente com estas tarefas o mentor provecirc treinamento

teacutecnico capacitando-o a superar desafios O mentor tambeacutem fornece feedback ao

mentorado sobre seu desempenho A oferta de tarefas desafiadoras prepara o

mentorado para posiccedilotildees de maior responsabilidade

b) Coaching

Ocorre quando o mentor tal qual um teacutecnico transmite conhecimento ao mentorado

sobre como ldquonavegarrdquo no mundo dos negoacutecios O mentor sugere estrateacutegias e

transmite informaccedilotildees ao mentorado Chao et al (1992) defendem que o coach

preocupa-se apenas com a tarefa e as informaccedilotildees necessaacuterias para sua realizaccedilatildeo natildeo

desenvolvendo o interesse para com a carreira do jovem aprendiz Entretanto como

observam Azevedo e Dias (2002) o mentor em algumas ocasiotildees realiza o coaching

por exemplo quando orienta o mentorado com respeito ao desenvolvimento de

habilidades especiacuteficas para o cumprimento de determinada tarefa

c) Proteccedilatildeo

Ocorre quando o mentor se coloca na posiccedilatildeo de um escudo protegendo seu

mentorado O mentor pode assumir determinadas falhas de seu mentorado ou natildeo

permitir que elas se tornem conhecidas A proteccedilatildeo tende a ocorrer com mais

frequumlecircncia quando o mentorado ainda natildeo apresenta resultados dignos de exposiccedilatildeo

Klaw et al (2003) afirmam que o mentor pode inclusive advogar em nome de seus

mentorados adolescentes

26

d) Exposiccedilatildeo e visibilidade positiva

Ocorre quando o mentor daacute ao mentorado condiccedilotildees de demonstrar seu potencial agraves

pessoas de mais alto niacutevel facilitando futuras promoccedilotildees O mentor expotildee

positivamente o mentorado

e) Patrociacutenio

O patrociacutenio acontece quando o mentor indica formal ou informalmente o mentorado

para promoccedilatildeo Ele viabiliza a ascensatildeo de seu mentorado atraveacutes desta indicaccedilatildeo ou

quando propicia os recursos necessaacuterios para o desenvolvimento profissional de seu

mentorado

Estas satildeo as atividades que o mentor desempenha no sentido de viabilizar o

desenvolvimento profissional do mentorado Seguem abaixo as funccedilotildees psicossociais atraveacutes

das quais o mentor desenvolve atividades que contribuem com o crescimento pessoal de seu

protegido

2112 Suporte psicossocial

As funccedilotildees de suporte psicossocial estatildeo mais associadas ao desenvolvimento pessoal

do mentorado do que propriamente ao seu desenvolvimento profissional O suporte

psicossocial afeta a relaccedilatildeo do mentorado consigo mesmo e com as pessoas com as quais se

relaciona O desenvolvimento desta funccedilatildeo iraacute depender da confianccedila existente na relaccedilatildeo De

acordo com Kram (1985) o apoio psicossocial diz respeito ao suporte psicoloacutegico e social que

o mentor daacute ao mentorado As atividades que compotildeem este suporte satildeo amizade aceitaccedilatildeo e

confirmaccedilatildeo aconselhamento e modelagem de papeis Tais atividades satildeo expostas a seguir

a) Amizade

Ocorre quando a relaccedilatildeo de mentoria daacute ao mentorado a sensaccedilatildeo de bem estar de

ligaccedilatildeo e de ser compreendido por seu mentor O coleguismo facilita ao mentorado

27

desenvolver relacionamento com pessoas de niacutevel mais elevado do que ele Esta

amizade contribui tambeacutem para o aumento da autoconfianccedila do mentorado

b) Aceitaccedilatildeo e confirmaccedilatildeo

A aceitaccedilatildeo por parte do mentor faz com que o mentorado se sinta seguro inclusive

para assumir riscos e aceitar desafios

Dados qualitativos de estudos feitos por Style e Morrow (1992) demonstraram que

relacionamentos voltados para juventude satildeo mais eficazes quando o adulto pode

compreender as dificuldades enfrentadas por seus mentorados bem como respeitar e

aceitar sua famiacutelia classe social e cultura

c) Aconselhamento

Ocorre quando o mentorado ao falar de suas duacutevidas medos e ansiedades tem no

mentor um conselheiro algueacutem que o escuta e lhe daacute feedback Ao desempenhar esta

funccedilatildeo o mentor pode se valer de suas proacuteprias experiecircncias e dilemas enfrentados no

iniacutecio de sua carreira

d) Modelagem de papeacuteis

A modelagem ocorre quando o mentorado vecirc em seu mentor sua proacutepria imagem

idealizada Neste caso os comportamentos os valores e as atitudes do mentor satildeo

exemplos a serem seguidos A partir desta identificaccedilatildeo o mentorado passa a admirar

respeitar e imitar seu mentor Scandura (1992) considera que o fato de o mentor ser

um modelo para o mentorado estaria em uma terceira funccedilatildeo da mentoria distinta de

suporte psicossocial No entanto para efeito deste trabalho tal fator seraacute considerado

como pertinente ao suporte psicossocial uma vez que se tomou por base o modelo

proposto por Kram (1985) O mentorado pode ver seu mentor como representante do

seu proacuteprio futuro (RAGINS 1997) No caso de jovens e adolescentes os adultos satildeo

vistos como ideais com quem aqueles aprenderatildeo determinados comportamentos de

28

quem iratildeo receber colaboraccedilotildees sobre carreiras potenciais e com quem iratildeo

desenvolver habilidades especiacuteficas (RHODES et al 2002) Com relaccedilatildeo agraves

implicaccedilotildees deste aprendizado Hartmam e Harris (1992) encontraram que estudantes

modelam seu estilo de gerenciamento baseados no estilo de lideranccedila da pessoa que

admiravam quando mais novos Por sua vez Zacharatos et al (2000) em um estudo

sobre lideranccedila transformacional observaram que o desenvolvimento dos

comportamentos de lideranccedila se daacute na adolescecircncia e que comportamentos aprendidos

nesta fase tendem a ser estaacuteveis Finalmente Krosnick e Alwin (1989) defendem que

assim como os comportamentos as atitudes adquiridas durante a adolescecircncia tendem

a permanecer na vida adulta

Especificamente em se tratando de mentoria voltada para jovens e adolescentes Klaw

et al (2003) observaram as implicaccedilotildees e possibilidades de mudanccedila de comportamento do

mentorado ao se ter no mentor um modelo

os mentores podem servir como exemplos concretos de realizaccedilatildeo educacional e ocupacional demonstrando as qualidades que os adolescentes podem desejar imitar O adolescente pode adotar comportamentos novos observando e comparando seu proacuteprio desempenho ao de seu mentor (p225)

Nesta seccedilatildeo foram apresentadas as funccedilotildees de mentoria ou seja suporte de carreira e

suporte psicossocial Na sequumlecircncia seratildeo abordadas as fases pelas quais o relacionamento se

desenvolve ateacute chegar agrave redefiniccedilatildeo

212 Fases da relaccedilatildeo mentoria

Dando continuidade agraves caracteriacutesticas da relaccedilatildeo de mentoria seratildeo abordadas as fases

pertinentes a esse relacionamento Vale salientar que a relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas e

adolescentes de risco podem ou natildeo apresentar estaacutegios semelhantes agrave mentoria desenvolvida

no acircmbito da organizaccedilatildeo (RHODES et al 2002)

29

Da perspectiva organizacional Kram (1983) sugere que a mentoria ocorre geralmente

em quatro fases distintas mas natildeo riacutegidas Satildeo elas

bull Iniciaccedilatildeo - esta fase ocorre no inicio da relaccedilatildeo na qual o mentor eacute admirado e

respeitado pelo mentorado O mentor reconhece o mentorado como algueacutem com

potencial e com quem iraacute desenvolver um trabalho agradaacutevel O mentorado

tambeacutem eacute visto pelo mentor como algueacutem que lhe proveraacute assistecircncia teacutecnica e que

seraacute beneficiado com seus conselhos uma vez que o mentor tem mais experiecircncia

de vida Estas fantasias iniciais seratildeo responsaacuteveis por orientar as expectativas

presentes na relaccedilatildeo de mentoria

bull Cultivo - nesta fase as expectativas surgidas no iniacutecio da relaccedilatildeo iratildeo defrontar-se

com a realidade do contato O mentor proveraacute o mentorado com as funccedilotildees de

carreira e psicossociais Kram (1983) salienta que o suporte de carreira vai

depender das tarefas e da experiecircncia do mentor No entanto o suporte

psicossocial estaacute mais fortemente relacionado agrave confianccedila e agrave mutualidade que

houver na relaccedilatildeo Eacute nesta fase de cultivo que as funccedilotildees da mentoria seratildeo

plenamente desenvolvidas

bull Separaccedilatildeo - ocorre quando a natureza do relacionamento eacute alterada por mudanccedilas

no contexto social ou organizacional Este periacuteodo eacute marcado por ansiedade em

que o mentorado sente necessidade de autonomia e independecircncia A separaccedilatildeo

ocorre estruturalmente e psicologicamente e a mentoria deixa de ocupar lugar de

destaque na vida de ambos mentor e mentorado

bull Redefiniccedilatildeo - a ansiedade da separaccedilatildeo eacute superada e o relacionamento eacute

resignificado ou termina Nesta fase a mentoria pode se tornar apenas um

relacionamento de amizade com encontros esporaacutedicos e informais e o mentor

30

pode ainda oferecer algum tipo de apoio mas de forma mais distante e sem a

frequumlecircncia de outrora

Abordadas algumas caracteriacutesticas da mentoria tais como suas funccedilotildees e fases

seguem-se os tipos de mentoria visando enriquecer a compreensatildeo de como se daacute esta

relaccedilatildeo

213 Tipos de mentoria

A relaccedilatildeo de mentoria conforme abordado anteriormente eacute algo que emerge

naturalmente entre uma pessoa mais experiente e um novato A mentoria pode ser

caracterizada como uma relaccedilatildeo intrinsecamente informal No entanto devido aos benefiacutecios

alcanccedilados por esta relaccedilatildeo intenta-se reproduzi-la formalmente em uma escala mais ampla e

com maior controle Neste caso tem-se a mentoria formal uma relaccedilatildeo mais estruturada e que

busca atingir os benefiacutecios para o mentor mentorado organizaccedilatildeo e sociedade resultantes da

mentoria informal ou natural Segue abaixo uma maior explicitaccedilatildeo do que vem a ser a

mentoria informal e a formal

2131 Mentoria informal

Eacute a que nasce espontaneamente por iniciativa dos indiviacuteduos de acordo com

necessidades e interesses pessoais O mentor escolhe seu mentorado agraves vezes por ver-se nele

quando jovem O mentorado por sua vez tambeacutem escolhe para seu mentor geralmente

algueacutem a quem tem por modelo A seleccedilatildeo do mentor eacute feita frequumlentemente com base na

identificaccedilatildeo do mentorado com seu possiacutevel mentor (RAGINS 1997) Tal identificaccedilatildeo faz

com que a mentoria informal seja considerada mais poderosa do que a formal (NOE 1998)

Na mentoria informal natildeo haacute uma estruturaccedilatildeo da relaccedilatildeo e a frequumlecircncia dos encontros parte

da necessidade Este tipo de mentoria pode se estender por longos periacuteodos

31

Decorrente do sucesso obtido atraveacutes da mentoria informal esforccedilos tecircm sido

desenvolvidos para reproduzi-la formalmente conforme seraacute abordado na proacutexima seccedilatildeo

2132 Mentoria formal

A mentoria formal natildeo eacute espontacircnea como a informal Antes ocorre por iniciativa

encaminhamento e estruturaccedilatildeo da organizaccedilatildeo Sua duraccedilatildeo geralmente varia de seis meses a

um ano e a frequumlecircncia dos encontros eacute preacute-estabelecida mediante contrato firmado entre as

partes (MURRAY 2001)

Na mentoria formal a motivaccedilatildeo para ser mentor pode estar associada ao fato de o

mentor ser visto como bom cidadatildeo organizacional e ao reconhecimento que pode lhe trazer o

fato de ser mentor

Tendo sido abordado o conceito de mentoria suas funccedilotildees as fases pelas quais passa a

relaccedilatildeo e os tipos de mentoria faz-se necessaacuterio analisar alguns fatores que contribuem para o

ecircxito desta relaccedilatildeo Tais fatores seratildeo abordados nas seguintes seccedilotildees

214 Fatores relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria formal

Os programas de mentoria voltados para jovens e adolescentes por se tratarem de

programas de mentoria formal necessitam seguir alguns criteacuterios na busca de se atingir os

objetivos e os benefiacutecios desejados Como jaacute referido os programas de mentoria formal

intentam reproduzir artificialmente as caracteriacutesticas essenciais dos relacionamentos naturais

de suporte Eacute importante ressaltar no entanto que programas mal orientados podem trazer

efeitos negativos na vida do mentorado (DUBOIS et al 2002) Ragins et al (2000) consideram

que em relaccedilatildeo ao niacutevel de satisfaccedilatildeo do mentorado o relacionamento de mentoria estaria em

um continuum no qual em um extremo ficaria o relacionamento altamente satisfatoacuterio e no

outro o relacionamento nocivo ou prejudicial O relacionamento localizado no meio do

32

continuum seria considerado pelas autoras como marginal mentoring ou seja um

relacionamento de mentoria no qual o mentor seria apenas ldquobom o suficienterdquo Os fatores

relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo devem ser observados na tentativa de evitar que o

relacionamento torne-se nocivo ou ateacute mesmo destrutivo Tais fatores visam fazer com que a

relaccedilatildeo seja satisfatoacuteria e beneacutefica

Na tentativa de potencializar os benefiacutecios da mentoria faz-se necessaacuterio considerar os

seguintes fatores seleccedilatildeo de mentores e mentorados treinamento supervisatildeo e

acompanhamento do programa frequumlecircncia dos encontros e a duraccedilatildeo da relaccedilatildeo Estes fatores

relacionados com o ecircxito da relaccedilatildeo seratildeo detalhados nas seccedilotildees seguintes

2141 Seleccedilatildeo de mentores e mentorados

Visando o sucesso do relacionamento de mentoria haacute algumas recomendaccedilotildees

relevantes sobre como combinar mentor e mentorado Fatores como dados demograacuteficos raccedila

e gecircnero devem ser considerados Em se tratando de mentoria com crianccedilas e adolescentes

faz-se necessaacuterio um cuidado ainda maior na seleccedilatildeo do mentor uma vez que

comportamentos e atitudes aprendidos na infacircncia e adolescecircncia tendem a perdurar por toda

a vida

O Big Brothers Big Sisters (programa norte-americano de mentoria voltado para

crianccedilas e adolescentes com risco para delinquumlecircncia) ao fazer o recrutamento dos voluntaacuterios

para agirem como mentores faz um levantamento da vida destes para saber suas intenccedilotildees e

sua vida pregressa Em um programa de mentoria voltado para crianccedilas delinquumlentes os

mentores natildeo poderiam ter qualquer tipo de envolvimento criminal (JACKSON 2002) A

investigaccedilatildeo da vida pregressa do mentor tem o objetivo de garantir a seguranccedila do

mentorado e verificar a possibilidade de comprometimento do mesmo para com o programa

Tal investigaccedilatildeo eacute importante inclusive para assegurar que o mentor poderaacute ser um modelo

33

positivo com condiccedilotildees de influenciar beneficamente o mentorado (GROSSMAN TIERNEY

1998) Os autores sugerem que se considere tambeacutem o interesse dos pais em que a crianccedila ou

adolescente tenha um mentor uma vez que o apoio da famiacutelia eacute um fator de sucesso para o

programa Depois de feita a seleccedilatildeo deve-se fazer um treinamento e acompanhar o

desenvolvimento do relacionamento Tais fatores seratildeo observados na proacutexima seccedilatildeo

2142 Treinamento supervisatildeo e acompanhamento do programa

de mentoria

Assim como a seleccedilatildeo a supervisatildeo deve ser cuidadosa Eacute necessaacuterio fazer um

monitoramento do programa e deve-se comunicar claramente e acordar as expectativas o

tempo do relacionamento a frequumlecircncia dos encontros e os objetivos O mentor deve contar

com apoio constante da organizaccedilatildeo durante todo o programa (DUBOIS et al 2002) O

mentor deve receber treinamento e orientaccedilatildeo e deve haver uma supervisatildeo incluindo

relatoacuterios sobre os encontros (GROSSMAN TIERNEY 1998)

No programa de mentoria voltado para crianccedilas delinquumlentes pesquisado por Jackson

(2002) a supervisatildeo foi feita em trecircs niacuteveis a primeira se deu em termos de conhecimentos

na qual um psicoacutelogo cliacutenico transmitia informaccedilotildees sobre psicopatologia causas e

caracteriacutesticas da crianccedila delinquumlente bem como teacutecnicas de intervenccedilatildeo No segundo niacutevel

foram feitos encontros com o psicoacutelogo para falar acerca das dificuldades encontradas e as

possibilidades de soluccedilatildeo O terceiro e uacuteltimo niacutevel foi o da supervisatildeo que ocorreu em

grupo no qual os diversos mentores discutiram suas experiecircncias Vale ressaltar que o

programa apresentou resultados positivos na vida dos que dele participaram

Fenney et al (2000 apud RHODES et al 2002) afirmam que adultos bem sucedidos

em trabalhar como mentores de jovens satildeo os que tecircm empatia por eles recordando-se de

como eram no passado A participaccedilatildeo dos pais durante o programa de mentoria seja para

34

apoiar seus filhos seja para receber sustentaccedilatildeo tem sido relacionada positivamente ao

sucesso do programa (FRECKNALL LUKS 1992) Outro fator que leva ao ecircxito da relaccedilatildeo

de mentoria eacute a frequumlecircncia com que ocorrem os encontros fato este abordado na proacutexima

seccedilatildeo

2143 Frequumlecircncia dos encontros

Alguns estudos tecircm sido feitos com ecircxito no sentido de relacionar a frequumlecircncia dos

encontros com o sucesso da relaccedilatildeo principalmente em se tratando de mentorados

adolescentes com risco para delinquumlecircncia (KEATING et al 2002) Na mesma linha Azevedo

e Dias (2002) sugerem que a influecircncia do mentor na carreira do mentorado pode ser

diminuiacuteda quando se dispotildee de pouco tempo para a relaccedilatildeo

Keating et al (2002) defendem que a frequumlecircncia de uma ou duas vezes por mecircs eacute

insuficiente para prover suporte para jovens com risco para delinquumlecircncia fazendo com que o

relacionamento natildeo tenha ecircxito As autoras afirmam que programas para jovens e

adolescentes com risco devem ter frequumlentes contatos face-a-face para serem realmente

efetivos O encontro semanal eacute sugerido Segue na proacutexima seccedilatildeo outro fator de ecircxito para a

relaccedilatildeo de mentoria a saber a duraccedilatildeo do relacionamento entre mentor e mentorado

2144 Duraccedilatildeo da relaccedilatildeo de mentoria

A maioria dos benefiacutecios da relaccedilatildeo emerge de um relacionamento de mentoria que

perdure por um ano ou mais Ou seja os benefiacutecios estatildeo associados ao amadurecimento da

relaccedilatildeo (GROSSMAN RHODES 2002) Os autores consideram que relacionamentos curtos

estatildeo associados com efeitos negativos para a juventude de risco

Adolescentes cujo relacionamento de mentoria se estende por um ano ou mais

apresentam melhores resultados educacionais psicossociais e comportamentais Estes

35

resultados satildeo positivamente relacionados com o tempo da relaccedilatildeo Em outras palavras na

medida em que se reduz o tempo de mentoria diminui tambeacutem a apresentaccedilatildeo de resultados

positivos atribuiacutedos agrave relaccedilatildeo (GROSSMAN RHODES 2002)

Frecnall e Luks (1992) encontraram em suas pesquisas que o tempo de duraccedilatildeo da

relaccedilatildeo de mentoria tem sido um fator determinante de ecircxito 70 de resultado positivo com

crianccedilas de um a dois anos de programa e 90 com crianccedilas com dois a trecircs anos de

participaccedilatildeo em um programa de mentoria

O exposto revela a teoria vigente acerca da relaccedilatildeo de mentoria das funccedilotildees

desempenhadas na relaccedilatildeo das fases pelas quais ela passa dos tipos de mentoria

identificados bem como de alguns fatores que se observados contribuem para o sucesso da

relaccedilatildeo Faz-se entatildeo pertinente a seguinte questatildeo norteadora em uma comunidade carente

brasileira ateacute que ponto a mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes apresenta as

caracteriacutesticas definidas pela teoria

Mencionadas as caracteriacutesticas da relaccedilatildeo de mentoria abordar-se-aacute a seguir os

benefiacutecios desta relaccedilatildeo para o mentorado e para o mentor bem como seratildeo considerados

tambeacutem os benefiacutecios sociais desta relaccedilatildeo

22 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria

Satildeo muitos os benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria Zey (1998) revela que a relaccedilatildeo de

mentoria na organizaccedilatildeo pode ser extremamente beneacutefica para o mentorado para o mentor e

para a proacutepria empresa Os benefiacutecios da mentoria foram amplamente estudados no que

concerne agrave mentoria voltada para a organizaccedilatildeo No entanto pretende-se aqui estabelecer um

paralelo entre os benefiacutecios da mentoria organizacional e os da mentoria voltada para jovens e

adolescentes de risco Tais benefiacutecios foram verificados atraveacutes de pesquisas mas ainda natildeo

se apresentam sistematizados Como beneficiaacuterios diretos da relaccedilatildeo de mentoria pode-se citar

36

o mentor o mentorado e a organizaccedilatildeo Entretanto o alcance de um programa bem

estruturado pode se estender para a famiacutelia e para a sociedade

Nas seccedilotildees seguintes seratildeo apresentados os benefiacutecios da mentoria para o mentorado

para o mentor e posteriormente seratildeo abordados os benefiacutecios sociais desta relaccedilatildeo

221 Benefiacutecios da mentoria para o mentorado

O mentorado pode ser muito beneficiado atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria O mentor ao

fornecer suporte psicossocial e de carreira auxilia o mentorado em seu crescimento pessoal o

que inclui o desenvolvimento emocional o social e o de carreira Tal suporte facilita transiccedilatildeo

do adolescente para a fase adulta (RHODES et al 2002)

A literatura apresenta os seguintes benefiacutecios para o mentorado

a) Aumento da auto-estima

Grossman e Tierney (1998) verificaram que os jovens com risco para delinquumlecircncia que

foram acompanhados por mentores sentiram-se mais confiantes em suas habilidades para com

as tarefas escolares do que os jovens natildeo mentorados Harter (1982) demonstrou que se sentir

competente leva os jovens a demonstrarem melhor desempenho

O aumento da auto-estima foi verificado em adolescentes e jovens ao se relacionarem

com um mentor (FRECKNALL LUKS 1992) Alguns programas de mentoria tecircm

favorecido o aumento da auto-estima tambeacutem em crianccedilas com comportamentos

autodestrutivos (JACKSON 2002)

b) Maior interaccedilatildeo social e com a famiacutelia

Outro benefiacutecio para o mentorado decorrente do suporte que recebe na relaccedilatildeo de

mentoria eacute a atratividade social Pessoas com alto grau de suporte social satildeo vistas como mais

atrativas tecircm maior conhecimento relativo a relacionamentos sociais e satildeo menos

manipulaacuteveis do que as com baixo suporte social (SARASON et al 1985) Frecknall e Luks

37

(1992) verificaram que adolescentes assistidos por um mentor apresentaram maior

envolvimento com a famiacutelia e amigos do que os natildeo mentorados

O fato de o mentor ser um modelo de sucesso estimula ainda a melhora da

autopercepccedilatildeo bem como de atitudes e comportamentos do adolescente mentorado Haacute

evidecircncias de que a influecircncia positiva do mentor pode se estender aos relacionamentos mais

proacuteximos do adolescente operando mudanccedilas inclusive na vida daqueles que com ele

convivem (WALKER FREEMAN 1996)

c) Maior progresso da carreira e aumento da responsabilidade

Mentorados recebem mais promoccedilotildees tecircm melhor desempenho e mais satisfaccedilatildeo no

trabalho do que os natildeo mentorados (CHAO et al 1992) Os mentorados satildeo beneficiados

pois recebem melhores pagamentos dos que os que natildeo dispotildeem de um mentor (MULLEN

1998) Mentorados tecircm na mentoria uma contribuiccedilatildeo potencial para o desenvolvimento

pessoal e profissional sendo tambeacutem um meio para adentrar o mundo dos negoacutecios (KRAM

1983)

Para o mentorado jovem e adolescente o mentor fornece instruccedilatildeo e incentivo

facilitando a transiccedilatildeo da adolescecircncia para o mundo adulto (RHODES et al 2002) Os

presidentes de empresas mais bem sucedidos afirmaram que para tal tiveram a influecircncia de

mentores em sua vida profissional (FAGENSON 1989) Liacutederes mais competentes e

solucionadores de problemas satildeo pessoas consideradas com alto suporte social (SARASON et

al 1986)

O mentorado apresenta maior crescimento profissional e melhor desenvolvimento da

carreira (ZEY 1998) Mentorados tecircm maior satisfaccedilatildeo com a carreira do que os que natildeo

possuem mentor (FAGENSON 1989) Pessoas com alto suporte psicossocial satildeo mais

extrovertidas e apresentam menos comportamentos neuroacuteticos hostilidade solidatildeo e

depressatildeo (COYNE 1978 apud SARASON et al 1986)

38

Outro beneficio para o mentorado diz respeito agrave definiccedilatildeo da identidade profissional e

senso de competecircncia (KRAM ISABELLA 1985) Especificamente com relaccedilatildeo a mentoria

voltada para adolescentes estes apresentaram melhor rendimento escolar e aumento da

responsabilidade (FRECKNALL LUKS 1992)

Grossman e Tierney (1998) ao avaliarem o impacto do Programa Big Brother Big

Sister natildeo haviam sido otimistas em acreditar que o programa aumentasse o rendimento

escolar dos alunos participantes pois conforme verificado em pesquisas anteriores o

aproveitamento escolar e a obtenccedilatildeo de graus dependem de um acompanhamento estaacutevel e

geralmente natildeo satildeo afetadas por uma relaccedilatildeo de mentoria que natildeo tenha foco educacional

Entretanto apesar de o programa Big Brother Big Sister natildeo fornecer diretamente apoio

escolar o rendimento escolar dos mentorados mostrou-se superior As ausecircncias ou faltas agrave

escola foram reduzidas Os autores consideraram que tal fato foi consequumlecircncia de os

mentores (todos acadecircmicos) serem tidos como exemplos valorizarem os estudos e

transmitirem uma visatildeo otimista de futuro para seus mentorados

d) Melhor enfrentamento das adversidades visatildeo otimista da vida e perspectivas

positivas de futuro

Jovens com alto suporte social satildeo mais otimistas quanto ao futuro uma vez que

mentores os auxiliam em relaccedilatildeo agraves suas perspectivas (HARRIS et al 2002 KASHANI et al

1989) Indiviacuteduos com alto suporte social aleacutem de mais atrativos e mais haacutebeis socialmente

satildeo mais otimistas quanto aos eventos da vida do que os que manifestam ter baixo suporte

social (SARASON et al 1985)

Pessoas com baixo suporte social satildeo mais retraiacutedas desatentas tecircm menos esperanccedila

quanto ao futuro e satildeo mais prejudiciais aos outros do que as que tecircm alto niacutevel de suporte

social (KASHANI et al 1989) O sucesso dos adolescentes que superaram momentos de

39

adversidades inclui frequumlentemente a presenccedila de pelo menos um mentor que lhe proveu tal

suporte (RHODES et al 2002)

Benefiacutecios tambeacutem satildeo apresentados em se tratando de jovens com risco para

delinquumlecircncia Nestes o desenvolvimento pessoal pode ser percebido frequumlentemente quando o

mentor eacute um modelo positivo para o mentorado Este fato auxilia na reduccedilatildeo do estresse

diaacuterio e provecirc condiccedilotildees de o mentorado rever sua percepccedilatildeo acerca de seus relacionamentos

mudando de uma visatildeo negativa destes para uma positiva (MAIN et al 1985 apud

GROSSMAN RHODES 2002)

Eacute particularmente importante a influecircncia positiva que o mentor oferece ao mentorado

na reduccedilatildeo do estresse diaacuterio Sendo um modelo de resoluccedilatildeo de conflitos o mentor auxilia

indiretamente na diminuiccedilatildeo do estresse familiar melhorando ateacute mesmo a interaccedilatildeo do

mentorado com seus proacuteximos Segundo os autores o relacionamento de mentoria pode ter

ainda um efeito corretivo para adolescentes que tiveram experiecircncias negativas no

relacionamento com os pais

Conforme visto pesquisas anteriores demonstraram que o mentorado pode ser muito

beneficiado atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria Cabe aqui portanto a segunda questatildeo norteadora

deste trabalho em um contexto brasileiro ateacute que ponto os mentorados carentes estudados

tecircm desfrutado dos benefiacutecios da mentoria apontados pela literatura

Considerados os benefiacutecios da mentoria para o mentorado cabe expor a forma pela

qual a mentoria beneficia o mentor fato abordado na seccedilatildeo seguinte

222 Benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentor

A mentoria pode proporcionar ao mentor diversos benefiacutecios Os mentores podem ter

no mentorado uma versatildeo de si proacuteprios quando mais jovens como se o mentorado fosse

representante de seu passado (RAGINS 1997) De acordo com a literatura os mentores

40

podem ser beneficiados com esta relaccedilatildeo atraveacutes da realizaccedilatildeo pessoal da motivaccedilatildeo e do

reconhecimento Segue-se a explanaccedilatildeo de tais fatores

a) Realizaccedilatildeo pessoal

O fato de ser mentor daacute ao indiviacuteduo um senso de generosidade ao contribuir com as

geraccedilotildees futuras Satisfaccedilatildeo interna e reconhecimento organizacional lealdade do mentorado

apreciaccedilatildeo do grupo renovaccedilatildeo da carreira e melhor performance no trabalho satildeo benefiacutecios

da mentoria para o mentor Mentores podem obter mais conhecimento empatia e capacidade

de se relacionar com outros grupos do que aqueles que natildeo satildeo mentores (RAGINS 1997)

Em se tratando de mentores de jovens e adolescentes com risco para delinquumlecircncia

Shields (2001) verificou que a mentoria propiciou ao mentor um sentimento de recompensa

ao observar as mudanccedilas positivas ocorridas no comportamento de seus mentorados Jackson

(2002) observou em seu estudo que mentores de adolescentes delinquumlentes relataram como

sendo gratificante o fato de terem atraveacutes da mentoria uma oportunidade de ajudar estas

pessoas

b) Motivaccedilatildeo

O mentor pode redirecionar sua energia para a criatividade e a accedilatildeo produtiva num

periacuteodo que dependendo do indiviacuteduo pode ser entendido como de estagnaccedilatildeo Neste caso a

mentoria pode significar estiacutemulo e desafio (ZEY 1998)

c) Reconhecimento

Mentores podem ter a confianccedila e serem amados por seus mentorados (KLAW et al

2003) Ganham suporte teacutecnico e psicoloacutegico e satisfaccedilatildeo interna ao fazer com que um novato

seja capaz de ldquonavegarrdquo no mundo dos negoacutecios Os mentores ganham respeito de seus

colegas ao desenvolver um jovem talento para organizaccedilatildeo (KRAM ISABELLA 1985)

41

Assim a terceira questatildeo norteadora deste trabalho eacute ateacute que ponto um projeto de

mentoria voltado para crianccedilas e adolescentes carentes no Recife oferece os benefiacutecios de

realizaccedilatildeo pessoal motivaccedilatildeo e reconhecimento para os mentores

Considerados os benefiacutecios da mentoria para o mentorado e para o mentor seratildeo

abordados na proacutexima seccedilatildeo os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes desta relaccedilatildeo

223 Benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria

Em se tratando de mentoria voltada para crianccedilas jovens e adolescentes com risco

para delinquumlecircncia aleacutem dos benefiacutecios na vida dos que participam diretamente da relaccedilatildeo a

sociedade tambeacutem pode ser positivamente afetada

Frecknall e Luks (1992) investigaram a avaliaccedilatildeo dos pais acerca do aproveitamento

de seus filhos inseridos em um programa de mentoria voltado para jovens com risco para

delinquumlecircncia Com relaccedilatildeo agrave percepccedilatildeo de 63 dos pais os filhos apresentaram uma grande

melhora em toacutepicos como rendimento escolar comportamento com a famiacutelia

comportamento com os amigos aumento da auto-estima aumento da responsabilidade e

diminuiccedilatildeo de envolvimento em situaccedilotildees problema Paralelamente ao beneficio alcanccedilado

por um adolescente e por sua famiacutelia haacute uma contribuiccedilatildeo indireta para a sociedade na

medida em que diminuem os iacutendices de delinquumlecircncia e de evasatildeo escolar Indiretamente haacute

tambeacutem a reduccedilatildeo da possibilidade de assistencialismo o aumento do iacutendice de alfabetizaccedilatildeo

e o crescimento do IDH (Iacutendice de Desenvolvimento Humano) Com frequumlecircncia aumenta

ainda a mobilidade social e a possibilidade de contribuiccedilatildeo social direta destas crianccedilas

adolescentes e jovens

A teoria aponta a reduccedilatildeo da dependecircncia de poliacuteticas assistencialistas e a diminuiccedilatildeo

da delinquumlecircncia como benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria fatores que seratildeo abordados a

seguir

42

a) Reduccedilatildeo futura da dependecircncia de poliacuteticas assistencialistas

Patterson et al (1989) esclarecem que a expressatildeo ldquosituaccedilatildeo de riscordquo eacute usada

geralmente para descrever

jovens que demonstram problemas comportamentais e emocionais que tecircm dificuldade em desenvolver-se com sucesso Quando adultos estes apresentam alta incidecircncia em desemprego crocircnico divoacutercio problemas fiacutesicos e psiquiaacutetricos envolvimento com drogas tornam-se dependentes de assistecircncia social podendo ainda envolver-se em atividades criminosas (p329) Grifo da pesquisadora

Adolescentes com altas expectativas educacionais de futuro (muitas vezes providas

por um mentor) desenvolvem bons haacutebitos de estudo pensam em fazer curso universitaacuterio e

buscam se envolver em atividades intelectuais extracurriculares Em contrapartida os que

deteacutem baixa expectativa apresentam maior probabilidade de desenvolver comportamentos de

risco (HARRIS et al 2002) Jovens em situaccedilatildeo de risco entre outros fatores satildeo propensos a

depender no futuro de poliacuteticas assistencialistas

b) Diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia

Jovens e adolescentes em situaccedilatildeo de risco satildeo candidatos potenciais a programas de

mentoria Estes podem ser usados como prevenccedilatildeo contra a delinquumlecircncia particularmente na

ausecircncia de adultos que representem figuras positivas ou modelos O mentor pode claramente

desempenhar este papel (RHODES et al 1994)

O risco para delinquumlecircncia natildeo eacute uma questatildeo que dependa apenas de um fator Antes eacute

um conjunto de variaacuteveis que levam o adolescente a apresentar comportamentos delinquumlentes

Ellickson e Mcguigan (2000) ao investigarem os riscos para violecircncia em adolescentes

verificaram que no caso das meninas adolescentes fatores de risco incluem a baixa auto-

estima poucos anos de estudo e baixo niacutevel soacutecio-econocircmico Estes fatores podem ser

revertidos atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria Dornbusch et al (1985) verificaram que

adolescentes que convivem com apenas um dos pais apresentam maior probabilidade de se

43

envolver em comportamentos delinquumlentes e violentos do que os que vivem com ambos os

pais Uma afirmaccedilatildeo destoante eacute a de Larson et al (2001) Eles defendem que crianccedilas e

adolescentes que convivem com apenas um dos pais podem se adaptar bem a esta situaccedilatildeo

natildeo sendo o fato de conviver com apenas um dos pais determinante da delinquumlecircncia Natildeo

obstante essa natildeo eacute a tendecircncia das evidecircncias disponiacuteveis

Caffray e Schneider (2000) por exemplo ao pesquisarem sobre as motivaccedilotildees que

levam o adolescente aos comportamentos de risco citam como influecircncias importantes

sentimentos negativos sobre o relacionamento com os pais pouca comunicaccedilatildeo em casa

baixa coesatildeo familiar reduzido desempenho escolar e baixo suporte social Fatores familiares

estressantes como desemprego violecircncia domeacutestica discoacuterdia entre os pais e divoacutercio estatildeo

positivamente associados com a delinquumlecircncia (FARRINGTON 1987 apud PATTERSON et

al 1989) bem como poucos anos de estudo (DIAS 2003)

De modo geral a literatura sugere que em ambientes de risco jovens que dispotildeem de

suporte atraveacutes de relacionamentos com adultos podem diminuir os efeitos negativos das

adversidades sobre seu desenvolvimento (RHODES et al 1994) A tiacutetulo de exemplo

Jackson (2002) verificou que crianccedilas delinquumlentes ao serem assistidas por um mentor

diminuiacuteram a frequumlecircncia de comportamentos agressivos e de problemas de conduta

DuBois et al (2002) fizeram uma meta-anaacutelise acerca de 55 avaliaccedilotildees dos efeitos de

programas de mentoria voltados para juventude norte-americana Ficou aiacute evidenciado que os

participantes se beneficiam muito com a participaccedilatildeo em tais programas Os programas

diferem em seu conteuacutedo mas a maioria tem como foco a juventude de risco Haacute tambeacutem

programas destinados a filhos que vivem com apenas um dos pais e a minorias eacutetnicas

Quanto aos objetivos os programas avaliados buscavam o desenvolvimento na aacuterea

emocional comportamental educacional e em alguns casos o desenvolvimento profissional

dos mentorados

44

Um exemplo deste tipo de programa pode ser visto em Nova Iorque nos EUA e em

parte do Canadaacute Trata-se de um programa criado em 1904 o Big Brothers Big Sisters of

Ameacuterica (BBBS) que provecirc relacionamento de mentoria para crianccedilas de risco que vivem

com apenas um dos pais O programa eacute voltado para populaccedilatildeo menos favorecida que

apresenta problemas como delinquumlecircncia baixo aproveitamento escolar e baixa auto-estima

(FRECNALL LUKS 1992)

O BBBS emparelha adultos voluntaacuterios (Big Brothers Big Sisters) com crianccedilas e

adolescentes de 6 a 18 anos (Litle Brothers Litle Sisters) Os mentores modelos positivos

devem prover amizade aconselhamento e servir de guia para os mentorados Os encontros satildeo

feitos de duas a quatro vezes por mecircs Cada encontro dura em meacutedia de trecircs a quatro horas

Grossman e Tierney (1998) ao avaliarem o impacto do Big Brothers Big Sisters

levantaram soacutelidas evidecircncias de que a mentoria neste programa teve efeitos positivos e

socialmente importantes na vida dos jovens participantes Os autores compararam dois

grupos homogecircneos um de jovens participantes do programa e um outro de natildeo-participantes

Pocircde-se concluir que com relaccedilatildeo aos comportamentos anti-sociais nos jovens que tinham

mentor a frequumlecircncia de comportamentos agressivos para com outros jovens apresentou

frequumlecircncia 32 menor do que no grupo que natildeo foi assistido pelo programa A probabilidade

de iniciar o uso de drogas foi reduzida em 70 para os jovens que participaram do programa

em relaccedilatildeo aos natildeo participantes

Jackson (2002) tambeacutem realizou um estudo sobre mentoria voltada para adolescentes

delinquumlentes que teve oito meses de duraccedilatildeo Os adolescentes corriam risco de suspensatildeo ou

expulsatildeo da escola em que estudavam devido agrave infraccedilatildeo das normas Dos alunos mentorados

menos de 1 continuou a apresentar problemas de comportamento que comprometiam sua

permanecircncia na escola Os demais no entanto nos uacuteltimos trecircs meses de programa

apresentaram uma reduccedilatildeo meacutedia de 80 nos comportamentos infratores

45

Considerando todo o exposto pode-se afirmar que a mentoria tem se mostrado um

valioso recurso no auxiacutelio educacional de jovens e adolescentes Claramente as experiecircncias

de programas de mentoria com jovens de risco tecircm apresentado resultados positivos A

literatura apresentou alguns benefiacutecios sociais desta relaccedilatildeo em diversos contextos sendo

pertinente a verificaccedilatildeo da influecircncia desta relaccedilatildeo num contexto brasileiro Destaca-se entatildeo

a quarta questatildeo norteadora desta pesquisa quais os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da

relaccedilatildeo de mentoria na vida de crianccedilas e adolescentes de uma comunidade carente do Recife

Foi abordada neste capiacutetulo a literatura acerca da mentoria o conceito o suporte de

carreira e psicossocial oferecido pelo mentor as fases da relaccedilatildeo os fatores responsaacuteveis pelo

ecircxito da mentoria e os benefiacutecios da relaccedilatildeo Segue no capiacutetulo trecircs a metodologia deste

estudo que iraacute expor a forma como foi realizada a pesquisa

46

3 Metodologia

31 Delineamento da pesquisa

A presente pesquisa eacute um estudo de caso definido por Gil (1996) como ldquoestudo

profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos que permite seu amplo e detalhado

conhecimentordquo (p58) O estudo de caso segundo Laville e Dione (1999) pode ser feito com

uma pessoa um grupo uma comunidade um meio uma mudanccedila poliacutetica ou um conflito

A escolha deste tipo de delineamento de pesquisa deu-se devido agrave possibilidade de

avaliar as diversas dimensotildees do problema analisando-o como um todo Em se tratando de

estudo de caso a metodologia requer flexibilidade e portanto natildeo se tem uma estrutura riacutegida

quanto aos passos a seguir Laville e Dione (1999) afirmam que

o pesquisador pode pois mostrar-se mais criativo mais imaginativo tem mais tempo de adaptar seus instrumentos modificar sua abordagem para explorar elementos imprevistos precisar alguns detalhes e construir uma compreensatildeo do caso que leve em conta tudo isso pois ele natildeo mais estaacute atrelado a um protocolo de pesquisa que deveria permanecer o mais imutaacutevel possiacutevel (p156)

Utilizando o modelo proposto por Gil (1996) foram consideradas trecircs fases distintas

no delineamento do estudo delimitaccedilatildeo da unidade-caso coleta de dados anaacutelise e

interpretaccedilatildeo dos dados O estudo de caso se caracteriza como exploratoacuterio-descritivo O

objetivo do estudo exploratoacuterio segundo Selltiz et al (1974) eacute tornar o fenocircmeno conhecido

ou obter uma nova compreensatildeo deste Embora a relaccedilatildeo de mentoria seja um fenocircmeno

conhecido e estudado em outros paises no Brasil pouco se sabe como se daacute efetivamente esta

relaccedilatildeo Em se tratando de mentoria com crianccedilas e adolescentes brasileiros o conhecimento

47

eacute ainda mais escasso Por este motivo o presente estudo eacute exploratoacuterio buscou conhecer

como ocorre a relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas e adolescentes num contexto brasileiro mais

especificamente nordestino Ainda como objetivo de um estudo exploratoacuterio pode-se chegar a

novos conhecimentos sobre o objeto de estudo e a partir dele novos questionamentos e

hipoacuteteses podem emergir tal como abordado por Selltiz et al (1974) O estudo foi descritivo

pois se propocircs a descrever qualitativamente o fenocircmeno estudado (LAKATOS MARCONI

1995) A descriccedilatildeo do programa de reforccedilo foi feita com base na anaacutelise documental nas

notas de campo e nas entrevistas

A coleta de dados foi realizada sob o arcabouccedilo da metodologia qualitativa Tal coleta

deu-se em duas fases que seratildeo expostas nas seccedilotildees seguintes

32 Primeira fase da coleta de dados

A primeira fase da coleta de dados foi realizada na comunidade atraveacutes de um

primeiro contato com algumas matildees de alunos participantes do projeto Esta fase relacionou-

se com uma sondagem do campo para verificar a possibilidade da efetivaccedilatildeo ou natildeo da

pesquisa

321 Objetivo

Como uma primeira fase de coleta foi feita uma sondagem do programa com o intuito

de perceber se havia relaccedilatildeo de mentoria no projeto e caso houvesse quais as funccedilotildees

existentes nesta relaccedilatildeo

48

322 Instrumentos de coleta de dados

Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram a entrevista semi-estruturada

a observaccedilatildeo e as notas de campo conforme se segue

bull Entrevistas semi-estruturadas

A entrevista ldquo natildeo significa uma conversa despretensiosa e neutra uma vez que se

insere como meio de coleta de fatos relatados pelos autores enquanto sujeito-objeto da

pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que estaacute sendo focalizadardquo (NETO 1997

p57) Segundo Laville e Dione (1999) a entrevista semi-estruturada eacute ldquouma seacuterie de

perguntas abertas feitas verbalmente em uma ordem prevista mas na qual o entrevistador

pode acrescentar perguntas de esclarecimentordquo (p188)

Atraveacutes da situaccedilatildeo de interaccedilatildeo que eacute a entrevista buscou-se chegar ao conhecimento

proacuteprio dos sujeitos pesquisados As entrevistas foram semi-estruturadas com perguntas

abertas Minayo (1998) afirma que neste tipo de entrevista ldquoo entrevistado tem a possibilidade

de discorrer o tema proposto sem respostas ou condiccedilotildees preacute-fixadas pelo pesquisadorrdquo

(p108) A teacutecnica de entrevista foi complementada com a praacutetica da observaccedilatildeo fornecendo

assim uma visatildeo mais ampla do objeto em estudo conforme sugere Minayo (1998)

A entrevista conteve os seguintes temas

a) Significado de sucesso escolar

b) Fatores responsaacuteveis pelo ecircxito nos estudos

c) Significado do projeto Educaccedilatildeo eacute Vida na vida da famiacutelia

A entrevista foi realizada com cinco matildees que tinham filhos participando do projeto

A escolha das matildees foi feita por acessibilidade na qual o pesquisador seleciona os

casos a que tem acesso admitindo que estes representam o universo Este tipo de amostragem

49

pode ser aplicado em estudos exploratoacuterios e qualitativos conforme sugere Gil (1999) Foi

levantada a quantidade de pais responsaacuteveis pelas crianccedilas e adolescentes do programa que

natildeo trabalhassem fora de casa ou que o fizessem proacuteximo agrave comunidade e que pudessem

responder agrave entrevista O coordenador do projeto indicou 14 matildees que atendiam a este

requisito De posse dos nomes foi realizado um sorteio e das sorteadas duas natildeo estavam

disponiacuteveis A entrevista foi realizada com cinco matildees Colheram-se alguns dados

demograacuteficos acerca da matildee (ocupaccedilatildeo grau de instruccedilatildeo e situaccedilatildeo conjugal) e da crianccedila

participante do projeto (sexo idade seacuterie e tempo de projeto)

bull Observaccedilatildeo participante ndash feita na comunidade e no programa

Schwartz e Schwartz (1955) definem observaccedilatildeo participante como

um processo pelo qual manteacutem-se a presenccedila do observador numa situaccedilatildeo social com a finalidade de realizar uma investigaccedilatildeo cientiacutefica O observador estaacute em relaccedilatildeo face a face com os observados e ao participar da vida deles no seu cenaacuterio cultural colhe dados Assim o observador eacute parte do contexto sob observaccedilatildeo ao mesmo tempo modificando e sendo modificado por este contexto (p355 apud MINAYO 1998)

Em se tratando de suporte social para crianccedilas Frey e Rothlisberger (1996) sugerem a

observaccedilatildeo direta dos comportamentos o que neste caso pressupotildee a necessidade de

inserccedilatildeo do pesquisador na comunidade e no programa

No caso desta pesquisa a pesquisadora foi tida como observadora A observaccedilatildeo foi

feita atraveacutes durante algumas visitas da pesquisadora agrave comunidade e ao projeto

Nestas pode-se observar as crianccedilas assistidas pelo projeto bem como suas famiacutelias

uma vez que as entrevistas foram realizadas nas casas dos alunos pesquisados

bull Notas de campo

Referem-se agraves observaccedilotildees feitas no campo contendo a descriccedilatildeo das pessoas objetos

lugares fatos atividades e conversas Incluem a anotaccedilatildeo dos sentimentos

50

impressotildees ideacuteias e estrateacutegias que ocorreram agrave pesquisadora durante a observaccedilatildeo

Segundo Bogdan e Biklen (1994) as notas de campo satildeo ldquoo relato escrito daquilo que

o investigador ouve vecirc experencia e pensa no decurso da coleta e refletindo sobre os

dados de um estudo qualitativordquo (p150) Sendo assim as notas de campo tecircm

conteuacutedo tanto descritivo quanto reflexivo

A partir das entrevistas da observaccedilatildeo e das notas de campo pocircde-se verificar que

havia relaccedilatildeo de mentoria no projeto e percebeu-se a existecircncia das funccedilotildees da mentoria tanto

de suporte psicossocial como de carreira Tal fato incentivou a continuidade do estudo uma

vez que a relaccedilatildeo de mentoria se mostrou presente A partir daiacute fez-se necessaacuterio uma segunda

fase de coleta de dados que seraacute exposta a seguir

33 Segunda fase de coleta de dados

331 Objetivos

Tendo sido confirmada a existecircncia da relaccedilatildeo de mentoria no projeto de reforccedilo

buscou-se colher dados capazes de responder agrave seguinte pergunta de pesquisa como se daacute a

mentoria voltada para a educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes em uma comunidade carente do

Recife

332 Instrumentos de coleta de dados

Buscando investigar as especificidades (funccedilotildees fases e fatores de ecircxito) da relaccedilatildeo

de mentoria existentes no projeto e para se conhecer os benefiacutecios desta relaccedilatildeo na vida do

mentor do mentorado e da comunidade foram utilizados os seguintes instrumentos de coleta

51

de dados entrevista documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo observaccedilatildeo participante e notas de campo

Tais instrumentos satildeo considerados a seguir

bull Entrevista semi-estruturada - abordada na primeira fase de coleta de dados

Inicialmente a entrevista foi realizada com o coordenador do projeto buscando

conhecer a histoacuteria deste projeto e sua relaccedilatildeo com ele Posteriormente foram

entrevistadas nove matildees e uma avoacute que satildeo as pessoas responsaacuteveis pelos alunos

selecionados e foi entrevistado tambeacutem um aluno O objetivo destas entrevistas foi

compreender qual a percepccedilatildeo da famiacutelia acerca do projeto e de seus resultados na

vida da crianccedila ou adolescente que dele participa

Foram realizadas entrevistas com os demais colaboradores uma professora

(participante do projeto e de uma escola que fornece bolsa para a comunidade) a

psicoacuteloga e uma dentista visando conhecer a participaccedilatildeo destes no projeto e sua

percepccedilatildeo acerca do mesmo

Finalmente foi realizada entrevista com a coordenadora de uma das escolas que

fornece bolsa para as crianccedilasadolescentes do projeto buscando conhecer sua

percepccedilatildeo acerca do reforccedilo e de seus resultados na vida do aluno participante

bull Observaccedilatildeo participante (abordada na primeira fase)

bull Notas de campo (abordadas anteriormente)

bull Documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo ndash a situaccedilatildeo formal em que ela se encontra contribuindo

para o conhecimento da sua histoacuteria Foram analisados o estatuto e o projeto

pedagoacutegico da instituiccedilatildeo

Abordados os instrumentos de coleta de dados segue a explanaccedilatildeo a respeito dos

sujeitos da pesquisa

52

34 Sujeitos da pesquisa

O programa atende cerca de 80 crianccedilas e adolescentes das quais foram estudadas 13

Inicialmente pretendia-se pesquisar 10 sendo 5 consideradas pelo projeto como bem

sucedidas e 5 consideradas como de natildeo ecircxito Ampliou-se o nuacutemero de casos uma vez que

uma das matildees entrevistadas tem um filho que eacute considerado pelo projeto (e por ela) como de

natildeo-ecircxito e outro que apresenta ecircxito Inicialmente seria levado em consideraccedilatildeo somente o

caso de natildeo-ecircxito mas foram analisados ambos os casos ao inveacutes de apenas o de natildeo ecircxito

buscando compreender o por quecirc de em um uacutenico ambiente atraveacutes de um mesmo projeto

crianccedilas demonstrarem resultados tatildeo diferentes A entrevista natildeo seria dirigida aos alunos

visto se tratar de crianccedilas o que exige preparo do pesquisador com este tipo de sujeito No

entanto no momento da entrevista com um dos responsaacuteveis o aluno estava presente e

contribuiu com a ela Os dados coletados foram aceitos visto se tratar de um adolescente de

17 anos o mais velho dos alunos pesquisados Uma das matildees entrevistadas tem dois filhos no

projeto e suas respostas incluiacuteam frequumlentemente os dois motivo pelo qual ambos foram

considerados ao inveacutes de apenas um O quadro abaixo revela alguns dados dos sujeitos

Nome idade seacuterie tempo de

projeto escola

Afracircnio 9 anos 4a 3 anos Particular Daniel 8 anos 1a 3 anos Particular Almir 9 anos 2a 3 anos Particular Silvia 10 anos 4a 3 anos Particular Nuacutebia 12 anos 5a 3 anos Particular Frederico 12 anos 6a 4 anos Particular Jairo 14 anos 6a 4 anos Particular Walter 17 anos 2ordmano 7 anos Puacuteblica Tito 8 anos 2a 3 anos Particular Helena 10 anos 4a 4 anos Particular Tacircnia 10 anos 4a 7 anos Puacuteblica Nestor 14 anos 1ordmano 4 anos Puacuteblica Faacutebio 12anos 6a 3 anos Puacuteblica

53

Segundo Selltiz et al (1974) no estudo exploratoacuterio natildeo se tem um nuacutemero exato de

respondentes que deveratildeo ser entrevistados Antes o pesquisador no decorrer das entrevistas

verificaraacute que em um determinado ponto as respostas comeccedilam a formar um padratildeo tornam-

se repetitivas A partir daiacute aumentar o nuacutemero de informantes eacute pouco compensador Seguem

na proacutexima seccedilatildeo os criteacuterios utilizados para selecionar os sujeitos

341 Criteacuterios de seleccedilatildeo dos sujeitos

O criteacuterio primordial para seleccedilatildeo das cinco crianccedilas foi o fato de serem consideradas

alunos(as) exemplares em termos de rendimento escolar e comportamento (alunos

considerados pelo projeto como de ecircxito) Os outros cinco foram escolhidos por natildeo

apresentarem bom rendimento escolar eou bom comportamento apesar de estarem no

reforccedilo Neste sentido o coordenador do projeto indicou quem seriam as crianccedilas que se

encaixavam nestes perfis

Selltiz et al (1974) afirmam que em um estudo exploratoacuterio

eacute importante selecionar informantes de forma a assegurar uma representaccedilatildeo de diferentes tipos de experiecircncia Sempre que haja qualquer razatildeo para acreditar que diferentes pontos de vista possam influir no conteuacutedo da observaccedilatildeo deve-se fazer um esforccedilo para incluir variaccedilatildeo de pontos de vista e tipos de experiecircncia (p65)

Ainda segundo estes autores os estudos exploratoacuterios que apresentam maior contraste

podem ser mais uacuteteis em revelar diferentes aspectos do fenocircmeno

Outro criteacuterio utilizado foi o tempo de inserccedilatildeo do aluno no projeto O tempo miacutenimo

foi de dois anos visto que Frecnall e Luks (1992) verificaram em suas pesquisas que o

resultado de um programa de mentoria para crianccedilas que participaram por dois a trecircs anos

obteve 90 de ecircxito A literatura sugere a existecircncia de uma relaccedilatildeo direta entre os benefiacutecios

da mentoria e o tempo da relaccedilatildeo (GROSSMAN RHODES 2002)

54

Abordados os instrumentos de coleta de dados os sujeitos da pesquisa e os criteacuterios

para seleccedilatildeo destes sujeitos Seguem na proacutexima seccedilatildeo os meacutetodos de anaacutelise destes dados

35 Meacutetodos de anaacutelise e interpretaccedilatildeo dos dados

Em se tratando de uma pesquisa qualitativa a anaacutelise dos dados jaacute vai sendo realizada

ao longo da coleta A anaacutelise segundo Minayo (1998) tem trecircs finalidades compreender os

dados colhidos confirmar ou natildeo as hipoacuteteses ou responder agraves questotildees elaboradas

previamente e ampliar o conhecimento do fenocircmeno estabelecendo viacutenculos com o contexto

cultural no qual estaacute inserido

O tratamento dispensado agraves entrevistas foi o de anaacutelise de conteuacutedo cujo objetivo

segundo Chizzotti (1998) eacute ldquocompreender criticamente o sentido das comunicaccedilotildees seu

conteuacutedo manifesto ou latente as significaccedilotildees expliacutecitas ou ocultasrdquo (p98) Seguindo-se esta

proposta de anaacutelise o conteuacutedo das entrevistas foi categorizado do texto se extraiacuteram

categorias que de acordo com Bardin (1997) ldquosatildeo rubricas ou classes as quais reuacutenem um

grupo de elementos sob um tiacutetulo geneacuterico agrupamento esse efetuado em razatildeo dos

caracteres comuns destes elementosrdquo (p117) As categorias foram utilizadas para agrupar as

ideacuteias em torno dos conceitos As categorias foram elaboradas antes da coleta de dados

conforme proposto por Gomes (1997) Estas categorias foram levantadas a partir do

referencial teoacuterico apresentado considerando-se toacutepicos relevantes que constituem a relaccedilatildeo

de mentoria e dos benefiacutecios propostos As categorias encontradas refletiram a percepccedilatildeo dos

responsaacuteveis pelos alunos e dos professores sobre o programa e seu resultado na vida das

crianccedilas e adolescentes participantes Vale ressaltar que na medida em que foram sendo

analisados os dados foram sendo incluiacutedas novas categorias natildeo abordadas pela teoria mas

que se fizeram presentes nos discursos

55

O discurso advindo da entrevista foi decomposto conforme sugere Gomes (1997)

formando unidades de registro que podia ser uma palavra ou frase significativa dentro do

conceito que se estava investigando

Minayo (1998) propotildee o meacutetodo de anaacutelise hermenecircutico-dialeacutetico no qual a fala dos

atores deve ser contextualizada

O pesquisador tem que aclarar para si mesmo o contexto de seus entrevistados ou dos documentos a serem analisados Isso eacute importante porque o discurso expressa um saber compartilhado com outros do ponto de vista moral cultural e cognitivo (p222)

Inicialmente foi feita uma preacute-anaacutelise na qual os materiais coletados foram

organizados destacando-se os textos significativos e as categorias

Posteriormente foi feita a exploraccedilatildeo do material atraveacutes da leitura exaustiva o que

resultou no tratamento dos resultados e na sua interpretaccedilatildeo Segundo Gomes (1997) isto

significa ldquo desvendar o conteuacutedo subjacente ao que estaacute sendo manifestordquo (p 76) O autor

ressalta que a busca das informaccedilotildees estatiacutesticas deve se voltar para as ideologias as

tendecircncias e outras caracteriacutesticas dos fenocircmenos que se estaacute analisando

Realizou-se o primeiro niacutevel de interpretaccedilatildeo dos dados que segundo Minayo (1998) eacute

o das determinaccedilotildees fundamentais no qual se levam em conta a conjuntura soacutecio-econocircmica e

poliacutetica do objeto da pesquisa

O segundo niacutevel de interpretaccedilatildeo foi a observaccedilatildeo das comunicaccedilotildees individuais

condutas costumes e rituais expressos no grupo

Segundo Minayo (1998) o produto final da anaacutelise as conclusotildees a que se chega

devem ser tidos sempre como provisoacuterios e aproximativos

Acerca da generalizaccedilatildeo dos resultados Laville e Dione (1999) afirmam

56

o estudo de caso incide sobre um caso examinado em profundidade toda forma de generalizaccedilatildeo natildeo eacute por isso excluiacuteda Com efeito um pesquisador seleciona um caso na medida em que este lhe pareccedila tiacutepico representativo de outros casos As conclusotildees gerais que ele tiraraacute deveratildeo ser contudo marcadas pela prudecircncia devendo o pesquisador fazer prova de rigor e transparecircncia no momento de enunciaacute-las (p156)

Pocircde-se ao fim das anaacutelises chegar a um maior conhecimento do fenocircmeno estudado

bem como seu impacto na vida das famiacutelias e da comunidade onde estaacute inserido Segue na

proacutexima seccedilatildeo as limitaccedilotildees deste trabalho

36 Limitaccedilotildees da pesquisa

A presente pesquisa apresenta algumas limitaccedilotildees que seratildeo expostas a seguir

a) Impossibilidade de se verificar os resultados sociais

Sendo um projeto de longo prazo os benefiacutecios seratildeo evidenciados quando existirem

egressos do projeto Por outro lado o tempo que se dispotildee para esta pesquisa eacute de apenas

dois anos Procurou-se entatildeo verificar resultados de curto prazo e a partir deles fazer

inferecircncias

b) Falta de bibliografia nacional sobre o tema

Natildeo se tem pesquisa realizada em mentoria para crianccedilas e adolescentes no contexto

brasileiro limitando o arcabouccedilo teoacuterico Esta limitaccedilatildeo pode ser vista tambeacutem como uma

oportunidade na medida em que este trabalho jaacute significa um avanccedilo em termos de

contextualizar a teoria

c) Envolvimento da pesquisadora com o objeto

A aacuterea social eacute uma aacuterea de afinidade da pesquisadora e o projeto a encantou Este fato

pode ter influenciado a percepccedilatildeo e os resultados da pesquisa No entanto na busca pela

57

objetividade buscou-se separar os conteuacutedos dos sujeitos dos da pesquisadora aliando o

que os dados observados com os discursos deles advindos

d) Interrupccedilatildeo do projeto no momento das entrevistas

A pesquisa ocorreu em um momento criacutetico do projeto um momento de transiccedilatildeo A

observaccedilatildeo e a primeira fase de coleta se deram quando as atividades ainda estavam sendo

desenvolvidas No entanto no momento das entrevistas as atividades jaacute estavam

suspensas Este fato pode ter alterado a percepccedilatildeo das matildees entrevistadas pois o projeto jaacute

natildeo estava em seu cotidiano Por outro lado este fato pode ter contribuiacutedo com a

percepccedilatildeo do valor do projeto uma vez que pela ausecircncia se podia evidenciar o que este

representava na vida da famiacutelia

d) Impossibilidade de verificar com precisatildeo os fatores responsaacuteveis pelo ecircxito e natildeo-

ecircxito dos mentorados uma vez que as famiacutelias consideravam os filhos como tendo ecircxito

nos estudos

Estas foram as limitaccedilotildees percebidas nesta pesquisa

Cientes da metodologia do trabalho segue a apresentaccedilatildeo do caso e dos dados

coletados bem como sua respectiva discussatildeo

58

4 Apresentaccedilatildeo anaacutelise e discussatildeo dos achados

Segue-se a apresentaccedilatildeo do caso pesquisado e posteriormente seratildeo apresentados e

discutidos os dados colhidos atraveacutes da observaccedilatildeo das entrevistas e da anaacutelise documental

No iniacutecio de cada seccedilatildeo seraacute apresentada uma questatildeo norteadora seguida da apresentaccedilatildeo e

da discussatildeo dos dados obtidos Finalmente seraacute respondida a questatildeo norteadora que iniciou

a seccedilatildeo Feito isto seraacute abordada outra questatildeo e assim sucessivamente ateacute que se responda a

todas as questotildees postas na fundamentaccedilatildeo teoacuterica

41 O caso

Nesta seccedilatildeo seraacute abordado o caso considerando-se o contexto no qual o mesmo se

insere Seraacute detalhado o surgimento do programa de reforccedilo escolar as motivaccedilotildees para tal os

objetivos as dificuldades enfrentadas os beneficiaacuterios os estaacutegios pelos quais passou e o seu

momento atual

411 O contexto do projeto Vila do Vinteacutem II

O caso pesquisado foi o programa de reforccedilo escolar chamado Educaccedilatildeo eacute Vida que

era localizado na Vila Vinteacutem II tambeacutem chamada de favela do Vinteacutem ou Vila Vinteacutem A

Vila do Vinteacutem era uma favela existente haacute mais de dez anos localizada no bairro de Casa

Forte na cidade do RecifePE

59

A Prefeitura do Recife em fevereiro de 2005 transferiu as 192 famiacutelias moradoras da

favela da Vila do Vinteacutem para o Conjunto Habitacional Casaratildeo do Cordeiro situado agrave

avenida Mauriacutecio de Nassau no bairro do Cordeiro

Esta transferecircncia faz parte de um projeto social chamado ldquoo Recife sem palafitasrdquo

Tal projeto beneficiou 720 famiacutelias que hoje residem no conjunto habitacional mas pretende

alcanccedilar 1337 famiacutelias procedentes de comunidades carentes

As quase 200 famiacutelias que faziam a Vila Vinteacutem moravam em palafitas agraves margens do

rio Capibaribe sob o viaduto Torre-Parnamirim e entre as ruas Joatildeo Tude de Melo e

Leonardo Bezerra Cavalcante As casas - barracos de madeira papelatildeo e plaacutestico - eram de

aproximadamente 12 m2 e natildeo contavam com aacutegua encanada nem esgoto e muitas natildeo tinham

sanitaacuterios

O relator especial das Naccedilotildees Unidas para habitaccedilatildeo Miloon Kothari classificou

algumas das favelas do Recife como sendo as piores do mundo ldquoAlgumas das condiccedilotildees de

moradia do Recife () estatildeo entre as piores que eu jaacute vi As pessoas natildeo podem dormir agrave

noite com aacutegua entrando nas casas ratos e baratasrdquo (Diaacuterio de Pernambuco 2004)

60

Figura 1 (4) - Foto da Vila do Vinteacutem 2002

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

Dentre as inuacutemeras dificuldades presentes nesta comunidade pode-se citar o

desemprego fator que atinge mais de 71 das famiacutelias da Vila (Diaacuterio de Pernambuco

2004) O iacutendice de desemprego como visto anteriormente estaacute diretamente relacionado agrave

escolaridade (NEacuteRY COSTA 2003) de forma que no Recife o maior iacutendice de

analfabetismo encontra-se em domiciacutelios com rendimento de ateacute um salaacuterio miacutenimo

(SECRETARIA DA POLIacuteTICA DE ASSISTEcircNCIA SOCIAL 2004) Mais especificamente

na Vila Vinteacutem mais de 60 dos moradores natildeo tecircm rendimento maior do que meio salaacuterio

miacutenimo

O contexto familiar muitas vezes eacute de agressividade como o exposto pela avoacute de uma

aluna ldquoCom a matildee de Nuacutebia eacute tudo no pau () ela vai para casa da matildee arenga com os

irmatildeos e chega toda machucadardquo (entrevista out05) Esta constataccedilatildeo eacute coerente com a

literatura fatores vivenciados pelas famiacutelias tais como o desemprego crocircnico violecircncia

61

domeacutestica e brigas entre o casal estatildeo associados com a delinquumlecircncia (FARRINGTON 1987

apud PATTERSON et al 1989) Neste ambiente estava inserido o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

O projeto situava-se agrave entrada da favela da Vila Vinteacutem II agrave rua Joatildeo Tude de Melo

nuacutemero 21 no bairro de Casa Forte

Desde a transferecircncia das famiacutelias da Vila do Vinteacutem para o Casaratildeo do Cordeiro as

atividades do projeto foram suspensas O projeto aguarda a liberaccedilatildeo de um terreno no

referido conjunto conforme jaacute acordado entre o projeto e a Prefeitura do Recife para retomar

suas atividades

Figura 2 (4) ndash Foto das palafitas da Vila do Vinteacutem no dia da mudanccedila para o Casaratildeo do Cordeiro Fev2005

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

Considerado o contexto onde estava inserido o projeto faz-se necessaacuterio conhecer o

projeto em si A seccedilatildeo seguinte eacute dedicada a este assunto

62

412 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

O projeto teve iniacutecio atraveacutes de uma famiacutelia residente nas proximidades da favela Vila

do Vinteacutem II Moab Silva e sua esposa Miriam Maria da Silva tinham um restaurante nesta

aacuterea O casal tem dois filhos A filha tem graduaccedilatildeo em Histoacuteria e estaacute terminando o curso de

Publicidade e o filho fez Engenharia Mecacircnica eacute mestre em Oceanografia e estaacute concluindo o

doutorado em Oceanografia Moab eacute cozinheiro autocircnomo e sua esposa eacute graduada em

Relaccedilotildees Puacuteblicas

A famiacutelia conhecia a favela do Vinteacutem e quando havia necessidade contratava alguns

dos moradores para prestar pequenos serviccedilos ao restaurante Com isto e dado ao fato de

Moab ter crescido neste local a famiacutelia tornou-se conhecedora e conhecida da comunidade

Quando os pais vinham trabalhar no restaurante seus filhos os acompanhavam e ficavam

ldquotomando contardquo dos carros no estacionamento Ao fechamento do restaurante estas recebiam

alimentaccedilatildeo

A partir daiacute Miriam que jaacute lecionava para crianccedilas em uma igreja evangeacutelica teve a

ideacuteia de reunir as crianccedilas da comunidade e formar um pequeno coral para se apresentar para

a comunidade na festa de Natal Foi entatildeo que se iniciou a Comunidade Cristatilde Amigos Para

Sempre (ANEXO A) com o objetivo primeiro de evangelizaccedilatildeo e posteriormente

educacional Visando o alcance do objetivo educacional criou-se o Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

(ANEXO B) Moab e a esposa reuniram aproximadamente 15 crianccedilas moradoras da favela

do Vinteacutem para formar o coral As crianccedilas ensaiavam ouviam histoacuterias e lanchavam O coral

reunia-se duas vezes por semana as quartas e aos domingos Os pais tambeacutem se

aproximaram

Moab atraveacutes deste contato mais proacuteximo com as crianccedilas foi percebendo o potencial

que elas tinham e visando desenvolver este potencial resolveu fazer uma banca de estudos

63

para acompanhaacute-las em suas tarefas escolares As crianccedilas jaacute estavam matriculadas em

escolas puacuteblicas e Moab e sua esposa iniciaram o reforccedilo escolar

De 1988 ateacute 2000 o projeto funcionou na informalidade e as reuniotildees aconteciam no

espaccedilo do restaurante Quando este natildeo estava em atividade era dedicado agraves crianccedilas de

forma que laacute ocorriam aleacutem das reuniotildees ensaios do coral jogos festas do dia das crianccedilas

de aniversaacuterio e de Natal

Figura 3 (4) - Festa de Natal para as crianccedilas da Vila do Vinteacutem II 2004

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

No ano de 2000 um grupo de 18 americanos foi agraves proximidades da Vila Moab ao ir

cozinhar para este grupo foi acompanhado pelas crianccedilas Os americanos intrigados ao

verem tantas crianccedilas perguntaram quem eram elas Ao saber a respeito do projeto o grupo

se sensibilizou e resolveu contribuir Foi assim que o projeto comprou uma casa na rua Joatildeo

Tude de Melo ao lado da favela O projeto contava agora com uma sede

64

Figura 4 (4) - Festa das crianccedilas na sede do projeto 00

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

No projeto as atividades de reforccedilo eram disponibilizadas para quem fosse da favela e

quisesse estudar independentemente da seacuterie em que estivesse matriculado O projeto contava

com materiais didaacuteticos um quadro-negro cadeiras uma biblioteca e um computador com

acesso agrave Internet

Os professores do projeto eram Moab cuja vocaccedilatildeo segundo ele eacute alfabetizar sua

esposa que jaacute havia sido professora de crianccedilas e uma professora contratada Havendo

necessidade seus filhos tambeacutem davam aula no projeto

Segue na proacutexima seccedilatildeo uma breve descriccedilatildeo das atividades que o projeto

desenvolvia antes da transferecircncia

65

413 Atividades desenvolvidas pelo projeto

As aulas do reforccedilo funcionavam pela manhatilde e pela tarde contando em meacutedia com 25

alunos em cada turno As atividades do projeto eram realizadas de forma que o aluno estando

em uma escola puacuteblica recebia atraveacutes do projeto um ensino considerado pelo coordenador

como de maior qualidade Os alunos passavam a alcanccedilar um conhecimento diferenciado de

seus colegas de classe Quando os alunos absorviam estes conhecimentos o projeto buscava

transferi-los para uma escola privada

Deu-se entatildeo iniacutecio agrave busca por bolsas de estudos em escolas particulares para os

alunos com bom desempenho escolar Moab o coordenador ia ateacute agrave escola particular falava

acerca do programa de reforccedilo e dava o perfil da crianccedila para qual estava fazendo a

solicitaccedilatildeo da bolsa A escola convidava este aluno para conhecer suas instalaccedilotildees e aplicava

um teste de conhecimento Se o aluno fosse aprovado no teste seria bolsista da escola O

projeto passava a acompanhaacute-lo com mais intensidade visando mantecirc-lo com bom

desempenho em sua nova escola

Atualmente o projeto conta com as seguintes bolsas em instituiccedilotildees de ensino

privado

INSTITUICcedilAtildeO Nordm DE BOLSAS Coleacutegio de Ensino Fundamental I fase 10 Coleacutegio de Ensino Fundamental e Meacutedio 3 Centro de Informaacutetica 10 Curso de Inglecircs 11

As crianccedilas bolsistas que terminam a 4a Seacuterie da primeira fase do Ensino Fundamental

recebem uma bolsa na escola de inglecircs Buscando melhor atender as crianccedilas o coordenador

buscou pessoas que pudessem assisti-las com relaccedilatildeo agrave sauacutede O projeto passou a contar com

66

o voluntariado de uma psicoacuteloga um meacutedico e dois dentistas que datildeo assistecircncia agraves crianccedilas

No caso de assistecircncia psicoloacutegica a famiacutelia tambeacutem recebe acompanhamento

Em 2000 foi fechado um acordo com dois dentistas para o tratamento dentaacuterio das

crianccedilas Mais uma vez o grupo de americanos contribuiu com R$ 1500 por crianccedila para

cobrir as despesas com o material odontoloacutegico Um grupo de 90 crianccedilas da Vila do Vinteacutem

fez tratamento dentaacuterio que incluiu obturaccedilatildeo extraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo de fluacuteor ldquoFoi um ano de

tratamento Eu levava as crianccedilas quatro vezes por semana duas turmas para dra () e duas

turmas para o dr ()rdquo (COORDENADOR entrevista set05)

Aleacutem das atividades educacionais propriamente ditas o projeto desenvolvia outras

atividades com as crianccedilas Dentre estas o coordenador citou passeios agrave praccedila do

Entroncamento no final de ano e agrave exposiccedilatildeo da aeronaacuteutica e visita a museus (Ricardo

Brennand Museu do Homem do Nordeste Museu do Estado) ldquoQualquer exposiccedilatildeo que

esteja havendo e que vaacute influir acrescentar em termos de educaccedilatildeo para eles a gente levardquo

(COORDENADOR entrevista set05) Anualmente o projeto levava alguns adolescentes para

acampar O acampamento que tem duraccedilatildeo de cinco dias eacute de cunho religioso Atividades

como pintura muacutesica danccedila recreaccedilatildeo e jogos tambeacutem eram desenvolvidas regularmente

pelo projeto Festas e reuniotildees eram realizadas Estas ocorriam na sede ou no espaccedilo onde era

o restaurante por este comportar um nuacutemero maior de pessoas

Na proacutexima seccedilatildeo seraacute explicado como o projeto foi formalizado tornando-se uma

organizaccedilatildeo natildeo governamental

67

414 Formalizaccedilatildeo do projeto como organizaccedilatildeo natildeo-

governamental

Aproximadamente em 2000 com o projeto jaacute instalado na sede buscou-se a

formalizaccedilatildeo do projeto ou seja o registro como ONG (organizaccedilatildeo natildeo-governamental) O

coordenador procurou entatildeo mais quatro pessoas que juntamente com ele tivessem os

mesmos objetivos Encontradas estas pessoas que natildeo eram estranhas ao projeto intentou-se

proceder agrave formalizaccedilatildeo No entanto estas pessoas desistiram e o coordenador procurou

outras Encontradas as pessoas que segundo ele realmente assumiram o projeto o mesmo foi

formalizado O projeto conta com um presidente (Moab) um vice-presidente dois secretaacuterios

e um tesoureiro Das cinco pessoas responsaacuteveis pela ONG duas foram substituiacutedas

O projeto mesmo anterior agrave formalizaccedilatildeo jaacute contava com objetivos definidos estes

foram entatildeo sistematizados (ANEXO B) Satildeo objetivos do projeto

bull Melhorar a qualidade de vida natildeo somente no presente mas intervir num ciclo

vicioso preparando a crianccedila e o jovem para o futuro

bull Atuar na aacuterea de educaccedilatildeo solicitando bolsa de estudo na rede privada com aulas

de reforccedilo para o ensino fundamental alfabetizaccedilatildeo infantil distribuiccedilatildeo de

material escolar e merenda

bull Ofertar curso regular de liacutengua inglesa e iniciaccedilatildeo musical

bull Oferecer acompanhamento cliacutenico odontoloacutegico e psico-pedagoacutegico e

bull Desenvolver atividades que proporcionem o desenvolvimento de competecircncias

sociais pessoais e intelectuais

Formalmente o coordenador estaacute na diretoria da ONG haacute trecircs anos Em outubro de

2006 ao completar dois mandatos haveraacute eleiccedilatildeo e ele natildeo mais estaraacute agrave frente do projeto

68

pois assim rege o estatuto O projeto eacute mantido com doaccedilotildees e serviccedilo voluntaacuterio Com a

formalizaccedilatildeo natildeo houve alteraccedilatildeo nas atividades desenvolvidas pelo projeto

Considerada a formalizaccedilatildeo do projeto segue a explanaccedilatildeo de sua situaccedilatildeo atual ou

seja como se encontra o projeto apoacutes a transferecircncia das famiacutelias

415 Situaccedilatildeo atual do projeto

Com a transferecircncia das famiacutelias para o conjunto habitacional Casaratildeo do Cordeiro o

projeto interrompeu suas atividades regulares e tem ido agrave busca da liberaccedilatildeo do terreno jaacute

destinado ao mesmo

Neste iacutenterim de fevereiro a novembro de 2005 as crianccedilas bolsistas que estavam

estudando na primeira fase do ensino fundamental foram colocadas pelo projeto em semi-

internatos Tal fato ocorreu na busca de garantir a continuidade da assistecircncia educacional a

estas crianccedilas

Ainda neste periacuteodo de transiccedilatildeo o mesmo grupo de americanos que outrora

beneficiou o projeto com a compra da casa fez uma nova doaccedilatildeo Desta vez o grupo doou

um galpatildeo preacute-moldado com capacidade para 300 pessoas que seraacute erguido no local

destinado para o projeto no Casaratildeo do Cordeiro O envio do galpatildeo estaacute condicionado agrave

liberaccedilatildeo do terreno

Na proacutexima seccedilatildeo seratildeo consideradas as dificuldades enfrentadas pelo projeto

Educaccedilatildeo eacute Vida

69

416 Dificuldades enfrentadas pelo projeto

O coordenador diz encontrar dificuldade para obter apoio junto agraves instituiccedilotildees que

segundo ele deveriam cooperar com as ONGrsquos tais como Conselho Municipal Conselho

Estadual e Conselho Federal de Accedilatildeo Social e Conselhos Municipais dos Direitos da Crianccedila

e do Adolescente Ele afirma que haacute excesso de burocracia e que estas instituiccedilotildees natildeo estatildeo

presentes para apoiar antes para punir caso haja alguma irregularidade ldquoEles natildeo querem ver

resultados querem ver papelrdquo desabafa o coordenador (entrevista set05) Mesmo

entregando os documentos solicitados o coordenador lamenta natildeo ter tido ecircxito nas

solicitaccedilotildees legais fato que ele atribui agrave morosidade e ao excesso de burocracia

Outra dificuldade considerada a maior delas eacute enfrentada a cada iniacutecio de ano devido

a necessidade de se patrocinar os alunos bolsistas O custo com materiais e fardamentos eacute em

meacutedia de R$ 50000 por crianccedila O projeto busca cobrir tal despesa buscando

apadrinhamento (patrociacutenio) para os alunos ou seja pessoas que contribuam parcial ou

totalmente com as despesas deste

A cada ano as escolas oferecem novas vagas ao projeto e com elas aumenta a

dificuldade devido agrave falta de recursos O projeto tem crianccedilas com desempenho suficiente

para serem aceitas por uma escola particular e as escolas tecircm ofertado mais bolsas mas a falta

de patrociacutenio tem imposto limites a esta transferecircncia O coordenador diz que ao colocar uma

crianccedila na escola particular o projeto assume realmente seus estudos fazendo o possiacutevel para

que a crianccedilaadolescente seja inserida e obtenha ecircxito

Ao final de cada ano os padrinhos satildeo homenageados recebendo um Certificado de

Agente Social conforme a figura 5 (4) como forma de reconhecimento e gratidatildeo pelo

patrociacutenio

70

Figura 5 (4) - Certificado do padrinho

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

A despeito das dificuldades enfrentadas o projeto intenta continuar e expandir-se

Tem o objetivo de atender ao Conjunto Habitacional Casaratildeo do Cordeiro

Segue na proacutexima seccedilatildeo a motivaccedilatildeo que deu iniacutecio a este projeto e que o sustenta ateacute

o momento desta pesquisa

417 Motivaccedilatildeo para a existecircncia e continuidade do projeto

O coordenador explica assim sua motivaccedilatildeo para prosseguir com o projeto

Como cidadatildeo pobre eu sempre lutei para que meus filhos conseguissem terminar o terceiro grau () Depois que os meus terminaram eu digo bom agora eu posso lutar pelos dos outros para que eles tambeacutem consigam porque eles natildeo vatildeo conseguir se natildeo tiver quem ofereccedila oportunidade () Essas crianccedilas sendo assistidas dessa forma sem duacutevida alguma vatildeo trilhar o mesmo caminho que meus filhos trilharam Eu trato as crianccedilas participantes deste projeto como se elas fossem os meus filhos (COORDENADOR entrevista set05)

71

Acerca de seu envolvimento com o projeto ele declara ldquoEu natildeo vejo como me

desvincular hoje () separar do projeto Eu respiro o projeto luto faccedilo o que for necessaacuterio o

que for possiacutevel para que o projeto continuerdquo (COORDENADOR entrevista set05)

A seccedilatildeo 41 foi destinada ao caso Foram aqui considerados o contexto onde estaacute

inserido as atividades desenvolvidas o processo de formalizaccedilatildeo as dificuldades enfrentadas

e a motivaccedilatildeo existente no projeto

Para melhor compreensatildeo dos sujeitos da pesquisa seratildeo expostos nas proacuteximas

seccedilotildees os dados referentes aos mentores e aos mentorados pesquisados

418 Dados dos mentores entrevistados

Seguem algumas informaccedilotildees acerca dos mentores do projeto

Coordenador- foi o fundador do projeto e estaacute nele haacute 16 anos Jaacute deu alfabetizou diversas

crianccedilas e pais da comunidade Atualmente eacute o presidente da ONG

Professora ndash participou do projeto durante um ano Leciona em uma das escolas particulares

que fornece bolsa para os alunos Diz ter muita identidade com a proposta do projeto

Psicoacuteloga ndash estaacute no projeto haacute 5 anos Aleacutem deste trabalho no qual atua como voluntaacuteria

participa de um outro tambeacutem com comunidade carente

Dentista- estaacute no projeto haacute mais de um ano e diz ter identidade com o tipo de trabalho

realizado

Seguem na proacutexima seccedilatildeo os dados referentes aos mentorados pesquisados

72

419 Dados dos mentorados pesquisados

Visando um maior conhecimento dos sujeitos pesquisados seguem-se alguns dados

acerca dos mesmos Na busca pelo anonimato os nomes dos alunos foram trocados

Inicialmente seratildeo abordados os alunos que foram apontados como que de ecircxito nos estudos e

posteriormente os de natildeo-ecircxito

4191 Alunos tidos como que de ecircxito nos estudos

O coordenador do projeto demonstra orgulho ao falar dos seguintes alunos pois aleacutem

do rendimento escolar eles apresentam bom comportamento Satildeo estes os alunos

Afracircnio- aluno com 9 anos de idade cursa a 4a seacuterie do Ensino Fundamental em um coleacutegio

particular com bolsa obtida atraveacutes do projeto Educaccedilatildeo eacute Vida Afracircnio estaacute no projeto haacute 3

anos Mora com a matildee que eacute analfabeta funcional1 Aleacutem de estudar em escola particular

atraveacutes do projeto Afracircnio tambeacutem faz inglecircs

Daniel- aluno com 8 anos cursa a 1a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular cuja

bolsa foi obtida atraveacutes do projeto Ele participa do projeto haacute 3 anos Sua participaccedilatildeo nas

atividades desenvolvidas pelo projeto eacute integral passeios e lazer Daniel mora com os pais e eacute

o filho mais novo do casal Seu pai que eacute porteiro estudou ateacute o 3o ano do Ensino Meacutedio e

sua matildee ateacute a 8a seacuterie do Ensino Fundamental Aleacutem dos pais Daniel mora com seu irmatildeo

mais velho Faacutebio (tido como de natildeo ecircxito) sua irmatilde e sua tia A matildee sofre de fobia social e

toma remeacutedio ldquocontroladordquo Segundo ela o filho eacute muito responsaacutevel e gosta de estudar

1 Analfabeto funcional- Pessoa com menos de quatro anos de estudos

73

Almir- Garoto de 9 anos que cursa a 2a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular

cuja bolsa foi obtida atraveacutes do projeto Almir estaacute no projeto haacute 3 anos Mora com os pais

que satildeo analfabetos funcionais e com Silvia sua irmatilde

Silvia- eacute irmatilde de Almir tem 10 anos cursa a 4a seacuterie do Ensino Fundamental Estaacute no projeto

cerca de 3 anos Tal qual o irmatildeo Silvia estuda em escola particular

Nuacutebia- aluna de 12 anos cursa a 5a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular cuja

bolsa foi obtida atraveacutes do projeto do qual ela faz parte haacute cerca de 3 anos Nuacutebia eacute apontada

pelo coordenador do projeto como sendo uma aluna excelente Durante a semana Nuacutebia estaacute

morando na casa da avoacute paterna pois eacute mais perto da escola do que a casa da matildee pois esta

mora no Casaratildeo do Cordeiro A avoacute diz que a neta eacute muito calma e desanimada Acredita

que ela sente muita falta dos irmatildeos e da matildee (os pais satildeo separados) Nos finais de semana

Nuacutebia vai para a casa da matildee A avoacute diz que ao retornar ela vem agitada e machucada pois

em casa Nuacutebia apanha da matildee e dos irmatildeos A matildee de Nuacutebia disse ao coordenador que em

2006 iraacute tiraacute-la da escola particular apesar do bom rendimento que ela apresenta A matildee alega

que a escola eacute longe O coordenador e a professora acreditam que tal fato se deve tambeacutem agrave

limitaccedilatildeo da matildee (analfabeta funcional) em compreender o valor do estudo Ao falar acerca

deste fato o coordenador se mostra bastante entristecido

Frederico- aluno com 12 anos cursa a 6a seacuterie do Ensino Fundamental Ele estaacute no projeto

haacute 4 anos estuda em coleacutegio particular com bolsa obtida atraveacutes do projeto Frederico mora

com os pais Estes satildeo analfabetos funcionais O coordenador diz que eacute um menino muito

bom pois eacute esforccedilado e apresenta bom comportamento

Jairo- aluno com 14 anos que cursa a 6a seacuterie do Ensino Fundamental em escola particular

Sua bolsa foi obtida atraveacutes do projeto bem como o curso de inglecircs no qual ele estuda haacute 3

anos Jairo mora com a matildee o padrasto e com o irmatildeo mais novo que eacute portador de

74

necessidades especiais A matildee eacute analfabeta absoluta2 e o padrasto analfabeto funcional Jairo

perdeu o pai com dois anos A matildee fala que ele eacute um menino ldquoquietordquo e que gosta muito do

coordenador do projeto Jairo morou no interior onde estudava mas natildeo obtinha

aproveitamento escolar Ao chegar no Recife foi incentivado a estudar e segundo a matildee

ldquotomou gosto pelos estudosrdquo desde entatildeo tem demonstrado bom rendimento aleacutem do

comportamento exemplar que sempre apresentou A matildee diz que o coordenador eacute como um

pai para o Jairo lhe aconselha encaminha ajuda patrocina e eacute amigo

Walter- aluno de 17 anos que cursa o 2o ano do Ensino Fundamental em escola puacuteblica e

estaacute haacute 7 anos no projeto Walter mora com os pais que satildeo analfabetos funcionais O

coordenador diz que a famiacutelia acompanha os estudos de Walter Ele eacute aluno de inglecircs com

bolsa obtida pelo projeto Walter pretende ser professor deste inglecircs visto o bom rendimento

que vem apresentando e o interesse que afirma ter com o idioma

Nesta seccedilatildeo foram apresentados alguns dados acerca dos alunos tidos como de ecircxito segue na

proacutexima seccedilatildeo dados dos alunos pesquisados que foram tidos como que de natildeo ecircxito nos

estudos

4192 Alunos tidos como que de natildeo ecircxito nos estudos

Os seguintes alunos natildeo apresentam o rendimento escolar esperado pelo projeto A

aleacutem do que alguns apresentam problemas de comportamento Satildeo estes

Tito ndash aluno com 8 anos de idade que cursa a 2a seacuterie do Ensino Fundamental Mora com os

pais que satildeo analfabetos funcionais Ele estuda em um coleacutegio particular com bolsa obtida

atraveacutes do projeto O coordenador afirma que o mesmo natildeo demonstra interesse para com os

estudos

2 Analfabeta absoluta- pessoa iletrada

75

Helena- aluna de 10 anos que cursa a 4a seacuterie do Ensino Fundamental Ela estaacute no projeto haacute

4 anos Mora com a matildee que eacute analfabeta funcional A matildee trabalha fora e tem pouco contato

a filha cerca de uma hora por dia Os pais satildeo separados O coordenador diz que a matildee eacute

muito nervosa e toma remeacutedio ldquocontroladordquo Ele afirma que a matildee por ser agressiva e

impaciente eacute quem dificulta o aprendizado e o comportamento da filha Helena estuda em

escola particular mas natildeo estaacute obtendo notas suficientes para continuar nela

Tacircnia- aluna de 10 anos que cursa a 4a seacuterie em escola puacuteblica Ela estaacute no projeto haacute 7 anos

Tacircnia mora com a matildee adotiva com o padrasto com um irmatildeo mais novo e com um irmatildeo

mais velho e sua esposa Sua situaccedilatildeo eacute peculiar sua matildee morava com outro ldquomaridordquo quando

resolveu adotaacute-la Deixou o primeiro marido e atualmente mora com outro Sendo que este

casal teve um filho que no momento da pesquisa tinha dois anos Segundo o relato da

psicoacuteloga desde a separaccedilatildeo da matildee Tacircnia jaacute natildeo gozava de muito atenccedilatildeo e com o

nascimento do irmatildeo esta diminuiu significativamente O coordenador atribui muito de sua

dificuldade de aprendizagem agrave falta de estrutura familiar

Nestor- aluno com 14 anos cursa o 1o ano do ensino Meacutedio estaacute no projeto haacute 4 anos e mora

com os pais Sua matildee eacute analfabeta funcional e seu pai cursou ateacute a 6a seacuterie do Ensino

Fundamental Nestor estuda em escola puacuteblica

Faacutebio- garoto com 12 anos que cursa a 6a seacuterie do Ensino Fundamental Ele participa do

projeto haacute 3 anos Faacutebio mora com os pais com a tia com a irmatilde e com Daniel seu irmatildeo A

matildee estudou ateacute a 8a seacuterie e o pai ateacute o 3o ano do Ensino Meacutedio Faacutebio segundo a matildee natildeo

gosta de estudar e seu interesse estaacute em jogar futebol e ficar na rua Em casa ele natildeo recebe

acompanhamento em termos de estudo

Estes foram alguns dos dados acerca dos alunos pesquisados Ao longo da

apresentaccedilatildeo dos dados seratildeo apresentadas mais informaccedilotildees acerca destes sujeitos

76

Seguem nas proacuteximas seccedilotildees as questotildees norteadoras deste trabalho bem como a

apresentaccedilatildeo e discussatildeo dos dados colhidos na busca pelas respostas agraves questotildees

42 Achados referentes agrave primeira questatildeo norteadora

Para responder a seguinte questatildeo em uma comunidade carente brasileira ateacute que

ponto a mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes apresenta as caracteriacutesticas definidas

pela teoria Faz-se necessaacuterio inicialmente caracterizar o projeto de reforccedilo como um

programa de mentoria o que seraacute feito na proacutexima seccedilatildeo Posteriormente seratildeo analisados os

achados referentes agraves funccedilotildees de mentoria existente no projeto as fases em que se encontram

os relacionamentos e os fatores relacionados ao ecircxito do projeto

421 O projeto Educaccedilatildeo eacute Vida como um programa de mentoria

Percebeu-se que os alunos recebem suporte vindo de vaacuterios mentores A psicoacuteloga

fornece sustentaccedilatildeo para o aluno e para a famiacutelia a professora aconselha e ajuda a

desenvolver habilidades o coordenador e sua esposa acompanham o desenvolvimento dos

alunos fornecendo-lhes feedback e encorajando-os Tal fato foi constatado atraveacutes dos

discursos das matildees que relatavam o suporte recebido principalmente pelo coordenador e pela

professora

A partir destes dados pode-se concluir que o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida caracteriza-se

como um programa de redes de mentoria (HIGGINS KRAM 2001) uma vez que o

mentorado recebe influecircncia de vaacuterios mentores O coordenador do projeto eacute a pessoa que

mais acompanha os alunos eacute o mais citado pelas matildees e pelo aluno como oferecedor de

suporte tanto psicossocial como de carreira Pode ser considerado o mentor principal do

projeto

77

A relaccedilatildeo tem iniciativa da organizaccedilatildeo ao se manter aberta a novos entrantes e a

relaccedilatildeo eacute estruturada Alguns encontros como a aula de reforccedilo satildeo preacute-estabelecidos No

entanto os encontros natildeo se limitam agrave aula de reforccedilo Eles podem ser esporaacutedicos partindo

da necessidade O relacionamento natildeo tem uma delimitaccedilatildeo de seis meses ou um ano O

mesmo pode se estender por longos periacuteodos de tempo Walter aluno entrevistado por

exemplo estaacute no projeto haacute sete anos Haacute alunos que foram alfabetizados pelo projeto e

receberam acompanhamento ateacute terminar o ensino meacutedio caracterizando assim um

relacionamento de no miacutenimo 11 anos

Dentre os tipos de mentoria propostos por Kram (1985) a mentoria realizada no

projeto parece estar na interface da mentoria formal e informal Alguns fatores levam a

consideraacute-la formal como por exemplo a estruturaccedilatildeo da relaccedilatildeo e os encontros preacute-

estabelecidos Por outro lado vecirc-se tambeacutem caracteriacutesticas da mentoria informal Ou seja o

mentorado toma a iniciativa em fazer parte ou natildeo da relaccedilatildeo nem todos os encontros satildeo preacute-

estabelecidos e o tempo de duraccedilatildeo da relaccedilatildeo ultrapassa em muito os dois anos ldquolimiterdquo da

mentoria formal

Outra caracteriacutestica especiacutefica do projeto eacute o fato de haver dois tipos de

relacionamento de mentoria entre os mentores e seus mentorados Os alunos bolsistas

parecem gozar de maior assistecircncia visto que para o projeto o ldquoinvestimentordquo eacute maior nestes

alunos Este diferencial foi percebido quando no periacuteodo de transiccedilatildeo alguns bolsistas foram

colocados em regime de semi-internato enquanto os natildeo-bolsistas natildeo tiveram o mesmo

tratamento Deve-se considerar a quantidade restrita de vagas e nesta situaccedilatildeo a preferecircncia

eacute dos alunos bolsistas

Percebeu-se pelos discursos que quando haacute algum passeio com o nuacutemero limitado de

participantes a preferecircncia eacute dos alunos mais comportados e que apresentam melhores notas

normalmente os bolsistas A matildee de Faacutebio (que tem um filho bolsista e outro considerado de

78

natildeo-ecircxito) diz que o coordenador tem seus ldquoescolhidosrdquo (entrevista out05) Ela enfatiza estar

ciente que um de seus filhos eacute ldquoescolhidordquo e o outro natildeo

Este tipo de relacionamento eacute explicado na teoria LMX (Leader-Member Exchange)

teoria da troca entre liacuteder e liderado que afirma que os liacutederes estabelecem um

relacionamento especial com um grupo restrito de liderados (grupo interno) distinto do

relacionamento com os demais liderados que fazem o grupo externo (ROBBINS 2002)

Tal fato pode levar aos seguintes questionamentos

- Os alunos mentorados que se saem melhor em termos de notas e

comportamentos passam a ter uma assistecircncia diferenciada

- Ter uma assistecircncia ldquomais proacuteximardquo leva os alunos a demonstrar melhores

comportamentos e apresentar melhores notas

Abordadas estas caracteriacutesticas da relaccedilatildeo de mentoria do projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

seguem-se as funccedilotildees de mentoria observadas no projeto

422 Funccedilotildees de mentoria encontradas no projeto Educaccedilatildeo eacute

Vida

Nesta seccedilatildeo seratildeo apresentados e discutidos os dados que revelam a existecircncia das

funccedilotildees de mentoria Inicialmente seratildeo abordadas as funccedilotildees de suporte de carreira e

posteriormente as de suporte psicossocial

4221 Suporte de carreira

Nesta seccedilatildeo seratildeo apresentadas as funccedilotildees do suporte de carreira encontradas no projeto

de reforccedilo Satildeo funccedilotildees que o mentor desempenha no sentido de auxiliar o mentorado em seu

desenvolvimento profissional Para cada funccedilatildeo abordada seratildeo apresentados alguns exemplos

encontrados

79

bull Tarefas desafiadoras

Um aluno bolsista de inglecircs diz que seu mentor sempre lhe lembra que aluno bolsista eacute

aluno modelo ldquoA gente tem que mostrar porque tinha direito agravequela bolsa () Se vocecirc

recebe uma ajuda e vocecirc natildeo se esforccedila para passar os obstaacuteculos natildeo adianta nada () eu

tenho me esforccediladordquo (WALTER entrevista out05)

Jairo em cuja casa soacute haacute analfabetos (absoluto e funcional) eacute um dos alunos do projeto

tido como exemplar Tem bolsa em uma escola particular e cursou a 4a e a 5a seacuteries no

mesmo ano A matildee de Nestor diz acerca do filho ldquoEle (Nestor) diz que quer estudar natildeo quer

ser como o pai dele que natildeo estudou Depois que ele conheceu o seu Moab aiacute eacute que ele pegou

o incentivo mesmo para estudarrdquo (MAE DE NESTOR entrevista out05)

ldquoSe vocecirc eacute bolsista natildeo eacute porque vocecirc eacute pobre natildeo eacute porque vocecirc eacute preto natildeo eacute

porque vocecirc eacute favelado Vocecirc estaacute laacute por capacidade () vou buscar bolsa porque ele eacute capaz

e estaacute faltando uma oportunidaderdquo (COORDENADOR entrevista set05)

O programa de reforccedilo ao dar aos alunos a oportunidade de acompanhamento nos

estudos impotildee-lhes uma tarefa extremamente desafiadora a de conseguir superar uma

realidade de exclusatildeo social A crianccedila demanda esforccedilo para adentrar uma escola particular e

para se manter apta a permanecer nessa escola Mesmo no caso de alunos natildeo bolsistas existe

o desafio de manter-se com bom rendimento na escola puacuteblica Este desafio eacute igualmente

vaacutelido para o curso de inglecircs

O desafio parece ser maior do que se apresenta pois subjacente agrave continuidade dos

estudos na vida da crianccedilaadolescente estaacute o status quo da famiacutelia O estudo do filho rompe

uma situaccedilatildeo de analfabetismo familiar Leva a crianccedila a superar sua expectativa negativa de

futuro uma vez que a educaccedilatildeo da matildee (das matildees entrevistadas 78 satildeo analfabetas) eacute

determinante do desempenho do filho (BARROS et al 1994)

80

Walter parece ter ciecircncia do desafio individual que tem que enfrentar mas talvez natildeo

perceba a dimensatildeo do desafio social que isto representa ou seja conhecer e dominar a liacutengua

inglesa estando inserido em uma comunidade que natildeo domina seu proacuteprio idioma Falar de

futuro para uma comunidade de favela jaacute eacute por si soacute um desafio Qual o futuro para quem

natildeo sabe se vai comer ou ter a oportunidade de continuar vivo no dia presente Que futuro

esperar quando se vecirc o pai becircbado jogado na rua catando lixo ou ao perceber a matildee se

prostituindo Que futuro espera quem vive nas condiccedilotildees caracterizadas pelo representante da

ONU como sendo as piores do mundo Talvez esta seja uma das mais belas funccedilotildees do

mentor de crianccedilas e adolescentes carentes abrir-lhes os olhos para novas e promissoras

experiecircncias e viabilizar o alcance destas Ofertar mais tarefas desafiadoras quando estas

crianccedilas e adolescentes jaacute possuem tantas pode parecer cruel No entanto elas parecem estar

recebendo suporte suficiente para superar tais desafios indo aleacutem do que se espera

bull Exposiccedilatildeo e visibilidade positiva

Na introduccedilatildeo da pesquisadora ao programa pocircde-se assistir agrave apresentaccedilatildeo de alunos-

talentos do projeto onde foram citados o rendimento escolar e as habilidades dos mesmos

Os colaboradores e alguns alunos apresentam-se em busca de patrociacutenio Nestas ocasiotildees os

melhores alunos satildeo destacados

Walter aluno de inglecircs foi observado em seu desempenho por seu mentor e por sua

professora da escola de inglecircs Ele foi indicado para fazer intercacircmbio cultural nos EUA

As alunas do projeto que tinham aula de danccedila apresentavam-se quando havia oportunidade

mesmo que se tratasse de uma missa

81

Figura 6 (4) - Apresentaccedilatildeo de coreografia das meninas do projeto em uma missa de Natal realizada pela Igreja Catoacutelica de Casa Forte na Vila do Vinteacutem II

Fonte Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

Pocircde-se perceber que o projeto expotildee positivamente seus mentorados conforme o

proposto por Kram (1985) Oferecer visibilidade positiva a crianccedilas marginalizadas pela

sociedade mostrando os talentos que estas possuem contribui para resgatar a auto-estima

das crianccedilas e das famiacutelias Crianccedilas e adolescentes de favela satildeo estigmatizados e

relacionados agrave delinquumlecircncia Esta visibilidade positiva eacute interessante para a sociedade

havendo a possibilidade de reduccedilatildeo do preconceito para com estes que estatildeo agrave margem Para

os mentorados a visibilidade positiva pode ajudaacute-los a resgatar aleacutem da auto-estima a

dignidade ao reconhecerem capacidade e potencial em si mesmos

bull Coaching

O reforccedilo era oferecido diariamente para as crianccedilas durante 1hora e meia fossem as

crianccedilas bolsistas ou natildeo ldquoEu eacute que ensinava a ela (Silvia) mas natildeo tenho jeito Depois do

82

projeto ela melhorou a letra aprendeu a ler mais raacutepido aprendeu a escreverrdquo (MAE

DE SILVIA entrevista out 05) ldquoQuando a professora natildeo ia ele (Moab) botava a filha dele

praacute ensinar () Ele eacute professor a esposa o filho e a filha Assim eacute bom neacute Quando um natildeo

tava o outro tava (sic)rdquo (MAE DE AFRAtildeNIO entrevista out05)

Uma das atividades mais presentes observadas no projeto eacute o coaching devido agrave

frequumlecircncia com a qual ocorre As tarefas o estudo o ensino enfim o reforccedilo diaacuterio reflete a

preocupaccedilatildeo com a tarefa e a transmissatildeo das informaccedilotildees necessaacuterias para a sua execuccedilatildeo

tal qual o proposto por Kram (1985)

bull Patrociacutenio

O projeto viabilizou o estudo de 24 crianccedilas adolescentes em escolas particulares

sendo 13 no Ensino Fundamental e Meacutedio e 11 no curso de Inglecircs O projeto provecirc as

condiccedilotildees necessaacuterias para que o aluno possa assumir satisfatoriamente a vaga na escola

particular Houve relato de provisatildeo de assistecircncia meacutedica e odontoloacutegica material e

fardamento escolar e ateacute corte de cabelo Algumas matildees entrevistadas disseram receber

ajuda em termos de alimentaccedilatildeo medicamento e doaccedilotildees de roupas

Ao analisar o patrociacutenio oferecido pelo projeto pode-se estabelecer um diferencial em

relaccedilatildeo agrave teoria proposta por Kram (1985) O patrociacutenio mencionado em pesquisas anteriores

reflete uma preocupaccedilatildeo bem especiacutefica do mentor em termos de patrocinar a carreira do

mentorado No projeto Educaccedilatildeo eacute Vida o patrociacutenio eacute bem mais abrangente Estaacute

relacionado agraves necessidades baacutesicas do mentorado e de sua famiacutelia sem as quais ele natildeo teria

condiccedilotildees sequer de estudar Entenda-se como patrociacutenio neste contexto a oferta de

alimentaccedilatildeo medicamento e sauacutede natildeo excluindo aquele ou seja o material o fardamento a

bolsa de estudos e os cursos

83

Estas foram as atividades de suporte de carreira encontradas no projeto de reforccedilo

Atividades que auxiliam o mentorado em sua carreira profissional conforme proposto por

Kram (1985) Em se tratando de crianccedilas e adolescentes falar de carreira profissional pode

parecer precoce No entanto considerou-se o necessaacuterio para que o mentorado venha a ter

condiccedilotildees de futuramente ter uma carreira Eacute desta forma que atividades como patrociacutenio

coaching tarefas desafiadoras e exposiccedilatildeo positiva devem ser encaradas

Segue na proacutexima seccedilatildeo os resultados e discussotildees dos dados obtidos com relaccedilatildeo agraves

atividades de suporte psicossocial encontradas no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

4222 Suporte psicossocial

Seratildeo considerados os dados que refletem o suporte psicoloacutegico e social oferecido pelo

mentor ao mentorado As funccedilotildees encontradas foram amizade aceitaccedilatildeo e confirmaccedilatildeo e

aconselhamento que seratildeo expostas a seguir

bull Amizade

A professora entrevistada disse buscar construir um viacutenculo de afetividade com os

alunos algo que ultrapassasse o relacionamento distanciado entre professor e aluno ldquoquando

a gente daacute atenccedilatildeo afeto eles aprendem tambeacutem a parte cognitivardquo (PROFESSORA

entrevista out05) A matildee de Helena diz ldquoEle (Moab) daacute atenccedilatildeo ela gosta dele porque ele

sabe conversar daacute carinhordquo (entrevista out05) Walter declara ldquoEacute como se ele (Moab) fosse

um pai praacute mim me estende a matildeordquo (entrevista out05) O projeto busca acompanhar a

famiacutelia atraveacutes do coordenador e da psicoacuteloga que se propotildee a realizar um acompanhamento

terapecircutico se necessaacuterio

Pocircde-se observar claramente que a amizade estaacute presente na relaccedilatildeo de mentoria

Atraveacutes dos discursos acima percebe-se um viacutenculo entre mentor e mentorado no qual o

mentorado mostra-se compreendido tal qual o proposto por Kram (1985)

84

bull Aceitaccedilatildeo e confirmaccedilatildeo

Pode-se observar atraveacutes dos discursos e mais evidentemente em uma das entrevistas

ldquoAfracircnio eacute muito bom em histoacuteria e ciecircncias ele soacute tira 10 Seu Moab sempre ficava

elogiando ele que ele era bom e acho que isso foi incentivando elerdquo (MAE DE

AFRAcircNIO entrevista out05)

Conforme o proposto por Kram (1985) a aceitaccedilatildeo faz com que o mentorado se sinta

seguro ateacute mesmo para enfrentar os desafios que conforme exposto satildeo muitos O

coordenador relata que entre os alunos do projeto haacute casos em que a crianccedila eacute

frequumlentemente desprezada pela matildee Neste caso o valor da aceitaccedilatildeo oferecida pelo mentor

torna-se imensuraacutevel

bull Aconselhamento

Dar conselhos apareceu frequumlentemente nos discursos da professora e do coordenador

O que pocircde ser confirmado atraveacutes da fala das matildees e do aluno entrevistado Os conselhos satildeo

dados visando o progresso dos alunos nos estudos por evitar que fiquem na rua e na tentativa

de convencecirc-los de que o seu futuro pode ser melhor do que o presente

O seu Moab soacute apoacuteia Agora eacute de falar o pesado tambeacutem Ele daacute apoio tudinho mas tambeacutem quando vecirc que taacute errado ele vem chega e conversa () ele tira o tempo dele praacute vir dar conselhos ele diz praacute Jairo que quer que ele estude que se forme e seja algueacutem na vidardquo (MAE DE JAIRO entrevista out05)

Outra matildee diz que quando o filho tem duacutevida sobre algo que aparece procura seu

Moab Diz que ele eacute rigoroso mas o filho atende ldquoA professora dizia para Faacutebio que ele soacute

seria algueacutem na vida se estudasse seu Moab tambeacutem dava o exemplo dos filhos delerdquo (MAE

DE FAacuteBIO entrevista out05) e a matildee de Helena diz ldquoEu sempre pedia a ele (Moab) para

dar conselho a Helena sobre estudo quando eu falo com ela entra por um ouvido e sai pelo

outro ela ouve elerdquo (entrevista out05)

85

O aconselhamento eacute mais uma das funccedilotildees relevantes em um projeto de mentoria

voltado para crianccedilas e adolescentes de risco uma vez que as crianccedilas nem sempre dispotildeem

de pessoas para aconselhaacute-las Segundo Harris et al (2002) a disponibilidade de adultos para

aconselhar as crianccedilas eacute escassa fazendo com que passem mais tempo com seus pares que

neste caso podem ter pouco a oferecer em termos de aconselhamento e de orientaccedilatildeo para um

futuro mais promissor do que o vivenciado na comunidade

bull Modelagem de papeacuteis

Acerca do suporte psicossocial oferecido pelo projeto a funccedilatildeo modelagem de papeacuteis

foi encontrada de duas formas uma atraveacutes da pessoa do mentor e outra atraveacutes do mentor

elegendo seus filhos como modelo Em termos educacionais o coordenador parece constituir

seus filhos como exemplos a serem seguidos um cursando o doutorado e a outra com dois

cursos superiores O que traz sentido agrave fala de uma das matildees ao dizer que ele cita os filhos

como exemplos Por outro lado a modelagem de papeacuteis natildeo consiste apenas em o mentor se

um modelo educacional para o mentorado A modelagem eacute mais ampla uma vez que o

mentorado tem nos comportamentos valores e atitudes de seu mentor um modelo positivo O

coordenador leva ao conhecimento de seus mentorados o sacrifiacutecio que fez para educar seus

filhos ainda que abrindo matildeo de sua proacutepria formaccedilatildeo Rhodes et al (2002) dizem que o fato

de ser um modelo faz com que o mentor seja visto pelo mentorado como ideal Neste sentido

o coordenador parece ser visto pelos mentorados como exemplo de um vencedor A fala de

Walter ao colocaacute-lo como pai transmite esta ideacuteia de referencial Walter diz ter a seguinte fala

de seu mentor em sua cabeccedila e colada em seu caderno ldquoo fracasso jamais me surpreenderaacute se

a minha decisatildeo de vencer for suficientemente forterdquo (WALTER entrevista out 2005) Esta

fala parece ser o lema do proacuteprio coordenador Vale salientar que assim como o lema Walter

deseja tambeacutem ldquoimitarrdquo o mentor quanto ao ser professor

86

Parece haver a necessidade de mostrar agrave crianccedila ou adolescente que haacute uma

possibilidade diferente da que ela estaacute habituada a ver Que haacute outros referenciais e que ela

tem possibilidade de escolha mesmo que esta implique em desafios Pode-se retomar o

discurso do coordenador quando diz que seu filho para ir agrave Universidade muitas vezes pegou

carona no caminhatildeo do lixo Ao citar isto o mentor pode estar criando uma identidade entre

as crianccedilas e seu filho ao demonstrar que mesmo com a difiacutecil realidade o esforccedilo e a

vontade de sobressair o fizeram ldquovencedorrdquo Assim como ele conseguiu elas tambeacutem podem

conseguir Vecirc-se claramente isto no discurso de uma das crianccedilas quando diz que natildeo quer ser

como o pai sem estudos O que revela que em relaccedilatildeo aos estudos e carreira ele tem outro

referencial Pocircde-se neste relato observar um olhar mais reflexivo da crianccedila ao sair de seu

proacuteprio contexto e desejar escapar do ldquodeterminismordquo a que estaacute sujeita

Estas foram as especificidades das funccedilotildees da mentoria desenvolvida no projeto em

relaccedilatildeo agraves propostas pela literatura Observou-se a existecircncia de suporte de carreira e

psicossocial Foram portanto encontradas no projeto as duas funccedilotildees de mentoria propostas

por Kram (1985) Neste caso a mentoria desenvolvida no projeto pode ser considerada

intensa A autora salienta que a funccedilatildeo psicossocial estaacute relacionada agrave confianccedila existente na

relaccedilatildeo Pocircde-se observar que o coordenador do projeto goza da confianccedila da comunidade

tanto pela abertura que as famiacutelias lhe demonstram como por entregar seus filhos aos seus

cuidados Tal confianccedila foi observada em todas as entrevistas Este fato permite que sejam

desempenhadas as funccedilotildees de suporte psicossocial

Seguem na proacutexima seccedilatildeo as fases da mentoria no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

87

423 Fases da relaccedilatildeo de mentoria apresentadas no projeto de

reforccedilo

Com relaccedilatildeo aos alunos pesquisados todos estavam na fase de cultivo da relaccedilatildeo seja

com apenas dois anos de projeto seja com oito No entanto pocircde-se observar que em alguns

casos de egressos a mentoria estaacute na fase de redefiniccedilatildeo uma vez que os mentorados estatildeo

seguindo seus proacuteprios rumos jaacute natildeo com um acompanhamento ldquotatildeo de pertordquo Eacute o caso de

uma ex-aluna do projeto que ganhou um apartamento no Conjunto Habitacional Casaratildeo do

Cordeiro intermediado pelo coordenador junto agrave Prefeitura

Pode-se perceber que os relacionamentos de mentoria encontram-se

predominantemente na fase de cultivo Eacute nesta fase que o mentor provecirc as funccedilotildees de

carreira e psicossociais Tal achado culmina com os encontrados anteriormente facilitando o

desenvolvimento das funccedilotildees de mentoria tatildeo evidentes neste projeto

Segue na proacutexima seccedilatildeo os fatores relacionados ao ecircxito de um programa de mentoria

formal que foram encontrados no projeto

424 Fatores encontrados no projeto que de acordo com a

literatura estatildeo relacionados ao ecircxito da relaccedilatildeo de mentoria

A literatura aponta fatores que estatildeo relacionados ao ecircxito de um programa de

mentoria Estes foram encontrados no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida Os fatores satildeo seleccedilatildeo de

mentores e mentorados acompanhamento da relaccedilatildeo de mentoria frequumlecircncia dos encontros e

duraccedilatildeo da relaccedilatildeo Seguem-se os dados e sua discussatildeo acerca de cada fator de ecircxito

88

bull Seleccedilatildeo de mentor e mentorado

O uacutenico criteacuterio para ser mentorado era o fato de residir na Vila do Vinteacutem As

crianccedilas e adolescentes que tivessem interesse em levar suas tarefas ao reforccedilo poderiam fazecirc-

lo Laacute recebiam acompanhamento de um professor desde que com o aval dos pais

Para se fazer parte do projeto enquanto mentor era necessaacuterio o compartilhamento da

visatildeo de que eacute possiacutevel acreditar na mudanccedila de vida das crianccedilas e adolescentes atraveacutes da

educaccedilatildeo de qualidade e que as crianccedilas tecircm potencial mas lhes falta oportunidade Os

professores satildeo selecionados pelo coordenador do projeto mediante anaacutelise do curriacuteculo e da

experiecircncia A professora entrevistada jaacute conhecia os alunos do projeto pois eacute uma das

professoras que leciona em uma das escolas que fornece bolsa para a comunidade o que fez

com que o coordenador conhecesse parcialmente seu trabalho Ao falar de sua admissatildeo ao

projeto ela diz ldquoeu gosto desta clientela (crianccedilas carentes) e ele (Moab) me deu esta

oportunidaderdquo (entrevista out05) A dentista aderiu ao projeto a partir de uma das

apresentaccedilotildees do grupo em busca de patrociacutenio e apoio Diante da necessidade de pessoas

qualificadas para prestar serviccedilo voluntaacuterio ela que diz ter interesse e identidade com a aacuterea

social prontificou-se e estaacute no projeto haacute um ano

A psicoacuteloga demonstra o mesmo interesse ldquoEu sempre fui muito voltada para o social

sempre gostei muito de ajudarrdquo Ela parece estar muito inserida com a comunidade atraveacutes

do projeto pois frequumlentemente em seu discurso ela afirma ldquoquando vocecirc estaacute laacute dentro com

elesrdquo (entrevista out05) A psicoacuteloga trabalha em outro centro de atendimento a pessoas

carentes Estaacute no projeto haacute cinco anos

Pode-se observar que os colaboradores tecircm identidade com o projeto a ponto de

realizarem o trabalho como voluntaacuterios A uacutenica exceccedilatildeo eacute a professora mas mesmo ela em

seu discurso considera que fazer parte do projeto eacute uma oportunidade Eacute marcante a fala da

89

psicoacuteloga em sua entrevista ao inserir-se realmente na comunidade Esta dedicaccedilatildeo e

identidade podem ser fatores que contribuem para que o projeto tenha maior ecircxito

bull Acompanhamento da relaccedilatildeo de mentoria

O coordenador do projeto estaacute frequumlentemente avaliando se os resultados obtidos satildeo

os desejados

Eu optei pela Vila Vinteacutem porque o nosso acompanhamento eacute a liberdade vigiada () noacutes fazemos as coisas para eles mas tambeacutem queremos acompanhar de perto o que estaacute acontecendo entatildeo natildeo adianta eu pegar um menino da comunidade onde eu natildeo possa visitaacute-lo ele natildeo possa vir ao projeto Eu natildeo vejo o resultado do investimento feito enquanto eles aqui eu vejo passo-a-passo () eacute um acompanhamento bem de perto mesmo (COORDENADOR out05)

Haacute reuniotildees com os pais responsaacuteveis esclarecendo a importacircncia do projeto e

solicitando sua interaccedilatildeo no programa

Eles passavam fita de viacutedeo para os pais sobre educaccedilatildeo e pediam para os pais falar com os filhos () ele sempre queria o bem das crianccedilas agora dependia das crianccedilas e dos pais () seu Moab dizia que a gente tinha que ajudar ele com o Faacutebio (crianccedila tida pelo coordenador como de natildeo-ecircxito) botar ele praacute estudar (MAE DE FAacuteBIO E DE DIEGO entrevista out05)

Com relaccedilatildeo ao mentorado pode ocorrer o desligamento do aluno da bolsa de estudos

na escola particular caso ele natildeo atinja um desempenho satisfatoacuterio ldquoQuando uma crianccedila

natildeo valoriza isso que a gente oferece a gente tambeacutem natildeo aceita repetente natildeo aceita falta

vocecirc tem que estar de acordo dentro do projeto em disciplina bem comportado e com boas

notasrdquo (COORDENADOR entrevista out 05) Mesmo desligado da escola particular o

aluno pode continuar fazendo parte do reforccedilo

Pocircde-se confirmar atraveacutes destes discursos o relatado por Frecknall e Luks (1992) A

participaccedilatildeo dos pais apoiando o programa tem uma relaccedilatildeo positiva com o sucesso e sem este

apoio o ecircxito do programa pode ficar comprometido Em uma comunidade onde a grande

maioria dos moradores eacute analfabeta o acompanhamento deve ser intenso visando incutir na

famiacutelia a necessidade de compreensatildeo do valor da educaccedilatildeo Grossman e Tierney (1998)

90

tambeacutem salientam a importacircncia de se verificar o grau de envolvimento da famiacutelia no

programa pois conforme exposto este eacute um fator de ecircxito para a relaccedilatildeo

bull Frequumlecircncia dos encontros

A frequumlecircncia dos encontros entre os mentores e mentorados varia A psicoacuteloga ia agrave

comunidade uma tarde por semana na qual prestava os atendimentos agendados e caso

houvesse mais pessoas a serem atendidas fazia outros atendimentos Em caso de necessidade

ela ia agrave comunidade num outro dia A dentista atendia em seu consultoacuterio Havendo

necessidade o coordenador ligava e agendava o atendimento Jaacute as aulas eram ministradas

diariamente para os alunos que estudavam agrave tarde o reforccedilo era pela manhatilde e para os que

estudavam pela manhatilde o reforccedilo era agrave tarde O acompanhamento era feito durante uma hora e

meia para cada turma As turmas eram assim divididas alfabetizaccedilatildeo e 1a seacuterie 2a e 3a

seacuteries e 4a e 5a seacuteries

Figura 7 (4) - Professora e alunos durante a aula de reforccedilo na sede do projeto03

Fonte- Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

91

Apoacutes o reforccedilo os alunos tinham outras atividades como aula de muacutesica (teoria e

praacutetica) danccedila pintura ou inglecircs O projeto dispunha de quadra alugada onde as crianccedilas

podiam jogar futebol Em quase todas as atividades o coordenador diz estar presente

No ano de 2005 como as atividades foram parcialmente suspensas natildeo houve mais

frequumlecircncia no relacionamento Algumas das crianccedilas com bolsa de estudos em escola

particular foram colocadas num semi-internato conseguido pelo projeto Esta interrupccedilatildeo teve

reflexo na vida dos alunos como se pocircde observar no discurso abaixo

Em casa ela natildeo eacute comportada sempre ela foi danada mas ela melhorou no projeto Agora que ta sem o projeto ela jaacute ta voltando ao que era eu tocirc recebendo reclamaccedilatildeo do coleacutegio que natildeo quer estudar soacute quer ta brincando ta voltando a dar problema ta voltando a ser o que era () no semi-internato tem muita atividade satildeo muitas crianccedilas e eles arengam e no projeto eu nunca tive esse problema de ela ta arengando (sic) (MAE DE HELENA entrevista out05)

O fato de as entrevistas terem sido realizadas neste periacuteodo de transiccedilatildeo no qual as

crianccedilas natildeo estatildeo sendo assistidas faz com que a importacircncia da frequumlecircncia dos encontros

fique evidenciada Confirma-se assim que esta eacute um relevante fator de ecircxito para a relaccedilatildeo de

mentoria conforme observado na teoria (KEATING et al 2002) No entanto pode-se dizer

que o projeto de reforccedilo apresentava uma frequumlecircncia maior do que nos programas

similares apresentados pela teoria Tal frequumlecircncia garante um acompanhamento mais

proacuteximo visto que todos os dias por no miacutenimo uma hora e meia os alunos estavam no

projeto em contato com seus mentores Estudos feitos por Keating et al (2002) revelam que a

frequumlecircncia dos encontros tem relaccedilatildeo com o ecircxito do relacionamento principalmente em se

tratando de adolescentes com risco para delinquumlecircncia Neste sentido o projeto apresentava

maior probabilidade de ecircxito uma vez que a frequumlecircncia dos encontros era alta

d) Duraccedilatildeo da relaccedilatildeo de mentoria

Os alunos pesquisados estatildeo inseridos nesta relaccedilatildeo de mentoria por no miacutenimo dois

anos Segundo Grossmam e Rhodes (2002) a maioria dos benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria

92

como melhores resultados educacionais psicossocias e comportamentais apresentam-se em

relaccedilotildees que perduram por um ano ou mais Frecnall e Luks (1992) consideram que a duraccedilatildeo

eacute um fator determinante do ecircxito

O projeto mostra-se rigoroso com os fatores que impedem o ecircxito dos alunos desde

que sob sua responsabilidade Os fatores acima tecircm sido observados uma vez que a

negligecircncia em referecircncia a qualquer destes fatores pode levar a uma relaccedilatildeo ineficiente ou

ateacute mesmo negativa trazendo efeitos nocivos agrave vida da famiacutelia do mentorado e tambeacutem do

mentor

Natildeo se pode ignorar que na medida em que se vai estruturando uma relaccedilatildeo de

mentoria a mesma vai sofrendo ajustes visando tornaacute-la mais produtiva mais ldquopoderosardquo

Existem fatores que podem e devem ser estruturados previamente tais como a duraccedilatildeo e a

frequumlecircncia dos encontros e o objetivo da relaccedilatildeo No entanto haacute outros fatores que nem

sempre se consegue estruturar Um exemplo eacute a confianccedila necessaacuteria para que a relaccedilatildeo

realmente aconteccedila Em outras palavras observando-se os fatores relacionados ao ecircxito seratildeo

minimizadas as possibilidades de insucesso mas elas natildeo deixaratildeo de existir pois a mentoria

mesmo com seus inuacutemeros benefiacutecios natildeo eacute uma soluccedilatildeo maacutegica Trata-se de uma relaccedilatildeo e

portanto dependente do encontro de pessoas e de viacutenculos emocionais entre elas Este aspecto

eacute de difiacutecil controle havendo sempre um espaccedilo para a imprevisibilidade do ser humano

Se os fatores que levam ao ecircxito da relaccedilatildeo foram observados pelo projeto resta o

questionamento de o por quecirc de alguns casos serem considerados pelo projeto como de natildeo-

ecircxito Este aspecto eacute abordado na seccedilatildeo seguinte

93

425 Fatores responsaacuteveis pelo ecircxito e natildeo-ecircxito nos estudos na

percepccedilatildeo do mentor e da famiacutelia do mentorado

Na percepccedilatildeo do coordenador o ecircxito eacute obtido quando a cada ano a crianccedila vai sendo

aprovada e ascendendo e apresentando um bom comportamento ldquoQuando uma instituiccedilatildeo se

abre e nos convida a oferecer mais bolsas eacute porque nossos alunos estatildeo correspondendo tanto

em disciplina quanto no aprendizadordquo (COORDENADOR entrevista set05) Um exemplo

de ecircxito citado pelo coordenador eacute o caso de uma moccedila que foi acompanhada pelo projeto

desde a 6a seacuterie ateacute o 3ordm ano do ensino Meacutedio Ela fez um curso de informaacutetica depois fez um

estaacutegio junto agrave Prefeitura e hoje aos 20 anos trabalha no setor burocraacutetico de um hospital

O coordenador considera um caso de natildeo-ecircxito o caso da crianccedila ou adolescente que

natildeo rende o esperado em termos de desempenho escolar e de comportamento

Vale salientar que em quase sua totalidade os casos de natildeo-ecircxito indicados para

pesquisa foram avaliados pelas famiacutelias como de ecircxito A uacutenica exceccedilatildeo eacute a matildee de Faacutebio

que acredita que seu filho realmente natildeo tem tido sucesso nos estudos Segundo o

coordenador a diferenccedila estaacute na expectativa Para os pais o fato de o aluno estar na escola e

apresentar melhor comportamento jaacute eacute ecircxito enquanto que para o projeto isto natildeo eacute o

suficiente Na opiniatildeo dele a falta de sucesso deve-se a trecircs fatores

a) Estrutura familiar ndash muitas vezes a famiacutelia natildeo daacute o suporte que a crianccedila necessita

Para o coordenador a escola natildeo eacute valorizada por esses pais ldquoEles natildeo tecircm a escola como um

centro de promoccedilatildeo social como mobilidade social Eles natildeo descobriram isso As famiacutelias

natildeo as crianccedilasrdquo (COORDENADOR entrevista set05)

A professora chamava conversava com os alunos com a matildee em particular Ela queria ajudar ele mas ele natildeo queria ser ajudado Eu sabia que o Faacutebio natildeo ia ter uma oportunidade em uma escola melhor porque ele eacute assim () Eu nunca tava em cima dele para estudar eu natildeo tenho paciecircncia natildeo Se ele responder duas coisas erradas eu jaacute fico brava O pai eacute pior que eu Mal digo a ele que eacute pior do que eu (MAE DE FAacuteBIO entrevista out05)

94

b) Relacionamento negativo entre os pais e os filhos

Outro fator que notamos eacute a falta de amor para com essas crianccedilas que natildeo datildeo tatildeo certo () Os pais tecircm outros objetivos tecircm outras coisas mais importantes do que amar seus filhos () todas as crianccedilas bem comportadas na sala de aula eram bem amadas em casa () Quando isso natildeo ocorre a crianccedila torna-se uma crianccedila problema porque ela leva os haacutebitos e a falta de amor que ela tem em casa praacute escola para onde ela chegar (COORDENADOR entrevista set05)

c) Desinteresse do proacuteprio aluno O projeto contava com quatro alunos que eram

irmatildeos Estes recebiam acompanhamento diaacuterio nas tarefas O coordenador diz que foi agrave

escola deles para saber suas notas Por este motivo eles deixaram de ir ao projeto Nenhum

deles terminou o Ensino Meacutedio e atualmente um eacute zelador o outro eacute jardineiro e dois estatildeo

desempregados

O objetivo do projeto eacute de longo prazo o que dificulta uma anaacutelise dos resultados ou

de egressos para se identificar o ecircxito ou natildeo-ecircxito Mesmo os casos que desde o iniacutecio foram

acompanhados ainda hoje o satildeo Natildeo com a mesma intensidade mas ainda recebem algum

tipo de suporte do projeto Outro fator que dificulta a anaacutelise eacute o fato de que todos os alunos

estatildeo na escola e avanccedilando em seacuteries mesmo porque atualmente a escola natildeo reprova o que

torna difiacutecil saber ateacute que ponto tecircm realmente bom aproveitamento Portanto natildeo se

conseguiu distinguir dentre os casos pesquisados um limite claro entre o ecircxito e o natildeo-ecircxito

contando-se apenas com a percepccedilatildeo dos respondentes (matildees de alunos psicoacuteloga professora

e coordenador)

426 Resposta agrave primeira questatildeo norteadora especificidades da

relaccedilatildeo de mentoria existentes no projeto de reforccedilo escolar

Conforme o objetivo proposto pocircde-se encontrar algumas especificidades na relaccedilatildeo

de mentoria realizada no projeto que diferem um pouco dos achados teoacutericos Satildeo eles

95

a) A mentoria apresenta aspectos de mentoria formal e informal

b) Existem dois tipos de relacionamento entre mentor e mentorado em um o

acompanhamento eacute mais proacuteximo do que no outro

c) A frequumlecircncia dos encontros eacute maior no projeto do que a encontrada na literatura

d) Dentre as funccedilotildees de carreira o patrociacutenio oferecido pelo projeto eacute mais amplo do

que o apresentado pela teoria e

Com base nestes achados eacute possiacutevel concluir que um programa de mentoria para

crianccedilas e adolescentes de uma comunidade carente do Recife tem suas especificidades suas

caracteriacutesticas particulares diferindo de outros programas realizados no contexto de outros

paises Respondida a primeira questatildeo norteadora segue-se a segunda que aborda os

benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria para o mentorado

43 Achados referentes agrave segunda questatildeo norteadora

Seguem os achados que buscam responder a seguinte questatildeo em um contexto

brasileiro ateacute que ponto os mentorados carentes estudados tecircm desfrutado dos benefiacutecios da

relaccedilatildeo de mentoria apontados pela literatura

Pocircde-se observar os seguintes benefiacutecios da relaccedilatildeo de mentoria na vida dos

mentorados enquanto participantes do programa de reforccedilo

431 Aumento da auto-estima da responsabilidade maior

progresso escolar e perspectiva positiva de futuro

Devido agrave impossibilidade de neste trabalho medir-se a auto-estima dos mentorados o

aumento desta seraacute considerado em relaccedilatildeo ao progresso escolar pois com base no observado

por Harter (1982) o sentir-se competente leva o jovem a obter melhor desempenho Grossman

96

e Tierney (1998) salientam que jovens ao serem acompanhados por um mentor se sentiram

mais confiantes para com suas tarefas escolares Associou-se tambeacutem o progresso escolar com

perspectiva positiva de futuro uma vez que se percebeu que o avanccedilo nos estudos estaacute

relacionado com melhores perspectivas de futuro

O aumento do desempenho escolar eacute visiacutevel nos casos que se seguem

Antes (do projeto) ela era preguiccedilosa soacute queria ficar brincando ela teve muita dificuldade para aprender (na preacute-escola) Estudava mas natildeo aprendia na 1a foi fazer o reforccedilo depois do projeto ela foi se interessando mais pode ser porque natildeo tinha nenhum incentivo neacute () Ela chegava e dizia que era bom quando estudava e tirava nota boa antes (de interromper o projeto) ela natildeo esperava nem chegar em casa vinha aqui (no trabalho) para me mostrar as provas (MAE DE HELENA entrevista out05)

No interior eu fiz matricula dele noacutes trabalhava na roccedila ele natildeo gostava (de estudar) natildeo se dedicava ia caccedilar passarinho mas quando chegou aqui seu Moab quis acordar ele pra vida Ele vendo os meninos tudo com a idade dele (9 anos na eacutepoca) sabendo ler e escrever dentro de seis meses o menino desenrolou para aprender mesmo (sic) (MAE DE JAIRO entrevista out05)

Jairo cursou a 4a e a 5a seacuteries no mesmo ano Faz tambeacutem curso de inglecircs O

coordenador ouviu da professora deste curso que o aluno tem dom para idiomas natildeo soacute

inglecircs mas espanhol e francecircs

A possibilidade do intercacircmbio foi boa para eu ter uma certa ideacuteia do que pode acontecer comigo do que pode acontecer () Ele (Moab) dizia que para analfabeto a caneta e o papel eacute o chatildeo e a vassoura Que eu estudasse porque a miseacuteria hoje em dia -saiu na revista- jaacute tinha endereccedilo que era praacute pobre negro e nordestino e que se a gente natildeo lutasse essa realidade a gente natildeo iria mudar nunca () Eu decidi que quero ser professor de inglecircs (WALTER entrevista out05)

Ele diz que quer fazer faculdade ele ficou com mais esperanccedila de conseguir uma coisa melhor ele diz que eu natildeo me preocupe porque daqui a dez anos ele vai ter um emprego bom e vai me ajudar (MAE DE FREDERICO entrevista out05)

Ele quer ir estudar nos Estados Unidos fez vaacuterios cursos inglecircs francecircs espanhol informaacutetica e de entrevista Onde tiver curso ele vai ele quer muito trabalhar ter seu dinheiro fazer sua vida () o negoacutecio dele eacute ta dentro de casa estudando pregado nos livros (MAE DE NESTOR entrevista out05)

97

A professora entrevistada leciona tambeacutem no coleacutegio que oferece bolsa para os alunos

do projeto sendo professora deles em ambos os lugares Ao ser solicitada a comparar o

desempenho dos alunos do projeto com os demais alunos a professora mencionou que dentre

seus trecircs alunos com desempenho excelente dois satildeo do projeto Os demais do projeto estatildeo

na meacutedia

A coordenadora de uma das escolas que fornece bolsa de estudos ao projeto (esta

escola oferece bolsas para dois alunos da sexta seacuterie) ao ser entrevistada disse que o

comportamento dos alunos do projeto eacute bom e o desempenho apresentado por eles eacute maior do

que a meacutedia da turma e da seacuterie como se pode observar nos boletins que se seguem

98

Figura 8 (4) Boletim escolar de Afracircnio - 6a Seacuterie

99

Figura 9(4) Boletim escolar de Jairo ndash 6a Seacuterie

Em ambos os casos as famiacutelias satildeo analfabetas E neste ano os dois alunos estatildeo sem

o reforccedilo motivo pelo qual segundo uma das matildees o desempenho do filho caiu Este mesmo

aluno neste ano natildeo conta com todo o material didaacutetico necessaacuterio Ainda assim estes alunos

estatildeo apresentando um desempenho superior ao de seus colegas

100

Atraveacutes dos discursos das matildees percebeu-se considerarem que o fato de seus filhos

terminarem a primeira fase do ensino fundamental e darem sequumlecircncia a estes estudos jaacute eacute uma

visatildeo positiva de futuro Observou-se isso no discurso da matildee de Afracircnio ldquoquem estuda tem

esperanccedila de um futuro melhorrdquo O caso de Jairo que chegou analfabeto do interior e em seis

meses estava lendo e escrevendo confirma o proposto por Rhodes et al (2002) de que a

presenccedila de um mentor ajuda os adolescentes a superarem momentos de adversidade Neste

caso ele natildeo tem pai e sua matildee considera o mentor como algueacutem da famiacutelia que ajuda a

suprir esta ausecircncia na vida do filho O fato de Walter (que convive com analfabetos) ter

definido sua carreira (professor de inglecircs) demonstra o proposto por Kram (1985) o mentor

ajuda o mentorado na definiccedilatildeo da identidade profissional

Vale destacar a relevacircncia de se promover o aumento da auto-estima decorrente do

desempenho apresentado pelos alunos Pessoas que ainda natildeo tecircm satisfeitas adequadamente

as necessidades fisioloacutegicas (alimentam-se mal natildeo contam com aacutegua encanada nem

sanitaacuterios) e de seguranccedila (moram e vivem permanentemente expostos a riscos) apresentando

necessidade de realizaccedilatildeo Vale ressaltar a teoria da motivaccedilatildeo proposta por Maslow (apud

ROBBINS 2002) que defende que a satisfaccedilatildeo da necessidade de realizaccedilatildeo dependeria da

satisfaccedilatildeo de niacuteveis mais baacutesicos de necessidade como as fisioloacutegicas de seguranccedila e sociais e

de estima Percebeu-se no contexto da pesquisa a possibilidade do caminho inverso Atraveacutes

do aumento da auto-estima e da satisfaccedilatildeo da necessidade de realizaccedilatildeo as crianccedilas e

adolescentes podem vir a ter no futuro condiccedilotildees de satisfazer a contento suas necessidades

fisioloacutegicas e de seguranccedila

101

432 Resposta da segunda questatildeo norteadora benefiacutecios da

mentoria para a crianccedila adolescente do projeto

Foram encontrados os seguintes benefiacutecios para o mentorado participante do projeto

aumento da auto-estima maior progresso escolar e perspectiva positiva de futuro

Em termos de especificidades com relaccedilatildeo ao proposto pela teoria natildeo foram

percebidas diferenccedilas existentes entre os benefiacutecios para o mentorado encontrados em

pesquisas anteriores e os encontrados no projeto de reforccedilo escolar na Vila do Vinteacutem II fato

que responde agrave segunda questatildeo norteadora desta pesquisa

Seguem os achados acerca da terceira questatildeo que versa sobre os benefiacutecios para o

mentor encontrados na mentoria desenvolvida pelo projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

44 Achados referentes agrave terceira questatildeo norteadora

Dentre os benefiacutecios na vida dos mentores que participam do projeto pocircde-se observar

realizaccedilatildeo pessoal motivaccedilatildeo amizade auto-conhecimento e senso de dever cumprido Tais

achados apresentados nas seccedilotildees abaixo buscam responder a seguinte questatildeo ateacute que ponto

um projeto de mentoria voltado para crianccedilas e adolescentes carentes oferece os benefiacutecios

propostos pela teoria para os mentores

441 Realizaccedilatildeo pessoal

Pocircde-se observar que fazer parte do projeto faz com que os mentores se sintam

realizados

Quando a gente eacute uacutetil a outra pessoa a gente se realiza () Eu me realizo assim vendo a alegria dos meninos que realmente estatildeo mudando a cara natildeo soacute da famiacutelia mas tambeacutem da comunidade (COORDENADOR entrevista set05)

102

Eu fico muito bem comigo mesma na realizaccedilatildeo deste trabalho () O que me deixa realizada eacute ver alguns frutos desse trabalho natildeo soacute nas crianccedilas como da proacutepria famiacutelia () em relaccedilatildeo ao futuro agrave auto-estima potencial de cada um que eles natildeo estatildeo sozinhos a gente taacute laacute com eles () e esse pouquinho esse pouco que eu estou fazendo estaacute facilitando a vida melhorando A gente vecirc um salto de qualidade na vida deles (PSICOacuteLOGA entrevista out05)

Ao acompanhar preparar os alunos para os exames de admissatildeo vecirc-los entrar na

escola particular acompanhar o crescimento e desenvolvimento dos mentorados a professora

entrevistada demonstra sentir orgulho do trabalho feito com seus dois melhores alunos

ldquoRealmente valeu a pena investir porque satildeo crianccedilas que apesar de todo o contexto social

que eles vivem eles satildeo responsaacuteveis inteligentiacutessimosrdquo (PROFESSORA entrevista out05)

Ficou evidenciado que o fato de ser um mentor daacute ao indiviacuteduo um senso de

generosidade ao contribuir com as geraccedilotildees futuras (RAGINS 1997) e que ser mentor de

adolescentes delinquumlentes tem sido gratificante na medida em que os mentores tecircm uma

oportunidade de ajudar estas pessoas (JACKSON 2002) Ser mentor do projeto Educaccedilatildeo eacute

Vida provecirc um sentimento de recompensa ao ver as mudanccedilas positivas na vida dos

mentorados conforme o propostos por Shields (2001)

442 Motivaccedilatildeo

A psicoacuteloga diz que a partir de seu envolvimento com o projeto ela fez curso em

Psicopedagogia e especializaccedilatildeo em Psicologia da Famiacutelia

O trabalho com as crianccedilas e as famiacutelias me proporcionou outros aprendizados maiores ateacute do que eu esperava porque a gente aprende muito laacute dentro com eles E assim eu comecei a me especializar a voltar para mim em niacutevel de aprendizado de crescimento tambeacutem profissional () Eacute uma troca muito grande de saber quando a gente taacute laacute dentro com eles a gente tem essa vontade de realmente acertar (PSICOacuteLOGA entrevista out05)

Zey (1998) diz que o mentor pode redirecionar sua energia para a criatividade e accedilatildeo

produtiva A mentoria pode entatildeo significar estiacutemulo e desafio O que pocircde ser observado no

103

discurso acima O desenvolvimento profissional natildeo eacute benefiacutecio apenas para o mentorado

mas para o mentor tambeacutem

443 Ser amado pelo mentorado

Pocircde ser observado que o mentor recebe amizade e carinho de seus mentorados

conforme verificado por Klaw et al (2003) ldquoEle ama o seu Moab ele almoccedila na casa de

Moab segunda e quarta e diz que laacute tudo eacute bomrdquo (MAE DE AFRAcircNIO entrevista out05)

ldquoMeus dois filhos eacute agarrado com seu Moabrdquo (sic) (MAE DE TAcircNIA entrevista set 05)

ldquoMoab foi vendo que eu tava sempre ali no projeto do lado dele e ele do meu lado () o

pessoal me achava careta porque eu sentia alguma coisa pelo projeto eu sempre prestava a

atenccedilatildeo procurava entenderrdquo (WALTER entrevista out05)

444 Autoconhecimento

Percebeu-se que fazer parte do projeto enquanto mentor provecirc um maior

autoconhecimento ou autopercepccedilatildeo

ldquoEacute muito gratificante trabalhar com pessoas carentes comeccedilo a valorizar o que eu

tenho a gente comeccedila a agradecer muito por essa vida boa que a gente tem que eacute muito boa

muito boa mesmordquo (DENTISTA entrevista out05)

A partir desta relaccedilatildeo ela percebe melhor sua situaccedilatildeo fala acerca da sauacutede dos filhos e de ter

uma casa maravilhosa

Neste caso o contato com a realidade da comunidade pode tecirc-la levado a comparar

esta realidade com a sua proacutepria e entatildeo perceber-se abastada

104

445 Senso de dever cumprido

Outro beneficio encontrado diz respeito ao senso de dever cumprido que o fato de ser

mentor propicia

A gente sabe que tem um papel social a desempenhar Natildeo fomos beneficiados pela sociedade com o direito de estudar de fazer um curso superior de ter uma habilitaccedilatildeo () para que isso sirva apenas para o nosso benefiacutecio Essa nossa habilitaccedilatildeo que a sociedade deu a sociedade deu eu estudei em uma Universidade Federal essa habilitaccedilatildeo deve retornar para a sociedade tambeacutem para quem pode pagar e para quem natildeo pode pagar Eacute necessaacuterio que isso volte (DENTISTA entrevista out05)

Este benefiacutecio natildeo foi encontrado na literatura talvez por tratar de um tema ainda

recente o indiviacuteduo ter responsabilidade com a realidade social que o cerca

446 Resposta da terceira questatildeo norteadora benefiacutecios da

mentoria para o mentor

Foram encontrados no projeto educaccedilatildeo eacute Vida os seguintes benefiacutecios para o mentor

a) Realizaccedilatildeo pessoal

b) Motivaccedilatildeo

c) Ser amado pelo mentorado

d) Autoconhecimento e

e) Senso de dever cumprido

Sendo que estes dois uacuteltimos natildeo foram encontrados na teoria mas percebidos na

relaccedilatildeo de mentoria que ocorre no projeto Estes achados podem ser explicados devido ao

contexto no qual a mentoria ocorreu crianccedilas e adolescentes de uma comunidade carente

Contexto que difere da realidade dos mentores e que pode tecirc-los levado a uma reflexatildeo sobre

sua proacutepria condiccedilatildeo de vida e sua responsabilidade com os que natildeo se acham em iguais

condiccedilotildees Tais achados respondem a terceira questatildeo norteadora deste trabalho

105

45 Achados referentes agrave quarta questatildeo norteadora

Puderam ser verificados outros benefiacutecios sociais da relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas

e adolescentes com risco para delinquumlecircncia aleacutem dos mencionados anteriormente Pois na

medida em que o mentorado se beneficia da relaccedilatildeo sua famiacutelia alcanccedila estes benefiacutecios e a

sociedade tambeacutem acaba sendo beneficiada ainda que indiretamente

Com o intuito de responder a questatildeo quais os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da

relaccedilatildeo de mentoria com crianccedilas e adolescentes carentes em uma comunidade do Recife

seguem os benefiacutecios sociais diretos da mentoria realizada pelo projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

451 Desenvolvimento educacional das crianccedilas e dos adolescentes

Por se tratar de um ambiente carente e de analfabetos a comunidade natildeo tem como

prover o acompanhamento das crianccedilas e adolescentes as famiacutelias natildeo dispotildeem de tempo

eou conhecimento e preparo para prover tal suporte Por exemplo uma matildee analfabeta natildeo

parece ter condiccedilotildees de ajudar o filho nas tarefas escolares

Eu tocirc pensando quando ela fizer a 5a que natildeo tem o reforccedilo nem o semi-internato ela vai fazer a tarefa em casa e se brincar ela sabe mais do que eu (MAE DE SILVIA entrevista out05)

Eu natildeo tenho estudo faccedilo meu nome muito mal Meu marido sabe mas trabalha e de noite jaacute ta cansado () no reforccedilo ele fazia a tarefa todo dia sem reforccedilo e sem uma matildee que sabe ler quem ia ensinar a ele ai ia ficar complicado (MAE DE FREDERICO entrevista out05) Os coleacutegios hoje em dia quer a crianccedila saiba ler quer natildeo saiba o Estado passa natildeo quer saber se a crianccedila ta aprendendo se aprendeu se natildeo aprendeu (MAE DE TITO entrevista out05) A escola (puacuteblica) um dia tem aula outro dia natildeo tem ai ela fica em casa Hoje mesmo ela taacute em casa porque natildeo teve aula (MAE DE TAcircNIA entrevista out05)

106

A professora dele disse que ele natildeo tinha condiccedilotildees de passar mas ela natildeo podia reprovar (MAE DE FAacuteBIO entrevista out05)

Tais depoimentos revelam dois fatores incapacidade da famiacutelia em acompanhar os

estudos do filho e ineficiecircncia do ensino puacuteblico na experiecircncia destas famiacutelias O que leva a

pensar que o futuro educacional destas crianccedilas seria similar ao de suas matildees conforme

Barros et al (1994) que diz que a educaccedilatildeo meacutedia das matildees eacute o principal determinante do

desempenho escolar do filho ou seja haveria maior evasatildeo escolar Neste sentido o projeto

propicia que o aluno vaacute aleacutem da escolaridade da matildee

Vale aqui um questionamento por que o governo investe em bolsa escola e natildeo

acompanha o aluno Simplesmente ter a presenccedila do aluno na escola natildeo eacute garantia de que o

mesmo estaacute aprendendo O fato de que um professor natildeo pode mais reprovar o aluno mesmo

que sem condiccedilotildees de galgar um grau superior pode demonstrar que o interesse das poliacuteticas

puacuteblicas pode estar relacionado a nuacutemeros A taxa de matriacutecula estaacute associada ao aumento do

IDH mas ateacute que ponto isto reflete o real rendimento escolar dos alunos

Neste caso a mentoria vem suprir uma falta natildeo apenas da famiacutelia mas tambeacutem do

Estado e do Municiacutepio uma vez que por si soacute natildeo tecircm tido ecircxito com o aproveitamento e a

manutenccedilatildeo dos alunos na escola

452 Assistencialismo

Foi observado que algumas famiacutelias associam o projeto agrave assistecircncia social ldquoO reforccedilo

faz muita falta () tinha muitas doaccedilotildees roupas cestas baacutesicas no dia das crianccedilas

tinha brinquedos festas doaccedilotildees para as crianccedilasrdquo (MAtildeE DE FAacuteBIO entrevista

set05)

Ainda que esta natildeo seja a proposta do projeto as famiacutelias devido ao patrociacutenio

ofertado ao mentorado e agrave sua famiacutelia percebem o projeto como assistencialista

107

453 Diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia

O projeto demonstra contribuir indiretamente com a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia

As crianccedilas tando no projeto a gente fica despreocupada Quando ela natildeo tava no projeto ficava na rua natildeo queria estudar soacute queria ficar na rua brincando () muitas matildees estatildeo preocupadas em o que fazer com as crianccedilas sem o projeto (MAE DE HELENA entrevista out05) Ele tando laacute no projeto eu saio despreocupada neacute Que ele natildeo ta na rua A vida que a gente vive hoje sai pra trabalhar e sabe que o filho natildeo ta na rua a gente fica despreocupada (MAE DE AFRAcircNIO entrevista out05) Ele gosta eacute de rua de papagaio peatildeo bola () Ele natildeo liga para o caderno livros agora falou em rua eacute com ele () No reforccedilo ele estudava mais um pouco (MAE DE FAacuteBIO entrevista out05) O reforccedilo evita de as crianccedilas ta na rua no sinal pedindo (MAE DE TITO entrevista out05)

Atraveacutes destas declaraccedilotildees pocircde-se observar o referido por Harris et al (2002) que a

entrada das matildees no mercado de trabalho e o aumento das separaccedilotildees conjugais fazem com

que o adolescente passe menos tempo com os pais e passe a maior parte do tempo com seus

pares Conforme observado anteriormente a delinquumlecircncia tem diversas causas Dias (2003)

por exemplo verificou que a maior parte dos jovens delinquumlentes participantes de sua

amostra era de analfabetos funcionais relacionando assim a delinquumlecircncia a poucos anos de

estudos e consequumlentemente agrave evasatildeo escolar Na medida em que a crianccedila se desenvolve

nos estudos haacute uma diminuiccedilatildeo da evasatildeo escolar e consequumlentemente da delinquumlecircncia

Outra forma de o projeto contribuir com a reduccedilatildeo da delinquumlecircncia refere-se a levar as

crianccedilas a deixarem a rua onde estatildeo expostas a diversos riscos como violecircncia drogas

exploraccedilatildeo sexual e confusotildees situaccedilotildees frequumlentes em um contexto de favela

A relaccedilatildeo de mentoria desenvolvida pelo projeto eacute de longo prazo Portanto por mais

que alguns benefiacutecios se evidenciem estes soacute poderatildeo ser claramente observados ao longo do

108

tempo quando as crianccedilas e adolescentes do projeto forem adultos Pode-se inferir a partir

dos resultados apresentados que ao inveacutes de dependentes de poliacuteticas assistencialistas os

egressos contribuiratildeo com o desenvolvimento de sua cidade Eacute possiacutevel antecipar que uma

grande parcela das pessoas que faziam a favela Vila do Vinteacutem II estaraacute alfabetizada e

ocupando um lugar no mercado de trabalho Aiacute sim ter-se-aacute um aumento real do IDH que de

fato revelaraacute um aumento da qualidade de vida desta populaccedilatildeo do Recife Soacute entatildeo poderatildeo

ser mensurados os benefiacutecios sociais deste projeto

454 Resposta da quarta questatildeo norteadora benefiacutecios sociais

da relaccedilatildeo de mentoria

Pocircde-se observar os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da relaccedilatildeo de mentoria existente

no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida As especificidades encontradas foram

a) Maior desenvolvimento educacional de crianccedilas e adolescente carentes com risco para

delinquumlecircncia visto tratar-se de um projeto de reforccedilo escolar

b) Assistecircncia social ao prover a satisfaccedilatildeo de algumas das necessidades baacutesicas do

mentorado e de sua famiacutelia

c) Suprimento pela relaccedilatildeo de mentoria de uma falha do sistema educacional do Estado e

do Municiacutepio que gradua o aluno sem que ele tenha condiccedilotildees O projeto tem suprido

esta carecircncia dando condiccedilotildees de o aluno galgar o grau seguinte

Estes foram os benefiacutecios sociais obtidos atraveacutes da mentoria realizada no projeto

Educaccedilatildeo eacute Vida o que responde agrave quarta questatildeo norteadora deste trabalho

Seratildeo apresentadas no proacuteximo capiacutetulo as conclusotildees do trabalho bem como as implicaccedilotildees

teoacutericas praacuteticas e sociais e as sugestotildees de pesquisas futuras

109

5 Conclusatildeo

Neste capiacutetulo seratildeo apresentadas as conclusotildees da pesquisa tendo como referencial os

objetivos propostos

Pode-se concluir que a mentoria mostrou assim como no exposto teoricamente

resultados positivos na vida dos mentores mentorados e da comunidade O objetivo da

pesquisa foi atingido uma vez que foi possiacutevel conhecer algumas especificidades da mentoria

no contexto brasileiro e mais especificamente nordestino Ampliou-se tambeacutem o

conhecimento da mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes com risco para delinquumlecircncia

Desta forma a mentoria mostrou-se eficaz no sentido de contribuir para o desenvolvimento

do mentorado de forma que ele permanece na escola e melhora o rendimento escolar

As funccedilotildees de carreira propostas pela literatura foram encontradas e destas vale

destacar a oferta de tarefas desafiadoras O mentor propotildee inuacutemeros e audaciosos desafios

para seus mentorados sem no entanto deixar de prover as condiccedilatildeo de atingi-los e de superar

a realidade de exclusatildeo a que estatildeo sujeitos Outras funccedilotildees desenvolvidas pelo projeto e que

merecem destaque dizem respeito agrave amizade e agrave aceitaccedilatildeo do mentor para com seu

mentorado A importacircncia deste viacutenculo afetivo eacute imensuraacutevel principalmente em se tratando

e crianccedilas que muitas vezes natildeo percebem amor em sua famiacutelia

Seu Moab se preocupa mais com as crianccedilas do que noacutes que somos matildee (risos) Tem paciecircncia tem carinho por aquelas crianccedilas Ele sabe ensinar () ele natildeo machuca ele natildeo grita e as crianccedilas obedecem Eacute uma benccedilatildeo ele tem aquele amor (MAtildeE DE TAcircNIA entrevista set05)

O projeto demonstrou suprir lacunas na famiacutelia sendo o mentor agraves vezes comparado

com um pai ou com algueacutem da famiacutelia Pocircde se perceber a importacircncia da mentoria para o

grupo especiacutefico de pessoas marginalizadas ldquocarentes de tudordquo (PSICOacuteLOGA entrevista

110

set05) ao se ter algueacutem que acredite que aceite valorize incentive e decirc condiccedilotildees de

crescimento e desenvolvimento Papel este desempenhado pelos mentores ldquoO projeto restaura

a dignidade da pessoa do ser pessoa de ser um cidadatildeo de estar num lugar () onde as

pessoas estatildeo olhando para ele Ele eacute importante ele existerdquo (PSICOacuteLOGA entrevista

out05)

A mentoria mostrou-se efetiva em ajudar o mentorado em seu desenvolvimento

pessoal e ldquoprofissionalrdquo e seus benefiacutecios puderam ser em parte verificados

Os fatores de ecircxito mencionados na teoria tambeacutem puderam ser encontrados no

projeto A relaccedilatildeo de mentoria existente no projeto revelou caracteriacutesticas natildeo abordadas pela

teoria o que enriquece os estudos nesta aacuterea

Outro aspecto que chama a atenccedilatildeo eacute o comprometimento dos colaboradores

entrevistados seu desejo em ajudar e realizaccedilatildeo ao poderem contribuir

Esta foi a conclusatildeo objetiva deste trabalho No entanto em se tratando de uma

pesquisa qualitativa na qual haacute o envolvimento do pesquisador com o objeto na busca de se

chegar a uma compreensatildeo deste outros conhecimentos menos objetivos puderam ser

apreendidos e devem ser mencionados

O fazer parte do projeto parece ter um significado especial para quem dele participa e

os benefiacutecios parecem ir aleacutem dos aqui listados Algo taacutecito que natildeo pocircde ser apreendido

apenas sentido o brilho nos olhos as laacutegrimas as pausas e a voz trecircmula Fatos frequumlentes

nas entrevistas quer de mentores de mentorados ou das matildees

O projeto na percepccedilatildeo da pesquisadora pode ser comparado a seguinte metaacutefora uma

sementeira muito acolhedora cujos responsaacuteveis satildeo uma famiacutelia de saacutebios agricultores (pai

matildee filho e filha) que mesmo com outras opccedilotildees ldquomais lucrativasrdquo financeiramente optam

por trabalhar em sementes rejeitadas Esta famiacutelia partilha da visatildeo que vai aleacutem da ldquocascardquo

seca feia suja e aparentemente infrutiacutefera que tais sementes se apresentam E assim doam

111

suas vidas para descobrir (natildeo no sentido de achar mas de tirar o que encobre) e revelar o

tesouro que haacute dentro delas Plantam regam e fornecem a elas os nutrientes tirados de sua

proacutepria mesa no intuito de vecirc-las desabrochar desenvolver crescer e influenciar

positivamente a terra seca e aacuterida na qual foram geradas e permanecem A ideacuteia eacute a de uma

sementeira na qual um belo jardim e um frutiacutefero pomar satildeo vislumbrados Natildeo se

excluem desta percepccedilatildeo as dificuldades que acompanham o preparo da terra a poda as

intempeacuteries do ambiente e o descreacutedito daqueles que muitas vezes ao verem tal trabalho

negligenciam seu valor meneiam a cabeccedila e o desprezam No entanto o amor e a vontade de

ver tais sementes tatildeo marginalizadas frutificarem se alastra e contagia a outros que com o

mesmo intuito tecircm se envolvido contribuindo e partilhando do mesmo sentimento pois

acreditam que fornecendo as condiccedilotildees ldquoadequadasrdquo essas sementes iratildeo frutificar tanto ou

mais do que as mais belas aacutervores do mais belo pomar Esta sementeira para a pesquisadora

eacute o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida os agricultores satildeo Moab Silva Miriam Mariacutelia e Marcos

Moab apenas esporadicamente trabalha como cozinheiro visto dedicar-se

integralmente ao projeto no acompanhamento das crianccedilas e adolescentes nas escolas na

busca de patrociacutenio na comunidade com os pais

Miriam abre as portas de sua casa partilha o alimento com qualquer das crianccedilas que

chegar agrave sua porta e tatildeo importante quanto este partilha tambeacutem o afeto Natildeo se pode

mensurar o quanto este casal jaacute abnegou de sua vida em prol da vida deste projeto

Mariacutelia e Marcos jaacute ensinaram no projeto e quando solicitados retornam eles aceitam

partilhar com tantos outros daquilo que seria soacute seu pai matildee lar e recursos

Este projeto eacute um projeto de uma famiacutelia que se envolve se compromete com

seriedade e responsabilidade com os moradores da comunidade de forma que sofre junto

partilhando das dificuldades de crianccedilas e adolescentes que seriam apenas estranhos ou

ldquomeninos de ruardquo natildeo fosse o amor que os mobiliza

112

Pode-se perceber que muitas vezes faltam recursos materiais para se fazer como se

gostaria e ateacute mesmo para dar continuidade ao que jaacute foi feito No entanto a ausecircncia de

estiacutemulo de coragem de amor e de creacutedito natildeo foi percebida Talvez por isso algumas matildees

tenham se referido ao projeto como sendo algo maravilhoso

Feitas as conclusotildees seguem nas proacuteximas seccedilotildees as implicaccedilotildees teoacutericas praacuteticas e

sociais deste estudo e as sugestotildees de pesquisa futura

51 Contribuiccedilotildees do estudo

O presente trabalho oferece algumas contribuiccedilotildees para a teoria para a praacutetica e

tambeacutem para a sociedade Seguem nas proacuteximas seccedilotildees o detalhamento destas contribuiccedilotildees

511 Contribuiccedilatildeo teoacuterica

Esta pesquisa traz contribuiccedilotildees para a teoria na medida em que verifica a

aplicabilidade da literatura no contexto brasileiro de uma comunidade carente Oferece

contribuiccedilotildees tambeacutem por tratar da mentoria voltada para crianccedilas e adolescentes com risco

para delinquumlecircncia A pesquisa aborda objetos que no Brasil ainda natildeo tinham sido

pesquisados sob o arcabouccedilo da mentoria

Outra contribuiccedilatildeo deste estudo diz respeito aos achados aqueles que diferem da

teoria e que foram encontrados no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida tais como o patrociacutenio amplo

oferecido pelo mentor ao mentorado o mentor natildeo ser tido como modelo o

autoconhecimento e senso de dever cumprido como benefiacutecios para o mentor Em se tratando

de estudo de caso estes achados natildeo devem ser generalizados No entanto podem servir de

questionamento e de objeto de futuras investigaccedilotildees no sentido de ver sua aplicabilidade em

outros contextos

Segue a contribuiccedilatildeo praacutetica deste trabalho

113

52 Contribuiccedilatildeo praacutetica

O presente objeto de pesquisa (mentoria voltada para educaccedilatildeo de crianccedilas e

adolescentes carentes) pode ser utilizado tambeacutem como forma de intervenccedilatildeo na educaccedilatildeo do

ensino puacuteblico e privado

A iniciativa privada tambeacutem pode ter nesta relaccedilatildeo de mentoria um modelo de accedilatildeo

de responsabilidade social Pode intervir em sua comunidade preparando sua futura matildeo-de-

obra e usufruindo os diversos benefiacutecios que tal relaccedilatildeo pode trazer natildeo soacute em termos de

dividendos ao gerenciar a reputaccedilatildeo mas em termos solidariedade realizaccedilatildeo e senso de

dever cumprido

Era objetivo contribuir com a praacutetica atraveacutes da teoria de mentoria visando

potencializar a relaccedilatildeo existente no projeto de reforccedilo No entanto uma vez que os fatores de

ecircxito jaacute satildeo considerados e que a relaccedilatildeo tem trazido benefiacutecios para o mentorado mentor e

para a sociedade natildeo se percebeu formas de contribuiccedilatildeo com o projeto neste sentido Senatildeo

de apresentar um estudo sistematizado do projeto e de como satildeo beneficiados os que dele

participam

53 Contribuiccedilatildeo social

O presente trabalho oferece contribuiccedilotildees sociais na medida em que confirmou que o

objeto de estudo mostrou-se eficiente em sua proposta podendo entatildeo servir de modelo de

accedilatildeo para outras entidades voltadas para crianccedilas e adolescentes de risco

O trabalho tambeacutem pode servir de fonte de pesquisa para empresas que desejam ser

responsaacuteveis socialmente atraveacutes da educaccedilatildeo tendo na mentoria um modelo que apresentou

resultados positivos

Outra contribuiccedilatildeo social deste estudo diz respeito ao questionamento sobre a

educaccedilatildeo no Brasil O projeto tem sido uma alternativa diante do insucesso da escola puacuteblica

114

em fazer com que o aluno permaneccedila na escola e obtenha bom aproveitamento A

contribuiccedilatildeo pode ser aumentada na medida em que o puacuteblico para tal projeto eacute de crianccedilas e

adolescentes com risco Tais sujeitos aleacutem do aprendizado obtido adquirem perspectiva

positiva de vida podendo-se inferir que haja diminuiccedilatildeo da delinquumlecircncia

Seguem na proacutexima seccedilatildeo algumas sugestotildees de pesquisas futuras que podem ser

realizadas no intuito de compreender melhor o fenocircmeno estudado

52 Sugestotildees de pesquisas futuras

Algumas sugestotildees de pesquisa podem ser feitas a partir do presente trabalho Satildeo elas

a) Acompanhar a histoacuteria dos futuros egressos visando conhecer melhor os

resultados do programa de mentoria

b) Realizar um experimento entre as crianccedilas e adolescentes que participam do

projeto e os natildeo participantes para se verificar a influecircncia deste

c) Investigar quais as implicaccedilotildees de haver dois tipos de relaccedilatildeo de mentoria no

projeto na qual o mentor tem um relacionamento mais proacuteximo com um

mentorado do que com outro

Estas sugestotildees para pesquisa futura encerram este trabalho mas natildeo os

questionamentos dele advindos

Peccedilo licenccedila a Moab para terminar o trabalho com sua fala Para educar natildeo se tem

um resultado imediato Entatildeo vocecirc tem que gastar tempo Eacute investimento em longo

prazo Vocecirc tem que ter paciecircncia () amor (COORDENADOR entrevista set05)

115

Referecircncias

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122

APEcircNDICE A - Apresentaccedilatildeo da entrevista

123

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

APRESENTACcedilAtildeO DA ENTREVISTA

Meu nome eacute Adriana Alvarenga Marques Sou pesquisadora da Universidade Federal

de Pernambuco e estamos fazendo um estudo sobre a educaccedilatildeo de crianccedilas e adolescentes

Pesquisamos sobre este tema no projeto Educaccedilatildeo eacute Vida com alguns pais de alunos e com

alguns dos que colaboram com o projeto e tambeacutem com o Sr Moab

Estou aqui para lhe fazer algumas perguntas sobre este assunto A sua participaccedilatildeo eacute

de muita importacircncia para a pesquisa

Quero destacar que vocecirc natildeo precisa se identificar e seus dados e o do aluno natildeo seratildeo

revelados

Gostaria ainda de sua permissatildeo para gravar nossa ldquoconversardquo lembrando que apenas

eu ouvirei a fita Peccedilo isto por que para anotar as respostas eu levaria muito tempo e natildeo seria

feito com precisatildeo Vocecirc autoriza

124

APEcircNDICE B- Roteiro da entrevista com os pais

125

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

Roteiro de Entrevista para os Pais

Nome- ___________________________________________________________________

Nome do(a) filho(a) participante do projeto- _____________________________________

Escolaridade dos pais- _______________________________________________________

Quantas pessoas moram com o(a) aluno(a) _______________________________________

1- Haacute quanto tempo vocecirc conhece o projeto de reforccedilo Educaccedilatildeo eacute Vida

2- O que vocecirc pensa a respeito deste projeto

3- Haacute quanto tempo seusua filho(a) faz parte do projeto

4- Qual a idade dele (a)

5- Qual a seacuterie que ele(a) cursa

6- Com relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo de seusua filho(a) houve alguma mudanccedila nele(a) depois de

haver entrado no projeto Qual(ais)

7- No dia-a-dia vocecirc percebe alguma influencia do projeto no comportamento de

seusua filho(a) Qual(ais)

8- Existe algueacutem do projeto que demonstre cuidado e preocupaccedilatildeo com seusua filho(a)

que o(a) acompanhe seusua filho(a) mais de perto Quem

9- Como eacute feito esse acompanhamento

10- Qual o significado desta pessoa na vida de seu filho

11- Seu filho(a) gosta de estudar

12- Como vocecirc percebe isto

13- Seu filho(a) jaacute recebeu alguma ajuda vinda do projeto

14- Que tipo de ajuda

15- Quando seu filho passa por alguma dificuldade ou problema a quem ele recorre

16- Haacute algueacutem do projeto que aconselhe seuas filho(a) Quem

17- Que tipo de conselho ele(a) oferece

18- Seusua filho(a) fala sobre seu futuro O que ele(a) diz

126

19- Onde seu filho estuda

20- Como eacute o desempenho de seusua filho(a) na escola Como satildeo suas notas

21- Seusua filho(a) traz tarefas para casa

22- Quem o(a) ajuda a resolve-las

23- Haacute mais alguma coisa sobre a educaccedilatildeo de seu filho que vocecirc considere importante

24- Quando vocecirc pensa no projeto qual a ideacuteia ou sentimento que lhe vem

25- Haacute mais alguma coisa sobre o projeto que vocecirc gostaria de falar

127

APEcircNDICE C - Roteiro da entrevista com os colaboradores

128

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

Roteiro da Entrevista com os Colaboradores

Nome ndash ______________________________________________________________

Tempo de projeto-______________________________________________________

Funccedilatildeo desempenhada no projeto- _________________________________________

Tempo de projeto - _____________________________________________________

1- Haacute quanto tempo vocecirc conhece o projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

2- Qual a sua participaccedilatildeo neste projeto

3- Com que frequumlecircncia ocorre seu contato com as crianccedilas adolescentes comunidade

4- Vocecirc recebe alguma remuneraccedilatildeo para atuar no projeto

5- Qual sua motivaccedilatildeo para participar

6- Vocecirc poderia descrever como eacute seu relacionamento com os alunos

7- Haacute algum(a) em especial por quem vocecirc tenha maior preocupaccedilatildeo cuidado carinho

8- Por que

9- Como satildeo seus encontros com as crianccedilas

10- Como vocecirc percebe o significado deste projeto na vida da comunidade

11- Durante o seu tempo de participaccedilatildeo no projeto houve algum evento ou

acontecimento que lhe marcou e que vocecirc gostaria de falar

12- Quando vocecirc pensa no projeto qual a ideacuteia ou sentimento que lhe vem

13- Haacute mais alguma coisa sobre o projeto ou sobre os alunos que vocecirc gostaria de

compartilhar

129

APEcircNDICE D - Roteiro da entrevista com o fundador do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE CIEcircNCIAS ADMINISTRATIVAS

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO

Roteiro de Entrevista do Fundador

Nome ndash ______________________________________________________________

1- Como surgiu a ideacuteia do projeto

2- Como foi efetivado

3- Quais as motivaccedilotildees para a existecircncia do projeto

4- Houve participaccedilatildeo de sua famiacutelia

5- Vocecirc poderia falar acerca do funcionamento do projeto as atividades desempenhadas

os objetivos a manutenccedilatildeo

6- A quem o projeto se destina

7- Qual a sua participaccedilatildeo efetiva no projeto

8- Como se deu a formalizaccedilatildeo

9- Como ocorre a seleccedilatildeo das crianccedilas para fazer parte do projeto

10- Quais os criteacuterios para se manter no projeto

11- Como o projeto obteacutem recursos para funcionar

12- Que tipo de atividade o projeto desenvolve

13- Haacute quanto tempo o projeto existe

14- Houve algueacutem em sua vida que serviu de incentivo para que vocecirc desenvolvesse esse

tipo de atividade

15- Por que um projeto em educaccedilatildeo

16- Qual o significado deste projeto na vida da sua famiacutelia

17- Qual o significado deste projeto na vida da comunidade

18- O que significa para uma crianccedila participar do projeto

19- Quais as dificuldades enfrentadas

20- Haacute ou houve algum acontecimento que lhe marcou

21- Existem crianccedilas que vocecirc acompanha mais de perto

22- Como eacute esse acompanhamento

131

23- O que o projeto oferece aos participantes em termos de educaccedilatildeo

24- Haacute mais algum tipo de ajuda que o projeto oferece Qual (ais)

25- O que eacute importante para que o projeto obtenha ecircxito

26- O que vocecirc acredita que eacute determinante do sucesso escolar de um aluno

27- Por que vocecirc acha que alguns alunos natildeo obtecircm bom aproveitamento escolar

28- Como eacute a participaccedilatildeo de sua famiacutelia no projeto

29- Qual o seu sonho para o projeto

30- Quando vocecirc pensa neste projeto qual a ideacuteia ou sentimento que lhe ocorre

31- Haacute mais alguma coisa que vocecirc gostaria de falar

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ANEXO A - Estatuto da Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre

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136

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139

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ANEXO B ndash Documento de Apresentaccedilatildeo do Projeto Educaccedilatildeo eacute Vida

141

142

IDENTIFICACcedilAtildeO Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre situada agrave rua Joatildeo Tude de Melo nordm 21 Casa Forte Recife Pernambuco Brasil CEP ndash52060-030 tel 3442-2084

Objetivo Manter influente obra social cristatilde que possa mudar o quadro social das crianccedilas e jovens da comunidade

O projeto funciona haacute trecircs anos atendendo a comunidade na aacuterea de educaccedilatildeo sauacutede lazer e educaccedilatildeo religiosa

143

ANAacuteLISE DO CONTEXTO DO PROJETO A favela Vila do vinteacutem como todo reduto de pobreza tem seus problemas suas causas e consequumlecircncias Apoacutes trecircs anos de atividades nesta comunidade detectamos que a maacute distribuiccedilatildeo de renda e a falta de uma poliacutetica social voltada para os mais carentes tecircm contribuiacutedo para a formaccedilatildeo de famiacutelias desestruturadas e em situaccedilotildees de risco fomentadas pela pobreza cultural e financeira Residem em barracos de madeira papelatildeo e plaacutestico de aproximadamente 12m2 sem aacutegua esgoto e muitos sem sanitaacuterios O conviacutevio diaacuterio com insetos torna a accedilatildeo meacutedica difiacutecil ou mesmo inviaacutevel Eacute isto que temos vivenciado no dia-dia famiacutelias em condiccedilotildees sub-humanas sobrevivendo de pequenos serviccedilos que prestam

Eacute neste cenaacuterio que consequumlentemente a crianccedila e o jovem desenvolve seu potencial de violecircncia anseios e conflitos convivendo com a fome a falta de higiene ambiente inoacutespito e inadequado para os estudos e outras atividades Essas crianccedilas semi-abandonadas vivem sem perspectivas de mudanccedilas sendo apenas viacutetimas de um processo que as leva a marginalidade

Por esta razatildeo se faz necessaacuterias accedilotildees contiacutenuas para melhoria da qualidade de vida e paz social desenvolvendo atividades que as valorizem como pessoas minimizando o sofrimento dando-lhes esperanccedilas atraveacutes da educaccedilatildeo sauacutede lazer e profissionalizaccedilatildeo

144

OBJETIVOS

Geral Visa natildeo somente melhorar a qualidade de vida no presente mas intervir num ciclo vicioso preparando a crianccedila e o jovem para o futuro Atuar na aacuterea de Educaccedilatildeo solicitando bolsas de estudo na rede privada com aulas de reforccedilo para o ensino fundamental alfabetizaccedilatildeo infantil distribuiccedilatildeo de material escolar e merenda Curso regular de liacutengua estrangeira (Inglecircs) iniciaccedilatildeo musical (teoria e praacutetica) Sauacutede Cliacutenica pediaacutetrica odontoloacutegica psico-pedagoacutegica e aviamento de receitas

Especiacuteficos

A) Promover a melhoria da escolaridade incentivando a permanecircncia e o equiliacutebrio entre o conhecimento e o grau adquirido

B) Desenvolver atividades que proporcionem o desenvolvimento de competecircncias sociais pessoais e intelectuais favorecendo a reflexatildeo e o exerciacutecio da cidadania com palestras passeios e filmes Ampliando o leque de conhecimentos e enriquecendo o senso criacutetico

C) Desenvolver programa intensivo de sauacutede atraveacutes de convecircnios melhorando desta forma a sauacutede e a aparecircncia fiacutesica para que haja um relacionamento pessoal sem reserva ou constrangimento

D) Ampliar os conhecimentos por curso regular de liacutengua estrangeira (Inglecircs) e iniciaccedilatildeo musical teoria e praacutetica Tirando-os da rua e da ociosidade oferecendo uma perspectiva de profissionalizaccedilatildeo e um conviacutevio cultural diferente do que vivenciam

145

PUacuteBLICO ALVO Crianccedilas e jovens de cinco a dezessete anos residentes na Vila Vinteacutem e devidamente matriculados e frequumlentando a rede oficial de ensino puacuteblico ou privado METODOLOGIA Profissionais de suas respectivas aacutereas ministraratildeo aulas diariamente ou em dias alternados conforme as especialidades e necessidades do projeto Por tratar-se de prestaccedilatildeo de serviccedilo voluntaacuterio com fim social todos teratildeo liberdade sobre o plano de accedilatildeo a ser aplicado no entanto deveratildeo estar de acordo com o nosso Estatuto Convecircnio com a Fundaccedilatildeo Manuel de Almeida (Hospital Infantil) para cliacutenica meacutedica e pediaacutetrica cabendo a instituiccedilatildeo a avaliaccedilatildeo e anaacutelise dos resultados As atividades seratildeo desenvolvidas em nossa sede proacutepria e anexo I exceto o curso de inglecircs consultas odontoloacutegicas e cliacutenica meacutedica Modelo de Educaccedilatildeo para a Sauacutede Objetivo Colocar a educaccedilatildeo a serviccedilo de uma vida saudaacutevel Accedilotildees destinadas a orientar os jovens

bull Alimentaccedilatildeo adequada bull Atividades que natildeo promovam o estresse bull Vida sexual segura bull Orientaccedilatildeo sobre o risco do tabaco aacutelcool e outras drogas

psicoativas bull Discussatildeo de temas gerais atuais ndash exemplo tracircnsito poluiccedilatildeo

violecircncia etc Objetivando a formaccedilatildeo de cidadatildeos conscientes e capazes de optar por uma vida mais saudaacutevel individual e coletiva

Modelo de Modificaccedilatildeo das Condiccedilotildees de Ensino Enfatizando a vivecircncia escolas desde a Educaccedilatildeo Infantil ensino Fundamental e Meacutedio como essencial para o desenvolvimento sadio do adolescente e adulto Preocupando-se com a prevenccedilatildeo ao uso abusivo de drogas a delinquumlecircncia as patologias mentais buscando a formaccedilatildeo integral do jovem Envolvendo pais e comunidade

146

Orientaccedilotildees estrateacutegicas

bull Modificar as praacuteticas de ensino bull Melhorar a relaccedilatildeo professoraluno bull Melhorar o ambiente escolar bull Incentivar o desenvolvimento social bull Ofertar serviccedilos de sauacutede bull Envolver os pais em atividades curriculares

AVALIACcedilAtildeO Bimestral junto agraves escolas solicitando boletins de cada aluno assistido pelo projeto cuja permanecircncia dos benefiacutecios dependeraacute do aproveitamento escolar da assiduidade agraves atividades e programaccedilatildeo da instituiccedilatildeo

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ANEXO C ndash Estrutura baacutesica para orientaccedilatildeo de teses e dissertaccedilotildees

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  • CLASSIFICACcedilAtildeO DE ACESSO A TESES E DISSERTACcedilOtildeES
    • Adriana Alvarenga Marques
      • 1 Introduccedilatildeo
        • 2 Fundamentaccedilatildeo teoacuterica
          • Mentoria informal
            • Mentoria formal
              • 3 Metodologia
                  • APEcircNDICE A - Apresentaccedilatildeo da entrevista
                    • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                    • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                      • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                        • APRESENTACcedilAtildeO DA ENTREVISTA
                          • APEcircNDICE B- Roteiro da entrevista com os pais
                            • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                            • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                              • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                                • Roteiro de Entrevista para os Pais
                                  • APEcircNDICE C - Roteiro da entrevista com os colaboradores
                                    • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                                    • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                                      • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                                        • Roteiro da Entrevista com os Colaboradores
                                          • APEcircNDICE D - Roteiro da entrevista com o fundador do Projet
                                            • UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
                                            • CENTRO DE CIEcircNCIAS SOCIAIS APLICADAS
                                              • PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ADMINISTRACcedilAtildeO
                                                • Roteiro de Entrevista do Fundador
                                                  • ANEXO A - Estatuto da Comunidade Cristatilde Amigos para Sempre
                                                    • IDENTIFICACcedilAtildeO
                                                      • ANAacuteLISE DO CONTEXTO DO PROJETO
                                                        • OBJETIVOS
                                                          • PUacuteBLICO ALVO
                                                            • METODOLOGIA
                                                                • Modelo de Educaccedilatildeo para a Sauacutede
                                                                • Modelo de Modificaccedilatildeo das Condiccedilotildees de Ensino
                                                                  • AVALIACcedilAtildeO
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