a memÓria histÓrica de nossa senhora das dores sergipe (reparado)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA CÁRDIA FABIANA ALMEIDA ARAGÃO NOSSA SENHORA DAS DORES, SERGIPE: A MEMÓRIA HISTÓRICA REPRESENTADA EM FOTOGRAFIAS DAS DÉCADAS DE 1960 E 1970

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Page 1: A MEMÓRIA HISTÓRICA DE NOSSA SENHORA DAS DORES sergipe (Reparado)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO

CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA

CÁRDIA FABIANA ALMEIDA ARAGÃO

NOSSA SENHORA DAS DORES, SERGIPE: A MEMÓRIA HISTÓRICA

REPRESENTADA EM FOTOGRAFIAS DAS DÉCADAS DE 1960 E 1970

NOSSA SENHORA DAS DORES - SE

2013

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CÁRDIA FABIANA ALMEIDA ARAGÃO

NOSSA SENHORA DAS DORES, SERGIPE: A MEMÓRIA HISTÓRICA

REPRESENTADA EM FOTOGRAFIAS DAS DÉCADAS DE 1960 E 1970

Nossa Senhora das Dores, Sergipe: A memória histórica representada em fotografias das décadas de 1960 e 1970. Artigo apresentado a Universidade Federal De Sergipe como requisito final à obtenção do título de licenciatura em História.

Orientador: Prof. Me. Hermeson Alves de

Menezes

Co-orientadora: Tutora Maria Carla Carvalho

NOSSA SENHORA DAS DORES - SE2013

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NOSSA SENHORA DAS DORES, SERGIPE: A MEMÓRIA HISTÓRICA

REPRESENTADA EM FOTOGRAFIAS DAS DÉCADAS DE 1960 E 1970

Cárdia Fabiana Aragão Almeida1

RESUMO

Na constituição de fontes históricas que validam a identidade de um País, Estado ou cidade

em um determinado período, a fotografia pode caracterizar a representação deste espaço de

tempo na linearidade histórica que o remete. Neste sentido o objeto de estudo deste artigo é a

validação das fotografias como fontes históricas. Para isso, sobre a cidade de Nossa Senhora

das Dores, Sergipe, com foco as décadas de 1960 e 1970, pretende-se em seu objetivo geral

estabelecer linhas teóricas que discutam a sua história a partir da religião, de sistemas de

governo, da sua economia, do patrimônio, da sua política e da educação. Neste aspecto, sobre

estas se considera influências diversas, incluindo aquelas do Estado de Sergipe; esta discussão

avalia as referidas décadas, por sua vez ilustradas em fotos sobre as quais se pondera sua

legitimidade como fonte histórica, seu papel na prática do historiador, sua função histórica

num recorte de tempo. Uma cidade carece entre outras fontes históricas de associar esboços

às abordagens que identifiquem o seu passado, sua existência e recuperação de sua memória.

Esse recobramento da identidade e memória dorense justifica a elaboração deste artigo. Para

tanto, se poderia questionar se há legitimidade histórica no padrão das fontes ou fotografias

associadas aos períodos apresentados; também quanto à função destas em relação a outras

fontes. A pesquisa histórica, documental e bibliográfica conduz o método funcional deste

artigo na reprodução e escrita dos fatos que antecederam às décadas em estudo, bem como na

epistemologia que as referenciam. Na conclusão, espera-se validar que as fotografias

corroborem a cidade, de Nossa Senhora das Dores pela sua história e características do

período estudado, consolidando a identidade e memória do município, sob prioridade à

fotografia histórica abalizando a função do historiador moderno.

Palavras - Chave: Fotografia; História; Décadas.

1 Trabalhou na revista Aracaju magazine e na escola de enfermagem Santa Bárbara como auxiliar administrativa. É professora na escola José do Prado Franco em Nossa Senhora Das Dores SergipeEmail: [email protected]ólo de Nossa Senhora das Dores, Sergipe.

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1- INTRODUÇÃO

Na constituição da identidade, patrimônio e memória histórica da cidade de Nossa

Senhora das Dores, Sergipe, em foco as décadas de 1960 e 1970, são ponderadas fotografias

como fontes históricas sobre estes períodos, bem como a intervalos de tempo que sobre estes

antecedem. Validar essas fotografias no limiar da ciência e pesquisa histórica torna-se o

objeto de estudo deste artigo. O texto, em seu objetivo geral pretende estabelecer linhas

teóricas que discutem a história religiosa, econômica, educacional, social, e política do

período estudado. A estes correlacionando o curso histórico da fotografia até ser validada

como fonte plausível à história. Também são apresentadas sobre o município influências do

sistema político que regia todo o país. Após ponderar a linearidade histórica municipal nas

duas décadas em questão, a princípio deverá se procurar valorizar as fotografias como

representativas da identidade e memória que se inserem no período e cidade estudados;

também associar as imagens ao papel do historiador; validá-las como uma das fontes que

compõem a história de um local em certo recorte de tempo; destacar essa representação como

forma de preservação do patrimônio e identidade de Nossa Senhora das Dores. Por estas ações

Serão considerados no trabalho alguns aspectos atemporais e políticos da cidade durante as

décadas citadas, que sob analogia serão tratados à luz de peculiaridades históricas do Estado

que colaboraram em moldar o padrão do comportamento social nas datas e município

estudados.

Por sua utilidade, a dissertação do artigo consiste em descrever as particularidades

históricas em Nossa Senhora das Dores, Sergipe, considerando o recorte de tempo e sua

composição histórica. Justifica-se a elaboração do trabalho em colaborar com a população

dorense para manter sua identidade e reminiscência histórica, bem como, política, cultural e

social, pela conservação da memória fotográfica associada à fontes bibliográficas plausíveis

no meio científico; a saber, como portador, este artigo, haja vista na cidade em questão só

haver conhecimentos históricos em alguns documentos legais, em bibliografias da história de

Sergipe, em alguns livros que remetem a política do Estado. No contexto, são abordadas

questões sobre haver importância da validação histórica; se no desenvolvimento textual a

fotografia seria cientificada como memória histórica; Questiona-se a possibilidade científica

de associar o conjunto histórico, cultural e social de uma cidade ao seu Estado de origem.

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Discute-se ainda, se esta associação é possível em detrimento a eventos passados;

principalmente, fundamenta-se quanto à historicidade da cidade depender em maior

relevância da memória fotográfica. Essa que no desenvolvimento do trabalho, além das

ilustrações, particulariza o reconhecimento histórico quanto à imagem fotográfica das décadas

informadas. Os métodos empregados foram os de abordagem dedutiva e dialética; os de

procedimentos históricos - comparativos; funcionalista e monográfico. Para elaboração das

descrições históricas, usou-se de pesquisas descritivas, investigativa, explicativa, de campo,

documental e bibliográficas. Todas estas, somando-se as checagens no artigo, que

referenciadas, sustentam academicamente o devido apoio a história de Sergipe em

consonância com um dos seus municípios, Nossa Senhora das Dores; vindo a restaurar sua

identidade, bem como acentuando a importância do trabalho no meio acadêmico na função de

propagar a história do município em foco a validação histórica das fotografias. Em sua

conclusão o trabalho legitima que um dado momento histórico pode ser representado em

fotografias que possuem o valor de fontes históricas e respaldam o papel do pesquisador na

epistemologia da história nova.

2- FOTOGRAFIAS E SUA IMPORTÂNCIA COMO FONTES HISTÓRICAS

Ao surgir nos anos de 1830 a fotografia ao longo da história passou por marcações

quanto aos seus usos e funções: Entrou em confronto com a arte por reproduzir fielmente

qualquer situação em registro. Baudelaire2 provoca a separação da arte e da fotografia

colocando a esta última na posição de documento da realidade que pode ser do passado ou

presente mais recente. A fotografia então é associada à identificação, a família, à prova, aos

olhares e modismos; mas ela vai além, até a elaboração do vivido, do saber, da história, da

memória individual e coletiva. Na década de 60 a fotografia encontra seu lugar no ideológico,

no social, nas massas e culturas. Como exemplo, entre outros, se tem os registros de Wodstok,

da guerra fria, da ditadura militar no Brasil etc. A fotografia abaixo representa eventos de

tortura ocorridos no Brasil em meados das décadas de 1964 a 1980. A imagem é muito

2 In: LE GOFF, Jacques. História e Memória. Tradução de Bernardo Leitão. Coleção Repertórios Campinas. São Paulo: Editora da UNICAMP, 1990.

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contundente na representação do monumento correlacionado à história do regime que

assolava o nosso país. Observe:

Figura 1- Imagem do monumento tortura nunca mais do arquiteto piauiense Demetrios Albuquerque.Fonte: Disponível em Google imagens. Acesso em 24/05/2013

Assim como essa imagem em seu monumento representou a real opressão militar e

política ocorrida no Brasil entre o período de 1960 a 1980, há outras que podem representar a

história de uma cidade, sua cultura, seu patrimônio ou sua identidade social. Ao vislumbrar a

utilidade da fotografia e sua aceitação social, discorrendo sobre o real objetivo da imagem e

sua veracidade histórica, Kossoy afirma:

"Na medida em que os receptores nela viam apenas a expressão da verdade, posto que

resultante da imparcialidade da objetiva fotográfica. A história, contudo, ganhava um novo

documento: Uma verdadeira revolução estava a caminho". (KOSSOY, 2001, p. 27). Assim a

fotografia começa a se materializar como fonte histórica. Como se observou, até se consolidar

na validade do campo histórico a fotografia percorreu diversos caminhos interpretativos,

passando a ser um arquivo, uma fonte, aquela que deverá trazer ao historiador moderno a

condição de exprimir a existência do passado no cotidiano das camadas sociais. Somando-se a

outros tipos de pesquisa ou acesso, sobre a conveniência da ilustração fotográfica, kossoy

comenta: "E nesta perspectiva que entendemos ser o estudo das imagens uma necessidade; um

caminho a mais para a elucidação do passado humano." (KOSSOY, 2001, p.32). Por esse

motivo, na prática, o historiador deve adotar fontes ilustrativas que serão somadas a outras

para compor o documento ou tratado histórico. A fotografia representando a mentalidade do

pesquisador, intrínseca aos fatos pesquisados, a ideologia contida nas suas representações, faz

do historiador um ser ávido pelas fontes, estas que nos tempos modernos, conforme

Domingues, após a imprensa, com a industrialização nas décadas de 1930 a 1970, passaram a

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ter concorrência com outras novas; era a internet, fotos, os gravadores, rádios, testemunhos, a

televisão etc. "Eis que surge uma nova variedade de historiadores". (DOMINGUES, 2007, p.

55). São aqueles que traduzem a história através de fotografias, discorrem sobre aquela

ciência considerando o social, tecnológico, religioso e econômico; relevam na representação

das imagens e das fontes a história como patrimônio cultural, ideológico e físico; não

desprezam sequer comparações inerentes ao recorte de tempo estudado ou mesmo as

influências que a este formam. Assim se constitui este artigo no campo da ciência do passado

humano: Ele que deverá ilustrar um breve panorama histórico representado em imagens que

atenuam ao período histórico de Nossa Senhora das Dores compreendido entre 1960 a 1970 e

datas que o antecede. Além das referências, o texto repõe as ilustrações no papel de validar a

historicidade local confrontando eventos a fotos que os referenciam são descriminados

historicamente. Todos sob comparações e discernimento ávido da história com fontes além

dos livros, do texto e suas linhas, ou seja, por efígies relevantes em seu teor e

contextualização; também se destacarão ao pautar as influências pertinentes ao período em

estudo os acontecimentos que a ele caracterizaram. Pelo contexto das imagens como fontes

históricas, ideológicas, de fatos passados, representativa de um povo, um período, costumes e

tradições, de regimes de governo; tais fotos deverão perpetuar a história do lugar, em foco,

Nossa Senhora das Dores, também, seu patrimônio, sua política, seus representantes, sua

identidade, sua memória, sua formação social econômica e cultural, todos por entre as

décadas de 1960 a 1970, neste trabalho destacadas sob imagens. Veremos a seguir o recorte

da história do município Dorense à luz de ilustrações e textos; cada fragmento de tempo e

situação discursados, representados em suas devidas fotografias; e sobre estas as devidas

descrições históricas que remetem ao espaço de tempo analisado; enfim montado o panorama

geral ver-se-á que a memória histórica de Nossa Senhora das Dores naquelas décadas está

contida no texto e além deste nas fotografias expostas que assumirão a validade e importância

como fontes históricas neste trabalho.

3- DÉCADAS DE 1960 E 1970 EM NOSSA SENHORA DAS DORES, SERGIPE: SUA

HISTÓRIA, ALGUMAS IMAGENS E INFLUÊNCIAS

As décadas de 1960 e 1970 em Nossa Senhora das Dores, Sergipe, sua história e a

representação, sob fontes legítimas, não fogem a características comuns advindas de eventos

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passados, situações da época e particularidades que compõem qualquer município

considerando sua realidade histórica, social, religiosa, política, econômica e ideológica. Estas

que se mesclam a epistemologia do estudo do passado humano. Na composição da história da

cidade de Nossa Senhora das Dores presente durante aquelas décadas, será iniciada a

representação com imagens que remetem a religiosidade do seu povo, fator este que esteve

presente na formação inicial do município e perdura até a atualidade.

Figura 2 - Igreja Matriz de Nossa Senhora Das Dores, 1975,Fonte: Foto do acervo pessoal, do Professor Luís Carlos De Jesus.

Sobre esta foto, seu simbolismo, considerando os tempos que antecedem a sua data,

mas relevando a história Dorense, se pode afirmar que o limiar histórico da cidade de Nossa

Senhora das Dores começou com a exploração das terras, aos índios e a religião; sobre esta

mais precisamente pela falha da catequese, pois durante as sesmarias eram constantes as

revoltas dos índios no baixo e na mesorregião do são Francisco. O índio Sergipano ofereceu

aversão "ao cativeiro, a opressão, essa resistência era punida com a morte exemplar na forca."

(CARVALHO; JESUS; MOURA, 2012, p. 31). Conforme os professores Carvalho, Jesus e

Moura, analisando-se as cartas de sesmarias contidas nas páginas 349 a 422, no livro história

de Sergipe, 1981, de Felisbelo Freire, percebe-se que as terras de Nossa Senhora das Dores

estavam na rota de incursão de Cristóvão de Barros, este que antes já havia fundado a cidade

de São Cristóvão em Sergipe. Como exemplo do que houve na colonização do país, é certo

que houve resistência indígena.

Desterrados em sua própria terra, condenados ao êxodo eterno, os indígenas da América Latina foram empurrados par as zonas mais pobres, as montanhas áridas ou

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o fundo dos desertos, à medida que entendia a fronteira da civilização do dominante. Os índios padeceram e padecem - síntese do drama de toda a América Latina - maldição de sua própria riqueza. (CARVALHO; JESUS; MOURA, 2012, p.31 Apud GALEANO, 2002, p. 59).

A igreja assim, como na colonização do Brasil, ajudou na dominação física, ideológica

e cultural dos índios. De outro modo, também colaborou com a sociedade na medida em que

conservou tradições e costumes que perduraram até as décadas de 1960 e 1970. Além da

catequização indígena, a foto na página anterior simboliza a fé que estava presente na história

da população Dorense. Intrínseco ao período em estudo, Também se pode afirmar que

simboliza movimentos que condizem com a realidade histórica de libertação social,

ideológica e cultural. Nos anos 70, a igreja manteve intensa representação ligada ao homem

do campo, isto por certo incluía a cidade de Nossa Senhora das Dores, pois é nos anos 1970

que surge à Comissão Pastoral da Terra CPT. Esta em Sergipe teve sua representação na

cidade de Propriá, mas estendeu-se por toda a mesorregião do agreste de Sergipe, inclusive

em Nossa Senhora das Dores que tinha trabalhadores agrícolas ligados a FETASE, Federação

dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Sergipe. Isto contrariava alguns interesses dos

grandes fazendeiros do agreste sergipano, estes que acumulavam suas propriedades

comprando totalmente as terras em posse de pequenos agricultores.

Com o golpe militar, de 31/03/1964, o processo urbano da capital em ascensão, as

indústrias com relevante produção, e o cultivo da cana em alta, os fazendeiros da região

voltaram a ter certa representação em seu poderio. Porém a partir de movimentos aracajuanos

a JUC, juventude universitária católica, é que o homem do campo no interior passa a ter maior

apoio de personalidades Sergipanas. Sobral relata claramente a "intenção de grupos

acadêmicos que estavam pensando e fazendo ações de engajamento que voltassem sua

atenção para o homem do campo". (SOBRAL, 2006, p. 61). Em um dos casos, sobre

entrevista cedida a ela pela professora Neilza Cardoso, na UFS, nos períodos de 1997, ao falar

das décadas de formação no período de 1970, Neilza afirmava que tinha muito claro a

vocação em trabalhar no campo, no interior, com o pessoal da zona rural. Personagens como

Frei Enoque Salvador de Melo, Raimundo Eliete Calvacante, João Daniel e outros fizeram do

apoio ao trabalhador rural um exemplo de alcance que chegou até a zona rural de Nossa

Senhora das Dores. Observe as fotos destes militantes no final da década de setenta.

Relacionadas ao período em que foram reveladas e ao que representam no contexto, elas se

somam a primeira imagem quanto a descriminar eventos históricos que perduram em tal

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década. Abaixo vemos alguns líderes dos movimentos ligados ao catolicismo que também

atuaram em Nossa Senhora das Dores:

Figura 3- Professora Neilza Cardoso Figura 4- Frei EnoqueFonte: Sobral (2006) Fonte: Sobral (2006)

Figura 5- Raimundo Eliete Figura 6- João Daniel

Fonte: Sobral (2006) Fonte: Sobral (2006)

Sobre estas ilustrações e seu teor na história, se pode relatar que ditadura militar

perseguia estes militantes. Sobre este regime de governo, as discussões eram constantes em

várias esferas da sociedade. Frei Enoque recorda "dos embates entre a vida vivida no

convento e o convívio na faculdade de filosofia de recife." (SOBRAL, 2006, p. 62). Na

entrevista com o religioso, para referenciada escritora o frade revela que muita gente se

escondia na faculdade, que eram torturados. É neste período que atuaram no baixo são

Francisco de Sergipe a juventude operária católica e a juventude universitária católica. Estes

que unidos a Federação dos Trabalhadores Agrícolas, FETASE, em Aracaju, desempenharam

forte atuação com o homem do campo principalmente "do baixo são Francisco". (SOBRAL,

2006, p. 57). Assim o movimento de educação de base assume largamente "o processo

organização dos trabalhadores no campo em Sergipe no início dos anos 1960." (SOBRAL,

2006, p. 58). Além dos movimentos de libertação no campo, a igreja atuou diretamente no

campo político. A foto a seguir demonstra esta afirmação, pois se trata do Cônego Miguel

Monteiro Barbosa. Este que mesmo como pároco na cidade também foi prefeito e interventor

nomeado de 1938 a 1941. Observe sua foto na década de 60 quando ainda atuava

religiosamente no município Dorense.

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Figura 7- Cônego Miguel Monteiro Barbosa. s/dFonte: Acervo de Maria Garcia da Silva s/d

Seja como símbolo ou monumento religioso, ou ainda em memória daqueles que pela

fé começaram a ser escravizados, as fotos da igreja e de seus representantes em seu contexto

geral, traduzem a história do município agrestino que na trajetória do seu processo de

construção, Ícones como o Cônego Miguel Monteiro Barbosa, passaram a influenciar a vida

religiosa na década de sessenta, pois o mesmo exerceu seu mandato na igreja dorense até

1967 com reconhecimento da população, que na década, apreciava o catolicismo. Veja o

resumo sobre sua atuação encontrado no site dorense:

Nascido na cidade de Maruim atuou na vida religiosa e política de N. Sra. Das Dores dos anos 1930 a 1960. Em 1965 foi homenageado com o título de Cidadão Dorense. Exerceu as funções de Vigário da Paróquia de N. Sra. das Dores de 1935 a 1967, foi Prefeito de 1938 a 1941. (Disponível em http://visitedores.com/conteudo.ler.php?id=25, 2013)

As fotos, aqui não só ilustram as particularidades históricas- religiosas do período, mas

contexto sócio-cultural político e ideológico que a ele representam; assim validam a fotografia

como exteriorizações das décadas propostas e de outras que as antecedem. No contexto

religioso e libertador, a militância destes representantes da igreja e do movimento dos sem

terra, acenou a libertação ideológica dos agricultores dorenses que cada vez mais eram

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oprimidos em suas pequenas propriedades. Tal opressão era consequência de outro evento que

aqui pode ter duas imagens que o referenciam:

Figura 8- Coronel Francisco Porto líder atuante que influenciou na política dorense ate a décadas de 1970.Fonte: disponível em http://visitedores.com/conteudos.php?id=5acesso em 29/05/2013

Figura 9- Sede da fazenda tábua em Nossa Senhora das Dores- 1978. Propriedade do Coronel Francisco Porto. (In memorian)

Fonte: Acervo do professor João Paulo Araújo de Carvalho

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Referindo-se a ao município dorense e a culturas que antecederam as décadas de 1960

e 1970, as fotos acima ilustram um líder político e uma das suas fazendas onde tanto o cultivo

do algodão quanto da criação de gado eram abundantes; porém, elas também transparecem

uma cultura de dominação. Chegamos a influência do coronelismo nas décadas de 60 e 70.

O coronelismo no Brasil foi um fenômeno histórico que passou pelas dimensões

sociais, econômicas, ideológicas e políticas. Em suas fases houve a tradição de mando,

caracterizada pelo poderio dos jagunços, com milícias particulares; a intermediação política e

depois o voto no contexto de seu feito histórico. Este sistema que ao pequeno "proprietário

rural, exerce sobre os trabalhadores um tipo de dominação sob forma de dominação cultural."

(DANTAS, 1987, p. 15). A reforma agrária, apesar do golpe militar de 1964, estava com

raízes bem definidas no sertão3 do Estado. Porém somando-se o declínio do algodão, o

incentivo à criação e corte do bovino, a expansão de algumas indústrias na capital e no

interior, a mão de obra mais escassa, "o quadro tornou-se alarmante para os coronéis."

(DANTAS, 1997, p.33). Em Sergipe, o coronelismo concentrou-se na região de Itabaiana,

mas em Nossa Senhora das Dores as heranças de grandes fazendas que criavam altíssimos

lotes de bovinos compartilharam valores agrários e políticos que influenciaram na cultura e

história dorense nos anos que se sucederam a 1960. A influência de chefes políticos do Estado

em relação a mesorregião Dorense, bem como nas indicações aos pleitos eleitorais tornavam o

processo agrário dessa comunidade um resquício do coronelismo anterior a 1930. A fazenda

tábua, em dores, expressada na foto datada de 1978, era de propriedade do coronel Francisco

Porto. Este que chegou a ser deputado em Sergipe entre outros mandados no período de 1955

a 1959. Podemos notar que o município Dorense, desse coronel, obteve muito apoio político

pelo seu poder agrário e influência na Assembléia Estadual. Segundo os professores Carvalho,

Jesus e Moura, Antonio dos Reis Lima, prefeito em Dores por três mandatos, o último deles

terminando um ano antes da década de 1960, "era sempre apoiado pela família porto e por

partidários do coronel estadual Vicente Figueiredo Porto, falecido em 1949". (CARVALHO;

JESUS; MOURA, 2012, p. 54). Subtende-se que a política Dorense nas décadas de 1960 e

1970, considerando o personagem que vemos na fotografia da página anterior, sofreu fortes

interpelações, no mínimo ideológicas. Agora se discutirá sobre outros dois fator que estão

ligados ao passado Dorense nas referidas décadas, porém mais no campo da história

econômica do período estudado.

3 Região do alto Semi- Árido do São Rio São Francisco que em Sergipe se estende de Nossa Senhora da Glória até Canindé do São Francisco.

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A história econômica do algodão nas décadas descriminadas, além do Coronel

Francisco porto, conforme se verá logo abaixo tem um representante dessa cultura; é o Senhor

Francisco Pedro do Nascimento.

Figura 10- Francisco Pedro do Nascimento- sdFonte: Disponível em http://visitedores.com/ Acesso em 28/05/2013

A economia dorense até a década de 70 influenciada pelo plantio de algodão pautou o

produto no município como um dos melhores do Estado. José lima de Santana, advogado,

mestre e professor em direito na Universidade Federal de Sergipe no memorial dorense4

publica uma matéria na qual afirma citando Lisboa:

O município é extremamente rico e vasto.É centro de enorme produção de algodão, possuindo grandes fazendas em toda a zona agrícola, com máquinas de descaroçar, movidas a vapor. Cria igualmente gado vacum, cavalar, muar e lanígero, aproveitando-se por isso dos excelentes pastos que contém Planta cana, mandioca e cereais em abundância. O seu comércio é ativo, e, dia - a - dia, vai tomando maior desenvolvimento. (SANTANA, 2010, p. 19 apud LISBOA, 1897, p. 136).

No mesmo editorial apresentado na nota de rodapé desta página, o professor Jesus, de

Nossa Senhora das Dores, citando a obra "memória sobre a capitania de Sergipe" de Dom

Marcos Antonio de Souza, este que escrevia sobre Lisboa, transcreve: "No distrito de

Japaratuba cultivam o algodão nas matas vizinhas do rio Sergipe que corre próximo a um

lugar, que conserva o nome de enforcados". (LISBOA, 1897, p. 136). Justificando a presença

da cultura algodoeira no agreste dorense, no final da década de 1970, um dos órgãos que

passou a dar assistência técnica à essa atividade foi a EMBRAPA. O Centro de Pesquisa

4 Editorial publicado pelo projeto memórias no ponto de cultura histórica em Nossa Senhora das Dores. - SE.

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Agropecuária dos Tabuleiros Costeiros (CPATC), uma das Unidades da Empresa Brasileira

de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), foi implantado em 1º de abril de 1993, em Aracaju,

SE; porém até hoje, um dos seus campos experimentais fica em Nossa Senhora das Dores e

ainda analisa fatores ligados a produção do algodão no município. Isso implica que a história

agrícola daquele município esteve voltada à cultura do algodão até o inicio de 1960, e que

"por muitas décadas o algodão de Dores seria celebrado como de primeira qualidade, como se

constata por meio de vários escritos". (SANTANA, 2010, p. 19).

Segundo informação no site de origem da foto do Senhor Pedro do Nascimento, este

foi dono de máquinas descaroçadeiras de algodão. Agora o texto se delimitará sobre outro

aspecto da história econômica do município que perdura até os dias atuais.

Com a decadência da cultura algodoeira, a pecuária predominou na história local. A

geografia e o clima favoreciam a criação e abates de bovinos nas fazendas de Nossa Senhora

das Dores. Mas havia o matadouro municipal. A lei municipal nº 34, de 1913, já

regulamentava a cobrança de impostos durante o abate bovino na vila dorense. Nas décadas

em estudo o matadouro municipal já estava presente para o abate bovino. Veja a fotografia do

abatedouro durante o período estudado:

Figura 11- Matadouro Municipal. Década de 70Fonte: IBGE. Disponível em http. www.pronet.net.br

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O curral para matança de gado que é exposto na foto acima, à esquerda, foi reformado

e construído no governo municipal de Antônio Cardoso de Oliveira, em 1967-1971. Observe

abaixo a foto deste ilustre cidadão dorense quando prefeito no município.

Figura 12- Prefeito Antônio Cardoso de Oliveira. 1968. Fonte: http://visitedores.com/ Acesso em 28/05/2013

Segundo os Professores Carvalho, Jesus e Moura a foto acima "é datada de 1968".

(CARVALHO; JESUS; MOURA, 2012, p. 14). Anterior ao período de 1960, no governo

municipal de Paes de Santana de 1959 a 1963, houve investimentos em saneamento básico

para o abate de bovinos construindo-se salgadeiras. "No governo de Francisco Paes de

Santana (1959-1963) foram construídas oito dessas." (CARVALHO; JESUS; MOURA, 2012,

p.46). Confrontando a cultura bovina com seu auge até meados da década de 80, em uma

relação temporal e econômica, a lavoura de cana - de - açúcar hoje está ocupando maior parte

das pastagens dorenses, mas a carne do sol, desenvolvida e comercializada em feiras livres no

centro da cidade nas décadas de 60 e 70, ainda exerce forte influência ao nome do produto

bovino que tem tradição histórica no município.

Durante as décadas de 1960 e 1970, as feiras livres eram características na zona

urbana dorense. O comercio é outra característica da história do município no momento

estudado. No ano de 1970 a comercialização incluía, além da carne, produtos como farinha,

amendoim, sapatos, produtos hortifrutigranjeiros, além de utensílios domésticos vendidos nas

lojas comerciais. Sobre a venda de carne bovina, considerando a carne fresca e a do sol,

Carvalho, Jesus e Moura afirmam: "Aliás, a separação da venda desses dois tipos de carne era

tradicional na feira do Município até 1976". (CARVALHO; JESUS; MOURA, 2012, p. 19).

Como fonte histórica associada a esse tema da história dorense nos anos 60 e 70, em seu perfil

fotográfico, temos a antiga praça do comércio, atual Marechal Deodoro da Fonseca, que já se

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fazia presente no cenário de Nossa Senhora das Dores no início de 1920. Observe a foto

seguinte:

Figura 13- Praça do Comércio, 1919Fonte: Foto no Álbum de Sergipe, Aracaju, 1920

Veja abaixo a mesma praça nos anos 60 e 70. Ai era o palco dos negócios entre os

grandes fazendeiros, comerciantes, pequenos agricultores, profissionais liberais e

representantes de outros ofícios a exemplo dos sapateiros e curtidores de couro bovino.

Figura 14- Praça do Comércio, hoje Marechal Deodoro da Fonseca, ao fundo Rua Getúlio Vargas, década 1960. Fonte: Acervo do Projeto Memórias.

Figura 15- Praça do comércio, hoje Praça Marechal Deodoro da Fonseca, ao fundo Getúlio Vargas, outubro de 1970, acervo particular, Senhor Edézio Cardozo.

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17

Vários eventos eram desenvolvidos nesta praça. O comércio local passou a se

concentrar ali. Também compõe o cenário comercial das duas décadas em associação ao corte

de gado o mercado municipal, também denominado de talho da carne. Ali marchantes e

consumidores usufruíam a compra e venda deste produto que abastecia muito do produto

interno do município. Observe abaixo a foto deste local nos anos 70. Em seguida a foto da

Praça Marechal Deodoro no mesmo ano.

Figura 16- fotos da atual praça marechal Deodoro, 2013 e do mercado municipal na década de 1970Fonte: Acervo da organizadora e do professor João Paulo Araújo de Carvalho

Figura 17- Praça Marechal Deodoro. Década de 1960.

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18

Fonte: IBGE. Disponível em http. www.pronet.net.br acesso em 25 de maio de 2013Valorizando o comércio bovino e a renda que este gerava na cidade, sob prioridade

gestora, é na década de 1970, durante a gestão do prefeito Paulo Garcia Vieira, (1973-1977),

que se "construiu o atual centro de abastecimento inaugurado em 1976, conhecido como

mercado municipal. Ao redor deste também se concentrou a feira livre" (CARVALHO;

JESUS; MOURA, 2012, p. 20). Como cidade que tinha uma população em desenvolvimento

médio, Nossa Senhora das Dores nos anos 60 já possuía lojas de calçados, armazéns, oficinas

de beneficiamento a produtos agrícolas como é caso das descaroçadeiras de algodão e casas

de farinha. A Casa lima, loja de roupas, já existia no período e pertencia a um antigo

comerciante de nome João Lima. O prédio que vemos a direita, na foto 15, já era essa loja.

4- OUTRAS CARACTERÍSTICAS HISTÓRICAS QUE MARCARAM NOSSA

SENHORA DAS DORES NAS DÉCADAS DE 1960 E 1970.

Durante as décadas de 1960 e 1970, alguns e eventos da história no Estado de Sergipe

influenciaram outros acontecimentos em seu Município Dorense. Isso ocorreu

economicamente, politicamente e de modo mais intenso na educação. No nível de Estado

houve alguns avanços apesar da situação com o golpe militar que assolava o país. No período,

surge a implantação da primeira fábrica de cimento em 1967; as descobertas de petróleo no

município de Carmópolis em 1963. Posteriormente isto também ocorre no campo de

Guaricema em 1968. Algumas riquezas minerais eram exploradas pela empresa de mineração

lume, a frente desta Linaldo Uchoa de Medeiros que tinha seu investimento combatido por

Orlando Dantas. O crescimento urbano na capital gerava empregos na construção, porém a

base industrial Sergipana em 1970 ainda era muito estreita. O censo industrial nos anos de

1960 a 1970 revelava certo crescimento em três setores: Destacava-se a indústria de produtos

alimentícios, que inclui a produção de açúcar, com 39% em relação ao ramo de transformação

e extrativismo mineral. O setor têxtil, com suas 22 fábricas, participava com 28,3% do total e

a produção de minerais não metálicos, em que se enquadra a produção de cimento, com

17,9%. Esses três segmentos, em conjunto, respondiam por 85,5% do volume de produção

industrial em Sergipe. Uma das consequências desse processo de crescimento urbano e

industrial da capital era o êxodo rural ocorrido no interior do estado, incluindo Nossa Senhora

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19

das Dores. Com situações como a seca de 1971, boa parte da população da região migrou para

a capital e para os centros de produção onde se concentrava as empresas das quais foram

apontadas os dados anteriores. Conforme senso do IBGE entre 1960 a 1980 a população

urbana no estado de Sergipe principalmente na capital, crescera 49,4% sob média anual de

4,1%. Migrantes do município dorense contribuíram para esses números. Dados da Embrapa

informam que predominavam em Nossa Senhora das Dores, os cultivos de gêneros como

mandioca, milho e feijão; ainda que importantes mudanças de participação entre eles tenham

se verificado ao longo das décadas passadas, somando-se à produção de algodão, hoje extinta,

essa tinha uma presença forte na região, mas não evitava o êxodo rural. A educação também

não contribuía, pois em decorrência do regime militar era capitalizada e estatutária. A

professora Neilza Barreto Oliveira, professora de sociologia da Universidade Federal de

Sergipe entre os períodos citados, afirma que recebera uma disciplina que seria comum em

todas as escolas estaduais, era a EPB. E a essa classifica como "uma forma ditada pela escola

superior de guerra." (SOBRAL, 2006, p. 62 apud OLIVEIRA, 1996 s/p). Sem indiferenças,

professores da rede estadual na cidade dorense também eram obrigados a seguir os ditames

dessa disciplina. Basta observarmos as fotos abaixo para confirmar que a metodologia em

alguns dos colégios estaduais da cidade de Nossa Senhora das Dores condizia com a ideologia

do regime militar:

Figura 18- imagens de eventos escolares nas décadas de 1960 a 1970 Em Nossa Senhora das DoresFonte: Arquivo da secretaria de educação de Nossa Senhora das Dores

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Figura 19- banda marcial em Nossa Senhora das Dores durante desfile escolar em1968Fonte: Acervo do professor Paulo Araújo de Carvalho.

Durante as duas décadas apesar das insurreições e perseguições, estas pouco afetavam

ao interior, mas na educação não se fazia diferente do que era ditado militarmente nos

colégios em Aracaju. Assim, poucos eram aqueles que contrariavam as normas do então

regime de governo.

Em Nossa Senhora das Dores além das fotos já expostas sobre a influência do regime

militar na educação durante as décadas de 1960 e 1970, retratando as cerimônias escolares

ditadas pela ideologia do 28º batalhão de caçadores de Sergipe, a ideologia do regime também

ditou o nome de General Calazans a um dos colégios do município dorense; obstante, este foi

fundado em data anterior no dia 15 de março de 1950. Seu primeiro diretor foi o Cônego

Miguel Monteiro Barbosa, já ilustrado neste artigo. O ilustre e biônico Governador Sergipano

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José Rollemberg leite foi quem subsidiou a escola estadual após suceder o interventor em

Sergipe, Milton Azevedo. Observe as fotos do referido colégio durante o período de 1970:

Figura 20- Imagens do Colégio General Calazans. 1970- 1972

Fonte: Acervo do colégio.

Como podemos observar acima, as foto retratam a escola estadual na época do regime

militar, no período da disciplina educação política brasileira, ou EPB. Neste aspecto,

corroborando a influência do regime de governo no Estado de Sergipe e por consequência na

cidade Dorense, se pode afirmar que a educação em Sergipe vinha alcançando esse interior,

assim como a outros através da Secretaria Estadual de Educação que postulava aqueles ter as

suas escolas como modelos reprodutores do sistema político. Afinal, "da mesma forma que a

repressão atingiu o mundo acadêmico, atingiu a igreja católica". (SOBRAL, 2006, p. 62).

Também atingiu todo o interior do Estado inclusive pela educação, liberando a mesquinharia

e a corrupção em todo o país; "para a tristeza e amargura das exceções, em Sergipe a coisa é

maior, mais feia. É generalizado, escandaloso o aparecimento cultural." (FIGUEIREDO,

2006, p. 122). Portanto, como vimos, nas décadas de 1960 e 1970, em Nossa Senhora das

Dores, nem escola nem religiões escaparam da ideologia militarista.

Assim como a primeira foto deste artigo a imagem como fonte histórica refere-se a

um tempo. Essa imagem pode ser de um tipo de patrimônio. Nogueira acena sobre o

patrimônio edificado, "que era entendido antes como monumento histórico, e hoje cada vez

mais a partir dos anos 60 do Sec. XX." (NOGUEIRA 2006, p. 46 apud CHOAY, 1999, p. 11).

Conforme Nogueira (2006) existe a arquitetura menor, que como formas de construção

erudita, popular, urbana, rural, religiosa, pública e privada, passam a ser monumento

histórico. Na décadas aqui analisadas, podemos refutar a importância de dois monumentos

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que fizeram parte do patrimônio político e social da cidade de Nossa Senhora das dores. São o

prédio da intendência ou governo municipal e a residência do ex- prefeito Álvares de Brito.

Figura 21- Prédio do Governo Municipal. Década de 1960Fonte: Acervo do projeto memórias em Nossa Senhora das Dores, Sergipe.

Figura 22- residência do Sr. Alvares De Brito. 1964.

Fonte: (CARVALHO; JESUS; MOURA 2012, p. 151)

Sobre uma dessas fotos, na busca de valorizar o patrimônio e a identidade histórica da

cidade, veja o que afirma os professores Carvalho, Jesus e Moura:

Além do mais, não bastasse a falta de zelo para com os documentos oficiais, o poder público e alguns particulares têm permitido que nosso patrimônio histórico seja criminosamente dilapidado. Foi o que aconteceu, com o histórico prédio do governo municipal, construído no final do século XIX." (CARVALHO; JESUS; MOURA, 2012, p. 150).

É diante de afirmações como esta que se percebe a importância de se ter uma imagem

como a ilustrada na figura 22, ainda salva e reproduzida em trabalhos como este. Nota-se que

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23

a identidade e a memória através dos tempos, pelas pessoas, fatos e do local a que estas

representam podem ainda serem pesquisadas e identificadas, bem como minimamente

preservadas. O mesmo se diz de todas as imagens anteriores e tudo que delas se descreveu até

agora. Para concluir com os acontecimentos e mais algumas imagens que constituem na

representação histórica de Nossa Senhora das Dores nas décadas de 1960 e 1970. o artigo

agora trás uma das ultimas características que também moldaram o perfil histórico deste

período, a política.

Sobre as lideranças políticas com seus respectivos mandatos de prefeitos em Nossa

Senhora das Dores entre os 1960 e 1970, o trabalho trás seus nomes, datas e algumas amostras

visuais: Francisco Paes de Santana, 1959-1963. Joel Nascimento, 1963-1967. Antônio

Cardoso De Oliveira, 1967-1971. Mais uma vez, Joel Nascimento, 1971-1973. Paulo Garcia

Vieira, 1973-1977. O último mandato das décadas é Joel nascimento, 1977- 1982. As fotos

seguintes são de dois destes representantes e se associam ao período em estudo. Nestas, o

primeiro como vimos foi prefeito durante três mandatos; já o segundo merece destaque por

ser referenciado como um dos melhores administradores do governo municipal de Nossa

Senhora das Dores, é o Sr. Antonio Cardoso de Oliveira aqui já fora ilustrado.

Figura 23- Ex- prefeito Joel nascimento década de 1970Fonte: Acervo familiar Joel filho. Disponível em http://visitedores.com/conteudos.php?id=5

Figura 24- Prefeito Antônio Cardoso de Oliveira. 1968. Fonte: http://visitedores.com/ Acesso em 28/05/2013

Na composição política durante as duas décadas analisadas, os partidos dominadores

eram a União Democrática Nacional, UDN; o Partido Social Democrata, PSD, a ARENA, ou

Aliança Renovadora Nacional e o MDB, Movimento Democrático Brasileiro.

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No Governo de Paulo Garcia Vieira, em Nossa Senhora das Dores, é que em 15/03/

1975, no Estado, assume o governo biônico José Rolemberg Leite. "volta ao palácio Olímpio

Campos sem o voto do povo". (FIGUEIREDO, 2000, p. 11). Nesta época, outro biônico que

já pertenceu a juventude universitária católica é empossado prefeito de Aracaju no dia

08/04/1975, o atual prefeito da Capital João Alves Filho. Este não chegou a influenciar muito

na cidade dorense, relevando-se que é na administração de Garcia que o matadouro municipal

estava em reforma total, neste governo municipal também o colégio estadual general Calazans

passou por mudanças estruturais. A construção era uma das marcas do engenheiro João Alves

Filho, este foi indicado pelo então governo. Podemos associar que as obras em Nossa Senhora

das dores por certo despertaram no então prefeito municipal a vocação dos seus líderes

estaduais para estruturá-las. Sobre João Alves Filho, Figueiredo comenta: "Invenção da

ditadura ele, sem voto, sem povo, é mais um biônico na praça". (FIGUEIREDO, 2006, p. 11).

Este escritor em seu livro sobre a política de Sergipe nos anos 1975/ 1982 abaliza um perfil da

política sergipana nesta década e como ela por convenções de apoio partidário chega até ao

interior sergipano, isto incluiu Nossa Senhora das Dores no Período em que o escritor

catalogou seu livro. Segundo Figueiredo, quanto ao total dos professores estaduais no período

estudado em seu livro, "1.416 que ensinavam o segundo grau não tinham formação

pedagógica". (FIGUEIREDO, 2006, p.20), Isto ilustra o que aqui foi relatado sobre o mando

da educação estadual influenciando a política educacional dorense. As escolas como eventos

culturais mal organizavam desfiles cívicos. Conforme Figueiredo, "Sergipe enfrentava a

doença, fome e mistificação." (FIGUEIREDO, 2006, p. 21). Apesar da segmentação política,

na saúde, nos anos 70 em Nossa Senhora das Dores destaca-se um personagem que a frente do

seu trabalho sempre foi elogiado. Era o médico baiano que estava na dianteira da unidade de

saúde federal o SESP; veja a foto no tempo em que o doutor chefiava a unidade em Nossa

Senhora das Dores:

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Figura 25- Doutor Miltom Calumby TourinhoFonte: disponível em http://visitedores.com/conteudo.ler.php?id=37acesso em 25/05/2013

Durante as duas décadas, interagindo entre o regime militar, as influências dos

governos e políticos estaduais, o panorama da sociedade dorense ainda apresentava

subsistência, religiosa, agrária e intelectual. Religiosa pelo que já foi exposto na história

dorense e pela perseguição a lideres de movimentos ligados à posse da terra; agrária como

mencionado pelo coronelismo e pela subsistência da criação bovina; intelectual por destaques

de artistas como Adauto machado. Este que chegou a expor suas obras de pintura plástica até

no Canadá.

Figura 26- Artista plástico Adauto machado- sdFonte: Disponível em http://visitedores.com/conteudo.ler.php?id=37

Retomado exclusivamente o campo da política, uma curiosidade interessante é que a

lei federal complementar nº 31, de 11/10/1977 promulgada pelo presidente Ernesto Geisel,

assegura a remuneração dos vereadores. "Em Sergipe o Governador José Rolemberg Leite,

(1975/1979), defende na Assembleia Legislativa, a aposentadoria dos Vereadores."

(FIGUEIREDO, 2006, p. 22). Este evento afetou de modo direto as coligações entre a câmara

municipal de Nossa Senhora das Dores e o palácio Olímpio Campos na pessoa dos seus

representantes assim coligados. Figueiredo, sobre a influência da ditadura nos municípios,

afirma que "em 26/07/1975 há uma reunião de prefeitos Sergipanos do Vale do Continguiba".

(FIGUEIREDO, 2006, p. 269, 270). Segundo o escritor, o foco não era o povo e sim

interesses particulares.

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[...] Estácio Correia Caldas (Muribeca), 2º vice, Conselho Fiscal, Paulo Vieira (Nossa Senhora das dores), Afonso Melo Prado, (Siriri) [...] Acocorados diante da ditadura, prefeitos, vereadores e deputados não homenageiam o centro operário sergipano. (FIGUEIREDO, 2006, p. 26, 27).

Isto abaliza o que antes fora afirmado sobre a influência do sistema político no Estado

sobre o município dorense. Ela que acontecia também nos anos a que se refere o título do

trabalho. Claro que atos no nível de país chegavam aos Estados e por consequência ao

interior. A nomeação biônica dos governos estaduais em Sergipe era complacente com

indicações políticas nas esferas dos seus municípios. Abaliza Figueiredo que no ato

institucional nº 2, o AI-2, "partidos que sustentam o regime militar, empobrecem o interior,

aceleram o progresso das capitais, ora envolvidas por explosiva urbanização."

(FIGUEIREDO, 2006, p. 54). Considerando a cidade dorense no período do golpe militar e

sua formação histórica representada em um dado período, as fontes históricas aqui

referenciadas em imagens e escritos cientificam neste sentido o contexto histórico do artigo.

Portanto sobre o recorte de tempo da história de Nossa Senhora das Dores, como fonte

histórica dorense representada em informações e ilustrações, buscou-se priorizar sua história

religiosa, social, econômica educacional e política; isto se dá pela pesquisa e contextualização

epistemológica, ilustradas no artigo através de fontes fotográficas, da quais Boris Kossoy,

historiador, e fotografo de renome disserta acerca da importância das imagens para o estudo

histórico cientifico afirma:

O objeto fotográfico este sempre dotado de relações indissociáveis e permanentes, que sejam. O de registro, criação (ou testemunho) e o documento, a representação. O historiador deve estar preparado para lidar com a ambiguidade do documento fotográfico. (KOSSOY, 2007, p.54).

Essa ambiguidade pauta no artigo o seu objeto de estudo em torná-lo verídico quanto

as imagens em seu teor de validade histórica, essas que devem se consumar como fontes

plausíveis a um determinado espaço de tempo, e a este ilustrar aspectos e características de

sua história, destacar as diversas influências nos seus respectivos campos históricos, estas que

formam, originam a construção da identidade e memória daqueles a que se referem, no caso a

população a sociedade dorense nas décadas de 1960 e 1970.

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5- IDENTIDADE E MEMÓRIA FOTOGRÁFICA

A história é requisitada para desempenhar um papel e uma função marcadamente

social. Em seu conceito considerando a situação temporal a história pode ser vista como uma

forma de estar na sociedade, no exercício da sua cidadania, na compreensão do seu passado,

descobrindo a relatividade das coisas, das idéias, das crenças, doutrinas, detectando o porquê,

considerando ponto de vistas, "analogias", soluções, verificando evoluções paralelas ou não.

Pergunta-se será que isso foi feito neste trabalho até aqui? Será que as fotos associadas a

descrição histórica que a elas sucedem montam o panorama histórico das décadas de 1960 e

1970 na cidade de Nossa Senhora das Dores? Será que a preservação do patrimônio da cidade

consiste somente na parte física deste? Ou a identidade da sociedade do município Dorense

pode naquele intervalo de tempo ser resgatada de outro modo? O mesmo pode se dizer do seu

patrimônio histórico religioso, cultural, econômico, educacional, político? Como vimos na

introdução deste artigo espera-se que haja recuperação da identidade da cidade no referido

espaço de tempo. Nogueira sugere que a "coisa seja preservada, além do documento da

imagem". (NOGUEIRA, 2006, p. 39). Infelizmente, nem sempre isso ocorreu no lugar

referido; o que é analisado como perca na história, seja pelo desgaste natural, ou pelo descaso

político e até pela falta de pesquisas históricas a nível deste trabalho. Como solução procura-

se preservar todas as formas de memória, identidade e patrimônio que constituem uma nação.

Sssssss

Para que se compreenda a posição da qual o patrimônio histórico e artístico principalmente o arquitetônico, encontra-se atualmente, significando mais a busca de uma "memória registrada" (grifo da autora) como forma de construir uma certa "identidade perdida" da sociedade contemporânea, é preciso enfatizar a distância cada vez maior entre a história e a memória. (NOGUEIRA, 2006, p. 38. Grifo da autora).

Essa memória a ser registrada, aqui é representada em fotografias que traduzem a

história do município no decorrer das duas décadas.

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As figuras, os relatos neste artigo e nos acervos que discorrem sobre o assunto, em sua

maioria agora são as únicas fontes visuais ou simbólicas para retratar a memória e identidade

Dorense nas décadas de 1960 e 1970, são imagens acompanhadas de relatos históricos e

considerações epistemológicas que validam a tese proposta. Sob a justificativa exposta neste

artigo, considerando o resgate e a perca da coisa arquitetônica. Validando informações

contidas nele, Nogueira relata pontos entre a história tradicional e a história nova

estabelecendo mudanças nos anais epistemológicos, pois antes ela não relevava as ciências,

era metódica, clássica, e atualmente, diz respeito a todas as atividades humanas; "também

hoje diz respeito às mudanças sociais e não só aos feitos. Considera pessoas comuns, além de

documentos considera fontes visuais." (NOGUEIRA, 2006, p. 31 apud BURKE 1992, p. 56).

também são levadas em contas no paradigma histórico as convenções; em resumo a história

nova é a chamada história total "pode ser da loucura, do clima, dos gestos, dos valores etc."

(NOGUEIRA, 2006, p. 30). Por isso a construção histórica do artigo associa fotos, a

contextos sociais, econômicos, religiosos e políticos que favorecem analisar o período

referenciado.

O arquivo, a fonte, o patrimônio histórico e cultural, identidade e memória histórica

nas referidas décadas agora é a fotografia, essa que como forma de memória remete a

condição temporal, ao passado, e a construção ou retratação do que se tem no presente, ao que

é hoje, o lugar, a pessoa, aos costumes, as tradições a economia, a religião e a memória

histórica Dorense. Assim a identidade é formada, a historia é construída, não caindo no

esquecimento. A história surge como "um processo de destruição em que valores associados

à cultura, identidade, memória, tradição tendem a desaparecer e o espaço seria marcado pela

uniformidade". (NOGUEIRA, 2006, p. 43). Portanto cabe relatar que por este artigo, o

resgate histórico da memória dorense, subsidiados na desconstituição analógica desta perda,

também recria a história, o patrimônio a memória e a identidade de Nossa Senhora das Dores.

Para confirmar o enunciado deste tópico fica a pergunta: será que um dia seria possível

observar a praça onde fica igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores do modo como está nas

imagens abaixo?

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Figura 27- Praça da Matriz. Década de 1960Fonte: IBGE. Disponível em http. www.pronet.net.br; acervo pessoal do professor Carvalho.

"O historiador está sempre a descobrir no passado longínquo e recente, o mesmo e o

outro, a identidade e a variância, a repetição e a inovação [...].” (MATTOSO, 1999, p.14-17).

Isto justifica no artigo a opção pela fotografia como fonte histórica, pois todas apontam sua

linearidade raciocinada até aqui; também a escolha em teorizar as décadas de 1960 e 1970 em

toda a sua história, que no artigo, pelas fotos, informações e considerações epistemológicas

tem respaldo na seguinte afirmação:

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a história é um saber acumulado e conservado, constituindo um recordar de um passado privilegiado; em seguida, há o aperfeiçoamento das técnicas e modos de conservação do passado: "memória das técnicas de registro de imagem do som" aprisionando o passado de forma concreta (ex. fotografia) trazendo uma certeza que nenhum escrito pode dar. A fotografia contribui para a semantização do monumento-sinal. (NOGUEIRA, 2006, p. 47. Grifo da escritora).

Essa semantização pode ser eventos do tempo e tem sua representação pela imagem.

Para Nogueira a "história surge como um processo de destruição em que valores associados à

cultura, identidade, memória, tradição tendem a desaparecer e o espaço seria marcado pela

uniformidade." (NOGUEIRA, 2006, p. 43). Portanto cabe relatar que o resgate histórico da

memória dorense, subsidiado na desconstituição desta perda também recria a história, o

patrimônio e a identidade local.

Considerando o contexto do tratado histórico, as imagens, os dados, as informações, a

linearidade dos eventos relatados, sua descrição, situação cultural e análise, todos são

característicos de um manuscrito inerente a epistemologia histórica. Em foco, a imagem; essa

é e faz parte do patrimônio histórico e cultural dorense, pois está inserida na convenção do

que seja patrimônio; na sua preservação, nos seus costumes, ações e na memória daqueles que

a isso zelam. O resgate cultural elaborado pelo teor do trabalho, pelas citações, fotos e

relatos, matem por estes preceitos, e pela sua historicidade bancada, o caráter de fonte

legítima da história daquele Município Sergipano. Isso também traduz a legitimidade histórica

das imagens e dos dados, estes representando as duas décadas em estudo sob a analogia da

história do Estado como influente no município dorense.

Percebe-se que a representação fotográfica se converte em um dos meios mais eficazes

de preservar o patrimônio histórico, intelectual e cultural de Nossa Senhora das Dores. Neste

sentido a utilidade do artigo para o meio acadêmico consiste em posicionar a fotografia como

acervo a coleta de informações históricas que completem outros não menos importantes.

Assim fazendo não se foge da pesquisa histórica. Ao discutir sobre as posições da história

Braudel5 em 1950 já destacava a importância do documento histórico visual; alguns anos

depois de Marc Bloch colocar a ideologia da imagem na questão histórica, as fotos

começaram a apontar revoluções, movimentos sociais, golpes militares, situações políticas, e

personagens que faziam acontecer os eventos retratados. Neste aspecto, este artigo segue seu

curso dissertativo até aqui trazendo a fotografia como importante na validação documental.

5 BRAUDEL, F. posições da história em 1950, in. Escritos sobre a história. São Paulo: Perspectiva, 1978.

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31

Estudiosos da história pautam a fotografia no limiar da importância como documento.

Porém, mais que um arquivo, quando legitimada, independente da fonte a imagem associada

ao contexto do documento e dos fatos comparados e cientificados, originam o saber

acadêmico e histórico. Elas "constituem modos específicos de articular tradição e

modernidade. Por tudo isso, sabe-se que uma dada imagem é uma representação do mundo

que varia de acordo com os códigos culturais que produz" (BORGES, 2003, p, 80); portanto

são recuperadoras da identidade, da memória de aglomerado coletivo, bem como estão no

padrão da aceitação histórica. Assim se pode inferir analogias e comparações que representam

o aglomerado coletivo constituinte de memória do município de Nossa Senhora das Dores.

6- CONSIDERAÇÕES FINAIS

De modo sucinto o artigo expõe a realidade dorense nas décadas de 1960 e 1970,

projetando as informações na busca e exposição científica dos eventos históricos que

antecederam e permearam este período sob as ilustrações e as referências históricas sobre

estas escritas. Para isso o trabalho em seu desenvolvimento assinala os aspectos históricos do

passado dorense; O posicionamento das fotos como fontes históricas. Associa todas as

imagens e relatos ao contexto das décadas de 1960 e 1970, acompanhando descrições eventos

históricos referentes a períodos que nestas refletiram em sua historicidade. O texto destaca

heranças do regime político nacional, estadual que influenciaram no desenvolvimento

cultural, histórico, político e social do município; associa a identidade da localidade ao teor

das imagens ilustradas, considerando a delimitação do recorte de tempo.

O texto posiciona sua veracidade histórica em memorização ou barganha ao que venha

ser a fonte histórica, a identidade e cultura social de um município no âmbito epistemológico

da história nova. Além disso, elabora um paralelo das fontes ilustradas, da história descrita e

pesquisada com as características históricas do período.

Considerando o desenvolvimento deste artigo na proposta de acentuar a fotografia

como fonte histórica em condição de quando abalizada revigorar a identidade de uma

comunidade que sente a ausência de acervos escritos e visuais para a construção da sua

história, a sua utilidade no meio acadêmico poderá acentuá-lo como propagador da história de

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parte do Estado de Sergipe sob foco às fontes que há pouco tempo se limitavam a meras

limitações entre o real e o documental. Uma história múltipla é constituída por grandes e

pequenos eventos, por personalidades de destaque e por gente anônima, por sistemas

econômicos, pela intimidade documental, pelas sensibilidades coletivas e pelas ideologias

oficiais. Acrescentar a imagem a este contexto é qualificar essa história. Por isso a sequência

fotográfica exposta corrobora a atitude da historiadora quanto a sua própria pesquisa, aos

documentos e bibliografia encontrados. Essa atitude se assemelha ao que descrimina a história

nova em seus analles; ou seja, considerar toda a história do período e da cidade estudados.

O possibilitar averbar esse documento como uma pesquisa legítima, este que ao

retratar e discorrer sobre a história visual de duas décadas no município de Nossa Senhora das

Dores vai mais além a efeito de consequência e da pesquisa histórica; o trabalho se acentua

como uma provável fonte de memória e identidade do município dorense; assume sua

importância aos interessados, haja vista trazer não só a impressão de fidelidade e veracidade

do acervo, mas de requisitos em pesquisas científicas ao passado de um período da história de

Nossa Senhora das Dores legitimado em fotografias que pelas referências do trabalho devem

ser avaliadas como fontes históricas autêntica que e condizem com os descritores da história

para todos e por todos.

OUR LADY OF SORROWS, SERGIPE: MEMORY REPRESENTED IN HISTORIC

PHOTOGRAPHS OF DECADES OF 1960 AND 1970

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Cardia Fabiana Aragão Almeida

ABSTRACT

In the constitution of historical sources that validate the identity of a country, state or city in a

given period, the picture can characterize the representation of this time in history that the

linearity refers. In this sense, the object of this paper is the validation of photographs as

historical sources. To this end, over the city, Our Lady of Sorrows, Sergipe, focusing the

1960s and 1970s, it is intended for your general objective to establish theoretical lines to

discuss its history from religion, systems of government, its economy, equity, its policy and

education. In this respect, it is considered on these diverse influences, including those of the

State of Sergipe, this discussion evaluates these decades, in turn illustrated in photos on which

one ponders its legitimacy as a historical source, its role in the practice of the historian, its

function a clipping historical time. A city lacks among other historical sources associate

outlines approaches that identify their past, their existence and recovery of his memory. This

upturn of identity and memory dorense justifies the preparation of this article. Therefore, one

might question whether there historical legitimacy in the default font or photographs

associated with periods presented, as well as the function of these relative to other sources.

Historical research, documents and literature leads the functional method in the reproduction

of this article and writing of the facts leading up to the decades under study, as well as in

epistemology that reference. In conclusion, it is expected to validate the photographs

corroborating the city, Our Lady of Sorrows by its history and characteristics of the study

period, consolidating identity and memory of the city, in the historic photograph abalizando

priority function of the modern historian.

Key - Words: Photography, History, Decades.

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